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ISSN 1517-6959 R E V I S T A ANO 19 – EDIÇÃO N° 59 | MAI / JUN / JUL / AGO - 2013 MEDICINA VETERINÁRIA DA CONSERVAÇÃO PROJETOS “SUÇUARANA” E “MATA CILIAR” CONEXÃO ENTRE SAÚDE HUMANA, SAÚDE ANIMAL E SAÚDE DO ECOSSISTEMA HIPERTENSÃO INTRA-ABDOMINAL E SÍNDROME COMPARTIMENTAL EM CÃES Construindo uma nova ciência

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ISSN

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7-69

59

R e v I S t a

aNo 19 – edIção N° 59 | maI / juN / jul / ago - 2013

MEDICINA VETERINÁRIA DA CONSERVAÇÃO

PROjETOS “SuÇuARANA” E “MATA CIlIAR”

conexão entre saúde humana, saúde animal e saúde do ecossistema

hipertensão intra-abdominal e síndrome compartimental em cães

Construindo uma nova ciência

Revista CFMV. – v.19, n. 59 (2013) Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2013 Quadrimestral ISSN 1517 – 6959 1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos. I. Conselho Federal de Medicina Veterinária.

AGRIS L70 CDU619(81)(05)

A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões,

artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia.

A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos bem como solicitação de assinaturas devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:

SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140Brasília–DF – CEP: 71205-060

Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: [email protected]

Capa: Monitoramento de onça parda na Serra do Brigadeiro, MG. Projeto Suçuarana/UFV

A Revista CFMV é indexada na base de dados Agrobase.

4 Editorial

5 Entrevista | Edivaldo Santos

8 A Declaração de Cambridge

10 A importância da inserção em atividades político-legislativas

13 Das práticas em zoológico à especialização dos dias atuais

16 Projeto Mata Ciliar

19 Projeto Suçuarana, Minas Gerais

22 Publicações científicas de 2010 a 2012 refletem o crescimento da área

26 Destaques

31 Suplemento Científico

58 Sexagem Fetal em Bovinos por Ultrassonografia

61 Tratamento dietético em cães cardiopatas

72 Encefalopatias espongiformes transmissíveis

67 Hipertensão intra-abdominal e síndrome compartimental em cães

82 Artigo de opinião

Sumário

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIASIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140Brasília–DF – CEP: 71205-060Fone: (61) 2106-0400Fax: (61) [email protected]

Tiragem: 95.000 exemplares

DIRETORIA EXECUTIVAPrESIDEnTE

Benedito Fortes de ArrudaCrMV-GO nº 0272

VICE-PrESIDEnTE

Eduardo Luiz Silva CostaCrMV-SE nº 0037

SECrETárIO-GErAL

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo WoukCrMV-Pr nº 0850

TESOUrEIrO

Amilson Pereira SaidCrMV-ES nº 0093

CONSELHEIROS EFETIVOSAdeilton Ricardo da SilvaCrMV-rO nº 002/Z

Fred Júlio Costa MonteiroCrMV-AP nº 0073

José Saraiva NevesCrMV-PB nº 0237

Marcello Rodrigues da RozaCrMV-DF nº 0594

Nordman Wall Barbosa de Carvalho FilhoCrMV-MA nº 0454

Nivaldo de Azevedo CostaCrMV-PE nº 1051

CONSELHEIROS SUpLENTESFrancisco Pereira RamosCrMV-TO nº 0019

Heitor David MedeirosCrMV-MT nº 0951

João Esteves NetoCrMV-AC nº 0007

José Helton Martins de SousaCrMV-rn nº 0154

CONSELHO EDITORIAL

pRESIDENTEAntônio Felipe Paulino de Figueiredo WoukSECrETárIO-GErAL

Márcia LeiteLíDEr DA árEA DE COMUnICAçãO

Ricardo Junqueira Del CarloEDITOr

Flávia ToninSUBEDITOrA

Joaquim LairCOOrDEnADOr DE COMISSõES

EDITORRicardo Junqueira Del CarloCrMV-MG nº 1759

JORNALISTA RESpONSÁVELFlávia ToninMTB nº 039263/SP

pROJETO E DIAgRAMAçãODuo Design Comunicação

IMpRESSãOGráfica Editora Pallotti

NOSSO PAPEL NA CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES

é PERMiTiDA A REPRoDução DE ARTigoS DA REviSTA, DESDE quE SEJA CiTADA A FoNTE. oS ARTigoS ASSiNADoS São DE iNTEiRA RESPoNSABiLiDADE DoS AuToRES, Não REPRESENTANDo, NECESSARiAMENTE, A oPiNião Do CFMv.

AS FoToS ENviADAS SERão AuToMATiCAMENTE CADASTRADAS No BANCo DE iMAgENS Do CFMv CoM o DEviDo CRéDiTo.

o Brasil é um dos principais alvos do comércio e trá-fico de animais silvestres, fato que se dá devido ao seu imenso potencial em biodiversidade, sendo apontado como um dos principais fornecedores da rede de trá-fico, de onde são extraídos cerca de 12 milhões de ani-mais de nossas florestas e ecossistemas, anualmente.

Enfatize-se a existência da criação comercial legal que oferece ao consumidor uma alternativa à ilegalidade e que somente comercializam espécies nascidas em seus recintos. Entretanto, é preciso avaliar quanto o comércio legal estimula o tráfico por que existem criadores que se utilizam da fachada legal para praticar a ilicitude.

Além dos impactos antrópicos resultantes dos processos de ocupação, industrialização e

desmatamento, hoje as espécies se deparam com uma nova ameaça: o prazer de possuir um animal silvestre em casa.

Alem disso, a maioria daqueles que passam a ter a guarda destes animais vão perceber o “mal negócio” que fizeram quando se conscientizam que não pos-suem estrutura nem disponibilidade para recebê-los.

Se quisermos influenciar positivamente, deve-mos agir na “educação” de nossos clientes, no dia a dia de nossos consultórios e de nossas atividades no campo, orientando-os sobre a necessidade de conhecer profundamente a espécie antes de ado-tá-la e, acima de tudo, que avaliem se são capazes ou tem vontade de lidar com as necessidades es-peciais destes animais.

Editorial

expediente

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 20134

Médico Veterinário que seguiu carreira na indústria de saúde animal e assumiu em janeiro último a presidência da MSD Saúde Animal no Brasil. Graduado pela Universidade de São Paulo, com MBA pelo IBMEC, iniciou sua carreira no campo, trabalhando nas áreas técnica e marketing para a Coopers e Novartis. Ingressou na Intervet Brasil, em 2000, cresceu profissionalmente na compa-nhia e, em 2005, foi nomeado Diretor de Marketing Global de Ruminantes, sediado em Boxmeer, na Holanda. Em 2010, passou a ocupar o cargo de gerente-geral na Espanha da antiga Intervet/Schering-Plough, atual MSD Saúde Animal (Merck Animal Health), presente em mais de 50 países.

EDIVAL SANtOS

EntrEvista

Como avalia a concentração mundial pela qual passa a indústria de saúde animal? Como é a reali-dade da empresa que dirige?

Nos últimos 20 anos, o processo de fusões e aqui-sições neste setor, como nos demais, foi intenso. Mas também existem pequenas e médias empresas globais, além das fortes empresas locais, que fazem o mercado de saúde animal bastante competitivo. A MSD Saúde Animal é uma multinacional com tradição em três negócios-chave de produção: ruminantes, suínos e aves; com potencial de crescimento em aquicultura e animais de companhia. Somos a segunda operação do mundo e a segunda empresa no Brasil. Em 2012, fatura-mos aproximadamente R$ 500 milhões no Brasil.

A concentração da indústria é uma ameaça para o mercado de trabalho dos Médicos Veterinários e Zootecnistas?

Não. Tenho 25 anos de mercado e, quando iniciei, eram poucos os Médicos veterinários

atuan tes na indústria. isso acontecia em posições muito específicas, como em produção de vacinas. Hoje, a porcentagem de Médicos veterinários nas empresas é muito mais alta. Praticamente toda a equipe de campo da nossa empresa é composta por Médicos veterinários e/ou Zootecnistas, além de profissionais em marketing, desenvolvimento, regulatório e farmacovigilância.

Entre suas ações administrativas, em 2010, há ci-tação de um recall que urgentemente retornou ao mercado, minimizando os impactos nas vendas. Quais são os principais desafios desse mercado? A transparência é uma delas?

A transparência é uma necessidade em qualquer crise. é preciso agir rápido, de forma transparente, e resolver o problema. Nesse caso específico, que era um problema de embalagem, conseguimos realizar em 40 dias um processo que levaria seis meses numa multinacional.

FOTO

S: M

ErCk

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 5

Quando o profissional consegue aliar o conhecimento técnico com o negócio, ele se torna um grande profissional

para a indústria da saúde animal.

EntrEvista

Como avalia a formação dos Médicos Veteriná-rios e Zootecnistas que passam a fazer parte do quadro de colaboradores? Onde os brasileiros se destacam e onde pecam na ascensão por cargos de liderança?

Se hoje ainda há preconceito por se trabalhar na indústria, ele é insignificante, se comparado há 25 anos. os estudantes devem ver a indústria de saúde animal como uma bela e grande oportunidade de mercado de trabalho. o problema é a formação daqueles que deixam a universidade. é preciso bus-car desenvolvimento em áreas que os estudantes conhecem pouco, como administração, gestão, liderança, marketing, finanças etc. quando o pro-fissional consegue aliar o conhecimento técnico com o negócio, ele se torna um grande profissional para a indústria da saúde animal. é impressionante a quantidade de brasileiros em cargos de liderança no mercado mundial em geral. isso acontece por-que eles acabam buscando esse desenvolvimento profissional.

Sua trajetória profissional sempre o aproximou da área de marketing e administração. Como aliou esse conhecimento a sua formação profis-sional em Medicina Veterinária?

Aprendendo, na prática, expondo-me a situações que me obrigaram a aprender. Depois de alguns anos de formado, já crescendo profissionalmente na indústria, senti a necessidade de fazer um MBA e outros cursos na área de negócios.

O senhor foi vice-presidente global da área de rumi-nantes, dirigiu a empresa na Espanha e atualmente é o presidente da MSD Saúde Animal no Brasil. O que influenciou sua ascensão profissional?

Em primeiro lugar, respeito pelas pessoas. De-pois, muito trabalho, sempre em busca de melhorias, aprimoramento profissional e um pouco de sorte, que não faz mal a ninguém.

Para onde devem caminhar as pesquisas na área de medicamentos para a saúde animal? Em quais pontos acredita que o Brasil pode se destacar ou contribuir para o mundo?

As exigências para o desenvolvimento e regis-tro de produtos aumentaram consideravelmente em todo o mundo nos últimos anos. isso faz com que o tempo e o custo sejam muito maiores para ter novos produtos. Então, é muito importante que as empresas invistam em Pesquisa e Desenvolvi-mento (P&D) para obtenção de novas tecnologias e produtos inovadores. Nessa circunstância, é muito importante pertencer a uma empresa far-macêutica humana em que podemos aproveitar sinergias do desenvolvimento do produto para a saúde humana e animal. o mercado de saúde ani-mal brasileiro é altamente competitivo, em evolu-ção e tem um grande espaço para desenvolvimen-to de ferramentas tecnológicas utilizadas também em outros países. Nesse caso, a Pecuária pode con-tribuir com as novas tecnologias, como no caso

Em palestra para estudantes, Santos fala sobre o trabalho na indústria e seus desafios.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 20136

Pelas mudanças sociais, o mercado

de animais de companhia

torna-se cada vez mais importante

dos beta-agonistas, que aumentam a produção de carne por boi confinado, com total segurança.

Acredita numa maior aproximação entre a uni-versidade e a empresa? Qual é o comprometi-mento da sua empresa com a investigação cientí-fica no Brasil?

Trabalhamos em parceria com diversas univer-sidades, nas diferentes espécies animais, tanto em colaboração para levar conhecimento aos nossos clientes em P&D quanto em mostrar aos estudan-tes as novas ferramentas, produtos, serviços e seu papel na indústria. A MSD Saúde Animal tem um centro de desenvolvimento de produtos no Brasil – local e complemento de produtos desenvolvidos fora do País. Além disso, promove o Prêmio de Pes-quisa Clínica, para incentivar o desenvolvimento da pesquisa clínica e agregar cada vez mais valor à Medicina veterinária.

E quanto à promoção e apoio a iniciativas sociais, educativas e ambientais da empresa? Há preo-cupação em substituir ou reduzir a experimenta-ção animal nas pesquisas?

Ser sustentável é ter um compromisso com a sociedade de hoje e de amanhã em quatro pilares: social, econômico, cultural e ambiental. Há vários meios de aderir às formas sustentáveis, desde jogar papel no lixo até controlar o consumo desen-freado. A MSD (humana) tem projeto de doação de medicamentos para eliminar a enfermidade “ce-gueira dos rios”, presente na África, América Latina e oriente Médio. No Brasil, a divisão de saúde ani-mal patrocina projetos que utilizam animais para ajudar na reintegração de pessoas à sociedade, se-jam portadores de necessidades especiais, autis-tas, idosos ou dependentes químicos. Resolvemos

apoiar essas iniciativas de pet terapia e hipnotera-pia, também, porque trabalhamos com a ciência para animais mais saudáveis e acreditamos na sua relação direta e positiva no bem-estar humano. Sobre o uso de animais na experimentação, a MSD faz o possível para reduzir o número de animais em experimentação de novos produtos. Mas não é possível desenvolver um produto sem o uso deles, já que um produto que vai ao mercado precisa mostrar-se seguro tanto para os animais quanto para as pessoas. A MSD investe em pesquisa para uso alternativo e premia cientistas que atingem algum progresso nesse campo.

Como são vistos o mercado e a produção animal brasileira pelos executivos da MSD Saúde Animal?

o Brasil sempre foi um importante player e pro-dutor de aves, suínos, bovinos e leite. Depois de oito anos no exterior, o que mais me chama a aten-ção é como o País continua crescendo como pro-dutor de proteína animal e aumentando o volume produzido. Além disso, pelas mudanças sociais, o mercado de animais de companhia torna-se cada vez mais importante.

Como você vê as profissões de Medicina Veteriná-ria e Zootecnia no Brasil? Que reflexão você pode deixar para os nossos acadêmicos?

o campo de trabalho para o Medico veteriná-rio e Zootecnista é muito amplo, há muita opor-tunidade. Como em todas as áreas, precisamos buscar a excelência. Eu, particularmente, quero ter os melhores profissionais. Portanto, se tem pretensão de entrar na indústria, prepare-se para isso, desde a universidade; estude muito e adqui-ra sempre um amplo conhecimento. Conheci-mento não ocupa espaço.

Iniciativa social: cão terapeuta.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 7

Em julho, especificamente no dia 7, a Declara-ção de Cambridge sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos, completou um ano. o documento é um marco, pois, pela primeira vez, a co-munidade científica reconheceu que os animais são seres senscientes. A declaração, em resumo, apre-senta a conclusão de um grupo de neurocientistas de que os humanos não são os únicos animais com as estruturas neurológicas que geram consciência. Agora se admite o que foi negado durante tanto tem-po: muitos animais, incluindo o invertebrado polvo, apresentam consciência.

A partir do documento escrito por Philip Low e editado por Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edel-man, Bruno van Swinderen, Philip Low e Christof Koch, da universidade de Cambridge, inglaterra, é possível combater com embasamento científico a prática dos animais vistos como máquinas e, conse-quentemente, utilizados como se assim fossem até meados do século XX, quando emergiram diversos questionamentos sobre suas capacidades.

o fato de que os animais apresentam consciência torna seus estados afetivos importantes do ponto de vista moral, isto é, se um animal sofre, isso deve ser con-siderado moralmente. As várias situações que causam sofrimento aos animais passam a ser questionadas, pois a neurociência mostrou que, de fato, os animais experi-mentam situações favoráveis e desfavoráveis.

A Declaração de Cambridge cumpriu o relevante papel de inverter o ônus da prova. A partir dessa constatação científica, se alguém quiser afirmar que os animais (pelo menos os vertebrados e cefalópo-des) não têm consciência, terá que demonstrá-lo sob a luz da mesma ciência. Ficou evidenciada a neces-sidade de se repensar várias práticas que ocorrem em nossa sociedade em relação aos animais e os Médicos veterinários e Zootecnistas têm um impor-tante papel nessa conscientização. Por esse motivo, precisam avaliar essa Declaração e refletir para que possam lidar com as repercussões éticas de suas ações, em uma sociedade que reconhece cada vez mais o estatuto moral dos animais.

A DECLARAÇÃO DE CAmbRIDgE SObRE A CONSCIêNCIA

em AnimAis HumAnos e não HumAnos

Bem-estar animal

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 20138

DECLARAção DE CAMBRiDgE SoBRE A CoNSCiêNCiANeste dia 7 de julho de 2012, um destacado grupo internacional de neurocientistas cognitivos, neurofarmacologistas, neuro-

fisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais reuniram-se na universidade de Cambridge, Reino unido, para reavaliar os substratos neurobiológicos da experiência consciente e comportamentos relacionados em animais humanos e não humanos. Embora a pesquisa comparativa sobre este tópico seja naturalmente dificultada pela incapacidade dos animais não hu-manos, e frequentemente dos seres humanos, em comunicar prontamente e de forma clara os seus estados internos, as seguintes observações podem ser afirmadas inequivocamente:•  o campo da pesquisa sobre a consciência está evoluindo rapidamente. várias novas técnicas e estratégias para a pesquisa

com animais humanos e não humanos vêm sendo desenvolvidas. Consequentemente, uma maior quantidade de dados está se tornando disponível, e isso pede uma reavaliação periódica dos preconceitos previamente sustentados nesse campo. Estudos com animais não humanos mostraram que circuitos cerebrais homólogos, correlacionados com a experiência e a percepção conscientes, podem ser seletivamente facilitados e interrompidos para avaliar se eles são necessários, de fato, para essas experiências. Além disso, em seres humanos, novas técnicas não invasivas estão disponíveis para investi-gar os correlatos da consciência.

• os substratos neurais das emoções não parecem limitar-se às estruturas corticais. De fato, redes neurais subcorticais estimula-das durante estados afetivos em humanos também são criticamente importantes para gerar comportamentos emocionais em animais. A estimulação artificial das mesmas regiões cerebrais gera comportamentos e estados emocionais correspon-dentes tanto em animais humanos quanto não humanos. onde quer que se evoquem, no cérebro, comportamentos emocio-nais instintivos em animais não humanos, muitos dos comportamentos subsequentes são consistentes com estados emocio-nais conhecidos, incluindo aqueles estados internos que são recompensadores e punitivos. A estimulação cerebral profunda desses sistemas em humanos também pode gerar estados afetivos semelhantes. Sistemas associados ao afeto concentram-se em regiões subcorticais, onde abundam homologias neurais. Animais humanos e não humanos jovens sem neocórtices retêm essas funções mentais-cerebrais. Além disso, circuitos neurais que constituem a estrutura de apoio parae stados comporta-mental-eletrofisiológicos de atenção, sono e tomada de decisão parecem ter surgido evolutivamente ainda na radiação dos invertebrados, sendo evidentes em insetos e em moluscos cefalópodes (por exemplo, polvos).

• As aves parecem apresentar, em seu comportamento, em sua neurofisiologia e em sua neuroanatomia, um caso notável de evolução paralela da consciência. Evidências de níveis de consciência quase humanos têm sido demonstradas mais marcada-mente em papagaios-cinzentos africanos. As redes emocionais e os microcircuitos cognitivos de mamíferos e aves parecem ser muito mais homólogos do que se pensava anteriormente. Além disso, se descobriu que certas espécies de pássaros exibem padrões neurais de sono semelhantes aos dos mamíferos, incluindo o sono REM e, como foi demonstrado em pássa-ros mandarins, padrões neurofisiológicos que se pensava anteriormente que requeriam um neocórtex mamífero. os pássaros pega-rabuda, em particular, demonstraram exibir semelhanças notáveis com os humanos, com grandes símios, com golfinhos e com elefantes em estudos de autorreconhecimento no espelho.

• Em humanos, o efeito de certos alucinógenos parece estar associado a uma ruptura nos processos de ânteroalimentação e re-troalimentação corticais. Intervenções farmacológicas em animais não humanos com componentes conhecidos por afetar o comportamento consciente em humanos podem levar a perturbações semelhantes no comportamento de animais não humanos. Nos seres humanos, há evidências que sugerem que a percepção está correlacionada com a atividade cortical, o que não exclui possíveis contribuições de processos subcorticais, como na percepção visual. Evidências de que as sensações emo-cionais de animais humanos e não humanos surgem a partir de redes cerebrais subcorticais homólogas fornecem provas convincentes para uma qualia  afetiva primitiva evolutivamente compartilhada.

Nós declaramos o seguinte: “A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisio-lógicos de estados de consciência juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos”.

* o documento está disponível em http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationonConsciousness.pdf.

DaDos Dos autores

COMiSSãO NACiONAl DE étiCA, BiOétiCA E BEM-EStAr ANiMAl (CEBEA/CFMV)

AlBErtO NEVES COStA (PrESiDENtE)Médico veterinário, CRMv-PE nº 0382

CArlA FOrtE MAiOliNO MOlENtOMédica veterinária, CRMv-PR nº 2870

luiS FErNANDO BAtiStA PiNtOZootecnista, CRMv-BA nº 0235/Z

MArCElO WEiNStEiN tEixEirAMédico veterinário, CRMv-PE nº 1874

MAriA DAS DOrES COrrEiA PAlHAMédica veterinária, CRMv-PA nº 0917

ritA lEAl PAixãOMédica veterinária, CRMv-RJ nº 3937

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 9

Em um país de grande dimensão, como o Brasil, marcado por diferenças culturais e que busca posi-ção entre as nações mais prósperas do mundo, são compreensíveis as mudanças que ocorrem a todo o momento nas leis que o regulamentam. Para isso, quer seja nas esferas federal, estadual ou municipal, as leis, os decretos, as medidas provisórias, ou de-mais marcos regulatórios são definidos por meio de deliberações dos legisladores no Congresso Nacio-nal (Câmara dos Deputados e Senado Federal), nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais, sendo, posteriormente, sancionadas pela presidên-cia da República, governadores estaduais e prefeitos municipais, respectivamente.

As profissões em nosso país são regulamenta-das pelos Conselhos de Classe, autarquias criadas em defesa à sociedade, que atuam de acordo com a Constituição brasileira e estabelecem as condutas a serem seguidas pelos profissionais a eles vin-culados, por meio dos códigos de ética profissional. Atualmente, inúmeros projetos de lei são propostos por parlamentares e, de alguma forma, interferem na dinâmica das profissões; sendo assim, os órgãos representativos de classes e/ou profissões devem ser atuantes em todas as esferas, pois as novas percepções da sociedade e a transversalidade de áreas de atuação multiprofissional estimulam o Estado a alterar seus mecanis-mos regulatórios.

No sentido de criar mecanismos p r o a t i v o s , d e proteção à socie-dade e às profis-sões, o Conselho Federal de Medi-cina veterinária instituiu, por meio da Portaria nº 12, de 25 de março de 2011, a Comissão Na-cional de Assuntos Políti-cos (Conap), que desde sua implantação vem atuan-do de forma decisiva junto

aos diversos projetos que tramitam no Congresso Nacional, sempre alicerçada nos princípios éticos, defendendo os cidadãos brasileiros e os profissionais Médicos veterinários e Zootecnistas.

COMO SãO AS AçõES DA COnAP/CFMV?A Conap apresenta uma agenda de reuniões

ordinárias mensais na sede do CFMv em Brasília-DF, onde são planejadas e executadas as ações da co-missão (Figura 1) com o auxílio de um assessor par-lamentar. Também são agendadas reuniões entre os membros da Conap e os parlamentares, deputados federais e senadores, além da participação em audi-ências públicas nos projetos de lei (PL) de interesse.

A Conap, atualmente, monitora cerca de 100 proje-tos de lei correlatos à Medicina veterinária e/ou Zootec-nia, estando cerca de 20 classificados como prioritários. A maioria relaciona-se com as seguintes temáticas:

• Bem-estar Animal; • Regulamentação das Atividades Profissionais;• Defesa e vigilância Sanitária Animal;• Saúde Pública veterinária;• Agronegócio;• Ensino.

Cada PL proposto na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal

é encaminhado pelo assessor parlamentar para a Conap

e esta faz uma análise técnica e emite um

parecer para a pre-sidência do CFMv. De acordo com a posição do CFMv e as ações propostas pela Conap, são elaboradas estra-tégias para alcan-

çar os objetivos em relação ao PL. Poste-

riormente, sua tramita-ção é monitorada junto

ao Congresso Nacional, para que ações de mobiliza-

ção ou emergenciais sejam efeti-vadas, caso seja necessário.

A ImPORtÂNCIA DA INSERÇÃO em ATiViDADes PoLÍTiCo-LeGisLATiVAs

Assuntos políticos

AçõesConap/CFMv

Câmara de presidentes

CRMvs

Audiências públicas no Congresso

visitas e reuniões no Congresso

Nacional

Seminário Câmara dos

Deputados – CAPADR

Artigo na Revista CFMv

Análises PL’s

MinutaPL. ENC

Reuniõesordinárias

Figura 1. Principais ações da ConaP/CFMV.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201310

TrAMITAçãO DE UM PrOJETO DE LEI nO COnGrESSO nACIOnALAo tomar conhecimento de um projeto

de lei ou de emenda à Constituição de gran-de repercussão na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, é comum a mídia veicular discursos favoráveis ou contrários à sua aprovação. Porém, pouco se sabe sobre o “caminho” que esse projeto percorre no Legislativo até ser convertido em lei. Esse “caminho” é chamado de Processo legisla-tivo, que é uma série de atos para que uma proposição torne-se norma jurídica.

inicialmente, qualquer PL ordinário do Legislativo deve seguir um trâmite comum junto ao Congresso Nacional, independen-temente de sua origem, seja na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal. o trâmite básico de um pojeto de lei ou de um projeto de lei complementar (PLP), na Câmara dos Deputados, segue um roteiro. No Senado, as siglas usadas são as seguintes: Projeto de Lei do Senado (PLS), Projeto de Lei da Câmara (PLC), Projeto de Lei Complementar do Senado (PLS-Complementar), e Projeto de Lei Complementar da Câmara (PLC-Com-plementar).

independentemente da origem, o pro-jeto segue para o Senado Federal ou para a Câmara dos Deputados e terá uma nova tramitação. Após a aprovação em ambas as Casas, a Presidência da República tem o poder de sancionar ou vetar a totalidade ou partes do projeto.

Tramitação de projetos de lei na Câmara dos Deputados(*) adaptada de http://www.boletimmbml.net/sambio/tramitacao-dos-projetos-de-lei/

Apresentação do Projeto

votação emPlenário

Redação Final(CCJR)

Mesa - Analisa e Numera

Mesa distribui às Comissões

Primeira Comissão

Última Comissão(CCJR)

Plenário

Tramitação conjunta

PrimeiraComissão

votação na Comissão

ComissãoSeguinte

Última Comissão(CCJR)

Arquivo

Prazo para Emendas (5 sessões)

Prazo para Emendas (5 sessões)

Existe Projeto similar?

Conclusivo nas Comissões?

Tem Emendas? MéritosContrários?

MéritosConflitantes?

Recurso paraPlenário

Parecer com substitutivo?

Não

Não

Não

SiM

SiM

SiM

SiM

Não

Não

NãoNão

SiM

SiM

tramitação de Projetos de leiCâmara dos Deputados

A Conap, além de assessorar as outras Co-missões do Conselho Federal junto às Casas de Lei, também se vale do conhecimento específico delas, buscando informações técnicas consubs-tanciadas para melhor argumentação e defesa do posicionamento do Conselho, como, por exemplo, nas áreas de: bem-estar animal, regulamentação do Exame Nacional de Certificação Profissional (ENCP), legislações ambientais, saúde pública veterinária, entre outros. A Conap também busca apoio na opinião de consultores ad hoc do CFMv.

No ano de 2012, em uma proposta articulada entre a Câmara dos Deputados e a Conap/CFMv, realizou-se no mês de outubro um seminário inédito denominado: Sistemas de Controle dos Alimentos de origem Animal: Bases para a Saúde Pública e o Agronegócio do Brasil. Esse evento

foi organizado em parceria com a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvol-vimento Rural (CPADR)

COnSIDErAçõESAtualmente, o Congresso Nacional possui

apenas sete Médicos veterinários eleitos depu-tados federais e nenhum senador da República. infelizmente, nenhum Zootecnista foi eleito para a atual legislatura federal (2011-2014). Contudo, mesmo com número reduzido na representação parlamentar, a Conap já construiu relações impor-tantes com esses deputados para atuarem em prol das profissões ou na propositura de projetos de lei demandados pelo CFMv. Nesse sentido, a criação da Conap/CFMv tem por objetivo preencher essa lacuna, mesmo que parcialmente, por meio da

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 11

DaDos Dos autores

maior representatividade político-legislativa das profissões de Medicina veterinária e Zootecnia. No entanto, essas ações devem ser multiplicadas nas esferas estaduais e municipais, sendo importante que os Conselhos Regionais de Medicina veteriná-ria e Zootecnia (CRMvs) criem comissões assessoras que atuem junto aos governos estaduais e prefei-turas municipais. Além disso, é importante que os Médicos veterinários e Zootecnistas envolvam-se nas Casas Legislativas e Executivas, orientando e posicionando sobre os assuntos que dizem respei-to às profissões.

A Conap, atualmente, está envidando esforços para criação de uma agenda propositiva de ações

COMiSSãO NACiONAl DE ASSuNtOS POlítiCOS (CONAP/CFMV)

JúliO O. J. BArCEllOS (PrESiDENtE)Médico veterinário – CRMv-RS nº 3185 [email protected]

CArlOS HuMBErtO AlMEiDA riBEirO FilHOMédico veterinário – CRMv-BA nº 0454 GErAlDO MArCEliNO CArNEirO PErEirA DO rêGOMédico veterinário – CRMv-RN  nº 0015

MArCElO HENriQuE PulS DA SilVEirAMédico veterinário – CRMv-SC nº 1646

NiltON ABrEu ZANCOMédico veterinário – CRMv-SP nº 6956

riCArDO PEDrOSO OAiGENMédico veterinário – CRMv-PA  nº 2272

rOBErtO BArACAt DE ArAúJOMédico veterinário – CRMv-Mg nº 1755

político-institucionais que atenda às principais demandas das profissões e as estratégias do CFMv. Associado a isso, propõem uma rede de contatos a partir dos CRMvs, onde cada profissional registrado poderá auxiliar na defesa das profissões à medida que está próximo da base eleitoral do parlamentar. Com isso, as ações e as estratégias poderão ser sin-cronizadas pelo Sistema CFMv/CRMvs e, portanto, tornarem-se mais eficazes.

o sistema está concretizando o objetivo de de-fender os direitos e conquistas de cada profissão no âmbito político, contudo, é sabedor que essas con-quistas exigem atenção constante e articulada de todos os seus integrantes.

Assuntos políticos

ConaP participa de evento no Congresso nacional

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201312

DAS PRátICAS Em zOOLógICOà esPeCiALizAção Dos DiAs ATuAis

animais selvagens no Brasil

A Medicina veterinária de animais selvagens as-sume cada vez maior importância socioeconômica, principalmente pela maior consciência da sociedade sobre a importância da conservação ambiental. Há cerca de 30 anos, a especialidade restringia-se aos cuidados, à cura e ao manejo de animais de zoológi-co, que tinham por objetivo prioritário a exposição ao público. Atualmente, com a abertura de cria-douros e a preocupação com o futuro das espécies ameaçadas ou não de extinção, a área de atuação do clínico de animais selvagens cresce constantemente.

A especialidade “animais selvagens” inclui as clínicas médica e cirúrgica de animais em cativeiro ou vida livre, porém, diversas subespecialidades estão sendo criadas. Exemplos são a anestesia, o plane-jamento e a responsabilidade técnica em criadouros, zoológicos e centros de tria-gem. Tem-se a reprodução, para fins co-merciais ou de conservação, especialmen-te das espécies ameaçadas de extinção. Há, inclusive, Médicos veterinários espe-cializados em comportamento de animais

selvagens que orientam aqueles que possuem exem-plares legalizados como animais de estimação.

o campo de trabalho é vasto e reflete a diversida-de de espécies de animais selvagens. o planeta Terra é habitado por 47 mil espécies de vertebrados (HEi-ZER et al., 1999), e nelas estão incluídos o homem e cerca de cinquenta espécies de animais domésticos. Todo o restante é de animais selvagens.

Considerando a importância social e econômica, aliada à diversidade das espécies, observa-se o surgi-mento de uma nova ciência: a Medicina veterinária

onça parda capturada por armadilha fotográfica.

PrOJETO SUçUArAnA/UFV

PrOJETO

SUç

UA

rAn

A/U

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 13

animais selvagens no Brasil

da Conservação, que tem por objetivo a saúde do ambiente com uma visão integrada do ecossistema. utiliza as ferramentas e recursos da Medicina veteriná-ria buscando a conservação das espécies. o principal exemplo é a atuação no monitoramento de animais na natureza. Há diversos projetos, em várias instituições do País e, dentre eles, citam-se os trabalhos com antas no Espírito Santo e tamanduás e onças no pantanal do Mato grosso do Sul; o monitoramento das tartarugas marinhas no litoral brasileiro; o mico-leão caissaar na ilha do Superagui-PR e conservação de onças pintadas no Parque Nacional do iguaçu- PR.

SUrGIMEnTO nO BrASILA organização e o crescimento da Medicina

veterinária de animais selvagens no Brasil é fruto, principalmente, da influência do norte-americano Murray E. Fowler, que foi o responsável, em 1966, pelo início da especialidade no mundo (ver box). Sua primeira vinda ao Brasil foi em 1985, para minis-trar um curso teórico-prático, convidado pela Pós-graduação em Ciências veterinárias da universida-de Federal do Paraná (uFPR). Após essa visita, houve maior interação entre os Médicos veterinários do Brasil, especialistas no tema. Houve estímulo à troca de informações e experiências e participação em congressos similares, como, também, à pesquisa e publicação de material.

Nos Estados unidos, a Medicina veterinária de animais selvagens surgiu em 1966, na universidade da Califórnia, em Davis, por iniciativa do Médico veterinário Murray E. Fowler, quando implantou o programa Zoological Medicine, com amplo enfoque nas clínicas médica e cirúrgica de animais selvagens de vida livre, cativos e daqueles de estimação não convencionais. Concomitantemente, na mesma universidade, iniciava-se um programa de serviços veterinários no Zoológico de Sacramento, com Fowler atuando como responsável técnico.

Ele encontrou muitas dificuldades, principalmente as relacionadas à falta de literatura de referência. Trabalhava com a premissa de que a Medicina é universal, igual em todas as espécies. Fez esforços no sentido de não perder oportunidades, e assim efetuou estudos e necropsias, obteve novas informações e ampliou conhecimentos básicos. A Medicina veterinária de animais selvagens vivia um tempo heróico, cheio de grandes desafios, que não estavam consolidados e fundamentados em especialidade.

Ao longo do tempo, além da experiência adquirida, foram estabelecidos contatos com outros profissionais e foi organizada uma rede de troca de conhecimento e experiências. As informações gera-

das foram reunidas, em 1978, em seu primeiro livro: Restraint and Handling of Wild and Domestic Animals, já na terceira edição e que, após quatro décadas, continua sendo

referência. Em 1986, publicou a primeira enciclopedia sobre a Medicina veterinária de animais selvagens denominada Zoo and Wildlife Medicine. Fowler segue sua atu-

ação na universidade de Davis com 23 livros publicados.Material complementar sobre Fowler em espaço da revista CFMV no Portal CFMV

MEDICInA VETErInárIA DA COnSErVAçãO• Trata-se de uma ciência que se preocupa

com a saúde ambiental. Envolve transdisci-plinaridade, tanto na pesquisa, nas ações de manejo e na proposição de políticas públicas voltadas à manutenção da saúde de todas as comunidades biológicas e seus ecossistemas.

• Atuar em Medicina veterinária da Conser-vação é trabalhar para manter a diversi-dade biológica e, conseqüentemente, a qualidade de vida para pessoas, espécies domésticas e selvagens, com objetivos de manter um ambiente saudável.

• A promoção da saúde dos ecossistemas e de seus componentes pode ser denominada Saúde Ambiental. Contudo, considerando as inter-relações e a complexidade dos pro-cessos que ordenam os ambientes na terra, pode-se conceituar que a Saúde Ambiental é dependente da conjunção da Saúde hu-mana, Saúde Animal e Saúde vegetal, garan-tindo a Saúde de todo o Ecossistema.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201314

o desempenho do professor Fowler é tratado como um marco. Tanto que o material de apoio do curso persiste como guia e referência para acadêmicos, profissionais de zoológico e para formulação de ementas de disciplinas de graduação. Tamanha foi a importância do evento que se costuma delimitar a Medicina veterinária nacional de animais selvagens em antes e depois de Fowler. Em 18 de maio de 2010, ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela uFPR e mantém relacionamento técnico-científico com várias instituições do País.

o Paraná exerce forte influência e destaque na Medicina veterinária de animais selvagens. A uFPR foi a primeira a oferecer uma disciplina abordando o tema no curso de graduação em Medicina veteri-nária. Atualmente, diversas instituições de ensino oferecem disciplinas, cursos de especialização e residência na área, com desenvolvimento e consoli-dação de linhas de pesquisa na pós-graduação.

A publicação de livros é mais recente e segue a estratégia adotada por Fowler, ou seja, divulgar o conhecimento científico acumulado associado com a vivência clínica e cirúrgica dos profissionais brasi-leiros. Em 2007, foram reunidos artigos de Médicos veterinários e Biólogos sul-americanos e norte-ame-ricanos, mas principalmente brasileiros, produzindo

DaDos Dos autores

COMiSSãO NACiONAl DE ANiMAiS SElVAGENS (CNAS/CFMV)

rOGériO riBAS lANGE (PrESiDENtE)Médico veterinário – CRMv-PR nº [email protected]

AlBErt lANGMédico veterinário – CRMv-SC nº 1617

MAriâNGElA DA COStA AllGAyErMédica veterinária – CRMv-RS nº 6352

iSAAC MANOEl BArrOS AlBuQuErQuEMédico veterinário – CRMv-AL nº 0479

JOãO luiZ rOSSi JuNiOrMédico veterinário – CRMv-SP nº 11607

lAErZiO CHiESOriN NEtOMédico veterinário – CRMv-AM nº 0284

o primeiro livro enciclopédico sobre medicina de animais selvagens em língua portuguesa, deno-minado Tratado de Animais Selvagens – Medicina Veterinária. A relevância dessa obra, no Brasil, pode ser comparada ao impacto mundial do lançamento do Zoo and Wildlife Medicine, que é referência nos Estados unidos. A partir dessa época, as publicações de Medicina veterinária passaram a receber artigos dessa especialidade tão vasta e abrangente, além do crescimento de publicações específicas.

Surgem muitos grupos de estudos e, muitas es-colas de Medicina veterinária passam a oferecer dis-ciplinas voltadas à Medicina veterinária de Animais Selvagens. outras passam a instalar ambulatórios es-pecíficos para animais selvagens em seus hospitais. Congressos e similares voltados a pequenos animais também passam a contemplar painéis sobre o tema. Surgem grupos como a Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (1977), Associação Brasileira de Animais Selvagens (1991), grupo Fowler (2004) e grupo de Estudos Acadêmicos de Animais Selva-gens, dos quais se tem conhecimento de 46 grupos, de acordo com a organização que os reúne no gEAs BR (Figura 1). Porém, a organização estima que exis-tam mais grupos ainda não informados.

Figura 1. Concentração de grupos de estudos no sudeste do Brasil.

ASSO

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Sutura de pele em arara.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 15

Por: Flávia Tonin – Jornalista CFMV

é comum ouvir daqueles que se iniciam no tra-balho com animais selvagens: “adoro bichos, mas não quero chegar perto de gente!”. Acreditam que o trabalho com exemplares nativos isola o técnico, na maior parte, em áreas longínquas do País. A experiência oferece outro ponto de vista. Atuante, há 25 anos, na Associação Mata Ciliar, a Médica veterinária Cristina Harumi Adania defende que “trabalhar com animais selvagens, acima de tudo, é trabalhar com gente”.

Ela lembra que, mais do que as atividades téc-nicas, a Medicina veterinária de animais selvagens precisa investir na difusão da conservação e, para isso, cada vez mais estar em contato com pessoas. “Ao fazer um trabalho de educação ambiental evita-se que mais animais cheguem aos centros de reabilita-ção”, exemplifica referindo-se ao desestímulo para que exemplares do tráfico sejam adotados como animais de companhia. Com outro viés, ressalta que o relacionamento com pessoas permite esclarecer como funcionam as entidades reguladoras, seus me-canismos e exigências.

Lidar com pessoas em benefício dos animais sel-vagens também é estabelecer parcerias com iniciati-vas públicas e privadas que garantam sustento para as organizações, como também sugerir propostas que incentivem políticas públicas. Por outro lado, é preciso um bom relacionamento com a equipe para

o sucesso de um tratamento. “quando o Médico veterinário atua com toda essa gente garante que muitos animais selvagens não tenham contato com gente nenhuma e fiquem onde devem estar, em seus grupos e habitats naturais”, diz Cristina.

A Associação Mata Ciliar é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que nasceu há 26 anos com o intuito de proteger margens de rios, nascentes e outros recursos hídricos. No entanto, para alcançar seus objetivos, perceberam a necessidade de reali-zar a educação ambiental: “foi inevitável e também iniciamos um programa para a conservação da fauna e propagação das florestas”, lembra a Médica veteri-nária. Nesses anos de atuação, mais de 8.000 animais já passaram pela organização, tendo alguns sido re-alocados em ambiente natural, há aqueles que vivem em cativeiro e outros que, apesar dos cuidados, não sobreviveram.

As atividades científicas estão concentradas no Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neo-tropicais, inaugurado em 1997, que tem por objetivo utilizar a tecnologia a favor da conservação. Atual-mente, o Centro de Felinos, abriga 70 animais de oito espécies ameaçadas de extinção: onça-pintada (Pan-thera onca), onça-parda ou suçuarana (Puma conco-lor), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-maracajá (Leopardus wiedii), mourisco (Puma yagouaroundi), gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e gato-palheiro (Leopardus colocolo).

Educação ambiEntal

tRAbALhAR COm ANImAIS SELVAgENS, ACImA DE tuDO, É tRAbALhAR COm gENtE

Educação ambiental é feita com grupos de todas as idades, principalmente, crianças.

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A partir de parceria com o Zoológico de Cincin-nati, nos Estados unidos, a Faculdade de Medicina veterinária da uSP, além de Zoológicos do interior e da grande São Paulo, nasceu, na Associação Mata Ciliar, o primeiro animal silvestre da América Latina fruto de transferência de embriões (TE), em 2007, após sete anos do início das pesquisas. A associação já soma três jaguatiricas frutos da técnica e tem um estoque de aproximadamente 70 embriões conge-lados dessa espécie e de gato do mato pequeno. os procedimentos com fertilização in vitro são realiza-dos em centro cirúrgico e laboratório anexos (Centro Jaguaretê), na sede da Mata Ciliar. Recentemente, a organização recebeu um equipamento que per-mitirá ampliar, em qualidade, o banco de amostras biológicas dos animais, que é referência com mais de 20.000 amostras de DNA, soro e outros materiais úteis para a pesquisa.

Em outra frente, desde 1997, foi implantado o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) que recebe e presta atendimento médico veterinário para os animais provenientes da região, resgatados, principalmente, pelo Corpo de Bombeiros, Polícia Ambiental, guarda Municipal e Defesa Civil. “Eles chegam em estado lastimável. Compara-se a um hospital de guerra”, afirma Cristina. Ela explica que os exemplares são vítimas de maus-tratos, tráfico, queimadas, caça, desmatamento, atropelamento, choque elétrico, entre outros. “os animais passam por um sofrimento que ninguém vê, apenas nós, Médicos veterinários, Biólogos e tratadores. Por isso a impor-tância da educação conservacionista. Assim, evitarí-amos que chegassem aqui dessa forma”, desabafa. A entidade chegou a receber mais de dez animais por dia, porém, o centro reduziu o recebimento por limite de estrutura e falta de contrapartida, principalmente, dos governos locais. Atualmente, dos 20 municípios atendidos, apenas três firmaram parceria com a asso-ciação (Bragança Paulista, Cajamar e Jundiaí). Além da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo,

a associação recebe apoio das empresas Tetrapak e vetnil e de padrinhos virtuais dos animais.

o objetivo dos tratamentos é o retorno para a vida livre, o que nem sempre é possível, devido a sequelas físicas ou deficiências que não permitem disputa por comida e abrigo em ambiente natural. “o aprendizado é doído: esses animais não foram excluídos pelo bando. Eles foram vítimas da rápida urbanização da região, principalmente, atropela-mentos e choques elétricos”, explica.

rELACIOnAMEnTO COM A COMUnIDADE

quando os animais são recuperados, o momento da soltura é especial e por isso é utilizado como apelo para a educação ambiental. Ao atender grupos de crianças, a Mata Ciliar programa soltura de peque-nos animais, principalmente pássaros. o ato, com orientação e acompanhamento técnico, é feito pelas próprias crianças. “Aquela criança que abriu a gaiola dificilmente permitirá animais presos e terá outra postura conservacionista”, afirma Cristina. Antes da soltura, todo o grupo visita o centro e recebe infor-mações sobre os animais: a conservação, os prejuízos do tráfico e um detalhamento sobre as etapas de reabilitação. Alguns animais, antes da liberdade, re-cebem colares e são monitorados. A limitação para a prática deve-se ao custo do equipamento, programa e recursos humanos, aproximadamente R$ 20.000.

Além da educação, a entidade faz treinamen-tos, em especial com os policiais: “é importante a qualificação para que saibamos conter o animal da forma correta, evitando estresse ou agravamento da lesão, como também para nossa segurança e das pessoas que estão no local”, avalia o subcoman-dante, Paulo vicente Soares, da guarda Municipal de Jundiaí-SP. Há também a preocupação com os proprietários rurais. “Nos relacionamentos com as comunidades rurais, além da conservação, levamos informação sobre geração de renda, uso do solo e

Soltura de pássaros pelas crianças em momento de visita.

nasce na Mata Ciliar animal selvagem fruto de transferência de embrião.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 17

Não TRABALHo CoM ANiMAiS SELvAgENS, o quE TENHo CoM iSSo?

Médico veterinário é formador de opinião e está em contato direto com a sociedade. Princi-palmente o clínico de pequenos animais, ao ser consultado, deve orientar sobre a necessidade de buscar informações da espécie antes de adotá-la. quais são seus hábitos, costumes, mudanças com a maturidade, longevidade entre outros. Lembrar os clientes que a receptação é um ato ilegal e para cada um animal sobrevivente, nove morreram. Profissionais de campo podem incentivar práti-cas conservacionistas, manutenção de áreas de conservação ambiental e a vida livre dos animais selvagens nas propriedades rurais para convivên-cia em harmonia. As ações de produção geram impacto ambiental e o Médico veterinário e Zoo-tecnista são determinantes na orientação para que este seja o menor possível.

Educação ambiEntal

Centro cirúrgico com paredes “de vidro” para favorecer a educação ambiental.

tecnologias”, comenta a Médica veterinária. A Mata Ciliar entende que a fixação dessas pessoas no cam-po também contribuirá para a conservação.

A partir de 2013, a Mata Ciliar iniciou uma parce-ria com a universidade de Santo Amaro (unisa) e foi criado um programa de aperfeiçoamento profissional com quatro vagas. “Há um interesse crescente dos estudantes. Essa nova geração tem mais estrutura, visão e formação para se qualificar na área de animais selvagens”, avalia o coordenador do curso, Celso Mar-

tins Pinto. A associação também recebe estagiários da graduação do Brasil e do exterior, com permanência mínima de um mês e limite de cinco vagas.

A associação conta com 10 colaboradores e tem em sua equipe multidisciplinar quatro biólogos e uma Médica veterinária, além de apro-ximadamente 50 voluntários que fazem desde a alimentação, cuidado, limpeza de recinto, ativi-dade administrativa etc. os voluntários podem se inscrever em www.mataciliar.org.br.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201318

o Projeto Suçuarana na Serra do Brigadeiro foi criado em 2009, a partir de demanda da gerência do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (Pesb) em res-posta a ocorrência de casos de predação de bezerros, realizada por grandes felinos, em propriedades no entorno do PESB, normalmente naquelas praticantes de agricultura familiar, cuja perda de um animal re-presenta prejuízo considerável.

vários subprojetos de pesquisa e de extensão estão em execução. Citam-se o Programa de Extensão que desenvolve trabalhos de educação ambiental em escolas regionais e um Programa de Assistência Téc-nica a Produtores Rurais, bem como a pesquisa para conhecimento da população, ecologia e sanidade dos felinos silvestres do Pesb. Assim, no projeto são reali-zados cursos e palestras de temas ligados a agricultu-ra, campanhas de vacinação de bovinos e castrações de animais domésticos, minimizando o impacto da predação e melhorando a relação das comunidades com o Pesb e, também, no estudo da mastofauna há o entendimento de como os predadores influenciam o equilíbrio do ecossistema e como sua preservação

auxilia a conservação de toda a comunidade faunísti-ca, uma vez que a escassez de levantamentos e de in-formações sobre a biologia e higidez in situ dos felinos atuam como fatores de ameaça à sua manutenção.

Com armadilhamento fotográfico está sendo possível levantar as espécies residentes no Pesb. Para isso o parque foi dividido em subáreas, o que permi-tiu identificar realidades distintas dentro da unidade de Conservação. Duas subáreas chamaram muita atenção devido à grande presença humana e tam-bém de animais domésticos, sendo estas não separar como de maior desequilíbrio e menor número de es-

PROjEtO SuÇuARANA, mINAS gERAIS, ExEmPLO PARA EDuCAÇÃO AmbIENtAL

Conservação e extensão

Flagrantes da interação com a comunidade local.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 19

pécies, bem como ausência de animais importantes no ecossistema.

No projeto também são realizadas campanhas de captura de animais silvestres para análise do es-tado de higidez e para coleta de material biológico destinado a análises genéticas, criopreservação de gametas, parasitologia, epidemiologia e biometria. os felinos capturados ( jaguatirica e onça-parda) recebem colares equipados com transmissores vHF e gPS de modo que suas áreas de uso e padrões de deslocamento e dispersão passam a ser conhecidos e melhor compreendidos.

Dentre os animais monitorados uma onça-parda chamou atenção devido ao padrão do uso e à grande área de deslocamento. Ela está sendo monitorado, via satélite, com uso do sistema gPS, desde setembro

de 2012, e sua área de uso ultrapassa 600 km2, que é muito superior à descrita para a espécie na literatura. As causas desse grande deslocamento podem ser em parte compreendidas pelo cenário ambiental e socioeconômico em que esse indivíduo está inseri-do. A Zona da Mata mineira é densamente povoada e, atualmente, muito pouco resta da cobertura vege-tal original, pois a Mata Atlântica foi substituída por lavouras, particularmente as de café. os remanes-centes da cobertura original são poucos e situam-se nas regiões onde o relevo acidentado desencorajou a retirada da mata para uso do solo.

o padrão de deslocamento do animal monito-rado mostra a importância da mata uma vez que sua dispersão acontece sempre de um fragmento de mata para outro, enfatizando a importância dos

Resultado da assistência técnica associada à educação ambiental.

Conservação e extensão

Equipe do projeto e onça-parda sedada.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201320

DaDos Dos autores

tArCiZiO ANtôNiO rEGO DE PAulAMédico veterinário-CRMv-Mg nº 3799. MSc, Professor Ad-junto, uFv. Coordenador do [email protected]

GEDiENDSON riBEirO DE ArAuJO Médico veterinário-CRMv-ES nº 1660

tHyArA DE DECO SOuZA E ArAuJO Médica veterinária-CRMv-ES nº 1144

lEtíCiA BErGO COElHO FErrEirAMédica veterinária-CRMv-Mg nº 12855

lEANES CruZ DA SilVAMedico veterinário-CRMv-Mg nº 12511

rAFAEl DE MOrAiS GArAy, Medico veterinário-CRMv-Mg nº11590

corredores ecológicos para a espécie. Entre um fragmento e outro, a onça-parda atravessa diversas propriedades rurais, e o contato próximo a animais domésticos determina maior probabilidade de transmissão cruzada de doenças, como, por exem-plo, a parvovirose (em animal foi diagnosticado pre-sença de anticorpos).

Com os dados coletados pôde também ser observado que duas rodovias, a BR 262 e a BR 116 atuam como barreiras ao deslocamento desse animal. Esses obstáculos atuam como restrição à troca genética entre populações. Nesse caso es-pecífico, a BR 116 impede o animal monitorado de acessar o Parque Nacional do Caparaó, onde existe o registro da onça parda e encontra-se a menos de 60 km do Pesb. o projeto pretende capturar e monitorar mais indivíduos para conhecer melhor o comportamento dessa espécie, topo de cadeia, e identificar e mitigar as ações antrópicas que com-prometem sua conservação. o projeto conta com apoio do CNPq, Fapemig, ufv, Sisbiota, Cenap/iCMBio e iNPE, com sede logística na universidade Federal de viçosa.

Agradecimento a Antonio Carlos Csemak Junior pela participação nas diversas etapas do projeto.

Padrão de deslocamento de onça-parda, pontos em amarelo, obtido por GPS desde 2012.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 21

o Brasil tem tido avanços consistentes na pro-dução científica nos últimos anos, com destaque para a Medicina veterinária, colocando o País em segundo lugar no mundo, atrás dos Estados unidos da América (SANToS, 2012). A análise das publicações reflete o interesse do Médico vete-rinário pela área de animais selvagens (CuBAS et al., 2007), que é coincidente com o aumento do número de habilitações, busca por atualização, criação de associações e a edição do primeiro livro no idioma português dedicado à fauna brasileira, o Tratado de Animais Selvagens: Medicina Veteriná-ria (CuBAS et al., 2007).

A vasta biodiversidade da fauna silvestre brasilei-ra, a existência de diversas instituições zoológicas, o aumento do número de animais silvestres e exóticos como pets, o crescente interesse de pesquisadores por medicina ambiental vêm gerando grande quantidade de informações e que estão sendo divulgadas, com maior frequência, em periódicos nacionais, apesar da pressão por parte de órgãos financiadores de pesqui-sa para que sejam publicadas em revistas estrangeiras.

Para comprovação desse crescimento, foi reali-zado um estudo de revisão que analisa o perfil das publicações brasileiras que abordaram medicina de animais selvagens de janeiro de 2010 a dezembro

PubLICAÇÕES CIENtÍFICAS DE 2010 A 2012 REFLEtEm O CRESCImENtO DA áREA

tabela 1. Artigos por periódicos brasileiros cadastrados pela Capes com livre acesso on line que abordaram medicina de animais silvestres durante o período de 2010 a 2012.

revistas total %Pesquisa veterinária Brasileira 94 20,8Arquivos Brasileiros de Medicina veterinária e Zootecnia 59 13,1Revista Brasileira de Patologia veterinária 43 9,7Ciência Rural 27 6,1Ciência Animal Brasileira 23 5,1Acta veterinaria Brasilica 19 4,3Acta Scientiae veterinariae 19 4,3Revista Brasileira de Medicina veterinária 17 3,9Brazilian Journal of veterinary Pathology 17 3,9Brazilian Journal of veterinary Research and Animal Sciences 16 3,6veterinária e Zootecnia 15 3,4Memórias do instituto oswaldo Cruz 15 3,4Revista Brasileira de Ciência veterinária 10 2,2Acta Amazonica 9 2,0Brazilian Journal of Microbiology 9 2,0ARS veterinaria 8 1,5Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 6 1,3Semina: Ciências Agrárias 6 1,4Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal 6 1,4Revista Brasileira de Ciência Avícola 4 0,9veterinária em Foco 4 0,9Revista Ciência Animal 3 0,6Revista do instituto de Medicina Tropical de São Paulo 3 0,7Arquivos do instituto Biológico 3 0,7Revista FZvA 3 0,5Arquivos de Ciência veterinária e Zootecnia 3 0,5Ciência Animal 2 0,4uNoPAR Científica: Ciências Biológicas e Saúde 2 0,4veterinária e Notícias 2 0,4Ciência veterinária nos Trópicos 2 0,4Revista Brasileira de Ciência Animal 1 0,1Brazilian Journal of infectious Diseases 1 0,1tOtAl 451 100

animais selvagens

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201322

2012. Foram consultadas revistas da área de avaliação em Medicina veterinária, cadastradas e qualificadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que apresentam versões online e não bloqueadas. Na análise, foram avaliados quais periódicos apresentaram artigos abordando medicina de animais selvagens e a origem dos periódicos. iden-tificou-se a prevalência de táxons estudados, área de estudo e idioma publicado. Não foram considerados artigos de estudos zootécnicos.

Foram encontrados 451 artigos referentes à medicina de animais selvagens em 32 periódicos. Entre os periódicos, 59,38% (19/32) pertencem a universidades; 28,12% (9/32) pertencem a asso-ciações, fundações, colégios, sociedades ou con-selhos e 12,5% (4/32) a instituições de pesquisa. A Pesquisa Veterinária Brasileira foi o periódico que mais publicou artigos sobre medicina de animais selvagens (89/451-20,2%) seguido de Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia (54/451-12,2%), como pode ser visto na Tabela 1.

Durante o período analisado, observou-se que no ano de 2011 houve o maior número de artigos publica-dos, 170, sendo identificados artigos focados em edu-cação ambiental, répteis, aves, organismos aquáticos, invertebrados, conteúdo multitáxon e mamíferos, sen-do essas ultimas as que apresentaram predominância (49,4%), como pode ser visto na Tabela 2.

Foram identificadas sete áreas temáticas, com alguns agrupamentos conforme afinidade. As publicações abordaram Anatomia/Fisiolo-gia (162/451), Parasitologia (97/451), Patologia (91/451), Saúde Pública/Epidemiologia (52/451),

Figura 1. valor percentual das áreas temáticas identificadas nas publicações envolvendo medicina de animais silvestres durante o período de 2010 a 2012.

Figura 2: Distribuição da quantidade de artigos encontrados conforme o foco nas áreas temáticas durante o triênio avaliado. A.F.: Anatomia/Fisiologia; C.A.: Cirurgia/Anestesiologia; Pl: Patologia; Mb: Microbiologia; Pr: Parasitologia; Sp.E.: Saúde pública/Epidemiologia; B.E.: Biologia/Ecologia.

Microbiologia (25/451), Cirurgia/Anestesiologia (18/451) e Biologia/Ecologia (6/451), como pode ser visto na Figura 1.

Ao analisar a distribuição dos artigos conforme o foco entre as áreas temáticas identificadas, cons-tatou-se maior concentração de artigos envolvendo Anatomia/Fisiologia, e que somente publicações so-bre organismos Aquáticos abrangeram as sete áreas temáticas classificadas (Figura 2).

Do total de publicações, 189 (41,9%) foram escritas em idioma estrangeiro, sendo 188 artigos em inglês e um em espanhol. Apesar da pequena quantidade de publicações envolvendo inverte-brados, estas foram as mais escritas em idioma estrangeiro, seguidas por aquelas abordando or-ganismos aquáticos. Apesar do maior número de publicações focadas em mamíferos, este foi o foco taxonômico que apresentou a menor quantidade de artigos escritos em idioma estrangeiro. A única publicação encontrada no idioma espanhol trata-va de répteis (Tabela 3).

AUSênCIA DE PErIóDICOS ESPECIALIZADOS

Nota-se a predominância de revistas generalis-tas, nas quais os artigos diluem-se pelos diversos títulos de diferentes origens/instituições, visto

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 23

DaDo Do autor

referências BiBliográficas

os artigos podem ser avaliados por pesqui-sadores altamente conceituados, porém não familiarizados com animais silvestres. Esse fator pode determinar que artigos com informações importantes ou inéditos sejam rejeitados ou artigos com conceitos equivocados ou já reconhecidos sejam aceitos sem necessidade ou real valor. isso acontece quando os casos ou estudos são bem conhecidos e explorados em animais domésticos e os revisores extrapolam os dados para animais não domésticos.

A predominância de publicações sobre mamíferos é uma tendência normal, visto que estão mais presentes em parques, zoo-lógicos, instituições de pesquisa e também como pets no ambiente doméstico. A pesqui-sa revelou que apesar de existirem poucos profissionais trabalhando com organismos aquáticos, há muita publicação sobre o assunto, revelando grande exploração aca-dêmica, superando répteis e aves, que são táxons mais acessíveis para estudos.

o grande número de artigos publicados em idioma estrangeiro é uma peculiaridade importante e benéfica, pois os projeta inter-nacionalmente, aumentando a abrangência de leitura e a probabilidade de citação, po-dendo, também, encorajar a publicação de artigos estrangeiros abordando medicina de animais silvestres em revistas nacionais.

um fator negativo encontrado no estudo é a escassez de artigos abordando educação ambiental, um tema intimamente ligado à conservação animal e muito comentado nas últimas décadas devido à mudança de postura das sociedades.

GuilHErME AuGuStO MAriEttO GONçAlVESMédico veterinário e Biólogo - CRMv-SP no. 16392. DSc e docente da Faculdade do Sudoeste Paulista (FSP/Avaré, SP)[email protected]

CAPES. Webqualis. Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/pesquisaPublicaClassificacao.seam?con-versationPropagation=begin. Acessado em: 10/10/2012.

CuBAS, Z. S.; SiLvA, J. C. R.; CATão-DiAS, J. L. tratado de Animais Selvagens: Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007, 1.376p.

SANToS, R. L. Pesquisa científica em me-dicina veterinária no Brasil e sua contex-tualização global. revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária, v. 18, n. 57, p. 66-70, 2012.

tabela 3. Análise da frequência dos idiomas utilizados nas publicações envolvendo medicina de animais silvestres, por foco taxonômico, durante o período de 2010 a 2012.

Foco das publicações N.P. inglês Espanhol Português P.P.l.E.

(%)

Aves 85 37 – 48 43,5

invertebrados 9 5 – 4 55,5

Mamíferos 223 79 – 144 35,4

organismos Aquáticos 91 50 – 41 54,9

Répteis 40 17 1 22 45

Multitáxons 2 – – 2 –

Educação Ambiental 1 – – 1 –

total 451 188 1 262 41,9

n.P.: número de publicações; B – P.P.L.E.: Prevalência de publicações em língua estrangeira (Inglês/

Espanhol).

tabela 2. Foco taxonômico específico das publicações identificados durante o período de 2010 a 2012.

Foco das publicaçõesAno Prevalência

(%)2010 2011 2012Educação ambiental 0 1 0 1 (0,2)invertebrados 3 1 5 9 (2)Aves 26 26 33 85 (10)Répteis 14 19 7 40 (9)Mamíferos 72 90 33 223 (49,4)organismos aquáticos 24 33 34 91 (20)Diversos táxons 2 0 0 2 (0,4)

total e percentagem 141 (31,3)

170 (37,7)

140 (31) 451 (100)

que das três revistas que mais apresentaram ar-tigos abordando medicina de animais silvestres apenas uma apresenta foco especializado. A pu-blicação em revistas não especializadas pode acar-retar erros que variam de sutis a grosseiros, pois

animais selvagens

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201324

Engajados em defender a fauna e a biodiversidade brasileira, o CFMv, com apoio dos Conselhos Regio-nais, fez o pré-lançamento da Campanha Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens, tema do 45º ano de atividade do Sistema CFMv/CRMvs. Em parceria com a Rede globo e Sesi, o CFMv esteve presente, em 18 de maio, no evento “Ação global”, atendendo diretamente cerca de 8.000 pessoas. As participações foram no Distrito Federal, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas gerais, Paraná e Rio grande do Sul, praças em que o CFMv foi convidado a atuar. Cada local contou com dois profissionais da Medicina veterinária, voluntários, para orientações sobre os animais selvagens.

Foi apresentado documentário sobre os prejuízos do tráfico e distribuídas cartilhas educativas. Para as crian-ças, atividades lúdicas com teatro, pintura, animadores e brincadeira com balão, evidenciaram a importância da conservação. Essa foi uma primeira ação da campa-nha que será expandida para todo o País, com diversas ações programadas para o ano.

CFmV INVEStE Em CAmPANhA EDuCACIONAL ConTrA o TráfiCo De AnimAis

Conselho em ação

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 25

CFMV CrITICA rESOLUçãO nº 457 DO COnAMA

CFMV PrOíBE A PráTICA DA CAUDECTOMIA

o CFMv manifestou-se contrariamente à publicação da Resolução nº 457 do Conselho Nacional de Meio Ambiente em junho de 2013. A nota pública, que critica a norma, foi enviada à imprensa e publicada no portal e redes sociais da instituição. Para o CFMv, diversos pontos do documento aprovado pelo Conama privilegiarão o tráfico de animais silvestres, promo-vendo a banalização do crime.

Na avaliação do Conselho, a Reso-lução comprometerá ainda mais a res-ponsabilidade que foi transferida aos estados para à gestão e fiscalização da fauna em cativeiro. Em sua manifes-tação, o CFMv solicita uma resposta do governo sobre a norma. “o CFMv, como representante dos mais de cem mil profissionais da Medicina veteri-nária e da Zootecnia em todo o País, cobra um posicionamento do gover-no Federal para que os esforços no

combate ao tráfico e os riscos à proteção da fauna brasileira não sejam negligenciados”.

Após ação de mídia do CFMv, o Conselho Fe-deral de Biologia também se manifestou contrá-rio e o Deputado Federal Ricardo Tripoli (PSDB/SP) apresentou em julho Projeto de Decreto Legislativo que susta a Resolução.

SHU

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Desde junho, a prática de caudectomia está proibida no Brasil. A Resolução nº 1.027, de 18/6/2013, expressou em seu texto o impedimento do corte da cauda dos caninos por moti-vo estético. o dispositivo modifica a Resolução nº 877, de 15 de fevereiro de 2008, que continha apenas uma recomendação do CFMv para que a cirurgia não fosse realizada.

Raças como Cocker Spaniel, Pinscher, Pointer Alemão, além de Pitbull, Rottweiller e Doberman são alvos comuns do pro-cedimento que são corriqueiramente justificados como para “embelezar” o animal. De acordo com o Presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda, o Conselho priva pelo bem-estar do animal.  “queremos coibir a caudectomia e conscientizar o Médico veterinário a não recomendá-la, já que amputar parte de um animal por motivo torpe é inadmissível”. os Conselhos Regionais de Medicina veterinária (CRMvs) podem receber denuncias da população.

destaques

26 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

rESOLUçãO nº 1.015 EnTrArá EM VIGOr SOMEnTE EM FEVErEIrO DE 2014

CâMArA nACIOnAL DE PrESIDEnTES DISCUTE TEMAS nA árEA DE GESTãO

Médicos Veterinários e ZootecnistasCadastrem-se em www.cfmv.gov.br e receba semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.

Presidentes e colaboradores do Sistema CFMv/CRMvs se reuniram em junho em Brasília para tratar de importantes temas nas áreas con-tábil e de gestão. o evento aconteceu na sede do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CoNFEA) e teve entre os principais assuntos a gestão Planejada, e o Controle Exter-no; e a gestão do Sistema Contábil. Representan-tes do Tribunal de Contas e da Corregedoria-ge-ral da união também participaram do encontro.

Durante a abertura da Câmara, o Presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda, ressaltou a importância do debate conjunto entre o Con-selho Federal e os Regionais. “quanto tratamos de temas importantes de forma conjunta agre-gamos valor às decisões. o debate é uma prática saudável, por meio da qual obtemos grandes resultados”, destacou.

No evento, os Conselhos Regionais puderam conhecer com detalhes o Planejamento Estra-

tégico do CFMv e os desafios da atual gestão. Também foram apresentados painéis relatando a importância do Controle interno nos Conselhos Profissionais, ministrado pelo representante da Secretaria Federal de Controle interno da Cgu,  Marcus vinicius de Azevedo Braga e sobre os aspectos práticos para a Prestação de Contas do CFMv e dos CRMvs perante o TCu, apresentado pelo chefe do setor de Prestação de Contas do Tribunal, geovani Ferreira de oliveira.

o CFMv prorrogou o prazo para a entrada em vigor da Resolução nº 1.015, que versa sobre novos critérios para o funcionamento de esta-belecimento veterinários. A norma, que vigeria a partir de agosto de 2013, só terá efeito em feve-reiro de 2014. o objetivo é dar um tempo maior

para as adaptações às novas

diretrizes. A Resolução estabelece atualizações para acompanhar as mudanças do mercado, garantir melhores condições de atendimento aos animais, acompanhar o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia, como também alinhar-se à legislação sanitária vigente.

Além de outras alterações, o dispositivo am-plia a exigência de equipamentos necessários para o setor cirúrgico, o qual deverá ser dividido em sala de preparo de paciente, sala de assepsia, sala de lavagem e esterilização de materiais, uni-dade de recuperação anestésica e sala cirúrgica. “Como se trata de modificações na estrutura físi-ca dos locais, achamos por bem ampliar o prazo para que os proprietários possam obedecer às exigências feitas pelo CFMv”, justifica o Presi-dente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda.

27Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

DESTAquES

Representantes do CFMv partici-param de duas audiências públicas, em abril, nas Casas do Congresso Na-cional em Brasília. A Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado Federal discutiu as condições de funcio-namento dos abatedouros no País e no evento o presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda, ressaltou as ações empenhadas pelos Conselhos Regionais de Medicina veterinária. Falou sobre as dificuldades que o Sistema CFMv/CRMvs enfrenta no cumprimento da fiscalização dos estabelecimentos. “Não adianta haver fiscalização e punição a estabelecimentos irregulares e aos profissionais que não exercem o seu papel com ética, se por vias judiciais é possí-vel reverter as determinações dos conselhos”.

A Câmara dos Deputados também realizou debate sobre a crueldade com que são tratados

os animais nos abatedouros. Na ocasião, o mem-bro da Comissão de ética, Bioética e Bem-Estar Animal do CFMv, Marcelo Weistein Teixeira, afir-mou que somente uma ação conjunta dos Con-selhos Federal e Regionais, Ministério Público, autoridades administrativas e sociedade organi-zada poderá mudar o panorama nefasto que do-mina em grande parte dos abatedouros no País.

CFMV MArCA PrESEnçA EM AUDIênCIAS PúBLICAS EM BrASíLIA nO PrIMEIrO SEMESTrE

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da Medicina Veterinária e da Zootecnia.

no Twitter procure, por CFMV_oficial e no Facebook por Portal CFMV.

SISTEMA CFMV/CrMVS COMPLETArá 45 AnOS EM SETEMBrO

o Sistema CFMv/CRMvs com-pleta 45 anos e promoverá diver-sas ações, no segundo semestre, em alusão à data. o destaque será o lançamento oficial da Cam-panha Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens, que contará com a participação e o apoio de parceiros como Ministé-rio Público Federal, Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), organizações globo e Polícia Rodoviária Federal.

Ainda como parte da co-memoração da data, haverá a

Solenidade oficial da data, no dia 21 de outubro, na Câmara dos Deputados, que homena-geará os Médicos veterinários e Zootecnistas e enfatizará a importância e as principais con-quistas do Sistema; a Exposição itinerante com fotos históricas do CFMv; e o Dia da Conscien-tização em Defesa da Fauna, que consistirá ações em praças e parques do Brasil com estan-des e distribuições de cartilhas sobre o combate ao  tráfico de animais selvagens.

28 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

IV SEMInárIO BrASILEIrO DE rESIDênCIA EM MEDICInA VETErInárIA DEBATE rEGULAMEnTAçãO DO MEC

rEVISTA CFMV rECEBE HOMEnAGEM DO SEnADO FEDErAL

A edição número 58, que trouxe um especial sobre a atu-ação das mulheres na Medicina veterinária e Zootecnia recebeu um “voto de Congratulações e Aplausos” do Senado Federal. o requerimento foi feito pela Sena-dora vanessa grazziotin (PCdoB/AM), no final de junho de 2013, com voto lido em plenário.

A Senadora é procuradora da mulher do Senado e por sua atuação, entendeu que o es-pecial editado pela Revista CFMv foi um reco-nhecimento ao papel da mulher e evidenciou sua importância dentro das duas profissões. Ela parabenizou a publicação e a iniciativa do

Conselho Federal de Medicina veterinária.

A primeira edição do ano (no. 58) trouxe um especial com sete artigos e uma entrevista sobre a atuação da mulher nas profis-sões representadas pelo CFMv. Foram apresentados dados esta-tísticos e detalhamento sobre a mulher na Medicina veterinária e Zootecnia. Também foi abor-dada sua atuação nas áreas de bem-estar animal, animais sel-

vagens, relações políticas e a trajetória nos cursos de Medicina veterinária e Programas de Residên-cia em Medicina veterinária. A edição completa pode ser vista em www.cfmv.gov.br

Passado um ano do reconhecimento dos Pro-gramas de Residência em Medicina veterinária pelo Ministério da Educação (MEC), o CFMv pre-ocupou-se em reunir e esclarecer as dúvidas dos coordenadores de curso sobre o cadastramento, reconhecimento e o perfil dos Programas de Re-sidência Multiprofissional em Saúde, nos quais também está inserida a Medicina veterinária. Em parceria com o MEC, os debates foram realizados durante o iv Seminário Brasileiro de Residência em Medicina veterinária, nos dias 20 e 21 de maio, em São Paulo, SP.

Atualmente, estão cadastrados no MEC 203 programas de residência multiprofissional da saúde e 328 em área profissional da saúde. ou-tros 237 estão em fase de elaboração. Do total de cadastrados, 171 programas são de Medicina veterinária, com maior concentração em Minas gerais, goiás, Paraná e Rio grande do Sul.

Ao final, os representantes dos Programas de Residência em Medicina veterinária presentes fizeram uma moção pública para pleitear ao Ministro da Educação a publicação da portaria que nomeia a Comissão Nacional de Residência

Multiprofissional em Saúde. Na ocasião, o Médico veterinário Eduardo Harry Birgel (foto) foi home-nageado pelo CFMv, em reconhecimento aos importantes serviços prestados.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 29

Cfmv na mídia

DESAFioS DA MEDiCiNA vETERiNÁRiA E ZooTECNiA

Em entrevista à revista Andipet (6ª edição), o presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda, ressaltou que os Médicos veterinários e Zootec-nistas, independentemente da área de atuação, têm como principal desa-fio evidenciar e entender a saúde do ser humano, dos animais e do meio ambiente como saúde única.

ESPECiALiDADES CRESCEM NA MEDiCiNA vETERiNÁRiA

A revista Veja São Paulo , em maio, publicou reportagem sobre a especialização na Medicina veteriná-ria. Em entrevista, o secretário-geral do CFMv, Felipe Wouk, alertou que apesar da expansão da profissão, o Conselho reconhece, na época, ape-nas cinco especialidades. “o CFMv tem regras rígidas que precisam ser seguidas”, esclareceu.

DiSCuSSão SoBRE A LEiSHMANioSE

Em reportagem sobre a Leishma-niose, na revista Cães e Gatos, edição 165, de 2013, o CFMv defendeu seu posicionamento sobre a enfermidade. “Deixamos claro que, até que a cura da doença seja cientificamente compro-vada, o posicionamento institucional do Conselho Federal e também dos Regionais é pelo não tratamento do mal nos animais, garantindo, as-sim, a segurança e a pro-teção à saúde pública”, observa o presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda. o posicio-namento também foi debatido pelo jornal O Povo, de Fortaleza, CE.

DiÁLogo CoM CRiADoRES DE PETS

o CFMv con-ti nua sua parce -ria com a revista Cães e Cia para divulgação de ar-tigos orientadores sobre os cuidados com os animais de companhia. Den-tre os últimos textos divulgados, foi abordada a importância da carteira de vacinação e também orientações sobre o correto descarte de carcaças de animais.

ZooTECNiA EM PAuTA

Como parte das ações para a co-memoração do Dia do Zootecnista, o CFMv realizou ampla divulgação na mídia sobre as atribuições da profissão e seus desafios. Dentre as publicações, destaca-se a divulgação na revista Globo rural online, além de outros sites de mídia especializada em agronegócio.

CÃes & Cia • 407 49

Amigo vet

Carteira de vacinação é fundamental

Por BENEDITO FORTES DE ARRUDA

Mais do que um cuidado, guardar cuidadosamente a carteira de vacinação e mantê-la sempre atualizada é um ato de amor aos animais de estimação

brasileiro está cada dia mais predisposto a ter um animal de estimação. As crianças sempre foram fascinadas por eles e os adul-

tos, cada dia mais, se dão conta do que já é comprovado pela ciência: dedicar tempo aos pets funciona como terapia, aliviando o es-tresse e as tensões da rotina diária. Quem tem gato ou cachorro conhece bem a sensação de chegar em casa, depois de um dia cansativo, e ser recebido com festa. Esses e outros fato-res, como o aumento da renda da população, contribuíram para o Brasil alcançar uma mar-ca considerável: temos, atualmente, a quarta maior população de pets do mundo e a segun-da em cães e gatos. Contando apenas as duas espécies, o País já soma aproximadamente 59 milhões de animais.

É importante, entretanto, lembrar que, além de cuidados básicos com alimentação, higiene e educação, não deve ser esquecido o reforço da defesa imunológica do animal con-tra doenças graves, muitas vezes fatais, obtido por meio de programa consistente de vacina-ção (veja no final da matéria).

Controlar atentamente as datas das apli-cações é fundamental para que o animal não fique com as vacinas vencidas. Viabilizar esse trabalho é uma das funções importantes da carteira de vacinação. Preenchida obrigatoria-mente por médico-veterinário, a carteira con-tém dados confiáveis, úteis para dar suporte para que as aplicações ocorram no momento certo e com as dosagens corretas, de modo a garantir o bem-estar do pet e, indiretamente, de seus donos e da sociedade.

Por isso, a recomendação é manter a car-teira de vacinação em local seguro e de fácil

localização. Perdê-la significa perder também o histórico e a cronologia de todo trabalho de imunização já feito. A decorrência é que, sem essas informações, o médico-veterinário não tem outra saída a não ser trabalhar no campo das hipóteses, o que pode significar risco de o animal ficar imunologicamente vulnerável e exposto à própria sorte.

É verdade que as informações registradas na carteira de vacinação também devem ser mantidas no prontuário do animal em poder do médico-veterinário, podendo ser disponi-bilizadas quando solicitado. Mas não se deve esquecer que imprevistos acontecem, como a eventual perda de informações arquivadas ele-tronicamente, o encerramento das atividades da clínica ou, ainda, a dificuldade de resgatar

o histórico quando o animal foi imunizado em diferentes estabelecimentos.

Outra utilidade da caderneta de vacinação é o uso por ocasião da emissão de atestado de saúde, documento exigido sempre que um animal vai para o exterior, também expedido exclusivamente por médico-veterinário.

Programa de vacinaçãoCães• Filhotes: aplicação de vacina V10, também co-nhecida como polivalente, múltipla ou combina-da. Protege contra Cinomose, Adenovirose tipo 1 (hepatite), Adenovirose tipo 2 (doenças respira-tórias), Parainfluenza Canina, Parvovirose Canina, Leptospirose (Leptospira icterohaemorrhagiae, L. canicola, L. grippotyphosa e L. pomona) e Coro-navirose. Existe, alternativamente, a vacina V8, que se diferencia da V10 por não proteger de duas cepas de leptospira (L. grippotyphosa e L. pomona).• Adultos: repetição anual da V10

Gatos• Filhotes: aplicação de vacina quádrupla, que protege contra rinotraqueíte, panleucopenia, ca-licivirose e clamidiose. • Adultos: repetição da vacina quádrupla anual-mente

Cães e gatos• Filhotes e adultos: aplicação anual de vacina an-tirrábica. Atua contra o vírus da raiva, que pode ser fatal para animais e humanos.

Benedito Fortes de Arruda é médico-veterinário e presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

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Reforço regular do sistema imunológico: ato de amor facilitado pela carteira de vacinação

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O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou, recentemente, a Resolução 1.023, que altera e revoga incisos dos artigos 2º, 3º e 4º da Resolução 844/2006, e traz alguns acréscimos importantes aplicáveis em documentos cuja expedição só pode ser feita por médicos- veterinários:

Carteira de vacinação – em caso de emissão de nova carteira, deve ficar registrado que se trata de segunda via ou subsequente (artigo 4º, §1º, inciso X). Atualizações feitas por médico-veterinário autônomo deverão conter o nome completo dele, bom como seu endereço e telefone (inciso XI).

Certidões de óbito – devem relatar o porte do animal, assim como apresentar a resenha (dese-nho que mostra particularidades da pelagem) no caso de eqüídeos, o que antes não era exigido. O local da morte também deverá ser detalhado, com informações da cidade, unidade da federação, identificação do local – clínica, residência ou fazenda, etc. A identificação do proprietário, nome, CPF ou CNPJ e endereço completo são exigências explicitadas agora no inciso I (antes estavam no VII).

Atestado sanitário – aqui também a pelagem dos equídeos deve ser informada em forma de resenha.

Novas regras

CFMv DEFENDE EXAME PARA REgiSTRo

o Presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda, participou de audi-ência pública na Câmara dos Deputa-dos sobre a obrigatoriedade do exame nacional de cursos para obtenção do registro profissional. Ele defendeu a importância da prova para todo os egressos da área de saúde. A audiência foi transmitida pela tV Câmara.

PRoiBição à CAuDECToMiAA publicação

d a R e s o l u ç ã o CFMv nº 1027 que proibe o corte de cauda foi notícia em diversos veí-culos de comuni-cação: O Globo, Estado de S. Paulo, tV Globo, SBt, t V Gazeta, revista Veja, EPt V

(G l o b o i n t e r i o r d e S P ) , Agora São Paulo, Correio Braziliense, Diário do Nordeste, Diário de Per-

nambuco, rBS Notícias, Diário de Santa Catari-na, Jornal do Comércio-

SC, Jornal do Cariri, CE, revista Cl ínic a Veterinária e re-vista Cães e Cia.

CFMv CoNTRA o TRÁFiCoA manifesta-

ção contrária do CFMv à resolução no. 457 do Cona-ma foi apoiada pela imprensa. os jornais O Estado de S.Paulo e O Globo repercuti-ram a opinião do Conselho. A nota também foi desta-que nos blogs Ambiente-se e Blog do Dener Giovanini, ambos do Estadao.com; e nos sites Eco reserva, terra Ciência, entre outros .

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201330

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIASIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140Brasília-DF – CEP: 71205-060Fone: (61) 2106-0400www.cfmv.gov.br

DIRETORIA EXECUTIVAPrESIDEnTE

Benedito Fortes de Arruda

VICE-PrESIDEnTE

Eduardo Luiz Silva Costa

SECrETárIO-GErALAntônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

TESOUrEIrO

Amilson Pereira Said

EDITOr DA rEVISTA CFMV

Ricardo Junqueira Del Carlo CrMV-MG nº 1759

CONSELHO EDITORIALPrESIDEnTE

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo WoukSECrETárIO-GErAL

Márcia LeiteLíDEr DA árEA DE COMUnICAçãO

Ricardo Junqueira Del CarloEDITOr

Flávia ToninSUBEDITOrA

Joaquim LairCOOrDEnADOr DE COMISSõES

COMITê CIENTíFICO DA REVISTA CFMVPrESIDEnTE

Cláudio Lisias Mafra de Siqueira CrMV-MG nº 5170

Roberto Baracat de Araújo CrMV-MG nº1755

gilson Helio Toniollo CrMV-SP nº 2113

João Luis Rossi JúniorCrMV-SP nº 11607 e CrMV-ES nº 1206/VS

Luiz Fernando Teixeira Albino CrMV-MG nº 0018/Z

REviSTA Do CFMv - Brasília - DF - Ano XiX - Edição N° 59 - 2013

SuplementoCientíficoAbordagem farmacológica da dor neuropática pós-amputação de membros em cães. revisão de Literatura

Roberta Cristina Campos Figueiredo / Karina Velloso Braga Yazbek

Denise Claudia Tavares / Rodrigo Prevedello Franco / Breno Cayeiro Cruz / Luiz Daniel de Barros Flávio Lopes da Silva / Chayanne Silva Ferreira / Katia Denise Saraiva Bresciani

Neospora Caninum: aspectos clínicos e epidemiológicos. revisão de literatura

Cristiano Teixeira Schultz / Rosane Gomes Alves / Alexandre Pina Costa

Conhecimento e atuação em relação à esporotricose. Um estudo de caso com Médicos Veterinários do rio de Janeiro

Prevalência de cisticercose bovina em abatedouro de rondônia

Darlene Ramos / Aliny Pontes Almeira

31Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

aBstract

resuMo

PharMaCologiCal TheraPy iN NeuroPaThiC aFTer liMb’s aMPuTaTioN iN dogs

A amputação de membros pode determinar o aparecimento de dor crônica que é descrita como fantasma e do coto de amputação, e é classificada como neuropática. Não existe fármaco específico para seu tratamento, pois a transmis-são da dor envolve múltiplos mecanismos e neurotransmissores, tornando obrigatória a analgesia multimodal, com fármacos que possuem diferentes mecanismos de ação.

Palavras-chave: dor neuropática, analgesia, dor fantasma

The limb’s amputation can induces chronic pain like phantom pain and stump pain, defined as a neuropathic pain. There is no specific drug apable of treating neuropathic pain, because pain transmission involves multiple mechanisms and neurotransmitters, forcing perform a multimodal analgesia using drugs that have different action mechanisms.

Keywords: neuropathic pain, analgesy, phantom pain

ABOrDAGEM FArMACOlóGiCA DA DOr NEurOPátiCA PóS-AMPutAçãO DE MEMBrOS EM CãES. rEViSãO DE litErAturA

InTrODUçãOPara o Colégio Americano de Anestesiologia ve-

terinária, em pacientes veterinários, a dor é condição clínica importante que deve, obrigatoriamente, ser prevenida e tratada para que o animal mantenha suas atividades diárias como sono, lazer, alimentação e higiene adequadas e interação com o proprietário. Apesar dos recentes avanços obtidos em relação à compreensão e tratamento da dor em animais, pa-cientes ainda sofrem devido à ausência de tratamen-to de síndromes dolorosas crônicas, ocasionando efeitos sistêmicos deletérios e redução da qualidade e da expectativa de vida (FiguEiREDo e FLÔR, 2011).

Para a correta abordagem da dor crônica no paciente animal, o local afetado e ao seu redor de-vem ser palpados; o proprietário deve ser questio-

nado sobre a dor manifestada e como interfere na qualidade de vida. A escolha do tratamento deve basear-se no estágio da dor, pois toda dor que vai além do grau leve deve ser tratada com mais de uma classe de analgésicos (Figura 1). A formulação do tratamento deve ser de forma lógica e coorde-nada, esclarecendo ao proprietário os possíveis efeitos colaterais (LASCELLES, 2005).

A utilização de adjuvantes, como anticonvulsi-vantes e antidepressivos tricíclicos, é baseada em tra-tamentos, efetuados no homem (SAKAMoTo, 1995). opióides, antagonistas de receptores NMDA, anti-inflamatórios e anestésicos locais também podem ser utilizados no protocolo antiálgico. Tratamentos multdisciplinares como a acupuntura e a fisioterapia também podem ser de importância.

32 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

AnTICOnVULSIVAnTESos anticonvulsivantes mais utili-

zados em humanos portadores de dor neuropática são a gabapentina e a pre-gabalina, cujos mecanismos capazes de aliviar a dor ainda não estão totalmente esclarecidos, porém há indícios de que interagem com receptores NMDA, an-tagonizando-os e com canais iônicos, estabilizando a membrana neuronal e diminuindo a transmissão sináptica nos gânglios da raiz dorsal da medula espinhal (LEBRE et al., 1995; LASCELLES, 2005). Moulin et al. (2007) informaram que, junta-mente com os antidepressivos tricíclicos, os anti-convulsivantes devem constituir a primeira classe de analgésicos adjuvantes a serem prescritos nos casos de dor neuropática. Bone et al. (2002) enfa-tizam a eficácia da gabapentina nos casos de dores intensas decorrentes de síndromes neuropáticas.

A gabapentina foi introduzida na Medicina vete-rinária como anticonvulsivante. Porém, estuda-se a possibilidade de possuir propriedades analgésicas em menores doses. No cão é metabolizada via este-rase hepática (LASCELLES, 2005). Em cobaias há re-dução considerável dos sintomas de dor neuropática como hiperalgesia, que consiste na sensação doloro-sa exacerbada frente a um estímulo pouco doloroso, e alodinia, caracterizada em sensação álgica diante de estímulo inócuo (MAo, 2000).

Nicolajsen et al. (2006), trabalhando com pa-cientes humanos, concluíram que a gabapentina administrada diariamente, no primeiro mês após a amputação de membros, não reduziu a incidência de dor pós-amputação.

Em ratos, a gabapentina, administrada pelas vias oral ou intratecal, inibiu a transmissão da dor inflama-tória e reduziu a hiperalgesia causada por lesão nervosa periférica e queimadura (gAYNoR et al., 2009).

Não há relatos do uso de anticonvulsivantes no tratamento de dor pós-amputação em cães, porém, a dose da gabapentina sugerida por Tranquilli et al. (2005) é de 5-10 mg/kg, a ser administrada pela via oral e repetida a cada 12 ou 24 horas. Seus efeitos ad-versos incluem sonolência, fadiga e ganho de peso (gAYNoR et al., 2009).

AnTIDEPrESSIVOS TrICíCLICOSos antidepressivos tricíclicos (ADT ) são fár-

macos derivados do iminobenzil tricíclico, muito utilizados no tratamento da depressão e, secun-dariamente, no controle de síndromes dolorosas crônicas em humanos (LEBRE et al., 1995). Como

na dor neuropática ocorrem anormalidades sen-soriais em relação à dor inflamatória e a pobre resposta aos analgésicos, a utilização de fármacos adjuvantes como os antidepressivos, além de po-tencializar analgésicos, melhoram a qualidade do sono, muitas vezes prejudicado em portadores de dores crônicas. Esses efeitos são atingidos mesmo se utilizando doses inferiores àquelas da ação anti-depressiva (CARDENAS et al., 2002).

os ADT inibem a recaptação de serotonina no corno dorsal de medula espinhal, onde se dá a pri-meira sinapse do neurônio aferente. Além disso, alteram a sensibilidade do receptor adrenérgico pré e pós-sináptico e possuem ações anticolinérgicas (LEBRE, 1995). Seu emprego significa, portanto, diminuição da sobrecarga de informação que a via aferente conduzirá ao cérebro para posterior deco-dificação. Seus efeitos colaterais estão relacionados à ação colinérgica como sonolência (MACiEL, 2004).

A amitriptilina é o fármaco dessa classe mais utilizado como adjuvante no tratamento de dor, inibindo recaptação de serotonina e norepinefrina, contribuindo, assim, para o aumento da viabilidade de neurotransmissores inibitórios (CARDENAS et al., 2002). Doses terapêuticas podem desencadear gra-ves alterações cardíacas como bradicardia sinusal, podendo evoluir para assistolia, tornando necessária a realização de monitoração de pressão arterial, eletrocardiograma ou até a realização de monitori-zação cardíaca dinâmica (Holter) antes e durante o tratamento. A ocorrência de potencialização de seus efeitos, quando utilizada concomitantemente à tera-pia com anticonvulsivantes, fato comum em casos de dor crônica neuropática, pode incrementar a meta-bolização hepática dos ADT, resultando em aumento sérico desses e sobredose relativa, aumentando seu potencial cardiotóxico (LEBRE et al., 1995).

Estudo realizado no Ambulatório de Dor e Cuidados Paliativos da Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia da uSP, com 27 cães porta-dores de dor neuropática, apresentando alodinia, concluiu que o fármaco é eficaz no tratamento do-loroso, ocorrendo remissão do sintoma clínico da

Terapia invasiva

opioides potentesnão opioides adjuvantes

opioides fracosnão opioides adjuvantes

Analgésicos não opioides adjuvantes

Dor intratável

Dor leve

Dor moderada e intensa

Dor leve e moderada

Figura 1. Abordagem da dor. OMS, 2008.

33Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

neuropatia em 70,37% dos casos logo no primeiro retorno (FLÔR et al., 2009).

Wilder-Smith et al. (2005) trabalharam com 94 pacientes humanos separados em grupos que rece-beram cloridrato de tramadol, placebo e amitriptilina, por um mês. Houve remissão da dor nos pacientes tratados com amitriptilina e tramadol, com baixos índices de efeitos colaterais (mais comuns nos trata-dos com tramadol), demonstrando potentes efeitos antinociceptivos nesses casos.

Sob orientação da Sociedade Canadense de Dor, no tratamento de dor crônica neuropática ficou es-tabelecido que os ADT possuem relevância, ficando aprovada sua eficácia e de outros fármacos como anticonvulsivantes, lidocaína (administração tópica), tramadol e metadona, no homem (MouLiN, et al., 2007). A dose da amitriptilina preconizada por Tran-quilli et al. (2005) é de 1 mg/kg, pela via oral, repetin-do a administração a cada 12 ou 24 horas.

OPIOIDESEsses fármacos ligam-se reversivelmente a

receptores específicos no SNC e medula espinhal, alterando a nocicepção e percepção da dor. Cen-tralmente, no mesencéfalo e medula, os opióides ativam as vias nociceptivas descendentes, via libe-ração de serotonina e, talvez de norepinefrina. No sistema límbico, alteram os componentes emocio-nais da dor. Seus efeitos dependem da afinidade que possuem pelo receptor específico, podendo ser mu, kappa, delta e sigma (FANToNi & MASTRo-CiNquE, 2002). os agonistas totais µ são os anal-gésicos mais potentes dessa classe, seguidos pelos agonistas-antagonistas e agonistas parciais mu. os antagonistas opióides ligam-se nos receptores, porém, sem exercer efeito analgésico. São utiliza-dos para reverter efeitos adversos dos agonistas totais (MATHEWS, 2000). Possui diferentes vias de administração: oral, parenteral ou espinhal, cons-tituindo, essa última via, uma opção bastante uti-lizada em humanos para o controle de dor crônica (RoCHA et al., 2002).

A metadona é um opioide sintético, agonista de receptores mu, delta e kappa, e antagonista de receptores N-Metil D-Aspartato (NMDA), além de, possivelmente bloquear a recaptação de serotonina e noradrenalina. Disponível em administração oral, em humanos, estima-se que sua potência analgésica seja até 10 vezes superior à da morfina (RiBEiRo et al., 2002). Seu uso no tratamento da dor decorrente de processos neoplásicos cresce devido à sua eficácia, ausência de formação de metabólitos ativos e baixo

custo. Devido ao fato de ligar-se a receptores NMDA, supõe-se que possua mecanismos de ações diferen-tes em portadores de dor neuropática e não neuro-pática (gAgNoN et al., 2003).

Bergmans et al. (2002) trataram quatro pacientes humanos portadores de dor fantasma intratável, refratária a múltiplas modalidades de tratamentos, com a metadona pela via oral e concluíram que o fár-maco foi eficaz no auxílio da remissão dolorosa.

A dose indicada para cães é de 0,05-2 mg/kg, pela via oral, intramuscular ou subcutânea (TRANquiLLi et al., 2005).

o cloridrato de tramadol é um opiáceo que possui características especiais, pois sua molécula inibe a recaptação de serotonina e dopamina, além de exercer atividade opiácea sobre receptores mu, kap-pa e delta, tendo pouca tendência em desenvolver tolerância, mesmo durante uso prolongado, sendo suas ações desejáveis em portadores de dor crônica, como a neuropática (AMARAL FiLHo & MARCZYK, 2003). Tranquilli et al. (2005) preconizam 2-10 mg/kg, pela via oral, a cada oito horas.

outra opção para o tratamento da dor, por longos períodos, é o fentanil em forma de ade-sivo transdérmico. opióide sintético, de ação semelhante à da morfina, possui a vantagem de proporcionar liberação constante e regular do fár-maco ao longo de 72 horas com menores poderes sedativos, nauseantes e obstipantes em relação à morfina. Pode ser utilizado em hepato e nefropa-tas (MACiEL, 2004). Possui período de latência de seis a 24 horas e, Pascoe (2000) detectou, após 72 horas, concentrações plasmáticas ideais para ma-

Monitoramento da dor

ArqUIVO CFMV

34 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

nutenção da analgesia em cães. Deve ser utilizado na dose de 0,005 mg/kg/h, trocando o emplastro a cada três dias (TRANquiLLi et al., 2005).

Estudos em humanos demonstram que o fen-tanil pode ter papel de destaque no tratamento de síndromes dolorosas crônicas, sendo muito bem tolerado pela vias espinhais (peridural e raquidiana), administrado continuamente com o auxílio de cate-ter peridural ou raquidiano, inserido na proximidade da substância gelatinosa, na raiz nervosa correspon-dente à região afetada pela dor (RoCHA et al., 2002).

A morfina é um opióide indicado no tratamen-to de dor moderada a grave. Possui muitos efeitos colaterais como sedação, náusea e obstipação (MACiEL, 2004). uma alternativa ao seu uso, com mínimos efeitos colaterais, é a utilização pelas vias espinhais. Devido à sua hidrossolubilidade, permanece por até 24 horas no espaço peridural e migra cranialmente para níveis mais altos no canal medular (RoCHA et al., 2002).

Em estudo realizado por Kukanich (2005), com seis cães tratados com morfina pela via oral, foi com-provado que o M-6-g, metabólito responsável pelo efeito analgésico do fármaco não foi detectado no plasma de nenhum animal, concluindo que a morfi-na administrada por essa via não é eficaz.

Huse et al. (2001) indicaram o uso de opióides, como a morfina, no tratamento da dor fantasma em humanos, pois o fármaco auxilia na reorganização do córtex cerebral. Em cães, a dose varia entre 0,2-2 mg/kg, pelas vias subcutânea e intramuscular. Se admi-nistrada pela via endovenosa, nunca ultrapassar 0,4 mg/kg (TRANquiLLi et al., 2005).

AnTAGOnISTAS DE rECEPTOrES nMDA

o receptor NMDA é importante para indução e manutenção da sensibilização central (LASCELLES, 2005). Seus antagonistas reduzem a excitabilidade dos neurônios sensibilizados no corno dorsal da medula espinhal e bloqueiam a resposta neuronal facilitada aos estímulos repetitivos das fibras C e, po-dem ser efetivos no tratamento da dor neuropática (FiguEiREDo e FLÔR, 2011).

os antagonistas NMDA estão relacionados com a prevenção da tolerância (por mecanismos desco-nhecidos) e aumento do efeito da analgesia produzi-da pelos opióides (iSHiZuKA et al., 2007). A cetamina bloqueia a sensibilização central e, em baixas doses, não provoca alterações hemodinâmicas e respirató-rias, sendo segura no tratamento da dor neuropática. Há disponibilidade para administração pela via oral,

bastante utilizada em humanos, apresentando bons resultados (ALvES, 2004). Sua administração no perío do perioperatório pode prevenir a potenciali-zação da dor (fenômeno wind-up) e reduzir a dor pós-operatória (RoCHA et al., 2002; WAgNER et al., 2002).

Wagner et al. (2002) infundiram cetamina em 13 cães, pacientes de amputação de dígitos, iniciando a administração do fármaco após o procedimento cirúrgico e finalizando-a após 18 horas e observaram melhor analgesia em relação ao grupo controle.

Wilson et al. (2008) testaram a cetamina de forma preemptiva, administrada pela via epidural em hu-manos que se submeteriam à amputação distal de membros. A analgesia peri e pós-operatória foi signi-ficantemente superior em relação ao controle, com menores incidências de desenvolvimento de dor no coto de amputação e dor fantasma.

A cetamina tem sido utilizada em humanos por via subaracnóidea, potencializando os efeitos de opióides em pacientes com câncer, mostrando-se alternativa terapêutica para o manejo de dor oncoló-gica e neuropática crônica não oncológica (RoCHA et al., 2002). Tranquilli et al. (2005) indicam seu uso pela via peridural, associada a um anestésico local e um opioide para cães portadores de dor crônica, na dose de 0,5 mg/kg ou 0,5 mg/kg/h, pela via endovenosa.

o dextrometorfano também é um antagonista de receptores NMDA utilizado em humanos, porém, estudos não comprovaram eficácia no tratamento de dor crônica, e 37% das pessoas tratadas relataram piora da dor (ALvES, 2004).

Lascelles (2005) tem utilizado amantidina como adjuvante no alívio de dor crônica e associa-do a AiNES, melhorando a analgesia e diminuindo a incidência de efeitos colaterais e, contraindica o uso em cardiopatias congestivas e em terapia com ADT. Em animais, reduz alodinia e a tolerância ao uso de opioides. Em cães portadores de oste-ossarcoma e osteoartrite, potencializou o efeito de AiNES e melhorou a qualidade de vida dos pa-cientes (gAYNoR et al., 2009). A dose para cães é de 1-4 mg/kg, pela via oral, repetida a cada 24 horas (TRANquiLLi et al., 2005)

AnESTéSICOS LOCAISinterrompem a condução do estímulo nervo-

so insensibilizando a zona inervada e aliviando a dor temporariamente, bloqueando a geração e a condução do impulso nervoso. Devem ser empregados como parte do protocolo anestésico nas amputações de membros, evitando transmis-são do impulso nociceptivo e, no pós-operatório

35Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

tardio, caso o paciente necessite (oTERo, 2005). A administração perineural de soluções anestésicas locais, momentos antes da transecção cirúrgica dos nervos principais é útil para diminuir a inci-dência de dor fantasma. Cães que terão membros pélvicos amputados poderão ser beneficiados pela administração de lidocaína e bupivacaína pela via peridural, evitando o desenvolvimento de lesões pós-amputação (TRANquiLLi et al., 2005).

quando administrada pela via endovenosa, a lidocaína apresenta ação multifatorial, resultante da interação com canais de sódio e diferentes recepto-res e vias de transmissão nociceptiva, como inibição de glicina, redução da produção de aminoácidos ex-citatórios e produção de tromboxano A2, liberação de opioides endógenos, redução de neurocininas e liberação de adenosina (LAuRETTi, 2005).

A lidocaína está disponível para uso transdérmi-co em humanos, auxiliando no tratamento de neuro-patias periféricas, sem uso aprovado para animais. As doses sugeridas para o uso de anestésicos locais em cães são de até 6 mg/kg para a lidocaína com ou sem adrenalina, repetida a cada duas horas, e até 2 mg/kg para a bupivacaína com ou sem adrenalina, repetida a cada seis horas (TRANquiLLi et al., 2005).

AnTI-InFLAMATórIOS nãO ESTErOIDAIS (AInES) E ESTErOIDAIS (AIES)

os AiNES tradicionalmente são usados no tratamento da dor aguda traumática e pós-cirúr-gica, contribuindo para evitar a sensibilização de receptores periféricos e hipersensibilização central (oTERo, 2005). Em casos crônicos, são

indicados somente em se houver dor associada à inflamação e edema, não constituindo a prin-cipal classe farmacológica para o tratamento da dor neuropática ( TRANquiLLi et al., 2005). REiS & RoCHA (2006) relatam que sua eficácia no tratamento da hipersensibilidade após lesão de nervos periféricos é controversa, sendo modestas as respostas apresentadas.

A dipirona é bastante segura para uso prolon-gado, provocando poucos efeitos deletérios renais ou gastrintestinais (FANToNi & MASTRoCiNquE, 2002). Seu mecanismo de ação está relacionado ao bloqueio direto da hiperalgesia inflamatória por prostaglandina E (PgE), supostamente promovendo dessensibilização de nociceptores periféricos por ativação de óxido nítrico, e não ao bloqueio de CoX-1 e 2, como os outros AiNES (REiS & RoCHA, 2006).

Marquez & Ferreira (1987) realizaram estudos administrando dipirona em cobaias com dor crôni-ca, não obtendo efeitos analgésicos satisfatórios. Descreveram um efeito analgésico potente da di-pirona sobre dor intratável causada por desaferen-tação e constrição do nervo ciático. Administraram o fármaco em forma de infusão regional, obtendo analgesia relevante e de longa duração, permane-cendo por até dois meses, sugerindo que seu efeito analgésico periférico de longa duração sobre a hiperalgesia provavelmente seja proveniente da indução da dessensibilização dos terminais noci-ceptivos no neurônio sensorial primário, corrobo-rando a hipótese de que a síntese de óxido nítrico, perifericamente, pode estar relacionada ao efeito analgésico local da dipirona. A dose sugerida da di-pirona para cães é de 25 mg/kg, pela via oral, a cada oito horas (TRANquiLLi et al., 2005).

A utilização dos corticosterooides em pacientes com dor neuropática deve ser considerada em casos em que há processo inflamatório instalado, com a finalidade de diminuir edemas, inflamações e lesões vasculares (JACoMET, 2005).

COnSIDErAçõES FInAISo tratamento de síndromes dolorosas crônicas

em geral, não apenas as ocasionadas pela amputa-ção, devem priorizar um protocolo multimodal res-peitando a complexidade das síndromes, atentando para a necessidade de alteração do fármaco ou de sua dose. A abordagem farmacológica da dor crônica neuropática e não neuropática é, às vezes, frustrante, pois a remissão dolorosa pode ser irrelevante ou, quando ocorre de forma satisfatória, é comum que haja recidiva após alta.

administração epidural de fármacos para controle da dor

ArqUIVO DO CFMV

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suplemento científico

DaDos Das autoras

referências BiBliográficas

rOBErtA CriStiNA CAMPOS FiGuEirEDOMédica veterinária, CRMv-SP nº 19605, [email protected]

KAriNA VEllOSO BrAGA yAZBEKMédica veterinária, CRMv-SP nº 12418

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37Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

aBstract

resuMo

NeosPora CaNiNuM: ePideMiology aNd CliNiCal MaNiFesTaTioNs

o Neospora caninum é um protozoário descoberto na década de 1980 e considerado a principal causa de aborta-mento em bovinos em diversos países. Pesquisas recentes utilizando diversas espécies animais buscam responder lacunas sobre seu ciclo de vida e possível potencial zoonótico. Essa revisão enfatiza os principais aspectos biológicos do parasita, descrevendo seu ciclo, modo de contágio, manifestações clínicas, métodos diagnósticos e tratamentos utilizados, contribuindo para aprimoramento das pesquisas científicas e seu controle biológico.

Palavras-chave: Neosporose, ciclo biológico, diagnóstico, zoonose

Neospora caninum is a parasite discovered in the 80’s and is considered as a major cause of abortion in cattle in many coutries. Recent research using different animal species seek to answer several on its life cycle and its possible zoono-tic potential. This review emphasizes the biological aspects of the parasite, describing its cycle, mode of transmission, clinical manifestations, diagnostic methods and treatments used today.

Keywords: Neosporosis, life cycle, diagnosis, zoonosis

InTrODUçãO

o Neospora caninum é um protozoário descrito (BJERKAS et al. 1984) como causador de encefalo-mielite e miosite em cães que, até então, devido à sua semelhança morfológica era diagnosticado como Toxoplasma gondii (DuBEY et al., 1988). A ne-osporose é uma doença emergente e considerada a principal causa de abortamentos em bovinos, em diversos países (DuBEY et al., 2007). Apesar de ser doença primária de canídeos e bovinos, os animais selvagens e domésticos podem ser expostos ao N. caninum (DuBEY e SCHARES, 2011). Até o momen-to, já foi descrito em infeções naturais de cavalos,

cabras, búfalos, ovelhas, camelos e cervos, que são classificados como hospedeiros intermediários (DuBEY et al., 1998; LiNDSAY et al., 1999). Experi-mentalmente, gatos, camundongos, porcos, gerbis, ratos, raposas e macacos foram infectados por N. caninum (DuBEY et al., 1996). Em 1998, o cão foi clas-sificado como o hospedeiro definitivo do parasita (MCALLiSTER et al., 1998).

As zoonoses parasitárias caninas são motivos de preocupação devido sua associação à ocorrên-cia de afecções que levam a imunodeficiências, em especial a AiDS. Essa associação aliada à inserção, cada vez mais diversificada e ampla, dos cães na sociedade e ao desenvolvimento de tecnologias

Neospora caNiNum: ASPECtOS ClíNiCOS E EPiDEMiOlóGiCOS. rEViSãO DE litErAturA

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suplemento científico

diagnósticas na investigação clínica das parasitoses, implicou o desenvolvimen-to de doenças referidas como emer-gentes (AMBRoiSE-THoMAS, 2000). Ao analisar essa conjuntura, Thompson (1999) ressaltou que compete aos Médi-cos veterinários do novo milênio, o diag-nóstico, a estruturação de um sistema de investigação e o acompanhamento epidemiológico, transferindo seu co-nhecimento pela educação sanitária no controle das parasitoses.

o potencial zoonótico da doença ainda é incerto, pois embora o parasita não tenha sido isolado de tecidos huma-nos, anticorpos contra N. caninum, em seres humanos, já foram descritos (Lo-BATo et al., 2006). Porém, visto que símios não hu-manos podem ser infectados experimentalmente por N. caninum, o presente artigo visa elucidar pontos a respeito desse protozoário, em virtude do seu possível potencial zoonótico.

CICLO BIOLóGICOEstudos recentes comprovam que outros

canídeos, como o coiote (Canis latrans), o dingo australiano (Canis domesticus) e o lobo cinza (Canis lupus) também podem ser hospedeiros definitivos do parasita (DuBEY et al., 2011; KiNg et al., 2010). No entanto, oocistos viáveis só foram demonstrados nas fezes de cães e lobos naturalmente infectados, com as fases sexuada e assexuada, podendo ser completadas no cão (Figura 1).

os taquizoítos e cistos teciduais, ambos intra-celulares, são os estágios encontrados nos hospe-deiros intermediários. os taquizoítos de N. caninum são caracterizados por formato ovóide ou globular, medindo 3-7 x 1-5 µm e os cistos teciduais ovalados, com até 107 µm de comprimento são encontrados geralmente no sistema nervoso central e retina. A parede dos cistos medem até 4 µm de diâmetro e os bradizoítos localizados dentro dele são alongados e medem 8 x 2 µm. Cistos teciduais já foram encon-trados na musculatura de cães e bovinos infectados (DuBEY et al., 2002).

Cistos musculares encontrados em psitacídeos foram imunocorados com soro anti-N. caninum, in-dicando a possibilidade de um número muito maior de hospedeiros intermediários (MiNEo et al., 2011). Anticorpos contra esse parasita também foram detectados em búfalos, raposas, camelos e galinhas (MARTiNS et al., 2011).

Pouco ainda é conhecido sobre o desenvol-vimento e a distribuição tecidual de N. caninum em animais infectados por vias naturais de trans-missão. Mcguire et al. (1999) encontraram cistos teciduais nos cérebros de ratos inoculados via parenteral, após 17 dias de inoculação. Dubey et al. (1996) e Barr et al. (1994), demonstraram a pre-sença de N. caninum em cérebros de fetos bovinos, com 31 dias de inoculação de taquizoítos em suas mães. Há pouca informação sobre a infectividade dos cistos teciduais e taquizoítos quando ingeri-dos ou inoculados por via oral (DuBEY, 1999).

Cães alimentados com cistos teciduais podem eliminar oocistos que esporulam no ambiente, em até 24 horas em condições ótimas de temperatura e umidade (DuBEY, 1999). os oocistos têm 10-12 µm de diâmetro e possuem uma parede transparente, com 0,6-0,8 µm de espessura. Após esporularem, possuem dois esporocistos que medem aproxima-damente 8,4 x 6,1 µm, contendo quatro esporozoítos cada. os esporozoítos são alongados, medindo 6,5 x 2,0 µm (DuBEY et al., 2002).

os oocistos são morfologicamente semelhan-tes à Hammondia heydorni encontrada nas fezes de cães, e ao T. gondii e Hammondia hammondi encontrados nas fezes de gatos. A frequência da eliminação de oocistos de N. caninum e sua du-rabilidade no ambiente são incógnitas, porém, Mcallister et al. (1998) e Lindsay et al. (1999), mos-traram que cães eliminam baixa quantidade de oocistos, independente de sua idade ou imuno-competência.

Estágios entero-epiteliais no intestino de caníde-os, que precedem a produção de oocistos, ainda são desconhecidos, assim como a produção destes pelos

Figura 1. Ciclo biológico do Neospora caninum. (Redesenhado de Dubey, 1999).

39Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

canídeos que se infectaram após ingestão de oocistos esporulados, não sendo possível a localização e a descrição dos esquizontes e/ou gamontes dentro do trato alimentar (DuBEY et al., 2002). Hospedeiros susceptí-veis podem se infectar ingerindo água e/ou alimentos contaminados com oocistos pro-venientes de fezes de canídeos. infecções ex-perimentais foram realizadas pela ingestão de leite contendo taquizoítos, confirmando a transmissão vertical de N. caninum em bovinos, ovinos, caprinos, camundongos, cães, gatos, macacos e porcos. Essa forma de transmissão, juntamente com a ingestão pós-natal de oocistos, as únicas demonstra-das em bovinos, são as mais eficientes vias de transmissão nesta espécie (DuBEY, 1999; DuBEY et al., 2002; DuBEY e SCHARES, 2011).

A forma como os cães são infectados pelo N. caninum na natureza ainda não está totalmente elucidada. Acredita-se que a transmissão ocorra da mãe para os fetos nos estágios finais da gestação, ou pelo leite logo após o nascimento. No entanto, a transmissão vertical de N. caninum, em cães, é con-siderada muito variável e menos significante do que a transmissão horizontal. A transmissão fecal de N. caninum, em cães, também parece ser menos signi-ficante do que o carnivorismo, sendo a ingestão de tecidos infectados a mais provável fonte de infecção dos carnívoros. A transmissão pelo sêmen é possível, no entanto não existem muitos estudos que compro-vem essas teorias (DuBEY e SCHARES, 2011).

DIAGnóSTICOAtualmente, existem vários métodos laboratoriais

para o diagnóstico da neosporose, se iniciando sem-pre pelas informações obtidas na anamnese, achados do exame físico e sorologia positiva, em virtude dos exames hematológicos e bioquímicos apresentarem-se inespecíficos. A miosite, quando observada, resulta no aumento da atividade sérica da creatina quinase e aspartano aminotransferase. Além disso, anorma-lidades no líquido cefalorraquidiano (LCR) incluem aumento na concentração protéica (20 mg/dl a 50 mg/dl) e uma pleocitose celular inflamatória mista mediana (10 céls/ml a 50 céls/ml), sendo encontrados monócitos, linfócitos, neutrófilos e, raramente, eosi-nófilos. Padrões intersticiais e alveolares respiratórios podem ser notados em radiografias torácicas (DuBEY et al., 2005).

os taquizoítas são raramente identificados no exame citológico do LCR, in print de lesões cutâneas

e citologia do lavado broncoalveoloar. Porém, apre-sentam características citológicas de inflamação mista evidenciada por meio da observação de neu-trófilos, linfócitos, eosinófilos, células plasmáticas e macrófagos no lavado bronco alveolar.

Estudos epidemiológicos realizados em huma-nos empregam testes indiretos, ou seja, aqueles que verificam a presença de anticorpos anti-N. ca-ninum. Dentre esses testes, os mais utilizados são o teste de aglutinação direta, imunofluorescência indireta (Figura 2), western blotting, além dos testes imunoenzimáticos. A reação de imunofluo-rescência indireta (RiFi) é considerada a técnica de referência (DuBEY e SCHARES, 2011). Taquizoítos intactos são utilizados como antígenos, com a identificação de anticorpos contra os antíge-nos presentes na superfície celular do parasita (BJÖRKMAN e uggLA, 1999). Entretanto, Dubey et al. (1998) relatam a possibilidade da ocorrência de reação cruzada com outros coccídeos, sendo esse teste considerado subjetivo para a realização da leitura. o ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELiSA) utiliza antígenos solúveis, particu-larmente as proteínas de superfície, podendo ser padronizado em laboratórios usando concentra-ções de proteínas determinadas (PARé et al., 1995).

Para identificação da neosporose, o teste ELiSA foi primeiramente descrito por Björkman et al. (1997) e, desde então, vários ELiSAs indiretos vêm sendo padronizados. Proteínas do complexo apical do pa-rasita, tal como NcgRA1, NcgRA2, NcgRA6, NcgRA7, além de proteínas recombinantes como NcgRA2, NcgRA6 e NcgRA7 têm sido testadas como antíge-nos para o diagnóstico sorológico em cães e bovinos. Recentemente, Borsuk et al. (2011) desenvolveram

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Figura 2. Reação de Imunofluorescência indireta (RIFI) para o diagnóstico da neosporose.

40 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

um teste de ELiSA para N. caninum em bovinos, uti-lizando a proteína recombinante NcSRS2, com os resultados indicando alta especificidade e sensibili-dade no diagnóstico sorológico em bovinos. o teste de aglutinação direta foi descrito primeiramente por Desmonts e Remington (1980) para detecção de anticorpos anti-T. gondii. Anos depois, Packham et al. (1998) adaptaram o teste para o N. caninum. Trata-se de um teste relativamente simples e rápido, poden-do ser utilizado para o diagnóstico de várias espécies, não necessitando de anticorpo secundário marcado; entretanto, requer uma grande quantidade de taqui-zoítos intactos (BJÖRKMAN e uggLA, 1999). Estudos demonstraram que o teste de aglutinação direta pode substituir a RiFi por apresentar uma sensibilida-de e especificidade comparável com as encontradas nela (PACKHMAN et al., 1998).

Testes de diagnósticos diretos são fundamen-tais na confirmação da infecção, baseando-se na detecção do parasita ou do ácido desoxirribo-nucléico do agente. Dentre essas técnicas está a flutuação em sacarose, o bioensaio e a PCR. Na flutuação em sacarose para a pesquisa de oocistos de N. caninum nas fezes de cães, ocorre a flutuação devido à menor densidade, após centrifugação em solução de sacarose (goNDiM et al., 2002). Devi-do à semelhança entre os oocistos de Neospora e Hammondia, é necessário o emprego de técnicas moleculares na diferenciação dessas espécies. Entretanto, a maior dificuldade de diagnóstico por meio dessa técnica está na possibilidade de se en-contrar um cão eliminando oocistos.

o bioensaio é outra importante ferramenta no isolamento do parasita em amostras de cães e bovinos. o modelo animal utilizado nessa técnica tem sido o gerbil (Meriones unguiculatus), por apresentar maior susceptibilidade à infecção pelo N. caninum (DuBEY e LiNDSAY, 2000). Entretanto, esse método demanda muito tempo, além da utilização de animais de laboratório. A reação em cadeia pela polimerase (PCR) vem sendo relatada como método de diagnóstico para N. caninum desde 1996, quando vários trabalhos envolvendo essa técnica foram publicados (KAuFMANN, 1996; MÜLLER et al., 1996; YAMAgE et al., 1996), com base na amplificação in vitro do DNA do parasita. No caso do N. caninum, da região iTS1 (PAYNE e ELLiS, 1996) e do segmento Nc5 (KAuFMANN et al., 1996). Em seguida, surgiram variantes da técnica de PCR tais como Nested, RFLP Restriction fragment length polymorphism (RFLP) e Real Time. Atualmente, técnicas de biologia molecular, devi-

do à simplicidade, rapidez além da confiabilidade dos resultados, estão sendo muito usadas para o diagnóstico do N. caninum.

POTEnCIAL ZOOnóTICOExiste uma grande preocupação em torno do po-

tencial zoonótico do N. caninum após dois macacos rhesus (Macaca mulatta) terem sido infectados pelo parasita (BARR et al., 1994). No entanto, não existem evidências sólidas de que o N. caninum acomete se-res humanos, devido aos baixos níveis de anticorpos relatados (PETERSEN et al., 1999; TRANAS et al., 1999; LoBATo et al., 2006).

Na inglaterra, 518 trabalhadores rurais e 3.232 pessoas consideradas sem risco foram avaliados, apresentando resultados positivos para N. caninum por meio da RiFi (MCCANN et al., 2008). Na Califórnia, foram detectados anticorpos anti-N. caninum com tí-tulos de 100 em 6,7% dos soros humanos analisados por RiFi (TRANAS et al., 1999). Em mulheres que apre-sentaram abortos espontâneos repetidos, não foram encontradas evidências de infecção por N. caninum. No entanto, devido a sua ampla gama de hospedei-ros em potencial, a possibilidade de infecção huma-na não pode ser excluída (PETERSEN et al., 1999).

os efeitos predominantes da neosporose em cães são primariamente sinais neurológicos pro-gressivos, incluindo a paralisia dos membros. Possi-velmente pode ser válido correlacionar esses sinais clínicos ao examinar pacientes humanos com sinto-ma de aborto e distúrbios neurológicos de etiologia desconhecida. Além disso, a possível presença de N. caninum em pacientes com sistemas imunitários enfraquecidos deve ser considerada. No Brasil, fo-ram detectados anticorpos igg contra N. caninum em 38% de pacientes infectados pelo vírus da imu-nodeficiência humana (Hiv) e em 18% de pacientes com desordens neurológicas, em uberlândia, Minas gerais, sustentando essa possibilidade (LoBATo et al., 2006). Pesquisadores continuam a busca por N. caninum por meio de testes sorológicos, ou, alter-nativamente, usando material coletado em bióp-sias ou autópsias para a realização de PCR ou análise imuno-histoquímica.

COnTáGIOA infecção adquirida via transplacentária manifes-

ta-se severamente, caracterizada clinicamente pela ocorrência de encefalite, poliradiculite, polimiosite e paralisia dos membros pélvicos atingindo preferen-cialmente animais com até 12 meses de idade, porém sem predileção sexual ou racial (LiNDSAY et al., 1999).

41Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

A enfermidade causada pelo N. caninum pode ser localizada ou general izada, como uma severa dermatite ulcerativa des-crita em cães de israel (PERL et al., 1998). Dubey et al. (1990) re-lataram a ocorrência de cistos de N. caninum na retina de quatro cães que adquiriram a doença via congênita. Já a ocorrência de neosporose clínica em animais adultos sugere, muitas vezes, a reativação de uma infecção ante-rior, associada à imunossupres-são induzida por vacinas de vírus atenuado (PATiTuCCi et al. 1997).

Barber e Trees (1996) sugeri-ram que o parasita pode ser encon-trado em vários órgãos (coração, pulmões e fígado) durante a fase aguda, restringindo-se ao sistema nervoso central (SNC) na fase crônica. Casos fatais têm sido relatados em animais com idade entre 8 a 15 anos, em cadelas com infecção subclínica transmi-tindo via transplacentária para suas proles em suces-sivas gestações. Apesar da predisposição para sexo e raça ser desconhecida, a maioria dos casos descritos cita a ocorrência em cães das raças Labrador, Boxer, greyhound e golden Retriever (BoYD et al., 2005).

infecções clínicas e subclínicas de N. caninum em cães apresentam importância epidemiológica, principalmente pelo hospedeiro ser capaz de elimi-nar oocistos no ambiente, fator este de risco para a ocorrência de abortos associados a N. caninum em bovinos (PARé et al., 1998).

ASPECTOS CLínICOSA paralisia ascendente com hiperextensão dos

membros pélvicos de filhotes infectados congeni-tamente é a manifestação clínica mais comum da doença, com ocorrência de posteriormente atrofia muscular. A polimiosite e a doença multifocal do sistema nervoso central (SNC) podem ocorrer isoladamente ou associadas, com os sintomas evi-denciados logo após o nascimento ou após algu-mas semanas de vida (LiNDSAY et al., 1999). A mor-te neonatal é comum (BoAvENTuRA et al., 2008).

Cães com aproximadamente 15 anos de idade também desenvolvem a doença, com evolução clí-nica para paralisia progressiva, meningoencefalite, insuficiência cardíaca e complicações pulmonares, em que, em muitos casos, recomenda-se a eutanásia (BoAvENTuRA et al., 2008).

Sinais clínicos como tosse produtiva, cansaço fácil e morte súbita foram associados à afecção respiratória primária e miocardite. Disfagia, hepa-tite, dermatite ulcerativa, paralisia da mandíbula, cegueira, convulsões, incontinência urinária e fecal também foram observadas na infecção primária aguda ou na exacerbação da infecção crônica (LiNDSAY et al., 1999).

Barber e Trees (1996) relataram aspectos clíni-cos de cães com neosporose, citando a ocorrência de paresia de membros pélvicos, tetraparesia, ataxia, atrofia muscular, hiperextensão dos mem-bros afetados, tremores, anorexia e hipertermia, evoluindo para o óbito. Cañón-Franco et al. (2003) estudando cães da área rural e urbana encon-traram aumento da ocorrência de anticorpos para N. caninum em cães rurais, sugerindo maior predisposição para aqueles com idade avançada, evidenciando a aquisição pós-natal do agente. Já Boyd et al. (2005) relataram a ocorrência de dermatite nodular generalizada com progressão rápida para afecção neuromuscular fatal em um cão da raça boxer com 16 anos, encontrando nos aspirados e biopsia dermatológica, taquizoítas e à necropsia, necrose inflamatória intralesional no cérebro, coração e musculatura esquelética.

TrATAMEnTOEmbora muitos cães não sobrevivam a ne-

osporose, a resposta terapêutica favorável está relacionada com associação da sulfadiazina-tri-metropina (15 mg/kg, vo, BiD) combinada com pirimetamina (1 mg/kg, vo, SiD), associadas ou não a clindamicina (10 mg/kg, vo, TiD) durante quatro a seis semanas. Entretanto, a terapia

Figura 3. Ovo de N. caninum..

InFO

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deve ser iniciada antes da rigidez muscular, se possível, com o prognóstico reservado para os cães com acometimento neurológico. Contudo, o sucesso dos tratamentos é normalmente bai-xo, embora existam relatos de resolução com-pleta dos sinais de neosporose em cães adultos com administração combinada de pirimetamina (1 mg/kg, SiD) e sulfadoxina (20 mg/kg, BiD) du-rante 30 dias (gENNARi e SouZA, 2002)

A terapia à base de glicocorticoides pode ativar os bradizoítos encontrados nos cistos teciduais, resultando em doença clínica, com replicação intracelular de taquizoítos, levando ao compro-metimento do SNC, por meio de infiltrados celu-lares mononucleados, sugerindo a ocorrência de um componente imunomediado na patogênese (gALguT et al., 2010). Cistos teciduais intactos em estruturas neurais geralmente não estão associa-

dos à inflamação, mas cistos teciduais rompidos induzem a ela. galgut et al. (2010) relataram a ineficiência da imunossupressão com prednisona e ciclofosfamina no tratamento de meningoence-falite por N. caninum em um cão, com grande con-centração de celularidade inflamatória no líquido cefaloraquidiano.

COnSIDErAçõES FInAISA descoberta e os estudos sobre o N. caninum

são recentes, entretanto é um parasita de suma importância na clínica de pequenos animais e, principalmente na bovinocultura de leite. Nesse sentido, a presente revisão elucidou as principais dúvidas quanto aos aspectos epidemiológicos, ciclo evolutivo, hospedeiros, aspectos clínicos e terapêuticos, enfatizando o seu possível poten-cial zoonótico.

43Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

DaDos Dos autores

DENiSE ClAuDiA tAVArESMédica veterinária, CRMv-SP nº 16526, [email protected]

rODriGO PrEVEDEllO FrANCOMédico veterinário, CRMv-SP nº 15737, MSc, docente cur-so de Medicina veterinária uNiMAR, SP

BrENO CAyEirO CruZMédico veterinário, CRMv-SP nº 30881

luiZ DANiEl DE BArrOSMédico veterinário,CRMv-SP nº 31853, MSc, doutorando

FlAViO lOPES DA SilVAMédico veterinário, CRMv-SP nº 25006, MSc, doutorando

CHAyANNE SilVA FErrEirAMédica veterinária, CRMv-SP nº 27171

KAtiA DENiSE SArAiVA BrESCiANiMédica veterinária, CRMv-SP nº 7161

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44 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

aBstract

resuMo

kNowledge oF VeTeriNariaNs abouT sPoroTriChosis iN rio de JaNeiro

Há, atualmente, no Rio de Janeiro, uma discussão sobre a ocorrência da zoonose esporotricose em vários municípios.Micose adquirida pelas mordeduras ou arranhões de animais infectados. o papel do felino na transmissão ao homem vem ganhando grande importância para os Médicos veterinários, estudantes e tratadores devido ao contato direto com os animais, tornando-se um novo grupo de risco. o objetivo do trabalho foi identificar, por meio de inquérito, o conhecimento dos profissionais em relação à transmissão e ocorrência da doença, além de medidas de prevenção e controle. Esses profissionais foram escolhidos, uma vez que participam da identificação dos casos na população ani-mal, podendo contribuir para o controle e prevenção da doença nos seres humanos. Foram verificados equívocos em pontos críticos relacionados ao controle da doença, podendo remeter à formação acadêmica. Enfatiza-se o papel do Médico veterinário como profissional de saúde pública, uma vez que a conscientização do proprietário, da profilaxia adequada e o controle da doença no ambiente dependem, em grande parte, da qualidade das informações transmi-tidas durante o atendimento clínico.

Palavras-chave: esporotricose, médico veterinário, conhecimento

There are currently in Rio de Janeiro a discussion on the occurrence of a zoonotic disease called sporotrichosis in se-veral of its municipalities. This mycosis can be acquired through bites or scratches from infected animals. The role of the cat in transmission to humans is gaining great importance, especially for veterinarians, students and grooms, be-coming a new risk group. The objective of this study is to identify through investigation the knowledge of veterinary professionals in relation to the transmission and occurrence of the disease, and prevention and control. These profes-sionals were chosen as they participate in the identification of cases in the animal population and may contribute to the control and prevention of disease in humans. Were observed be mistakes in controlling, which may be related to academic training. This aspect is of concern regarding the role of the professional veterinary and public health pro-fessional, since the formation of the owner aware of appropriate prophylaxis and disease control in the environment depend largely on the quality of the information provided during the clinical care.

Keywords: sporotrichosis, medical veterinary, knowledge

CONHECiMENtO E AtuAçãO EM rElAçãO à ESPOtriCOSE. uM EStuDO DE CASO COM MéDiCOS VEtEriNáriOS DO riO DE JANEirO

45Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

InTrODUçãOA esporotricose é a micose subcutânea mais

comum na América Latina (SCHuBACH, 2006), aco-metendo principalmente felinos no Brasil (LARSSoN, 2000). Em países do Hemisfério Norte essa doença é mais comum em cães de caça ou de lida nas proprie-dades rurais e em cavalos (SCoTT, 1996; CoPETTi, et al., 2002), com manifestações nodulares subcutâne-as e localizadas, sendo observada na fase sistêmica somente em alguns dos pacientes, geralmente imu-nossuprimidos. Essa lógica não se aplica a felinos, vis-to que em estudos realizados não ter sido observada relação entre a imunossupressão e o acometimento de felinos (SCHuBACH, 2006; SouZA, 2006). Mes-mo também sendo acometido, o cão é de menor importância do que o felino, devido às lesões serem acidentalmente causadas quando da ocorrência de escoriações, normalmente na região do focinho, decorrente do hábito de farejar. Da mesma forma, por não ter o comportamento defensivo de arranhar, como os gatos (SouZA, 2006), mesmo que o cão possua o agente nas unhas, dificilmente conseguirá inoculá-lo, uma vez que seu agente etiológico, geral-mente o Sporothrix schenckii, necessita de uma lesão pré-existente ou de uma inoculação traumática para se instalar no organismo.

De maneira geral, o felino (Figura1) infecta-se por meio de mordeduras e arranhaduras que sofre durante o contato sexual e, ou, brigas entre machos, ou da demarcação de território e afiação das unhas (FREiTAS, 1956; MEiNERZ, 2007). Normalmente, a transmissão zoonótica associa-se a animais de vida livre ou semiconfinados que, por entrarem em contato com ambientes ou animais possivelmente infectados, adquirem o agente, transmite-os mesmo quando não apresentam sinais clínicos, visto terem sido isoladas culturas de S. schenckii de unhas de

Gráfico 1. Categoria de profissionais médicos-veterinários segundo o tempo de formados participantes da pesquisa.

GRÁFICO1 - Categoria de profissionais médico-veterinários segundo o tempo de formados.

GRÁFICO2 – Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos epidemiológicos.

43,60%

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A1 - Até 3 anos de formado

A2 - 4 a 9 anos de formado

A3 - 10 a 20 anos de formado

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A1 - Até 3 anos deformado

A2 - 4 a 9 anos deformado

A3 - 10 a 20 anos deformado

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GRÁFICO1 - Categoria de profissionais médico-veterinários segundo o tempo de formados.

GRÁFICO2 – Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos epidemiológicos.

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animais saudáveis em áreas de ocorrência de casos (SouZA, 2006).

No Hemisfério Norte e em regiões do Hemisfério Sul onde ocorrem baixas temperaturas, os casos ocorrem segundo padrões sazonais (SCHuBACH, et al., 2005) sendo de incidência constante em regiões nas quais o clima permanece quente ao longo de todo o ano (LoPES, et al., 1999; SCHuBACH, et al., 2004; BARRoS, et al., 2007). De maneira geral, é a mi-cose profunda mais prevalente do continente ameri-cano, sendo a segunda mais importante da América do Sul e a mais importante nos estados da região Sul do Brasil (JoNES, et al., 2000; DoNADEL, et al., 2008).

No Estado do Rio de Janeiro, as áreas de maior incidência dessa doença estão na Baixada Fluminen-se, nos municípios de Duque de Caxias e São João de Meriti, e o município do Rio de Janeiro (BARRoS, et al., 2004; SCHuBACH, et al., 2004; SCHuBACH, et al., 2005; BARRoS, et al., 2007), com o perfil do grupo de risco para a doença mudando desde o primeiro caso diagnosticado, principalmente no que diz respeito ao contágio de caráter zoonótico, ou seja, na trans-missão pelo contato com um animal ou seus subpro-dutos e secreções.

Considerando o potencial zoonótico dessa in-fecção, proprietários de animais domésticos, em es-pecial, felinos, e profissionais em contato direto com animais, incluindo Médicos veterinários, tratadores e demais, constituem importante grupo de risco.

Figura 1. Felino acometido por lesões na face.

ArqUIVO DO AUTOr

46 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

Conforme a Lei Federal nº 5.517/1968, o Médico veterinário tem o dever de informar aos proprietá-rios sobre os riscos a que eles estão expostos para o caso das enfermidades com potencial zoonótico, caso não adotem medidas adequadas e específicas a cada enfermidade, tanto em situações envolvendo animais sadios ou enfermos. Apesar de óbvio, no entanto, o Médico veterinário apenas será capaz de desempenhar tal função caso detenha conhecimen-to sobre cada uma dessas enfermidades e seus riscos.

MATErIAIS E MéTODOSPara avaliar o conhecimento de Médicos veteri-

nários, clínicos de pequenos animais, atuantes em municípios do estado do Rio de Janeiro, quanto à esporotricose, foi elaborado questionário anônimo subdividido em três partes básicas: a) identificação da área geográfica de atuação, tempo

de formado e se tinha conhecimento da doença; b) o conhecimento epidemiológico e etiológico

sobre a esporotricose; c) a forma e condições dos atendimentos realizados,

com questões sobre protocolo profilático adotado em caso de suspeita, protocolo de tratamento ou eutanásia, e as condições ambientais da clínica.Foram entrevistados 300 profissionais, em va-

riados estabelecimentos de atendimento clínico veterinário em municípios da Baixada Fluminense e no Município do Rio de Janeiro, tendo sido estes escolhidos de maneira aleatória.

Após a coleta de dados, estes foram tabelados e trabalhados com o auxílio de programa de análi-ses estatísticas.

Para análise, os profissionais foram subdivididos em quatro grupos de acordo com o tempo de forma-ção, sendo: (A1) Profissionais até o terceiro ano de conclusão de curso; (A2) Profissionais com conclusão de curso entre quarto e nove anos; (A3) Profis-sionais entre o décimo e o vigésimo ano de con-clusão de curso; e (A4) Profissionais com mais de vinte anos de conclusão de curso (gráfico 1). Não foram considerado nessa subdivisão a realização de cursos de especializa-ção e/ou pós-graduação.

Por questões éticas, os profissionais partici-pantes da pesquisa não

foram identificados, fato que foi esclarecido no mo-mento da entrevista.

rESULTADOSA frequência dos profissionais segundo o tempo

de formados mostra que, 44% (n= 132) dos profissio-nais pertencem ao grupo A1; 20% (n= 60) ao grupo A2; 18% (n=54) ao grupo A3, e 18% (n= 54) ao grupo A4 (gráfico 1). Segundo o gênero, 56 % (n= 168) são do sexo feminino e 44% (n= 132) do sexo masculino. Desse total de profissionais entrevistados, 96% (n= 288) afirmaram ter algum tipo de conhecimento sobre a doença, 4% (n= 12) nunca ouviram falar dela.

quando questionados, alguns profissionais apre-sentaram dificuldade da compreensão de termos como agente etiológico, endemia e profilaxia, entre outros, com 69,69% (n= 92), 53,33% (n= 32), 40,7% (n=22) e 40,7% (n=22), nos grupos A1, A2, A3 e A4, respectivamente (gráfico 2).

quando questionados sobre a natureza do agen-te etiológico, 89,% (n=267) dos entrevistados afirma-ram tratar-se de um fungo; 5% (n= 15) afirmaram tra-tar-se de uma bactéria; 4% (n=12) disseram tratar-se de um protozoário e 2% (n=6) afirmaram ser causada por um vírus (gráfico 3).

quando perguntados sobre o atendimento aos animais (Figura1) com suspeita de zoonoses como esta, 18% (n=54) dos profissionais alegaram não adotar nenhum cuidado diferenciado quando do atendimento; 33,% (n= 99) disseram utilizar luvas de procedimento e tomar os devidos cuidados na mani-pulação desses animais; 60% (n=180) afirmaram uti-lizar luvas, mas que não adotavam nenhum cuidado maior com os animais suspeitos do que os cuidados que tinham no atendimento a qualquer outro animal; e 7% (n=21) alegaram apenas tomar cuidado com o manuseio (gráfico 4), entendendo-se o tomar cuidado

Gráfico 2. Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos epidemiológicos.

GRÁFICO1 - Categoria de profissionais médico-veterinários segundo o tempo de formados.

GRÁFICO2 – Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos epidemiológicos.

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ao manuseio medidas como aparar unhas ou enfaixar as patas de felinos suspeitos a fim de evitar inoculação do agente, e realização da contenção dos animais atendidos com o auxílio de um ajudante, por exemplo.

quando indagados sobre o trata-mento, 1,66% (n=5) dos entrevista-dos afirmaram não tratar os animais, porém encaminhá-los ao instituto Evandro Chagas para atendimento; 4% (n=12) não adotavam tratamen-to, indicando para eutanásia com indicação de descarte em forno crematório para a carcaça; 7% (n=21) recomendavam a eutanásia, mas não o descarte da carcaça em forno crematório; 1,66% (n=5) adotavam tratamento utilizando algum tipo de antifúngico; 4% (n=12) utilizam Doxiciclina no tratamento da esporotricose de animais atendidos por eles; 9% (n=27) recomendavam a utilização de Cetoconazol no tratamento da enfermidade em questão; e 72,66% (n=218) utilizavam o Itraconazol no combate a esta micose (grafico 5).

Dentre o grupo de profissionais que relataram não recomendar o tratamento (n=39), aproximada-mente 70% (n=27) não adotam nenhum tratamento, optando pela eutanásia são do grupo profissional A4 (mais de 20 anos de formação), sendo observado nos demais grupos a distribuição homogênea entre as demais condutas citadas.

DISCUSSãOo desconhecimento das terminologias técnicas a

respeito da epidemiologia e da patologia da doença podem dificultar a compreensão da informação de textos científicos e técnicos. isso sugere que o profis-sional não está em sintonia com os avanços médico-científicos e com a linguagem, tornando inacessível a compreensão e a fixação de conhecimento. o mais preocupante é quando verificamos que a maior parte (70%, n= 92) dos profissionais com dificuldades nes-ses termos são os representantes do grupo A1. Esse grupo é constituído por profissionais recém-formados (no máximo três anos de formação); estes deveriam estar mais cientes desses termos, visto terem saído há pouco tempo do meio acadêmico, esperando-se maior familiaridade com a terminologia técnica das diversas disciplinas que abordam esses conhecimen-tos, dentre as quais, Epidemiologia, Saneamento, Do-enças infecciosas e Parasitárias, Parasitologia veteriná-ria, Microbiologia veterinária, imunologia veterinária e Medicina veterinária Preventiva.

Esse aspecto leva-nos a refletir se os conteúdos foram assimilados ou simplesmente desconsidera-dos após a aprovação nas referidas disciplinas, sendo a seguir esquecidos pelo aluno, futuro profissional, o qual, por alguma razão, desconhece que os con-teúdos básicos, incluindo seu vocabulário técnico, são essenciais na sua atuação profissional e a correta comunicação científica. isso nos faz refletir quanto à necessidade de implantação de algum tipo de avalia-ção do conhecimento adquirido pelo aluno egresso da universidade anterior ao seu registro para exercí-cio profissional efetivo.

Sendo a determinação do agente etiológico fundamental no êxito do tratamento de qualquer doença, a falta de conhecimento quanto à origem de

GRÁFICO 3 – Resposta dos entrevistados sobre a natureza do agente etiológico da esporotricose.

GRÁFICO 4 – Cuidado no atendimento de animais suspeitos de zoonoses pelos profissionais médico-veterinários

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Bactéria Fungo Protozoário Vírus

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Uso de luvas e manuseionormal

Cuidado ao manuseiosomente

Uso de luvas e cuidado aomanuseio

Gráfico 3. Resposta dos entrevistados sobre a natureza do agente etiológico da esporotricose.

Figura 2. atendimento a gato portador de esporotricose.

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determinada patologia, diga-se de passagem, não rara, torna qualquer tratamento adotado ineficaz e, ou, inadequado, significando, como no exemplo abordado em se tratando de uma zoonose, inclusive na exposição e risco pessoal e à comunidade. Chama atenção para a utilização de antibiótico, com tera-pêutica para o problema fúngico apresentado ou o desconhecimento da conduta correta a ser adotada e indicações relacionadas.

Sobre o destino dos cadáveres dos animais por parte dos profissionais, observa-se que aqueles que optam pela eutanásia podem não estar refletindo so-bre a natureza dimórfica do fungo (SCHuBACH, 2008). Ainda que careça de estudos comprobatórios, há possibilidade de a carcaça animal ainda poder ser uma fonte de contaminação para o solo em que esse animal for depositado pelo proprietário. Dessa maneira, não levar esse fato em consideração pode acarretar risco à saúde da população e de seu entorno.

Mesmo sabendo que a utilização de luvas de procedimento no atendimento clínico é uma medi-da profilática de extrema importância, que oferece segurança ao profissional, bem como ao paciente, como barreira eficaz contra a contaminação por con-

GRÁFICO 3 – Resposta dos entrevistados sobre a natureza do agente etiológico da esporotricose.

GRÁFICO 4 – Cuidado no atendimento de animais suspeitos de zoonoses pelos profissionais médico-veterinários

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Bactéria Fungo Protozoário Vírus

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Uso de luvas e manuseionormal

Cuidado ao manuseiosomente

Uso de luvas e cuidado aomanuseio

Gráfico 4. Cuidado no atendimento de animais suspeitos de zoonoses pelos profissionais médico-veterinários tato (DEHS, 2002), alguns profissionais

alegam que a utilização de luvas assusta os proprietários que acabam por aban-donar os animais ou não aderem ao tra-tamento, optando pela eutanásia.

outros, ainda alegam que a inocu-lação do agente por mordida ou arra-nhadura não pode ser prevenida por luvas, e, por esse motivo, não as utiliza-vam, contrariando, com esta recusa na utilização de luvas, um procedimento básico de bissegurança. Essas informa-ções foram adicionais, não previstas no inquérito e identificadas por meio de

relatos feitos pelos profissionais no diálogo durante as entrevistas.

Segundo profissionais entrevistados na região da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, 90% dos animais atendidos em seus estabelecimentos com suspeita de esporotricose vêm pelas mãos de pessoas que buscam animais abandonados nos parques e terrenos baldios, para, então, tratá-los.

Nessa situação, tem-se como causa a constan-te exposição ambiental, o que torna complexa a abordagem terapêutica, visto esses profissionais encontrarem dificuldade no controle da doença em nível ambiental por outros fatores que não o desco-nhecimento, mas ideologias/condutas antieutaná-sicas e culturais, como a alimentação dos animais de rua, o que permite a fixação de colônias de animais errantes, entre outros, que estão além da atuação do clínico veterinário em sua rotina profissional.

o fato de vários estudos apontarem a situação epidêmica da esporotricose na região metropolitana do Rio de Janeiro preocupa ao deparar com a conduta de alguns profissionais que, por desconhecimento, ignoram procedimentos básicos na abordagem da do-

ença como a instrução correta aos proprietários dos animais, bem como os procedimentos profiláticos

básicos quando do atendimento. quando observamos a quantidade de Mé-

dicos veterinários que afirmam atender casos de esporotricose em seus estabelecimentos clínicos e observamos as casuísticas relatadas pelos principais grupos que estudam esta pato-logia e sua epidemiologia no Estado do Rio de Janeiro (SCHuBACH, et al., 2006; BARRoS, et al., 2007), bem como a grande frequência de casos encontrados em áreas que até então eram consi-deradas de baixa ocorrência, verifica-se que essa epidemia pode ter um impacto ainda maior do que se pensa.

GRÁFICO 5 – Tratamento utilizado pelos profissionais médico-veterinários nos casos de esporotricose.

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sim, outros antifungicos

sim, cetoconazol

sim, doxiciclina

sim, itraconazol

não, eutanásia sem descarte

não, eutanásia com descarteadequado

não, encaminhamento ao IPEC

Gráfico 5. Tratamento utilizado pelos profissionais médico-veterinários nos casos de esporotricose.

49Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

DaDos Dos autores

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CriStiANO tEixEirA SCHultZ Médico veterinário, CRMv-RJ nº 11 [email protected]

rOSANE GOMES AlVESMédica veterinária, CRMv-RJ nº 5 949, MSc doutoranda instituto Nacional de Controle de qualidade em Saúde

AlExANDrE PiNA COStAMédico veterinário, CRMv-RJ nº 5715 MSc, docente universidade grande Rio, RJ

COnCLUSãOAo refletirmos sobre esses dados, defrontando

os a trabalhos existentes, notamos que o presente estudo vem enriquecer o entendimento da dinâmi-ca dessa epidemia, com foco em um grupo de risco frequentemente exposto ao contágio decorrente de sua atividade profissional, Médicos veterinários atuantes na clínica de pequenos animais.

quando analisamos aspectos relacionados à atuação desses profissionais, vemos a ne -

cessidade de realização de correlação entre as propostas curriculares na estrutura dos cursos de graduação das diversas escolas de Medicina veterinária e o exercício do profissional Médico veterinário como promotor de saúde pública. o estudo aponta a necessidade de mais estudos nesta área, inclusive a necessidade de maior controle quando do registro nos conselhos re-gionais como pré-requisito para a realização da atividade profissional.

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suplemento científico

resuMo

CysTiCerCosis PreValeNCe iN boViNes oF roNdÔNia sTaTe

Dentre as lesões encontradas nas linhas de inspeção em matadouros frigoríficos de bovinos, a cisticercose destaca-se como a mais frequente, entre as demais enfermidades, ocasionando perdas significativas. Trata-se de zoonose cau-sada pelo cisticerco proveniente dos ovos eclodidos no estágio intermediário do ciclo evolutivo da Taenia saginata. No período de maio de 2010 a abril de 2011, foram abatidos 123.761 animais, dos quais 12 estavam infectados com o Cysticercus bovis, representando uma prevalência de 0,009%. Mesmo que os índices apresentem-se abaixo da média brasileira, são necessárias medidas profiláticas, possibilitando a extinção da doença no estado. é necessária a cons-cientização da população quanto às medidas sanitárias, realização de vermifugação dos animais periodicamente, proporcionando menor risco à saúde pública e diminuição dos prejuízos na cadeia produtiva da pecuária.

Palavras-chave: cisticercose, Rondônia, Cysticercos bovis

aBstract

Among the lesions found in inspection lines in slaughterhouses from bovine cysticercosis stands out among the most frequent. Bovine cysticercosis in an infection caused by Cysticercus from eggs hatched in the middle stage of the life cycle of Taenia saginata. in the period may 2010 to April 2011 were slaughtered 123.761 animals of which 12 were infected with the Cysticercus bovis, representing a prevalence of 0.009%. Even if the ratios are presented below the national average, it is necessary prophylactic measures, allowing the disease to become extinct in the state. So, it is necessary that they have the public awareness of the sanitary measures to carry out a deworming regularly providing less risk to public health and reducing losses in the livestock production chain.

Key words: cysticercosis, Rondônia, Cysticercus bovis

PrEVAlêNCiA DE CiStiCErCOSE BOViNA EM ABAtEDOurO DE rONDôNiA

InTrODUçãOo Brasil destaca-se no cenário mundial com o

maior rebanho bovino comercial (MoRAiS et al., 2009). Comparado às últimas décadas, o País tem transformado toda a sua cadeia produtiva, inves-tindo cada vez mais na genética do rebanho e na diminuição da idade ao abate. Também se destacam as indústrias que modernizaram suas instalações e transformam os matadouros em indústrias produto-ras de carne (SANToS et al., 1999).

Na cadeia de carne bovina, Rondônia destaca-se no contexto brasileiro por possuir o sétimo (7º) maior

rebanho do País com produção crescente (iBgE, 2009). Segundo grecellé (2008), Rondônia desta-cou-se com o maior crescimento em efetivo bovino (292%) no período de 1996-2006. Com o constante crescimento no consumo de carne bovina e com um mercado consumidor cada vez mais exigente, faz-se necessário o controle de doenças infectocontagio-sas, tendo os matadouros frigoríficos papel impor-tante na detecção dessas patologias.

Diversas são as doenças que acometem bo-vinos e causam perdas econômicas. Dentre elas, destaca-se a cisticercose, apresentando a maior

51Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

percentagem entre as demais enfermidades (SiLvA et al., 2003; NuNES, 2008). Segundo Costa (2006), dados registrados pelo Ministério da Agri-cultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) pelos registros do Serviço de inspeção Federal (SiF), a cisticercose bovina tem se apresentado como a lesão de maior ocorrência no exame post morten, razão pela qual merece ser observada pelos ór-gãos de fiscalização com atenção especial.

A cisticercose bovina é uma doença de caráter zoonótica, transmitida pelos ovos da Taenia sa-ginata (NAvARRo, 2012). Esse parasita tem como hospedeiro intermediário os bovinos (FERNANDES et al., 2002; CARDoSo et al., 2008) e, como hos-pedeiro definitivo, o homem, causando a doença conhecida como “solitária” (NAvARRo, 2012). A transmissão ocorre quando os bovinos ingerem pastagem e água contaminadas com os ovos da espécie Cysticercus bovis, que é a forma infectante da T. Saginata em sua fase larval. A água e o solo são contaminados com as proglotes liberadas nas fezes humanas que eclodem e liberam os ovos (PE-REiRA et al., 2006; NuNES, 2008). o ciclo é conclu-ído quando o homem ingere a carne bovina mal cozida infectada (PFuETZENREiTER et al., 2000).

A cisticercose atinge principalmente as classes com menor poder aquisitivo, e sua ocorrência é caracterizada por falta de higiene humana e defici-ência no saneamento básico rural, com consequente contaminação ambiental (MEDEiRoS et al., 2008; SANToS, 2008).

Segundo Pereira et al. (2006), essa enfermidade é subdiagnosticada por passar despercebida aos olhos do criador e dos profissionais da área técnica, que não detectam os sinais da doença no animal, não rea-lizando, assim, o tratamento, medidas preventivas e/ou profiláticas.

os casos de cist icercose em bovinos são identificados no matadouro frigorífico durante a inspeção das carcaças, que é a medida mais relevante para identificação e prevenção. Apesar

das limitações, a inspeção identifica de forma considerável as carcaças com infestações, e serve como advertência precoce da infecção em uma co-munidade (BoRBA et al., 2004; SouZA et al., 2007). os cisticercos tendem a localizar-se em músculos ricos em suprimento de mioglobina, onde ocorre melhor oxigenação do tecido (gALvão, 2008). A legislação vigente preconiza que órgãos a serem inspecionados são: músculo masséter, músculo pterigóide, língua, coração, diafragma e seus pila-res, por serem esses os principais órgãos infecta-dos (MANNigEL et al., 2002; FALAvigNA et al., 2006; SouZA et al., 2007; SANToS et al., 2008).

Em decorrência da impossibilidade do descar-te de todas as carcaças parasitadas, os critérios de destino são fundamentados no seu grau de infec-ção. As carcaças com cisticerco calcificado podem ser destinadas à salsicharia. No caso de pequenas infecções de cisticercos vivos, a carne pode ser aproveitada condicionalmente pela salga. Já na carcaça com infecção intensa ocorre a rejeição to-tal (PFuETZENREiTER et al., 2000; SiLvA et al., 2003; MEDEiRoS et al., 2008).

MATErIAL E MéTODOSo estudo foi conduzido em um matadouro frigo-

rífico, sob inspeção federal, no município de Rolim de Moura, estado de Rondônia, pela coleta de dados retroativos das condenações de carcaças por cisticer-cose referentes ao período de maio de 2010 a abril de 2011. o abate nesse estabelecimento era predo-minantemente de bovinos, realizado seis vezes por semana, com média de 500 a 600 animais por dia, pro-venientes de 28 municípios do estado de Rondônia.

o diagnóstico da cisticercose foi obtido por inspeção visual (macroscópica) das carcaças e vísceras, como preconizados pelo Decreto Federal nº 361 de 29/3/1952 (RiiSPoA). o cisticerco é visto como uma vesícula translúcida, ovóide ou alon-gada, com coloração branca acinzentada, repleta de líquido translúcido (gALvão, 2008). os cistos, indicadores de cisticercose, foram identificados pelo técnico de serviço da inspeção federal (SiF), com base em características morfológicas previa-mente padronizadas, e confirmadas pelo Médico veterinário da inspeção.

o diagnóstico dos Cysticercus bovis, durante a inspeção das carcaças, foi realizado pela inspeção rotineira e sistemática da musculatura cardíaca, músculo masséter, músculo pterigóide, língua e dia-fragma como preconizado pela legislação vigente (BRASiL, 1997). No caso de identificação dos cistos,

Cistos presentes na musculatura.

PIn

TO, P

.S.A

.

52 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

Gráfico 1. Percentagem das condenações de carcaças em abate normal e emergencial no período de maio de 2010 a abril de 2011, Rolim de Moura – Rondônia.

era inspecionada toda a musculatura esquelética minuciosamente. Foi considerado como portador dessa zoonose o animal que, durante o abate, apre-sentou as alterações descritas anteriormente em uma das musculaturas, caracterizada pelo aspecto morfológico como Cysticercus bovis.

rESULTADOS E DISCUSSãONo período de maio de 2010 a abril de 2011

foram abatidos cento e vinte e três mil setecentos e sessenta e um bovinos (123.761). A principal patologia observada foi cisticercose (gráfico 1) ob-servada em doze animais (12), representando uma prevalência de 0,009% (Tabela 1). o diagnóstico foi baseado nas lesões macroscópicas compatíveis com o Cysticercus bovis.

Por meio da análise da Tabela 1, pode ser ob-servado que o mês de março de 2011 apresentou maior prevalência de animais acometidos com

0,018% dos casos positivos. Nos me-ses de maio, junho, julho e novembro de 2010 não foi encontrado nenhum caso durante a inspeção. Essa varia-ção pode estar relacionada com o ciclo biológico do parasita. Também foi observado que a forma viva da cis-ticercose (n=10) é predominante em relação aos cistos calcificados (n=2), semelhante ao observado por Mo-rais et al. (2009), Santos et al. (2008) e vollkopfý et al. (2008).

Esses valores representam a pre-valência de cisticercose entre os 28 municípios de origem dos animais avaliados. Todos os municípios estão

localizados na região Sul do Estado. Atualmente, Rondônia possui 53 muni-

cípios, sendo este valor de 0,009% representativo de 52,83% do território rondoniense. Portanto, o valor apresentado é referente à região Sul do esta-do e não é válido para todo o território.

A prevalência de cisticercose apresentada neste estudo, quando comparada a outros esta-dos, revelou um menor valor. Pesquisas realizadas nos estados como Alagoas (oLivEiRA et al., 2011), Bahia (ALMEiDA et al., 2006) Rio de Janeiro (PEREi-RA, 2006), São Paulo (MANHoSo e PRATA, 2004), Mato grosso do Sul (voLLKoPFÝ et al., 2008), Mato grosso (SCHEiN et al., 2004), Santa Catarina (NuNES, 2008), Paraná (SouZA et al., 2007) e Rio grande do Sul (CoRRêA et al., 1997) demonstraram prevalência entre 0,16% a 9,73% (Tabela 2).

o índice de cisticercose bovina aceitável para países em desenvolvimento está em torno 1% até 3% (BARSZCZ et al., 2008). Nossos resultados demons-

tabela 1. Prevalência de cisticercose em bovinos abatidos em frigorífico sob inspeção federal no período de maio de 2010 a abril de 2011. Rolim de Moura, Rondônia.

MESES DO ANO ANiMAiS ABAtiDOS

ANiMAiS ACOMEtiDOS

EStáGiO lArVArPrEVAlêNCiA

%CiStOSViVOS

CiStOSCAlCiFiCADOS

MAi/10 2.163 - - - 0JuN/10 5.210 - - - 0JuL/10 8.096 - - - 0Ago/10 9.143 1 - 1 0,010SET/10 9.862 1 1 - 0,010ouT/10 8.358 1 1 - 0,011Nov/10 10.646 - - - 0DEZ/10 13.854 1 1 - 0,007JAN/11 13.950 1 1 - 0,007FEv/11 14.738 2 2 - 0,013MAR/11 15.810 3 2 1 0,018ABR/11 11.931 2 2 - 0,016tOtAl 123.761 12 10 2 0,009

53Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

tram que a região Sul de Rondônia destaca-se dos outros estados nacionais, estando abaixo desse índi-ce (Tabela 1). Segundo vollkopfý et al. (2008), a expli-cação para estados com baixos níveis de cisticercose bovina pode ser devido à forma de produção exten-siva, contrapondo as regiões em que os animais são criados em confinamento.

um levantamento realizado, no mesmo frigo-rífico, entre janeiro de 2005 a fevereiro de 2007, foi relatada prevalência de 0,03% de cisticercose bovina (BARSZCZ et al., 2008), valor pouco su-perior ao encontrado no presente estudo. Essa variação pode sugerir um avanço nas medidas preventivas dessa doença no estado ou pode ter sido alterada pela variação nos municípios de onde foram provenientes os animais abatidos. Diferenças na prevalência de cisticercose foram relatadas entre municípios no estado do Rio de Janeiro, evidenciado na pesquisa realizada por Pereira et al. (2006), que obteve prevalência 1,95% no município do Rio de Janeiro, contrapos-

to à Costa (2003), que obteve prevalência de 10% no município de Nova Friburgo.

Mesmo que os índices apresentem-se baixos, são necessárias medidas profiláticas, possibilitando que a doença passe a ser extinta no estado, reduzindo, assim, as perdas econômicas na produção de carne. Para isso, é necessária a conscientização da popula-ção quanto às medidas de higiene. Também é neces-sária a conscientização dos produtores quanto aos cuidados sanitários do rebanho e que seja realizada a vermifugação dos animais periodicamente, propor-cionando menor risco à saúde pública e diminuindo prejuízos na cadeia produtiva da pecuária.

COnCLUSãODurante o período avaliado, constatou-se

que a cisticercose acomete animais de produção na região sul do estado, com índices de pre -valência abaixo da média brasileira. Rondônia encontra-se em níveis desejados para países em desenvolvimento.

tabela 2. Prevalência de cisticercose em bovinos abatidos por estado, segundo autor e período analisado.EStADO AutOr/ANO PEríODO ANAliSADO PrEVAlêNCiA (%)

Alagoas oliveira et al., 2011 2000-2005 0,32% - 0,65%Bahia Almeida et al., 2006 2005 4,2%Mato Grosso Schein et al., 2004 1996-2000 0,69%Mato Grosso do Sul vollkopf et al., 2008 2007 0,16%Minas Gerais Moreira et al., 2002 1997-1999 7,0%Paraná Souza et al., 2007 2000 3,83%rio de Janeiro Pereira, 2006 1997-2003 1,58 - 2,09%rio Grande do Sul Corrêa et al., 1997 1996 4,63%rondônia Barszcz et al., 2008 2005-2007 0,03%Santa Catarina Nunes et al., 2008 2006 1,4 %São Paulo Manhoso e Prata, 2008 1999-2001 9,73%

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54 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

DaDos Das autoras

DArlENE rAMOS Médica veterinária, CRMv-Ro nº [email protected]

AliNy PONtES AlMEiDA Médica veterinária, CRMv-Ro nº 1044. MSc, docente do Centro universitário Luterado de Ji-Paraná.

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55Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

NOrMAS PArA APrESENtAçãO DE ArtiGOS

InFOrMAçõES GErAIS

o Suplemento Científico da Revista do CFMv tem como objetivo a publicação de artigos de investiga-ção científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina veterinária e de Zootecnia. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. os pareceres ad hoc terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicida-de da publicação será quadrimestral.

A inscrição e tramitação é exclusivamente eletrônica em www.cfmv.gov.br

nOrMAS EDITOrIAIS

os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escri-tos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim como uma versão do título.

ArtiGOS DE rEViSãO E DE EDuCAçãO CONtiNuADAos artigos de revisão e de educação continu-

ada devem ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências Bibliográficas e Agradecimentos (quando hou-ver). A divisão e subtítulos do texto principal fica-rão a cargo do(s) autor(es).

ArtiGOS CiENtíFiCOSos artigos científicos deverão conter dados con-

clusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, introdução, Material e

Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e, quando houver, Agrade-cimentos, Tabela(s), quadro(s) e Figura(s). A critério do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão pode-rão ser apresentados como uma única seção. quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princí-pios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução CFMv nº 879, de fevereiro de 2008, ou naquela que a substituir.

APrESENtAçãO os manuscritos encaminhados deverão estar di-

gitados com o uso do editor de textos Microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, com margens late-rais de 3,0cm e margens superior e inferior de 2,5cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. o artigo completo deverá ter no máximo 12 páginas.

títulOo título do artigo, com 15 palavras no máximo,

deverá ser escrito em negrito e centralizado na pá-gina, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract.

AutOrESCitar respectivos registros em conselhos de clas-

se à excessão de alunos de graduação.

rESuMO E abstracto Resumo e sua tradução para o inglês, o Abs-

tract, não podem ultrapassar 250 palavras, com in-

TRAMITAÇÃO ELETRÔNICAo envio de artigos ficou mais fácil, ágil e transparente. Acesse www.cfmv.gov.br

56 Revista CFMv - Brasília/DF - Ano XiX - nº 59 - 2013

suplemento científico

formações que informem o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões.

PAlAVrAS-CHAVE E KeywordsNo máximo cinco palavras serão representadas

em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.

tExtO PriNCiPAlDeverá ser apresentado em espaço simples,

fonte Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, gH = hormônio do crescimento. As citações biblio-gráficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos: Rodrigues (1999), (RoDRiguES, 1999), Silva e Santos (2000), (SiLvA e SANToS, 2000), gonçalves et al. (1998), (goNçALvES et al., 1998).

rEFErêNCiAS BiBliOGráFiCASA lista de referências bibliográficas será apresenta-

da em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados.

obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publi-cação. A referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro carac-tere da primeira linha. os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do BioSES *BioSiS. Serial sources for the BioSiS pre-views database. Philadelphia, 1996, 486p.

Abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas.

ArtiGO DE PErióDiCOEuCLiDES FiLHo, K.; v.P.B.; FiguEiREDo, M.P. Avalia-ção de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. ganho de peso e conversão alimentar. revista Brasileira de Zoo-tecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.

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tESES (DOutOrADO) Ou DiSSErtAçõES (MEStrADO)

MARTiNEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrá-rias e veterinárias. universidade Estadual Paulista.

ArtiGOS APrESENtADOS EM CONGrESSOS, rEuNiõES E SEMiNáriOS

RAHAL, S.S.; W.H.; TEiXEiRA, E.M.S. uso de fluorescei-na na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. In. CoNgRESSo BRASiLEiRo DE MEDiCiNA vETERiNÁRiA, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, SPEMvE, 1994. p.19.

tABElAS, QuADrOS E iluStrAçõESAs tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, foto-

grafias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. uma em cada página. Serão nume-rados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacio-nal de Estatística (Rev. Bras. Est. v. 24, p.42-60, 1963).

FOtOGrAFiASAs fotografias deverão estar em boa resolução

(nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato TiF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (JPEg). Ao enviá-las, o autor automaticamente autoriza sua inclusão no banco de imagens do CFMv, com o devido crédito.

AVAliAçõES/rEViSõESos artigos sofrerão as seguintes avaliações/re-

visões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) ava-liação do editor e/ou Comitê Editorial.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 57

SExAgEm FEtAL Em bOVINOS POR uLtRASSONOgRAFIA

RepRodução AnimAl

A tecnologia utilizada para sexagem fetal fornece informações precoces referentes à confir-mação da prenhez e ao sexo do feto com até 100% de acurácia (LAMB e FRiCKE, 2008). Além disso, contribui para a eficiência reprodutiva melho-rando o desempenho produtivo e a lucratividade dos rebanhos bovinos (SCARCELLi et al., 2004), pois permite a concentração de maior número de machos destinados à produção de carne, maior número de fêmeas, produtoras de leite e bovinos de corte para criação de animais elite.

rEVISãO DE LITErATUrAA determinação do sexo fetal pode ser realizada

por meio da técnica de Reação em Cadeia da Poli-merase (PCR) ou pelo uso do aparelho de ultrassono-grafia. o PCR determina o sexo fetal a partir do DNA fetal isolado do plasma materno, sendo uma forma sensível e eficaz (Da CRuZ et al., 2010).

A identificação do sexo fetal por meio da ultra-sonografia vem sendo praticada há alguns anos, em bovinos e equinos. Segundo Fernandes (2006) é uma técnica não invasiva, de execução rápida, pouco traumática para os animais gestantes e principal-mente para o feto examinado.

Durante o exame é necessária a visualização do tubérculo genital (Tg), estrutura responsável pela formação do clitóris nas fêmeas e do pênis nos ma-chos (FERNANDES, 2006), que se apresenta de forma altamente brilhante, ecogênica (BARuFi e MiZuTA, 2000) e bilobulada, localizando-se inicialmente sobre a linha média, entre os membros posteriores. Pode ser detectado aos 50 dias de gestação, porém com essa idade ainda acontece sua migração, não sendo possível, ainda, detectar o sexo masculino ou feminino (FERNANDES, 2006).

Entre 55 e 90 dias de gestação é possível observar a diferenciação dos sexos, pois nas fêmeas ocorre a migração do Tg para uma pequena distância em sen-tido ventral à base da cauda e, no macho, o tubérculo genital migra em uma distância maior em sentido anterior, e imediatamente posterior ao cordão umbi-lical (goNçALvES et al., 2008).

Curran et al. (1989) preconizam o aparelho de ultrassom de modo B, com um transdutor entre 5 e 7 MHZ (evitando cortes profundos). o reto deve ser evacuado, o transdutor é introduzido e con-duzido protegido abaixo da palma da mão até o corno gestante. Na sequência, o transdutor fará um mapeamento dorsal da região, nos sentidos

longitudinais, transversais e perpendiculares. A

referência, no feto, passa a ser a região

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201358

umbilical e a inserção do cordão para, assim, poder determinar o sexo fetal.

A detecção do Tg masculino é mais fácil quando comparada ao feminino, contudo, quando não se ob-serva o tubérculo posterior ao cordão umbilical, não se deve afirmar que o feto é fêmea. Na interpretação da imagem, observa-se que a cauda é uma estrutura monolobular, enquanto o Tg se apresenta de forma bilobulada (BARuFi e MiZuTA, 2000).

Mello (2003) descreve que além da localização do Tg, o posicionamento do feto também pode interferir na técnica de sexagem, tornando-se difícil a identificação do tubérculo em secções lon-gitudinais do feto. Já em imagens latero-laterais e imagens em corte sagital, a morfologia bilobulada apresenta se mais distinta. Para orientação do operador, o primeiro passo é a identificação da face anterior do feto, por meio da visualização do coração pulsante ou da cabeça do feto. Após esta identificação, realiza-se a progressão em sentido posterior, até que o cordão umbilical seja visto penetrando no abdômen, observando atrás deste, a presença (macho) ou ausência (possivelmente fêmea) do Tg (MELLo, 2003).

Em uma abordagem longitudinal, a identifi-cação da estrutura torna-se mais difícil, mas ao rotacionar o transdutor em 90º é possível observar uma visão sagital. Ambas as áreas, atrás do cordão umbilical e sob a cauda, devem ser examinadas para confirmação da presença ou ausência do Tg (FERNANDES, 2006).

Três locais formadores de imagem devem ser examinados: adjacente ao umbigo/abdômen, entre os membros pélvicos e na porção ventral da cau-da [possível tubérculo genital feminino] (LAMB e FRiCKE, 2008). Segundo Campos (1993), a eficácia desta técnica está em torno de 100% e é dependente da habilidade e experiência do operador.

rELATO DE CASOForam identificados o sexo de produto oriundo

de 34 receptoras de embrião bovino, com objetivo de separação de gestação de fêmeas para fins co-

merciais. Do total examinado, 22 obtiveram prenhez positiva para fêmea e 12 para macho.

A transferência de embriões foi realizada em pro-priedade localizada na cidade de uberaba-Mg. os embriões pertenciam a touros e vacas elites e foram transferidos em vários estágios de maturação. vacas, após seis dias de ovulação, recebiam embriões no estágio de mórula, com oito dias blastocisto inicial e, com mais de oito dias, blastocisto, seguindo o crité-rio descrito por Jainudeen et al. (2004).

As receptoras, sem padrão racial definido e com idade entre dois e três anos, foram submeti-das a exames clínico-sanitários e de condição cor-poral, conforme critérios definidos por De grossi (2003) e Franco et al. (2004).

A confirmação de prenhez viável foi feita por meio de exame de utrassonografia, aos 55 dias após a transferência de embrião, e foi considerada positiva quando identificada a presença do feto e dos bati-mentos cardíacos. Nessa ocasião, não foi possível verificar o sexo fetal.

Aos 60 dias de gestação, as vacas foram subme-tidas à técnica de sexagem fetal, com o auxílio do aparelho de ultra-som de modo B, 7,5 MHz e probe de arranjo linear. Fernandes (2006) cita que a sexa-gem fetal pode ser feita até o 90º dia de gestação, porém, Barros e visintin (2001) relataram que aos 70 dias já existe grande dificuldade em observar o Tg, que pode ser confundido com estruturas como os ossos. Também, o feto já está maior, com movi-mentação diminuída, deslocado para a cavidade abdominal e, com o avançar da gestação, a visuali-zação da inserção do cordão e do tubérculo estará dificultada, podendo haver erros de diagnóstico.

Após identificar o feto, foi examinado o local de inserção do cordão umbilical, em busca do tubér-culo genital. quando localizado atrás do cordão umbilical, caracterizava feto macho (Figura 1). Caso o tubérculo não fosse identificado na inser-ção do cordão, a probe era manuseada em sentin-do da cauda do feto e a presença do Tg definia o sexo fêmea para o feto (Figura 2).

Figura 2: Tubérculo genital nas proximidades da base da cauda. a) Figura macroscópica indicando o tubérculo genital no feto (círculo verde) B- Tubérculo genital crânio-caudal a cauda, em imagem de ultrassonografia (círculo verde).

Figura 1. Tubérculo genital nas proximidades da inserção do cordão umbi-lical no abdomem. a) Figura macroscópica indicando o tubérculo genital no feto (Círculo verde) B) Tubérculo genital caudalmente ao cordão umbilical, em imagem de ultrassonografia (círculo verde).

ArqUIVO DO AUTOr

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 59

DaDos Dos autores

referências BiBliográficas

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CAMilA OliVEirA SilVEirAMédica veterinária, CRMv-Mg nº 10527, MSc – universidade Federal de viçosa, [email protected]

SANEly lOurENçO DA COStA Médica veterinária, CRMv-ES nº 1043, Doutoranda, uFv

rONAlDO OliVEirA SilVEirA graduando, FACiSA-uNiviçoSA, Mg.

luDMilA SOuZA FErNANDES Médica veterinária, CRMv-Mg 11443, docente, Facisa-univiçosa, Mg

GiANCArlO MAGAlHãES DOS SANtOS Médico veterinário, CRMv-Mg 11005, docente, Facisa-univiçosa, Mg

o posicionamento do feto no útero foi importante. Em algumas vacas ele se encontrava na posição longi-tudinal, dificultando o diagnóstico, sendo necessário realizar a rotação da probe em 90º, permitindo visuali-zar o feto na posição sagital. Porém, independentemen-te da posição que o feto estava foi feita mais de uma imagem para que a acurácia do exame fosse de 100%.

COnSIDErAçõES FInAISA técnica de sexagem fetal, mesmo possuindo

eficácia de 100%, possui como restrições a neces-sidade de habilidade e o custo dos equipamentos. Porém, a identificação do sexo fetal em bovinos é de extrema importância para a valorização do pro-duto e do plantel.

RepRodução AnimAl

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201360

Além de novos medicamentos, avanços recentes têm ampliado a compreensão da necessidade de intervenções nutricionais e farmacológicas em por-tadores de patologias cardíacas. o tratamento die-tético tem como finalidade dar condições para que o sistema cardiovascular mantenha o suprimento de oxigênio e nutrientes para os tecidos corpóreos em níveis adequados (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

os objetivos da nutrição já não estão limitados ao baixo teor de sódio na dieta. Pesquisas têm mostrado que outros nutrientes como a taurina, a arginina, vitaminas e sais minerais, além de nu-trientes especiais tais como L-carnitina, coenzima q10, podem ser complemento importante à tera-pia médica (PiBoT et al., 2008).

As doenças cardíacas aparecem em diferentes tipos, sua severidade varia de animal para animal e existem diferenças inerentes ao indivíduo. Portanto, a terapia deve ser individual quando se refere à in-dicação de restrições de nutrientes ou à suplemen-tação alimentar. Sendo assim, animais cardiopatas devem ser mantidos no peso ideal, a fim de obter me-

nor trabalho cardíaco e contribuir com sua qualidade de vida (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

SISTEMA CArDIOVASCULArNas alterações miocárdicas, o inotropismo

negativo limita a capacidade do coração manter débito cardíaco, pressão arterial e fluxo sanguíneo em padrões de normalidade (CuNNiNgHAM, 2002; ETTiNgER e FELDMAN, 2008). Cerca de 33% dos cães com 13 anos de idade ou mais, têm alguma forma de cardiopatia (goLDSToN e HoSKiNS, 1999).

Entre os mecanismos adaptativos que agem para manter a preservação do débito cardíaco estão os sistemas nervoso simpático e renina-angiotensina- aldosterona, que atuam na tentativa de aumentar o débito cardíaco e concomitantemente a pressão arterial (CuNNiNgHAM, 2002).

Assim, ocorre a liberação da aldoresterona que é um hormônio antidiurético, cuja função é reter sódio e água nos rins, aumentando a volemia. A vasopressina ou ADH é liberada na região da neuro-hipófise e poten-cializará o efeito da aldosterona (CuNNiNgHAM, 2002).

tRAtAmENtO DIEtÉtICOEm CÃES CARDIOPAtAS

Nutrição

ArqUIVO DO AUTOr

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 61

Em situações crônicas, os efeitos são insuficientes e, muitas vezes, a estimulação continuada deter-mina deterioração da função cardíaca. Também, a constante redução do fluxo sanguíneo resulta na diminuição do aporte de nutrientes necessários para o turnover protéico e a renovação tissular (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

CAqUEXIA CArDíACAA caquexia cardíaca é um estado catabólico

comum nas fases mais avançadas das cardiopatias, definido como perda de peso, não intencional, en-volvendo mais de 10% da massa muscular (quadro 1). é notada, principalmente, quando há equilíbrio nitrogenado e energético negativo decorrente de ingestão alimentar inadequada, perda excessiva de energia ou metabolismo alterado (BELERENiAN et al., 2001; ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

Com a ingestão de calorias insuficientes, o organis-mo inicialmente irá utilizar aminoácidos gerados pelo catabolismo da massa corporal magra. Este processo, ao se tornar constante, inicia o metabolismo da gordu-ra, a fim de preservar a massa corporal magra. Porém, os animais cardiopatas não conseguem realizar essa mu-dança adaptativa para a utilização da gordura corporal e continuam o catabolismo da massa corporal magra (BELERENiAN et al., 2001; FREEMAN, 2008).

Quadro 1. Fatores que contribuem para perda da massa corporal em cães cardiopatas.

• carga de trabalho aumentada (dispneia e taquipneia) sobre músculos da respiração;

• ingestão de energia inadequada; • falta de apetite até anorexia que pode ser

induzida pela terapia instituída;• hipóxia celular ocasionada pelo baixo débi-

to cardíaco e má perfusão periférica;• hipermetabolismo ocasionado por maior

demanda energética dos tecidos cardíacos e pulmonares;

• congestão em vísceras abdominais ocasio-nada pela evolução da doença ou por com-pressão devido à ascite.

Adaptado de Belerenian et al., 2001

Nota-se também má-absorção consequente da insuficiência da perfusão sanguínea e posterior atrofia das vilosidades intestinais (BELERENiAN et al., 2001).

A presença de mediadores inflamatórios como citocinas, fator alfa de necrose tumoral e inter-

leucina-1 influenciam o surgimento de caquexia cardíaca, causando diretamente a anorexia, a fim de aumentar a disponibilidade de energia e, con-comitantemente, provoca perda de massa corporal magra (FREEMAN, 2008).

o reconhecimento dos estágios iniciais da ca-quexia cardíaca é importante para sua reversão (FRE-EMAN, 2008). A terapia nutricional baseia-se na esti-mulação do apetite a fim de combater a anorexia e a desnutrição. Para reduzir a produção e os efeitos dos mediadores inflamatórios recomenda-se a suple-mentação com ácidos graxos Ômega 3 poli-insatura-dos (ETTiNgER e FELDMAN, 2008; FREEMAN, 2008).

OBESIDADEEstimativas apontam a obesidade como a

doença nutricional mais comum em cães: 25% a 35% apresentam sobrepeso ou são obesos. Na gênese da afecção estão fatores genéticos, sociais, culturais, metabólicos e endócrinos. Todos produ-zem um desequilíbrio entre o consumo e o gasto energético, que conduz a um balanço energético positivo acumulado na forma de gordura, determi-nando ganho de peso e mudanças na composição corporal (goNçALvES, 2006).

Em cães obesos há predisposição ao desenvol-vimento de arritmias em diferentes graus, sobre-carga ventricular; volume plasmático e extracelular aumentados, ativação neuro-humoral aumentada, excreção de sódio e água urinário reduzida, frequên-cia cardíaca aumentada, disfunção sistólica e dias-tólica, intolerância a exercício e irregularidades da pressão arterial (BELERENiAN et al., 2001).

Com o aumento da massa corporal, haverá incre-mento do trabalho cardíaco que produzirá esforço adicional no coração já debilitado pela infiltração de gorduras, contribuindo para a progressão da doença (guiMARãES e TuDuRY, 2006).

Alimentos destinados à perda de peso são caracterizados pela baixa densidade energética, concentrações mais elevadas de proteínas e fibras alimentares, utilização de amido de assimilação lenta e incremento de vitaminas e minerais. Com isto, objetiva-se aumentar a ingestão de matéria seca, promovendo um estímulo mais eficaz de saciedade, sem a elevação concomitante da in-gestão calórica e mantendo, ao mesmo tempo, a ingestão dos nutrientes não calóricos, de modo a permitir funcionamento adequado das atividades orgânicas. No entanto, deve-se ter cuidado, pois a perda de peso progressiva pode evoluir para ca-quexia (goNçALvES, 2006).

Nutrição

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201362

nECESSIDADES DE MACrOnUTrIEnTES

CArBOiDrAtOSA recomendação de carboidratos situa-se em 50%

do valor calórico da dieta. Nos casos de retenção de dióxido de carbono, aumentada na má ventilação, a redução no percentual de carboidratos estará indicada (MAgNoNi e CuKER, 2002).

Estudos preconizam dietas com baixos níveis de carboidratos, aumentando o percentual de partici-pação lipídica e protéica. A presença de mono, di e polissacarídeos deve ser observada, alterando-se a proporção na dieta de acordo com a presença ou não de doenças associadas (MAgNoNi e CuKER, 2002).

A oferta de fibras é indispensável para os animais cardiopatas, pois além de auxiliarem na excreção de colesterol, também regulam o funcionamento in-testinal, evitando a obstipação que poderá alterar o ritmo cardíaco (MAgNoNi e CuKER, 2002).

PrOtEíNAStaurina

A taurina é um aminoácido sulfurado particular, isto é, não está associada a outros aminoácidos para formar proteínas, permanecendo sob forma livre (CARvALHo, 2005).

Nos cães, a taurina pode ser sintetizada no fígado a partir de dois aminoácidos sulfurados, a cisteína e a metionina, portanto não é um aminoácido indispen-sável na dieta (CARvALHo, 2005).

A taurina é essencial para a contração do mús-culo cardíaco; é um agente osmorregulador que de-sempenha papel antiarrítmico. Protege os miócitos contra os efeitos do excesso de cálcio. Age também na preservação da integridade das células do mús-culo cardíaco, prevenindo a hipertrofia induzida pela angiotensina ii, in vitro. Também colabora na elimi-nação de radicais livres, sendo conhecida por sua atividade antioxidante (ETTiNgER e FELDMAN, 2008; PiBoT et al., 2008).

Apesar de trabalhos evidenciarem que na cardio-miopatia dilatada o teor plasmático de taurina estava baixo, nem sempre isto ocorrerá em associação com esta patologia (BELERENiAN, 2001). Contudo, a su-plementação por via oral de 250 a 500 mg de taurina por animal a cada 12 horas, diariamente, pode ter efeito positivo (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

CarnitinaA L-carnitina é responsável pelo transporte de

ácidos graxos de cadeia longa pela membrana das

mitocôndrias, onde serão oxidados para geração de energia. é sintetizada no fígado e nos rins por meio de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina, em processo dependente das vitaminas hidrossolú-veis, ascorbato, niacina, piridoxina e do íon ferroso (BoRgES et al., 2003; FREEMAN, 2008).

A L-carnitina concentra-se nas células muscu-lares cardíacas e esqueléticas e desempenha papel essencial no transporte de metabólitos tóxicos para fora da mitocôndria, por meio das enzimas que transportam ácidos graxos de cadeia longa do citosol, que é fonte importante de energia para o coração. Este aminoácido possui ações de cardio-proteção perante hipóxia e estresse oxidativo. Tem função de sequestrar radicais livres; aumenta a fun-ção contrátil do coração; diminui as concentrações de LDL e aumenta a fração de HDL circulantes; di-minui a produção de ácido láctico na musculatura; conserva a massa muscular e favorece a perda de peso; diminui a peroxidação lipídica, pois diminui o substrato disponível; inibe o ferro, catalisador da produção de radicais; aumenta o teor de vitamina C, pois como a vitamina C participa da síntese da L-carnitina, essa vitamina é “economizada” e au-menta o teor de vitamina E devido à diminuição do estresse oxidativo (BoRgES et al., 2003; ETTiNgER e FELDMAN, 2008; RoDRiguES, 2008).

A suplementação de carnitina, 10-20 mg/kg três vezes ao dia, por via oral, é recomendada, pois pode melhorar o desempenho energético/metabólico dos cardiomiócitos e das células musculares esque-léticas (goLDSToN e HoSKiNS, 1999; ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

ArgininaA arginina é um precursor do óxido nítrico (No),

que foi identificado como um fator de relaxamento do músculo liso dos vasos sanguíneos (MAgNoNi e CuKiER, 2002). Tem por funções inibir a agregação e adesão plaquetárias, bem como do sistema renina- angiotensina-aldosterona, diminuição da prolife-ração vascular em músculos lisos e mantém o tônus vasodilatador normal. A dieta é a principal fonte para o organismo, uma vez que as quantidades necessá-rias não podem ser sintetizadas de forma endógena (MAgNoNi e CuKiER, 2002).

No entanto, o uso de arginina por via oral deter-mina irritação gástrica, emese e diarreia, possivel-mente pelo excesso de produção do No no trato gastrintestinal e pela disfunção na absorção intes-tinal de outros aminoácidos. A alternativa é a admi-nistração de L-citrulina, potente precursor da síntese

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 63

Monitoramento de cão cardiopata.

de L-arginina. Como um aminoácido neutro, a L-citrulina não compete com aminoácidos básicos e sua administração não requer HCL equimolar. Sendo assim, a administração de L-citrulina por via enteral ou parenteral pode ser útil para animais cardiopatas. Todavia, serão necessários maiores estudos para avaliar a real eficácia da administração de arginina ou L-citrulina na reversão da disfunção cardiovascular (PiBoT et al., 2008).

lipídeosApesar do papel importante no metabolismo, o

consumo excessivo de determinados tipos de gordura pode favorecer o aparecimento de doenças cardiovas-culares e a obesidade (MAgNoNi e CuKiER, 2002).

os ácidos graxos podem ser divididos em dois gru-pos, ômega 3 e 6. os ácidos graxos da série 6 são: ácido cis-linoleico; gama-linolênico; dihomo-gamalinolê-nico; araquidônico. E os da série 3 são: alfalinolênico; eicosapentaenoico; docosahexaenoico (BoRgES et al., 2003). os ácidos graxos não são sintetizados por cães, e como são imprescindíveis devem ser ingeridos na dieta (PiBoT et al., 2008).

Podem diminuir a produção de citocinas inflama-tórias, fator de necrose tumoral alfa e interleucina-1, bem como demonstram ser benéficos nas arritmias

e têm efeitos positivos na presença de dispneia e ta-quipneia (PiBoT et al., 2008).

A forma de suplementação ideal ainda não está determinada. Porém, alguns autores, sugerem doses de 40 mg/kg de ácido eicosapentaenoico e 25 mg/kg de ácido docosahexaenóico para cães com anorexia e caquexia. os efeitos colaterais da suplementa-ção são relatados como letargia, prurido, vômitos, diarreia e urticária. A superdosagem pode causar diminuição da agregação plaquetária e aumento do tempo de coagulação (PiBoT et al., 2008).

nECESSIDADES DE MICrOnUTrIEnTES

SódioMuitos processos que envolvem membranas são

controlados pelo equilíbrio entre os íons de íons de sódio, cloro e potássio presentes. Em muitas situa-ções, o desequilíbrio desses mecanismos favorece a retenção de sódio (hipernatremia) determinando acúmulo excessivo de líquido no corpo (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

A taxa reduzida de excreção de sal, que ocorre em casos crônicos, progride à medida que a cardio-patia se agrava. Está comprovado que a instituição

Nutrição

Arq

UIVO

CFMV

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201364

precoce da restrição dietética de sódio pode retardar o agravamento da doença cardíaca. No entanto, cães sadios, geriátricos, que foram alimentados com dietas contendo níveis baixos de sal, desenvolveram aumento discreto na atividade de renina plasmática e de aldosterona. Em outro estudo, cães ao serem submetidos à dieta com restrição do sódio preco-cemente, juntamente com uma terapia diurética, tiveram os sistemas nervoso simpático e renina-an-giotensina-aldosterona ativados a fim de conservar o sódio corporal por meio da redução de excreção renal, resultando assim no equilíbrio hidroeletrolíti-co (goLDSToN e HoSKiNS, 1999; ETTiNgER e FELD-MAN, 2008).

A instituição de restrição de sódio na dieta como ferramenta clínica é dividida em três níveis, sendo a restrição discreta ou reduzida, de 3,5 a 6,5 mg/kg; moderada, de 2,5 a 3,5 mg/kg e rigorosa, de 1 a 3 mg/kg (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

Todavia, a troca completa da ração não deve ser de forma abrupta e sim de modo gradual. inicia-se selecio-nando uma dieta com baixo teor de sódio. os alimentos destinados a animais com insuficiência renal são uma alternativa, pois possuem restrição moderada de sódio e são palatáveis (goLDSToN e HoSKiNS, 1999).

Potássioo potássio é um elemento principalmente intra-

celular, presente em maior concentração nas células musculares e nervosas. Participa da manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, na contração muscular, no funcionamento cardíaco e na transmissão dos impulsos nervosos (CuNNiNgHAM, 2002). 

é absorvido no intestino delgado e, hormônios como epinefrina, insulina e aldosterona, são respon-sáveis por manter os níveis séricos em níveis basais e, também por aumentar sua captação para o músculo esquelético, fígado, ossos e glóbulos vermelhos (DougLAS, 2006).

A deficiência de potássio (hipocalemia) deve ser evitada, pois pode agravar a arritimogênese, dimi-nuir a contratilidade miocárdica, induzir a fraqueza muscular e pode potencializar ou induzir toxicidades relacionadas a fármacos (digoxina, diuréticos, antiar-rítmicos) (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

Magnésioo magnésio é mineral constituinte de tecidos moles

e duros. Participa de sistemas enzimáticos, como na ATPase, hexoquinase, oxidase pirúvica etc. Além disso, faz parte dos íons que participam dos processos de ex-citabilidade da membrana (DougLAS, 2006).

A concentração plasmática de magnésio pode dimi-nuir pela ação excessiva de diuréticos. Assim como o po-tássio, a deficiência de magnésio (hipomagnesemia) cau-sa distúrbios eletrolíticos que podem agravar a arritmia, diminuir a contratilidade miocárdica e induzir a fraqueza muscular e pode potencializar ou induzir toxicidades rela-cionadas a fármacos (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

TErAPIA nUTrICIOnAL COADJUVAnTE Vitaminas e antioxidantes

A suplementação vitamínica deverá ser indica-da quando houver perda associada com diurese e alteração de absorção gastrintestinal (MAgNoNi e CuKER, 2002).

o betacaroteno é um potente sequestrador do oxigênio, principalmente em situações de baixa pressão (BoRgES et al., 2003).

A vitamina E é o antioxidante potente que inter-rompe a cadeia de peroxidação lipídica. Protege os li-pídeos poli-insaturados da lesão pelos radicais livres; reduz a adesão e a agregação plaquetária; inibe os fatores de coagulação dependentes de vitamina K, bem como a estimulação da produção de endotelina e atenua a inibição da produção de óxido nítrico. Para conservar sua eficácia, a vitamina E requer a presença da vitamina C (BoRgES et al., 2003).

o fornecimento mínimo recomendado de vita-mina E, para obtenção do efeito antioxidante é de 50 mg por quilo de matéria seca; entretanto, tal dosagem ainda não está bem estabelecida. A suplementação de vitamina C, em dosagens de 3 e 0,5 g dia, não mostra efeito adverso. Porém, a utilização por longos perío-dos pode aumentar o risco de urolitíase por cálculos de oxalato de cálcio (BoRgES et al., 2003).

Pesquisas recentes mostram que a coenzima q10

Cão boxer, idoso, portador cardiopatia.

ArqUIVO CFMV

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 65

referências BiBliográficas

(ubiquinona), presente no te-cido animal, participa de algu-mas reações metabólicas in-cluindo ciclo de Krebs, possui ação antioxidante e faz parte da bomba sódio-potássio, importante na prevenção de doenças cardíacas (FREEMAN, 2008; PiBoT et al., 2008). A dose recomendada é de 30 ou 90 mg por via oral, duas vezes por dia (MAgNoNi e CuKER, 2002; FREEMAN, 2008).

FOrnECIMEnTO DE áGUA

A água da dieta é uma fonte significativa de ingestão de sódio. Por tal motivo, a água fornecida deve ser purifica-da (ionizada) ou destilada (ETTiNgER e FELDMAN, 2008).

COnSIDErAçõES FInAISo objetivo da terapia nutricional em cães cardio-

patas é potencializar o tratamento médico, influen-ciando tanto na decisão terapêutica imediata, como no prognóstico em longo prazo.

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Cão cardiopata portador de ascite e edema de extremidades.

DaDos Dos autores

DANiElE DANEZi SAViOgraduanda de Medicina veterinária, universidade Anhembi [email protected]

rOBErtO ANDrADE BOrDiNMédico veterinário, CRMv-SP nº 12.809, MSc, DSc, docente na universidade Anhembi Morumbi

Nutrição

ArqUIVO CFMV

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201366

hIPERtENSÃO INtRA-AbDOmINAL E SÍNDROmE COmPARtImENtAL Em CÃES

ClíniCa MédiCa

Apesar de esses termos serem ainda pouco conhecidos na Medicina veterinária, eles são de fundamental importância para o manejo de algumas afecções em pacientes críticos. Muito se sabe sobre a pressão arterial, pressão venosa central, pressão intracraniana, entre outras; no entanto, quando falamos de pressão intra-abdominal (PiA), muitos questionamentos ainda surgem em relação às suas aplicabilidades e às consequências.

A cavidade abdominal é um compartimento com complacência limitada por possuir paredes rígidas (arcos costais, coluna vertebral e pelve) e flexíveis (parede abdominal e diafragma). o comprimento dessas paredes e o volume dos órgãos contidos de-terminam a pressão dentro do abdômen em deter-minado momento. A pressão no estado estacionário dentro da cavidade abdominal, que aumenta com a inspiração (contração diafragmática) e diminui com a expiração (relaxamento do diafragma) é definida como PiA (CHEATHAM, 2009).

A PiA é influenciada pelo índice de massa corpo-ral, pela posição do paciente, atividade muscular da parede abdominal e pela respiração. Essa pressão é afetada diretamente pelo volume dos órgãos ocos e maciços do abdôdem, pela presença de ar ou efusão abdominal, bem como pela capacidade de distenção abdominal (CASTELHANoS et al., 2007). o aumento de volume em qualquer um dos seus conteúdos determinará aumento nessa pressão, prejudicando a circulação sanguínea e, dessa forma, alterando a função e ameaçando a vitalidade dos tecidos (CHEN et al., 2008).

o conceito de hipertensão intra-abdo-minal (HiA) foi introduzido na literatura de forma concreta no início de 1980; porém, com o advento dos procedimentos cirúr-gicos laparoscópicos, os estudos sobre o tema cresceram de forma expressiva nos últimos 15 anos. Na Medicina veterinária, o primeiro trabalho sobre PiA e HiA data de 1995 (CoNZEMiuS et al., 1995) e os estudos sobre o tema permanecem escassos.

DEFInIçõESEm 2006, a Sociedade Mundial de Sín-

drome do Compartimento Abdominal (WSACS) publicou as definições associadas

à hipertensão intra-abdominal e à síndrome do com-partimento abdominal (SCA). A pressão na cavidade abdominal é geralmente próxima de zero, sendo consi-derada normal até 10 mmHg, principalmente no perío-do pós-operatório imediato de intervenções cirúrgicas abdominais. Níveis de pressão sustentada acima de 12 mmHg caracterizam HiA e quando os valores encon-tram-se acima de 20 mmHg associada a pelo menos uma disfunção orgânica, tem-se um quadro de SCA, necessitando de descompressão abdominal imediata (quadro 1). Em maio deste ano, ocorreu na Colômbia um encontro com expertises sobre o assunto, que pu-blicarão em breve novo consenso sobre o tema.

Em cães, a PiA normal foi descrita por Conzemius e colaboradores (1995) quando se encontra entre 0 e 3,75 mmHg (0 e 5 cmH2o), e relataram seu aumento de até 11,25 mmHg (15 cmH2o) em cães após ovariohiste-rectomia. outro estudo revelou valores de PiA, em cães saudáveis, entre 3,23 a 8,05 cmH2o e, em gatos saudáveis valores médios de 4,4 cmH2o (LoPES, 2010) e, por fim, a mensuração da PiA em 29 cães também saudáveis, evi-denciou valores entre 0 e 4,3 cmH20, com média de 1,79 cmH20 (BACCHi, 2011). Como não existe consenso sobre o tema na Medicina veterinária, as definições e valores são os mesmos determinados pela WSACS.

A WSACS também determinou a pressão de perfu-são abdominal (PPA), que é igual à pressão arterial mé-dia (PAM) menos a PiA (PPA=PAM-PiA) e é uma medida que reflete a perfusão dos órgãos abdominais. Segun-do An e West (2008), a PPA deve ser compreendida da mesma maneira que a pressão de perfusão cerebral é utilizada nos casos de hipertensão intracraniana.

CONDiçãO MENSurAçãO DA PiA

Normal < 12 mmHg

HiAgrau igrau iigrau iiigrau iv

12-15 mmHg16-20 mmHg21-25 mmHg> 25 mmHg

SCA > 20 mmHg + disfunção orgânicaou< 60 mmHg PPA + disfunção orgânica

HiA – hipertensão intra-abdominalSCA – síndrome do compartimento abdominalPPA – pressão perfusão abdominal (pressão arterial média – PiA)

Quadro 1. Definições de hipertensão intra-abdominal e síndrome do compartimento abdominal para seres humanos da Sociedade Mundial de Síndrome de Compartimento Abdominal (WSACS).

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DIAGnóSTICOo método-padrão ouro para mensuração

da PiA faz-se por intermédio de uma sonda ure-tral de Foley conectada a um transutor de pres-são (mmHg) ou a uma coluna de água (cmH20) (MALBRAiN et al., 2006; CHEATHAM, 2009).

os primeiros estudos para determinar a PiA foram realizados com manômetros de água, com resultados apresentados em cmH20. Estudos subsequentes utilizando-se transdutores eletrônicos de pressão deter-minaram a PiA em mmHg (1mmHg=1,36 cmH20), e atualmente é a unidade recomen-dada pela WSACS. A unidade mais usada em Medicina veterinária é em cmH20, provavemente devido a seu baixo custo e maior facilidade em detri-mento da utilização de um dispositivo eletrônico.

A WSACS recomenda a instilação de, no máximo, 25 mL de solução salina estéril através da sonda de Foley, devendo as mensurações ser realizadas de forma seriada, iniciando após um minuto da instila-ção de solução na bexiga, para que a musculatura detrusora acomode-se ao volume e não interfira nos valores da PiA. variações da PiA diante de suaves contrações abdominais confirmam que existe boa fidelidade de transdução da pressão (de WAELE et al., 2009). Essa recomendação de volume fixo não é ade-quada em Medicina veterinária, pois o tamanho de bexiga é muito variável, especialmente nos cães, de-vido à multiplicidade de raças e de portes. infusão de volume em excesso pode acarretar superestimação da PiA, devido à hiperdistensão da bexiga, podendo levar à contração muscular por deflagrar o reflexo de micção (KiMBALL et al., 2009).

Durante a mensuração, pessoas devem estar em decúbito dorsal e para o cão aceita-se o decúbito la-teral e dorsal. Segundo Drellich (2000), o ponto zero da coluna de água é a altura da sínfise púbica para os cães. o consenso de HiA determina para pessoas a linha axilar média e mudanças na posição do corpo (ou seja, deitado, de bruços, a cabeça da cama eleva-da), contrações musculares do detrusor da bexiga e dos músculos abdominais podem ter impacto sobre a precisão das aferições (DE WAELE et al., 2009).

A determinação da PiA pode ser realizada com o animal em decúbito lateral ou dorsal, utilizando-se o método de sondagem vesical com uma sonda uretral (com diâmetro ideal para cada animal), sob técnica asséptica, acoplada a uma torneira de três vias, a qual deve estar conectada a uma coluna de água, dividida em cmH20 e a um equipo de macrogotas vinculado a bolsa coletora de urina (Figuras 1 e 2). Após finalizada

a montagem desse sistema, faz-se o esvaziamento da bexiga seguido de infusão de 1 mL/Kg de solução salina a 0,9% para adequar o volume de acordo com o porte do animal. Passado um minuto, abre-se a torneira de três vias a fim de comunicar o equipo de PvC à sonda uretral permitindo que o fluido vesical encontre-se em equilíbrio com o volume contido na coluna métrica. o ponto zero do manômetro marca o nível da sínfise púbica do animal. Após a estabi-lização do menisco da coluna de solução salina, o valor deve ser registrado baseado na altura da coluna em relação ao ponto zero (KRoN et al., 1984; LoPES, 2010; BACCHi, 2011).

os sinais clínicos de SCA incluem abdômen tenso e distendido, aumento da PiA, função renal dimi-nuída, hipóxia e ventilação inadequada, tendendo todas essas variáveis a cessar após laparotomia des-compressiva (AN e WEST, 2008).

FISIOPATOLOGIAinúmeras consequências negativas desenvol-

vem-se com o aumento da PiA (Tabela 1), pois essa pressão é transmitida para espaços e cavidades ad-jacentes, reduzindo o débito cardíaco, restringindo a ventilação pulmonar, diminuindo a função renal, a perfusão visceral e aumentando a pressão intra-craniana (SCHEiN, 2006). villaça e Mantovani (2006) demonstraram, experimentalmente, que os cães so-frem alterações similares aos seres humanos quando a PiA encontra-se acima de 20 mmHg.

HiA resulta em alterações hemodinâmicas de-vido a alterações na pré-carga, pós-carga e pressão intratorácica (MALBRAiAN et al., 2005). A pré-carga diminui devido à redução do retorno venoso para o coração pela compressão da veia cava e veia porta, o que também leva à diminuição do débito cardíaco. o aumento da pressão intratorácica pelo descolamen-

Figura 1. Visão esquemática do sistema de aferição da pressão intra-abdominal de uma fêmea da espécie canina em decúbito dorsal. Notar o ponto zero como a linha da sínfise púbica.

ClíniCa MédiCa

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201368

to cranial do diafragma e a transmissão da pressão in-tra-abdominal para a cavidade torácica inibem o en-chimento ventricular durante a diástole. o aumento da pressão intratorácica vai interferir na aferição da pressão venosa central, que pode ser elevada apesar da marcada hipovolemia. A diminuição do retorno venoso também pode causar acúmulo de sangue nas veias e nos órgãos abdominais (AN e WEST, 2008).

A disfunção respiratória é resultado direto do deslocamento cranial do diafragma, resultando em compressão extrínseca do parênquima pulmonar. Como resultado da compressão parenquimatosa pulmonar, tem-se atelectasia alveolar, diminuição do transporte de oxigênio, uma fração de shunt intrapulmonar, redução do fluxo sanguíneo capilar, levando à diminuição da eliminação do dióxido de carbono e aumento do espaço alveolar morto. Em conjunto, todos esses efeitos levam à hipoxemia e à hipercapnia arterial (CHEATHAM, 2009).

Alterações renais, manifestadas por oligúria e anúria têm sido demonstradas em modelos animais e humanos há décadas e são o resultado de uma combinação de redução de débito cardíaco com diminuição do fluxo sanguíneo renal, compressão de vasos e parênquima renais, aumento da resistência vascular renal e redistribuição do fluxo sanguíneo no interior desse órgão (MALBRAiAN et al., 2005). PiA en-tre 9,75 e 15 mmHg (10 e 20 cmH20) demonstraram diminuir a taxa de filtração glomerular e pressões superiores a 18,75 mmHg (25 cmH20) resultaram em oligúria e anúria em cães (JouBERT et al., 2007).

De todos os sistemas, o intestinal parece ser um dos mais sensíveis às elevações da PiA, que quando se apresenta maior que 20 mmHg (27,2 cmH20) acar-

reta redução significativa na perfusão dos capilares, levando à isquemia tecidual e à liberação dos media-dores inflamatórios. Essas moléculas aumentam a permeabilidade capilar e levam a extravasamento de líquidos para o espaço extravascular, contribuindo para o aumento do líquido abdominal, causando ele-vação adicional da PiA, perpetuando o ciclo vicioso que resulta em piora da perfusão, isquemia intesti-nal, redução do pH da mucosa, intolerância alimen-tar, acidose metabólica sistêmica e aumento signi-ficativo da mortalidade (AN e WEST, 2008; KiMBALL, 2006). Segundo Lattuada e Hedenstierna (2006), um fator adicional que contribui para o ciclo HiA/SCA está relacionado ao comprometimento do fluxo lin-

Figura 2. Cateterização uretral. A sonda uretral de PVC está acoplada a uma torneira de três vias, a qual está conectada a um equipo de macrogotas vinculado a uma bolsa coletora de urina (seta vermelha) e a uma coluna de água a partir de um equipo de PVC (seta amarela).

Aumento Diminuição Nenhuma alteraçãoPressão arterial média - - XFrequência cardíaca X - -Pressão nas vias aéreas X - -Pressão torácica X - -Pressão venosa central X - -Pressão capilar pulmonar X - -Pressão na veia cava X - -Pressão na veia renal X - -Débito cardíaco - X -Retorno venoso - X -Fluxo de sague visceral - X -pH da mucosa gástrica - X -Fluxo sanguíneo renal - X -Taxa de filtração glomerular - X -Pressão intracraniana X - -Complacência da parede abdominal - X -

Tabela 1. Tabela-resumo com as consequências da hipertensão intra-abdominal. (Adaptada de Schein, 2006)

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 69

fático e consequente aumento do edema intestinal. A má perfusão intestinal tem sido apontada como possível mecanismo para perda de barreira e poste-rior desenvolvimento da translocação bacteriana, sepse e falência múltipla de órgãos (KiMBALL, 2006).

Artéria e veias hepáticas e o fluxo da veia porta estão reduzidos pela presença de HiA. o fluxo da artéria hepática é diretamente afetado pela dimi-nuição do débito cardíaco. o fluxo venoso portal e hepático estão diminuídos como resultado da com-pressão extrínseca do fígado e pelo estreitamento anatômico das veias hepáticas que passam pelo diafragma (CHEATHAM, 2009).

Pressão e perfusão cerebrais podem estar com-prometidas diante de HiA. A pressão intracraniana aumenta e pode resultar na redução da perfusão cerebral. os mecanismos já propostos incluem dimi-nuição do fluxo sanguíneo venoso do plexo lombar (levando à maior pressão do líquido cerebroespi-nhal), aumento da pressão parcial de dióxido de car-bono (resultando em aumento do fluxo sanguíneo cerebral), e diminuição do retorno venoso cerebral devido à alta pressão intratorácica (MuiR, 2006).

Alterações hormonais foram associadas à PiA de 80 mmHg (108,8 cmH20) em cães, como no aumento plasmático do hormônio antidiurético, que foi atri-buído à redução do débito cardíaco. Em suínos, foi demonstrado aumento da renina plasmática quando submetidos à HiA de 34 cmH20. Ambas as alterações hormonais foram completamente revertidas pela des-compressão abdominal (LE RoiTH et al., 1982).

ETIOLOGIAvárias são as causas de aumento da PiA em seres

humanos, incluindo hemorragia intra-abdominal, pancreatite, choque séptico, edema visceral, dila-tação gástrica, obstrução intestinal, neoplasias ab-dominais, redução de grandes hérnias, fechamento de laparotomia por tensão, pneumoperitôneo em procedimentos laparoscópicos e, até mesmo, a infu-são agressiva de fluidos colóides em pacientes hipo-volêmicos (CoHEN et al., 2003; HuNTER e DAMANi, 2004; PRADo et al., 2005). No entanto, a maioria dos estudos sugere que a maior incidência de HiA é ob-servada em pacientes que tenham sofrido interven-ção cirúrgica abdominal, principalmente se evoluí-rem com hemorragia ou se estiver relacionado com traumatismo abdominal grave (HuNTER e DAMANi, 2004; voN BAHTEN e guiMARãES, 2006).

Em Medicina veterinária, poucos estudos que tra-tam da etiologia do tema foram realizados até o mo-mento, no entanto assumem-se as mesmas causas

de SCA relatadas em seres humanos. Já foi descrito que ascite, hemorragia abdominal, dilatação e vôlvu-lo gástrico, herniorrafia diafragmática e edema visce-ral podem culminar com HiA em cães (CoNZEMiuS et al., 1995; JouBERT et al., 2007; LoPES, 2010).

TrATAMEnTOA máxima no tratamento da SCA é a prevenção.

Conhecer os fatores de risco e estabelecer a etiologia da SCA permite identificar pacientes de risco, por in-termédio da monitoração da PiA. isso facilita a insti-tuição de medidas preventivas e corretivas diante da detecção da HiA, antes que a SCA desenvolva-se. A escolha das estratégias terapêuticas está fortemente relacionada à etiologia da HiA/SCA do paciente, bem como sua condição clínica (AN e WEST, 2008).

Terapia clínica recomendada pelo consenso da WSACS para diminuição da PiA incluem paracentese, descompressão gástrica (aspiração nasogástrica), descompressão retal (enemas, tubo retal), sedação, bloqueio neuromuscular, agentes pró-cinéticos (metoclopramida, cisaprida), diuréticos (furosemi-da) e colóides. o tratamento definitivo nos casos de insucesso do manejo clínico de redução da PiA é a descompressão cirúrgica por laparotomia (de WAELE et al., 2009).

Em pacientes que sofreram intervenções cirúr-gicas abdominais, o melhor método para prevenir a SCA é retardar o fechamento da cavidade, diante de situações sabidamente conhecidas como capazes de provocar HiA, especialmente em pacientes com injú-ria abdominal traumática (MENTuLA e LEPPÄNiEMi, 2010). o método mais utilizado é a aplicação da bolsa de Bogotá (BATACCHi et al., 2009). Drenagem perito-neal aberta tem sido descrita para cães e gatos como terapia única nos casos de HiA/SCA (LANZ, 2001).

COnSIDErAçõES FInAISNos últimos anos, a medicina de animais de com-

panhia foi marcada por avanços tecnológicos, aper-feiçoamento do atendimento emergencial e moni-toramento do paciente crítico, porém a inclusão da mensuração da PiA em situações que predispõem a SCA é raramente realizada, conferindo ao paciente grandes possibilidades de evoluir para falência or-gânica e óbito, sem diagnóstico prévio da alteração abdominal. Mesmo na Medicina, há evidências de fa-lhas no conhecimento dos consensos sobre o tema e a realização de diagnóstico e tratamento adequados.

Pouco há descrito sobre o tema em Medicina vete-rinária, portanto há ainda a necessidade de se apoiar nas definições e conceitos da WSACS para a realização

ClíniCa MédiCa

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201370

DaDos Da autora

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rEBECA BACCHi VillANOVAMédica veterinária, CRMv-PR nº 7470MSc, docente de Clínica Médica de Animais de Companhia da Faculdade Evangélica do Paraná[email protected]

de estudos que sejam capazes de determinar o me-lhor método para mensuração da PiA em cães e gatos, confirmando se o volume de 1mL/kg para preenchi-mento vesical é o mais adequado, além de identificar os fatores de risco e a prevalência de HiA e SCA nessas espécies. os esforços para obtenção desses dados são fundamentais para orientar e alertar os profissionais para a existência dessa condição e a importância do seu tratamento. Até o momento, sabe-se que os valo-res normais da PiA para cães estão entre 0 e 5 cmH20. Sugere-se que sejam realizados estudos que esclare-

çam se a PiA tem relação direta com o peso ou somen-te com escore corporal dos animais.

Apesar de a terapia intensiva estar sendo exaus-tivamente estudada em animais de companhia, o estudo da PiA e das suas implicações estão sendo negligenciados pelos Médicos veterinários, devido à carência de informações sobre o tema. Faz-se neces-sária a realização de estudos adicionais nessa área e a difusão do conhecimento, objetivando identificar uma condição clínica que até pouco tempo era des-conhecida e que representa alta taxa de mortalidade.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 71

As encefalopatias espongiformes transmissíveis (EETs) constituem um conjunto de complexas doen-ças neurodegenerativas transmissíveis, com longos períodos de incubação e invariavelmente fatais, que acometem homem e animais. o agente etiológico é uma partícula proteica denominada príon (pro-teinaceous infectious particle) ou PrP (prion protein – PRuSiNER, 1982) sendo formada após a conversão de uma glicoproteína da membrana plasmática de células normais, de função ainda desconhecida, cha-mada PrPc (“c” significa celular, ou seja, própria das células normais). Dessa forma, a PrPc é transformada no príon (denominada de PrPSC, onde sc significa scrapie), que se acumula no sistema nervoso central (SNC) e induz a doença. Neste contexto, o protótipo (padrão) das doenças priônicas é a scrapie (prurido lombar ou paraplesia enzoótica dos ovinos), enfer-midade que acomete ovinos e caprinos, sendo a primeira a ser associada aos príons. Juntamente com a scrapie, destaca-se a variante bovina, conhecida como encefalopatia espongiforme bovina (BSE – po-pularmente conhecida como doença da vaca louca), pela importância econômica e potencial zoonótico.

Dadas as particularida-des dessas doenças, tanto em relação às característi-cas das enfermidades priô-nicas, à transmissibilidade, dificuldade de diagnóstico ante mortem, alta resistên-cia do agente infectante aos métodos convencionais de descontaminação química e ao calor e resistência às proteases (CDC, 2009) e à degradação ambiental (BRoWN; ABEE, 2005), as EETs animais tornaram-se foco importante de restri-ções no comércio interna-cional e impulsionaram re-comendações de vigilância epidemiológica e biossegu-rança pelos órgãos interna-

cionais de referência à saúde humana (oMS) e animal (oiE). Neste contexto, em maio de 2012, o Brasil recebeu o status de risco negligível para BSE pela oiE.

o diagnóstico da BSE é usualmente realizado após o período de incubação da doença e morte do animal (oiE, 2002), havendo métodos rápidos (triagem), como Elisa e Western Blotting (que usam tecidos frescos, não fixados), e os métodos tradicio-nais e necessários para a confirmação dos casos, a histopatologia e a imunohistoquímica (considera-da como método-padrão ouro), ambos utilizando amostras fixadas em formol (FAo, 2007). No caso de bovinos, a maior concentração de príons encontra-se no sistema nervoso central (SNC), sendo, portan-to, a investigação diagnóstica e a manipulação de amostras as atividades ocupacionais de maior risco.

o único fator de risco definido na transmissão das doenças priônicas é a inoculação ou ingestão de teci-dos ou homogenatos contaminados, estando a infec-tividade presente em altos níveis no cérebro e demais órgãos do SNC e em menores níveis em outros tecidos, como baço, linfonodos, timo, intestino, pulmão, mús-culo esquelético, língua, medula óssea e sangue (CDC,

ENCEFALOPAtIAS ESPONgIFORmES tRANSmISSÍVEIS:

RECOmENDAÇÕES DE bIOSSEguRANÇA PARA A mANIPuLAÇÃO DE AmOStRAS

Portas herméticas em corredor de laboratório de alta segurança. Lanagro/MG.

Doença infecciosas

ArqUIVO DO AUTOr

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201372

2009). Assim, a regra de ouro para a segurança ocupa-cional nas atividades envolvidas com as EETs é evitar, durante a manipulação de amostras (seja esta durante a coleta e/ou manipulação dentro do laboratório), a ocorrência de injúrias penetrantes, a contaminação de feridas cutâneas e a ingestão acidental (BRoWN e ABEE, 2005).

rEqUISITOS DE BIOSSEGUrAnçADevido ao seu potencial zoonótico, o príon cau-

sador da BSE está incluído no grupo de risco 3; con-sequentemente, o nível de contenção necessário às atividades relacionadas à manipulação de animais doentes ou suspeitos, bem como de tecidos poten-cialmente contaminados (como nos casos de vigi-lância epidemiológica), requerem medidas de se-gurança compatíveis com essa classificação (ACDP, 2003), sendo necessariamente de nível 3 para laboratórios de referência (FAo, 2007). Entretanto, após uma análise de risco, tomando-se como base as condições sanitárias do país, as características do trabalho realizado (tipo, tecido amostrado, nature-za da manipulação e quantidade manipulada), al-guns requisitos pertinentes ao nível 3 não precisam necessariamente ser implementados (vLA, 1999; ACDP, 2003; oMS, 2004; gAviER-WiDéN et al., 2005; FAo, 2007; oiE, 2011).

Considerando a possibilidade dessa adap-tação, mormente pelo baixo risco (mas não ine-xistente) de infecção pela via inalatória e a alta resistência do príon aos desinfetantes comumente utilizados, a categoria de risco é por vezes denomi-nada 3** (FAo, 2007) ou também “L3-BSE” (LEuN-

DA-CASi et al., 2009). Como já mencionado, com apoio de uma análise de risco, alguns requisitos do nível 3, como o diferencial de pressão entre sa-las, a filtragem de ar exaurido por filtros tipo high efficiency particulate air filter (HEPA) e a selagem da sala para fumigação, podem não ser implemen-tados (ACDP, 2003; LEuNDA-CASi et al., 2009). Por outro lado, embora a infecção via aerossóis não tenha sido confirmada, a utilização de diferencial de pressão na sala tem sido considerada altamen-te recomendável para prevenir a disseminação de ar contaminado para outras áreas do laboratório e para evitar a disseminação de odores de substân-cias químicas (CFiA, 2011).

No caso da scrapie, pela ausência de conexão com a doença humana, a variante infectante foi incluída na categoria de risco 2, embora tal classi-ficação esteja em debate pelos achados de ovinos infectados com a variante bovina, havendo a possi-bilidade que passe a ser classificada também como categoria de risco 3 (oiE, 2011).

Segundo o Advisory Committee on Dangerous-Pathogens (ACDP, 2003), as condições requeridas para laboratórios níveis 2 e 3 são semelhantes, sendo os pontos diferentes relacionados à forma de gestão, à necessidade de treinamento especial e ao grau de su-pervisão, além de requisitos físicos específicos. No caso das EETs, os gestores devem garantir a capacitação e o treinamento de pessoal para atividades que envolvam risco de infecção e a sua apropriada supervisão.

De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2009), a abordagem mais prudente em laboratórios envolvidos com príons é, no mínimo,

Quadro 1. Classificação dos requisitos físicos para laboratórios de diagnóstico post mortem das EETs em mandatório (M) ou recomendado (R) – CFIa, 2011.item requisito Classificação

1 Localização e acesso

1.1 Acesso liberado apenas a pessoas autorizadas. M

1.2 Portas que permitam restrição de acesso por meio de sistema. M

1.3 Portas das salas com sinalização apropriada. M

1.4 Entrada via antessala. R

1.5 Entrada que permita a separação de roupas pessoais daquelas dedicadas ao trabalho. M

1.6 Área de escritório deve ser localizada fora do perímetro de contenção. M

1.7 Abertura de portas suficiente para permitir a passagem de equipamentos de trabalho. M

2 Superfícies (acabamento)

2.1 Portas e batentes devem ser de acabamento sólido e não absorvente. M

2.2 Superfícies internas (pisos, paredes, bancos etc.) devem ser não absorventes e resistentes a métodos de descontamina-ção, por exemplo, com hipoclorito de sódio e hidróxido de sódio. M

2.3 Pintura/revestimento devem ser passíveis de limpeza. M

2.4 Superfícies interiores devem ser contínuas. M

2.5 Superfícies interiores devem ser resistentes a impactos, de acordo com a função. M

2.6 Continuidade deve ser mantida entre o piso e parede. M

2.7 Piso antiderrapante. R

3 Perímetro de contenção

3.1 Todas as entradas mecânicas, elétricas e de serviços devem ser seladas e localizadas abaixo da superfície de trabalho para facilitar e garantir a descontaminação. M

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 73

3.2 Janelas seladas no local e material do envidraçamento que promova nível adequado de segurança. M

3.3 Autoclave capaz de atingir temperatura mínima de 134°C ou 121°C, no caso de protocolo em duas etapas (químico e calor). M

3.4 Autoclave com porta dupla localizada no perímetro de segurança. R

3.5 Autoclave fora do perímetro de segurança – estabelecer procedimento rigoroso de controle de resíduos para o transpor-te de resíduos ou materiais em recipientes resistentes a impacto e vazamento até a autoclave. M

3.6 o corpo da autoclave deve ser localizado fora da contenção a fim de facilitar a manutenção. R

3.7 A autoclave localizada no perímetro deve ser equipada com um mecanismo de intertravamento para prevenir que as duas portas abram simultaneamente. R

3.8 Autoclave deve possuir instrumento para registro do ciclo (tempo, temperatura e pressão). M

3.9 Área para descontaminação de materiais e equipamentos. R

3.10 outras tecnologias para descontaminação (tanque de imersão química, incinerador, hidrólise alcalina) presentes no perímetro de contenção. R

3.11 Se não for possível a instalação de outras tecnologias para descontaminação, então, procedimentos rigorosos de trans-porte dos resíduos até esses sistemas devem ser adotados. M

4 Sistema de tratamento de ar

4.1 Prover ventilação adequada para o uso de substâncias cáusticas. M

4.2 Laboratório equipado com uma cabine de segurança biológica. M

4.3 Escolha da cabine de segurança biológica baseada em análise de risco. M

4.4 Cabine de segurança biológica com sistema bag-in/bag-out. R

4.5 quando não for possível dispor de cabine segurança biológica com sistema bag-in/bag-out, deve ser estabelecido pro-cedimento para retirada segura do filtro HEPA. M

4.6 Fornecimento e exaustão de ar não podem interferir com a operação da cabine de segurança biológica e capela de exaustão. M

4.7 Sistema de exaustão de ar deve ser independente de outras áreas. R

5 infraestrutura

5.1 Drenos separados dos níveis menores de contenção, ou seja, conectados a um sistema de tratamento de efluentes. R

5.2 Ralos devem ser instalados apenas quando for essencial. R

5.3 válvula de controle de suprimento da água deve ser localizada fora do laboratório. R

5.4 Cilindros de gás comprimido (com exceção de extintores de incêndio) devem estar localizados fora do perímetro de contenção. R

5.5 Pias de higienização pessoal devem estar localizadas próximas ao ponto de saída ou na antessala. R

5.6 Pias de higienização pessoal devem ter capacidade de ser operadas sem o uso das mãos. R

5.7 Lava-olhos emergencial deve estar localizado na contenção. M

5.8 Chuveiro de emergência deve estar localizado na contenção. M

5.9 No-breaks devem estar localizados fora do período de contenção. R

5.10 Sistema de comunicação deve ser providenciado entre o exterior e interior do laboratório. M

5.11 Sistemas eletrônicos para transferência de informação e dados para o exterior da área de contenção. R

6 Requisitos gerais

6.1 Pessoal do laboratório deve demonstrar competência na manipulação de tecidos e materiais contaminados. M

6.2 Todos os protocolos específicos para a operação do laboratório devem ser desenvolvidos, lidos e compreendidos pelo pessoal. Esses protocolos incluem procedimento de entrada e saída de pessoas, equipamentos, amostras e resíduos. M

6.3 Desenvolvimento e aplicação de protocolos para a correta descontaminação de todos os resíduos do laboratório, equi-pamentos e do espaço físico. M

6.4 Pessoal do laboratório deve ser treinado no uso seguro de equipamentos de segurança, cabines e procedimentos para redução da produção de aerossóis, descontaminação e resposta emergencial no caso de acidentes. M

6.5 Protocolo de segurança deve ser desenvolvido, estar acessível e comunicado para o caso de inoculação acidental ou ex-posição a boca e olhos. Treinamento nessa aplicação deve estar documentado. M

6.6 Feridas e outras soluções de continuidade devem ser protegidas com material à prova de água. M

6.7 Comer, beber, fumar, armazenar alimentos ou aplicar cosméticos são atividades proibidas na área de contenção. M

6.8 Cabelos longos devem ser presos. M

6.9 Portas do laboratório devem permanecer fechadas para controlar o acesso. A entrada no laboratório deve ser documen-tada (logbook). M

6.10 os equipamentos usados em atividades relacionadas às EETs devem, na medida do possível, serem dedicados; caso con-trário, um protocolo de descontaminação efetiva deve ser colocado em prática. M

6.11 Roupas pessoais devem ser separadas daquelas dedicadas ao trabalho no laboratório. M

6.12 A seleção de EPis apropriados vai depender da quantidade e natureza do material infeccioso, bem como dos procedi-mentos a serem utilizados. M

6.13 uma análise de risco deve ser realizada no laboratório para identificar riscos e desenvolver práticas de trabalho seguras que incluem o uso apropriado de EPis. M

6.14Ao entrar no laboratório, devem ser retiradas jóias e bijuterias e vestidos aventais (frente fechada), luvas, propés ou sapatos dedicados. Em geral, aventais de frente sólida são preferíveis aos aventais normais para prevenção de con-taminação da roupa. De preferência, esses materiais devem ser descartáveis.

M

6.15 Dupla luvagem deve ser realizada na manipulação de materiais infectantes, bem como ser colocada cobertura de manga descartável. M

6.16 Proteção completa de face deve ser utilizada, como óculos de proteção e máscara, sempre que for realizado procedimento que possa produzir partículas; na ocorrência destas, os EPis devem ser descontaminados. M

dOENÇAS INFECCIOSAS

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201374

6.17 Cortes e punções devem ser evitados pela utilização mínima de materiais cortantes e colocação de luvas de proteção a cortes. M

6.18 Procedimentos que possam gerar aerossóis ou respingos, como a clivagem de tecidos, devem ser realizados em cabines de segurança biológica. M

6.19Para minimizar a contaminação da superfície de trabalho da cabine de segurança biológica, os procedimentos devem ser realizados em recipientes ou sobre cobertura absorvente que possa ser incinerada após o uso e que não interfira com o funcio-namento da cabine.

M

6.20 quando houver a manipulação de material sabidamente positivo, deve ser considerado o descarte de insumos perma-nentes (como pinças e moldes de inclusão). M

6.21 Luvas externas devem ser removidas ainda no interior da cabine de segurança biológica. M

6.22 As superfícies de trabalho devem ser descontaminadas ao fim do trabalho com os materiais suspeitos, e as coberturas descartadas apenas quando o trabalho terminar, sendo que as absorventes devem ser descontaminadas previamente. M

6.23o trabalho no micrótomo deve ser realizado em área dedicada e com baixo trânsito de pessoas; a área ao redor deve ser reduzida e durante a microtomia o técnico deve utilizar propés que devem ser descartados; uma alternativa é adotar pro-cedimento efetivo para evitar a dispersão dos resíduos do corte do bloco de tecido com parafina.

M

6.24 A limpeza de rotina do laboratório deve ser efetuada pelas pessoas que trabalham na contenção ou por pessoal dedicado e treinado a realizar essa tarefa. M

6.25 A área do laboratório deve ser mantida livre de objetos desnecessários ao trabalho ou daqueles cuja descontaminação seja difícil de ser realizada. M

6.26 A elaboração de relatório e outros papéis de trabalhos devem ser mantidos separados das áreas onde materiais infectan-tes são manipulados. M

6.27 Todo material contaminado deve ser transportado em recipientes fechados resistentes à quebra, quando não em uma cabine de segurança biológica. M

6.28 Mãos devem ser lavadas depois da remoção das luvas internas e antes de deixar o laboratório. M

6.29 quando aventais descartáveis não são vestidos, vestimentas contaminadas devem ser descontaminadas antes de serem lavadas. M

6.30 Deve ser realizada a verificação da eficácia das autoclaves, usando indicador de temperatura apropriado. os resultados devem ser mantidos em arquivo, incluindo os registros dos ciclos (por exemplo, tempo, temperatura e pressão). M

6.31 Materiais sensíveis ao calor, que não podem ser autoclavados, devem ser descontaminados no perímetro de contenção. M

6.32 um inventário de controle positivo deve ser mantido e documentado. o acesso a esse material deve ser controlado. M

6.33 os protocolos devem ser estabelecidos antes do início dos trabalhos, sendo o treinamento do pessoal um aspecto crítico e que pode envolver o trabalho inicial com tecidos não infectados. M

6.34 Relatórios detalhados dos processos de certificação e de testes devem ser mantidos. M

o trabalho em nível 2 de biossegurança, usando as práticas pertinentes ao nível 3. Por outro lado, o Canadian Food inspection Agency (CFiA, 2011) e a FAo (2007) recomendam que os laboratórios de diagnóstico das EETs trabalhem em nível mínimo de segurança 2, com requisitos adicionais (quadro 1), dos quais se destacam:

a) a entrada do laboratório deve permitir a sepa-ração dos EPis da roupa do técnico, preferen-cialmente em uma ante-sala;

b) as superfícies de trabalho devem ser não po-rosas, passíveis de limpeza e resistentes aos procedimentos de descontaminação;

c) o uso de cabine de segurança biológica com sistema bag-in/bag-out é recomendável e, se não for possível, deve ser estabelecido procedimento de contenção para a remoção segura do filtro HEPA;

d) a autoclave deve ser idealmente localizada no laboratório; caso contrário, protocolos adequados para a identificação do resíduo gerado (incluindo a indicação dos parâme-tros de tratamento) e o transporte seguro deles devem ser estabelecidos;

e) os equipamentos e materiais usados no labo-ratório devem ser, na medida do possível, de

uso dedicado, descartáveis (no caso de ma-teriais) e serem submetidos a procedimentos efetivos de descontaminação;

f) no caso de manipulação de tecidos suspeitos, embora não seja necessário o tratamento de efluentes, é recomendável que procedimen-tos operacionais adequados para coleta e tratamento sejam adotados como medida de precaução em virtude de um caso positivo ser confirmado.

Para a FAo (2007), a orientação é a de que, além dos procedimentos gerais de proteção, algumas recomen-dações, sejam também observadas. (quadro 2)

Para o transporte, o material infectante deve estar acondicionado de forma robusta, segura e encontrar-se apropriadamente identificado, sen-do somente manipulado no interior da cabine de segurança biológica. De forma ideal, as amostras devem ser armazenadas no laboratório onde serão manipuladas (ACDP, 2003).

Em relação à proteção individual do operador, deve-se ter em mente que as conseqüências a curto e longo prazos da exposição das mucosas oral e nasal ao príon não são conhecidas e a infecção inalatória ou por inges-tão indireta de aerossóis contaminados não podem ser totalmente descartadas (LEuNDA-CASi et al., 2009).

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 75

Quadro 2. Alguns critérios de biossegurança, segundo a FAO (2007).

recomendações Observações

os laboratórios envolvidos com BSE devem possuir uma área de trabalho separada, com acesso restrito e documentado, feito por meio de portas duplas.

A antessala criada por essas duas portas pode também ser usada como vestiário, sendo que a porta externa deve conter o símbolo de perigo biológico.

As superfícies do laboratório devem ser resistentes a ácidos, bases e desinfetantes

As superfícies devem ser regularmente submetidas a procedimentos agressivos de descontaminação;

o laboratório deve possuir cabine de segurança biológica classe ii B2, com sistema vertical de fluxo de ar ascendente e filtros compatíveis com as menores partículas possíveis

Filtros Hepa ou ulpa.

uso de equipamentos e materiais de uso dedicado ou descartáveis Recomendação para evitar a contaminação cruzada.

Presença de uma autoclave capaz de atingir temperaturas superiores a 134°C.

A autoclave deve estar presente, idealmente no laboratório ou, no míni-mo, na mesma instalação.

o pessoal do laboratório deve colocar luvas de proteção antes de aden-trar no recinto e outros equipamentos de proteção individual (EPis) também devem ser utilizados, incluindo jalecos, óculos de proteção ou protetores de face, sapatos dedicados ou propés.

Esses paramentos não devem sair do laboratório, a menos para o descar-te final e somente com autoclavação prévia.

uso de dupla luvagem e o uso de mangotes durante a manipulação na cabine de segurança biológica

Para prevenção de qualquer contato entre a amostra e a vestimenta do técnico.

o laboratório deve garantir o nível de qualidade e segurança padrão, o laboratório deve seguir as boas práticas microbiológicas e estabelecer um programa de garantia da qualidade.

Todos os materiais que tenham contato com amostras devem ser con-siderados contaminados, o que implica que tudo que tiver de sair do laboratório deve ser previamente descontaminado.

A descontaminação é, portanto, uma etapa imprescindível, havendo procedimentos específicos para resíduos sólidos, líquidos, instrumentos ou equipamentos ou superfícies.

Assim, no contexto laboratorial, o treinamento dos envolvidos na manipulação de tecidos e fluidos, poten-cialmente contaminados, é essencial (CFiA, 2011), a fim de evitar a emissão de aerossóis ou gotículas. Além dis-so, é altamente recomendada a utilização de EPis para evitar a exposição acidental (CDC, 2009), como luvas de procedimento, de proteção a cortes, de proteção quí-mica, mangotes, avental, toucas, propés e máscaras, de preferência, confeccionados em material descartável (CDC, 2009; CFiA, 2011).

DESCOnTAMInAçãOA conformação estrutural do príon é a respon-

sável pela sua particular resistência aos métodos de descontaminação química e física, usualmente empregados em laboratórios biológicos (oMS, 2004, LEuNDA-CASi et al., 2009), havendo, ainda, diferenças entre as diversas variantes de príons quanto ao grau de resistência à inativação por proteases ou ao calor (LEuNDA-CASi et al., 2009). De qualquer forma, a irradiação, fervura, autocla-vação ao ciclo de 121°C, por 18 minutos ou o em-prego de seis ciclos sucessivos de três minutos são ineficientes (CDC, 2009; LEuNDA-CASi et al., 2009). Ressalte-se a permanência ambiental do príon, que pode sobreviver no solo por pelo menos três anos (BRoWN e ABEE, 2005).

outro ponto crítico consiste no fato de que a fixa-ção de tecidos em formaldeído ou glutaraldeído e a inclusão em parafina mantêm a infectividade do prí-on por muito tempo, quiçá indefinidamente (oMS, 1999; vLA, 1999; LEuNDA-CASi et al., 2009).

Todas essas particularidades, associadas ao fato de que a proteína priônica tem alta afinidade e forte ligação a materiais de aço inoxidável, fazem com que o processo de descontaminação seja alvo de grande debate, com o foco voltado para o uso de altas temperaturas e substâncias químicas corrosivas. Nesse sentido, a associação desses métodos físicos e químicos é o que tem sido mais frequentemente defendida como a de maior efici-ência na descontaminação de príons (CDC, 2009; LEuNDA-CASi et al., 2009).

é importante ressaltar que mesmo as técnicas de descontaminação combinadas e reconhecidas como mais eficientes não eliminam totalmente a infectividade residual, sendo apenas a destruição por incineração, em temperaturas superiores a 1.000°C, a forma segura de eliminação total do príon (oMS, 1999; CDC, 2009). A incineração é, portanto, a opção de descontaminação de escolha para todos os instrumentos e materiais descartá-veis e para os resíduos, notadamente os tecidos com alta infectividade (oMS, 1999).

vale salientar que os processos químicos efetivos de descontaminação apresentam riscos ocupacio-nais e são extremamente corrosivos para a maioria dos materiais e superfícies empregados em labora-tório e, por isso, é aconselhável que sejam emprega-dos materiais descartáveis na rotina (quadro 3).

quando não é possível, recomenda-se que os materiais sejam mantidos úmidos até a limpeza e descontaminação, sejam rapidamente limpos para evitar que o biológico resseque e que não haja

dOENÇAS INFECCIOSAS

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mistura de materiais empregados em tecidos poten-cialmente contaminados com os demais (oMS, 1999; LEuNDA-CASi et al., 2009).

PrOCESSAMEnTO HISTOPATOLóGICO

Entre as recomendações específicas para o processamento histopatológico, está a necessida-de de descontaminação das amostras pós-fixadas em formol, sendo usualmente recomendado o áci-do fórmico para essa finalidade (oMS, 1999; ACDP, 2009b; vLA, 2009), pois reduz a infectividade da amostra a níveis negligenciáveis e, apesar de os fragmentos tenderem a tornarem-se friáveis, há boa preservação da morfologia histológica (oMS, 1999). Esse procedimento não deve ser realizado em tecidos frescos (apenas nos pós-fixados em formol), nem em tecidos previamente expostos a fenol, que interage deleteriamente com o ácido fórmico (ACDP, 2009a; ACDP, 2009b).

Caso esse procedimento não seja realizado, as amostras são consideradas infectantes durante todo o procedimento, desde a fixação até a montagem das lâminas e os instrumentos utilizados no proces-samento devem ser de uso dedicado (exclusivo), já que não há procedimento factível para sua descon-taminação (oMS, 1999). Nesse caso, também, após a colocação da lamínula, as lâminas devem necessaria-mente ser descontaminadas externamente e rotula-das como material infectante e, no caso de dano ou quebra, devem ser descontaminadas e encaminha-das para incineração (oMS, 1999).

De forma geral, as amostras são clivadas em fragmentos de 4 a 5 mm e são imersas em ácido fórmico 98% por 30 minutos a uma hora (tempo preferencial), sob agitação suave e exaustão, e, em

seguida, devem ser mantidas em formaldeído 10% tamponado por 45 a 48 horas antes do processamen-to (oMS, 1999; ACDP, 2003; oMS, 2004; ACDP, 2009b; CDC, 2009). Segundo a FAo (2011), os fragmentos clivados e colocados nos cassetes devem ser imersos em ácido fórmico e mantidos sob agitação durante uma hora; em seguida, devem ser enxaguados em água destilada corrente por, no mínimo, 15 minutos e, então, recolocados em solução fresca de formol e mantidos por cerca de 12 horas (overnight). A solução de ácido fórmico utilizada no procedimento pode ser reutilizada três vezes antes do descarte.

Após o tratamento com ácido fórmico, os te-cidos podem ser processados e manipulados sob as mesmas precauções de rotina das outras amos-tras; pode ser utilizado um micrótomo não dedica-do (não exclusivo) para a microtomia dos blocos de parafina, mas a navalha deve ser descartável e retirada antes da utilização em outro tipo de ma-terial. os debris resultantes desse procedimento devem ser retirados e encaminhados para incine-ração (ACDP, 2009b). outra prática recomendável é a de realizar a descontaminação das lâminas prontas com o ácido fórmico, antes que sejam retiradas do ambiente laboratorial de contenção (gAviER-WiDéN et al., 2005).

o resíduo líquido, como o formol utilizado na remessa das amostras, deve ser coletado em um recipiente com capacidade para 4 litros que, inicial-mente, contenha 600 mL de hidróxido de sódio 6N (CDC, 2009). os frascos que acondicionam as amos-tras fixadas em formol devem também ser fechados apropriadamente, descontaminados, selados em sa-cos plásticos, rotulados com a indicação de material infectante e armazenados separadamente. Para ma-nuseio da amostra, o frasco deve ser colocado sobre

Quadro 3. Eficácia de agentes químicos e físicos na descontaminação de príons (BROWN e ABEE, 2005).

ineficazes Parcialmente eficazes Eficazes

Métodos químicos

Álcool Dióxido de cloro Hipoclorito de sódio

Amônia glutaraldeído Hidróxido de sódio (1-2 N)

β-propiolactona iodóforos Ácido fórmico (100%)

Detergentes Tiocianato de guanidina (4M)

Óxido de etileno Dicloroisocianurato de sódio

Formaldeído Metaperiodato de sódio

Ácido hidroclórico ureia (6-8M)

Peróxido de hidrogênio

Ácido peracético

Permanganato

Fenólicos

Métodos físicos

Fervura (100 °C) Calor úmido (121°C) Calor úmido (134°C)

Radiação de micro-ondas Calor seco (300°C) Calor seco (>600°C)

Radiação uv Radiação ionizante (≥50 kg)

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 77

Quadro 4. Procedimentos de descontaminação de instrumentos, equipamentos, materiais e superfícies.

recomendações Observações

imersão em hidróxido de sódio 1N, aquecimento em autoclave gravitacional (gravity displacement autoclave) a 121°C 30 minutos; a limpeza, enxague e esterilização são feitas da forma convencional (oMS, 1999; CDC, 2009).

o utensílio utilizado para imersão dos materiais e autoclavação deve ser tampado e capaz de coletar o vapor condensado de hidróxido de sódio; também, deve-se evitar o derrame dessa solução no interior do equipa-mento e serem adotadas medidas de proteção ocupacional durante o procedimento e retirada do material da autoclave (BRoWN et al., 2004);

imergir em hidróxido de sódio 1N ou hipoclorito de sódio (20.000 ppm) por uma hora. Transferir para água destilada e para autoclave gravitacional a 121°C por uma hora.

A limpeza, enxague e esterilização são feitas da forma convencional (oMS, 1999; CDC, 2009)

imergir em hidróxido de sódio 1N ou hipoclorito de sódio (20.000 ppm) por uma hora. Enxaguar em água destilada, transferir para um recipien-te aberto e autoclavar a 121°C em autoclave gravitacional ou 134 °C em autoclave do tipo porous load por uma hora.

A limpeza, enxague e esterilização são feitas da forma convencional (oMS, 1999; CDC, 2009)

imergir em hidróxido de sódio e fervura por 10 minutos a pressão atmosférica. A limpeza, enxague e esterilização de forma convencional (oMS, 1999)

imergir em hipoclorito de sódio (preferência) ou hidróxido de sódio (alternati-va) à temperatura ambiente por uma hora. A limpeza, enxague e esterilização de forma convencional (oMS, 1999)

Autoclavar a 134°C, durante 18 minutos - essa forma pode não ser efeti-va nos piores cenários, como, por exemplo, quando há o endurecimen-to e ressecamento do tecido sobre a superfície (oMS, 1999).

outras referências (vLA, 1999; ACDP, 2009a) recomendam autoclavar a 134-138°C por 18 minutos a 30 lb/in ou seis ciclos sucessivos de três minutos cada, ressaltando que no limite inferior da faixa de temperatura a inativação do agente pode não ser completamente efetiva.

Resíduos de bancada descartáveis (tais como luvas e aventais) de-vem ser autoclavados (tipo porous load) a 134-137°C em ciclo único de 18 minutos ou em 6 sucessivos ciclos de 3 minutos cada, seguido de incineração (oMS, 2004).

Superfícies ou instrumentos sensíveis ao calor podem ser tratados com hidróxido de sódio 2N ou hipoclorito de sódio (20.000 ppm) por uma hora (ou overnight para equipamentos).

Assegurar que a superfície mantém-se úmida durante todo o processo e em seguida, enxaguar com água. Antes do tratamento químico, reco-menda-se que a contaminação grossa da superfície seja reduzida, com retirada do excesso de material orgânico, já que isso reduz a força das soluções anteriores (oMS, 1999; vLA, 1999; CDC, 2009).

Resíduos líquidos potencialmente contaminados com príons devem ser tratados com hipoclorito de sódio (20.000 ppm) durante uma hora.

Solução desinfetante fenólica (como a Environ LpH®) pode ser usada em superfícies laváveis, duras, não porosas (como chão, placas, equipamen-tos), itens (como instrumentos não descartáveis, lâminas) e/ou resíduos de soluções laboratoriais, como a formalina (CDC, 2009).

Pequenos materiais (secos), resistentes a hidróxido de sódio ou hipo-clorito de sódio, imergir em uma dessas soluções anteriores e autocla-var (tipo porous load) a 121°C por uma hora.

No caso de grandes materiais (secos) ou materiais de qualquer tamanho não resistentes às soluções anteriores, autoclavar a 134°C por uma hora.

Quadro 5. Procedimentos de descontaminação, divididos por grupos, segundo a FAO (2007).

Grupo Procedimento

A

Resíduos sólidos: devem ser coletados em lixeiras fechadas, com pedal; em seu interior devem ser utilizados sacos de lixo autoclavá-veis, identificados com o símbolo de risco biológico. A lixeira deve ser esvaziada em intervalos regulares e o transporte do saco de lixo até a autoclave realizado com procedimento validado, podendo ser identificados pontos críticos nesse trajeto, os quais devem ser analisados e adaptados corretamente. os resíduos sólidos devem ser autoclavados a 134°C a 3 bar de pressão, durante uma hora (ou outra circunstância internacionalmente aceita) ou incinerados.

B

Resíduos líquidos: devem ser incinerados ou autoclavados sob as mesmas condições empregadas nos resíduos sólidos, na medida do possível. Entretanto, nos casos em que não for possível autoclavar ou incinerar, o resíduo líquido deve ser desconta-minado com solução de hidróxido de sódio, por uma hora, de forma que a concentração final (da solução de hidróxido de sódio + resíduo líquido) esteja em 2N.

Cinstrumentos: sempre que possível, os instrumentos devem ser autoclavados. Caso não seja possível, devem ser imersos duran-te uma hora em hipoclorito de sódio 4% ou hidróxido de sódio 2N (atentar para a possibilidade de dano ao instrumento pelo caráter altamente oxidativo).

D

Equipamentos e superfícies: a única forma de descontaminação de grandes equipamentos e superfícies é colocando-os em contato com papel toalha embebido com hipoclorito de sódio 4% ou hidróxido de sódio 2N durante uma hora; em seguida, devem ser enxaguados com água para neutralização. No caso do laboratório em si (como paredes, piso, prateleiras) devem ser descontaminados em períodos regulares. A cabine de segurança biológica deve ser descontaminada, sempre, após cada uso usando as soluções citadas anteriormente.

dOENÇAS INFECCIOSAS

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201378

Quadro 6. Procedimentos de descontaminação e descartes para laboratórios de diagnóstico das EETs (ACDP, 2009b).

item Ação tempo de contato

Tecidos fixados em formol imersão em ácido fórmico 96%. 60 minutos

vestimenta descartável Disposição em dupla ensacagem e incineração. -

Navalhas e instrumentos descartáveis

1. Descontaminação com hidróxido de sódio 2M; 60 minutos

2. Coleta em recipiente adequado, dupla ensacagem e envio para incineração. -

instrumentos de metal não descartáveis1. imersão em hidróxido de sódio 2M; 60 minutos

2. Autoclavação a 134°C. 3 minutos

Superfícies1. Descontaminação com hidróxido de sódio 2M; 60 minutos

2. Em seguida, enxague abundante; -

Xilol, clorofórmio, água contaminada, líquidos contaminados (como formol, solventes)

Absorção em serragem em recipiente tampado resistente à combustão, dupla ensacagem e envio para incineração. -

Resíduos de parafina de microtomia

1. Se os tecidos foram descontaminados com ácido fórmico, proceder como qualquer outro material de uso em Patologia; -

2. Se os tecidos não foram descontaminados com ácido fórmico, colocar em recipiente resistente, com tampa e envio para incineração. -

Equipamentos especiais de patologia Se forem utilizados após a descontaminação das amostras, nenhum procedi-mento especial é necessário. -

material descartável, onde deve ser realizada toda manipulação do tecido; a área e o frasco serão des-contaminados e o frasco colocado em um novo saco plástico para o correto armazenamento (oMS, 1999).

PrOCEDIMEnTOS DE DESCOnTAMInAçãO

No caso de instrumentos, equipamentos, mate-riais e superfícies, os seguintes métodos de inativa-ção do príon, descritos no quadro 4, são aplicáveis.

Sendo assim, materiais de laboratório reutilizá-veis devem ser imersos em solução fresca de hipo-clorito de sódio (1:5) ou hidróxido de sódio 1N, de-vendo ser mantidos pelo menos durante uma hora (ou, se possível, overnight); devem ser abundan-temente enxaguados em água corrente antes de

serem embalados para autoclavação a 134-138°C por, pelo menos, 20 minutos; essa combinação de métodos físicos e químicos é recomendável para todos os materiais contaminados, independente do tipo de tecido animal envolvido (alta ou baixa infectividade) (BRoWN e ABEE, 2005).

Segundo a FAo (2007), os procedimentos de des-contaminação a serem adotados são divididos em quatro grupos conforme explicitado no quadro 5.

o quadro 6 mostra alguns procedimentos de des-contaminação e descarte sugeridos pela ACDP (2009b).

No caso do CFiA (2011), as recomendações publicadas são semelhantes às da FAo, uma vez que estão baseadas nas diretrizes da oMS, ressal-tando-se que não há método validado para testar a ação de desinfetantes contra príons (quadro 7).

Quadro 7. Procedimentos de descontaminação, segundo CFIA (2007).

Material Procedimento

Tecidos infectados incineração a 850°C ou a hidrólise alcalina.

Lixo sólidoincineração a 850°C (altamente recomendado); a autoclavação a 134°C por uma hora e o tratamento químico com hidróxido de sódio ou hipoclorito de sódio (em seguida, deve-se transferir para água antes de autoclavar a 121°C).

instrumentos descartáveis

incineração a 850°C; a limpeza completa do material, seguida da imersão em hipoclorito de sódio (2% de cloro disponível), durante uma hora a 20°C e, então, o descarte; a limpeza mecânica do material, imersão em hidróxido de sódio 2M, durante uma hora a 20°C e, em seguida, o descarte; a limpeza mecânica do material, seguida da autoclavação a 134-138°C por uma hora e, então, descarte.

Toalhas e papéis usados para secar instrumen-tos limpos Devem ser tratados como resíduos sólidos.

instrumentos permanentes (devem ser mantidos umedecidos no período de tempo entre a exposição ao material infectante e a realização do procedimento de limpeza e descontaminação)

Limpeza mecânica do material, incineração em hipoclorito de sódio (2% de cloro dispo-nível), durante uma hora a 20°C; a limpeza completa do material, imersão em hidróxido de sódio 2M, durante uma hora a 20°C, seguida de enxague em água e, então, autoclava-ção a 134-138°C por 18 minutos; a limpeza completa do material, imersão em hidróxido de sódio 1N ou hipoclorito de sódio (2% de cloro disponível), durante uma hora, enxague com água, seguida de transferência para água e autoclavação a 121°C por uma hora.

Líquidos Autoclavação a 134°C, uma hora; a incineração a 850°C ou a mistura com hipoclorito de sódio até concentração final que contenha cloro (2% de cloro disponível), durante uma hora.

Superfícies

Limpeza mecânica seguida da aplicação abundante de solução de hipoclorito de sódio (2% de cloro disponível) e manutenção por uma hora a 20°C para, então, seguir o en-xague com água; a limpeza mecânica seguida da aplicação abundante de hidróxido de sódio 2M, manutenção por uma hora a 20°C e enxague com água.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 79

Quadro 8. Recomendações sobre os cuidados com as soluções de descontaminação, tipos de autoclaves utilizadas e cuidados pessoais.

tópico Observações

Familiarizar-se com os químicos

observar as guias de segurança para o trabalho, lendo cuidadosamente as fichas de segurança e os rótulos dos produtos e usando EPis apropriados para prevenção de exposição química.

Hidróxido de sódio.

o hidróxido de sódio 1N reage com o Co2 formando carbonatos que neutralizam o hidróxido de sódio e reduzem a sua eficácia, devendo, portanto, ser preparado imediatamente antes do uso; por outro lado, a solução de hidróxido de sódio 10N não reage com o Co2, podendo servir como solução esto-que para o preparo da solução a 1N. Essas soluções devem ser mantidas em frascos âmbar, fechados e apropriadamente identificados e preparadas antes de cada uso. o hidróxido de sódio pode ser cor-rosivo para alguns tipos de aço inoxidável (deve-se testar antes do uso) e sabidamente corrosivo para vidro, alumínio e zinco.

Hipoclorito de sódio

No caso do hipoclorito de sódio, a exposição à luz e ao ar reduz o cloro disponível. Desta forma, essas soluções devem ser mantidas em frascos âmbar, fechados e apropriadamente identificados e prepara-das imediatamente antes de cada uso. A solução estoque tem um prazo de validade de até duas a três semanas. o hipoclorito de sódio não é corrosivo para vidro e alumínio, mas é corrosivo para metais e aço inoxidável (pode ser usado no máximo até 5.000 ppm) e para autoclaves e não pode ser usado nos banhos destinados a autoclavação (diferentemente do hidróxido de sódio). outro ponto crítico é o fato de ser incompatível com álcool, ácidos e formaldeído, havendo risco de explosão. Caso seja utilizado para limpar instrumentos ou materiais, estes devem ser enxaguados completamente antes da autoclavação.

Cuidados pessoais

o hidróxido de sódio é cáustico, mas tem ação relativamente lenta à temperatura ambiente, poden-do ser removido da pele ou da roupa pelo enxague com água. Por outro lado, a solução aquecida de hidróxido de sódio é agressivamente cáustica e somente deve ser manipulada após o resfriamento. Pode liberar partículas que são perigosas e irritantes.

o hipoclorito de sódio elimina cloro constantemente e deve ser mantido em frasco completamente fechado e ao abrigo da luz. o total de cloro liberado durante o procedimento de descontaminação pode ser o suficiente para criar dano respiratório, a menos que seja realizado em local bem ventilado ou isolado.

Autoclaves

Autoclaves gravitacionais são utilizadas na descontaminação geral e esterilização de soluções e ins-trumentos; as autoclaves do tipo porous load são otimizadas para a esterilização de instrumentos lim-pos, roupas, panos, toalhas e outros materiais secos (como os de uso cirúrgico), não sendo adequadas para a esterilização de líquidos.

Para descontaminação de amplas áreas ou de ca-bines de segurança biológica, a fumigação com for-maldeído não deve ser utilizada, já que pode ampliar a resistência do príon (LEuNDA-CASi et al., 2009). Em contrapartida, segundo a oMS (2004), a utilização de vaporização com formaldeído deve ser considerada para fins de inativação de outros possíveis agentes patogênicos presentes nas amostras manipuladas. Assim, as superfícies de trabalho das cabines de segurança biológica devem ser recobertas por ma-terial descartável, descontaminadas com hidróxido de sódio 1N e enxaguadas com água e o filtro HEPA ensacado e incinerado (CDC, 2009), a pelo menos 1.000°C (oMS, 2004).

vale, ainda, destacar as recomendações sobre os cuidados com as soluções de descontaminação e tipos de autoclaves utilizadas (oMS, 1999; ACDP, 2003; ACDP, 2009a; CFiA, 2011 – quadro 8).

COnSIDErAçõES FInAISDadas as particularidades das encefalopatias es-

pongiformes transmissíveis (EETs), tanto em relação às próprias características das enfermidades priôni-cas, tais como a transmissibilidade, a dificuldade de diagnóstico antemortem, a alta resistência do agente infectante aos métodos convencionais de desconta-minação química e física usualmente empregados em laboratórios, associado ao fato de que a fixação de tecidos em formaldeído ou glutaraldeído e a in-clusão em parafina mantém a infectividade do príon, e que a proteína priônica tem alta afinidade e forte ligação a materiais confeccionados com aço inoxidá-vel, torna-se extremamente relevante que os labora-tórios envolvidos com a manipulação de amostras de tecidos animais, potencialmente contaminadas com príons, avaliem as recomendações internacionais de biosseguranca aplicáveis.

dOENÇAS INFECCIOSAS

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201380

DaDos Dos autores

referências BiBliográficas

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DAriO ABBuD riGHiMédico veterinário – CRMv-Mg nº 13048Laboratorio Nacional Agropecuário de Minas gerais (LANAgRo/Mg)[email protected]

FABiANA GAltArOSSA xAViErMédico veterinário, CRMv-Mg nº 12734. Lanagro/Mg

PEDrO MOACyr PiNtO COElHO MOtAMédico veterinário, CRMv-Mg nº 0961. Lanagro/Mg

riCArDO AuréliO PiNtO NASCiMENtOMédico veterinário, CRMv-Mg nº 4352. Lanagro/Mg

JOrGE CAEtANO JuNiOrMédico veterinário, CFMv-DF nº 0554. Mapa, DF

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 81

Maria Jose Hötzel Médica Veterinária – CRMV-SC nº 3791Mestrado em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutorado e Pós-doutorado em Ciência Animal pela The University of Western Australia.Professora da Universidade Federal de Santa Catarina.

RECONhECER AS PRESSÕES SOCIAIS Em PROL DO bEm-EStAR ANImAL E AS

POSSÍVEIS CONSEQuêNCIAS DE IgNORá-LAS

opinião

Segundo Marian Dawkins, os principais desafios impostos aos cientistas que atuam na questão do bem-estar animal podem ser sintetizados em: os animais têm consciência? Como avaliar o bem-estar animal? Na prática, como usar a ciência para melhorar o bem-estar animal? Mesmo com as limitações científicas para demonstração da existência de consciência em animais, existem evidências de que, em algum grau e de alguma forma, os animais possuem consciência de sofrimento e prazer. Também, nas últimas décadas, houve avanço no desenvolvimento e validação de metodologias para avaliar o bem-estar animal, que permitem identificar pontos positivos e aqueles a me-lhorar nas práticas de manejo. E, em relação ao terceiro desafio, esforços têm sido investidos no desenvolvi-mento de alternativas para promover o bem-estar dos animais aliado às expectativas da sociedade e a realidade dos sistemas de produção. Porém, a relação das práticas desenvolvidas e validadas para melhorar o bem-estar e os sistemas de criação animal é, no mí-nimo, tímida, e certamente aquém das expectativas daqueles preocupados com os animais usados para produzir alimentos.

A pesquisa científica, por meio de metodologias interdisciplinares, pode ajudar-nos a identificar e compreender as barreiras para a adoção de práti-cas que promovem o bem-estar animal. Citaremos como exemplo a descorna de bezerros, uma vez que são crescentemente questionadas pela socie-dade aquelas práticas que causam dor. Em resposta, a ciência tem avançado, e a literatura científica

evidencia que a descorna causa dor e estresse ao bezerro e que é possível evitá-los. A descorna gera mudanças no comportamento e fisiologia, que po-dem persistir por 24 horas ou mais, ocasionar perda de peso, e pode, ainda, resultar em estados emocio-nais negativos ao bezerro.

Alternativas de manejo, eficazes para prevenir ou minimizar a dor, são a escolha da idade e método apropriados associadosà recursos farmacológicos. Mesmo assim, em vários países, em muitas proprie-dades, bezerros de aptidão leiteira, são descornados por técnicas inadequadas, em idades inapropriadas e sem tratamento da dor.

uma conclusão natural é que tanto produto-res quanto profissionais não se importam com o bem-estar desses animais. No entanto, a situação é complexa, como evidenciado em pesquisas rea-lizadas com agricultores e extensionistas (Médicos veterinários, Agrônomos e Técnicos Agrícolas) em Santa Catarina, por meio de questionários online e abordagens qualitativas da Sociologia e da Psicolo-gia Social para investigar o conhecimento, as crenças e o comportamento em relação a descorna de be-zerros leiteiros. Em especial, foi avaliado o papel dos profissionais da extensão na aprovação ou rejeição de estratégias para mitigação da dor na descorna.

Cerca de 99% dos técnicos acreditam que os animais sentem dor, e afirmam que eles deveriam estar livres desse sentimento e do estresse submetido durante a criação. Por outro lado, manifestam que o método de descorna com ferro quente provoca pouca

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201382

dor e por “pouco tempo”. Também, apesar da demons-tração de conhecimento dos métodos existentes para minimizar a dor, eles recomendam ou usam o método de cauterização com ferro quente, sem medicação as-sociada, que foi descrito como o método mais eficaz, mais barato, mais seguro e mais rápido de descorna de bezerros, e o mais desejado pelos produtores.

os técnicos descrevem como obstáculos às práticas capazes de minimizar a dor o aumento dos custos e do trabalho, além da expectativa de resistência dos produtores, o que apontam como ameaça ao seu próprio emprego. Enfatizam que os pecuaristas não aceitam mudanças nas práticas que acarretem falta de retorno econômico ou resul-tem em aumento de mão de obra. Entretanto, essa avaliação realizada pelos técnicos parece estar in-fluenciada pelas suas próprias atitudes em relação à criação animal, que são orientadas prioritariamente para o aumento da produção.

Apesar do relatado, os agricultores e técnicos ouvidos nas pesquisas, expressaram sentimentos em relação à dor e ao sofrimento dos seus animais, e referem-se a eles como indivíduos e às vezes, os cha-mam por nome: “para poder conversar sobre eles” ou “porque demonstra o nosso carinho”.

Pesquisas realizadas na Europa mostram que Mé-dicos veterinários tendem a superestimar a produção e o desempenho financeiro pelos pecuaristas, em detrimento de ações por bem-estar animal, e gene-

ralizam a crença da barreira econômica. Produtores afirmaram que a descorna com ferro quente e sem mitigação da dor é a única alternativa apresentada pelos técnicos desde que esses, algumas décadas atrás, introduziram a prática da descorna na região. é interessante que os técnicos justificaram a sua reco-mendação nas suas percepções sobre a receptividade dos agricultores às alternativas, e não em experiências concretas de rejeição dos agricultores às alternativas.

Agricultores e técnicos concordaram que a des-corna é prática essencial na atividade leiteira, mas ambos parecem ignorar a rejeição do consumidor às práticas que causam dor. Essas práticas foram men-cionadas somente por alguns técnicos, e avaliadas como pouco impactantes nas suas decisões de ma-nejo. Para mediar os possíveis conflitos, os técnicos precisam reconhecer as pressões sociais em prol do bem-estar animal e as possíveis consequências de ignorá-las. A crescente conscientização do consu-midor sugere um cenário emergente de crescente pressão social para incorporar bem-estar animal às práticas de produção. Essa pressão da comunidade internacional (organização das Nações unidas para Alimentação e Agricultura), já influencia o Brasil a preparar legislação específica. Mas são importantes ações relacionadas a programas de extensão rural, inserindo políticas que considerem a promoção do bem-estar como meta dos programas de assistência técnica e financiamento rural.

Descornas realizadas com uso de pasta (esquerda) e ferro quente (direita)

ArqUIVO DA AUTOrA

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ACrE Rua Peru nº 515 Conjunto Habitasa, quadra F, Casa 25 – Bairro Cerâmica – 69905–106 – Rio Branco/AC

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AlAGOAS

Rua 26 de Abril, 299 – Bairro Poço – 57025–570 – Maceió/AL

(82) 3221–2086 crmv–[email protected]

AMAPá

Rua Hamilton Silva, 2441–A – Bairro do Trem – 68902-010– Macapá/AP

(96) 3225-1861 [email protected]

AMAZONAS

Rua B, qd. 03, Casa 01, Conjunto Jardim Yolanda – Parque Dez – 69055-090 – Manaus/AM

(92) 3236–1813 www.crmvam.org.br – [email protected]

BAHiA

Estrada de São Lázaro, 21/23 – Bairro Federação – 40210-630 – Salvador/BA

(71) 3082-8188 www.crmvba.org.br – [email protected]

CEArá

Rua Dr. José Lourenço, 3288 – Bairro Aldeota – 60115-280 – Fortaleza/CE

(85) 3272-4886 www.crmv-ce.org.br – [email protected]

DiStritO FEDErAl

SCS quadra 1, Bloco “E”, Edifício Ceará – 14º andar – 70303-900 – Brasília/DF

Tel: (61) 3223-5802 www.crmvdf.org.br – [email protected]

ESPíritO SANtO Rua Cyro Lima, 125 – Enseada do Suá – 29050-230 – vitória/ES

(27) 3324-3877 www.crmves.org.br – [email protected]

GOiáS

Av. universitária, nº 2169, qd. 113–A, Lts. 7–E, St. Leste universitário – 74610-100 – goiânia/go

(62) 3269-6500 www.crmvgo.org.br – [email protected]

MArANHãO

Rua Astolfo Marques nº 57 – Apeadouro 65036-070 – São Luís/MA

(98) 3243-2833 www.crmvma.org.br [email protected]

MAtO GrOSSO

Rua Batista das Neves, nº 649 – Centro Norte – 78005-190 – Cuiabá/MT

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MAtO GrOSSO DO Sul

Rua Brilhante nº 1989 – vila Bandeirantes 79006-560 – Campo grande/MS

(67) 3331-1655 www.crmvms.org.br – [email protected]

MiNAS GErAiS

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(31) 3311-4100 www.crmvmg.org.br – [email protected]

PArá

Trav. Curuzú, 2318, Marco – 66085-823 – Belém/PA (91) 3249-0444 www.crmvpa.org.br – [email protected]

CONSElHOS rEGiONAiS DE MEDiCiNA VEtEriNáriA

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 201384

PArAíBA Praça Pedro gondin, 127 – Torre – Caixa Postal: 76 - 58040-360 – João Pessoa/PB

(83) 3222-7980 www.crmvpb.org.br – [email protected]

PArANá

Rua Fernandes de Barros, 675 – Alto da Rua Xv – 80040-200 – Curitiba/PR

(41) 3263-2511 www.crmv-pr.org.br – [email protected]

PErNAMBuCO

Rua Conselheiro Theodoro, 460 – Zumbi 50711-030 – Recife/PE

(81) 3797-2517 www.crmvpe.com.br – [email protected]

PiAuí

Av. Joaquim Ribeiro, 1830 – Bairro Sul 64019-760 – Teresina/Pi

(86) 3222-9733 www.crmv-pi.org.br – [email protected]

riO DE JANEirO

Rua da Alfândega, 91 – 14º andar – Centro 20070-003 – Rio de Janeiro/RJ

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riO GrANDE DO NOrtE

Rua Segundo Wanderley, 668 – Barro vermelho – 59030-050 – Natal/RN

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riO GrANDE DO Sul

Rua Ramiro Barcelos, 1793 - 90035-006 Porto Alegre/RS

(51) 2104-0566 www.crmvrs.gov.br – [email protected]

rONDôNiA Av. Buenos Aires, 2530 – Bairro Embratel 76820-876 – Porto velho/Ro

(69) 3222-2560 [email protected] – www.crmv-ro.org.br

rOrAiMA

Rua Brás de Aguiar, nº 90 – Bairro de Mecejana – 69304-460 – Boa vista/RR

(95) 3224-5103 [email protected]

SANtA CAtAriNA

Rod. Admar gonzaga, 755 – 3º andar itacorubi – 88034-000 – Florianópolis/SC

(48) 3232-7750 [email protected] – www.crmvsc.org.br

SãO PAulO

Rua Apeninos, 1088 Paraíso – 04104-021 – São Paulo/SP

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SErGiPE

Rua Campo do Brito, 1151, São José 49020-380 - Aracajú/SE

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tOCANtiNS

Av. Teotônio Segurado, quadra 602 Sul, Conj. 01 Lote 06 - 77022-002 -Palmas/To

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013 85

FuNDAMENtOS DO COMPOrtAMENtO CANiNO E FEliNO

Ceres Beger Faraco e Guilherme Marques Soares

os problemas de comportamento são motivos fre-quentes de consulta ao Médico veterinário especializado em animais de companhia. Este livro é, certamente, uma iniciativa pioneira na língua portuguesa para auxiliar a práti-ca da Medicina do Comportamento, tanto para estudantes quanto para profissionais da Medicina veterinária. Seu ob-jetivo fundamental é conhecer o comportamento normal do cão e do gato, como passo essencial para entender os problemas e os distúrbios clínicos associados.

MEu FilHO, uM DiA tuDO iSSO SErá tEu

Richard Jakubasako e Fábio Lamônica Pereira

o autor aborda a questão da transferência de patrimônio a herdeiros, de forma original do ponto de vista dos costumes e es-timula a ação, especialmente nos casos que envolvem não ape-nas bens e outros valores de mais fácil quantificação e divisão, mas, principalmente, negócios e empreendimentos cuja conti-nuidade seria a coroação de todo o esforço e talento realizador de quem tem o patrimônio a transferir. é um guia pratico para heranças, testamentos e transmissão de patrimônio a herdeiros.

EDitOrA MEDVEtwww.medvetlivros.com.br

EDitOrA uFVwww.livraria.ufv.bre-mail: [email protected]

O SONHO POSSíVEl50 anos da FMVZ – Unesp – Botucatu

Em quase duzentas páginas, a obra traça a história de luta dos botucatuenses para a criação da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB). Aborda ainda os tempos em que a Faculdade funcionava no chamado “Morrinho”, depois, a criação da universidade Estadual de São Paulo (unesp) e a estruturação da Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia. Por fim, oferece um panorama atual das atividades da unidade. Dentre os textos, o artigo “Saber, experiência e profissionalismo” é de autoria do Presidente do CFMv, Benedito Fortes de Arruda sobre o papel da instituição na formação profissional.

FMVZ/uNESPTel.: (14) 3880-2001email: [email protected]

EDitOrA MAKrON BOOKSwww.relativa.com.br

AGrONEGóCiO – uMA ABOrDAGEM ECONôMiCA

Judas Tadeu Grassi Mendes

Estruturado de maneira didática e objetiva, o livro traça um paralelo entre o agronegócio brasileiro e o mercado internacional e aborda vários fatores-chave no setor, como comercialização e desenvolvimento econômico, demanda, consumo e produção de alimentos, análise de mercados agrícolas e análise de preços agropecuários, entre outros. Além disso, é repleto de exemplos do contexto atual e inclui questões para discussão e revisão, que direcionam e com-plementam a compreensão do conteúdo apresentado.

Publicações

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