mÉdica veterinÁria férias, sol e mate orgânico · 42 dezembro/2010 a lavoura por jacira s ....

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42 DEZEMBRO/2010 A Lavoura POR J ACIRA S . C OLLAÇO MÉDICA VETERINÁRIA Bebida tradicional da região Sul, o mate já entrou na rotina de muitos brasileiros, acompanhando um pão de queijo ou até o almoço. Contudo, a empresa paranaense Mate Herbal chega com mais uma opção: o mate solúvel orgânico. Mais do que o sabor, a bebida tem propriedades antioxidantes e estimulantes, que a empresa procura preservar ao máximo em seus processos de produção. A Lavoura conversou com Paola Ceni, responsável pelo marketing e vendas, que também planeja levar o “astro do chimarrão” para muitas outras mesas no Brasil e no exterior. A Lavoura - Conte-nos um pou- co do início da Mate Herbal e seus integrantes. Iniciamos a plantação do nosso erval há 20 anos e em 2005 recebemos a certificação do USDA e IFOAM pelo Instituto Biodinâmico como 100% or- gânicos. Nossa empresa é familiar, e conta comigo e meu pai, Vilmar Ceni, no setor administrativo; na manuten- ção do erval, há dois funcionários per- manentes e outros contratados tem- porariamente para a colheita. Já Eremar Ceni, que é engenheiro flores- tal, foi o responsável pela seleção ge- nética de mudas com baixo teor de ca- feína e padrão mais suave, que se transformou no padrão de nosso pro- duto. Nesse processo, ele aproveitou variedades locais de mata nativa. Também contamos com o trabalho do Férias, sol e... mate orgânico Férias, sol e... mate orgânico Férias, sol e... mate orgânico

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Page 1: MÉDICA VETERINÁRIA Férias, sol e mate orgânico · 42 DEZEMBRO/2010 A Lavoura POR JACIRA S . COLLAÇO MÉDICA VETERINÁRIA Bebida tradicional da região Sul, o mate já entrou

42 DEZEMBRO/2010 A Lavoura

POR JACIRA S . COLLAÇO

M É D I C A V E T E R I N Á R I A

Bebida tradicional da região Sul, o mate já entrou na rotina de muitos

brasileiros, acompanhando um pão de queijo ou até o almoço.

Contudo, a empresa paranaense Mate Herbal chega com mais uma opção:

o mate solúvel orgânico. Mais do que o sabor, a bebida tem propriedades

antioxidantes e estimulantes, que a empresa procura preservar ao máximo

em seus processos de produção. A Lavoura conversou com Paola Ceni,

responsável pelo marketing e vendas, que também planeja levar o “astro

do chimarrão” para muitas outras mesas no Brasil e no exterior.

A Lavoura - Conte-nos um pou-

co do início da Mate Herbal e seus

integrantes.

Iniciamos a plantação do nossoerval há 20 anos e em 2005 recebemosa certificação do USDA e IFOAM peloInstituto Biodinâmico como 100% or-gânicos. Nossa empresa é familiar, econta comigo e meu pai, Vilmar Ceni,no setor administrativo; na manuten-ção do erval, há dois funcionários per-manentes e outros contratados tem-porariamente para a colheita. JáEremar Ceni, que é engenheiro flores-tal, foi o responsável pela seleção ge-nética de mudas com baixo teor de ca-feína e padrão mais suave, que setransformou no padrão de nosso pro-duto. Nesse processo, ele aproveitouvariedades locais de mata nativa.Também contamos com o trabalho do

Férias, sol e... mate orgânicoFérias, sol e... mate orgânicoFérias, sol e... mate orgânico

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A Lavoura DEZEMBRO/2010 43

consultor técnico Juarez Lorenzon,responsável pela manutenção e me-lhorias da propriedade.

A Lavoura - A área de produção

é própria ou adquirem a erva de

terceiros? Onde se localiza?

Temos uma área própria, certifica-da, de 87 hectares, em Chopinzinho,Paraná.

A Lavoura - Tiveram que recu-

perar solos para a produção orgâ-

nica?

Não foi necessário, pois nunca sehavia utilizado nenhum adubo quími-co, inseticida ou herbicida na propri-edade, por esse motivo optamos peloplantio do erval nessa área, além dis-so, a localização é perfeita para o cul-tivo da erva mate: solo profundo e deterra vermelha, na altitude ideal de780 a 820m e clima subtropical.

A Lavoura - As áreas produtivas

são acompanhadas de que forma?

Pelo nosso consultor Juarez, queindica os insumos orgânicos corretose manejos, por exemplo. Nesse siste-ma, também mantemos ovelhas daraça Santa Inês, cujos excrementossão utilizados para enriquecer o solo.Dividimos o erval em talhões; naspartes fora de produção elas se ali-mentam do capim – que é invasor, – eas fezes dos animais ao mesmo tem-po adubam o solo. Outro animal queutilizamos é a galinha d’angola, queé criada solta para comer formiga eoutros insetos que estiverem infestan-

do algum local.A Lavoura - Qual é o volume de

produção atual?

O erval produz de 600 toneladasde erva verde por ano, com potencialde duplicação por meio do aperfeiço-amento de manejo, e aplicação decalcário de concha, fosfato e sulfatonaturais.

A Lavoura - Como enfrentam a

sazonalidade?

Ela ocorre na produção, pois a co-lheita é realizada duas vezes ao ano;já no fornecimento ao consumidor po-demos fazer um planejamento paraque não falte produto ao longo do ano.

A Lavoura - Pode descrever

como é esse planejamento?

A colheita é realizada duas vezesao ano, de maio a agosto e dezembroa fevereiro. O erval está dividido emtalhões e a colheita em cada talhãoacontece de dois em dois anos. A épo-ca ideal é no inverno porque conferea característica de um sabor maissuave e menor teor de cafeína à bebi-da. É um processo trabalhoso, poismesmo na colheita há parâmetrosorgânicos a serem seguidos. Depois,realizamos o sapeco e a secagem, fun-damental para a conservação das fo-lhas, que se deterioram quando não“seca”, ou seja, com mínima umidade.Só desta maneira elas poderão ser es-tocadas para a elaboração futura dosdiversos produtos.

A Lavoura - Quais foram os in-

vestimentos mais pesados e especí-

ficos à produção orgânica?

Todo o processo fica mais oneroso:o preparo do solo, a produção das mu-das, a implantação e o preparo doerval, o zelo com as condições de tra-balho das pessoas que trabalham noprojeto. E apesar de todo o cuidado ematender às normas da produção orgâ-nica, trabalhamos constantementecom riscos, como exemplo de contatodas folhas com poluentes nas rodovi-as, por isso precisamos de caminhõesadequados para o transporte e de mo-toristas treinados.

A Lavoura - As embalagens tam-

bém influenciam nos custos?

Bastante. Há o fator dos pedidosmínimos, que ficam por volta de 20mil unidades. Enfrentamos também aquestão da sustentabilidade, não háuma boa oferta de opções. Apesar dis-so, lançamos um produto embalado avácuo, que mantém ótimas condiçõesde cor e sabor por um período prolon-gado, além da inovação do formato.Isso concorda com um dos nossos pro-pósitos principais: manter as propri-edades de uma erva que, sem cuida-do, é altamente perecível.

A Lavoura - Como avalia o aces-

so à informação sobre orgânicos

para o consumidor?

Ë preciso ainda muita divulgação,pois muitas pessoas não têm ideianem do que significa a palavra – aténo próprio meio empresarial! Creio

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que por trazer o nome de “erva”, hajauma ideia que seja automaticamenteorgânica, o que pode não ocorrer de-vido aos insumos químicos, herbici-das, fungicidas, inseticidas, higienenão adequada, uso de insumos, emba-lagens, armazenagem, transporte eprocessamento não adequados.

A Lavoura - Há variedades da

planta?

Basicamente as variedades conhe-cidas são ilex paraguariensis e avestita, Dentro da variedade ilex

paraguariesis existem muitas sub-va-riedades. Dependendo da qualidadedo solo, da época de colheita, do ma-nejo, a erva mate pode sofrer varia-ções muito significativas no sabor.

Há diferenças também entre aerva mate plantada e a nativa. Nos-sas mudas foram plantadas numaregião de araucárias, mas foram sele-cionadas a partir de mudas nativas.

A Lavoura - Quais as principais

doenças que afetam a planta?

Como preveni-las num manejo or-

gânico?

A principal praga que ataca o nos-so erval é o “corintiano”, que é consi-derada uma das principais pragas daerva mate. Tomamos algumas medi-das preventivas, como podas modera-das com ferramentas adequadas, pro-teção das raízes, além da catação ma-nual dos adultos.

A Lavoura - Os trabalhadores

têm que passar por alguma adap-

tação para o manejo orgânico?

Sim, principalmente os temporári-os, pois é uma mão-de-obra bastantevariada. Isso traz uma dificuldade amais para o nosso consultor, pois al-gumas pessoas não entendem o con-ceito. Elas estão habituadas a práti-cas que não utilizamos aqui, porexemplo, de colher as folhas evitandocontaminações. Assim, é preciso dartreinamento, mostrando o uso de te-soura e de lonas, por exemplo, que nãodeixam as folhas em contato diretocom o chão, trazendo impurezas e con-taminação.

A Lavoura - Por que a decisão

de atuar na linha orgânica?

Acredito que já esteja no sangueda família, o amor pela natureza a ad-miração pelo equilíbrio ecológico. Aprodução orgânica nos dá as diretri-zes de como colocar em prática esse

nosso sonho, nos fornecendo os passospara trabalhar de forma correta. Ëmuito gratificante saber que todos osenvolvidos, incluindo as ovelhas, oriacho, os consumidores, todos, estãosendo beneficiados com o nosso traba-lho.

A Lavoura - Como está avalian-

do o mercado orgânico?

Tenho observado uma maior pro-cura do consumidor por certificados,uma certa necessidade crescente. Defato, isso já ocorre nas vendas parao Oriente Médio, Estados Unidos eAlemanha, particularmente esta úl-tima. Lá, na Biofach (N.: a principal

feira orgânica do mundo) percebi queo público gostou muito do chimarrão,uma novidade para eles, que conside-raram o produto exótico – e na ver-dade é, pois a erva mate só é cultiva-da no sul da América do Sul.

Já no Brasil, tomamos as provi-dências para nos ajustarmos à novaregulamentação dos orgânicos, comautorização do IBD. As embalagensatuais agora têm um adesivo com oselo padrão do governo, mas, posteri-ormente, serão impressas de acordocom as normas vigentes.

A Lavoura - Quais são os produ-

tos da empresa?

Consideramos o chimarrão o prin-cipal, além do sachê – natural tosta-do e verde, – e o solúvel, lançado hádois meses que é uma inovação na li-nha orgânica, porque não é necessá-rio fazer a infusão, basta misturar emágua quente ou gelada e a bebida estápronta para beber. Nosso público évariado, mas há muitas crianças e jo-vens, com a ideia de um produto derápido preparo e consumo. Contudo,também vemos potencial para forne-cimento a escolas e hospitais. O nos-so propósito é manter o verdadeirosabor do mate e todas as suas propri-edades. Por isso optamos por nãomisturar muitas essências aos produ-tos, que mesmo sendo orgânicas in-fluenciam no sabor do mate.

A Lavoura - Qual é o meio de

vendas mais importante?

Atuamos no atacado e varejo, comalgumas diferenças. O produto a gra-nel, que é a erva em sacas, é vendidodireto a indústrias como a Mate Leão(Coca Cola) e Vate; já os produtos fi-nais são comercializados no varejo pormeio de representantes comerciais.

A Lavoura - Já tiveram ou pude-

ram contar com algum programa

governamental para sua atividade

produtiva?

Sim, somos afiliados a OrganicsBrasil, projeto da Apex, IPD e Fiep,que nos auxilia na participação de fei-ras internacionais. Eventos organiza-dos pelo Sebrae, como o Fomenta,também nos ajudam a alavancar asvendas para o governo.

A Lavoura - Fale um pouco sobre

os projetos e perspectivas da empre-

sa para 2011.

Já estamos na reta de lançamentode nossa loja virtual, o que deve incre-mentar nossas vendas num meio emcrescimento. Pretendemos tambémuma expansão do mate solúvel para amerenda escolar, além de projetos li-gados à Copa de 2014.