mediadores de leituras: bordados de/na vida de alunos de ... · pela palavra, que seduz e encanta,...

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1 ISSN 2317-661X Vol. 09 – Num. 01 – Janeiro 2016 www.revistascire.com.br MEDIADORES DE LEITURAS: bordados de/na vida de alunos de uma Pós-Graduação Suzana Maria de Queiroz BENTO 1 UVA/UNAVIDA - PROLER-CG RESUMO: O presente artigo traz uma experiência desenvolvida com alunos de uma Pós-Graduação na cidade de Campina Grande/PB, numa aula com o Professor Edmir Perrotti (professor da USP) sobre as experiências adquiridas no convívio da família, da escola, da comunidade, de amigos que bordaram a história de leitura de cada um, quer seja inicialmente pela literatura infantil, quer seja pelas cantigas de roda, quer seja pelas brincadeiras, ou outro gênero. O objetivo deste trabalho foi o de apresentar as memórias de cada leitor com relação a quem foi seu/sua mediador(a) de leitura e ainda traçar um perfil sobre quais autores da literatura influenciaram a vida de cada um para a leitura. A metodologia foi baseada no estudo sistemático de cartas que foram escritas por cada um desses alunos e foram analisadas à luz dos estudos de Perrotti (2008), Zilberman e Lajolo (1991) e os resultados apresentados em gráficos para um estudo panorâmico de como foi a formação de leitor de cada um deses alunos que tiveram pais, mães, avós, tios, como maiores mediadores de Leitura e a escola pouco aparece como formadora de leitores. Palavras-chave: Leitura; Mediadores; Experiências de Leitura; Cartas. ABSTRACT: This article presents an experience developed with students of Graduate in the city of Campina Grande/PB, in a class with Professor Edmir Perrotti (USP professor) on experiences in family living, school, community, of friends Embroidered reading history of each, whether initially for children's literature, whether by nursery rhymes, whether for games or other gender. The objective of this study was to present the memories of each player with respect to who his/her agent(a) read and also have a profile on which literature authors influenced the lives of everyone for reading. The methodology was based on the systematic study of letters that were written by each of these students and were analyzed in the light of Perrotti studies (2008), Zilberman and Lajolo (1991) and the results presented in graphs for a panoramic study of how was the player training each deses students who had fathers, mothers, grandparents, uncles, as major mediators of lecture and the school little appears as forming readers. Key words: Lecture; mediators; Lecture experiences; Letters. INTRODUÇÃO (...) A vida se apresentava a nós, desafiando certezas a cada nova leitura deixando clara a dimensão imensa que o ato de ler pode ter quando vivido em sua complexidade e plenitude (...) Edmir Perrotti 1 Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú há 15 anos e membro do Proler-CG

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ISSN 2317-661X Vol. 09 – Num. 01 – Janeiro 2016

www.revistascire.com.br

MEDIADORES DE LEITURAS: bordados de/na vida de alunos

de uma Pós-Graduação

Suzana Maria de Queiroz BENTO1

UVA/UNAVIDA - PROLER-CG

RESUMO: O presente artigo traz uma experiência desenvolvida com alunos de uma Pós-Graduação na cidade

de Campina Grande/PB, numa aula com o Professor Edmir Perrotti (professor da USP) sobre as experiências

adquiridas no convívio da família, da escola, da comunidade, de amigos que bordaram a história de leitura de

cada um, quer seja inicialmente pela literatura infantil, quer seja pelas cantigas de roda, quer seja pelas

brincadeiras, ou outro gênero. O objetivo deste trabalho foi o de apresentar as memórias de cada leitor com

relação a quem foi seu/sua mediador(a) de leitura e ainda traçar um perfil sobre quais autores da literatura

influenciaram a vida de cada um para a leitura. A metodologia foi baseada no estudo sistemático de cartas que

foram escritas por cada um desses alunos e foram analisadas à luz dos estudos de Perrotti (2008), Zilberman e

Lajolo (1991) e os resultados apresentados em gráficos para um estudo panorâmico de como foi a formação de

leitor de cada um deses alunos que tiveram pais, mães, avós, tios, como maiores mediadores de Leitura e a escola

pouco aparece como formadora de leitores.

Palavras-chave: Leitura; Mediadores; Experiências de Leitura; Cartas. ABSTRACT: This article presents an experience developed with students of Graduate in the city of Campina

Grande/PB, in a class with Professor Edmir Perrotti (USP professor) on experiences in family living, school,

community, of friends Embroidered reading history of each, whether initially for children's literature, whether by

nursery rhymes, whether for games or other gender. The objective of this study was to present the memories of

each player with respect to who his/her agent(a) read and also have a profile on which literature authors

influenced the lives of everyone for reading. The methodology was based on the systematic study of letters that

were written by each of these students and were analyzed in the light of Perrotti studies (2008), Zilberman and

Lajolo (1991) and the results presented in graphs for a panoramic study of how was the player training each

deses students who had fathers, mothers, grandparents, uncles, as major mediators of lecture and the school little

appears as forming readers. Key words: Lecture; mediators; Lecture experiences; Letters.

INTRODUÇÃO

(...) A vida se apresentava a nós, desafiando certezas a

cada nova leitura deixando clara a dimensão imensa

que o ato de ler pode ter quando vivido em sua

complexidade e plenitude (...)

Edmir Perrotti

1 Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú há 15 anos e membro do

Proler-CG

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Muito se discute a importância da leitura na vida das pessoas, e que ela deve começar

desde cedo, ainda no seio da família através da contação de histórias, cantigas de ninar e das

brincadeiras de roda. Contudo, essa é uma realidade pouco praticada nos dias atuais. O

primeiro contato com a leitura, em geral, tem ou deveria ter a participação da família, que

direta ou indiretamente introduz a criança ao mundo mágico da leitura, quer seja pelas

histórias contadas, quer seja pelas cantigas e brincadeiras. É preciso efetivamente mostrar que

ler é, muitas vezes, brincar, divertir-se. Apontar o mundo lúdico que a leitura pode se

transformar, envolvendo a criança no universo da fantasia, e da invenção, a ponto de despertar

a curiosidade e desafiá-la a resolver problemas cujas soluções dependem de sua habilidade e

capacidade criativa para responder a situações novas.

No seio da família somos implicados nas mais diferentes descobertas. Com ela

aprendemos a falar, a nos comunicar, a caminhar, e consequentemente vamos copiando os

modelos, isto é, quando crianças tendemos a, normalmente, nos espelharmos pelas atitudes

dos pais. E é exatamente no âmbito familiar, que somos conduzidos, ou deveríamos ser, ao

mundo da leitura.

A família deve ser a primeira responsável por conduzir as crianças ao mundo da

fantasia pela contação de histórias. Havia sempre um avô, pai, mãe, tio ou tia, que através da

oralidade embalava o sono infantil com as mais variadas histórias. Assim, envolvia a criança

ao maravilhoso e encantado mundo da leitura, possibilitava momentos de pura magia e

descobertas, numa vivência das mais diversas emoções como o riso, o choro, o medo, o

suspense, a alegria e os desejos, descobrindo soluções para os próprios conflitos, vivendo

outros papéis, identificando-se com personagens.

A ambiência do lar e da escola precisa favorecer o contato da criança com a leitura,

esses espaços devem envolver e despertar a curiosidade. É importante que livros, brinquedos e

jogos estejam ao alcance da criança, para que a mesma tenha uma relação permanente com a

leitura. Ler é buscar respostas às nossas inquietações e descobrir um pouco de nós em cada

história.

Na fase escolar da criança, a literatura infantil deve estar ao alcance dos pequenos, eles

precisam ter contato com o livro, folhear, mesmo que não saibam ler a palavra, mas saberão

ler a imagem e criar histórias através da oralidade a partir das mesmas, e posteriormente

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passarão a ler a palavra, é quando a criança conhece o fantástico mundo da literatura infantil

pela palavra, que seduz e encanta, fazendo do entrelaçamento e do bordado das páginas um

sonho encantado de magia e fantasia, que só a criança é capaz de entender e inventar novos

rumos para as histórias infantis. “A criança encontra na leitura, nos seus heróis, os seus ideais,

os seus modelos. Assimila-os, identifica-se com eles, passa a vivê-los, quando mais não seja,

ao menos em sonho...” (PERROTTI, 1986). A leitura é interação.

Ler não é decifrar o código escrito, é interagir com o texto de modo a extrair vários

significados (LAJOLO e ZILBERMAN, 1991). Nessa visão, o leitor muitas vezes mergulha

nas palavras, vivencia o mocinho e/ou o bandido, toma para si a vida daquele personagem.

Perrotti (2008) confirma que

o leitor que se apaixona por uma história viaja por territórios que se colam a ele e que

ele não quer largar de jeito nenhum. Os sótãos de Proust, de Bastian são lugares

quase sagrados, especiais, superprotegidos e protetores. Estão longe dos incômodos

que às vezes atrapalham a gente no melhor da história (...)

Para Barthes (1996), o texto se produz em um entrelaçamento contínuo. O leitor

mergulha num “tecido” e constrói novas ideias a partir do diálogo constante com o texto. Nas

memórias de leitura de cada um, percebe-se que as histórias têm um tempo de permanência,

tempo este que segundo Perrotti (op. cit.) é “aquele que fica guardado não só na memória, mas

no coração, no sangue, nas entranhas feito um sopro (...)”. Nossas memórias ficam para

sempre guardadas em nosso coração, sejam elas boas ou ruins.

METODOLOGIA

Quando nos pusemos a costurar os bordados das nossas histórias de leitura,

percebemos o quanto a família foi importante na nossa formação de leitor. O professor Edmir

Perrotti ao ministrar uma disciplina sobre leitura (Sim!!! Aula de leitura, aula sobre leitura,

aula para leitura, enfim tudo leitura) solicitou aos alunos que “lembrassem suas histórias de

leitura e as narrassem por meio de uma carta dirigida a um mediador de leitura que tivesse

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sido essencial em suas vidas.” Ele pretendia com isso, identificar e discutir conosco o papel

dos diferentes autores que intervêm na formação de leitor: família, escola, biblioteca e, claro

os textos, em sua variedade e multiplicidade já que para este autor “os livros, a literatura e as

bibliotecas devem ser para o leitor um refúgio, um mundo pessoal que o proteja e acenda sua

humanidade”. Os livros e a biblioteca devem, então, ser um mundo de contato com o (ir)real

para despertar várias emoções.

Cartas, pra que te quero?

Para falarmos dos nossos sonhos, dos nossos desejos, dos nossos segredos, dos nossos

mistérios e também dos nossos sofrimentos, das nossas perdas... Ainda, dos nossos achados,

das descobertas, enfim, da nossa vida. São tantos “para” e essas cartas aqui foram produzidas

para rememorar nosso encontro com a leitura.

As cartas sempre serviram para levar e trazer coisas boas e coisas ruins. Elas têm

origem há muitos anos, pois

os primeiros registros foram criados, provavelmente para que os mercadores

fizessem contas. A origem da carta é relacionada à própria necessidade de o homem

se comunicar. As tabuinhas de argila tiveram um papel importantíssimo no início da

história. Foram encontrados em Tell Brank, na Mesopotâmia, tábuas de argila

contendo material escrito, data dos em 3200 a. C., sendo provavelmente as inscrições

mais antigas. Ao redor do ano 2800 a.C, as inscrições tinham-se reduzido a símbolos

convencionais feitos em tábuas de argila em forma de cunha(daí o nome

cuneiforme). Logo esta escrita começou a ser usada em Sumer e em outras partes ,

como o Egito em UR , em Mari. Os textos cuneiformes da antiga Babilônia, os

textos escritos em estátuas de pedra do império de Mari, são indícios de o alto

interesse na troca de escritas. (In.: http://br.answers.yahoo.com)

Houve também um tempo em que os pombos-correios levavam as mensagens de alerta

para os que estavam nas Guerras. E até hoje a carta vem se resguardando, mediante um

turbilhão de novos suportes e dos gêneros midiáticos que aparecem a todo instante, tais como

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os e-mails, o chat, os scraps, as mensagens instantâneas, enfim, as atualizações das novas

tecnologias.

As cartas, hoje, assumem vários papéis: são pessoais, são de reclamação, de opinião,

são abertas ao público... São injuntivas, narrativas, descritivas, dissertativas. Ou simplesmente

de memórias, como estas nossas que não têm um destinatário marcado. Embora sejam

dirigidas àquela pessoa que nos incentivou para a leitura, essas cartas produzidas por nós

chegarão a leitores distantes que também serão levados a rememorar suas histórias de leitura.

É por meio delas (das cartas) que faremos algumas análises para descobrirmos quem

foi o sedutor de cada um desses leitores.

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

AS CARTAS

Análise de trechos das cartas

Legenda C 1- Carta 1

C2 - Carta 2

C3 - Carta 3

C4 - Carta 4

C5 - Carta 5

C6 - Carta 6

C7 - Carta 7

C8 - Carta 8

C9 - Carta 9

C1

Meu amado Pai,

Foi a partir das tuas histórias e leituras que iniciei minha viagem pelo mundo da LITERATURA.

Lembro-me que tua chegada (como representante que eras, sei que precisavas viajar muito) era motivo de

expectativa, minha e também das três irmãs mais novas, porque sempre trouxeste destas viagens histórias e

livros. Os Contos de Fada foram os primeiros a chegar, para, em seguida, conhecermos os inesquecíveis

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personagens de Monteiro Lobato, de quem, além da leitura, tínhamos o prazer de interpretar e sonhar com os

habitantes daquele Sítio do Pica-pau Amarelo.

C2

Queridos pais,

Rememorando a minha vida, nem sabia que vocês eram personagens tão importantes. As músicas de

ninar cantadas por você, meu pai, ainda na minha primeira infância, certamente ajudaram a desabrochar em mim

uma sensibilidade para a arte da vida. Devo agradecer a vocês que não viram apenas riscos e rabiscos na parede

lá de casa, mas enxergaram a minha necessidade de expressão do mundo. Os cadernos que vocês me compraram,

eu os enchi com meus símbolos, códigos totalmente inteligíveis para mim.

C3

À Mamãe

(...)Das lembranças que tenho, a imagem que se mostra mais clara é da Senhora cantando canções de

ninar – na verdade, a imagem é auditiva – para a Eliane. Trechos de algumas canções ecoam agora com uma

nitidez que chega a arrepiar....Zum zum, lá no meio do mar. Zum zum, lá no meio do mar...como pode um peixe

vivo viver longe d’água fria...como pode um peixe vivo viver longe d’água fria?...e por aí vai. Lembro também

de quando a meninada se juntava no meio da rua para brincar e que a Senhora unia-se a nós para brincar junto,

sobretudo quando se tratava da Boca de forno...a Senhora quase sempre era o mestre. Depois se cansava da

gritaria da molecada e saía da brincadeira. Há ainda situações em que, envolvida em alguma atividade doméstica,

sempre encontrava jeito de nos contar alguma história, sobretudo histórias de meninas pobres que, de forma

mágica, tornavam-se belíssimas e ricas princesas. Com todas essas artimanhas, a Senhora estava,

inconscientemente, me inserindo no mundo da leitura.

C4

Meu avô

Foi o meu avô quem mais incentivou para a leitura, pois na sua casa havia um livro sobre plantas

medicinais e ele vivia lendo-o para mim.

C5

Mãe

Antes do re-início da aula fui obrigado a revirar as “gavetas” do passado e tentar buscar nas lembranças

o início da minha relação com a leitura e que de forma direta a senhora é a culpada. Nossa como foi trabalhoso

fazer esse resgate. Tive que recordar de uma tia avó e os bons momentos em que elas nos contava todas aquelas

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histórias (lenda, parlenda, cordel, clássicos da literatura e tantas outras) sempre do seu jeito, da sua maneira e

dentro dos seus propósitos.

C6

Os livros me chegaram graças à minha mãe (in memorian), que me levou ao fantástico mundo da

Literatura de Cordel e à M., N. (in memorian) e F. (in memorian), minhas irmãs mais velhas, que desde cedo me

apresentaram clássicos da literatura infantil e mais tarde fizeram-me conhecer Jorge Amado, Machado de Assis,

Érico Veríssimo, José de Alencar, Guimarães Rosa, José Lins do Rego, entre muitos outros.

(...)

Quando lia ou ouvia as histórias de cordéis contadas por minha mãe, quando via as telenovelas ou ouvia

uma boa música, me deparava sonhando. Nos sonhos eu sempre fazia parte das narrativas: ora eu era o Bentinho,

ora o Capitão Rodrigo ou mesmo a Rita Baiana; em outros sonhos eu era Aritana ou o Coco Verde ou até o

personagem central de uma canção da Bethânia.

Cresci, e o gosto pela literatura me acompanhou, como também o hábito de ver telenovelas e

principalmente o amor à música brasileira. Adulto, já não mais sonhava em ser os personagens dos livros, mas o

desejo de sair de mim e me encontrar no outro permanecia. Eu queria ser ator.

Ao chegar em Campina Grande, casualmente fui convidado a integrar um grupo de teatro e, sob a

direção de Álvaro Fernandes, estreei, em 2002, o espetáculo Arribação(...)

C7

(...)

Já em casa era diferente, pois nosso pai costumava nos contar histórias de antigamente, sempre muito

engraçadas ou mal-assombradas, especialmente nas noites em que faltava energia elétrica, e isto para nós era

ótimo! De ti, lembro-me que sentavas na praça da pequena cidade onde morávamos para ler e eras muito

criticado por isto, as pessoas achavam que querias te mostrar, e mal sabias que o teu gesto estava semeando algo

em mim: o desejo de ler aquilo que, durante dias e dias, tão concentrado lias. Depois, quando já estavas nas

universidades e podias comprar livros, o meu encanto só aumentou, pois eles estavam ali, ao alcance da minha

mão, e para descobri-los foi só um passo.

C8

Há pessoas que, por mais simples que sejam, marcam as nossas vidas. Dona L., foi uma dessas pessoas,

primeiro por ter despertado em mim a curiosidade e o desejo de ler um livro, aliás, a minha primeira experiência

de leitura literária; depois, por me fazer perceber que através da literatura é possível encontrar pessoas e histórias

da nossa realidade (...)

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(...)

Um dia mexendo nas gavetas do armário do meu tio encontrei um livro que me deixou, além de

surpresa, alegre, pois na minha inventividade e inocência de menina achava ter encontrado a história da nossa

vizinha, a Dona L. O nome do livro? “LUZIA - HOMEM”, de Domingos Olimpio, a minha curiosidade foi

enorme, queria saber como aquela mulher simples e de hábitos diferentes tinha ido parar no livro.

(...)

Fiquei encantada com os relatos e imagens que o narrador ia descrevendo, algumas coisas me deixavam

triste e dizia: - Isso não pode acontecer com Dona L. A surpresa do narrador ao descobrir que por trás daquele

jeito diferente de vestir-se, se escondia uma mulher de corpo exuberante e curvas acentuadas, me deixava

maravilhada. Foi a partir dessas imagens que eu desejava, sempre que voltava ao Riacho do Jardim, ver a Dona L

tomando banho, só para confirmar a descrição do livro, pois na minha imaginação, a Luzia do livro era a mesma

Luzia do Riacho do jardim.

C9

Não tive muito exemplo da parte de meus pais para ler, mas tive o incentivo deles para gostar de livros.

Aos cinco anos, devorava gibis que minha mãe comprava, criando e recriando histórias do meu jeito, pois ainda

não havia decifrado aquele código escrito, mas as imagens falavam tudo.

Analisando as cartas, observamos que a mãe (26%) teve participação efetiva na

formação desses leitores. É ela que, muitas vezes sem ter escolaridade, conta as histórias aos

filhos, compra livros, incentiva o filho a ler e está sempre por perto acompanhando este

processo. As cartas C3, C5, C6 e C9 mostram a figura da mãe como maior incentivadora para

a leitura e, inclusive, na C3 e C6 é ela quem conta as histórias, principalmente as de príncipes

e princesas (os contos de fada) e as da literatura popular e por estas histórias, ao nosso ver,

não serem motivo para execução de nenhuma atividade com caráter didático-pedagógico,

parecem cumprir a “função primeira” da obra literária para crianças: “como no adulto (ela

deve ser) objeto de ‘contemplação’ ou de função estética, para o deleite do espírito, fonte de

sugestão, recreação, ou evasão e catarsis” (PERROTTI, 1986). E, nesse sentido, a leitura é

‘recreação’, na significação etimológica do termo – a de ‘criar de novo’, a de ‘renascer’”. É

essa impressão que temos quando das primeiras experiências com a leitura destas crianças no

seio familiar. Na C6, a autora fala de seu encontro e encanto com a literatura de cordel, com

as histórias orais advindas da cultura popular e cita que suas irmãs também foram importantes

na sua formação de leitora, apresentando além da literatura infantil, os autores clássicos como

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Jorge Amado, Machado de Assis, Érico Veríssimo, José de Alencar, Guimarães Rosa e José

Lins do Rego.

As C1 e C7 mostram que o pai foi o impulsionador para a arte de leitura, através dos

clássicos, das histórias engraçadas ou mal-assombradas. Na C1, o pai parece ser o “caixeiro

viajante” que traz livros e histórias para contar para suas quatro filhas. O mundo lobatiano é

apresentado e a imaginação corre solta para estas pequenas leitoras, que idealizavam os

personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Outros protagonistas na iniciação dos autores das cartas: na C4, surge a figura do avô,

que comprava livros contendo informações nutricionais e prevenção de doenças, temas que

envolviam o autor desta carta; na C5, surge uma tia avó com bons momentos em que ela

contava histórias (lenda, parlenda, cordel, clássicos da literatura e tantas outras). Na C2, as

cantigas de ninar aparecem para deleite da autora desta carta.

A C8 mostra que a criança mistura fantasia e realidade, pois como diz a autora desta

carta “através da literatura é possível encontrar pessoas e histórias da nossa realidade” e às

vezes, mergulhamos tanto no texto que pensamos que os personagens da vida real vão parar

dentro dos livros, como a vizinha da autora da C8 que por ser tão parecida com “Luzia

Homem”, fez com que a pequena leitora “desconfiasse” que as duas fossem a mesma pessoa.

E a obra ganha vida e desperta emoções de tal modo que queremos participar das histórias e

nos intrometermos nos enredos dialogando com o autor, conforme vemos no pensamento da

autora da C8: “Fiquei encantada com os relatos e imagens que o narrador ia descrevendo,

algumas coisas me deixavam triste e dizia: - Isso não pode acontecer com Dona L.”.

Na maioria das cartas analisadas, é a família quem insere as crianças nas práticas

letradas. A figura do professor pouco aparece como aquele que foi agente mediador das

práticas de leitura na vida destas crianças.

A seguir, citamos algumas experiências de leitura que os autores tiveram na escola.

Experiências estas que, em sua maioria, foram bem negativas, haja vista que a leitura foi

trabalhada com fins utilitaristas ou até mesmo de forma traumatizante como foi para a autora

da C1 (a professora pediu que a criança fizesse uma cópia inteira de um livro).

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Experiências escolares

C1

Nos anos escolares as experiências dessa viagem foram bem diferentes, pois a leitura já não tinha aquele

mistério, aquela magia de antes, tudo era muito determinado, os textos e as histórias presentes nos livros

didáticos não tinham o mesmo sabor que os livros trazidos por você, meu amor, meu pai. Uma lembrança triste e

marcante desse momento foi uma professora, cujo nome tratei de esquecer, obrigou-me a fazer uma cópia de um

livro, e ele era enorme, eu chorei tanto que amarrotei o pobre livro, que com certeza também chorou junto

comigo. Mesmo com essa desmotivação na escola eu não desisti da minha viagem pela leitura. Sempre que

possível, procurava algo novo para ler, nesse percurso tinha espaço para outras leituras como: revistinha

(Amiguinhos), gibis, Jornalzinho da escola; na adolescência: Sabrina e Bianca, literatura espírita, e tantos

outros...

C5

No momento em que as recordações me tomavam, lembrei também de Margarida Brito (professora da 1ª

série) no processo de alfabetização, das cartilhas do processo – “Ivo comeu a uva” ou “O tatu entrou na toca”.

Lembra?! Claro. O resto à senhora conhece. O tempo foi passando, comecei a escolher meus livros, fiquei

independente, autônomo, pois não ficava preso ao que “Tia” pedia. Ia a secretaria da escola e escolhia o que

queria ler, como também pegava com meus colegas.

C7

A lembrança que tenho dos textos lidos no primário não é das melhores: a professora me mandava fazer

copias enormes, que não serviam para nada, ou então fazia com que lêssemos os textos do livro, mas o medo de

ler errado era tão grande, que a leitura perdia totalmente o encantamento.

C9

(...) Num banquinho da professora S., professora de reforço, num pequeno lugarejo do Rio Grande do

Norte (Pau dos Ferros), comecei a juntar as letras e a minha história de amor com a leitura teve seu primeiro

encontro. As escolas (todas públicas) por onde passei não tinham muitos livros, nem os professores, talvez por

não saberem, liam com fascínio para nós. Timidamente, escolhia um ou outro livro de Lobato (por incentivo do

Programa Sítio do Pica-pau Amarelo na televisão) e na escola, já nas séries ginasiais, quando muito líamos, eram

os livros dos autores clássicos como Machado de Assis, Olavo Bilac e Érico Veríssimo, tão somente para

respondermos as lições gramaticais. Uma tal de Poliana Menina (e depois Moça) me ajudou a jogar o jogo do

contente e procurar entrar no mundo das palavras para ler o mundo.

(...)

Foi quando em 1993, cheguei à Campina Grande e encontrei você, A., uma das maiores divulgadoras de

leitura que eu já conheci. Puxa, ora Fada, ora Bruxa (boa, é claro), pela arte com que você abria os nossos olhos

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(a nossa vida para o mundo), a leitura passou a ser mais prazerosa. As suas aulas na Especialização eram tão

maravilhosas que eu juntava “a fome com a vontade de comer”, devorando histórias lindas e querendo mais e

mais. Parecia que eu era Laurinha de A Curiosidade Premiada. O seu trabalho com inferências levava-nos a

interagir com os textos, tão intensamente, que eu queria entrar nos livros, pular nas linhas e me intrometer nas

palavras.

Nas C1 e C7, a leitura era vista como uma obrigação e perdia todo o encantamento,

pois a imposição era tanta que as lembranças não são as melhores. As cartilhas aparecem na

C5 e não despertavam nenhuma motivação nesta criança. Pelo contrário, o ato repetitivo de

juntar letras e sílabas do tipo “Ivo viu a uva” parece não ter criado nenhum desejo para o

aluno ler.

A C9 mostra a problemática que as escolas públicas enfrentavam: “As escolas (todas

públicas) por onde passei não tinham muitos livros, nem os professores, talvez por não

saberem, liam com fascínio para nós”. Hoje até que as escolas possuem muitos livros em suas

bibliotecas, mas será que os professores sabem utilizá-los exercendo um fascínio nos leitores?

Ainda na C9, aquela professora da escola particular surge lá nos bancos de um lugar não

institucionalizado e consegue firmar marcas nesta leitora, pois é através desta professora que a

criança aprende a decodificar e a ter um segundo contato com a leitura (a mãe já comprava

livrinhos e gibis e essa criança já “lia” as imagens). O terceiro contato da autora da C9 ocorre

já quando esta cursa a Pós-graduação, com uma professora que incentivava tanto a leitura que

a autora desta carta diz, referindo-se à professora: “O seu trabalho com inferências levava-nos

a interagir com os textos, tão intensamente, que eu queria entrar nos livros, pular nas linhas e

me intrometer nas palavras”.

Ratificando o pensamento da autora da C1: “Nos anos escolares as experiências dessa

viagem foram bem diferentes, pois a leitura já não tinha aquele mistério, aquela magia de

antes, tudo era muito determinado, os textos e as histórias presentes nos livros didáticos não

tinham o mesmo sabor que os livros trazidos por você (...)” (referindo-se à figura do pai)

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OS GRÁFICOS

De forma clara e objetiva, apresentamos alguns dados analisados a partir das

CARTAS contidas neste artigo em que evidenciamos os seguintes pontos: quem motivou os

escritores das cartas para a leitura (as pessoas mais presentes); quem motivou os escritores das

cartas para a leitura (por sexo); percentual do número de vezes em que os gêneros ou suportes

foram citados; número de vezes em que autores ou suportes são citados.

GRÁFICO 1

Quem motivou os escritores das cartas para a

leitura

13%

13%

26%7%

13%

7%

7%7% 7%

Pai Pais Mãe Avô Professora Tia Irmãs Irmão Vizinha

GRÁFICO 2

Quem motivou os escritores das cartas para a

leitura, por sexo

60%

40%

Sexo feminino Sexo masculino

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GRÁFICO 3

Número de vezes em os Gêneros ou suportes

foram citados

21%

6%

6%

6%

6%6%6%10%

6%

6%

21%

Lendas Gibis Fábulas

Canções Brincadeiras cantadas Biografias

Receitas medicinais Cordel Parlenda

Peças teatrais Contos

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GRÁFICO 4

Número de vezes em que Autores ou suportes são

citados pelos escritores das cartas

0 1 2 3 4 5 6

Autores dos contos de Fada

Monteiro Lobato

Revista (amiguinho)

Revista ( Sabrina/Bianca)

Jornalzinho da Escola

Machado de Assis

Lima Barreto

Graciliano Ramos

Carlos Dumond

Clarice Lispector

Manoel Bandeira

Guimarães Rosa

José Lins do Rêgo

José de Alencar

Jorge Amado

Érico Veríssimo

Cecília Meireles

Lygia Bojunga

Ana Maria Machado

Ruth Rocha

Vinicius de Moraes

Mario Quintana

Sylvia Orthof

Ziraldo

Domingos Olimpio

Aluísio Azevedo

Tatiana Belinky

Bartolomeo Campos Queirós

Elias José

Lenice Gomes

Jessier Quirino

Laerte

Shakespeare

Moliére

Nelson Rodrigues

Lourdes Ramalho

Série1

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CONCLUSÕES

É importante observarmos que para esses pequenos leitores das cartas, as experiências

com a leitura aconteceram e, em sua maioria, foram experiências que ficaram num “tempo de

permanência”. As histórias quando nos acompanham pelo resto da vida ganham o selo de

fantasias bem sucedidas que, de alguma forma se fortalecem, pois como dizia o personagem

Proust (PERROTTI, 2008) “não existe nada mais forte que as lembranças da leitura da

infância”. A infância marca a vida de cada um e as memórias são muito fortes. E é na infância

que a leitura deve ser livre e não atender a propósitos utilitaristas (CUNHA, 1986)

Os autores das cartas citam a mãe, o pai (ou os dois), as irmãs (ou irmão), avô, tia

como sendo os principais mediadores nos seus encontros com a leitura. Contos de fada,

lendas, canções, receitas medicinais, fábulas, literatura de cordel, biografia, parlendas foram

gêneros que permearam a infância desses autores que, nos seus escritos, deixam bem claro o

papel que essas primeiras leituras exerceram em suas vidas. Há agradecimentos explícitos

tanto aos familiares, como a professores que, já numa fase adulta, fizeram a diferença para a

formação de leitor.

Imaginemos as crianças e os jovens de hoje não tendo a sorte de encontrar nos

familiares o porto seguro para as primeiras aventuras no mundo da leitura. Como terão acesso

aos personagens, à fantasia e ao imaginário? Segundo Corso e Corso (2006, apud

VERUNSCHK, 2008), “as crianças mantêm uma relação sólida com essas histórias

fantásticas e agem como garimpeiros que tiram do cascalho que a vida oferece a pedra mais

resplendente. Em geral, a força dessas narrativas marca também sua vida adulta.” Tomara que

essas crianças e esses jovens tenham acesso aos autores de contos de fada, a Monteiro

Lobato, Machado de Assis, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Carlos Drumond, Clarice

Lispector, Manoel Bandeira, Guimarães Rosa, José Lins do Rego, José de Alencar, Jorge

Amado, Érico Veríssimo, Cecília Meireles, Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Ruth rocha,

Vinicius de Morais, Mário Quintana, Sylvia Orthof, Ziraldo, Domingos Olimpio, Aluísio

Azevedo, Tatiana Belinky, Bartolomeu Campos Queirós, Elias José, Lenice Gomes, Jessier

Quirino, Laerte Menezes, Shakespeare, Molière, Nelson Rodrigues, Lourdes Ramalho. Todos

esses autores, dos clássicos aos menos conhecidos, foram citados nas cartas dos nove autores

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que resgataram suas pequenas/grandes memórias de leitura. Esperamos que os leitores de

hoje tenham algum contato, pelo menos, com alguns desses mestres da literatura e outros que

aqui não foram citados. Freire (1986) defende que a leitura é um ato importante que liberta os

sujeitos.

E a escola? Qual o papel dela? Formar leitores é um gesto de mediação que envolve

afetos, sensibilidade e, portanto uma pedagogia que seja fundamentada em elemento de

apropriação. Cabe, então, à escola e às instituições públicas criarem políticas de apropriação,

políticas públicas de leitura e não de livros, em que todos se envolvam com o ato de ler para

que consigamos inscrever a leitura nos repertórios culturais do nosso povo.

É de pequeno leitor que nos tornamos grandes leitores. A leitura deve entrar em

nossas vidas e ficar para sempre nos nossos corações. As Reinações de Narizinho,

os Meninos Maluquinhos, as Fadas, os Príncipes, as Princesas (como também as

Bruxas, os Vilões), os Personagens Lendários e muitos outros que moram nos livros

devem fazer parte de nossas memórias de leitura. E isso só acontece por meio do

incentivo à leitura que as famílias e a escola dão às crianças. É a família quem conta

as primeiras histórias para as crianças, quem canta as músicas de ninar. A escola

deve, portanto, continuar com estas práticas de leitura, encantando o leitor, fazendo-

o interagir com o texto nos seus múltiplos sentidos. Um livro é para ir para a sala de

aula como arte, isento de trabalhos estritamente linguísticos naquele sentido de

explorar apenas as questões gramaticais com apelos para o bom uso das palavras.

Um livro é mais que um amontoado de palavras, de frases, de períodos. É, acima de

tudo, um construtor de sentidos. Não basta decodificar, é preciso imprimir à leitura,

interação (...) ( BENTO, In.: Projeto Eu Leio. E Você?, 2008)

A escola deve, pois, cumprir seu papel e apresentar propostas de leitura que marquem

a vida dos leitores e levem-nos a entender os diversos propósitos da leitura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTHES, Roland. Aula. 7.ed. São Paulo: Cultrix, 1996.

BENTO, Suzana Maria de Queiroz. Projeto de Leitura: “Eu Leio. E Você?” Escola Pequeno

Príncipe. Campina Grande/PB, 2008.

CORSO & CORSO (2006) In.:Verunschk,. Discutindo Literatura (Edição Especial). São

Paulo: Escala Educacional. Ano 1 Nº 3, 2008.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil – teoria e prática. São Paulo: Ática,

1986.

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FREIRE, Paulo Freire. A importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 1986.

LAJOLO, M., ZILBERMAN, R. A leitura rarefeita, livro e literatura no Brasil. São Paulo:

Brasiliense, 1991.

PERROTI, E. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone, 1986.

_____. Como as Mimoseiras! Discutindo Literatura (Edição Especial). São Paulo: Escala

Educacional. Ano 1 Nº 3, 2008, pp. 62-63. Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com>

Acesso em 12 de janeiro de 2016.