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MEDIAÇÃO ESCOLAR DE PARES

Semeando a paz entre os jovens

Corinna Schabbel, Ph.D.

Willis Harmann House

Lançamento: outubro 2002

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DEDICO ESTE LIVRO

A Cynthia e Victor, meus filhos

Representando todos os jovens deste País

In Memorian

Libby Douvan, Ph.D.

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AGRADEÇO

O texto que ora trago ao público é parte do que foi originalmente produzido como

tese de doutorado, apresentada ao programa Human and Organizational Development do

Fielding Institute em Santa Bárbara, Califórnia.

É o resultado de um trabalho conjunto. Sem o bom-humor, a ironia e as

provocações reflexivas de meu mentor Lenneal Henderson, Ph.D. de meu co-orientador

Barnett Pierce, Ph.D. não chegaria às conclusões que agora apresento.

Como este trabalho é uma construção coletiva em um momento e lugar, minha

especial gratidão aos alunos e professores que participaram da pesquisa e me permitiram

entrar em seus territórios e desvendar suas realidades, tornado-se os alicerces e motivo de

minha construção.

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PRÓLOGO

Todo livro tem uma história e uma razão para ter sido escrito. As razões que me

levaram a escrever este livro estão ancoradas em meu próprio processo de aprendizagem

enquanto mulher, mãe, professora e cidadã preocupada com o futuro de nossos jovens.

Em 1997conheci Sara Cobb que me convidou a fazer o doutorado no Fielding

Institute na Califórnia. Fui aprovada em Janeiro de 1998 para o programa Human and

Organizationa Development (Desenvolvimento Humano e Organizacional). Participar do

programa provocou uma ruptura em minha maneira de pensar e ver o mundo. Desde então,

vivo em crise intelectual. Há muitos anos sentia-me insatisfeita com o mecanicismo no

domínio da Psicologia e da Educação e nunca conseguira me deparar com um texto, um

autor ou uma escola que o substituísse. Nas minhas andanças e pesquisas bibliográficas

para desenvolver o tema que havia escolhido para o meu trabalho de doutorado, comecei a

encontrar a resposta para o meu dilema ao estudar Humberto Maturana, Francisco Varella e

Ludwig Wittgenstein. Fiquei entusiasmada ao ler seus escritos e por encontrar no Fielding

interlocutores provocadores e apreciativos para com meus questionamentos e minhas

dúvidas. Aos poucos, senti-me mais confiante e incentivada por um grande amigo,

Bradford Keeney, terminei o doutorado, perseverei as leituras sobre os novos paradigmas e

acrescentei muitas leituras sobre espiritualidade e etnografia. Num misto de encantamento

e desânimo por não ter tempo suficiente para ler todas as pilhas de papéis e livros que me

esperavam a cada fim-de-semana, viví algumas crises importantes e uma certa confusão

mental... era o próprio exemplo do caos. Como depois do caos vem uma nova ordem,

comecei a perceber a importância das novas idéias em minha vida pessoal e profissional.

Desde o meu primeiro livro, quando me propus a retomar a holística, perdida no

emaranhado da vida contemporânea, percebi que buscava novas idéias para a minha

atividade profissional. Foi quando ocorreu me encontro com a mediação. O que havia

aprendido quanto à teoria e às técnicas de psicoterapia não me traziam a satisfação esperada

no trabalho com as pessoas em conflito. Havia um espaço a ser preenchido, meu modelo

mental estava incompleto o que passou a me afligir em muitos momentos, inclusive no

trabalho. A resposta à minha angústia veio através de uma observação feita por minha filha

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e, alguns dias depois pelo meu filho: “Mãe, você é séria.” Fiquei chateada e tive um

insight. A razão, uma idéia subversiva em nossa sociedade que teve sua origem em Platão,

colocou na sombra, durante séculos, a verdadeira origem dos fenômenos humanos: o amor.

Falo aqui do amor enquanto domínio emocional humano assim como o conhecer é o

domínio cognitivo do homem. Passei a compreender a dimensão do amor em um seminário

com Vittorio Guidano. Para ele, há que se entender o amor como o espaço emocional onde

vivem os “animais intersubjetivos” como o homem sendo que no espaço intersubjetivo o

que conta são os encontros e desencontros, o apego e a separação das figuras significativas

em nossas vidas. Trata-se de transformar o homo sapiens em homo psicologicus, um ser

sintonizado com os outros ou simplesmente pessoas em relação.

Nas ciências, durante muito tempo, o amor foi dissociado da evolução. Pensar,

sentir e agir estudados de maneira dissociada foram de suma importância para se

compreender os fenômenos humanos. Porém, para se compreender os fenômenos humanos

em nosso mundo contemporâneo implica em valorizar relações baseadas no amor. A partir

de relações interpessoais mais amorosas, cada um de nós tem maiores possibilidades de

transcender a arrogância e a solidão, tornando-nos seres mais solidários.

Com este trabalho pretendo acreditar mais no sorriso da criança. Ao nascer, somos

emoção e nela investimos para estabelecer relações de amor com outros seres humanos e

aprender o valor dos vínculos afetivos e sua permanência em nossas vidas.

Pretendo também acreditar mais nos jovens e em suas reflexões como fontes

valiosas para a origem de uma nova consciência moral profundamente enraizada nos afetos.

Assim, ao acreditar na criança e no jovem, o papel do educador inclui o

desenvolvimento de uma cultura do diálogo, do respeito, do consenso e da paz num

ambiente escolar onde todas as pessoas - alunos, professores e administradores - tenham a

disponibilidade para aprender habilidades que lhe sirvam para evitar enfrentamentos

inúteis, bem como para reparar de maneira pacífica os relacionamentos desgastados ou

deteriorados.

A difusão de conceitos como responsabilidade social e voluntariado nas escolas

trouxeram experiências pioneiras para adolescentes integrando-os com a comunidade

consigo. A implantação de programas de mediação nas escolas irá contemplar jovens e

educadores com as possibilidades de diálogo mais conscientes.

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Espero com esta obra, semear a mediação escolar não como mais uma técnica da

moda, mas sim como um processo de aprendizagem dirigido a tratar conflitos de maneira

pacífica onde nossas crianças e jovens aprendam que a escuta, o respeito mútuo, a

tolerância, a cooperação e o diálogo são aspectos naturais das relações entre pessoas que

convivem em sociedade.

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SOMOS SERES EM RELAÇÃO

Pessoas e grupos sociais se relacionam através da comunicação. A partir da

revolução cibernética a linguagem deixa de ser tão somente um sistema semântico e

sintáxico passando a fazer parte do rol de comportamentos humanos. Linguagem é ação e

como tal dá ênfase emocional ao conteúdo da conversação, aproxima ou afasta pessoas.

A criança ao aprender sua língua materna está aprendendo uma forma de vida

começando a fazer parte de um sistema de práticas compartilhadas. A aprendizagem ocorre

através do diálogo permitindo que o conhecimento seja assimilado de acordo com a

estrutura e visão de mundo do aprendiz. Em outras palavras, o conhecimento adquirido no

espaço social da escola favorece a reflexão e a cooperação, facilita a mudança e o

crescimento. A educação por sua vez, se constitui em um processo dialógico contínuo

baseado nas experiências primárias onde família, escola e comunidade são os agentes

externos que auxiliam na organização dos pensamentos, das emoções, dos processos

intelectuais a partir da experiência imediata. Para que os alunos se sintam confortáveis no

espaço da escola, o professor ao ser receptivo permite que o aluno se aproxime para que

juntos criem e recriem uma caminhada formadora baseada na solidariedade e no respeito

mútuo.

A comunicação oral e corporal amplia as fronteiras pessoais, permite a expressão, o

aprendizado e a socialização. A linguagem enquanto processo interativo constrói espaços

compartilhados de pessoas em relação que, para Maturana, tem uma função criadora, não

enquanto filosofia, mas como uma forma existencial e biológica, uma condição do ser

humano.

Para Wittgenstein o aprendizado da linguagem se dá a partir dos jogos de

linguagem que permitem o desenvolvimento da habilidade de comunicação em um

contexto estruturado. Os jogos de linguagem formam os significados que vão além de sua

referência prévia, uma vez que são destituídos de essências absolutas. A atividade social é

que imprime um significado às palavras. Para conhecer a linguagem é preciso desenvolver

a capacidade de penetrar em várias redes de convenções que formam a base da

intersubjetividade e comunicação significativa e participativa entre pessoas.

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Viver em relação implica na construção de um conhecimento de nós

mesmos e do mundo circundante a partir de atividades sociais nas quais se criam e recriam

diferentes categorias da experiência como o verdadeiro ou o falso, o real ou o irreal, o

certo ou o errado, o subjetivo ou o objetivo, a vivência e a explicação e assim por diante. O

cotidiano relacional é construído a partir da percepção EU-OUTRO, flui na emoção e na

linguagem, torna possíveis os encontros entre pessoas se constrói visões de ser, pertencer

e relacionar.. Também interferem nas relações sociais as mudanças de significado

ocorridas no contexto, como mudanças do perfil demográfico, a competitividade social e a

diversidade de modelos de família, mudanças que desafiam, a cada instante, crenças,

comportamentos, moral e sentimentos os quais, embora apareçam como que

desvinculados de uma época histórica estão profundamente enraizados nos mitos e crenças

sociais e familiares.

A concepção circular dos fenômenos sociais, a visão de seres humanos enquanto

sistemas estruturalmente determinados pressupõe que o humano se constitui no

entrelaçamento do racional com o emocional e espiritual e expressa-se no fazer humano.

Compreendendo melhor os significados compartilhados pelos jovens, a dinâmica do

discurso, bem como as emoções a ele subjacentes, instrumentos de cunho artesanal que

incluem o brincar ( onde as regras emergem a cada momento), o jogar ( onde as regras são

pré-estabelecidas) e o aprender (assimilação e acomodação de conteúdos) onde se inclui a

participação de educandos e educadores, privilegia o auto-conhecimento e o diálogo.

Se através da comunicação nos aproximamos uns dos outros também é pela

comunicação que nos afastamos. A partir de um afastamento, cria-se um espaço fértil para a

divergência e para o conflito. Professor e alunos compartilham a sala de aula enquanto

espaço social de aprendizagem e interação. É parte do mundo existencial de relações de

cada um. As divergências que surgem em sala de aula entre professor e aluno ou entre

alunos são freqüentes e, na maioria das vezes, o professor não é bem sucedido na sua

tentativa de resolver a questão. Assim, ao invés de incentivar o diálogo, incentiva-se a

discussão, uma segunda forma de discurso. Na discussão a questão pode ser analisada e

dissecada pelos participantes, mas a regra do jogo é vencer e, nesse caso, a idéia ou visão

de um dos participantes irá prevalecer e será aceita pelo grupo. Em contrapartida, no

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diálogo os participantes exploram a questão para chegar a resultados comuns que vão além

de suas visões individuais.

Dialogar é explorar, participar e aceitar as incoerências de nosso pensamento.

Enquanto a discussão busca um acordo ou uma conclusão, o diálogo busca uma

compreensão maior da questão ou uma síntese. No âmbito da pragmática da comunicação

humana, tanto o diálogo quanto a discussão co-existem e são necessários para tomada de

decisões e para se chegar a um consenso. Também fazem parte do processo de

comunicação a indagação e reflexão. Na indagação estamos em interação direta com outras

pessoas para esclarecer dúvidas, buscar informações adicionais, ou seja, fazer perguntas

para aumentar nosso conhecimento sobre a questão. Refletir significa desacelerar nossos

pensamentos, evitar “castelos de areia” e concentrar-se na questão. Quando um grupo é

convidado a tomar uma decisão ou analisar uma questão importante, é preciso haver

discussão, porém pautada na reflexão e não na emoção. Ponderam-se visões alternativas

que levam à convergência e à ação. Quando o grupo é convidado a desenvolver um projeto,

resolver um impasse, os diálogos são adequados para uma compreensão mais ampla do

assunto. Não se busca um acordo ou conclusão, mas a transformação pela reflexão de

maneira que novas ações surgem como conseqüência.

Os resultados de uma pesquisa realizada com alunos regulares de um curso

profissionalizante (rapazes e moças) mostraram que os jovens estão muito preocupados

com o macro-contexto social e conversam em grupos a respeito o que facilita a educação

para a cidadania, já que compartilham as preocupações dos familiares e educadores no que

se refere às condições sócio-econômicas atuais. Assim sendo, torna-se possível

implementar nas escolas programas que permitam a esses jovens desenvolverem redes de

conversações e reflexão para minimizar e prevenir os conflitos escolares. A partir de uma

nova consciência social, menos dogmática, a resolução de controvérsias e conflitos se dará

a partir de idéias orientadoras de senso coletivo enfatizando a noção de que todos são

responsáveis pela sua comunidade contemplando o auto-respeito e a integração que

minimiza situações conflitantes já que somos como somos em congruência com nosso meio

e que nosso meio é como é em congruência conosco. ( Maturana).

Trabalhar com adolescentes tem sido uma tarefa gratificante sempre cheia de

surpresas e questionamentos. Durante o período em que preparei o material de campo para

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o doutorado e, posteriormente, ao investigar a viabilidade de se tornarem mediadores,

tenho me deparado com os desencontros havidos ao se tentar definir o jovem e o adulto

contemporâneos. Os conflitos entre gerações são alvo tanto da ciência quanto da arte

deixando marcas indeléveis em nossa memória quanto à provocação dos mais jovens, sua

irreverência, suas crenças arraigadas em um modelo político melhor, suas paixões

desenfreadas e sua falta de limites. Quantas mudanças sociais e políticas podem ser

creditadas a eles? Muitas, em muitos lugares, em épocas diferentes. Nas últimas décadas o

significado de ser jovem ou manter-se jovem vem mudando à medida que juventude vem

sendo vendida como uma espécie de mercadoria, inclusive, em prateleiras de

supermercado.

A cultura jovem é hoje praticada por pessoas de todas as idades o que vem

dificultando a identificação dos jovens a partir de um determinado padrão de consumo,

comportamento ou valorização de determinados signos como sendo um referencial ou

significado dos adolescentes de nossa sociedade. Como entender o significado social do

ser jovem associada à indecisa condição de ser adolescente?

A adolescência, classicamente definida como um estado de rebeldia, revolta,

transitoriedade, turbulência emocional, tensão, ambigüidade e inquietude podem ser

resumidas em um único conceito: necessidade de mudança. Para mudar provocam o caos

em suas próprias vidas e nas vidas de quem com eles convive. Aos poucos, reorganizam-se

e ingressam no mundo adulto cheios de vontade de vencer e serem bem-sucedidos através

de suas próprias escolhas. Assim, entre encontros e desencontros consigo mesmo e com o

outro, vão encontrando e desenvolvendo sua identidade a uma velocidade incrível em

virtude dos recursos tecnológicos que têm à disposição para acessar todo e qualquer tipo de

informação, tornam-se práticos-reflexivos obedecendo ao ritmo de seu tempo interior e

biológico. Muitos colocam a paciência de seus pais, professores e demais adultos

pertencentes à sua rede social à prova pois – na visão dos adultos - sempre têm uma

exigência a fazer, são vistos como mal-agradecidos, vestem-se de forma inadequada,

ostentam hábitos aborrecidos, recusam-se a comunicar-se de forma inteligível e assim por

diante. Aos próprios olhos, estão sendo totalmente naturais e adequados.

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Se professores e diretores de escola ouviram com reservas a proposta da mediação

de pares, a maioria do grupo consultado (67,4% dos entrevistados) ficou entusiasmada com

a possibilidade de aprenderem a negociar. Ter recursos mais eficientes para resolver seus

próprios problemas e questões e ainda poderem ajudar colegas em situação mais difíceis

poderia também ajuda-los nas relações com os irmãos e com os pais. Também salientaram

a importância dos professores criarem em sala de aula um clima adequado tentando

conversar mais e utilizar menos o uso coercitivo, impositivo ou repressivo de sua

autoridade e também parar de ameaçar com castigo e sanções. Segundo os alunos, os

professores que mais gostam são aqueles que mantém a disciplina da classe na base da

conversa e da participação de todos na aula.... um tipo de aula onde todos podem se expor

sem vergonha ou medo de errar.

Quanto aos professores, muitos se sentem despreparados para mudar a rotina das

aulas, pois em muitas escolas, faltam ferramentas pedagógicas e, quando as têm, faltam-

lhes técnicas eficientes para ensinar aos alunos para que sejam os protagonistas na busca

de solução aos problemas e conflitos que surgem em sala de aula. Acabam utilizando

métodos coercitivos e punitivos que não resolvem, apenas transferem o problema para o

coordenador ou para a diretoria da escola.

A mediação enquanto um processo de comunicação possibilita-nos considerar a sua

aplicação no âmbito da escola como algo mais pretensioso não redutível à mera solução dos

conflitos intra-escolares. Refiro-me aqui à necessidade da prevenção e não apenas à solução

destes.

Essa possibilidade existe à medida que entendermos ser possível implementar a

mediação não apenas como uma técnica e sim um método pedagógico, válido para todos os

atores sociais do sistema educativo: pais, alunos, docentes, diretores, administradores, etc.

Um método baseado na escuta, na aceitação, na compreensão e no respeito por todos os

membros do sistema. Este enfoque prioriza a formação participativa, o compromisso social

e o protagonismo cidadão em prol de uma educação que tenha por meta formar jovens

comprometidos com a sua realidade familiar, social, política, econômica e cultural.

A mediação compreendida como um método de ensino irá privilegiar a

comunicação interpessoal em todos os níveis, possibilitando a reflexão e o pensamento

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complexo. Sob esta ótica a mediação escolar, neste princípio de século XXI, nos permitirá

conhecer e compreender melhor o outro com vistas ao respeito e à igualdade de

possibilidades para todos os participantes do sistema educativo que dará à escola mais uma

função: a capacitação social de seus alunos e sua família e uma educação voltada para

valores e uma distribuição mais eqüitativa de poder.

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CONVERSAR

Cada um de nós participa durante toda a vida de uma trama interpessoal e cria um

modelo particular de equilíbrio no qual nos sentimos confortáveis e que constitui um

padrão de referência. Este padrão de referência é determinado pela hereditariedade e

experiência. Sempre que nos afastamos significativamente do ponto ideal de equilíbrio,

procuramos agir de maneira à retornar à situação de equilíbrio que nos é familiar.

Experiências passadas, o momento presente, pensamentos e sentimentos ativam-se

ao conversarmos com colegas, amigos e até mesmo com desconhecidos. A troca de

expressões como “Oi, como vai?”, “ Que bom te ver aqui”, “Puxa, você está resfriada de

novo, porque não vai ao médico?” “ Parabéns pelas sua redação” são comuns em nosso

cotidiano e, quase sempre, não nos damos conta de sua complexidade quanto à formação de

nossa rede de relações e a qualidade da comunicação que estabelecemos com nossos

interlocutores. Relações recíprocas proporcionam experiências prazerosas, fonte de nutrição

emocional, oportunidade de compartilhar lembranças, histórias e experiências.

Não podemos negar a presença do outro em nossas vidas e nós não podemos negar

nossa habilidade para escolher com quem queremos coexistir e compartilhar experiência.

Ambas as ações ocorrem no meio social e na dinâmica de ser com os outros.

Nas escolas, as diferentes atividades pedagógicas, lúdicas e desportivas incentivam

e despertam os interesses das crianças e jovens. Cada um deles se manifesta a partir da

ativação das expectativas sobre a probabilidade de alcançar o objetivo de forma que as

cognições e as emoções associadas evoquem um certo grau de motivação para a realização

da tarefa. Estas, ao eliciar ansiedades associadas a fracasso e/ou sucesso determinam a

ação e, conseqüentemente, a qualidade da comunicação usando expressões particulares

ligadas a valores, suposições e preferências já aprendidas anteriormente.

Em termos genéricos, pode-se considerar uma boa comunicação aquela pautada no

respeito mútuo Para se estabelecer um padrão de conversação criativo é importante saber

ouvir o que implica em respeitar tanto as próprias idéias quanto as idéias do outro,

estabelecendo-se um jogo de ganhos mútuos.

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Vejamos alguns exemplos de hábitos que desenvolvemos ao longo da vida e que

prejudicam uma comunicação completa tornando-se barreiras e bloqueando o surgimento

de novos significados. Julgar, precipitar soluções e ignorar as preocupações do interlocutor

são as barreiras mais comuns. Eis alguns exemplos:

CRITICA: “Bem, você mesmo criou esta situação, se vira”

DESQUALIFICAÇÃO: “Você é estúpido mesmo”

DIAGNÓSTICO: “Você só está dizendo isto porque se sente culpado.”

Estas respostas são julgamentos que fazem prevalecer o ponto de vista de um dos

interlocutores. O outro, vai se sentir incompreendido, inseguro podendo reagir de maneira

defensiva ou auto-protetora..

ORDENAR: "Faça sua tarefa agora.”

AMEAÇA: "Vou mandá-la falar com a Diretora."

LIÇÃO DE MORAL: "Você deveria pedir desulpas."

VERBORRAGIA: “Quando aconteceu? Como foi? Onde foi? Você está arrependido?"

CONSELHO: "No seu lugar, eu iria…" Cada uma das tentativas acima dá indícios de que um dos interlocutores quer resolver o

problema do outro. São formas de manipulação e coerção. Mesmo que intenção seja boa, a

solução oferecida denota uma superficialidade, pouca importância ao fato ou problema.

Este tipo de respostas ao invés de resolver, aumenta a questão e perpetuam ao conflito ou

criam um novo conflito ao mesmo que tempo que desqualificam o outro podendo provocar

ansiedade ou ressentimento.

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DIVERTIR-SE "Se você acha que o que fez é grave, deixe-me contar o que aconteceu comigo."

ARGUMENTAÇÃO LÓGICA: "Se você largou as chaves no carro, é óbvio que seria roubado ."

CONFIRMAÇÃO: "Você sabe como lidar com o problema. Você sai dessa."

Estes três exemplos evitam que a pessoa expresse sua real preocupação e permite

que os interlocutores mantenham uma distância emocional no sentido de evitar tópicos

desconfortáveis. Tais respostas são confortáveis para aquele que se protege do contato

emocional, mas não oferecem qualquer tipo de apoio ao outro.

Mesmo sendo consideradas barreiras para uma boa comunicação, o impacto das

expressões acima não é obrigatoriamente negativo, pois irá depender das pessoas, do

espaço social e do momento que ocorrem. Porém, cabe ressaltar que havendo atrito,

hostilidade e stress, estes desencadeiam respostas desagradáveis dando origem a uma

controvérsia e até mesmo a uma disputa.

Qualquer pessoa ao se sentir ameaçada ou acuada terá mais dificuldade em se

expressar pelo diálogo ou ser compreensivo diante de uma situação. Ao invés de promover

a expressão de pensamentos e sentimentos verdadeiros, criam bloqueios que irão dificultar

a troca efetiva de informações. A rede de conversação que se cria estará baseada em

posições defensivas a partir do ressentimento, da auto-estima rebaixada que pode

desencadear o conformismo e a aceitação – característico da discussão como vimos acima.

– o que inibe as habilidades de solução de problemas. Estima-se que 90% das pessoas se

utilizam os recursos exemplificados quando conversam sobre um problema ou uma

necessidade.

O espaço social das relações pessoais no qual vivemos é muito importante na

formação de nossa identidade, evolui com cada um de nós ao longo de nossa vida.

Frustrações, pressões externas como mudanças em nossa rede social são fatores que podem

levar ao desequilíbrio, reações inesperadas e até mesmo a um desajustamento emocional.

A fonte mais comum de frustração pode ser a dificuldade ou o impedimento da satisfação

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de um motivo. Estas barreiras podem ser situacionais, interpessoais e intrapessoais. As

barreiras intrapessoais1 podem levar a reações psicológicas que se manifestam por meio de

raiva e agressão, medo ou ansiedade, ou fuga da situação geradora de frustração. Porém,

estas reações não levam à solução da frustração e sim criam as distorções cognitivas ou

mecanismos de defesa.

A complexidade das relações humanas e as limitações individuais mostram que 1)

para que a percepção2 seja ativada é necessário levar em conta que as reações individuais

diferem diante de uma mesma situação provocando reações diversas que são influenciadas

pelas experiências passadas de cada um e 2) o fenômeno de vigilância e defesa3 ligados a

bloqueios e dificuldades pessoais geram ansiedade, tensão e angústia que podem

comprometer o diálogo.

1 interpessoais: fatores que não pertencem à pessoa que percebe e intrapessoais: fatores que pertencem à pessoa que percebe 2 percepção: processo psicológico em que a pessoa aprende a realidade exterior a si própria. Envolve pensamento e memória e sofre as limitações dos órgãos sensoriais além de outras limitações pessoais. e ambientais. 3 fenômenos psicológicos que influenciam a percepção de estímulos geradores de angústia, ansiedade e tensões.

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PROTEGER

A proteção dos pais inclui proteção de doença, dano, transtorno emocional e

responsabilidades sociais. Ameaças comuns à vida podem provocar (a) medo, a resposta

emocional para a ameaça de dano físico, doença desastre econômico ou rejeição social e (b)

tristeza, sentido de perda ou privação de algo tangível como bens materiais, ou de algo

intangível como o afeto de outra pessoa. A intensidade desses sentimentos ativa o sistema

afetivo da criança ou do jovem na procura de proteção contra ameaça. A procura por

proteção nos pais cria, no decorrer da infância e adolescência vínculos de afetivos para os

quais os pais – figuras de apego - formam as bases para a integração da criança em seus

relacionamentos futuros. Também é crucial na formação da criança como elas arcam com a

angústia do meio em que vivem quando separados dos pais. Em outras palavras o

significado dado à qualidade dos afetos vividos nas relações com os pais será replicado

primeiramente na escola e posteriormente em outros contextos da sociedade.

Proteger a criança é dever da família, da escola e toda a comunidade. Crianças e

jovens vivendo em regiões de alto risco (seqüestro, roubo, assaltos e outras formas de

violência à pessoa) são submetidos à crescente vigilância dos pais criando esquemas de

superproteção e provocando tensão, ansiedade e reações agressivas por parte das crianças e

jovens. A função básica da família é ser um espaço seguro para o desenvolvimento afetivo,

social e biológico de seus filhos.

Famílias saudáveis que vivem em ambientes inseguros enfatizam a necessidade de

segurança, acidentes, desemprego e muitas outras ameaças sociais alteram o

funcionamento da família mobilizada pelo medo. O controle excessivo, porém, coloca em

risco a confiança na proteção que os filhos sentem. Em alguns casos, jovens continuam

sendo tratados como crianças incapazes e, em outros, crianças de pré-escola são

sobrecarregadas com regras de proteção de risco que não conseguem compreender. Ambos

os casos comprometem a habilidade de adaptação ao ambiente. A maneira como os pais

apóiam socialmente seus filhos influencia o desenvolvimento de suas habilidades para se

defender diante de riscos e perigos.

Os pais e outros adultos podem tender a ser pró-ativos ou reativos diante dos riscos.

Pais predominantemente pró-ativos previnem seus filhos antecipando situação de perigo

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antes que elas aconteçam. Comportamentos pró-ativos são importantes para o

desenvolvimento, porém, muitas vezes, a vigilância é estendida para assuntos que vão além

das questões de segurança fazendo com que pais invadam a privacidade dos filhos em

qualquer situação. Por outro lado, atitudes reativas que atendem um pedido da criança ou

do jovem envolvem a habilidade dos pais de se colocarem no lugar de seus filhos e

perceber o perigo ou a dúvida sob a ótica destes. Em ambientes mais seguros, as respostas

reativas às necessidades dos filhos são vistas como bastante razoáveis, mas se as ameaças

externas são grandes, o comportamento pró-ativo é mais interessante e eficaz.

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HOSTILIZAR

Poucos são os jovens que se sentem compreendidos pelos pais, ou melhor, pelos

adultos em geral. Discussões e disputas são inevitáveis, pois crianças, jovens e adultos têm

visões diferentes de mundo.

As coisas podem ser semelhantes ou diferentes e ambos são abstrações apoiadas

por significados consolidados, revisados ou abandonados de acordo com as experiências da

vida. A experiência está apoiada na replicações de eventos nos quais a linguagem tem um

papel importante e pessoas se comunicam muitas vezes só pela emoção. Assim, quando

adultos interagem com os jovens e interpretam a raiva como sendo petulância ou reação a

um ressentimento infantil, os jovens ao interpretar a reação dos pais como abandono,

reagem e o ciclo do conflito se estabelece pela escassez ou ausência do diálogo.

Jovens habitantes das selvas de concreto das principais metrópoles do mundo são

produtos da falta de tempo, da falta de habilidade e paciência dos pais que juntamente com

a pobreza, abuso, racismo, droga e faltas de moradia ingredientes que não faltam na

violência urbana. Para estas famílias e estes jovens, violência é um modo de vida em que a

lei é matar ou morrer, conquistar ou ser conquistado.

Os filhos também se sentem responsáveis ou se culpam quando o conflito entre os

pais é intenso. Elas se sentem ameaçadas temendo pela sua própria segurança, pela

segurança de um dos seus pais. A expectativa sobre o futuro tende a ter significados hostis

e difíceis, podendo, assim, restringir o desenvolvimento de relações positivas com seu

grupo de pares.

Em uma sociedade economicamente instável, muitos jovens têm um despertar

prematuro para a vida adulta provocado pela falta dos insumos básicos para a sobrevivência

da família. São jovens que saem trabalhar durante o dia, estudam à noite sendo a frustração,

aborrecimento, irritabilidade associados à desilusão e ao descontentamento. Aprendem que

a vida é dura, mas não para todos. Sentem-se injustiçados e abandonados. Ficam com raiva

e acreditam que “o inferno são os outros.”

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SOCIALIZAR

Em algum nível as pessoas dependem umas das outras. Dependemos dos outros para

satisfazer nossas necessidades, e um dilema crucial surge quando percebemos que um

resultado positivo depende da presença dos outros. O valor do “nós” é desconhecido

durante o período da adolescência quando os jovens sentem-se prisioneiros das opiniões e

sugestões dos pais. O “nós” é rejeitado pois os jovens lutam para mostrar como são

independentes e capazes porque a idéia de metas interdependentes, orientadas por adultos

não é compatível com a visão de mundo deles. Eles se comportam, usando respostas pré-

reflexivas manifestas pelo silêncio ou por posturas agressivas do tipo “tudo ou nada”.

A agressão pode ser relacionada à competição. Lorenz argumentou que os humanos

são programados para se ocupar dessa forma de competição. Como pais nós enfatizamos

uma variedade de mecanismos sociais como jogos, esportes, estratificação social e

declarações de que ganhar é importante... Reforçamos a competitividade. Porém, se a

competição vai além do que é saudável (para excitação intelectual e crescimento) e de

diversão (recreação), a bem-orquestrada relação entre o jovem, seus pares e adultos entra

em um campo de batalhas e disputas.

O jovem procura sua própria voz que é parte integrante de sua identidade.

Preocupo-me com o modo como nós expressamos nossos sentimentos e pensamentos em

conversações com crianças e jovens, pois o como nos comunicamos irá integrar o processo

de construção da identidade onde o “eu-cognitivo” gera decisões, significados, avaliações

e sucessões temporais que descrevem nossas competências, preferências e valores. O “eu-

corpo” é a casa dos sentimentos e das emoções e o “eu-relacional” alimenta e conecta os

outros dois. Desta forma, excesso de argumentos baseados na crítica, na desvalorização, e

em acusações podem desdobrar-se em guerras completas e fecham todos os canais de

comunicação mantendo uma coerência interna alicerçada em distorções e incongruências

no binômio pensamento-emoção.

Normalmente um conflito tem um assunto principal e vários secundários.

Metaforicamente pode-se vê-lo como sendo um cometa se aproximando: seu corpo é o

assunto principal, e o rabo, todos os assuntos tácitos envolvidos. Na vida doméstica e na

escola, assuntos como fazer tarefas e apresentações para os colegas, limpar o quarto, lavar a

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louça, usar ou não o carro dos pais, são assuntos que levam às reações de “tudo ou nada”

por parte das crianças e jovens e “ganhar ou ganhar” por parte dos adultos. Nesta arena,

questões objetivas tendem a ficar pessoais porque as pessoas envolvidas interpretam metas

que são relacionadas a necessidades, significados e motivações subjetivas criando

verdadeiras torres de babel,o inverso do exemplo abaixo:

Filha: Pai, estas conversas são sérias?

Pai: Claro que são.

Filha: Não são uma espécie de jogo que tu jogas comigo?

Pai: De maneira nenhuma....são uma espécie de jogo que

jogamos juntos.

Filha: Então não são sérias!

Pai: Não me queres dizer o que entedes pelas palavras sérias

e jogo?

........................................

fonte: Metadiálogos de G. Bateson,1972

O senso de identidade desdobra-se pela atividade reflexiva que se inicia ao redor

dos 14-15 anos. Cada pessoa influencia e é influenciada por outra pessoa em interações

sociais. Embora haja semelhanças formais importantes entre a organização da identidade e

a sociedade, há evidências de que quando as pessoas refletem sobre si mesmas, suas

características pessoais, domínios de competência, valores morais, e metas, são envolvidos

tanto aspectos pessoais (subjetivos e estruturais) quanto a preocupação de como as outras

pessoas irão reagir e interpretar a escolha pessoal.

O aprendizado acontece na arena das interações sociais, e aprender desperta uma

variedade de processos que ocorrem em dois níveis de interação dinâmica: o domínio

externo que contém as fontes de informação, ajuda, recursos, e modelos; e o domínio

interno que contém o progresso pessoal em todos os níveis do eu. Aprendizagem e

desenvolvimento se dão a partir de uma tensão entre dialéticas de uma fase atual

consolidada e um potencial, fase futura de desenvolvimento. Cada movimento de mudança

ou transformação implica numa fase de preparação e outra de consolidação.

23

O propósito primário da linguagem é a comunicação e expressão de pensamentos e

desejos e aprender uma língua consiste em aprender a compartilhar certas atitudes em

relação às coisas ao nosso redor, desenvolver um senso de relevância, um senso de

coerência para tornar a comunicação possível. Trata-se de um processo circular como

vimos no exemplo acima para explicar ou descrever a imagem de mundo em determinado

momento Um certo grau de regularidade no uso de tais conceitos e as regras gramaticais

(sintaxe e semântica) estabelecem certas práticas lingüísticas relacionadas a formas de vida.

A essência da linguagem humana é dar significados ou explicações para o mundo. Os jogos

de linguagem são compostos de reações primárias que formam os protótipos de modos de

pensar que formam um sistema completo de comunicação humana. Uma vez que um

simples jogo é aprendido, a aquisição de novos depende daqueles já incorporados. As

habilidades sociais vão sendo armazenadas na estrutura cognitiva por acomodação criando

famílias de semelhança responsáveis pelo repertório de possibilidades, referências e atos

intencionais além do entendimento das diferenças entre possibilidades e ação.

Nas atividades da escola criam-se inúmeras situações de “prontidão-para-ação” para

responder a uma situação (real ou imaginária) Quando nos deparamos com uma situação

inesperada é que nos damos conta de nossas habilidades para enveredar por um atalho

apropriado para fazer a transição e retornar à estrada principal. Os desarranjos da vida

cotidiana e nossa habilidade em rearranjá-los contribuem para a autonomia e cooperação.

Como um ser humano aprende o significado dos nomes de

sensações? – da palavra dor, por exemplo. Aqui há uma possibilidade:

palavras estão conectadas com o primitivo, o natural, expressões das

sensações e usadas em seu lugar.

Uma criança se machuca e chora; então os adultos falam com

ela: doeu? Os adultos estão ensinando à criança um significado para a

dor. Assim será que você está dizendo que a palavra dor realmente

significa chorar? Ao contrário: a expressão verbal de dor substitui

chorar e não a descreve.

Wittgenstein, 1945

24

O ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA

As escolas estão inseridas nos sistema educativo de uma sociedade e, em seu

sentido mais amplo, respondem às necessidades oriundas da realidade social de sua

comunidade e contribuem para o desenvolvimento pleno da personalidade dos alunos

incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autônomos e solidários para o

progresso social e participação democrática na vida em sociedade.

Ser cidadão e ser livre implica em respeitar o outro e suas idéias, estar aberto ao

diálogo e à troca de opiniões.

Porém, o nosso cotidiano (na escola e fora dela) tem sido muito diferente.

Diariamente somos torpedeados por um número crescente de situações de desrespeito,

intolerância, agressão e vandalismo, algumas de extrema violência, exercidas

indiscriminadamente, sobre homens, mulheres, crianças, velhos, minorias étnicas, animais e

bens públicos, ou privados. Estes atos, muitas vezes, protagonizados por adolescentes e

mesmo por crianças em idade escolar, conduziram à necessidade de repensar o papel da

Escola, no contexto atual.

Embora a escola não seja o único meio formativo, desempenha um papel relevante

no processo educativo, uma vez que assegura o prolongamento da estrutura familiar na

formação dos papéis sociais dos alunos.

Falar de mediação nas escolas brasileiras é falar de uma nova cultura que implica na

mudança de alguns aspectos da cultura atual. A mediação, embora antiga como a

humanidade, foi relegada ao ostracismo pela mesma sociedade que entregou de maneira

incondicional à autoridade do Estado os mecanismos de solução de conflitos. Será

indispensável fazer avançar simultaneamente um processo educativo para que a sociedade

compreenda e possa avaliar as novas ferramentas que ajudarão a todos a atingir a paz social

a partir de mecanismos que vejam os conflitos como oportunidades de crescimento.

25

As escolas contemporâneas vêm sendo cada vez mais solicitadas a ter

responsabilidade ativa na educação para a vida. Pode-se dizer que elas passam a assumir

um papel mais complexo no que se refere à solução de conflitos. Ao invés de atuarem

como interventores de conflito na definição clássica do binômio vigiar e punir, passam a

atuar como supervisores de soluções permitindo a construção de uma nova estrutura como a

mediação escolar que irá se preocupar em mostrar as vantagens da cooperação e da

responsabilidade mútua, do trabalho voluntário fornecendo, ao mesmo tempo, proteção

contra a tendência dos alunos de querer encontrar alguém que os proteja ou alguém mais

poderoso para resolver o problema por eles.

Depois da família, a escola constitui o primeiro espaço de socialização de crianças e

de jovens sendo responsável pela transição do espaço privado e íntimo da família para o

espaço público na qual os alunos têm acesso às primeiras experiências de formação,

aprendizagem e encontro com os demais atores sociais. Na escola se ensina e se aprende o

exercício da cidadania para poder conviver em um projeto democrático de sociedade. Neste

sentido, a escola torna-se o epicentro de experiências entre pares e grupos e de aprendizado

sendo, ao mesmo tempo, cenário e palco das relações que se estabelecem entre alunos,

professores, administradores e pais.

Pesquisas realizadas em escolas da península Ibérica e alguns países da América do

Sul têm detectado um aumento considerável nas situações de agressão e violência entre

crianças do primeiro período escolar um fenômeno que, muitas vezes, não é percebido

pelos professores. Estas investigações também confirmam que, ao atingirem um nível

extremo de gravidade, os problemas são tratados, na maioria das vezes, com medidas de

caráter punitivo pouco eficazes.

A punição do aluno, o uso do poder por parte do corpo docente e dos diretores da

escola atinge, na maioria das vezes, somente a ponta de um iceberg e não resolvem o

problema. A criança e o jovem espelham na escola comportamentos aprendidos em casa.

Além disso, muitos estudantes agem de modo agressivo como efeito de conflitos familiares,

ou ainda, muitos pais estimulam os filhos a reagir com agressividade em resposta aos atos

26

provocativos dos colegas. A dificuldade em dar solução aos conflitos é motivada: pelas

características dos instrumentos vigentes para solucioná-los e a forma de administra-los. Ao

invés da solução, ocorre uma ruptura da aliança entre o aluno e a escola.

Infelizmente, a maioria das escolas ainda oferece um sistema de transmissão de

conhecimentos calcado em práticas tediosas que desprezam as diferenças entre os alunos o

que tem colaborado muito para que a educação para a cidadania se esvazie ou se resuma a

umas poucas atividades tornando-se um discurso inconseqüente, porém presente nos planos

pedagógicos. Inúmeras são as micro penalidades aplicadas aos alunos. O envolvimento dos

educadores na educação dos jovens freqüentemente se resume à mera repetição de fatos ou

procedimentos, desprezando o potencial reflexivo e a curiosidade do jovem em explorar

novos campos.

Falta comunicação. As crianças e os jovens cada vez mais cedo estão voltados para

si mesmas. Como aprender a tratar de seus semelhantes se as estruturas familiares e as

instituições religiosas se fragmentaram a tal ponto que muitas precisam buscar padrões

externos que lhes ensinem como agir. Faltam-lhes modelos, exemplos que ensinem a tratar

pessoas dentro de um contexto democrático, sustentável, justo e participativo.

É reconhecida a necessidade de intervenções mais precoces, na prevenção e na

solução de problemas geradores de conflitos entre alunos e que freqüentemente conduzem a

situações de agressão e de violência verbal e/ou física.

Em seu senso mais lato, conflitar tem o significado de estar em oposição a alguma

coisa ou pessoa. Socialmente, qualquer atitude aversiva para com oura pessoa, seja por

palavras ou ações é considerada um conflito.

ESPECTRO DO CONFLITO

PAZ GUERRA

Hostilidade violência física

0 100

27

Os fatores que geram e mantêm um conflito, na esfera das relações humanas, de

acordo com o espectro acima, são:

1. seu raio de ação está entre a atitude violenta impulsiva

(randômica) e a violência planejada, organizada. Quanto

mais intenso o conflito, os atos violentos são planejados

estrategicamente, como no caso de guerras.

2. quanto à ação, oscila entre a hostilidade não verbalizada à

violência física. A hostilidade internalizada e não expressa

provoca conflitos mais sutis, mais difíceis de serem abordados

em virtude dos conteúdos subjetivos subjacentes.

3. quanto à identificação com o agressor oscila entre uma

identificação difusa, agressores inespecíficos à um grupo

definido de agressores como podemos ver gangues rivais.

4. quanto ao nível de stress pessoal e do contexto. Quanto mais

adverso for o contexto maior sra o nível de stress da

comunidade que, conseqüentemente se irradia através de

conflitos.

Um dos processos de intervenção precoce em conflitos escolares consiste em ajudar

as crianças e jovens a gerenciar suas diferenças de forma eficaz, extraindo de cada situação

o que ela tem de positivo para obter respostas mais criativas.

Em resposta ao crescimento da violência e delinqüência juvenil bem como ao

aumento dos divórcios e das crises familiares surgem no cenário global (México, Colômbia,

Uruguai, Argentina, USA, Portugal, Espanha, Alemanha entre outros) os programas para

implantação e implementação da mediação escolar. Esses programas visam administrar

disputas entre grupos no ambiente escolar, incluir habilidades de comunicação e resolução

de problemas no currículo da escola para se tornar, em um segundo momento, um programa

preventivo voltado à criação de normas pacíficas de interação social na cultura da escola.

Brigas, agressões físicas e violência passam a ser formas inaceitáveis de resolver conflitos.

28

Solução significa resultado, além de condição e recursos encontrados pelas pessoas

depois que um conflito, disputa, desentendimento é esclarecido e posto de lado. Educadores

e pais ao buscarem soluções estarão preocupados com justiça e cooperação e não punição

ou retaliação. Assim, a solução exige passar do conflito para uma ação de cooperação,

respeito pelos interesses de todos, empenho em relacionamentos duradouros que dêem

sustentabilidade à sociedade a partir de uma visão de futuro que evite recriminações,

retaliações, castigos e danos. Querer encontrar uma solução viável e duradoura é querer

aprender e ter coragem para mudar, mesmo sabendo que conflitos e rupturas são inevitáveis

em nossas vidas.

Diferenças e conflitos não desaparecerão de nossas vidas... Fazem parte da

aprendizagem social e da vida.

29

A MEDIAÇÃO E O MEDIADOR

Mediação palavra que vem do latim mediatione, interveniência, intermediação, é

um dos meios voluntários de solução de conflitos, por intermédio do qual duas ou mais

pessoas buscam obter uma solução consensual que possibilite preserva o relacionamento

entre elas.

No final da década de 80, a mediação surge no cenário brasileiro como uma

ferramenta nova, baseada na aplicação de conhecimentos oriundos da sociologia, do direito,

da psicologia, para se tornar uma prática voltada à solução de conflitos na esfera privada.

Trata-se, portanto, de uma prática interdisciplinar que visa, principalmente, a

construção de um espaço entre pessoas em conflito que permita perceber e reconhecer as

diferenças, discutir as divergências, negociar convergências possíveis, criar vínculos,

transformar possibilidades a partir do diálogo onde os participantes reconhecem a si

mesmos e reconhecem a perspectiva do outro como protagonistas de experiências e

comportamentos. Apropriando-se de seu próprio poder de pessoas –empoderamento --

pertencentes a um grupo social criam possibilidades para a retomada do crescimento e

desenvolvimento das relações estagnadas pelo conflito.

Ao atuar, o mediador tem como ponto central para o seu trabalho de facilitação,

pessoas cuja comunicação, por motivos diversos, se deteriorou. Em um contexto

controverso, as diferenças, ao invés de levar a um entendimento, levam a desencontros e

discussões que dificultam ou impossibilitam uma negociação razoável da questão..

Apesar da globalização estar tomando conta de inúmeros espaços em nossas vidas,

permanecem diferenças culturais importantes entre as sociedades contemporâneas. No

contexto mais amplo da mediação é importante avaliar as diferenças sócio-culturais das

pessoas participantes do processo pois elas se constituem e são constituídas pelo sistema de

crenças compartilhado que engloba, entre outras particularidades, a) a visão de mundo, b) a

30

ontologia da realidade ou crenças sobre a natureza do mundo e causalidade, c) a

epistemologia tácita ou teorias de conhecimento que formam seu arcabouço intelectual e d)

a estruturação dos processos cognitivos e emocionais que constituem o seu potencial

humano.

A mediação, por ser baseada num acordo de vontades e transcender a solução do

conflito tem como fio condutor transformar um contexto adversarial em colaborativo.

Seguindo alguns princípios básicos que a norteiam enquanto processo.

PRINCÍPIOS NORTEADORES

• Caráter voluntário: respeita o princípio da autonomia da vontade das partes;

• Diligência dos procedimentos: assegurar a qualidade do processo e cuidar

ativamente de todos seus princípios norteadores incluindo boa fé e lealdade

das práticas aplicadas;

• Flexibilidade: tanto na linguagem como nos procedimentos de modo que

atenda às necessidades tanto do contexto quanto das pessoas envolvidas no

processo;

• Segurança e sigilo: os fatos, as experiências compartilhadas, as

possibilidades para a solução do conflito e as escolhas que ocorrem durante

a mediação são sigilosos e privilegiados sempre respeitando o princípio da

autonomia da vontade das partes nos termos por ela convencionados.

Como a mediação atua em processos de alto nível de complexidade (processos de

tomada de decisão, resolução de problemas e autonomia) que são operações mentais

representadas na consciência de cada pessoa, portanto, experiências subjetivas de caráter

reflexivo cujos significados podem referir-se a conteúdos diversos, consoante as outras

pessoas, às circunstâncias e ao contexto. Tanto a introspecção quanto a reflexão criam os

significados utilizados nos processos de tomada de decisão e resolução de problemas. Estes

significados são verbalmente codificados, porém, considerando seu caráter retrospectivo,

deixa a experiência consciente vulnerável a omissões, racionalizações e interpretações do

31

sujeito que descreve, então o que julga ter feito ou ouvido é expresso pela linguagem e

dimensionado de acordo com as experiências autobiográficas e narrativas.

Assim sendo, o processamento da informação se dá a partir de processos cognitivos

que são semelhantes a todos os seres humanos. A plasticidade dos processos cognitivos

torna-os maleáveis e particulares a cada pessoa em determinado grupo social havendo

também, variações de acordo com as diferenças culturais que incluem visão de mundo,

hábitos, sistemas de pensamento e padrões de comunicação.

A metafísica cultural estrutura e orienta o modus vivendi e modus operandi dos

atores sociais. Tanto a organização social quanto as práticas sociais influenciam o

desenvolvimento e o uso de processos cognitivos que podem ter características dialéticas

ou lógicas. Ao estudar as diferentes escolas filosóficas clássicas, observar a atuação de

colegas com profissões de origem diversas a atuando como mediadores verifiquei que

duas grandes correntes de pensamento estruturam e organizam as sociedades,

diferenciando-as tanto na organização social quanto na estrutura cognitiva de seus membros

o que nos leva a acreditar na existência de uma correlação entre fatores sociais, cognição e

expressão afetiva.

� Escola holística ou Oriental cujo pensamento é

predominantemente dialético e a compreensão do

comportamento é fenomenológica e

� Escola Grega ou Ocidental que privilegia o raciocínio lógico

formal, analítico e a necessidade de categorização e regras

para compreensão do comportamento humano.

Por caminhos diferentes, ambas as escolas têm investigado a formação e o

desenvolvimento do pensamento humano, das emoções e da espiritualidade.

As sociedades holísticas – como as de filosofia taoísta e confucionista – enfatizam

a importância da vida em comunidade, isto é, o indivíduo é parte de uma rede social e o

comportamento individual é guiado pela expectativa do grupo. A harmonia do grupo é

valorizada para que as expectativas e os deveres para com todos sejam atendidas. Assim,

confrontações, debates e a linguagem adversarial ficam desencorajadas. Embora os

chineses tenham sido autores de descobertas importantes como sistemas de irrigação, a

32

cartografia quantitativa e técnicas de imunização estas não repousam em uma teoria

científica de investigação, mas sim como o resultado de reflexões práticas em estreita

relação com os movimentos da natureza e nas relações circulares de causa e efeito. O

confucionismo defende que conhecimento e sistemas de pensamento pressupõe uma ação

ou comportamento como conseqüência esperada e natural. A filosofia chinesa prioriza a

intuição e a observação empírica para a construção de seus sistemas de saber. Prevalece

uma visão holística do ser e do existir, não se fazendo distinção entre natureza, humano e

espiritualidade. Em resumo, em sociedades de pensamento holístico

a) a visão do contexto é sempre o todo;

b) a observação dos fenômenos leva sempre em consideração o objeto e o seu

campo ou a figura e o fundo;

c) explica e prevê eventos com base nas relações figura/fundo ou causa e efeito

sempre numa fenomenologia circular.

O conhecimento é, portanto, adquirido a partir da experiência dentro de uma

dialética que enfatiza os processos de mudança, o reconhecimento da contradição e da

necessidade de múltiplas perspectivas que possibilite encontrar o caminho do meio entre

proposições paradoxais.

Uma sociedade organizada sob a égide da dialética

desencoraja a confrontação e o debate e coloca aquele se

envolve em uma ação contra outro em situação difícil

perante a comunidade.

A característica mais marcante presente em todos os períodos que compõem a

escola Grega consiste no exercício do poder individual transmitido pela linhagem

masculina e preocupado em perpetuar o culto da tribo, da família ou da fratria. Pessoas,

envolvidas socialmente, desenvolvem uma prática social baseada na individualidade e,

embora acreditassem na influência dos deuses em suas vidas, o agir humano era baseado

no princípio da arrogância onde cada cidadão desenvolvia suas capacidades vivendo de

acordo com estas escolhas, porém, sempre em consonância com a leis criadas por um

conselho de cidadãos que poderiam, a qualquer momento, ser submetidas ao debate e

33

alteradas mediante uma argumentação coerente. A sociedade foi se constituindo a partir de

pequenos grupos funcionais que foram se integrando a outros até formarem a cidade.

Observa-se que na formação de um espaço social mais amplo, nenhum dos grupos

constituintes perdeu sua individualidade ou independência. Acima dos grupos criou-se um

governo comum constituído pelas possibilidades de argumentação e debate de idéias, pois

a partir do argumento os espaços sociais poderiam ser modificados e adaptados ao

momento. Assim, a vida privada submete-se ao Estado e à religião.

No que concerne à natureza, a preocupação centrava-se na necessidade de se criar

modelos dos objetos e fenômenos da natureza. A categorização dos objetos, as leis

genéricas para explicar a natureza e sistematizar tanto a descrição quanto prever a

replicação eram centrais à cultura grega tornando-se os alicerces da cultura ocidental.

A visão de um mundo racional pressupõe que a

natureza é um sistema racional (ordenado), regido por leis que

um método científico (racional) pode descobrir. Exclui o acaso,

porém através da teoria da probabilidade, permite a

imprevisibilidade.

A história e cultura gregas são um exemplo da estreita relação que existe entre as

idéias produzidas pela inteligência humana e o estado social de seu povo. Partindo da

religião, o Estado grego consagra a família e forma uma entidade maior, a cidade

organizada e regulamentada do mesmo modo que foi organizada a família.

Aspectos psicosociais da vida em sociedade dos antigos Chineses e Gregos estão,

ainda hoje, representados nos sistemas de pensamento das principais culturas da

atualidade: culturas voltadas para o coletivismo e culturas voltadas ao individualismo.

Suas crenças metafísicas são o reflexo de suas práticas sociais dando origem às diferentes

abordagens para as questões científicas, matemáticas e filosóficas: o sistema holístico ou

34

sintético de pensamento de questionamento dialético e o pensamento analítico de

questionamento lógico-formal.

SISTEMA HOLÍSTICO SISTEMA ANALÍTICO

ênfase na totalidade ênfase na parte caráter organicista caráter mecanicista emoção e intuição razão e sensação linguagem poético-metafórica linguagem matemática inclinação dedutiva inclinação indutiva sincronicidade relação causal sociedade coletivista sociedade individualista

A Pragmática da Comunicação Humana4, dá à linguagem o estatuto de

comportamento considerando que existe uma relação entre comportamentos latentes e os

comportamentos manifestos, ou seja, a organização do comportamento manifesto é

determinado por operações mentais individuais e significativas a partir de uma experiência

sensorial em dado contexto.

Através da linguagem o indivíduo toma decisões e resolve problemas sendo que a

seqüência de operações cognitivas se aplica ao problema tal como a pessoa (consciente ou

não) o põe a si próprio permitindo que as atividades de representação simbólica sejam

construídas e transformadas tanto a partir de estímulos do ambiente que irão acionar os

dados episódicos (dados autobiográficos) e conhecimentos semânticos (conjunto de

conhecimentos formais e informais) armazenados na memória como conseqüência de

processos de aprendizagem.

Se a organização social influencia os processos cognitivos das pessoas tanto a

dialética quanto a lógica são instrumentos utilizados na solução de conflitos. Pessoas

inseridas em um contexto onde a existência social está construída sobre os alicerces da

harmonia ao serem confrontadas com situações contraditórias (polaridades de opinião)

tentarão transcender a contradição para encontrar um caminho intermediário. Em suma, o

exercício da dialética leva à busca de solução entre os possíveis atendendo os princípios

4 Trabalhos liderados por Gregory Bateson, Don Jackson e Paul Watzlawick em Palo Alto nos anos 60 e que deram origem ao livro The Pragmatics of Human Communication,.

35

da harmonia social. Em contrapartida, pessoas inseridas em um contexto no qual predomina

o raciocínio lógico e analítico, desenvolverão regras e categorias para conduzir debates e

argumentos de acordo com a estrutura do princípio de não contradição. Resolvem seus

conflitos baseados em regras pré-estabelecidas que, nem sempre, atendem às necessidades

do contexto. Em resumo, as diferenças sociais entre as culturas orientadas para o coletivo e

às orientadas para o individual estão presentes em nossas relações cotidianas. Como os

processos de aprendizagem dependem das trocas intersubjetivas, pode-se dizer que fatores

sociais influenciam a metafísica, a epistemologia e, também, o desenvolvimento de

habilidades cognitivas que irão influenciar o comportamento dos indivíduos quando diante

de situações de conflito.

A atividade social é que imprime um significado às

palavras. Para conhecer a linguagem é preciso desenvolver a

capacidade de penetrar em várias redes de convenções que

formam a base da intersubjetividade e comunicação significativa e

participativa entre pessoas.

A concepção de linguagem enquanto ação e instrumento de trabalho para o mediador fez-

me reconhecer e aceitar como princípio norteador de meu trabalho o papel das múltiplas

diferenças que co-existem em uma comunidade (raça, credo, condição sócio-econômica,

cultura de origem, mitos, crenças e costumes). Ao mediar jovens de diferentes substratos

sociais passei a entender melhor porque os estudantes discutem tão freqüentemente na

defensiva ou até mesmo através de brigas de pouca importância. Por outro lado, a

estabilidade das amizades entre jovens (grupos de pares) que vivem nas ruas baseiam-se na

necessidade de reduzir a solidão, a insegurança e no apoio mútuo para eles resistirem à

autoridade. Até que eles descubram quem eu era, o que estava fazendo ali, são desconfiados

e interagem utilizando principalmente jogos de linguagem reativos, agressivos e evitando

ou rejeitando o contato. Quando fui aceita, o tom mudou. Passaram a contar histórias de

amor e de esperança em um futuro mais luminoso utilizando jogos volitivos, teleológicos e

criativos.

36

Este estudo deu-me uma nova linguagem e me fez pensar profundamente em como

desenvolver um trabalho que pudesse contribuir para o desenvolvimento dos potenciais

positivos, voltados ao bem coletivo e ancorado no diálogo e no re-enquadre positivo de

historias de sofrimento, violência e dor. Conversando com professores, funcionários

administrativos e operacionais de diversas escolas e tendo entrevistado alguns diretores de

escolas públicas e privadas confirmei minha suposição de que muitos ainda trabalham

depositando informação nos recipientes vazios que são os alunos. Lembro-me então de

Paulo Freire que denunciou o poder desumanizador da dinâmica opressiva do método

bancário de educação e o quanto fica evidente que a falta de participação dos alunos do

ensino médio em processos decisórios de sua comunidade, inclusive na escola, acende a

resistência e, conseqüentemente a hostilidade, agressão e violência.

A linguagem, os significados sociais compartilhados ajudam a amoldar a qualidade

dos vínculos nas crianças sendo parte daquilo que viveram. Mais adiante, quando

adolescentes, criam sua própria linguagem para proteger seus “segredos” de estranhos.

Nossas convicções, sistemas conceituais, habilidades técnicas, rotinas estão embutidas em

nossa linguagem cotidiana e vice-versa. As transformações (mais profundas que mudanças

porque vão além do comportamento) não são independentes do contexto e seus produtos

porque são formados e transformados continuamente em resposta às nossas práticas

culturais e institucionais que os conservam e os transmitem.

Uma das forças do construcionismo social é a relatividade da realidade o que

permite planejar modelos de intervenção adequados às pessoas e ao contexto atendendo às

necessidades locais e explorando ativamente as possibilidades.

A escola é um dos contextos sociais onde tanto a cultura quanto os costumes e as

crenças de uma sociedade se transformam de forma gradativa. Regras rigorosas que

acanham são questionadas e abrem espaços para idéias mais elevadas que levam ao

falecimento de um regime abrindo um espaço social diferente, onde novas regras e critérios

de relacionamento se abrem.

37

O contexto escolar, mesmo diante das pressões sociais voltadas para a cultura do

individualismo e da arrogância5, continua mantendo suas características coletivistas o que

vem a beneficiar a introdução da mediação escolar de pares.

5 Arrogância com sentido de adrogare, pretender para si, ou seja, a busca desenfreada de crescimento ilimitado por um lado que leva aos excessos onde para muitos a essência da vida e a fé está na técnica e na expansão de poder. Trata-se de uma ingênua luta contra a finitude humana.

38

MEDIAÇÃO DE PARES

Os programas de mediação de pares começaram a ser desenvolvidos no final da

década de 70 e início da década de 80 como parte dos projetos de não violência promovidos

pelos quacres nas escolas da cidade de Nova York. Depois se expandiram para outras

comunidades em vários países do mundo.

A mediação de pares é um processo que capacita um grupo de alunos de uma escola

para atuarem como mediadores nas disputas de seus pares. Por estarem inseridos na escola

e serem colegas, a mediação de pares não é aplicável a todos os contextos e também não é

apropriada para todos os tipos de disputa. Porém, trata-se de um instrumento valioso para

que alunos assumam um controle maior sobre suas vidas e habilidades para resolver

problemas e disputas. Na mediação de pares, o conflito é considerado positivo sendo

essencial para proporcionar desafios e possibilidades de crescimento.

Objetivos da Mediação de Pares

Criar vínculos cooperativos e senso de comunidade na

escola;

Melhorar o ambiente de na aula pela diminuição da

hostilidade e tensão;

Desenvolver o senso de coletivismo;

Melhorar as relações professor/aluno;

Incrementar a participação dos alunos nos projetos da

escola e da comunidade;

Resolver conflitos menores entre pares que interferem

nos processos educativos;

Valorizar os alunos incrementando a auto-estima;

Mudar os parâmetros de comunicação e linguagem;

Incentivar valores e responsabilidades pelo todo.

39

No âmbito da escola a mediação não pode ser entendida como uma nova maneira de

resolver conflitos, pois se trata muito mais de uma metodologia de ensino onde se privilegia

a comunicação interpessoal em todos os níveis, possibilitando a reflexão e o pensamento

complexo. Em cada escola, particular ou pública, existe uma grande diversidade de

constelações familiares, culturais, econômicas, religiosas, éticas e morais. Temos uma

tendência cultural em agrupar por semelhanças e construir categorias. Toda classificação e

categorização tende a promover a separação, a discriminação. Mais do que nunca, a

sociedade pede a aceitação do outro como diferente de nós mesmos. O respeito pela

diferença também inclui a necessidade de aceitar olhares diferentes, reflexões diferentes e

conclusões diferentes no contexto da escola. Fazemos parte de um mundo diverso e

complexo e a educação sabe disso, as escolas estão em processo de aprende-lo!

Desenvolver e implementar um programa de mediação de pares em uma escola

significa aceitar a complexidade que considera todas as experiências como multifacetadas

que incluem os aspectos biológicos, étnicos, culturais, sociais, familiares, religiosos e

espirituais. A partir da compreensão dos fenômenos complexos que ocorrem dentro da

escola e em seu em torno, a mediação de pares pode vir a tornar-se uma realidade pois esta

implica em um sistema de comunicação mais simétrico onde todos os envolvidos

compartilhem de forma mais eqüitativa a distribuição do poder. A mediação de pares em

sua meta função leva alunos e o corpo docente a exercerem a democracia desenvolvendo

nos jovens as aptidões para viver e construir os valores da democracia que transcende os

limites da escola para instalar-se na família e em toda a comunidade.

Trata-se de um processo que envolve o todo onde todos se beneficiam e todos são

responsáveis pelo que acontece, seja por ação ou por omissão.

Formar jovens idôneos no manejo de deveres e direitos como pessoa e como

membro de uma sociedade continua sendo tarefa da escola e da família. Como o espaço

social da escola é mais amplo que o da família, a mediação de pares se apresenta com um

bom começo para um processo de transformação das relações.

40

Estamos dispostos a compartilhar a idéia de uma

distribuição mais democrática do poder dentro da escola?

Elementos Fundamentais de um projeto 1. Seleção de alunos para serem treinados

2. Equipe de Supervisão 3. Instrutores 4. Procedimento de recepção dos casos

5. Divulgação do programa para os alunos

6. Divulgação para familiares e comunidade

7. Logística do programa 8. Implementação do Programa 9. Avaliação d Programa

10. Disciplinas optativas no programa

41

CENÁRIO ATUAL

Há uma preocupação compartilhada por todos os profissionais engajados na

implantação e implementação de programas de mediação de pares principalmente durante

os Congressos na Itália (2000), México e Espanha (2001) e nos encontros setoriais da

ACR/2002 (Association for Conflict Resolution) em se encontrar procedimentos eficientes

para resolver os conflitos que se apresentam no cotidiano das escolas sejam estes entre

alunos ou entre alunos e professores. A maioria dos casos apresentados referiam-se à

agressão e à violência e apresentados sob o tema indisciplina escolar.

Os problemas de conduta observados tornaram-se tão sistemáticos que podem ser

observados nas mais diversas situações e não mais enquanto casos esporádicos. Desta

feita, não basta preocupar-se com os aspectos evolutivos da criança e do jovem e de suas

possíveis patologias, mas sim irmos mais além buscando as origens destes conflitos.

Aqueles que trabalham no contato direto com os alunos são obrigados a cada vez

mais utilizar parte de seu tempo destinado ao ensino para resolver o número cada vez maior

de disputas entre alunos. Quando os profissionais das escolas se propõem a ajudar a

resolver os conflitos considerados socialmente graves e que ultrapassam os portões da

escola, geralmente são rechaçados e fracassam no seu intento. A cada ano que passa fica

evidente o quanto o desencontro entre os sistemas escola e família produzem

conseqüências negativas na formação dos jovens. Muitas crianças chegam despreparadas à

escola, sem saber como participar responsavelmente das atividades em sala de aula e

acabam replicando a falta de limites e os modelos aprendidos em casa para resolver suas

disputas com os colegas como o uso de força física e a agressão por palavras

desrespeitando seu grupo de pares e os professores. É grande o número de escolas que

estão investindo parte de seu orçamento em itens de segurança como câmeras de televisão,

rastreamento por satélite dos ônibus escolares, identificação dos alunos por cartões

42

magnéticos, e pessoal de segurança. Porém, o peso da burocracia dificulta a implantação

de um programa de mediação.

A mediação escolar pode resolver não só muitos dos problemas que afligem os

dirigentes e administradores das escolas, como reciclar possibilidades, ou seja, aprender

com as experiências passadas e desenvolver metodologias que já sem mostraram eficientes

em outros países.

Acredito ser importante reiterar que não existe e possibilidade de se desenvolver um

modelo de programa de mediação de pares e sim um programa para cada escola, já que este

deve levar em conta o desenvolvimento social e o contexto dos alunos. Jovens e adultos

têm percepções diferentes do conflito, porém não se pode achar que crianças e jovens

sejam atores sociais inocentes.

A violência entre os jovens é crescentemente diversa. Alguns participam de gangues

e outros são solitários. Os valores da mística masculina (dureza, domínio, repressão da

empatia e competitividade) têm diferentes manifestações em diferentes ambientes. James

Garbarino6, psicólogo e pesquisador em N. York afirma que muitos meninos e jovens

desenvolvem comportamentos anti-sociais provocados pelos estereótipos sociais da

masculinidade e por não terem permissão para falar de suas angústias, uma característica

do papel feminino. Por outro lado, Carol Gilligan7 ao entrevistar meninas conclui que

existe um excesso de preocupação com a aparência física por um lado e como estão sendo

solicitadas a serem bem-sucedidas profissionalmente, sentem-se “obrigadas” a escolher

carreiras masculinas o que é uma fonte de stress que desencadeiam conflitos em sala de

aula.

Na periferia, roubos, assaltos, tráfico de drogas e chacinas. Na classe média e alta,

brigas em danceterias, rachas nas ruas de madrugada, drogas e sexo sem proteção. O que

têm em comum é viver em grandes centros urbanos além de compartilharem o abandono

6 tem desenvolvido um extenso trabalho para investigar as origens da violência juvenil masculina – Family Life Development Center, Cornell University 7 pesquidadora da School of Education, Harvard University

43

emocional dos pais ou um alto grau de exigência que faz com que se sintam tiranizados,

sentem-se impotentes diante dos adultos e os agridem na maioria das vezes agredindo a si

mesmos. Quando são testemunhas de disputas familiares e brigas dos pais ou irmãos o

trauma vicário deixa cicatrizes que causam irritação, ressentimento, hostilidade, agressão,

raiva e transtornos psicológicos.

Também é comum que a escola, por falta de alternativa, tenha que se preocupar em

auxiliar seus alunos com questões relativas à fragilidade do sistema familiar. As principais

mudanças demográficas que aconteceram desde a revolução industrial tiveram impacto nas

famílias e lares, dando origem a uma maior variedade de estruturas familiares. Fatores

como fertilidade, casamento, coabitação e divórcio deram origem a fenômenos

relacionados ao aumento da vida solitária, decadência econômica e importância crescente

da criança e da juventude.

Tradicionalmente a família oferece um ambiente seguro para as crianças se

desenvolverem psicológica e socialmente. Do ponto de vista dos pais, eles provêm o fórum

para o amor, apoio mútuo, e estrutura para educar as crianças. Para a sociedade, as famílias

provêm o habitat natural, no qual as crianças aprendem as habilidades sociais necessárias

para viver com os outros –irmãos, parentes e pais – e, na adolescência, aprendem a viver

como adultos integrando-se na sociedade mais ampla.

Os padrões mutantes de estruturas familiares, com pais solteiros, divorciados ou

recasados muitas vezes colocam crianças e jovens ainda dependentes como mais adultos do

que seus pais no gerenciamento da casa, da própria vida e da vida de um dos pais—o mais

frágil muitas vezes vítima de abuso. Isto quando não se tornam instrumentos de

manipulação de adultos que, consciente ou inconscientemente lançam mão dos filhos para

atender a desejos próprios, fato muito comum nas crises de separação e divórcio. Não se

pode subestimar o dano causado a uma criança que vive em clima de hostilidade e

violência, mesmo que ela não seja maltratada!

44

Mais de oito milhões de vezes a cada ano a polícia desta

nação confronta-se com uma vítima que há pouco foi agredida por

um companheiro. Agressão doméstica é a forma mais freqüente de

violência encontrada pela polícia do que todas as outras formas de

violência combinadas.

Relatório da Universidade de Berkeley, 1994

Quando os pais se separam, as famílias empobrecem. Esta é uma realidade global.

Pobreza e desemprego estão afetando nossas crianças e jovens de maneiras diversas.

Finanças limitadas afetam o desempenho escolar porque muitas famílias não dispõem dos

recursos necessários que conduzem ao sucesso acadêmico e quando o conseguem os

sacrifícios são enormes. Renda limitada também significa perder amigos, animais de

estimação, contato com familiares e viver em áreas onde a qualidade de vida é mais pobre.

O emprego é a principal fonte de apoio econômico para a maioria das famílias, mas limita o

tempo disponível para a integração familiar. Além disso, as tarefas familiares podem

significar um constrangimento no local de trabalho. Crianças e jovens de famílias

interrompidas sofrem as conseqüências quando seus pais se separam e levam estas questões

para a sala de aula.

Embora os professores tenham feito sua formação para educar, vêm sendo cada vez

mais pressionados por alunos, pais e outros membros da comunidade para prestar

assistência ao pai que perdeu o emprego, à mãe que vítima de violência ou ao próprio aluno

cujos pais estão se separando ou m familiar que está doente ou faleceu. São problemas cuja

solução não está em suas mãos, mas acaba se debatendo com as questões pois não tem a

quem delegar.

A maior parte das crianças e jovens da FEBEM provém de

famílias encabeçadas por um único parental –mães. Somente 15%

destas vivem em favelas e 72,6% destas famílias vivem na cidade de

São Paulo há mais de 20 anos morando em suas casas próprias nos

arredores da cidade.

Adorno, 1998

45

UMA PROPOSTA DE PROGRAMA

A proposta ora apresentada sugere um programa de mediação de pares que, como o

próprio nome já diz, não conta com a participação de mediadores externos, isto é, outros

profissionais da comunidade atuando como mediadores nas questões entre alunos e entre

alunos e professores.

Para que o programa seja bem sucedido são importantes alguns passos preliminares:

1. Promover encontros de trabalho formada por pessoas da escola e da comunidade

para, através do diálogo em grupo criar a filosofia e a pedagogia a ser utilizada

como meta-conceitos do programa. Quanto maior a congruência entre a linha

pedagógica e disciplinar da escola, sua filosofia de trabalho e a mediação de pares,

maiores serão as chances do programa ser aceito pelos alunos, seus familiares e pela

escola como um todo.

2. Será que os alunos-mediadores terão verdadeiramente a oportunidade de mediar

casos, pois o benefício de um programa de mediação de pares que não seja efetivo

não trará benefício para o todo.

3. Será que o corpo docente e administrativo da escola está preparado para enfrentar a

mudança? Uma vez implantado o programa, é importante a disciplina do corpo

docente para encaminhar os casos à mediação e não continuar resolvendo

problemas em sala de aula pelos métodos antigos. Acreditar na capacidade dos

mediadores de pares e no seu potencial é um dos passo importantes para que o

programe funcione.

4. Da mesma maneira que um treinador de futebol, natação ou ginástica olímpica, a

escola vai precisar de um coordenador do programa. Seria interessante que a pessoa

escolhida para esta função permanecesse o maior número de horas possíveis dentro

da escola, estar comprometido com o programa, ser apreciativo para com os acertos

46

e erros dos alunos mediadores e ter a capacitação necessária para atuar como coach

em mediação. Este coordenador não exerce o papel de formador de mediadores.

Uma característica importante em um programa desta envergadura é a habilidade da

escola em elaborar políticas em relação aos casos que podem ou não ser mediados e esta

política deverá estar em consonância com as demais políticas e procedimentos do

regulamento da escola. Os casos que não são atendidos pela mediação de pares são aqueles

que fogem ao escopo da área privada, ou seja, onde a intervenção do poder público é

necessária, como por exemplo: alunos portando armas, lutas corporais nas quais armas

foram utilizadas, abuso sexual, ataques físicos graves com uso de armas ou não. Nestes

casos permanece a eventualidade de uma sanção penal. Também não são mediáveis os

casos envolvendo psicopatologias graves.

A mediação de pares atua no campo da mediação cidadã: esta não se dirige aos

delinqüentes e às vítimas, não coloca em pauta reparações e indenizações, não tem espadas

e nem divisas. O aluno mediador aprende a conhecer que o conflito não é um mal em si,

mas uma oportunidade onde ao se abrir uma brecha para a solução pelo diálogo, mesmo

que o clima inicialmente não seja de harmonia suave, pois toda passagem é custosa e não se

estabelece sem esforço. Cabe à equipe de treinamento, ao coordenador, ao coach e aos

adultos da escola despertar nos alunos o interesse em solucionar seus problemas

despertando a paz e a boa convivência dentro da escola e fora dela.

Definida a filosofia e a metodologia para a implantação do programa e tendo em

mente os objetivos da mediação escolar:

1. Melhoria das relações aluno e professor, aluno e sua família;

2. Melhoria do ambiente em sala de aula pela diminuição das tensões;

3. Desenvolvimento de pensamento crítico, habilidades para solucionar problemas

e assertividade;

4. Desenvolver ambiente cooperativo e senso de comunidade na escola;

47

5. Resolver disputas entre pares que interferem no clima da escola e nos processos

de educação;

6. Dar mais tempo ao professor para cuidar de seus afazeres para os quais foi

formado.

Pode-se então iniciar implementação do programa para o qual sugiro quatro fases:

Planejamento e Alcance do Programa

O primeiro passo é escolher o coordenador do programa que poderá ser um membro

do staff da escola, um professor conselheiro, pais ou membros da comunidade que queiram

ser voluntários. As responsabilidades do coordenador seriam:

- cuidar da divulgação e da continuidade do processo de aprendizado

para a mediação de toda a escola;

- supervisionar as atividades relacionadas ao programa;

- preparar o regulamento da mediação de pares;

- manter a escola e a comunidade informada sobre os progressos do

programa.

O programa de ação e estratégias de alcance do programa.nesta primeira etapa

incluiriam os seguintes tópicos:

• Recursos para o programa: considerar recursos necessários para

curto e longo prazo. Inicialmente considerar recursos para

honorários do coordenador e coach, custos com treinamento,

eventuais professores substitutos durante o treinamento, e

despesas diversas (livros, material impresso para divulgação,

cópias, camisetas para os mediadores, etc.).

• Caso a escola não tenha em seu staff ou entre os pais, localizar no

mercado e selecionar profissionais para:

48

a. Ministrar palestras para o corpo docente e

administrativo sobre a nova proposta.

b. Implementar as habilidades de solução de problemas,

assertividade e técnicas de comunicação para os

profissionais e alunos da escola na forma de oficinas.

c. Treinar os alunos –mediadores.

d. Indicar o coach para o programa.

• Juntamente com professores conselheiros e alunos representantes

de classe definir o sistema de seleção de alunos para o

treinamento levando em consideração a diversidade (gênero,

etnia, religião, idade, posição sócio-econômica, etc).

• Treinamento dos alunos mediadores.

• Divulgar o programa dentro da escola e para a comunidade em

geral.

• Avaliação dos alunos treinados e escalonar o trabalho dos

mediadores fora de seu horário de aulas. A mediação de pares

deve ocorrer o mais próximo possível do evento, ou seja, é

importante ter mediadores disponíveis na hora dos intervalos e na

saída do período.

• Definir a política de sigilo. A preservação do sigilo sobre os

assuntos conversados durante a mediação é um dos pontos altos

para o sucesso do programa. É importante que os alunos

mediadores tenham livre acesso ao coordenador e ao coach para

conversar sobre os mais diversos assuntos, pois ambos também

estão inseridos no compromisso de sigilo do programa. Devem

constar do regulamento os assuntos que não serão mantidos em

sigilo, porém tomando cuidado para não ampliar demais esta

lista, já que os alunos deixarão de acreditar nas vantagens da

mediação.

• Atualização e continuidade de treinamentos. Geralmente os

alunos mediadores pertencem às duas últimas séries da escola,

49

podendo haver exceções de forma que para a fluidez do

programa, treinamentos e atualizações devem ser programados

anualmente.

Estrutura Inicial e Divulgação

Durante a primeira fase da implementação os alunos-mediadores já treinados

promoverão encontros de trabalho para exercícios de simulação juntamente com o coach

para que se estabeleça um bom rapport entre eles. Nessa fase o coach prepara o modus

operandi das mediações (cartilha da mediação, locais, agenda, registros dos casos) para,

posteriormente, supervisionar as mediações e orientar os alunos mediadores.

Paralelamente forma-se uma comissão mista de alunos, professores, membros da

administração e pais para desenvolver campanha de divulgação que pode ser uma atividade

inserida na programação de artes ou outra disciplina relacionada ao tema.

Treinamento

Os treinamentos serão organizados a partir do programa desenvolvido e adaptado

para o contexto da escola e da comunidade na qual está inserida. A experiência americana

(ACR-Peer mediation Section) em treinamento de alunos sugere um número médio de

horas, ou seja, entre 18 e 25 horas de treinamento para alunos do ensino médio e entre 8 e

15 horas para alunos das sétimas e oitavas séries do ensino fundamental.

Supervisão

Após a conclusão dos treinamentos, os alunos qualificados ao começarem a mediar

os casos terão todo o apoio do coordenador e/ou do coach para conduziram as primeiras

entrevistas, marcar os encontros de mediação, submeter seus casos à supervisão quando

sentirem necessidade e dar continuidade a seus treinamentos e manter o processo educativo

voltado para à solução de conflitos escolares em toda a escola.

50

Vantagens do programa

Pode-se dizer que em três anos o programa atinja seu potencial desejado, ou seja,

quando o programa atende a pelo menos 10% da população de estudantes em um ano;

quando 1/3 dos conflitos são resolvidos pelos alunos e quando o copo docente e

administrativo perceber que a mediação de pares se tornou parte da cultura da escola. Estes

valores são relativos, pois cada escola é um caso singular, particular e integrado em sua

comunidade.

A partir do momento em que toda a escola compartilha a idéia da mediação de

pares, mesmo que os alunos mais jovens não sejam convidados para o treinamento é

importante que eles recebam, como parte do programa, o treinamento nas habilidades

básicas como escuta ativa, pensamento crítico, colocar-se no lugar do outro, habilidades de

comunicação e assertividade. A cultura da mediação na escola compartilhada por todos

efetivamente diminui as condutas antisociais frente ao conflito desde que possam aplicar o

aprendido em seu dia-a-dia. A resolução de conflitos ensina aos jovens que todos sentem

raiva, medo, angústia, tristeza e alegria e que a expressão das emoções pode se dar por

caminhos mais violentos. Quando as emoções ganham espaço e falar sobre elas passa a ser

natural, os alunos mostram-se mais solidários quando vêem colegas passando por situações

pelas quais já passaram sentindo-se motivados para conversar e descobrir que um mesmo

problema pode ser resolvido de maneiras diversas.

Por outro lado, o professor não precisa mais atuar como agente da ordem. A

necessidade de averiguar discussões e brigas, dar sermões, insistir em pedido de desculpas,

julgar e punir cai vertiginosamente, sobrando-lhe mais tempo para se dedicar ao seu

trabalho específico.

Junto às famílias e a comunidade a escola passa a ser parceira na construção de

uma mentalidade voltada para a importância do bem-estar coletivo onde cada um é

51

responsável para solucionar seus problemas despertando para a paz e uma boa convivência

em sociedade.

A idéia de um universo organizado cede lugar às concepções de evolução e auto-

organização permanente dos fenômenos do universo em todos os setores da sociedade

contemporânea. Há uma interdependência de todos os eventos ou transformações: nenhuma

transformação acontece em um espaço isolado do todo. A escola, como toda a vida em

comunidade ganha uma nova roupagem. O ser humano se constrói na cultura, a

plasticidade do sistema biológico humano permite-o se adaptar a uma variedade ilimitada

de sistemas sociais. O que diferencia a capacidade de adaptação dos atores sociais são as

emoções. É pela vivência emocional que aprendemos a gravar os significados de nossa

cultura, nossos valores e objetivo. Em todas as fases da vida, aprendemos e reaprendemos

com as vivências emocionais. Crianças e jovens

52

COMEMORAÇÃO DE FIM DE CURSO: FESTA OU VIAGEM?

Um grupo de alunos do terceiro grau do ensino médio havia sido escolhido para

participar da comissão de formatura. Eram dois rapazes e duas moças. Entusiasmados com

o fim do curso e de terem um bom motivo para uma grande comemoração, decidiram pr

unanimidade que iram promover algo MUITO DIFERENTE E

ESPECIAL...INESQUECÍVEL!

Foram trocando idéias com outros colegas, com alguns parentes e BOMBA: vamos

curtir uma semana viajando para a chapada dos Veadeiros. Ecoturismo está em alta,

estaremos in.

Programaram uma reunião com todos os colegas, fizeram convite lindo, cheio de

fotos da chapada, do acampamento e chamaram o agente de viagens para “vender a idéia”.

Alguns colegas reclamaram, outros acharam o preço um absurdo nesta época de incertezas,

mas as técnicas de vendas do agente de viagem “colaram”. VENDERAM A IDÉIA,

fecharam o pacote.

Quando o carne de pagamento chegou, algumas das meninas que estavam sonhando

com um baile de formatura, pois os pais não puderam lhes proporcionar a festa de 15 anos,

ficaram revoltadas e foram conversar com a psicóloga da escola. Na verdade, tinham

concordado com a viagem e não tinham e só quando os pais acharam o preço da “festa”

um absurdo é que se tocaram o quanto agiram contra a vontade. E agora? O que Fazer?

A escola sugeriu convocar uma nova reunião de todos os formandos para com o

auxílio de um professor conversar sobre o mal-estar.

O professor explica ao grupo que irão trabalhar o conflito a partir da mediação.

Explica o processo, seu papel de mediador insistindo na sua posição de facilitador

eqüidistante e na responsabilidade dos alunos em chegar a uma solução . Em seguida, a

partir de perguntas abertas permite que os alunos exponham suas idéias sobre a viagem,

sobre a festa e sobre o problema. A partir dos relatos, parafraseia o que ouviu para que os

alunos pudessem ouvir de um terceiro a história do conflito. Ficou definido que havia um

53

grupo que queria a festa tradicional em um clube e outro grupo que preferia a viagem para

a chapada.

Uma vez definido o conflito e identificados os grupos ( dois grupos queriam a festa,

um grupo queria a viagem e um grupo ficou indiferente) o mediador passou a explorar

ambas as situações quanto às vantagens, desvantagens e procurou separar pessoas dos

interesses em jogo.

Em seguida o conflito foi redefinido; as novas idéias anotadas na lousa para que

todos pudessem ver o “mapa” da disputa e tomar consciência sobre o porquê das posições,

sobre os interesses e as necessidades e puderam perceber que as diferenças em como

comemorar o término do curso havia se transformado na arena de coisas mais antigas.

Desde o ano anterior, havia sempre um grupo nas aulas de educação física e artes

(aulas conjuntas das duas turmas de terceiro ano) que sempre tomava a dianteira nas

escolhas das atividades a serem escolhidas. Como a maioria dos colegas entrava na “onda”

deles, ganhavam sempre. A partir da técnica, coloque-se no lugar do outro, os grupos

começaram a ver os sentimentos dos demais e o quanto as posturas adotadas incomodavam

aos demais.

Conversou-se um pouco sobre o que estava latente ao conflito. Seguiu-se uma

tempestade de idéias e os grupos tiveram a oportunidade de conversar entre si para chegar a

uma conclusão por consenso que seria depois compartilhada com os demais dentro das

premissas: não criticar e respeito à opinião do outro. Finalmente escolheram uma terceira

alternativa, financeiramente mais viável a todos e seria uma oportunidade do grupo se

conhecer melhor: um final de semana em um hotel-fazenda com jantar de gala e dança.

Aqui a mediação foi utilizada com objetivo de resolver uma questão importante

para os alunos e também para a escola. Também funcionou como uma aprendizagem.

Como produto desse processo, o relacionamento do grupo melhorou durante o restante do

ano letivo.

Acreditamos que o professor mediador pode criar espaço para que seus alunos

aprendam a gerenciar conflitos de grupos. Porém quando a questão é entre dois alunos, a

mediação de pares traz resultados gratificantes.

54

APRENDIZAGEM PELO CONFLITO

A intenção primeira em uma proposta de mediação de pares é procurar dar um

passo um pouco maior quando o tema são conflitos entre crianças e jovens dentro da

escola. A sugestão não está em administrar conflitos e sim trabalha-los enquanto

oportunidade e soluciona-los ou minimiza-los sob a ótica construcionista.

Nesse sentido, só poderemos treinar os alunos mediadores para auxiliar seus colegas

a vivenciarem face a face suas dificuldades e expuserem seus sentimentos não verbalizados

como raiva, mágoa, ou frustração. O momento de tensão criado no ambiente seguro da

mediação é concreto e na busca da compreensão encontram-se as alternativas para sua

solução. Novas técnicas pedagógicas irão incorporar o afeto e a emoção à teotria da

aprendizagem, visando modificações nas atitudes, nas relações mais profundas e

duradouras. Quanto aos alunos das escola, podem tornar-se sementes para a nova ordem

social e planetária.

Quando crianças internalizam os diálogos que ocorrem em sua rede social, as

palavras são mais do que palavras, trazem em seu bojo elementos sociais e culturais

adjacentes. Assim, o desenvolvimento dos modelos mentais na criança, antes de serem

internalizados, ocorrem num plano social através do diálogo integrando-se posteriormente,

como o modelo individual. Como pleiteava Vygotzky e posteriormente Gergen, primeiro

ocorre o interspicológico (entre pessoas) e depois o intrapsicológico (dentro da criança).

Comunicamus ergo sum

Gergen, 1994

O construcionismo, na tentativa de articular o que existe utilizando a linguagem

obrigam-nos a entrar em um mundo de significados sociais onde o mapa não é o território.

Em outras palavras, as palavras não são imagens, mapas ou réplicas de essências que

existem independentemente de nossa atividade interpretativa. Na escola, como em ouros

espaços sociais, o fazer é refazer. Quando nascemos já temos esquemas conceituais que nos

servem para lançar os primeiros olhares no mundo e os conceitos e categorias aprendidos

são compartilhados por todas as pessoas à medida que desenvolvem o uso da linguagem no

55

espaço da cultura. Sendo a linguagem um fenômeno relacional, o processo de mediação se

transforma na arte de contar e recontar histórias enfatizando técnicas que privilegiem o

diálogo, a negociação, a pragmática social, as práticas culturais e a distribuição de poder.

Como fatores situacionais influenciam os comportamentos das pessoas estes variam

em função de suas atividades ou quais as pessoas que estão à sua volta. Como a mediação

de pares ocorre dentro do espaço da escola e entre alunos, as palavras e expressões

utilizadas para contar a história do conflito fazem sentido a todos facilitando a

compreensão dos comportamentos, dos sentimentos e dos pensamentos resultando em uma

interação que lembra a dança circular na qual os movimentos se traduzem em uma resposta

simétrica aos movimentos do outro.

CCOONNTTAARR AA HHIISSTTOORRIIAA

((ppaarrtteess))

++ OOuuvviirr aa HHiissttóórriiaa

(mediador)

RReeccoonnttaarr aa hhiissttóórriiaa

((mmeeddiiaaddoorr)) ++

OOuuvviirr aa hhiissttóórriiaa ((ppaarrtteess))

FFaazzeerr ppeerrgguunnttaass EEssccllaarreecceerr

IIddeennttiiffiiccaarr ffaattooss ee ccaauussaass IIddeennttiiffiiccaarr

ppoossssiibbiilliiddaaddeess ((ttooddooss))

BBuussccaarr mmeellhhoorr aalltteerrnnaattiivvaa

.......... UUmmaa nnoovvaa

hhiissttóórriiaa ((ttooddooss))

1

2

3

4 CONFLITO

56

Processos culturais tanto podem limitar como ampliar a nossa humanidade. Às

vezes, é preciso começar pela margem e não pelo centro para encontrar alternativas para

podermos refazer experiências, as nossas e as dos outros. A mudança é mais fácil de ser

bem-sucedida se começarmos pela margem, a fronteira de ordens já estabelecidas. A

transformação está no centro.

57

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