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1 MELANOMAS AMELANÓTICOS EM CÃO – RELATO DE CASO Amelanotic Melanomas In Dog - Case Report Thaynara Parente de CARVALHO 1 ; Brenda Lurian do Nascimento MEDEIROS 2 ; Alinne Rosa de Melo CARVALHO 3 ; Alexandra de Siqueira Cajado LIARTE 3 ; Werner Rocha ALBUQUERQUE 3 ; Silvia de Araújo de França BAÊTA 4 , Silvana Maria Medeiros de Sousa SILVA 4 1 Médica veterinária, Universidade Federal do Piauí, [email protected] 2 Estudante de graduação de medicina veterinária, Universidade Federal do Piauí. 3 Residente em Patologia Animal, Universidade Federal do Piauí. 4 Docente, Departamento de Clinica e Cirurgia de Pequenos Animais, no Setor de Patologia Animal, Universidade Federal do Piauí. Resumo: O Melanoma se origina a partir da transformação neoplásica dos melanócitos. O presente estudo tem como objetivo descrever um caso de melanoma amelanótico localizado na cavidade oral de um cão descrevendo o estado clínico, diagnostico, evolução do quadro clinico e necropsia deste animal. Uma cadela da raça dachshund, 2 anos de idade, pesando 8,8 quilos foi conduzida ao hospital veterinário universitário por apresentar alterações oculares a mais de 20 dias e nódulo na cavidade oral e na região infraorbitária. A citologia aspirativa por agulha fina das lesões sugeriu neoplasia de alto grau de malignidade, recomendando-se realizar histopatológico para desvendar a histiogênese da lesão. Foram coletados fragmentos do nódulo da cavidade oral para histopatológico, por meio deste obteve- se o diagnostico definitivo de melanoma amelanótico. Nos cinco meses subsequentes ao diagnóstico foi realizado tratamento para aumentar a sobrevida do animal devido ao alto grau de malignidade da neoplasia, tais como quimioterapia, auto-hemoterapia, corticoterapia e criocirurgia por alguns meses. Então nos últimos dias de vida a massa oral evoluiu rapidamente e o clinico veterinário relatou o rompimento do globo ocular. O proprietário optou pela eutanásia. Na necropsia observou-se nódulos na cavidade oral com áreas de ulcerações, onde este nódulo se estendia para a região infraorbitária, metástase para o linfonodo submandibular direito demostrando assim a alta malignidade desta neoplasia e seu comportamento invasivo. Palavras-chave: Neoplasia, Melanoma amelanótico, Cão, Cavidade oral, Histopatologia. Keywords: Neoplasm, Amelanotic melanoma, Dog, Oral cavity, Histopathology. Introdução: O Melanoma se origina a partir da transformação neoplásica dos melanócitos de origem embrionária da neuroectoderma, células responsáveis pela produção da melanina, um pigmento importante que atua no bloqueio endógeno dos raios 38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE 38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE Anais do 38º CBA, 2017 - p.0971

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MELANOMAS AMELANÓTICOS EM CÃO – RELATO DE CASO

Amelanotic Melanomas In Dog - Case Report

Thaynara Parente de CARVALHO1; Brenda Lurian do Nascimento MEDEIROS2;

Alinne Rosa de Melo CARVALHO3; Alexandra de Siqueira Cajado LIARTE3; Werner

Rocha ALBUQUERQUE3; Silvia de Araújo de França BAÊTA4, Silvana Maria

Medeiros de Sousa SILVA4 1 Médica veterinária, Universidade Federal do Piauí, [email protected] 2 Estudante de graduação de medicina veterinária, Universidade Federal do Piauí. 3 Residente em Patologia Animal, Universidade Federal do Piauí. 4 Docente, Departamento de Clinica e Cirurgia de Pequenos Animais, no Setor de Patologia Animal, Universidade Federal do Piauí. Resumo:

O Melanoma se origina a partir da transformação neoplásica dos melanócitos. O presente estudo tem como objetivo descrever um caso de melanoma amelanótico localizado na cavidade oral de um cão descrevendo o estado clínico, diagnostico, evolução do quadro clinico e necropsia deste animal. Uma cadela da raça dachshund, 2 anos de idade, pesando 8,8 quilos foi conduzida ao hospital veterinário universitário por apresentar alterações oculares a mais de 20 dias e nódulo na cavidade oral e na região infraorbitária. A citologia aspirativa por agulha fina das lesões sugeriu neoplasia de alto grau de malignidade, recomendando-se realizar histopatológico para desvendar a histiogênese da lesão. Foram coletados fragmentos do nódulo da cavidade oral para histopatológico, por meio deste obteve-se o diagnostico definitivo de melanoma amelanótico. Nos cinco meses subsequentes ao diagnóstico foi realizado tratamento para aumentar a sobrevida do animal devido ao alto grau de malignidade da neoplasia, tais como quimioterapia, auto-hemoterapia, corticoterapia e criocirurgia por alguns meses. Então nos últimos dias de vida a massa oral evoluiu rapidamente e o clinico veterinário relatou o rompimento do globo ocular. O proprietário optou pela eutanásia. Na necropsia observou-se nódulos na cavidade oral com áreas de ulcerações, onde este nódulo se estendia para a região infraorbitária, metástase para o linfonodo submandibular direito demostrando assim a alta malignidade desta neoplasia e seu comportamento invasivo. Palavras-chave: Neoplasia, Melanoma amelanótico, Cão, Cavidade oral, Histopatologia. Keywords: Neoplasm, Amelanotic melanoma, Dog, Oral cavity, Histopathology. Introdução:

O Melanoma se origina a partir da transformação neoplásica dos melanócitos de origem embrionária da neuroectoderma, células responsáveis pela produção da melanina, um pigmento importante que atua no bloqueio endógeno dos raios

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ultravioletas da luz solar (KUMAR et al., 2005). Os melanócitos são células encontradas na epiderme (SOUZA et al., 2011).

Quase todos os melanomas da cavidade oral dos cães são malignos. Este tumor pode apresentar duas formas: a melânica (pigmentada) e a amelânica (VERHAERT 2001). Em geral, os melanomas malignos surgem na mucosa parcialmente pigmentada da gengiva, lábios, bochechas, palato, orofaringe e língua. (JONES et al., 2000). Também são usualmente lesões solitárias, ocorrem comumente nas porções pigmentadas de cães de 7 a 14 anos (CARLTON e MCGALVIN, 1998).

Nos cães, o melanoma maligno ocorre principalmente nas raças fortemente pigmentadas, normalmente na boca, onde pode haver forte pigmentação melânica. Ocorre também na cabeça, no tronco e membros, inclusive no leito ungueal e escroto. Pode originar-se também em membranas oculares que contém melanina, recebendo o nome de melanoma intraocular (BOSTOCH e OWEN, 1975). A média de idade é de nove anos, não ocorrendo preferência por sexo. Em cães, as raças Terrier Escocês, Airedale, Boston Terrier, Cocker Spaniel, Springer Spaniel, Boxer, Golden Retriever, Setter Irlandês, Schnauzer miniatura, Doberman Pinscher, Chihuahua e Chow Chow, são as que apresentam maiores risco de desenvolver o melanoma (SCOTT et al., 1996).

Histologicamente, os melanomas de cavidade oral são mais frequentemente observados com o padrão epitelióide (RAMOS-VARA et al. 2000). A melanina intracitoplasmática é um marcador distinto de melanomas, no entanto, essa não é sintetizada em subtipos amelanóticos, ou está presente em raras células neoplásicas podendo ser confundida com outros pigmentos (SULAIMON et al. 2002). Podemos encontrar pequenos aglomerados de células tumorais frouxamente organizados no aspecto basilar do epitélio suprajacente, uma lesão chamada alteração juncional, que é uma das características dos melanomas malignos (JONES et al., 2000).

A atividade mitótica é um importante fator prognóstico para os melanomas (CANGUL, 2001). Em alguns casos, o índice mitótico pode ser usado para diferenciar comportamento benigno de maligno (SMITH et al. 2002).

O tratamento é a excisão cirúrgica, radioterapia ou quimioterapia, mas a eficiência destes tratamentos é muito pequena e o prognóstico de sobrevivência por mais de um ano é de 10% (BENITES e MELVILLE, 2003). Frequentemente os melanomas da cavidade oral, recidivam, em seguida às tentativas de excisão (JONES et al., 2000).

O presente relato tem como objetivo descrever um caso de melanoma amelanótico na cavidade oral e região infraorbitária direita, relatando diagnostico, tratamento, evolução clinica e necropsia. Descrição do Caso:

Foi atendido no Hospital Veterinário Universitário “Médico Veterinário Jeremias Pereira da Silva” (HVU) um cão, fêmea, da raça Dachshund com 2 anos de idade, pesando 8,8 quilos. O animal veio de clinica particular apresentando alterações oculares há 20 dias, com lacrimejamento intense e hiperemia da conjuntiva ocular direita. O animal também apresentava nódulos na cavidade oral e

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na região infra orbital direita. Foram solicitados exames citológicos, radiografia do crânio, hemograma e bioquímicos.

Ao exame citológico, observou-se células neoplásicas com alto grau de malignidade, caracterizado por anisocariose, anisocitose, cromatina frouxa, mutilnucleação, evidenciação dos nucléolos e amoldamento nuclear, observado na figura 1. O laudo de citológico concluiu a presença de uma neoplasia de alta malignidade, sugerindo-se a realização de histopatológico para definir a histiogênese do tumor e radiografia para determinar se havia algum comprometimento ósseo. Para a realização do exame foram coletados fragmentos do nódulo localizado na cavidade oral, fixado em formol tamponado a 10% e enviado para o Setor de Patologia animal para exames histopatológicos.

O fragmento do nódulo de cavidade oral enviado para histopatologia apresentava aproximadamente 0,6 x 0,5 x 0,5 cm de tamanho, coloração esbranquiçada e consistência macia. O material foi processado segundo a técnica rotineira de inclusão em parafina e coloração por hematoxilina e eosina. Microscopicamente, os nódulos eram compostos por mucosa oral e proliferação neoplásica na submucosa de alta celularidade, de crescimento infiltrativo e pleomorfismo intenso. As células neoplásicas eram poligonais (organizadas em cordões ou ninhos) em algumas áreas e levemente fusiformes (em feixes) em outras, com limites citoplasmáticos imprecisos, citoplasma discretamente eosinofílico, alta relação núcleo citoplasma, núcleos volumosos, arredondados, por vezes, binucleadas, cromatina frouxa ou vesiculosa, nucléolos grandes e múltiplos. O índice mitótico era moderado, sendo observadas figuras de mitose atípicas. Aproximadamente 10% das células neoplásicas apresentavam quantidades variadas de pigmento granular preto no citoplasma (melanina). Foram observadas áreas multifocais de infiltração da neoplasia na mucosa, com ulceração, hemorragias multifocais e discreto infiltrado neutrofílico associado. Com base na avaliação histopatológica, foi firmado o diagnóstico de melanoma amelanótico.

Nos cinco meses subsequentes ao diagnóstico foi realizado tratamento para aumentar a sobrevida do animal devido ao alto grau de malignidade da neoplasia, tais como quimioterapia, auto-hemoterapia, corticoterapia e criocirurgia por alguns meses. Então nos últimos dias de vida a massa oral evoluiu rapidamente e o clinico veterinário relatou o rompimento do globo ocular. O proprietário optou pela eutanásia.

À necropsia observou-se, na cavidade oral uma massa localizada na região medial-lateral direita de aproximadamente 10x10x10 cm, de coloração brancacenta, consistência firme que envolvia ossos nasais, ossos frontais, palato mole e palato duro com área extensa de ulcerações associada a edema de pele do lábio superior. Esta massa se estendia até a região infraorbitária direita e provocou ainda deslocamento da mandíbula para o lado esquerdo. O linfonodo submandibular direito apresentava-se moderadamente aumentado de tamanho com aproximadamente 4x2x2 cm e corte podia-se observar perda de padrão corticomedular com consistência mais firme e coloração amarelada. Na traqueia observou-se liquido espumoso de coloração rosa claro de quantidade moderada. Discussão:

O paciente relatado acima apresentou um tumor de ocorrência pouco comum, porém, quando se manifesta ocorre em animais da faixa etária semelhante à dele, conforme já descrito por Raskin e Meyer (2003). Quase todos os melanomas da

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cavidade oral dos cães são malignos, ulcerados e com características de crescimento rápido (BENITES e MELVILLE, 2003).

De acordo com Verstraet (2005), a cavidade oral é uma estrutura complexa, formada por diferentes tipos de tecidos, e cada qual pode originar uma variedade de neoplasia, cuja incidência, comportamento biológico e prognóstico estão associados principalmente a sua origem e características da espécie envolvida.

Como características peculiares, o melanoma maligno mostra-se extremamente agressivo e metastático. Dois terços dos casos apresentam envolvimento ósseo e cerca de metade dos casos apresentam metástase pulmonar ou de linfonodos regionais afirmam Nelson e Couto (1992).

O diagnostico pode definitivo pode ser dado através da histologia. A distinção entre um melanoma amelanótico e outros neoplasmas pobremente diferenciadas apresenta-se como um desafio ao patologista. Em alguns casos como este, a melanina intracitoplasmática é um marcador distinto de melanomas, no entanto, o melanoma amelanótico é caracterizado pela não síntese ou pouca quantidade de melanina, sendo necessário algumas vezes a realização de imunohistoquímico (SULAIMON et al. 2002). Conclusão:

O presente relato vem para salientar a importância do diagnóstico preciso do melanoma amelanótico, já que casos como estes estão cada vez mais presente nas clinicas veterinárias. A precocidade do diagnostico pode permitir um tratamento eficiente, aumentar a sobrevida do animal e diminuir chances de agravamento da doença e metástases. Isso foi fundamental para um prognóstico favorável e melhora da qualidade de vida do animal.

Referências:

BENITES, N. R.; MELVILLE, P. A. Tratamento homeopático de melanoma maligno em cadela. 2003. Disponível em: <http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/article/view. File/91/82 >. Acesso em: 10, janeiro, 2017 CARLTON, W.W; MCGALVIN, M. O. Sistema hemopoético. Patologia veterinária especial de Thomson. 2 ed. Editora Artmed – São Paulo. 1998. 23 p Cangul I.T. 2001. Improved classification, diagnosis and prognosis of canine round cell tumours. Vet. Sci. Tomorrow 4:1-19. BOSTOCK, D.E.; OWEN, L.N. Neoplasia in the cat, dog and horse. Holland: Wolfe Medical Publications. 1 e. New York. 1975. 67 p JONES, C. J.; HUNT, R. D.; KING, N. W. Sistema digestivo. Patologia veterinária. 6ed. Manole – São Paulo. 2000. pag 871 – 873 e 1067-68 KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robins e Contran – Patologia: as Bases Patológica. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 436 p NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Distúrbios da cavidade bucal, da faringe e do esôfago. Medicina Interna de Pequenos Animais. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, Cap. 31, p. 322 – 331, 2001.

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RAMOS-VARA J.A., BEISSENHERZ M.E., MILLER M.A., JOHNSON G.C., PACE L.W., FARD A. & KOTTLER S.J. 2000. Retrospective study of 338 canine oral melanomas with clinical, histologic, and immunohistochemical review of 129 Cases. Vet. Pathol. 37:597-608. RASKIN, R. E.; MEYER, D. J. Atlas de citologia de cães e gatos. 1 e. São Paulo: Roca, 2003. 354p. SCOTT, D.W.; MILLER, W.H.; GRIFFIN, C.E. Dermatologia de pequenos animais. 5ª ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. 1130p. SMITH S.H., GOLDSCHMIDT M.H. & MCMANUS P.M. 2002. A Comparative re-view of melanocytic neoplasms. Vet. Pathol. 39:651-678. SOUZA, F. B.; ESTEVES, N. A.; NETO, A. A. B.; LAVORATO, A. B.; STURION, D. J. Melanoma em cavidade oral de um canídeo - Relato de Caso. 2011. Disponível em:<http://fio.edu.br/cic/anais/2011_x_cic/PDF/Medicinaveterinaria/MELANOMA%20EM%20C AVIDADE%20ORAL.pdf >. Acesso em: 31, dezemmbro, 2016 Sulaimon S.S., Kitchell B.E. & Ehrhart E.J. 2002. Immunohistochemical detection of melanoma-specific antigens in spontaneous canine melanoma. J. Comp. Pathol. 127:162-168. VERSTRAETE F.J. Mandibulectomy and maxillectomy. Vet. Clin. North Am.: Small Anim. Pract., 35:1009-1039, 2005.

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