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Módulo 2 Diplomado O jornalista Latino Americano como agente e líder no desenvolvimento social. 1 Introdução O jornalismo de pesquisa é uma tarefa complicada e delicada que oferece profundidade de perspectiva e requer amplitude de recursos. Em muitos países, este gênero é praticamente inexistente devido aos obstáculos econômicos, legais, políticos, sociais e culturais que enfrenta, sobre tudo quando se pratica em condições adversas ou pouco propicias. Por outra parte, o jornalismo de pesquisa deve mais a iniciativa do repórter ou da mídia, que a dinâmica da notícia diária. Este módulo oferece ferramentas a jornalistas interessados em superar na prática tais restrições, mediante a aplicação de procedimentos de trabalho diligente, a incorporação de métodos de pesquisas empregados nas ciências sociais e o uso de ferramentas e técnicas relacionadas com as novas tecnologias da informação e a comunicação. Os temas do módulo oferecem uma visão prática do marco legal em que operam as mídias e quem trabalham em eles. Descobrindo o Jornalismo de Pesquisa Jornalismo de Pesquisa: a produção planejada, com metodologia científica, de peças noticiosas, que ademais de abundancia nas respostas as perguntas de que, quem, quando e como, busca duas respostas integrais: “Por que e para o que da notícia” Esses trabalhos informativos de profundidade neutralizam positivamente, proveitosamente, as duas limitações habituais do jornalismo regido pela hora do fechamento: a urgência e a superficialidade. O jornalismo de pesquisa reclama rigor, dedicação, talvez recursos discretos; assim como o apoio e a paciência do editor e da mídia.

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Módulo 2 Diplomado O jornalista Latino Americano como agente e líder no desenvolvimento social.

1

Introdução

O jornalismo de pesquisa é uma tarefa complicada e delicada que oferece profundidade de perspectiva e requer amplitude de recursos.

Em muitos países, este gênero é praticamente inexistente devido aos obstáculos econômicos, legais, políticos, sociais e culturais que enfrenta, sobre tudo quando se pratica em condições adversas ou pouco propicias.

Por outra parte, o jornalismo de pesquisa deve mais a iniciativa do repórter ou da mídia, que a dinâmica da notícia diária.

Este módulo oferece ferramentas a jornalistas interessados em superar na prática tais restrições, mediante a aplicação de procedimentos de trabalho diligente, a incorporação de métodos de pesquisas empregados nas ciências sociais e o uso de ferramentas e técnicas relacionadas com as novas tecnologias da informação e a comunicação.

Os temas do módulo oferecem uma visão prática do marco legal em que operam as mídias e quem trabalham em eles.

Descobrindo o Jornalismo de Pesquisa

Jornalismo de Pesquisa: a produção planejada, com metodologia científica, de peças noticiosas, que ademais de abundancia nas respostas as perguntas de que, quem, quando e como, busca duas respostas integrais: “Por que e para o que da notícia” Esses trabalhos informativos de profundidade neutralizam positivamente, proveitosamente, as duas limitações habituais do jornalismo regido pela hora do fechamento: a urgência e a

superficialidade.

O jornalismo de pesquisa reclama rigor, dedicação, talvez recursos discretos; assim

como o apoio e a paciência do editor e da mídia.

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Objetivo Geral

A final deste módulo, os participantes:

- Terão uma visão prática do marco legal em que operam as mídias e quem trabalham nelas.

- Utilizam uma definição pontual sobre o jornalismo de pesquisa.

- Conhecerão as principais expressões profissionais desta prática.

- Reconhecerão os objetivos sociais desta especialidade.

- Identificarão o caráter e natureza das fontes de informação.

- Disporão de elementos para desenhar uma peça de jornalismo de pesquisa.

Temário

1. A pesquisa jornalística

2.- Marcos regulatórios do jornalismo

3.- Metodologia científica no jornalismo

4.- O desenho de uma pesquisa

Tema 1. A pesquisa jornalística

“Todo o mundo sabe o que é um jornalista de pesquisa. É o tipo com o cigarro entre os lábios, o semblante duro, a gabardine, que entra e sai das cabines telefônicas, fala pelas comissuras laterais de sua boca e ignora a outros jornalistas mais simples. Nunca teve que aprender seu trabalho, nasceu para ele. Saiu do útero de sua mãe com uma agenda repleta de altos contatos junto com o certificado de nascimento de seu pai. Seu trabalho consiste primordialmente em chamar a seus contatos e dizer "passa-me algo" Aparece pela redação só cada dois ou três meses para depositar seu texto na mesa de seu atônito diretor, solta um par de palavras e volta a desaparecer na noite”.

Jack Anderson

Esta descrição – o falam adivinhando– é uma parodia. Também surpreende; a fim de contas é também uma visão romântica de uma profissão que muitas pessoas longe da profissão têm adquirido através do cine e a televisão, duas mídias especializadas na construção de arquétipos que, como todos eles, não deixam de ter alguns elementos de realidade.

O certo é que o jornalismo de pesquisa é um trabalho mais bem solitário, e assim tem sido sempre, fora de notáveis excepcionais como as unidades de pesquisa que aos finais dos oitenta surgiram em algumas redações do mundo – umas contas destacadas na América Latina –, mas que declinaram uma década depois para praticamente desaparecer a inícios deste século.

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Historia do jornalismo de pesquisa

Em um princípio, o jornalismo de pesquisa não era realizado nada mais por jornalistas, senão também por intelectuais – a maioria, de esquerda– que chamavam a atenção sobre os principais problemas sociais que vivia Estados Unidos ou Inglaterra.

Na seguinte linha do tempo poderá identificar alguns eventos relevantes que marcam o início do jornalismo de pesquisa:

1881 Aparece uma das primeiras peças de jornalismo de pesquisa, publicada em 1881 na revista TheAtlantic, ainda hoje em circulação. Seu autor, Henry Demerest Lloyd, realizou uma grande historia a respeito do monopólio das ferrovias nos Estados Unidos. Faça clic na liga para ver o artigo completo.

http://www.theatlantic.com/issues/1881mar/monopoly.htm

1890 Destacam os trabalhos de Jacob Riibs, que em 1890 exibiu a miséria dos bairros marginais de Nova York.

1902

Ida Tarbel, trabalhou durante vários anos uma reportagem sobre as praticas depredadoras da petroleira Standard Oil, publicado na revista McClure’s a partir de 1902.

Este mesmo ano, Lincoln Steffen publica sua primeira novela sobre corrupção municipal, Tweed Days in St. Louis; o britânico John Spargo publicou TheBitterCry of theChildren, um chocante relato sobre o trabalho infantil, e Upton Sinclair, o mais conhecido entre eles, autor da novela TheJungle, na que denunciou os horrores que viviam os trabalhadores de empacotadoras de carne, que inclusive lhes chegavam a custar a vida.

1906.

Surge um grupo de intelectuais-jornalistas foi desprezado e temido pelo poder. O presidente dos Estados Unidos Theodore Roosvelt os batizou como «muckrackers», é dizer, os «rastrilladores» (no México lhes chamamos «pepenadores»,(no Brasil lhes chamamos «catadores de lixo», gente que vive de cutucar entre o desperdiço acumulados em lixões públicos), e não ocultava sua amargura.

Sobre este grupo se dizia o seguinte:

“Tem imundice no solo e esta deve ser raspada com o rastelo; existem tempos e lugares onde este trabalho é o mais importante de todos os que se podem realizar. Mas o homem que nunca faz outra coisa, que nunca pensa, fala ou escreve, salvo a respeito de suas façanhas com o rastelo, rapidamente se converte não em uma ajuda a sociedade, não em uma incitação para o bem, mas em uma das potentes forças do mal”.

1902 1890 1906 1881

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Na América Latina aparece o jornalismo de pesquisa já para meados do século XX.

Este atraso não se deve a falta de interesse dos jornalistas ou a ausência de intelectuais comprometidos com grandes causas. Todo o contrario, em nossa região abundavam ambos, mas o desenvolvimento da imprensa industrial tomou mais tempo, não só por razões econômicas, mas históricas: boa parte da imprensa latina americana abreva da Europa, não dos Estados Unidos, e isso a leva a ser uma imprensa militante, que fundamentalmente o que difundia e defendia eram ideias, não notícias. É o escândalo Watergate, o caso paradigmático de jornalismo de pesquisa por excelência, que pode reconstruir-se não a partir da novela AllthePresident’sMen, muito menos do filme que lhe seguiu com o mesmo título, mas pelo trabalho cotidiano dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, publicado no diário The Washington Post, desde suas próprias páginas. Faça clic na liga para conhecer mais da reportagem.

Faça clic na liga para conhecer mais da reportagem: http://www.washingtonpost.com/wp-srv/national/longterm/watergate/front.htm

E mesmo assim, o jornalismo de pesquisa se manteve como uma pratica mais bem esporádica dentro da própria imprensa. Não é que se desprezava esta especialidade, mas que requeria de muito mais recursos econômicos e humanos para desenvolver-se, algo no que a maioria das mídias não estava muito disposta em investir.

A mais forte expansão do jornalismo de pesquisa nos Estados Unidos se dá a partir de um ataque contra a imprensa, e é resultado do trabalho dos jornalistas, não de uma decisão das empresas de mídias.

Don Bolles, repórter do diário, Arizona Republic, realizava uma pesquisa sobre fraudes com terras e crime organizado na cidade de Phoenix. Uma de suas fontes o chamou, em 2 de junho de 1976, no estacionamento de um centro comercial. O motivo foi que lhe irão entregar uns documentos que resultavam fundamentais para demonstrar os vínculos entre criminais e alguns funcionários públicos.

O projeto Arizona

Bolles chegou pontual ao encontro, mas sua fonte nunca apareceu. Desde um telefone público lhe chamou para saber se aguardaria a entrevista ou não. Recebeu a instrução de esperar um pouco mais de tempo, dentro de seu próprio carro. Minutos depois, uma bomba destruiu o veículo, com Bolles dentro. Embora em um princípio sobreviveu ao atentado, Bolles sofreu 10 dias de agonia, com as duas pernas e um braço amputados. Morreu a 13 de junho.

El auto de Don Bolles tras el atentado

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A indignação foi geral, mas não passou de notas alusivas que condenavam o fato. A organização InvestigativeReporters and Editors (IRE), da que Bolles formava parte desde sua ainda recente fundação, decidiu fazer algo mais que rasgar-se as vestiduras: se lançou a pesquisar. Contudo, o que fez não foi tratar de averiguar quem havia matado a Bolles, porem sobre a corrupção que ele pesquisava, é dizer, terminar o trabalho jornalístico que lhe havia custado à vida a seu colega. Esta pesquisa conjunta foi conhecida como o Projeto Arizona. Para ele se integrou uma equipe com jornalistas de várias partes do país, encabeçados pelas duas vezes ganhadoras do premio Pulitzer Bob Greene, apesar as resistências que encontraram em seus próprios meios e inclusive entre alguns membros de IRE, que não se encontravam muito cômodos com a ideia de iniciar uma «cruzada». Assim, ficaram fora as mídias de peso de The New York Times e The Washington Post. Nem sequer participou a própria mídia onde trabalhava Don Bolles.

Mesmo assim, 38 jornalistas – alguns utilizando o tempo de suas próprias férias, outros com permissão sem gozo de salário, os menos com apoio de seu jornal – trabalharam durante cinco meses para elaborar uma grande reportagem que se publicou em 23 entregas, a partir de 17 de março de 1977, em 28 jornais e canais de televisão dos Estados Unidos, entre eles Newsday, The Miami Herald, The Kansas City Star, The Boston Globe, TheIndianapolisStar, The Denver Post e The Arizona DailyStar. A maior relevância nacional se alcança quando a agencia de notícias AssociatedPress inicia o reenvio dos despachos em 18 de março.

Independentemente do que poderão ou não demonstrar nessa reportagem os membros de IRE, este trabalho representou uma «sorte de seguro de vida» para os repórteres, sobre tudo para aqueles que trabalhavam nas mídias com um muito alto perfil de pesquisa.

A ideia básica de realizar este trabalho, e o valor de uma reação deste tipo, longe da mera retaliação do grêmio, foi uma mensagem forte e clara:

Podem matar a um jornalista, mas o resultado que obterão não será longe aos repórteres, porém tudo o contrário: atrairão a atenção de toda a imprensa.

Para nós na América Latina, precisamente nesta época na que o grêmio se vê acuado por poderes fáticos que, desde faz anos, encontram no assassinato uma forma eficaz para silenciar jornalistas e mídias, o “Projeto Arizona” representa uma lição que bem poderia ser aprendida e aplicada para:

Pôr um freio a violência que atenta contra a liberdade de imprensa.

Recuperar o direito à informação de nossas sociedades.

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Como definir o jornalismo de pesquisa?

Para chegar à definição de jornalismo, primeiro estabeleçamos que não seja o jornalismo de pesquisa.

Faça clic em cada elemento para ver mais informação.

Não é jornalismo informativo

Tudo bem repórter deve utilizar certas técnicas de pesquisa, na cobertura de todas suas notas: entrevistas, a busca do contexto, contratação de dados, verificação de ditos e fatos, detectarem ângulos particularmente relevantes, etc...

Não é jornalismo de denuncia

Frequentemente encontramos uma grande implantação de declarações – poucas vezes acompanhadas de documentos que as sustentem – que inclusive podem ser sensacionais. Por citar um exemplo, lembram as conversas com Mónica Lewinsky? O jornalismo de pesquisa geralmente denunciar, sim, mas não sempre, nem é condição sine cua non: também é explicar e ordenar uma realidade complexa.

Não é o jornalismo cívico, nem muito menos o chamado jornalismo cidadão

A mais de 20 anos de seu nascimento, o jornalismo cívico tem jogado um papel importante no estabelecimento de uma relação distinta entre a imprensa e os cidadãos, cujos pontos de vista são tomados em conta à hora de definir a agenda informativa e oferecer elementos para que esses temas de iniciativa cidadã encontrem canais para a ação a partir da informação e a convocatória das mídias à deliberação pública.

Não é a mera transcrição de filtrações

Polícias, políticos, centros de inteligência, acadêmicos e até particulares têm nutrido desde sempre os espaços informativos com seu trabalho. Ou seja, porque tem estabelecido uma relação de confiança com um repórter ao longo do tempo, ou porque buscam canalizar para a opinião pública algo que consideram importantes, ou até por casualidade, algumas pessoas terminam entregando a um jornalista o material que, em ocasiões, lhes têm custado anos reunir e sistematizar.

Não é reproduzir simples declarações, O jornalismo de declarações se baseada em ditos, não em

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por fortes que sejam

fatos.

Quando Bob Woodward e Carl Bernstein pesquisavam o caso Watergate para o diário The Washington Post, um funcionário da administração Nixon lhes deu um dos melhores conselhos que qualquer jornalista pode receber: «Vejam o que fazemos não o que dizemos».

O melhor do caso para nós é que o jornalismo de pesquisa não se circunscreve aos âmbitos político, econômico ou judicial, como geralmente parece. O jornalismo de pesquisa pode realizar-se praticamente em qualquer campo que queiramos imaginar: na ciência, nas artes, no esporte… é dizer, em todo entorno social e cultural.

Todo jornalista é, pode ou deve ser um jornalista de pesquisa?

Gabriel García Márquez sustenta: “Todo jornalista é um jornalista de pesquisa, porque precisamente isso é o que se supõe que deve fazer-se em todos os casos (investigar, pois)”. Se fizermos caso a esta teoria não haveria jornais.

O jornalismo de pesquisa requer:

Tempo e recursos humanos

Materiais e econômicos superiores aos da cobertura diária de informação, que a final de contas é com o que se enchem os jornais e as notícias.

E um pequeno exército de jornalistas com fontes fixas designadas predeterminadas.

Tão pouco seria justo exigi-lhes a todos os jornalistas que façam da pesquisa um apostolado, nem da proteção física e legal que frequentemente complementar-lhe para assegurar o máximo de profissionalismo e qualidade possíveis.

“Todo jornalista pode ser um jornalista de pesquisa, sempre e quando tenha a capacitação adequada para ele e se reúnam as demais condições que o permitem”.

O que é o jornalismo de pesquisa?

O jornalismo de pesquisa parte de uma hipótese e aplica uma metodologia, de forma muito similar à que se utiliza nas ciências sociais. Contudo, nem se pode equiparar: sua pratica não alcança a escala de ciência, pois o jornalista não teoriza nem produz conhecimento; simplesmente registra fragmentos de realidade e revela zonas escuras desta.

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O jornalismo é um meio, não fin. O objetivo básico da imprensa é dotar aos cidadãos da informação necessária para que estes possam tomar decisões fundamentadas nos âmbitos de seu interesse e competências, assim como formar parte ativa e fundamentada de suas próprias comunidades. O jornalismo de pesquisa potencia ainda mais esta característica essencial do jornalismo.

Qualquer profissional das ciências sociais pode fazer pesquisa – pura e dura–, mas isso não é jornalismo, é academia. Contudo, devemos incorporar ao jornalismo os métodos de pesquisa empregados nas ciências sociais. Visto assim, a pesquisa jornalística se distingue precisamente pelo método empregado para planificar e realizar uma reportagem.

Consequentemente, o jornalismo de pesquisa não tem que ver com a forma em que se apresenta a informação – seja uma nota, uma reportagem, uma crônica ou um artigo–, sino com a forma em que se obtém a informação, é dizer, é um método, uma forma de trabalho e de indagação da informação.

Outra diferença importante são os objetivos:

“O jornalismo de pesquisa pretende não só interar à sociedade do que ocorre em seu entorno, sino verdadeiramente informar-la sobre as causas e as consequências de fatos que, de uma ou outra forma, afetam sua vida cotidiana”

1.- Iniciativa

Uma das características do jornalismo de pesquisa é que o repórter leva sua própria agenda de temas, geralmente alheia à conjuntura informativa que homogênea aos diários, o que implica que sem sua intervenção, a notícia não sai à luz.

2.- Rigor e sacrifício

O jornalista de pesquisa trabalha com seu próprio horário, mas isso no significa que disponha de muito tempo livre. Pelo contrario, esta característica geralmente funcionar em contra. O jornalista de pesquisa pode dedicar até 16 ou 18 horas ao dia.

3.- Profundidade

Para um jornalista de pesquisa resulta fundamental conhecer os antecedentes, o contexto, os alcances, as consequências imediatas e até os diversos cenários que se derivam de uma situação concreta. A imagem mais socorrida para explicar este é a de um iceberg: vemos somente o que está na superfície, enquanto a imensidão desse corpo de gelo permanece oculta debaixo às águas.

4.-Tempo

Os resultados do jornalismo de pesquisa não estão condicionados pela urgência, mas pela precisão, é dizer, à verificação de absolutamente todos os dados que teremos de publicar.

5.- Vencer resistências

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Muitos objetos de pesquisa se distinguem por tratar de manter oculto aquele que pode prejudicar seus interesses ou suas intenções, e farão todo o que esteja a seu alcance para obstaculizar o trabalho de um jornalista de pesquisa, desde tratar de desviar sua atenção até exercer diversas formas de pressão para afastá-lo.

Com todo o anterior, podemos chegar a uma tentativa de definição que, como toda proposição, é uma hipótese, uma ideia provisória que sempre poderá ser substituída por outra melhor:

Esta é, ao menos, a definição clássica que provavelmente vários de vocês já escutou antes. Mas permita aqui insistir em algo que já se tinha mencionado antes:

Entre ambos os conceitos encontramos um denominador comum:

O jornalismo de pesquisa tem como um de seus eixos principais comprovarem se o sistema (pelo que o cidadão paga e do qual depende) funciona corretamente ou não.

E este é um dos principais serviços públicos da imprensa, em geral, e do jornalismo de pesquisa, em particular: dotar à sociedade da informação necessária que lhe permita uma fundamentada participação em todos aqueles assuntos que lhe competem.

A final de contas, uma aspiração comum de nossas sociedades é viver em uma democracia participativa, plena, abrangente, tolerante e socialmente responsável, é dizer, com igualdade de oportunidades para todos, mas não só de forma enunciativa, porém real.

O jornalismo de pesquisa é o produto informativo gerado por iniciativa do jornalista ou da mídia, que é resultado de um trabalho de indagação rigorosa e tão prolongado como seja possível e necessário, e que,

traz vencer algum tipo de resistência, revela ou explica algo que de outro modo não tivera saído à

luz.

O jornalismo de pesquisa também é explicar uma realidade complexa, que está à vista de todos, mas

que tem sido deconstruida e reconstruida pelo trabalho do repórter, fazendo-a compreensível para a

sociedade.

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Tipos de jornalismo de pesquisa

Jornalismo de saturação

As características principais deste tipo de jornalismo são:

É o tipo de jornalismo de pesquisa mais antigo e praticado.

Baseia-se no uso intensivo de fontes, das quais se obtém a maior quantidade de informação possível sobre um assunto em particular.

A técnica é relativamente simples e ao alcance de qualquer jornalista.

Trata-se de identificar a todas as fontes que podem ter informação pertencente relacionada com nosso objeto de pesquisa, e ter acesso a elas.

Utilizam-se entrevistas pessoais e chamadas telefônicas, assim como as novas tecnologias (correio eletrônico, chat, etc...).

Vão se reconstruindo os elementos de uma historia, respondendo às perguntas clássicas: o que, quem, onde, quando, como e –sobre tudo– por que.

O jornalismo de saturação se distingue do chamado reportagem de grande fôlego – esse que pode tomar-nos semanas ou até meses em realizar– em que:

“Não se trata de acumular dados até que consideremos que temos cobertos todos os ângulos possíveis para escrever uma historia mais que os iremos publicando em forma muito similar ao da nota informativa”

Assim, alguns princípios metodológicos que o distinguem são:

Este tipo de jornalismo é um gotejamento de informação constante e permanente: duas ou três notas a semana que –cada uma– vai economizando em um fato central, às vezes desde situações colaterais ou periféricas.

Revelar as pistas de acordo com a informação que vamos obtendo

Obter o sustento documental que colabora a informação que se nos tem proporcionado de forma oral.

Deve-se inverter o melhor de suas capacidades indagações para localizar este tipo de documentos e aceder a eles.

Tem que estar consciente de que em ocasiões não existem tais documentos.

Em função das coincidências e discrepâncias que detectemos, é indispensável contrastar todas e cada uma das declarações obtidas com ao menos outras duas fontes independentes a primeira.

Aqui jogam um papel determinante as técnicas de entrevista que pratiquemos.

A forma mesma de nossas perguntas pode e geralmente determinar o tipo de respostas que obtemos. Muitas fontes de informação estarão dispostas não tanto a proporcionar-nos a informação que requeremos, porém o que às vezes elas crêem que queremos ouvir.

Um exemplo grosseiro: não é o mesmo perguntar-lhe a três pessoas distintas, em lugares diversos, que hora são? Que simplesmente acercar-nos a alguém e perguntar-lhe já são as três da tarde?

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Não faltará quem nos diga que se, que são às três da tarde, embora se o temos perguntado na madrugada, simplesmente porque pretende comprazermos.

Alguns pontos importantes que deve tomar-se em conta nesta técnica de entrevista se pode consultar no seguinte diálogo:

Coloque seu mouse sobre cada globo de diálogo para conhecer estes pontos

A. Em ocasiões, os jornalistas se sentem com o direito inalienável a exigir respostas de suas fontes, e isto os leva a adotar atitudes demasiada agressivas e inclusive até insolentes.

B. Quem já levou muitos anos nesta profissão sabemos que isto provoca nas fontes reações que, longe de aproximarmos a informação, nos afasta dela.

C. Os jornalistas têm o direito inalienável –este sim– a perguntar. As fontes têm o mesmo direito a não responder.

D. Ninguém está obrigado ante nós a satisfazer nossos requerimentos de informação, exceto quando estamos na busca de informação pública, em posse de um funcionário público, porque esta pertence a toda a sociedade.

E. Mesmo assim, convém ter presente a importância de cuidar as formas que empregamos para acercar-nos e abordar a uma fonte informativa. A cortesia, o respeito, a diferença, a firmeza e a claridade que mostremos ante nossas fontes de informação funcionarão.

F. O farão melhor que aquelas outras atitudes com as que geralmente confundem-se como: a cortesia não é sinônimo de servidão; nem o respeito de submissão; nem a diferença de condescendência; nem a firmeza de rudeza; nem a claridade de rudeza.

G. Pode concordar utilizar a técnica da simplicidade, aparentar que não sabemos demasiado sobre um assunto, ou mostrar certa surpresa pelo que nos dizem até quando nós já o sabemos. Isto pode alentar a fonte a dar mais detalhes.

No jornalismo de saturação, o mais importante será:

A sistematização da informação obtida.

Ordenar-la de forma cronológica.

Relacionar entre sim fatos, ditos e pessoas.

O mais conhecido exemplo deste tipo de jornalismo é a cobertura do caso Watergate, a princípios dos setenta, que derivou em uma investigação do Congresso estadunidense e, a final, significou a renuncia do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Historia que se publicou em centenas de notas.

Bob Woodward e Carl Bernstein recolheram milhares de dados através de centenas de entrevistas realizadas pessoalmente ou por telefone. Segundo Bernstein, este tipo de jornalismo tenta chegar a melhor versão que possa obter-se da realidade.

Carl Bernstein y Bob Woodward

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Em um âmbito mais perto a nós, encontramos o trabalho paradigmático de Gabriel García Márquez com Noticia de um sequestro, que se entregou em forma de novela, e Relato de um náufrago, que se publicou em treze notas.

O polaco RyzardKapuscinski, com a Guerra do futebol y o imperador, respondem a centenas de entrevistas que lhe permitiram a complementar compreensão do caso que investigava, para depois contá-lo de forma ficção.

No caso de Kapuscinski, recordemos ademais que ele era um correspondente de agencia de notícias em um país sob regime comunista. Isto significava duas desvantagens:

Seus escritórios de imprensa deviam ser muito pequenos, invariavelmente sujeitos a estrutura da pirâmide invertida.

Devia cuidar forma e fundo daqueles sobre o que escrevia para superar a censura de seu governo.

Contudo, Kapuscinski não se limitou por ele. Seu trabalho como repórter sempre foi exaustivo e isso lhe permitiu escrever extraordinárias reportagens em forma de livros, o qual ilustra claramente o que é esta classe de jornalismo, tendo ficado solucionado este ponto do caso.

Jornalismo encoberto.

Como seu próprio nome o indica, o jornalismo encoberto consiste em:

Fazer-se passar por outro.

Infiltrar-se em um ambiente alheio e o repórter desde dentro, sem que o objeto de nossa pesquisa saiba que somos jornalistas.

Fantasia-se para fazer resultados jornalísticos de outra forma impossível de conseguir.

E isto, a todas as luzes, é um engano!

Assim o reconhece o mais célebre jornalista encoberto do mundo, o repórter alemão GünterWallraff: quem disse«Para não ser enganado, tem que enganar».

(GünterWallraff, 2000)

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Com 66 anos de idade, Wallraff tem praticado este método desde meados dos anos sessenta, quando era um operário em algumas fábricas alemãs e publicou seus primeiros textos em um diário sindical. Ao longo de sua vida profissional se tem disfarçado de tudo: operário, traficante de armas, repórter muckracker em no diário Bild, ativista político, turco imigrante em seu país natal Alemanha e, recentemente, padeiro e empregado de call center.

Em suas próprias palavras, o jornalismo encoberto é um método para iludir a versão oficial, porque o discurso oficial nunca explica o tema, a realidade […]

Bibliografia Blundell, William. (1988) Blundell, William. (1988). The Art and Craft of Feature Writing. Penguin Group. USA

Günther, Wallraff. (2000) Günther, Wallraff. (2000). O jornalista indesejável tradução de Joaquín Jordá. Anagrama. Espanha

The Atlantic (1881) The Atlantic (1881).The Story of a Great Monopoly. Recuperado a 23 de Julho de 2009 de: http://www.theatlantic.com/doc/188103/monopoly

The Washington Post (2009) The Washington Post(2009). TheWatergateStory. Recuperado a 23 de Julho de 2009 de: http://www.washingtonpost.com/wp-srv/politics/special/watergate/index.html

Nós, neste tema, a princípio não recomendamos exercer este tipo de jornalismo precisamente porque significa que o repórter se ponha em duas situações:

Vulnerabilidade que dificilmente poderia resolver por si mesmo

E a falta de uma total proteção de sua segurança física.

Pelo menos, não o recomendamos para a cobertura de situações para as que um repórter com a frente de ocioso poderia ver-se tentado, como qualquer expressão do crime organizado:

Pirataria

Trafego de pessoas

Contrabando de armas

Narcotráfico

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O próprio Wallraff compreende que na América Latina os jornalistas vivem e trabalham em um ambiente de muita e maior vulnerabilidade que na Europa, e que o grau de exposição ao perigo é muito maior, assim como sua vulnerabilidade.

Recentemente, Wallraff fixou sua postura sobre a conveniência de encobri-se no México para revelar historias vinculada ao narcotráfico: “Poderia estar tentado a responder a esta pergunta com certa ligeireza devido a distancia e diferente realidade que tenho aqui, mas sei que, quem se mete nestes âmbitos vive com um pé em sua própria tumba. Parece-me sumamente difícil, praticamente impossível, encontrar uma resposta a esta pergunta. Não fica mais que dizer que o que faz isso merece todo nosso respeito, mas eu, aqui, desde Alemanha, não posso nem expressar-me a favor nem contra de tais projetos. Não o recomendaria.”

“Quando uma informação, embora tenha sido pesquisada em condições ilegais, é de tal importância para a sociedade, o direito de informação do público prevalece”.

De novo, nós por princípio de contas não recomendamos o método Wallraff, não só pelas considerações já levantadas, mas porque também tem serias implicações éticas.

O jornalismo encoberto parte das seguintes bases:

1. O engano, de fazer acreditar as pessoas que se encontram ante alguém como eles.

2. A indução a que nos digam ou nos permitam presenciar coisas e situações as que, se souberam que somos jornalistas, jamais nos teriam dado acesso.

Alguns dirão que esse é precisamente o ponto, a virtude deste tipo de jornalismo: revelar algo que, de outra maneira, teria sido impossível. Mas resulta pertinente perguntar-nos:

De verdade é impossível?

Nós consideramos que nenhum jornalista pode optar por este tipo de práticas sem ter esgotado antes absolutamente todas as opções de obter l informação que se busca por todos os meios e utilizando todos os recursos e técnicas que nos proporciona o jornalismo de investigação, o qual desenvolverá nas próximas semanas deste curso.

Isto é aplicável também ao muito entendido uso da câmara oculta, que em muitos casos tem sido pervertido e não busca já tanto a revelação de situações de uma grande pertinência e serviço social, mas na simples e vulgar sensacionalismo da notícia.

E a combinação de ambos os recursos – o jornalismo encoberto e a câmara oculta– só multiplica os conflitos deontológicos para os jornalistas que o praticam e para as mídias que o estimulam.

Caso do programa PrimeTime Live.

Uma reportagem de 1992 realizado pelo programa PrimeTime Live, da cadeia televisiva estadunidense ABC, no que acusaram a cadeia de supermercados Food Lion de vender carne em mal estado, pescado posto de molho em produtos químicos para ocultar sua fetidez, queijo mordido por ratos e até produtos retirados do lixo cheios de moscas.

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Para ele, os produtores do programa, Lynne Dale y SusanBarnett, mentiram e induziram a outros a mentir para consegui-lhes trabalho em supermercados Food Lion de Carolina do Norte e Carolina do Sul. Já dentro, utilizaram câmaras ocultas para documentar a reportagem.

Em um primeiro juízo, a cadeia ABC foi condenada a pagar uma indenização de 10 milhões de dólares a empresa afetada, por haver violado a lei, o qual desatou um inútil debate ético nos Estados Unidos. Um segundo juízo confirmou a sentença, mas reduziu a pena a 5.5 milhões de dólares.

Finalmente, sete anos depois, um tribunal de apelações – em uma decisão dividida que ressalta a controvérsia do caso– anulou a sentença porque «ABC tinha como único interesse beneficiar o consumidor».

Contudo, os dois repórteres foram condenados a pagar um dólar de multa, cada um, por ter utilizado identidades e referencias falsas para obter trabalho como dependentes em uma das lojas, o que lhes deu acesso as fabricas processadoras de alimentos dessa empresa.

O jornalismo encoberto é que resulta ética e judicialmente controvertível.

Mesmo assim, não podemos deixar de assinalar um dos argumentos com que GünterWallraff costumava empregar para justificar e reivindicar ao jornalismo encoberto que, naturalmente, pode ser socialmente útil e outro fator para ir reconstruindo nosso caso:

“Sinto-me mais cômodo com os vulneráveis porque, a diferença dos poderosos vive a realidade, tem opiniões realmente

interessantes e movem o mundo. Com eles tenho aprendido que meu papel é, como na física quântica, o de um muito pequeno

elemento de aceleração, que empurra a outros e a sua vez é impelido por outros. Fazer jornalismo encoberto para mim é uma

forma de contra-insurgência, funciona para entender a realidade.” GünterWallraff

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Indicadores e aspectos básicos da pesquisa

Em forma muito sucinta, estes são os seis aspectos que Bill Blundell aprendeu com a experiência que devia cobrir exaustivamente em cada historia que contava e que logo colocaria amplamente em seu livro The Art and Craft of FeatureWriting.

Desta forma organizava seu trabalho de repórter antes de sentar-se frente ao teclado. Segundo conta, «algumas destas coisas são de grande interesse, e outras pode ser que não tanto, mas já sempre tenho em conta as seis delas».

Evidentemente, o mesmo pode servir-nos como um guia para planificar uma pesquisa jornalística.

Independentemente do método, as técnicas e as ferramentas que utilizemos, asseguremo-nos de ter «coberto todas as bases». Isto é, que nossa historia não tem lagunas de informação transcendente; podemos passar o filme completa.

Uma anedota: Um repórter que assistiu a uma das oficinas de Blundell no PoynterInstitute fez um simples desenhos para recordar ele mesmo e seus colegas os seis pontos aqui tratados. Muitos deles ainda o conservam baixo do vidro de sua escrivaninha para ter presente que devem contar a historia completa.

6 aspectos que Bill Blundell aprendeu:

Historia.

Alcance.

Razões centrais.

Impacto.

Conjunção e ação de forças contrárias.

Futuro

Historia

RESPOSTA Quando começou isto?

RESPOSTA Quem o começou?

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Faça clic em cada resposta.

As coisas têm uma origem, e às vezes esta se remonta bastante atrás no tempo.

A busca e identificação dos antecedentes nos permitirão responder a esta primeira questão, as vez que nos proporcionam luzes sobre aspectos da historia que eventualmente poderíamos ter deixado passar de longe – ainda quando os tivéramos detectado – por desconhecer sua relação com os feitos que pesquisamos e, consequentemente, sua relevância

Esta pergunta pode resultar chave para identificar os interesses em jogo e a evolução que tem tido ao longo do tempo. Identificar aos atores primários nos dá elementos para dar seguimento, descobrir aquele que os une ou os separa e conhecer suas relações, etc.

Toda historia tem uma coluna vertebral, uma série de fatos sucessivos que vão determinando os giros que dão os acontecimentos; a final de contas, nada é absolutamente linear.

Quando elaboramos uma cronologia - algo que já tínhamos recomendado fazer em cada pesquisa que realizemos–, convém ter claros os pontos chave de uma historia. É algo assim como um mapa de rota perfeitamente detalhado no que se apreciam os desvios, os caminhos vicinais, os entroncamentos principais e até caminhos paralelos.

Alcance

RESPOSTA

Quais são os acontecimentos centrais em torno aos quais gira

em uma cronologia?

Quando começou isto?

Quem o começou?

Quais são os acontecimentos centrais em torno aos quais gira em uma cronologia?

RESPOSTA Qual é a extensão do

problema?

RESPOSTA Quanta gente tem sido

afetada?

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Faça clic em cada resposta.

A todos nos tem ocorrido, sobre todo ao inicio de nossas carreiras: algo que considerávamos pouco relevante termina convertendo-se em um grande sucesso. Ter uma visão ampla das coisas é algo que deve caracterizar ao bom jornalista.

Em razão da informação e conhecimentos que possui, um repórter deve ser capaz de relacionar rapidamente certa quantidade de dados e fatos, com o que de entrada consegue perceber a importância de um problema. Conforme avance em sua pesquisa, poderá delimitar claramente suas repercussões.

Se Bill Gates ou Carlos Slim viram diminuídas suas fortunas, isto é algo que somente lhes prejudica a eles? Que empresas estão detrás de sua riqueza? Quanta gente trabalha nelas? Em que países estão? Quantos empregos indiretos geram e onde? Visto assim, qualquer redução na capacidade destes empresários para manter as existentes, poderia significar o meio de vida de milhares de pessoas. Este tipo de enfoque é o que devemos ter em mente à hora de avaliar as repercussões de qualquer historia que estamos investigando, mas não só para assinalar o dado duro, o número seco dos afetados, mas para contar suas historias.

Detrás de cada grande escândalo, resulta com frequência que alguém se beneficiou economicamente. Pode ser nas estruturas governamentais, mas também na iniciativa privada e até no setor civil. A corrupção não é um fenômeno exclusivo de uma esfera, abarca a todas em maior ou menor medida. O trabalho de fiscalização do poder que realiza a imprensa se enfoca em oferecer a sociedade os elementos para que esta, a sua vez, possa processar a indispensável transparência no

Quanto dinheiro está em

jogo? RESPOSTA

Qual é a extensão do

problema?

Quanta gente tem sido afetada?

Quanto dinheiro está em jogo?

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exercício do gasto público e contrastar que este responda as necessidades sociais reais. Por isso resulta fundamental seguir o que o jornalismo de pesquisa faz desde muito tempo chama "a pista do dinheiro", que em muitos casos se enfrentará a falta de informação, a complexidade dos dados disponíveis e às vezes até a repressão governamental ou a pressão privada para ocultar a origem e destino de grandes recursos que deveriam servir para melhorar a qualidade de vida da gente e não para enriquecer a uns quantos espertinhos. É uma tarefa difícil, sim, mas indispensável em toda investigação jornalística.

Razões Centrais

Faça clic em cada resposta.

Todo o anteriormente descrito aponta para esta pergunta. Na medida em que tenhamos coberto os aspectos já assinalados, iremos chegando perto a compreensão de nosso objeto de pesquisa e as causas que o originaram. A ideia é que não podemos transmitir uma informação ao público se antes nós mesmos não entendemos totalmente o que significa.

Pese a ele, é frequente encontrar a repórteres que irresponsavelmente escrevem de temas que não conhecem preguiçosos para chegar perto e submergir neles para averiguar a natureza, qualidades e relaciones das coisas. Quando isto ocorre, não somente exibimos nossa ignorância (lembrem que lá fora, entre nosso público, tem pessoas que sim domina o tema, verdadeiros expertos), mas que a reproduzimos e engrandecemos em cada exemplar impresso de nosso jornal ou revista, em cada ponto de audiência de nossa notícia.

Cabe reconhecer que nenhum jornalista entre nós tem a obrigação de saber tudo; naturalmente que não, isso é humanamente impossível. Mas não podemos esquecer que sim termos a obrigação de aprendê-lo rápido.

RESPOSTA

Por que está sucedendo

isto?

Quais são as forças econômicas, sociais ou políticas que o criaram, o influenciam e lhe

ameaçam?

RESPOSTA

Por que está sucedendo isto?

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Dizíamos antes que nada ocorre em forma linear. Pois bem, agora juntemos o fato de que nada sucede de forma isolada. Em toda evolução de um acontecimento, permanentemente encontramos a conjunção de interesses legítimos ou ilegítimos que tentam incidir neste.

Devemos ser capazes de identificar a esses atores tanto para determinar o papel que jogam ou tem jogado como para avaliar o grau de incidência que tem já seja para bem ou para mal. E tanto ou mais importante é relacionar a forma em que estas forças interatuam entre si, combatendo-se, aliando-se ou anulando-se.

Um correspondente de guerra o saberia: os conflitos armados não se limitam a informar quem ganhou se cobrem batalha por batalha, e com um forte acento nas vítimas inocentes. Aqui é o mesmo.

Impacto

Faça clic em cada resposta.

Os clássicos da novela negra - ou policial, se o preferem– são verdadeiros mestres na arte do despiste, como um recurso para manter a tensão dramática ao longo de toda a obra.

Quais são as forças econômicas, sociais ou políticas que o criaram, o influenciam e

lhe ameaçam?

RESPOSTA

Quem se beneficia ou

prejudica por isto?

E em que medida? RESPOSTA

RESPOSTA E qual é sua resposta

emocional a ela?

Quem se beneficia ou prejudica

por isto?

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Na estrutura tradicional deste tipo de literatura, o clímax se encontra no final, quando se descobre o culpável, se bem é certo que ao longo da novela nos tem proporcionado uma série de elementos que, de novo, no final cobram sentido. O jornalista constrói ao contrario.

Para nós é fundamental atribuir responsabilidades desde o principio. Se algum de nós tivera que cobrir o assassinato do comendador daquela vila de córdoba na que Lope de Vega localiza sua célebre obra teatral, nós não deixaríamos para o clímax final o diálogo mais conhecido desta obra: «Quem matou o comendador?», «¡Fonte tímida, senhor!». Essa seria nossa entrada.

Nós devemos estabelecer claramente aos indivíduos ou aos grupos que, de uma ou outra forma, ganham ou perdem em alguma situação que pesquisamos.

Já seja porque resultaram beneficiados ou prejudicados, os atores dos que falamos são personagens chaves em nossa pesquisa porque, como já temos visto, jogam um papel e atuam em consequência.

Detalhar o grau de afetação brinda os elementos necessários para entender os alcances de um fato.

Este é um ponto que geralmente deixar de lado, pese a que não é menor. Às vezes fica registrado de forma mais bem inconsciente e, naturalmente, incidental, mediante um dado ou uma imagem, mas poucas vezes é resultado de uma intenção jornalística centrada em brindar informação completa.

Às vezes não é tão simples resolver este ponto, sobre todo se nos centramos em um ou duas personagens principais de nossa historia, mas quando consideramos um enfoque mais aberto é relativamente simples medir as reações de grupos mais amplos afetados ou simplesmente interessados no tema. Pode ser algo tão evidente como, por exemplo, as multidões de poupadores que se viraram sobre os bancos na Argentina durante o corralito, ou os suicídios entre devedores da banca mexicana no crack de 1995.

Mas às vezes temos que acercar-nos muito a gente, com humildade e honestidade, para conhecer o profundo de sua desolação. Recordemos que, a final de contas, as coisas que pesquisamos não lhe sucedem as instituições nem aos documentos nem a nenhuma outra abstração social. Ocorre-lhes a gente. Aí está à verdadeira historia que vamos contar.

E em que medida?

Qual é sua resposta emocional

a ela?

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Conjunção e ação de forças contrárias

Faca clic em cada resposta.

Já adiantávamos algo no ponto 4.3, mas convém ampliá-lo. Se nada sucede de forma lineal, nem muito menos isolada, isso significa que alguém está intervindo, já seja para resolver uma situação ou para manter o estado das coisas. Em qualquer caso, não podemos concretizar a dar um contexto das coisas que ignore as pessoas ou grupos que atuem para solucionar um problema, algo tão importante como o fato mesmo. Cobrir este aspecto da informação inclusive brinda esperança e otimismo na sociedade, que pode constatar o entusiasmo e até a paixão de indivíduos comprometidos com causas justas, e inclusive pode impulsionara outros a participação ativa na solução de problemas que lhe afetam.

Por suposto, de pouco serve contar que alguém tenta resolver uma situação, se não reportamos a eficácia de suas ações e inclusive os obstáculos que enfrenta. A importância disto radica em chamar a atenção sobre ações concretas que, eventualmente de forma isolada, poderiam ter pouco peso, o que no melhor dos casos poderia atrair a solidariedade de grupos políticos e sociais e inclusive pressionar as autoridades para reagir ante uma problemática social concreta. Isto não é outra coisa que o serviço público que cumpre a imprensa.

Futuro

Considerando agora a conjunção e ação de forças contrárias, a lista identifica as seguintes perguntas para toda nota jornalística:

Alguém está tratando de fazer qualquer coisa a respeito?

RESPOSTA

E como está funcionando?

RESPOSTA

Alguém está tratando de fazer

qualquer coisa a respeito?

E como está funcionando?

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Faça clic em cada resposta.

Os jornalistas não têm uma bola de cristal como para atrever-nos a prognosticar o futuro, mas sim podemos contar com a informação necessária, suficiente e pertinente para fazer projeções válidas sobre as consequências de algo que esteja ocorrendo agora mesmo em nosso entorno. Geralmente, para vislumbrar o futuro é necessário voltar ao passado.

Geralmente dizer-se que a historia se repete, e é certo. As crises econômicas, os desastres naturais, as catástrofes ecológicas, os conflitos sociais… quase tudo já tem ocorrido antes, e em cada caso encontramos razões concretas que explicam esses fenômenos. O melhor é que podemos seguir sua evolução.

Com as técnicas adequadas, é perfeitamente possível comparar eventos ocorridos no passado que guardam semelhanças significativas com algo que ocorre agora. As lições estão aí, precisamente para ser aprendidas, e recordá-las na imprensa serve para não voltar cometer os mesmos erros.

Marcos reguladores do jornalismo

A liberdade de expressão e a liberdade de informação encontram limites claros particularmente nas leis quando se confrontam com outros valores e direitos.

Na América Latina, a difamação ou injuria e a calunia são puníveis e acarretam sanções penais e civis, enquanto que em democracias consolidadas a causa se restringe ao âmbito civil. Ainda pior, em nossa região existem também algumas leis que castigam o desacato. Em quase todos os sistemas, ademais, se tutelam os direitos de réplica e de retificação.

O Tribunal Constitucional espanhol tem interpretado o direito a liberdade de expressão, quando se exercita em assuntos necessários e transcendentes para a opinião pública, própria do Estado democrático, ocupa uma posse preferencial na colisão com outros direitos. (Aguilera Fernández, 1990) Em essa lógica, cabe pensar que dita preferência desaparece quando a informação ou opinião versão sobre questões sem relevância política.

Se isto continua, quais são as coisas que vão surgir em cinco ou 10 anos aos olhos da gente que está implicada

diretamente?

RESPOSTA

Se isto continua, quais são as coisas que vão surgir em cinco ou 10 anos aos olhos da gente

que está implicada diretamente?

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É uma questão de administrar liberdades. Em matéria de liberdade de expressão, este exercício sim tem limites que estão marcados não só por as leis, porém pela ética jornalística. O dilema entre qual dos dois sistemas - o jurídico ou o de ética– deve regular a atividade jornalística não é menor:

As leis podem ser mais que restritivas e eventualmente injustas, e se presta ao abuso de poder dos governos e a perseguição judicial dos jornalistas

A ética resulta um conceito evasivo que pode geralmente ser facilmente feita de lado, e se abrem as portas a irresponsabilidade, o sensacionalismo e a mercantilização a informação.

“Regular o jornalismo é um risco; não regulá-lo, um perigo”. Temerosos do risco, legisladores e jornalistas optam pelo perigo. E decidem abster-se. O resultado é a ausência, ou violação, de normas. Assim, o jornalismo se sujeita unicamente a seus princípios. A melhor lei, a mais atrativa, é a que não existe. A aposta «segura» – se afirma se convence – é a auto-regulação. Mas esta, quando alcançando abrir passo, resulta insuficiente.

Em matéria jurídica, as restrições a liberdade de expressão também enfrentam o singular problema de que se trata este de um conceito jurídico indeterminado, sujeito a interpretação de legisladores e juízes segundo os valores sociais vigentes em cada país, e de acordo com outros direitos e bens protegidos constitucionalmente.

Por quanto à ética, os limites a liberdade de expressão se encontram relacionados com o fato de que o jornalista e as mídias operam dentro dos marcos de um direito humano essencial:

A INFORMAÇÃO!

Ética e direito

É importante ter claras as diferenças entre direito e ética, se bem que frequentemente tem pontos em comum, seus objetivos são distintos.

NORMAS ÉTICAS

As normas éticas têm como propósito a dignificação e o reconhecimento social.

Autônomas: São criadas pelo mesmo

NORMAS JURÍDICAS

As normas jurídicas têm como finalidade última assegurar as condições mínimas para a coexistência pacífica dos homens no seio da sociedade. Que como bem estabelece Ernesto

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sujeito que deve respeitar, é dizer, nós mesmos.

Imperativas: Estabelecem obrigações para o sujeito que as criou.

Voluntarias: Seu cumprimento tem como premissa o convencimento pessoal, sem que existam mecanismos de coerção.

Particulares: Estão dirigidas unicamente a quem integram um grêmio, em nosso caso, o jornalístico.

Villanueva.

Heterônomas: São criadas por um sujeito distinto ao que vão dirigidas, por exemplo, o legislador.

Imperativo-atributivas: Estatuem obrigações e conferem direitos ao sujeito de direito.

Obrigatórias: Possuem a credibilidade como sanção a conduta contraria a estabelecida como devida.

Gerais: Estão dirigidas a todas as pessoas sujeitas ao sistema normativo é dizer, o conjunto da sociedade.

É possível construir uma estrutura moral básica e comum, através do diálogo ético nas redações. De fato, existe já um bom numero de valores compartilhados quase universalmente por jornalistas e donos de mídias, mesmos que tem conseguido arraigar-se nas práticas cotidianas de colheita, tratamento e difusão de informação jornalística. Referimo-nos, naturalmente, a enunciados comuns que podemos encontrar na maioria dos códigos de ética da profissão no mundo. Estes têm sido a base normativa escrita da auto-regulação jornalística desde quase um século.

Definição de “código de ética”:

O primeiro código de ética jornalística está documentado em 1910 e foi criado pela Associação de Editores de Kansas, nos Estados Unidos, embora os antecedentes mais remotos se encontre em 1690 e se conhece como a declaração de princípios de Benjamin Harris, editor de um único exemplar do PublickOccurrencesBothForreing and Domestick.

Recordemos que a historia das relações imprensa-poder na América Latina não tem sido fácil. Marcados por ditaduras militares –às vezes repetidas– em todos os países, exceto México e Costa Rica, os meios de comunicação da região tem vivido etapas de censura aberta. E mesmo quando todos estes países - com exceção de Cuba– contam neste momento com governos eleitos sob os princípios da democracia liberal, a situação da imprensa em geral não tem melhorado substancialmente.

Como antes - quando era comum serem submetidos a assédio, perseguição, ameaças, desaparições e assassinato –, os jornalistas latinos americanos tinham tido que dobrar-se muitas vezes ao poder, embora também tenha sabido enfrentá-lo, mesmo a custa de sua vida.

Somente entre 1988 e 2007, foram assassinados 184 jornalistas na Colômbia, Peru, México, Brasil, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Argentina, Honduras, Venezuela, Chile, República Dominicana, Equador, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e Costa Rica.

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Para 2006, 85 por cento das execuções de jornalistas na América Latina estava impune.

O panorama jurídico nenhum aspecto alentador. No iniciar do século XXI, ao menos 17 países Latino Americanos sustentam em vigor leis de desacato; nos últimos anos, Chile, Guatemala, Honduras e Panamá têm revogado essa figura.

Outras ações judiciais contra a difamação, a calúnia e a invasão da vida privada são observadas mais como mecanismo de intimidação contra a imprensa que como práticas reais de transmitir justiça.

Dois exemplos correspondem aos finais de 2001 que o ilustram: no Panamá, «a terceira parte de todos os jornalistas nestes momentos enfrentam processos penais por difamação», e na Costa Rica, « 37 por cento dos jornalistas disseram que tinham sido ameaçados com processo por calúnia, injúria e difamação».

Pressões internas no jornalismo

Em geral, encontramos condições esmagadoras para o exercício do jornalismo:

Salários insuficientes Excessiva carga de trabalho Exigência de que o repórter e o fotógrafo cubram de seu bolso seus instrumentos de

trabalho

Some-se a isso o limitado do mercado de trabalho para o jornalista, condições que o desestimula si se encaminha a um conflito com o sujeito ou sujeitos motivo do jornalismo de pesquisa.

A final do século XX, 12 grupos controlava a comunicação global: Disney Capital Cities-ABC; AOL-Time Warner (antes Time Warner-Turner, proprietária de CNN, entre outros muitos meios de comunicação); News Corporation, do australiano Rupert Murdoch; o consorcio alemão Bertelsman; General Electric-NBC; CBS Inc. (antes Westinghouse-CBS); Newhouse/AdvancedPublications; Viacom; Microsoft; Matra-Hachette-Filipacchi; Gannett, e o maior controlador de televisão restringida, Tele-Communications Inc. (TCI).

A imprensa escrita não se salva desta tendência. Nos Estados Unidos, já desde meados do século XX, a competição entre diários tinha reduzido a menos de 7 por cento das cidades desse país, e para 2002, praticamente não ficavam diários locais independentes, mas que formavam parte de algum grupo mediático.

Na América Latina, incluindo ao México, cada vez é maior a concentração da propriedade de meios de comunicação impressos.

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Formas de abordar o jornalismo pesquisador

Observação de Dados e Fontes

O que é "Precisiónjournalism"? (Precisão Jornalística)

É uma variante que eventualmente pode utilizar-se para obter informação de pessoas em situações comuns, duas delas são:

Experimento sociológico.

Opta não por perguntar a gente por seu comportamento em uma pesquisa quantitativa,

mas que utiliza a possibilidade de observá-lo diretamente.

A observação participante.

O que o veterano jornalista e catedrático estadunidense Phillip Meyer define como a

fiscalização de serviços públicos que conduz uma melhora das medidas de proteção

pública.

Estas são duas formas do jornalismo de precisão, uma das variantes mais acabadas do jornalismo de pesquisa que incorpora o método de pesquisas das ciências sociais - e suas ferramentas- a prática jornalística.

Um dos primeiros jornalistas em realizar este tipo de reportagens é, precisamente, Phillip Meyer, quem obteve o premio Pullitzer de 1967 quando trabalhava para o diário Detroit Free Press. Titulado "A gente do outro lado da Rua 12", o trabalho de Meyer se baseou na aplicação de pesquisas sociológicas e análises estatísticas sobre a participação dos jovens negros nos violentos distúrbios que iniciaram na manhã do domingo 23 de julho e se prolongaram durante cinco dias. Ao final, 45 pessoas tinham sido assassinadas. Os expertos consultados pela imprensa local atribuíram o conflito a um problema de adaptação de jovens provenientes de um meio rural do sul o que significava Detroit nessa época: um meio industrial do norte. Meyer, pois em dúvida aquilo que, a final de contas, não era, porém meras conjecturas dos denominados expertos em assuntos raciais e de violência. O repórter intuiu que essas vozes, por mais prestigiadas que foram não estavam aportando dados científicos nem muito menos comprovados. Eram meras opiniões de gente que não tinham estudado o problema específico.

Meyer decidiu utilizar as mesmas ferramentas que, desde a academia, os pesquisadores utilizam para acercar-se o mais possível a realidade, e aplicou uma simples pesquisa nos bairros. Suas perguntas básicas foram:

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Participou nos distúrbios?

Onde nasceram seus pais e avós?

Qual era o nível de estudos que tenham?

O resultado foi contundente: nos distúrbios tinham participado os mesmos jovens negros do norte como jovens com estudos do sul.

Assim, não só descartou as razões do tipo social ou cultural que os expertos diziam ver detrás do conflito, mas que demonstrou que tudo era um assunto de discriminação racial.

Mas o que hoje conhecemos como jornalismo de precisão tem raízes mais antigas.

1818 Desde 1818, a revista estadunidense LiteraryDigest tinha utilizado um recurso para conhecer as preferências eleitorais de seus leitores. O exercício realizado nesse momento carecia de qualquer base científica, mas daria pé para uma importante ação mais de um século depois, em 1935. 1860 Exemplos como estes os encontraram também na imprensa européia desde 1860, na Espanha, quando se analisam o rigor das estatísticas oficiais, ou as reportagens de finais do século XIX na Áustria nos que se reconhece o método etnográfico de técnicas de observação participante. 1890 Em todos estes casos, os jornalistas fazem um duplo esforço: um, o que a própria profissão exige, e um segundo, o de aprender a utilizar algumas das ferramentas do método científico. Esta prática adquire todo seu brilho quando se reúnem as duas condições: ser jornalista e, igualmente, cientista social, como foi o caso do repórter Robert Park, um dos muckrackers de finais do século XIX, quem também era sociólogo.

1935 Surge à primeira pesquisa rigorosa realizada por um meio de comunicação, a revista Fortune.

1973 O termo jornalismo de precisão aparece em 1973, quando Phillip Meyer o acunha no livro Precisionjournalism: A reporter'sintroductionto social sciencemethods. Várias edições atualizadas se têm publicado desde então. A mais recente se titula The new precisionjournalism, e existe uma tradução a nosso idioma realizada pelo acadêmico espanhol José Luis Dader sob o título Jornalismo de precisão. Via sócio-informática de descobrir notícias.

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Como o próprio Meyer descreve, o jornalismo de precisão não é tão diferente ao que nós jornalistas fazemos de forma natural, é dizer:

Descobrir fatos

Explicar que significam

fazê-los públicos sem perdida de tempo.

O jornalismo de precisão apela então:

1. Ao método científico.

2. À objetividade científica

3. À busca de uma comprovação da realidade

4. À luta contra o afã de simplicidade dos jornalistas.

5. Ao fazê-los menos vulneráveis ao dogmatismo.

"O jornalismo de precisão não se refere à mera transcrição de números, porém ao controle e à indagação sobre o método". - José Luis Dader

O método científico das ciências sociais fornece muitas variantes que podem ser adaptadas à prática do jornalismo. Além da pesquisa e a observação participante, encontramos outras como:

Grupos de enfoque

Consiste em que mediante técnicas específicas de seleção de uma amostra muito reduzida de pessoas - e mesmo assim, muito representativas de um universo amplo - nos permitem estabelecer a opinião geral da sociedade - ou de um setor muito específico dela- sobre um tema em particular, como poderia ser a percepção sobre um candidato a um cargo de eleição popular, os serviços municipais, a qualidade da educação ou a saúde públicas.

Mapeamento geoestatística

Tome você uma base de dados oficial sobre qualquer tema social; podem ser acidentes de tráfico, roubos de veículos ou a transeuntes ou a domicílios, o que se lhe ocorra, e identifique os lugares, o momento do dia e todo aquele dado que represente um padrão no fato a pesquisar. Logo, localize em um mapa cada um os pontos de incidência e compare-los com o discurso oficial. Considere que existem programas de computação especializados que nos facilitarão esta tarefa, sempre e quando aprendamos a utilizá-los, naturalmente.

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Contudo, esta tarefa pode realizar-se de forma mais modesta utilizando a aplicação de Google Maps, como mostra este mapa do centro da cidade de Phoenix, capital do estado de Arizona, que assinala os pontos de incidência de crimes contra a propriedade, crimes violentos e outros crimes em um espaço de um mês, publicado no site do diário Arizona Republic.

Verificação de Dados

Com que frequência recebemos informação de escritórios públicos ou privados que contem dados estatísticos? Há milhões de pessoas que desde as instituições medem a realidade econômica, social e política. Mas quando a transmitem através dos meios de comunicação: Não sempre representam a realidade. Muito poucos jornalistas questionam os dados que lhe são proporcionados por uma fonte oficial. Quanto mais importante seja o cargo que ocupa o declarante, ou seu peso econômico ou político, maior relevância se dará a suas palavras e as cifras nas que se apóia para ressaltar a autoridade e relevância de seus ditos.

Para desligar a responsabilidade, se pode utilizar o citado, mas se sabe que: “Não estamos relatando o que ocorre, mas o que nos dizem que ocorre"

Para modificar isto, nós jornalistas devemos praticar um sã esteticismo que nos dá impulso a verificar tudo.

Apliquemos invariavelmente um dos máximos apotegmas da

historia do jornalismo:

SE SUA MÃE DISSE QUE TE QUER… VERIFIQUE!

E bom, se tudo fora como isso. Os problemas surgem quando temos que comprovar ou analisar não um ou dois dados, mas centenas ou milhões destes.

Para poder empreender tarefas destas dimensões se requer de ajuda. Por isso nós apoiaremos no jornalismo assistido por computador. Esta é uma ferramenta que pode aplicar-se praticamente a qualquer variante de jornalismo de pesquisa, mas sobre tudo para realizar reportagens que se inscrevem no jornalismo de precisão. Para o jornalista estadunidense Brant Houston, o jornalismo assistido por computador permite reunir e analisar grandes volumes de informação, de forma mais rápida, e pontual. Em 1989, o repórter estadunidense ElliotJaspin funda o Missouri InsituteforComputerAssistedReporting e na Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri, de Columbia, o qual hoje é conhecido como NationalInsituteforComputerAssistedReporting (NICAR). Este mesmo ano algum grande meio de comunicação estadunidenses cria unidades especializadas no rastreamento de informação, as quais se convertem em áreas fundamentais para que os jornalistas possam determinar que bases de dados possam usar para uma pesquisa particular, assim como o tipo de programas necessários para analisar a informação. Entre eles estiveram:

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The New York Times

The Washington Post

Los Angeles Times

Basicamente, o que estas unidades faziam era relacionar toda a informação que se produzia no mesmo meio de comunicação, idear seus próprios projetos de pesquisas e assessorar os seus repórteres no uso destas ferramentas.

PARA SABER MAIS

O jornalismo assistido por computador O jornalismo assistido por computador dá pé a muitas reportagens ganhadoras do premio Pullitzer, como o de 1989, quando o repórter Bill Dedman realizou um cruzamento de dados computados sobre distribuição racial e determinados informes bancários sobre emprestamos para vivenda, o qual demonstrou práticas de discriminação racial: a população branca recebia cinco vezes mais apoios financeiros que a população negra com o mesmo nível socioeconômico que os primeiros. Na América Latina encontramos cada vez mais reportagens elaboradas com o apoio do jornalismo assistido por computador. No México, a repórter Alejandra Xanic construiu uma base de dados com a informação dos presos da penitenciaria de alta segurança de Ponte Grande, no estado de Jalisco, no que a maioria da população reclusa -se supunha- era perigosos narcotraficantes. Xanic obteve acesso aos expedientes de todos os réus, capturou seus dados em papel e logo os passou a formato eletrônico, para o qual utilizou um popular programa de folhas de cálculo: Microsoft Excel. Logo analisou a informação com outro programa, um administrador de bases de dados: Microsoft Access. Nos Estados Unidos, a maior parte dos ganhadores do premio Pulitzer no ramo de jornalismo de pesquisa nos últimos anos tem utilizado as técnicas do jornalismo assistido por computador.

Hoje em dia as técnicas do jornalismo assistido por computador nos permitem:

1. Aceder a dados duros.

2. Ter acesso a informação de excelente nível.

3. Analisar informação.

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4. Abrir quase o infinito o leque de temas a cobrir com uma alta pertinência jornalística.

5. Melhorar a qualidade da informação que proporcionamos.

6. Fomentar o quase esquecido princípio elementar de serviço público da imprensa.

O melhor de tudo é que nem sequer temos que planejarmos grandes historia de profundidade com uma grande repercussão nacional e até internacional. O jornalismo assistido por computador não substitui as técnicas jornalísticas tradicionais, só as melhora e as complementa. Não é algo alheio ao jornalismo tradicional, porém a essência da sobrevivência do jornalismo no século XXI. Recordemos que um computador não faz bem a um mau

jornalista, mas sim faz melhor a um bom.

O jornalismo assistido por computador pode e deve alimentar a notícia diária com informação que clarifique e amplie o contexto de um fato determinado.

A enorme expansão da Internet tem contribuído muito ao jornalismo assistido por computador, ao dar-nos acesso a quantidades exorbitantes de informação, mas também tem significado o surgimento de outra classe de jornalistas que se mostram com uma maior mobilidade, estão mais habituados ao uso das tecnologias da informação e da comunicação.

Aqueles jornalistas que optem por manter-se nas vias tradicionais da informação poderiam sofrer duas consequências, uma imediata e outra de meio prazo:

A primeira é que esses repórteres vão chegar tarde a

quase tudo o que hoje importa e não vão conseguir as

notícias.

A segunda é que se ficaram não só obsoletos, mas sem

trabalho.

Um computador não faz bom a um mau jornalista, mas sim faz melhor a um bom.

Utilização das fontes de informação Para a utilização das fontes é importante:

Faca clic em cada elemento para ver mais informação

Fazer uma pesquisa prévia

Classificar as possíveis fontes e

Tratar de identificar exaustivamente os fornecedores de informação

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Pesquisa das fontes de informação Entre todas as ferramentas e técnicas que utilizamos os jornalistas, tem uma que invariavelmente vamos utilizar para obter informação: a entrevista. Nós falamos com pessoas, inquirimos sobre tudo aquele que nos parece pertinente para estabelecer e contrastar fatos. Pero: A quem perguntamos o que, e como, e quando? Em cada fato a pesquisar, buscamos as pessoas que, supomos possuir informação sobre o objeto de nosso interesse, já seja porque participou de forma direta ou indireta, ou porque o presenciaram, ou porque suas consequências lhes afetam de uma ou outra forma. Todos eles representam o que conhecemos Ter claro com quem estamos falando, e que papel joga na historia que pesquisamos, resulta crucial para o sucesso ou fracasso de nossa pesquisa, e inclusive em mais casos dos que supomos implica uma questão de segurança pessoal.

Pesquisa das fontes de informação Sobre tudo no caso das fontes chave, devemos saber todo o possível sobre elas:

Quem é sua família e que faz? A que escolas foram e com quem estudaram?

Qual é sua historia profissional e com quem tem trabalhado?

Se é casado e com quem?

A que se dedica? Se é divorciado ou solteiro?

Se tem filhos e a que escola os envia?

De quem são filhos outras crianças estudam aí?

Onde tem morado antes e onde mora agora?

Quais são seus números de telefone particular e públicos?

Que propriedades, negócios ou interesses econômicos têm?

Quem são seus amigos, seus aliados, seus rivais e seus inimigos?

Quis são seus gostos, preferências e hábitos, suas debilidades e fortalezas?

Em fim, tudo aquilo que se requer saber de alguém para poder dizer que lhe conhecemos.

Notarão que muitos aspectos da biografia e personalidade de nossas fontes pertencem ao âmbito irrestrito de sua vida privada, de sua intimidade. Por isso é muito importante esforço aqui que

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toda a informação desta natureza que arrecademos sobre uma pessoa determinada não é para sua publicação.

A intenção de cutucar nestas questões não é invadir esferas que nos estão eticamente vedadas, mas ampliar as linhas de investigação sobre um sujeito. Por exemplo, a informação sobre seus estudos e seus primeiros trabalhos, assim como os dados sobre sua família e seu círculo mais próximo, pode conduzir-nos a descobrir relações de negócio ou políticas que não suspeitamos e que eventualmente podem relacionar-se com nossa historia.

Classificação de fontes de informação Partimos da base de que cada fato a pesquisar tem dois tipos de fontes de informação básicas, as quais encontrarão invariavelmente em todas e cada uma das historias que pesquisemos, sem importar o tipo de tema.

Fontes implicadas

Evidentemente se tratam de pessoas ou instituições que tomam parte de forma direta ou indireta no fato que investigamos. São os atores principais, e tem interesses em jogo que determinam se querem ou não que algo se saiba.

Fontes alheias

São aquelas que não participaram em nosso objeto de pesquisa, mas incidentalmente possuem informação que contribuem ao conhecimento e compreensão dos fatos.

Até aqui, a descrição das fontes é obvia e simples, mas não se esgota aí nem com muito. Estas duas categorias básicas de fontes se compõem, a sua vez, ao menos outras quatro subcategorias, implícitas sempre em elas, que nenhum repórter pode nem deve ignorar, nem muito menos subestimar.

Classificação de fontes de informação

A importância de ter claras as características anteriormente descritas radica em que não só incrementa nossos leques de opções para obter informação, mas que poderia evitar sabotar-nos a nós mesmos.

Sabemos que tem fontes de informação que podem obstaculizar nosso trabalho não só ocultando-nos informação, mas utilizando suas próprias relações para cerrar-nos o acesso

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a outras fontes ou inclusive, mediante suas influencias em grupos de poder ou até em nosso próprio meio, poderiam forçar-nos a que vamos colocar um fim a nosso trabalho sob pressão de nossos chefes. É claro que se já que por si mesmo o jornalismo de pesquisa enfrenta uma série de obstáculos de todo tipo, nosso desconhecimento sobre as características das fontes de informação agrega complexidade e até riscos a nossa tarefa.

Localização de Fontes de informação

Algo para recordar: não existem fontes pequenas. Qualquer pessoa que dê uma ou outra forma

esteja relacionada, ou seja, próximo ao nosso objeto de pesquisa pode saber mais que nós sobre o

assunto, ao menos ao principio de nosso trabalho. E esta pessoa pode ser um motorista, um

empregado de limpeza, uma secretaria, um ajudante de escritório. Nós não devemos medir o valor

da informação pela relevância social ou pública de nossas fontes de informação, mas por sua

pertinência e veracidade. Recomendamos ao inicio de cada historia que vão pesquisar, façam uma relação por escrito - o mais exaustivo possível - de todas as fontes potenciais e, uma vez esgotada a imaginação, já que estejam apontadas todas, pensemos em alguém mais. A relação de fontes a que nos referimos não se limita as fontes mais visíveis ou importantes. Abarca verdadeiramente a todas as pessoas, instituições e publicações onde podemos encontrar informação pertinente para nossa pesquisa. Uma vez elaborada essa relação de fontes, nos permitirá uma maior precisão na tarefa de localizá-las nas categorias e subcategorias antes descritas. O que segue é realizar uma análise sobre suas características:

INFORMATIVAS HUMANAS

O que sabem? Quem são?

Algo para recordar: não existem fontes pequenas. Qualquer pessoa que de uma ou outra forma esteja relacionada, ou seja, próximo ao nosso objeto de pesquisa pode saber mais que nós sobre o assunto, ao menos ao princípio de nosso trabalho. E esta pessoa pode ser um motorista, um empregado de limpeza, uma secretaria, um ajudante de escritório. Nós não devemos medir o valor da informação pela relevância social ou pública de nossas fontes de informação, mas por sua pertinência e veracidade.

Com essa informação poderemos desenhar estratégias de contato. A primeira pergunta a resolver é: A quem entrevistaremos primeiro?

Faca clic nas perguntas para ver os passos

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1. Evitar fontes que possam obstaculizar-nos

2. Verificar a informação por fontes independentes

3. Analisar o contexto de nossas fontes

4. Delimitar nossas fontes

5. Esgotar a informação

6. Conhecer amplamente nossas fontes de informação

1. Evitar fontes que possam obstaculizar-nos Pode ser contraproducente tratar de falar com elas desde o princípio, pois poderíamos alertá-los e gerar uma reação que a todas as luzes não nos convêm. Isto não significa que nunca argumentarmos uma entrevista com este ou outros personagens interessados em que algo não se saiba (esta pode ser a entrevista de contrapartida), mas que poderemos deixá-los para o final de nossa pesquisa, ou ao menos para o momento em que tenhamos já suficiente informação como para que qualquer tentativa de obstaculizar-nos afete nosso trabalho no mínimo, ou de plano de forma nula.

Formas de abordar o jornalismo de pesquisa

O jornalismo de pesquisa é, por sobre todas as coisas:

Um método é dizer, um modo de fazer as coisas com ordem. Isto implica que podemos encontrar tantos métodos para realizar uma pesquisa jornalística como jornalistas que os praticam. Dito de outra forma, não existe uma fórmula única nem receitas acabadas que resultem infalíveis. O certo é que, quando fazemos um trabalho de pesquisa, raras vezes nos perguntamos: tem algo que vai primeiro e algo que vai depois? Nosso trabalho exige graus de especialização sem os quis dificilmente podemos cumprir satisfatoriamente com nosso trabalho, que implica uma grande responsabilidade social.

O que passa é que tem algo que, por evidente, geralmente dar por sentado: o primeiro passo de toda pesquisa jornalística é a detecção da notícia. Nada menos e nada mais que a matéria prima com a que vamos trabalhar. Os jornalistas têm desenvolvido um sentido especial para valorizar aquilo que resulta noticioso, às vezes desde premissas elementares. Em qualquer caso, somos capazes de intuir acertadamente o valor informativo de um acontecimento ou até de um comentário que recebemos de forma incidental. O método do jornalismo de pesquisa inicia justo aí, a partir de que aprendemos a passar da mera

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intuição a racionalização, é dizer, o convertemos em um processo consciente no que analisamos o conteúdo, o contexto e a veracidade da informação em torno a esse acontecimento ou comentário, esse elemento disparador que nos põe em ação. Existem diversas formas de abordar o jornalismo de pesquisa, ou se o preferem, distintos procedimentos, e cada qual põem o acento em aquilo que considera mais importante.

Processo RRAW-P

O InstituteforAnalyticJournalism é um organismo dedicado a pesquisa e desenvolvimento de métodos de análise não tradicionais e de ferramentas de comunicação para jornalistas. Entre seus membros, o professor emérito da Universidade Estatal de San Francisco, Tom Johnson, quem iniciou a princípios dos noventa uma reflexão sobre o processo que dá como resultado o produto jornalístico.

Os primeiros apontamentos de Johnson apareceram em Social ScienceComputerReview de 1994, e deram forma ao processo RRAW-P, que significa:

Research Pesquisar

Reporting Reportar

Analysis Analisar

Writing Escrever

Publication

Sob o título «AppliedCybernetics and ItsImplicationsforTeachingJournalism», Johnson questiona a educação tradicional que recebem os jornalistas e propõe um currículo alternativo. Como ele mesmo gera no resumo do ensaio:

“A formação jornalística tradicionalmente tem se enfocado no produto do trabalho da profissão: a escritura de notícias. As mudanças no ambiente da informação – em onde os dados quantitativos e textuais se armazenam em formatos digitais, são recuperados mediante as ferramentas das telecomunicações, e é sujeitos a análise conforme uma ampla variedade de aplicações dos computadores pessoais – demanda uma maior atenção aos três primeiros passos do processo RRAW-P.”

E que tem que ver tudo isso com o jornalismo?

Que suas consequências oferecem elementos para compreender o processo do trabalho jornalístico, e inclusive de seu ensinamento, desde um ponto de vista filosófico, tem derivado no desenvolvimento das novas tecnologias da informação e da comunicação.

O processo dos 8 passos

1) Ter uma ideia

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Parece mais que obvio, mas geralmente é feito de forma automática, quase mecânica. Qualquer editor sabe a que nos referimos, porque passa por isto todos os dias, ao gerar as ordens de informação para sua redação. O mesmo todo repórter com iniciativa própria que busca suas próprias historias.

Isto não é outra coisa que fixar a agenda informativa, que tem sido estudada amplamente e tem gerado a teoria da Agenda Setting. O problema está em quem fixa a agenda: os jornalistas ou as fontes?

O feito é que, para poder apropriar-nos plenamente desta parte do processo informativo, nós os jornalistas devemos fazer consciente o processo que move a todo o aparelho jornalístico. Analisar o conteúdo, o contexto e a veracidade da informação que nos motiva a pesquisar… essa é a diferença entre supor que algo pode ser uma notícia e sustentar que algo é notícia.

O que tentamos dizer é que esse processo intuitivo deve ser acompanhado da reflexão que clarifique e anote nosso objeto de pesquisa. Não fazê-lo assim nos leva a dispersar esforços e a desperdiçar recursos e tempo.

2) Formulação de perguntas

Esta parte é a mais tipicamente intuitiva de todo o processo. A maioria das vezes estes questionamentos – ou inclusive hipótese – surgem dos conhecimentos gerais do jornalista, do grau de compenetração e experiência que tem em torno do assunto. Johnston disse que podem ser produto de simples «palpite », e não se equivoca.

De qualquer forma, cada vez que abordamos um tema ou uma ideia, o primeiro que todos nos perguntamos é. O que tem de novo? Para responder a ele, é condição indispensável conhecer os antecedentes do caso.

Atenção: não pretendemos em nenhum momento subestimar a intuição. Pelo contrario, consideramos que isso que na gíria se conhece como «olfato jornalístico» é uma das principais virtudes da profissão. Por isso, junto com Johnson, nós sustentamos que qualquer repórter com apenas três meses de experiência deve ser capaz de fazer uma lista com ao menos 20 ideias de reportagem que, como sabemos, não é resultado de uma iluminação, mas dois contatos pessoais, da leitura permanente das más diversas publicações – ademais da nossa – e até de comunicados de imprensa oficiais.

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A eficácia deste passo consiste em aparecer à maior quantidade de perguntas pertinentes sobre o assunto, e considerar que muitas das mais importantes são questões complexas.

Quando Johnston sistematizou estes procedimentos, descobriu que praticamente todos os jornalistas cumprem – de uma forma ou outra– com estes primeiros dois passos, mas também encontrou que muitos deles passam deste ponto ao que vocês mais adiante encontrarão marcados com o número cinco, com o qual omite omitem uma série de ações de suma importância.

3) Pesquisa inicial

Este é o passo chave de todo o processo. O que fazemos neste ponto vai determinar os resultados finais de nosso trabalho, e isto pode ocorrer dias, semanas ou até vários meses depois. Não podemos dar-nos o luxo de descobrir até então omissões fundamentais que não são outra coisa que erros no desenho de nossa pesquisa.

Se não o temos feito antes, este é o momento para perguntar-se. O que tem passado por alto os demais? E tudo isto significa que devemos ser capazes de encontrar, reconhecer e recuperar informação relacionada com o tema de forma rápida e o mais ampla possível.

Neste ponto devemos conhecer o que outros têm publicado a respeito. O arquivo hemerográfico – ou a audioteca ou videoteca– de nosso meio de comunicação é a primeira escala obrigatória. Aqui cobra relevância tudo o que fizemos no passo número dois. Não podemos chegar ao arquivo e pedir que busquem e nos entreguem «tudo o que se tem publicado sobre…» o tema que estamos trabalhando; isso só nos vai sepultar debaixo de montanhas de papeis; revisá-lo pode ser um trabalho titânico. O melhor é fazer pedidos muito concretos para obter informação pertinente.

Isso já o sabemos, mas com frequência o esquecemos: o melhor jornalista não é o que faz muitas perguntas, mas o que faz as melhores.

Logo então, a pesquisa inicial não consiste somente em ir ao arquivo do meio; implica revisar nossos contatos, identificar fontes e avaliá-las, construir bases de dados e verificar as primeiras informações obtidas. E para quase todo o anterior faz falta um treinamento específico.

4) Formulação de novas perguntas

A análise dos dados e a informação arrecadada nos permitem a abordagem de novas perguntas sobre cada aspecto do tema que pesquisamos.

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E isto não é um assunto menor: devido não só pela qualidade do trabalho realizado até este ponto, mas pela própria natureza do tema em questão, em um momento determinado podemos chegar a conclusão de que é necessário reconsiderar as hipóteses centrais da pesquisa, é dizer, reiniciar todo o processo desde um novo enfoque.

Esta possibilidade soa assustador, mas não deve amedrontar-se. Si se da o caso, tenhamos em conta que não partiremos de zero, que a maior parte da informação arrecadada com anterioridade pode e geralmente ser útil, apesar de que façamos mudança de objetivo.

5) Obter dados e informação

Podemos enriquecer nosso trabalho muitíssimo com só introduzir algumas pequenas mudanças nas coisas que fazemos todos os dias. : revisem as formas que empregamos na consulta de arquivos,

a literatura que consumem como se relacionam com suas fontes pessoais o que fazem com o material informativo que

sobram de uma historia como ordenam seus arquivos

A notícia não é tudo.

Pensemos nos dados dentro de cada notícia, e o peso e a forma em que intervém cada um deles.

Pensemos na conveniência do trabalho em equipe e em como maximizar sua eficácia.

Pensemos na necessidade de adquirir novas habilidades para utilizar ferramentas informáticas para rastrear, localizar, recuperar e analisar dados.

A natureza do jornalismo de pesquisa requer do repórter uma grande capacidade para adaptar-se aos requerimentos específicos de cada historia.

6) Analisar dados e informações

A pesquisa jornalística envolve com demasiada frequência tópicos verdadeiramente pesados: conceitos complexos e demasiados dados.

Para a busca e recuperação de dados eletrônicos, os jornalistas têm que adentrar-nos na utilização da informação em linha. As ferramentas da web 2.0 resultam indispensáveis a estas alturas

Internet não se esgota na rede mundial de redes (www).

A informação que requeremos não necessariamente está em arquivos de nosso próprio país.

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Os dados chaves de uma pesquisa podem estar em outro idioma.

Procuremos sempre obter informação em formato eletrônico.

Todos os dados e toda a informação que obtermos em linha deve ser verificado em fontes independentes a aquela da que a obtivemos.

Cada historia é diferente, e dependendo de sua natureza é como determinaremos as tarefas a realizar. Estas incluem desde a rápida revisão de nossas próprias notas até o uso de programas de computação como falhas de cálculo, bases de dados, Sistema de Informação Geográfica (GIS), StructuredQueryLanguage (SQL), etc....

7) Esquematizar a reportagem

E isto passa pelo desenho mesmo da reportagem:

Que estrutura terá? Qual será sua extensão? Que fotografias se empregarão? Incluímos ou não gráficos e infográficas? O acompanhamos de clips que chamem a atenção?

Trabalhar em equipe contribui não só a resolver conflitos, mas que se traduz em produtos informativos de uma melhor qualidade. Envolver toda a empresa jornalística na produção de uma grande reportagem de pesquisa pode fazer de algo que, já é uma grande reportagem, uma extraordinária peca jornalística que potencie seu impacto.

Isto pode inclusive desde a concepção mesma da reportagem e determinar não só que repórteres e fotógrafos deverão participar, mas que editores lhe darão seguimento e apoio, que recursos humanos e técnicos se necessitarão, mas também que outras áreas do meio convêm que se envolvam para o final do processo.

8) Escrever

Devemos fazer-nos do espaço necessário para organizar os dados e nossa informação, ordenar nossas ideias, ter clara a estrutura da historia e seus elementos chave, é dizer, elaborar um guia básico de todos os pontos que não podemos esquecer.

Se não temos uma redação eficaz, todo o trabalho pode vir abaixo. Como se diz na gíria jornalística: podemos «perder a nota na máquina».

Devemos aprender a usar a palavra precisa, a sintetizar nossas ideias, a descobrir os giros linguísticos deslumbrantes, a adquirir ritmo e harmonia.

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As qualidades de estilo

O «Manual de estilo» da revista Processo as define assim.

Faca clic nas figuras para conhecê-las.

A claridade da redação consiste em expressarem-se sem enredos, lagunas, anfibologias, etc., etc..., de sorte que qualquer leitor compreenda sem confusões nem rodeios o sentido de nossas frases e vocábulos.

A propriedade é para nós a qualidade do estilo que consiste em escrever vozes, frases e orações de maneira correta e pertinente, tanto por seu apego as normas gramaticais como por suas implicações de matiz.

A precisão se refere sobre todo o conteúdo e ao sentido estrito dos vocábulos e orações empregados para difundir a informação. A tarefa específica neste ponto é encontrar a palavra justa e a oração irreprochável para transmitir exata, estritamente o que queremos dizer.

A brevidade, a arte de sintetizar o escrito, quando fazemos uma correta supressão de parágrafos, frases e palavras em busca da brevidade, o texto geralmente ganha em procissão, propriedade e claridade.

A simplicidade de um texto produz nos leitores a impressão de que se escreveu de um modo natural, sem afetações nem artifícios, e lhes permite captar a informação sem pensar no escabroso ou complicado da mesma nem nas qualidades do que escreve

É o vigor expressivo o que reflexa originalidade em um estilo inconfundível que fomenta, coesão e dá vida aos escritos. Auxiliado pela melhor tradição literária e jornalística em nossa língua, o redator aumentará a forca e a praticidade que implica o vigor expressivo.

Aqui definimos a harmonia como a qualidade estilística que, procura a compatibilidade, concordância ou simpatia entre a forma e o conteúdo do escrito, entre o estilo e a matéria informativa.

A abundancia se refere sobre tudo a variedade ou riqueza do vocabulário e ao domínio técnico das múltiples formas de organização sintática, recursos que por si só são capazes de erradicar a monotonia de nossos textos e de imprimir-lhes novidade, elegância e sutileza.

Conclusão

Iniciativa

Rigor

Claridade Brevidade Precisão Propriedade

Abundancia Simplicidade Harmonia Vigor expressivo

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Sacrifício

Profundidade

Tempo

Vencer resistências

Estas virtudes se encontram combinadas precisamente para vencer um dos obstáculos maiores que podemos encontrar: não nos deixam pesquisar.

O jornalista com a convicção do serviço ao leitor e com a disciplina para incursionar no jornalismo de pesquisa, talvez tenha que recorrer a seus dotes de negociação ao interior de seu meio, para obter autorização e apoios para realizá-lo.

Uma pesquisa jornalística de grande fôlego não se esgota em uma reportagem. Sempre ficará muita informação que não cabe dentro desse formato. A opção mais atrativa é a publicação de um livro, onde nos explanemos e demos a conhecer nossa pesquisa completa.

Em outras palavras, o jornalismo de pesquisa é uma de nossas maiores fortalezas como profissionais da informação. Desenvolver nossos próprios métodos de trabalho, aplicar a maior quantidade de ferramentas a nosso alcance e lutar por sua publicação é o que nos distingue do resto dos jornalistas.

É o que nos faz jornalistas de pesquisa!