m%c3%93dulo de processo civil - editdo[1]

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MDULO DE PROCESSO CIVILProf Daniela Muniz 1a aula 06/11/2007 PRINCPIOS PROCESSUAIS Atravs dos princpios possvel fundamentar muitas questes, eles acompanham todas as matrias inerentes ao Processo Civil. 1. PRINCPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

Art. 5o, LIV CF ningum ser privado de liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal garantia constitucional do devido processo legal. Esse o princpio mater do Direito Processual, ou seja, antes de existirem outros princpios processuais, esse era o princpio essencial, tudo se reportava ao devido processo legal. Todavia, com o desenvolvimento da cincia processual, as questes, cada vez mais, vo ganhando autonomia e virando princpios prprios. Mas em geral, quando eu tenho a ofensa de um princpio, essa ofensa uma ofensa indireta ao devido processo legal. O devido processo legal serve para proteger a vida, a liberdade e a propriedade, porque esse artigo 5 o, no caput, se refere ao direito vida e, especificamente, no inciso LIV h a proteo da liberdade e os bens esse o sentido material do devido processo legal, qual seja, os bens protegidos por esse princpio. Assim, possvel se concluir que o processo nunca um fim em si mesmo, o processo sempre serve para o exerccio de um direito material. Enfoque processual do devido processo legal: nesse enfoque se tornou clssica uma expresso de Kasuo Watanabe, que discorreu sobre o devido processo legal, dispondo que o devido processo legal a garantia de uma ordem jurdica justa. O que substancia uma ordem jurdica justa? necessrio que o processo respeite o procedimento, esse procedimento deve ser realizado sob o crivo do contraditrio, que esse procedimento obedea a um prazo razovel, que esse procedimento se realize perante um juiz natural. Assim, na verdade, quando falamos em uma ordem jurdica justa, estamos nos referindo aos demais princpios processuais constitucionais. Quando que um processo realmente faz justia? Quando ele consegue dar ao jurisdicionado aquilo e exatamente aquilo que o jurisdicionado tem direito, ou seja, o processo tem que dar ao jurisdicionado o mais prximo da no leso. Dessa forma, em regra, se trabalha na noo do direito subjetivo lesionado e preciso buscar soluo para a leso do direito subjetivo. por esse motivo que o devido processo legal est ligado tutela especfica, ou seja, conceder ao jurisdicionado aquilo e exatamente aquilo que ele tem direito. Ex. Numa hiptese, algum tinha obrigao de me entregar certa coisa num prazo de 7 dias e o produto no entregue. A indenizao uma forma de reparar a leso produzida pela no entrega da coisa? Com certeza uma forma de reparar a leso. Mas, nem sempre, a melhor forma de reparar a leso, porque quem adquiriu queria aquele bem jurdico quer receber aquele produto eu tenho uma necessidade material em relao ao bem. Portanto, o processo tem que ter meios para me conceder tudo aquilo que eu demonstrar ter direito se eu demonstro que cumpri o contrato, que cumpri a minha prestao e, assim, tenho direito de receber a coisa, o processo tem que ter meios para me conceder a tutela especfica da obrigao, retirando do patrimnio do devedor e entregar in natura para o credor. [dar dinheiro em sub-rogao ao direito material do autor no satisfaz, porque o autor quer o que foi adquirido por ele]

2. PRINCPIO DA DURAO RAZOVEL DO PROCESSO Art. 5o, LXXVIII CF a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao Esse princpio, at pouco tempo, estava inserido no devido processo legal. Com a EC/45 ele ganhou autonomia atravs do art 5o, LXXVIII CF. O que significa razovel durao do processo? No Processo Civil no h previso de dias (no Processo Penal de 81 dias). Um processo razovel nem sempre um processo rpido, por isso deve-se trabalhar com uma lgica de uma durao necessria do processo, ou seja, essa durao obedece a necessria rapidez processual (no atrasa o andamento do processo), obedecendo ao tempo mnimo do processo para que no haja ofensa ao devido processo legal existe um tempo razovel para que o juiz possa formar o seu convencimento. O processo brasileiro no um processo sumrio por natureza, ele foi feito para demorar um pouco. Isso pode ser comprovado pela criao das medidas cautelares e da tutela antecipada esses institutos, que so ligados urgncia, s podem existir em processo que feito para demorar [Tecnicamente, a tutela antecipada incompatvel com a Lei 9099, haja vista que tem um procedimento sumarssimo. Isso acontece na prtica porque o procedimento no seguido como foi imaginado. Se fosse seguido, o processo comearia e acabaria em um dia ou, no mximo, haveria designao de nova audincia para 10 dias, no havendo, nesse caso, necessidade de tutela antecipada]. 1

3.

PRINCPIO DO JUIZ NATURAL Esse princpio no tem assento explcito na CF, mas, para uma parte da doutrina processual, esse um princpio constitucional implcito numa interpretao das normas constitucionais pode-se perceber que a CF nos d garantia do juiz natural, como ser comprovado adiante: Num primeiro momento, a CF diz que vedado o tribunal de exceo: art 5o, XXXVII. Tribunal de exceo aquele criado especificamente para julgar um determinado caso. Como isso vedado, cada processo que vai surgindo vai seguir as regras de competncia gerais. Todavia, no significa que para que tramite um processo civil o rgo deve preexistir, tanto assim que, se houver modificao de critrio absoluto, como por exemplo, em razo da matria, no curso do processo, no ocorre perpetuatio jurisdicione (a perpetuao da competncia s ocorre em relao aos critrios relativos). Ex. Atualmente os processo de locaes tramitam na Vara Cvel, pois no h rgo jurisdicional com competncia especfica especializada em locaes. Mas pode ser que sejam criadas 15 varas de locaes isso uma modificao de critrio absoluto: os processos tm que ser remetidos para as varas especializadas porque no ocorre a perpetuatio jurisdicione, a menos que a lei instituidora dessas varas de locaes estabelea que os processos que j tramitam ali tenham a sua competncia mantida e s os novos processos que tramitaro nas novas varas de locaes Esse princpio do juiz natural tambm nos diz o seguinte: que o rgo jurisdicional perante o qual tramita o processo tem que ser competente e que o juiz que exerce funes naquele rgo tem que ser independente e imparcial. Imagine a hiptese de ser competente a 2 a Vara Cvel da Comarca da Capital o juiz que exerce funo naquele rgo tem que ser independente e imparcial. Como que a CF garante a independncia do magistrado? A CF traz 3 garantias da independncia do juiz no art 95: Vitaliciedade: quando o juiz ingressa no 1o grau de jurisdio a vitaliciedade s adquirida aps 2 anos de exerccio, ou seja, quando ele confirmado na carreira (durante o perodo de estgio probatrio o juiz est sujeito exonerao aps 2 anos de exerccio ele passa a ser vitaliciado). Se o juiz ingressar nessa funo jurisdicional de uma outra forma, ele no est sujeito ao estgio probatrio, como por ex. o ingresso nessa funo pelo quinto constitucional, se ingressou como ministro do STJ ou do STF nesses casos, ao ingressar j ganha vitaliciedade. Pela vitaliciedade, o juiz s pode perder o cargo por sentena condenatria transitada em julgado isso garante ao juiz que ele no vai sofrer presses da corregedoria pelo seu modo de julgar, pois ele no tem medo de ser exonerado. Ex. O juiz que atua na Vara de Fazenda Pblica: ele julga contra o Estado e, por mais que haja autonomia de gesto do Poder Judicirio, isso interfere indiretamente no seu trabalho. Ento, se no houvesse a vitaliciedade, o juiz se sentiria muito pressionado. Inamovibilidade: em regra, o juiz inamovvel, pois ele s inamovvel quando titular, enquanto for substituto o juiz movvel. Quando o juiz titular e, consequentemente, inamovvel, h uma absoluta obedincia vedao do tribunal de exceo [atualmente, ningum vai criar um tribunal para julgar uma causa especfica, ou seja, ningum vai desrespeitar essa deciso diretamente, mas uma forma de se criar um rgo voc mudar o juiz que ali exerce funes]. Irredutibilidade de subsdios

Alm de ter independncia, o juiz tem que ser imparcial, significa dizer que o juiz est eqidistante das partes. O juiz, na relao processual, est representando o Estado-Juiz, que est numa posio de soberania, e no pode pender para qualquer lado. Mas, existem situaes em que o juiz se torna parcial e, nesse caso, ele tem que ser afastado do processo. O CPC traz as situaes de parcialidade do julgador nos arts 134 e 135. As causas de impedimento (art 134) no admitem prova em contrrio porque so consideradas causas objetivas. J as causas de suspeio admitem prova em contrrio porque so causas subjetivas. Art. 134 defeso ao juiz exercer as suas funes no processo contencioso ou voluntrio: I - de que for parte se ele for parte estar defendendo direito dele e no vai conseguir julgar de modo imparcial II - em que interveio como mandatrio da parte, oficiou como perito, funcionou como rgo do MP, ou prestou depoimento como testemunha a lei entende que ele tenda a confirmar a posio defendida anteriormente (se ele era perito, como juiz vai julgar da forma como deu o laudo) III - que conheceu em primeiro grau de jurisdio, tendo-lhe proferido sentena ou deciso ele vai ter a tendncia de confirmar a sentena dada anteriormente IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cnjuge ou qq parente seu, consangneo ou afim, em linha reta, ou na linha colateral at o segundo grau por essa relao familiar, a lei entende que o juiz seria tendencioso a favorecer os interesses do seu familiar 2

V - quando cnjuge, parente, consangneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou na colateral, at o terceiro grau mesmo raciocnio anterior VI - quando for rgo de direo ou de administrao de pessoa jurdica, parte na causa esse inciso no se aplica, porque a lei que regula a carreira da magistratura veda que o juiz possa ser rgo de administrao em qq pessoa jurdica a nica carreira que o juiz pode acumular a do magistrio P Imagina que voc tenha um juiz que casado com uma advogada e ele o juiz natural do seu processo porque o seu processo foi distribudo para o cartrio onde ele titular. Se voc tem interesse de tirar esse juiz do seu processo porque voc no tem interesse nas suas posies quanto ao direito material, voc contrata a esposa dele como sua advogada voc estaria utilizando de subterfgio para gerar um impedimento posterior do juiz. Nesse caso, quem fica impedido o advogado de ingressar na causa. Art. 135 Reputa-se fundada a suspeio de parcialidade do juiz, quando: I amigo ntimo ou inimigo capital de qq das partes O conceito de amigo ntimo subjetivo. Ento pode ser que uma das partes entenda que o juiz amigo ntimo da outra parte e o juiz consiga provar no Tribunal que no , ou seja, admite prova em contrrio. II alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cnjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral at o terceiro grau a lei entende que, se o juiz credor da parte, se ele puder fazer que ele seja vencedor de alguma causa que vai receber dinheiro, o favorecer. III herdeiro presuntivo, donatrio ou empregador de alguma das partes IV receber ddivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender s despesas do litgio o juiz no pode receber qualquer tipo de presente V interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes. Todas essas causas de suspeio podem ser contraditadas Essa suspeio julgada no Tribunal, mas a parte argi perante o prprio juiz, porque pode ser que ele mesmo, verificando a alegao feita pela parte, declarar a sua imparcialidade O impedimento considerado mais grave que a suspeio. Isso pode ser comprovado pelo fato de a suspeio no ser causa de ao rescisria, enquanto que o impedimento causa de ao rescisria. Da PI at a formao da coisa julgada material no h qualquer diferena entre impedimento e suspeio, ou seja, se o juiz for impedido ou suspeito ele tem que ser afastado do processo. Porm, a coisa julgada material resolve a suspeio, isto , ela fica sanada; o mesmo no acontece com o impedimento quando ocorre a coisa julgada material, o impedimento vira causa de rescindibilidade (daquela coisa julgada a contar 2 anos h possibilidade de se demandar ao rescisria para argir impedimento do juiz). 4. PRINCPIO DA ISONOMIA Art. 5o, caput Todos so iguais perante lei Todavia, nem todas as pessoas so iguais. Essa igualdade prevista na CF meramente formal, pois existem diferenas pontuais nas pessoas, devendo ser aplicada a isonomia material ou substancial, que aplicar a isonomia de acordo com o respeito s desigualdades. Assim, vou considerar as pessoas iguais no que elas forem iguais e vou consider-las diferentes no que elas forem diferentes. E assim que faz a lei com relao s previses processuais. Ex. A Defensoria tem algumas prerrogativas: intimao pessoal, prazo em dobro, etc. Ento, a parte que assistido pela DP no tem tratamento igual quela que no assistida da DP, mas isso tem um fundamento: o princpio da isonomia pelo enfoque material em regra, a parte defendida pela DP hipossuficiente econmico, o que faz com que ela necessite de um defensor oferecido pelo Estado. Ai, como h uma grande quantidade de pessoas nessa situao financeira, necessrio que a DP tenha algumas prerrogativas para que o contingente de pessoas seja suportado. [Quando o STF julgou a constitucionalidade do prazo em dobro da DP, ele aplicou a tese da inconstitucionalidade progressiva: enquanto a Defensoria no fosse aparelhada para suportar o contingente populacional pobre do Brasil, era considerada constitucional o prazo em dobro da DP. A medida que a DP se aparelhasse para dar conta desse contingente o STF poder vir a considerar esse prazo inconstitucional] Outra hiptese a prioridade de tramitao dada ao idoso pela Lei 10.741/03: a lei cria essa regra porque a lei considera que o idoso est em situao de desigualdade em relao ao no idoso porque o idoso est mais prximo de morrer, ento ele menos tempo para gozar do bem jurdico que ele est tutelando. Tanto assim que essa prioridade s concedida quando o idoso autor. 5. PRINCPIO DO CONTRADITRIO Art. 5o, LV aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes O que contraditrio no processo judicial? Para esse conceito ser necessria a anlise de 3 requisitos: 3

Para que haja o contraditrio preciso que se garanta a cincia dos atos processuais Com a possibilidade da participao processual nesses atos E que essa participao seja efetiva para a formao do provimento judicial final. Ento, sobre os atos do processo as partes tm que ser informadas atravs da citao e da intimao Mas no basta que elas sejam informadas, elas tm que ter a chance de participao. Uma das formas de participao do ru a sua defesa, feita atravs da sua resposta. Mas autor tambm tem direito ao contraditrio, haja vista que ele tem direito de defender sua tese jurdica quando ele apresenta a PI, a rplica, atravs da ao incidental. Recorrer tambm uma forma de participar, bem como no recorrer, porque nesse caso a parte est dizendo que concorda com a deciso judicial. Todavia, no basta participar. Se voc entende que basta participar, voc vai aceitar um contraditrio meramente formal, ou seja, o autor e o ru dizem o que quer, mas o juiz decide independentemente daquele pedido e, nesse caso, a participao deles no foi relevante para o provimento final. Ento, muitos autores dizem que o contraditrio cincia + participao, mas essa participao tem que ser efetiva o juiz, na sentena, responde participao das partes do processo. O juiz pode julgar como quiser, mas ele tem que fundamentar e nessa fundamentao que eu vou poder controlar a sua atuao para saber se ele considerou o contraditrio. OBS: No nosso ordenamento, em regra, o contraditrio prvio (as partes tem contraditrio antes da realizao do ato). Mas, existem situaes em que esse contraditrio ser posterior em funo da natureza do ato, como ocorre por exemplo, quando a ao proposta: o contraditrio do ru posterior propositura da ao mas esse contraditrio no est sendo postergado, esse contraditrio, por natureza, posterior. Quando o juiz intima as partes para comparecerem a uma audincia, ele est dando o contraditrio prvio, porque da natureza desse ato que as partes tm que ser intimadas para o comparecimento (no d para realizar e depois dizer que realizou). Quando o contraditrio for por natureza prvio, possvel que no caso concreto, ele precise ser postergado para evitar dano. Ex. Em regra, o contraditrio do ru, quando ele vem apresentar a defesa, anterior (apresenta a defesa para que depois o juiz pratique algum ato) o juiz s vai comear a decidir quando as duas partes se manifestarem em contraditrio. Mas pode ser que eu precise de uma tutela antecipada urgente, requerida na PI, e que eu no possa aguardar o prazo da resposta do ru, porque existe um risco muito grande ao direito material nesse caso, excepcionalmente, o juiz vai decidir primeiro para depois informar para o ru o que foi decidido (o normal seria um contraditrio anterior, mas o juiz teve que postergar o contraditrio em prol de um interesse maior. OBS: Alguns dizem que no processo de execuo no haveria contraditrio, outros dizem que o contraditrio seria mitigado. Para a Prof as duas afirmaes esto equivocadas: dizer que no existe contraditrio impossvel, pois seria um processo inconstitucional; tambm no h mitigao do contraditrio, porque no h menos contraditrio do que no processo de conhecimento. Na execuo no h possibilidade que se conteste antes dos atos executivos acontecerem, mas isso ocorre porque o processo de execuo no o momento certo para contestar. O fato de ele ser um processo que tem uma lgica diferente da lgica do processo de conhecimento, no significa que ele tenha menos contraditrio: na execuo necessrio que as partes sejam intimadas, elas devem participar do processo. O que a ampla defesa no Processo Civil? Significa defesa tcnica com todos os meios e recursos a ela inerentes. No Processo Penal a ampla defesa autodefesa + defesa tcnica. No Processo Civil no existe a autodefesa, ento, toda defesa da parte defesa tcnica. Isso faz com que a ampla defesa se confunda com o contraditrio, porque quando ele se defende, est participando do processo. 6. PRINCPIO DA MOTIVAO DAS DECISES JUDICIAIS Art. 93, IX CF todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos, e fundamentadas todas as decises, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presena, em determinados atos, s prprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservao do direito intimidade do interessado no sigilo no prejudique o interesse pblico informao Esse artigo da CF exige que todas as decises judiciais sejam fundamentadas, sob pena de nulidade. Isso se coaduna com o nosso sistema de provas. O nosso sistema de provas o sistema do livre convencimento motivado (ou sistema da persuaso do juiz): o juiz no est atrelado ao valor de cada prova, ele valora a prova como ele quiser, mas ter que justificar a sua deciso 7. PRINCPIO DA INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JUDICIAL Art. 5o, XXXV a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito tambm chamado de Princpio do acesso justia.

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Toda vez que o jurisdicionado entender que sofreu leso, ele pode demandar. por isso que o direito de ao considerado autnomo e abstrato no nosso ordenamento, porque, para que eu exera direito de ao eu no dependo de ter o direito material, eu apenas preciso achar que sofri leso, ou que pelo menos sofri uma ameaa ao meu direito Nesse art 5o, XXXV, a CF protege a ameaa a direito isso considerado a sede constitucional da TUTELA INIBITRIA, que uma tutela de preveno do ilcito (atravs de um processo judicial se evita que o ilcito acontea) Quando ocorre ameaa de leso cabvel uma ao de no fazer, ou seja, se busca uma tutela para que a pessoa no lesione o direito material da outra A tutela possessria (dos interditos proibitrios) uma tutela inibitria quando o CPC diz que se eu sofrer uma ameaa de turbao ou de esbulho eu posso buscar o provimento judicial que me proteja da ameaa: eu sofri ameaa de danos e busco que o juiz fixe uma multa cominatria para que aquele que ameaa fique estimulado a no realizar a ameaa. 8. PRINCPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL Afirma que no processo deve ser praticado o menor nmero possvel de atos, com um maior atingimento possvel de suas finalidades, tudo isso com o menor dispndio financeiro possvel (no devem ser praticados atos inteis). Imagine que num processo no h qualquer prova oral a ser produzida no vai ter audincia e o juiz vai fazer o julgamento antecipado da lide, ou seja, j vai proferir sentena. Ele no vai realizar audincia de instruo e julgamento se no h prova oral a ser colhida. Art. 331 Se no ocorrer qualquer das hipteses previstas nas sees precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transao, o juiz designar audincia preliminar, a realizar-se no prazo de 30 dias, para o qual sero as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir Esse artigo trata da audincia preliminar, que tem como finalidade a conciliao: em regra, a audincia preliminar no se realiza, pois ela s ser realizada se o direito for transacionvel e, ainda que o direito seja transacionvel, o juiz s marcar audincia se achar provvel que as partes entraro em acordo. Isso ocorre porque a lei entendeu que isso uma forma de fazer economia processual 9. PRINCPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIO Esse princpio sofreu uma modificao na sua interpretao recentemente. Duplo grau significava a possibilidade de reexame de uma deciso judicial. Em regra, as aes no nosso ordenamento so propostas no rgo singular. Da deciso (sentena) desse rgo singular h o direito de recurso para o rgo colegiado. Quando a ao de competncia originria dos Tribunais, da deciso do Tribunal, em regra, no cabe recurso (no existe recurso para as decises dos Tribunais quando a competncia originria, a exceo o recurso ordinrio), porque a lei entende o seguinte: quando h competncia originria do Tribunal em virtude de prerrogativa de funo no h o direito do duplo grau de jurisdio. Assim, vamos considerar que, em regra, o princpio do duplo grau s se aplicar s aes propostas perante o juiz singular EXCEO: H uma situao em que eu proponho a ao perante o rgo singular, mas no tenho direito ao reexame: SMULA IMPEDITIVA DE RECURSO Art. 518, 1o O juiz no receber o recurso de apelao quando a sentena estiver em conformidade com smula do STJ ou do STF se a deciso do juiz de 1 o grau estiver de acordo com smula do STF ou do STJ, a lei presume que a deciso est correta. No uma questo de vinculao, pois essa smula no vinculante, ela impeditiva de recurso a posio de lei de JURISPRUDNCIA VINCULANTE, pois a deciso do STF ou do STJ um entendimento correto. Existe o duplo grau em virtude de a lei achar que pode haver uma grande chance de erro na deciso proferida pelo rgo singular e, por isso possvel o recurso perante o rgo colegiado, no qual a deciso ser apreciada por 3 desembargadores e, consequentemente, mais democrtica, alm disso os tribunais so formados por juzes mais experientes. Ento, se a deciso do juiz singular est de acordo com a smula do STF ou do STJ, presume-se que sua deciso est correta e, dessa forma, no necessrio ser controlada pelo Tribunal. OBS: Dessa deciso de no recebimento cabe agravo de instrumento, mas dificilmente esse recurso ter xito, uma vez que os argumentos aduzidos sero rechaados pelo Tribunal, pois a prpria lei dispe que se a deciso estiver de acordo com a smula no ser possvel a reviso da deciso. TEORIA DA CAUSA MADURA Art. 515, 3o Nos casos de extino do processo sem julgamento do mrito (art 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questo exclusivamente de direito E estiver em condies de imediato julgamento

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O processo estava tramitando em um rgo singular e este rgo, ao invs de proferir sentena de mrito, proferiu sentena de extino sem resoluo do mrito. O autor apelou pedindo a reforma dessa sentena; o tribunal reformou e, ao invs de mandar baixar os autos, julga o mrito, na forma do 3 o do art 515. Esse modo de proceder se adequa tecnicamente ao princpio do duplo grau de jurisdio? Pelo princpio do duplo grau o recorrente tem direito ao reexame da questo examinada pelo juiz de 1o grau. No caso do 515, 3 o no h qualquer exame, porque o processo extinto sem exame do mrito. Quando esse artigo 515, 3o surgiu no nosso ordenamento surgiu essa crtica: que ele ofenderia o princpio do duplo grau de jurisdio, haja vista que estava autorizando uma supresso de instncia. Resposta da doutrina em relao a essa crtica: o nosso conceito de duplo grau de jurisdio estava errado, porque o duplo grau de jurisdio no exatamente o reexame da causa, porque, na verdade, ningum tem direito ao julgamento da causa em dois graus de jurisdio. Assim, segundo a doutrina majoritria, o duplo grau de jurisdio direito que a causa seja debatida em dois graus de jurisdio e no julgada em dois graus de jurisdio. Sob esse enfoque a causa foi debatida em 1o grau de jurisdio, s no houve sentena de mrito. Quando vai para o tribunal a causa tambm debatida e o mrito foi proferido apenas nesse grau de jurisdio. 10. PRINCPIO DA LEALDADE PROCESSUAL Todos aqueles que atuam no processo tm o dever de lealdade processual e, na falta desta, haver um ato ilcito gerando obrigao de indenizar. Em 2 momento diferentes a lei trabalha com a questo da lealdade processual:

Art 14 CPC So deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: (II) proceder com lealdade e boa-f. Todos tm que participar do processo com lealdade. Os deveres das partes so: expor os fatos em juzo conforme a verdade; proceder com lealdade e boa-f; no formular pretenses, nem alegar defesa, cientes de que so destitudas de fundamento; no produzir provas, nem praticar atos inteis ou desnecessrios declarao ou defesa do direito; cumprir com exatido os provimentos mandamentais e no criar embaraos efetivao de provimentos judiciais de natureza antecipatria ou final. H quem diga que permitido s partes mentirem no processo, pois somente as testemunhas que no poderiam mentir. A testemunha no pode mentir porque incorre no crime de falso testemunho a parte no incorre nesse crime, mas se mentir pratica ilcito civil, que a testemunha tambm incorre. Isso no significa que a parte pode mentir e a testemunha no pode. Significa que a testemunha, se mentir, pratica crime, mas ambas se mentirem praticam ilcito civil. Quando o juiz verifica que a parte mentiu e, consequentemente, praticou ilcito civil, pode fixar multa por esse agir da parte. Mas, especificamente a lei previu a multa para a situao do inciso V (cumprir com exatido os provimentos mandamentais e no criar embaraos efetivao de provimentos judiciais de natureza antecipatria ou final): a lei quis implementar a execuo dos atos, ou seja, se h um provimento mandamental, h uma ordem e, assim, tem que ser cumprido [diferena entre uma deciso condenatria e uma deciso mandamental: na condenatria ou executiva lato sensu eu no preciso da outra parte para que a deciso seja cumprida, pois h meios previstos em lei pelos quais eu fao cumprir a deciso; mas quando eu tenho uma deciso mandamental, eu sempre dependo do devedor para que a deciso seja cumprida, ou seja, o juiz d uma ordem e por isso que a deciso qualificada vale mais pois as demais se no forem cumpridas basta serem executadas, essa no tem como executar porque eu dependo da outra parte fisicamente. Segundo o p, o no cumprimento do provimento mandamental ato atentatrio ao exerccio da jurisdio, podendo ser aplicado ao responsvel multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e no superior a 20% do valor da causa no sendo paga no prazo estabelecido, contado do trnsito em julgado da deciso final da causa, a multa ser inscrita sempre como dvida ativa da Unio ou do Estado nesse caso, quando as partes no cumprem com o dever disposto no art 14, estaro faltando com o dever perante o Estado-Juiz, por isso um ato atentatrio dignidade da jurisdio e ai a lei impe uma multa de at 20% que ser revertida em favor do Estado. Esse dever de lealdade no s para com o Estado-Juiz, tambm existe um dever de lealdade entre as partes. Se houver uma ofensa a esse dever de lealdade entre as partes, poder ser configurada uma litigncia de m-f, que est prevista na lei a partir do art 16 at o art 18. Art. 16 Responde por perdas e danos aquele que pleitear de m-f como autor, ru ou interveniente aquele que, de algum modo, agiu de m-f Art. 17 Reputa-se litigante de m-f aquele que: I deduzir pretenso ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; [deve ser feita uma interpretao adequada, pois comum se litigar contra texto expresso de lei, mas a questo tem que ser divergente h muitas situaes em que a lei diz uma coisa e a jurisprudncia diz outra totalmente diferente e isso no gera litigncia de m-f] 6

II alterar a verdade dos fatos; III usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV opuser resistncia injustificada ao andamento do processo; V proceder de modo temerrio em qualquer incidente ou ato do processo; VI provocar incidentes manifestamente infundados; VII interpuser recurso com intuito manifestamente protelatrio [H um posicionamento da DP segundo o qual, em respeito ao princpio da ampla defesa, no qual deve ser usado qualquer recurso a ela inerente, possvel se usar um recurso protelatrio para que haja a ampla defesa do sujeito necessrio que se use todos os tipos de recurso, mesmo o protelatrio. Ex. O assistido perdeu; ele tem direito a recorrer mesmo no tendo nada para alegar. Mas para o Processo Civil isso litigncia de m-f, pois a mquina judiciria s deve ser movida quando h algo de efetivo a ser alegado, se voc j sabe que no tem razo, deve aceitar a deciso judicial mas esse posicionamento no est de acordo com o que diz a CF] Art. 18 O juiz ou tribunal, de ofcio ou a requerimento, condenar o litigante de m-f a pagar multa no excedente a 1% sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrria dos prejuzos que esta sofreu, mais os honorrios advocatcios e todas as despesas que efetuou 2o O valor da indenizao ser desde logo fixado pelo juiz, em quantia no superior a 20% sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento O juiz pode condenar ao pagamento da multa no superior a 1% do valor da causa + indenizao pelos danos causados a outra parte So cumulveis a pena pela litigncia de m-f e a pena do art 14? Sim, so cumulveis, porque elas tm ttulos diversos, pois no artigo 18 a indenizao revertida para a parte prejudicada, j no art. 14 o beneficirio o Estado.

2a aula 13/11/2007JURISDIO E COMPETNCIA JURISDIO: Quando se fala em jurisdio, essencial se relembrar o momento em que esta surgiu. A jurisdio no uma funo natural, ela foi criada artificialmente pelo Estado como forma deste coibir a autotutela. Os conflitos de interesse j existiam antes da existncia de um Estado. As formas de soluo desses conflitos sem o Estado so: autocomposio, que feita atravs de um acordo, mas que uma possibilidade remota. Em geral, a sociedade resolvia seus conflitos sem o Estado atravs da autotutela, pela qual aquele que tinha mais fora fsica sempre saa vitorioso. Com a criao do Estado, ele passou a verificar de que forma ele poderia ser til sociedade, concluindo que a forma da autotutela era uma forma de barbrie. Por esse motivo, o Estado trouxe para si a funo de resolver os conflitos de interesse e, assim, criou a jurisdio. Nessa poca todo o processo se baseava num conflito de interesse. No Processo Civil moderno no h necessidade do conflito de interesse como um elemento essencial, a jurisdio, atualmente, conceituada como uma funo do Estado de resolver as pretenses que lhe so apresentas, porque, segundo a cincia processual, todo processo precisa de uma pretenso processual, que sinnimo de mrito (toda vez que voc demanda tem um interesse de mrito, mas no necessariamente existir um conflito de interesse). Dessa forma, o conflito um elemento acidental e a pretenso um elemento essencial do processo. Essa pretenso a pretenso processual, que independe da pretenso de direito material. A pretenso de direito material surge do direito subjetivo e nenhum processo trabalha sobre a tica de um direito subjetivo, mas sobre a tica de um direito potestativo.

CARACTERSTICAS DA JURISDIO: 1. INRCIA: quando o Estado criou a funo jurisdicional, ele a criou de forma inerte, ou seja, o interessado tem que provoc-la. Por que a jurisdio inerte, ou seja, por que o juiz, quando verificar que existe uma situao de conflito ou de injustia, no pode, por si mesmo, propor um processo judicial? Isso quebraria sua imparcialidade? No processo de inventrio, diz a lei que quando o juiz observar que j passaram 60 dias, pode dar incio ao inventrio de ofcio. Isso quebra sua imparcialidade? (inventrio no jurisdio voluntria).

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Na verdade, a jurisdio inerte para evitar que ela gere conflitos onde no exista. Nada tem a ver com a imparcialidade, porque o juiz, ao propor a ao no estaria julgando o mrito, ele estaria simplesmente determinando que aquele processo se iniciasse. O que ocorre que o nosso sistema jurdico reconhece que a pretenso de direito processual nem sempre caminha junto com a pretenso de direito material. Assim, a gente tem que considerar o seguinte: a pretenso de direito material surge no momento da leso, e necessariamente no momento em que voc sofre uma leso do direito subjetivo, h obrigatoriamente interesse ftico em ver declarada aquela leso? Pode ser que no. Ento, h situaes em que a pessoa vai sofrer leso de direito material e ele pode querer conviver com aquela leso. Ex. Fiz um emprstimo para o meu pai; ele tinha obrigao de me pagar no dia X e no me pagou houve leso a um direito subjetivo e, consequentemente, uma pretenso de direito material. Mas, por se tratar do meu pai, no vou cobrar. Se a lei criasse a jurisdio de ofcio como regra, ela criaria conflito onde no existe, pois, nesse caso, surgiria um conflito familiar se um processo fosse iniciado de ofcio. Ento, a jurisdio precisa ser provocada pelo interessado. Como que o interessado faz essa provocao? Exercendo seu direito de ao. 2. ADERNCIA AO TERRITRIO Art 1o CPC A jurisdio civil, contenciosa ou voluntria, exercida pelos juzes, em todo o territrio nacional, conforme as disposies que este Cdigo estabelece A jurisdio exercida em todo territrio nacional, em tudo aquilo que se considere territrio nacional, ou seja, o julgamento de uma sentena tem efeito em todo o territrio nacional. Ex. Uma sentena prolatada por um juiz da comarca da Capital/RJ produz efeito em todo territrio nacional. [Mas, esse juiz no da comarca da Capital? Sim, mas, por dessa forma, no se pode fazer qualquer tipo de correlao entre as regras de competncia e os efeitos da jurisdio pelas regras de competncia ser verificado qual o rgo que tem maior especialidade, em sentido amplo, para a propositura de determinado tipo de ao, ou seja, qual o rgo que tem competncia para o processo e seu julgamento; independente de qual seja o rgo, uma vez que ele profira julgamento, esse territrio produz efeito em todo territrio [ por isso que h tantas crticas sobre o art 16 da LACP: esse artigo fala que a sentena da ao civil pblica teria efeito erga omnes, mas no limite do territrio do juiz prolator da sentena pela redao da lei, ns entenderamos que h uma contradio, porque diz que o efeito erga omnes e depois limita a produo de efeitos ao espao territorial de competncia do juiz prolator da deciso. Ex. ao civil pblica proposta na comarca de Itatiaia, a sentena s produziria efeito nessa comarca. Uma vez que houvesse um recurso contra essa deciso, isso ampliaria os efeitos da deciso, passando a produzir efeito no Estado do RJ; se fosse possvel a interposio de um REsp ou Rext, s ai que os efeitos alcanariam o territrio nacional.] 3. A JURISDIO TEM NATUREZA DECLARATRIA: significa que a atividade jurisdicional reconhece um direito preexistente ao processo. Em que momento se adquire um direito material? [Ex. Voc se matriculou num mdulo da FESUDEPERJ e o professor no aparece para dar aula no necessrio que seja proposta uma ao e que seja prolatada uma sentena para dizer que voc tinha direito quelas aulas] O direito material adquirido quando uma situao concreta se adequa norma em abstrato (isso no se aplica a todo e qualquer direito porque h situaes que no esto previstas em lei). Mas o CC que estabelece que no momento em que voc celebra uma obrigao e que o outro se obriga a uma contraprestao de fazer (no exemplo acima: ministrar as aulas se o professor no vem ministrar as aulas voc adquire o direito de exigir as prestaes das aulas. Ento, a aquisio de um direito no tem nada a ver com o processo, a aquisio independe completamente de um processo judicial. E, na verdade, na maior parte das situaes, seria possvel que voc exercesse esse direito independentemente de um processo judicial (no caso acima descrito, seria possvel que fosse feita uma resciso contratual com a devoluo da quantia paga houve soluo de direito material independentemente de um processo judicial) Quando voc, por algum motivo, necessita chegar a propor um processo judicial, aquela atividade jurisdicional que ser realizada, no mximo, ir declarar a preexistncia de um direito. por isso que no possvel a propositura de uma ao sem o direito completo. Ex. Vou propor uma ao de usucapio especial; preciso de 5 anos de posse e j tenho 4 anos e 6 meses uma ao de usucapio nunca leva menos de 6 meses para ser julgada e eu penso que j poderia propor, porque na poca do julgamento, j teria completado esse requisito temporal. Mas isso no possvel, porque no momento da propositura j devo ter meu direito material constitudo. preciso demonstrar ao juiz que o meu direito preexistente ao processo para que ele possa declarar a usucapio. [Antigamente o entendimento era no sentido de que a natureza era constitutiva: no momento da propositura havia apenas uma expectativa de direito e, somente depois que o juiz reconhecesse esse direito atravs da sentena, que estaria constitudo esse direito]

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[Essa natureza declaratria nada tem a ver com efeito ex tunc. Vamos esclarecer Toda jurisdio, em qualquer processo: de conhecimento, de execuo ou cautelar, tem natureza declaratria. Agora, quando ns estamos num processo de conhecimento, as sentenas podem ser classificadas em condenatria, declaratria, constitutiva, mandamental e executiva lato sensu. Quando se faz essa classificao que, dependendo da classificao a gente vai ver a partir de quando essa sentena vai produzir seus efeitos. Ex. Se a sentena constitutiva, seus efeitos sero ex nunc (no tem nenhuma retroao) do trnsito em julgado para frente que aquela deciso produz seus efeitos; se a sentena declaratria, o juiz est reconhecendo uma relao jurdica que j existia desde de determinado momento (ela reconhece no que exista hoje, mas que existia nesse momento X) seus efeitos sero ex tunc. Concluso: em qualquer sentena a natureza da jurisdio declaratria, ainda que seja uma sentena num processo de conhecimento constitutiva.] Ex. Estou com uma ao de investigao de paternidade. Se realmente o ru meu pai, ele meu pai desde a concepo e eu tenho direito do reconhecimento desde antes da propositura da ao. Mas, numa ao de paternidade a minha pretenso ver declarada pelo juiz o vnculo de paternidade desde quando esse vnculo surgiu (com a concepo). Ento, por acaso, a sentena vai ter seus efeitos retroagindo at a mesma data do surgimento do direito. Ex. 2 Proponho uma ao de adoo e, para tal, preciso preencher determinados requisitos so esses requisitos que me do direito para adotar. Eu preciso preencher esses requisitos antes da propositura da ao para convencer ao juiz que preencho os requisitos que eu alego. Quando ele se convencer vai julgar procedente o meu pedido sentena de natureza constitutiva. [Quando o juiz profere uma sentena na adoo, a criana passa a ser filha do adotante desde o trnsito em julgado da sentena: no retroage, porque o juiz est, com essa sentena constitutiva, constituindo a relao jurdica naquele momento a relao de adoo no existia, poderia at haver a relao afetiva, mas no ainda a relao jurdica, que ser constituda aps o trnsito em julgado. Mas a jurisdio, com essa sentena, uma jurisdio que criou o meu direito de adotar? No, o meu direito de adotar eu j tinha desde antes da ao, a sentena apenas criou a relao jurdica, mas no criou o meu direito. Toda sentena reconhece a existncia de um direito e, dependendo do pedido, ela vai declarar, vai condenar, vai constituir , etc. Toda vez que voc demanda, voc tem que, pelo menos, alegar a existncia de uma relao jurdica. As duas nicas ressalvas encontram-se no art 4o do CPC: aes declaratrias negativas, que declara a inexistncia de relao jurdica e ao de falsidade ou autenticidade de documento. Mas quando voc discute, em regra, ao declaratria voc s pode demandar para declarar a existncia de uma relao jurdica. [Quando eu declaro uma ao declaratria de paternidade, no tenho automaticamente direito a alimentos ou direitos sucessrios. Mas no momento em que for reconhecida e fizer coisa julgada, automaticamente, daquela relao jurdica de filiao decorre direito de alimento e sucessrio]. 4. A JURISDIO UNA E INDIVISVEL A jurisdio dada pela CF a determinados rgos e dada como um pacote, ou seja, quando a CF d a jurisdio, ela no atrela s regras de competncia e no necessrio que ela distribua as regras de competncia. Ento poderia haver um Poder Judicirio com toda e qualquer competncia assim a jurisdio que dada pela CF una, como uma funo integral isso nos d a certeza de que no existe gradao de jurisdio, ou seja, nenhum rgo tem mais jurisdio do que outro (o acrdo do TJ no mais importante do que a sentena do juiz singular). Por esse raciocnio, no correto dizer que a competncia o limite da jurisdio, porque a jurisdio no passvel de limitao e isso j ficou provado pela caracterstica da aderncia do territrio, pois se houvesse limite da jurisdio pela competncia, quando o juiz proferisse uma sentena, a jurisdio ia se fixar naquela competncia dele. Ento, a competncia nada mais do que uma distribuio prtica de trabalho, distribuio das regras para prestar a jurisdio de modo mais efetivo. Quem tem jurisdio? De regra, a CF deu essa funo aos rgo do Poder Judicirio. Mas h excees: A arbitragem, apesar de todas as caractersticas, no tem jurisdio, e no tem somente porque a CF no quis s a CF pode dar jurisdio Senado Federal: quando atua na funo atpica tem jurisdio, ou seja, mesmo no sendo do Poder Judicirio, julga o Presidente da Repblica nos crimes de responsabilidade (art 52 CF). Conselho Nacional de Justia: rgo do Poder Judicirio, mas no tem jurisdio, tem funo administrativa. 5. A JURISDIO INDELEGVEL s quem pode dar jurisdio a CF, a norma infraconstitucional no pode dar jurisdio a quem a CF no deu.

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Nesse diapaso deve-se ter cuidado com a figura do JUIZ LEIGO, criado pelo Lei 9099. H previso na CF acerca do juiz leigo, mas quando ela fala sobre o Juizado, determina que vai tratar das causas de menor complexidade e que podero presidir esse julgamento o juiz togado ou o juiz leigo, sendo competentes para o processo, julgamento e conciliao. Ento, a CF s fala em juzes togados e juzes leigos. Ai veio a Lei 9099 e, extrapolando no poder regulamentar, e disse que no Juizado existem juzes togados, juzes leigos e conciliadores. Pela regra da CF, quem ficaria com a conciliao seria o juiz leigo, porque a CF no previu conciliadores. Pela regra criada pela L 9099, o conciliador faz a conciliao, o juiz togado faz o processo e o julgamento e nada sobraria para o juiz leigo. Mas a L 9099 criou uma funo para o juiz leigo: dirigir a instruo do processo. Para a Prof isso inconstitucional, porque quando a CF d a funo jurisdicional, ela no d a funo s de julgar, ela fala de processo e julgamento. Quando a Lei 9099 afirma que esse juiz leigo pode dirigir a instruo do processo e, por coerncia, quem dirige a instruo profere a deciso, essa Lei inconstitucional: o juiz leigo no poderia exercer funo de juiz togado. Para disfarar essa inconstitucionalidade, o juiz togado homologar a deciso do juiz leigo. 6. SUBSTITUTIVIDADE a jurisdio considerada uma funo substitutiva porque a forma normal de soluo dos conflitos no atravs da jurisdio, mas a conciliao ou a autotutela e, em regra, a que prepondera e a autotutela, o uso da fora bruta. Quando a jurisdio veio, substituiu essa forma normal de soluo de conflito de interesses. contenciosa voluntria

CLASSIFICAO DA JURISDIO:

Dentro de uma teoria clssica, que a que prepondera at hoje, somente a jurisdio contenciosa que a verdadeira jurisdio, porque dentro dessa viso, a expresso contenciosa quer dizer conflituosa, ou seja, s nesse caso h conflito de interesse. Ocorre que o CPC no s diz que h uma jurisdio voluntria, como se preocupa em trabalhar dentro de um captulo com uma srie de procedimentos que ele chama de procedimentos especiais de jurisdio voluntria. Nesses procedimentos no h conflito e, por isso, no h verdadeira natureza jurisdicional, mas uma natureza administrativa. Mas, por uma questo de segurana jurdica, a lei resolveu coloc-los para acontecerem dentro de um processo judicial, pois essa foi a forma de o Estado proteger esses procedimentos administrativos. Nesse tipo de procedimento a lei diz que o juiz pode julgar por equidade, ele no est preso legalidade, ao contrrio do que ocorre na jurisdio contenciosa, na qual o juiz tem que julgar pela legalidade estrita. Ento, existe essa viso clssica sobre a jurisdio voluntria e ainda existe uma teoria mais moderna, que a chamada TEORIA REVISIONISTA. Essa teoria tenta demonstrar que, na verdade, a jurisdio voluntria, embora voluntria, verdadeira jurisdio. Ressalte-se que, se adotarmos uma teoria ou outra no vai trazer qualquer modificao para o procedimento, pois o juiz continua podendo julgar por equidade, uma vez que essa previso encontra-se na lei. COMPETNCIA: Ttulo IV Captulo II DA COMPETNCIA INTERNACIONAL Como j foi visto anteriormente, a competncia uma regra de melhor distribuio da prestao jurisdicional e a jurisdio referente ao territrio nacional. Ento, no razovel que o CPC regule competncia internacional, pois estaria ofendendo a soberania de outros pases. Assim, na verdade, no h competncia internacional, h uma anlise acerca de que situaes existe jurisdio brasileira e de que situaes existe jurisdio internacional. Ser que todo tipo de ao pode ser proposta perante justia brasileira? Ex de uma coisa que no est na lei: Uma ao de reparao judicial de um casal, no qual ele francs, ela inglesa, eles se casaram na Espanha e moram em Portugal nunca vieram ao Brasil. Mas eles descobriram que no Brasil a separao judicial barata e rpida e resolvem propor ao de separao judicial aqui. Isso no possvel porque no est na lei, mas decorre de um princpio do direito processual internacional chamado Princpio do Interesse da Soberania, porque a nossa mquina judiciria s deve se movimentar em relao a sujeitos e/ou bens e direitos que sejam referentes soberania nacional. Ser que aes que dizem respeito a pessoas brasileiras ou domiciliadas no Brasil, ou a bens ou direitos que esto no Brasil podem ser propostas no exterior? exatamente do que tratam os arts 88 e 89: dizem quais situaes a nossa legislao tem jurisdio brasileira. Art. 88 competente a autoridade judiciria brasileira quando: I o ru, qualquer que seja sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II no Brasil tiver de ser cumprida a obrigao; 10

III a ao se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil Essas aes podem ser propostas perante autoridade brasileira ou estrangeira (concorrente) isso no regra de competncia, anterior competncia, pois est analisando se o Brasil tem ou no jurisdio e, se tem, se exclusiva (art 89) ou concorrente (art 88) Art. 89 Compete autoridade judiciria brasileira, com excluso de qualquer outra: I conhecer de aes relativas a imveis situados no Brasil; II proceder a inventrio e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor de herana seja estrangeiro e tenha residido fora do territrio nacional Ex. Um espanhol, domiciliado na Espanha, tem todos os seus bens na Espanha, mas vem ao Brasil a passeio e adquire aqui um bem imvel. Ele volta para Espanha e morre na sua terra. Os seus herdeiros, que esto na Espanha, resolvem fazer o inventrio de todos os bens, incluindo nesse inventrio o bem imvel situado no Brasil eles podem fazer o inventrio l, porque a lei brasileira no pode intervir na soberania de outro pas, mas de nada valer no Brasil, porque a sentena do inventrio da Espanha no poder produzir efeitos aqui [existe impossibilidade jurdica do pedido de homologao de sentena estrangeira, porque esse assunto de jurisdio exclusiva do Brasil. No caso do art 88, se a questo j foi discutida no pas estrangeiro, basta que proponha ao de homologao de sentena, porque a jurisdio concorrente]. Art. 8o LICC Para qualificar os bens e regular as relaes a eles concernentes, aplicar-se- a lei do pas em que estiverem situados (2a parte da aula) REGRAS DE COMPETNCIA CRITRIOS 1o critrio: CRITRIO OBJETIVO EM RAZO DA PESSOA (analisa a partir de que a lei resolver criar certas regras de competncia) O critrio objetivo em razo da pessoa fixa a competncia pela presena de certa pessoa no processo, considerada por si prpria ou pelo cargo ou funo que ocupe. Ex. Competncia da Justia Federal em regra, a competncia da Justia Federal fixada em razo da presena da Unio ou seus agregados, como as empresas pblicas, as autarquias e as fundaes autrquicas federais. Pode ser que esse critrio seja estabelecido pela presena de uma pessoa no processo, pelo cargo ou funo que ela ocupe e no pela prpria pessoa: Ex. Mandado de Segurana tem sua competncia estabelecida pela autoridade coatora: dependendo da autoridade coatora, o MS ir para a justia singular ou para o TJ, TRF, STJ ou STF. Esse critrio objetivo em razo da pessoa um critrio absoluto [Alguns doutrinadores colocam como critrio objetivo em razo da pessoa as competncia da Vara de Fazenda Pblica. Mas para a prof essa competncia no fixada com base na pessoa e sim fixada com base na matria as matrias de interesse estaduais vo para a Vara de Fazenda Pblica, porque voc no tem somente a questo da presena do Estado ou do Municpio, h tambm o rol de matrias que o CODJERJ estabelece] 2o critrio: CRITRIO OBJETIVO EM RAZO DA MATRIA OU DA NATUREZA DA CAUSA Leva em considerao a especialidade do rgo jurisdicional. A CF define esse critrio ao criar as justias especiais: Militar, Eleitoral e Trabalhista (critrio da natureza da causa, critrio da matria que est envolvida), bem como o CODJERJ, que diz quais so as especialidades de rgos. Nem sempre esta especialidade pode ser identificada pelo nome: aqui na Comarca da Capital os rgos especializados so especificados pelo nome, que d a indicao da especializao (Vara de Famlia); mas nas demais comarcas voc no tem tantas especializaes, sendo comum o seguinte: Varas Criminais e Varas Cveis e que as Varas Cveis tenham, de acordo com as normas de organizao judiciria, competncia especializada (1a, 2a e 3a Varas Cveis da comarca X tm competncia tambm de Famlia; 4 a e 5a tm competncia de rfos). Isso ocorre nos Fruns regionais: todos tm, principalmente, Varas Cveis e de Famlia, mas todas as Cveis tm competncia para rfos e Sucesses, porque a lei traz expressamente a competncia. 3o critrio: CRITRIO OBJETIVO EM RAZO DO VALOR A competncia fixada tendo em conta o valor que se deu causa. Hoje, no nosso ordenamento, s h um exemplo disso: Juizados Especiais Estaduais: at 40 salrios; Federais: at 60 salrios. OBS: Esse critrio tido, pela maior parte da doutrina, como relativo. Mas devemos tomar cuidado, porque quando o CPC se referia a esse critrio como relativo no estava tratando com a realidade do JEC e sim com a realidade do Tribunal de Alada. Todavia, atualmente o critrio em razo do valor no relativo: 11

Quando se trata da competncia do Juizado Federal, a competncia absoluta (aquelas aes que so da competncia da justia federal, cujo o valor seja de at 60 salrios mnimos, obrigatoriamente tm que ser demandadas no JEC Federal, no podem ser demandadas na justia federal formal). Quando se tratar da competncia do Juizado Estadual: no relativo nem absoluto, a competncia concorrente h opo: pode-se demandar tanto no JEC como na Justia Comum.

4o critrio: CRITRIO FUNCIONAL 3 enfoques: nos 3 enfoques a competncia absoluta 1o enfoque: um rgo jurisdicional exerce funes em um processo e se torna, automaticamente, competente para outros processos futuros. Ex. Processo cautelar: voc prope o processo cautelar preparatrio ao processo principal, ou se o processo principal estiver em curso e voc tem um processo cautelar incidente [Voc resolve propor uma ao cautelar de alimentos provisionais essa ao proposta na Vara de Famlia porque a essa vara a competente para o processo principal ( possvel propor alimentos com base em responsabilidade civil, mas no so decorrentes de direito de famlia, ou seja, no so provisionais). Vamos imaginar que a cautelar foi distribuda para a 3 a Vara de Famlia da Capital automaticamente, por exercer funes no processo cautelar, ele j se tornou competente para a ao principal, que ainda nem existe e nem se sabe se vai existir critrio funcional (art 800 CPC As medidas cautelares sero requeridas ao juiz da causa e, quando preparatrias, ao juiz competente para conhecer da ao principal) 2o enfoque: a existncia de um juiz natural do processo com a possibilidade de que outros rgos exeram determinadas funes nesse processo. Quantos juzes naturais tem um processo? Somente um. Pela lgica, um processo deveria tramitar perante apenas um rgo jurisdicional e s ele deveria exercer funes naquele processo. Ento, a minha ao foi proposta, observadas todas as regras de competncia, e foi distribuda para a 3 a Vara Cvel da Comarca da Capital esse o juiz natural do processo. Ai eu tenho uma deciso interlocutria naquele processo e resolvo agravar de instrumento, que ser julgado pelo TJ: outro rgo jurisdicional que est praticando atos naquele processo. Isso possvel pelo critrio funcional, ou seja, o TJ no se torna o juiz natural do processo, mas recebe competncias s para a prtica de determinadas funes. A mesma coisa acontece se houver necessidade da prtica de um ato processual perante um outro rgo jurisdicional (o meu processo tramita na 3a Vara Cvel da Capital e eu preciso intimar uma testemunha que reside na Comarca de Friburgo: a intimao se dar atravs de carta precatria. Essa carta precatria um ato desse processo, mas que tramitar perante outro rgo jurisdicional que no o juiz natural esse rgo s tem competncia para praticar esse ato. 3o enfoque: se d na competncia dos fruns regionais A nossa legislao criou os fruns regionais para facilitar o acesso justia (houve uma descentralizao). Isso poderia causar um desequilbrio se todos continuassem preferindo propor as aes nos rgos do frum central. Ento, para que houvesse uma efetivao dos fruns regionais, a lei estabeleceu que a competncia desses fruns regionais funcional, ou seja, havendo no frum regional rgo especializado em razo da matria, a competncia do frum regional absoluta. O CODJERJ diz que o frum regional tem competncia funcional territorial. Essa expresso gera uma confuso, j que o critrio territorial previsto no CPC relativo e o funcional absoluto (isso gera uma antinomia, porque um critrio ao mesmo tempo relativo e absoluto). S que, na verdade, quando o legislador disse que o critrio era funcional territorial, ele no estava querendo se referir ao critrio territorial do CPC, ele estava querendo dizer que os fruns regionais teriam aquela competncia funcional e que esta competncia estaria limitada ao territrio de cada frum regional, porque cada frum regional tem um dimenso territorial que corresponde a cada regio administrativa. Assim, o que prepondera nessa competncia funcional territorial a lgica funcional: a competncia dos fruns regionais absoluta. 5o critrio: TERRITORIAL critrio relativo por excelncia Art. 94 A ao fundada em direito pessoal e a ao fundada em direito real sobre bens mveis sero propostas, em regra, no foro do domiclio do ru ao pessoal direitos obrigacionais O foro do domiclio do ru uma regra geral. No art 100 h ao real sobre bens mveis vrias regras de direito pessoal que no vo seguir essa regra, pelo princpio da especialidade OBS: Antes de aplicar a regra do art 94, deve-se verificar se h uma regra especfica, por ex. a do art 100. 1o se o ru tiver mais de um domiclio: Tendo mais de um domiclio, o ru ser demandado no foro de qualquer deles 2o se o ru no tem domiclio certo: Sendo incerto ou desconhecido o domiclio do ru, ele ser demandado onde for encontrado ou no foro do domiclio do autor

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3o se o ru ou o autor no tem domiclio no Brasil: Quando o ru no tiver domiclio nem residncia no Brasil, a ao ser proposta no foro do domiclio do autor. Se este tambm reside fora do Brasil, a ao ser proposta em qualquer foro 4o se eu quero propor uma ao em litisconsrcio contra vrios rus que tm domiclios diferentes: Havendo 2 ou mais rus, com diferentes domiclios, sero demandados no foro de qualquer deles, escolha do autor Em todas as situaes em que a lei me d a possibilidade de escolher a regra de competncia eu tenho a chamada competncia concorrente, como por ex. os 1o e 4o. Esse artigo 94 considerado pela doutrina como um foro geral se houver uma situao ftica , na qual eu tenho que propor uma ao, mas no h na lei regra de critrio territorial para a propositura dessa ao: o foro ser o domiclio do ru. O domiclio do ru o foro geral, isto , se no houver lei determinando o foro para uma determinada situao, utiliza-se o domiclio do ru. Art. 95 Nas aes fundadas em direito real sobre imveis competente o foro da situao da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domiclio ou de eleio, no recaindo o litgio sobre direito de propriedade, vizinhana, servido, posse, diviso e demarcao de terras e nunciao de obra nova Nas aes reais mobilirias competente o foro do domiclio do ru. Nas aes reais imobilirias competente o foro da situao da coisa (onde se localiza o bem imvel). S que a lei nos d um indicativo de se tratar de um critrio relativo pode o autor optar pelo foro do domiclio do ru ou de eleio se o autor pode optar, trata-se de critrio relativo. Mas s pode optar se a ao no recair sobre essas matrias previstas na parte final do art 95 nessa parte final h uma exceo, no qual o critrio territorial absoluto, porque no caso de ao possessria, ou que discute propriedade, servido, direito de vizinhana, nunciao de obra nova, diviso de terras, se for sobre bem imvel obrigatrio que a demanda seja proposta no foro da situao da coisa, sob pena de incompetncia absoluta. (ao petitria, de usucapio, de imisso na posse se discute propriedade de coisa imvel competente o foro da situao da coisa; ao de interdito proibitrio, de reintegrao de posse, de manuteno de posse so aes possessria sendo competente o foro da situao da coisa)

Art 96 O foro do domiclio do autor da herana, no Brasil, o competente para o inventrio, a partilha, a arrecadao, o cumprimento de disposies de ltima vontade e todas as aes em que o esplio for ru, ainda que o bito tenha ocorrido no estrangeiro o foro do ltimo domiclio do morto que o competente para a ao de inventrio. Mas a lei traz algumas opes de concorrncia nos incisos do pargrafo nico: I se o morto no tinha domiclio certo a ao deve ser proposta onde estavam os bens: competente o foro da situao dos bens, se o autor da herana no possua domiclio certo II a lei no diz se so bens mveis ou imveis e tambm no fala em quantidade. Ento pode ocorrer de o morto ter bens em vrios lugares competente o foro do lugar em que ocorreu o bito, se o autor da herana no tinha domiclio certo e possua bens em lugares diferentes Vamos imaginar a seguinte situao: o morto no tinha domiclio certo, tinha bens em vrios lugares e morreu no estrangeiro, onde deve ser proposto o inventrio? Ex. O morto tinha bens no RJ e em BH e morreu no estrangeiro. Essa uma situao em que falta regra territorial, assim deve ser aplicada a regra geral: a ao deve ser proposta no domiclio do ru (art 94) o ru do inventrio so todos os herdeiros contra quem voc est propondo a ao de inventrio (se voc um dos herdeiros, voc pede a citao dos demais herdeiros e vai propor no domiclio deles; e se esses herdeiros forem domiciliados em locais diferentes? O art 94 soluciona, porque ele diz que se eu tenho rus domiciliados em locais diferentes livre a opo do autor. OBS: Se for proposta em local diferente e os herdeiros, quando forem citados, no se manifestarem, a competncia se prorrogar, uma vez que a competncia territorial e relativa. Mas o art 96 diz ainda que no s a ao de inventrio ser proposta no ltimo domiclio do morto, mas tambm todas as aes em que o esplio for ru foro universal do inventrio (todas as aes devem ser propostas no ltimo domiclio do morto). Imagine a seguinte hiptese: Eu sou o titular de um imvel registrado no cartrio imobilirio e tem um sujeito que est possuindo meu imvel com animus domini e ele j possui o imvel dentro do prazo para usucapir (ele j adquiriu a propriedade pela usucapio, mas ainda no viu a declarao judicialmente) e ai eu morro e o sujeito resolve propor a ao de usucapio. Depois da minha morte ele vai propor a ao contra o esplio e o esplio vai ser ru Aonde ele vai propor a ao? No no ltimo domiclio do morto, porque essa uma ao real imobiliria, para a qual eu tenho uma regra absoluta. Excepcionalmente, nesse caso, no ser para todas as aes em que o esplio for ru, pois esse um critrio meramente relativo, que em confronto com a regra do art 95, preponderar a competncia absoluta deste artigo.

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Art. 97 As aes em que o ausente for ru correm no foro de seu ltimo domiclio, que tambm o competente para a arrecadao, o inventrio, a partilha e o cumprimento de disposies testamentrias similar ao art 96 Art. 98 A ao em que o incapaz for ru se processar no foro do domiclio de seu representante ainda que o incapaz seja relativamente incapaz. Se o incapaz for domiciliado em local diferente do seu representante deve ser proposta no domiclio do representante, pois quem defende o incapaz no processo o representante. [Essa uma regra diferente do direito material, porque pelo CC quem pratica o ato, nesse caso, o relativamente incapaz assistido pelo seu representante; no direito processual quem pratica os atos de defesa do incapaz seu representante] Art. 99 No mais aplicado, porque ele foi no recepcionado pela CF Art. 100 traz a regra do chamado FORO PRIVILEGIADO, que tem esse nome, mas regra territorial como outra qualquer. Ento, embora a doutrina chame de foro privilegiado, continua sendo um critrio de competncia relativa. foro privilegiado porque sai da regra geral, que seria o domiclio do ru: competente o foro: I da residncia da mulher para a ao de separao dos cnjuges e a converso desta em divrcio e para a anulao de casamento essa regra foi no recepcionada pela CF, haja vista que a CF igualou juridicamente os cnjuges. Essa regra existia no tempo em que a mulher no fixava domiclio, ela s tinha residncia. Ento, como a mulher era considerada hipossuficiente, a lei dava uma proteo a ela. Mas, pelo princpio da isonomia, essa regra no mais aplicada, a ao deve ser proposta no domiclio do ru (do marido) OBS: A CF inaugura um novo regime jurdico. Mas ela no tem o condo de modificar a vida ftica das pessoas. Assim, quando a CF surgiu, havia aquela mulher que era casada, era subserviente ao marido e que no passou a ser diferente s pelo surgimento da CF. Ento, hoje ns ainda vivemos a separao dessas mulheres, que era casada sob uma outra gide processual sobre a figura da mulher. Portanto, voc ainda vai encontrar na jurisprudncia decises atuais que apliquem esse inciso I, reconhecendo que naquele caso especfico tratado naquele processo, aquela mulher precisa desse privilgio. II do domiclio ou da residncia do alimentando, para as aes em que se pedem alimentos Aqui a jurisprudncia ampliou ao mximo a interpretao para entender que em qualquer ao de alimentos fundada em direito de famlia e no s em ao que se pea alimentos (ao que se pede majorao de alimentos, exonerao de alimentos, execuo de alimentos, no importa o que se est discutindo). OBS: Esse artigo 100 traz o foro privilegiado que, em algumas situaes, privilegia uma pessoa; em outras casos privilegia uma situao e no uma pessoa. importante fazer essa diferena pelo seguinte: quando uma norma jurdica privilegiar uma pessoa, esse privilgio s faz sentido se ele, em termos fticos, beneficiar essa pessoa, pois no tem graa ser privilegiado por um foro que na prtica prejuque. Assim, o privilegiado pode abrir mo do privilgio. Ex. Eu vou pedir alimentos para o meu pai sou alimentanda e vou demandar ao de alimentos no foro do meu domiclio. Mas vamos imaginar que sou domiciliada no RJ e meu pai domiciliado em Niteri: eu penso que todos os atos desse processo que eu teria que propor no RJ tenham que ser praticados por carta precatria, ento eu vou para Niteri pois muito mais prtico para o andamento do processo. Eu posso propor em Niteri e meu pai no pode alegar contra mim o inciso II, porque eu sou a privilegiada e posso abrir mo do privilgio. OBS 2: Smula n 1 STJ O foro do domiclio ou da residncia do alimentando o competente para a ao de investigao de paternidade, quando cumulada com a de alimentos

3a aula 27/11/2007O foro do art 100 do CPC, apesar de ser um foro privilegiado, continua sendo critrio territorial e, por isso, relativo; se no for argida a incompetncia, o foro ser prorrogado. OBS: Figura do consumidor na Lei 8078/90 Art. 101, I CDC Na ao de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e servios, sem prejuzo do disposto nos Captulos I e II desse Ttulo, sero observadas as seguintes normas: (I) a ao pode ser proposta no domiclio do autor Domiclio do autor domiclio do consumidor Pela anlise literal da norma, esse um critrio territorial e, assim, pela regra geral, seria critrio relativo. Ocorre que a jurisprudncia desenvolveu o seguinte: na jurisprudncia do STJ, poca em que o Ministro Ruy Rosado era ministro, ficou que estabelecido que se a CF entende que o consumidor hipossuficiente, ele precisa ser protegido e, portanto, foi formado o entendimento de que o domiclio do consumidor no era regra visando buscar interesse do particular e sim visando o interesse pblico, porque para a CF o consumidor merece ser protegido. Assim, no interessa que o consumidor, no caso concreto, no queira propor a ao no foro do seu domiclio. Ento, essa jurisprudncia se formou no STJ e at hoje continua sendo majoritria, apesar de j haver vrias 14

decises divergentes. Dessa forma, o foro do domiclio do consumidor mais uma exceo pelo qual o critrio territorial absoluto (assim como a parte final do art 95 exceo criada pela prpria lei). Concluindo: quando se tratar de relao de consumo, o foro do domiclio do autor ser o nico competente para a propositura da ao, ainda que o consumidor, no caso concreto, entenda que melhor que a ao seja proposta em outro lugar, ou seja, ele no vai poder abrir mo desse foro porque ele no mero privilegiado, o critrio de competncia absoluto. Art. 100, IV competente o foro: (IV) do lugar: (a) onde est a sede, para a ao em que for r a pessoa jurdica (b) onde se achar a agncia ou sucursal, quanto s obrigaes que ela contraiu Nas situaes das alneas (a) e (b), quando for relao de consumo o foro competente o do domiclio do autor. Esse um critrio territorial, que deveria ser relativo, mas, excepcionalmente, absoluto. Se a relao no for de consumo e a ao for contra a pessoa jurdica, ser proposta na sua sede; se for o caso de obrigaes contradas pela pessoa jurdica, a ao ser proposta na sucursal. (c) onde exerce a sua atividade principal, para a ao em que for r a sociedade, que carece de personalidade jurdica (d) onde a obrigao deve ser satisfeita, para a ao em que se lhe exigir o cumprimento Art. 100, V competente o foro do lugar do ato ou fato: (a) para a ao de reparao do dano; Pargrafo nico Nas aes de reparao do dano sofrido em razo de delito ou acidente de veculos, ser competente o foro do domiclio do autor ou do local do fato se a ao for fundada em delito criminal ou em acidente de veculos a competncia concorrente do domiclio do autor ou do local do fato. Se for uma outra ao de indenizao qualquer, que no for fundada em delito ou acidente de veculo: s competente o lugar do ato ou fato. (b) para a ao em que for ru o administrador ou gestor de negcio alheios. PASSOS PARA DETERMINAR A COMPETNCIA 1o passo: Competncia de jurisdio 2o passo: Competncia de foro 3o passo: Competncia de juzo 4o passo: Distribuio Competncia de jurisdio: verifica-se qual a justia competente se alguma das justias especiais (militar, eleitoral ou trabalhista), ou se a justia comum e qual delas (estadual ou federal). Para a verificao da competncia da justia especial utiliza-se a Constituio Federal. Se no for da competncia da justia especial, da justia comum. Justia comum federal competncia determinada no art 109 da CF Justia comum estadual verifica-se se no est dentro da competncia especial ou no art 109 da CF, ou seja, a competncia residual. Competncia de foro: anlise do critrio territorial. Se ns estivssemos na justia federal, a competncia de foro representaria a seo e a subseo judicirias. Na justia estadual o que representa a competncia de foro a comarca. Ex. A ao que ns vamos propor uma ao de indenizao por acidente de veculo a comarca competente para a propositura dessa ao a do domiclio do autor ou do local do fato (art 100, V, a e p): competncia concorrente, o autor vai optar. Vamos imaginar que o autor tenha optado pelo seu domiclio vamos para o 3o passo. Competncia do juzo: temos que fazer a anlise de 3 pontos: 1. Existe competncia do Juizado Especial? H interesse de propor no Juizado Especial? Ex. Ao de indenizao por acidente de veculos da competncia do JEC? Sim, porque segue o procedimento sumrio e da competncia do JEC em razo da matria. Mas a competncia do Juizado Estadual no absoluta, concorrente. Assim, deve se perguntar ao cliente se de seu interesse propor a ao no JEC, apontando os prs e os contras para que ele opte (se fosse matria de Juizado Federal a competncia seria absoluta) 2. rgo competente para propor a ao: Imagine que voc j exps todos os prs e contras ao cliente e ele no quis propor a ao no JEC e sim na Justia Formal. Ai voc continua na competncia de juzo, agora para analisar qual o rgo competente em razo da matria ser analisada a especialidade de rgo atravs da consulta ao CODJERJ. Ex. Em matria de acidente de veculo no existe um rgo especializado para tratar dessa matria, nem especializado em responsabilidade civil. Ento, a competncia residual da Vara Cvel Existe foro regional? Agora que j analisamos se h vara especializada, temos que verificar a existncia ou no de foro regional. Devese verificar se o CODJERJ estabelece que aquela rea est inserida em algum foro regional.

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Ex. Vamos imaginar que aquela rea est submetida competncia do foro regional da Ilha do Governador, ou seja, no h dvida de que os bairros da Ilha do Governador esto inseridos nesse foro regional; o autor, alm de domiciliado na comarca da Capital, domiciliado na Ilha do Governador voc j sabe que l tem foro regional, o que deve ser analisado agora? Se no foro regional tem Vara Cvel (pq o processo tem que ser proposto nessa vara). Na Ilha h 3 Varas Cveis e na Comarca da Capital tem 6 o autor pode optar pela Comarca da Capital ou pela Ilha? No, porque onde existe foro regional a competncia absoluta (funcional). Distribuio: Regra livre distribuio No exemplo acima chegamos concluso de que a ao deve ser proposta na Vara Cvel, mas na Ilha h 3 Varas Cveis em qual delas deve ser proposta? A distribuio feita aleatoriamente (tecnicamente no por sorteio, aleatria). Em caso de Vara nica no h livre distribuio, porque s h distribuio quando h naquela comarca mais de um rgo competente em razo da matria. Existe forma de distribuio por dependncia: art 253 Distribuir-se-o por dependncia as causas de qualquer natureza: I quando se relacionarem, por conexo ou continncia, com outra j ajuizada a conexo ou continncia causa de reunio das aes. S que, na atual legislao, elas so mais do que isso, so causas de distribuio por dependncia o ideal no que a ao seja distribuda para depois ser reunida outra j proposta, mas sim que j seja distribuda por dependncia. OBS: Conexo e continncia so causas de modificao de competncia s quando se referem a critrios relativos. Quando se trata de critrio absoluto no se fala nesses institutos. Ex. Imagine uma situao em que exista uma ao de inventrio tramitando na Vara de rfos da Comarca da Capital, e exista uma ao de reconhecimento de unio estvel tramitando numa Vara de Famlia dessa Comarca. manifestado por aquela companheira a inteno de ser reconhecida como herdeira tecnicamente existe uma relao entre as duas aes, mas no se pode falar em conexo porque estamos diante de um critrio absoluto (critrio objetivo em razo da matria) II quando, tendo sido extinto o processo, sem julgamento do mrito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsrcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os rus da demanda qualquer causa de julgamento sem mrito j cria a competncia funcional para propositura de nova ao. III quando houver ajuizamento de aes idnticas ao juzo prevento isso no significa que voc possa propor ao idntica, mas pode acontecer de voc propor uma ao idntica a outra e ela ser extinta por alguma causa, sem alterar autores e rus essa ao tem que ser proposta no juzo prevento, que o juzo que j firmou competncia funcional. Vamos imaginar que a ao a ser proposta fosse uma ao de inventrio: pela competncia de jurisdio, competente seria a Justia Estadual; pela competncia de foro, seria competente o juzo do ltimo domiclio do morto (Comarca da Capital); pela competncia de juzo, no pode ser proposta no Juizado, por ter uma complexidade incompatvel com o JEC, ento ser proposta na Vara de rfos e Sucesses, por haver uma vara especializada na Comarca da Capital mas deve ser analisado se a ao tem que ser proposta no foro regional [o autor domiciliado na Ilha do Governador, onde tem foro regional] na Ilha do Governador tem Vara de rfos? No, mas isso no quer dizer nada, porque o nome do rgo no tem que ser Vara de rfos, ou seja, s existe rgo temtico na Comarca da Capital, nos foros regionais quase no existem. Existem Varas Cveis e essas vo ganhando competncia para vrias coisas. No foro regional da Ilha do Governador a Vara Cvel tem competncia especial para matria de rfos e sucesses? Tem, porque existe uma resoluo dizendo que todas as varas cveis de todos os foros regionais tm competncia para matria de rfos. Ento, a ao vai ser proposta aonde: na Vara Cvel da Ilha ou numa Vara de rfos do foro central? Na Vara Cvel da Ilha porque essa vara no est agindo com competncia residual, ela tem especialidade na matria em virtude da resoluo. Agora vamos imaginar que a ao a ser proposta fosse uma ao contra o Estado do RJ: a competncia de jurisdio da Justia Estadual; na competncia de foro (territorial) a ao deve ser proposta no domiclio do autor [quem quer propor ao contra o Estado tem competncia territorial privilegiada] nesse exemplo o autor domiciliado no RJ, ento a ao ser proposta na Comarca da Capital; em relao competncia de juzo, no posso propor no JEC porque tem vedao expressa [no posso propor no Juizado ao contra ente pblico], ento tenho que propor na Justia Formal; tem rgo especializado na Comarca em razo da matria? Sim, Vara de Fazenda Pblica sou domiciliada na Ilha, onde tem foro regional no foro regional da Ilha tem rgo especializado em razo da matria? No h Vara de Fazenda Pblica, s h Vara Cvel. Nesse caso, como sou domiciliada na Ilha, proponho a ao na Vara Cvel da Ilha com competncia residual ou proponho na Vara de Fazenda Pblica do Foro Central? Na Vara de Fazenda Pblica do Foro Central [a Vara Cvel s tem essa competncia residual quando na Comarca no existir rgo especializado em razo da matria].

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A lei exige que toda Comarca da Capital tem que ter Vara de Fazenda Pblica, uma vez que a Fazenda tem juzo privativo da Capital dos Estados. Mas, nas outras comarcas tem que ter Vara de Fazenda Pblica? No, vai depender dos requisitos do CODJERJ para a criao de varas especializadas. Assim, ns temos vrias comarcas que no tm vara de fazenda pblica. Ento, imagine que sou domiciliada numa comarca onde no exista esse tipo de vara, s tem Vara Cvel e eu quero propor uma ao contra o Estado do RJ. Eu proponho a ao no meu domiclio, na Vara Cvel com competncia residual, ou tenho que vir para a Comarca da Capital para propor a ao perante Vara de Fazenda Pblica, porque a Fazenda Pblica tem juzo privativo? Proponho na Vara Cvel, porque voc est obedecendo os passos de fixao de competncia (1 o passo a competncia de jurisdio: Justia Estadual; 2o passo: competncia de foro: foro do domiclio do autor sou domiciliada numa comarca onde no h vara especializada nesse caso no interessa o que existe no resto do pas, s interessa o que existe dentro da comarca; 3o passo: competncia de juzo: no posso propor no Juizado qual o rgo competente em razo da matria dentro do Estado do RJ: o rgo que tem especialidade em matria de Fazenda Pblica a eu olho no CODJERJ se na comarca em que sou domiciliada tem rgo especializado em matria de Fazenda Pblica: se na minha comarca no tem rgo especializado em matria de Fazenda Pblica, vou propor a ao na Vara Cvel com competncia residual) a prerrogativa de juzo privativo s existe onde h Vara de Fazenda Pblica. Principais diferenas entre incompetncia absoluta e relativa: INCOMPETNCIA ABSOLUTA Fundamento das normas que estabelecem critrios absolutos de competncia: interesse pblico. Ento, se desobedeo a esses critrios, gerando incompetncia absoluta, estarei desobedecendo algo que protege o interesse pblico. Se h desobedincia a interesse pblico, o juiz pode reconhecer de ofcio, bem como pode ser provocado pela parte, mas essa incompetncia absoluta tem que ser argida no 1o momento em que a parte se manifestar nos autos (no que tenha que argir no 1o momento sob pena de precluso, que se assim no fizer, responder pelas custas de retardamento do processo). Ento, pode ser argida a qualquer tempo pelas partes, haja vista que a incompetncia absoluta no preclui, mas se no fizerem na 1a oportunidade, respondem pelas custas de retardamento do processo. [A lei diz que a incompetncia absoluta matria preliminar, mas no significa que s pode ser argida na preliminar de contestao, porque no h forma para argir a incompetncia absoluta. Mas quando a lei faz isso ela quer o seguinte: quem causa a incompetncia absoluta? O autor, que quem prope a ao no lugar errado. O prximo a se manifestar no processo o ru na contestao, por isso ele deve arguir logo na preliminar de contestao, mas se no arguir logo, pode arguir posteriormente. Os atos decisrios praticados por juzo incompetente sero nulos e os autos sero remetidos para o juzo competente e l tero que ser redecididos. Quando voc argui a incompetncia absoluta em fase de impugnao, voc desconstitui a coisa julgada? No, voc gera a inexigibilidade do ttulo. O efeito prtico o mesmo, mas voc no desconstitui a coisa julgada. Ex. Proponho uma ao de cobrana perante um juzo absolutamente incompetente, que me condenou a pagar e agora esto me executando. Na impugnao eu arguo que existe esse fato impeditivo, que a inexigibilidade do ttulo, porque foi formado perante um juzo absolutamente incompetente. Se o juiz reconhecer isso, no est decretando a nulidade de todos os atos decisrios do processo de conhecimento, ele est somente reconhecendo que aquele ttulo no serve como ttulo executivo [isso no o mesmo efeito de propor uma ao rescisria, pois esta tem um efeito mais amplo, sendo possvel requerer que os autos sejam remetidos ao juzo 17 INCOMPETNCIA RELATIVA Fundamento das normas que estabelecem critrios relativos de competncia: interesse particular. Ento, se desobedeo a esses critrios, gerando incompetncia relativa, estarei desobedecendo algo que protege o interesse particular. S quem pode arguir o ru porque, como o fundamento da incompetncia relativa o interesse das partes, se o autor prope a ao em outra localidade diversa da determinada pela lei, ele no pode arguir a incompetncia pois a lei presume que ele fez isso de propsito, por ser de seu interesse propor em outro lugar. A incompetncia relativa arguida atravs de exceo, sob pena de prorrogao. (112) Todos os atos so vlidos e o juzo incompetente relativamente encaminha os autos para o juzo competente.

competente] // Ex. 2 Eu proponho uma ao de alimentos na Vara Cvel (ao invs de propor na Vara de Famlia). O juiz no viu e a ao prosseguiu, sendo julgado procedente o meu pedido. O juzo absolutamente incompetente. No momento da execuo o sucumbente, na impugnao, alega a nulidade da execuo porque o ttulo no se formou como ttulo executivo pela incompetncia absoluta do juzo. Se o juiz se convencer disso ele est desconstituindo a coisa julgada que j est formada? No, porque somente a ao rescisria tem esse poder, mas o ttulo no exigvel.

PRINCPIO DA PERPETUATIO JURISDITIONE: Art. 87 Determina-se a competncia no momento em que a ao proposta. So irrelevantes as modificaes do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o rgo judicirio ou alterarem a competncia em razo da matria ou da hierarquia Todos aqueles critrios de determinao da competncia devem ser observados no momento da propositura da ao porque a competncia no ser modificada posteriormente. EXCEES: Se o rgo judicirio deixar de existir no tem como o processo tramitar perante este rgo, ento a competncia ser modificada (foi o que ocorreu nas aes de acidente de trabalho havia Varas de Acidente de Trabalho, que foram extintas quando os processos estavam em curso os processos foram redistribudos para as Varas Cveis); se a competncia em razo da matria for alterada (especialidade de rgo Imagine o seguinte: foram criadas na Comarca da Capital varas especializadas em locao: todas as aes locatcias sero encaminhadas para essas novas varas, ou seja, no ocorrer a perpetuatio jurisditione) e se a competncia em razo da hierarquia for alterada Na funo jurisdicional no correto dizer que existe hierarquia entre os rgos. Todavia, antes da entrada em vigor da CF/88 o CPC tratava de hierarquia entre rgos, mas agora no se fala mais nisso. A norma est querendo dizer o seguinte: aplica-se a perpetuatio jurisditione, salvo se o critrio for absoluto. Portanto, sendo o critrio absoluto no se aplicar a perpetuatio jurisditione [a modificao de fato ou de direito sobre o critrio absoluto modifica a competncia] CAUSAS DE MODIFICAO DE COMPETNCIA s pode haver modificao de competncia para critrio relativo (territorial), para critrio absoluto no adequado falar em causa de modificao de competncia. Valor da causa no critrio relativo, pois trata-se de Juizado Especial, que critrio concorrente [a ao tem que ser proposta no Juizado, mas foi proposta na Vara Cvel no certo dizer que se ningum arguir prorroga a competncia da Vara Cvel, uma vez que a ao podia ser proposta nos dois lugares, pois trata-se de competncia concorrente] 1. Conexo e continncia: Art 103 Reputam-se conexas duas ou mais aes quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir voc pode ter conexo quando duas aes tm o mesmo objeto (com o mesmo pedido), com a mesma causa de pedir e, tambm com o mesmo pedido e mesma causa de pedir, sendo que uma das partes tem que ser diferente. A lei s fala que haver conexo quando a ao tiver o mesmo pedido ou a mesma causa de pedir e, nesse caso, as partes sero as mesmas (tem o mesmo pedido, com a causa de pedir diferente ou tem a mesma causa de pedir e o pedido diferente), mas a doutrina reconhece que tambm so conexas quando a ao tem a mesma causa de pedir e o mesmo pedido, mas no podem ser as mesmas partes, pois ai no seriam conexas, seriam idnticas. Ex. Dois alunos demandando contra a FESUDEPERJ para discutir uma cobrana abusiva no mesmo contrato: so duas aes diferentes no plo passivo eu terei partes iguais, que a FESUDEPERJ, alm disso terei a mesma causa de pedir e o mesmo pedido a diferena est no plo ativo, que numa das aes est o aluno A e no outro o aluno B. Art 104 D-se a continncia entre duas ou mais aes sempre que h identidade quanto s partes e causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras voc tem duas ou mais aes, que so parcialmente idnticas, mas uma delas vai alm da outra.

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Ex. Uma pessoa demanda uma ao declaratria de inexistncia de relao jurdica e uma outra demanda uma ao declaratria de inexistncia com pedido condenatrio uma das aes est contida na outra, que mais ampla. Quando h conexo ou continncia, em regra, a lei presume que exista risco de decises contraditrias e, por isso, o ideal que as aes continentes ou conexas sejam reunidas, ou seja, sero julgadas pelo mesmo juiz, evitando decises contraditrias. Se eu tenho aes conexas e quero reuni-las, vou reuni-las perante o juzo prevento. Mas qual o juzo prevento? Existem 2 regras diferentes: 1a regra: Se eu tiver que reunir aes conexas que tramitam perante juzos com a mesma competncia territorial, prevento ser aquele juzo que primeiro mandou citar o ru. Ex. Eu quero reunir aes conexas, uma que tramita na 1a Vara Cvel de Jacarepagu e a outra que tramita na 1a Vara Cvel do Frum Central essas aes no sero reunidas porque competncia absoluta (competncia funcional) e modificao de competncia s se aplica para critrio territorial. Somente sero reunidas aes que tramitem em mesmas comarcas ou comarcas diferentes. Ex. Uma ao tramita na 1a Vara Cvel da Comarca da Capital no frum central e outra na 5a Vara Cvel da Comarca da Capital no frum central nesse caso no h qualquer regra absoluta que as mantenha separadas e eu quero reunir. Prevento ser o juzo que primeiro proferiu o cite-se, que o despacho liminar positivo (despacho do juiz que manda citar o ru). Art. 106 Correndo em separado aes conexas perante juzes que tm a mesma competncia territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar 2a regra: Se eu tiver que reunir aes que tramitam perante juzos com competncia territorial diferentes: o critrio de preveno a citao vlida Ex. Uma ao tramita na Comarca da Capital e outra na Comarca de Niteri critrios territoriais diferentes. Critrio ser a citao vlida art 219 A citao vlida torna prevento o juzo ... Quando que ocorre a citao vlida quando a citao feita por edital? No ltimo dia daquele prazo fixado no edital. Quando o juiz manda citar por edital, ele d um prazo que varia de 20 a 60 dias. Vamos imaginar que o prazo fixado pelo juiz seja de 40 dias. A citao vlida ocorrer no 40o dia. Em que dia a citao considerada vlida quando feita por oficial de justia? No dia em que o oficial fizer a diligncia. O prazo para responder que comea a contar da juntada. Vamos imaginar que duas citaes vlidas ocorreram no mesmo dia. A doutrina indica que deve ser usado um segundo critrio: o primeiro cite-se. Mas se os despachos de cite-se ocorreram no mesmo dia, usa-se o critrio de distribuio, que indica o horrio da propositura da ao. 2. A inrcia do ru em arguir a incompetncia relativa: Ex. Imagine uma hiptese em que a ao deveria ter sido proposta no domiclio do ru, que So Joo de Meriti. O autor prope a ao em Niteri. Quem pode arguir essa incompetncia relativa o ru atravs de exceo. Ento, o juzo competente o de S. Joo de Meriti, mas se o ru deixa de arguir a incompetncia do juzo de Niteri, este se torna competente causa de modificao de competncia Foro de eleio: o foro de eleio plenamente vlido no nosso ordenamento; uma hiptese em que as partes, contratualmente, optam por um foro diferente daquele previsto em lei a lei prev uma coisa abstratamente, porque ela entende que o interesse das partes. Porm as partes podem prever no contrato um foro diferente daquele que a lei previa, porque elas esto afirmando que naquele caso concreto para elas melhor aquele outro foro. A eleio de foro. Eu posso prever no contrato que a ao ser proposta no Frum Regional da Barra da Tijuca? No, porque a eleio de foro e no de frum. (Devemos tomar cuidado com isso, porque a lei s vezes se refere ao frum regional como foro regional. E quando voc chama de foro regional, voc vai entender que eleio de foro e vai eleger o foro regional. Para que no haja erro, voc tem que observar aqueles passos de fixao de competncia eu posso eleger o foro, ento eu estou em que passo? No segundo, que diz respeito comarca assim, ns elegemos o foro da comarca de S. Joo de Meriti. Ai ns vamos para o 3o passo, que saber se S. Joo de Meriti tem frum regional (no tem). Mas se ns tivssemos eleito a Comarca de Niteri? Em Niteri tem frum regional? Tem o frum regional da regio ocenica e ter que ser proposta l dependendo do que foi determinado por lei (critrio absoluto por determinao legal e no por eleio das partes). Pode ocorrer uma coincidncia: a eleio de foro da comarca da Capital no frum regional da