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MATRIZ DE CRITICIDADE NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE CONSTRUTIVA DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA V. A. G. ZANONI M. A. BUSON Engenheira Civil Arquiteto Universidade de Brasília Universidade de Brasilia Brasília; Brasil Brasília; Brasil [email protected] [email protected] RESUMO Este artigo apresenta um procedimento metodológico para avaliação da qualidade construtiva em unidades habitacionais construídas em série. A proposta baseia-se no método FMECA - Análise dos Modos de Falha, Efeitos e Criticidade e o indicador de desempenho avaliado foi a umidade. A metodologia proposta foi testada em 31 unidades habitacionais localizadas em um empreendimento construído por meio do programa brasileiro para habitação de interesse social Minha Casa Minha Vida. A análise de risco permitiu identificar a criticidade dos modos de falha com base em duas dimensões: severidade e frequência dos danos. Ainda, dentro do prazo de garantia legal, a matriz de criticidade facilita o controle da qualidade e a gestão da assistência técnica, por meio da representação gráfica da prioridade dos problemas nas unidades habitacionais vistoriadas. 1. INTRODUÇÃO No âmbito do governo federal brasileiro, uma das experiências mais consolidadas em avaliação de habitações de interesse social iniciou-se em 2004 com a aplicação da "Matriz de Indicadores para Avaliação da Pós-Ocupação" [1]. Este procedimento unificado para todo o território nacional fez parte das exigências do Programa Habitar Brasil BID UAS/HBB [2]. Após o encerramento do Programa HBB, a Matriz de Indicadores... continua sendo utilizada para as intervenções realizadas com recursos do governo federal, dentro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como um normativo do Ministério das Cidades denominado "Matriz de indicadores para avaliação do pós-ocupação dos projetos- piloto de investimento - intervenção em favelas"[2]. O referido normativo abrange uma ampla gama de indicadores, valorizando, principalmente, aqueles relacionados aos aspectos sociais, ambientais, urbanísticos e de infraestrutura; enfatizando as intervenções urbanas e regularizações em favela. No entanto, em relação à qualidade construtiva da construção na escala da habitação, restringe-se a verificar a ausência ou presença de trincas e umidade nas edificações.

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MATRIZ DE CRITICIDADE NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE CONSTRUTIVA DO

PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

V. A. G. ZANONI M. A. BUSON

Engenheira Civil Arquiteto

Universidade de Brasília Universidade de Brasilia

Brasília; Brasil Brasília; Brasil

[email protected] [email protected]

RESUMO

Este artigo apresenta um procedimento metodológico para avaliação da qualidade construtiva em unidades habitacionais

construídas em série. A proposta baseia-se no método FMECA - Análise dos Modos de Falha, Efeitos e Criticidade e o

indicador de desempenho avaliado foi a umidade. A metodologia proposta foi testada em 31 unidades habitacionais

localizadas em um empreendimento construído por meio do programa brasileiro para habitação de interesse social

Minha Casa Minha Vida. A análise de risco permitiu identificar a criticidade dos modos de falha com base em duas

dimensões: severidade e frequência dos danos. Ainda, dentro do prazo de garantia legal, a matriz de criticidade facilita o

controle da qualidade e a gestão da assistência técnica, por meio da representação gráfica da prioridade dos problemas

nas unidades habitacionais vistoriadas.

1. INTRODUÇÃO

No âmbito do governo federal brasileiro, uma das experiências mais consolidadas em avaliação de habitações de

interesse social iniciou-se em 2004 com a aplicação da "Matriz de Indicadores para Avaliação da Pós-Ocupação" [1].

Este procedimento unificado para todo o território nacional fez parte das exigências do Programa Habitar Brasil – BID

UAS/HBB [2].

Após o encerramento do Programa HBB, a Matriz de Indicadores... continua sendo utilizada para as intervenções

realizadas com recursos do governo federal, dentro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como um

normativo do Ministério das Cidades denominado "Matriz de indicadores para avaliação do pós-ocupação dos projetos-

piloto de investimento - intervenção em favelas"[2].

O referido normativo abrange uma ampla gama de indicadores, valorizando, principalmente, aqueles relacionados aos

aspectos sociais, ambientais, urbanísticos e de infraestrutura; enfatizando as intervenções urbanas e regularizações em

favela. No entanto, em relação à qualidade construtiva da construção na escala da habitação, restringe-se a verificar a

ausência ou presença de trincas e umidade nas edificações.

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Zanoni e Buson; Matriz de criticidade na avaliação da qualidade construtiva do Programa Minha Casa Minha Vida

Especificamente, o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV, programa do governo brasileiro para construção de

habitação de interesse social, não possui um normativo próprio para a avaliação da qualidade construtiva na fase de uso

(pós-ocupação), com abrangência em todo o território nacional.

Considerando a importância de um instrumento institucionalizado para a avaliação da qualidade construtiva na escala da

habitação, nos empreendimentos de interesse social produzidas por meio do PMCMV, este artigo apresenta um

procedimento metodológico de avaliação quantitativa e qualitativa de uma das principais manifestações patológicas nas

habitações de interesse social: a umidade.

A proposta apresentada baseia-se no método FMECA - Análise dos Modos de Falha, Efeitos e Criticidade [3], [4], [5].

Procedimentos metodológicos fundamentados na análise de risco permitem identificar situações de risco (causas e

consequências).

A partir da situação encontrada (falhas detectadas) são identificados as causas (agentes patológicos) e os efeitos

(consequências ou danos) [6], [7]. A matriz de criticidade é uma ferramenta visual gerada a partir do número de

prioridade de risco e facilita a identificação e comparação entre as situações encontradas [4], [5], [8].

Para testar o procedimento metodológico proposto foi selecionada uma amostra com 31 unidades habitacionais de um

empreendimento construído pelo Programa Minha Casa Minha Vida. A coleta de dados foi realizada por meio de

vistorias, com observação in loco, na fase de pós-ocupação, entre 2 e 3 após a data de conclusão da construção e, ainda,

dentro do prazo de garantia legal.

2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

O método FMECA - Análise dos Modos de Falha Efeitos e Criticidade avalia a criticidade do modo de falha e o seu

impacto na confiabilidade; consiste em uma extensão do método FMEA - Análise dos Modos de Falha e Efeito [4].

O modo de falha é a maneira como o defeito se apresenta e, segundo a norma de desempenho [9], os modos de falha são

reconhecidos como patologias ou manifestações patológicas.

Como consequências do modo de falha surgem os danos, que é a maneira como o modo de falha se manifesta ou como

é percebido pelo usuário [6]. Segundo o Código de Defesa do Consumidor [10], os danos são as consequências dos

vícios e defeitos de um produto ou serviço. O FMECA prioriza o nível de importância da ocorrência com base na

frequência e na gravidade do dano [4], [7], [8].

Para avaliar a gravidade do dano devem ser considerados os possíveis impactos sobre a função, o meio, o usuário e os

requisitos legais e documentais. Assim, para cada dano, em conformidade com a sua gravidade, é atribuído um índice

de severidade. Enquanto o índice de severidade avalia a gravidade e o impacto das falhas ou danos, o índice de

ocorrência sinaliza a intensidade do dano [3], [4], [5], [6], [7], [8].

Os índices de ocorrência e de severidade variam de 1 a 10 e permitirem classificar a criticidade das falhas e danos. A

Criticidade, também conhecida como Número da Prioridade de Risco (PR) é dada pela equação 1.

PR = Índice de Ocorrência x Índice de Severidade (1)

De acordo com o número da Prioridade de Risco (PR), cada exemplar da amostra pode ser plotado em uma matriz de

criticidade. Na matriz de criticidade, a aceitabilidade do risco é analisada nas suas duas dimensões, a severidade e a

frequência da falha [3], [4], [5], [6], [7], [8].

Avaliando todos os exemplares da amostra, é possível aferir para cada indicador a percentagem de unidades

habitacionais classificadas para cada categoria de risco.

Os quadros 1 e 2 apresentam as classificações e os critérios que devem ser usados para avaliar as situações de risco

encontradas durante as vistorias, a serem realizadas entre 2 e 3 anos após a data de conclusão da construção e, ainda,

dentro do prazo de 5 anos de garantia legal.

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Zanoni e Buson; Matriz de criticidade na avaliação da qualidade construtiva do Programa Minha Casa Minha Vida

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Quadro 1 - Critério de classificação do índice de ocorrência de trincas

Classificação

da frequência

Índice de

Ocorrência Critério de classificação do Índice de Ocorrência

I

Muito baixa

1

2 Ausência de ocorrências visualmente observáveis.

II

Baixa

3

4 Ocorrências eventuais e de pequena extensão.

III

Moderada

5

6

Ocorrência de umidade: a soma total das áreas afetadas pela umidade não

ultrapassa 5 % das áreas de todas as paredes, incluindo as fachadas.

IV

Alta

7

8

Ocorrência de umidade: a soma total das áreas afetadas pela umidade ultrapassa

5% das áreas de todas as paredes, incluindo as fachadas.

V

Muito alta

9

10

Ocorrência de umidade: a soma total das áreas afetadas pela umidade ultrapassa

5% das áreas de paredes ou das fachadas.

Quadro 2 - Critério de classificação do índice de severidade de trincas e umidade

Classificação

da gravidade

Índice de

severidade Critérios de classificação do Índice de severidade

I

Desprezível

1

2

Riscos que não causam nenhum prejuízo às pessoas, ao edifício ou ao meio

ambiente. Qualquer tipo de falha sem gravidade que não se enquadra nas condições

apresentadas nas outras categorias, desde que ocorra de maneira pontual, esporádica

e não sistêmica.

II

Mínimo

3

4

Risco de causar pequenos prejuízos à estética, sem a probabilidade de ocorrência dos

riscos moderado e críticos, além de baixo comprometimento do valor imobiliário.

Falhas de pequeno grau de gravidade, com causas bem definidas e que não afetam os

elementos estruturantes ou a estanqueidade da edificação.

III

Moderado

5

6

Risco de provocar a perda parcial de desempenho e funcionalidade da edificação e

deterioração precoce. Danos de pequeno grau de gravidade mas que podem vir a

ocasionar consequências mais graves decorrente da sua evolução, para um ou mais

componentes do sistema.

IV

Crítico

7

8

Risco de provocar danos contra a saúde dos moradores ou segurança das pessoas, do

edifício ou do meio ambiente; perda de desempenho e funcionalidade com

comprometimento sensível da vida útil. Danos graves que afetam um ou mais

componentes do sistema.

V

Catastrófico

9

10 Comprometimento de todo o sistema.

Durante as vistorias, buscou-se observar a presença dos seguintes tipos de umidade:

Umidade ascendente (do solo);

Umidade por infiltração de água de chuva pela fachada ou telhado;

Umidade por vazamentos de instalações hidro-sanitárias;

Umidade de condensação;

Umidade decorrente do uso, operação ou manutenção;

Umidade decorrente de condições inadequadas de escoamento das águas pluviais (caimento) e falta de

drenagem das águas de chuva (inundação).

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Zanoni e Buson; Matriz de criticidade na avaliação da qualidade construtiva do Programa Minha Casa Minha Vida

Para facilitar a identificação dos danos causados pelos diversos tipos de umidade foram listadas as seguintes situações a

serem observadas:

Presença de manchas, eflorescência, corrosão, apodrecimento, mofo ou bolor, descolamento, empolamento ou

descascamento nos revestimentos ou pinturas;

Gotejamento ou escorrimento de água por vazamentos decorrentes de rompimento, desencaixe ou falhas nas

ligações das instalações hidro-sanitárias;

Infiltração por falhas nos sistemas de impermeabilização de baldrame, lajes e calhas;

Falhas de vedação nas interfaces ou ligações entre os diversos elementos ou componentes da construção,

principalmente nas esquadrias, juntas, etc.;

Infiltrações ou vazamentos por falhas ou ausência de detalhes construtivos que assegurem a estanqueidade de

partes do edifício, interfaces e juntas entre componentes (pingadeiras, rufos, selantes, etc.);

Gotejamento ou escorrimento de água decorrente de infiltração da água de chuva pelas fachadas e seus

componentes;

Molhagem das paredes internas cujo sistema de pintura ou revestimento não estão especificados para limpeza

com água;

Empoçamento por água de lavagem;

Umedecimento da edificação por falhas nos sistemas de drenagem, responsáveis pelo afastamento das águas de

chuva das bases das paredes.

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para aplicar o instrumento de avaliação da qualidade construtiva para o indicador umidade, foi selecionado um

empreendimento habitacional construído por meio do Programa Minha Casa Minha Vida. O empreendimento é um

conjunto habitacional de interesse social em fase de uso, com data de conclusão das obras entre 2 e 3 anos. Portanto,

ainda dentro dos prazos de garantia legal.

Por meio da observação in loco em 31 unidades habitacionais, foram identificadas e registradas as evidências, as

possíveis causas e efeitos (danos) e atribuídos o índice de ocorrência e o índice de severidade para o cálculo do número

de prioridade de risco, conforme estabelece o método FMECA. Dessa forma, foi possível obter a criticidade e

determinar a classificação de risco das amostras analisadas.

O empreendimento vistoriado está localizado em uma cidade de pequeno porte do Distrito Federal-Brasil e as unidades

vistoriadas possuem entre 2 e 3 anos de uso. O sistema construtivo consiste em paredes de alvenaria estrutural com

tijolos cerâmicos furados. O revestimento das paredes internas e externas é em argamassa. A pintura interna é com tinta

látex PVA e a pintura externa é com latex acrílico texturizado.

As figuras de 1 a 8 mostram as principais situações observadas nas vistorias, causadas pela presença de umidade.

Figura 1 - Fachada Principal: danos na pintura na

base da parede

Figura 2 - Fachada Posterior: danos no revestimento

externo

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Zanoni e Buson; Matriz de criticidade na avaliação da qualidade construtiva do Programa Minha Casa Minha Vida

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Figura 3 – Base das paredes externas:

ausência de rodapé, descascamento da

pintura e fissuras por expansão higroscópica

Figura 4 – Soltura do tanque de lavagem

decorrente de falha na fixação; infiltração da

água do chuveiro (lado interno)

Figura 5 – Danos causados pela umidade

ascendente

Figura 6 – Danos causados pela infiltração ao

redor da esquadria

Figura 7 – Danos causados pelas águas de

lavagem e umidade ascendente, nas paredes

internas

Figura 8 – Danos causados pela umidade

ascendente, água de lavagem e água do

chuveiro, nas paredes internas

Em relação à amostra composta pelas 31 unidades habitacionais, 87% apresentam umidade ascendente, 94% apresentam

umidade decorrente de infiltrações pela fachada, 77% apresentam umidade decorrente de infiltração pelo telhado, 19%

apresentam vazamentos nas instalações hidro-sanitárias, 87% apresentam umidade decorrente das águas de lavagem e

uso e 26% apresentam umidade decorrente das condições de falta de drenagem e caimento das águas pluviais.

Os principais aspectos que justificam as condições insatisfatórias quanto à exposição aos agentes de degradação

referem- se, principalmente: porosidade excessiva da argamassa de revestimento externo que permite a infiltração da

água de chuva e a degradação da película de pintura com perda das condições mínimas de proteção e estanqueidade;

porosidade excessiva da argamassa de revestimento do banheiro; uso de pintura não lavável nas áreas molhadas

permitindo que as águas de lavagem e uso acelerem o processo de degradação do revestimento; porosidade excessiva da

argamassa de revestimento dos ambientes internos que não suportam a ação das águas de limpeza do piso ou a umidade

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Zanoni e Buson; Matriz de criticidade na avaliação da qualidade construtiva do Programa Minha Casa Minha Vida

que migra pela fachada ou pelas paredes das áreas molhadas; beiral de 50 cm que projeta a água de chuva diretamente

para a base das paredes; deficiência na fixação das telhas permitindo que em chuva de vento ocorram goteiras; falhas na

fixação do caixilho da esquadria e falta de selante no peitoril; calçada de contorno de 50 cm que envolve a edificação é

insuficiente para proteger a base da parede dos respingos da lama formada pela chuva; ausência de rodapé no entorno

externo da edificação; entre outros.

Quando classificados os danos de acordo com o grau de risco, baseado no índice de ocorrência e no índice de

severidade, a amostra analisada apresenta 77% de risco crítico e 23% de risco moderado. Considerando que as unidades

habitacionais foram entregues entre 2 e 3, portanto, ainda dentro do prazo de garantia legal, constata-se a urgência de

medidas corretivas por parte da construtora. A figura 9 apresenta a matriz de criticidade para o indicador umidade. O

gráfico da figura 10 mostra a classificação de risco da amostra analisada.

Figura 9 – Matriz de Criticidade para o indicador de desempenho umidade

Critério de classificação de risco

Risco mínimo ≤ 16

16 < risco moderado ≤ 36

36 < risco crítico ≤ 100

Figura 10 - Classificação da amostra quanto ao risco causado pela umidade

A decisão em realizar a avaliação nos empreendimentos habitacionais que tiveram as suas construções concluídas a

pouco mais de 2 anos foi influenciada pelo interesse em aplicar o instrumento de avaliação da qualidade construtiva na

fase de uso, ainda dentro dos 5 anos dos prazos de garantia legal recomendados pela NBR15575-1 [9].

Além do mais, sobre os prazos para a realização de avaliações por meio de vistorias in loco na fase do pós-ocupação, a

NBR15575-1 recomenda que: " Do ponto de vista da durabilidade, as avaliações de campo só devem ser aceitas se a

construção ou instalação tiver ocorrido há pelo menos dois anos" [9].

A avaliação da qualidade construtiva realizada neste estudo de caso não se constitui, tampouco substitui, em nenhuma

hipótese, as ações e procedimentos de Manutenção e Inspeção Predial preconizados pelas normas técnicas, legislação

vigente ou outros dispositivos técnicos/legais relacionados às obrigações e responsabilidades da construtora e dos

proprietários.

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4. CONCLUSÃO

Os resultados aqui apresentados foram obtidos a partir de uma amostra constituída de 31 exemplares de unidades

habitacionais escolhidos aleatoriamente em um empreendimento habitacional de interesse social, com o objetivo de

realizar uma aplicação piloto da metodologia proposta. Portanto, seu resultado restringe-se à amostra selecionada.

Observando a matriz de criticidade obtida para o empreendimento em análise, é possível avaliar que as unidades

habitacionais vistoriadas apresentam danos que superam o critério mínimo da análise de risco, mesmo estando ainda

dentro dos prazos legais de garantia.

Para construções em série, como é o caso dos empreendimentos habitacionais de interesse social, a matriz de criticidade

permite identificar os percentuais de ocorrência de cada classe de risco, além de dar visibilidade à evolução dos efeitos

das falhas no tempo. O número da prioridade de risco, além de permitir a classificação de risco, ajuda nas decisões de

planejamento para as ações de intervenção.

Os resultados obtidos mostram que a matriz de criticidade, além de ser um recurso visual para registro das ocorrências,

facilita a análise quantitativa e qualitativa dos danos causados pela umidade existente nas habitações, tornando-se uma

das ferramentas viáveis para avaliar a qualidade construtiva.

Sob o ponto de vista da durabilidade, o procedimento metodológico proposto permite priorizar o nível de importância

da situação encontrada com base na frequência e na gravidade dos problemas. A matriz de criticidade mostrou-se um

instrumento capaz de registrar o comportamento das habitações construídas em série ao longo do seu período de

garantia legal.

No caso dos empreendimentos subsidiados pelos programas governamentais, é uma ferramenta importante de controle

da qualidade, com vistas às garantias legais dos usuários e responsabilidades técnicas dos construtores. Esse mesmo

procedimento metodológico pode ser aplicado para outros indicadores da qualidade construtiva, tais como, trincas,

deformações, descolamentos, entre outros.

5. AGRADECIMENTOS

Este trabalho é um estudo realizado no âmbito da Chamada Pública MCTI/CNPq/MCIDADES Nº 11/2012.

6. REFERÊNCIAS

[1] Brasil. Secretaria Nacional de Habitação. Matriz de Indicadores para Avaliação do Pós-ocupação dos Projetos

Piloto de Investimento Intervenção em Favelas. Ministério das Cidades e Instituto de Estudos Especiais da PUC-

SP, 2004. Disponível em: <http://www. cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-habitacao

/pac/AVALIACaO_DE_POS_OCUPACaO.pdf>

[2] Balbim, R.; Becker, M. F.; Cassiolato, M.; Krause, C.; Nadalin, V. Meta-Avaliação: estudos e proposições

metodológicas a partir da avaliação de políticas de urbanização de assentamentos precários. Texto para

Discussão, No. 1704. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA: Rio de Janeiro, 2012. Disponível em

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php. Acesso em dezembro de 2013.

[3] British Standard Institution - BSI. BS EN 60812 – Analysis techniques for system reliability – Procedure for

failure mode and effects analysis (FMEA). London, 2006.

[4] Sakurada, E. Y. As técnicas de Análise dos Modos de Falhas e seus Efeitos e Análise da Árvore de Falhas no

desenvolvimento e na avaliação de produtos. Dissertação (Mestrado). Engenharia Mecânica da UFSC.

Florianópolis, 2001.

[5] Military Standard. MIL-1629. Procedures for Performing a Failure Mode, Effects and Criticality Analysis .

US Department Defense. Washington, DC, 1980.

[6] Associação Brasileira de Normas Técnicas. PROJETO 02:140.02-001, versão 1, Rio de Janeiro, 2013.

[7] Silva, S. R. C.; Fonseca, M.; Brito, J. Metodologia FMEA e sua aplicação à construção de edifícios . LNEC:

2006.

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Zanoni e Buson; Matriz de criticidade na avaliação da qualidade construtiva do Programa Minha Casa Minha Vida

[8] Moura, C. Análise de Modo e Efeitos de Falha Potencial (FMEA) - Manual de Referência. IQA – Instituto da

Qualidade Automotiva. Brasil, 2000.

[9] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15575-1: Edificações habitacionais – Desempenho – Parte

1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.

[10] Brasil. Código de Defesa do Consumidor. Lei 8.078 de 11/09/90. Brasília, Diário Oficial da União, 1990.

[11] Rausand, M., Høyland, A. System Reliability Theory: Models, Statistical Methods, and Applications . 2. ed.

Wiley, 2004.