matheus de vasconcelos
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Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.TRANSCRIPT
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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ANÁLISE DE CONCURSOS DE ARQUITETURA BRASILEIROS APÓS 1978
Matheus de Vasconcelos Casimiro (IC) e Ruth Verde Zein (Orientadora)
Apoio: PIVIC Mackenzie
Resumo
O trabalho em questão busca compreender as características projetuais de propostas arquitetônicas que caracterizam determinados momentos históricos, entendendo que podem ser verificadas de maneira intensa através dos projetos apresentados em concursos nacionais de certa relevância e grande participação onde tenderão a comparecer variados modos de pensar arquitetura característicos de uma certo momento. Para esta pesquisa foram selecionados alguns concursos ocorridos nas décadas de 1980/90/00 e obtido material de fontes primárias, angariados com os arquitetos participantes. O material obtido foi redesenhado e estudado, analisado-se tanto a convocatória quanto as propostas selecionadas pelo júri.
Palavras-chave: Concursos de Arquitetura, projeto, análise crítica
Abstract
The issue in questions seeks to understand the characteristics of projective architectural proposals that characterize certain historical moments, understanding that can be checked in an intensive way through the projects submitted in national competitions of some importance and great interest on which will tend to appear different ways of thinking characteristic of architecture a certain time. For this research we selected some contests ocurred in the decades of 1980/90/00 and material obtained from primary sources, raised with the architects involved. The material was redesigned and studied, analyzing the call of the competiotin and the proposals selected by the jury.
Key-words: Architecture Contests, project, critical analysis
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1. INTRODUÇÃO
A cada geração renova-se o esforço coletivo de pensar, falar e escrever arquitetura,
buscando estabelecer as bases contemporâneas que avancem além dos já consagrados
feitos da geração passada. Para formar tal conceituação tempo presente é, porém
imprescindível saber como a arquitetura foi pensada e elaborada anteriormente, para
melhor compreender os motivos que a levaram ser desta forma nos dias de hoje. E para
pesquisar temas contemporâneos e recentes uma das bases de informação mais
importantes são os materiais constantes em periódicos de divulgação da arquitetura, que
tem como papel conhecer e divulgar a produção recente. (ZEIN, 1991, p.45)
A principal função que o pensamento crítico arquitetônico deve exercer não é o de apontar
de maneira dogmática quais devam ser novas tendências, mas colaborar para
questionamento e reflexão sobre essa produção e sobre os conceitos e premissas que
adota. Para tanto, faz-se necessário a compreender essas arquiteturas no marco de amplos
horizontes históricos, filosóficos e conceituais que não apenas se atenham a uma mera
constatação dos fatos, mas que tente captar essas realidades dentro de sua complexidade
e variedade. (ZEIN, 1991, p.15)
O presente trabalho pretendeu realizar uma pesquisa de base que permita iniciar um
processo de conhecimento, levantando obras que tiveram relevância no seu tempo e que
podem ser um início para uma análise mais profunda sobre a arquitetura brasileira recente e
seu contexto. Uma das melhores formas de coletar informações sobre o que se pensa da
produção da arquitetura contemporânea é por meio do levantamento de projetos realizados
em concursos. Esta pesquisa esteve vinculada ao grupo de pesquisa “Arquitetura: Projeto
& Pesquisa & Ensino”, estando inserida na linha de pesquisa “Documentação e Acervo da
Arquitetura”, que tem como principal objetivo formar um repertório digital de acervos de
arquitetura brasileira e disponibilizá-los via rede digital mundial como apoio à prática e
ensino de arquitetura; bem como dá continuidade ao projeto de pesquisa “Concursos de
Arquitetura 1978-2008”, aproveitando os levantamentos já realizados em trabalhos
anteriores.
1.1. RELEVÂNCIA DO TRABALHO
Os concursos de arquitetura tem se confirmado como um importante objeto de estudo, pois
é uma boa fonte de informação sobre a produção arquitetônica. Paulatinamente, as
seleções públicas de projeto têm sido analisadas por pesquisas acadêmicas, deixando de
ser apenas interesse de ramo profissional e se tornando de grande relevância para o meio
universitário. Embora ainda pouco explorados, aos poucos o número de publicações tem
crescido consideravelmente. (FLYNN, 2001; FIALHO, 2002 e 2007; AMARAL, 2007;
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SOBREIRA, 2008; CAMPOLINA, 2008; e SOUSA, 2009, são alguns exemplos no caso
brasileiro). (VELOSO, 2009 p. 04)
Vale ressaltar que a realização de concursos é vantajosa pelo fato de ter caráter
democrático e igualitário na competição; por dar à instituição promotora a possibilidade de
escolher um entre diversas de opções; e por ser um fiel retrato do seu tempo. Destaca-se
também como a principal desvantagem de realizá-lo os critérios a serem estabelecidos para
o julgamento dos projetos, que na maioria das vezes são polêmicos. (VELOSO, 2009 p. 06)
Muitos dos projetos vencedores de concursos não são executados, seja por motivo
financeiro ou político. Vários projetos destacam-se pela vanguarda e pela qualidade, e caso
fossem construídos marcariam a produção cultural contemporânea. No entanto, muitas
análises de concursos ficam comprometidas, pois muitos deles não chegaram a ser
concretizados, sendo efetivamente realizados apenas 12% dos concursos propostos no
Brasil, na década de 90. (PROJETO nº 251, 2001, p.61)
Outro valor comprovado dos concursos é a sua geração de cultura e trabalho, pois reuni
quantidade e diversidade de possibilidades para resolver um único problema objeto de
análise. Seu grande benefício é a oportunidade de gerar o surgimento de novas gerações,
consagrando novos talentos que conseqüentemente impulsiona a renovação da profissão e
das linguagens artísticas, como aconteceu com diversos arquitetos brasileiros que se
tornaram renomados graças ao sucesso em concursos. (BIANCO, 2002, p. 12)
Muitos arquitetos consagrados já fizeram parte de concursos e contestam o julgamento dos
projetos, ressaltando esta questão como a principal desvantagem de participar dos
mesmos. Isto porque tanto na arquitetura realizada como na idealizada, não há muita
clareza quanto às categorias analíticas e aos critérios utilizados para sua avaliação nem
consenso quanto ao que seria um projeto de qualidade. Torna-se indispensável no
julgamento profissional em arquitetura a discussão da qualidade do projeto e os critérios
que os classificam segundo uma determinada hierarquia. (VELOSO, 2009, p. 07) A questão
de julgamento de projeto deveria ser muito mais aprofundada, no entanto não é interesse
desta pesquisa. Vale apenas salientar que grande parte do sucesso de um concurso
arquitetônico está na seriedade e clareza com que o corpo de jurados conduz a seleção,
sendo imprescindível que os avaliadores serem pessoas de referência no assunto a ser
analisado.
1.2. O PROBLEMA DA PESQUISA
O projeto de pesquisa teve como base o material já sistematizado pela pesquisa
“Concursos de Arquitetura”, em que foi feita a sistematização dos concursos de arquitetura
propostos após o ano de 1978. A partir deste trabalho, foram verificados quais os concursos
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de maior relevância, e em seqüência, identificados os projetos de maior destaque. Após a
escolha de quais foram os objetos de análise, foi realizada a seleção de projetos com
relevância em relação ao seu caráter artístico, social e funcional, procurando-se caracterizar
os principais conceitos aplicados a arquitetura vigentes no contexto da realização do
concurso em que estava inscrito.
1.3. OBJETIVOS GERAIS
Como objetivo geral, a pesquisa pretendeu não apenas coletar informações, mas buscou
também identificar as idéias correntes concebidas nos projetos que participaram dos
principais concursos de arquitetura no Brasil após o ano de 1978, recuperando para o
debate obras de importância, mas que correm o risco de se tornarem desconhecidas por
não haver material sistematizado disponível sobre elas. O material relativo ao produto da
pesquisa será disponibilizado para que possa acrescentar às futuras pesquisas referentes
ao assunto, dada a pouca disponibilidade das mesmas para consulta. Deste modo, o
trabalho possibilita a produção do conhecimento podendo se tornar uma fonte de estudos e
discussões críticas.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Diversas fontes bibliográficas reconhecem a importância dos concursos de arquitetura como
catalisador de debates e discussões, devido às diferentes respostas dadas ao problema ou
programa, e que reflete o pensamento contemporâneo acerca da arquitetura de uma
determinada época e de um determinado contexto. “Um concurso permite, na reunião
momentânea de propostas distintas, mas que buscam atender a mesma demanda, uma
comparação, no sentido de abrir um panorama sobre o estado da arte da arquitetura, num
dado momento.) (ZEIN, 1991, p.149)
Os concursos, enquanto eventos públicos devem por princípio ser baseados no registro, na
formalidade e na publicidade de cada uma das etapas do procedimento: a intenção, a
programação, a concepção e o julgamento. O discurso, em cada uma dessas etapas,
sintetiza as visões dos atores e os conflitos que estão em jogo. Por essa razão,
compartilhamos a visão de que o dispositivo experimental do concurso pode se constituir
como um lugar de observação teórica, histórica e crítica privilegiada. (SOBREIRA, 2009 p.
06)
Essa forma de socialização da atividade do arquiteto é uma forma de incentivar a produção
de obras com excelente qualidade, o que reflete nas instigantes soluções que podem vir a
culminar em um bom projeto. Uma boa arquitetura é possível em qualquer parte do mundo,
devendo ser variada de acordo com os condicionantes de tempo e lugar, podendo ser viável
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inclusive nas cidades caóticas modernas. A qualidade básica de uma boa arquitetura,
portanto, é ser própria ao ambiente e momento em que está inserida. (ZEIN, 1991, p. 68)
Os concursos são condições singulares para a produção arquitetônica, em que são
exemplificados novas idéias e conceitos. “Considerando a temática de investigação sobre o
projeto de arquitetura e entendendo essa ação como uma prática reflexiva em relação aos
temas sócio-culturais, tecnológicos e estéticos abordados pela arquitetura e o urbanismo, o
universo dos concursos públicos de arquitetura evidenciam-se como categoria exemplar de
novas ideias, investigação de novos conceitos e prospecção de valores. Talvez em
nenhuma outra oportunidade de projeto se estabeleça condições tão ricas e abundantes de
reflexão e debates sobre a arquitetura contemporânea e seus rumos.” (MARQUES, 2009,
n/p)
No Brasil os concursos são regidos pela lei federal 8.666/93, que os determina como forma
preferencial de seleção para obras públicas, acarretando em possíveis projetos que não
passaram por algum tipo de seleção. Em decorrência dessa permissividade da legislação e
de outros fatores de ordem cultural, o número médio de concursos públicos de arquitetura
realizados anualmente no Brasil é significativamente inferior aos de países mais
desenvolvidos que os consagram como instrumento democrático para garantia da qualidade
do ambiente construído Entre 1857 e 2000, foram realizados 373 concursos de arquitetura,
uma média inferior a três concursos por ano. Entre 2000 e 2007, foram registrados 32
concursos nacionais de arquitetura média anual de quase cinco concursos. Porém, mesmo
sendo poucos, não há uma memória sistematizada dos concursos públicos realizados, pois
pouco restou da documentação dos concursos efetuados, (SOBREIRA, 2009, p. 06)
Apesar da exigüidade de concursos brasileiros, pioneiras obras da arquitetura moderna se
firmaram nas principais regiões brasileiras por causa deles, tais como o edifício-sede da
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Ministério da Educação e Saúde Pública,
ambos de 1935. Todavia, mesmo assim, pode-se ver como é minimizada a influência dos
concursos no desenvolvimento da cultura arquitetônica. (MARQUES, 2009, n/p)
Os concursos de projetos criaram melhores oportunidades, quando não, únicas, de
investigação de conceitos, temas, tendências estéticas, debates estilísticos e filosóficos,
prospecções tecnológicas, retrospectivas históricas e conteúdos específicos oferecidos
pelos certames, normalmente importantes, examinados através de cada projeto
participante. Os concursos de arquitetura, de certa forma, têm sido a ponte de hibridação
qualificada entre meio acadêmico e ofício. Assim, a armazenagem de informações do
contemporâneo apresenta-se como oportunidade de criar nova tradição, que qualifique a
produção acadêmica e profissional atual, e ofereça, nos próximos anos, material em
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melhores condições do que aquela que recebemos do passado. No acesso aos projetos
classificados em concursos, propiciado pelo acervo, horizonte e memória se encontram.
(MARQUES, 2009, p. 06)
3. METODOLOGIA
A produção de caráter investigativo, para novos conhecimentos de arquitetura, promovida
pelos concursos, não tem recebido a devida valorização nas carreiras universitárias, como
produção docente, como instrumento de pesquisa e investigação, como meio de produção
do conhecimento arquitetônico. Esse é um velho novo problema devido distanciamento da
prática de projetos de arquitetura em relação à pesquisa acadêmica, persistindo em
separações nas quais forças divergem na direção do exercício do ofício, em oposição ao
conhecimento científico e vice-versa, além de preconceitos mútuos entre as posições, em
que se revela a relação de exclusão simplificadora de atividades indissociáveis para a
qualidade da disciplina. (MARQUES, 2009, p. 06)
Evidentemente nem todo projeto de arquitetura traz investigação relevante, assim como
nem todo texto, por ser científico, guarda garantia de qualidade. No entanto, o projeto pode
ser encarado como poderosa ferramenta de análise e prospecção, necessitando de critérios
de valorização, novos procedimentos de organização acadêmica e metodologias para
documentação do processo e dos resultados, de forma a oferecer material relevante à
construção de novos saberes da arquitetura e urbanismo e acúmulo de conhecimentos
adquiridos. (MARQUES, 2009, p. 07) Desta forma, a presente pesquisa utilizou em sua
metodologia elementos projetuais características do profissional da arquitetura e do
urbanismo, e que pode ser organizada de modo a atender o requisito acadêmico do registro
do conhecimento.
O projeto de pesquisa tem seguido a metodologia estabelecida desde o início, que
determinou a priori três etapas principais, sendo elas a de levantamento de dados com base
na bibliografia especializada e documentação técnica disponível; a sistematização das
informações com a análise dos projetos; e a elaboração dos relatórios de pesquisa. A
pesquisa teve como base o material já sistematizado pela pesquisa “Concursos de
Arquitetura”, em que foi feito o levantamento dos concursos propostos após o ano de 1978.
A partir desta lista foram verificados quais concursos tinham maior relevância, sendo
priorizados ainda os de fácil acessibilidade para obtenção de material. Os concursos
escolhidos para estudo foram: Reurbanização do Vale do Anhangabaú, realizado em 1981;
Parque Ecológico do Guarapiranga, realizado em 1990; e o Concurso Público Nacional de
Reconversão Urbana do Largo da Batata, em 2002; os dois primeiros já executados e o
último em execução na cidade de São Paulo.
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Foram vistos os projetos de maior destaque em cada concurso, pesquisando em fontes
secundárias referências a estes projetos. A partir deste material selecionado, mais o acesso
as fontes primárias, foi realizada a sistematização de tudo o que foi obtido, para então partir
para a etapa de análise crítica dos projetos melhores classificados nas seleções. A
compreensão dos projetos foi realizada por meio da realização de croquis dos principais
desenhos técnicos, salientando este artifício projetual como um forte elemento de
compreensão dos principais pontos dos projetos. Posteriormente foram desenvolvidos
textos sintéticos como forma de registro da análise crítica dos concursos selecionados.
4. RESULTADOS
A presente pesquisa não tem como intenção apenas a coleta de informações, mas tem
buscado também identificar as idéias correntes concebidas nos projetos que participaram
de três concursos de arquitetura no Brasil selecionados, após o ano de 1978. Um das
maiores importâncias deste trabalho está em recuperar as informações destes concursos,
trazendo para debate obras de grande importância, mas que correm o risco de se tornarem
desconhecidas por não haver material sistematizado disponível sobre elas. Faz-se
importante, portanto, a compreensão dos debates recorrentes de cada época dos concursos
estudados, que servirão de pano de fundo para as formulações das análises críticas.
Uma grande vantagem da escolha dos concursos adotados para estudo é que
coincidentemente, os três foram realizados em década diferentes e subseqüentes. Isto fez
com que se tornasse muito mais rica a compreensão e a caracterização do contexto e das
idéias vertentes de cada época, principalmente a relação da produção arquitetônica
brasileira com o Movimento Moderno. Muito se tem falado sobre a revalorização dos
princípios modernos na arquitetura brasileira, todavia, essa retomada só faz sentido, se os
conceitos abordados forem entendidos de forma ampla, como uma reforma profunda da
disciplina arquitetônica em frente a modernização do mundo. Em diversos centros
brasileiros, a produção da arquitetura fragmentou-se em teorias e propostas completamente
diversas entre si, colocando em contraponto o universalismo do “estilo” moderno. A partir
desta dispersão é possível determinar que a produção arquitetônica adotou aspectos de
considerável abertura formal e material. (BASTOS, ZEIN, 2010, p. 379)
É a partir dos anos 70 que se tem o triunfo da Arquitetura Moderna, pois houve a
construção e consolidação do “urbanismo da modernidade”. Paulatinamente, a
modernidade passa a ser confrontada de forma mais veemente, principalmente as questões
objetivas que chegam a desafia o próprio sistema. Ao fim desta década, essa crise será
conhecida como “condição pós-moderna”, não atingindo os princípios apenas do mundo
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arquitetônico, mas sim os diversos debates artístico-culturais. (BASTOS, ZEIN, 2010, p.
195)
A virada para os anos 80 tem em seu ramo ideológico uma grande complexidade, pois
encontra-se um eixo variado de tendências, enfatizando-se o momento de crise da
modernidade, no Brasil e no mundo. Entretanto, pode-se ver que esta crise não levou a sua
dissolução e transformação radical, mas a adoção de uma grande pluralidade, o que nos
leva a uma situação muito mais atrelada a uma reflexão profunda do que vinha sendo
pregado, do que uma reorientação de todos os conceitos. Por isso se torna mais pertinente
a utilização do termo “Modernidade reflexiva” do que “Condição Pós-moderna” neste
período. (BASTOS, ZEIN, 2010, p. 195)
A crise do Movimento Moderno nos anos 80 passou a ser vista de forma muito mais amena
na seguinte década. A crise que estava sendo vista como a morte de diversas ideologias, foi
mais uma “marola”, em que se reformularam as utopias modernas em vista de um mundo
de recursos finitos, mais realista, sustentável e perene. Os anos entre 1985 e 1995
iniciaram-se perigosos e turbulentos e terminam oportunos. Uma época de grande
fertilidade em debates que seguem levantando questionamentos pertinentes até a primeira
década do século XXI. (BASTOS, ZEIN, 2010, p. 189)
Nos anos 90, as teorias se convergiram pelo fato de valorizarem aspectos comuns tal qual a
valorização da forma do objeto único, oriunda da conjunção artística entre o repertório do
próprio arquiteto e o local de inserção da obra. Outra característica importante é o modo
como se encara o meio urbano, pois a cidade é trabalhada de forma híbrida, em que se
valoriza o aspecto do lugar. Portanto, os aspectos considerados numa problemática deste
tipo é a junção do conhecimento disciplinar da modernidade enquanto tradição e a
manipulação do lugar de intervenção. (BASTOS, ZEIN, 2010, p. 379)
No que se trata aos concursos de arquitetura, as décadas de 1960 e 1970, foi de grande
desestímulo, devido ao desaparecimento dos processos de seleção, assim como boa parte
dos ingredientes concorrentes na manutenção de cultura arquitetônica consistente. Passado
o período discricionário, após vinte anos de ausência de concursos públicos, a prática foi
retomada com o polêmico concurso para a Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, em 1984,
com a participação de 168 projetos e muita discussão em relação ao resultado, onde
confronto de teses revelava os debates inerentes ao momento de revisão e os aportes pós-
modernos no meio. (MARQUES, 2009, p. 08)
Nos anos seguintes, durante as décadas de 1980 e 1990, concursos de arquitetura tiveram
o baixo índice de realização dos projetos vencedores e o alto índice de polêmicas, em
diversas oportunidades serviram para descortinar novas abordagens arquitetônicas da
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Arquitetura Moderna Brasileira, como a Câmara Legislativa de Brasília e o pavilhão do
Brasil para a Feira de Sevilha. MARQUES, 2009, p. 08)
4.1. LEVANTAMENTO DE DADOS E ANÁLISE CRÍTICA
Os três concursos selecionados foram a Reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981);
Parque Ecológico do Guarapiranga, (1990); e o Concurso Público Nacional de Reconversão
Urbana do Largo da Batata, (2002). Devido ao agendamento dos escritórios, o primeiro
concurso a ser estudado foi o Parque Ecológico do Guarapiranga, em que foram visitados
os três primeiros colocados, se adquirido entrevistas com os arquitetos participantes e um
bom material de análise Posteriormente foi prioridade o concurso do Largo da Batata, que
teve por peculiaridade a grande quantidade de material disponível, em sua maioria já digital,
devido ao ano de sua ocorrência, em 2002. Por último, buscaram-se os materiais do
concurso do Vale do Anhangabaú, sendo inviável apenas a visita ao escritório da segunda
colocação, por se localizar na cidade de Curitiba – PR. Os demais escritórios forneceram
muitos materiais, no entanto, estes eram de pior qualidade e definição por causa da ação do
tempo nos arquivos em que se teve acesso, o que impossibilitou o desenvolvimento da
análise críticas sobre os projetos.
O Material coletado foi dividido em três etapas para facilitar a sistematização e a formulação
das análises. A primeira etapa consiste na organização de fichas com as informações de
cada concurso. Foram pesquisados também publicações em mídias arquitetônicas ou no
meio acadêmico, que além de serem importantes registros do que já foi feito sobre o
concurso, pode-se compreender também a repercussão destes na época de suas
realizações. A segunda etapa é apenas o registro dos materiais coletados, assim como as
referências dos arquitetos que os cederam. A terceira e última etapa consiste nos
apontamentos e análises críticas desenvolvidas por projeto.
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4.1.1. REURBANIZAÇÃO DO VALE DO ANHANGABAÚ
1ª ETAPA - Ficha Sintética
Dados Gerais Categoria Arquitetônica - Concurso Público Nacional para Áreas Urbanas 1981 - São Paulo, SP. Organização – EMURB Áreas - Promoção – Prefeitura do Município de São Paulo por meio da Sempla (Secretaria Municipal de Planejamento Urbano), da EMURB (Empresa Municipal de Urbanização), e da Secretaria de Implementação das Subprefeituras e A. R. PI. – Administração Regional de Pinheiros Júri: Arqto. Carlos Maximiliano Fayet; Arqto. Eduardo Leira; Arqto. Fábio Moura Penteado; Arqto. Jorge Wilheim; Arqta. Regina Prósperi Meyer. Fontes: Revista AU (42) jun-jul/92; Revista Arquiteto SP (1) jun/81, sp (74), (17); Circular-IAB-SP mai/81, SP jun/81, SP jul/81, SP ago/81, SP supl esp jun/81, SP supl esp jul/81; Revista modulo (42) mar-mai, (76), (64) mai-jun/81; Revista projeto (31) jul/81; Folha 16/09/1980, 17/06/1981, 07/12/1983; Estadão 14/09/1983, 14/09/1983, 06/12/1983, 02/02/1984, 21/07; A CSP 20/11/1972, 24/06/1974, 24/02/1975 Premiação: 1º - Arq. Carmem Lydia N. R. e Silva, Jamil J. Kifuri, Jonas Birger, Jorge Wilhiem, Marcelo Martinez, Maria Lucinda Aguiar, Michel Todel Gorski e Rosa Kliass 2º - Elgson Ribeiro Gomes, Péricles Varella Gomes, Carlos Guilherme Gloor, Heitor Carlos Moreira Filho, Maria Luiza Gomes, Orlando do Amaral Rodrigues 3º - Paulo Bastos, Siegbert Zanettini, José Salles Costa e Filho, Newton Massufumi Yamato, Maria de Fátima Araújo, Roberto Israel Eisenberg Saruê Menção Honrosa: 1- Carlos Bratke; 2- gian carlo gasperini; 3-Joel Ramalho Junior e Leonardo Oba.
Descrição Sintética: O concurso realizado pela EMURB para o Vale do Anhangabaú, São
Paulo, foi lançado em 1981, e seu contexto de preparo para a proposta, sugeria novas
idéias para a questão central; resolver o conflito existente entre pedestres e veículos, e
focar na reconquista de um espaço desperdiçado, embora precioso. A garantia da fluidez ao
importante tráfego de passagem, ampliando ao máximo sua vazão, o tratamento adequado
das áreas próximas às estações de metrô, o remanejamento das infra-estruturas e a adoção
de métodos construtivos que permitissem a implantação gradual, sem interrupção do
tráfego Norte-Sul, também foi um dos requisitos básicos para a proposta. O concurso
objetivava basicamente, que a área deveria ser global, de caráter abrangente, envolvendo
circulação viária e de pedestres, usos de espaços públicos, equipamentos que atendessem
a demanda da população local e metropolitana. Regulamentação de uso de solo e das
edificações, valorizando os edifícios tombados pelos poderes públicos ou considerados em
zonas especiais.
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2ª ETAPA - Material Coletado
1º Colocado – Arquiteta Rosa Kliass Dia: 14 de Maio / 2010 Telefone de contato: 3167- 4676 Endereço: Rua Jesuíno Arruda, nº 888, apto 131, Itaim Bibi. Material Coletado: Fotos de algumas plantas 2ª fase. Foi feita a indicação pela arquiteta que o material do concurso poderia estar na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Foi concedida entrevista pela arquiteta. 2º Colocado – Arquiteto Elgson Ribeiro Gomes Dia: Visita não realizada Telefone de contato: (41) 3252 - 4342 3º Colocado – Arquiteto Paulo Bastos Dia: Dia: 30 de junho / 2010 Telefone de contato: 3062 - 1022 Endereço: Rua Cardeal Arcoverde, 835, Conjunto 04, Pinheiros Material Coletado: Fotos das pranchas originais e de alguns croquis do projeto. O arquiteto não concedeu entrevista,
4.1.2. PARQUE ECOLÓGICO DO GUARAPIRANGA
1ª ETAPA - Ficha Sintética
Dados Gerais Categoria Arquitetônica - Concurso Público Nacional para Áreas Urbanas 1990 - São Paulo, SP. Organização – IAB-SP Áreas - Promoção – Secretaria de Estado do Meio Ambiente Júri: Arq. Arilda Cardoso de Souza; Arq. Maria Helena Lobo de Queiróz; Agr. Sérgio Luis Pompéia; Arq. Sérgio Zaratin; Arq. Vera Maria de Aranha Severo. Fontes: Regulamento do Concurso; Revista Projeto - nº 153 (jan de 1992) projeto vencedor e nº 171 (jul de 1993) diversos projetos. Arquitetura Contemporânea no Rio Grande do Sul: Monitoramento e Acervo. Arquitetura de Concursos: 1984 – 2006. Acervo digital adquirido no Núcleo de Projetos Arquitetura da UniRitter com prancha do escritório sobre o parque. Material Parcialmente disponível em: http://www.uniritter.edu.br/w2/arquitetura/acervo/index.php?area=acervo RODRIGUES, Cristiane Gonçalves Pereira. Concursos Públicos Urbanos 1989-2004: Projetos e fragmentos da cidade. Dissertação de mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp079493.pdf. Acessado em agosto de 2010. SANTOS, Valéria Cássia dos. Concursos de arquitetura em São Paulo. Dissertação de mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002. Premiação: 1º - Carlos Fayet e Cláudio Araújo 2º - Rosa Kliass 3º - Maria Madalena Ré Menção Honrosa - Bruno Pandovano Menção Honrosa - Eduardo Catellis
Descrição Sintética: Concurso realizado no início da década de 90, para seleção de
propostas e contratação de projeto para o Parque Ecológico do Guarapiranga, criado pelo
decreto 30442 de 20/10/89. O concurso de idéias foi realizado em duas etapas, sendo a
primeira a apresentação uma proposta global, contemplando o programa e partido, e na
segunda etapa seria apresentado o desenvolvimento das propostas.
O objetivo do concurso é obter um projeto que, com uma abordagem ampla, proponha
soluções específicas para cada um dos pontos levantados pelos conflitos diagnosticados na
área, apresentados pelo material de apoio cedido aos concorrentes. A criação de um
parque com o porte e as características do Parque Ecológico do Guarapiranga, exige uma
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precisão na conceituação de seu caráter e finalidade, sendo analisados diversos conceitos
aplicados ao projeto, tais como a preservação ambiental, a técnica empregada, a
abrangência do projeto, o programa proposto, entre outros.
No edital foram explicitados a abrangência e o significado do parque, bem como os
condicionantes a serem observados. Os condicionantes de mais destaque são: A finalidade
do parque será de recuperação ambiental abrangendo a vegetação e a orla da represa; O
parque deverá ter um alcance metropolitano, considerando-se sua dimensão e sua inserção
no meio urbano; Deverá propor soluções que procurem equacionar os problemas de
conflitos ambientais existentes; Deverão ser assegurados prioritariamente espaços para o
desenvolvimento de ações de percepção e educação ambiental e para as atividades de
abrangência social; Podem ser apresentadas propostas quanto à administração e
gerenciamento que garantam a implementação do programa projetado; Cada equipe deverá
formular o seu programa de projeto, considerando as observações anteriormente
apresentadas, quanto a equipamentos, manejo das áreas e tratamento espacial, de forma
que esse conjunto estruture um conceito de Parque Ecológico.
2ª ETAPA - Material Coletado
1º Colocado – Arquiteto Carlos Fayet e Cláudio Araújo Dia: 22 de Julho / 2010- Contato com Cláudio Araújo realizado em Porto Alegre.
Telefone de contato: (51) 9808-7245 e (051) 3388-7570
Endereço: Endereço da casa da Beatriz (Filha): Dr. Vicente de Paula Dutra, nº 225, apto. 201 Material Coletado: Levantamento realizado pela Universidade Ritter (Porto Alegre – RS) com uma prancha que continha diversas informações conceituais, além das perspectivas. O arquiteto não concedeu entrevista 2º Colocado – Arquiteta Rosa Kliass Dia: 14 de Maio / 2010 Telefone de contato: 3167- 4676 Endereço: Rua Jesuíno Arruda, nº 888, apto 131, Itaim Bibi. Material Coletado: Relatório do Plano Diretor Previsto (impresso A4); Proposições Preliminares para as edificações (impresso A4) Foi concedida entrevista pela arquiteta. 3º Colocado – Arquiteta Maria Madalena Ré Dia: 28 de junho / 2010 Telefone de contato: 3865 - 6793 Endereço: Rua Juazeiro, 109. Sumaré Material Coletado: Fotos das pranchas desenvolvidas para a exposição na 2ª Bienal; Compilação do regulamento, do programa, de informações sobre a área e da legislação dada aos concorrentes; Planta do levantamento do existente e delimitação da área do concurso; Planta da vegetação da área; Síntese da proposta da equipe da Maria Madalena Ré; Proposta Técnica da segunda fase. Foi concedida entrevista pela arquiteta.
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3ª ETAPA - Apontamentos e Análise Crítica
I. Primeira Colocada –Arquiteto Maximiliano Fayet
Imagem 01 – Implantação do primeiro colocado
Fonte: Croqui realizado pelo aluno utilizando-se o material do projeto adquirido pelo arquiteto Cláudio Araujo
A grande característica deste projeto está na questão de encarar o parque realmente como
uma área de reserva ecológica. Percebe-se que esta proposta foi a mais radical com
relação a preservação, protegendo grande parte da área total, mantendo uma pequena área
para uso intenso, e controlando o acesso ao interior do parque por portaria única. Pode-se
ver nas diversas diretrizes propostas para o local uma preocupação com relação às
interfaces indesejáveis que o entorno intensamente urbanizado pode trazer para essa área
verde, pensando em medidas que podem refrear a mancha urbana e garantir a preservação
ambiental do parque. A principal diretriz para a proteção do parque com relação ao entorno
já urbanizado pode ser vista na proposta de fechamento das principais vias que cortam o
parque e na limitação dos acessos da circulação ao seu interior. Há a previsão de controle
da ocupação das áreas próximas ao parque, de modo a conter ainda mais o avanço da
mancha urbana nesta área de preservação. Os demais usos são dispersos e estão
próximas as regiões limítrofes entre o parque e a região urbanizada. Esses equipamentos
acabam delimitando o parque. Foram pensadas outras diretrizes de grande influência com a
população do entorno, como o tratamento das águas do rio Embu-Mirim e Piraporinha, o
controle de erosão nos morros, e a contenção de invasões ilegais por meio de um trabalho
junto à comunidade.
O modo de encarar a população próxima ao projeto do Fayet se difere muito dos segundo e
terceiro colocados, pois estes propõem uma relação muito mais forte com as áreas
urbanizadas. O projeto da Kliass propõe centros de apoio a comunidade de modo a criar
uma interface com os moradores da região e fazer o elo da função do parque com as
pessoas do local. Esta relação de proximidade com os cidadãos têm o intuito de gerar a
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identificação destes com o parque. O Projeto da Ré tem a relação com o entorno muito mais
voltada na disposição da intensidade dos usos propostos. Em determinados momentos
coloca grandes maciços arbóreos nos limites do parque com a urbanização, causando
contraste, em outros define nas bordas os equipamentos de grande uso do público.
II. Segunda Colocada – Equipe da arquiteta paisagista Rosa Kliass
Imagem 02 – Implantação do segundo colocado
Fonte: Croqui realizado pelo aluno utilizando-se o material do projeto adquirido pela arquiteta Rosa Kliass
A característica principal do projeto da Rosa Kliass está na disposição das funções de todo
o parque. Até por conta do seu conhecimento sobre o urbanismo, é visível em seu projeto
diversas diretrizes que contemplam as características de uma urbanista. As funções
determinadas de grande intensidade de uso do público são em áreas muitos maiores que os
demais colocados, e é a proposta com menos área de preservação. O uso da várzea tem
grande destaque, pois apesar de encará-la como área de preservação, há diversos usos
inclusive com a implantação de um grande equipamento: o Museu da Várzea. Em
contrapartida, o projeto do Fayet não determina nenhum uso na região da várzea, e nenhum
percurso para o usuário. As funções dadas por ele a essa região estão ligadas ao ambiente,
pois propõe um controle da quantidade de água que a permeia oriunda da represa, de modo
a evitar inundações, e lagoas de tratamento da água. A pouca circulação existente na
várzea é por meio de passarelas.
A arquiteta paisagista Maria Madalena Ré propõe trilhas de interpretação inclusive na região
da várzea, no entanto ela é feita com paçadissos elevados sobre a vegetação. O uso
proposto é de baixa intensidade, e é uma medida que está na proposta intermediária entre
os dois projetos: Nem propõe um equipamento de grande uso como a Kliass, nem isola
completamente a várzea do usuário como o Fayet. As edificações, cujos desenhos já foram
anteriormente apontados, obedecem ao zoneamento estabelecido para o parque, em que
as gradações de uso são determinantes para a disposição de equipamentos que gerariam
novas centralidades. Os setores de usos com a relação dos equipamentos neles existentes,
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já em gradação de uso são: Interface comunidade – Escolas profissionalizantes, centro
comunitário, Recepção; Parque urbano - Conforto público, Observação, caixa d’água, Salão
de Baile; Aquático – Vestiário, restaurantes; Parque Rural – Fazendinha, Horta, Pomar;
Várzea – Lagoa, Centro de repovoamento, Museu da várzea, arvoredo.
III. Terceira Colocada – Equipe da arquiteta paisagista Maria Madalena Ré
Imagem 03 – Implantação do terceiro colocado
Fonte: Croqui realizado pelo aluno utilizando-se material do projeto adquirido pela arquiteta Maria Madalena Ré
Uma das questões mais abordadas no projeto da Ré é o problema da gestão do parque.
Este foi um dos pontos colocados no edital do concurso, e este foi o único projeto que deu
relevância a este aspecto. Há uma grande preocupação com a funcionalidade das
propostas, sendo todos os equipamentos pensados para ser bem exeqüíveis. Sua proposta
está entre os dois extremos dos outros dos projetos - de preservação do Fayet, e do uso
intenso da Kliass – incentivando o uso de todas as áreas do parque, de preservação ao de
uso intensivo, inclusive da água da represa. A proposta da Ré tem maior dispersão dos
equipamentos. Leva os usos para áreas mais internas do parque, onde outros projetos não
realizaram nenhuma intervenção, dispondo os usos intensivos na forma de “L” na área
urbanizada mais ao norte. Propicia que o usuário perpasse todas as zonas do parque e veja
o dégradé dos usos, criando inclusive estares em todo o parque. Embora não seja explícito
o zoneamento no projeto da arquiteta, pode-se ver isso como uma preocupação do partido.
Fayet Propõe poucas áreas de uso intensivo, é o que determina a menor área deste uso.
Há a restrição dos principais equipamentos em uma zona demarcada, na área urbanizada
ao norte, tendo o controle de acesso ao restante do parque. Os demais usos são dispersos
e estão próximas as regiões limítrofes entre o parque e a região urbanizada, sendo esses
equipamentos delimitadores da borda do parque. O projeto da Kliass tem os usos dispostos
de modo a ter um dégradé de intensidade de atuação. Seu projeto tem os usos muito bem
delimitados e concentrados, propondo quatro núcleos com caráter diferentes: aquático,
urbano, rural e natural. Essas “tipologias” de parques obedecem a diminuição do uso
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conforme o interior do parque, no entanto incentiva a entrada dos usuários a áreas muito
maiores do que os demais projetos. Um dos parques que atrairiam mais a população - o
urbano fica localizado no centro do parque, próximo a represa, sendo o projeto que propicia
o maior contato dos usuários com a Represa do Guarapiranga.
4.1.3. CONCURSO PÚBLICO NACIONAL RECONVERSÃO URBANA DO LARGO DA
BATATA
1ª ETAPA - Ficha Sintética
Dados Gerais Categoria Arquitetônica - Concurso Público Nacional para Áreas Urbanas 2002 - São Paulo, SP. Organização – IAB-SP Áreas - Promoção – Prefeitura do Município de São Paulo por meio da Sempla (Secretaria Municipal de Planejamento Urbano), da EMURB (Empresa Municipal de Urbanização), e da Secretaria de Implementação das Subprefeituras e A. R. PI. – Administração Regional de Pinheiros Júri: Arqto. Carlos Maximiliano Fayet; Arqto. Eduardo Leira; Arqto. Fábio Moura Penteado; Arqto. Jorge Wilheim; Arqta. Regina Prósperi Meyer Fontes: Vitrúvius - http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst37/inst037.asp RODRIGUES, Cristiane Gonçalves Pereira. Concursos Públicos Urbanos 1989-2004: Projetos e fragmentos da cidade. Dissertação de mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp079493.pdf. Acessado em agosto de 2010. LODE, Letícia Takeda. O concurso Público no Projeto Urbanístico. São Paulo, 1998-2004. Dissertação de Mestrado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008. Júri: Premiação: 1º - Tito Livio Frascino, Fernando Pires, Alexandre Stefani, Letícia Lodi, Andrea Soares e Rosa Maria Leal 2º - Maria do Carmo Vilarino, Luis Mauro Freire, Fabio Mariz Gonçalves, Henrique Fina e Luis Ramos 3º - Luis Espallargas Gimenez, Jaime Cunha Jr., Hortênsia Espallargas Zuniga, Liliane Silva, Bruno Faggiano e Érico Costa
Descrição Sintética: O Concurso de Reconversão do Largo da Batata representou uma
oportunidade muito valiosa em trabalhar um setor consolidado da cidade, de forma a
reorganizar e revalidá-lo como parte do vetor de crescimento a que pertence. Como marca
da forte influência resultado da sua característica de local de passagem resulta o desenho
viário atual, principalmente impressa nas ruas Pinheiros e Butantã, apesar das modificações
que a área sofreu em todos estes anos. Mesmo de forma improvisada o Largo da Batata se
firmou como uma centralidade urbana de grande importância para a cidade. (LODE, 2008,
pág. 99) Uma nova diretriz viária proposta, sem preocupação com as bordas
remanescentes da via gerou um espaço de degeneração urbana. Sendo o único setor que
não conseguiu se beneficiar da Operação Urbana Faria Lima, por não criar atratividade.
Esta condição pode ser observada até os dias de hoje, pela estagnação de seus usos e
construções e pela degradação dos espaços públicos. Sua condição de centralidade urbana
popular contrasta com toda a sua caracterização; por esta razão, o Largo da Batata é uma
referência urbana importantíssima para a cidade. (LODE, 2008, pág. 102)
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2ª ETAPA - Material Coletado
1º Colocado – Equipe do Arquiteto Tito Lívio Franscino Dia: 30 de junho / 2010 Telefone de contato: 3151-4440 Endereço: Rua Bento Freitas, 306, 6º andar, conjunto 62, Centro. Material Coletado Desenhos em DWG; Todas as imagens apresentadas nas pranchas; Memorial Descritivo; PowerPoint com apresentação sobre o trabalho. O arquiteto não concedeu entrevista. 2º Colocado – Equipe do Arquiteto Luis Mauro Freire Dia: 11 de maio / 2010 Telefone de contato: 7363 - 7714 Endereço: Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 117, Pinheiros Material Coletado PDF com todas as pranchas originais; PowerPoint com todas as explicações do partido do projeto e dados que não estão nas pranchas. Foi concedida entrevista pelo arquiteto. 3º Colocado – Equipe do Arquiteto Luis Spallargas Gimenez Dia: Dia: 14 de maio / 2010 Telefone de contato: 3023 - 2560 Endereço: Travessa João Damasceno Fernandes, 11, Vila Ida, Alto de Pinheiros Material Coletado Imagens com as perspectivas, plantas, elevações, cortes do projeto; Apresentação com as informações do partido arquitetônico. Foi concedida entrevista pelo arquiteto.
3ª ETAPA - Apontamentos e Análise Crítica
I. Primeiro Colocado – Equipe do arquiteto Tito Lívio Frascino
Imagem 04 – Implantação do primeiro colocado
Fonte: Imagem do projeto adquirido pelo escritório arquiteto Tito Lívio Frascino
O projeto da equipe do arquiteto Tito Lívio Frascino encara o problema do largo da Batata
de forma muito mais pontual que as demais propostas. Não há citação do largo da Batata
como um elemento importante para o bairro ou até mesmo para a metrópole, realizando
propostas apenas para a área delimitada pelo concurso. Desde o início pode-se ver seus
objetivos muito bem pontuados, citando bem focadamente as regiões a serem abordadas.
Entretanto, não é muito evidente a sua metodologia de análise e quais os fatores que os
levaram a chegar aos objetivos mencionados. Nas pranchas apresentadas para o concurso
o seu memorial de projeto é bastante sucinto, chegando diretamente ao seu objeto âncora,
elemento forte de sua proposta, mencionando poucas vezes o motivo que o levou a esta
solução como a ideal para o problema urbanístico do Largo da Batata.
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
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O principal foco de atuação é a “Esplanada”, sendo esta composta pela criação de espaços
públicos, - como a feira livre – e um grande empreendimento associado. A partir deste
grande marco arquitetônico é que se desenvolvem as demais propostas, sendo resolvidas
principalmente as questões de circulação. É importante observar que a proposta da equipe
parte de um elemento arquitetônico, e não apenas de taxas urbanísticas e questões legais.
Pode-se dizer que os autores partem do pressuposto que a revitalização deste local urbano
necessita de propostas que não sejam apenas instrumentos urbanísticos, legando a um
objeto arquitetônico a possibilidade de revitalização da cidade.
II. Segundo Colocado – Equipe do arquiteto Luiz Mauro Freire
A proposta que angariou a segunda colocação faz um estudo global da região, inclusive de
áreas além do limite proposto pelo edital do concurso. Após o detalhamento e zoneamento
de cada setor há a formulação de propostas para cada área, dando ênfase na delimitada
pelo regulamento do concurso. Por causa deste estudo é possível perceber que as
propostas feitas pela equipe estão mais descentralizadas e voltadas para a questão da
circulação geral, inclusive das previstas na Operação Urbana.
Imagem 05 – Implantação do segundo colocado
Fonte: Imagem do projeto adquirido pelo escritório arquiteto Luiz Mauro Freire
Além dos objetivos citados prioritariamente nas pranchas do concurso, a equipe enfatiza os
instrumentos dos modos de ação e as estratégias para a intervenção da área mais
detalhados que os seus concorrentes. Estes aspectos são salientados antes mesmo de
apresentar as propostas de cada setor. É evidente a análise metodológica realizada pela
equipe, principalmente pelos mapas desenvolvidos para a macro área de estudo, em que
são levantados as características, deficiências e potencialidades de cada setor. Após toda a
análise setorial há a discussão das duas principais intervenções pontuais – o novo Largo de
Pinheiros e a Praça Cooperativa Agrícola. O principal aspecto a ser ressaltado deste projeto
é a questão do desenho urbano. É a proposta em que as questões projetuais aparecem
mais presentes, e não apenas no objeto arquitetônico em si, mas como uma intenção de
organização do espaço urbano. Este aspecto se diferencia dos demais concorrentes, pois o
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primeiro colocado ressalta o objeto arquitetônico em si, e o terceiro colocado faz uso intenso
dos recursos urbanísticos.
III. Terceiro Colocado – Equipe do arquiteto Luiz Esparllagas
Imagem 06 – Implantação do terceiro colocado
Fonte: Imagem do projeto adquirido pelo escritório arquiteto Luiz Esparllagas
A terceira colocação do concurso foi dada ao projeto da equipe do arquiteto Esparllagas, em
que se destaca por ser a única proposta em que se faz menção a história. Os objetivos
deste projeto não são detalhados explicitamente, estando citadas no decorrer de seu
discurso. Em contrapartida, ressalta-se a explicação da metodologia de análise da área, que
tem base principalmente na história e nos eixos de circulação existentes. Há uma
preocupação muito grande da equipe em estabelecer instrumentos urbanísticos para que a
proposta seja viável, deixando em segundo plano as questões projetuais. Esta equipe
propõe uma leitura dos eixos de circulação muito mais clara dos que os outros colocados, o
que a permitiu articular a região com as demais áreas da cidade de forma muito mais
condizente com o real e fazer uma proposta integrada com esses eixos. Há uma integração
muito forte da capacidade de circulação da via com o seu uso do solo, fator este analisado
somente por esta equipe, e que deve ser norteador no projeto de intervenção urbana.
Um aspecto muito evidente no projeto é a falta de um grande elemento polarizador. A
principal questão abordada é o equacionamento da circulação e do transporte, tendo como
intervenção mais drástica a abertura da praça que ligaria a Igreja Monte Serrat a Av. Faria
Lima, resolvendo basicamente o problema de circulação dos pedestres. É notável também
nesta postura, a intenção da valorização da Igreja, explorando o seu lado histórico. Assim
como o segundo colocado, a equipe do Espallargas desenvolve uma grande análise de
áreas além das delimitadas pelo edital do concurso. No entanto, sua principal diferença é
que sua análise observou muito mais profundamente questões tais como verticalização, uso
do solo, hierarquias viárias e áreas para desapropriação. Esta equipe desenvolveu muitos
mapas de estudo da área dividindo as áreas de acordo com características urbanas, ao
contrário da equipe do Freire que zoneou a partir dos principais pontos focais de interesse e
atratividade da população.
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
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5. CONCLUSÃO
O estudo de concurso se mostrou muito rico com relação a informações de projetos em
determinadas épocas, além de serem oportunidades únicas para o desenvolvimento de
projetos normalmente de grande escala e repercussão, que acabam se tornando muito
relevantes para a constituição da história da arquitetura brasileira. Os materiais que são
desenvolvidos para estes processos seletivos são de grande qualidade, além de muitas
vezes serem as únicas oportunidades em que diversos arquitetos registrem, inclusive de
forma textual, suas ideologias e intenções projetuais.
O presente trabalho engajou-se na sistematização de todo o material coletado e procurou
ser o mais fiel possível no tocante ao registro dos desenhos, dos textos e das entrevistas
adquiridas. Isto para que o produto referente a pesquisa possa ser disponibilizado
posteriormente para consultas de forma idônea, na tentativa se produzir um conhecimento
solidificado e que possa acarretar outras demais discussões críticas sobre o assunto. As
análises críticas foram desenvolvidas após um árduo trabalho de entendimento dos
projetos, com formação de opinião a partir da identificação das atitudes projetuais de cada
equipe, e não tem pretensão de serem verdades absolutas sobre cada projeto participante,
mas são pequenos ensaios para possíveis discussões futuras.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Departamento de Arquitetura e Urbanismo
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