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1 Material para a disciplina de Comunicação Empresarial FATEC SANTO ANDRÉ Manoel Francisco Guaranha São Paulo 2016

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Material para a disciplina de

Comunicação Empresarial

FATEC SANTO ANDRÉ

Manoel Francisco Guaranha

São Paulo – 2016

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Sumário Gêneros e tipos textuais...................................................................................................................... 3

Estudo da narrativa ....................................................................................................................... 10

Estudo da descrição ...................................................................................................................... 17

Estudo da argumentação .............................................................................................................. 25

Coesão textual: conceitos e mecanismos ......................................................................................... 30

Coerência textual: estratégias ........................................................................................................... 45

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Gêneros e tipos textuais

O texto é uma unidade de sentido, atividade sistemática de atualização

discursiva da língua na forma de um gênero; material linguístico com potencial para

conectar atividades sociais, conhecimentos linguísticos e conhecimentos do mundo;

unidade funcional, de natureza discursiva.

O texto é o espaço de materialização do discurso. Discurso, por sua vez é

conjunto de enunciados que ocorrem com certa regularidade e remetem a uma

mesma ideologia, visão, concepção de mundo de uma determinada comunidade

social numa determinada circunstância histórica. A ideologia se materializa por meio

da linguagem, não há um discurso ideológico, mas todos são e têm seus princípios

de regularidade em uma mesma formação discursiva.

O sujeito não pode ser concebido como total responsável por aquilo que diz;

tampouco como alguém que não é dono daquilo que escreve ou diz, ou seja,

repetidor do discurso dos outros, mas é uma entidade psicologia e social

(psicossocial) que usa a língua como lugar de interação. Sendo assim, quando

participam ativamente da definição da situação na qual se acham engajados, os

sujeitos adquirem um caráter ativo, são atores na atualização das imagens e das

representações sem as quais a comunicação não poderia existir.

Os três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado

isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora

seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos

gêneros do discurso.

Sendo assim, quanto mais gêneros do discurso dominarmos, mais facilidade

teremos de nos comunicar de forma eficiente, clara e objetiva, mais possibilidade

teremos de influenciar positivamente os outros e de não sermos influenciados pelo

discurso alheio se isso não for conveniente para nossa vida pessoal e profissional.

Por isso é importante desenvolvermos competência discursiva para ler e interpretar

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textos de forma crítica e de produzir textos eficientes e adequados às diferentes

situações de comunicação do dia a dia.

As Tipologias Textuais

Os tipos textuais constituem estratégias utilizadas para organizar o material

linguístico e apresentam-se em estreita conexão com o gênero a que pertence o

texto. É comum um único texto conter diferentes tipos que se articulam, já que essas

categorias apresentam-se em número bastante limitado enquanto os gêneros

apresentam-se em grande quantidade e, inclusive, surgem e desaparecem ao longo

da história, quer por mudanças culturais, quer por intermédio das novas tecnologias.

A tipologia textual é considerada por Marcuschi(2005)

uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição; constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros que não são textos empíricos; sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal (p. 23).

A noção de tipo textual é um construto teórico que abrange, em geral, as

categorias designadas narração, argumentação, exposição, descrição, injunção e

diálogo. Como dificilmente são encontrados tipos puros, um texto se define como

de um tipo por uma questão de dominância, em função do tipo de interlocução que

se pretende estabelecer e que se estabelece, e não em função do espaço ocupado

por um tipo na constituição desse texto.

Já segundo Bronckart (1999, p. 22), os tipos textuais abrangem as categorias

narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Segundo ele, o

termo tipologia textual é usado “para designar uma espécie de sequência

teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos

lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas)”. Como se percebe, Bronckart

não apresenta, como faz Marcuschi, o diálogo como um dos tipos textuais. Isso nos

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autoriza a pensar que, por esta perspectiva teórica, os turnos de fala dos locutores

em um diálogo podem ser categorizados como narrativos, argumentativos,

expositivos, descritivos ou injuntivos. A predominância de determinado tipo textual

dependerá do objetivo enunciativo do material linguístico a que pertence, ou seja,

das especificidades do gênero em que se insere o texto.

Em primeiro lugar, consideraremos o tipo narrativo, forma básica global muito

presente em diversos gêneros cuja finalidade é contar histórias ou fatos. Sendo

linguisticamente marcado pela contação de um fato, nessa estrutura o autor

encadeia uma sequência de acontecimentos ou de eventos que ocorreram. Desse

modo, a estrutura narrativa é caracterizada pela marcação temporal cronológica,

além do destaque dado aos agentes das ações. Na narrativa, predominam as

ações, enquanto que as descrições de situações e estados lhe são subordinadas.

Só é possível falar de narração quando cada história contada mobilizar

personagens implicados em acontecimentos organizados no eixo do sucessivo e

quando for sustentada por um processo de intriga (BRONCKART, 1999, p. 219).

Logo, essa tipologia textual é caracterizada pela predominância de verbos no

pretérito do indicativo, uma vez que este tempo verbal remete à ideia de

acontecimentos realizados, pontua ou faz menção a estes acontecimentos,

desenvolvendo a sequência das ações em um tempo cronológico em andamento.

Certamente, há narrativas literárias que se desenrolam no presente, mas essa

estratégia gera um efeito de sentido que caracteriza o suspense a inserção do leitor

nos fatos contados. De qualquer modo, via de regra, em textos não literários, as

histórias são contadas por meio de verbos no passado.

Já o texto descritivo faz um apontamento das características de um indivíduo,

de um animal, de um ambiente, de um objeto, de uma situação e mesmo de uma

sensação. Essa tipologia textual é conhecida como aquela que mostra, que revela,

que traduz um fenômeno. A sequência descritiva apresenta a particularidade de ser

composta de fases que não se organizam em uma ordem linear obrigatória, mas

que se combinam e se encaixam em uma ordem hierárquica ou vertical

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(BRONCKART, 1999, p. 222). Analogicamente, podemos afirmar que o texto

descritivo pode ser entendido como uma imagem, uma cena dentro da moldura e

que ao autor do texto cabe mostrar essa cena. Na imagem, não há uma sequência

de acontecimentos nem uma sequência única que os olhos devem seguir. Ao sujeito

que faz a descrição é que cabe a organização dos elementos, do todo para as

partes, modo dedutivo, ou das partes para o todo, modo indutivo. O tempo verbal

apropriado para uma descrição é o presente do indicativo, mas nada impede que

sejam feitas descrições no pretérito imperfeito ou mesmo perfeito quando elas se

inserem nas narrativas. O que difere este tipo textual da narração é a menor

incidência de verbos de ação decorrente da intencionalidade do produtor de

apresentar o objeto descrito, quer dizer, o texto descritivo é marcado por um tempo

estático, o que não significa a supressão total das ações. Havendo decurso de

tempo, o texto tenderá a ser narrativo e não descritivo.

Os textos dissertativos, em que predomina a argumentação, por sua vez,

preocupam-se em defender ideias ou opiniões. É importante ressaltar que o texto

pode ou não trazer a primeira pessoa gramatical como marca. O texto dissertativo,

quando dispensa essa marca gramatical, procura produzir um efeito de sentido que

atribui às ideias apresentadas valor e caráter universais. O locutor quer que a

opinião expressa deixe de ser pessoal para ganhar uma dimensão mais universal e

com isso pretende conseguir a adesão do interlocutor apelando, geralmente, para

o senso comum ou para o bom senso. O tempo verbal deve ser o presente do

indicativo. A defesa de um ponto de vista e de uma argumentação embasada e

justificada leva em consideração aspectos objetivos, mas nem sempre isso ocorre

já que o sujeito que argumenta apresenta a realidade como ele a concebe. Caso

tenha a intenção de produzir um efeito de sentido que confere maior grau de

racionalidade ao texto, o locutor dispensa a expressão exaltada de valores

emocionais e subjetivos, já que a pessoalidade pode enfraquecer o argumento.

Garcia (2002, p. 302), falando sobre um tipo de argumentação menos

emotiva, ressalta que “a argumentação deve basear-se nos sãos princípios da

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lógica”, desenvolvendo-se a partir de ideias, princípios ou fatos. Dessa maneira,

segundo a visão desse autor, em texto ou debate, o uso de xingamentos, do

sarcasmo entre outras estratégias, por mais criativas possam vir a ser, jamais se

constitui como um argumento, antes podem se revelar a falta dele.

O texto injuntivo é aquele que faz uma recomendação, faz o apontamento de

como realizar determinada tarefa ou ação, dá ordens ou sugestões. Embora se

caracterize por verbos no imperativo ou por formas mais corteses no futuro do

pretérito em estruturas interrogativas como “você gostaria de fazer tal coisa?” ou

“você poderia fazer tal coisa?”, a caracterização desse tipo textual, em gêneros mais

simples como manuais de instrução ou placas de trânsito, é mais clara fazer.

Contudo, em gêneros mais complexos, predominantemente dissertativos, podem

aparecer sequências injuntivas, já que na argumentação o locutor defende uma

ideia com vistas à persuasão ou ao convencimento do interlocutor sobre um ponto

de vista e pode querer coroar o processo com sugestões, pedidos diretos ou até

ordens dadas ao auditório para efetivar a adesão deste às ideias apresentadas.

É preciso considerar, na análise da injunção, também elementos contextuais,

já que uma fala expositiva como “está calor hoje” pode ser entendida como uma fala

injuntiva se o falante quiser que o ouvinte interprete sua fala como “por favor, traga-

me um copo com água” ou “ligue o ar condicionado”, por exemplo. A injunção trata-

se, de qualquer modo, de um tipo textual que procura levar o leitor a determinada

orientação transformadora. O texto injuntivo-instrucional, ainda que sob diferentes

formas, tem o poder de transformar o comportamento do leitor, pois confere a ele

um saber. O texto injuntivo, em contextos mais práticos, tem como objetivo controlar

o comportamento do destinatário – são textos que incitam à ação, impõem regras

ou fornecem instruções e indicações para a realização de um trabalho ou a

utilização correta de instrumentos.

Apesar da aparente simplicidade do tipo injuntivo, ele pode, se combinado a

outros tipos textuais, transmitir ideologias, conceitos, valores, transformar o

comportamento do enunciatário em gêneros prescritivos como fábulas ou apólogos,

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por exemplo. A diferença é que, enquanto o argumentativo deve apelar para a razão

(logos), no processo de persuasão do leitor, o injuntivo pode ser usado quando o

objetivo enunciativo é apelar para a emoção (pathos), num processo de

convencimento.

Finalmente, o tipo expositivo cumpre a função de informar utilizando a

explicação. Utiliza a razão e o entendimento com a finalidade de definir, esclarecer

ou explicar um determinado tema, assunto, situação ou acontecimento. Essa

tipologia está associada à apresentação e asserção de conceitos. No texto

expositivo, o autor preocupa-se em dar explicações e elaborar os pontos-chave da

informação, a fim de que seu auditório entenda o porquê e o como. Em gêneros

essencialmente argumentativos, o tipo textual expositivo está presente na hora em

que o produtor contextualiza e apresenta sua tese, bem como funciona como

coadjuvante no desenvolvimento dos argumentos.

Por estas considerações, percebe-se que é difícil haver um gênero

exclusivamente vinculado a uma única tipologia textual, em um mesmo texto pode

haver uma sequência de ações e uma caracterização dessa ação, ambiente, pessoa

etc. A categorização do texto como narrativo ou descritivo vai ser dada de acordo

com a predominância de uma tipologia, não de acordo com a exclusividade dela. A

exclusividade de um tipo textual ocorre apenas em gêneros simples cujos objetivos

enunciativos são muito específicos como placas de trânsito que podem ser

simplesmente injuntivas "Pare" ou expositivas como "Obras na pista"1. Em geral, os

textos mais complexos de quaisquer gêneros são híbridos, pois podem trazer em

sua composição aspectos narrativos ou descritivos ou dissertativos ou injuntivos.

Para compreender a organização textual em sua complexidade, é necessário

evitar apenas rotular o material linguístico pela tipologia que ele apresenta em um

primeiro momento. Devemos considerar que se pode, em um texto argumentativo,

1 Isso levando-se em consideração que esses textos não estejam deslocados de seus contextos originais, pois uma placa de trânsito “Pare” fixada no quarto de um adolescente produz um efeito de sentido que vai além daquele dado pelo injuntivo. Pode estar querendo significar, entre outras coisas, um recado aos pais: “Este território me pertence”.

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narrar uma breve história que servirá como argumento; pode-se, em um texto

narrativo, contar uma história com a finalidade de mudar o comportamento de

alguém, ou seja, com a intenção argumentativa e até injuntiva, por assim dizer,

como no caso das fábulas. Classificar textos a partir da tipologia, simplesmente,

pode ser improdutivo quando se pretende empreender uma análise profunda do

sentido das construções linguísticas, mas a classificação tipológica, por outro lado,

pode ser um relevante instrumento para se verificar a intencionalidade do

enunciador e para se avaliar os efeitos de produção de sentido nas estruturas

linguísticas.

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Estudo da narrativa Famigerado – conto de Guimarães Rosa

Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranquilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

“Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada…” Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal.

Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções.

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Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

— “Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras… Estou vindo da Serra…”

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— “Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso… Saiba que estou com ele à revelia… Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade… O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado…”

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz-megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…”

Se sério, se era. Transiu-se-me. — “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o

legítimo — o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?”

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes: — Famigerado? — “Sim senhor…” — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva,

sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que

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descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…”

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio. — Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”… — “Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é

desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?” — Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos… — “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?” — Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito… — “Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?” Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: — Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas

era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!… — “Ah, bem!…” — soltou, exultante. Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num

desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — “Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição…” — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d’água. Disse: — “Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!” Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — “Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não…” Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — “A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças… Só pra azedar a mandioca…” Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

O texto anterior trata-se de uma narrativa, um conto literário. Narrar é contar

histórias, ficcionais ou não. Pode-se afirmar que se trata de uma narrativa porque

nele prevalecem os aspectos que sustentam uma narração, que podem ser

sintetizados por meio das questões: o que aconteceu?; quando aconteceu?; onde

aconteceu?; quem participou do acontecimento?; quem narra o acontecimento?; por

que o fato narrado ocorreu?

Entremeados à narrativa, temos os outros tipos textuais que aparecem em

menor escala: descrição, injunção, exposição e argumentação.

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Colocando em prática os conceitos

a) Escreva um texto, de no máximo dez linhas, que sintetize, com a maior

objetividade possível, a narrativa anterior. Procure se guiar pelas

questões apresentadas anteriormente que constituem a base da

narrativa.

Selecione e copie quatro fragmentos do texto que sejam, respectivamente,

sequências: a) descritiva; b) expositiva; c) injuntiva; d) argumentativa.

b) Transforme o texto a seguir, um poema, em uma narração em que você

coloque os fatos em ordem cronológica. Para fazer isso, guie-se pelas

perguntas que devem ser respondidas em três blocos: versos de 1 a 4 -

a) quem praticava a ação? b) qual a ação? c) por quanto tempo? d) por

que o sujeito praticava a ação; versos de 5 a 8 - a) quais sujeitos praticam

ações? b) qual a ação cada sujeito pratica? c) por quanto tempo?; d) por

que as ações são praticadas pelos sujeitos?; versos de 10 a 14: a) quem

praticava a ação? b) qual a ação? c) por quanto tempo? d) qual o

resultado da ação?

Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prêmio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assi negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida; Começa de servir outros sete anos, Dizendo: – Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!

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Ficha de atividade Unidade – Curso:

Disciplina: Atividade:

Nome(s) completo(s): Data:

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Rebelião deixa seis presos mortos em cadeia de Pernambuco FOLHA DE SÃO PAULO, 25/07/2016

Uma rebelião de detentos em uma unidade prisional de Caruaru, no agreste pernambucano, terminou com seis presos mortos e outros 11 feridos.

De acordo com a secretaria de Justiça e Direitos Humanos, as vítimas fatais foram atingidas com golpes de falcão —um preso, inclusive, foi decapitado.

Os sobreviventes foram levados para o Hospital Regional do Agreste, sendo que três deles já retornaram à cadeia.

A rebelião teve início às 17h30 deste sábado (24) na Penitenciária Juiz Plácido de Souza e perdurou por três horas. Por volta das 13h deste domingo (25), o clima ainda era tenso no local.

O Grupo de Operações e Segurança, do sistema prisional local, além de efetivos da PM e da Polícia Civil fazem a segurança do presídio.

Por medida de segurança, 11 detentos foram transferidos para outras cadeias do Estado após o motim.

Segundo Pedro Eurico de Barros e Silva, secretário da pasta da Justiça do Estado, a rebelião ocorreu em razão de um desentendimento entre grupos rivais que disputam o controle do tráfico de drogas na unidade.

Dois pavilhões foram incendiados. Os danos, no entanto, ainda estão sendo contabilizados, informou Barros e Silva.

"Vamos abrir uma investigação para responsabilizar quem comandou e executou os homicídios na unidade", diz o secretário.

As visitas de familiares, que aconteceriam neste domingo, foram suspensas. A Penitenciária Juiz Plácido de Souza está superlotada. Com capacidade para abrigar

400 presos, o local tem hoje 1.850 homens.

No texto anterior, também prevalece a narrativa. Diferente do conto

“Famigerado” de Guimarães Rosa, nele prevalece um tom mais objetivo em virtude

das exigências do gênero a que pertence. Sendo uma narrativa, é possível

responder às perguntas: o que aconteceu?; quando aconteceu?; onde aconteceu?;

quem participou do acontecimento?; quem narra o acontecimento?; por que o fato

narrado ocorreu?

a) Confrontando os dois textos, é possível responder às questões anteriores

do mesmo modo nos textos de Guimarães e na notícia? Justifique.

a) Quais são os elementos que conferem objetividade à notícia?

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b) Ainda que mais objetivo, o texto apresenta marcas do sujeito que o

redigiu. Identifique essas marcas e procure mostrar o efeito de sentido

que elas produzem na notícia.

Ficha de atividade

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Estudo da descrição

Os textos a seguir, de diferentes gêneros, são predominantemente

descritivos:

“Juliana entrou, arranjando nervosamente o colar e o broche. Devia ter quarenta

anos e era muitíssimo magra. As feições, miúdas, espremidas, tinham a amarelidão de tons

baços das doenças de coração. Os olhos grandes, encovados, rolavam numa inquietação,

numa curiosidade, raiados de sangue, entre pálpebras sempre debruadas de vermelho.

Usava uma cuia de retrós imitando tranças, que lhe fazia a cabeça enorme. Tinha um tique

nas asas do nariz. E o vestido chato sobre o peito, curto da roda, tufado pela goma das saias

— mostrava um pé pequeno, bonito, muito apertado em botinas de duraque com ponteiras

de verniz.” (Eça de Queirós, O Primo Basílio)

“Quaresma era um homem pequeno, magro, que usava pince-nez, olhava sempre

baixo, mas, quando fixava alguém ou alguma cousa, os seus olhos tomavam, por detrás das

lentes, um forte brilho de penetração, e era como se ele quisesse ir à alma da pessoa ou da

cousa que fixava. Contudo, sempre os trazia baixos, como se se guiasse pela ponta do

cavanhaque que lhe enfeitava o queixo. Vestia-se sempre de fraque, preto, azul, ou de

cinza, de pano listrado, mas sempre de fraque, e era raro que não se cobrisse com uma

cartola de abas curtas e muito alta, feita segundo um figurino antigo de que ele sabia com

precisão a época.” (Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma)

Um mover de olhos, brando e piedoso, Sem ver de quê; um riso brando e honesto, Quase forçado; um doce e humilde gesto, De qualquer alegria duvidoso; Um despejo quieto e vergonhoso; Um repouso gravíssimo e modesto; Uma pura bondade, manifesto Indício da alma, limpo e gracioso; Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa; um ar sereno; Um longo e obediente sofrimento:

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Esta foi a celeste formosura Da minha Circe, e o mágico veneno Que pôde transformar meu pensamento. (Luís Vaz de Camões) “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos

mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe

a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a

fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados.

Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme.

Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.

É o homem permanentemente fatigado. Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra

remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela

organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas

linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto

dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja — caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.

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É impossível idear-se cavaleiro mais chucro e deselegante; sem posição, pernas coladas ao bojo da montaria, tronco pendido para a frente e oscilando à feição da andadura dos pequenos cavalos do sertão, desferrados e maltratados, resistentes e rápidos como poucos. Nesta atitude indolente, acompanhando morosamente, a passo, pelas chapadas, o passo tardo das boiadas, o vaqueiro preguiçoso quase transforma o “campeão” que cavalga na rede amolecedora em que atravessa dois terços da existência.

Mas se uma rês “alevantada” envereda, esquiva, adiante, pela caatinga garranchenta, ou se uma ponta de gado, ao longe, se trasmalha, ei-lo em momentos transformado, cravando os acicates de rosetas largas nas ilhargas da montaria e partindo como um dardo, atufando-se velozmente nos dédalos inextricáveis das juremas.

Vimo-lo neste steeple-chase bárbaro.” (Os Sertões, Euclides da Cunha) “BMW Série 1, um veículo ágil e compacto com uma aparência esportiva e moderna.

A dianteira exibe um novo design, que inclui a grade em forma de rim característica da BMW e os elegantes faróis LED*. A traseira apresenta os cativantes faróis em forma de L e o interior ergonômico proporciona inúmeras possibilidades de organização. A última geração de motores BMW TwinPower Turbo é tão eficiente quanto emocionante. Isso é o Puro Prazer de Dirigir. É isso que caracteriza o BMW Série 1.”

http://www.bmw.com.br/pt/all-models/1-series/5-door/2015/start-page.html

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Descrição de compras de produtos alimentícios para merenda da Prefeitura Municipal de Itapeva. Fonte: http://www.itapeva.sp.gov.br/itapeva/compras/Editais_p_download/PDF/Microsoft%20Word%20-%20Edital%20PP10%20Merenda.doc.PDF

Os textos descritivos podem ser caracterizados como:

a) Dedutivos: que descrevem o objeto do todo para as partes.

b) Indutivos: que descrevem o objeto das partes para o todo.

c) Objetivos: que apresentam os aspectos de forma técnica, exata. Por

exemplo, não se diz que uma pessoa é alta, mas exatamente quanto ela

mede: 1,80 metros; não se diz que uma pessoa é gorda, mas a massa

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corporal dela, 150 quilos. Esse tipo de descrição deve prevalecer nos

manuais de instrução, por exemplo.

d) Subjetivos: são as descrições literárias ou de textos de propaganda, em

que são colocadas as impressões do sujeito sobre os objetos

apresentados.

As combinações possíveis são descrição: a) dedutiva objetiva; b) dedutiva

subjetiva; c) indutiva objetiva; d) indutiva subjetiva.

Em textos técnicos deve prevalecer a descrição dedutiva objetiva já que

o leitor espera um texto claro, de fácil compreensão e sem ambiguidades.

Nas descrições de textos de propaganda ou literárias prevalecem textos com

maior grau de subjetividade.

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Colocando em prática os conceitos

Escreva um texto descritivo, objetivo e dedutivo a partir das figuras a seguir:

Sistema de aquecimento e ventilação do Fiat Pálio Fire Economy

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Fonte: http://www.fiat.com.br/content/dam/fiat-brasil/manuais-carros/17164L1.pdf

Ficha de atividade

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Estudo da argumentação Argumentar é defender uma ideia. Para isso, você deve ter uma ideia clara,

formular uma tese e pensar em argumentos que a sustentem.

A lei (Lima Barreto) - Vida urbana, 7-1-1915

Este caso da parteira merece sérias reflexões que tendem a interrogar sobre a serventia da lei. Uma senhora, separada do marido, muito naturalmente quer conservar em sua companhia a filha; e muito naturalmente também não quer viver isolada e cede, por isto ou aquilo, a uma inclinação amorosa.

O caso se complica com uma gravidez e para que a lei, baseada em uma moral que já se findou, não lhe tire a filha, procura uma conhecida, sua amiga, a fim de provocar um aborto de forma a não se comprometer.

Vê-se bem que na intromissão da “curiosa" não houve nenhuma espécie de interesse subalterno, não foi questão de dinheiro. O que houve foi simplesmente camaradagem, amizade, vontade de servir a uma amiga, de livrá-la de uma terrível situação.

Aos olhos de todos, é um ato digno, porque, mais do que o amor, a amizade se impõe. Acontece que a sua intervenção foi desastrosa e lá vem a lei, os regulamentos, a polícia, os inquéritos, os peritos, a faculdade e berram: você é uma criminosa! Você quis impedir que nascesse mais um homem para aborrecer-se com a vida!

Berram e levam a pobre mulher para os autos, para a justiça, para a chicana, para os depoimentos, para essa via-sacra da justiça, que talvez o próprio Cristo não percorresse com resignação.

A parteira, mulher humilde, temerosa das leis, que não conhecia, amedrontada com a prisão, onde nunca esperava parar, mata-se.

Reflitamos, agora; não é estúpida a lei que, para proteger uma vida provável, sacrifica duas? Sim, duas porque a outra procurou a morte para que a lei não lhe tirasse a filha. De que vale a lei?

a) Que ideia o sujeito defende?

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_____________________________________________________________________ b) Sintetize o argumento que o sujeito constrói.

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_____________________________________________________________________ c) O texto é argumentativo, mas na construção do argumento o sujeito utiliza um outro

tipo textual. Qual é e quais as características que permitem que você identifique esse

tipo textual? _____________________________________________________________________

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Internet ajudou a derrubar o mito da tolerância brasileira BOB VIEIRA DA COSTA (Folha de São Paulo, 3/8/2016)

A internet vem ajudando a derrubar o mito de que nós brasileiros somos tolerantes às diferenças. Histórias que desnudam a intolerância entre nós surgem a cada dia. Para cada caso com pessoas conhecidas noticiado na mídia, há outros milhares nas redes sociais.

Cabelo ruim, gordo, vagabundo, retardado mental, boiola, malcomida, golpista, velho, nega. Expressões como essas predominam nas nuvens de palavras encontradas em posts que revelam todo tipo de intransigência ao outro, em vários aspectos: aparência, classe social, deficiência, homofobia, misoginia, política, idade, raça, religião e xenofobia.

Segundo dados da ONG Safernet, denúncias contra páginas que divulgaram conteúdos do tipo cresceram mais de 200% no país. Num primeiro momento, parece que a internet criou uma onda de intolerância.

O fato, porém, é que as redes sociais apenas amplificaram discursos existentes no nosso dia a dia. No fundo, as pessoas são as mesmas, nas ruas e nas redes.

Vejamos: o Brasil lidera as estatísticas de mortes na comunidade LGBT (dado da Associação Internacional de Gays e Lésbicas); mata muito mais negros do que brancos (Mapa da Violência); aparece em quinto lugar em homicídios de mulheres (Mapa da Violência); registrou aumento de 633% nos casos de xenofobia (Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos); e 6,2% dos seus empregadores confessam não contratar pessoas obesas (site de recrutamento).

A intolerância nas redes é resultado direto de desigualdades e preconceitos sociais em geral, não é uma invenção da internet. O ambiente em rede facilita que cada um solte seus demônios, ao dar a sensação de um pretenso anonimato. O mundo virtual é, portanto, mais uma forma de os intolerantes se manifestarem e ampliarem seu alcance.

Para se ter ideia, nossa agência, por meio da iniciativa Comunica que Muda, resolveu medir a intolerância na internet durante três meses, utilizando a plataforma Torabit.

De abril a junho, foram analisadas nada menos que 393.284 menções aos tipos de intolerância citados no início do texto. O percentual de abordagens negativas dos temas ficou acima de 84%. No caso do racismo, chegou a 97,6%.

O maior número de menções (220 mil) foi para a política, seguido da misoginia (50 mil), mas há que se ressaltar que o tema reflete a crise atual. Entre os Estados, o Rio de Janeiro registrou o maior número de citações (58.284), apesar de, proporcionalmente à população, o Distrito Federal ser o mais intolerante.

Bem melhor seria se, na verdade, passássemos a adotar a aceitação como o contrário de intolerância. Porque a própria palavra tolerância lembra indulgência e condescendência, e não é isso que se quer.

Suportar o outro é só o começo de uma evolução. Tolerar é manter uma relação positiva com pessoas completamente diferentes. É um processo de mão dupla, aceitar para ser aceito.

Não é um caminho fácil. O primeiro passo, sem dúvida, é tornar o debate de interesse público, fazer explícitas as ofensas cotidianas.

Já passou o tempo em que a internet era terra de ninguém. Não faltam canais para denúncias. O acesso a um meio amplo de comunicação, aliado a uma ideia distorcida de liberdade, fez com que os intolerantes encontrassem eco.

No entanto, como bem resume a frase, "liberdade de expressão não é licença para ser estúpido".

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BOB VIEIRA DA COSTA é sócio-fundador da agência de propaganda Nova/SB. Foi

coordenador de comunicação do Ministério da Saúde e ministro-chefe da Secretaria de

Comunicação da Presidência da República (governo FHC)

a) Que ideia o sujeito defende? _____________________________________________________________________

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b) Quais são os argumentos utilizados? _____________________________________________________________________

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c) De que natureza são os argumentos utilizados pelo autor? _____________________________________________________________________

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Leia o texto a seguir, de Luís de Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as

vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce

canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

[mor = maior; soía = passado de soer, costumar).

Transforme o poema em um texto argumentativo em prosa respondendo às

questões de forma objetiva:

a) Tese (versos 1 a 4): O sujeito defende de ideia de que

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b) Argumento 1 (versos 4 a 8): primeiro fato que confirma a tese

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c) Argumentos 2 (versos 9 a 11): segundo fato que confirma a tese

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d) Argumento 3 (versos 12 a 14): terceiro fato que confirma a tese

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Em classe, será dado um tema para argumentação. Use o esquema a seguir

para planejar o texto. Escreva a tese e os argumentos nas caixas destinadas a

cada elemento. Em seguida, redija o texto seguindo o planejamento.

Tese Argumentos

tese

argumento 1

argumento 1

argumento 1

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Ficha de atividade Unidade – Curso:

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Coesão textual: conceitos e mecanismos2

Conceito

A maioria dos professores, de qualquer grau, concorda que os alunos não leem, não

gostam de ler e têm dificuldades para compreender o texto escrito.

Muitos relutam em assumir sua parcela de responsabilidade na formação do aluno

leitor.

A escola deveria ser o local de “aprendizagem da leitura” por excelência.

A escola acaba atuando ao contrário.

A escola usa o texto fragmentado (muitas vezes com referência de título e autor).

O texto aparece no livro didático apenas como escada para o ensino de gramática.

O professor, na verdade, acaba “ensinando” que a leitura é uma atividade chata, inútil

e que provoca sofrimento.

As frases acima se referem ao assunto “leitura”, mas não podemos dizer que façam

sentido, porque parecem soltas, parecem não constituir um conjunto. Não é possível

perceber a relação de sentido entre elas, portanto não constituem um texto.

Veja o texto abaixo

A maioria dos professores, de qualquer grau, concorda que os alunos não lêem, não

gostam de ler e têm dificuldades para compreender o texto escrito, porém muitos relutam

em assumir sua parcela de responsabilidade na formação do aluno leitor. Assim, a

escola, que deveria ser o local de “aprendizagem da leitura” por excelência, acaba

atuando ao contrário: ao usar o texto fragmentado (muitas vezes com referência de título

e autor) que aparece no livro didático apenas como escada para o ensino de gramática,

o professor, na verdade, acaba “ensinando” que a leitura é uma atividade chata, inútil e

que provoca sofrimento.

O exemplo acima trabalha as idéias interligando umas às outras, de forma que agora

o conjunto de frases anteriores constitui um texto. Não se trata mais de frases soltas sem

conexão, sem ligação, sem coesão.

2 Texto adaptado de MOYSÉS, C. A. Língua Portuguesa – atividades de leitura e produção de textos. São Paulo: Saraiva, 2005. KOCH, I.G. e TRAVAGLIA,L.C. Texto e Coerência. São Paulo: Scipione, 1999. / KOCH, I.G. A coerência Textual. São Paulo:Contexto, 1995. / KOCH, I.G. A coesão Textual. São Paulo: Contexto, 1989. Conectividade disponível em http://acd.ufrj.br/~pead/tema02/coerencia.html.

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Coesão é a ligação, a conexão que ocorre entre os vários enunciados que

compõem um texto.

Observe o texto abaixo:

Os Urubus e sabiás

(1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam ...

(2) Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto,

decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores.

(3) E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá,

mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles

seriamos mais importantes e teriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim que

eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho,

instrutor em inicio de carreira, era se tornar respeitável urubu titular, a quem todos

chamavam por Vossa Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade de

hierarquia dos urubus foi estremecidas. (6) A floresta foi invadida por bandos de

pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com sabiás...

(7) Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram

pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) – Onde estão os documentos dos

seus concursos?” (9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam

imaginado que tais coisas houvessem.. (10) Não haviam passado por escolas de canto,

porque o canto nascera com elas. (11) e nunca apresentaram um diploma para provar que

sabiam cantar, mas cantavam, simplesmente...(12)- Não, assim não pode ser. Cantar sem

a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram

da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...

(14) Moral: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.

(Rubem Alves, Estórias de Quem gosta de Ensinar, Cortez Editora, São Paulo, 1984, pp.

61-62)

Pode-se comprovar, observando o texto acima, que um texto não é apenas uma

soma ou sequência de frases isoladas. Veja-se o início: “Tudo aconteceu...”Que “tudo” é

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esse? Que foi aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam? Em

(3), temos o termo isto: “E para isto fundaram escovam...” Isto o quê? De que se está

falando? Ainda em (3), qual é o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram,

mandaram, fizeram? É o mesmo de teriam? Fala-se em quais deles: deles quem? E quem

são outros? Qual é o referente de eles em (4)? Em (5), tem-se novamente a palavra tudo:

“Tudo ia muito bem...”. Será que esta segunda ocorrência do termo tem o mesmo sentido

da primeira? Em (7), a quem se refere o pronome eles? E seus, em (8)? Quais são as

pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas? Elas, em (10), refere-se a pobres aves

ou tais coisas? De que passarinhos se fala em (13)?

Se tais perguntas podem ser facilmente respondidas pelos eventuais leitores, é

porque os termos em questão são elementos da língua que têm por função precípua

estabelecer relações textuais: são recursos de coesão textual.

Assim, tudo, em (1), remete a toda a sequência do texto, sendo, pois, um elemento

catafórico. Por seu turno, isto, em (3), remete para o enunciado anterior; é, portanto,

anafórico, do mesmo modo que tudo, em (5). Deles, em (3), remete a urubus, de (2) são

também os urubus o sujeito (elíptico) da sequência de verbos em (3), mas não de teriam,

cujo sujeito será um subconjunto do conjunto dos urubus, que exclui o subconjunto

complementar formado por outros; e, em (4), eles pode remeter a urubus, de (2), ou ao

primeiro subconjunto citado acima. Em (7), eles retoma os velhos urubus que, por sua vez,

retoma os urubus citados anteriormente. Seus, em (8), remete a pintassilgos, sabiás e

canários. Tais coisas referem-se aos documentos de que se fala em (8). Os passarinhos,

em (13), remete a elas de (10), que, por seu turno, remete a pobres aves, de (9) e esta

expressão a pintassilgos, sabiás e canários de (7) que retoma (6).

Note-se, agora, que há outro grupo de mecanismo cuja função é assinalar

determinadas relações de sentido entre enunciados ou partes de enunciados, como,

por exemplo: oposição ou contraste (mas, em (2) e (11); mesmo, em (2);

finalidade ou meta (para, em (3) e (11); conseqüência (foi assim que, em (4); e,

em (7); localização temporal (até que, em (5) ); explicação ou justificativa (porque,

em (9) e (10) ); adição de argumentos ou idéias ( e, em (11) ).

É por meio de mecanismo como estes que se vai tecendo o “tecido”

(tessitura) do texto. A este fenômeno é que se denomina coesão textual.

Em obra que se tornou clássica sobre o assunto, Halliday & Hasan (1976)

apresentam o conceito de coesão textual, como “a coesão ocorre quando a

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interpretação de algum elemento no discurso é dependente da de outro. Um

pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser efetivamente decodificado a não

ser por recurso ao outro”.

Para esses autores, a coesão é, pois, uma relação semântica entre um

elemento do texto e algum outro elemento crucial para a sua interpretação. A

coesão, por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos

semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio antes, aos

recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A cada ocorrência

de um recurso coesivo no texto, denominam “laço”, “elo coesivo”.

Halliday & Hasan citam como principais fatores de coesão a referência, a

substituição, a elipse, a conjunção, e a coesão lexical, que serão tratados mais

adiante. Seu trabalho tem servido de base para um grande número de pesquisas

sobre o assunto.

Marcuschi (1983) define os fatores de coesão como “aqueles que dão conta

da estruturação da sequência superficial do texto”, afirmando que não se trata de

princípios meramente sintáticos, mas de “ uma espécie de semântica da sintaxe

textual”, isto é, dos mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer,

entre os elementos linguísticos do texto, relações de sentido.

Tais afirmações levam à distinção entre coesão e coerência: embora muitos

autores tenham desconsiderado esta distinção. Hoje em dia já se tornou

praticamente um consenso que se trata de noções diferentes.

Para Beaugrande & Dressler, “a coerência diz respeito ao modo como os

componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjacentes ao

texto de superfície são mutualmente acessíveis e relevantes entre si, entrando

numa configuração veiculadora de sentidos”.

A coerência, responsável pela continuidade dos sentidos no texto, não se

apresenta, pois, como mero traço dos textos, mas como o resultado de uma

complexa rede de fatores de ordem linguística, cognitiva e interacional. Assim, diz

Marcuschi, “a simples justaposição que recobrem ou criam relações de coerência”.

Parece fora de dúvida que pode haver textos destituídos de elementos de

coesão, mas cuja textualidade se dá no nível da coerência, como em:

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Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida

humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada.

Por outro lado, porém ocorrer sequenciamentos coesivos de enunciados que,

porém, não chegam a constituir textos, por faltar-lhes a coerência. É o caso de:

O dia está bonito, pois ontem encontrei seu irmão no cinema.

Não gosto de ir ao cinema. Lá passam muitos filmes divertidos.

Se é verdade que a coesão não constitui condição necessária nem suficiente

para que um texto seja um texto, não é menos verdade, também, que o uso de

elementos coesivos dá ao texto maior legibilidade, explicitando os tipos de relações

estabelecidas entre os elementos linguísticos que o compõem. Assim, em muitos

tipos de textos – científicos, didáticos, expositivos, opinativos, por exemplo - a

coesão é altamente desejável, como mecanismo de manifestação superficial da

coerência.

Concluindo, pode-se afirmar que o conceito de coesão textual diz respeito a

todos os processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável)

uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície

textual.

Mecanismos

Como se disse anteriormente, Halliday & Hasan (1976) distinguem cinco

mecanismos de coesão:

Referência (pessoal, demonstrativa, comparativa)

Substituição (nominal, verbal, frasal)

Elipse

Conjunção (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa)

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Coesão lexical (repetição, sinonímia, hiperonímia, uso de nomes

genéricos, colocação).

São elementos de referência os itens da língua que não podem ser interpretados

semanticamente por si mesmos, mas remetem a outros itens do discurso

necessários à sua interpretação. Aos primeiros denominam pressuponentes e aos

últimos, pressuposto. Para os autores, a referência pode ser situacional e textual.

A referência é situacional quando a remissão é feita a algum elemento da

situação comunicativa, isto é, quando o referente está fora do texto; e é textual,

quando o referente se acha expresso no próprio texto.

A referência, para eles, pode ser: pessoal (feita por meio de pronomes pessoais

e possessivos), demonstrativa (realizada por meio de pronomes demonstrativos e

advérbios indicativos de lugar), e comparativa (efetuada por via indireta, por meio

de identidades e similaridades). Vejam os exemplos:

1. Você não se arrependerá de ter lido este anúncio (situacional).

2. Paulo e José são excelentes advogados. Eles se formaram na Academia do

Largo de São Francisco. (Referência pessoal anafórica).

3. Realizara todos os seus sonhos, menos este: o de entrar para a Academia.

(Referência demonstrativa catafórica).

4. a. É um exercício igual ao de ontem.

b. É um exercício semelhante ao de ontem = (Referência comparativa

textual)

c. É um exercício diferente do de ontem.

5. Por que você está decepcionada? Esperava algo de diferente? (Referência

comparativa situacional)

A substituição consiste, para Halliday & Hasan, na colocação de um item

em lugar de outro (s) elemento (s) do texto, ou até mesmo, de uma oração inteira.

Seria uma relação interna ao texto, em que uma espécie de “ coringa” é usado em

lugar de repetição de um item particular. Exemplos:

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1. Pedro comprou um carro novo e José também.

2. O professor acha que os alunos não estão preparados, mas eu não penso

assim.

3. O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo.

4. Minha prima comprou um carro. Eu também estou querendo um.

Segundo esses autores, a principal diferença entre substituição e referência é

que nesta, há total identidade referencial entre o item de referência e o item

pressuposto, ao passo que na substituição ocorre alguma redefinição. A

substituição seria usada precisamente quando a referência não é idêntica ou

quando há, pelo menos, uma especificação nova a ser acrescentada, o que requer

um mecanismo que seja semântico, mas essencialmente gramatical. Esse processo

de redefinição tem o efeito de “ repudiar” , do item pressuposto, tudo o que não seja

transportado na relação de pressuposição: a nova definição é contrastiva com

relação à original. Um exemplo de caráter contrastivo da substituição seria:

5. Pedro comprou uma camisa vermelha, mas Jorge preferiu uma verde.

A elipse seria, então, uma substituição por zero: omite-se um item lexical, um

sintagma, uma oração ou todo um enunciado, facilmente recuperáveis pelo

contexto. Exemplo:

6. Paulo vai conosco ao leilão?

Vai .

A conjunção (ou conexão) permite estabelecer relações significativas

específicas entre elementos ou orações do texto. Tais relações são assinaladas

explicitamente por marcadores formais que correlacionam o que está para ser dito

àquilo que já foi dito. Trata-se dos diversos tipos de conectores e partículas de

ligação como e, mas, depois, assim, etc. Halliday & Hasan apresentam, como

principais tipos de conjunção, a aditiva, adversativa, a causal, a temporal e a

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continuativa. Um mesmo tipo de relação pode ser expresso por uma série de

estruturas semanticamente equivalentes, como em:

7. a. Uma grande paz seguiu-se ao violento tumulto.

b. Após o violento tumulto, houve uma grande paz.

c. Houve um violento tumulto. {Depois}, seguiu-se uma grande paz.

{Logo após}

d. Depois que terminou o violento tumulto, houve uma grande paz.

e. Houve uma grande paz, depois de haver terminado o violento

tumulto.

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Observe o quadro abaixo que apresenta o tipo de relação que algumas conjunções

exprimem:

Relação Conjunção

Adição E, nem (= e não), não ... mas também

Oposição Mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto

Conclusão Logo, pois (colocada após o verbo), portanto, por isso

Explicação Pois (colocada antes do verbo), porque, que, visto que

Causa Como, uma vez que, porque que

Condição Se, a menos que, desde que, contanto que

Consequência (tão)... que, (tanto)... que, (tamanho)... que

Conformidade Como, conforme, segundo

Concessão Embora, mesmo que, ainda que, se bem que, conquanto

Proporção À proporção que, à medida que, ao passo que, quanto mais...

tanto mais

Comparação (mais)... que, (menos)... que, (tão)... quanto, como

tempo Quando, enquanto, sempre que, assim que, desde que, logo

que

Finalidade A fim de que, para que

A coesão Lexical é obtida por meio de dois mecanismos: a reiteração e a

colocação. A reiteração se faz por repetição do mesmo item lexical ou por meio de

sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos, como se pode ver nos exemplos abaixo:

8. O presidente viajou para o exterior. O presidente levou consigo

uma grande comitiva. (mesmo item lexical)

9. Uma menininha correu ao meu encontro. A garota parecia

assustada. (Sinônimo)

10. O avião ia levantar vôo. O aparelho fazia um ruído ensurdecedor.

(Hiperônimo: aparelho designa o gênero de que avião é espécie).

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11. Todos ouviram um rumor de asas. Olharam para o alto e viram a

coisa se aproximando. (Nome genérico: coisa, pessoa, fato,

acontecimento etc.)

A colocação ou contiguidade, por sua vez, consiste no uso de termos

pertencentes a um mesmo campo significativo:

12. Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias

transportaram os feridos para os hospitais da cidade mais

próxima.

Citam, também, como formas de coesão, relações lexicais como hiponímia e

hiperonímia (ex: dália-flor), parte-todo (ex.: casco-navio); colocabilidade (ex.:

sábado se relaciona com domingo); outras relações estruturais como a substituição

causal (ex.: Ele ficou feliz com a notícia. Eu também); comparação (ex.: Meu polegar

é mais forte que este martelo); repetição sintática (ex.: Nós entramos. Eles

entraram); consistência de tempos verbais; opções estilísticas adequadas ao

registro, etc.

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Exercícios – Coesão Textual

1. Reescreva o parágrafo abaixo substituindo os termos repetidos.

As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os automóveis para vender

mais caro. O cliente vai à revendedora de automóveis com pouco dinheiro e se tiver que

pagar mais caro o automóvel, desiste de comprar o automóvel e as revendedoras de

automóveis têm prejuízo.

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2. Complete o parágrafo com os termos que estão faltando, dando-lhe coesão.

Com a descoberta dos microcomputadores pessoais (os “PCs”) o comportamento das

pessoas mudou nestas últimas décadas. Primeiro, as pessoas olharam com desconfiança

para essa máquina “tão genial”. _ _, com a proximidade e o contato constante com este

equipamento (devido ao trabalho), a sociedade começou a entender que tal invenção era

necessária e sua existência era irreversível. ____________, com o advento da Internet, o

mundo não vive mais sem os “PCs”, que se tornaram mais rápidos, eficientes e portáteis

.3. Redija duas novas versões do texto abaixo, utilizando os articuladores sintáticos de

oposição e de concessão.

Você é uma pessoa muito interessante e inteligente, ________ não consegui me apaixonar,

sinto muito.

__________ você ________uma pessoa muito interessante e inteligente, ___________

não consegui me apaixonar, sinto muito.

Você é uma pessoa muito interessante e inteligente, _____________ não consegui me

apaixonar, sinto muito.

4 – Faça o mesmo com o texto abaixo utilizando articuladores sintáticos de fim.

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Roberto faz faculdade __________________ conseguir melhor colocação profissional.

5– Elabore um parágrafo que utilize articuladores sintáticos de causa.

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6- Elabore um parágrafo que utilize articuladores sintáticos de conclusão.

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7 – Relacione as três ideias do grupo de sentenças abaixo, em um só período (parágrafo),

articulando as sentenças da maneira que julgar mais adequada. Faça isso três vezes,

utilizando como tópico frasal, alternadamente, cada uma das frases.

a) Muitas empresas multinacionais estão decepcionadas com alguns aspectos da nova

Constituição.

b) Muitas empresas multinacionais continuarão a investir no Brasil.

c) Muitas empresas multinacionais acreditam no futuro do Brasil.

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a) O Rio de Janeiro é o paraíso das confecções.

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b) Nem todas as confecções do Rio de Janeiro são importantes.

c) Algumas confecções do Rio de Janeiro são clandestinas.

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8 – Faça o mesmo, mas agora obedeça às indicações entre parênteses. (Deve-se modificar

a ordem dos parágrafos quando necessário).

- O fogo é, paradoxalmente, um importante regenerador de matas naturais. (ideia principal)

- O fogo destrói a matéria orgânica necessária à formação de humo do solo. (oposição a

principal)

- O fogo destrói o excesso de material combustível acumulado no chão. (causa da principal)

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- As mulheres assumiram a cumplicidade no papel da dominação masculina. (ideia

principal)

- As pessoas atribuem às mulheres a responsabilidade fundamental do romantismo. (causa

da principal)

- O problema da dominação masculina vem explodindo, ultimamente. (oposição à primeira)

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9. Assinale a ordem em que os fragmentos a seguir devem ser dispostos para se

obter um texto com coesão, coerência e correta progressão de ideias.

1. Não apenas os manuais de história, mas todas as práticas educativas da escola são

transmitidas a partir de uma visão etnocêntrica.

2. O sistema escolar brasileiro ignora a multiplicidade de etnias que habita o País.

3. A escola brasileira é branca não porque a maioria dos negros está fora dela.

4. Deve-se incluir na justificação da evasão escolar a violência com que se agride a

dimensão étnica dos alunos negros.

5. Estes, se querem permanecer na escola branca, têm de afastar de si marcas culturais e

históricas.

6. É branca porque existe a partir de um ponto de vista branco.

a) 2 – 1 – 3 – 5 – 4 – 6

b) 2 – 1 – 3 – 6 – 4 – 5

c) 1 – 3 – 6 – 5 – 2 – 4

d) 1 – 2 – 3 – 6 – 5 – 4

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e) 4 – 5 – 2 – 1 – 6 – 3

10. Marque a opção que não completa, de forma lógica e gramaticalmente coesa, o

trecho fornecido.

Todo ano, nessa época, São Paulo festeja o Santo Gennaro,

padroeiro dos napolitanos. A rua San Gennaro é pequena e

apresenta riscos para os frequentadores das atividades. Em

virtude disso,

a) as barracas ficarão espalhadas pelas calçadas das ruas adjacentes.

b) a assessoria da prefeitura entrou em entendimento com a comunidade do bairro visando

à transferência de local.

c) recomenda-se aos pais que a presença de crianças na festa não ultrapasse as 21 horas.

d) os festeiros definiram, para este ano, a realização dos festejos na rua San Gennaro.

e) a comunidade napolitana solicita seja indicado local alternativo para as festividades.

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Coerência textual: estratégias

A coerência é a relação que se estabelece entre as partes de um texto, criando

uma unidade de sentido. Ela é o resultado da solidariedade, da continuidade do sentido, do

compromisso das partes que formam esse todo. Está, pois, ligada à compreensão, à

possibilidade de interpretação daquilo que se diz, escreve, ouve, vê, desenha, canta, entre

outras formas de expressão.

A coerência caracteriza-se, portanto, por uma interdependência semântica entre os

elementos constituintes de um texto. Ela é o resultado de processos mentais de

apropriação do real e da configuração dos esquemas cognitivos que definem o nosso saber

sobre o mundo.

Alguns estudiosos de Linguística Textual (Koch e Travaglia, 1990) ampliam o

conceito de coerência, considerando-a condição fundamental para a construção do texto.

Apresentam a coerência como decorrente de fatores das mais diversas ordens: linguísticos,

discursivos, cognitivos, culturais e interacionais.

Elementos Linguísticos

Embora não seja possível apreender o sentido de um texto com base apenas nas

palavras que compõem e na sua estruturação sintática, é indiscutível a importância dos

elementos linguísticos do texto para o estabelecimento da coerência. Esses elementos

servem como pistas para a ativação dos conhecimentos armazenados na memória,

constituem o ponto de partida para a elaboração de inferências e ajudam a captar a

orientação argumentativa dos enunciados que compõem o texto. A ordem de apresentação

desses elementos, o modo como se inter-relacionam para veicular sentidos, as marcas

usadas para esse fim, as “famílias” de significado a que as palavras pertencem, os recursos

que permitem retomar coisas já ditas e/ou apontar para elementos que serão apresentados

posteriormente, enfim, todo o contexto linguístico – ou cotexto contribui de maneira ativa na

construção de coerência.

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Conhecimento de mundo

O nosso conhecimento de mundo desempenha um papel decisivo na

estabelecimento da coerência: se o texto falar de coisas que absolutamente não

conhecemos, será difícil calcularmos o seu sentido e ele nos parecerá destituído de

coerência.

Adquirimos esse conhecimento tomando contato com o mundo que nos cerca e

experimentando uma série de fatos. Mas ele não é arquivado na memória de maneira

caótica: vamos armazenando os conhecimentos em blocos, que se denominam modelos

cognitivos. Existem diversos tipos de modelos cognitivos, entre os quais podemos citar:

a) os frames- conjuntos de conhecimentos armazenados na memória

debaixo de um “ rótulo”, sem que haja qualquer ordenação entre eles; ex:

Carnaval (confete, serpentina, desfile, escola de samba, fantasia, baile,

mulatas, etc.), Natal, viagem de turismo;

b) os esquemas – conjuntos de conhecimentos armazenados em sequência

temporal ou causal; ex.: como pôr um aparelho em funcionamento, um

dia na vida de um cidadão comum;

c) os planos – conjunto de conhecimento de sobre como agir para atingir

determinado objetivo; por exemplo, como vencer uma partida de xadrez;

d) os scripts – conjuntos de conhecimentos sobre modos de agir altamente

estereotipados em dada cultura, inclusive em termos de linguagem; por

exemplo, os rituais religiosos (batismo, casamento, missa), as fórmulas

de cortesia, as praxes jurídicas;

e) as superestruturas ou esquemas textuais – conjunto de conhecimentos

sobre os diversos tipos de textos, que vão sendo adquiridos à proporção

que temos contato com esses tipos e fazemos comparações entre eles.

Observemos com atenção o texto de Ricardo Ramos:

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Circuito Fechado

Ricardo Ramos

1

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,

espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água

fria, água quente, toalha.

Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos,

gravata, paletó. Carteira níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço

de cigarros, caixa de fósforo. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule,

talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona,

cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas,

espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis,

cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone,

relatórios, cartas, notas, vales, cheques. (...)

2

3

Muito prazer. Por favor, quer ver o meu saldo? Acho que sim. Que bom telefonar,

foi ótimo, agora mesmo estava pensando em você. Puro, com gelo. Passe mais

tarde, ainda não fiz, não está pronto. Amanhã eu ligo, e digo alguma coisa. Guarde

o troco. Pense que sim. Este mês, não, fica para o outro. Desculpe, não me lembrei.

Veja logo a conta, sim? É pena mas hoje não posso, tenho um jantar. Vinte litros,

da comum. Acho que não. Nas próximas férias, vou até lá, de carro. Gosto mais

assim, com azul. Bem, obrigado, e você? Feitas as contas, estava errado. Creio que

não. Já, pode levar. Ontem aquele calor, hoje chovendo. (...)

Fonte: Os Melhores Contos Brasileiros de 1973.

Porto Alegre, Editora Globo, 1974, pp. 169-175

Em 1, temos uma série de palavras justapostas, quase sem nenhum elemento de

ligação e que nem mesmo chegam a formar frases completas. No entanto percebemos

claramente que se trata da descrição de um dia normal na vida de um homem de negócios.

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Isto acontece porque temos arquivado na memória o esquema relativo a essas situações.

As palavras do texto vão ativar tal esquema, que será posto em funcionamento para

permitir-nos a compreensão do texto. Assim a sequência

Em 2, temos outra sequência de termos, expressões e pequenas frases

aparentemente desconexos. Podemos notar, porém, que são fórmulas prontas que

pronunciamos ao longo de nossos dias e de nossas vidas, em situações bem determinadas,

quase sempre da mesma maneira. Trata-se, portanto, de scripts que somos chamados a

desempenhar nossa vida em sociedade.

Como podemos verificar, os modelos cognitivos são culturalmente determinados e

aprendidos através de nossa vivência em dada sociedade.

Além desse conhecimento adquirido pela experiência do dia a dia, existe o

conhecimento dito científico, aprendido nos livros e nas escolas. Nem sempre os tipos de

conhecimento coincidem, o que pode criar problemas coerência se procurarmos interpretar

um texto científico com base em nosso conhecimento comum (ou vice – versa). Por

exemplo, cientificamente, o morcego é um mamífero. Para muitas pessoas, porém, ele é

uma ave (visto que voa). Se tais pessoas se deparassem com uma sequência como a

abaixo, poderiam considerá-la incoerente:

O morcego entrou pela janela e voejou sobre a sala. De repente, o mamífero

enroscou-se nos cabelos da dona da casa.

É o nosso conhecimento de mundo que nos faz considerar estranho que o sol brilha

à meia noite; e alguém se enforcar num pé de alface, etc. É também esse conhecimento

que nos permite detectar uma série de contradições, como estar pelado com a mão no

bolso.

É a partir dos conhecimentos que temos que vamos construir um modelo do mundo

representado em cada texto – é o mundo textual. Tal mundo, é claro, nunca vai ser uma

cópia fiel do mundo real, já que o produtor do texto recria o mundo sob uma cópia fiel do

mundo real, já que o produtor do texto recria o mundo sob uma dada ótica ou ponto de

vista, dependendo de seus objetivos, crenças, convicções e propósitos, como iremos ver

mais adiante. Mas, para que possamos estabelecer a coerência de um texto, é preciso que

haja correspondência ao menos parcial entre os conhecimentos nele ativados e o nosso

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conhecimento de mundo, pois, caso contrário, não teremos condições de construir o mundo

textual, dentro do qual as palavras e expressões do texto ganham sentido.

Conhecimento Partilhado

Como cada um de nós vai armazenando os conhecimentos na memória a

partir de nossas experiências pessoais, é impossível que duas pessoas partilhem

exatamente o mesmo conhecimento de mundo. É preciso, no entanto, que produtor e

receptor de um texto possuam, ao menos, uma boa parcela de conhecimentos comuns.

Quanto maior for essa parcela, menor será a necessidade de explicitude do texto, pois o

receptor será capaz de suprir as lacunas, por exemplo, através de inferências, como

veremos no próximo item.

Para que um texto seja coerente, é preciso haver um equilíbrio entre

informação dada e informação nova. Se um texto contivesse apenas informação nova, seria

ininteligível,, pois faltariam ao receptor as bases (“âncoras”) a partir das quais ele poderia

proceder ao processamento cognitivo do texto. De outro lado, se o texto contivesse

somente informação dada, ele seria altamente redundante, isto é, “caminharia em círculos”,

sem preencher seu propósito comunicativo.

Ontem estive com o marido de sua irmã. Ele me contou que você e ela

vão viajar para o exterior.

Pegue essa xícara vermelha e coloque-a ali.

Em 15 de novembro, teremos eleições para presidente.

Hoje é dia de pagar o carnê.

Outras entidades podem ser inferidas a partir de elementos expressos no

texto que ativam determinados “frames” arquivados em nossa memória. Por exemplo:

O visitante acendeu um cigarro e pôs-se a falar nervosamente; a fumaça

irritava-me os olhos, mas tentei ouvi-lo com paciência.

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Qualquer receptor é capaz de perceber a fumaça de que se fala é produzida

pelo cigarro, já que todos sabem que um cigarro aceso produz fumaça. O mesmo ocorre

em:

O professor entrou na sala, olhou para os alunos e escreveu no quadro

um aviso importante.

O quadro, aqui, é o quadro negro e a sala, uma sala de aula. Tal

interpretação é sugerida pelo termos professor e alunos. É por esta razão que, de um modo

geral, o contexto (linguístico e situacional) permite desfazer a ambiguidade de termos e

expressões da língua.

Inferências

Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o

receptor (leitor/ouvinte) de um texto estabelece uma relação não explícita entre dois

elementos (normalmente frases ou trechos) deste texto que ele busca compreender e

interpretar.

Vejamos alguns tipos de inferências:

Paulo comprou um Ford novinho em folha.

Interferências:

Paulo tem um carro.

Paulo tinha recursos para comprar o carro.

Paulo é rico.

Paulo é melhor companhia que você.

Quanto maior o grau de familiaridade ou intimidade entre os interlocutores, menor a

quantidade de informações explícitas, especialmente no caso de diálogos. É o que

podemos ver no diálogo abaixo:

- A campainha

- Estou de camisola.

- Tudo bem.

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Não se pode dizer que, do ponto de vista estritamente linguístico, haja uma relação

entre as três falas. No entanto, não temos nenhuma dificuldade em estabelecer as “pontes”

que faltam. O texto assim “completado” seria:

a) A campainha está tocando, vá atender.

b) Não posso, estou de camisola.

c) Tudo bem, então eu atendo.

É comum, principalmente na conversação (mas muitas vezes também na escrita)

omitirmos informações que podem ser facilmente inferidas. Vejamos mais um exemplo:

Fatores de Contextualização

Os fatores de Contextualização são aqueles que “ ancoram” o texto em uma situação

comunicativa determinada. Segundo Marcuschi(1983), podem ser de dois tipos: os

contextualizadores propriamente ditos e os perspectivos ou prospectivos. Entre os

primeiros estão a data, o local, a assinatura, elementos gráficos, timbre etc., que ajudam a

situar o texto e portanto, a estabelecer-lhe a coerência.

Imagine-se uma carta escrita por um brasileiro de Campinas a um amigo de São

Paulo que se encontrasse no exterior, em que o primeiro se esquecesse de colocar data,

local e assinatura, e que dissesse o seguinte:

Hoje o dia está chuvoso. Nosso vizinho da esquina mudou-se para aquele palacete que

comprou de meu avô. Não se esqueça de escrever logo para o nosso amigo de infância

que mora na fazenda. Ele precisa daquela informação ainda esta semana.

Um abraço

Sem os elementos contextualizadores, fica difícil decodificar a mensagem. Também

em documentos, correspondência oficial e outros textos do gênero, o timbre, o carimbo, a

data, a assinatura serão de extrema importância, servido, inclusive, para dar fé ao texto.

Entre os fatores gráficos, temo: disposição na página, ilustrações, fotos,

localização no jornal (caderno, página), que contribuem para a interpretação do texto. Os

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fatores perpectivos ou prospectivos são aqueles que avançam expectativas sobre o

conteúdo – e também a forma – do texto: título, autor, início do texto.

O título, de modo geral, permite prever “sobre o que” o texto fala. É claro que existem

títulos despistadores, intencionalmente ou não. A publicidade e o humor costumam utilizar-

se com frequência desse recurso. Vejamos o exemplo :

SENHORA DA SOCIEDADE CRIA UM TARZÃ.

Um pouco para o pálido.

Ricardo era um menino que hoje em dia se aceita como normal. Ano

passado, sua mãe comprou um terreno na Enseada Azul, às margens da

represa de Jurumirim e financiou uma casa de campo pelo Banco X.

Agora, fim de semana é lá.

Ricardo sobe em árvore, nada, esquia, veleja.

Ganhou a cor que Deus quer que as pessoas tenham.

Ficou forte, esperto.

Um verdadeiro Tarzã.

Há outros terrenos na Enseada Azul. Lindos, fáceis de comprar. Para você

anotes os telefones: 853-6777 e 8536773 Sigma 64 Administração e Comércio.

Também o nome do autor permite fazer previsões sobre o texto, quer quanto à forma,

quer quanto ao conteúdo. Muitas vezes, ele nos leva a ler ou rejeitar o texto, conforme as

nossas preferências quanto ao estilo e as nossas opiniões sobre o tema.

O início do texto traz informações sobre o tipo (por exemplo, Era uma vez...) ou sobre

o próprio assunto. Também aqui, formulando hipótese sobre o conteúdo do texto que

podem confirmar-se ou não.

Situacionalidade

A situacionalidade, outro fator responsável pela coerência, pode ser vista

atuando em duas direções:

a) da situação para o texto – neste caso, trata-se de determinar em que

medida a situação comunicativa interfere na produção/recepção do texto e, portanto, no

estabelecimento da coerência. A situação deve ser aqui entendida quer em sentido estrito –

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a situação comunicativa propriamente dita, isto é, o contexto imediato da interação -, quer em

sentido amplo, ou seja, o contexto sócio – político – cultural em que a interação está inserida.

Sabe-se que a situação comunicativa tem interferência direta na maneira como o texto é

construído, sendo responsável, portanto, pelas variações linguísticas. É preciso, ao construir

um texto, verificar o que é adequado àquela situação específica: grau de formalidade,

variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc. O lugar e o momento da comunicação,

bem como as imagens recíprocas que os interlocutores fazem uns dos outros, os papéis que

desempenham, seus pontos de vista, objetivo da comunicação, enfim, todos os dados

situacionais vão influir tanto na produção do texto, como na sua compreensão.

b) Do texto para a situação – também o texto tem reflexos importantes

sobre a situação comunicativa: o mundo textual não é jamais idêntico ao mundo real. Ao

construir um texto, o produtor recria o mundo de acordo com seus objetivos, propósitos,

interesses, convicções, crenças, etc. O mundo criado pelo texto é, portanto, uma cópia fiel

do mundo real, mas o mundo tal como é visto pelo produtor a partir de determinada

perspectiva, de acordo com determinadas intenções. É por isso que, quando várias pessoas

descrevem um mesmo objeto, as descrições nunca vão ser exatamente iguais; quando

diversas testemunhas relatam um fato, os depoimentos vão divergir uns dos outros. Os

referentes textuais não são idênticos aos do mundo real, mas são reconstruídos no interior

do texto. O receptor, por sua vez, interpreta o texto de acordo com a sua ótica, os seus

propósitos, as suas convicções- há sempre uma mediação entre o mundo real e o mundo

textual.

Assim, na construção da coerência, a situacionalidade exerce também

um papel de relevância. Um texto que é coerente em dada situação pode não sê-lo em

outra: daí a importância da adequação do texto à situação comunicativa.

Informatividade

Outro fator que interfere na construção da coerência é a informatividade, que diz

respeito ao grau de previsibilidade (ou expectabilidade) da informação contida no texto.

Um texto será tanto menos informativo, quanto mais previsível ou esperada for a informação

por ele trazida. Assim, se contiver apenas informação previsível ou redundante, seu grau

de informatividade será baixo; se, por fim, toda a informação de um texto inesperada ou

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imprevisível, ele terá um grau máximo de informatividade, podendo, à primeira vista,

parecer incoerente por exigir do receptor um grande esforço de decodificação.

O oceano é água

O oceano é água. Mas ele se compõe, na verdade, de uma solução de gases s sais.

O oceano não é água. Na verdade, ele é constituído de gases e sais.

É a informatividade, portanto, que vai determinar a seleção e o arranjo das

alternativas de distribuição da informação no texto, de modo que o receptor possa calcular-

lhe o sentido com maior ou menor facilidade, dependendo da intenção do produtor de

construir um texto mais ou menos hermético, mais ou menos polissêmico, o que está,

evidentemente, na dependência da situação comunicativa e do tipo de texto a ser

produzido.

Focalização

A focalização tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em

apenas uma parte do seu conhecimento e com a perspectiva da qual são vistos os

componentes do mundo textual. Seria como uma câmera que acompanhasse tanto o

produtor como o receptor no momento em que um é processado. O primeiro fornece ao

segundo determinadas pistas sobre o que está focalizando, ao passo que o segundo terá

de recorrer a crenças e conhecimentos partilhados sobre o que está sendo focalizado, para

poder entender o texto (e as palavras que o compõem) de modo adequado. Devido ao

Princípio de Cooperação (quando duas pessoas interagem por meio da linguagem, elas se

esforçam por fazer-se compreender e procurar calcular o sentido do texto do(s) interlocutor,

partindo das pistas que ele contém e ativando seu conhecimento de mundo, da situação,

etc), ambos os interlocutores vão agir como se estivessem focalizados semelhantemente.

Diferenças de focalização podem causar problemas sérios de compreensão,

impedindo, por vezes, o estabelecimento da coerência. Verifica-se, portanto, que a

focalização tem relação direta com a questão do conhecimento de mundo e de

conhecimento partilhado. Um mesmo texto, dependendo da focalização, pode ser lido de

modo totalmente diferente. Imagine-se um conto fantástico lido por um psicólogo, um padre,

um político, um sociólogo. Provavelmente, as leituras seriam bastante diferentes, devido às

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diferentes focalizações. Veja-se, por exemplo, o texto abaixo em que um casamento é visto

por um crítico teatral.

O Crítico Teatral vai ao casamento

Como espetáculo, o casamento da Senhorita Lídia Teles de Souza com o Sr. Herval Nogueira foi realmente um dos mais irregulares a que temos assistido nos últimos tempos. A senhorita Teles parecia muito nervosa, nervosismo justificado por estar estreando em casamentos (o que não se pode dizer do noivo, que tem muita experiência de altar) de modo que sua dicção, normalmente já não muito boa, foi prejudicada a tal ponto que os assistentes das últimas filas não lhe ouviram uma palavra. O cenário, altamente convencional, tinha apenas uma nota de originalidade nos cravos vermelhos que enfeitavam as paredes. Os turíbulos estavam muito bem colocados, mas os figurino de todos oficiantes foram, visivelmente aproveitados de outras produções.

O noivo representou o papel com firmeza, embora um tanto frio. Disse “sim” ou “aceito” (não ouvimos bem suas frases porque a acústica da abadia é péssima). Fora os pequenos senões notados, teremos que chamar a atenção, naturalmente, para o coroinha, que a todo momento coçava a cabeça, indiferente completamente à representação, como se não partisse dela. A música foi também mal escolhida, numa prova de terrível mau gosto. Realmente, pode ser que a marcha nupcial de Mendelssohn já esteja muito batida, mas é sempre preferível esse fundo ortodoxo a uma inovação do tipo da usada, tendo o coro cantando o samba. “É com esse que eu vou”.

O fato de a noiva chegar atrasada também deixou altamente impacientes os espectadores, que a certo momento começaram mesmo a mostrar evidentes sinais de nervosismo. A sua entrada, porém, foi espetacular, e o modelo que trajava, além do andar digno que soube usar para se encaminhar ao palco de seu destino, rende-lhe os melhores parabéns ao fim do espetáculo.

O vitorioso da noite foi, sem dúvida alguma, o padre, que disse o seu sermão com voz clara e emocionada, num texto traduzido do latim com toda perfeição.

Em suma – espetáculo normal, que deve ser assistido por todos os parentes e amigos. Lamentamos apenas – e tomamos como um deplorável sinal dos tempos – a qualidade do arroz jogado sobre os noivos.

(Fernandes, Millôr – Trinta anos de mim mesmo. Círculo do livro, p.78).

A mesma palavra poderá ter sentido diferente, dependendo da focalização.

No caso de palavras homônimas, a focalização comum dos interlocutores permitirá

depreender o sentido do termo naquela situação específica. É o que acontece, por exemplo,

com o termo vela em (58):

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Traga-me uma vela nova.

a) o marido para a mulher no momento em que acaba a luz.

b) o mecânico que está consertando um carro.

b) o armador que está construindo um barco.

Um dos importantes meios de evidenciar a focalização é o uso do que chamamos

de descrições ou expressões definidas, isto é, grupos nominais introduzidos por artigos

definido (ou por demonstrativos). Tais expressões selecionam, dentre as propriedades e

características do referente, aquelas sobre as quais se deseja chamar a atenção. Por

exemplo, podemos nos referir a uma mesma garota de várias maneiras, sem usar o seu

nome: a menina bonita, a namorada de José, a primeira aluna da classe, a filha do vizinho,

a excelente nadadora etc., desde que todas estas propriedades lhe possam ser atribuídas.

É claro, porém, que dependendo da focalização, iremos usar uma e não outras,

selecionando aquelas que foram mais adequadas aos nossos propósitos.

Também o título do texto é, em grande parte dos casos, responsável pela

focalização, pois, como já vimos anteriormente, ativa e/ou seleciona conhecimentos de

mundo que temos arquivados na memória, avançando expectativas sobre o conteúdo do

texto. Um mesmo texto, com títulos diferentes, poderá ter leituras diferentes; mudando-se

o título de um texto, algumas das palavras que o compõem podem mudar de sentido ou

parecer estranhas ou mesmo inadequadas.

No ensino de redação, quando dizemos ao aluno que deve delimitar o assunto e

estabelecer um objetivo para o seu texto, estamos, na verdade, levando – o a focalizar o

tema de um determinado modo. É por isso, também, que, quando damos aos alunos um

tema para ser desenvolvido, os textos nunca saem idênticos devido às diferenças de

focalização.

Intertextualidade

Outro importante fator de coerência é a intertextualidade, na medida em que, para

o processamento cognitivo (produção/recepção) de um texto recorre – se ao conhecimento

prévio de outros textos. A intertextualidade pode ser de forma ou conteúdo.

A intertextualidade de forma ocorre quando o produtor de um texto repete

expressões, enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor

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ou de determinados tipos de discurso. Exemplo de intertextualidade de forma pode ser

detectada entre a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias e trechos do Hino Nacional

Brasileiro e da Canção do Expedicionário:

Do que a terra mais garrida

Teus risonhos lindos campos têm mais flores

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida em teu seio mais amores.

(Hino Nacional Brasileiro – Letra: Osório Duque Estrada)

Por mais terra que eu percorra

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá...

(Canção do Expedicionário)

Romano Sant´Anna aponta a intertextualidade formal entre versos de Petrarca e de

Camões, numa época em que a técnica da imitação era valorizada:

Petrarca: L´Amante nell” amato se transforma

Camões: Transforma-se o amador em cousa amada.

Petrarca: Che chontra il ciel non val difesa umana

Camões: Que contra o céu não vai defesa humana.

Um subtipo de intertextualidade formal é a intertextualidade tipológica, que também é

importante para o processamento adequado do texto. Como já dissemos, os conhecimentos

de mundo são armazenados em nossa memória sob forma de blocos – os modelos

cognitivos globais, entre os quais estão as superestruturas ou esquemas textuais, que são

conjuntos de conhecimentos que se vão acumulando quanto aos diversos tipos de textos

utilizados em dada cultura. Assim, por exemplo, de tanto ouvir contar histórias, a criança

constrói seu “modelo de história”, que lhe permite reconhecer e produzir histórias, e será o

ponto de partida para a construção do esquema ou da superestrutura narrativa. O mesmo

vai ocorrer com relação aos outros tipos textuais. É evidente que alguns deles vão ser

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desenvolvidos através de uma aprendizagem mais sistemática, na escola, por exemplo.

Isto não significa, porém, que uma pessoa que nunca tenha frequentado os bancos

escolares seja incapaz de narrar, de descrever, de argumentar ou de escrever (ou ditar)

uma carta.

O conhecimento dos tipos textuais, portanto, permitirá ao leitor “enquadrar” o texto

em determinado esquema, o que lhe poderá dar pistas importantes para a sua

interpretação.

Quanto ao conteúdo, pode-se dizer que a intertextualidade é uma constante: os textos

de uma mesma época, de uma mesma área de conhecimento, de uma mesma cultura, etc.,

dialogam, necessariamente, uns com os outros. Essa intertextualidade pode ocorrer de

maneira explícita ou implícita.

No primeiro caso, o texto contém a indicação da fonte do texto primeiro, como

acontece com o discurso relatado; as citações e referências no texto científico; resumos e

resenhas; traduções; retomadas da fala do parceiro na conversação face – a – face, etc. Já

no caso da interceptor deverá ter os conhecimentos necessários para recuperá–la; do

contrário, não será capaz de captar a significação implícita que o produtor pretende passar.

É o caso de alguns tipos de ironia, da paródia, de certas paráfrases, etc.

São exemplos de intertextualidade explícita:

Segundo Beaugrande & Dressler – 1981, “ a coerência diz respeito ao modo

como os elementos subjacentes à superfície textual são entre si mutuamente

acessíveis e relevantes, entrando numa configuração veiculadora de sentidos”.

Concordamos com Charolles – 1983, quando afirma ser a coerência um

princípio de interpretabilidade do discurso.

a) Hoje vai chover.

b) Hoje vai chover? Então vamos deixar o passeio para amanhã.

Não havendo indicação da fonte do texto original, caberá ao receptor, por meio de

seu conhecimento de mundo, não só descobri-la como detectar a intenção do produtor do

texto ao retomar o que foi dito por outrem. São comuns, por exemplo, textos que imitam a

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linguagem da Bíblia. O leitor desses textos que não conheça a Bíblia não chegará,

evidentemente, a captar todas as significações pretendidas pelo autor.

As matérias jornalísticas de um mesmo dia ou de uma mesma semana – quer do

mesmo jornal, quer de jornais diferentes, quer, ainda, de revistas semanais -, noticiários de

rádio e TV – normalmente “dialogam” entre si, ao tratarem de um fato em destaque

(intertextualidade de conteúdo).

A intertextualidade é comum também na música popular, quando o autor retoma

trechos de outras canções próprias ou alheias (no caso de retomas de textos próprios, fala-

se, por vezes, de intratextualidade). A intertextualidade se estabelece também quando nos

“apropriamos” de provérbios e ditos populares em nossas conversas ou em nossos textos

escritos, endossando – os ou em nossos textos escritos, endossando – os ou revertendo a

sua forma e/ou o seu sentido.

Romano de Sant’Anna distingue, ainda a intertextualidade das semelhanças da

intertextualidade das diferenças. No primeiro caso, manifesta – se adesão ao que é dito no

texto original (como ocorre nos exemplos abaixo); no segundo caso, representa-se o que

foi dito para propor uma leitura diferente e/ou contrária. A repetição pura e simples, bem

como a paráfrase pertencem ao primeiro tipo; já a paródia, a ironia, a concessão ou

concordância parcial (em que se “ acolhe” os argumentos contrários para, em seguida,

apresentar argumentos decisivos capazes de destruí-los) são exemplos do segundo tipo.

Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia

Onde cantam gaturamos de Veneza.

(Murilo Mendes)

(72) Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá.

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

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Minha terra tem mais terra.

Ouro terra amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que eu volte para lá.

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja rua 15

E o progresso de São Paulo.

(Oswaldo Andrade)

O reconhecimento do texto-fonte e dos motivos de sua reapresentação, no caso da

intertextualidade implícita, é, como se vê, de grande importância para construção do sentido

de um texto.

Intencionaidade e aceitabilidade

Como vimos, o produtor de um texto tem, necessariamente, determinados objetivos

ou propósitos, que vão desde a simples intenção de estabelecer ou manter o contato com

o receptor até a de levá-lo a partilhar de suas opiniões ou a agir ou comporta-se de

determinada maneira. Assim, a intencionalidade refere-se ao modo como os emissores

usam um texto para perseguir e realizar suas intenções, produzindo, para tanto, textos

adequados a obtenção dos efeitos desejados. É por esta razão que o emissor procura, de

modo geral, construir seu texto de modo coerente e dar pistas ao receptor que lhe permitam

construir o sentido desejado. Para tanto, o emissor do texto vai mobilizar todos os outros

fatores de textualidade, inclusive, dependendo do tipo de texto ( científico, didático,

expositivo, etc.), utilizando os mecanismos de coesão já mencionados. Pode ocorrer, no

entanto, que o produtor afrouxe propositadamente a coerência de seu texto, se quiser obter

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determinados efeitos, como: fazer-se passar por desmemoriado, por louco, por embriagado,

etc.

A aceitabilidade constitui a contraparte da intencionalidade. Já se disse que,

segundo o Princípio Cooperativo de Grice, o postulado básico que rege a comunicação

humana é o da cooperação, isto é, quando duas pessoas interagem por meio da linguagem,

elas se esforçam por fazer-se compreender e procurar calcular o sentido do texto do(s)

interlocutor, partindo das pistas que ele contém e ativando seu conhecimento de mundo,

da situação, etc. Assim, mesmo que um texto não se apresente, à primeira vista, como

perfeitamente coerente e não tenha explícitos os elementos de coesão, o receptor vai tentar

estabelecer a sua coerência, dando-lhe a interpretação que lhe pareça cabível, tendo em

vista os demais fatores de textualidade. É por isso que, como já mencionamos por várias

vezes, Charolles – 1983 conceitua a coerência como um princípio de interpretabilidade do

discurso.

A intencionalidade tem relação estreita com o que se tem chamado de

argumentatividade. Se aceitarmos como verdade que não existem textos neutros, que há

sempre alguma intenção ou objetivo da parte de quem produz um texto, e que este não é

jamais uma “cópia” do mundo real, pois o mundo é recriado no texto através da mediação

de nossas crenças, convicções, perspectivas e propósitos, então somos obrigados a admitir

que existe sempre uma argumentatividade subjacente ao uso da linguagem.

A argumentatividade manifesta-se nos textos por meio de uma série de marcas ou

pistas que vão orientar os seus enunciados no sentido de determinadas conclusões, isto é,

que vão determinar-lhes a orientação argumentativa, segundo uma perspectiva dada. Entre

estas marcas encontra-se o tempo verbal. Entre estas marcas encontram-se os tempos

verbais, os operadores e conectores argumentativos (até, mesmo, aliás, ao contrário, mas,

embora, enfim, etc.), os modalizadores (certamente, possivelmente, indubitavelmente,

aparentemente, etc.), entre outros. A partir destas marcas, como também das inferências e

dos demais elementos construtores da textualidade estudados neste capítulo, o receptor

construirá a sua leitura, entre aquelas que o texto, pela maneira como se encontra

linguisticamente estruturado, permite. É por isso que todo texto abre a possibilidade de

várias leituras.

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Consistência e Relevância

De acordo com Giora – 1985, dois requisitos básicos para que um texto possa ser

tido como coerente são a consistência e a relevância.

A condição de consistência exige que cada enunciado de um texto seja consistente

com os enunciados anteriores, isto é, que todos os enunciados do texto possam ser

verdadeiros (isto é, não contraditórios) dentro de um mesmo ou dentro dos mundos

representados no texto.

O requisito da relevância exige que o conjunto de enunciados que compõem o texto

o texto seja relevante para um mesmo tópico, que pode ser dividido em subjacente, isto é,

que os enunciados sejam interpretáveis como falando sobre um mesmo tema.

No texto escrito, normalmente, tem-se um só tópico, que pode ser dividido em

subtópicos. É claro que pode haver exceções, como, por exemplo, no caso de cartas

familiares. Na conversação, que é uma atividade de co-produção discursiva (cf. Marcuschi

– 1986), o tópico é desenvolvido por pelo menos duas pessoas, em turnos alternados, de

modo que o tópico vai se construindo na própria interação, podendo desenvolver-se e/ou

alternar-se a cada turno. Desse modo, é possível haver, numa mesma conversação,

diversos tópicos (ou melhor, quadros tópicos), que podem ou não ser englobados num

tópico mais amplo. Assim, na conversação, as contribuições dos parceiros deverão ser

relevantes para o tópico em curso em dado momento. Mas o texto conversacional poderá

ser ainda coerente se dado enunciado ou conjunto de enunciados vierem introduzidos por

meio de um marcador de digressão, como: por falar nisso, fazendo um parênteses,

desculpe interromper mas..., lembrei-me agora de ..., etc.

A coerência não é apenas um traço ou uma propriedade do texto em si, mas sim

que ela se constrói na interação entre o texto e seus usuários, numa situação comunicativa

concreta, em decorrência de todos os fatores aqui examinados.

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Exercícios – Coerência Textual

1. Explique a incoerência dos textos abaixo:

a) Todo e qualquer tipo de violência é repugnante. É lamentável o que presenciamos

nos dias de hoje: crimes hediondos, pais que espancam filhos, maridos que agridem

fisicamente a mulher; enfim, vive-se numa época em que não se respeita mais o

próximo. Por isso, deve-se implantar o mais rapidamente possível a pena de morte

em nosso país, pois, só assim, a justiça tirará as vendas dos olhos e dará

tranquilidade à população.

.

b) Deus é amor e pura bondade. Quem n’Ele confia tem todas as bênçãos recaídas

sobre si, mas aquele que se desvia dos caminhos do Pai recebe os castigos

provenientes da ira divina.

.

c) A frente da casa da vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas

as tardes ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-do-sol.

.

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2. Explique a intertextualidade da frase abaixo.

O Marcel comercializa lingeries no Rio de janeiro. Com o Exporta Fácil, ele

agora atende da Garota de Ipanema à Garota de Berlim.

(Propaganda dos Correios- Revista Época)

3. Leia atentamente os dois textos que seguem, explique como a coerência foi

estabelecida com base no que aprendemos sobre a coerência.

ANEDOTA BÚLGARA

Era uma vez um czar naturalista

Que caçava homens.

Quando lhe disseram que também se caçavam borboletas e andorinhas,

Ficou muito espantado

E achou uma barbaridade.

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Carlos Drummond de Andrade

ANEDOTA NACIONAL

Era uma vez um político capitalista

Que desviava milhões para o próprio bolso.

Quando lhe disseram que mendigos roubavam comida para matar a fome,

Ficou cheio de patriotismo

E achou que aquele roubo devia ser punido exemplarmente.

4. “Além de parecer não ter rotação, a Terra parece também estar imóvel no meio dos céus.

Ptolomeu dá argumentos astronômicos para tentar mostrar isso. Para entender esses

argumentos, é necessário lembrar que, na antiguidade, imagina-se que todas as estrelas

(mas não os planetas) estavam distribuídas sobre uma superfície esférica, cujo raio não

parecia ser muito superior à distância da Terra aos planetas. Suponhamos agora que a

Terra esteja no centro da esfera das estrelas. Neste caso, o céu visível à noite deve

abranger, de cada vez, exatamente a metade da esfera das estrelas. E assim parece

realmente ocorrer: em qualquer noite, de horizonte a horizonte, é possível contemplar, a

cada instante, a metade do zodíaco. Se, no entanto, a Terra estivesse longe do centro da

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esfera estelar, então o campo de visão à noite não seria, em geral, a metade da esfera:

algumas vezes poderíamos ver mais da metade, outras vezes poderíamos ver menos da

metade do zodíaco, de horizonte a horizonte. Portanto, a evidência astronômica parece

indicar que a Terra está no centro da esfera de estrelas . E se ela está sempre nesse centro,

ela não se move em relação às estrelas.

a) O terceiro período (para entender esses... da Terra aos planetas) representa, no texto,

(a) o principal argumento de Ptolomeu

(b) o pressuposto da teoria de Ptolomeu

(c) a base para as teorias posteriores à de Ptolomeu

(d) a hipótese suficiente para Ptolomeu retomar as teorias anteriores

(e) o fundamento para o desmentido da teoria de Ptolomeu

b) Os termos além de, no entanto, então, portanto estabelecem no texto relações,

respectivamente, de

(a) distanciamento – objeção – tempo – efeito

(b) adição – objeção – tempo- conclusão

(c) distanciamento – consequência – conclusão – efeito

(d) distanciamento – oposição – tempo – consequência

(e) adição – oposição – consequência – conclusão

5. Um dos recursos utilizados para evitar a repetição é a substituição de palavras por termos

equivalente. Melhore as frases a seguir:

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a) A mãe levou a criança ao médico, porém não confiou nas orientações dadas pelo

médico.

b) Ontem esteve tenso o clima no Afeganistão. O povo do Afeganistão recebeu

instruções contra os ataques americanos.

c) O diretor daquela empresa demitiu vários funcionários. Os funcionários entraram

com um processo junto ao sindicato.

6. Ainda é possível substituir uma palavra repetida por um pronome pessoal. Faça-o.

a) O funcionário queria usar o computador, mas não sabia como ligar o computador.

b) Pegou a agenda e anotou na agenda o meu telefone.

c) Um grupo de aposentados foi ao gabinete da prefeita e pediu à prefeita isenção do

IPTU.

d) Rodrigo comprou um lanche, mas, ao provar o lanche, não gostou do lanche.

Leia o texto abaixo e responda às questões:

ROUBADO NO RIO, RECUPERADO EM SÃO PAULO

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Um dos 24 livros antigos roubados do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi parar na

feirinha de antiguidades do Bexiga, em São Paulo. O volume Historia Naturalis Brasiliæ, de

1648, foi oferecido ao antiquário Jefferson Pereira. Ele comprou o exemplar e o entregou à

secretária de Cultura de São Paulo, Cláudia Costin. O museu constatou que é o mesmo

exemplar que desapareceu de suas estantes. Graças a Pereira, a polícia pôde recuperar

os outros livros furtados.

7.Explique qual é o tipo de mecanismo de coesão estabelecido em:

a) “... e o entregou à secretária ...” (0,5)

b) “desapareceu de SUAS estantes.” (0,5)

b) O VOLUME Historia Naturalis Brasiliae ...” (0,5)

c) Ele comprou o EXEMPLAR e o entregou... (0,5)

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b. Qual é o sentido estabelecido pela conjunção “e” no trecho “Ele comprou o exemplar

E o entregou...” (0,5)

8. A propaganda anterior apresenta como principal ponto para chamar atenção um

mecanismo de coesão. Qual é?

9. SUPER-HOMEM - A CANÇÃO

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70

Gilberto Gil 1979

Um dia

Vivi a ilusão de que ser homem bastaria

Que o mundo masculino tudo me daria

Do que eu quisesse ter

Que nada

Minha porção mulher, que até então se resguardara

É a porção melhor que trago em mim agora

É que me faz viver

Quem dera

Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera

Ser o verão o apogeu da primavera

E só por ela ser

Quem sabe

O Super-homem venha nos restituir a glória

Mudando como um deus o curso da história

Por causa da mulher

a) Qual é a intertextualidade que o texto apresenta? Explique o seu sentido

relacionando-o à coerência global do texto?

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b) Explique como os fatores de contextualização podem ajudar a compreender esta

música?

c) Qual é a focalização do texto?

d) Explique os fatores de coerência intencionalidade e aceitabilidade presentes na

música.

e) O texto se constitui a partir de uma inferência do autor. Qual é esta inferência e

como ela se explica dentro do texto?

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Despertemos o leitor

Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo. Autor que os queira conservar não deve ministrar-lhes o mínimo susto. Apenas as eternas frases feitas. “A vida é um fardo” – isto por exemplo, pode-se repetir sempre. E acrescentar impunemente: “disse Bias”. Bias não faz mal a ninguém, como aliás os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete, como há vinte séculos já se queixava Plutarco, eram uns verdadeiros chatos. Isto para ele, Plutarco. Mas para o grego comum da época, deviam ser a delícia e a tábua de salvação das conversas. Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço? O lugar-comum é a base da sociedade, a da política, a sua filosofia, a segurança das instituições. Ninguém é levado a sério com idéias originais. Já não é a primeira vez, por exemplo, que um figurão qualquer declara em entrevista: “O Brasil não fugirá ao seu destino histórico!” O êxito da tirada, a julgar pelo destaque que lhe dá a imprensa, é sempre infalível, embora o leitor semidesperto possa desconfiar que isso não quer dizer coisa alguma, pois nada foge mesmo ao seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada. (Mario Quintana) 10. Explique que tipos de mecanismos de coesão foram destacados acima:

Os

Lhes

Pois

Pois

sua

Seu

Tirada

Que

Isso

ou

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Leia o texto a seguir para responder às questões:

Números em letras (Márcia Dessen , Folha de São Paulo, 23/05/2016 )

Poucos brasileiros conhecem os princípios básicos da matemática financeira. O conceito de

juros, por exemplo. Poucos são capazes de compreender o estrago que pode provocar nas finanças

pessoais.

Por ignorar o conceito de juros compostos, muitos embarcam na canoa furada de pagar com

o cartão de crédito, com planos de parcelar a fatura. Essa mania de parcelar as compras e pensar só

no valor da prestação, achando que dá conta de pagar, é muito perigosa.

A taxa de juros simples incide somente sobre o saldo devedor inicial, sendo muito menos

onerosa para o devedor. O juro composto incide sobre o saldo acrescido dos juros devidos. Assim,

o devedor paga juros sobre juros. A conta fica mais alta e leva muito mais tempo para pagar.

Vamos exemplificar com uma compra de R$ 100 que será financiada no cartão, com

pagamento mensal de R$ 15. A simulação considera taxa de juros de 16% ao mês e ignora outros

encargos.

MÊS UM

Você recebe a fatura do cartão com a compra de R$ 100 e decide parcelar, pagar o valor

mínimo de R$ 15. Sua rápida contabilidade mental indica que agora você deve R$ 85 e logo dará

conta de liquidar a fatura. Mas você se esqueceu de considerar os juros. Sobre os R$ 85 incidem

juros de 16% ao mês e o saldo devedor do mês seguinte será de R$ 98,60.

É isso mesmo. A parcela mínima paga corresponde aproximadamente ao valor dos juros. Ou

seja, você não amortizou quase nada da dívida. Já pagou R$ 15 e está devendo praticamente a

mesma coisa. Você ainda não sabe, mas aqui começa a rolar uma bola de neve que vai se estender

pelos próximos 17 meses.

MÊS DOIS

No mês seguinte você recebe a fatura com o saldo devedor de R$ 98,60. Paga novamente a

prestação de R$ 15,00. Seu saldo devedor depois de pagar a prestação é de R$ 83,60. Mas aí vem o

famigerado juro de 16% e corrige novamente o saldo devedor, que passa a R$ 96,98. Você deve

estar pensando que algo está errado. Já pagou R$ 30 e o saldo devedor continua praticamente o

mesmo?! Desse jeito vai demorar para se livrar dessa dívida...

MÊS 17

Mantido o ritmo de pagamento de R$ 15,00 por mês, a dívida será liquidada em 17 meses,

depois de pagar R$ 254,70, duas vezes e meia o saldo devedor inicial. Só de juros foram pagos R$

154,70. E, para chegar a esse valor, o exemplo considera que não houve outra compra no cartão e

que todas as parcelas de R$ 15 foram pagas pontualmente na data de vencimento, não sendo devido

juro adicional por atraso de pagamento.

REALIDADE

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"Mas era só uma comprinha inocente de R$ 100... como foi que me meti nessa enrascada?",

você deve estar pensando. O estrago provocado por uma compra de R$ 1.000 é proporcionalmente

o mesmo. Com parcelas de R$ 150, ao final de 17 meses você terá pago R$ 2.550, duas vezes e meia

o valor financiado.

Pense em quanta coisa você poderia ter comprado com esse dinheiro. Mas, em vez de ficar

com ele, você preferiu enriquecer a administradora do cartão, que está rindo à toa, admirada com

a riqueza transferida por tantos consumidores, como você.

O exemplo numérico reflete fielmente a vida como ela é. Aliás, podia ser pior. De acordo

com o site do Banco Central do Brasil, a instituição financeira que pratica atualmente a taxa de juros

mais alta para essa modalidade de crédito cobra 22% ao mês! Difícil de acreditar.

Se você não gosta de números e nem calculadora tem, acesse o site do Banco Central e

localize a "Calculadora do Cidadão". É fácil de usar, faça uma simulação antes de comprar pensando

em financiar a fatura.

O site informa também quanto custaria o mesmo financiamento com juros menores,

cobrados em outras modalidades de crédito. O mesmo exemplo, financiado com taxa de 7% ao mês

em empréstimo pessoal, seria quitado em 8,5 parcelas com montante de R$ 127,15. Que diferença!

Mas nesse caso é preciso paciência. Paciência e planejamento antes de comprar. Será que você

consegue? Garanto que vale a pena tentar.

11) Preencha as lacunas do fragmento utilizando os conhecimentos de mecanismos de coesão

textual e considerando a leitura do texto “Números em letras”:

a) “Poucos ______________são capazes de compreender o estrago que _________________________________pode provocar nas finanças pessoais.

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12) Organize as informações do segundo parágrafo do texto como se pede: a) em um

período; b) I – oração principal; II – oração introduzida pela ideia de causa; III – oração introduzida

pela ideia de finalidade; c) Utilize mecanismos de coesão para evitar repetições de expressões ou

palavras.

I – Os brasileiros embarcam na canoa furada de pagar com o cartão de crédito.

II – Os brasileiros ignoram o conceito de juros compostos.

III – Os brasileiros têm planos de parcelar a fatura.

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13))Preencha as lacunas a seguir com conjunções ou locuções de conclusão, causa e

consequência, respectivamente:

A taxa de juros simples incide somente sobre o saldo devedor inicial,

___________ é muito menos onerosa para o devedor. __________o

juro composto incide sobre o saldo acrescido dos juros devidos, o

devedor paga juros sobre juros. A conta fica mais alta

_____________________ele leva muito mais tempo para pagar.

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14) Preencha as lacunas a seguir com conjunções ou locuções de conclusão, concessão e concessão, respectivamente. Use diferentes concessivas para o segundo e terceiro casos:

A parcela mínima paga corresponde aproximadamente ao valor dos

juros, __________ você não amortizou quase nada da dívida. Está

devendo praticamente a mesma coisa ____________já tenha pago R$

15. _____________você ainda não saiba, aqui começa a rolar uma bola

de neve que vai se estender pelos próximos 17 meses.

15)Escreva na linha abaixo do fragmento o elemento do texto que o termo grifado recupera.

No mês seguinte você recebe a fatura com o saldo devedor de R$ 98,60. Paga novamente a

prestação de R$ 15,00. Seu saldo devedor depois de pagar a prestação é de R$ 83,60. Mas

aí vem o famigerado juro de 16% e corrige novamente o saldo devedor, que passa a R$

96,98.

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__________

15) Substitua o termo grifado por outro equivalente e reescreva o período fazendo alterações

necessárias para manter a correção gramatical.

Se você não gosta de números e nem calculadora tem, acesse o site do Banco Central e

localize a "Calculadora do Cidadão".

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