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1 Material da Capacitação Técnica das Varas da Infância e Juventude do Estado de São Paulo COORDENADORIA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

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    Material da Capacitao Tcnica das Varas da Infncia e

    Juventude do Estado de So Paulo

    COORDENADORIA DA INFNCIA E JUVENTUDE

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    A Coordenadoria da Infncia e da Juventude do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo (TJSP) e a Escola Paulista da Magistratura promoveram a Capacitao para Equipes Tcnicas das Varas da Infncia e Juventude do Estado de So Paulo realizada no perodo de agosto a dezembro de 2011. Objetivo Geral: Capacitar profissionais para o aperfeioamento das atividades que executam na rea da Infncia e Juventude, por meio da anlise, reflexo e novas aquisies de conhecimentos terico metodolgico, assim como promover a apreenso de contedos que permitam avaliar as polticas pblicas para garantir, defender e promover os direitos humanos. Programao 26/08/2011- O Estudo Social e Psicolgico Fundamentos Tericos Metodolgicos, Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno. Eunice Terezinha Fvero Assistente Social Judicirio do TJSP Mestre e doutora em Servio Social pela PUC-SP, membro da diretoria executiva da AASPTJ-SP, professora do curso de Servio Social e do Mestrado em Polticas Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul/SP, autora de artigos e livros na rea de Servio Social, dentre eles "Questo social e perda do poder familiar", e "Instrues sociais de processos, sentenas e decises". Cludia Amaral de Melo Suannes Psiclogo Judicirio da Vara da Infncia e Juventude do Foro Regional de Pinheiros-TJSP Psicloga e psicanalista, mestre em psicologia clinica pela PUC-SP, especialista em psicologia jurdica pelo Conselho Federal de Psicologia, membro filiado ao Instituto de Psicanlise da SBPSP, professora do curso de psicologia jurdica do Instituto Sedes Sapientiae.

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    23/09/2011 O Estudo Social e Psicolgico Fundamentos Tericos Metodolgicos, Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno. Carmen Teresinha de Oliveira Lutti Assistente Social Judicirio do TJSP, de 1992 a 2010. Graduada em Servio Social e Direito, especialista em violncia domstica contra a criana e o adolescente (LACRI-USP); ps-graduao em Direito Processual Civil (Justia da Infncia e da Juventude) e Direito de Famlia; professora convidada do Instituto Sedes Sapientiae, UniSoPaulo, Faculdade de Sade Pblica/USP/PAVAS. Leila Sueli Dutra de Paiva Psiclogo Judicirio da Vara da Infncia e Juventude do Foro Regional de Pinheiros TJSP Mestre em Psicologia pela USP, docente e supervisora de Psicologia Jurdica na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 14/10/2011 Interdisciplinaridade e Formas de Registro: Servio Social e Psicologia - Conceitos, Informao e Parecer, Relatrio e Laudo. Pilar Isabel Travieso Psicloga Judicirio da Vara da Famlia e Sucesses do Frum Central TJSP. Graduada e ps graduada pela USP, onde defendeu a Dissertao "O Sujeito no Discurso Jurdico das Varas de Infncia e Juventude - Pedido de Providncias". Atuou em Varas de Infncia e Juventude. Rita Oliveira Assistente Social Judicirio da Vara da Infncia e Juventude da Lapa TJSP. Doutoranda em servio social PUC-SP, coordenadora da pesquisa abrigos SP e da publicao Quero voltar para casa: o trabalho em rede para a garantia do direito a convivncia familiar e comunitria.

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    18/11/2011 O Trabalho em Rede nas suas Diferentes Dimenses Rede primria e Secundria. Discusso, Elaborao Conjunta e Avaliao do PIA. Mrcia Silva Assistente Social Judicirio da Vara da Infncia e Juventude da Comarca de Campinas TJSP. Coordenadora da Equipe Interprofissional da Comarca de Campinas. Especialista em Psicologia e Psiquiatria Clinica do Adolescente pela Unicamp. Eliana Kawata Psicloga Judiciria da Vara da Infncia e Juventude do Foro Regional do Tatuap-TJSP Graduada em Psicologia pela USP, mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, especialista em Administrao Pblica pela FGV-SP, em Pesquisa Clinica pela Harvard Medical School e na read e Violncia Domstica contra Crianas e Adolescentes pelo LACRI-USP; e ex Secretria Executiva da RECAD - Rede de Ateno a Crianas e Adolescentes de Diadema/SP. 20/12/2011 - Polticas Pblicas Maria Isabel Monfredini Assistente Social Judicirio da Comarca de Mogi Guau TJSP. Mestre em Economia Social e do Trabalho - Instituto de Economia da UNICAMP; Doutoranda na Faculdade de Educao da UNICAMP - Laboratrio de Polticas Pblicas e Planejamento Educacional LaPPlanE; Professora da Faculdade de Cincias Humanas de Agua - Curso de Servio Social. Pblico- alvo: Assistentes Sociais e Psiclogos Judicirios das equipes tcnicas que atuam na rea da Infncia e da Juventude no Tribunal de Justia de So Paulo. REALIZAO Coordenadoria da Infncia e Juventude do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo. Ncleo de Apoio Profissional de Servio Social e Psicologia- CAIJ 3.

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    COORDENAO GERAL E TCNICA Ncleo de Apoio Profissional de Servio Social e Psicologia CAIJ 3 Coordenadoria da Infncia e Juventude 11- 21716418/ 21716419/ 21716420 [email protected] Datas: 26/08; 23/09; 14/10; 18/11; 19/12. Horrio: 9:00 s 12:00 horas Local: Escola Paulista da Magistratura Rua da Consolao, 1483 - 2. andar, Cerqueira Csar, So Paulo SP.

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    1 Aula

    Estudo Social e Psicolgico:

    Fundamentos tericos e metodolgicos

    Instrumentalidade tcnica

    Projeto de interveno

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    ESTUDO SOCIAL: FUNDAMENTOS TERICOS E METODOLGICOS INSTRUMENTALIDADE TCNICA E PROJETO DE INTERVENO

    Eunice Terezinha Fvero Assistente Social Judiciria

    Estudo social ou estudo socioeconmico: Processo metodolgico especfico do Servio Social. Finalidade: conhecer ampla e criticamente, situao ou expresso da questo social - objeto da interveno. nfase em aspectos socioeconmicos e culturais. Fundamentao rigorosa - terica, tica e tcnica: para o acesso, garantia e efetivao de direitos. (FVERO, 2008) Processo de: conhecimento, anlise e interpretao de uma situao social. Finalidade imediata: emisso de parecer formal ou no sobre a situao, do qual o usurio depende p/ acessar benefcios, servios e/ou resolver litgios. Perspectiva: Necessidades dos sujeitos singulares: no so problemas individuais (desigualdade social). A satisfao das necessidades sociais no se vincula (in) competncia individual. Mas transformao das bases de produo e reproduo das relaes sociais. (MIOTO, 2009).

    Que contedos so essenciais ao estudo social ou o socioeconmico?

    O que trabalho precrio? O que trabalho decente?

    Qual o parmetro para afirmaes sobre baixa renda, misria, pobreza, classe mdia, mdia alta?

    O que moradia adequada?

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    Quais parmetros norteiam nossas anlises sobre famlia?

    De qual modelo de famlia falamos?

    Fundamentos para o estudo social: trabalho, polticas sociais/territrio, famlias. Trabalho: Direito social. Entendido como direito ao trabalho decente. Parmetro: a Declarao Relativa aos Princpios e Direitos Fundamentais do Trabalho - OIT: O trabalho adequadamente remunerado, exercido em condies de liberdade, equidade e segurana, capaz de garantir uma vida digna (AGENDA, 2006).

    Qual o significado do trabalho? Como est distribudo na localidade onde vive o sujeito e na realidade mais ampla - postos de trabalho, exigncias, proteo?

    Quais os indicadores sociais de trabalho e renda?

    Quais as (im) possibilidades de trabalho decente? Como o acesso ao direito ao trabalho e condies?

    Constituio Federal: prev, no conjunto dos direitos (alm dos direitos sociais, o direito moradia como direito social que deve ser vlido para todos os brasileiros). Direito moradia: integra o direito a um padro de vida adequado. No se resume a um teto e quatro paredes. o direito de toda pessoa ter acesso a um lar e a uma comunidade seguros para viver em paz, com dignidade e sade fsica e mental. (RELATORIA, 2010). O conhecimento do territrio:

    No se d somente pela visita domiciliar;

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    necessria sempre que o profissional avaliar que estar no local onde vive famlia importante p/ conhecer suas relaes, a concretizao local de direitos sociais e o uso possvel a ser feito dele.

    Para fundamentar a interpretao dessa realidade, revelar descumprimentos constitucionais de acesso a direitos, e contribuir para provocar aes com o objetivo de acess-los e garanti-los.

    O exerccio profissional com famlias: se movimenta ainda por processos pautados nos padres de normatividade e estabilidade:

    - Continua calcado na perspectiva da funcionalidade; e relacionado integrao e controle social. - Tira-se de foco a discusso da famlia no contexto de uma sociedade desigual e excludente;

    - Fortalece-se, direta ou indiretamente, uma viso da famlia como produtora de patologia;

    - Busca-se a pacificao artificial das famlias. (MIOTO, 2004)

    PNDCFC: Famlia pensada como grupo de pessoas unidas por laos de consanguinidade, de aliana e de afinidade. Esses laos so constitudos por representaes, prticas e relaes que implicam obrigaes mtuas. Estas obrigaes so organizadas de acordo com a faixa etria, as relaes de gerao e de gnero, que definem o status da pessoa dentro do sistema de relaes familiares. (BRASIL, 2006).

    Fundamentos ticos - O que particulariza o nosso trabalho nas situaes para as quais nos

    demandam subsdios - do S. Social?

    - Como as condies de trabalho rebatem nesse cotidiano?

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    - Como conhecemos a realidade social dos sujeitos e como estabelecemos a relao do imediato x mediato, materializando a teoria social crtica na prtica?

    - Como nossa viso de mundo se expressa nos laudos - que servem para subsidiar decises sobre a vida e o futuro dos sujeitos sociais com os quais trabalhamos?

    A conscincia cotidiana: complexa e contraditria: - necessita, de um lado, simplificar seus critrios e suas motivaes - sob o

    signo do imediato;

    - de outro, se serve da linguagem, isto , de um sistema cheio de mediaes complicadas.

    O conhecimento cientfico (tb. filosfico e o artstico) enriquece a compreenso do mundo e de si prprio, possibilitando a superao dos limites da conscincia cotidiana e, por consequncia, a efetivao de transformaes histricas (LUKCS, apud KONDER, 2002). Considerando que: No Judicirio (nas Varas da Infncia e Juventude e tambm na Justia de Famlia), a famlia atendida se coloca, na tica do Estado e dos demais prestadores de servios, entre as que historicamente tm sido incapazes de suprir suas necessidades e cuidar de seus membros;

    Como dar fundamentos sociais a processos, considerando-as sujeitos sociais e polticos, no focalizando suas demandas somente como decorrentes de problemas individuais? Como faz-lo, sem centrar a ateno do trabalho em indivduos-problema, como a criana, o adolescente, a mulher, o idoso, a partir de situaes como a doena, a delinquncia, o abandono, os maus-tratos, a explorao - levando em conta os processos relacionais como um todo? (MIOTO, 2004, p. 55). A prtica profissional cotidiana: - um processo que envolve a operacionalizao de demandas

    institucionais, demandas dos usurios e tomada de decises profissionais (...).

  • 11

    - O modo de ser e de se afirmar das aes profissionais tm temporalidade histrica: sofrem influncia das conjunturas sociais -econmicas, polticas, terico-cientficas- que vivenciam e que forjam as vises de mundo que. as informam e as relaes objetivas em que. se materializam - produto das relaes concretas da sociedade. (Baptista, s/d).

  • 12

    O Estudo Psicolgico Fundamentos Tericos Metodolgicos Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno

    Cludia Amaral de Melo Suannes Psicloga Judiciria

    Varas de Infncia e Juventude e Varas de Famlia

    Semelhanas: ambas autorizadas a decidir sobre questes jurdicas que

    envolvem a famlia

    Diferenas:

    - Natureza das aes

    - Tramitao processual

    - Lugar do psiclogo e do assistente social

    Vara Infncia e Juventude (ECA)

    Art. 150. Cabe ao Poder Judicirio (...) prever recursos para a manuteno

    de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justia da Infncia e

    da Juventude.

    Art. 151. Compete equipe interprofissional (...) fornecer subsdios por

    escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audincia, e bem assim

    desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientao, encaminhamento,

    preveno e outros, tudo sob a imediata subordinao autoridade

    judiciria, assegurada a livre manifestao do ponto de vista tcnico.

  • 13

    Vara de Famlia e Sucesses

    Cuida de amplo espectro de aes que envolvem relaes jurdicas dentro

    da famlia.

    regida por:

    - Cdigo Civil

    - Cdigo de Processo Civil

    Obedece aos princpios em que se baseia o sistema processual.

    O Cdigo de Processo Civil prev a nomeao de perito quando a prova do

    fato depender de conhecimento tcnico ou cientfico.

    A(s) percia(s) oferece(m) subsdios para a deciso na medida em que

    esclarecem questes tcnico-cientficas envolvidas no fato.

    ao decidir o juiz no precisa ficar adstrito ao laudo, podendo recorrer a

    outros elementos que constam dos autos.

    Fundamentos tericos para o estudo psicolgico

    Psicologia: campo das cincias humanas que comporta diversas vertentes

    metodolgicas.

    cada linha terica articula os procedimentos tcnicos em funo de seus

    pressupostos bsicos.

    Positivismo: expectativa de que a psicologia tenha uma objetividade

    incompatvel com a natureza do objeto de estudo.

  • 14

    Tcnicas

    Testes.

    Observao ldica.

    Entrevistas :

    - entrevista e entrevista psicolgica

    - entrevista e oitiva

    tica : sigilo e segredo

    Modelo clnico: dual.

    Avaliao demandada por um terceiro.

    Setting (enquadre):

    - delimitao da funo;

    - incluso do terceiro a fim de garantir o sigilo na situao triangular;

    Compromisso tico: com o Juzo e com o usurio.

    Desafios

    Linguagem: clara e embasada.

    Linguagem do senso comum e banalizao do vocabulrio psi.

    Efeito iatrognico do laudo.

    Judicializao dos conflitos e novas patologias.

  • 15

    2 Aula

    Estudo Social e Psicolgico:

    Fundamentos tericos e metodolgicos

    Instrumentalidade tcnica

    Projeto de interveno

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    Estudo Social: Fundamentos Tericos e Metodolgicos Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno

    Carmen Terezinha de Oliveira Lutti

    Assistente Social Judiciria

    INSTRUMENTALIDADE: capacidade de servir a um objetivo.

    INSTRUMENTAL: o conjunto de instrumentos.

    INTERVENO: ato de intervir; interferncia.

    INTERVIR: tomar parte voluntariamente; meter-se de permeio, vir ou

    colocar-se entre, por iniciativa prpria; ingerir-se.

    INSTRUMENTALIDADE

    Porque e para que realizar o estudo social ?

    MARCO LEGAL

    Estatuto da Criana e do Adolescente Lei 8069/90

    Art. 151. Compete equipe interprofissional, dentre outras atribuies que lhe

    forem reservadas pela legislao local, fornecer subsdios por escrito, mediante

    laudos, ou verbalmente, na audincia, e bem assim desenvolver trabalhos de

    aconselhamento, orientao, encaminhamento, preveno e outros, tudo sob a

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    imediata subordinao autoridade judiciria, assegurada a livre manifestao do

    ponto de vista tcnico.

    Cdigo de Processo Civil

    Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento tcnico ou cientfico,

    o juiz ser assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.

    Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliao.

    Art. 421, 2. Quando a natureza do fato o permitir, a percia poder consistir

    apenas na inquirio pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasio da

    audincia de instruo e julgamento a respeito das coisas que houverem

    informalmente examinado ou avaliado.).

    1. Os peritos sero escolhidos entre profissionais de nvel universitrio,

    devidamente inscrito no rgo de classe competente, respeitado o disposto no

    Cap. VI, seo VII deste Cdigo.

    A instituio judiciria: estrutura e insero profissional.

    O Direito como forma das relaes sociais: o Poder Judicirio na afirmao

    e reconhecimento do estatuto da cidadania; a cobertura legal da cidadania

    social.

    Normatizao legal & dinmica social: igualdade jurdica & desigualdade

    social; instrumentalidade da lei e do processo judicial.

    A equipe tcnica como atividade-meio: objetivos institucionais & objetivos

    profissionais.

  • 18

    INSTRUMENTAL

    Os instrumentais tcnico-operativos so como um conjunto articulado de

    instrumentos e tcnicas que permitem a operacionalizao da ao profissional

    (MARTINELLI, 1994 p. 137).

    Entrevista: individual, conjunta, colateral, interprofissional.

    Visitas: domiciliar, institucional.

    Observao.

    Rede: coleta de dados e informaes.

    Estudo de documentos (processo, documentos institucionais, documentos

    pessoais.)

    Acompanhamento social.

    ENTREVISTA

    O elemento essencial da entrevista o dilogo, que permite que seja um

    encontro entre duas ou mais pessoas ligadas pela situao e onde o entrevistador

    d testemunho de suas reais e concretas intenes, e na qual a diferena entre

    ambos est, apenas, em um nvel diferente de percepo de realidade.

    S o dilogo comunica.

    E a comunicao s se concretiza medida em que o entrevistador souber

    modificar sua mensagem em relao ao entrevistado e situao, identificando-se

    com eles.

  • 19

    Kisnerman (1980:88)

    A ENTREVISTA: . . . um dos instrumentos que possibilita a tomada de

    conscincia pelos assistentes sociais das relaes e interaes que se

    estabelecem entre a realidade e os sujeitos, sendo eles individuais ou coletivos.

    (Martha Medeiros)

    Resoluo CFESS 493, de 21 de agosto de 2006

    ALGUMAS CONSIDERAES

    Alzira Maria Baptista Lewgoy e Esalba Carvalho Silveira, in Revista Virtual, Textos

    e Contextos. N 8, ano VI, dez.2007: . . . torna-se relevante retomar a temtica

    sobre a entrevista, entendendo-a como um dos instrumentos que, dialeticamente

    articulado aos demais, vai compor a palheta do instrumental que viabiliza a

    operacionalizao dos processos de trabalho do assistente social.

    Anete Garret (1988), citada pelas autoras, destaca que . . . apenas a prtica seria

    insuficiente, exigindo para tanto o estudo daquela prtica

    A entrevista como instrumento do Servio Social no se resume a coleta de dados

    ou mtodo interrogatrio; constitui uma atividade profissional com objetivos a

    serem alcanados e informada por princpios ticos especficos e critrios

    tcnicos. O princpio tico fundamental a completa aceitao da outra pessoa

    como ser humano e sujeito de direitos. A violao ou relativizao desse princpio

    bsico implica no comprometimento do resultado e da consecuo dos objetivos.

  • 20

    TIPOS DE ENTREVISTAS

    Aberta: com tema inicial e poucas intervenes do entrevistador, deixando

    abertas as possibilidades de explorao do tema pelo entrevistado.

    Dirigida: objetivo especfico, estrutura mais rgida, questes previamente

    preparadas, tempo controlado.

    Semi-Dirigida: objetivo especfico, com estrutura mais flexvel, abrindo

    maiores possibilidades ao entrevistado.

    O contedo obtido a partir da entrevista compe o processo de dilogo e reflexo

    estabelecido entre usurio e assistente social, indispensvel ao estudo social e

    encaminhamento do caso. O elemento essencial da entrevista o dilogo, que

    permite troca de informaes entre duas ou mais pessoas inseridas na

    problemtica, na qual interage o profissional de Servio Social e usurios.

    ETAPAS DA ENTREVISTA

    Planejamento: definir a finalidade da entrevista, os objetivos e o

    instrumento de coleta de dados (requer do profissional o conhecimento da

    instituio e seu marco de referncia)

    Execuo: habilidades do entrevistador na identificao e seleo das

    necessidades e demandas apresentadas pelos entrevistados e/ou demanda

    da instituio; habilidade de escuta, questionamento e observao para

    alm do discurso manifesto (apreenso do contedo comunicado tanto pela

    linguagem verbal como pela no verbal).

    Registro: seleo dos dados relevantes (sigilo profissional).

  • 21

    VISITA DOMICILIAR

    Segundo AMARO (2003), uma prtica profissional, investigativa ou de

    atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto aos indivduos em seu

    prprio meio social ou familiar.

    Elegibilidade: quando relevante - a finalidade da visita domiciliar especfica,

    guiada por um planejamento ou roteiro preliminar.

    Objetivos: conhecer a insero do sujeito na comunidade, observar as relaes

    familiares no ambiente domstico.

    O que observar*:

    rede de servios: infra-estrutura, acesso a equipamentos de educao,

    sade, lazer, cultura.

    rede de recursos sociais.

    condies de habitabilidade e salubridade.

    organizao domstica e relaes familiares.

    *rol no exauriente

    OBSERVAO

    A observao consiste na ao de perceber, tomar conhecimento de um fato ou

    conhecimento que ajude a explicar a compreenso da realidade objeto do trabalho

    e, como tal, encontrar os caminhos necessrios aos objetivos a serem alcanados.

    um processo mental e, ao mesmo tempo, tcnico. SOUZA (2000).

  • 22

    A observao um instrumento importante em momentos de deciso em que o

    assistente social precisa ter segurana, fixando-se nos objetivos que pretende

    alcanar.

    INTERVENO

    O trabalho do Assistente Social na rea sciojurdica: particularidades e desafios.

    Marco legal: ECA, Constituio Federal (Art. 226, 8. O Estado

    assegurar a assistncia famlia na pessoa de cada um dos que a

    integram, criando mecanismos para coibir a violncia no mbito de suas

    relaes).

    Os limites da interveno: oferecer autoridade judiciria subsdios s

    decises, abrir possibilidades de acesso aos direitos & invaso de

    privacidade (condutas autoritrias e burocrticas como extenso do brao

    coercitivo do Estado.

    As expresses da questo social*: fragmentos da vida social que se

    expressam nos indivduos situaes singulares refletindo as dimenses

    universais da questo social.

    Garantia de direitos: afirmao dos direitos sociais e humanos no cotidiano

    da vida social (convvio familiar e comunitrio, participao na vida coletiva,

    reconhecimentos das expresses culturais e das identidades).

    Intermediao das demandas da populao usuria: socializao das

    informaes quanto aos direitos, reconhecimento das demandas legtimas e

  • 23

    necessidades individuais e coletivas; acesso aos servios sociais e

    jurdicos.

    Articulao com a rede de recursos: dimenso prtico-interventiva.

    (*) Questo social: indissocivel da forma de organizao da sociedade

    capitalista, diz respeito ao conjunto das expresses das desigualdades sociais

    nela engendradas, impensveis sem a intermediao do Estado. . . . expressa,

    portanto, desigualdades econmicas, polticas e culturais das classes sociais,

    mediatizadas por disparidades nas relaes de gnero, caractersticas tnico-

    raciais e formaes regionais, colocando em causa amplos segmentos da

    sociedade civil no acesso aos bens da civilizao.

    ACOMPANHAMENTO SOCIAL

    Procedimento tcnico de carter continuado, e por perodo de tempo determinado,

    no qual necessrio que haja vnculo entre o usurio e o profissional.

    O acompanhamento scio-familiar ocorre quando detectada na entrevista a

    necessidade de se fazer encaminhamentos diversificados, com posterior avaliao

    da resposta do usurio interveno.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CFESS. Vrios autores.O Estudo Social em percias, laudos e pareceres

    tcnicos:contribuio ao debate no judicirio, penitencirio e previdncia social.

    Org.CFESS.10ed.So Paulo:Cortez, 2011.

    GUERRA, Yolanda.A Instrumentalidade do Servio Social.9ed.So Paulo:Cortez,

    2011.

  • 24

    KISNERMAN, Natlio. Temas do Servio Social. So Paulo: Moraes 3 edio,

    1980.

    ____________________tica para o Servio Social; traduo de Ana Maria Pia

    de Lima Ribeiro.5ed.Petrpolis: Vozes: 1983.

    LEWGOY, Alzira Maria Baptista, SILVEIRA, Esalba Carvalho. A entrevista no

    processo de trabalho do Assistente Social. Revista Virtual Textos & Contextos. N.

    8. Ano VI. Dezembro, 2007.

    MAGALHES, Selma Marques. Avaliao e Linguagem relatrios, laudos e

    pareceres.3ed.So Paulo:Veras, 2011.

    MARTINELLI, Maria Lcia, KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a questo

    dos instrumentais tcnico-operativos em Servio Social. Revista Servio Social &

    Sociedade. N. 54. So Paulo: Cortez, 1994.

    PIZZOL, Alcebir Dal. O Servio Social na Justia Comum Brasileira: aspectos

    identificadores perfil e perspectivas profissionais.Florianpolis: Insular, 2008

  • 25

    Estudo Social: Fundamentos Tericos e Metodolgicos Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno

    Leila Dutra de Paiva

    Psicloga Judiciria

    Avaliao Psicolgica no Contexto Jurdico

    Interface Psicologia e Direito

    O discurso jurdico sempre esteve ligado gnese da verdade e os procedimentos

    jurdicos se debruaram e ainda hoje se centram na busca da verdade.

    A demanda pela Psicologia no contexto jurdico impe exigncias especficas,

    ditadas pelo Direito, mas preciso observar que a Psicologia no mundo jurdico

    precisa encontrar o seu eixo prprio.

    A Psicologia formula compromisso com o sujeito e com a sua verdade,

    diferentemente do Direito que busca a verdade amparada no conjunto de leis.

    Foucault - A verdade e as formas jurdicas

    prova

    inqurito

    exame

    A partir dos sculos XVIII e XIX, uma nova forma de revelar a verdade comea a

    preponderar: o exame. Se, com o inqurito, buscava-se reatualizar um

    acontecimento por meio de testemunhos e saber se algo ocorreu e quem o fez,

  • 26

    com o exame, busca-se saber se normal ou no, correto ou no, do que se deve

    ou no fazer.

    A forma de saber-poder do exame dar lugar s cincias humanas, em oposio

    s cincias da observao utilizadas nos inquritos. Entram neste rol a Psiquiatria

    e a Psicologia.

    Os primrdios da Psicologia Jurdica

    A forma de saber-poder do exame dar lugar s cincias humanas, em oposio

    s cincias da observao utilizadas nos inquritos. Entram neste rol a Psiquiatria

    e a Psicologia.

    Segundo Rovinski (2004), a expectativa em torno das avaliaes psicolgicas era

    a de que por meio da compreenso do comportamento desviante e violento fosse

    possvel diagnosticar quadros psicopatolgicos que pudessem explicar, predizer e

    com isso evitar as condutas consideradas violentas ou mesmo criminosas.

    No Brasil, a Psicologia teve um papel subsidirio Psiquiatria no incio das

    atividades ligadas ao meio forense. A Medicina Legal, a Psiquiatria Forense e a

    Criminologia tinham a Psicologia como uma de suas cincias auxiliares.

    Bernardi (1999), no entanto, distingue a insero das duas disciplinas: enquanto a

    Psiquiatria se inseriu no contexto jurdico pelo conceito de loucura, a Psicologia o

    fez por meio das questes envolvendo a famlia.

    A Psicologia, a Psiquiatria e o Servio Social, enquanto campos do conhecimento

    cientfico foram inseridos no contexto jurdico como prova processual. Desde o

    incio, a atuao desses profissionais foi compreendida como uma atividade

    pericial, como um dispositivo a mais para auxiliar a deciso judicial.

  • 27

    O juiz ter sua disposio trs tipos de recursos: a prova documental, a

    testemunhal e a pericial (Cdigo de Processo Civil, 1999).

    A prova documental pode ser desde certido e outros documentos oficiais como

    fitas com gravaes, cartas, fotos, etc.

    A prova testemunhal dada a partir do ter visto e/ou ter ouvido.

    E finalmente, a prova pericial que a avaliao tcnica.

    A Avaliao Psicolgica

    um processo de busca de informaes sobre o funcionamento psicolgico dos

    sujeitos em situaes especficas.

    Objetiva analisar as informaes obtidas luz dos conhecimentos da cincia

    psicolgica com a finalidade de compreender os processos psquicos e sua

    relao com a situao-problema de modo a planejar aes e intervenes

    profissionais.

    Em qualquer avaliao psicolgica o profissional deve levar em conta o contexto

    da situao problema.

    Quem solicitou a avaliao

    Qual pergunta est sendo realizada

    Quem ter acesso s informaes

    Quais aes sero tomadas partindo das informaes obtidas na avaliao.

    O campo da avaliao psicolgica bem vasto.

  • 28

    Em geral, as avaliaes psicolgicas recebem terminologias distintas de acordo

    com o enquadre que possuem e o contexto em que so utilizadas.

    H diferenas explcitas quanto abordagem e ao processo de avaliao nos

    diferentes contextos (contexto clnico # contexto jurdico).

    Contudo, muitas vezes o processo de avaliao psicolgica no difere,

    substancialmente, nos diferentes contextos com relao s tcnicas utilizadas,

    mas sim quanto ao enquadre.

    A obra de O campo (1981), como uma referncia em nossa formao, direcionou

    as questes relativas ao enquadre. A autora destaca a necessidade de se definir o

    enquadre para manter constantes certas variveis que podem intervir no processo,

    entre elas:

    Quem? esclarecimento dos papis - natureza e limite que cada parte integrante

    do contrato desempenha.

    O que? Paciente solicita ajuda e psiclogo aceita e se compromete na medida do

    possvel.

    Onde? Definio e comunicao sobre o local.

    Quando? Horrio e durao do processo.

    Quanto? Honorrios previamente definidos.

    Como? Tcnica de entrevista semidirigida ou aberta, tcnicas projetivas e

    entrevista devolutiva.

  • 29

    Para qu? Descrio e compreenso a mais profunda e completa da

    personalidade do paciente.

    Caires (2003), ao discutir as implicaes conceituais da avaliao psicolgica no

    contexto jurdico, salienta que a transposio direta do modelo clnico para atender

    as indagaes judiciais pode levar a erros essenciais, em relao s decises dos

    magistrados, como tambm, suscitar descrdito quanto ao alcance do que

    informado.

    Para atuar no contexto jurdico, o profissional precisa distinguir o seu trabalho

    daquele exercido pelos terapeutas na clnica e se conscientizar das caractersticas

    e especificidades da avaliao psicolgica judicial.

    Rovinski (2004) aborda quatro dimenses da avaliao psicolgica no contexto

    jurdico:

    Objetivo da avaliao

    Relao com a pessoa avaliada

    Caractersticas da metodologia

    Formao tcnica do psiclogo judicirio

    Dilemas atuais no campo da Avaliao Psicolgica

    1. H o risco das avaliaes psicolgicas priorizarem os fatores individuais (at

    mesmo intrapsquicos) dissociando-os da dimenso scio-poltica cultural.

    Entre os pesquisadores e profissionais observa-se, muitas vezes, posies

    maniquestas quanto ao contedo dos processos de avaliao psicolgica.

    2. Severas crticas aos instrumentos de avaliao.

  • 30

    Os modelos e instrumentos de avaliao devem ser analisados na especificidade

    de cada situao.

    Instrumento e profissional formam uma unidade indissocivel. Portanto, o efeito

    inadequado do uso responsabilidade do intrprete e no do instrumento.

    (Ricardo Primi)

    Os posicionamentos extremistas e partidrios sobre o contedo e/ou sobre os

    instrumentos e tcnicas de avaliao podem obstruir o aprimoramento dos

    processos de avaliao, bem como a sua adequao aos diferentes contextos.

    3. Os resultados das avaliaes e os relatrios ou laudos formulados a partir

    desse material podem permear aes e decises importantes com profundas

    repercusses na vida das pessoas.

    A percia judicial

    A palavra percia vem do latim (peritia), que significa: destreza, habilidade. O

    termo perito tambm procede do latim (peritus) e quer dizer erudito, capaz.

    Percia o exame de situaes ou fatos relacionados a coisas ou pessoas,

    realizado por especialista na matria que lhe submetida.

    Pautado em conhecimentos cientficos, o perito busca elucidar determinados

    aspectos tcnicos e oferecer um conhecimento especializado que ajudar a

    compreender as evidncias existentes no processo e, algumas vezes, a explicar

    as causas de determinado fato.

    A prova pericial permite incluir nos autos informaes tcnicas que, no raro, o

    juiz desconhece, por ultrapassarem seu conhecimento tcnico-jurdico.

  • 31

    A percia, como meio de prova, no se constitui uma verdade soberana. Ao ser

    anexada aos autos, dever ser objeto de anlise por todos os envolvidos na

    questo.

    O resultado da avaliao pericial precisa ser apresentado por meio de um laudo,

    no qual os achados so descritos com preciso e analisados de forma a

    fundamentar cada concluso.

    Regulamentao legal da percia judicial

    As determinaes legais sobre a realizao dos procedimentos periciais

    encontram-se explicitadas em duas grandes reas jurisdicionais: a cvel e a

    criminal.

    Na rea cvel, a percia judicial est regulamentada pelo Cdigo de Processo

    Civil.

    Na rea penal, h recomendaes importantes prtica da percia no Cdigo de

    Processo Penal.

    A atividade do psiclogo na funo de perito tambm fica legitimada atravs de

    seu rgo de classe o Conselho Federal de Psicologia. No decreto 53.964 de

    1964, que regulamenta a Lei 4.112, responsvel pela profisso de psiclogo, est

    prevista a atividade de realizar percias e emitir pareceres sobre a matria da

    Psicologia.

    Em 1992, o CFP remeteu ao Ministrio do Trabalho uma descrio mais completa

    das atividades que caracterizam o trabalho do psiclogo, entre as quais se

    destacam:

  • 32

    4. Avaliar as condies intelectuais e emocionais de crianas, adolescentes e

    adultos em conexo com processos jurdicos, seja por deficincia mental e

    insanidade, testamentos contestados, aceitao em lares adotivos, posse e

    guarda das crianas ou determinao da responsabilidade legal por atos

    criminosos.

    5. Atuar como perito judicial nas varas cveis, criminais, justia do trabalho, da

    famlia, da criana e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e percias a

    serem anexados aos processos.

    A atividade de percia prevista para o psiclogo desde a regulamentao de sua

    profisso, com previso de sua atuao em diversas reas da jurisdio.

    Na prtica, os profissionais tm ocupado esses espaos, com trabalhos de

    repercusso social, fazendo com que haja uma demanda crescente por parte do

    Poder Judicirio.

    O trabalho do psiclogo judicirio

    A natureza dos processos judiciais determina a forma de abordagem do caso pelo

    psiclogo. Assim, na matria da infncia e juventude, em que a maioria das

    questes implica em verificao da ameaa ou violao dos direitos da criana e

    do adolescente (processos verificatrios), cabe ao psiclogo utilizar os recursos de

    sua especialidade, para dimensionar a problemtica psicolgica dos envolvidos na

    situao social e jurdica.

    Nessa rea, o psiclogo desempenha a funo principal de auxiliar o juiz, isto ,

    de assessorar os magistrados para tomada de decises jurdicas, por meio dos

    estudos psicolgicos de casos. Tais estudos implicam na realizao de avaliaes

    psicolgicas no contexto institucional, envolvendo todas as pessoas implicadas

    como partes do processo judicial.

  • 33

    Tal dimensionamento implica no estabelecimento de um programa de

    interveno no caso, com avaliao, acompanhamento, orientao e

    encaminhamento das pessoas envolvidas.

    O compromisso do psiclogo no fica restrito ao fornecimento de informaes ao

    magistrado para a deciso do processo judicial, mas, em trabalhar todas as

    dimenses do caso, com vista promoo e manuteno de uma poltica de

    garantia de direitos da infncia e juventude.

    Embora a atuao dos psiclogos no mbito do judicirio seja concebida como

    dispondo de um carter predominantemente avaliativo, o trabalho no cessa com

    a emisso de um parecer psicolgico sobre o caso, precisando, muitas vezes,

    reavaliar e acompanhar situaes que se transformam ao longo do processo

    judicial.

    Nesses casos, o relacionamento do psiclogo com as pessoas - partes

    interessadas - implica numa avaliao psicolgica como um processo de

    compreenso e de interveno, e tambm, no estabelecimento de

    recomendaes teraputicas e sociais pertinentes realidade dos implicados.

    Alm das avaliaes psicolgicas, o psiclogo judicirio nos fruns, realiza

    trabalhos de elaborao de documentos, acompanhamento de casos,

    aconselhamento psicolgico, orientao, mediao, fiscalizao de instituies e

    de programas de atendimento infncia e adolescncia e encaminhamentos.

    Desempenha funes de avaliao e/ou de interveno direta, conforme a

    natureza do caso e o momento do atendimento realizado (antes, durante ou aps

    a sentena judicial).

  • 34

    Avaliao psicolgica X Percia psicolgica

    Diferentemente desses casos verificatrios, h os contenciosos, cujas partes

    apresentam-se numa relao judicial litigiosa, em disputa por interesses

    contraditrios.

    Nesses processos, as pessoas so representadas por advogados, que provocam

    o Poder Judicirio visando resoluo do conflito, com o restabelecimento dos

    direitos da pessoa prejudicada.

    A natureza contenciosa desses casos tem implicado numa atuao pontual e

    especfica do psiclogo, prevista e regulamentada pelo Cdigo de Processo Civil

    como a funo de perito.

    Os psiclogos peritos, como profissionais de confiana do juzo, assumem o

    compromisso de imparcialidade na avaliao dos casos, comprometendo-se a

    apresentar um parecer tcnico psicolgico sobre as questes formuladas pelo

    magistrado e de responder aos quesitos formulados pelos advogados das partes e

    pelo ministrio pblico.

    No contexto jurdico, a escolha dos instrumentos e tcnicas a serem utilizadas

    dependem:

    da natureza do processo judicial (verificatrio ou contencioso).

    da gravidade das questes tratadas no processo (criana e adolescente em

    situao de risco).

    do tempo institucional (urgncia, data de audincia j fixada, nmero de

    casos agendados).

  • 35

    da livre escolha do profissional, conforme seu referencial tcnico, filosfico

    e cientfico.

    As modalidades de percia psicolgica judicial

    So trs as possibilidades do profissional da rea da psicologia atuar em percias

    judiciais:

    1) O profissional possui uma prtica liberal de consultrio, atuando como

    psiclogo clnico, e indicado pelo juiz para assumir o encargo de determinada

    percia numa ao judicial;

    2) O profissional atua na instituio judiciria enquanto psiclogo judicirio. Sua

    atividade est diretamente ligada ao Juiz, processual e hierarquicamente. Desse

    modo, a qualquer momento pode ser indicado pelo juiz para a realizao de

    determinada percia em algum processo;

    3) O profissional atua em instituio ou centro de referncia aos quais os

    tribunais recorrem para obter o produto de seu trabalho especializado.

    H uma quarta modalidade de atuao no mbito da psicologia em articulao

    com o campo jurdico: a funo de assistente tcnico. Esse profissional

    contratado pelas partes litigantes e suas atividades tm caractersticas distintas

    daquelas desenvolvidas pelo perito nomeado pelo Juiz.

    Em qualquer uma dessas modalidades, o psiclogo que for atuar em uma ao

    judicial deve:

    ter clareza sobre os objetivos de seu trabalho.

    possuir conhecimentos no apenas da rea psicolgica, mas do sistema

    jurdico em que vai operar.

  • 36

    conhecer as jurisdies e a legislao vigente relacionada ao seu objeto de

    estudo.

    ter cincia das normas estabelecidas quanto sua atividade.

    familiarizar-se com a terminologia da rea jurdica.

    Funes e papis do perito indicado pelo Juiz e do assistente tcnico

    As definies das atividades do perito e do assistente tcnico esto definidas

    pelo Cdigo de Processo Civil de 1973 e pelas alteraes trazidas pela Lei 8.455

    de 1992.

    O Cdigo de 1939 previa apenas a figura de um perito que era nomeado pelo juiz.

    Em 1946, foi estabelecido um sistema de trplice percia que demandou a

    necessidade de um perito desempatador.

    A partir de 1973, a percia passou a ser realizada por um perito nomeado pelo juiz

    e de exclusiva confiana deste. No momento da nomeao do perito, fica aberto o

    prazo de cinco dias para que as partes indiquem seus assistentes tcnicos e

    apresentem quesitos.

    A realizao da percia funo exclusiva do perito nomeado pelo juiz. O perito

    elabora seu laudo e o apresenta para que os assistentes tcnicos possam ento

    realizar seus pareceres crticos a respeito desse trabalho em at dez dias da

    entrega do mesmo (art. 433).

    Em 1992, extingue-se a necessidade do conhecimento do contedo do laudo por

    parte dos assistentes tcnicos, antes de ser entregue em juzo. Com as

    mudanas, fica mais claro que o trabalho do assistente tcnico deve se restringir

    anlise da avaliao pericial j realizada, discutindo, em seu parecer, os

  • 37

    procedimentos utilizados e as concluses formuladas, evitando que seu trabalho

    se constitua em um novo laudo.

    O parecer do assistente tcnico deve se ater tcnica utilizada e apresentada

    pelo perito no laudo. Falhas ticas devem ser dirigidas aos rgos de classe,

    Conselhos Regionais e/ou Federal.

  • 38

    3 Aula

    Interdisciplinariedade e Formas de Registro: Psicologia e Servio Social

    Conceitos,informaes, pareceres, relatrios e laudos

  • 39

    LAUDOS, RELATRIOS E OUTROS REGISTROS NO SERVIO SOCIAL SCIO JURDICO .

    Rita Oliveira

    Assistente Social Judiciria

    SERVIO SOCIAL X INFNCIA JUVENTUDE & FAMLIA

    SERVIO SOCIAL BRASILEIRO

    do conservadorismo e valorizao instrumental defesa de direitos

    INFNCIA JUVENTUDE FAMLIA

    perspectiva individualizao de questes sociais legitimadas cdigo menores 1927 e 1979 ruptura- 1990-ECA

    A poltica da PNBEM no foge a essa regra: sua prioridade era a colocao de crianas em lares substitutos e em nenhum momento havia a preocupao em analisar criticamente as engrenagens e tramas produtoras de misria, abandono e excluso social. (Nascimento, p. 133)

  • 40

    Cenrio histrico de trabalho

    A engenharia construda com o sistema de proteo e assistncia, sobretudo, durante o sculo passado, permitiu que qualquer criana ou adolescente, por sua condio de pobreza, estivesse sujeita a se enquadrar no raio da ao da Justia e da assistncia, que sob o argumento de prender para proteger confinavam-nas em grandes instituies totais.

    Essas representaes negativas sobre as famlias cujos filhos formavam o pblico da assistncia social e demais polticas sociais tornaram-se parte estratgica das polticas de atendimento, principalmente da infncia e da juventude, at muito recentemente.

    Essa desqualificao das famlias em situao de pobreza, tratadas como incapazes, deu sustentao ideolgica prtica recorrente da suspenso provisria do poder familiar ou da destituio dos pais e de seus deveres em relao aos filhos. (PNCFC, 2006)

    DO INTRUMENTO INSTRUMENTALIDADE

    Instrumental:

    Meios - devem ser pensados para alm da tcnica ou do instrumental operativo: conhecer tcnicas de entrevista e de redao para registros (j), fundamental no trabalho do assistente social. Porm o domnio das tcnicas no garante por si s a competncia profissional. Os contedos histrico, terico-metodolgicos e tico-poltico que constituem o projeto do Servio Social, articulados ao domnio da tcnica, que iro distinguir o trabalho profissional competente: o trabalho que efetivamente compete ao assistente social.(Fvero)

    Foco na famlia Novas propostas e velhos princpios: a assistncia s famlias no contexto de programas de orientao e apoio sociofamiliar (Regina Celia T Mioto) in Poltica Social Famlia e Juventude: uma questo de direitos. Choque entre o direito privacidade e o direito proteo.

  • 41

    A permeabilidade dos limites da privacidade familiar diretamente proporcional sua vulnerabilidade social (p.50).

    As famlias pobres, desestruturadas, so mais facilmente visitadas por assistente social para verificar suspeitas de violncia, educao inadequada que as consideradas normais que conseguem defender com mais facilidade sua privacidade, esconder com mais sucesso as suas violncias e buscar alternativas de solues sem publicizao. (p.50)

    Interferncia do Estado nas famlias POR TRS LINHAS: legislao, polticas demogrficas, difuso de uma cultura de especialistas nos aparatos policialescos e assistenciais do Estado destinados especialmente s classes populares.

    Estudos clssicos: Donzelot, Jurandir Freire Costa (Ordem mdica e norma familiar) e Verdes-Leroux.

    A proliferao dos programas de ateno famlia ocorre sem debate aprofundado trazendo muitas vezes embutidos princpios assistencialistas e normatizadores da vida familiar que pensvamos ultrapassados (p.53/54-57).

    ESTUDO SOCIAL OU INQURITO SOCIAL DESENVOLVIMENTO INQURITO 1889 E 1898 NOVA DISPOSIO ASSISTNCIA+ DISCIPLINA SOCIEDADE+LEIS DE ASSISTNCIA A INFNCIA PERMITIRAM A GENERALIZAO DE UMA TCNICA DE INQURITO = tcnica mnimo de coero/mximo de informao SEGUNDO JACQUES DONZELOT (A POLCIA DAS FAMLIAS) UM TEXTO DE 1920 EXPE AS SEGUINTES REGRAS:

    1. REGRA- APROXIMAO CIRCULAR DA FAMLIA (antes de contatar o entrevistado coletar informaes com pessoas do meio em que vive).

    2. REGRA- INTERROGATRIO CONTRADITRIO E SEPARADO (fazer

    as mesas perguntas para as pessoas envolvidas em momentos diferentes e

  • 42

    separadamente o que permitia confrontar informaes- para isso a visita de surpresa era utilizada p.114).

    3REGRA- VERIFICAO PRTICA DO MODO DE VIDA FAMILIAR (enquanto se observa tudo ao redor (higiene,inventrio da moblia, utenslios, roupas vista) era bom que a conversa flusse livremente (prazer) para que o entrevistado fosse se soltando; era indicado dar conselhos...p. 115).

    Espao de Trabalho- Contradio categoria central

    Ampliao e garantia de direitos X Controle/disciplinarizao .

    Cotidiano da interveno: c/ base nos fundamentos histricos, terico-metodolgicos, tico-poltico e tcnico-operativos (mbitos inter/extra institucional).

    Pesquisa - sistematizao/conhecimento da realidade social (trabalho - sujeitos).

    Organizao poltica.

    (Eunice T. Fvero / Servio Social no Judicirio)

    Estudo social fundamentos (In Fvero, 2003)

    Mesmo o trabalho com apenas um usurio: ele um indivduo social. O desvelamento da realidade social que condicionou a sua histria, do fato que motivou a realizao do estudo competncia do assistente social.

    O sujeito tem uma histria social de vida passada e presente;

    viveu e vive numa sociedade em que ele, e ou as pessoas com as quais mantm vnculos, teve ou tem alguma forma de relao com o trabalho - inserido, excludo, ou sobrante;

    viveu/vive em um grupo familiar, c/ o qual manteve/mantm relaes fundantes e determinantes de sua forma de vida;

  • 43

    vive (ou transita) em uma regio, em uma cidade, em um bairro, forjados socialmente por polticas pblicas (s quais ele teve ou no acesso) que determinam sua existncia;

    a cultura elemento presente em seu processo de socializao e nas relaes que estabelece ao longo da vida.

    Chaves do conhecimento para a construo do estudo social

    Fundamentos e base terica: informaes descritas e interpretadas a partir da dinmica da realidade social, poltica, econmica e cultural, de maneira a provocar aes cotidianas que garantam e efetivem direitos.

    Pressupe, dentre outros: conhecer e acompanhar:

    dados gerais sobre a condio de vida da populao com a qual se trabalha (IBGE, IPEA, UNICEF, Organizaes de informaes locais...).

    resolues e planos aprovados pelos Conselhos de Direitos, nas trs esferas de governo.

    contedos de planos, projetos de lei e leis, relacionados ao trabalho cotidiano.

    COMUNICAO ESCRITA LAUDOS E RELATRIOS

    H uma continuidade da interveno, de forma indireta: a mensagem enunciada nesses documentos subsidiar decises a respeito

    da vida de um indivduo ou grupo social

    documento elaborado pelo assistente social ir intermediar o dilogo entre a realidade do usurio e de demais profissionais que tero acesso a ele: juiz, promotor, psiclogo, advogado etc.

    Essa comunicao ser interpretada luz de objetivos profissionais que lhe so especficos (Magalhes, S.)

  • 44

    Escrever no uma habilidade que nasce com a gente... preciso desenvolver a tcnica Estrutura - Lgica Estilo Como autor voc deve se comportar como leitor verificando se o texto est:

    Resumido/conciso contedo e objetivo.

    Claro/compreensvel.

    Preciso- excluir informaes irrelevantes.

    Simples em vez de complexo ou enrolado.

    Composto de uma estrutura lgica.

    Numa linguagem tcnica compreensvel.

    (Forsyth, 1997, p.12)

    Uso da Linguagem

    Legibilidade o texto flui, um assunto leva ao outro, segue uma estrutura lgica na transmisso da mensagem.

    Objetividade- faz uso de palavras curtas (porque elucidar alguma coisa

    quando voc pode explicar?), frases curtas devem se alternar com as longas ou o ato de ler poder tornar-se muito automtico.

    Naturalidade embora os relatrios precisem de certo grau de

    formalidade, preciso cuidado para no usar linguagem fora de moda, ou burocrtica, ou empolado a ponto de querer dar mais peso a um assunto do que ele realmente tem.

    CONSIDERE:

    Para quem o relatrio (quanto mais souber sobre seu leitor melhor ser a comunicao);

    Motivos pelos quais querem ou precisam do relatrio;

    Que informaes esperam encontrar e em que nvel de detalhes;

  • 45

    O que no esperam encontrar no texto.

    COMPROMETER CREBRO ANTES TECLADO-CANETA

    Fase 1- listar

    Fase 2- seleo

    Fase 3- organizao

    Fase 4- reviso

    Fase 5- redao

    Fase 6 edio

    Forsyth, 1997, p.18-22

    As melhores histrias tm comeo, meio e fim:

    Introduo esclarecer o assunto e tema, estabelecer objetivos e proposta, iniciar o processo de entrar no assunto e criar uma linha de pensamento o incio do relatrio deve fisgar o leitor, o comeo fala muito sobre o autor;

    O meio por ser mais extenso exige cuidado com a estrutura e consistncia (estrutura lgica, sinalizao das intenes a seguir iremos abordar..., utilizao de ttulos e subttulos, recursos visuais);

    O fim trs objetivos: chegar a uma concluso e apresent-la; agrupar-resumir o contedo, terminar com um fecho interessante.

    INTRODUO - indicando a demanda judicial e os objetivos do trabalho; identificao das pessoas envolvidas na ao e que direta e indiretamente esto includas no estudo; a metodologia utilizada para a efetivao do trabalho (entrevistas, visitas, contatos, estudos documental e bibliogrfico) e a definio breve de alguns conceitos utilizados.

    DESENVOLVIMENTO -aspectos socioeconmicos e culturais- que podem ser permeados c/ anlise ou finalizados com a anlise interpretativa e conclusiva, parecer social.

  • 46

    CONCLUSO - parecer social sintetiza a situao, apresenta uma breve anlise; aponta concluses ou indicativos de alternativas que expressaro posio profissional frente ao objeto de estudo.

    Sugestes/questes para avaliar a coerncia e consistncia de um registro:

    O texto que escrevi est claro, coerente, completo?

    As informaes e os relatos so precisos e necessrios ou, ao contrrio,dizem respeito minha tendncia prolixidade?

    Tudo o que escrevi essencial compreenso do texto, ou alguns dados interessariam apenas, a mim, como subsdios para a avaliao?

    A linguagem que utilizei est adequada?

    A forma de expresso condiz com a linguagem escrita?

    Os pronomes e as expresses de tratamento foram usados adequadamente?

    Ao me referir anlise que fiz, utilizei a mesma pessoa em todo o texto, isto , usei sempre o impessoal [percebeu-se...] ou a primeira pessoa do plural [percebemos...]?

    (Magalhes, S.)

    REFLETINDO

    Laudo social ou Relatrio Social?

    Laudo interdisciplinar regulamentao dos respectivos conselhos.

    PIAS- instrumento que exige competncia para alm de preenchimento de dados/informaes.

    Do caminho percorrido- ao registro escrito- vcios e reiteraes tpicas do cotidiano.

    Outros registros fundamentais: projeto, plano de trabalho e relatrio das aes desenvolvidas.

  • 47

    Princpios ticos na elaborao laudo/relatrio social quando vivi o contraditrio em um processo judicial ... No momento da Pscoa de 1976, um obscuro detento de uma priso de provncia morreu em consequncia de uma longa greve de fome que ele fez porque, em seu pronturio judicial s se registrara suas falhas, seus desvios da norma, sua infncia infeliz, sua instabilidade conjugal, e no suas tentativas, suas buscas, o encadeamento aleatrio de sua vida. Foi ao que parece, a primeira vez que uma greve de fome resultou em morte numa priso: a primeira vez, tambm, que foi feita por motivo to extravagante. (Donzelot, 1980: 209).

    Stela Guedes Caputo Jornalista- Sobre entrevistas- teoria, prtica e experincias, Editora Vozes, RJ, 2006. Para o bem ou para o mal as frmulas podem at ajudar, mas no resolvem. Sei apenas, e tambm digo a eles, que muitas pessoas (jornalistas, pesquisadores e quem quer resolva passar a vida escrevendo) o faro como quem quebra pedras, arrancando as palavras de sua existncia e cimentando-as como tijolos em paredes. Escrevero muros e no textos. Escrevemos quando sentimos que passamos por uma experincia. A construo de um texto uma experincia singular. Ao viv-la, escorre por nossas mos o lugar de onde somos e o modo como olhamos o lugar em que estamos. Deixamos no tecido do texto as fibras de nossas mos e de outras que por nossas mos passaram. Ao mesmo tempo, ao finalizarmos nosso trabalho e levantarmos os olhos das telas de nossos micros, j no vemos o mundo como antes. porque tambm somos transformados pela experincia de escrever, quando ela, de fato, acontece.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    CAPUTO, SG. Sobre Entrevistas, teoria, prtica e experincia. Ed. Vozes, RJ, 2006.

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  • 48

    FVERO, E. T. Instrues sociais de processos, sentenas e decises. Material em organizao, para curso de especializao distncia CFESS, 2007.

    FVERO, E. T., TOLOSA JORGE, M. R., MELO, M. J. O Servio Social e a Psicologia no Judicirio construindo saberes, conquistando direitos. So Paulo: Cortez, 2005.

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    LEI n. 8.662/93. Dispe sobre a profisso de Assistente Social.

    LEI n. 8.069/90. Estatuto da Criana e do Adolescente.

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  • 49

    INTERDISCIPLINARIDADE E FORMAS DE REGISTRO: PSICOLOGIA.

    CONCEITOS, INFORMAES E PARECER, RELATRIO E LAUDO.

    Da autora:

    Pilar Isabel Travieso- psicloga graduada e ps graduada pelo IP-USP. Mestrado

    defendido em 2001: O Sujeito no Discurso Jurdico das Varas de Infncia e

    Juventude: Pedido de Providncias. Orientadora: Prof Dr Marlene Guirado.

    Trabalha no Frum desde 1985, tendo atuado durante dcadas em Setores de

    Psicologia das Varas de Infncia e Juventude e, mais recentemente, no Setor de

    Psicologia das Varas de Famlia e Sucesses do Frum Central.

    Do trabalho:

    O objetivo pensar o fazer psicolgico dentro da instituio judiciria luz do

    entrecruzamento de discursos, tanto nas Varas de Infncia e Juventude quanto

    nas Varas de Famlia e Sucesses.

    Em minha Dissertao de Mestrado, parto de alguns pressupostos tericos e

    metodolgicos, abaixo mui sucintamente listados, para pensar, a partir da anlise

    de discurso, que sujeitos possveis so configurados no e pelo discurso

    institucional. Embora o material analisado poca tenham sido processos de Vara

    de Infncia e Juventude, com tramitao e configuraes distintas dos de Vara de

    Famlia e Sucesses, acredito que o embasamento terico e metodolgico, bem

    como alguns achados da pesquisa, podem nos ajudar a refletir em ambos os

    procedimentos.

    Como vocs sabem, h poucas equipes tcnicas exclusivas de Varas de Famlia.

    A maioria dos psiclogos e assistentes sociais judicirios chamada a atuar em

    ambos tipos de questes.

  • 50

    Estamos h dcadas saindo das clnicas e adentrando instituies outras.

    Na Justia, os psiclogos podem trabalhar de dentro da instituio, como

    funcionrios, seja nas Varas de Infncia, seja nas Varas de Famlia e Sucesses.

    Podem tambm, nesta segunda rea, ser contratados para percias pontuais ou

    como Assistentes Tcnicos.

    Na Infncia, somos servios auxiliares do juiz como bem explicita o Estatuto da

    Criana e do Adolescente, atuamos nos processos desde seu incio e por vezes

    durante toda sua tramitao. Inmeras vezes, os operadores de Direito no tm

    contato direto com os clientes. Quem os entrevista e anota suas queixas/pedidos e

    pontos de vista so os tcnicos. A comunicao mais usual a escrita, pela via de

    relatrios pontuais ou finais e pareceres. A partir desses escritos, ocorrem as

    decises.

    Nas Varas de Famlia, nossa interveno advm de determinao do Juiz, e a

    somos nomeados peritos. Perito significa aquele que detm um conhecimento

    especial sobre determinado tema. Ante uma questo envolvendo filhos, o juiz

    pode requerer um estudo, finalizado num laudo.

    Aspectos normativos

    O Conselho Federal de Psicologia vem produzindo documentos que buscam

    nortear nosso trabalho prtico e nossa produo discursiva escrita.

    Fundamentalmente, temos Cdigo de tica do Psiclogo (agosto, 2005), de onde

    destaco dois artigos:

    Art. 1- So deveres fundamentais do psiclogo[..] g) Informar, a quem

    de direito, os resultados decorrentes da prestao de servios

    psicolgicos, transmitindo somente o que for necessrio para a tomada

    de decises que afetem o usurio ou beneficirio(p. 08, grifos meus)

  • 51

    Art. 6- O psiclogo, no relacionamento com profissionais no

    psiclogos [...] b) compartilhar somente informaes relevantes para

    qualificar o servio prestado, resguardando o carter confidencial das

    comunicaes, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de

    preservar o sigilo (p.14, grifos meus)

    O CFP tambm emitiu Resoluo (007/2003) delimitando formatos para os

    relatrios, pareceres e atestados. Recomendo a todos que estudem tal Resoluo.

    Por ora, destaco alguns excertos:

    O processo de avaliao psicolgica deve considerar que os objetos

    deste procedimento (as questes de ordem psicolgica), tm

    determinaes histricas, sociais, econmicas e polticas, sendo as

    mesmas elementos constitutivos do processo de subjetivao. O

    Documento, portanto, deve considerar a natureza dinmica, no

    definitiva e no cristalizada de seu objeto de estudo[...] A linguagem nos

    documentos deve ser precisa, clara, inteligvel e concisa, recusando

    qualquer tipo de considerao que no tenha relao com a finalidade

    do documento especfico.

    Quando detalha os modelos, prope formatos de estrutura de texto...

    Mais recentemente, e mais focalizados nas percias em Varas de Famlia, foram

    emitidos dois documentos: A resoluo 008/2010, que arbitra sobre o

    relacionamento entre Perito e Assistente Tcnico e as Referncias Tericas para

    Atuao do Psiclogo em Varas de Famlia.(2010)

    Para que tantas normas?

    A crescente produo de normativas e recomendaes remetem a Foucault

    (1999):

  • 52

    suponho que em toda sociedade a produo do discurso ao mesmo

    tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo

    nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e

    perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e

    temvel materialidade[...] Sabe-se bem que no se tem o direito de dizer

    tudo, que no se pode falar de tudo em qualquer circunstncia, que

    qualquer um, enfim, no pode falar de qualquer coisa...(p.9).

    Para traar meu campo terico, acompanho Guirado, (1995, 2001), psicanalista

    que articula vetores clnicos anlise francesa de discurso (de Maingueneau), e

    ensinamentos de Michel Foucault sobre discurso e instituio, criando uma

    metodologia e um modo instigante e peculiar de enfoque do sujeito: matriciado

    institucionalmente, credor e criador das instituies em que se insere. Sujeito no

    solto e autnomo, no totalmente fundado na instituio. Mtodo que ser nesta

    exposio brevemente elencado, apenas para dizer das origens de meu modo de

    pensar a prtica psicolgica na Justia: nossa insero e no neutralidade.

    Michel Foucault abordou a questo do discurso: entremeado com o poder, um

    poder que se exerce nas relaes.

    Para esse pensador, o discurso no algo neutro, livre, e sim rodeado de

    interdies, normas.

    Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as

    interdies que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligao com

    o desejo e com o poder. Nisto no h nada de espantoso, visto que o

    discurso como a psicanlise nos mostrou no simplesmente

    aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo: tambm, aquilo que o

    objeto do desejo; e visto que isso a histria no cessa de nos ensinar

    o discurso no simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os

  • 53

    sistemas de dominao, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder

    do qual nos queremos apoderar (p.10)

    E, num texto que focaliza especialmente as prticas jurdicas (Foucault, 1996,

    1973), aponta a emergncia de (especficos) sujeitos a partir das alteraes

    sofridas no modo como a sociedade o poder lida com a questo dos crimes e

    das infraes norma. E, alm de noes de sujeito enquanto indivduo, junto

    com ela, destaca a reconfigurao e criao de cincias, de verdades:

    perspectivas, histricas, ligadas ao poder.

    As prticas judicirias a maneira pela qual, entre os homens, se

    arbitram os danos e as responsabilidades, o modo pelo qual, na histria

    do Ocidente, se concebeu e se definiu a maneira como os homens

    podiam ser julgados em funo dos erros que haviam cometido, a

    maneira como se imps a determinados indivduos a reparao de

    algumas de suas aes e a punio de outras, todas essas regras, ou

    se quiserem, todas essas prticas regulares, claro, mas modificadas

    sem cessar atravs da histria me parecem uma das formas pelas

    quais nossa sociedade definiu tipos de subjetividade, formas de saber

    e, por conseguinte, relaes entre o homem e a verdade que merecem

    ser estudadas (1973, p.11)

    A maneira como somos vistos, qualificados e definidos, o discurso que tecido,

    legitimado e recriado nas instituies, fruto de relaes de fora, desenha lugares

    aos partcipes, comporta vontade de verdade, facetas cientficas, (que aspiram a

    ser) neutras. Alguns analistas do discurso situam-no em sua dimenso

    institucional e instituinte, discurso como ato de fala, que define e configura que

    qualifica e delimita.

    Repetindo o escrito alhures (Travieso, 2001,p.51):

  • 54

    A utilizao de determinados termos ( e no de outros) est atrelada a

    estratgias polticas/sociais, a verdades, inscrita em configuraes

    histricas, com estreita margem de escolha pelos indivduos em

    comunicao, os quais, atravs do contextos, (re)conhecem-se e

    posicionam seus interlocutores.

    Dominique Maingueneau, em aula sobre Anlise de Discurso, nos ensina:

    ..falar no a expresso do pensamento de um sujeito que utiliza a

    linguagem como instrumento, mas entrar numa instituio que domina o

    sujeito. Falar entrar nessa ordem do discurso...(p.22,2000)

    Para nos ajudar nessa reflexo sobre os discursos e as instituies, utilizarei a

    noo, exposta por Maingueneau, de Gnero de Discurso, um conceito simples e

    muito claro. Um sujeito, ao emitir verbalizaes, no o faz sem coeres, livre, e

    sim dentro de contexto e parmetros (sociais, institucionais, histricos) que o

    precedem e que ele, nesse falar, legitima, atualiza (e eventualmente, altera). So

    normas e limites que tambm atribuem caractersticas aos falantes, posies,

    lugares, peculiaridades.

    Pensemos numa pea de teatro: a platia sabe que o que se desenrola no palco

    um momento separado da realidade e, portanto tem uma postura especial

    diante dos atores e do que ocorre. Uma missa, uma audincia, uma entrevista de

    televiso, uma entrevista psicolgica na Justia.... Cada momento desses

    pressupe instituies/gneros discursivos que os partcipes reconhecem, sob

    pena de no haver comunicao ou de algum deles ser considerado louco ou

    socialmente desadaptado.

  • 55

    Vamos a Maingueneau( in Guirado,2000):

    A noo de gnero discursivo central na Anlise do Discurso: cada

    enunciado se apresenta por meio de um certo quadro que permite

    apreend-lo e, sobretudo, da deriva-se um comportamento

    adequado(p.91)

    Uma pessoa sozinha no pode definir as condies do gnero de

    discurso. O gnero de discurso uma instituio; para que se possa

    entrar no jogo preciso que exista j um quadro preestabelecido.(p.92)

    e

    O discurso institui, instaura as condies de sua prpria possibilidade.

    O gnero de discurso preestabelecido, mas tambm o quadro

    preestabelecido tem que ser relegitimado a cada enunciao. Os

    quadros genricos so acordos tcitos; no existem como coisas. E so

    sempre suscetveis de transformao(p.93)

    Texto e contexto entremeados.

    Com Guirado, aprendemos o discurso como instituio, matriciando sujeitos e

    lugares, configurando cenrios.

    Falando sobre a atuao de psiclogos em instituies que no a clnica, a

    pesquisadora observa(1995):

    A considerarem-se todas essas prticas cruzadas como instituies, a

    subjetividade com que se trabalha, no nvel analtico ou teraputico, no

    interior de instituies que no o consultrio, esta subjetividade a

    supor reedies de relaes sobre um terreno j marcado por uma

  • 56

    estrutura de lugares, um imaginrio e um objeto que lhe so

    caractersticos(p.120,121)

    E, ainda,

    [falando em transferncia institucional]... possvel dar-se conta de que

    a reedio de modelos de relao[...] no conjunto de uma prtica

    institucional que no a da clnica psicanaltica em sentido estrito s

    pode ser considerada se considerados forem o objeto, a estrutura de

    lugares e o imaginrio da instituio ora privilegiada(p.118,119).

    A Justia constri seu discurso, seu gnero discursivo (Maingueneau,2001) e

    por ele constituda. Os partcipes reconhecem e se reconhecem nesse peculiar

    gnero, construindo(se) a identidades e lugares, que fornecem caractersticas aos

    que os ocupam (Travieso, 2001).

    O discurso jurdico como toda instituio situa os sujeitos em determinados

    lugares, mais ou menos fixos, transferindo-lhes, de plano, caractersticas afeitas

    ao lugar institucional/discursivo. H uma peculiar maneira de se comunicar, na

    Justia, com pouco espao para uma expresso espontnea (caso isso exista).

    E essa linguagem atribui caractersticas a todos os envolvidos, sejam clientes ou

    agentes.

    Novamente, apoio-me em trabalho anterior (Travieso, 2001).

    O sujeito a que me reportarei aquele institucionalmente fundado,

    sujeito-dobradia (Guirado, 1995), fonte e efeito de discursos que o

    atravessam. No indiferenciado, posto manter-se (ao menos em parte)

    ao longo dos gneros que o instituem, mas tampouco delimitado como

    indivduo, fechado em si e constante. Um sujeito que no uno, que

    no domina seu discurso, no somente por ser sujeito do inconsciente

  • 57

    (dimenso essencial), mas por ser enunciador/locutor de discursos que

    se fundamentam em estratgias fora de seu alcance, embora possa se

    dar conta de algumas delas e eventualmente utiliz-las em seu favor.

    Um sujeito que alcana dimenses de identidade nos discursos, no

    lugar onde situado, lugares esses que se legitimam no dizer e que

    podem at ser modificados, porm vivenciados como verdadeiros,

    naturais(p.82)

    O psiclogo que atua na instituio judiciria se depara com importantes dilemas

    e questes. Por exemplo: sua formao clnica, de escuta e considerao pelo

    relato do cliente, de tomar o dito como a verdade para aquela pessoa, versus a

    demanda de descobrir a verdade, exigncia da instituio para que Justia se

    faa. Estamos a servio de um juiz. A clientela sabe disso. No nos procuram por

    desejo ou deliberao, por sentirem necessidade de um olhar psicolgico. No

    digo que no manifestem sofrimento e/ou sintomas, mas no na Justia que

    buscam consolo ou tratamento.

    Na Infncia, muitas vezes so acusados de negligncia, abandono, problemas

    de conduta, adices. So levados ou procuram a Justia para que alguma lei se

    faa. Sabem que o que nos disserem poder chegar ao conhecimento do Juiz.

    A partir do atendimento do caso, que muitas vezes junto com o Assistente

    Social, o psiclogo da infncia deve produzir um documento escrito, um Parecer

    (inda que provisrio), onde devem constar impresses diagnsticas e uma

    sugesto judiciria.

    Em vrios casos de Infncia e Juventude, no obrigatria a presena do

    advogado, ento, quem acaba por apresentar/representar o pedido ou queixa so

    os tcnicos.

  • 58

    No se trata meramente de anotar o que a pessoa est falando,

    pedindo, mas de fazer desse discurso uma solicitao que se enquadre

    nos parmetros jurdicos (Travieso, 2001, p, 12).

    A, cito Maingueneau (in Guirado, 2000).

    Falar no somente uma atividade de expresso do sujeito, uma

    atividade fundamentalmente cooperativa. uma ao com dois

    parceiros [...] Isso tambm verdade para os textos escritos: no

    podemos escrever sem construir uma representao de um

    coenunciador, um leitor, que tem uma certa concepo do mundo, uma

    certa atitude conosco; a partir da imagem que temos desse outro que

    podemos enunciar. Na verdade, essa construo do outro depende

    muito dos gneros de discurso. No cada sujeito quem inventa a

    figura do outro. O fato de estar em um certo gnero de discurso implica

    uma certa imagem desse outro (p. 29).

    Contexto e texto se imbricam, nessa perspectiva de anlise, e, novamente

    acompanhando Maingueneau (in Guirado, 2000), somos sujeitos matriciados

    numa determinada instituio, num determinado gnero discursivo, respeitando

    suas coeres para que a comunicao seja possvel, dentro dos limites e lugares

    que atribuem peculiaridades e caractersticas aos falantes.

    Em minha pesquisa de mestrado, apontei fenmenos discursivos reincidentes, dos

    quais destacarei apenas alguns:

    - os escritos de Assistentes Sociais e Psiclogos eram extremamente

    semelhantes, constando sempre um pedido de permisso para enunciar e uma

    arrumao das falas dos clientes nos moldes jurdicos, assumindo ares de

    representao;

  • 59

    - ambos assumiam tons diagnsticos e taxativos, mesmo quando produzidos

    numa primeira entrevista.

    [...] Assim sendo, orientamos que procurassem ajuda psicoteraputica

    para P., pois demonstrado est que ela tem uma imagem negativa da

    figura paterna (Travieso, 2001, p. 180).

    - O uso de pressupostos lingsticos, que dispensam explicaes, enquadrando os

    assim definidos, porque so colocados num texto de autoridade (relato de algum

    que sabe). Podem resultar em estigmas, ou no mnimo formas prvias, pouco

    atentas s peculiaridades.

    [...]Considerando:

    a) estar os menores R. e L, ao que tivemos oportunidade de ver[...]

    amparados e adaptados na companhia do Sr. O e da Sra. MA [...],

    os quais lhes dedicam, alm do atendimento de suas

    necessidades[...] proteo e amor, como sendo filhos legtimos[...]

    (Op cit, p. 206).

    Proc. 11, excerto de relatrio social:

    [...] Residem em casa de alvenaria[...] O ambiente bastante simples,

    todavia, encontrava-se limpo[...](p.207).

    - o tom afirmativo e fechado assume, discursivamente, ares de verdade o que

    muito bem vindo na Justia (com sua busca pela Verdade dos Fatos) mas muitas

    vezes emergindo como fruto de um primeiro contato.

    Quando busquei desenhar o lugar que as crianas e adolescentes ocupavam no

    discurso numa instituio que afinal foi criada para elas o susto foi ainda

  • 60

    maior. Nos textos analisados, as crianas no eram nomeadas, apenas nos

    cabealhos dos relatrios ou nas capas dos processos. Nos despachos, nas cotas

    ministeriais, nos relatrios sociais e psicolgicos, seu nome era omitido. Sua

    presena na entrevista era eventualmente referida, porm nenhuma fala lhe era

    atribuda. No constava opinio sua. Eram situados no silncio. A utilizao do

    termo menor, atrelado ao Cdigo de Menores e desatualizado perante o ECA

    (que o criticava por estigmatizante) era macia, talvez a apontar um lugar, uma

    qualificao para essas pessoas. O nome prprio nosso distintivo pessoal, e no

    aparecia no corpo dos escritos.

    Ali onde deveriam ser destacados, so silenciados e nomeados menores com o

    peso que tal adjetivao carrega. Num extremo:

    Proc. 9 (Ivan)- Oficio de apresentao do caso, fls. 02:

    [...] Atendendo ao requerido nos autos do pedido de providncias

    instaurado contra Ivan[...] (p. 238, grifo meu)

    A instituio que seria espao de respeito e preservao de seus direitos, no lhes

    permite falar, aparecer, nem ao menos com o relato arrumado qual os adultos.

    Que tipo de lugar essas crianas ocupam no discurso? O no lugar... O no

    nomear...

    Nos processos de Vara de Famlia, os clientes so obrigados a se submeter a

    uma percia, que tem finalidades e importantes delimitaes. Eles esto

    envolvidos via de regra num litgio. Ningum quer perder. No h o desejo de se

    expor. A culpa raramente assumida. Os defeitos so projetados.

    Os processos de Vara de Famlia contam com advogados de ambos os lados...

    A criana, muitas vezes, instrumento para se atingir ao ex-cnjuge, sequer

    considerada enquanto ser especial de direitos e com necessidades peculiares. O

  • 61

    ataque recproco a figuras to importantes para o mundo mental infantil aponta

    para a desconsiderao da criana. (Caff, 2010):

    Conforme nossas observaes, o casal que enfrenta a situao de

    separao conjugal litigiosa, disputando entre si os direitos sobre os

    filhos, apresenta freqentemente, em suas manifestaes no mbito da

    percia, a ausncia do reconhecimento mtuo do lugar de pai e de me,

    cada um em relao ao outro. As funes do cuidado e educao dos

    filhos, bem como o estabelecimento de condies e limites adequados

    ao crescimento dos mesmos, ficam prejudicados neste contexto de no

    reconhecimento e ataque mtuo das funes paterna e materna. Como

    conseqncia, os filhos nem sempre so reconhecidos no lugar de

    crianas, no se estabelecendo assim a suficiente considerao de suas

    necessidades e direitos(pg.18).

    Quando o caso chega para percia, a situao conflitiva encontra-se exacerbada,

    as acusaes so vastas.

    O psiclogo ento chamado a elucidar uma questo, a compreender a demanda,

    a chegar verdade dos fatos. Muitas vezes h queixas graves, como abuso

    sexual, agresso, drogadico,...

    Procura-se ouvir cada um deles, individualmente, situar seu papel naquela famlia,

    especialmente junto criana em questo. Os clientes, em geral, at mesmo por

    instruo dos advogados, assumem postura defensiva, de retraimento, e de

    ataque ao (agora) oponente. Para a psicologia, um movimento de projeo.

    Sucede que a pessoa no se autopercebe, est tomada pelo litgio e quer se

    defender. Ou mesmo que se d conta ou reconhea, ser que para ns que

    revelar suas fraquezas?

  • 62

    Temos que ter clareza, ainda, que nosso trabalho tem um prazo bastante limitado,

    e que os clientes sabem que temos que fazer um laudo ao juiz. Desse modo, e

    diante de uma instituio que julga, que condena e absolve, e de um discurso em

    que a figura do juiz central, os clientes falam conosco como psiclogos

    judicirios - que de fato somos, at como especialidade reconhecida - , ou seja,

    de algum modo mandam recados ao juiz atravs do que nos relatam, do que

    escolhem expor.

    Por exemplo, uma acusao de drogadico por um dos pais, feita pelo outro.

    Mesmo que tenha havido ou haja contato com drogas, seria na Justia que a

    pessoa se sentiria vontade para assumir essa adio? Sabendo que tal conduta

    ilegal? E que de sua avaliao poder resultar o afastamento do filho?

    As entrevistas so semidirigidas, ou seja, no deixamos os clientes a devanear, e

    sim lhe oferecemos perguntas focalizadas na nossa tarefa, qual seja,

    instrumentalizar com dados psicolgicos a sentena judicial, visando minimizar o

    sofrimento dos filhos.

    Entrevistas individuais so parte de nossa tentativa de traar um perfil daquela

    famlia. Mas, repito, esse perfil no traado no vazio, e sim dentro de um

    especfico gnero discursivo, dentro de uma instituio e com finalidades prprias.

    As crianas, nos litgios, muitas vezes so desconsideradas, suas demandas no

    so respeitadas, o que dizem interpretado como sendo manipulao ou coero

    do (outro) genitor. Caff (2010) apontou em sua obra o esvaziamento do discurso

    da criana e as conseqncias disso para sua sade mental.

    Stahl (1999) destaca as dificuldades da percia psicolgica judicial e a

    necessidade de se priorizar a criana em questo. No se trata, diz o estudioso,

    de premiar o bom pai ou punir o mau pai com o filho-presente, mas de pensar

    qual deles pode colaborar mais ou impedir menos o desenvolvimento da criana.

    De todo modo, so tarefas reconhecidamente difceis. Para Huss (2011)

  • 63

    a avaliao de guarda dos filhos das mais difceis, seno a mais

    difcil, realizadas pelos psiclogos forenses, por muitas razes (p. 309)

    Como vocs sabem, vm crescendo a interveno de Assistentes Tcnicos

    contratados pelos litigantes. Profissionais da mesma rea que a nossa, porm

    chamados por um dos lados a opinar, muitas vezes sem sequer ver o outro. Em

    alguns casos, pouco se distinguem dos advogados, lutando por enfatizar as

    qualidades psicolgicas de seu cliente e no focalizando a criana envolvida.

    O Conselho Federal de Psicologia buscou, atravs da Resoluo 008/2010,

    regulamentar esse contato, para que seja possvel desenvolver um trabalho de

    qualidade.

    Recentemente, tambm editaram, atravs do CREPOP, referncias nacionais

    para a atuao do psiclogo em Varas de Famlia.

    Ambos os documentos apresentam inmeras qualidades e buscam, dentro da

    diversidade nacional e regional, estabelecer parmetros de trabalho dentro dos

    moldes ticos. Ambos foram debatidos no Setor a que perteno e algumas

    questes foram levantadas e levadas Associao de Assistentes Sociais e

    Psiclogos do TJ e ao prprio CRP, visando aprimorar e burilar nossa prtica.

    Trata-se de um tema bastante polmico e que ainda levar a muitas discusses. A

    cada momento surgem novas leis, como a da Guarda Compartilhada e a da

    Alienao Parental, que podem alterar nosso trabalho, indicando um momento

    particular, de nossa sociedade, de judicializao dos conflitos.

    Trata-se de um trabalho muito difcil, cercado de limites e problemas, novos e

    antigos.

  • 64

    Minha tentativa de colaborao pretende que cada um de ns pense em seu lugar

    nessa instituio e no que escreve com algo muito importante, que adquire fora e

    realidade, carrega cientificidade e pode estigmatizar, mas tambm pode ajudar.

    Referncias Bibliogrficas:

    CAFF, M- Psicanlise e Direito: a escuta analtica e a funo normativa jurdica ,

    So Paulo, Quartier Latin, 2010.

    CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Resoluo 008/2010. Disponvel em

    http://crsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes.

    ________________________________________- Resoluo 007/2003.

    Disponvel em http://crsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes.

    _____________________________________________Referncias tericas para

    atuao do psiclogo em Varas de Famlia. Disponvel em http://crepop.pol.org.br.

    FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso, Conferncia proferida em 1970,So

    Paulo, Loyola, 1999.

    FOUCAULT, M.- A Verdade e as Formas Jurdicas, Conferncias Proferidas em

    1973, Rio de Janeiro, Nau, 1996.

    GUIRADO, M Psicanlise e Anlise do Discurso: Matrizes Institucionais do

    Sujeito Psquico, So Paulo, Summus, 1995.

    GUIRADO, M - A Clnica Psicanaltica na Sombra do Discurso, So Paulo, Casa

    do Psiclogo, 2000.

    HUSS, Matheu T. Psicologia Forense, Porto Alegre, Artmed, 2011.

    STAHL, Philip M- Complex Issues in Child Custody Evaluations , Califrnia EUA,

    Sage Publications, 1999.

    TRAVIESO, P.I. O Sujeito no Discurso Jurdico das Varas de Infncia e

    Juventude: Pedido de Providncias , Dissertao de Mestrado, 2001 IP USP.

  • 65

    4 Aula

    O trabalho em rede e suas diferentes dimenses

    Rede primria/ Rede secundria

    Discusso, elaborao conjunta e avaliao

    do Plano Individual de Atendimento PIA.

  • 66

    O TRABALHO EM REDE NAS SUAS DIFERENTES DIMENSES (REDE PRIMRIA E SECUNDRIA) - DISCUSSO, ELABORAO DO PIA

    Marcia Silva

    Assistente Social Judiciria - Campinas

  • 67

    REDES

    Primria Secundria: informais

    formais

    terceiro setor

    de mercado REDE PRIMRIA

    Constituda por famlia, amigos, colegas de trabalho, colegas do local de estudo, de lazer.

    Servem como ponto de apoio ou conteno.

    Pode se dar por proximidade ou preferncia.

    Assim como na rede secundria informal h um sentimento de pertencimento.

    FUNES DA FAMLIA NA REDE PRIMRIA

    Educao do eu experincia de primeira socializao, desenvolvimento de competncia como confiana, reciprocidade, colaborao, esperana e investimento no futuro,

    Cuidado ateno as necessidades de seus componentes, solidariedade e ainda aciona a rede secundria,

    Transao de dentro das famlias s redes e visa-versa, uma vez que se abre a dimenso comunitria, recebendo e oferecendo valores, recursos e competncias,

    Proteo- capaz de selecionar informaes ou elementos externos para proteger seus membros.

  • 68

    Redes de amizade - os adolescentes tem uma rede ampliada de amigos, os adultos possuem um nmero menor de amigos, uma vez que tem um tempo mais limitado a oferecer, e de forma geral estes esto ligados ao mundo profissional, pois buscam mais qualidade que quantidade, os idosos tendem a ter pequeno nmero de amigos.

    REDES SECUNDRIAS

    Informais atendimento a necessidade especifica pontual (a uma pessoa em necessidade por doena ou carncia) ou peridica grupo de pais que se organizam para levar os filhos escola, a festas, outras atividades.

    Formais conjunto de instituies como o sistema de sade, de ensino, de

    assistncia.

    Terceiro setor cooperativas, ou podem surgir por grupo que se organizou para determinada ao, ou sem fins lucrativos.

    Mercado se refere a esfera econmica e tem como meio o dinheiro.

    TRABALHO EM REDE

    Levantamento da rede do usurio.

    Mobilizao desta rede, uma vez que aes isoladas podem no ser suficientes para ateno ao usurio.

    Buscar aes articuladas.

    MAPAS DE REDES

    Independente do modelo so mtodos de trabalho ou instrumentos

    auxiliares para a avaliao.

    Serve para levantar com o usurio com quem ele conta.

  • 69

    Lev-lo a refletir quais pontos podem ser (re)ativados, fortalecidos.

    PARA QUE ? Serve como instrumento auxiliar ao diagnstico recolhendo informaes e

    ajudando a organizar os dados familiares;

    Aponta os acontecimentos significativos e como esto as relaes familiares;

    Serve para reflexo com e sobre a dinmica familiar do usurio;

    Esta identificao serve para indicar formas de como o usurio pode

    acionar estas redes pessoais, se h familiares ou grupo no qual pode se apoiar;

    Com quais recursos pode contar num momento de necessidade ou crise;

    Para estabelecer aes.

  • 70

    COMO? Valorizando a retomada de relaes;

    Valorizando aes de solidariedade;

    Mobilizando parcerias, buscando atuao conjunta;

    No suficiente a ao isolada de uma organizao pblica/privada

    PARCERIA

    Discusso conjunta do caso.

    Os vrios servios acordam sobre o diagnstico e constroem um plano de ao.

    Significa comprometimento de profissionais de vrios servios e, portanto, dos prprios