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Material da Capacitao Tcnica das Varas da Infncia e
Juventude do Estado de So Paulo
COORDENADORIA DA INFNCIA E JUVENTUDE
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A Coordenadoria da Infncia e da Juventude do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo (TJSP) e a Escola Paulista da Magistratura promoveram a Capacitao para Equipes Tcnicas das Varas da Infncia e Juventude do Estado de So Paulo realizada no perodo de agosto a dezembro de 2011. Objetivo Geral: Capacitar profissionais para o aperfeioamento das atividades que executam na rea da Infncia e Juventude, por meio da anlise, reflexo e novas aquisies de conhecimentos terico metodolgico, assim como promover a apreenso de contedos que permitam avaliar as polticas pblicas para garantir, defender e promover os direitos humanos. Programao 26/08/2011- O Estudo Social e Psicolgico Fundamentos Tericos Metodolgicos, Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno. Eunice Terezinha Fvero Assistente Social Judicirio do TJSP Mestre e doutora em Servio Social pela PUC-SP, membro da diretoria executiva da AASPTJ-SP, professora do curso de Servio Social e do Mestrado em Polticas Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul/SP, autora de artigos e livros na rea de Servio Social, dentre eles "Questo social e perda do poder familiar", e "Instrues sociais de processos, sentenas e decises". Cludia Amaral de Melo Suannes Psiclogo Judicirio da Vara da Infncia e Juventude do Foro Regional de Pinheiros-TJSP Psicloga e psicanalista, mestre em psicologia clinica pela PUC-SP, especialista em psicologia jurdica pelo Conselho Federal de Psicologia, membro filiado ao Instituto de Psicanlise da SBPSP, professora do curso de psicologia jurdica do Instituto Sedes Sapientiae.
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23/09/2011 O Estudo Social e Psicolgico Fundamentos Tericos Metodolgicos, Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno. Carmen Teresinha de Oliveira Lutti Assistente Social Judicirio do TJSP, de 1992 a 2010. Graduada em Servio Social e Direito, especialista em violncia domstica contra a criana e o adolescente (LACRI-USP); ps-graduao em Direito Processual Civil (Justia da Infncia e da Juventude) e Direito de Famlia; professora convidada do Instituto Sedes Sapientiae, UniSoPaulo, Faculdade de Sade Pblica/USP/PAVAS. Leila Sueli Dutra de Paiva Psiclogo Judicirio da Vara da Infncia e Juventude do Foro Regional de Pinheiros TJSP Mestre em Psicologia pela USP, docente e supervisora de Psicologia Jurdica na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 14/10/2011 Interdisciplinaridade e Formas de Registro: Servio Social e Psicologia - Conceitos, Informao e Parecer, Relatrio e Laudo. Pilar Isabel Travieso Psicloga Judicirio da Vara da Famlia e Sucesses do Frum Central TJSP. Graduada e ps graduada pela USP, onde defendeu a Dissertao "O Sujeito no Discurso Jurdico das Varas de Infncia e Juventude - Pedido de Providncias". Atuou em Varas de Infncia e Juventude. Rita Oliveira Assistente Social Judicirio da Vara da Infncia e Juventude da Lapa TJSP. Doutoranda em servio social PUC-SP, coordenadora da pesquisa abrigos SP e da publicao Quero voltar para casa: o trabalho em rede para a garantia do direito a convivncia familiar e comunitria.
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18/11/2011 O Trabalho em Rede nas suas Diferentes Dimenses Rede primria e Secundria. Discusso, Elaborao Conjunta e Avaliao do PIA. Mrcia Silva Assistente Social Judicirio da Vara da Infncia e Juventude da Comarca de Campinas TJSP. Coordenadora da Equipe Interprofissional da Comarca de Campinas. Especialista em Psicologia e Psiquiatria Clinica do Adolescente pela Unicamp. Eliana Kawata Psicloga Judiciria da Vara da Infncia e Juventude do Foro Regional do Tatuap-TJSP Graduada em Psicologia pela USP, mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, especialista em Administrao Pblica pela FGV-SP, em Pesquisa Clinica pela Harvard Medical School e na read e Violncia Domstica contra Crianas e Adolescentes pelo LACRI-USP; e ex Secretria Executiva da RECAD - Rede de Ateno a Crianas e Adolescentes de Diadema/SP. 20/12/2011 - Polticas Pblicas Maria Isabel Monfredini Assistente Social Judicirio da Comarca de Mogi Guau TJSP. Mestre em Economia Social e do Trabalho - Instituto de Economia da UNICAMP; Doutoranda na Faculdade de Educao da UNICAMP - Laboratrio de Polticas Pblicas e Planejamento Educacional LaPPlanE; Professora da Faculdade de Cincias Humanas de Agua - Curso de Servio Social. Pblico- alvo: Assistentes Sociais e Psiclogos Judicirios das equipes tcnicas que atuam na rea da Infncia e da Juventude no Tribunal de Justia de So Paulo. REALIZAO Coordenadoria da Infncia e Juventude do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo. Ncleo de Apoio Profissional de Servio Social e Psicologia- CAIJ 3.
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COORDENAO GERAL E TCNICA Ncleo de Apoio Profissional de Servio Social e Psicologia CAIJ 3 Coordenadoria da Infncia e Juventude 11- 21716418/ 21716419/ 21716420 [email protected] Datas: 26/08; 23/09; 14/10; 18/11; 19/12. Horrio: 9:00 s 12:00 horas Local: Escola Paulista da Magistratura Rua da Consolao, 1483 - 2. andar, Cerqueira Csar, So Paulo SP.
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1 Aula
Estudo Social e Psicolgico:
Fundamentos tericos e metodolgicos
Instrumentalidade tcnica
Projeto de interveno
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ESTUDO SOCIAL: FUNDAMENTOS TERICOS E METODOLGICOS INSTRUMENTALIDADE TCNICA E PROJETO DE INTERVENO
Eunice Terezinha Fvero Assistente Social Judiciria
Estudo social ou estudo socioeconmico: Processo metodolgico especfico do Servio Social. Finalidade: conhecer ampla e criticamente, situao ou expresso da questo social - objeto da interveno. nfase em aspectos socioeconmicos e culturais. Fundamentao rigorosa - terica, tica e tcnica: para o acesso, garantia e efetivao de direitos. (FVERO, 2008) Processo de: conhecimento, anlise e interpretao de uma situao social. Finalidade imediata: emisso de parecer formal ou no sobre a situao, do qual o usurio depende p/ acessar benefcios, servios e/ou resolver litgios. Perspectiva: Necessidades dos sujeitos singulares: no so problemas individuais (desigualdade social). A satisfao das necessidades sociais no se vincula (in) competncia individual. Mas transformao das bases de produo e reproduo das relaes sociais. (MIOTO, 2009).
Que contedos so essenciais ao estudo social ou o socioeconmico?
O que trabalho precrio? O que trabalho decente?
Qual o parmetro para afirmaes sobre baixa renda, misria, pobreza, classe mdia, mdia alta?
O que moradia adequada?
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Quais parmetros norteiam nossas anlises sobre famlia?
De qual modelo de famlia falamos?
Fundamentos para o estudo social: trabalho, polticas sociais/territrio, famlias. Trabalho: Direito social. Entendido como direito ao trabalho decente. Parmetro: a Declarao Relativa aos Princpios e Direitos Fundamentais do Trabalho - OIT: O trabalho adequadamente remunerado, exercido em condies de liberdade, equidade e segurana, capaz de garantir uma vida digna (AGENDA, 2006).
Qual o significado do trabalho? Como est distribudo na localidade onde vive o sujeito e na realidade mais ampla - postos de trabalho, exigncias, proteo?
Quais os indicadores sociais de trabalho e renda?
Quais as (im) possibilidades de trabalho decente? Como o acesso ao direito ao trabalho e condies?
Constituio Federal: prev, no conjunto dos direitos (alm dos direitos sociais, o direito moradia como direito social que deve ser vlido para todos os brasileiros). Direito moradia: integra o direito a um padro de vida adequado. No se resume a um teto e quatro paredes. o direito de toda pessoa ter acesso a um lar e a uma comunidade seguros para viver em paz, com dignidade e sade fsica e mental. (RELATORIA, 2010). O conhecimento do territrio:
No se d somente pela visita domiciliar;
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necessria sempre que o profissional avaliar que estar no local onde vive famlia importante p/ conhecer suas relaes, a concretizao local de direitos sociais e o uso possvel a ser feito dele.
Para fundamentar a interpretao dessa realidade, revelar descumprimentos constitucionais de acesso a direitos, e contribuir para provocar aes com o objetivo de acess-los e garanti-los.
O exerccio profissional com famlias: se movimenta ainda por processos pautados nos padres de normatividade e estabilidade:
- Continua calcado na perspectiva da funcionalidade; e relacionado integrao e controle social. - Tira-se de foco a discusso da famlia no contexto de uma sociedade desigual e excludente;
- Fortalece-se, direta ou indiretamente, uma viso da famlia como produtora de patologia;
- Busca-se a pacificao artificial das famlias. (MIOTO, 2004)
PNDCFC: Famlia pensada como grupo de pessoas unidas por laos de consanguinidade, de aliana e de afinidade. Esses laos so constitudos por representaes, prticas e relaes que implicam obrigaes mtuas. Estas obrigaes so organizadas de acordo com a faixa etria, as relaes de gerao e de gnero, que definem o status da pessoa dentro do sistema de relaes familiares. (BRASIL, 2006).
Fundamentos ticos - O que particulariza o nosso trabalho nas situaes para as quais nos
demandam subsdios - do S. Social?
- Como as condies de trabalho rebatem nesse cotidiano?
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- Como conhecemos a realidade social dos sujeitos e como estabelecemos a relao do imediato x mediato, materializando a teoria social crtica na prtica?
- Como nossa viso de mundo se expressa nos laudos - que servem para subsidiar decises sobre a vida e o futuro dos sujeitos sociais com os quais trabalhamos?
A conscincia cotidiana: complexa e contraditria: - necessita, de um lado, simplificar seus critrios e suas motivaes - sob o
signo do imediato;
- de outro, se serve da linguagem, isto , de um sistema cheio de mediaes complicadas.
O conhecimento cientfico (tb. filosfico e o artstico) enriquece a compreenso do mundo e de si prprio, possibilitando a superao dos limites da conscincia cotidiana e, por consequncia, a efetivao de transformaes histricas (LUKCS, apud KONDER, 2002). Considerando que: No Judicirio (nas Varas da Infncia e Juventude e tambm na Justia de Famlia), a famlia atendida se coloca, na tica do Estado e dos demais prestadores de servios, entre as que historicamente tm sido incapazes de suprir suas necessidades e cuidar de seus membros;
Como dar fundamentos sociais a processos, considerando-as sujeitos sociais e polticos, no focalizando suas demandas somente como decorrentes de problemas individuais? Como faz-lo, sem centrar a ateno do trabalho em indivduos-problema, como a criana, o adolescente, a mulher, o idoso, a partir de situaes como a doena, a delinquncia, o abandono, os maus-tratos, a explorao - levando em conta os processos relacionais como um todo? (MIOTO, 2004, p. 55). A prtica profissional cotidiana: - um processo que envolve a operacionalizao de demandas
institucionais, demandas dos usurios e tomada de decises profissionais (...).
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- O modo de ser e de se afirmar das aes profissionais tm temporalidade histrica: sofrem influncia das conjunturas sociais -econmicas, polticas, terico-cientficas- que vivenciam e que forjam as vises de mundo que. as informam e as relaes objetivas em que. se materializam - produto das relaes concretas da sociedade. (Baptista, s/d).
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O Estudo Psicolgico Fundamentos Tericos Metodolgicos Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno
Cludia Amaral de Melo Suannes Psicloga Judiciria
Varas de Infncia e Juventude e Varas de Famlia
Semelhanas: ambas autorizadas a decidir sobre questes jurdicas que
envolvem a famlia
Diferenas:
- Natureza das aes
- Tramitao processual
- Lugar do psiclogo e do assistente social
Vara Infncia e Juventude (ECA)
Art. 150. Cabe ao Poder Judicirio (...) prever recursos para a manuteno
de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justia da Infncia e
da Juventude.
Art. 151. Compete equipe interprofissional (...) fornecer subsdios por
escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audincia, e bem assim
desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientao, encaminhamento,
preveno e outros, tudo sob a imediata subordinao autoridade
judiciria, assegurada a livre manifestao do ponto de vista tcnico.
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Vara de Famlia e Sucesses
Cuida de amplo espectro de aes que envolvem relaes jurdicas dentro
da famlia.
regida por:
- Cdigo Civil
- Cdigo de Processo Civil
Obedece aos princpios em que se baseia o sistema processual.
O Cdigo de Processo Civil prev a nomeao de perito quando a prova do
fato depender de conhecimento tcnico ou cientfico.
A(s) percia(s) oferece(m) subsdios para a deciso na medida em que
esclarecem questes tcnico-cientficas envolvidas no fato.
ao decidir o juiz no precisa ficar adstrito ao laudo, podendo recorrer a
outros elementos que constam dos autos.
Fundamentos tericos para o estudo psicolgico
Psicologia: campo das cincias humanas que comporta diversas vertentes
metodolgicas.
cada linha terica articula os procedimentos tcnicos em funo de seus
pressupostos bsicos.
Positivismo: expectativa de que a psicologia tenha uma objetividade
incompatvel com a natureza do objeto de estudo.
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Tcnicas
Testes.
Observao ldica.
Entrevistas :
- entrevista e entrevista psicolgica
- entrevista e oitiva
tica : sigilo e segredo
Modelo clnico: dual.
Avaliao demandada por um terceiro.
Setting (enquadre):
- delimitao da funo;
- incluso do terceiro a fim de garantir o sigilo na situao triangular;
Compromisso tico: com o Juzo e com o usurio.
Desafios
Linguagem: clara e embasada.
Linguagem do senso comum e banalizao do vocabulrio psi.
Efeito iatrognico do laudo.
Judicializao dos conflitos e novas patologias.
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2 Aula
Estudo Social e Psicolgico:
Fundamentos tericos e metodolgicos
Instrumentalidade tcnica
Projeto de interveno
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Estudo Social: Fundamentos Tericos e Metodolgicos Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno
Carmen Terezinha de Oliveira Lutti
Assistente Social Judiciria
INSTRUMENTALIDADE: capacidade de servir a um objetivo.
INSTRUMENTAL: o conjunto de instrumentos.
INTERVENO: ato de intervir; interferncia.
INTERVIR: tomar parte voluntariamente; meter-se de permeio, vir ou
colocar-se entre, por iniciativa prpria; ingerir-se.
INSTRUMENTALIDADE
Porque e para que realizar o estudo social ?
MARCO LEGAL
Estatuto da Criana e do Adolescente Lei 8069/90
Art. 151. Compete equipe interprofissional, dentre outras atribuies que lhe
forem reservadas pela legislao local, fornecer subsdios por escrito, mediante
laudos, ou verbalmente, na audincia, e bem assim desenvolver trabalhos de
aconselhamento, orientao, encaminhamento, preveno e outros, tudo sob a
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imediata subordinao autoridade judiciria, assegurada a livre manifestao do
ponto de vista tcnico.
Cdigo de Processo Civil
Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento tcnico ou cientfico,
o juiz ser assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.
Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliao.
Art. 421, 2. Quando a natureza do fato o permitir, a percia poder consistir
apenas na inquirio pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasio da
audincia de instruo e julgamento a respeito das coisas que houverem
informalmente examinado ou avaliado.).
1. Os peritos sero escolhidos entre profissionais de nvel universitrio,
devidamente inscrito no rgo de classe competente, respeitado o disposto no
Cap. VI, seo VII deste Cdigo.
A instituio judiciria: estrutura e insero profissional.
O Direito como forma das relaes sociais: o Poder Judicirio na afirmao
e reconhecimento do estatuto da cidadania; a cobertura legal da cidadania
social.
Normatizao legal & dinmica social: igualdade jurdica & desigualdade
social; instrumentalidade da lei e do processo judicial.
A equipe tcnica como atividade-meio: objetivos institucionais & objetivos
profissionais.
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INSTRUMENTAL
Os instrumentais tcnico-operativos so como um conjunto articulado de
instrumentos e tcnicas que permitem a operacionalizao da ao profissional
(MARTINELLI, 1994 p. 137).
Entrevista: individual, conjunta, colateral, interprofissional.
Visitas: domiciliar, institucional.
Observao.
Rede: coleta de dados e informaes.
Estudo de documentos (processo, documentos institucionais, documentos
pessoais.)
Acompanhamento social.
ENTREVISTA
O elemento essencial da entrevista o dilogo, que permite que seja um
encontro entre duas ou mais pessoas ligadas pela situao e onde o entrevistador
d testemunho de suas reais e concretas intenes, e na qual a diferena entre
ambos est, apenas, em um nvel diferente de percepo de realidade.
S o dilogo comunica.
E a comunicao s se concretiza medida em que o entrevistador souber
modificar sua mensagem em relao ao entrevistado e situao, identificando-se
com eles.
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Kisnerman (1980:88)
A ENTREVISTA: . . . um dos instrumentos que possibilita a tomada de
conscincia pelos assistentes sociais das relaes e interaes que se
estabelecem entre a realidade e os sujeitos, sendo eles individuais ou coletivos.
(Martha Medeiros)
Resoluo CFESS 493, de 21 de agosto de 2006
ALGUMAS CONSIDERAES
Alzira Maria Baptista Lewgoy e Esalba Carvalho Silveira, in Revista Virtual, Textos
e Contextos. N 8, ano VI, dez.2007: . . . torna-se relevante retomar a temtica
sobre a entrevista, entendendo-a como um dos instrumentos que, dialeticamente
articulado aos demais, vai compor a palheta do instrumental que viabiliza a
operacionalizao dos processos de trabalho do assistente social.
Anete Garret (1988), citada pelas autoras, destaca que . . . apenas a prtica seria
insuficiente, exigindo para tanto o estudo daquela prtica
A entrevista como instrumento do Servio Social no se resume a coleta de dados
ou mtodo interrogatrio; constitui uma atividade profissional com objetivos a
serem alcanados e informada por princpios ticos especficos e critrios
tcnicos. O princpio tico fundamental a completa aceitao da outra pessoa
como ser humano e sujeito de direitos. A violao ou relativizao desse princpio
bsico implica no comprometimento do resultado e da consecuo dos objetivos.
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TIPOS DE ENTREVISTAS
Aberta: com tema inicial e poucas intervenes do entrevistador, deixando
abertas as possibilidades de explorao do tema pelo entrevistado.
Dirigida: objetivo especfico, estrutura mais rgida, questes previamente
preparadas, tempo controlado.
Semi-Dirigida: objetivo especfico, com estrutura mais flexvel, abrindo
maiores possibilidades ao entrevistado.
O contedo obtido a partir da entrevista compe o processo de dilogo e reflexo
estabelecido entre usurio e assistente social, indispensvel ao estudo social e
encaminhamento do caso. O elemento essencial da entrevista o dilogo, que
permite troca de informaes entre duas ou mais pessoas inseridas na
problemtica, na qual interage o profissional de Servio Social e usurios.
ETAPAS DA ENTREVISTA
Planejamento: definir a finalidade da entrevista, os objetivos e o
instrumento de coleta de dados (requer do profissional o conhecimento da
instituio e seu marco de referncia)
Execuo: habilidades do entrevistador na identificao e seleo das
necessidades e demandas apresentadas pelos entrevistados e/ou demanda
da instituio; habilidade de escuta, questionamento e observao para
alm do discurso manifesto (apreenso do contedo comunicado tanto pela
linguagem verbal como pela no verbal).
Registro: seleo dos dados relevantes (sigilo profissional).
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VISITA DOMICILIAR
Segundo AMARO (2003), uma prtica profissional, investigativa ou de
atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto aos indivduos em seu
prprio meio social ou familiar.
Elegibilidade: quando relevante - a finalidade da visita domiciliar especfica,
guiada por um planejamento ou roteiro preliminar.
Objetivos: conhecer a insero do sujeito na comunidade, observar as relaes
familiares no ambiente domstico.
O que observar*:
rede de servios: infra-estrutura, acesso a equipamentos de educao,
sade, lazer, cultura.
rede de recursos sociais.
condies de habitabilidade e salubridade.
organizao domstica e relaes familiares.
*rol no exauriente
OBSERVAO
A observao consiste na ao de perceber, tomar conhecimento de um fato ou
conhecimento que ajude a explicar a compreenso da realidade objeto do trabalho
e, como tal, encontrar os caminhos necessrios aos objetivos a serem alcanados.
um processo mental e, ao mesmo tempo, tcnico. SOUZA (2000).
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A observao um instrumento importante em momentos de deciso em que o
assistente social precisa ter segurana, fixando-se nos objetivos que pretende
alcanar.
INTERVENO
O trabalho do Assistente Social na rea sciojurdica: particularidades e desafios.
Marco legal: ECA, Constituio Federal (Art. 226, 8. O Estado
assegurar a assistncia famlia na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violncia no mbito de suas
relaes).
Os limites da interveno: oferecer autoridade judiciria subsdios s
decises, abrir possibilidades de acesso aos direitos & invaso de
privacidade (condutas autoritrias e burocrticas como extenso do brao
coercitivo do Estado.
As expresses da questo social*: fragmentos da vida social que se
expressam nos indivduos situaes singulares refletindo as dimenses
universais da questo social.
Garantia de direitos: afirmao dos direitos sociais e humanos no cotidiano
da vida social (convvio familiar e comunitrio, participao na vida coletiva,
reconhecimentos das expresses culturais e das identidades).
Intermediao das demandas da populao usuria: socializao das
informaes quanto aos direitos, reconhecimento das demandas legtimas e
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necessidades individuais e coletivas; acesso aos servios sociais e
jurdicos.
Articulao com a rede de recursos: dimenso prtico-interventiva.
(*) Questo social: indissocivel da forma de organizao da sociedade
capitalista, diz respeito ao conjunto das expresses das desigualdades sociais
nela engendradas, impensveis sem a intermediao do Estado. . . . expressa,
portanto, desigualdades econmicas, polticas e culturais das classes sociais,
mediatizadas por disparidades nas relaes de gnero, caractersticas tnico-
raciais e formaes regionais, colocando em causa amplos segmentos da
sociedade civil no acesso aos bens da civilizao.
ACOMPANHAMENTO SOCIAL
Procedimento tcnico de carter continuado, e por perodo de tempo determinado,
no qual necessrio que haja vnculo entre o usurio e o profissional.
O acompanhamento scio-familiar ocorre quando detectada na entrevista a
necessidade de se fazer encaminhamentos diversificados, com posterior avaliao
da resposta do usurio interveno.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CFESS. Vrios autores.O Estudo Social em percias, laudos e pareceres
tcnicos:contribuio ao debate no judicirio, penitencirio e previdncia social.
Org.CFESS.10ed.So Paulo:Cortez, 2011.
GUERRA, Yolanda.A Instrumentalidade do Servio Social.9ed.So Paulo:Cortez,
2011.
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KISNERMAN, Natlio. Temas do Servio Social. So Paulo: Moraes 3 edio,
1980.
____________________tica para o Servio Social; traduo de Ana Maria Pia
de Lima Ribeiro.5ed.Petrpolis: Vozes: 1983.
LEWGOY, Alzira Maria Baptista, SILVEIRA, Esalba Carvalho. A entrevista no
processo de trabalho do Assistente Social. Revista Virtual Textos & Contextos. N.
8. Ano VI. Dezembro, 2007.
MAGALHES, Selma Marques. Avaliao e Linguagem relatrios, laudos e
pareceres.3ed.So Paulo:Veras, 2011.
MARTINELLI, Maria Lcia, KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a questo
dos instrumentais tcnico-operativos em Servio Social. Revista Servio Social &
Sociedade. N. 54. So Paulo: Cortez, 1994.
PIZZOL, Alcebir Dal. O Servio Social na Justia Comum Brasileira: aspectos
identificadores perfil e perspectivas profissionais.Florianpolis: Insular, 2008
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Estudo Social: Fundamentos Tericos e Metodolgicos Instrumentalidade Tcnica e Projeto de Interveno
Leila Dutra de Paiva
Psicloga Judiciria
Avaliao Psicolgica no Contexto Jurdico
Interface Psicologia e Direito
O discurso jurdico sempre esteve ligado gnese da verdade e os procedimentos
jurdicos se debruaram e ainda hoje se centram na busca da verdade.
A demanda pela Psicologia no contexto jurdico impe exigncias especficas,
ditadas pelo Direito, mas preciso observar que a Psicologia no mundo jurdico
precisa encontrar o seu eixo prprio.
A Psicologia formula compromisso com o sujeito e com a sua verdade,
diferentemente do Direito que busca a verdade amparada no conjunto de leis.
Foucault - A verdade e as formas jurdicas
prova
inqurito
exame
A partir dos sculos XVIII e XIX, uma nova forma de revelar a verdade comea a
preponderar: o exame. Se, com o inqurito, buscava-se reatualizar um
acontecimento por meio de testemunhos e saber se algo ocorreu e quem o fez,
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com o exame, busca-se saber se normal ou no, correto ou no, do que se deve
ou no fazer.
A forma de saber-poder do exame dar lugar s cincias humanas, em oposio
s cincias da observao utilizadas nos inquritos. Entram neste rol a Psiquiatria
e a Psicologia.
Os primrdios da Psicologia Jurdica
A forma de saber-poder do exame dar lugar s cincias humanas, em oposio
s cincias da observao utilizadas nos inquritos. Entram neste rol a Psiquiatria
e a Psicologia.
Segundo Rovinski (2004), a expectativa em torno das avaliaes psicolgicas era
a de que por meio da compreenso do comportamento desviante e violento fosse
possvel diagnosticar quadros psicopatolgicos que pudessem explicar, predizer e
com isso evitar as condutas consideradas violentas ou mesmo criminosas.
No Brasil, a Psicologia teve um papel subsidirio Psiquiatria no incio das
atividades ligadas ao meio forense. A Medicina Legal, a Psiquiatria Forense e a
Criminologia tinham a Psicologia como uma de suas cincias auxiliares.
Bernardi (1999), no entanto, distingue a insero das duas disciplinas: enquanto a
Psiquiatria se inseriu no contexto jurdico pelo conceito de loucura, a Psicologia o
fez por meio das questes envolvendo a famlia.
A Psicologia, a Psiquiatria e o Servio Social, enquanto campos do conhecimento
cientfico foram inseridos no contexto jurdico como prova processual. Desde o
incio, a atuao desses profissionais foi compreendida como uma atividade
pericial, como um dispositivo a mais para auxiliar a deciso judicial.
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O juiz ter sua disposio trs tipos de recursos: a prova documental, a
testemunhal e a pericial (Cdigo de Processo Civil, 1999).
A prova documental pode ser desde certido e outros documentos oficiais como
fitas com gravaes, cartas, fotos, etc.
A prova testemunhal dada a partir do ter visto e/ou ter ouvido.
E finalmente, a prova pericial que a avaliao tcnica.
A Avaliao Psicolgica
um processo de busca de informaes sobre o funcionamento psicolgico dos
sujeitos em situaes especficas.
Objetiva analisar as informaes obtidas luz dos conhecimentos da cincia
psicolgica com a finalidade de compreender os processos psquicos e sua
relao com a situao-problema de modo a planejar aes e intervenes
profissionais.
Em qualquer avaliao psicolgica o profissional deve levar em conta o contexto
da situao problema.
Quem solicitou a avaliao
Qual pergunta est sendo realizada
Quem ter acesso s informaes
Quais aes sero tomadas partindo das informaes obtidas na avaliao.
O campo da avaliao psicolgica bem vasto.
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Em geral, as avaliaes psicolgicas recebem terminologias distintas de acordo
com o enquadre que possuem e o contexto em que so utilizadas.
H diferenas explcitas quanto abordagem e ao processo de avaliao nos
diferentes contextos (contexto clnico # contexto jurdico).
Contudo, muitas vezes o processo de avaliao psicolgica no difere,
substancialmente, nos diferentes contextos com relao s tcnicas utilizadas,
mas sim quanto ao enquadre.
A obra de O campo (1981), como uma referncia em nossa formao, direcionou
as questes relativas ao enquadre. A autora destaca a necessidade de se definir o
enquadre para manter constantes certas variveis que podem intervir no processo,
entre elas:
Quem? esclarecimento dos papis - natureza e limite que cada parte integrante
do contrato desempenha.
O que? Paciente solicita ajuda e psiclogo aceita e se compromete na medida do
possvel.
Onde? Definio e comunicao sobre o local.
Quando? Horrio e durao do processo.
Quanto? Honorrios previamente definidos.
Como? Tcnica de entrevista semidirigida ou aberta, tcnicas projetivas e
entrevista devolutiva.
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Para qu? Descrio e compreenso a mais profunda e completa da
personalidade do paciente.
Caires (2003), ao discutir as implicaes conceituais da avaliao psicolgica no
contexto jurdico, salienta que a transposio direta do modelo clnico para atender
as indagaes judiciais pode levar a erros essenciais, em relao s decises dos
magistrados, como tambm, suscitar descrdito quanto ao alcance do que
informado.
Para atuar no contexto jurdico, o profissional precisa distinguir o seu trabalho
daquele exercido pelos terapeutas na clnica e se conscientizar das caractersticas
e especificidades da avaliao psicolgica judicial.
Rovinski (2004) aborda quatro dimenses da avaliao psicolgica no contexto
jurdico:
Objetivo da avaliao
Relao com a pessoa avaliada
Caractersticas da metodologia
Formao tcnica do psiclogo judicirio
Dilemas atuais no campo da Avaliao Psicolgica
1. H o risco das avaliaes psicolgicas priorizarem os fatores individuais (at
mesmo intrapsquicos) dissociando-os da dimenso scio-poltica cultural.
Entre os pesquisadores e profissionais observa-se, muitas vezes, posies
maniquestas quanto ao contedo dos processos de avaliao psicolgica.
2. Severas crticas aos instrumentos de avaliao.
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Os modelos e instrumentos de avaliao devem ser analisados na especificidade
de cada situao.
Instrumento e profissional formam uma unidade indissocivel. Portanto, o efeito
inadequado do uso responsabilidade do intrprete e no do instrumento.
(Ricardo Primi)
Os posicionamentos extremistas e partidrios sobre o contedo e/ou sobre os
instrumentos e tcnicas de avaliao podem obstruir o aprimoramento dos
processos de avaliao, bem como a sua adequao aos diferentes contextos.
3. Os resultados das avaliaes e os relatrios ou laudos formulados a partir
desse material podem permear aes e decises importantes com profundas
repercusses na vida das pessoas.
A percia judicial
A palavra percia vem do latim (peritia), que significa: destreza, habilidade. O
termo perito tambm procede do latim (peritus) e quer dizer erudito, capaz.
Percia o exame de situaes ou fatos relacionados a coisas ou pessoas,
realizado por especialista na matria que lhe submetida.
Pautado em conhecimentos cientficos, o perito busca elucidar determinados
aspectos tcnicos e oferecer um conhecimento especializado que ajudar a
compreender as evidncias existentes no processo e, algumas vezes, a explicar
as causas de determinado fato.
A prova pericial permite incluir nos autos informaes tcnicas que, no raro, o
juiz desconhece, por ultrapassarem seu conhecimento tcnico-jurdico.
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A percia, como meio de prova, no se constitui uma verdade soberana. Ao ser
anexada aos autos, dever ser objeto de anlise por todos os envolvidos na
questo.
O resultado da avaliao pericial precisa ser apresentado por meio de um laudo,
no qual os achados so descritos com preciso e analisados de forma a
fundamentar cada concluso.
Regulamentao legal da percia judicial
As determinaes legais sobre a realizao dos procedimentos periciais
encontram-se explicitadas em duas grandes reas jurisdicionais: a cvel e a
criminal.
Na rea cvel, a percia judicial est regulamentada pelo Cdigo de Processo
Civil.
Na rea penal, h recomendaes importantes prtica da percia no Cdigo de
Processo Penal.
A atividade do psiclogo na funo de perito tambm fica legitimada atravs de
seu rgo de classe o Conselho Federal de Psicologia. No decreto 53.964 de
1964, que regulamenta a Lei 4.112, responsvel pela profisso de psiclogo, est
prevista a atividade de realizar percias e emitir pareceres sobre a matria da
Psicologia.
Em 1992, o CFP remeteu ao Ministrio do Trabalho uma descrio mais completa
das atividades que caracterizam o trabalho do psiclogo, entre as quais se
destacam:
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4. Avaliar as condies intelectuais e emocionais de crianas, adolescentes e
adultos em conexo com processos jurdicos, seja por deficincia mental e
insanidade, testamentos contestados, aceitao em lares adotivos, posse e
guarda das crianas ou determinao da responsabilidade legal por atos
criminosos.
5. Atuar como perito judicial nas varas cveis, criminais, justia do trabalho, da
famlia, da criana e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e percias a
serem anexados aos processos.
A atividade de percia prevista para o psiclogo desde a regulamentao de sua
profisso, com previso de sua atuao em diversas reas da jurisdio.
Na prtica, os profissionais tm ocupado esses espaos, com trabalhos de
repercusso social, fazendo com que haja uma demanda crescente por parte do
Poder Judicirio.
O trabalho do psiclogo judicirio
A natureza dos processos judiciais determina a forma de abordagem do caso pelo
psiclogo. Assim, na matria da infncia e juventude, em que a maioria das
questes implica em verificao da ameaa ou violao dos direitos da criana e
do adolescente (processos verificatrios), cabe ao psiclogo utilizar os recursos de
sua especialidade, para dimensionar a problemtica psicolgica dos envolvidos na
situao social e jurdica.
Nessa rea, o psiclogo desempenha a funo principal de auxiliar o juiz, isto ,
de assessorar os magistrados para tomada de decises jurdicas, por meio dos
estudos psicolgicos de casos. Tais estudos implicam na realizao de avaliaes
psicolgicas no contexto institucional, envolvendo todas as pessoas implicadas
como partes do processo judicial.
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Tal dimensionamento implica no estabelecimento de um programa de
interveno no caso, com avaliao, acompanhamento, orientao e
encaminhamento das pessoas envolvidas.
O compromisso do psiclogo no fica restrito ao fornecimento de informaes ao
magistrado para a deciso do processo judicial, mas, em trabalhar todas as
dimenses do caso, com vista promoo e manuteno de uma poltica de
garantia de direitos da infncia e juventude.
Embora a atuao dos psiclogos no mbito do judicirio seja concebida como
dispondo de um carter predominantemente avaliativo, o trabalho no cessa com
a emisso de um parecer psicolgico sobre o caso, precisando, muitas vezes,
reavaliar e acompanhar situaes que se transformam ao longo do processo
judicial.
Nesses casos, o relacionamento do psiclogo com as pessoas - partes
interessadas - implica numa avaliao psicolgica como um processo de
compreenso e de interveno, e tambm, no estabelecimento de
recomendaes teraputicas e sociais pertinentes realidade dos implicados.
Alm das avaliaes psicolgicas, o psiclogo judicirio nos fruns, realiza
trabalhos de elaborao de documentos, acompanhamento de casos,
aconselhamento psicolgico, orientao, mediao, fiscalizao de instituies e
de programas de atendimento infncia e adolescncia e encaminhamentos.
Desempenha funes de avaliao e/ou de interveno direta, conforme a
natureza do caso e o momento do atendimento realizado (antes, durante ou aps
a sentena judicial).
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Avaliao psicolgica X Percia psicolgica
Diferentemente desses casos verificatrios, h os contenciosos, cujas partes
apresentam-se numa relao judicial litigiosa, em disputa por interesses
contraditrios.
Nesses processos, as pessoas so representadas por advogados, que provocam
o Poder Judicirio visando resoluo do conflito, com o restabelecimento dos
direitos da pessoa prejudicada.
A natureza contenciosa desses casos tem implicado numa atuao pontual e
especfica do psiclogo, prevista e regulamentada pelo Cdigo de Processo Civil
como a funo de perito.
Os psiclogos peritos, como profissionais de confiana do juzo, assumem o
compromisso de imparcialidade na avaliao dos casos, comprometendo-se a
apresentar um parecer tcnico psicolgico sobre as questes formuladas pelo
magistrado e de responder aos quesitos formulados pelos advogados das partes e
pelo ministrio pblico.
No contexto jurdico, a escolha dos instrumentos e tcnicas a serem utilizadas
dependem:
da natureza do processo judicial (verificatrio ou contencioso).
da gravidade das questes tratadas no processo (criana e adolescente em
situao de risco).
do tempo institucional (urgncia, data de audincia j fixada, nmero de
casos agendados).
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da livre escolha do profissional, conforme seu referencial tcnico, filosfico
e cientfico.
As modalidades de percia psicolgica judicial
So trs as possibilidades do profissional da rea da psicologia atuar em percias
judiciais:
1) O profissional possui uma prtica liberal de consultrio, atuando como
psiclogo clnico, e indicado pelo juiz para assumir o encargo de determinada
percia numa ao judicial;
2) O profissional atua na instituio judiciria enquanto psiclogo judicirio. Sua
atividade est diretamente ligada ao Juiz, processual e hierarquicamente. Desse
modo, a qualquer momento pode ser indicado pelo juiz para a realizao de
determinada percia em algum processo;
3) O profissional atua em instituio ou centro de referncia aos quais os
tribunais recorrem para obter o produto de seu trabalho especializado.
H uma quarta modalidade de atuao no mbito da psicologia em articulao
com o campo jurdico: a funo de assistente tcnico. Esse profissional
contratado pelas partes litigantes e suas atividades tm caractersticas distintas
daquelas desenvolvidas pelo perito nomeado pelo Juiz.
Em qualquer uma dessas modalidades, o psiclogo que for atuar em uma ao
judicial deve:
ter clareza sobre os objetivos de seu trabalho.
possuir conhecimentos no apenas da rea psicolgica, mas do sistema
jurdico em que vai operar.
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conhecer as jurisdies e a legislao vigente relacionada ao seu objeto de
estudo.
ter cincia das normas estabelecidas quanto sua atividade.
familiarizar-se com a terminologia da rea jurdica.
Funes e papis do perito indicado pelo Juiz e do assistente tcnico
As definies das atividades do perito e do assistente tcnico esto definidas
pelo Cdigo de Processo Civil de 1973 e pelas alteraes trazidas pela Lei 8.455
de 1992.
O Cdigo de 1939 previa apenas a figura de um perito que era nomeado pelo juiz.
Em 1946, foi estabelecido um sistema de trplice percia que demandou a
necessidade de um perito desempatador.
A partir de 1973, a percia passou a ser realizada por um perito nomeado pelo juiz
e de exclusiva confiana deste. No momento da nomeao do perito, fica aberto o
prazo de cinco dias para que as partes indiquem seus assistentes tcnicos e
apresentem quesitos.
A realizao da percia funo exclusiva do perito nomeado pelo juiz. O perito
elabora seu laudo e o apresenta para que os assistentes tcnicos possam ento
realizar seus pareceres crticos a respeito desse trabalho em at dez dias da
entrega do mesmo (art. 433).
Em 1992, extingue-se a necessidade do conhecimento do contedo do laudo por
parte dos assistentes tcnicos, antes de ser entregue em juzo. Com as
mudanas, fica mais claro que o trabalho do assistente tcnico deve se restringir
anlise da avaliao pericial j realizada, discutindo, em seu parecer, os
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procedimentos utilizados e as concluses formuladas, evitando que seu trabalho
se constitua em um novo laudo.
O parecer do assistente tcnico deve se ater tcnica utilizada e apresentada
pelo perito no laudo. Falhas ticas devem ser dirigidas aos rgos de classe,
Conselhos Regionais e/ou Federal.
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3 Aula
Interdisciplinariedade e Formas de Registro: Psicologia e Servio Social
Conceitos,informaes, pareceres, relatrios e laudos
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LAUDOS, RELATRIOS E OUTROS REGISTROS NO SERVIO SOCIAL SCIO JURDICO .
Rita Oliveira
Assistente Social Judiciria
SERVIO SOCIAL X INFNCIA JUVENTUDE & FAMLIA
SERVIO SOCIAL BRASILEIRO
do conservadorismo e valorizao instrumental defesa de direitos
INFNCIA JUVENTUDE FAMLIA
perspectiva individualizao de questes sociais legitimadas cdigo menores 1927 e 1979 ruptura- 1990-ECA
A poltica da PNBEM no foge a essa regra: sua prioridade era a colocao de crianas em lares substitutos e em nenhum momento havia a preocupao em analisar criticamente as engrenagens e tramas produtoras de misria, abandono e excluso social. (Nascimento, p. 133)
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Cenrio histrico de trabalho
A engenharia construda com o sistema de proteo e assistncia, sobretudo, durante o sculo passado, permitiu que qualquer criana ou adolescente, por sua condio de pobreza, estivesse sujeita a se enquadrar no raio da ao da Justia e da assistncia, que sob o argumento de prender para proteger confinavam-nas em grandes instituies totais.
Essas representaes negativas sobre as famlias cujos filhos formavam o pblico da assistncia social e demais polticas sociais tornaram-se parte estratgica das polticas de atendimento, principalmente da infncia e da juventude, at muito recentemente.
Essa desqualificao das famlias em situao de pobreza, tratadas como incapazes, deu sustentao ideolgica prtica recorrente da suspenso provisria do poder familiar ou da destituio dos pais e de seus deveres em relao aos filhos. (PNCFC, 2006)
DO INTRUMENTO INSTRUMENTALIDADE
Instrumental:
Meios - devem ser pensados para alm da tcnica ou do instrumental operativo: conhecer tcnicas de entrevista e de redao para registros (j), fundamental no trabalho do assistente social. Porm o domnio das tcnicas no garante por si s a competncia profissional. Os contedos histrico, terico-metodolgicos e tico-poltico que constituem o projeto do Servio Social, articulados ao domnio da tcnica, que iro distinguir o trabalho profissional competente: o trabalho que efetivamente compete ao assistente social.(Fvero)
Foco na famlia Novas propostas e velhos princpios: a assistncia s famlias no contexto de programas de orientao e apoio sociofamiliar (Regina Celia T Mioto) in Poltica Social Famlia e Juventude: uma questo de direitos. Choque entre o direito privacidade e o direito proteo.
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A permeabilidade dos limites da privacidade familiar diretamente proporcional sua vulnerabilidade social (p.50).
As famlias pobres, desestruturadas, so mais facilmente visitadas por assistente social para verificar suspeitas de violncia, educao inadequada que as consideradas normais que conseguem defender com mais facilidade sua privacidade, esconder com mais sucesso as suas violncias e buscar alternativas de solues sem publicizao. (p.50)
Interferncia do Estado nas famlias POR TRS LINHAS: legislao, polticas demogrficas, difuso de uma cultura de especialistas nos aparatos policialescos e assistenciais do Estado destinados especialmente s classes populares.
Estudos clssicos: Donzelot, Jurandir Freire Costa (Ordem mdica e norma familiar) e Verdes-Leroux.
A proliferao dos programas de ateno famlia ocorre sem debate aprofundado trazendo muitas vezes embutidos princpios assistencialistas e normatizadores da vida familiar que pensvamos ultrapassados (p.53/54-57).
ESTUDO SOCIAL OU INQURITO SOCIAL DESENVOLVIMENTO INQURITO 1889 E 1898 NOVA DISPOSIO ASSISTNCIA+ DISCIPLINA SOCIEDADE+LEIS DE ASSISTNCIA A INFNCIA PERMITIRAM A GENERALIZAO DE UMA TCNICA DE INQURITO = tcnica mnimo de coero/mximo de informao SEGUNDO JACQUES DONZELOT (A POLCIA DAS FAMLIAS) UM TEXTO DE 1920 EXPE AS SEGUINTES REGRAS:
1. REGRA- APROXIMAO CIRCULAR DA FAMLIA (antes de contatar o entrevistado coletar informaes com pessoas do meio em que vive).
2. REGRA- INTERROGATRIO CONTRADITRIO E SEPARADO (fazer
as mesas perguntas para as pessoas envolvidas em momentos diferentes e
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separadamente o que permitia confrontar informaes- para isso a visita de surpresa era utilizada p.114).
3REGRA- VERIFICAO PRTICA DO MODO DE VIDA FAMILIAR (enquanto se observa tudo ao redor (higiene,inventrio da moblia, utenslios, roupas vista) era bom que a conversa flusse livremente (prazer) para que o entrevistado fosse se soltando; era indicado dar conselhos...p. 115).
Espao de Trabalho- Contradio categoria central
Ampliao e garantia de direitos X Controle/disciplinarizao .
Cotidiano da interveno: c/ base nos fundamentos histricos, terico-metodolgicos, tico-poltico e tcnico-operativos (mbitos inter/extra institucional).
Pesquisa - sistematizao/conhecimento da realidade social (trabalho - sujeitos).
Organizao poltica.
(Eunice T. Fvero / Servio Social no Judicirio)
Estudo social fundamentos (In Fvero, 2003)
Mesmo o trabalho com apenas um usurio: ele um indivduo social. O desvelamento da realidade social que condicionou a sua histria, do fato que motivou a realizao do estudo competncia do assistente social.
O sujeito tem uma histria social de vida passada e presente;
viveu e vive numa sociedade em que ele, e ou as pessoas com as quais mantm vnculos, teve ou tem alguma forma de relao com o trabalho - inserido, excludo, ou sobrante;
viveu/vive em um grupo familiar, c/ o qual manteve/mantm relaes fundantes e determinantes de sua forma de vida;
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vive (ou transita) em uma regio, em uma cidade, em um bairro, forjados socialmente por polticas pblicas (s quais ele teve ou no acesso) que determinam sua existncia;
a cultura elemento presente em seu processo de socializao e nas relaes que estabelece ao longo da vida.
Chaves do conhecimento para a construo do estudo social
Fundamentos e base terica: informaes descritas e interpretadas a partir da dinmica da realidade social, poltica, econmica e cultural, de maneira a provocar aes cotidianas que garantam e efetivem direitos.
Pressupe, dentre outros: conhecer e acompanhar:
dados gerais sobre a condio de vida da populao com a qual se trabalha (IBGE, IPEA, UNICEF, Organizaes de informaes locais...).
resolues e planos aprovados pelos Conselhos de Direitos, nas trs esferas de governo.
contedos de planos, projetos de lei e leis, relacionados ao trabalho cotidiano.
COMUNICAO ESCRITA LAUDOS E RELATRIOS
H uma continuidade da interveno, de forma indireta: a mensagem enunciada nesses documentos subsidiar decises a respeito
da vida de um indivduo ou grupo social
documento elaborado pelo assistente social ir intermediar o dilogo entre a realidade do usurio e de demais profissionais que tero acesso a ele: juiz, promotor, psiclogo, advogado etc.
Essa comunicao ser interpretada luz de objetivos profissionais que lhe so especficos (Magalhes, S.)
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Escrever no uma habilidade que nasce com a gente... preciso desenvolver a tcnica Estrutura - Lgica Estilo Como autor voc deve se comportar como leitor verificando se o texto est:
Resumido/conciso contedo e objetivo.
Claro/compreensvel.
Preciso- excluir informaes irrelevantes.
Simples em vez de complexo ou enrolado.
Composto de uma estrutura lgica.
Numa linguagem tcnica compreensvel.
(Forsyth, 1997, p.12)
Uso da Linguagem
Legibilidade o texto flui, um assunto leva ao outro, segue uma estrutura lgica na transmisso da mensagem.
Objetividade- faz uso de palavras curtas (porque elucidar alguma coisa
quando voc pode explicar?), frases curtas devem se alternar com as longas ou o ato de ler poder tornar-se muito automtico.
Naturalidade embora os relatrios precisem de certo grau de
formalidade, preciso cuidado para no usar linguagem fora de moda, ou burocrtica, ou empolado a ponto de querer dar mais peso a um assunto do que ele realmente tem.
CONSIDERE:
Para quem o relatrio (quanto mais souber sobre seu leitor melhor ser a comunicao);
Motivos pelos quais querem ou precisam do relatrio;
Que informaes esperam encontrar e em que nvel de detalhes;
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O que no esperam encontrar no texto.
COMPROMETER CREBRO ANTES TECLADO-CANETA
Fase 1- listar
Fase 2- seleo
Fase 3- organizao
Fase 4- reviso
Fase 5- redao
Fase 6 edio
Forsyth, 1997, p.18-22
As melhores histrias tm comeo, meio e fim:
Introduo esclarecer o assunto e tema, estabelecer objetivos e proposta, iniciar o processo de entrar no assunto e criar uma linha de pensamento o incio do relatrio deve fisgar o leitor, o comeo fala muito sobre o autor;
O meio por ser mais extenso exige cuidado com a estrutura e consistncia (estrutura lgica, sinalizao das intenes a seguir iremos abordar..., utilizao de ttulos e subttulos, recursos visuais);
O fim trs objetivos: chegar a uma concluso e apresent-la; agrupar-resumir o contedo, terminar com um fecho interessante.
INTRODUO - indicando a demanda judicial e os objetivos do trabalho; identificao das pessoas envolvidas na ao e que direta e indiretamente esto includas no estudo; a metodologia utilizada para a efetivao do trabalho (entrevistas, visitas, contatos, estudos documental e bibliogrfico) e a definio breve de alguns conceitos utilizados.
DESENVOLVIMENTO -aspectos socioeconmicos e culturais- que podem ser permeados c/ anlise ou finalizados com a anlise interpretativa e conclusiva, parecer social.
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CONCLUSO - parecer social sintetiza a situao, apresenta uma breve anlise; aponta concluses ou indicativos de alternativas que expressaro posio profissional frente ao objeto de estudo.
Sugestes/questes para avaliar a coerncia e consistncia de um registro:
O texto que escrevi est claro, coerente, completo?
As informaes e os relatos so precisos e necessrios ou, ao contrrio,dizem respeito minha tendncia prolixidade?
Tudo o que escrevi essencial compreenso do texto, ou alguns dados interessariam apenas, a mim, como subsdios para a avaliao?
A linguagem que utilizei est adequada?
A forma de expresso condiz com a linguagem escrita?
Os pronomes e as expresses de tratamento foram usados adequadamente?
Ao me referir anlise que fiz, utilizei a mesma pessoa em todo o texto, isto , usei sempre o impessoal [percebeu-se...] ou a primeira pessoa do plural [percebemos...]?
(Magalhes, S.)
REFLETINDO
Laudo social ou Relatrio Social?
Laudo interdisciplinar regulamentao dos respectivos conselhos.
PIAS- instrumento que exige competncia para alm de preenchimento de dados/informaes.
Do caminho percorrido- ao registro escrito- vcios e reiteraes tpicas do cotidiano.
Outros registros fundamentais: projeto, plano de trabalho e relatrio das aes desenvolvidas.
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Princpios ticos na elaborao laudo/relatrio social quando vivi o contraditrio em um processo judicial ... No momento da Pscoa de 1976, um obscuro detento de uma priso de provncia morreu em consequncia de uma longa greve de fome que ele fez porque, em seu pronturio judicial s se registrara suas falhas, seus desvios da norma, sua infncia infeliz, sua instabilidade conjugal, e no suas tentativas, suas buscas, o encadeamento aleatrio de sua vida. Foi ao que parece, a primeira vez que uma greve de fome resultou em morte numa priso: a primeira vez, tambm, que foi feita por motivo to extravagante. (Donzelot, 1980: 209).
Stela Guedes Caputo Jornalista- Sobre entrevistas- teoria, prtica e experincias, Editora Vozes, RJ, 2006. Para o bem ou para o mal as frmulas podem at ajudar, mas no resolvem. Sei apenas, e tambm digo a eles, que muitas pessoas (jornalistas, pesquisadores e quem quer resolva passar a vida escrevendo) o faro como quem quebra pedras, arrancando as palavras de sua existncia e cimentando-as como tijolos em paredes. Escrevero muros e no textos. Escrevemos quando sentimos que passamos por uma experincia. A construo de um texto uma experincia singular. Ao viv-la, escorre por nossas mos o lugar de onde somos e o modo como olhamos o lugar em que estamos. Deixamos no tecido do texto as fibras de nossas mos e de outras que por nossas mos passaram. Ao mesmo tempo, ao finalizarmos nosso trabalho e levantarmos os olhos das telas de nossos micros, j no vemos o mundo como antes. porque tambm somos transformados pela experincia de escrever, quando ela, de fato, acontece.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
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CRESS 9 R SP. Legislao brasileira para o servio social. So Paulo, 2006.
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FVERO, E. T. Estudo Social - fundamentos e particularidades de sua construo na rea judiciria. In: O estudo social em percias, laudos e pareceres. 6 ED. So Paulo: Cfess/Cortez. (2006)
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FVERO, E. T. Instrues sociais de processos, sentenas e decises. Material em organizao, para curso de especializao distncia CFESS, 2007.
FVERO, E. T., TOLOSA JORGE, M. R., MELO, M. J. O Servio Social e a Psicologia no Judicirio construindo saberes, conquistando direitos. So Paulo: Cortez, 2005.
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LEI n. 8.662/93. Dispe sobre a profisso de Assistente Social.
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INTERDISCIPLINARIDADE E FORMAS DE REGISTRO: PSICOLOGIA.
CONCEITOS, INFORMAES E PARECER, RELATRIO E LAUDO.
Da autora:
Pilar Isabel Travieso- psicloga graduada e ps graduada pelo IP-USP. Mestrado
defendido em 2001: O Sujeito no Discurso Jurdico das Varas de Infncia e
Juventude: Pedido de Providncias. Orientadora: Prof Dr Marlene Guirado.
Trabalha no Frum desde 1985, tendo atuado durante dcadas em Setores de
Psicologia das Varas de Infncia e Juventude e, mais recentemente, no Setor de
Psicologia das Varas de Famlia e Sucesses do Frum Central.
Do trabalho:
O objetivo pensar o fazer psicolgico dentro da instituio judiciria luz do
entrecruzamento de discursos, tanto nas Varas de Infncia e Juventude quanto
nas Varas de Famlia e Sucesses.
Em minha Dissertao de Mestrado, parto de alguns pressupostos tericos e
metodolgicos, abaixo mui sucintamente listados, para pensar, a partir da anlise
de discurso, que sujeitos possveis so configurados no e pelo discurso
institucional. Embora o material analisado poca tenham sido processos de Vara
de Infncia e Juventude, com tramitao e configuraes distintas dos de Vara de
Famlia e Sucesses, acredito que o embasamento terico e metodolgico, bem
como alguns achados da pesquisa, podem nos ajudar a refletir em ambos os
procedimentos.
Como vocs sabem, h poucas equipes tcnicas exclusivas de Varas de Famlia.
A maioria dos psiclogos e assistentes sociais judicirios chamada a atuar em
ambos tipos de questes.
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Estamos h dcadas saindo das clnicas e adentrando instituies outras.
Na Justia, os psiclogos podem trabalhar de dentro da instituio, como
funcionrios, seja nas Varas de Infncia, seja nas Varas de Famlia e Sucesses.
Podem tambm, nesta segunda rea, ser contratados para percias pontuais ou
como Assistentes Tcnicos.
Na Infncia, somos servios auxiliares do juiz como bem explicita o Estatuto da
Criana e do Adolescente, atuamos nos processos desde seu incio e por vezes
durante toda sua tramitao. Inmeras vezes, os operadores de Direito no tm
contato direto com os clientes. Quem os entrevista e anota suas queixas/pedidos e
pontos de vista so os tcnicos. A comunicao mais usual a escrita, pela via de
relatrios pontuais ou finais e pareceres. A partir desses escritos, ocorrem as
decises.
Nas Varas de Famlia, nossa interveno advm de determinao do Juiz, e a
somos nomeados peritos. Perito significa aquele que detm um conhecimento
especial sobre determinado tema. Ante uma questo envolvendo filhos, o juiz
pode requerer um estudo, finalizado num laudo.
Aspectos normativos
O Conselho Federal de Psicologia vem produzindo documentos que buscam
nortear nosso trabalho prtico e nossa produo discursiva escrita.
Fundamentalmente, temos Cdigo de tica do Psiclogo (agosto, 2005), de onde
destaco dois artigos:
Art. 1- So deveres fundamentais do psiclogo[..] g) Informar, a quem
de direito, os resultados decorrentes da prestao de servios
psicolgicos, transmitindo somente o que for necessrio para a tomada
de decises que afetem o usurio ou beneficirio(p. 08, grifos meus)
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Art. 6- O psiclogo, no relacionamento com profissionais no
psiclogos [...] b) compartilhar somente informaes relevantes para
qualificar o servio prestado, resguardando o carter confidencial das
comunicaes, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de
preservar o sigilo (p.14, grifos meus)
O CFP tambm emitiu Resoluo (007/2003) delimitando formatos para os
relatrios, pareceres e atestados. Recomendo a todos que estudem tal Resoluo.
Por ora, destaco alguns excertos:
O processo de avaliao psicolgica deve considerar que os objetos
deste procedimento (as questes de ordem psicolgica), tm
determinaes histricas, sociais, econmicas e polticas, sendo as
mesmas elementos constitutivos do processo de subjetivao. O
Documento, portanto, deve considerar a natureza dinmica, no
definitiva e no cristalizada de seu objeto de estudo[...] A linguagem nos
documentos deve ser precisa, clara, inteligvel e concisa, recusando
qualquer tipo de considerao que no tenha relao com a finalidade
do documento especfico.
Quando detalha os modelos, prope formatos de estrutura de texto...
Mais recentemente, e mais focalizados nas percias em Varas de Famlia, foram
emitidos dois documentos: A resoluo 008/2010, que arbitra sobre o
relacionamento entre Perito e Assistente Tcnico e as Referncias Tericas para
Atuao do Psiclogo em Varas de Famlia.(2010)
Para que tantas normas?
A crescente produo de normativas e recomendaes remetem a Foucault
(1999):
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suponho que em toda sociedade a produo do discurso ao mesmo
tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo
nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e
perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e
temvel materialidade[...] Sabe-se bem que no se tem o direito de dizer
tudo, que no se pode falar de tudo em qualquer circunstncia, que
qualquer um, enfim, no pode falar de qualquer coisa...(p.9).
Para traar meu campo terico, acompanho Guirado, (1995, 2001), psicanalista
que articula vetores clnicos anlise francesa de discurso (de Maingueneau), e
ensinamentos de Michel Foucault sobre discurso e instituio, criando uma
metodologia e um modo instigante e peculiar de enfoque do sujeito: matriciado
institucionalmente, credor e criador das instituies em que se insere. Sujeito no
solto e autnomo, no totalmente fundado na instituio. Mtodo que ser nesta
exposio brevemente elencado, apenas para dizer das origens de meu modo de
pensar a prtica psicolgica na Justia: nossa insero e no neutralidade.
Michel Foucault abordou a questo do discurso: entremeado com o poder, um
poder que se exerce nas relaes.
Para esse pensador, o discurso no algo neutro, livre, e sim rodeado de
interdies, normas.
Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as
interdies que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligao com
o desejo e com o poder. Nisto no h nada de espantoso, visto que o
discurso como a psicanlise nos mostrou no simplesmente
aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo: tambm, aquilo que o
objeto do desejo; e visto que isso a histria no cessa de nos ensinar
o discurso no simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os
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sistemas de dominao, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder
do qual nos queremos apoderar (p.10)
E, num texto que focaliza especialmente as prticas jurdicas (Foucault, 1996,
1973), aponta a emergncia de (especficos) sujeitos a partir das alteraes
sofridas no modo como a sociedade o poder lida com a questo dos crimes e
das infraes norma. E, alm de noes de sujeito enquanto indivduo, junto
com ela, destaca a reconfigurao e criao de cincias, de verdades:
perspectivas, histricas, ligadas ao poder.
As prticas judicirias a maneira pela qual, entre os homens, se
arbitram os danos e as responsabilidades, o modo pelo qual, na histria
do Ocidente, se concebeu e se definiu a maneira como os homens
podiam ser julgados em funo dos erros que haviam cometido, a
maneira como se imps a determinados indivduos a reparao de
algumas de suas aes e a punio de outras, todas essas regras, ou
se quiserem, todas essas prticas regulares, claro, mas modificadas
sem cessar atravs da histria me parecem uma das formas pelas
quais nossa sociedade definiu tipos de subjetividade, formas de saber
e, por conseguinte, relaes entre o homem e a verdade que merecem
ser estudadas (1973, p.11)
A maneira como somos vistos, qualificados e definidos, o discurso que tecido,
legitimado e recriado nas instituies, fruto de relaes de fora, desenha lugares
aos partcipes, comporta vontade de verdade, facetas cientficas, (que aspiram a
ser) neutras. Alguns analistas do discurso situam-no em sua dimenso
institucional e instituinte, discurso como ato de fala, que define e configura que
qualifica e delimita.
Repetindo o escrito alhures (Travieso, 2001,p.51):
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A utilizao de determinados termos ( e no de outros) est atrelada a
estratgias polticas/sociais, a verdades, inscrita em configuraes
histricas, com estreita margem de escolha pelos indivduos em
comunicao, os quais, atravs do contextos, (re)conhecem-se e
posicionam seus interlocutores.
Dominique Maingueneau, em aula sobre Anlise de Discurso, nos ensina:
..falar no a expresso do pensamento de um sujeito que utiliza a
linguagem como instrumento, mas entrar numa instituio que domina o
sujeito. Falar entrar nessa ordem do discurso...(p.22,2000)
Para nos ajudar nessa reflexo sobre os discursos e as instituies, utilizarei a
noo, exposta por Maingueneau, de Gnero de Discurso, um conceito simples e
muito claro. Um sujeito, ao emitir verbalizaes, no o faz sem coeres, livre, e
sim dentro de contexto e parmetros (sociais, institucionais, histricos) que o
precedem e que ele, nesse falar, legitima, atualiza (e eventualmente, altera). So
normas e limites que tambm atribuem caractersticas aos falantes, posies,
lugares, peculiaridades.
Pensemos numa pea de teatro: a platia sabe que o que se desenrola no palco
um momento separado da realidade e, portanto tem uma postura especial
diante dos atores e do que ocorre. Uma missa, uma audincia, uma entrevista de
televiso, uma entrevista psicolgica na Justia.... Cada momento desses
pressupe instituies/gneros discursivos que os partcipes reconhecem, sob
pena de no haver comunicao ou de algum deles ser considerado louco ou
socialmente desadaptado.
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Vamos a Maingueneau( in Guirado,2000):
A noo de gnero discursivo central na Anlise do Discurso: cada
enunciado se apresenta por meio de um certo quadro que permite
apreend-lo e, sobretudo, da deriva-se um comportamento
adequado(p.91)
Uma pessoa sozinha no pode definir as condies do gnero de
discurso. O gnero de discurso uma instituio; para que se possa
entrar no jogo preciso que exista j um quadro preestabelecido.(p.92)
e
O discurso institui, instaura as condies de sua prpria possibilidade.
O gnero de discurso preestabelecido, mas tambm o quadro
preestabelecido tem que ser relegitimado a cada enunciao. Os
quadros genricos so acordos tcitos; no existem como coisas. E so
sempre suscetveis de transformao(p.93)
Texto e contexto entremeados.
Com Guirado, aprendemos o discurso como instituio, matriciando sujeitos e
lugares, configurando cenrios.
Falando sobre a atuao de psiclogos em instituies que no a clnica, a
pesquisadora observa(1995):
A considerarem-se todas essas prticas cruzadas como instituies, a
subjetividade com que se trabalha, no nvel analtico ou teraputico, no
interior de instituies que no o consultrio, esta subjetividade a
supor reedies de relaes sobre um terreno j marcado por uma
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estrutura de lugares, um imaginrio e um objeto que lhe so
caractersticos(p.120,121)
E, ainda,
[falando em transferncia institucional]... possvel dar-se conta de que
a reedio de modelos de relao[...] no conjunto de uma prtica
institucional que no a da clnica psicanaltica em sentido estrito s
pode ser considerada se considerados forem o objeto, a estrutura de
lugares e o imaginrio da instituio ora privilegiada(p.118,119).
A Justia constri seu discurso, seu gnero discursivo (Maingueneau,2001) e
por ele constituda. Os partcipes reconhecem e se reconhecem nesse peculiar
gnero, construindo(se) a identidades e lugares, que fornecem caractersticas aos
que os ocupam (Travieso, 2001).
O discurso jurdico como toda instituio situa os sujeitos em determinados
lugares, mais ou menos fixos, transferindo-lhes, de plano, caractersticas afeitas
ao lugar institucional/discursivo. H uma peculiar maneira de se comunicar, na
Justia, com pouco espao para uma expresso espontnea (caso isso exista).
E essa linguagem atribui caractersticas a todos os envolvidos, sejam clientes ou
agentes.
Novamente, apoio-me em trabalho anterior (Travieso, 2001).
O sujeito a que me reportarei aquele institucionalmente fundado,
sujeito-dobradia (Guirado, 1995), fonte e efeito de discursos que o
atravessam. No indiferenciado, posto manter-se (ao menos em parte)
ao longo dos gneros que o instituem, mas tampouco delimitado como
indivduo, fechado em si e constante. Um sujeito que no uno, que
no domina seu discurso, no somente por ser sujeito do inconsciente
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(dimenso essencial), mas por ser enunciador/locutor de discursos que
se fundamentam em estratgias fora de seu alcance, embora possa se
dar conta de algumas delas e eventualmente utiliz-las em seu favor.
Um sujeito que alcana dimenses de identidade nos discursos, no
lugar onde situado, lugares esses que se legitimam no dizer e que
podem at ser modificados, porm vivenciados como verdadeiros,
naturais(p.82)
O psiclogo que atua na instituio judiciria se depara com importantes dilemas
e questes. Por exemplo: sua formao clnica, de escuta e considerao pelo
relato do cliente, de tomar o dito como a verdade para aquela pessoa, versus a
demanda de descobrir a verdade, exigncia da instituio para que Justia se
faa. Estamos a servio de um juiz. A clientela sabe disso. No nos procuram por
desejo ou deliberao, por sentirem necessidade de um olhar psicolgico. No
digo que no manifestem sofrimento e/ou sintomas, mas no na Justia que
buscam consolo ou tratamento.
Na Infncia, muitas vezes so acusados de negligncia, abandono, problemas
de conduta, adices. So levados ou procuram a Justia para que alguma lei se
faa. Sabem que o que nos disserem poder chegar ao conhecimento do Juiz.
A partir do atendimento do caso, que muitas vezes junto com o Assistente
Social, o psiclogo da infncia deve produzir um documento escrito, um Parecer
(inda que provisrio), onde devem constar impresses diagnsticas e uma
sugesto judiciria.
Em vrios casos de Infncia e Juventude, no obrigatria a presena do
advogado, ento, quem acaba por apresentar/representar o pedido ou queixa so
os tcnicos.
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No se trata meramente de anotar o que a pessoa est falando,
pedindo, mas de fazer desse discurso uma solicitao que se enquadre
nos parmetros jurdicos (Travieso, 2001, p, 12).
A, cito Maingueneau (in Guirado, 2000).
Falar no somente uma atividade de expresso do sujeito, uma
atividade fundamentalmente cooperativa. uma ao com dois
parceiros [...] Isso tambm verdade para os textos escritos: no
podemos escrever sem construir uma representao de um
coenunciador, um leitor, que tem uma certa concepo do mundo, uma
certa atitude conosco; a partir da imagem que temos desse outro que
podemos enunciar. Na verdade, essa construo do outro depende
muito dos gneros de discurso. No cada sujeito quem inventa a
figura do outro. O fato de estar em um certo gnero de discurso implica
uma certa imagem desse outro (p. 29).
Contexto e texto se imbricam, nessa perspectiva de anlise, e, novamente
acompanhando Maingueneau (in Guirado, 2000), somos sujeitos matriciados
numa determinada instituio, num determinado gnero discursivo, respeitando
suas coeres para que a comunicao seja possvel, dentro dos limites e lugares
que atribuem peculiaridades e caractersticas aos falantes.
Em minha pesquisa de mestrado, apontei fenmenos discursivos reincidentes, dos
quais destacarei apenas alguns:
- os escritos de Assistentes Sociais e Psiclogos eram extremamente
semelhantes, constando sempre um pedido de permisso para enunciar e uma
arrumao das falas dos clientes nos moldes jurdicos, assumindo ares de
representao;
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- ambos assumiam tons diagnsticos e taxativos, mesmo quando produzidos
numa primeira entrevista.
[...] Assim sendo, orientamos que procurassem ajuda psicoteraputica
para P., pois demonstrado est que ela tem uma imagem negativa da
figura paterna (Travieso, 2001, p. 180).
- O uso de pressupostos lingsticos, que dispensam explicaes, enquadrando os
assim definidos, porque so colocados num texto de autoridade (relato de algum
que sabe). Podem resultar em estigmas, ou no mnimo formas prvias, pouco
atentas s peculiaridades.
[...]Considerando:
a) estar os menores R. e L, ao que tivemos oportunidade de ver[...]
amparados e adaptados na companhia do Sr. O e da Sra. MA [...],
os quais lhes dedicam, alm do atendimento de suas
necessidades[...] proteo e amor, como sendo filhos legtimos[...]
(Op cit, p. 206).
Proc. 11, excerto de relatrio social:
[...] Residem em casa de alvenaria[...] O ambiente bastante simples,
todavia, encontrava-se limpo[...](p.207).
- o tom afirmativo e fechado assume, discursivamente, ares de verdade o que
muito bem vindo na Justia (com sua busca pela Verdade dos Fatos) mas muitas
vezes emergindo como fruto de um primeiro contato.
Quando busquei desenhar o lugar que as crianas e adolescentes ocupavam no
discurso numa instituio que afinal foi criada para elas o susto foi ainda
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maior. Nos textos analisados, as crianas no eram nomeadas, apenas nos
cabealhos dos relatrios ou nas capas dos processos. Nos despachos, nas cotas
ministeriais, nos relatrios sociais e psicolgicos, seu nome era omitido. Sua
presena na entrevista era eventualmente referida, porm nenhuma fala lhe era
atribuda. No constava opinio sua. Eram situados no silncio. A utilizao do
termo menor, atrelado ao Cdigo de Menores e desatualizado perante o ECA
(que o criticava por estigmatizante) era macia, talvez a apontar um lugar, uma
qualificao para essas pessoas. O nome prprio nosso distintivo pessoal, e no
aparecia no corpo dos escritos.
Ali onde deveriam ser destacados, so silenciados e nomeados menores com o
peso que tal adjetivao carrega. Num extremo:
Proc. 9 (Ivan)- Oficio de apresentao do caso, fls. 02:
[...] Atendendo ao requerido nos autos do pedido de providncias
instaurado contra Ivan[...] (p. 238, grifo meu)
A instituio que seria espao de respeito e preservao de seus direitos, no lhes
permite falar, aparecer, nem ao menos com o relato arrumado qual os adultos.
Que tipo de lugar essas crianas ocupam no discurso? O no lugar... O no
nomear...
Nos processos de Vara de Famlia, os clientes so obrigados a se submeter a
uma percia, que tem finalidades e importantes delimitaes. Eles esto
envolvidos via de regra num litgio. Ningum quer perder. No h o desejo de se
expor. A culpa raramente assumida. Os defeitos so projetados.
Os processos de Vara de Famlia contam com advogados de ambos os lados...
A criana, muitas vezes, instrumento para se atingir ao ex-cnjuge, sequer
considerada enquanto ser especial de direitos e com necessidades peculiares. O
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ataque recproco a figuras to importantes para o mundo mental infantil aponta
para a desconsiderao da criana. (Caff, 2010):
Conforme nossas observaes, o casal que enfrenta a situao de
separao conjugal litigiosa, disputando entre si os direitos sobre os
filhos, apresenta freqentemente, em suas manifestaes no mbito da
percia, a ausncia do reconhecimento mtuo do lugar de pai e de me,
cada um em relao ao outro. As funes do cuidado e educao dos
filhos, bem como o estabelecimento de condies e limites adequados
ao crescimento dos mesmos, ficam prejudicados neste contexto de no
reconhecimento e ataque mtuo das funes paterna e materna. Como
conseqncia, os filhos nem sempre so reconhecidos no lugar de
crianas, no se estabelecendo assim a suficiente considerao de suas
necessidades e direitos(pg.18).
Quando o caso chega para percia, a situao conflitiva encontra-se exacerbada,
as acusaes so vastas.
O psiclogo ento chamado a elucidar uma questo, a compreender a demanda,
a chegar verdade dos fatos. Muitas vezes h queixas graves, como abuso
sexual, agresso, drogadico,...
Procura-se ouvir cada um deles, individualmente, situar seu papel naquela famlia,
especialmente junto criana em questo. Os clientes, em geral, at mesmo por
instruo dos advogados, assumem postura defensiva, de retraimento, e de
ataque ao (agora) oponente. Para a psicologia, um movimento de projeo.
Sucede que a pessoa no se autopercebe, est tomada pelo litgio e quer se
defender. Ou mesmo que se d conta ou reconhea, ser que para ns que
revelar suas fraquezas?
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Temos que ter clareza, ainda, que nosso trabalho tem um prazo bastante limitado,
e que os clientes sabem que temos que fazer um laudo ao juiz. Desse modo, e
diante de uma instituio que julga, que condena e absolve, e de um discurso em
que a figura do juiz central, os clientes falam conosco como psiclogos
judicirios - que de fato somos, at como especialidade reconhecida - , ou seja,
de algum modo mandam recados ao juiz atravs do que nos relatam, do que
escolhem expor.
Por exemplo, uma acusao de drogadico por um dos pais, feita pelo outro.
Mesmo que tenha havido ou haja contato com drogas, seria na Justia que a
pessoa se sentiria vontade para assumir essa adio? Sabendo que tal conduta
ilegal? E que de sua avaliao poder resultar o afastamento do filho?
As entrevistas so semidirigidas, ou seja, no deixamos os clientes a devanear, e
sim lhe oferecemos perguntas focalizadas na nossa tarefa, qual seja,
instrumentalizar com dados psicolgicos a sentena judicial, visando minimizar o
sofrimento dos filhos.
Entrevistas individuais so parte de nossa tentativa de traar um perfil daquela
famlia. Mas, repito, esse perfil no traado no vazio, e sim dentro de um
especfico gnero discursivo, dentro de uma instituio e com finalidades prprias.
As crianas, nos litgios, muitas vezes so desconsideradas, suas demandas no
so respeitadas, o que dizem interpretado como sendo manipulao ou coero
do (outro) genitor. Caff (2010) apontou em sua obra o esvaziamento do discurso
da criana e as conseqncias disso para sua sade mental.
Stahl (1999) destaca as dificuldades da percia psicolgica judicial e a
necessidade de se priorizar a criana em questo. No se trata, diz o estudioso,
de premiar o bom pai ou punir o mau pai com o filho-presente, mas de pensar
qual deles pode colaborar mais ou impedir menos o desenvolvimento da criana.
De todo modo, so tarefas reconhecidamente difceis. Para Huss (2011)
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a avaliao de guarda dos filhos das mais difceis, seno a mais
difcil, realizadas pelos psiclogos forenses, por muitas razes (p. 309)
Como vocs sabem, vm crescendo a interveno de Assistentes Tcnicos
contratados pelos litigantes. Profissionais da mesma rea que a nossa, porm
chamados por um dos lados a opinar, muitas vezes sem sequer ver o outro. Em
alguns casos, pouco se distinguem dos advogados, lutando por enfatizar as
qualidades psicolgicas de seu cliente e no focalizando a criana envolvida.
O Conselho Federal de Psicologia buscou, atravs da Resoluo 008/2010,
regulamentar esse contato, para que seja possvel desenvolver um trabalho de
qualidade.
Recentemente, tambm editaram, atravs do CREPOP, referncias nacionais
para a atuao do psiclogo em Varas de Famlia.
Ambos os documentos apresentam inmeras qualidades e buscam, dentro da
diversidade nacional e regional, estabelecer parmetros de trabalho dentro dos
moldes ticos. Ambos foram debatidos no Setor a que perteno e algumas
questes foram levantadas e levadas Associao de Assistentes Sociais e
Psiclogos do TJ e ao prprio CRP, visando aprimorar e burilar nossa prtica.
Trata-se de um tema bastante polmico e que ainda levar a muitas discusses. A
cada momento surgem novas leis, como a da Guarda Compartilhada e a da
Alienao Parental, que podem alterar nosso trabalho, indicando um momento
particular, de nossa sociedade, de judicializao dos conflitos.
Trata-se de um trabalho muito difcil, cercado de limites e problemas, novos e
antigos.
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Minha tentativa de colaborao pretende que cada um de ns pense em seu lugar
nessa instituio e no que escreve com algo muito importante, que adquire fora e
realidade, carrega cientificidade e pode estigmatizar, mas tambm pode ajudar.
Referncias Bibliogrficas:
CAFF, M- Psicanlise e Direito: a escuta analtica e a funo normativa jurdica ,
So Paulo, Quartier Latin, 2010.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Resoluo 008/2010. Disponvel em
http://crsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes.
________________________________________- Resoluo 007/2003.
Disponvel em http://crsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes.
_____________________________________________Referncias tericas para
atuao do psiclogo em Varas de Famlia. Disponvel em http://crepop.pol.org.br.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso, Conferncia proferida em 1970,So
Paulo, Loyola, 1999.
FOUCAULT, M.- A Verdade e as Formas Jurdicas, Conferncias Proferidas em
1973, Rio de Janeiro, Nau, 1996.
GUIRADO, M Psicanlise e Anlise do Discurso: Matrizes Institucionais do
Sujeito Psquico, So Paulo, Summus, 1995.
GUIRADO, M - A Clnica Psicanaltica na Sombra do Discurso, So Paulo, Casa
do Psiclogo, 2000.
HUSS, Matheu T. Psicologia Forense, Porto Alegre, Artmed, 2011.
STAHL, Philip M- Complex Issues in Child Custody Evaluations , Califrnia EUA,
Sage Publications, 1999.
TRAVIESO, P.I. O Sujeito no Discurso Jurdico das Varas de Infncia e
Juventude: Pedido de Providncias , Dissertao de Mestrado, 2001 IP USP.
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65
4 Aula
O trabalho em rede e suas diferentes dimenses
Rede primria/ Rede secundria
Discusso, elaborao conjunta e avaliao
do Plano Individual de Atendimento PIA.
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O TRABALHO EM REDE NAS SUAS DIFERENTES DIMENSES (REDE PRIMRIA E SECUNDRIA) - DISCUSSO, ELABORAO DO PIA
Marcia Silva
Assistente Social Judiciria - Campinas
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REDES
Primria Secundria: informais
formais
terceiro setor
de mercado REDE PRIMRIA
Constituda por famlia, amigos, colegas de trabalho, colegas do local de estudo, de lazer.
Servem como ponto de apoio ou conteno.
Pode se dar por proximidade ou preferncia.
Assim como na rede secundria informal h um sentimento de pertencimento.
FUNES DA FAMLIA NA REDE PRIMRIA
Educao do eu experincia de primeira socializao, desenvolvimento de competncia como confiana, reciprocidade, colaborao, esperana e investimento no futuro,
Cuidado ateno as necessidades de seus componentes, solidariedade e ainda aciona a rede secundria,
Transao de dentro das famlias s redes e visa-versa, uma vez que se abre a dimenso comunitria, recebendo e oferecendo valores, recursos e competncias,
Proteo- capaz de selecionar informaes ou elementos externos para proteger seus membros.
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Redes de amizade - os adolescentes tem uma rede ampliada de amigos, os adultos possuem um nmero menor de amigos, uma vez que tem um tempo mais limitado a oferecer, e de forma geral estes esto ligados ao mundo profissional, pois buscam mais qualidade que quantidade, os idosos tendem a ter pequeno nmero de amigos.
REDES SECUNDRIAS
Informais atendimento a necessidade especifica pontual (a uma pessoa em necessidade por doena ou carncia) ou peridica grupo de pais que se organizam para levar os filhos escola, a festas, outras atividades.
Formais conjunto de instituies como o sistema de sade, de ensino, de
assistncia.
Terceiro setor cooperativas, ou podem surgir por grupo que se organizou para determinada ao, ou sem fins lucrativos.
Mercado se refere a esfera econmica e tem como meio o dinheiro.
TRABALHO EM REDE
Levantamento da rede do usurio.
Mobilizao desta rede, uma vez que aes isoladas podem no ser suficientes para ateno ao usurio.
Buscar aes articuladas.
MAPAS DE REDES
Independente do modelo so mtodos de trabalho ou instrumentos
auxiliares para a avaliao.
Serve para levantar com o usurio com quem ele conta.
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Lev-lo a refletir quais pontos podem ser (re)ativados, fortalecidos.
PARA QUE ? Serve como instrumento auxiliar ao diagnstico recolhendo informaes e
ajudando a organizar os dados familiares;
Aponta os acontecimentos significativos e como esto as relaes familiares;
Serve para reflexo com e sobre a dinmica familiar do usurio;
Esta identificao serve para indicar formas de como o usurio pode
acionar estas redes pessoais, se h familiares ou grupo no qual pode se apoiar;
Com quais recursos pode contar num momento de necessidade ou crise;
Para estabelecer aes.
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COMO? Valorizando a retomada de relaes;
Valorizando aes de solidariedade;
Mobilizando parcerias, buscando atuao conjunta;
No suficiente a ao isolada de uma organizao pblica/privada
PARCERIA
Discusso conjunta do caso.
Os vrios servios acordam sobre o diagnstico e constroem um plano de ao.
Significa comprometimento de profissionais de vrios servios e, portanto, dos prprios