materiais de construção mecanica

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Introdução e ligações químicas Marcelo F. Moreira 1 ETM 201 Notas de aula Marcelo F. Moreira Materiais de Construção Mecânica

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Introdução e ligações químicas

Marcelo F. Moreira

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ETM 201 Notas de aula

Marcelo F. Moreira

Materiais de Construção Mecânica

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Introdução e ligações químicas

Marcelo F. Moreira

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Caros alunos,

O presente curso tem como objetivo apresentar os fundamentos básicos de

ciência dos materiais e de engenharia metalúrgica aos alunos de engenharia

mecânica e engenharia de produção mecânica. Os cursos de ciência dos materiais da

Escola de Engenharia Mauá são divididos em dois módulos:

1. materiais metálicos e

2. materiais poliméricos e cerâmicos

As presentes notas de aula abordam os temas relacionados aos materiais

metálicos comumente empregados na engenharia mecânica. É relevante destacar que

o objetivo destas notas de aula é o de orientar o aluno no acompanhamento do livro

texto e das referências complementares do curso.

A seqüência dos temas propostos pode variar de disciplina para disciplina,

assim, recomenda-se ao aluno acompanhar o plano de curso de sua disciplina

Cada tema está, na medida do possível, referenciado, indicando ao aluno um

livro texto ou um artigo no qual o assunto é abordado com maior profundidade.

Adicionalmente, foram propostas listas com exercícios sobre cada tópico.

Sempre buscando o contínuo aperfeiçoamento do curso e do material didático,

agradeço as sugestões e as correções que possam surgir durante nossas aulas.

Prof. Marcelo Ferreira Moreira

Escola de Engenharia Mauá

Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PARA O CURSO

LIVRO TEXTO:

Callister, W. D. MATERIALS SCIENCE AND ENGINEERING An Introduction John

Wiley & Sons INC. 2000

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES:

Shackelford, J. F. INTRODUCTION TO MATERIALS SCIENCE FOR ENGINEERS

Prentice Hall 1992

Padilha, A. F. MATERIAIS DE ENGENHARIA – Microestrutura e Propriedades Ed.

HEMUS 1997

Higgins, R. A. PROPRIEDADES E ESTRUTURAS DOS MATERIAIS EM

ENGENHARIA Difel 1977

Dieter, G. E. METALURGIA MECÂNICA 2a edição Editora Guanabara Dois 1976

Campos Filho, M. P. A ESTRUTURA DOS MATERIAIS 2a edição Editora da

UNICAMP 1991

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Introdução e ligações químicas

Marcelo F. Moreira

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Souza, S.A. ENSAIOS MECÂNICOS DE MATERIAIS METÁLICOS Editora Edgard

Blücher Ltda 1982

Chiaverini,V. TECNOLOGIA MECÂNICA V.1 Processos de fabricação 1a edição

McGraw Hill 1977

Metals Handbook Volume 2 PROPERTIES AND SELECTION: NONFERROUS

ALLOYS AND SPECIAL PROPOSE ALLOYS 8th edition A.S.M. 1979

Theining, K. E. STEEL AND ITS HEAT TREATEMENT 2nd edition Butterworths

1975

Souza Santos, A B; Castello Branco, Carlos Haydt METALURGIA DOS FERROS

FUNDIDOS CINZENTOS E NODULARES IPT São Paulo 1989

Cetlin, P.R. ; Silva P. S. P. da ANÁLISE DE FRATURAS A B M 1985

Metals Handbook Volume 15 CASTING 9th edition A.S.M. 1988

Zepbour Panossian Manual: CORROSÃO E PROTEÇÃO CONTRA CORROSÃO EM

EQUIPAMENTOS E ESTRUTURAS METÁLICAS Volumes I e II - IPT 1993

Metals Handbook Volume 9 METALOGRAPHY AND MICROSTRUCTURES 9th

edition A.S.M. 1988

ASM Specialty Handbook – Aluminum and aluminum alloys ASM International

1993

INTRODUÇÃO

IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DOS MATERIAIS NA ENGENHARIA:

Os materiais estão profundamente embutidos em nossa civilização.

Alimentação, habitação, transportes, vestuário, comunicações, recreação, saúde e

segurança, ou seja, todos os segmentos de nossa vida cotidiana são dependentes

dos materiais.

O desenvolvimento e avanços da nossa civilização sempre foram avaliados pela

capacidade de seus membros de produzirem e manipularem os diversos materiais da

natureza. De fato, as civilizações antigas são designadas pelo tipo de material que

estas dominavam:

• Idade da pedra (~7000 AC)

• Idade do cobre

• Idade do bronze (~3500 AC)

• Idade do ferro (~1200 AC)

Os homens primitivos tinham acesso apenas aos materiais da natureza como

pedras, madeira, ossos e peles. Com o passar do tempo foram inventadas técnicas de

processamento de outros materiais, obtendo-se propriedades muito superiores à dos

materiais disponíveis na natureza.

Somente na idade do ferro, descobriu-se que as propriedades do aço poderiam

ser alteradas por meio de tratamentos térmicos e adição de outras substâncias. Neste

ponto, o emprego dos materiais já passava por um processo de seleção, no qual, não

mais se empregavam um pequeno grupo de materiais, mas sim, de materiais com

características mais adequadas para uma dada aplicação. Um exemplo disto são as

técnicas de fabricação de espadas.

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Somente com a 2ª Guerra Mundial, os cientistas passaram compreender as

relações entre a estrutura microscópica e as propriedades mecânicas para uma dada

composição química.

A partir daí, e ainda com o advento do microscópio eletrônico em 1960, foram

criados dezenas de milhares de materiais com características "projetadas" para

satisfazer a necessidade da sociedade. Surge neste período a Engenharia de

Materiais.

Composição química

Propriedadesfísicas e mecânicas

Macro e microestrutura

O exemplo clássico desta época foi o inserto de metal duro ou “WI-DIA”

(partículas de WC, extremamente duras, sob uma matriz de cobalto tenaz). Outros

exemplos incluem1:

cerâmicas avançadas (alumina translúcida para lâmpadas de vapor de Na);

materiais biocompatíveis (implantes ortopédicos e odontológicos);

superligas a base de Ni (palhetas de turbinas a gás);

polímeros de alta resistência (Kevlar);

materiais compósitos (compósitos á base de fibras de vidro e fibras de

carbono);

imãs de alto poder magnético (Nd-Fe-B);

ligas com memória de forma (nitinol) e

isolantes térmicos cerâmicos à base de fibras de SiO2 (Revestimento do

ônibus espacial americano).

Cada vez mais o desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento

dependem do domínio de novos materiais e de novas técnicas de fabricação de

materiais. Alguns índices de desenvolvimento têm como base o consumo per capita

de materiais tradicionais ou de materiais avançados. Por exemplo, o consumo per

capita de alumínio no EUA é de aproximadamente 9 kg/ano enquanto que no Brasil é

de apenas 2 kg/ano.

A seguir, são apresentados alguns exemplos de materiais e componentes cujo

desenvolvimento ocorreu por meio da engenharia de materiais.

1 Scientific American 1986 v. 255 n° 4

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Exemplo 1

ALUMINA TRANSLÚCIDA PARA LÂMPADAS DE VAPOR DE Na

Lâmpada convencional (filamento de W): produz 15 lumen/W, apresenta

microestrutura com granulação grosseira e heterogênea e porosidade > 3%.

Lâmpada de vapor de Na: produz 100 lumen/W, apresenta microestrutura com

granulação refinada e homogênea e porosidade < 0,3%.

INSERTOS PARA USINAGEM

Outra aplicação da alumina, decorrente dos estudos de ciência dos materiais, é

o seu emprego na fabricação de insertos para usinagem de metais. A alumina (Al2O3)

apresenta dureza elevada (por volta de 2000 HK, 9 na escala de Mohs) e elevada

resistência ao calor (temperatura de fusão é de 2050ºC). Entretanto, peças maciças

de alumina são extremamente frágeis. Os insertos para usinagem apresentam uma

microestrutura composta por partículas de alumina aglomeradas com um ligante

capaz de compatibilizar a elevada dureza e resistência ao calor das partículas de

alumina com elevada resistência ao impacto.

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Exemplo 2

SUPERLIGAS Á BASE DE NÍQUEL (Palhetas de turbinas á gás)

• O termo superliga, do inglês "superalloy", decorre do emprego de uma liga

empregada em implantes ortopédicos (Vitallium) ter sido empregada para a

fabricação de palhetas dos primeiros motores a jato na década de 40 (Haynes 21).

Naquela época o prefixo "super" era muito difundido pelas aventuras do herói

fictício Superman. Assim, tal liga, empregada como material biocompatível e

também como material resistente ao calor, foi chamada como uma superliga.

Recentemente o termo superliga é empregado para materiais resistentes ao calor.

As superligas à base de Ni apresentam elevada resistência mecânica, resistência

ao calor e elevada resistência à corrosão. São empregadas na fabricação de

componentes de turbinas á gás que operam em temperaturas entre 700 e 1300°C.

Microestrutura típica de uma superliga à base de Ni monocristalina (CMSX 7)

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Exemplo 3

LIGAS BIOCOMPATÍVEIS

As ligas biocompatíveis são ligas à base de Ti, Fe, Ni ou Co empregadas em

implantes ortopédicos e odontológicos. Sua principal característica é a ausência de

reação com os fluidos corpóreos.

Prótese para fêmur: fabricada em liga de Ti com esfera em cerâmica (alumina) e

acetábulo em polietileno de alta densidade.

As ligas á base de Fe foram as primeiras a serem utilizadas em implantes

ortopédicos. Entre elas, destaca-se o emprego dos aços inoxidáveis austeníticos

refinados à vácuo. Este refino tem como objetivo a redução de inclusões não

metálicas presentes no processo de produção convencional.

As ligas á base de Co apresentam propriedades biocompatíveis superiores ás

ligas á base de Fe. Destaca-se o uso da liga ASTM F75, também conhecida como

Vitallium e sua variante mais famosa a liga Haynes 21 (Co-25%Cr-5%Mo).

Mais recentemente, grande parte das próteses ortopédicas é fabricada com

ligas à base de Ti. Isto decorre do fato destas ligas apresentarem elevada resistência

mecânica (em torno de 120 kgf/mm2) e menor densidade. As ligas mais utilizadas são

variantes da liga Ti-6%Al-4%V, refinadas sob vácuo.

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Exemplo 4

SUPERÍMÃS

Os superimãs de Nd-Fe-B são imãs permanentes capazes de desenvolver campos

magnéticos de alta intensidade. São largamente empregados em projetos de

miniaturização de motores elétricos.

Exemplo 5

LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA

As ligas com memória de forma são capazes de voltar a forma original, após terem

sofrido uma deformação, mediante um aquecimento de apenas 30ºC. A liga mais

conhecida por este efeito é a Nitinol (50% Ni e 50% Ti). Outra característica

importante desta liga é a sua capacidade de amortecer vibrações mecânicas. Na

década de 60, variantes da liga Nitinol foram empregadas no desenvolvimento de

hélices de submarinos chamadas de "silent propellers".

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Quando passamos a pensar nas características dos materiais de engenharia, a

primeira questão que vem a tona é:

As propriedades de um material seriam proporcionais à força das ligações entre seus átomos ?

A resposta para esta questão requer uma breve revisão sobre os conceitos de

átomos e de ligações atômicas.

MODELOS ATÔMICOS

Modelo do átomo segundo Bohr

Comparação entre os modelos de Bohr e modelo quântico

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CONCEPÇÃO MODERNA DO ÁTOMO E SUAS SUB-PARTÍCULAS