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MATEMÁTICA E ALIMENTAÇÃO: trabalhando com informações do dia a dia.

Dária Erhart Arenhart1

Karolina Barone Ribeiro da Silva2

Resumo:

Neste artigo são relatados os resultados de um projeto de pesquisa que teve como objetivo geral utilizar o tratamento de informações cotidianas relativas à alimentação, para mostrar aos alunos de uma turma, de oitava série, do Ensino Fundamental, a relação existente entre o que aprendem em sala de aula e o seu dia a dia. Além disso, pretendeu-se despertar neles a criatividade e o prazer em fazer as atividades, utilizando os conteúdos que já conheciam. O tratamento da informação foi abordado, principalmente, por meio da Resolução de Problemas e das Mídias Tecnológicas. Para as atividades em sala de aula, foram propostas pesquisas sobre obesidade, desnutrição, índice de massa corporal e influência da mídia nos hábitos alimentares das crianças e adolescentes. Além disso, trabalhou-se com o estudo e interpretação de informações nutricionais contidas nas embalagens dos alimentos. Os resultados de algumas das atividades foram tabelados, representados em gráficos e analisados com o auxílio da planilha eletrônica BrOffice.org Calc. O trabalho contou com excelente participação dos alunos e os resultados esperados foram realmente atingidos.

Palavras-chave: tratamento da informação; alimentação; ensino fundamental

1 Introdução

Trabalhando todos os anos com alunos de 8ª série, percebemos que eles têm

dificuldades em entender os conteúdos, por falta de motivação e, geralmente,

também do gosto pela disciplina de Matemática. Isso se deve, muitas vezes, ao fato

de que eles têm dificuldades em estabelecer relações entre o que aprendem em sala

de aula e o que vivenciam em seu dia a dia.

1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná, licenciada em Matemática e especialista

em Ensino da Matemática pela Universidade estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/Guarapuava – PR 2 Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/Matemática. Professora do Departamento de Matemática da Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. Mestre em Estatística pela UFSCar/São Carlos-SP

2

Essa falta de motivação dos alunos na disciplina de matemática tem sido

objeto de estudos e discussões há muito tempo. Contudo, sem produzir avanços na

tentativa de superar o problema.

Segundo Azambuja et al. (2009, p. 2),

[...] na maioria das discussões e estudos sobre o tema, são apontadas as possíveis causas para o problema sem, no entanto, avançar rumo à construção de alternativas para a sua superação. Muitas vezes o aluno é apontado como o principal responsável, o que é uma atitude reducionista, pois sabemos o quanto esta questão é complexa e exige uma análise sob diversos ângulos. Abordar a questão do fracasso escolar na disciplina de matemática enfocando a sua relação com a prática pedagógica dos professores pode lançar novas perspectivas, além de possibilitar, a partir de um processo de reflexão sobre a prática, a construção de novas ações pedagógicas.

A matéria do Jornal Folha de São Paulo, publicada em março de 2008,

Takahashi (2008, apud SOUSA et al. 2009, p.1) mostra que na rede pública do

estado de São Paulo 94,6% dos alunos da 8ª série do ensino fundamental e 95,7%

dos alunos do 3º ano do ensino médio estão abaixo do índice adequado em

matemática. Segundo o autor, o aluno não consegue entender a matemática que a

escola ensina e essa seria a causa do resultado das notas baixas dessa disciplina.

É comum ouvir dizer que a matemática é uma matéria de difícil compreensão.

Alguns autores enfatizam que “os alunos estão cada vez mais desmotivados em

relação à matemática, o que acaba resultando em dificuldades de concentração e

aprendizagem” (BRANCHER e RIPPLINGER, 2006, apud SOUSA et al., 2009, p. 2).

Os mesmos autores consideram que essa desmotivação é causada pelo modo como

a disciplina é trabalhada, onde muitas vezes o ensino é feito apenas utilizando-se o

livro didático, sem contextualização.

Visando mostrar aos alunos a relação entre o que aprendem em sala de aula

e o seu dia a dia, optamos pelo tema alimentação, já que muitos alunos estão fora

dos padrões do índice de massa corporal, considerado normal para a saúde. De

acordo com dados do National Health and Nutrition Examination Survey III (NHANES

III), conduzido de 1988 a 1994 pelo National Center for Health Statistcs (NCHS),

pertencente ao Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a prevalência de

sobrepeso em adolescentes entre 12 e 17 anos foi 10,6%. No sexo masculino, na

faixa etária de 12 a 14 anos, a prevalência de sobrepeso foi de 10,7% e para a faixa

etária de 15 a 17 anos, foi de 12%; para o sexo feminino, as prevalências foram de

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11,5% para a faixa etária de 12 a 14 anos e 8,2% para a faixa etária de 15 a 17 anos

(ALBANO e SOUSA, 2001).

Ao adotarem hábitos saudáveis, não só os alunos, mas também suas

famílias têm melhor saúde e maior controle sobre sua própria qualidade de vida.

Uma alimentação balanceada e, principalmente, equilibrada é fundamental

para o desenvolvimento integral das crianças, tanto física quanto psiquicamente. A

alimentação de todas as pessoas deve obedecer as “Leis da Nutrição”, segundo as

quais, deve-se observar a qualidade e a quantidade dos alimentos nas refeições e,

além disso, a harmonia entre eles e sua adequação nutricional. Uma alimentação

que não cumpra essas leis pode resultar, por exemplo, em aumento de peso e/ou

deficiências de vitaminas e minerais (IRALA e FERNANDES, 2001).

Pelas razões citadas anteriormente, achamos que se fazia urgente e

necessário introduzir novas estratégias de ensino, que poderiam ter como ponto de

partida os conhecimentos dos alunos sobre alimentação, bem como da matemática

envolvida no tema.

As atividades que foram desenvolvidas em sala de aula tiveram como foco o

tratamento da informação, já que, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação

Básica do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008, p. 61), esse conteúdo estruturante

contribui para a leitura crítica e interpretação de informações de fatos que ocorrem

na sociedade, descritos em gráficos e tabelas, sendo que a proposta foi de que os

alunos trabalhassem a estatística, investigando e manuseando dados, desde a

coleta até a interpretação dos resultados, para depois apresentar essas informações

aos colegas da classe e até à comunidade.

Quanto às tendências metodológicas da Educação Matemática destacadas

nas DCEs (p. 63), foi dado ênfase à Resolução de Problemas e às Mídias

Tecnológicas. A Resolução de Problemas é uma metodologia segundo a qual o

aluno tem oportunidade de aplicar conhecimentos matemáticos adquiridos em outras

situações, que podem auxiliá-lo a resolver questões propostas (DANTE, 2003).

Quanto ao uso das Tecnologias, seu emprego vem ao encontro do que os

alunos gostam. Além disso,

As ferramentas tecnológicas são interfaces importantes no desenvolvimento de ações em Educação Matemática. Abordar atividades matemáticas com os recursos tecnológicos enfatiza um aspecto fundamental da disciplina, que é a experimentação. De posse de recursos tecnológicos, os estudantes argumentam e conjecturam sobre as atividades com as quais se envolvem

na experimentação (BORBA e PENTEADO, 2001, apud PARANÁ, 2008).

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O trabalho com as Mídias Tecnológicas desenvolve novas maneiras de

ensinar e aprender, valorizando assim a produção do conhecimento.

Diante do exposto anteriormente, o objetivo geral do projeto desenvolvido foi

utilizar o tratamento de informações cotidianas relativas à alimentação, para mostrar

a uma turma de oitava série, do Ensino Fundamental, a relação entre conteúdos

vistos nas aulas e o seu dia a dia.

Uma abordagem pedagógica para a inserção do tratamento de informações

sobre alimentação na sala de aula

Segundo as DCEs, o Tratamento da Informação é um conteúdo Estruturante,

que contribui para o desenvolvimento de condições de leitura crítica dos fatos

ocorridos na sociedade e para a interpretação de tabelas e gráficos, que de modo

geral, são usados para apresentar ou descrever informações.

Na Educação Básica, a proposta é de que os alunos sejam levados à

investigar, manuseando dados, desde a sua coleta até os cálculos finais. “É o

estudante que busca, faz conjecturas, analisa e interpreta as informações, para em

seguida, apresentá-las para o grupo, sua classe ou sua comunidade”

(WODEWOTSKI e JACOBINI, 2004, p. 233, apud PARANÁ, 2008, p. 60).

Os conceitos estatísticos devem servir de contribuição para os conceitos de

outros conteúdos, com os quais sejam estabelecidas relações para quantificar,

qualificar, selecionar, analisar e contextualizar informações, que possam ser

relacionadas com experiências do dia a dia.

Ao final do Ensino Fundamental:

[...] é importante que o aluno saiba fundamentos básicos de Matemática que permitam ler e interpretar tabelas e gráficos, conhecer dados estatísticos, conhecer a ocorrência de eventos em um universo de possibilidades, cálculos de porcentagem e de juros simples. Por isso é necessário que o aluno colete dados, organize-os em tabelas segundo o conceito de freqüência e avance para as contagens, os cálculos de média, freqüência relativa, freqüência acumulada, mediana e moda. Da mesma forma, é necessário o aluno compreender o conceito de eventos, universo de possibilidades e os cálculos dos eventos sobre as possibilidades. A partir dos cálculos, deve ler e interpretá-los, explorando, assim, os significados criados a partir dos mesmos. (PARANÁ, 2008, p. 61)

Para as DCEs, os conteúdos não devem ser apresentados de forma

fragmentada ou isolada, mas de forma articulada. Eles devem ser abordados por

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meio de tendências metodológicas, que se complementam umas as outras, que são:

a Resolução de Problemas; a Modelagem Matemática; a Etnomatemática; as Mídias

Tecnológicas; a História da Matemática e as Investigações Matemáticas.

Conforme comentado anteriormente, no desenvolvimento do projeto, foi dado

ênfase à Resolução de Problemas e às Mídias Tecnológicas.

As atividades descritas a seguir abordam informações cotidianas sobre o

tema alimentação, utilizando o tratamento da informação e foram realizadas no 3º

período do Programa do Desenvolvimento Educacional (PDE), com alunos de 8ª

série (atual 9º ano), do Ensino Fundamental, de uma escola pública, no interior do

Estado do Paraná, durante os meses de agosto e setembro de 2011. Foram

realizadas nove atividades, propostas no material didático (constituído por vinte e

uma páginas), elaborado como folhas e distribuído, gradativamente, aos alunos, no

decorrer de 14 aulas.

A primeira atividade foi a apresentação da proposta de trabalho com o tema

alimentação, aos alunos, o que causou bastante interesse por parte deles. Foram

apresentados vídeos, que mostravam dados estatísticos sobre obesidade entre os

adolescentes, adultos e também crianças. Os alunos constataram que a obesidade é

mais comum e preocupante do que a desnutrição, até mesmo nas classes menos

favorecidas da população.

A nutricionista que atende o município foi convidada para proferir uma

palestra para os alunos, sobre alimentação saudável. Utilizando imagens, ela falou

sobre o tema, mostrando a eles a importância de se ter uma alimentação

balanceada, para o perfeito funcionamento do organismo. Ela apresentou dados que

mostravam que entre os adultos, 50% dos homens e 48% das mulheres estão acima

do peso, para os padrões considerados normais para a manutenção da saúde. Foi

aberto espaço para perguntas e comentários. Alguns deles constam a seguir:

“Eu nunca tomo café, pois já estou acostumado com isso, mas não emagreço,

por quê?”

“Tem alguns dias que apenas almoço e não como mais nada.”

“Por mais que faço dieta, perco um pouco de “peso”, mas logo recupero tudo.”

Para estas questões, a palestrante explicou que a alimentação deve ser

balanceada e equilibrada. Não adianta comer muito e uma vez só. O organismo

necessita de alimentos mais vezes durante o dia e, em menor quantidade.

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Na segunda atividade, foi perguntado aos alunos se eles já tinham ouvido

falar em índice de massa corporal (IMC). A maioria já conhecia o termo, mas não

sabia exatamente em que consistia. Sobre o assunto, destacaram-se os seguintes

comentários:

“É pra ver se a gente está gordo?”

“Saber se o peso e a altura são parecidos?”

“Saber se estamos acima do “peso?”

Para esclarecer o significado do termo e sua utilidade, foi apresentada a

explicação a seguir:

Uma forma de verificar a situação de saúde de uma pessoa é calcular o seu índice

de massa corporal (IMC). Para isso, você precisa saber o seu peso (em quilos) e a

sua altura (em metros), e depois fazer o cálculo utilizando a expressão a seguir:

2altura

pesoIMC

Para realizar essa atividade, todos os alunos foram convidados a se dirigir ao

laboratório, onde está a balança, para obter as suas medidas. Apenas um aluno não

quis fazer a atividade na presença dos outros, mas a fez em separado, sem

problemas.

Na sequência, os alunos calcularam o seu IMC e interpretaram os resultados,

de acordo com a tabela a seguir:

Tabela 1 - Significado do IMC

IMC Situação

Abaixo de 18,5 Você está abaixo do peso ideal

De 18,5 a 24,9 Peso ideal

De 25,0 a 29,9 Você está acima do peso ideal

(sobrepeso)

De 30,0 a 34,9 Obesidade grau I

De 35,0 a 39,9 Obesidade grau II (severa)

40,0 ou mais Obesidade grau III (mórbida)

Fonte: http://como-emagrecer.com/calculo-de-imc.html

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Alguns alunos fizeram o cálculo inverso, isto é, dividiram a altura ao quadrado

pelo “peso” e, consequentemente, acharam o resultado estranho. A maioria deles

nunca havia calculado o seu IMC, mas depois da explicação, o cálculo foi feito

tranquilamente. Para interpretar o valor do IMC, não houve problemas, apenas

alguns ficaram surpresos ao constatar que estavam acima do peso, segundo a

tabela.

Outra questão, perguntava: Se você voltasse das férias 15% mais pesado, em

quantos por cento o seu IMC aumentaria? Explique.

Para realizar essa atividade, quase ninguém lembrava como se calculava a

porcentagem. Contudo, após uma breve explicação, os alunos realizaram a

atividade com bastante interesse, por se tratar de assunto da sua própria vida.

Quanto à confiabilidade do IMC como medida, após uma conversa, chegou-se

à conclusão de que hoje já existem outros métodos até mais confiáveis do que o

IMC, mas que esse serve como alerta.

Em outra atividade, os estudantes deveriam fazer um gráfico de barras ou de

setores (pizza), para representar os dados da tabela a seguir:

Tabela 2 – IMC no Colégio Bom Aluno

Todos optaram pelo gráfico de barras, por não lembrarem como se construía

um gráfico de setores (pizza).

Após esta atividade, foi perguntado se com os dados coletados anteriormente

para o cálculo do IMC, seria possível construir uma tabela e um gráfico, reunindo as

informações de toda a turma. Como os alunos concordaram que seria possível, foi

pedido que além de construí-los nas suas folhas, fossem também construídos em

cartolina e expostos no mural da escola. Por sugestão deles, não foram incluídas na

tabela as faixas em que não havia alunos que se encaixavam. A seguir é

apresentada a tabela elaborada pelos alunos.

Número de alunos Resultado

5 Abaixo do peso

15 Peso ideal

8 Acima do peso ideal

5 Obesidade grau I

8

IMC Nº de alunos Porcentagem (%) Graus (º)

Abaixo do peso 4 16,6 60

Peso ideal 15 62,5 225

Acima do peso 4 16,6 60

Obesidade grau I 1 4,3 15

Total 24 100 360º

Foi pedido aos alunos que completassem a tabela com os dados para a

construção do gráfico de setores, para que tirassem as dúvidas que tinham sobre

ele. Houve também a necessidade de arredondar valores, para que a porcentagem

da tabela totalizasse 100%, pois três alunos perceberam que a soma havia dado

99.86%.

Foram confeccionados cartazes apresentando o resultado do IMC da turma e,

o único aluno que estava na faixa acima do peso, pediu que caprichassem na parte

do gráfico que correspondia à cor que era exclusividade dele. A maior dificuldade

dos alunos foi medir os graus com o transferidor, pois a maioria deles nunca havia

construído esse tipo de gráfico. Nos gráficos, segundo eles, é mais fácil visualizar os

resultados, devido ao colorido que corresponde a cada faixa do IMC. A seguir, é

apresentado o gráfico feito por um aluno, que aparentemente, apresentava

dificuldades.

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10

A atividade seguinte tratava de médias, conforme mostrado a seguir:

Para resolver essas atividades, fez-se necessário lembrar com eles o que é

média aritmética e como se faz para determiná-la. Depois disso eles conseguiram

resolver e determinar as médias pedidas.

A próxima atividade tratou da relação entre alimentação e IMC e perguntava

aos alunos se os alimentos que eles consumiam influenciavam no IMC e por que.

As respostas foram:

“Sim, quanto mais calorias ingerimos, mais aumenta o IMC.”

“Sim, quanto mais gorduras comemos, mais aumenta o IMC, pois nosso corpo

é “construído” pelo que comemos.”

“Sim, quanto mais comemos, mais engordamos.”

A atividade 5 pedia que os alunos observassem as embalagens dos alimentos

que eles mais gostavam e refletissem sobre o significado das informações que

apareciam nelas.

Para a atividade proposta, já havia sido pedido com antecedência, que os

alunos trouxessem as embalagens dos alimentos. Uma aluna fez questão de

mencionar que o salgadinho que ela mais gostava, era o que tinha maior quantidade

de calorias, juntamente com o biscoito recheado. Aí houve a oportunidade de uma

conversa sobre as informações nutricionais, que na maioria das vezes, as pessoas

nem olham. Nessa conversa, já foi discutido a próxima atividade, que falava

justamente sobre as necessidades básicas diárias de calorias que uma pessoa

adulta precisa ingerir e sugeria a seguinte situação:

Vamos aproveitar os dados de peso e altura coletados pela turma para calcular

um número que serve para resumir os dados dos alunos da sala.

a) Em média, quanto pesa um aluno da turma?

b) Em média, quanto mede um aluno da sala?

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Facilmente a soma das calorias foi feita, mas alguns alunos precisaram ajuda

para chegar ao resultado que equivale a 25,6% das necessidades diárias de calorias

que uma pessoa adulta precisa. Eles acharam o valor alto e verificaram que ele

correspondia a um quarto dessa necessidade, só nesses alimentos.

A atividade 7, apresentada a seguir, era sobre os hábitos alimentares dos

alunos de uma turma de outra sala.

Apesar de ter sido proposto realizar a pesquisa com os alunos da 8ª série “A”,

ela foi realizada com os alunos da 2ª série do Ensino Médio, por ser a turma da sala

ao lado. Nove perguntas foram elaboradas pelos alunos: “Qual a sua comida

favorita? “Qual a sua bebida favorita?” “Quantas refeições você costuma fazer por

dia?” “Nos últimos sete dias, em quantos você comeu salgadinhos ou frituras?” ,“Nos

últimos sete dias, em quantos você comeu hamburger, nuggets, salsicha, mortadela,

salame, presunto ou linguiça?” ,“Nos últimos sete dias, em quantos você comeu pelo

menos um tipo de legume ou verdura, excluindo batata e mandioca? (Exemplo:

couve, abóbora, chuchu, brócolis, espinafre, etc.)” ,“Nos últimos sete dias, em

quantos você comeu salada crua (alface, tomate, cenoura, pepino, cebola) ou frutas

frescas?” ,“Nos últimos sete dias em quantos você comeu guloseimas? (Exemplo:

Se uma pessoa ingere uma porção de 100 gramas de chocolate, o que equivale a

425 kcal, uma porção de um biscoito recheado de 125 kcal e um copo de

refrigerante de 90 kcal, que porcentagem dos valores diários necessários de kcal

ela já terá consumido?

Será que os alunos da sala têm uma alimentação saudável? Você sabe,

por exemplo, o que eles mais gostam de comer? E o que não gostam?

Para obter essas informações é necessário realizar uma pesquisa. Em primeiro

lugar, é feita a coleta dos dados por meio de um questionário. Em seguida, as

informações coletadas são resumidas em tabelas e/ou gráficos, que serão

interpretados ao final do estudo.

Então, mãos a obra! Em grupos, vamos elaborar um questionário contendo cinco

questões sobre os hábitos alimentares da 2ª série A.

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doces, balas, chocolates, chicletes bombons ou pirulitos).” ,”Você costuma comer

assistindo a TV ou estudando?”.

A atividade seguinte tratava da organização dos dados coletados.

Os alunos foram distribuídos em grupos de três e cada equipe organizou os

dados de uma pergunta, tabelando e construindo o gráfico correspondente. Eles

responderam que era necessário resumir as informações em gráficos e tabelas,

porque isso facilitava a compreensão das informações. Depois de confeccionados os

cartazes, eles foram expostos na sala de aula da turma, na qual foi realizada a

pesquisa.

Cada grupo escreveu um pequeno texto sobre os resultados da questão que

lhe cabia. Alguns trechos dos textos produzidos são mostrados a seguir:

“Mais de 50% dos alunos da sala comem enquanto assistem televisão ou

enquanto estudam e isso aumenta a possibilidade de ganho de peso e pode

provocar problemas de saúde.”

“A maioria dos alunos come salgadinhos, doces, bolachas recheadas, frituras,

sanduíches com muita frequência, aumentando a possibilidade de ter problemas

cardiovasculares”

“A maior parte dos alunos não utiliza frutas frescas, legumes ou verduras em

sua alimentação.”

A próxima atividade se referia à pesquisa na internet, sobre a situação

nutricional dos adolescentes no Brasil e também perguntava se a alimentação dos

adolescentes em outras regiões do país era semelhante a deles e, se a situação era

boa e por que. O resultado deveria ser apresentado aos colegas.

A pesquisa foi realizada no laboratório de informática da escola. Nas fontes

de pesquisa encontradas, os alunos se identificaram com os resultados, pois

verificaram que a alimentação dos adolescentes é semelhante em vários locais do

Depois de fazer a pesquisa com os seus colegas, chegou a hora de resumir as

informações dos questionários em gráficos e tabelas. Mas antes, responda:

para que serve resumir as informações em gráficos e tabelas? Isso é

realmente necessário?

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país. Constatou-se que, no Brasil, a maioria dos adolescentes não se alimentava de

forma saudável, ingerindo poucas vitaminas, lanches rápidos e altamente calóricos e

consumindo refrigerantes diariamente. Aliado ao fator alimentação estava o fato de

os jovens ficarem muitas horas diárias em frente ao computador e à televisão, sem a

prática de exercícios físicos.

A próxima atividade foi realizada no laboratório de informática e é

apresentada a seguir.

Foi explicado aos alunos que existia uma ferramenta muito importante e

prática para a construção de gráficos: a Planilha Eletrônica Gratuita Calc, do

BrOffice.org. Foram apresentados dois tipos de representações gráficas: o gráfico de

setores (ou “pizza”) e o gráfico de barras (verticais ou horizontais).

Para iniciar as atividades no Calc, foi apresentado um pequeno texto sobre a

porcentagem de obesos nos Estados Unidos, dados estes representados na tabela e

nos gráficos a seguir.

Observação: Daqui em diante, o texto em itálico se referirá ao conteúdo das

folhas dadas aos alunos.

Tabela 3 - Porcentagem de obesos nos Estados Unidos

ANO 1991 1995 1998 1999

OBESOS (%) 11,9 15,3 17,9 19,2

Gráfico de barras

Podemos representar as informações referentes à porcentagem de obesos de cada

ano em barras (horizontais ou verticais), cada uma com tamanho proporcional às

porcentagens que representam. Observe os dois tipos de gráficos de barras a

seguir.

Você já parou para pensar como os jornais e revistas fazem os gráficos de

suas reportagens?

14

11,90%

15,30%

17,90%19,20%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

Obesos nos Estados Unidos

1991 1995 1998 1999

11,90%

15,30%

17,90%

19,20%

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00%

1991

1995

1998

1999

Obesos nos Estado Unidos

A partir destes gráficos foi explicado aos alunos como deveriam proceder para

realizar a construção deles, no Calc. Ao final das instruções, foi proposto um

exercício para a construção de um gráfico referente a uma atividade realizada

anteriormente.

1. Insira os dados na planilha como mostrado a seguir.

2. Com o botão esquerdo do mouse, selecione as células que contêm os

dados, clique em Inserir e depois em Gráfico. Escolha o tipo de gráfico e para

15

colocar o título, clique em Elementos do gráfico, digite o texto e clique em

Concluir.

3. Para exibir a porcentagem sobre cada barra, com o botão esquerdo do

mouse, clique duas vezes sobre o gráfico e em seguida, clique em uma das barras.

Com o botão direito, escolha Propriedades do objeto. Em Rótulo de dados clique

em Mostrar valor como número. Em Fonte, ajuste o tamanho do número e clique

em OK.

4. Clique no gráfico duas vezes e apague os elementos que não interessam,

como a legenda, por exemplo.

5. Para eliminar as linhas atrás das barras e os valores do eixo y, clique duas

vezes no gráfico e com o botão direito, selecione o eixo y e escolha Propriedades

do objeto, Rótulo e desmarque a opção Mostrar rótulos. Depois clique com o

botão direito em uma das linhas que aparecem atrás das barras. Em Propriedades

do objeto, em Linha, escolha Estilo Invisível e clique em OK.

Exercício

Faça um gráfico de barras no Calc, para representar os dados da tabela do

item (f), da atividade 2.

As atividades com o Calc foram muito interessantes para os alunos. A maioria

nunca o havia usado. Alguns já haviam utilizado outro programa semelhante, mas a

maior parte não conhecia e nem imaginava como funcionava. Comentários dos

alunos após a construção dos gráficos no Calc:

“Nossa, que fácil!”

“Por que não fizemos logo no computador? Não precisaria ter demorado tanto

construindo no caderno.”

“Aparece como se fosse um passe de mágica!”

Foi explicado que a planilha eletrônica serve como uma ferramenta que facilita

a construção de gráficos, mas que ela só existe porque quem a elaborou sabia fazer

os gráficos com lápis e papel e programou o procedimento, ou seja, “ensinou” o

computador como fazê-lo. Essa explicação foi para esclarecer aos alunos que o que

parecia “mágica”, nada mais era, do que matemática.

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Gráfico de setores (“pizza”)

Neste caso foi explicado que um círculo pode ser dividido em quantas partes

(setores circulares ou “fatias”) forem necessárias, para representar as informações

de uma tabela, sendo que a área de cada parte é equivalente à informação que

representa. Em seguida, foi apresentado o gráfico com os dados sobre a obesidade

nos Estados Unidos.

Obesos nos Estados Unidos

19,2%

17,9%

15,3%

11,9%

1991

1995

1998

1999

Da mesma forma que foi mostrada a sequência de passos para a construção

do gráfico de barras, no Calc, foi mostrada a sequência para o gráfico de setores e,

ao final, também foi proposto um exercício.

Exercício

Faça um gráfico de setores, no Calc, para representar os dados da tabela do item

(f), da atividade 2.

Como na construção do gráfico de barras, os questionamentos dos alunos

foram os mesmos. Nessa fase, eles alteravam cores e “brincavam” com o gráfico por

já estarem familiarizados com a planilha. Foi lembrado novamente sobre a

importância de construir o gráfico de maneira convencional, antes do uso do Calc,

devido ao uso dos conhecimentos matemáticos que o computador não proporciona.

Estas foram as últimas atividades propostas, no material didático.

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Considerações finais

Sabe-se que é grande o desafio de “ensinar” matemática, especialmente, na

Educação Básica. Porém, percebe-se que utilizando problemas do cotidiano que

atendam às expectativas dos estudantes, as aulas tornam-se mais motivadoras e

interessantes, contrariando o que se presencia normalmente nas escolas, quando se

ouve dizer que os alunos não gostam de matemática. Além disso, o aprendizado se

torna mais eficaz.

As atividades desenvolvidas também serviram para mudar a visão da

professora proponente do projeto e de seus colegas, quanto ao Tratamento da

Informação, pois eles acreditavam que este conteúdo estruturante se resumia

apenas à construção de gráficos.

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matemática. In: XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro

Latino Americano de Pós-Graduação. 2009, São José dos Campos.