marx e a dialetica - .emancipação e revolução: crítica à leitura lukacsiana do jovem marx
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Marx e a dialtica
da sociedade civil
MARCOS DEL ROIO (ORG.)
MARX E A DIALTICA DA SOCIEDADE CIVIL
Marlia
2014
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS
Diretor: Dr. Jos carlos MiguelVice-Diretor:Dr. Marcelo tavella Navega
Conselho EditorialMaringela Spotti Lopes Fujita (Presidente)Adrin oscar Dongo MontoyaAna Maria Portichclia Maria Giacheticludia Regina Mosca GirotoGiovanni Antonio Pinto AlvesMarcelo Fernandes de oliveiraMaria Rosangela de oliveiraNeusa Maria Dal RiRosane Michelli de castro
Ficha catalogrfi ca
Servio de Biblioteca e Documentao Unesp - campus de Marlia
Editora afi liada:
Cultura Acadmica selo editorial da Editora Unesp
M392 Marx e a dialtica da sociedade civil / Marcos Del Roio (org.).
Marlia : Oi cina Universitria ; So Paulo : Cultura Acadmica, 2014.
350 p.
Inclui bibliograi a Apoio: CAPES
ISBN 978-85-7983-596-4
1. Marx, Karl, 1818-1883. 2. Comunismo. 3. Capitalismo. 4. Alienao (Filosoi a). 5. Revolues e socialismo. 6. Logica. I. Del Roio, Marcos.
CDD 335.4
SUMRIO
Apresentao .................................................................................... 7
PARTE ISOBRE AS OBRAS COMPLETAS DE MARX & ENGELS. A MEGA
Karl Marx aps a edio histrico-crtica (mega2): um novo objeto de investigaoRoberto Fineschi ................................................................................ 15
Sobre a nova edio da obra de Marx e Engels: s a ilologia salva?Maurcio Vieira Martins .................................................................... 47
PARTE IIALIENAO E EMANCIPAO
Revisitando a concepo de alienao em MarxMarcello Musto ................................................................................. 61
Alienao e ideologia: a carne real das abstraes ideaisMauro Luis Iasi ................................................................................. 95
Prxis, trabalho e dialtica da negatividade em MarxPaulo Denisar Fraga .......................................................................... 125
Emancipao e revoluo: crtica leitura lukacsiana do jovem MarxArmando Boito Jr. ............................................................................. 149
PARTE IIIPROLETARIADO E REVOLUO
Alguns apontamentos sobre a concepo de partidoem Marx 1843 a 1848Anderson Deo .................................................................................... 165
Luta de classes e luta revolucionria em MarxMarcos Del Roio ................................................................................ 187
o conceito de revoluo permanente em Marx e EngelsDavid Maciel ................................................................................... 205
PARTE IVA DIALTICA DO CAPITAL
Ler O capital: a primeira frase ou o capital comea com a riqueza, no com a mercadoriaJohn Holloway ................................................................................... 235
Mtodo e representao: o dinheiro como expresso conceitual da forma de ser do capitalJesus Ranieri ...................................................................................... 259
capital: subjetividade e relaoHlio zara de Oliveira ..................................................................... 275
PARTE VO FIM DO ESTADO
Marx diante da acusao de ser um defensor do estadoPaulo Douglas Barsotti ....................................................................... 299
A questo da transio e do im do estado nas obras do Marx tardioPedro Leo da Costa Neto .................................................................. 315
trabalho associado e extino do estadoIvo Tonet ........................................................................................... 329
Sobre os Autores ............................................................................... 347
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APRESENTAO
Quando o capitalismo apenas se consolidava e se difundia pela Europa e nos Estados Unidos, Marx descobriu a chave do movimento da sociedade civil burguesa na dinmica contraditria do capital. comprovou assim a historicidade do capitalismo e do capital, demonstrando que essas entidades tiveram um comeo histrico e que estavam destinadas a serem superadas de alguma maneira.
certo que Marx desenvolveu o seu estudo cientico ilosico no s com o objetivo de apreender o movimento dialtico do capital, mas tambm e principalmente com a mira de demonstrar a possibilida-de histrica do comunismo, ou seja, a possibilidade da humanidade se emancipar das carncias materiais e espirituais especiicamente geradas no capitalismo. ora, era precisamente o capitalismo com o seu potencial de desenvolvimento da cincia e das foras produtivas a gerar essa possibilida-de. No entanto, essa possibilidade encontrava-se bloqueada contraditoria-mente pelas relaes sociais que tendiam a concentrar, ao modo de capital, a riqueza socialmente produzida em nmero sempre menor de pessoas e deixando a maior parte da fora de trabalho apenas com o necessrio para a sua reproduo enquanto tal.
o movimento da sociedade civil, na medida em que ganhava com-plexidade, gerava formas de organizao das classes, formas jurdicas, formas culturais, representaes ideolgicas e tambm um poder poltico empenha-do na garantia da reproduo da ordem social fundada no antagonismo ge-rado pela acumulao capitalista. Para a manuteno da ordem social ditada
Marcos Del Roio(org.)
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pelo capital era essencial a existncia de formas variadas de alienao que permitissem aos homens viverem em um mundo que reproduzia riqueza e misria e que fosse tido como pice da civilizao ou como natural.
Assim, o objetivo da emancipao humana tinha muitos obst-culos diante de si. Seria preciso organizar, educar, uniicar o proletariado industrial, tornando-os cientes do movimento da sociedade civil e de que esse movimento poderia ser alterado pela vontade organizada dos homens na forma de partido e de um programa. o conhecimento cientico do mo-vimento contraditrio da sociedade civil permite que se faa uma previso do andamento da contradio e tambm de como atuar subvertendo o processo que gera explorao e alienao de modo tal a se encaminhar pra a emancipao do trabalho e da humanidade.
os trabalhadores dispersos, se fazendo classe e partido, por meio de um movimento poltico revolucionrio, devem assumir o poder poltico e alterar radicalmente a forma de gesto das coisas. A democracia proletria deve tambm exercitar a fora para neutralizar as energias da burguesia, ao mesmo tempo em que reorganiza o processo produtivo.
Mesmo com a capacidade de apreenso do processo contradit-rio da sociedade civil, cujo ncleo estava no movimento do capital, Marx no poderia ter-se dado conta da enorme fora expansiva do capitalismo, que corria para se apropriar do planeta. Nessa corrida a tendncia foi o do agravamento das contradies, sempre contrastadas por solues tempor-rias e pela insuicincia das foras do trabalho no seu empenho de gerar a alternativa socialista.
Alm de razes histricas muito objetivas e concretas, tambm apareceram os limites da vertente cultural que se referiu ao nome de Marx. o marxismo pode ser entendido como a ideologia que se inspirou em Marx e se desenvolveu vinculada de maneira mais ou menos orgnica a um setor do movimento operrio e tambm em centros cienticos e uni-versidades. No seu desenvolvimento o marxismo ganhou diversidade e complexidade, mas certo que se manifestou em condies determinadas historicamente. teve que se defrontar com as ideologias predominantes do universo burgus e teve ainda que se difundir entre a massa de trabalhado-res. o resultado que o marxismo, com alguma frequncia se vulgarizou e
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Marx e a dialtica da sociedade civil
sofreu intruses fosse do positivismo, fosse do neokantismo. ou seja, teve muitas diiculdades no debate ideolgico e tambm na prtica poltica.
Um sculo depois da morte de Marx tudo levava a crer que a inluncia cultural de Marx e do marxismo comeava o seu declnio hist-rico, exatamente quando estava em andamento a crise orgnica do capital. o marxismo poltico no arrumou condies para reagir desesperada ofensiva do capital para o enfrentamento da crise, que s poderia ocorrer a expensas do trabalho, por suposto. Inovaes tecnolgicas e gerenciais, acobertadas pela ideologia e pelo programa neoliberal, deprimiram a orga-nizao operria no sindicato e no partido. Estava em marcha a reorgani-zao do mundo do trabalho segundo o projeto do capital. Havia necessi-dade de se resgatar a taxa de acumulao em declnio e para isso era preciso desorganizar a classe operria forjada no ciclo taylorista-fordista e criar ou-tra mais dispersa, mais precarizada, mais hierarquizada, mais individualista e imune a inluncia marxista. Nesse processo de destruio / reconstruo da fora de trabalho conforme o desgnio do capital em crise at a ideologia marxista foi gravemente atingida.
Ainda que a editoria de estampa marxista tenha diminudo, que sindicatos e partidos de esquerda referidos no marxismo tenham se debili-tado drasticamente, o fato que o agravamento da crise orgnica do capital trar de volta o antagonismo social e a luta de classe, em patamares mais elevados, mas no garantido que dessa vez as foras do trabalho possam se sair vitoriosas. Na verdade, ainda que as lutas sociais estejam presentes para fazer frente barbrie tecnolgica que ganha corpo, a tendncia atual ainda de regresso civilizacional e de crise da espcie humana.
contudo h foras culturais e polticas que se empenham na com-preenso da fase histrica em que estamos imersos e que contam com o acu-mulo de conhecimento e de experincia de sculo e meio de luta socialista, forrad