martinho lutero

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Martinho Lutero Martinho Lutero, em alemão : Martin Luther (Eisleben , 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546 ), foi um monge agostiniano e professor de teologia germânico que tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante . Levantou-se veementemente contra diversos dogmas do catolicismo romano , contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências . Essa discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel . Sua recusa em retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X em 1520 e do imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 , resultou em sua excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico. Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas Escrituras , especialmente da Epístola de Paulo aos Romanos , que a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Jesus (sola fide ), único salvador dos homens, sendo gratuitamente oferecida por Deus aos homens. Sua teologia desafiou a infalibilidade papal em termos doutrinários, pois defendia que apenas as Escrituras (sola scriptura ) seriam fonte confiável de conhecimento da verdade revelada por Deus. [1] Opôs-se ao sacerdotalismo romano (isto é, à consagrada divisão católica entre clérigos e leigos), por considerar todos os cristãos batizados como sacerdotes e santos. [2] Aqueles que se identificaram com os ensinamentos de Lutero acabaram sendo chamados de luteranos . Em seus últimos anos, Lutero mostrou-se radical em suas propostas contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado posteriormente um antissemita . Essas e outras de suas afirmações fizeram de Lutero uma figura bastante controversa entre muitos historiadores e estudiosos. [3] Além disso, muito do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida parcialidade resultante de paixões religiosas.

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Biografia Martinho lutero

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Martinho LuteroMartinho Lutero, em alemão: Martin Luther (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546), foi um monge agostiniano e professor de teologia germânico que tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Levantou-se veementemente contra diversos dogmas do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências. Essa discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Sua recusa em retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X em 1520 e do imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521, resultou em sua excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico.

Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas Escrituras, especialmente da Epístola de Paulo aos Romanos, que a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Jesus (sola fide), único salvador dos homens, sendo gratuitamente oferecida por Deus aos homens. Sua teologia desafiou a infalibilidade papal em termos doutrinários, pois defendia que apenas as Escrituras (sola scriptura) seriam fonte confiável de conhecimento da verdade revelada por Deus.[1] Opôs-se ao sacerdotalismo romano (isto é, à consagrada divisão católica entre clérigos e leigos), por considerar todos os cristãos batizados como sacerdotes e santos.[2] Aqueles que se identificaram com os ensinamentos de Lutero acabaram sendo chamados de luteranos.

Em seus últimos anos, Lutero mostrou-se radical em suas propostas contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado posteriormente um antissemita. Essas e outras de suas afirmações fizeram de Lutero uma figura bastante controversa entre muitos historiadores e estudiosos.[3] Além disso, muito do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida parcialidade resultante de paixões religiosas.

Primeiros anos de vidaMartinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário público, melhorando, assim, as condições da família. Com esse objetivo, enviou o já velho Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.

Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e onde recebeu o apelido de O Filósofo. Ainda na Universidade de Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Ockham (as palavras designam apenas coisas individuais; não atingem os “universais”, as realidades presentes em todos os indivíduos, como por exemplo a natureza humana; em consequência, nada pode ser conhecido com certeza pela razão natural, exceto as realidades concretas: esta pessoa, aquela coisa). Esse sistema dissolvia a harmonia multissecular entre a ciência e a fé que tanto havia sido defendida pela escolástica de "São Jesus Cristo", pois essa filosofia baseava-se unicamente na vontade de Deus. O jovem estudante graduou-se bacharel em

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1502 e concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos.[4] Seguindo os desejos maternos, inscreveu-se na escola de direito da mesma universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, teria, então, gritado: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!"

Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Frankfurt, a 17 de julho de 1505.[5]

Vida monástica e académicaO jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados[6]

Johann von Stauptuioz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em estudos bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.[7]

Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.

Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.

A controvérsia acerca das indulgências Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda colaborava como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de "Todos os Santos" - porque ali havia uma coleção de relíquias, estabelecidas por Frederico III da Saxônia). Foi durante esse período que o jovem sacerdote se deu conta dos problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis, como se esses fossem fregueses, poderia acarretar.

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados (aplicável apenas a alguém que esteja em estado de graça, ou seja, livre de pecados graves, e arrependido de todos os seus pecados veniais). Naquele tempo, o papa havia concedido uma indulgência plenária para quem doasse qualquer quantia para a reforma da Basílica de São Pedro. O frade Johann Tetzel fora recrutado

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para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, mas sua campanha tomou a linha de uma venda, pois este frade, posteriormente punido por isso, dizia que "Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do Purgatório".[8]

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, em 31 de outubro de 1517 foram afixadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Essas teses condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a distribuição simples e ampla do documento.

A resposta do Papado Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo que ele seria um "alemão bêbado que escrevera as teses", e afirmando que "quando estiver sóbrio mudará de opinião"[9] o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao professor de teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser Lutero um herege e escreveu uma refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio e uma apostasia.

Lutero replicou de igual forma (academicamente), dando assim início à controvérsia.

Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o debate se elevou até o ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas de "Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus", de 1343, do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo os seus pontos de vista, ordenou que ele fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.

Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja, negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência imutável da Igreja original.

Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica para o conflito.

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Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, tal qual seus opositores. Também escreveu uma humilde carta ao Papa e compôs um tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica. A carta nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação; e no tratado que compôs mais tarde, negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.

Quando Johann Ecko desafiou um colega de Lutero, Andreas Carlstadt, para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir o as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas ao próprio Apóstolo Pedro, não passando para seus sucessores.[10] [11] Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Ecko afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a de João Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição.

Aumenta a cisãoNão parecia haver esperaças de entendimento. Os escritos de Lutero circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália, em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero que, naquele momento, publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas "Operationes in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).

As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", ampliou o significado da Eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que a recebem. Além disso, ele ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão.

O conceito luterano de "igreja" foi desenvolvido em seu "Von dem Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520). Enquanto o seu "Sermon von guten Werken" (Sermão das Boas Obras), publicado na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.

Os tratados de 1520

A Nobreza alemã

A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.

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Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo [12] .

As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:

a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal; a abolição das rendas do Papa; o reconhecimento do governo secular; a renúncia da exigência papal pelo poder temporal; a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão; a abolição das peregrinações nocivas; a eliminação dos excessivos dias santos; a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a

reforma das universidades; a ab-rogação do celibato do clero; e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.

Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de terem que enviar riquezas a Roma.

O cativeiro babilônico[editar | editar código-fonte]

Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu "Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial no que diz respeito aos sacramentos.

Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o "cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas refutava o ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus.

Batismo - ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de fato, mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se convertessem.

Penitência - afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.

Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação de Deus estava conexa a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o batismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas eles tinham o "sinal visível da instituição divina": a água no batismo e o pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma), o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.

Liberdade de um Cristão[editar | editar código-fonte]

Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi exposto em "A Liberdade de um Cristão" (publicado em 20 de

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novembro de 1520, onde exigia uma completa união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas exteriores, e um perfeito amor ao próximo).

As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado são aparentemente contraditórias, mas, em verdade, são complementares:

"O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito"; "O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito".

A primeira tese é válida "na fé"; a segunda, "no amor".

A excomunhão[editar | editar código-fonte]

A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de setenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja..

Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:

"Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".

Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de dezembro, da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o decreto papa de Wittenberg, defendendo-se com seus "Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher verbrannt sind" e "Assertio omnium articulorum". O Papa Leão X excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521, na bula "Decet Romanum Pontificem".

A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlos I de Espanha (Carlos V de Habsburgo), que julgou inoportuno apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face à Dieta..

A Dieta de Worms

Ver artigo principal: Dieta de Worms

O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521. Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um salvo-conduto para garantir-lhe o seguro deslocamento.

A 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck, assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntou-lhe, então, se os livros eram seus e se ele acreditava naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo para pensar em sua resposta, o que lhe foi concedido. Este, então, isolou-se em oração e depois consultou seus aliados e amigos,

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apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse explicitamente à seguinte questão:

"Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?"

Lutero, então, respondeu:

"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável."

De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu as seguintes palavras:

"Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude![13]

Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.

O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.

Processo romano Em Junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Nas aulas que ministrava na Universidade de Wittenberg, espiões registravam seus comentários negativos sobre a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória. Lutero foi convidado a ir a Roma, onde teria que desmentir sua doutrina.

Lutero recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde; e pretendeu uma audiência em território alemão. O seu pedido baseava-se no argumento (Gravamina) da Nação Alemã. Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a Caetano. Este pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo.

Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos no andamento do processo. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o papa renascentista Leão X receava o cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.

O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o sábio, levou a que Roma pedisse que Karl von Miltiz intercedesse junto ao príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de

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Lutero voltaria a ser alvo de preocupações e trabalhos.Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Seguiu-se, então, a ameaça oficial do imperador (Reichsacht).

Notável é, no entanto, que Lutero foi, mais uma vez, recebido em audiência, o que também deixou claras as diferenças entre o papado e o império. Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado imperador pelo papa. Nos dias 17 e 18 de abril de 1521 Lutero foi ouvido na Dieta de Worms (conferência governativa) e, após ter negado a revogação da sua doutrina, foi publicado o Édito de Worms, banindo Lutero.

Exílio no Castelo de WartburgO seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso da Dieta de Worms foi arranjado. Frederico, o sábio ordenou que Lutero fosse capturado por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre tradução da Bíblia para o alemão.

Com o início da estadia de Lutero em Wartburg, começou um período muito construtivo de sua carreira como reformista. Em seu "Deserto" ou "Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.

Em Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira parte de seu Guia para Párocos e "Von der Beichte" (Sobre a Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão, e admite como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou, com isso, a desistir de retomar a venda das indulgências. Em seus ataques a Jacobus Latomus, avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei, assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da graça de Deus para o pecador que, por acreditar, é justificado por Deus devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador. Ainda mostrou que o "princípio da justificação" é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do batismo - pela inerência do pecado em cada boa obra.

Lutero, amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo-lhes ou perguntando-lhes por seus pontos de vista e respondendo-lhes aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando como responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação e outras formas tradicionais de piedade. Lutero respondeu-lhe em 1 de agosto de 1521:

"Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os seus pecados são fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro

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3:13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça reinará".

Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam renunciado ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os votos monásticos), aconselhava-os a ter mais cautela, aceitando, no fundo, que os votos eram geralmente tomados "com a intenção da salvação ou à busca de justificação". Com a aprovação de Lutero em seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas. Sua violência e intolerância certamente desagradaram Lutero que, em princípios de dezembro, passou alguns dias entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine treue Vermahnung … vor Aufruhr und Empörung" (Uma sincera admoestação por Martinho Lutero a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disso, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling reclamavam a abolição da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato.

Regresso a Wittenberg e os Sermões Invocavit[editar | editar código-fonte]No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções radicais e temendo seus resultados, Lutero regressou em segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir de 9 de março (domingo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os "Sermões de Invocavit".

Nessas pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve em consideração a consciência daqueles que ainda não estivessem persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por um tempo e o cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon das missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão ter sido abolido, verificou-se a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de confessar-se em busca do perdão. Esta nova forma de serviço foi dada a Lutero em "Formula missæ et communionis" (Fórmula da missa e Comunhão), de 1523. Em 1524 surgiu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro hinos.

Como aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis para a alma. Fez isso em sua obra: "Über die weltliche Gewalt, wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida deve ser obedecida).

Matrimônio e famíliaCatarina von Bora, esposa de Lutero (retrato feito por Lucas Cranach o Velho - 1526).

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Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de 1525. Desta união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.

O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Anti-semitismo[editar | editar código-fonte]Martinho Lutero foi anti-semita:

"A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e jóias, prata e ouro, e que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (…), postos sob um telheiro ou estábulo como os ciganos (…), na miséria e no cativeiro assim que estes vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem incessantemente a Deus". – "Sobre os judeus e suas mentiras" de Martinho Lutero.[17] [18] [19] [20]

O historiador Robert Michael escreve que Lutero estava preocupado com a questão judaica toda a sua vida, apesar de dedicar apenas uma pequena parte de seu trabalho para ela.[21] [22] [23] Seus principais trabalhos sobre os judeus são Von den Juden und Ihren lügen ("Sobre os judeus e suas mentiras"), e Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi ("Em Nome da Santa linhagem de Cristo") - reimpressas cinco vezes dentro de sua vida - ambas escritas em 1543, três anos antes de sua morte.[23] Nesses trabalhos Lutero afirmou que os judeus já não eram o povo eleito, mas o "povo do diabo".[23] A sinagoga era como "uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica" e os judeus estavam "cheios das fezes do demónio,... nas quais se rebolam como porcos"[22] Lutero aconselhou as pessoas a incendiarem as sinagogas, destruindo os livros judaicos, proibir os rabinos de pregar, e apreender os bens e dinheiro dos Judeus e também expulsá-los ou fazê-los trabalhar forçosamente.[20] Lutero também parecia aconselhar seus assassinatos,[24] escrevendo "É nossa a culpa em não matar eles."[25]

A campanha contra os judeus de Lutero foi bem sucedida na Saxónia, Brandemburgo, e Silésia. Josel de Rosheim (1480-1554), que tentou ajudar os judeus na Saxónia, escreveu em seu livro de memórias a situação de intolerância foi causada por "(…) esse sacerdote cujo nome é Martinho Lutero - (…) seu corpo e alma vinculada até no inferno!! - que escreveu e publicou muitos livros heréticos no qual disse que quem ajudasse judeus seriam condenados à perdição."[26] Josel teria pedido a cidade de Estrasburgo para proibir a venda das obras antijudaicas de Lutero; porém seu pedido foi-lhe negado quando um pastor luterano de Hochfelden argumentou em um sermão que os seus paroquianos deviam assassinar judeus. O anti-semitismo de Lutero persistiu após a sua morte, ao longo de todo o ano 1580, motins expulsaram judeus de vários estados luteranos alemães.[23] [27]

A opinião predominante[28] entre os historiadores é que a sua retórica antijudaica contribuiu significativamente para o desenvolvimento do anti-semitismo na Alemanha,

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[29] [30] [31] [32] [33] e na década de 1930 e 1940 auxiliou na fundamentação do ideal do nazismo de ataques a judeus.[34] O próprio Adolf Hitler em sua autobiografia Mein Kampf considerou Lutero uma das três maiores figuras da Alemanha, juntamente com Frederico, o Grande, e Richard Wagner.[35] Em 5 de outubro de 1933, o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen declarou publicamente que "Hitler não teria sido possível, sem Martinho Lutero".[36] Julius Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg "que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes".[37] Em novembro de 1933, uma manifestação protestante que reuniu um recorde de 20.000 pessoas, aprovou três resoluções:[38]

Adolf Hitler é a conclusão da Reforma;[38]

Judeus Batizados devem ser retirados da Igreja;[38]

O Antigo Testamento deve ser excluído da Sagrada Escritura.[38]

Diversos historiadores (entre os quais se destacam William L. Shirer e Michael H. Hart [39] ) sugerem que a influência de Lutero tenha auxiliado a aceitação do nazismo na Alemanha pelos protestantes no século XX. Shirer fez a seguinte observação em Ascensão e queda do Terceiro Reich:

"É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos primeiros anos do nazismo, salvo se estivermos prevenidos de dois fatos: sua história e a influência de Martinho Lutero (para evitar qualquer confusão, devo explicar aqui que o autor é protestante). O grande fundador do protestantismo não foi só anti-semita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à autoridade política. Desejava a Alemanha livre de judeus (…) – conselho que foi literalmente seguido quatro séculos mais tarde por Hitler, Göring e Himmler.[18]

Por outro lado, especialmente Shirer recebeu críticas por essa sua observação, sendo acusado de não conhecer suficientemente a história alemã e por ter interpretado incorretamente certos acontecimentos ou mesclado suas opiniões pessoais em seu livro.[40] Também os cristãos luteranos afirmam que a Igreja Luterana tem esse nome em homenagem ao seu mais famoso líder, porém não acata todos os escritos teológicos de Lutero, principalmente os escritos que atacam os judeus. Desde os anos 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana formalmente denunciaram e dissociaram-se dos escritos de Lutero sobre os judeus. Em novembro de 1998, no 60º aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera emitiu uma afirmação: "é imperativo para a Igreja Luterana, que sabe que é endividada ao trabalho e a tradição de Martinho Lutero, de levar a sério também as suas declarações anti-judaicas, reconhece a sua função teológica, e reflete nas suas conseqüências. Temos que nos distanciar de cada [expressão de] antissemitismo na teologia Luterana."[41] [42] [43] [44] [45]

A guerra dos camponeses[editar | editar código-fonte]A guerra dos camponeses (1524-1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. Mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia significavam que os reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado

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à hierarquia social. Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isso não seria surpreendente.

Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas Münzer, comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada,[46] Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,[46] motivo pelo qual eles romperam.[47] Lutero, desde cedo, argumentou com a nobreza e os próprios camponeses sobre uma possível revolta e também sobre Müntzer, classificando-o como um dos "profetas do assassínio" e colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a "Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer", inaugurando essa linha de pensamento.

Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a "Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso", mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão sobre esse escrito.

Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a "Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen", com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também esse escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade se limitou a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.

O principal escrito dos camponeses eram os "Doze Artigos", onde suas reivindicações eram expostas. Neles havia artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.) impostos a eles pelos nobres. Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e dizia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas, eles as abandonariam. Entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Martinho Lutero.

De fato, Lutero escreveu sobre os "Doze artigos" em seu livro "Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia", de 1525. Nele, Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade.

Também esse escrito não teve repercussão e, durante uma viagem pela região da Turíngia, Lutero pôde testemunhar as revoltas camponesas, o que o motivou a escrever o "Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses", onde disse: "Contras as hordas de camponeses (…), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde".[46] Tratava-se de um apêndice de "Exortação à Paz …", mas que, rapidamente, tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta da opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encorajava os príncipes a castigarem os camponeses até mesmo com a morte.

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Essa repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes, em 1525, que se tornou o livro "Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos", onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.

Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou sobre a questão no seu "Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses", onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes, mas reafirma sua posição anterior.

Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu "Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada", em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.

A discordância com João CalvinoNo movimento reformista (também chamado de Reforma), Lutero não concordou com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica,[48] enquanto João Calvino, acreditava que a Igreja estava tão degenerada, que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas afastou-se desse objetivo, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.

FalecimentoO ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora não haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de morte. O historiador Frantz Funck-Brentano, por exemplo, escreveu em sua obra "Martim Lutero":

"Os dois médicos, que o tinham tratado nos últimos momentos, não puderam chegar a um acordo sobre a causa de sua morte, opinando um por um ataque de apoplexia, outro por uma angina pulmonar."[49]

A propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de audiência imperial), foi publicado pelo Imperador Carlos V o Edito de Worms, pelo qual qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre para matar Lutero sem correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já que, pelo referido Edito do Imperador, Lutero foi banido do Império como um fora-da-lei. Por receio de que algo de mal pudesse acontecer a Lutero durante viagem de regresso de Worms, Frederico III (ou Frederico, o Sábio), Príncipe-Eleitor da Saxônia, ordenou que Lutero fosse capturado e levado para o Castelo de Wartburg, onde estaria a salvo.

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Provavelmente, foi por causa desse risco de morte que Lutero passou a correr que seu amigo disse que "tentaram matá-lo". Encontra-se sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.[50]

Obras importantesFoi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo que não era permitido até então sem especial autorização eclesiástica. Lutero, contudo, não foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão. Já havia várias traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as anteriores porque foi uma forma unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul) e foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg, em 1453.

Lutero introduziu a palavra alleyn [51] , [52] que não aparece no texto grego original[53] no capítulo 3:28 da Epístola aos Romanos. O que gerou controvérsia. Lutero justificou a manutenção do advérbio como sendo uma necessidade idiomática do alemão como por ser a intenção de Paulo[54] .

O latim, língua do extinto Império Romano, permanecia a lingua franca européia, imediatamente conotada com o passado romano unificado, sendo também a língua da Vulgata traduzida por São Jerônimo no século V, tal como tinham sido transmitidos às províncias do Império. Por mais longínquas que fossem, nos menos de cem anos que separam a oficialização da religião cristã pelo Imperador Romano Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo Germânico Odoacro, em 476 d.C. (data avançada por Edward Gibbon e convencionalmente aceita como ano da queda do Império Romano do Ocidente), toda a região do antigo Império, ao longo dos seguintes 500 anos, e de forma mais ou menos homogênea, se cristianizou. O fim da perseguição à religião cristã pelo império romano se deu em 313 d.C. com o [Édito de Milão]].

No entanto, o domínio do latim era, no século XVI, no fim da Idade Média (terminada oficialmente em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos) e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio de uma percentagem ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria Igreja. A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É preciso adicionar que Lutero não se opunha ao latim, e chegou mesmo a publicar uma edição revisada da tradução latina da Bíblia (Vulgata). Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim como língua acadêmica.

Foi também autor da polêmica obra "Sobre os judeus e suas mentiras" (Von den Juden und ihren Lügen). Pouco conhecida, mas muito apreciada pelo próprio Lutero, foi sua resposta a "Diatribe" de Erasmo de Roterdã intitulada De servo arbitrio (Título da publicação em português: Da vontade cativa).

Martinho Lutero defendia o princípio da mortalidade da alma contrastando com a crença de João Calvino, que chamou à crença de Lutero "sono da alma".

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Martinho Lutero foi o precursor da Reforma Protestante. Lutero foi o segundo filho de Hans Luther com Margaret Ziegler e nasceu em 10 de novembro de 1.483, na cidade de Eisleben, na Saxônia. Em 1.484, a família de Lutero mudou-se para Mansfeld onde começou a freqüentar a escola eclesiástica local, a partir de 12 de março de 1.488, aos 5 anos de idade.

Aos 14 anos de idade, Martinho foi enviado por seu pai para estudar em Magdeburg, onde não ficou muito tempo (somente 1 ano). Em 1.501, Lutero terminou seus estudos e transferiu-se para a Universidade de Erfurt para estudar jurisprudência. Já na universidade descobriu que devia fazer o curso de filosofia que procedia o curso de jurisprudência.

Após terminar esse curso, Lutero iniciou o curso de Direito. Em agosto de 1.505, Lutero teve sua primeira crise de depressão. No dia 2 de julho de 1.505, voltando de uma visita aos seus pais, um raio caiu bem próximo de Martinho, e o medo o levou a fazer uma promessa de virar monge caso não morresse. Como nada ocorreu a Martinho, ele ingressou no convento dos eremitas agostinianos de Erfurt.

Em 4 de abril de 1.507, Martinho foi ordenado sacerdote. Em 1.509, Martinho tornou-se bacharel em teologia e foi convidado a lecionar em Erfurt. Martinho começou a analisar a teologia reconhecendo Deus e sua vontade soberana, e começou a considerar os dogmas e leis como expressões da vontade de Deus.

Em 1.510, Lutero viajou a Roma para impedir que fosse efetuada a fusão dos conventos agostinianos (da larga e estrita observância). No outono do ano de 1.511, Lutero foi transferido para Wittenberg onde começou a pregar e, um ano depois, fez doutorado em teologia.

A partir de 1.515, começou a denunciar alguns abusos da igreja católica e questionar o pecado original. Lutero não deixou de ser católico por mostrar os abusos da Igreja Católica. Lutero denunciou também a compra de lotes no céu e o pagamento de ouro aos padres para que fosse concedido o perdão. Martinho acreditava que só se conseguia o perdão verdadeiro quando o indivíduo estivesse realmente arrependido. Lutero tentou combater os falsos pregadores e pregadores de indulgência.

Em 1 de novembro de 1.517, Martinho Lutero pregou, em frente há igreja do palácio de wittemberg, 95 teses sobre indulgências. Suas teses foram publicadas e chegaram à opinião pública. Assim, a reforma protestante começou. Lutero foi demitido de seu cargo de vigário de distrito pelas suas teses. Em maio de 1.518, Lutero enviou uma carta ao Papa defendendo-se e dizendo que não tinha a intenção, com a publicação de suas teses, de ofendê-lo ou de se separar da religião católica. Disse também que tinha proposto melhorias pela maneira como interpretou a bíblia.

O monge dominicano Tetzel começou a travar discuções com Lutero e publicar antíteses. O papa ordenou a Lutero que se retratasse ou deveria se apresentar à cúria romana em dois meses. Lutero não se retratou e seu amigo Frederico, o sábio, interveio para que viessem representantes da cúria para a Alemanha. O Papa aceitou o pedido e enviou um cardeal para Ausgurgo. Após três encontros com Lutero, o cardeal se irritou com Lutero, e ordenou que ele se retratasse ou saísse de sua frente. Lutero foi embora.

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Lutero foi excomungado pelo Papa. Pouco tempo depois, estava passando de carroça por uma estrada e foi seqüestrado. Segundo historiadores, esse foi na verdade um falso seqüestro feito por Frederico, o sábio, para proteger seu amigo Lutero. Pouco tempo depois começou a ser considerado um fora da lei.

O Papa Leão X morreu em 1.521, ano em que Lutero saiu do castelo de Frederico e começou a se reunir com seus amigos protestantes. A nobreza alemã estava cansada dos abusos da igreja e se uniu à reforma. Lutero que anteriormente queria uma reconciliação com a igreja católica, agora desejava separação e chamou a Igreja Romana de igreja demoníaca e disse que Roma era a capital do inferno.

Em 15 de junho de 1.525, Lutero se casou com uma ex-freira, Catarina Von Borá. Nessa mesma época o luteranismo se espalhou por diversos países da Europa. Em 1.527 os ingleses uniram-se a Roma e criaram uma coligação para derrotar o rei da Alemanha e reinstalar o catolicismo no local. O rei da Alemanha, Carlos V, como resposta, invadiu Roma juntamente com italianos e espanhóis.

Lutero foi encontrado morto por alguns amigos aos 63 anos de idade, em sua cama, em sua cidade natal (Eisleben). Morreu no dia 18 de fevereiro de 1546, e foi sepultado na Igreja do Castelo de Wittenberg, a mesma onde havia afixado as suas 95 teses cerca de 30 anos antes.

Introdução 

Precursor da Reforma Protestante na Europa, Lutero nasceu na Alemanha no ano de 1483 e fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, ele foi ordenado padre, mas devido as suas ideias que eram contrárias as pregadas pela igreja católica, ele foi excomungado.

Ideias e doutrina 

Sua doutrina, salvação pela fé, foi considerada desafiadora pelo clero católico, pois abordava assuntos considerados até então pertencentes somente ao papado. Contudo, esta foi plenamente espalhada, e suas inúmeras formas de divulgação não caíram no esquecimento, ao contrário, suas idéias foram levadas adiante e a partir do século XVI, foram criadas as primeiras igrejas luteranas. 

Apesar do resultado, inicialmente o reformador não teve a pretensão de dividir o povo cristão, mas devido à proporção que suas 95 teses adquiriram, este fato foi inevitável. Para que todos tivessem acesso as escrituras que, até então, encontravam-se somente em latim, ele traduziu a Bíblia para o idioma alemão, permitindo a todos um conhecimento que durante muito tempo foi guardado somente pela igreja. 

Com um número maior de leitores do livro sagrado, a quantidade de protestantes aumentou consideravelmente e entre eles, encontravam-se muitos radicais. Precisou ser protegido durante 25 anos. Para sua proteção, ele contava com o apoio do Sábio Frederico, da Saxônia. 

Foi responsável pela organização de muitas comunidades evangélicas e, durante este período, percebeu que seus ensinamentos conduziam a divisão. Casou-se com a monja Katharina Von Bora, no ano de 1525, e teve seis filhos.

 

O antissemitismo em Lutero 

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Martinho Lutero tinha a expectativa de que os judeus se convertessem ao cristianismo. Como isso não aconteceu, assumiu, nos últimos anos de sua vida, uma forte posição antijudaica. Em seu livro "Sobre os judeus e suas mentiras", de 1543, o reformador alemão defendeu o combate ao judaísmo. Sugeriu a perseguição aos judeus, a destruição de suas casas e sinagogas, além do confisco de seus bens.  Alguns historiadores afirmam que muitas das posições antissemitas de Lutero foram resgatadas pelos nazistas alemães na época do Holocausto.

Quem foi Martinho Lutero

    Nascido em Eisleben, Alemanha, a 10 de novembro de 1483, Lutero era filho de

camponeses católicos alemães. Como era comum na época, foi alvo de uma disciplina

rígida. O menino Lutero aprendeu, entre outras coisas, a orar aos santos, realizar boas

obras e reverenciar o papa e a igreja.

 

    Cedo, aos 5 anos, Lutero começou a estudar latim em uma escola local. Já aos 12

anos, foi aluno de uma escola de uma irmandade religiosa em Magdeburgo. Em 1505

recebeu grau de Mestre em Artes da Universidade de Erfurt, e em 1505 e começou a

estudar Direito.

 

    Pouco tempo após iniciar seus estudos de Direito, Lutero resolveu tornar-se monge e

entrou no Mosteiro Agostiniano de Erfurt. A sua ordenação foi em 1507. Em seguida,

deixou o Mosteiro para ensinar filosofia moral na Universidade de Wittenberg.

 

    Continuando seus estudos, Lutero obteve o título de Doutor em Teologia. De 1513 a

1518, ensinou Teologia Bíblica na Universidade de Wittenberg. Nessa época, começou a

tornar-se bastante conhecido. Após certa idade, Lutero começou a ser afligido por uma

angústia que pode ser sintetizada em uma pergunta: se o coração da pessoa é governado

pelo pecado, como pode esperar salvação diante de Deus? Por causa do que havia

aprendido, procurou resposta – e paz – através de boas obras, incluindo jejuns e

autoflagelação. Contudo, seu sentimento de incapacidade para sentir paz diante de Deus

continuou, levando-o às portas do desespero.

 

    A aflição de Lutero somente encontrou resposta no dia em que encontrou na Bíblia a

certeza de que não há como alguém merecer o favor de Deus por causa de alguma coisa

que faz; que a única forma de alguém obter o favor Deus é através da fé em Jesus Cristo;

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que é através da fé em Jesus que os pecados são perdoados por Deus. Este

entendimento, conhecido como a doutrina da justificação pela fé, tornou-se um dos pilares

do pensamento religioso de Lutero.

 

    A Igreja Romana da época costumava dizer que algumas pessoas possuíam mais

méritos do que tinham necessidade para serem salvas. Por isso, o “mérito extra” dessas

pessoas poderia ser transferido – especialmente através de pagamento – para pessoas

cuja salvação era duvidosa. Lutero protestou contra esta prática, chamada de indulgência.

Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou uma série de críticas – que se tornaram

conhecidas como 95 Teses – na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. As Teses eram

um protesto contra o abuso da autoridade do Papa, especialmente no sentido de desafiar

o Papa a esvaziar de graça o purgatório, já que diz controlá-lo. Lutero também negou o

ensino do “mérito extra” que estava por trás das indulgências. Segundo Lutero, o

verdadeiro tesouro da Igreja é o Evangelho – a proclamação do amor de Deus. A Igreja

Romana ordenou que Lutero se apresentasse em Roma para responder às acusações de

heresia. Sabendo do caso, o Príncipe da Saxônia, Frederico o Sábio, interveio e insistiu

que a audiência de Lutero fosse realizada em solo alemão. Como resultado, uma Dieta

Imperial foi realizada na cidade de Augsburgo, em 1518. Lutero se recusou a mudar de

opinião. Temendo ser preso, fugiu de Augsburgo. As idéias de Lutero logo encontraram

adeptos em todas as regiões da Alemanha, e mesmo fora dela. A resposta do Papa à

situação foi uma bula (ordem papal), ameaçando Lutero de excomunhão, caso não se

retratasse. Em protesto, ele queimou publicamente a Bula e foi excomungado em janeiro

de 1521. Em junho de 1525, Lutero casou-se com Catarina de Bora, uma ex-freira. Os dois

tiveram seis filhos e abrigaram onze órfãos. Lutero publicou cerca de 400 obras durante a

sua vida, incluindo comentários bíblicos, catecismos, sermões e tratados. Também

escreveu hinos para a Igreja. Parte de suas obras estão publicadas em diversas línguas

modernas.

 

    Lutero faleceu de derrame cerebral em 1546, aos 63 anos de idade, em sua cidade

Natal, Eisleben. Seu corpo foi sepultado na Igreja do Castelo de Wittenberg, onde, cerca

de 30 anos antes, havia afixado suas 95 Teses.

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Martim Lutero - vida e obra

Martim Lutero nasceu a 10 de novembro de 1483 na cidade de Eisleben (Turíngia), sendo o primogênito do casal Hans Luther e Margarete Ziegler Luther. Foi batizado no dia seguinte com o nome do Santo do dia.

  “Meu pai, em sua juventude, era um pobre mineiro; mamãe trazia toda a lenha para casa nas costas, sacrificando-se para nos poder educar. Sujeitaram-se a uma vida extremamente penosa. Meu avô e meu bisavô eram bons agricultores.”

No verão de 1484 a família mudou-se para Mansfeld onde, aos poucos, com árduo trabalho, melhorava seu nível de vida. Em 1497, Lutero foi matriculado na escola dum mosteiro em Magdeburgo e, no ano seguinte, continuou seus estudos na escola paroquial São Jorge, em Eisenach, onde viviam vários parentes seus. Custeava seu estudo em grande parte como integrante do coro, que cantava diante das casas da cidade, recebendo gorjetas e alimentos. Teve caridosa acolhida na aristocrática casa da Sra. Ursula Cotta. Em 1501 tornou-se estudante da Faculdade de Direito de Erfurt.

  “Com zelo e penoso trabalho meus pais fizeram com que eu pudesse estudar e mantiveram-me no colégio com todo amor e fidelidade.”

 Em 2 de julho de 1505, após convalescer de grave doença, retornando de casa para Erfurt, e estando perto da aldeia de Stotternheim, foi surpreendido por um temporal medonho. Um amigo, ao seu lado, foi morto por um raio. Foi nesta aflição que prometeu:

“ ‘Ajuda-me, Santa Ana, e me tornarei monge!’ – Mais tarde me arrependi este voto e muitos queriam dissuadir-me. Contudo, perseverei em meu propósito e convidei os dois melhores amigos para a despedida e para que, no dia seguinte, me levassem ao convento. Quando quiseram reter-me, disse-lhes: ‘Hoje me vedes pela última vez’. Então,

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com lágrimas no rosto, me acompanharam. Também meu pai muito se irou com minha promessa, mas fiquei firme em minha decisão. Nunca cogitei de abandonar o convento. Havia morrido completamente para o mundo.”

 Assim, a 17 de julho de 1505, Martim Lutero ingressou no Convento dos Agostinianos Mendicantes, em Erfurt. Ordem das mais severas.

  “É verdade, eu era um monge devoto e cumpri tão rigorosamente minha Ordem que posso dizer: Se é que um monge jamais entrou no céu por obras do monacato, também eu queria ter entrado. Tal fato testemunharão todos meus colegas que me conheceram. Pois, se tivesse continuado, ter-me-ia sacrificado até a morte com vigílias, orações, leituras e outro trabalho.”

Tendo sido ordenado sacerdote a 27 de fevereiro de 1507, Lutero celebrou sua primeira missa a 2 de maio do mesmo ano, aato para o qual seu pai compareceu com um cortejo de 20 convidados, reconciliando-se com o filho.

“Bem quis eu ser monge santo e zeloso, e com grande devoção preparei-me par a primeira missa e a oração. Mas, por mais devoto que eu fosse, me dirigia ao altar com dúvidas, duvidando me afastava, entravado pela ilusão de que não poderíamos orar nem seríamos ouvidos se não fôssemos absolutamente puros e sem pecado, como os santos do céu.”

Lutero teve um bom conselheiro e cura d’almas no vigário geral da Ordem dos Agostinianos, Johann von Staupitz. Foi ele quem indicou Lutero para professor de Filosofia na universidade de Wittenberg, em 1508.

“Se o Dr. Staupitz, ou antes, Deus, por intermédio do Dr. Staupitz, não me tivesse ajudado a sair ileso das tentações, eu me teria afogado nelas e me encontraria no fundo do inferno. “

Na Universidade de Wittenberg, Lutero continuou ao mesmo tempo o estudo da Teologia. Graduou-se Doutor em Teologia a 19 de outubro de 1512 e passou a dar preleções sobre exegese bíblica, quando proferiu o seguinte voto:

  “Profiro publicamente um caro voto pela Sagrada Escritura e prometo, para a vida toda, estudá-la e pregar sua mensagem, e defender a fé cristã contra todos os hereges, por discussão e escritos. Que Deus me ajude.”

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Em 1510-1511 Lutero teve a grata oportunidade de realizar uma viagem a roma, incumbido por sua Ordem. Na Cidade Santa ficou completamente desiludido em suas altas expectativas, voltando a Wittenberg profundamente revoltado pela vida duvidosa e os escândalos encontrados no Vaticano.

Ainda como professor de Teologia, Lutero era atormentado por dúvidas quanto à faculdade humana de tornar-se justo perante Deus mediante as boas obras (leia-se o hino “Cristãos, alegres jubilai”). Mas, em 1513, dedicado ao estudo bíblico em sua cela no Convento Negro dos Agostinianos, onde morava, reconheceu de repente o infinito alcance da verdade do Evangelho:

  “‘Concluímos pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei’(Romanos 3.28). Agora eu considerava a escritura Sagrada de maenira diferente, e tornei-me alegre, como que renascido, sim, como se tivesse entrado pelos portais abertos do próprio paraíso. “

Por isso, pôde Lutero escrever numa carta, em 1516:

  “Estuda o Cristo, a saber, o crucificado. Aprende a lhe cantar louvores, desesperando em ti próprio e dizendo: Tu, Senhor Jesus, és minha justiça, mas eu sou teu pecado. Levste sobre ti o que era meu e deste a mim o que é teu.”

 Desenvolvia intensa atividade em Wittenberg.

  “Preciso praticamente de dois escreventes e passo grande parte do dia escrevendo cartas. Sou pregador do Convento, sou consultado durante as refeições, querem que eu pregue diariamente na igreja do paço. Sou diretor de estudo, vigário de minha Ordem, isto é, onze vezes prior. Faço preleções sobre Paulo e junto matéria para preleções sobre os Salmos.”

 Chegou o ano de 1517. Vejamos como Lutero narra os fatos decisivos que levaram à Reforma:

“Aconteceu no ano quando se escrevia 17, que um monge pregador de nome Tetzel, um grande berrador, carregava por aí as indulgências, gritando, e vendia graça a dinheiro, tão caro ou tão barato quanto podia. Naquele tempo eu era pregador aqui no mosteiro e jovem doutor, imbuído de ardente amor pela Escritura Sagrada. Observando que muita gente de Wittenberg corria atrás das indulgências, comecei a pregar, cautelosamente, que se poderia fazer algo melhor e de maior certeza do que adquirir indulgência. Então escrevi uma carta com teses ao Bispo de Magdeburgo, para que mandasse parar o Tetzel e o impedisse de pregar coisa tão inconveniente para que não resultasse em escâncalo. Mas

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não tive resposta. Portanto, minhas teses contra os abusos de Tetzel foram postas a público e em apenas 14 dias percorreram a Alemanha toda.”

A 31 de outubro de 1517 Lutero afixou 95 Teses à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg. Vejamos algumas teses:

  “1. Quando o nosso Senhor e Mestre jesus Cristo disse: ‘Arrependei-vos!’ ele quis que toda a vida dos crentes fosse um só arrependimento.

27. Pregam futilidades humanas quantos afirmam que, tão logo a moeda tinir na caixa, a alma se eleva do purgatório.

32. Serão eternamente condenados juntamente com seus mestres, aqueles que julgam obter certeza da salvação mediante cartas de indulgência.

36. Todo e qualquer cristão verdadeiramente compungido tem pelno perdão da pena e da culpa, o qual lhe pertence mesmo sem carta de indulgência.

50. Deve-se ensinar os cristãos que, se o Papa tivesse conhecimento das extorsões dos pregadores de indulgência, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

94. Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu cabeça, Cristo, através de padecimento, morte e einferno.

95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados mediante consolações infundadas.

 A 7 de agosto de 1518 o Papa Leão X intimou Lutero em vão a responder processo em Roma dentro de 60 dias. Por fim, foi feito um interrogatório pelo Cardeal Caetano, em Augsburgo, a 12 de outubro de 1518.

  “Permaneço firme. Seja feita a vontade do Senhor. Também em Augsburgo, mesmo no meio de seus inimigos, reina Cristo. Viva Cristo, morra Martinho.”

Em 14 de outubro, após infrutíferas discussões com o cardeal, Lutero deixou Augsburgo, antes que o pudessem prender.

“O cardeal não é um pensador lúcido e, por isso, tão impróprio para tratar deste assunto como o asno para tocar harpa. Sobre mim ele disse em Augsburgo:’Este irmão tem osolhos muito para dentro e, por isso, a cabeça cheia de fantasias.’ “

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De 4 a 14 de julho de 1519 realizou-se uma disputa teológica entre Martim Lutero e Dr. João Eck, em Leipzig, onde Lutero chegou a declarar:

“Entre os escritos de Huss ( um pré- reformador queimado como herege pela igreja de Roma) há alguns perfeitamente cristãos e evangélicos. – A nenhum crente cristão pode-se impor algo além das Escrituras. – Também um Concílio pode errar.”

Com tais assertivas, tão verdadeiras, Lutero se colocou fora da Igreja do Papa, que condenara João Huss e ensinava serem infalíveis as decisões dos Concílios.

A 3 de outubro de 1520 foi entregue à Universidade em Wittenberg a bula de excomunhão da Igreja se não revogasse seus pontos de vista dentro de 60 dias. Seus livros deveriam ser queimados. Em 10 de dezembro de 1520 Lutero queimou a bula junto à porta de Wittenberg, em público, juntamente com o Direito Canônico e outros documentos romanos.

  “Por teres destruído a verdade de Deus, o Senhor hoje destrua a ti nesta fogueira.”

 Em 1520 vieram a lume as primeiras importantes obras da Reforma: 1) “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”; 2) “Da Liberdade Cristã”; 3) “A Sua Majestade Imperial e à Nobreza Cristã na Alemanha, Sobre a Renovação da Vida Cristã” ; 4) “Sermão sobre as Boas Obras”.

 “O cristão é um livre senhor de todas as coisas e não submisso a ninguém – pela fé. O cristão é um servidor de todas as coisas e submisso a todos – pelo amor.

As boas obras não fazem um bom cristão, mas um bom cristão faz boas obras.”

A 6 de março de 1521, Lutero foi intimado a comparecer perante a Dieta Imperial em Worms, sendo-lhe assegurado salvo-conduto.

“Ainda que houvesse em Worms tantos demonios como há telhas sobre as casas, contudo lá entrarei.”

Estando perante a Dieta e o próprio Imperador Carlos V, justificando sua causa, Lutero declarou ao final:

“Não posso nem quero retratar-me a menos que seja convencido de erro à base de palavra bíblica ou por outros argumentos claros da razão; porque não é aconselhável agir

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contra a consciência. Aqui estou; de outra maneira não posso. Que Deus me ajude! Amém.”

A seguir, Lutero foi proscrito pelo Imperador. Qualquer que o encontrasse no país, poderia matá-lo. Os fiéis cavaleiros do príncipe eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio, simpatizante de Lutero, tramaram um assalto na floresta perto de Eisenach, sendo Lutero levado a salvo parao Wartburgo, a 4 de maio de 1521. Ali, em dezembro do mesmo ano, Lutero iniciou a tradução da Bíblia para o alemão à base dos originais hebraico e grego. Em setembro de 1522 foi publicado o Novo Testamento.

  “Deve-se perguntar à mãe no lar, às crianças na rua, ao homem simples na feira e observar-lhes a boca para ver sua linguagem e então traduzir.”

Em 1524 foram publicados 24 hinos escritos por Lutero, bem como o livro dos Salmos em alemão.

A 13 de junho de 1525 Lutero, tendo 42 anos, casou-se com Catarina von Bora, de 26 anos, ex-freira que, em 1523, com 8 colegas, abandonara o Convento dos Cistercienses e vivia na casa do burgomestre de Wittenberg. Foi oficiante da cerimônia João Bugenhagen, pároco de Wittenberg, sendo testemunhas Justo Jonas, prepósito da igrejado Castelo e Lucas Cranach, burgomestre de Wittenberg. O casamento foi festejado em público no dia 27 de junho, ato ao qual compareceram também os pais de Lutero. Na ocasião, o príncipe-eleitor Frederico, o Sábio, doou aos cônjuges o Convento dos Agostinianos com dependências.

  “É algo maravilhoso a aliança e a comunhão entre homem e mulher. Catarina, tens um marido caridoso, que te ama, és rainha. Guarda tal atitude para com teu esposo que este, retornando ao lar, fique alegre ao ver a cumieira da casa.”

Em 1526 nasceu-lhes o primogênito, Hans; depois Elisabeth (1527), Madalena (1529), Martinho (1531), Paulo (1533) e Margarete (1534).

  “Pela graça de Deus fui abençoado com um matrimônio extremamente feliz... Meus Deus, o matrimônio não é algo natural ou corporal, mas é uma dádiva divina, proporcionando a vida mais doce, sim, a vida mais casta, melhor que o celibato... Havendo estas três coisas no matrimônio: fé, filhos e sacramento, então é sumamente feliz.

As criancinhas não se preocupam; Deus lhes concede a graça de preferir comer cerejas do que contar dinheiro e dar maior valor a uma boa maçã do que a uma flamante moeda de ouro. Não perguntam pelo preço do cereal, pois confiam em seu coração que terão o

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que comer. Vivem na fé sem empecilho e nisso são mais eruditas do que nós, tolos; crêem na Palavra da maneira mais ingênua sem discutir ou duvidar.”

O ano de 1527 trouxe a Lutero muito sofrimento em corpo e alma, acompanhado de dúvidas quanto a sua missão. Nesta época compôs o mais conhecido hino da Reforma:

  “Deus é castelo forte e bom...

A minha força nada faz...

Se inúmeros demônios vem...

O Verbo eterno vencerá...”

Enquanto em Augsburgo, em 1530, se realizava outra Dieta para julgar a questão evangélica, Lutero, excomungado e proscrito, não pôde lá comparecer. A causa da Reforma foi defendida por seu auxiliar e amigo Filipe Melanchton. Foi ele quem redigiu e entregou na Dieta, a Confissão de Ausgburgo, endossada por Lutero. Ele próprio, enquanto isso, permaneceu no Forte Coburgo, onde escreveu na parede em versículo do Salmo 118, muito estimado por ele:

“Não morrerei; antes viverei, e contarei as obras do Senhor.”

 Fato dos mais importantes para a consolidação da Reforma também foi a publicação da Bíblia inteira em língua alemã, em 1534.

  “Agora tendes a Bíblia em alemão; agora quero terminar de trabalhar, pois tendes o que deveis ter. Contudo cuidai de usá-la devidamente depois de minha morte. Não a percais, lêde-a com zelo e sob temor de Deus e oração. Pois se ela fica florescendo e é usada corretamente, tudo está bem e se desenvolve de maneira feliz.”

 Grande luto envolveu o lar de Lutero em 1542 quando, na idade de 13 anos, faleceu sua filha Leninha.

  “Amo-a tanto; mas, querido Deus, se for de tua vontade, de bom grado quero sabê-la junto de ti. Querida esposa pensa só para onde ela vai. Querida Leninha, haverás de ressuscitar e brilhar como uma estrela, sim, como o sol.”

Os últimos três anos de sua vida esavam repletos de trabalho, pressentimentos de morte e cuidados pelo destino do Evangelho e de sua pátria. Em fins de janeiro de 1546

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acompanhado por três filhos e seu amigo Justo Jonas, Lutero viajou para Eisleben a fim de conciliar os nobres de Mansfeld num conflito sobre a cidade de Neustadt. Os debates estenderam-se até 17 de fevereiro. Lutero pregava aos domingos, em sua cidade natal, na Igreja de Santo André. Disse em sua última prédica 4 dias antes de morrer sobre Mateus 11.25-30.

  “Isto e muito mais haveria de dizer sobre este Evangelho; mas estou por demais debilitado. Que isto baste.”

Martim Lutero faleceu na madrugada de 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben. Foi esta sua última oração:

“Meu amado Pai celestial, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de toda consolação, agradeço-te po me teres revelado teu amado Filho Jesus Cristo, no qual tenho fé, o qual foi por mim pregado e testemunhado, ao qual amei e rendi louvores. Rogo-te, meu Senhor Jesus Cristo, toma sob teus cuidados minha pobre alma. Oh! Pai celestial, se bem que devo deixar este corpo e ser arrebatado desta vida, sei com certeza que eternamente poderei ficar contigo e ninguém poderá arrebatar-me de tuas mãos. Amém.

Perguntou-lhe Justo Jonas: Reverendo pai, quereis perseverar em Jesus Cristo e na doutrina como a pregaste? Lutero respondeu claramente: “Sim”. Adormeceu 15 minutos depois com um profundo suspiro. Trasladado para Wittenberg, Martim Lutero foi sepultado a 22 de fevereiro de 1546 ao lado do púlpito onde tantas vezes pregara, na Igreja do Castelo, em cujas portas havia fixado suas teses, dando início à Reforma.

  “Os corpos dos cristãos descansam na sepultura e dormem até que venha Cristo e bata no túmulo dizendo: Acorda, levanta, Martim Lutero, e vem cá pra fora! Haveremos de ressuscitar em um momento, como dum sono suave, e agradável para viver com Cristo, o Senhor, em eterna alegria.”