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REVISTA EFICAZ Revista cientfica online z ISSN 2178-0552Email: [email protected]

O GNERO LITERRIO DE CONTOS DE FADAS CRIANA SURDA1 BATISTA, Marta Cristina Martins2RESUMO: As narrativas de entidades fantsticas aparecem h muito tempo entre as civilizaes. o encantamento da narrativa que motiva a perenidade dos contos de fadas. As artes das letras pueris possuem vrios tipos de textos representativos, como as fbulas. Este estudo escolheu os contos de fadas por ser uma literatura mais criativa, cativante, atraente e que tocam as emoes, agindo no imaginrio. A finalidade desde estudo foi analisar a importncia dos contos de fadas para a criana surda. De incio, tece um breve resgate histrico da origem dos contos e a cultura do surdo; a seguir, aborda a produo literria; e por fim analisa a simbologia dos contos de fadas "Cinderela Surda" e "Rapunzel Surda". O gnero literrio de contos de fadas trata de problemas humanos universais de uma maneira simblica, enfocando amor, morte, carncias, conflitos familiares; Todas circunstncias que perpassam no cotidiano de qualquer pessoa. Seu enredo parte da constatao de um problema a ser solucionado. Na trama aparece a figura da bruxa, da fada, do prncipe ou do heri. Os contos imprimem um aspecto moralizador, em que o bem vence o mal, e, sobretudo, educacional, pois, alm de estimular a leitura, desenvolve o aspecto cognitivo da criana. A simbologia, ao envolver o imaginrio e a receptividade intelectual da criana ao conto, estabelece o limite entre o conto e a realidade, constituindose num grande desafio, j que pode suscitar: alegria, temor, sonho, convico, expectativa e tristeza. O estudo revelou que o ato de ler uma tarefa de excelncia mltipla e que faz parte do cotidiano da escola. Dessa forma, a literatura infantil escrita na lngua de sinais oportuniza criana surda a vivncia com uma nova modalidade de leitura, j que os contos de fadas tm como especificidade o entretenimento e so uma leitura descompromissada. Essa uma das razes que tornam a leitura mais prazerosa. PALAVRAS CHAVE: Literatura Infantil. Criana Surda. Contos de Fadas. ABSTRACT: Fantastic personages have long been part of texts in all civilizations. The enchantment of such personages cause the perenniality of fairy tales. Texts for children come most often in the form of fairy tales. This study has chosen them for being a more criative and captivating kind of literature, and it analyses their importance for the teaching of deaf children. It begins by telling the history of the literature directed to deaf people. Then it looks into the literary production thereof. And at last it analyses the symbology of the tales "The Deaf Cinderella" and "The Deaf Rapunzel". Fairy tales deal with universal human problems in a symbolic way, focusing love, death, wants, and family conflicts. The stories approach a problem to be solved. They deal with figures like witches, fairies, princes, and heroes. Besides encoraging reading and knowledge acquisition, the tales follow a moralizing aspect, in which good prevails over evil. The symbology awakens the child's imaginary world and establishes a limit between reality and imagination, raising feelings of joy, fear, dream, conviction, expectancy and sadness. The study reveals that reading is an act of multiple excellences that is part of the school day-by-day activities, and the literature for deaf people, especially children, gives these people opportunities to develop their skills while enjoying some entertaining and pleasurable moments. KEYWORDS: Children's Literature. Deaf child. Fairy Tales

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Trabalho de concluso de curso apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Libras e Educao Especial. Faculdade Eficaz /PR. 2 Aluna do curso de Ps-Graduao em Libras e Educao Especial. Faculdade Eficaz/PR.

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1. INTRODUO O homem atravs dos tempos vem buscando comunicar-se com gestos, expresses ou com a fala. A escrita tem origem no momento em que o homem aprende a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos. A escrita tem como objetivo a leitura e a leitura nada mais que uma interpretao da escrita que consiste em traduzir os smbolos em fala ou transmitir significados especficos (CAGLIARI, 1996). O enunciado de Freire (2003) toma como prova que a arte de ler antecede a arte da escrita, pois os signos do significao a aquilo que se v e, aquilo que v, o que se l. Isso acontece com a Lngua de Sinais, que atravs a comunicao gestual, expresso facial e/ou corporal transmite a linguagem. A Lngua de Sinais a lngua natural da comunidade surda, como linguagem prpria, favorece o acesso aos conhecimentos existentes na sociedade. Assim sendo, fundamental a interao entre crianas surdas e adultas surdos, essa interao contribui para a identidade e cultura surdo. A finalidade desse estudo observar a relevncia que as narrativas fantsticas so para menores surdos, levando-se em conta que os surdos so um grupo lingstico e cultural diferente Tal propsito nos remete a refletir sobre as complexas relaes entre os surdos e a literatura. Com relao ao ensino da leitura, toda criana, no s a surda, carecem de parceiros como a famlia e a escola, para alicerar a construo na formao de leitores.Para que uma estria realmente prenda a ateno da criana, deve entret-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida deve estimular-lhe a imaginao: ajud-la a desenvolver seu intelecto e tornar claras suas emoes, estar harmonizada com suas ansiedades e aspiraes; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir solues para os problemas que a perturbam. [...] nada to enriquecedor e satisfatrio para a criana, como para o adulto, do que, os contos de fadas (BETTELHEIM, 1980, p. 13).

A colocao de Bettelheim (1980) suficiente para justificar a temtica do presente estudo. A leitura de contos de fadas, como instrumento de comunicao favorece a criana descobrir, alimentar e estimular o imaginrio, exteriorizar o pensamento; estimula descobrir o novo. So aspectos individualizados, que a criana no pode descobrir verdadeiramente por si s.2011 Maring-PR

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No primeiro momento do trabalho, abordou-se a origem dos contos de fadas e cultura do surdo, essa abordagem representa entender as marcas de seu tempo e o caminho histrico dos contos e tambm da literatura. A seguir, contemplou o gnero literrio de contos de fadas a criana surda e finalizando analisou-se a simbologia dos contos. Quanto metodologia aplicada, trata-se de estudo qualitativo descritivo, embasado em pesquisa bibliogrfica. O percurso metodolgico adotado foi anlise terica reflexiva sobre as idias centrais e posicionamento dos autores pesquisado. Adotou se como obras referenciais os contos da Cinderela Surda e da Rapunzel Surda, que reconta a histria a partir da cultura surda. O trabalho de Apolinrio (2005) teve como linha de abordagem a reflexo sobre a formao de leitores infantis com deficincia auditiva na rea de educao especial; o trabalho de Mattar (2007) enfocou as implicaes dos contos de fadas na infncia, esses textos constituram importante fonte para subsidiar a esse estudo. Se a leitura favorece o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criana, que tem como instrumentadores a famlia, a escola e a comunidade, abre- se um espao para que possibilite a convivncia harmnica do surdo e que ele sinta um indivduo capaz e participe. 2. PRINCPIO DA NARRATIVA FANTSTICA Entender a temporalidade dos contos significa conhecer a cultura das diferentes sociedades, seus costumes, valores, seu folclore, pois foram esses elementos que serviram de inspirao e suporte para as narrativas dos contos. Os contos so influenciados pela civilizao em que surgiram como aconteceu com os contos rabes de: Mil e Uma Noites de Ali Bab e os Quarenta Ladres. As histrias das Mil e Uma Noites esto cheias de referncias religio islmica. (BETTELHEIIM, 1980). A maioria dos contos de fadas se originou em perodo em que a religio era parte muito importante da vida, por isso muito deles tratam em demasia motivos religiosos. Segundo Coelho 1987, a arte de narrar o fantstico teve inicio com os egpcios o Livro do Mgico, posteriormente aparecem na ndia, Grcia clssica, no entanto na hegemonia de Roma que se destacam do oriente para o ocidente. O registro do material dos contos de fadas a partir da transferncia escrita do lrico anglo-saxo Beowulf. As entidades fantsticas se notam no sculo IX, no livro de escrita gals denominado Mabinogion. No sculo XIV que surge, na Europa,2011 Maring-PR

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segundo Bettelheim (1980), a primeira coleo de contos com motivos de folclore europeu denominado Gesta Romanorum, de origem persa, escrito em latim, precedendo a famosa coleo As Mil e Uma Noites do folclore rabe. Conforme assinalado anteriormente, no incio, preciso ressaltar que na origem a narrativa fantstica era para adulto, somente com os irmos Grimm esta atividade desdobrouse para os leitores infantis com temas desenvolvidos para eles. Entretanto, para Cashadan (apud Mattar, 2007) a transformao dos contos de fadas em literatura infantil teria ocorrido no sculo XIX, nos pases de lngua inglesa, pelo trabalho de vendedores ambulantes, que viajavam por diversos povoados vendendo pequenos volumes baratos. Continham as histrias simplificadas do folclore e dos contos de fadas, sem as passagens com temas de amenidades. Em 1872, Hans Christian Andersen, produziu 168 histrias contadas s crianas, suas histrias trabalhavam narrativas engajadas e influenciadas em seu tempo de criana, trazendo uma moral de ensinamento. Destacam-se entre suas obras, O Patinho Feio, A Pequena Sereia, A Princesa e a Ervilha, Os Sapatinhos Vermelhos. Em 2003 de autoria de Carolina Hessel Silveira, Fabiano Rosa e Lodenir Becker, Karnopp editada a obra Cinderela Surda e Rapunzel Surda. Os dois primeiros autores so surdos e a ltima ouvinte e intrprete e trabalha com surdos de 1988. Esses dois textos fazem uma releitura da clssica histria de Rapunzel e da Cinderela, a partir da cultura surda. Ao usar a escrita dos sinais espera que os clssico da literatura sejam tambm lidos pela comunidade surda. A fantasia bsica dos contos de fadas expressa obstculos ou provas que precisam ser vencidos, como um verdadeiro ritual iniciativo, para que o protagonista obtenha sanso positiva. Partem de um problema vinculado realidade e seu desenvolvimento uma busca de solues, no plano de fantasia, com a introduo de elementos mgicos. A restaurao da ordem acontece no desfecho da narrativa, quando h uma volta ao real (COELHO, 1987) As fadas so seres fantsticos, ou imaginrios do folclore ocidental e das Amricas, na forma de beleza feminina carregadas de misticismos e dons, interferindo e auxiliando o homem, onde h impossibilidade de uma soluo, natural, humana. Os contos de fadas:

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[...] com ou sem presena de fadas (mas sempre com o maravilhoso), seus argumentos desenvolvem-se dentro da magia ferica (reis, rainhas, prncipes, princesas, fadas, gnios, bruxas, gigantes, anes, objetos, mgicos, metamorfoses, tempo e espao fora da realidade conhecida etc.) e tem como eixo gerador uma problemtica existencial. Ou melhor, tm como ncleo problemtico realizao essencial do heri ou da heri ou da herona, realizao que, via de regra, est visceralmente ligado unio homem-mulher (COELHO, 1987, p.14).

Os contos de fadas podem ser chamados de contos de encantamento, pelo predomnio no de fadas, mas de situaes maravilhosas nos contos. O maravilhoso, essencial para o equilbrio da razo, o prprio uso que fazemos do imaginrio e diz a respeito magia ou interveno divina, dividindo-se em trs; fantasmagrica; atravs da realizao do heri, trabalhando com sua realidade psquica, traduzem de modo representativo, os anseios do individuo; no momento que atende com arranjo representativo lingstico, como domnio de obras que tornam atemporais, apresentando a relao homem versus natureza e a sua viso do mundo; encantamento: o que revela arroubos deste tipo de texto, onde se passa do cotidiano trivial para o universo do canto. Gilling (apud MATTAR, 2007). O Era uma vez dos contos de fadas que tm incio em 1697, com Charles Perrault atravessou sculos assumindo as mais variadas formas e estruturas. Cada um deles endereado ao gosto de um leitor diferente, crianas, jovens e adultos que tm a possibilidade de encontrar diante de si uma infinidade de leituras: dogmticas, erticas, moralizantes, imagticas, fantsticas, realsticas e outras mais, com desfechos surpreendentes, felizes, trgicos, pendentes ou enigmticos. O universo literrio propicia viagens ficcionais para os destinos que a imaginao de cada leitor sugerir. 2.1 CONSIDERAES SOBRE A CULTURA DO SURDO A Educao de surdos est sendo repensada devido ao reconhecimento da Lngua de Sinais e mudana de postura frente surdez. O Modelo de educao moralista que transformava o surdo em ouvinte deficiente, esta sendo deixado para trs (RAMOS, 1995) Ao resgatar a histria dos surdos, percebero as constantes lutas, contrariedades, injustias para os indivduos com deficincia auditivos. Durante a era Antiga havia preconceito e discriminao, o que no acontecia entre os povos2011 Maring-PR

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judeus e cristos. Goldfeld (apud APOLINRIO, 2005). A partir do Renascimento e do Iluminismo, os surdos, designados como anormais, so isolados da sociedade. At o sculo XV persiste a idia de no sucesso e progresso na educao destes indivduos. No entanto, o religioso espanhol provia de mtodos eficazes no desenvolvimento dos surdos. Na Espanha, o monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1520-1584) dedicou-se a ensinar quatro surdos a falar grego, latim e italiano, e tambm ensinou conceitos de fsica e astronomia, utilizando uma metodologia manual das letras do alfabeto, da escrita e oralizao (APOLINRIO, 2005). Em 1750, o abade Charles Michel de Lpe adquire o conhecimento da lngua de sinais por meio dos surdos, que perambulavam pelas ruas de Paris e demonstrando interesse por instruir um grupo de crianas surdas, cria os Sinais Metdicos combinao da lngua de sinais com a gramtica sinalizada francesa. O sculo XVIII considerado o perodo frtil da educao dos surdos: aumento de escolas para surdos, a Lngua de Sinais um instrumento que abre portas de conhecimentos para indivduos com deficincia auditiva. Em 1815, Thomas Hopkins Gallaudet, acompanhado de Laurent Clerk (aluno do abade Lpe), abre a primeira instituio de ensino para pessoas surdas no continente americano. Aps 49 anos surge Universidade Gallaudet (APOLINRIO, 2005). Durante o Imprio no Brasil, acontece um trabalho com crianas surdas, o professor surdo francs Hernest Huet, trazido pelo imperador D. Pedro II, inicia um trabalho de educao de duas crianas surdas. O que acarretar a primeira fundao nacional para surdos na capital (Rio de Janeiro), atual Instituto Nacional de Educao de Surdos (INES) no Rio de Janeiro. De maneira lenta introduz-se um mtodo simplificado na educao dos surdos-mudos. (MATTAR, 2007). Percebe-se uma progresso na metodologia deste ensino no sculo XIX estabelece-se a Linguagem Oral e o incio da Educao Especial. Chega-se no sculo XIX a uma metodologia em que o objetivo alcanado; lngua oral e comunicao por gestos, juntamente com o surgimento do modelo clnico-teraputico e da Educao Especial. O insucesso do Oralismo leva educadores, em meados do sculo XX, a substitu-lo pela chamada Comunicao Total (Total Approach) ainda nos dias atuais mudanas so promovidas neste ensino que o denomina bilingismo: a Lngua de Sinais e a Linguagem Oral. (RAMOS, 1995). A partir de 1911, no Brasil, seguindo uma tendncia mundial, o INES estabelece o Oralismo como proposta de ensino. No final de dcada de 1970, chega2011 Maring-PR

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ao pas a Comunicao Total e somente na dcada seguinte o Bilingismo adotado como nova proposta na educao de surdos (RAMOS, 1995). Portanto tem-se a possibilidade de escolher o mtodo de trabalho que ser utilizado pelos professores: o Oralismo, o Total Approach e o Bilingismo. Os surdos do nosso Pas usam os signos e smbolos da Libras para falarem o que pensam, sentem, etc. Tendo como conceito que a lngua um abstrato sistema de regras e considerada como instrumento do pensamento (conforme Sausurre), a lngua de sinais permite aquisio dos elementos (XAVIER, 2009). 2.2 LITERATURA Nesse estudo ao abordar a classe literria da narrativa fantstica infantil a criana surda de antemo significa lidar com uma questo delicada que a incluso social do surdo, desse modo, emerge outra questo, a escolarizao. Uma realidade, que de certo modo, invisvel a comunidade no ouvinte. Viver em um contexto onde prevalece o ouvinte, j delineia algumas dificuldades. A leitura uma delas, pois o surdo tem uma linguagem prpria, sua escrita em sinais. Quando a escola, a famlia est adaptada a realidade do surdo, e h a presena do intrprete (ou tutor) para auxiliar a aprendizagem, os objetivos da literatura infantil so os mesmos para o ouvinte ou no ouvinte, observando as peculiaridades do aluno. No h estudo literrio destinado especificamente a comunidade surda, o que h so algumas obras adaptadas. Em razo disso, o referencial terico ao tratar a literatura de contos de fadas de modo geral, entende-se ser extensiva a comunidade surda. A arte de contos e leituras infanto e juvenis servem para conquistar o interesse do aluno no que diz a respeito a leitura. De acordo com Coelho (1987), a narrativa infantil nutre-se no seio da arte uma vez que representa a fico, o faz de conta e o onrico. Nesse sentido, Bettelheim (1980), relata que o conto de fada como um modo singular de conhecimento e de lazer a criana, favorecendo o desenvolvimento psico e cognitivo da criana atuando em vrios nveis da aprendizagem. Quando se fala em narrativas e contos infantis preciso fortalecer a arte visual desses materiais direcionados ao leitor infantil. Essa finalidade no difere entre o leitor ouvinte e o surdo, pois inerente a criana experimentar o novo, apreciar o colorido e visualizar as figuras, at porque no sabendo ler corretamente, ela faz uma leitura visual das figuras.2011 Maring-PR

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Para Regina Dellisola (apud Apolinrio, 2005) o homem aquisitor da linguagem toma o seu objetivo de estudo (seja este objeto, cincia, arte, leitura, etc) atravs do seu instrumento e o desvenda como um signo no mundo. Essa concepo refora a importncia dos contos de fadas que traz palavras, cores, possibilita a mentalizao de formas, fatos e gestos. A leitura proporciona o enriquecimento de conhecimento de mundo, de cultura, de censo crtico e transformaes psiquico e at mesmo fisiolgicas. No se pode abordar a narrativa sem mencionar a literatura a qual est presente nas obras produzidas por autores. A literatura pode nos trazer reflexes sobre o mundo a individualizao do mundo que o eu lrico nos provoca, a erudio da linguagem e o enriquecimento do pensamento cognitivo. literatura no esta reservada uma leitura nica, ela um complexo sentido de entendimentos, de maneiras diferentes a cada indivduo. Essas inmeras leituras possveis tambm resultaram para as crianas que tomam contato principalmente com a literatura fantstica. Assim sendo, pode se considerar a literatura como uma realidade que se apresenta heterognea e mutvel. As constantes verses dos contos de fadas, deixam claro o carter mutvel da realidade; alguns contos, como o da Cinderela teve readaptaes fundamentais, ao retirarem dos textos com narrativas fortes. No caso a Rapunzel Surda, ao adaptar a comunidade surda, a figura do sapato foi substituda pela luva cor-de-rosa. Zilberman; Silva (1990, p. 21) define literatura como:[...] palavra em liberdade, de infinitos caminhos e direes, puxando o interlocutor para a prtica da participao e do prazer. Das caminhadas curtas ou longas, da penetrao nas surpresas impactantes da fico, resulta sempre um olhar diferente, talvez mais inteligente, mais sensvel, mais humilde.

Ao refletir sobre o papel e a funo da literatura, Candido (1972) aborda em sua obra as variaes da funo humanizadora, caracterizada como a capacidade que a literatura tem de confirmar a humanidade no homem. Para ele a literatura tem trs funes literatura: a) Funo psicolgica, entendida como a necessidade universal de fico do fantstico que esta presente no universo dos homens; b) Funo formativa, como aquela que contribui para a formao da personalidade; c) Funo integradora, como aquela que contribui para o conhecimento do mundo e do ser. Os contos de fadas exercem essas trs funes, o enredo cria a fantasia,2011 Maring-PR

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estimula a imaginao, prazeroso, desenvolve o lado afetivo, emocional e educacional do leitor. Logo, a literatura como alavanca como alavanca cultural corresponde capacidade do homem atuar na formao do prprio homem, nesse sentido, negar a fruio da literatura negar o desenvolvimento da literatura. A literatura para Zilberman (apud Apolinrio, 2005), cumpre um papel social na medida em que propcia ao individuo leitor um contanto com idias e vises criticas sobre o interior do homem e at mesmo de si prprio. Um de seus papeis a educao. No momento em que a Arte literria se integra a grade disciplinar do ensino h um alagamento no conhecimento de si prprio em cada individuo levando-o a questionar seu papel e a sua importncia na transformao de uma sociedade e de uma cultura. Atualmente o papel da literatura fundamental para construo base do pensamento cognitivo dos seres humanos enquanto em formao escolar.A leitura do texto literrio constitui uma atividade sintetizadora, na medida em que permite ao indivduo penetrar o mbito da alteridade, sem perder de vista sua subjetividade e histria. O leitor no esquece suas prprias dimenses, mas expande as fronteiras do conhecido, que absorve atravs da imaginao, mas decifra por meio do intelecto (ZILBERMAN; SILVA, 1990, p. 19).

A leitura deve ser concebida como um instrumento para responder a necessidade dentro e fora da escola, para se comunicar, para descobrir informaes, para alimentar e estimular o imaginrio, para documentar-se (JOLIBERT, 1994). na medida em que se vive num meio sobre o qual possvel agir, no qual possvel com os outros discutir, decidir, realizar, avaliar, que so criadas as condies mais favorveis ao aprendizado. 2.3 A PRODUO LITERRIA PARA SURDOS Sobre a literatura destinada criana surda trata-se de um tema que comeou a ser discutido recentemente, e ainda muito pouco se tem produzido a respeito do assunto como afirma Apolinrio (2005). Sobre o ensino de literatura h pouqussimas pesquisas, uma delas o trabalho de Carolina Hessel Silveira, Professora de Sinais em escola de Porto Alegre-RS; ela discute sobre as vrias representaes dos surdos contidas nos livros de literatura infantil, a forma como a surdez tratada na literatura para as crianas e o modo como estas obras chegam at elas.2011 Maring-PR

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Outro trabalho o da Professora Lodenir Becker Karnopp do Curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) que promove trabalhos de iniciao cientificas junto aos docentes com deficincia auditivas para a adaptaes de obras clssicas de contos infantis como, por exemplo, Cinderela e Rapunzel as quais foram publicadas em 2003. Embora seja uma adaptao esses clssicos da literatura infantis inauguram uma viso diferente sobre olhar desses indivduos com surdez, o que nos contempla a riqueza das interpretaes que a Arte literria pode proporcionar. Em termos de produo literria infantil, depara-se com um paradoxo; relatouse sobre a escassez de obra a comunidade surda, em contrapartida, para a criana ouvinte a partir do incio do sculo XX a produo literria vem aumentando no somente pelo nmero de obras e o volume das edies, mas pelo interesse das editoras pela literatura infantil. Diante desse contexto, visvel que a literatura infantil a comunidade surda est na fase embrionria. Durante muito tempo no foi disponibilizado a essa comunidade o acesso a leitura infantil, a no ser quando pudesse contar com a ajuda de um intrprete. As duas obras escritas na Lngua de Sinais e com texto em portugus, permite a criana, ler, folhear, contemplar e entender as ilustraes. O poeta alemo Schiller (apud Bettelheim, 1980, p. 14) escreveu H maior significado profundo nos contos de fadas que me contaram na infncia do que na verdade que a vida ensina. Diante desse depoimento, pode-se dizer que muitos jovens, adultos e at mesmo criana, ainda no tiveram a oportunidade de ouvir contos ou mesmo l-los, em virtude da restrita bibliografia voltada comunidade surda. At por que a mensagem diferente, quando o prprio personagem surdo, como no caso da Cinderela Surda e Rapunzel Surda, onde as autoras inserem elementos da cultura e da identidade da comunidade surda. Entretanto como se sabe, os contos de fadas, pode ser lido ou relido em qualquer idade. possvel, portanto pensar nos inmeros trabalhos que a literatura pode produzir com interpretaes que os indivduos dessas comunidades podem desenvolver e enriquecer a cultura das pessoas surdas. No que diz respeito histria das sociedades e as suas formas de representao, a literatura sempre constitui um dado importante para os estudos. J a partir da era primria o homem percebe a necessidade de existir atravs da linguagem, pois, esta o fio condutor de um novo modo de pensar. E a narrativa e2011 Maring-PR

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contos tambm acompanham a evoluo dos indivduos na descoberta do interior e do mundo. A necessidade, portanto, do fantstico e do imaginrio tambm apresentam nestas narrativas que surgem com a profuso de povos. 2.4 A LNGUA DE SINAIS A lngua de sinais praticamente visual e manufaturadora, natural da comunidade surda brasileira. Tem uma gramtica e sintaxe prprias; estrutura-se a partir da viso e do espao. Percebe-se que a Libra um cdigo que faz uso de signos convencionados o que o torna arbitrrio entre significante e significado. Por isso, no se pode considerar os Cdigos de Sinais como uma simples manifestao da lngua, uma vez que ela no esttica tem essas relaes arbitrrias e tambm dispe de consideraes no materiais caractersticos dos signos-smbolos exemplificados em sinais diferentes para designar um verbo. O primeiro material impresso na lngua inglesa apresenta a complexidade desta lngua de sinais. Esse dado tem como registro a data de 1644 (RAMOS, 1995). Mesmo numa poca em que eram raros os estudos sobre o assunto, demonstra o interesse do tema e evidencia uma preocupao com a educao dos surdos. Falar em lnguas de sinais falar da educao de surdos, pois elas vem sendo utilizadas como intermediadoras do saber constitudo da maioria ouvinte. Para Saussure (apud Xavier, 2006), a lngua singular em meio aos demais cdigos lingsticos que so compostos por signos, sendo este ltimo efeito da articulao de suas partes: o significante - a idia material partes limitadas da maneira tnue. No existe significante sem significado, nem significado sem significantes, pois o significante sempre evoca um significado. A cincia que estuda todo e qualquer sistema de signos denominada por Saussure de Semiologia; Pierce a chamou de Semitica (FIORIN, 2002). O signo para Saussure (apud FIORINI, 2002) arbitrrio, e, portanto, cultural; ele repousa numa espcie de acordo coletiva entre os falantes. Ou seja, no se sustenta obrigatoriamente entre o som e o sentido. Na palavra mar, no seu som no h nada que lembre o significado de massas de guas salgadas do globo terrestre, ao passo que se pronunciar a palavra, bruxa, prncipe, j foi convencido socialmente que a bruxa uma pessoa malvada, feia, sem nunca ter avistado uma bruxa. Tanto que pejorativamente, ao elaborar o juzo de valor, de pessoas com caractersticas supostamente semelhantes bruxa, essa pessoa taxada de bruxa. nessa relao arbitrria que2011 Maring-PR

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claramente, acontece nas Libras, fato que a distancia do cnone da linguagem convencional uma vez que o sinal pode representar uma leitura diferente do real objeto que a sinalizao esta representando. O prprio Saussure atenua o princpio de arbitrariedade do signo, fazendo uma distino entre o que absolutamente arbitrrio (som mar) e o que relativamente arbitrrio (um numeral). 2.5 SIMBOLOGIAS DOS CONTOS: CINDERELA SURDA E RAPUNZEL SURDA Antes de abordar a representao simblica dos Contos Cinderela Surda e Rapunzel Surda, ser efetuada uma rpida abordagem sobre a importncia que o conto tem sobre as crianas. Como j dizia Scrates (Bettelheim, 1980, p. 83) ainda existe uma criana dentro do homem sapiente, leituras fantsticas dizem sobre a identificao leitor com o autor podem dizer sobre uma verdade moral tambm Coelho (1987) considera que os contos so plenos de significados, com estrutura simples, histrias claras e personagens bem definidos em suas caractersticas pessoais, eles atingem a mente dos pequenos indivduos alimentando o seu universo criativo e imaginrio da maneira mais rica e eficaz, assim contribui para formao e at para a transformao da personalidade dos pequenos leitores. Nos contos de fadas, as aes desenroladas na narrativa apresentam-se s crianas por meio de smbolos e metfora, com objetivo de representar o real, favorecendo, com maior intensidade, a comunicao daquilo que a histria quer transmitir (OLIVEIRA, 2007). Bettelheim (1980) comenta que Era uma vez [...] num castelo. Num certo pas, H mil anos, implica que vai se tomar conhecimentos de fatos longnquos. Esses incios sugerem que o que se segue no pertence ao aqui agora que ns conhecemos, significa que transportamos para outra realidade espacial que no significa o tempo presente deste leitor. Os contos de fadas tm uma estrutura bsica, envolvendo o incio, ruptura, confronto e superao de obstculos e o desfecho (MATTAR, 2007). O incio caracteriza pelo aparecimento do heri ou da herona (Cinderela e Rapunzel) e do problema que vai desestabilizar a paz inicial (relacionamento com a madrasta); a ruptura, quando o heri vai para o desconhecido (surgimento da figura do prncipe) confronto e a superao quando o heri busca solues fantasiosas (fada e a tranas como escada); a restaurao quando se inicia o processo da descoberta do novo (relacionamento com o prncipe baile de Cinderela e o encontro com o prncipe na torre) e o desfecho o retorno 2011 Maring-PR

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realidade, com a unio dos opostos, iniciando o processo de crescimento e desenvolvimento. Segundo Salvatore (apud Costa, 2009) a obra literria,pessoas metamorfoseadas em animais, animais que falam a linguagem humana, tapetes voadores, cidades fantsticas, amores incrveis situaes paradoxais, sentimentos contraditrios, etc. Mesmo assim a literatura mais realista fruto de imaginao, pois o carter ficcional uma prerrogativa indeclinvel da obra literria. [...] Como o significante lingstico utilizado de um modo diferente, os significados ideolgicos so interpretados sob uma feio toda particular. Ao dar nova vida as palavras, criar o efeito do estranhamento, o poeta obriga o destinatrio da obra literria a pensar na essncia da condio humana, a refletir nos problemas da verdade, da justia, do amor, do tempo, da morte. (grifo nosso).

Os contos de fadas conseguem filtrar o mundo sensvel dos menores que respondem aos estmulos que estas leituras provocam. Descobrir a realidade atravs de reflexes sobre o tudo representado na historia como enredo, heri, antiheri, vilo e etc (AZEVEDO, 2009).O drama existencial aparece logo no comeo das duas histrias, a separao dos pais. Para Bettelheim (1980) a agressividade e descontentamento e rivalidade entre irmos vivenciados nos contos de fadas, tambm permeiam nosso cotidiano. No caso da cinderela que tinha bons motivos para desejar castigar as irms, desejo o contrrio, que elas vo baile. Para as crianas os contos tm um valor especial, em sua estrutura se deparam personagens e situaes que ela consegue identificar com sua realidade e capacidade de processamento cognitivo de figuras, smbolos,signos,verdade e imaginao dentro do fantstico que a leitura proporciona,alem do universo das interpretaes.Para Bettelheim (1980), a criana extrai vises e conceitos diferentes em uma s leitura. As fadas s tm importncia se existir as bruxas (madrasta). Nos contos a bruxa sempre m, e, isso pode amedrontar as crianas; porm, logo, aparece subitamente fada pronta para ajudar. A criana consegue perceber que a fada sempre est preste a ajudar na emergncia. As fadas tm se perpetuado por muitos sculos e ainda hoje so fascinantes, isso se deve ao fato delas serem estereotipadas como bonitas, doces, educadas, com poder mgico e sempre envolvidas no maravilhoso, isso faz com que sejam amadas Por outro lado, as2011 Maring-PR

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bruxas, so feias, ms, figuras grotescas, fazendo com que as crianas sintam repulsas. A bruxa criou Rapunzel, ela simboliza a anttese da me bondosa, representa seu lado ruim, por isso ciumenta e possessiva. O fato de prender Rapunzel na torre pode ser interpretado com inveja, j que Rapunzel era muito bonita, ou, por estar entrado na puberdade e logo iria amadurecer e a bruxa tinha medo de perd-la (ROZA; VELOSO, 2009). O medo de perder os filhos e a super proteo (consciente ou no) so problemas comportamentais tipicamente da sociedade atual, assim como so dos adolescentes, que guardam segredos, fazem algo escondido e encontram seus amores, muitas vezes reprimidos pela famlia. Os comportamentos das heronas em busca de independncia se assemelham. No caso da Cinderela Surda ela empreende fuga para ir ao baile e Rapunzel Surda encontra com prncipe na torre, escondida da madrasta. Sua imaturidade foi revelar sem querer para a bruxa os seus encontros com o prncipe. A revelao do segredo motivou sua sada de casa e corte das tranas. Rapunzel Surda tirada do convvio de seus entes querido pela vil da historia e mantida presa num castelo. Logo o n (problema) inicial do enredo aparece das heronas Cinderela Surda e Rapunzel Surda que vencem os obstculos, seja com a mediao mgica da fada madrinha, ou com a ajuda de um amigo para alcanarem o seu ideal - casar com o prncipe. Aps passar por tanto desgosto a trajetria dos bons personagens comeam a mudar de maneira positiva (satisfatrio). No entanto, preciso ressaltar que no caso da Cinderela, a situao s foi alterada, inicialmente com a ajuda da fada e depois com prncipe. Ela no teve nenhuma iniciativa para modificar sua condio de pobre, humilhada. Situao idntica a da Rapunzel que contou com ajuda do prncipe. O prncipe exerce o papel de operador de ascenso social, as heronas entram num universo de elevao e riqueza. Coelho (1987) diz, que os contos de fadas so narrativas que giram em torno de uma problemtica espiritual, tica e existencial, ligada realizao por dentro de cada ser atravs do amor. Portanto o encontro torna-se destaque na historia, o enlace entre seres nobres, apaixonados, posterior s vitorias conquistadas das lutas com os viles do enredo. Na seqncia inicial dos contos observa se diferentes propsitos, Cinderela Surda querendo ir ao baile e Rapunzel querendo fugir da madrasta, ambas deparase com o prncipe, ou seja, o investimento semntico o mesmo, e o estado final2011 Maring-PR

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ser idntico. Vale lembrar que esta se referindo a personagens que so surdos. Desta forma, todo enredo facilitando pela comunicao da lngua de sinais. E preciso assinalar que a linguagem no verbal carrega um ou mais significados importantes para compreenso da imagem. Segundo Cagnetti (1986), em ambos os casos o prncipe estava disjunto da herona, acabando conjunto atravs do casamento. Nesses casos, o fazer-querer, o casamento coube as heronas despertarem a paixo nos prncipes atravs da seduo e o prncipe sujeito virtual de poder exerce o papel do fazer-transformador. A prova (uma espcie de identificao, reconhecimento) para que concretizar a transformao foi luva corde-rosa da Cinderela Surda e as tranas de Rapunzel Surda. Os contos tradicionais de Cinderela, os contos destas obras permaneceram atravs das tradies de contar historias por anos a fios.Em Cinderela Surda e Rapunzel Surda encontra-se uma adaptao realizada pelos prprios surdos, uma histria criada e adaptada ao contexto da comunidade surda.Na pertinncia de pesquisa e analise culturais a adaptao dessas duas historias citadas a um importante fato: os prprios indivduos com surdez visitam estes contos.Estas historias possuem uma forte presena do grupo de pessoas surdas,revela-se a incluso social nesta representatividade na narrativa da Cinderela Surda esta ambientada toda a dificuldades de toda comunicao desses indivduos e de se fazerem compreendidos atravs das lnguas de sinais.A historia mostra o drama que Cinderela tinha para ser entendidas por suas irms e madrastas. Se educao e a socializao comeam pelo grupo familiar, esse grupo exerce papel fundamental na relao entre ouvinte e no ouvinte, a famlia necessita aprender a lngua de sinais para acompanhar o desenvolvimento da criana surda. Nos contos analisados foi percebida essa dificuldade. Nestes contos pode se analisar a forma delicada que a cultura surda proposta nesta narrativa: ao invs dos sapatinhos de cristais, Cinderela ganha luvas cor de rosas para que assim se reconhea o habito visual que os surdos tem de se comunicarem com os demais fazendo sinais de sua linguagem. H uma substituio dos sapatinhos de vidro dos contos tradicionais para as luvas rosa. Por que no outro objeto ao invs da luva? Simplesmente porque a luva vem a ser um smbolo da cultura surda que representada pelas mos. Para Xavier (2006) o intuito de adaptar a mensagem de Cinderela para a realidade dos surdos, a significao dos smbolos foi mexida para dar maior aproximao da histria com o prprio leito. Os2011 Maring-PR

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signos esto intactos o que mudou foram seus significantes e alguns de seus significados. No caso, esquecer um sapato, no chamaria tanto a ateno de uma platia surda. Mas, esquecer com o prncipe surdo um acessrio que se usa nas mos atraem a ateno dos indivduos surdos.[...] no chore querida, sou uma fada e quer ajud-la. Voc vai ao baile com roupa bonita, com luvas rosa, em uma linda carruagem com condutor disse a fada, em sinais, para a Cinderela. [...] De repente, Cinderela olhou para o relgio e saiu correndo [...] O prncipe segurou sua mo e ficou com uma luva [...] (SILVEIRA; ROSA; KARNOPP, 2005, p.18, 24).

Entretanto, na verso tradicional da Cinderela, se abstrasse do enredo a o sapatinho de cristal, a histria no teria sentido, a procura do p que coubesse no sapato foi o que criou toda fantasia e at mesmo suspense. importante observar que os contos de fada atribuem um grande valor s aparncias, a Cinderela ser sempre bela em seu vestido mgico, o que a torna a mais perfeita criatura humana, predomina como uma fonte de fascinao no imaginrio das crianas. Do mesmo modo, dada grande nfase a teoria do casamento perfeito, o que muitas vezes contesta a realidade social, no entanto, essa teoria de perfeio permeia o imaginrio. Diferente da obra tradicional Rapunzel surda ilustra signos visuais os quais estaro retinindo ao longo da obra caracterizada. O universo cultural dos surdos so surpreendentemente remetidos em episdios como quando o prncipe despenca do castelo e perde a memria: ainda sim ele se comunica por sinais. Nas ruas da cidade, a bela princesa caminhando viu o prncipe e se recorda e corre ao encontro dele num abrao. A narrativa revisitada dos clssicos foi produzidas por indivduos surdos, porm profissionais em arte literria ilustraram esta releitura com contexto direcionados a cultura dos surdos.Houve uma preocupao em apresentar, no apenas um trabalho de adaptao, mas um novo contexto para os contos de fadas, que podem ser lidos tanto por surdos como por ouvintes. Olhando os dois contos, por ngulos diferentes, abstrair se duas abordagens, Cinderela Surda e Rapunzel Surda, pelo fato de desejarem o casamento, significou maturidade e independncia. Entretanto, ser que o casamento foi facilitado justamente por que o prncipe era surdo, ou por que estava apaixonada mesmo, ou ainda, por que queria sua2011 Maring-PR

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independncia e com isso livrar-se da madrasta. Sem inteno de criticar o contedo do enredo que justamente apresentar personagens surdos, fica uma lacuna, se o prncipe no fosse surdo haveria o casamento. Caso contrrio, os prprios personagens esto auto excluindo. Viajar pelo mundo da fantasia assim mesmo, cada qual tem sua interpretao. 3. CONSIDERAES FINAIS Os contos de fadas constituem um gnero literrio voltado ao mundo infantil, no entanto, tem servido de embasamento de estudo no campo da psicologia, filosofia, da sociologia, da antropologia, da educao, inclusive comunidade surda. por meio da lngua de sinas e de outras ferramentas comunicativas especiais, corporais e visuais que o surdo firma sua identidade e desenvolve uma cultura prpria.Escolheu se os contos da Cinderela Surda e da Rapunzel Surda que como os prprios ttulos explicitam, tratam de personagens que so surdos e que relacionam com pessoas ouvintes. A obra foi adaptada ao universo do no ouvinte, com escrita em Libras e com texto em Portugus, um dos autores das obras avaliou que por mais fossem narrativas faladas em lngua de sinais, elas chegam at os ouvintes empobrecidos pela traduo fragmentada. Esse estudo buscou analisar presspua que a leitura do fantstico exerce os menores indivduos surdos, j que produo literria para elas deficitria. Por tudo que foi exposto, constatou-se que os contos tm importncia impar a todas as crianas; os dois contos adaptados para a comunidade surda possibilitou a leitura pelos surdos, alm de viabilizar a interao com outros surdos e com os ouvintes. Ou seja, oportunizou aos surdos o prazer da leitura, de viajar no imaginrio e de uma prazerosa atividade ldica. A relevncia dos contos fadas advm de ser um texto que descreve histria como modelos do comportamento humano, dando significao e valor vida. Tornase desnecessrio ressaltar importncia desses contos, pois sua perenidade, por si s, j uma forte argumentao; esse estudo possibilitou reafirma tal constatao. A simbologia dos contos de fadas quando aplicadas a educao, possibilita a criana analisar o discurso que consiste em refletir e observar o que cada personagem transmite, enxergar o sentido do texto, perceber a ironia presente em cada discurso; em fim, qual a sua interpretao e avaliao do conto.. Desse modo, constitui2011 Maring-PR

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excelente recurso lingstico para auxiliar a construo da escrita, da leitura e da comunicao de toda criana ouvinte ou no, alm da funo ldica. Observou-se que os estudiosos apresentaram uma variedade de significados aos contos, conforme seu objeto de estudo; para as crianas leitoras dos contos, esses, ao aguar a fantasia, o imaginrio fornece um leque de interpretaes circunscritas no modo de como a criana v o mundo, constri sua prpria realidade, que pode ser absorvida em valores ticos e morais.Para esse pesquisador tambm no foi diferente. No entanto, ao olhar o contexto violento em que a sociedade est exposta, no preciso haver bruxa, para que haja tanta maldade. Em algumas famlias a figura dos pais se assemelha a da madrasta. Isso nos leva a afirmar que os enredos tratados no fogem muito de nosso cotidiano, obviamente levando se em conta a nossa contextualizao e dos contos. Tambm no significa que a maldade, violncia deve ser aceita como natural, apenas est se transpondo os acontecimentos do mundo mgico para o cotidiano do agora. Acredita-se que o conto da Cinderela Surda e a Rapunzel Surda deixam a seguinte mensagem: que possvel as crianas surdas continuar sinalizando mesmo a onde ningum souber os sinais e mais, que possvel sonhar com casamento, mesmo que o prncipe no aparea. Nossa expectativa que uma compreenso prpria da benfica narrativa fantstica poder influenciar pais e escolas a um novo conceito sobre o exerccio dessas leituras das crianas que tiveram durantes sculos. O adulto de hoje quando ouvia histrias deve se lembrar das frases: Era uma Vez, Num certo Pas H muito tempo.... O anncio dessas frases pairava uma atmosfera de suspense, de ateno, curiosidade e de imaginao que contagia todos os ouvintes, foi um marco na vida das pessoas que at hoje no esquecem, o mesmo percurso deve se trilhado para os pequenos leitores de hoje, ouvinte ou no. 4. REFERNCIAS APOLINRIO, Andra Alssio. O que os surdos e a literatura tm a dizer? uma reflexo sobre o ensino na Escola ANAPACIN do Municpio de Maring/PR. Dissertao de Mestrado (Estudos Literrios). Universidade Estadual de Maring. Maring, 2005. AZEVEDO, Erica do Nascimento. A importncia dos contos de fadas na alfabetizao. Disponvel em: http://www.artigonal.com. Acesso em 24 out. 2009. BETTELHEIM, Bruno. A psicanlise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.2011 Maring-PR

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