mario quintana para uemg

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MARIO QUINTANA De Márcio Vassallo (Jornalista e escritor) SUPLEMENTO DIDÁTICO Elaborado por Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares). O auto-retrato “No retrato que me faço – traço a traço – Às vezes me pinto nuvem Às vezes me pinto árvore... Às vezes me pinto coisas De que nem há mais lembrança... Ou coisas que não existem Mas que um dia existirão... E, desta lida, em que busco – pouco a pouco – Minha eterna semelhança, No final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco!” Mario Quintana O encontro “Subitamente na esquina do poema, duas rimas olham-se, atônitas, comovidas, como duas irmãs desconhecidas...” Mario Quintana

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Page 1: Mario Quintana Para UEMG

MARIO QUINTANA

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De Márcio Vassallo(Jornalista e escritor)

SUPLEMENTO DIDÁTICO

Elaborado por

Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).

POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA?

O auto-retrato

“No retrato que me faço– traço a traço –Às vezes me pinto nuvemÀs vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisasDe que nem há mais lembrança...Ou coisas que não existemMas que um dia existirão...

E, desta lida, em que busco – pouco a pouco –Minha eterna semelhança,

No fi nal, que restará?Um desenho de criança...Corrigido por um louco!”

Mario Quintana

O encontro

“Subitamentena esquina do poema, duas rimasolham-se, atônitas, comovidas,como duas irmãs desconhecidas...”

Mario Quintana

“Jamais compreendereis a terrível simpli-cidade das minhas palavras porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves...”

Mario Quintana

Trabalhar com o poeta Mario Quintana signifi ca entrar em contato com uma poesia extremamente lírica, que, a partir de uma forma simples e despretensiosa, alcança tons universais.

Nos meios acadêmicos criou-se a ima-gem de que só se devem estudar os poetas difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a poesia de Mario Quintana fi cou renegada, por muitos anos, a um segundo plano. Era considerada fácil e acessível aos olhos dos doutores em letras.

O tempo provou o contrário. Sua apa-rente simplicidade formal encobre recursos poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver-bais, além de apresentar soluções rímicas e rítmicas surpreendentes.

A obra multifacetada do poeta não está vinculada a escolas literárias, pois utilizou as

formas clássicas da poesia (como o soneto), mas também lançou mão do verso livre e da prosa.

“Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maio-res poetas de todo o Brasil. (...)

Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’ que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-cora-ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como o vêem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; em resumo, é ter olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. (...)

Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras.

(...) E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores po-etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo”

POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS?

(...)“Que é o Poeta?um homemque trabalha o poemacom o suor de seu rosto.Um homemque tem fomecomo qualquer outrohomem.”

(Poética, Cassiano Ricardo)

Caro colega professor

Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez mais os jovens afastam-se da poesia. Quais seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, mas arriscaremos algumas:

◗ mesmo sem conhecer o texto poético acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa ultrapassada;

◗ ao depararem com as características de tal texto, estranham desde a forma até o conteúdo;

◗ durante a escolaridade entram mais em contato com textos em prosa do que com textos poéticos;

◗ a prosa, menos hermética do que a poesia, é mais fácil de ser compreendida; a poesia, em contrapartida, exige de seu lei-tor um certo esforço para ser decifrada, um mergulhar nas ondas metafóricas.

A partir dessas hipóteses, talvez impo-nha-se uma nova questão: por que o pró-

prio professor de Língua Portuguesa acaba dando mais ênfase ao estudo da prosa em detrimento da poesia?

O poeta José Paulo Paes evidencia a di-ferença entre ensinar prosa, narrativa mais direta, que motiva a identifi cação dos alu-nos através das ações de seus personagens, e poesia, matéria mais apurada, pois a “po-esia tende a chamar a atenção do leitor para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ele fala todos os dias sem se dar conta”.

Esse ir e vir que a poesia exige promove uma ampliação do ato de ler, desencadeia novas posturas diante dos textos. Ao leitor não cabe mais aguardar passivamente os acontecimentos; ao contrário, ele é cha-mado a descobrir os caminhos, construir e reconstruir o poema a cada verso e crescer com ele!

A linguagem poética é gestada e cons-truída de modo muito intenso, muito

condensado, é carregada de signifi cação. É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. É preciso conviver com os seus ritmos, suas pulsações. Conviver com as suas constela-ções de imagens. Com as suas redes de sig-nifi cação. Como diria o mestre Drummond: “Convive com teus poemas, antes de escre-vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam”.

É preciso ler de modo atento, conhecen-do e reconhecendo as dimensões do poema: a dimensão da sonoridade, a das imagens, a dos signifi cados.

A linguagem poética não é linear, unívo-ca, de apenas um signifi cado. Ela tem muitas vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é parte de sua riqueza expressiva.

O leitor de poesia deve desenvolver sensibilidade para leitura dos símbolos, das novas relações sugeridas pelas pala-vras. A cada leitura, o poema se revela novo.

Da humana condição“Custa o rico a entrar no Céu(Afi rma o povo e não erra).Porém muito mais difícilÉ um pobre fi car na terra.”

Provérbio“O seguro morreu de guarda-chuva.”

Dos nossos males“A nós nos bastem nossos próprios ais,Que a ninguém sua cruz é pequenina.Por pior que seja a situação da China,Os nossos calos doem muito mais...”

O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO

Sugerimos que instigue seus alunos apre-sentando alguns textos variados de Mario Quintana, como os que seguem, e deixe que eles conversem livremente sobre suas impressões.

Que haverá no céu?“Se não houver cadeiras de balanço no

Céu... que será da tia Élida, que foi para o Céu?”

Mentira?“A mentira é uma verdade que se esqueceu

de acontecer.”

Carreto“Amar é mudar a alma de casa.”

Da felicidade“Quantas vezes a gente, em busca da

ventura,

Procede tal e qual o avozinho infeliz:Em vão, por toda parte, os óculos procura,Tendo-os na ponta do nariz!”

Da discrição“Não te abras com teu amigoQue ele um outro amigo tem.E o amigo de teu amigoPossui amigos também...”

Da infi el companheira“Como um cego, grita a gente;‘Felicidade, onde estás?’Ou vai-nos andando à frente...Ou fi cou lá para trás...”

Do amoroso esquecimento“Esta vida é uma estranha hospedaria,De onde se parte quase sempre às tontas,Pois nunca as nossas malas estão prontas,E a nossa conta nunca está em dia...”

Horror“Com os seus OO de espanto, seus RR

guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-vra de cabelos em pé, assustada da própria signifi cação.”

Só para si“Dona Cômoda tem três gavetas. E um

ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-chada, egoísta.”

Trabalhe primeiramente com os dados biográfi cos e, posteriormente, com os ex-certos literários e os depoimentos apresen-tados no livro.

✦ 1a etapa do trabalho: dados biográfi cos

Após essa sensibilização, acreditamos que os alunos se encontrem bastante curiosos a respeito da vida desse poeta tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos que a biografi a seja ativamente trabalhada pelos próprios alunos. Você poderá dividir a sala em grupos para que cada um fi que responsável por uma determinada face-ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfi l do poeta, caminho profi ssional, descober-ta do amor etc. Tal classifi cação fi ca a seu critério.

Os grupos devem ler atentamente o tex-to, reconhecer os dados mais importantes do recorte escolhido e organizá-los de ma-neira clara e objetiva, expondo-os, depois, em sala para que os amigos se apropriem do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar quais dados os colegas devem grifar no tex-to, chamar a atenção para as curiosidades etc.

O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO

✦2a etapa do trabalho: excertos poéticos

Continuando a trabalhar com os gru-pos, distribua os excertos da obra do poeta citados no livro, cabendo a cada grupo analisar os textos em sala de aula. Tais poe-mas devem ser lidos em casa, para que essa primeira impressão possibilite uma análise mais apurada em sala de aula. Você poderá, então, conduzir um debate, visando não somente reconhecer as principais caracte-rísticas do autor, tanto na forma emprega-da como nos conteúdos abordados, como também estimular nos alunos o gosto e a curiosidade pela leitura poética!

✦3a etapa do trabalho: depoimentos

Trabalhando com os mesmos grupos ou formando novos, peça que os alunos ana-lisem os depoimentos a respeito de Mario Quintana incluídos no livro a fi m de levantar as principais informações que cada um des-ses depoimentos acrescenta em relação ao perfi l do poeta. No momento da socializa-ção, os grupos devem comparar as análises e acrescentar cada dado novo, de forma que todos, ao fi nal, tenham somado às suas listas as informações relevantes obtidas por meio dos depoimentos.

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MARIO QUINTANA

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De Márcio Vassallo(Jornalista e escritor)

SUPLEMENTO DIDÁTICO

Elaborado por

Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).

POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA?

O auto-retrato

“No retrato que me faço– traço a traço –Às vezes me pinto nuvemÀs vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisasDe que nem há mais lembrança...Ou coisas que não existemMas que um dia existirão...

E, desta lida, em que busco – pouco a pouco –Minha eterna semelhança,

No fi nal, que restará?Um desenho de criança...Corrigido por um louco!”

Mario Quintana

O encontro

“Subitamentena esquina do poema, duas rimasolham-se, atônitas, comovidas,como duas irmãs desconhecidas...”

Mario Quintana

“Jamais compreendereis a terrível simpli-cidade das minhas palavras porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves...”

Mario Quintana

Trabalhar com o poeta Mario Quintana signifi ca entrar em contato com uma poesia extremamente lírica, que, a partir de uma forma simples e despretensiosa, alcança tons universais.

Nos meios acadêmicos criou-se a ima-gem de que só se devem estudar os poetas difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a poesia de Mario Quintana fi cou renegada, por muitos anos, a um segundo plano. Era considerada fácil e acessível aos olhos dos doutores em letras.

O tempo provou o contrário. Sua apa-rente simplicidade formal encobre recursos poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver-bais, além de apresentar soluções rímicas e rítmicas surpreendentes.

A obra multifacetada do poeta não está vinculada a escolas literárias, pois utilizou as

formas clássicas da poesia (como o soneto), mas também lançou mão do verso livre e da prosa.

“Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maio-res poetas de todo o Brasil. (...)

Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’ que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-cora-ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como o vêem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; em resumo, é ter olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. (...)

Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras.

(...) E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores po-etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo”

POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS?

(...)“Que é o Poeta?um homemque trabalha o poemacom o suor de seu rosto.Um homemque tem fomecomo qualquer outrohomem.”

(Poética, Cassiano Ricardo)

Caro colega professor

Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez mais os jovens afastam-se da poesia. Quais seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, mas arriscaremos algumas:

◗ mesmo sem conhecer o texto poético acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa ultrapassada;

◗ ao depararem com as características de tal texto, estranham desde a forma até o conteúdo;

◗ durante a escolaridade entram mais em contato com textos em prosa do que com textos poéticos;

◗ a prosa, menos hermética do que a poesia, é mais fácil de ser compreendida; a poesia, em contrapartida, exige de seu lei-tor um certo esforço para ser decifrada, um mergulhar nas ondas metafóricas.

A partir dessas hipóteses, talvez impo-nha-se uma nova questão: por que o pró-

prio professor de Língua Portuguesa acaba dando mais ênfase ao estudo da prosa em detrimento da poesia?

O poeta José Paulo Paes evidencia a di-ferença entre ensinar prosa, narrativa mais direta, que motiva a identifi cação dos alu-nos através das ações de seus personagens, e poesia, matéria mais apurada, pois a “po-esia tende a chamar a atenção do leitor para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ele fala todos os dias sem se dar conta”.

Esse ir e vir que a poesia exige promove uma ampliação do ato de ler, desencadeia novas posturas diante dos textos. Ao leitor não cabe mais aguardar passivamente os acontecimentos; ao contrário, ele é cha-mado a descobrir os caminhos, construir e reconstruir o poema a cada verso e crescer com ele!

A linguagem poética é gestada e cons-truída de modo muito intenso, muito

condensado, é carregada de signifi cação. É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. É preciso conviver com os seus ritmos, suas pulsações. Conviver com as suas constela-ções de imagens. Com as suas redes de sig-nifi cação. Como diria o mestre Drummond: “Convive com teus poemas, antes de escre-vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam”.

É preciso ler de modo atento, conhecen-do e reconhecendo as dimensões do poema: a dimensão da sonoridade, a das imagens, a dos signifi cados.

A linguagem poética não é linear, unívo-ca, de apenas um signifi cado. Ela tem muitas vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é parte de sua riqueza expressiva.

O leitor de poesia deve desenvolver sensibilidade para leitura dos símbolos, das novas relações sugeridas pelas pala-vras. A cada leitura, o poema se revela novo.

Da humana condição“Custa o rico a entrar no Céu(Afi rma o povo e não erra).Porém muito mais difícilÉ um pobre fi car na terra.”

Provérbio“O seguro morreu de guarda-chuva.”

Dos nossos males“A nós nos bastem nossos próprios ais,Que a ninguém sua cruz é pequenina.Por pior que seja a situação da China,Os nossos calos doem muito mais...”

O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO

Sugerimos que instigue seus alunos apre-sentando alguns textos variados de Mario Quintana, como os que seguem, e deixe que eles conversem livremente sobre suas impressões.

Que haverá no céu?“Se não houver cadeiras de balanço no

Céu... que será da tia Élida, que foi para o Céu?”

Mentira?“A mentira é uma verdade que se esqueceu

de acontecer.”

Carreto“Amar é mudar a alma de casa.”

Da felicidade“Quantas vezes a gente, em busca da

ventura,

Procede tal e qual o avozinho infeliz:Em vão, por toda parte, os óculos procura,Tendo-os na ponta do nariz!”

Da discrição“Não te abras com teu amigoQue ele um outro amigo tem.E o amigo de teu amigoPossui amigos também...”

Da infi el companheira“Como um cego, grita a gente;‘Felicidade, onde estás?’Ou vai-nos andando à frente...Ou fi cou lá para trás...”

Do amoroso esquecimento“Esta vida é uma estranha hospedaria,De onde se parte quase sempre às tontas,Pois nunca as nossas malas estão prontas,E a nossa conta nunca está em dia...”

Horror“Com os seus OO de espanto, seus RR

guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-vra de cabelos em pé, assustada da própria signifi cação.”

Só para si“Dona Cômoda tem três gavetas. E um

ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-chada, egoísta.”

Trabalhe primeiramente com os dados biográfi cos e, posteriormente, com os ex-certos literários e os depoimentos apresen-tados no livro.

✦ 1a etapa do trabalho: dados biográfi cos

Após essa sensibilização, acreditamos que os alunos se encontrem bastante curiosos a respeito da vida desse poeta tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos que a biografi a seja ativamente trabalhada pelos próprios alunos. Você poderá dividir a sala em grupos para que cada um fi que responsável por uma determinada face-ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfi l do poeta, caminho profi ssional, descober-ta do amor etc. Tal classifi cação fi ca a seu critério.

Os grupos devem ler atentamente o tex-to, reconhecer os dados mais importantes do recorte escolhido e organizá-los de ma-neira clara e objetiva, expondo-os, depois, em sala para que os amigos se apropriem do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar quais dados os colegas devem grifar no tex-to, chamar a atenção para as curiosidades etc.

O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO

✦2a etapa do trabalho: excertos poéticos

Continuando a trabalhar com os gru-pos, distribua os excertos da obra do poeta citados no livro, cabendo a cada grupo analisar os textos em sala de aula. Tais poe-mas devem ser lidos em casa, para que essa primeira impressão possibilite uma análise mais apurada em sala de aula. Você poderá, então, conduzir um debate, visando não somente reconhecer as principais caracte-rísticas do autor, tanto na forma emprega-da como nos conteúdos abordados, como também estimular nos alunos o gosto e a curiosidade pela leitura poética!

✦3a etapa do trabalho: depoimentos

Trabalhando com os mesmos grupos ou formando novos, peça que os alunos ana-lisem os depoimentos a respeito de Mario Quintana incluídos no livro a fi m de levantar as principais informações que cada um des-ses depoimentos acrescenta em relação ao perfi l do poeta. No momento da socializa-ção, os grupos devem comparar as análises e acrescentar cada dado novo, de forma que todos, ao fi nal, tenham somado às suas listas as informações relevantes obtidas por meio dos depoimentos.

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MARIO QUINTANA

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De Márcio Vassallo(Jornalista e escritor)

SUPLEMENTO DIDÁTICO

Elaborado por

Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).

POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA?

O auto-retrato

“No retrato que me faço– traço a traço –Às vezes me pinto nuvemÀs vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisasDe que nem há mais lembrança...Ou coisas que não existemMas que um dia existirão...

E, desta lida, em que busco – pouco a pouco –Minha eterna semelhança,

No fi nal, que restará?Um desenho de criança...Corrigido por um louco!”

Mario Quintana

O encontro

“Subitamentena esquina do poema, duas rimasolham-se, atônitas, comovidas,como duas irmãs desconhecidas...”

Mario Quintana

“Jamais compreendereis a terrível simpli-cidade das minhas palavras porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves...”

Mario Quintana

Trabalhar com o poeta Mario Quintana signifi ca entrar em contato com uma poesia extremamente lírica, que, a partir de uma forma simples e despretensiosa, alcança tons universais.

Nos meios acadêmicos criou-se a ima-gem de que só se devem estudar os poetas difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a poesia de Mario Quintana fi cou renegada, por muitos anos, a um segundo plano. Era considerada fácil e acessível aos olhos dos doutores em letras.

O tempo provou o contrário. Sua apa-rente simplicidade formal encobre recursos poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver-bais, além de apresentar soluções rímicas e rítmicas surpreendentes.

A obra multifacetada do poeta não está vinculada a escolas literárias, pois utilizou as

formas clássicas da poesia (como o soneto), mas também lançou mão do verso livre e da prosa.

“Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maio-res poetas de todo o Brasil. (...)

Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’ que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-cora-ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como o vêem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; em resumo, é ter olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. (...)

Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras.

(...) E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores po-etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo”

POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS?

(...)“Que é o Poeta?um homemque trabalha o poemacom o suor de seu rosto.Um homemque tem fomecomo qualquer outrohomem.”

(Poética, Cassiano Ricardo)

Caro colega professor

Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez mais os jovens afastam-se da poesia. Quais seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, mas arriscaremos algumas:

◗ mesmo sem conhecer o texto poético acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa ultrapassada;

◗ ao depararem com as características de tal texto, estranham desde a forma até o conteúdo;

◗ durante a escolaridade entram mais em contato com textos em prosa do que com textos poéticos;

◗ a prosa, menos hermética do que a poesia, é mais fácil de ser compreendida; a poesia, em contrapartida, exige de seu lei-tor um certo esforço para ser decifrada, um mergulhar nas ondas metafóricas.

A partir dessas hipóteses, talvez impo-nha-se uma nova questão: por que o pró-

prio professor de Língua Portuguesa acaba dando mais ênfase ao estudo da prosa em detrimento da poesia?

O poeta José Paulo Paes evidencia a di-ferença entre ensinar prosa, narrativa mais direta, que motiva a identifi cação dos alu-nos através das ações de seus personagens, e poesia, matéria mais apurada, pois a “po-esia tende a chamar a atenção do leitor para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ele fala todos os dias sem se dar conta”.

Esse ir e vir que a poesia exige promove uma ampliação do ato de ler, desencadeia novas posturas diante dos textos. Ao leitor não cabe mais aguardar passivamente os acontecimentos; ao contrário, ele é cha-mado a descobrir os caminhos, construir e reconstruir o poema a cada verso e crescer com ele!

A linguagem poética é gestada e cons-truída de modo muito intenso, muito

condensado, é carregada de signifi cação. É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. É preciso conviver com os seus ritmos, suas pulsações. Conviver com as suas constela-ções de imagens. Com as suas redes de sig-nifi cação. Como diria o mestre Drummond: “Convive com teus poemas, antes de escre-vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam”.

É preciso ler de modo atento, conhecen-do e reconhecendo as dimensões do poema: a dimensão da sonoridade, a das imagens, a dos signifi cados.

A linguagem poética não é linear, unívo-ca, de apenas um signifi cado. Ela tem muitas vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é parte de sua riqueza expressiva.

O leitor de poesia deve desenvolver sensibilidade para leitura dos símbolos, das novas relações sugeridas pelas pala-vras. A cada leitura, o poema se revela novo.

Da humana condição“Custa o rico a entrar no Céu(Afi rma o povo e não erra).Porém muito mais difícilÉ um pobre fi car na terra.”

Provérbio“O seguro morreu de guarda-chuva.”

Dos nossos males“A nós nos bastem nossos próprios ais,Que a ninguém sua cruz é pequenina.Por pior que seja a situação da China,Os nossos calos doem muito mais...”

O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO

Sugerimos que instigue seus alunos apre-sentando alguns textos variados de Mario Quintana, como os que seguem, e deixe que eles conversem livremente sobre suas impressões.

Que haverá no céu?“Se não houver cadeiras de balanço no

Céu... que será da tia Élida, que foi para o Céu?”

Mentira?“A mentira é uma verdade que se esqueceu

de acontecer.”

Carreto“Amar é mudar a alma de casa.”

Da felicidade“Quantas vezes a gente, em busca da

ventura,

Procede tal e qual o avozinho infeliz:Em vão, por toda parte, os óculos procura,Tendo-os na ponta do nariz!”

Da discrição“Não te abras com teu amigoQue ele um outro amigo tem.E o amigo de teu amigoPossui amigos também...”

Da infi el companheira“Como um cego, grita a gente;‘Felicidade, onde estás?’Ou vai-nos andando à frente...Ou fi cou lá para trás...”

Do amoroso esquecimento“Esta vida é uma estranha hospedaria,De onde se parte quase sempre às tontas,Pois nunca as nossas malas estão prontas,E a nossa conta nunca está em dia...”

Horror“Com os seus OO de espanto, seus RR

guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-vra de cabelos em pé, assustada da própria signifi cação.”

Só para si“Dona Cômoda tem três gavetas. E um

ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-chada, egoísta.”

Trabalhe primeiramente com os dados biográfi cos e, posteriormente, com os ex-certos literários e os depoimentos apresen-tados no livro.

✦ 1a etapa do trabalho: dados biográfi cos

Após essa sensibilização, acreditamos que os alunos se encontrem bastante curiosos a respeito da vida desse poeta tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos que a biografi a seja ativamente trabalhada pelos próprios alunos. Você poderá dividir a sala em grupos para que cada um fi que responsável por uma determinada face-ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfi l do poeta, caminho profi ssional, descober-ta do amor etc. Tal classifi cação fi ca a seu critério.

Os grupos devem ler atentamente o tex-to, reconhecer os dados mais importantes do recorte escolhido e organizá-los de ma-neira clara e objetiva, expondo-os, depois, em sala para que os amigos se apropriem do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar quais dados os colegas devem grifar no tex-to, chamar a atenção para as curiosidades etc.

O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO

✦2a etapa do trabalho: excertos poéticos

Continuando a trabalhar com os gru-pos, distribua os excertos da obra do poeta citados no livro, cabendo a cada grupo analisar os textos em sala de aula. Tais poe-mas devem ser lidos em casa, para que essa primeira impressão possibilite uma análise mais apurada em sala de aula. Você poderá, então, conduzir um debate, visando não somente reconhecer as principais caracte-rísticas do autor, tanto na forma emprega-da como nos conteúdos abordados, como também estimular nos alunos o gosto e a curiosidade pela leitura poética!

✦3a etapa do trabalho: depoimentos

Trabalhando com os mesmos grupos ou formando novos, peça que os alunos ana-lisem os depoimentos a respeito de Mario Quintana incluídos no livro a fi m de levantar as principais informações que cada um des-ses depoimentos acrescenta em relação ao perfi l do poeta. No momento da socializa-ção, os grupos devem comparar as análises e acrescentar cada dado novo, de forma que todos, ao fi nal, tenham somado às suas listas as informações relevantes obtidas por meio dos depoimentos.

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MARIO QUINTANA

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De Márcio Vassallo(Jornalista e escritor)

SUPLEMENTO DIDÁTICO

Elaborado por

Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).

POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA?

O auto-retrato

“No retrato que me faço– traço a traço –Às vezes me pinto nuvemÀs vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisasDe que nem há mais lembrança...Ou coisas que não existemMas que um dia existirão...

E, desta lida, em que busco – pouco a pouco –Minha eterna semelhança,

No fi nal, que restará?Um desenho de criança...Corrigido por um louco!”

Mario Quintana

O encontro

“Subitamentena esquina do poema, duas rimasolham-se, atônitas, comovidas,como duas irmãs desconhecidas...”

Mario Quintana

“Jamais compreendereis a terrível simpli-cidade das minhas palavras porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves...”

Mario Quintana

Trabalhar com o poeta Mario Quintana signifi ca entrar em contato com uma poesia extremamente lírica, que, a partir de uma forma simples e despretensiosa, alcança tons universais.

Nos meios acadêmicos criou-se a ima-gem de que só se devem estudar os poetas difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a poesia de Mario Quintana fi cou renegada, por muitos anos, a um segundo plano. Era considerada fácil e acessível aos olhos dos doutores em letras.

O tempo provou o contrário. Sua apa-rente simplicidade formal encobre recursos poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver-bais, além de apresentar soluções rímicas e rítmicas surpreendentes.

A obra multifacetada do poeta não está vinculada a escolas literárias, pois utilizou as

formas clássicas da poesia (como o soneto), mas também lançou mão do verso livre e da prosa.

“Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maio-res poetas de todo o Brasil. (...)

Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’ que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-cora-ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como o vêem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; em resumo, é ter olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. (...)

Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras.

(...) E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores po-etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo”

POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS?

(...)“Que é o Poeta?um homemque trabalha o poemacom o suor de seu rosto.Um homemque tem fomecomo qualquer outrohomem.”

(Poética, Cassiano Ricardo)

Caro colega professor

Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez mais os jovens afastam-se da poesia. Quais seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, mas arriscaremos algumas:

◗ mesmo sem conhecer o texto poético acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa ultrapassada;

◗ ao depararem com as características de tal texto, estranham desde a forma até o conteúdo;

◗ durante a escolaridade entram mais em contato com textos em prosa do que com textos poéticos;

◗ a prosa, menos hermética do que a poesia, é mais fácil de ser compreendida; a poesia, em contrapartida, exige de seu lei-tor um certo esforço para ser decifrada, um mergulhar nas ondas metafóricas.

A partir dessas hipóteses, talvez impo-nha-se uma nova questão: por que o pró-

prio professor de Língua Portuguesa acaba dando mais ênfase ao estudo da prosa em detrimento da poesia?

O poeta José Paulo Paes evidencia a di-ferença entre ensinar prosa, narrativa mais direta, que motiva a identifi cação dos alu-nos através das ações de seus personagens, e poesia, matéria mais apurada, pois a “po-esia tende a chamar a atenção do leitor para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ele fala todos os dias sem se dar conta”.

Esse ir e vir que a poesia exige promove uma ampliação do ato de ler, desencadeia novas posturas diante dos textos. Ao leitor não cabe mais aguardar passivamente os acontecimentos; ao contrário, ele é cha-mado a descobrir os caminhos, construir e reconstruir o poema a cada verso e crescer com ele!

A linguagem poética é gestada e cons-truída de modo muito intenso, muito

condensado, é carregada de signifi cação. É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. É preciso conviver com os seus ritmos, suas pulsações. Conviver com as suas constela-ções de imagens. Com as suas redes de sig-nifi cação. Como diria o mestre Drummond: “Convive com teus poemas, antes de escre-vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam”.

É preciso ler de modo atento, conhecen-do e reconhecendo as dimensões do poema: a dimensão da sonoridade, a das imagens, a dos signifi cados.

A linguagem poética não é linear, unívo-ca, de apenas um signifi cado. Ela tem muitas vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é parte de sua riqueza expressiva.

O leitor de poesia deve desenvolver sensibilidade para leitura dos símbolos, das novas relações sugeridas pelas pala-vras. A cada leitura, o poema se revela novo.

Da humana condição“Custa o rico a entrar no Céu(Afi rma o povo e não erra).Porém muito mais difícilÉ um pobre fi car na terra.”

Provérbio“O seguro morreu de guarda-chuva.”

Dos nossos males“A nós nos bastem nossos próprios ais,Que a ninguém sua cruz é pequenina.Por pior que seja a situação da China,Os nossos calos doem muito mais...”

O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO

Sugerimos que instigue seus alunos apre-sentando alguns textos variados de Mario Quintana, como os que seguem, e deixe que eles conversem livremente sobre suas impressões.

Que haverá no céu?“Se não houver cadeiras de balanço no

Céu... que será da tia Élida, que foi para o Céu?”

Mentira?“A mentira é uma verdade que se esqueceu

de acontecer.”

Carreto“Amar é mudar a alma de casa.”

Da felicidade“Quantas vezes a gente, em busca da

ventura,

Procede tal e qual o avozinho infeliz:Em vão, por toda parte, os óculos procura,Tendo-os na ponta do nariz!”

Da discrição“Não te abras com teu amigoQue ele um outro amigo tem.E o amigo de teu amigoPossui amigos também...”

Da infi el companheira“Como um cego, grita a gente;‘Felicidade, onde estás?’Ou vai-nos andando à frente...Ou fi cou lá para trás...”

Do amoroso esquecimento“Esta vida é uma estranha hospedaria,De onde se parte quase sempre às tontas,Pois nunca as nossas malas estão prontas,E a nossa conta nunca está em dia...”

Horror“Com os seus OO de espanto, seus RR

guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-vra de cabelos em pé, assustada da própria signifi cação.”

Só para si“Dona Cômoda tem três gavetas. E um

ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos, só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-chada, egoísta.”

Trabalhe primeiramente com os dados biográfi cos e, posteriormente, com os ex-certos literários e os depoimentos apresen-tados no livro.

✦ 1a etapa do trabalho: dados biográfi cos

Após essa sensibilização, acreditamos que os alunos se encontrem bastante curiosos a respeito da vida desse poeta tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos que a biografi a seja ativamente trabalhada pelos próprios alunos. Você poderá dividir a sala em grupos para que cada um fi que responsável por uma determinada face-ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfi l do poeta, caminho profi ssional, descober-ta do amor etc. Tal classifi cação fi ca a seu critério.

Os grupos devem ler atentamente o tex-to, reconhecer os dados mais importantes do recorte escolhido e organizá-los de ma-neira clara e objetiva, expondo-os, depois, em sala para que os amigos se apropriem do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar quais dados os colegas devem grifar no tex-to, chamar a atenção para as curiosidades etc.

O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO

✦2a etapa do trabalho: excertos poéticos

Continuando a trabalhar com os gru-pos, distribua os excertos da obra do poeta citados no livro, cabendo a cada grupo analisar os textos em sala de aula. Tais poe-mas devem ser lidos em casa, para que essa primeira impressão possibilite uma análise mais apurada em sala de aula. Você poderá, então, conduzir um debate, visando não somente reconhecer as principais caracte-rísticas do autor, tanto na forma emprega-da como nos conteúdos abordados, como também estimular nos alunos o gosto e a curiosidade pela leitura poética!

✦3a etapa do trabalho: depoimentos

Trabalhando com os mesmos grupos ou formando novos, peça que os alunos ana-lisem os depoimentos a respeito de Mario Quintana incluídos no livro a fi m de levantar as principais informações que cada um des-ses depoimentos acrescenta em relação ao perfi l do poeta. No momento da socializa-ção, os grupos devem comparar as análises e acrescentar cada dado novo, de forma que todos, ao fi nal, tenham somado às suas listas as informações relevantes obtidas por meio dos depoimentos.

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Page 5: Mario Quintana Para UEMG

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✦ Proposta 1

Por meio da leitura dos poemas de Mario Quintana (apresentados no livro e neste su-plemento), os alunos devem perceber que o poeta tanto usou o soneto (medida clássica) como versos livres, pequenas estrofes úni-cas, haicais etc. Toda essa diversifi cação faz de Quintana um poeta gostoso de se ler a qualquer hora e em qualquer situação.

Como afirma Regina Zilbermann em sua introdução à obra Poemas em verso: “É neste sentido que se pode constatar o experimentalismo vigente na poesia dele: serviu a todos os senhores da forma, sem depender de nenhum. E procurou incor-porar a seus poemas três fatores básicos da modernidade, presentes na literatura brasileira atual: humor, coloquialidade da linguagem e brevidade.

Sua visão da realidade pode ser mui-tas vezes nostálgica, porém, quando a apresenta de modo crítico, sua arma pre-dileta é o humor. Com isto, desafi a as insti-tuições e os costumes sociais, quando não o comportamento habitual das pessoas.

Também os temas considerados sérios – como a morte ou o transcurso do tema – perdem esta conotação. Pois Quintana sempre tira da cartola uma sentença fi nal que, ao provocar o riso, suprime a possi-bilidade de uma postura acadêmica ou doutoral perante os acontecimentos ou problemas retratados”.

Os alunos devem analisar as poesias tentando encontrar nelas as características já citadas:

• humor • coloquialidade da linguagem • brevidade • crítica aos costumes sociais • a morte • o tempo

Veja na Antologia de apoio alguns poe-mas que ajudarão nessa atividade.

✦Proposta 2

Conforme registrado no livro, Mario Quintana apresentou uma certa paixão pela também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o coração dele também se derretia pelos si-lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, pelos versos que ela escrevia, pelo modo como ela vivia”.

Sugerimos que os alunos façam uma breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no sentido de perceberem por que essa mulher chegou a impressionar tanto Quintana.

Tal pesquisa poderia visar a apenas al-guns dados a respeito da poeta, tais como:

• onde e quando nasceu • com quem ela se casou • como era seu jeito de ser • quan-tos anos ela tinha quando conheceu o poeta • de quais temas ela tratava em sua poesia •quais afi nidades poéticas ela apresentava em relação à poesia de Mario • quais suas poesias mais conhecidas

✦Proposta 3

“(...) Poeta urbano desde o início, Quin-tana movimenta-se nas pequenas ruas da cidade, surpreendendo-as na inquietação do dia ou no silêncio da noite. Como um hábitat natural, as ruas são o cenário pri-vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter uma sintonia interior com o impressionismo é que o poeta adotará, com freqüência, as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de aliterações e assonâncias, traços que ca-racterizam os sonetos de Quintana como formulações que querem captar cor e mu-sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin-tana. 3. ed. p.16-17.)

A partir dessa forma livre de ser e de escrever, o poeta só poderia mesmo fazer

parte de um movimento tão aberto quanto o Modernismo.

Didaticamente, Mario Quintana se fi lia-ria à segunda fase modernista, do mesmo modo que Drummond, Vinicius, Cecília e outros. Conhecer um pouco mais sobre as características desse período (1930-1945) ajudaria o aluno a perceber a qual fi lão des-se grupo Mario melhor se encaixou.

Conforme registrado no livro, Mario Quintana era querido por muitos outros

escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba-to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Nossa sugestão é que você explore junto a seus alunos os escritores citados, pois, com exceção de Monteiro Lobato, todos os de-mais fi zeram parte do Modernismo brasilei-ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen-to seria muito signifi cativa para um maior entendimento da obra do autor.

Que me importa este quarto, em que desperto

como se despertasse em quarto alheio?Eu olho é o céu! Imensamente perto, o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim, tão perto e tão amigo que pareceum grande olhar azul pousando em mim.

A morte deveria ser assim:um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fi m...”

2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-nos devem ter reparado que Mario Quin-tana trata em seus poemas de inúmeros temas, alguns deles recorrentes. Entre os temas reincidentes, notamos que o autor discorre muito sobre o tempo. Vejamos al-guns exemplos, mas não se esqueça de que há muitos outros!

✦Tema: Tempo

Estou sentado sobre a minha mala“Estou sentado sobre a minha malaNo velho bergantim desmantelado...Quanto tempo, meu Deus, malbaratadoEm tanta inútil, misteriosa escala!

Joguei a minha bússola quebradaÀs águas fundas... E afi nal sem norte,Como o velho Simbad de alma cansadaEu nada mais desejo, nem a morte...

Delícia de fi car deitado ao fundoDo barco, a vos olhar, velas paradas!Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo

Pra que partir? Sempre se chega, enfi m...Pra que seguir empós das alvoradasSe, por si mesmas, elas vêm a mim?”

✦Tema: Morte

O morto“Eu estava dormindo e me acordaramE me encontrei, assim, num mundo estranho

e louco...

E quando eu começava a compreendê-loUm pouco,Já eram horas de dormir de novo!”

Quando eu morrer“Quando eu morrer e no frescor de lua Da casa nova me quedar a sós, Deixai-me em paz na minha quieta rua... Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é fi car com alguns poemas tortos Que andei tentando endireitar em vão... Que linda a Eternidade, amigos mortos, Para as torturas lentas da Expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas, Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, Mais o rir das primeiras namoradas...

E um dia a morte há de fi tar com espanto Os fi os de vida que eu urdi, cantando, Na orla negra do seu negro manto...”

Da viuvez“Ele está morto. Ela, aos ais.Mas, neste lúgubre assunto,Quem fi ca viúvo é o defunto...Porque esse não casa mais.”

Da morte“Um dia... pronto!... me acabo.Pois seja o que tem de ser.Morrer, que me importa?... O diabo É deixar de viver!”

✦Temas variados: Humor / Ironia

Clarividência“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.”

Simultaneidade“– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!– Você é louco?– Não, sou poeta.”

A coisa “A gente pensa uma coisa, acaba escre-

vendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfi ar que não foi propriamente dita.”

Da preguiça“A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-mem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”

Tique-taque“Mera ilusão auditiva graças à qual a gente ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-que’... Depois disso, como acreditar nos reló-gios? Ou na gente?”

O incorrigível“O fantasma é um exibicionista póstumo.”

Cartaz para uma feira de livro“Os verdadeiros analfabetos são os que apren-deram a ler e não lêem.”

O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO

ANTOLOGIA DE APOIO1. Acrescentaremos a seguir alguns poe-

mas que foram citados parcialmente no livro e alguns que se encaixam exatamente no que foi dito em determinado momento.

Página 4 – “E a expectativa de uma emo-ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor do susto é esperar por ele’, disse o autor em um verso.”

Pés de fora“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas.Cada vez que um rato corre mais depressa,

ela tapa a cabeça. Mas fi ca com os pés de fora.É o medo ridículo, tocante, desamparado,

o medo de pés de fora. Se eu fosse fantasma, eu... Não, não lhe faria nada: o melhor do susto

é esperar por ele.”

Página 11 – “Introvertido e indisciplina-do, Mario tinha muita difi culdade para se enquadrar na escola.”

Poema“Oh! aquele menininho que dizia‘Fessora, eu posso ir lá fora?’mas apenas fi cava um momentobebendo o vento azul...Agora não preciso pedir licença a ninguém.

Mesmo porque não existe paisagem lá fora:somente cimento.

O vento não mais me fareja a face comoum cão amigo...

Mas o azul irreversível persiste em meusolhos.”

Página 22 – “Balançado por uma sensibi-lidade desembestada, Mario Quintana via poesia em tudo quanto era objeto. Até nas coisas que ele não gostava. E o Mario não gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, telefones...”

Objetos perdidos“Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão

parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões que se desprenderam? E as pastas de papéis, os estojos de pincenê, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas econo-mias, aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis des-se planeta misterioso e amigo.”

Página 50 – “O tempo realmente foi se-guindo em frente, sem pedir licença, como sempre.”

Este quarto“Este quarto de enfermo, tão deserto de tudo, pois nem livros eu já leioe a própria vida eu a deixei no meio como um romance que fi casse aberto...

GLOSSÁRIO

Modernismo Calcado no clima nacionalis-ta de mudanças sociais e no projeto estético das Vanguardas Européias, o Modernismo brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor-ço de um grupo de intelectuais brasileiros que idealizou e realizou a Semana de Arte Moderna, evento que tornou pública essa nova maneira de pensar o passado, o pre-sente e o futuro da política, da sociedade, da economia e, sobretudo, da cultura bra-sileira.

Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Chamada fase heróica, seria caracterizada como um “período de destruição” preocu-pado em difundir as novas idéias e criticar de forma violenta a literatura tradicionalis-ta. Principais representantes: Oswald de An-drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Antonio de Alcântara Machado.

Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) “Período de construção” em que se consoli-dam os ideais modernistas da fase anterior. Os escritores dessa fase apresentam em suas obras uma grande preocupação com os

problemas sociais de seu tempo. Principais representantes: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Erico Verissimo.

INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS TEMAS TRABALHADOS

JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo: Moderna, 1999.

MEIRELES, Cecília. As palavras voam (antologia poética com organização de Bar-tolomeu Campos de Queirós). São Paulo: Moderna, 2005.

QUINTANA, Mario. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

_________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-derna, 2003.

_________. Os melhores poemas de Mario Quintana. São Paulo: Global, 1996.

_________. Pé de pilão. São Paulo: Ática, 1996.

_________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-neiro: Globo, 1983.

_________. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1998.

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✦ Proposta 1

Por meio da leitura dos poemas de Mario Quintana (apresentados no livro e neste su-plemento), os alunos devem perceber que o poeta tanto usou o soneto (medida clássica) como versos livres, pequenas estrofes úni-cas, haicais etc. Toda essa diversifi cação faz de Quintana um poeta gostoso de se ler a qualquer hora e em qualquer situação.

Como afirma Regina Zilbermann em sua introdução à obra Poemas em verso: “É neste sentido que se pode constatar o experimentalismo vigente na poesia dele: serviu a todos os senhores da forma, sem depender de nenhum. E procurou incor-porar a seus poemas três fatores básicos da modernidade, presentes na literatura brasileira atual: humor, coloquialidade da linguagem e brevidade.

Sua visão da realidade pode ser mui-tas vezes nostálgica, porém, quando a apresenta de modo crítico, sua arma pre-dileta é o humor. Com isto, desafi a as insti-tuições e os costumes sociais, quando não o comportamento habitual das pessoas.

Também os temas considerados sérios – como a morte ou o transcurso do tema – perdem esta conotação. Pois Quintana sempre tira da cartola uma sentença fi nal que, ao provocar o riso, suprime a possi-bilidade de uma postura acadêmica ou doutoral perante os acontecimentos ou problemas retratados”.

Os alunos devem analisar as poesias tentando encontrar nelas as características já citadas:

• humor • coloquialidade da linguagem • brevidade • crítica aos costumes sociais • a morte • o tempo

Veja na Antologia de apoio alguns poe-mas que ajudarão nessa atividade.

✦Proposta 2

Conforme registrado no livro, Mario Quintana apresentou uma certa paixão pela também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o coração dele também se derretia pelos si-lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, pelos versos que ela escrevia, pelo modo como ela vivia”.

Sugerimos que os alunos façam uma breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no sentido de perceberem por que essa mulher chegou a impressionar tanto Quintana.

Tal pesquisa poderia visar a apenas al-guns dados a respeito da poeta, tais como:

• onde e quando nasceu • com quem ela se casou • como era seu jeito de ser • quan-tos anos ela tinha quando conheceu o poeta • de quais temas ela tratava em sua poesia •quais afi nidades poéticas ela apresentava em relação à poesia de Mario • quais suas poesias mais conhecidas

✦Proposta 3

“(...) Poeta urbano desde o início, Quin-tana movimenta-se nas pequenas ruas da cidade, surpreendendo-as na inquietação do dia ou no silêncio da noite. Como um hábitat natural, as ruas são o cenário pri-vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter uma sintonia interior com o impressionismo é que o poeta adotará, com freqüência, as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de aliterações e assonâncias, traços que ca-racterizam os sonetos de Quintana como formulações que querem captar cor e mu-sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin-tana. 3. ed. p.16-17.)

A partir dessa forma livre de ser e de escrever, o poeta só poderia mesmo fazer

parte de um movimento tão aberto quanto o Modernismo.

Didaticamente, Mario Quintana se fi lia-ria à segunda fase modernista, do mesmo modo que Drummond, Vinicius, Cecília e outros. Conhecer um pouco mais sobre as características desse período (1930-1945) ajudaria o aluno a perceber a qual fi lão des-se grupo Mario melhor se encaixou.

Conforme registrado no livro, Mario Quintana era querido por muitos outros

escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba-to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Nossa sugestão é que você explore junto a seus alunos os escritores citados, pois, com exceção de Monteiro Lobato, todos os de-mais fi zeram parte do Modernismo brasilei-ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen-to seria muito signifi cativa para um maior entendimento da obra do autor.

Que me importa este quarto, em que desperto

como se despertasse em quarto alheio?Eu olho é o céu! Imensamente perto, o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim, tão perto e tão amigo que pareceum grande olhar azul pousando em mim.

A morte deveria ser assim:um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fi m...”

2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-nos devem ter reparado que Mario Quin-tana trata em seus poemas de inúmeros temas, alguns deles recorrentes. Entre os temas reincidentes, notamos que o autor discorre muito sobre o tempo. Vejamos al-guns exemplos, mas não se esqueça de que há muitos outros!

✦Tema: Tempo

Estou sentado sobre a minha mala“Estou sentado sobre a minha malaNo velho bergantim desmantelado...Quanto tempo, meu Deus, malbaratadoEm tanta inútil, misteriosa escala!

Joguei a minha bússola quebradaÀs águas fundas... E afi nal sem norte,Como o velho Simbad de alma cansadaEu nada mais desejo, nem a morte...

Delícia de fi car deitado ao fundoDo barco, a vos olhar, velas paradas!Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo

Pra que partir? Sempre se chega, enfi m...Pra que seguir empós das alvoradasSe, por si mesmas, elas vêm a mim?”

✦Tema: Morte

O morto“Eu estava dormindo e me acordaramE me encontrei, assim, num mundo estranho

e louco...

E quando eu começava a compreendê-loUm pouco,Já eram horas de dormir de novo!”

Quando eu morrer“Quando eu morrer e no frescor de lua Da casa nova me quedar a sós, Deixai-me em paz na minha quieta rua... Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é fi car com alguns poemas tortos Que andei tentando endireitar em vão... Que linda a Eternidade, amigos mortos, Para as torturas lentas da Expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas, Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, Mais o rir das primeiras namoradas...

E um dia a morte há de fi tar com espanto Os fi os de vida que eu urdi, cantando, Na orla negra do seu negro manto...”

Da viuvez“Ele está morto. Ela, aos ais.Mas, neste lúgubre assunto,Quem fi ca viúvo é o defunto...Porque esse não casa mais.”

Da morte“Um dia... pronto!... me acabo.Pois seja o que tem de ser.Morrer, que me importa?... O diabo É deixar de viver!”

✦Temas variados: Humor / Ironia

Clarividência“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.”

Simultaneidade“– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!– Você é louco?– Não, sou poeta.”

A coisa “A gente pensa uma coisa, acaba escre-

vendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfi ar que não foi propriamente dita.”

Da preguiça“A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-mem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”

Tique-taque“Mera ilusão auditiva graças à qual a gente ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-que’... Depois disso, como acreditar nos reló-gios? Ou na gente?”

O incorrigível“O fantasma é um exibicionista póstumo.”

Cartaz para uma feira de livro“Os verdadeiros analfabetos são os que apren-deram a ler e não lêem.”

O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO

ANTOLOGIA DE APOIO1. Acrescentaremos a seguir alguns poe-

mas que foram citados parcialmente no livro e alguns que se encaixam exatamente no que foi dito em determinado momento.

Página 4 – “E a expectativa de uma emo-ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor do susto é esperar por ele’, disse o autor em um verso.”

Pés de fora“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas.Cada vez que um rato corre mais depressa,

ela tapa a cabeça. Mas fi ca com os pés de fora.É o medo ridículo, tocante, desamparado,

o medo de pés de fora. Se eu fosse fantasma, eu... Não, não lhe faria nada: o melhor do susto

é esperar por ele.”

Página 11 – “Introvertido e indisciplina-do, Mario tinha muita difi culdade para se enquadrar na escola.”

Poema“Oh! aquele menininho que dizia‘Fessora, eu posso ir lá fora?’mas apenas fi cava um momentobebendo o vento azul...Agora não preciso pedir licença a ninguém.

Mesmo porque não existe paisagem lá fora:somente cimento.

O vento não mais me fareja a face comoum cão amigo...

Mas o azul irreversível persiste em meusolhos.”

Página 22 – “Balançado por uma sensibi-lidade desembestada, Mario Quintana via poesia em tudo quanto era objeto. Até nas coisas que ele não gostava. E o Mario não gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, telefones...”

Objetos perdidos“Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão

parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões que se desprenderam? E as pastas de papéis, os estojos de pincenê, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas econo-mias, aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis des-se planeta misterioso e amigo.”

Página 50 – “O tempo realmente foi se-guindo em frente, sem pedir licença, como sempre.”

Este quarto“Este quarto de enfermo, tão deserto de tudo, pois nem livros eu já leioe a própria vida eu a deixei no meio como um romance que fi casse aberto...

GLOSSÁRIO

Modernismo Calcado no clima nacionalis-ta de mudanças sociais e no projeto estético das Vanguardas Européias, o Modernismo brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor-ço de um grupo de intelectuais brasileiros que idealizou e realizou a Semana de Arte Moderna, evento que tornou pública essa nova maneira de pensar o passado, o pre-sente e o futuro da política, da sociedade, da economia e, sobretudo, da cultura bra-sileira.

Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Chamada fase heróica, seria caracterizada como um “período de destruição” preocu-pado em difundir as novas idéias e criticar de forma violenta a literatura tradicionalis-ta. Principais representantes: Oswald de An-drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Antonio de Alcântara Machado.

Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) “Período de construção” em que se consoli-dam os ideais modernistas da fase anterior. Os escritores dessa fase apresentam em suas obras uma grande preocupação com os

problemas sociais de seu tempo. Principais representantes: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Erico Verissimo.

INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS TEMAS TRABALHADOS

JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo: Moderna, 1999.

MEIRELES, Cecília. As palavras voam (antologia poética com organização de Bar-tolomeu Campos de Queirós). São Paulo: Moderna, 2005.

QUINTANA, Mario. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

_________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-derna, 2003.

_________. Os melhores poemas de Mario Quintana. São Paulo: Global, 1996.

_________. Pé de pilão. São Paulo: Ática, 1996.

_________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-neiro: Globo, 1983.

_________. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1998.

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✦ Proposta 1

Por meio da leitura dos poemas de Mario Quintana (apresentados no livro e neste su-plemento), os alunos devem perceber que o poeta tanto usou o soneto (medida clássica) como versos livres, pequenas estrofes úni-cas, haicais etc. Toda essa diversifi cação faz de Quintana um poeta gostoso de se ler a qualquer hora e em qualquer situação.

Como afirma Regina Zilbermann em sua introdução à obra Poemas em verso: “É neste sentido que se pode constatar o experimentalismo vigente na poesia dele: serviu a todos os senhores da forma, sem depender de nenhum. E procurou incor-porar a seus poemas três fatores básicos da modernidade, presentes na literatura brasileira atual: humor, coloquialidade da linguagem e brevidade.

Sua visão da realidade pode ser mui-tas vezes nostálgica, porém, quando a apresenta de modo crítico, sua arma pre-dileta é o humor. Com isto, desafi a as insti-tuições e os costumes sociais, quando não o comportamento habitual das pessoas.

Também os temas considerados sérios – como a morte ou o transcurso do tema – perdem esta conotação. Pois Quintana sempre tira da cartola uma sentença fi nal que, ao provocar o riso, suprime a possi-bilidade de uma postura acadêmica ou doutoral perante os acontecimentos ou problemas retratados”.

Os alunos devem analisar as poesias tentando encontrar nelas as características já citadas:

• humor • coloquialidade da linguagem • brevidade • crítica aos costumes sociais • a morte • o tempo

Veja na Antologia de apoio alguns poe-mas que ajudarão nessa atividade.

✦Proposta 2

Conforme registrado no livro, Mario Quintana apresentou uma certa paixão pela também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o coração dele também se derretia pelos si-lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, pelos versos que ela escrevia, pelo modo como ela vivia”.

Sugerimos que os alunos façam uma breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no sentido de perceberem por que essa mulher chegou a impressionar tanto Quintana.

Tal pesquisa poderia visar a apenas al-guns dados a respeito da poeta, tais como:

• onde e quando nasceu • com quem ela se casou • como era seu jeito de ser • quan-tos anos ela tinha quando conheceu o poeta • de quais temas ela tratava em sua poesia •quais afi nidades poéticas ela apresentava em relação à poesia de Mario • quais suas poesias mais conhecidas

✦Proposta 3

“(...) Poeta urbano desde o início, Quin-tana movimenta-se nas pequenas ruas da cidade, surpreendendo-as na inquietação do dia ou no silêncio da noite. Como um hábitat natural, as ruas são o cenário pri-vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter uma sintonia interior com o impressionismo é que o poeta adotará, com freqüência, as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de aliterações e assonâncias, traços que ca-racterizam os sonetos de Quintana como formulações que querem captar cor e mu-sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin-tana. 3. ed. p.16-17.)

A partir dessa forma livre de ser e de escrever, o poeta só poderia mesmo fazer

parte de um movimento tão aberto quanto o Modernismo.

Didaticamente, Mario Quintana se fi lia-ria à segunda fase modernista, do mesmo modo que Drummond, Vinicius, Cecília e outros. Conhecer um pouco mais sobre as características desse período (1930-1945) ajudaria o aluno a perceber a qual fi lão des-se grupo Mario melhor se encaixou.

Conforme registrado no livro, Mario Quintana era querido por muitos outros

escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba-to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Nossa sugestão é que você explore junto a seus alunos os escritores citados, pois, com exceção de Monteiro Lobato, todos os de-mais fi zeram parte do Modernismo brasilei-ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen-to seria muito signifi cativa para um maior entendimento da obra do autor.

Que me importa este quarto, em que desperto

como se despertasse em quarto alheio?Eu olho é o céu! Imensamente perto, o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim, tão perto e tão amigo que pareceum grande olhar azul pousando em mim.

A morte deveria ser assim:um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fi m...”

2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-nos devem ter reparado que Mario Quin-tana trata em seus poemas de inúmeros temas, alguns deles recorrentes. Entre os temas reincidentes, notamos que o autor discorre muito sobre o tempo. Vejamos al-guns exemplos, mas não se esqueça de que há muitos outros!

✦Tema: Tempo

Estou sentado sobre a minha mala“Estou sentado sobre a minha malaNo velho bergantim desmantelado...Quanto tempo, meu Deus, malbaratadoEm tanta inútil, misteriosa escala!

Joguei a minha bússola quebradaÀs águas fundas... E afi nal sem norte,Como o velho Simbad de alma cansadaEu nada mais desejo, nem a morte...

Delícia de fi car deitado ao fundoDo barco, a vos olhar, velas paradas!Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo

Pra que partir? Sempre se chega, enfi m...Pra que seguir empós das alvoradasSe, por si mesmas, elas vêm a mim?”

✦Tema: Morte

O morto“Eu estava dormindo e me acordaramE me encontrei, assim, num mundo estranho

e louco...

E quando eu começava a compreendê-loUm pouco,Já eram horas de dormir de novo!”

Quando eu morrer“Quando eu morrer e no frescor de lua Da casa nova me quedar a sós, Deixai-me em paz na minha quieta rua... Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é fi car com alguns poemas tortos Que andei tentando endireitar em vão... Que linda a Eternidade, amigos mortos, Para as torturas lentas da Expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas, Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, Mais o rir das primeiras namoradas...

E um dia a morte há de fi tar com espanto Os fi os de vida que eu urdi, cantando, Na orla negra do seu negro manto...”

Da viuvez“Ele está morto. Ela, aos ais.Mas, neste lúgubre assunto,Quem fi ca viúvo é o defunto...Porque esse não casa mais.”

Da morte“Um dia... pronto!... me acabo.Pois seja o que tem de ser.Morrer, que me importa?... O diabo É deixar de viver!”

✦Temas variados: Humor / Ironia

Clarividência“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.”

Simultaneidade“– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!– Você é louco?– Não, sou poeta.”

A coisa “A gente pensa uma coisa, acaba escre-

vendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfi ar que não foi propriamente dita.”

Da preguiça“A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-mem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”

Tique-taque“Mera ilusão auditiva graças à qual a gente ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-que’... Depois disso, como acreditar nos reló-gios? Ou na gente?”

O incorrigível“O fantasma é um exibicionista póstumo.”

Cartaz para uma feira de livro“Os verdadeiros analfabetos são os que apren-deram a ler e não lêem.”

O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO

ANTOLOGIA DE APOIO1. Acrescentaremos a seguir alguns poe-

mas que foram citados parcialmente no livro e alguns que se encaixam exatamente no que foi dito em determinado momento.

Página 4 – “E a expectativa de uma emo-ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor do susto é esperar por ele’, disse o autor em um verso.”

Pés de fora“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas.Cada vez que um rato corre mais depressa,

ela tapa a cabeça. Mas fi ca com os pés de fora.É o medo ridículo, tocante, desamparado,

o medo de pés de fora. Se eu fosse fantasma, eu... Não, não lhe faria nada: o melhor do susto

é esperar por ele.”

Página 11 – “Introvertido e indisciplina-do, Mario tinha muita difi culdade para se enquadrar na escola.”

Poema“Oh! aquele menininho que dizia‘Fessora, eu posso ir lá fora?’mas apenas fi cava um momentobebendo o vento azul...Agora não preciso pedir licença a ninguém.

Mesmo porque não existe paisagem lá fora:somente cimento.

O vento não mais me fareja a face comoum cão amigo...

Mas o azul irreversível persiste em meusolhos.”

Página 22 – “Balançado por uma sensibi-lidade desembestada, Mario Quintana via poesia em tudo quanto era objeto. Até nas coisas que ele não gostava. E o Mario não gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, telefones...”

Objetos perdidos“Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão

parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões que se desprenderam? E as pastas de papéis, os estojos de pincenê, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas econo-mias, aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis des-se planeta misterioso e amigo.”

Página 50 – “O tempo realmente foi se-guindo em frente, sem pedir licença, como sempre.”

Este quarto“Este quarto de enfermo, tão deserto de tudo, pois nem livros eu já leioe a própria vida eu a deixei no meio como um romance que fi casse aberto...

GLOSSÁRIO

Modernismo Calcado no clima nacionalis-ta de mudanças sociais e no projeto estético das Vanguardas Européias, o Modernismo brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor-ço de um grupo de intelectuais brasileiros que idealizou e realizou a Semana de Arte Moderna, evento que tornou pública essa nova maneira de pensar o passado, o pre-sente e o futuro da política, da sociedade, da economia e, sobretudo, da cultura bra-sileira.

Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Chamada fase heróica, seria caracterizada como um “período de destruição” preocu-pado em difundir as novas idéias e criticar de forma violenta a literatura tradicionalis-ta. Principais representantes: Oswald de An-drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Antonio de Alcântara Machado.

Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) “Período de construção” em que se consoli-dam os ideais modernistas da fase anterior. Os escritores dessa fase apresentam em suas obras uma grande preocupação com os

problemas sociais de seu tempo. Principais representantes: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Erico Verissimo.

INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS TEMAS TRABALHADOS

JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo: Moderna, 1999.

MEIRELES, Cecília. As palavras voam (antologia poética com organização de Bar-tolomeu Campos de Queirós). São Paulo: Moderna, 2005.

QUINTANA, Mario. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

_________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-derna, 2003.

_________. Os melhores poemas de Mario Quintana. São Paulo: Global, 1996.

_________. Pé de pilão. São Paulo: Ática, 1996.

_________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-neiro: Globo, 1983.

_________. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1998.

Encarte Mario Quintana.indd 2Encarte Mario Quintana.indd 2 6/24/05 2:00:22 PM6/24/05 2:00:22 PM

Page 8: Mario Quintana Para UEMG

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✦ Proposta 1

Por meio da leitura dos poemas de Mario Quintana (apresentados no livro e neste su-plemento), os alunos devem perceber que o poeta tanto usou o soneto (medida clássica) como versos livres, pequenas estrofes úni-cas, haicais etc. Toda essa diversifi cação faz de Quintana um poeta gostoso de se ler a qualquer hora e em qualquer situação.

Como afirma Regina Zilbermann em sua introdução à obra Poemas em verso: “É neste sentido que se pode constatar o experimentalismo vigente na poesia dele: serviu a todos os senhores da forma, sem depender de nenhum. E procurou incor-porar a seus poemas três fatores básicos da modernidade, presentes na literatura brasileira atual: humor, coloquialidade da linguagem e brevidade.

Sua visão da realidade pode ser mui-tas vezes nostálgica, porém, quando a apresenta de modo crítico, sua arma pre-dileta é o humor. Com isto, desafi a as insti-tuições e os costumes sociais, quando não o comportamento habitual das pessoas.

Também os temas considerados sérios – como a morte ou o transcurso do tema – perdem esta conotação. Pois Quintana sempre tira da cartola uma sentença fi nal que, ao provocar o riso, suprime a possi-bilidade de uma postura acadêmica ou doutoral perante os acontecimentos ou problemas retratados”.

Os alunos devem analisar as poesias tentando encontrar nelas as características já citadas:

• humor • coloquialidade da linguagem • brevidade • crítica aos costumes sociais • a morte • o tempo

Veja na Antologia de apoio alguns poe-mas que ajudarão nessa atividade.

✦Proposta 2

Conforme registrado no livro, Mario Quintana apresentou uma certa paixão pela também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o coração dele também se derretia pelos si-lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, pelos versos que ela escrevia, pelo modo como ela vivia”.

Sugerimos que os alunos façam uma breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no sentido de perceberem por que essa mulher chegou a impressionar tanto Quintana.

Tal pesquisa poderia visar a apenas al-guns dados a respeito da poeta, tais como:

• onde e quando nasceu • com quem ela se casou • como era seu jeito de ser • quan-tos anos ela tinha quando conheceu o poeta • de quais temas ela tratava em sua poesia •quais afi nidades poéticas ela apresentava em relação à poesia de Mario • quais suas poesias mais conhecidas

✦Proposta 3

“(...) Poeta urbano desde o início, Quin-tana movimenta-se nas pequenas ruas da cidade, surpreendendo-as na inquietação do dia ou no silêncio da noite. Como um hábitat natural, as ruas são o cenário pri-vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter uma sintonia interior com o impressionismo é que o poeta adotará, com freqüência, as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de aliterações e assonâncias, traços que ca-racterizam os sonetos de Quintana como formulações que querem captar cor e mu-sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin-tana. 3. ed. p.16-17.)

A partir dessa forma livre de ser e de escrever, o poeta só poderia mesmo fazer

parte de um movimento tão aberto quanto o Modernismo.

Didaticamente, Mario Quintana se fi lia-ria à segunda fase modernista, do mesmo modo que Drummond, Vinicius, Cecília e outros. Conhecer um pouco mais sobre as características desse período (1930-1945) ajudaria o aluno a perceber a qual fi lão des-se grupo Mario melhor se encaixou.

Conforme registrado no livro, Mario Quintana era querido por muitos outros

escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba-to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Nossa sugestão é que você explore junto a seus alunos os escritores citados, pois, com exceção de Monteiro Lobato, todos os de-mais fi zeram parte do Modernismo brasilei-ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen-to seria muito signifi cativa para um maior entendimento da obra do autor.

Que me importa este quarto, em que desperto

como se despertasse em quarto alheio?Eu olho é o céu! Imensamente perto, o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim, tão perto e tão amigo que pareceum grande olhar azul pousando em mim.

A morte deveria ser assim:um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fi m...”

2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-nos devem ter reparado que Mario Quin-tana trata em seus poemas de inúmeros temas, alguns deles recorrentes. Entre os temas reincidentes, notamos que o autor discorre muito sobre o tempo. Vejamos al-guns exemplos, mas não se esqueça de que há muitos outros!

✦Tema: Tempo

Estou sentado sobre a minha mala“Estou sentado sobre a minha malaNo velho bergantim desmantelado...Quanto tempo, meu Deus, malbaratadoEm tanta inútil, misteriosa escala!

Joguei a minha bússola quebradaÀs águas fundas... E afi nal sem norte,Como o velho Simbad de alma cansadaEu nada mais desejo, nem a morte...

Delícia de fi car deitado ao fundoDo barco, a vos olhar, velas paradas!Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo

Pra que partir? Sempre se chega, enfi m...Pra que seguir empós das alvoradasSe, por si mesmas, elas vêm a mim?”

✦Tema: Morte

O morto“Eu estava dormindo e me acordaramE me encontrei, assim, num mundo estranho

e louco...

E quando eu começava a compreendê-loUm pouco,Já eram horas de dormir de novo!”

Quando eu morrer“Quando eu morrer e no frescor de lua Da casa nova me quedar a sós, Deixai-me em paz na minha quieta rua... Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é fi car com alguns poemas tortos Que andei tentando endireitar em vão... Que linda a Eternidade, amigos mortos, Para as torturas lentas da Expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas, Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, Mais o rir das primeiras namoradas...

E um dia a morte há de fi tar com espanto Os fi os de vida que eu urdi, cantando, Na orla negra do seu negro manto...”

Da viuvez“Ele está morto. Ela, aos ais.Mas, neste lúgubre assunto,Quem fi ca viúvo é o defunto...Porque esse não casa mais.”

Da morte“Um dia... pronto!... me acabo.Pois seja o que tem de ser.Morrer, que me importa?... O diabo É deixar de viver!”

✦Temas variados: Humor / Ironia

Clarividência“O poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.”

Simultaneidade“– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!– Você é louco?– Não, sou poeta.”

A coisa “A gente pensa uma coisa, acaba escre-

vendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfi ar que não foi propriamente dita.”

Da preguiça“A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-mem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”

Tique-taque“Mera ilusão auditiva graças à qual a gente ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-que’... Depois disso, como acreditar nos reló-gios? Ou na gente?”

O incorrigível“O fantasma é um exibicionista póstumo.”

Cartaz para uma feira de livro“Os verdadeiros analfabetos são os que apren-deram a ler e não lêem.”

O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO

ANTOLOGIA DE APOIO1. Acrescentaremos a seguir alguns poe-

mas que foram citados parcialmente no livro e alguns que se encaixam exatamente no que foi dito em determinado momento.

Página 4 – “E a expectativa de uma emo-ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor do susto é esperar por ele’, disse o autor em um verso.”

Pés de fora“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas.Cada vez que um rato corre mais depressa,

ela tapa a cabeça. Mas fi ca com os pés de fora.É o medo ridículo, tocante, desamparado,

o medo de pés de fora. Se eu fosse fantasma, eu... Não, não lhe faria nada: o melhor do susto

é esperar por ele.”

Página 11 – “Introvertido e indisciplina-do, Mario tinha muita difi culdade para se enquadrar na escola.”

Poema“Oh! aquele menininho que dizia‘Fessora, eu posso ir lá fora?’mas apenas fi cava um momentobebendo o vento azul...Agora não preciso pedir licença a ninguém.

Mesmo porque não existe paisagem lá fora:somente cimento.

O vento não mais me fareja a face comoum cão amigo...

Mas o azul irreversível persiste em meusolhos.”

Página 22 – “Balançado por uma sensibi-lidade desembestada, Mario Quintana via poesia em tudo quanto era objeto. Até nas coisas que ele não gostava. E o Mario não gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, telefones...”

Objetos perdidos“Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão

parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões que se desprenderam? E as pastas de papéis, os estojos de pincenê, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas econo-mias, aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis des-se planeta misterioso e amigo.”

Página 50 – “O tempo realmente foi se-guindo em frente, sem pedir licença, como sempre.”

Este quarto“Este quarto de enfermo, tão deserto de tudo, pois nem livros eu já leioe a própria vida eu a deixei no meio como um romance que fi casse aberto...

GLOSSÁRIO

Modernismo Calcado no clima nacionalis-ta de mudanças sociais e no projeto estético das Vanguardas Européias, o Modernismo brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor-ço de um grupo de intelectuais brasileiros que idealizou e realizou a Semana de Arte Moderna, evento que tornou pública essa nova maneira de pensar o passado, o pre-sente e o futuro da política, da sociedade, da economia e, sobretudo, da cultura bra-sileira.

Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Chamada fase heróica, seria caracterizada como um “período de destruição” preocu-pado em difundir as novas idéias e criticar de forma violenta a literatura tradicionalis-ta. Principais representantes: Oswald de An-drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Antonio de Alcântara Machado.

Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) “Período de construção” em que se consoli-dam os ideais modernistas da fase anterior. Os escritores dessa fase apresentam em suas obras uma grande preocupação com os

problemas sociais de seu tempo. Principais representantes: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Erico Verissimo.

INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS TEMAS TRABALHADOS

JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo: Moderna, 1999.

MEIRELES, Cecília. As palavras voam (antologia poética com organização de Bar-tolomeu Campos de Queirós). São Paulo: Moderna, 2005.

QUINTANA, Mario. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.

_________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-derna, 2003.

_________. Os melhores poemas de Mario Quintana. São Paulo: Global, 1996.

_________. Pé de pilão. São Paulo: Ática, 1996.

_________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-neiro: Globo, 1983.

_________. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1998.

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