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MÉ T O D O S L Ó GI C O S

E

DI A L É C T I C OS

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:kMÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

MÉTODOS LÓGICOS

E

DIALÉCTICOSII VOLUME

3,a edição

LIVRARIA  E  EDITORA  LOGOS  LTDA.

Rua 15 de Novembro, 137 — 8' andar — Telefone: 35-6080S Ã O P A U L O

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-j»l.a edição, outubro de 19592.a edição, maio de 19623.'   edição, novembro de 1962

G

ADVERTÊNCIA AO LEITOR

Sem dúvida, para a Filosofia, o vocabulário 6 demáxima importância e, sobretudo, o elemento etimológico da composição dos termos. Como, na o rtografiaatual, são dispensadas certas consoantes (mudas, entretanto, na linguagem de hoje), nós as conservamos

apenas quando contribuem para apontar étimos quofacilitem a melhor compreensão da formação histórica do termo empregado, e apenas quando julgamosconveniente chamar a atenção do leitor para êlcs.Fazemos esta observação somente para evitar a estranheza que possa causar a conservação de tal grafia.

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

B.B. .L

PRCf   t - v M3

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Ê  rro

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Bete livro foi composto e impresso para a Livraria e Editora LOGOSLtda., na Gráfica e Editora MINOX Ltda., à av. Conceição, 645 —

SÃO PAULO

Í N D I C E

Comentários Dialécticos 11

Da Distinção - Comentário Dialéctico-Concretos sobre a Distinção 25

Os Grau s Metafísi cos 37

Algu mas Análise s Sobre Conceitos Opostos 42

Da Verdade 56

Da Etern idade e do Tempo 59

Síntese da Analogia 69

Analo gia e Método Analógic o 74

Anális e do Tema da Analog ia 76

Análi se da Disti nção 87

A Distinção na Escolástica 89

Sobre a Distinção na Escola Tomista 91A Distinfião Formal Escotist a 92

Algumas Regras de Fácil Aplicação Par a o Estudo das Distinções 94

Das Proposi ções Modais 163

Da Disputa Escolástica 217

 No ta s Sobre a Dist inção 221

Exemp lo de Defesa de uma Tese Sobre a Deducçâo 227

Comentários 235

A Teoria do Juízo de Tomá s de Aquino 237

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V

*J

COMENTÁRIOS DIALÉCTICOS

Pelo método analítico, alcançamos a via deductiva; pelométodo sintético, a via inductiva.

Ao analisarmos o sujeito, alcançamos, inevitavelmenteum termo médio, e dele deduzimos uma sequência de juízosvirtu ais. Do mesm o modo, pela análise do predicad o, induzimos outros juízos virtuais.

Vejamos o seguinte juízo de experiência; Na Terra os

corpos pesados caem.• São corpos os seres tridimensionais, materia is, de nos

sa experiência sensível. Diz-se pesad o, na linguage m comum, o menos leve que o ar, o que exerce uma pressão paraa direcção da superfície da Terra . Todo corpo, que exerce

 pr es sã o, tendendo pa ra baixo, pa ra a Terra, to mou, pelosantig os, o nome de pesa do. Leves era m os que, ao inverso ,não exerciam essa pressão e tendiam para cima. Portan to,na análise do sujeito corpos pesados, seguem-se várias de-ducções: que há corpos pesados e leves, que todo corpo oué pesado ou leve, etc.

Se analisamos o predicado incluído no verbo cair, ao analisar tal verbo, vemos que significa a acção da queda, e queesta se realiza para baixo, pa ra a direcção da Terra. Ora,sendo a queda uma acção, exige uma causa eficiente, que afaça, que a deter mine. Ela se dá no corpo, por ém não podeser origi nária deste, porq ue, sendo mater ial, é inert e. Deve,

 pois ,  haver um poder energético, que realiza um erg, a queda do corpo na direcçã o da Terra. Conseq uente mente, in-duz-se que todos os corpos pesados, que são os que exercem

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]2 MAlíl O KKIiKUJRA DOS SANTOS

uma pres são par a baixo, caem. Indu zimos , assim, u lei m»ral. Mas essa pres são é uma acção , que elas reuliztun.  V.como são inertes, deve haver um poder energético que rualize neles a acção da queda em direcção à superfície.

Em que consist e essa acção? No tom ar uma direcção,em serem levados (trahere) para a terra (ad) são, pois (uri

tra ctu m), atraídos para a Terra. O poder energético, querealiza neles tal acção, é um poder energéti co atracti vo. Sondo a Terra um planeta de forma esférica, a atracção dlrlgo--se para o centro. Foi parti ndo de análises semelhantas queTomás de Aquino podia concluir que a queda dos corpos serealizava por 'um a atrac ção, cuja direcç ão era o centr o daTerra, e muito antes que os físicos estabelecessem tal evidência, através de observações, êle a alcançara através doemprego dialéctico do método analítico e do método sintético. Para alcançar este enunc iado, bastou- nos apena s a análise do juízo, corroborado por factos da experiência, e que

revela o poder da Lógica e da Dialéctica quando bem conduzidas.

Ao examinarmos os corpos, verificamos que suas dimensões não são proporcionadas ao peso, pois há corpos dedimensões menores e com peso maior que outros que lhe sãomaiores. O peso, portan to, não é directamente decorrenteda extens ão das suas dimensõ es. Se não  é   da extensão, só

 pode ser da in tens idade de seu ser . Ora , a ext ens ida de deum corpo é o que se ex-tende, o que toma a direcção parafora de si mesmo, enquanto a intensidade é o que in-tendeo que tom a a direcç ão par a si mesmo . Assim, um t aman ho

é algo que se extende, mas uma qualidade, como o verde,é em si mesm a, pois o verde é verde em si mesmo. Estegrau de intensidade pode ser aumentado, pois um corpo fofo,se comprimido, terá o mesmo peso, ocupando menor espaço,ou seja, diminuindo, assim de tamanho não diminui de peso.Esse peso tomou, pois, posterio rmente, o nome de massa. Amassa de um corpo parecia constante, independentemente dasua extensão, pois diminuída esta, por compressão, o pesoda sua totalidade material era o mesmo de quando ocupava

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉ CTICO S 13

extens ão maio r de espaço. Sendo a mass a estacionári a, e asua extensão diminuída, poder-se-ia estabelecer uma relaçãoda massa com a extensão, e, deste modo, concluir que umcorpo, de extensão 2 e de massa M, diminuído pela metade,

 po r co mpressão de sua subs tância mate rial , a rel açã o anterio r de 2 par a M pass aria a ser 1 par a M. Neste caso,a massa permaneceria massa, mas a proporção dela à extensão seria dupla; ou seja, a extensão, agora, tomada apenas extensistamente, teria uma massa duplicada.

 Na observação comum, verif ica-se, fac ilment e, qu e aqueda é relativa à massa e à extensão dos entes, pois seresde grande extensão e pouca massa caem mais lentamente quei os corpo s de meno r extensão e maio r massa. A queda tem,

assim, uma relação direc ta com as mass as. O pod er energético de atracção é por sua vez proporcionado também àmassa dos corpos. Medidas essas relações, alcançar-se-ia à

 pr imei ra pa rt e da lei de Newton. Vej amo s po is :Se examinamos  6   conceito de queda, temos nele a acção

de um móvel dirigindo-se para baixo . Mas, pa ra baixo, éum conceito de razão, cuja fundamentação implica um termo positivo outro , em relação ao móvel. É necessário, então, que o móvel esteja subordinado a outro que lhe sejasuperior, e o contenha de certo modo, para que se estabeleça alto e baixo desse ser contingente, para que se indiquea direcção do móvel, e dizer se é queda (quando para baixo)ou subida (quando para cima ). Subir ou descer, neste caso,está em relação a outro.

 Na Terra, o cai r é tender pa ra a superfí cie des ta , se está no alto, no ar, mas, considerando-se que a Terra é umaesfera, um corpo, que está na superfície, se cair, dirigir-se-áentã o par a o cent ro da esfera, e a qu eda ating iria seu

 po nt o final de queda, prec isamente ao at ingir o cent ro daesfera, em relação à superfície. Do cent ro à superfície, nessa relação, a direcção indicaria a tendência à superfície dohemisfério oposto, e em relação a este, seria subida (ascensão ). Desse modo , de sua superfície, a queda será desde

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14 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

que tome uma direcção que se aproxime do ponto centralda esfera e será relativa aos ter mos superfície e cent ro. Consequentemente, haverá sempre queda quando um móvel percorrer a via, que tem, como terminus a quo (ponto de partida) a superfície da Terra, e terminus ad quem (ponto do

chegad a) o cent ro da mesm a. Ora, como a queda só se pode dar assim, e já sabemos que há um poder energético deatracção, o ponto central desse poder, na Terra, está, portan to, no seu centro. Foi com essa lógica que To más deAquino chegou a afirmar a lei dos graves, sem a precisãomatemática que Newton lhe daria posteriormente. Sabiaêle, e antes de Copérnico e dos astrónomos do Renascimento,que a Terra era uma esfera, (como já o sabiam os pitagóri-cos), port anto com um centro atractivo. E era precisamente por essa força atractiva, que compreendia os antípodas e jus tif icava a sua possi bi lidade, e até a certeza da sua exis tência, que o homem vulgar da época não poderia admitir, porlhe pare cer absu rda . São factos como este que levam a Filosofia Concreta, que é a nossa, a só admitir o absurdo quando há a impossibilidade ontológica, quando se instala a contradição ontológica, e não quando há oposição contraditóriaapen as entr e contin gentes . E o absu rdo, que se julgava haver na aceitação dos antípodas, apenas se fundava em razõescontin gentes. Ontologica mente, nada era ofendido por acei-tar-se a possibilidade de antípodas.

 Nesse caso, a Terr a, po r dig nidad e, é supe rior a de umcorpo qualquer que nela cai, e exerce sua atracção sobre osmesmo s. A fonte próxima da atracçã o só poder ia vir daTerra. E, então, por que outro s corpos dela se afastam como o fumo, o fogo, que ora se ergue, ora se aprofun da noâmago da Terr a? Tais corpos são leves, e consis tiria a leveza em ter uma mass a que anul aria a atrac ção? Não era,

 pois , imposs íve l compreender a re lação en tr e a mas sa e aatracção . Haveria, portan to, um ponto de mínima atracção,até alcançar-se um ponto zero, em que o corpo pairasse noespaço. Mas tal, não era verificado senão em raro s momentos.  Que se conclui logicamente daí? Examine-se primeira-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 15

mente o corpo leve, e quem sabe se dialècticamente não seencont raria a solução desse proble ma. Ora, o corpo leverevela-nos que sua massa não atinge o ponto de atracçãoque provoc a a queda. Poder-se-ia afirma r que a atra cçãoimplica unicamente queda; ou seja, a direcção do móvel para o centro do corpo que o atrai? Não poderia a atracçãodar-se de out ro modo? Ora, o cont rári o de atracçã o é re

 pu lsa e, realmente, os corpos lev íss imos, como a fumaçamais ténue, sobem, parecendo ser repelidos para longe da Terra. Vapores de água sobem, e condensam-s e em gotículas,que per du ram no ar. Ao concen trarem-se mais em gotasmaiores, caem, como se verifica na chuva, e também o observava m e sabia m os antig os sábios. Ora, tais gotas tor-nam-se pesadas. No entanto, são elas o prod uto de inúmeras gotinhas leves que, concentradas, formam uma nova unidade, e esta é pesada, tem uma massa maior em relação aotam anh o, e cai. Conseq uente mente, a queda é relativa à

massa . É tam bém ao que se chega pela análise do predicado do juízo, que ora está em exame. A atra cção , neste caso ,só se procede quando a massa atinge a um determinado número . Será assim? Realmen te é assim, mas há aí uma razão ontológica? A análise ainda dialéctica pode ria prová-lo.Se a atracção surgisse jda massa, surgiria ela do móvel e nãoda Terra, em que a direcção atractiva tem o seu centro, e ocorpo material produziria uma acção, quando êle, enquantotal, é iner te. Conseq uentem ente, o que daí decorr e é que aatra cção se dá sempre em todo s os corpo s. E por que osleves não caem? Uma decorrê ncia será então inevitável, se-

guindo-se muita s outras. Primeiro, que a atracção é pro porcionada à massa. Neste cas o, há um a at racç ão difusa,geral, universal, e quando concretada, atinge maior intensidade. Consequentemente, há um grau de intensidade atractiva, que provo ca a queda . E esse grau se dá quand o aconcentração da massa é tal que a atracção au menta. Mas,

 po r que nos gr aus menores nã o se dá queda, e sim o inv erso?Se não é possível explicar por dois termos, impõe-se umterceiro, e este surge da especulação, corroborada pela expe-

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16 MÂKIO FER REI RA DOS SANTOS

riência. O facto, de um móvel perc orre r a sua via, que vaido terminus a quo ao terminus ad quem, permite-nos realizar vários exames: o exame dos termos de partida e de chegada, o do móvel e tam bém o da via. Exam inam os os tôr-mos,  examinamos os móveis, em suas diversas modalidadesde ser, contu do, não examin amos a via. Ora, a via é a estância a ser percorri da. E uma estância a ser percorrida, ummóvel pode encontrá-la desimpedida ou obstruída por seresresistentes. O móvel perco rrerá a via proporcionadamente;a esta também, porque o seu movimento implica, logicamente,  o móvel (quocl), com a sua natureza e suas modalidades,além da causa eficiente do movimento, o ponto de partida oo de chegada, e tam bém a via. Todos eles são causas , põemem causa o movimento do móvel e, consequentemente, cooperam causalmente para que o movimento seja do modo que   é.Uma via desimp edida, sem obstá culos, sem resistên cias, édiferente de outra em que as resistências obstaculizam, mais

ou meno s, a acção de tran slad ação do móvel. Mas, uma resistência pode deter ou retardar u m móvel. De qualquerforma, exercerá uma modificação no processo de transladação. Assim, como um obstáculo pode dete r um ímpeto, esl,e

 po de vencer um obstáculo, dependendo das condições co rrelaciona is entre eles. Uma pedra, na superfície da Terra, l'a/.apen as uma leve pre ssão . Na água, desce mais le ntamen teque no ar. A água oferece menos resistência que a superfíciesólida. Neste caso, a queda ser á prop orci onad a à via e aograu de resistência que esta oferece. O resist ente, que se encontra na via, deterá ou não o móvel e é logicamente fácil

concluir que tudo dependerá de proporções de gradação damassa de um e de outro.

Poder-se-ia ainda perguntar: numa via desimpedida, omovimento de transladaç ão do móvel seria uniforme? Aafirmati va seria proc edent e. E haveri a diferenças na velocidade da queda entre corpos diversos, de diferentes massas?Ora, se a velocidade depende da via, uma via desimpedida pe rmit ir ia que to do s os corpos , ap esar da s su as diferençasde massa , caíssem com igual velocidade. Conseqiientemen-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 17

te,   se a queda se der num vácuo, num vazio, onde não hajaresist ências atmosfé ricas (e os antigos sabia m pela experiência comum que havia resistências atmosféricas), a quedaseria igual para todos. Não dissemos anteriorme nte que aatracção dependia da massa? Sim, dissemos. Não, porém,que depende sse apena s da massa . Esta facilitava vencer os

obstáculos, pois vimos que a atracção é universal difusa, eque até os corpos leves, embora atraídos, são impelidos,repulsados pelos obstáculos, que lhes oferecem os que lhesresistem na via.

#  * *

O exame do juízo "os corpos pesados caem", mostrou--nos até aqui, de modo claro, que pela análise do sujeito, deste partindo-se para alcançar um termo médio, realizamos oroteiro da deducção, e que, da análise do predicado, deste

 pa rt in do pa ra alcan çar o te rmo médio, rea lizamos o ro te ir o

da inducção. E conseguimos alcançar a vários juízos, rigorosamente válidos, inferidos do primeiro, seguindo este nosso método, e que a Ciência, posteriormente, os comprovou,após penosas experiências e longas discussões.

Queremos com isso provar que a Lógica e a Dialéctica podem subs ti tu ir a Ciência experimen ta l? Absolutamen tenão. Mas queremos, isso sim, provar que muito p rudente seram os antigos mestres quando queriam que nos dedicássemos profundamente ao estudo dessas matérias, sem as quaisnão seria possível alcançar uma Ciência segura. A observação e a experiência, empregadas exclusivamente, são cami

nhos demorados retardados, se não forem assistidos por uma bo a dose de Lógica e Dialéctica, po rque , só são cr iadoresaqueles cientistas, que possuem uma boa base desses estudos. Uma análise como já temo s feito, e em breve publicaremos, das asserções científicas através dos tempos, com-

 prova-nos que toda vez que o cient ist a ofen deu um princí  pio lógico, ont ologi camente fundado, sua tes e ruiu frag oro-samen te, e em pouco tem po. E não há sector do conhecimento humano onde as hipóteses durem menos tempo, onde

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18 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

as afirmações sejam mais constantemente desmentidas que-no da Ciência. E mais ainda: o que perma nece de sólido no<seu terreno é o que tem fundamentalmente uma base lógicae ontológica.

Pode-se até, de antemão, afirmar que toda asserção docientista, que ofenda os princípios ontológicos, é fundamen

talme nte falsa, e será repelida mais dia ou meno s dia. É umgrave erro, portanto, o abandono que se faz do estudo daLógica e da Dialéctica. Não é de admi rar que a nossa épo caseja tão rica em mediocridades renomadas, em confusão deideias, em doutrinas das mais díspares, quando os estudoslógicos são postos de lado e há até falsos filósofos que com

 ba te m a Lógica e a boa dia léc tica pa ra af irmar a sup eriori dade da sem-razão, de um irracionalismo louco até.

Prossigamos na análise:

Sendo o poder atractivo proporcionado à massa, é pro

 porci onado, po rt an to , ao grau de intens idade desta no ser.Ora, todo poder atractivo se manifesta numa direcção, cujovector tende para o centro geométrico do ente tridimensional. E tal deveria ser, porque toda intensidade (toda tensãoin) parte para um centro, e maior é o grau de intensidadeda massa, quanto maior fòr a tensão in (intensidade), dirigida para o centro geométrico do ente tridimensional.

Essa direcção do poder atractivo de um ente, que formauma unidade, dá-lhe a coerência, o grau de inhesão, de coesão,  de hesão de suas partes (cum), o grau tensional da totalidade. Consequentemente, o poder atractivo será proporcionado ao grau tensional, que coerência uma totalid ade.Ora, como essa coerê ncia é um efeito, um result ado, u m

 pr od uc to , deve te r uma cau sa act iva , efic iente, que a realiza,a qual actua no que constitui a sua materialidade, efectuando a inhesão e dando o grau de tensionalidade da mesma.

Esta é a razão por que o grau de atractibilidade não de pende di rectamente do volume, e sim da massa. Ora, as linhas de forças atractivas, que se dirigem para o centro, podem ser tomadas como tendo por ponto de partida a super-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 19

fície do ente tridimensional, e como ponto de chegada (adquem) o centro geométrico do ente. Contudo, um ente nãose limita apenas na superfície sensível para nós, nem aliterm ina o seu ser. Os limites, que exper iment almen te conhecemos, são os sensíveis, enquanto empregamos apenasos nossos sentidos para captá-los. Mas o limite de ser de um

ente encontrar-se-á onde termina o campo de actividade desua tensão. Ora, esta vai além de tais limites sensíveis, porque nossos sentidos não nos dão toda realidade das coisas.Esse campo de acção de um ente tridimensional, ultrapassando os limites sensíveis, naturalmente se dá num  ubi,  queé o mesmo do campo de acção de outro ente tridimensional.Este, por sua vez, proce de do mesmo mod o que outro. Suaslinhas de força atractiva tendem, também, para o seu centrogeométrico, e, no campo de actividade, extra limite-sensível,actualizando-se no mesmo  ubi,  apresenta direcções opostas.Deste modo, o ser de maior massa terá um a força atractiva

maior que o de menor massa, e essa força atractiva, actuandono mesmo  ubi,  oferecerá uma resistência à força atractivado outro ente. Sendo suas forças proporcionais aos entesa que pertencem, o de maior massa exercerá um poder atractivo sobre o outro, na proporção, portanto, das massas decada um.

Por sua vez, o que é atraído pelo de maior massa, resiste pr opor cion ad amente à sua massa, e a at racção , exercida, do pr im ei ro sobr e o seg undo, ser á nu m grau menor que a queexerce em si mesmo; ou seja, a que se exerce sobre suas

 pa rt es em relação ao seu cent ro geo mét ric o.

Portanto, os corpos se atraem na razão directa de suasmassas; ou seja, proporcionadamente às suas massas; ou se

 ja , o r esul tado da at racção dos corpos será pr opor cionado àsmassas em oposição.

Ora, sendo o poder atractivo proporcinado à massa,como vimos, os graus in tensi stas varia m segundo varie amassa em relação ao  ubi.  A superfície de um ente tridimensional não é uma ilusão nossa, mas uma realidade da

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20 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

coisa, pois indica o limite de sua máxima intensidade ten-sional, como é observável pela resistência que oferece aoacto, à pressão muscular humana, e à resistência que oferece sua tensão superficial aos entes materiais. Já o seu cam

 po at ract ivo resi ste mu it o menos, o qu e nã o só é veri ficável po r nós, ma s ta mbém po r que, aí, o gr au de in tens idade

atractiva, de vector dirigido para o centro, revela um podermeno r. Port ant o, pode-se concluir que o grau de atract i-

 bi lidade diminui à pr op or çã o que se distancia do en te tr idimensio nal. Como se proc essa essa diminu ição? Continuament e ou por estágios? Sem que ainda pos samo s nad a afirmar dialècticamente sobre este ponto, pode-se, contudo, concluir com segurança lógica, que, tomada uma distância deum ponto do campo de atracção à superfície do ente, e esta-

 belecendo-se um cent ro nessa lin ha, o grau de atr act ibi lida-de média do centro a superfície deve ser maior que o graude atractibilidade do centro ao ponto de partida mais dis

tante.Tomada uma estância entre dois pontos e sua intensi

dade, se a estância fôr duplicada, a intensidade será proporcionadamente diminuída pela metade. A intensidade está,assim, num a propor ção inversa à distância. O mesmo se

 po de ver ificar nu ma disso lução química. Um corpo A, dis solvido num litro de líquido B, que o dissolva normalmente,tem uma inten sidade . Se à mesma solução, acrescentar-seum outro litro do mesmo líquido, o grau de intensidade dodissolvente será a metade. Vê-se que a intensidade mantémuma proporção inversa à extensidade, o que é aliás caracte

rística da antinomia intensidade x extensidade, como já setem demonstrado e comprovado.

Ora, o grau de atractibilidade é proporcionado à distância . Logo, entr e dois ou mais corpos em atracção, o graudesta, proporcionado directamente à massa, será proporcionado invers amente à distânc ia. Como essa propor ção é du

 pla, como vimos, a conclusão fina l é qu e os corpos se at ra emna proporção directa das suas massas e na proporção inversa do quadrado das distâncias.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 21

E como dialècti camente se sabe que as coisas físicasreproduzem os números, não em sua perfeição formal, masem sua participação imperfectiva, a relação numérica nãoserá absoluta, mas relativa, assim como nenhum objectotriangular poderá realizar a perfeição da triangularidade

em sua atasolutuidade formal, mas, e apenas, em sua perfectibilidade participativa, que é sempre relativa, o que é tese bem fundad a do platonismo. Desse modo, o enu nciado acima está submetido à relatividade das participações e a relação numérica não é absolutamente formal.

A Física moderna comprova, experimentalmente, oacerto desta tese platónica.

Este desenvolvimento lógico e dialéctico demonstra ca ba lmente quão cr iadoras são a Lógica e a Dialéct ica, quandoconduzidas cuidadosamente, podendo dar-nos com segurançao que é comprovado, depois, pela experiência, o que demons

tra, por sua vez, que tais disciplinas não são arbitrariamente impostas à natureza pela estructura da mente humana,como o pretendem os subjectivistas de toda espécie, incluindo ent re eles Kant, mas qu e a. natu reza do funcionarlógico e dialéctico, quando regular e normal, corresponde àsleis da realidade. A Lógica, repetimos, é desvelada pela inteligência humana do s factos e não impos ta a esses. Consequentemente, não são disciplinas que se opõem à realidadeextra-mental. Ao contrário, elas estão adequadas proporcionadamente a esta.

 NOTAS SOBRE A LOGÍSTICA

 No século XI X, alguns es tudiosos da ma te máti ca e dalógica tentaram organizar um sistema de cálculo ideográficoque fosse universal, ao qual se deu o nome de Logística, emcujos trabalhos se salientaram diversos autores ingleses eitalianos, e entre eles Morgan, Boole, Peirce, Russell, Padoa,Macfalane, Peano, Whitehead e outros.

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22 MÁRIO FERR EIRA DOS SANTOS

É a Logística apenas o estudo das relações entre sinaisideográficos, com valores lógicos definidos e suficientes,

 pe rm it indo , ass im, mate mati zar a Lógica. Pa ra mu it os deles,  a Lógica nada mais é que uma matemática de conceitos,

como a matem átic a é um a lógica de núme ros . Realmentehá muita semelhança entre a Lógica e a Matemática, poisaque la é um género em rela ção a esta.. A Matemática, nosentido em que é tomada modernamente, é uma lógica denúmeros.

Mas a Logística tinha, como tem, uma finalidade: dis pe ns ar as dif iculdades que oferece a lógica clás sica com asdistinções, a argumentação, as suppositiones, realizando umaverdadei ra álgebra do raciocínio. Alguns chegaram até aoexagero de afirmar que toda a actividade filosófica deve-secingir apenas ao campo da Logística, como se seus propugna-

dores tivessem acaso resolvido qualquer problema filosófico,.a não ser cair ou num agnosticismo deprimente ou numcepticismo negro, ou, na melhor das hipóteses, num merocientificismo retardado.

Ora, a Lógica não dispensa o pensar; ao contrário, es-timula-o, e torna-o criado r, como temo s visto até aqui. ALogística, quando muito, poderia criar uma cultura cibernética, cérebros cibernéticos, uma erudição de fichário. ALógica ensina a pensar, a actualizar juízos virtuais, que sãoinúmeros, por mais simples que seja o juízo; em concatenarconhecimentos dispersos, em evitar se tome confusamente o

que é distinto, em não confundir   os  termos verbais com osconteúdos conceituais, em ampliar o campo das operações lógicas,  desde a primeira, no cuidado, na construcção do conceito,  na precisão do juízo e na pujança da argumentação,do raciocínio, pelo cuidadoso trabalho das inferências mediatas e imediatas, a disciplinação do método analítico, do sintético e do concreto; em suma, em desenvolver a capacidadede contemplação (com suas três fases: a intuição, a meditação e o discurso, o discorrer sobre o tema sinteticamente),em desenvolver a capacidade intelectual, a acuidade mental

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 23

e, finalmente, em fortalecer e integrar plenamente o ser humano.

 Na verda de, há um a longa distânc ia a se para r a Lógicada Logística. São disciplinas distintas, e é um erro elemen

tar julgar que a segunda possa substituir a primeira, oumesmo que a supere.

Os que se dedicam apenas ao estudo dos logísticos edesconhecem os grandes e profundos trabalhos da Lógicaclássica julgam que tais autores resolveram todos os pro

 bl emas lógicos e su pe ra ra m os ant igos . Ta is af irmat iva s, ealgumas bem arrogantes e audaciosas, revelam apenas ignorânci a sobre o que já foi realizado. Ora, tal ignorânci a nãoé   de admirar nestes últimos séculos, quando se abriu umabismo entre o que realizaram os medievalistas e a filosofiamoderna.

Analisam os logísticos as diversas operações lógicas echegam a afirmações das mais estranhas. Alguns, como salientaremos mais adiante, apresentam exemplos de raciocínios que são, para eles, insolúveis dentro da lógica clássica,quando qualquer estudante elementar dessa matéria poderiasolucioná-los com a maior facilidade. Por outro lado,acusam de ilegítimos a quase totalidade dos modos do silogismo, para afirmarem uns que apenas três são válidos (Bar ba ra , Dar apti e Bramal ip ) enq uanto ou tros , mais sóbriosainda, afirmam que apenas um é válido (Barbara).

Muitos se escandalizam com o número dos modos dosilogismo (como Padoa), desconhecendo que Aristóteles e osescolásticos mostravam que podiam ser reduzidos aos quatro modos perfeitos da l.a  figura, como vimos ao estudaro silogismo.

Desconhecem que tais modos não são fórmulas de cálculo lógico, mas tipos de operações racionais, que a mentehuma na realiza quando raciocina. Não pretendemos ne staobra fazer a análise da Logística, nem ressaltar os graveserros que ela comete. Os autores modernos, que seguem a li-

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24 MÁRIO FERREIRA DO£ SANTOS

nha escolástica, já o realizaram  com  tal acuidade e precisãoque seria desnecessário repetir aqui os trabalhos já feitos.Podemos, contudo, por ser mais acessível, apontar os exames realizados por Maritain, tanto em.sua Lógica Menorcomo em sua Lógica Maior, onde se deteve sobre tais temas

com suficiente precis ão. Ademais a Logística é apt a par atrabalhar com os juízos relativos (per accidens), mas comos juízos per se, ainda a Lógica Formal é insubstituível. Aquela é aproveitável nas Ciências Naturais, enquanto esta é maisapta para a Filosofia.

DA D I S T I N Ç Ã O

COMENTÁRIO DIALÉCTICO-CONCRETOS

SOBRE A DISTINÇÃO

A palavra coisa é em latim res, de onde nos vêm os termos real, realidade, etc. Por sua vez, res vem do verbo reor,que significa pensar , medi r, menta r. Res, deste modo, significa tudo quanto é pensado, medido, mentado, ou seja, tudoquanto pode ser conteúdo significativo de um pensamento.Consequentemente, o termo res, em sua etimologia, revelasignificar tudo quanto tem um conteúdo positivo, porquenão se pode dizer que nada, uma ideia simplesmente negativa, seja res, pois consiste, precisamente, em não ter conteúdo positivo, pois sua conceituação é a referente à recusade alguma positiv idade. Neste caso, se cons ider armos ain dao sentido etimológico, é real tudo quanto tem um conteúdo

 pos it ivo; ou seja, tudo qu anto do qual nã o se pode recusa ruma positividade. Assim, teríamos, para manter o conceitoem sua pureza significativa, de usá-lo para indicar tudo

quanto tem um conteúdo positivo.Como os termos empregados em nossa linguagem apon

tam a conceitos, devem estes ser examin ados segundo assuas classes, ou, seja, segundo as diversas classificações quetêm sido propostas no decorrer do processo filosófico.

Verificar-se-ia desde logo que há diversas esferas e planos que são distintos entre si e muitos até opostos, contrários. Como tod o conceito, que tem um conteúdo int encional

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26 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

dirigido para algo positivo, refere-se, pois, a uma coisa, po-de-se dizer que tudo quanto te m positividade é real. Nestecaso, a realida de é a caract erísti ca dos entes reais; é, emsuma, o nexo de positividade dos entes que têm conteúdos

 posi tivos.

Há ainda outros conceitos que exigem análises dialécticas,  antes de procedermos o exame que desejamos fazer so br e as dis tin ções.

Vejamos o termo ente, do latim ens, entis, e em gregoon, ontos. Etimologicamente, ens é o particípio presen tedo verbo ser, esse, em latim e eimai, em grego, o que corresponde ao nosso sendo, em português, ao Seiend, em alemão , ao étant, francês, etc. Port ant o, ente é o que prese nteme nte é, o que posit ivamen te é. O caráct er de ser essa

 posi tividad e é entidade (e nt it as ). Portan to , tudo quan to é,tem entitas, é uma entidade. A tudo quan to não se pode

recusar total e absolutamente um predicado positivo é entitas.  Somente ao nada se poder ia recu sar a entida de. Ora,ou nos referimos ao nada absolutamente nada (o nihilum),

. ou apenas ao nad a disto ou daquilo . Com o prime iro queremos nos referir ao nada simpliciter, simplesmente nada,enquanto com o segundo ao nada relativo, ou secundum quid.O nada simpliciter é o que ao qual se faz a recusa total eabsoluta de qualquer predicado positivo, enquanto o nadarelativo decorre da negação de algum ou alguns predicados

 posit ivo s, recusados a um ser qualquer , ou aqui e agora.

Sendo toda coisa algo, ao qual se predica um predicado

 posit ivo , toda coisa, enquanto tal , é en te , te m enti ta s, e onada absoluto, simpliciter, é, pois, o que ao qual se recusaa predi cação de ser coisa. O nada abs oluto é coisa nenhum a,ausência total e absoluta de qualquer realidade, portanto.

Vemos, assim, que é real tudo quanto podemos predicar--lhe que é uma coisa. E é uma coisa tudo quan to po demos

 pre dic ar- lhe alg um pr ed icado posit ivo, po rt an to po demos pr ed icar alg uma prese nça, seg undo a esfera em que fôr con-.. siderada.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 27

Impõe-se esclarecer também o conceito de positivo. Diz--se que é positivo, tético (de thesis, em grego, posição, posto)o que é posto, o que é presente de modo afirmativo. Portanto,   o que é positivo, é, por sua vez, real, tem uma entitas.

 Nes te caso, desde logo se vê que pos iti vo, rea l e entidadesão conceitos que revelam certa sinonímia. O conceito detético (positivo) leva-nos ao seu contrário, ao antitético.A negatividade, como vimos, pode ser absoluta simpliciter,como a do nihilum, ou relativa, secundum quid, como a donada relativo. Esses conceitos poderia m receber os seguintes enunciados:

 pos iti vo é o que afi rma uma presença;

negativo, o que recusa uma presença;

entidade é tudo ao qual podemos predicar uma positividade;

nada refere-se ao que negamos uma predicação positiva,e será relativa, se apenas lhe são negadas alguma ou algumas predicações positivas, e, absolutamente nada (nihil) um,se lhe forem recusadas absolutamente todas as predicações

 posi tivas actuai s ou potenciais ;

real é tudo quanto pode ser considerado um ente, tementitas.

Outro conceito, que não podemos dispensar para as nossas análises futuras, é o conceito de físico, que correspondeao ter mo latim nat ural , de nat ura, naturez a. Físico vem dogrego phvsis. que, por sua vez, vem do verbo phyê, que sig

nifica nascer, como natura vem do particípio passado do ver bo nascor , em latim , nascer. Physis como Na tu ra significam, pois, o que nasce; é o carácter do que principia a ser.É physikê tudo quanto principia a ser ou tem um princípiono seu evento. Indica, pois, toda ent idade que, em dadomomento, começa a ser, que tem um termo de início, umter min us a quo, um ponto de part ida. Diz-se que Nature za é o conjunto dos entes que principiam a ser, ou que têmum terminus a quo, porta nto que nascem. Se mantivermo s o

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28 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

conceito em sua significação pura, diz-se que é natural oufísica toda entitas, que tem um princípio em seu ser.

Consequentemente, a coisa física ou natural é a res que pr incipia a ser .

Contudo, a lei da triangularidade é uma entitas, porque

não se lhe pode pred icar o nada absolu to. A lei da triang ularid ade é, pois , enti tas, res, positi vo. Contud o, ela não começa a ser tal num dad o momento. Não é quando o homema desvela nas coisas que ela começa a ser. Ela começa aser um pensamento do homem quando o primeiro homem,que a descob riu, a formul ou. Mas o que começou a ser nã ofoi a lei da triangularidade, mas a concepção e a conceitua-ção human a dessa lei. Consequentemente, com o mesmorigor dialéctico apodítico, pode-se dizer que a lei da triangularidade não é uma res naturalis, não é um ser physikôs,nã o é um a coisa física.

Do mesmo modo, a lei da atracção universal não começou a ser quando Newto n a formul ou. Contud o, a lei daatracção universal é uma lei física, porque é uma lei dascoisas físicas, que se dá nas coisas físicas, e começa comelas.

Há, assim coisas físicas e coisas não-físicas. A precisão conceituai, tanto de umas como de outras, virá a seutempo.

Impõe-se, agora, consi derar a reali dade. Sendo esta aqualidade dos entes reais, segundo forem as classificações

desses entes, será a classificação da realidade. Nossa concei-tuação nos mostra que há conceitos referentes às coisas daexperiência sensível, às coisas da Biologia, da Fisiologia, daAnatomia, da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia, etc. Ascoisas da Físico-química são chamadas comumente físicas.Mas, note-se, que essas se caracterizam por uma série de

 pr op ri ed ad es que são ch amad as ma te riai s e co rrespo nd emaos seres corpóreos e àqueles que embora não revelem ainda corporeidade, são, contudo, entidades que apresentam

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algumas das 137 propriedades que se predicam à matéria. Não se deve , pois, confundir a coisa física da Filosof ia, queé toda entidade, que tem um princípio para ser, com as coisas físicas da Física, de âmbito mais restricto, sem que essaespecificidade seja negada por aquela. Ao contrário, a Físicatem um fundamento na própria Filosofia.

Assim, também, as coisas físicas da Biologia, como daPsicologia, etc., têm uma realidade correspondente a essasesferas, pois o que compete a uma ou a outra disciplina apresenta aspectos formais distintos.

Port anto , pode-se falar num a realidade física (filosoficamente considerad a), e numa realidade não física (tamb émfilosoficamente considerada), numa realidade física (da ciência física, como ciência natural), numa realidade biológica,numa realidade psicológica, numa realidade sociológica, etc.

Há, pois, tantas realidades quantas esferas há de coisasreais.

Se tomamos o conceito de físico no sentido restricto daFísica, pode-se dizer que toda coisa real, que ultrapasse aesfera dessa ciência (como ciência natural, no sentido aindaembrionário que tem em nossos dias), as coisas, que ultra

 pa ss am a sua esfe ra, e que são não-fís icas , são ult ra- fís icas,ou como se diz pelo termo grego, latinizado metafísica, demela, além de, em grego. Port ant o, consi deran do o conceitorestricto de físico ao da ciência actual, diz-se que é metafísicotudo quant o o ultrapa ssa. Neste caso, são coisas metafísicas

as que ultrapassam o campo da Física, as coisas não-físicas, po rt an to , impr incipiadas , se to ma rm os o con cei to no sent idoda Filosofia.

 Neste caso, a lei da tr iangular idade, como coisa rea ltransfísica , é object o de estu do metafísico. Toda s as coisas,todas as entidades, no sentido do que já expomos, que nãolhes podemos predicar a fisicalidade da Física, são objectosde estudo da Metafísica, como os números, as formas, etc.

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Para um espírito míope, que só admite como reais ascoisas que revelam possuir algumas das 137 propriedades damatéria, as coisas transfísicas não têm realidade, são merascriações do espírito humano, são meramente ficcionais. Masa lei da triangularidade não pode ser acoimada de ficcional,

 po rq ue as coi sas físi cas lhe dã o um certo fundamento . Então,  qual a solução que surge aos olhos míopes do pseudo filósofo fisicalista? Dizer que o hom em formula u ma lei fundada na experiência, comprovada pela experiência. Essa leié uma reali dade das coisas físicas. Os posit ivista s, que nãoquerem sair do âmbito das coisas físicas, no sentido restrictoda Física, afirmam que as leis são reais, porque são comprovada s pelos factos. Tamb ém seria espan toso que chegass ema negar realidades às leis, sendo elas comprovadas pelos factos.  Mas, às que eles, por miopi a, não verificam que t am

 bé m são co mprova das pelos fac tos físicos, como ve remosmais adiante, negam-lhes validez de realidade.

Ora, que se entende por lei?A lei enuncia o logos de universalidade das causas.

Aceitar, pois, a realidade das leis é aceitar o que ultrapassaao campo das coisas físicas, na acepção restricta que lhedão, e é afirmá-la já no sentido metafísico. Há uma uniformidade fundamental e constante na natureza, e é estauniformidade fundamental e constan te que a lei enuncia:Esta universalidade não é uma coisa física em sentido restricto, porque estas são as coisas singulares, que revelamalgumas das propriedades da matéria, e as leis, em sua sig-nificabilidade e em seu conteúdo eidético e tomadas em si

mesmas, não têm tais propriedades, embora se refiram aoque se dá com as coisas físicas. Como há ainda out ras leis,que não as apenas físicas, elas também se referem à uniformidade mais ou menos fundamental e constante das coisasnão-físicas.

As leis não são coisas físicas em sentid o restri cto. Nemo homem as cria, mas as desvela, são-lhe reveladas, desco

 be rt as po r êle. Mesmo no sen tido ju rídico de lei, a lei po-

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sitiva deve ser distinguida, quando arbitrariamente estabe-cida (pelo a rbítrio do hom em), e quando ela apenas ex

 pr es sa a no rm a que ap on ta a con veniência da na tu reza deuma coisa dinamicamente considerada, como vimos no exame do conceito de Direito, em nosso "Filosofia Concr eta". Neste úl timo caso, a lei é descobert a e nã o cri ação hu mana .

O homem não cria, não impõe arbitrariamente as leis à natureza (física), mas as desvela na uniformidade, na constância un iversal da s cousas e efeitos. Mas as leis, que regulam os factos, já eram entidades, e não nada, quando ohomem primitivo ainda não as havia descoberto; e simplesmente, po rque são elas produ tos do arbítri o h umano . Emesmo antes de principiarem a ser as coisas, que por elassão reguladas, essas leis já eram possíveis das diversas ordens de ser, na ordem suprema do Ser, porque do contrárioteriam vindo do nada, o que seria absurdo.

É importante salientar aqui que ao negar-se a existên

cia primordial e imprincipiada de um Ser Supremo absoluto,   omnip oten te, omnipe rfeito, ter-se-á, inevitav elmente, de pr ed icar o nada como supr emo cr iador de toda s as coi sas ;neste caso, transformar-se o nada num Ser Supremo, comoo demonstramos, de modo apodítico e irretorquível, em "Filosofia Concreta".

As coisas físicas, em seu relacionamento e no seu acontecer, actuam, sofrem e procedem dentro de um modo deser que é o expresso nas leis, nas leis necessárias e impostergáveis da natureza, que se distinguem das leis positivashumanas, que são frustráveis, pois a frustrabilidade é a ca

racterística de toda norma ética.As leis não são entid ades físicas. São normas , que

 pres idem de modo necessá rio o acontecer das coisa s fís icas,que as repetem constantement e em seu existir. Ora, taisleis são não-físicas em sua essência, pois não são seres aosquais se possam predicar as propried ades da matéria. Nãosão materiais, nem meros enunciados, porque os factos asobedecem e seguem a orde m que elas indic am. Est ão pre-

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sentes na ordem do ser,, analogando por normais os factosdo acontecer físico, expressão da ordem e da coerência dos

 pr óp ri os fac tos . E quando o ho mem as formu la de modocerto ou não, elas não são criações ficcionais. Se a experiência as comprova, não são elas objecto de intuição sensível, que é, para muitos, a única base de certeza que existe.

São elas inferid as da coorde nação verificada nos factos; po rt an to , descor ti nadas at ravés de elaborações intelec tuaislógicas. E o que enuncia mos nelas tem sua validez na ex

 pe riment ação que procedemos .

Verifica-se, assim, que as leis: a) não são físicas emstrictu sensu; b) são normas que analogam os factos naturais, verificados na uniformidade mais ou menos fundamental e const ante que aquele s revelam; c) são passíveis deuma justificação lógica e ontológica, sem a qual só podemser aceitas como enunciados provisórios, e o que contradisser tais leis assim fundadas, é irremediavelmente falso;

d) não são ficções, nem são impostas às coisas arbitrariamente por nós, e são objecto de descoberta, de desvela-mento.

 Na le tra c, fizemos um a afi rma tiva comprovada pelahist ória da Ciência. Toda a vez que é enunci ada uma leicientífica, que ofende um princípio ontológico, sendo, consequentemente, na Lógica, uma contradição, essa lei não

 pe rd ur a. Na na tureza na da contrad iz as leis da Lógicanem na Ontologia. É compreensív el que mui tos de nós sai ba mo s que ser ia imp oss íve l con tradizê-las, ma s há, e mu it os ,que ainda duvidam dessa verdade, porque, para eles, as leis

da Lógica e da Ontologia são arbi trá rias e ficcionais. Pordesconhecerem o processo metafísico bem fundado, que realizaram os maiores gregos, como Pitágoras, Platão, Sócrates e Aristóteles, continuados com honra superior pelos escolásticos, julgam que a Metafísica é o monstrengo que vemde Descartes, através dos racionalistas, dos idealistas moderno s até os desta época, c hamada contemporânea, queKant tanto atacou, seguido, depois, pelos materialistas, po-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 33

sitivistas, pragrnatistas, ficcionalistas, nihilistas, desesperis-tas,  etc.

O verdadeiro sentido do que é Metafísica, como o tomaa filosofia concreta, mostramo-lo em "Filosofia Concreta". Note-se, porém, que os escolá sti cos pr os segu ir am rea liz andoa filosofia positiva que os gregos maiores haviam já ins

taura do em suas bases fundamentais. Muitas das aporias,que haviam avassalado a especulação filosófica dos gregos,encontraram soluções claras na obra de eminentes autores,como Tomás de Aquino, São Boave ntura , Duns Scot, Sua-rez e out ros. A filosofia positiv a, emine nteme nte afirmativa ,captadora dos nexos analogantes, que concrecionam a realidade (a idealidade que há na realidade, como dissemos emoutros trabalhos nossos), atravessou os anos e os séculos eaté os milénios, apesar dos golpes desferidos pelos modernos. Estes, confundin do o que já estava esclarec ido, anteas dificuldades novas que surgiam, em vez de cooperarem

na solução da problemática que os antigos nos haviam deixado, e que é imensa, sem dúvida, preferiram desprezar assoluções já seguras, para enveredarem, como aventureirosdo pensamen to, por caminhos viciosos. E terminar am porrealizar essas monstruosidades de que está cheia a filosofiamoderna, amontoando erros e confusões, construindo sistemas que apodrecem erri vida, e onde se vêem personalidadesmedíocres exaltadas como sumidades, apontadas como supe-radoras do que de maior realizaram os grandes mestres do

 pa ssad o.

É um grave erro dos modernos considerar como abstrac

to o pensament o tomado isolad amente. Na verdade, o pensamento abstracto pode ser concreto, como já o demonstramos,  desde que se considerem os logoi analogantes, que harmonizam e dão concreção aos pensamentos . E esse erroadvém das confusões sobre os nossos pensamentos, as nossas ideias, que nos foram legadas desde Descartes, atravésdos racionalistas e idealistas, até nossos dias, que tomaram,estanquemente, os conceitos, como se observou, também, no

 período de dec adência da filosofia grega.

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34 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

 Não no s é pos sível pensar sem pensamentos, e, consequentemente, sem conceitos abstractos. Não haveria nenhumsaber culto sem eles, e a racionalidade humana caracteriza--se pela capacidade de pensar abstracta e concretamente.Como consequência, era de exigir o máximo nos conteúdoseidéticos dos conceitos. Ora, tal trab alho de preci são foi

realizado pelos escolásticos, através de séculos, criando umaterminologia segura, que os modernos desbarataram, permitindo penetrar no campo da filosofia os estetas, que sóvieram para perturbar um terreno onde se exige ponderação e segurança, e onde o opinativo, o meramente assertó-rico, é uma demonstração de insuficiência e de fraqueza.

Se os escolásticos, no campo filosófico, oferecem soluções a problemas numerosos, que nos havia legado a filosofia grega, deixaram para nós, contudo, uma boa soma deles.  Que outro papel saudável nos poderia caber senãorealizar o trabalho de solução das aporias que nos haviam

legado? Que out ro empreend imen to mais elevado caberiaà filosofia moderna senão o de resolver as dificuldades queainda restav am? Mas, em vez disso, desconhe cendo a obra

 já realizada, desprez ada agora po r med iocr idades famosas,em vez de se contribuir para diminuir aporias, semearam-seinúmeras outras, e velhos erros ressuscitaram de modo sur

 preendente , pa ra abalar as mentes desprev enidas e surg iremcomo novidades acabrunhantes, quando não passavam develhas excrescências do pensamento humano.

Depois da análise prévia que empreendemos dos conceitos de real, coisa, natureza física, entidade, positividade,

negatividade, podemos estabelecer algumas anotações importantes.

Filosoficamente, o conceito de físico indica tudo quanto é real actual ou poten cialmen te. No sentid o restri cto, queos modernos lhe dão, significa apenas o experimentável.

 Não era de ad mi ra r que caí sse no sent ido restrict ís simo decorpóreo, referindo-se, assim, a tudo quanto pertence à ex

 periê nci a exter na, em oposi ção, po rt an to , a todo ps íquico.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 35

Ora, filosoficamente, o psíquico é ainda físico, porque é natural, nasce. Contudo, quando pensamos, pensamos pensamentos; ou seja, todo pensar é intencionalmente dirigido aalgo pensável. Ora, o pensa do funda-se em pensa mento sarquetípicos, primordiais e imprincipiados, que estão confusamente no conteúdo eidético dos pensamentos comuns,

que o ente ndime nto human o, e m estágios mais elevados,realiza a actividade selectiva de distingui-los, que é a abstracção em seu sentido eminente. Assim, quando o cientista, do exame das causas e dos efeitos, extrai as leis, queregem os factos, realiza uma abstracção no elevado sentido,extraindo, noèticamente, os conteúdos eidéticos das normasque presidem aos factos e os analogam numa normal datotalidade.

Desta forma, só podemos, segundo a nossa análise, em pr egar o te rmo físico no sen tido amplo de tu do qu an to te m

realid ade principia da. É verdad e que os escolástic os usavam no sentido apenas genérico de ter realidade e, portanto,   pod iam falar na essência física de Deus. Nós, poré m,temos usado o termo no sentido escolástico muitas vezes,mas preferiríamos empregá-lo num sentido mais rigoroso:físico é tud o quant o é real e princ ipiad o. Neste caso, o terrealidade seria seu género próximo, e sua diferença específica o de ser princ ipia do. Ent ão, os entes reais se riamdivididos em reais imprincipiados e reais principiados. OSer Supremo, como realidade imprincipiada, seria, logicamente , disti nto do ser físico. Neste caso, não se poderia falar numa natu reza nem numa essência física de Deus. O

que se entende por natureza ou por essência física de Deusseria a sua realidade, e esta é a sua omnipotência, pois éesta a essência física de Deus para os escolásticos. Paranós,  seria, então, a essência de sua realidade apenas, e ainfinitude, que para muitos escolásticos  é   a essência metafísica de Deus, seria, para nós, a essência de Deus, considerada formalmente, porque o Ser Supremo é realmenteomnipotente e formalmente é o ser infinitamente absoluto.

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36 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Os escolásticos tomam ainda o termo natureza no sentido de modo de ser de cada ente, tal como lhe corresponde

 po r sua or igem. Em bo ra muit os nã o façam uma di st inçãonítida entre natureza e essência, deve-se, contudo, anotarque natureza empresta à essência um momento dinâmico;ou seja, quando se fala em natureza de um ser, fala-se do

 pr incípio do desenv olv imento do ser , enqu anto fundame ntointerno de seu operar e "padecer". Neste sentido, qualquerente tem uma natureza, inclusive Deus, desde que se lhe exclua qualquer imperfeição ou deficiência.

 No exame de um pensamen to , que fale sobre a na tu rezaou essência de uma coisa, é mister, desde logo, distinguiros sentidos que tais termos podem assinalar, pois evitam-se,assim, muitas confusões.

 Nes te cas o, ao fala r-se da essênc ia física do Ser Sup remo, é mister distinguir claramente a conceituação possível.

OS GRAUS METAFÍSICOS

É imprescindível, para a boa aplicação das distinções,estu dar o que se cham a de grau s metafísicos. São eles os

 pred icados essenc iai s superiores e infer ior es, que de algosão predicados. Assim, de João, predicamos homem, animal, animado, corpo, substância, ente físico (géneros superiores e inferiores), bem como suas diferenças: composto,vivente, sensitivo , racion al. Ora, tais predica dos ind icamgraus, pois uns são mais universais que outros, ou mais es

 pecíficos que ou tr os , e po r eles ascendemos ou desce mos.Chamam-se, por isso, graus metafísicos, porque transcendemeles a realidade meramente física.

A disti nção indica uma pluralida de. A distin ção é oresultado de uma comparação. E como toda c omparaçãoé uma relação, na distinção há uma relação. Em toda relação há, pelo menos, dois termos relacionantes e o fundament o da relaçã o. Só é real uma relaçã o se são reais ostermos relacionantes, e a relação será da espécie que fôra realidade dos termos, o que dará o fundamento real à mesma. De uma relação entr e enti dades físicas, a relaçã o seráfísica e, consequentemente, o será segundo a esfera de realidade dos termos. Ora, há distinção entre termos em queum não é o outro, em que um não se identifica com o outro.Se os termos são reais físicos, o que os distingue será realfísico, se são meramente formais, a distinção, entre eles, será formal, e assim correspondentemente a cada esfera darealidade: biológica, fisiológica, psicológica, ética, jurídica,etc.

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38 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

Quando a distinção entre um e outro se dá apenas nointelecto, diz-se que é uma distinção de razão, como a do

 juí zo Jo ão é João . em que Jo ão , como sujeito e predicado, édisti nto por distinç ão de razão . Diz-se que é real, quan dose dá nas coisas da natu reza. Ora, no sentido que tom amoso termo real, ambas são reais, mas o segundo tem uma du

 pla rea lidade, é real -rea l, e se rá real-f ísica se os te rmos distinguidos são físicos.

Vimos, também, que a distinção de razão pode ser derazão raciocinada, como o exemplo que demos de Pedro, ouseja sem fundamento na coisa (sine fundamentum in re),e de razão raciocinante, quando há fundamento na coisa, como a entre direita e esquerda, que são distintas por distinção de razão, mas com fundam ento na coisa. A disti nçãode razão raciocinada não se dá fora da coisa, é uma distinçãovirtu al e não actual. Sua actualida de está apenas no intelecto, não na coisa, enquanto a de razão raciocinante, além

de ser actual no intelecto, é distinta, virtualmente, na coisa.

Precisão (praecisio) é a separação ou distinção efectivament e tomad a. E ela pode ser física, quan do rea lment ese dá na coisa, e intencional, quando apenas é distinta ousepa rada no intelect o. Mas, a preci são intencional pode serobjectiva ou subjecti va. É subjectiv a, quando a cogniçãoatinge a todos os seus predicados ap reendidos confusamente.É objectiva, quando atinge a um só predicado, omitindo-seos out ros. A precis ão intelectu al objectiva é, assim, inadequada, porque não toma todos os predicados. Se é verdadeira, não é totalmente verdadeira.

Os que combatem a distinção formal ex natura rei deScot argumentam que os graus metafísicos no mesmo indivíduo não se distin guem real-realme nte. E alegam que seexistissem fora da mente, seriam singulares, e haveria, assim, no indivíduo, diversas formas substanciais, pois se animalidade diferisse real-realmente da racionalidade, no homem, ambas seriam distintas como princípios substanciais,e o home m teria duas essênci as: a animal e a raciona l. Ade-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 39

mais, distintos real-realmente e actualmente na coisa, dis-tinguir-se-iam real-realmente, o que não acontece com osgraus metafísicos, e haveria uma coisa e outra coisa, sendo,

 poi s,  físicos e não metafísicos. ,

Contudo, na exposição da tese escotista, vê-se claramen

te que são distint os: res-modus-formalitas . Se não podemos identificar racionalidade com animalidade, há uma distinção apenas formal entre ambos, mas essa distinção nãoé real-física, mas real-metafísica. Ora, nos seres finitos, asformalidades não se identificam com a sua natureza tomada totalmente. Nenhum ser é plenamente nenhuma formalidade.   Para a concepção pitagórico-platônica não há qual querdificuldade aqui, porque nenhum ser é a sua formalidade,mas apenas o que o constitui fisicamente imita, por sua leide proporcionalidade intrínseca (forma), o logos do qual

 pa rt ic ipa apenas formalmente pela for ma que tem, que re pete ,  formalmente, aquela, sem ser ela.

Unidade ou um é o ente indiviso. A unid ade pode sernumérica, que é a ausência de divisão por parte dos princí

 pios mate riai s; pode ser for mal , que é a ausência de div isão po r pa rt e dos elementos forma is . A un idade for mal podeser genérica ou específica. Podem, assim, surgir d iversosmodo s de unid ade. Pode-se disting uir a unid ade negativament e, quan do se lhe nega a divisão. A unid ade conveniente a muit os chama-se comu nidad e. Diz-se que uma u nid adeé negativa, quand o é post a pela negação de alguma coisade que carece, e positiva, quando por alguma coisa que selhe afirma.

Pode-se classificar a unidade segundo graus: a unidadede agregação é a que se dá com a junção de partes, por mera contiguidade; accidental, como a de um feixe de lenha;unidade de ordem (ordinal) a em que todas as partes estãoligadas em relação a um mesmo termo; unidade por acci-dente, a que comporta a da ordem, mas acrescenta a da informação por outro ser (que lhe dá uma forma) como a deum vaso; unidade de per si a que tem os princípios essen-

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40 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

ciais da união por si em potência e por si em acto na es-tructura do composto, como a de um ser vivo; unidade desimplicidade, que é o ápice da unidade, é aquela em quetudo o que nela se encontra não somente está unido ao resto,   mas é idêntico.

Entre as unidades de simplicidade ou de identidade,

Duns Scot coloca a ident idade for mal. Há identidade formal quando o idêntico inclui o idêntico em sua razão formal,

 po rtan to po r si e imedia tamen te . O que nã o é for malmen te isto ou aquilo, é formalmente distinto disto ou daquilo.Vimos que se alega que essa doutrina levaria à afirmaçãode formas distintas substanciais num mesmo ser, que possui um só princípio substancial, como seria a racionalidadeno home m. Mas, par a Scot, diversa s formas subst ancia isdistintas não definem sempre diversos seres realmente distint os. Um ser tomist a só pode ter uma única forma, enquanto um ser escotista pode ter várias, sem deixar de ser

um, unid ade. Mas é mist er examinar bem essa dout rina d a plural idade das formas , po rq ue nã o se deve con fundir como que consideraria o tomista uma pluralidade de formas. Oque assegura, e apenas a um ser a sua unidade para os to-mistas, ê o esse desse ser, que impede que qualquer distinção real lhe rompa a unida de. Scot. não aceita ta mbém distinções reais nesse ser um, porque quebraria, também, asua unidade. Mas as formalid ades nã o impõem uma distinção real-real no ser da coisa, mas apenas entre as entidades simplesmen te formais . A não identida de formal é aque se revela por não caber uma na definição da outra, enão implica composiçã o real-real. Deste modo , essa controvérsia poderia encontrar uma solução.

 Na dout rina da part ic ipação pit agórico-p latôn ica , um serfinito é participante formalmente de muitas formas, embora, como tal, tenha êle uma unidade formal, que é tensional,que coerência as suas partes, mas cada uma é participantenum grau intensista dinâmico, determinado pela proporcionalidade intrínseca, que o compõe de formalidades várias,sem que tal implique negação de sua unidade . As formali-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 41

dades são, na nossa terminologia, reais, não, porém, reais-fí-sicas. Conseq uentem ente, a distin ção que se pode estabelecer é real, sem ser real-física. O ser, em sua unidad e, é umser tensional, e a sua tensão, que coerência as partes inerentes, é uma unidade formal.

* * *

Há comunicabilidade quando a unidade intencional serefere a muitos, que é o caso do universal, que se comunicaa muit os; ou seja, que tem a aptid ão de ser em muit os. Essa aptidão pode ser considerada formalmente (formalit er),e positivamente, quando se refere aos inferiores, e fundamentalmente (fundamentaliter), quando não repugna refe-rir-se aos inferiores.

* * *

É a distinção tema de magna importância para a LógicaConcreta. O exame, que faremo s em breve dessa maté ria,auxiliará, de maneira efectiva, a aplicação e o desenvolvimento da capacidade de subtileza, que permite distinguir,onde, frequen temente , muitos confundem. De uma vez portodas, rejeitamos o sentido pejorativo que muitos, incapazesde distin guir, empres tam ao ter mo subtileza. Se as há dequinta-essência, como pejorat ivamen te se dá, que são apenas maneiras viciosas e falsas de distinguir, as que iremosoferecer não se classificam nessa ordem.

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ALGUMAS ANALISES SOBRE CONCEITOS OPOSTOS

Para favorecer à capacidade de subtileza, que consistena aptidão em distinguir onde comumente se confunde, im-

 põe-se que cons tantemente se emp reg ue a aná lis e dos conceitos opost os. Alguns par es de opost os facilitam essesexercícios, ao mesmo tempo que permitem, previamente, estabelecer distinções que, oportun amnte, quando da argumentação e da controvérsia, facilitam o melhor esclarecimento de uma tese ou de uma objecção. Tomemos , par a iniciar,alguns exemplos:

Prioridade — et — simultaneidade

Prioridade é o modo pela qual uma coisa precede a outra. Estabelecia Aristóteles cinco modos de prioridade:

1) a prio rida de do tempo , ou cronológica, que é aquela que indica a antecedência na duração, como a prioridadedo pai sobre o filho;

2) a prio rida de segundo a consequên cia de ser, que é aque se infere de out ro. Assim, animal é ante rior a home m,

e, de homem, infere-se animal. Se é homem , logo é animal ;3) a priorid ade de ordem ou de posição;

4) a prioridad e de dignidade ou autoridade;

5) a prio rida de de natu reza, a que se dá entre causa eefeito, e que se pode dar sem prioridade de duração.

A simultaneidade é a negação da prioridade e da posterioridade.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 43

Há, assim, simultaneidade no tempo, quando as coisasexistem no mesm o inst ante; há s imulta neidad e de consequência, quando mutuamente se inferem, como racional erisível; simultaneidade de ordem, simultaneidade de dignidade, simult aneida de de natu reza. Correspo nde, assim, asimultaneidade à prioridade.

Cometeria uma falácia quem, apontando uma prioridade,  afirmasse a antecedênc ia no temp o. Exemplifi quemos:existir exige ser, porque não pode existir o que ainda não é;logo,  o ser antecede ao existir.

Uma distinção se impõe. O prime iro ser, de onde todos os outros provêm, existe simultaneamente, porque umser primeiro, que não existisse simultaneamente, seria nada.O ser, fonte e origem de todos os outros, Deus para os crentes,  matéria para os materialistas, energia para os energe-tistas, é e existe simultaneamente . Contudo, há uma prioridade apenas de razão, de ordem racional, não de ordemreal.

Ontologicamente, as razões (os logoi) são simultâneos,embora em nosso especular possam surgir sucessivamente(psicologicamente); mas, como razões ontológicas, são simultâneas. O bem compreender este ponto permite que seentenda o real valor das provas chamadas ontológicas, como a de Santo Anselmo, que são, na verdade, a simultâneo,como o demonstramos em "Filosofia Concreta".

Consequentemente (e não é difícil concluir), onde háanterioridade há simultaneidade, e vice-versa, não sob omes mo aspecto. Essa evidência é de ordem dialéctica, e éimp orta nte . Vejamos alguns exemplos que nos favorecem ademonstração da tese.

O pai tem prioridade ao filho na ordem cronológica,mas simultaneidade na ordem lógica, porque só há pai quando há filho, só há filho quand o há pai. Os correla tivos sem

 pr e ap on ta m essa simultaneidade . Assim, o esc rav o implicacorrelativamente o senhor. A causa pode anteceder cronologicamente ao efeito, mas, enquanto antecede, é potencial;

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44 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

é actualmente causa do efeito, quando o efeito coexiste simultanea mente com ela. Há sempre possibilidade de examinar a anterioridade e a posteridade sob um aspecto, e estatuir a simultaneidade sob outro.

 Na aná lise, deve-se , semp re que possível, pr oc ur ar distinguir o aspecto que revela anterioridade e posterioridade,

e o que revela simultaneidade, tanto quanto é possível esta belecê-los.

Vejamos agora a polaridade

moção — et — repouso (ou perduração)

Há moção, quando há passagem de um estado para outro.  Se a moçã o é quan titat iva, como a de aume nto e de diminuição, algo perdura que é aumentado ou diminuído; seé qualitativa, a substância, que sofre a alteração, perdura;se é de transladação, o que se translada perdura de certomodo, enquanto se translada (movimento); se é de geração,o que perde a sua forma para adquirir outra, perdura enquanto matéria da geração; se é corrupção, sendo esta simultânea com a geração, porque o que se corrompe é o que

 pe rde a sua forma pa ra ad qu ir ir ou tr a, sen do a geraç ão oadquirir a nova forma, e corrupção o perder a anterior, hásempre algo que perdura.

Assim, onde há moção de qualquer espécie, há perduração.  Se alguém actualiza apen as a moçã o e virtuali za a perduração, ou vice-versa, observa o facto, ou a matéria em exame, abstractivamente, não concretamente.

Assim, concretamente, devem-se considerar os opostosimprescindíveis, que, na nossa dialéctica, chamamos antinô-micos, os quais, dialècticamente, não se reduzem um ao outro.  Onde há antinomia, há sempre, sob algum aspecto, a

 pr esen ça dos opos tos. Os exe mpl os dados até aqui são an-tinômicos.

 Nos seres corpóreos, pode-se est abele cer a an tinomia

intensidade — et — extensidade

MÉTODOS LÕGICOS E DIALÉCTICOS 45

Todo ser corpóreo tem uma tensão, que é a força desua coerência, de sua coesão, que constitui a sua unidade.Como tal, toda tensão corpórea estende-se, realiza-se ex, tende ex, que é o aspecto qu antit ativo , extensi sta. Por sua vezé, em si mesm o, in tende, tend e in, quali tativ ament e. Assim,o tamanho de um ser corpóreo é extensista; a qualidade é

inten sista. O verde desta folha é verde em si; os cinco centímetros de sua extensão é um tamanho que se apõe a outrotamanho, algo que se ex :tende.

' Onde há seres corpóreos, há simultaneamente extensidade e intensidade, e uma não se reduz à outra, pois, no sercorpóreo, enquanto tal, não pode haver a extensão sem aintensidade, e vice-versa.

Já a polaridade

infinito — et — finito

não é antinômica sob certo aspecto, pois o ser infinito podeser sem que necessaria mente exista o ser finito. Assim, teologicamente, Deus pode ria existir sem existir a criaç ão. Acriação tem sua razão de ser em Deus, e não Deus na criação. Sem Deus, não haveria criação, mas sem a criação poderia existir Deus. Não vamos, natura lmente , examinar asdisputas teológicas que aqui podem surgir, mas se tomarmos o exame desta polaridade, não na Teologia mas na Ontologia, as razões são clara s e per mite m melhor esclarecimento.

Diz-se que é infinito o ser que, para ser, não dependede outro, e que, portanto, tem em si mesmo sua razão de ser.Esse ser, que tem a sua razão de ser em si mesmo, se é limitado, é composto do que é e do limite que lhe marca o quenão é. Neste caso, não seria infinito. Só se pode conce berum ser infinito quando é absolutamente independente paraser, e que é plen ament e êle mesmo sem restri ções. Mas, oser finito é o ser dependente; é o ser que, para ser, necessitade out ro que é a sua razão de ser. É, por tan to, limi tado.

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46 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

 Não há nenh uma neces sidad e de que haja o ser finito pa rahaver o ser infinito. Contud o, teologic amente, a inversa j ánão é verdad eira. O ser finito, par a ser, exige o ser infinit o.Sem que examinemos as provas que podem aqui ser aduzidas, de qualquer forma ressalta que, teologicamente, não háantinomia entre o infinito e o finito.

Deve-se distinguir o infinito em acto de o infinito em potência

Infinito em acto — et — infinito em potência

Está em acto o que está no exercício de ser; está em potência o que ainda nã o é, ma s pode vir-a-ser em seu plenoexercício.

O infinito em acto é o infinito no pleno exercício de seu pode r inf ini to; inf ini to em potênci a, o que pode se r constant emen te, sem limitaç ão final alguma. Assim, o infinitomatemático quantitativo, como se pode ver na numeração,é infinitamente potencial, pois podemos sempre acrescentarum número, como se verifica com a razão de pi.

O infinito quantitativo em acto é absurdo, porque permitiria acrescentar mais alguma quantidade. O infinito emacto só pode ser, pois, algo não-qu antita tivo. Como a quantidade é antinômica à qualidade, como manifestações da ex-tensidade e da intensidade, o infinito em acto não é qualitativo senão analogicamente, não univocamente. O infinitoem acto só pode ser um ser não-corpóreo, porque todo sercorpóreo é tridimensional, ou pelo menos dimensional, me

di vel, portan to, e, consequentemente, aponta limites.Assim, o poder fazer sem limites é o infinitamente potencial activo, e poder ser feito sem limites é o infinitamente potencial passivo.

Temos, pois, a polaridade

Infinito potencial — et — infinito potencialactivo passivo

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 47

 Não há o Cr iador sem a cr ia tu ra . Daí dis tin gui r-se oconceito de Deus de o de Criador, porque Deus, se não criasse,  seria o Criador apen as potencial mente activ o. Mas éactualmente Criador, porque há a Criação.

É sempre importante verificar se cabe ou não a polaridade

em acto — et — em potência

Assim, em potência, todo ser é tudo quanto pode ser,mas é em acto apenas o que já está no seu pleno exercíciode ser. Já salient amos alguns exemplos em que em acto, eem potência, permitem distinções esclarecedoras.

Para os que afirmam que acto e potência não são anti-nômicos, constituiriam eles aspectos de uma só realidade. Neste caso, o act o é o acto da potência , e a potênci a, a potência do acto. Seriam, pois , correla tivos.

Quanto aos seres dependentes, realmente são eles umacomposição de acto e potência, porque não são existencialmente tudo quanto podem ser potencialmente. Um ser de

 pendente só po de ser o que é f undamentalmente em seu act o, po is um ser , quan do é o que é, po tenc ialmente pode ser tudoquanto é proporcionado ao seu ser e ao seu suceder.

Deve-se, contudo, distinguir

actual — et — virtual

Actual é o que está em acto; virtual o que é potencial,mas fundado em algo já em acto. Assim, o potenci al hi

dráulico de uma cachoeira está em &cto, mas a sua transformação em força motriz é virtual, porque essa força já háno potencial hidráulico, embora ainda não dirigida para determinada utilização.

A priori — et — a posteriori

Diz-se que é a priori o que antecede a experiência, ouas providências que devem ser tomadas para fundamentar o

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48 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

que  é   afirma do. Assim se pode falar na existência de Deusa priori, quando se quer fundar no anelo de perfeição absoluta, que se manifesta nos seres humanos . A posteriorié o que é fundado na experiência, ou o que decorre de providências toma das . Assim, Tomás de Aquino e Suarez aceitam apenas as provas a posteriori de Deus, enquanto Santo

Anselmo, Duns Scot (em parte), Descartes, Leibnitz, etc,aceitam provas a priori.

Simples — et — composto

Diz-se que é simples o que em seu ser nada tem que sediferencie do resto, e compo sto, aquele cujo ser é formadoda presença, pelo menos, de dois seres ou modos de ser quese diferenciam. A simplicid ade pode ser relativa ou absoluta.

Simplicidade — et — simplicidade

absoluta relativa

É de simplicidade absoluta o ser que é essencial e existentemente êle mesmo, como o é o Ser Supremo, Deus paraas religiões. Ê de simplicidade relativa o ser que se apresenta simples sob um dos elementos fundamentais de ser:como simplicidade material, ou simplicidade formal.

Um pedaço de ferro puro é simplesmente ferro, mas éum compost o de maté ria e forma. Um ser, que seja puramente forma, ainda poderia ser composto de acto e potên

cia. Na simplici dade relativa, há uma escalaridade ; na absoluta, não. Só um ser pode ser absolutamente simples: oSer Supremo. Todos os outros apresenta m aspectos desimplicid ade e de compos ição. As composições podem se rfísicas, lógicas, ontológi cas. A composiç ão en tre acto e potência é ontológica; a de uma liga de metais é física.

Ao alegar-se a simplicidade, deve-se, desde logo, caracteriz ar que espécie de simplicid ade. O exame desta permi-

METODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 49

te desde logo distinguir, e, consequentemente, encontrar soluções proporcionadas às distinções efectuadas.

Daí a polaridade.

Simples — et — composto

Diz-se que é necessário o que é nec-cessum, de nec-cedo,não cedível, o que não se pode ceder. O ser necessário éaquele, cuja não existência não pode ser aceita (cedida). Anecessi dade é o carác ter de tal ser. Ela pode ser lógica ouontológica.

 Nec ess idade lógica — et — nec ess ida de ontológica

O necessário logicamente é a ilação inevitável que seextra i das prem issa s. O necessári o ontologi camente segundo a ordem é o que não pode não existir. Assim, na o rdem

do agente,  é   aquele sem o qual os efeitos não se dão; naordem dos meios, é aquele sem o qual os fins não são obtidos;  na ordem do ente, aquele que não pode não existir.

O necessário, na ordem dos entes, pode ser

necessário hipotético — et — necessário absoluto

Hipotético (de hypo e thesis, sub e posição) é aqueleque, se é, neces sariam ente é. Assim, se tal facto se dá, necessariamente se dá, por causas necessárias. Absoluto éaquele que existe absoluta e independentemente de qualquer

condição , e não pod e não-existir. Em suma, é aquele cujanão-existência implicaria contradição. Assim, se existe umefeito, existe necessariamente sua causa. Esta necessidadeé hipotética, porque o efeito é contingente, e se este não existisse, não implicaria qualquer cont radição. Mas, para existir o que existe, necessariamente sempre existiu algum serque deu ser a tod os os out ros que sucedem. A existênciade um ser necessário, absolutamente e independentemente,

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50 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

se impõe, porque, do contrário, implicaria contradição. OSer Supremo é absolutamente necessário, como demonstramos apoditicamente na "Filosofia Concreta", porque a suanão-existência implicaria contradição.

ImpÕe-se distinguir, em suas linhas gerais, o ser

necessário — et — contingenteO ser contingente também pode ser tomado logicamente

e ontolog icamente. Logicamente, conting ente é a ilação, nãoinevitável, tira da das prem issa s. Ontologicamen te pode sertomada também na ordem do agente, e é o agente livre; naordem dos meios, é o meio que não é o único para alcançarcertos fins; na ordem do ente, aquele que existe ou pode nãoexistir sem implicar qualquer contradição a sua não existência; ou, seja, aquele cuja existência não é de essência absoluta . O ser contingen te é aquele que de per si é nada , eque é impelido a ser por outro.

É mister considerar quando se fala de necessidade, deque necessidade se fala, pois há muitas, bem como se realmente é de necessidade que se fala e não de contingência.

Se examinarmos os efeitos, verificaremos que eles seapre sent am de dois modo s que merecem dist inção . O fogo,

 po r exe mplo, aqu ece a chale ira de águ a di rectamente . Doalto de uma casa, cai um vaso que vai mat ar um cão. O

 pr imei ro efeito é di st in to de o seg und o, pois o pr imei ro so bre vêm da de te rminação da cau sa, enqu anto o seg und o não provém da de te rminação da causa .

Efeito per se — et — efeito per accidens

O primeiro é chamado de efeito per se (per si), e o segundo de efeito per accidens . O vaso per se cai, e o cão

 pe r se passa, ma s a conjunção: o vaso cai r sobre o cãoé algo que acontece accidentalmente, porque não é determinado por nenhuma causa, porque o andar do cão não éfeito pelo cair do vaso.

•»

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 51

Muitas vezes os efeitos por accidente são confundidoscom os efeitos per se, e levam a julg ament os falsos. Muitasdas supers tições surgem dessas más apreciações. Algo queacontece accidentalmente é considerado como um efeito perse,  como se uma causa o ordenasse, quando, no efeito poraccidente, há apenas a conjunção fortuita de efeitos que dãosurgimento a um novo facto, com suas características pró

 pr ia s.Toda vez que temos o exame de um efeito, devemos ve

rificar se é êle per se ou per accidens, pois, da sua caracterização, desde logo pode esclarecer-se a matéria em exame.

Temos aqui um ponto importante para distinguir o drama de a tragédia junto aos gregos, que, de tais coisas, tinham um sentido claro. O ser human o não se espanta quando assiste ao suceder dos efeitos per se, porque sente e percebe que são eles determinados directamente por uma causa, mas quando em face de acontecimentos, que são efeitos

 pe r acciden s, cujo conjunção dá surgimento a um facto insólito ou inesperado, a razão humana, por não encontrar arazão determinante e intencional do efeito per accidens, estaca e vacila em suas inter preta ções. Compreende-se quesurja, aqui, a ideia de Tykhé grega, que corresponde à Fortuna dos romanos, ao Fado, ao Destino dos occidentais, umser que é personalizado como tendo dado uma intenção avários efeitos per se para que eles produzam um efeito peraccide ns. Como pode o hom em mano bra r efeitos per se,

 pa ra que, de sua conju gação , surja um efei to pe r acc idens ,imagina êle que há uma inteligência que coordena a conjunção dos efeitos per se, para que surja um determinado efeito

 pe r acc idens. Assim, qu an do alg uém, ao seg uir um a est rada, vê subitamente brilhar no chão uma pedra e, apanhan-do-a, verifica que é um diamante, diz-se que, afortunadamente, encontrou um diamante. A esse acontecimento, quenão oferece uma imediata determinação a uma causa, e queé um efeito per accidens, é dado como produzido por umainteligência à qual cabe coordenar as conjunções de efeitos

 pe r se pa ra pr od uz ir em efei tos pe r acc idens. É o Fado , o

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52 MAHI O FERREI RA DOS SANTOS

Destino, a Fatalidade, a Tykhê, a Fortuna, a Fada, o Fatumdos romanos. . .

A tragédia está no acontecimento fortuito, produto deuma conjunção de efeitos per se, que realizam um efeito peraccidens. Quando alguém, entregando-se ao vício, decai pouco a pouco, desce os degraus da vergonha e do vilipên

dio, até tombar definitivamente na destruição final, tal acontecer é dram áti co. É o Dra ma (em grego acçã o), que sucede dentro de uma ordem de determinações. Mas, quandoÉdipo, levado por uma conjunção de efeitos per se, acaba

 po r ma ta r o pr óp ri o pai, desposar a mã e e ser rei , é trágico.

Acto diz-se de qualquer realidade no pleno exercício desi mesma , Opõe-se a potência , que é o que pod e ser e aindanão é, ou ainda não é no modo que pode ser.

O acto pode ser ainda:

acto entitativo — et — acto qualitativor

O acto entitativo é o que não é princípio de perfeiçãoqualit ativa qualq uer, e expres sa prese nça fora do nada . Qualitativo é o que é alguma perfeição qualitativa, seja de quemodo fôr o sujeito.

O acto qualitativo pode ser ainda:

acto qualitativo — et — acto qualitativoaccidental substancial

Accidental, se se refere a uma perfeição accidental; substancial, se se refere a alguma perfeição substancial do su

 je ito.

Ainda pode haver a distinção entre

acto qualitativo — et  —■   acto qualitativosubstancial relativo substancial absoluto

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 53

Substancial relativo, se se destina a informar algum su je ito; abso lu to , se nã o se dest ina a in formar qual quer su je ito.

Acto qualitativo substancial — et — acto qualitativo subs-absoluto não puro tancial absoluto puro

É não puro, se admite ainda acrescentar alguma perfeição; é puro, se não admite qualquer potencialidade.

A potência é o que simplesmente pode ser, e que aindanão é.

Pode ser distinguida em

objectiva — et — subjectiva.

A objectiva é própria do ente puramente possível, queainda não existe, mas pode existir; a subjectiva, também

chamada real ou física, é a própria coisa já actual, que poderecebe r alguma afecção. Est a pode ser

 potência física act iva — et — potência física passi va.

Activa é a potência de agir; passiva é própria da coisaactual, que pode ser de outro modo. E esta será

substancial — et — accidental.

Substancial, se é capaz de receber afecção substancial;accidental, se de afecção accidental.

Daí poder-se distinguirser potência — et — ser-em-potência.

Sem em potência é não estar ainda no acto que é possível ser; ser potência é ser sujeito de algum acto.

Essência é o pelo qual formalmente uma coisa é o queela é, e que a distingue das out ras. Diz-se formalm ente ,

 po rq ue o que const itui a essênc ia é intr ínseco à coisa e nã o

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54 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

extrín seco. Assim não se deve confundir a figura, que éuma delimitação qualitativa da quantidade, com a essência.

A essência pode ser

física — et — metafísica.

Diz-se que é essência física aquela que constitui a coisaindependentemente da nossa mente.

A essência metafísica consta de duplo elemento de razão distinto, um comum e outro diferencial.

Assim, corpo e psiquismo são a essência física do homem; animalidade e racionalidade, a essência metafísica.

Um ser é depend ente de out ro. Mas depen dente c omo?

Depend ente ^relativamente — et — dependente absolutamente.

Um ser pende de outro para ser, mas, quando é fora desuas causas, sua dependência é relativa; no entanto, umamodal é um inesse, pois seu ser é total e absolutamente emoutr o, como o é o movime nto de um auto, de o auto . Essadependência é absoluta.

A dependência pode ser ainda

actual — et — potencial.

Actual é aquela que consiste na acção que produz a coisa, e da qual ela depend e. A modal é absolu tamen te de

 pend en te po r depen dên cia actual . Potenc ial é a do ser queainda não é, mas que, par a ser, depen derá necess ariame ntede outro.

É ainda a dependência

essencial — et — existencial.Essencial, quando sua essência depende de outro; exis

tencial, quando é a sua existência que depende. Assim, ovaso de barro depende essencialmente do artífice e, existen-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 55

-cialmente, do barro e do artífice. A dependên cia esse nciale existencial não se separam na coisa, mas se distinguemratione (quanto à razão).

Toda dependência é positiva quando actual, e é radicalquando toda realidade do efeito depende de sua causa, como

a criatura depende do Criador.

DA CAUSA

Convém distinguir a causa per se de a causa per acci-dens

causa per se — et — causa per accidens

Causa por accidente é aquela que não tende a causar o

efeito que se realiza pela acção eficiente conjunta de outracausa; assim o fogo, que queima o fio e causa a queda da pe dr a suspe nsa.

Causa per se é aquela que tende a realizar efeito quelhe corresponde directamente. Ela pode ser

causa per se física — et — causa per se moral.

Física, quando realiza fisicamente a acção; moral, quando não realiza a acção, nem o efeito, como o aconselhar alguém a fazer alguma coisa.

 No pr ob le ma do mal, po r exe mplo, alguns , em oposiçãoàs ideias religiosas, querem transformar a divindade emcausa do mal, quando o mal surge das deficiências e dosdesvios da nat urez a das coisas e dos homens. A divindad enão é causa per se do mal, mas apenas causa por accidente,■como o bem não pode produzir per se o mal, mas apenas poraccidente.

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DA VERDADE

Em torno da verdade, muitas são as conclusões que seencontram constantemente, e merece por isso que se delineiam claramente as distinções que se impõem.

Em seu sentido comum, verdade expressa a igualdade ouconformidade do intelecto com o ser (adaequatio intellectusel rei ). Est a é a mane ira escolástica, que segue a linha aristotélica, de conceber a verdade.

Contudo, entre os pitagóricos de 3.° grau e Platão, a verdade não é apenas a adequação, a conveniência, a igualdadeentre o esquema mental e a coisa, mas, algo mais, transcendenta l. Realment e, verdad e é um conceito trans cend ental , eao referirmo-nos a qualquer entidade, podemos falar na suaverdade, que se identifica re et non ratione (na coisa e nãoquanto à razão, a quididade), com o seu próprio ser, emboraformal esquematicamente seja outro seu conteúdo eidético.O ser da coisa revela-se a nós, e a verdade surge . A nossaverdade está na adequação do intelecto com a coisa, mas asua validez está na capacidade de desvelar essa verdade, queé da coisa. Assim, em si mesma s, todas as coisas, to das

as entidades são verdadeiras, e tudo em si mesmo é verdade.   A falsidade surge da não conveniência do que se pens asobre a coisa e a coisa.

É compreensível que tal modo de considerar a verdadetenha levado muitos filósofos a falarem em graus da verdadee em grau s da falsidade. No enta nto, no pens amen to escolástico, se alguns admitem graus de falsidade, não admitem,

 po rém, gr au s de ve rdade. A ve rda de , sobr et udo a lóg ica.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 57

sendo formal, é ou não é, e não admite escalaridade nemgraus. O que se diz de uma coisa, o que o intelecto esquematiza de alguma coisa, ou é adeq uado ou não à coisa. Eessa adequação qualitativamente não permite graus, poisqualq uer desconveniência de tal espécie é falsidade. Comohá variação na esquemática que formamos sobre as coisase sobre os aspectos que delas consideramos, a verdade apre-senta-se também vária, mas rigidamente formal sob cadaaspecto em que é considerada, o que tem levado, consequentemen te, a uma classificação da verdad e. Preferimo s iniciar pelo exame das diversas espécies de verdade, para, afinal, tecermos alguns comentários dialéctico-concretos sobreela, no intuito, que é sempre o nosso, de concrecionar o quehá de positivo sobre a matéria.

"Verdade lógica é a perfeita conformidade entre o intelecto e a coisa, segundo é enunciada pelo juízo.

Verdade ontológica é a conformidade da coisa com ointelecto.

Verdade lógica — et — verdade ontológica.

Verdade material é a perfeita conformidade entre oenunciado sobre a realidade de uma coisa, e a sua realidadecomprovada, como a que se verifica no juízo: A Terra temuma forma esférica. A verda de mate rial é lógica por suavez.

DO BEM

Bom, de modo geral, é o que convém a alguma coisa,e é por esta apetecido de qualquer modo que o seja. Bemé o que é bom. E o bem pode ser

 bem relati vo — et — bem absoluto

Bem absoluto é o que é conveniente a si mesmo e porsi mesmo apetecível. Bem relativo é o que é conveniente a

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58 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

outro, o que é apetecível a outro, sob qualquer forma que,se apresente.

Tanto o bem relativo como o absoluto podem ser

 bem  (bom)  por essência — et — bem (bom) por participação

Bom  por essência é o que é bom a si mesmo e por simesmo; bom por participação o que é bom por outro e paraoutro.  A criatura é boa por participação; Deus é bom poressência.

DA POSSIBILIDADE

É possível tud o aquilo que não con tradiz o ser. O nadaé impossível, por que con tradiz o ser. Possibilida de é o carácter de ser possível.

A possibilidade pode ser

 possi bi lidade in tr ínseca — et — possi bi lidade extrínse ca

A possibilidade intrínseca é aquela que não inclui contradiç ão. Possibilidade extrínseca é a que corresponde atud o que pode ser produ zido por uma causa. A curva rec taé intrinsecamente impossível, porque curvo é ausência derectitude, e rectitude ausência de curvatura.

Impossibilidade é a oposição contraditória da possibilidade.

Também devem-se distinguir

impossibilidade intrín seca — et — impossibilidade extrínseca

cuja compreensão de seus conteúdos decorre por oposiçãocontraditória aos anteriores.

O nada absoluto é impossível por ser contraditório em„si mesm o. A essa impossibili dade chama-se de metafísica.

DA ETERNIDADE E DO TEMPO

Duraçã o é a perma nênc ia da coisa em seu ser. A  duração  pode ser

criada — et — incriada

A duração criada é a própria da coisa criada, da coisafinita. Incria da, a do Ser Supremo .

A duração criada apresenta-se ainda como

 pe rman en te — et — sucess iva

Permanente é a própria das coisas que duram em seu pr óp ri o se r. Sucess iva é a pr óp ri a dos entes sucess ivos,como é o tempo e o movimento, cujas partes não são simultaneamente, mas continuamente, umas posteriores às outras.

Permanente, por sua vez, pode ser

Aevurn (eviternidade) — et — Instante permanente

A eviternidade é própria dos seres que permanecem emseu próprio ser, mas que são incorruptíveis, como o são osseres espirituais.

Instante permanente é próprio das coisas permanentes,que são, contudo, corruptíveis, como os corpos físicos.

A duração incriada é a eternidade, que é totalmente simult âne a em si mesma, sem sucessão. O tempo é a duração criada sucessiva.

É Ó É

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Para os religiosos, Deus é eternidade; para os materialistas, a matéria é eviterna e não eterna, pois a matéria,toma da em si mesma, é incorr uptív el. Corruptí veis são assuas manifestações.

Contudo, um objector pode dizer se a matéria é incor

ruptível, ela não é corpórea, nem composta, mas simples.Mas essa simplicidade se fosse absoluta, torná-la-ia impossível de manifestar-se heter ogene ament e. E se a ma tér ianão é simples, é composta, e se é composta será de matériae de não-matéria, ou, então, de outros princípios que a antecederiam por dignidade, e ontologicamente anteriores a ela,o que refutaria o materialismo.

Aos termos significativo ou predicativo, chamavam osescolásticos de categoremáticos, que são aqueles que significam algo por si mesmos, como homem, e os consignativoschamavam de sincategoremáticos, para referir-se aos termos

que indicam um advérbio ou uma modificação de outrostermos, como sejam os advérbios igualmente, formalmente,velozmente, os quais significam modificações de outra coisa.Essa divisão tinha seu magno interesse, como aliás o tem,

 par a o exame de te ma s ta is como o da inf inidade, po is oinfinito, a infinitude nos seres finitos, como se vê em "Filosofia Con creta", esse infinit amente, em suma, é sinca-tegoremático, pois é um modo de ser dos entes finitos, maso infinitamente do Ser Supremo é categoremático, porqueeste é infinitamente por si mesmo, e a infinitude, nele, nãoé uma modalidade do seu ser, mas seu próprio ser, como demonstramos apoditicamente naquela obra.

Para a dialéctica con creta, essa subdiv isão to rna se demagna importância, porque se deve, no exame dos conceitos,  verificar o que é sincategoremático realmente, do que éapenas aparentemente sincategoremático. No exame das

 pr op ried ad es da ma té ria, algumas delas são ou sincatego re-máticas ou categoremáticas. A resposta afirmativa ou negativa para uma ou outra possibilidade de resposta revela

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 61

a posição em face da significação e do conteúdo conceituaiontologicamente bem fundado da matéria.

Desse modo, em alguns seres, o que era sincategoremático para outros, é categoremático para êle. Para a mate-ria-prima, para exemplificar, é discutível a sua topicidade,o que já não é para a matéria física, corpórea, que é

topicamente existente, e a sua estância intrínseca é topicamente colocada. O topicamente, aqui, para tal matéria écategoremático, como o seria o extensivamente, o intensivamente etc, aplicados a ela.

Vê~se, deste modo, que essa classificação dos conceitos,que só teve uso entre os escolásticos, é, contudo, bem proveitosa para a nossa dialéctica, pois favorece a mais nítidacompreensão e conhecimento dos factos, permitindo classificar aspectos que são suficientemente distintos e favorecema melhor inteligência dos mesmos.

Examinemos a oposiçãoDivisão — et — Indivisão

Em sentid o amplo , divisão é a desart icula ção de umtodo em suas partes.. Em sentido restricto, refere-se à extensão de um conceito universal ou de uma classe, pela qualse entende a totalidade dos objectos que realizam um conceito. Essa divisão distingue-se em decomposição, queconsiste na separação das notas de um conceito ou de umtodo real em suas partes.

A divisão lógica exige, como vimos:1) ser exaustiva, por meio da qual os objecto s enume

rados devem ser todos da classe total;

2) deve cons tar de mem bro s que se excluam. Nen humobjecto deve pertencer a mais de uma classe parcial;

3) ser ordena da, e pa ra tal não se deve mud ar o fundamento antes de terminar a divisão.

62 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTI COS 63

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62 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

A divisão pode ser

substancial — et — accidental

Substancial, se a nota separada é substancial; accidental, se fôr accidental.

Quando se divide um membro de uma divisão, decorrem divisões principais e subordinadas . Quando se realizauma série orde nada de divisões, realiza-se uma classificação.

O conceito homem pode ser dividido em animal e racional. Animal, po r sua vez, em vivo e sensitivo, etc.

Examinemos a oposição

Virtude — et — vício

Escrevemos em "Sociologia Fundamental e Ética Fundamental":

"O termo virtude vem de virtus, cuja origem em latimé vir, var ão. Seu prim eir o sentido era de qualid ades viris,sinonimo de virilidade, como o vemos empregado em Cícero.Temos em grego o termo ê aretê, que significa, etimologicamente, o que agrada, mas o que agrada em sentido ético.Deste modo, ambos os termos são sinónimos, pois têm omesmo conteúdo esquemático-conceitual.

Tomado em seu sentido moral, virtude é o hábito bom,a qualidade, a potência física ou moral de produzir o bem.

Portanto, são virtudes os hábitos bons e os hábitos bons sãovirtuosos.

Há quatro virtudes que correspondem às exigênciasconcretas do homem, que são virtudes fundamentais. Da

 pa lavra ca rdo, cardin is , que em latim significa o gonzo, noqual gira a porta, tais virtudes tomaram o nome de virtudescardiais, por serem elas fundamentais, de cujas combina-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTI COS 63

ções e graus surgem todas as principais virtudes humanas,fundadas, sobre aquelas: a prudência, a justiça, a fortalezae a temperança.

Chama-se de prudência a virtude que consiste em agirrectamente, a virtude intelectual prática que, nos casos particula res, p ermi te ao home m distin guir o que deve fazer;

distnguir entre meios e fins.Sem a prudência, como alcançar o homem a realização

concre ta do seu bem? Se seguir apen as os insti ntos, podealcançar um bem estar físico determinado, do corpo, não porém à concreção que implica os outros factores, que já estudamos, pois sem a sua harmonização funccional, não podesurgir a plenitude do bem alcançável pelo homem.

O termo prudência, que implica os termos vidência e pre,  pro, que indicam a vidência antecedente do que poderealizar-se, os quais dão a forma contracta de prudência, é

uma previsão, uma visão antecipada e, como provisão, édisposição que leva a intervir na nossa actividade, a fim deantecipadamente muni-la do que é mister para a consecuçãode um bem. Pela prudência podemos, apesar da insepara

 bi lidade dos mal es , me lh or ar a si tuação do bem.

A prudência implica, portanto, oito condições integrantes,  que lhe são coadjuvantes, cooperadoras: memória, recordação dos factos pretéritos; inteligência, capacidade cognoscitiva dos factos presentes; providência, consideração sobreos factos futuros; docilidade, disposição de ânimo de renunciar ao próprio critério, capacidade de ser ensinado por

outros, capacidade de ser conduzido pelo que lhe é superior,seu mestre, que lhe possa inculcar o que há de mais consentâneo; solércia, capacidade de captar os meios mais convenientes; razão, capacidade de coligir os aspectos distinguidos e ordená-los; circunspecção, capacidade de considerar ascircunstâncias (circum, em torno; spectare, contemplar);cautela, cuidado em evitar o que é mau, evitar o que é inconveniente.

64 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

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64 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Prudê ncia não é só cautela, nem circun specçã o, nemsolércia, etc.

A prudência, como virtude, exige todos esses elementoscu^a harmonização a constituem e apontam o seu grau.

Pode um ser humano atingir a completude de seu bemsem tal virtude, sem adquirir tal hábito, sem estimulá-lo e

desenvolvê-lo? Não te m de (não deve) o ho me m desenvolv er tal vir

tude?

É ela, portanto, fundamental para que seja êle capaz dealcançar o seu bem.

Seu contrário é a imprudência, que se revela na faltadas qualidades exigidas. É imprude nte o homem que sócuida do presente sem preocupar-se com o futuro, o que nãosabe distinguir os meios para alcançar os fins, o que nãotem memória, aquele a quem falta a suficiente base de in

teligência, de previsão e de circunspecção.

Exige, assim, a prudência capacidade de distinguir osfins dos meios, habilidade em resolver com clareza e segurança os casos particulares, aptidão para julgar o justo eo conveniente.

 Não se deve considerar como impr ud ente aqu ele que nã ocuida simplesmente do futuro, mas sim quando não se preocupa com o futuro, quando o pode fazer, quando nãoemprega a necessária circunspecção, o que leva a uma "im

 pr ud ên ci a te merá ri a" pela fal ta de atenção, qu e lhe era

 possível alcançar .São contrários da prudência, a precipitação, a inconsi

deração, a inconstância, a negligência.

Também se desvirtua a prudência quando alcança seusexcessos, pois há um meio termo justo e bom, no qual elaeticam ente actua. Temos os seguint es excessos; a falsa prudência, a qual distingue bem os meios, mas para alcançar

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTI COS 65

um fim mau; a astúcia, a que escolhe meios, maus embora, pa ra alcan çar algumas vezes um bo m fim; a fraude , qu andose realiza através de factos, e o dolo. pelas palavras.

Considerm-se, ainda, como virtudes anexas da prudência as seguintes: a eubulia, o hábito recto de consultar; asynesis, o hábito recto de julgar segundo regras comuns; a

gnome, o hábito recto de julgar segundo os princípios superiores, sobretudo jurídicos.

DA JUSTIÇA

"Considerada de modo estricto, justiça é a constante e pe rpét ua vontade de con ceder o direito a si pr óp rio e aosoutr os, segundo a igualdad e. É uma virtud e subjectiva, portanto.

Em seu sentido primário, significa a exactidão, comonos termos atitude justa, expressão justa, mas em sentidomoral significa o respeito que há em cada um de dar a cadaum o que é seu.

São elementos integrantes da justiça: a capacidade defazer o bem. que é devido aos outros, e o hábito de evitaro mal que possa ser feito aos outros.

A justiça implica como coadjuvantes: respeito a igualdade pela observância das normas morais; veracidade, queimplica a conformidade entre o que se diz e o que se crê ou

quer; consiste, em suma, em não enganar os outros nem emenganar-se; gratidão para com os que nos beneficiam; liberalidade; afabilidade ou amizade, equidade, capacidade deaplicar adequadamente a justiça.

A clássica divisão da justiça é a que segue:

 — a Just iça lega l, que diz res peito às leis es ta tu ídas nasociedade;

É Ó É

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66 MÃRIO FERREIRA DOS SANTOS

 — a distributiva, que é dada aos memb ro s de um a sociedade segundo seus méritos e faculdades, proporcionadamente;

 — a comut at iva, que con sis te na igual dade de val or dascoisas cambiadas, pois o comerciante que vende acima do preço normal ofende a justiça comutativa (decum e mutatio);

 — a social , que tende ao be m colectivo, à prospe rida dede todos para que todos vivam na plenitude da suadignidade pessoal;

 — a int er-i ndi vidual , que con sis te em não prejudicar aninguém;

 — a atribu tiva, que con sis te em dar a tí tu lo gratui to(como a justiça social);

i—  a retributiva, que dá a título oneroso ou de reciprocidade, e que equivale à comutativa.

A justiça pode ainda manifestar-se em diversos aspectos,  como a intra-social, própria de toda sociedade, a que sefunda na coordenação da comunidade humana, na subordinação aos princípios de ordenação social, na internacional,e na intelectual, que se manifesta na imparcialidade da crítica.

A injustiça, que é contrária à justiça, manifesta-se naordem real quando se atenta contra o que é devido às coisas,  às pessoas ou às actividades; jurídica, quando se ofendeao que institui a lei; também em perturbar as boas normas,em faltar à verdade pela falsificação ou pela revelação doque deve caber silêncio, pela sedução ao violentar a ingenuid ade alheia, pela calúnia, p ela infâmia, pela perversão ,

 pel o emp reg o da violência, do suborno, da as túcia malévola, pela pr ivação de benefíc ios leg ít imos, pela ofensa às pessoasindividuais e sociais, pela prática dos actos indevidos a simesmos ou aos outros, pelo juízo imprudente ao julgar osfactos, etc.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 67

DA FORTALEZA

"A fortaleza ou valentia é a capacidade de, segundo arazão, ou melhor em atenção a bens superiores, ser capaz dearrostar perigos e enfrentar o mal que daí possa advir.Exige ela a capacidade de enfrentar o árduo trabalho de

noss a vírilização e a capacidade de enfrentar os riscos e perigos.

Se neles há o perigo de morte, temos o heroísmo . Avalentia, sem a prudê ncia, é a audácia . Se há cap acidadede suportar as adversidades, temos a paciência; se em man-ter-se firme no perigo, até da vida, temos a generosidade;a confiança, quando é justo em si mesmo ante os riscos; émunificência, quando há capacidade de sacrificar imediatamente bens em benefício de fins bons; e tenacidade, quandohá firmeza ante as dificuldades exteri ores; e constância,quando se mantém firme ante as resistências interiores.

Por deficiência, temos a ignávia, que é o defeito em ouvir; a timidez, que é o excesso de temor; o medo, que é oexcesso de temor ainda maior.

DA TEMPERANÇA

A temp eranç a é tamb ém a mode raçã o. Consiste ela namoderação nas tendências aos apetites sensíveis, cuja satisfação desregrada põe em risco a saúde do corpo e da alma.Consiste a temperança em conter os desejos dentro dos li

mites justo, que são estatuídos pela razão.A temperança para com os alimentos é a sobriedade;

 par a com a p ráti ca dos actos sexuai s é a cast idade; pa ra coma exibição do que ofende à castidade é a pudicícia; no refrear as paixões e concupiscência é a continência; noapetite das glórias humanas é a humildade; no moderar aira é a mansuetude; na moderação dos aspectos exterioresé a modéstia; a moderação no castigar é a clemência.

68 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

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68 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Seu contrário é a intemperança, a tmoderação, que surge dos excessos que levam a perder o justo meio.

É claro que para a plenitude humana tais virtudes sãoexigidas, pois, como pode o homem concretamente atingir omáximo da perfeição humana, sem tais fundamentos virtuosos?

E não é só a presença dos mesmos, mas a sua harmonização. Pois onde há valentia sem a prud ênci a, não se alcançam os excessos contrários a tais virtudes? A moderaçãosem a prudência pode ser completa, e o pode ser a justiçasem a moderação, sem a valentia e sem a prudência?

E de que vale a prudência se não lhe assistirem a valentia, a justiça e a moderação?

É a harmonização de tais virtudes que constitui o fundamento ético do homem. E as norm as morais, estabelecidasno âmbito social, tendem a dar o imperativo que determina

o cumprimento delas, sem as quais o homem não atinge concretamente a plenitude de si mesmo na imanência social.

A educação ética do homem, portanto, deve tender aodesenvolvimento de tais hábitos (virtudes), e a pedagogiadevia sobre elas debruça r-se melhor, estudan do-as tam bém

 par a achar as ve rdadei ras no rm as educat ivas , cap azes deconstruir homens prudentes (sábios), justos, valentes e moderados.

Sem tais virtudes, o homem, concretamente, falha; nãoatinge a sua plenitude possível.

O vício é oposto à virtudeO termo vício, cuja origem é de vitium (que indica des

vio do bom caminho), é o hábito mau, em oposição à virtude,   que é o hábi to bom. Mas é o hábi to mau, guiado pe lament e, que tende par a o mal. Vício é tud o quanto se opõeà natureza humana, que é contrário à ordem da razão. Devício vem vitupério, vituperação, o que detracta quem o pratica."

SÍNTESE DA ANALOGIA

Quanto aos modos de significação dos conceitos, temos:significação — seus modos:

 — ana log ia;

 — eqí iivocidade;

 — univocidade.

Um termo, ou conceito, é unívoco, quando aplicado a di

verso s seres com a mes ma significação. Animal é unívoco ,quando aplicado a boi, cavalo, símio, etc.

É equívoco o termo, e apenas o termo, quando aplicadoa diversos seres com significação totalmente diferente. Assim "cão", quanto ao animal e quanto a constelação, etc.

Ê análogo o termo ou o conceito quando aplicado a coisas diversas, com acepções que não são nem propriamenteidênticas, nem completament e diferentes. Exemplos: umarazão forte e uma árvore forte, etc.

Os conceitos aplicados aos objectos, de onde são tirados

 po r ab st racção , e aplicad os ao ser , enqu anto ser , ou às realidades, que são o objecto da Metafísica, são unívocos, equívocos ou análogos?

 Não podem ser equ ívo cos , po is não há nenh uma real idade que seja totalmente diferente do mundo de nossa ex

 periê ncia . Deus ul trapassa-nos to ta lmente , não é, po rém,impermeável a nós, pois é a origem de tudo e em tudo háa sua presença.

*

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7$ MÁRIO FER REIR A DOS SANTOS

 Não po dem ser unívoc os, po is as real idades metafí sicas,as quais nós os aplicamos, diferem dos factos da experiência de onde foram abstraídas.

São,  portanto, análogos.

A univocidade leva-nos ao monismo, que admite uma

única realidade; Deus (monismo panteísta), ou matéria (monismo materialista), ou pensamento (monismo idealista).

A eqiiivocidade supõe o dualismo ou o pluralismo, ouseja, a existência de realidades totalmente diferentes e inde

 pend entes. Só a ana log ia pode assegurar a plural idade naunidade: distinção do Ser absoluto e dos seres relativos, masunidades, porque os seres relativos obtêm o ser do ser absoluto (criacionismo); distinção da alma e do corpo, mas unidade substancial (espiritualismo).

Esta síntese, que acabamos de fazer desses antepredi-

camentos (assim são eles chamados na Lógica, por serem pr eâmbul os e pré -requi si tos pa ra a ordenação dos predicamentos ou categorias), não exclui a problemática que surgirá sobre a univocidade e a analogia, que é de magna im

 portância pa ra os es tudos ont ológicos . Mas , seguin do no ssométodo, que primeiramente trata sinteticamente os temas,

 pa ra anal isá- los a seguir , e concrecioná-l os finalment e, segundo a decadialéctica, na nossa concepção tensional, seguiremos,  aqui, como em outras yartes, os mesmos caminhos.

Logicamente considerado, um termo é unívoco quandosignifica (aponta, como sinal) uma razão simplesmente umaconvenientem multis distributive (unum in multis), isto é,uma conveniente, distributivamente, a muitos (um em muitos),  como o definem os escolásticos. A sabedo ria de Salomão e a sabedoria de um homem experiente, enquanto sabedoria, em sua quididade, isto é, em sua formalidade, é unívoca, pois sabedori a é sabedo ria, e nada mai s. A univocidade, aqui, é puramente formal, porque a sabedoria deste, eneste homem, consta de um saber quantitativa e qualitativa-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 71

mente diferente de outro pela soma maior ou menor de conhecimento que um tenha em relação a outro (1).

"Quando dizemos que um termo é análogo, reconhecemos que, nele, há algo que se assemelha ao analogado e algoque se diferencia.

- Analogia é, por tan to, sí ntese do semelh ante e d o diferente. Todos os entes são análogos. Mas há graus de analogia.

Distingamos:

analogia:

 — de at ribu ição ext rínseca: quan ti ta tiva ou qualitativa;

 — de atribuição intr ínsec a: qual itat iva ou qua nti tativa;

 — de proporcional idade: de rel ação e de função .Há analogia de atribuição intrínseca, quando o análogo

(termo, conceito, conjunto simbólico) convém propriamentea todos os objectos que designa, embora adequadamente emcertos casos, inadequadamente em outros.

Ex.: o acto existencial é misto de acto e potência; é hí br id o.  Acto e potência são aplicados a Deus e às cr iat uras ,analogicamente, por atribuição intrínseca.

Há analogia de atribuição extrínseca, quando usada nemem sentido unívoco nem equívoco, mas apenas por transpo

sição em consideração metafórica ( substituição de um sentido exterior por outro, que apresente semelhanças meramente exte rior es). Um homem rison ho, alegre, e um jardim risonho, alegre. Um clima não saudável, e um h omemnão saudável. As metáforas são verdadeiras analogias,

(1) Estam os aqui numa univocitas secundum nomem ae rationen,

que é uma univocidade de quarto grau, a menor para os escotistas.

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quando não disparat adas. A metáfora pertence mais à Estética do que propriamente à Metafísica.

A analogia de proporcionalidade ou de proporção é aque existe entre coisas totalmente diferentes, mas que apresentam, cada uma, certa similitude de relação (analogia derelação) ou de função (analogia de função).

A ala direita e a ala esquerda de um exército; o pé esquerdo e o pé direito de um edifício, a entre um chefe e atropa, a entre a cabeça e o corpo, são outros exemplos deanalogia.

Há homologia, quando há proporcionali dade entre afunção de um todo com a função de um outro todo, como

 po r ex., a exi ste nte en tre as asas dos pá ssaros e os me mb ro santeriores dos mamíferos, entre as penas dos pássaros e asfolhas da árvore.

COMENTÁRIOS

A analogia extrínseca é uma metáfora (figura de retórica), e nada nos oferece de novo sobre a natureza das coisas,e nada diz a quem não conheça as coisas designadas pelostermo s. Com a analogia de propo rção, temos apenas umaideia vaga dos objecto s, não , poré m, aproveitável. Assim,

 pela ana log ia dos órgãos , pode o cego te r um conhecimento ,  em certa medida, do mundo dos videntes.

A analogia de atribuição intrínseca dá-nos uma ideiamais precisa, porque já supõe uma propriedade comum.

Pode a analogia ser considerada um meio vago e im pr ec iso de conhecime nto. Mas , como pe ne tr ar nu ma reali dade que escapa aos nossos sentidos sem a analogia?

 Na analog ia, "há p redominânc ia da assimilação e nã o daacomodação.

73

O símbolo bem nos explica. Não podemos , pela assimilação achada, construir a acomodação (o imitativo) que nosfalta?

Como conhecermos Deus senão por analogias!, exclamam muitos.

A analogia (como a "proportio", que é uma analogia de pr op or çã o) é um a sín tes e da semel hança e da dif erença .

O ser, ontologicamente considerado como também ôn-ticamente, não é unívoco, porque diferenças de ser são ainda ser; não é equívoco, porque haveria multiplicidade do ser,o que não há. Est a afirmação é pred omi nan te na Filosofia.

O ser é, portanto, análogo; afirmam, entre muitos, ostomistas.

A parte, como ser, é análoga ao Todo.

Para efectuar-se a análise dialéctica que empregue a

analogia, é necessário, previamente, efectuar-se a comparação.  A analogia é uma rela ção que se esquema tiza atrav ésdo espírito, mas que corresponde a uma relação em que seencontram os factos observados, relação que se dá, quer nomundo real-físico (exterior), quer no mundo mental, pormeio de comparações entre um facto real e uma ideia, ouentre ideias.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 75

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ANALOGI A E MÉTODO ANALÓGI CO

Damos a seguir um método de análise dialéctico-analó-gico, que nos permite trabalhar com as analogias, que em

 parte observamos entre todos os seres, porque, desprezandoos graus, há entre todos eles uma semelhança e uma diferença, de maior ou menor grau de intensidade.

 No semelhante, o distinto é menor que o igual; no diferente, o distinto é maior que o igual. Consequentemente,o diverso é ora superior ao mesmo, ora menor, segundo corresponda ao distinto ou ao igual (1).

Assim, a mesma proporção corresponde às polarizaçõesdo diverso e do mesmo.

A análise analógica, que se processe por este esquema,exige previamente que os factos a serem comparados e ana-lizados, sejam antes classificados dentro de uma das espécies de analogia: ou de atribuição, intrínseca, ou extrínseca,ou a de proporcionalidade, ou a de função, etc.

 Nem sempre se poderá aplicar plenamente o esquema.Por exemplo, basta apontar até o distinto e o igual, paralogo ressaltar um ponto de identificação.

Há analogias nas quais é difícil encontrar um ponto deidentificação antes da identificação do ser, pois, como ser,todos os entes se identificam, enquanto ser, como nas analogias de atribuição extrínseca.

(1) Empregumo s o termo   igual  tanto em sentido intensista comoextensista.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 75

 Nas analogias de atribuição intrínseca, que são de máxima importância para a Metafísica, a análice analógica deve levar a um identificação mais próxima, nas qualidades,

 por exemplo.

O verdadeiro símbolo é análogo por atribuição ao sim bolizado; consequentemente, há um ponto de identificação.

E  é   essa identificação que realiza a comunhão nos símbolossociais, que unificam os homens, numa identificação mais

 profunda, que é o carácter místico daqueles.

O ponto de identificação se apresenta na univocidade quea analogia deve conter, pois é ela, do ponto-de-vista lógico,apenas a síntese da semelhança e da diferença, como jávimos.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉ CTICOS 77

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ANALISE DO TEMA DA ANALOGIA

Os que defendem a analogia no ser, alegam a seu favorque o ser finito é tão dissemelhante do infinito, que entre oser do homem e do de Deus, há apenas uma analogia de

 pr op or çã o.

 Não é de ad mira r que se afi rme haver um a incomensu-rabilidade entre nó s e Deus, pois há incomensurabilidade atéentre o que se dá aqui, como entre o diâmetro e a circunferência, e nas proporções dos números de ouro dos pita-góricos.

O infinito não tem medida; o infinito é medida quali

tativa do finito.Essas medidas não são unívocas, mas análogas (de par

ticipação), afirmam os que defendem a analogia do ser.

 Na ana log ia, há a pa rt ic ip ação do analogado pe los ana-logantes, e tal participação indicia a identificação mais remota ou próxima, segundo o nosso esquema.

 Na or de m noé tic a, a pa rt ic ipação chama-se ana log ia; naordem ontológica, a analogia chama-se participação.

Os esquemas noéticos, que, por abstracção, construímos, pa rt ic ip am dos esqu emas concretos dos fac tos, que os captamos apenas como quididades noéticas, reduzidas a esquemaseidético-noéticos. Nesta maçã, por sua vez, o seu esquem aconcreto participa do esquema essencial da maçã, pois elanão esgota as possibilidades desta, mas apenas um sectordessas possibilidades, da mesma forma que esses três livrosnão esgotam, enquanto três, no esquema concreto de três,aqui e agora, hic et mine, as possibilidades concretas do esquema essencial três, que é um pensamento do ser, e que

 pode, concretamente, surgir em tr ês cadeiras , tr ês mesas, etc.Portanto, o esquema essencial (o arithmós, no sentido pitagórico, já por nós estudado em "Teoria do Conhecimento")é do ser, subsistente no ser, e um poder do ser, cuja existen-cialização (para empregarmos uma expressão bem avice-nian a) se faz por partici paçã o. Esses livros são trê s, o trêshá neles, concretamente, não está neles, porque o arithmós

três,  neles concrecionado, é participante de três como arithmós essencial (esquema essencial).

Portanto, há nesses três livros uma analogia com três,e uma analogia com três mesas, três cadeiras. E são elesanálogos porque participam do mesmo esquema três; porisso,  na ordem ontológica, a analogia chama-se participação.

Ora, todo o ente finito participa do Ser, esse parte ca- pe rem, de São Tomás, po is o Ser Supr emo inclui toda s as per feições em sua ma is elevada e acabada rea lizaç ão; ouseja, segundo suas completas possibilidades, pois tudo quan

to há, há no Ser, e como nada se dá fora dele, éle contém todas,  as perfeições, de que uma perfeiç ão parcial, este entefinito, hic et mine, é apena s partici pant e. Por isso, entreo ser finito, ou melhor entre o ser criado e o Ser Supremo,criador, há apenas uma analogia de propo rção. Cada entereflecte parte dessa perfeição, na sua perfeição, no seu acto, pois, como sabemos, na escolá sti ca, o act o é a per feição da potência; o que é acto é a act ual iza ção de um a ap ti dão, que,enquanto tal, é imperfeita.

Agora, se considerarmos o conteúdo conceituai, veremosque há nele uma analogia, quando aplicada a vários entes.

Se considero a cadeira um "móvel composto de assento, encosto e pernas, com a função de permitir que uma pessoa nela se assente", entre esta cadeira e aquela, o conceito, quenelas é comum, porque nelas considera apenas aquelas notasque têm em comum, é unívoco. Ou em outra s pala vras,há univocid ade conceituai entre essas dua s cadei ras. Nelas,desprezamos tudo o mais que as pode diferenciar, como o seresta de made ira, aquela de metal , etc. Há, deste modo , uma

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certa identidade entre esses objectos, identidade parcial, poisdesconsidero o que nelas é heterogéneo.

Mas,  o conceito de ser apresenta uma particularidadeque o diferencia dos out ros. Tudo quant o é heterog éneo éainda ser, e não apenas o que há de homogéneo, o que nãose verificava no exemplo anterio r. Não há, aí, por tan to,

identidade no que expressa, porque se considerarmos que serapenas expressa uma parte dos objectos (isto é, se admitimo sque o conceito de ser tem uma representação parcial), asnotas heterogéneas seriam extrínsecas ao ser, e neste casoseriam idênticas ao não-ser, o que nos colocaria num verdadeiro contra-senso.

Portanto, concluem os tomistas, o conceito de ser é ape-nos proporcional entre os seres, não é unívoco, mas apenasanálogo.

Mostram-nos os tomistas que todo conceito unívoco pode ser expresso por um termo abstracto e por um termo concreto. O termo abstracto expressa uma abstracção "formal" , por ex.: dureza. Expr essa êle certa forma ou qualidade,  isolada do seu sujeito (cxprimit subjectum sed non to-tum).  Mas, quan do digo que esta casa é verde, considero-adota da da côr verde. Indica o sujeito integral mente (a casa),  mas qualifica-o por uma de suas determinações (ex-

 pr ímit subjectum to tum, sed non to tali ter = expressa todoo objecto, não porém totalmente ). É o termo concreto. Otermo concreto expressa o próprio sujeito afectado de umadeterminação particular. É o resultado de uma abs tracção"tot al", isto é, efectuada so bre o tod o. Quand o digo "negro",  refiro-me a um certo sujeito dotado da "negrura".

Posso predicar o termo concreto do sujeito, mas o termo abstracto não pode ser predicado do sujeito. Posso dizer que este homem é negro, não posso dizer porém que êleé negrura, pois não posso considerar a parte como idênticaao todo.

O termo ser empregado expressa sempre o sujeito totalmente e sob todos os aspectos e relações (exprimit sub-

 jec tu to tu m et to ta li ter — express a to do e to ta lmente o su-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 79

 je it o) .  O ser, por abs trac to que se quei ra tornar , não exclui, não separa, não isola um aspecto parcial do sujeito;desta forma, no ser, a abstracção total e a abstracção formal se equivalem. Se digo que este livro existe ou que est elivro é sua existência, é indiferente, porque existe e existência são equivalentes.

Fazem deste modo os tomistas questão de salientar queo ser não é nunca um aspecto, um elemento, uma determinação dissociável, mesmo quando considerado logicamente, dosoutros, pois quaisquer das outras determinações são intrínseca e formalmente o ser.

Esse o aspecto misterioso do real, unidade na diversidade e diversidade na unidade. Quando conceptualizamos aideia de ser, temos uma ideia, mas confusa (de confundere,de fundir com, misturada), por isso analógica do ser, que nasua essência nos escapa; isto é, temos um sabor quiditativodo ser não quidditative, exaustivo até à sua essência, o que

fronèticamente se o tivéssemos, por fusão com êle, nos poriaem estado de beatitude, o que pelos tomistas, nos é negadonesta vida" ("Ontologia e Cosmologia" págs. 75-85).

Um mais aprofundado estudo da gnosiologia e da noolo-gia, do funcionar do nosso conhecimento e da mente humana, mostra-nos que há validez nos esquemas noéticos queconstruímos, pois, desde que sejam rigorosamente estructu-rados, correspondem a fundamentos reais.

Se prestar-se atenção  a  conceituação lógica, já escorreita da capa experimental, purificando-a do que é da nossa

 pragmática , pa ra considera r o concei to na sua es tr uc tu ra ei-

dético-noética, formal portanto, ver-se-á que os conceitos seentrosam em nexos rigorosos, que não permitem entre eles,enquanto tais,outra distinção que a meramente real-formal,e não real-física. O mesmo nexo unitivo que, ontologicamente, sentimos dar-se no ser que, em sua essência, é um,e não múltiplo, revela-se aqui, analogando as formalidadesuma às outras, como os seres se analogam existencialmenteuns aos outros.

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Entre aquela estrela e nós, há alguma coisa em comum,sentia-o Goethe, porque, do contrário, como poderíamos conhecê-la de qualquer modo? Entr e os seres há sempre um arelação de semelhança e de diferença, porque do contrárioteríamos de aceitar um abismo entre os seres, o que nos colocaria, de chofre, nas aporias do pluralismo.

O diferente absoluto, que estabelecemos no estudo daanalogia, refere-se à haecceitas, ao arithmós individual nalinguagem pitagórica, à unicidade da singularidade que, como tal, não se confunde com outra, pois é apenas ela mesma, numericamente distinta, como também o é ônticamentedistin ta. Mas, esse absol uto não é algo que se separ a fisicamente do ser, pois o que individualiza, singulariza, e dá unicidade ao ente não é um ser fora do ser, mas no ser. Éapenas o arithmós, o conjunto, o arithmós plethos de umaunidade, que é o arithmós tonos, o arithmós tensão, que odistingu e de tud o o mais. O que um homem, como existente,é, em sua unicidade, é o arithmós, que é, que é só êle (singu

lari dad e), que constitui a sua forma individu al. Mas a com- ponên cia des se ser é do ser .

Assim como a matemática nos mostra que são possíveiscombinações potencialmente infinitas, o arithmós individualé próprio de cada um, sem necessidade de afirmar uma identidade com outro quanto ao conjunto (plethós) de uma unidade, que se identifica no ser, por se r apenas ser (1) . Consequentemente, entre todas as coisas há uma analogia mais

 próx ima ou mais remota , pois o ind iví duo , quando se unívoca na espécie e esta no género, conserva a sua diferença individual ou específica.

A participação por hierarquia formal nos permite com preender desse modo a via symb olica, o it in erar iu m mysti-cum que podemos seguir, pois, partindo das qíiididades quecompõem o arithmós plethós de um ser (há aqui um arithmós tomado no conjunto das qíiididades), podemos ver que

(1) A univocidade, aqui é chamada universa l por Suarez, pois prescindiu perfeitamente das diferenças específicas ou individuais, para considerar apenas a universalidade.

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um fim mau; a astúcia, a que escolhe meios, maus embora, pa ra alcan çar algumas vezes um bom fim; a fraude , quandose realiza através de factos, e o dolo, pelas palavras.

Considerm-se, ainda, como virtudes anexas da prudência as seguintes: a eubulia, o hábito" recto de consultar; asynesis, o hábito recto de julgar segundo regras comuns; a

gnome, o hábito recto de julgar segundo os princípios superiores, sobretudo jurídicos.

DA JUSTIÇA

"Considerada de modo estricto, justiça é a constante e pe rpét ua vontade de conce der o direito a si pr óp ri o e aosoutros, segundo a igualdade. É uma virtude subjectiva, portanto.

Em seu sentido primário, significa a exactidão, comonos termos atitude justa, expressão justa, mas em sentidomoral significa o respeito que há em cada um de dar a cadaum o que é seu.

São elementos integrantes da justiça: a capacidade delazer o bem. que é devido aos outros, e o hábito de evitaro mal que possa ser feito aos outros.

A justiça implica como coadjuvantes: respeito à igualdade pela observância das normas morais; veracidade, queimplica a conformidade entre o que se diz e o que se crê ou

quer; consiste, em suma, em não enganar os outros nem emenganar-se; gratidão para com os que nos beneficiam; liberalidade; afabilidade ou amizade, equidade, capacidade deaplicar adequadamente a justiça.

A clássica divisão da justiça é a que segue:

 — a Just iça legal, que diz res peito às leis es ta tu ídas nasociedade;

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 — a distrib ut iva, que é dada aos me mb ro s de uma sociedade segundo seus méritos e faculdades, proporcionadamente;

 — a comut at iva, que consi ste na igual dad e de valor dascoisas cambiadas, pois o comerciante que vende acima do preço norma l ofende a just iça comutat iva (de

cum e mutatio);

 — a social, que ten de ao be m colect ivo, à pr osperidadede todos para que todos vivam na plenitude da suadignidade pessoal;

 — a inter- ind ividua l, que con sis te em nã o prejud icar aninguém;

 — a at ribu tiva , que consi ste em da r a tí tulo gr atui to(como a justiça social);

.— a retributiva, que dá a título oneroso ou de reciprocidade, e que equivale à comutativa.

A justiça pode ainda manifestar-se em diversos aspectos,  como a intra-social, própria de toda sociedade, a que sefunda na coordenação da comunidade humana, na subordinação aos princípios de ordenação social, na internacional,e na intelectual, que se manifesta na imparcialidade da crítica.

A injustiça, que é contrária à justiça, manifesta-se naordem real quando se atenta contra o que é devido às coisas,  às pessoas ou às actividades; jurídica, quando se ofendeao que institui a lei; também em perturbar as boas normas,

em faltar à verdade pela falsificação ou pela revelação doque deve caber silêncio, pela sedução ao violentar a ingenuidade alheia, pela calúnia, pela infâmia, pela perversão,

 pelo emp rego da violência, do suborno, da ast úci a malévola, pel a pr ivação de benefíc ios leg íti mos, pela ofensa às pesso asindividuais e sociais, pela prática dos actos indevidos a simesmos ou aos outros, pelo juízo imprudente ao julgar osfactos, etc.

DA FORTALEZA

"A fortaleza ou valentia é a capacidade de, segundo &razão, ou melhor em atenção a bens superiores, ser capaz dearrostar perigos e enfrentar o mal que daí possa advir.Exige ela a capacidade de enfrentar o árduo trabalho denossa virilização e a capacidade de enfrentar os riscos e perigos.

Se neles há o perigo de mort e, temo s o hero ísmo. Avalentia, sem a prudên cia, é a audácia. Se há cap acidadede suportar as adversidades, temos a paciência; se em man-ter-se firme no perigo, até da vida, temos a generosidade;a confiança, quando é justo em si mesmo ante os riscos; émunificência, quando há capacidade de sacrificar imediatamente bens em benefício de fins bons; e tenacidade, quandohá firmeza ante as dificuldades exterio res; e constânc ia,quando se mantém firme ante as resistências interiores.

Por deficiência, temos a ignávia, que é o defeito em ouvir; a timidez, que é o excesso de temor; o medo, que é oexcesso de temor ainda maior.

DA TEMPERANÇA

A temp eranç a é tamb ém a mode raçã o. Consiste ela namoderação nas tendências aos apetites sensíveis, cuja satisfação desregrada põe em risco a saúde do corpo e da alma.Consiste a temperança em conter os desejos dentro dos limites justo, que são estatuídos pela razão.

A temperança para com os alimentos é a sobriedade; pa ra com a pr át ic a do s ac tos sexuai s é a cast idade; pa ra coma exibição do que ofende à castidade é a pudicícia; no refrear as paixões e concupiscência é a continência; noapetite das glórias humanas é a humildade; no moderar aira é a mansuetude; na moderação dos aspectos exterioresé a modéstia; a moderação no castigar é a clemência.

68 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

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Seu contrário é a intemperança, a imoderação, que surge dos excessos que levam a perder o justo meio.

É claro que para a plenitude humana tais virtudes sãoexigidas, pois, como pode o homem concretamente atingir omáximo da perfeição humana, sem tais fundamentos virtuosos?

E não é só a presença dos mesmos, mas a sua harmonização . Pois onde há valentia sem a prudê ncia, não se alcançam os excessos contrários a tais virtudes? A moderaçãosem a prudência pode ser completa, e o pode ser a justiçasem a moderação, sem a valentia e sem a prudência?

E de que vale a prudência se não lhe assistirem a valentia, a justiça e a moderação?

É a harmonização de tais virtudes que constitui o fundamento ético do homem. E as norma s morais, estabelecidasno âmbito social, tendem a dar o imperativo que determinao cumprimento delas, sem as quais o homem não atinge concretamente a plenitude de si mesmo na imanência social.

A educação ética do homem, portanto, deve tender aodesenvolvimento de tais hábitos (virtudes), e a pedagogiadevia sobre elas debruça r-se melhor, estudan do-as tamb ém

 pa ra achar as ve rdadei ras no rm as educat ivas , capazes deconstruir homens prudentes (sábios), justos, valentes e moderados.

Sem tais virtudes, o homem, concretamente, falha; nãoatinge a sua plenitude possível.

O vício é oposto à virtude

O termo vício, cuja origem é de vitium (que indica desvio do bom caminho), é o hábito mau, em oposição à virtude,   que é o hábi to bom. Mas é o hábi to mau, guiado pel ament e, que tende para o mal. Vício  é   tudo quanto se opõeà natu reza humana , que é cont rário à ord em da razão . Devício vem vitupério, vituperação, o que detracta quem o pratica."

SÍNTESE DA ANALOGIA

Quanto aos modos de significação dos conceitos, temos:significação — seus modos:

 — ana log ia;

 — eqi iivocidade;

 — univoci dad e.

Um termo, ou conceito, é unívoco, quando aplicado a di

versos seres com a mesm a significação. Animal é unívoco,quando aplicado a boi, cavalo, símio, etc.

É equívoco o termo, e apenas o termo, quando aplicadoa diversos seres com significação totalmente diferente. Assim "cão", quanto ao animal e quanto à constelação, etc.

É análogo o termo ou o conceito quando aplicado a coisas diversas, com acepções que não são nem propriamenteidênticas, nem completamente diferentes. Exemplos: umarazão forte e uma árvore forte, etc.

Os conceitos aplicados aos objectos, de onde são tirados

 po r abst racç ão , e aplicad os ao ser , en quan to ser , ou às realidades, que são o objecto da Metafísica, são unívocos, equívocos ou análogos?

 Nã o po de m ser equ ívo cos , pois nã o há nenh uma real idade que seja totalmente diferente do mundo de nossa ex

 periê ncia. Deu s ul trapassa-nos to ta lmente , nã o é, po rém,impermeável a nós, pois é a origem de tudo e em tudo háa sua presença.

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 Nã o po dem se r uní voc os, pois as rea lidades metafí sic as,às quais nós os aplicamos, diferem dos factos da experiência de onde foram abstraídas.

São,  portanto, análogos,

A univocidade leva-nos ao monismo, que admite uma

única realidade; Deus (monismo panteísta), ou matéria (monismo materialista), ou pensamento (monismo idealista).

A eqiiivocidade supõe o dualismo ou o pluralismo, ouseja, a existência de realidades totalmente diferentes e inde

 pendentes. Só a ana log ia po de as segurar a plur al idade naunidade: distinção do Ser absoluto e dos seres relativos, masunidades, porque os seres relativos obtêm o ser do ser absoluto (criacionismo); distinção da alma e do corpo, mas unidade substancial (espiritualismo).

Esta síntese, que acabamos de fazer desses antepredi-

camentos (assim são eles chamados na Lógica, por serem pr eâ mbul os e pré -requisi tos pa ra a or denação do s predicamentos ou categorias), não exclui a problemática que surgirá sobre a univocidade e a analogia, que é de magna im

 po rtância pa ra os est udos ontoló gicos. Mas , seguindo nossométodo, que primeiramente trata sinteticamente os temas,

 pa ra analisá-los a seguir , e concrecioná- los finalment e, segundo a decadialéctica, na nossa concepção tensional, seguiremos,  aqui, como em outras partes, os mesmos caminhos.

Logicamente considerado, um termo é unívoco quandosignifica (aponta, como sinal) uma razão simplesmente uma

convenientem multis distributive (unum in multis), isto é,uma conveniente, distributivamente, a muitos (um em muitos),  como o definem os escolásticos. A sabed oria de Salomão e a sabedoria de um homem experiente, enquanto sabedoria, em sua qiiididade, isto é, em sua formalidade, é unívoca, pois sabedor ia é sabed oria, e na da mais. A univocidade, aqui, é puramente formal, porque a sabedoria deste, eneste homem, consta de um saber quantitativa e qualitativa-

mente diferente de outro pela soma maior ou menor de conhecimento que um tenha em relação a outro (I).

"Quando dizemos que um termo é análogo, reconhecemos que, nele, há algo que se assemelha ao analogado e algoque se diferencia.

Analogia é, portanto, síntese do semelhante e do diferente. Todos os entes são análogos. Mas há graus de analogia.

Distingamos:

analogia:

 — de at ribu ição ext rín sec a: quanti ta tiva ou qualitativa;

 — de at ribu ição intr ínseca: qual it ati va ou qua nti tativa;

 — de proporcional idade: de rel ação e de função .Há analogia de atribuição intrínseca, quando o análogo

(termo, conceito, conjunto simbólico) convém propriamentea todos os objectos que designa, embora adequadamente emcertos casos, inadequadamente em outros.

Ex.: o acto existencial é misto de acto e potência; é hí br ido. Acto e potência são apl ica dos a Deus e às cr ia tu ras,analogicamente, por atribuição intrínseca.

Há analogia de atribuição extrínseca, quando usada nemem sentido unívoco nem equívoco, mas apenas por transpo

sição era consideração metafórica ( substituição de um sentido exterior por outro, que apresente semelhanças meramente exter iores ). Um home m risonho, alegre, e um jardim risonho, alegre. Um clima não saudável, e um h ome mnão saudável. As metáforas são verdadeiras analogias,

(1) Estamos aqui numa  univocitas seeundum nomem  ae  rationen,que é uma univocidade de quarto grau, a menor para os escotistas.

72 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 73

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quando não disparata das. A metáfora pertence mais à Estética do que propriamente à Metafísica.

A analogia de proporcionalidade ou de proporção é aque existe entre coisas totalmente diferentes, mas que apresentam, cada uma, certa similitude de relação (analogia derelação) ou de função (analogia de função).

A ala direita e a ala esquerda de um exército; o pé esquerdo e o pé direito de um edifício, a entre um chefe e atropa, a entre a cabeça e o corpo, são outros exemplos deanalogia.

Há homologia, quando há proporcionalidad e entre afunção de um todo com a função de um outro todo, como

 po r ex., a exi ste nte en tr e as asas dos pá ssar os e os me mb ro santeriores dos mamíferos, entre as penas dos pássaros e asfolhas da árvore.

COMENTÁRIOS

A analogia extrínseca é uma metáfora (figura de retórica), e nada nos oferece de novo sobre a natureza das coisas,e nada diz a quem não conheça as coisas designadas pelostermos. Com a analogia de proporç ão, temos apenas umaideia vaga dos object os, não, por ém, aproveitável. Assim,

 pela ana logia dos órgãos , po de o cego te r um conhec imento ,  em certa medida, do mundo dos videntes.

A analogia de atribuição intrínseca dá-nos uma ideiamais precisa, porque já supõe uma propriedade comum.

Pode a analogia ser considerada um meio vago e im preciso de conhecimento . Mas , como pe ne tr ar nu ma real idade que escapa aos nossos sentidos sem a analogia?

 Na ana log ia, há pr edominância da assimilação e não daacomodação.

O símbolo bem nos explica. Não podemos , pela assimilação achada, construir a acomodação (o imitativo) que nosfalta?

Como conhecermos Deus senão por analogias!, exclamam muitos.

A analogia (como a "proportio", que é uma analogia de

 pr op or çã o) é um a sín tese da sem elhan ça e da diferença .

O ser, ontologicamente considerado como também ôn-ticamente. não é unívoco, porque diferenças de ser são ainda ser; não é equívoco, porque haveria multiplicidade do ser,o que não há. Est a afirmaç ão é pred omin ant e na Filosofia.

O ser é, portanto, análogo; afirmam, entre muitos, ostomistas.

A parte, como ser, é análoga ao Todo.

Para efectuar-se a análise dialéctica que empregue a

analogia, é necessário, previamente, efectuar-se a comparação. A analogia é uma relação que se esquema tiza atra vésdo espírito, mas que corresponde a uma relação em que seencontram os factos observados, relação que se dá, quer nomundo real-físico (exterior), quer no mundo mental, pormeio de comparações entre um facto real e uma ideia, ouentre ideias.

MÉTODO S LÓGICOS E DIALÉ CTICO S 75

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ANALOGI A E MÉTODO ANALÓGI CO

Damos a seguir um método de análise dialéctico-analó-gico,  que nos permite trabalhar com as analogias, que em

 par te observamos entre todos os seres, porque, desprezandoos graus, há entre todos eles uma semelhança e uma diferença, de maior ou menor grau de intensidade.

 No semelhante, o distinto   é   menor que o igual; no diferente, o distinto  é   maior que o igual. Consequentemente,o diverso é ora superior ao mesmo, ora menor, segundo corresponda ao distinto ou ao igual (1).

Assim, a mesma proporção corresponde às polarizaçõesdo diverso e do mesmo.

A análise analógica, que se processe por este esquema,exige previamente que os factos a serem comparados e ana-lizados, sejam antes classificados dentro de uma das espécies de analogia: ou de atribuição, intrínseca, ou extrínseca,ou a de proporcionalidade, ou a de função, etc.

 Nem sempre se poderá aplicar plenamente o esquema.Por exemplo, basta apontar até o distinto e o igual, paralogo ressaltar um ponto de identificação.

Há analogias nas quais é difícil encontrar um ponto deidentificação antes da identificação do ser, pois, como ser,todos os entes se identificam, enquanto ser, como nas analogias de atribuição extrínseca.

(1) Empregamos  o  t e rmo  igual  tanto em sentido intensis ta comoextensis ta.

 Nas analogias de atribuição intrínseca, que são de máxima importância para a Metafísica, a análice analógica deve levar a um identificação mais próxima, nas qualidades,

 por exemplo.

O verdadeiro símbolo é análogo por atribuição ao sim bolizado; consequentemente, há um ponto de identificação.

E é essa identificação que realiza a comunhão nos símbolossociais, que unificam os homens, numa identificação mais

 profunda., que é o carácter místico daqueles.

O ponto de identificação se apresenta na univocidade quea analogia deve conter, pois é ela, do ponto-de-vista lógico,apenas a síntese da semelhança e da diferença, como jávimos.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 77

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ANALISE DO TEMA DA ANALOGIA

Os que defendem a analogia no ser, alegam a seu favorque o ser finito é tão dissemelhante do infinito, que entre oser do homem e do de Deus, há apenas uma analogia de

 pr op or çã o.

 Não é de ad mira r que se afi rme haver um a incomens u-rabilidade entre nós e Deus, pois há incomensurabilidade atéentre o que se dá aqui, como entre o diâmetro e a circunferência, e nas proporções dos números de ouro dos pita-góricos.

O infinito não tem medida; o infinito é medida quali

tativa do finito.Essas medidas não são unívocas, mas análogas (de par

ticipação), afirmam os que defendem a analogia do ser.

 Na ana log ia, há a pa rt ic ip ação do analogado pe los ana -logantes, e tal participação indicia a identificação mais remota ou próxima, segundo o nosso esquema.

 Na or de m noéti ca, a part ic ipação chama-se ana log ia; naordem ontológica, a analogia chama-se participação.

Os esquemas noéticos, que, por abstracção, construímos, pa rt ic ip am dos esqu emas concretos do s fac tos, que os cap ta

mos apenas como qiiididades noéticas, reduzidas a esquemaseidético-noéticos. Nesta maçã, por sua vez, o seu esque maconcreto participa do esquema essencial da maçã, pois elanão esgota as possibilidades desta, mas apenas um sectordessas possibilidades, da mesma forma que esses três livrosnão esgotam, enquanto três, no esquema concreto de três,aqui e agora, hic et nunc, as possibilidades concretas do esquema essencial três, que é um pensamento do ser, e que

 pode, concretamente, surgir em tr ês cad eiras , três mesas, etc.Portanto, o esquema essencial (o arithmós, no sentido pitagórico, já por nós estudado em "Teoria do Conhecimento")é   do ser, subsistente no ser, e um poder do ser, cuja existen-cialização (para empregarmos uma expressão bem avice-nian a) se faz por partic ipaç ão. Esses livros são três, o trê shá neles, concretamente, não está neles, porque o arithmós

três, neles concrecionado, é participante de três como arithmós essencial (esquema essencial).

Portanto, há nesses três livros uma analogia com três,e uma analogia com três mesas, três cadeira s. E são elesanálogos porque participam do mesmo esquema três; porisso,  na ordem ontológica, a analogia chama-se participação.

Ora, todo o ente finito participa do Ser, esse parte ca- pe rem, de São Tomás, pois o Ser Supr emo inc lui todas as per feições em sua mais elevada e acabada rea liz ação; ouseja, segundo suas completas possibilidades, pois tudo quan

to há, há no Ser, e como nada se dá fora dele, êle contém todas as perfeições, de que uma perfeição parcial, este entefinito, hic et nunc , é apena s parti cipa nte. Por isso, entreo ser finito, ou melhor entre o ser criado e o Ser Supremo,criador, há apenas uma analogia de propor ção. Cada entereflecte parte dessa perfeição, na sua perfeição, no seu acto, poi s, como sab emo s, na escolásti ca, o act o é a per feição da potên cia; o que é act o é a actuali zação de um a ap ti dão, que,enquanto tal, é imperfeita.

Agora, se considerarmos o conteúdo conceituai, veremosque há nele uma analogia, quando aplicada a vários entes.

Se considero a cadeira um "móvel composto de assento, encosto e pernas, com a função de permitir que uma pessoa nela se assente", entre esta cadeira e aquela, o conceito, quenelas é comum, porque nelas considera apenas aquelas notasque têm em comum, é unívoco. Ou em outra s palav ras,há univoci dade conceituai entre essas duas cadeiras. Nelas,desprezamos tudo o mais que as pode diferenciar, como o seresta de made ira, aquela de metal, etc. Há, deste modo, um a

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certa identidade entre esses objectos, identidade parcial, poisdesconsidero o que nelas é heterogéneo.

Mas, o conceito de ser apresenta uma particularidadeque o diferencia dos outros. Tudo quanto é heterogéneo éainda ser, e não apenas o que há de homogéneo, o que nãose verificava no exemplo anteri or. Não há, aí, po rta nt o,identidade no que expressa, porque se considerarmos que serapenas expressa uma parte dos objectos (isto é, se admitimosque o conceito de ser tem uma representação parcial), asnotas heterogéneas seriam extrínsecas ao ser, e neste casoseriam idênticas ao não-ser, o que nos colocaria num verdadeiro contra-senso.

Portanto, concluem os tomistas, o conceito de ser é ape-nos proporcional entre os seres, não é unívoco, mas apenas

análogo.Mostram-nos os tomistas que todo conceito unívoco po

de ser expresso por um termo abstracto e por um termo concreto. O termo abstracto expressa uma abstracção "for

mal" , por ex.: dureza . Expr essa éle certa forma ou qualidade,  isolada do seu sujeito (exprimit subjectum sed non totu m) . Mas, quan do digo que esta casa é verde, considero-adota da da côr verde. Indic a o sujeito integ ralmen te ( a casa),  mas qualifica-o por uma de suas determinações (ex

 pr im it subjectum to tu m, sed non to ta li tc r = exp res sa todoo objecto, não porém totalmen te). É o termo concreto. Otermo concreto expressa o próprio sujeito afectado de umadeterminação particular. É o resultado de uma abst racção"tot al", isto é, efectuada sobre o todo . Quando digo "negro", refiro-me a um certo sujeito dotado da "negrura".

Posso predicar o termo concreto do sujeito, mas o termo abst ract o não pode ser predi cado do sujeito . Posso dizer que este homem é negro, não posso dizer porém que êleê  negrura, pois não posso considerar a parte como idênticaao todo.

O termo ser empregado expressa sempre o sujeito totalmente e sob todos os aspectos e relações (exprimit sub-

 jectu to tu m et to ta li ter = expre ssa todo e to ta lmente o su-

 je it o) . O ser, po r ab st ra cto que se queira to rn ar , nã o exclui,  não separa, não isola um aspecto parcial do sujeito;desta forma, no ser, a abstracção total e a abstracção formal se equival em. Se digo que este livro existe ou que estelivro é sua existência, é indiferente, porque existe e existência são equivalentes.

Fazem deste modo os tomistas questão de salientar queo ser não é nunca um aspecto, um elemento, uma determinação dissociáveis mesmo quando considerado logicamente, dosoutros, pois quaisquer das outras determinações são intrínseca e formalmente o ser.

Esse o aspecto misterioso do real, unidade na diversidade e diversidade na unidade. Quando conceptualizamos aideia de ser, temos uma ideia, mas confusa (de confundere,de fundir com, misturada), por isso analógica do ser, que nasua essência nos escapa; isto é, temos um sabor qiiiditativodo ser não quidditative, exaustivo até à sua essência, o quefronèticamente se o tivéssemos, por fusão com êle, nos poriaem estado de beatitude, o que pelos tomistas, nos é negadonesta vida" ("Ontologia e Cosmologia" pãgs. 75-85).

Um mais aprofundado estudo da gnosiologia e da noolo-gia, do funcionar do nosso conhecimento e da mente humana, mostra-nos que há validez nos esquemas noéticos queconstruímos, pois, desde que sejam rigorosamente estructu-rados, correspondem a fundamentos reais.

Se prestar-se atenção à conceituação lógica, já escorreita da capa experimental, purificando-a do que é da nossa

 pragmática , pa ra considerar o concei to na sua es tr uc tu ra ei-

dético-noética, formal portanto, ver-se-á que os conceitos seentrosam em nexos rigorosos, que não permitem entre eles,enquanto tais,outra distinção que a meramente real-formal,e não real-física. O mesm o nexo unitivo que, ontologicamente, sentimos dar-se no ser que, em sua essência, é um,e não múltiplo, revela-se aqui, analogando as formalidadesuma às outras, como os seres se analogam existencialmenteuns aos outros.

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Entre aquela estrela e nós, há alguma coisa em comum,sentia-o Goethe, porque, do contrário, como poderíamos conhecê-la de qual quer modo? Ent re os seres há sempr e umarelação de semelhança e de diferença, porque do contrárioteríamos de aceitar um abismo entre os seres, o que nos colocaria, de chofre, nas aporias do pluralismo.

O diferente absoluto, que estabelecemos no estudo daanalogia, refere-se à haecceitas, ao arithmós individual nalinguagem pitagórica, a unicidade da singularidade que, como tal, não se confunde com outra, pois é apenas ela mesma, numericamente distinta, como também o é ônticamentedisti nta. Mas, esse absol uto não é algo que se sepa ra fisicamente do ser, pois o que individualiza, singulariza, e dá unicidade ao ente não é um ser fora do ser, mas no ser. Éapena s o ari thm ós, o conju nto, o arit hmó s pie th os de umaunidade, que é o arithmós tonos, o arithmós tensão, que odisting ue de tudo o mais . O que um homem, como existente,é, em sua unicidade, é o arithmós, que é, que é só êle (singu

lari dad e), que consti tui a sua forma individual. Mas a com- ponência des se ser é do ser .Assim como a matemática nos mostra que são possíveis

combinações potencialmente infinitas, o arithmós individualé próprio de cada um, sem necessidade de afirmar uma identidade com outro quanto ao conjunto (plethós) de uma unidade,  que se identifica no ser, por ser apen as ser (1). Consequentemente, entre todas as coisas há uma analogia mais

 pr óx ima ou mais remota , pois o ind iví duo, qu ando se unívoca na espécie e esta no género, conserva a sua diferença individual ou específica.

A participação por hierarquia formal nos permite com pr eend er des se modo a via symbol ica , o it in er ar iu m myst i-cum que podemos seguir, pois, partindo das quididades quecompõem o arithmós plethós de um ser (há aqui um arithmós tomado no conjunto das quididades), podemos ver que

(1) A univocida de, aqui é cham ada  universal  por Suarez, pois prescindiu perfeitamente das diferenças específicas ou individuais, para considerar apenas a universalidade.

Deus existe é conceptualmente verdadeiro, porque aexistência lhe convém necessariamente em sentido lógico;ou, seja, é verda deir o enq uant o ideia. Não se pode, porém,daí concluir que o seja realmen te. Impõe-se pro var q uenão é apenas uma verdade cogitada, mas uma verdade real--real. Se alguém constru ísse o seguinte silogismo: "Tu doquanto é verdadeiro logicamente é verdadeiro realmente; ora,

Deus existe é verdadeiro logicamente; logo Deus existe é verdadeiro realmente", cometeria falácia, porque a maior não éverdadeira concretame nte. Embor a a menor seja verdadeira, é preciso distinguir a consequência, porque a verdadedesta seria apenas lógica e não concreta. Essa pro posiçãoexige demonstração, embora seja logicamente evidente de

 pe r si.

Decorre daqui a primeira distinção que estabelecemos,utilíssima em todo argumentar, e que se polariza em

 pe r se no ta quoad se — et — pe r se no ta quoad no s(evidente de per si (evident e de per siquanto a si) quanto a nós)

Se examinamos a proposição O centauro é o homem-cavalo, e nela procurarmos a verdade lógica, nela a encontrarem os. Quant o à verdad e ontológica, ela não se revela, nema proposição nega nitidamente uma verdade ontológica, porque ainda não sabemos (apenas fundado no juízo), se podeou não haver homem-cavalo. Quanto à verdade material, po de mos af irmar que ta l nã o se dá, e que homem-cavalo éapen as uma ficção do espírito humano. Neste caso, na pro

 posição O centauro é o homem-cavalo , temos um nexo lógico,  porque logicamente o predicado é congruente com o su

 je ito, ma s quan to à ve rda de ontológi ca e à mate rial , é deficiente. É, pois, uma proposição que permite distinguir

Deficiência — et — indeficiência

,é uma verdade deficiente, porque o é apenas dentro dos ne-

m

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xos lógicos. Ela é verdadeira idealmente, nã o real mente.E temos outra polaridade de distinção

Ideali ter — et — reali ter(Formal iter) (f undament aliter

ou materialiter)

Assim, Deus existe é ideali ter (i deal mente ) e formaliter (formalmente) verdadeiro, mas por si só essa proposição não nos mostra que seja realiter verdadeira, sem ademonstraç ão. No entanto, como verdade ontológica, é verdadeira, porque necessariamente Deus implica existência,sem que, contudo, a verdade ontológica da sua existênciasurja do mero exame conceituai da proposição. Contudo,quando há base real para a afirmação realizada pelo juízo,diz-se que é fundam ental, que o juízo é f undam ental iter(fundamentalmente) verdadeiro, ou fundamentalmente certo .  Assim, par a os tomi stas , acto e potên cia são distint os,

 po is pe rtence m a categ ori as diversas, contudo, nã o se dis tin guem realmente; ou, seja, não formam ambos re ut re, umacoisa e outra coisa, mas se não constituem formaliter o mesmo,  pois são diferentes, são realmente inseparáveis. Quandohá separabi lidad e, esta pode dar-se, ou não. Diz-se que elase dá

 possi bi li ter — et — ac tual it er(possivelmente) (actualmente)

 Nes te caso, acto e potên cia (nos ser es fin ito s) são formalmente distintos, mas realiter são o mesmo, e sua separação não se dá actualiter nem possibiliter.

São de máxima importância essas distinções polarizadas,  que estabeleciam os escolásticos, cuja análise em profundidade realizou um dos mais intensos progressos do conhecimento filosófico e deram ao homem a maior contribuição que lhe facilitaria os meios de evitar caísse nas confusões que inv adira m a filosofia mod erna . Não há dúvida

que é sumamente difícil penetrar e conhecer e, sobretudo,dominar a subtileza dos escolásticos, o que exige uma menteforte e muit o exercício ment al. O trab alh o e as dificuldades, que tais conhecimentos oferecem, tinham naturalmenteque desesperar a muitos filósofos, e não era de admirar quese colocassem ante tais estudos, tomando a atitude da ra

 posa an te as uvas , negando v£*ior ao que nã o po di am con

seguir. Portanto, o ridículo emprestado à subtileza escolástica nada mais foi que um recurso de deficitários,que, na impossibilidade de penetrarem no método dasdistinções, preferiram, então, afundar-se na confusão, eafastarem-se de um dos capítulos mais elevados e importantes do pensamento humano. Nós, contudo, opomo-nos aessa atitude, que não se justifica. Esta ob ra procura tornar acessível a técnica das distinções, tão necessária paraclarear as ideias, e permitir que, com o pensamento, possao filósofo penetrar no que há de mais profundo e com umasegurança que nem de leve pode tê-la o cientista ao utilizaros seus instrumentos de pesquisa. É essa a razão por qu e

 pr oc ur am os reun ir , neste cap ítulo, ó maio r nú me ro de polarizações de distinções, buscando, tanto quanto possível,

 ju nt ar as razões e da r os exemplos que são exigidos, a fimde oferecer a máxima clareza e a máxima manualidade deum método, que foi sempre considerado o mais difícil, e queé, dialècticamente, de máxima importância para o conhecimento.

Deus é a verdade é uma proposição logicamente verdadeira, pois não é admissível que Deus, conceitualmente, nãoseja a própria verdade. Se é formalmente verdadeiro esse

 juízo ,  sua verdade ontológica é indubitável porque a verdade,   em sua glória, só pode ser Deus, necessariamente Deus.Mas, a verda de materi al nos falta ainda . O juízo é formalmente, idealmente, ontologicamente verdadeiro. Mas, im-

 pôe-se o exame dia léctico da proposição Deus é a ve rdade.O ter mo verda de nã o tem uma significação unívoca. Háverda des: lógica, ontológica, mater ial, subsis tente, abstra cta, singular, contingente (como a desta mesa aqui), abso-

100 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 101

Silogisticamente, pode ser enunciado assim: "Ninguém

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luta, relativa, etc. Deus pod e ser e é a verdade s ubsistente,  lógica e ontológica, não porém a verdade singular continge nte ou abst ract a. Se alguém dissesse que sendo Deusa verdade, e sendo a verdade, quanto a nós, evidente queexiste, e que consequentemente Deus existe, logo notamosque não houve aí a distinção entre a verdade abstracta, a

verdade contingente da nossa experiência e a verdade subsistente ontológica e lógica de Deus, e que não podemos afirmar a sua existência realiter, fundados apenas na existênciamaterialiter de verdades contingentes da nossa experiência.

Tomamos, nesta obra, proposições que constituem objecções a diversas teses da filosofia escolástica, e algumas dessa mes ma filosofia. Nosso intuit o é, ao mesm o tempo queapontarmos a maneira de analisar as proposições dos diversos silogismos, ir, desde logo, estabelecendo as polarizações, a fim de facilitar os exames futuros a teses e postulado s dos mais varia dos da filosofia mode rna. Segundo adialéctica concreta que propomos, a análise lógica em pro

fundidade é imprescin dível. Mas o exame lógico nos permite apenas alcançar as verda des lógicas. Contud o, podemos, dentro das normas da lógica formal, examinar as verdades ontológicas, e fundando-nos nas experiências, que temos,  cujas analogias em muito nos hão de ajudar o examemais detido e cuidadoso das proposições, conseguir alcançaraquela concreção necessária, que constitui a verdade concreta, sempre com bases ontológicas, e apoditicamente bemdemonstradas, como examinamos na parte onde nos dedicamos à demonst ração. Só dessa maneira tere mos construído os métodos seguros do são raciocinar, permitindo, assim,

que a todos sejam dados os meios mais hábeis para em pr eend er as mais completas invest igações dialéct icas.

Quando se pensa em uma coisa, pensa-se em sua essência. Não é possível pensar em uma coisa sem que se penseem sua essência, pois, do contrário, o pensamento seria vazio,  esvaziado de conteúdo. Ora, em Deus, a sua essênci aé   a sua existência. Portanto, se podemos pensar em Deus, pe nsamos em sua exi stência, logo êle exi ste .

S og s ca e e, pode se e u c ado ass : gué pode cog ita r em alguma coi sa, a não ser em sua essênc ia;ora, a essência de Deus é existência actual; portanto, ninguém pode cogitar em Deus sem existência actu al." A justificação do menor está em ser omniperfeito, e como aomniperfeição contém a existência real, êle tem de existir.

A maior do silogismo é verdadeira, pois não se pode

 pe ns ar em alguma coi sa sem se pe nsar em sua essênc ia, ou,seja, no seu conteúdo, pois do contrário o pensamento seriavazio, como vimos. Quanto à menor, é preciso que se vejaque a afirmativa de que a essência de Deus é a sua existência, põe-nos em face de uma existência cogitada, não estabelec ida realme nte. Ora, essa distinçã o é a dada pela polaridade

existência cogitada — et — existência real

Que a essência de Deus seja a sua existência, pois nele

essência e existência se identificam, é uma verdade lógica,cogitada . Para que se torn e uma verdade concreta, c omoa exige a nossa dialéctica, são necessárias as demonstrações.Mas, como estabelecê-las, sem que primeiramente se realizea análise que permite determinar com cuidado o valor das

 pr emis sas que cons ti tuem qualqu er rac ioc ínio? As providências dialécticas devem ser antecedidas por essas análiseslógicas que se tornam tão proveitosas, graças ao método dasdistinç ões. Aproveit ando as longas análise s que realizamos suarezistas no exame do postulado de que a certeza daexistência de Deus é evidente, vamos reproduzir um outro

silogismo, que é ilust rativo do método das distin ções: "A prop os ição que exclui o te rm o méd io é conhec ida imediata mente; ora, a proposição evidente de per si (per se nota)exclui todo termo médio; logo, ela é conhecida sem demonstração."

Sabemos que na teoria do silogismo, o termo médio énecessário para permitir uma conclusão, pois é comparando

•■■-.:-5°)  i?S

102 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

duas proposições entre si que podemos realizar uma con

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 103

Ao afirmarmos nossas atitudes nossos apetites nossas

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duas proposições entre si que podemos realizar uma conclusã o. Mas, a prop osiç ão evidente de per si, exclui o termo médio. Sua verdade transpare ce imediatamente. Contudo, não se pode deixar de considerar que nem sempre aevidência é imediata a nós, salvo quando penetramos comagudeza na significação dos termos que compõem a proposição. Portant o, não é qualquer proposi ção, que exclui o

termo médio, que é conhecida imediatamente, mas apenasaquela em que penetramos com agudeza e clareza no significado dos termos . Impõe-se, pois, no exame de uma pro

 posição, que exclui o te rmo méd io, se é clara

mediatamente — ou — imediatamente

e esta classificação será dada se houver, ou não, a penetra ção clara no sentido dos ter mos. Deus existe, logicamente considerada, é evidente imediatamente. Oportuna mente,quando examinarmos outras proposições, voltaremos a em

 pr eg ar essas po la ridades na pr op or çã o em que elas se tor

nam mais aproveitáveis.É inegável que todos desejamos o sumo bem, e este é

Deus. Como desejar o que se ignora? Portant o, todos nósconhecemos Deus.

É evidente que todos desejamos o máximo até o sumo be m, ma s o desej amo s po r um apet ite inat o. Mas, que êleé Deus, exige a demonstração da sua existência, sem a qualtal afirmativa é conc retam ente defectível. Tamb ém se pode dizer que Deus é a felicidade suprema, e que nós desejamos a felicidade suprema; conseqiienteemnte, que desejamosDeus e o conhecemos, porque como poderíamos desejar oque não conhecemos? Mas, nosso desejo é confuso, não determinadamente, pois não sabemos ainda in concreto o queconstitui a nossa felicidade.

Impõe-se outra polarização

confuse — et — dete rmina te(confusamente) (determinadamente)

Ao afirmarmos nossas atitudes, nossos apetites, nossasintenções afectivas, é inegável que podem dar-se confusamente ou determina damente. Convém, portan to, precisara distinção, para que, de uma afirmativa fundada no queé vivido confusamente, não se conclua determinadamente.Ademais, ideias que parecem claras podem ser ainda confusas.  Só a análise, levada em profundidad e, pode nos asse

gura r grau s maio res de clareza. As conclusões podem ser, po rt an to , pr ecip it adas , sobr et udo quando se tr at a do qu econst itui os nosso s apeti tes sensíveis e afectivos. Aqui asafirmações devem ser examinadas com o máximo cuidado.Todas as provas fundadas em apetites são de per si duvidosas, e exigem demonstrações fundadas em elementos concretos.

Um silogismo, que nos dá o caminho para acharmosmais uma polarização, é o seguinte: "Temos certamente aideia do infinito; ora, tal ideia não podemos extraí-la dofinito; portanto, só podemos extraí-la da imediata contem

 pl ação de Deus (que é o ser infini to )." Na ve rdade, o fini to nã o contém o inf ini to: eis um a

verdade lógica e ontológica. Portanto, é impossível extrairo conceito de infinito de o de finito. O finito não podecont er o infinito, nem formalm ente, nem causalm ente. Formalmente, porque a razão do infinito não é o finito; e causalmente, porque o infinito não pode pender por nexo realdo finito. Temos, assim, out ra polarização

Forma lite r — et — causal iter(formalmente) (causalmente)

Ademais não podemos, concludentemente, partir do finito para alcançar o infinito. Mas, concretamente, impõe--se estabelecer que é graças à observação dos graus de conhecimento, do saber, das perfeições, que notamos deficiências e limites, e podemos conceber um ultrapassamento doslimites, o que nos leva a construir, cogitadamente, o conceito de in-finito. Podem os, por nossa men te, negar os limi-

104 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

tes (recusá-l os), e conceber o que não os teria . Não bast a,

MÉTODOS LÓGICOS E DIAL ÉCTI COS 105

«Portanto, ao conhecer o ser abstracto, não conhecemos ain

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( ), q , po rém, con ceber um a coisa pa ra af irmar a sua exi stênci a.Portanto, é mister distinguir a polarização.

res cogitada — et — res realis(a coisa cogitad a) (coisa real, existente )

É mister demonstrar a existência da coisa cogitada, porque a mera cogitação não é suficientemente bastante paradar a verdade concreta da coisa, se a existência não é imediatamente evidente.

Contudo, poderia alguém instar que não há nenhuma pr op or çã o en tr e o inf ini to e o fini to, en tre a mutabi lidadee a imutabilidade, entre o necessário e o contingente, poisnão se pode extrair o infinito do finito, etc.

Realmente, não há uma proporção determinada, enti-tativa, tomados tais conceitos em si, mas há uma conexãológica post erior , como vimos há pouco . Out ra polari zação

 pode-se est abelece r aqui : a que se dá en tr e a real idade

entita tiva — et — represe ntati va(determinada) (intencional)

 Não há uma rea lidade in ord ine physi co, ma s pode haverin ordine intentionali; ou, seja, uma realidade

de ordem física — et — de ordem intencional(representativa)

Demonstra Avicena que a primeira coisa que conhecemos é o ser, porque como poderia dar-se um conhecimentode na da? O conhec imento é sempre de alguma coisa, ealgum a coisa é ser. Logo, o que primei ro conhecemos (ouconceb emos) é o ser. Sendo Deus o pró pri o ser (ip sumesse), é êle, pois, o que primei rame nte con hecemos. Maso ser de Deus é um ser concreto e subsistente, cuja existência cabe provar, enquanto o ser que concebemos é abstracto.

, ,da o ser concreto e subsistente de Deus. Temos aqui outra

 po la riz ação da s dist inções

abstracto — et — concreto

Impõe-se, ao exame da proposi ção, se o que ela afirma é

abstracto ou concreto, como se vê neste caso.Mas,  o conceito de infinito pode ser tomado extensiva

mente ou intensivamente. Extensivamente, é a extensãosem discriç ão, sem solução de contin uidade . Intensivamen te ,  é toma do quali tativ amente . Ora, não é só a extensãoque pode ser tomada assim, mas muitos conceitos devem serexaminados se são tomados em sua extensão (conjunto dosindivíduos que êle inclui), ou intensistamente (em sua com

 pr ee nsão , no conjun to das no ta s que o cons ti tu i) . A polarização

intensistamente — et — extensistamente

é de máxima impo rtânc ia na análise dialéctica. O infinitoextensista é quantitativo, enquanto o intensista é qualitativo.As distinções, que se podem estabelecer entre a intensidadee a extensidade, são várias, e as assinalaremos oportunamente,  à proporção que a análise das distinções possa aumentarem intensidade e em extensidade.

Assim já se pode estabelecer outra distinção entre o infinito por composição e por expressão

intensistamente — et — extensistamente(por expressão) (por composição)

Mas a composi ção forma uma total idade simples. Há,no entanto, conjunções formadas da justaposição de elementos agregados, associados, o que permite outra distinção,

 po r compo sição — et — po r justaposição ,

106 MÁRIO FER REIR A DOS SANTOS

distinção que surgirá oportunamente e permite evitar cer

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dialéctica posterior permite aquilatar o valor da "intuição"

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ç q g p ptas falácias, como as que surgem no pensamento atomistaadinâmico, que tende a explicar os factos pela justaposiçãoe não pela composição que realizam entidades tensionais.

 No tocante ao silogi smo, é comum encont rar em-se críticas a êle, negando-se, primeiramente, que seja um métodode raciocinar natural do homem, e, em segundo lugar, con-

siderando-se incapaz de dar mais do que já está nas premissas. No fundo, o silogismo é tautoló gico, pa ra tais críti cos.Em resposta à primeira objecção, é preciso lembrar quetanto Aristóteles como os escolásticos sabiam perfeitamente que o silogismo não é um modo natural e comum de raciocinar. Apenas afirmavam que a reducção de nossos pensamentos à forma silogística facilitaria o exame mais cuidadoso do conteúdo significativo das ideias, cuja comparação

 poder-se -ia rea lizar sem o perig o que o rac ioc ínio feito ementimemas, ou puramente enunciativo, pode levar, pois nemsemp re é fácil a análise que evite erros freque ntes. No es

tado de nossa inteligência, no grau em que ela está, a formasilogística é a que melhores vantagens oferece, pois facilitao exame mais cuidado so, e evita os erro s costume iros. Emsegundo lugar, também os mesmos autores sabiam perfeitamente que o silogismo não pode dar mais do que tem, o quealiás é uma lei universal onto lógica. Seria grave erro julgar que só pela forma silogística haja um caminho de conhecimento. O silogismo, segundo julgavam os escolásticos,é uma construcção a posteriori do que surge intencionalmente, com a vantagem de poder permitir que se realizeuma análise cuidadosa do que pensamos, a fim de evitar oserros. Em nosso "Filosofia Concreta", mostramos exem

 pl os da iluminação , do desvelame nto de ve rdades ontológicas, que surgem, não como contidas em premissas dadas, mascomo inevitáveis em face da colocação de certos postulados(juízos virtuais). A impossibilidade de um determin ado

 pe nsamento colocar-se de mo do efectivo e claro de te rmina osúbito aparecimento de um oposto, às vezes imprevisto, quese impõe como uma solu ção possível. A análise lógica e

p p qsurgid a. Muitas vezes, a verda de ontológica, que é sempr eapodítica, com o cunho da necessidade, revela-se ante a colocação de premissas, que geram naturalmente contradições,e exige, assim, o surgimento de uma nova ideia, de um novo

 po stul ad o, cuja te ticidade apodít ica é mu it as vezes de um aclareza meridiana.

Quanto ao papel que o silogismo possa ter para a Metafísica, um do s' argument os usado s é o seguinte: sa bemosque,  no silogismo, a conclusão segue sempre a parte pior.Quando se trata de argumentos a posteriori, as premissasagem sobre o ser contingente, sobre o ser causado e mutável. Consequentemente, a conclusão não pode alcançar oente necessário, incausado e imutável, como o é o Ser Su

 pr em o.

O argu ment o parec e decisivo. Mas, uma simpl es distinção desfaz completamente a sua força aparente. A premissa maior é verdadeira, mas esquece que a conclusão segue a parte pior quanto à quantidade e à qualidade da pro

 posição. Sabemos que se um a da s pr emis sas é negativa deve ser provável, não po dendo, portanto , ser certa. Se umaé universal e outra singular, a conclusão não pode ser universal . Mas, se nas premi ssas se tra ta de um ente contingente (um ente dependente de outro), há, naturalmente, umadependência, e esse ente contingente está necessariamenteconexionado a outro do qual depende. Portant o, da dependência do ente contingente, pode-se necessariamente concluirsobre a necessidade de um ente do qual depende.

Toda dependência implica necessariamente um dependente,   e um do qual depende . Esse últi mo está pa ra aque lenu ma relação de necessid ade. Impõe-se, pois, a distinção ,

contingência — et — necessidade

distinção esta que irá surgir ainda sob novos aspectos, poisaqui surge apenas como uma implicância necessária. Ora

108 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

a necessidade, por sua vez, pode ser hipotética ou absoluta.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 109

d L i F ll " 2 a t l II à á 16

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A primeira é a do ser contingente, do ser que pode ser e po de nã o ser ; ma s que é necessa riamente , se há o seu de penden te ; a seg unda é a nec ess idade absolu ta de um sernecessário absolutamente, sem o qual não poderia haver seres dependentes, pois é imprescindível que haja um ser necessário absolutamente, um ser não contingente, para quehaja seres contingentes, como'demonstramos apoditicamen-te em "Filosofia Concreta".

Se o homem naturalmente conhecesse a verdade, ninguém duvidaria dela. Ora, alguns filósofos duvidaram eduvi dam das verda des oferecidas como evident es. Portan t o . . .  Esse silogismo usadí ssimo é respo ndid o e resolvidologo por uma distinção: se a dúvida fosse real, a premissamaior estaria certa, mas se a dúvida é apenas por palavrase ilusoriamente, a premissa menor permite uma distinção.

Realiter — et — illusorie(Realmente) (ilusoriamente)

Outro argumento do mesmo teor é o seguinte: Nenhumcienti sta aceita o que não seja demons trad o. Ora, as verdades fundamentais não podem ser demonstradas. Logo,não devem ser aceitas pelo homem de ciência.

O silogismo, que parece verdadeiro, desfaz-se apenascom uma distinção: o cientista, quando realmente o é, nãoaceita como demonstrado o que ainda não foi demonstrado;não afirma, porém, como indemonstrável o que ainda não

 passou po r demo ns tr aç ão . Port an to , é preciso es tab elece routra distinção:

demonstrável — et — indemonstrável

São as distinções, portanto, de máxima importância para o melhor uso do pensamento, apesar de muitos lógicosmodernos não lhe darem o valor que elas realmente possuem. Contud o, alguma s pal avra s de Josep h Dopp em "Le-

çons de Logique Formelle", 2.a  parte, vol. II, às págs. 16,merecem reprodução e comentários: "A lógica escolástica,apoiando-se sôbrè uma análise filosófica  é,  pois, ciosa de darnitidez tanto quanto possível aos actos mentais em diversosmatiz es e diferenciações. Ela levou, como consequência, amultiplicar as distinções, o que determina que a utilizaçãodessa lógica não é tão simples como pareceria ã primeiravista. É preciso ter constantemente presente ao espíritoum número bastante considerável de distinções e de classificações lógicas, e, naturalmente, ser capaz de análises lógicas que não são acessíveis a tod os os espír itos: " E numa nota, prossegue: "É de notar que aqueles, que não foram formados na tradição' escolástica, não conseguem geralmente,fundados em rápidas leituras, ter bom êxito em assimilarconvenientemente esta doutrina. A maioria das críticas queos lógicos modernos têm dirigido à lógica escolástica revelaa própria incapacidade em dominá-la, e são desprovidas detoda pertinê ncia. Alguns lógicos, que se mos tra m os mais

sensatos ao expor as suas doutrinas, opõem à lógica escolástica exemplos de raciocínios incorretos que, segundo oque eles crêem, é ela incapaz de refutá-los; ora, tais exem

 plos nã o pa ssam de sof ismas gro sse iro s que qualquer estu dante de lógica escolástica resolve com facilidade, bastandoaplica r algum a disti nção mui tas vezes bem eleme ntar. Émister acrescentar que os autores antigos não tiveram o cuidado de estabelecer um quadro das diversas distinções deque fizeram uso."

Realmente é esse o motivo que nos levou a procurar,neste capítulo, examinar, dentro de nossas possibilidades, a

construcção de um quadro de polaridades de distinção, quesirva de meio hábil ao estudioso da Lógica e do que desejaempregar a Dialéctica Concreta que, como já o mostramos, pr oc ur a acrescenta r to das as pos it ivida des (mas realmente posi tivas) , que podem cont ribu ir pa ra o melhor desenvolviment o desta disciplina, e que possam beneficiar aos que desejam nela penetrar, a fim de dominarem completamenteo pensamento, a ponto de torná-lo eficiente para o exame

110 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

das ideias e para dissipar as sombras da confusão em que

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Mas uma distin ção refuta a falácia. Seria p roced ente

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das ideias e para dissipar as sombras da confusão em quemergulhou o pensamento moderno.

Examinaremo s, a seguir, alguns argumento s célebres,nos quais os defeitos lógicos tornam-se patentes, graças aoemprego das distinções, que permitem revelar de modo meridiano os erros de que estão eivados. Aproveitaremos para apresentar pensamentos que foram manejados por autores anti-escolásticos, argumentos que muitas vezes tiveramnotoriedade, e que conseguiram impressionar aos desavisados.

Outra distinção famosa, e de máxima importância parao exame do pensamento, é a que se estabelece entre

semper — et — aliqu ando(sempre) (algumas vezes)

Tomemos este famoso silogismo: Não podemos confiar emfaculdades que nos induzem ao erro; ora, nossas faculdadesnos induzem ao erro; logo, não podemos nelas confiar.

Mas elas sempre nos conduzem ao erro? Não; algumasvezes (aliquando). E nos conduzem ao erro por si mesmas(per se) ou por accidente (per accidens)? Na verdade, porsi mesmas não nos conduzem ao erro, mas por accidente.Convém, pois, considerar ademais esta polarização distinta

 já examinada

 pe r se — et — per acc idens(por si) (por accidente)

Esta distinção desfaz muitos famosos argumentos, que sãoapenas falácias, manejadas com tanta habilidade por filósofos menores.

Mas poderia o mesmo objector alegar silogisticamentedo seguinte modo: A faculdade, que necessária e invenci-velment e erra , é um a faculdade que erra po r si. O ra, o intelecto é uma faculdade dessa espécie. Con sequ ente ment e...

pa maior se a faculdade errasse fisicamente de modo necessário e invencível (infrustrável), não quando erra moralmente (frustràvelmente), por erros que decorrem da debilidadeda vontade ou de más apreciações, ou julgamentos que

 po de m ser corri gidos.Daí é mister distinguir o errar fisicamente de o errar

moralmente.

Fisicamente — et — Moralmente

Se um céptico alega que o cepticismo, por não ternenhum princípio próprio, não pode ser refutado, porquesó se refuta uma doutrina que tem princípios próprios, aresposta à falácia é dada por uma distinção clara: não se

 po de opor um a de mons tr ação posit iva e di recta, ma s se podeopor uma negativa e indirecta.

Positiva directa — et — negativa indirecta

Se um ser tende para algo, para o qual tende, pode ser po r um tender abso lu ta mente neces sár io ou po r um tend erhipoteticamente necessário, um tender indesviável ou não.Quem duvidasse do valor do nosso intelecto para alcançaruma verdade absoluta poderia alegar que não há concordância entre os filósofos, o que prova que não é êle ordenadoa tal ve rdad e. Contu do, seria refutável a sua afirmaçã o,graças a uma simples distinção.

Caberia razão a quem usa tal argumento, se nosso intelecto a tal se orde nasse indefe ctivelment e. Neste caso, nãohaveria discrep ância entre os filósofos. Mas, por se dar

defectivelmente essa ordenação, tais discrepâncias são facilmente compreensíveis. Portanto, temos a polarização jáestudada

Indefectível — et — defectivelmente

Um céptico, que assinalasse as dificuldades em que a ciênciase encontra, e que aumentam à proporção que o conhecimento científico invade novos sectores, poderia terçar como

112 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

argu ment o contr a a inteligência hum ana tais factos No

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 113

subjectivamente o mesmo conhecimento de objectos especi

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argu ment o contr a a inteligência hum ana tais factos. Noentanto, uma simples distinção desfaz o argumento: nemtodas as conclusões são obscuras, mas apenas algumas que,naturalm ente, ultrapassam ao campo da ciência. Portanto ,convém distinguir

todos — et — alguns

e observar em que sentido esses alguns estão adequados aoque afirma a premissa maior.

É impossível construir a ciência num mundo que estáem constante mutação, onde tudo se muda, se transmuda ese tran sforma . Ora, uma dis tinção desde logo desfaz umargumento dessa espécie: o que realmente está em constantemutação não permite que se construa uma ciência sobretais coisas, mas pode-se construir sobre as coisas, que, estando em contínua mutação, apresentam algo estável e necessário.

 Negar que po ssamos conhecer as coisas como ela s sã oem si mesmas, tem sido o grande argumento dos cépticos

 pa ra neg ar, consequenteme nte, todo val or ao nosso conhecimento, pois este é sempre proporcionado às nossas condições psicológicas. Uma simples distinção desfaz totalmente tal argu ment o. Sem dúvida o nosso conhecimento é relativo às nossas condições psicológicas, mas apenas segundoé o objecto conhecido, não segundo o modo pelo qual é conheci do. No prim eiro caso, apen as conhecemos o que aparece do objecto, mas, pela nossa esquemática, intencionalmente, nosso conhecimento pode ser adequado ao que a

coisa é, tomada em sua essência. Assim, temos a polarização

quoad id quod — et — quoad mod um quo(segundo o que é) (segundo o modo pelo que é)

Se o céptico persiste afirmando que não pode haver omesmo conhecimento de objectos que são especificamentedivers os, convém desde logo disting uir. Não pode haver

ficamente diversos, mas pode haver objectivamente o mesmo conhecimento. Portant o, a distinção é

subjectivamente — et — objectivamente

Se se afirma haver em Deus a absol uta simpl icidade,alega um objector que lhe atribuímos inteligência e vonta

de .  Mas a vontade, quand o quer, não intelege, e o intelecto ,  quan do intelege, não quer. Ora, tal indica uma contradição.

Uma simples distinção responde ao argumento.

As coisas podem ser em si uma só, e serem outras, segundo sua razão, A distinção que fazemos entre intelectoe vontade em Deus é uma distinção de razão. Tal não querdizer que, nele, intelecto e razão sejam real-fisicamente distintos.

Dist inção real-física — et —̂ dis tinção de ra zão

Alguns argumentos famosos que foram manejados porescolásticos de renome oferecem exemplos do emprego dasdistin ções. Vejamos este: Se houvess e muit os deuses, elesconviriam em algo, e difeririam em algo, pois, teriam o queneles é o mesmo e o que os distingue e, port anto , seria mcompostos. Ora, em Deus não se pode admitir nenhu macomposição; portanto, não são muitos.

Contudo ao examinarmos tal argumento alguns realizamanálises como esta: a maior é considerada verdadeira se seadmitir uma precisão não mútua entre os elementos distintos;  não se houver uma precisão mútua. Ou, melhor: poderiam dois deuses convirem em algo e em algo diferirem,sem haver composi ção? Neste caso, não haveria composiçã o metafísica. Exempiifica-se com a subst ância e o acci-dente, que convêm em algo e em algo diferem, sem qualquerou tra composi ção metafísica. Se tal é possível entr e substância e accidente, do mesmo modo é possível entre deuses.

114 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

A aceitação da trindade cristã leva a admitir que entre as

MIETODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 115

um único Deus, embora em seus papéis seja distinto, como

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ç qdivinas pessoas há algo em que todas convêm, e algo emque diferem, sem haver verdadeira composição metafísica.

 No entanto, um Deus poderia ser absolutamente sim ples,  e os outros não, pois seria apenas Deus, e os outros, por terem algo que os diferenciasse do primeiro , teriam algo outro que o primeiro. Sendo o primeiro ser e sem com

 posição, nele essência e existência seriam idênticas e, nestecaso, ser e Deus seriam idênticos. O que nos outros se diferenciaria do primeiro, não podendo ser ser, seria não-ser.Contudo não ser é nada, seria composto de ser e de nada,ou, seja, limitados, deficientes, pois haveria limite de seuser, e este limite começaria onde termina o ser. Como oque neles é ser, é positividade, presença, o inverso de não--ser, em algo participariam do ser, que há no primeiro,  oque os tornar ia seres participantes, e portanto , seres de

 pendentes de outro. E como a ideia de Deus implica inde pendência, tais deuses nada mais seriam que criaturas do

 primeiro Deus, o que mostraria que, na verdade, há apenasum Deus.A polarização da distinção

 precisão mútua — et — precisão não mútua

torna-se importante no exame das pessoas da Trindade, poisentre elas não há uma composição com precisão mútua, porque, metafisicamente, têm uma só essência, pois ser o pró

 prio ser de per si subsistente é o que constitui a essência metafísica de Deus, como demonstrou Suarez. Como Deus é

o ser existente por essência, o ser de Deus é simplesmentesem sem deficiências e sem composição. Todo e qualqueroutro ser é dele dependente, porque não é indefectível; éum ser híbrido. Se houvesse muitos, de essência metafísicaidêntica, seriam todos eles o próprio ser de per si subsistente, e simplesmente ser sem deficiências, o que os identificaria; pois, para distinguirem-se como outros, deveriamter essências diversas. Consequentemente, só poderá haver

, p p j ,o são as pessoas da Trindade, que são substancialmente amesma.

 Não tocamos senão de leve neste ponto, onde a subtilezaescolástica alcança seus pontos elevados. Há, aqui, lugar

 para muitas outras distinções importantes, ainda a seremexaminadas, que podem não só auxiliar a melhor compreensão deste ponto, como servir para aplicação no exame doque se submete à análise dialéctico-concreta. Temos atéaqui examinado uma série de distinções, que exigem a máxima precisão conceituai, tais como sejam as que surgementre essência física e essência metafísica, não só quanto àdivindade mas também quanto aos seres dependentes, e quevoltaremos a reexaminar. Por outro lado, impõe-se queatentemos às distinções que se podem fazer quanto à participação.

Sabemos que essência é o pelo qual (id quo) a coisa é oque ela é, e existência o exercício de ser, o que é fora do

nada e fora da possibilidade. Tomada em si, a essência é pura possibilidade, e quando essa essência se exercita emser fora de suas causas, ela existe.

Em Deus, a essência e existência se identificam realmente. Não poderiam nele se distinguir realmente, pois aessência seria nada por outra causa ou a existência emanaria da essência, e esta já existiria, porque actuaria. Se a essência proviesse de outro, seria um ser dependente e nãoDeus, pois seria um ser contingente, e não absolutamentenecessário. E se a essência antecedesse a existência, existiria antes da sua existência, o que seria absurdo ou, então,

seria não-ser, nada, o que levaria também ao absurdo. Senossa mente distingue essência de existência, em Deus, essadistinção não pode ser real-física. E que espécie de distinção pode ser, então? É o que precisaremos ver, a seguir.A existência é a primeira actualidade de uma coisa, enquanto a essência, de per si, não tem actualidade. E se aessência e existência em Deus não fossem idênticas, a suaessência, dependendo da existência, seria contingente, o que,

H g MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

em Deus, seria absurd o. Portan to, de qualquer forma, nele

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 11 7

Intencionalmente, indica tê-la na mente, quando é ela entenT

dida ou amad a Fisicament e é contê la realm ente ;

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em Deus, seria absurd o. Portan to, de qualquer forma, neledevem identificar-se. Essência e existência em Deus seidentificam, pois, realm ente . Veremos agora se se identificam segundo a razã o. Temos, aqui, já uma po lariza ção

realiter — et — secundum rationem(realment e) (segundo a razão)

As mesmas argumentações se impõem, pois se tal nãose desse, a existência seria como dada por causa alheia, ouseria imanente da essência, e esta actuaria por si e de modoneces sário , o que a revelaria como existente. Tamb ém o invers o não poderi a dar-se, como já vimos. Elas têm, pois,que se identificar adequadamente re et ratione

re — et — ratio ne(como coisa, realmente) (como razão)

que equivale ã polarização superior. A mesma demonstração superior serviria aqui. E se identificam na extensão e

na compreensãoextensivamente — et — compreensivamente

(intensivamente)

Toda essência divina identifica-se com a existência divina re et ratione, realmente e como razão, pelo que já ex pu se mo s. Que se ident ifi cam compree nsiva e extens ivamente é que a essência divina não é existência apen as, masexistência divina; daí concidirem re et ratione. A essênciade Deus é actualidade pura, foi o que demonstramos apodi-ticamente em "Filosofia Concreta".

 No ho mem, a sua essênc ia nã o se convert e com a existência, porque Pedro não é a humanidade; não há conversão re et ratione, porque Pedro não é apenas humanidade.

Quanto às perfeições, convém distinguir os diversos modos como se pode tê-las.

Pode-se ter uma perfeição

intencionalmente — et — fisicamente

dida ou amad a. Fisicament e, é contê-la realm ente. ;

Por sua vez, o conte r fisicamente um a perfeição sugerevárias distinções:

Formalmente, consiste em conter alguma perfeição segundo a sua noção próp ria e não imprópr ia (metafóric a).Alguém contém formalmente um saber, se dele tem uma notícia estrictamente dita da coisa.

Equivalentemente, quando se tem uma perfeição quecorresponde a outra. Certos sentidos animais não os possuímos, senão equivalentemente pela técnica. Para o mundo microscópico, não dispomos da perfeição da visão microscópica, senão equival entemen te. Tamb ém se diz, quan do se

 possuem mei os que pe rmit em alcançar os resu ltados mediatamente, que não poderíamos obter imediatamente.

.Virt ualm ente , quan do se tem a virt ude de fazer. Assimvirtualmente temos o poder de levantar cinquenta quilos,

embora não os levantemos.Eminentemente, consiste em conter uma perfeição não

formalmente, mas em conter uma perfeição superior, que ésubordin ante da inferior, que lhe é subordinad a. Assim,Deus contém todas as perfeições equivalentemente, virtualmente e eminentemente, não porém formalmente.

 Nunca se deve esquecer que as per feições são semp re posi tivas. Uma per feição negati va nã o é perfe ição. Nenh umacoisa é perfeita enquanto não tem ou enquanto não é, masenquanto tem ou enquanto é.

Poder-se-ia alegar que há uma diferença em Deus queassinala uma actualidade excludente da actualidade pura,

 pois , ao fa larmos da sua essênc ia e da sua exi stência, qualificamo-la de divina, de onde se segue que pode haver umaactualidade não divina. Por outro lado, a actualidade deDeus não seria pura, porque é uma actualidade divina, aqual exclui outra actualidade qualquer, que é não-divina. Arespo sta exige uma disti nção. Que a actual idade de Deus

118 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

é   divina, nada a contrapõe. Mas que haja um a actualidadei d d d lid d di i ã j ifi

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 119

ninguém poderia, ao pensar sobre Deus, negar a sua existêni it D i tê

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independente da actualidade divina não se justifica, porqueesta contém, eminentemente e virtualmente, toda actualidade,  formalmente diferente, que é contida eminente e virtualment e em Deus, e dele emana . Daí a polarizaç ão.

Formalmente — et — eminentemente

(e virtualmente)Contudo, poderia alguém objectar, como aliás já foi fei

to ,  e deste modo: Se Deus contém toda actualidade, nenhuma actualidade se dá fora dele; ora, esta é a tese pan-teística; logo, seguindo essa tese, segue-se o panteísmo.

A disti nção acima resolve clarament e a dificuldade. SeDeus contivesse toda actualidade formalmente, e segundotodos os modos de ser desta, a objecção estaria certa; masse contém eminente e virtualmente, já a objecção desfaz-se.Êle contém toda actualidade possível, como o mais contémo menos, não a contém de modo imperfeito, como já se viu.

Uma tese existencialista moderna, mas que é uma velhaobjecção já desfeita pelos escolásticos,  é   a seguinte: A essência actual de Pedro identifica-se re et ratione com a existência de Pedro; ora, contudo, não é actualidade pura; logo,

 por identi ficar-se a essênc ia de Deus re et ra ti on e com a existência de Deus, não se conclui que seja actualidade pura.

A resposta surge de uma distinção: tal identificação nãose dá em Pedro porque êle é um ser contingente, e poderianão existir, enquanto Deus é um ser absolutamente necessário, e a identificação re et ratione se dá de modo necessári o. Ademais, Pedro , ante s de ser existent e, era uma pos

sibilidade que se actualizou, quando Pedro começou a serPedro, portanto, como vimos, por ser a essência, tomada emsi mesma, uma possibilidade, é êle composto da razão dessa possib ilida de e do exercício da mesma. Em Pedr o existente há uma identificação, não porém, uma actualidade pura.

Outro argumento que se ofereceu neste caso foi o seguinte: se a essência de Deus é formalmente a sua existência,

cia; ora, muitos, que pensam em Deus, negam a sua existência; port ant o, a existência real não é a sua essência. E justificam a maior: porque negariam e afirmariam o mesmo domesmo.

Uma distinção clareia a dificuldade: que não se pode negar a existência de Deus na cogitação, não há dúvida; mas

que se pode negar a sua existência real e exercitada, depoisde demonstrad a a priori, há quem o faça. A polarização é

 po is

real na cogitação — et — real-real e exercitada

Poder-se-ia alegar que sempre há distinção entre essência e existência, porque a existência é sempre o acto de outro, assim como o movimento é movimento de outro, daí

 po rq ue nã o se po de da r um movimento ab so lu to .

Uma simples distinção resolve desde logo a dificuldade:

a existência é sempre acto de outro, mas respectivamenteconsiderada, não absolutamente considerada, pois tal nãose dari a. A disti nção entr e essência e existência não é real--física. A exemplificação co m o movi mento ta mbé m padece de paridade, porque o movimento é uma modal; portanto,  absolutamente dependente da coisa, enquanto a existência não é uma modal, mas a realidade plena da coisa queé. Temos, assim, a polari zação

respectivamente considerado — et — absolutamente(relativamente) considerado

Outro argumento, que se enquadra na matéria aqui ex po sta, e que oferece campo pa ra o emprego de duas pol ari dades de distinção, é o seguinte: estão em Deus as notasqtiiditativas como sapiência, santidade; ora, tais notas nãodizem mera actualidade, mas coisas qualitativas e qiiiditati-vas,  portanto, a actualidade não se identifica quanto à razão com a qiiididade.

120 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

A objecção exige algum as distinções. Tais nota s qtii-

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 121

A resposta é: sem dúvida que o que está na cognição é

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j g gditativas estão em Deus por modo de atributos, e não pormodo constitutivo, nem tampouco explicitamente, mas im pl ic it amente . Todo o argume nto desfaz-se ante ess a dis tin ção. Temos, pois, as polarizações:

atributivamente — et — constitutivamente

que empregamos em primeiro lugar, e ainda

explicitamente — et — implicitamente

JEssas duas polarizações servem ainda para desfazer outros argumentos, tais como: Deus é sapiência por essência;consequentemente, a sapiência é toda essência de Deus re etralione; ora, contudo, a sapiência não é formalmente existência; portanto, essência não é existência senão formalmente.

A resposta é que Deus é sapiência implicitamente, nãoexplicitamente, e o resto decorre rigorosamente em oposição

ao que deseja dizer o objector.Outra objecção apresentada foi a seguinte: Se a essên

cia de Deus fosse a sua existência, conhecida a existência,conheceríamos a essência; ora, tal não acontece; portanto,a essência não é a sua existência.

E tal é verdade, alegaria o objector, que, conhecida aexistência de Deus, perguntamos a seguir pelo que (in quo)é a sua essência.

Conhecer perfeitamente a essência como é em si mesma, tal não se dá; mas dá-se, sim, um conhecimento imper

feito, e tão imperfeit o como conhecemos sua existência. A pola ridade é

 per fe itamente — et — imperfei tamente

Alguns afirmam: só conhecemos o que está presente emnoss a cognição. Ora, o objecto pres ente na cognição é imanente a esta; portanto, só conhecemos o objecto imanente àcognição.

imanente à cognição, mas intencionalmente não realmente, po is o qu e é imanente no con hecim ento de st a cas a é intencional, pois a casa não está realmen te no cognoscente. A

 pola rida de

intencionalmente — et — realmente

 pe rm it e des faze r a obj ecç ão. E assi m como int enc ionalmente forma uma polaridade com realmente, também o formam idealmente, formalmente, eidèticamente, como o veremos.

Mas o objector poderia insistir dizendo que o objectointer no prese nte é imanen te de modo real à cognição. Semdúvida, é imanente realmente à cognição sob o aspecto sub jec tivo da espécie re pres en ta nte, nã o sob o aspec to objecti vo da espécie representada, pois realmente há na mente aespécie que representa (representans) a coisa, não a coisa re

 pr es en ta da na me nte. Há um a real idade subje ctiva e nã o arealidade objectiva da coisa na cognição.

Realidade sob o aspecto — et — realidade sob o aspectosubjectivo objectivo

Assim, a intencionalidade tem uma realidade subjectiva na mente, e corresponde subjectivamente ao que representa, que é real, e objectivamente na coisa representada.A realidade subjectiva cognoscitiva é apenas intencionalmente a realidade objectiva da coisa conhecida.

Outra objecção pode ser interposta aqui: se o objectoé conhecido pela espécie (por sua classificação específica),conhece-se a espécie e não a coisa. (Actualiza-se a espécieda coisa, e virtualiza-se a sua singularidade, a sua onticida-de for mal) . Ora, se se conhece a espécie, e não a coisa, amente cairia no subjectivismo fenomenalístico, que afirmaque o único conhecimento que temos das coisas são as espécies. Se o objecto conhecido estivesse presente por espécie,

122 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

a mente cairia no subjectivismo fenomenalístico, que afirmaque ao conhecermos actualizamos apenas a espécie inibin

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 123

A distinção é fácil; não pode ser dependente e não depe nd en te sob o mesmo aspecto, ma s pode ser sob diverso s

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que, ao conhecermos, actualizamos apenas a espécie, inibindo a coisa em sua onticidade.

Que o objecto é conhecido pela espécie, não há dúvida;mas, tal conhecimento não impede um conhecimento imperfeito da singu larida de da coisa. O objecto conhecido nã oesta presente apenas como espécie, pois o objecto conhecidonão o é só pela espécie (quo), mas também como uma singularidade (q uod ). Assim há, no conhecer, uma distinção:

Conhecimento quo — et — conhecimento quod(meramen te formal) (da singularidade

da coisa).

 Nosso con hecimen to concreto nã o pode ser pas siv o; ora,o conhecimento realístico é conhecimento passivo; portanto,nosso conhecimento concreto não pode ser realístico.

Este é o argumento de um idealista contra o realismo, já que o conhecime nto que est e apresent a é pas siv o, po rq ueo homem conhece, recebendo o influxo das coisas exteriores.Uma distinção esclarece tudo . Que o conheci mento concreto não pode ser totalmente passivo, não há dúvida; mas

 po de ser pa rte act ivo e pa rt e pas sivo, como ali ás o  é,  o queexclui o excesso do realismo, e limita o excesso do idealismo.Temos, assim, a polaridade

ex todo — et — ex-parte

distinção que facilita o esclarecimento de imímeras dificul

dades que surgem à mente humana.Mas o idealista, no intuito de refutar o realismo, poderia

objectar ainda: o objecto da cognição verdadeira não podeser dependente simultaneamente e não dependente da cognição. Ora, o objecto da cognição realista é simulta neame ntedependente e não dependente da cognição. Portanto , o objecto da cognição verdadeira não pode ser realístico.

 pe nd en te sob o mesmo aspecto, ma s pode ser sob diverso saspecto s. Entã o, temos a polaridade

sob o mesmo aspecto — et — sob aspecto diverso(sub eodem respect u) (sub diverso respectu)

Se fosse sob o mesmo aspecto, haveria contradição.

Podem-se aplicar, agora, essas polaridades para responder à objecção seguinte: As coisas, que são heterogéneas,não podem identificar-se na cognição; ora, a matéria é heterogénea em relação ao espírito; portanto, não pode identificar-se com o espír ito. Mas, a resposta vem logo: se fossetotalmente heterogénea (ex todo), estaria certa a objecção,mas se é apenas parcialmente (ex parte), leva a outras conclusões. Não há identificação realmente, mas intencionalmen te. Na verdad e, como se demo nstr ou na Filosofia Concreta, a matéria não é totalmente heterogénea ao espírito,nem vice-versa, pois há semp re analogia entre os seres. Eessas analogias constituem a via mais importante da dialéctica concreta, pois todos os seres se analogam, mais próxima ou mais remot amen te, uns com os out ros . Na LógicaFormal, como temos demonstrado em nossos livros, entredois juízos particulares não há lugar para uma conclusão.Contudo, pelo método das analogias, se houver uma analogia de proporcionalidade, há lugar para certa ou certas conclusões. Contud o, estas são mais fáceis de se obte r se aanalogia é próxima, como no exemplo de "D. Manuel é reide Portugal" e "o leão é o rei do deserto", porque há uma prop orcional id ade no reinar de um e de ou tr o, o que per

mite concluir dialècticamente que "o actuar de cada ser é pr opor ci onad o ao campo de sua act ividade ", como most ramos naquela obra.

Se a verdade lógica consiste numa oposição à falsidade,e se esta está sujeita ao mais ou menos, também o está averdade, alegaria alguém. Uma distinção responderia claram ent e ao argu ment o. É que a verdad e não se define por

124 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

negação da falsidade, mas, sim, positivamente, por adequação formal.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 125

Uma série de distinções permi te responder galhardamente à objecção. Vejamos: nenhuma ciência demons tra a

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Temos a polaridade

negative — et — positive(negativamente) (positivamente)

Aos que afirmam que se pode chegar ao conhecimentoda existência de Deus, partindo das criaturas, fêz-se esta ob

 jecção : se se pudesse, pa rt in do das cr ia tu ra s, pr ov ar a existência de Deus, deveriam estas conter a existência de Deus.Ora, uma tal afirmativa seria absurda; portanto, não se

 po de pr ov ar a exi stência de Deu s pa rt in do das cr ia tu ras. Seas criaturas provassem-no, seriam elas a causa da cogniçãode Deus. Ora, sabe-se que a causa conté m toda a perfeiç ãodo efeito e, neste caso, a criatura deveria conter toda a perfeição da existência divina.

Uma simples distinção resolve a dificuldade: a criaturanão contém entitativamente, mas apenas como signo, comosinal. Ademais, não são as criatu ras causa da cognição deDeus objectivamente, mas apenas subjectivamente. As criaturas oferecem, assim, um signum subjectivo, enquanto sãosinais manifesta tivos da existência divina. O sofisma, assim,desfarela-se totalmente. A polaridade   é

entitativamente — et — como sinal

Quanto à polaridade subjeetivamente-objectivamente, jáestudamos acima.

Vejamos agora esta objecção: Nenhuma ciência demons

tra a realidade do seu objecto; ora, Deus é objecto da Teo-dicéia; portanto, a realidade de Deus não pode ser demonstrada na Teodicéia. São procedentes para o objector as premissas , por que a ciência pro cur a saber o que a coisa é. Ora,tal busca implica, previamente, a existência; portanto, a ciência de alguma coisa não pode demonstrar a existência do seuobjecto.

j ç jrealidade do seu objecto a priori, está certo; mas a posterioricabe out ra distinçã o. Se se tra ta de uma ciência subordina da, é procedente a objecção; mas se se trata de ciência su

 pr em a (s ub or di na nt e) como é a Meta física, à qual pe rtencea Teodicéia, a objecção é impro cede nte. Temos as polari

zaçõesA priori — et — a posteriori

e também

subordinado — et — subordinante

Mas o objector pode prosseguir afirmando que a pro pr ie dade do inf ini to é a de nã o po der se r con hec ido . Ora,se Deus existe, é ele infinito; portanto, não poderia ser conheci do. E aduz a seu favor mais as seguint es razões: seo infinito pudesse ser conhecido, finitizar-se-ia em nós, ouseria tomado em medida finita pela nossa mente.

O argumento, que tem sido levantado em todos os tem pos,  desfaz-se ante uma distinção simples: não podemos conhecê-lo compreensivamente (em todas as suas notas), ouseja qiiiditativamente, não resta dúvida. Mas podemos conhecer através de conceitos analógicos, que realizam umasíntese , tan to das negações como das relações. A polaridade é, pois,

qiiiditativamente — et — analògicair

Mas,  o objector não se dá por venci'trou-nos Aristóteles, e o aceitam os esclecto nada pode conhecer sem os fantanão sendo Deus nenhum fantasma,eido pelo nos so intel ecto. A objrmos os fantasmas de seus efeitrsua causa primeira, os quaisuma inteligência suficiente.

 £#,y40aos, aET  existência

s

124 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

negação da falsidade, mas, sim, positivamente, por adequação formal.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 125

Uma série de distinçõ es permi te res pond er galhardamente à objecção. Vejamos: nenhuma ciência demons tra a

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Temos a polaridade

negative — et — positive(negativamente) (positivamente)

Aos que afirmam que se pode chegar ao conhecimentoda existência de Deus, partindo das criaturas, fêz-se esta ob jecção : se se pudesse , pa rt in do da s cr ia tu ras, pr ov ar a existência de Deus, deveriam estas conter a existência de Deus.Ora, uma tal afirmativa seria absurda; portanto, não se

 po de pr ov ar a exi stênci a de Deus pa rt in do da s cr ia tu ras. Seas criaturas provassem-no, seriam elas a causa da cogniçãode Deus. Ora, sabe-se que a causa cont ém toda a perfeiçãodo efeito e, neste caso, a criatura deveria conter toda a perfeição da existência divina.

Uma simples distinção resolve a dificuldade: a criatura

não cont ém en li lati vãment e, ma s apen as c omo signo, comosinal. Ademais, não são as cria tur as causa da cognição deDeus objectivamente, mas apenas subjectivamente. As criaturas oferecem, assim, um signum subjectivo, enquanto sãosinais manifesta tivos da existência divina. O sofisma, assim,desfarela-se tota lmen te. A pola rida de é

entitativamente — et — como sinal

Quanto à polaridade subjectivamente-objectivãmente, jáestudamos acima.

Vejamos agora esta objecção: Nenhuma ciência demons

tra a realidade do seu objecto; ora, Deus é objecto da Teo-dicéia; portanto, a realidade de Deus não pode ser demonstrada na Teodicéia. São procedentes para o objector as premissas , porq ue a ciência pro cur a saber o que a coisa é. Ora,tal busca implica, previamente, a existência; portanto, a ciência de alguma coisa não pode demonstrar a existência do seuobjecto.

j ç jrealidade do seu objecto a priori, está certo; mas a posterioricabe outra distinção. Se se trat a de uma ciência subordinada, é procedente a objecção; mas se se trata de ciência su

 pr em a (s ub or di na nt e) como é a Metafís ica, à qual pe rtencea Teodicéia, a objecção é impro cede nte. Temos as polari

zaçõesA priori — et — a posteriori

e também

subordinado — et — subordinante

Mas o objector pode prosseguir afirmando que a pro pr ie dade do infinito é a de nã o po der ser con hecido. Ora,se Deus existe, é êle infinito; portanto, não poderia ser conheci do. E aduzi a seu favor mais as seguintes razõe s: seo infinito pudesse ser conhecido, finitizar-se-ia em nós, ouseria tomado em medida finita pela nossa mente.

O argumento, que tem sido levantado em todos os tem pos, desfaz-se an te um a di st inção simpl es : nã o pode mos conhecê-lo compreensivamente (em todas as suas notas), ouseja qúiditativamente, não resta dúvida. Mas podemos conhecer através de conceitos analógicos, que realizam umasíntese, tan to das negações como das relações. A polaridade  é,  pois,

qúiditativamente — et — analogicamente

Mas, o objector não se dá por vencido, e insiste: mos-trou-nos Aristóteles, e o aceitam os escolásticos, que o intelecto nada pode conhec er sem os fant asma s das coisas. Ora,não sendo Deus nenhum fantasma, não pode ser êle conhecido pelo nosso intelecto. A objecçã o desfaz-se, por que temos os fantasmas de seus efeitos, embora não tenhamos desua causa primeira, os quais são suficientes para permitiruma inteligência suficiente. Se não temos os fanta smas da

126 MÁRIO FERR EIRA DOS SANTOS

coisa a ser conhecida, temos de seus efeitos, pois, pelos efeitos, podem-se conhecer também as causas.

MÉTODOS  LÓGICOS E DIALÉCTICOS 127

A ideia do nada metafisicamente repugna; portanto, énecessário um oposto ao nada, que é o ser que é; ora, o sernecessário é Deus; portanto Deus existe necessariamente

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Temos, então, a polaridade cognoscitiva

 pel a causa — et — pe los efei tosou seja

directamente — et — indirectamente

Outro exemplo da aplicação da polaridade a priori —et — a posteriori, temos em face da demonstração da existência de Deus, que, para a maioria dos escolásticos, é só

 pos sív el a po ster io ri .

Em Filosofia Concreta, fizemos ampla análise dos argumentos a priori, e tivemos oportunidade, também, de examinar várias objecções famosas contra a prova indevidamente chamada a priori da existência de Deus, como é a de Santo Anselmo. Em argum ent os como os que vamos citar, osadversários das provas a priori procedem deste modo: Me-tafisícamente, repugna que o ser não seja, o que leva a afir

mar que necessariamente há o ser, e que este é, necessário;ora, o ser necessário é Deus; portanto, repugna metafisica-mente a não existência de Deus, porque, do contrário, o serseria não-ser, o que é absurdo.

Os que discordam têm de aceitar que há algum ser necessaria mente , sem dúvida. Afirmam, por ém, que essa necessidade é hipot ética, e não absol uta. Contud o, poder-se-ia dizer que se há alguma coisa, há necessariamente de modo absolut o alguma coisa, por que o haver de alguma coisa afirma,necessariamente, que sempre houve alguma coisa, já que onada não poderia dar surgimento a alguma coisa. Necessa

riamente, e de modo absoluto, sempre houve alguma coisa.Mas, provar que esse alguma coisa é Deus, já exige outros argume nto s. Se Deus é o ser que é necess ário de mod o absoluto, o ser que é necessário de modo absoluto tem de serDeus, sem que, por isso saibamos quid sit; ou, seja, como éem sua essência. A pola rida de aqui é

hipoteticamente — et — absolutamente

necessário é Deus; portanto Deus existe necessariamente.Este argumento recebeu esta resposta: realmente, o nada re

 pu gn a e exige alguma coi sa. Mas, que alguma coi sa sejaabsolutamente necessária, só é admissível se provada a posteriori a sua existência necessária, porque Deus não é o entehipoteticamente necessário, mas sim o ser absolutamente

necessário. Tanto o argument o como as objecções equipa-ram-se ao anterior, e estão sujeitos às mesmas observações.

Muitos dizem, e entre eles Tomás de Aquino, em SummaTheologica I q. 46 a.2 ad 7, que a série infinita de causas ordenadas por accidente não repugna. Concluem, portan to,dessa afirmação, alguns outros que não há, pois, necessidade de uma causa primeira da qual dependa toda a série, eque há, portanto, séries nas quais nunca se alcança o primeiro membro.

Ora, essa afirmativa é contrariada por escotistas e sua-rezistas, e até por alguns que acompan ham o tomismo. Ela

 pe rmit ir ia admiti r um a série de causas po r si, ou por accidente, ordenadas sem uma causa prima, sem uma causa fora da série, fora das causas, que const itue m a série. Alegamoutros que todos os elementos da série podem ser contingentes e que a coleçãò da série seria necessária. Esses argumentos oferecem uma polaridade que é a seguinte

individualidade — et — colectividade

Tomados individualmente, os membros de uma série pe de m ser contingentes, podendo ser necessári a a colecti

vidade da qual fazem parte.Tais argumentos são rebatidos pelos filósofos, que seguem as linhas que acima descrevemos . E dizem eles quese todos os elementos de uma série são contingentes, a série,como totalidade de seus membros, também é contingente.Assim, a criação seria toda ela uma série de seres contingentes,  portant o a criação, como tal, é contingente. Se válido

128 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

o argumento de Tomás de Aquino, seria desnecessária a presença de uma causa primeira extra série, pois esta poderia

MÉTODOS LÓGICOS B DIALÉCTICOS 129

Quanto às objecções dos adversários do argumento deTomás de Aquino, podemos compendiá-las nas seguintes pal d b d l i id d ã

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existir sem a necessid ade de um primei ro princípio . Aliásesse é o pensamento de muitos autores que não admitem aexistência de Deus, e aproveitam tal argumento a seu favor.

Em Filosofia Concreta e em O Homem Perante o Infinito,  demonstramos a invalidez de tal argument o. Aqui, po

rém, desejamos apresentar um ou tro. Que se entende porser continge nte? Aquele que, par a ser, depend e de outr oque lhe dê o ser, pois, do contrário, seria mera possibilidade.  Sua actuali zação implica e exige, nece ssaria mente , outroque lhe dê o ser, ou, seja: seu ser actual é dado pelo que jáo tem. Assim se pode aplicar a tod a a série. O ser é tran sferido in infinitu m aos antec edente s. Se exam inar mos ontologicamente o conceito de dependência, verificamos quenão há dependência sem um ser que dependa, e um ser doqual dependa. O logos da dependên cia implica um ser quetenh a o ser para dar . Ora, este pode ria ser um que o rece

 beu de ou tr o, e as sim sucess ivame nte. Mas, como nu nc ahá o ser que de per si tenha o ser para dar, toda a série nãotem o ser, e exige, para poder compreender que possam osmembros anteriores dar o ser aos membros posteriores, quehaja um prime iro, que tivesse o ser de per si. Na verdade,tal argumento nos mostra, a nosso ver, a insuficiência detoda a via empirista, que parte do contingente para alcançaro neces sário. Em Filosofia Concreta, não se conclui que háo necessário porqu e há o contin gente. A via, que ali percorremos, é outra. Há o contingente, porqu e há o necessário.Para haver seres dependentes é necessário haver um ser independente; para haver seres contingentes é necessário haver

um ser independente; para haver seres contingentes é necessário haver um ser necessá rio. A contingência não t emem si mesma sua razão de ser, e, portanto, não podendo dar,nem a razão de ser de si mesma, muito menos daria a razãode ser de um ente que a ultrapasse, pois, neste caso, o menos explicaria o mai s. É por que há um ser necessári o quehá seres dependentes.

lavras: se todos os membros de uma colectividade são cegos,essa colectividade é cega; se negamos a todos os membros deuma série um predi cado, negamo-la à série. Para que chegássemos a afirmar que uma série de seres contingentes énecessária, teríamos de proceder deste modo: todos os seresque existem são contingentes, mas como não é possível nada existir, nem nunca nada ter existido, a série dos serescontin gentes é necessári a. Que se afirma aí? Que a sérietem necessariamente de existir, porque existem seres contingentes, pois, do contrário, teriam vindo do nada, o quedaria a este o carácter de ser necessário, o que derruiriatotalmente a argumentação.

A série existiria sem razão de ser, o que a tornaria absurda , por impl icar contradi ção. Ela concluiria por afirmar, necessariamente, que sempre houve seres contingentes.Esta afirmativa teria sua razão precisamente em p nada,

 po rq ue é po r nã o poder admiti r um nada absoluto an te rior

que se afirma a necessidade da série dos seres contingentes.Em Filosofia Concreta, demonstramos e apresentamos,

segundo elucidação dialéctica do desvelamento das verdadesque se desnudam, que a impossibilidade absoluta do nadaabsoluto coloca de modo necessário a presença necessária deum ser absolutamente necessário, que é a razão de ser detodo s os out ros. Tais factos dem ons tra m que é difícil, seguindo os caminhos meramente formais, alcançar a apoditi-cidade de um ser absolutamente necessário, o que, contudo,se torna evidente, e meridiano, segundo a nossa dialéctica.

A Lógica Formal, por ser deductiva primacialmente; ou,

melhor, fundamentalmente, porque a inducção valida-se soba égide da deducção, do já deduzido, não pode ela, por simesma, lançar as últimas verdades. Estas se revelam, contudo,  na dialéctica concreta, como o demonstramos em Filosofia Concreta, em que a verdade se desnuda por si mesma

 pa ra da r a razão das coi sas conting ent es ou achadas pel o processo lógico. Acha-se o que nã o pode dei xar de ser, o

130 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

que é in-cedível, o que necessariamente é, pela impossibilidade da conexão e da adequação dos elementos oferecidos.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTIC OS 131

cessári o, pode-se, cont udo, conhecê-lo inad equa damen te. Temos,  nessa argumentação, a polaridade:

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Há uma polaridade de distinção dialéctica sempre presente, portanto, que é

contingência — et — necessidade

onde há contingência, há necessidade, porque a primeira só

tem sua razão de ser pela segunda, porque só pode haverseres contingentes, porque há um ser absolutamente necessário.

Podemos agora examinar uma série de argumentos, que pr oc ur am de mo ns tr ar que, da con tingên cia , nã o se alcançao ser necessário, porque a contingência não pode dar a razão do necessário. Examinaremo s tais argumentos e as polarizações de distinção que implicam para a sua resposta,

 be m como o que se pode apor a favor de ta is teses ou cont raelas.

A premissa, que se coloca como ponto de partida, é a se

guint e: o ser contingente em si é nad a. Aceita esta premis sa, o resto decorre logicamente.

Contud o, a premi ssa exige uma disti nção. Nada, de modo absol uto, não é; de modo relativ o, pode-se aceitar. Emsuma, o ser do ser contingente não tem em si sua razão deser, mas nem por isso se lhe pode recusar toda predicaçãode ser. Portant o, a primeira polaridade é

absolutamente — et — relativamente

Mas o objector prossegue: o ente contingente não podeser concebido sem o ente necessário; portanto, não se pode

conhecer o ente contingente, a não ser que se pratique petitio pri nci pi i, pois ter-se-ia de de mo ns tr ar pr imei rament e o que já se considera dado.

Sem dúvida que, adequadamente, não se pode concebero ser contingente sem o ser necessário. Logicamente, a ideiade contingê ncia implica a de necess idade. Se não se podeconhecer o ente contingente adequadamente sem o ser ne-

, g ç , p

adequadamente — et — inadequadamente

Conhecer inadequadamente é desconhecer a causa primeira no qual êle se funda.

Prossegue o objector: nãc há nenhuma conexão entre oser necessário e o ser contingente; portanto, é impossível demonstrar o ser necessário a partir do contingente.

Mas a resposta suareziana é que não há uma conexãomútua, pois o necessário não implica o contingente, emborao contingente implique o necessário, e tanto é assim queaté os que defendem a possibilidade de toda a série ser com

 post a de ser es contingentes rec onhecem que a sér ie , to ma dacolectivame nte, é necessári a. Demo nstr amos, em "FilosofiaConcreta", que o consequente exige necessariamente o antecedente, não vice-versa. Poderi a existir Deus sem a criatura, mas a criatura não poderia existir sem Êle, já que a criatura depende essencialmente de Deus, pois não poderia existir nem perdu rar. Nesse perdu rar, há um ponto de máxima importância: na série de causas contingentes, há o perdurar da actualidade d,e um ser que dá actualidade aos subsequent es, sem que tal actual idade se desfaça. A actua lidad e

 post er io r é ainda a an te rior , po is , do cont rário, a po ster io rdesapa receria . A série infinita de causa s contin gentes te mde postular, inevitavelmente, a presença perdurante de umaactualidade necessária, pois sem ela a série não permaneceria sendo.

A polaridade que surge, aqui,  é   a seguinte

conexão mútua — et — conexão não-mútua

Podem alguns dizer que para explicar a existência do sercontingente basta uma causa contingente. Contudo, esta ex

 pl ica ção é inadequada , po rque , po r ma is que mult ip liquemosos seres contingentes in infinitum, há sempre, em todos, a

 plena insufic iência pa ra exi sti r. Dest e modo, a exi stênci a

132 MÁRIO FERR EIRA DOS SANTOS

do ser contingente não se explica apenas pela existência deout ro contingente. Temos aqui um exemplo do emprego da

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 133

Conceito estável e idêntico, não pode corresponder asingulares mutáveis e heterogéneos; ora, o conceito univer

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distinção adequada-inadequada, que permite esclarecer um po nt o de máxima importância.

Argumenta-se: atingir as determinações quantitativas equalitativas não  é   atingir o ser real. Ora, os sentid os atingem imediatamente determinações quantitativas e qualitativas.  Logo, os sentidos não atingem o ser real.

Algumas polaridades de distinção permitem esclareceresta dificuldade, que tem sido apre sent ada tan tas vezes.Atingir as determinações quantitativas e qualitativas em acto,não pertinentes ao ente real, não é atingir o ente real, nadahá a objectar; mas as pertinentes em acto ao ente real, cabesubdistinguir: não  é   atingir ao ente real enquanto ente real,está certo; não atingíir ao que é ente real, não é admissível.Os sentidos podem não atingir ao ente real enquanto entereal, mas atingem ao que é ente real. Os sentido s atin gema coisa sob o aspecto quantitativo e qualitativo, enquantosensível.

A polaridade é, pois

qualenus ens est — et — id quod ens est(até onde o ser é) (o que o ser é)

Todo ser real é singular, diz um filósofo. Ora, os conceitos universais são entes reais; portanto, são singulares.

As distinções, que se podem fazer aqui, clareiam, nitidamen te, as ideias, e perm ite m evitar as conclusões. Todoente real é e ntita ti vãment e; ou, seja, n a o rdem física, singu

lar; na ordem intencional, é singular representativamente; naordem eidética, nem é singular nem universal, pois comoeidos não se singulariza nem se universaliza.

As polaridades são, pois,

entitativamente — et — representativamente(ordem física) (ordem intencional)

sal é estável e idêntico. Po rt an to ...

Uma distinção pode-se fazer aqui, que permite responder com seguranç a à objecção apre sent ada. Que o conceitoestável e idêntico não pode corresponder aos singulares extodo (a tudo quanto é) contingente e heterogéneo, não há

dúvida. Mas ex par te (apen as parte ) do que é contingentee heterogéneo, permite, ainda, distinguir: não pode corresponder sob o aspecto meramente contingente e heterogéneo, está certo; mas sob o aspecto mais ou menos necessário eidêntico, isso pode.

Temos as polaridades

ex totó — et — ex parte

aspecto contingente — et — aspecto necessário

O conceito refere-se à parte estável, perdurável dos fac

tos singulares . Se não expressa tudo desses factos singulares, expressa o que neles é verdad eiro. Ademais, à pro

 po rção que se apl ica m os con cei tos , desc reve-se cada vezmais o facto singular, aumentando a referência aos aspectoshomogéneos. A objecção pretendia desmerecer totalmenteo valor do conceito, mas malogra ante a distinção.

O conceito, que representa a coisa sob um certo aspecto ,  não corresponde à própria coisa; ora, o conceito abstracto representa a coisa sob um determinado aspecto; portanto ,  não corresponde à própria coisa.

Que o conceito representa a coisa sob um aspecto parciale não total , não há dúvida. Que o conceito, que rep resen taapenas parte, não corresponde compreensivamente à coisa,não há dúvida; .mas, que não seja adequado, tal não é procedente. O conceito abstrac to não represen ta a coisa sobum aspect o parci al, mas a coisa como um todo. Se não ainclui totalmente em sua compreensão, representa-a pelo menos adequadamente.

134 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

Argumenta-se que o que não tem caracteres sensíveisnão corresponde às coisas do mundo . E como os universaisnão têm caracteres sensíveis não podem corresponder às

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTI COS 135

afirmação; mas, que não possa fundar-se proximamente emcontingentes singulares, a afirmativa é improcedente, porque não há nenhum contingente que não se funde num ne

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não têm caracteres sensíveis, não podem corresponder àscoisas do mundo.

É preciso não esquecer que tais conceitos referem-se aoque há de comum nas coisas, o que lhes dá, portanto, validez.

Assim, temos

Todo — et — parte

singular — et — comum

O objecto das ciências é real; ora, o objecto das ciências é universal; logo, algo universal é real.

Eis outro exemplo da aplicação da polaridade

segundo o que é — et — segundo o modo peloconcebido qual é concebido

Real é o objecto das ciências como o que é concebido,não segundo o modo pelo qual é concebido, pois este últimoé   o formal.

Outro argumento é o seguinte: o objecto das ciências éimutável e eterno; ora, o que é imutável e eterno realmente sedistingue das singularidades mutáveis; portanto...

Uma polaridade de distinção permite esclarecer. O ob je cto das ciênci as é imu tável e eterno quan do es tes te rmossão tomados negativamente; se tomados positivamente, não,

 po rq ue o imutável e o et erno são objec tos da Teologia.

O polaridade é

negativamente — et — positivamente

O que é necessário não pode fundar-se em contingentessingulares; ora, o conceito universal é necessário; portant o , . .

A distinção, que se impõe, é a seguinte: não pode comoúltima base fundar-se nos contingentes singulares, é certa a

que não há nenhum contingente que não se funde num necessário. A pola ridad e é

último — et — próximo

Se a coisa singular convém na mesma natureza comum,existe fora da coisa a mesma e comum natureza; ora, as coi

sas singular es convêm na mesm a n atur eza comum ; logo,existe fora da coisa a mesma e comum natureza.

A distinção  é   a seguinte: se a coisa singular convém namesma e comum natureza individual, existe fora da coisa amesma e comum natureza, é certo, embora não o seja o su-

 pósi to ; se a coisa singular con vém na mesma e co mum natureza específica, é preciso ainda distinguir: existe fora dacoisa na mesma e comum natureza, consequentemente à abstracç ão da mente , está certo ; antec edent ement e, é falso. Sefundamentalmente, é certo; formalmente, é falso.

O que não se encontra nos singulares, não pode ser cap

tado, retirado dos singulares; ora, o universal não se encontra nos singulares; portanto, não pode ser captado dos singuiare s. Decorre daí que os conceitos universais não sãoabstraídos dos singulares.

A resposta é a seguinte: o que realmente não está nossingulares, neles não pode ser captado, é certo; mas o quetem fundamento nas coisas, se não pode ser captado porintelecção empírica, realizada pela intuição (como a sensível,  por exemp lo), pode ser pela intelecção abstra ctiva .Afirmar que os universais de nenhum modo estejam nos singulares, é improcedente; podem não estar singularmente

nêies, pois, então, se singularizariam, mas estão fundamentalmente nos singulares. Portanto , não podem os universaisser captados dos singulares por meio de uma intuição sensível, mas podem ser por meio de uma operação intelectual(uma intelecção abstracti va). Na verdade, a mente humana capta a universalidade, fundando-se na homogeneidadeque há entre os seres. Essa universal idade não é objecto

136 M.1RIO FERREIRA DOS SANTOS

da intuição sensível, mas inicia-se por uma intuição intelectual, que realiza a distinção das semelhanças e das diferenças para classificá-las num esquema eidético-noético que é

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 137

 já po r nós assinalada . Comentando ta is afi rma tivas, algunsacusam de círculo vicioso a teoria da abstracção, porque,pa ra que o intel ect o capte o comu m de muit os te rá pr imei ro

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ças, para classificá las num esquema eidético noético, que éo conceito (universal).

As polaridades de distinção nos facilitam a solução:

formali ter — et — fundame ntali ter

(formalmente)  (fundamentalmente)intelecção empírica — et — intelecção abstractiva

Os factos singulares sensíveis, antes de serem inteligidos,são ininteligíveis; ora, de ininteligíveis não se podem abstrair noções inteligíveis; portanto, de singulares sensíveis nãose podem abstrair inteligíveis.

A distinção é fácil de fazer: a maior é dada, no silogismo, de modo absol uto e tota l. Afirma a ininteligibilidadeabsol uta e total . Ora, isso não é verda deiro , por que os sin

gulares não são ex totó ininteligíveis, pois são potencialmente inteligíveis, e tanto é verdade que são inteligidos e classificados conce itual mente. Se há realmente coisas que sãototal e absolutamente ininteligíveis, delas não será possívelextra ir noções inteligíveis. Assim, o nad a absolut o é ininteligível, e dele não se pode extra ir nenh um inteligível. Só podemos pensar nele atrav és da recusa do ser. Se não houvesse um fundamento dos universais nas coisas singulares, osuniversais seriam apenas construcções de nosso intelecto,como deseja afirmar o subject ivismo . O funda mento q ue hánas coisas é a forma intrínseca ou extrínseca, que as coisas

 possuem, ma s, sobr et udo, a pr im ei ra como lei de pr opor

cionalidade intrínseca da coisa, que não transparece aos sentidos,  mas que a intelectualidade pode captar através dosdados fornecidos pelos sentidos, como demonstramos em"Teoria do Conhecimento".

A distinção foi

ex totó — et — ex parte

 pa ra que o intel ect o capte o comu m de muit os , te rá pr imei roque realizar uma abstracção. Mas, para realizar um a abstracç ão deve já inteligir o comu m. Realmen te, já na intuição sensível se processa uma acção abstractiva, mas parcial.Os dados obtidos são assimilados a esquemas sensíveis, que

 já fo ram intelectualizados. A acçã o abstract iva real iza- se segundo a explicação pitagórico-platônica, pela assimilação dasemelhança, que há no facto sensível, com os esquemas jáconstruído s. Essa segunda abstracção, que se realiza pelainibição da singularidade do facto sensível, e pela actualização da universalidade, é a abstracção total intelectual, enquanto a primeira é a sensível, que é apenas dissociativa-as-sociativa, porque captamos sensivelmente, destacando o queé assimilável aos esquemas sensório-motrizes, que são classificados segundo os esquemas noético-eidéticos, que dispomos através da abstracção total.

Distinguiam os escolásticos

universal directo — et — universal reflexo

O universal directo, como vimos, é a natureza da coisaabsolutamente considerada, que prescinde em sua compreensão da singularidade e da pluralidade, assim homem. Universal reflexo é a mesma natureza considerada relativamenteaos indivíduos, nos quais está ou pode estar: "o homem pode ser em muitos."

Chamavam de real ou metafísico o universal directo oque é concebido como estando na coisa (prima intentio); e

universal reflexo, chamado lógico, era o que não estava formalmente na coisa, mas apenas na mente (secunda intentio).A lei de proporcionalidade intrínseca, que está na coisa, queé a forma da coisa, é o universal directo real ou metafísico.É real porque está na coisa; é metafísico, porque não é captado pela esquemática da sensibilidade humana, pela intuição sensível, ultr apas san do, assim, ao físico. Esse uni-

138 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

versai é o res extra animam, de que falava Tomás de Aquino(in De Potent ia, q. 7 a. 9). Como esse univers al, segundo adoutrina pitagórico-platônica é apenas uma imitação, na coi

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 139

Este Ultimo realiza-se através do processo abstractivo, segundo a dou trin a aristoté lico-to mista. Vejamos, como é possível conciliar as positividades do pensamento pitagórico-platô

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sa, do universal directo eidético, êle aponta ao seguinte: a pr oporcional idade intr ínseca da coi sa ordena-se segundo umlogos (lei) de propo rcion alid ade intríns eca. Esse logos é atriangularid ade. Esse logos da triangularidade é uma realidade eidética, independentemente dos triângulos, porque se

não houvera triângulos, o logos da triangularidade não setornaria num mero nada, nem seria um mero nada antes dehaver triângulos, como um mero nada não é o logos do homem antes de haver homen s. Tal logos seria na ordem doser, uma possibilidade que se actualizou posteriormente. Como se deu essa actuali zação? Seres vivos anima is repet iram,na proporcionalidade intrínseca de sua constituição, um logos,  que é o da mima nita s. Nenh um ser humano é a huma-nitas, como nenhum círculo é a circularidade.

A circularidade é o logos (lei) da proporcionalidadeintrí nseca, que é imit ada por todo s os círculos . Mas, a cir

cularidade é, enquanto tal, absolutamen te perfeita. Nenhumser circular, ao imitá-la, é plenamente a circularidade, porqueesta é mera ment e eidética (form al), e não materia l. Dizer-seque a circularidade é uma criação subjectiva do homem, éafirmar que antes do homem seria impossível pensar sobre acircularidade, que nada mais era que ura mero nada.

A circularidade é possível de ser imitada por seres físicos. Esse univers al directo prescinde da singul aridade (este,  ou aquele círcul o) e da plura lida de (esses círculo s). Éum eidos (forma ) an te rem, que se dá fora das coisas. Este

 pe nsamento pit agó rico-p lat ôni co é abso lu tamente vál ido, e a

sua negação faz incorrer em contradições, pois afirmaria anulidade (nihilatio ) da forma antes das coisas. Por outrolado, o que há nas coisas é o logos concreto, que dá a forma,que a informa, a forma deste círculo, a forma deste homem,que é um universal directo real (in re) e, finalmente, o universal reflexo lógico, que é o esquema eidético-noético emnós,  intencional, que é segundo o que intelege o intelecto.

nico com o aristotélico-tomístico, segundo as normas que estabelecemos em nossa dialéctica concreta.

A abstracção é a operação pela qual se realiza a separação de uma coisa de algo. Ela pode ser física ou intencio

nal. A física realiza a sepa raçã o física, e a intencional é aque realiza a nossa mente, a qual consiste numa operção merame nte mental, sem a realizaçã o física. Essa abs trac çãointencional pode ser negativa: a que se realiza através do juízo negativo, pelo qual se separa o predicado de o sujeito, como "o livro não é verde", em cujo juízo separamos, mentalmente, o predicado verde de livro, negativamente, por recusa.Chamavam os escolásticos de abstracção intencional precisiva e abstracção positiva, na qual se considera uma partede algum todo (e temos a precisiva parcial), sem consideraras partes, também chamada de abstracção intencional formal, quando essa abstracção parcial se realiza pela separação da forma de um composto, como quando, de João, consideramos apenas a humanid ade deste. É chamada de totalquando tomada a forma com a matéria de um composto,-  co^mo em João o ser homem.

Em tais casos, dá-se a abstracção perfeitamente, porquesobram os aspectos individuais, as determinações individuais.

 Na abst racção intencional tota l, toma-se, inde termi nadamente e implicitamente, tudo quanto há no indivíduo. A tese aristotélico-tomista afirma que, pela abstracção precisivatotal, são formados os conceitos universais directos, extraídos dos fantasmas ida parte fenomênica na imago).

 Na ab st ra cção parci al, os ari stotél ico-t omist as escla recem o que se dá. Em pr imei ro lugar, há uma ap reens ãoconfusa do todo, depois uma apreensão distinta das partes:

 post er io rmente , a consideração de um a pa rt e sepa radamentedas outras. Finalmente, o que sobra, que não é considerado,não é contudo ignorado (permanece em nosso intelecto). A

140 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

abstracção se processa por uma dissociação do que é dadointegralmente ao intelecto.

Já b t ã t t l ã i é i i ã

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 14I

Dado o facto, e captado o fantasma (o fenomênico dacoisa, que já  é   dado assimiladamente à esquemática da sensibilidade) a mente realiza a comparação que se dá pela ade

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Já na abstracção total, não se exige uma prévia cogniçãointelectiva, mas apenas sensitiva. A visão capta a côr e afigura da maçã, permanecendo a qiiididade das coisas sensíveis, inibindo (relinquendo) as determinações individuais. Na abstracção total, port anto, o que é inibido, não só não

é considerado, como é ignorado (não permanece, pois, nointelecto o que sobra da abstracção).

Impõe-se a distinção entre

abstracção — et — comparação

 par a que se efectue a mais nítida compreensão de ambasdoutrinas.

A comparação (de cum e par, pôr um ao lado de outro)é a acção intelectual, que consiste em pôr um em ordem aoutro (em par), e realiza-se por modo de composição e divisão, ou por modo de simplicidade. Por modo de simplici

dade, temos a relação real (a do pai para com o filho) ou arelação de razão (a do predicado para com o sujeito).Afirmam os aristotélico-tomistas que pela simples com

 paração reflexiva lógica, formamos o conceito universal reflexo. E afirmam, ademais, que o universal reflexo é uni-versale in essendo (universal no ser, em muitos), do qual decorre o universale in predicando (um predicado ou predicaveis de muitos).

Temos, assim, a distinção

universale in predicando — et — universale in essendo

(o que é predicado ou pre- (o universal in re, emdicável de muitos) muitos)

O universal directo  é   o eidos ante rem, para exemplificar, a forma independente das coisas. O universal directo ,real não metafísico, é o que está, ou dado como estando nacoisa, in re. O universal reflexo, também chamado lógico,é o que está na mente (post rem).

sibilidade), a mente realiza a comparação que se dá pela adequação do que é conhecido com a esquemática já existente,e constrói o universal reflexo, ou lógico. Ora, essa operaçãoé,  pois, de uma acomodação da esquemática existente com oque é dado. Processa-se, aqui, a assimilação no sentido pi-

tagórico-platônico. Compara-se o que é par . Na operaçãocomparativa, processa-se a adequação segundo a homogeneidade,  inibindo-se a heterogeneidade. Os semelhantes sãoopostos par a par, para neles se verificarem as semelhanças,inibindo-se as diferenças. Pelas semelhanças ao que já estáesquematicamente construído, a sua adequação maior oumenor permite a classificação. Inibem-se as determinaçõesindividuais heterogéneas. Pela comparação reflexiva lógica, constrói-se o universal reflexo ou lógico. Pela abstracção precisiva total (pela qual se toma a composição forma ematéria) constrói-se o universal directo, o que está na coisa,

a estruc tura eidético-hilética da coisa. A operação posterior de abstracção precisiva parcial permite a construcçãodos conceitos universais formais, da forma tomada separadamente da matéria; ou, seja, do composto eidético-hiléticosepara-se o eidos, a forma de a hylén, matéria, da coisa. Naabstracção total, inibem-se essas determinações individuais,mas inibem-se enquanto se assimila o que há de universalna coisa. Por sua vez, o que é accidental, ou apenas individual,  é   assimilado a outros esquemas. Quando a mentehumana procura o universal da coisa, procura o que lhe dáa unidade, porque já captou, confusamente, a unidade da coisa. Procura, então, o pelo qual a coisa é a unidade que  é.De qualquer forma, no conhecimento intelectual, que é abs-tractivo, há os elementos a posteriori, que actualizam comtanta insistência toda posição empirista-racionalista, como oé a aristotélico-tomista, virtualizando os elementos a priori,que há na abstracção, sem a qual ela não se realiza, pelaimpossibilidade da comparação, pois onde há comparação

142 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

há o par, a actividade reflexiva, que consiste em acomodaresquemas para realizar uma assimilação.

A l id d d di ti ã

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 143

mesma concepção, o que não é de admirar, porque Tomás deAquino e (repetimos mais uma vez) era mais platónico doque se julga, apesar da opinião em contrário de tantos cons

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A polaridade de distinção

actualização — et — virtualização

é de máxima importância para a compreensão de tais pro

cessos. Vê-se, desse modo , que a apri orid ade da concepção pit agórico-pl atô nica pe rfe it ame nte se concil ia com a aposte-riori dade aristot élico- tomista . O proce sso reflexivo é umexemplo desse inverso actuar, que representa a concreção doacto intelectivo da abstracção.

Após o que realiza a abstracção total, é possível a cons-trucção dos universais directos, porque estes são dados comoestando nas coisas (in re), por necessidade de compreensãoobjectiva dos factos e para evitar o subjectivismo, que é rotundame nte falso. O universal não é assim uma criação damente humana, mas a construcção de uma estructura eidéti-

co-noética intencional do que se dá eidético-concretamentena coisa, pois esta, sem uma lei de proporcionalidade intrínseca, não poderia ser o que ela é, do contrário tudo se desvaneceria numa nihilatio (anulação) absoluta, e tudo seriaficcional, o que, na Gnosiologia, demonstra-se ser absurdo.A aceitação dessa estructura formal concreta é que dá a basereal ao realismo moderado dos aristotélico-tomistas. Mas,esse realismo não se confina apenas aí, porque o que ascoisas realizam em sua estructura formal concreta, em sualei de proporcionalidade intrínseca, é algo que imita a umaestruct ura eidética, ou participa desta. Para os pitagórico-

 platón icos , há imitação ; pa ra os ari stotél ico-t omist as , há par ticip ação. Mas, ambo s os grup os se identificam em aceita rque há uma estructura eidética, formal, ante rem, que, paraos segundos, são os pensamentos de Deus, as possibilia formais, e que para os primeiros são as formas formalmentesubsistentes, ou, seja, como formas, são subsistentes formalmente, não de modo absoluto, porque o último fundamentodelas é o Ser Supremo, o que termina por identificá-los na

 pícuo s tomistas , como o de mo ns tr a a valorização que deu ãteoria da participação.

A distinção entre universale in essendo e universale in pr aedicando, que po demos chamar de universal em ser e uni

versal em predicar, é fácil agora de estabelecer-se: o primeiro é o universal reflexo, é a estructura esquemático-eidé-tico-noética, que está em muitos ou pode estar em muitos.É o esquema intencional da estructura formal concreta dacoisa. E o segundo é o que predicam os ou pod emos predicar de muit os. Assim, pod emos predic ar de mui tos (ou, se

 ja , rea liz ar um univers ale in pr aedi cand o) um univers ale inessendo . Predica-se de muit os indivídu os (João, Pedro , Paulo,  António, in praedicando) o homem (universal in essendo), que eles são. Predica-se, assim, de muit os, uma (áli-çma) natureza (un a). O universale in essendo é predicadode muitos e, como tal,  é   um universale in praedicando.

* * *

Vejamos outros argumentos:

A forma, que admite graus,  é   variável. Ora, a verd adeé a forma que admite graus; logo, a verdade é variável.

A forma, que admite graus de per si e por razão, é variável, não há dúvida. Mas a forma q ue, por accidente e

 po r razão do suj eit o, admite graus, só é var iáv el subject ivamen te; object ivamente , não o é. Que a verdade é uma forma que admite graus em si e por razão, não tem procedência;

 po r accid ente e po r razão sub jec tiva, acei ta-se. A ve rdadesubjectivamente aceita é variável, concorda-se; objectivamente aceita, nega-se.

A polaridade de distinção é pois

 pe r se et ra tione — et — pe r acc idens et ra tion e subject i(pe r si e por razã o) (po r accident e e por razão de

sujeito, ou subjectivamente).

144 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Outro argumento: A forma análoga admite graus; ora,a verdade é forma análoga; logo, a verdade admite graus.

A forma análoga admite graus, quando concebida pela

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 145

estaria certa. Mas se não pode por intrínseca cont radição,é improcedente a premissa. Se fosse intrinsecamente possível prod uzir , haver ia proced ência na afirma ção. Do con

i i b l f i

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g g , q pnossa mente; mas que, determinadamente, existam os grausfora da nossa mente, é inaceitável.

A polaridade é a seguinte

em nossa mente — et — fora da nossa mente

Se a verdade da enunciação fosse invariável, a enunciação verdadeira não se transformaria em falsa; ora, há enunciações verdadeiras que se transformam em falsas; logo, averdade da enunciação não é variável.

Realmente, se a enunciação da verdade fosse invariável, neces saria mente não se tran sfor mari a ela em falsa. Mas,contingentemente, podemos afirmar que nenhuma enunciação verdadeira se torna em falsa; mas, segundo alguma significação mais lata e inde termi nada , é admissível. Quando

a enunciação é de algo necessário (proposição realmenteapo dít ica) , ela não se tran sfor ma em falsa. Mas, se a enunciação trata de alguma coisa accidental, contingente, podetorna r-se em falsa. Assim se dizemos: "Joã o está lendoagora", a proposição é verdadeira enquanto João lê, mas falsa, posterio rmente, qu ando João não lê. Na verdade, nãohá mutação da verdade em falsidade, há apenas a inadequação do juízo à realidade (adaequaíio intellectus et rei).

necessidade — et — contingência

Vejamos mais alguns raciocínios que foram usados através dos tempos, e que são refutados graças às distinções.

Se Deus não pode produzir algo igual a si não é omni po te nte ne m bo m; ora, ta l impotência repugna; logo , produzalgo igual a si.

Se não pudesse produzir algo igual a si por impotência, por defeito de pode r, po r fal ta de poder, a pr emis sa maior

trário, não. Ora se Deus é único, e absolutamen te perfeito,out ro igual a êle seria único e abso luta ment e perfeito. A unicidade de seu ser não permite que haja outro, pois, do contrário, não seria único nem omniperfeito. O outro nadamai s seria que êle mesm o. Padece, assim, o argu ment o de

contradição intrínseca.A possibilidade e a impossibilidade são examinadas aqui

 pela po larização de dist inção

 possi bi lidade in tr ínseca — et — imp ossibi lidade intrí nseca

A razão da pluralidade exclui a da unicidade; ora, seDeus fosse único, a razão da pluralidade do mundo seria aunicid ade; porta nto , Deus não é único. A maio r justifica-se

 po rq ue nenh uma coisa pode se r raz ão de seu oposto ; or a, aunicidade é o oposto da pluralidade; portanto, falta-lhe a sua

razão.Se lhe falta a razão formal, haveria procedência no ar

gumento; se lhe falta a razão eficiente, exigiria nova distinção:  se não contém eminentemente a puralidade, aceitar--se-ia; do con trár io, nega-se. Falta a razão formal de seuoposto, concorda-se; a eficiente, se não a contém eminentemente, estaria certo; do contrário, nega-se razão ao argumento.

A polaridade é

razão fo rmal — et — razão eficiente

Por ser Deus único e infinito, e por conter eminentemente toda perfeição, pode ser imitável por outr os seres. E como uma imitação finita não exauriria essa perfeição, podemas coisas imitá-lo de modos inumeráveis.

A polarização de distinção é a seguinte

eminentemente — et — eficientemente

146 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Opondo-se à doutrina da Trindade, um objector apresentou o seguinte argumento: o que convém a muitos, realmente distintos, não é um; ora, a essência divina convém a

MÊTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 147

tido, aqui, é o etimológic o; não qu ant o à coisa significada, po is indicar ia ao ser imutável que sempre foi o que é, e oque será.

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três realmente distintos; portanto, a essência divina não éúnica . Justifica o objecto r a premi ssa menor, porque adoutrina da Trindade afirma que convém ao Pai, ao Filho eao Espírito Santo, que realmente se distinguem.

A resposta é a seguinte: se convém, por unidade lógica,haveria procedência no argumento; se por unidade física ereal, o argu ment o não proce de. A essência não se multiplica nas pessoas, mas a mesma está numericamente em três.

A polaridade de distinção é

unidade lógica — et — unidade física e real

Alega-se: um dos contrários não pode produzir seu contrário; ora, o bem é contrário do mal; logo, o bem não pode

 pr oduz ir o ma l.

Per se o bem não produz o mal, mas por accidente, pode produzi-lo.

A polaridade é a já salientada

 pe r se — et — per acc idens

Outro argumento: o infinito é negado; ora, em Deusnão há qualquer negação; logo, Deus não é infinito.

Segundo o modo de significar (etimologicamente) infinito é negativo; não quanto à coisa significada, quanto ao fundamento da negação.

A polaridade é a seguintemodo de significar — et — a coisa significada

(etimológico)

Também se poderia aplicar essa polaridade para examinar o conceito de eterno, se se entende pelo que não temfim no temp o ou pelo que semp re existiu no tempo . O sen-

Se Deus fosse o ser infinito (todo ser), seria o ser detodas as coisas; ora, essa é a tese do panteísmo; logo, Deusnão é infinito. Se afirma rmos o contrári o, f, Nature za (cosmos) seria Deus.

Uma distinç ão se impõe: Deus é a causa eminent e eexemplar das coisas, não porém a causa formal das coisas.

Causa eminenci al — et — causa formal

As perfeições de Deus são demons trad as, fundando-senas das criaturas; ora, tais demonstrações supõem perfeições em Deus do mesmo género que as perfeições das criaturas; logo, as perfeições de Deus são finitas.

Realmente, é fundando-se nas perfeições das criaturasque os teólogos demo nst ram as perfeições de Deus. Contudo, não quer dizer que sejam do mesmo género, porque sãotomadas analogicamente, não univocamente.

A polaridade é

univocamente — et — analogicamente

Em Deus há unidade, porque é único; ora, a unidade énúmero finito; logo, em Deus há algo finito, e não simplesmente infinito.

Unidade multiplicável, é inaceitável; não multiplicável,é certo . Concorda-se que a unid ade multiplicável é núm erofinito; que a unidade não multiplicável, que está na essência

infinita, é núm ero finito, nega-se. Não é núme ro, mas unidade de infinitos valores.

A polaridade é

multiplicável — et — não multiplicável

Argumentam: do último critério da verdade nenhumadúvida é possível; ora, é possível a dúvida sobre a evidência

148 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

objectiva; portanto, a evidência objectiva não é o últimocritério da verdade.

Que não é possível nenhuma dúvida real, concorda-se;

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS J4Q

Mas o objector poderia prosseguir^ Deus não é tempo, po rt an to , nã o poderia es ta r em ne nh um lugar.

O crente pode responder: comensurativamente com êle,

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Q p , ;que nenhuma dúvida ilusória é possível, nega-se.

A polaridade é

dúvida real — et — dúvida ilusória

Uma objecção famosa ao princípio de contradição podeser reduzida ao seguinte silogismo: onde sobrevêm razõesde duvidar, advém a dúvida racional; ora, advêm razões deduvidar do princípio de contradição; logo, pode-se ter deleuma dúvida racional, e não é êle evidente de per si.

A seguinte distinção resolve a dificuldade: essas razõesde duvidar são fundadas na obscuridade da matéria sobre aqual se duvida, admite-se; fundadas, porém, na clareza dacoisa sobre a qual se duvida, não procede o argumento.

Em suma, há dúvida por falta de clareza, não por clareza. É a obscuridade que permite duvidar, não a clareza.

A polaridade é

fundamento na obscuridade — et — fundamento na clareza

 No en tant o, o objector insist ir ia com mais este ar gumento:

Dizem os crent es que Deus está em toda part e. Ent ãocabe o seguinte argumento: as coisas, que estão num lugar,são corpóreas; ora, Deus não é corpóreo; logo, não pode

estar num lugar, nem ser ubíquo.O crente responderia com a seguinte distinção: se estão

circunscriptivamente num lugar (circunscritas a um lugar),concedo; se não estão ci rcunscriptivamente, como Deus, nego.

A polaridade é a seguinte

circunscriptivamente — et — não-circunscriptivamente

aceito; sem comensuramento, e só por coexistência, nego.Que Deus não está num lugar comensurativamente, concedo ;  sem comensuração, mas só por sua imensidade absoluta,nego.

A polaridade é

com comensuramento — et — sem comensuramento

 Neg and o a imutabil idade div ina , um objector pr op ôs oseguinte argumento: O que move a si mesmo, é mutável:ora, Deus move a si mesmo; logo, é mutável.

A resposta foi a seguinte: se move a si mesmo propriamente, está certa a maior; mas impropriamente dito, não

 pr op riamen te di to .

A polaridade é

 pr op riamen te di to — et — impr opriamente di to

Também as afirmações de que Deus anda, de que Deussobe ou desce são metafóricas, o que permite respondê-las

 pela po la ridade de dist inção

 pr op riamen te dit o — et — metafor icame nte

como se vê nas suppositiones.

Um ser pode mudar, mas é preciso estabelecer como se

dão tais mutaç ões. Distingui-las é de máxim a import ância, po rque es ta mos aqui num do s po ntos em que as arg umentações se processam em maior número.

Pode-se dar a mutação por denominações intrínsecas ou po r denominações extrí nsecas, pois , no cas o da cr iação, asmutações, que são modais, dão-se nas criaturas, e não noCriador, dão-se por denominações extrínsecas.

150 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Temos, assim, a polaridade

denominações — et — denominaçõesintrínsecas extrínsecas

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 151

estava contido no primeiro, era coexistente com o primeiro.Assim, todas as possibilidades de pensar e de ser são coeter-nas com o Ser Supremo . De certo modo , tudo qua nto é,foi ou será já é nele Êle é a razão de ser de tud o q uan to

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intrínsecas extrínsecas

A intrinsecidade e a extrinsecidade da mutação é polaridade de máxima importância, que permite esclarecer diversos aspectos, que parecem opor objecção à imutabilidade

do Ser Supremo.Outra polaridade importante é a da univocidade e a da

analogia, que determina a polaridade já examinada

univocamente — et — analogamente

 poi s, quando se co mpar a a vida ou o modo de ser de Deuscom as criaturas, as comparações não são fundadas na univocidade, mas na analogia.

Se o ser vivo move-se, sendo Deus um ser vivo, deve

mover-se. Esse movimento é tomado analogicamente aomovimento humano, não univocamente. Não há movimento propriamente dito, mas impropriamente dito.

O pensar em Deus não se processa através de um antese de um depois, primeiro isto e depois aquilo, o que im

 pli ca um a du raçã o temporal , o que temporal izar ia a Deu s.Há, sim, uma antecedência de signum, de significação, nãode sucessão, p orque significativamente tudo é simultâneo,

 pois to das as ideias, fo rmas e poss ibil idades pe nsamenta issão, significativamente, simultâne as. A prioridad e  é   significativa e não cronológica ; é axiológica e ontologicamen te

 pos sív el, nã o, po rém, te mporal . Um pensamento , que antecede a outro, não significa que há carência do segundo,quando se dá o primeiro; o primeiro já implica o segundo,como todas as inferências possíveis pensamentais já estãodadas. O pensament o da divindidade não pode ser discursivo como  é   o nosso, pois nós deduzimos de um pensamentooutro pensamento no tempo, mas o pensamento deduzido já

foi ou será, já é nele. Êle é a razão de ser de tud o q uan toé, foi ou será, pois sem êle nada é, nem foi nem será.

Temos aqui a polaridade.

 pr io ridade de du ração ou — et — pr io ridade de sinaisde natureza

O pensamento, fundado nas distinções, evita as confusões. Uma coisa é ter um pensa ment o distint o, clareado

 pel as del imi taç ões , que evi tam se to mem como to ta lmenteo mesmo o que é parcialmente o mesmo, que se tome pelomesmo (idem) o que é igual apenas sob um aspecto, e diverso sob outro aspecto.

É mister considerar-se bem a dicotomia já examinada:

sob o mesmo aspecto — et — sob aspecto diverso

 bem como a diferen ça nã o pode deixar- se de cons iderartambém segundo uma dicotomia; pois o diferente absolutoé apenas a unicidade enquanto tal, mas, fora da unicidade,todos os entes têm em comum, sob algum aspecto, algo queos análoga. Nâo há, assim, senão diferenças rel ativas , o queexige novas distinções quanto aos opostos, que podem sercontrários, subcontrários, antinômicos, antagónicos, contraditórios, polares, como já examinamos.

A oposição pode ser

lógica — et — física

A oposição lógica é a que se dá entre proposições; aoposição física, a que se dá entre coisas (e também conceitos). Há oposição sempre entre dois quando não são omesmo (idem), na mesma coisa, sob o mesmo aspecto.

152 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

A oposição contraditória formal é a que repugna emverdade e falsidade, pois duas contraditórias não podem sersimultaneamente verdadeiras nem simultaneamente falsas.Assim se dá entre as proposições: "todos os homens são

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 153

Afirmativas são as que atribuem simplesmente o predicado ao sujeito: S é P.

 Neg ati vas : as que negam ao suj eit o o pr ed icado:S ã é P

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Assim se dá entre as proposições: todos os homens sãomort ais" e "algum homem não é mortal ". Se a segunda

 pr op os ição fosse: "al guns ho mens nã o são mo rtai s" , amba sas proposições poderiam ser falsas, porque se apenas umhomem fosse não mortal, seria falso dizer que todos os ho

mens são mortais, e também que alguns homens não sãomortais, porque apenas um não era mortal.

É preciso considerar em que sentido se toma a particular. Deve tomar esta de modo indeterminado e sin-gulariza nte. Se for determi nado e plura l, não será umauniversal, porque não toma o conceito em toda a sua extensão, mas pode tomar numa particularidade extensiva, abrangendo vários. Neste caso, uma excepção, uma só, bast aria

 pa ra de te rmin ar a fal sidade de amba s as proposições. Portanto, a contradição lógica só pode haver entre uma universal afirmativa e uma particular indeterminada não plural

negativa, ou uma singular negativa, ou entre uma universal negativa e uma particular indeterminada não pluralafirmativa, ou singular afirmativa, como entre "Nenhumhom em é bom " e "algum home m é bom ". Se dizemos a

 pr imei ra , excluí mos todos os ho mens, e se diz emos a segunda, não excluímos todos, mas admitimos que alguns (ouapen as um ) sejam bon s. Se dizemos "alguns homen s nãosão bons", e esta proposição é subalternada à universal negativa, não há contradição nenhuma nem contrariedade, sedizemos "alguns homens são bons", e se fôr verdadeira esta,será necessariamente falsa a universal negativa, mas se di

zemos excludentemente "algum (um só) homem é bom",falsas são a universal negativa e a particular negativa.

Podemos tomar as proposições de várias maneiras, como já vimos:

 — qu an to à qual idade: afi rma tivas, neg ati vas eindefinidas.

S não-é P.

Indeterminadas: as que afirmam ao sujeito um predicado indeterminado: S é não-P.

As proposições, que negam ao sujeito um predicado nãodeterminado, termi nam por ser afirmativas. Assim S não-énão-P equivale a S é P, pois se dizemos: O homem não énão-justo é o mesmo que dizer o homem é justo.

Quanto à quantidade podem ser proposições: universais, pa rt ic ul ares e singulare s. Todos os S são P, alguns S são Pe Um S é P.

O predicado pode ser contingente ou necessário ao su je ito.

Se o predicado é necessário ao sujeito, faz parte da sua

essência, ou seja, é conotativo à sua essência; se é contingente, pode ser meramente accidental ou uma propriedade.Se é propriedade, pertence à essência; se é meramenteaccidental, não.

 Nas relações de opo sição en tr e as proposições* vai surgir uma série de possibilidades dialécticas, que merecemexame, para melhor compreensão do que é contraditório,contrário, subcontrário, subalterno, antagónico, antinômicoe polar.

Para o exame dialéctico-concreto mais completo da matéria, deve-se ainda considerar na proposição o sujeito e o

 pr edicado seg undo a ext ensão e seg undo a sua compreensão.

Posteriormente se complexiona ainda mais a análise,quando se examina o sujeito e o predicado segundo a su-

 plê nci a (ace pç ão ), do que já tr at am os , ma s vo ltaremos atrat ar. Por ora, buscare mos compreender da melhor maneira a proposição quanto à sua forma e quanto à sua matéria.

154 MÁRIO FERREIRA. DOS SANTOS

A primeira é indicada pelo modo da predicação, e a segunda pela função do sujei to e do predicado, po is est es são a ma- Iteria da proposição, que a predicação informa.

A d d f l id d d i ã d

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 155

quanto é possível ao ser humano fazer, a fim de evitar asconfusões que surgem daí.

Partamos, primeiramente, para as combinações possíi áli d l d i d t i

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A verdade e a falsidade de uma proposição pode serconsiderada em si ou em relação a outros, pois podemos tratar da verda de ou da falsidade de uma prop osiç ão 1

mediatamen te — et — imediatamente 2

Uma proposição é verdadeira ou falsa imediatamente,quando podemos alcançar a sua verdade ou falsidade pelaanálise apenas da mesma oração, sem necessidade de a com

 pa ra rm os com ou tr a ve rdadei ra ou fals a; é medi atamenteverdadeira ou falsa, quando a sua verdade ou falsidade decorre necessariamente da verdade ou da falsidade de outra

 pr opos ição .

Logicamente, a proposição Deus existe é imediatamente verdadeira, porque o sujeito Deus implica necessaria

men te existência, como mostra mos . Mas, uma verdade lógica pode não ser uma verdad e real. Assim, se inferimosque é logicamente verdadeiro, por necessidade, a proposiçãoDeus existe, não podemos dela concluir a existência real deDeus sem outras provas; só o poderíamos mediatamente.Por isso, não basta uma verdade lógica para que alcancemosuma verdade real. Est a exige a prova real, enquant o àquela bas ta a prova lógica. Assim, é verdad eiro logicamenteque Centauro é homem-cavalo, não é realmente verdadeirosem a prova da existência real do Centauro, como já vimos.

 Na comp ar ação das proposições lóg icas, ve rdadei ras oufalsas, as consequências não são ainda dialècticamente concret as, enq uant o a prova da ontici dade objectiva do que elas . «referem não fôr feita. Se se houvesse compre endid o isso ácom cuidado , o formali smo lógico não teria criad o tan tos *males ao pensame nto humano . Ora, a dialéctica concreta 1

 pr oc ur a col oca r est e tema em si tuação clara e ní tida, ta nt o ■

veis, para a análise dos exemplos, deixando para extrair asregras principais, após tais exames, a fim de tornar meridiano o que à primeira vista pode parecer de uma dificuldade insuplantável.

Principiemos por paralelos clássico:

Todos os homens são mortai s — Nenhum homem émortal

Alguns home ns são mort ais — Alguns home ns nãosão mortais

Um home m é mor tal — Um home m não émortal

Temos aqui, de um lado, a universal afirmativa, a par

ticular afirmativa e a singular afirmativa; de outro lado,a universal negativa, a particular negativa e a singularnegativa.

Façamos a análise t individual das prop osiçõe s em primeiro lugar, depois a análise das relações múltiplas e possíveis.

Todos os homens são mortais é uma proposição universal afirmativa.

Está assim classificada quanto  a  quantidade e à qualidade.

Análise do sujeito e do predicado: o sujeito é tomadoem toda a sua extensão, pois nele incluímos todos os homens; é tomado também em sua compreensão, porque essa

 propos ição poderia ser enunciada de ou tr o modo , ma is com pre ensivo : Todo ho mem é mo rt al ou ta mb ém O ho mem émortal.

 m

156 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

Quanto ao predicado, está êle tomado em sua compreensão.  A mortalidade , que se atribui ao homem, é compreensivamente mortalidade; quanto à extensão não, pois não sediz que os homens são todos os mortais, podendo, portanto

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 157

tiva, que lhe está subord inad a? Se tom ada em sua extensão, fôr verdadeiro que a universal afirmativa aponta matériacontingente universal, a afirmativa particular será tambémverdadeira na mesma ordem.

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haver outros seres mortais que não sejam homens, pois a pr opos ição deixa in de te rmin adamen te a possi bi lidad e de haver mortais que não sejam homens (1).

Voltando à análise da proposição Todos os homens sãomortais, cujo exame sobre a qualidade e a quantidade jáfizemos, podemos agora realizar o que se refere à suplência.

 Na prop os ição em aná lise, a da sup lên cia (sup posi ti o)é formal, próp ria, simples , univers al. Se é real quan to àordem: é essencial; quanto à extensão: é universal distri butiva completa , po rq ue a mortal idade é at ribu ída, formalmente, de modo simples e universal absoluto; em sentidológico, e realmente quanto à ordem, é essencial ao homem;e quanto à extensão é universal distributiva, porque incluitodos os homens e cada um.

Quanto à proposição Alguns homens são mortais, estáela naturalmente subordinada à primeira, e a verdade da

 pr imei ra ind ica a verdade da seg unda. Contudo, a falsidade da primeira não indica a falsidade da segunda, porque se apenas alguns homens fossem mortais, sendo verdadeira a universal afirmativa, seria falsa se a mortalidadefosse contingente, accidental e não essencial. Mas, desdeque se demonstre que a suposição formal real é, quanto àordem, essencial, a particular afirmativa seria verdadeira,Ora, o que é essencial é necessariamente da coisa; consequentemente, a particular afirmativa é necessariamente ver

dadeira se a universal afirmativa fôr verdadeira em matérianecessá ria. E se a unive rsal afirmativa fôr verdadei ra emmatéria contingente? Não o é também a particul ar afirma-

(1) Deixamos deliberadamente de considerar as proposições modaisaqui, pois a modalidade se refere à forma da proposição, a fim de nãocomplexionar a análise.

Quanto à quantidade, a mortalidade é, nessa proposição, afirmada de alguns, e estes são tomados em sua extensão,  não em sua compreensão, porque, numa proposição afir

mativa particular, o predicado não  é   tomado directamenteem sua compreensão, salvo prova, pois dizer-se que algunshomens são mortais, o predicado directamente é atribuídoapen as à exten são. Mas, desde que na unive rsal afirmativa(que é subordinante da particular afirmativa), o predicado

 pe rtence à co mpreen são do suj eit o univers al , es ta rá mu da doo vector significativo da particular afirmativa que lhe corres

 pond e, que pa ssar á a se r di rectamente da compreensão dosujeito. Se é da essência de todo s os home ns serem mortais é também da essência de alguns homens serem mortais.

Examinemos a proposição singular afirmativa "Um ho

mem é morta l". A classificação, quanto à quantidade e àquali dade, é fácil de fazer-se. Em sua extensã o, a morta lidade é afirmad a de um indivíd uo. Quant o à compree nsão ,se é da essência do sujeito ser mortal, o que é da essênciado indivíd uo, enqu anto exemplar de uma espécie, é daespécie. E dizemos enquan to exemplar de uma espécie, porque o indivíduo, tomado em sua individualidade, pode serconsiderado especificamente de dois modos: a) enquanto tomado como um exemplar da espécie, tudo quanto é da suaessência é da essência da espécie, como tudo quanto é daessência da espécie pertence também a essência do indiví

duo. Mas, se o indivíd uo b) é tom ado em sua heceidad e,em sua onticidade histórica, portanto em sua unicidade, émister cuidadoso exame. Assim Sócrates, enquanto ser humano, enquanto homem, pertence ã espécie homem, mas enquanto este indivíduo Sócrates, enquanto considerado emsua onticidade e unicidade históricas, é apenas êle mesmo;é Sócrat es. Assim Pedro é petr eit as. A essência da uni-

158 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

cidade e singularidade histórica da onticidade de Sócratesé êle mesmo, e se identifica com a sua existência que, comotal,  inclui a sua essência. Neste caso, a essência da individualidade enquanto individualidade é a heceidade; a es

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 159

compre ensão . Se é de sua compr eensã o, recusa-se essencialmente a mortalidade; neste caso, afirmar-se-ia que nãoé da natureza do homem ser mortal . O que é recusad o àessência é recusado aos indivíduos que têm essa essência

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vidualidade, enquanto individualidade, é a heceidade; a essência do indivíduo, enquanto membro de uma espécie, é asua qiiididade.

Convém, pois, distinguir a polaridade de distinção.

heceidade — et — qiiididade

Sócrates em sua qiiididade é homem, em sua heceidade,é Sócrates.

A proposição singular afirmativa tomada, portanto,descendentemente, é subordinada à particular afirmativa,

 pois se  é   verdadeiro que alguns homens são mortais, é verdadeiro que um homem é mortal, desde que a suplência sejaformal própria simples e universal, em sentido lógico e emsentido ôntico, se fõr verdadeira a suplência (suppositio)formal, real, essencial. O mesmo se dá se a universal afirmativa fôr verdadeira, o que implica a verdade da particularafirmativa subordin ada e da singular afirmativa també msubo rdina da. Ascendente mente, se o predi cado da singularafirmativa fôr da essência do sujeito (matéria portanto necessária), verdadeira será a particular afirmativa subordi-nant e daquela , e tamb ém a universal afirmativ a subordin an-te de ambas.

Analisemos, agora, as negativas, para, depois, procedero exame das relações que se podem formar entre elas.

Tomemos a proposição universal negativa Nenhum homem é mort al. Est a propo sição poderia toma r o enunciado:  o home m não é mort al. Se fôr tomad a em sua extensão,  afirmar-se-ia que todos os seres, que são homens, nãosão mortais, ou seja, a mortalidade neles não se verifica.Mas,  de que modo se dá essa relação do predicado ao su

 je ito? O ho mem não é mort al em sua exten são ou em sua

essência, é recusado aos indivíduos que têm essa essência.Quanto à suplência, esta é semelhante a da universal afirmativa, porque aqui mortal não é atribuído ao homem formal, própria e simplesmente de modo universal e de modoformal próprio , real, essencial e distributiv amente. Se arecusa de mortal não é da essência do ser humano, não éincompatível à sua essência. Nesse caso, a não mor tali dadedo homem não é matéria necessária, mas contingente, e,

 po rt an to , a sup lência poderia ser for mal pr óp ria, simples,universal , mas real acciden talment e atri buíd a. Se a proposição em exame afirma o ser mortal ao homem, como algoque lhe é accidental; ou, seja, que pode acontecer ao homemnão ser mortal, afirmaria que a mortalidade não é da essência do homem e, neste caso, a proposição exigiria outroenunciado: não se verifica a mortalidade no homem, ou ve-riíica-se que o homem nã o é mort al. Neste caso, nada se

afirma quan to à essência ou não. Quanto à extensão, a afirmativa seria meramente contingente, pois o que se nega aalguma coisa, senão é incompatível com a sua essência, éalgo que é contingente, e não necessariamente excluído dosujeito.

Quanto à suplência, as mesmas regras e mesmas normas podem ser usad as . O que en tr et an to oferece ma ior interes seà relação ou relações que se podem dar entre as proposiçõesafirmativas e as negativas.

Tomemos a universal afirmativa Todos os homens são

mortais. Se compararmos à universal negativa nenhumhomem é mortal, a oposição que se verifica entre ambas éde cont rarie dade . Se a prim eira é verdad eira, a segunda énecessariamente falsa. No entanto, ambas poderiam serfalsas, embora ambas não possam ser verdadeiras.

Se compararmos a universal afirmativa com a particular negativa, a oposição entre todos os homens são mor-

160 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

tais e alguns homens não são mortais oferece os seguintesaspectos: se a primeira é verdadeira, a segunda é necessariamente falsa; se a segunda é verdadeira, a primeira é necessariamente falsa, no entanto, ambas não podem ser ver

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 161

afirmativa, a singular afirmativa é verdadeira necessariamente. Ambas não podem ser verdadeiras nem ambas falsas.

Comparada a singular afirmativa com a singular negativa verificamos que sendo um homem é mort al u ma

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dadeiras. Admitindo que fosse verdadeira a proposiçãoum homem não é mortal, e tomada exclusivamente: só um(único) homem não é mortal, e provada a verdade da pro

 posição, neste caso a univers al e a pa rt ic ular cont radi tó rias

seriam falsas, mas apenas se a particular se referisse auma pluralidade parcial (alguns). E também se é verdadeum homem não é mortal, a não-mortalidade desse homem,não sendo de sua essência específica, poderia ser verdadeiraa prop osiç ão alguns home ns não são mort ais . Se é da essência do home m não ser mort al, então será ascendentemente da part icu lar negativa e da universal negativa. Com

 pa ra da à propos ição todos os homens são mo rtai s, a singular negativa um homem não é mortal é falsa; se esta últimafôr verdadeira, a primeira é falsa; ambas não podem serverdadeiras, mas ambas não podem ser falsas, porque ou

todos os homens são mortais ou alguns não o são ou umapenas não o é.

Se compararmos a particular afirmativa alguns homens são mortais com a universal negativa nenhum homemé mortal, se uma é verdadeira a outra é necessariamentefalsa; se a primeira é falsa, a segunda é verdadeira; se asegunda é falsa, a primeira não é necessariamente verdadeira, porque poderiam não ser mortais alguns homens, masapenas um.

Ora, como a dialéctica trabalha também com juízos singulares, há aqui certos aspectos distintos das regras predo

minantes da Lógica Formal (que, porém, não as refutam).

Vejamos a singular afirmativa um homem é mortalcomparada com a universal negativa, nenhum homem émor tal . Se a prim eira é verda deira , a segunda é necessariame nte falsa. Se, pois, nenh um homem é mort al é verdadeira, a singular afirmativa é falsa; se é falsa a universal

tiva, verificamos que sendo um homem é mort al u ma pr op os iç ão verdadeira , nã o implica falsidade com a sua contrária um homem não é mortal, pois ambas poderiam serverdadeiras, não porém ambas falsas, porque um homem ou

é mortal ou não é mortal. No en ta nto, entr e du as pa rt icular es , um a afi rmativa e

outra negativa alguns homens são mortais e alguns homensnão são mortais, ambas podem, em matéria contingente, serem verdadei ras, ou amb as falsas. A verdad e de uma n ãoimplica a falsidade, nem a verdade da outra, desde que sejasobre matéria contingente e não necessária.

 Na dia léc tica con cre ta , há cont radição qu ando há aafirmação da presença do mesmo na mesma coisa, sob o mesmo aspecto, e, simultaneamente, a recusa da presença do

mesmo na mesma coisa, sob o mes mo ~r>ecto. A rela çãoé, pois, de presença-ausência, de pos'  q o. Na Lógica Formal, o juízo Todo homem é  7ação ao

 ju ízo Algum ho me m nã o é ju sto umafirma a presença da justiça em t'em algum. Para a Lógica Forro outro necessariamente falsoé justo é verdadeiro, então é  f

são just os, e vice-versa. Aros nem ambos podem serdos os homens são justo

não é justo; se o primfse o segundo é falso,se trabalhamos comlares, então dá-se rfalso que todos o?são justos desde

 ju st o. Deste rr

sasim, são

odo homemydfNcnhum homem

xiOmem é justo é eqíii- Não alg um homem não

ornem é justo, pois a primei-

S

160 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

tais e alguns homens não são mortais oferece os seguintesaspectos: se a primeira é verdadeira, a segunda é necessariamente falsa; se a segunda é verdadeira, a primeira é necessariamente falsa, no entanto, ambas não podem ser verdadeiras Admitindo que fosse verdadeira a proposição

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 161

afirmativa, a singular afirmativa é verdadeira necessariamente. Ambas não podem ser verdadeiras nem ambas falsas.

Comparada a singular afirmativa com a singular negativa, verificamos que sendo um homem é mortal uma

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dadeiras. Admitindo que fosse verdadeira a proposiçãoum homem não é mortal, e tomada exclusivamente: só um(único) homem não é mortal, e provada a verdade da pro

 po sição, ne ste cas o a un ivers al e a pa rt ic ul ar co nt radi tó rias

seriam falsas, mas apenas se a particular se referisse auma pluralidade parcial (alguns). E também se é verdadeum homem não é mortal, a não-mortalidade desse homem,não sendo de sua essência específica, poderia ser verdadeiraa proposição alguns homens não são mortais. Se  é   da essência do homem não ser mortal, então será ascendentemente da particu lar negativa e da universal negativa. Com

 pa ra da à pr op os ição todos os homens são mortai s, a singular negativa um homem não é mortal é falsa; se esta últimafôr verdadeira, a primeira é falsa; ambas não podem serverdadeiras, mas ambas não podem ser falsas, porque outodos os homens são mortais ou alguns  não  o são ou um

apenas não o é.

Se compararmos a particular afirmativa alguns homens são mortais com a universal negativa nenhum homemé mortal, se uma é verdadeira a outra é necessariamentefalsa; se a primeira é falsa, a segunda é verdadeira; se asegunda é falsa, a primeira não é necessariamente verdadeira, porque poderiam não ser mortais alguns homens, masapenas um.

Ora, como a dialéctica trabalha também com juízos singulares, há aqui certos aspectos distintos das regras predo

minantes da Lógica Formal (que, porém, náo as refutam).Vejamos a singular afirmativa um homem é mortal

compa rada com a universal negativa, nenhum hom em émor tal . Se a prim eira é verdad eira, a segunda é necessariamente falsa. Se, pois, nen hum home m é mort al é verdadeira, a singular afirmativa é falsa; se é falsa a universal

tiva, verificamos que sendo um homem é mortal uma pr op os iç ão ve rda de ira , nã o imp lic a falsidade com a sua contrária um homem não é mortal, pois ambas poderiam serverdadeiras, não porém ambas falsas, porque um homem ou

é mortal ou não é mortal. No en ta nto, en tr e du as pa rt ic ular es , um a afi rmativa e

outra negativa alguns homens são mortais e alguns homensnão são mortais, ambas podem, em matéria contingente, serem verdadeiras, ou ambas falsas. A verdade de uma nãoimplica a falsidade, nem a verdade da outra, desde que sejasobre matéria contingente e não necessária.

 Na dia léc tica concreta , há cont radição quando há aafirmação da presença do mesmo na mesma coisa, sob o mesmo aspecto, e, simultaneamente, a recusa da presença do

mes mo na mesma coisa, sob o mesm o aspecto. A relaçã oé, pois, de presença-aus ência, de posse-privação. Na Lógica Formal, o juízo Todo homem é justo é, em relação ao

 juízo Algum ho mem nã o é ju sto, cont radi tó rio, pois umafirma a presença da justiça em todos, e o outro, a ausênciaem algum. Para a Lógica Formal , se um é verda deiro éo outro necessariamente falso, pois se Algum homem nãoé justo é verdadeiro, então é falso dizer-se Todos os homenssão jus tos , e vice-versa. Ambos não pode m ser verdadeiros nem ambos podem ser falsos, porque se é falso que todos os homens são justos, é verdadeiro que algum homemnão é justo; se o primeiro é verdadeiro, é falso o segundo;se o segundo é falso, entã o o prim eiro é verdadeir o. Mas,se trabalhamos com juízos universais, particulares e singulares, então dá-se o que dissemos acima, pois poderia serfalso que todos os homens são justos e alguns homens nãosão justos desde que houvesse apenas um homem que não é

 ju st o. Des te modo , pa ra fic armos na Lógica Formal , ter ia-

162 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

mos de considerar o juízo particular como um juízo universal. Para a dialéctica, porém, é mist er distingu ir o juízouniversal de o juízo particular, como vimos na análise acima.

Sobre este assunto, as regras da Lógica Formal são as

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Sobre este assunto, as regras da Lógica Formal são asseguintes:

 AÍOUfif

HOMEM

NÃO  ÈMORTAt,

Duas contraditórias não podem ser simultaneamenteverdadeiras nem falsas. Duas contrárias não podem ser simultaneamente verdadeiras, mas podem ser simultaneamente falsas. Não podem ser amb as falsas se se tra ta de matéria necessária. A oposição subcontrári a não repugnaquanto à falsidade, nem quanto à verdade, pois podem am

 ba s serem verdadei ras e am ba s se rem fal sas se se tr at a dematéria contingente, não se se trata de matéria necessária.

DAS PROPOSIÇÕES MODAIS

A proposição modal, como vimos, é aquela na qual seenuncia o modo de determinar a própria composição do

 pred icado e do suj eit o. São de qu at ro tipos: necessá ria(apodítica), impossível, possível e contingente.

 Necessá ria : Neces saria men te S é P;

Impossí vel: Impossíve l -S ser P;

Possível: É possível S ser P;

Contingente: Pedro correr é contingente.

As oposições se dão entre necessário e contingente; entre possível e impossível; entre necessário afirmativo e

 pos sível negativo; entr e imposs íve l negati vo e poss ível afirmativo.

Assim: Necessariamente S é P é contrário de Impossível S ser P. Necess ariame nte S é P é cont radi tóri o deÉ possível S não ser P. Impossível S ser P é contra ditó riode É possível S ser P. Possível S ser P é subcont rário dePossível S não ser P.

São equipolentes as proposições que, embora diversasem seu enunci ado, significam a mesm a coisa. Assim, sãoequipolentes as seguintes proposições modais: Todo homemnão corre necessariamente é eqiiipolente a Nenhum homemnecess ariame nte corre . Não algum home m é just o é eqiii

 po lente a Nenhum ho mem é ju st o. Não alg um homem nãoé justo é eqiiipolente a Todo homem é justo, pois a primei-

164 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

ra proposição equivale a Nenhum homem não é justo, queé equipolente a Todo homem é justo . Nenhum home m nãoé não-justo é equipolente a nenhum homem é justo.

N£C£SSÂRIAMEMTE t

METODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 165

nam valiosas, como veremos na parte sintética, em que aplicamos os méto dos de racioci nar da decadialéctica. (No terceiro volume desta obra).

#  * *

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N£C£SSÂRIAMEMTE

S £  P

mposstvuS sf  R  P

CONTRÁRIAS

SUBALTERNAS

SVa-COHTÍtAkláS

POSSIVU PCSS/VU

S  S£R  P SMÍCS£Rf

 Não há eqi iipoléncia en tr e as subc ontr ár ia s, po rque sea negação é proposta ao sujeito da proposição I, originar--se-ia, não uma eqiiipoléncia, mas uma identidade.

Falta-nos agora examinar a antinomia, o antagonismoe a pola ridad e. Após este rápido exame, pode remo s prosseguir analisando as distinções.

Há antinomia quando há anti nomoi, de nomos, normasque se opõem, mas irreductíveis; ou, seja: são opostos anti-nômicos os irreductíveis os que não podem ser reduzidosum ao outro, como a intensidade e a extensidade nos seresda físico-química. São antagónicos, os opost os que indicamapenas uma resistência, uma oposição em que um resiste aoout ro. São pola res os opost os que são reais, e perte ncem

aos vectores inversos de uma realidade tomada como umtodo, como os pólos do nosso planeta, em que um invertea ordem do outro, mas ambos são reais.

 Na Lógica Forma l, ess as opo sições são to mada s qu andose trata de matéria contingente, quando se usa a lógica material , ou melho r, a lógica ute ns aplicada à concreçã o. Noexame dialéctico dos factos concretos, essas oposições se tor-

Alega alguém: Propor um problema é propor a si mesmo alguma coisa da qual duvidamos; portanto, ao admitirum problema, admite-se a dúvida.

Responde-se: tratando-se apenas de um problema dubitativo, concede-se; de um problema meramente inquisitivo,nega-se. E nega-se por que prop or um prob lema não é duvidar de tudo, ou afirmar que ignoramos totalmente as soluções; mas, sim, consiste em investigar eficientemente, segundo uma via científica (ou seja, um saber culto pelascausas, sustentado por demonstrações), sem pressupor a suasolução ou soluções, nem o fundamento da solução, nem tam

 pouco ap on do , como pr emis sa s, as certezas qu e nós natural mente possuímos.

Temos a polaridade

 pr ob le ma dubita tivo — et — pr ob le ma inqui sit ivo

Quando se trata do exame crítico, trata-se da investigação do prob lema crí tico. Ora, crisis, como vimos em "Filosofia da Crise" significa para os gregos o ahrir-se, o sepa-rar-se, a análise . A crise é o apo nta r de uma s epara ção,e há crise quando esta se realiza. A análise é uma operação crítica, como também o é a síntese, porque esta reúne,congrega o que foi separado pela análise, ou que pode ser

 po r es ta sepa rado .

Emprega-se modernamente o termo, na Filosofia, mais pa ra signif icar a discipl ina que responde ao que vulgarmentese traduz pela pergunta: é a mente humana apta a alcançara verdade? Neste caso, a crítica realiza-se pelo exame dasnossas certezas naturais, que possuímos espontânea e naturalmente; se têm elas fundamento, e se nos permitem conhecer reflexa e distintamente alguma coisa.

166 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

A inquisição crítica é, portanto, a investigação metódicados fundamentos do conhecimento (criteriologia); ou, seja,a certeza natural, o valor científico que possui.

Por certeza natural, entende-se o assentimento firme damente, fundado ante a evidência, sem incluir ainda as dis

MfiTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 16?

Objecta-se: o filósofo, que busca a solução do problemado conhecimento, é um homem naturalmente imbuído por

 preconceitos . Ora , é imposs íve l liber tar -se de ta is precon ceitos ao tentar solver qualquer problema, como consta pelaexperiência; logo, é impossível ao filósofo solver tal proble

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, ,tinções possíveis quanto ao valor dos motivos, se o assentime nto é verda deiro , cujo exame é post erio r. E é esseexame, após a pesq uisa dos motivos, cientificamente condu

zidos, que constitui a certeza filosófica.Ora, o problema crítico surge do escândalo dos errosque cometemos, das múltiplas dissensões que notamos entreos filósofos sobre os temas fundamentais, da influência quetoda uma estructura esquemática de nosso espírito exercesobre os nossos conhecimentos, da variabilidade das soluções e das evidências proclamadas, das dificuldades geradoras de dúvi das. Daí surgi u uma varied ade de posições ante o problema crítico, como, também, uma vária solução, que

 passa, po r sua vez, a ser t^ma da aná lis e crí tica.

Conhecemos a posição dos dogmáticos exagerados, para

os quais tais problemas não existem, pois não duvidam dasnoss as possib ilidad es de conhecer. Por sua vez, surge m outros para negar até totalmente qualquer possibilidade deconhecimento, como procedem os cépticos exagerados, que,nessa tomada de posição, constituem o pólo oposto aós dogmáticos extremados. Entr e ambos extremos colocam-se diversas posições gradativas, tendentes para um pólo ou paraoutro, o que foi tema de exame em nosso "Teoria do Conhecimento".

A objecção, que apresentamos acima, coloca-se plenamente dentro do campo da crítica e a resposta, que foi dada,é a que permite uma distinção clara sobre o tema, cuja distinção evita, desde logo, uma tomada de posição exagerada.

Portanto, prossigamos no exame de outras objecções,que poderiam ser apostas a uma tese que afirmasse que sedeve, cuidadosa e sinceramente, realizar o exame crítico dasverdades, inclusive as fundamentais, aceitas pela Filosofiaatravés dos tempos.

p ; g , p pma sem preconceitos.

É impossível fugir à influência da esquemática psicológica adquirida por influxo da educação e dos hábitos adquiridos,  sem dúvida. Contudo, ao examinar ab stractivamente,e dentro da Lógica, as verdades fundamentais, pode o filósofo libertar-se dos preconceitos, embora seja tal libertaçãodifícil; não, porém, fisicamente impossível.

A polaridade  ê

Difícil — et — Fisicamente impossível

 Não há dúvid a que sof remos, todo s, do influxo dos esquemas históricos, próprios da época em que vivemos, e,

também, do que habitualmente adquirimos, através daeduc ação. Que tais esqu emas influam no exame, posterio rmente, das ciências particulares, sem dúvida é evidente, como o é até na Filosofia quando é matéria apenas de asserções, de opiniões ao sabor estético, tão comum na época moderna. Não, porém, quando a examinamos dentro dos cânones lógico-dialécticos, porque aí conseguimos superar ainfluência da época, e é só aí que ela pode tornar-se positiva e perene (através dos anos), como o tem sido a filosofiaescolástica.

A mente humana  é   apta à verdade. Não a adquire a

 pr io ri , ma s a poster io ri , e essa acq uisição exige esforço, análise cuidadosa e bem fundada.

 Nenh um preconceito no mu nd o mu da rá a rigidez de um aoperação matemática. E um materialista e um espiritualista concordarão sempre com as operações lógicas, quandoexatamente fundadas.

168 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

Alegam: a evidência é o critério da verdade; ora, dos pr incípios ab st ract os tem-se pleníssima evidência; po rt an to ,os princípios abstractos dão-se sem qualquer dúvida.

Quando o valor das ideias e a aptidão da mente são justificados por evidência concreta, concede-se; do contrário,

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 1(59

Alega-se: a teoria, que mais breve e mais facilmenteexplica os factos, é a aceita na ciência; ora, tal é sinal deque o que é da economia do espírito é verdadeiro; portanto,tal afirmativa implica a aceitação da teoria relativística

Responde se: realmente tal se dá quanto à maior; mas

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não.

A polaridade é

evidência — et — evidência concreta

Portanto, ao afirmar-se uma evidência, verifique-se deque evidência se trata.

Alegam: Tudo quando experimentamos  é   um ser singular; ora, se o ser singular não é o ser enquanto ser; logo,não experimentamos o ser enquanto ser.

E argumentam: o ser enquanto ser é predicãvel de muitos,  e o que experimentamos não é predicável de muitos.

Responde-se: a maio r é verda deira. Mas a meno r exi

ge uma distinção: não é o ser enquanto ser, segundo a abstracção, concede-se; mas segundo a compreensão, nega-se.Portanto, enquanto abstracção, não se tem experiência doser enquanto ser, mas se tem quanto a sua compreensão.

A polaridade é

quoad abstractionem — et — quoad comprehensionem

Alegam: De facto, na História, a verdade aparece comorelativa, como se vê nas questões físicas, inclusive nas religiosas, morais, etc. Portan to, a verdade é relativa.

Responde-se: que a verdade material aparece na História como relativa, concede-se mas que a verdade formal aparece como tal, nega-se.

A polaridade é

verdad e materia l — et — verda de formal

Responde-se: realmente tal se dá quanto à maior; maso que seja apena s por economia do espírito , nega-se. A recíproca é que não é verda deira . Pelo facto de uma t eoriaser breve e fácil, ser económica quanto ao espírito, não im

 pli ca a ve rdade da rec íproca; ou, seja, que se ace ite comoverdadeira toda teoria que seja económica ao espírito.

Verifique-se sempre a reciprocidade.

Mas prossegue o objector: Ê inegável que a teoria relativística explica a variedade das opiniões e dos erros no sectordo conhecimento, e das teorias e doutrinas várias que têmsido formuladas.

Responde-se: realmente favorece alguma explicação, masque seja a única e a mais fácil e sem contradição, nega-se.

A polaridade é

explicação parcial — et — explicação total

Alega-se: Cognição quer dizer actividade e produção;ora, se a coisa preexistisse à cognição, dir-se-ia passividadeou recepção da coisa preexistente; portanto, a coisa conhecida não preexiste à cognição, mas é produzida por esta.

Responde-se: dizer que é produção do acto de conhecer,concede-se; da coisa conhecida, nega-se. Quanto à meno r:que haja receptividade no acto de conhecer, nega-se; a coisa

conhecida, enquanto conhecida, o  é   pelo intelecto, não hádúvida, mas tal, não impede que preexista, enquant o nãoconhecida, ao conhecimento.

A polaridade é

acto de conhecer — et — a coisa conhecida

170 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Alega-se: o último critério emotivo universal infalível demodo máximo é o que consequentemente provê a suma certeza: ora, tal é apenas dado pela autoridade divina: portanto,só a autoridade divina é o último critério da verdade.

Responde-se: é o último na ordem da dignidade conce

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 171

Mas, o objector poderia continuar: é critério necessárioe suficiente o que é a última razão de toda verdade e certeza: ora, Deus é a última razão da verdade e da certeza;logo.. .

Responde se: que é a última razão ontológica de toda ver

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Responde-se: é o último na ordem da dignidade, concede-se: na ordem da cognição, subdistingue-se: se é conhecido,  concede-se; se não é conhecido, nega-se. Deste modo ,concede-se a menor e distingue se igualmente a consequên

cia.A polaridade é

na ordem da dignidade — et — na ordem da cognição

Mas o objector prossegue: o último critério só pode seraquele que nos libere de todo erro, apenas a autoridade divina consegue tal coisa; portanto...

Responde-se: que nos possa libertar de todo erro de toda ordem, concede-se; mas de alguma ordem, nega-se.

A polaridade é

de toda espécie — et — de alguma espécie

Outro poderia alegar: o que de modo necessário determina o intelecto ao assentimento é o último critério da verdade; ora, o instinto ou a ideia clara, necessariamente, determinam o intelecto ao assentimento; portanto, neles está oúltimo critério.

Responde-se: o que necessariamente determina o intelec

to proveniente necessariamente da própria realidade objectiva da mente manifestada, concede-se; por necessidade meramente subjectiva, nega-se.

A polaridade é

realidade objectiva — et — merame nte subjectiva

Responde-se: que é a última razão ontológica de toda verdade e certeza, concede-se; que é a última razão lógica, quemove o intelecto objectivamente com o assentimento do juízo,  subdistingue-se: nas verdades supranaturais, concede-se;nas naturais, nega-se.

As polaridades são

razão ontológica — et — razão lógica

verdades sobrenaturais — et — verdades naturais.

Alega-se: as imagens podem ser falsas; ora, a simplesapreensão é imagem; logo, a simples apreensão pode serfalsa.

Responde-se: que as imagens podem ser falsas de falsidade imprópria, a qual consiste na desconformidade negativa, concede-se; de falsidade própria ou desconforme positivame nte, nega-se. Còncede-se a meno r e distingue-se igualmente a consequência.

A polaridade é

descon formida de negativ a — et — desconf ormidad e positiv a

Prosseg ue o objec tor: se se d ão j uízos falsos, dão-se

também apreensões falsas; ora, dão-se juízos falsos; portanto ,  também apreensões falsas.

Responde-se: se a única causa influente no juízo fosse aapreensão, concede-se; se se dão outras causas, como maxima mente a vontade, que é causa de erros, nega-se. Concede-se a menor e distingue-se igualmente a consequência.

172 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Retruca o objector: dão-se definições falsas; ora, as definições são apreensões; logo, dão-se também apreensõesfalsas.

Responde-se: que se dêem definições falsas per se, nega--se; per accidens concede-se Concede-se por tan to a menor

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 173

As polaridades são

directamente opostos — et — não directamente opostos

infalíveis — et — falíveis

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se;  per accidens, concede se. Concede se, por tan to, a menore igualmente se distingue a consequência.

A polaridade é a já conhecida

 pe r se — et — per acc idens

Mas o objector continua insistindo; há apreensões quiméricas, como o círculo quadrado; ora, tais apreensões sãofalsas; logo, dão-se apreensões falsas.

Responde-se: apenas por apreensão simples, nega-se; por juí zo, concede-se .

A polaridade é

 po r ap reensão simples — et — po r juí zo

Alega-se: A mente não pode simultaneamente afirmar enegar a verdade de alguma proposição; ora, considerar duas

 proposições op os ta s simultaneamente pro váv eis é af ir mar enegar simultaneamente a verdade de cada proposição; portanto, na verdade, o mesmo intelecto, ao afirmar a proba

 bi lidad e de uma prop osição , destrói a probabil idade da ou tr a.

Responde-se: concede-se a maior, nega-se a menor.

Uma coisa é o assentimento na própria proposição, outra, no valor do motivo.

Mas o objector prossegue: afirmar que um motivo é pro

vável, é negar implicitamente que o motivo oposto é provável; portanto...

Responde-se: se os motivos são directamente opostos,de modo que mutuamente se excluem, concede-se; se não sãodirectamente opostos, subdistingue-se: se ambos motivos sãoinfalívis, concede-se; se ambos são falíveis, nega-se.

Alega-se: a certeza absoluta significa o estado perfeitoda mente; ora verifica-se, muitas vezes, que tal perfeiçãonão se dá no intelecto humano; portanto, não se dá muitasvezes tal certeza na mente humana.

O objector poderia ainda justificar a menor: o estado per fei to nã o se dá, a nã o ser na cogniç ão da s coi sas adequ adas pelas últimas causas; ora, a mente humana não podeatingir tais cognições; portanto, não pode dar-se este estado

 per fei to na ment e hu ma na .

Responde-se: se se entende por estado perfeito a razãoda verdade formalmente captada e o assentimento com firmeza de razão, nega-se; se se entende pela razão todo o âm bi to dos objectos mate riai s, concede-se; neste cas o, conce

de-se a menor e igualmente se distinguem as consequências.

A polaridade é

Conhecimento total — et — conhecimento parcial

Alega o objector: a falsidade pode parecer verdade semqualquer suspeita de erro; ora, neste caso, a mente humanainvencivelmente erra; portanto, a mente humana pode errarin vencivelmente.

Responde-se: que o erro pode, clara e evidentemente,

aparecer como verdade, e que de modo algum podemos sus pe it ar de sua fal sidade , nega-se; se de ne nh um modo pud éssemos suspeitar da falsidade, a alegação estaria certa; docontrário, não.

A polaridade é

erro invencível — et — erro vencível

174 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Alega-se: a certeza é um acto do intelecto; ora, o acto dointelecto não pode ser livre; portanto, a certeza não pode serlivre.

Responde-se: concede-se a maior, mas distingue-se amenor; que o intelecto não é livre de liberdade interna pro

MÊTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 175

forme com o seu objecto formal; logo, é impossível o errono intelecto.

O arguente prova a menor: todo o acto cognoscitivo éconforme com o seu objecto formal. Ora, o juízo é um act ocognoscitivo; logo, é conforme com o seu objecto formal.

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menor; que o intelecto não é livre de liberdade interna, proveniente da faculdade que realiza o acto, concede-se; de liberdade externa, proveniente da faculdade imperante do acto,nega-se.

A polaridade é

liberdade interna — et — liberdade externa

Mas o objector prossegue: o acto da vontade não é actoracional; ora, a certeza livre deve-se a vontade; portanto, acerteza livre não é acto racional.

Responde-se: não é acto racional se não são pressupostosos motivos que ostentam a verdade, concede-se; se tais motivos são pressupostos, nega-se.

Alega-se: o assentimento é a quietação vital na verdade;ora, a quietação é própria da vontade; portanto, o juiízo é

 pr óp ri o da vontade.

Responde-se: concede-se a maio r e nega-se a meno r. Aquietação é o estado afectivo de toda a potência que atingeo seu termo.

Alega-se: o juízo  é   livre; ora, a liberdade é própria davontade; logo, o juízo é próprio da vontade.

Responde-se: distingue-se a maior: elicitivamente, nega-se; imper ativ ament e, concede-se; concede-se a me nor e

distingue-se, igualmente, a consequência.A polaridade é

elicitivamente — et — i mperativamente

Alega-se: o erro consiste na disformidade positiva como seu objecto formal; ora, nenhuma faculdade pode ser dis-

g ; g , j

Responde-se: todo acto meramente cognoscitivo é conforme com o seu objecto formal, concede-se; assertivo ou ju-dicativo, cuja cognição se refere a alguma coisa, nega-se aconformidade.

Contradistingue-se a menor.

A polaridade é

conformidade — et — não-conf ormidade

Alega-se: o que existe e pode existir é singular; ora, osconceitos chamados universais existem ou podem existir; logo,  são singulares.

Responde-se; o que existe é singular in essendo (no ser),

concede-se; porém in repraesentando (na representaçãomental), distingue-se: como acto de pensar é singular, comoconteúdo eidético, nega-se.

A polaridade é

in essendo — et — in repraesentando

Outro objector alega: o objecto das ciências é algo real;ora, o objecto das ciências é universal; logo, o universal éalgo real.

Responde-se: o objecto da ciência é algo real, enquantoao que se refere, concede-se; quanto ao modo pelo qual se refere, subdistingue-se.

Que seja o objecto das ciências reais, nega-se; das ciências lógicas ou de razão , concede-se. Contradist ingue-se amenor; que o objecto das ciências é o universal, concede-se;é universal, enquanto universal, subdistingue-se; é objecto de

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178 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

nantes administrações que já surgiram no mundo . A virtude é a prát ica hab itua l de um bem, na definição aristotélica..Mas, essa habitualidade  é   imprescindível, pois, do contrário,teríamos de chamar de virtuosos todos os bandidos de todosos tempos, porque eles também praticaram alguns actos de

MSTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 179

mento falso; ora, toda coisa é singular, logo, também, todoconceito é singular.

Responde-se: no conceito, na verdade, não pode haverdesconformidade positiva, pela qual algo é acrescentado quenão é ou algo negado que é Mas nega se a desconformi

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 benemerência em sua vid a.

Outro silogismo usado por panteístas é o seguinte: Oefeito é igual à sua causa (ou causas); ora, Deus é a causa domundo; logo, Deus (como causa) é igual ao mundo; ou omundo, como efeito, é igual a Deus (como causa).

O silogismo formalmente considerado é imperfeito, porque o termo médio em nenhuma das premissas está tomadouniversalmente. Consequentemente, causa poderia ser tomado em out ro sentido. Poder-se-ia dizer que fisicament eo efeito pode ser igual à sua causa (ou às suas causa s). Éuma possibi lidade . Mas, Deus, como causa, não é uma causa finita, mas infinita, de outra essência que uma causa finita . Como não há necessid ade que o efeito físico seja igualàs suas causas, também não é necessário que o mundo se

 ja igual à sua causa pr im ei ra . E ademais, quan do se dizefeito diz-se dependência, e o ser dependente é o ser finito.Ora, Deus, aceito como causa primeira, não é um ser dependent e de outr o, é infinito. Se seu efeito fosse tam bém infinito seria este apenas a próp ria causa, Deus. Portanto , dentro da Lógica e da Dialéctica é necess ário que o mund o (comocriatura) seja desigual em relação a Deus, e a tese panteístaé, pois, falsa. Poder-se-ia ainda examin ar as acepções emque se poderiam tomar os termos Deus, causa, efeito, mundo,e levando-se a efeito uma análise dialéctico-concreta, poderíamos alcançar inúmeros postulados apodíticos, que favore

ceriam uma melhor compreensão da tese panteísta e revelari am a sua fraqueza. Contud o, já seria maté ria que corres

 pond e ao 3.° volume , ma s ser viria de te ma pa ra qu em quisesse realizar uma análise dialéctico-concreta.

Alegam alguns: Não pode haver desconformidade entr eo intelecto e a coisa; do contrário, seguir-se-ia um conheci-

não é, ou algo negado, que é. Mas, nega-se a desconformidade negativa, consistente em o conceito não representartudo quanto é no objecto, como a individuação. Em suma:

se a desconformidade fosse positiva, acrescentando-se à coisa algo que não está na coisa, ou negando-se dela algo queela é, o conhec imento seria falso, sem dúvida. Não, poré m,

 pel o facto de o concei to nã o expres sar tu do qu an to es tá nacoisa, como a sua individuação, que o conceito não expressaiPois é precisamente por não expressar essa individuaçãoque há conceitos chamados universais.

Se não pede dar-se nem uma desconformidade negativa,a maior aceita-se; mas se se pode dar, nega-se.

A polaridade é

desconformidade positiva — et — desconformidadenegativa

Alegam; Define-se o universal (conceito) o real que está(inesse) em muitos; ora, nada do que é um pode estar (inesse) em muitos por identidade; logo, tal universal não se dá.

Responde-se, distinguindo-se a maior: se se consideraalgo real que está (inesse) em muitos, como universal, negasse;  se se considera o que é um por consideração da mente,que realmente é múltiplo, e que pode estar em muitos, segundo a mesma razão, concede-se.

Alega um realista exagerado: O objecto das ciências éalgo real; ora, o objecto das ciências é universal; logo, ouniversal é algo real.

Um realista moderado responde: o objecto das ciênciasé algo real, segundo o que se diz, concorda-se; segundo omodo pelo qual se diz, subdistingue-se: que este é o objecto

180 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

das ciências reais, nega-se; se das ciências lógicas ou de razão, concede-se. Contradisti ngue-se a meno r: o objecto d asciências é o universal, concede-se; que o universal, enquantouniversal, é o objecto de alguma ciência lógica ou de razão,concede-se; de toda ciência também real, nega-se.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 181

A polaridade é

 pos sível sim ultâneo — et — possível sucess ivo

Prossegue o objector: Deus pode solver toda união daspa rt es ; ora em acto são simultaneamente inf ini tas ; logo

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; , g

Aceito que o contínuo (matemático ou físico) é divisívelin infinitum alguns alegam:

Se o contínuo é divisível in infinitum tem êle partes emnúmero infinito; ora, a multidão infinita em acto repugna;logo, não é divisível in infinitum.

Responde-se pela distinção da maior: potência infinitaou indefinida, concede-se; em acto, nega-se. O contí nuo édivisível in infinitum potencialmente, não actualmente.

A polaridade é

 potenc ialmente — et — ac tualment e

Mas prossegue o objector: podem-se obter do contínuo

infinitas partes em acto, já que o contínuo tem infinitas partes em potência ou em possibilidade; ora, o possível pode serreduzido em acto sem contradição; logo, sem contradição,

 podem ser ob tida s inf inita s pa rt es em acto.

O fundamento do silogismo está na afirmativa: só é pos sível o que pode ser act ualizad o, ou o actual izável ; só oimpossível é inactuali zável. Conseq uente mente, a argumen tação conclui pela possibilidade de actualizar as partes infinitas de um contínuo.

Responde-se pela distinção da maior: possibilidade si

multânea., nega-se; sucessiva e inexauríve l, concede-se. Contradistingue-se a menor: o que é possível simultaneamenteser actualizado, concede-se; o que só é possível, sucessivamente e inexaurivelmente, nega-se.

A divisibilidade in infinitum só significa que o contínuo pode ser div idi do suces sivamente e inexaurivelme nte po r pa rt es pr opor cion ai s.

 pa rt es ; ora, em acto são simultaneamente inf ini tas ; logo, podem ser inf ini tas em acto. Just ifica-se a meno r po rq ue senão forem infinitas, não poderia o defendente dizer que ocontínuo é divisível in infinitum.

Mas o defendente responde: nego a maior, pois as partes não seriam ulteriormente divisíveis, mas seriam simples,e neste caso, o contínuo constaria de indivisíveis.

Mas o objector prossegue: Na verdade, Deus vê simultaneamente as divisões possíveis sucessivas; ora, Deus nãovê que as divisões são finitas em acto; logo, as vê infinitasem acto, e, na verdade, são infinitas na mente de Deus.

Seguindo a mesma linha, outros objectam da seguintemaneira, à semelhança do silogismo exposto: O número infinito em potência é aquele que é inexaurível e poder-se-iaaumen tar potencialmente in infinitum. Jamais alcançamosa uma expressão numérica, porque esta seria, também, infinita. Mas Deus pod e alcançá-la actua lmente , pois, do contrário, nele haveria "uma limitação.

A resposta ao silogismo anterior pelo defendente é a seguinte: que Deus veja simultaneamente as divisões possíveissucessivas colectivamente e como simultaneamente feitas, nega-se;  distributiva mente, e como sucessivamente factíveis,inexaurivelmente, concede-se.

E justifica a sua posição: Deus vê a realidade de todas

as partes possíveis e vê as partes singulares designáveis serem ulteriormente divisíveis; não vê, porém, como factíveissimultaneamente todas as divisões; apenas as vê como divisíveis sem outro fim possível.

Prossegue o objector: Se o contínuo fosse divisível ininfinitum, não poderia ser percorrido; ora, êle é percorrido;

182 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

logo, não é divisível in infinit um. Justífica-se a maior , porque percorrida uma parte, restaria ainda um número infinitode partes a serem recorridas, o que leva a afirmar, consequentemente, que nunca se alcançaria ao fim.

O defendente da tese responde distinguindo a maior:

MSTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 183

 po sto de en tes simples, ma s po r pa rtes sempre div isívei s. Aquantidade discreta (descontínua) é objecto da aritmética;a quantidade contínua  é   objecto da geometria. O contínuomatemático ou hipotético não consta de entes simples, masde partes divisíveis in infinitum.

bj i i í i d i

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não pode ser percorrida por trânsito que numerasse as partes,  concede; mas por um trânsito que fosse contínuo, assimcomo é o contínuo permanen te, nega. E embora concorde

com a menor, distingue a consequência: se o contínuo devesse ser percorrido, numerando as partes, concede; se percorrido por um trânsito contínuo permanen te, nega. O movimen to é, pois, contí nuo, ma s sucessivo, co mo o contín uoquantitativo; portanto, o móvel poderia, por movimento contínuo e não numerando as partes, igualizar-se com o contínuo quantitativo, e transitá-lo.

A polaridade é

contínuo — et — descontínuo

Mas o objector não se dá por satisfeito e prossegue: Seo contínuo fosse divisível in infinitum, o número de partes,no contínuo menor, seria igual ao do contínuo maior; ora,isso é absurdo; logo, não é divisível in infinitum.

Responde o defendente: como partes proporcionais edesiguais, concede; como partes alíquotas, nega; concede queé absurdo haver partes alíquotas; proporcionais e desiguais,nega.

Mas o objector prossegue: O número compõe-se de unidades; consequentemente, de igual modo, o contínuo é com

 posto de po nt os simpl es.Responde o defendente: que o número é composto de

unidades, concede; mas nega a consequência pela falta de parida de. Esta está no facto de o núm ero ser quanti dade discreta (descontínua), enquanto o contínuo é de quantidadecontí nua. A essência do contí nuo consiste em não ser com-

Mas o objector continua: No princípio das coisas não pode dar-se um processo infinito; ora, as partes do contínuosão princípios do contínuo; portanto, nelas não pode dar-se

um processo infinito.O defendente responde, concedendo a maior, mas negan

do a meno r. São princ ípios das coisas as causas ex trínse casou as intrínsecas, e nelas não pode dar-se um processo infinito. Mas as par tes do contín uo fluem do contín uo,  0  nãosão pressupostas como composição do contínuo; portanto,não são princípios do contínuo. O contínuo é um co mpostoque se diz potenc ial e não actua l. É potenci al, porq ue dele po de m fluir as pa rt es ; nã o é, po rém, um composto mt ua l, po rq ue nã o resu lta das pa rt es pre ex is tentes . Ao co nt rá ri o,ou essas partes preexistentes seriam simples ou compostas

de partes, por sua vez estas seriam compostas de partem preexistentes. Temos, pois, aqui, a distinção entre o compostocontínuo e o composto essencial. No composto contínuo,as partes não são preexistentes; mas, no contínuo, podem-noser; ao contrário, no composto essencial consta de part es

 preexi sten tes de alg um modo.

Zeno de Eléia, no intuito de defender a posição de seumestre Parmênides, apresentou uma série de argumentos,que são ainda manejados pelos que combatem a divisibilidade in infinitum do contínuo. Vejamos o seguinte:

A magnitude infinita não pode ser percorrida pof um

tempo finito; ora, se se dá uma magnitude divisível in infinitum é ela infinita; logo, ela não pode ser transitada em tem

 po fin ito .

Responde-se: se a magnitude fosse infinita em acto, con-cede-se; se infinita apen as em potênc ia, nega-se. Se o tenip ofinito não fosse também infinito em potência, concecie-se;

184 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

mas se é infinito em potência, nega-se. Consequentemente,,seguem-se estas distinções: que a magnitude é infinita em

 potênci a, concede-se; em act o, nega-se. Se o te mpo fin itonão é infinito em potência, concede-se; se é infinito em potência, nega-se.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTI COS 185

a ser, o ser contingente, tem uma causa eficiente real eadequadamente distinta da coisa que começa a ser; ou seja,a coisa conting ente. E neste sentido, tal princípio não de

 pende da experiência, ma s decorre de seus pr óprios te rmos ,e não admite nenhuma excepção. Quando alguns factosacontecem de modo não uniforme nem necessário aconte

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A polaridade é

infinito em potência — et — infinito não em potência

Sabe-se que, na física moderna, Heisenberg afirmou a in-determ inabi lidad e dos fenómenos microfísicos. Um defensor da tese de Heisenberg poderia argumentar do seguintemodo: a) segundo essa doutrina, tudo é casual no mundo; b)não vale o princípio de causalidade, pois se o movimento edirecção dos corpúsculos é causal, não o é por uma causaeficiente determinante; consequentemente dão-se efeitos semcausa eficiente; c) as leis são apenas prováveis, consequentemente, tudo quanto acontece era possível naturalmente,,

 po rque nã o se dão leis que imp eçam dar em-se ta is fac tos ;

d) portanto os milagres não são milagres, mas apenas umcaso que acontece dos casos prováveis, menos prováveis queos seus opostos.

Responde-se singularmente aos argumentos: a) foi provada solidamente a existência de leis dinâmicas, em que nemtodas são casuais, mas como determinações das próprias,causas.

Quanto à b) é falso não valer o princípio de causalidade.Este princípio pode ser compreendido dúplicemente: em primeiro lugar, como princípio de uniformidade da natureza,cuja expressão é: o mesmo, que permanece o mesmo, faz.semp re o mesm o. Este princí pio vale somente para as causas não livres, e tem o máximo valor, embora só enuncieque as coisas singulares operam sempre segundo a sua pró

 pr ia na tureza, e de modo uniforme em seu s adjuntos , e es te pr incípio é cert íssimo. Segundo, como pri ncí pio que enuncia origem do ser (ente), e expressa-se assim: o que começa.

acontecem de modo não uniforme nem necessário, acontecem por algo fora da causa eficiente e não devido à causaeficiente pred eter mina da. Responde-se a c) as leis dinâmi

cas não têm mera probabilidade, mas verdadeira certeza enecessidade, ou seja hipotética; se alguma coisa acontececontra tais leis, certamente imperou uma causa sobrenatural,  e não acontece assim por uma mera indeterminação dascausas.

Responde-se a d) consequentemente, é falsa a conclusão.Dão-se verdadeiras leis dinâmicas, e, portanto, o que se dêfora delas, acontecerá de modo miraculoso e não de modomeramente natural.

Os autores, que negam o princípio de causalidade, como procedem os inde termi nistas , são ví timas de uma confusão

entre o princípio de causalidade e o princípio de uniformidade da natureza.

Alegam alguns para combater as leis físicas: A lei cria aobrigação; ora, as leis naturais não criam obrigações; logo,as leis naturais não são leis.

Responde-se: a lei que cria obrigação é a lei moral; nãoa lei física. As leis físicas não são leis mor ais , são verdade iramente físicas.

Outros afirmam: as leis da natureza deveriam ser per pé tu as ; ora, não se obser va ta l pe rpetuidade em tai s leis ; lo

go,  elas não são verdadeiramente leis.Responde-se: perpétua, enquanto o mundo durar, con

cede-se; se perecesse o mundo e os elementos de que são elasleis,  nega-se. Quant o à men or: enqu anto du ra o mund o, nega-se; se o mund o perecesse, concede-se. É preciso , ademais,distin guir as leis da física e o seu enuncia do. O cientista

186 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

 pode er ra r qu an to ao enunciado da lei, e a mudança destasrefere-se ao enunciado e não à lei propriamente dita.

#  # *

Vejamos algumas objecções contra a liberdade de Deus:O que é eterno é necessário; ora o acto de volição divina é

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 187

 po rt an to , imp lic a imutab il idade. Se se to ma o concei to nosentido de perduraçao sempre, tem-se uma visão imperfeitae imprópria do eterno. Um ser eterno, no sentido real e

 pr óp ri o, é o ser que tem eternidade . Es ta   é   a duração essencialmente carente de início e de fim, e de toda real sucessão e mutação inte rna. A duração  é   a permanência da

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O que é eterno é necessário; ora, o acto de volição divina éeterno; logo, é necessário e não livre.

Precisar-se-ia entender bem o que significa acto necessá

rio e acto livre. Ê livre o que não é dete rmina do (de-ter-minad o) p or outro, mas por si mesmo. É livre aquele querealiza um acto de sua escolha. A liber dade, porta nto , exige:  1) poder fazer, e por não fazer o que se pode fazer; 2)o desvinculo de uma determinação estranha a quem o realizaou pode realizar.

Liberdade não significa exclusão de determinação, massim de determinação imediata de outro, diferente de quem

 pr at ic a o act o de libe rdade. A escolh a implica o po der fazer, e o poder não fazer o que se pode fazer.

Desse modo, liberdade não significa exclusão de necessidade, do nec-cedível, do que não pode ser cedido, porqueo que é escolhido, quando feito, é necessariamente feito, énec-cedivelmente feito, feito sem poder deixar de ser feitoqua ndo é feito. Todo acto de liberd ade, quando realiza algo,o que é realizado é não-cedivelmente (não necessariamente)realiza do. Mas, a necessid ade está no pro dut o da realização,que, sendo tal, não pode não ser tal, porque realizar umacoisa equivale a ser necessariamente realizado alguma coisa.A liberdade está apenas na capacidade de escolher entre ofazer alguma coisa e o não fazê-la, pode ndo fazê-la. Não háliberdade para não fazer o que não se pode fazer, mas ape

nas no que se pod e fazer e não se faz. Mas, o que se faz éneces saria mente feito. O resul tado , a acção, não é livre, masdete rmina da. O que é livre é o pod er de fazer ou de nãofazer.

Out ro conceito que exige exame, é o de eter no. Diz-seque é etern o o que existe todo de uma vez. A etern idad e,

coisa em seu ser. Neste sentido , um ser eterno tem de sernecessário, ou seja nec-cedível, não cedível, ao qual não se

 po de ri a conceder a sua nã o exi stência. Um ser eterno necessa riame nte existe. Est a afirmaç ão é logicamente verdadeira . Contud o, se se tom ar eterno no senti do comum, como o de um ser que, existindo, existe sempre em seu ser, perdura em seu ser, poder-se-ia distinguir o eterno criado de oeterno incriado. Este é entitativamente (como ente) necessário, não porém terminativamente (em seus términos), nadirec ção de seus actos . Por isso, a conclusão é falsa, porque esse ser, sendo necessário entitativamente, é livre terminati vamen te. A necessid ade da existência de um Ser Supremo não implica a necessidade de seus actos (determinaçã ode seus actos ). Êle é livre, port anto.

A polaridade é a seguinte

entitativamente, — et — terminativamente

a eternidade exige a distinção entre

 pr op ri amen te dit a — et — impr op riamente dit a

Mas o objector pode instar: Liberdade implica deliberação ante a volição; ora, tal implica imperfeição; logo, em

Deus não há libe rdade . E justifica haver imperfeição na deliberação, porque é duvidar e transitar de uma cogitação para outra.

A resposta é a seguinte: num ser, que não é omnisciente,a liberdade implica deliberação ante a volição, como se dáem nós. Mas, nu m ser omnisci ente, tal não se dá.

188 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

É preciso distinguir a ciência em

omnisciência — et — não-omnisciência

ou seja, deve-se examinar uma perfeição segundo seus extremos

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 189

também essa causa deve ser superior a toda matéria e atodas as forças materiais.

A menor prova-se porque essa causa é feita por outro,ou não; se não, essa causa é causa primeira, é Deus; se feitapo r outr a ela pois postula um a causa incausada e um ente

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absoluta — et — imperfeita

(parcial)Um objector, que quisesse negar que o acto livre pode

ser ao mesmo tempo necessário, poderia argumentar destemodo, como aliás já foi feito: o acto livre é contingente edefectível; ora, contingente e defectível não pode ser actonecessário; logo, o acto livre não pode ser acto necessário.

Realmente, nos seres criados como nós, o acto livre écontingente e defectível; num ser incriado, como é Deus, en-tita tiva mente não é contin gente e defectível. A pola ridad e é

criado — et — incriado.

Vejamos o seguinte silogismo suareziano e a sua demonstração: os organismos têm causa superior à matéria eàs forças materiais; ora, essa causa, em última instância, éDeus; portanto, Deus existe.

É justificado assim o silogismo: Maior: não só singularmente o comprova a experiência, mas também toda a colecção. Para que existam organi smos é mist er a existênciade certas condições de calor, luz, umidade, etc; ora, tais condições nem sempre existiram, quando, por exemplo, foi aTerra uma massa candente. Portan to, os organismos tive

ram um início, e, consequentemente, uma causa, pois tudoquan to princ ipia a ser tem uma causa. Contudo , essa causafoi super ior à maté ria. As operações dos organi smos superam todas as forças materiais, em sua finalidade dinâmicae autoformativa, na nutrição, e em toda direcção das forçasfísico-químicas, como se prova na Cosmologia. Port ant o,

 po r ou tr a, ela po is , postula um a causa incausada e um entenecessário, que é Deus.

* * *

Participar é ter parcialmente algo ou ser parcialmentealgo.  A participação pode ser

 pa rt ic ipação dinâmic a — et — part ic ipação est át ica

A participação dinâmica consiste em ter a coisa parteda perfeição de outra, que a ela se correlaciona como causa.Assim quanto às criaturas em relação ao Criador. Essa participação pode ser

 pa rt ic ipação dinâmica — et — part ic ipação dinâm icatotal parcial

É total, se recebe da causa toda a realidade que possui,e não apenas a forma, como acontece com as criaturas, querecebe m todo ser do Criador. Parcial, se recebe da causaapenas a forma.

A participação estática indica que tem parte da perfeição e não toda, não significando que a tenha recebido dacausa eficiente. Est a pode ser

 pa rt ic ipação es tá tica — et — part ic ipação est át icaformal material

A formal indica ter a perfeição pela forma adita ao su je ito,  e a material indica ser perfeição limitada, não precisamente que alguma forma tenha sido recebida no sujeito,

190 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

mas que consta das notas limitadas. Esta participação pode ser ainda

 pa rt ic ip ação est át ica — et — part ic ipação es tá ti caformal física formal lógica

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 191

conveniência análoga, aceita-se. Como decorrê ncia, contra-distingue-se, porque o ser é análogo, pois as coisas podemconvir e diferir na mesma razão de ser, porque de modo diverso se verifica o ser nos entes inferiores.

A refutação de Hellin é coerent e com o pensame ntosuarez iano seguido por êle Dentro da dialéctica conc reta

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A formal física indica que a perfeição havida é distintarealm ente pela forma, e não pela essência do sujeito. As

sim, a água é quente pela forma do calor, que é realmentedistinta da água; o homem sapiente é sábio pela forma realmente distinta do saber.

A formal lógica consiste em que a perfeição é havida porforma distinta do sujeito segundo a razão, e tal se dã quando o predicado é mais universal que o sujeito.

Só o Ser Supremo é ser por essência; toda criatura é ser po r pa rt ic ipação . Precisar qual a pa rt ic ip ação é de máximaimportância, quando se deseja analisar, distintamente, osdiversos aspectos de uma argumentação.

O monismo, apesar de ser uma doutrina panteísta im per fei ta, ap resenta alguns argu ment os sério s a seu favor.Hellin os examina e os refuta do seguinte modo, graças aoempreg o das distinções. Vejamos os argu ment os e as refutações correspondentes:

Todas as coisas são um em razão do ser; ora, é impossível serem muitas numericamen te. E argumenta-se ainda:

 po rq ue se fos sem mu it as , ou difer ir iam em ser ou em não--ser; ora, em ser não poderiam distinguir-se, porque todas

as coisas são ser; e em não-ser não poderiam distinguir-se, po rq ue ta l di st inção seria nada ; po rt an to , nã o são muit osseres.

A refutação é a seguinte: que todas as coisas são um emrazão do ser, realmente tal não é procedente; logicamente, é

 prec iso di st inguir . Por conveniência unívo ca, nega-se; por

suarez iano, seguido por êle. Dentro da dialéctica conc reta,que é a nossa, os seres se distinguem pelo tipo de dependência e pela estructura essencial física e metafísica que têm.

Sucede que todo ser finito é híbrido de limitação e de ilimi-tação, como já o demonstra va o pitagorismo, e que é umenunci ado de Filolau. Todo ser finito  é   ser enquanto é oque  é,  mas é não-ser no limite em que deixa de ser tudoqua nto não é. Todo ser finito não é tud o quant o pode ser,den tro do âmbito de sua essência e de sua existência. É ummist o de ser e de não-ser. Mas esse não-ser não é puramente negativo, mas positivo, porque o que não-é, é algo positivamente fora dele, o que dá positividade indirecta aoseu não-ser. Ora, o Ser Suprem o, e provamo-lo a poditica-mente em Filosofia Concreta, é o único ser que é apenas, e

só,  ser, que não tem composiç ão de ser e de não-ser. Poressa razão, o monismo, reduzindo todos os entes formalmente ao Ser Supremo, comete um erro, e enleia-se em dificuldades teóricas insuplantáveis.

Vejamos outro argumento, e a refutação oferecida porHellin:

Deus é infinito; por tan to, fora dele nada há; pois sehouves se alguma coisa fora de Deus, o que houvesse, seacrescentado a Deus, dari a uma entidade maior, e, nestecaso, Deus não seria infinito.

Que Deus é infinito, logicamente não padece dúvida.

Mas o que se dá fora dele depende dele, segundo a essênciae segundo a existência. Se não fosse assim, haveri a raz ãono argumento.

Outro argumento: Deus é o próprio ser; ora, ser não po de se r rea l em si, ma s na s dif erença s; po rt an to , necessa riamente Deus fêz todas as coisas singulares.

192 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

A resposta  é:  que Deus é o próprio ser, não há dúvida.Porém não é um ser abstracto, mas concreto. O ser abstracto não pode ser em si e em suas diferenças, é evidente.Mas, que o ser concreto não pode ser em si nega-se.

Temos, assim, nos argumentos examinados, as seguintespo la ridades

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 193

Equívoco é o que se diz de muitos, com acepções diversas.  Assim cão, que se refere ao animal , a uma peça da arma, a uma constelação.

O unívoco pode ser

unívoco universal et unívoco trans cend ental

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 po la ridades

 po r conveniência unívoca — et —- por conveniência aná log a

realmente — et — logicamenteabstracto — et — concreto

Outro argumento importante é o seguinte:

A causa deve conter em acto o seu efeito; ora, se contém, não o produz do nada, mas apenas o transforma; portan to, Deus nada faz do nada, mas apenas trans forma suasubstância na qual está contido o efeito.

A resposta é: que a causa deve conter em acto o seuefeito formalmente, nega-se; apenas virtual e eminentemente,   concorda-se.

A polaridade éformalmente — et — virtualmente

(ou eminentemente)

Outro argumento fundamental do panteísmo, e consequentemente do monismo, é este: Substância é o que nãoexige outro para existir; ora, tal entidade é única, na verdade, Deus; logo, Deus é a única substância, e as outras sãoou ilusões ou modificações da sua substância.

A resposta é a seguinte: se não exige outra para existir enquanto sujeito da inesão (como fundamento subjec

tivo, que sub-está, da in-hesão), concede-se; enquanto causaeficiente, êle subdistingue: se é incriada, aceita-se; se é criada, nega-se.

equívoco — unívoco — análogo

Vamos resumir o de que já tratamos, mas aplicando-oàs distinções.

unívoco universal — et — unívoco trans cend ental

Unívoco é o que tem semp re a mesma acepção . Unívocouniversal diz-se de muitos sempre com a mesma acepção.Transcendental  é   o nome que se diz das coisas que não têmentre si nenhuma ordem de prioridade e de posterioridade;ou, seja, que transce nde m to das as diferenças. Assim, o termo ente, que se diz do animal, da pedra, do Homem, de Pedro e de António. No unívoco universa l há ordem de prioridade e de posteridade, porque num está de modo principal,e noutro de modo secundário, ou como fonte num, ou comocausa noutro, ou como derivação ou como dependência. Assim, animal que, embora sendo o mesmo, é de modo diversono cavalo e no homem.

Análogo é o nome que se diz de muitos, parte do mesmo modo e par te de mod o diverso. Assim são se diz dacomida, do remédio e do homem, de modo análogo, ou seja,do mesmo modo e de modo diverso.

Análogo pode ser por

analogia de atribuição — et — analogia de atribuiçãointrínseca extrínseca

Intrínseca quando é formalmente, podendo ser princi

 pa lmen te e po r der ivaçã o e po r depen dênci a do pr incipa l.Assim, ente diz-se de todos intrínseca e formalmente, masem Deus é dito principalmente, e como em origem, e nosoutros como em imitação, e em dependência daquele.

Extrínseca é o que num é intrinsecamente, e noutros po r denominação extrí nse ca ao pr imei ro , ao qual se ref ere

194 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

como causa, ou como efeito, ou como sinal. Assim são, saudável diz-se intr inse camen te do animal, mas diz-se extrin-secamente do remédio, que produz saúde ou a conserva.Assim, divino diz-se de Deus intrinsecamente, mas extrinse-camente de suas obras.

Análogo ainda pode ser

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 195

Outro argumento é: Deus é causa equívoca; ora, a causaequívoca não convém formalmente com os seus efeitos; portanto, Deus não convém formalmente com nenhum de seusefeitos.

Tomada a expressão causa equívoca em sentido restric-to sem que haja qualquer semelhança entre a causa e o

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g p

 po r ana logia de propor- — et — p or ana log ia de proporcionalidade intrínseca cionalidade extrínseca

Intrínseca, quando significa a forma que é tomada intrinsecamente e formalmente nos inferiores, sendo a pro

 po rção a mesma, como a exist ent e en tr e 4:2 : : 6:3.

Extrínseca, quando significa a forma tomada intrinsecae formalmente nos primeiros, é nos outros tomada apenasextrínseca e formalmente, por semelhança de propor ção. Assim 4:5 : : 7:9. Se leão se diz do animal e do soldado, ao primeiro se diz intrinsecamente, ao segundo, apenas extrinseca-

ment e. Assim se dá com as metáfo ras.A aplicação da analogia, da univocidade e da eqiiivoci-

dade, permite várias distinções que esclarecem os argumentos e facilitam o descobrimento das falácias.

Passamos a analisar alguns famosos argumentos, apresentados no decorrer dos tempos, mas actuais, onde as distinções oferecem esclarecimentos importantes.

Muitos autores da fase patrológica afirmavam que Deusnão é um ente, ou substância, mas acima do ser, acima dasubstância, etc; ora, tais afirmações asseguram que nãoconvém nenhum dos nossos conceitos formalmente e pro

 pr iament e a Deus; po rt an to , os no mes que lhe aplicamos nã olhe convém formalmente, mas apenas eqúivocamente.

Que não convém univocamente, está certo; mas, analogicamente, não.

to ,  sem que haja qualquer semelhança entre a causa e oefeito, nega-se; em sentido restricto, sem admitir conveniência unívoca com seus efeitos, aceita-se.

Argumenta-se que em Deus não pode haver distinções, po rq ue é êle abso lu ta ment e simples. Sim, distinçõ es reais--reais,  aceita-se: distinções segundo o nosso modo de conceber, nega-se.

A polaridade é

segundo o ser — et — segundo o modo de conceber

Extremo é o ponto derradeiro de algo ou o precípuo

início de algo.Assim se pode falar em extremos positivos e negativos.

Positivos são os pólos extremos de uma mesma entidade. Neg ativos, os que a negam to ta lmente . Assim Ser e Nada . Nada , tomado abso lu tament e,  é   um extremo negativo de Ser,mas o ser intensistamente máximo e o intensistamente mínimo são extremos positivos do ser.

A polaridade é

extremo positivo — et — extremo negativo

Comparada a criatura a Deus, é ela um extremo, mas pos it ivo e não negat ivo , po rq ue a cr ia tu ra ainda é ser.

Todos os argumentos, que pugnam por afirmar que háuma distância infinita entre Deus e a criatura, pecam poresse erro.

 m

196 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

A semelhança entre Deus e a criatura não pode ser unívoca, mas apenas análoga. Se houvesse eqiiivocidade, haveria extremos, e um negativo. A analogia conserva osextremos positivos, e evita as atasurdidades.

Quase todos os argumentos que defendem a eqiiivocidade entre o Ser Supremo e a criatura padecem de tais defei

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉ CTICOS 197

unicidade de um ser independente absolutamente. A unicidade de Deus identifica-se com o seu ser; no homem, não.Concretamente, em Deus e no homem, a unicidade se distingue, enquanto tomada também em sua estructura ontológica ou metafísica. Daí a conveniência de sempre reali-zar-se o exame, fundando-se na polaridade do modo de ser

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dade entre o Ser Supremo e a criatura padecem de tais defeitos.

Há, no entanto, outros argumentos, e mais ponderáveis, pelos quais se afirma haver uma univocidade entre Deus ea criatura. Esse ponto foi por nós examinado em "Ontologia e Cosmologia" e "O Homem perante o Infinito".

Se prestarmos atenção ao esquema que oferecemos daanalogia, verificaremos, em primeiro lugar, que, formalmente, a qiiididade que há na criatura se univoca com aqiiididade que há no Ser Supremo. Contudo, essa univocidade não é absoluta, mas relativa. A sapiência no homem,enquanto sapiência, é sapiência. Em Deus também o é.Realmente, em Deus ela é infinita e, no homem, é deficien

te.  Entre tanto, tomada formalmente, a estructura metafísica de uma e de outra é a mesma, embora não o seja emsua estructura ôntica, porque a de Deus é infinita, e a dohomem, finita. Como estructura metafísica, há univocidade, mas essa univocidade não é absoluta, e permite, ainda,uma distinção. Em Deus, a sapiência é o seu próprio ser,

 porque, nele, ela se identifica; no homem, a sapiência nãose identifica com o homem. Em Deus, a sapiência é a mesma realmente que êle; portanto, sua estructura metafísicaé infinita; no homem, não é a mesma que êle, mas algo queêle possui, na proporção do seu ser. Sendo este finito, sua

estructura metafísica é limitada. A univocidade estructuralmetafísica, tomada abstractamente, é a mesma, mas tomadaconcretamente é distinta.

Também a unicidade da criatura e a unicidade de Deusse univocam abstractamente, não concretamente, porque umtem a unicidade, que é de um ser dependente, e o outro, a

abstractamente — et — concretamente

A posição de Duns Scot, que defende a univocidade,desde que ela seja considerada à parte do modo abstractoou do modo concreto, é procedente, pois a toma apenas comoestructura metafísica; mas tomada em sua realidade, e portanto, em sua concreção, ela é análoga. Não há, assim, umaunivocidade absoluta, mas apenas relativa. Abstractamentehá univocidade; concretamente, não, mas apenas analogia.Scot tem razão quanto ao logos da univocidade, pois esteé um só. Assim quando dizemos que ente é tudo quanto

 podemos predicar-lhe ser de qualquer modo, e não nada, oente infinito e o ente finito aí se univocam, porque toma

mos a estructura de ente abstractamente. Mas há entes, econcretamente, e como o ser varia na sua intensidade deser, varia, pois, em sua onticidade cada um. Uma univocidade ontológica é admissível, não ôntica. Eis outra polaridade que deve estar sempre presente

onticidade  — et •—  ontologicidade

 pois, ao anal isarmos qualquer enunciado, devemos procurarestabelecer se é tomado ôntica ou ontologicamente.

A realidade do mundo físico é indeterminada; ora, arealidade indeterminada não pode fundar leis estáveis; logo,a realidade do mundo físico não pode fundar leis estáveis.

Este argumento, usado modernamente, em face das incertezas de Heisenberg e dos exames estatísticos dos factosda Física, facilmente se desfaz com uma distinção bem sim-

I198 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

 pies .  Que a realidade do mundo seja indete rminada em simesma, quanto a si mesma, nega-se; que seja indete rminada 'quanto a nós, convém subdistinguir; se em face dos nossosactuais meios, como seja o método experimental matemático de que dispomos, é indeterminável, pode-se aceitar; masque seja indeterminável quanto à nossa possibilidade cognoscitiva nega se

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 199

 Negam os ob jectores que essas disti nções sej am adequadas,  mas, apenas, inadequadas. Se fossem adequadas, então procederia a afirmação dos escotistas, mas sendo inadequadas, não há procedência naquela.

 Na verdade, os esc ot is ta s conhece m esse mo do de refutar, e seria ingénuo crer que não houvessem meditado so

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citiva, nega-se. ,

A polaridade é

quanto a si — et — quanto a nós

Diz-se distinção tudo quanto em alguma coisa, de certomodo, apresenta alguma diferença com outra coisa. Todavez que negamos a ident idade , há distinç ão. Como as diferenças oferecem uma escalaridade vasta, é natural que asdistinções ofereçam entre si também aspectos diversos, oque permite distinguir uma distinção de outra, e estabelecer, assim, espécies de distinções.

As distinções, desde logo, põem em jogo a sua validez

e, por isso, podem ser

adequadas — et — inadequadas

É adequada a que se estabelece entre coisas ou conceitos que mutuamente se excluem, como entre um homem euma pedra.

1E inad equa da quan do uma inclui a out ra e não vice-ver- '

sa, por isso é não-mútua, como a que se dá entre todo e pa rt e.

Examinemos, agora, uma série de argumentos a favore contra a distinção formal ex natura rei dos escotistas.

Sapiência e bondade divina têm diversas definições; ora,as coisas que têm diversas definições distinguem-se ex natura rei; portanto, sapiência e bondade divina distinguem-seex nat ura rei. 1

\

tar, e seria ingénuo crer que não houvessem meditado so br e ess as possí vei s ref utações, como a de que há contrad ição, porque, ou a distinção é real extra mentis ou apenas

•  na mente. A distinção formal ex natu ra rei, dos escotistas,não é apenas uma distinção de razão, pois, considera-se quetem um fundamento real-formal; ou, seja, que os diversoslogoi são realmente distintos entre si, embora essa distinção, por ser formal, não deva ser confundida com uma distinção real-física.

Distingue-se o acto que pertence a diversas categorias:ora, essência e os atributos pertencem a diversas categorias,como a de substância e accidentes; logo, essência e atributos actualmente se distinguem.

Respondem: nem sempre o que pertence às categoriasse distingue real-fisicamente, pois a acção e a paixão (o sofrer algo) não se disti ngue m real-fisicamente. Ademais, ascategorias podem significar uma coisa, excluindo a perfeiçãode outras categorias, o que não acontece quanto aos atri

 bu to s div ino s, po is um exige necessar iamente o ou tr o.

Diz-se um do que é indivíduo em si, e distinto de qualquer ou tro . Não se deve confundir um e único, que sãoconceitos distintos.

Diz-se que é um de composição e indivisão o que constade part es, ma s que pode ser dividido. Um de simplicid ade,ou simplesmente um, o que não consta de partes e não podeser dividido. Portan to, temos

um de composição — um indiviso (de simplicidade)

200 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Mas a indivisibilidade pode ser total ou parcial

Indivisibilidade total — indivisibilidade parcial

Diz-se que é um de indivisibilidade parcial aquele cujas pa rtes , sendo divisíveis , o todo não po de ser div idi do oudissolvid o Assim um ser espiritua l como a alma é para

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 20 1

ser individual-concreto é tema de amplas discussões e contrové rsias na Filosofia. Joã o, este hom em que está aqui, é,historicamente, único em sua unicidade pessoal, irrepetívelenquanto tal. A haecceitas (heceidade) de João é a sua unicidade históri co-concre ta em sua onticidad e. Nega-se aosseres não-espirituais a unicidade metafísica, mas aceita-seapenas a unicidade de facto

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dissolvid o. Assim, um ser espiritua l, como a alma, é, paraa Metafísica, um todo dessa espécie, porque é êle compostode substância e accidente, embora suas partes sejam indivisíveis. Um de indivisib ilidade tot al é a entida de absolutamente simples e indivisível, e que não tem partes nemacciden tes. Assim é Deus na Teologia. É êle absolutamente simples como todo e como parte, é o ser maximamenteum.

Único é o que tem unici dade. Da distin ção entre unicidade e individualidade, o conceito de único toma seu conteúdo claro. Tudo quan to é único é individual, mas n emtudo . quanto é individual é único. Individual tem assimmaior extensão que único, mas a compreensão de um e de

out ro se distin guem. A indivi dualid ade é conven iente aosujeito concreto de uma essência em sua peculiaridade incomunicável: este homem, João. A unicidade ap onta a umcarácter que a diferencia da individualidade, que é a de carecer de igual, que em sua essência concreta não tem outroque lhe corresponda (unicidade de facto).

Quando o indivíduo é único, a sua unicidade não admite de modo algum outro, e temos unicidade metafísica.

Unicidade de facto — et — unici dade metafísica

A unicidade de facto é verificável em todos os indivíduos que, em sua historicidade, são únicos. Esta mesa éúnica, enquanto historicament e esta mesa (hae c). Daí fa-lar-se na Filosofia em haecceitas (heceidade), o carácter deser haec, (esta, este, ist o). Como os indiví duos do mund ocronotópico não são únicos em sua espécie, a unicidade do

apenas a unicidade de facto.

Considerados os seres como indivíduos de uma espécie,

a unicidade metafísica poder-lhe-ia ser negada, mesmo que,de uma espécie, tivessem desaparecido todos os indivíduose restasse um só, porque este não é plenamente a espécie,uma vez que nenhum ser do mundo cronotópico é exaustivament e a sua espécie. Contu do, a espécie especialís sima,que é o indivíduo em sua onticidade histórico-concreta, dá--lhe o carácter de unicidade metafísica, como São Franciscode Assis é único em sua haecceitas.

Teríamos, pois, que distinguir a unicidade metafísicaem

unici dade metafísica — et — unici dade metafísicada espécie especialís- com absol uta plenitu-sima, sem plenitude de ontológicaontológica de súa

espécie

 No pr im ei ro caso, te mos a un icidade metafí sica dahaecceitas, como a de Napoleão Bonaparte; no segundo, ade Deus, porque este é exaustivamente em si, como indivíduo,  a infinita plenitude do ser, e que impede de modo absoluto a existência de um outro.

Ao único de facto pode-se contrapor o único possível.

único de facto — et — único possível

É único possível aquele com o qual não há outros com- possíveis da mesma razão ind ividual ou essenc ial .

202 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

O único possível pode ser

único em razão da — et — único em razão daindividuação essência

Único em razão da indi viduaç ão é* o que não tem outros semelhantes por identidade e que se pode predicar de

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 203

A resposta é a que segue: não é universal estrictamen-te ,  aceita-se; não é universal em sentido lato (latamente),nega-se. Ente (se r) e outros transce ndentais como um, verdadeiro, bem (bom) podem ser ditos latamente universais,

 po rq ue ele s são opostos aos singulares .

A polaridade é

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tros semelhantes por identidade, e que se pode predicar decada in divíduo (hec eid ade) . Único em razã o da essência

consiste naquele, cuja necessidade de ser (aseidade) não écompossível em muitos indivíduos, quer espécies, quer géneros,  mas só num indivíduo.

Para demonstrar que Deus é essencialmente único, ossuarezistas propõem a seguinte argumentação:

A natureza, que é essencial desta determinada individuação, não pode multiplicar-se em muitos indivíduos; ora,o ente necessário, enquanto tal, é a natureza essencial destadeterminada individuação; logo, o ente necessário não podemultiplicar-se em muitos indivíduos.

A justificação do silogismo é feita da seguinte maneira: a maior é clara: pois se é essencialmente êle, esta determinada individuação não pode repetir-se em outra individuação, pois, do contrário, não seria essencial. A menor:

 po rq ue a essênc ia do en te neces sár io iden tif ica-se re et ra-tione com a existência exercitada e actual; ora, o existentecom existência exercitada e actual é indivíduo; portanto, aessência divina é esta indivídua natureza de sua própriaessência.

Segue-se daí que o ente necessário não pode ser a razão específica ou genérica, porque tais razões prescindem

da individuação; a essência verdadeiramente divina, ou notado ente necessário como tal, não pode prescindir dessa determinada individuação.

Em objecção aos conceitos universais, foi apresentadomuitas vezes este silogismo: Ente não é universal; ora, éum em muitos; logo...

estrictamente dita — et — latamente dita

Prossegue o objector: Género é algo universal; ora, género não diz essência uma, mas muitas; portanto...

A maior   é   verdadeira. Mas a menor exige distinção;não diz essência uma fisicamente, concede-se; logicamente,nega-se.

A polaridade já nos é conhecida

fisicamente — et — logicamente

Outra objecção: Quando dizemos Pedro é homem ePaulo é homem, não são eles um, e contudo homem é uni

versal; portanto. . . Não são um físico, concede- se; um intenci onal , nega-se.

A polaridade é

fisicamente — et — intencionalmente

Objectam: O universal é um e não um, múltiplo e nãomúltiplo, é simultaneamente um e múltiplo; portanto, é algocontraditório.

A resposta é dada, graças a uma distinção; sob o mes

mo aspecto , nega-se; sob aspecto dive rso, concede-se. Universal é algo um, de unidade formal e não numérica; é múltiplo numericamente, não porém, formalmente.

sob o mesmo aspecto — et — sob aspecto diverso

numericamente — et — formalmente

204 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

Objecta-se: o que existe fora do intelecto só pode sersingular; ora, os universais são apenas sinais que aparecemnas palavras ou nos conceitos; logo...

Responde-se: ter o ser recebido no objecto singular,admite-se a antecedente; mas ser por si mesmo singular, na-ga-se. A beleza, no obje cto exist ente, é singular, não o é,

MSTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 205

é único por essência, poderia identificar-se, como Deus que,como divindade, é único por essência.

A distinção é

 po r identidade forma l — et — po r identidade ma te rial

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 po rém, po r si mesma, ma s somen te sob o aspecto da razãono objecto no qual é recebida.

A distinção é

em si — et — em outro

Assim, ao perguntar-se sobre a existência de uma entidade, deve-se considerar se ela é em si, de per si subsistente,ou em outr o (inesse ). O que é per si fisicamente subsistente é singula r; em outr o, é singular izado. Contu do, aforma ou o logos (na linguagem da dialéctica-concreta) nãoé nem singular nem universal, como o demonstramos em

"Filosofia Concreta".Objectam: o que é predicado por identidade de algo,

dele é predicado exclusivamente; ora, a natureza, que é chamada universal, é predicada do singular por identidade; portanto, é predicado do singular exclusivamente.

Responde-se: se é predicado por identidade formal, con-cede-se; se pred ica do por identid ade mater ial, nega-se. Ora,a predicação por identidade formal refere-se ao ser, que éúnico , de unici dade essencial. Neste caso, sim, há identificação; mas o indiví duo ao qual se predi ca uma espécie

 predica- se mate rialment e, nã o forma lmente , po is o ind iví duonão se identifica com a forma da espécie, nem que fosse oúnico ser dessa espécie, porque tal indivíduo jamais actualizaria tod as as possi bilid ades da espécie. Assim, se houvesse um único cão no universo, este não seria a espéciecão, ma s o único indivíd uo actua l da espécie. Só o ser, que

Apresentam alguns este argumento como platónico.A ciência tem como objecto o que realmente existe; ora, oobjecto da ciência é universal; logo, o universal existe.

Um objector poderia fazer a seguinte distinção: tomado em si, o objecto, que conhecemos, realmente existe; masdo modo que conhecemos, não.

A polaridade seria

existentemente — et — cognoscitivamente

Contudo, não podemos deixar de fazer uma ressalva,sobre o verdadeiro pensamento platónico, que não afirma

nem a singularidade nem a universalidade do ser dos arquéti pos, que devem ser distinguid os dos unive rsais. Osconceitos universais, que o homem esquematiza, são cópiasnoológicas, e, consequentemente, intencionais dos esquemasque se dão nas coisas, que, por sua vez, copiam os esquemaseidéticos, que são formais, e que, em e por si mesmos, nãosão em singulares nem universais, como demonstramos emnossas obras.

Prosseguiria o argumentador: os conceitos da mentedevem corresponder às coisas; ora, os conceitos são univer

sais;  logo, também as coisas o são.O objector poderia responder: que devem corresponder

à existência dos mesmos; mas segundo são cognoscitivament e, não . Em suma, os conceitos das coisas afirmam aexistência do que na coisa é o que ela é; mas, cognoscitivamente , são relativos ao nosso modo de conhecer. Assim,

206 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

sabemos que na maçã há uma forma; mas a forma, que noè-ticamente construímos da maçã, não é a forma que há namaçã, mas apenas a que intencionalmente podemos construir. Assim, sabemos que tudo quanto há tem uma forma,ou é uma forma. Contudo, o esquema mental, que dessaforma construímos, é uma estructura eidétíco-noética, queé proporcionada à intencionalidade de nossa mente. Os es

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 207

a afirmação; mas, como ela pode dar-se em indivíduos fisicamente distintos, não há procedência.

A polaridade é

exclusão necessária — et — não exclusão

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p pquemas eidético-noéticos, que construímos, em sua expres

são podem não corresponder à realidade formal da coisa,mas enquanto afirmam a presença de uma essência na coisasão eles verdadeiros. Nossos conceit os correspondem assimàs coisas, mas o grau de adequação é relativo à nossa capacidade esquemática cognoscitiva.

A mesma distinção anteriormente dada serve para com pr eend er e resolver o ar gu ment o apresent ado.

Afirmam: os indivíduos humanos, tomados como existentes, não diferem essencialmente, mas apenas segundo asnotas individuantes; ora, se não diferem essencialmente,

têm uma essência; portanto, deve-se admitir que, nas coisas,há uma natureza uma em muitos indivíduos.

A objecção é a seguinte: não diferem essencialmente,não há dúvida, pois não têm essências dissemelhantes; masnão se pode negar que têm essências distintas e muitas.

Semelhante — et — distinto

A polaridade é justa, porque o que é semelhante não excluia distinção, que pode haver entre os termos comparados.

Mas o argumentador prossegue: a natureza humana po r si nã o é inc omunic áve l, do co nt rá rio nã o poderia mul-tiplicar-se; ora, por si é comunicável; entre comunicável eincomunicáv el não se dá meio term o. A respo sta é a quesegue: se se entende a incomunicabilidade como excluindonaturezas semelhantes em indivíduos distintos, estaria certa

Alguns objectam: entre um e múltiplo não se dá termomédio; ora, o universal é um múltiplo; portanto, é quimérico, e, consequentemente, a abstracção é alguma ilusão.

A resposta surge de uma distinção: não se dá nenhumtermo médio na ordem da realidade, concorda-se; na ordemda precisão mental, nega-se.

Tentando combater os juízos inductivos (hipóteses), po r mei o dos quai s a ciência alc anç a as suas lei s, alg unsargumentam: as leis naturais são algumas vezes falsas; portanto, os juízos inductivos não são certos.

Mas a resposta é fácil: que leis naturais (hipóteses) são

 julgadas falsas? As hipóteses que indevidamen te são chamada s de leis nat ura is. Tal tem acontecido , mas tal não setem dado quanto às verdadeiras leis naturais.

A distinção é

Hipótese — et — Verdade

Em combate à evidência, alguns argumentam: a evidência é o único critério da verdade; ora, nos juízos de fé nãose dá a evidência; portanto..,

A respo sta surge do exame da evidência. Qual evidência é o critér io da verdad e? Toda e qualq uer evidência? Não. Se a evidência é imedia ta (co mo a que decorre axio-màticamente), e mediata (quando demonstrada apoditica-mente), e interna (quando se refere a uma experiência sub-

 jec tiv o-psicoló gica), ou externa (qua nd o se dá através do s

208 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

meios de comprovação adequados, como os científicos), então, a evidência é critério de verdade.

Mas, se a evidência é apenas imediata e interna, semser acompanhada da demonstração e da verificação, ela, porsi só, não é critério de verdade.

Portanto, é mister distinguir

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 209

nheçamos totalmente (total iter) . Há, pois, uma distinçãoimportante no conhecimento

conhecimento totum — et — conhecimento totumet totaliter et non totaliter

Conhecimento do todo e totalmente é o conhecimentoexaustivo o qual nos é negado: não é porém o conheci

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evidência não demonstrada — et — evidência demonstradae verificada e verificada

Um céptico relativista objecta: todo nosso conhecimento é relativo, pois é inegável a relatividade essencial denossa capacidade de conhecer. Consequentemente, sendorelativos os nossos conhecimentos, eles não são verdadeiros.

O argumento do céptico-relativista (pois todo relativista é céptico), conclui falsamente, pois vai além do que estácontido nas premissas de seu argumento . Por consid erarrelativos os nossos conhecimentos, conclui que são falsos.Tal argumento é falho, porque se não conhecemos tudo deuma coisa tal, isso não implica que o que conhecemos sejatota lmen te falso. Como os cépticos gostam de cha mar deverdade integral a verdade que nos escapa, não poderiamnegar que, em sua terminologia, há um a verdade parcial,que nos é acessível. Se não sabem os tudo, exaust ivament e,deste objecto, não quer dizer que nada saibamos de verdadeiro sobre èle. Que este objecto é uma pedra , toma do emsua totalidade, não é falso, por não sabermos a constituiçãofísico-química d esta p edra . E se sabe mos a consti tuiçãofísico-química desta pedra, não quer dizer que tal conhecimento seja falso, porque não sabemos a última composição

atómica, electrónica e nuclear dos componentes desses elementos químicos. Nosso conhecimento capta aspectos dascoisas, e o conhecimento de tais aspectos, como totalidades,tomados em sua adequação aos esquemas, é verdadeiro, sehá adeq uaçã o entre tais esqu emas e a coisa. Conhecemos,assim, as coisas como um todo (totum), embora não as co-

exaustivo, o qual nos é negado: não é, porém, o conhecimento do todo e não totalmente, não exaustivamente da

coisa.

Contudo, fundados no conhecimento totum, podemosaument ar cada vez mais nosso conhecimento. Como nãotemos u'a mente actualmente infinita, não temos um conhecimento actualmente infinito. Contudo, nossa mente é potencialmente infinita, e nosso conhecimento pode, pois, serconstantemente aumenta do, embora em algumas ocasiõesnos encontremos em patamares que parecem estabelecer umlimite intra nspon ível ao conhece r. Nosso conheciment o é,assim, passível de ser aumentado, acrescido de novos conhecimento s, de novas notas , de novas conqu istas . O cepticismo comete uma grave falácia ao afirmar que, por não podermos atingir os últimos limites das coisas de imediato,

 po rt an to todo conhecime nto é falso, ou, em suas pa lavras , po r nã o nos ser ainda possível alcançar a ve rdade in tegral ,não temos verdades parciais de qualquer espécie, caindo,assim, num negativismo ingénuo e bárbaro.

Pode o céptico insistir em que nossos meios de conheciment o nos levam a erro s. É verda de. Mas esquece demeditar que se eles sempre nos levassem ao erro, não poderíamos jamais construir o conceito de erro, pois este exi

ge o conceito de verda de. Que nosso s meios cognoscitivosnos levam ao erro é indubitável, mas, levam-nos algumasvezes, não semp re. Se semp re nos levassem ao erro , teriauma justificativa falsa o cepticismo, porque o saber que nosleva sempre ao erro já refutaria o cepticismo, pois saberíamos,  com segurança de verdade, que sempre caímos em erro.

210 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Seria verdade, pois, que sempre caímos em erro, o que provaria que nem sempre caímos em erro, o que é contraditório e refutaria definitivamente o cepticismo.

Temos, aqui, a polaridade que já examinamos

algumas vezes (aliquando) — et — sempre (semper)

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 21 1

apenas da sua historicidade social, deve-se compreender queestamos tomando-o apenas predisponen temente. Se se trata da historicidade, que é própria dos seres finitos, podeser considerada intrinsecamente, e até como algo que é pro

 pr iedade da sua essênc ia, embo ra não seja a sua essênc ia.

Universalmente e particu larmente . Nem sempre se toma um conceito em sua universalidade, mas em sua par

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Quando alguns dizem que as verdades têm sido mudadas no decurso da história do pensamento humano, esquecem eles que não é a verdade que muda, mas sim o quesubjectivamente julgamos ser verdade, a qual não foi suficientemente fundamentada.

* a *

Como sintetização do que estudamos nas páginas anteriores, queremos salientar as diversas polaridades de distinção que foram examinadas, tecendo mais alguns comentáriosque servem de orientação para o seu emprego.

Inclusive e exclusive. O que se afirma do sujeito é tomado inclusivamente, ou exclusivamente?

Strict u sensu e latu sensu. É o predi cado ou o sujeitotom ado latu sensu ou strict u sensu? Não será válido o quese afirma, apenas se tomado num ou noutro sentido?

Extensivamente e compreensivamente. Toma-se o conceito (sujeito ou predicado) em sua extensão, ou em suacompr eens ão? O que é válido numa , pode não ser válidonoutra.

Emerg ente mente e pre d isponen teme nte. Deve-se n ota rse  é   tomado qualquer conceito em sua emergência (sua forma e matér ia), ou em sua predisponência, quanto a suacausa eficiente ou final extríns eca, e m su a circu nstân ciaambiental ou apenas em face das condições sine qua nonde sua existência, mas que lhe são exteriores. Assim,quando se diz que o homem é um ser histórico, no sentido

pticularidade, numa acepção restricta. O cuidado com esse

 po nt o evi ta muit os er ro s.Generica mente e especificame nte. Nem tud o que é da

espécie é do género, pois a diferença específica não é actualdo género; mas tudo quanto há no género há na espécie.Saber distinguir tais aspectos, no exame dos conceitos deum juízo, é de magna importância.

Paridade e imparidade . Quando há comparações, cuí-de-se se há parida de, ou não . A falta de parida de permite,  desde logo, notar um erro, como exemplificamos anteriormente.

Adequada e inadequada mente. Muitas vezes se tomaum conceito adequadamente com o seu conteúdo formal, outra s vezes não . É mist er verificar se há essa adequ ação,ou não. Assim, se alguém fala de uma perfeição da qualum ser participa, é mister verificar se adequadamente se

 po de predicá-la a ou tr o.

Per se e per accidens. Se um ser realiza alguma coisa,note-se se o faz per se ou per accide ns. Um efeito per seé o que decorre conexionadamente de uma coisa; per accidens é o que resulta de uma conjunção de efeitos que realizam um acontecimento ocasional, como os já exemplificados.

 Notem-se ta is asp ectos, qu an do se tr at a de um a acç ão real izada por um agente.

Semp re e algu mas vezes. O que se afirma qu e um enterealiza é alguma coisa que realiza sempre, ou realiza algumas vezes? A soluçã o desse aspecto evita um err o de raciocínio algumas vezes bem grave.

212 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

Vencivelmeníe e invenciv elmente. A acção que se afirma de um ente é invencivelmente realizada por êle, ou não?Da solução desse aspecto, as conclusões podem ser outras.

Objecti vamente e subje ctiva mente. Afirma-se a presença de alguma consa. É tal presença objecti va, fora de nossa mente, ou apenas em nossa mente?

Realmente e racionalmente (idealmente representativa

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉC TICOS 21 3

como existente, ou se refere ao modo pelo qual conhecemosa coisa? Saber que há o object o A é disti nto do saber q uetemos da coisa.

Espo nta neam ente e reflexivamente. Afirma-se que alcança o sujeito um det ermi nado conheci mento? É este es

 pont âneo ou reflexivo.

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Realmente e racionalmente (idealmente, representativamen te. O que se diz de algo refere-se a algo que há real

mente, independentemente de nossa mente, ou é apnas uraesquema racional, ideal, ou uma mera representação do nosso espírito?

Positi vamente e negat ivamen te. O que se afirma de alguma coisa se afirma positivamente, como presença, ou negativa mente como ausência ? Quand o se fala na ilimitação ,fala-se no sentid o positivo, ou, seja, do que não pode sofrerlimites, ou negativamente do que não tem contornos nítidos?

Indiv idual mente e especificament e. O que se afirma ounega de um conceito corresponde individualmente a êle ou à

sua especificidade? E se à sua especificidade, se é da suaessência ou não, se substancial ou accidental.

Substancial e accidental. É esta uma das primeiras providências no exame de qual quer predic ado a um sujeito. Seeste pertence à sua essência, pertence à sua substância, ou seé alguma coisa que lhe acontece, accidentalmente portanto.Tal distinção facilita conclusões mais seguras.

Acerca de alguns e acerca de tod os. O que se diz ou senega do sujeito, diz-se acerca de todos os que entram na suaextensão, ou apenas de alguns?

Essencialmente e accidentalmente. É o mesmo de substancialmente a accidentalmente.

Segundo a coisa por nós conhecida ou segundo o modocomo conhecemos a coisa. O que se afirma de alguma coisa, afirma-se apenas pelo conhecimento que temos da coisa,

Mediatamente e imediatamente . A conclusão, que seafirma ter alcançado, é mediata, realizada por meios especulativos; ou imediata, dada espontaneamente. A afirmativa pode ser verdadeira se fôr considerada apenas um dos

 pó lo s da di st inção.

Direct amente e indi recta ment e. Assemelha-se ao anterior.

Experimental mente e reflexivamente. De que modo étal conhecimento obtido? A distinção permite aceitar umaconclusão, ou negá-la?

Aprioristicamente e aposterioristicamente. O que seafirma, ou nega, é dado como obtido aprioristicamente, sem

uma verificação, uma demonstração , ou aposterioristicament e, após a verificação de vários aspect os? O valor daconclusão está condicionada muitas vezes à maneira de considerar tais aspectos polares.

Realme nte e iluso riamen te. Note-se se a afirmaç ão serefere a alguma coisa real ou apenas ilusória.

Actual mente e pote ncial mente . Verifique-se se o afirmado é algo actual ou potencial do sujeito.

Ontologi camente e logicamen te. O que se diz pertenc eao conceito ontológico, ou ao meramente lógico do sujeito.

Quando se diz que ser é género supremo, diz-se lògicamentete não ontologicamente, porque, como tal, ser não é género.

Compositivamente e justap ostamen te. Quando se trata de conceitos colectivos ou que se referem ã totalidade, note-se se os elementos componentes são compositivos ou meramente justapostos, ou sejam, agregados.

214 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

Quando se tra ta de uma tot alid ade deve-se verificar qualespécie de tota lida de. Devem-se aprovei tar as distinçõe sque examinamos ao tratar do todo e da parte.

Impli cita ment e e explici tamente . O que se diz é implícito,  ou explícito?

Propriament e e impropri amente. O que afirmamos de

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 21 5

Distr ibuti vamen te e colectivame nte. O qUe se afirmaou nega, afirma-se ou não de cada elemento de um modoou apenas do todo?

Analogamen te ou univ ocamen te. O que se afirma, faz--se univoc amente? Pertenc e, em sua plenit ude, ao conceitoque recebe a afirmação, ou é apenas analogicamente que talse afirma?

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Propriament e e impropri amente. O que afirmamos deum sujeito, fazemo-lo propriamen te, ou impropriamen te? O

exame desse aspecto permite concluir com mais segurança.Simpliciter (absolutamente) e secundum quid (relativa

ment e à qiii didad e). O que se diz ou se nega de algumacoisa, é feito de modo absoluto ou relativo? Afirmando-se omal de alguma coisa, afirma-se absolutamente ou relativamente?

 Necesàriame nte e contingentemente . O que é af ir madoé necessariamente do sujeito, ou é contingentemente deste?É necessariamente hipotético, ou simplesmente?

Eminentemente e potencialmente. Quando se afirmaque alguma coisa contém ou pode conter outra, contém-naou eminentemente, ou potencialmente, ou virtualmente, ounão?

Totalmente ou parcialmente. Toma-se quanto ao todoou quanto ã parte, o que se afirma ou se nega?

Ex par te e ex tot ó. A mesm a relação acima desc rita.

Deficientemente e indefic ientemen te. Afirma-se comofalta, como ausência de alguma coisa que devera ter, ounão?

Concretamente e abstra ctamen te. Toma-se o conceitoconcretamente; ou, seja, referindo-se ã forma e à matéria,ou apenas à forma?

Próximo e remo to. O que se afirma ou nega é próxim oou remoto à coisa da qual se afirma ou nega?

se afirma?

Sob a mesma raz ão ou sob razão di versa. O que se dizde um e de outro, se diz sob a mesma razão, ou sob razãodiversa?

 Negativam ente e precis ivamente . O que se afi rma , afirma-se em separado, ou unitivamente?

Determinadamente e indeterminadamente. O que seafirma de um conceito é afirmado determinadamente a todos os que compõem a sua extensão, ou indeterminadamente?

Com obscuri dade e com clareza. O que se afirma de

corre da obscuridade do nosso conhecimento, ou da clarezado mesmo?

Propriamente dito ou impropriam ente dito. O conteúdo conceituai afirmado ou negado é tomado em seu sentido

 pr óp ri o ou não, e o que se afi rma ou nega se faz de modo pr op riamente di to, ou impr op riamente di to?

Quanto a si ou quant o a nós. O que se diz de uma coisa é feito quanto a ela em si mesma, ou quanto ao que delaconhecemos?

Estes exemplos de polaridades de distinção servem para

familiarizar o estudioso no exame dos argumentos, facíli-tando-lhe a mais nítida compreensão do que está em foco,evitando, consequentemente, erros comuns que são evitáveis.

DA DISPUTA ESCOLÁSTICA

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Reproduzimos, abaixo, uma síntese realizada por Gredtem sua "Elementa Philosophiae" I, pág. 73, que ilustra perfeitamente as regras de proceder na disputa escolástica:

"A disputa escolástica é a disputa na forma (in   forma);ou, seja, na qual rigorosamente se observa a forma silogís-tica. Distingue-se da disputa vulgar   extra formam,  e dadisputa socrática, que consiste em interrogações, por meiodas quais se deduz o que pouco a pouco vai concedendo oadversário.

O mún us defendendi (a função da defes a). Na disputaescolástica, defende-se um argumento em forma silogística.

Examina m-se as prem issa s, concedem-se ,as ver dade iras(concedo), negam-se as falsas (nego), distinguem-se as am

 bígua s (d is ti ng uo). Se é vicioso o silogi smo, nega-se a consequênc ia. Se surge um a disti nção, precisa-se sobr e o queela cai, se sobre as premissas, se sobre o predicado ou se so

 br e o suj ei to. Se se dis tingue a maio r, contr adi sti ngu e-se amenor , e negam-se o consequ ente e a consequênci a. Se a distinção fôr apenas na maior ou na menor, distingue-se o consequente.

O múnu s arguentis (a função do que argúi). O arguente deve provar as proposições que são negadas pelo defen-

dente. Para ilustrar melhor o método vamos reproduzir oesquema de disputa escolástica que nos oferece Gredt no livro citado.

"Defendente: — A tese a ser defendida é a seguinte: "Averdade principalmente, e a priori, está no intelecto"; o queexplico e provo...

218 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

E realiza a prova.

Arguente: — Contra a tese que foi oferecida: "A verdade pri nc ip al me nt e. .. , pr op on ho o ar gu ment o: A verda de, principalmente e a priori, não está no intelecto; logo, a tese éfalsa.

Defendente: — A verdade, principalmente e a priori,ã á i l é f l

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTI COS 21 9

verda de lógica não é algo subject ivo. Dada a disti nção, negoo consequente e a consequência. E explico a dis tin ção ...

Arguen te: — Ora, a verdade lógica está no obj ecto formalm ente . Port ant o, a verda de a prio ri não está no intelec- .to ,  e a tese é falsa.

Defendente: — Ora, a verdade... nego a menor apresentada; precisas provar

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não está no intelecto; portanto, a tese é falsa.

 Nego antecedente; deves pr ov ar .Arguente: — Provo antecedente: o que está a priori no

intelect o é algo subjectivo. Ora, a verdad e não é algo sub ject ivo; logo, nã o es tá a pr io ri no intelecto.

Defendente: — O que está a prio ri no (repe te integralmente o argumento). — O que está a priori no intelectoé algo subject ivo. Concedo a maio r. — Ora, a verdade nã oé algo subjectiv o. Distingo a meno r: A verdad e ontológicanã o e"... concedo a menor; a verdad e lógica não é . . . negoa menor. — Logo, a verdade a priori não está no intelecto.

Distingo o consequente: a verdade ontológica não é. .. concedo consequente; a verdade lógica não é .. . nego consequent e. E explico a dist inção : a verda de lógica é a adequação entre o intelecto e a coisa, portanto alguma coisa sub

 jec tiva; a ve rdade ontológica é a adequação da coisa com ointelecto, portanto algo objectivo ou extra intelecto.

Arguente: — Ora, a verdade lógica não  é   algo subjectivo.Portanto, a verdade a priori não está no intelecto, e a tese éfalsa.

Defendente: — O que está no obje cto ... (repete inte

gralme nte o argu ment o). O que está no objecto não é algosubjectiv o. Distingo a maio r: O que está no objecto formalmente não é. .. concedo a maior. Ora, a verdade lógica está no objecto. Contrad isting o a meno r: a verda de lógica está no objecto formalme nte, nego a menor ; .. . está no ob

 je ct o fundamenta lmente , concedo a meno r. Port an to , a

tada; precisas provar.

Arguente: — Provo a menor apresentada; a verdade lógica está no objecto como efeito em causa eficiente. Ora,o efeito está na causa eficiente formalmente; logo, a verdadelógica está no objecto formalmente.

Defendente: — A verdade lógica es tá .. . (repete integralmente o argumento ). A verdade lógica está no objectocomo efeito na causa eficiente. Distingo a maio r: como emcausa eficiente total e unívoca, nego a maior; como em causa eficiente parcial e análoga, concedo a maior. — Ora, oefeito está na causa eficiente forma lment e. Contra distin goa meno r: na causa eficiente formal mente . Contrad istin goa menor: na causa eficiente total e unívoca, concedo a menor;na causa eficiente parcial e análoga, nego a menor. — Portan to, a verdad e lógica está no objecto formal mente . Dadaa distinção, nego o consequente e a consequência..."

 No tamos aí diversa s po laridades de di st inção, qu e devem ser consi derada s par a futur as análises. São as seguintes:

Verdade lógica — et — verdade ontológica

Sempre que se fala da verdade, deve-se procurar precisar de que verdade se fala: se da lógica, da ontológica, da

material, da concreta, etc.

Formalmente — et — fundamentalmente

Já temos, muitas vezes, apontado essa polaridade, porque o modo de ser de uma coisa pode ser apenas formal ou,

220 MÁRIO FERR EIR A DOS SANTOS

então, fundamentalmente, ou seja, realmente fundado em*algo da coisa.

Causa eficiente total — et — causa eficiente parciale unívoca e análoga

O  efeito está contid o de certo modo (fo rmalme nte) nafi i t ( f ) d t d d

 NOTAS  SOBRE A DISTINÇÃO

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causa eficiente (a causa que o faz), mas pode estar de modo

total e unívoco ou, então, parcial e análogo. Verdadeiramente foi, a distinção como Teoria e Técnica,o marc o elevado que a escolástica con strui u. Se chegou aalcançar a alguns aspectos especiosos, com distinção dequinta-essência, que alguns filósofos menores realizaram, trazendo, com isso, elementos para corroborar as acusações dealguns opositores da filosofia medieval, por outro lado realizou o que de mais grandioso já havia alcançado o pensamento humano, nessa  análise infinitesimal  do conceito, queé análoga à que a matemática, depois, iria realizar em relação ao número.

Ora, há, na Filosofia, as mesmas atitudes que há na Política, no seu sentido mais vulgar, porque há, naquela, tam bém, um pr oceder vulgar à sem elhan ça desta.

É fácil, na Política, atacar-se qualquer pessoa, até quando procede bem, e que tende para os melhores fins. Nuncahouve governante por mais sábio e por mais competente,que não fosse salpicado pela lama dos acusa dore s. Tamb émassim acontece na Filosofia. O méto do das distinçõ es, queé fundamental para o mais recto pensar, sofreu as maisacerbas críticas. E por quem- Precisamente po r aquelesque nunca foram capazes de compreendê-lo bem, nem tam

 po uco de sab er usá -la s. Ainda, aqui , te mos um a apl ica çãoda famosa fábula da raposa e as uvas. Bastav a apenas tomar um outro exemplo deficiente de filósofos menores eapresentá-los como o que mais alto havia realizado a escolástica, e atirar depois a pecha de especiosa e falsa a distinção.  Na verdade, porém, todos os argumentos esgrimidos

222 MÁRIO FER REI RA DOS SANTOS

nestes quatro últimos séculos contra as distinções, já haviamsido refutados com antecedência, bem como os mais funestos erros filosóficos já estavam, também, refutados por séculos de antecedên cia. O disting uo, concedo, o nego, o trans-mitto, o sulidistinguo, etc, foram ridicularizados por todosos deficientes destes quat ro séculos, por medíoc res filósofosfamosos, por personalidades proclamadas como superiores,que,  na realidade, não passaram de falsos ídolos adorados

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 223

o de católico s por não se rmos católi cos. O que se pede, como amantes do saber filosófico, é o que contribuíram eles

 pa ra a Filosof ia. E o que ele s co nt ri bu ír am perten ce ao património do saber human o. Não podemos deixar de considerar as grandes contribuições realizadas, e devemos conservá-las e transmiti-las aos nossos discípulos, para que estescontinuem nas linhas mestras traçadas pelos grandes realizadores, a levar avante o facho do progresso filosófico, quehá dá i t d l

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 po r um a mult id ão de sub-in telect uai s def icientes. Uma revi

são da Filosofia, feita naturalmente com base sólida, fariadescer do pedestal muita personalidade tomada hoje nas universi dades como exemplares do verda deir o e são filosofar.Muita divindade da cultura tomaria o seu lugar no lixo daHistoria, e deplorar-se-ia o tremendo esforço inútil de tantos em pro cur ar dar relevo e valor ao que não tinha, infundido nas mentes desprevenidas da juventude as mais dissolventes ideias, que culminaram no agnosticismo, no cepticismo até o seu extremo, que  é   o desesperismo moderno, con-tando-se, ainda, a desconfiança que mereceu o filosofar demuitos, a ponto do termo filósofo tomar um sentido pejo

rativo. Nunca se assistiu a maior trabalh o destructivo queesse, realizado em nome da cultura, por falsos sacerdotesdo saber, que inocularam o germe da desconfiança, que frutificou no que vemos hoje. Quant a perso nali dade duv idosa,transformada em oráculo da filosofia, premiada, ovacionada

 po r tant os falsos sábios . As ma io res ob ras filosóficas nã ose encont ram às mãos. Todos os que desejam estudar seriamente a filosofia têm uma dificuldade imensa para obteros textos dos mais conspícuos filósofos, enquanto o lixo dafilosofia esplende em edições constantes, em comentários dosseus corifeus, e são apresentados à juventude como os verdadeiros luminares do espírito humano.

Desejamos chamar a atenção do nosso leitor para a nossa posi ção nest e assu nto. Deve-se cons idera r o proces so filosófico como um património da humanidade. Não se podedesprezar o trabalho de budistas, por que não somos budistas,  ou o de protestantes porque não somos protestantes, ou

há, que se dá e que existe, apesar daqueles que pensam que

a filosofia nasceu desde logo completa e esgotou-se totalmente na obra dos filósofos gregos maiores.

Há ainda muito que solucionar, muito que resolver. Háuma problemática que está a exigir o empenho e o esforço degrandes estudiosos para solucioná-la, ou para propor novosmas legítimos problemas, que encontrem, no futuro, novassoluções.

* * *

Para que a distinção seja feita com eficiência, impõe-se

algumas regras que jamais devem ser esquecidas:1) A fundamental é a suspicácia quanto aos termos

componentes de um juízo ou das premissas de um silogismo.

a) No exame do juízo é miste r consid erar como é tomado o sujeito, se formalmente, se materialme nte. Tantonum caso como noutro, se tomado total ou parcialmente, setomado em que acepção, em suma.

 b) A supl ência que pode exercer o ve rbo em relação aosujeito, segundo as normas já examinadas no estudo dassupposítiones.

c) O predicado em que sentido é tomado : materialmente ou formalmente, qual acepção tem; accidental ou essencial. Que espécie de conver são permit e com o sujeito, ouseja, qual ou quais espécies de conversão são possíveis no

 juí zo.

224 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

d) É tomado o predicado adverbialmente? Sofre overbo alguma função adverbial, que indica uma modalidadeda predicação? Se modalmente tomado não é da essênciado sujeito, mas pode ser uma propriedade dessa essência.Verifique-se. É este um ponto de magna importância, porque o que se diz do sujeito pode dizer-se de muitas maneiras e algumas podem ser verdadeiras sob um ângulo e nãosob outro. O máximo cuidado na análise dos juízos segund h bili di d Ló

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 225

tualmente, e à custa de muito exercício para desenvolver aacuidade mental.

Só o continuado, persistente e devotado estudo às distinções nos pode dar o grau elevado de acuidade. Ao alcançarmos este, verificamos que a Lógica e a Dialéctica nãosão apenas instrumentos para o bom uso da inteligência, ummero organon, mas também uma fonte criadora de ideias,

 pela descoberta constante de juízos virtuais, insuspei tados de

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do essas regras habilita a pouco e pouco o estudioso de Ló

gica e de Dialéctica às mais subtis distinções, e evita os errosque são frequentes.

2) É de um silogismo que se trata? Então a análiseformal deve preceder a análise material. Verifique-se, em primeiro lugar, o termo médio, e se é tomado sempre namesma acepção, e se é, pelo menos, uma vez universal. Verifique-se o sujeito, e também o predicado, se estão tomadossempre na mesma acepção. Em suma: apliquem-se as regras do silogismo ao exame formal. Materialmente, execute--se o exame das acepções e das distinções possíveis.

3) A lista das polaridades por nós assinaladas podemser copiadas e servirem de ponto de referência para a análise de um enunciado. Examine-se a possibilidade de aplicação de algum ou alguns ao silogismo; se cabem ou nãoas distinções possíveis. Observando-se estas normas é fácil descobrir as distinções e verificar, facilmente, sua adequação.

Lembremo-nos que a maestria dos escolásticos no usodas distinções foi alcançada através de muitos exercícios esacrifícios.

É um erro considerar as primeiras dificuldades como insuperáveis. Também outro erro consiste na impressão errónea que se tem de nossa capacidade de subtileza, quando,nos primeiros contactos com as distinções, notamos que nãohavíamos percebido o que outros perceberam. Ninguémconsegue alcançar um grau elevado de subtileza, senão habi-

p j , pinício, e que terminam por dar uma clareza e uma profundidade aos nossos conhecimentos, que nem de leve poderíamos prever no início.

Devem-se aproveitar todas as horas de lazer para levarmos avante tais exercícios, cujos frutos são os mais elevados que poderíamos desejar.

Considere-se, ainda, que a prática escolástica das distinções não esgotou todas as possibilidades. Há ainda muitas a continuar. A análise filosófica ainda não chegou aotermo, e se hoje estamos numa época em que se exige umaconcreção dos elementos que a análise nos concedeu, deve

ela servir como ponto de partida para novas e proveitosasanálises. É o que pretendemos fazer e estamos certos detê-lo feito em grande parte em nossa "Filosofia Concreta".

Devotamo-nos, ademais, a provar aos incrédulos que aLógica e Dialéctica, conduzida como preconizamos, são criadoras, e nos dão os mais seguros dados para, fundados neles,  podermos empreender as mais ricas e productivas análises.

EXEMPLO DE DEFESA DE UMA TESE

SOBRE A DEDUCÇÃO

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SOBRE A DEDUCÇÃO

Damos a seguir um exemplo de defesa de tese, seguindoo método heurístico, que compendiamos de Salcedo.

A tese é: O raciocínio deductiv o pode gerar uma certeza verdadeira e nova.

Trata-se de defender a tese acima exposta. Como vimos,  a primeira providência consiste no exame do nexo dostermos empregados no enunciado da tese.

"Um juízo é singular quando é êle obtido pela experiência. É êle univers al e necessári o, quan do, co nsiderando-seapenas a experiência, esta não pode justificá-lo.

Raciocínio chama-se a operação da mente pela qual,instituída a comparação entre duas ideias com uma terceira, conhece-se, delas, a identidade ou a diversidade que háentr e elas. Assim tamb ém definia Aristótel es: "Processo pelo qual, postas duas premissas, delas se segue algo necessário,  já contido naquelas."

O raciocínio chama-se deductivo se de premissas maisunive rsais atinge-se a um consequente menos universal. Po-

de-se, na verdade, no raciocínio deductivo, distinguir-se umatríplice ordem de apreensão:

a) apreensão ou mediata ou imediata da identidadeou discrepância dessas ideias com a ideia significada pelotermo médio.

228 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

 b) Apree nsão imediata da con sequên cia ; cuja ide ia deve ser imediata, sem necessidade de realizar-se um processoin infinitum.

c) Apreensão imediata do consequente na própriaapreensão , e decorrente da mesma apreensão da consequência.

Segundo a fonte da qual se obtém o antecedente, divi-de se o raciocínio deductivo em:

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 229

A primeira posição não nega absolutamente que a deducção e todo silogismo sejam úteis ou legítimos; concedeainda que são aptos ao conhecimento já adquirido; nega, porém, que tal processo seja apto para estender nosso conhecimento, a não ser de modo ilegítimo, cabendo apenas à inducção esse papel.

Defendem essa posição os antigos cépticos, fundadosdifi ld d d l difi l

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de-se o raciocínio deductivo em:

1) Puro, quando cada premissa é analítica ou evidentede per si. Tal raciocínio não depend e da experiência, a nãoser quanto ã cognição dos termos.

2) Empírico, quando cada premissa é uma prop osiçãoapen as capt ada da experiência. Ora, como a nossa experiência só pode atingir os concretos singulares, tal deducçãorequ er, pelo meno r, uma premiss a univers al. Mas, tal raciocínio só pode dar-se por meio de um silogismo expositório,que é aquele em que o ter mo médio é singular. Consequentemente, é uma inducção incompleta. Finalmente, pode ser:

3) Misto, quando uma premissa é experimental e outraverdadeiramente analítica, ou seja, independente da experiência.

Passamos agora ao status quaestionis. Quanto à deducção, longa é a contr ovérsi a que se observ a na Filosofia. Argumentam os opositores: a conclusão de certo modo deve estar contida nas premissas; ou a conclusão é conhecidaquando conhecemos as premissas, ou não é conhecida; no

 pr im ei ro caso, nada de novo se con hece po r ta l processo;no segundo caso, já que alguma coisa se afirma nas premissas,  como poder-se-ia dar na conclusão algum caso parti

cular da mesma coisa não afirmado na s premi ssas? Ou adeducção cria um novo conhecimento, mas puramente provável, ou cria um conhecimento certo, não novo.

Como então pode ser uma genuína fonte da verdade eda certeza?

nas dificuldades de Platão no Ménon. As mesm as dificul

dades foram repetidas, depois, por Sexto Empírico e ainda po r St ua rt Mill , como ve remos.

Bacon de Verulam afirmou, ademais, em sua "Instauratio Magna", a nulidade do silogismo e seu desvalor paraa ciência, embo ra útil na vida quot idia na. Tamb ém escreveram contra o silogismo Descartes, Petrus Ramus, Lutero,Comte, Stuart Mill, Spencer e todos os positivistas e empirist as, que negam o raciocínio deductivo . E tudo isso decorre da maneira falsa que têm tais autores de considerar asideias universais. Conhecer universalmente, em tais autores,  é conhecer todo indivíduo em particular, não segundo acompr eens ão, mas segundo a exten são. Ademais, negam adiferença radical entre o intelecto e os sentidos. Da mesma

 posição é Ka nt e seus seguidore s, Sch lei ermacher Beneke, etc.

Os existencialistas também negam todo valor ao raciocínio deductivo, e até na Igreja, nos tradicionalistas, encontramos adversários.

Em oposição a essas sentenças, temos a que afirma queo raciocínio é apto, por sua natureza, a criar novo e certoconhe ciment o. Não nos casos em que a conclus ão está claramente contida (compreensivamente) nas premissas, comoo homem é animal, logo é substância; mas há muitos casosem que a conclusão só virtualmente está contida nas premissas.  O efeito está contid o virt ualme nte na causa. Assim,quando conhecemos a causa, não conhecemos por isso o efeito;  e só o podemos através de uma nova operação; ou, seja,

 po de mos te r um a nov a e ve rdadei ra cog nição .

230 MÁRI O FERREI RA DOS SANTOS

Passa agora a prov ar a tese. Apresent ava Stua rt Mill,em defesa de sua posição, o seguinte argumento em seu "Asystem of Logic...":

"Todo homem é mortal; ora, o duque de Wellington éhome m; logo, é mort al. Ao profe rir a maior, ou sei a verdade da conclusão ou não sei. Se sei, é inútil o proce sso; senão sei, é ilegítimo propor-se a maior com aquela generali

MffiTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 231

dades; ora, isso gera nova notícia, de dependência de ordemdas verdades entre si.

2) Capta relações entr e essas verdad es, que por si sóse imedi atamen te, ou só pela análise ou c ompar ação dasideias não são para nós evidentes, como as conclusões daMetafísica pura.

B) Raciocínio empírico nest e raciocínio só quan do

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dade; portanto, o processo não vale para novo e certo conhecimento,"

A tal argumento facilmente se responde: a objecção temforça na ordem da extensão, se a generalização fosse apenasuma mera totalização de todos os casos particulares. Neste caso, não se poderia afirmar com plena generalidade quetodos os homens são mortais, e, consequentemente, não se

 poderia saber se o duque de Wellington é mort al ; mas, naordem da compreensão, perde tal argumento toda a força,

 po rq ue a ma ior nã o é um a me ra soma da s exp eriênc ias , ma sé a exposição de algo que pertence à natur eza específica.

 Nas Ciências, verifica-se o emp reg o constante do raciocínio deductivo com capacidade criadora de novos e verdadeiros conhecime ntos. É o que se verifica nas Matemá ticas,na Psicologia, na Cosmologia, e em geral na Filosofia, incluindo a Teodicéia.

Para que o raciocínio deductivo seja a fonte de novas ecertas cognições, impõem-se três coisas: um meio de conhecer a verdade nova; um meio conexo com a verdade necessária, e que essa conexão necessária do meio com a verdade revele-se clara mente à mente . Ora, se tais coisas (to

das) se dão no raciocínio deductivo, tal raciocínio é fontecerta e nova de cognição.

Provemos essas premissas:

A) Adquire-se nova cognição: pelo raciocíni o puro: 1)Verdades imediatamente evidentes subordinam outras ver-

B) Raciocínio empírico — nest e raciocínio, só quan do

se aplica aos princípios sintéticos, conhecidos pela inducção,ou aos indivíduos, ou às espécies, e assim, conhecida a natureza de algum objecto, deduz-se suas qualidades, propriedades,  etc, quando essas não foram captadas através dacognição experimental.

C) Raciocínio misto — 1) Cognições experime ntais, su bo rd in ad as aos pr incípios ana lí ticos . 2) Capta no s objectosda experiência suas relações, as quais não podem ser captadas apenas pela experiência, enquanto se aplica ao objecto suas relações, que são conhecidas entre as ideias, como,

 po r exe mplo, as conclusões da matemática apl ica da. Da ex

 per iên cia , cap tam-se as leis universais , quer físi cas, quer morais;  ou, seja, dos efeitos deduz-se a existência da causa.

O raciocínio é um meio conexo com a verdade; ou, seja,das prem issa s verda deira s segue-se a verda de. Esta p artenão é mister demonstra r. Demonstrar é obra de algum raciocínio, pois já é suposta a infalibilidade do raciocínio, oque daria lugar a uma petitio principii. Entret anto, não exige demonstração, mas apenas uma declaração; da naturezado raciocínio revela-se, evidentemente, que só se pode deduzir a verdade de premissas verdadeiras.

A necessária conexão do meio com a verdade pode serconhecida de modo certo. 1) Se as premi ssas são verdadeiras,  pode-se, na verdade, conhecer as verdades delas decorrent es, ou que nelas estão inclusas. Mas, se as pre missa snão são imediatamente, mas mediatamente evidentes, a verdade delas mostra-se por resoluções às primeiras verdades

232 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

evidentes, nas quais aquelas estão, ou nelas têm sua sis-tência.

2) Se o raciocímo é legítimo; ou, seja, recto, pode-secertamente conhecer apenas pela atenção da mente à formado raciocínio, presente neles o princípio fundamental, o princípio de identidade e de discrepância com uma terceira posição.

Vejamos agora as objecções e as respostas que elas me

MflTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 233

cínio o de meio; logo, a conclusão deve ser conhecida antesdo raciocínio.

Que o fim deve ser conhecido antes do meio, quandosuficiente para escolher os mesmos meios, concede o defensor da tese. Que deva ser conhecido perfeit amente , nega.

Veja-se este argumento de Stuart Mill: Ao proferiresa maior, ou conheces a conclusão ou não conheces; ora, se

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Vejamos agora as objecções e as respostas que elas me

recem.O argumento clássico é o fundado na passagem do Mé-

non de Platão, que se pode resumir do seguinte modo: Quem pel o rac ioc ínio inquire alguma coisa, ou sabe o que inquireou não sabe; ora, se sabe, é inútil inquirir, se não sabe, frustrada está a sua inquirição, porque, neste caso, ignorava o(}ue pergunta; logo, o raciocínio não é fonte de conhecimento.

Terçaram este argumento os cépticos gregos, e tambémos cépticos modernos. Mas, todo erro está na disjunção ,que é imperfeita, pois há uma terceira possibilidade e nãoapenas duas. E essa terceira é: ou sei virtualment e (virtua-liter) não, porém, formalmente (formali ter).

Contudo, um objector poderia ainda apresentar o seguinte argumento: mas a conclusão, antes do raciocínio, éconhecida formalmente, pois é conhecida formalmente a conclusão antes do raciocínio, por quem é interrogado sobretudo, e responde sem hesitação; era, tanto a criança comoum ignorante, interrogado por uma série convenientementeordenada de coisas, que nunca se desdigam, respondem semhesitação e rectamente; logo, a conclusão é conhecida formalmente antes do raciocínio.

Sim, é verdade, quanto às ilações imediatas, não quantoàs mediatas, pois nestas nem sempre se vê a verdade contida em seus termos.

Outra objecção é a seguinte: O fim deve ser conhecidoantes dos meios; ora, a conclusão tem razão de fim, o racio-

se dá a primeira situação, o processo é inútil; se se dá a segunda, o processo é ilegítimo.

O argumento de Stuart Mill, como também o de Kant, peca pel a disjunção fals a. Há um a te rceira possi bi lidade:ou sei virtualmente; não, porém, formalmente.

Mas objectam: Contudo deve ser conhecido formalmente.   Pois saber que o homem é mort al, é saber que Pedr o,João e o Duque de Wellington são mortais; portanto, devesaber formalmente, antes da conclusão, que o duque deWellington é mort al. Nest as condições, todo o proces so de-duetivo é inútil.

A premi ssa maio r desta objecçã o é toda ela fundad a nadoutrina nominalista, a qual é fundamentalmente falsa.

Mas prossegue o objector: Ambas premissas, tomadassimultaneamen te, contêm formalmente a conclusão; logo,antes da conclusão conheço já a mesma formalmente.

Responde o defendente da tese: Contêm e as manifestam, quando em sua mútua relação são conhecidas, concede;  antes, nega; contradistingue a menor: devem antes serconhecidas em sua relação mútua, nega; que separadamentedevem antes ser conhecidas, concede.

O objector prossegue: para que a deducção dê conclusãocerta, deve-se demonstrar todas as regras dialécticas; ora,não podem ser demonstradas senão pela mesma deducção;logo,  sem petitio principii não se pode certamente constatara verdade da conclusão.

234 MÁRIO FERR EIRA DOS SANTOS

Responde-se: Para que a deducção dê conclusão certa,devem ser conhecidas as regras da deducção de algum modo pela lógica natural e por evidência quase imediata comocerta, concede; que sejam todas demonstradas por estrictademonstração, subdistingue: que para o valor da demonstração não sejam antes conhecidas, nega; que para certoscasos subtis, em que não se tenha certeza científica, masapenas natural, ou mesmo formal, concede.

COMENTÁRIOS

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p

Compendiamos assim em termos gerais a defesa da tesefeita por Salcedo, seguindo o método heurístico, tão usado

 pelos escolá sti cos .

É de notar que os maiores adversários da deducção se ja m, por sua vez, os maiores defens ores da inducçã o, semcontudo terem apresentado em favor desta os melhores argumentos que foram, na verdade, oferecidos por aqueles,que defendem também a posição que mais atacam.

Todo o erro dos que acusam a inducção está precisamente na disjunção falsa, que tantos filósofos modernos denoto rieda de e fama, usa ram em seus argum ento s. Há juízos virtuais, que estão potencialmente, portanto, inclusos emtodo juízo analítico. Ora, a captaçã o de tais juízos exige

uma mente bem ordenada e segura, e não é fácil captá-los.Sem dúvida, tudo quanto o homem pode pensar já está, decerto modo, na ordem das coisas naturais ou sobrenaturais,

 po r capt ar sua presença ou po r captá- la def ici ent emente .Todos os juízos virtuais da geometria já estavam contidos,como possibilidades eidético-noéticas para o homem nas pró

 pr ia s figuras geo mét ric as que a sensib ili dade poderia captar e o intelect o poderia abstr air, e deles deduzir as leis. Ohom em não cria o saber, mas o desvela. Há uma gr andeciência que nos antece de. Chamavam-na os pitagó ricos degrau superior de Mathesis Supre ma. O homem , esse peregrino do saber, esse viandante, por sua sede de conhecimento,   descobr e, desvela a verda de. Não criamos o saber, ma so descobrimos. A verdade já está dada de todo sempre. AFilosofia é apenas esse árduo e dinâmico trabalho do homemem busc a do saber, que é a Mathesis Sup rema. Por issoPitágoras chamava a si mesmo de filósofo, amante do saber.A Filosofia é essa longa caminhada, essa longa descoberta,

236 MÁRIO FER REIR A DOS SANTOS

sujeita a todos os azares e aventuras, que oferece o caminhodo conhecimento.

A deducção é apenas uma operação, pela qual extraímosos juízos virtuais particulares, contidos em juízos mais gerais.  Nós, de nossa part e, em "Filosofia Concreta", comonesta obra, demonstramos como se pode usar um métodoque é ora inductivo, ora deductivo, ora dialéctico, com todasas fases e todas as providências que se podem tomar; em

A TEORIA DO JUÍZO DE TOMAS DE AQUINO

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as fases e todas as providências que se podem tomar; em

suma, um méto do concre to, que busca os juízo s virtu ais pa rt icular es que po demos extra ir dos gerais , como ta mb éma busca dos juízos gerais que podemos extrair dos particulares,  quando os comparamos com termos médios, que nos podem abrir novas vered as. Na análise que fizemos do ter moDireito, em "Filosofia Concreta", mostramos como era possível,  apenas empregando de início a via analítica no exame dotermo, enveredar, depois, por alterações da via analítica e dasintética , alcança r a const rução de toda uma filosofia d odireito, fundada em bases apodíticas, pois o nexo de necessidade é muitas vezes captável por nós.

 Nossa posição consi ste na busca constante da filosofia pos it iva (não posi tivi sta) , no bo m senti do que lhe da vamos antigos . Não somos part idá rios de modas filosóficas,

 porque a Filosofia, pa ra nós, como a mat emát ica, dispens atais modas sujeitas ao historicismo dos esquemas, que levao homem a formular apenas juízos assertórios, que revelamapenas pon tos de vista, e não a conquist a sólida científica,no bom sentido do termo, que almejamos para o são filosofar. É verdad e que essa posição aparece aos espíri tos sobremaneira estéticos, como uma restricção à capacidade criadora. Mas, enganam-se. A restri cção será apen as da capa

cidade estética, não da verdadeiramente criadora, que é a dosaber mais elevado, que a Filosofia positiva oferece e oferecerá através dos séculos para o homem.

Pela primeira apreensão, o espírito habet similitudinemrei intellectae, capta (tem alguma similitude intelectualmente da coisa) . Ora, toda cognição se faz por algu ma semelhança que há na coisa com os esquemas acomodados, ouseja pela assimila ção. A máxima omni s cognitio fit per ali-quam similitudinem, que toda cognição se realiza por alguma similitude, é também uma comprovação da psicologia moderna. Quando Empédocle s afirmava que só o semelhante

 pode con hecer o semel han te , tomava a semelh anç a nu m sentido muito restricto, concluindo que só a água poderia conhecer a água, só a terra poderia conhecer a terra, só o arconhecer o ar, só o fogo conhecer o fogo. No entan to, oesquema acomodado nos explicaria a tese da similitude, semcair nas dificuldades que decorram da concepção de Empédocles, que levou a muitos afirmar que o nous teria de sernecessariamente material para poder conhecer a matéria esua s manifestações. Sem dúvida que Empédocl es era pitagórico, e conta a lenda que foi discípulo de um filho de Pitágo ras. Ora, o pitag orismo afirmava a espirit ualidad e donous e também a similitude como fundamental em toda cognição.  Parecia haver uma contr adiçã o fundamen tal. Contudo,  a concepção dos esquemas noéticos evitaria essa contrad ição como se vê. Poster iormen te, Aristóteles afirmou

que a alma de certo modo era tudo (animam est quo dammodo omnia, dos escolásticos) era a afirmativa de que dis põe ela de um a esquemá tica cap az de aco modar-se de ta lmodo a tornar assimilável tudo; ou seja, uma esquemáticacapaz de captar a inteligibilidade de todas as coisas, propor-

238 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

cionad amente aos esque mas acomod ados. Deste modo , ateoria esquematológica, que seguimos, explica não só a possi

 bil ida de cognoscit iva de tudo qu anto é, como ta mbém a pro porci onal idade do conhecimento, relati vo, po rt an to , à esquemática, previamente disposta ao conhecimento.

A tese empirista fundamental da concepção de Tomás deAquino é hor um au tem cogniti in nobis ex sensu ori tur (to dacognição em nós tem sua origem nos sentidos); consequent t i ti t it ( iê i t

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS  2'Mi

 Na operação judic ati va, o nous non sol um habet simili -tudinem rei (não só tem a similitude da coisa), sed etiam su

 pr a ipsam simil itudi nem ref lec tit ur, cognoscendo et dijudi-cando ipsam, (mas também sobre essa mesma similitude re-flete,  conhece e a julga). Importa nte ressaltar no juízo areflexão, a cognição e o julg ament o. Não é apenas ter asimilitudinem rei, mas saber que a tem, saber que a conhece.E esse conhecimento é adquirido pela reflexão, pelo reditussobre a coisa (supra ipsam similitudinem reflectitur).

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temente scieutia nostra a sensu oritur (a nossa ciência temsua origem nos sentidos) (Q. D. de Ver. p. 10 a.6 "sed contra" 2), o que é também tese da esquematologia moderna.Temos aqui a simplex aprehensio (a apreensão simples) so br e a qual se real iza , poster io rmente , (a segunda operaçãodo nous) um retorno, um reditus ou reflexio, que revela anatureza activa do nous (natura actus ou natura principiiactivi),  da qual resulta um assentimento (assensus), que é o

 julgado, o juízo.

Esse rotei ro é, porém , lógico e não psicológico. Porqu e, psicologicament e, o j uízo é dado como um todo . A opera ção

 judicat iva do no us (em suas mod al idades lóg icas) reali za-sea posteriori, como veremos, e aliás temos demonstrado emnossas obras de Noologia, pois, na verdade, o juízo é umintelligibili in sensibilis, é um inteligível que já está no sensível, que captamos por uma operação imediata, mas que éconstr uído, depo is, em seu enunciad o lógico. Assim, o-li--vro-que-está-sôbre-a-mesa é um todo que apreendemos numaoperação simples, na prima opcratio mentis, na primeira operação do nous, na simplex aprehensio, uma possibilidadeque o nous actualiza e enuncia logicamente, atribuindo aosujeito (já um conceito lógico) livro, o predicado (outro conceito lógico) está sobre a mesa. Contud o, antes da cons-

trucção dos conceitos não é possível a construcção do juízológico, pois o acto judicativo consiste na operação de atri

 bu ir ou não o pre dicado ao sujeito. Mas, o juízo virtual está dado em todas as coisas, aguardando a assimilação judicativa, sobre a qual falaremos o port unam ente .

A operação judicativa é eminentemente uma operação.E operar impli ca o operad or, que opera o acto. Que se nota, entã o, aqui? Que o conheci mento da similitude implicaa operaç ão judicativa. Não é apenas a simplex aprehen sioque dá o conhecimento (a cognitio) mas é a reflexio que adá, é dijudicando que conhece, através, portanto, do acto dointelecto, o acto judicativo.

Portanto, a verdade ou falsidade lógicas só podem dar--se no juízo. Não quer tal dizer que não haja uma verda deou uma falsidade na simplex aprehensio, pois o acto do sentido pode ser verdadeiro ou falso (ilusório, por exemplo).Mas a verdad e lógica, pelo menos, só pode est ar no juízo. Esta verdade só a pode conhecer, port ant o, o intelect o. Quando Aristóteles afirmava na Metafísica (VI) que só o intelecto

 pode conhecer a verda de, que ver dade só pode es ta r na mente,   ou que a verdade só pode estar no cognoscente, a tese éválida nesse sentido, sem que se negue haver uma verdadeextra mentis, fora da mente humana.

Se tomamos o conceito animal racional e mortal aplicado ao homem, verificando-se que há similitude entre homeme esse conceito, só aí há o juízo, porque só aí se julgou queo homem é tal. Esta é, prop riame nte, a segunda op eraçã odo espírito. Quando Tomás de Aquino diz: "in hac sola secunda operatione intellectus est veritas et falsitas, secundumquam non solum intellectus habet similitudinem rei intellec-tae,  sed etiam super ipsam similitudinem reflectitur, cognoscendo et dijudicando ipsam" (e só nessa segunda operação

240 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

do intelecto está a verdade e a falsidade, não apenas quandoo intelecto tem a similitude intelectual da coisa, mas somente quando reflecte, quando conhece e quando julga sobre essa mesma similitude) é que há o juízo.

 Nessa opera ção, o espí rit o diz sim ou não (i ta esse in revel non esse), assim é na coisa ou não é.

Mas esse julgar é proporcional ao intelecto, sem dúvida,à sua esquemá tica. É o que afirma a Esquema tolog ia.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 241

"simul enim (intellectus noster) intelligit totum, continuum,non partem post partem; et similiter simul intelligit pro- posi tionem, non pr iu s subjec tum et postea pr ed ic atum; qui asecundum unam totius speciem omnes partes cognoscit"(o nosso intelecto interlege simultaneamente, pois, o todocontínuo, não uma parte após outra parte; e semelhantemente intelege a proposição, não primeiramente o sujeito edepois o predicado; portanto, conhece todas as partes segundo uma só espécie (esquema) (Summa contra Gentiles I

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Também assim o afirmava Tomás de Aquino ao dizer que oser conhecido o era segundo eius prop ort ion em ad rem. É prec isamente aqui que en tr a a especu laç ão crí tica da Esquematologia, porque, neste campo, pode ela contribuir para delimitar precisamente o alcance do nosso conhecimento.

 Na apreensão simples, nã o há ainda o ju lgamento , nãohá ainda a afirmação ou não da conformitas do conteúdo lógico com a coisa (re s), afirmam os lógicos. Não há, logicamente , está certo . Mas o juízo virtual já há em sentido psicológico. É compreensív el que a prova que desejamos fazerexige outras análises, que são imprescindíveis.

Quando o espírito humano enuncia um juízo, êle evidencia um nexus entre o sujeito e o predicado, que já estava nasimplex aprehensio.

Há uma teoria de Tomás de Aquino que muito nos auxilia para a nítida compreensão da operação judicativa; éa em que êle estuda a relação de uma forma (o predicado)a uma matéria (o sujeito), concluindo que subjectum tene-íur materialiter, predicatum tenetur formaliter (o sujeitoé tomado materialmente e o predicado é t omado formalmente).

É uma tese de Tomás de Aquino, embora muitos tomistasnão a aceitem, que a composição dos conceitos já se encontra no espírito, não somente antes do juízo, mas antes até daapreensão, na forma de species (impressa), ou seja, no quena Esquematologia se chamam esquemas. A unidade entreo sujeito e o predicado já está realizado na espécie:...

gundo uma só espécie (esquema) (Summa contra Gentiles Ic. 55). E na Summa Theologica (I q.58, a.2) expressa tam

 bém a mesma dout rina, como se vê nesta ci taç ão: Et sicetiam intellectus noster simul intelligit subjectum et prae-dicatum prout partes unius propositionis et duo comparatasecundum quod conveniunt in una comparatione quaecum-que igitur per unam speciem intelligibilem cognosci possunt,cognoscuntur ut unum intelligibile et ideo simul cognoscun-tur."

A mesma doutrina encontramos no De Veritatis (q.8a.14). Ora, out ra não é a consequência que se extrae m dos

estudos esquematológicos modernos, em que a observaçãorealizada por Piaget, Jean, Wahl e pelos reflexionistas com

 prova e jus tif ica . Tais observações vêm compr ovar ademaisa falta de fundamento da posição racionalista clássica queconsiderava o juízo apenas segundo o roteiro da Lógica e,naturalmente, caía nas dificuldades (aporias) da posição racionalista que levou, posteriormente, Kant, em sua crítica afundamentar-se nelas.

Mas essas observações de Kant, que estudamos em nosso "As Três Criticas de Kant" eram válidas quanto ao racio

nalismo e o seu erro esta va ao aplicá-las a todo o filosofar.Se conhecesse melhor a concepção noológica de Tomás deAquino veria desde logo quais os defeitos do racionalismo etambém quais as soluções que se poderiam dar ao problemada Metafísica que, dentro dos quadros racionalistas, não têmuma solução.

242 MÁRIO FE RRE IRA DOS SANT OS

Somos, por isso, obrigados a penetrar na concepção deTomás de Aquino. É verdade que êle não nos deu um tra

 ba lho sistemá tic o sobre o juí zo. Os es tudos que fêz es tãodisp erso s em sua volumosa obra. Mas, graças aos estudosrealizados por tomistas de valor, sobretudo por Hoenen, podemos servir-nos de valiosos elementos que favorecem o nosso exame. É porta nto, fundados nesses estudos, que examinaremos esta parte da noologia tão importante para oestudo esquematológieo, bem como sumamente proveitoso

MÉTODOS LOCICOS  K   l)[ AlJ OC rh 'l >H 24IÍ

Toda verdade humana está, pois, condicionada, de certomodo , ao phanta sma . A "verit as inlellIjcniillN mula" ( a nuaverdade inteligível) non potest ipsam IntrlrlectiiN liumanuscapere (não pode captá-la o intelecto human o). Estam osaqui no conceito moderno da Sachverhall dn Urentano, dadispositio rei, do que é dado previamente pela coisa ao es

 pí ri to , pa ra que o conheç a in quod es l inleUiKendum (o que pode ser conheci do). O con hec iment o hu ma no é proporcio nado à capacidade de inteligir (fit sccundum vim intellec-

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q g , p

 pa ra a jus tif ica ção da pr óp ri a metafí sica tã o mals inada po rfilósofos menores e deficientes.

Surge aqui uma dificuldade quanto aos juízos negativos, po rq ue ne st es há um a divisio (di vis ão, se paração en tr e su je it o e predicado, que é negado daq uele, re cusa do). De quemodo se pode dar essa divisio, essa dissolução de um conceito compos to? Ora, o juízo é uma opera ção pela qual ointelecto compõe ou divide, afirm ando ou negando . No juízoé posto em relação (comparatio, de par, pôr um ao lado deoutro) o predicado e o sujeito, e se procura saber se o predicado referatu r ad rem, se refere à coisa. Se a respo sta

é: tal se dá, ita esse, é afirmativa, ou, então, ita non esse,tal não se dá, é negativa.

 No acto int electivo da simple x aprehen sio é cap ta do oque há e tamb ém, indefinidam ente, o que se ausent a. O

 ju ízo negati vo é apenas a re cusa de uma con formida de en tr eo predicado e o sujeito, e todo juízo afirmativo implica virtualmente um número indefinido de juízos negativos. Adificuldade é apenas aparente, portanto.

Sabemos que na simplex aprehensio o que é captado é o ph an ta sm a (o s da dos sensíveis ) das coi sas.

Para Tomás de Aquino, o nexus entre o sujeito e o predicado do juízo futuro já se encontra necessariamente no

 phan ta sm a, do qua l a int eligência abst ra ct or a ext ra i as es péc ies inte lig ívei s compos tas. Es ta af irmat iva é corroborada por inúmeros textos, o que seria longo enumerá-los.

p g (

tualis luminis) (é feito segundo a força da luz intelectual).

Todo o nosso conhecimento é assim proporcionado ao ph an ta sm a. Há, assim, um re to rn o, um ver ter -se ao pha ntas ma. Assim só conhecemos parti ndo dele e referindo-nosa êle. É a caract erís tica do saber human o. É mis ter inspi-cere in phantasmate, captar nele as espécies inteligíveis a

 ph an ta sm at ib us (ext ra ídos do ph an ta sm a) et in pha ntas ma-tihus (e no phant asma ). Nosso conhecimento traz semprea marca da nossa experiência, mesmo nas mais altas abstracções de terceir o grau que o espíri to pode realizar. Tudoquanto julgamos de certo modo se relaciona ao que sentimos.O que o juízo posteriormente realiza é o que já está de certomodo contido na dispo sitio rei (Sachve rhalt) .

A simplex aprehensio dá-nos os accepta, os presentata,que contêm a determinatio total do juízo futuro, ou seja onexus entre o sujeito e o predicado.

Essa composição precede à própria aprehensio, pois estános dados sensíveis.

O juízo se dá precisamente ao afirmar ou negar o nexus,o esse. O juízo surge da reflcxio.

 Nã o no s esqueça mos, po ré m, que na simplex apr ehe ns io , pr imei ra operaçã o do espíri to , há a captação da qui did adedos elementos do juízo, embora não necessariamente, pois

 ba st a a cap tação do esse . Con tudo, nã o se deve pens ar , com oo fazia Brentano, que o esse afirmado em todo juízo seja

244 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

actua l. O que é necessár io é a relação essencial da qiiidída-de a existência, pois é por essa relação que é ela ens, que énecessária.

Tudo quanto é, é necessariamente possível. Tudo quanto não contradiz o ser é necessariamente possível, como odemonstramos em Filosofia Concreta. Antes do homemexistir, o home m era necessari ament e possível. Dizer-se, antes do homem, que a natureza humana é racional, seria ver-

MÉT ODO S LÔGTCOK E DI AL 1ÍCTJ COS 24 5

Este termo vem de Brentano e é muito empregado modern amen te. Para Tomás de Aquino, a compos ição dos conceitos do sujeito e do predicado precede ao juízo, já se encontrando dados sensíveis. Julgar e não represent ar é o resultado de um retorno crítico sobre a representação com

 po sta. É esse que é rec onh eci do ou rej ei tado no juí zo."Nele, também o esse é a existência actual, o "actus mentis",mas — e eis o que separa a sua doutrina da de Brentano e oque previne as consequências fatais, — não é necessário que

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dadiro, embora não actual. A verdade pode anteceder aactualidade. O ser actual é necessariamente verdadeiro,mas o ser possível também o é, embora não actualmente existente. Logicamente, antes da actualidade, tais juízos eramverdadeiros, depois da actualização são actualmente verdadeiros. Essa distinção entre os juízos é import ante e permite compreender muitos matizes lógicos, sobretudo no cam po da nossa dia léc tica concreta (ju ízo s log icamente verd adeiros, juízos ontologicamente verdadeiros e juízos ôntica-mente verdadeiros).

Há verdades eternas, port anto. Esta passagem de To

más de Aquino é valiosa:

"Unde si nullus intellectus esset aeternus, nulla veritasesset aele rna. Sed quia solus intell ectus divinus est aeternus,  in ipso solo veritas aeternitat em habet. Nec propte rhoc sequitur quod aliquid aliud, sit aeternum quam Deus,quia veritas intellectus divini est ipse Deus, ut supra osten-sum est. (Portan to, se não houvesse um intelecto eterno,nenhu ma verdade seria eterna. Mas porqu e só o intelectodivino é eterno, só nele a verdade tem eternidade. Tambémdaí não se segue que qualquer outra coisa seja eterna senãoDeus, porque a verdade do intelecto divino é Deus, como sedemonstrou mais acima).

O termo usado modernamente pelos filósofos Sachve-rhalt significa a representação pura, mas composta, que antecede ao juízo, uma síntese característica de sujeito e predicado, como o serão no juízo que se construirá.

essa existência actual seja visada directa e apenasmente;o juízo pode também afirmar relações puramente essenciais,mas essa afirmação visa sempre, embora indirectamente, àexistência actual; ela reconhece sempre que essas relaçõessão "entia", "quibus competit esse"; sempre ela afirma a ob

 jecti vidad e do conteúdo da repr esen ta çã o" (Ho enen, op . cit. , pág. 79).

Se a doutrina lógica de Brentano levou a erros inevitáveis, a posição de Tomás de Aquino, no entanto, os evita e

 prev ine com anteced ênc ia as tentat ivas de reforma da Lógica, cujo malogro é decretado com antecedência, desde quese oponham às condições essenciais da maneira de visualizar o juízo, como o faz o grande aquinatense.

A Sachve rhalt é uma tra duç ão d o dispo sitio rei, que corresponde à composição entre o sujeito e o predicado da pr opos ição . A a firma ção ou a neg ação da confo rmi dade da"dispositio rei", como ela é na coisa e na representação in-telectiva, eis o juízo.

 Na propos ição , o sujeit o é to mado mate rial ment e e o pr ed icado, forma lmente (sub jectum te ne tu r mate rial it er ,

 pr ae di ca tu m te ne tu r fo rmal it er ). Tal qu er dizer que o pre dicado é comp arad o ao sujeito como a forma ã maté ria. Se pa ra do s, po rém, sujeito e pr edicado, têm ambo s um sent idoformal, mas no juízo são eles tomados desse modo, ou sejasupondo-os de tal modo, sem que se queira afirmar que realmente o sujeito é material e o predicado apenas formal.

246 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

A nota da predicação é dada pela cópula é, que afirmaou a identidade material das coisas representadas pelo su

 je ito e pel o pr ed icado; ou afi rma a re lação de forma a mat éria, que a ratio do predicado tem para a ratio do sujeito, ouafirma o esse desta relação, que é a sua função principal.

Deve-se notar, porém, que o predicado toma-se formalmente, sem dúvida, mas se é êle composto de um complemento directo, o termo que designa esse complemento tem uma

MJ5TODOS LÓGICOS E DIALÉCTICOS 247

çâo,  conexão, pôr-se em relação activa ou ter relação ao passivo, sempre no sentido de applicatio e nunca de comparação.

 Nos so int electo conhece o inte ligível e intelege o seu pr óp ri o inteligir . O mesmo já nã o se dá com os sen tidos quenão sentem que sentem, não vemos que vemos, mas apenasvemos. No juízo há, o que é imp orta nte sal ientar, um sa

 be r com ou tr o sab er, um a con sciênc ia, um a ciência com

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função materi al, assim como o sujeito. Mas há casos em queo predicado é tomado materialmente, como se vê nas pro pos ições pe r se, que são aquelas em que a forma do sujeitocomporta necessariamente a forma do predicado, como sevê nas predicaçõ es das ciências demonstr ativ as. Se a causaque liga um predicado ao sujeito está no próprio sujeito, estamos num juízo per se, que é aplicado na demonstração.

 Nada há de tã o conti ngent e que nã o contenha alg umacoisa de necessá rio. Tomás de Aquino diz na S. Th. I q.80a.3:  .. .n ih il enim est adeo contingens, quin in se necessa-rium habeat," (nada é pois tão contingente que não tenha em

si algo nece ssári o). E exemplifica: Sócrat es correr, em sié contingente, mas à habitudo do correr é necessário o movimento, portanto é necessário que Sócrates se mova para correr. Verifica-se que não há conexão necessária en tre o su

 je ito e o pred icado, ma s há um a in te rna ao pred icado.

Alguns filósofos têm afirmado que a reflexão filosóficados escolásticos reduz-se ao seguinte: uma comparação doconteúdo da apreensão com a coisa, e por essa comparação,a conformidade com a coisa seria reconhecida, e assim resultari a o juízo : ita est ia re, ou ita non est in re. Hoenen, n aob .  cit., pág. 170, mostra-nos que essa tolice não é dos esco

lástic os. Pode ter sido exposta por algum filósofo m enor,não, porém , pelos luminare s da escolástica. O term o com- pa ra ti o nã o significa comparação na ace pção que to ma essetermo, mas apenas applicationem ad rem, aplica-se a representação à coisa, um pôr-se em relação, como se prova através de inú meros textos de Tomás de Aquino. Indic a rela-

Ora, essa função intelectiva é outra que a puramente -sensitiva, e como acções diversas (formalmente diversas) im pl ica m agentes div ersos, o agente da int elecção é dist intodo agente da sensação, o que tem servido de prova a favordo princípio espiritual da inteligência humana.

O intelligire antecede a inteligência; esta é conhecida pelos seu s actos habi tu ai s. O juí zo real iza-se pela reflexãoda inteligência sobre a sua apreens ão. A inteligência desco

 br e a verdade dessa apreen são. A inteligência , na verdade,é inseparavelmente ligada à natureza do seu acto e esta só

 pode ser con hec ida qu ando esse conheci men to acar re ta o da

intligência. São, porta nto, simultâneas; uma não antecedeà outra.

Só o necessári o é inteligível. O conting ente por si mesmo é ininteligível, e só se torna inteligível quando inclui umarelação necessár ia. É preci sament e nesse caso que a especulação sobre o contingente permite alcançar juízos apodí-ticos. Por desconhecer esse aspecto   é   que Kant chegou àsconclusões que apresentou em sua Crítica da Razão Pura emdesabono da metafísica.

Segundo Tomás de Aquino, a primeira operação do es

 pí ri to visa à qúididade (composta ou nã o) , a segunda visaao esse. A qúidida de, que é inteligível, é ens et vera. Oesse se desvela a uma "habitudo necessária" da "natura abso-lute spectata" (da natureza absolutamente visualizada); é aesta que "competit esse" (à qual compete o ser); para o es

 pí ri to hu mano essa na tu reza absolu ta tem, com a realização

24S MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

singular, a prio ridad e. A função formal da "rati o subj ecti"Cda razão do sujeito) caracteriza a proposição per se (aquela em que o predicado pertence materialmente ao sujeito);a necessidade do nexus formal, com sua inteligibilidade, noSachverhalt que não se firma tem apenas um nexus material, pelo menos um nexus que não é reconhecido como formal, e finalmente a coincidência do nexus formal e da inteligibilidade com a "abs trac ção formal" . Este é, em suma, oroteiro do juízo em Tomás de Aquino, segundo Hoenen.

MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS 249

 jecto dos sent idos . A pr óp ri a verda de é um obj ect o material. Não é um phan tas ma que é a represent ação da ve-rit as ipsa. Mas é verda de que se impõe uma conver são ao

 ph an ta sma. É pre ciso pô-lo em rel açã o com os corpo s sensíveis para que captemos a veritas ipsa ou o intellecíus ipse.

Estabeleceu Aristóteles, quanto ao conhecimento, trêsteses:

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j q , g

 Não é algo ve rda de apenas po rque os sent idos no s apr esentam desse modo, mas porque a inteligência vê a necessidade do laço. Depende, assim, o espíri to human o dos sentidos apenas para a recepção da representação. A contri

 bu ição dos sen tidos é neces sária no que não é pos sível sa be r sem o seu te st emun ho. Os sent idos dispõ em dos da do ssensíveis, não da inteligibilidade que está virtualmente nainteligência, embo ra fundado s nos factos. Nas matemáticas,  por exemplo, em certos campos, a inteligência pode prescindir dos sentidos, como prescinde deles em matéria metafísica.

O que distingue a posição de Tomás de Aquino da deKant é a seguinte diferença: o primeiro encontra o esse somente na e após a inteligência das relações essenciais, encontra o esse na "quididade", enquanto Kant está convencido de antemão do esse da coisa em si, mas nada sabe de suaquididade e, por isso, nada mais encontra de sua quididade.É o que se verifica na matemática.

Sem o phantasma é impossível ao nosso espírito intelli-gire.  É uma tese escolástica universa lmente aceita. Contudo, há uma excepção, porque a tese de nihil est in intelectu

quod nos prius fuerit in sensu refere-se apenas às coisas materiais, pois ipse intellectus intelligit se per actum suum, quinon est sensui subject um. Se realm ente nada há no intelectu que não tenha estado primeiramente nos sentidos, refere-se às coisas sensíveis, mate riai s. Contud o, o intelecto pode inteligir a si mesmo por seu próprio acto, que não é ob-

1) uma coisa é inteligível não qua ndo e m potência,mas em acto;

2) nó|s só conhecemos os actos das faculdades do nosso espírito por seus objectos e as faculdades apenas

 pelos seus ac tos;

3) e assim como os inteligíveis, o intelecto intelligit asi mesmo.

A inteligibilidade do ser é proporcionada ao intelecto.Como todo ser é inteligível, enquanto ser é inteligível pelonosso intelecto, apesar de suas naturais limitações, o que é

o fundamento do princípio de evidência.

O inteligível é ser, o ser é inteligível, eis o princípio deinteligibilidade.

Contudo, esse princípio nem sempre foi bem aplicado.Parmênides, que foi o primeiro a enunciá-lo, não pôde aplicá-lo ao devir, como Heracli to não o pôde aplicar ao ser. Adificuldade foi facilmente resolvida por Aristóteles ao tornar inteligível a heterogeneidade e o devir, pela sua teoriada analogia do ser, e a variabilidade da composição do ser

 pela descobert a do dynamei on, do ser poten cia l, da potên

cia real subjectiva. Demócrit o não pôde aplicá-lo pa ra ex pl icar as qual idades chamad as secundár ias e pòs-se a negá--las par a salvar o princí pio de inteligibilid ade. A soluçã ode Demócrito teve seu renascimento em Descartes e Leibnitz.A solução estava na descoberta da intensidade, pois as qualidades secundárias são precisamente as intensivas, que não

250 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

 podiam expl icar-se pel a con cep ção extensi sta dominante entre aqueles filósofos. Não se podia reduzi r as qualidadessecundárias a meros movimentos irregulares e vibrações,

 po rque além disso eles têm um aspec to impo rtan te , que sãoos factores intens ivos. Tomás de Aquino estabeleceu a realidade das quantidades puramente intensivas que não sãogeométricas, e pôde abrir as portas da Filosofia para asmais sérias explicações em favor da ciência moderna.

MÊTODOS LÓGICOS E DIALÉCT ICOS " 25 1

 po nd er ta mb ém à pe rgun ta de Hu me, que ta nt as vezes te msido repetida por filósofos modernos: como uma coisa pode

 pr ov ar   a  existência de outra ? A resposta pode ser dada poroutras vias que não apenas pelo princípio de inteligibilidade.

O  judicium  sensus (o juízo dos sentidos) não é um verdadei ro juízo. O juízo relaciona-se ao esse, enqu ant o  a

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Outra dificuldade surgiu na concepção do extenso queimplicava o conti nuum. O princí pio de inteligibili dade parecia não poder aplicar-se aqui e houve um movimento para negar não só o  continuum  mas a própri a extensão. Noentanto, a teoria do ser potencial de Aristóteles já havia resolvido esse problema que tantos filósofos desconheciam eentre eles Kant que, modernamente, retornou com uma velha antinomia já devidamente solucionada, um pseudo-pro-

 blema (Vide nossa "As Três Crí tic as de Ka nt ") .

Fundados nas incertezas de Heisenberg, na "relação deinexactidão", que afirma, pela teoria da relatividade, que a

coincidência temporal de dois acontecimentos distantes umdo outro não pode ser medida exactamente, permitiu aosneo-positívistas uma falsa aplicação do princípio de inteligi

 bi lidade. Tud o qu an to nã o é men surável é inintel igível , afirmam. Consequentemente, há coisas quantitativas que não

 po de m ser conhe cid as intelectualmente . Neste cas o, nã o sãoelas seres, porq ue são ininteligíveis. Esse argu ment o nãoconsidera senão uma deficiência da experimentação humana, e não a inteligibilidade das coisas, mas em todo casoserve suficientemente para mostrar em que estado está o

 pensamento hu mano .

Para que o movimento seja inteligível, é mister umaoutra coisa que o móvel, que  é   a sua causa activa. Por isso,o princípio de causalidade decorre do princípio de inteligi

 bi lid ade:  omne quod movetur ab alio movetur  (o que se move,  por outro é movido). Hoenen chama a atenção que éab alio e  nã o  ab aliquo  (de alguma coisa), o que vem res-

apr een são relaciona-se à qíiidida de. O que é pró pri o do juízo é o it a est ao rec onhecer a  ratio  entis (a razão do ser).Ora, os sentidos não nos dão a   razão do  ser, a  intentio entis.