“marido que bate-bate, marido que jÁ bateu” … · apesar de a própria lei maria da penha, no...

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X “MARIDO QUE BATE-BATE, MARIDO QUE JÁ BATEU”: PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO À MULHER ACERCA DO TRABALHO SOCIOEDUCATIVO COM OS AUTORES DE VIOLÊNCIA Gutierrez Alves Lôbo 1 Jacykelly Renata França Oliveira 2 Márcia Swênia Brito da Silva 3 Resumo: A violência contra a mulher é um fenômeno multifacetado, permeado por diversas determinações socioculturais. Existe um conjunto de esforços que busca enfrentá-la, como a rede de proteção às vítimas em situação de violência. No entanto, há uma carência de políticas públicas e trabalhos acadêmicos voltados aos homens agressores. O referido estudo tem como objetivo analisar a percepção dos profissionais dessa rede sobre a importância do trabalho socioeducativo com os agressores no município de Campina Grande - Paraíba. A pesquisa foi realizada em três instituições, a saber: Delegacia de Defesa da Mulher, Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes e Centro de Referência Especializado de Assistência Social CREAS. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi à entrevista semi-estruturada, em que as questões foram elaboradas conforme o problema da pesquisa. A partir da análise dos dados, constatamos que o trabalho com esses homens autores de violência pode ser uma importante estratégia de enfrentamento dessa problemática, como forma de fazer esses agressores repensarem esse padrão de sociabilidade machista. Assim como, percebemos que a efetivação de ações direcionadas ao trabalho socioeducativo com os agressores ainda é um grande desafio a ser superado. Palavras-chave: Violência. Cultura. Agressores. Rede. Introdução A temática violência, nas suas múltiplas formas de manifestação faz parte do cotidiano da sociedade. Dentre essas expressões encontra-se a que incide contra a mulher no cenário doméstico e familiar, em que, na maioria das vezes o sujeito agressor é alguém que convive ou conviveu com a mulher vítima 4 . Apesar do amplo debate e das diversas estratégias de enfrentamento dessa problemática, as estatísticas de violência são cada vez mais crescentes, ou seja, os homens continuam agredindo e assassinando suas companheiras, muitas vezes, com requintes de crueldade. 1 Graduado em Serviço Social pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio - Unileão. Pós-graduado em Direito das Famílias pela Universidade Regional do Cariri URCA. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e Relações de Poder. Contato: [email protected] 2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB. Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e Relações de Poder. Contato: [email protected] 3 Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba UFPB. Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e Relações de Poder. Contato: [email protected] 4 Para análise mais aprofundada acerca do conceito de vitimização feminina nas relações de violência ver Osterne (2011).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

“MARIDO QUE BATE-BATE, MARIDO QUE JÁ BATEU”: PERCEPÇÕES DOS

PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO À MULHER ACERCA DO TRABALHO

SOCIOEDUCATIVO COM OS AUTORES DE VIOLÊNCIA

Gutierrez Alves Lôbo1

Jacykelly Renata França Oliveira2

Márcia Swênia Brito da Silva3

Resumo: A violência contra a mulher é um fenômeno multifacetado, permeado por diversas

determinações socioculturais. Existe um conjunto de esforços que busca enfrentá-la, como a rede de

proteção às vítimas em situação de violência. No entanto, há uma carência de políticas públicas e

trabalhos acadêmicos voltados aos homens agressores. O referido estudo tem como objetivo

analisar a percepção dos profissionais dessa rede sobre a importância do trabalho socioeducativo

com os agressores no município de Campina Grande - Paraíba. A pesquisa foi realizada em três

instituições, a saber: Delegacia de Defesa da Mulher, Centro Estadual de Referência da Mulher

Fátima Lopes e Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS. O instrumento

utilizado para a coleta de dados foi à entrevista semi-estruturada, em que as questões foram

elaboradas conforme o problema da pesquisa. A partir da análise dos dados, constatamos que o

trabalho com esses homens autores de violência pode ser uma importante estratégia de

enfrentamento dessa problemática, como forma de fazer esses agressores repensarem esse padrão de

sociabilidade machista. Assim como, percebemos que a efetivação de ações direcionadas ao

trabalho socioeducativo com os agressores ainda é um grande desafio a ser superado.

Palavras-chave: Violência. Cultura. Agressores. Rede.

Introdução

A temática violência, nas suas múltiplas formas de manifestação faz parte do cotidiano da

sociedade. Dentre essas expressões encontra-se a que incide contra a mulher no cenário doméstico e

familiar, em que, na maioria das vezes o sujeito agressor é alguém que convive ou conviveu com a

mulher vítima4. Apesar do amplo debate e das diversas estratégias de enfrentamento dessa

problemática, as estatísticas de violência são cada vez mais crescentes, ou seja, os homens

continuam agredindo e assassinando suas companheiras, muitas vezes, com requintes de crueldade.

1 Graduado em Serviço Social pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio - Unileão. Pós-graduado em Direito das

Famílias pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social

pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e Relações de Poder. Contato:

[email protected] 2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Mestranda do Programa de Pós-

Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e

Relações de Poder. Contato: [email protected] 3 Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Mestranda do Programa de Pós-

Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e

Relações de Poder. Contato: [email protected] 4 Para análise mais aprofundada acerca do conceito de vitimização feminina nas relações de violência ver Osterne

(2011).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Acredita-se que 40% das mortes de mulheres no mundo foram cometidas por homens, em

relações de grau íntimo de afeto. Porém, no que concerne a morte de homens, essa realidade se

modifica, pois apenas 6% deles foram assassinados por parceiras ou ex-parceiras em relações

afetivo-familiares íntimas. Desse modo, pode-se constatar que o número de mulheres mortas por

parceiros em relações íntimas é 6,6 vezes maior do que o número de homens mortos por mulheres

(IPEA, 2013).

Os dados alarmantes aqui apresentados demonstram a magnitude do fenômeno e, por isso, a

relevância social do referido estudo. Apesar disso, não se pode afirmar que a violência faça parte da

identidade masculina, ou seja, nem todo homem nasce ou é violento. Portanto, é preciso que seja

compreendido os aspectos motivadores dessa violência, os padrões de sociabilidade atribuídos ao

masculino e ao feminino, bem como, questionar se a criminalização do agressor como única e

principal ferramenta de trato a esses homens autores de violência por si só resolve plenamente a

problemática da violência contra a mulher.

Existe uma gama de serviços que integram uma rede de proteção em âmbito nacional à

mulher em situação de violência. No entanto, as iniciativas de trabalho com os agressores, inclusive

as pesquisas acadêmicas sobre esses sujeitos ainda são bastante incipientes. Apesar de a própria Lei

Maria da Penha, no seu artigo 35º preconizar a inserção de homens em centros de educação e

reabilitação de agressores. Sem ter a pretensão de esgotar a temática, a pesquisa em tela se coloca

como mais uma contribuição teórica sobre esse assunto.

Dessa forma, o estudo tem como questão central analisar a percepção dos profissionais dessa

rede acerca do trabalho socioeducativo com o sujeito autor de violência como estratégia de

enfrentamento dessa problemática, a partir de três equipamentos supracitados, Delegacia de Defesa

da Mulher (DEAM), Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes e Centro de

Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

A pesquisa encontra-se estruturada em duas etapas, a saber: na primeira, será problematizada

como a masculinidade hegemônica é estruturada e (re) alimentada pelo patriarcado, que coloca as

mulheres como objeto e propriedade privada dos homens, construindo sócio culturalmente esses

homens agressores. E, na segunda etapa, serão detalhados os procedimentos metodológicos e os

dados da pesquisa serão analisados após sua aplicação.

Ele não sabe porque está batendo, mas ela sabe porque está apanhando: ser homem na

prevalência do masculino

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Como já foi dito anteriormente a violência não faz parte da identidade masculina, ou seja,

nem todo homem é agressor, não se nasce agressor. No entanto, os elementos da sociabilidade

masculina exigem durante todo o desenvolvimento do homem um conjunto de ações e práticas

concebidas como normais de machos. Dentre essas ferramentas está o recuso de toda e qualquer

expressão de feminilidade, pois isso reflete ser menos homem. Bem como, o exercício de força,

virilidade e, se for preciso, uso da violência.

Dessa forma, a objetificação da mulher não é um dado recente, típico da contemporaneidade.

Pelo contrário, traduz a história de subordinação a que estiveram submetidas aos homens ao longo

da narrativa das sociedades. Paralelamente, a separação entre as esferas públicas e privadas, como

expressão dessa desigualdade de gênero. Aos homens, é atribuída a racionalidade, o poder de

mando e vida sobre as mulheres, a atuação política e o livre acesso e trânsito pelos espaços

públicos. As mulheres o coração, os sentimentos e o exercício da procriação e dom da maternidade

(OSTERNE, 2011).

Nessa construção desigual dos gêneros, pensados numa lógica binária e relacional nesse

momento, a violência ganha espaço. As instituições sociais exigem e esperam de homens e

mulheres comportamentos que estejam nessa lógica. A “transgressão” desse paradigma seja para

um ou para o outro gênero, é justificável de “corretivo”. Vale salientar, inclusive, que a noção de

ser homem e ser mulher vem sendo amplamente problematizada nas últimas décadas, tendo em

vista a não identificação e migração de vários indivíduos de um gênero para o outro.

Ainda segundo Osterne (2011), os homens estão imersos e passíveis de violência em

diferentes espaços e instituições. Vale dizer que esse sistema de poder que proporciona ao homem o

exercício de práticas violentas e de ser agressor em nome do pleno exercício dos seus direitos de

homem e para a manutenção da prevalência do masculino é o mesmo sistema que o expõe a

situações de vulnerabilidade.

A autora ainda denuncia que a violência não é algo natural, apesar de sê-la concebida dessa

forma na maioria das vezes. Suas bases estruturam-se na cultura e na história da sociedade

patriarcal. O patriarcado sendo aqui pensado como um modelo organicamente articulado que (re)

produz as mulheres como objetos para que atendam os desejos e necessidades dos homens.

Segundo Saffioti (2004), na ordem patriarcal de gênero, o poder é, portanto,

primordialmente macho, branco, rico e heterossexual. Observamos a partir dessa constatação que se

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cria e supervaloriza-se um modelo de masculinidade, atribuindo poder aos homens que se

encontram nesses elementos citados, sobre tudo e todos aqueles que estão ao seu redor.

Essa naturalização da violência ancorada na cultura machista e patriarcal é um dos principais

desafios no enfrentamento do fenômeno em tela. Os homens são educados a dominar, determinar

território e posse sobre a vida, corpo e comportamentos das mulheres.

De acordo com Oliveira e Gomes (2011), várias são as alegações dos homens quando fazem

uso da violência, a saber: ciúme ou infidelidade; dificuldade financeira por parte do homem;

dependência química; desemprego; incompreensão; recusa sexual; desobediência da mulher;

confronto diante da sua autoridade; medo de perder o controle sobre a mulher; dificuldade de

dialogar, dentre outros aspectos.

Como se pode observar essa é uma problemática complexa e bastante desafiadora a ser

enfrentada, seja pelos organismos de governo, pela sociedade ou pela academia.

Procedimentos metodológicos e análise dos dados da pesquisa

A presente pesquisa desenvolveu-se de forma qualitativa, buscando a aquisição de dados

descritivos através do contato direto e dinâmico com os sujeitos integrantes do estudo, bem como,

através da revisão bibliográfica em alguns trabalhos e pesquisas acadêmicas sobre a temática. Dessa

forma, buscamos analisar a percepção dos profissionais da rede de proteção à mulher acerca da

importância do trabalho socioeducativo com os autores de violência. Bem como, possui um amplo

referencial teórico acerca da temática em análise.

Foi utilizada a entrevista semiestruturada e individual com perguntas abertas como

instrumento para a coleta dos dados, que nos proporciona discorrer acerca do referido problema de

pesquisa.

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações

a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É

um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no

diagnóstico ou no tratamento de algum problema social (MARCONI; LAKATOS, 2005, p

197).

Nesse sentido pode-se dizer então que a entrevista proporciona a interlocução direta entre

dois sujeitos, na perspectiva de proporcionar ao entrevistador obter informações necessárias acerca

do objeto ou fenômeno estudado, através de um processo verbal e dialógico entre ambos.

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A pesquisa foi aplicada Delegacia de Defesa da Mulher, Centro Estadual de Referência da

Mulher Fátima Lopes e Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS da

cidade de Campina Grande, Paraíba.

Os sujeitos que integram o presente estudo são os profissionais que atuam nesses

equipamentos, a saber: especificamente um (a) Assistente Social e um (a) psicólogo do CREAS, (o)

a coordenadora do Centro de Referência e a delegada da DDM.

A escolha por tais sujeitos se deu tendo em vista que, ao atuarem nos equipamentos da rede

de proteção e, sobretudo, por lidarem com o fenômeno da violência doméstica e familiar contra a

mulher nos seus espaços de atuação, possuem uma leitura acerca do trabalho com esses homens

autores de violência.

Foi utilizado o processo de escrita por parte dos pesquisadores, ao passo que os sujeitos

participantes do estudo respondiam os questionamentos feitos, sendo que eles foram previamente

informados que a pesquisa transcorreria dessa forma.

Nesse momento analisaremos as falas das entrevistas após sua aplicação. Vale salientar que

o nome dos entrevistados não será revelado, sendo eles identificados como Entrevistados 1, 2, 3, 4.

Inicialmente, foi perguntado o entendimento dos profissionais acerca da rede de proteção e

combate à mulher em situação de violência, em que tivemos os seguintes resultados:

A rede ainda não está tão fortalecida, por exemplo, cada um trabalha isoladamente, no seu

lugar, o CREAS trabalha com as mulheres vítimas de violência naquele espaço e só. Eu

acho que ainda falta a interação entre esses órgãos que trabalham com essas mulheres

vítimas de violência e, assim, fortalecer essa rede de combate, acho que ainda está todo

mundo trabalhando no seu canto e pouco se comunicam. As mulheres que passam por aqui

não passam em outro lugar e da mesma forma acontece em outros serviços. Isso acaba por

fragilizar essa rede de atendimento. Há outro motivo ainda mais grave, em muitos

municípios menores aqui da Paraíba, as pessoas desconhecem a própria lei, há casos em

que o B.O. não é feito com a justificativa de que é preciso uma testemunha, como se a

mulher vítima fosse insuficiente, e alguém precisasse comprovar a situação. Então, tudo

isso, fragiliza essa rede (Entrevistado 2).

Esse trabalho da rede é extremamente importante. Nem um órgão de enfrentamento à

violência contra a mulher vai conseguir êxito trabalhando isoladamente. Cada um tem um

papel fundamental nesse enfrentamento, então todos os órgãos, todos os segmentos tem um

papel nessa batalha de diminuição da violência contra as mulheres. O poder judiciário, o

Ministério Público, delegacias, toda a parte de assistência social, os Centros de Referência,

psicologia, saúde, educação. Tudo isso tem que está trabalhando realmente de forma

sintonizada para que a gente consiga algum resultado. Então em minha opinião é de

fundamental importância o funcionamento da rede de forma bem sintonizada (Entrevistado

3).

Em relação à Campina Grande, a rede ainda é bem restrita e fechada, o primeiro indício é a

Delegacia da Mulher, que tem uma resistência enorme diretamente com elas, as principais

atingidas com a violência. Enquanto rede de média e alta complexidade, a gente atende essa

demanda só após ocorrer, depois de a mulher ter feito o boletim na Delegacia e isso acaba

sendo a grande resistência, por inúmeros fatores, seja dependência econômica, emocional e

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até a situação de vulnerabilidade em que elas se encontram. Antes de chegar na esfera

judicial, aqui em Campina, nós temos os CREAS, os Centros de Referência e a Delegacia

se respaldando e isso é insuficiente diante da grande demanda que nós temos. No nosso

caso é complicado, porque a gente precisa que a mulher tenha feito esse registro legal na

delegacia para que seja acompanhada pelo serviço e a maioria das mulheres não quer fazer,

ainda há uma resistência (Entrevistado 1).

Compreendo como Rede de Atendimento e Enfrentamento a violência Contra Mulheres,

como um sistema capaz de qualificar e organizar pessoas e instituições de forma

democrática e igualitária, em torno de valores e objetivos em comum. Na mesma, cada

integrante mantém sua permanência de forma independente, ninguém é obrigado a entrar ou

permanecer, mas compreendo que este é um espaço de extrema relevância no tocante ao

comprometimento dos serviços para a cooperação entre os integrantes que a compõem,

visando um atendimento humanizado, sigiloso e acima de tudo, buscando resolutividade e

agilidade com relação à responsabilização dos agressores. A Rede possui sistema de

reuniões mensais e íntegra secretarias e serviços nos mais variados seguimentos, seja na

educação, saúde, assistência social, segurança pública, órgãos de políticas para as mulheres,

Defensoria, Conselho da mulher, PM, MP e outros (Entrevistado 4)

Percebemos que os entrevistados atribuem à rede um caráter de articulação entre diversos

equipamentos, de forma que preste atendimento humanizado e democrático aos usuários, sobretudo

as mulheres em situação de violência. Ao mesmo tempo, compreendem que há uma fragilidade dos

serviços existentes e apontam desafios para que esse trabalho ocorra de forma efetiva.

De acordo com a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (2011), o

conceito de rede de proteção é bastante amplo. Porém, acredita-se que seja a atuação integrada de

diversos serviços de ordem governamental, não governamental, bem como, da participação da

comunidade. Tendo como finalidade o atendimento, identificação e encaminhamento das mulheres

em situação de violência aos diversos serviços, nas esferas da saúde, assistência social, segurança

pública, educação, cultura, dentre outras. Cabe frisar que a rede surge como uma estratégia de

superar o isolamento e desarticulação entre esses serviços, tendo em vista que uma atuação isolada

compromete o atendimento e garantia dos direitos das mulheres em situação de violência.

Em seguida, buscamos compreender qual a percepção que os profissionais possuem acerca

dos homens autores de violência.

A gente tem que ter uma percepção bem ampla, bem vasta em relação a esses homens.

Existe um percentual de homens que já sofreram violência e repetem o que viveram, mas

também, eu acredito que um dos fatores que mais influenciam esses homens a serem

autores de violência é a questão da informação, geralmente a escolaridade deles é muito

baixa, pelo menos os que eu atendi até agora, são pessoas que não tiveram acesso a uma

educação formal. Então, eles se investem da própria cultura machista e tratam as mulheres

como objetos deles e vão reproduzindo isso a cada dia e até pouco tempo não existia uma

punição, muitas vezes, os pais causaram violência às mães deles e eles presenciaram e

como não aconteceu nada com esse pai, daí quando eles casam ou tem as suas

companheiras eles repetem e acham que nunca vão ser punidos. Então tem essa questão do

machismo, da falta de informação, da educação que já teve desde pequeno, são vários

fatores que a gente pode perceber nesses homens que são autores de violência (Entrevistado

4).

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Antes de eu começar a trabalhar no CREAS, que está ligado diretamente a violência de

todos os tipos, eu achava que era só o pobre, o analfabeto ou semianalfabeto, mas não. São

homens de todas as áreas, infelizmente, de todas as escolaridades. Os homens ainda estão

naquela cultura de quando casam e até na convivência mesmo, de que tem um documento

de posse sobre a mulher. O que mais me impacta é isso, os perfis são os mais variados tanto

de um empregado de uma empresa a um professor com doutorado da UFPB a gente já

pegou aqui. A percepção que eu tenho é que hoje a cultura do machismo devido ainda ser

impregnada acaba desencadeando a violência, mas tem muitos fatores, às vezes, eles

possuem distúrbios emocionais, mas essa relação de posse e domínio sobre a mulher é o

que mais agrava. Já aconteceu de pegarmos caso aqui de casais já separados, mas que a

violência ainda ocorre. Então são vários os perfis, já não é mais a classe C como a gente

diria em outros tempos, é muito variado tanto pela escolaridade, classe social e a cultura

impregnada ainda é essa (Entrevistado 2).

Na minha percepção os agressores são criminosos em potencial, não os vejo como doentes

mentais, como muitas vezes ouço comentários. Compreendo também a dificuldade das

mulheres em situação de violência doméstica e familiar em não romper o ciclo, por todo

processo cultural, machista e patriarcal ao qual fomos inseridas/os uma vida inteira, muitos

são os fatores que as fazem permanecer no ciclo, filhos, família, dependência emocional,

dependência financeira, o julgamento dos vizinhos e tantos outros que consideramos

importantes serem analisados. Essa violência é gradativa, é muito difícil um agressor deixar

de ser violento, ele pode mudar por um tempo, mas logo em seguida volta a agredir

(Entrevistado 1).

Pela nossa vivência e o que a gente percebe aqui na Delegacia, o principal motivador dessa

violência é o resquício, o comportamento machista. Por trás de tudo isso está o

comportamento machista, dominador, controlador. Associa a isso, algumas situações de

dependências de álcool ou drogas, que potencializa a agressividade e os casos concretos.

Mas, o que eu acredito é isso que a grande motivação dessa violência é exatamente essa

cultura machista que a gente ainda tem que desconstruir (Entrevistado 3).

De acordo com as falas, o agressor é oriundo da cultura machista e desse padrão de

sociabilidade que naturaliza a prática da violência, sobretudo contra as mulheres. Ao mesmo tempo,

não se pode desconsiderar que vários fatores precipitantes, conforme foi citado, como uso de álcool

e outras drogas e a reprodução da violência que assistiram ao longo da sua história de vida,

favorecem para a perpetração dessa dominação do homem sobre a mulher.

De acordo com Amorim (2007), ao tratar das agressões de homens contra as mulheres, elas

incidem em todas as classes sociais, nas diversas faixas etárias e com pessoas dos mais variados

níveis de escolaridade. Dessa forma, o autor pontua que o enfrentamento efetivo dessa problemática

perpassa pelo trabalho socioeducativo com esses homens autores de violência.

Conforme denuncia Lisboa (2010), a grande maioria dos agressores não admite e/ou se

reconhecem como tal, naturalizando e culpabilizando a mulher pelo uso da violência, afirmando que

o comportamento provocativo das mulheres permitiu uma atitude corretiva.

Em seguida, perguntamos a opinião dos participantes do estudo acerca dos motivos pelos

quais os homens os homens continuam agredindo e matando suas companheiras mesmo com todo

avanço da legislação.

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Ainda existe a ideia do sentimento de posse, os homens muitas vezes consideram as

mulheres como propriedade, se não for minha não será de mais ninguém e quando essas

decidem mudar de vida, deixarem seus companheiros por não suportarem mais serem

humilhadas, maltratadas, ofensas e agressões físicas, os ex-companheiros não admitem e

cometem esse crime tão bárbaro que é o Feminicídio (Entrevistado 2).

A gente tem a legislação avançadíssima mundialmente reconhecida entre as melhores, que é

a Lei Maria da Penha pra esse enfrentamento e ela de fato tem ferramentas para isso e as

políticas públicas também tem avançado muito. A legislação ela prevê uma punição mais

rigorosa para o agressor, esse é o trabalho que a delegacia vai fazer, juntamente com o

Ministério Público e o poder judiciário. O trabalho dele ser responsabilizado criminalmente

pelo delito que ele cometeu contra a mulher, só que apenas isso não vai resolver o

problema, ele precisa de um programa de reeducação, afinal a nossa grande batalha é

desconstruir a cultura machista. Então se a gente trabalha isoladamente nós não vamos

obter o resultado que a gente está buscando ainda, tem que cada um realmente investir nas

diversas áreas pra a gente conseguir desconstruir isso aí (Entrevistado 1).

Acredito que na maioria dos casos, a vítima tem uma grande dependência em relação ao

agressor, seja dependência financeira, emocional, ou até mesmo quando não tem pessoas

próximas que possam ajudá-la a sair da situação de violência. Dentro dessa circunstancia e

por falta de oportunidades, a vítima acaba se tornando vulnerável, ao ponto de está sempre

próxima do agressor (Entrevistado 4).

O sentimento de poder sobre a mulher ainda é muito grande. Os homens e apropriam do

corpo e da vida das mulheres, acham que são seus donos e se não forem deles, não será de

mais ninguém. De tanto verem e ouvirem acabaram naturalizando o machismo, é aqui que

reside a grande problemática (Entrevistado 3).

Analisando as falas, podemos constatar que o machismo acaba sendo um elemento

naturalizador e, portanto, potencializador da violência. Ao colocar o homem como sujeito e a

mulher como objeto, o poder de mando e posse impera na relação. A dependência da mulher,

sobretudo, econômica e emocional é outro elemento fundamental a ser ressaltado e coloca a

necessidade e desafio de uma boa assistência da rede a essas mulheres.

De acordo com Osterne (2011), a violência não faz parte da identidade masculina, ou seja,

nem todo homem é violento. Dessa forma, se faz necessário compreender os padrões de

sociabilidade masculino e feminino para que se analise a violência dos homens contra as mulheres a

partir do recorte de gênero.

Ainda segundo a autora, o patriarcado é um sistema domesticamente organizado que

naturaliza a opressão dos homens contra as mulheres, tornando-as objeto de desejo e satisfação

sexual e reprodutoras de herdeiros. Paralelamente, o machismo é uma tendência à naturalização

desses privilégios masculinos, mantendo a subordinação feminina. Trata-se de uma formulação

social quase naturalizada na dimensão cultural da sociabilidade brasileira.

Foi indagado ainda se na percepção dos profissionais da rede o trabalho socioeducativo com

os agressores pode contribuir no enfrentamento à violência contra a mulher.

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Considero o trabalho educativo como uma das ferramentas mais importantes no processo de

enfrentamento à violência contra as mulheres, mas claro que se iniciado desde as series

iniciais e dos primeiros anos de vida de um ser humano, seja homem, ou mulher. Não

acredito que agressores mudem de comportamento na fase adulta, eles podem deixar de

cometer a violência por um tempo por terem sido responsabilizados por algum crime

(Entrevistado 2).

É uma das minhas inquietações com relação ao trabalho em Rede, precisamos disseminar a

ideia de que instituições seja de ensino, precisam dialogar sobre a cultura do machismo,

gênero, racismo, homofobia, lesbofobia e tantas outras temáticas desde a educação infantil,

são vários os comportamentos analisados por nossa equipe ao fazermos palestras nas

escolas e um desses comportamentos é a reprodução do MACHISMO que veem em casa,

compreendo que esse comportamento não sendo trabalhado, esse que é menor hoje, amanhã

pode ser um futuro agressor. Nesse sentido, a escola tem esse papel, não apenas educativo,

mas também social, de buscar desnaturalizar o que foram ensinados desde pequenos como

“correto” e isso não cabe apenas às instituições de ensino (Entrevistado 4).

Com certeza é fundamental. A vítima e os filhos precisam de todo apoio psicológico,

assistencial, quando ela chega aqui a gente sabe da importância de todo esse suporte. Só

que o agressor também precisa, então ele tá com um comportamento reprovável que está

trazendo um sofrimento enorme para a família inteira. Então ele precisa sim desse trabalho

socioeducativo para desconstruir isso aí e enfrentar essa cultura machista. Então, ele tem

que passar sim por esse trabalho socioeducativo (Entrevistado 3).

Sim, seria interessante um trabalho socioeducativo com os agressores, para que eles

trabalhassem seu caráter machista e agressivo com as mulheres (Entrevistado 1).

Os entrevistados atribuem como fundamental o trabalho com esses agressores tanto numa

perspectiva preventiva, através da atuação no âmbito escolar, conscientizando as crianças e

adolescentes sobre o machismo e seus danos. Como também, com o próprio agressor, de forma que

não venha a continuar reproduzindo a violência e fazendo novas vítimas.

A Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340, de agosto de 2006, prevê no seu artigo 45, a

construção de Centros de Reabilitação e Reeducação dos agressores, em que o comparecimento do

autor da violência se dará mediante determinação judicial, tendo como motivador a ocorrência de

violência doméstica contra a mulher. Sendo esta uma estratégia viável a privação de liberdade do

agressor e estando em consonância com o princípio da dignidade humana.

Segundo Elias (2014), o combate da violência doméstica e familiar contra a mulher

transcende os limites da punição, envolvendo o enfrentamento do machismo e da cultura patriarcal,

bem como os aspectos psicossociais dos indivíduos envolvidos no contexto de violência. Há casos

em que a vítima não deseja a prisão do agressor, e sim o fim da relação violenta ou ajuda do Estado

para ajuda-lo, como nos casos de uso abusivo de álcool e outras drogas.

Ainda segundo a autora, a implementação das políticas públicas preconizadas na Lei Maria

da Penha, em específico, os Centros de Reeducação dos agressores é uma ferramenta importante na

redução dos índices dessa violência, respeitando tanto o princípio da dignidade da pessoa humana,

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como estando em sintonia com o objetivo maior da lei que é criar mecanismos para coibir a

violência doméstica e familiar contra a mulher.

Ao final buscamos entender quais os desafios de se trabalhar com os homens autores de

violência.

São vários os desafios, mas destaco um em especial, que é a aceitação dos homens nesse

entendimento de que é preciso descontruir a ideia que mulher é propriedade. Um segundo,

mesmo estando previsto na Lei 11.340/2006, é a criação de serviços que possam realizar

esse trabalho socioeducativo (Entrevistado 3).

Seria relevante trabalhar com os homens agressores, até porque não existe na rede de

enfrentamento á violência doméstica nesse âmbito, algo que coloque o agressor como sendo

o responsável pela situação de violência, trabalhando-o de forma socioeducativa

(Entrevistado 2).

São vários desafios, seja dos serviços e espaços para atenderem esses homens, ou seja, essa

falta de estrutura física para esse trabalho. E, o principal, é a mudança nesse entendimento

do machismo que eles acreditam a vida inteira ser a única verdade, ter a mulher como uma

coisa e um objeto (Entrevistado 4).

A gente promove aqui uma repressão, a gente dá a proteção à mulher, a gente retira a

mulher daquela situação de risco, mas a gente precisa de uma conscientização de direitos e

de deveres para exatamente a gente promover essa igualdade de gênero e a paz no convívio

social. Então, a gente precisa justamente desse trabalho socioeducativo, pois a gente

promove a responsabilização de um crime, porém a gente não trabalhou o entendimento

dele sobre aquele comportamento. Se busca no endurecimento das leis uma mudança de

comportamento, essa é uma prática que ocorre, então quando se quer coibir uma prática

criminosa, vamos dar um tratamento mais rigoroso, vamos aumentar a pena. O que se

espera com isso é que o comportamento daquela pessoa mude com essa prática mais

rigorosa, mas não é só isso. A punição tem que ser certa, porque a impunidade também vai

incentivar o crime, tem que ter uma punição certa para o crime que cometeu. Mas, em

paralelo tem que ter todo um trabalho de desconstrução da cultura machista, tem que se

trabalhar sim o agressor nesse sentido, de conscientização dos direitos, dos deveres, do

respeito e só com o processo socioeducativo (Entrevistado 1).

Analisando as falas, percebemos que os maiores desafios são a aceitação dos homens tanto

da sua prática violenta como da importância de participarem desses serviços. E, o segundo, é a

construção efetiva desses equipamentos de trabalho socioeducativo com os agressores, pois a

ausência desses contribui para a criminalização por si só desses homens, limitando a atuação e

enfrentamento de uma problemática tão complexa e permeada por diversas determinações sociais.

De acordo com Oliveira e Gomes (2011), muitos homens perpetradores da violência até

reconhecem esse ato como censurável e até abusivo, porém, contraditoriamente, justificam ser algo

tolerável e admissível. Como se fosse algo da forma de ser e viver dos homens que não admitem

qualquer comportamento que possam contrariá-los.

Conforme denuncia Celestino et. al (2011), as redes devem funcionar com um objetivo em

comum e ter uma intencionalidade de relacionamento e articulação. Seriam, portanto, uma cadeia de

serviços que buscam atender as necessidades sociais e humanas, tendo como propósito a

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transparência e o bom desempenho dos serviços. Para isso, coloca o desafio tanto dos profissionais,

de atuarem numa perspectiva ética, como das esferas de governo de construírem redes efetivas.

Concomitantemente, as redes transcendem as esferas governamentais, agregando toda a sociedade.

Considerações finais

Como se pode observar com as leituras e pesquisa de campo realizadas, o trabalho

socioeducativo com os agressores ainda é um grande desafio a ser superado, apesar de ser

preconizado pela Lei Maria da Penha, conforme foi supracitado. Isso também se evidencia nas

leituras bibliográficas sobre violência doméstica contra a mulher, que apesar de vastas, pouco são

construídas com recorte no homem agressor.

O trabalho com esses homens autores de violência pode ser uma importante estratégia de

enfrentamento dessa problemática, como forma de fazer esses agressores repensarem esse padrão de

sociabilidade machista que os coloca como detentores do poder de vida e morte sobre as mulheres.

É vital pontuar também que o trabalho socioeducativo com os agressores não tem como

finalidade eximi-los da punição legal diante da prática da violência, inclusive, entendemos que essa

é uma questão de violação dos direitos humanos e de saúde pública. Mas, é importante reconhecer

que homens e mulheres estão envoltos nessa cultura machista e patriarcal – que subjuga as mulheres

aos homens. Assim como, que não se nasce agressor, ou seja, a violência não é parte da identidade

masculina. Por fim, acreditamos que se a violência contra a mulher é algo histórico e não um dado

da natureza pode sim ser superada.

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(Coleção Brasil Urgente).

“Husband who hits-hits, husband who has already hit”: perceptions of professionals from the

women's protection network about socio-educational work with the authors of violence

Abstract: Violence against women is a multifaceted phenomenon, permeated by diverse

sociocultural determinations. A set of efforts exist in order to face this phenomenon, such as the

protection network for women in situation of violence. However, there is a lack of public policies

and academic works directed towards the male aggressors. This study aims to analyze the

perception of the professionals of this network on the importance of socio-educational work with

the aggressors in the city of Campina Grande, Paraíba, Brazil. The research was carried out in three

institutions: Delegacia de Defesa da Mulher (Specialized Women’s Police Station), Centro

Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes (Women’s State Reference Center Fátima Lopes)

and Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Specialized Social Assistance

Reference Center). The instrument used for the data collection was the semi-structured interview, in

which the questions were elaborated according to the research problem. From the analysis of the

data, we verified that the work with these men authors of violence can be an important strategy to

face this problem, as a way to make these aggressors rethink this pattern of macho sociability. As

well as, we realize that the implementation of actions directed to socio-educational work with the

aggressors is still a great challenge to be overcome.

Keywords: Violence. Culture. Aggressors. Network.