“marido que bate-bate, marido que jÁ bateu” … · apesar de a própria lei maria da penha, no...
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
“MARIDO QUE BATE-BATE, MARIDO QUE JÁ BATEU”: PERCEPÇÕES DOS
PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO À MULHER ACERCA DO TRABALHO
SOCIOEDUCATIVO COM OS AUTORES DE VIOLÊNCIA
Gutierrez Alves Lôbo1
Jacykelly Renata França Oliveira2
Márcia Swênia Brito da Silva3
Resumo: A violência contra a mulher é um fenômeno multifacetado, permeado por diversas
determinações socioculturais. Existe um conjunto de esforços que busca enfrentá-la, como a rede de
proteção às vítimas em situação de violência. No entanto, há uma carência de políticas públicas e
trabalhos acadêmicos voltados aos homens agressores. O referido estudo tem como objetivo
analisar a percepção dos profissionais dessa rede sobre a importância do trabalho socioeducativo
com os agressores no município de Campina Grande - Paraíba. A pesquisa foi realizada em três
instituições, a saber: Delegacia de Defesa da Mulher, Centro Estadual de Referência da Mulher
Fátima Lopes e Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS. O instrumento
utilizado para a coleta de dados foi à entrevista semi-estruturada, em que as questões foram
elaboradas conforme o problema da pesquisa. A partir da análise dos dados, constatamos que o
trabalho com esses homens autores de violência pode ser uma importante estratégia de
enfrentamento dessa problemática, como forma de fazer esses agressores repensarem esse padrão de
sociabilidade machista. Assim como, percebemos que a efetivação de ações direcionadas ao
trabalho socioeducativo com os agressores ainda é um grande desafio a ser superado.
Palavras-chave: Violência. Cultura. Agressores. Rede.
Introdução
A temática violência, nas suas múltiplas formas de manifestação faz parte do cotidiano da
sociedade. Dentre essas expressões encontra-se a que incide contra a mulher no cenário doméstico e
familiar, em que, na maioria das vezes o sujeito agressor é alguém que convive ou conviveu com a
mulher vítima4. Apesar do amplo debate e das diversas estratégias de enfrentamento dessa
problemática, as estatísticas de violência são cada vez mais crescentes, ou seja, os homens
continuam agredindo e assassinando suas companheiras, muitas vezes, com requintes de crueldade.
1 Graduado em Serviço Social pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio - Unileão. Pós-graduado em Direito das
Famílias pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social
pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e Relações de Poder. Contato:
[email protected] 2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e
Relações de Poder. Contato: [email protected] 3 Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, linha de pesquisa: Gênero, Diversidade e
Relações de Poder. Contato: [email protected] 4 Para análise mais aprofundada acerca do conceito de vitimização feminina nas relações de violência ver Osterne
(2011).
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Acredita-se que 40% das mortes de mulheres no mundo foram cometidas por homens, em
relações de grau íntimo de afeto. Porém, no que concerne a morte de homens, essa realidade se
modifica, pois apenas 6% deles foram assassinados por parceiras ou ex-parceiras em relações
afetivo-familiares íntimas. Desse modo, pode-se constatar que o número de mulheres mortas por
parceiros em relações íntimas é 6,6 vezes maior do que o número de homens mortos por mulheres
(IPEA, 2013).
Os dados alarmantes aqui apresentados demonstram a magnitude do fenômeno e, por isso, a
relevância social do referido estudo. Apesar disso, não se pode afirmar que a violência faça parte da
identidade masculina, ou seja, nem todo homem nasce ou é violento. Portanto, é preciso que seja
compreendido os aspectos motivadores dessa violência, os padrões de sociabilidade atribuídos ao
masculino e ao feminino, bem como, questionar se a criminalização do agressor como única e
principal ferramenta de trato a esses homens autores de violência por si só resolve plenamente a
problemática da violência contra a mulher.
Existe uma gama de serviços que integram uma rede de proteção em âmbito nacional à
mulher em situação de violência. No entanto, as iniciativas de trabalho com os agressores, inclusive
as pesquisas acadêmicas sobre esses sujeitos ainda são bastante incipientes. Apesar de a própria Lei
Maria da Penha, no seu artigo 35º preconizar a inserção de homens em centros de educação e
reabilitação de agressores. Sem ter a pretensão de esgotar a temática, a pesquisa em tela se coloca
como mais uma contribuição teórica sobre esse assunto.
Dessa forma, o estudo tem como questão central analisar a percepção dos profissionais dessa
rede acerca do trabalho socioeducativo com o sujeito autor de violência como estratégia de
enfrentamento dessa problemática, a partir de três equipamentos supracitados, Delegacia de Defesa
da Mulher (DEAM), Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes e Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).
A pesquisa encontra-se estruturada em duas etapas, a saber: na primeira, será problematizada
como a masculinidade hegemônica é estruturada e (re) alimentada pelo patriarcado, que coloca as
mulheres como objeto e propriedade privada dos homens, construindo sócio culturalmente esses
homens agressores. E, na segunda etapa, serão detalhados os procedimentos metodológicos e os
dados da pesquisa serão analisados após sua aplicação.
Ele não sabe porque está batendo, mas ela sabe porque está apanhando: ser homem na
prevalência do masculino
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Como já foi dito anteriormente a violência não faz parte da identidade masculina, ou seja,
nem todo homem é agressor, não se nasce agressor. No entanto, os elementos da sociabilidade
masculina exigem durante todo o desenvolvimento do homem um conjunto de ações e práticas
concebidas como normais de machos. Dentre essas ferramentas está o recuso de toda e qualquer
expressão de feminilidade, pois isso reflete ser menos homem. Bem como, o exercício de força,
virilidade e, se for preciso, uso da violência.
Dessa forma, a objetificação da mulher não é um dado recente, típico da contemporaneidade.
Pelo contrário, traduz a história de subordinação a que estiveram submetidas aos homens ao longo
da narrativa das sociedades. Paralelamente, a separação entre as esferas públicas e privadas, como
expressão dessa desigualdade de gênero. Aos homens, é atribuída a racionalidade, o poder de
mando e vida sobre as mulheres, a atuação política e o livre acesso e trânsito pelos espaços
públicos. As mulheres o coração, os sentimentos e o exercício da procriação e dom da maternidade
(OSTERNE, 2011).
Nessa construção desigual dos gêneros, pensados numa lógica binária e relacional nesse
momento, a violência ganha espaço. As instituições sociais exigem e esperam de homens e
mulheres comportamentos que estejam nessa lógica. A “transgressão” desse paradigma seja para
um ou para o outro gênero, é justificável de “corretivo”. Vale salientar, inclusive, que a noção de
ser homem e ser mulher vem sendo amplamente problematizada nas últimas décadas, tendo em
vista a não identificação e migração de vários indivíduos de um gênero para o outro.
Ainda segundo Osterne (2011), os homens estão imersos e passíveis de violência em
diferentes espaços e instituições. Vale dizer que esse sistema de poder que proporciona ao homem o
exercício de práticas violentas e de ser agressor em nome do pleno exercício dos seus direitos de
homem e para a manutenção da prevalência do masculino é o mesmo sistema que o expõe a
situações de vulnerabilidade.
A autora ainda denuncia que a violência não é algo natural, apesar de sê-la concebida dessa
forma na maioria das vezes. Suas bases estruturam-se na cultura e na história da sociedade
patriarcal. O patriarcado sendo aqui pensado como um modelo organicamente articulado que (re)
produz as mulheres como objetos para que atendam os desejos e necessidades dos homens.
Segundo Saffioti (2004), na ordem patriarcal de gênero, o poder é, portanto,
primordialmente macho, branco, rico e heterossexual. Observamos a partir dessa constatação que se
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cria e supervaloriza-se um modelo de masculinidade, atribuindo poder aos homens que se
encontram nesses elementos citados, sobre tudo e todos aqueles que estão ao seu redor.
Essa naturalização da violência ancorada na cultura machista e patriarcal é um dos principais
desafios no enfrentamento do fenômeno em tela. Os homens são educados a dominar, determinar
território e posse sobre a vida, corpo e comportamentos das mulheres.
De acordo com Oliveira e Gomes (2011), várias são as alegações dos homens quando fazem
uso da violência, a saber: ciúme ou infidelidade; dificuldade financeira por parte do homem;
dependência química; desemprego; incompreensão; recusa sexual; desobediência da mulher;
confronto diante da sua autoridade; medo de perder o controle sobre a mulher; dificuldade de
dialogar, dentre outros aspectos.
Como se pode observar essa é uma problemática complexa e bastante desafiadora a ser
enfrentada, seja pelos organismos de governo, pela sociedade ou pela academia.
Procedimentos metodológicos e análise dos dados da pesquisa
A presente pesquisa desenvolveu-se de forma qualitativa, buscando a aquisição de dados
descritivos através do contato direto e dinâmico com os sujeitos integrantes do estudo, bem como,
através da revisão bibliográfica em alguns trabalhos e pesquisas acadêmicas sobre a temática. Dessa
forma, buscamos analisar a percepção dos profissionais da rede de proteção à mulher acerca da
importância do trabalho socioeducativo com os autores de violência. Bem como, possui um amplo
referencial teórico acerca da temática em análise.
Foi utilizada a entrevista semiestruturada e individual com perguntas abertas como
instrumento para a coleta dos dados, que nos proporciona discorrer acerca do referido problema de
pesquisa.
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações
a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É
um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de algum problema social (MARCONI; LAKATOS, 2005, p
197).
Nesse sentido pode-se dizer então que a entrevista proporciona a interlocução direta entre
dois sujeitos, na perspectiva de proporcionar ao entrevistador obter informações necessárias acerca
do objeto ou fenômeno estudado, através de um processo verbal e dialógico entre ambos.
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A pesquisa foi aplicada Delegacia de Defesa da Mulher, Centro Estadual de Referência da
Mulher Fátima Lopes e Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS da
cidade de Campina Grande, Paraíba.
Os sujeitos que integram o presente estudo são os profissionais que atuam nesses
equipamentos, a saber: especificamente um (a) Assistente Social e um (a) psicólogo do CREAS, (o)
a coordenadora do Centro de Referência e a delegada da DDM.
A escolha por tais sujeitos se deu tendo em vista que, ao atuarem nos equipamentos da rede
de proteção e, sobretudo, por lidarem com o fenômeno da violência doméstica e familiar contra a
mulher nos seus espaços de atuação, possuem uma leitura acerca do trabalho com esses homens
autores de violência.
Foi utilizado o processo de escrita por parte dos pesquisadores, ao passo que os sujeitos
participantes do estudo respondiam os questionamentos feitos, sendo que eles foram previamente
informados que a pesquisa transcorreria dessa forma.
Nesse momento analisaremos as falas das entrevistas após sua aplicação. Vale salientar que
o nome dos entrevistados não será revelado, sendo eles identificados como Entrevistados 1, 2, 3, 4.
Inicialmente, foi perguntado o entendimento dos profissionais acerca da rede de proteção e
combate à mulher em situação de violência, em que tivemos os seguintes resultados:
A rede ainda não está tão fortalecida, por exemplo, cada um trabalha isoladamente, no seu
lugar, o CREAS trabalha com as mulheres vítimas de violência naquele espaço e só. Eu
acho que ainda falta a interação entre esses órgãos que trabalham com essas mulheres
vítimas de violência e, assim, fortalecer essa rede de combate, acho que ainda está todo
mundo trabalhando no seu canto e pouco se comunicam. As mulheres que passam por aqui
não passam em outro lugar e da mesma forma acontece em outros serviços. Isso acaba por
fragilizar essa rede de atendimento. Há outro motivo ainda mais grave, em muitos
municípios menores aqui da Paraíba, as pessoas desconhecem a própria lei, há casos em
que o B.O. não é feito com a justificativa de que é preciso uma testemunha, como se a
mulher vítima fosse insuficiente, e alguém precisasse comprovar a situação. Então, tudo
isso, fragiliza essa rede (Entrevistado 2).
Esse trabalho da rede é extremamente importante. Nem um órgão de enfrentamento à
violência contra a mulher vai conseguir êxito trabalhando isoladamente. Cada um tem um
papel fundamental nesse enfrentamento, então todos os órgãos, todos os segmentos tem um
papel nessa batalha de diminuição da violência contra as mulheres. O poder judiciário, o
Ministério Público, delegacias, toda a parte de assistência social, os Centros de Referência,
psicologia, saúde, educação. Tudo isso tem que está trabalhando realmente de forma
sintonizada para que a gente consiga algum resultado. Então em minha opinião é de
fundamental importância o funcionamento da rede de forma bem sintonizada (Entrevistado
3).
Em relação à Campina Grande, a rede ainda é bem restrita e fechada, o primeiro indício é a
Delegacia da Mulher, que tem uma resistência enorme diretamente com elas, as principais
atingidas com a violência. Enquanto rede de média e alta complexidade, a gente atende essa
demanda só após ocorrer, depois de a mulher ter feito o boletim na Delegacia e isso acaba
sendo a grande resistência, por inúmeros fatores, seja dependência econômica, emocional e
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até a situação de vulnerabilidade em que elas se encontram. Antes de chegar na esfera
judicial, aqui em Campina, nós temos os CREAS, os Centros de Referência e a Delegacia
se respaldando e isso é insuficiente diante da grande demanda que nós temos. No nosso
caso é complicado, porque a gente precisa que a mulher tenha feito esse registro legal na
delegacia para que seja acompanhada pelo serviço e a maioria das mulheres não quer fazer,
ainda há uma resistência (Entrevistado 1).
Compreendo como Rede de Atendimento e Enfrentamento a violência Contra Mulheres,
como um sistema capaz de qualificar e organizar pessoas e instituições de forma
democrática e igualitária, em torno de valores e objetivos em comum. Na mesma, cada
integrante mantém sua permanência de forma independente, ninguém é obrigado a entrar ou
permanecer, mas compreendo que este é um espaço de extrema relevância no tocante ao
comprometimento dos serviços para a cooperação entre os integrantes que a compõem,
visando um atendimento humanizado, sigiloso e acima de tudo, buscando resolutividade e
agilidade com relação à responsabilização dos agressores. A Rede possui sistema de
reuniões mensais e íntegra secretarias e serviços nos mais variados seguimentos, seja na
educação, saúde, assistência social, segurança pública, órgãos de políticas para as mulheres,
Defensoria, Conselho da mulher, PM, MP e outros (Entrevistado 4)
Percebemos que os entrevistados atribuem à rede um caráter de articulação entre diversos
equipamentos, de forma que preste atendimento humanizado e democrático aos usuários, sobretudo
as mulheres em situação de violência. Ao mesmo tempo, compreendem que há uma fragilidade dos
serviços existentes e apontam desafios para que esse trabalho ocorra de forma efetiva.
De acordo com a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (2011), o
conceito de rede de proteção é bastante amplo. Porém, acredita-se que seja a atuação integrada de
diversos serviços de ordem governamental, não governamental, bem como, da participação da
comunidade. Tendo como finalidade o atendimento, identificação e encaminhamento das mulheres
em situação de violência aos diversos serviços, nas esferas da saúde, assistência social, segurança
pública, educação, cultura, dentre outras. Cabe frisar que a rede surge como uma estratégia de
superar o isolamento e desarticulação entre esses serviços, tendo em vista que uma atuação isolada
compromete o atendimento e garantia dos direitos das mulheres em situação de violência.
Em seguida, buscamos compreender qual a percepção que os profissionais possuem acerca
dos homens autores de violência.
A gente tem que ter uma percepção bem ampla, bem vasta em relação a esses homens.
Existe um percentual de homens que já sofreram violência e repetem o que viveram, mas
também, eu acredito que um dos fatores que mais influenciam esses homens a serem
autores de violência é a questão da informação, geralmente a escolaridade deles é muito
baixa, pelo menos os que eu atendi até agora, são pessoas que não tiveram acesso a uma
educação formal. Então, eles se investem da própria cultura machista e tratam as mulheres
como objetos deles e vão reproduzindo isso a cada dia e até pouco tempo não existia uma
punição, muitas vezes, os pais causaram violência às mães deles e eles presenciaram e
como não aconteceu nada com esse pai, daí quando eles casam ou tem as suas
companheiras eles repetem e acham que nunca vão ser punidos. Então tem essa questão do
machismo, da falta de informação, da educação que já teve desde pequeno, são vários
fatores que a gente pode perceber nesses homens que são autores de violência (Entrevistado
4).
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Antes de eu começar a trabalhar no CREAS, que está ligado diretamente a violência de
todos os tipos, eu achava que era só o pobre, o analfabeto ou semianalfabeto, mas não. São
homens de todas as áreas, infelizmente, de todas as escolaridades. Os homens ainda estão
naquela cultura de quando casam e até na convivência mesmo, de que tem um documento
de posse sobre a mulher. O que mais me impacta é isso, os perfis são os mais variados tanto
de um empregado de uma empresa a um professor com doutorado da UFPB a gente já
pegou aqui. A percepção que eu tenho é que hoje a cultura do machismo devido ainda ser
impregnada acaba desencadeando a violência, mas tem muitos fatores, às vezes, eles
possuem distúrbios emocionais, mas essa relação de posse e domínio sobre a mulher é o
que mais agrava. Já aconteceu de pegarmos caso aqui de casais já separados, mas que a
violência ainda ocorre. Então são vários os perfis, já não é mais a classe C como a gente
diria em outros tempos, é muito variado tanto pela escolaridade, classe social e a cultura
impregnada ainda é essa (Entrevistado 2).
Na minha percepção os agressores são criminosos em potencial, não os vejo como doentes
mentais, como muitas vezes ouço comentários. Compreendo também a dificuldade das
mulheres em situação de violência doméstica e familiar em não romper o ciclo, por todo
processo cultural, machista e patriarcal ao qual fomos inseridas/os uma vida inteira, muitos
são os fatores que as fazem permanecer no ciclo, filhos, família, dependência emocional,
dependência financeira, o julgamento dos vizinhos e tantos outros que consideramos
importantes serem analisados. Essa violência é gradativa, é muito difícil um agressor deixar
de ser violento, ele pode mudar por um tempo, mas logo em seguida volta a agredir
(Entrevistado 1).
Pela nossa vivência e o que a gente percebe aqui na Delegacia, o principal motivador dessa
violência é o resquício, o comportamento machista. Por trás de tudo isso está o
comportamento machista, dominador, controlador. Associa a isso, algumas situações de
dependências de álcool ou drogas, que potencializa a agressividade e os casos concretos.
Mas, o que eu acredito é isso que a grande motivação dessa violência é exatamente essa
cultura machista que a gente ainda tem que desconstruir (Entrevistado 3).
De acordo com as falas, o agressor é oriundo da cultura machista e desse padrão de
sociabilidade que naturaliza a prática da violência, sobretudo contra as mulheres. Ao mesmo tempo,
não se pode desconsiderar que vários fatores precipitantes, conforme foi citado, como uso de álcool
e outras drogas e a reprodução da violência que assistiram ao longo da sua história de vida,
favorecem para a perpetração dessa dominação do homem sobre a mulher.
De acordo com Amorim (2007), ao tratar das agressões de homens contra as mulheres, elas
incidem em todas as classes sociais, nas diversas faixas etárias e com pessoas dos mais variados
níveis de escolaridade. Dessa forma, o autor pontua que o enfrentamento efetivo dessa problemática
perpassa pelo trabalho socioeducativo com esses homens autores de violência.
Conforme denuncia Lisboa (2010), a grande maioria dos agressores não admite e/ou se
reconhecem como tal, naturalizando e culpabilizando a mulher pelo uso da violência, afirmando que
o comportamento provocativo das mulheres permitiu uma atitude corretiva.
Em seguida, perguntamos a opinião dos participantes do estudo acerca dos motivos pelos
quais os homens os homens continuam agredindo e matando suas companheiras mesmo com todo
avanço da legislação.
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Ainda existe a ideia do sentimento de posse, os homens muitas vezes consideram as
mulheres como propriedade, se não for minha não será de mais ninguém e quando essas
decidem mudar de vida, deixarem seus companheiros por não suportarem mais serem
humilhadas, maltratadas, ofensas e agressões físicas, os ex-companheiros não admitem e
cometem esse crime tão bárbaro que é o Feminicídio (Entrevistado 2).
A gente tem a legislação avançadíssima mundialmente reconhecida entre as melhores, que é
a Lei Maria da Penha pra esse enfrentamento e ela de fato tem ferramentas para isso e as
políticas públicas também tem avançado muito. A legislação ela prevê uma punição mais
rigorosa para o agressor, esse é o trabalho que a delegacia vai fazer, juntamente com o
Ministério Público e o poder judiciário. O trabalho dele ser responsabilizado criminalmente
pelo delito que ele cometeu contra a mulher, só que apenas isso não vai resolver o
problema, ele precisa de um programa de reeducação, afinal a nossa grande batalha é
desconstruir a cultura machista. Então se a gente trabalha isoladamente nós não vamos
obter o resultado que a gente está buscando ainda, tem que cada um realmente investir nas
diversas áreas pra a gente conseguir desconstruir isso aí (Entrevistado 1).
Acredito que na maioria dos casos, a vítima tem uma grande dependência em relação ao
agressor, seja dependência financeira, emocional, ou até mesmo quando não tem pessoas
próximas que possam ajudá-la a sair da situação de violência. Dentro dessa circunstancia e
por falta de oportunidades, a vítima acaba se tornando vulnerável, ao ponto de está sempre
próxima do agressor (Entrevistado 4).
O sentimento de poder sobre a mulher ainda é muito grande. Os homens e apropriam do
corpo e da vida das mulheres, acham que são seus donos e se não forem deles, não será de
mais ninguém. De tanto verem e ouvirem acabaram naturalizando o machismo, é aqui que
reside a grande problemática (Entrevistado 3).
Analisando as falas, podemos constatar que o machismo acaba sendo um elemento
naturalizador e, portanto, potencializador da violência. Ao colocar o homem como sujeito e a
mulher como objeto, o poder de mando e posse impera na relação. A dependência da mulher,
sobretudo, econômica e emocional é outro elemento fundamental a ser ressaltado e coloca a
necessidade e desafio de uma boa assistência da rede a essas mulheres.
De acordo com Osterne (2011), a violência não faz parte da identidade masculina, ou seja,
nem todo homem é violento. Dessa forma, se faz necessário compreender os padrões de
sociabilidade masculino e feminino para que se analise a violência dos homens contra as mulheres a
partir do recorte de gênero.
Ainda segundo a autora, o patriarcado é um sistema domesticamente organizado que
naturaliza a opressão dos homens contra as mulheres, tornando-as objeto de desejo e satisfação
sexual e reprodutoras de herdeiros. Paralelamente, o machismo é uma tendência à naturalização
desses privilégios masculinos, mantendo a subordinação feminina. Trata-se de uma formulação
social quase naturalizada na dimensão cultural da sociabilidade brasileira.
Foi indagado ainda se na percepção dos profissionais da rede o trabalho socioeducativo com
os agressores pode contribuir no enfrentamento à violência contra a mulher.
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Considero o trabalho educativo como uma das ferramentas mais importantes no processo de
enfrentamento à violência contra as mulheres, mas claro que se iniciado desde as series
iniciais e dos primeiros anos de vida de um ser humano, seja homem, ou mulher. Não
acredito que agressores mudem de comportamento na fase adulta, eles podem deixar de
cometer a violência por um tempo por terem sido responsabilizados por algum crime
(Entrevistado 2).
É uma das minhas inquietações com relação ao trabalho em Rede, precisamos disseminar a
ideia de que instituições seja de ensino, precisam dialogar sobre a cultura do machismo,
gênero, racismo, homofobia, lesbofobia e tantas outras temáticas desde a educação infantil,
são vários os comportamentos analisados por nossa equipe ao fazermos palestras nas
escolas e um desses comportamentos é a reprodução do MACHISMO que veem em casa,
compreendo que esse comportamento não sendo trabalhado, esse que é menor hoje, amanhã
pode ser um futuro agressor. Nesse sentido, a escola tem esse papel, não apenas educativo,
mas também social, de buscar desnaturalizar o que foram ensinados desde pequenos como
“correto” e isso não cabe apenas às instituições de ensino (Entrevistado 4).
Com certeza é fundamental. A vítima e os filhos precisam de todo apoio psicológico,
assistencial, quando ela chega aqui a gente sabe da importância de todo esse suporte. Só
que o agressor também precisa, então ele tá com um comportamento reprovável que está
trazendo um sofrimento enorme para a família inteira. Então ele precisa sim desse trabalho
socioeducativo para desconstruir isso aí e enfrentar essa cultura machista. Então, ele tem
que passar sim por esse trabalho socioeducativo (Entrevistado 3).
Sim, seria interessante um trabalho socioeducativo com os agressores, para que eles
trabalhassem seu caráter machista e agressivo com as mulheres (Entrevistado 1).
Os entrevistados atribuem como fundamental o trabalho com esses agressores tanto numa
perspectiva preventiva, através da atuação no âmbito escolar, conscientizando as crianças e
adolescentes sobre o machismo e seus danos. Como também, com o próprio agressor, de forma que
não venha a continuar reproduzindo a violência e fazendo novas vítimas.
A Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340, de agosto de 2006, prevê no seu artigo 45, a
construção de Centros de Reabilitação e Reeducação dos agressores, em que o comparecimento do
autor da violência se dará mediante determinação judicial, tendo como motivador a ocorrência de
violência doméstica contra a mulher. Sendo esta uma estratégia viável a privação de liberdade do
agressor e estando em consonância com o princípio da dignidade humana.
Segundo Elias (2014), o combate da violência doméstica e familiar contra a mulher
transcende os limites da punição, envolvendo o enfrentamento do machismo e da cultura patriarcal,
bem como os aspectos psicossociais dos indivíduos envolvidos no contexto de violência. Há casos
em que a vítima não deseja a prisão do agressor, e sim o fim da relação violenta ou ajuda do Estado
para ajuda-lo, como nos casos de uso abusivo de álcool e outras drogas.
Ainda segundo a autora, a implementação das políticas públicas preconizadas na Lei Maria
da Penha, em específico, os Centros de Reeducação dos agressores é uma ferramenta importante na
redução dos índices dessa violência, respeitando tanto o princípio da dignidade da pessoa humana,
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como estando em sintonia com o objetivo maior da lei que é criar mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher.
Ao final buscamos entender quais os desafios de se trabalhar com os homens autores de
violência.
São vários os desafios, mas destaco um em especial, que é a aceitação dos homens nesse
entendimento de que é preciso descontruir a ideia que mulher é propriedade. Um segundo,
mesmo estando previsto na Lei 11.340/2006, é a criação de serviços que possam realizar
esse trabalho socioeducativo (Entrevistado 3).
Seria relevante trabalhar com os homens agressores, até porque não existe na rede de
enfrentamento á violência doméstica nesse âmbito, algo que coloque o agressor como sendo
o responsável pela situação de violência, trabalhando-o de forma socioeducativa
(Entrevistado 2).
São vários desafios, seja dos serviços e espaços para atenderem esses homens, ou seja, essa
falta de estrutura física para esse trabalho. E, o principal, é a mudança nesse entendimento
do machismo que eles acreditam a vida inteira ser a única verdade, ter a mulher como uma
coisa e um objeto (Entrevistado 4).
A gente promove aqui uma repressão, a gente dá a proteção à mulher, a gente retira a
mulher daquela situação de risco, mas a gente precisa de uma conscientização de direitos e
de deveres para exatamente a gente promover essa igualdade de gênero e a paz no convívio
social. Então, a gente precisa justamente desse trabalho socioeducativo, pois a gente
promove a responsabilização de um crime, porém a gente não trabalhou o entendimento
dele sobre aquele comportamento. Se busca no endurecimento das leis uma mudança de
comportamento, essa é uma prática que ocorre, então quando se quer coibir uma prática
criminosa, vamos dar um tratamento mais rigoroso, vamos aumentar a pena. O que se
espera com isso é que o comportamento daquela pessoa mude com essa prática mais
rigorosa, mas não é só isso. A punição tem que ser certa, porque a impunidade também vai
incentivar o crime, tem que ter uma punição certa para o crime que cometeu. Mas, em
paralelo tem que ter todo um trabalho de desconstrução da cultura machista, tem que se
trabalhar sim o agressor nesse sentido, de conscientização dos direitos, dos deveres, do
respeito e só com o processo socioeducativo (Entrevistado 1).
Analisando as falas, percebemos que os maiores desafios são a aceitação dos homens tanto
da sua prática violenta como da importância de participarem desses serviços. E, o segundo, é a
construção efetiva desses equipamentos de trabalho socioeducativo com os agressores, pois a
ausência desses contribui para a criminalização por si só desses homens, limitando a atuação e
enfrentamento de uma problemática tão complexa e permeada por diversas determinações sociais.
De acordo com Oliveira e Gomes (2011), muitos homens perpetradores da violência até
reconhecem esse ato como censurável e até abusivo, porém, contraditoriamente, justificam ser algo
tolerável e admissível. Como se fosse algo da forma de ser e viver dos homens que não admitem
qualquer comportamento que possam contrariá-los.
Conforme denuncia Celestino et. al (2011), as redes devem funcionar com um objetivo em
comum e ter uma intencionalidade de relacionamento e articulação. Seriam, portanto, uma cadeia de
serviços que buscam atender as necessidades sociais e humanas, tendo como propósito a
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transparência e o bom desempenho dos serviços. Para isso, coloca o desafio tanto dos profissionais,
de atuarem numa perspectiva ética, como das esferas de governo de construírem redes efetivas.
Concomitantemente, as redes transcendem as esferas governamentais, agregando toda a sociedade.
Considerações finais
Como se pode observar com as leituras e pesquisa de campo realizadas, o trabalho
socioeducativo com os agressores ainda é um grande desafio a ser superado, apesar de ser
preconizado pela Lei Maria da Penha, conforme foi supracitado. Isso também se evidencia nas
leituras bibliográficas sobre violência doméstica contra a mulher, que apesar de vastas, pouco são
construídas com recorte no homem agressor.
O trabalho com esses homens autores de violência pode ser uma importante estratégia de
enfrentamento dessa problemática, como forma de fazer esses agressores repensarem esse padrão de
sociabilidade machista que os coloca como detentores do poder de vida e morte sobre as mulheres.
É vital pontuar também que o trabalho socioeducativo com os agressores não tem como
finalidade eximi-los da punição legal diante da prática da violência, inclusive, entendemos que essa
é uma questão de violação dos direitos humanos e de saúde pública. Mas, é importante reconhecer
que homens e mulheres estão envoltos nessa cultura machista e patriarcal – que subjuga as mulheres
aos homens. Assim como, que não se nasce agressor, ou seja, a violência não é parte da identidade
masculina. Por fim, acreditamos que se a violência contra a mulher é algo histórico e não um dado
da natureza pode sim ser superada.
Referências
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“Husband who hits-hits, husband who has already hit”: perceptions of professionals from the
women's protection network about socio-educational work with the authors of violence
Abstract: Violence against women is a multifaceted phenomenon, permeated by diverse
sociocultural determinations. A set of efforts exist in order to face this phenomenon, such as the
protection network for women in situation of violence. However, there is a lack of public policies
and academic works directed towards the male aggressors. This study aims to analyze the
perception of the professionals of this network on the importance of socio-educational work with
the aggressors in the city of Campina Grande, Paraíba, Brazil. The research was carried out in three
institutions: Delegacia de Defesa da Mulher (Specialized Women’s Police Station), Centro
Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes (Women’s State Reference Center Fátima Lopes)
and Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Specialized Social Assistance
Reference Center). The instrument used for the data collection was the semi-structured interview, in
which the questions were elaborated according to the research problem. From the analysis of the
data, we verified that the work with these men authors of violence can be an important strategy to
face this problem, as a way to make these aggressors rethink this pattern of macho sociability. As
well as, we realize that the implementation of actions directed to socio-educational work with the
aggressors is still a great challenge to be overcome.
Keywords: Violence. Culture. Aggressors. Network.