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O PRESTE JOO mito, literatura e histriapor Maria da Conceio Vilhena*

1. A lenda do Preste Joo foi divulgada na Europa no tempo da 1. cruzada, em finais do sc. XI. A necessidade de aliados favoreceu a crena, entre os cruzados, de que iriam receber o auxlio de um poderosssimo soberano, vindo da sia, e que atacaria o Islo pelas costas. Ora comeara ento a circular uma mensagem dirigida ao imperador Manuel Comnio, de Bizncio, que alimentava tal esperana. Era uma carta enviada por algum cuja grandeza assumia duas dimenses: uma sagrada, relacionada com o divino, a outra secular, em conjugao com o mais alto poder na terra - o Preste Joo era um rei - sacerdote cristo, um misterioso soberano, suserano de muitas dezenas de vassalos. To misterioso, que o seu reino se situara sucessivamente na Mesopotmia, na China, nas ndias, na Arbia, na frica Ocidental e, finalmente, na Etipia. Nesses tempos, os conhecimentos geogrficos eram ainda muito deficientes. De esta clebre Carta foi conhecida uma verso em latim, a que se atribui a data de 1165, aproximadamente; e que foi traduzida para francs, em verso, por um clrigo que assinou Roau dArundel. Trata-se de um texto ferico, fantstico e maravilhoso, em que abundam as mais apetecveis riquezas e os mais variados monstros. Terra de amazonas e centauros, homens anfbeos, homens com cabea de co, liliputianos e gigantes, unicrnios e aves sanguneas, lees vermelhos e verdes, enfim, tudo o que*

Departamento de Lnguas e Literaturas Modernas, Universidade dos Aores.

ARQUIPLAGO HISTRIA, 2 srie, V (2001)

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uma imaginao frtil pode criar. A que se juntam guas de fontes miraculosas; rios que nascem no Paraso Terreal; pedras preciosas valiosssimas e em abundncia, no fundo dos rios; palcios maravilhosos, milhares de cavaleiros, comida para toda a gente, bem-estar e felicidade. Fantstico e maravilhoso, hiprblico e extico, numa deliciosa amlgama. Numa tentativa de regresso a um mundo paradisaco. Desta Carta, so conhecidas uma centena de verses manuscritas, em diversas lnguas, cada uma a intercalando o que lhe parecia mais conveniente. Por isso, no reino do Preste Joo, alm de ouro e pedras preciosas, h a famigerada pimenta, fonte de um comrcio enriquecedor. procura da pimenta se arriscava a vida por mares tenebrosos. A terra do Preste Joo no podia ser s luxo, mas tambm ocasio de bons negcios. Se certo que os cruzados respondem ao descalabro das suas investidas com um sopro de profetismo, tambm certo que os seus senhores no descuram os interesses materiais. 2. O texto francs da Carta encontra-se em colectneas de Literatura Francesa Medieval e considerado como um romance corts. Com efeito, o Preste Joo aparece-nos a com o esplendor e a grandeza dos heris da cano de gesta, que, mais brandos e mais requintados, passam depois para o romance corts: Alexandre da Macednia, Heitor, Eneias, Carlosmagno ou o rei Artur e os seus cavaleiros. La Lettre du Prtre Jean revela um fascnio pelo Oriente misterioso, idntico ao que se encontra na cano de gesta Plerinage de Charlemagne: aquele mundo ferico onde at os arados so de ouro e prata, onde o marfim, o mrmore, as gemas, se encontram em profuso. Tudo luxo, grandeza, esplendor. assim o palcio do imperador de Constantinopla, onde foi recebido Carlosmagno; assim o palcio do Preste Joo. Igualmente se assemelham os animais fabulosos, os frescos exticos e os milhares de cavaleiros ao servio do imperador. O romance corts, na 2. metade do sc. XII, corresponde a uma evoluo da classe social, em que, ao ideal cavaleiresco, se associa o gosto pelo requinte, pelo prazer e pelo conforto. O Ocidente quer o apoio militar do Preste Joo; mas, nesta carta, no o retrata como um guerreiro furioso, rude e sanguinrio: Mostra-no-lo, sim, num universo pleno de maravilhas e douras. A Carta um texto literrio, composto de acordo com os cnones de ento. A esta primeira verso francesa (traduo em francs contemporneo por Andr Chastel), outras se seguiram, com alteraes. O Pe.

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Domingos Maurcio, no seu artigo A Carta do Preste Joo das ndias, apresenta uma verso, que supe ser de meados do sc. XIII, mas que foi impressa volta de 1488. Trata-se de uma edio francesa de Antoine Caillaut, livreiro de Paris entre1483 e 1506. Pela aluso odiosa que nela se faz aos Templrios, lembrando ao rei de Frana que deve conden-los morte, podemos calcular a sua data aproximada. A Ordem dos Templrios, fundada em 1199, foi inicialmente bem vista por papas e reis.Tendo-se tornado, porm, uma potncia financeira assustadora, e sendo acusada de prticas imorais e desmedida ambio, comearam os templrios a ser vtimas de dios e perseguies, sobretudo por parte dos reis. Pelo que Filipe o Belo (1285 - 1314) decidiu extinguir a ordem, processo que decorreu entre 1307 e 1312. Poderemos, pois, atribuir a esta verso uma data de finais do sc. XIII. Todavia sempre difcil faz-lo, uma vez que era frequente a prtica das interpolaes. Podemos supor que a divulgao da lenda se fez, sobretudo, atravs das verses francesas da carta apcrifa. Doutro modo, porque se teria mantido a designao de Preste? Seria lgico que, ao ser a carta traduzida para outras lnguas, o termo francs arcaico preste (actual prtre) tivesse sido substitudo pelo vocbulo que, nessas lnguas, designaria padre ou sacerdote. 3. Segundo o Pe. Domingos Maurcio, no referido artigo, os portugueses parece no terem dado importncia clebre carta. Sabemos, todavia, que ela foi conhecida no nosso Pas (Armando Corteso, Histria da Cartografia Portuguesa, vol. I, p.257 e segs., 1969); e mesmo bem possvel que os portugueses a tenham conhecido desde cedo, pois a origem da lenda est ligada ao Papa Calixto II, segundo a notcia annima De adventu patriarchae Indorum ad urbem sub Calixto papa secundo. Este Papa ter recebido a visita de um prelado indiano chamado Joo, que ter falado de converses e milagres acontecidos junto ao tmulo de S.Tom, prximo de Edessa. As circunstncias polticas de ento tero proporcionado e favorecido a elaborao da lenda, divulgada atravs da carta apcrifa. Ora Calixto II (1119 - 1124) era Guy de Borgonha, irmo de Raimundo que desposara D. Urraca de Castela; era portanto primo do Conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques. Em 1108, quando Guy era arcebispo de Vienne (Frana), esteve de visita na corte de Leo. Depois de sagrado papa, Calixto II elevou Santiago de Compostela, que visitara, a s episcopal; e, mais tarde, ofereceu a este santurio o seu Codex Calixtinus. A Calixto II se atribui a autoria de uma parte do Liber

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Jacobi, onde se contam os milagres realizados pelo apstolo Tiago. Estando Calixto II to ligado Galiza, no tempo em que os navios dos cruzados bordejavam as costas ibricas, bem possvel que aluses tenham sido feitas, em Espanha e Portugal, a um potencial aliado, para l de Jerusalm. Alm dos membros da Igreja, tambm eram transmissores de notcias os trovadores, esses embaixadores andarilhos da cultura e da bisbilhotice, que frequentavam cortes e palcios. Muitos dos trovadores provenais tomaram parte nas cruzadas, como seus animadores, e puderam ter convivido com os trovadores portugueses, que sabemos terem ido em peregrinao a Jerusalm. Alm disso, tambm devem ter tido contactos em cortes espanholas, onde os provenais vinham frequentemente e chegaram at a passar anos (Cf. M.C.Vilhena, Rapports entre le Portugal et la Provence, Ponta Delgada, 1984). Foi por estes contactos que os cantares de amor maneira proenal e os lais de Frana entraram na literatura portuguesa; e que personagens como Carlosmagno, Rolando e Oliveiros passaram a protagonistas do nosso romanceiro popular. certo que o Preste Joo no figura na nossa literatura medieval. Todavia, Luis de Albuquerque refere-se a uma verso da dita carta, em latim, num manuscrito trecentista, includo nos cdices alcobacenses, sob a epgrafe Da ndia e dos milagres. Nela se relatam, como em todas as outras verses, as maravilhas da corte do Preste Joo, citando-o logo no comeo Presbiter Johannes potentia et virtude Dei.... Os seus territrios so muito extensos e compreendem mesmo a ndia. Pela leitura das obras sobre os descobrimentos, vemos que os mentores de tal empresa tiveram conhecimento, desde cedo, da lenda relativa ao rei-sacerdote, ou atravs de notcias orais, ou por esta verso da Carta. 4. Os portugueses procuravam o Preste Joo desde o Infante D.Henrique, convencidos de que o iam encontrar na costa atlntica, em frica. Porm, o Preste Joo seria no s o senhor da Etipia, mas tambm das ndias. Da as vrias referncias costa da Guin at aos ndios que se encontram em documentos do sc. XV. No cap. XVI da Crnica dos Feitos da Guin, Azurara diz que o Infante D.Henrique, ao enviar Anto Gonalves, em 1442, o encarregara de ir terra dos Negros, e que colhesse notcias das ndias e da terra do Preste Joo se ser pudesse. De tal modo o misterioso personagem andava ligado sia que, quando em 1540 o Pe. Francisco lvares publicou o relato das suas andanas pela Etipia,

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ainda o relacionou com a ndia, ao dar o ttulo obra - Verdadeira Informao das Terras do Preste Joo das ndias. que os ainda deficientes conhecimentos geogrficos no permitiam estabelecer uma fronteira precisa entre a frica e a sia; da uma certa confuso entre a Etipia e a ndia. Nos mapas do sc. XIII esta confuso permanece; e, para Marco Polo, a Abissnia a ndia Mdia, situada para os lados da Nbia. No mapamndi dos Brgias (1410), figura uma ndia Etipica, a ocidente do Ganges; e na Imago Mundi (1410) os etopes so chamados ndios. 5. As Cruzadas, desde o seu incio, haviam permitido contactos culturais muito significativos; e o Ocidente comeou ento a experimentar os prazeres do luxo e do requinte. Alis Jerusalm, ainda antes da evangelizao, era j um ponto de encontro e convvio de muitos povos e raas. Nos Actos dos Apstolos (2, 1-11), S.Lucas, ao relatar a descida do Esprito Santo, refere-se s muitas gentes, falando as mais variadas lnguas, que a se encontravam: Partos, e Medos, e Elamitas, e os que habitam a Mesopotmia, a Judia e a Capadcia, o Ponto e a sia, a Frgia e a Panfbia, o Egipto e vrias partes da Lbia, que vizinha de Cirene, e os vindos de Roma, tanto Judeus como proslitos, Cretenses e rabes. Segundo os Evangelhos e as Epstolas, Cristo deu ordem aos apstolos para deixarem a sua terra e irem evangelizar todos os outros povos: Ide por todo o mundo, pregar o Evangelho a toda a criatura (...). E eles, tendo partido, pregaram por toda a parte (Marcos, 16, 14-20). Ora da tradio que Tom se dirigiu para a sia e ter cristianizado a ndia e a China. De cinco dos apstolos (Paulo, Pedro, Joo, Tiago e Judas Tadeu) ficaram-nos cartas destinadas a algumas das comunidades que iam fundando, situadas na actual Turquia, na Macednia, no Peloponeso e na Frgia (sia Menor). Falaremos um pouco dessas comunidades crists dos primeiros tempos, situadas a oriente, por elas estarem de certo modo ligadas formao e divulgao da lenda do Preste Joo. De S.Tom no se conhece carta alguma. Porm, mais tarde, surgiram as Actas de S.Tom, documento apcrifo que tambm deve ter contribudo para a divulgao da lenda. As Actas de S.Tom, escritas em siraco, foram depois traduzidas noutras lnguas, sendo a verso latina do sc.VI. Nelas se afirma ter sido S.Tom chamado por um rei parto; ter avanado depois pela ndia, que ter evangelizado. Quanto ao seu tmulo, alguns escritores situam-no em Edessa, na Mesopotmia, outros em Meliapor, na ndia. Foi a que Marco Polo o situou.

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Essas comunidades, que se admite terem sido fundadas por S.Tom, afastaram-se um tanto da ortodoxia crist e nelas se desenvolveram heresias, de que hoje ainda existem reminiscncias, tal como a Igreja Copta do Egipto ou a Igreja Jacobita da Sria. E foi assim que, desde cedo, por aquelas regies, se comearam a condenar tais desvios, em conclios. Logo, em 325, em Niceia, o imperador Constantino, coadjuvado por Atansio (295 - 373), patriarca de Alexandria, condenava a heresia ariana. Em 431, no conclio de feso, foi condenado Nestrius. Em 451, no conclio da Calcednia, so condenados os monofisitas. tambm num conclio da Calcednia que, em 784, so condenados os iconoclastas. Apesar da condenao, e de Nestrius se ter exilado para os desertos da Lbia, a sua doutrina permaneceu em Edessa; e, aquando do edito de Zeno, em 482, o Nestorianismo alargou-se pela Prsia. A se constituu em igreja independente, sob a direco de um patriarca intitulado Catlico. O seu apogeu situa-se entre 750 e 1258, no tempo dos Abssidas de Bagdade. Foi ao longo da rota da seda que o Nestorianismo exerceu a sua actividade misssionria, estando esta atestada historicamente desde o sc.IV, at regio de Madrasta. Passou pela Tartria, chegou ao golfo Prsico, passou ao Malabar e fixou-se em Ceilo e Coromandel. igreja nestoriana se deveu a cristianizao das tribos mongis Ongut, Naiman e Kerait. No tempo em que surgiu a lenda do Preste Joo, a comunidade crist mais florescente era realmente a dos Nestorianos. Nestorius (380 - 451), patriarca de Constantinopla de 428 a 431, fora acusado de heresia, por causa da sua doutrina sobre as duas pessoas existentes em Cristo; todavia, o Nestorianismo, espalhado na Mesopotmia e na Prsia, atravs da escola de Edessa, e alargado pela ndia e China, no sc. XII teria uns 200 bispados que agrupavam dezenas de milhes de fiis. A opulenta Edessa foi a capital do principado cristo, fundado por Godofredo de Bulho, aps a conquista de Jerusalm, em 1099. Era um baluarte contra o Islo, mas em 1144 foi tomada e saqueada pelos turcos seljcidas. Entrou em decadncia e os Nestorianos, aos poucos, abandonaram a sua f. Quanto China, est atestada a fundao de comunidades crists a partir de 635. esta a data apontada pelos actuais investigadores da Histria do Cristianismo, como sendo a da chegada a Xian, ento capital do Imprio do Centro, de Alopen, o primeiro religioso nestoriano no pas. A estela

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encontrada em Xian em 1625, relatando, em chins e em siraco, a chegada, estabelecimento e doutrina dos Nestorianos, datada do sc. VIII, do tempo da dinastia Tang (Cf. Descoberta de uma Cruz de Ferro, em 1627, in Monumenta Serica, vol. II, p.299). A permaneceram uns dois sculos; e pelo ano 1000 tero desaparecido. 6. Como j atrs dissemos, a lenda do Preste Joo ter tido como ponto de partida a existncia de comunidades crists no Oriente. Notcias vagas e fantasiosas sobre estas comunidades chegaram a Roma, trazidas por viajantes, mercadores, aventureiros, missionrios e peregrinos. Notcias que eram deturpadas e encorpadas de forma a darem peso de verdade necessidade que a Europa crist sentia de um apoio vindo daquelas regies, as quais imaginava ricas e poderosas. Irms na f, estas comunidades estariam igualmente assustadas com a fora do Islo; e igualmente estariam interessadas numa aliana com os irmos do Ocidente. Elas eram realmente em grande nmero. No em consonncia doutrinal, mas aceitando-se. Podemos reuni-las em trs grupos: a indiana, a tartrica e a abexim. Na comunidade abexim do reino de Axum (Etipia Central), havia sido adoptado o grego, no sc.III, como lngua oficial. Esta comunidade era o fruto da missionao do srio Fromentius, entre 280 e 330, que fora o seu primeiro bispo; e dependia do patriarca de Alexandria, ao tempo Atanasius, a quem competia nomear os bispos abexins. A forma de cristianismo seguida era a da Igreja copta (monofisismo ou jacobismo). Mantinham uma comunidade em Jerusalm e costumavam ir em peregrinao Terra Santa e ao Monte Sinai, pelo que, no Ocidente, se sabia da sua existncia. Porm, com o avano do Islo pelo Mar Vermelho e a conquista da Sria e Egipto em 632-642, a Abissnia entrou num perodo de isolamento crescente, at ficar inacessvel nos sc. XI a XV. 7. A lenda do rei-sacerdote assenta ainda noutros factos histricos. Foi um facto a derrota de Sandjar, sulto seljcida de Korasan, em 9 - IX - 1141, na batalha de Qatwan, perto de Samarcanda. Foi seu vencedor Yeh-lu Ta-Shib, o fundador do imprio Kara Khitay, o Cataio Negro, situado na sia Central, e que as crnicas chinesas declaram budista. Os bizantinos e srios consideravam-no cristo e identificaram-no como sendo o Preste Joo. O homem ideal para ajudar os cristos teria de ser, sem dvida, um heri guerreiro cristo vencedor de batalhas, com muitos vassalos e muitas riquezas. Da a hesitao, a busca, as mltiplas perso-

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nalidades que o Preste Joo vai incarnar, ora na sia, ora na frica. A mais antiga notcia, explcita e pormenorizada, sobre o Preste Joo, foi dada em Viterbo, na corte do Papa Eugnio III, em 18 - XI 1145, por Hugo, um bispo srio de Gabala, mas de origem francesa, que vinha pedir auxlio ao Ocidente, aps a tomada de Edessa pelos infiis, em 1144. Falou ento de um grande senhor, cujo imprio se estendia a leste da Prsia e da Armnia, que havia alcanado uma retumbante vitria sobre os medos e persas; e que tivera mesmo a inteno de libertar Jerusalm. Tratava-se de um rei-sacerdote, descendente de um dos Magos, cristo nestoriano, poderosssimo. Estava presente o bispo Otto von Freisingen que ouviu toda esta histria e a registou na sua Crnica. O bispo de Gabala (na Sria), falou de profecias segundo as quais esse rei-sacerdote esmagaria definitivamente o Islo. Profecias relacionadas com Edessa (cada nas mos dos turcos seljcidas no ano anterior), a que estavam ligadas algumas estrias crists; no s ter sido o primeiro estado cristo do mundo, como o seu rei Abgar V teria mantido correspondncia com Cristo, a quem teria oferecido asilo, para o subtrair s perseguies dos judeus. Edessa ficou assim ornada de uma aura mtica: cidade bendita, da qual o inimigo no se apoderar para sempre. A derrota que estes turcos seljcidas haviam sofrido em 1141, havia-lhes sido infligida pelo rei dos Kara-Khitay (Cataio, China), de religio budista, e no por um suposto rei cristo, que teria sido o Preste Joo, como referia o prelado de Gabala. Como atrs referimos, em 1122, um arcebispo das ndias, chamado Joo, chegara corte pontifcia de Calixto II. Referiu os muitos milagres que fazia S.Tom, junto do seu tmulo; e falou da converso de muitos soberanos indianos. Estas notcias e outras do gnero eram divulgadas por peregrinos chegados Terra Santa: para alm da Armnia e da Prsia haveria um rei cristo poderosssimo, de quem se comeava a falar por forma vaga e misteriosa. Em 1144 fora a tomada de Edessa pelos turcos seljcidas, aps quase meio sculo de domnio franco. A emoo grande; e o nome do Preste Joo comea a ser divulgado como o de um salvador com quem os cristos podem contar. Ser ele o Gur-Khn, rei dos Qara Khitay, que em 1141 venceu o sulto Sanjar? Assim se sups; porm Gur-Khn no era cristo. pouco depois desta data que comeam a circular pela Europa as tradues da carta apcrifa dirigida ao imperador bizantino Manuel Comnio (1143-1180). verso em latim tem-se-lhe

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atribudo a data aproximada de 1165; e foi a partir desta data que o clrigo Roau dArundel fez a mais antiga verso em francs. Supe-se que uma verso em alemo ter sido enviada a Frederico Barba Roxa (1152 1190), por Cristiano, arcebispo de Mogncia (1165-1183). tambm por esta data que Filipe, mdico particular de Alexandre III (1159-1181), ter ido em peregrinao a Jerusalm e a contactado com abexins. No regresso falou ao papa num certo Preste Joo da ndia, que queria ser instrudo no verdadeiro catolicismo, e que gostaria de ter uma igreja em Roma e um altar em Jerusalm. Filipe insiste para que o papa lhe escreva. Ento, a 27 - IX - 1177, Alexandre III envia uma mensagem quele carssimo filho em Cristo o clebre e magnfico Rei das ndias e Santssimo Preste. Parece ter sido o prprio Filipe o encarregado de levar a carta, mas desconhece-se o que lhe veio a suceder. 8. Chega-se ao sc. XIII, e a lenda continua a entusiasmar o Ocidente. Ao ser preparada a 5. Cruzada (1217 - 1221), o esprito dos cristos entra numa exaltao de profetismo, entusiasmados com a conquista de Constantinopla e a fundao do Imprio Latino em 1204. Cresce a esperana numa empresa plenamente redentora; e cr-se que David, de quem alguns textos falam como rex Judaeorum um filho do Preste Joo, que vir salvar o seu povo, o populus absconsus desde Alexandre Magno, (356 - 323 a. C.). Este povo escondido est para l do mar Cspio, e seria certamente judeu...Tambm Tiago de Vitry, bispo de Acre (+_ 1221) se refere a um David, rei das duas ndias, que seria o prprio Preste Joo e que vir salvar a Cristandande. De acordo com as fantasias da Carta, h no seu reino povos canibais, que devoram os mouros, e que so por isso muito teis na guerra. Por esta data, 1221, Gengis-Khan atingia o Cspio e era o flagelo do Islo. Gengis-Khan (1155 - 1226), fundador do imprio dos Trtaros, venceu muitas guerras, unificou as tribos mongis e conquistou uma parte da China. O seu reino, que confinava com a Prsia e o Afganisto, era o mais vasto do tempo e recebia a vassalagem dos soberanos turcos. Enrgico, audaz, astucioso e cruel, Gengis-Khan foi o terror dos cristos e muulmanos. Por isso o imperador Francisco II e os pontfices procuraram o seu relacionamento. Constou ser cristo, o que no era exacto. Gengis-Khan no defendia ou praticava qualquer religio, mas apenas era tolerante com todas, admitindo no seu imprio, por convenincia, hinduistas, budistas, muulmanos, judeus e cristos.

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O Gengis-Khan no podia, pois, ser identificado com o mtico reisacerdote Preste Joo. Em Portugal era conhecido, pois h um Gran Khan que aparece referido nas nossas Cantigas de Escrnio e Maldizer. Podemos citar a cantiga de Pedro Amigo de Sevilha, sobre a teno entre Joo Baveca e Pero dAmbroa (com o n. 314, na edio de Rodrigues Lapa): Sobre que ouveron de pelejar Joan Baveca e Pero dAmbra? sobre - la terra de Jerusalen que diziam que sabian mui ben. ................................................ Joan Baveca e Pero dAmbra ar departiron logo no Gran Can; e pelejaron sobr esto de pran. A esta cantiga atribuda a data de 1260, aproximadamente, portanto uma trintena de anos depois da morte de Gengis Khan. Nada nos diz que fosse, entre ns, confundido com o Preste Joo, o que sucedeu noutros lados. Como j dissemos, o rei-sacerdote incarnou diferentes personalidades. Dada a vastido territorial da ndia e a indefinio dos seus limites, tambm o Preste Joo das ndias foi confundido com David, um rei da Gergia que defendia as Portas de Ferro contra os to detestados povos de Gog e Magog. No se sabia quem era, nem onde se situava o seu reino maravilhoso; mas era grande o interesse em conseguir com ele uma aliana. No Conclio de Lio (1245 - 1247), toma-se a deciso de tentar contactar o Preste Joo; e Joo Piano del Carpine encarregado da misso. Tambm poucos anos depois, Guilherme de Rubruk encarregado de idntica misso (1253 - 1256) por S. Luis, rei de Frana. Falava-se ento na converso de um rei turco-mongol, que se teria convertido aps ter ganho uma batalha. Chamava-se Uang-Khan, mas que, depois do baptismo, teria passado a chamar-se Presbyter Johan. Marco Polo (1271 - 1296) refere esse Uang-Khan, soberano a quem todos prestam vassalagem e que falado em todo o mundo. A sua localizao vai do Gram Cataio frica. Levado pela imaginao frtil de ento, o Preste Joo situa-se, pois, nos mais variados pontos geogrficos. armnio, imperador das ndias, um heri da Tartria... Mas, onde quer que reine, qualquer que seja a sua identidade, sempre poderosssimo e cristo, em luta contra o Islo.

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9.Tambm aparece em portulanos e cartas dos sc. XIV e XV, por vezes de bculo e mitra, no Malabar, como sucede no portulano de Marino Sanuto. O portulano catalo da Biblioteca de Florena (1433) tem, na parte oriental a seguinte legenda: Nesta regio reina um grande imperador, o Preste Joo, senhor dos ndios, que so negros por natureza. Finalmente situam-no na Etipia, por a haver espalhados jacobitas e nestorianos, por entre os coptas do Egipto. Num planisfrio annimo da primeira metade do sc. XV, a frica limitada ao sul pelo Mare ethiopiae; e na parte oriental esto representados trs homens com cabea de co (o que, segundo a Carta, existia no reino do Preste Joo). A seguir h uma legenda, onde se l: Nbia, pas dos cristos do Preste Joo, cujo imprio vai das proximidades do estreito de Cdis para sul, at ao rio do Ouro. H um erro geogrfico, mas a terra do Preste Joo est cada vez mais prxima da verdadeira situao da Abissnia. O facto deste pas ser cristo foi o motivo que lhe permitiu quebrar um pouco o isolamento em que se encontrava, havendo, desde o sc. XII, referncias a peregrinaes a Jerusalm, onde existiam dois mosteiros abexins. Como a nomeao de prelados era sempre feita pelos patriarcas coptas de Alexandria e pelos sultes do Cairo, sempre que algum falecia era necessrio enviar uma embaixada ao Egipto. Alm disso, esses lugares eram sempre ocupados por monges egpcios, aos quais competia ordenar o clero abexim. Os contactos eram ainda reforados pela presena de muitos monges abexins em conventos egpcios. Eram os monges que, nas suas frequentes peregrinaes a Jerusalm, forneciam notcias suas ao Ocidente. Pelo que, nos sc. XIII e XIV, surgem algumas obras sobre aquele pas. Guilherme Adam preocupa-se com a maneira de destruir os sarracenos; e ensinava como se poderia atravessar o seu territrio, para que as tropas do Ocidente pudessem juntar-se s do imperador etope. ento que se comea a identificar o lendrio Preste Joo com aquele soberano, como faz na sua obra o dominicano Jourdan de Sverac, bispo de Coulo, em 1324. uma ideia que, misturada com muita fantasia e estrias bblicas, se vai repetir em vrias outras obras de ento, o que provoca um recrudescimento do interesse da Europa pelo Preste Joo. certo que, em 1244, havia-se perdido o reino latino de Jerusalm; e com a 7. cruzada (1248 - 1254), nada se conseguiu recuperar. Em 1268, perde-se Antioquia. Organiza-se uma nova cruzada, a ltima, em 1270; mas os resultados colhidos so nulos. O ideal dos cruzados torna-se frus-

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trao. No entanto o mito do Preste Joo continua a alimentar as esperanas dos ocidentais: O mito o nada que tudo. Depois da queda de S. Joo de Acre, em 1291, o desalento dos cristos leva-os a sugerirem a interveno da Etipia crist; e, em 1309, Marino Sanuto, no seu Liber Secretorum Fidelium Crucis, planeia o desembarque dos cruzados no Egipto, onde teriam o auxlio dos cristos negros da Nbia e das outras regies do Alto Egipto, os quais atacariam por terra. Ora, com a ltima grande invaso mongol (1336 - 1405), haviam ficado arruinadas definitivamente as comunidades crists da sia Central. E, deste modo, maiores motivos existiam para a procura do reisacerdote em terras africanas. 10. Os primeiros emissrios de Roma chegaram corte etope em 1316. Era tentador o plano de bloqueio ao Mar Vermelho, sugerido pelo dominicano Guilherme Adam, em 1317, em que interviriam os etopes cristos; povo poderoso que possui cinco reinos, incluindo o pas a que se chama Nbia. Este povo poderoso deveria ser o do Preste Joo; no entanto Guilherme Adam no deveria conhecer a carta apcrifa do sc. XII, em que o prprio Preste diz ter sob o seu poder 72 reinos (na verso seguinte, tambm em francs, esse nmero baixou para 42...). No sc. XV intensificam-se ento as relaes com a Etipia. Em 1402, no reinado do negus David I (1382 - 1411)), chega a Veneza uma embaixada enviada por este rei. David I havia transformado a luta contra o Islo numa guerra santa, pelo que deseja um bom relacionamento com a Europa crist, tal como esta o desejava desde j h algum tempo. Com os membros da embaixada vo para a Etipia alguns artistas italianos. E os contactos sucedem-se. Poucos anos depois, em 1408, em Bolonha que so recebidos os enviados do Preste Joo; e, em 1441, chegam a Florena alguns delegados etopes da comunidade de Jerusalm. Vinham tomar parte no conclio, aps contactos entre o Papa e o Patriarca de Alexandria. Tambm Afonso V, rei de Arago e Npoles, recebe, em 1427, uma embaixada do negus Yetshaque, com uma proposta de aliana contra o Islo. Foi tambm Yetshaque que enviou uma embaixada ao duque de Berry. Outros imperadores, Zara Jacob (1434 - 1468) e Baeda Maryam (1468 - 1478) corresponderam-se mesmo com o Papa e com Afonso V de Arago. Em 1450, vem uma nova embaixada etope que recebida em Npoles; e, em 1481, o Papa Sisto VI recebe uma misso vinda igualmente da Abissnia. Tambm em 1450 - 1451 o imperador etope enviou uma

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embaixada ao rei de Arago. Foi um dos membros dessa embaixada que se separou do grupo e veio a Portugal; e em 1452 assinalamos a presena de um abexim, chamado Jorge Sur, de quem se diz ter vindo de Roma. Faz-lhe referncia um documento da Chancelaria do nosso D. Afonso V, designando-o por embaixador do Preste Joo. Como o interesse nestes contactos era recproco, alguns mensageiros so enviados Etipia. De Frana, partem emissrios do Duque de Berry, com mensagens para o negus, atingindo Choa entre 1430 e 1432. Em 1482, Sisto VI, aps ter recebido uma embaixada no ano anterior, agora a sua vez de tambm enviar uma embaixada ao reino do Preste Joo. Entretanto, na cartografia, comea a notar-se um maior rigor nas anotaes, resultante certamente de informaes pormenorizadas, fornecidas pelos delegados etopes ao conclio de Florena, ou por membros das embaixadas, e talvez tambm pelos monges da comunidade de Jerusalm. Depois de Marco Polo, eram grandes os progressos feitos na cartografia: no atlas catalo, de 1375 1380, no planisfrio catalo de meados do sc. XV, e no mapa de Fra Mauro, de 1460, para citar apenas os mais notveis. Contudo, os conhecimentos geogrficos relativos ao Nilo eram os mesmos dos sculos anteriores, de acordo com o saber de Edrise, Santo Isidoro de Sevilha, Pompnio Mela e Paulo Osrio. S no sc. XVI as navegaes portuguesas puderam impor novos conhecimentos geogrficos e o desfazer de muitas lendas. S ento o Senegal deixou de ser um brao do Nilo. O mundo maravilhoso que se descreve na carta apcrifa, com riquezas fabulosas, animais fantsticos e guas miraculosas, nada tinha a ver com aquele que os navegadores portugueses, venezianos, genoveses ou catales agora comeavam a conhecer. Todavia, continua a crer-se na existncia de homens com cabea de co ou com quatro olhos. Era difcil deixar morrer o mito, porque os interesses comerciais tinham muito peso. 11. E em Portugal, o que se passava ento? D. Afonso, conde de Barcelos, filho natural de D. Joo I, fora em peregrinao Terra Santa, por volta de 1410. No regresso de Jerusalm, D. Afonso esteve em Veneza, foi acolhido com muita honra e, dessa viagem, deve ter trazido preciosas informaes. Porm, quem mais informaes deve ter fornecido sobre aquela parte do mundo ainda to mal conhecido, foi antes o seu irmo D. Pedro, de quem se dizia ter percorrido as sete partidas do mundo. O Infante D. Pedro (1392 - 1449), duque de Coimbra, sau de Portugal em 1418; e tanto viajou que Gomes de Santo

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Estvo, um dos doze que o acompanharam, deu a uma sua obra o seguinte ttulo: Livro (ou Auto) do Infante D. Pedro de Portugal, o qual andou as sete partidas do mundo. Depois de quatro ou cinco anos pela Europa, D. Pedro tomou a direco da ilha do Chipre e seguiu o itinerrio dos cruzados. Foi recebido pelo sulto turco Amurat II em Patras, passou pelo golfo de Lepanto, visitou Constantinopla e talvez uma parte da sia; em seguida esteve no Egipto, do Cairo seguiu para babilnia, regressou a Alexandria e ao Cairo. Decidiu ir s terras do Preste Joo e partiu em direco Palestina. Visitou os Lugares Santos e veio de novo ao Cairo. Da partiu para lugares incertos de onde s se tm vagas notcias. Depois atravessou o Mediterrneo e visitou a Europa, at aos pases nrdicos, de onde regressa a Veneza. A lhe oferecem o livro de Marco Polo e mapas de terras longnquas. Em Maio de 1428 est em Roma, e nesse mesmo ano est de volta a Portugal. Inteligente e culto, aps um to longo deambular, quantas informaes valiosas no ter fornecido ao irmo navegador?! Em 1453 a tomada de Constantinopla, o que impede o acesso ao mar Negro; e o mar Vermelho torna-se a estrada comercial que leva aos portos do Oriente. Uma aliana com o Preste Joo seria cada vez mais desejvel, pois era o reino cristo que, pela rectaguarda, poderia proteger os navegadores europeus dos ataques do Islo. Portugal, Arago e as repblicas italianas continuavam a tentar uma to promissora aliana. Contudo o Preste Joo continuava a reinar em local duvidoso, porque persistia a confuso entre a ndia e a Etipia. Em 1454, D. Afonso V refere, numa carta rgia, que o infante D. Henrique mandara conquistar as praias de Guin de Nubia e Etipia, como se este pas fosse banhado pelo Atlntico. E Duarte Pacheco Pereira (1460? - 1533) estava convencido de que o Senegal era o princpio dos etopes e que a Etipia baixa ocidental descia pela costa at ao Cabo da Boa Esperana. A confuso agora no era com a ndia, mas com a Guin, ou melhor, com a terra dos homens negros da carapinha. Deste modo, por meados do sc. XV, atravs da frica Ocidental que se procura obter informaes sobre o reino do Preste Joo, por se crer poder l chegar seguindo o rio do Ouro. D. Joo II, (1455 - 1495), aps ter enviado emissrios procura de informaes, dever ter confundido o rei africano Ogan com o Preste Joo. Os negros de Benim falavam do reino de Ogan, situado a vinte luas de jornada para o nascente, o que correspondia aproximadamente a 250 lguas (para cima de 1000 Km). O Ogan devia ser o senhor de terras ao

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sul do Egipto. Segundo Joo de Barros (Dcada I, livro III, c.5), de tal modo D. Joo II esperava contactar o Preste Joo que lhe enviou uma carta: Ordenou mais El - rei com o mesmo Marcos que trasladasse uma carta pera trez ou quatro vias, a qual mostrava ser dele Marcos enviada ao Preste Joo. Lucas Marcos era um monge abexim que se encontrava em Roma e viera a Portugal. D. Joo II fizera-lhe um inqurito lingustico, no sentido de formar uma lista das palavras mais correntes da lngua etope, para ser utilizada pelos descobridores portugueses: ao atingirem terras na costa africana, comparariam essas palavras com as locais, e assim tentariam perceber se estavam prximos ou longe das terras do Preste Joo. Um parentesco vocabular seria um sinal de proximidade geogrfica. Esta pesquisa, porm, perdeu todo o seu significado, logo que foi dobrado o Cabo da Boa Esperana. O trajecto a seguir agora atravs do mar Vermelho. Depois de ter enviado dois frades que s chegaram a Jerusalm e regressaram sem trazer as desejadas informaes, D. Joo II envia ento dois homens com melhor preparao, sobretudo por saberem exprimir-se em rabe - Pero da Covilh e Afonso de Paiva, que saram de Santarm a 7-V-1487. Depois de muitas andanas, graves perigos e maiores peripcias, Afonso de Paiva morre no Cairo e Pero da Covilh chega Abissnia em 1494, de onde no mais voltou, por no ter conseguido que o soberano o autorizasse a regressar. Aprendeu a falar e a escrever o abexim, conviveu com o pintor veneziano Nicola Bianca Leone, fez fortuna, casou e teve filhos. No regressou, mas deu notcias ao rei. Em 1498, chegam os portugueses ndia e encontram a fora do Islo por a bem estabelecida. Por isso, ao defrontarem-se com o poderio muulmano no Mar Vermelho, de novo surge a necessidade de uma aliana com o lendrio rei-sacerdote. Depois de terem verificado que a Abissnia no se situava na costa ocidental da frica, os portugueses comearam ento a procurar atingi-la pela costa oriental e pelo mar Vermelho. Segundo notcias colhidas por Vasco da Gama, na primeira viagem ndia, o fabuloso reino no chegava ao mar, mas ficava no interior das terras. As desiluses sucediam-se; todavia maior era a perseverana dos monarcas portugueses. 12. No sc. XVI, prosseguem os esforos para encontrar o Preste Joo; e, em 1506, faz-se uma terceira tentativa, enviando Joo Gomes e Joo Sanches, com Sid Mohamed, na armada de Tristo da Cunha. Desembarcaram em Melinde e l permaneceram at que, em 1508, a

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chega Afonso de albuquerque, que os faz seguir caminho e lhes entrega cartas em arbico e em portugus. No regressam a Portugal, mas sabe-se que Joo Gomes chegou Abissnia, por uma carta a Afonso de Albuquerque, de 16-XII-1512. Mais ainda: era o tempo de Helena, rainha regente, culta e piedosa, que muito se interessou por Portugal; e que enviou uma carta ao nosso rei D. Manuel, pela mo de Mateus, seu embaixador, que chega a Lisboa em Fevereiro de 1514. Esta carta encontra-se, com pequenas alteraes, em Ferno Lopes de Castanheda, Livro III, cap. 98; na Crnica de D. Manuel, de Damio de Gis, na Carta das Novas que vieram a el Rey Nosso Senhor do Descobrimento do Preste Joh (Lisboa, 1521) e no Cdice de Alcobaa, n. 297. A rainha Helena trata D. Manuel por seu irmo e prope-lhe ajuda por terra, contra os infiis. Sobre a identidade de Mateus, h vrias verses: armnio, muulmano recm-convertido, cristo egpcio, cunhado do imperador etope... O que parece ser certo que era branco, cristo, de meia idade e de porte distinto, casado e acompanhado pela esposa e uma sua dama de companhia. O seu nome etope era Abrao, segundo informou o Preste Joo na sua carta a D. Manuel. So muito interessantes as peripcias relativas `a viagem de Mateus; mas no podemos aqui referi-las por no caberem no mbito deste trabalho. Diremos muito resumidamente que Mateus foi considerado como um espio e embusteiro pelos oficiais do barco que o trouxe, foi agredido fisicamente, posto a ferros e roubado. chegada a Lisboa os seus agressores fugiram e D. Manuel recebeu-o com todas as honras, como um enviado do Cu, tendo escrito imediatamente cartas para Veneza, Castela e Roma, a dar a notcia. Leo X oferece-lhe ento a Rosa de Ouro que envia em 1-V1514, juntamente com a bula Consecravimus more maiorum. Igualmente exultante de alegria ficou Afonso de Albuquerque, sobretudo ao saber do bom acolhimento feito pelo rei a Mateus, porque o Preste Joo era um elemento importante na realizao dos seus planos! Tinham falhado as intrigas para boicotar os projectos expansionistas tanto do rei como do Vice-Rei; e, agora, a primeira mensagem autntica do Preste Joo chegara s mos de D. Manuel! J na posse de informaes sobre a constituio geogrfica do pas, Afonso de Albuquerque retoma um projecto que vinha j de alguns sculos atrs: desviar o curso do Nilo para aniquilar o Egipto. de 1317 a Obra de Guilherme Adam, Sobre a Maneira de Destruir os Sarracenos; e tambm Afonso V de Arago havia tido uma viso estratgica semelhante `a de Afonso de Albuquerque. Por isso deseja este Vice -

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Rei que lhe sejam mandados homens da ilha da Madeira, com prtica do corte de levadas atravs das serranias, para desviarem as guas do Nilo. Realizado este projecto, o Preste Joo teria todo o poder em terra; e Portugal manteria a sua superioridade no mar, o que lhe permitiria o domnio do comrcio das especiarias, por via martima. Paradoxalmente, este projecto fora elaborado num momento em que, aps a conquista de Goa e Malaca, o poderio portugus tendia a fixar-se mais a Oriente. Estava finalmente bem localizado esse mtico pas do Preste Joo, to sonhado, imaginado e procurado desde o sc. XII. Entusiasmado, Damio de Gis referiu a vinda do embaixador Mateus, no folheto Legatio Magni Indorum Imperatoris Presbyteri Ioannis, ad Emanuelem Lusitaniae Regem, Anno Domini MDXIII. E a relquia do Santo Lenho, que a rainha Helena enviara a D. Manuel, foi depois mandada ao papa Adriano VI, em 1522, como oferta de D. Joo III (Cf. Frei Luis de Sousa, Anais de D. Joo III, vol.I). Persistia o ideal de cruzada - Jerusalm seria libertada - e, pela aliana ao mtico Preste Joo, alargar-se-ia a f e o imprio. Nesse sentido, D.Manuel nomeara o velho cronista Duarte Galvo, em 1513, como embaixador ao Preste, a quem levaria um rico presente. Lopo Soares de Albergaria, sucessor de Afonso de Albuquerque, sai, pois, de Lisboa em 1515. Na sua armada seguem o septuagenrio Duarte Galvo, o embaixador etope Mateus e o Pe. Francisco lvares. Surgem problemas e atribulaes, morre Duarte Galvo, e tudo isto causa de demoras. Diogo Lopes Sequeira, que sucede a Lopo Soares de Albergaria, reorganiza , em 1520, a embaixada ao Preste Joo, a qual, chefiada por D. Rodrigo de Lima, chega terra ambicionada em 1521. Finalmente tinha-se chegado ao pas das maravilhas, com guas miraculosas, ouro e pedras preciosas, poderio, riqueza e felicidade, as grandezas apregoadas pela carta apcrifa do sc. XII. Nesse ano de 1521, ao receber D. Manuel a notcia de que a embaixada enviada ao Preste Joo, na companhia de Mateus, entrara finalmente na terra procurada, foi publicada ento a Carta das Novas que vieram a El - Rei Nosso Senhor do Descobrimento do Preste Joo (Lisboa, 1521). Dela se fez uma verso latina, intitulada Epistola Super foedere cum Presbytero Ioanne. Tambm em Lisboa, e no mesmo ano, foi traduzida em francs. O sucesso e o interesse por estas notcias foi tal, que, pouco depois, era traduzida e publicada em Roma. A Portugal coube a honra de difundir pela Europa as primeiras notcias autnticas sobre as terras do

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Preste Joo. Igualmente foi publicada a carta que a rainha Helena enviara a D. Manuel, em verso portuguesa: Trelado da carta que ho Preste Johan enviou a el Rey nosso Senhor, por seu embaixador Matheus, no anno de mil e quinhentos e quatorze. Apensa ao opsculo da Carta das Novas, tambm ela percorreu a Europa. Estava firmada a sacrossanta aliana da nossa F, assim escrevia D. Manuel ao Papa, na carta de 8-V-1521. 13. Entretanto a embaixada portuguesa permanece no pas do Preste Joo. Durante estes anos (partida de Lisboa em 1513 e chegada a Abissnia em 1521) deteriora-se o presente riqussimo enviado por D. Manuel; e houve a necessidade de improvisar um outro, francamente inferior. Todavia dele constava algo muito importante: um mapa - mundi, para mostrar aos etopes que a terra redonda. No livro que depois escreveria, Verdadeira Informao das terras do Preste Joo das ndias (1540), o Pe. Francisco lvares d-nos conta de como foram recebidos pelo Preste Joo, que no era Preste, nem se chamava Joo. Faremos agora uma anlise ao nome desta personagem lendria. Preste no oferece qualquer dificuldade: trata-se de uma forma derivada do latim eclesial presbyter, que, por sua vez, deriva do grego presbyteros. Preste era a palavra utilizada no francs arcaico com o significado de aquele que se ocupa da salvao dos fiis, forma que existia igualmente na lngua castelhana. A preste corresponde o prtre do francs contemporneo (=padre, sacerdote). Quanto a Joo, j mais problemtico. Primeiramente devemos informar que no se trata de um antropnimo, como poderia julgar-se por haver esse mesmo nome nas lnguas ocidentais. Ele , afinal, apenas a adequao fontica e grfica a esse nome. Alguns autores tm pretendido derivar o siraco Juhanan de Jur - Khan, ttulo usado pelos descendentes de Ye - liu Ta-che. Outros admitem tratar-se de Vizan, um discpulo de S. Tom, seu sucessor espiritual na comunidade crist da ndia. Trata-se de um nome persa que figura nas Actas de S.Tom; e que, trasladado para siraco, se tornou no equivalente de Joo. De Preste Joo como ttulo e no antropnimo se deu conta Francisco lvares : visitou uma igreja onde jaz um Preste Joo ; e refere-se a outros Prestes Joo. Quando fala do imperador, diz sempre o Preste Joo, mas sabe que no esse o seu nome prprio. A prpria rainha Helena era um Preste Joo, o que mostra claramente tratar-se de um ttulo, ou cargo. Francisco lvares descreve como decorreram os seis anos que a permaneceu, observando e interrogando, e de tudo tomando nota. Mais

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desiludido do que encantado. Afinal, a clebre Carta descrevia um pas de sonho, que em nada correspondia realidade: havia ali misria, crime, dio, apedrejamentos, guerra, fome, roubo, crueldade. Nada das grandezas e maravilhas anunciadas. Foi o desmoronamento do mito do Preste Joo. A Abissnia, Abssia ou Etipia, era um pas semi-brbaro, sem interesse poltico, sem capacidade militar, cristo sim, mas hertico; que em nada contribuiria para o nosso projecto comercial. Intil para nos ajudar, tanto no alargamento da f como do imprio. Desapareceu o pattico, o grandioso, o fantstico da Carta do sc. XII. Afinal o palcio de cristal onde o Preste Joo reside apenas uma tenda de nmada. Com Francisco lvares passa-se do sensacionalismo observao atenta e descrio do real, em pormenor, mais com objectivos utilitrios do que com preocupaes estticas, embora no alheio qualidade literria. Vale a pena citar, a este respeito, a descrio - retrato do Preste Joo (p.161) em que ocupa 18 linhas. A primeira edio da Verdadeira Informao das Terras do Preste Joo das ndias de 1540. O sucesso foi tal que, logo no sc XVI foi traduzido em quatro lnguas europeias, com sete edies : trs em castelhano; duas em francs; uma em italiano; e uma em alemo. Era a primeira informao cientfica, sobre o Preste Joo, que a Europa conhecia; da o seu entusiasmo. Em portugus, nos sculos seguintes, foram ainda feitas mais trs edies, sendo a ltima de 1974. Quanto a tradues, houve mais uma em francs, em 1830; duas em ingls, em 1881 e 1961; e uma em amrico, em 1966. O sucesso da obra do Pe. Francisco lvares foi, pois, enorme. A Verdadeira Informao das Terras do Preste Joo contm, na Parte II, a traduo de trs cartas enviadas pelo Preste Joo : a Diogo Lopes de Sequeira, capito-mor da armada ( cap.II); a D. Manuel (cap.VII) e a D. Joo III (cap. VIII). Em todas estas cartas o imperador enumera os seus ascendentes bblicos; faz protestos de amizade e colaborao com Portugal na guerra contra os mouros; e pede o envio de artistas nossos, de todos os ofcios, sobretudo que saibam trabalhar os metais e fabricar telhas, pois s sabem cobrir as suas casas com ervas. Como a realidade era diferente daqueles palcios descritos na Carta do sc. XII !... O Preste Joo intrigou, entusiasmou, incentivou, dinamizou. Foi estmulo contra o Islo. Mas o Preste Joo do Pe. Francisco lvares em nada se pode identificar com o Preste Joo da Carta . Afinal quem era o Preste Joo?

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A procura do Preste Joo permitiu e favoreceu um encontro de culturas, de que o homem sau mais rico. O contacto com o diferente, sendo um convite reflexo, deu ao homem ocidental a conscincia do relativo e abriu-lhe o esprito no sentido do ecumenismo - apreo pelo Outro, desabsolutizao e desabrochar de tolerncia. Basta que recordemos o Regimento que o capito Lopes de Sequeira deu ao embaixador D.Rodrigo de Lima, em 25-IV-1520. Devia este observar tudo o que se passava no reino do Preste Joo, indagar, ver e ouvir, para informar o rei. Porm, a primeira regra era essencial : o respeito pelos costumes e crenas alheias, estando-lhe proibido qualquer discusso que perturbasse toda a paaz e booa concordia. Um caminhar para o humanismo filantrpico. Mas a Etipia desiludiu o Ocidente. 14.Houve na Etipia uma dinastia de reis Salomnidas, que se davam como descendentes de Salomo, rei de Israel ( 970-931 a.C.) e da rainha de Sab (hoje Yemen). Ora, tendo em conta que outros reis etopes se consideravam descendentes dos Magos idos adorar Jesus no prespio, compreendemos como eram fortes os motivos que tinham os imperadores etopes para se sentirem superiores. O imperador David, aquele que reinava aquando da embaixada portuguesa, gosta de alongarse, nas suas cartas, a enumerar os seus ascendentes. Ele o Incenso da Virgem e da linhagem de reis e patriarcas bblicos. Profundamente cristo, ele invoca a Cristo, incessantemente, num dio profundo a todo aquele que no cristo. Porm, a sua doutrina no s estava afastada da seguida pelos europeus, como a f abexim, dividida por confusos conflitos e enfraquecida aps a ocupao turca, em 1558, passou a ser renegada. Eram estes reis salomnidas que governavam a Abissnia no tempo dos contactos com Portugal. Houve grande prosperidade no reinado de Lebna Dengel (1508 - 1540). Este foi porm derrotado antes que os portugueses tivessem podido combinar o plano para evitar o avano dos turcos pelo Mar Vermelho. A frota otomana derrotou a portuguesa, em 1541; e Cristvo da Gama (filho de Vasco da Gama) que havia desembarcado 400 homens para socorrer os etopes, foi preso e martirizado. Igualmente perdeu a vida o jovem negus Claude, aliado dos portugueses. O Preste Joo poderoso e rico, cuja aliana tanto se tinha desejado, era afinal algum que precisava da nossa ajuda. Lenda que se fez histria e acabou em trgica epopeia.

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Depois do regresso do Pe. Francisco lvares, a Europa, embora desiludida com a pequena magnificncia do Preste Joo, continuou ainda a interessar-se pela Etipia; e Roma para a envia, em 1554, alguns jesutas conduzidos pelo bispo espanhol Andr dOviedo. Mas os seus esforos para catolicizar os etopes foram vos e mais um sonho se desfez, ao aproximar-se o fim do sculo. Figura mtica, misto de autoridade religiosa e poltica, sacerdote cristo e monarca oriental poderosssimo, a reinar em lugares incertos, inacessveis, misteriosos. Figura compsita, formada a partir dos mais diversos elementos, caractersticos de um fantstico Oriente, eivado de latinidade. Zan e Preste, lenda, mito e histria eivada de estrias. O real e o fabuloso entrelaados. Um fabuloso que foi impulso ao facto histrico: procurar at encontrar. Um mito condutor e produtor de alargamento de horizontes, num precisar de conhecimentos geogrficos e histricos. Em 1540, com a publicao e divulgao, pela Europa, do relato da sua estadia de seis anos, no reino do Preste Joo, o Pe. Francisco lvares dava, pois, o golpe de misericrdia naquele que foi criao mtica surgida de um anseio colectivo, no tempo das Cruzadas.

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