maria margarida da silva carreira martins · maria margarida da silva carreira martins ......
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abril de 2016
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Maria Margarida da Silva Carreira Martins
Excelência na Gestão Empresarial: Variáveis Pessoais e Contextuais no Percurso deFormação e de Exercício Profissional
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Universidade do MinhoInstituto de Educação
Trabalho realizado sob a orientação doProf. Doutor Leandro da Silva Almeidae do Prof. Doutor José Fernando Azevedo Cruz
Tese de Doutoramento em Ciências da EducaçãoEspecialidade em Psicologia da Educação
abril de 2016
Maria Margarida da Silva Carreira Martins
Excelência na Gestão Empresarial: Variáveis Pessoais e Contextuais no Percurso deFormação e de Exercício Profissional
Universidade do MinhoInstituto de Educação
v
AGRADECIMENTOS
A realização desta dissertação só poderá fazer sentido se olharmos para a diáspora
vivida ao longo destes últimos anos de vida. Porque os percursos de vida ficam
essencialmente marcados pelas emoções vividas com pessoas significativas e pelos
acontecimentos que têm a magia de nos prender o ar que respiramos, será legítimo afirmar
que foram anos de grande desenvolvimento pessoal, desafiadores, mas também de muito
trabalho.
Em primeiro lugar quero agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Leandro
Almeida, pelo saber, pela partilha de conhecimentos, pela confiança, pela orientação ao
longo da realização deste trabalho, enfim pela amizade e respeito que sempre demonstrou
com esta sua aluna, por vezes tão dificil de compreender, demonstrando que aquilo que
poderá ser visto como inatíngivel, na realidade se tornará acessivel, se o nosso ser souber
concretizar o sonho.
Ao Professor Doutor José Cruz, pelos conselhos prestados no ínicio deste trabalho e
que em muito contribuíram para o seu desenvolvimento.
À Alexandra Araújo, pelo apoio imensurável em todos os momentos mais críticos,
pela discussão de ideias, pela partilha de experiências e conhecimentos, pela reciprocidade
que nos mais diversos momentos foram uma importante fonte de inspiração e de apoio para
concluir esta caminhada.
À Joana Casanova pelos últimos momentos que, sendo dificeis na gestão das
ansiedades, a magia do seu sorriso e boa disposição conseguiu torná-los inócuos.
Agradeço também a todos os professores e investigadores que, ao longo deste
percurso de formação, trouxeram os seus saberes para discussão e partilha.
vi
Igualmente agradeço aos colegas do GICAD, pelos momentos de partilha e de
discussão vividos nos encontros de sábado.
Aos gestores que participaram neste estudo, gostaria de manifestar a minha gratidão
por me terem recebido no seu mundo empresarial, pela sua disponibilidade e interesse
demonstrado, apesar das enormes limitações a nível de tempo.
Aos meus amigos agradeço o incentivo que sempre me foi dado para a realização
deste projeto.
Ao Rogério, um agradecimento especial, pelo seu constante apoio, pela sua
incondicional disponibilidade, pela paciência sempre presente numa ajuda, enfim, por saber
lidar com todas as ansiedades vividas ao longo deste percurso.
Aos meus filhos Ana e Pedro, agradeço o amor, o carinho e a compreensão que
sempre me deram, o que me permitiu chegar até aqui.
Aos meus netos, Diogo, Guilherme e Tiago, peço perdão pelas ausencias que
surgiram nos últimos meses, privando-os de ter uma avó a tempo inteiro.
À minha filha Catarina agradeço tudo aquilo que aprendi com ela. Porque os pais
também aprendem com os filhos, não foi o facto de ser a filha mais nova, que o impediu de
o fazer. Foi o seu arrojo, a sua coragem e a sua tenacidade que me ajudaram a ser quem sou
hoje. Por tudo isto e porque te amo muito, te dedico este trabalho.
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Ode
Para ser grande, sê inteiro: nada
teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
brilha, porque alta vive
Ricardo Reis, in Selecta Literária, 1969, p. 398
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ix
Excelência na gestão empresarial: Variáveis pessoais e contextuais no percurso de formação e de
exercício profissional
Esta tese centra-se no estudo da excelência profissional. Na atualidade, assume-se que os
desempenhos excelentes são necessários mas também difíceis de alcançar. Neste contexto,
têm surgido diversos estudos procurando explicar a excelência, colmatando a ausência de
investigação nacional neste domínio. Combinando metodologias qualitativas e
quantitativas, junto de gestores de empresa com desempenhos de excelência, procuramos
identificar as variáveis pessoais e contextuais presentes no seu percurso de formação e de
exercício profissional. Na parte teórica, elencamos os contributos decorrentes de três
grandes abordagens conceptuais (sobredotação ou talento, expertise e sabedoria),
analisando os seus pontos de convergência e divergência. Reconhecendo a grande
complexidade inerente ao estudo da excelência e a necessidade de utilizarmos instrumentos
adaptados ao contexto de realização da gestão empresarial, conduzimos estudos prévios de
adaptação e validação de um conjunto de escalas (Core Self-Evaluations Scale de Judge,
Erez, Bono, & Thoresen, 2003, o Political Skill Inventory de Ferris et al., 2005, a Passion
Toward Work Scale de Vallerand & Houlfort, 2003, e a Satisfaction With Life Scale de
Diener, Emmons, Larsen, & Griffin, 1985), junto de gestores empresariais portugueses. O
estudo empírico final, recorrendo a um design integrado, combina entrevistas
semiestruturadas com as respostas às quatro escalas psicológicas. Participaram neste estudo
14 gestores/gestores empresários distribuidos por três grupos: gestores(as) em início de
carreira (até 10 anos de função exercida na área de gestão), gestores(as) em exercício pleno
nas suas funções de gestor(a) (entre 11 a 24 anos de função exercida na área de gestão), e
gestores(as) em final de carreira (com mais de 25 anos de função exercida na área de
gestão), obtendo assim uma panorâmica de percursos profissionais desde o seu início até à
idade da reforma. As entrevistas foram analisadas a partir de um protocolo de análise de
conteúdo qualitativa, recorrendo a um software de análise de texto, NVivo. Os resultados
vão de encontro à literatura neste domínio, designadamente que não existe um fator único
explicativo do desempenho excelente, mas uma conjugação de fatores contextuais e
pessoais. Dos fatores contextuais destacamos o papel da familia, dos amigos e dos colegas,
além de uma relevância moderada que o contexto macro apresenta, quer pelas dinâmicas
dos mercados, quer por razões sociopolíticas. Nos fatores pessoais, salientam-se
características da personalidade, como a autoconfiança, a abertura à experiência, a
capacidade de adaptação e o gosto pela exigência e desafios, a capacidade de análise e
resolução de problemas, a criatividade e inovação, a autoeficácia, mas também no dominio
da motivação e paixão pelo trabalho e no dominio das relações interpessoais, como a
liderança, a influência interpessoal, o estabelecimento de redes de trabalho e o altruismo.
Por último, apresentam-se os contributos principais deste estudo, as limitações e os
constrangimentos com que nos confrontámos.
Palavras-chave: Excelência, Dotação, Talento, Gestão de empresas, Liderança
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Excellence in business management: The influence of personal and contextual variables in
training and professional life
The current study focuses on professional excellence. In the present moment, excellent
achievement is necessary but also hard to obtain. In this context, some studies have tried to
explain excellence, surpassing some gaps in the national research concerning this topic.
Combining qualitative and quantitative methodologies, this study aimed to identify
personal and contextual variables present in the training and professional lives of a group of
business managers with excellent performances. In the literature chapters, we highlight the
contributions from three main conceptual frameworks (giftedness, expertise and wisdom),
analyzing the convergent and divergent points of these approaches. As we acknowledge the
great complexity in the study of excellence and the need to use validated assessment
measures for business management environments, we conducted previous studies to adapt
and validate a group of scales for the assessment of Portuguese business managers (the
Core Self-Evaluations Scale, Judge, Erez, Bono, & Thoresen, 2003; the Political Skill
Inventory, Ferris et al., 2005; Passion Toward Work Scale, Vallerand & Houlfort, 2003; and
the Satisfaction With Life Scale, Diener, Emmons, Larsen, & Griffin, 1985). The final study,
with an integrated design, combines data from semi-structured interviews and the
managers’ responses to the four scales. Participants were 14 managers or business
managers distributed in three groups: junior managers (with less than 10 years of
management experience), senior managers (managers with an experience ranging from 11
to 24 years of management), and senior managers at the end of their career (with over 25
years of management experience), which allowed to describe the managers’ professional
paths from the beginning until retirement. The interviews were analyzed using qualitative
analysis with the NVivo data analysis software. The results support prior literature in the
field, showing that there is not one single, but an array of personal and contextual factors
that explain excellent performances. Concerning contextual factors, the role of the family,
friends and peers is consistently pointed as relevant for personal achievement, as are other
macro-system variables, such as the sociopolitical environment and market dynamics.
Regarding the personal factors, our study shows the importance of personality traits, such
as self-confidence, openness to experience, adaptation competencies and an interest in
challenges, analytical and problem solving skills, creativity and innovation, self-efficacy, as
well as motivation and passion toward work, and in the interpersonal domain characteristics
such as strong leadership, interpersonal influence, networking, and altruism. Finally, we
present the main contributions of this work and the limitations and constraints in this study.
Keywords: Excellence, Giftedness, Talent, Business Management, Leadership
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ……………………………………………………….…………
CAPITULO 1: ESTUDO DA EXCELÊNCIA – MODELOS TEÓRICOS E
SEUS CONTRIBUTOS …………………………………………………………
Introdução …………………………………………………………………………
O Conceito de excelência …………………………………………………………
A Excelência: Abordagens conceptuais …………………………………………..
Abordagens da excelência como sobredotação ………………………………………..
Joseph Renzulli: O modelo dos três anéis da sobredotação ………………..
François Gagné: o modelo diferenciado de sobredotação e talento……….
Abordagens da excelência como expertise ……………………………………….
Sternberg e o desenvolvimento da expertise ………………………………….
Ericsson e a prática deliberada na expertise …………………………………
Abordagens da excelência como sabedoria ……………………………………….
Paul Baltes e o paradigma de Berlim ………………………………………….
O modelo WISC de Sternberg …………………………………………………..
O estado da arte em Portugal ……………………………………………………...
CAPITULO 2: ESTUDO DA EXCELÊNCIA EM CONTEXTOS DE
REALIZAÇÃO …………………………………………………………………..
Introdução …………………………………………………………………………
Bloom e o Desenvolvimento do Talento ………………………………………….
Estudo da Excelência nas Artes …………………………………………………...
Estudo da Excelência no Desporto ………………………………………………..
Estudo da Excelência na Ciência …………………………………………………
Estudo da Excelência nas Empresas ………………………………………………
Síntese Final ………………………………………………………………………
CAPITULO 3 – METODOLOGIA DO ESTUDO EMPIRICO ……………...
Introdução …………………………………………………………………………
Objetivos do estudo ……………………………………………………………….
Opção metodológica - metodologia mista ……………………...…………………
Participantes ………………………………………………………………………
Instrumentos ………………………………………………………………………
Estudo Qualitativo ………………………………………………………………...
O Guião …………………………………………………………………
A Análise dos dados qualitativos ………………………………………….
Estudo Quantitativo ……………………………………………………………….
Escala da Paixão pelo Trabalho – PTWS …………………………...……
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14
14
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101
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Inventário de Competências de Gestão Interpessoal – PSI …………...….
Escala de Satisfação com a Vida – SWLS ………………………………..
Escala de Constructos Centrais ao Self – CSES ………………………….
CAPITULO 4 – ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS …..
Introdução …………………………………………………………………………
Estudo Preliminar da Core Self-Evaluations Scale (CSES - Escala de Avaliação
de Constructos Centrais ao Self) ………………………………………………...
Tradução e Análise Qualitativa dos Itens ………………………………...
Participantes e Propriedades Psicométricas da Escala e dos Itens ….…..
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar da CSES …….
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários ........................................
Estudo preliminar da Satisfaction With Life Scale (SWLS - Escala de Satisfação
com a Vida) ……………………………………………………………………...
Análise Qualitativa dos Itens da Satisfaction With Life Scale (SWLS) ….
Participantes e Propriedades Psicométricas da Escala e dos Itens ……..
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar da SWSL ……
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários …………………………
Estudo preliminar do Political Skill Inventory (PSI - Inventário de Competências
de Gestão Interpessoal) …………………………………………………………...
Tradução e Análise Qualitativa dos Itens ………………………………..
Participantes e Propriedades Psicométricas do Inventário e dos Itens …
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar do PSI ………
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários …………………………
Estudo preliminar da Passion Toward Work Scale (PTWS – Escala da Paixão
pelo Trabalho) …………………………………………………………………….
Tradução e Análise Qualitativa dos Itens ………………………………..
Participantes e Propriedades Psicométricas da Escala e dos Itens ……..
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar da PTWS ……
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários …………………………
Correlações inter-escalas ………………………………………………………….
CAPITULO 5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..
PARTE 1 – ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS …………………
Introdução …………………………………………………………………………
Análise de conteúdo das categorias e subcategorias ……………………………...
Fatores contextuais ………………………………………………………..
Fatores pessoais …………………………………………………………...
Sintese das classificações …………………………………………………………
Distribuição das codificações por categorias ……………………………………..
Síntese dos resultados ……………………………………………………………..
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128
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171
173
174
174
194
239
243
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xv
PARTE 2 – ANÁLISE DOS DADOS QUANTITATIVOS ……………….
Introdução …………………………………………………………………………
Análise dos dados quantitativos das escalas SWLS, PTWS, PSI e CSES ………..
Sintese dos resultados ……………………………………………………………..
PARTE 3 – INTEGRAÇÃO DOS DADOS ………………………………..
Introdução …………………………………………………………………………
Síntese dos dados Qualitativos e dos dados Quantitativos ……………………….
CAPITULO 6 – DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES ………………….
Introdução …………………………………………………………………………
Fatores contextuais da excelência ………………………………………………...
Fatores pessoais da excelência ……………………………………………………
As questões de investigação ………………………………………………………
Considerações finais ………………………………………………………………
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………
ANEXOS …………………………………………………………………………
Grelhas de análise de conteúdo …………………………..……………………..
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279
281
281
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287
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299
307
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361
363
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 3.1. Descrição dos Participantes…………………………………………….
Tabela 3.2. Guião da Entrevista ……………………………………………………
Tabela 4.1. Itens da Core Self-Evaluations Scale (CSES) …………………………
Tabela 4.2. Exemplos de Itens Traduzidos da Versão Americana e Versão
Experimental Portuguesa da CSES ………………………………………………...
Tabela 4.3. Resultados da Análise Fatorial dos Itens da CSES ……………………
Tabela 4.4. Correlações Entre os Itens da CSES com a Idade e Prática Profissional
Tabela 4.5. Médias, Desvios-Padrão e Nível de Significância entre as Médias por
Sexo da CSES ……………………………………………………………………...
Tabela 4.6. Médias, Desvios-Padrão e Nível de Significância entre as Médias por
Níveis Etários da CSES …………………………………………………………….
Tabela 4.7. Itens da Satisfaction With Life Scale (SWLS) ………………………..
Tabela 4.8. Resultados da Análise Fatorial dos Itens da SWLS …………………...
Tabela 4.9. Correlações Entre os Itens da SWSL com a Idade e Prática
Profissional …………………………………………………………………………
Tabela 4.10. Médias, Desvios-Padrão e Nível de Significancia entre as Médias por
Níveis Etários da SWLS …………………………………………………………...
Tabela 4.11. Itens do Political Skill Inventory (PSI) ………………………………
Tabela 4.12. Exemplos de Itens Traduzidos da Versão Americana e Versão
Experimental Portuguesa do PSI …………………………………………………..
Tabela 4.13. Resultados da Análise Fatorial dos Itens do PSI ……………………..
Tabela 4.14. Correlações entre os Itens do PSI com a Idade e Prática Profissional
Tabela 4.15. Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância entre as Médias por
Sexo do PSI ………………………………………………………………………...
Tabela 4.16. Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância entre as Médias por
Níveis Etários do PSI ………………………………………………………………
Tabela 4.17. Itens da Passion Toward Work Scale (PTWS) ………………………
Tabela 4.18. Exemplos de Itens Traduzidos da Versão Americana e Versão
Experimental Portuguesa da PTWS ………………………………………………..
Tabela 4.19. Resultados da Análise Fatorial dos Itens da PTWS ………………….
Tabela 4.20. Correlações entre os itens da PTWS com a Idade e Prática
Profissional …………………………………………………………………………
Tabela 4.21. Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância Entre as Médias por
Sexo da PTWS …………………………………………………………………
Tabela 4.22. Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância Entre as Médias por
Níveis Etários da PTWS ……………………………………………………….
Tabela 4.23. Coeficientes de Correlação entre as Dimensões da CSES e da SWLS.
Tabela 4.24. Coeficientes de Correlação Entre as Dimensões da PTWS e PSI…….
Tabela 5.1. Codificações Relativas ao Contexto Macro …………………………...
Tabela 5.2. Codificações Relativas ao Contexto Risco …………………………….
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164
165
166
174
175
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Tabela 5.3. Codificações Relativas ao Contexto Micro ……………………………
Tabela 5.4. Codificações Relativas ao Contexto Académico …………………...
Tabela 5.5. Codificações Relativas ao Contexto Profissional …………………..
Tabela 5.6. Codificações Relativas aos Processos Desenvolvimentais ……………
Tabela 5.7. Codificações Relativas ao Fator Pessoal Saúde ……………………….
Tabela 5.8. Codificações Relativas às Capacidades ……………………………….
Tabela 5.9. Codificações Relativas à Motivação …………………………………..
Tabela 5.10. Codificações Relativas às Competências Sociais …………………….
Tabela 5.11. Codificações Relativas às Estratégias Emocionais …………………..
Tabela 5.12. Codificações Relativas à Prática Profissional ………………………..
Tabela 5.13. Codificações Relativas ao Desempenho ……………………………..
Tabela 5.14. Codificações Relativas aos Projetos e Ambições ……………………
Tabela 5.15. Codificações Relativas à Personalidade ……………………………..
Tabela 5.16. Codificações Relativas às Perceções de Excelência …………………
Tabela 5.17. Síntese das Classificações …………………………………………..
Tabela 5.18. Resultados obtidos pelos participantes nas escalas SWLS, PTWS,
PSI e CSES ………………………………………………………………………...
Tabela 5.19 Médias por Grupos Relativas à Escala CSES ………………………...
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 5.1. Distribuição das codificações entre DA e PA por sexo………………....
Figura 5.2. Distribuição das codificações entre DA e PA por fase na carreira de
gestão…………………………………………………………………………..…..
Figura 5.3. Distribuição das codificações entre DA e PA por tipo de gestão.……
Figura 5.4. Distribuição das codificações na categoria Motivação por sexo…...…
Figura 5.5. Distribuição das codificações na categoria Capacidade por sexo …....
Figura 5.6. Distribuição das codificações na categoria Estratégias Emocionais
por sexo…………………………………………………………………….……....
Figura 5.7. Distribuição das codificações na categoria Prática Profissional por
sexo ………………………………………………………………………….……..
Figura 5.8. Distribuição das codificações na categoria Motivação por tipo de
gestão …………………………………………………………………………...….
Figura 5.9. Distribuição das codificações na categoria Capacidades por tipo de
gestão……………………………………………………………………………....
Figura 5.10. Distribuição das codificações na categoria Estratégias Emocionais
por tipo de gestão ……………………………………………………………..…..
Figura 5.11. Distribuição das codificações na subcategoria Motivação por fase na
carreira……………………………………………………………………………...
Figura 5.12. Distribuição das codificações na categoria Capacidades por fase na
carreira……………………………………………………………………………...
179
183
189
193
194
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203
207
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244
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247
247
247
248
248
249
250
250
xix
Figura 5.13. Distribuição das codificações na categoria Estratégias Emocionais
por fase na carreira ………………………………………………………………
Figura 5.14. Competências sociais consideradas de maior importância pelos
participantes do sexo masculino e do sexo feminino ……………………………
Figura 5.15. Competências sociais consideradas de maior importância pelos
Gestores/Empresários e Gestores………………………………………………...
Figura 5.16. Competências sociais consideradas de maior importância pelos
gestores distribuídos pelas três fases da carreira em que se encontram …………
Figura 5.17. Traços de personalidade considerados de maior importância pelos
participantes do sexo masculino e do sexo feminino ……………………………
Figura 5.18. Traços de personalidade considerados de maior importância pelos
Gestores/Empresários e Gestores…………………………………………………...
Figura 5.19 – Traços de personalidade considerados de maior importância pelos
gestores distribuídos pelas três fases da carreira em que se encontram….................
Figura 5.20. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Micro por sexo.
Figura 5.21. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Micro pelo tipo
de gestão ……………………………………………………………………………
Figura 5.22. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Micro pelas três
fases da carreira em que os gestores se encontram …………………………...........
Figura 5.23. Distribuição por género das subcategorias relativas aos Processos
Desenvolvimentais …………………………………………………………………
Figura 5.24. Distribuição das subcategorias relativas aos Processos
Desenvolvimentais segundo o tipo de gestão ……………………………………...
Figura 5.25. Distribuição das subcategorias relativas aos Processos
Desenvolvimentais segundo as três fases da carreira em que os gestores se
encontram …………………………………………………………………………..
Figura 5.26. Distribuição por género das subcategorias relativas ao Contexto
Profissional……………………………………………………………………….…
Figura 5.27. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Profissional
segundo o tipo de gestão ………………………………………...............................
Figura 5.28. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Profissional
segundo as três fases da carreira em que os gestores se encontram...........................
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264
0
1
INTRODUÇÃO
_______________________________________________________________
2
3
O conhecimento e a inovação são decisivos para se transformar o paradigma do
século passado, caracterizado por uma industrialização onde as pessoas eram meras peças
da grande máquina, para um paradigma de excelência, no qual todos temos a
responsabilidade de ser co-criadores de uma nova era. É a metamorfose das sociedades num
processo de materialização do seu futuro através das dinâmicas económicas e sociais de
uma era predestinada à informação (Castells, 2002), ao conhecimento (Hargreaves, 2003) e
à aprendizagem (Pozo, 2006). Este desenvolvimento terá que começar pela implementação
de uma nova educação com vista a sociedades mais inovadoras, mais capazes e mais justas.
No Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o
Século XXI, coordenada por Jacques Delors, apontam-se como pilares fundamentais da
educação: “aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a viver juntos” e
“aprender a ser”. Se o pilar do “aprender a conhecer” permite a aquisição do
conhecimento e também o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento, o
“aprender a fazer” permite mergulhar na mestria do agir sobre o meio envolvente
colocando em ação todo o conhecimento adquirido, fazendo este saber indissociável do
anterior. Mas o que torna brilhante a educação é a possibilidade dos seus alunos se tornarem
em aprendizes das relações sociais, através do pilar do “aprender a viver juntos”. São as
“social networking” abertas aos desafios profissionais de um século que emerge para o
conhecimento, promovendo a cooperação em todas as atividades humanas, e finalmente a
supremacia do homem na excelência do “aprender a ser”.
Excelência é um conceito que tem sido usado em diversos domínios, sempre
traduzindo a ideia de grandeza e superioridade, incluindo aquele que se destaca quer
profissional quer individualmente, podendo estar associado a valores morais ou à grandeza
das obras realizadas pelos mestres do “ser”. Num mundo em permanente mudança e onde o
conhecimento é um recurso em expansão e mudança, onde não existem barreiras de espaço
e de tempo para que as pessoas se comuniquem, a oferta da aprendizagem fora de um
espaço físico, tão característico de um século que acabou, está presente à nossa volta, ao
longo da vida, com a capacidade de preparar todo o cidadão para uma vida ativa.
4
Numa sociedade altamente competitiva, na qual a comunicação, o conhecimento, o
desenvolvimento científico e tecnológico se processa velozmente, urge a todo o profissional
agir rapidamente, com inovação e eficiência, para se atingirem, em todos os níveis e em
todos os contextos, os níveis de excelência desejados. Assim, todas as organizações
preocupam-se com a originalidade e a singularidade do desempenho, quer estejamos em
setores de produção, grupos de investigação ou mesmo na área da educação. Contudo,
verificamos que no contexto educativo ainda existem muitas resistências por parte da tutela,
das escolas e até mesmo dos professores, em relação à elaboração de legislação,
identificação, estimulação e apoio aos alunos mais dotados (Antunes, 2008; Oliveira,
2007). É nesta conjuntura que mais desafios se colocam aos profissionais da Educação e da
Psicologia, reforçando a necessidade da promoção e do desenvolvimento das capacidades e
competências das crianças e jovens, substituindo uma educação de massas por uma
educação de excelência que visa dar uma formação que desenvolva o espírito critico dos
alunos, a sua inteligência e os seus talentos, tornando-os em seres mais autónomos,
responsáveis e promotores dos valores sociais em prole do bem comum. Como refere
Guenther (2011): “a tarefa primordial da Educação, partindo de um referencial humanista, é
desenvolver e aperfeiçoar o Ser Humano em todas as suas dimensões, expectativas e
objetivos, essenciais e periféricos. Desenvolver, crescer, aperfeiçoar… são verbos abertos,
que necessitam qualificação para melhor expressar significado” (pp. 125-126).
No campo da investigação em Psicologia, o estudo da excelência está associado ao
movimento da Psicologia Positiva, pelas mãos de Martin Seligman e Mihaly
Csikszentmihalyi, ao assumirem a edição da revista American Psychologist com um
conjunto de 15 artigos dedicados ao otimismo, felicidade, bem-estar, esperança,
autodeterminação e relação entre as emoções positivas e a saúde física. Assim, com o
advento da Psicologia Positiva surge uma área de estudo científico própria e multifacetada,
deixando de lado as abordagens centradas nas dificuldades e patologias, surgindo inúmeros
trabalhos sobre o bem-estar e a qualidade de vida (Donaldson, Dollwet, & Rao, 2014;
Seligman, 2002; Seligman & Csikszentmhihalyi, 2000). Temáticas como o bem-estar
subjetivo (Diener, 1984), a satisfação com a vida (Diener, Lucas, & Oishi, 2002), a
esperança (Snyder, Rand, & Sigmon, 2002), o otimismo (Brissette, Scheier & Carver, 2002;
Carver, Scheier & Segerstrom, 2010; Rasmussen, Wrosch, Scheier & Carver, 2006; Scheier
5
& Carver, 2003), a experiência ótima ou flow (Csikszentmihalyi, 1997; Csikszentmihalyi &
LeFevre, 1989; Nakamura & Csikszentmihalyi, 2002), a sabedoria (Baltes & Smith, 2008;
Kunzmann & Baltes, 2005), a excelência (Gagné 2004; Lubinski & Benbow, 2001;
Renzulli, 2002; Sternberg, 2005), o perfeccionismo (Stoeber & Otto, 2006) e o desempenho
criativo (Lubart, 2005; Sternberg, O’Hare, & Lubart, 1997), entre outras. Para McCrea et
al. (2000), todo o dotado indica a posse, a presença e o uso de altas capacidades, ou seja, o
poder físico e mental de aprender sem recorrer necessariamente a um ensino ou treino
intencional. Assim, a dotação está diretamente relacionada com a ação, ou potencial para a
ação, distinguindo-a de outras características pessoais que representam características de
personalidade e estilos de comportamento. Mas, ao terminar a primeira década do século
XXI e apesar da diversidade de estudos já realizados, muitas são ainda as dúvidas
relacionadas com o conceito de sobredotação e excelência: (i) como poderemos identificar
e preparar os detentores desse potencial para a ação, os que promovem a sabedoria, os
excelentes? (ii) que características identitárias apresentam esses indivíduos? (iii) como
poderemos ajudar no futuro os nossos jovens, para que as suas capacidades naturais se
transformem em talentos e, tal como o desejado, atinjam níveis de excelência?. Centrando-
nos na esfera empresarial, estas exigências de desempenhos excecionais tornam-se ainda
mais visíveis, pois este é o contexto da sabedoria por excelência, onde os melhores estão
constantemente sujeitos a pressões mas só esses conseguem chegar ao topo da liderança,
concretizando um sucesso socialmente reconhecido.
Neste contexto, partindo das questões levantadas, definimos como nosso objetivo
realizar um estudo que permitisse conhecer os percursos e características pessoais de
adultos excecionais que revelam desempenhos de excelência em contextos de realização
empresarial. Dada a escassez de estudos neste domínio, considerámos importante, por um
lado, contribuir para a organização de informação teórica existente sobre o tema, e por
outro, contribuir para o desenvolvimento de instrumentos e metodologias no estudo da
excelência em contexto nacional.
Assim, no Capítulo 1, procuraremos enquadrar o estudo da excelência na
investigação psicológica, no qual, partindo de uma análise retrospetiva e histórica da
investigação em torno dos desempenhos superiores, apresentaremos as principais obras e
autores responsáveis pelo impulso da investigação neste domínio. Deste modo, segundo as
6
três grandes abordagens conceptuais, sobredotação ou talento, expertise e sabedoria,
analisaremos as diferentes perspetivas nos seus pontos de convergência e divergência. Por
fim, apresentaremos os estudos que têm sido realizados no âmbito da investigação nacional.
No Capitulo 2, centraremos o estudo da excelência nos contextos de realização,
abordando as áreas profissionais que mais estudos têm desenvolvido, nomeadamente as
artes, o desporto, a ciência e a área empresarial. Depois de um breve enquadramento sobre
a investigação da Psicologia em diferentes temas relevantes para o estudo da excelência na
área empresarial, como a satisfação e desempenho no trabalho, motivação, satisfação com a
vida, liderança, características de personalidade, competências sociais, criatividade e
empreendedorismo, procuraremos caracterizar os percursos e os indivíduos de excelência
no contexto empresarial. No final, abordaremos alguns estudos realizados em Portugal e
apresentaremos uma síntese na qual concluímos que são várias as dimensões psicológicas e
contextuais associadas à excelência.
No Capitulo 3 apresentaremos a metodologia empírica seguida neste trabalho.
Começaremos por apresentar os objetivos e questões do estudo, assim como a respetiva
abordagem metodológica adotada. Descreveremos ainda o processo de identificação e
seleção dos participantes e respetivos procedimentos de contacto, procedimentos éticos, e
procedimentos de precisão e validade do estudo. Dadas as especificidades metodológicas
inerentes ao estudo qualitativo e ao estudo quantitativo, apresentaremos, separadamente, os
instrumentos de recolha de dados utilizados e respetivo processo de desenvolvimento.
No Capítulo 4 procederemos à apresentação da validação das escalas que foram
adaptadas para o nosso estudo. A escolha teve como base os estudos já realizados com
relevância na área empresarial, tendo tido em linha de conta os respetivos parâmetros
psicométricos nos respetivos países de origem. Dado que a tradução das provas
psicológicas poderá apresentar dificuldades quando procedemos à avaliação do mesmo
constructo noutras línguas ou quando usadas noutras culturas, tornou-se fundamental
proceder a um conjunto de análises qualitativas e quantitativas das mesmas, por forma a
garantir a sua equivalência cultural e de constructo psicológico avaliado.
7
O Capítulo 5 será dedicado à apresentação dos resultados deste trabalho. Na
primeira parte descreveremos os dados qualitativos, apresentando-se as análises de
conteúdo das entrevistas, as quais consistirão na descrição e exploração do conteúdo e as
relações entre as diversas categorias e subcategorias. Apresentaremos também alguns dados
que sintetizam numericamente o total das codificações, pela sua frequência, intensidade e
distribuição genérica de codificações, o que nos permitirá efetuar assim uma análise mais
global e integradora da vasta quantidade de informação que este capítulo reúne. Na segunda
parte serão apresentados os dados quantitativos obtidos com as escalas que os participantes
responderam, procurando fortalecer as conclusões obtidas com os dados qualitativos. Serão
ainda apresentadas algumas análises nas quais faremos a integração de todos os dados
recolhidos no presente estudo, qualitativos e quantitativos, efetuando-se a ponte para as
principais questões investigadoras, o que nos permitirá aprofundar a compreensão dos
percursos profissionais desde a iniciação até ao topo da carreira, em termos de continuidade
ou descontinuidade das respetivas carreiras destes gestores excelentes.
Finalmente no Capítulo 6 apresentar-se-á a nossa discussão geral e principais
conclusões, procurando salientar os resultados da análise das características de indivíduos
com desempenhos de excelência e seus respetivos percursos profissionais e o seu
enquadramento nos modelos teóricos propostos pela literatura. Por último, falaremos sobre
os contributos da presente dissertação para a compreensão da excelência em contextos
empresariais, assim como as dificuldades e limitações encontradas ao longo do estudo.
8
9
CAPITULO 1
_______________________________________________________________
ESTUDO DA EXCELÊNCIA - MODELOS TEÓRICOS E SEUS
CONTRIBUTOS
10
Introdução
Ao longo da história da psicologia e da educação, inúmeros têm sido os temas de
investigação sobre o homem na sua singularidade. Podemos constatar que, durante décadas,
a preferência caiu sobre o estudo da patologia e das perturbações dos seres humanos. No
entanto, em meados do século XX, começam a surgir movimentos que consideram existir
lacunas no âmbito dos estudos científicos, sugerindo que era urgente investigar os recursos
e as melhores caraterísticas das pessoas. Surgem, assim, conceitos como a felicidade, o
otimismo, a esperança, o amor, a espiritualidade e a sabedoria, entre outros, como objeto de
investigações de inúmeros académicos e especialistas, nos domínios da psicologia e da
educação. Neste sentido, com a obrigação ética e moral da educação assistir todas as
pessoas, incluindo os sobredotados, muitos investigadores dirigem o rumo dos seus estudos
para os aspetos positivos e saudáveis do comportamento humano, no qual a excelência
alcança um lugar de importância. Mais uma vez, os grandes desafios do século XXI são
colocados na educação, como elemento de charneira, propulsor do desenvolvimento de
capacidades, evitando deste modo que o talento humano possa vir a ser perdido ou desviado
(Froh, 2004; Guenther, 2000; Seligman & Csikszentmihalyi, 2000; Tay & Diener, 2011).
Na busca dos fatores que fazem emergir os comportamentos de excelência e na
procura de modelos psicológicos explicativos deparámo-nos, não só, com a inexistência de
um único conceito que possa abarcar o conceito de excelência, mas também com uma
diversidade de modelos teóricos explicativos que vão desde o talento, altas capacidades ou
superioridade intelectual, passando pelo desempenho experiente e a prática deliberada e
culminando na sabedoria como um processo integrador da experiência pessoal e
profissional adquirida ao longo da vida. Assim, neste capítulo começamos por apresentar o
conceito de excelência segundo uma perspectiva histórica, para de seguida abordarmos
sumariamente as teorias de estudo da excelência segundo três grandes abordagens
conceptuais: (i) as abordagens em torno da sobredotação, onde os temas centrais são o
talento e as altas capacidades; (ii) as abordagens em torno da expertise cujos tópicos
centrais são o desempenho especializado e a prática deliberada; e (iii) as abordagens em
torno da sabedoria, que visam a excelência do sujeito como o resultado de um movimento
integrador das suas experiências pessoais e profissionais. Por último, analisamos o estado
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da arte na comunidade científica nacional e procuramos integrar os modelos conceptuais de
modo a contribuir para uma melhor compreensão da excelência.
O Conceito de Excelência
O conceito de excelência tem-se modificado ao longo das diferentes épocas
históricas, refletindo as mudanças ideológicas e culturais dominantes. Cada definição tende
a absorver as próprias necessidades sociais da época e, assim, valorizar atividades humanas
distintas (Pereira, 2000). Embora apenas recentemente o tema da excelência tenha
interessando os investigadores, o conceito não é recente. Já na Antiguidade Clássica Platão
defendia a ideia de que todos os indivíduos com inteligência superior, os designados
“meninos de oiro”, deveriam ser selecionados nos seus primeiros anos de infância e as suas
capacidades de liderança serem desenvolvidas em benefício do Estado. Também na China,
cerca de 2000 anos antes da era Cristã, eram realizados exames competitivos para
selecionar crianças que se destacavam pela sua inteligência superior e que passavam a
receber um atendimento especial. Encontramos, nestas épocas, a excelência entendida
como uma virtude, mas outras conotações lhe foram sendo atribuídas ao longo da história
da humanidade, designadamente como produto das forças do mal, na Idade Média, ou
associadas à loucura, já no Renascimento (Alencar & Fleith, 2001; Pereira, 2000). Já no
século XIX, surge Francis Galton fazendo a análise biográfica de homens eminentes e suas
famílias, de que decorre a obra Hereditary genius (1892) e o entendimento da genialidade
como o resultado de uma superioridade natural. Ao estruturar a distinção entre nature e
nurture defende que as capacidades superiores de um individuo são o produto da herança
genética dos pais: “If genius be hereditary, as I assert it to be, the characteristics that mark
a judge ought to be frequently transmitted to his descendants” (Galton, 1892, p. 67).
No início do século XX, com o advento dos primeiros testes mentais surgem obras
de referência como o estudo longitudinal desenvolvido por Terman (1926), cujos resultados
foram publicados no livro Genetic studies of genius. Neste histórico estudo longitudinal
com cerca de 1500 crianças sobredotadas ou geniais, acompanhadas ao longo de décadas, o
autor elimina a associação entre excelência e loucura, concluindo que além de uma
inteligência superior, os sobredotados apresentavam igualmente um desenvolvimento físico
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mais acelerado e eram mais ajustados social e psicologicamente. Será ainda de salientar que
Terman, para diferenciar os indivíduos sobredotados ou com capacidades cognitivas
superiores, estabelece um critério comum a todos eles: o critério do QI igual ou superior a
140, o qual continuou a ser utilizado até aos dias de hoje, e que corresponderia a cerca de
1% da população (Pereira, 2000).
Um outro nome de referência neste período histórico da sobredotação e da
excelência é o de Leta Hollingworth (1942). Pioneira no estudo das necessidades sociais e
emocionais das crianças sobredotadas, tal como Terman, considera como primeiro critério
de identificação das altas capacidades o QI. Contudo, faz a distinção entre as crianças
sobredotadas (QI igual ou superior a 130) e as crianças geniais (QI superior a 180). Nos
estudos que realiza, a referida autora verifica que as crianças com QI superior a 150
apresentam problemas de ajustamento social e emocional reafirmando a associação entre
excelência e desajustamento psicológico. Para esta autora, embora a hereditariedade seja
fundamental para a excelência, pois determina aquilo que o sujeito poderá vir a fazer, não é
a única variável importante já que é o meio ambiente que abre o caminho para a
manifestação do talento. Nestas primeiras décadas do século XX os estudos sobre a
excelência diversificam-se e muitos deles deixam de lado os aspetos centrados no potencial
do sujeito para se centrarem na prática necessária para atingir um elevado desempenho
(expertise), ou até mesmo numa perspetiva desenvolvimentista da integração da experiência
da vida (sabedoria). Neste contexto, De Groot (1946), inspirado pela teoria do pensamento
produtivo de Otto Selz e pela prática do xadrez, da qual era exímio jogador, dá início aos
primeiros estudos relacionados com a memória, diferenciando indivíduos experts
(especialistas num domínio circunscrito) de indivíduos novices (principiantes de uma
atividade específica). De Groot concluiu que o desempenho superior dos jogadores de
xadrez de nível internacional tinha como base o planeamento e o reconhecimento de
padrões de jogadas adquiridos previamente, mostrando desta forma a importância da
experiência na área e dos conhecimentos adquiridos para o alcance da expertise (De Groot,
1978; Chase & Simon, 1973; Ericsson & Lehmann, 1996; Simon & Chase, 1973). Também
Ane Roe, com artistas e cientistas americanos que se destacavam de forma significativa nas
suas áreas profissionais e que apresentavam um elevado QI, verificou que os brilhantes
resultados dos sujeitos da sua amostra estavam relacionados não só com as suas
13
capacidades intelectuais mas também com outras caraterísticas de personalidade,
designadamente a persistência, a concentração e o empenho (Roe, 1952; Winner, 2000).
Contudo, é a partir da década de 60 do século passado, com os contributos de novas
teorias, designadamente a teoria da “estrutura do intelecto” de Guilford (1967), a teoria das
inteligências multiplas de Gardner (1983) e a teoria triádica de inteligência de Sternberg
(1985), que o estudo da sobredotação e da excelência sofre uma viragem deixando de lado a
visão unidimensional e redutora, restrita à inteligência (quociente de inteligência), para uma
visão multidimensional, na qual são considerados outros constructos, designadamente a
criatividade, a motivação ou a persistência (Alencar & Fleith, 2001; Almeida & Oliveira,
2000; Pereira, 2000). Se, por um lado, esta “dilatação progressiva do conceito” (Pereira,
2000, p. 154) conduz a dificuldades de operacionalização do mesmo, por outro abre novas
possibilidades para o estudo da excelência, onde os desempenhos excecionais tocam outros
talentos específicos que não podem ser explicados apenas em termos de QI.
Partindo desta pluralidade, Pereira (2000) considera que o conceito de sobredotação
ou excelência deve regular-se segundo sete dimensões: a área de expressão (geral ou
específica), o grau (ligeiro, moderado ou profundo), a idade (criança ou adulto), o nível de
motivação (alto ou baixo), o modo de tratamento da informação (assimilador eficaz ou
criativo), a relevância social (tem ou não tem reconhecimento social), e o contexto em que
se salienta (na escola ou fora dela). A conjugação das diferentes variáveis permitirá o uso de
terminologias distintas: sobredotado, precoce, talentoso, génio, prodígio e idiota sábio.
Perante esta diversidade de designações verificámos que, não havendo consenso na
terminologia, os cientistas apresentam a excelência ora como sendo uma herança genética,
ora como o produto de uma multiplicidade de fatores que se desenvolvem no meio
ambiente, ou ainda, como a combinação de ambos. Todas elas traduzem diferentes
abordagens conceptuais, pelo que consideramos como primeiro passo, nesta revisão de
literatura, aprofundar diferentes modelos teóricos, de modo a melhor compreender o que os
autores entendem por excelência.
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A Excelência: Abordagens Conceptuais
Podemos verificar que nas últimas décadas a produção de trabalhos de investigação
na área da excelência tem aumentado significativamente, abarcando os mais variados
domínios de atividades e recorrendo a um vasto conjunto de terminologias sobre o conceito
da excelência. Neste contexto e, porque se torna relevante para o nosso estudo empírico,
exploramos de seguida algumas das conceptualizações no âmbito da excelência,
organizando-as em três grandes abordagens conceptuais: (i) as abordagens da sobredotação,
nas quais a excelência está associada ao talento e a competências intelectuais elevadas; (ii)
as abordagens da expertise, nas quais o conceito toma a forma de desempenho excecional
ou rendimento superior; e (iii) as abordagens da sabedoria, onde a excelência está associada
à experiência de vida, ao compromisso com os valores e à própria sociedade (Matos, Cruz,
& Almeida, 2011; Monteiro, Castro, Almeida, & Cruz, 2009). Para cada uma das três
abordagens apresentamos, sumariamente, vários modelos teóricos que nos ajudam na
compreensão da manifestação da excelência na idade adulta.
Abordagens da excelência como sobredotação.
Face ao exposto, verificamos que os primeiros trabalhos sobre a excelência
centram-se em dois pressupostos: capacidades provenientes da herança genética dos
indivíduos e uma inteligência elevada. Neste contexto histórico, o estudo da sobredotação
emerge tendo como foco a ideia de capacidades inatas como determinantes da manifestação
de um desempenho superior. Algumas das dificuldades encontradas para se poder explicitar
a complexidade do conceito de forma clara e abrangente são: a falta a concordância entre os
diferentes autores, a sobredotação ser algo relativo e não absoluto, não haver um ponto
demarcatório específico separando os sobredotados daqueles que o não são, a sobredotação
não ter um traço unitário, ou, ainda, as características que contribuem para um desempenho
excecional numa área não serem idênticas àquelas que contribuem para um desempenho
excecional noutra (Alencar & Fleith, 2001).
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Na tentativa de uniformizar o conceito de sobredotação, em 1972 nos Estados
Unidos, através do United States Office of Education (USOE), foi realizada a Ata de
Marland, na qual são estabelecidas as linhas orientadoras de uma conceção de
sobredotação, generalizada a diferentes áreas de capacidade e de realização. Assim, passam
a ser consideradas crianças portadoras de alta habilidade as que apresentam notável
desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspetos, isolados ou
combinados: (i) capacidade intelectual geral, (ii) aptidão académica ou específica, (iii)
pensamento criativo ou produtivo, (iv) capacidade de liderança, (v) talento especial para as
artes visuais, musicais e cénicas, e (vi) capacidade psicomotora. Contudo, a sexta categoria,
correspondente à aptidão psicomotora, foi posteriormente retirada da definição oficial.
Apesar do mérito reconhecido, esta definição levanta alguns problemas, designadamente
não incluir fatores não-cognitivos, como por exemplo, os aspetos motivacionais e o
conjunto das categorias indicadas ser conceptualmente confuso, pois algumas são
apresentadas como entidades autónomas quando de facto não o são. Estas limitações
refletem-se no processo de identificação, tornando-o complexo e redutor, já que a decisão
final acaba por ser feita em termos de QI (Pereira, 2000). Contudo, com o desenvolvimento
dos estudos na área da sobredotação muitos foram os investigadores que chegaram à
conclusão de que o QI não poderia ser o único critério a indicar que um indivíduo era
sobredotado. Os investigadores defendiam que existiam indivíduos que conseguiam
aprender num ritmo capaz de revelar capacidade superior, mas que nos testes de QI não
apresentavam um valor elevado, verificando-se que o QI não possibilitava a identificação
de muitos alunos que mais tarde se viriam a distinguir em atividades como a música,
pintura ou o desporto. São variados os estudos longitudinais que mostram que valores
elevados em testes de inteligência e classificações elevadas na escola não são indicadores
confiáveis de excelência na vida adulta, exceto para aqueles que seguem uma carreira
semelhante ao contexto escolar, designadamente a docência ou outra posição académica
(Freeman & Guenther, 2000). Landau (1990) refere que o sobredotado se distingue pelo
talento, o qual precisa ser incentivado para que a sobredotação se concretize.
Em síntese, podemos afirmar que são as conceções multidimensionais de
inteligência, geradas na segunda metade do século XX, que têm um papel catalisador nas
novas definições de sobredotação, onde a motivação e a criatividade, assim como a
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existência de talentos em domínios específicos assumem um papel de destaque no
desenvolvimento da excelência. Nos estudos atuais, as capacidades inatas, embora
continuem a ter um papel de destaque, passam a estar associadas a outros fatores pessoais e
a fatores contextuais, considerados fundamentais para que as capacidades inatas se possam
desenvolver em talento.
Joseph Renzulli: O modelo dos três anéis da sobredotação.
Assumindo uma perspetiva multidimensional da conceção da sobredotação,
Renzulli (1978) propõe o modelo dos três anéis (three-ring conception of giftedness) como
referencial teórico do modelo triádico de enriquecimento, modelo desenvolvido na década
de setenta do século passado e implementado inicialmente em escolas municipais do Estado
de Connecticut nos Estados Unidos. No modelo dos três aneis, Renzulli salienta que não
existe nenhum critério único que por si só possa identificar a sobredotação e defende que a
mesma resulta da interação entre três grupos de traços com igual importância. A partir de
pesquisas realizadas com indivíduos criativos/produtivos, o autor constatou que os
indivíduos que se destacavam pelas suas capacidades e produções apresentavam um
conjunto de três traços: (i) aptidão cognitiva acima da média; (ii) criatividade; e (iii)
envolvimento com a tarefa (motivação intrínseca). Assim, definiu que: (i) as capacidades
acima da média podem ser gerais (e.g., memória, fluência verbal, aptidão espacial) ou
específicas (e.g., química, fotografia, escultura, matemática); (ii) a criatividade implica a
capacidade das pessoas para gerar ideias novas, o que envolve a fluência, a flexibilidade, a
originalidade do pensamento, a curiosidade e o poder especulativo; e (iii) o envolvimento
com a tarefa inclui uma serie de traços como a perseverança, a dedicação, o esforço, a
autoconfiança e a crença do sujeito na sua habilidade para desenvolver um trabalho
importante, que são o resultado de oportunidades, recursos e encorajamento provindo de
contextos de aprendizagem estimulantes e interessantes (Renzulli, 1986, 1994a). Enquanto
as capacidades representam um conjunto de características relativamente estáveis e
constantes, a criatividade e o envolvimento com a tarefa são características que, através das
oportunidades que o sujeito tem, podem ser mais ou menos desenvolvidas. Ainda de acordo
com o referido autor, os comportamentos sobredotados resultam da interação entre os três
grupos de traço, sendo que a presença isolada de qualquer um dos grupos não conduz à
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sobredotação. Apesar de na publicação original do modelo os três grupos de traços (ou
anéis) serem apresentados como tendo igual importância, posteriormente (Renzulli, 1986,
1994a, 2002) revê a sua posição concluindo que em cada tipo de sobredotação os três traços
poderão assumir diferentes graus de importância.
Embora Renzulli faça referência ao papel do meio ambiente, especialmente do
ambiente educacional, no desenvolvimento das altas capacidades dos sujeitos, alguns
autores criticam o seu modelo, referindo o peso excessivo que é atribuído às dimensões
psicológicas, em detrimento das dimensões sociais e ambientais. De acordo com Mönks
(1994, 1996; Mönks, VanBoxtel, Roelofs, & Sanders, 1986), o modelo de Renzulli
negligencia a natureza interativa do desenvolvimento humano e a reciprocidade dinâmica
dos processos desenvolvimentais. Assim, alargando o modelo dos três anéis, numa
perspetiva desenvolvimentista, Mönks apresenta um modelo multidimensional próprio, o
multifator model of giftedness, no qual a sobredotação é entendida como a interação entre
fatores psicológicos e fatores ambientais. Mantendo os três fatores psicológicos
relacionados com a personalidade do sujeito (elevada capacidade intelectual, motivação e
criatividade) acrescenta outros três fatores relacionados com os meios sociais mais
próximos do sujeito: o contexto social da família, da escola e do relacionamento com os
pares. Para o autor a noção do desenvolvimento das competências de cada sujeito e como
tal as variáveis da personalidade dependem e, em simultâneo são determinadas, pela
interação dinâmica com as variáveis ambientais.
Renzulli (1998; Renzulli & Fleith, 2002) partindo da revisão da literatura, destaca
dois tipos de sobredotação, conforme o contexto em que a mesma se manifesta:
sobredotação escolar (schoolhouse giftedness) e sobredotação criativa-produtiva (creative
productive giftedness). Na sobredotação escolar encontram-se os sujeitos que têm um bom
desempenho escolar, que aprendem rapidamente e que apresentam um nível de
compreensão elevado, enquanto na sobredotação criativa-produtiva se encontram os
sujeitos que se caracterizam pelo desenvolvimento de produtos originais. São sugeridas
como medidas de apoio a este tipo de alunos sobredotados, no primeiro caso a aceleração e
a compactação curricular (Reis, Burns, & Renzulli, 1992) e no segundo caso uma variedade
de oportunidades e serviços educacionais, normalmente não oferecidos na programação
curricular regular, mas que permitem o enriquecimento das áreas criativas dos alunos. É
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realçado por este autor (Renzulli, 1998) que os dois tipos de sobredotação são importantes,
que habitualmente existe interação entre os dois tipos de sobredotação e que devem ser
promovidos programas especiais de atendimento, no sentido de encorajar ambos os tipos de
sobredotação, bem como promover ocasiões de interação entre eles.
Para Renzulli (1978), a definição de sobredotação apresentada foi um passo de
grande importância para o estudo da mesma, pois conseguiu convergir os critérios mais
importantes baseados na investigação existente, fornecer linhas orientadoras para o futuro
desenvolvimento de instrumentos de avaliação e por último apontar orientações para a
identificação de alunos sobredotados e a respetiva adequação de programas de intervenção.
Assim, Renzulli refere que:
“Giftedness consists of an interaction among three basic clusters of human traits –
these clusters being above-average general abilities, high levels of task
commitment, and high levels of creativity. Gifted and talented children are those
possessing or capable of developing this composite set of traits and applying them
to any potentially valuable area of human performance. Children who manifest or
are capable of developing an interaction among the three clusters require a wide
variety of educational opportunities and services that are not ordinarily provided
through regular instructional programs” (Renzulli, 1978, p. 183).
Estavam, assim, encontradas as bases para se desenvolver um plano de
aperfeiçoamento global da escola, que promovesse uma aprendizagem desafiante e que
permitisse a cada escola desenvolver os seus próprios programas com base nos recursos
locais, dados demográficos dos estudantes, dinâmica escolar e toda a criatividade
emergente dos professores envolvidos. A este plano, Renzulli (1994b) designou de modelo
de enriquecimento escolar (the enrichment triad model). No seu primeiro projeto,
designado de modelo triádico de enriquecimento, o autor propõe uma intervenção escolar
abarcando três tipos de enriquecimento escolar: enriquecimento Tipo I, no qual estão
incluídas atividades exploratórias de temas e situações que geralmente não são abordados
no currículo regular; enriquecimento Tipo II, que visa a promoção do desenvolvimento de
processos cognitivos e afetivos através de técnicas grupais; e enriquecimento Tipo III, que
contempla a investigação de problemas reais em pequenos grupos ou individualmente,
através de métodos adequados de pesquisa incentivando os jovens a assumirem o papel de
investigadores. Renzulli et al. (1996, 2002) partem do racional de que existirão sempre
alunos com talento que, através do crivo das medidas de seleção, nunca serão selecionados
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para os programas de sobredotação. Então, através do modelo de enriquecimento escolar,
utilizando uma variedade de medidas de avaliação (e.g., testes de desempenho, avaliação do
potencial para a criatividade e envolvimento com a tarefa, nomeação de professores e pais),
começam por identificar alunos com talento que iniciam as atividades de enriquecimento
Tipo I. Posteriormente, ao apresentarem trabalhos de elevada qualidade nas atividades de
enriquecimento Tipo I e Tipo II, estes alunos avançam para as atividades criativo-
produtivas de enriquecimento Tipo III. Segundo este modelo de identificação que
designaram RDIM – Revolving Door Identification Model (Modelo de Identificação da
Porta Giratória), os autores (Renzulli & Fleith, 2002) afirmam que entre 15 a 20% da
população escolar inicialmente não identificada, por estar abaixo do ponto de corte para a
sua admissão em programas destinados a crianças sobredotadas, poderá fazer parte do
grupo de crianças talentosas e assim beneficiar de atividades de enriquecimento de um
nível superior (Reis & Renzulli, 1996; Reis & Renzulli, 2009; Renzulli & Fleith, 2002;
Renzulli & Reis, 1996).
Posteriormente Renzulli (2002; Renzulli, Koehler, & Fogarty, 2006), seguindo as
diretrizes da psicologia positiva alarga a sua conceção de sobredotação e inclui novos
fatores. A este novo projeto, denominado “Operação Houndstooth” (Operation
Houndstooth - Gifted Education and Social Capital), o autor integra seis fatores que
designa de co-cognitivos, por interagirem com e promoverem os traços cognitivos:
otimismo, valor, paixão por um tema/disciplina, sensibilidade para os temas humanos,
energia física e/ou mental, visão e sentido do destino. Para Renzulli é a interação dos traços
de personalidade com o meio ambiente que irá potenciar o desenvolvimento das altas
capacidades, da criatividade e do compromisso com a tarefa, promovendo deste modo a
construção de um eu potenciador de comportamentos de excelência. Assim, o otimismo é
uma característica cognitiva com uma grande componente emocional e motivacional,
reflete a convicção de que no futuro os resultados a alcançar serão bons. O otimismo pode
ser pensado como uma atitude associada a expectativas de um futuro que é socialmente
desejável, com vantagem para o indivíduo ou para os outros, sendo ainda caracterizado por
um sentido de esperança e uma vontade para aceitar o trabalho duro. Por seu lado, a
coragem é a capacidade para enfrentar dificuldades ou perigos, superando medos físicos,
psicológicos ou morais. A integridade e a força de carácter são manifestações típicas de
20
coragem e representam as marcas mais salientes das pessoas criativas (Renzulli et al.,
2003). Uma outra caraterística, a paixão por um tema, refere-se a quando um indivíduo está
apaixonado por um tema e caracteriza-se por emoções fortes e um compromisso com a
tarefa. Ainda, a sensibilidade para temas humanos refere-se à capacidade de compreender o
outro, prevalecendo relações como o altruísmo e a empatia. A energia mental e física tem a
ver com a quantidade de energia que um individuo está disposto a investir num
determinado objetivo para alcançar altos níveis de realização. O carisma, a curiosidade e a
inquietude são componentes da energia mental e física. Finalmente, a visão e sentido do
destino poderá ser entendida como a relação de diferentes conceitos, como o locus de
controlo, a motivação, a vontade e a autoeficácia.
Nos seus trabalhos mais recentes, Renzulli (2012; Renzulli & D’Souza, 2012)
sintetiza os modelos que foi criando ao longo de quarenta anos e apresenta um único
modelo teórico para o desenvolvimento do potencial humano, que é composto pelas suas
quatro sub-teorias: i) the three-ring conception of giftedness, ii) the enrichment triad model,
iii) operation houndstooth - gifted education and social capital, e iv) executive functions -
leadership for a changing world. Baseada num estudo que teve como suporte de
investigação o instrumento Rating the Executive Functions of Young People (Renzulli &
Mitchell, 2011) identifica cinco fatores que caracterizam as pessoas altamente eficazes: (i)
orientação para a ação, que inclui características específicas que motivam uma pessoa a ter
sucesso; (ii) interações sociais, referindo-se a características que permitem ao sujeito
interagir, com sucesso, com os outros; (iii) liderança altruísta, que inclui características
relativas à empatia e confiança; (iv) autoavaliação realística, que inclui características que
demonstram consciência das próprias capacidades; e (v) consciência da necessidade dos
outros, que envolve sensibilidade, empatia e habilidade de comunicação. Estes cinco fatores
refletem as características de pessoas que se tornaram líderes nos seus ramos de atividade.
Assim, verificamos que Renzulli (Renzulli, 2012; Renzulli & Mitchell, 2011), com a
emergência da Psicologia Positiva, aproxima cada vez mais a conceção de sobredotação aos
modelos centrados na sabedoria e excelência pessoal e profissional.
21
François Gagné: o modelo diferenciado de sobredotação e talento.
Gagné (1985, 2000, 2004) apresenta o seu modelo diferencial de dotação e talento
(DMGT – Differentiated Model of Giftdeness and Talent) fazendo corresponder
respetivamente os conceitos de dotação e de talento perante uma dicotomia entre domínios
de capacidades e campos de competências. Gagné, ao questionar o porquê da confusão
existente entre estes dois termos, considera que a existência de três características, que são
comuns aos dois conceitos, poderá estar na base dessa confusão: (i) ambos conceitos se
referem a capacidades humanas; (ii) ambos são normativos, na medida em que ambos
conceitos se referem a indivíduos que diferem da norma; e (iii) ambos se referem a
indivíduos que ao apresentarem um comportamento notavelmente superior se poderão
qualificar de “não normais” (afastados da norma). Assim, no modelo DMGT o referido
autor (Gagné, 1985) tem como primeiro objetivo apresentar uma distinção clara entre os
dois conceitos: define a dotação, giftedness, como a detenção e a expressão de capacidades
naturais notáveis, em pelo menos um domínio, que nunca foram sujeitas a qualquer tipo de
treino; e o talento, talent, como o desempenho superior, mestria, conhecimento aprendido e
habilidades sistematicamente desenvolvidas, em pelo menos um campo de atividade.
Englobam-se, assim, todos os indivíduos que pertencem aproximadamente aos 10%
melhores do grupo de referência relevante, em termos de capacidade natural (para a
dotação) ou desempenho superior (para o talento):
“The term giftedness designates the possession and use of untrained and
spontaneously expressed superior natural abilities (called aptitudes or gifts), in at
least one ability domain, to a degree that places an individual among the top 10 per
cent of age peers. By contrast the term talent designates the superior mastery of
systematically developed abilities (or skills) and knowledge in at least one field of
human activity to a degree that places an individual within the top 10 per cent of
age peers who are (or have been) active in that field” (Gagné, 2000, p. 67).
Contudo, o mais importante a reter é que, a partir destas duas definições, podemos
compreender que o processo de desenvolvimento de um talento passa sempre pela
transformação de um dote em talento.
Os componentes básicos do modelo DMGT são as capacidades naturais (G - Gifts),
o talento (T- Talents) e o processo de desenvolvimento de talento (D – Talent
Developmental Process). Três componentes adicionais completam a estrutura desta teoria
22
de desenvolvimento de talentos: os catalisadores ambientais (E – Environmental Catalysts),
os catalisadores intrapessoais (I – Intrapersonal Catalysts) e os fatores de sorte (C -
Chance). Os catalisadores são os elementos de natureza intrapessoal (traços físicos como a
saúde e aparência física, ou traços mentais como a personalidade e o temperamento) ou
ambiental (e.g., meio cultural, influência dos pares, enriquecimentos curriculares), que
podem exercer influências positivas ou negativas, pela sua presença ou ausência. Gagné
(2000, 2004) considera ainda catalisadores os elementos de natureza intrapessoal que
podem ser transformados permanentemente pelo envolvimento no processo de
desenvolvimento, como por exemplo as necessidades do sujeito, os seus interesses, ou
mesmo o seu esforço (Gagné, 1985, 2000, 2004).
A relevância de cada um dos componentes é descrita, por ordem decrescente de
impacto causal pelo acrónimo CGIPE, no qual C se refere à sorte (Chance), G indica as
capacidades naturais (Gifts), I indica os catalisadores intrapessoais (Intrapersonal
Catalysts), P refere-se ao processo de desenvolvimento do talento (Talent Developmental
Process) e E refere-se aos catalizadores ambientais (Environmental Catalysts). Assim,
Gagné (2004) atribui à sorte o papel de maior impacto causal. Tal escolha prende-se com o
papel da herança genética na determinação das diferenças individuais e no seu impacto
direto nas capacidades naturais e catalisadores intrapessoais. O autor procura esclarecer a
sua perspetiva, onde a sorte assume um papel determinante no desenvolvimento do talento,
afirmando:
“Logically, chance does not cause anything, it should instead be considered a
qualifier of all causal factors, just like their positive or negative valence and the
intensity of their impact. In this way, chance would represent the degree of control a
person has over a given determinant of talent emergence” (p.136).
Para Gagné (2009), o acaso representa o grau de controlo que os talentees têm sobre
os vários fatores causais que afetam o desenvolvimento do seu talento. Assim, o papel do
acaso será o de qualificar qualquer influência casual, segundo a sua direção
(positiva/negativa) e intensidade.
Explicitando um pouco mais este modelo, o qual têm vindo a ser reestruturado e
enriquecido ao longo das últimas décadas, será importante referir que, para Gagné (1985,
2000), as capacidades naturais não são sinónimo de capacidades inatas, já que elas se
23
desenvolvem no decorrer da vida inteira de uma pessoa, embora o autor considere que será
provavelmente nos primeiros anos de vida que este desenvolvimento mais ocorre. Assim,
quanto mais fácil e rápido o sujeito aprende, mais se presume a presença de capacidades
naturais sublinhando o processo. Gagné (2009) destaca ainda quatro domínios de
capacidades naturais mentais: intelectual (e.g., verbal, numérico, espacial), criativo (e.g.,
originalidade, resolução de problemas), social (e.g., interação, liderança) e percetivo (e.g.,
visão, audição, olfato). Outros dois domínios de capacidades naturais são físicos: muscular
(e.g., velocidade, força, resistência) e controlo motor (coordenação, rapidez, equilíbrio). No
DMGT 2.0 a organização dos talentos tem como base o Mapa do Trabalho da ACT
(American College Testing Program) baseado na conhecida classificação de John Holland,
que relaciona os tipos de personalidade com o trabalho - RIASEC. Assim, surgem nove
campos de talentos: seis campos nos talentos, realista, investigador, artístico,
empreendedor, convencional e social, mais três campos adicionais - matérias académicas,
jogos e desportos. Relativamente à componente processo de desenvolvimento, que no
modelo inicial apenas é referida como um conjunto de quatro processos distintos
(maturação, aprendizagem espontânea, treino sistemático não estruturado e
desenvolvimento do talento de forma sistemática e estruturada), na sua revisão do DMGT
2.0, Gagné (2009) atribui-lhe uma maior consistência referindo que:
“The progress of a talentee from initial access to peak performance can be broken
down into a series of stages (e.g., novice, advanced, proficient, expert). Its main
quantitative representation is pace, or how fast - compared to learning peers - the
talentee is progressing toward peak achievement. The long-term developmental
course of a talentee will be marked by a series of more or less crucial turning points:
being spotted by a teacher or coach, receiving an important scholarship, accidents,
as well as positive (falling in love) or negative (death of a close one) personal events
impacting the developmental process.” (p. 71)
O processo de desenvolvimento de talento passa então a apresentar três principais
subcomponentes: as atividades, as quais refletem não só os conteúdos como também o
acesso e a forma como se desenrolam; a progressão, na qual é importante perceber os
estágios pelos quais o sujeito passa (i.e., novato, avançado, proficiente e excelente), o ritmo
(rapidez) e os eventos que se tornaram momentos marcantes ao longo do seu percurso de
desenvolvimento; e o investimento que é a subcomponente que quantifica a intensidade do
processo de desenvolvimento do talento em termos de tempo, dinheiro ou energia
24
psicológica. A actualização 2.0 do DMGT traz também algumas mudanças significativas
aos catalisadores: (i) reposiciona o fator acaso fora da área dos catalisadores; (ii)
reposiciona os catalisadores ambientais, colocando-os atrás dos catalisadores intrapessoais,
embora mantenham o mesmo nível de influência; e (iii) transfere o subcomponente
“eventos” dos catalisadores ambientais para o subcomponente “progressão”, no
componente processo de desenvolvimento.
A relação dinâmica e complexa entre os vários catalisadores no processo de
desenvolvimento dos talentos, assim como o papel moderador dos processos de
aprendizagem está presente desde o início deste modelo (Gagné, 2000, 2004, 2007, 2009).
Ao referir-se à “complexa coreografia” do processo de desenvolvimento do talento, Gagné
(2007) afirma:“Each component plays an essential role in the talent development process,
but none is in itself sufficient to ensure a successful outcome. So many things may go
wrong” (p. 112).
Na atualização 2.0 também o papel dos catalisadores ambientais sofre uma
reorganização, sinalizando deste modo o papel crucial que a componente intrapessoal tem
como filtro, em relação a influências ambientais. Estas podem estar relacionadas com o
meio (e.g., clima, meio urbano/rural, sociedade envolvente, cultura a que pertence, etc.),
com os indivíduos (pais, irmãos) e com as provisões (e.g., programas de desenvolvimento
dos talentos). Em relação aos catalisadores intrapessoais, Gagné (2009) refere duas
dimensões básicas: (i) traços físicos e mentais relativamente estáveis (e.g., sexo, raça,
doenças crónicas, resiliência) e (ii) processos orientados para metas e objetivos (e.g.,
autoconsciência, motivação, volição).
Ao analisar as interações entre os diversos componentes do modelo, também Gagné
(2009), tal como Renzulli (1978), conclui que os componentes interagem entre si e que
cada um deles é fundamental no processo de desenvolvimento do talento, mas
isoladamente nenhum conduz ao sucesso. Assim, a capacidade natural pode existir, mas se
não for desenvolvida irá perder-se e o talento nunca se manifestará.
Numa das suas publicações, Gagné (2007) divulga um conjunto de medidas
educativas, às quais denomina de “ten commandments for academic talent development”,
referindo quem e como orientar o desenvolvimento académico. Particularizaremos aqui o
25
sexto, o sétimo e o décimo mandamento, dada a sua importância no modelo teórico do
autor. No sexto mandamento, Gagné (2007) sugere que o enriquecimento é o processo
fundamental na intervenção educativa da sobredotação e apresenta quatro modalidades
distintas de enriquecimento, ao que designa de “os quatro Ds do enriquecimento”: (i)
enriquecimento na densidade (DS), semelhante ao “curriculum compacting” desenvolvido
por Renzulli; (ii) enriquecimento na dificuldade (DF), o qual introduz questões mais
complexas inspiradas no currículo regular, mas diferentes dos temas avançados
introduzidos através de DS; (iii) enriquecimento em profundidade (DP), semelhante ao
enriquecimento do Tipo III de Renzulli, através do qual os alunos exploram de forma mais
detalhada determinado tópico dentro ou fora do currículo regular; e (iv) enriquecimento na
diversidade (DV), que corresponde à introdução de tópicos breves não incluídos no
currículo regular. Utilizando o acrônimo IGAT (IG - dotado intelectualmente e AT -
academicamente talentoso) para designar a população-alvo da maioria dos programas de
enriquecimento escolar, Gagné (2007) defende que a compactação do currículo (DS) será a
medida mais adequada a este grupo: em primeiro lugar porque este tipo de enriquecimento
se liga perfeitamente com o processo de desenvolvimento mais característico de estudantes
IGAT, dada a sua facilidade e rapidez na aprendizagem; em segundo lugar, porque
contribui para a prevenção do aborrecimento; e em terceiro lugar porque permite a
rentabilização de horas de aprendizagem noutras formas de enriquecimento.
No sétimo mandamento, Gagné (2007) salienta a importância que deve ser dada a
um outro tipo de enriquecimento: o enriquecimento obtido através da aceleração
académica. Frequentemente usada pelos educadores e especialistas no desenvolvimento de
talentos no domínio do desporto e da música deverá, segundo o autor, ser utilizada sempre
que se considerem ganhos face às necessidades educacionais dos estudantes IGAT. No
décimo mandamento, Gagné (2007) defende a teoria “little-room-at-the-top” (“pouco-
espaço-no-topo”), alertando para as inúmeras barreiras que os indivíduos excecionais se
confrontam no seu percurso desde o talento precoce até ao “pódio da fama”. Em primeiro
lugar, estes indivíduos terão de coordenar com sucesso muitas das variáveis que poderão
contribuir para o seu sucesso e, em segundo lugar, só alguns lugares estão disponíveis no
topo.
26
Abordagens da excelência como expertise
Uma outra abordagem ao estudo da excelência na qual as capacidades naturais
deixam de ter lugar de destaque, como o apresentado nos modelos anteriores, é a
abordagem centrada na expertise. Nesta perspetiva, as capacidades naturais não são o ponto
de partida para a compreensão do desempenho superior, pois este é considerado como o
resultado de um treino e uma prática de trabalho intensivo. Neste contexto, vamos abordar
o modelo do desenvolvimento da expertise desenvolvido por Sternberg e o modelo de
expertise como manifestação da prática deliberada, através dos trabalhos realizados por
Ericsson e colaboradores.
Sternberg (1999, 2001a, 2005a; Sternberg, Grigorenko, & Ferrari, 2004), tendo
como base a sua teoria triádica da inteligência, elabora um modelo no qual as habilidades
podem ser vistas como formas de um processo de desenvolvimento que visa a excelência.
Para Sternberg (1999, 2001a), a diferença entre apresentar ou não altas habilidades reside
no modo como cada sujeito processa o desenvolvimento da expertise, afirmando que:
“Gifted individuals, then, are those who develop expertise at a more rapid rate, or to a
higher level, or to a qualitatively different king of level than do non-gifted individuals”
(Sternberg, 2001a, p. 161).
Por outro lado, os estudos realizados por Ericsson (1993, 1996) têm como base a
comparação dos desempenhos entre experts e novices. Através de medidas, como por
exemplo da memória ou da velocidade de raciocínio, e do estudo detalhado sobre as tarefas
realizadas ao longo do dia pelos sujeitos, Ericsson e colaboradores (Ericsson, Krampe, &
Tesch-Römer, 1993; Ericsson & Lehmann, 1996) concluíram que as vantagens dos experts
dependiam do domínio do conhecimento sobre a matéria, o qual estava diretamente
relacionado com o tempo de treino dedicado à tarefa.
Sternberg e o desenvolvimento da expertise
Sternberg (1999, 2001a; Sternberg, Grigorenko, & Ferrari, 2004) apresenta uma
abordagem de expertise, estabelecendo uma ponte entre as abordagens centradas em torno
da inteligência e da sobredotação e as abordagens do desenvolvimento da expertise. Este
27
modelo considera que todos os sujeitos sobredotados têm que: (i) estar acima da média
(excelência), (ii) terem um atributo diferenciado (raridade), (iii) as suas produções serem
significativas (produtividade), (iv) a sua capacidade excecional estar comprovada
(demonstratividade) e (v) os atributos serem valorizados culturalmente (valor). Assim, altas
habilidades, inteligência e expertise devem ser estudadas de forma relacionada.
De acordo com esta perspetiva, para se atingir um elevado nível de rendimento num
ou mais domínios ter-se-á que passar por um processo de aquisição e consolidação de um
conjunto de habilidades necessárias, a que Sternberg denominou de “developing expertise”
(1999, 2001a):“Developing expertise is defined here as the ongoing process of the
acquisition and consolidation of a set of skills needed for a high level of mastery in one or
more domains of life performance” (Sternberg, 1999, p. 359).
São cinco os elementos chave deste modelo que o autor relaciona, quer direta quer
indiretamente e que se encontram em constante interação: (i) competências metacognitivas;
(ii) competências de aprendizagem; (iii) competências de pensamento; (iv) conhecimento; e
(v) motivação. Analisando cada um destes elementos, podemos afirmar que as
competências metacognitivas se referem às capacidades de entendimento e de controlo que
as pessoas têm sobre as suas próprias cognições. Sternberg (2001a) reconhece sete
capacidades metacognitivas como particularmente importantes: reconhecimento de
problemas, definição de problemas, representação de problemas, formulação de estratégias,
seleção de recursos, monitorização da resolução de problemas e avaliação dessa resolução.
As competências de aprendizagem podem ser divididas em capacidades implícitas e
explícitas. A aprendizagem implícita ocorre quando assimilamos informação sem qualquer
tipo de esforço e a aprendizagem explícita ocorre quando fazemos um esforço para a
prender. Como exemplos de competências de aprendizagem podemos indicar a codificação
seletiva, que envolve a distinção entre informação relevante versus informação irrelevante e
a combinação seletiva, a qual envolve as relações estabelecidas entre as novas informações
e as já armazenadas na memória. As competências de pensamento podem ser analíticas,
criativas e práticas. Assim, as competências analíticas incluem a análise, critica e
julgamento, avaliação e comparação; as competências criativas incluem a criação,
descoberta, invenção, imaginação, suposição e elaboração de hipóteses; e, por último, as
competências práticas incluem competências de utilização, aplicação e prática.
28
Em relação ao conhecimento existem duas formas relevantes em situações
académicas: uma designada como conhecimento declarativo, relativo a factos, conceitos,
princípios e leis, que procura responder à questão “O quê?”, e uma outra forma, designada
por conhecimento procedimental, relacionada com procedimentos e estratégias, que procura
responder à questão “Como?”. No que se refere à motivação, o modelo destaca diferentes
tipos de motivação: por um lado, a motivação para a realização, na qual os sujeitos
procuram desafios e riscos moderados, não realizam nem tarefas demasiado simples, nem
demasiado complexas e tentam, constantemente, melhorar e obter resultados mais elevados;
e, por outro lado, a motivação para a competência (autoeficácia), a qual se refere à
capacidade das pessoas acreditarem nas suas próprias habilidades para resolver os
problemas com que se deparam. As pessoas excelentes desenvolvem a autoeficácia no
sentido de permitir a resolução de tarefas difíceis num determinado domínio. Por último,
Sternberg (2001a) destaca um terceiro tipo de motivação, aquela que cada indivíduo utiliza
para desenvolver as suas competências intelectuais, sendo que aqueles que acreditam que a
inteligência é modificável têm mais probabilidade de conseguir melhorar as suas
capacidades.
Além destes aspetos, Seternberg inclui ainda um sexto elemento – o contexto – que,
embora externo ao indivíduo, pode influenciar o seu desempenho. São estas cinco variáveis
que contribuem para que o sujeito desenvolva as suas habilidades. Tais habilidades,
segundo Sternberg (2001a), podem ser de três tipos: analíticas (relacionadas com a análise e
avaliação de ideias, resolução de problemas e tomada de decisões), criativas (quando vão
para além das ideias já conhecidas e se geram novas e interessantes ideias), e práticas
(sempre que se transformam ideias abstratas em ideias práticas, no dia a dia do sujeito). A
forma como estas habilidades se vão evidenciar depende do processo de desenvolvimento
da expertise:
“Analytical, creative and practical abilities, as measured by our tests or anyone
else’s, are simply forms of developing expertise. Which kinds of expertise a given
individual will develop will depend in part upon genetic predispositions and in part
upon the kinds of socializing experiences.” (Sternberg, 2001a, p.170).
29
Assim, Sternberg (2001a) postula que os novatos, os “novice”, trabalham no sentido
de atingirem a excelência através da prática focalizada, na qual a interação dos cinco
elementos é a chave do sucesso. A motivação ocupa uma posição central, pois é através
dela que o sujeito dinamiza as suas capacidades para avaliar, sintetizar, planear, criar e pôr
em prática. É assim que o sujeito, ao longo do tempo, através da prática focalizada e
posteriormente através da prática reflexiva, adquire a excelência. O modelo de Sternberg
apesar ter um grande enfoque nas capacidades naturais distancia-se significativamente dos
outros modelos de sobredotação, pois assume que o alcance da expertise não está
condicionado pelo nível de capacidades fixas prévias mas, pelo contrário, depende do nível
de envolvimento ativo e deliberado do sujeito na prática.
Ericsson e a prática deliberada na expertise
É na década de 70 com os trabalhos de Chase & Simon (1973) que se iniciam os
estudos em torno da expertise. Estes primeiros estudos tinham como objetivo demonstrar
que a diferença entre os sujeitos experts e não experts não dependia dos processos
cognitivos básicos, mas sim de uma prática adquirida através de uma longa experiência e
treino. Tendo como base estes trabalhos, Ericsson (1998, 2004) sublinha que os sujeitos se
tornam excelentes porque procuram insistentemente tipos particulares de prática,
designadamente a prática deliberada, a qual é definida como sendo um treino especialmente
preparado por professores ou treinadores e que tem como objetivo o aumento de aspetos
específicos do desempenho dos sujeitos, pelo que as melhorias contínuas no desempenho
não são uma consequência automática de mais e mais experiência, mas sim o envolvimento
diário numa prática organizada (Ericsson, 1998; Ericsson & Charness, 1994; Ericsson et al.,
1993; Ericsson & Lehmann, 1996). A este propósito, Ericsson e colaboradores (1993)
referem que:
“Our review has also shown that the maximum level of performance for individuals
in a given domain is not obtained automatically as function of extended experience,
but the level of performance can be increased even by highly experienced
individuals as a result of deliberate efforts to improve” (p. 366).
30
A prática deliberada assume uma tal importância para o sujeito, que ela torna-se o
motor que o leva ao compromisso com atividades específicas realizadas numa prática
consistente e diária. Com o intuito de melhorar o seu desempenho, o expert vê-se envolto
num desejo quase obsessivo de melhorar sempre cada vez mais, permitindo deste modo que
os efeitos de uma prática, com períodos elevados de treino intenso, assumam mecanismos
mediadores de adaptabilidade das suas competências cognitivas e fisiológicas (Ericsson,
1998, 2006; Ericsson et al., 1993; Ericsson & Lehmann, 1996; Ericsson, Roring, &
Nandagopal, 2007; Ericsson & Ward, 2007). Para Ericsson et al., sempre que há declínios
no desempenho dos experts mais velhos, estes estão mais relacionados com o
abrandamento desta prática do que com o avançar da idade. Contudo, só os sujeitos que ao
longo da vida se envolvem numa prática constante conseguirão produzir resultados de
excelência. (Ericsson & Charness, 1994; Ericsson, Prietula, & Cokely, 2007; Ericsson &
Ward, 2007).
Em 1991, Ericsson e Smith apresentam o “expert-performance approach” como
modelo de estruturação do estudo empírico da expertise, o qual tem sido usado em diversos
domínios, como o desporto (Williams & Ericsson, 2008), a música (Ericsson et al., 1993), a
educação (Plant, Ericsson, Hill, & Asberg, 2004) e a medicina (Ericsson, 2004). Com este
modelo, os autores pretendem identificar as habilidades especializadas nos experts
passando por três fases: (i) capturar o desempenho superior; (ii) analisar o desempenho; e
(iii) descrever o desempenho dos experts. Na primeira fase, pretende-se capturar o
desempenho expert em determinado domínio, através da observação, para que seja
posteriormente estandardizado e “recriado” em laboratório. Na segunda fase, o objetivo é
determinar os processos mediadores do desempenho excecional, recorrendo a metodologias
estandardizadas como perfis biomecânicos, medidas psicofisiológicas de atenção seletiva, o
registo dos movimentos oculares, filmagens do movimento ou a análise de protocolos
verbais, que podem ser utilizadas antes, durante e após o desempenho em determinada
tarefa. Na fase final, o objetivo é determinar os fatores que influenciam a aquisição destes
mecanismos, analisando o efeito da prática de atividades específicas nos vários estádios de
desenvolvimento da expertise (Ericsson et al., 2007; Ericsson & Towne, 2010; Ericsson &
Ward, 2007; Ericsson & Williams, 2007; Ford, Coughlan, & Williams, 2009).
31
Ericsson et al. (1993), partindo do princípio de que a prática deliberada é o primeiro
mediador de um desempenho excecional, referem que os níveis de aquisição de excelência
são orientados pela participação do sujeito na respetiva prática. A melhoria do desempenho,
para além de estar estruturada através de tarefas bem definidas no domínio específico da
atividade, tem o foco intencional do sujeito, onde este coloca toda a sua motivação,
autocontrolo e memória, com vista a atingir as suas metas e a excelência. A prática deixa de
ser uma simples mecanização ou automatização de tarefas e torna-se ela mesma na fonte
energética do sucesso (Ericsson, 1998, 2008). Todas as tarefas individuais realizadas
exigem uma enorme concentração por parte do sujeito, de modo a melhorar as habilidades
que já detém e ampliar novas habilidades a que se propõe alcançar. Para Ericsson (et al.,
1993) a relação direta entre o tempo de treino acumulado e o desenvolvimento de um
desempenho superior está presente na “regra dos 10 anos”, a qual muito raramente atinge
valores inferiores. Numa primeira etapa, o sujeito tem um envolvimento prévio com a área,
período no qual desenvolve a motivação e o prazer por realizar tarefas nesse domínio. É
este período que irá permitir que posteriormente se envolva de uma forma mais regular e
intensa nas atividades, mesmo que as tarefas que lhe são exigidas não sejam motivantes
nem agradáveis. Apesar de nem sempre ser agradável e a prática deliberada ser exigente em
relação ao esforço despendido pelo sujeito, este está motivado para a prática, pois sabe que
é através dela que o seu desempenho melhora (Ericsson 2008; Ericsson et al., 1993;
Ericsson & Lehmann, 1996; Ericsson, Prietula, et al., 2007; Ericsson, Roring et al., 2007)
Contrapondo fortemente a ideia de um desempenho superior surgindo através de
capacidades inatas, como fundamentam os principais autores das abordagens da
sobredotação, Ericsson e colaboradores consideram a falta de evidência empírica para que
as características genéticas possam sustentar as diferenças ao nível das capacidades inatas
de cada sujeito. Nesta linha, argumentam que as crianças prodígio terão tido condições
ambientais excecionais, que permitiram o seu desenvolvimento precoce em atividades de
prática deliberada, não havendo uma "repentina eclosão" de capacidades superiores
(Ericsson & Charness, 1994; Ericsson et al., 2007). Assumem, contudo, a existência de
acontecimentos decisivos que ajudaram ao desenvolvimento de algumas competências
(nomeadamente a linguagem), não podendo deixar de fora as diferenças de oportunidades
dos contextos de vida dos sujeitos. Em relação à inteligência, Ericsson e os seus
32
colaboradores (1994, 2007) referem-na como um fraco preditor do desempenho futuro,
argumento também apontado por Sternberg (1999, 2001a).
Abordagens da excelência como sabedoria.
A última abordagem ao estudo da excelência humana que vamos apresentar neste
capítulo prende-se com a perspetiva da sabedoria. Esta tem sido exaltada em muitas
culturas, representando a integração ideal do conhecimento, ação, mente e virtude. Na
antiguidade, a sabedoria estava reservada aos seres divinos e como tal, fora do alcance dos
mortais, sendo pelas mãos de Sócrates, Platão e Aristóteles que ela perde essa ligação ao
espiritual. Desde essa época que a cultura ocidental se tem debruçado sobre a sabedoria do
ser humano e o seu papel na organização da sociedade, através de temas como a ética, a
moral, a política e a ciência, estando sempre associada a ações que contribuem para o bem-
estar (Baltes, 2004; Baltes & Smith, 2008; Kunzmann & Baltes, 2005).
Nas últimas décadas, temos visto emergir a psicologia positiva como uma área de
estudo científico própria e multifacetada, que deixa de lado as abordagens centradas nos
problemas e nas patologias, para se debruçar sobre as qualidades dos indivíduos no âmbito
subjetivo, individual e grupal, que visam o bem-estar e a qualidade de vida (Seligman,
2002; Seligman & Csikszentmhihalyi, 2000; Yunes, 2003). Tendo como suporte os
trabalhos realizados pelo movimento da psicologia positiva, o conceito da sabedoria emerge
como uma qualidade de ser excelente, sendo muitas vezes sinónimo de excelência pessoal.
Com esta perspetiva de sabedoria como o “esplendor” da condição humana,
Sternberg apresenta o modelo integrador WICS: wisdom, intelligence and creativity
sintethized, no qual procura conciliar os conceitos de sobredotação, expertise e sabedoria
(Sternberg 1998, 2003a, 2005b). Também Baltes e colaboradores (Baltes, 2004; Baltes &
Kunzmann, 2003; Baltes & Smith, 1990, 2008; Baltes & Staudinger, 1993, 2000; Baltes,
Staudinger, Maercker, & Smith, 1995; Kunzmann & Baltes, 2005) se interessaram pelo
conceito de sabedoria e, partindo de uma primeira reflexão filosófica sobre o tema, iniciam
uma série de vários estudos empíricos nos quais a sabedoria é estudada como um fenómeno
diário e presente em pessoas sábias. Vemos, então, o conceito de sabedoria passar dos
33
campos da filosofia e religião para a antropologia, ciência política, educação e psicologia,
ora enquadrando-se em abordagens, mais no senso-comum, que procuram perceber como é
que o conceito de sabedoria é utilizado no quotidiano e como se caracterizam as pessoas
“sábias” (desenvolvidas pelas teorias implícitas), ora focando-se nas manifestações
comportamentais ou nas expressões de sabedoria, permitindo a operacionalização e
conceptualização do conceito (abordadas nas teorias explícitas). Para Baltes e Staudinger
(2000) a partir das teorias implícitas é possível retirar cinco conclusões sobre a sabedoria:
(i) possui um significado específico, que a distingue de outros conceitos como a
inteligência social, a maturidade, ou a criatividade; (ii) está relacionada com os ideais de
excelência e desenvolvimento humano, assumindo-se como um nível excecional de
funcionamento humano; (iii) corresponde a um estado da mente e do corpo que implica a
combinação de aspetos intelectuais, afetivos e motivacionais; (iv) encontra-se associada a
elevadas competências pessoais e interpessoais, incluindo a capacidade para ouvir, avaliar e
dar conselhos; e (v) envolve boas intenções porque é utilizada para o bem-estar pessoal e
dos outros. Mas, segundo os referidos autores, após uma detalhada análise histórico-cultural
e filosófica sobre o conceito de sabedoria pode-se ir mais longe e identificar sete
propriedades que lhe são inerentes: (i) aborda questões importantes e difíceis e estratégias
sobre a vida; (ii) integra os limites do conhecimento e as incertezas do mundo; (iii)
representa um nível superior em termos de conhecimento, julgamento e aconselhamento;
(iv) corresponde a um conhecimento com elevado alcance, profundidade, medida e
equilíbrio; (v) envolve uma sinergia perfeita entre mente e caráter a qual se transforma num
processo de harmonia entre o conhecimento e as virtudes; (vi) representa o conhecimento
usado para o bem e para o bem-estar pessoal e dos outros; e (vii) embora difícil de alcançar,
é facilmente reconhecida quando expressa (Baltes, 2004; Baltes & Staudinger, 2000). Para
Baltes e Staudinger (2000) são os resultados dos estudos das teorias implícitas que servem
de ponto de partida para os três tipos de abordagens explícitas que podemos encontrar na
literatura. São estas abordagens que, focando-se nas manifestações comportamentais ou
expressões da sabedoria, oferecem uma conceptualização formal sobre o conceito: (i) a
conceptualização da sabedoria como características pessoais; (ii) a conceptualização da
sabedoria de acordo com a tradição neo-Piagetiana de pensamento pós-formal e dialético; e
(iii) a conceptualização da sabedoria como uma forma sábia de lidar com o significado e
34
condução da vida. É esta terceira abordagem que orientou e serviu de base ao projeto que se
designa de paradigma de Berlim.
Paul Baltes e o paradigma de Berlim.
Baltes e colaboradores (Baltes, 2004; Baltes & Kunzmann, 2003, 2004; Baltes &
Smith, 1990, 2008; Baltes & Staudinger, 1993, 2000; Kunzmann & Baltes, 2005) iniciam o
projeto paradigma de Berlim assumindo as dificuldades inerentes à própria definição de
sabedoria, dado tratar-se de um conceito abrangente e multifacetado. Combinando uma
definição ampla de sabedoria, como a excelência da mente e da virtude, com uma
caracterização específica da mesma, como o conhecimento especializado para lidar com a
vida, ao que os autores denominam de pragmática fundamental da vida (“fundamental
pragmatics of life”) definem sabedoria como “uma perícia altamente valorizada na forma
de lidar com os problemas fundamentais (existenciais) da vida” (Baltes & Staudinger, 2000,
p. 124). Assim, a sabedoria passa a estar associada a um conhecimento especializado e
julgamento sobre o planeamento da vida (e.g., que metas atingir na minha vida e como), à
gestão da vida (e.g., como lidar melhor com situações críticas como o suicídio ou os
conflitos familiares) e à construção da vida com sucesso (e.g., a melhor forma de dar
sentido à nossa história de vida e às experiências do passado de forma a ter uma boa vida)
(Baltes & Smith, 1990, 2008). Assim, Baltes e Staudinger (1993) referem que:
“This approach is based on three lines of research: life-span theory, the
developmental study of the aging mind and personality and research on expert
systems. By integrating these perspectives we define wisdom as an expert
knowledge system in the fundamental pragmatics of life permitting exceptional
insight, judgment and advise involving complex and uncertain matters of the
human condition.” (p. 76).
Para testar a sabedoria, Baltes e Mayer, em 1989, dão início ao Berlin Aging Study
(BASE), um estudo interdisciplinar que envolve perspetivas de quatro áreas científicas – a
psiquiatria, a psicologia, a sociologia e a medicina interna, com idosos de 70 a 105 anos,
residentes em Berlim (Baltes, Mayer, Helmech, & Steinhagen-Thiessen, 1999). Tratava-se
de uma população única, do ponto de vista de ter vivido todas as grandes mudanças
históricas que o mundo, a Alemanha e a cidade de Berlim experimentaram no século XX
(Baltes & Smith, 1990; Smith et al., 2002). Os trabalhos desenvolvidos no âmbito do
35
paradigma de Berlim identificam um conjunto de condições necessárias para o
desenvolvimento da sabedoria. Se, por um lado, ela é entendida como expertise e, como tal,
exige um desenvolvimento e um aperfeiçoamento realizado ao longo de um vasto período
de aprendizagem, onde a motivação e a resiliência são a chave do sucesso, por outro, dado
tratar-se de um constructo multidimensional e complexo, exige a interação de uma vasta
variedade de fatores e processos, que se relacionam bidirecional e cumulativamente, e que
se encontram organizados em três dimensões: (i) fatores pessoais (e.g., capacidades
cognitivas, traços de personalidade); (ii) fatores específicos de expertise (e.g., exposição a
dilemas e eventos de vida significativos, motivação, mentores); e (iii) fatores facilitadores
(e.g., idade, educação, período histórico, cultura, família) (Baltes & Staudigner; 1993,
2000; Kunzman & Baltes, 2005). Crentes de que as características únicas da sabedoria não
podem ser identificadas nem por questionários de personalidade nem com os tradicionais
testes psicométricos sobre a inteligência, os autores (Baltes & Smith, 1990; Kunzman &
Baltes, 2005) iniciam os seus estudos empíricos utilizando como metodologia de trabalho o
método thinking-aloud: após serem colocados problemas de vida hipotéticos pede-se aos
participantes que pensem em voz alta sobre os mesmos. Para que o processo fosse rigoroso
e estandardizado, foram treinados avaliadores que utilizavam cinco critérios definidos
previamente. Dois critérios são considerados básicos por se referirem a qualquer tipo de
expertise: (i) conhecimento factual rico sobre a natureza humana e o percurso de vida; e (ii)
conhecimento processual rico sobre formas de lidar com os problemas da vida. Os outros
três critérios são considerados meta-critérios por serem relativos apenas à sabedoria: (iii)
contextualismo em relação ao percurso de vida; (iv) relativismo de valores e tolerância; e,
(v) reconhecimento da incerteza, inclusive dos próprios limites de conhecimento. Estes
critérios refletem o balanço entre duas características da sabedoria, o conhecimento
(intelecto) e o carácter, sendo que ambos deverão estar presentes aquando da análise dos
protocolos dos entrevistados (Baltes & Kunzman, 2003; Baltes & Staudigner, 1993, 2000;
Kunzman & Baltes, 2003, 2005).
Baltes et al. (Baltes & Kunzman, 2003; Baltes & Staudigner, 2000; Baltes & Smith,
2008; Kunzman & Baltes, 2005) sintetizaram as principais conclusões a que chegaram em
seis pontos: (i) níveis elevados de conhecimento relacionados com a sabedoria são raros;
(ii) a transição da adolescência para a fase adulta parece ser a primeira porta para emergir a
36
sabedoria relacionada com o conhecimento; (iii) a idade não ocupa um papel principal no
desenvolvimento da sabedoria, sendo fundamentais fatores de outros domínios
designadamente de âmbito psicológico, social, profissional e histórico; (iv) as experiências
de vida, o treino profissional e a prática, e certas preferências motivacionais, como o
interesse pela compreensão dos outros, parecem ter maior valor preditivo do que
inteligência académica, ou a idade; (v) as pessoas possuem maiores “quantidades” de
sabedoria do que aquelas que são evidentes no processo de avaliação; (vi) a sabedoria
manifesta-se no comportamento não-verbal e social, pelo que, comportamentos como a
empatia e a escuta atenta contribuem para a atribuição da sabedoria a alguém,
especialmente quando este apresenta mais idade e o discurso engloba elevados
conhecimentos. Em estudos posteriores, Baltes et al. (Baltes & Kunzmann, 2003;
Kunzmann & Baltes, 2003, 2005) vêm, igualmente, reforçar a importância das emoções e
dos valores, concluindo que para além do conhecimento a sabedoria está associada a outras
“forças” humanas, como um elevado envolvimento afectivo, motivação, integridade
pessoal, conhecimento da vida, cultura e valores centrados no bem comum. São os
ambientes sociais estimulantes, a exposição a sistemas educativos de qualidade e um
suporte familiar proativo que também contribuem para o desenvolvimento da sabedoria.
Na busca de melhor compreender as relações entre a sabedoria e o conhecimento
adquirido ao longo da vida, perante a definição dos objectivos pessoais que cada sujeito
elabora, os autores realizaram alguns estudos nos quais articulam estes conceitos com os
mecanismos de regulação dos comportamentos que o sujeito seleciona quando define os
seus objectivos pessoais. Para Baltes et al. (Baltes & Kunzman, 2003; Baltes, Lindenberger
& Staudinger, 2006; Freund & Baltes, 2000, 2002; Kunzman & Baltes, 2005) a premissa de
estudo prende-se com o papel fulcral que o conhecimento relacionado à sabedoria
desempenha no desenvolvimento e na regulação da vida dos sujeitos. Para tal, recorrem à
metateoria do desenvolvimento com sucesso ao longo da vida (SOC- successful life span
development) a qual engloba três momentos fundamentais: (i) seleção de metas ou
resultados a atingir; (ii) otimização de meios relevantes para alcançar o sucesso; e (iii)
compensação que envolve uma resposta à perda de meios relevantes para o objetivo, a fim
de manter o sucesso. A este propósito, Freund e Baltes (2000) referem que:
37
“Before defining the three components processes of developmental regulation
selection, optimization and compensation, we want to briefly address three basic
assumptions about human development underlying the SOC-theory: i) resources
for behavioral and developmental engagement are constrained and limited across
the lifespan; ii )development is multidirectional and multifunctional in trajectories
of adaptive fitness; iii) development is a dynamic process of both reacting to and
proactively shaping one’s environment as well as one’s internal mental
representations.” (p. 33).
Assim, a sabedoria e o SOC operam em conjunto, pois sendo o desenvolvimento um
processo dinâmico onde ambos moldam proativamente e reciprocamente o ambiente e as
respectivas representações deste, é na base da sabedoria que as pessoas, face aos recursos
restritivos e limitados que vão surgindo ao longo da vida, podem definir e selecionar os
objetivos e os meios que são socialmente aceites e desejáveis para o sucesso (Baltes &
Kunzman, 2003; Freund & Baltes, 2000, 2002; Kunzman & Baltes, 2005).
O modelo WISC de Sternberg
Sternberg (2003a, 2003b, 2005b), integrando o seu modelo de inteligência de
sucesso, que define a inteligência como a capacidade de alcançar os próprios objetivos de
vida, com a sua teoria balanceada da sabedoria, na qual as pessoas altamente inteligentes
são aquelas que sabem usar a sua inteligencia, criatividade e o conhecimento para
implementar ações que promovam o bem comum, apresenta o novo modelo de liderança
WICS (Wisdom, Intelligence, Creativity, Synthesized), segundo o qual a inteligência, a
criatividade e a sabedoria se integram e representam as três condições essenciais para que
os sujeitos altamente inteligentes possam ser líderes excelentes no futuro. Para a
compreensão do desenvolvimento da sabedoria na teoria balanceada da sabedoria é
necessário atendermos a seis componentes que o autor considera fundamentais: (i)
conhecimento, incluindo a compreensão dos seus pressupostos e significado, bem como
suas limitações; (ii) processos, incluindo uma compreensão de quais os problemas que
devem ser resolvidos automaticamente e quais os problemas que não podem ser resolvidos;
(iii) pensamento crítico, caracterizado pelo desejo de julgar e avaliar as coisas em
profundidade; (iv) caracteristicas de personalidade, como a tolerância à ambiguidade e a
comprensão do papel dos obstáculos ao longo da vida; (v) motivação, especialmente a
motivação para compreender o que se sabe e o que isso significa; e (vi) contexto ambiental,
38
envolvendo uma apreciação dos factores contextuais no ambiente que levam a vários tipos
de pensamentos e ações (Sternberg 1990, 1998). Mas o núcleo central desta teoria reside na
componente do conhecimento, designada de conhecimento tácito (tacit knowledge), na
medida em que este será a base da distinção dos experts dos não experts num domínio
específico. O conhecimento tácito, adquirido através da experiência, sem ajudas do exterior,
permite ao sujeito atingir as metas que pessoalmente valoriza (Sternberg, 1998, 2001b,
2003b). A este propósito, Sternberg (1998) refere que:
“The view of wisdom proposed here has at its core the notion of tacit knowledge
about oneself, others, and situational contexts. Tacit knowledge is action oriented,
typically acquired without direct help from others, and allows individuals to achieve
goals they personally value” (p. 351).
As medidas de conhecimento tácito realizadas por Sternberg (1998) parecem terem
demonstrado relações significativas com o trabalho, designadamente em áreas profissionais
como as vendas, a gestão e o ensino universitário. Neste sentido, Sternberg (2003a, 2005a)
incorpora este conceito no seu modelo da inteligência de sucesso, definindo-a como uma
inteligência mais prática, que assume simultaneamente a relevância dos objectivos de vida
pessoais, considerados à luz de um determinado contexto sócio-cultural. Tal como refere
Sternberg (2005a):
“According to this definition, Successful Intelligence is: i) the ability to achieve
one’s goals in life, given one’s sociocultural context; ii) by capitalizing on strengths
and correcting or compensating for weaknesses; iii) in order to adapt to, shape, and
select environments; and, iv) through a combination of analytical, creative, and
practical abilities.” (p. 189)
No modelo de liderança WICS - wisdom, intelligence, and creativity, synthesized, no
qual alguém só adquire níveis de excelência quando os três componentes se desenvolvem
num processo de síntese, a inteligência é entendida como a habilidade para alcançar
determinado objectivo pessoal, num determinado contexto sociocultural, adaptando-se às
formas, seleccionando os ambientes, e recorrendo à combinação das habilidades analíticas,
criativas e práticas. A criatividade é a habilidade de formular e resolver problemas para
produzir soluções que são relativamente novas e de alta qualidade; envolve inteligência
criativa ao gerar novas ideias, no detalhe, no conhecimento e no desejo de pensar de novas
maneiras. Para ser criativo é preciso ter capacidade de redefinir problemas, de questionar e
analisar situações, ter a consciência de que uma ideia criativa não se vende por si só,
39
possuir o desejo de ultrapassar obstáculos, ter a determinação em tomar riscos avaliados, ter
tolerância à ambiguidade, ter motivação intrínseca, ser focado na tarefa, ter coragem, saber
adiar a gratificação e estar inserido num ambiente que estimule a criatividade. Finalmente,
a sabedoria que, de acordo com Sternberg pode ser o atributo mais importante a avaliar, é
definida como a aplicação da inteligência e da criatividade medida por valores que
defendem o desenvolvimento do bem comum, através do balanço de interesses
intrapessoais, interpessoais e extrapessoais durante períodos curtos ou longos, para alcançar
um outro balanço, entre a adaptação a ambientes existentes, a modelação a ambientes
existentes e a selecção a novos ambientes (Sternberg, 2003a, 2005b, 2005c). Neste sentido,
Sternberg (2003a) define a sabedoria como:
“Wisdom is defined as the application of intelligence and creativity as mediated by
values toward the achievement of a common good through a balance among (i)
intrapersonal, (ii) interpersonal, and (iii) extrapersonal interests, over the (i) short
and (ii) long terms, to achieve a balance among (i) adaptation to existing
environments, (ii) shaping of existing environments, and (iii) selection of new
environments” (p. 123).
Para o referido autor, um líder de sucesso manifesta a sua sabedoria no modo como
define os seus problemas. Mas como é que a sabedoria é adquirida? Para Sternberg (1998,
2001b, 2005b), a sabedoria é adquirida através dos componentes de aquisição de
conhecimento. A sua aquisição depende: (i) da codificação selectiva de nova informação
relevante para a aprendizagem sobre o contexto; (ii) da comparação selectiva desta
informação com informação antiga; e (iii) da combinação selectiva de partes de informação
para que estas possam vir a ser integradas num todo. A resolução de um problema processa-
se recorrendo a sete metacomponentes do pensamento: (i) reconhecimento do problema; (ii)
definição da natureza do problema; (iii) representação da informação inerente ao problema;
(iv) formulação da estratégia para resolver o problema; (v) mobilização de recursos para a
resolução do problema; (vi) monitorização da resolução escolhida; e (vii) avaliação do
feedback da resolução (Sternberg, 2001b, 2005b).
Sternberg (2005d, 2005e) considera premente a intervenção precoce na promoção
do conhecimento tácito para o desenvolvimento da sabedoria, através de programas
desenvolvidos nas escolas, de modo a formar líderes de sucesso. Para o referido autor, um
líder eficaz requer conhecimento, criatividade que lhe permita gerar ideias criativas e
40
poderosas, inteligência analítica para determinar se elas são boas ideias, inteligência prática
para implementar as ideias de uma forma eficaz e persuadir os outros a ouvir e seguir as
suas ideias e sabedoria para garantir que as ideias representam um bem comum para todos
os interessados, e não apenas para alguns deles. Neste sentido, propõe que as escolas
ensinem os seus alunos, não só a memorizar conteúdos e pensar criticamente sobre o
conteúdo das disciplinas que estão a frequentar (mesmo que o façam de forma criativa),
mas para pensar com sabedoria sobre tudo o que aprendem. O conhecimento é a pedra
basilar que deve acompanhar a sabedoria, pois as pessoas precisam de conhecimento para
poderem elaborar juizos sobre as diferentes circunstâncias da vida, sobre as estratégias de
sucesso que deverão utilizar e mesmo sobre as estratégias de insucesso. Contudo, apenas o
conhecimento não é suficiente para que os juízos que o indivíduo faz estejam dentro da
razão ou da justiça, pelo que o desenvolvimento da sabedoria é fundamental, pois é ela que
promove o carácter dos indivíduos e a qualidade de vida das sociedades (Sternberg, 2005d,
2005e). Finalizando, John Kekes (1995), o filósofo inspirador do trabalho de Sternberg,
refere que:“Moral wisdom is the capacity to judge rightly what should be done in
particular situations to make life better.” (p. 5).
O estado da arte em Portugal.
Apesar do tema da sobredotação ser amplamente estudado fora de Portugal, o tema
foi abordado pela primeira vez no nosso País na 1ª Conferência Internacional sobre
Crianças Sobredotadas, realizada na cidade do Porto em 1986, por iniciativa da Associação
Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS) (Miranda & Almeida, 2002). Nos finais dos
anos 80, o tema da sobredotação reaparece e uma definição é avançada: “sobredotado é
todo o indivíduo que apresenta capacidades acima da média em áreas diversas, que podem
surgir isoladas ou em combinação, sendo essas áreas a intelectual, a criativa, a social, a da
liderança ou a psicomotora” (Silva, 1992, p.20). Nesta definição, na qual estão envolvidos
múltiplos critérios, poderemos ver incluídos os sujeitos sobredotados intelectualmente, os
criativos, os que apresentam capacidades psicomotoras, de liderança, e aqueles que
apresentam competências inter e intrapessoais. O uso da mesma terminologia provoca
necessariamente equívocos e arbitrariedades, as quais se refletem quer no domínio da
41
investigação, dificultando a comparação dos resultados das diferentes investigações, quer
no domínio da educação, gerando obstáculos à elaboração de políticas educativas capazes
de responderem às necessidades específicas dos sujeitos (Pereira, 2000).
Em meados da década de 90, tem lugar no Porto o II Congresso da Federação Ibero-
Americana/I Congresso Internacional de Sobredotação, promovido pela Associação
Portuguesa para o Estudo da Problemática da Inteligência, Criatividade e Talento
(APEPICTa) e pelo Centro “Huerta del Rey”. Este Congresso contou com participantes
vindos de mais de 20 países de todo o mundo e constituiu uma oportunidade para renovar
relações e construir uma rede global ainda mais forte, no âmbito da influência a nível
mundial do Conselho Mundial para as Crianças Talentosas e Sobredotadas (WCGTC).
O ponto de viragem nos estudos académicos realizados em Portugal sobre a
temática da sobredotação é marcado pela tese de mestrado em Educação na Universidade
do Minho, de Ilídio Falcão, em 1989. Este estudo de carácter exploratório, realizado no
distrito de Coimbra, teve como primordial objetivo identificar os conhecimentos e as
perceções dos professores sobre a problemática da sobredotação. Os resultados obtidos
apontaram para um relativo desconhecimento e para perceções negativas por parte dos
professores em relação ao tema (Falcão, 1992). Um outro estudo nacional que merece
referência, dado tratar-se do primeiro Doutoramento em Psicologia, na área da
sobredotação, foi o realizado por Marcelino Pereira na Universidade de Coimbra, dez anos
depois, em 1998. Neste trabalho, o autor refere que a definição e interpretação da
sobredotação deve considerar sete dimensões: idade (criança ou adulto), grau (ligeiro,
moderado ou profundo), nível de motivação (alto ou baixo), área de expressão (geral ou
específica), modo de tratamento da informação (assimilar eficaz ou criativo), relevância
social (ter ou não reconhecimento social) e o contexto (escolar ou outro), trabalhando ainda
a criatividade destes alunos e a eficácia das medidas de aceleração escolar (Pereira, 1998).
Numa revisão da investigação na área da sobredotação em Portugal, Almeida,
Pereira, Miranda e Oliveira (2003) identificam como principais tópicos de estudo: (i) a
definição do conceito, percepção e atitudes face à sobredotação; (ii) a construção e
validação de instrumentos, assim como de modelos de avaliação e identificação da
sobredotação; (iii) características cognitivas e de aprendizagem; e (iv) análise dos talentos e
42
excelência em domínios específicos. O enfoque da investigação da sobredotação e
excelência em Portugal recai, assim, na caracterização cognitiva e sócioemocional e na
intervenção junto de crianças ou jovens em idade escolar (e.g., Candeias, 2005; Gomes &
Alves, 2004; Melo & Almeida, 2007; Miranda & Almeida, 2003, 2005; Peixoto & Vilas
Boas, 2002; Simões, 2001). Posteriormente, Miranda e Almeida (2010), numa segunda
revisão da investigação nacional, incluindo apenas teses de doutoramento e mestrado
realizadas, referem que os estudos na área da sobredotação incidem, no primeiro caso, em
três áreas: i) caracterização da população sobredotada (Pereira, 1998); ii) avaliação do
impacto das respostas educativas (Antunes, 2008; Miranda, 2008; Oliveira, 2007); e iii)
avaliação de caractristicas psicológicas (Simonetti, 2008). No segundo caso, com um maior
número de trabalhos abrangendo variadas áreas (e.g., Melo, 2006; Miranda, 2003; Oliveira,
2003; Pinto, 2010; Silva, 2009) incidem na (i) sinalização/identificação; (ii) avaliação; (iii)
caracterização da população sobredotada; (iv) desenvolvimento social do sobredotado; (v)
estratégias educativas familiares; (vi) avaliação do impacto das respostas educativas; (vii)
qualidade de vida em famílias sobredotadas; e (viii) percepções dos educadores. Um dado
relevante são os poucos estudos de investigação realizados com adultos. Contudo, na área
do desporto com atletas de alto rendimento tem surgido um considerado número de estudos
(e.g., Alves & Cruz, 1997; Cruz, 1996; Dias, Cruz, & Fonseca, 2009). Mais recentemente,
surgem estudos da excelência em contexto académico (e.g., Monteiro, 2007; Monteiro et
al., 2009), estudos com cientistas e bailarinos (e.g., Araújo, 2010; Araújo, Almeida, & Cruz,
2007, 2009; Araújo, Cruz, & Almeida, 2007; Araújo, Matos, Almeida, & Cruz, 2008),
alguns trabalhos na área da criatividade (e.g., Bahia & Duarte, 2004; Morais, 2007), sobre o
percurso de cientistas portugueses (e.g., Costa, Conceição, Coelho, & Dias, 2009; Massada,
2002, 2003), e também alguns trabalhos centrados no estudo da excelência em diferentes
contextos de realização (Araújo et al., 2007, 2008, 2009; Matos et al., 2011; Monteiro,
2007; Monteiro et al., 2009).
Será importante referir que os modelos que servem de referencial teórico nos
estudos portugueses seguem as tendências internacionais sobre a compreensão da
excelência, sendo os mais referenciados os modelos de Renzulli, Gagné, Sternberg e
Ericsson. Contudo, estes estudos divergem nas metodologias utilizadas, observando-se: (i)
estudos de caso; (ii) estudos com amostras; (iii) estudos com a utilização de metodologias
43
qualitativas e de natureza descritiva; e (iv) estudos quantitativos onde se optam por
metodologias de índolo correlacional. Apesar das diferenças nas orientações metodológicas,
em todos eles está presente a preocupação na descrição dos instrumentos usados para a
recolha dos dados, demostrando que a qualidade dos resultados encontrados estão
dependentes dos instrumentos e dos cuidados tidos aquando da sua aplicação.
De grande importância para o estudo da excelência em Portugal é o facto de, nos
últimos anos, ter-se verificado um crescente interesse não só sobre a temática em geral, mas
essencialmente sobre a excelência na fase adulta. Dado tratar-se de um campo vasto, onde
as abordagens podem ser diversificadas e tendo em linha de conta os múltiplos fatores
envolvidos, consideramos de extrema relevância que cada vez mais se incentivem os
estudos da excelência na fase adulta, permitindo deste modo uma maior clarificação sobre
as variáveis que estão presentes ao longo do percurso de vida dos seus protagonistas.
44
45
CAPITULO 2
_______________________________________________________________
ESTUDO DA EXCELÊNCIA EM CONTEXTOS DE REALIZAÇÃO
46
Introdução
Ao debruçarmo-nos sobre a excelência na fase adulta e a sua manifestação nos
diversos contextos profissionais surge-nos a questão: quem devemos identificar como
excelente perante os variados contextos de realização? Todos nós conhecemos pessoas que,
no seu anonimato, se destacam pelas suas qualidades pessoais e pelos desempenhos
extraordinários, desde o professor brilhante, o ourives mais criativo ou até mesmo o
marceneiro que, dominando uma vasta gama de utensílios, transforma o tronco de madeira
na mais bela peça de mobiliário. Então, de novo a pergunta se impõe: que tipo de
excelência pretendemos discutir? Como abordado no capítulo anterior, exploraremos a
excelência enquanto manifestação de desempenhos excecionais dentro da especificidade de
um contexto valorizado socialmente. Neste contexto, definimos que o individuo excelente
se diferencia dos seus pares apresentando níveis superiores de conhecimentos e expertise,
com relativa consistência nos seus desempenhos superiores e com reconhecimento social
das obras realizadas.
São variados os contextos de realização que têm despertado a atenção dos
investigadores, designadamente o desporto, as artes, a música, a ciência ou até mesmo no
domínio específico da educação e do desenvolvimento humano. Os investigadores curiosos
em compreender e explicar a excelência, qualidade que parece restrita a um pequeno
número de indivíduos (Bloom, 1985; Gardner, 1983; Lubinski, Benbow, Webb, & Bleske-
Reehek, 2006; Lubinski, Webb, Morelock, & Benbow, 2001; Simonton, 1999a), marcaram
os finais do século XX e os começos do século XXI na busca da origem de tal fenómeno. A
este propósito, Simonton (2008a) refere que:
“A person can achieve in almost any domain, such as scientific or artistic creativity,
political or military leadership, individual or team sports, chess competition or
musical performance, cooking or gardening. Truly exceptional achievement in a
particular domain typically results in the attainment of eminence within that domain
(e.g. Nobel laureate, an Olympic gold medalist, or a critically acclaimed violin
virtuoso). However, the term genius is most often confined to eminence achieved
within domains requiring either creativity or leadership (e.g., literary genius or
military genius). And scientific genius is principally contingent on the
demonstration of extraordinary creativity in science.” (p. 30)
47
Se para uns são os fatores hereditários que podem explicar a excecionalidade
(Lubinski & Benbow, 2000; Plomin, Owen, & McGuffin, 1994; Rankinen et al., 2006;
Simonton 2001, 2008a; Subotnik, Olszewski-Kubilius, & Arnold, 2003), para outros é a
aprendizagem e a experiência que determinam a excelência (e.g., Pinker, 2002), enquanto
para outros, ainda, os desempenhos humanos resultam da interação entre fatores internos e
externos (e.g., Baker & Horton, 2004). Procurando compreender o desempenho da
excelência na fase adulta, considerando como principal fator a prática intensiva e
deliberada, através de um investimento em termos de tempo, esforço e dedicação num
determinado domínio, Simon e Chase (1973) defendem que basta o treino adequado para se
obter resultados excecionais. A “regra dos 10 anos” apresentada pelos referidos autores
sugere que são necessários, no mínimo, dez anos de treino intensivo para que se atinja o
nível de excelência. Este pressuposto foi testado com sucesso em diversos domínios
profissionais, designadamente a música (Erickson et al., 1993; Sosniak, 1985), matemática
(Gustin, 1985), natação (Kalinowski, 1985), ténis (Monsaas, 1985) e corrida (Wallingford,
1975). Por sua vez, Erickson e colaboradores enriquecem a visão da prática deliberada
definida por Simon e Chase como um movimento interior, mecânico e desprovido de
emoções, transformando-a em algo mais complexo, incluindo a volição e o compromisso
(Ericson et al., 1993; Ericsson & Lehmann, 1996; Corno & Kanfer, 1993). Nas últimas
décadas com o emergir da Psicologia Positiva e a ênfase nas qualidades do ser humano no
âmbito subjetivo, individual e grupal, a sabedoria torna-se o ponto central do estudo da
excelência (Baltes & Staudinger, 2000; Kunzmann & Baltes, 2005; Sternberg, 2001b),
assumindo-se ela própria como uma expertise na forma de lidar com os problemas
fundamentais do quotidiano, podendo mesmo ser ensinada e desenvolvida em idade escolar.
No presente estudo, que visa não só a procura das razões e determinantes que levam
os sujeitos a apresentarem desempenhos excecionais em contextos de realização, mas
também a procura de pistas que nos encaminhem para a organização de condições
promotoras da excelência em contextos educativos, procurámos analisar a excelência em
diversos contextos profissionais, explorando assim diversas variáveis promotoras da
excelência. O presente capítulo apresenta um breve enquadramento dos estudos realizados
relativamente aos desempenhos excelentes nas artes, desporto, em contextos da
48
investigação científica e empresas. Por último, procuraremos identificar as principais
dimensões associadas à excelência em contextos de realização.
Bloom e o Desenvolvimento do Talento
O “Development of Talent Research Project” foi um dos primeiros grandes projetos
de investigação no âmbito da excelência em contexto de realização, desenvolvido por um
grupo de investigadores sob a direção de Benjamin Bloom (1985) na Universidade de
Chicago. O investigador e a sua equipa reuniram mais de 120 participantes com idades
inferiores a 35 anos, nascidos e criados nos Estados Unidos (assegurando deste modo que
as aprendizagens feitas estavam dentro dos padrões americanos), e que se tivessem
distinguido numa das seguintes áreas: arte, desporto, ou produção intelectual. Para cada
uma das áreas, o referido autor selecionou dois grupos de profissionais: pianistas e
escultores no campo artístico, campeões de ténis e nadadores olímpicos no campo do
desporto, e cientistas de neurologia e matemática no campo intelectual. Os critérios de
seleção tinham como base os elevados níveis de desempenho, os quais eram aferidos por
um grupo de juízes experts das diversas áreas. Este projeto teve como questões de partida:
(i) qual o papel da família, dos professores, da escola ou de outros ambientes de
aprendizagem no desenvolvimento das manifestações de talento; (ii) serão estes sujeitos o
fruto de circunstâncias especiais que os tornaram em seres únicos ou apresentam
características intrínsecas que sempre os diferenciaram dos demais; e (iii) quais os padrões
de desenvolvimento diferenciadores de cada área e quais os padrões de desenvolvimento
comuns às três áreas. O “Development of Talent Research Project” teve como objetivo
geral aprofundar a compreensão dos processos desenvolvimentais e educativos que foram
relevantes para que os participantes alcançassem elevados níveis de desempenho nos
respetivos domínios, tendo os investigadores optado por entrevistas semiestruturadas como
metodologia de trabalho. Embora assumindo que se trata de uma metodologia com algumas
limitações, dado que se baseia apenas nos dados que os sujeitos são capazes de evocar
relativamente aos percursos educacionais e desenvolvimentais realizados, Sosniak (2006),
investigadora neste projeto, considera que os resultados obtidos foram satisfatórios e que,
49
apesar de tudo, a metodologia utilizada permitiu aprofundar os diversos processos
desenvolvimentais da história de vida dos sujeitos.
Transversal aos vários contextos de realização estudados, Bloom (1985) identificou
três estádios no desenvolvimento do talento: a iniciação, o desenvolvimento e a perfeição.
O estado de iniciação, desenvolvido durante a infância, é caracterizado pelas atividades
lúdicas e o divertimento retirado dessas atividades. Os sujeitos vivem intensamente este
estádio de uma forma divertida, mas aglutinadora de saberes. É esta dimensão, quase
romântica, dos conteúdos temáticos que envolve os sujeitos e os torna seus eternos
apaixonados, criando desde muito cedo um pilar de sustentabilidade para o sucesso futuro.
O papel dos pais é fundamental, pois são eles que orientam e apoiam os filhos e, apesar de
muitas vezes os seus interesses serem idênticos, dão a liberdade suficiente para que estes
escolham as modalidades e o tipo de práticas preferidas.
Posteriormente, na fase de desenvolvimento, o trabalho intenso, durante muito
tempo, faz com que as atividades de aprendizagem se enraízem cada vez mais,
especialmente se as crianças ou adolescentes conviverem com professores brilhantes que os
cativem. Se por um lado o ambiente familiar é caracterizado por uma ética de trabalho que
está associada ao fazer, dia após dia, cada vez melhor, o ambiente escolar, pelas mãos do
professor ou do tutor, é o catalizador do trabalho desenvolvido e dos sucessos atingidos.
Neste sentido, ambos os ambientes são considerados cruciais em todo o percurso de
desenvolvimento da excelência. O estádio de desenvolvimento é mais orientado para o
desempenho e caracteriza-se por um aumento da responsabilidade por parte das crianças
relativamente às atividades que realizam. Na área desportiva é normal que, nesta fase, o
atleta mude de treinador, para um treinador com conhecimentos técnicos superiores, que
passa a exigir mais em termos de dedicação, disciplina e desempenho.
Finalmente, o estádio de perfeição corresponde à fase em que os sujeitos se tornam
experts. Tendo centrado toda a sua vida na atividade que escolheram, apresentam maior
autonomia e conhecimento sobre as atividades de treino e competição. Bloom (1985) e
Sosniak (2006) referem que embora a expectativa inicial era a de encontrar, desde as fases
precoces, processos de desenvolvimento diferentes atendendo às áreas temáticas
desenvolvidas pelos sujeitos (isto é, um talento específico presente em contextos ambientais
50
específicos, que permitissem o seu florescimento, com respostas intencionais específicas
para o desenvolvimento dessa modalidade), não foi aquilo com que se depararam. O que os
autores identificaram foi uma estrutura central, um conjunto de características que são
comuns a todas as áreas: Assim, verificaram que o encorajamento por parte da família, o
suporte na aprendizagem, é uma experiência comum, que permite o desenvolvimento da
paixão pela área, mesmo antes de ser identificado algum tipo de talento especial. À medida
que o tempo vai passando e o interesse pela área se consolida, esse encorajamento e suporte
são reforçados, estimulando continuamente o desenvolvimento do talento:
“The study has provided strong evidence that no matter what the initial
characteristics (or gifts) of the individuals, unless there is a long and intensive
process of encouragement, nurturance, education, and training, the individuals will
not attain extreme levels of capability in these particular fields. This research has
raised questions about earlier views of special gifts and innate aptitudes as
necessary prerequisites of talent development.” (Bloom, 1985, p. 3)
Estudo da Excelência nas Artes
No âmbito da excelência na fase adulta, os artistas têm sido um dos principais alvos
de estudo, como já referimos anteriormente nos trabalhos desenvolvidos por Galton (1892),
Anne Roe (1946, 1952) e Bloom (1985), mas também por outros autores, como Ericsson,
(1996), Gardner (1983, 1993), Kogan (2002), Nemiro (1997), Sawyer (1998) e Wallace e
Gruber (1989). Os autores diferenciam os artistas criadores dos artistas intérpretes, sendo os
primeiros estudados essencialmente no âmbito do processo criativo, e os segundos, no
âmbito da criatividade na performance (Kogan, 2002; Nemiro, 1997; Sawyer, 1998, 2005,
2010). O estudo dos artistas criadores, nos seus diversos domínios (e.g., a escrita, a música,
o teatro, a pintura, a escultura), busca encontrar os fatores que mais se pronunciam nos
desempenhos de excelência. Entre estes fatores, analisa-se a influência da personalidade,
dos processos cognitivos e dos aspetos motivacionais. No entanto, têm sido os trabalhos na
área da criatividade que se têm demarcado na investigação realizada com os artistas para a
compreensão da excelência (Amabile, 1983; Martindale, 1989; Piirto, 1995, 2005, 2007;
Simonton, 1994, 1997, 2000a, 2001; Wallace & Gruber, 1989).
Independentemente de a abordagem ser psicodinâmica, psicométrica, cognitiva ou
outra, todos os modelos teóricos de criatividade reconhecem-na como a interação de
51
múltiplos fatores, designadamente fatores pessoais como a personalidade, aptidões,
motivação e conhecimentos específicos, e de fatores ambientais, como recursos e um
ambiente estimulante (e.g., Amabile 1983; Csikszentmihalyi, 1996; Gardner, 1993; Gruber,
1989; Gruber & Wallace, 1999; Runco, 2004; Sawyer, 1998, 2003a, 2003b; Sternberg,
2003; Sternberg & Lubart, 1991, 1996, 1999). A este respeito, Simonton (2001) refere:
“Talent can develop in very different ways for genetically distinct individuals. Two
adults with the same talent may have developed that talent via contrary epigenetic
routes, and two adults with totally different talents may have had very similar
childhood talents… The more components that participate in the constitution of a
given talent the greater the heterogeneity of available epigenetic profiles for that
talent. In addition, in comparison with simple domains, highly complex domains are
likely to require much more time before all the requisite components initiate and
complete their growth trajectories.” (p.42)
Os resultados de estudos com adultos criativos têm apresentado convergências
relativamente às dimensões cognitivas, da personalidade e da motivação envolvidas na
criatividade. Neste sentido, traços como a autoconfiança, autonomia e independência,
curiosidade e interesses múltiplos, gosto por desafios e exigência, tolerância à frustração,
abertura a novas experiências e mesmo o desafio ao convencional são identificados como
descritores associados à criatividade (Barron & Harrington, 1981; Feist & Barron, 2003;
Gardner, 1993; Runco, 2004; Shavinina, 2004; Simonton, 2000b, 2003a; Sternberg, 2006;
Sternberg & Lubart, 1999). Também a forte motivação intrínseca, presente na paixão com
que se envolvem na tarefa e na persistência que mantêm a partir do momento em que se
focam no seu trabalho, são aspetos referidos na vasta literatura sobre a temática (Amabile,
1983, 2001; Amabile & Pillemer, 2012; Gardner, 1993; Gruber, 1989; Runco, 2004;
Simonton, 2000b). Muitos têm sido os estudos realizados na busca de associações entre
criatividade e inteligência; contudo, os resultados obtidos continuam inconsistentes e
embora a inteligência se apresente como uma variável necessária, parece não ser a única
responsável pela realização criativa (Barron & Harrington, 1981; Jauk, Benedek, Dunst, &
Neubauer, 2013; Kaufman & Plucker, 2011; Runco, 2004).
Em Portugal, há a referenciar o estudo centrado nos artistas-interpretes no domínio
da dança levado a cabo por Araújo (2010), no qual a autora refere que os resultados
encontrados estão em consonância com as características encontradas em diversos estudos
internacionais no âmbito da realização artística. Salientam-se as características de
52
personalidade que parecem ter contribuído para a manutenção de uma coerência interior ao
longo percurso artístico e a definição da singularidade artística de cada sujeito. A
determinação e a abertura à experiência são as características que mais se destacaram,
assim como a curiosidade, a originalidade e a persistência, confirmando as propostas da
literatura em torno dos desempenhos criativos e excecionais (Barron & Harrington, 1981;
Feist, 1998; Feist & Barron, 2003; Gardner, 1993; Kogan, 2002; Morris, 2005; Nettle,
2006; Taylor & Estanol, 2015).
Estudo da Excelência no Desporto
Nas últimas décadas, a psicologia do desporto tem sido uma área de investigação
com um elevado número de estudos que visam compreender as razões e causas subjacentes
aos desempenhos excelentes, designadamente as características psicológicas dos atletas de
diversas modalidades (Orlick & Partington, 1988; Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002;
Janelle & Hillman, 2003; Jordet, 2015; Matos, Cruz, & Almeida, 2011; Ruiz, Sánches,
Durán & Jiminez, 2006; Starkes & Ericsson, 2003). Dos inúmeros estudos realizados
tornou-se consensual que a excelência no desporto resulta da combinação de uma
multiplicidade de fatores que, segundo Baker e Horton (2004), se poderão organizar em
fatores primários e fatores secundários. No primeiro caso, são considerados todos os fatores
que têm uma influência direta no desempenho, incluindo-se todos os elementos intrínsecos
de uma possível contribuição, intencional ou não, por parte do atleta, tais como os fatores
genéticos, os fatores de treino e os fatores psicológicos. Em relação aos fatores secundários,
Baker e Horton (2004) fazem referência a fatores como o aspeto sociocultural, o papel da
família, fatores relacionados com o perfil do treinador, a importância que a sociedade
coloca na modalidade que o atleta realiza, a maturidade adquirida pelo atleta face à
modalidade que pratica e até mesmo o nível de competição em que o desportista se
encontra ou o número de participantes que praticam a modalidade.
Relativamente aos fatores psicológicos, os estudos levados a cabo por Orlick e
Parlington (1988), que pretendiam analisar o nível de “prontidão” mental e controlo mental
de atletas canadianos que participaram nos Jogos Olímpicos de 1984, concluíram que: (i) a
prontidão mental é um fator extremamente importante que influencia o desempenho do
53
atleta; (ii) é fundamental o total compromisso na obtenção da excelência; (iii) a qualidade
do treino terá que passar pelo estabelecimento de metas diárias, o envolvimento na
simulação regular da competição comum aos atletas e treino de visualização mental; e (iv) a
qualidade da preparação mental para a competição deverá incluir um plano competitivo
detalhado, um plano de focalização na competição, um procedimento de avaliação pós-
competição e um plano para lidar com as distrações. Daniel Gould (2002a, 2002b; Gould,
Dieffenbach, & Moffett, 2001, 2002; Gould & Maynard, 2009), com um vasto número de
publicações sobre as características psicológicas dos atletas de elite de várias modalidades,
identifica um conjunto de características presentes nos atletas de excelência: elevada
capacidade de atenção e concentração, controlo das distrações, capacidade de organização
de planos mentais, estratégias de coping emocional, discurso interno positivo,
autoconfiança, determinação, compromisso, competências e recursos psicológicos de
confronto com as situações de competição, formulação de objetivos e preparação mental,
estratégias de controlo do pensamento, perfecionismo adaptativo e otimismo. Também
MacNamara, Button e Collins (2010) num estudo qualitativo com sete atletas de elite
mundial e os respetivos pais identificaram as seguintes características psicológicas
inerentes à excelência no desporto: (i) compromisso; (ii) competetividade; (iii) autoeficácia;
(iv) visualização do processo em que estão envolvidos integrando os fatores de contexto;
(v) esforço e dedicação na resolução dos pontos fracos; (vi) estratégias de coping face a
situações de pressão; (vii) conhecimentos táticos da modalidade; e (viii) perceção das
estratégias adequadas para ter sucesso. No estudo levado a cabo por Jones et al. (2002) com
10 atletas de elite internacional, a resistência mental foi observada como uma característica
psicológica que permite ao sujeito por um lado lidar melhor do que os seus adversários com
as diversas exigências desportivas e por outro ser mais capaz e mais consistente no foco,
confiança e controlo perante situações de pressão. Jones et al. (2002) verificaram que a
autoconfiança, a determinação e motivação para o sucesso, o lidar com a pressão e a
ansiedade, manter o foco sabendo ultrapassar as distrações do dia-a-dia e apresentar
estratégias de coping que permitem aos atletas ultrapassar a dor e o sofrimento, seja físico
ou emocional, são centrais à alta performance. Stoeber et al. (2007, 2008a, 2008b, 2009)
nos trabalhos realizados junto de atletas de diferentes modalidades obtiveram resultados
diferenciadores entre a “luta pela perfeição” e as “reações negativas à imperfeição”,
54
estando a primeira associada a baixos níveis de ansiedade e elevados níveis de
autoconfiança. Apenas a segunda estava associada a níveis elevados de ansiedade,
demonstrando que, por parte dos atletas, a “luta pela perfeição” envolve um padrão
adaptativo, positivo e de sucesso no controlo de reações negativas perante a imperfeição,
experimentando durante as competições orientações motivacionais positivas e atribuições
autoapreciativas em vez de reações negativas ao insucesso.
Em relação aos fatores secundários, todos os estudos referem o papel fundamental
das famílias no desenvolvimento do talento, que poderá passar não só pelo apoio financeiro
ou logístico, mas também pelo apoio socio-emocional. A este nível, destacam-se ainda o
carisma dos treinadores no desenvolvimento das competências dos atletas, envolvendo-os
em valores como a disciplina, o compromisso, o esforço e dedicação perante o trabalho,
tendo em vista o aperfeiçoamento dos comportamentos que a modalidade exige, no
desenvolvimento de competências mentais que permitam aos atletas extrair sentimentos de
prazer e de positivismo por aquilo que lutam, mas também a compreensão das suas
necessidades psicológicas (Connaughton et al., 2010; Côté, 1999b; Côté, Young, North, &
Duffy, 2007; Gould et al., 2001, 2002; Gould, Hodge, Peterson & Petlichkoff, 1987; Gould,
Lauer, Rolo, Jannes, & Pennisi, 2006, 2008; Holt & Dunn, 2004; Mallett & Côté, 2006;
Nicholls & Jones, 2013; Schinke, Bloom, & Salmela, 1995; Weinberg, 2013). Na última
década, os estudos da excelência no desporto têm dado particular atenção à influência das
competências afetivo-emocionais, designadamente as competências de coping. Trata-se de
um tema de extrema relevância para os atletas de elite que, frequentemente se confrontam
com uma variedade de ambientes ameaçadores e de agentes stressores, pondo em
desequilíbrio o seu bem-estar emocional, designadamente a sua autoconfiança e autoestima.
A aquisição destas competências de coping irão permitir ao atleta melhorar a sua própria
saúde em geral, eliminando problemas derivados de uma ansiedade excessiva e auxiliando,
ainda, a manutenção da atenção e concentração nas tarefas inerentes aos desempenhos de
alto nível (Bueno, Weinberg, Fernández-Castro, & Capdevila, 2008; Conroy,
Poczwardowski, & Henschen, 2001; Cruz, 1996a; Cruz, Alves, Sofia, Amaral, & Valente,
2013; Dias, Cruz, & Fonseca, 2009, 2014; Gould, Finch & Jackson, 1993; Gould &
Maynard, 2009; Haglind, 2004; Jones, 2003; Kim & Duda, 2003; Matos et al., 2011;
Nicholls, 2011; Poczwardowski & Conroy, 2002; Sagar, Lavalle, & Spray, 2009; Uphill &
55
Jones, 2007; Vallerand & Blanchard, 2000). Embora os estudos sejam unânimes sobre a
importância das características fisiológicas dos atletas de alta competição, investigações
mais recentes destacam a existência de uma relação positiva entre o treino e a excelência no
desporto, levando alguns autores a atribuírem um papel de destaque à prática deliberada
(Côté, Baker, & Abernethy, 2007; Baker, Côté & Deakin, 2005; Ericsson & Charness, 1994;
Ericsson et al., 1993; Ericsson & Lehmann, 1996; Law, Côté & Ericsson, 2007; Salmela,
1996; Ward, Hodges, Starkes, & Williams, 2007; Williams & Ericsson, 2005). A prática
deliberada tem de ser realizada durante pelo menos dez anos, sendo o papel do treinador
fundamental, pois é este que, através dos seus constantes feedbacks, irá contribuir para o
progresso do sujeito até à excelência. É esta regra de dez anos de preparação necessária,
que constitui a premissa básica da teoria da prática deliberada e que tem sido estudada em
atletas das mais variadas modalidades (Baker, Côté, & Abernethy, 2003a, 2003b; Baker,
Côté, & Deakin, 2005; Helsen et al., 1998; Hodge & Deakin, 1998; Hodges, Kerr, Starkes,
Weir, & Nananidou, 2004; Hodges & Starkes, 1996; Starkes, Deakin, Allard, Hodges, &
Hayes, 1996; Young & Salmela, 2002; Ward, Hodges, Starkes, & Williams, 2007; Williams
& Hodges, 2005).
Em Portugal, a investigação com atletas portugueses de elite (Barbosa & Cruz,
1997; Bodas, Lazaro, & Fernandes, 2007; Cruz, 1994, 1996a, 1996b; Cruz, Alves, Sofia,
Amaral, & Valente, 2013; Cruz, Barbosa, & Gomes, 1997; Dias, Cruz, & Fonseca, 2009,
2014; Matos, Cruz, & Almeida, 2011; Rodrigues & Cruz, 1997; Vasconcelos-Raposo,
1993) apresenta dados similares aos encontrados nos estudos internacionais
designadamente observando os elevados níveis da motivação, autoconfiança e
concentração, o frequente recurso à imaginação e visualização mental, o domínio das
estratégias de coping que se manifesta na capacidade de controlar a ansiedade e de saber
lidar com os imprevistos, a capacidade de definir objetivos claros e específicos com o
desenvolvimento de planos e de rotinas diárias competitivas e saber valorizar-se a si
próprio e os progressos que vai conseguindo atingir ao longo da sua carreira. Será ainda de
destacar o estudo levado a cabo por Matos (2011), sobre a excelência no desporto, no qual a
autora, recorrendo ao estudo de atletas de alto desempenho em modalidades coletivas e
individuais, analisa a “arquitetura psicológica” de atletas portugueses de elite. Através de
uma metodologia mista, na qual combina entrevistas semiestruturadas com outros
56
instrumentos, nomeadamente diários retrospetivos semanais e instrumentos de autorrelato,
a autora identifica fatores internos e externos considerados relevantes para um desempenho
excelente, destacando as competências de cariz psicológico, os processos de natureza
emocional e os fatores da prática.
Estudo da Excelência na Ciência
Desde muito cedo que a ciência e o pensamento científico, como expressão do
conhecimento do ser humano, têm suscitado o interesse de filósofos, historiadores e mais
recentemente de sociólogos (Feist, 2006a). Os trabalhos percursores de Galton (1892), Roe
(1952,1953) e Maslow (1966) pareciam ser um incentivo ao aparecimento de novos estudos
no âmbito da psicologia da ciência; contudo, a década de 70 do século passado foi pouco
produtiva em relação à investigação psicológica no âmbito dos cientistas (Feist, 2006a,c,e;
Mahoney, 1979; Shadish, Houts, Gholson, & Neimeyer, 1989). Como refere Mahoney
(1979): “In terms of behavior patterns, affect, and even some intellectual matters, we know
more about alcoholics, Christians, and criminals than we do about the psychology of the
scientist” (p. 349). Na década seguinte, embora com alguma parcimónia, começam a surgir
trabalhos no âmbito do estudo psicológico dos cientistas, designadamente sobre as
características de personalidade, capacidades, motivação e criatividade, onde devemos
destacar os trabalhos desenvolvidos por Simonton sobre a criatividade e sobre a eminência
científica (Simonton, 1988a, 1989a, 1991a, 1999a, 2000a, 2003b, 2004, 2008a, 2009a,
2011), mas também o trabalho de Feist no desenvolvimento da psicologia da ciência (Feist,
1993, 1994, 1997, 2006a,b,c,e, 2013; Grosul & Feist, 2014), o contributo da equipa de
Lubinski e Benbow no “Study of Mathematically Precocious Youth”, estudo iniciado em
1971 por Stanley (1996), (Lubinski & Benbow, 2000, 2006; Lubinski et al., 2006; Lubinski,
Benbow et al., 2001; Lubinski, Webb et al., 2001; Park et al., 2007; Wai et al., 2005), ou o
trabalho desenvolvido por Rena Subotnik no âmbito dos estudos longitudinais no feminino,
entre outros (Arnold, Noble, & Subotnik, 1996; Subotnik & Steiner, 1993; Subotnik,
Kassan, Summers, & Wasser, 1993; Subotnik & Arnold, 1994; Subotnik, Olszewski-
Kubilius, & Arnold, 2003; Subotnik, Stone, & Steiner, 2001; Subotnik, & Walberg, 2006).
O trabalho de Simonton assume especial relevo face ao tipo de abordagem metodológica
57
que adota, na qual o estudo de indivíduos eminentes, a que denominou “significant
samples”, se assume como a amostra significativa para o estudo da excelência numa
determinada área: “Here such persons will be said to constitute significant samples, that is,
collections of subjects who are distinguished or eminent in some manner” (Simonton,
1999b, p.426).
Na abordagem metodológica ao estudo de indivíduos eminentes, ao que designou de
historiometria, Simonton (Simonton, 1984a, 1999b, 1999c, 2006a, 2008b, 2009b) propõe
uma metodologia que visa testar hipóteses nomotéticas a respeito do comportamento
humano, utilizando para tal a análise qualitativa de documentos ou produtos relevantes
sobre sujeitos eminentes da história da humanidade, nos quais, através da sua
transformação em dados quantitativos, se procuram regularidades entre os casos e se
extraem leis gerais (Simonton, 1984b, 1999a, 2003a, 2006a): “I define historiometry as the
method of testing nomothetic hypotheses concerning human behavior be applying
quantitative analyses to data abstracted from historical populations” (Simonton, 1984b, p.
3). Simonton apresenta uma notável obra com um elevado número de trabalhos realizados
quer no estudo de cientistas eminentes (1984a, 1988b, 1991a, 1992b, 2002, 2003b, 2008a,
2013), quer na produção criativa (1977, 1989, 1997, 2000a, 2007, 2009a), quer ainda no
estudo da liderança (1992a, 2006b, 2009b, 2009c, 2014). Segundo Simonton (2001) o
desenvolvimento do talento emerge de um processo multidimensional, multiplicativo e
dinâmico. Este processo é multidimensional, pois para que um talento se possa manifestar é
necessária a combinação de vários traços genéticos, variando essa combinação em função
do domínio específico de manifestação e da própria complexidade desse domínio. É
multiplicativo, na medida em que não existe um único traço específico importante
responsável pelo talento, mas sim uma multiplicidade de combinações para a combinação
de um mesmo talento. É dinâmico, uma vez que a manifestação do talento não é um
processo estático, podendo manifestar-se em diferentes momentos da vida, variando de
sujeito para sujeito e podendo mudar ou mesmo perder-se ao longo do tempo. Em relação à
idade produtiva de um cientista, a investigação aponta não só haver uma relação entre estas
duas variáveis, como também existir uma idade ótima para os contributos científicos serem
produzidos. Para explicar a relação entre idade e produtividade, Simonton (1988a) propõe a
“chance-configuration theory”, segundo a qual o desempenho criativo resulta de duas fases:
58
num primeiro momento, o criativo, através do conjunto de elementos mentais de que
dispõe, o indivíduo estrutura um conjunto de ideias, as quais, num segundo momento
conjugam-se, surgindo a “obra final”. Adicionalmente, para explicar a relação entre
produtividade científica criativa e idade, Simonton (1988a) utiliza o “constant-probability-
of-sucess-model”, argumentando que os indivíduos mais produtivos tendem a ser também
os mais criativos, e, portanto, a variação individual na quantidade está positivamente
associada à variação na qualidade. O interesse sobre as variáveis que possam ser preditoras
de um alto desempenho científico está presente em inúmeros estudos, sendo considerada a
congruência entre a perceção de autoeficácia, aptidões e o desempenho como um
importante preditor do desenvolvimento do interesse científico (Feist, 2006a,b,d; Feist &
Barron, 2003; Lubinski & Benbow, 2000; Lubinski, Webb et al., 2001; Park et al., 2007;
Shavinina, 2004; Simonton, 2008b; Wai et al., 2005). Em relação à produtividade e
criatividade científica, Simonton (2003b, 2003c) sublinha ainda a importância da prática
deliberada e do envolvimento intensivo na área, para além do domínio de conhecimentos
especializados sobre as matérias.
Em Portugal, encontramos essencialmente estudos no âmbito da sociologia da
ciência, nos quais são analisados percursos de cientistas excelentes (Costa, Conceição,
Coelho, & Dias, 2009; Jesuino, 1995; Massada, 2002, 2004) ou se apresentam compilações
de estudos dos investigadores portugueses contribuindo, deste modo, para uma reflexão
social, cultural, política e histórica da posição semiperiférica de Portugal no sistema
mundial da ciência (Cabral, Wall, Aboim & Silva, 2008; Duarte, 2009; Gonçalves & Nunes,
2001). Serão ainda de referir os trabalhos desenvolvidos sobre o género na ciência
(Amâncio & Ávila, 1995; Duarte, 2009; Santos, 2000), nos quais se reflete sobre os fatores
responsáveis pelas desigualdades entre homens e mulheres em contexto de carreiras
científicas e os trabalhos sobre a mobilidade internacional dos cientistas no sistema
científico português (Delicado, 2008; Fontes, 2007). Apesar de serem trabalhos que não se
centram na análise psicológica dos cientistas de elite, permitem-nos contextualizar o
cenário da investigação científica em Portugal. Em relação à investigação psicológica em
torno de cientistas excelentes, as publicações no contexto português são pontuais. Morais
(2007) apresenta um estudo no âmbito da criatividade, entrevistando quatro inventores
independentes. Por outro lado, Araújo (2010) realiza o seu trabalho de doutoramento cujo
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objetivo consistiu em conhecer e compreender os percursos e características psicológicas de
seis cientistas e quatro bailarinos identificados por um painel de experts nos respetivos
domínios. Num estudo de caso múltiplo, com recurso à entrevista como principal método
de recolha de dados, os resultados encontrados apontam para a integração de dimensões
contextuais e pessoais, salientando-se as características da personalidade, a necessidade de
treino intensivo e prática deliberada, a importância de experiências ótimas e de pessoas
significativas (Araújo, 2010). A referida autora salienta, ainda, a presença de um conjunto
de competências e estratégias fundamentais no processo de desenvolvimento e
manifestação do desempenho superior, nomeadamente as estratégias de coping e regulação
emocional e o comprometimento com a tarefa. Por último, é apontada a variabilidade
individual no desenvolvimento de um percurso de excelência e a singularidade associada
aos desempenhos.
Estudo da Excelência nas Empresas
Com o advento da psicologia positiva neste século e com o enfoque em torno das
relações humanas, da felicidade e da satisfação com a vida, a importância das atitudes no
local de trabalho surgem em destaque na investigação em psicologia. A este nível, a
psicologia das organizações é a que mais tem estudado o indivíduo e as diversas variáveis
que o envolvem em contextos de realização de âmbito empresarial, sendo a satisfação no
trabalho um dos conceitos de maior centralidade (Judge, Parker, Colbert, Heller, & Ilies,
2001). Spector (1997) define a satisfação no trabalho como uma parte central da vida do
sujeito:
“Job satisfaction is the degree to which people like their jobs. Some people enjoy
work and find it to be a central part of life. Others hate to work and do so only
because they must. The study of the causes and consequences of these important
employee attitudes is one of the major domains of industrial-organizational
psychology and organizational behavior. More studies have been done to understand
job satisfaction than for any other variable in organization.” (p. vii)
Face às diversas teorias sobre as causas da satisfação no trabalho, Judge et al.
(2001), numa revisão de bibliografia, organizam-nas em três grandes áreas: (i) teorias
situacionais, que defendem que os resultados da satisfação de trabalho têm como base a
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natureza do trabalho ou outros aspctos do ambiente, com destaque para as teorias dos dois
fatores de Herzberg (Herzberg, 1967; House & Wigdor, 1967), do processamento de
informação social (Salancik & Pfeffer, 1977, 1978) e o modelo de características do
trabalho (Hackman & Oldham, 1976); (ii) abordagens disposicionais, que assumem que a
satisfação no trabalho tem as suas raízes na personalidade do indivíduo, podendo-se
encontrar estudos que indiretamente, por inferência, procuram demonstrar a base da
satisfação no trabalho através das característas do sujeito (Gerhart, 1987; Gutek & Winter,
1992; Staw & Ross, 1985; Staw, Bell & Clausen, 1986) e estudos que diretamente avaliam
a satisfação no trabalho relacionando o constructo que se pretende avaliar com traços de
personalidade (Brief, Burke, George, Robinson, & Webster, 1988; Watson & Slack, 1993);
e (iii) teorias interativas, que referem que os resultados de satisfação de trabalho dependem
da interação entre a personalidade e o ambiente. Neste contexto, e integrando o Cornell
Integrative Modell, Hulin, Roznowski, e Hachiya (1985) propõem uma teoria de satisfação
no trabalho, segundo a qual é através do balanceamento entre o assumir novos papéis, o
envolvimento do sujeito no seu papel de trabalhador (e.g., tempo, esforço, formação) e o
que este consegue obter a partir desse envolvimento (e.g., honorários, status, condições de
trabalho e fatores intrínsecos), que a satisfação no trabalho é conseguida.
Ainda no âmbito das teorias interativas, encontram-se também os trabalhos
desenvolvidos por Rice et al. (Rice, Gentile & McFarlin, 1991; Rice, McFarlin, Hunt, &
Near, 1985; Rice, Phillips, & McFarlin, 1990) que, com suporte na Locke’s Value-Percept
Theory sobre o impacto que os valores pessoais (aquilo que o sujeito acha importante ou
deseja atingir no trabalho) tem na satisfação no trabalho, argumentam que o sentimento de
insatisfação no trabalho advém de atividades laborais que são valorizadas pelo sujeito, mas
das quais este não obteve retorno. Judge, Locke e Durham (1997), na busca de encontrarem
uma relação entre a satisfação no trabalho e traços de personalidade, desenvolveram o
constructo de “core self-evaluations”. Os autores assumem que o mesmo se trata de um
constructo de personalidade que compreende a expressão de um traço latente de ordem
superior ou mais geral, sendo composto por quatro traços básicos de personalidade: (i) a
autoestima, que se refere ao valor global que uma pessoa atribui a si mesma; (ii) a
autoeficácia generalizada, ou a avaliação feita pelo indivíduo sobre quão bem ele pode
atuar em variadas situações; (iii) o neuroticismo, que traduz a tendência a ter um estilo de
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pensamento negativo e/ou centrado nos aspetos negativos de si mesmo; e (iv) e o lócus de
controlo, que designa as crenças sobre as causas dos eventos na sua vida, sendo este interno
quando as pessoas veem os eventos como contingências dos seus próprios comportamentos.
De acordo com Judge et al. (1997, 1998) os “core self-evaluations” constituem um conjunto
de premissas fundamentais que as pessoas apresentam sobre si próprias e sobre a maneira
como interagem, encontrando-se intimamente ligados à satisfação no trabalho, através das
características intrínsicas do mesmo. Também nos estudos realizados Judge et al. (1998,
2000), os sujeitos com resultados mais positivos nos “core self-evaluations” são descritos
como percecionando melhor os valores intrínsecos do seu trabalho, apresentando níveis
mais elevados de satisfação no trabalho. Em diversos estudos realizados no âmbito da
relevância das “core self-evaluations” para o êxito profissional, este constructo mostrou
estar relacionado com a satisfação no trabalho (Erez & Judge, 2001; Judge, Bono, Erez, &
Locke, 2005; Judge, Bono, & Locke, 2000; Judge, Erez, & Bono, 1998; Judge, Locke,
Durham, & Kluger, 1998; Judge, Van Vianen, & De Pater 2004; Srivastava, Locke, Judge,
& Adams, 2010; Stumpp et al., 2010), com a motivação (Erez & Judge, 2001), o
desempenho no trabalho (Bono & Judge, 2003; Judge, 2009) e o bem-estar subjetivo e
satisfação com a vida (Judge et al., 2002; Judge & Hulin, 1993; Stumpp et al., 2010).
Dada a centralidade da satisfação no trabalho, esta tem sido frequentemente
correlacionada com outras variáveis, designadamente o bem-estar subjetivo, a satisfação
com a vida e o desempenho no trabalho. Rice, McFarlin, Hunt, & Near (1985) partindo do
princípio de que a satisfação no trabalho é um importante indicador da qualidade de vida no
trabalho e que, por sua vez, a satisfação com a vida é um importante indicador da qualidade
de vida como um todo, partem para uma análise sobre o papel moderador da importância do
trabalho na relação satisfação no trabalho/satisfação com a vida. Os referidos autores
defendem que a importância atribuída ao trabalho está relacionada com o significado
pessoal e o valor atribuído ao trabalho, levantando como hipótese que a magnitude da
associação entre a satisfação com o emprego e a satisfação com a vida está positivamente
relacionada com a importância atribuída ao trabalho. De forma a testar esta hipótese, os
mesmos autores recorreram a dois grandes conjuntos de dados numa amostra probabilística
de âmbito nacional nos EUA, a “Aferição da Qualidade de Vida Americana-1971” (N =
2164) e a “Aferição da Qualidade de Emprego-1972/1973” (N = 1496). Contrariamente à
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hipótese definida, os entrevistados para quem era esperado o seu trabalho ser mais
importante, não apresentaram relações mais fortes do que os entrevistados para quem era
esperado que o seu trabalho fosse menos importante, na relação satisfação no
trabalho/satisfação com a vida. Contudo, Rice et al. (1985) encontraram fortes correlações
entre satisfação no trabalho e satisfação com a vida.
No estudo das correlações entre a satisfação no trabalho e a satisfação com a vida,
diversos autores apresentam a seguinte classificação: (i) spillover, quando a satisfação
obtida nas diversas experiências profissionais se transmite para outras áreas da vida do
sujeito e vice-versa; (ii) segmentation, quando as experiências do trabalho e da vida estão
separadas e pouco têm a ver uma com a outra; (iii) compensation, quando o sujeito, para
compensar um trabalho que não lhe dá satisfação, procura satisfação e felicidade na sua
vida fora do trabalho ou vice-versa (Judge & Klinger, 2007; Rice, Near, & Hunt, 1980;
Wilensky, H.,1960). Judge e Watanebe (1993, 1994), utilizando os dados do QES (Quality
of Employment Surveys) recolhidos no inverno de 1972/1973 e em 1977, e utilizando uma
amostra de 804 sujeitos, representativa da amostra inicial relativamente às variáveis que
iriam ser utilizadas na investigação, procederam a um estudo com o objetivo de testar a
simultânea envolvência, transversal e longitudinal, entre a satisfação no trabalho e a
satisfação com a vida. Com base nesta amostra aleatória nacional de trabalhadores,
identificaram que 68% dos trabalhadores poderiam ser classificados no grupo spillover,
20% no grupo segmentation e 12% no grupo compensation. Os resultados deste estudo
sugerem, por um lado, que a satisfação no trabalho e a satisfação com a vida estão
positivamente e reciprocamente correlacionadas, isto é, a satisfação com a vida influencia
significativamente a satisfação no trabalho e reciprocamente a satisfação no trabalho
influencia significativamente a satisfação com a vida e, por outro, generalizando os
resultados da amostra, o modelo spillover parece categorizar a maioria dos trabalhadores
dos EUA.
Também Judge e Huli (1993), num estudo levado a cabo numa grande clínica com
diversos serviços, designadamente pediatria, oncologia e medicina de família, com
funcionários de diversas áreas profissionais (e.g., enfermeiros, médicos, técnicos de
laboratório, assistentes), concluíram que o bem-estar subjetivo tem uma influência
significativa sobre a satisfação no trabalho. Pessoas felizes e satisfeitas com as suas vidas
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tendem naturalmente a estarem satisfeitas com o seu trabalho. Com resultados contrários
aos defendidos por Davis-Blake e Pfeffer (1989), Judge e Huli (1993) reconhecem que a
satisfação no trabalho não é meramente uma função de variáveis externas, mas sim
determinada em grande medida pelo nível geral de felicidade do indivíduo e da sua maneira
de olhar o mundo. Tal não sugere que as condições de trabalho sejam determinantes sem
importância para a satisfação no trabalho, mas que tanto as variáveis externas como as
variáveis intrínsecas são fundamentais para que o sujeito se sinta em plena satisfação
perante o seu papel de trabalhador. Os resultados deste estudo indicam também uma
influência reciproca entre a satisfação no trabalho e o bem-estar subjetivo. A este nível é
importante notar que a maioria das pesquisas indica que o bem-estar subjetivo é uma
construção bidimensional composta por uma componente cognitiva (satisfação com a vida)
e uma componente afetiva (afetos agradáveis e afetos desagradáveis) (Andrews & Withey,
1976; Chamberlain, 1988; Diener, 1984).
Embora as diferenças entre as duas componentes seja subtil, a pesquisa sugere que a
satisfação com a vida está mais ligada a componentes da vida no âmbito da riqueza, saúde,
família e atividades de lazer, para se chegar a um julgamento geral de satisfação e que a
componente afetiva, por outro lado, se concentra mais numa questão de felicidade geral e
uma sensação de bem-estar emocional (Andrews & Withey, 1976; Diener, 1984; Diener,
Emmons, Larsen, & Griffin, 1985; Pavot, Diener, Colvin, & Sandvik, 1991). Diener et al.
(1985), seguindo a definição de Shin e Johnson (1978) sobre satisfação com a vida - “a
global assessment of a person’s quality of life according to his own chosen criteria” (p.478),
realizaram o seu primeiro estudo para a construção de uma escala de bem-estar subjetivo.
Assim, partindo do princípio de que, para se saber qual o grau de satisfação com a vida, é
necessário perceber a felicidade que se tem em vários domínios da vida, os autores
projetaram uma escala com diversos itens na qual era feita uma avaliação global da vida do
sujeito. Na matriz inicial, o bem-estar subjetivo integra duas componentes: uma
componente afetiva (afetos agradáveis e afetos desagradáveis) e uma componente cognitiva
(a perceção da qualidade de vida, ou a satisfação com a vida). Partindo do princípio de que,
para se saber qual o grau de satisfação com a vida é necessário perceber a felicidade que se
tem em vários domínios da vida, uma primeira versão da escala foi formada por itens
reportados a situações geradoras de afetos positivos e a situações geradoras de afetos
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negativos. Sujeitos a uma análise fatorial, tais itens agruparam-se em três fatores: afetos
positivos, afetos negativos e satisfação com a vida, tendo, no final, sido apenas
selecionados 5 dos 10 itens que mais saturavam no fator satisfação com a vida.
Para além da satisfação ou bem-estar, a excelência profissional também está
associada ao desempenho no trabalho, constructo de grande importância para as empresas,
tem sido amplamente estudado pela psicologia organizacional (Arvey & Murphy, 1998;
Austin & Villanova, 1992; Murphy & Cleveland, 1995; Schmidt & Hunter, 1992). Trata-se
de um constructo que, através do registo dos resultados produzidos numa função específica
ou atividade, permite uma avaliação, um feedback dos pontos fortes e fracos do sujeito, a
fim de elaborar programas de formação, de posicionar os sujeitos nas funções que mais se
adequam ao seu perfil na empresa e organizar planos de prémios de mérito, entre outros
(Guion, 2001; Motowidlo, 2003; Motowidlo, Borman, & Schmit, 1997; Viswesvaran,
2001). Tal avaliação permite a distinção entre os comportamentos realizados pelo mesmo
individuo e os comportamentos realizados por diferentes indivíduos.
Segundo a definição proposta por Motowidlo (2003), “Job performance is defined
as the total expected value to the organization of the discrete behavioral episodes that an
individual carries out over a standard period of time” (p. 39). Destacam-se dois aspetos de
grande relevância nesta definição: por um lado, o desempenho realizado é uma propriedade
do comportamento, um comportamento que ocorre durante um período de tempo e ao qual
estão agregadas variadas atitudes das quais depende a concretização das tarefas laborais; e,
por outro, as propriedades do comportamento a que se refere o desempenho são o valor
esperado, para serem atingidas as metas organizacionais em momentos diferentes. Assim, a
variação no desempenho irá contribuir ou prejudicar a eficácia organizacional (Motowidlo,
2003; Viswesvaran & Ones, 2002).
O estudo da relação entre a satisfação no trabalho e o desempenho no trabalho,
referida por Landy (2010) como o “Santo Graal” da psicologia industrial, apresenta
inúmeras vulnerabilidades, apresentando-se esta por vezes nula ou quase nula (Brayfield &
Crockett, 1955; Iaffaldano & Muchinsky, 1985; Locke, 1976) ou, pelo contrário, com
resultados bastante significativos (Herzberg, 1957; Herzberg, Mausner, & Snyderman,
2010; Ostroff, 1992; Schmitt & Doherty, 1988). Com vista a consolidar respostas face às
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relações existentes entre constructos-chave nas relações de trabalho, designadamente o
desempenho no trabalho, a satisfação no trabalho e o esforço, Christen, Iyer e Soberman,
(2006), propõem um modelo que incorpora os aspetos principais da Teoria da Agência e da
Psicologia Organizacional. Este modelo que envolve, por um lado a relação entre o
desempenho da empresa, o desempenho do trabalho do empregado e o esforço do
empregado, e por outro a relação entre satisfação no trabalho e os aspetos relevantes da
situação de trabalho do empregado, incluindo esforço e desempenho no trabalho, encontrou
um efeito positivo significativo do desempenho no trabalho na satisfação no trabalho e um
efeito negativo significativo do esforço na satisfação no trabalho.
Também Ostroff (1992), partindo do princípio que a satisfação e as atitudes estão
relacionadas com o desempenho no trabalho, mas que a sua análise em termos individuais
não é a mais adequada quando se pretende avaliar constructos em contexto empresarial,
investiga a relação entre atitudes, satisfação e desempenho no trabalho numa análise ao
nível organizacional. O referido autor recorre a premissas como: (i) a relação entre a
satisfação e o desempenho no trabalho, ao nível organizacional apresenta relações mais
fortes do que ao nível individual (Schneider & Schmitt, 1986) e (ii) organizações que
alienam os seus trabalhadores através das suas práticas institucionais serão menos eficazes
e eficientes, pois trabalhadores satisfeitos trabalham mais e melhor do que trabalhadores
frustrados (Gross & Etzioni, 1985; Likert, 1961, Mayo, 1933; McGregor, 1960). Ostroff
(1992), integrado num estudo mais vasto realizado pela NASSP (National Association of
Secondary School Principals) que tinha como objetivo avaliar o ambiente e a eficiência
escolar, procura recolher três tipos de dados: (i) satisfação e atitudes do trabalhador; (ii)
características das escolas; (iii) e índices de desempenho organizacional, cujas respostas
com resultados mais elevados indicam respostas mais positivas. Com base numa amostra
alargada de professores e de escolas, verificou que as relações entre satisfação no trabalho,
atitudes e eficiência organizacional eram positivas. Também estas relações eram mais fortes
a nível organizacional do que as observadas ao nível individual. A satisfação no trabalho e
outras atitudes como o compromisso, o ajustamento ou o stress, assumindo o papel de
preditores do desempenho organizacional, permitiram perceber que o aumento de satisfação
e bem-estar implicava um aumento de desempenho no trabalho.
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Para compreendermos as razões que levam as pessoas a comportarem-se de
determinada maneira nas empresas, precisamos de aprofundar os nossos conhecimentos
sobre a motivação, pois, embora não seja a única causa do comportamento humano, a
motivação é uma componente de grande importância em toda a atividade humana. A
motivação é considerada o tópico mais frequentemente estudado no âmbito do
comportamento organizacional (O’Reilly III, 1991). Sendo a motivação um constructo
dinâmico que se modifica ao longo do tempo, que se assume como um processo interno que
oscila dentro do próprio sujeito e difere de individuo para individuo, tem sido estudada sob
diferentes pontos de vista, mas sempre identificada como uma força que liga a pessoa à
realização de um desempenho (Pinder, 2008).
Desenvolvida por Vroom (1995), a Expectancy Theory (VIE; Valence–
Instrumentality–Expectancy), uma das primeiras abordagens cognitivas sobre a motivação,
parte de três questões fundamentais no âmbito da escolha da carreira: (i) porque é que as
pessoas escolhem as suas carreiras?; (ii) que fatores contribuem para a satisfação com o
trabalho?; e (iii) que fatores levam a que as pessoas trabalhem com eficácia?. Assim, a
motivação para um desempenho eficaz no trabalho torna-se o ponto de charneira para a
elaboração do modelo que suporta a teoria VIE, o qual baseia-se em quatro pressupostos:
(i) existe um conjunto de variáveis que interferem no modo como as pessoas interagem na
organização onde trabalham e que estão relacionadas com as expectativas sobre as suas
necessidades, motivações e experiências passadas; (ii) todo o comportamento de um
individuo é o resultado do seu livre arbítrio e, como tal, de uma escolha que faz
conscientemente; (iii) as pessoas podem querer obter coisas diferentes da organização (e.g.,
um bom salário, segurança no trabalho, avanço na carreira profissional ou desafios); e iv) as
pessoas tomam decisões sobre as possíveis alternativas, de modo a otimizar pessoalmente
os resultados. A motivação é, então, vista como uma força que age combinando três
elementos que são fundamentais para o desempenho: a expectativa, a instrumentalidade e a
valência.
De acordo com esta teoria (Vroom, 1995), o sujeito fica motivado na medida em que
acredita que o esforço colocado permitirá atingir o desempenho necessário para a obtenção
da recompensa (expectativa), que o seu desempenho será recompensado
(instrumentalidade) e que o valor das recompensas é altamente positivo (valência)
67
(Donovan, 2005; Locke & Latham, 2002; Lunenburg, 2011; Mitchell & Daniels, 2003;
Vroom, 1995). Estamos perante uma teoria que fornece um conjunto de variáveis cognitivas
que refletem as diferenças individuais na motivação no trabalho. Neste modelo, os
trabalhadores não agem apenas porque as suas necessidades não estão satisfeitas ou porque
há um plano de recompensas, mas porque sendo seres racionais com crenças e perceções
próprias, influenciam o seu comportamento. Do ponto de vista de gestão, a Expectancy
Theory (Lunenburg, 2011) tem algumas implicações importantes para motivar os
funcionários. Ela identifica várias aspetos importantes que podem ser realizados para
motivar os trabalhadores, podendo ser efetuadas alterações designadamente no que diz
respeito às expectativas sobre o esforço/desempenho, desempenho/recompensa e o valor
das recompensas.
Em contraste, a Goal-Setting Theory (GST) proposta por Locke e Lathan (1990)
baseia-se no pressuposto que as pessoas têm necessidades, que podem assumir a forma de
metas ou objetivos específicos, que pretendem obter:“Goal-Setting is a cognitive theory of
motivation based on the idea that most of human behavior is the result of a person’s
consciously chosen goals and intentions.” (Mitchell & Daniels, 2003, p. 231). Nas metas ou
objetivos poderemos encontram dois atributos primários ou dimensões: a meta-conteúdo,
que se refere às características das próprias metas ou objetivos e a meta-intensidade, que é o
processo pelo qual um objetivo é estabelecido e cumprido (Lee, Locke, & Latham, 1989;
Locke & Latham, 1990). Assim, os objetivos que são definidos face a uma tarefa são
suscetíveis de determinar quão bem a tarefa será executada, de tal forma que metas difíceis
de atingir resultam em elevados níveis de desempenho (Donovan, 2001; Locke & Latham,
1990, 2002, 2004; Mitchell & Daniels, 2003).
Segundo Locke e Latham (2002), as metas afetam o desempenho através de quatro
mecanismos: (i) assumindo uma função diretiva, na medida em que dirigem a atenção e
canalizam o esforço para atividades que sejam relevantes para a obtenção dos objetivos,
colocando de lado as atividades irrelevantes; (ii) tendo uma função energizante, na medida
em que metas elevadas promovem um esforço maior do que metas baixas; (iii) afetando a
persistência, pois sempre que os participantes estão autorizados a controlar o tempo gasto
numa tarefa, a objetivos exigentes correspondem esforços prolongados; (iv) afetando a ação
indiretamente, levando ao despertar de novas estratégias e de descobertas relevantes para a
68
concretização da tarefa (Donovan, 2001; Locke & Latham, 1990, 2002; Mitchell & Daniels,
2003).
Contudo, a GST propõe também um conjunto de fatores que assumem o papel de
moderadores, e que podem limitar ou incrementar o impacto dos objetivos no desempenho,
designadamente: (i) o compromisso (a relação objetivo/desempenho é tanto mais forte
quanto maior o compromisso que o sujeito apresenta perante a realização dos seus
objetivos); (ii) a importância (sempre que se consideram os objetivos importantes para
serem atingidos os resultados tornam-se mais fáceis de obter); (iii) autoeficácia (a
capacidade de realizar a tarefa com sucesso contribui para que o compromisso com o
objetivo aumente; (iv) feedback (para que os objetivos se tornem efetivos, o feedback é
fundamental, na medida em que é deste modo que se tem consciência do progresso em
relação ao objetivo a atingir); (v) complexidade da tarefa (sempre que a complexidade da
tarefa aumenta, o desempenho diminui, dificultando deste modo o atingir das metas)
(Donovan, 2001; Locke, 1996; Locke & Latham, 1990, 2002; Mitchell & Daniels, 2003;
O'Reilly III, 1991). A GST pode ser utilizada de forma eficaz em qualquer domínio, no qual
o sujeito ou o grupo tenha algum controle sobre os resultados, nomeadamente no desporto e
na área da reabilitação. Nestes vários domínios, o sucesso em atingir a meta ou o objetivo
definido irá depender dos mecanismos e dos moderadores que determinam a sua eficácia e
aplicabilidade (Locke & Latham, 2006).
Mas será que a motivação no trabalho poderá tornar-se numa paixão? Segundo
Vallerand et al. (2003; Vallerand & Houlfort, 2003; Vallerand et al., 2008; Vallerand et al.,
2006) esta motivação pode tornar-se numa paixão através de dois processos: em primeiro
lugar, pela valorização que o sujeito faz da atividade e, em segundo, pela internalização da
representação da atividade no self, isto é, na sua identidade, através das relações subjetivas,
das comunicações, da linguagem e das suas experiências sociais. O processo de
internalização da atividade profissional na identidade do sujeito sugere a existência de dois
tipos de paixão, com qualidade psicológica diferente: uma paixão harmoniosa e uma paixão
obsessiva (Vallerand et al., 2003; Vallerand et al., 2008; Vallerand et al., 2006). A paixão
harmoniosa resulta de uma internalização autónoma da atividade para a identidade da
pessoa, isto é, quando o sujeito aceita livremente a atividade como importante para si
próprio, sem quaisquer contingências. Este tipo de internalização produz uma força
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motivacional para exercer a atividade de bom grado e gera um sentimento de vontade e
apoio pessoal sobre o exercício da atividade. Com este tipo de paixão, associada a emoções
positivas, longos períodos de concentração na tarefa e fluência na produção, a atividade
ocupa um espaço significativo, mas não avassalador na identidade da pessoa e está em
harmonia com outros domínios da sua vida. Em contraste, a paixão obsessiva resulta de
uma fixação persistente da atividade e sua internalização na identidade do sujeito. Tal
internalização resulta da pressão intrapessoal e/ou interpessoal, quer porque certos
resultados estão relacionados com a atividade, tais como sentimentos de aceitação social e
autoestima, quer porque o entusiasmo derivado da prática da atividade se torna
incontrolável e excessivo, estando associada a emoções negativas e provocando conflitos
com outras atividades na vida da pessoa (Vallerand et al., 2003; Vallerand & Houlfort,
2003).
A paixão pelo trabalho, e particularmente a paixão harmoniosa, contrariamente à
paixão obsessiva, tem estado associada a níveis mais elevados de persistência,
envolvimento na tarefa, flexibilidade, vitalidade, realização, bem-estar e ajustamento
psicológico, que constituem importantes recursos pessoais para que os gestores possam
fazer face às exigências do seu trabalho, na liderança de equipas e na resolução de
problemas, no presente contexto empresarial e organizacional altamente competitivo
(Forest, Mageau, Sarrazin, & Morin, 2011; Trépanier, Fernet, Austin, Forest, & Vallerand,
2014; Vallerand & Houlfort, 2003).
No que diz respeito às características pessoais, determinantes para os
comportamentos de excelência, uma delas passa pela liderança, cujo estudo “rivals in age
the emergence of civilization, which shaped its leaders as much as it was shaped by them.
From its infancy, the study of history has been the study of leaders – what they did and why
they did it” (Bass, 1990, p.3). Mas, apesar do tema ser atual e de extrema importância no
presente século, no qual a dimensão do conhecimento e a excelência são vistas como a
pedra angular de um novo modelo estratégico do desenvolvimento económico, a liderança
perde-se nos tempos e na história da humanidade:
“The world has always needed great leaders. From the heroes and legends of
Ancient Rome and Greece, through the study of leadership in modern politics,
economics and warfare, one is able to traverse the landscape of heroes, myths,
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legends – in other words, those great leaders – that have ruled earth, sea and the
human spirit – in a thousand different ways” (Zehndorfer, 2014, p. 1).
Porque se trata de um tema de grande fascínio, a liderança assume diferentes
tonalidades de acordo com o investigador e a época em que o mesmo é estudado,
significando coisas diferentes para pessoas diferentes. Tal contexto contribuiu para o
aparecimento de três paradigmas principais na conceptualização da temática: um dando
ênfase às características do líder, traços de personalidade, e capacidades cognitivas e
emocionais, outro destacando os comportamentos assumidos pelos líderes no exercício das
suas funções e um outro no âmbito das variáveis situacionais que influenciam a eficiência
da liderança (Hartog & Koopman, 2001). O foco dos estudos centrava-se em compreender
a influência do estilo de liderança no grupo, o comportamento do líder e os resultados que
conseguia obter. As abordagens incidiam na busca do grande líder através dos seus traços,
do seu estilo e das diferentes contingências, de modo a desvendar o melhor caminho na
orientação que levasse as pessoas a uma maior eficácia na concretização das tarefas
(Bryman, 1992, 1996; Chemers, 2014; Hartog & Koopman, 2001; Parry & Bryman, 2006;
Storey, 2004).
Dando continuidade ao trabalho desenvolvido por Terman (1926), Cox (1926),
utilizando como método a historiometria, apresenta um estudo sobre os homens e mulheres
líderes e criadores, eminentes na história, concentrando-se na relação entre o QI e a
eminência alcançada. Tal como Terman, Cox encontrou fortes correlações entre
inteligência, saúde mental e física e o desempenho excecional dos líderes e criadores
estudados. Posteriormente, Simonton e Song (2009) utilizando os dados de um estudo não
publicado de Cox no âmbito da saúde física e mental na juventude, de um conjunto
alargado de figuras eminentes da história, apresentam um estudo no qual estabelecem as
relações entre o QI, saúde física e mental na juventude, domínio da realização e o nível de
eminência alcançada. As análises de correlação e regressão mostraram que, para estes
indivíduos, a eminência alcançada é uma função positiva do QI e que o QI é uma função
positiva da saúde mental, mas uma função negativa da saúde física, o que implica um efeito
indireto da saúde física e mental na eminência.
Com uma variedade de modelos e com um elevado número de estudos sobre os
líderes e não-líderes ou entre bons e maus líderes, a investigação mostrou-se, durante algum
71
tempo, um pouco confusa, pois os dados eram muitas vezes controversos, não só dentro de
cada um dos modelos e teorias, como também nas várias abordagens da temática (Bryan,
2013). Contudo, a partir da década de 1980 surge um renovado interesse no conceito da
liderança e, mais do que olhá-la como um processo dirigido a pequenos grupos, esta passa a
ser vista como uma capacidade transformacional. Neste contexto, a liderança é perspetivada
como um carisma próprio de cada líder na relação com os restantes trabalhadores, existindo
a preocupação em integrar os aspetos comportamentais, os traços de personalidade e todas
as interações que se estabelecem entre todos os membros da organização (Bryman, 1996).
Então, surgem novas teorias, como lhes chamou Bryman (1992) - as “New Leadership
Theories”, as quais, através do estudo de líderes históricos e gestores de grandes
organizações, procuram identificar a excelência destes líderes: a liderança carismática de
House (1977), a liderança transformacional e transacional de Burns (1978, 2003) e Bass
(1985), a liderança atribucional da liderança carismática de Conger e Kanungo (1998) ou as
lideranças visionárias desenvolvidas por diversos autores (Bennis & Nanus, 1985; Kouzes
& Posner, 1987; Sashkin, 1988; Westley & Mintzberg, 1989).
Face a uma globalização mundial que aumenta a desigualdade entre as comunidades
e na qual o fator qualidade se torna imperioso, tornando as organizações cada vez mais
competitivas e mais exigentes, não é suficiente ficarmo-nos pela média dos resultados,
sendo que todos têm que dar o seu melhor, fomentando a excelência. Assim, a liderança
passa a ser vista como o elemento de charneira do desenvolvimento. Com este enorme
desafio, o sucesso das organizações depende não só da qualidade dos seus recursos
humanos, mas também de uma correta gestão e, sobretudo, de uma liderança de excelência,
como nos referem McFarland, Senn e Childress (1994): “Never before have organizations
faced so many challenges, and never before has there been such a need for leaders to
formulate responses” (p. 6).
O foco das “New Leadership Theories” (Bryman, 1992) foi o estudo de líderes
excecionais, cujas influências interpessoais tenham sido extraordinárias, e das capacidades
destes em saber transformar as necessidades, os valores, as preferências e aspirações
pessoais dos seus seguidores em interesses coletivos. Com estas teorias surgiram novos
conceitos e novas formas de ver o mundo das organizações. Um dos conceitos emergente
destas teorias, inicialmente desenvolvido pelo sociólogo Weber (1964) como sendo uma
72
característica das grandes personalidades que contribuíram para mudar o curso da história,
foi o carisma. A primeira grande aplicação deste conceito, no âmbito das organizações foi
realizada por House (1977) que, através da teoria da liderança carismática, explica o
surgimento de indivíduos carismáticos combinando traços de personalidade, fatores
situacionais e o próprio comportamento do líder. No que diz respeito às características
pessoais, House (1977) refere que o líder carismático apresenta níveis elevados de
autoconfiança, domínio nas relações com os outros, capacidade de influenciar os outros e
uma forte convicção acerca da integridade das suas crenças. Em relação aos fatores
situacionais, o referido autor defende que são as situações de crise e de maior pressão nas
organizações que fazem emergir os líderes carismáticos. O comportamento apresenta um
conjunto de valores e princípios, representadores do seu carisma, impondo-se como
modelos de sucesso e competência promovendo a confiança e a admiração por parte dos
outros. House defende ainda que o líder carismático sabe exteriorizar as aspirações e as
expectativas que detém relativamente aos seus colaboradores, demonstrando confiança nas
capacidades destes e que eles conseguirão atingir os objetivos previamente definidos.
Segundo House um dos efeitos fundamentais do líder carismático é o de envolver os seus
colaboradores em motivações que promovam a sua autoexpressão, autoestima e
autoconsistência (Hartog, & Koopman, 2001; House, 1977; House, Spangler, & Woycke,
1991; Shamir, House, & Arthur, 1993).
Apesar da maioria das pesquisas sobre a liderança terem sido realizadas nos Estados
Unidos, Canadá e Europa Ocidental, no final do século passado surgem diversos estudos
noutras comunidades com o objetivo de aumentar a compreensão da liderança, tendo como
base as diferenças culturais. O projeto GLOBE (Global Leadership and Organizational
Behavior Effectiveness), o projeto de investigação transcultural mais marcante sobre a
liderança até hoje realizado, iniciado na década de noventa e coordenado por Robert House,
envolveu cerca de 60 países de todas as regiões do mundo. Este projeto procou encontrar
respostas sobre o modo como culturas sociais e organizacionais afetam a liderança e as
práticas organizacionais. Em todas as culturas estudadas, apesar das diferenças regionais
encontradas, características de cada cultura, foram identificados vários atributos comuns
que contribuem para uma liderança de excelência. Entre estes atributos, destacam-se a
integridade, isto é ser justo, honesto e confiável, e uma liderança carismática, inspiradora e
73
visionária, na qual o líder excecional é encorajador, dinâmico, positivo, construtivo e
prospetivo (Avolio, Sosik, Jung, & Berson, 2003; Green, 2014; Hartog, House, Hanges, &
Ruiz-Quintanilla, 1999; Hartog & Koopman, 2001; House, Dorfman, Javidan, Hanges,
Sully de Luque, 2014; House, Hanges, Javidan, Dorfman, & Gupta, 2004; Judge, Woolf,
Hurst, & Livingston, 2006).
Relativamente às teorias de liderança transformacional e transacional as relações
entre líderes e seguidores são baseadas numa série de trocas implícitas entre ambos, as
quais podem abarcar diversas dimensões (Bass, 1985, 1996, 1997; Bass & Riggio, 2006;
Burns, 1978). Assim, no caso do líder transformacional os comportamentos que assume
compreendem quatro níveis: (i) influência nos ideais (idealized influence), a qual pelo seu
carisma tornam o líder num modelo a seguir com admiração, respeito e confiança
relativamente à sua figura; (ii) motivação inspiradora (inspiration), isto é, a capacidade do
líder motivar e inspirar os elementos do grupo de modo a dar significado mas também
desafio às tarefas que pede para serem efetuadas; (iii) consideração individual (individual
consideration), que tem a ver com as relações dos membros do grupo, verificando-se uma
preocupação, por parte de quem chefia, das necessidades de realização, pessoal e
profissional de todos os trabalhadores; (iv) estimulação intelectual (intellectual stimulation)
que fornece aos subordinados um fluxo de novas ideias inovadoras, criativas e desafiadoras,
para estimular a repensar velhas formas de fazer as coisas (Bass (1985). No caso do líder
transacional os seus comportamentos apenas se evidenciam perante dois tipos de situações:
(i) face aos bons desempenhos dos membros do grupo, como um reforço contingente
(contingent reward); ou (ii) em situações de crise (management by exception), o que
significa que o líder só atua quando as coisas se afastam do esperado; desde que as metas
de desempenho sejam cumpridas, os trabalhadores continuam a fazer o seu trabalho, como
sempre o fizeram, ocorrendo as ações de correção apenas posteriormente. Poderíamos dizer
que se trata de uma liderança passiva, cuja tónica é o evitamento do exercício da liderança,
assumida na forma de “laissez-faire” (Antonakis, 2012; Avolio, 2004; Avolio, Bass & Jung,
1999; Avolio, Sosik, Jung, & Berson, 2003; Bass, 1985, 1990, 1997, 1999; Bass, Waldman,
Avolio, & Bebb, 1987; Bryman, 1996; Chemers, 2014; Hartog, & Koopman, 2001; Judge
& Piccolo, 2004). São numerosos os estudos realizados sobre a liderança transformacional
e a liderança transacional, nos quais foram encontradas diversas correlações positivas, com
74
a avaliação do desempenho (Hater & Bass, 1988; Waldman, Bass, & Einstein, 1987), com
as recomendações para promoções (Waldman, Bass, & Yammarino, 1990), com o
desenvolvimento de projetos inovadoras em equipas de trabalho (Jung, Chow, & Wu, 2003;
Keller, 1992, 2006), com a satisfação no trabalho (DeGroot, Kiker, & Cross, 2000; Emery
& Barker, 2007; Pillai, Scandura, & Williams, 1999), com o desempenho positivo (Bass,
Avolio, Jung, & Berson, 2003), com motivação e produtividade (Masi, & Cooke, 2000) e
com os objetivos financeiros obtidos através da definição de estratégias de negócio (Howell
& Avolio, 1993).
Num estudo de revisão meta-analítica da literatura levada a cabo por Lowe, Kroeck,
e Sivasubramaniam (1996) confirmou-se uma relação positiva entre comportamentos de
eficiência e a liderança transformacional. Também DeGroot, Kiker e Cross (2000) e Judge e
Piccolo (2004) ao realizarem revisões da literatura, reconfirmaram relações positivas entre
comportamentos de eficiência e a liderança transformacional. Perante a grande quantidade
dos estudos, poderemos referir que, independentemente do país e do contexto cultural, os
resultados encontrados são transversais, confirmam as correlações encontradas entre as
características dos líderes e o seu impacto nos trabalhadores e nas respetivas organizações,
sobressaindo as características carismáticas de coragem e de inspiração (Almansour, 2012;
Bass, 1997; Dorfman, Howell, Hibino, Lee, Tate, & Bautista, 1997; Mahdinezhad, Suandi,
Silong, & Omar, 2013; Molero, Cuadrado, Navas, & Morales, 2007; Pillai, Scandura, &
Williams, 1999). Tal como refere Parrot (2000):
“Transformational leadership requires courage. It is not the courage of risking life
and limb like a soldier at Gettysburg or on the shores of Normandy. But it is risking
the possibility of disapproval, rejection, misunderstanding, and being featured in the
next round of gossip” (p.74).
Também Conger e Kanungo (1987, 1998) consideram que o fator carisma é o
elemento diferenciador do líder excelente, tendo desenvolvido o modelo comportamental e
atribucional da liderança carismática. Neste modelo, a liderança é definida como um
processo que envolve a mudança dos trabalhadores de uma organização, contribuindo para
um maior desenvolvimento desta. O resultado, espelhando a visão do líder, torna-se efetivo
através dos sinais de eficácia no nível organizacional, na medida em que o retorno do
investimento efetuado desde que o responsável assumiu funções é algo observável, bem
75
como o nível de produção atingido. A visão estratégica em relação às metas a atingir, é o
ponto fulcral do modelo comportamental e atribucional da liderança carismática,
observando-se a discrepância entre líderes carismáticos e não carismáticos pelo tipo de
metas que traçam e pela forma como se propõem atingi-las (Avolio, Sosik, Jung, & Berson,
2003; Conger & Kanungo, 1987, 1998; Hartog & Koopman, 2001).
São vários os autores que referem a importância de duas questões fundamentais
serem abordadas no estudo da liderança: como definir a liderança e como distingui-la da
gestão (Bennis & Nanus, 1985; Green, 2014; Kotter, 1990; Kouzes & Posner, 2007;
Zaleznik, 1977, 1990), sendo que dificilmente alguém pode ser bom, simultaneamente, a
liderar e a gerir. Neste sentido, para as organizações serem bem-sucedidas necessitam de
ambos os profissionais, combinando-se assim duas grandes forças - liderança e gestão.
Também Zaleznik (1977) refere que a cultura da gestão difere da cultura
empresarial, na qual os líderes abraçam outras motivações. Se por um lado os gestores têm
um perfil cujas características predominantes são a persistência, resiliência, disciplina no
trabalho, inteligência, capacidade analítica e a tolerância e boa vontade, a liderança pode
ser vista como “a psychodrama in which a brilliant, lonely person must gain control of
himself or herself as a precondition for controlling others” (p. 68). Aqui, os líderes levam
consigo a sua história pessoal, motivação, a sua forma muito própria de pensar e de agir,
mas também uma forte capacidade de enfrentar a agressividade do dia-a-dia das
organizações. Esta capacidade do líder permite-lhe também desvendar as ambiguidades da
cultura empresarial da empresa mas, essencialmente, incentiva-o a estabelecer relações
afetivas que lhe darão a força necessária para a sua sobrevivência. Já para Hersey,
Blanchard e Johnson (2001), a liderança concentra-se na ação e na implementação:
“The most effective leaders will be people who use their energies to accomplish
desired results. Leadership will focus on action and implementation. Leadership,
change, implementation and results: these are the operative words for the new world
order. They will become, as never before, core influences on an organization’s
environment, thus profoundly affecting the leadership of effective organizations”
(p.6).
Num estudo longitudinal levado a cabo por Judge, Higgins, Thoresen, & Barrick
(1999) sobre a relação entre traços de personalidade, inteligência e carreiras de sucesso, os
autores encontraram fortes correlações entre os referidos traços, face à predição do sucesso
76
das carreiras dos participantes. Uma carreira de sucesso foi definida tendo em linha de
conta duas dimensões: o sucesso intrínseco, através da satisfação no trabalho e o sucesso
extrínseco, através do status e rendimentos atingidos. Os resultados do referido estudo
demonstraram que a um elevado valor no traço conscienciosidade estava positivamente
associado o sucesso intrínseco, enquanto um baixo valor nos traços de neuroticismo e
amabilidade e elevados valores em extroversão, conscienciosidade e inteligência se
associavam ao sucesso extrínseco. Face aos resultados encontrados, os autores referem que
a personalidade é um constructo que, nos seus diversos traços, está relacionada com o
sucesso das carreiras profissionais e que, embora os resultados obtidos na fase adulta
fossem mais expressivos nestas correlações do que os resultados obtidos na infância, ambos
contribuíam para a explicação do sucesso da carreira. Neste estudo, também foi possível
demonstrar que os traços de personalidade do modelo de personalidade Big Five e a
inteligência são variáveis capazes de prever as diversas fases de uma carreira de sucesso,
mesmo num período de 50 anos.
Posteriormente, Judge e Bono (2000) realizaram um estudo em mais de 200
organizações sobre a relação entre os traços de personalidade do modelo Big Five e os
comportamentos da liderança transformacional, no qual a amabilidade surge como o traço
de personalidade mais forte e mais consistente enquanto variável preditora de
comportamentos de uma liderança transformacional. Verificaram também que a extroversão
e abertura à experiência apresentavam uma correlação positiva significativa com os
comportamentos de liderança transformacional. Contudo, embora a abertura à experiência
estivesse também positivamente correlacionada, a sua força desaparecia sempre que era
controlado o efeito dos restantes traços de personalidade. Os traços de neuroticismo e
conscienciosidade não apresentaram correlações com a liderança transformacional e os
resultados sugeriram que algumas das facetas da personalidade são melhores preditoras da
liderança que os traços mais globais.
Ainda âmbito dos estudos acerca das relações entre personalidade e liderança
transformacional, Judge et al. (2002) conduziram um estudo de meta-análise de artigos
publicados sobre a relação entre personalidade e liderança. A extroversão foi o traço que
apresentou a correlação mais forte e mais consistente com a liderança de sucesso. A
conscienciosidade e abertura à experiência foram os dois outros traços mais relacionados
77
com a liderança. Bono e Judge (2004), também num estudo de meta-análise sobre a relação
dos traços de personalidade com os comportamentos de liderança transformacional e
transacional, com base nomodelo dos cinco-fatores de personalidade, verificaram que as
correlações mais fortes encontravam-se apenas com o traço extroversão, apresentando
todos os outros traços correlações baixas com a liderança. Suportando o princípio de que as
competências de liderança podem ser aprendidas (Barling, Weber & Kelloway,1996; Mole,
2004), Judge et al. (2002) referem a importância de se desenvolverem mais estudos que
permitam compreender como os comportamentos de liderança poderão ser treinados e
desenvolvidos.
Também Taggar, Hackett e Saha (1999), utilizando o modelo dos cinco-fatores de
personalidade, encontraram correlações entre os traços de personalidade e a emergência de
comportamentos de liderança em equipas autónomas, sendo a extroversão e a
conscienciosidade os traços que apresentaram resultados mais consistentes nesta
associação. Face aos estudos apresentados, poderemos concluir que a personalidade é uma
variável de grande importância face ao estudo da liderança e particularmente no estudo de
líderes excelentes.
Blikle et al. (2008), partindo do princípio de que só os traços de personalidade não
são suficientes para prever o desempenho no trabalho, realizaram um estudo envolvendo
sujeitos de três cidades alemãs (Bonn, Cologne e Düsseldorf), no qual, utilizando o modelo
de personalidade Big Five, procuraram estudar a relação entre dois fatores de
personalidade, amabilidade e conscienciosidade e as competências de gestão interpessoal
(political skills), na previsão do desempenho no trabalho. Segundo Ferris et al. (2002,
2005) as competências de gestão interpessoal abarcam quatro dominios: a perspicácia
social (social astuteness), ou seja, a capacidade de observar os outros com perspicácia e
interpretar os seus comportamentos, através de uma profunda sintonia face às diversas
situações sociais, a influência interpessoal (interpersonal influence), isto é, a capacidade de
convencer, exercendo poder, os outros em seu redor, a capacidade de estabelecer redes de
relacionamento profissional (networking ability), entendida como a capacidade de criar e
recorrer a redes de trabalho, que se constituem na base de fortes alianças sociais no trabalho
e a sinceridade genuína (apparent sincerity), isto é, a capacidade para demonstrar
competências elevadas de autenticidade, genuinidade, integridade e sinceridade aos outros,
78
podendo no geral ser definidas como competências de compreender os outros no trabalho e
usar esse conhecimento para influenciá-los de modo a que estes atuem para atingir
objetivos pessoais e/ou organizacionais (Ahearn, Ferris, Hochwarter, Douglas, & Ammeter,
2004). Assim, seguindo o racional defendido por Ferris e colaboradores, Blikle et al. (2008)
verificaram no seu estudo que os sujeitos com resultados elevados no fator amabilidade e
competências de gestão interpessoal, apresentavam elevados níveis de desempenho
profissional, em oposição àqueles que apresentavam resultados baixos nas duas variáveis
ou em apenas uma. Além disso, um resultado elevado no fator amabilidade e um resultado
baixo em competências de gestão interpessoal, estava sempre associado a um fraco
desempenho profissional. Será de referir ainda que, os sujeitos com resultados baixos em
competências de gestão interpessoal e amabilidade apresentavam um desempenho
profissional superior aos sujeitos com resultados baixos em competências de gestão
interpessoal e resultados elevados em amabilidade. Em relação ao fator conscienciosidade,
este estava correlacionado positivamente com níveis mais elevados de desempenho no
trabalho, sempre que aparecia associado a resultados moderados nas competências de
gestão interpessoal e estando correlacionado negativamente com o desempenho no
trabalho, sempre que aparecia associado a resultados elevados nas competências de gestão
interpessoal. Face aos resultados encontrados, os referidos autores concluíram que a
personalidade e as competências sociais são variáveis importantes para o desempenho no
trabalho.
Simonton (1981, 1985, 1988b, 1991b, 2006b, 2014), na sua vastíssima obra,
realizou inúmeros estudos sobre líderes eminentes, designadamente os presidentes dos
Estados Unidos. Nestes estudos, o autor analisa em pormenor a história de vida de cada
líder, envolvendo dados diversos, como os familiares, percurso educativo, atividades
preferidas e características de personalidade, entre outros. Os resultados convergem na
identificação de quatro áreas centrais à liderança: inteligência, brilho intelectual, abertura à
experiência e liderança, confirmando que todos os Presidentes apresentavam ou níveis
superiores ou níveis adequados destas características ao cargo da presidência. Apesar do
brilho intelectual apresentar correlações positivas com a inteligência e a abertura à
experiência, assumiu-se, nestes estudos, como uma variável com maior força do que as
duas outras variáveis, na previsão da excelência do desempenho presidencial. A sua
79
superioridade preditiva vem do facto de se tratar de uma variável que, ela própria, incorpora
traços das duas variáveis, inteligência e abertura à experiência.
Adicionalmente, utilizando as informações biográficas de 39 dos presidentes dos
EUA, Simonton (1988c) ao analisar o estilo presidencial dos mesmos, através de dados
sobre a personalidade, experiências biográficas, indicadores objetivos e subjetivos do
desempenho do líder, encontrou cinco estilos diferentes: interpessoal, carismático,
deliberativo, criativo e neurótico. Por um lado, os presidentes interpessoais e carismáticos
parecem ser pessoas mais orientadas para as relações socio-emocionais, quer no âmbito das
relações com os outros elementos do governo, quer com o próprio povo americano. Por
outro lado, os presidentes deliberativos e criativos parecem estar mais orientados para a
concretização de tarefas, tornando-se solucionadores de problemas. Finalmente, o estilo
neurótico, orientado para si, apresenta o foco no seu ego e na sua própria fragilidade.
Um trabalho de grande relevância no âmbito do estudo diferencial de indivíduos
eminentes, pertencentes a grupos minoritários desfavorecidos, foi também realizado por
Simonton (1998), utilizando uma amostra de afro-americanos notáveis. A amostra foi
examinada do ponto de vista da “macro-cultura branca” e da “subcultura negra”, tendo-se
verificado que as dez dimensões características da cultura branca e as sete dimensões
características da cultura negra se correlacionavam com valores elevados. Na análise de
regressão múltipla realizada, verificou-se que o conjunto de dimensões características da
cultura branca e da cultura negra eram concomitantes com as variáveis preditoras mais
usuais como o género, prémios recebidos ou apresentações famosas, podendo, contudo,
entrar em desacordo em certos domínios como o desporto, música jazz ou ativistas dos
direitos humanos. Posteriormente, Simonton (2008b) num estudo historiométrico com afro-
americanos notáveis encontrou correlações positivas entre a sobredotação na infância e a
excelência na fase adulta.
É ainda importante notar que quando falamos de excelência na fase adulta e
particularmente quando abordamos o sucesso dos gestores, líderes ou empresários teremos
que obrigatoriamente falar de empreendedorismo. Contudo, apesar do empreendedorismo
ser de grande importância para a prosperidade de qualquer sociedade, reconhecemos que
ainda é uma área onde a investigação científica terá um longo caminho a percorrer. Ser um
80
empresário de sucesso e fundar um grupo de empresas de alta rentabilidade é o sonho de
todo o empreendedor que lidera um negócio. Os estudos mostram que para que tal
aconteça, há variáveis que têm que estar associadas, designadamente um elevado grau de
inteligência prática, capacidades criativas e talento empresarial (Shavinina, 2006). Para
Sternberg (2004), o empreendedorismo de sucesso requer uma mistura dos aspetos
analíticos, criativos e práticos da inteligência, pois é essa combinação que é a base da
inteligência de sucesso (successful intelligence).
Num estudo levado a cabo por Shavinina (2006) sobre os fatores microssociais no
desenvolvimento da excelência empresarial, a autora investiga o meio familiar, os “outros
significativos” e “figuras contemporâneas” no caso do empresário de sucesso Richard
Branson. Conclui que os fatores microssociais descritos na literatura, no âmbito da
sobredotação, são importantes mas não são suficientes para justificar o desenvolvimento do
talento empresarial. Assim, para além da família e dos professores, o estudo revela fatores
microssociais adicionais como os “outros significativos” e “figuras contemporâneas”, que
tiveram um papel preponderante no desenvolvimento da capacidade empresarial de Richard
Branson. Apesar desta identificação, é notório que efetivamente há sinais precoces da
excelência empresarial, sendo que o sujeito em criança manifesta, nomeadamente, algumas
manifestações específicas no âmbito de capacidades ou traços de personalidade que estão
diretamente relacionadas com a excelência na área empresarial. São exemplos a criação de
atividades ou mesmo pequenas empresas com o foco de angariar dinheiro. Também
poderão estar presentes outras características de personalidade, mais gerais, que não são
específicas da excelência empresarial, como por exemplo a competitividade, útil nos
negócios, mas também no desporto. Será relevante referir que as manifestações precoces de
sobredotação empresarial, identificadas na infância, predeterminaram em grande medida o
talento empresarial dos empreendedores famosos, como são os casos de Richard Branson,
Bill Gates, Steve Jobs, Michael Dell, Akio Morita, ou Fred Smith (Shavinina, 2008).
O interesse pelo empreendedorismo não se tem ficado pelos estudos no âmbito da
psicologia, já que, nos últimos anos, os economistas têm vindo a reconhecer o papel crucial
dos empreendedores face à sua significativa contribuição no âmbito da inovação e do
crescimento económico e na criação de novas empresas inovadoras, pois nos países
desenvolvidos, o empreendedorismo de alto impacto (HIE) tem-se tornado na principal
81
forma de desenvolver as economias (Zoltan, 2010). É através da sua força em objetivar
respostas, face às oportunidades do mercado, que o empreendedorismo de alto impacto se
vê realizado nas múltiplas invenções que criam riqueza e crescimento económico. Mas
estes empresários criadores são distintos dos meros criadores de empresas que se limitam a
replicar aquilo que já existe no mercado. Tal como refere Simonton (2010):
“In other words, the latter label might be attached to all creators who generated an
identifiable product without necessarily rendering the person highly eminent. So
when we talk about the creativity at the highest level we are really talking about
Boldface-C Creativity - creativity of highly eminent individuals” (pp. 174-175).
Nas últimas décadas, criatividade, excelência e economia têm sido temas de grande
reflexão por parte dos investigadores, pois sabe-se que ao longo dos tempos a
transformação e o progresso das sociedades têm sido baseadas em realizações científicas,
tecnológicas, educacionais, políticas e comerciais promovidas pelos sujeitos mais
talentosos (Florida, 2002, 2005; Pratt, 2008). Assim, poderemos dizer que os criativos, os
talentosos, os excelentes são os principais responsáveis pela inovação no mundo e como tal
os impulsionadores para uma economia de prosperidade. Como refere Florida (2002):
“Many economists say that we now live in an information economy or a knowledge
economy. But what’s more fundamentally true is that we now have an economy
powered by human creativity. Creativity – the ability to create meaningful new
forms, as Webester’s dictionary puts it – is now the decisive source of competitive
advantage” (pp. 4-5).
O maior exemplo, mesmo inquestionável, do impacto da excelência sobre a
economia global é o caso de Silicon Valley, na Califórnia nos EUA. Há décadas que
cientistas de diversas áreas, como economistas, geógrafos, especialistas de negócios, entre
outros, procuram compreender o fenómeno de Silicon Valley. A nível mundial, de uma
maneira ou de outra, muitas têm sido as tentativas de replicar este fenómeno. Contudo, os
resultados obtidos ficam muito aquém do esperado. Mais do que uma estrutura que tenha
como base a geografia do local ou a organização empresarial, o que está por detrás de
Silicon Valley é a excelência, é o talento, a diversidade cultural, a criatividade das pessoas
que escolheram ir para lá trabalhar e a rede de trabalho aí estabelecida, com a abertura
suficiente para se envolverem no maior desafio empresarial até hoje realizado (Castilla,
Hwang, Granovetter, & Granovetter, 2000; Kenny, 2000; Saxenien, 1983, 1990, 1999,
2000; Shavinina, 2012).
82
Se queremos ter sociedades melhores, mais inovadoras, mais competitivas, que
saibam valorizar e respeitar a sustentabilidade mundial, teremos que promover mudanças
em três domínios: cultural, moral e intelectual. Contudo, para atingirmos essas mudanças, o
primeiro passo tem a ver com uma profunda intervenção na educação. Só com novas
diretrizes na educação conseguiremos desenvolver as capacidades de inovação nas crianças
e adolescentes e atingirmos níveis de excelência nas múltiplas áreas empresariais
(Shavinina, 2013). E porque a “leadership will be the currency for the 21st century, we must
invest wisely for our current and future generations” (McFarland , Senn, & Childress, 1994,
p. 35), é fundamental que sejamos os promotores de mudanças revolucionárias nas escolas
de hoje, para que se tornam em verdadeiras escolas do século XXI.
Shavinina (2013) sugere um conjunto de intervenções educativas destinadas a
identificar, desenvolver e transformar crianças com talento em adultos inovadores, as quais
deverão ser alargadas, de acordo com a realidade de cada escola: (i) os programas de
enriquecimento desenvolvidos com crianças sobredotadas estarem abertos a toda a todas as
crianças das diversas comunidades educativas; (ii) programas de estimulação na área das
ciências e tecnologia; (iii) programas de desenvolvimento da excelência na liderança
empresarial; (iv) programas de desenvolvimento de competências metacognitivas; (v) os
programas escolares deverão estar adaptados ao século XXI, tendo incorporado os
progressos realizados pela comunidade científica, designadamente em matérias que foram
alvo de Prémio Nobel; (vi) novos programas para o desenvolvimento da sabedoria aplicada
e responsabilidade moral; (vii) programas que visem o desenvolvimento do talento na área
da gestão; (viii) programas que ensinem princípios básicos de gestão; (ix) programas que
ensinem os fundamentos da ciência da inovação (e.g., o que inovar, como inovar, a gestão
da inovação, o défice de inovação); e (x) programas que ensinem as crianças/adolescentes a
ter coragem. Para se inovar é preciso ter coragem e as crianças precisam de aprender a ser
corajosas na prossecução das suas ideias e dos seus interesses sob a forma de produtos,
processos ou serviços.
Em Portugal, relativamente aos trabalhos no âmbito da liderança, destaca-se o
estudo levado a cabo por Jesuíno, Pereira e Reto (1993) sobre as características de gestores
de topo, no qual, numa abordagem qualitativa, com uma amostra de gestores de elite, os
autores identificaram diversas variáveis inerentes à excelência em profissionais com cargos
83
de gestão. Foram identificadas as estratégias articuladas em termos de uma adequada
planificação da carreira profissional, construção de boas redes relacionais e uma prática de
liderança visionária aliada a uma forte motivação. O grande fator de equilíbrio para uma
atividade de gestão eficaz estava associado aos traços de maturidade psicológica e
profissional que todos manifestaram. Na amostra utilizada, os perfis de liderança
encontrados eram de uma liderança transformacional, com as suas características
carismáticas, vontade inovadora e capacidade inspiracional.
Serão ainda de referir os vastos artigos sobre a liderança no desporto (Gomes, 2014;
Gomes, Lopes, & Mata, 2011; Gomes, Pereira, & Pinheiro, 2008; Gomes & Resende, 2014;
Resende, Gomes, & Vieira, 2013), os quais abordam a temática nas várias modalidades
desportivas e o papel dos treinadores na performance dos atletas. Baseados no trabalho
desenvolvido por Ajzen sobre a teoria do comportamento planeado, surgem dois artigos de
referência (Almeida, Cruz, Ferreira, & Pinto, 2011; Pinto, Almeida, Cruz, & Ferreira,
2011). A teoria do comportamento planeado apresentada por Ajzen (2002) refere que o
comportamento humano pode ser guiado por três tipos de crenças: crenças
comportamentais (sobre as prováveis consequências ou outros atributos do
comportamento), crenças normativas (sobre as expectativas normativas de outras pessoas) e
crenças de controlo (sobre a presença de fatores que podem favorecer ou prejudicar o
desempenho do comportamento). Assim, o sujeito humano poderá, respetivamente, assumir
comportamentos favoráveis ou desfavoráveis, através da perceção de normas subjetivas e
de pressão social e da intervenção das crenças de controlo. Esta identificação pode facilitar
ou dificultar a realização do comportamento, na medida em que toda a intenção
comportamental é feita através da combinação da atitude em relação ao comportamento,
das normas subjetivas subjacentes e da perceção de controlar qualquer situação. Almeida e
colaboradores (2011) apresentam um dicionário de termos entre a Teoria de Jogos e a
Teoria do Comportamento Planeado e propõem o equilíbrio de Nash como um, de muitos
mecanismos possíveis, para transformar intenções individuais em decisões. No seu estudo,
referem de que forma as características do líder e dos seus seguidores, neste modelo da
teoria de jogos, podem influenciar as decisões dos próprios seguidores.
Em relação a teses de doutoramento há a referenciar o estudo sobre a avaliação da
personalidade em gestores de alto desempenho por meio do método de Rorschach, levado a
84
cabo no Brasil por Garcia-Santos (2009), na qual a autora faz uma avaliação de gestores
brasileiros, considerados muito competentes, de alto desempenho, numa abordagem da
expertise no trabalho. Recorrendo a três modelos teóricos, a Teoria dos Papéis Gerenciais
de Henry Mintzberg, a Teoria do Processamento da Informação e o Modelo de Processo de
Resposta ao Rorschach de John Exner, foram focados os aspetos da personalidade relativos
às capacidades de análise, de planeamento, de iniciativa, de relacionamento interpessoal e
de integração humana (trabalho em equipa), como características do gestor de sucesso. Os
resultados encontrados referem que os gestores envolvidos no estudo eram capazes de
recolher dados, avaliá-los e estabelecer rankings de maneira adequada, verificando-se
também que são capazes de ser objetivos e precisos na avaliação dos problemas.
Posteriormente, Garcia-Santos, Almeida, Werlang e Veloso (2010) apresentam um
estudo sobre o processamento da informação em gestores empresariais de desempenho
superior, referindo que este estilo de processamento de informação possibilita uma
interpretação do mundo a partir de um modo de processamento ou de um estilo cognitivo,
próprio e característico de solucionar problemas. Garcia-Santos, Almeida e Werlang (2012),
com base nos estudos da Psicologia Positiva, fazem uma abordagem sobre a contribuição
da personalidade na excelência humana. Numa revisão de bibliografia, os autores
constataram que são mencionados fatores pessoais e contextuais, verificando que são as
capacidades cognitivas, características de personalidade e a prática deliberada, as variáveis
de maior relevância para a manifestação da excelência. Por sua vez, Almeida e Wechsler
(2015), num artigo de análise e reflexão sobre a excelência humana, abordam o tema
acentuando as variáveis psicológicas dos indivíduos e enfatizando as aquisições decorrentes
da prática ou treino deliberado. Integrando os contributos de diversos estudos, propõem que
o surgimento e a manutenção da excelência, em diferentes áreas de desempenho e de
conhecimento, deve-se a um conjunto de variáveis psicológicas, designadamente
cognitivas, motivacionais e de personalidade, destacando-se o papel da criatividade como
fator preponderante nalgumas áreas de realização profissional.
No âmbito da avaliação psicológica das altas habilidades e da excelência, Garcia-
Santos, Almeida e Cruz (2012) apresentam um estudo no qual é abordada a importância da
validade e da precisão, sempre que se procede à avaliação psicológica de sujeitos com altas
habilidades. E se nas altas habilidades predominam as variáveis internas, o que leva ao uso
85
dos testes psicológicos, na excelência convergem os fatores contextuais de aprendizagem,
treino e realização, apelando então às entrevistas, histórias de vida e observação dos
desempenhos na execução da avaliação. Dado que o objetivo central da avaliação
psicológica das altas habilidades e excelência é a identificação de tais indivíduos, é de
extrema relevância evitar que os diagnósticos sejam invadidos pelos falsos positivos e
falsos negativos, não só pelo impacto negativo que a avaliação poderá ter na vida desses
indivíduos, mas também para que a orientação seja feita adequadamente. Os autores
abordam ainda o tema das necessidades específicas desses sujeitos talentosos, referindo
que, para além dos processos de avaliação e consequente recolha de informações, podem
sempre ser sugeridos programas de estimulação para o enriquecimento das atividades que
os sujeitos realizam.
Compreender o sentido da vida na esfera empresarial também tem despoletado o
interesse de alguns investigadores. Partindo do racional que sentidos de vida podem ser
considerados valores, uma vez que orientam o comportamento humano e que os mesmos
são passíveis de serem aprendidos e partilhados, Teixeira, Domenico, Mello, Almeida, e
Almeida (2006), num estudo levado a cabo com gestores portugueses e brasileiros,
procuraram identificar as diferenças entre os sentidos de vida de gestores de ambas as
culturas. Os resultados evidenciaram diferenças entre as duas amostras: os portugueses
mais orientados para a solidariedade com os grupos sociais próximos e os brasileiros para a
auto-ealização. Num outro estudo, também com gestores portugueses e brasileiros, Teixeira
e Domenico (2008) procuraram comparar a estrutura de valores relativos ao sentido de
vida. Os resultados evidenciaram a existência de uma única estrutura de valores de sentidos
de vida para ambas as amostras, apesar de terem sido encontradas diferenças quanto à
composição das categorias nelas contempladas, que foram interpretadas tendo em vista as
peculiaridades de cada cultura.
Síntese Final
Ao longo deste capítulo procurámos situar o estado da investigação empírica
relativa aos desempenhos excelentes em vários contextos de realização e, especificamente
no contexto da gestão de empresas. Apesar das especificidades de cada contexto abordado,
86
será relevante realçar a transversalidade do tema da excelência, por um lado, enquanto tema
que começa a despertar o interesse dos investigadores e por outro, pelo fio condutor entre
todos as áreas, quer através das metodologias usadas quer nos próprios resultados obtidos.
Relativamente às metodologias, encontrámos, por parte de alguns autores, um maior
interesse por metodologias qualitativas, com especial destaque para a utilização de
entrevista, o que é compreensível, dado tratar-se de uma abordagem privilegiada pela
obtenção das histórias de vida pelos próprios sujeitos. Dado que a excelência em contextos
de realização parece implicar a integração de diversas variáveis, tornou-se premente
compreender melhor como os sujeitos agem na prática, o que os orienta, o que os mantém
motivados nessa mesma prática e quais as características de personalidade que lhe são
inerentes e interagem com os fatores contextuais. Assim, na busca das variáveis pessoais e
contextuais no exercício profissional dos gestores empresariais de elite, tentámos, em
primeiro lugar, compreender os aspetos relevantes no desempenho de excelência das
organizações. Embora sejam muitas as variáveis associadas, procurámos salientar aquelas
que considerámos mais relevantes à luz do nosso estudo, designadamente, a satisfação e o
desempenho no trabalho, a motivação, a satisfação com a vida, a liderança, as
características de personalidade, as competências sociais, a criatividade e o
empreendedorismo.
Em síntese, poderemos referir que encontrámos uma pluralidade de dimensões
psicológicas e contextuais associadas aos desempenhos excelentes, assim como uma
diversidade de abordagens metodológicas para o seu estudo. Verificámos, ainda, que a
multiplicidade de critérios utilizados na identificação dos desempenhos excelentes e a
escassez de estudos em contexto português poderão tornar-se em potenciais dificuldades no
desenvolvimento do presente estudo. Contudo, acreditamos que será possível desenvolvê-lo
e que os resultados estarão na linha dos estudos internacionais estudados.
87
CAPITULO 3
_______________________________________________________________
METODOLOGIA DO ESTUDO EMPIRICO
88
89
Introdução
O conceito de excelência, previamente apresentado, surge associado a uma enorme
variedade de estudos que recorrem a uma multiplicidade de abordagens metodológicas, as
quais vão desde as abordagens tendencialmente assentes em metodologias quantitativas e
experimentais (e.g., Erickson & Williams, 2007) até às abordagens que privilegiam os
métodos essencialmente qualitativos como os estudos de caso (e.g., Dolfing, Bulte, Pilot, &
Vermunt, 2011; Smith & Strahan, 2004), os estudos fenomenológicos (e.g., Cross, Stewart,
& Coleman, 2003; Moerer-Urdahl & Creswell, 2004) ou a grounded theory (e.g., Glaser &
Strauss, 1967; Holt & Dunn, 2004; Morgan & Giacobbi, 2006). Mas são as atuais
preocupações da investigação nas Ciências Sociais e Humanas e a necessidade de uma nova
postura interpretativa dos comportamentos e fenómenos sociais, segundo Almeida e Freire
(2003), que têm incrementado o interesse pelos métodos qualitativos:
“A primazia da experiencia subjetiva como fonte do conhecimento, o estudo dos
fenómenos a partir da perspetiva do outro ou respeitando os seus marcos de
referência e o interesse em se conhecer a forma como as pessoas experimentam e
interpretam o mundo social que também acabam por construir interactivamente
permitem compreender os fenómenos na sua globalidade e atingir a realidade sem a
fragmentar e sem a descontextualizar (p.101).
A pergunta impõe-se: como escolher o melhor método para o estudo que
pretendemos levar a cabo? As opções seguidas na escolha do método relacionam-se sempre
com os objetivos dos estudos, as questões levantadas, os contextos de investigação e as
próprias posições dos investigadores relativamente aos paradigmas de investigação
escolhidos. A nossa opção por metodologias mistas decorre da constatação de que o uso
combinado de abordagens qualitativas e quantitativas permite uma melhor compreensão
dos problemas em estudo (Creswell & Clark, 2007; Greene, Caracelli, & Graham, 1989;
Johnson, Onwuegbuzie, & Turner, 2007; Tashakkori & Teddlie, 2008): “No one could
refute the argument that the use of more than one method produced stronger inferences,
answered research questions that other methodologies could not, and allowed for greater
diversity of findings” (Creswell & Clark, 2007, p. 18).
Contudo, ainda hoje, as metodologias que preferencialmente são utilizadas no
contexto dos estudos da excelência são as metodologias quantitativas, sendo as temáticas da
90
criatividade, desenvolvimento dos talentos e identificação das características psicológicas
dos indivíduos excelentes, as que mais se destacam (Dai, Swanson, & Cheng, 2011). No
estudo que levaram a cabo, Dai et al. (2011) referem ainda que o design de investigação
qualitativo representa atualmente cerca de um quarto da investigação total, encontrando-se
agora a emergir o design de investigação mista. De facto, nos últimos anos o interesse pela
utilização de uma metodologia mista tem sofrido um aumento significativo, acreditando-se
que respondem melhor às questões de investigação e asseguram um melhor conhecimento
dos fenómenos em estudo (Clark, Creswell, Green, & Shope, 2008; Creswell, 2003, 2009;
Creswell, Hanson, Clark & Morales, 2007; Greene et al., 1989; Hanson, Creswell, Clark, &
Petska, 2005; Johnson & Onwuegbuzie, 2004; Johnson, Onwuegbuzie, & Turner, 2007;
Tashakkori, 2009; Tashakkori & Creswell, 2007; Teddlie & Yu, 2007; Teddlie &
Tashakkori, 2010; 2012): “The value of mixed methods approach arises partly from the
multiple perspectives that can be included by combining quantitative and qualitative data
in a study. For example, the researcher can examine statistical results and overall trends
along with in-depth individual perspectives and the context in which they occur.
Researchers may also obtain stronger more corroborated conclusions when the results are
derived from two different types of date instead of only a single type” (Clark, Creswell,
Green, & Shope, 2008, pp. 365-366).
Conforme já referido anteriormente, os estudos realizados em Portugal sobre as
características e os percursos de adultos com desempenhos excecionais são ainda muito
recentes. Os trabalhos de natureza mais empírica abarcam predominantemente os atletas
excecionais (Matos, 2011; Matos, Cruz, & Almeida, 2011), embora recentemente tenham
surgido estudos noutras áreas, designadamente a excelência na investigação científica, nas
artes performativas, nos pilotos de F-16 enquanto profissionais militares, ou no
desempenho académico (Araújo, 2010; Garcia, Ribeiro, & Almeida, 2011; Monteiro, 2007,
2009, 2012; Ribeiro & Almeida, 2010). Será, ainda, relevante referir o estudo levado a cabo
por Garcia-Santos, Almeida, Werlang, e Veloso (2010) com gestores empresariais de
desempenho superior, tendo como objetivo avaliar o seu processamento de informação.
Com o presente trabalho pretendemos alargar a investigação na área da excelência,
designadamente junto de gestores portugueses de excelência. Tendo como base a revisão de
literatura e a diversidade de metodologias que poderão ser utilizadas, apresentamos neste
91
capítulo as nossas escolhas metodológicas, os objetivos do estudo exploratório do presente
trabalho e o perfil dos participantes nele envolvidos.
Objetivos do estudo
Tal como referimos anteriormente, a mudança e a excelência são as exigências
necessárias, no contexto de um século que tem como pedra angular do seu modelo
estratégico do desenvolvimento as dimensões da inovação, da criatividade e da excelência.
O estudo que nos propomos a desenvolver pretende ser um contributo para a pesquisa e
compreensão da excelência no contexto empresarial nacional. Esta pesquisa sobre a
excelência na liderança e nas dimensões intrapessoais dos gestores empresariais pode
apontar para novos caminhos no âmbito da educação dos jovens.
Um conjunto de interrogações, que foram surgindo ao longo de uma carreira
profissional de mais de vinte anos, foram o ponto de partida para gizar o presente estudo:
que variáveis contribuem mais para a compreensão do fenómeno da excelência no domínio
da gestão? Como se combinam essas variáveis? A excelência na gestão apresenta alterações
em função dos anos de prática profissional ou é algo permanente e estável? Existem
diferenças significativas entre os gestores que simultaneamente são empresários dos outros
gestores? Que características de personalidade diferenciam os sujeitos com alto
desempenho? Como funcionam, na sua prática profissional, os gestores excelentes? Que
características apresentam no seu quotidiano que os diferencia dos seus colegas? Assim,
partindo destas questões, o nosso estudo teve como objetivo geral compreender as
variáveis, estruturas e processos que explicam os altos desempenhos na gestão, bem como
compreender os modelos teóricos que melhor explicam e predizem a excelência no
contexto empresarial.
Relativamente aos objetivos específicos, recorrendo a gestores de excelência e
elevado sucesso, quer se trate de sujeitos no início de carreira, quer se trate de sujeitos com
uma carreira empresarial já consolidada, pretendemos: (i) analisar a perceção de excelência
destes gestores; (ii) compreender os percursos profissionais desde a iniciação e formação
até ao topo da carreira, em termos de continuidade ou descontinuidade das respetivas
92
carreiras de gestão; (iii) identificar as características e processos/competências psicológicas
associadas aos desempenhos atuais desses gestores; (iv) explorar a importância e a
influência de fatores ambientais e contextuais associadas aos seus desempenhos; (v)
analisar os perfis de estória da prática deliberada dos gestores e perceber se é um dos
fatores determinantes na excelência empresarial; (vi) identificar e analisar comunalidades e
singularidades em função do género e do tipo de empresa em que atuam; (vii) perceber se a
“regra dos 10 anos” de preparação, necessária em diversos contextos de excelência,
também se aplica no contexto empresarial; (viii) compreender que modelos teóricos melhor
explicam e predizem a excelência na gestão; e (ix) contribuir para a validação de alguns
instrumentos de avaliação psicológica para a população portuguesa de gestores.
Opção metodológica - metodologia mista
Considerando a multiplicidade de variáveis associadas ao conceito da excelência, as
dificuldades que ainda se encontram ligadas aos estudos que visam a sua compreensão e
operacionalização, e tendo consciência que, mais do que a resolução das questões de
investigação é a própria discussão sobre os temas de estudo, a análise e a reflexão sobre os
diferentes pontos de vista das investigações existentes, sentimos que o nosso estudo deveria
recorrer a uma metodologia mista. Segundo Teddlie e Tashakkori (2003), existem três
movimentos metodológicos nas ciências sociais e comportamentais: (i) orientação
quantitativa, na qual os investigadores operam numa tradição positivista e pós-positivista
sendo o seu primordial interesse as análises quantitativas (e.g., Campbell & Fiske, 1959);
(ii) orientação qualitativa cujos investigadores, tendo como base de trabalho uma orientação
construtivista, os seus interesses recaem na análise de contudo dos dados da investigação
(e.g., Guba & Lincoln, 1994); e (iii) orientação metodológica mista suportada por outros
paradigmas (e.g., pragmatismo, perspetiva transformativa), cujos investigadores se
interessam pelos dois tipos de dados (e.g., Denzin, 2010; Maxcy, 2003; Mertens, 2007).
Guba (1990), e mais tarde Guba e Lincoln (1994), apresentam quatro paradigmas no qual
estão incluídos os designs de investigação científica com orientações metodológicas
quantitativas, qualitativas ou mistas, que são utilizados nas ciências sociais e
comportamentais: (i) positivismo, no qual, numa pesquisa com mais de 400 anos de
93
história, o investigador baseia o conhecimento unicamente nos factos observáveis e rejeita
qualquer especulação acerca das origens deste (neste caso, os estudos são realizados numa
lógica “top down”, isto é, partindo da teoria para a verificação de hipóteses); (ii) pós-
positivismo, no qual, ao positivismo, paradigma de base, foram introduzidas pequenas
alterações para dar resposta às maiores críticas que ao longo do tempo lhe foram sendo
feitas; (iii) teoria crítica, cujos temas de maior preocupação recaem sobre a justiça social, é
um paradigma que procura alargar os pontos de vista sobre o estudo das realidades sociais,
recorrendo a metodologias qualitativas e quantitativas permitindo deste modo englobar as
diversas realidades dos participantes envolvidos; e (iv) construtivismo, em que o
investigador trabalha na perspetiva “bottom up”, isto é, partindo dos dados junto dos
participantes para a construção da teoria. Os investigadores que defendem investigações
“puristas”, quer quantitativas quer qualitativas, prendem-se mais com as diferenças entre
ambas as metodologias do que com as suas semelhanças, argumentando que se trata de
metodologias incompatíveis, pois têm pressupostos ontológicos, epistemológicos e
axiológicos sobre os objetivos e natureza da investigação completamente diferentes
(Creswell & Clark, 2007; Denzin & Lincoln, 2011; Guba & Lincoln, 1994; Heron &
Reason, 1997; Johnson & Onwuegbuzie, 2004; Lincoln, Lynham, & Guba, 2011;
Onwuegbuzie & Leech, 2005). Contudo, dentro das metodologias mistas, também estão
presentes dificuldades, designadamente quanto à sua conceptualização.
Design multimétodo e design métodos mistos são designações que têm suscitado
alguma controvérsia, chegando mesmo a ser confundidas uma com a outra, pois ora têm
servido para descrever, numa mesma investigação, o uso de dois métodos quantitativos, ou
o uso separado de dois métodos, qualitativo e quantitativo, ou o uso de ambos os métodos,
quantitativo e qualitativo, pelo que, Tashakkori e Teddlie (2003), tendo como objetivo um
maior esclarecimento sobre as metodologias mistas, apresentam as seguintes designações
encontradas: (i) “matriz multitraço-multimétodo” para identificar o uso de mais do que um
método quantitativo no estudo de traços de personalidade, apresentada por Campbell e
Fiske (1959, 1998); (ii) “design multimétodo” para definir o uso de projetos quantitativos e
qualitativos, que sendo relativamente completos são usados em conjunto para organizar
componentes essenciais de um estudo (Morse, 2003); e (iii) “estratégia multimétodo” para
o uso de múltiplos métodos que se complementam, podendo a escolha recair em dois tipos
94
de métodos quantitativos, ou dois tipos de métodos qualitativos ou um método quantitativo
e outro qualitativo; neste caso, a escolha será feita pela melhor solução para o estudo em
questão, permitindo, deste modo, dar uma visão de conjunto ao estudo (Hunter & Brewer,
2003).
Segundo Creswell e Tashakkori (2007), as metodologias mistas encontram-se
organizadas segundo quatro perspetivas: (i) perspetiva centrada no método, na qual os
investigadores concebem os métodos mistos como técnicas ou métodos para recolher,
analisar e interpretar diferentes dados quantitativos e qualitativos. Trata-se de um método
que tem a sua génese nos trabalhos levados a cabo por Greene, Caracelli e Graham (1989)
sobre métodos de investigação mista, nos quais os autores apresentam a definição dos
métodos mistos como “os que incluem pelo menos um método quantitativo (projetado para
recolher números) e um método qualitativo (projetado para recolher palavras)” (p. 256); (ii)
perspetiva centrada na metodologia, em que os investigadores consideram que os métodos
mistos devem incidir sobre todo o processo de investigação, incluindo os pressupostos
filosóficos, as perguntas de base, a recolha e análise dos dados, bem como sobre a
interpretação dos resultados. São os trabalhos realizados na década de 90 no século
passado, por Tashakkori e Teddlie (1998), que suportam esta nova abordagem, apesar de
atualmente ser uma perspetiva defendida por vários investigadores (Dellinger & Leech,
2007; Johnson & Onwuegbuzie, 2004; Johnson, Onwuegbuzie, & Turner, 2007; Leech,
Dellinger, Brannagan, & Tanaka, 2010): “Mixed methods research is formally defined here
as the class of research where the researcher mixes or combines quantitative and qualitative
research techniques, methods, approaches, concepts or language into a single study”
(Johnson & Onwuegbuzie, 2004, p.17); (iii) perspetiva centrada no paradigma, segundo o
qual os investigadores argumentam que as metodologias de investigação mistas implicam
não tanto o método ou processo de investigação, mas mais a forma como a realidade é
observada e os pressupostos filosóficos que lhe estão inerentes. Trata-se de uma perspetiva
transformativa que incide preferencialmente nas questões relacionadas com a justiça social.
Segundo esta perspetiva um pesquisador pode começar com uma pesquisa quantitativa
(abraçando uma perspetiva pós-positivista) para responder a uma pergunta de pesquisa de
âmbito quantitativo e de seguida passar para uma recolha de dados utilizando métodos
qualitativos (abraçando uma perspetiva construtivista) para obter uma resposta a uma
95
questão qualitativa. Os estudos realizados segundo esta perpetiva tornam-se mais
abrangentes, na medida em que é a partir de múltiplas visões do mundo e de diferentes
perspetivas, dinâmica imposta pela comparação e reflexão dos contrastes das inferências
que emergem da análise das conclusões, que se obtêm as respostas às questões de partida
(Greene, 2006; Morgan, 2007; Mertens, 2007):
“New paradigms offer new ways to think about the world—new questions to ask
and new ways to pursue them. This is the essential nature of paradigms as
“worldviews,” and those of us who value the possibilities that come from combining
qualitative and quantitative methods need to promote a worldview that encourages
others to share our beliefs” (Morgan, 2007, p.73);
(iv) e perspetiva centrada na prática, na qual os investigadores veem as metodologias de
investigação mistas como um conjunto de procedimentos que podem utilizar quando
conduzem os seus estudos. O investigador trabalha numa lógica “bottom up”, partindo dos
dados obtidos junto dos participantes para a construção da teoria.
Assumindo a definição apresentada por Johnson e colaboradores (2007) sobre os
métodos mistos na convergência das abordagens quantitativa e qualitativa, e considerando
que a investigação no âmbito da excelência está associada a uma multiplicidade de
variáveis, optámos por um design de investigação misto na medida em que esta será uma
abordagem mais integradora que nos permitirá um entendimento mais abrangente e uma
melhor compreensão das questões de partida formuladas. Por outro lado, tomando como
referência a classificação sobre os possíveis designs de investigação, sugerida por Creswell
et al. (2003, 2007, 2008), considerámos que a melhor forma para compreender o fenómeno
da excelência na gestão se enquadraria num design integrado (embedded design). Trata-se
de um design usado quando uma investigação necessita de responder a dois tipos de
perguntas diferentes, que requeiram dados quantitativos e qualitativos, e que tem como
objetivo integrar diferentes fontes de informação, de modo a alcançar maior profundidade e
riqueza de informação. Por outro lado, os dados obtidos com um dos métodos serve
também para clarificar alguns dados obtidos com o outro método. Com um design
integrado, a combinação das duas metodologias permite o levantamento de novas questões
e a reflexão sobre as relações e a integração de ambas as fontes de informação. Como refere
Morse (1991), uma investigação cuja base metodológica seja um estudo qualitativo pode
sempre ser enriquecida se nela se incorporar alguns dados quantitativos (p. 122).
96
Para Creswell et al. (2003, 2007, 2008) apesar do design integrado suscitar algumas
limitações, uma vez que os dois métodos utilizados apresentam pesos diferentes - o que
poderá ser uma desvantagem na interpretação dos resultados finais, ou o modo como
resolver possíveis discrepâncias que surjam nos resultados, exigindo um maior esforço por
parte do investigador para estudar adequadamente um fenómeno utilizando dois métodos
distintos, salientam-se grandes vantagens. São de destacar as seguintes: (i) ambos os tipos
de dados podem ser analisados separada e independentemente, utilizando as técnicas de
análise associadas a cada um deles; (ii) os dados qualitativos e quantitativos são recolhidos
numa única fase; (iii) durante a interpretação o investigador promove a convergência dos
resultados congregando assim as vantagens de ambos os dados quantitativos e qualitativos;
e (iv) o pesquisador tem a oportunidade de obter perspetivas diferentes através dos
diferentes tipos de dados recolhidos:
“The embedded design offers a researcher a number of advantages as a mixed
methods approach. For one, because the study is guided by a larger methodology,
such as an experimental design, it can be appealing to those new mixed methods
because it can employ a familiar design. In addition, the emphasis on one data type
makes this design more logistically manageable because the other date type receives
lesser priority. Therefore this design can be a good choice if time and resources are
limited” (Clark, Creswell, Green, & Shope, 2008, p.374).
Tendo como base os objetivos definidos e recorrendo a um design integrado neste
nosso estudo empírico, procurámos explorar e analisar dados de diferentes formas. São as
grandes vantagens que as metodologias mistas nos oferecem, como a complementaridade
dos pontos de vista de um mesmo fenómeno, a possibilidade de obter uma visão mais
completa e com mais detalhes, a possibilidade de expandir e diversificar os conceitos
inerentes a um mesmo fenómeno ou a compensação, através da qual se procura resolver os
resultados contraditórios identificados numa investigação (Clark et al., 2008; Creswell,
2003; Greene et al., 1989; Rossman & Wilson, 1991; Tashakkori & Teddlie, 2003).
No presente estudo, a combinação dos dados qualitativos com os dados
quantitativos teve como objetivo integrar diferentes fontes de informação de modo a torná-
lo mais completo e com uma maior riqueza de informação. Através das questões que
emergirem com os dados recolhidos nas entrevistas poderemos confrontar os principais
resultados quantitativos e explorar novas questões de investigação. Posteriormente,
97
procederemos a uma integração global dos dados, seguida de uma discussão tendo como
base a literatura sobre o fenómeno da excelência.
Participantes
Considerando a revisão de literatura feita anteriormente sobre as características
psicológicas e os percursos profissionais de indivíduos de desempenho excelente,
escolhemos abordar o contexto de realização da gestão, tendo a consciência que vivemos
numa época em que, cada vez mais, a dimensão estratégica da inovação, da criatividade, do
conhecimento e da excelência são vistas como a pedra angular de um novo modelo
estratégico de desenvolvimento e que desempenham um papel fundamental no atual
contexto de uma Economia Global. Contudo, sentimos algumas dificuldades na escolha da
temática, dado que a investigação de âmbito psicológico no domínio da excelência na
gestão é bastante escassa, particularmente em Portugal, e os artigos de investigação
debruçam-se essencialmente sobre os aspetos teóricos que a temática envolve. No que diz
respeito aos critérios de avaliação e identificação dos sujeitos com alto desempenho,
poderemos encontrar autores, mais ligados às abordagens da sobredotação na infância e
adolescência, que preferencialmente defendem a avaliação da excelência com a utilização
de medidas sobre as capacidades cognitivas (Gagné, 2007; Renzulli, 1986), mas também
encontramos autores que consideram imprescindível outras medidas, como a motivação, a
personalidade ou até mesmo os fatores ambientais ou as atividades promovidas pelos
sujeitos com impacto na sociedade (Abdolmohammadi & Shanteau, 1992; Freeman &
Guenther, 2000; Schoon, 2000; Shanteau, 1992; Shanteau, Weiss, Thomas, & Pounds,
2002; Sternberg, 1985; Streznewski, 1999). Tendo em consideração os objetivos do nosso
estudo e assumindo que a prática deliberada é de grande importância para que o sujeito
possa atingir níveis de excelência, tornando-se no motor que o leva ao compromisso com
atividades específicas, realizadas numa prática consistente e diária e que a relação direta
entre o tempo de treino acumulado e o desenvolvimento de um desempenho superior está
presente na “regra dos 10 anos” (Ericsson, 1998; Ericsson & Charness, 1994; Ericsson,
Krampe, & Tesch-Romer, 1993; Ericsson & Lehmann, 1996), definimos que a nossa
amostra deveria ser constituída por três grupos de participantes: gestores em início de
98
carreira (até 10 anos de função exercida na área de gestão), gestores em exercício pleno nas
suas funções de gestor(a) (entre 11 a 24 anos de função exercida na área de gestão) e
gestores em final de carreira (com mais de 25 anos de função exercida na área de gestão),
obtendo assim uma panorâmica de percursos profissionais desde o seu início até à idade da
reforma. Tendo em conta o que alguns autores referem sobre o fenómeno da excelência,
que por definição abarca um número reduzido de sujeitos - designadamente Gagné (2007)
que defende a teoria “Little-room-at-the top”, e como definimos nos nossos objetivos o
estudo das diferenças interindividuais neste grupo profissional, de acordo com as
recomendações de alguns autores optámos por uma amostragem do tipo homogéneo, cujo
método de seleção dos participantes tem por base a unidade de características específicas de
um grupo (Collins, Onwuegbuzie, & Jiao, 2007; Onwuegbuzie & Collins, 2007;
Onwuegbuzie & Leech, 2005, 2007a).
Dado que no presente estudo pretendíamos cruzar intraindividualmente dados
qualitativos com dados quantitativos, optámos por utilizar os mesmos participantes para as
duas partes do estudo, qualitativa e quantitativa. Os critérios adotados na seleção da
amostra foram os seguintes: (i) gestores de diferentes faixas etárias, de desempenho
superior, reconhecidos pelos seus pares; (ii) idade dos participantes compreendida entre os
25 e os 65 anos; (iii) participantes do sexo feminino e do sexo masculino, respetivamente
em 50% para cada grupo definido; (iv) participantes gestores de grandes empresas e
empresários gestores, respetivamente em 50% para cada grupo definido; (v) atividades
promovidas pelos participantes com impacto na sociedade; e (vi) capacidade demonstrada
em liderar pessoas, com entusiasmo e criatividade.
A identificação dos participantes do estudo passou pela discussão, com um painel de
experts de associações específicas, num primeiro momento, sobre o perfil do gestor que
gostaríamos de entrevistar e, num segundo momento, a identificação dos possíveis
participantes a contactar. A nomeação consensual pelos pares é uma estratégia
metodológica utilizada na identificação e avaliação do indíviduos com alto desempenho em
diferentes domínios de realização; apesar de algumas críticas, que focam essencialmente o
enviesamento das escolhas proferidas pelos pares, os autores reconhecem que se trata de
uma estratégia adequada no âmbito da excelência (Heinze, Shapira, Senker, & Kuhlmann,
2007; Shanteau et al., 2002; Zanotto, 2006). Posteriormente, através dos media, procurámos
99
recolher dados sobre atividades com impacto na sociedade, promovidas por alguns dos
participantes identificados, designadamente os empresários gestores, já que para os outros
gestores a recolha de informação sobre atividades com impacto na sociedade torna-se mais
difícil. Assim, o grupo ficou constituído por uma amostra intencional de 14 gestores e
empresários gestores de alto desempenho.
Para além dos aspetos relacionados com os critérios de seleção dos participantes e a
dimensão da amostra, será relevante referir as dificuldades com que nos deparámos, face ao
pedido de colaboração, totalmente voluntário, num estudo que abrangia uma entrevista e o
preenchimento de quatro questionários, exigindo deste modo uma disponibilidade de cerca
de duas horas, num grupo profissional cuja gestão do tempo é extremamente rigorosa.
Também o próprio teor da entrevista, uma retrospetiva sobre o percurso pessoal, académico
e profissional do participante, carrega algum peso na decisão face a aceitar colaborar num
estudo académico. Após o estabelecimento de um contacto inicial e pessoal, via telefone
e/ou via e-mail com os próprios, explicámos aos participantes os objetivos do projeto de
investigação em causa, salientando a importância da sua colaboração e que toda a
informação recolhida seria tratada de forma anónima e confidencial, cumprindo desta forma
os princípios éticos da confidencialidade e consentimento que regem a investigação
científica (Cannella & Lincoln, 2011; Christians, 2011; Flick, 2014; Kvale, 1996; Patton,
2015). Dado que as entrevistas iriam ser gravadas assegurámo-nos também do
consentimento por parte dos participantes para o uso da gravação. Depois de cada gestor ter
aceite participar voluntariamente no estudo, procedemos à marcação de um dia para a
realização de respetiva entrevista e entrega dos questionários. O dia e local da entrevista
foram marcados de acordo com a disponibilidade e interesse dos gestores. Na tabela 3.1
descrevemos os participantes deste estudo no que respeita às suas características gerais.
100
Tabela 3.1
Descrição dos Participantes
Part. Idade Sexo Formação académica Anos de gestão Tipo de gestão Tipo de empresa
A 45 F Direito 4 Gestor Media
B 60 F Serviço Social 26 Gestor Media
C 25 F Design 3 Empresário-
gestor
Micro
D 39 F Engenharia 14 Empresário-
gestor
Pequena
E 60 F Serviço Social 25 Empresário-
gestor
Pequena
F 35 M Marketing 4 Empresário-
gestor
Micro
G 36 M Engenharia 13 Empresário-
gestor
Media
H 63 M Medicina 35 Empresário-
gestor
Grande
I 58 M Linguas e
Literaturas
26 Gestor Grande
J 47 M Marketing 19 Gestor Media
K 44 M Direito 10 Gestor Grande
L 55 F Engenharia 28 Gestor Grande
M 55 F História 19 Gestor Grande
N 41 F Sociologia 3 Gestor Grande
101
Instrumentos
O presente estudo recorreu a dois métodos de recolha de dados, designadamente,
num primeiro momento, a entrevistas qualitativas semiestruturadas, que tiveram como
objetivo compreender o percurso dos gestores, as suas caraterísticas de personalidade e
competências psicológicas, a influência de alguns fatores ambientais e contextuais e ainda a
influência de fatores de prática no seu alto desempenho, e, num segundo momento, à
administração de versões adaptadas e validadas para a língua portuguesa e para o grupo
profissional de gestores (Martins, Araújo, & Almeida, 2014, 2015). Deste modo, foram
utilizados os seguintes instrumentos: Passion Toward Work Scale (PTWS – Escala da
Paixão pelo Trabalho; Vallerand & Houlfort, 2003), Political Skill Inventory (PSI –
Inventário de Competências de Gestão Interpessoal; Ferris et al., 2005), Satisfation With
Life Scale (SWLS – Escala de Satisfação com a Vida; Diener, Emmons, Larsen, & Griffin,
1985) e a Core Self-Evaluations Scale (CSES - Escala de Constructos Centrais ao Self;
Judge, Erez, Bono, & Thoresen, 2003). Estes instrumentos avaliam diferentes
características e competências psicológicas associadas à excelência e ao sucesso,
designadamente: a paixão pelo trabalho (PTWS); a perspicácia social, a influência
interpessoal, a capacidade para estabelecer redes de relacionamento profissional, e a
sinceridade genuína enquanto competências de gestão interpessoal (PSI); o grau de
satisfação com a vida (SWLS); e quatro traços básicos de personalidade - autoestima,
autoeficácia, neuroticismo e locus de controlo, enquanto expressão de um traço latente de
ordem superior ou mais geral (constructos centrais ao self; CSES).
Estudo Qualitativo
São diversos os autores que muito têm escrito sobre os procedimentos
metodológicos que o investigador deverá seguir, com vista a assegurar o rigor necessário
para as suas pesquisas, designadamente sobre os instrumentos a utilizar e sobre os
diferentes procedimentos de precisão e validade que cada metodologia exige, dado que
cada uma delas apresenta as suas idiossincrasias. Na revisão de bibliografia realizada
102
encontrámos diversos artigos sobre a precisão e validade, quer no âmbito das metodologias
quantitativas (e.g., Cronbach, 1989; Moss, 1992, 1994, 1995; Standards for Educational
and Psychological Testing, 2014), quer no âmbito das metodologias qualitativas (e.g., Cho
& Allen, 2006; Guba, 1981; Hill et al., 2005; Lincoln, 2002; Lincoln, Lynham, & Guba,
2011; Morse, Barret, Mayan, Olson, & Spiers, 2002; Onwuegbuzie & Leech 2007b; Pyett,
2003; Tobin & Begley, 2004; Whittemore, Chase, & Mandle, 2001), quer no âmbito das
metodologias mistas (e.g., Creswell & Clark, 2007; Creswell & Miller, 2000; Onwuegbuzie
& Johnson, 2006; Pluye, Gagnon, Griffiths, & Johnson-Lafleur, 2009; Teddlie &
Tashakkori, 2009). Particularmente na investigação com base em metodologias mistas,
dada a especificidade das técnicas e dos dados com que se trabalha, exige-se, por parte dos
seus investigadores, rigor nos detalhes face à recolha dos dados e aos processos de análise,
mas também vigilância face ao aparecimento de eventuais incoerências (os chamados casos
negativos ou as inconsistências entre dados qualitativos e quantitativos), permitindo deste
modo um futuro aprofundamento do fenómeno em estudo. Para Patton (1999) a
credibilidade dos estudos qualitativos depende de três elementos, que embora distintos se
relacionam entre si: (i) as técnicas e métodos para a recolha de dados têm que apresentar
elevada qualidade devendo ser rigorosamente analisados, no âmbito da validade, precisão e
triangulação; (ii) o pesquisador, dependendo da sua formação, deverá apresentar
experiência relevante para levar a cabo o estudo; (iii) a metodologia qualitativa, desde os
seus princípios filosóficos, técnicas de pesquisa naturalísticas, análise indutiva e
pensamento holístico, têm que estar bem presentes ao longo de todo o processo de
investigação (p. 1190).
Como referem Denzin e Lincoln (2000, 2005), no paradigma das metodologias
qualitativas, o foco principal está centrado nos investigadores pois são eles os responsáveis
por reter autenticamente as experiências vividas de pessoas:“Qualitative researchers can no
longer directly capture lived experience. Such experience, it is argued, is created in the
social text written by the researcher. This is the representational crisis. It confronts the
inescapable problem of representation, but does so within a framework that makes the
direct link between experience and text problematic” (Denzin & Lincoln, 2000, p.19).
Relativamente aos critérios de validade e precisão, sob o conceito de confiabilidade,
vários autores desenvolveram diversos critérios para demonstrar o rigor, a legitimidade e a
103
confiabilidade da pesquisa qualitativa, desenvolvendo variadas orientações estratégicas,
designadamente no que diz respeito ao rigor da amostragem, à recolha dos dados e à sua
análise (Denzin,1994; Denzin & Lincoln, 2005; Guba & Lincoln, 1981, Lincoln & Guba,
1985; Mason, 2002; Merrick, 1999; Morse et al. 2002; Onwuegbuzie & Leech, 2007a). A
triangulação de dados, de métodos, de teorias ou de investigadores, a procura de casos
negativos, a revisão por pares ou o uso da descrição densa são as técnicas mais abordadas
(Creswell & Clark, 2007; Creswell & Miller, 2000; Flick, 2014; Geertz, 1973; Morse,
1991; Leech & Onwuegbuzie, 2007; Onwuegbuzie & Johnson, 2006; Onwuegbuzie &
Leech, 2007b; Ponterotto, 2006).
No presente estudo, seguindo as recomendações de diversos autores (Creswell &
Miller, 2000; Flick, 2014; Onwuegbuzie & Johnson, 2006; Onwuegbuzie & Leech, 2007b;
Patton, 1999; Pyett, 2003; Richards, 2015; Whittemore et al., 2001), relativamente aos
critérios de validade e precisão, recorremos a vários tipos de triangulação (Creswell &
Miller, 2000; Onwuegbuzie & Leech, 2007b; Patton, 1990; Richards, 2009; Whittemore et
al., 2001): (i) triangulação teórica face à análise e interpretação dos dados pois foram
cruzados diversos modelos teóricos; (ii) triangulação de metodologias, pois foram usados
múltiplos métodos para o estudo do fenómeno da excelência; (iii) triangulação de dados,
pois foram usadas diferentes fontes de dados; e (iv) triangulação de investigadores, pois
recorremos a diferentes codificadores na fase inicial do processo de análise de conteúdo e
de testagem da grelha de codificação. Assim, procurámos reforçar a credibilidade, isto é, a
capacidade dos resultados reproduzirem o ponto de vista dos participantes e também os
fenómenos em estudo, a consistência, ou seja, a capacidade de se alcançarem os mesmos
resultados, mesmo que o estudo fosse conduzido por outros investigadores e a
aplicabilidade ou confirmabilidade ou seja, a capacidade de outros investigadores
confirmarem as construções do investigador (Coutinho, 2008; Lincoln, Lynham, & Guba,
2011). Pretendendo atingir a maior profundidade e rigor possíveis na análise qualitativa dos
dados e na sua apresentação, procurámos realizar uma exploração dos mesmos mantendo
um envolvimento prolongado e uma observação constante e consistente (Onwuegbuzie &
Leech, 2007b; Patton, 1999; Schilling, 2006; Whittemore et al., 2001), embora por vezes
com algum distanciamento para olhar os dados de uma outra forma e poder detetar quer
contrastes, quer concordâncias (Onwuegbuzie & Leech, 2007b; Richards, 2009; Schilling,
104
2006). Procurámos também apresentar informação detalhada acerca dos participantes, dos
critérios de identificação e de seleção, de modo a facilitar a transferibilidade e comparação
com outros contextos e estudos. Recorrendo ao apoio de pares, ao longo das várias etapas
do estudo, designadamente aquando da elaboração dos critérios de seleção dos
participantes, elaboração do guião da entrevista e organização das categorias de análise dos
textos, procurámos fomentar momentos de discussão e de análise (Creswell & Miller, 2000;
Onwuegbuzie & Leech, 2007b; Patton, 1999; Richards, 2009; Schilling, 2006; Whittemore
et al., 2001).
Em relação à estratégia utilizada para a recolha dos dados qualitativos, optámos pela
entrevista retrospetiva. A entrevista retrospetiva surge como a estratégia mais escolhida nos
estudos que têm por base metodologias qualitativas, sendo considerada como aquela que
permite um melhor e mais aprofundado conhecimento sobre o fenómeno em estudo
(Bogdan & Biklen, 1994, 2003; Creswell, 2013; Rapley, 2004; Silverman, 2013; Sosniack,
2006). São diversos os autores que enumeram os aspetos positivos das entrevistas
retrospetivas dando enfase à sua capacidade de explorar tópicos relativamente pouco
explorados, permitindo deste modo uma compreensão do mundo através dos olhos dos seus
intervenientes e das experiências que relatam, mais do que pelas análises científicas que o
investigador possa fazer: “The interview is a stage upon which knowledge is constructed
through the interaction of interviewer and interviewee roles” (Kvale, 1996, p.127).
Também no estudo da excelência a entrevista retrospetiva tem sido utilizada, como
foi o caso da investigação levada a cabo por Anne Roe (1952) com os cientistas mais
notáveis, de Bloom (1985) com um grupo de jovens adultos talentosos, com idades até aos
35 anos, em diversas áreas profissionais (matemática, natação, ténis, música, escultura e
investigação), de Kreiner-Phillips e Orlick (1993) com desportistas de alta competição e de
Subotnik, Kassan, Summers e Wasser (1993) que estudaram a vida adulta de sujeitos que
foram sinalizados como sobredotados em crianças. Sosniak (2006), numa reflexão sobre a
utilização da entrevista retrospetiva, refere que se trata de um método previlegiado, embora
com algumas limitações, no estudo da excelência, permitindo investigar questões sobre a
expertise que com outros métodos seria impossível realizar (p.292). Kvale (1996) considera
a entrevista como a matéria-prima de todo um processo metodológico, pelo que, a
qualidade da entrevista original é decisiva para a qualidade de todo um trabalho realizado
105
posteriormente. Para que esta mantenha os níveis de qualidade adequados, definiu um
conjunto de seis recomendações fundamentais que deverão estar presentes na condução de
uma entrevista retrospetiva: (i) obter do entrevistado o maior nível de espontaneidade,
riqueza e relevância das respostas dadas; (ii) potenciar perguntas curtas para obter respostas
longas; (iii) seguir a entrevista com o máximo de atenção e esclarecer o significado de
aspetos relevantes; (iv) elaborar as melhores interpretações tornando a entrevista real na
entrevista ideal; (v) verificar no decorrer da entrevista as suas interpretações face às
respostas dadas pelo entrevistado; (vi) atender ao critério de que a entrevista é uma
“autocomunicação”, e como tal é uma história contada na primeira pessoa que, quase
nunca, requer descrições extras ou explicações.
Poderemos, então, concluir que a entrevista retrospetiva, não só é um instrumento
utilizado na investigação na área das ciências sociais e comportamentais, como apresenta
qualidades fundamentais em estudos no âmbito da excelência, permitindo uma
compreensão profunda e rigorosa da temática. Contudo, como qualquer método, apresenta
as suas limitações. No presente estudo, como pretendemos identificar diferenças
intraindividuais ao longo dos percursos profissionais dos sujeitos, estas dificuldades
poderão estar relacionadas com o discurso dos entrevistados, no qual as vivências passadas
poderão estar mescladas com as do presente e, como tal, ser necessário, em momentos de
dúvida, clarificar os conteúdos e os momentos em que foram vividos. Considerámos que,
por questões de controlo de qualidade, as primeiras duas entrevistas serviriam para testar o
respetivo guião e proceder a eventuais alterações para, posteriormente, ser utilizado com os
restantes 12 entrevistados, sendo também o ponto de partida de uma análise dedutiva e
indutiva, para a elaboração de categorias e subcategorias através dos textos obtidos. Por
último, dado que o nosso objetivo era obter entrevistas abertas, com a possibilidade de
explorar as características psicológicas dos entrevistados, assim como as suas competências
profissionais, optámos por realizar as entrevistas antes do preenchimento dos questionários,
evitando deste modo possíveis influências em termos dos conteúdos abordados nos itens
das escalas utilizadas.
106
O Guião
O guião da entrevista, apresentado na tabela 3.2, foi definido a partir de um modelo
inicial desenvolvido e publicado por Araújo, Cruz, e Almeida (2010), que resultou de uma
revisão dos guiões de entrevista publicados por outros investigadores na área da excelência
em diversos contextos de realização. Procedemos às necessárias adaptações tendo em conta
as próprias questões de investigação do nosso estudo e as especificidades do contexto
empresarial. Posteriormente foi avaliado por um grupo de psicólogos, que se pronunciaram
sobre a clareza das questões e a adaptação das mesmas ao público-alvo, como recomendado
por Whittemore et al. (2001). A versão utilizada é composta por oito grandes tópicos: (i)
Percurso formativo; (ii) Desempenho atual; (iii) Envolvimento na tarefa; (iv)
Características pessoais; (v) Figuras de referência ao longo do percurso; (vi) relações
interpessoais; (vii) Relação com a comunidade empresarial; e viii) Projetos e ambições no
futuro. Para além destes tópicos, no final da entrevista, questionámos os participantes
acerca de outros temas que não tivessem sido abordados e que considerassem relevantes
para uma melhor compreensão do seu desempenho. A nossa opção por uma entrevista
semiestruturada, com vista à obtenção de um maior rigor no presente estudo qualitativo,
prendeu-se com dois grandes objetivos: (i) assegurar alguma estandardização de
procedimento, ao longo da realização de todas as entrevistas, evitando desta forma
possíveis enviesamentos; (ii) obter o máximo de dados, mas dando liberdade de discurso
aos participantes, permitindo desta forma o desenvolvimento de narrativas próprias sobre a
história de vida de cada um deles. Embora o guião tenha sido construído de modo a
explorar todos os aspetos que na literatura se encontram relacionados com a excelência e
tenha sido utilizado com todos os participantes, dado tratar-se de uma entrevista
semiestruturada, a sua utilização não foi rígida no que respeita à colocação das questões, até
porque muitas vezes os participantes falavam de temas que eram alvo de questões a abordar
posteriormente ou até mesmo surgiam novos temas que induziam à colocação de novas
questões (Patton, 1999).
107
Tabela 3.2
Guião da Entrevista
Tópicos Exemplos de Questões Informação pretendida
Legitimação da
entrevista
- Informar em linhas gerais acerca dos objetivos do
estudo e reforçar a importância da colaboração do
participante;
- Dar uma perspetiva global dos tópicos a abordar;
- Assegurar a confidencialidade dos dados
- Pedir autorização para gravação
Introdução-
interesse pela
área
O interesse pela gestão empresarial é algo recente ou já vem
da infância/ adolescência?
O que o levou a começar a dedicar-se a esta área?
O que o fascina na gestão empresarial?
Iniciar a abordagem geral do percurso do
participante na área da gestão
Percurso
Formativo
Fale-me um pouco de como foram feitas as escolhas ao
longo do seu percurso académico.
Em que medida o seu percurso formativo, contribuiu para o
desenvolvimento dos seus interesses nesta área?
Qual foi a mais-valia que trouxe da sua formação para a
função que desempenha?
O que é que um gestor de sucesso deve fazer para se manter
sempre bem atualizado?
Explorar experiências significativas ao longo do
percurso de formação, nomeadamente:
- Oportunidades de desenvolvimento dos interesses;
- Fatores de consolidação da área.
Experiencia
profissional
Ao longo do seu percurso, que momento o marcou mais?
Qual o significado desse momento para si? O que
aconteceu? Esse momento teve algum impacto na sua
carreira? Em que sentido? Provocou algum tipo de
Experiência profissional:
- Momentos marcantes/incidentes críticos;
- Barreiras e dificuldades;
- Fatores no desempenho da função.
108
mudança?
Lembra-se de algumas dificuldades ou barreiras com que se
deparou no seu percurso profissional? Que significado
tiveram para si? Como lidou com elas?
Que significado tiveram na sua vida as experiências que
adquiriu ao longo da sua carreira profissional, inclusive
noutras empresas?
Quais são os fatores que mais influenciam o trabalho de um
gestor empresarial?
- Experiências adquiridas ao longo da carreira
Desempenho
Atual
Falando um pouco mais especificamente da sua atividade
atual, pode descrever-me uma semana típica de trabalho?
Quantas horas trabalha por dia? Como gere o tempo? Tem
rotinas? Quais? Como “funcionam”? Que estratégias utiliza
para rentabilizar o tempo?
Em que outras atividades (profissionais e de lazer) se
envolve de forma regular ou seja algum tempo por semana?
De que forma contribuem para a sua atividade profissional?
Para si um bom desempenho implica que competências?
Lembra-se de alguma oportunidade que tenha transformado
numa boa prática para a sua empresa?
No seu quotidiano decerto que lhe surgem situações
imprevistas. Como lida com essas situações?
Considera que foi beneficiado com oportunidades que lhe
foram surgindo na sua carreira? De que modo?
Explorar as particularidades associadas a atividade
principal na atualidade, nomeadamente no que se
refere a:
- aspetos relativos a pratica deliberada
- estratégias de autorregulação
- organização e gestão do tempo
- sorte/oportunidades
- aspetos de planeamento
- ver ainda atividades circundantes
Envolvimento
numa tarefa –
Imaginando que tem um trabalho/tarefa muito importante
para apresentar, de que forma o prepara? O que é importante
Explorar especificidades associadas a resolução de
problemas e ao processo de realização de uma
109
pratica - processo para garantir que o seu desempenho é eficaz? Pode descrever
uma situação?
Que tipo de objetivos estabelece? De processo? De
resultado?
Pode dar um exemplo de uma situação em que os objetivos
tenham sido claramente definidos e atingidos?
Como reage quando os seus objetivos não são atingidos,
quando se confronta com “insucessos”? Pode dar exemplo
de alguma situação?
O que é que o faz “envolver-se”? O que é importante para o
manter focado na tarefa? O que e que o entusiasma? O que o
ajuda a concentrar?
O que o distrai? O que faz para lidar com as distrações?
Pensando em algumas situações que lhe provocam stress,
ansiedade, (pressão) consegue descrever algumas? Como
lida com essas situações?
A ansiedade tem um impacto negativo ou positivo no seu
desempenho? Que estratégias utiliza?
Qual o papel do prazer/paixão na forma como desenvolve o
seu trabalho?
Como lida com desafios, ou situações que manifestem algum
grau de risco e/ou imprevisibilidade?
Face aos desafios que tem tido ao longo da sua carreira,
consegue identificar qual o seu melhor e pior momento?
Que impacto tiveram no desenvolvimento do seu trabalho?
As mudanças e as evoluções no mundo dos negócios são
tarefa/atividade
- Concentração
- Distração
- Ansiedade e stress (copying; inteligência
emocional)
- Prazer/Paixão
- Objetivos
- reforço posterior
- autorregulação
- metacognição
- gestão de stress
- liderança e dinâmica de grupos
110
constantes. Que fatores são necessários para o gestor
acompanhar essas mudanças?
Que fatores são imprescindíveis para um gestor manter a sua
excelência e a da sua empresa no mercado atual?
Muitas pessoas dizem que se tentarem bastante, conseguem
resolver sempre os problemas difíceis. O que é que
acrescentaria a esta afirmação?
Alguns autores defendem que a sorte também tem algum
papel no percurso de excelência? O que pensa em relação a
isso.
Características
pessoais
Quais as características pessoais que considera terem sido
importantes para o seu sucesso?
Reconhecendo que se destaca em relação aos colegas da
mesma área, que características o diferenciam?
As qualidades que estão presentes no desenvolvimento do
seu trabalho (definição de objetivos, perfeccionismo,
autorregulação…), estão também presentes noutros
contextos da sua vida? De que forma se manifestam?
É fácil para si, agarrar-se às suas convicções para atingir os
seus objetivos?
De que modo o contributo social está presente na função que
desempenha?
Alguma vez lhe atribuíram uma “alcunha”? Ou uma
“Imagem de marca”?
“O gestor empreendedor é quem acompanha o mercado e
não o mercado que acompanha o gestor empreendedor”.
Procurar singularidades no que se refere a
características psicológicas:
- personalidade
- perfeccionismo
- curiosidade
- autonomia
- independência
- determinação
- interesses
- competitividade
- abertura à experiencia
- altruísmo
111
Que comentários gostaria de fazer a esta afirmação.
Que traços considera imprescindíveis para que um gestor se
torne num líder?
Figuras de
referência
Que pessoas tiveram um impacto significativo na sua vida?
(positivo ou negativo)
Que características identifica nessas pessoas que o
marcaram?
Consegue explicar por que razão tiveram impacto no seu
percurso?
Em que aspetos, domínios da sua vida tiveram impacto?
Identificar pessoas significativas no seu percurso,
que contribuíram para o desenvolvimento da
excelência, explorando nomeadamente:
- De que foram marcaram o seu
Percurso (funções)
- As características dessas pessoas que o
influenciaram
- As áreas que tiveram apoio positivo ou negativo
Relações
Interpessoais
Em gestão empresarial fala-se muito em comunicação
estratégica. Para si, qual a principal importância desta
ferramenta?
Cada vez mais as empresas pretendem captar jovens talentos
para integrar as equipas de trabalho. Neste contexto o que
mais valoriza para fazer essa seleção?
Como define a relação entre a empresa, os seus clientes e
seus colaboradores?
Ao longo do seu percurso, com certeza terá encontrado
situações de “pressão” por parte dos pais, familiares,
professores, ou amigos. Pode descrever alguma situação?
Como foram geridas essas “pressões percebidas”? Que papel
tem (ou tiveram) no seu percurso?
E ao longo da sua carreira certamente também viveu
situações “de pressão” por parte de colegas ou superiores.
Pode descrever alguma situação?
Explorar como processa a comunicação estratégica
numa empresa.
Explorar as características interpessoais dos
elementos de uma equipa de trabalho.
Explorar particularidades relativas a:
- Rede de apoio social
- Sacrifícios sociais e familiares
- “Pressão” por pares, familiares e colegas de
trabalho
112
Como foram geridas essas “pressões percebidas”? Que papel
tem (ou tiveram) no seu percurso?
Também, certamente, ao longo do seu percurso viveu
situações de apoio dos pais, familiares, professores e amigos.
Pode descrever alguma situação?
E em contexto profissional viveu também alguma situação
de apoio por parte dos seus colegas ou superiores?
Como foi construído o seu grupo de amigos?
Esse(s) grupos(s) de amigo(s) partilham os mesmos
interesses ou tem outras características?
Como equilibra as relações sociais (amigos, família,
namorado/ marido) com a atividade profissional?
Relação na
Comunidade
Empresarial
Como se sente em relação à equipa a que pertence? Sente
incentivo, valorização… ou pelo contrário… algumas
barreiras?
Como qualificaria o seu desempenho na comunidade
empresarial de que faz parte?
Nos tempos que decorrem qual o maior desafio para um
gestor empresarial?
Explorar o valor social do trabalho realizado dentro
da respetiva comunidade profissional.
Tipos de valorizações:
- Competição
- Cooperação
Clima da empresa ou unidade orgânica, cultura da
empresa.
Projetos e
ambições
Quais são os seus objetivos atuais? E para o futuro?
Que projetos gostaria ainda de vir a desenvolver na sua área
profissional?
E fora da sua área profissional?
Numa frase poderia descrever como se vê no futuro?
Explorar as ambições e projetos futuros, na área e
fora da área profissional.
Adaptada de “A entrevista no estudo da excelência: uma proposta” (Liliana S. Araujo, José Fernando A. Cruz, & Leandro S. Almeida, 2011)
113
A Análise dos Dados Qualitativos
Na literatura, encontramos duas abordagens gerais de análise de conteúdo. Uma
é mais quantitativa (Bardin, 2014; Berelson, 1971; Kohlbacher, 2006; Krippendorf,
1967, 1980, 2003; Weber, 1990), traduzindo-se essencialmente por um processo de
codificação rigoroso, na qual o texto é reduzido segundo formas estandardizadas através
de processos dedutivos de identificação de categorias e respetiva análise de frequências,
tal como é definida por Bardin (2014):“A análise de conteúdo aparece como um
conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (p.44). A outra é
mais qualitativa, privilegiando processos indutivos de análise dos dados, através da
identificação de temas ou dimensões a partir do texto, relacionadas entre si ou com
modelos teóricos a posteriori (Carley, 1990; Glaser & Strauss, 2006; Graneheim &
Lundman, 2004; Kohlbacher, 2006). No primeiro caso, as diferentes possibilidades
analíticas tomam corpo através da análise temática (divisão do texto em temas
principais), da análise sequencial (divisão do texto em sequências), da análise das
oposições (divisão do texto em opostos), da análise da enunciação (leitura na base da
“maneira de dizer”) ou de uma análise das caraterísticas associadas ao tema central.
Contudo, em todas elas está sempre presente uma análise sistemática do texto, focada
essencialmente nos seus aspetos quantificáveis (Bardin, 2014; Wilkinson, &
Birmingham, 2003). Pela voz de Michelat (1975) surgem as maiores críticas que os
investigadores qualitativos, no âmbito das ciências sociais e comportamentais, fazem
aos procedimentos desta metodologia, designadamente tratar-se de uma análise
redutora, vítima do seu próprio paradoxo: “pretender utilizar a singularidade individual
para alcançar o social, deixando deste modo, de preservar a equação particular dos
indivíduos, ao se fazer a síntese da totalidade dos dados” (pp. 234-235). No segundo
caso, a análise de conteúdo emerge pelas mãos dos investigadores qualitativos,
“centrada na riqueza dos dados verbais e na descrição da sua complexidade única”
(Wilkinson & Birmingham, 2003, p.76), argumentando que toda a análise de conteúdo
quantificadora, reduz os significados dos dados a números e frequências e retira toda a
essência do real.
De facto, a análise de conteúdo qualitativa é muito mais do que um simples
processo de análise que começa após a recolha dos dados, pois apresenta uma dinâmica
114
complexa, circular, na qual o pesquisador desenvolve e muda os próprios processos, cria
e rejeita as suas ideias, escreve e rescreve as suas análises, não porque considere que
esteja a cometer falhas, mas porque através deste processo sabe que está a garantir a
qualidade da sua avaliação face aos dados de que dispõe (Schiling, 2006). Também Polit
e Beck (2004) afirmam que o processo da análise de conteúdo qualitativa não é um
processo linear, mas sim um processo complexo e que apresenta um maior grau de
dificuldade do que a análise quantitativa. Entre as diversas abordagens de análise
qualitativa, assume particular destaque a grounded theory, pela enfase que coloca num
processo indutivo total de análise dos dados com vista à construção de uma teoria
(Creswell, 1998; Glaser & Strauss, 1967). No presente estudo não é nosso objetivo criar
nenhuma teoria, mas apenas explorar, de uma forma experimental, um fenómeno que
vem sendo cada vez mais alvo de trabalhos de investigação, pelo que, consideramos que
a melhor forma de o fazer passa, não por uma análise de conteúdo clássica cujo foco é a
análise de frequências, mas sim realizarmos um estudo cuja ênfase esteja na
compreensão do real. Assim, procurámos centrar-nos, quer nos conteúdos, quer nos
próprios contextos abordados pelos entrevistados, extraindo reflexões não só dos
conteúdos manifestos mas também dos conteúdos latentes, tão ricos como os primeiros,
numa análise que não visa estimar frequências, quantificações rigorosas ou confirmação
de hipóteses, conforme referido por Graneheim e Lundman (2004):
“One characteristic of qualitative content analysis is that the method, to a great
extent, focuses on the subject and context, and emphasizes differences between
and similarities within codes and categories. Another characteristic is that the
method deals with manifest as well as latent content in a text. The manifest
content, that is, what the text says, is often presented in categories, while
themes are seen as expressions of the latent content, that is, what the text is
talking about.” (p. 111)
Com base nas propostas de diversos autores (e.g., Bardin, 2014; Elo, Kääriäinen,
Kanste, Pölkki, Utriainen, & Kyngäs, 2014; Elo & Kyngäs, 2008; Graneheim &
Lundman, 2004; Guerra, 2006; Mayring, 2000; Miles & Huberman, 1994; Shilling,
2006), iniciámos a análise dos dados qualitativos, tendo como primeiro objetivo
estruturar e clarificar os procedimentos de forma a garantir o máximo de confiabilidade
ao nosso estudo. Então, numa primeira fase preparámos os dados obtidos nas
entrevistas, elaboráramos um sistema de codificação preliminar e o respetivo protocolo
de codificação. Numa segunda fase realizámos a análise de conteúdo das mesmas
recorrendo a um software de análise de texto, NVivo, versão 10 (QSR International Pty
115
Ltd, 2014). Por último, numa terceira fase, procedemos à análise e interpretação dos
dados. O primeiro passo passou pela transcrição, na íntegra, de todas entrevistas, assim
como alguns aspetos não-verbais transmitidos pelos participantes (e.g., risos,
exclamações, hesitações). A média de páginas por entrevista foi de 15, variando num
mínimo de 12 e num máximo de 19 páginas. Concluído este processo, realizámos um
contacto mais direto com os textos a analisar através da “leitura flutuante”, conforme
recomenda Bardin (2014), tendo como objetivo o desenvolvimento do primeiro
conjunto de impressões e orientações. De seguida, debruçámo-nos sobre o sistema de
codificação dos dados. A elaboração do sistema de codificação é a característica central
na análise de conteúdo, podendo esta ser feita através de duas abordagens que são
consideradas fundamentais e complementares (Miles & Huberman, 1994; Miles,
Huberman, & Saldaña, 2014; Patton, 2002; Schilling, 2006; Tesch, 1990): a abordagem
dedutiva, que utiliza um sistema de categorias previamente preparado que advem da
literatura existente, e a abordagem indutiva, que vai construindo categorias à medida
que elas emergem dos dados que estão a ser analisados. Assim, numa primeira etapa da
análise de conteúdo no nosso estudo, o processo de categorização utilizado para definir
as categorias iniciais foi sobretudo dedutivo, tendo-se partido do quadro teórico e das
questões de investigação previamente definidas, para a leitura dos dados.
Posteriormente, o quadro de categorias foi sujeito a alterações sucessivas, fruto de um
processo indutivo de alteração e criação de categorias e subcategorias, dando forma a
uma estrutura mais rigorosa e mais eficaz para a presente análise de conteúdo. Estas
alterações foram sendo realizadas até se ter atingido a saturação teórica (Glaser &
Strauss, 1967), isto é, até chegar a um ponto em que a codificação de novos dados
permitia colocá-los no sistema de codificação disponível, deixando de haver
necessidade de criar novas categorias. Esta complementaridade entre a análise dedutiva
e a análise indutiva surgiu da necessidade de um ajustamento da matriz inicial de
categorias, à medida que se foram realizando as análises das entrevistas. Tal
procedimento é, aliás, recomendado por alguns autores, para que o quadro de categorias
e subcategorias formado seja o mais adequado à temática em questão e o mais rigoroso
possível (Miles & Huberman, 1994; Patton, 2002; Schilling, 2006; Tesch, 1990).
A etapa seguinte teve como objetivo a definição das unidades de análise e
também aqui verificámos que as opiniões dos autores se dividem. Para Graneheim e
Lundman (2004), a unidade de análise deve ser considerada a entrevista na sua
116
totalidade, pois deve ser “large enough to be considered a whole and small enough to be
possible to keep in mind as context for the meaning unit, during the analysis process”
(p. 106). Desta forma, as entrevistas passam a ser vistas como unidades de análise onde
cada unidade de significado poderá ser codificada. Tesch (1990) define cada unidade de
significado como “todo o segmento de texto que é compreensivel por si próprio e
contem uma ideia, um episódio ou informação” (p.116). Contudo, Schilling (2006)
distingue três tipos de unidades de significado: (i) a unidade de codificação, que
estabelece qual a parte mais pequena de texto a ser codificada (e.g., uma única palavra,
metade de uma frase, a frase completa ou até um parágrafo completo); (ii) a unidade de
contexto, que se refere à parte maior de texto que pode ser codificado (e.g., uma única
palavra, metade de uma frase, a frase completa, um parágrafo completo); e (iii) a
sequência de codificação do texto, podendo optar-se por estratégias que o autor designa
de cross-question (análise de entrevista após entrevista), ou cross-interview (análise
pergunta após pergunta). Assim, optámos por seguir uma estratégia cross-question, isto
é, analisámos a totalidade das respostas numa entrevista de cada vez. Duas razões
levaram-nos a fazer esta escolha: em primeiro lugar, porque sendo as entrevistas
utilizadas no presente estudo, entrevistas semiestruturadas, não houve uma sequência
absolutamente rígida no seu desenvolvimento e as respostas a cada tópico seguiram
direções diferentes em função do participante; em segundo lugar, porque foi uma forma
de obter um conhecimento mais global dos dados de cada participante, permitindo,
ainda, uma maior atenção às singularidades de cada um e a uma integração global dos
conteúdos participante a participante. Tomando as propostas de Graneheim e Lundman
(2004) e de Tesch (1990), definimos então que a nossa unidade de análise seriam as
entrevistas na sua totalidade e a nossa unidade de significado poderiam ser palavras,
frases completas, partes de frases ou pequenas unidades de frases com significado, que
nos permitisse compreender o conteúdo da frase quando isolado do restante texto. No
processo de categorização, são diversos os autores (Bogdan & Biklen, 1994; Graneheim
& Lundman, 2004; Schilling, 2006; Tesch, 1990) que consideram que “devido à
natureza interligada das experiências humanas, nem sempre é possível criar categorias
mutuamente exclusivas quando um texto incide sobre estas experiências” (Graneheim &
Lundman, 2004, p.107) e, como tal, esse texto pode cruzar informação de várias
categorias, podendo, neste caso, ser codificado em mais do que uma delas.
Considerámos, contudo, que no presente estudo, dada a especificidade da nossa
amostra, seguiríamos a posição de autores como Bardin (2014), Krippendorff (1980) e
117
Stemler (2001) que defendem a exclusão mútua, isto é, nenhum dado poder ser
codificado em duas categorias diferentes (U.S. GAO, 1996, p.20).
Finalmente, tendo como base a reflexão feita por diversos autores (e.g., Bardin,
2004; Elo & Kyngäs, 2008; Graneheim & Lundman, 2004; Guerra, 2006; Krippendorff,
1980; Richards, 2009; Schilling, 2006; Tech, 1990; Wilkinson, & Birmingham, 2003),
elaborámos o seguinte protocolo, organizado em seis áreas, onde foram reunidos os
princípios, as regras e os procedimentos que considerámos adequados utilizar na análise
de conteúdo do presente estudo qualitativo:
I – A função heurística da análise de conteúdo: Procuramos identificar fatores
associados ao fenómeno da excelência em gestores referenciados pelos modelos teóricos
e/ou eventuais fatores ainda não contemplados na teoria e que possam ajudar a uma
melhor compreensão da temática.
II – A transcrição das entrevistas: As entrevistas serão integralmente transcritas,
registando-se, sempre que considerado pertinente para a compreensão do texto, aspetos
relativos à comunicação não verbal (e.g., risos, hesitações, exclamações).
III – Primeiro contacto com os documentos: A primeira atividade, leitura
flutuante, permite-nos estabelecer contacto com os documentos a analisar e em conhecer
o texto deixando-nos invadir por impressões e orientações (Bardin, 2014).
IV – Definição das unidades de análise: A unidade de análise (objeto de estudo)
corresponde ao total das entrevistas realizadas, isto é, ao total das páginas transcritas,
sendo as duas primeiras entrevistas utilizadas para: (i) testagem do guião e realização de
eventuais alterações para que o mesmo, já remodelado, possa ser utilizado com os
restantes 12 entrevistados; (ii) testagem das categorias formuladas previamente; (iii)
criação das subcategorias através da análise de conteúdo; (iv) validação da grelha de
análise de conteúdo, através do cálculo do acordo entre os vários codificadores
envolvidos, a partir do índice de Kappa de Cohen e da percentagem de acordo e
desacordo entre os vários elementos, para cada uma das categorias/subcategorias de
análise.
A unidade de significado, ou seja, o texto selecionado para ser codificado, pode
corresponder a uma única palavra, partes de frases, frases completas e parágrafos, cujo
conteúdo é passível de ser compreendido quando isolado do restante texto.
Considerámos que as unidades de significado não deverão ser nem muito longas
118
(podem dificultar a compreensão e análise) nem muito curtas (podem não ser percetíveis
quando retirada do texto inicial) (Schilling, 2006; Tesch, 1990).
A análise de conteúdo focar-se-á tanto nos conteúdos manifestos (o que o texto
diz diretamente) como nos conteúdos latentes (interpretação dos significados
subjacentes) para que as reflexões feitas se aproximem ao máximo da essência do real
(Bardin, 2014; Graneheim & Lundman, 2004; Guerra, 2006). Por outro lado, a
sequência de codificação do texto segue o procedimento “cross-question” (Schilling,
2006), isto é, analisamos uma entrevista após a outra, porque sendo entrevistas
semiestruturadas, não há uma sequência absolutamente rígida no seu desenvolvimento
em todas as entrevistas, podendo as respostas a cada tópico seguiram direções
diferentes. Será também uma forma de obter um conhecimento mais global dos dados
de cada participante e de poder ter uma maior atenção às singularidades de cada um e a
uma melhor integração global dos conteúdos de cada um (Schilling, 2006).
V - Construção da grelha de análise: Numa primeira fase, as categorias iniciais
da grelha de análise de conteúdo das entrevistas, são elaboradas a partir do quadro
teórico e das questões de investigação; numa segunda fase serão definidas as
subcategorias de análise a partir dos textos transcritos das entrevistas. Existe um
processo de complementaridade entre a análise dedutiva e a análise indutiva, o qual
poderá ser ajustado, ao longo das restantes entrevistas, caso emerjam novas
subcategorias ou eventuais categorias (Miles & Huberman, 1994).
Neste processo, as denominações das categorias e subcategorias podem ser
criadas a partir da teoria, a partir de expressões dos próprios participantes ou propostas
pelo investigador (Richards, 2009). As categorias/subcategorias deverão ser pertinentes,
isto é, uma categoria deve refletir o objetivo da investigação, pertencendo ao quadro
teórico previamente definido e estando por isso adaptada ao material de análise (Bardin,
2014; Schiling, 2006). Segundo o princípio da objetividade as categorias/subcategorias
de análise devem ser definidas operacionalmente, clarificando-se assim os limites que as
separam (Bardin, 2014). As categorias/subcategorias do esquema de codificação devem
ser, internamente, o mais homogéneas possível e, externamente o mais heterogéneas
possível (Lincoln & Guba, 1991).
Dado que, no presente estudo, um dos nossos objetivos é fazer a análise das
semelhanças/diferenças intraindividuais ao longo do percurso profissional dos
participantes, a estrutura da grelha da análise de conteúdo deverá estar dividida em dois
119
momentos: Percurso anterior (PA) e Desempenho atual (DA) para as categorias em que
esta divisão faz sentido, de forma a facilitar o futuro processo de interpretação dos
dados.
VI – Procedimentos na análise de conteúdo: Segundo o princípio da exclusão
mútua, nenhum dado pode ser codificado em duas categorias diferentes (Bardin, 2014;
Krippendorff, 1980; Stemler, 2001; U.S. GAO, 1996). Nas situações em que, no mesmo
parágrafo, o participante repete a mesma ideia, com as mesmas palavras, codifica-se
apenas uma vez. Só devem ser incluídas unidades de significado direcionadas
explicitamente com as categorias. Quando, numa unidade de significado, não temos o
agente da frase, para que possamos reconhecer o contexto do excerto do texto, quando
disponibilizado nas tabelas de análise, podemos introduzi-lo, sinalizando-o com
parêntesis retos. Mais ainda, o processo de categorização é orientado pelo método da
comparação constante, no qual se procede a uma comparação sistemática entre a
informação a codificar com a informação já codificada, permitindo deste modo, uma
maior compreensão da natureza das categorias (Glaser & Strauss, 1967).
Sempre que surjam unidades de significado de difícil codificação deverão ser
colocados numa categoria provisória de “não codificável”, sendo no final analisadas no
sentido de procurar uma interpretação que não tenha ocorrido anteriormente. As
codificações realizadas no Programa NVivo 10 (QSR International Pty Lda., 2012) são
feitas ao nível das categorias e subcategorias. O trabalho de codificação deve ser testado
e revisto com a análise das duas primeiras entrevistas (cerca de 20% do material total a
codificar), de modo a clarificar o processo de categorização e proceder a eventuais
ajustamentos, caso seja necessário.
Um grupo de dois ou mais codificadores tomará contacto com a grelha de
análise, discutindo-se conjuntamente as definições das categorias e subcategorias e as
regras de codificação, de modo a chegarem a um entendimento. Com o apoio do grupo
de dois ou mais codificadores proceder-se-á à análise independente das duas primeiras
entrevistas analisadas pelo investigador. Será calculado o acordo intercodificadores e
discutidas as dúvidas, dificuldades e ambiguidades, de modo a reformular a grelha de
análise para ser utilizada nas entrevistas seguintes, caso seja necessário. Com vista a
obter o maior grau de fidelidade do estudo, salvaguarda-se a possibilidade de se
proceder a pequenos ajustamentos na grelha de análise, ao longo do processo de análise
120
de conteúdo (formative check reliability) ou mesmo no final (summative check of
reliability) (Schilling, 2006).
Assim, seguindo os princípios gerais para a construção da grelha de análise,
elaborámos formalmente as primeiras categorias, assim como os limites que separam
categorias próximas, clarificando as respetivas diferenças. Posteriormente, utilizando
esta primeira grelha, constituída apenas por categorias, procedeu-se à análise de
conteúdo das duas primeiras entrevistas, com vista a testar as categorias estabelecidas e,
em simultâneo, desenvolver um conjunto de subcategorias que permitissem um
adequado aprofundamento de cada tema abordado nas entrevistas. Como ferramenta
auxiliar à análise dos dados utilizámos o software de análise de texto NVivo, versão 10
(QSR International Pty Ltd, 2012). São diversos os autores que defendem a utilização
de programas informáticos no processo de análise de dados qualitativos (e.g., Jones,
2007; Leech & Onwuegbuzie, 2007, 2011; Mayring, 2000; Richards, 1999, 2009;
Schilling, 2006) referindo o vasto conjunto de ações que facilitam o investigador na sua
tarefa de análise de conteúdo: (i) facilita o armazenamento, manipulação, organização e
gestão dos dados; (ii) permite o registo dos passos e decisões durante a análise, através
da criação de anotações de todas as decisões que se tomam ao longo do estudo; (iii)
executa o tratamento e representação dos dados, complementando as análises
qualitativas com alguns dados quantitativos (e.g. frequências); (iv) permite a
representação dos dados de várias formas (e.g. gráficos e modelos). No entanto, apesar
das suas vantagens, trata-se de uma ferramenta de auxílio meramente organizativa da
informação, sendo o investigador o responsável pelas principais tarefas de atribuição de
significado ao texto, colocação de questões orientadoras da análise e estabelecimento de
comparações, entre outras operações.
Numa terceira fase, apresentou-se a grelha de codificação com as categorias e
subcategorias estabelecidas pela investigadora a um grupo de conveniência de seis
codificadores, discutiu-se em conjunto as respetivas definições e regras de codificação e
pediu-se que cada um dos seis codificadores procedesse à análise independente de cerca
de um sexto do texto obtido com as duas entrevistas iniciais. Os seis codificadores,
todos eles com formação superior na área das ciências sociais, não estavam
familiarizados com a temática da excelência, nem com os procedimentos de codificação
de entrevistas, pelo que, foi necessário proceder a um breve treino inicial antes de
realizarem a codificação do texto que lhes tinha sido atribuído. Deste modo, para cada
121
sexto de texto codificado, conseguimos obter duas codificações independentes: uma
realizada pela investigadora e a outra pelo respetivo codificador. A opção de ter um
grupo de seis codificadores a colaborar neste processo de validade intercodificadores
teve como base os seguintes princípios: (i) pelo facto do grupo de codificadores ser
voluntário, considerou-se que o mais adequado seria cada um ficar responsável pela
codificação de textos mais reduzidos, apenas com cerca de cinco páginas, eliminando,
de certa forma, o efeito de saturação; (ii) poder realizar o processo de validade com um
maior número de codificadores, enriquecendo-o através do know-how de cada um deles
e, como tal, formas diferentes de percecionar os textos das entrevistas; (iii) reduzir
possíveis enviezamentos no processo de codificação, dadas as características do grupo
de codificadores, sem possuírem conhecimentos sobre a temática da excelência, nem
dos procedimentos de codificação de entrevistas.
Terminado o processo de análise, das duas entrevistas, pelo grupo de
codificadores, analisámos as principais divergências em termos de codificação e
procedemos ao cálculo do índice Kappa de Cohen, como medida de validade
intercodificadores. O índice Kappa de Cohen é uma medida de concordância ou de
semelhança entre as categorias homólogas de duas variáveis, cuja interpretação adotada
foi a seguinte: < .40 = fraca concordância entre as duas variáveis; .40 – .74 = existe uma
concordância de suficiente a boa entre as duas varáveis; ≥ .75 = existe uma excelente
posição de concordância entre as duas variáveis (Pestana & Gageiro, 2005, p.162). Se
os codificadores estiverem em acordo total, o valor de K será de 1; por oposição, se não
existir acordo entre os codificadores, o valor será ≤ 0. Os valores que têm sido
apontados pelos especialistas como sendo minimamente aceitáveis variam em função do
próprio objetivo do cálculo do acordo (por exemplo, no caso da construção de
instrumentos de avaliação, os valores ideais deverão estar entre .80 ou .90, enquanto que
para a realização de diagnósticos médicos os valores poderão variar entre .40 e .90). De
um modo geral, os principais autores consideram que o valor de Kappa de Cohen deverá
situar-se entre .60 ou .70 (Wood, 2007). No presente estudo recorremos ao software
Nvivo 10, dado que, de uma forma rápida, conseguimos contrastar as codificações
realizadas pelos diferentes codificadores e calcular a percentagem de acordo e
desacordo entre os elementos, para cada uma das categorias de análise.
O índice de Kappa de Cohen obtido nas duas entrevistas preparatórias do
presente estudo foi de .75, sendo a percentagem média de concordância entre os
122
codificadores e o material codificado de 93.48%. Os resultados encontrados foram
muito bons, o que indica um bom acordo entre todos os codificadores envolvidos. Na
reunião de discussão e reflexão sobre os resultados concluímos que as divergências
encontradas estavam relacionadas com as diferentes categorizações que algumas partes
dos textos poderiam assumir. Como um dos princípios estabelecidos no protocolo
definido foi o princípio da exclusão mútua, surgiram diferentes visões nalgumas partes
de texto codificado, que assumimos estarem relacionadas com os diferentes
backgrounds dos codificadores envolvidos.
Após este procedimento de validade, a análise de conteúdo das 12 entrevistas
restantes foi realizada apenas pela investigadora, com a utilização da versão final da
Grelha de Análise de Conteúdo (Anexo I). Na busca de garantir uma maior objetividade
na análise dos dados e maior qualidade ao estudo, todas as entrevistas passaram por dois
processos sequenciais de revisão: (i) após concluirmos a codificação de cada entrevista,
assegurámo-nos de que nenhuma unidade de significado tinha ficado por codificar,
realizando uma nova leitura dos textos e respetivas codificações; (ii) cerca de um mês
após o término da codificação de todas as entrevistas procedemos a uma nova revisão e
análise da codificação de cada uma (Erdener & Dunn, 1990; Schilling, 2006). Estes
momentos de revisão são essenciais na análise de dados qualitativos, contudo não há “a
forma certa” de proceder numa análise de conteúdo. Como referem Richards e Morse
(2013, p.10) “the challenge is not doing it one right way but in achieving coherent,
robust results that enhance understanding”. À medida que os dados vão sendo
codificados, o desafio do investigador vai tornando-se cada vez maior, pois o processo
de codificação é por si mesmo um processo de descoberta no qual a compreensão das
categorias e a sua atribuição aos dados vai evoluindo passo a passo. Contudo,
deveremos ter em atenção que uma categoria pode ter menos participantes a citá-la, mas
sê-lo mais vezes. Assim, será importante saber quantos participantes citaram cada uma
das categorias/subcategorias (frequência) e também quantas referências foram feitas
para cada uma delas (intensidade). Seguindo os trabalhos de Wao, Dedrick e Ferron
(2011), para cada categoria/subcategoria, serão calculadas as frequências e intensidades,
na base do percentil (percentil ranks).
123
Estudo quantitativo
A investigação em torno da excelência profissional destaca a convergência de
variáveis pessoais e contextuais. Capacidades, motivações e traços de personalidade,
assim como contextos desafiantes de formação e de prática deliberada, são entendidos
como fatores que convergem na explicação da excelência profissional (Ericsson,
1996; Gagné, 2007; Garcia-Santos, Almeida, Werlang, & Veloso, 2010). Vários
estudos, inclusive em Portugal, apontam que os indivíduos descrevem o seu êxito
profissional falando em perseverança, força de vontade, bem-estar e motivação, entre
outros atributos pessoais (Araújo, 2011; Baltes & Kunzmann, 2003; Ericsson,
Krampe, & Tesch-Romer, 1993; Maia & Poeschl, 2004). Poderemos, então,
acrescentar que a investigação nesta área requer, instrumentos de avaliação
psicológica de tais atributos devidamente validados. Ao focarmo-nos de novo nas
questões de investigação do presente estudo, verificamos que no âmbito da excelência
o ponto de partida para os estudos são as características de personalidade, as
competências interpessoais associadas ao trabalho e, no âmbito emocional, o que faz
mover e impulsionar os indivíduos para atingirem níveis de desempenho excelente.
Por outro lado, temos consciência da importância, a par de competências técnicas, das
competências pessoais e interpessoais para o exercício das funções de liderança e
gestão, em contexto grupal e organizacional, e que a qualificação em termos do
controlo da paixão pelo trabalho e da competência na influência do comportamento
dos outros é relevante para funções de liderança, como é o caso dos gestores. Mais
ainda, umas e outras estão associadas a níveis mais elevados quer de ajustamento
psicológico, quer de desempenho profissional (Carbonneau et al., 2008; Cid & Louro,
2010; Ferris et al., 2005; Houlfort & Vallerand, 2006; Liu et al., 2007; Mageau et al.,
2009; Meurs et al., 2010; Rousseau & Vallerand, 2003, 2008; Vallerand & Houlfort,
2003), e por isso constituem variáveis centrais à produtividade em contexto
organizacional. Gostaríamos também de relembrar que definimos como um dos
nossos objetivos o de contribuir para a validação de alguns instrumentos de avaliação
psicológica para a população portuguesa de gestores. Mas associado ao problema da
validação está associado o problema da motivação e de novo voltamos a colocar
questões. Como motivar gestores de topo, a declinarem um pouco do seu tempo, para
responder a questionários, por vezes demasiado longos, quando estão sujeitos a tantas
pressões de exigência, rigor e absorvência, na sua função?
124
Assim, para responder aos nossos objetivos tivemos, por um lado, o cuidado de
procurar instrumentos que ainda não tivessem sido validados para a língua portuguesa
para este grupo profissional, por outro, que os mesmos fossem abrangentes, mas de
pequenas dimensões e, por último, que espelhassem algumas das variáveis definidas
anteriormente. Após uma breve pesquisa escolhemos os seguintes instrumentos: (i)
Escala sobre a Paixão pelo Trabalho, a PTWS (Vallerand & Houlfort, 2003); (ii)
Inventário de Competências de Gestão Interpessoal, o PSI (Ferris et al., 2005); Escala
de Satisfação com a Vida, a SWLS (Diener et al., 1985); e escala no âmbito de
características de personalidade, a CSES (Judge et al., 2003). De seguida, faremos
apenas uma breve apresentação de cada um dos instrumentos, já que, os mesmos
encontram-se descritos em detalhe no capítulo de adaptação e validação de
instrumentos.
Escala da Paixão pelo Trabalho – PTWS
A Passion Toward Work Scale (PTWS – Escala da Paixão pelo Trabalho;
Vallerand & Houlfort, 2003) resulta da adaptação da Passion Scale (PS; Vallerand et al.,
2003) para o trabalho, avaliando duas formas de paixão: uma paixão harmoniosa,
associada a emoções positivas, e uma paixão obsessiva, associada a emoções negativas
e a conflitos com outras dimensões da vida do sujeito. Do total de 14 itens, sete itens
pertencem ao fator Paixão Obsessiva e sete itens ao fator Paixão Harmoniosa, sendo as
respostas dadas numa escala tipo Likert de 7 pontos variando entre 1 (“totalmente em
desacordo”) e 7 (“totalmente de acordo”). Os valores de precisão (alfa de Cronbach)
encontrados para a Passion Toward Work Scale (PTWS) nos estudos de validação inicial
junto da população norte-americana situaram-se entre .70 e .85 (Vallerand & Houlford,
2003).
Inventário de Competências de Gestão Interpessoal - PSI
O Political Skill Inventory (PSI – Inventário de Competências de Gestão
Interpessoal; Ferris et al., 2005) é um instrumento multidimensional para a avaliação
das competências de gestão interpessoal, entendida como capacidades de compreender e
influenciar os outros, para a concretização de objetivos pessoais e/ou organizacionais. A
versão final, constituída por 18 itens, avalia quatro fatores: Perspicácia Social,
125
Influência Interpessoal, Capacidade de Estabelecer Redes de Relacionamento
Profissional e Sinceridade Genuína. As respostas são fornecidas numa escala tipo Likert
de 7 pontos variando entre 1 (“totalmente em desacordo”) e 7 (“totalmente de acordo”).
Ferris et al. (2005) obtiveram para cada fator, Influência Interpessoal, Perspicácia
Social, Sinceridade Genuína e Capacidade de Estabelecer Redes de Relacionamento
Profissional, coeficientes de consistência interna (alfa de Cronbach) respetivamente de
.78, .79, .81 e .87.
Escala de Satisfação com a Vida - SWLS
A Satisfaction With Life Scale (SWLS; Escala de Satisfação com a Vida, Diener
et al., 1985), constituída por 5 itens, avalia o grau de satisfação com a vida. As
respostas, fornecidas numa escala de tipo Likert com 7 pontos, variam entre 1
(totalmente em desacordo) e 7 (totalmente de acordo). Da análise fatorial conduzida por
Diener et al. (1985) emergiu um único fator, responsável por 66% da variância total
explicada pelos itens, e os resultados encontrados pelos autores relativamente à precisão
(alfa de Cronbach) situou-se em .87, sendo de .82 no teste-reteste com dois meses de
intervalo. Estudos posteriores confirmaram não só a existência de um único fator, como
bons índices de consistência interna e de estabilidade temporal (Pavot & Diener, 1993).
Diversos estudos de validação da SWLS em Portugal podem ser apontados (Neto, 1999;
Neto, Barros, & Barros, 1990; Silva, Taveira, Marques, & Gouveia, 2014; Simões,
1992), registando-se níveis elevados de precisão e a obtenção de um único fator em
termos da dimensionalidade dos itens.
Escala de Constructos Centrais ao Self - CSES
A Core Self-Evaluations Scale (CSES; Escala de Constructos Centrais ao Self,
Judge et al., 2003) é constituída por 12 itens e, embora na versão americana a pontuação
dos itens oscile entre 1 e 5 pontos, optámos no nosso estudo por uma escala de tipo
Likert de 1 a 7 pontos, por proximidade à SWLS, variando entre 1, totalmente em
desacordo, e 7, totalmente de acordo. Todos os itens pares da escala (itens 2, 4, 6, 8, 10
e 12) estão formulados pela negativa, tendo-se procedido à reconversão das pontuações
dos participantes antes da análise dos resultados. A análise fatorial dos itens sugere uma
estrutura de quatro fatores interdependentes – autoestima, autoeficácia, lócus de
126
controlo e neuroticismo – sendo que a consistência dos itens em cada fator foi superior a
.80 (Judge et al., 2003). A precisão dos resultados da escala, calculada através da
precisão teste-reteste, aponta para valores em torno de .80, havendo ainda correlações
elevadas com os resultados em diversas escalas avaliando traços próximos de
personalidade (Judge et al., 2003).
127
CAPITULO 4
____________________________________________________________
ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS
128
Introdução
Neste capítulo descrevemos as escalas que foram adaptadas e validadas para o
nosso estudo, justificando essa escolha na base dos estudos no domínio, recorrendo à
sua utilização e aos seus parâmetros psicométricos nos respetivos países de origem.
Reconhecendo que as provas psicológicas podem apresentar dificuldades para a
avaliação do mesmo constructo quando traduzidas para outras línguas ou quando usadas
noutras culturas, torna-se fundamental proceder a um conjunto de análises qualitativas e
quantitativas das mesmas provas, por forma a garantir a sua equivalência cultural e de
constructo psicológico avaliado. Central à adaptação e validação é a qualidade dos
resultados obtidos. Estes, em termos psicométricos, devem possuir uma adequada
distribuição (sensibilidade), precisão e validade. Neste último caso, daremos particular
destaque neste capítulo à validade fatorial ou de constructo, mais uma vez procurando
verificar a dimensionalidade das escalas e a organização dos seus itens, estudando se
estas replicam as estruturas das versões originais das mesmas escalas.
O presente estudo preliminar e, como tal de caráter exploratório, consistiu na
tradução, adaptação e validação de três instrumentos junto de uma amostra de gestores
empresariais portugueses: a Core Self-Evaluations Scale (CSES - Escala de Avaliação
de Constructos Centrais ao Self; Judge, Erez, Bono, & Thoresen, 2003), o Political Skill
Inventory (PSI - Inventário de Competências de Gestão Interpessoal; Ferris et al., 2005)
e a Passion Toward Work Scale (PTWS - Escala da Paixão pelo Trabalho; Vallerand &
Houlfort, 2003). Neste estudo realizámos ainda um estudo de adaptação da Satisfaction
With Life Scale (SWLS - Escala de Satisfação com a Vida; Diener, Emmons, Larsen, &
Griffin, 1985), com base na adaptação portuguesa da SWLS realizada por Neto, Barros
e Barros, em 1990, junto de adultos, e por Neto em 1993, junto de adolescentes.
Posteriormente, realizámos comparações dos resultados em função do género e idade
dos participantes, e procedemos ao estudo das correlações entre as escalas.
Estudo Preliminar da Core Self-Evaluations Scale (CSES - Escala de Avaliação de
Constructos Centrais ao Self)
Para a construção da Core Self-Evaluations Scale (CSES), Judge et al. (2003)
recorreram a um novo conceito desenvolvido e avaliado previamente por Judge, Locke
129
e Durham (1997), o core self-evaluations, isto é, a avaliação dos constructos centrais ao
self, como sendo a expressão de um traço latente de ordem superior ou mais geral. Este
constructo é composto pelos seguintes quatro traços básicos de personalidade: (i) self-
esteem (autoestima), o valor global que uma pessoa atribui a si mesma; (ii) generalized
self-efficacy (autoeficácia generalizada), avaliação feita pelo indivíduo sobre quão bem
ele pode atuar em variadas situações; (iii) neuroticism (neuroticismo), tendência a ter
um estilo de pensamento negativo e/ou centrado nos aspetos negativos de si mesmo; e
(iv) locus of control (lócus de controlo), crenças sobre as causas dos acontecimentos na
vida, sendo interno quando as pessoas veem os eventos como contingências de seus
próprios comportamentos.
Tendo como base a revisão da literatura sobre traços de personalidade, os autores
da CSES (Judge et al., 2003) criaram uma lista com 65 itens, abarcando autoavaliações
em torno de diversos traços de personalidade, surgindo assim itens no âmbito da
autoestima (e.g., “Eu gostaria de poder ter mais autoestima”), no âmbito da capacidade
de agir sobre o meio ambiente (e.g., “Eu posso determinar o que vai acontecer na minha
vida”), no âmbito das próprias capacidades e competências para se ser bem-sucedido
(e.g., “Eu sou capaz de lidar com a maioria dos meus problemas”) e no âmbito do
ajustamento emocional individual (e.g., “Há momentos em que as coisas parecem
bastante sombrias e sem esperança para mim”). Posteriormente, os itens foram
selecionados seguindo três etapas: (i) análise da distribuição dos itens pelos quatro
domínios e as respetivas comunalidades entre eles; (ii) análise das correlações entre
itens; (iii) análise das correlações dos itens com a satisfação no trabalho, utilizando
cinco itens da escala de satisfação com o trabalho desenvolvida por Brayfield e Rothe
(1951; cit in Agho, Price, & Mueller, 1992), com a satisfação com a vida, utilizando a
Satisfaction With Life Scale (SWLS; Diener et al., 1985) e com o desempenho no
trabalho, através de avaliações realizados pelos supervisores dos trabalhadores. Todos
os itens que tiveram correlações fracas com esses critérios foram excluídos. A versão
final ficou constituída por 12 itens e indica a valorização básica que uma pessoa faz
sobre os seus méritos, atividade e capacidades, constituindo o constructo de core self-
evaluations.
Na tabela 4.1 apresentam-se os itens que compõem a Core Self-Evaluations
Scale (CSES).
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Tabela 4.1
Itens da Core Self-Evaluations Scale (CSES)
Itens
1. I am confident I get the success I deserve in life.
2. Sometimes I feel depressed. (r)
3. When I try, I generally succeed.
4. Sometimes when I fail I feel worthless. (r)
5. I complete tasks successfully.
6. Sometimes, I do not feel in control of my work. (r)
7. Overall, I am satisfied with myself.
8. I am filled with doubts about my competence. (r)
9. I determine what will happen in my life.
10. I do not feel in control of my success in my career. (r)
11. I am capable of coping with most of my problems.
12. There are times when things look pretty bleak and hopeless to me. (r)
Nota: r = cotação inversa
Nos primeiros estudos realizados para a aferição e validação da CSES (Core
Self-Evaluations Scale; Judge et al., 2003), os resultados encontrados relativamente à
precisão (alfa de Cronbach) foram superiores a .80. Os coeficientes de correlação
corrigidos entre cada item e o total da escala situaram-se entre .48 e .55. As matrizes de
correlação entre os itens nas referidas amostras revelaram que todos os itens estão
intercorrelacionados positivamente. Em relação à análise da estabilidade da escala,
através de associação teste-reteste, o valor encontrado foi de .81. No âmbito dos estudos
de validade da CSES foram realizadas correlações com os seguintes instrumentos: os 12
itens da escala de neuroticismo do NEO-FFI Personality Inventory (Costa & McCrae,
1992), Rosenberg’s Self-Esteem (Rosenberg, 1965), Generalized Self-Efficacy Scale
(Judge, Lock, Durham, & Klugerm, 1998) e Levenson’s Internal, Powerful Others and
Chance Scale (Levenson, 1981). Todas as análises estatísticas realizadas demonstraram
uma alta correlação da CSES com os quatro instrumentos referidos: autoestima (.87),
neuroticismo (.76), autoeficácia (.82) e o lócus de controlo, com a correlação mais baixa
(.50). Face aos bons resultados encontrados, os autores referem que a CSES é um
instrumento confiável e direto de medida do constructo core self-evaluations.
Em diversos estudos realizados com a Core Self-Evaluations Scale (CSES;
Judge et al., 2003), a avaliação dos constructos centrais ao self assume tais constructos
131
como expressão de um traço latente de ordem superior ou mais geral, sendo composto
pelos quatro traços básicos de personalidade a que fizemos já referência (Brunborg,
2008; Chamorro-Premuzic, Ahmetoglu, & Furnham, 2008; Judge, 2009; Judge, Erez,
Bono, & Thoresen, 2002; Judge et al., 2003; Judge, Van Vianen, & De Pater, 2004;
Kammeyer-Mueller, Judge, & Scott, 2009). Também alguma investigação na área
aponta a relevância destes constructos centrais ao self para o êxito profissional,
mostrando-se correlacionados com a satisfação com o trabalho (Erez & Judge, 2001;
Judge, Bono, Erez, & Locke, 2005; Judge, Bono, & Locke, 2000; Judge, Erez, & Bono,
1998; Judge, Locke, Durham, & Kluger, 1998; Judge et al., 2004; Srivastava, Locke,
Judge, & Adams, 2010), com a motivação (Erez & Judge, 2001), com o desempenho
atingido (Bono & Judge, 2003; Judge, 2009) e com a felicidade e satisfação com a vida
(Judge et al., 2002).
Tradução e Análise Qualitativa dos Itens.
Dado que a CSES ainda não se encontrava traduzida em Portugal à data da
recolha de dados, procedemos à sua tradução e retrotradução recorrendo a psicólogos
com conhecimentos adequados da língua inglesa. Neste último passo, a versão inicial
foi objeto de uma reflexão falada, junto de 11 gestores empresariais, apreciando-se a
acessibilidade do vocabulário e a compreensão unívoca das instruções e dos itens. As
(breves) alterações introduzidas incidiram em aspetos da tradução e tiveram em vista a
clarificação do significado dos itens. Os exemplos de tradução seguintes correspondem
a um item de cada uma das quatro dimensões medidas pela Escala de Avaliação de
Constructos Centrais ao Self.
Tabela 4.2
Exemplos de Itens Traduzidos da Versão Americana e Versão Experimental Portuguesa
da CSES
7 - Overall, I am satisfied with myself/ No geral estou satisfeito/a comigo mesmo/a.
5 - I complete tasks successfully/ Eu termino as tarefas com sucesso.
4 - Sometimes when I fail I feel worthless/ Às vezes quando falho sinto-me sem valor.
9 - I determine what will happen in my life/ Determino o que vai acontecer na minha vida.
Por questões de logística optou-se por apresentar no mesmo questionário uma
segunda escala, a Satisfaction With Life Scale (SWLS, Escala de Satisfação com a Vida;
Diener et al., 1985) e em simultâneo foi administrada uma breve ficha de caraterização
132
sociodemográfica dos participantes. A amostra foi obtida através de listagens fornecidas
por associações comerciais e industriais, tendo-se optado quer pela resposta online quer
pela resposta em suporte de papel. Foram garantidas condições de confidencialidade e
anonimato no tratamento dos resultados aos participantes
Embora na versão americana a escala de avaliação dos itens utilizada seja de 1 a
5, dado que em todos os outros questionários que iríamos utilizar no presente estudo a
escala de avaliação dos itens ser de 1 a 7, por uma questão de uniformidade, optámos
por apresentar também uma escala de 1 a 7 (escala de 1 = totalmente em desacordo a 7
= totalmente de acordo) para a resposta a este conjunto específico de itens.
Participantes e Propriedades Psicométricas da Escala e dos Itens.
Participaram neste estudo 108 gestores de ambos os sexos, sendo 53 homens
(49%) e 55 mulheres (51%), com idades compreendidas entre os 25 e os 70 anos (M =
43.47, DP = 9.64). Procurámos diversificar os domínios de atividade económica, os
quais abarcaram a indústria, o comércio, a saúde, a educação e o setor militar, bem
como os cargos associados à função de gestão, os quais variavam entre a gestão dos
recursos humanos, gestão financeira, gestão e planeamento, definição das políticas da
empresa e elaboração de planos estratégicos de marketing. Nesta amostra, 42 (39%) são
gestores de topo e 66 (61%) gestores intermédios. Por outro lado, 40 (37%) são
profissionais que trabalham em grandes empresas (com mais de 250 colaboradores), 24
(22%) em médias empresas (50 a 250 colaboradores), 17 (16%) em pequenas empresas
(10 a 49 colaboradores), e 27 (25%) em microempresas (menos de 10 colaboradores).
Nesta amostra, 84 (78%) dos participantes têm como habilitações académicas o ensino
superior e 70 (65%) são casados, residindo em várias zonas geográficas do país: 45
(42%) do sul, 30 (28%) do norte e 19 (18%) do centro (12% dos participantes não
forneceram esta informação). Refira-se, ainda, que 14 (13%) dos participantes, apesar
de terem nacionalidade portuguesa, nasceram noutros países (e.g., França, Angola,
Brasil). A média de idades do início da atividade profissional oscila entre os 14 e os 30
anos (M = 22, DP = 2.99) e a idade em que os participantes iniciaram a sua atividade
como gestores oscila entre os 19 e os 58 anos (M = 30.41, DP = 7.64).
A análise das características psicométricas foi efetuada com recurso ao programa
estatístico IBM SPSS Statistics, versão 22.0 para Windows. A precisão foi estimada
133
através da consistência interna dos itens (alfa de Cronbach) e a análise da
dimensionalidade foi efetuada através da análise fatorial exploratória pelo método das
componentes principais, com rotação promax dos componentes isolados, em virtude de
teoricamente os fatores isolados estarem correlacionados, tendo-se recorrido à regra de
retenção dos fatores com valor-próprio igual ou superior à unidade (princípio de Kaiser)
e fixando em .40 o valor mínimo de saturação dos itens.
Tabela 4.3
Resultados da Análise Fatorial dos Itens da CSES (N = 108)
Itens F1 F2 F3 F4 h2 ritc
7 - No geral estou satisfeito/a comigo mesmo/a .90 .80 .60
11 - Sou capaz de lidar com a maioria dos meus
problemas
.71 .60 .44
1 - Estou confiante que conseguirei obter o sucesso
que mereço na minha vida
.62 -.39 .66 .51
2 - Às vezes sinto-me deprimido/a .95 .79 .57
4 - Às vezes quando falho sinto-me sem valor .67 .62 .56
12 - Há momentos em que as coisas parecem bastante
sombrias e sem esperança para mim
.57 .65 .58
10 - Sinto que não controlo o sucesso da minha
carreira
.92 .76 .45
8 - Tenho dúvidas sobre a minha competência .65 .59 .50
6 - Às vezes, sinto que não controlo o meu trabalho .56 -.54 .74 .52
5 - Eu termino as tarefas com sucesso .76 .64 .43
9 - Determino o que vai acontecer na minha vida .74 .55 .42
3 - Quando tento, geralmente sou bem-sucedido/a .50 .58 .68 .41
% da variância 32.7 13.5 11.1 9.9
Valor próprio 3.93 1.62 1.33 1.19
Alfa de Cronbach .69 .74 .67 .58
Nota: h2 = comunalidade, ritc = correlação corrigida do item com o total do fator.
Na tabela 4.3, apresentam-se os resultados da análise fatorial dos itens da Escala
de Avaliação de Constructos Centrais ao Self (CSES). Para a análise da adequabilidade
da amostra e determinação da factorização dos itens foi aplicado o teste Kaiser-Meyer-
Olkin, que permitiu obter um KMO = .74, considerado bom (Pereira, 2004), e o teste de
134
esfericidade de Bartlett, com um resultado significativo (² = 360,670, gl = 66, p <
.001), índices que sugerem a adequação dos dados para análise fatorial.
Analisando os resultados da análise fatorial exploratória, (análise em
componentes principais, com rotação promax), verifica-se a emergência de quatro
fatores, tal como nos estudos americanos (Judge et al., 2003), responsáveis por 67% da
variância total dos itens da escala. Os valores próprios dos fatores oscilam entre 3.93
(Fator 1) e 1.19 (Fator 4), com uma percentagem de variância explicada entre 32.7% e
9.9%, respetivamente. Por outro lado, os itens apresentam índices de comunalidade que
variam entre .55 (item 9) e .80 (item 7).
Na presente análise fatorial, o Fator 2 inclui itens formulados pela negativa, que
podem ser mais conotados como estando reportados ao neuroticismo (item 2: “Às vezes
sinto-me deprimido”; item 4: “Às vezes quando falho sinto-me sem valor”; item 12:
“Há momentos em que as coisas parecem bastante sombrias e sem esperança para
mim”). Os restantes fatores incluem itens que estão associados a mais que uma
dimensão, tal como definido na estrutura dimensional original. Assim, o Fator 1 inclui
itens que se identificam mais com a autoeficácia generalizada e a autoestima (item 7:
“No geral estou satisfeito comigo mesmo”; item 11: “Sou capaz de lidar com a maioria
dos meus problemas”; item 1: “Estou confiante que conseguirei obter o sucesso que
mereço na minha vida”; item 3: “Quando tento, geralmente sou bem sucedido”). O
Fator 3, essencialmente constituído por itens formulados pela negativa, inclui itens que
se podem identificar mais com o locus de controlo e com a autoestima (item 10: “Sinto
que não controlo o sucesso da minha carreira”; item 8: “Tenho dúvidas sobre a minha
competência”; item 6: “Às vezes, sinto que não controlo o meu trabalho”; e item 1:
“Estou confiante que conseguirei obter o sucesso que mereço na minha vida”, este
último com uma saturação negativa, decorrente da sua formulação pela positiva. O Fator
4 inclui itens que se podem identificar mais com a autoeficácia e locus de controlo (item
5: “Eu termino as tarefas com sucesso”; item 9: “Determino o que vai acontecer na
minha vida”; item 3: “Quando tento, geralmente sou bem sucedido”, e item 6: “Às
vezes, sinto que não controlo o meu trabalho”, este último com saturação negativa no
fator, decorrente da sua formulação pela negativa).
Os resultados da análise fatorial parecem sugerir que, pelo menos três das
dimensões do CSES, se encontram bastante relacionadas entre si, podendo constituir-se
em dimensões expressando um traço latente de ordem superior ou mais geral
135
(Chamorro-Premuzic et al., 2008; Judge, 2009; Judge et al., 2004; Kammeyer-Mueller
et al., 2009), excluindo-se a dimensão do neuroticismo, que surge bastante diferenciada
em termos do seu conteúdo. Face aos resultados obtidos e dado que a amostra de
gestores empresariais era bastante reduzida, considera-se pertinente a realização de
futuros estudos de validade da escala. Contudo, aceitamos para o presente estudo a
estrutura fatorial encontrada, dada a sua compreensibilidade do ponto de vista teórico.
Relativamente à consistência interna dos itens em cada fator, os coeficientes
obtidos foram satisfatórios. O Fator 1 com três itens (1, 7 e 11) apresenta um alfa de
Cronbach de .69 e as correlações dos itens com o total desse fator situaram-se entre .44
(item 11) e .60 (item 7). O Fator 2 com três itens (2, 4 e 12) apresenta um alfa de
Cronbach de .74 e as correlações dos itens com o total desse fator oscilaram entre .56
(item 4) e .58 (item 12). O Fator 3 com três itens (6, 8 e 10) apresenta um alfa de
Cronbach de .67 e as correlações dos itens com o total desse fator foram entre .45 (item
6) e .52 (item 10). O Fator 4 com três itens (3, 5 e 9) apresenta um alfa de Cronbach de
.58 e as correlações dos itens com o total desse fator situaram-se entre .41 (item 9) e .43
(item 3), sendo que esta oscilação mínima nos coeficientes de correlação poderá estar
associada ao número reduzido de itens em análise. Note-se que apesar do reduzido
número de itens em cada uma das dimensões, foi possível confirmar adequada
consistência interna das mesmas.
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar da CSES.
A par destas análises estatísticas, mais centradas na validade interna dos itens,
pretendemos recolher alguma informação sobre a correlação das respostas dos sujeitos
aos itens e algumas das suas caraterísticas, procurando também indicadores de validade
externa dos itens. Neste caso, face à informação socioprofissional recolhida,
consideramos a correlação das dimensões identificadas no estudo com a CSES com as
seguintes variáveis estruturais: idade dos sujeitos, anos de experiência profissional e
anos de experiência de gestão. A nossa hipótese de partida é que a mais idade e a mais
anos de experiência profissional, na nossa amostra de gestores empresariais,
corresponderão níveis mais elevados de autoestima e autoeficácia generalizada.
Na tabela 4.4 apresentamos os coeficientes de correlação obtidos dos itens da
Escala de Avaliação de Constructos Centrais ao Self (CSES) com a idade e prática
136
profissional. Como podemos constatar pelos resultados obtidos, a grande maioria dos
itens não apresenta correlação com os critérios externos considerados.
Tabela 4.4
Correlações Entre os Itens da CSES com a Idade e Prática Profissional
Itens Idade Experiência
profissional
Experiência
de gestão
1 - Estou confiante que conseguirei obter o sucesso que
mereço na minha vida .11 .16 .02
2 - Às vezes sinto-me deprimido/a -.08 -.12 -.15
3 - Quando tento, geralmente sou bem-sucedido/a .24* .26* .17
4 - Às vezes quando falho sinto-me sem valor .13 .10 .08
5 - Eu termino as tarefas com sucesso .17 .15 .04
6 - Às vezes, sinto que não controlo o meu trabalho .09 .12 .01
7 - No geral estou satisfeito/a comigo mesmo/a .36** .37** .25**
8 - Tenho dúvidas sobre a minha competência -.01 -.04 -.10
9 - Determino o que vai acontecer na minha vida .02 .08 -.13
10 - Sinto que não controlo o sucesso da minha carreira -.03 -.03 -.17
11 - Sou capaz de lidar com a maioria dos meus
problemas .21* .22* .13
12 - Há momentos em que as coisas parecem bastante
sombrias e sem esperança para mim .01 -.03 -.08
*p < .05, **p < .01
As correlações estatisticamente significativas surgem apenas em três itens em
relação à idade e aos anos de experiência profissional: 3 - “Quando tento, geralmente
sou bem sucedido(a)”, 7 - “No geral estou satisfeito(a) comigo mesmo(a)”, e 11 - “Sou
capaz de lidar com a maioria dos meus problemas”, os quais podem ser identificados
como pertencendo às dimensões autoeficácia generalizada e autoestima. Neste caso,
apesar de as correlações serem fracas, podemos afirmar que gestores/as mais velhos/as e
com mais experiência profissional apresentam mais autoconfiança e autoestima, tal
como avaliados pelos itens. Assim, apenas se encontraram correlações estatisticamente
significativas entre os anos de experiência de gestão e o item sete (“No geral estou
satisfeito/a comigo mesmo/a”), o qual constitui um item de representação clara da
autoestima.
137
Os resultados sugerem que nesta amostra de gestores empresariais a dimensão
autoestima é aquela que apresenta uma maior correlação, pois ela surge em relação à
idade, em relação aos anos de experiência profissional e em relação aos anos de
experiência de gestão.
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários.
Os dados obtidos através da aplicação da Escala de Avaliação dos Constructos
Centrais ao Self a uma amostra de gestores empresariais portugueses foram analisados
posteriormente, realizando-se comparações entre sexos e entre idades. A comparação da
significância estatística para a diferença entre as médias de resultados, tendo em conta
as variáveis independentes sexo e idade, fez-se a partir de metodologias de análise de
variância simples, designadamente o teste t de Student no caso da comparação entre
sexos e, para o caso da comparação entre idades, o teste One-Way ANOVA que é
considerado mais adequado quando é necessário fazer muitas comparações entre pares
de médias (Pestana & Gageiro, 2005).
Procurando conhecer os constructos centrais ao self mais relevantes entre os
sujeitos da amostra de gestores empresariais portugueses e simultaneamente avaliar as
diferenças existentes entre sexos, analisaram-se as médias e os desvios padrão nas
subamostras masculina e feminina e o nível de significância obtido através do teste de t
de Student para amostras independentes. Os índices de tendência central e dispersão,
relativos aos resultados obtidos por sexo, são apresentados na tabela 4.5.
Analisando os níveis de significância obtidos pelo teste-t nos quatro fatores da
Escala de Constructos Centrais ao Self, verificamos que não existem diferenças
estaticamente significativas entre as médias dos subgrupos masculino e feminino, dado
que nos quatro fatores os níveis de significância apresentam valores superiores a .05.
Poderemos então inferir que, na presente amostra, os constructos centrais ao self são
traços transversais aos gestores empresariais, independentemente do seu género,
havendo apenas um coeficiente que se aproxima do limiar de significância (Fator 2) a
favor dos participantes do sexo feminino.
138
Tabela 4.5
Médias, Desvios-Padrão e Nível de Significância entre as Médias por Sexo da CSES
Fatores Homens Mulheres Teste-t
M DP M DP
Fator 1 16.68 2.42 17.02 2.18 .588
Fator 2 14.10 3.46 12.84 4.04 .068
Fator 3 14.55 3.86 13.47 3.51 .102
Fator 4 15.67 2.22 15.77 2.40 .627
Para a análise da diferença das médias dos fatores da Escala de Avaliação dos
Constructos Centrais ao Self em função da idade dos sujeitos, foram estabelecidos
quatro níveis etários, tendo como base os seguintes critérios: (i) organizar grupos
diferenciados quanto à idade, de modo a possibilitar uma maior possibilidade de se
evidenciarem diferenças; e (ii) organizar grupos que desempenhem tarefas vocacionais
semelhantes, de acordo com o seu estádio de desenvolvimento da carreira: exploração
no inicio da carreira, estabelecimento e manutenção a meio da carreira e, por último, um
descompromisso já no final da sua carreira (Super, 1990). Assim, foi atribuído o nível 1
para os sujeitos com menos de 35 anos, o nível 2 para idades dos 35 aos 44 anos, o nível
3 dos 45 aos 54 anos de idade e o nível 4 a partir dos 55 anos de idade.
A tabela 4.6 apresenta as médias e o desvio padrão entre os quatro níveis etários
estabelecidos e o nível de significância obtido através do teste One-Way ANOVA.
Também em relação à variável idade, não se encontraram diferenças estaticamente
significativas entre as médias obtidas para cada subgrupo, dado que nos quatro fatores
os níveis de significância apresentam valores superiores a .05.
Tabela 4.6
Médias, Desvios-Padrão e Nível de Significância entre as Médias por Níveis Etários da
CSES
Idade < 35 35 a 44 45 a 55 ˃55
Fatores M DP M DP M DP M DP F
Fator 1 16.15 2.59 16.51 1.99 17.16 2.36 17.82 1.40 1.95
Fator 2 13.79 3.77 12.13 3.92 13.86 3.92 13.80 2.82 1.27
Fator 3 14.14 4.20 13.17 2.81 14.16 3.52 14.73 4.89 .59
Fator 4 15.28 2.56 15.77 2.00 15.67 2.30 17.00 1.90 1.55
139
Mais uma vez, parece que os constructos centrais ao self são traços transversais
aos gestores empresariais, independentemente da sua idade e do seu estádio de
desenvolvimento da carreira.
Contudo e, apesar de não existirem diferenças estaticamente significativas entre
as médias obtidas para cada subgrupo, será interessante referir que as médias dos fatores
1 e 4, fatores mais relacionados com as dimensões autoestima e autoeficácia, vão
adquirindo sucessivamente valores mais elevados desde o grupo etário mais baixo (< 35
anos) para o mais elevado (> 55 anos), dando a ideia de que, na nossa amostra de
gestores empresariais, à medida que a idade aumenta, a autoestima e a autoeficácia são
dimensões que se consolidam positivamente na identidade do sujeito.
Estudo preliminar da Satisfaction With Life Scale (SWLS - Escala de Satisfação
com a Vida)
Em 1985, Diener e colaboradores, partindo da definição de Shin e Johnson sobre
satisfação com a vida - “uma avaliação global que o sujeito faz sobre a sua qualidade
de vida de acordo com os seus critérios pré-estabelecidos” (p. 478), realizaram o seu
primeiro estudo com vista à construção de uma escala de bem-estar subjetivo. Assim, a
matriz inicial proposta pelos autores era de que o bem-estar subjetivo é composto por
dois componentes, um componente afetivo (afetos agradáveis e afetos desagradáveis) e
um componente cognitivo (satisfação na vida). Partindo do princípio de que, para se
saber qual o grau de satisfação com a vida, é necessário perceber a felicidade que se tem
em vários domínios da vida, os autores projetaram uma escala com diversos itens na
qual era feita uma avaliação global da vida do sujeito. Assim, foi gerada uma primeira
lista composta por 48 itens, na qual estavam incluídas situações geradoras de afetos
positivos e situações geradoras de afetos negativos. Sujeitos a uma análise fatorial, tais
itens agruparam-se em três fatores: afetos positivos, afetos negativos e satisfação com a
vida. Os itens relacionados com os fatores dos afetos negativos e positivos foram
eliminados, bem como todos os itens do fator satisfação com a vida com valores de
saturação fatorial inferiores a .60. Formou-se, assim uma lista com 10 itens. Nessa
altura, para a construção da Satisfation With Life Scale (SWLS - Escala de Satisfação
com a Vida; Diener et al., 1985), foram selecionados 5 dos 10 itens que mais saturavam
no fator satisfação com a vida, minimizando redundâncias em termos de enunciado e
140
perdas ao nível da consistência interna. Na tabela 4.7 são apresentados os itens que
compõem a escala Satisfaction With Life Scale (SWLS).
Tabela 4.7
Itens da Satisfaction With Life Scale (SWLS)
Itens
1. In most ways my life is close to my ideal. [Em muitos aspetos, a minha vida aproxima-se
dos meus ideais.]
2. The conditions of my life are excellent. [As minhas condições de vida são excelentes.]
3. I am satisfied with my life. [Estou satisfeito/a com a minha vida.]
4. So far I have gotten the important things I want in life. [Até agora, consegui obter aquilo
que me era importante na vida.]
5. If I could live my life over, I would change almost nothing. [Se pudesse viver a minha vida
de novo, não alteraria praticamente nada.]
Estudos posteriores confirmaram a existência de um único fator e os resultados
encontrados relativamente à precisão (alfa de Cronbach) foram de .87 e .82 no teste-
reteste, com um intervalo de dois meses entre avaliações (Diener et al., 1985). Desde
1985 que se têm realizado diversos estudos, sempre com excelentes índices de
consistência interna e de estabilidade temporal, nos quais o alfa de Cronbach apresenta
valores situados entre .84 e .89 (Pavot & Diener, 1993). Também com amostras
portugueses os resultados confirmaram a existência de um único fator e os resultados
encontrados relativamente à precisão (alfa de Cronbach) variaram entre valores de .78
(Neto, 1993) e .92 (Sancho, Galiana, Gutierrez, Francisco, & Tomás, 2012).
Análise Qualitativa dos Itens da Satisfaction With Life Scale (SWLS)
No presente estudo fizemos a adaptação da Escala de Satisfação com a Vida
(SWLS - Satisfaction With Life Scale; Diener et al., 1985) para uma amostra de gestores
empresariais portugueses, recorrendo à adaptação portuguesa realizada por Neto, Barros
e Barros (1990). Conforme referido anteriormente, a versão portuguesa experimental da
Escala de Satisfação com a Vida (Diener et al., 1995) foi apresentada em simultâneo
com a Core Self-Evaluations Scale (CSES - Escala de Avaliação de Constructos Centrais
ao Self; Judge et al., 2003) sendo também utilizada uma escala tipo Likert com 7 pontos,
variando entre 1, totalmente em desacordo, e 7, totalmente de acordo.
141
Participantes e Propriedades Psicométricas da Escala e dos Itens
Tendo em vista o funcionamento e validade dos itens e da escala, procedemos à
aplicação da mesma e a uma análise quantitativa dos resultados centrados na
dimensionalidade e na consistência interna da escala e suas dimensões. Dado que a
presente escala foi aplicada em simultâneo com a Escala de Avaliação de Constructos
Centrais ao Self, as características da amostra já se encontram descritas anteriormente.
A análise das características psicométricas da escala foi efetuada com recurso ao
programa estatístico IBM SPSS Statistics, versão 22.0 para Windows, a precisão foi
estimada através da consistência interna dos itens (alfa de Cronbach) e a análise da
dimensionalidade da escala foi efetuada através da análise fatorial exploratória pelo
método de análise em componentes principais, com rotação promax dos componentes
isolados, em virtude de teoricamente os fatores isolados estarem correlacionados, tendo-
se recorrido à regra de retenção dos fatores com valor-próprio igual ou superior à
unidade (princípio de Kaiser) e fixando em .40 o valor mínimo de saturação dos itens.
Para a análise da adequabilidade da amostra e fatorialização dos itens da SWLS,
aplicámos o teste Kaiser-Meyer-Olkin, obtendo-se um índice KMO = .83, e o teste de
esfericidade de Bartlett com um resultado estatisticamente significativo (² = 290.436,
df = 10, p < 0.001). Ambos os índices são favoráveis à fatorialização dos itens. A análise
fatorial exploratória identifica um único fator, explicando 68.3% da variância no
conjunto dos cinco itens. Por sua vez, a análise da consistência interna (alfa de
Cronbach) apresenta o coeficiente de .87, sendo que os coeficientes de correlação
corrigida entre os itens e o total da escala oscilam entre .54 e .79. Os resultados da
análise fatorial, dos coeficientes corrigidos de correlação entre os itens e o total da
escala, e o alfa de Cronbach obtido bastante superior a .70, índice requerido para
afirmar a precisão de uma escala (Nunnally, 1978) apontam no sentido da
unidimensionalidade da escala.
Através da leitura da tabela 4.8, podemos observar que os resultados da amostra
portuguesa são muito similares com os resultados encontrados na amostra americana
(Diener et al., 1985), quer ao nível dos coeficientes encontrados para cada item, quer ao
nível da correlação de cada item com a escala total.
142
Tabela 4.8
Resultados da Análise Fatorial dos Itens da SWLS (N = 108)
Itens Sat. Fator Sat. Fator
Americana
ritc ritc
Americana
1 - Em muitos aspetos, a minha vida
aproxima-se dos meus ideais. .84 .84 .71 .75
2 - As minhas condições de vida são
excelentes.
.83 .77 .72 .69
3 - Estou satisfeito(a) com a minha
vida. .89 .83 .79 .75
4 - Até agora, consegui obter aquilo
que me era importante na vida. .
.88 .72 .78 .67
5 - Se pudesse viver a minha vida de
novo, não alteraria praticamente nada.
.67 .61 .54 .57
% da variância 68.3 66.0
Valor próprio 3.42 -
Alfa de Cronbach .87 .87
Tal como na amostra americana, o item mais fraco é o item 5 (“Se pudesse viver
a minha vida de novo, não alteraria praticamente nada”). Se o eliminássemos, o alfa de
Cronbach subiria para .89 na amostra portuguesa. No entanto, não sendo expressiva a
subida, e para manter a versão original da escala, não eliminámos este item. Da análise
fatorial, tal como nos estudos americanos, emergiu um único fator, sendo responsável
por 68% da variância da escala.
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar da SWSL
A par destas análises estatísticas mais centradas na validade interna dos itens,
também recolhemos alguma informação sobre a correlação das respostas dos sujeitos
aos itens e algumas das suas caraterísticas, procurando também indicadores de validade
externa dos itens. Neste caso, face à informação socioprofissional recolhida,
consideramos a correlação com as variáveis idade dos sujeitos, anos de experiência
profissional e anos de experiência de gestão, mantendo a nossa hipótese de partida: a
mais idade e a mais anos de experiência profissional em geral e na área específica da
gestão, na nossa amostra de gestores empresariais, deverão corresponder níveis mais
elevados de satisfação com a vida. Na tabela 4.9 apresentamos os coeficientes de
143
correlação obtidos dos itens da Escala de Satisfação com a Vida (SWSL) com a idade e
prática profissional.
Tabela 4.9
Correlações Entre os Itens da SWSL com a Idade e Prática Profissional (N =108)
Itens Idade
Experiência
profissional
Experiência
de gestão
1 - Em muitos aspetos, a minha vida
aproxima-se dos meus ideais. .32** .34** .20*
2 - As minhas condições de vida são
excelentes. .15 .14 .16
3 - Estou satisfeito(a) com a minha vida.
.16 .14 .30**
4 - Até agora, consegui obter aquilo que me
era importante na vida. .31** .32** .22*
5 - Se pudesse viver a minha vida de novo,
não alteraria praticamente nada. .16 .16 .25**
*p < .05, **p < .01
Como podemos constatar pelos resultados obtidos, apenas o item 2 (“As minhas
condições de vida são excelentes”) não apresenta correlação com os critérios externos
considerados, o que face à atual conjuntura económica do país é compreensível. Todos
os outros itens (1 – “Em muitos aspetos, a minha vida aproxima-se dos meus ideais”; 3 -
Estou satisfeito/a com a minha vida”; 4 – “Até agora, consegui obter aquilo que me era
importante na vida”; 5 – “Se pudesse viver a minha vida de novo, não alteraria
praticamente nada”) apresentam uma forte correlação com os anos de experiência de
gestão. Assim, parece que a variável satisfação com a vida é de grande relevância na
área da gestão empresarial, aparecendo associada aos anos de gestão dos sujeitos da
amostra.
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários
Procurando perceber melhor a satisfação com a vida entre os sujeitos da amostra
de gestores empresariais portugueses e simultaneamente avaliar as diferenças existentes
entre sexos, analisaram-se as médias e os desvios-padrão nas subamostras masculina e
feminina e o nível de significância obtido através do Teste de Levene. Analisando os
níveis de significância obtidos pelo teste de t de Student para amostras independentes,
144
face à satisfação com a vida, verificamos que não existem diferenças estaticamente
significativas (t = -.58, gl=104, p=.567) entre as médias dos subgrupos masculino (M =
25.21, DP = 5.53) e feminino (M = 25.75, DP = 4.87).
Para a análise da diferença das médias dos fatores da Escala de Satisfação com a
Vida em função da idade dos sujeitos, também foram estabelecidos quatro níveis etários,
tendo como base os critérios utilizados nos estudos do questionário apresentado
anteriormente. A tabela 4.10 apresenta as médias e o desvio-padrão entre os quatro
níveis etários estabelecidos e o nível de significância obtido através do teste One-Way
ANOVA.
Tabela 4.10
Médias, Desvios-Padrão e Diferenças de Médias Entre Níveis Etários da SWLS
Idade < 35 35 a 44 45 a 55 >55
M. DP M. DP M. DP M. DP ANOVA
SWLS 24.21 5.63 24.50 4.53 26.52 5.04 26.82 5.36 1.563
Também em relação à variável idade, não se encontraram diferenças
estaticamente significativas entre as médias obtidas para cada subgrupo. Contudo,
apesar de não existirem diferenças estaticamente significativas entre as médias obtidas
para cada subgrupo, mais uma vez observamos que as médias obtidas para o fator
satisfação com a vida, vão adquirindo sucessivamente valores mais elevados desde o
grupo etário mais baixo (< 35 anos) até o mais elevado (> 55 anos), dando a ideia de
que, na nossa amostra de gestores empresariais, à medida que a idade aumenta, também
a satisfação com a vida aumenta.
Estudo preliminar do Political Skill Inventory (PSI - Inventário de Competências
de Gestão Interpessoal)
O Political Skill Inventory (PSI; Ferris et al., 2005) é um instrumento
multidimensional que visa a avaliação das competências de gestão interpessoal.
Partindo da definição de competências de gestão interpessoal como sendo “as
capacidades de compreender os outros no trabalho e usar esse conhecimento para
influenciar os outros de modo a que estes atuem para atingir objetivos pessoais e/ou
organizacionais” (Ahearn, Ferris, Hochwarter, Douglas, & Ammeter, 2004, p. 311), os
145
autores realizaram uma análise cuidadosa da literatura sobre competências
organizacionais, levando-os a considerarem quatro aspetos que devem ser incluídos em
qualquer medida representativa das competências de gestão interpessoal na prática
profissional: perspicácia social (social astuteness), ou seja a capacidade de observar os
outros com perspicácia e interpretar os seus comportamentos, através de uma profunda
sintonia face às diversas situações sociais; influência interpessoal (interpersonal
influence), ou seja a capacidade para convencer, exercendo poder, os outros em seu
redor; a capacidade para estabelecer redes de relacionamento profissional (networking
ability), entendida como a capacidade de criar e recorrer a redes de trabalho, que se
constituem na base de fortes alianças sociais no trabalho; e a sinceridade genuína
(apparent sincerity), isto é, a capacidade para demonstrar competências elevadas de
autenticidade, genuinidade, integridade e sinceridade aos outros (Ferris, Anthony,
Kolodinsky, Gilmore, & Harvey, 2002; Ferris et al., 2005; Ferris, Treadway, Perrewé,
Brouer, Douglas, & Lux, 2007).
Na construção do Political Skill Inventory (PSI; Inventário de Competências de
Gestão Interpessoal; Ferris et al., 2005) foi gerada uma lista com 40 itens
representativos dos quatro domínios de competências de gestão interpessoal no quadro
da atividade profissional: perspicácia social (e.g., “Sou particularmente bom a captar as
motivações e as segundas intenções dos outros”), influência interpessoal (e.g., "Para
mim é fácil estabelecer um bom relacionamento com a maioria das pessoas”),
capacidade para estabelecer redes de relacionamento profissional (e.g., “Sou bom a usar
a minha rede de contactos para fazer as coisas acontecerem no trabalho”) e sinceridade
genuína (e.g., “Quando comunico com os outros, procuro ser verdadeiro/a no que digo e
faço”). Nesta lista, Ferris et al. (1999) incluíram também os seis itens elaborados no seu
primeiro trabalho de apresentação e validação da escala, apresentado no 59th Annual
National Meeting of the Academy of Management de Chicago. Posteriormente, foram
selecionados os atuais itens que constituem a escala. Para tal, realizou-se, em primeiro
lugar, a análise dos itens mantendo-se apenas aqueles que apresentavam valores
superiores a .40 na correlação com a escala; em segundo lugar, procedeu-se à análise
das correlações dos itens com a Social Desirability Scale (Strahan & Gerbasi, 1972) e à
exclusão de todos os itens com correlações estatisticamente significativas para p < .05;
e, em último lugar, realizou-se uma análise fatorial com posterior exclusão dos itens que
146
se encontravam em dois ou mais fatores. Na tabela 4.11 são apresentados os itens que
compõem o Political Skill Inventory (PSI).
Tabela 4.11
Itens do Political Skill Inventory (PSI)
Itens
1. I spend a lot of time and effort at work networking with others.
2. At work, I know a lot of important people and am well connected.
3. I am good at using my connections and network to make things happen at work.
4. I have developed a large network of colleagues and associates at work whom I can
call on for support when I really need to get things done.
5. I spend a lot of time at work developing connections with others.
6. I am good at building relationships with influential people at work.
7. It is important that people believe I am sincere in what I say and do.
8. When communicating with others, I try to be genuine in what I say and do.
9. I try to show a genuine interest in other people.
10. I always seem to instinctively know the right things to say or do to influence others.
11. I have good intuition or savvy about how to present myself to others.
12. I am particularly good at sensing the motivations and hidden agendas of others.
13. I pay close attention to people’s facial expressions.
14. I understand people very well. *
15. It is easy for me to develop good rapport with most people. *
16. I am able to make most people feel comfortable and at ease around me. *
17. I am able to communicate easily and effectively with others.
18. I am good at getting people to like me.
Nota: Os itens com asterisco faziam parte do grupo de seis itens iniciais desenvolvidos por Ferris et al.
(1999).
A versão final da escala (Ferris et al., 2005), constituída por 18 itens, indica a
valorização básica que um individuo faz sobre as suas competências de gestão
interpessoal. Os resultados dos primeiros estudos revelaram a existência de quatro
fatores com valores próprios entre 6.98 e 1.19 que explicam 63% da variância. Os
índices de consistência interna obtidos através do coeficiente alfa de Cronbach
situaram-se entre .78, para influência interpessoal, .79 para perspicácia social, .81 para
sinceridade genuína e .87 para capacidade para estabelecer redes de relacionamento
profissional. Desde 2005 que têm sido efetuados diversos estudos sobre as
características psicométricas do Political Skill Inventory e relativamente à consistência
interna os valores encontrados para o coeficiente alfa de Cronbach têm sido sempre
superiores a .70 (Ferris et al., 2005, 2007). Também em diversos estudos realizados
147
(Bing, Davison, Minor, Novicevic, & Frink, 2011; Blickle, John, Ferris, Momm, Liu,
Haag, Meyer, Weber, & Oerder, 2012; Blickle, Kramer, Schneider, Meurs, Ferris,
Mierke, & Momm, 2011; Coole, 2007; Treadway, Breland, Williams, Cho, Yang, &
Ferris, 2013) têm sido validadas as quatro dimensões representativas das competências
de gestão interpessoal identificadas nos primeiros estudos realizados por Ferris e
colaboradores.
Tradução e Análise Qualitativa dos Itens
Dado que o PSI ainda não se encontrava traduzido para a língua Portuguesa à
data da recolha de dados, procedemos à sua tradução e retrotradução recorrendo a
psicólogos com elevada fluência na língua inglesa. Com o objetivo de aumentar a
validade da escala, recorremos ao método da reflexão falada junto de cinco gestores
empresariais. Estes gestores, dois homens e três mulheres, com idades compreendidas
entre 30 e 50 anos, trabalhavam em microempresas e tinham uma experiência
profissional de mais de dez anos de gestão. Nesta reflexão falada, procurámos recolher
informação acerca da acessibilidade do vocabulário utilizado na escala e garantir a
compreensão unívoca das suas instruções e dos seus itens.
Procurámos, também, obter uma estimativa do tempo requerido para o
preenchimento do instrumento. Durante todo o processo da reflexão falada procedeu-se
ao registo dos comentários dos participantes, designadamente dúvidas quanto ao
conteúdo dos itens, das instruções para o preenchimento da escala e das questões sobre
os dados de caracterização. As alterações introduzidas em resultado da reflexão falada
incidiram sobre a tradução e clarificação dos itens.
Por questões de logística, juntamente com a escala PSI, foi administrada a
Passion Toward Work Scale (PTWS – Escala da Paixão pelo Trabalho; Vallerand &
Houlford, 2003) e uma breve ficha de caracterização sociodemográfica. A recolha de
dados decorreu numa amostra de conveniência constituída pelo efeito “bola de neve”,
tendo-se optado quer pela resposta online, quer pela resposta em suporte de papel.
Foram garantidas condições de confidencialidade e anonimato no tratamento dos
resultados aos participantes.
148
Tabela 4.12
Exemplos de Itens Traduzidos da Versão Americana e Versão Experimental Portuguesa
do PSI
3 - I am good at using my connections and network to make things happen at
work/Sou bom a usar a minha rede de contactos para fazer as coisas acontecerem no
trabalho
8 - When communicating with others, I try to be genuine in what I say and do/Quando
comunico com os outros, procuro ser verdadeiro/a no que digo e faço
13 – I pay close attention to people’s facial expressions/Presto atenção às expressões
faciais das pessoas
17 - I am able to communicate easily and effectively with others/Sou capaz de
comunicar com facilidade e eficazmente com os outros
Participantes e Propriedades Psicométricas do Inventário e dos Itens
Participaram neste estudo 131 gestores de ambos os sexos, sendo 62 homens
(47%) e 69 mulheres (53%), com idades compreendidas entre os 24 e os 72 anos (M =
43.4, DP = 9.64), e de diversos domínios de atividade económica, designadamente
indústria, comércio, militar, saúde e educação. Os cargos associados à função de gestão
variavam entre a gestão dos recursos humanos, gestão financeira, gestão e planeamento,
definição das políticas da empresa e elaboração de planos estratégicos de marketing.
Nesta amostra, 40 (31%) são gestores de topo e 91 (69%) gestores intermédios. Nesta
amostra, 75% dos participantes têm como habilitações académicas o ensino superior e
65% são casados. Estes participantes residem em várias zonas geográficas do país,
sendo 42% do sul, 28% do norte e 18% do centro. Refira-se ainda que 13% dos
participantes, apesar de terem nacionalidade portuguesa, nasceram noutros países (e.g.,
França, Angola, Brasil). A idade em que os participantes iniciaram a sua atividade como
gestores oscila entre os 17 e os 55 anos (M = 29.17, DP = 6.36). Por outro lado, 42%
são profissionais que trabalham em grandes empresas (mais de 250 colaboradores), 22%
em médias empresas (50 a 250 colaboradores), 9% em pequenas empresas (10 a 49
colaboradores) e 27% em microempresas (menos de 10 colaboradores).
A análise das características psicométricas da escala foi efetuada com recurso ao
programa estatístico IBM SPSS Statistics, versão 22.0 para Windows. A precisão foi
estimada através da consistência interna dos itens (alfa de Cronbach) e a análise da
dimensionalidade das duas escalas foi efetuada através da análise fatorial exploratória
149
pelo método das componentes principais, com rotação promax dos componentes
isolados, em virtude de teoricamente os fatores isolados estarem correlacionados, tendo-
se recorrido à regra de retenção de fatores com valor-próprio igual ou superior à unidade
(princípio de Kaiser) e fixando em .40 o valor mínimo de saturação dos itens.
Foi aplicado o teste Kaiser-Meyer-Olkin, obtendo-se um índice de KMO = .86, e
o teste de esfericidade de Bartlett com um resultado estatisticamente significativo (² =
1150.881, gl = 153, p < 0.001). Ambos os índices são favoráveis à factorização dos
itens. A análise fatorial exploratória identifica quatro fatores com valor próprio igual ou
superior à unidade, explicando no seu conjunto 65% da variância.
A tabela 4.13 apresenta os resultados da análise fatorial dos itens do Inventário
de Competências de Gestão Interpessoal (PSI), os índices alfa de Cronbach para cada
fator ou dimensão identificada e, também, os coeficientes de correlação corrigida dos
itens com o total da respetiva dimensão (ritc). Observando os resultados obtidos
podemos verificar que os quatro fatores explicam 65.1% da variância dos itens, sendo
este valor próximo do obtido nos estudos norte-americanos (Ferris et al., 2005). Por sua
vez, os valores próprios situam-se entre 6.79 (Fator 1) e 1.19 (Fator 4), com uma
percentagem de variância explicada entre 37.7% e 6.6% respetivamente. O item 10
(“Instintivamente sei dizer ou fazer as coisas certas para influenciar os outros”)
apresenta-se no limiar de saturação mínimo exigido (.39), integrando-se no Fator 2. As
comunalidades variam entre .44 (item 10) e .76 (item 16). Seguindo a organização
dimensional da escala na sua versão original, o Fator 1, Capacidade de Estabelecer
Redes de Relacionamento Profissional, e o Fator 3, Sinceridade Genuína, são
constituídos pelos mesmos itens da versão norte-americana. Associado ao Fator 2,
Influência Interpessoal, surgem mais dois itens (item 10, “Instintivamente sei dizer ou
fazer as coisas certas para influenciar os outros” e item 11, “Tenho uma boa intuição ou
habilidade sobre como me apresentar aos outros”) que na amostra norte-americana
estavam associados ao fator Perspicácia Social.
Relativamente à consistência interna dos itens em cada fator, os coeficientes
obtidos foram satisfatórios.
150
Tabela 4.13
Resultados da Análise Fatorial dos Itens do PSI (N = 131)
Itens F1 F2 F3 F4 h2 ritc
1 – Despendo muito tempo e esforço a criar redes
de trabalho com os outros colegas.
.88 .66 .62
2 – No trabalho, conheço muitas pessoas
importantes e estou bem relacionado/a.
.75 .59 .65
3 – Sou bom a usar a minha rede de contactos para
fazer as coisas acontecerem no trabalho.
.85 .75 .75
4 – Desenvolvi uma grande rede de contactos no
trabalho, a quem eu posso pedir apoio, quando
realmente preciso fazer as coisas.
84 .64 .69
5 – Passo muito tempo no trabalho a desenvolver
contactos com outros.
.67 .54 .64
6 – Sou bom a construir relacionamentos com
pessoas influentes no trabalho.
.72 .75 .76
10 – Instintivamente sei dizer ou fazer as coisas
certas para influenciar os outros.
.39 .44 .53
11 – Tenho uma boa intuição ou habilidade sobre
como me apresentar aos outros.
.51 .70 .70
15 – Para mim é fácil estabelecer um bom
relacionamento com a maioria das pessoas.
.90 .69 .62
16 – Sou capaz de fazer a maioria das pessoas
sentir-se confortável e à vontade em meu redor.
.88 .76 .77
17 – Sou capaz de comunicar com facilidade e
eficazmente com os outros.
.76 .65 .68
18 – Sou bom a conseguir que as pessoas gostem de
mim.
.68 .55 .64
7 – Para mim é importante que as pessoas acreditem
que eu sou sincero/a naquilo que digo e faço.
.71 .61 .45
8 – Quando comunico com os outros, procuro ser
verdadeiro/a no que digo e faço.
.78 .68 .62
9 – Procuro mostrar um interesse genuíno pelas
outras pessoas.
.70 .68 .46
12 – Sou particularmente bom a captar as
motivações e as segundas intenções dos outros.
.67 .72 .56
13 – Presto atenção às expressões faciais das
pessoas.
.78 .69 .45
14 – Compreendo as pessoas muito bem. .67 .61 .54
% de variância explicada 37.7 10.7 10.1 6.6
Valor próprio dos fatores 6.79 1.92 1.81 1.19
Alfa de Cronbach .88 .86 .67 .69
151
O Fator 1, Capacidade de Estabelecer Redes de Relacionamento Profissional,
que inclui seis itens (itens 1 a 6), apresenta um alfa de Cronbach de .88, e as correlações
dos itens com o total desse fator oscilam entre .62 (item 1) e .76 (item 6). O Fator 2,
Influência Interpessoal, com seis itens (itens 10, 11 e de 15 a 18) apresenta um alfa de
Cronbach de .86 e as correlações dos itens com o total desse fator situaram-se entre .53
(item 10) e .77 (item 16). O Fator 3, Sinceridade Genuína, com três itens (itens 7, 8, 9),
apresenta um alfa de Cronbach de .67, e as correlações dos itens com o total desse fator
oscilaram entre .45 (item 7) e .62 (item 8). O Fator 4, Perspicácia Social, que inclui três
itens (itens 12, 13, 14), apresenta um alfa de Cronbach de .69, e as correlações dos itens
com o total desse fator situaram-se entre .45 (item 13) e .56 (item 12).
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar do PSI
A par das análises estatísticas mais centradas na validade interna dos itens,
também recolhemos informação sobre a correlação das respostas dos sujeitos aos itens e
algumas das suas caraterísticas procurando também indicadores de validade externa dos
itens. Face à informação socioprofissional recolhida, considerámos também neste
inventário a correlação com as variáveis idade dos sujeitos, anos de experiência
profissional e anos de experiência de gestão. A nossa hipótese de partida, já referida
anteriormente, é que a mais idade e a mais anos de experiência profissional em geral e
na área da gestão deveriam corresponder níveis mais elevados de competência nos
comportamentos e atitudes referenciados nos itens. Na tabela 4.13 apresentamos os
coeficientes de correlação obtidos. Como podemos constatar pelos resultados obtidos, a
grande maioria dos itens não apresenta correlação com os critérios externos
considerados. Esta situação ocorre particularmente em relação à idade, sendo já
diferente para os anos de experiência profissional e para os anos de prática na área da
gestão. Mais concretamente, encontramos os itens 5, “Passo muito tempo no trabalho a
desenvolver contactos com outros”, 6, “Sou bom a construir relacionamentos com
pessoas influentes no trabalho”, 12, “Sou particularmente bom a captar as motivações e
as segundas intenções dos outros”, 14, “Compreendo as pessoas muito bem”, e 17, “Sou
capaz de comunicar com facilidade e eficazmente com os outros” com correlações
estatisticamente significativas com os anos de gestão. Será de referir que os itens 5 e 6
pertencem ao fator 1 (Capacidade para Estabelecer Redes de Relacionamento
Profissional) e os itens 12 e 14 ao fator 4 (Perspicácia Social), dimensões de grande
relevância na área profissional da gestão.
152
Tabela 4.14
Correlações entre os Itens do PSI com a Idade e Prática Profissional (N =131)
Itens Idade Experiência
profissional
Experiência
de gestão
1 – Despendo muito tempo e esforço a criar redes de
trabalho com os outros colegas. .02 .01 .14
2 – No trabalho, conheço muitas pessoas importantes e
estou bem relacionado/a.
-.00 00 09
3 – Sou bom a usar a minha rede de contactos para fazer
as coisas acontecerem no trabalho. -.03 -.03 .14
4 – Desenvolvi uma grande rede de contactos no trabalho,
a quem eu posso pedir apoio, quando realmente preciso
fazer as coisas.
-00 -00 .14
5 – Passo muito tempo no trabalho a desenvolver
contactos com outros.
.09 .11 .19*
6 – Sou bom a construir relacionamentos com pessoas
influentes no trabalho. 13 11 .22**
7 – Para mim é importante que as pessoas acreditem que
eu sou sincero/a naquilo que digo e faço.
-.05 -.08 -13
8 – Quando comunico com os outros, procuro ser
verdadeiro/a no que digo e faço. -.01 -.02 -.01
9 – Procuro mostrar um interesse genuíno pelas outras
pessoas.
.01 -.01 .04
10 – Instintivamente sei dizer ou fazer as coisas certas
para influenciar os outros.
.07 .05 .04
11 – Tenho uma boa intuição ou habilidade sobre como
me apresentar aos outros.
.04 .04 .11
12 – Sou particularmente bom a captar as motivações e as
segundas intenções dos outros.
.10 .11 .18*
13 – Presto atenção às expressões faciais das pessoas. .04 .02 .07
14 – Compreendo as pessoas muito bem. .23** .25** .23**
15 – Para mim é fácil estabelecer um bom relacionamento
com a maioria das pessoas.
.00 .04 .07
16 – Sou capaz de fazer a maioria das pessoas sentir-se
confortável e à vontade em meu redor. -.01 .03 .10
17 – Sou capaz de comunicar com facilidade e
eficazmente com os outros. .18* .21* .22*
18 – Sou bom a conseguir que as pessoas gostem de mim. .09 .07 .09
*p < .05, **p <.01
153
Por seu lado, indivíduos com elevadas competências de gestão interpessoal
obtêm melhores resultados no seu trabalho, em larga medida devido ao facto de
possuírem uma boa rede de relações profissionais, na qual têm uma boa reputação, e
através da qual acedem a informação fulcral para a tomada de decisão (Ferris et al.,
2005; Liu, Ferris, Zinko, Perrewé, Weitz, & Xu, 2007). Tais indivíduos parecem
apresentar um sentido de controlo sobre o seu ambiente de trabalho, neutralizando o
efeito negativo dos stressores ou crises (Ferris et al., 2005; Meurs, Gallagher, &
Perrewé, 2010).
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários
No estudo das diferenças entre grupos procurou-se comparar as competências de
gestão interpessoal em sujeitos de sexos diferentes e de diferentes níveis etários. A
comparação da significância estatística para a diferença entre as médias de resultados,
tendo em conta as variáveis independentes sexo e idade, fez-se a partir de metodologias
de análise de variância simples, designadamente o teste t de Student no caso da
comparação entre sexos e, para o caso da comparação entre idades, o teste One-Way
ANOVA.
Procurando conhecer as competências de gestão interpessoal mais relevantes
entre os sujeitos da amostra de gestores empresariais portugueses e simultaneamente
avaliar as diferenças existentes entre sexos, analisaram-se as médias, os desvios padrão
e o valor de t obtido. Os índices de tendência central e dispersão, relativos aos
resultados obtidos por sexo, com a aplicação do Inventário de Competências de Gestão
Interpessoal são apresentados na tabela 4.15.
Analisando os níveis de significância obtidos pelo teste-t nas quatro dimensões
do Inventário de Competências de Gestão Interpessoal, verificamos que não existem
diferenças estaticamente significativas entre as médias dos subgrupos masculino e
feminino, dado que nas quatro dimensões os níveis de significância apresentam valores
superiores a .05, ainda que se aproximem do limiar de significância na primeira e
segunda sub-escala. No estabelecimento de redes a diferença é favorável aos
participantes do sexo masculino, enquanto na sub-escala sinceridade tal diferença é
favorável aos participantes do sexo feminino.
154
Tabela 4.15
Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância entre as Médias por Sexo do PSI
Homens Mulheres
Dimensões Média D.P. Média D.P. t
Capacidade para estabelecer redes de
relacionamento profissional
5.03 1.02 4.72 1.00 1.733
Sinceridade genuína 6.39 .56 6.58 .58 -1.810
Perspicácia social 5.39 .77 5.45 .76 -.457
Influência interpessoal 5.55 .76 5.41 .72 1.130
Face aos resultados encontrados poderemos referir que, na presente amostra, as
quatro competências de gestão interpessoal (Perspicácia Social, a Influência
interpessoal, a Sinceridade Genuína e a Capacidade para Estabelecer Redes de
Relacionamento Profissional) são dimensões que não estão correlacionadas com o
género.
Para a análise da diferença de resultados nos itens do Inventário de
Competências de Gestão Interpessoal em função da idade dos sujeitos, foram
estabelecidos quatro níveis etários (nível 1 para os sujeitos com menos de 35 anos, o
nível 2 dos 35 aos 44 anos de idade, o nível 3 dos 45 aos 54 anos de idade e o nível 4 a
partir dos 55 anos de idade), tendo como base os mesmos critérios estabelecidos para as
escalas anteriores:
Tabela 4.16
Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância entre as Médias por Níveis Etários do
PSI
Idade <35 35 a 44 45 a 55 >55 ANOVA
Dimensões M. D.P. M. D.P M. D.P. M. D.P. F
Capacidade para
estabelecer redes de
relacionamento profissional
5.06 .64 4.68 .96 4.99 1.06 4.95 1.28 1.052
Sinceridade genuína 6.64 .52 6.43 .63 6.50 .53 6.52 .60 .480
Perspicácia social 5.23 .57 5.35 .72 5.47 .82 5.69 .79 1.157
Influência interpessoal 5.33 .65 5.44 .60 5.51 .83 5.59 .94 .384
155
A tabela 4.16 apresenta as médias, desvio padrão e o nível de significância entre
as médias por idade. Também em relação à variável idade, não se encontraram
diferenças estaticamente significativas entre as médias obtidas para cada sub-grupo,
dado que nas quatro dimensões os níveis de significância apresentam valores superiores
a .05. Mais uma vez parece que as competências de gestão interpessoal são dimensões
transversais aos gestores empresariais, independentemente do seu estádio de
desenvolvimento da carreira.
Contudo e, apesar de não existirem diferenças estaticamente significativas entre
as médias obtidas para cada sub-grupo, será interessante referir que as médias das
dimensões, Perspicácia Social e Influência Interpessoal, vão adquirindo sucessivamente
valores mais elevados desde o grupo etário mais baixo (<35 anos) para o mais elevado
(>55 anos), dando a ideia de que, na nossa amostra de gestores empresariais, à medida
que a idade aumenta, as referidas dimensões vão se consolidando positivamente. Já as
dimensões, Capacidade para Estabelecer Redes de Relacionamento Profissional e
Sinceridade Genuína, são as dimensões que apresentam valores mais elevados no sub-
grupo dos mais novos, o que não deixa de ser interessante, se atendermos ao seu estádio
de desenvolvimento inicial da carreira.
Estudo preliminar da Passion Toward Work Scale (PTWS – Escala da Paixão pelo
Trabalho)
Vallerand e colaboradores (2003), partindo da definição de paixão como “uma
forte inclinação para uma atividade que as pessoas gostam, que acham importante e em
que investem tempo e energia” (p. 757), realizaram um estudo com vista à construção de
uma escala sobre a paixão. Segundo estes autores, uma atividade torna-se numa paixão
através de dois processos: em primeiro lugar, pela valorização que o sujeito faz da
atividade e, em segundo, pela internalização da representação da atividade no self, isto
é, na sua identidade, através das relações subjetivas, das comunicações, da linguagem e
das experiências sociais (Vallerand et al., 2003; Vallerand & Houlfort, 2003; Vallerand,
Mageau, Elliot, Dumais, Demers, & Rousseau, 2008; Vallerand, Rousseau, Grouzet,
Dumais, Grenier, & Blanchard, 2006).
Baseando-se nos trabalhos de Aron, Aron e Smollan (1992) e de
Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1993), Vallerand et al. (2003) propõem que as
156
representações das atividades que as pessoas gostam, e nas quais se envolvem
regularmente, irão ser incorporadas na sua identidade, de acordo com a valorização que
lhe é atribuída, surgindo deste modo a paixão por essa atividade. Tais paixões tornam-se
elementos centrais da identidade do sujeito, servindo a sua definição como pessoa. O
processo de internalização da atividade profissional na identidade do sujeito sugere a
existência de dois tipos de paixão, com qualidade psicológica diferente: uma paixão
harmoniosa e uma paixão obsessiva (Vallerand et al., 2003; Vallerand et al., 2008;
Vallerand et al., 2006). A paixão harmoniosa resulta de uma internalização autónoma da
atividade para a identidade da pessoa, isto é, quando o sujeito aceita livremente a
atividade como importante para si próprio, sem quaisquer contingências. Este tipo de
internalização produz uma força motivacional para exercer a atividade de bom grado e
gera um sentimento de vontade e apoio pessoal sobre o exercício da atividade. Com este
tipo de paixão, associada a emoções positivas, longos períodos de concentração na
tarefa e fluência na produção, a atividade ocupa um espaço significativo, mas não
avassalador na identidade da pessoa, e está em harmonia com outros domínios da sua
vida. Em contraste, a paixão obsessiva resulta de uma fixação persistente da atividade e
sua internalização na identidade do sujeito. Tal internalização resulta da pressão
intrapessoal e/ou interpessoal, quer porque certos resultados estão relacionados com a
atividade, tais como sentimentos de aceitação social e autoestima, quer porque o
entusiasmo derivado da prática da atividade se torna incontrolável e excessivo, estando
associada a emoções negativas e provocando conflitos com outras atividades na vida da
pessoa (Vallerand et al., 2003; Vallerand & Houlfort, 2003). Este duplo significado da
paixão proposto por Vallerand et al. (2003) surge nas escalas propostas para a sua
avaliação. Uma primeira lista composta por 34 itens incluía autoavaliações que
enfatizavam uma perspetiva passiva de paixão, na qual a pessoa se sentia impelida para
exercer uma atividade, sem controlo e com a presença de conflitos interiores (obsessive
passion - paixão obsessiva), bem como autoavaliações que enfatizavam uma perspetiva
ativa da paixão, onde a pessoa sentia controlo sobre a atividade e esta estava em
harmonia com outras dimensões da sua vida (harmonious passion - paixão harmoniosa).
Neste conjunto de itens foi confirmada a matriz inicial da conceção dualista da paixão
proposta pelos autores (Vallerand et al., 2003).
No estudo inicial foi solicitado aos sujeitos que indicassem uma atividade pela
qual sentiam paixão na sua realização. De seguida todos os itens da escala eram
157
respondidos tendo como base de referência essa mesma actividade. Para testar a
validade fatorial da escala os participantes foram divididos aleatoriamente em dois
grupos. O primeiro grupo respondeu à versão preliminar da escala composta pelos 34
itens, realizando-se posteriormente uma análise fatorial exploratória com os dados
obtidos. Foram então selecionados os 14 itens mais saturados nos fatores. O segundo
grupo foi utilizado para confirmar esta versão recorrendo à análise fatorial
confirmatória. Os resultados revelaram a existência de dois fatores com valores próprios
de 5.62 e 2.05 que explicam 55% da variância. Foram então selecionados os 14 itens
que mais saturavam nos dois fatores identificados, dando origem à Passion Scale (PS,
Escala de Paixão; Vallerand et al., 2003), a qual foi posteriormente adaptada para
diversos domínios, designadamente, o desporto (Cid, 2010; Lafrenière, Jowett,
Vallerand, Donahue, & Lorimer, 2008; Vallerand et al., 2006, 2008), jogos de azar
(Mageau, Vallerand, Rousseau, Ratelle, & Provencher, 2005; Ratelle, Vallerand,
Mageau, Rousseau, & Provencher, 2004; Rousseau, Vallerand, Ratelle, Mageau, &
Provencher, 2002), leitura e música (Lafrenière, Bélanger, Sedikides, & Vallerand,
2011; Mageau, Vallerand, Charest, Salvy, Lacaille, Bouffard, & Koestner, 2009;
Vallerand et al., 2003), uso da internet (Chantal, Laliberté, Pelletier, Blanchard, &
Vallerand, 2003), artes dramáticas (Vallerand, Salvy, Mageau, Elliot, Denis, Grouzet, &
Blanchard, 2007) e trabalho (Vallerand & Houlfort, 2003). Neste domínio a escala
passou a designar-se Passion Toward Work Scale (PTWS, Escala de Paixão pelo
Trabalho; Vallerand & Houlfort, 2003). No primeiro estudo realizado com a Passion
Scale os coeficientes de consistência interna (alfa de Cronbach) identificados para cada
fator foram: .89 para o fator Obsessive Passion e o valor de .79 para o fator Harmonious
Passion. Em estudos posteriores os resultados encontrados foram bastante similares:
.85, .91 e .92 para o fator Obsessive Passion e os valores .71, .73 e .84 para o fator
Harmonious Passion (Vallerand et al., 2003). Também com a versão Passion Toward
Work Scale os valores de precisão encontrados são muito idênticos aos estudos
anteriores: .70 para o fator Harmonious Passion e o valor de .85 para o fator Obsessive
Passion (Vallerand & Houlfort, 2003). Na tabela 4.17 são apresentados os itens que
compõem a escala Passion Toward Work Scale (PTWS).
158
Tabela 4.17
Itens da Passion Toward Work Scale (PTWS)
Itens
1. My work allows me to live a variety of experiences.
2. The new things that I discover with the confines of my work allow me to appreciate it
even more.
3 My line of work reflects the qualities I like about myself.
4. My work is in harmony with the other activities in my life.
5. My work is a passion that I still manage to control.
6. My work allows me to live memorable experiences.
7. I am completely taken with my work.
8. I cannot live without my work.
9. The urge is so strong. I can’t help myself from doing my work.
10. I have difficulty imagining my life without my work.
11. I am emotionally dependent on my work.
12. I have a tough time controlling my need to do my work.
13. I have almost an obsessive feeling for my work.
14. My mood depends on my being able to do my work.
Tradução e Análise Qualitativa dos Itens
Dado que a PTWS, ainda não se encontrava traduzido para a língua Portuguesa,
à data da recolha de dados, procedemos à sua tradução e retrotradução recorrendo a
psicólogos com elevada fluência na língua inglesa. Os exemplos de tradução seguintes
correspondem a dois itens de cada uma das duas dimensões medidas pela Escala da
Paixão pelo Trabalho.
Tabela 4.18
Exemplos de Itens Traduzidos da Versão Americana e Versão Experimental Portuguesa
da PTWS
4. My work is in harmony with the other activities in my life/O meu trabalho está em harmonia
com as outras atividades da minha vida.
7. I am completely taken with my work/Estou completamente envolvido(a) no meu trabalho.
10. I have difficulty imagining my life without my work/Tenho dificuldade em imaginar a minha
vida sem o meu trabalho.
11. I am emotionally dependent on my work/Estou emocionalmente dependente do meu
trabalho.
159
Conforme referido anteriormente a versão portuguesa experimental da Escala da
Paixão pelo Trabalho foi aplicada em simultâneo com a escala Political Skill Inventory
(PSI - Escala da Competência e Influência Interpessoal na Prática Profissional; Ferris et
al., 2005). Também para esta escala as respostas foram dadas numa escala tipo Likert de
7 pontos variando entre 1 (“totalmente em desacordo”) e 7 (“totalmente de acordo”).
Dado a Escala da Paixão pelo Trabalho estar integrada no mesmo questionário que o
Inventário de Competências de Gestão Interpessoal, também foi sujeita ao método da
reflexão falada junto de 5 gestores empresariais, conforme já referido em paragráfos
anteriores.
Participantes e Propriedades Psicométricas da Escala e dos Itens
Tendo em vista o funcionamento e validade dos itens e da escala, procedemos à
aplicação e a uma análise quantitativa dos resultados centrados na dimensionalidade e
na consistência interna da escala e suas dimensões. Dado que a presente escala foi
aplicada em simultâneo com o Inventário de Competências de Gestão Interpessoal, as
características da amostra já foram descritas anteriormente
A análise das características psicométricas foi efetuada com recurso ao programa
estatístico IBM SPSS Statistics, versão 22.0 para Windows. A precisão foi estimada
através da consistência interna dos itens (alfa de Cronbach) e a análise da
dimensionalidade das duas escalas foi efetuada através da análise fatorial exploratória
pelo método das componentes principais, com rotação promax dos componentes
isolados, em virtude de teoricamente os fatores isolados estarem correlacionados, tendo-
se recorrido à regra de retenção de fatores com valor-próprio igual ou superior à unidade
(princípio de Kaiser) e fixando em .40 o valor mínimo de saturação dos itens.
A tabela 4.19 apresenta os resultados da análise fatorial dos itens da Escala da
Paixão pelo Trabalho (PTWS). Para a análise da adequabilidade da amostra e
determinação da fatorização dos itens aplicámos o teste Kaiser-Meyer-Olkin, tendo-se
obtido um coeficiente KMO = .84, bem como o teste de esfericidade de Bartlett, com
um resultado estatisticamente significativo (² = 1053.631; gl = 91; p < 0.001). Ambos
os índices são favoráveis à fatorização dos itens.
Foram identificados três fatores com valor próprio superior à unidade, sendo que
o primeiro fator explica 39.8% da variância, o segundo fator explica 20.3%, e o terceiro
160
apenas 7.8%. Este último fator aparece basicamente associado ao item “O meu estado
de humor depende da minha capacidade de fazer o meu trabalho”, com uma saturação
de .92. Existem dois outros itens que estão associados a este fator e simultaneamente ao
Fator 1. Dada a teoria que sustenta a avaliação da paixão pelo trabalho e dado o sentido
residual deste terceiro fator, optou-se por conduzir uma nova análise fatorial,
especificando dois fatores.
Tabela 4.19
Resultados da Análise Fatorial dos Itens da PTWS (N = 131)
Itens F1 F2 h2 ritc
1 - O meu trabalho dá-me oportunidade de viver uma
diversidade de experiências. .69 .47 .60
2 - As coisas novas que descubro no meu trabalho permitem-
me apreciá-lo ainda mais.
.83 .65 .70
3 - A minha área de trabalho está de acordo com as qualidades
que aprecio em mim. .82 .63 .68
4 - O meu trabalho está em harmonia com as outras atividades
da minha vida.
.65 .39 .49
5 - O meu trabalho é uma paixão que ainda sou capaz de
controlar. .76 .59 .67
6 - O meu trabalho permite-me viver experiências memoráveis. .77 .60 .66
7 - Estou completamente envolvido/a no meu trabalho. .65 .59 .64
8 - Não consigo viver sem o meu trabalho. .80 .70 .75
9 - O desejo é tão forte que não consigo evitar de trabalhar. .79 .72 .76
10 - Tenho dificuldade em imaginar a minha vida sem o meu
trabalho.
.83 .72 .77
11 - Estou emocionalmente dependente do meu trabalho. .90 .77 .80
12 - Tenho dificuldades em controlar o meu impulso para fazer
o meu trabalho.
.86 .71 .77
13 - Tenho um sentimento quase obsessivo pelo meu trabalho. .82 .64 .72
14 - O meu estado de humor depende da minha capacidade de
fazer o meu trabalho. .53 .25 .37
% de variância explicada 39.8 20.3
Valor próprio do fator 5.57 2.84
Alfa de Cronbach .90 .86
161
Através da leitura da tabela 4.19, podemos observar que 60.1% da variância dos
itens é explicada pelos dois fatores identificados, sendo esta percentagem elevada, tal
como verificado nos estudos norte-americanos. Por sua vez, os valores próprios são de
5.57 (Fator 1) e 2.84 (Fator 2). Os itens apresentam comunalidades acima de .40, exceto
no item 14 (“O meu estado de humor depende da minha capacidade de fazer o meu
trabalho”), cuja comunalidade se situa em .25, sugerindo tratar-se de um item mais
específico ou pouco relacionado com os dois fatores identificados.
Tal como na versão norte-americana (Vallerand & Houlford, 2003), os itens
distribuem-se pelos dois fatores, Paixão Harmoniosa e Paixão Obsessiva, seguindo a
mesma organização dimensional. Relativamente à precisão de cada fator encontrado, os
valores são bastante superiores a .60, índice mínimo requerido em estudos exploratórios
de construção de instrumentos (Nunnally, 1978). Analisando a precisão das subescalas,
o Fator 2, constituído por sete itens (itens 1 a 7), apresenta um alfa de Cronbach de
(.86), sendo que as correlações dos itens com o total da escala oscilam entre .49 (no
item 4) e .70 (no item 2). O Fator 1, constituído por sete itens (itens 8 a 14), apresenta
um alfa de Cronbach de (.90), observando-se que as correlações dos itens com o total da
escala oscilam entre .37 (no item 14) e .80 (no item 11). Neste caso concreto, se o item
14 for eliminado o valor do alfa sobe para .92. No entanto, dados os valores positivos
obtidos, e na lógica de não alterar desnecessariamente a escala, optámos por manter este
item na versão portuguesa.
Análise e Discussão dos Resultados do Estudo Preliminar da PTWS
A par destas análises estatísticas mais centradas na validade interna dos itens,
também recolhemos alguma informação sobre a correlação das respostas dos sujeitos
aos itens e algumas das suas caraterísticas procurando também indicadores de validade
externa dos itens. Neste caso, face à informação socioprofissional recolhida,
consideramos a correlação com as variáveis idade dos sujeitos, anos de experiência
profissional e anos de experiência de gestão. Como nas escalas anteriores, a nossa
hipótese de partida é que a mais idade e a mais anos de experiência profissional em
geral e na área da gestão deveria corresponder níveis mais elevados de paixão pelo
trabalho referenciados nos itens.
162
Tabela 4.20
Correlações entre os itens da PTWS com a Idade e Prática Profissional (n =131)
Itens Idade Experiência
profissional
Experiência
de gestão
1 - O meu trabalho dá-me oportunidade de viver uma
diversidade de experiências. .23** .23** .28**
2 - As coisas novas que descubro no meu trabalho
permitem-me apreciá-lo ainda mais. -.02 .01 .09
3 - A minha área de trabalho está de acordo com as
qualidades que aprecio em mim.
.15 .18* .18*
4 - O meu trabalho está em harmonia com as outras
atividades da minha vida . .09 .13 .10
5 - O meu trabalho é uma paixão que ainda sou capaz
de controlar.
.04 .06 .06
6 - O meu trabalho permite-me viver experiências
memoráveis. -.00 .03 .12
7 - Estou completamente envolvido(a) no meu
trabalho.
.12 .14 .07
8 - Não consigo viver sem o meu trabalho. .18* .19* .14
9 - O desejo é tão forte que não consigo evitar de
trabalhar. .08 .10 .07
10 - Tenho dificuldade em imaginar a minha vida sem
o meu trabalho.
.10 .11 .12
11 - Estou emocionalmente dependente do meu
trabalho. .06 .05 .08
12 - Tenho dificuldades em controlar o meu impulso
para fazer o meu trabalho.
.07 .07 -.00
13 - Tenho um sentimento quase obsessivo pelo meu
trabalho. .08 .10 .03
14 - O meu estado humor depende da minha
capacidade de fazer o meu trabalho.
-.07 -.07 -.03
*p<.05; **p<.01
Na tabela 4.20 apresentamos os coeficientes de correlação obtidos dos itens da
Escala da Paixão pelo Trabalho (PTWS) com a idade e prática profissional.
Como podemos constatar pelos resultados obtidos a grande maioria dos itens não
apresentam correlação com os critérios externos considerados. Mais concretamente,
encontramos apenas três itens (1 - O meu trabalho dá-me oportunidade de viver uma
163
diversidade de experiências. 3 - A minha área de trabalho está de acordo com as
qualidades que aprecio em mim. 8 - Não consigo viver sem o meu trabalho) com
correlações estatisticamente significativas com os anos de experiência profissional.
Em relação à idade apenas os itens 1 e 8 apresentam correlações estatisticamente
significativas e com os anos de experiência de gestão apenas os itens 1 e 3. Tais
resultados fazem-nos levantar algumas questões, designadamente qual o papel da paixão
na gestão empresarial. Parece que na presente amostra de gestores empresariais a paixão
pelo trabalho revela-se mais no tipo de experiências que a profissão proporciona e na
auto-perceção do perfil do sujeito face à função que desempenha.
Comparações entre Sexos e entre Níveis Etários
Procurando conhecer o tipo de paixão mais relevante entre os sujeitos da
amostra de gestores empresariais portugueses e simultaneamente avaliar as diferenças
existentes entre sexos, analisaram-se as médias e os desvios padrão nas subamostras
masculina e feminina e o nível de significância obtido através do teste de t de Student
para amostras independentes.
Os índices de tendência central e dispersão, relativos aos resultados obtidos por
sexo, são apresentados na tabela 4.21.
Tabela 4.21
Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância entre as Médias por Sexo da PTWS
Fatores Homens Mulheres
M D.P. M D.P. t
Paixão Harmoniosa 5.61 2.42 5.53 .84 .525
Paixão Obsessiva 3.84 1.41 3.61 .95 .935
Analisando os níveis de significância obtidos pelo teste-t nos dois tipos de
paixão da Escala de Paixão pelo Trabalho, verificamos que não existem diferenças
estaticamente significativas entre as médias dos subgrupos masculino e feminino, dado
que nos quatro fatores os níveis de significância apresentam valores superiores a .05
(Paixão Obsessiva .11 e Paixão Harmoniosa .74). Também sobre a Escala de Paixão
pelo Trabalho poderemos inferir que, os dois tipos de paixão (Harmoniosa e Obsessiva)
não dependem do género.
164
Para a análise da diferença das médias dos fatores da Escala da Paixão pelo
Trabalho em função da idade dos sujeitos, também foram estabelecidos quatro níveis
etários, tendo como base os critérios já referidos anteriormente nas outras escalas. A
tabela 4.22 apresenta as médias e o desvio padrão entre os quatro níveis etários
estabelecidos e o nível de significância obtido através do teste One-Way ANOVA.
Tabela 4.22
Médias, Desvios Padrão e Nível de Significância entre as Médias por Níveis Etários da
PTWS
Idade <35 35 a 44 45 a 55 >55 ANOVA
Fatores M. D.P M. D.P. M. D.P. M. D.P. F
Paixão
Harmoniosa
5.44 1.22 5.48 .94 5.57 .78 5.94 .73 1.180
Paixão
Obsessiva
3.40 1.52 3.66 1.48 3.79 1.33 3.99 1.33 .499
Também em relação à variável idade, não se encontraram diferenças
estaticamente significativas entre as médias obtidas para cada sub-grupo, dado que os
níveis de significância apresentam valores superiores a .05 (Paixão Harmoniosa, .32 e
Paixão Obsessiva, .68). Contudo e, apesar de não existirem diferenças estaticamente
significativas entre as médias obtidas para cada sub-grupo, mais uma vez, será
interessante referir que as médias tanto na paixão harmoniosa como na paixão obsessiva
vão adquirindo sucessivamente valores mais elevados desde o grupo etário mais baixo
(<35 anos) para o mais elevado (>55 anos), dando a ideia de que, na nossa amostra de
gestores empresariais, à medida que a idade aumenta, a paixão pelo trabalho também
aumenta.
Correlações inter-escalas
Tendo como objetivo obter informação complementar para a validação das
escalas CSES, SWLS, PTWS e do PSI procedemos ao estudo de validade de critério das
dimensões avaliadas nos referidos instrumentos. Atendendo a que a literatura sugere
uma relação entre a satisfação com a vida e a avaliação de constructos centrais ao self,
procurámos conhecer a associação entre as pontuações nas duas escalas. A tabela 4.23
apresenta os coeficientes de correlação entre as dimensões da CSES e da SWLS.
165
Tabela 4.23
Coeficientes de Correlação entre as Dimensões da CSES e da SWLS (N=108)
Dimensão M DP 2 3 4 5
1. Satisfação com a vida 25.55 5.21 .65** .31** .19 .34**
2. Constructos Centrais ao Self
(Fator 1)
16.85 2.30 .45** .35** .35**
3. Constructos Centrais ao Self
(Fator 2)
13.45 3.81 .46** .22*
4. Constructos Centrais ao Self
(Fator 3)
14.00 3.71 .18
5. Constructos Centrais ao Self
(Fator 4)
15.72 2.30 1.00
**p<.01 e *p<.05
Os índices de correlação das pontuações dos participantes nas duas escalas
mostram que apenas o Fator 3, no qual encontramos itens mais relacionados com o
locus de controlo (e.g., item 10: “Sinto que não controlo o sucesso da minha carreira”;
item 6:” Às vezes sinto que não controlo o meu trabalho”), não apresenta correlação
com a SWLS. Assim, a satisfação com a vida não está correlacionada com a dimensão
de internalidade do locus de controlo, situação esta que pode estar a ocorrer em virtude
da formulação dos itens pela negativa (embora este formato seja utilizado para
contrastar a internalidade versus externalidade do locus de controlo). Por outro lado,
merece referência a correlação mais elevada (r = .65, p < .001) entre a satisfação com a
vida e a perceção de autoeficácia (itens dominantes no Fator 1). Analisando os
coeficientes de correlação entre os quatro fatores da CSES, observamos níveis inferiores
de correlação entre os Fatores 2 e 4 (r = .22, p < .05) e entre os Fatores 3 e 4 (r = .18,
NS).
Também no nosso estudo, tais correlações, estão em consonância com os estudos
que sugerem correlações positivas entre uma avaliação positiva dos constructos centrais
ao self e a satisfação com a vida (Bono & Judge, 2003; Judge et al., 2003, 2005, 2008;
Srivastava et al., 2010). Será importante referir que a correlação mais alta entre a SWLS
e a CSES encontra-se no Fator 1, fator este que apresenta o maior número de itens
relacionados com a autoeficácia generalizada, o que nos parece relevante pois de algum
modo esta dimensão está associada à perceção de competência, mestria,
autodeterminação ou até resiliência no confronto com situações adversas (Bandura,
166
1997; Caprara, Barbaranelli, Borgogni, & Steca, 2003; Deci & Ryan, 2000). Dada a
sobreposição de itens em três dos fatores obtidos dificulta um maior aprofundamento
dos coeficientes obtidos, pelo que sugerimos novos estudos com uma amostra de maior
dimensão.
Também em relação à PTWS e ao PSI, procurámos obter informação
complementar para a sua validação, dado que ambas as escalas tinham sido respondidas
pelos participantes que integraram a mesma amostra.
A tabela 4.24 apresenta os coeficientes de correlação obtidos entre as pontuações
nas duas escalas.
Tabela 4.24
Coeficientes de Correlação Entre as Dimensões da PTWS e PSI (N = 131)
Dimensão M DP 2. 3. 4. 5. 6.
1. Paixão obsessiva 26.05 9.81 .32*** .13 .14 -.01 .05
2. Paixão harmoniosa 38.95 6.28 .34*** .39*** .25** .36***
3. Capacidade estabelecer
redes
29.18 6.10 .55*** .27** .45***
4. Influência interpessoal 32.85 4.42 .26** .57***
5. Sinceridade genuína 19.47 1.73 .33***
6. Perspicácia social 16.26 2.28 1.00
***p < .001; **p < .01
Observa-se que os índices de correlação das pontuações dos participantes nas
duas escalas foram claramente diferenciados de acordo com o tipo de paixão que se
considera na análise. As correlações são moderadas, mas sempre significativas do ponto
de vista estatístico, quando cruzamos a dimensão da Paixão Harmoniosa com as
dimensões Capacidade para Estabelecer Redes de Relacionamento Profissional (.34),
Sinceridade Genuína (.25), Perspicácia Social (.36), e Influência Interpessoal (.39).
O estudo da validade de critério das dimensões avaliadas pela PTWS e pelo PSI
mostrou que, neste grupo de gestores portugueses, as dimensões da paixão pelo trabalho
apresentam uma relação claramente diferenciada com as dimensões avaliadas das
competências de gestão interpessoal: enquanto a Paixão Harmoniosa correlaciona
moderada e positivamente com as mesmas, tal não acontece no caso da Paixão
Obsessiva. Este resultado parece estar em consonância com o tipo de paixão harmoniosa
167
e obsessiva que se avalia na PTWS. As competências pessoais de relacionamento
interpessoal avaliadas no PSI pressupõem um bom autocontrolo do gestor, até como
ponto de partida para um adequado controlo e influência dos seus colaboradores. Assim,
as relações encontradas neste estudo reforçam os resultados da investigação, que reporta
uma associação significativa entre as competências de gestão interpessoal e a
capacidade de gestão emocional e do stress, tal como é característico na paixão
harmoniosa (Carbonneau, Vallerand, Fernet, & Guay, 2008; Ferris et al., 2005; Meurs et
al., 2010). Os gestores que fazem uma gestão mais eficaz das suas emoções e do valor
atribuído ao seu trabalho – paixão harmoniosa – parecem ser também aqueles que têm
uma maior capacidade de monitorizar o seu comportamento e adaptá-lo às situações
sociais, que estão mais atentos às situações sociais, que fazem uma melhor interpretação
do seu próprio comportamento e do comportamento dos outros, e que apresentam um
maior conhecimento de si mesmos. Mais especificamente, a este respeito, poder-se-á
inferir que os gestores que apresentam simultaneamente níveis mais elevados de paixão
harmoniosa pelo trabalho e de competências de gestão interpessoal, dada a sua
flexibilidade, autoconhecimento e capacidades de autocontrolo e de influência
interpessoal, terão melhores competências de gestão do stress (Ferris et al., 2005).
Finalmente poderemos afirmar que os resultados deste estudo poderão estar
influenciados pela baixa dimensão e consequentemente representatividade da amostra
considerada, pelo que se recomenda o seu alargamento a amostras mais robustas.
168
169
CAPITULO 5
____________________________________________________________
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
170
171
PARTE 1
ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS
172
173
Introdução
No presente capítulo apresentamos os resultados da investigação qualitativa
realizada, tendo a análise dos dados sido organizada com base nas questões de
investigação formuladas anteriormente. Assim, iremos apresentar uma análise
diferenciada para cada uma das dimensões e respetivas categorias e subcategorias que se
encontram definidas na Grelha de Análise de Conteúdo. No final, faremos uma
integração geral das diversas dimensões e a análise das relações entre as várias
categorias e subcategorias estabelecidas.
Na análise de cada uma das categorias/subcategorias apresentaremos uma tabela
descritiva com uma síntese da informação relativa ao processo de codificação. Assim,
segundo o momento do percurso profissional de cada entrevistado (Percurso Anterior ou
Desempenho Atual) apresentaremos o número de entrevistas em que a respetiva
categoria/subcategoria foi codificada, o número de referências, isto é, as codificações
que foram feitas na respetiva categoria/subcategoria pelos participantes e uma
classificação de frequência e intensidade, na base do posto percentílico (percentil rank)
tomando a fórmula de Wao, Dedrick e Ferron (2011): pR =
x 100, na qual fb é
o número de categorias/subcategorias cuja frequência ou intensidade é menor do que a
categoria em questão, fw é o número de categorias/subcategorias cuja frequência ou
intensidade é igual à da categoria em questão e N é o número total de
categorias/subcategorias referidas pelo grupo de participantes. A classificação assume a
designação de forte se o resultado obtido estiver entre 75% e 100%, a designação de
moderada se estiver entre 25% e 74% e a designação de mínima se estiver entre 0% e
24%.
Pretendemos que a análise realizada seja clara e o mais objetiva possível, pelo
que iremos utilizar excertos das entrevistas para concretizar cada um dos conceitos
presentes nas referidas categorias/subcategorias. Para uma melhor compreensão do
fenómeno em estudo, a escolha dos excertos terá como principio a sua
representatividade e clareza de interpretação face à totalidade das codificações nessa
categoria, salvaguardando tudo aquilo que preserve o anonimato dos participantes.
Procuraremos ter em conta a maior ou menor complexidade de cada uma das
categorias/subcategoria estabelecidas debruçando-nos, por isso, com uma maior
174
profundidade naquelas que considerarmos fundamentais para uma adequada reflexão
sobre os conceitos abordados.
Análise de conteúdo das categorias e subcategorias
Fatores contextuais
Contexto macro
O contexto macro é uma categoria na qual incluímos a influência do contexto
histórico, económico, social ou cultural num determinado momento e que ajuda a
compreender o desenvolvimento ou as escolhas dos participantes.
Nesta amostra, o contexto macro parece estar presente no desempenho atual da
maioria dos gestores, nalguns casos pelas dinâmicas dos mercados, noutros por razões
mais sociais, ou mesmo políticas:
“Além do contexto socioeconómico onde nos inserimos, os fatores que
mais influenciam um gestor empresarial são as tendências, a dinâmica do
mercado e a procura constante de promover um produto apetecível,
diferenciador e a custo acessível, de acordo com o posicionamento que se
quer da marca.” (F)
Verificou-se ainda que, nalgumas áreas, surgem ainda preconceitos relativamente
ao género feminino numa área que, durante muito tempo, foi exclusiva dos homens:
“Agora já não tanto, mas no início, há 20 anos atrás, diziam-me mesmo
que não faziam negócios comigo, porque era uma mulher. Queriam
sempre falar com o meu marido.” (E)
Na tabela 5.1 verificamos que o contexto macro apresenta um peso moderado
relativamente aos entrevistados, apesar de ser um fator, referido no percurso anterior à
função de gestão por 50% dos participantes, e no desempenho atual por cerca de 80%.
Tabela 5.1
Codificações Relativas ao Contexto Macro
Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Percurso
anterior 6 14 Moderado Moderado
Desempenho
atual 10 32 Moderado Moderado
175
Face ao conjunto global das codificações feitas, a sua intensidade também
aponta para uma categoria com um significado moderado, quer no percurso anterior
quer no desempenho atual dos entrevistados.
Contexto situações de risco
A categoria situações de risco engloba situações imprevistas ou não, de risco,
que se tornam estimulantes para o desempenho da função:
“Este foi realmente um momento interessante, pois foi um risco
gigante que corremos e que funcionou. Claro que foi um risco algo
calculado mas também com uma dose de loucura. É como no jogo…
aliás é como em tudo na vida… temos que estar sempre dispostos,
para ganhar mas também a perder. E nas nossas empresas fazemos
isso muito, arriscamos muito. Se correrem mal temos que fechar!...
Cada vez menos acontece isso, mas a verdade é que ainda acontece. E
é uma coisa que estamos dispostos a fazer”. (G)
Ao longo das entrevistas os participantes apenas referiram situações de risco
quando abordavam o seu desempenho na função atual. Enquanto gestores a tónica recai
sobre as dinâmicas conjunturais do mundo que se encontra em constante mudança e
consequente riscos:
“Qualquer gestor está hoje num risco permanente. Tudo muda. O
mercado hoje quer uma coisa amanhã já quer outra, as pessoas podem
hoje amanhã já não podem”. (E)
Na tabela 5.2 verificamos que o contexto risco apresenta um peso moderado face
ao seu desempenho atual, apesar de ser um fator referido quase pela totalidade dos
participantes. Também em relação ao conjunto global das codificações feitas a sua
intensidade aponta para uma categoria com um significado moderado.
Tabela 5.2
Codificações Relativas ao Contexto Risco
Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 11 33 Moderado Moderado
176
Contexto Micro – Amigos e colegas
Nesta subcategoria incluímos como rede de apoio/influência que ajuda a
compreender o processo de desenvolvimento do sujeito, os amigos e os colegas:
“Tenho tido apoio de muitos colegas, das equipas de assessores que
trabalham comigo, também dos funcionários. Não só estarem prontos
para fazer tudo aquilo que lhes peço, mas também apoio moral na
concretização das atividades e dos projetos.” (M)
Os amigos feitos ao longo percurso escolar até à entrada na vida profissional,
designadamente no ensino secundário e superior, e as respetivas amizades estabelecidas
e consolidadas até ao presente, são referidos como elementos importantes e
significativos da rede de apoio social que tem acompanhado as várias fases do
desenvolvimento da carreira destes participantes:
“O meu grupo de amigos já é de longa data. Fiz muitos amigos na
primária, na secundária, na faculdade e na minha vida profissional, mas
os amigos da secundária são os amigos mais próximos onde subsiste
maior relação. Houve sempre grande empatia, afinidade, formas de ser
diferentes mas compatíveis entre todos.” (F)
Alguns dos participantes relataram ainda o papel de amigos da faculdade com os
quais se envolveram para em conjunto elaborarem projetos, os quais se transformaram
depois em relações profissionais:
“Um largo grupo dos nossos amigos é constituído pelos mesmos que
trabalham nas empresas. Mas também tenho alguns amigos ainda do
tempo da faculdade e que mantemos uma relação de amizade. Muitos deles
trabalham comigo nas nossas empresas.” (G)
Relativamente ao desempenho atual, as referências aos colegas assumem uma
vertente positiva, funcionando não só como rede de aprendizagem e crescimento
profissional, mas também de envolvimento nas tarefas que lhes são solicitadas a
realizar, quer moralmente quer na respetiva concretização:
“Quando estive em Macau tive colegas com os quais trabalhei de perto e
que me marcaram muito. Engenheiros de formação marcaram-me pela
capacidade que tinham de objetivarem a sua atuação. Muitas vezes temos
a ideia que os gestores são só aquelas pessoas que têm um curso de
gestão ou de economia, mas de facto encontrei ótimos gestores neste
177
grupo de engenheiros, com os quais tive excelentes experiências e com
os quais aprendi muito.” (I)
Contexto Micro – Família
Nesta subcategoria incluímos como rede de apoio/influência que ajuda a
compreender o processo de desenvolvimento do sujeito, os pais, marido/mulher, filhos,
irmãos, tios e avós, sendo que a maioria das referências dos entrevistados se centra em
torno dos pais e marido/mulher. São estas duas entidades familiares que assumem a
maior relevância, no percurso familiar dos entrevistados, embora também surjam
algumas referências aos avós e aos irmãos. Variando das necessidades das diversas
situações que são vividas, assim as referências ao apoio familiar passam pelo
“aconchego” em situações de stress, pelos momentos de reflexão e discussão de temas
inerentes à área da função desempenhada, o companheirismo e o dinamismo vivido a
dois, a transmissão de valores éticos que consolidam as atitudes, quer em contexto
profissional quer noutros contextos ou mesmo ao rigor e disciplina que um gestor deve
ter na sua função:
“Quando são situações em que me zango com alguém, aí tenho o apoio da
minha família, que é o meu melhor suporte, e falo com a mãe, com o pai,
com a minha irmã e o astral se levanta” (C).
O papel da família apresenta-se num contínuo desde o percurso anterior até ao
desempenho atual, na medida em que a sua presença é referida nas várias etapas de
desenvolvimento dos sujeitos:
“O apoio familiar é sempre um apoio incondicional e ao longo da
minha carreira sempre tive essa compreensão, principalmente nas
ausências assumidas em casa devido a ficar mais tempo no trabalho.”
(K)
Contexto Micro – Professores
A subcategoria relativa aos professores, enquadrada no contexto micro, como
rede de apoio/influência que ajuda a compreender o processo de desenvolvimento do
sujeito, representa um dos temas com menos significado nas entrevistas. Referida no
percurso anterior à função de gestão apenas por cerca de 30% dos participantes, e no
desempenho atual por cerca de 40%, surge no sentido da influência que os professores
178
assumem no despertar das paixões pelos temas, pela aprendizagem e pelo
conhecimento:
“Outra pessoa que influenciou a minha vida foi uma professora na
Universidade. Uma pessoa extremamente focada, direcionada que nos fez
trabalhar muito, mas que nos motivou muito naquela área.” (N)
Os professores apontados pelos participantes como “marcantes” ou “grandes
professores” surgem em diferentes momentos de aprendizagem dos participantes:
professores do ensino básico, do ensino secundário ou do ensino superior:
“Tive professores fabulosos. Tive um professor na universidade,… que
escreve brilhantemente,… vibra com problemas matemáticos. Esse sim,
para mim é um grande professor. Ele domina aquilo tão bem, que
consegue explicar as coisas de uma forma tão simples e com uma
paixão… Isso para mim é um grande professor.” (G)
Contexto Micro – Outras figuras
Na subcategoria outras figuras do contexto micro, como rede de
apoio/influência que ajuda a compreender o processo de desenvolvimento do sujeito,
incluímos as referências a outras pessoas que não se enquadram nas subcategorias dos
professores, colegas, amigos e família, mas que, por diversos motivos, foram
referenciadas pelos participantes como figuras importantes ao longo do seu percurso:
“A pessoa onde estive hospedada em Évora, nos meus tempos de estudante
universitária, também me marcou muito. Era uma mulher de convicções.
Esteve presa pela PIDE antes do 25 de abril por ser comunista e passou
muito na prisão. Coisas que, quando falávamos, até me faziam chorar.
Estava casada com um homem que era o oposto, um capitalista que nunca
esteve à sua altura. Ela era uma mulher muito simples mas muito
inteligente... ainda hoje penso nela quando tenho que me deslocar de um
sítio para o outro, pois ela estava sempre a dizer-nos: Quando vamos daqui
para ali temos que pensar o que precisamos de levar, para fazermos o
trajeto apenas uma vez. Se não o fizermos, temos depois que andar o
mesmo caminho duas ou mais vezes." (N)
Assim, incluímos não só conhecidos mas também as referências em que os
participantes, sem mencionarem ninguém em concreto, referem terem sido
influenciados:
“Todos nós temos figuras com as quais nos identificamos e que de alguma
forma nos orientam pelos seus atos e atitudes e é natural que estas
179
personalidades tenham afetado o meu percurso profissional. Que mais não
seja para termos um ideal de gestor que queremos ou quereríamos ser. Só
essas pessoas é que nos garantem que certas atitudes, formas de ser,
formas de atuar, fazem todo o sentido e têm sucesso garantido e nos
credibilizam perante as nossas ideias.” (F)
As referências feitas nesta categoria, quer no percurso anterior, quer no
desempenho atual não apresentam um resultado muito significativo em termos de
frequência e de intensidade e baseiam-se essencialmente em referências ao apoio
emocional ou mesmo material recebido, assim como à transmissão de valores morais
éticos e sociais.
Tabela 5.3
Codificações Relativas ao Contexto Micro
Subcategorias Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Família
Percurso
anterior 6 13 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 79 Forte Forte
Amigos e
Colegas
Percurso
anterior 3 12 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 54 Forte Forte
Professores
Percurso
anterior 4 7 Moderado Moderado
Desempenho
atual 5 11 Mínimo Mínimo
Outras figuras Percurso
anterior 2 5 Moderado Moderado
Desempenho
atual 7 23 Mínimo Moderado
Analisando a tabela 5.3 com a distribuição das codificações entre as diversas
subcategorias do contexto micro, verificamos que são os amigos e colegas e a família
que estão mais presentes no discurso dos participantes. Se compararmos as referências
feitas face ao percurso anterior e ao desempenho atual, verificamos que é na função
atual de gestores que os participantes mais referem terem recebido apoio da família e
dos amigos/colegas.
180
Face ao conjunto de todas as categorias/subcategorias em análise verificamos
que o contexto micro, assume uma posição relevante para a compreensão da influência
dos fatores contextuais nos desempenhos de excelência deste grupo de participantes.
Contexto académico – Ambiente escolar
Nesta subcategoria colocámos todas as referências sobre ao ambiente ou
contexto escolar que tiveram influência na organização do projeto de carreira dos
participantes. Apesar destes virem de contextos educativos diferentes poderemos dizer
que a matriz dos ambientes escolares ao longo do percurso académico é muito similar,
já que todos eles estudaram em Portugal. Todos enfatizaram a importância da
organização dos cursos que frequentaram e o seu impacto, quer ao longo do seu
percurso escolar quer depois na vida profissional:
“O curso de engenharia estava muito bem planeado. Ao longo do curso
fomos tendo algumas disciplinas na área da gestão e isso ajudou-me
imenso. O que nós dávamos em termos de prática contribuiu para
compreender certas coisas e como eu já trabalhava, sentia que podia
aplicar na prática profissional os conhecimentos adquiridos na faculdade.
Não descurei nunca o aspeto de que nas disciplinas académicas as coisas
são sempre mais teóricas do que na prática, mas depois cabe-nos a nós
fazer essa adaptação.” (D)
Um outro aspeto que emerge do discurso dos participantes é a sua capacidade de
ajustamento às diferenças que vão sentindo, à medida que avançam no sistema
educativo:
“O curso em Évora é um curso muito abrangente até ao terceiro ano.
Tinha muita economia, com muitos números, o que para mim foi uma
grande dificuldade. Foi voltar a trabalhar com os números, coisa que,
para mim, já estava arrumada há três anos, pois no secundário pouco ou
nada tínhamos trabalhado estas matérias. Mas a partir do terceiro ano,
como as escolhas eram nossas, foi mais fácil.” (N)
Será de salientar o facto de na nossa amostra os participantes apresentarem
backgrounds educativos muito diversos e apesar de todos eles serem gestores, nenhum
fez a sua licenciatura em gestão. Tendo em linha de conta esta divergência de percursos
e experiências, será relevante ressaltar dois aspetos comuns a todos eles: primeiro a
capacidade de adaptação aos diferentes meios que lhes foram surgindo ao longo da sua
vida académica e mais tarde profissional e em segundo lugar o considerarem que,
181
melhor do que terem feito um curso de gestão, foi terem feito o curso que desejaram
fazer, pois este abriu-lhes um mapa conceptual sobre diferentes áreas, que na realidade
foi a mais-valia que trouxeram para a função que atualmente desempenham, e que de
outra forma não teria sido possível.
Contexto académico/escolar – Escolhas escolares significativas
É clara a demonstração de capacidades de exploração e de tomada de decisão,
fundamentadas e conscientes, face às escolhas vocacionais ao longo do percurso
académico:
“Quando me inscrevi no 10ºano escolhi a área de economia, pois adorava
matemática mas não tinha muito jeito para ciências. Como queria ter um
negócio, economia era o mais indicado.” (F)
Em relação às escolhas escolares que foram feitas e que foram significativas
para o percurso profissional de cada um, todos os participantes desde muito cedo que
souberam aproveitar os conhecimentos adquiridos nas disciplinas que escolheram para
formularem escolhas futuras:
“Depois do secundário entrei para a faculdade de direito e de facto foi aí
que as minhas escolhas foram importantes. Foram sempre programadas e
apesar de gostar de muitas coisas tentei sempre optar pelas coisas que
naquele momento me interessavam mais, tendo como objetivo querer
aprofundar o que estava a aprender. Não quer dizer que não tivesse outras
aptidões e outros interesses mas optei sempre por aquilo que, em cada
momento, era mais importante para mim. Normalmente as decisões
tomam-se com base nas informações que temos naquele momento e
naquele contexto. As minhas decisões tiveram sempre como base a
informação que tinha na altura.” (K)
Enquanto discurso sobre o percurso anterior, esta subcategoria do contexto
académico apresenta uma frequência e uma intensidade forte, o que seria de esperar
dado a temática que se analisava.
Contexto académico/escolar – Mais-valias
Nesta categoria incluímos todas as aprendizagens feitas em contexto académico
e que os participantes consideraram ser uma mais-valia para a sua vida profissional.
Todos eles consideraram que as suas licenciaturas foram fundamentais para a vida
182
profissional em geral e particularmente na função de gestão, designadamente porque
lhes promoveram ou competências de polivalência, ou competências interpessoais de
como lidar mais eficazmente com os outros e também na forma de olhar para os
problemas:
“Como empresária e gestora da minha empresa a mais-valia que trouxe
do curso foram os conhecimentos sobre como fazer as coisas e por vezes
sou eu que faço, quando é preciso. E foi também a capacidade da
polivalência que é fundamental o gestor ter, principalmente em início de
carreira.” (C)
Mas consideram, também, que na sequência da exigência da função de gestão
tiveram que se munir de outras mais-valias que, numa perspetiva da aprendizagem ao
longo da vida, foram fazendo à medida das suas necessidades:
“Depois quando assumi a presidência da empresa fiz algumas formações
complementares no âmbito da gestão e do marketing. Também consegui
que um professor de economia me desse algumas aulas à peça na área
financeira. Fui superando as lacunas que senti para poder gerir a empresa.
Na altura não havia MBAs e as aprendizagens acabavam por ter uma
duração que não iam além dos seis meses. (H)
Estas mais-valias, realizadas pelos participantes após assumirem a função de
gestão incidiram sempre em áreas que lhes permitiram aumentar os seus conhecimentos
em temas afins à gestão, designadamente comunicação empresarial, marketing, direito,
gestão, modelos econométricos, entre outras.
Analisando a tabela 5.4 verificamos que são as subcategorias do percurso
anterior que apresentam uma maior intensidade nas referências realizadas pelos
participantes. É compreensível que assim seja, pois é durante o período escolar que se
estabelecem relações mais fortes com os temas que preparam o sujeito para o mundo do
trabalho e, como tal, eles sejam mais valorizados. Contudo, não deixa de não ser
interessante que, mesmo no desempenho atual, mais de 50% dos participantes, numa
perspetiva de aprendizagem ao longo da vida, tenham procurado fazer formações
complementares.
183
Tabela 5.4
Codificações Relativas ao Contexto Académico
Subcategoria Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Ambiente
escolar
Percurso
anterior 8 16 Moderado Moderado
Desempenho
atual 1 2 Mínimo Mínimo
Escolhas
escolares
significativas
Percurso
anterior 10 21 Forte Forte
Desempenho
atual 2 2 Mínimo Mínimo
Mais-valias
Percurso
anterior 11 35 Forte Forte
Desempenho
atual 7 12 Mínimo Mínimo
Contexto profissional - Ambiente empresaria
Nesta subcategoria considerámos todas as descrições do ambiente em termos de
pessoas, que permitissem perceber algumas dinâmicas interpessoais entre os
participantes e os colegas ou os superiores hierárquicos. Verificamos que embora todos
os participantes façam referência ao ambiente empresarial como sendo uma variável
com a qual têm que lidar, esta não apresenta uma intensidade tão forte que assuma um
papel de relevância no seu quotidiano:
“Em todos os sítios onde trabalhei e eu trabalhei em muitos ateliers pois
já trabalho há 18 anos na área, apesar de só ter 38 anos de idade (o que
não é muito comum) senti sempre que o patrão não estava próximo dos
seus colaboradores. Acho que isso não é benéfico para o ambiente
empresarial e até mesmo para a empresa, pois todos nós é que fazemos a
máquina andar para a frente e a levamos ao sucesso.” (D)
Se compararmos os dois momentos, percurso anterior e desempenho atual,
foram poucos os participantes que recorreram do passado para falar do ambiente
empresarial, sendo praticamente todas as referências feitas sobre a sua atual função de
gestão:
184
“Um outro aspeto sine qua non, no processo de seleção, é o estar
alinhado com o ambiente e a cultura da empresa. E de facto todos os
colaboradores das nossas empresas estão alinhados com a cultura dela,
pois quando não se enquadram, duas semanas depois vão-se embora.”
(G)
Em relação ao tipo de ambiente empresarial alguns participantes referiram
situações de mau estar e outros de situações em que a harmonia das relações estava
presente:
“Aliás esta casa tem um problema grave, e eu já disse isso a muitas
pessoas... toda a estrutura tem vindo a desenvolver-se de uma maneira
que causa muito mau estar a toda a gente e eu acho que esta estrutura
deveria de ser trabalhada para se melhorar o ambiente de trabalho.” (F)
“Os mais velhos perceberam que o seu tempo tinha passado, mas
também foram percebendo que era importante ajudar os jovens a
entrarem na empresa e a integrarem-se... e alguns ficaram mais 3 meses,
outros ficaram mais 3 ou 4 anos... enfim, fomos gerindo as coisas e o
mais importante é que não houve uma única experiência de rutura entre
eles.” (H)
Contexto profissional – Aspetos institucionais
Dentro da categoria do contexto profissional, os aspetos institucionais relativos
ao funcionamento e caracterização da instituição e que influencia a forma como o
individuo de comporta, apresentam uma intensidade moderada face ao desempenho
atual dos participantes. Nesta subcategoria encontramos apreciações tanto positivas
quanto negativas relativamente aos aspetos institucionais das empresas:
“Uma dinâmica que, desde o início, está presente na empresa é a
seguinte: todos os pedidos, todas as ofertas, todas as oportunidades que
surjam no mercado, a minha empresa está lá. Isto foi algo que aprendi na
escola e que trouxe comigo, para que a empresa esteja sempre na crista da
onda. Eu nunca digo não a nada. Temos que enfrentar o medo e mesmo
que não se saiba fazer no momento, vamos aprender a fazer para depois
apresentar o produto. Tem sido esta dinâmica, de estar sempre presente,
que a fez sobressair... até porque foi assim que aprendi muito do que sei
hoje.” (C)
Em relação ao percurso anterior surgem referências a boas práticas empresariais
que contribuíram para o envolvimento dos quadros nas suas funções:
185
“Nesta empresa faz-se algo muito interessante que é todos os anos as
direções fazerem um plano de sucessão, isto é, indicarmos quem será o
nosso sucessor a um ano, dois anos, três anos, e o que vamos fazer por ele,
para ele atingir esse patamar. Qual a área em que ele precisa de ter mais
formação para se desenvolver. Na altura eu não sabia porque me
mandavam fazer certas formações, mas hoje já percebo, porque fui fazer
formações que tinham a ver com as áreas que estão relacionadas com a
função de diretor de marketing, que hoje desempenho. Fui fazer vários
programas de Gestão Avançada, também estive nos Estados Unidos… fiz
um outro curso no ICEAT”. (J)
Contexto profissional – Avaliação do desempenho
A subcategoria avaliação do desempenho descreve as situações em que os
participantes tenham sido avaliados pelos seus superiores hierárquicos ou por entidades
que tenham essa função:
“Todas as avaliações que tenho tido como diretora são sempre
excelentes. A minha qualificação é sempre realizada por terceiros, neste
caso a inspeção. A última avaliação da inspeção foi muito boa e no que
diz respeito ao meu desempenho na direção a qualificação tem sido
sempre excelente.” (M)
Apesar de ser um tema de grande relevância na carreira de qualquer gestor não
foi uma categoria que apresentasse uma forte intensidade, tendo em conta as referências
feitas, contudo os nove participantes que falaram sobre a avaliação do desempenho,
abordaram-na apenas face ao momento do desempenho atual, dando a perspetiva que as
suas avaliações são muito boas.
Contexto profissional – Desenvolvimento dos interesses
Em relação a oportunidades que tenham contribuído para o desenvolvimento dos
interesses na carreira, parece ser aquele fator que menor influência direta tem no
percurso dos participantes, embora as referências feitas incidam mais sobre a influência
recebida ainda no percurso profissional anterior à função que atualmente desempenham
como gestores:
“De facto, com a formação que fui fazendo ao longo da minha carreira,
os meus interesses nesta área foram ficando mais fortes.” (J)
186
Contudo, alguns participantes referem que já na faculdade os interesses na área
estavam latentes embora tenha sido o percurso profissional que lhes também ampliado a
intensidade dos seus interesses:
“Embora o meu interesse pela gestão dos recursos humanos surja na
faculdade, é depois do meu estágio que se debruçava sobre as relações
laborais…, o qual gostei muito,… que fez com que me interessasse ainda
mais. Depois comecei logo a trabalhar nesta área, noutras empresas.” (K)
Contexto profissional – Escolhas profissionais significativas
Nas entrevistas também foram exploradas as escolhas e decisões profissionais
significativas feitas ao longo da carreira. Apenas seis participantes deram relevância a
esta subcategoria distribuindo-se equitativamente pelo grupo dos gestores e gestores
empresários:
“Quando recusei assumir a ida para o estrangeiro, penso que perdi um
pouco. O não ter outras experiências fora do país é sempre um pouco
castrador, mas não sou daquelas pessoas que dizem que se voltassem atrás
refaziam a sua vida.” (J)
Apesar da frequência e intensidade desta subcategoria ser moderada face ao
percurso anterior dos participantes e mínima face ao seu desempenho atual, as
descrições dos participantes estavam carregadas de emoções fortes que eram visíveis
pela ênfase dado em cada palavra que era verbalizada:
“Mas houve um momento que me marcou muito. Foi a nossa ida para
Lisboa. Em 2009, em plena época de crise, resolvemos apostar e
mudarmo-nos para Lisboa, pois sentimos que, ou era naquele momento ou
nunca mais iriamos crescer. Em dois anos tivemos um grande crescimento
e isso marcou-me muito.” (D)
Contexto profissional – Expetativas na carreira
As expectativas que os indivíduos apresentam relativamente à sua carreira e
descrições relativas à correspondência, ou não, das mesmas, também não foi um tema
muito referenciado por este grupo de entrevistados. Apenas uma participante abordou
este tema referindo as expectativas na carreira ainda durante o seu percurso anterior e
face ao desempenho atual menos de 50% dos participantes abordaram esta categoria:
187
“Lembro-me claramente de um momento com o presidente do meu
departamento. Depois de eu vir do meu doutoramento, quis falar comigo.
Eu achei uma maravilha, pensei logo que iríamos conversar e organizar
projetos em conjunto. Falei abertamente com ele, dei uma serie de ideias e
criei bastantes expectativas para a minha carreira…” (L)
Alguns dos aspetos concretos referem-se ao anseio por não falhar nos projetos
em que se envolveram, expectativas defraudadas face a promessas feitas e não
cumpridas pelos superiores ou o desejo de algo diferente e melhor face ao cargo
assumido atualmente.
Contexto profissional – Fatores de consolidação
Com a subcategoria fatores de consolidação foram explorados diversos fatores
que tenham ajudado à consolidação dos interesses dos participantes na sua carreira. No
discurso dos gestores empresários é muito comum o entrelaçamento da sua carreira com
a carreira da empresa e que passa pelo sucesso de ambas:
“Uma das primeiras coisas que fiz como presidente da empresa foi
contratar alguns quadros superiores que fui buscar a empresas
multinacionais e a empresas de maior dimensão. Para mim esta decisão
foi o verdadeiro fator da consolidação da nossa empresa no mercado.”
(H)
A referência aos fatores de consolidação da carreira surge por vezes
ligada a acontecimentos de insucesso, que pela dinâmica do gestor se tornaram
em novas oportunidades e resultaram consequentemente na obtenção de
melhores resultados:
“Há coisas que, à partida, podem parecer menos conseguidas… por
exemplo, quando vamos para uma feira procuramos sempre um bom
lugar e já aconteceu ficar num lugar menos conseguido e os resultados
que eu tinha previsto não terem sido os melhores. Não foi uma coisa
desastrosa mas ficaram muito aquém do esperado. O que fiz foi ir falar
com os responsáveis da feira e mostrar o meu desagrado. Então o que
consegui: na próxima feira não pago nada por estar lá (o que é fantástico,
dado os valores elevadíssimos das entradas para os expositores) e vou
ficar com um lugar de destaque para compensar esta feira que correu
menos bem... então, um objetivo não atingido tornou-se numa nova
oportunidade.” (C)
188
No grupo dos gestores, os fatores de consolidação passam por experiências
vividas noutros cargos assumidos ao longo da carreira, quer na mesma ou noutras
empresas:
“Aceitei e estive lá cinco anos. Foi muito importante, fiquei a conhecer
muito bem a empresa e isso tem sido uma mais-valia para o cargo que
desempenho atualmente. Hoje consigo perceber toda a dinâmica da
empresa, pois trabalhei cinco anos nessa área.” (N)
Contexto profissional – Funcionamento em equipa
No presente grupo de participantes, os aspetos relacionados com o
funcionamento em equipa que influenciam a organização e o desempenho do individuo
parecem estar interligados com uma certa sintonia dos objetivos que envolvem todos os
membros do grupo:
“Em relação à minha empresa só consigo trabalhar com uma equipa em
que todos se envolvam e neste momento sinto que a minha equipa não
poderia ser melhor. É uma equipa fantástica que só me dá alegrias e
incentivos.” (C)
Estes gestores conseguiram formar grupos de colaboradores com motivações
muito idênticas, o que permitiu a criação de ambientes de cooperação e de mútua
estimulação. Com as equipas profundamente envolvidas, as sinergias que surgem levam
à constante construção de novos projetos cada vez mais desafiantes:
“É a melhor equipa que existe à face da terra. Foram escolhidos para estar
comigo nestes projetos. Há muita cumplicidade entre nós.” (G)
Esta subcategoria apresenta uma intensidade muito forte no momento do
desempenho atual, o que evidencia a perceção que os gestores têm da importância do
funcionamento em equipa para assegurar o seu sucesso, ou de uma empresa ou de um
departamento:
“Há cerca de um ano, o meu marido e sócio da empresa estava fora,
portanto eu estava sozinha com os miúdos e um dos nossos clientes
telefona para o atelier e disse: "Preciso que me façam este projeto que tem
que ser entregue dentro de quinze dias!". Um dos nossos colaboradores
telefona-me para me pôr ao corrente do assunto e eu disse-lhe que não era
possível fazer tudo aquilo em apenas quinze dias e mais sem o meu
marido no atelier. E o nosso colaborador respondeu: "Não te preocupes. A
equipa já está no atelier a trabalhar no projeto. Não precisas de vir cá."
189
Isto é fantástico. Tenho tido várias situações assim, em que a equipa está
lá toda para terminar projetos que se têm que apresentar.” (D)
Tabela 5.5
Codificações Relativas ao Contexto Profissional
Subcategoria Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Ambiente
empresarial
Percurso
anterior 2 3 Moderado Mínimo
Desempenho
Atual 12 36 Forte Moderado
Aspetos
institucionais
Percurso
anterior 5 7 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 27 Forte Moderado
Avaliação do
desempenho
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 9 13 Moderado Mínimo
Desenvolviment
o dos interesses
Percurso
anterior 6 7 Moderado Moderado
Desempenho
atual 4 6 Mínimo Mínimo
Escolhas
significativas
Percurso
anterior 6 10 Moderado Moderado
Desempenho
atual 6 11 Mínimo Mínimo
Expectativas na
carreira
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 5 6 Mínimo Mínimo
Fatores de
consolidação
Percurso
anterior 5 8 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 38 Forte Moderado
Funcionamento
em equipa
Percurso
anterior 3 3 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 12 53 Forte Forte
190
A observação da tabela 5.5 permite verificar que, em termos dos contextos
profissionais, é o funcionamento em equipa no desempenho atual que assume um peso
forte nas referências feitas pelos participantes e no total das categorias codificadas.
Ainda no contexto profissional e relativamente ao desempenho atual, poderemos
acrescentar que são as questões relativas aos aspetos institucionais, ao ambiente
empresarial e aos fatores de consolidação, que são os aspetos referidos pelo maior
número de entrevistados.
Condições e processos desenvolvimentais – Ambientes e experiências de aprendizagem
Na subcategoria ambientes e experiências de aprendizagem foram exploradas as
condições/experiências num determinado contexto que contribuíram para compreender
o desenvolvimento do indivíduo, nomeadamente em termos de estimulação ou de
motivação global, que tenham ocorrido fora do contexto profissional:
“Esta vertente social, de afetos, de análise do ser humano, que envolve
toda a minha atual gestão deve-se às experiências que fui tendo ao longo
da minha anterior carreira.” (E)
No presente grupo de participantes, face ao percurso anterior, apesar dos
resultados serem moderados, os valores encontrados são bastante elevados, o que nos dá
a ideia da relevância desta subcategoria para a caracterização e compreensão do
desenvolvimento destes ao longo do seu percurso profissional.
“Todas as experiências foram importantes para mim. Até a experiência
no McDonald’s, foi importante para aprender a valorizar o trabalho em
equipa.” (D)
Parece que estas experiências permitiram aos participantes desenvolver um
alargado conjunto de conhecimentos que lhes proporcionaram vantagens ao longo da
sua carreira:
“Acabamos por estar expostos. Acaba por ser uma experiência de vida
grande e muito enriquecedora. Eu diria que muita malta com duas vezes
a minha idade não passou um décimo daquilo que eu já passei. Eu de
facto tive a sorte de ser exposto a muita coisa. Acho que as pessoas
evoluem com a exposição à experiência e a novos ambientes. (G)
191
Também no desempenho atual esta subcategoria apresenta resultados com uma
forte intensidade, na qual identificamos um vasto conjunto de atividades deliberadas,
dando-nos a ideia de que os participantes trazem para a sua vida profissional
experiências enriquecedoras, vindas de outros ambientes:
“Faço também parte de um outro grupo… da "X.B.". Este grupo foi
formado por um padre francês, que poderia ter feito a sua caminhada
pastoral ostensiva, pois era filho de pessoas muito ricas e optou por se
dedicar aos bairros sociais durante os anos sessenta em França. Foi para
junto dessas pessoas evangelizar. Ser membro deste grupo, para mim,
tem sido uma experiência muito enriquecedora.” (N)
Todas as experiências referidas pelos participantes, fora do seu atual contexto
profissional, demonstram, por um lado, iniciativa e vontade em se envolverem em
atividades que lhes fomentem aprendizagens contínuas, mas por outro, a procura de
experiências que também lhes proporcione momentos de prazer, alegria e satisfação:
“Tem que conviver, sair, saber viver a vida, jantar com os amigos... tudo
isto são aprendizagens que acabam por nos trazer para a nossa vida
profissional experiências enriquecedoras.” (D)
Condições e processos desenvolvimentais – Atividades não relacionadas
As atividades em que o indivíduo se envolve e que não estão relacionadas direta
ou indiretamente com a profissão, assumem um papel muito pouco significativo no
percurso anterior dos participantes. Contudo, no desempenho atual das suas funções
todos os participantes referem atividades não relacionadas com a profissão mas que são
fundamentais, quer para o seu equilíbrio psicológico, quer como fonte de
enriquecimento cultural:
“Adoro pesquisar coisas através da internet. Sou mesmo fanática. Mas
esta atividade também me ajuda na minha vida profissional, por isso
acabo por juntar o útil ao agradável.” (C)
Os participantes no estudo acabam por apresentar competências transversais
adquiridas que são importantes para a forma como se focam e se organizam nas tarefas
inerentes à função:
192
Condições e processos desenvolvimentais – Conhecimentos prévios
A subcategoria relativa aos conhecimentos adquiridos previamente em diversos
contextos e que ajudam a compreender o desempenho ao longo da carreira do sujeito,
apresenta uma intensidade moderada, demonstrando o peso relativo que as
aprendizagens anteriores assumem face à construção de novos conhecimentos. Apenas
50% dos participantes fala sobre o impacto que os conhecimentos adquiridos
anteriormente tiveram na sua vida profissional:
“A primeira empresa onde trabalhei era pequena, com cerca de 8
colaboradores e aí tive de aprender a ser polivalente, com múltiplas
funções onde conseguia controlar todos os projetos de A a Z.” (F)
Parece que o atual desempenho profissional destes participantes também pode
ser o resultado de um trabalho realizado anteriormente, através de outras experiências
profissionais, nas quais estão presentes mais-valias que hoje são postas em prática.
“As minhas experiências profissionais anteriores foram muito
importantes. Julgo que foram as experiencias que tive enquanto técnica
de serviço social que me ensinaram para eu hoje poder ser a gestora que
sou.” (E)
Condições e processos desenvolvimentais – Sorte e oportunidades
O papel da sorte e das oportunidades que foram surgindo ao longo do percurso
profissional e que ajudam a compreender a carreira dos indivíduos foi abordado pelos
participantes sob duas grandes perspetivas. A primeira surge no sentido da sorte como
algo que os beneficiou em particular e que não tem propriamente a ver com o seu
trabalho anterior:
“Eu sei que trabalho imenso, mas também tenho tido alguma sorte neste
meu percurso, pois eu sei que há pessoas que também trabalham e não
têm conseguido aquilo que eu já consegui. (C)
A segunda abordagem à sorte surge mais no sentido do saber aproveitar as
oportunidades que surgem ao longo do seu percurso profissional e de não ficar á espera
que a sorte lhes “bata à porta”:
193
“Por vezes surgem-nos oportunidades fantásticas e nós só temos que
ficar gratos perante a vida. Mas de facto a pessoa tem que se posicionar
para lhe surgirem as tais oportunidades e depois saber aproveitá-las.” (H)
Verificamos aqui uma atitude proactiva dos participantes face às oportunidades,
reforçando a ideia de uma intencionalidade latente de estratégias de promoção do
próprio sucesso.
Tabela 5.6
Codificações Relativas aos Processos Desenvolvimentais
Subcategorias Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Ambientes e
experiências de
aprendizagem
Percurso
anterior 8 20 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 50 Forte Forte
Atividades não
relacionadas
Percurso
anterior 1 2 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 12 33 Forte Moderado
Conhecimentos
prévios
Percurso
anterior 6 13 Moderado Moderado
Desempenho
atual 9 24 Moderado Moderado
Sorte
Oportunidades
Percurso
anterior 7 17 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 40 Forte Forte
A análise da tabela 5.6 permite-nos constatar a importância que algumas
condições e processos desenvolvimentais podem ter assumido ao longo da carreira dos
participantes. O peso destes fatores manifesta-se primordialmente ao longo do
desempenho atual, destacando-se o papel dos ambientes e experiências de aprendizagem
e da sorte e oportunidades. Contudo, todas as subcategorias apresentadas enquanto
diferentes condições ambientais podem ter tido uma função catalisadora do
desenvolvimento dos sujeitos.
194
Fatores pessoais
Saúde
O fator pessoal saúde é uma categoria que faz referência a situações de saúde
que ajudam ou perturbam o desenvolvimento da carreira do sujeito. Na nossa amostra
este fator é referido apenas por um terço dos participantes e só em relação ao seu
desempenho profissional atual.
“Para além dos fatores externos, a base é a pessoa ter uma boa saúde.
Uma pessoa saudável terá a resiliência necessária para levar em frente as
suas ambições profissionais.” (L)
O seu peso é mínimo se atendermos também ao número total de referências
feitas, conforme se poderá ver na tabela 5.7:
Tabela 5.7
Codificações Relativas ao Fator Pessoal Saúde
Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Percurso anterior 0 0
Desempenho atual 4 5 Mínimo Mínimo
Capacidades – Análise e resolução de problemas
Na categoria das capacidades e subcategoria análise e resolução de problemas
incluímos as situações descritas pelos participantes que refletiam estratégias utilizadas
para analisarem e resolverem diversos problemas profissionais:
“Dou-lhe um exemplo: vamos estar presentes num concurso e não
conseguimos trazer nenhum prémio. Então, depois vamos ter que
analisar o problema: quem ganhou, porque é que ganhou, que tipo de
produtos apresentaram, porque é que foi aquele que ganhou. Ou seja,
temos também que estar atentos aquilo que os outros fazem e o que
valorizaram para chegar ao prémio.” (E)
Verificámos um elevado peso deste fator no desempenho atual, estando esta
capacidade presente nos problemas que surgem no quotidiano da função e que têm que
195
ser resolvidos com alguma urgência, mas também perante situações que de alguma
maneira não foram situações de sucesso:
“Antes de tomar uma decisão eu gosto de analisar tudo ao pormenor,
mas depois de a ter tomado é para se fazer rápido.” (H)
Capacidades – Atenção e concentração
Na subcategoria atenção e concentração incluímos as situações descritas pelos
participantes que refletiam o modo como eles estão atentos a tudo os que os rodeia e
também o modo como se concentram numa tarefa:
“Ando sempre muito atenta a tudo o que vejo em termos de anúncios e
se vejo na rua um placard a dizer que a câmara municipal X cedeu o
terreno à Associação Y, para construção de um pavilhão destinado a algo,
lá estou eu, logo a telefonar e a marcar uma reunião para o dia seguinte.”
(D)
Esta subcategoria encontra-se moderadamente presente no discurso dos gestores,
sendo uma capacidade ou estratégia que funciona de maneira diferente entre os
entrevistados:
“Tenho um bom poder de concentração. Consigo concentrar-me nas
coisas em qualquer sítio. É uma característica que tenho desde pequeno.
Mas com a função que desempenho, tenho que estar atento a muitas
coisas. Por isso o que me dá mais gozo é estar sozinho no escritório para
poder trabalhar sem interrupções. Nestes momentos tenho uma
produtividade excelente. Também quando viajo, é muito bom, pois
durante os voos, posso estar concentrado muito tempo e a produzir. (G)
Capacidades – Autoeficácia
A autoeficácia é uma subcategoria na qual incluímos as afirmações dos
participantes sobre quão bem atuavam em variadas situações:
“Um dos meus grandes objetivos é fazer sempre a interligação entre os
vários departamentos, senão eles deixariam de se articular, pois como há
sempre muito que fazer, isso ficaria para depois.” (E)
Trata-se de uma capacidade que todos os participantes consideram fundamental
para um gestor ter sucesso na sua profissão:
196
“Na vida profissional não podemos fazer as coisas por tentativa e erro.
Temos que ser eficazes e cometer dois erros na mesma coisa não dá bom
resultado.” (D)
No presente estudo esta subcategoria apresenta um peso muito forte, quer em
relação ao número de participantes que a abordaram (100%) quer em relação ao elevado
número de referências feitas, conforme se poderá ver na tabela 5.8.
Capacidades – Capacidade intelectual
A subcategoria capacidade intelectual, com valores idênticos à subcategoria
metacognição e reflexão, dá-nos a ideia de que para este grupo de participantes a
capacidade intelectual dos gestores de sucesso tem que necessariamente ser considerada
uma característica que passa pela faculdade de conhecer, compreender, raciocinar,
pensar e interpretar as questões do quotidiano profissional. Como tal, trata-se de algo
tão intrínseco à identidade do gestor que necessariamente todo aquele que assume essa
função tem que ter:
“Tem que ser inteligente… ter um raciocínio muito rápido para fazer
uma boa análise face às coisas que acontecem.” (C)
Capacidades – Criatividade e inovação
Na subcategoria criatividade e inovação incluímos todas as referências feitas
sobre o pensamento divergente e inovador. Todos os participantes referiram a
importância desta capacidade na função da gestão. Com uma intensidade forte no
desempenho atual dos participantes, parece ser uma subcategoria com um papel
significativo na sua forma de estar e de viver o mundo do trabalho. As referências feitas
descrevem a criação de novos projetos ou de novas soluções para os problemas
existentes, demonstrando uma forte curiosidade e atenção a particularidades do contexto
envolvente:
“Por exemplo, este ano coloquei a questão sobre o teletrabalho.
Atualmente não temos esta modalidade na empresa e é um sector que se
está a desenvolver e que poderá ser importante para nós. Coloquei a
questão à minha hierarquia para se fazer uma experiência piloto com
algumas funções. Tive luz verde e então contactei algumas colegas de
outras empresas, nas quais o sistema já está implementado, para me
darem ideias de como implementar. Neste momento, já há outros colegas
197
que aguardam os resultados da experiência na nossa empresa, para
também começarem a aplicar na deles. É muito importante partilharmos
saberes entre empresas do mesmo sector. Esta troca saudável de
informação para um gestor é extremamente importante e só assim
poderemos crescer todos.” (N)
Nalgumas referências surge ainda a ideia de criar algo através de uma
capacidade que deliberadamente se envolve na concretização de novos produtos:
“A capacidade de criar e de inovar para não sermos engolidos pelos
nossos concorrentes é outra característica fundamental para um bom
desempenho na gestão. Todo o gestor de sucesso terá que ter essa
capacidade de inovação, que é muito importante nos dias de hoje, pois os
mercados e toda a sociedade altera-se muito rapidamente. A capacidade
de pensar, como se costuma dizer "fora da caixa", a capacidade de ir
mais longe, de ter um pensamento próprio, ter uma visão de longo
prazo…” (I)
Fica evidente a abertura de pensamento, a flexibilidade cognitiva na abordagem
de problemas diversos, conseguindo-se um olhar diferente sobre as coisas:
“A diferença acontece quando alguém tem uma ideia e depois essa boa
ideia consegue criar uma necessidade nos outros.” (L)
Capacidades – Capacidade de aprendizagem
Na subcategoria capacidade de aprendizagem recolhemos todas as referências
feitas pelos participantes no que diz respeito à aquisição de competências, habilidades
ou conhecimentos, decorrentes da interiorização de uma série de procedimentos e das
suas capacidades intelectuais:
“Acho que me eduquei nesse aspeto. Tenho aprendido muito desde
esse momento. Até a dizer não... eu não sabia dizer não a ninguém,
agora sei pesar as coisas e se for preciso digo não. Não é fácil, mas já
consigo.” (D)
É sobretudo em relação ao desempenho atual que as aprendizagens são
enfatizadas, sendo que à medida que os participantes vão avançando na sua carreira
profissional, a sua capacidade de aprendizagem parece surgir cada vez mais associada à
sua relação com os outros, quer dentro ou fora da empresa:
198
“Tanto podemos aprender com um professor, com um grande político,
com uma grande personagem, como posso aprender com um simples
homem da rua, ou aqui na empresa com os simples operários que
trabalham na produção. E eu confesso que, muitas coisas, tenho
aprendido com eles.” (H)
Vários participantes apontaram as aprendizagens que fizeram ao longo da sua
carreira quer com as situações de sucesso, quer com as situações de insucesso:
“Aprendi com os sucessos mas também aprendi muito com os
insucessos. Todos eles tiveram impacto na minha carreira, pois todos
eles foram momentos de grande aprendizagem para mim.” (K)
Capacidades – Metacognição e reflexão
A subcategoria metacognição e reflexão procura incluir afirmações que
demonstrem a capacidade dos participantes de interagir no seu meio após estratégias de
autorreflexão, autorregulação e/ou de monitorização:
“O que me marcou mesmo foi o momento entre a ideia e a criação do
conceito… foi um período em que dei tudo de mim.” (F)
Fica evidente nesta subcategoria, com frequências e intensidades reduzidas, que
se trata de uma capacidade, que se dilui num conjunto de várias capacidades, traços de
personalidade e competências de grande relevância na função de gestão:
A análise da tabela 5.8 permite-nos constatar a importância que algumas
capacidades podem ter assumido ao longo da carreira dos participantes. O peso destas
manifesta-se primordialmente ao longo do desempenho atual, destacando-se a
capacidade de análise e resolução de problemas, a autoeficácia e a criatividade e
inovação, aspetos fulcrais no desempenho da função da gestão.
Tabela 5.8
Codificações Relativas às Capacidades
Subcategoria Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Análise e
resolução de
problemas
Percurso
anterior 3 6 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 12 50 Forte Forte
199
Atenção e
concentração
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 7 21 Mínimo Moderado
Autoeficácia
Percurso
anterior 6 6 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 52 Forte Forte
Capacidade
de aprender
Percurso
anterior 5 8 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 12 38 Forte Moderado
Capacidade
intelectual
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 8 15 Mínimo Moderado
Criatividade
e inovação
Percurso
anterior 1 1 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 5 6 Forte Forte
Metacognição
e reflexão
Percurso
anterior 3 4 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 8 23 Mínimo Moderado
Motivação – Objetivos centrados no processo
Na categoria motivação e subcategoria objetivos centrados no processo foram
identificadas todas as referências feitas pelos participantes relativamente aos objetivos
relacionados com o processo de execução das tarefas:
“Se for um projeto muito grande que demore, sei lá, três anos a
implementar, os objetivos de processo são muito importantes e no início
o foco vai ser aí, porque a probabilidade de nos perdermos pelo caminho
é enorme. Os objetivos do processo vão ajudar-nos a não sair do
caminho. Até porque os objetivos definidos no início por vezes já não
têm nada a ver com os objetivos do final.” (G)
200
Na maior parte das vezes estes objetivos parecem complementar os objetivos
centrados nos resultados, na medida em que estão associados à definição de um plano
de trabalho orientado para a obtenção do produto final:
“Como a priori os objetivos de resultados já estão definidos pela
administração, interessam-me mais os objetivos de processo, pois se este
trabalho estiver bem feito então os resultados serão atingidos. Assim
preocupo-me mais com os objetivos de processo: o que fazer, como
fazer e quando fazer para lá chegar.” (N)
São objetivos que incidem, sobretudo, em dois grandes aspetos: “O que tenho
que fazer?” e “Até quando tenho que fazer?”. Em várias situações os participantes
demonstram hierarquizar estes objetivos parciais, ou de curto prazo, de modo a facilitar
a execução das tarefas:
“Vou-lhe dar um exemplo: face a um rótulo que queremos fazer para um
determinado produto, primeiro debruçamo-nos nos objetivos de
processo: o que envolve, o nome, a forma... envolvemos vários
colaboradores para também darem as suas opiniões. Depois
comunicamos ao designer aquilo que queremos. Procuramos dar-lhe o
máximo de informação para que ele perceba bem o que pretendemos. É
aqui que nos preocupamos com o processo.” (E)
Motivação – Objetivos centrados nos resultados
Na subcategoria objetivos centrados nos resultados procurámos identificar o
envolvimento dos participantes na definição de objetivos em função dos resultados que
pretendem alcançar:
“Primeiro defino o resultado final. Só depois me debruço sobre os
objetivos do processo. “ (C)
Em vários casos a definição dos objetivos de resultados a atingir parece
funcionar como “ponto de partida” para a definição de um plano específico que
antecede os objetivos de processo:
“Este documento, que segundo a lei é feito por três anos, é trabalhado
por todos os departamentos da instituição e nele incluímos sempre os
objetivos de resultado que pretendemos atingir anualmente.” (M)
201
Muitos participantes referiram que os dois tipos de objetivos são importantes e
que na sua função estão sempre presentes. Por vezes primeiro os objetivos de processo
outras vezes os objetivos de resultado:
“Para mim os dois objetivos são importantes. Sem descurar a qualidade
dos processos o foco terá sempre que estar nos resultados que
pretendemos atingir. Hoje em dia as coisas são muito monitorizadas na
empresa e como tal definir objetivos de resultado é fundamental...”(I)
Motivação – Paixão pelo trabalho
Na subcategoria paixão pelo trabalho reunimos todas as descrições feitas sobre
o envolvimento dos participantes no trabalho, no qual colocam energia, prazer e tempo:
“A paixão é tudo, às vezes até fico parva com a minha própria força
física. Até carregar paletes eu, com esta fraca figurinha, sou capaz de
transportar... para a minha empresa eu faço tudo. A paixão faz tudo.” (C)
Com uma forte intensidade no desempenho atual dos participantes e
intensidade moderada no seu percurso anterior, reconhecemos que o impacto da
paixão na sua vida profissional sobrevaloriza-se quando a função desempenhada
é a desejada:
“Sem paixão não seria possível fazer o meu trabalho. Muitas vezes nem
nos apercebemos que a paixão está lá, mas de facto ela está.” (K)
Motivação – Reconhecimento
Na subcategoria reconhecimento colocámos todas as referências feitas sobre o
reconhecimento pelos outros do próprio trabalho dos participantes:
“Tenho consciência que sou reconhecido na empresa. Lá fora também
tenho provas de que sou reconhecido, pois já tive alguns convites.” (J)
Com uma forte intensidade perante o desempenho atual, as referências abordam
o reconhecimento dos resultados obtidos, quer por parte de figuras relevantes da
sociedade ou por parte de simples operários da empresa:
“Depois tive um outro grande marco, de uma coisa que nunca pensei
que me acontecesse. Foi quando em 2009 o Presidente da República me
condecorou com a Comenda Da Ordem de Mérito. Na minha cabeça
202
quem recebia estas condecorações das Comendas era alguém muito
intelectual, pessoas que vinham de famílias muito ricas, era uma ideia
errada que eu tinha, mas era esta a minha ideia. E portanto quando me
telefonaram a convidar para eu, no dia 10 de junho, ir receber a
Comenda, eu não percebi o que se estava a passar. Perguntava a mim
própria como é que deram por isso? De facto eu trabalhei mas não fiz
nada de especial. Foi de facto uma grande emoção.” (E)
“Posso dizer, com uma enorme satisfação, que aquilo que mais me
agrada é quando um operário me pede para falar comigo, porque querem
falar comigo para pedir uma ajuda. Talvez uma vez ou outra me venham
pedir dinheiro, mas a maioria das vezes não é dinheiro que me vêm
pedir, é sim uma opinião. E isto para mim é uma coisa tão rica, tão rica...
que nem tenho palavras para explicar o que sinto.” (H)
Motivação – Vontade de aprender
Na subcategoria vontade de aprender enquadrámos as referências feitas à
motivação e ao gosto pela aprendizagem, de um modo generalizado:
“Eu tenho sempre uma ânsia muito grande de aprender e gostaria muito
de fazer o mestrado para aprender mais, para me ajudar a fazer crescer a
minha empresa.” (C)
A maior parte dos participantes expressa uma enorme motivação pelo
conhecimento e ambição por querer aprender sempre cada vez mais. Nalguns casos o
interesse pela aprendizagem assume um sentido intencionalizado, isto é, as
aprendizagens que desejam realizar irão ser úteis para a sua vida profissional, noutros
casos representa um fim só por si só, pela satisfação de descobrir algo novo:
“Na realidade eu quero aprender! Eu quero saber, gosto de saber, gosto
de descobrir! Regra geral eu meto-me nas coisas porque quero descobrir
coisas, porque gosto de aprender.” (L)
Surge também a ideia de que a vontade por aprender deverá ser um traço
inerente à excelência e ao sucesso profissional e que sem ele o gestor irá falhar:
“O gestor de sucesso deve ter um gosto e um interesse pela
aprendizagem contínua. Isso é fundamental. O interesse e o gosto pela
aprendizagem ao longo da vida é um caminho para sempre, não há
retorno. Se o homem se esquecer que precisa de aprender sempre para
estar sempre atualizado, então não irá longe, pois o próprio sistema lhe
irá exigir mais e muito mais.” (K)
203
A análise da tabela 5.9 permite-nos constatar que a paixão pelo trabalho é o
grande motor do desempenho dos participantes. Também o reconhecimento dos outros
pelo trabalho que desenvolvem nas suas organizações, face ao seu desempenho atual, é
referido pela maior parte dos participantes, assumindo uma forte intensidade.
Tabela 5.9
Codificações Relativas à Motivação
Subcategorias Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Objetivos
centrados no
processo
Percurso anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 9 16 Moderado Moderado
Objetivos
centrados no
resultado
Percurso anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 10 28 Moderado Moderado
Paixão pelo
trabalho
Percurso anterior 5 6 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 64 Forte Forte
Reconhecimento
Percurso anterior 3 4 Moderado Moderado
Desempenho
atual 8 23 Moderado Forte
Vontade de
aprender
Percurso anterior 3 4 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 10 29 Moderado Moderado
Competências sociais – Altruísmo
Na categoria das competências sociais, incluímos a subcategoria do altruísmo
enquanto manifestação da vontade de dar um contributo social ou ajudar o outro. Todos
os gestores empresários referiram o aspeto de serem promotores de emprego,
contribuindo em certa medida para o dream job dos seus colaboradores:
“O que mais me entusiasma é poder contratar os meus colaboradores
com contrato... poder arranjar emprego para mais pessoas e poder estar
tudo escrito na folha... não ter ninguém a recibos verdes... claro que
pagar impostos custa... mas para mim é mais gratificante poder tê-los
com um contrato.” (D)
204
Todos os outros gestores abordaram o tema do contributo social na comunidade,
por um lado, como resultado dos seus conhecimentos adquiridos na função que
desempenham e por outro fruto da inerência da própria função:
“Eu atribuo mais essa característica aos cargos que assumo nalgumas
entidades e associações, nas quais é mais evidente o desejo do bem-estar
social promovido por elas. Por exemplo faço 200km, por vezes duas
vezes por semana, porque faço parte da direção dos Bombeiros
Voluntários de B.A. e sinto que é importante a minha ação naquela
associação. Claro que são gastos que tenho, mas sinto-me muito bem em
poder partilhar aquilo que sei, para o bem da comunidade.” (J)
Ao analisarmos a tabela 5.10 verificamos que esta subcategoria,
abordada por todos os participantes relativamente ao seu desempenho atual,
apresenta uma intensidade forte, sendo compreensível que face ao desempenho
anterior a sua expressividade seja moderada.
Competências sociais – estabelecer redes profissionais
Na subcategoria estabelecer redes profissionais procurámos identificar a
competência da criação de relacionamentos em rede na esfera profissional, os quais se
constituem na base de fortes alianças sociais no trabalho:
“Eu, como Diretor de Marketing e Comunicação da marca, os meus dias
são passados a trocar impressões com os meios, com as bloggers e a
alimentar a nossa página de facebook que exige uma gestão permanente
de conteúdos, passatempos, fotos, etc... criar fortes alianças sociais é
fundamental para o nosso sucesso profissional.” (F)
Apesar de ser uma subcategoria abordada por todos os participantes, e de ser
considerada por todos de grande importância para o sucesso profissional, face ao
desempenho atual, a sua intensidade é moderada, conforme se poderá ver na Tabela 5.9.
Competências sociais – influência interpessoal
Definimos a subcategoria influência interpessoal como a competência de exercer
poder nos outros em seu redor, convencendo-os a seguir o caminho:
“Hoje em dia já não pode haver líderes autoritários, pois aí as pessoas só
fazem por medo. O líder tem que saber envolver as pessoas na empresa
205
de modo a que sejam elas a dar de si sem ser necessário haver ordens.
Um bom líder tem de saber persuadir os seus colaboradores a seguirem-
no.” (C)
A influência interpessoal é uma competência social que se mostra de grande
importância nos cargos de liderança:
“Conseguir depois conquistar as vontades e juntá-las em torno de um
projeto que vai sendo desenhado por todos e alimentar isso ao longo de
meses e de anos é algo que eu acho fascinante.” (H)
Nos estudos sobre a liderança em contextos organizacionais, a influência
interpessoal assume um lugar de destaque, desenhando-se como uma competência do
líder de sucesso:
“Sobretudo tem que envolver as pessoas e levá-las a segui-lo, por aquilo
que ele faz, por aquilo que ele pensa, por aquilo que ele diz... tem que
ser copiado...” (L)
Na tabela 5.10 podemos analisar os resultados relativamente ao desempenho
atual e constatar que todos os participantes abordam esta subcategoria com uma
intensidade forte, confirmando a importância desta competência social no desempenho
da gestão.
Competências sociais – liderança
Na subcategoria liderança reunimos descrições dos gestores que demostram
como eles próprios vêm essa competência social e como eles se identificam enquanto
líderes empresariais:
“Eu tenho a convicção de que um líder nasce líder. Ele já tem que ter
intrinsecamente características de líder. Depois o que vai fazer é
aprender a melhorar aquilo que lhe é inato. Tem que ser determinado,
tem que saber ouvir, tem que ser inclusivo... tudo aquilo que já dissemos
anteriormente. Ser capaz de levar as pessoas para aquilo que ele quer.
Ele tem que ser capaz de levar as pessoas atrás. Tem que ter carisma.
Sobretudo tem que envolver as pessoas e levá-las a segui-lo, por aquilo
que ele faz, por aquilo que ele pensa, por aquilo que ele diz... tem que
ser copiado...as pessoas devem querer ser iguais a ele.” (L)
206
Alguns participantes referiram que, já em crianças, apresentavam características
de influenciar um grupo em direção à realização de metas, quer nos grupos escolares,
quer em grupos de amigos:
“Também no ensino secundário tive alguma ligação à gestão. Fundei
diversas coisas. Fundei a Associação de Estudantes, o Clube da Rádio,
etc.. Não havia na escola, então era preciso fazer. Junta-se um grupo de
amigos e vamos lá fazer. E fazíamos por que era giro fazer.” (G)
Face ao desempenho atual os participantes abordaram o tema quer falando das
características no geral, que consideram necessárias estar presentes para se ser um líder
de sucesso, quer refletindo aquilo que se passou consigo, na hora da tomada de decisão
face à carreira profissional:
“Todo o gestor tem que ser carismático, coercivo, motivador… enfim
tem que ter as características de um líder, pois muitas vezes tem que dar
estímulo, outras vezes tem que dizer o que está mal, outras vezes tem
que compensar…” (E)
Trata-se de uma subcategoria com uma frequência e uma intensidade forte, o que
seria de esperar, pois a liderança é uma competência de grande importância para a
função de gestão.
Competências sociais – perspicácia social
A perspicácia social representa uma subcategoria das competências sociais que,
embora não apresente valores muito representativos em termos de frequência e
intensidade demonstra um aspeto interessante: trata-se de uma competência cuja
interpretação dos comportamentos dos outros, terá que ser feita através de uma sintonia
face às diversas situações sociais e é algo que se aprende necessariamente ao longo de
uma carreira de gestão:
“Nesta organização onde os públicos são tão diversos, onde os conflitos
são constantes, é fundamental o diretor ter a perspicácia necessária para
fazer uma adequada gestão de conflitos. E isto aprende-se com o tempo.”
(M)
207
Competências sociais – respeito pelos outros
Também a subcategoria respeito pelos outros apresenta valores pouco
representativos em termos de frequência e intensidade.
Apesar de pouco mais de 50% abordarem o tema dos valores morais do ser
humano para uma convivência saudável e de grande importância na interação social,
operacionalizado no respeito pelo outro, as abordagens vincam esta competência social
como algo fundamental para que o líder seja respeitado:
“O gestor tem que ter consciência que os seus colaboradores são a peça
fundamental para o seu sucesso. Como tal, é fundamental respeitarmos
as pessoas, aproveitando-as no seu melhor… para mim, um enorme
orgulho é sentir que as gerações futuras desta casa vão manter os valores
que me foram passados, de respeito pelos outros e de equilíbrio perante a
sociedade local.” (E)
Competências sociais – sinceridade genuína
A subcategoria sinceridade genuína descreve a competência para demonstrar
elevada autenticidade, genuinidade, integridade e sinceridade na relação com os outros:
“Mas, essencialmente, temos que ser autênticos, genuínos, pois é
importante os nossos colaboradores perceberem que estamos sempre a
dizer a verdade. Só assim se é um líder.” (E)
Conforme poderemos ver na tabela 5.9 é uma subcategoria muito pouco
abordada pelos gestores apresentando poucas referências.
Tabela 5.10
Codificações Relativas às Competências Sociais
Subcategorias Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Altruísmo
Percurso
anterior 2 2 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 76 Forte Forte
Estabelecer redes
profissionais
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 12 26 Forte Moderado
208
Influência
Interpessoal
Percurso
anterior 2 4 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 68 Forte Forte
Liderança
Percurso
anterior 5 12 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 63 Forte Forte
Perspicácia Social
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Moderado
Desempenho
atual 9 26 Moderado Moderado
Respeito pelos
outros
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 7 24 Mínimo Moderado
Sinceridade
genuína
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 8 13 Mínimo Mínimo
Estratégias emocionais – convicções
As convicções enquanto opiniões firmes ou crenças que regem o desempenho
dos indivíduos é um ponto abordado por todos os participantes:
“Se estou convicto e acredito piamente no que crio ou materializo, então
torna-se mais fácil atingir os meus objetivos, porque é algo que acontece
naturalmente e não é provocado, conseguindo, assim, ultrapassar todos
os entraves” (F)
Com uma forte intensidade, relativamente ao desempenho atual, trata-se de uma
subcategoria que ajuda a compreender a forma como estes gestores lidam com as
dinâmicas empresariais, com as barreiras de percurso, e como conseguem desenvolver
as competências necessárias para ultrapassar as circunstâncias mais adversas do seu
percurso profissional, mantendo um padrão de excelência:
“São as minhas convicções que me dão força para atingir os meus
objetivos. Às vezes temos momentos que questionamos... mas elas
209
acabam por vencer e são elas que me fazem seguir em frente, mesmo
com todas as barreiras que me têm surgido.” (L)
As convicções acabam por fazer parte da matriz que rege a gestão destes gestores,
quer estejam presentes numa linha mais macro do sistema, quer estejam associadas a
uma gestão mais de pormenor, como por exemplo a gestão dos recursos humanos:
“Nós fazemos uma grande aposta na formação das pessoas, apoiamos e
pagamos a sua formação, porque estamos convictos que o
desenvolvimento das pessoas é o desenvolvimento da empresa.” (H)
Estratégias emocionais – dificuldades e obstáculos
Também a referência às dificuldades e obstáculos que surgiram ao longo do
percurso profissional dos participantes assume uma presença forte no seu discurso,
dando-nos a ideia que o sucesso está, de alguma maneira, associado a dificuldades e
obstáculos e à sua respetiva superação:
“Barreiras há todos os dias. Algumas, levei para casa, dormi com elas
muitos dias e muitas noites. Umas, consegui ultrapassar rapidamente,
outras por ventura nem me apercebi delas. Quem diz que consegue lidar
com todos os problemas da forma mais eficaz possível, está decerto a
mentir. Todos os dias surgem problemas, todos eles são diferentes uns
dos outros e a forma de reagir a eles também. Mas uma coisa é certa,
para termos sucesso temos que ter a força de superá-los.” (K)
As maiores dificuldades referidas ou têm a ver com entraves face ao
desenvolvimento das empresas, sendo este aspeto mais referenciado pelos
gestores empresários, ou dificuldades recorrentes do ambiente empresarial, mais
apontados pelos outros gestores:
“O que eu sinto é que a Direção dos Recursos Humanos não é bem vista
nas empresas, pois nós queremos umas coisas e as outras direções estão
alinhadas noutras vertentes mais económicas e menos social ou laboral.”
(N)
Estratégias emocionais – estratégias de coping
Também as estratégias de coping surgem com bastante referência no discurso
dos participantes, demonstrando o seu lado reflexivo e construtivo. O coping está
210
associado a diversos tipos de vivências do dia-a-dia, desde a gestão e a regulação das
emoções até a um conjunto de estratégias voltadas para a resolução dos problemas:
“No geral, para ultrapassar a ansiedade e o stress, para mim, funciona
bem a ginástica. Não como obrigação, mas como momento de
relaxamento. Faço-a normalmente na hora do almoço, pois ao fim do
dia, já estou a pensar na família e nas minhas obrigações familiares.” (N)
Alguns participantes mencionam exemplos de situações vividas nas empresas e
que demonstram o seu envolvimento na função, procurando dar o seu melhor para que
todos os colaboradores se sintam envolvidos na instituição:
“A primeira coisa que faço é tentar afastar-me do problema para o poder
analisar através de um outro prisma… e depois nunca desistir de o
resolver. Acredito que tudo tem uma solução, por isso tento analisar os
problemas o mais friamente possível. A primeira coisa é enfrentar…,
depois analisar… e depois tentar sempre chegar à resolução do
problema.” (E)
Estratégias emocionais – sensibilidade
A sensibilidade como a demonstração de sentimentos de humanidade, ternura e
simpatia face aos outros, apesar de ser um tema que à partida até poderíamos considerar
excluído desta função profissional, dado o rigor que ela exige, foi abordado por cerca de
75% dos participantes e apesar de ter uma intensidade moderada, os relatos demonstram
bem a sua importância para este grupo de gestores:
“Faz-me pensar que caso fosse outra pessoa que estivesse na direção,
se teria a mesma sensibilidade que eu, para levar a bom porto estes
casos tão difíceis. É a minha parte humanista... é muito importante esta
área num diretor.” (M)
Estratégias emocionais – situações de stress e ansiedade
A referência a situações despoletadoras de stress e ansiedade e a influência
destas no desempenho dos participantes, assume uma presença forte no seu discurso,
distribuindo-se equitativamente por uma influência positiva ou negativa, em função das
situações e da forma como eles lidam com a mesma:
“Para mim, a ansiedade acaba por estar ligada a algo mais negativo. E se
a pessoa é ansiosa e se transmite ansiedade para a sua equipa, isso é
sempre negativo. Mas ao longo da carreira surgem sempre situações de
211
stress... e lembro-me de algumas, claro. Lembro-me que quando fui
diretor de comunicação em “M” num evento de inauguração em que era
suposto haver cadeiras reservadas com o nome dos convidados, ninguém
se tinha lembrado deste pormenor. O grave é que havia uma pessoa do
Governo que tinha sido convidado para a inauguração. O primeiro
momento foi de pânico...” (I)
Nas situações de influência positiva, o stress parece funcionar como um
elemento ativador do funcionamento intelectual, sobretudo no que respeita ao
envolvimento e à gestão de tarefas:
“Mas de facto a ansiedade acaba por ter um impacto mais positivo do
que negativo, porque ela acaba por ser o motor para me envolver ainda
mais. Na minha mente está sempre presente o ter que fazer melhor e
melhor. É sempre uma busca de amanhã ser melhor do que hoje. É um
inconformismo constante devido à minha exigência face àquilo que a
nossa casa produz.” (E)
Nenhum dos participantes referiu que os níveis de stress e ansiedade fizessem
com que ficassem completamente fora de controlo, ao ponto de prejudicar
significativamente o seu desempenho.
Ao analisarmos a tabela 5.11 e nos centramos nos resultados obtidos
relativamente ao desempenho atual verificamos que sobressai o peso das subcategorias
dificuldades e obstáculos e situações de stress e ansiedade no percurso profissional dos
participantes. Também será de realçar que as convicções e as estratégias de coping
manifestam-se com uma forte intensidade, demonstrando que todos eles conseguem
encontrar força emocional e estratégias eficazes para superar as barreiras que se lhes vão
deparando no seu quotidiano.
Tabela 5.11
Codificações Relativas às Estratégias Emocionais
Subcategoria Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Convicções
Percurso
anterior 3 7 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 45 Forte Forte
Dificuldades
e obstáculos
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 12 78 Forte Forte
212
Estratégias
de coping
Percurso
anterior 2 3 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 12 116 Forte Forte
Sensibilidade
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 9 21 Moderado Moderado
Situações de
stress e
ansiedade
Percurso
anterior 2 4 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 12 76 Forte Forte
Prática profissional – autorreflexão
Ao debruçarmo-nos sobre a prática profissional, verificámos que todos os
participantes referiram a necessidade de, no seu quotidiano empresarial, refletirem sobre
as situações concretas em termos de custos e de benefícios. Este processo de
autorreflexão relaciona-se sempre com a adequação de estratégias face a situações que o
exigem:
“Nestes casos deve-se fazer sempre uma autorreflexão, isto é um, um
autodiagnóstico da situação, focando aspetos de como já esteve, de como
está e de como poderá vir a estar.” (K)
Trata-se de um processo abordado essencialmente nas situações de desempenho
atual não tendo expressividade nos relatos sobre o percurso anterior.
“Noto que, hoje em dia, felizmente já se está a caminhar nesse sentido o
que implica fazer uma autorreflexão, isto é, primeiro agarrar a
abordagem global, perceber as relações do todo e depois sabendo as
relações do todo, tentar extrair aquilo que é o pedaço explicativo, que é
no fundo o padrão, e depois então trabalhar esse padrão e perceber
melhor, para depois gerir, pois gerindo aquilo, eu saberei gerir um
sistema muito mais completo.” (L)
Apesar de apresentar uma forte frequência, a sua intensidade, comparada com as
outras subcategorias, é moderada, conforme se poderá ver na tabela 5.12.
213
Prática profissional – compromisso
Também a subcategoria compromisso, enquanto referência ao sentido de
responsabilidade assumido perante a função, é referida quase pela totalidade dos
participantes no seu desempenho atual, contudo, a sua intensidade apresenta-se
moderada:
“O compromisso que temos connosco próprios e com a função que
desempenhamos é fundamental.” (J)
Será interessante referir que os gestores empresários ao abordarem este tema,
referem não só o seu compromisso mas estendem-no também aos seus colaboradores:
“Um colaborador da minha empresa tem que ter a mesma polivalência
que eu e estar disponível tanto para trabalhar numa nova coleção como
para varrer o chão se for necessário...” (C)
Por vezes, referindo-o como uma exigência sua, a todos os colaboradores da sua
empresa, por vezes referindo que são os próprios colaboradores que assumem
deliberadamente esse compromisso com a empresa, os participantes referem:
“É de facto uma equipa espetacular, que além de serem muito
profissionais eu considero-os como meus amigos. A maior parte dos
meus colaboradores são mulheres e posso dizer que nunca deixei de
vender um único produto desta empresa, por elas não colaborarem. É
preciso ficar até às 8h ou às 9h da noite, elas organizam-se e ficam. É de
facto uma equipa espetacular.” (E)
Prática profissional – comunicação estratégica
A comunicação estratégia enquanto instrumento de inteligência empresarial, que
engloba o saber ouvir e o saber expressar as suas ideias, apresenta-se como uma
subcategoria forte na sua frequência, todos os participantes a abordam, e forte na
intensidade, considerando-a uma chave determinante do sucesso de qualquer gestor:
“A comunicação é fundamental em tudo. Não só para manter as pessoas
informadas mas também porque ela é uma ferramenta de transmissão de
conceitos que mais tarde serão importantes para a concretização de
objetivos definidos anteriormente. A comunicação estratégica acaba por
ser aquela que a pessoa consegue transmitir para atingir determinadas
objetivos, num determinado contexto, num determinado momento. A
214
estratégia é algo que se inicia para atingir um objetivo e que perdura no
tempo a longo prazo, logo todos os profissionais a devem ter em mente.
(K)
Referida como fundamental no contexto empresarial os gestores percebem que a
estratégia é não só expressar com clareza as ideias, mas também saber ouvir os outros:
“Volto àquilo que já lhe disse. A capacidade de comunicar: saber ouvir e
saber expressar ideias. Acho claramente determinante para um bom
desempenho profissional.” (J)
Prática profissional – conhecimentos científicos na área
A subcategoria conhecimentos científicos na área é uma subcategoria muito
referida pelos participantes. Praticamente todos os gestores a abordaram como sendo um
aspeto relevante para o sucesso da função:
“Tenho que ser competente tecnicamente… tenho que ter os
conhecimentos necessários para ter um desempenho excelente da minha
função.” (D)
A referência aos conhecimentos técnico-científicos da área empresarial como um
pilar do sucesso é não só referida em si, enquanto gestor, mas também como variável
necessária a todos os colaboradores que trabalham consigo:
“Acho que aquilo que deve acontecer é que o gestor tem que perceber
muito daquilo que são as várias variáveis da sua empresa. Eu diria que
em primeiro lugar tem que saber o que está a fazer. Mas para se ser o
melhor, tem que se saber daquilo que se está a fazer, a fundo. Conhecer a
fundo a área. Para se conhecerem os problemas, aquilo de que se precisa,
o que pode ser diferenciador, etc., etc.. Só assim se é um gestor de
excelência.” (G)
Ao analisarmos a tabela 5.12 verificamos que a intensidade desta subcategoria,
no âmbito do desempenho atual, é forte, o que se compreende, pois para atingir níveis
de excelência os profissionais têm que conhecer muito bem a sua área de trabalho. Só
assim poderão incentivar os seus colaboradores a serem também os melhores
profissionais do ramo.
Prática profissional – definição de objetivos
Na função da gestão é fundamental a definição de objetivos, isto é, saber definir
215
onde se está, para onde se vai e como se deve ir. Apresentando uma intensidade
moderada, alguns participantes abordaram esta subcategoria referindo, através de
exemplos e casos específicos da sua prática profissional, enquanto outros referiram esta
subcategoria apenas como algo fundamental na prática diária do gestor:
“Eu reconheço que sou obcecada pela focagem e pelos objetivos. Depois
disto estar definido, nada me desvia...” (L)
Prática profissional – disciplina
A subcategoria disciplina permite-nos compreender como os gestores
participantes funcionam face às exigências do cumprimento da sua função. Apenas com
uma intensidade moderada, esta capacidade de autodisciplina surge associada a um forte
sentido de responsabilidade, espírito de sacrifício, que pode até implicar o abdicar de
algo e que se traduz no cumprimento de regras auto-estipuladas ou na tomada de
decisões que favoreçam o espírito de trabalho:
“A disciplina é algo fundamental. O que entendo por disciplina: por
exemplo, se no início do ano eu digo que quero fazer todas as segundas
feiras uma reunião prévia para analisarmos aqueles três pontos, não a
posso estar constantemente a adiar. Só mesmo em casos de vida ou de
morte. Assim os colaboradores conseguem ganhar o ritmo necessário,
pois sabem que todas as segundas feiras têm a reunião. Se eu estiver a
alterar esta reunião, estou a passar a mensagem de que ela não é assim
tão importante. Então se não é importante para o diretor também não é
para nós. É esta a mensagem que passa. Não é a disciplina do tens que
trabalhar muito ou pouco, essa vem por consequência. Se há objetivos
definidos, que todas as semanas analisamos, ou todos os meses, então
temos que lá estar para o fazermos. É de facto este ritmo que mantem a
organização em bom funcionamento.” (J)
Alguns participantes referiram algumas estratégias concretas, que apelam a um
rigor que lhes permite manter o controlo diário das tarefas que fazem parte do espetro
empresarial:
“Eu tenho por hábito, há já algum tempo, escrever aquilo que faço ao
longo do dia. Aprendi isto numa formação de gestão de stress e desde
essa altura que o faço. Como gosto muito de cumprir os prazos organizo
as coisas por pontos e escrevo tudo aquilo que tenho que fazer, mesmo
que seja daqui a quinze dias, para não me esquecer de nada. Coloco
também lembretes para ir avançando com os processos que tenho em
mãos e todos os dias escrevo o que acontece, tipo diário. Resumindo,
tenho sempre a minha agenda estruturada. Antes de sair da empresa olho
216
sempre para a agenda para ver o que tenho que fazer no dia seguinte,
reuniões, etc. e preparo o que é necessário preparar.” (N)
Outros participantes abordaram a questão da disciplina relacionando-a com o
rigor do cumprimento dos horários:
“No início da minha carreira, entendia que estávamos a apostar em
coisas muito fortes e entendia que deveríamos de criar hábitos de grande
profissionalismo, algo espartanos... O grande toque deste planeamento
era o cumprimento dos horários. Em Portugal temos o hábito de não
cumprir horários e eu desde os meus 21 anos até aos 27 anos, não me
lembro de nenhuma reunião de administração, durante esse tempo, ter
começado a horas. Então, na primeira reunião de administração que eu
presidi, eu tinha apenas 27 anos e tinha à minha volta pessoas entre os 50
e os 70 anos de idade, eu terei dito uma frase de género: "Caros senhores
para mantermos algum rigor na organização, todas as reuniões de
administração que forem marcadas para uma certa hora, eu começarei a
reunião mesmo que esteja sozinho." E devo dizer que até hoje as
reuniões de administração passaram a começar sempre a horas e atrás
destas reuniões todas as outras se seguiram.” (H)
Prática profissional – empreendedorismo
O empreendedorismo é a capacidade em agregar valor, saber identificar
oportunidades e transformá-las em algo de sucesso:
“O mundo está em constante alteração e o gestor de sucesso tem que
estar atento a tudo. Perceber as alterações do mercado, aproveitar ao
máximo a tecnologia que hoje em dia está disponível... e outra coisa
muito importante é que o gestor de sucesso não pode desperdiçar
oportunidades.” (D)
É um traço que os gestores excelentes apresentam e que no presente grupo de
participantes teve uma forte frequência e intensidade:
“Eu acho que hoje em dia o gestor tem que ser empreendedor, tem que
antecipar o mercado, tem também que prever o mercado. Acompanhar
não, ele tem que estar mais à frente. Depois o mercado é que o tem que
acompanhar, mas o gestor tem que estar sempre à frente.” (K)
A ideia de que o gestor excelente deverá ter essa capacidade de agregar valor
para a sua empresa através de uma visão projetada para o futuro está presente no
discurso de todos os participantes.
217
Prática profissional – enfoque compreensivo na área
As descrições feitas pelos participantes deste estudo permitem-nos traçar um
perfil bastante consistente em relação à forma como estes gestores abordam a prática
profissional. Identificamos no discurso dos participantes uma forte intensidade face a
diferentes variáveis, designadamente à comunicação estratégica na empresa, ao saber
fazer na área em que profissionalmente estão inseridos, ao planeamento, ao esforço e
dedicação, à atualização constante através de pesquisas e leituras, à capacidade de
empreender algo de novo na comunidade empresarial e ao enfoque na área:
“Por defeito, até quando estou a ler o jornal, estou à procura de coisas
que me possam acrescentar qualquer coisa, nem que seja apenas analisar
os anúncios, ver o que está no mercado, ver quanto as empresas estão a
crescer, se aquela empresa já é nossa cliente, etc.” (J)
Este “enfoque compreensivo na área” parece ser facilitado pelas outras práticas
profissionais referidas no parágrafo anterior, na medida em que todas as subcategorias
atuam em sinergia contribuindo para que a motivação seja o “motor de arranque” para
que este enfoque esteja constante nas tarefas do dia-a-dia:
“Mas quem tem uma profissão como eu sabe que é normal que
estejamos sempre a pensar no trabalho. Então eu estou a trabalhar no não
ativo. Muitas vezes estou a olhar para a televisão para descansar os
olhos, mas estou a pensar no projeto X ou no projeto Y. Isto também é
trabalho, mas acaba por não estar contabilizado. Isto acontece também
quando vou a conduzir ou até mesmo a dormir. Acordar de manhã e
dizer: “Pronto, já sei!”. E isto é muito importante, porque se não fosse
feito fora daquelas horas, tinha que ser feito no período do trabalho.” (G)
Parece existir uma forte associação entre a forma como os gestores direcionam o
seu foco na gestão empresarial e a forma como se apaixonam pelo trabalho,
subcategoria já abordada anteriormente no âmbito da motivação e na qual a intensidade
também se apresentou forte.
Prática profissional – esforço e dedicação
Nesta subcategoria incluímos todas as referências que demonstram o esforço e a
dedicação que os participantes colocam no trabalho. Por vezes ela acaba por
complementar a subcategoria referida anteriormente, “enfoque compreensivo na área”,
conforme se poderá ver pelo relato feito por um dos participantes:
218
“Manter um determinado nível de referência desta instituição não é fácil.
Exige muito trabalho, muito empenho, muita dedicação. Às vezes até
levamos os problemas para casa e o pior, mesmo, é quando não
conseguimos desligar e mesmo em casa continuamos ligados ao
problema.” (M)
Embora os níveis de esforço e dedicação que envolvem cada um dos
participantes estejam relacionados com as próprias situações contextuais de cada um
(por exemplo serem gestores empresários ou apenas gestores), todos eles os abordam e
valorizam bastante, chegando mesmo a ser apontados como fatores diferenciadores em
relação aos colegas:
“Para mim era muito importante que as pessoas percebessem que eu
estava a dar o meu melhor e por isso eu trabalhava afincadamente.
Durante os primeiros quatro anos eu não tirei um único dia de férias.
Trabalhei ininterruptamente durante quatro anos. Saía muitas vezes à
meia-noite e entrava muitas vezes às cinco ou seis da manhã.” (H)
Por último, identificamos uma vertente do esforço e dedicação mais centrada na
tarefa, como forma de superação de dificuldades demonstrando que são esforçados
naquilo o que fazem:
“As minhas semanas são sempre semanas muito preenchidas. Trabalho
muitas horas por dia. Todas elas muito multifacetadas, com vários tipos
de tarefas a realizar… muito diferentes entre si. Muitas vezes com
análises muito profundas, reuniões de representação, às vezes conversas
muito complicadas... reconheço que tenho um perfil muito exigente, por
vezes demasiado exigente, até em situações que não o requerem.” (K)
Prática profissional – estabelecimento de metas
Com a subcategoria estabelecimento de metas reunimos todas as referências ao
estabelecimento de metas a atingir no âmbito profissional. Referida quase pela
totalidade dos participantes a sua intensidade é moderada:
“Só me lembro da frase “Onde é que estamos e o que pretendemos
fazer?” Isto é o chapéu da empresa. A partir daqui e seguindo todos os
níveis de colaboradores, só temos que perceber o que é necessário fazer
para chegar às metas que definimos no chapéu.” (J)
219
Alguns participantes abordam esta subcategoria explicitando algumas das metas
definidas no seu campo profissional, outros explicitam a organização necessária para se
atingirem as metas definidas nos documentos de base:
“Os objetivos estão sempre traçados no nosso projeto trienal definindo-
se também as metas a atingir. Depois definimos os objetivos do
processo, indicando para cada uma das metas a atingir quais os
processos, isto é, os métodos e as estratégias a utilizar para alcançar as
metas. Mediante este documento institucional anualmente fazemos a
avaliação dos objetivos definidos.” (M)
Prática profissional – gestão do tempo e das atividades
Na subcategoria gestão do tempo e das atividades reunimos as descrições dos
participantes relativamente à forma como organizam o seu dia-a-dia.
A análise geral desta subcategoria permitiu encontrar algumas diferenças entre
os gestores relativamente à forma como organizam o seu tempo e as suas atividades.
Desde a utilização das novas tecnologias, passando pela antecipação dos
acontecimentos ou a sua preparação com a antecedência possível, tudo foi referido pelos
doze participantes:
“Utilizo muito as novas tenologias que me apoiam muito. Utilizo muito
o meu IPhone e não deixo mensagens por ler. Mesmo numa fila, por
exemplo nas finanças, aproveito o tempo para ver que mensagens a
empresa foi recebendo, para mandar e-mails, para fazer telefonemas...
todos os tempos mortos são aproveitados para fazer algo que é
necessário e que me seja possível fazer através do IPhone.” (D)
Apesar de todos os gestores referirem que fazem uma adequada gestão do tempo
e das atividades, todos também referem a dificuldade que têm para concretizar esta
meta. Alguns referem ainda que esta capacidade de gestão é algo que se aprende e se
adquire com a experiência ao longo da vida:
“Tento gerir o meu tempo da melhor maneira possível, mas com alguma
dificuldade pois o tempo não estica. Isto também é algo que vamos
aprendendo na nossa vida. Atualmente consigo fazer um maior equilíbrio
entre o tempo passado na empresa, o tempo passado com a família e o
tempo passado com os amigos. Mas esta capacidade de gestão também
só se adquire com uma maior maturidade.” (K)
220
Prática profissional – learning-by-doing
A subcategoria learning-by-doing aborda a aquisição de conhecimentos e
competências baseadas na experiência:
“É a evolução, o andar, o descobrir, ver as coisas a crescer. Finalmente
as pessoas estão a aceitar o "learning-by-doing", o ir trabalhando e o ir
construindo à medida que se faz.” (L)
É uma subcategoria que apresenta uma intensidade mínima, embora apareça
referenciada por dois terços dos participantes:
“Ainda há pouco tempo estive a discutir isto com um colega da
empresa. Parece que estamos de novo a estudar, mas agora somos nós.
Na realidade são os mesmos conceitos mas agora estamos a aprender a
fazer com a nossa empresa. Esta semana estávamos a discutir um novo
modelo de avaliação das pessoas, segundo um conjunto de
metodologias, e isto tínhamos estudado há 13 anos atrás, no curso.” (G)
Prática profissional – leituras e pesquisas
As leituras e pesquisas constituem uma estratégia de aprendizagem ao longo da
vida identificada por estes gestores. Poderemos dizer que o enfoque na área profissional,
manifesta-se assim, pelo seu envolvimento em pesquisas e leituras que permitam
adquirir conhecimentos, mais vastos, sobre variados temas e situações:
“…isto é, alguém que se atualize permanentemente e utilize essa
informação em benefício próprio e adaptado ao seu negócio. Procurar
informação nas mais variadas plataformas digitais. Ter acesso a
showcases e case studies não só da área do seu negócio, mas também
estar aberto a outras áreas. Valorizo bastante sites ligados a Marketing,
Comunicação, Tecnologia e Consumidor, para perceber as tendências.”
(F)
Trata-se, não só, de uma estratégia de evolução na área profissional mas também
uma estratégia que promove o desenvolvimento pessoal e cultural:
“Sempre mantive uma constância nas leituras. Gosto muito de ler.
Mesmo quando chegava a casa já muito tarde eu era incapaz de ir para a
cama, ou mesmo já sentado na cama, sem primeiro ler uma ou duas
páginas de um livro.” (H)
221
Analisando a tabela 5.12 verificamos que todos os participantes abordam esta
subcategoria, sendo a sua intensidade também forte. A referência à importância da
atualização profissional ou noutras áreas como designadamente a sociedade ou o
ambiente está bem interiorizada neste grupo de participantes.
Prática profissional – organização
A subcategoria relativa à organização inclui aspetos relativos à estratégia ou
política empresarial, organização mental ou material que indicam quais as ações
necessárias para pôr em prática, para atingir os objetivos definidos. Esta subcategoria
interliga-se com a formulação de objetivos que vão apoiando a prática profissional no
desempenho da função. Nas referências feitas pelos participantes surgem diferentes
formas de organização, ao nível do tempo, dos ambientes, das atividades ou das tarefas:
“Para um gestor de sucesso, saber organizar é fundamental. Se eu for
organizada julgo que tenho uma menor probabilidade em errar e como
tal o meu trabalho apresenta uma melhor qualidade. Por exemplo todas
as segundas-feiras de manhã temos a nossa reunião semanal de
coordenação e todas as segundas-feiras de manhã ligo para todas as
entidades para saber como estão os nossos projetos. Depois é só definir
quem vai executar e o quê, quem vai apresentar e o quê.” (D)
Alguns participantes definem estratégias de organização mais práticas,
designadamente as relacionadas com as reuniões, registos ou outras estratégias que
acabam por ser facilitadores do desempenho do gestor:
“Faço mensalmente um resumo das coisas da área social e da área
laboral que têm que seguir e mensalmente faço essa atualização. Tenho
estratégias de reuniões trimestrais sobre determinadas situações. Tenho
as reuniões mensais com a comissão de trabalhadores. Estas rotinas estão
definidas logo desde o início do ano.” (N)
Outros participantes realçam mais a organização mental, isto é a capacidade de
estruturarem raciocínios de forma clara e lógica:
“Talvez o maior desafio prende-se com o facto de nós hoje em dia
estarmos num mercado global em que as oportunidades e as ameaças são
todas à escala global e é preciso lidar com isso à escala global, com toda
a complexidade que isso exige. Por exemplo olhamos para a China e
dizemos. “Ai! Vêm aí os chineses!” É uma oportunidade, mas também
uma ameaça. Eles são todos diferentes de nós. Tal como os indianos são,
222
os africanos são. Então é preciso flexibilidade mas também organização
mental para lidar com essas novas realidades. Eu diria que o grande
desafio é que é preciso ter uma mente muito, muito aberta a um conjunto
de culturas que são extraordinariamente diferentes da nossa, mas sem
perdermos a nossa matriz organizacional. Atualmente o mundo está todo
muito mais próximo e dantes não estava.” (G)
A organização surge assim descrita por todos os participantes como um fator que
ajuda a concretizar os objetivos, contudo parece uma condição não essencial ao seu
sucesso, já que o número de referências feitas apenas a colocam com uma intensidade
moderada.
Prática profissional – planeamento
A subcategoria planeamento reúne as referências relativas à planificação das
atividades. Trata-se de uma subcategoria abordada por todos os participantes e com uma
forte intensidade. Este tipo de estratégia demonstra a forte atitude no planeamento das
suas tarefas, no controlo dos planos estabelecidos, mas também na flexibilidade
necessária para atingirem as metas:
“Planear é fundamental, pois só assim quando nos surgem imprevistos
somos capazes de fazer as alterações necessárias.” (H)
Vários participantes referem-se também à elaboração de planos que
necessariamente têm que ser adaptados aos tempos para a sua concretização. Trata-se de
uma estratégia que se articula com a definição de objetivos e que ajuda os gestores a
manterem-se mais focados na concretização das tarefas:
“O meu planeamento está sempre subordinado aos tempos para a
concretização das diferentes etapas dos projetos e para cada tempo temos
sempre que definir marcos de concretização.” (L)
Prática profissional – priorização de tarefas
A subcategoria priorização de tarefas reúne as referências relativas à maneira
como as tarefas são escolhidas quando da sua realização. Apesar de cerca de 80% dos
participantes abordarem esta subcategoria, ela apresenta uma intensidade moderada:
223
“Organizo tudo por prioridades. Por exemplo, hoje tive uma reunião
logo pela manhã. Foi preparada ontem. A semana passada tivemos uma
auditoria. Durante duas semanas estive a prepará-la.” (N)
Alguns dos participantes referiram que não tendo propriamente estratégias para
lidar com a concretização das tarefas acabam por dar resposta, em primeiro lugar,
àquilo que é mais urgente, enquanto outros estruturam as atividades que têm para
realizar segundo a sua importância:
“O importante é priorizar. A tendência é querer fazer tudo, estar em tudo
e não dá. Primeiro, temos que ter essa consciência. Depois tentar
perceber o que é importante e o que é acessório.” (J)
Prática profissional – saber formar grupos de trabalho
A subcategoria saber formar grupos de trabalho reúne as referências relativas
ao modo como o gestor procede à organização de grupos de trabalho com os seus
colaboradores:
“Em relação aos nossos colaboradores são todos da terra. Mas a seleção
que fazemos é muito criteriosa. Valorizamos pessoas da região, pois para
nós é uma mais-valia a pessoa ser deste meio rural, pessoas que
valorizem os afetos, que saibam vestir a camisola. Para além disso têm
que ser pessoas competentes.” (E)
Dois terços dos participantes abordaram este tema, referindo a importância dos
grupos de trabalho no sucesso das empresas. Contudo esta subcategoria apenas
apresenta uma intensidade moderada:
“Diferentes negócios, diferentes produtos, exigem metodologias
diferentes de gestão, mas na realidade o que é fascinante é conseguir
arranjar um conjunto de pessoas, saber juntá-las, focá-las, pô-las a
trabalhar coordenadamente e conseguir atingir os objetivos.” (G)
Tabela 5.12
Codificações Relativas à Prática Profissional
Subcategoria Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Autorreflexão
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Moderado
Desempenho
atual 12 23 Forte Moderado
224
Compromisso
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Moderado
Desempenho
atual 11 30 Moderado Moderado
Comunicação
estratégica
Percurso
anterior 3 4 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 73 Forte Forte
Conhecimento
s científicos na
área
Percurso
anterior 1 7 Mínimo Moderado
Desempenho
atual 11 44 Moderado Forte
Definição de
objetivos
Percurso
anterior 2 2 Moderado Moderado
Desempenho
atual 11 30 Moderado Moderado
Disciplina
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 10 27 Moderado Moderado
Empreendedor
ismo
Percurso
anterior 2 2 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 68 Forte Forte
Enfoque
compreensivo
na área
Percurso
anterior 3 3 Moderado Moderado
Desempenho
Atual 12 47 Forte Forte
Esforço e
dedicação
Percurso
anterior 2 2 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 62 Forte Forte
Estabelecimento
de
metas
Percurso
anterior 1 3 Mínimo Moderado
Desempenho
atual 11 23 Moderado Moderado
Gestão do
tempo e das
atividades
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 12 22 Forte Moderado
Learning-by-
doing
Percurso
anterior 0 0
225
Learning-by-
doing Desempenho
atual 8 13 Mínimo Mínimo
Leituras e
pesquisas
Percurso
anterior 1 3 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 47 Forte Forte
Organização
Percurso
anterior 1 1 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 36 Forte Moderado
Planeamento
Percurso
anterior 1 1 Moderado Moderado
Desempenho
atual 12 41 Forte Forte
Priorização de
tarefas
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
atual 10 16 Moderado Moderado
Saber formar
grupos de
trabalho
Percurso
anterior 0 0
Desempenho
Atual 9 28 Moderado Moderado
Desempenho – situações de insucesso
As situações de insucesso contribuem com informação interessante sobre os
participantes com respeito aos momentos menos positivos do seu percurso. Como seria
de esperar praticamente todas as situações referidas estão relacionadas com o
desempenho atual dos participantes:
“Já tive tantas situações excelentes e tantas situações péssimas, que já
lhe perdi o conto. Tenho de facto situações do arco-da-velha. Por
exemplo, as primeiras experiências que tive na China, com empresas ou
com o estado Chinês. Ia com uma grande expectativa de me ir encontrar
com o CEO da empresa e afinal estive com uma série de vinte chineses à
volta de uma mesa e eu sozinho mais o meu tradutor que falava inglês.
Ao fim de quatro horas de reunião saio de lá e não sei se correu bem se
correu mal. Tinha saído do escritório para a reunião, cheio de
entusiamo… vou fazer isto, mais isto… espetáculo e afinal saio de lá e
penso: O que é que acabou de acontecer? - Isto para mim foi uma derrota
completa.” (G)
226
Será relevante referir um aspeto comum entre os participantes: face às situações
de insucesso, a atitude reativa para as ultrapassar é uma constante. Embora o primeiro
momento seja referido como de desânimo, logo a seguir surge uma força interior
impulsionadora que passa pela análise e reflexão do problema e posterior identificação
de estratégias mais eficazes que permitam o sucesso.
Desempenho – situações de sucesso
Ao longo das entrevistas foram feitas diversas referências a situações de
sucesso, não se encontrando grandes diferenças entre o número de referências feitas
pelos gestores e o número de referências feitas pelos gestores empresários:
“Tenho tido muitos momentos de sucesso, mas eu acho que o grande
momento que mais me marcou, neste percurso enquanto gestora, foi o
fazer marcas que se identificaram com a nossa própria casa. Este foi de
facto um grande marco. Depois vieram muitos momentos de alegria
devido ao sucesso das nossas marcas. As medalhas de ouro a nível
mundial… e claro, não poderei esquecer o prémio da Comenda de
Ordem de Mérito que me foi atribuído pela Presidência da República.”
(E)
De acordo com a área empresarial de cada participante, assim as situações de
sucesso se enquadram. Umas mais ligadas a metas definidas pelas administrações das
empresas onde trabalham, outras mais ligadas a projetos pessoais, que se pretendem
implementar na comunidade:
“Apesar de ainda estar no início da minha carreira já tenho muitas
histórias para contar. Mas de facto o que me marcou mais... bom o meu
sonho era estar na Avenida da Liberdade com a minha marca e há bem
pouco tempo um professor meu da faculdade convidou-me e a minha
marca lá está na Avenida da Liberdade.” (C)
A partir da tabela 5.13 podemos verificar que as situações de sucesso se
destacam em relação às situações de insucesso, o que representa um indicador da
estabilidade do desempenho elevado destes gestores ao longo da sua carreira
profissional.
227
Tabela 5.13
Codificações Relativas ao Desempenho
Subcategoria Momento Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Situações de
sucesso
Percurso
anterior 2 2 Moderado Mínimo
Desempenho
atual 12 80 Forte Forte
Situações de
insucesso
Percurso
anterior 1 1 Mínimo Mínimo
Desempenho
atual 8 16 Mínimo Moderado
Projetos e ambições
Os participantes apresentam projetos e ambições diversos, embora seja possível
identificar vários pontos em comum entre os gestores entrevistados. Em relação aos
projetos pessoais, como seria expectável, os gestores ainda jovens, em início de carreira,
pretendem vir a ter ou criar os filhos pequenos e chegar à velhice felizes e com muitos
amigos por perto. Os gestores que se encontram a meio da sua carreira profissional, para
além de referirem que verem a família crescer com estabilidade é fundamental, referem
que faz parte dos seus planos ter tempo para fazer coisas que sempre gostaram, mas que,
devido à carreira profissional não têm tido tempo para fazer, como por exemplo ler mais
livros, dedicarem-se à agricultura ou mesmo outras atividades mais arrojadas. Já os
gestores em final de carreira referem como projetos pessoais acompanhar os netos, ter
mais tempo para os amigos e viajar:
“Fora da minha área profissional tenho sempre muitas ambições, mas o
tempo não me permite fazer tudo o que quero. Já tenho uma bucket list
pessoal e gostaria de me aventurar em muitas coisas, desde viver noutro
país, sobretudo EUA, aliando a vida profissional com a pessoal.
Aprender piano, tirar um curso de programação e design de sites, porque
o futuro está absolutamente nas novas tecnologias e no e-commerce. E
além de tudo, ser o melhor pai do mundo para o meu filho e quiçá, para
outra criança que vier, podendo dar todas as oportunidades possíveis
para que eles se adaptem perfeitamente à exigência do mundo futuro.”
(F)
228
Em relação aos projetos profissionais futuros, na generalidade, é demonstrada
uma atitude bastante ambiciosa sendo uma das principais metas gerais o “crescer e
continuar a ter sucesso”:
“Há um conjunto de coisas que eu ainda gostaria de fazer a nível
profissional. Gostaria muito de levar uma das nossas empresas para a
bolsa nos Estados Unidos. Porque sempre foi uma coisa que quis fazer.
(G)
Será interessante referir que os gestores empresários em início e em meio da sua
carreira referem pretender alargar os seus mercados, designadamente os mercados
internacionais. Já os gestores empresários em final de carreira, e porque os mercados
internacionais já fazem parte das suas carteiras comerciais, incidem o seu foco para a
criação de projetos complementares ou mesmo a criação de novos produtos:
“Pretendemos criar novos produtos para levar ao mercado,
diferenciadores e que promovam uma melhor saúde e bem-estar às
pessoas. Pretendemos crescer ainda mais, criar mais condições para
aumentarmos o nosso departamento de investigação para que se possa
fazer mais trabalho, com a criação de mais produtos que levem mais
bem-estar a todos.” (H)
Os gestores em início de carreira projetam vir a assumir cargos mais elevados
nas empresas onde trabalham, mas os gestores já em final de carreira pretendem
dinamizar novos projetos na área social ou mesmo vir a dinamizar um negócio próprio:
“Com a minha equipa mais restrita pretendo fazer novos projetos…,
projetos no domínio social..., desenvolver mais aquilo que chamamos
de tecnologia social..., que está mais ligada à sociedade..., para poder
estimular mais e melhor as sociedades, tornando-as sustentáveis e
resilientes e transmitir estes conceitos e estes conhecimentos. Estamos
a fazer uma grande aposta nas avaliações e abordagens estratégicas,
ligadas portanto à gestão estratégica e ao desenvolvimento das
abordagens sustentáveis. Por exemplo, estratégias de sustentabilidade
em empresas, estratégias de sustentabilidade em comunidades,
estratégias de sustentabilidade nos municípios, estratégias de
sustentabilidade no setor público... É assim que eu me vejo ainda a
produzir, mas com os meus netos por perto, para eu ser avó... isto é que
é sustentabilidade.” (L)
Um último aspeto que parece mais transversal a todos é a necessidade de darem
o seu melhor enquanto gestores, trabalhando continuamente para isso e deixando uma
229
marca própria no modo como exercem a função, o que vem corroborar os dados
recolhidos e analisados sobre a paixão sobre o trabalho.
Tabela 5.14
Codificações Relativas aos Projetos e Ambições
Subcategoria Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Projetos
pessoais
12 23 Forte Moderado
Projetos
profissionais 12 40 Forte Forte
A Tabela 5.14 permite-nos verificar que os projetos e ambições representam uma
categoria referenciada por todos os participantes, assumindo, simultaneamente, uma
forte intensidade no discurso dos entrevistados quando são abordados os projetos
profissionais.
Personalidade
Abertura à experiência
Uma das características de personalidade com uma forte significância nos
participantes entrevistados é a abertura à experiência. Esta característica manifesta-se
através da disponibilidade do sujeito para ter experiências novas:
“E para isso temos que estar permanentemente abertos. Não podemos
ter uma mente fechada. A nossa mente tem que estar aberta à mudança,
às oportunidades, à diferença… só assim é que conseguimos ter
sucesso.” (E)
É de realçar o interesse expresso por todos os gestores em se envolverem em
novas experiências que, para além dos benefícios materiais que lhes possam trazer,
permitem novas aprendizagens e um maior desenvolvimento pessoal:
“Eu nunca digo não a nada. Temos que enfrentar o medo e mesmo que
não se saiba fazer no momento, vamos aprender a fazer para depois
apresentar o produto. (C)
230
Identificámos, em vários destes gestores, uma postura bastante proactiva no que
respeita à procura de experiências de interesse, vontade de explorar e de experimentar
coisas novas e diferentes. Esta característica de personalidade vem de encontro e
complementa a análise feita a propósito dos processos desenvolvimentais na
subcategoria de novos ambientes de aprendizagem, cuja intensidade também se assumiu
forte.
Autoconfiança
Uma outra característica de personalidade com uma intensidade forte neste
grupo de gestores foi a autoconfiança. Essa convicção interior que o sujeito tem de ser
capaz de fazer ou realizar algo apresenta-se como uma característica fundamental a estar
presente no gestor de sucesso:
“A principal é a autoconfiança. Nunca vacilar. Não podemos mostrar os
nossos pontos fracos.” (D)
Autocontrolo
Um outro traço de personalidade identificado neste grupo de gestores foi o
autocontrolo. Esta capacidade de gestão das nossas emoções, dos nossos desejos ou
sentimentos apresenta-se como um traço fundamental à liderança, sendo uma maneira
de não aumentar as ansiedades dos restantes profissionais que trabalham lado a lado
com o líder:
“Mesmo que nos sintamos um pouco ansiosos com algo, como gestores,
nunca o devemos transmitir às nossas equipas, pois isso iria aumentar as
ansiedades dos outros. Acho que esta deve ser a grande estratégia que eu
utilizo.” (I)
Autoestima
Com uma intensidade moderada surgem referências à apreciação que cada
sujeito faz por aquilo que é, com as suas falhas, fraquezas, valores, conquistas ou
mesmo dificuldades. A autoestima apresenta-se, assim, como um traço de personalidade
com uma intensidade moderada, embora tenha sido abordada por mais de 80% dos
participantes:
“Posso orgulhar-me de não ter tido nunca nenhum processo disciplinar
na minha carreira. Aqui, muitos diretores já tiveram processos
231
disciplinares e prendem-se sempre com tomadas de decisão que são
tomadas, com falta de conhecimentos, ou de leis ou financeiros, pois nós
diretores, não temos qualquer formação nesta área dada pela tutela, o que
é uma falta. Sinto que sou boa naquilo que faço.” (M)
Capacidade de adaptação
Todos os participantes falaram sobre a capacidade de adaptação como um traço
importante para o sucesso na vida profissional. Para estes gestores este traço de
personalidade, que envolve a capacidade de adaptação a novos contextos, tem que estar
sempre presente, pois a realidade profissional requer “nuances” que o ensino tem
dificuldade de apresentar:
“Não descurei nunca o aspeto de que nas disciplinas académicas as
coisas são sempre mais teóricas do que na prática. A nós, cabe-nos
depois fazer essa adaptação à realidade.” (D)
Todas as mudanças exigem a revisão de posturas sendo a capacidade de
adaptação o elo capaz de tornar possível essas mudanças:
“Na segunda empresa e restantes, já multinacionais, tive de adaptar as
minhas funções onde o poder de negociação interna é fulcral.” (F)
Competitividade
A competitividade, referida por dois terços dos participantes, é descrita como
uma característica positiva para o próprio envolvimento e desempenho da função:
“Para o empresário, hoje somos mais do que Portugal, somos uma aldeia
global. Temos o mundo à nossa frente e temos que estar atentos a isso
para sermos competitivos e para termos sucesso. Ao fim e ao cabo, se
não formos competitivos não conseguiremos vender o nosso produto e
não conseguiremos ter sucesso.” (E)
Importa contudo salientar que a competitividade não parece constituir um
objetivo por si só, mas antes uma motivação que complementa objetivos que,
primordialmente, estão focados no próprio gestor:
“O desafio é a previsão. O desafio é saber como vai sobreviver no
mercado face à concorrência, e saber como vai fazer a empresa ser
rentável... criar riqueza.” (I)
232
Determinação
A determinação, embora esteja presente nos relatos de mais de 80% dos
participantes, surge como uma característica de personalidade com um impacto
moderado na forma como os gestores se envolvem e desempenham as suas tarefas:
“Acho que há características que estão connosco, são inatas. Por
exemplo, eu sou uma pessoa muito determinada. Mas tanto o sou nesta
instituição como o sou na minha vida pessoal.” (M)
Esta atitude generalizada de determinação perante objetivos ou situações da vida
é particularmente evidente quando os participantes se referem aos obstáculos ou às
dificuldades, através da persistência e confiança com que encaram os problemas:
“As pressões por parte dos familiares foram muitas, pois tinham medo
que, face à decisão tomada, não conseguíssemos atingir os nossos
objetivos. Só que essas pressões davam-nos ainda mais força. Mais tarde
viemos a perceber que estávamos certos e as pressões só confirmaram
que era o único caminho a seguir para fazer crescer a empresa.” (D)
Nos seus relatos não parece haver lugar para desistências, uma vez que estes
gestores não gostam de “ficar para trás”. A determinação está presente como uma
característica que faz parte da sua forma de estar perante a vida em geral e perante a
profissão em particular. Esta determinação perante uma função tão exigente como a
gestão parece definir a forma como os participantes se envolvem na sua prática
profissional, designadamente em termos do seu compromisso com o trabalho, com a
disciplina incutida no seu dia-a-dia ou mesmo em termos do esforço e dedicação perante
a sua profissão. Se analisarmos com maior detalhe outras referências, como por
exemplo, a forma como alguns gestores apresentaram o estabelecimento das metas que
pretendem atingir, verificamos que no seu âmago esta característica de personalidade
também se manifesta:
“Temos que saber definir muito bem os nossos objetivos, o que
queremos atingir, como queremos, com quem queremos... são as nossas
escolhas que determinam as coisas que vamos conseguir atingir.” (D)
Esta consciência do “querer ser excelente naquilo que fazem”, a convicção de
que tudo depende de si e a autoconfiança de que são capazes de o atingir estão
233
retratadas nesta capacidade de determinação, como sendo uma das condições ao seu
sucesso profissional.
Estabilidade emocional
A capacidade de agir calmamente e com segurança diante de desafios e
responder bem a situações stressantes encontra-se descrita nas referências identificadas
como estabilidade emocional. Neste grupo de gestores, 75% considera que o sucesso da
carreira profissional também depende do seu bem-estar psicológico:
“Fundamental, o gestor tem que estar bem psicologicamente. Temos que
estar bem connosco próprios. Mas isto é em qualquer função.” (D)
A estabilidade emocional é percecionada pela calma com que se tomam as
decisões em contexto empresarial, quer no âmbito das emoções, quer no âmbito das
relações interpessoais:
“A outra coisa que também acho importante é a capacidade que o gestor
deve ter sobre a gestão dos sentimentos... das relações com as pessoas...
perceber que um colaborador meu pode ser meu amigo lá fora, mas na
empresa ele está sujeito às mesmas regras e normas do bom
funcionamento empresarial, e fazer tudo isto com calma e serenidade.”
(G)
Extroversão
A extroversão, designadamente o ser sociável e comunicativo com os outros,
surge referenciado apenas por um participante:
“Julgo que a minha personalidade, de ser uma pessoa bastante
extrovertida, de gostar de comunicar com os outros, de gostar de tomar a
iniciativa, de liderar… acho que esteve sempre presente em mim.” (M)
Apesar de ser uma subcategoria sem expressão neste grupo de participantes, não
poderíamos deixar de a mencionar, pois todas as referências feitas pelos participantes
devem ser alvo de qualificação na análise de conteúdo.
Flexibilidade
A flexibilidade é uma subcategoria referida por 75% dos participantes e com
uma intensidade moderada:
234
“O que está certo hoje amanhã não está. As mudanças são permanentes e
a flexibilidade tem que estar sempre presente.” (E)
Esta capacidade de fazer alterações no momento perante novos desafios ou
situações diferentes é referida como muito importante para o sucesso do gestor, pois
atualmente vivemos num mundo cujas mudanças não só estão presentes, como surgem a
velocidade extremamente rápida exigindo de todos nós uma adequada flexibilidade para
as acompanhar:
“Capacidade de saber lidar com diversas situações, sejam elas mais ou
menos importantes, com interlocutores ao mais alto nível ou menos
importantes do ponto de vista social. Essa capacidade é muito
importante.” (K)
Gosto pela exigência e desafios
Todos os participantes manifestaram o gosto pela exigência e desafio.
Poderemos referir que esta característica de personalidade está presente a vários níveis:
como fator que seduz o gestor para o seu envolvimento com a tarefa, chegando mesmo a
ser a própria dificuldade do projeto que determina a escolha:
“Eu gosto muito de desafios. Gosto de ter projetos difíceis,
complicados... o fácil que fique para os outros. O que me entusiasma são
os projetos mais arrojados, diferentes, que exigem mais trabalho. Aí o
meu empenho é superior.“ (D)
Esta característica é notada enquanto fator motivacional, isto é “ver as coisas
como um desafio”:
“Há situações imprevistas que são verdadeiros desafios... o que eu
adoro... fico deliciada.” (L)
Por último, também é perspetivada enquanto fator de realização pessoal. Neste
caso, os projetos são vistos como algo, que apesar de exigentes, ou até mesmo
impensáveis, permitem recolher um sentimento de satisfação pessoal:
“Eu gosto muito de ambientes de que sejam o desconhecido. Gosto
mesmo muito. Muito recentemente estivemos num processo de venda
dos nossos aviões à Índia. Para a Índia, para os Himalaias levar aviões é
uma coisa que não passa pela cabeça de ninguém. Foi exatamente aquilo
que a gente foi fazer!” (G)
235
Este grupo de gestores parece apreciar os desafios quer ao nível das tarefas, quer
ao nível dos contextos, tornando esta subcategoria forte na frequência e na intensidade.
Honestidade
A honestidade, enquanto comportamento que demonstra obediência
incondicional às regras morais existentes, surge referida por 75% dos participantes e
apresenta-se com uma intensidade moderada, no contexto nos traços de personalidade
que qualquer gestor deverá ter no seu quotidiano profissional:
“Penso que a chave é a sinceridade... pôr o preto no branco e com
sinceridade falar com as pessoas expondo as nossas ideias. Acho que a
honestidade é fundamental.” (C)
Humildade
Também a humildade surge referida por 75% dos participantes e apresenta-se
com uma intensidade moderada. Mais do que uma capacidade em reconhecer os seus
erros, defeitos ou limitações, a humildade surge, neste grupo, como um traço de
personalidade do gestor, de não ser detentor de todo o conhecimento:
“Como já referi anteriormente, um bom desempenho profissional está
sempre ligado a uma certa dose de humildade do gestor, de ter a
consciência que ainda não sabe tudo.” (D)
Perfeccionismo
A referência ao perfeccionismo como característica de personalidade que se
manifesta pela forma de estar perante a profissão, através da qual os sujeitos procuram
melhorar aquilo que fazem, dando o melhor de si e esforçando-se por crescer e melhorar
continuamente, esteve sempre presente no discurso das entrevistas realizadas:
“Mas uma coisa também é importante dizer, eu sempre quis fazer o meu
melhor. Tudo aquilo que fazia era com o objetivo de me superar a mim
próprio.” (J)
No discurso destes gestores ressalta a preocupação em “fazer bem as coisas” e
“com perfeição”. Mais do que um modo de fazer, o perfecionismo surge aqui descrito
como um modo de estar, uma vez que estes sujeitos tendem a ser perfecionistas em tudo
o que fazem e não apenas nas suas tarefas profissionais:
236
“Sou uma pessoa meticulosa, mas no bom sentido. Em tudo o que faço
tento fazer com um propósito, com um objetivo concreto e se é para
fazer é para fazer bem, com perfeição. Isso acontece na minha vida
profissional e pessoal. Desde a criação da imagem, a forma como
comunicar a marca, a criação de bases de dados e relação com os meios
e clientes, encontrar formas de maior eficácia e eficiência no negócio são
sempre assuntos que me movem. Na vida pessoal isso manifesta-se nos
meus hobbies, na relação com os amigos, família, etc...” (F)
O perfeccionismo surge assim como um traço de personalidade que conduz estes
gestores a um elevado grau de exigência consigo próprios.
Perseverança
A subcategoria perseverança foi definida como a capacidade de se manter
constante e firme ao longo de um projeto já iniciado, mantendo uma determinada atitude
ou opinião, por mais adversas que possam ser as circunstâncias ou se os objetivos
possam parecer difíceis de concretizar:
“Aqui em Portugal, na área comercial, ainda estamos muito nos
números. Cada vez que faço uma ação, divulgo uma política na área
das relações sociais, um procedimento importante para o grupo há
sempre muitas barreiras, muitos entraves por parte das outras direções.
De facto é muito difícil, mesmo penoso. Então o que faço? Apresento,
justifico e depois disponho-me a fazer a apresentação aos
colaboradores das direções conforme os diretores acharem que é mais
conveniente. Mesmo assim, a reação dos diretores é tão negativa que
fico a pensar no que falha, aonde está a falha, o que é que me falta para
este projeto ser bem aceite por todos… de facto ser persistente, não
desistir é fundamental." (N)
É uma subcategoria abordada pelos seis gestores empresários e por cinco
gestores, apresentando uma intensidade moderada. Contudo, em todas as referências a
persistência perante um projeto que parece difícil de levar em frente é referida como
fundamental. A não desistência é a matriz desta subcategoria.
Resiliência
A subcategoria resiliência foi abordada por todos os gestores empresários, mas
apenas por metade dos gestores. Definida como a capacidade daquele que recupera e
supera desafios, após um momento de adversidade, conseguindo se adaptar ou evoluir
237
positivamente frente à situação, aparece com uma intensidade moderada neste grupo de
participantes:
“Levei sete anos até encontrar alguém que me dissesse: isso é muito
difícil mas...com paciência e persistência, se você for capaz de.... então
será fantástico. Andei sete anos atrás deste ideal... até que encontrei a
pessoa certa que, perante o meu desafio, acabou por aceitar e vir para a
empresa assumir o respetivo cargo de direção.” (H)
Tabela 5.15
Codificações Relativas à Personalidade
Subcategoria Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Abertura à
experiencia 12 69 Forte Forte
Autoconfiança 12 56 Forte Forte
Autocontrolo 6 10 Mínimo Mínimo
Autoestima 10 26 Moderado Moderado
Capacidade de
adaptação 12 39 Forte Moderado
Competitividade 8 25 Mínimo Moderado
Determinação 10 37 Moderado Moderado
Estabilidade
emocional 9 28 Moderado Moderado
Extroversão 1 2 Mínimo Mínimo
Flexibilidade 9 22 Moderado Moderado
Gosto pela
exigência e
desafios
12 48 Forte Forte
Honestidade 9 20 Moderado Moderado
Humildade 9 32 Moderado Moderado
Perfeccionismo 11 38 Moderado Moderado
Perseverança 11 30 Moderado Moderado
Resiliência 9 20 Moderado Moderado
Perceções de excelência
Um dos objetivos específicos deste estudo era analisar a perceção que os
gestores participantes têm da excelência na gestão. Assim um dos temas abordados nas
entrevistas incidiu sobre esta temática. Encontrámos diversas ideias em relação àquilo
238
que os participantes consideram ser o protótipo de um gestor excelente, as quais
necessariamente derivam das experiências profissionais de cada um:
“Ser exigente, ser honesta, ter capacidade de diálogo…, uma
comunicação transparente, que consiga transmitir as ideias necessárias
para trazer os outros para os nossos pontos de vista, mas respeitante quer
com os superiores, quer com os colaboradores que dependem de nós,
quer os restantes colaboradores da empresa. Ter uma linguagem clara,
uma mente aberta, estar disponível para ouvir, para receber sugestões e
não pensar que sou a dona da verdade. Mesmo que nos questionemos,
porque sempre fizemos as coisas assim e agora dão-nos a sugestão para
fazer num outro formato, devemos estar abertos às mudanças e sabermos
adaptar-nos a coisas novas. Dar sempre a oportunidade às pessoas para
que elas não tenham medo de apresentar sugestões. Saber ouvir, refletir,
ser determinada para implementar e depois analisar os resultados para
avaliar. Tem sido este o meu lema na empresa.” (N)
Neste grupo de gestores foram diversificadas as características apontadas como
fundamentais para a excelência na gestão: referências à motivação através da paixão
pelo trabalho; importância de algumas capacidades, designadamente a capacidade de
análise e resolução de problemas, criatividade e inovação, autoeficácia, metacognição e
reflexão; tónica nas estratégias de coping para ultrapassarem as dificuldades e os
obstáculos; referência a diversas competências sociais como a liderança, a influência
interpessoal, a sinceridade genuína, o altruísmo e o respeito pelos outros, bem como a
várias competências na prática profissional designadamente a comunicação, os
conhecimentos científicos na área, o enfoque na área, a organização, a disciplina ou a
definição de objetivos. Foram referidos também diversos traços de personalidade, como
a abertura à experiência, determinação, persistência, flexibilidade, humildade,
capacidade de adaptação, exigência e desafios e perfeccionismo. Contudo, houve
algumas características que todos os gestores mencionaram, referindo-as como bastante
importantes para se atingir a excelência, designadamente a comunicação, a influência
interpessoal, a abertura à experiência, a determinação, a capacidade de adaptação e o
gosto por situações exigentes e desafiantes. Verifica-se, ainda, e de um modo geral, uma
atitude de humildade, no sentido de não se considerarem superiores aos seus colegas.
É possível identificar atitudes de satisfação, bem-estar, orgulho e sentimentos de
realização pessoal com o sucesso alcançado, bem como referências aos benefícios
sociais trazidos para as comunidades com o trabalho realizado.
239
A partir da tabela 5.16 verificamos que as perceções de excelência apresentam
uma frequência forte dado que todos os sujeitos desenvolveram este tema. Comparando
o tema com todos os outros temas abordados, a sua intensidade manifestou-se com uma
classificação moderada.
Tabela 5.16
Codificações Relativas às Perceções de Excelência
Categoria Entrevistas Referências Classificação
Frequência
Classificação
Intensidade
Perceção de
excelência 12 39 Forte Moderado
Síntese das classificações
Na tabela 5.17 encontra-se a síntese das classificações de frequência e
intensidade, em função do desempenho atual e do percurso anterior, nas categorias e
subcategorias em que essa diferenciação se aplica. Verificamos que a generalidade das
categorias e subcategorias apresenta maior frequência e intensidade no desempenho
atual do que no percurso anterior. A exceção surge nas duas subcategorias do contexto
escolar, “Mais-valias” e “Escolhas significativas”, que surgem com classificações mais
elevadas no percurso anterior, confirmando assim a importância do contexto escolar no
percurso académico deste grupo de gestores.
Nos fatores contextuais destacam-se as subcategorias “Família”,
“Amigos/Colegas”, “Funcionamento em equipa”, “Ambientes de aprendizagem” e
“Sorte e oportunidades”, com classificações fortes na frequência e intensidade.
Nos fatores pessoais, centrando-nos nos domínios da motivação, capacidades,
estratégias emocionais e competências sociais, verificamos que as subcategorias com
classificações mais elevadas são “Paixão pelo trabalho”, “Análise e resolução de
problemas”, “Autoeficácia”, “Criatividade”, “Influência interpessoal”, “Altruísmo” e
“Liderança”. Se analisarmos as subcategorias da prática profissional e do desempenho
encontramos com classificações mais elevadas a “Comunicação”, o
“Empreendedorismo”, o “Planeamento”, o “Enfoque na área”, o “Esforço e dedicação”
e o “Sucesso profissional”. Relativamente à personalidade, neste grupo de participantes,
240
os traços que surgem com classificações mais fortes são “Abertura à experiência”,
“Autoconfiança” e “Exigência e desafios”.
Como seria expectável, neste grupo de gestores de excelência, os projetos
profissionais que ainda anseiam realizar ao longo da sua carreira, também apresentam
uma classificação forte.
Se nos centrarmos no desempenho atual verificamos que 30 (46%) das 65
subcategorias estabelecidas nos fatores contextuais e fatores pessoais apresentam uma
frequência forte, demonstrando que os 12 participantes entrevistados abordaram a
respetiva subcategoria e que 38% apresentam uma forte intensidade dando, assim,
relevo às 25 subcategorias com o maior número de codificações feitas.
A grelha utilizada para a leitura da presenta tabela é a seguinte:
Classificação Forte
Classificação moderada
Classificação mínima
Tabela 5.17
Síntese das Classificações
Categoria Subcategoria Percurso Anterior Desempenho Atual
Frequência Intensidade Frequência Intensidade
Contexto Macro
Amigos/Colegas
Contexto Micro Família
Outros
Professores
Escola
Contexto escolar Escolhas significativas
Mais-valias
Ambiente empresarial
241
Aspetos institucionais
Avaliação desempenho
Contexto Desenvol. interesses
Profissional Escolhas significativas
Expectativas carreira
Fatores consolidação
Funcionamento equipa
Ambientes aprendiza.
Processos Atividades n/ relacio.
desenvolvimentais Conhecimentos prévios
Sorte/oportunidades
Risco
Saúde
Análise resolução prob.
Atenção/concentração
Autoeficácia
Capacidades Capacidade intelectual
Capacidade aprendiza.
Criatividade e inovação
Metacognição e reflexão
Objetivos/processo
Objetivos/Resultado
Motivação Paixão pelo trabalho
Reconhecimento
Vontade de aprender
Altruísmo
Estabel. Redes Profiss.
Competências Influência Interpessoal
Sociais Liderança
Perspicácia Social
Respeito
Sinceridade
Convicções
Estratégias Dificuldades/obstáculos
Emocionais Estratégias de coping
Sensibilidade
242
Situações de stress
Autorreflexão
Compromisso
Comunicação estratég.
Conhecimentos área
Definição objetivos
Disciplina
Empreendedorismo
Prática Enfoque na área
Profissional Esforço e dedicação
Estabelecimento metas
Gestão tempo
Learning-by-doing
Leituras/pesquisas
Organização
Planeamento
Priorização tarefas
Saber formar grupos
Desempenho Insucesso
Sucesso
Frequência Intensidade
Projetos Projetos pessoais
Projetos profissionais
Abertura experiência
Autoconfiança
Autocontrolo
Autoestima
Capacidade adaptação
Competitividade
Determinação
Personalidade Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Extroversão
Flexibilidade
Honestidade
Humildade
243
Perfeccionismo
Perseverança
Resiliência
Auto-perceção da excelência
Distribuição das codificações por categorias
Terminada a análise mais descritiva das entrevistas e tendo-se analisado
exaustivamente todas as categorias e subcategorias previamente identificadas,
gostaríamos agora de apresentar algumas figuras tomando em consideração as seguintes
variáveis: (i) género (feminino/masculino); (ii) fase na carreira de gestão (inicio, meio e
fim de carreira); (iii) tipo de gestão (gestor empresário e gestor), obtendo assim uma
visão mais global da distribuição das codificações por categorias e subcategorias. Os
valores apresentados referem-se ao número de codificações atribuídas a cada uma das
categorias analisadas.
A figura 5.1 apresenta a distribuição das codificações entre o Percurso Anterior
(PA) e o Desempenho Atual (DA) por género. Com este gráfico conseguimos perceber
qual o peso que cada categoria assume entre o PA e o DA, para cada um dos grupos.
Assim verificamos que a quantidade de codificações realizadas é maior em todas as
categorias no DA do que no PA, à exceção da categoria contexto educativo que
apresenta um maior número de codificações no PA. Tal resultado prende-se com o teor
da entrevista, a qual é centrada no desempenho atual dos sujeitos. Verificamos também
que a categoria que apresenta maior número de codificações é a “prática profissional”,
o que é compreensível, dado o elevado número de subcategorias que lhe foram
atribuídas. A categoria com menor peso face ao conjunto das categorias é “situações de
risco”. Ao fazermos uma análise comparativa das codificações realizadas pelos dois
grupos, verificamos que o grupo feminino ultrapassa o grupo masculino, praticamente
em todas as categorias, exceto nas categorias “prática profissional”, “situações de
risco” e “contexto educativo” do DA.
244
Figura 5.1. Distribuição das codificações entre DA e PA por sexo.
Figura 5.2. Distribuição das codificações entre DA e PA por fase na carreira de gestão.
245
Na figura 5.2 encontra-se a distribuição das codificações entre o Percurso
Anterior (PA) e o Desempenho Atual (DA) por fase na carreira profissional (início,
meio e fim da carreira). Neste gráfico será relevante referir que, tal como no gráfico
anterior, ao fazermos uma análise comparativa das codificações realizadas pelos três
grupos, não encontramos diferenças significativas. Contudo, verificamos que o grupo
dos participantes em início de carreira apresenta um menor número de codificações
praticamente em todas as categorias, exceto na categoria Estratégias Emocionais do
DA.
Figura 5.3. Distribuição das codificações entre DA e PA por tipo de gestão.
Na figura 5.3 encontra-se a distribuição das codificações entre o Percurso
Anterior (PA) e o Desempenho Atual (DA) por tipo de gestão (Gestores v.s. Gestores/
empresários). Também neste gráfico, apesar de não encontrarmos diferenças
significativas, verificamos que o grupo dos gestores empresários apresenta um maior
número de codificações praticamente em todas as categorias, exceto na categoria
Estratégias emocionais do DA.
246
Tendo como ponto de partida as questões formuladas no inicio do presente
estudo empírico, designadamente, a análise das comunalidades e singularidades em
função do género e do tipo de empresa em que os participantes atuam e a compreensão
dos percursos profissionais desde o inicio até ao topo da carreira e perante a analise dos
três gráficos anteriores, poderemos dizer que não foram encontradas diferenças
significativas na distribuição das codificações face às três variáveis consideradas,
género, tipo de gestão e fase na carreira profissional. No sentido de uma busca de dados
mais precisos que permitissem uma maior compreensão das questões levantadas,
designadamente as características que servem de força motriz ao desempenho
profissional, como a Motivação, Capacidades e Estratégias Emocionais e a Prática
Profissional deste grupo de participantes, considerámos relevante analisar mais
detalhadamente as codificações obtidas nas subcategorias de cada uma das referidas
categorias no desempenho atual.
Ao analisarmos as próximas três figuras (figura 5.4, figura 5.5 e figura 5.6),
verificamos que são os participantes do sexo feminino que apresentam maior número de
referências em todas as subcategorias das categorias analisadas, exceto nos Objetivos
Centrados no Resultado, da categoria motivação, na qual o número de referências é o
mesmo nos dois grupos e na subcategoria Análise e Resolução de Problemas de
capacidades, na qual os participantes do sexo masculino apresentam um maior número
de referências. Nas subcategorias da categoria estratégias emocionais, o número de
referências de cada subcategoria é sempre superior no grupo do sexo feminino.
Figura 5.4. Distribuição das codificações na categoria Motivação por sexo.
0 10 20 30 40 50
DA-Objetivos centrados no processo
DA-Objetivos centrados no resultado
DA-Paixão pelo trabalho
DA-Reconhecimento
DA-Vontade de aprender
Participantes do Sexo Masculino
Participantes do Sexo Feminino
247
Figura 5.5. Distribuição das codificações na categoria Capacidade por sexo
Figura 5.6. Distribuição das codificações na categoria Estratégias Emocionais por sexo.
Figura 5.7. Distribuição das codificações na categoria Prática Profissional por sexo
0 10 20 30 40 50
DA-Analise e resolução de …
DA-Atenção e concentração
DA-Auto-eficácia
DA-Capacidade de …
DA-Capacidade Intelectual
DA-Criatividade e inovação
DA-Metacognição Reflexão
Participantes do Sexo Masculino
Participantes do Sexo Feminino
0 20 40 60 80 100
DA-Convicções
DA-Coping
DA-Dificuldades e obstáculos
DA-Sensibilidade
DA-Stress e ansiedade
Participantes do Sexo Masculino
Participantes do Sexo Feminino
0 10 20 30 40 50
DA-Autoreflexão
DA-Compromisso
DA-Comunicação estratégica
DA-Conhecimentos …
DA-Definição de objetivos
DA-Disciplina
DA-Empreendedorismo
DA-Enfoque compreensivo …
DA-Esforço e dedicação
DA-Estabelecimento de metas
DA-Gestão do tempo e das …
DA-Learning-by-doing
DA-Leituras e pesquisas
DA-Organização
DA-Planeamento
DA-Priorização das tarefas
DA-Saber formar grupos de …
Participantes do Sexo Masculino
Participantes do Sexo Feminino
248
Analisando a figura 5.7 sobre a distribuição das codificações na categoria prática
profissional por sexo verificamos que os participantes do sexo feminino apenas fazem
mais referências nas subcategorias Saber Formar Grupos de Trabalho, Priorização de
Tarefas, Learning-by-doing, Empreendedorismo, Definição dos Objetivos,
Conhecimentos Científicos na Área, Comunicação Estratégica e Compromisso, dando a
ideia que fatores mais práticos como o planeamento, organização, a atualização
cientifica feita através de pesquisas e leituras, a gestão do tempo e das atividades, o
estabelecimento de metas, o esforço e dedicação, o enfoque na área, a disciplina e a
autorreflexão, se encontram num segundo plano de importância face aos referidos em
primeiro lugar, os quais apresentam um maior envolvimento social para a sua
concretização.
Figura 5.8. Distribuição das codificações na categoria Motivação por tipo de gestão.
Figura 5.9. Distribuição das codificações na categoria Capacidades por tipo de gestão.
0 10 20 30 40 50
DA-Objetivos centrados no processo
DA-Objetivos centrados no resultado
DA-Paixão pelo trabalho
DA-Reconhecimento
DA-Vontade de aprender
Gestores
Gestores/Empresários
0 10 20 30 40 50
DA-Analise e resolução de …
DA-Atenção e concentração
DA-Auto-eficácia
DA-Capacidade de …
DA-Capacidade Intelectual
DA-Criatividade e inovação
DA-Metacognição Reflexão
Gestores
Gestores/Empresários
249
Figura 5.10. Distribuição das codificações na categoria Estratégias Emocionais por tipo
de gestão
Se compararmos o número de referências feitas tendo em linha de conta o tipo
de gestão encontramos resultados bastantes diversificados consoante a categoria. Assim,
na categoria motivação (figura 5.8) os gestores/empresários apresentam resultados mais
elevados na Paixão pelo Trabalho e nos Objetivos Centrados nos Resultados; na
categoria capacidades (figura 5.9) são referenciados, pelos gestores/empresários, como
fatores de grande importância para o sucesso da sua carreira a Análise e Resolução de
Problemas, Atenção e concentração, Autoeficácia, Criatividade e Capacidade
Intelectual; e na categoria estratégias emocionais (figura 5.10) apenas a subcategoria
sensibilidade apresenta um maior número de referências feitas comparativamente ao
grupo de gestores. A subcategoria Estratégias de Coping apresenta o mesmo número de
referências feitas por ambos os grupos, gestores e gestores/empresários.
Considerámos também a análise das referências feitas nestas três categorias,
tendo em linha de conta a fase em que os participantes se encontram na sua carreira
profissional, início, meio ou final de carreira. Assim, relativamente aos participantes em
início de carreira será relevante referir que na categoria motivação (figura 5.11) são eles
que mais referências fazem à Vontade de Aprender e na categoria estratégias emocionais
(figura 5.13) o maior número de referências feitas recaem nas subcategorias Stress e
Ansiedade e Dificuldades e Obstáculos, dando a ideia que quem inicia uma carreira vai
ter que aprender a lidar com este tipo de situações e que em termos motivacionais a
chama da aprendizagem terá que estar sempre acesa. Já com os participantes em final de
carreira será interessante verificar que são eles que mais falam na Paixão pelo Trabalho
como fator de sucesso das suas carreiras. Perante a categoria Capacidades (figura 5.12)
os participantes em final de carreira fazem mais referências à Criativiadede e Inovação,
Capacidade de Aprendizagem e Análise e Resolução de Problemas como sendo os
0 20 40 60 80
DA-Convicções
DA-Coping
DA-Dificuldades e obstáculos
DA-Sensibilidade
DA-Stress e ansiedade
Gestores
Gestores/Empresários
250
traços fundamentais que os gestores devem possuir para que as suas carreiras sejam de
excelência. Os participantes que se encontram a meio da sua carreira profissional
referem mais os Objetivos de Processo e consideram que a Atenção e Concentração, a
Autoeficácia, a Capacidade Intelectual e a Metacognição e Reflexão são as capacidades
do sistema cognitivo do sujeito que lhes permitem interagir com o meio, monitorizando,
autorregulando e potenciando o próprio sistema. Estas são capacidades importantes que
o gestor deve ter para que se torne num executivo de excelência. Face à categoria das
estratégias emocionais, é este grupo que mais recorre a elas. Será relevante referir que
na subcategoria Convicções, à medida que se avança na carreira assim o número de
referências aumenta, danda a ideia de que as opiniões firmes sobre algo se vão
cimentando com a idade.
Figura 5.11. Distribuição das codificações na subcategoria Motivação por fase na
carreira.
Figura 5.12. Distribuição das codificações na categoria Capacidades por fase na
carreira.
0 5 10 15 20 25 30
DA-Objetivos centrados no processo
DA-Objetivos centrados no resultado
DA-Paixão pelo trabalho
DA-Reconhecimento
DA-Vontade de aprender
Participantes Final Carreira
Participantes Meio da Carreira
Participantes Inicio Carreira
0 5 10 15 20 25 30 35
DA-Analise e resolução de …
DA-Atenção e concentração
DA-Auto-eficácia
DA-Capacidade de …
DA-Capacidade Intelectual
DA-Criatividade e inovação
DA-Metacognição Reflexão
Participantes Final Carreira
Participantes Meio da Carreira
Participantes Inicio Carreira
251
Figura 5.13. Distribuição das codificações na categoria Estratégias Emocionais por fase
na carreira
Não perdendo o foco das questões de partida deste estudo empírico,
designadamente sobre as características e competências psicológicas associadas aos
desempenhos dos gestores, debruçámo-nos sobre os resultados encontrados nas
categorias Competências Sociais e Personalidade, recorrendo ao programa NVivo 10
através de uma análise agrupada, a qual possibilita a visualização de ligações entre
elementos do projeto. Desta forma, visualizamos de uma forma específica as
subcategorias que estão relacionados com os participantes que as referem no seu
discurso. Assim, fomos verificar quais as subcategorias das competências sociais que
foram abordadas por todos os participantes, homens e mulheres, gestores e
gestores/empresários, gestores em início, meio ou final de carreira e quais as diferenças
significativas entre elas. Ao analisarmos as figuras 5.14 e 5.15 verificamos que as
competências sociais consideradas fundamentais para o sucesso da carreira de gestão,
abordadas por todos os participantes, foram o Altruísmo, o Estabelecimento de Redes
Profissionais, a Influência Interpessoal e a Liderança.
0 10 20 30 40 50
DA-Convicções
DA-Coping
DA-Dificuldades e …
DA-Sensibilidade
DA-Stress e ansiedade
Participantes Final Carreira
Participantes Meio da Carreira
Participantes Inicio Carreira
MASC
F
G
H
I
J
K Sinceridade genuína
Respeito pelos outros
Perspicácia social
Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
252
Figura 5.14. Competências sociais consideradas de maior importância pelos
participantes do sexo masculino e do sexo feminino
Figura 5.15. Competências sociais consideradas de maior importância pelos
Gestores/Empresários e Gestores.
Numa análise mais detalhada da figura 5.14, na qual se encontram as ligações
entre os participantes e as subcategorias existentes por sexo, verificamos que a
FEM
Sinceridade genuína
Respeito pelos outros
Perspicácia social
Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
C
D
E
L
M
N
Gestores/empresários Perspicácia social
Sinceridade genuína H
G
C
D
E
F
Respeito pelos outros
Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
I
J
K
L
M
N Sinceridade genuína
Respeito pelos outros
Perspicácia social
Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
Gestores
253
subcategoria sinceridade genuína aparece associada a todos os elementos do grupo
feminino, reforçando a ideia de que para as mulheres, além das competências sociais de
liderança, o altruísmo, o estabelecimento de redes profissionais e a influência
interpessoal, identificadas por todos os participantes deste estudo, o sucesso na carreira
das mulheres também passa por saberem demonstrar autenticidade, genuinidade,
integridade e sinceridade face aos outros. Na figura 5.15, onde se encontram os
resultados obtidos segundo a variável tipo de gestão, não encontramos diferenças
significativas, mas na figura 5.16 onde as subcategorias das competências sociais estão
distribuídas segundo a variável fases da carreira profissional, verificamos que todos os
participantes que se encontram a meio da sua carreira profissional referem a
subcategoria perspicácia social como sendo também uma competência inerente a uma
carreira de excelência. Depois de uma fase inicial, que no presente estudo considerámos
de dez anos, face às exigências da função, estes participantes que se encontram a meio
de uma carreira profissional (entre 11 a 24 anos de desempenho da função) referem a
importância da perspicácia social para o seu sucesso.
C
F
K
N Sinceridade genuína
Respeito pelos outros
Perspicácia social
Participantes em início de
carreira Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
Participantes a meio de
carreira
Sinceridade genuína
Respeito pelos outros
Perspicácia social
Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
D
G
J
M
254
Figura 5.16. Competências sociais consideradas de maior importância pelos gestores
distribuídos pelas três fases da carreira em que se encontram
Figura 5.17. Traços de personalidade considerados de maior importância pelos
participantes do sexo masculino e do sexo feminino
Participantes em final de
carreira
E
H
I
L Sinceridade genuína
Respeito pelos outros
Perspicácia social
Liderança
Influência interpessoal
Estabelecimento de redes profissionais
Altruísmo
Abertura à experiência
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Extroversão
Flexibilidade
Honestidade
Humildade
Perseverança Resiliência
FEM
C
D
E
L
M
N Perfeccionismo
Abertura à experiência
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Flexibilidade
Honestidade
Perfeccionismo
Resiliência
F
G
H
I
MASC
J
K Perseverança
Humildade
255
Relativamente à categoria personalidade apresentamos as figuras 5.17, 5.18 e
5.19 onde encontramos os resultados, respetivamente, distribuídos por sexo, tipo de
gestão e fase da carreira profissional. Quatro traços de personalidade sobressaem, sendo
abordados por todos os participantes, homens e mulheres, gestores e
gestores/empresários, gestores em início, meio ou final de carreira: autoconfiança,
abertura à experiência, capacidade de adaptação e gosto pela exigência e desafios.
Figura 5.18. Traços de personalidade considerados de maior importância pelos
Gestores/Empresários e Gestores.
Numa análise mais detalhada de comparação de género (figura 5.17),
verificamos que todos os participantes do sexo feminino referem mais seis traços de
personalidade do que os participantes do sexo masculino, enquanto fatores importantes
na carreira de um gestor: perseverança, perfeccionismo, humildade, honestidade,
C
D
E
F
G
H
Abertura à experiência
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Gestores/empresários Exigência e desafios
Flexibilidade
Honestidade
Perfeccionismo Perseverança
Resiliência
Humildade
Abertura à experiência
Honestidade
Perfeccionismo
Gestores
I
J
K
L
M
N
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Extroversão
Flexibilidade
Humildade
Perseverança Resiliência
256
determinação e a autoestima. O grupo feminino torna-se, assim, mais exigente face às
características de personalidade que um gestor deverá de ter, assumindo que, para além
de se apreciar, no seu todo, mesmo com as suas falhas, deverá saber manter-se firme,
constante e determinado ao longo dos seus projetos, sem perder a capacidade de ser
humilde para saber ouvir os outros e seguir os códigos deontológicos e éticos.
Ao compararmos os gestores com os gestores/empresários (figura 5.18)
encontramos também algumas diferenças. Assim, se para os gestores o quinto traço de
personalidade de maior importância no perfil do gestor é o perfeccionismo, ficando a
ideia que o gestor necessita de encontrar sempre as melhores resoluções no seu
desempenho, para os gestores/empresários é a perseverança, a resiliência, a
determinação, a competitividade e a autoestima. São estas cinco subcategorias, para
além das quatro referidas anteriormente e comuns a todos os participantes, que todos os
gestores/empresários referem na entrevista como sendo também traços fundamentais
para o sucesso da carreira de gestão. Parece que para este grupo de gestores um segundo
foco de importância dos traços de personalidade refere-se à persistência perante as
barreiras do dia-a-dia e um terceiro refere-se a estar no meio empresarial com a
adrenalina necessária para ser competitivo.
Por último, comparámos os participantes relativamente às três fases em que se
encontram na carreira (figura 5.19) e para além dos quatro traços identificados por todos
os participantes - abertura à experiência, autoconfiança, capacidade de adaptação e
gosto pela exigência e desafios, todos os gestores em início de carreira referiram que o
perfeccionismo é um traço importante para o sucesso profissional. Já os participantes
que se encontram a meio da sua carreira profissional, para além deste traço, o
perfeccionismo, acrescentam a perseverança, a humildade, a determinação e a
autoestima. Por último, os participantes em final de carreira consideraram que a
resiliência, a perseverança, a humildade e a honestidade serão os traços de
personalidade a acrescentar, para que a excelência profissional seja uma realidade. É
interessante ver este contínuo que se vai demarcando à medida que os anos na carreira
profissional avançam: primeiro valoriza-se a perfeição no trabalho, depois começa-se a
dar mais importância à capacidade de determinação e perseverança, mas incluindo a
característica da humildade e por último, já numa fase da carreira em que a sabedoria se
foi consolidando com a experiência de vida, a excelência na carreira.
257
Figura 5.19 – Traços de personalidade considerados de maior importância pelos
gestores distribuídos pelas três fases da carreira em que se encontram
Participantes em início de
carreira
C
F
K
N
Abertura à experiência
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Flexibilidade
Honestidade
Perfeccionismo Perseverança
Resiliência
Humildade
Participantes a meio de
carreira
D
G
J
M
Abertura à experiência
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Extroversão
Flexibilidade
Honestidade
Humildade Perfeccionismo
Perseverança Resiliência
Participantes em final de
carreira
E
H
I
L
Abertura à experiência
Auto-controlo
Auto-estima
Auto-confiança
Capacidade de adaptação
Competetividade
Determinação
Estabilidade emocional
Exigência e desafios
Flexibilidade
Honestidade
Humildade
Perfeccionismo Perseverança
Resiliência
258
Para além dos quatro traços comuns a todos os participantes, assumem-se como
traços também importantes a capacidade de superar os desafios evoluindo positivamente
face às situações, mas com a deontologia e a ética necessárias para vingar no mundo
empresarial e a humildade necessária para estar aberto a novas experiências.
Após esta análise, focalizada no desempenho atual, no âmbito dos fatores
pessoais considerámos relevante a análise dos fatores contextuais mais fortes, no
sentido de obter resultados que respondessem a algumas questões de partida,
designadamente a importância e a influência de fatores ambientais e contextuais
associadas aos desempenhos dos participantes. Para tal recorremos mais uma vez ao
programa NVivo 10 e à construção de alguns modelos que nos permitiram explorar as
ligações existentes entre os grupos de participantes e as subcategorias de cada uma das
categorias escolhidas
Figura 5.20. Distribuição por sexo das subcategorias relativas ao Contexto Micro.
Comparando o grupo masculino com o grupo feminino (figura 5.20) verificamos
que em ambos os grupos todos os participantes referem a família e os amigos/colegas
como uma verdadeira rede de apoio próxima que contribuiu para o desenvolvimento da
carreira profissional de cada um. Sem se verificarem diferenças significativas entre os
dois grupos, poderemos acrescentar que em relação à subcategoria outras figuras é no
grupo masculino que surgem mais participantes a fazerem referência a esta categoria e
em relação à subcategoria professores, é o grupo feminino que apresenta mais
participantes a mencionarem esta rede de apoio como sendo um fator de influência em
FEM MASC
259
relação ao seu desempenho profissional. Ao compararmos os gestores/empresários com
os gestores (figura 5.21) verificamos que as subcategorias família e amigos/colegas
apresentam-se igualmente fortes na medida em que todos os participantes de cada um
dos grupos as referem com igual importância. Contudo, será interessante analisar que
em relação às subcategorias outras figuras e professores é no grupo dos
gestores/empresários que surge o maior número de participantes a lhe fazer referência.
No grupo dos gestores, apenas dois participantes abordam a subcategoria outras figuras
e apenas um aborda a subcategoria professores.
Figura 5.21. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Micro pelo tipo de
gestão.
Figura 5.22. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Micro pelas três fases
da carreira em que os gestores se encontram
Gestores/empresários Gestores
Participantes em
final de carreira
Participantes a meio
de carreira
Participantes em
início de carreira
260
Feita a análise das subcategorias do contexto micro por fase da carreira em que os
participantes se encontram (figura 5.22), para além de todos os participantes de cada
grupo fazerem referências às subcategorias família e amigos/colegas, conforme já foi
referido anteriormente, será interessante referir que é no grupo de participantes que se
encontram em início de carreira que existe o maior número de sujeitos a referir a
influência de outras figuras (n = 4).
No grupo de participantes que se encontram a meio da carreira esse número
baixa para metade (n = 2) e no grupo de participantes que se encontram em final de
carreira apenas um sujeito refere essa subcategoria como sendo um fator relevante para
a sua carreira profissional. Em relação ao papel dos professores, apenas cinco
participantes referem esta subcategoria, sendo respetivamente dois que se encontram em
início de carreira, um a meio da carreira e dois em final da carreira. Verificamos assim
que são a família e os amigos/colegas a grande rede de apoio deste este grupo de
gestores, embora outras figuras também, nalguns casos, tenham sido relevantes para o
seu percurso profissional.
Figura 5.23. Distribuição por género das subcategorias relativas aos Processos
Desenvolvimentais
Debruçando-nos sobre a categoria processos desenvolvimentais e as respetivas
subcategorias, apenas encontrámos uma diferença na subcategoria conhecimentos
prévios, a qual é mais referida pelos participantes do sexo feminino (figura 5.23) e pelos
participantes gestores/empresários (figura 5.24).
FEM
MASC
261
Figura 5.24. Distribuição das subcategorias relativas aos Processos Desenvolvimentais
segundo o tipo de gestão
Perante esta análise, verificamos que apesar de ser uma categoria com uma
frequência e intensidade forte não apresenta diferenças significativas quer na análise
feita entre sexos, perante o tipo de gestão ou a fase na carreira em que os participantes
se encontram.
Figura 5.25. Distribuição das subcategorias relativas aos Processos Desenvolvimentais
segundo as três fases da carreira em que os gestores se encontram
Por último, procurámos analisar as escolhas feitas por este grupo de
participantes na categoria do contexto profissional. Nela existem quatro subcategorias
que são referidas por todos os participantes: ambiente empresarial, aspetos
institucionais, funcionamento em equipa e fatores de consolidação.
Gestores/empresários Gestores
Participantes em
final de carreira
Participantes a meio
de carreira
Participantes em
início de carreira
262
Figura 5.26. Distribuição por género das subcategorias relativas ao Contexto
Profissional.
Na análise da figura 5.26, onde se encontram distribuídas as subcategorias por
sexo, verificamos o seguinte: são mais os participantes do sexo masculino (n = 3) que
referem a subcategoria desenvolvimento dos interesses do que os participantes do sexo
feminino (n = 1); pelo contrário, são os participantes do sexo feminino que referem mais
as subcategorias escolhas profissionais significativas (Fem = 4 e Masc = 2), avaliação
do desempenho (Fem = 5 e Masc = 4) e expectativas na carreira (Fem = 3 e Masc = 2),
do que os participantes do sexo masculino. Apesar de ser um valor com pouca
expressividade, dado que só cinco participantes abordam este tema, poderíamos referir
que, no contexto profissional, as expectativas na carreira são um tema com uma maior
relevância no grupo feminino do que no grupo masculino. Parece que as escolhas e as
decisões profissionais significativas das mulheres tornam-se mais marcantes na sua
carreira do que na dos homens, havendo também uma maior preocupação face à
avaliação do seu desempenho.
Na figura 5.27 encontramos os resultados face ao tipo de gestão e verificamos
que para além das quatro subcategorias referidas anteriormente são os gestores que mais
abordam os temas das expectativas na carreira (Gestores = 4 e Gestores/empresários =
1) e da avaliação do desempenho (Gestores = 5 e Gestores/empresários=4), dando-nos,
mais uma vez, a ideia de que estes fatores são mais marcantes numa carreira de gestão
desenvolvida em empresas nas quais o gestor apenas assume um posto de trabalho.
263
Figura 5.27. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Profissional
segundo o tipo de gestão
Na figura 5.28 encontramos as subcategorias relativas ao contexto
profissional, segundo as três fases da carreira em que os participantes se encontram.
Nesta análise também foram identificadas algumas diferenças, designadamente nas
subcategorias do desenvolvimento dos interesses e nas escolhas profissionais
significativas. Será relevante referir que são os participantes em final de carreira (n
= 3) que, em maior número, falam das oportunidades que ao longo da sua carreira
contribuíram para desenvolver um interesse maior pela função. Neste caso, apenas
um participante que se encontra a meio da sua carreira aborda este tema e ninguém
em início da carreira o menciona, dando-nos assim a perspetiva de um contínuo que
se vai construindo. Relativamente às escolhas profissionais significativas elas são
mais abordadas pelos participantes que se encontram a meio da carreira (n = 3), o
que seria de esperar, dado que a maior parte dos participantes ainda se encontram
numa fase de estabelecimento na sua carreira profissional. Apenas um participante
em início da carreira referiu esta subcategoria e dois em final de carreira.
Gestores/empresários Gestores
264
Figura 5.28. Distribuição das subcategorias relativas ao Contexto Profissional
segundo as três fases da carreira em que os gestores se encontram
Síntese dos resultados
Numa síntese da análise de conteúdo das entrevistas realizadas poderemos
referir que existe um conjunto de fatores pessoais e contextuais que interagem
simultaneamente na explicação da excelência destes gestores. Assim, iniciando pela
análise dos fatores contextuais será relevante referir que o contexto escolar, variável
marcante no percurso anterior, assume um papel importante, designadamente as
escolhas escolares significativas feitas ao longo do percurso académico e mais tarde,
algumas mais-valias adquiridas como complemento de formação para o cargo assumido.
Contudo, relativamente ao desempenho atual, são o contexto familiar e os amigos que
assumem relevância enquanto variáveis de apoio à construção de uma carreira tão
exigente como a gestão. Neste grupo de gestores, a variável sorte ou oportunidades
apresenta-se com uma forte intensidade sendo referida como algo que ao surgir no
percurso profissional de cada um só teve impacto porque souberam aproveitá-la. Por
último, os ambientes e experiências de aprendizagem, fora do contexto profissional,
parece terem tido um papel de estimulação do desenvolvimento dos participantes ou
mesmo de motivação para a função. Relativamente à avaliação que os participantes
fazem do contexto profissional, enquanto conjunto de fatores que determinam a forma
como agem no seu dia-a-dia laboral, foram referidos quatro fatores fundamentais: o
Participantes em
final de carreira
Participantes a meio
de carreira
Participantes em
início de carreira
265
funcionamento em equipa, os aspetos institucionais, o ambiente empresarial e outros
fatores que ao longo da carreira permitiram uma maior consolidação na função.
Outro conjunto de fatores centrais que parece estar intimamente interligado com
a função, encontra-se no âmbito da variável motivação, designadamente a paixão pelo
trabalho, e no âmbito das capacidades, nomeadamente a capacidade de análise e
resolução de problemas, a criatividade e inovação e a autoeficácia, enquanto capacidade
que o sujeito tem de avaliar quão bem ele pode atuar em variadas situações.
Se numa comparação de género verificamos que são as mulheres que mais
referências fazem a praticamente todos os fatores abordados, deixando apenas para os
homens a capacidade de análise e resolução de problemas, numa comparação face ao
tipo de gestão verificamos que são os gestores/empresários que mais falam da sua
importância. Também as convicções, como opiniões fortes que sustentam todo o seu
desempenho e que suportam as estratégias de coping, parecem fazer a diferença face a
vários tipos de obstáculos, na medida em que se encontra uma atitude
generalizadamente positiva e de confiança nas situações mais adversas. Dentro da
categoria da prática profissional, destaca-se a comunicação estratégica, o
empreendedorismo, o planeamento, o enfoque compreensivo na função e o esforço e
dedicação. Mais referidas pelos participantes do sexo feminino estão a comunicação
estratégica, como instrumento de inteligência empresarial, que engloba o saber ouvir e o
saber expressar as suas ideias, e o empreendedorismo, isto é a competência que se tem
em identificar oportunidades e transformá-las em atividades lucrativas. Para os
participantes do sexo masculino, a prática profissional passa essencialmente por um
bom planeamento, pelo enfoque compreensivo na função, identificado através de
estratégias muito centradas na resolução dos problemas e no esforço e dedicação que
cada gestor coloca no seu trabalho do dia-a-dia.
Apesar da componente motivacional ser bastante forte, sendo o verdadeiro motor
da prática profissional, os participantes parecem ser capazes de manter um padrão de
desempenho relativamente estável ao longo do percurso, mesmo quando as dificuldades
e as barreiras se interpõem. Aqui parecem ser sobretudo as características de
personalidade, nomeadamente a autoconfiança, a abertura à experiência, a capacidade
de adaptação e gosto pela exigência e desafios que são o suporte do sucesso destes
gestores. São as características de personalidade mas também algumas competências
sociais, designadamente a influência interpessoal, a liderança e o altruísmo, que
266
parecem fazer a diferença nestes participantes, face ao modo como encaram os vários
tipos de obstáculos. Para eles existe sempre uma atitude generalizadamente positiva e de
confiança mesmo nas situações mais adversas. Perante as dificuldades de percurso
descritas, nomeadamente os problemas financeiros, a burocracia ou as políticas
económicas ainda tão presentes no nosso país, ou até mesmo as barreiras às mudanças,
estas permitem-nos dar conta de uma importante característica destes gestores: a
capacidade de superar desafios, após momentos de adversidade, conseguindo adaptar-se
e evoluir positivamente face às situações, não perdendo o rumo das suas metas, isto é, a
resiliência. Esta resiliência os gestores/empresários assume a forma de determinação
para vencer a competitividade dos mercados e que ao longo da carreira vai mostrando a
necessidade de ser humilde para que o sucesso se consolide nos pilares morais da
honestidade. Os projetos a longo prazo, orientados pela ambição de assumirem cargos
de maior responsabilidades nas suas empresas ou de contribuírem para que elas se
tornem cada vez maiores e mais competitivas, abrindo novas oportunidades nesse
mundo empresarial tão competitivo, parecem funcionar, num último nível, como a
grande motivação destes gestores para serem excelentes naquilo que fazem.
267
PARTE 2
ANÁLISE DOS DADOS QUANTITATIVOS
268
269
Introdução
Nesta segunda parte do capítulo de análise de dados iremos apresentar os
resultados obtidos com este grupo de participantes, nos quatro instrumentos que
validámos para o grupo profissional dos gestores e cujo estudo de validação foi
apresentado no capítulo IV. Através desta análise procuramos reunir dados que
fortaleçam os resultados encontrados com os dados quantitativos, designadamente as
características de personalidade que distinguem os gestores excelentes, em relação à
população adulta da mesma faixa etária, diferenças de género e diferenças entre gestores
e gestores/empresários. As análises serão feitas escala a escala e terão como valores de
comparação, na falta de dados normativos nacionais, os resultados obtidos no estudo de
validação por ser uma amostra mais próxima dos nossos participantes. Ao mesmo
tempo, quando analisarmos os participantes entre si podemos recorrer às médias e
desvios-padrão obtidos (cf. Tabela 5.18).
A recolha dos dados foi feita através de um único protocolo, elaborado para o
efeito, que incluía, para além de uma breve ficha de caracterização sociodemográfica, as
quatro escalas utilizadas nesta avaliação - Escala de Satisfação com a vida (SWLS),
Escala da Paixão pelo Trabalho (PTWS), Inventário de Competências de Gestão
Interpessoal (PSI) e Escala de Avaliação de Constructos Centrais ao Self (CSES). Após
a entrevista ter terminado com cada um dos participantes, solicitámos que estes
preenchessem o questionário, garantindo também com estes documentos o anonimato e
confidencialidade da informação recolhida. Os dados foram posteriormente tratados
com o auxílio do programa estatístico Statistical Package for Social Sciences
(IBM/SPSS), versão 22.0 para Windows. Por último, apresentaremos uma síntese
integradora do conjunto dos resultados obtidos, fazendo a confrontação com as questões
de investigação que orientaram este capítulo.
270
Análise dos dados quantitativos das escalas SWLS, PTWS, PSI e CSES
Os resultados obtidos pelos participantes nos quatro instrumentos aplicados
encontram-se na tabela 5.18, confrontando-se os resultados agora obtidos com os da
amostra de validação.
Relativamente à Escala de Satisfação com a Vida, os participantes do sexo
feminino apresentam resultados mais elevados. Com uma média de 30.67 superam
participantes do sexo masculino (M = 26.67), assim como o valor encontrado no estudo
de validação da escala para o sexo feminino (M = 25.83). Numa análise mais
pormenorizada junto do grupo feminino, encontramos também diferenças entre o grupo
de gestoras (M = 29.33) e o grupo de gestoras/empresárias, estas últimas com média
mais elevada (M = 32.00). No caso do grupo feminino, tendo-se observado um desvio-
padrão de 4.87 nesta variável psicológica (cf. Tabela 5.18) podemos considerar
relevantes esta variância pois situam-se ao nível de uma unidade de desvio-padrão. No
grupo de participantes masculinos são os gestores empresários que apresentam valores
mais elevados, registando-se valores bastante mais baixos por parte do participante I
com 24 pontos e do participante J com 23, ambos com valores inferiores à média
encontrada no estudo de validação (M = 25.25), ainda que não afastados dessa em
média em mais que metade de uma unidade de desvio-padrão.
Em relação à Escala da Paixão pelo Trabalho também são as mulheres que
apresentam resultados mais elevados, quer na paixão harmoniosa (M = 45.17) quer na
paixão obsessiva (M = 34.33); valores bem acima dos encontrados na validação das
escalas junto do sexo feminino (harmoniosa: 38.68 e obsessiva: 25.29). Se tomarmos o
desvio-padrão para estas duas dimensões da paixão junto dos participantes do sexo
feminino, respetivamente 6.34 e 9.77, podemos valorizar a discrepância encontradas nas
médias pois estão ao nível de uma unidade de desvio-padrão em ambos os casos. Apesar
dos homens apresentarem valores mais baixos do que as mulheres (harmoniosa: 40.17 e
obsessiva: 33.33), também eles suplantam a média no estudo de validação junto para o
sexo masculino (harmoniosa: 39.26 e obsessiva: 26.90), contudo desta discrepância
apenas atinge uma unidade de desvio-padrão na dimensão harmoniosa, ficando aquém
desse valor no caso da dimensão obsessiva (ponderando os desvios-padrão de 5.88 e
9.87 indicados na Tabela 5.18). Numa análise dos participantes tendo em linha de conta
o tipo de gestão, verificamos que os gestores empresários apresentam valores mais
271
elevados, sendo de acrescentar que o valor mais baixo para a paixão obsessiva ocorre no
grupo feminino. Assim, parece que estamos perante um grupo de gestores que, com as
suas emoções positivas da paixão harmoniosa, conseguem envolver-se longos períodos
de tempo nas suas atividades profissionais, com maior persistência, flexibilidade,
vitalidade, bem-estar e ajustamento psicológico.
Sendo o Inventário de Competências de Gestão Interpessoal composto por
quatro escalas, a análise que iremos realizar debruçar-se-á por escala. Assim, na Escala
Capacidade de Estabelecer Redes de Relacionamento Profissional também são os
participantes do sexo feminino que apresentam resultados mais elevados. Com uma
média de 37.17 superam os valores encontrados para o grupo de participantes do sexo
masculino (M = 29.33), assim como o valor encontrado no estudo de validação da
escala (M = 28.32), discrepância que ultrapassa claramente o valor de 6.12
correspondente ao desvio-padrão dos resultados junto dos participantes do sexo
masculino. Numa análise mais profunda sobre o grupo feminino encontramos também
diferenças, apesar de reduzidas na sua magnitude face ao desvio padrão obtido (DP =
5.50), entre o grupo de gestoras e o grupo de gestoras/empresárias, sendo o resultado
mais elevado numa participante deste último grupo (M = 38). No grupo de participantes
masculinos são os gestores empresários que apresentam valores mais elevados, sendo
neste grupo que se encontram os valores mais baixos: participante J com 21 pontos e
participante K com 23, ambos com valores bastante inferiores à média encontrada no
estudo de validação (M = 30.16) se tomarmos o valor de desvio-padrão de 6.12
encontrado para os resultados nesta dimensão junto dos participantes do sexo masculino
(cf. Tabela 5.18). Mais uma vez, as mulheres apresentam mais capacidades para
estabelecer redes de relacionamento profissional e as mulheres gestoras empresárias são
as que melhor sabem potenciar essa capacidade.
Em relação à Escala Perspicácia Social, escala que, conjuntamente com a Escala
de Sinceridade, apresenta as médias e os desvios-padrão mais baixos, quer no estudo de
validação quer nestes participantes, encontramos também valores mais elevados no
grupo das mulheres, sendo os valores mais baixos encontrados no grupo masculino:
participantes F e K ambos com resultados de 15 pontos. Com uma média de 18.17, o
grupo feminino supera os valores encontrados para o grupo masculino (M = 16.50),
assim como o valor encontrado no estudo de validação da escala (M = 16.35). Esta
discrepância a favor do grupo feminino, face aos desvios-padrão dos resultados de 2.27
272
no subgrupo dos participantes do sexo feminino e de 2.31 nos participantes do sexo
masculino, é relevante pois aproxima-se de uma unidade de desvio-padrão Não
encontrámos diferenças significativas relativamente ao grupo de gestores/empresários e
gestores quer no sexo feminino quer no sexo masculino. Assim, as mulheres deste grupo
apresentam uma maior capacidade de observar os outros com perspicácia e interpretar
os seus comportamentos, através de uma profunda sintonia perante as diversas situações
sociais. A Escala Sinceridade Genuína, com valores de médias e de desvios-padrão
baixos, surge também com resultados ligeiramente mais elevados no grupo das
mulheres (M = 20.83), não se encontrando diferenças entre gestoras e
gestoras/empresárias. No grupo dos homens (M = 19.33) surgem os resultados mais
baixos desta escala: participante I com 17 pontos e participante J com 18 pontos.
Também no grupo masculino surge uma diferença de dois pontos entre os gestores e os
gestores/empresários, sendo a favor destes o valor mais elevado (discrepância relevante
pois o desvio-padrão dos resultados no caso dos participantes do sexo masculino nesta
dimensão é de 1.67). Por último, de novo na escala Influência Interpessoal os valores
mais elevados encontram-se no grupo feminino (MFeminino = 37.33; MMasculino =
33.50), estando esta discrepância próxima de uma unidade de desvio-padrão. Se
compararmos o grupo de gestores/empresários(as) com o grupo de gestores(as),
verificamos que os primeiros apresentam resultados também mais elevados, quer no
grupo feminino (gestoras/empresárias: 39.00; gestoras: 35.66) quer no grupo masculino
(gestores/empresários: 34.33; gestores: 32.66), aproximando-se essa discrepância de
uma unidade de desvio-padrão no caso do sexo feminino (DP = 4.30), e ficando
bastante aquém dessa grandeza no sexo masculino (DP = 4.55) . Os resultados mais
baixos, inferiores à média encontrada na validação do instrumento, surgem numa
gestora em final de carreira (L: 31) e num gestor em início de carreira (K: 29). Assim, as
mulheres deste grupo de participantes apresentam uma maior capacidade de convencer e
de exercer poder sobre os outros em seu redor face aos homens, e essa diferença é ainda
mais evidente se nos situarmos nas que acumulam funções de empresárias.
A quarta escala que os participantes responderam foi a CSES, escala que integra
quatro traços básicos de personalidade, autoestima, autoeficácia, lócus de controlo e
neuroticismo, através do constructo core self-evaluations. Apesar de ser um constructo
que abarca os quatro domínios referidos, considerámos que seria vantajoso analisar os
resultados obtidos considerando os quatro fatores identificados na análise fatorial.
273
Assim, ao analisarmos o Fator 2, fator com itens apenas reportados ao neuroticismo,
verificamos que em ambos os grupos, feminino e masculino, temos alguns participantes
com pontuações abaixo da média em mais que uma unidade de desvio-padrão (Grupo
feminino - L: 7 pontos; N: 8 pontos; Grupo Masculino: F: 7 pontos) e outros com
valores acima da média de validação tomando uma unidade de desvio-padrão (Grupo
feminino - D: 17 pontos; M: 18 pontos; Grupo Masculino: G: 19 pontos; H: 18 pontos).
Neste sentido, encontramos participantes neste estudo que divergem bastante
relativamente ao estilo de pensamento, um mais negativo e/ou centrado nos aspetos
negativos de si mesmo (participantes com os valores acima da média), e o outro mais
positivo e/ou centrado nos aspetos positivos de si mesmo (participantes com os valores
abaixo da média). Repetindo esta análise em relação aos resultados no Fator 1, fator que
inclui itens que se identificam mais com a autoeficácia e a autoestima, verificamos que
os participantes do sexo feminino e do sexo masculino apresentam pontuações que se
aproximam das respetivas médias obtidas na amostra de validação, e as discrepâncias
ficam sempre aquém de uma unidade de desvio-padrão, aliás próximo nos dois
subgrupos (respetivamente 2.18 e 2.42). No Fator 3, fator que apresenta itens que se
podem identificar mais com o locus de controlo e com a autoestima, apenas uma mulher
(N: 12 pontos) e dois homens (F: 11 pontos e K: 12 pontos) têm valores abaixo da
média, mas apenas o participante F obtém uma pontuação que o fasta em uma unidade
de desvio-padrão abaixo da média no estudo de validação. Mesmo assim, pode ter
algum interesse assinalar que todos estes três participantes se encontram em início de
carreira, pelo que poderemos associar este resultado a uma certa dificuldade em
controlar a função e suas respetivas exigências (obviamente uma situação mais comum
nos sujeitos que ainda se encontram a iniciar a sua função, particularmente no caso dos
gestores que dependem hierarquicamente de outros). O Fator 4 inclui itens que se
podem identificar mais com a autoeficácia e locus de controlo, sendo que neste caso
apenas duas participantes do sexo feminino apresentam resultados abaixo da média (L:
15 pontos e N: 14 pontos), ainda que em ambos os casos próximos da média obtida no
estudo de validação e perfeitamente dentro de uma unidade de desvio-padrão (DP =
2.40). De novo, e mais numa lógica de pistas para possíveis estudos no futuro, estamos
face a duas gestoras (uma em início de carreira e outra em final de carreira), sugerindo
alguma dificuldade em executar a sua função e dando a ideia que a sua autonomia e
controlo sobre a função está limitada.
274
Tabela 5.18
Resultados Obtidos pelos Participantes nas Escalas SWLS, PTWS, PSI e CSES
Escalas SWLS PTWS PSI CSES
Subescalas Harmoniosa Obsessiva Estabelecer redes Perspicácia social Sinceridade Influência Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Validação
Mulheres
M = 25.83 (DP = 4.87)
M = 38.68 (DP = 6.34)
M = 25.29 (DP = 9.77)
M = 28.32 (DP = 5.60)
M = 16.35 (DP = 2.27)
M = 19.72 (DP = 1.73)
M = 32.43 (DP = 4.30)
M = 17.02 (DP=2.18)
M = 12.84 (DP=4.04)
M = 13.47 (DP=3.51)
M = 15.77 (DP=2.40)
C/G-Empresária 35 43 45 37 17 21 42 16 12 17 21
D/G-Empresária 31 46 41 36 19 20 36 18 17 18 18
E/G-Empresária 30 47 35 41 18 21 39 20 13 18 18
L/Gestora 27 43 15 34 19 21 31 15 7 14 15
M/Gestora 34 47 40 41 19 21 41 20 18 14 18
N/Gestora 27 45 30 34 17 21 35 17 8 12 14
Validação
Homens
M = 25.25 (DP = 5.57)
M = 39.26 (DP = 5.88)
M = 26.90 (DP = 9.87)
M = 30.16 (DP = 6.12)
M = 16.16 (DP = 2.31)
M = 19.18 (DP = 1.67)
M = 33.31 (DP = 4.55)
M = 16.68 (DP= 2.42)
M = 14.10 (DP= 3.46)
M = 14.55 (DP= 3.86)
M = 15.67 (DP= 2.22)
F/ G-Empresário 28 45 40 31 15 20 34 17 7 11 17
G/ G-Empresário 28 40 47 41 17 20 35 15 19 18 19
H/ G-Empresário 27 42 24 30 19 21 34 17 18 14 17
I/ Gestor 24 31 27 30 17 17 34 18 14 14 17
J/ Gestor 23 42 37 21 16 18 35 16 13 15 17
K/ Gestor 30 41 25 23 15 20 29 16 13 12 17
275
Síntese dos resultados
Relativamente à caracterização deste grupo de participantes, e face aos dados
apresentados anteriormente, podemos referir que os participantes neste estudo
apresentam um conjunto de características que parecem influenciar positivamente o
modo como se posicionam face ao trabalho e à forma como lidam com as tarefas. Das
várias características que foram sendo descritas, destacamos a paixão pelo trabalho, a
capacidade de estabelecer redes de relacionamento profissional e a influência
interpessoal, pois que tendencialmente mais diferenciados face aos valores obtidos na
amostra de validação. Relativamente à paixão pelo trabalho, a motivação para se
envolverem no trabalho, associada ao prazer que sentem perante a diversidade de
experiências com que se deparam, é uma característica que sobressai nestes gestores de
excelência. Assim, estes dados sugerem que a paixão harmoniosa traduz níveis
superiores de autonomia e controlo pessoal, ou a inclusão autónoma da atividade
profissional no self da pessoa, produzindo uma força motivacional para exercer a
atividade de bom grado, levando o sujeito a uma prática deliberada consciente. Claro
que também nalguns casos obtemos também pontuações indicadores de paixão
obsessiva, ou seja, gestores de excelência que não concebem a sua vida sem o seu
trabalho, chegando mesmo alguns a verbalizar que “se sentem emocionalmente
dependentes do seu trabalho”. Em relação à capacidade de estabelecer redes de
relacionamento profissional, tão importantes na gestão, verificamos que é uma
competência que se destaca neste grupo de gestores. Também a influência interpessoal,
ligada à facilidade de comunicar eficazmente com os outros e ao estabelecimento de um
bom relacionamento com a maioria das pessoas, está presente neste grupo de
gestores(as), sendo característica mais expressiva nos nossos participantes do sexo
feminino.
Poderíamos ainda mencionar os resultados obtidos na satisfação com a vida pois
eles destacam-se significativamente das médias encontradas para o grupo de gestores
em geral, em particular no subgrupo de participantes do sexo feminino. Na realidade,
sempre que as pessoas se envolvem em atividades que consideram interessantes e as
concretizam com sucesso, sentem-se eficazes e vivenciam experiências de bem-estar.
Esta sensação de bem-estar subjetivo poderá ser interpretada como um sentimento de
276
harmonia corpo e mente, assim como um equilíbrio entre os desafios na vida do sujeito
e as suas capacidades para os resolver com sucesso no presente e no futuro.
Analisando, agora, as diferenças dentro deste grupo de gestores excelentes,
verificamos que, ainda que todos cumpram os critérios de excelência definidos para
fazerem parte deste estudo, algumas variáveis parecem diferenciar os seus participantes
entre si. Assim, são as mulheres que demonstram ter mais paixão perante o desempenho
da sua função e que apresentam competências de gestão interpessoal mais elevadas,
designadamente na capacidade de criar e recorrer a redes de trabalho, constituindo assim uma
base de fortes alianças sociais no trabalho e na capacidade de influenciar os outros tornando o
processo de liderança num processo único de destaque nas organizações. Por outro lado, se
atendermos ao tipo de empresa em que atuam (própria ou de outrem) são os
gestores/empresários que se destacam com valores mais elevados quer na paixão pelo trabalho
quer nas competências de gestão interpessoal, designadamente no estabelecimento de
redes de relacionamento profissional e na influência interpessoal. No domínio da
personalidade encontramos também algumas diferenças, sendo de destacar o contraste
entre os participantes do sexo masculino e os participantes do sexo feminino
relativamente ao neuroticismo, autoestima, autoeficácia e locus de controlo. São os
homens que apresentam valores mais elevados no fator neuroticismo sugerindo que este
grupo de participantes apresenta uma maior tendência para experimentar emoções
negativas, sendo por isso mais reativos emocionalmente e vulneráveis ao stress. Com
valores mais baixos nos fatores que estão relacionados com as dimensões da autoestima,
autoeficácia e locus de controlo permite-nos fazer a associação de que são as mulheres
que se veem mais positivamente nas diversas situações da sua vida, que acreditam que
são capazes de melhor resolver os problemas (elevada autoeficácia), que sentem-se
reconhecidos pelos outros (elevada autoestima), acreditam no controle e na sua
responsabilidade por aquilo que lhes acontece (locus de controlo interno), e apresentam
uma elevada estabilidade emocional, mostrando, assim, uma avaliação positiva e
proactiva de si mesmas. Ao compararmos os gestores(as) com os
gestores/empresários(as) verificamos que os resultados mais elevados no neuroticismo
encontram-se nestes participantes, dando-nos a ideia que neste grupo são os
gestores/empresários que apresentam uma maior instabilidade emocional. Em todas as
outras dimensões que o constructo core self-evaluations avalia - autoestima,
autoeficácia e locus de controlo, é o grupo de gestores empresários que apresenta
resultados mais elevados, conforme se poderá ver na tabela 5.19.
277
Tabela 5.19
Médias por Grupos Relativas à Escala CSES
Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Mulheres 17.66 12.50 15.50 17.33
Homens 16.50 14.00 14.00 17.33
Gestores/Empresários 17.16 14.33 16.00 18.33
Gestores 17.00 12.16 13.50 16.33
Fica assim a ideia de que os gestores/empresários apresentam uma autoestima
mais elevada e que a perceção que têm da sua autoeficácia e do seu locus de controlo
interno também é superior, comparados com a perceção que os gestores têm de si.
278
279
PARTE 3
INTEGRAÇÃO DOS DADOS
280
281
Introdução
Neste capítulo de apresentação dos dados recolhidos analisámos em primeiro
lugar os dados qualitativos obtidos com as entrevistas realizadas. Procurámos, numa
análise diferenciada para cada uma das dimensões e respetivas categorias e b-categorias,
encontrar os fatores pessoais e contextuais que interagem simultaneamente na
explicação da excelência destes gestores. Em segundo lugar analisámos os dados
quantitativos obtidos nas escalas aplicadas. Através destes dados procurámos fortalecer
as conclusões obtidas com os dados qualitativos.
Assim, considerámos importante, numa terceira parte do capítulo, fazer a
integração dos dados recolhidos, de modo a obtermos uma perspetiva mais integradora
dos percursos profissionais desde a iniciação até ao topo da carreira, em termos de
continuidade ou descontinuidade das respetivas carreiras destes gestores excelentes.
Procuraremos também encontrar dados que nos ajudem a sintetizar as caraterísticas,
processos e competências psicológicas que se encontram associadas aos seus
desempenhos de excelência.
Os dados quantitativos servir-nos-ão, deste modo, para voltar a questionar os
dados qualitativos, no sentido de explorar mais informação relevante que nos permita
desenvolver as nossas questões de partida deste estudo, nomeadamente: i) qual a
importância e a influência dos fatores ambientais e contextuais associados aos
desempenhos dos gestores de excelência; ii) que perfis de estória da prática deliberada
apresentam estes gestores e se eles são um dos fatores determinantes na excelência
empresarial; iii) se a “regra dos 10 anos” de preparação, necessária em diversos
contextos de excelência, também se aplica no contexto empresarial.
Síntese dos dados Qualitativos e dos dados Quantitativos
Embora se tenham explorado informações de diferentes formas, consideramos
que estes dois conjuntos de dados, qualitativos e quantitativos, permitiram uma
articulação complementar, no sentido de clarificar respostas às nossas questões de
investigação. Os dados quantitativos, também permitiram um olhar abrangente sobre o
fenómeno, sugerindo características diferenciadoras entre os participantes deste grupo.
282
Com uma análise aprofundada de cada uma das categorias estabelecidas
percebemos que há características que lhes são transversais, independentemente do
género a que pertencem, o tipo de gestão que exercem ou a fase da carreira em que se
encontram e que há outras que diferem perante as variáveis apresentadas. Estes
resultados permitiram a clarificação de alguns dos principais dados quantitativos
encontrados. Por exemplo, em relação à paixão pelo trabalho, os valores são bastante
elevados; mas se a paixão obsessiva surge com valores acima da média, também a
paixão harmoniosa apresenta valores altos. Assim, a síntese dos resultados quantitativos
e dos dados qualitativos permite-nos ter a perceção de que estes gestores levam a sua
paixão pela profissão, até ao limite.
Com os dados qualitativos conseguimos recolher informações que nos
permitiram compreender a influência dos contextos ambientais, dos contextos pessoais e
traços de personalidade presentes neste grupo de gestores. Os fatores ambientais e
contextuais, designadamente os processos desenvolvimenatis, o contexto micro e o
contexto profissional ajudaram-nos a compreender quais os fatores externos, de maior
relevância, para o percurso profissional realizado por estes gestores, mas também a
enquadrar as características mais pessoais, das capacidades, motivação, competências
sociais, personalidade e estratégias utilizadas na prática profissional destes gestores.
Verificámos que com todos os participantes foram a família, os amigos e os colegas que
foram os grandes suportes sociais no desempenho das suas funções. Percebemos
também que, para além da importância de estarem atentos e de saberem aproveitar as
oportunidades que lhes foram surgindo ao longo da carreira, também as experiências
que tiveram fora do contexto profissional tiveram um papel estimulador e de motivação
global, ao longo do seu percurso e que o funcionamento em equipa é a pedra angular
para o sucesso de qualquer gestor.
Como fatores determinantes na excelência empresarial surgem perfis de prática
deliberada sob a forma do enfoque na área e do esforço e dedicação que, todos eles
referem como sendo fatores de grande importância, os quais se veem suportados, num
segundo plano, pelo compromisso com a função e a disciplina na concretização das
tarefas do dia-a-dia.
Por outro lado, a associação que se verifica entre competências de gestão
interpessoal e capacidades são notórias quer nos resultados qualitativos, quer nos
resultados quantitativos. Identificamos uma sintonia de resultados ao nível da influência
283
interpessoal em ambos os tipos de dados, tal como ao nível da autoeficácia sobretudo
numa perspetiva de longo prazo, dando-nos a ideia de que a “regra dos 10 anos” de
preparação, necessária em diversos contextos de excelência, também se aplica no
contexto empresarial, pois mesmo os gestores em início de carreira referiram estórias
profissionais anteriores que serviram de preparação para que ao assumirem a sua nova
função a pudessem desempenhar com sucesso.
Também no que respeita a aspetos específicos da personalidade e da prática
profissional (autoconfiança, esforço e dedicação), estes integram-se harmoniosamente
com as características descritivas da satisfação com a vida e da paixão pelo trabalho,
que se revelaram diferenciadoras no estudo quantitativo.
284
285
CAPITULO 6
____________________________________________________________
DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES
286
287
Introdução
O interesse por sujeitos com habilidades superiores foi algo que sempre esteve
presente ao longo da história, conforme vários registos de diversas culturas o
documentam, contudo, só recentemente surgiram trabalhos de investigação teórica e
empírica, aplicados a diferentes domínios de realização. Após mais de seis décadas de
estudos, o conceito de talento, a sua avaliação, metodologias de intervenção e
desenvolvimento, apresentam-se hoje em dia como domínios de grande relevância,
designadamente na área da gestão empresarial, sendo considerados como principais
prioridades para os próximos anos, de acordo com um estudo realizado em 2014 pela
Boston Consulting Group (BCG) em colaboração com a Federação Mundial das
Associações de Gestão de Pessoas (WFPMA) (Strack, Caye, Gaissmaier, et al., 2014).
Apesar da investigação na área já ser promissora, não deixa de se verificar ainda a
dificuldade de formular uma teoria unificadora, face a um tema tão disperso como a
excelência, pelo que sentimos a necessidade de o abordar, numa síntese teórica,
versando três grandes abordagens conceptuais: sobredotação, expertise e sabedoria.
Sobre o eterno debate nature ou nurture, discutido por vários autores (Ericsson,
& Crutcher, 1988; Ericsson, Krampe, & Heizmann, 1993; Howe, Davidson, & Sloboda,
1998; Plomin & Thompson, 1993; Simonton, 1999c; 2001; Sternberg, 2003), o qual se
mantem sempre atual pois com ele surgem discussões, análises e reflexões relevantes
para o estudo científico sobre a temática da excelência, poderemos referir que no
presente estudo empírico os participantes envolvidos apresentam características pessoais
comuns, como a autoconfiança, a abertura à experiência, a capacidade de adaptação e
gosto pela exigência e desafios, quase sugerindo que existe algo inato que lhes permite a
ascensão empresarial, mas também surgem variáveis ambientes que serviram de
estímulo para o desenvolvimento de uma paixão sobre a função, como os ambientes
familiar e académico, ou outros promotores de experiências de aprendizagem,
demonstrando a importância dos fatores contextuais para que o desempenho excecional
se manifeste. Tal como Simonton (2001) refere, “rather than envolving a
unidimensional, aditive and static genetic process, talent may instead emerge from a
multidimentional, multiplicative and dynamic process” (p.39), também nós verificámos
que no desenvolvimento da expertise, no presente dominio de realização, estiveram
288
presentes diversos fatores – físicos, cognitivos e disposicionais, os quais revelaram não
só a variabilidade individual mas também a emergência de alterações ao longo das
carreiras profissionais.
Assim, com vista a estudar um conjunto de questões formuladas nos objetivos
delineados inicialmente, explorámos diferentes modelos teóricos e diferentes estudos
empíricos percorrendo diversas áreas da Psicologia, como a Psicologia da Educação, do
Desporto, da Criatividade ou da Personalidade, de modo a compreender as variáveis que
possam intervir em contextos de realização, e particularmente na área da excelência no
contexto empresarial nacional, considerámos que a melhor opção em termos
metodológicos seria um design de investigação misto, combinando metodologias
qualitativas e quantitativas, pois que se mostra mais integradora face ao estudo de
percursos de vida, permitindo um entendimento mais abrangente e uma melhor
compreensão das questões de partida formuladas (Dellinger & Leech, 2007; Johnson &
Onwuegbuzie, 2004; Johnson, et al., 2007; Leech et al., 2010).
Seguindo as propostas de Gartner (1985) sobre os gestores/empresários o
fenómeno que leva um individuo a criar a sua própria empresa deverá ser visto numa
perspetiva multidimensional, na qual terão que ser analisadas quatro dimensões: “The
four dimensional conceptual framework can be seen as a kaleidoscope, as an instrument
through which to view the enormously varying patterns of new venture creation” (p.
701). Assim, procurámos recolher dados que nos permitisse ver claramente o que leva
um empresário a criar a sua empresa: (i) analisar as características dos sujeitos
(autorrealização, locus de controlo interno, gosto por desafios e risco, satisfação no
trabalho, experiências laborais anteriores, idade, formação académica e influência
parental); (ii) que tipo de empresa criaram; (iii) qual o meio envolvente em torno do
empreendimento; e (iv) qual o processo pelo qual o empreendimento foi criado
(oportunidade de negócio que surge, o empresário torna-se o produtor de algo, o
empresário comercializa produtos e/ou serviços, o empresário pretende dar uma
resposta a uma solicitação governamental ou da sociedade, a empresa é o resultado de
recursos que foram sendo acumulados, etc.)
No presente capítulo procuraremos discutir os resultados das análises
apresentadas nos capítulos 4 e 5, confrontando-os com a revisão bibliográfica realizada
nos capítulos 1 e 2, visando a compreensão da iniciação, desenvolvimento e manutenção
da excelência, dos fatores internos e externos que foram e/ou são importantes no
289
percurso de excelência e, ainda, analisar os modelos teóricos que melhor podem
explicar a excelência em contextos empresariais. Por último, apresentaremos uma
reflexão global, referindo os contributos principais do presente estudo, mas também as
limitações e os constrangimentos com que nos confrontámos.
Fatores contextuais da excelência
No presente estudo qualitativo desenhámos a análise dos dados segundo dois
momentos da vida dos participantes: desempenho anterior à função de gestor e
desempenho atual, enquanto gestor. Por outro lado, separámos a presente investigação
em duas dimensões, sobre as quais incidiram as diferentes categorias e subcategorias:
dimensão contextual e dimensão pessoal, abarcando, assim, as influências externas dos
percursos escolares e profissionais realizados pelos participantes e as suas
características pessoais.
Debruçando-nos sobre a dimensão contextual da excelência, verificámos, através
das entrevistas retrospetivas realizadas, que os percursos de desenvolvimento dos vários
participantes emergem de uma diversidade de variáveis, quer no âmbito de um contexto
micro, como a família, ou os amigos e os colegas, quer no âmbito dos contextos
académicos frequentados, quer ao nível dos contextos profissionais, assumindo,
particularmente a família, um papel relevante no processo de desenvolvimento das
respetivas carreiras profissionais, fator que é claramente referenciado na literatura no
âmbito da excelência (Bloom, 1985; Côte, 1999b; Cskszentmihalyi & Cskszentmihalyi,
1993; Gould et al., 2006, 2008; Simonton, 2009; Subotnik et al., 2003). No presente
estudo, os participantes falaram sobre o impacto dos pais nas suas carreiras
profissionais, referindo-os como elementos de apoio emocional ou como modelos
transmissores de valores relacionados com o trabalho, designadamente a importância do
compromisso, da perseverança, do esforço mas também do respeito pelos outros, numa
linha da ética profissional. No caso de outros elementos familiares, as referências vêm
sobre a forma de apoio em situações de stress, companheirismo e dinamismo vivido a
dois, ou pelos momentos de reflexão e discussão de temas inerentes à área da função
desempenhada.
De facto, na literatura sobre o fenómeno da excelência, são os pais que assumem
destaque, promovendo diversas condições enriquecedoras para o desenvolvimento do
290
talento de seus filhos. A este respeito são referenciadas as condições financeiras, a
criação de condições materiais para que os filhos se envolvam em diversas atividades de
enriquecimento (Bloom, 1985; Davidson, Howe, Moore, & Sloboda, 1996; Howe &
Davidson, 2003; Lubinski & Benbow, 2006; Lubinski et al., 2001; Subotnik, Olszewski-
Kubilius & Arnold, 2003), sendo ainda referidos a transmissão de valores e atitudes
necessárias para se atingirem elevados desempenhos, como a paixão pelo trabalho
(Csikszentmihalyi & Beattie, 1979), a perseverança e o esforço (Albert, 1978, 1992;
Bloom, 1985; Olszewski-Kubilius, 2001; Olszewski, Kulieke, & Buescher, 1987;
Subotnik et al., 2003), ou ainda o apoio emocional em momentos de maior stress e
dificuldades (Cotê, 1999b).
O grupo de amigos e colegas também apresenta um papel relevante no
desenvolvimento da carreira destes participantes, sendo referido que se trata de uma
importante rede de apoio social que os acompanhou nas várias fases do
desenvolvimento da sua carreira. Trata-se, no entanto, de um tema ainda pouco
explorado na literatura no domínio da excelência. Em relação ao contexto académico é
explícito que este foi relevante para as escolhas que os participantes foram fazendo,
quer ao longo da sua vida académica quer já na sua vida profissional através de
formações realizadas, dado que estas lhes permitiram desenvolver competências
diversas, como por exemplo no domínio das relações interpessoais, fundamentais para o
exercício da função. Estamos perante o conjunto de “catalisadores ambientais”,
referidos no processo de desenvolvimento do talento no modelo de sobredotação
apresentado por Gagné (1985, 2000, 2004), mas também identificados por Mönks e
Mason (2000) e Renzulli (1986, 2002). Também nas abordagens que evidenciam a
expertise ou a sabedoria dos sujeitos, quer num período de iniciação das atividades ou
até mesmo já na fase do seu aperfeiçoamento, os fatores contextuais apresentam-se
como uma referência (Baltes & Staudinger, 2000; Coughlan, Williams, McRobert, &
Ford, 2014; Ericsson & Lehmann, 1996; Ericsson et al., 2007; Sternberg, 2001).
Face aos ambientes e experiências de aprendizagem, nos quais foram exploradas
as condições/experiências em diversos contextos que contribuíram para compreender o
desenvolvimento do indivíduo, nomeadamente em termos de estimulação ou de
motivação global ocorridas fora do contexto profissional, verificámos uma forte
referência a experiências anteriores à função de gestão que permitiram aos participantes
desenvolver um alargado conjunto de conhecimentos valorizados ao longo da sua
291
carreira. Encontrámos, também, perante o percurso atual da sua carreira, um vasto
conjunto de atividades deliberadas, dando-nos a ideia de que os participantes trazem
para a sua vida profissional experiências enriquecedoras, vindas de outros ambientes.
Estes resultados encontram-se em consonância com a teoria de Ericsson e colaboradores
(Ericsson & Lemano, 1996; Ericsson et al., 2009, 2007), segundo a qual as atividades
são orientadas essencialmente pela intenção de melhorar continuamente o seu
desempenho, podendo mesmo não ser atividades agradáveis. Sendo o trabalho uma das
atividades mais salientes na vida, tendo expressão ao longo de todo o ciclo vital, e
sendo através do mesmo que o indivíduo implementa, em boa medida, o seu
autoconceito (Super, 1990; Super, Savickas, & Super, 1996), verificámos que os
desempenhos deste grupo de profissionais de topo, traduziram a expressão das suas
preferências e interesses perante uma vida profissional com a qual se identificam e que
se deve, em parte, à assimilação das diversas experiências de aprendizagem recolhidas
em vários ambientes fora do contexto profissional. De acordo com a teoria de Super
(1990, 1996) estamos perante comportamentos vocacionais que ao longo dos diversos
estádios do desenvolvimento, promoveram as respetivas carreiras profissionais, os quais
são o resultado da avaliação que cada sujeito faz de si próprio, das mudanças sociais e
económicas que foi vivendo, bem como da estrutura empresarial onde desempenha as
suas funções. Por último, encontramos, de modo interligado aos fatores contextuais, o
papel da sorte, tal como refere Gagné (2000): “Chance is spontaneously associated with
the environment” (p. 69). Esta é descrita pelos participantes enquanto oportunidades que
lhes surgiram ao longo do seu percurso profissional mas que, em certa medida, foram
controladas pelos próprios através de atitudes proactivas com vista à promoção do seu
sucesso profissional.
No presente estudo empírico, após a análise dos percursos individuais dos
participantes, também sentimos refletida a proposta de Simonton (2001) quando refere
que nem sempre existem sinais precoces de talento e que diferentes perfis individuais
podem corresponder a uma mesma área de talento, podendo estes manifestar-se em
diferentes momentos de percurso de vida. Com efeito, encontrámos diferentes contextos
familiares e académicos, diferentes recursos e diferentes estímulos presentes no
desenvolvimento das competências especializadas na área da gestão empresarial. Assim,
face aos fatores contextuais estudados poderemos concluir que estes surgem como
variáveis relevantes para a construção de um percurso profissional de sucesso, no qual
292
participam variadas figuras importantes na vida dos participantes, como os familiares,
colegas, professores ou mesmo outras, e ambientes e experiências de aprendizagem
enriquecedoras, contribuindo para o desenvolvimento dos interesses na área e de
competências promotoras do seu desempenho excelente.
Fatores pessoais da excelência
A investigação em torno da excelência profissional, mesmo não sendo
consensual, destaca a convergência de variáveis contextuais e pessoais. Contextos
desafiantes de formação e de prática deliberada, assim como capacidades, motivações e
traços de personalidade são entendidos como fatores que convergem na explicação da
excelência profissional (Ericsson, 1996; Gagné, 2007; Garcia-Santos, et al. 2010).
Vários estudos, inclusive em Portugal, apontam que os indivíduos descrevem o seu
êxito profissional falando em perseverança, força de vontade, bem-estar e motivação,
entre outros atributos pessoais (Araújo, 2010; Baltes & Kunzmann, 2003; Ericsson,
Krampe, & Tesch-Romer, 1993; Maia & Poeschl, 2004; Matos, 2011).
Face ao estudo quantitativo levado a cabo sobre a validação de quatro escalas no
âmbito dos quatro domínios, paixão pelo trabalho, competências de gestão interpessoal,
satisfação com a vida e o constructo Core Self-Evaluations, os resultados obtidos com
este grupo de gestores distinguiram-se positivamente em todas elas, verificando-se que
os mesmos vão de encontro aos referidos na bibliografia sobre a temática. Assim,
relativamente ao constructo core self-evaluations e a sua relação com o êxito
profissional, têm-se verificado correlações positivas com a motivação (Erez & Judge,
2001), o desempenho no trabalho (Bono & Judge, 2003; Judge, 2009) e o bem-estar
subjetivo e satisfação com a vida (Judge et al., 2002; Judge & Hulin, 1993; Stumpp et
al., 2010). Também a paixão pelo trabalho, e particularmente a paixão harmoniosa, tem
estado associada a níveis mais elevados de persistência, envolvimento na tarefa,
flexibilidade, vitalidade, realização, bem-estar e ajustamento psicológico, que
constituem importantes recursos pessoais para que os gestores possam fazer face às
exigências do seu trabalho, na liderança de equipas e na resolução de problemas, no
presente contexto empresarial e organizacional altamente competitivo (Forest, Mageau,
Sarrazin, & Morin, 2011; Trépanier, Fernet, Austin, Forest, & Vallerand, 2014;
Vallerand & Houlfort, 2003). A paixão por aquilo que fazem parece ser um dos
293
elementos diferenciadores destes sujeitos em relação aos seus pares. Alguns autores
(Amabile, 2001; Bloom, 1985; Vallerand & Houlfort, 2003; Vallerand et al, 2003;
Vallerand, et all, 2007) referem que a paixão associada à atividade profissional é uma
fonte de motivação que contribui para um maior investimento na realização das tarefas,
por parte dos sujeitos. Na realidade, todas as entrevistas realizadas foram marcadas por
um discurso que evidencia a paixão pelo trabalho e mesmo, nalguns casos, até
“obsessão”. Este discurso está bem visível nos resultados obtidos, os quais apresentam
valores bastante elevados quer na paixão harmoniosa, quer na paixão obsessiva.
Relativamente às competências de gestão interpessoal, indivíduos com elevados
resultados neste domínio obtêm melhores resultados no seu trabalho, em larga medida
devido ao facto de possuírem uma boa rede de relações profissionais, na qual têm uma
boa reputação, e através da qual acedem a informação fulcral para a tomada de decisão
(Ferris et al., 2005; Liu et al., 2007). Tais indivíduos parecem apresentar um sentido de
controlo sobre o seu ambiente de trabalho, neutralizando o efeito negativo dos stressores
ou crises (Ferris et al., 2005; Meurs, Gallagher, & Perrewé, 2010). A confrontação dos
dados quantitativos com os dados qualitativos também nos permitiu refletir sobre a
comunicação estratégica e o funcionamento em equipa, tão referidos por todos os
participantes como a pedra angular do sucesso de qualquer gestor. Tratando-se de um
elemento fundamental na qualidade do desempenho alcançado pelos profissionais,
também a comunicação e as relações sociais desenvolvidas no local de trabalho são alvo
de diversos estudos, nos quais se procura criar novos caminhos de interação entre os
membros das equipas de trabalho (Ancona, 1990; Ancona, & Caldwell, 1992; Langan-
Fox, 2001; Mathieu, Marks, Zaccaro, 2001; West, 2001; Zaccaro, Heinen, & Shuffler,
2009).
Se nos debruçarmos sobre as características de personalidade que parecem fazer
a diferença destes participantes, sobressaem a autoconfiança, a abertura à experiência, a
capacidade de adaptação e gosto pela exigência e desafios, indo de encontro a estudos já
realizados no âmbito da personalidade (Amabile, 1988; Hogan, et. al 1994; House,
1997; Judge & Bono, 2000; Judge et al., 2002; McCrae, & Greenberg, 2014; McCrae, &
Sutin, 2009; Simonton, 1986; 2006b; Stogdill, 1948). A curiosidade infantil e o
interesse pela descoberta do meio envolvente, traços que referem ter manifestado desde
crianças, parecem estar associados com a abertura à experiência, o que, segundo
Simonton (1999d), são fatores que lhes foram permitindo estar mais abertos e
294
disponíveis às influências do exterior. Sem descurar a importância que os fatores
externos têm relativamente ao seu desempenho, o grupo de participantes envolvidos no
presente estudo, ao longo das entrevistas realizadas, foi afirmando a sua forte
capacidade de controlo das tarefas e decisões inerentes à função, bem como a eficácia
do seu desempenho, mesmo perante as situações de maior dificuldade e de maior stress.
Também na literatura a excelência profissional está associada com as perceções de
controlo e de eficácia no desempenho, em particular as perceções de competência ou
mestria (Caprara, Barbaranelli, Borgogni, & Steca, 2003; Elliot, McGregor, & Thrash,
2002; Pajares, 1997; Skinner, 1996). Tais perceções de controlo e de eficácia decorrem
dos contextos e resultados anteriores de realização, ao mesmo tempo que condicionam
as ações, o envolvimento e o rendimento futuros. A sua relevância para o
desenvolvimento e bem-estar pessoal é reconhecida, entendendo-se a sensação de bem-
estar subjetivo como um sentimento de harmonia corpo e mente, assim como um
equilíbrio entre os desafios na vida do sujeito e as suas capacidades para os resolver
com sucesso no presente e no futuro (Csikszentmihalyi, 2002, 2004). As pessoas que se
veem positivamente em diversas situações da sua vida acreditam que são capazes de
resolver problemas (elevada autoeficácia), sentem-se reconhecidos pelos outros
(elevada autoestima), acreditam no controle e na sua responsabilidade por aquilo que
lhes acontece (locus de controlo interno), e apresentam uma elevada estabilidade
emocional, mostrando, assim, uma avaliação positiva e proactiva de si mesmas (Judge,
Erez, Bono, & Thoresen, 2002; Judge, Locke, Durham, & Kluger, 1998).
Quando analisamos as descrições feitas pelos participantes, no âmbito do seu
desempenho, verificamos que emerge uma dimensão emocional com destaque para as
estratégias de coping. Estamos perante um grupo de participantes que sabe fazer uma
boa gestão dos recursos emocionais, designadamente a regulação da intensidade
emocional associada ao envolvimento nas tarefas, seus obstáculos e suas dificuldades,
assim como a gestão de situações de ansiedade e stress, quer nas relações com os pares,
quer noutras situações, o que segundo estudos realizados é fundamental para o
desenvolvimento de estados psicológicos com estabilidade emocional (Aldwin, 2000;
Dewe, O’Driscoll, & Cooper, 2010; Lazarus, 2006). O ambiente profissional destes
profissionais é bastante exigente e competitivo, o que determina um enorme rigor dos
seus desempenhos, mas o que se tornou relevante neste grupo de participantes foi a
paixão pela atividade profissional, a determinação em atingir os seus objetivos, a
295
resiliência necessária para enfrentar as barreiras, a capacidade de análise e resolução de
problemas, o positivismo suportado pelas convicções que cada um tem sobre si, sobre o
trabalho e sobre a vida e que, em todos os momentos de tomada de decisão ao longo das
suas carreiras, estavam sempre presentes. Corroborando estes resultados, são vários os
autores que concluíram que os sujeitos com desempenhos excelentes apresentam uma
forte saúde psicológica que se manifesta através das suas competências psicológicas,
como autoconfiança, controlo emocional e determinação, através do domínio de
estratégias de coping, nas quais estão incluídos o discurso interno positivo, o
estabelecimento de metas, organização, planeamento e focalização nos objetivos e
através do modo como se envolvem com o trabalho, o qual é visível pelo
perfeccionismo positivo incutido na realização das tarefas, na motivação intrínseca
e disposição para encarar as coisas pelo lado positivo, acreditando que o desfecho será
favorável, mesmo em situações muito difíceis (Boehm & Lyubomirsky, 2008;
Copranzano & Wright, 1999; Eccles & Feltovich, 2008; Simonton, 2000, 2009). Para
Eccles e Feltovich (2008) estas competências psicológicas, transversais em várias áreas
de realização, são a base do desenvolvimento da expertise. Segundo os autores, as
“psychological support skills” sustentam o processo da aprendizagem contribuindo para
a regulação dos aspetos cognitivos e emocionais associados ao desempenho, sendo
comparáveis ao “esqueleto humano” que tem como função a proteção e o suporte dos
órgãos e da massa muscular. São elas que regulam os aspetos cognitivos e emocionais
associados ao desempenho, mantendo a autoconfiança e a motivação em níveis
superiores. Eccles e Feltovich (2008) identificam a visualização mental, o discurso
interno, a definição de objetivos, as competências de planeamento, preparação e
organização e as competências no âmbito do relaxamento como sendo as principais
competências psicológicas de suporte, que permitem aperfeiçoar as capacidades
psicológicas gerais, designadamente as capacidades de manutenção de níveis superiores
de autoconfiança, motivação, atenção e focalização na tarefa, controlo dos estados de
ansiedade e stress e a gestão eficaz das múltiplas solicitações do ambiente profissional.
De facto, estas competências psicológicas de suporte apresentadas no estudo de
Eccles e Feltovich (2008) e abordadas por diversos autores no âmbito da aquisição e
manutenção de níveis superiores de desempenho (Feist, 2006d; Simonton, 1988a,
1991b, 2000c; Talbot-Honeck & Orlick, 1998), foram também fatores referidos pelos
296
participantes no presente estudo como estratégias que utilizam no seu quotidiano com
vista a superarem situações de stress e ansiedade.
No discurso dos participantes também está presente o esforço e dedicação pela
função, associado a um perfeccionismo positivo que estimula o sujeito a dar o melhor
de si, envolvendo-o numa luta constante pela perfeição. Identificamos o perfeccionismo
positivo referido pelos participantes com o perfeccionismo adaptativo de Stoeber et al.
(Stoeber et al., 2007, 2008; Stoeber & Eismann, 2007; Stoeber & Otto, 2006), pois
apesar deste fator, por um lado, ser relevante no seu perfil, os participantes referem
saber lidar quer com as imperfeições dos seus colaboradores quer com os próprios erros.
Aliás, sempre que o insucesso surge, este transforma-se num elemento desafiador, numa
nova oportunidade para pôr em prática as suas metas. Segundo Stoeber et al. (Stoeber &
Eismann, 2007; Stoeber & Otto, 2006) o perfeccionismo adaptativo está associado a
níveis elevados de conscienciosidade, extroversão, resiliência, afetos positivos,
satisfação com a vida, estilos ativos de coping e sucesso, parecendo ser um facilitador
na conquista da excelência. De facto, no discurso destes participantes com desempenhos
de excelência, estes assumem-se como fatores fundamentais para que a sua vida seja
vivida em harmonia e para a satisfação com a vida, a realização pessoal, o desejo
altruísta de poder contribuir para tornar o mundo num espaço melhor, com mais alegria
e bem-estar, tal como vem sendo abordados em diversos estudos (Diener, Suh, Lucas &
Smith, 1999; Judge et al., 2002; Judge & Hulin, 1993; Lubinski et al., 2006; Stumpp et
al., 2010). Um tema que poderíamos definir como status quo, sempre que abordamos a
excelência na fase adulta é o conhecimento especializado. E para estes gestores de topo
o domínio do conhecimento especializado é algo indiscutível em todo o profissional que
se queira assumir como líder de topo. Segundo diversos autores (Ericsson et al., 1993;
Ericsson et al., 2007; Gagné, 2004, 2009; Simonton, 2003c, 2008a; Sternberg, 2004) a
expertise que cada sujeito apresenta na sua área de realização é a chave para atingirem
níveis superiores de desempenho. No caso destes gestores empresariais, o domínio de
conhecimentos especializados nas áreas específicas da gestão, parece ter sido o pré-
requisito para a manifestação dos desempenhos de excelência. Segundo os participantes
trata-se apenas de um pré-requisito, pois todas as outras variáveis abordadas nos
parágrafos anteriores constituem a panóplia de fatores fundamentais que contribuíram
para a sua diferenciação na área empresarial (Amabile, 1988; Barron & Harrington,
297
1981; Bloom, 1985; Lubinski & Benbow, 2000; Mayer, 2003; Runco, 2004; Simonton,
2003c, 2003d; Sternberg, 2004; Sternberg & Lubart, 1999; Weisberg, 1993).
Por último, não poderíamos deixar de referir o papel da inovação, da criatividade
e do empreendedorismo. Temas abordados com grande veemência por este grupo de
gestores, para os quais a gestão de topo é o resultado do perfil empreendedor do seu
líder que se manifesta pela forte vontade de inovar e pela enorme criatividade que
deverá de pôr em prática, quer na promoção do bem-estar social interno quer na
promoção da empresa que lidera. São já muitos os autores que se têm dedicado ao
estudo da criatividade, inovação e empreendedorismo no âmbito das organizações e
todos eles consideram que, sendo conceitos que estão interligados, serão necessários
cada vez mais estudos para uma melhor compreensão das características dos
empreendedores. (Amabile, 1988; Baron, & Markman, 2003; Bruyat, & Julien, 2000;
Cartera, Gartner, Shaverc, & Gatewood, 2003; Frese, & Fay, 2001; Scott, & Bruce,
1994; Simonton, 2003c; Sternberg, 2004; Sternberg, O’Hara, & Lubart, 1997; Ward,
2004; Woodman, Sawyer, & Griffin, 1993). Embora o empreendedorismo já seja
reconhecido como sendo de fundamental importância para a economia, os cientistas
ainda não estão de acordo quanto ao objeto de investigação, sendo este fenómeno
abordado por diferentes pontos de vista. Para Bruyat e Julien (2000), o empreendedor
será todo o indivíduo responsável por algo inovador, algo que até à data ainda não tenha
sido criado e que traz uma mais-valia para a empresa ou para a sociedade. Mas, como
refere Amabile (1988), com o seu modelo componencial da criatividade, para que o
empreendedor tenha essa capacidade criativa de trazer inovação ao mercado, terá que
ser um mestre do conhecimento especializado na sua área, dispor de competências
técnicas e talento para concretizar as suas metas, isto é “domain-relevant slills” bem
como capacidades cognitivas e traços de personalidade ligados ao desempenho criativo,
os “criative-relevant skills”, que funcionando de forma interativa contribuem para a
produção final do comportamento criativo. Ward (2004) alerta para o facto do papel
paradoxal do próprio conhecimento especializado, o qual, como “matéria-prima”, tanto
pode tornar-se num facilitador como num inibidor da produção criativa, estando por
fim, o empreendedor à mercê das suas capacidades cognitivas e dos seus traços de
personalidade. Sem descorar todos os fatores já mencionados, Sternberg (2004) põe a
tónica na inteligência bem-sucedida, referindo que todo o empreendedorismo bem-
sucedido envolve a combinação dos aspetos analíticos, criativos e práticos da
298
inteligência. No presente estudo empírico verificámos que o conhecimento
especializado que cada participante tinha sobre a gestão empresarial e porque vinham de
formações académicas bem diferenciadas, tornou-se num fator facilitador do seu
empreendedorismo. Será relevante mencionar que tanto os gestores empresários como
os outros gestores abordam o fenómeno do empreendedorismo e da criatividade
referindo-se aos mesmos conceitos, designadamente a motivação, a inteligência e a
personalidade, reafirmando que todo o líder empresarial deverá ser um potencial
empreendedor e um potencial criador, com o carisma empresarial que lhe permita
estabelecer esta ligação dual entre líder e colaboradores. Segundo o modelo
interacionista da criatividade proposto por Woodman, Sawyer, & Griffin (1993), para o
estudo da criatividade num contexto social complexo é necessário a análise de quatro
componentes: as pessoas criativas, as situações criativas, os processos criativos e os
produtos criativos. Assim, numa primeira reflexão sobre a definição de criatividade
organizacional como a criação de algo valioso, um novo produto útil, um serviço, uma
ideia, um procedimento ou um processo, realizada por indivíduos que trabalham juntos
num sistema social complexo, os autores referem que a criatividade individual será o
resultado da interação de diversos fatores pessoais, designadamente as capacidades do
sujeito, o seu estilo cognitivo, personalidade, motivação e o conhecimento especializado
na área, com os fatores contextuais do meio organizacional onde se encontra o sujeito.
Contudo, estes fatores pessoais embora sejam influenciados pelos fatores contextuais,
também, em simultâneo, os influenciam, pelo que o grupo no qual a criatividade
individual ocorre estabelece, por um lado, influências sociais imediatas sobre a
criatividade individual do sujeito e, por outro lado, a criatividade individual do sujeito
contribui para a criatividade do grupo. Por sua vez, o desempenho criativo da
organização, como um sistema social complexo, será o resultado da interação do
desempenho criativo de seus grupos constituintes com os aspetos organizacionais que
possam promover ou restringir a criatividade. Estamos perante a necessidade de um
clima propício ao desenvolvimento da criatividade e inovação, o qual é fundamental
para que a gestão empresarial seja uma gestão empreendedora e inovadora (Scott e
Bruce, 1994). Dos variados estudo empíricos sobre empreendedorismo será relevante
apresentarmos os trabalhos realizados por Baron e Markman (2003), nos quais se
estabelece uma ligação entre o sucesso financeiro e as competências de gestão
interpessoal dos empreendedores e os trabalhos realizados por Cartera, Gartner, Shaverc
e Gatewood (2003), sendo a autorrealização, a capacidade de inovar, o sucesso
299
financeiro, a independência e o reconhecimento os fatores que mais pesam na escolha
de uma carreira empresarial empreendedora. Também os gestores de sucesso do
presente estudo empírico, aos quais também está associado o seu sucesso financeiro,
apresentaram resultados elevados em todas as dimensões do Inventário de
Competências de Gestão Interpessoal. Contudo, mais do que o aspeto financeiro, todos
referem que são a autorrealização, a possibilidade de trazerem algo inovador aos
mercados e às suas empresas e, principalmente, serem reconhecidos por aquilo que
fazem em prol do desenvolvimento do seu país, que sempre os motivou, que os motiva
atualmente e que sempre os motivará numa carreira de gestão empresarial.
As questões de investigação
No início do presente estudo definimos que o nosso objetivo geral era
compreender as variáveis, estruturas e processos que explicam os altos desempenhos na
gestão, bem como compreender os modelos teóricos que melhor explicam e predizem a
excelência no contexto empresarial. Definimos também que era nossa pretensão
compreender como se inicia, se desenvolve e se mantem um percurso profissional
excelente, quais os fatores internos e externos que foram e/ou são importantes no
percurso de excelência de modo a que possamos desenvolver novos caminhos
educacionais que nos permita ter novos lideres de excelência num futuro próximo.
Assim, relativamente aos objetivos específicos definidos e que relembramos neste
parágrafo, gostaríamos de fazer uma breve reflexão: (i) analisar a perceção de
excelência destes gestores; (ii) compreender os percursos profissionais desde a iniciação
e formação até ao topo da carreira, em termos de continuidade ou descontinuidade das
respetivas carreiras de gestão; (iii) identificar as características e
processos/competências psicológicas associadas aos desempenhos atuais desses
gestores; (iv) explorar a importância e a influência de fatores ambientais e contextuais
associadas aos seus desempenhos; (v) analisar os perfis de estória da prática deliberada
dos gestores e perceber se é um dos fatores determinantes na excelência empresarial;
(vi) identificar e analisar comunalidades e singularidades em função do género e do tipo
de empresa em que atuam; (vii) perceber se a “regra dos 10 anos” de preparação,
necessária em diversos contextos de excelência, também se aplica no contexto
empresarial; (viii) compreender que modelos teóricos melhor explicam e predizem a
300
excelência na gestão; e (ix) contribuir para a validação de alguns instrumentos de
avaliação psicológica para a população portuguesa de gestores.
Relativamente ao primeiro objetivo deste estudo, analisando a perceção de
excelência referida pelos participantes, verificamos que ela é considerada como algo
que é o resultado de um conjunto de fatores pessoais e contextuais e que apesar de estar
incutida nos objetivos da visão que cada um tem sobre a função, ela surge como
consequência e não como um fim, o que, de alguma forma, vem confirmar aquilo que é
defendido pelas abordagens da sabedoria (Baltes, 1993, 2004; Baltes & Staudinger,
2000). Também relevante é o facto de todos eles não se autoavaliarem propriamente
como excelentes e considerarem, que em qualquer etapa da sua carreira estão sempre a
aprender, revelando desta forma uma certa humildade, mas também os seus elevados
padrões de exigência e a permanente luta por atingirem a perfeição, tal como é sugerida
por Stoeber et al. (Stoeber & Becker, 2008; Stoeber & Otto, 2006; Stoeber et al., 2008,
2009).
No âmbito do estudo e compreensão dos percursos destes gestores, o segundo
objetivo deste estudo, constatamos que também neste grupo profissional conseguimos
identificar três fases no desenvolvimento das respetivas carreiras, isto é, um período
inicial de estabilização, caracterizado por comportamentos de maior compromisso com
vista à perfeição das tarefas que são inerentes da função, uma segunda fase, de
consolidação, cujo objetivo é atingir uma maior segurança através da determinação,
perseverança e de um autoconceito empresarial mais forte e mais robusto, e uma terceira
fase, de promoção, caracterizada pelo objetivo de valorização do seu trabalho mas com
a humildade necessária para estar aberto a novas aprendizagens e a honestidade
necessária para vingar no mundo empresarial com ética e deontologia. Também aqui
verificamos que os resultados obtidos vão de encontro a estudos anteriores (Bloom,
1985; Côté, 1999; Herr & Cramer, 1996).
Um dos objetivos centrais deste estudo passou também por identificar e
descrever as características e processos/competências psicológicas associadas aos
elevados desempenhos de gestão. Neste sentido, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas e questionários para avaliar a paixão pelo trabalho (PTWS), as
competências de gestão interpessoal (PSI), o constructo Core Self-Evaluations (CSES)
no âmbito da personalidade e a satisfação com a vida (SWLS). Os resultados obtidos
sugerem que estes gestores revelam um conjunto de características psicológicas que
301
sobressaem como fatores importantes face a desempenhos excelentes, destacando-se,
conforme já referido anteriormente, a capacidade de análise e resolução de problemas, a
criatividade e inovação, a autoeficácia, mas também no domínio da motivação a paixão
pelo trabalho, no domínio das relações interpessoais, a liderança, a influência
interpessoal, o estabelecimento de redes de trabalho e o altruísmo e ainda no âmbito de
características de personalidade surgem, com um elevado número de referências, a
autoconfiança, a abertura à experiência, a capacidade de adaptação e gosto pela
exigência e desafios, resultados que estão em consonância com conclusões de vários
estudos internacionais (Ackerman & Beier, 2003; Amabile, 1988; Boyd, & Vozikis,
1994; Gartner, 1985; Gatewood, Shaver, & Gartner, 1995; Lubinski, Benbow, Webb, &
Bleske-Rechek, 2006; Locke & Latham, 2002; McCrae, & Sutin, 2009; Mueller, &
Dato-on, 2008; Piirto, 1995; Simonton, 1986; 2006b). Segundo Piirto (1995) as
necessidades de um adulto, para promover o seu talento, abrangem três áreas, as quais
estão ilustradas no seu modelo “The Pyramid of Talent Development”: (i) certos
domínios da personalidade; (ii) capacidade intelectual necessária para promover os
desempenhos; e (iii) fundamentalmente, um talento num domínio específico. Todas as
três áreas sofrem a influência da hereditariedade e também do meio ambiente, não se
sabendo, contudo, de onde vem a maior influência. Piirto (1995) refere que são diversas
as características psicológicas que aparecem referenciadas na vasta literatura que abarca
o fenómeno da excelência, como sendo fundamentais para que ela seja marcante e nesse
conjunto de atributos poderemos encontrar a “garra” de levar a cabo qualquer projeto
em que se envolvam, uma certa androgenia, não diferenciando o género feminino do
género masculino, curiosidade, disciplina na execução das estratégias definidas,
flexibilidade, criatividade, persistência, perfeccionismo, perspicácia, resiliência,
autoeficácia e paixão pelo trabalho. Também no nosso estudo empírico a disciplina, a
flexibilidade, a persistência, o perfeccionismo, a perspicácia e a resiliência, apresentam-
se como fatores que influenciam o alto desempenho na gestão, embora com um menor
número de referências. Em termos gerais, as características de personalidade são o
suporte para um desempenho profissional proactivo e persistente na superação das
dificuldades que surgem na prossecução de um objetivo, referido por alguns autores por
PI (Personal initiative) (Frese & Fay, 2001; Frese, Fay, Hilburger, Leng, & Tag de
1997; Frese, Kring, Soose, & Zempel, 1996), o qual revela a entrega destes gestores na
sua função, aliada a uma atitude otimista e de uma positiva abertura à experiência.
Também Bateman e Crant (1993; Crant, 1996) referem a importância de um
302
desempenho profissional proactivo e persistente para levar o sujeito a promover altos
desempenhos em termos organizacionais. Foi esta capacidade de uma iniciativa pessoal,
independentemente da faixa etária, do género ou do tipo de empresa onde os
participantes exercem as suas funções, que verificámos estar presente em todos os
participantes. Em relação às estratégias de coping utilizadas por estes participantes no
controlo das emoções experienciadas nas diversas situações de stress, ansiedade e
pressão, inerentes a cargos de elite no âmbito da gestão empresarial, poderemos afirmar
que todas elas se afirmam como variáveis de grande importância, enquanto emoções
positivas que medeiam a atividade profissional. São diversos os estudos internacionais e
nacionais, no âmbito das emoções e do stress profissional que identificam as diversas
estratégias de coping utilizadas pelos sujeitos (Aldwin, 2000; Araújo, 2010; Barbosa &
Cruz, 1997; Cruz, 1994; Lazarus, 1999).
No que respeita aos fatores externos associadas aos desempenhos da excelência
no contexto da gestão empresarial, o nosso quarto objetivo, os resultados que obtivemos
sugerem a sua importância e influência nas carreiras destes profissionais. Além da
relevância moderada que o contexto macro apresenta, quer pelas dinâmicas dos
mercados, quer por razões mais sociais ou mesmo políticas, destacam-se os aspetos
relacionados com o contexto micro, particularmente o apoio recebido por parte da
família, dos amigos e dos colegas. A relevância dos fatores externos tem sido salientada
na literatura, quer pelos modelos teóricos em torno da excelência (Baltes & Staudinger,
2000; Ericsson, Nandagopal, & Roring, 2009; Gagné, 1985, 2000, 2004; Renzulli, 1978,
1986, 2002; Sternberg, 2001a) quer pela diversidade da investigação empírica nacional
e internacional (Araújo, 2010; Bloom, 1985; Côté, 1999; Csikszentmihalyi, Rathunde,
Whalen, & Wong,1993; Matos, 2011; Monteiro, 2012).
Face à análise do quinto e do sétimo objetivos do presente trabalho, os quais
pretendem analisar a importância e aplicabilidade da teoria da prática deliberada e da
“regra dos 10 anos” de preparação, necessária em diversos contextos de excelência,
como sendo um dos fatores determinantes na excelência empresarial, os resultados das
entrevistas vieram corroborar a importância da prática deliberada na promoção da
autoeficácia e no desenvolvimento da expertise. Estes estão bem defendidas por este
grupo de participantes, quando falaram sobre o seu esforço e dedicação às empresas
onde exercem as suas funções, bem como sobre uma postura de humildade face a uma
permanente aprendizagem ao longo da vida, mesmo que esta tenha que ser feita à custa
303
do seus tempos de lazer. A aprendizagem ao longo da vida tem sido abordada segundo
diversas perspetivas e segundo diversas prioridades, de acordo com as políticas
educacionais e profissionais de um dado momento. Definida pela Comissão Europeia
como toda a aprendizagem que se tem e que visa melhorar os conhecimentos,
habilidades e competências numa perspetiva pessoal, cívica, social e/ou profissional, ela
está espelhada em documentos de literatura internacional, designadamente em diversas
publicações da UNESCO (Learning to Be, 1972; Learning: The Treasure Within, 2013).
Estamos perante a defesa dos princípios da igualdade de oportunidades na perspetiva da
democratização da educação e da formação, mas essencialmente perante um contínuo de
aprendizagem, que se expande para uma sociedade, aberta no espaço e no tempo e que
se torna uma dimensão da própria vida (Comissão Europeia, 2000; Faure, Herrera,
Kaddoura, Lopes, Petrovsky, Rahnema, & Ward, 1972; Tawil, & Cougoureux, 2013).
Nos relatos recolhidos está evidente a motivação e a paixão que estes gestores
demonstram, quando se envolvem em atividades de prática que visa o seu
desenvolvimento pessoal, estando em consonância com os trabalhos realizados por
Ericsson e colaboradores no âmbito da prática deliberada (Ericsson, 2003; Ericsson,
2006; Ericsson et al., 1993, 2009; Ericsson & Lehmann, 1996; Ericsson & Ward, 2007).
Contudo o caráter não agradável, comumente referenciado, aparece pouco explícito
neste estudo, na medida em que os participantes não referem esta faceta da prática, antes
pelo contrário quando falam sobre as formações que foram fazendo ao longo da vida, e
sobre o empenhamento incutido na realização das diversas tarefas de prática de gestão,
fazem-no com satisfação e com um certo orgulho “de missão cumprida”. Em relação à
“regra dos 10 anos” de preparação necessária (Ericsson et al., 1993, 2009; Ericsson &
Lehmann, 1996; Simon & Chase, 1973), tal como tem sido evidenciado amplamente na
investigação internacional e nacional (Araújo, 2010; Hodges & Starkes, 1996; Matos,
2011; Helsen, Starkes, & Hodges, 1998; Matos, 2011), permite-nos concluir que se trata
de um conceito pouco claro no presente estudo, na medida em que, na amostra utilizada
encontram-se gestores que, embora só com 3/4 anos de experiência na área da gestão
empresarial foram considerados pelos seus pares gestores de alto desempenho e
apresentam um conjunto de atividades de sucesso quer ao nível nacional quer ao nível
internacional. Contudo, será relevante referir que todos os gestores em início da carreira
de gestão (até 10 anos de desempenho da função), com exceção de apenas um caso, por
ser uma participante muito jovem, antes de assumirem a função de gestão já
304
apresentavam experiência laboral em mais de dez anos. Mesmo a participante com
apenas 25 anos de idade referiu que já trabalhava em part-time desde os 20.
Relativamente ao sexto objetivo definido por nós, a identificação de
comunalidades e singularidades em função do género e do tipo de empresa em que
atuam (própria ou de outrem), atendendo às características psicológicas inerentes aos
desempenhos excelentes, um primeiro aspeto a analisarmos prende-se com as
comunalidades evidenciadas. Neste sentido, independentemente do género e se
trabalham na sua própria empresa ou na de outrem, verificamos que as competências de
gestão interpessoal consideradas fundamentais para o sucesso da carreira de gestão,
abordadas por todos os participantes, foram a Liderança, o Estabelecimento de Redes
Profissionais, a Influência Interpessoal e o Altruísmo. Em relação aos traços de
personalidade identificados como os mais relevantes na profissão, foram a
autoconfiança, a abertura à experiência, a capacidade de adaptação e o gosto pela
exigência e desafios. Considerando as singularidades mais evidentes, enquanto os
gestores do género feminino se destacam em termos de um maior número de referências
em relação à motivação, capacidades e estratégias emocionais, os do género masculino
apresentam níveis mais elevados de referências em relação às dimensões da prática
profissional. Se compararmos os participantes tendo em linha de conta o tipo de
empresa em que atuam (própria ou de outrem), enquanto os gestores/empresários
referem mais paixão pelo trabalho, mais criatividade e inovação, mais autoeficácia e
uma maior análise na resolução dos problemas, os outros gestores referem mais
situações de stress e ansiedade e mais dificuldades e obstáculos. Relativamente à
personalidade, os participantes do género feminino referem mais seis traços de
personalidade do que os participantes do género masculino, enquanto fatores
importantes na carreira de um gestor: perseverança, perfeccionismo, humildade,
honestidade, determinação e a autoestima. Ao compararmos os gestores com os
gestores/empresários encontramos também algumas diferenças. Assim se para os
gestores o quinto traço de personalidade de maior importância no perfil do gestor é o
perfeccionismo, para os gestores/empresários são a perseverança, a resiliência, a
determinação, a competitividade e a autoestima. Apesar de nesta amostra de
participantes não surgirem relatos sobre a desigualdade de género, o que poderá ser
compreendido face à reduzida amostra que foi utilizada, diversos estudos internacionais
de comparações de género e comparações entre gestores empresários e não empresários,
305
continuam a referir graves desigualdades entre mulheres e homens, quer ao nível dos
cargos assumidos quer ao nível pecuniário, sendo estas mais marcantes entre gestores
do que entre gestores/empresários (Birley, 1989; Cox, & Harquail, 1991; Fischer,
Reuber, & Dyke, 1993; Hakim, 2006). As principais conclusões da segunda edição do
estudo global “When Women Thrive” (2016), levado a cabo pela Mercer (empresa
consultora nas áreas de talentos, benefícios, pensões e investimentos) referem uma
ligeira evolução positiva face à edição anterior, tanto em relação aos resultados globais
como aos relativos ao mercado ibérico. Contudo, as desigualdades de género ainda são
significativas: a nível mundial, na área da gestão, as mulheres apenas representam
globalmente 33% dos cargos, e destes, 26% são de gestores seniores e só 20% de
gestores executivos. Na Europa, as mulheres representam apenas 21% dos executivos
enquanto em Portugal e Espanha representam 24% dos executivos de topo, cerca de 4%
mais do que a média global. Algumas das conclusões chave do estudo prendem-se com
o facto de não obstante as mulheres terem atualmente 1.5 vezes mais possibilidade de
serem contratadas para funções executivas do que os homens, as mulheres estarem
também a abandonar as organizações no que respeita a funções de topo a uma
velocidade 1.3 vezes superior à dos homens, pondo em causa os benefícios que
poderiam ser alcançados ao haver mais mulheres a serem promovidas para lugares de
topo. Tais resultados estão relacionados com as prioridades de vida, que cada vez mais,
nas mulheres se intensificam durante a maternidade. São resultados que corroboram
com outros estudos realizados e nos quais as diferenças de género também estão
relacionadas com este diferencial homem-mulher, mesmo entre sujeitos de elite com
perfis e carreiras semelhantes (Ferriman, Lubinski, & Benbow, 2009; DeMartino, &
Barbato, 2003). Eagly e Thompson (1990) ao compararem o estilo de liderança entre
homens e mulheres verificaram que estas enfatizam mais do que os homens, as relações
interpessoais e a realização das tarefas, e em relação ao estilo de liderança utilizado, as
mulheres utilizam mais um estilo democrático e os homens um estilo autocrático.
Contudo, não encontraram diferenças relativamente à eficácia no desempenho da
função. No presente estudo, embora não tenha ficado claro se a liderança utilizada pelas
mulheres era mais de um estilo democrático e a dos homens um estilo autocrático,
poderemos referir que são as mulheres que mais enfatizam as relações interpessoais na
empresa, designadamente no âmbito de uma sinceridade genuína, revelando a
importância da autenticidade, integridade e sinceridade nas relações com os outros
colaboradores. Também são as mulheres que mais centram os seus objetivos nos
306
processos perante a realização das tarefas, focando-se os participantes do sexo
masculino mais nos objetivos de resultado.
Sobre o oitavo objetivo definido por nós e retomando as diferentes abordagens
apresentadas nos capítulos teóricos, será relevante recordar que as várias linhas de
investigação referidas, partem de diferentes conceções de desempenho,
conceptualizando este conceito ora como talento, expertise ou sabedoria. Ao abordá-las
fizemo-lo porque sentimos que era importante compreender as possíveis abordagens de
um mesmo fenómeno e poderemos concluir que todos os modelos teóricos contribuem
para a sua compreensão, enriquecendo essa mesma compreensão através dos diferentes
olhares sobre o percurso dos sujeitos e a identificação de fatores pessoais associados ao
desenvolvimento da excelência. Dadas as singularidades encontradas e a multiplicidade
de variáveis presentes, poderemos acrescentar que um só enfoque teórico, seria, em si
mesmo, insuficiente para assumir a complexidade que está envolvida na manifestação
de um constructo tão complexo como é a excelência.
Por último, em relação ao nono objetivo definido no início do presente estudo,
contribuir para a validação de alguns instrumentos de avaliação psicológica para a
população portuguesa de gestores, considerámos que seria relevante abranger diversas
áreas de avaliação que se apresentassem relevantes para este estudo com gestores
empresariais. Assim optámos pelo estudo da personalidade através do constructo Core
Self-Evaluations, pela paixão pelo trabalho, pelas competências de gestão interpessoal e
pela satisfação com vida. Procurámos instrumentos que ainda não tivessem sido
validados para a população em estudo, de preferência ainda não traduzidos para a língua
portuguesa e que, como tal, trouxessem uma mais-valia à comunidade científica.
Optámos por instrumentos com poucas questões, para que os gestores não os
considerassem fastidiosos, mas que apresentassem características psicométricas
adequadas, designadamente ao nível da precisão e validade de constructo. Os resultados
obtidos na validação das quatro escalas foram adequados e atestaram as qualidades
psicométricas dos instrumentos de avaliação psicológica em Portugal, replicando-se em
larga medida os valores obtidos com a versão original na população norte-americana
(Martins, Araújo, & Almeida, 2014; Martins, Araújo, & Almeida, 2015).
307
Considerações finais
Após a apresentação dos resultados e a sua discussão geral, gostaríamos de, num
último momento, tecer algumas considerações finais, designadamente em relação às
suas potencialidades, limitações e, também, apontar novos caminhos para futuras
investigações. Contudo, sentimos necessidade de fazer um breve apontamento sobre o
percurso percorrido neste projeto, o desenvolvimento pessoal que se foi sentindo ao
longo do tempo, o contacto com a enorme quantidade de estudos já realizados sobre o
fenómeno da excelência, embora se sinta ainda a necessidade de mais estudos face a um
tema tão complexo, e o deslumbramento que se foi tendo sobre a riqueza, a
complexidade mas também a profundidade dos trabalhos aqui apresentados, os quais
nos proporcionaram um envolvimento no projeto que, passo a passo, se foi assumindo
até encontrar um lugar de destaque.
Partindo do nosso objetivo geral, compreender as variáveis, estruturas e
processos que explicam os altos desempenhos na gestão, confirmámos que a
manifestação da excelência reúne um conjunto de fatores pessoais e contextuais e, como
tal, deverá ser estudada à luz de um processo multidimensional, multiplicativo e
dinâmico, tal como refere Simonton (2001). Especificamente, considerando as
potencialidades que identificámos no presente trabalho, poderemos começar por
mencionar a metodologia escolhida. Ao optarmos por uma metodologia mista, fizemo-
lo com vista a reunirmos metodologias (qualitativa e quantitativa) que tornassem esta
abordagem mais integradora e consequentemente obtermos uma melhor compreensão
das questões de partida formuladas. Optámos por um design integrado de investigação
(Creswell et al., 2003, 2007, 2008), na medida em que era nosso objetivo integrar
diferentes fontes de informação, de modo a alcançar maior profundidade e riqueza de
informação. Por outro lado, os dados obtidos com um dos métodos serviu também para
clarificar alguns dados obtidos com o outro método. Com um design integrado, a
combinação das duas metodologias permitiu-nos a integração de ambas as fontes de
informação e uma consequente reflexão, mais alargada, sobre as relações entre ambos
os tipos de dados. Abordando as potencialidades das entrevistas, permite-nos
acrescentar que, com elas, conseguimos obter do próprio sujeito uma perspetiva sobre
como a excelência é percecionada, tendo a possibilidade de explorarmos o tema de
modo mais próximo e integrador dos fatores que os sujeitos consideram que descrevem
e caracterizam a realidade da excelência em contextos de realização. Também o caráter
308
semiestruturado das entrevistas permitiu-nos uma abordagem mais aberta e exploratória.
Relativamente às escalas utilizadas, elas permitiram aprofundar aspetos mais específicos
que se antecipavam como relevantes para a compreensão do desempenho superior
destes gestores.
Um segundo aspeto que consideramos relevante relaciona-se com a perspetiva
desenvolvimental da excelência, conseguida com as entrevistas retrospetivas realizadas,
o que permitiu perceber a importância da motivação e da paixão no envolvimento dos
gestores empresariais na sua função, envolvimento este que foi dando lugar a diferentes
comportamentos consoante a carreira estava no início, em pleno desenvolvimento ou no
final. Assim, o compromisso, assumido por comportamentos na busca da perfeição, foi
dando lugar a comportamentos de determinação e perseverança, demostrando um
autoconceito empresarial mais maduro e uma autoestima mais elevada que,
inevitavelmente, terminou em comportamentos de sabedoria face à valorização dos seus
desempenhos banhados na honestidade, na ética e deontologia, de quem sabe e sente
que o mundo empresarial terá que assentar nesses pilares. Segundo alguns autores
(Baumeister, Campbell, Krueger, & Vohs, 2003) o elevado desempenho no trabalho
também está associado a elevados níveis de autoestima, o que vem confirmar os
resultados encontrados no presente estudo, no qual 80% dos participantes abordam a
autoestima como um fator relevante no seu desempenho profissional. No futuro pode
ser importante aprofundar se os processos e fatores associados à excelência se
diferenciam consoantes duas fases: o atingir e o manter a excelência profissional.
Um terceiro aspeto que consideramos importante referir prende-se com a análise
dos dados no âmbito das dimensões afetivas e emocionais. A satisfação com a vida está
bem consolidada, quer nos relatos das entrevistas quer nas respostas dadas na Escala de
Satisfação com a Vida, o que confirma os estudos já realizados nesta área, nos quais as
emoções positivas e a satisfação com a vida também estão ligadas a desempenhos
superiores (Argyle & Martin, 1991; Boehm, & Lyubomirsky, 2008; Coté, 1999; Diener,
Nickerson, Lucas, & Sandvik, 2002; Diener, Sandvik, & Pavot, 1991; Staw, Sutton, &
Pelled, 1994; Vallerand et al., 2007; Wright, & Cropanzano, 2000). Os recursos
emocionais, as competências e estratégias de coping e regulação emocional são,
segundo diversos autores, fatores fundamentais no processo de adaptação às exigências
dos contextos profissionais, podendo mesmo ser fatores diferenciadores em relação aos
309
percursos de excelência dos sujeitos (Bueno et al., 2008; Lazarus, 1999; Schutz, Hong,
Cross, & Osbon, 2006; Vallerand et al., 2007)
Um outro ponto que consideramos importante prende-se com os procedimentos
de validade utilizados. Assim, em relação ao estudo qualitativo, recorremos ao trabalho
de codificação das entrevistas, segundo duas etapas: (i) codificação testada e revista
sobre cerca de 20% do material a codificar (análise das duas primeiras entrevistas
realizadas), de modo a clarificar o processo de categorização e proceder a eventuais
ajustamentos, com a participação da autora e de um júri composto por seis
codificadores; e (ii) análise de conteúdo das 12 entrevistas restantes realizada apenas
pela investigadora, com a utilização da versão final da Grelha de Análise de Conteúdo.
Na primeira etapa, após a análise e comparação das codificações (Schilling, 2006),
seguiu-se o cálculo do índice de Kappa (Pestana & Gageiro, 2005), cujo valor obtido
indicou um bom acordo. Após estes procedimentos iniciais, foram ainda realizados pela
autora vários procedimentos sequenciais para garantir a validade dos dados obtidos
(Richards, 2009): (i) após concluirmos a codificação de cada entrevista assegurámo-nos
de que nenhuma unidade de significado tinha ficado por codificar, realizando uma nova
leitura dos textos e respetivas codificações; (ii) cerca de um mês após o término da
codificação de todas as entrevistas, procedemos a uma nova revisão e análise da
codificação de cada uma (Erdener & Dunn, 1990; Schilling, 2006). Relativamente ao
estudo qualitativo realizado e porque o aspeto essencial num trabalho de adaptação e
validação de escalas psicológicas passa pela qualidade dos resultados obtidos,
considerámos de grande importância procedermos ao estudo psicométrico dos quatro
instrumentos escolhidos. Neste sentido demos particular destaque à validade fatorial ou
de constructo, procurando verificar a dimensionalidade das escalas e a organização dos
seus itens, replicando as versões originais das mesmas.
Por último gostaríamos de referir o aspeto do equilíbrio encontrado na amostra
utilizada, em relação ao número de sujeitos tendo em conta o género (seis mulheres, seis
homens), a sua relação com a empresa onde exercem funções (seis gestores, seis
gestores/empresários) e o estádio de desenvolvimento profissional em que se encontram
(quatro em inicio de carreira, quatro em meio da carreira e quatro em final de carreira)
Como acontece em qualquer investigação, deparamo-nos sempre com limitações
e dificuldades de diversa ordem, as quais, se as olharmos pelo outro lado do prisma,
também podem assumir-se como desafios que se tornam catalisadores perante o
310
processo transformador do conhecimento. A primeira limitação prende-se com o próprio
tema escolhido que, sendo em simultâneo complexo e sedutor, permitiu um significativo
envolvimento e dirigir para um caminho de descoberta em áreas ainda de incipiente
investigação psicológica no contexto português. No âmbito dos desempenhos excelentes
na idade adulta, apesar da gestão, da liderança, da satisfação no trabalho, do bem-estar
subjetivo, entre outros, serem temas amplamente abordados na literatura, são ainda
pouco esclarecidos operacionalmente e especialmente na realidade portuguesa. A
própria execução do presente trabalho empírico teve que lidar com as barreiras que são
inerentes face ao contexto organizacional. Sensibilizar gestores de topo para que
estivessem disponíveis, pelo menos duas horas da sua vida, e aceder a uma entrevista
gravada, na qual se iriam expor enquanto elementos de elite de uma sociedade tão
crítica e por vezes castradora, como aquela em que vivemos, falando sobre si e sobre a
sua vida profissional, foi um verdadeiro desafio. Será também de referir a ausência de
outras fontes de informação, nomeadamente amigos ou colegas de trabalho, pois tendo-
se revelado como figuras importantes nas carreiras destes profissionais, poderiam
reforçar ou acrescentar informação relevante àquela que foi recolhida apenas com os
próprios. Mesmo reconhecendo que quando abordamos a excelência estamos perante
casos singulares e de frequência reduzida, consideramos que, face ao contexto
económico-social atual, poder-se-ão organizar estudos com amostras maiores, mantendo
o equilíbrio desejado entre os seus participantes.
Para terminar, com base nos resultados do presente trabalho, poderemos referir
algumas implicações para o futuro, designadamente o aprofundamento do estudo das
variáveis aqui identificadas em amostras de maiores dimensões. No âmbito da
educação, porque nela assentam os avanços da futura civilização, será de grande
importância que a escola do século XXI possa beber dos conhecimentos produzidos em
diversas áreas: novas políticas educacionais com novas estratégias que fomentem a
integração social, novos modelos da economia nos quais o papel das pessoas é decisivo
e de uma psicologia educacional que vise o desenvolvimento precoce dos saberes,
tornando os nossos jovens em líderes do conhecimento, da criatividade e da sabedoria.
Porque a tarefa primordial da Educação, partindo de um referencial humanista, é
desenvolver e aperfeiçoar o ser humano em todas as suas dimensões, expectativas e
objetivos, essenciais ou periféricos (Guenther, 2011) o novo campo da investigação está
nas mãos de uma educação para a inovação, como refere Shavinina (2013):
311
“This is the beginning of a new field of scientific inquiry. If we are indeed
interested in developing tomorrow’s innovators who will be able to implement
creative ideas into practice in the form of new products, services, or processes,
and to make great discoveries and inventions, then the best way to do this is via
innovation education” (p.xxvii).
Segundo Shavinina (2013) a educação do milénio passa necessariamente por ser
uma educação para a inovação, na qual terão que estar presentes um conjunto de
intervenções destinadas a transformar o talento da criança na inovação do adulto. Os
recentes avanços na área das neurociências, nos quais se destacam os estudos no âmbito
das ligações entre as emoções, comportamento social e tomada de decisão terão, num
futuro próximo, um papel preponderante na compreensão do afetos na educação. De
acordo com Immordino-Yang e Damásio (2011) a evidência neurobiológica sugere que
os aspetos cognitivos que são mais fortemente trabalhados nas escolas, ou seja,
aprendizagem, atenção e memória, mas também a tomada de decisão em contextos
sociais são profundamente condicionados pelas emoções, isto é, o “emotional thought”:
“Modern biology reveals humans to be fundamentally emotional and social
creatures. And yet those of us in the field of education often fail to consider that
the high-level cognitive skills taught in schools, including reasoning, decision
making, and processes related to language, reading, and mathematics, do not
function as rational, disembodied systems, somehow influenced by but detached
from emotion and the body.” (p. 116).
Segundo os referidos autores, temas de importância crítica para a educação,
como a moral, a criatividade e a cultura têm as suas bases neurobiológicas, pelo que
uma melhor compreensão das relações entre estes constructos irá fornecer novas
conceções para uma educação para a inovação. Se os educadores deixarem de apreciar a
importância das emoções dos seus alunos, então estarão a deixar de apreciar a sua força
fundamental na aprendizagem.
Concluindo, poderemos referir que pretendemos, com o presente trabalho na
área da Psicologia da Educação, deixar o alerta para a importância da escola atual estar
sensível às diferenças, devendo a mesma ser promotora de novas experiências, nas mais
variadas áreas de expressão, as quais deverão tornar-se promotoras do desenvolvimento
dos talentos e das capacidades das crianças e jovens. E porque aprender passa pelo
pensamento emocional, terminamos com um breve trecho de Pedro Strecht:
312
313
"O problema de aprender é o problema de gostar.
E depois imaginar para conhecer.
Se calhar é quase assim: a Escola pensa-se e sente-se.
A Escola pensa-se no que aparece de concreto, branco no preto da
ardósia grande, no espaço em quadrícula do papel de contas, nas letras
do livro estampado na tipografia da esquina.
E depois sente-se: no coração rapidinho a bater no primeiro dia, no
cheiro a novo de cada página aberta para descobrir, no nome do
menino que se aprendeu hoje, no sorriso gigante da Professora que não
esquece um olhar.
Mas pensar e sentir começam pelas nossas coisas: gostarmos de nós, e
gostarem de nós.
Depois continua nas coisas dos outros, a Mãe, o Pai e o resto:
gostarmos dos outros e gostarem de nós (outra vez) no meio dos outros.
Só a seguir é que se pode sentir e pensar as coisas da Escola: gostar de
saber… para além de nós e dos outros. Aprender, enfim!
Como se tudo começasse mesmo pelo verbo gostar: eu, tu, eles.”
(Pedro Strecht, Para uma escola feliz, 1995, p.49)
314
315
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360
361
ANEXO
____________________________________________________________
GRELHA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO
362
(cont.)
MOMENTO DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO
Des
emp
enh
o a
tual
Fat
ore
s C
on
tex
tuai
s
M
A
C
R
O
Influência do contexto macro, histórico, económico, social ou cultural num determinado momento e que ajuda a
compreender o desenvolvimento ou as escolhas do indivíduo
R
I S
C
O
Referência a situações de risco, imprevistas ou não, que se tornam estimulantes para o desempenho da função
Co
nte
xto
acad
émic
o Ambiente escolar Referências ao ambiente ou influência do contexto escolar na organização do projeto de carreira do sujeito
Escolhas escolares
significativas
Referência a escolhas escolares que foram feitas e que foram significativas para o percurso profissional
realizado
Mais-valias Aprendizagens escolares que foram uma mais valia para a vida profissional do sujeito
Conte
xto
pro
fiss
ional
Ambiente empresarial Ambiente empresarial ou descrição em termos de pessoas (colegas, superiores hierárquicos, etc.) que permite
perceber, por exemplo, como o individuo se posiciona face aos colegas
Aspetos institucionais Funcionamento e caracterização da instituição e que influencia a forma como o individuo se comporta
Avaliação desempenho Métodos de avaliação e relação dos mesmos com o desempenho dos indivíduos
Desenvolvimento interesses Oportunidades que tenham contribuído para o desenvolvimento dos interesses na carreira.
Escolhas significativas Explorar escolhas/decisões profissionais significativas ao longo da carreira.
Expectativas na carreira Expectativas que os indivíduos apresentam relativamente à sua carreira e descrições relativas à correspondência
(ou não) das mesmas
Fatores de consolidação Explorar diversos fatores que tenham ajudado à consolidação na carreira.
Funcionamento em equipa Aspetos relacionados com o funcionamento em equipa e que influencia a organização e o desempenho do
individuo
Co
nte
xto
mic
ro
Amigos e colegas de trabalho
Rede de apoio/influência próxima do sujeito que ajuda a compreender o processo de desenvolvimento do
indivíduo.
Família
Outras figuras
Professores
Condiç
ões
e p
roce
sso
s
des
envolv
imen
tais
Ambientes/ Experiências de
formação
Condições/experiências num determinado contexto que contribuem para compreender o desenvolvimento do
indivíduo, nomeadamente em termos de estimulação ou de motivação global, que tenham ocorrido fora do
contexto profissional
Atividades não relacionadas Atividades em que o indivíduo se envolve e que não estão relacionadas, direta ou indiretamente, com a profissão
Conhecimentos prévios Conhecimentos adquiridos previamente em diversos contextos e que ajudam a compreender o desempenho ao
longo da carreira do sujeito
Sorte/Oportunidade Referência à sorte e/ou oportunidades que foram surgindo ao longo do percurso e que ajudam a compreender o
desempenho dos indivíduos
(cont.)
MOMENTO DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO
Des
emp
enh
o a
tual
Fat
ore
s P
esso
ais P
ráti
ca p
rofi
ssio
nal
Autorreflexão Capacidade de reflexão sobre situações concretas da vida profisional atendendo a beneficios ou custos das mesmas.
Compromisso Referência ao sentido de responsabilidade e envolvimento assumido perante a função
Comunicação estratégica Comunicação como instrumento de inteligência empresarial, englobando o saber ouvir e o saber expressar as ideias
Conhecimentos científicos da
área Referências que demonstrem conhecimentos científicos da área de intervenção
Definição dos objetivos Saber onde está, para onde vai e como deve ir em termos de prática profissional
Disciplina Disciplina e cumprimento de regras. Pode implicar sacrifícios ou abdicar de outras atividades
Enfoque compreensivo na área Capacidade, motivação e/ou estratégias baseadas na abordagem compreensiva da área de trabalho, como a reflexão
sobre os objetivos ou o estabelecimento de relações entre os objetivos
Empreendedorismo Capacidade em agregar valor, saber identificar oportunidades e transformá-las em um negócio lucrativo.
Esforço e dedicação Referências que demonstram o esforço e a dedicação que os indivíduos colocam no trabalho
Estabelecimento de metas Referências ao estabelecimento de metas a atingir no âmbito profissional
Gestão do tempo e das
atividades
Forma como os indivíduos organizam e gerem o seu tempo, considerando as atividades profissionais e as
atividades não relacionadas
Learning-by-doing Aquisição de conhecimentos e competências baseadas na experiência
Leituras e pesquisas Estratégias de evolução na área baseadas em leituras e pesquisas, que permitam conhecer as situações na íntegra
Organização Capacidades, estratégia de organização ou politica empresarial, mental ou material que indicam quais as ações
necessárias pôr em prática, para atingir os objetivos definidos
Planeamento Capacidade e estratégias relacionadas com o planeamento das atividades
Priorização das tarefas Referências à maneira como as tarefas são escolhidas aquando da sua realização
Saber formar grupos de trabalho Referência ao modo como procede na organização de grupos de trabalho dos colaboradores
C
om
pet
ênci
as
So
ciai
s
Altruísmo Manifestação de vontade de dar um contributo social ou ajudar outro(s)
Estabelecer redes profissionais Capacidade de criar e recorrer a redes de trabalho, que se constituem na base de fortes alianças sociais no trabalho
Influência Interpessoal Capacidade de convencer, exercendo poder nos outros em seu redor
Liderança Capacidade de influenciar um grupo em direção à realização de metas
Perspicácia social Capacidade de observar os outros com perspicácia e interpretar os seus comportamentos, através de uma profunda
sintonia face às diversas situações sociais
Respeito pelos outros Comportamento que revela valores morais do ser humano e tem grande importância na interação social, para uma
convivência saudável
Sinceridade genuína Capacidade para demonstrar competências elevadas de autenticidade, integridade e sinceridade, aos outros
Des
em
pen
ho Situações de insucesso
Referência a situações de insucesso
Situações de sucesso
Referência a situações que permitiram sucesso
(cont.)
MOMENTO DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO
Des
emp
enh
o a
tual
Fat
ore
s P
esso
ais
Moti
vaç
ão
Objetivos centrados no
desempenho Objetivos definidos em função do desempenho a alcançar
Objetivos centrados no processo Objetivos definidos relacionados e aplicados ao longo da execução das tarefas
Paixão pelo trabalho Forte inclinação pelo trabalho no qual investe tempo e energia.
Reconhecimento Motivação e valorização do reconhecimento pelos outros do próprio trabalho e desempenho
Vontade de aprender Gosto e motivação centrada na aprendizagem, de um modo generalizado
Est
raté
gia
s
emoci
onai
s
Convicções Crenças ou opiniões firmes sobre algo
Coping Referência à utilização de estratégias de coping voltadas quer para a regulação de problemas emocionais quer
para a regulação de situações do dia-a-dia profissional
Dificuldades e obstáculos Referência a dificuldades e obstáculos que surgiram ao longo do percurso profissional
Sensibilidade Sentimentos de humanidade, ternura ou simpatia face aos outros
Stress e ansiedade Referência a situações despoletadoras de stress e ansiedade e influência destas no desempenho
Cap
acid
ades
Análise e resolução problemas Capacidade e/ou estratégias baseadas na anál ise e resolução de problemas
Atenção e concentração Capacidade e/ou estratégia relacionada com a atenção e concentração
Auto-eficácia Avaliação sobre quão bem pode atuar em variadas situações
Capacidade de aprendizagem Referência à capacidade de aprendizagem e aquisição de conhecimentos dentro ou fora da área.
Capacidade intelectual Referência a características intelectuais do indivíduo, ou seja, a faculdade de conhecer, compreender,
raciocinar, pensar e interpretar
Criatividade e inovação Referência à capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas
Meta-cognição e reflexão Capacidade de se monitorar e auto-regular, potencializando o próprio sistema
S
A
Ú
D
E
Referência a situações de saúde que ajudam ou perturbam o desenvolvimento da carreira
(cont.)
DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO F
ato
res
Pes
soa
is
Per
sonal
idad
e
Abertura à experiência
Aspetos que demonstrem a abertura a experiências novas. Distingue-se das atividades (não) relacionadas pela
manifestação de desejo, satisfação, ambição em participar em experiências novas (usualmente fora do
convencional e que estimulam o enriquecimento)
Auto-controlo Capacidade de gestão das suas emoções e desejos.
Auto-estima Apreciação por aquilo que se é, com as suas falhas, fraquezas, valores, conquistas, dificuldades
Auto-confiança Convicção que uma pessoa tem de ser capaz de fazer ou realizar alguma coisa
Capacidade de adaptação Aspetos que demonstrem capacidade de adaptação perante transições, momentos ou situações de vida exigentes
Competitividade Aspetos que demonstrem comportamentos ou preferência por ambientes competitivos
Determinação Aspetos que demonstrem uma atitude generalizada de determinação perante objetivos ou situações de vida.
Inclui também a persistência e a teimosia
Estabilidade emocional Capacidade de agir calmamente e com segurança diante de desafios e responder bem a situações stressantes
Exigência/desafio Manifestação do gosto por situações de exigência e desafio ou de opções feitas em função desse aspeto
Extroversão Aspetos que manifestem caracteristicas relacionadas com a extroversão, designadamente o ser sociácel e
comunicativo com os outros
Flexibilidade Capacidade de fazer alterações no momento, perante novos desafios ou situações diversas
Honestidade Comportamentos que demonstrem uma obediência incondicional às regras morais existentes
Humildade Capacidade de reconhecer os seus erros, defeitos ou limitações
Perfeccionismo Referência à vontade de melhorar continuamente e/ou ser/dar o melhor de si
Perseverança
Capacidade de se manter constante e firme ao longo de um projeto já iniciado, perante uma determinada atitude
ou uma opinião, por mais adversas que possam ser as circunstancias ou se os objetivos possam parecer dificeis
de concretizar
Resiliência Capacidade de recuperar e superar desafios, após um momento de adversidade, conseguindo se adaptar ou
evoluir positivamente frente à situação
Pro
jeto
s
e am
bi
ções
Projetos futuros vida pessoal Aspetos relativos aos projetos e ambições futuras na área profissional e fora da área profissional.
Projetos futuros vida profissional
(cont.)
MOMENTO DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO
Per
curs
o a
nte
rior
Fat
ore
s C
on
tex
tuai
s
M
A
C
R
O
Influência do contexto macro, histórico, económico, social ou cultural num determinado momento e que ajuda a
compreender o desenvolvimento ou as escolhas do indivíduo
R
I S
C
O
Referência a situações de risco, imprevistas ou não, que se tornam estimulantes para o desempenho da função
Co
nte
xto
acad
émic
o Ambiente escolar Referências ao ambiente ou influência do contexto escolar na organização do projeto de carreira do sujeito
Escolhas escolares
significativas
Referência a escolhas escolares que foram feitas e que foram significativas para o percurso profissional
realizado
Mais-valias Aprendizagens escolares que foram uma mais valia para a vida profissional do sujeito
Conte
xto
pro
fiss
ional
Ambiente empresarial Ambiente empresarial ou descrição em termos de pessoas (colegas, superiores hierárquicos, etc.) que permite
perceber, por exemplo, como o individuo se posiciona face aos colegas
Aspetos institucionais Funcionamento e caracterização da instituição e que influencia a forma como o individuo de comporta
Avaliação desempenho Métodos de avaliação e relação dos mesmos com o desempenho dos indivíduos
Desenvolvimento interesses Oportunidades que tenham contribuído para o desenvolvimento dos interesses na carreira.
Escolhas significativas Explorar escolhas/decisões profissionais significativas ao longo da carreira.
Expectativas na carreira Expectativas que os indivíduos apresentam relativamente à sua carreira e descrições relativas à correspondência
(ou não) das mesmas
Fatores de consolidação Explorar diversos fatores que tenham ajudado à consolidação na carreira
Funcionamento em equipa Aspetos relacionados com o funcionamento em equipa e que influencia a organização e o desempenho do
individuo
Co
nte
xto
mic
ro
Amigos e colegas trabalho
Rede de apoio/influência próxima do sujeito que ajuda a compreender o processo de desenvolvimento do
indivíduo.
Família
Outras figuras
Professores
Condiç
ões
e p
roce
sso
s
des
envolv
imen
tais
Ambientes/ Experiências de
formação
Condições/experiências num determinado contexto que contribuem para compreender o desenvolvimento do
indivíduo, nomeadamente em termos de estimulação ou de motivação global, que tenham ocorrido fora do
contexto profissional
Atividades não relacionadas Atividades em que o indivíduo se envolve e que não estão relacionadas, direta ou indiretamente, com a profissão
Conhecimentos prévios Conhecimentos adquiridos previamente em diversos contextos e que ajudam a compreender o desempenho ao
longo da carreira do sujeito
Sorte/Oportunidade Referência à sorte e/ou oportunidades que foram surgindo ao longo do percurso e que ajudam a compreender o
desempenho dos indivíduos
(cont.)
MOMENTO DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO
Per
curs
o a
nte
rior
Fat
ore
s P
esso
ais P
ráti
ca p
rofi
ssio
nal
Autorreflexão Capacidade de reflexão sobre situações concretas da vida profisional atendendo a beneficios ou custos das
mesmas.
Compromisso Referência ao sentido de responsabilidade e envolvimento assumido perante a função
Comunicação estratégica Comunicação como instrumento de inteligência empresarial, englobando o saber ouvir e o saber expressar as
ideias
Conhecimentos científicos da área Referências que demonstrem conhecimentos científicos da área de intervenção
Definição dos objetivos Saber onde está, para onde vai e como deve ir em termos de prática profissional
Disciplina Disciplina e cumprimento de regras. Pode implicar sacrifícios ou abdicar de outras atividades
Enfoque compreensivo na área Capacidade, motivação e/ou estratégias baseadas na abordagem compreensiva da área de trabalho, como a
reflexão sobre os objetivos ou o estabelecimento de relações entre os objetivos
Empreendedorismo Capacidade em agregar valor, saber identificar oportunidades e transformá-las em um negócio lucrativo.
Esforço e dedicação Referências que demonstram o esforço e a dedicação que os indivíduos colocam no trabalho
Estabelecimento de metas Referências ao estabelecimento de metas a atingir no âmbito profissional
Gestão do tempo e das atividades Forma como os indivíduos organizam e gerem o seu tempo, considerando as atividades profissionais e as
atividades não relacionadas
Learning-by-doing Aquisição de conhecimentos e competências baseadas na experiência
Leituras e pesquisas Estratégias de evolução na área baseadas em leituras e pesquisas, que permitam conhecer as situações na íntegra
Organização Capacidades, estratégia de organização ou politica empresarial, mental ou material que indicam quais as ações
necessárias pôr em prática, para atingir os objetivos definidos
Planeamento Capacidade e estratégias relacionadas com o planeamento das atividades
Priorização das tarefas Referências à maneira como as tarefas são escolhidas aquando da sua realização
Saber formar grupos de trabalho Referência ao modo como procede na organização de grupos de trabalho dos colaboradores
C
om
pet
ênci
as S
oci
ais Altruísmo Manifestação de vontade de dar um contributo social ou ajudar outro(s)
Estabelecer redes profissionais Capacidade de criar e recorrer a redes de trabalho, que se constituem na base de fortes alianças sociais no
trabalho
Influência Interpessoal Capacidade de convencer, exercendo poder nos outros em seu redor
Liderança Capacidade de influenciar um grupo em direção à realização de metas
Perspicácia social Capacidade de observar os outros com perspicácia e interpretar os seus comportamentos, através de uma
profunda sintonia face às diversas situações sociais
Respeito pelos outros Comportamento que revela valores morais do ser humano e tem grande importância na interação social, para
uma convivência saudável
Sinceridade genuína Capacidade para demonstrar competências elevadas de autenticidade, integridade e sinceridade, aos outros
Des
e
m
pen
ho Situações de insucesso Referência a situações de insucesso
Situações de sucesso
Referência a situações que permitiram sucesso
(cont.)
MOMENTO DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA DEFINIÇÃO
Per
curs
o a
nte
rior
Fat
ore
s P
esso
ais
Moti
vaç
ão
Objetivos centrados no
desempenho Objetivos definidos em função do desempenho a alcançar
Objetivos centrados no
processo Objetivos definidos relacionados e aplicados ao longo da execução das tarefas
Paixão pelo trabalho Forte inclinação pelo trabalho no qual investe tempo e energia.
Reconhecimento Motivação e valorização do reconhecimento pelos outros do próprio trabalho e desempenho
Vontade de aprender Gosto e motivação centrada na aprendizagem, de um modo generalizado
Est
raté
gia
s
emoci
onai
s
Convicções Crenças ou opiniões firmes sobre algo
Coping Referência à utilização de estratégias de coping voltadas quer para a regulação de problemas emocionais quer
para a regulação de situações do dia-a-dia profissional
Dificuldades e obstáculos Referência a dificuldades e obstáculos que surgiram ao longo do percurso profissional
Sensibilidade Sentimentos de humanidade, ternura ou simpatia face aos outros
Stress e ansiedade Referência a situações despoletadoras de stress e ansiedade e influência destas no desempenho
Cap
acid
ades
Análise e resolução problemas Capacidade e/ou estratégias baseadas na anál ise e resolução de problemas
Atenção e concentração Capacidade e/ou estratégia relacionada com a atenção e concentração
Auto-eficácia Avaliação sobre quão bem pode atuar em variadas situações
Capacidade de aprendizagem Referência à capacidade de aprendizagem e aquisição de conhecimentos dentro ou fora da área.
Capacidade intelectual Referência a características intelectuais do indivíduo, ou seja, a faculdade de conhecer, compreender,
raciocinar, pensar e interpretar
Criatividade e inovação Referência à capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas
Metacognição e reflexão Capacidade de se monitorar e auto-regular, potencializando o próprio sistema
S
A
Ú
D
E
Referência a situações de saúde que ajudam ou perturbam o desenvolvimento da carreira