maria josé de rezende profª. pde 2008 sociologia · segundo os dados da renda, 37 pessoas recebem...

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Autora: Maria José de Rezende profª. PDE 2008 Co-autor: Marcos Aurélio Saquet Núcleo: Toledo Estabelecimento: Colégio Estadual Mendes Gonçalves Disciplina: Geografia – Ensino Médio Disciplina da relação interdisciplinar 1: História Disciplina da relação interdisciplinar 2: Sociologia Guaíra, 02 de dezembro de 2008.

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Autora: Maria José de Rezende profª. PDE 2008Co-autor: Marcos Aurélio SaquetNúcleo: ToledoEstabelecimento: Colégio Estadual Mendes GonçalvesDisciplina: Geografia – Ensino MédioDisciplina da relação interdisciplinar 1: HistóriaDisciplina da relação interdisciplinar 2: Sociologia

Guaíra, 02 de dezembro de 2008.

Cultura negra em Guaíra

Negro, índio ou branco, como você se identifica?

Iguais ou diferentes? Como?

O que caracteriza o seu grupo?

Fig.01 Fig.02

Fig.03

Fonte: Fig.01: http://www.projetoolhovivo.com.br/noticias008.htm

Fonte:Fig.02:http://www.impactotour.com.br/pi/admin/uploads/news/ex_noticia_15_indios-

1.jpg

Fonte: Fig.03: http://movimentopropatria.files.wordpress.com/2007/02/familia1.jpg

2

Pois bem, a cultura corresponde a um conjunto de idéias, hábitos,

crenças e práticas sociais que organizam as relações sociais, políticas e

econômicas de um povo. Assim sendo, produz paisagem e espaço

geográfico que, com o tempo, se diferencia, pois cada geração desenvolve

sua própria cultura de acordo com o ambiente em que vive e trabalha.

Como podemos identificar e explicar as relações sociais,

políticas e econômicas de um povo no seu município?

A formação territorial do Município de Guaíra (PR) é marcada pela

história de sua ocupação econômica, política e cultural, inserida na

dinâmica de produção e de reprodução do modo capitalista. A ocupação da

fronteira do Brasil com a Argentina e Paraguai ocorre, historicamente, em

virtude de fatores econômicos e geopolíticos.

O espaço geográfico é concebido como produto histórico e

dinâmico. É organizado e apropriado pela sociedade de forma dinâmica e

sócio-espacial, pelo trabalho, pelas técnicas e tecnologias, onde as

manifestações da natureza e as atividades humanas se realizam.

A organização e as transformações que ocorreram e ocorrem no

espaço são marcados pelas idéias, hábitos, crenças e práticas sociais que

revelam as relações culturais, políticas e econômicas de um povo. Essas

relações se dão de forma afetiva, mas na maioria são conflituosas, mesmo

assim asseguram sua territorialidade que é representada pela memória

coletiva e pelas singularidades culturais. É importante ressaltar que na

identidade étnica ou racial os seus processos de construção podem ser

lentos ou rápidos e tendem a ser duradouros. Ex.: cidade, sítio, fazenda,

uma cachoeira, vila, grupos de pessoas, etc.

3

O município de Guaíra no seu contexto histórico

O município de Guaíra (PR) está localizado no extremo oeste

paranaense na margem esquerda do rio Paraná. Faz fronteira com o estado

do Mato Grosso do Sul e com a cidade de Salto Del Guairá na República do

Paraguai.

Mapa 01: Indica todas as comunidades do município de Guaíra - PR

No processo de expansão e colonização empreendido pelos

portugueses e espanhóis no século XVI, conforme o Tratado de Tordesilhas,

essa região localizada à margem esquerda do rio Paraná foi colonizada

4

pelos espanhóis. Sedentos por lucros eles procuravam, sem cessar, por

riquezas ocultas nessa região. O ideal de conquista levou-os a fundar o

Pueblo de Ontiveros na margem direita do rio Paraná, a uma légua do Salto

de Sete Quedas. A três léguas de Ontiveros, fundou-se outro “pueblo”, a

Ciudad Real Del Guairá, na confluência do rio Piquiri.

Para Tomazinho (1981), baseado em Kurtter, em 1575 foi fundado

à margem esquerda do rio Paraná novo estabelecimento espanhol,

denominado Vila Rica Del Espiritu Santu. Depois Vila Rica foi transferida

para a confluência do rio Corumbataí com o Ivaí. E Vila Rica tornou-se a

sentinela castelhana mais avançada do sertão de Guaíra.

Vila Rica cresceu, prosperou e dominou por mais de meio século, a

região. Entre 1628 e 1632 Vila Rica foi destruída pelos bandeirantes

paulistas. Os objetivos com a destruição foram vários, mas vale destacar o

de impedir a expansão espanhola para leste e aprisionar os indígenas

aldeados, que naquele momento eram a principal mão-de-obra disponível

que existia. Segundo Tomazinho (1981) nas reduções espanholas

organizadas pelos padres jesuítas os indígenas conheciam e desenvolviam

alguma forma de produção agrícola e pecuária para subsistência e

exploravam a erva-mate para fins comerciais.

O ataque dos bandeirantes paulistas desarticulou a intenção dos

jesuítas de organizar a “Província Indo-Cristiana Del Guairá”, uma república

teocrática, sob a tutela da Cia. de Jesus. O Paraguai aproveitou-se dessa

desarticulação e proclamou sua independência do antigo Vice-Reinado do

Prata, sob a chefia de D. Gaspar Garcia de Francia que adotou uma política

de isolamento, o que levou o Estado a assumir todas as atividades

econômicas em especial a produção e comercialização da erva-mate. Essa

política adotada pelo Paraguai estimulou o florescimento da economia

ervateira paranaense. O mate foi de extrema importância para a ocupação

e o desenvolvimento de Guaíra.

A ocupação e o desenvolvimento do município de Guaíra

No século XIX, com a produção da erva-mate em grande escala no

Paraná e o interesse da Argentina na erva-mate paranaense, o governo

5

brasileiro, conforme decreto imperial nº. 8.799, de 09 de dezembro de 1882

cede a Cia. Mate Laranjeira o direito de explorar a erva-mate na zona

fronteiriça com o Paraguai, entre os limites do Rincão de Júlio e da

cabeceira do Iguatemi (MS). Assim, a Cia. Mate Laranjeira, teve a seu cargo

a exploração dos ervais situados no estado de Mato Grosso. TOMAZINHO,

Paulo Alberto (1981, p. 29)

O sistema de escoamento da erva-mate tornou-se inviável, pois

eram feitos por carretas puxadas a bois. Então para viabilizar

economicamente a operação de transporte valeram-se dos canais

navegáveis dos rios Amambaí, Iguatemi, Dourados, Brilhante e Ivinhema

que deságuam no rio Paraná e desviou por terra no trecho entre Guaíra e

Porto Mendes. Na época o rio Paraná não oferecia condições de navegação

devido ao Salto das Sete Quedas. Para concretizar seu plano de

escoamento da erva-mate a Cia. Mate Laranjeira adquiriu em 1902, os

direitos sobre o “Porto Monjoli”, hoje Porto Sete Quedas e liga Guaíra (PR) a

Salto Del Guairá (Paraguai) por balsa e o Porto “Britania” em Porto Mendes.

Com base em Tomazinho (1981), a empresa Cia. Mate Laranjeira

equipou o porto Monjoli com todas as instalações necessárias para o setor

de transporte, estação ferroviária, depósitos para a erva-mate

dependências para a administração, oficina, estaleiros, armazém,

almoxarifado, serraria, marcenaria, farmácia, hospital, escola, clube de

lazer, habitações, etc. A área territorial da Cia. Mate Laranjeira perfazia um

total de 270.399.914 m². No ano de 1951, a Cia. Mate Laranjeira em ruína

entregou suas terras ao governo Estado do Paraná e este conforme a Lei nº.

790, de 14 de novembro de 1951 cria o município de Guaíra (PR).

A partir de 1960, com a modernização da agricultura,

industrialização das regiões Sudeste e Sul e a expansão da fronteira

agrícola para as regiões centro-oeste e Norte, provocou o processo de

desterritorialização em escala regional. Guaíra, como parte do território

nacional, incorporou-se às exigências das novas formas de reorganização

do espaço, recebeu um número expressivo de baianos, pernambucanos,

capixabas e mineiros que incentivados pelo governo na busca de efetivar a

ocupação da fronteira estes chegam a Guaíra e vão ocupar a área de

6

segurança nacional. No processo de reterritorialização estes grupos étnicos

contribuíram com seus conhecimentos, usos e costumes para o

desenvolvimento econômico e cultural de Guaíra.

A população negra em Guaíra

Guaíra pode ser considerado um município multicultural, pois em sua

composição populacional diferentes grupos étnicos a compõem, são eles:

os indígenas, paraguaios, argentinos, japoneses, alemães, italianos,

portugueses, espanhóis, russos, lituanos, estonianos e negros que

contribuíram para o desenvolvimento do comércio, das indústrias, da

agricultura, da educação, pois estas são as principais fontes econômicas do

Município.

Assim sendo, os dados e estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística) indicam que no ano de 2000 no total da

população brasileira de 183.987.291 habitantes, 10.554.336 declarou ser

negra. No estado do Paraná no ano de 1853, 40% da população era

composta por negros e hoje só 24%. Segundo os estudos realizados pelo

Grupo de Trabalho Clóvis Moura a presença dos negros no atual território

paranaense se dá em 1585, por exigência da economia que impõem formas

e uso do território e do trabalho. No inicio da procura de ouro no litoral e

posteriormente nas atividades pastoris.

Conforme este mesmo estudo a espacialização dos quilombos no

Paraná estão articulados em locais onde, no século XIX, existiam fazendas

com mão de obra escravizada. Com o fim da “escravidão” e a crise do

tropeirismo, os afro-descendentes fizeram destes locais a matriz de suas

realizações culturais, continuou o plantio, criação de animais, colheita de

erva-mate, como pode se observar no mapa em anexo.

Em Guaíra (PR) um total de 28.638 habitantes, apenas 876

pessoas se identificaram como negras. Ainda segundo o IBGE no ano de

2007 houve um acréscimo de 0,5 no percentual chegando a 6,3% os que se

reconhecem como negros e os pardos 43,2% da população brasileira.

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Em sua opinião é possível uma pessoa negar sua origem?

Exemplifique:

Pesquisamos 55 famílias negras do município de Guaíra (PR),

aplicamos um questionário com questões fechadas e abertas e nesta

pesquisa enfocamos os setores da economia, a profissão, a renda, o grau

de escolaridade, a situação habitacional, o consumo de energia os

utensílios utilizados, o local de origem e os costumes.

As condições de vida do povo negro hoje, são muito diferentes do

período da escravidão?

Veja os resultados:

De acordo com os dados obtidos na pesquisa, 29 pessoas estão

inseridas no setor formal da economia, 22 pessoas no setor informal e 3

pessoas não informaram. A profissão é variada, para os homens: pedreiro,

motorista, funcionário público, soldador, pescador, bóia-fria, agente de

saúde, comerciante, encarregado, agricultor, tratorista, vendedor de picolé,

engenheiro civil, chapeador, marceneiro, autônomo, loneiro, construtor,

serviços gerais, militar, chacareiro, mecânico, cabeleireiro, e outras. Para as

mulheres: só fazem o serviço de casa 16, cozinheira 04, e uma minoria

apresentam-se como: diarista, micro empresaria, funcionaria publica,

comerciante, pescadora, agricultora, empregada domestica, serviços

gerais, secretaria e higienização.

Para discussão em sala: porque predominam essas

atividades profissionais entre os negros? Porque os salários são

baixos?

Segundo os dados da renda, 37 pessoas recebem de 1 a 3 salários

mínimos, 05 pessoas recebem de 3 a 5 salários mínimos, acima de 6

salários mínimos só 3 pessoas e 9 pessoas não informaram sua renda..

Quanto a qualificação escolar, 21 pessoas têm as quatro primeiras

séries do ensino fundamental, 17 completaram o ensino fundamental, 18 o

ensino médio, 02 curso superior e 03 pessoas não informaram o grau de

escolaridade. Habitação, 37 moram em casa própria, 10 pagam aluguel e

07 moram em casa emprestada. O consumo de energia agrupamos por

extrato, de R$ 10,00 à 50,00 estão 13 pessoas, de R$ 51,00 à 100,00 12

8

pessoas; de R$ 101,00 à 200,00 , 10 pessoas e acima de R$ 200,00 02

pessoas.

Entre os utensílios mais utilizados, 51 pessoas declararam possuir

geladeira, em segundo lugar a máquina de lavar roupa 47, em terceiro a TV

com 46, em quarto lugar o rádio com 42, em quinto lugar o computador

com 17, em sexto lugar o freezer e em último o microondas.

São oriundos dos estados brasileiros, dos mais diversos

municípios, todos vieram em busca de melhores condições de vida, têm

mais de 30 anos e residem em Guaíra. Vamos destacar somente os

estados: Paraná, Sergipe, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Bahia,

Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rondônia, Rio Grande do Sul.

Mapa 02: Divisão política do Brasil

Fonte: http://penta2.ufrgs.br/edu/webpage/mapa_brasil.jpg

Os costumes ainda preservados entre o grupo pesquisado:

respeito o as mais velhos, pedir benção ao pai e a mãe, divisão das tarefas

e afazeres e reunir a família. As comidas, típicas, bem apimentadas.

Gostam das danças, dos contos e de agrupar as pessoas em torno de uma

fogueira, gritar, bater palmas e os pés no chão.

9

COMUNIDADE QUILOMBOLA MANOEL CIRÍACO DOS SANTOS –

GUAÍRA (PR)

De acordo com o grupo de trabalho Clóvis Moura, as comunidades

quilombolas são grupos étnicos, predominantemente constituídos pela

população negra rural ou urbana, que se autodefine a partir das relações

com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e

práticas culturais próprias. Este grupo tem por objetivo fazer a ponte entre o

governo do Estado e as comunidades quilombolas.

Através dos seus distintos órgãos o governo Estadual e Federal,

promove o etno-desenvolvimento das comunidades quilombolas. Esta

iniciativa visa melhorar as condições de vida e fortalecer a organização

dessas comunidades por meio de acesso a terra, promover cidadania,

valorizar experiências históricas e culturais, recursos ambientais desses

grupos para potencializar sua capacidade autônoma.

No estado do Paraná já foram identificadas 86 comunidades e

destas 36 já foram reconhecidas, observe no mapa em anexo. Uma dessas

reconhecida é a comunidade quilombola Manoel Ciriaco dos Santos,

localizada no Município de Guaíra – PR na localidade de Maracaju dos

Gaúchos. Foi reconhecida em 2007 pela Fundação Zumbi dos Palmares.

“Nessa comunidade hoje vivem 07 famílias, perfazendo o total de

42 pessoas. Tem 03 jovens entre 15 e 20 anos e 13 jovens de 0 à 15 anos.

Ocupam uma área de 06 alqueires, mas o espaço de exploração é menor

devido a área de reserva às margens do córrego Birigui ao fundo da

propriedade.

De acordo com o senhor José Maria dos Santos, filho do patriarca

Manoel Ciriaco dos Santos, o senhor Manoel chegou à localidade de

Maracaju dos Gaúchos no de 1964, vindo do estado de Minas Gerais, da

localidade de Santo Antonio do Itambé do Cerro, hoje Itambé do Cerro

(norte de MG).

Seus antepassados trabalharam na mineração, nos engenhos de

açúcar. O senhor Manoel Ciriaco dos Santos trabalhou nas lavouras cafeeira,

desse trabalho é que acumulou o capital para comprar a propriedade. Ele

veio com a família que era composta por 08 filhos, ao chegar aqui comprou

1

15 alqueires de terras férteis e plana, ótima para o desenvolvimento da

agricultura.

A comunidade de Maracaju dos Gaúchos é formada por

descendentes de italianos, por isso a convivência não foi fácil, eles eram

impedidos de comprar os alimentos básicos nas vendas (nome dado aos

pontos de comércio da época), freqüentar a igreja e as festas da

comunidade. Devido a estes constantes constrangimentos (discriminação)

fechou-se, permaneceu desconhecida para os moradores da cidade e pelo

município por um longo período de 1964 a 2007.

As mudanças nas formas de manejo do solo, ou seja, o processo de

mecanização e a entrada do biênio soja – trigo contribuiu para que 40

pessoas deixassem a propriedade em busca de novas oportunidades de

trabalho. Com problemas financeiros e falta de mão-de-obra, o senhor

Manoel vendeu parte da propriedade, ou seja, 09 alqueires e sobraram 06

alqueires e passou a cultivar produtos de subsistência. Com a morte do

senhor Manoel os filhos pensaram em vender e fazer a partilha, mas ficam

sabendo da Lei 10.639/03, procuram então ajuda da administração pública.

Em 2007, o grupo foi reconhecido como remanescente de

quilombo. Passou a denominar comunidade quilombola Manoel Ciriaco dos

Santos em homenagem ao senhor Manoel, “o patriarca do grupo”. A

comunidade luta para preservar suas tradições, com algumas dificuldades

que muitas vezes os distanciam dos costumes passados de gerações a

gerações. A comunidade mantém viva as crenças e hábitos como: o

candomblé, as festas juninas, as rodas de ladainha e capoeira, as danças,

os remédios caseiros e a produção artesanal da farinha de mandioca.

Após o reconhecimento, a comunidade organizou-se num modelo

cooperativista, onde tudo passou a ser coletivo. A produção é diversificada

(feijão, mandioca e hortifrutigranjeiros) usam para a subsistência do grupo e

os excedentes vendem nos supermercados da cidade de Guaíra.

No dia 11/05/2007 a comunidade quilombola recebeu 230 livros do

programa Arca das Letras para montar a biblioteca, os livros são de

literatura e didáticos. Em abril de 2008 foi montado o Telecentro Rural que

significa portas de acesso gratuito à internet. São 06 computadores

1

interligados em rede através do programa Gesac (Governo eletrônico –

Serviço de atendimento ao cidadão), do ministério das comunicações

(unidade de inclusão digital ou telecentro). “O programa é avaliado em 70

mil reais, em parceria: ministério das telecomunicações, Banco do Brasil,

Eletrosul, Eletrobrás, governo do estado e prefeitura municipal.” (relato oral,

do senhor José Maria dos Santos, o mais velho da comunidade em

07/07/2008)

Saiba que...

A ideologia do branqueamento ocorreu em 1818 com a vinda de

colonos alemães para o nordeste e Rio de Janeiro, mas fracassou e em

1824 a idéia é retomada e desta vez para região sul.

Henrique Jorge Rabelo em 1830 escreveu um texto que dizia: “os

negos infelizes habitantes D’África atrapalham e impedem o progresso do

país”.

O Decreto n° 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que

nas escolas públicas do país não fossem admitidos escravos.

O Decreto n° 7.031, de 06 de setembro de 1878, estabelecia que

os negros só podiam estudar no período noturno.

O Projeto de Lei n°209, de 1921, proibiu a entrada de imigrantes

negros no país. (Deliberação do Conselho Estadual de Educação, n° 04/06)

Os relatores: Romeu Gomes de Miranda, Marilia Pinheiro Machado de

Souza, Lygia Lumira Pupatto, Domenico Costella e Maria Tarcisa Silva

Bega.

Escravidão no Brasil

A escravização dos negros no Brasil tem sua origem histórica na

expansão européia que ocorreu nos séculos XV e XVI, mais conhecida como

corrida marítima comercial. Esta fase mercantilista do capital na busca por

riquezas e conquistas territoriais foi acirrada entre as potências européias

da época para expandir seus domínios sobre a Ásia e África e América.

A escravidão foi uma prática usual na antiguidade com o Império

Romano e nos tempos modernos (Idade Média) com Portugal. Durante o

século XVI, o tráfico negreiro foi quase um monopólio português, depois

1

holandês e inglês. Na época dos descobrimentos, a península Ibérica fazia o

uso da mão-de-obra escrava dos mouros e negros nas lidas agrícolas, no

artesanato e no trabalho doméstico. De acordo com Morais (2000), a

escravidão dos negros na Europa não se converteu numa instituição

importante devido a abundância de mão-de-obra e o africano era uma

mercadoria que tinha sido comprada, e cujo valor só se realizaria com a

venda após o desembarque.

Descoberta e garantida à nova terra (Brasil) em 1500, Portugal

iniciou a exploração do pau-brasil como atividade econômica. Só em 1532

instalou o povoado de São Vicente, hoje o atual estado de São Paulo, onde

plantou cana-de-açúcar e esta desenvolveu com sucesso. Observando o

potencial econômico, Portugal resolveu expandir para outros lugares do

território, para isto dividiu o espaço colonial em sistemas de capitanias

hereditárias.

Os índios foram os primeiros a trabalhar no sistema escravocrata,

mas, a partir de 1552, a mão-de-obra foi importada do continente africano

para trabalhar nas plantações de cana –de- açúcar, cacau e fumo, no

nordeste do Brasil. Os negros eram da etnia ioruba, retirada da Guiné e da

Nigéria – noroeste da África. A etnia banta retirados do centro-sul da África

no século XVIII trabalhou na mineração nos estados de Minas Gerais, Goiás

e Mato Grosso, no século XIX, trabalharam nas plantações de café do Rio de

Janeiro e São Paulo e nas charqueadas do Rio Grande do Sul.

A escravidão no Brasil consolidou-se como uma experiência de

longa duração a marcar diversos aspectos da cultura e da sociedade

brasileira. Sob o aspecto econômico, o tráfico de escravo foi um grande

negócio para a coroa portuguesa. Com a escravidão, o trabalho tornou-ser

uma atividade inferior dentro da sociedade da época, ficou assim

estabelecido que o trabalho braçal fosse destinado ao negro.

Em seu livro história econômica do Brasil, Caio Prado Júnior

destaca alguns fatos que contribuíram para o fim da escravidão no Brasil,

sendo eles: a falta de mão-de-obra para a cultura do café que estava em

expansão; a vinda dos imigrantes europeus; a formalização do trabalho

assalariado; o início da indústria manufatureira no país; a posição

1

internacional do Brasil em relação aos Estados Unidos e a Guerra do

Paraguai. Júnior (1986)

Os negros aceitaram a escravização passivamente?

Várias formas de resistência contra a escravidão aconteceram. O

conflito direto, as fugas e a formação de quilombos eram as mais

significativas formas de resistência. Mesmo a escravidão sendo uma prática

usual preservaram algumas manifestações religiosas, certos traços da

culinária africana, a capoeira, o suicídio e o aborto entre outras na luta

contra a escravidão.

A desterritorialização dos negros na África

No continente africano, a escravidão era uma instituição antiga e

muito difundida. A escravização acontecia nas guerras tribais e por dívidas

não pagas, mas difere-se da do Novo Mundo em muitos aspectos entre eles

o fato de não orientar-se para o acúmulo de capital. Foram essas condições

que possibilitaram os europeus a resolver os problemas laborais na

América.

O continente africano era divido em reinos, o mais famoso foi o

reino de Gana. Com o início do tráfico, é que a captura de nativos passa a

ser o expediente econômico de alguns reinos africanos. Durante o século

XVII, a vida política, social e econômica da África Ocidental foi organizada

com a finalidade de obter uma corrente constante de escravos para os

barcos ancorados na costa. Os negros eram recrutados entre as nações de

mais baixo nível cultural do continente negro.

Do continente africano vieram os melhores ferreiros, os melhores

ouríveres, melhores agricultores e a tecnologia dos engenhos. A saída de

grande contingente populacional interrompeu um marco civilizatório dentro

do continente, por isso a luta pela emancipação dos negros, que se inicia no

próprio continente africano, com Nelson Mandela e outros.

No Brasil, as políticas de reparação ganham força por pressão do

Movimento Negro, que colocou na Constituição Federal de 1988 o Art. 5º, I,

Art. 210, Art. 206, I, § 1° do Art. 242, Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art.

26, 26ª e 79 B na Lei 9.394/96 regulamentada pela Lei 10.639/2003 que

garante e assegura igual direito às histórias e culturas que compõem a

1

nação brasileira. Mas, segundo os relatores da deliberação do conselho

estadual de educação do Paraná, o resgate da identidade dos afro-

brasileiros e negros descendentes exigem uma organização e mobilização

da sociedade brasileira num todo para que a lei seja aplicada.

“Tudo que o negro deseja é ser tratado como um cidadão comum”

(Milton Santos) segundo Vanda Machado em 04/09/2007.

CONHEÇA MAIS....

O povo brasileiro

Surgimos da confluência, do

entrechoque e do caldeamento do invasor

português com índios silvícolas e

campineiros e com negros africanos, uns

e outros aliciados como escravos.

Nessa confluência, que se dá sob a

regência dos portugueses, matrizes

raciais dispares, tradições culturais

distintas, formações sociais defasadas se

enfrentam e se fundem para dar lugar a

um novo povo (Ribeiro, 1970), num novo

modelo de estruturação societária. Novo

porque surge como uma etnia nacional,

diferenciada de suas matrizes

formadoras, fortemente mestiçada,

dinamizada por uma cultura sincrética e

singularizada pela redefinição de traços

culturais dela oriundos. Também novo

porque se vê a si mesmo e é visto como

uma gente nova, um novo gênero

humano diferente de quantos exista. Povo

novo, porque é um novo modelo de

estruturação societária, que inaugura

uma forma singular de organização

socioeconômica, fundada num tipo

renovado de escravismo e numa

escravidão continuada ao mercado

mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil

alegria e espantosa vontade de felicidade,

num povo tão sacrificado, que alenta e

comove a todos os brasileiros. [...]

Essa unidade étnica básica não

significa, porém, nenhuma uniformidade,

mesmo porque atuaram sobre ela três

forças diversificadoras. A ecológica,

fazendo surgir paisagens humanas

distintas onde as condições do meio

ambiente obrigaram a adaptações

regionais. A econômica, criando formas

diferenciadas de produção, que

conduziram a especializações funcionais e

aos seus correspondentes gêneros de

vida. E, por último, a imigração, que

introduziu, nesse magma, novos

contingentes humanos, principalmente

europeus, árabes e japoneses. Mas já o

encontrando formado e capaz de absorvê-

los e abrasileirá-los, apenas estrangeirou

alguns brasileiros ao gerar diferenciações

nas áreas ou nos extratos sociais onde os

imigrantes mais se concentram.

RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro. A

formação e o sentido do Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras, 1995. p. 9-21.

Darcy Ribeiro foi antropólogo, professor

universitário, ministro do governo João Goulart,

vice-governador do Rio de Janeiro e senador por

esse estado. Publicou diversos livros sobre

antropologia, mundialmente reconhecidos.

1

Atividades

1- Tendo como base a leitura do texto, reúna em grupos e façam um debate

sobre a importância dos negros para a formação da sociedade brasileira.

2- Pesquise em livros, jornais, revistas ou internet hábitos e costumes dos

negros que incorporamos para o nosso dia-a-dia.

3- Segundo os dados do IBGE a composição da população brasileira por cor

ou raça vem alterando. Destaque os fatores que tem contribuído para essas

mudanças:

4- Falamos em escravidão e escravização. A Lei Áurea de 13/05/1888, pois

fim a escravidão institucionalizada. Agora “livres” somos explorados.

Exemplifique:

Atividade de campo

Visitar uma comunidade quilombola

Orientações:

Conversar com a direção, equipe pedagógica e professores e expor o

trabalho.

Roteiro para o trabalho de campo com os alunos:

▬ Entrar em contato com o líder da comunidade quilombola de Guaíra (PR)

e

agendar a data da visita.

▬ Meio de transporte (custo)

▬ Autorização dos pais ou responsável pelo aluno.

▬ A visita ficou agendada para o dia 06/03/2009.

▬ A saída será do Colégio Estadual Mendes Gonçalves as 14h00e o retorno

às 17h00

Plano de trabalho:

1º trabalho em sala de aula: pesquisar e fazer um debate sobre: Quilombo,

quilombola, origem dos quilombos, identidade, afro-descendente, etc.

Assistir a fragmentos de filmes e reportagens da TV escola sobre o povo

negro.

2º atividade de campo. Dividir a turma em 5 grupos e distribui o trabalho da

seguinte forma:

1

GRUPO 1 – Conhecer a história da comunidade quilombola de Guaíra (PR),

como? Conversando com o mais velho da comunidade e indagando:

1. Qual é o seu Nome?

2. A quanto tempo mora (vive) na comunidade?

3. Quando vieram para este lugar? Quais os motivos que trouxeram vocês

para cá?

4. De que ou de qual município (s) vocês saíram para vir para este lugar?

5. Conte pra gente como era este espaço ( o que vocês encontraram )

quando chegaram aqui?

6. Como é o nome da comunidade? A escolha desse nome representa o que

na comunidade? ( ou o porquê escolheram este?)

7. No começo (início) quantas pessoas moravam na comunidade e hoje

quantos são e por quê?

8. Quem teve a idéia e como vocês resolveram identificar como

remanescentes de quilombo e quais os benefícios que esse

reconhecimento trouxe e vem trazendo para a comunidade?

9. Tem pessoas negras que moram em outras localidades do Município de

Guaíra? E na cidade em que bairro?

GRUPO 2 - Caracterizar o espaço ocupado pela comunidade (observando,

descrevendo e fotografando) As habitações, os animais, os produtos

agrícolas, etc.

1. Qual é o tamanho da propriedade (extensão territorial) da comunidade?

2. Faça um croqui representando a área e coloque os limites com o auxílio

de um quilombola.

GRUPO 3 – O uso do solo

1. Como vocês preparam a terra para o plantio? (usam máquinas,

fertilizantes, inseticidas e herbicidas).

2. Quais os produtos agrícolas que vocês cultivam?

3. Estamos em Março, o que tem plantado? Mostre – nos.

4. Tem horta, açude? O que cultivam?

5. De que forma vocês trabalham na comunidade, individual ou em grupo,

é boa essa forma de trabalho, por quê?

1

6. Tem um técnico agrícola que orientam vocês quanto ao uso do solo,

como é o nome dele?

GRUPO 4 – Pesquisar os costumes que a comunidade tem como herança de

seus antepassados e se estão resgatando (buscando conhecer) após o

reconhecimento.

▬ Culinária (alimentação)

___________________________________________________________________

▬ Vestuário (roupas, indumentária) na forma de vestir.

___________________________________________________________________

▬ Penteados (cabelos)

___________________________________________________________________

▬ Medicamentos (remédios caseiros). Cite os produtos da horta medicinal e

suas utilidades.

___________________________________________________________________

GRUPO 5 - As condições sociais da comunidade

▬ Saúde. Onde são feitos os tratamentos preventivos como vacinas,

tratamento dentário, e outros?

▬ Moradia. Podemos entrar e olhar uma casa?

▬ Educação. Onde vocês estudam? Todas as crianças da comunidade estão

na escola? Quantos têm o ensino médio completo? Vocês têm

laboratório, biblioteca e como funciona?

▬ Lazer. Quais são as atividades de lazer aqui na comunidade?

▬ Renda. A renda é individual ou comunitária? De onde vem a renda para a

sobrevivência da comunidade?

Voltando a sala de aula

Cada grupo reunir e redigir o texto sobre o tema pesquisado;

Explicar para todos os resultados da pesquisa;

Analisar com os alunos os conceitos de tempo, espaço, lugar, identidade e

território expresso na pesquisa realizada;

Expor em forma de painel na escola para que os outros alunos tomem

conhecimento do trabalho realizado.

1

Avaliação:

Observar a postura dos alunos durante a visita e posicionamento frente ao

entrevistado; verificar se todos os passos determinados foram cumpridos;

clareza nos textos produzidos.

Indicações de leituras, filmes e sítios

Leitura: CARRASCO, Walcyr. Irmão negro. 12. Ed. São Paulo: Moderna,

1995 (coleção veredas).

Filme: A NEGAÇÃO DO BRASIL- Direção: Joel Zito Araujo. O documentário

é uma viagem na história da telenovela no Brasil e particularmente uma

análise do papel nelas atribuído aos atores negros, que sempre

representam personagens mais estereotipados e negativos. Baseado em

suas memórias e em fortes evidencias de pesquisas, o diretor aponta as

influencias das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-

brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas

imagens televisivas do país.

VISTA A MINHA PELE- Direção: Joel Zito Araujo. Curta- metragem que

aborda as discriminações raciais, cotidianas, na vida de adolescentes.

SÍTIOS:

http://www.portalafro.com.br

http://www.mundonegro.com.br

http://[email protected]

Referências

CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço, um conceito chave da geografia. IN:

Corrêa, Roberto e Castro, i. (org.). Geografia: conceitos e temas. RJ:

Bertrand Brasil, 1995. p. 1-47.

DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.

Curitiba: Secretaria de estado da educação do Paraná, 2006.

1

GOMES, Paulo César. O conceito de região e sua discussão. IN: Corrêa,

Roberto e Castro, i: (org.). Geografia: conceitos e temas. RJ: Bertrand

Brasil, 1995. p. 49-75.

GUATTARI, Félix. Espaço e debates, Nº 10, 1985, p. 109-121.

JUNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. IN: A Decadência do

Trabalho Servil e Sua Abolição. Ed. Brasiliense, 1986, p. 172 – 182.

LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve em primeiro lugar, para fazer a

guerra. Campinas-SP: Papiros, 2005.

MORAES, Antonio Carlos Roberto. Bases da Formação Territorial do Brasil. IN:

Trabalho Compulsório e Organização Social das Colônias. Ed. Hucitec,

2000, p. 236 – 263.

MOREIRA, Ruy. Da rede à região e ao lugar, Ciência Geográfica, N. 6,

1997, p. 1- 11

RUA, João; TANNURI, Maria Regina Petrus; WASZKIAVICUS, Fernando

Antonio; NETO, Helion Póvoa. Para ensinar Geografia. Petrópolis-RJ:

Vozes LTDA. 1993.

SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e concepções do território. São

Paulo: Expressão popular, 2007.

TOMAZINHO, Paulo Alberto. O Processo de Ocupação do Sul de Mato

Grosso e Noroeste do Paraná: a economia ervateira e a Companhia Mate

Laranjeira S/A. Umuarama, Fundação Universidade Estadual de Londrina e

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Umuarama, 1981. (monografia-

mimeo).

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