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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Maria Izabel Costa Monte Alegre Toro Um estudo de rede social como um caminho de participação cidadã: a experiência da Rede Social Campo Grande – São Paulo 2004-2008 MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria Izabel Costa Monte Alegre Toro

Um estudo de rede social como um caminho de

participação cidadã: a experiência da Rede Social Campo

Grande – São Paulo 2004-2008

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC -SP

Maria Izabel Costa Monte Alegre Toro

Um estudo de rede social como um caminho de

participação cidadã: a experiência da Rede Social Campo

Grande – São Paulo 2004-2008

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob a orientação da Professora Doutora Maria Lucia Carvalho da Silva

SÃO PAULO

2009

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Banca Examinadora

____________________________________

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Agradecimentos

À Deus em primeiro lugar, que me deu a oportunidade de experimentar as delícias e as durezas da vida. À minha amada mãe, que sempre me mostrou que as mais profundas alegrias vêm da alma. Ao meu pai, por me apresentar ao Serviço Social e me incentivar sempre e de tantas formas. Aos meus familiares e amigos, que de alguma forma perceberam minha ausência e compreenderam a importância desse Mestrado para mim. Em especial ao Paulo, meu irmão e amigo, pelo apoio técnico. Ao Senac - SP, por me mostrar o caminho das redes. Aos participantes da Rede Social Campo Grande, que me propiciaram a importante vivência de rede e se tornaram hoje, meus amigos. Aos sujeitos de pesquisa da Rede Social Campo Grande e do Senac - SP, que contribuíram com suas vozes, essenciais para o desenvolvimento desta dissertação. À CAPES, pelo apoio financeiro, através da bolsa. Especialmente, à minha queridíssima orientadora, Professora Doutora Maria Lúcia Carvalho da Silva, que me recebeu em seu lar e disponibilizou seu tempo e atenção de forma incrivelmente competente, sempre com rigidez e carinho. A todos, agradeço de coração.

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RESUMO

O tema da presente dissertação foi analisar a formação de redes estratégicas

no contexto da globalização contemporânea, bem como suas implicações sociais

tecnológicas e econômicas. O estudo focalizou as redes sociais tendo como objeto o

processo participativo na Rede Social Campo Grande - SP, uma iniciativa fomentada

pelo Senac São Paulo e analisada no período de 2004 a 2008. O objetivo geral

procurou compreender e analisar a trajetória desta rede nos quatro anos de sua

atuação na zona sul de São Paulo, na perspectiva de um caminho estimulador do

processo de participação cidadã. Os referenciais conceituais adotados foram:

globalização, redes sociais e participação cidadã, fundamentados em autores

nacionais e estrangeiros, principalmente das Ciências Sociais. Os procedimentos

metodológicos utilizados neste estudo foram: reflexão e pesquisa bibliográfica sobre

a temática das redes sociais e da participação cidadã; pesquisa documental sobre o

Senac –SP e Rede Social Campo Grande – SP; pesquisa de campo, que incluiu a

construção de critérios e definição de nove sujeitos com os quais se realizou

entrevistas semi estruturadas, bem como observação participante da pesquisadora

nas reuniões da Rede em questão; transcrição e organização dos dados coletados a

partir do eixo central da participação cidadã. A pesquisa mostrou que a Rede Social

Campo Grande vêm lutando e conquistando a participação cidadã pelos seus

sujeitos, representantes de ONGs, Poder Público Municipal e moradores locais,

destacando-se a formação de vínculos sociais e atuação coletiva em projetos e

ações conjuntas que ampliam o processo participativo, e apresentando também

limites quanto a compreensão de participação cidadã enquanto direito social.

Palavras - chave: Globalização, Redes sociais e Participação cidadã

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ABSTRACT

The theme of this dissertation is analysis of the formation of strategic networks in the

context of contemporary globalization and the resulting social, economic and

technological impacts. The study focused on social networks and the object was the

participatory process in Social Network Campo Grande - SP, an initiative promoted

by Senac São Paulo and analyzed in the period of 2004 through 2008. The general

goal was to understand and analyze the trajectory of the network in the four years of

its operations in the south of São Paulo, in relation to stimulation of citizen

participation. The conceptual frameworks were: globalization, social networks and

citizen participation, based on national and foreign authors, especially from the social

sciences. The methodological procedures used in this study were: reflection and

research literature on the topic of social networks and citizen participation;

documentary research about Senac-SP and Social Network Campo Grande – SP,

field research which included researcher participation in network meetings as well as

the development of criteria and definitions for nine participants to use in conducting

semi-structured interviews and transcription and organization of data collected on the

central question of citizen participation. The research demonstrated that the Social

Network Campo Grande struggles to integrate citizen participation through,

representatives of NGOs, municipal authorities and local residents, especially

through the formation of social ties and collective action in joint projects and actions

that expand the participatory process, and also presenting an understanding of limits

on citizen participation as a social right.

Key words : Globalization, Social Networks and Citizen Participation

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Sumário

Introdução, 9

I Considerações sobre a formação de redes no contexto da globalização

contemporânea

1. Uma aproximação histórica à globalização, 14

1.1 Implicações econômicas, sociais e tecnológicas, 20

1.2 Relações entre o global e o local, 24

2. Gênese de redes na globalização

2.1 Transformações organizacionais e a constituição das

primeiras redes empresarias, 27

II Redes Sociais na globalização: construção coletiva de participação cidadã

1. Abordagens conceituais de redes sociais, 31

2. Reflexões sobre participação cidadã, 39

III Caracterização do Senac SP e o Programa Redes Sociais

1. Breve histórico dos campos de atuação do Senac SP, 48

2. Programa Redes Sociais, 53

IV Rede Social Campo Grande e o processo de participação cidadã

1. Antecedentes da criação da Rede Social Campo Grande e seu

processo organizativo, 59

2. Rede Social Campo Grande: vozes e significações de participação

cidadã, 63

Considerações Finais, 84

Referências Bibliográficas, 87

Anexos, 93

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“Cumpre teu dever com alegria Orgulha-te da força que o bem traz Serve a Deus e a teu próximo auxilia Terás no fim sereno do teu dia A fronte altiva e o coração em paz” Celuta Costa

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Introdução

O tema desta dissertação são as redes sociais e o processo participativo que

lhe é intrínseco, bem como as significações desta forma de atuação para os sujeitos

componentes da rede analisada.

As diversas possibilidades de atuação em rede tem sido tema recorrente na

discussão contemporânea acerca das relações sociais e de trabalho.

O Serviço Social já atua com a estratégia do trabalho em rede na Política

Nacional de Saúde através do SUS – Sistema Único de Saúde e na Política

Nacional de Assistência Social, através do SUAS – Sistema Único de Assistência

Social, no contexto dos processos de descentralização e territorialização.

Do mesmo modo, o Serviço Social também atua nas mais diversas redes da

sociedade civil, isto é, de ONGs, movimentos sociais, comunidades e outras.

Trata-se, portanto de um tema atual e de grande relevância para o Serviço

Social, uma vez que a articulação de redes sociais de apoio e de serviços pode

fortalecer a participação cidadã dos sujeitos envolvidos, desenvolvendo sua

autonomia e sua ação coletiva.

Enquanto Assistente Social, atuei como mediadora de redes sociais no Senac

São Paulo de 2004 até início de 2009. Mediei algumas redes, dentre elas a Rede

Social Campo Grande – SP e seu processo participativo, objeto deste estudo.

Como mediadora desta rede, pude vivenciar a “atitude participante” ao longo

dos anos, caracterizada por Chizzotti como “uma partilha completa, duradoura e

intensiva da vida e da atividade dos participantes, identificando-se com eles, como

igual entre pares, vivenciando todos os aspectos possíveis da sua vida, das suas

ações e dos seus significados”. (CHIZZOTTI, 2003:90)

A necessidade de buscar maior fundamentação teórica para analisar as

experiências vivenciadas, levou-me ao Programa de Estudos Pós Graduados em

Serviço Social na PUC-SP.

Esta dissertação de mestrado traz o desafio de identificar na atuação da Rede

Social Campo Grande os elementos de construção da participação cidadã.

Buscamos assim desenvolver referências conceituais sobre redes sociais no

processo de globalização contemporânea e a sua contribuição para a efetivação da

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participação cidadã, na perspectiva de construção de uma sociedade mais

participativa.

Neste sentido, a montagem desta pesquisa se inicia com a formulação da

pergunta norteadora de todo o estudo, a saber: Como a atuação em rede, mais

especificamente, na Rede Social Campo Grande - SP, pode contribuir para o

desenvolvimento da participação cidadã pelos sujeitos envolvidos?

Em decorrência desta indagação geral, definiu-se a seguinte hipótese: A

Rede Social Campo Grande - SP, ao longo de sua trajetória, vêm lutando e

conquistando uma participação cidadã de seus sujeitos, construindo vínculos locais

com órgãos municipais, com algumas empresas e com organizações da sociedade

civil, se constituindo sujeitos coletivos em movimento, embora necessite de maior

expansão de conexões globais e locais e maior aprofundamento do processo

participativo.

O objeto da pesquisa constitui-se assim, no processo participativo na Rede

Social Campo Grande - SP, que iniciou suas atividades através de uma proposta do

Senac - SP em junho de 2004. Nesta trajetória são focadas sua criação, organização

e ações na direção da construção coletiva de participação cidadã.

O objetivo geral é compreender e analisar a trajetória da Rede Social Campo

Grande nos quatro anos e meio de atuação na região sul de São Paulo e como

nesse processo os sujeitos coletivos e individuais em movimento vivenciam o

processo de participação cidadã.

Os objetivos específicos desse estudo são:

- Analisar o processo de globalização contemporânea e a formação de redes

nesse contexto

- Analisar conceitos de redes e participação na sociedade atual

- Conhecer a analisar a trajetória da Rede Social Campo Grande desde 2004

até 2008

- Conhecer e interpretar os significados atribuídos pelos membros da rede

sobre os conceitos de rede social e participação cidadã, bem como os significados e

significações de fazer parte deste processo

Para a construção de referenciais teóricos, focalizamos os conceitos de

globalização, redes e participação cidadã. Para o estudo dos conceitos adotamos

principalmente Boaventura Souza Santos, Octavio Ianni, Elenaldo Teixeira, Manuel

Castells, Lia Sanicola e Ilse Scherer Warren.

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Para esse estudo, os procedimentos metodológicos abrangeram quatro

momentos.

O primeiro momento refere-se ao levantamento bibliográfico, revisão da

produção acadêmica do Serviço Social e das Ciências Sociais da PUC - SP;

pesquisa eletrônica sobre redes em sites abertos e pesquisa eletrônica na intranet

do Senac – SP, tendo em vista conhecer os estudos já realizados e suas principais

referências teóricas.

O segundo momento diz respeito a pesquisa documental dos relatórios

relativos à formação, estrutura e campos de ação do Senac – SP, bem como

relatórios das reuniões da Rede Social Campo Grande - SP.

A pesquisa documental compreendeu também entrevistas presenciais com a

gerência social desta instituição. Foram entrevistados Cláudio Silva, Gerente de

Desenvolvimento do Senac - SP e Cecília Tavares, Técnica de Desenvolvimento da

área de Desenvolvimento Social do Senac - SP.

O terceiro momento contempla a pesquisa de campo, que incluiu os seguintes

passos:

- Construção de critérios para escolha dos sujeitos significativos da pesquisa,

a partir do universo de aproximadamente trinta organizações sociais participantes da

rede: tempo de atuação na rede; representação do gênero feminino e masculino e

membros com mais intensa participação.

Considerados esses critérios, foram selecionados nove sujeitos a serem

entrevistados. Esses sujeitos são:

- Heloísa, assistente social da Secretaria Municipal de

Desenvolvimento Social - Macro Sul /Santo Amaro da Prefeitura de São

Paulo e atuante no Projeto MOTUCA da Rede Social Campo Grande - SP;

- Cristina, representante da ONG Centro Social Esperança e atuante no

Projeto ESPORTES da Rede Social Campo Grande - SP;

- Márcia, representante da ONG Mamae e atuante no Projeto OFICINAS e Dia

da Responsabilidade Social da Rede Social Campo Grande - SP;

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- Eloísa, representante da ONG Grão de Mostarda e atuante no Projeto

OFICINAS da Rede Social Campo Grande - SP;

- Albino representante da ONG ABRACE e atuante no Projeto MOTUCA da

Rede Social Campo Grande - SP;

- Sônia, representante da ONG ASES e atuante no Projeto ReCiclo da Rede

Social Campo Grande - SP;

- Junzo Habiro, representante do Santo Amaro Nikkey Esporte Clube e

atuante no Projeto ESPORTES da Rede Social Campo Grande - SP;

- Gerson Bonilha, professor de gastronomia do Centro Universitário Senac e

atuante no Projeto OFICINAS da Rede Social Campo Grande - SP;

- Rafael, aluno do Centro Universitário Senac e atuante no Projeto OFICINAS

da Rede Social Campo Grande - SP.

Todos os sujeitos selecionados foram consultados sobre seu consentimento

em participar desta pesquisa, bem como autorizaram a divulgação de seus nomes

neste estudo;

Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semi estruturadas

gravadas e transcritas, sendo parte delas presenciais e outra parte, via telefone.

A participação da pesquisadora em reuniões mensais sistemáticas durante os

quatro anos de atividade da Rede Social Campo Grande - SP, através de

observação participante e olhar atento às nuances que precisavam ser anotadas,

além do uso de um caderno de campo e de registros eletrônicos das observações

efetuadas.

Os projetos pesquisados, por sua vez, foram escolhidos com base na sua

maior proximidade com o tema de estudo, que é a participação cidadã. Eles foram

analisados em dois blocos.

O primeiro bloco trata de projetos desenvolvidos autonomamente pela rede,

que são o projeto Reciclo, o MOTUCA e o Projeto de Esportes.

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O segundo bloco diz respeito a projetos sugeridos pelo Senac, no qual serão

analisados os projetos de Desenvolvimento Local, o Dia da Responsabilidade Social

e o Projeto Oficinas.

O quarto momento diz respeito a transcrição e organização dos dados para a

construção da análise. A partir do eixo central da participação cidadã, foram

construídos três focos analíticos: O entendimento pelos sujeitos sobre o que são as

redes; o crescimento da participação dos sujeitos no processo de vivência em rede;

e os resultados atingidos através dos projetos da rede pelo seu caráter participativo

e os projetos da Rede Social Campo Grande – SP, que serão analisados nos dois

blocos já mencionados.

A dissertação está estruturada em quatro capítulos que se inter relacionam.

No capítulo I - Considerações sobre a formação de redes no contexto da

globalização, analisa-se o contexto geral da globalização, com enfoque na

globalização contemporânea, e como as implicações tecnológicas, econômicas e

sociais provenientes deste processo refletem na formação das redes na atualidade.

No capítulo II - Redes Sociais na globalização: Construção coletiva de

participação cidadã, contextualiza-se os significados e conceitos de redes, em

especial redes sociais e conceitos de participação e cidadania.

No capítulo III - Caracterização do Senac SP e o Programa Redes Sociais,

descreve-se o histórico do Senac e como surge o Programa Redes Sociais nesta

instituição, em um momento de globalização contemporânea no qual as redes

tornam-se padrão de organização.

No capítulo IV - Rede Social Campo Grande - SP e o processo de

participação cidadã, analisa-se a trajetória da Rede Social Campo Grande - SP no

período de 2004 a 2008, evidenciando os principais significados da participação

cidadã nesse espaço de atuação coletiva.

Nas Considerações Finais são realizadas reflexões sobre as questões que

permearam este estudo, bem como sobre outras questões a serem pesquisadas

para o aprofundamento do tema abordado.

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I Considerações sobre a formação de redes no contexto da globalização

1. Aproximação histórica à globalização

São freqüentes os estudos sobre o tema da globalização devido a

complexidade e abrangência dos fenômenos que fazem parte deste processo.

A globalização pode ser entendida de diversas formas, entretanto, é

importante ressaltar que se trata de um fenômeno multifacetado, que impacta em

diversas dimensões, por isso seu entendimento deve ser multicausal.

Apesar de este ser um tema recorrente, é preciso uma abordagem conceitual

sobre o assunto uma vez que é o cenário de relações e desenvolvimento entre os

Estados, os mercados e as sociedades como um todo.

Embora as conceituações sobre a globalização venham quase sempre

acompanhadas de uma ideologia mercadocêntrica, a globalização não é um

fenômeno exclusivamente econômico, mas trata-se de um fenômeno de uma

mudança global na sociedade.

Ianni (1996) entende a globalização como um processo histórico-social de

vastas proporções, que redesenha o mapa do mundo, inaugurando outros processos,

estruturas e formas, um momento no qual os conceitos ganham novos significados,

os territórios mesclam-se e tencionam-se em outras direções e as pessoas e idéias

desterritorializam-se. Para o autor, está em curso a gênese de uma nova totalidade

histórico-social, um novo ciclo da história que ele chama de globalismo e que

representa uma nova lógica. Ianni afirma que “o globalismo compreende relações,

processos e estruturas de dominação e apropriação desenvolvendo-se em escala

mundial (...) todas as realidades sociais, passam a ser influenciadas pelos

movimentos e pelas configurações do globalismo; e a influenciá-lo. São articulações,

integrações, tensões e contradições, envolvendo uns e outros, organizações e

instituições”.

Para Boaventura (2005), trata-se de diversos processos de globalização, ou

seja, é um processo cheio de pluralidades e contraditoriedades, uma situação de

profundos desequilíbrios e que pode, ou não, conduzir a um novo sistema mundial.

Alguns autores defendem que a globalização é um fenômeno muito antigo,

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Tilly (1995), por exemplo, distingue quatro ondas de globalização no passado, sendo

elas no século XIII, com a formação do Império Mongol que criou condições para

emergência do sistema de comércio mundial afro asiático, no século XVI, com a

expansão comercial e militar européia que liga o Oceano Indico ao Caribe por meio

de uma rede de trocas e dominação, no século XIX com o domínio europeu sobre

grande parte do mundo em o que ele chama de “impulso imperialista” e a atual

globalização que se inicia no final do século XX.

Magnólio (1997) também defende a mesma idéia, e afirma que “a

globalização não tem quatro ou cinco anos, mas quatrocentos ou quinhentos. A

geografia política do mundo no qual vivemos é fruto desse processo. A globalização

é o processo pelo qual o espaço mundial adquire unidade”.

O fato é que a globalização acompanha o capitalismo durante toda sua

trajetória, mas com diferentes características. Um primeiro movimento claro

acontece entre os séculos XV e XVI, com a transformação dos feudos em nações,

que expandiu a economia no sentido de estabelecimento de novas relações

comerciais.

A Revolução Industrial, iniciada em 1750 na Inglaterra, é também um

fenômeno global, mas que muda o curso do capitalismo ao desagregar o sistema

colonial e induzir o imperialismo. Alguns historiadores afirmam a existência de pelo

menos duas revoluções industriais, sendo que a primeira caracterizou-se pelas

novas tecnologias e máquinas, e a segunda pelo desenvolvimento da eletricidade.

Devido às novas tecnologias, a revolução industrial muda a localização das

riquezas e do poder no mundo, que ficaram com países e elites que podiam

comandar o novo sistema tecnológico.

A Revolução Industrial gerou desigualdades sociais e é neste contexto que

surgem movimentos contra hegemônicos de luta e resistência. Trabalhadores se

mobilizaram criando grupos organizados que atuavam em rede, chamados de

sindicatos. Surgem também pensadores como Karl Marx, Proudhon e Engels

disseminando idéias socialistas1 que se espalharam pela Europa e pelo mundo.

1 Com a revolução francesa em 1789, o modelo capitalista se afirma ideologicamente com base nos princípios do liberalismo (liberdade econômica, propriedade privada e igualdade perante a lei) e a grande massa da população proletária permanece excluída do cenário político. Nesse contexto, percebeu-se que a igualdade jurídica não significava igualdade social e política e surgem então as idéias socialistas. O socialismo é basicamente um sistema que propõe a extinção da propriedade privada ou particular dos meios de produção, onde a economia é controlada pelo Estado para promover uma justa distribuição das riquezas e a divisão de renda é igualitária.

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Todas essas idéias floresceram de modo a dar origem, em 1917, a Revolução

Socialista na Rússia, até então um país feudal e capitalista.

Porém, esse sistema não perdurou e as explicações para a não continuidade

do socialismo são diversas, mas o fato é que o capitalismo gozava de mais força

naquele momento histórico e acabou por superar o modelo socialista.

Quase trinta anos depois, em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, é

criada a Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de garantir a paz

mundial e a cooperação entre os países. Atualmente, das 192 nações existentes,

185 integram a ONU. A declaração dos direitos do homem e o respeito aos direitos

humanos e liberdades individuais são os principais objetivos da Carta da

Organização das Nações Unidas, assinada por todos os países membros.

Mesmo com a criação da ONU, a disputa ideológica entre Estados Unidos,

representando o capitalismo e a União Soviética, representando o socialismo,

continuou e deu origem a Guerra Fria em 1947. O conflito gerou insegurança no

mundo inteiro, uma vez que essas superpotências possuíam tecnologia suficiente

para iniciar uma guerra nuclear.

Segundo Octavio Ianni (1996), a Guerra Fria desenvolveu-se como uma

contra revolução mundial destruindo experimentos políticos nacionais em todo o

mundo e contando com a cumplicidade de beneficiários de alianças com o

imperialismo. Dessa forma, desestabilizaram-se governos, partidos políticos,

sindicatos e movimentos sociais.

No pós-guerra a Europa Ocidental ainda estava arrasada pelos conflitos e

diante disso, os Estados Unidos, via Nações Unidas, com receio do avanço

socialista, elaboraram um plano de ajuda econômica a esses países.

Tratava-se do Plano Marshall (1948), que permitia que os países da Europa

Ocidental importassem produtos norte americanos a um preço baixo, abria créditos

para países europeus comprarem equipamentos pesados dos Estados Unidos e

François-Noël Babeuf, inspirado por Jean-Jacques Rousseau, foi um dos precursores do socialismo utópico. Já o Frances François-Marie-Charles e o escocês Robert Owen não obtiveram sucesso em suas tentativas de criar comunidades socialistas. Em meados do século XIX, duas vertentes do socialismo, o marxismo e o anarquismo polarizavam discussões ideológicas. Em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels estabelecem bases cientificas para a transformação da sociedade através do Manifesto Comunista. Outros importantes autores socialistas foram Proudhon, que combateu o conceito de propriedade privada, Bakunin, que criticava o autoritarismo do pensamento marxista e Piotr Kropotkin, que apresentou o conceito de comunismo libertário, que aconteceria através da dissolução de instituições opressoras e da solidariedade. No Brasil, o primeiro partido socialista brasileiro foi fundado em 1902.

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forneciam empréstimos. Porém, esse apoio dos Estados Unidos visava manter o

sistema capitalista nos países da Europa Ocidental, garantir o mercado consumidor

de seus produtos e com isso, impedir a penetração do socialismo.

Com o término da Guerra Fria e a dissolução do bloco soviético, o

desenvolvimento do capitalismo se intensifica e se estende. (Ianni X:109)

Por volta de 1970, percebe-se uma outra crise do capitalismo e com isso

inicia-se um novo movimento de globalização contemporânea.

Neste período, a crise do Estado de Bem Estar Social2 se manifesta quando a

inflação sai do controle. A partir daí, governos e empresas buscaram um processo

de reestruturação, muitas vezes em detrimento da proteção social.

Essa crise do capitalismo foi detonada pela crise do petróleo e foi provocada

pelo embargo ao fornecimento de petróleo aos Estados Unidos e às potências

européias. O embargo foi estabelecido em 1973 pelas nações árabes, membros da

Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)3.

Somando-se a esse cenário os avanços tecnológicos e das comunicações,

deu-se o ambiente para a formação e a tomada de poder pelas facções neoliberais

das classes dominantes4. Essa crise gerou uma reestruturação drástica do sistema

capitalista global e induziu um novo modelo de acumulação.

A queda do Muro de Berlim em 1989 rompeu com o mais significativo símbolo

2 Enquanto o Brasil vivenciava a Revolução Liberal (1930) e mantinha uma fase sem grandes mudanças políticas por cerca de meio século, os Estados Unidos e Europa vivenciavam o modelo de Estado intervencionista e promotor do bem estar social. Esse modelo, chamado de Welfare State, se desenvolve pós Segunda Guerra Mundial, quando o modelo Keynesiano de crescimento capitalista levou prosperidade econômica e estabilidade social a muitas economias de mercado durante quase trinta anos. Durante os chamados “trinta gloriosos anos”, esse Estado de bem estar social representava agente regulamentador da promoção social, garantindo serviços públicos e proteção à população. De acordo com os princípios desta forma de organização política, todo o indivíduo teria o direito, desde seu nascimento até sua morte, a um conjunto de bens e serviços que deveriam ter seu fornecimento garantido seja diretamente através do Estado ou indiretamente, mediante seu poder de regulamentação sobre a sociedade civil. Esses direitos incluiriam a educação em todos os níveis, a assistência médica gratuita, o auxílio ao desempregado, a garantia de uma renda mínima e recursos adicionais para a criação dos filhos, dentre outros. 3 Essa medida foi tomada em represália ao apoio dos Estados Unidos e da Europa Ocidental à ocupação de territórios palestinos em Israel. Com o embargo, a Opep estabelece cotas de produção e quadruplicam os preços, medidas que provocaram uma desestabilização na economia mundial e recessão nos Estados Unidos e Europa. 4 O neoliberalismo, reação teórica e política contra o Estado intervencionista de bem estar, nasceu após a Segunda Guerra Mundial na Europa e na América do Norte, onde imperava o capitalismo. Friedrich Hayek foi o precursor deste estudo com seu texto “O caminho da servidão”, escrito em 1944, no qual Hayek ataca qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, que segundo ele seria uma ameaça letal à liberdade econômica e política. Para o autor, a democracia em si mesma, jamais havia sido um valor central do neoliberalismo, e a liberdade e a democracia podiam facilmente tornar-se incompatíveis, se a maioria democrática decidisse interferir com os direitos incondicionais de cada agente econômico de dispor de sua renda e de sua propriedade como quisesse.

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da Guerra Fria: a bipolaridade que separava não somente uma cidade e um povo,

mas dividia o mundo pelos sistemas capitalista e socialista. Com a queda do muro,

as condições políticas permitiram que ocorresse o atual processo da globalização

contemporânea neoliberal.

O novo modelo hegemônico neoliberal sucede o antigo modelo regulador de

bem estar social. O neoliberalismo que se propõe a reordenar o sistema capitalista,

ainda se mantém hegemônico devido a ausência de algum projeto alternativo que

dispute sua hegemonia, embora suscite grandes mobilizações contrarias, tais como

os Fóruns Sociais Mundiais, que analisaremos mais adiante.

Segundo Friedman (1999) “o mundo vagaroso, estável e fragmentado da

Guerra Fria, que dominara o cenário internacional desde 1945, foi substituído por um

novo e bem lubrificado sistema interconectado, chamado globalização”. Para ele “a

globalização é o sistema internacional que substituiu o sistema da Guerra Fria”, no

qual os Estados-nação detinham em suas mãos a quase totalidade da capacidade

ordenadora.

No final do século XX emerge uma revolução tecnológica, que segundo

Castells (1999), começa a remodelar a sociedade. A economia por sua vez, mantém

cada vez mais a interdependência global. Nesse período, o capitalismo passa por

um processo de reestruturação que traz também a descentralização das empresas e

sua organização em redes, que podem ser internas ou com outras empresas.

Em 1985 o Banco Mundial cria a expressão “mercados emergentes” como

estratégia para atrair investimentos para o que era chamado até então de “Terceiro

Mundo”. Isso indicava, segundo Castells (1999), uma nova era de integração

financeira em todo o planeta.

Em resumo, após a Segunda Guerra Mundial uma nova sociedade começou a

se desenvolver, mas somente no final dos anos 80 obteve recursos técnicos e

condições políticas para o pleno desenvolvimento.

Em todas as fases do capitalismo é possível se perceber movimentos globais.

Sendo que os avanços tecnológicos foram, sem dúvida, o grande salto da

globalização. Sem a nova tecnologia da informação, o capitalismo global teria sido

uma realidade muito limitada. Portanto, pode-se afirmar que o informacionalismo

está ligado à expansão e ao rejuvenescimento do capitalismo.

O inicio do século XXI seria um período de transição, que Boaventura (2005)

chama de Sistema Mundial em Transição. Para ele, o que acontece são diversos

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processos de globalização, resultado da interação entre três constelações de

práticas, entrelaçadas segundo dinâmicas indeterminadas, as práticas inter-estatais,

as capitalistas globais e as sociais e culturais transnacionais.

No interior dessas três constelações de práticas, existem tensões e

contradições. Nas práticas inter-estatais, por exemplo, os conflitos estão

relacionados à hierarquia do sistema mundial; nas práticas capitalistas globais, os

conflitos se dão entre a classe capitalista global e todas as outras classes; já nas

práticas sociais, os conflitos ocorrem em torno do reconhecimento e valorização de

recursos não mercantis, tais como etnias, culturas, etc.

“Pode-se afirmar, portanto, que existe uma transconflitualidade no Sistema

Mundial em Transição” (Boaventura, 2005:60).

As redes globais de produção atingem trabalhadores de todo o mundo, que

migram com grande facilidade para buscar melhores oportunidades. Com o passar

do tempo, eles criam redes de familiares, amigos e conhecidos, ampliando a

conexão entre pessoas, fronteiras e culturas.

E é neste contexto, onde o capitalismo é mundializado e a sociedade vive um

sistema ideológico baseado no consumo que o dinheiro, a informação e o consumo

são colocados em um patamar de internacionalização.

Ainda para Boaventura (2005), as transformações atuais podem ser

entendidas através de duas leituras diferentes:

A leitura paradigmática, que sustenta a idéia de que o final dos anos sessenta

e inicio dos anos setenta foi um período de crise que apontou para um novo

paradigma. A atual crise iniciada nos Estados Unidos e que eclode mundialmente

em 2008, por exemplo, pode vir a sustentar essa idéia de transição paradigmática,

pois essa leitura privilegia a ação transformadora, na qual as atuais transformações

seriam um prenúncio de rupturas radicais.

Já a leitura subparadigmática percebe o atual período como um importante

processo de ajustamento estrutural, ajustamento este que implica a transição de um

regime de acumulação para outro. Essa leitura privilegia a ação adaptativa e as

atuais transformações seriam apenas turbulências temporárias.

A primeira leitura é mais ampla, pois fala de uma crise civilizatória ou de uma

época, na qual a crise do regime de acumulação seria apenas um aspecto. E a partir

desta leitura a globalização é entendida como um fenômeno novo.

O mundo vivencia neste inicio do século XXI mais uma forte crise no

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capitalismo que eclode inicialmente nos Estados Unidos, mas que tem impactos

globais.

Segundo Umberto Martins5 , a crise atual se manifesta através de quatro

características: Redução progressiva das taxas de crescimento econômico

(tendência à estagnação); Alto índice de desemprego estrutural; instabilidade

monetária mundial que gera crises recorrentes e declínio econômico do império

norte americano.

Dessa forma, a crise atual potencializa contradições do sistema capitalista e

gera uma perspectiva instável e conflituosa, expressando a dissonância entre

interesses humanos e capitalistas.

1.1 Implicações econômicas, sociais e tecnológicas

O novo sistema econômico surge, segundo Castells (1999), na década de

1990 nos Estados Unidos, graças a uma combinação de fatores tecnológicos,

econômicos, culturais e institucionais.

Essa nova economia global, constituída politicamente, evoluiu em

conseqüência da reestruturação de empresas e da evolução tecnológica acrescidas

das políticas de desregulamentação, privatização e liberalização do comércio e dos

investimentos.

A globalização é indispensável para o desenvolvimento da economia atual e

um diferencial que podemos perceber, são as redes, que se espalham por toda a

economia, trazendo flexibilidade aos processos. Este fato denota uma significativa

mudança estrutural.

Nesta economia, a produtividade e a competitividade dependem basicamente

de informação e as atividades produtivas se organizam em escala global, em uma

rede de conexões entre agentes econômicos.

As empresas também estão atualmente ligadas por redes globais de geração

de valor e apropriação de riquezas, conseqüentemente no momento em que algo ou

alguém não tenha mais valor, é excluído desta rede.

Segundo Castells (1999:175), esse novo sistema econômico é dinâmico,

5 Segundo artigo virtual de Umberto Martins, jornalista, retirado do Portal da CTB – Central dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

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seletivo, exclusionário e instável ao mesmo tempo. A expansão da nova economia,

além de desigual, é inclusiva e exclusiva ao mesmo tempo e devido à volatilidade

financeira, traz consigo a possibilidade de grandes crises financeiras.

As crises que estão eclodindo pelo mundo neste início do século XXI,

mostram que essa globalização hegemônica que tem como base o sistema

financeiro, é um modelo bastante frágil. Joseph Stiglitz, norte americano e vice-

presidente do Banco Mundial, afirmou em 1998 (apud Boaventura 2002:83) que “o

modelo neoliberal causou muito sofrimento, agravou as desigualdades e é um

modelo cientificamente errado”. Ele também reforça a importância da intervenção do

Estado, garantindo que esta intervenção é mais eficiente que a "mão invisível do

mercado".

Segundo Boaventura (2002), existe hoje uma classe capitalista transnacional

emergente que está mais forte do que muitos Estados fracos e é a partir desse

fortalecimento do capitalismo que surgem fragmentações perversas na sociedade.

Para uns o Estado é obsoleto, mas para outros o Estado ainda é entidade

política central, o fato é que a globalização é um campo fértil para contestação social

e política. Para alguns ela é a vitória da racionalidade, inovação e liberdade, mas

para outros ela marginaliza e exclui.

Mas independente de ter perdido sua força ou não, o fato é que os Estados

não representam mais o único suporte dos sistemas econômicos, que hoje estão

submetidos a diferentes lógicas de funcionamento.

Como conseqüência dessa globalização contemporânea, as desigualdades

sociais estão se acentuando nas últimas décadas, inclusive em países que são

modelos neoliberais, como os Estados Unidos, tudo isso em conseqüência do alto

nível de desemprego, da minimização dos custos salariais e da destruição das

pequenas e até grandes empresas ou economias de subsistência que não

conseguem competir no âmbito do capitalismo globalizado.

Desta forma, a globalização neoliberal desarticula as forças populares e

mantém uma dinâmica política de acordo com interesses das classes dominantes e

do mercado. Sendo assim, as classes populares perdem o caráter de massa, de luta

e se despolitizam. Pode-se afirmar que a desorganização política do proletariado e

de seus aliados, é marca característica do Estado neoliberal6.

6 Outra característica do Estado neoliberal é a sua capacidade de controle social, que pode ser analisada através das privatizações. Hospitais, universidades, empresas e serviços antes estatais, foram privatizadas mas

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Adeptos do neoliberalismo que ora afirmaram que o Estado havia alcançado

solidez, hoje estão vendo o que parece ser o encerramento de um império. Renasce

assim a esperança de um Estado social e democrático, que o neoliberalismo

considerou extinto.

Nesse contexto de grandes mudanças, as pessoas tendem a reagrupar-se em

torno de identidades 7 primárias, tais como as religiosas, territoriais, étnicas e

nacionais, como uma forma de reorganizarem seu significado com base no que são.

Embora a identidade tenha poder libertador, é preciso cuidado para não

caminhar em direção à individualização e fundamentalismos. O perigo é tornar a

identidade tão especifica e difícil de compartilhar que gere fragmentação social

Nesse cenário, “organizações e indivíduos ficam com o desafio de criar ou

recriar movimentos sociais, de forma que a sociedade civil possa influenciar,

conquistar ou educar duramente o poder estatal” (Ianni 1996:114). Trata-se de

fortalecer e dinamizar a globalização.

O Fórum Social Mundial – FSM é um bom exemplo de movimento de

globalização contra-hegemônica. Nas palavras de Boaventura Sousa Santos, “o

FSM mostra o quanto o mundo é uma totalidade inesgotável, dado que possui

muitas totalidades, todas elas parciais”. (Santos, 2005)

(...) “o sucesso do FSM assinala a emergência no seio dos movimentos

sociais de uma consciência, difundida e experienciada reciprocamente, de que o

avanço das lutas contra-hegemônicas assenta na possibilidade de partilhar as

práticas e os saberes de maneira global e intercultural. Com base nesta experiência

partilhada, torna-se possível construir a conjugação horizontal de tempos a partir do

qual pode emergir uma zona de contacto cosmopolita e o trabalho emancipatório da

tradução” 8 (Santos, 2005:16).

mantiveram a gestão do Estado. Dessa forma, o Estado diminui seus custos e mantém o controle, deteriorando a prestação de serviços. As piores conseqüências se dão para a classe trabalhadora que depende desses serviços. Outra forma de o Estado manter o controle social e diminuir os seus custos é o repasse de serviços sociais para as organizações não governamentais (ONG’s), que atuam localmente nas questões sociais podendo ou não ter o financiamento do Estado, mas sempre sob o olhar atento da legislação estatal. Essa situação mantém um estado que não cria políticas sociais democráticas amplas e sustentáveis. 7 Castells (1999:) entende identidade como “o processo pelo qual um ator social se reconhece e constrói significado principalmente com base em determinado atributo cultural, ou conjunto de atributos, a ponto de excluir uma referência mais ampla a outras estruturas sociais” 8 A tradução é o procedimento que permite criar inteligibilidade recíproca entre as experiências do mundo, tanto as disponíveis como as possíveis, tal como são reveladas pela sociologia das ausências e pela sociologia das emergências, sem pôr em perigo a sua identidade e autonomia, sem, por outras palavras, as reduzir a entidades homogêneas (Santos, 2005:06).

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Segundo Appadurai (Boaventura 2005:45), saímos do período de

modernização e estamos entrando no mundo pós eletrônico.

A revolução da tecnologia mudou as relações sociais e teve papel

fundamental na reestruturação do sistema capitalista e na globalização, ela imprimiu

velocidade aos processos, assegurou a simultaneidade das ações e

desterritorializou idéias.

Estamos de fato, vivendo hoje uma Revolução Tecnológica que, segundo

Castells (1999) talvez seja um evento histórico tão importante quanto foi a

Revolução Industrial. E a tecnologia da informação representa para esta revolução,

o que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas.

O impacto da tecnologia gera grandes mudanças para a sociedade, para com

as relações sociais que estão sendo estabelecidas e para o mercado que se torna

transnacional, mundializando seus processos de produção e venda.

As novas tecnologias integraram o mundo em redes, onde a comunicação é

mediada por computadores, fomentando grupos organizados em torno de novas

identidades e construindo assim novos significados numa velocidade incontrolável.

Esse fato é importante para a sociedade, mas não atinge a todos de forma

igualitária. Embora a tecnologia da informação e a Internet diminuam fronteiras

aproximando pessoas, o acesso é desigual, a começar pelas grandes metrópoles,

que são ambientes privilegiados da nova revolução tecnológica. A rapidez das

formas em se transmitir a informação é inegável, a questão é que as técnicas da

informação são usadas por poucos. Além do fato de que a maior parte das

informações que chegam a todos são manipuladas e massificadas, facilitando a

manutenção da apatia e controle social.

Essas mudanças têm uma aceleração por volta da década de 60, embora a

invenção mais significativa tenha sido em 1957, quando Jack Kilby criou o chamado

circuito integrado no mundo da Eletrônica. Neste período, vimos a criação da internet,

o mais revolucionário meio tecnológico da Era da Informação9.

A Apple, empresa tecnológica criada em 1976, popularizou o computador em 9 A criação da Internet foi conseqüência da integração de interesses entre cientistas e militares, que proporcionou a comunicação à distância, de forma rápida e horizontal, transmitindo informações com eficiência para os militares em guerra. Vale ressaltar que este também é o princípio básico das redes, onde a matéria prima é a informação. A partir de certo momento tornou-se difícil separar pesquisas militares, cientificas e conversas pessoais. Somando-se a isso, pressões comerciais, crescimento de redes de empresas privadas e outras redes cooperativas, foi necessário privatizar a Internet. Apesar de haver um órgão regulador nos EUA, não existia nenhuma autoridade clara sobre a Internet.

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1982, seguida pela IBM. Na década de 90, a queda dos preços somada a mais

avanços, fez com que os microprocessadores estivessem presentes em máquinas

de uso rotineiro e caseiro. Dissemina-se então, o sistema de comunicação em rede.

Conforme argumentava Marx, (apud Singe, 2004) a tecnologia altera tudo, e

sendo assim, quando a tecnologia anulou a distância, deu-se terreno fértil para a

globalização econômica, como a conhecemos hoje.

A década de 1970 constituiu-se como um novo paradigma tecnológico que

concretizou uma nova forma de produção, de comunicação, de gerenciamento e de

vida. Hoje a tecnologia tem o poder de transformar as sociedades, depende de como

cada sociedade usa (ou não) essa tecnologia.

As novas tecnologias, somadas a nova economia, alteram a natureza do

Estado enquanto promotor e regulador das questões sociais e econômicas.

As interações da globalização são muito maiores do que as interestatais, elas

atravessam fronteiras, assim como as pessoas, e tornam-se uma interação de idéias

e bens da qual nem o Estado nem ninguém tem controle.

Podemos afirmar que com a nova economia global, o Estado viu seu

patrimônio arruinado pelas privatizações e o aumento das diferenças entre países

ricos e países pobres cresceram. As fronteiras, por sua fez, foram abertas, mas de

forma muito desigual, beneficiando países hegemônicos e centrais.

Para Boaventura (2002), essa é a globalização da pobreza, e ela também

resulta no desemprego, na destruição das economias de subsistência e na

minimização dos custos salariais à escala mundial.

Na sociedade global, as mudanças sociais, tecnológicas e econômicas são

profundas. Os mercados financeiros se integram; as redes de computadores, que

crescem substancialmente, criam novas formas e novos canais de comunicação; os

sistemas políticos vivem uma crise de legitimidade e os movimentos sociais tendem

a ser fragmentados e locais.

1.2 Relações entre o local e o global

Augusto de Franco (2003) afirma que estamos vivendo, a partir dos anos

1980 e 1990 um processo de glocalização. Segundo o autor, glocalização seria a

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formação de uma nova sociedade cosmopolita global e planetária como uma rede de

comunidades sócio-territoriais e virtuais, subnacionais e transnacionais

interdependentes.

Embora a glocalização colocada por Franco (2008) confira um novo status ao

local, processos de globalização e localização ocorrem simultaneamente. Ao mesmo

tempo em que se intensificam as interações globais e as relações sociais parecem

cada vez mais desterritorializadas, surgem também novas identidades locais.

Segundo Appadurai, (apud Boaventura 2005) “A característica central da

cultura global é hoje a política do esforço mútuo da mesmidade e da diferença para

se canibalizarem uma à outra e assim proclamarem o êxito do seqüestro das duas

idéias do Iluminismo, o universal triunfante e o particular resistente.”

Ou seja, globalização é de fato, um fenômeno bastante contraditório. Ao

mesmo tempo em que universaliza e elimina fronteiras, aumenta as desigualdades,

os particularismos e as diversidades locais. Produz, simultaneamente,

homogeneização e diversidade.

A globalização é mais bem sucedida em algumas localidades e campos.

Segundo Boaventura (2005), o “localismo globalizado” se refere ao processo pelo

qual um fenômeno é globalizado, e o “globalismo localizado” diz respeito aos

ambientes onde as condições locais são modificadas para se ajustar ao mercado

global.

Para Boaventura (2005) as diferentes formas de representação da identidade

social, presentes no espaço local, como por exemplo: a língua, a cultura, a

alimentação, a música, a religião, os padrões de consumo, tendem a sucumbir à

lógica hegemônica da globalização. Mesmo as formas de resistência e de

reafirmação da identidade local tenderiam a ser subsumidas ou adaptadas pelos

atores da economia global.

A rede de lanchonetes McDonald´s, é um exemplo de como foi possível obter

sucesso globalmente através de uma atuação que vislumbrou algumas questões

locais.

Em 1963, um franqueado do McDonald´s do bairro católico de Cincinatti, nos

EUA, verificando que nas sextas feiras a freqüência de consumidores diminuía na

sua loja, devido ao respeito pela abstinência à carne neste dia, criou produto que ele

chamou Filet-O-Fish a base de peixe e trouxe de volta sua clientela católica, não só

nas sextas feiras, mas também em outros dias. Hoje em dia, o Filet-O-Fish está em

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quase todos os Mc Donald´s do mundo. O Uruguai lançou McHuevos, na base de

ovo poché. Nas Filipinas, criou-se o McSpaghetti. Em Hong Kong, desde 2002, as

fritas são substituídas por tigela de arroz para quem pedir. Em Israel, o Big

McCasher trouxe de volta os consumidores seguidores da religião judaica que não

podem comer carne e queijo ao mesmo tempo. (Gerteiny apud http://mercado-

global.blogspot.com/2007/06/mundializao-globalizao-localizao-e.html: 2008).

Foi, portanto esta política que permitiu ao McDonald´s, graças à sua atuação

local, alargar os horizontes e ganhar mais competitividade atraindo consumidores de

outras cadeias de fast food para as suas lojas, melhorando os resultados de forma

global.

A dimensão global é necessária para a definição da dimensão local e o local

só adquire sentido diante do global. A grande novidade do processo em curso é a

possibilidade da conexão global-local e quando uma localidade se conecta com

outra localidade, ela está acionando a conexão global-local.

Assim, o local se globaliza quando ativa suas conexões externas. E,

obviamente, tanto mais se globaliza quanto mais conexões externas estabelecer. Em

contrapartida, e isso está longe de ser tão óbvio, o global se localiza da mesma

maneira; ou seja, quanto mais localidades globalizadas existirem, mais o global

estará localizado.

Enquanto um coletivo humano se localiza em função de suas conexões

internas, o mundo se globaliza em virtude da localização dos seus componentes.

Nas palavras de Franco (2004), a globalização não leva a uma aldeia global,

mas a miríades de aldeias (unidades localizadas) globais.

Porém, é preciso estar atento, pois as diferenciações entre local e global são

uma das armadilhas da globalização neoliberal, pois o global acontece localmente,

mas o local contra hegemônico ainda não acontece globalmente e esse é o desafio.

Contudo, como respostas locais às pressões globais, emerge uma sociedade

civil e uma política global que atua no campo da luta e da resistência em uma

campanha contra hegemônica, em geral representados por movimentos locais,

campanhas globais e organizações não governamentais progressistas. Mas ainda

são apenas iniciativas locais de resistência e por isso são iniciativas internamente

um tanto fragmentadas.

Teixeira (2001) acredita que do final dos anos 1960 em diante, começou a se

desenvolver uma cultura de valorização da política como algo do cotidiano, ou seja,

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“o local passa a ser o espaço onde melhor se pode desenvolvê-la”.

E essa cultura local, encontra nas redes um ambiente adequado para seu

crescimento e desenvolvimento

2. Gênese de redes na globalização contemporânea

2.1 Transformações organizacionais e a constituição das primeiras

redes empresarias

Existem diferentes abordagens que analisam as trajetórias organizacionais na

reestruturação do capitalismo, que acontece no momento transitório do

industrialismo para o informacionalismo.

Segundo Castells (1999), existem algumas coincidências nessas diversas

abordagens, dentre elas, o fato de que em meados dos anos 1970 a organização da

produção se fragmenta no mercado de forma global; as organizações10 por sua vez,

se transformaram devido à nova tecnologia e precisaram se adaptar às mudanças

econômicas, institucionais e tecnológicas causadas por ela.

Entre 1980 e 1990 o comércio internacional mostrou duas tendências

contraditórias, a liberalização crescente do comércio por um lado e projetos

governamentais para criação de blocos comerciais por outro.

Os blocos comerciais, como União Européia, MERCOSUL, Tratado de Livre

Comércio da América do Norte (NAFTA) e Cooperação Econômica da Ásia e do

Pacífico (APEC) mostram a forte tendência de regionalização da economia mundial.

E Castells (1999:152) aponta para a formação de uma nova forma de Estado, o

Estado em rede no qual a economia é unificada.

Produtos e produtores estão cada vez mais globalizados, mas o novo padrão

comercial aponta para diversas redes e nos mostra que as grandes unidades de

comércio são as empresas e as redes de empresas. Muitas empresas formaram e

10 Para Castells (1999:209): “organizações são os sistemas específicos de meios voltados para a execução de objetivos específicos, e instituições são as organizações investidas de autoridade necessária para desempenhar tarefas específicas em nome da sociedade como um todo”.

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formam redes cooperativas para se tornarem competitivas no sistema globalizado de

produção.

Portanto, o padrão de produção global e comércio internacional são formados

por redes produtivas transnacionais, estabelecido por empresas multinacionais e

distribuído de forma desigual no mundo.

Neste novo sistema econômico, inovar é vital e as fontes de inovação

multiplicam-se quando as empresas estabelecem novas pontes e conexões, atuando

em forma de rede.

De todas as transformações organizacionais, a maior parece ter sido a

mudança de burocracias verticais para a empresa horizontal. Castells (1999:221)

cita sete tendências principais da empresa horizontal: organização em torno do

processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe; medida do

desempenho pela satisfação do cliente; recompensa com base no desempenho da

equipe; maximização dos contatos com fornecedores e clientes e informação,

treinamento e re-treinamento de funcionários em todos os níveis.

As novas tecnologias da informação foram decisivas para as transformações

organizacionais e seu novo modelo flexível e é fato que as possibilidades de acerto

e os ganhos aumentam consideravelmente com a maior interconectividade entre as

empresas e a descentralização dos processos.

A primeira a propor o modelo de trabalho em rede foi a empresa norte

americana Cisco Systems, líder da categoria que fornece computadores. A Cisco11

descreve esse modelo empresarial, como se segue:

“...as relações que a empresa mantém com suas principais clientelas podem

tanto ser um diferencial de concorrência quanto seus produtos ou serviços principais;

o modo como a empresa distribui informações e sistemas é elemento essencial na

força de suas relações; estar conectada não é mais adequado: as relações

empresariais e as comunicações que as sustentam devem existir na trama da rede.

O modelo global em rede abre a infra-estrutura informática da empresa a todas as

11 A pioneira Cisco aplicou nela mesma, a lógica das redes que vendia aos clientes e hoje é a quinta maior empresa do mundo, chegando em 1999 a um valor de capitalização de mercado de US$220 bilhões. A empresa possui uma intranet que proporciona comunicação instantânea a mais de dez mil funcionários no mundo todo, de forma que as informações fluem livres e de forma imediata em toda a rede. A empresa também possui alianças estratégicas com grandes empresas do ramo, tais como Microsoft, Alcatel, Hewlett Packard e Intel, promovendo assim, fontes de informação compartilhadas.

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principais clientelas, impulsionando a rede para conquistar vantagem perante a

concorrência”.

Cada vez mais, pequenas e médias empresas estabelecem relações com

outras pequenas e médias. Castells (1999) nos fala sobre o mercado de Hong Kong,

que se baseou, já nos anos 1950 até os anos 1980, em redes de pequenos negócios

domésticos que competiam na economia mundial através da atuação em rede,

sendo mais de 85% das exportações de produtos fabricados em empresas familiares

com menos de cinqüenta trabalhadores.

Na década de 1990 esse modelo empresarial difundiu-se rapidamente e se

tornou um modelo de administração, copiado pelos concorrentes mais bem

sucedidos.

As redes de produção e distribuição passaram então a se formar, sumir e

reaparecer de acordo com as variações e flexibilidades do novo mercado global.

Surgiram e surgem diversos exemplos de redes horizontais de empresas que se

baseiam em um conjunto de relações periférico-centrais em todo o mundo. Essas

empresas descentralizam suas unidades e promovem maior autonomia para cada

uma delas.

Segundo Castells (1999), os computadores pessoais e as redes de

computadores foram amplamente difundidos devido à necessidade da utilização de

redes pelas novas organizações. E devido a essas novas tecnologias, a integração

em rede torna-se chave da flexibilidade organizacional e do desempenho das

empresas.

As redes tornam-se o caminho mais fácil para sobrevivência no mercado atual

e o desempenho da rede, por sua vez, dependerá da qualidade e da quantidade das

suas conexões e da sua coerência, ou seja, deve haver na rede, parceiros que

compartilhem interesses e objetivos comuns.

As novas conexões que se estabelecem entre empresas, passam a ser

conhecidas como alianças estratégicas e as empresas perceberam que as conexões

cooperam no sentido de impedir o aumento da concorrência, tornando-se

instrumentos decisivos no ambiente empresarial competitivo.

A empresa que opta por trabalhar de forma autônoma, não sobrevive nesta

nova economia. As conexões e as redes são tão importantes na realidade

empresarial que algumas vezes, é possível constatar práticas de estratégia

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competitiva que visam impedir o acesso a uma rede por empresas concorrentes.

Com isso observamos que as redes da nova economia, ao mesmo tempo em que

cooperam também competem entre si.

Por outro lado, as redes empresariais deste novo modelo econômico também

têm suas periferias, e quanto mais periférica é uma organização dentro da rede,

mais dispensável e substituível ela será.

Sobre a formação de redes entre empresas na economia global, Dieter Ernst

(apud Castells 1999) afirma que a maioria das atividades econômicas é organizada

em cinco diferentes tipos de redes: as redes de fornecedores, de produtos, de

clientes, de cooperação tecnológica e as redes de coalizões padrão, que são criadas

por aqueles que definem padrões para vincular empresas aos seus produtos.

As redes tornam-se, portanto, novos focos de inclusão e exclusão no mercado,

isso porque a participação nas redes estratégicas exige recursos financeiros,

tecnológicos e depende do grau de importância da empresa no mercado. Outra

opção para entrada na rede podem ser também as conexões com membros já

atuantes. Atualmente, as redes mais importantes são formadas em torno das

influentes multinacionais, detentoras de grande poder e riqueza.

Castells (1999) nos chama atenção para o fato de que, pela primeira vez na

história, a unidade básica da organização econômica não é um sujeito individual

(empresário ou sua família) nem um sujeito coletivo (Estado, empresa, classe

capitalista), a unidade é a rede, que é formada por vários sujeitos e organizações.

É importante relembrar que as redes se modificam continuamente, são

multifacetadas e refletem um grupo de interesses comuns em determinado momento,

elas são dinâmicas e qualquer tentativa de se cristalizar alguma posição dentro dela,

pode torná-la obsoleta.

A partir daí, as redes ampliam-se para outras dimensões dentro da

globalização contemporânea, tais como o Estado e a sociedade civil como um todo,

a serem tratadas no próximo capítulo.

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II Redes Sociais na globalização: construção coletiva de

participação cidadã

1. Abordagens conceituais de redes sociais

A origem da palavra rede deriva do latim retis, que é o entrelaçamento de fios

com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido. Com o tempo, esse

conceito de entrelaçamento ganhou novos significados, sendo então utilizado em

diversas situações.

Historicamente as redes sempre existiram, pois sempre houve laços de

solidariedade horizontal dentre as pessoas, mas o primeiro estudioso a tratar o tema

das redes como objeto de estudo foi o matemático e físico suíço Leonhard Paul

Euler (1707-1783). Ele criou a teoria das redes e a teoria dos grafos.

Para Euler, um grafo nada mais é do que um conjunto de nós, que são

conectados por uma aresta e que formam uma rede. Com essa teoria, o matemático

demonstra que as redes são elementos dinâmicos, em constante movimento.

Desenho de rede proposto por Euler

Nas décadas de 1920 e 1930, a Biologia conceituou as redes como sistemas

de laços realimentados após estudos ecológicos a respeito das teias alimentares e

ciclos de vida. Passou-se então a se utilizar o conceito de redes como sinônimo de

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flexibilidade, conectividade e descentralização de articulações entre membros. Na

perspectiva da Biologia a rede é o único padrão de organização comum a todos os

seres vivos: "Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes." (Capra, 1996).

Segundo Ayres (2001) uma das características principais dessa rede na

Biologia nos fornece pista para a atual utilização do conceito nas relações pessoais,

que é a não-linearidade, pois a rede se estende por todas as direções e existem

formas de realimentação, que proporcionam a capacidade de auto-regulação.

O conceito de “rede social” foi utilizado pela primeira vez em 1954 pelo

pesquisador John Barnes, do Rhodes-Livingstone Institute, ao realizar um estudo

sobre as relações e interações existentes em uma comunidade de uma ilha

norueguesa. O conceito de rede foi útil, segundo o pesquisador, porque os laços

estabelecidos dentro da rede podem se estabelecer ou se desfazer sem obedecer a

limitações ou imposições. (Sanicola, 2008:15)

A teoria matemática dos grafos e a conceituação desenvolvida por biólogos e

outros estudiosos foram incorporadas pela Sociologia, como base de estudo das

redes sociais, por volta da década de 1960. Numa perspectiva sociológica, em uma

rede social, as pessoas são os nós, e os laços sociais são as arestas, portanto,

também em constante mutação.

Para Sanicola (2008:13), “rede é um objeto que cria uma relação entre pontos

mediante ligações entre eles que, cruzando-se, são amarradas e formam malhas de

maior ou menor densidade. No ponto de ligação, ou seja, no nó e por meio do nó,

acontecem trocas sinérgicas”.

O conceito de rede trata de uma possibilidade de organização, onde é

possível atuar com demandas de maior flexibilidade, conectividade e

descentralização das esferas de atuação e articulação social. Através da estrutura

de redes é possível reunir, de forma mais participativa e democrática, indivíduos e

instituições, desde que suas atuações estejam em torno de um objetivo comum.

Segundo Francisco Whitaker (1998:02), “o resultado da organização em rede

é como uma malha de múltiplos fios que pode se espalhar indefinidamente por todos

os lados, sem que nenhum dos seus nós possa ser considerado principal ou central,

nem representante dos demais. A rede é como um corpo: todos os seus membros a

fazem funcionar, todos são a rede, nas suas ligações uns com os outros”.

As conexões na rede que interligam seus membros são os elos básicos que

mantém o seu funcionamento, as informações que circulam através destas conexões

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representam o cerne da rede. Informação é poder que circula de forma

descentralizada em uma rede e se não for dessa forma, a rede se dilui e se

transforma em uma hierarquia tradicional. Sendo assim, o poder se desconcentra

nas redes, assim como a informação, que transita de forma horizontal.

Whitaker (1998:04) faz um paralelo com a ação militar onde os exércitos

convencionais são necessariamente e rigidamente piramidais; os corpos

guerrilheiros tendem a se horizontalizar em rede. Ou seja, cada membro da rede é

ao mesmo tempo autônomo em suas ações e responsável pelo seu efeito na

realização dos objetivos do coletivo.

As redes se estabelecem por relações horizontais que através de sua

estrutura flexível, supõe a colaboração e participação entre seus membros. Pode-se

afirmar que as redes são um importante recurso organizacional para estruturação

social, reforçando a análise histórica dos arranjos sociais, que demonstra que a

cooperação, o fazer em conjunto, é próprio da constituição antropológica do ser

humano.

ABDALLA 2002:102 (apud Francisco) reconhece que “o estabelecimento do

princípio da cooperação como eixo racional fundamentador, em oposição ao da

troca competitiva, além de garantir a sobrevivência (seria melhor dizer: ávida) de um

grande numero de pessoas, possibilita uma maior aproximação do universo subjetivo

humano à práxis que, histórica e antropologicamente, possibilitou a existência do ser

humano como espécie e evitou a sua extinção. É a possibilidade de reencontro do

ser humano com a sua essência, perdida pelas conformações históricas

fundamentais na exploração”.

As redes sociais podem se estabelecer com o objetivo de organização e

defesa de suas comunidades ou grupos.

“Desde tempos imemoriais os seres humanos estabelecem vínculos entre si

visando o cuidado e a proteção recíprocos. (...) A solidariedade e a cooperação

sempre caracterizaram as relações e os laços sociais entre famílias, comunidades e

amigos. As preocupações e as obrigações que sentimos em relação a nossos

parentes, amigos e vizinhos não são determinadas por interesses próprios e nem

impostas por autoridade coercitiva externa. Ajudamos aqueles que nos cercam de

forma espontânea, solidária e recíproca”. (De Oliveira & Tandon 1995:12 apud

Francisco).

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Organizar-se em rede é um padrão já vivenciado por sociedades anteriores e

graças às novas tecnologias da informação, mencionadas anteriormente, aparece

com nova configuração e penetração em todas as instâncias da estrutura social.

As redes não têm limites e podem se estruturar conforme sua dinâmica sem

alterar o equilíbrio da mesma.

De acordo com Guédon, 1984 e Besson, 1994 (Sanicola, 2008), as redes

podem ser divididas em duas categorias, as primárias e secundárias e as formais e

informais.

As redes primárias são basicamente constituídas pela história do sujeito, são

aquelas constituídas por laços familiares, de parentesco, vizinhança, amizades ou

trabalho.

Sendo a família a primeira rede experimentada, ainda constitui local

importante para o desenvolvimento da capacidade de estabelecer relações e, de

certa forma, torna-se determinante para as próximas relações que serão vivenciadas.

As relações de vizinhança também são um recurso importante, trata-se de alguém

que está próximo fisicamente para qualquer eventualidade ou emergência. Já as

relações de amizade expressam o vínculo através da escolha e a proximidade e a

possibilidade de ajuda é mais afetiva do que necessariamente física. A relação de

trabalho, por sua vez, mistura-se com o conceito de vizinho e amigo.

As redes primárias, portanto, não podem ser criadas, elas são naturais e

contam a história de nascimento, escolhas, vínculos, encontros e desencontros.

Ainda segundo os autores, as redes secundárias podem ser formais ou

informais.

As redes secundárias formais são os laços estabelecidos em três diferentes

tipos de redes, as institucionais estatais, as do mercado e as do terceiro setor,

entendido aqui como parte da sociedade civil.

As redes institucionais estatais são as que formam o sistema de bem-estar

social da população obedecendo a leis, ou seja, constituem obrigação para a

realidade social.

As redes de mercado, são aquelas pertencentes à esfera econômica onde o

objetivo é negociar e obter maior lucratividade.

As redes da sociedade civil e do terceiro setor são formadas por

organizações sociais e instituições que tem em comum o fato de não possuírem fins

lucrativo. Os membros desse tipo de rede se reúnem por vontade própria e

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geralmente, devido a uma necessidade. Esse grupo compartilha, redistribui e se

solidariza em rede.

Por sua vez, as redes secundárias informais podem ser consideradas um

desdobramento das redes primárias, nesse tipo de rede os laços são estabelecidos

entre indivíduos que buscam resposta a uma necessidade imediata, ou seja,

podemos considerá-la como uma espécie de rede de ajuda mútua, como por

exemplo, um grupo de mães que se divide para cuidar dos filhos em forma de rodízio.

Essas pessoas criam uma rede para solucionar um problema, embora não se

incluam nas características de uma rede primária.

Sanicola (2008) afirma que, como já vimos, todo indivíduo nasce dentro de

uma determinada rede, que em geral trata-se da família e grupo social em que está

inserido e conforme as tendências à socialização se expressam, fica claro que as

opções de escolha do sujeito com relação às redes em que irá se inserir, podem, ou

não, levá-lo para muito longe do condicionamento inicial.

Não é possível viver (ou sobreviver) sem atuar em redes, elas são os elos

entre as pessoas desde que o mundo é mundo, embora seu estudo teórico ainda

seja recente.

Podemos compreender as redes sociais sob dois vieses: Como uma realidade

inconsciente de cooperação que se desenvolve naturalmente ou como uma ação

coletiva estratégica, produto de uma ação profissional que objetiva estabelecer

alianças de cooperação ou até mesmo uma tentativa de uma transformação social e

fortalecimento de comunidades ou grupos sociais.

Família, comunidade e organizações são exemplos de redes inconscientes ou

naturais. As redes conscientes, que derivam de uma ação coletiva estratégica

trabalham por maiores ganhos financeiros, ou no caso de uma rede social, pelo

empoderamento dos cidadãos envolvidos.

Em geral, o trabalho em rede se dá por uma necessidade ou um momento

crítico, no qual a resolução individual, sem parceiros, torna-se complexa e às vezes

até impossível.

Sanicola, (2008:8) ainda trabalha o conceito de vulnerabilidade, que pode ser

entendido como uma relação entre os recursos e os desafios disponíveis, ou seja,

“quando o equilíbrio entre desafios e recursos é rompido surge o risco da

vulnerabilidade, que pode ser atenuado por um aumento de recursos”.

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As redes sociais, através de uma expansão das conexões entre seus

membros, atuam diretamente com o conceito de vulnerabilidade tentando minimizar

o desequilíbrio entre os desafios e recursos.

Além disso, devido às grandes mudanças enfrentadas pela sociedade

contemporânea, as redes, enquanto espaço de debate e participação, tornam-se

uma forma de resgate de organização de identidades, como as religiosas, étnicas,

territoriais e nacionais. Os grupos formados em torno de identidades são também,

formas de redes sociais.

A convivência entre os integrantes de uma comunidade, inclusive o

estabelecimento de laços de afinidade e de redes sociais, será definida a partir de

pactos sociais ou padrões de relacionamento. Nesse âmbito, a rede representa uma

comunidade, com identidades e padrões que serão acordados coletivamente, tal

como um contrato social.

Nesse sentido, o trabalho em rede pode possibilitar maior autonomia para

seus integrantes, desde que haja um grupo reflexivo e encorajado a uma

determinada mobilização.

Vale ressaltar que as redes sociais constróem sua própria cultura, e a cultura

é coletiva, é social. Dessa forma, uma rede não vive sem outras redes, ou seja, a

existência de uma rede perpassa pelas conexões de uma diversidade de outras

redes.

A atuação em rede mostra que a solidariedade e o trabalho em conjunto são

naturais aos seres humanos desde as suas redes primárias, ou seja, este tipo de

atuação não renunciaria a iniciativa e intervenção estatal e sim somaria esforços em

prol de um bem comum. Mas é preciso que o Estado valorize essas iniciativas e as

reconheça como estruturas colaborativas nas políticas sociais.

Para Sanicola (2008), as redes sociais se caracterizam por três dimensões:

sua estrutura, suas funções e sua dinâmica.

A estrutura da rede é dada pelas conexões estabelecidas entre pessoas; as

funções da rede se traduzem em apoio e contenção; e sua dinâmica são os

movimentos que geram os fluxos de informação.

Para não se tornar apenas um emaranhado de possibilidades, a rede precisa

ter uma intencionalidade. O objetivo comum e os valores estabelecidos manterão o

grupo coeso, pois são a base das ações e dos projetos. Mas ainda assim, a rede só

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existe com o movimento dos integrantes, ou seja, a participação colaborativa é

elemento central para a rede fluir.

Dentro de uma rede, para que seja efetivamente uma rede, não deve haver

hierarquia e a liderança, assim como as decisões, devem ser múltiplas e

descentralizadas.

Outro aspecto essencial para o bom funcionamento de uma rede, é a

conectividade, afinal, somente quando os membros estão ligados uns aos outros é

que a rede se mantém. A informação deve circular de forma livre e deve ser

encaminhada de forma linear para o maior número de conexões possível. As

conexões funcionam como fluxos que se realimentam constantemente.

A Internet é uma importante ferramenta para as redes, uma vez que

representa um espaço (virtual) de conexões entre os participantes, o que otimiza a

comunicação e conseqüentemente, amplia as possibilidades.

A rede é descentralizada, isso significa que o centro da rede localiza-se em

cada ponto dela. Pode-se afirmar que as redes são estruturas multifacetadas e estão

diferentes a cada momento.

As redes possuem ainda múltiplas formas e podem ser classificadas em três

diferentes categorias:

As redes temáticas, que se organizam em torno de um tema, segmento ou

área de atuação das entidades e indivíduos participantes. Essa rede tem como

fundamento a temática definida, seja ela ampla, como a da criança e adolescente,

ou específica como a da amamentação.

Nas redes geográficas ou regionais, o ponto comum é uma região, que pode

ser um Estado, uma cidade ou um bairro.

E as redes organizacionais são as que reúnem instituições ou organizações,

tais como associações ou confederações, dentre outros.

Por mais diversas que sejam as temáticas trabalhadas em cada rede, o que

as une é o propósito de estender suas ações e idéias a um universo sempre mais

amplo de interlocutores.

Podemos afirmar que as redes sociais são também mutáveis, ou seja, a

entrada e saída dos seus membros é livre, portanto as redes estão em constante

movimento.

Na realidade das redes sociais é possível observar dois movimentos

dialéticos desenvolvidos em torno de dois eixos (Sanicola,2008). Esses movimentos

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podem acontecer simultaneamente em uma rede sendo que em determinado

momento um pode ser mais intenso e visível que o outro. São eles:

O movimento que vai da dimensão individual para a partilha, que é o

sentimento de pertencimento que um indivíduo sente em relação a rede que

participa devido ao encontro com outros membros com os mesmos interesses. Esse

sentimento estimula o compartilhamento e a solidariedade, além de valorizar a

identidade de cada um e do grupo. Em um determinado momento de dificuldade,

uma rede pode trabalhar o tema de forma coletiva e compartilhar recursos e esforços

ou então a rede pode partir para o individualismo. Isso depende de cada rede e

neste momento o papel do mediador é fundamental.

O outro movimento é o que parte da dependência para a autonomia. Esse

movimento parte do sentimento de pertencimento e da experiência de partilha para o

momento no qual as redes tornam-se autônomas para assumir projetos e

responsabilidades.

As redes podem ser, portanto, mais individuais ou mais coletivas e mais

autônomas ou mais dependentes. Quanto mais coletiva e autônoma for uma rede,

mais e melhores projetos poderão ser desenvolvidos, mas como a rede é composta

por seres humanos, essas características dependem muito da cultura, das redes

primárias e de um esforço individual para atuar sob um paradigma coletivo.

Lembremos que os participantes de uma rede social atuam individualmente

pelo coletivo. Quando a responsabilidade não é assumida de forma coletiva pode

gerar uma acomodação e adaptação de alguns membros pouco ativos,

intensificando assim, o risco de perderem sua capacidade de iniciativa e de

criatividade perante um desafio. Para isso é preciso desenvolver uma abordagem

mais ampla e integrada, com foco na dimensão coletiva dos problemas.

“É preciso tempo para que algumas mudanças possam penetrar na cultura

dominante, marcada pela burocratização e pelo assistencialismo, que ao longo dos

anos legitimou e, em muitos aspectos, instituiu a dependência da população perante

as instituições, inibindo qualquer sopro de criatividade social das agremiações da

sociedade, portanto também das redes sociais, entre as quais a família representa a

ponta mais saliente”. (Sanicola, 2008:85)

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As organizações sociais atuando em rede podem fortalecer um sentimento de

identidade e integração ao setor, embora este papel também encontre obstáculos

com a constituição de comunidades fechadas e fragmentadas, que são reflexos da

condição de desigualdades culturais, sociais e econômicas. Para o processo de

inclusão, portanto, a participação torna-se vital.

A rede pode ser o espaço no qual os interesses da sociedade civil, que é

fragmentada e heterogênea, se articulem com o Setor Público e com o mercado.

Enquanto parte das redes, as organizações não governamentais também podem ser

entendidas como espaço de interlocução entre o Estado e a sociedade civil, devido

ao aumento de parcerias entre os setores.

“Podemos entendê-las (ONGs) como entidades inseridas num conjunto de

atores e formas de participação que se interligam e integram redes. Estas redes

conformam um tecido movimentista, heterogêneo e múltiplo, que tem certa

permanência e articulação, com períodos de maior ou menor mobilização”. Alvarez,

1992.

As redes abrangem sujeitos coletivos e representam hoje novas formas de

participação ou manifestação cidadã, elas estendem-se de forma crescente não

apenas sobre o terreno da sociedade civil, mas abrangem também setores e

partidos do Estado. (Dagnino apud Albuquerque, XX).

Através das redes sociais constroem-se vínculos afetivos e de identidade e há

uma experiência de gestão comunitária e coletiva que tem um papel fundamental na

capacidade organizativa de uma comunidade.

A criação desses espaços de participação coletiva - que são as redes -

podem vir a contribuir para a formação de uma nova sociedade mais participativa e

mais integrada ao Estado.

2. Reflexões sobre a participação cidadã

Historicamente, o conceito de participação se origina na Antiguidade Clássica.

As cidades da Grécia antiga, também conhecidas como pólis, tinham um espaço

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urbano chamado Ágora, que representava a expressão máxima da esfera pública.

Nesse espaço, apenas os cidadãos, entenda-se aqueles que possuíam propriedade,

deliberavam e discutiam questões relativas a pólis. Tratava-se, portanto de uma

democracia direta.

O conceito vem ganhando novas conotações na medida em que vem sendo

estudado e debatido ao longo dos anos.

Teixeira (1997) entende participação como um fenômeno bastante complexo

e contraditório, sendo que “sua efetivação depende de condições objetivas

decorrentes da estrutura econômico-social e política, da cultura política que se

constrói historicamente e de condições subjetivas em termos da organização e

mobilização da sociedade civil”.

Pedro Demo (1993) concebe a participação na perspectiva da emancipação,

ele a considera um antídoto contra a tendência histórica de dominação e exclusão

social características da nossa sociedade. Para Demo (1996) a participação é

conquistada historicamente. O autor acredita que a participação somente é revelada

por meio de canais que a sociedade disponibiliza.

Participação é uma das palavras mais utilizadas no vocabulário político,

científico e popular da modernidade. Para Gohn (2001), o tema participação se

conceitua segundo quatro interpretações.

Na interpretação liberal, a participação objetiva o fortalecimento da sociedade

civil, a desestimulação da intervenção governamental e a ampliação de canais de

informação aos cidadãos, de forma que eles possam manifestar suas preferências

antes que as decisões sejam tomadas.

Na interpretação autoritária, a participação é orientada para a integração e o

controle social da sociedade e da política, e essa integração se dá através de

políticas públicas que estimulam, de forma hierárquica, a promoção de programas

para diluir conflitos sociais.

Na terceira interpretação, a democrática, a participação é vista como um

fenômeno que se desenvolve tanto na sociedade civil quanto nas instituições, em

forma de políticas.

Na quarta e ultima interpretação, a revolucionária, a participação se estrutura

em coletivos organizados para lutar contra as relações de dominação e pela divisão

do poder político.

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Neste estudo, devido a amplitude do tema, a abordagem da participação se

dá no contexto do Brasil, onde o conceito sempre esteve presente.

Albuquerque (2004) analisa a participação cidadã no Brasil em suas

diferentes fases, sendo que os primeiros movimentos sociais no país apareceram na

forma de resistências indígenas e negras, nas lutas abolicionistas e na busca por

independência.

A participação nos anos 1950 e 1960, tem caráter desenvolvimentista e torna-

se mais concreta. Ela é marcada por uma mais intensa mobilização social,

principalmente com o movimento sindical e suas reivindicações por reformas

políticas.

Com a ditadura em 1964, o país entra em um momento de forte repressão,

que por sua vez vem acompanhado de movimentos de resistência e enfrentamento,

tais como o Movimento Estudantil e outros movimentos sociais de luta que surgiram

à época.

Gohn 12 (apud Paz, 2000) define participação nas três ultimas décadas

enquanto participação comunitária nos anos 1970, participação popular nos anos 80

e participação social nos anos 1990.

Segundo Paz (2002) o conceito de participação nos anos 1970 foi bastante

influenciado por conceitos de comunidade e baseou-se em ideários comunitários e

de resistência política ao regime militar.

Nesta década de grandes mudanças econômicas, políticas e culturais, as

comunidades eclesiais de base atuaram fortemente enquanto agentes de formação

e organização

Doimo (1995) reitera este pensamento afirmando que juntamente com o

conceito de educação popular, a Igreja destaca-se como aliada na concepção de

participação popular no momento em que surge a Teoria da Libertação.

Para Paz (2000) a concepção de participação presente nestas práticas era a

da participação popular.

Paulo Freire13 traz neste momento o conceito de “educação popular”, que

propõe uma forma de educar-se mutuamente, construindo espaços não hierárquicos

nem autoritários para construção coletiva do conhecimento.

12 Apresentado em palestra proferida por Maria da Gloria Gohn, no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Movimentos Sociais, no Programa de Pós Graduação em Serviço Social, PUC/SP, 1999.

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Nesse âmbito, crescem no país os movimentos como os populares que

lutavam por creches e moradia, os clubes de mães e pastorais populares enquanto

espaços de recusa de hierarquias, rompendo subordinações e recusando-se a uma

“cidadania regulada”. (Santos apud Albuquerque, 2004)

No inicio da década de 1970 o Brasil vivenciou a fase que ficou conhecida

como “milagre econômico brasileiro”, período de intenso crescimento da economia.

Os movimentos participativos neste período, inspirados pela participação popular

atuavam, portanto, com novas demandas sociais.

“Na ausência de espaços legítimos de negociação de conflitos, o cotidiano, a

musica, o cinema, o local de moradia, a periferia, o gênero, a raça, tornam-se

espaços e questões publicas, lugares de ação política, construindo sujeitos com

identidades e formas de organização diferentes daquelas do sindicato e partido”.

Albuquerque (2004).

Segundo Albuquerque (2004), os anos 1970 e 1980 representam uma fase de

novos movimentos sociais enquanto espaços de construção de uma cultura

participativa e autônoma, multiplicando-se pelo país e formando uma rede de

organizações populares que se mobilizam pela conquista, garantia e ampliação dos

direitos.

Nos anos 1980 o conceito de participação esteve vinculado com a luta pela

redemocratização e as relações Estado – Sociedade.

Com os novos movimentos sociais emergindo no processo de

democratização, a sociedade civil se fortalece e traz novas dimensões para a

categoria de participação, abrindo canais de diálogo e negociação com o Estado.

Para Paz (2002), essa nova cultura participativa é o inicio de uma transformação

desta relação Estado – Sociedade, vista até este momento como uma relação

antagônica.

Mas é a partir da Constituição de 1988 que a idéia de participação torna-se

cada vez mais clara e os movimentos sociais não reivindicam mais somente a

condição de incluídos na sociedade, eles reivindicam também sua participação na

definição do tipo de sociedade em que querem ser incluídos, eles querem participar

da “invenção de uma nova sociedade”. (Dagnino, 1994).

13 Paulo Freire foi um grande educador brasileiro que se concentrou na educação popular para a cidadania. Uma de suas obras mais marcantes foi a Pedagogia do Oprimido, Educação como Prática da Liberdade, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.

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Segundo Paz (2002), com a “Constituição Cidadã”, como ficou conhecida, a

participação direta dos cidadãos amplia-se para dimensões de direitos sociais e

cidadania, avançando de um período reivindicativo para um momento propositivo.

Paz (2002) ainda defende os anos 1980 como um período no qual a

sociedade civil brasileira se reorganiza e coloca em pauta um conjunto de temas

relativos à democratização e à reforma do Estado.

Como apresentado por Gohn (apud Paz, 2000):

“Nos anos 80, a temática da participação social era um ponto de pauta na

agenda política das elites políticas, denotando dois fenômenos: de um lado a crise

de governabilidade das estruturas de poder do Estado, desgastadas e

deslegitimadas pelo autoritarismo; de outro, a legitimidade das demandas expressas

pelos movimentos sociais – novos ou velhos – e a conquistas de espaços

institucionais como interlocutores válidos”.

As organizações de base, a pressão e ocupação de espaços continuam

sendo o eixo da participação, mas segundo Gohn (apud Paz), passa-se a falar em

participação popular, vinculada à organização e mobilização de setores populares.

Pontual (2000) defende a o processo de radicalização da democracia, no qual

a participação popular é elemento substantivo para possibilitar efetivamente uma

mudança na relação entre o Estado e a Sociedade em que esta ultima passe a

controlar e definir o Estado que necessita.

Segundo Gohn (1999), a partir dos anos 1990, com a dimensão dos direitos

de cidadania e participação, percebe-se com maior freqüência a utilização do termo

“participação social”.

Telles (apud Teixeira 2001) concorda e sugere a requalificação do conceito de

participação popular ou social, nos termos de uma participação cidadã que “interfere,

interage e influencia na construção de um senso de ordem pública”. E nesse sentido

este conceito (de participação cidadã) contemplaria dois elementos, o “fazer ou

tomar parte” e o elemento cidadania, no sentido cívico.

A criação e o exercício de direitos, deveres e responsabilidades fomentam a

organização e fortalecem a sociedade civil. Sendo assim, conforme argumenta

Teixeira (2001), a participação cidadã é diferente da participação social, popular e

comunitária por articular elementos de cidadania e de participação.

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Um marco desta década foi a Eco 92, Conferência das Nações Unidas para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento e que aconteceu em junho de 1992, na cidade

do Rio de Janeiro. Esta Conferência consolidou no Brasil o conceito de

desenvolvimento sustentável para a conscientização dos problemas relacionados ao

meio ambiente.

O evento, que contou com a participação de diversos chefes de Estado, teve

como principal resultado um documento chamado Agenda 21, que consiste em um

conjunto de ações e políticas a serem implantadas por todos os países participantes

da conferência com o fim de promover uma nova política de desenvolvimento,

pautada na responsabilidade ambiental. Até hoje é possível participar dos encontros

da Agenda 21, que trabalha ativamente com questões ambientais e sociais.

Além da Agenda 21, tomaram corpo durante as articulações da Eco 92, duas

importantes redes que atuam até o presente momento, a REBEA – Rede Brasileira

de Educação Ambiental, e a REPEA – Rede Paulista de Educação Ambiental. Essas

redes vem ao longo dos anos articulando outras redes, criando uma grande malha

nacional de educadores ambientais.

Estes são exemplos práticos de como se constituiu a participação cidadã na

década de 90.

Teixeira (2001) utiliza o conceito de participação cidadã para qualificar este

período enquanto “processo emergente (...) de uma sociedade civil plural que busca

criar espaços públicos em que se expressam interesses, aspirações, valores, se

constroem consensos, definem dissensos e regulam conflitos”.

A participação cidadã também pode ser entendida através da suas várias

modalidades de ação, pois ela se efetiva em diferentes dimensões, tais como de

integração, decisória, educativa, expressiva simbólica, dentre outras.

“A participação cidadã, nas suas diferentes dimensões, utilizando

mecanismos institucionais, contribui para o fortalecimento da sociedade civil que

passa a exercer importante papel na democratização do Estado e das instituições”.

(Teixeira, 1997).

Mesmo utilizando diferentes terminologias, participação cidadã para Teixeira

(2001) e participação social para Gohn (1999), ambos concordam que participação

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atualmente significa o fortalecimento de mecanismos democráticos e de

consolidação da cidadania.

As redes sociais manifestam-se como novos canais de participação cidadã

uma vez que a ação desses grupos podem influenciar a opinião pública e a cultura

da sociedade e em decorrência disso, relacionar-se com o Poder Público para

influenciar em questões políticas de forma democrática e participativa levando novos

temas e discussões à agenda publica.

Para Teixeira (1997), a existência de uma sociedade civil organizada e

autônoma em relação ao Estado e ao mercado constitui elemento importante para a

efetivação da participação. Isso requer a constituição de espaços públicos

autônomos em que as diversas organizações sociais e os indivíduos possam exercer

seus direitos de informação, de opinião e possam articular-se numa ação coletiva.

Desse modo, no contexto dos anos 1990 surge uma nova forma de

compreensão da participação social. Paz (2002) admite que a esfera local passa a

ser entendida como dinamizadora das mudanças sociais e como espaço de

“resistência aos efeitos devastadores da globalização”, sendo que a revalorização do

local representaria um contraponto às formas de dominação presentes na

globalização.

O processo de participação cidadã no Brasil encontra obstáculos como o seu

histórico sócio político e uma sociedade civil ainda muito frágil e fragmentada.

“Participação é fazer parte, tomar parte, ser parte de um ato ou processo, de

uma atividade pública, de ações coletivas. A referencia à parte implica pensar o todo,

a sociedade, o Estado, a relação entre as partes entre si e das partes com o todo.

Esse todo não é homogêneo (...). Diante disso coloca-se o problema de como atingir

interesses gerais numa sociedade dominada pelo particularismo e

fragmentação”.(Teixeira, 1997)

Para (Paz 2002) as mudanças mundiais, econômicas e sociais provenientes

da globalização, reconfiguram a participação nos anos 1990. Nesse contexto as

ações voltam-se para saídas mais individuais do que coletivas.

Surgem novas identidades nos movimentos sociais que passam a constituir-

se por temáticas como gênero, idade e territórios, por exemplo. A questão da

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participação por sua vez, precisa de novos espaços de atuação devido a esses

novos sujeitos sociais e às mudanças globais.

Paz (2002:30) afirma que “as formas de organização construídas ao longo

destas três décadas já não dão conta de enfrentar as novas demandas de relação

com o Estado e de temas globais. Surge então o conceito de redes sociais,

enquanto um caminho para potencializar e articular as diferentes forças sociais (...)

enquanto possibilidade de romper com modelos tradicionais de estruturação de

movimentos, possibilitando uma maior democratização interna, ampliando suas

bases e a consecução de seus objetivos reivindicatórios”.

A participação cidadã não deve ser encarada como um fim, mas sim como um

meio para se construir uma sociedade mais democrática. As redes sociais podem vir

a contribuir com esta demanda enquanto uma lógica estratégica de transformação

individual, coletiva e social, elas podem, portanto ser espaços públicos propícios

para tal, desde que se dediquem a uma permanente reflexão critica e coletiva.

Deste modo, a participação entendida como confronto dá lugar a uma

participação entendida como negociação, embora seja importante lembrar que

espaços de participação sempre foram “ofertados” pelo Estado, até mesmo no

momento da ditadura, porém de forma muito restrita e privilegiada.

Um dos elementos fundamentais e determinantes para viabilizar a

participação é a informação. A qualidade da participação de uma sociedade é

proporcional à qualidade e quantidade das informações que cada um possui e as

redes sociais são mais um espaço para se compartilhar informações.

Enquanto meio de tornar públicas novas demandas e novos valores, as redes

sociais mostram seu possível caráter de transformação social. Ao se multiplicarem,

elas podem contribuir para a criação de diversos canais de democracia participativa,

reivindicando uma cidadania mais ativa.

A cidadania pode ser entendida como a relação entre o Estado e o cidadão.

Em uma definição fornecida pelas Ciências Sociais, “cidadania é a pertença passiva

e ativa de indivíduos em um Estado-nação com certos direitos e obrigações

universais em um especifico nível de igualdade”. (Janoski, apud Vieira 2001:34).

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Desse modo, Vieira (2001) traz a idéia de que a cidadania é construída tanto

por direitos passivos de existência, que são legalmente limitados, como por direitos

ativos que propiciam a capacidade de influenciar o poder político.

Para Albuquerque (2004), garantir continuidade, permanência e

aperfeiçoamento da democracia participativa “é preciso priorizar praticas menos

dependentes da iniciativa governamental, buscar o fortalecimento do tecido social,

identificando e qualificando as organizações populares autônomas e outros atores

da sociedade civil, (...) enquanto promotores da cidadania”.

Como um canal de participação cidadã, as redes sociais precisam se

aperfeiçoar continuamente para dar conta dos novos desafios que se apresentam no

cotidiano.

É possível perceber ao longo da história do país que a mobilização social é

fator de transformação a partir de espaços de organização da sociedade, embora

uma nova concepção de democracia, mais participativa, ainda seja um processo

lento e complexo.

Nesse sentido de construção democrática, o conceito de participação cidadã

é estratégico enquanto promotor de cidadania e transformador das relações Estado

e Sociedade Civil.

É preciso, portanto, atenção com relação aos espaços de participação muito

segmentos e esvaziados de conteúdo democrático. Devido ao histórico de

autoritarismo que produziu uma sociedade frágil no que diz respeito a participação

cidadã, percebemos uma dificuldade da sociedade em se mobilizar com eficiência

para ocupar os espaços de forma realmente transformadora.

“... A apatia, a indiferença em relação a qualquer questão que não tenha

relação com os interesses próprios, (...) porque para uns são oferecidas muitas

oportunidades de desfrute, para outros, a luta pela sobrevivência não lhes dá

energia para sequer pensar em alternativas”. (Teixeira, 1997).

As redes sociais, enquanto atores sociais e políticos podem ser uma

possibilidade de incentivo para a participação cidadã, uma vez que podem favorecer

os processos de construção de identidade de um coletivo, que expressa suas

aspirações e necessidades, num primeiro momento através da convivência, da

tomada de decisão e, num segundo momento, trabalhando processos mais

complexos.

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III Caracterização do Senac SP e o Programa Redes

Sociais

1. Breve histórico dos campos de atuação do Senac SP

O Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial é uma instituição

educacional de direito privado e sem fins lucrativos, criada pelo governo federal por

meio dos Decretos-Lei nº 8.621 e 8.622, de 10 de janeiro de 1946. Tal iniciativa

deveu-se ao esforço do empresariado do comércio que, inspirado na bem-sucedida

criação do Senai em 1942, na área da indústria, reivindicou e obteve do governo a

incumbência para organizar, manter e administrar um organismo nacional de

formação profissional para o setor terciário.

Dessa forma, foi atribuído à Confederação Nacional do Comércio o encargo

de implantar e desenvolver, em todo o País, escolas de aprendizagem comercial

para empregados e candidatos a emprego no setor comercial. Para viabilizar essa

tarefa, a legislação que deu origem ao Senac, e posteriormente ao Sesc 14 ,

determinou que o comércio contribuiria com o correspondente a 1% da sua folha de

pagamento para a manutenção do Senac e com 1,5% para o Sesc.

Atualmente o orçamento do Senac é misto, ou seja, metade da verba provem

da arrecadação dos comerciantes, que contribuem com 1% da sua folha de

pagamento, e a outra metade é proveniente das atividades e cursos desenvolvidos

pela entidade. Hoje, o orçamento anual total é de R$ 340 milhões e o próprio Senac

São Paulo gerencia estes recursos.

O Senac, por ser uma entidade privada que opera com recursos públicos

(arrecadação compulsória sobre a folha de pagamento das empresas de comércio e

serviços), é obrigada a cumprir a mesma legislação financeira, contábil e

orçamentária que rege as empresas públicas (Lei n° 4.320/64).

Assim, além do Orçamento Gerencial (planejamento financeiro), O Senac

deve elaborar um Orçamento Oficial, denominado “Orçamento-Programa”, que é

submetido à aprovação do Ministério do Trabalho, através do Departamento

Nacional do Senac. As características deste Orçamento são semelhantes às do 14 O Sesc – Serviço Social do Comércio visa à valorização do trabalhador, oferecendo atividades de caráter educativo nas áreas de esporte, saúde, cultura, lazer e cidadania.

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planejamento financeiro, entretanto sua estruturação contém detalhamentos

específicos que são padrões a todos os órgãos de administração pública, devendo

retratar fielmente as ações a serem empreendidas nos Planos de Ação Nacional e

Regional e as possibilidades reais de execução dos diversos projetos e atividades,

para que estes se processem segundo as diretrizes estabelecidas15.

Por ter sido criado por decreto-lei, é comum pensar-se que o Senac seja uma

instituição pública. Entretanto, trata-se de uma entidade de direito privado, cuja

organização e administração estão delegadas, por lei, à Confederação Nacional do

Comércio, órgão máximo de representação sindical patronal do setor de comércio e

serviços.

Seis meses após o surgimento do Senac Nacional foi criado o Senac São

Paulo, o primeiro a iniciar suas atividades no País com a eleição do Conselho

Regional do Estado de São Paulo em 13 de julho de 1946. De início, a atuação do

Senac São Paulo estava voltada, exclusivamente, para a formação de aprendizes –

jovens a partir de 14 anos encaminhados pelas empresas. Por esse motivo, a

instituição manteve durante vários anos, como mais importantes títulos de sua

programação, o Curso Preparatório para o Comércio, com duração de dois anos, e o

Curso Básico de Comércio, de quatro anos. Essas atividades eram desenvolvidas,

principalmente, em instalações provisórias e de terceiros.

Numa segunda fase de sua história, entre 1954 e 1961, o Senac São Paulo

diversificou sua atuação, ampliando o atendimento a trabalhadores dos vários

setores de comércio e serviços. Com isso, passou a oferecer cursos também para

jovens que ainda não trabalhavam e queriam entrar para o comércio, bem como

para trabalhadores adultos já empregados ou à procura de emprego. Nessa época

foram implantados os ginásios comerciais – cursos regulares de formação

profissional com quatro anos de duração – e os cursos de formação acelerada, de

curta duração, destinados à clientela adulta. Esse período marca também o início da

construção de prédios próprios.

Na década de 1960, o Senac São Paulo continuou desenvolvendo essas duas

linhas de trabalho e, para dar continuidade ao chamado “ginásio comercial”, criou o 15 Para o acompanhamento das variações entre o previsto e realizado, mensalmente são encaminhados ao Departamento Nacional e ao Conselho Fiscal, relatórios específicos que obedecem às normas estabelecidas no CODECO – Código de Contabilidade e Orçamento. No Senac São Paulo, a Gerência de Finanças é responsável pela gestão desta atividade. Para elaboração do Orçamento Oficial, norteia-se pelo Orçamento Gerencial das Unidades e por orientações específicos do Departamento Nacional do Senac (previsão de arrecadação da receita compulsória).

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Colégio Técnico Comercial, mantido até o final daquela década, com cursos de

Contabilidade e Secretariado, que seriam equivalentes, hoje, ao ensino médio.

Também foi criado o curso de Auxiliar de Vendas e Escritório, com três anos de

duração.

Nos anos 1970, a instituição ampliou o número de atendimentos, diversificou

seus serviços e sua clientela, incluindo agora empresas e, de forma geral, a própria

comunidade. Assim, a ação de suas unidades, então denominadas Centros de

Formação Profissional, foi ampliada com a atuação das Unidades Móveis, o uso da

metodologia de ensino a distância e das Empresas Pedagógicas.

A década de 1980 foi marcada por uma grande crise econômica nacional e

internacional, com muitas transformações sociais vindo a reboque do

desenvolvimento acelerado da alta tecnologia e da difusão da informação. O

mercado de trabalho passou por mudanças profundas, que alteraram muito o perfil

das ocupações dos diferentes setores da economia. Tudo isso afetou de forma

intensa o Senac São Paulo.

Essa necessidade de mudança resultou na elaboração da Proposta

Estratégica para o Senac São Paulo nos anos 1980. O documento propunha o

equilíbrio da situação financeira em curto prazo, assegurava um futuro mais estável

da instituição em longo prazo e redimensionava a estratégia de atendimento e

crescimento na capital e no interior. Em 1984 o Senac abriu a sua atuação para

todos os públicos.

Uma das conseqüências dessa proposta foi a expansão da rede física da

organização, principalmente na Grande São Paulo, com a implantação de um novo

conjunto de Unidades Operativas, a partir de então divididas em Especializadas e

Polivalentes.

A partir de 1989, com a implantação do curso superior de Tecnologia em

Hotelaria, o Senac São Paulo passou a atuar também no campo da educação

superior.

Nos anos 1990, a abertura econômica inseriu o Brasil no mundo globalizado,

inundado por produtos e serviços de toda a parte do mundo, transformando o

cenário nacional num ambiente extremamente competitivo para todos os setores da

economia. A busca da qualidade em produtos, processos e serviços tornou-se

imperativa para a sobrevivência dos negócios. Somado a isso, um movimento da

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população em defesa da qualidade de vida, ecologia e cidadania revalorizou a

educação como fator fundamental para esse processo de mudança.

O Senac São Paulo respondeu a essas transformações com a definição da

sua Proposta Estratégica, que estabeleceu diretrizes e planejamento para suas

ações ao longo da década e contou com a participação de diversos setores da

organização, proporcionando um modelo de gestão mais moderno, descentralizado

e flexível. Com isso, a instituição pôde ter uma visão mais ampla do mercado,

diversificando seus produtos e serviços.

É importante salientar que o Senac São Paulo é uma instituição que atua em

rede. São mais de 50 unidades que oferecem, em geral, os mesmos cursos, que

devem ter a mesma qualidade seja em Botucatu, interior de São Paulo, ou em

Itaquera, bairro da zona leste da cidade. Para isso, sua atuação interna necessita de

pré requisitos de rede, como a comunicação horizontal, autonomia e co

responsabilidade.

Nos anos 1990 o Senac criou o Programa Senac de Educação e Cidadania,

que sistematizou e intensificou a atuação institucional no campo da responsabilidade

social. Esse Programava visou reunir todas as ações sócio comunitárias

desenvolvidas pela Instituição, como as campanhas de Amamentação, Diabetes,

Prevenção do Câncer de Pele, Boa Visão, além de programas de capacitação

profissional para populações de baixa renda e participação em movimentos sociais.

Neste período tiveram início as atividades do Canal Aberto, que sistematiza o

fluxo de comunicação e opinião dos clientes do Senac São Paulo através de caixas

de sugestões, bem como as atividades da TV Senac São Paulo, que iniciou sua

operação como canal educativo, levando ao ar uma programação com temas

voltados para o mundo do trabalho.

A partir de meados da década de 1990, multiplicaram-se os esforços para a

inserção decisiva da instituição no âmbito da educação superior. Até o final desta

década, são criadas as Faculdades Senac de Moda, Comunicação e Artes, Ciências

Exatas e Tecnologia, que se somam à Faculdade Senac de Hotelaria e Turismo.

Em 2002 o Senac lançou o site do Portal Setor 3, que foca o trabalho de

organizações de base comunitária e em 2005 lançou o Programa Voluntariado

Corporativo, que coordena e promove iniciativas em toda a rede, visando o incentivo

ao trabalho voluntário de funcionários, alunos e visitantes.

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O Senac hoje conta com dois mil e setecentos funcionários diretos e está

estruturado organizacionalmente conforme organograma a seguir:

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Em julho de 2008, o Governo Federal e o Sistema S16 fecharam acordo que

amplia as vagas em cursos e a gratuidade dos serviços de educação ofertados pelo

sistema.

Com o acordo firmado em nível nacional com o MEC, o Senac se

compromete a oferecer vagas gratuitas, relativas a parcelas de sua receita

compulsória em cursos de formação inicial e continuada e de educação profissional

técnica de nível médio.

Esse fato trouxe grandes mudanças internas para a Instituição, que se

comprometeu a cumprir o acordo de forma gradual, ou seja, no ano de 2009 o

Senac oferecerá gratuidade em 20% dos seus cursos, em 2010 será 25% até chegar

em 66,6% em 2014.

O Senac São Paulo decidiu incorporar as diretrizes desse compromisso na

sua Política de Concessão de Bolsas de Estudo, que para o Departamento Nacional,

fica conhecida como Programa Senac de Gratuidade (PSG), denominação que não

foi adotada pelo Senac São Paulo.

Até o ano de 2002, o Senac havia realizado 38 milhões de atendimentos,

entenda-se aqui alunos formados em diversos cursos dentre os cerca de dois mil

cursos oferecidos.

2. Programa Redes Sociais

O Senac - SP tem como objetivo tornar-se referência como uma organização

16 Sistema S é o nome pelo qual ficou conhecido o conjunto de onze instituições que, conforme instituido pela

União e estabelecido pela Constituição brasileira, são consideradas contribuições de interesse de categorias profissionais. As receitas arrecadadas pelas contribuições ao Sistema S são repassadas a entidades, na maior parte de direito privado, que devem aplicá-las conforme previsto na respectiva lei de instituição. Em geral, as contribuições incidem sobre a folha de salários das empresas pertencentes à categoria correspondente sendo descontadas regularmente e repassadas às entidades de modo a financiar atividades que visem ao aperfeiçoamento profissional (educação) e à melhoria do bem estar social dos trabalhadores (saúde e lazer). As entidades em questão são as seguintes: INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária; SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; SESI - Serviço Social da Indústria; SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio; SESC - Serviço Social do Comércio; DPC - Diretoria de Portos e Costas do Ministério da Marinha; SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Fundo Aeroviário - Fundo Vinculado ao Ministério da Aeronáutica; SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural; SEST - Serviço Social de Transporte; SENAT - Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte; SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Uma vez que a maioria das instituições tem sua sigla iniciada pela letra "S" compreende-se o motivo do nome do Sistema S. Fonte: "http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_S"

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do terceiro setor17 através de ações inovadoras e sua missão é “proporcionar o

desenvolvimento de pessoas e organizações para a sociedade do conhecimento,

por meio de ações educacionais comprometidas com a responsabilidade social”.

Como visto anteriormente, na década de 1990, o trabalho social desenvolvido

pelo Senac ganhou nova configuração com o fortalecimento do Terceiro Setor.

A partir desse momento, a instituição redirecionou seu foco no sentido de

promover o fortalecimento das organizações não-governamentais, mais

precisamente as de base comunitária, por meio da capacitação, integração e

mobilização.

Influenciado pelo novo modelo de gestão em rede, proposto pela globalização

contemporânea, o Senac passou a concentrar recursos no desenvolvimento de

lideranças, gestores e educadores de organizações sociais, que estão hoje

articuladas com a instituição, através do Programa Redes Sociais.

O Senac entende rede social como um “sistema capaz de reunir e organizar

pessoas e instituições de forma igualitária e democrática, a fim de construir novos

compromissos que beneficiem a vida das comunidades”.

Para Claudio Silva, a rede pode trazer “melhoria das condições econômicas

de uma comunidade solidária e de arranjos produtivos locais que permitam que a

cidade ou a região ou o bairro cresçam e abram espaço para emprego das pessoas

que moram naquela região (...) o Senac tem como objetivo a proposta

desenvolvimento de pessoas e organizações e o desenvolvimento só se da quando

existe o desenvolvimento da sociedade daquela comunidade. Desenvolver a

sociedade para que ela possa crescer de forma planejada, consciente e madura e

isso implica na participação das pessoas e instituições nas discussões dos seus

problemas. Essa idéia levou-nos a criar um projeto, uma proposta que é desenvolver

redes sociais”.

O Senac São Paulo desenvolve o Programa Rede Social desde 1997 a atua

em diversos municípios do Estado.

A missão do Programa Rede Social do Senac é “mobilizar, capacitar e

fortalecer as organizações sociais para implementar ações em rede que visam à

melhoria da qualidade de vida de suas comunidades e contribuem para o

17 Para o Senac SP, o Primeiro Setor é o Estados, que administra verbas públicas com finalidades públicas, o Segundo Setor é o mercado, que administra verbas privadas com finalidades privadas e o Terceiro Setor são as instituições que administram verbas privadas com finalidade pública, como é o caso do Senac e da maioria das ONGs. Fonte: Material Formatos Brasil – Formação de Atores Sociais, Senac SP, 2004.

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desenvolvimento local”.

Para Claudio Silva, gerente de desenvolvimento do Senac SP, este programa

“tem um papel bastante importante (...) que é de criar pontos de inclusão (...) e

pontes que permitam que as pessoas cruzem e passem para a parte da sociedade

incluída” .

A instituição propõe uma metodologia de trabalho em rede, que tem como

objetivo articular pessoas e organizações para propor soluções aos problemas

sociais das localidades de forma a otimizar recursos, conjugar esforços e favorecer o

intercâmbio de experiências para o crescimento comum.

O Programa Redes Sociais é também um trabalho educativo, no sentido de

orientar as pessoas e organizações a atuarem de forma participativa e coletiva para

a melhoria de suas comunidades. Para Cláudio Silva “a educação profissional não

se faz só de formação de pessoas ou de técnicos, ela vai muito além e permite que a

gente pense numa formação ou num trabalho que desenvolva comunidades também,

nesse sentido eu amplio as possibilidades que eu tenho em uma determinada

comunidade para o emprego. Se eu tenho uma melhor organização social, as

pessoas se juntam para estabelecer um plano diretor da cidade e certamente fazer

um plano diretor para crescimento econômico para desenvolvimento econômico

dentro da cidade”.

Atualmente no Senac SP são cerca de 700 organizações trabalhando em

rede e mais de 70 projetos em andamento nas seguintes localidades do interior de

São Paulo: Águas de São Pedro, Araçatuba, Araraquara, Barretos, Bauru, Botucatu,

Campos do Jordão, Carapicuíba, Catanduva, Guaratinguetá, Guarulhos, Itirapina,

Jaboticabal, Jaú, Jundiaí, Limeira, Marília, Miguelópolis, Osasco, Piracicaba,

Presidente Prudente, Rio Claro, Rio Preto, Santos, São Carlos, São João da Boa

Vista, São José dos Campos, Sorocaba, Taubaté e Votuporanga e nos seguintes

bairros da capital: Bela Vista, Campo Grande, Jabaquara, Itaquera, Lapa, Penha e

Vila Prudente.

Em cada uma das localidades onde o Programa está sendo implementado, o

Senac investe em um colaborador para articular e mediar a Rede Social. Dentre

suas atribuições, este colaborador que é chamado de mediador, deve inicialmente

identificar através de pesquisa de campo, os atores sociais da localidade.

Após o diagnóstico inicial, o mediador convida esses atores sociais, que são

em geral as lideranças comunitárias, representantes de organizações sociais, de

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poder público e moradores representativos da localidade, para um primeiro encontro,

onde é feita a proposta de atuação em rede.

Aceita a proposta, os encontros tornam-se periódicos e o mediador incentiva

o grupo a identificar objetivos comuns, de forma a estabelecer compromissos,

responsabilidades e projetos comuns. O mediador deve assessorar na

implementação desses projetos que visam a melhoria da qualidade de vida da

comunidade envolvida.

Para Cecília Tavares, técnica de desenvolvimento do Senac SP, “o papel da

instituição é o da mediação e de organizar esse processo de forma democrática para

garantir a participação igualitária dos componentes (o Senac) também anima os

encontros e faz registros dos principais pontos debatidos e dos novos compromissos

que o grupo assume, influencia para a participação cooperativa e descentralizada

(...) anima pessoas para que esses novos compromissos se transformem em

projetos e cria veículos de comunicação eficientes que mantenham as pessoas

informadas e conectadas”.

O Senac utiliza uma metodologia para a formação e a articulação das Redes

Sociais, que é uma orientação bastante flexível, uma vez que a participação no

processo de formação de redes sociais deve ser livre, portanto a metodologia não

pode enrijecer o processo.

O primeiro passo para a formação de uma rede social é realizar um encontro

para a criação de um espaço comum. O objetivo neste momento é a formação de

elos entre os componentes.

Um segundo momento é o de identificação e conhecimento mútuo, onde os

participantes se apresentam e se reconhecem como atores sociais da mesma

localidade. Um fato curioso é que se percebe sempre um desconhecimento do

trabalho do outro, a falta de conexão entre trabalhos similares numa mesma

localidade fica bastante nítida e com isso evidencia-se a necessidade de um

trabalho mais integrado entre as pessoas e instituições.

Outra etapa diz respeito à proposição e estabelecimento das visões de mundo

dos componentes para efetuação de propostas comuns. Ou seja, depois de se

conhecerem e identificarem o trabalho dos outros membros da rede é necessário

diagnosticar se o grupo compartilha da mesma visão, dos mesmos objetivos. Mesmo

que executem trabalhos com temáticas diversificadas, é preciso que o grupo

compartilhe um mesmo objetivo amplo, como o desenvolvimento social da região

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onde atuam, por exemplo.

Um quarto passo para formação da rede social é a composição e

estabelecimento de parcerias e é neste momento que o grupo começa o processo

de troca, que pode ser de informação, serviços ou objetos, por exemplo.

O quinto passo é a definição e execução de um projeto ou ação comum. Após

o grupo se conhecer, se conectar, compartilhar uma visão comum e realizar trocas,

os projetos surgem naturalmente com as demandas do grupo. Dessa forma eles se

organizam para o início de uma experiência participativa, que é a realização de um

projeto comum.

Esses passos não precisam seguir uma ordem rígida, apenas precisam

acontecer, uma vez que cada rede tem o seu perfil e a sua dinâmica.

A participação na rede é livre, gratuita e aberta a todos os interessados e o

Senac acredita que as redes sociais são ambientes democráticos, que prezam as

relações horizontais e igualitárias e acredita que as soluções e alternativas para os

problemas sociais devem ser construídas em conjunto.

Embora o Senac seja o fomentador dessas redes sociais, é sempre preciso

tomar cuidado com a questão da horizontalidade na rede. Como afirma Cecília

Tavares, "Pela expertise e pelo nome que o Senac tem no mercado (...) tem um

peso significativo nas decisões e proposição de projetos”.

Como o Senac tem um peso grande dentre as instituições do terceiro setor,

muitas vezes percebemos uma acomodação dos seus participantes, que esperam o

Senac trazer idéias e soluções.

Com o passar do tempo, e aí o papel do mediador é essencial, é preciso

mostrar aos participantes a importância da participação, da co-responsabilidade e da

autonomia. E isto não é simples de assimilar, devido ao histórico social já comentado

anteriormente, que incentiva o assistencialismo, o clientelismo e a burocratização.

Mas é função do mediador e de todos incentivar transformações não só

comunitárias, mas de mudanças de paradigmas individuais.

Para Claudio Silva, os resultados do Programa Redes Sociais tem sido

valiosos, em suas palavras: “tudo o que eu tenho lido, acompanhando os relatórios

que me vem das redes, acompanhando o site, tudo o que está acontecendo e

acontece e aconteceu dentro das redes, eu percebo como um trabalho que tem uma

qualidade um desenvolvimento, uma característica marcante que é o da autonomia,

que eu acho muito importante, a preocupação constante de que o Senac não é o

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dono da rede, nem é o coordenador e nem é aquele que vai sustentar a rede

eternamente e a saída da instituição em algum momento não deve implicar em um

encerramento da atividade, é claro que em uma rede que se inicia ela necessita de

mais presença e mais apoio institucional, como uma criança que precisa de alguém

que possa ajudá-la a alimentá-la, mas a medida em que essa rede avança e ganha

maturidade elas passam a se auto gerir e as pessoas passam a entender desse

processo dessa discussão e dessa construção concertada. Então o grande mérito da

metodologia é fazer com que as pessoas entendam compreendam e aprendam a

trabalhar dessa forma ““.

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IV Rede Social Campo Grande - SP e o processo de

participação cidadã

1. Antecedentes da criação da Rede Social Campo

Grande - SP e o seu processo organizativo

No período entre 1832 e 1935 Santo Amaro era considerado município e hoje

é um grande distrito do município de São Paulo, que abrange os sub distritos de

Campo Belo, Campo Grande e Santo Amaro.

O centro de Santo Amaro é principalmente voltado para o comércio, que se

desenvolveu rapidamente e hoje é uma região mista, com comércio, moradias e

indústrias.

Nos anos 1970, essa localidade prosperou muito devido às novas indústrias

que foram instaladas, especialmente no Campo Grande, por imigrantes europeus.

Nesta época, Santo Amaro chegou a responder por 50% do recolhimento de

impostos na cidade.

Com o passar dos anos, o bairro do Campo Grande perdeu muitas dessas

empresas, que migraram para o interior e hoje desenvolve principalmente atividades

do setor de comercio e serviços, embora ainda conte com multinacionais, como

Philips, Oracle, Pfizer, Deustche Bank e Schering do Brasil, além de hotéis de alta

categoria, voltados para o turismo de negócios, como o Transamérica e Melià.

Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, a população do Campo Grande é

de 91.373 pessoas18 e 46,4% dos domicílios têm faixa de renda per capta superior a

cinco salários mínimos19.

No ano de 2004, o Senac - SP então com 58 anos de atuação na área da

educação técnica e profissionalizante, e desde 1989 atuando na educação superior,

trouxe para o Campo Grande o Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro.

A construção do Campus Senac se deu com o objetivo de promover

integração entre os alunos de todas as áreas em um ambiente acadêmico, pois

antes do campus os cursos universitários oferecidos pelo Senac estavam dispersos

nas diversas unidades da rede. 18 Dados referentes ao ano 2000, excluindo-se domicílios cuja espécie é do tipo coletivo 19 Salário mínimo de referencia do Censo 2000: R$151,00

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O Campus Santo Amaro foi construído num terreno de 120 mil metros

quadrados que antes abrigava uma fábrica da Walita, empresa produtora de

eletrodomésticos. A obra contou com um projeto de ecoeficiência desenvolvido pela

área de Educação Ambiental do próprio Senac - SP. A inauguração oficial do

Campus Santo Amaro aconteceu em 22/03/2004.

Com esta obra em funcionamento, foi estratégico para a instituição que o

Programa Redes Sociais, atuante desde 1997, também acontecesse no campus.

Além de facilitar o bom relacionamento com a comunidade local, o Programa

cumpriria com o papel do Senac - SP de levar o desenvolvimento para as

comunidades onde atua.

A partir disso, foi designado um funcionário para implementar o processo, que

iniciou com um mapeamento e um diagnóstico sobre as organizações sociais

atuantes no sub distrito do Campo Grande.

Após o mapeamento foram realizadas algumas visitas às instituições

mapeadas, onde ocorreu uma exposição do Programa Redes Sociais e apresentou-

se um convite para participar de um primeiro encontro.

A rede social Campo Grande teve o seu primeiro encontro realizado no dia

27 de julho de 2004 no Auditório da Biblioteca do Centro Universitário Senac

Campus Santo Amaro.

Neste primeiro encontro, que contou com a participação de sete organizações

sociais não governamentais da região, foi feita a proposta de atuação em rede.

As organizações participantes deste primeiro encontro foram a Grão da Vida,

Lar da Criança da Congregação Israelita Paulista, Caminhando Núcleo Espírita de

Educação, Brascri, ASAM Centro de Apoio ao Jovem, Associação Maria Helen

Drexel, Ação Social Nossa Senhora de Fátima.

Das sete organizações iniciantes, quatro ainda são participantes ativas da

rede, Grão da Vida, Brascri, ASAM e Ação Social Nossa Senhora de Fátima.

Neste primeiro encontro, o grupo aceitou a proposta do Senac - SP para uma

atuação em rede e iniciou suas atividades a partir desse momento.

A rede social Campo Grande se encontra mensalmente, no Senac - SP ou em

alguma organização social participante. Em 2008, por exemplo, os encontros

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aconteceram sempre na terceira quinta feira do mês. A divulgação das datas

também é feita através do site da rede20.

Os encontros da rede têm duração de no máximo três horas. Para que a

circulação de informação flua livremente e para estimular a horizontalidade na

atuação, os participantes sentam-se em cadeiras dispostas em forma de circulo.

O mediador conduz a reunião, respeitando a fala de todos. A pauta da reunião

é construída coletivamente, muitas vezes em conseqüência da pauta anterior, mas

todos podem acrescentar temas que gostariam de discutir naquele dia. A pauta por

sua vez, não deve ser encarada de forma rígida, procura-se trabalhar todos os

temas que lá estão, mas caso o grupo sinta necessidade de discutir mais

intensamente um dos temas, estes poderão ser tratados em um próximo encontro,

desde que haja concordância do grupo.

A idéia de consenso é muito trabalhada na rede. Na metodologia proposta

pelo Senac - SP, não deve existir votação em uma rede, pois a instituição acredita

que se existe votação, existirão aqueles perdedores que se sentirão insatisfeitos,

dessa forma não estarão inteiramente no processo. Chegar a um consenso em um

grupo de trinta ou quarenta pessoas é uma tarefa complexa, mas o grupo

compreende a proposta e sempre foi possível encontrar este ponto comum na Rede

Social Campo Grande - SP. Esse processo estimula o debate, a tolerância e a

participação.

A maioria das informações que circulam na rede são feitas via correio

eletrônico e via um site, que é de domínio do Senac. Todas as redes fomentadas

pelo Senac se utilizam desse site, que possui uma página principal na qual é

possível visualizar todas as redes que a instituição articula. Essa página principal

tem um link direto com as páginas de cada rede social. Dessa forma, qualquer um

pode saber sobre o andamento de todas as redes.

Para uma melhor compreensão do processo organizativo na Rede Social

Campo Grande, faz-se necessário observar a sua constituição e seu processo

formativo ao longo dos cinco anos de atividade.

20 O site é www.sp.senac.br/redesocial

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SETORES PARTICIPANTES DA REDE SOCIAL CAMPO GRANDE 2004 – 2008:

0 5 10 15 20 25 30

2004

2005

2006

2007

2008ONGs

Poder Público

Mercado

Indivíduos

Fonte: relatórios no site www.sp.senac.br/redesocial

Como é possível observar no gráfico acima, desde sua formação em 2004, a

rede é composta majoritariamente por organizações não governamentais. Isso se

deve ao grande número de ONGs que são convidadas a fazer parte da rede,

segundo a metodologia proposta pelo Senac, que incentiva a participação deste

setor.

No primeiro ano a rede contou com cerca de dez organizações sociais

atuantes e a partir de 2007 esse número cresceu e se manteve em uma média de

vinte a vinte e cinco ONGs participantes na rede, sendo em sua grande maioria,

mulheres.

O mercado manteve uma participação limitada na rede, e esteve presente

através de duas empresas juniores do Campus Senac, que viram na rede uma

possibilidade de integração com a comunidade, uma ponte para a articulação de

seus projetos de trote solidário, dentre outros. Essas empresas juniores tiveram

participação instável ao longo dos anos, devido principalmente a mudanças anuais

na sua gestão. Outras empresas também participaram, mas sempre foi uma

participação pontual, pois seu interesse ao apresentar seu projeto era voltado para

captação de possíveis organizações sociais parceiras. Essa participação, porém,

não se manteve por um período mais duradouro.

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Também existe na rede a participação dos indivíduos, que é representada

principalmente por alunos do Senac, mas também por algumas pessoas autônomas,

donas de casa, desempregados, dentre outros. Isso ocorre porque a rede é um

espaço de criação de vínculos e por vezes algum participante convida um amigo ou

conhecido que está precisando de um apoio para ir aos encontros. Muitas vezes

esses indivíduos se envolvem em algum trabalho voluntário desenvolvido por

alguma ONG e não retornam mais para a rede. Os alunos participam de forma

aleatória, às vezes por curiosidade e as vezes por estarem desenvolvendo alguma

oficina, projeto este analisado a seguir.

O Setor Público por sua vez, só aparece na rede a partir de 2007 quando a

rede já está mais fortalecida e começa a ter maior influencia na região. Com mais

projetos em andamento, a rede realiza mais contatos e parcerias e com isso chama

atenção da sub-prefeitura de Santo Amaro, que percebe muitas das suas

organizações sociais conveniadas falando da Rede Social Campo Grande.

Dessa forma, a sub prefeitura de Santo Amaro inicia sua atuação na rede em

2007, ciente de que este é um pólo de informação e participação na região. Sua

participação cresceu visivelmente em 2008, fortalecendo a legitimidade e a

credibilidade do trabalho da rede.

2. Rede Social Campo Grande - SP: vozes e significações de

participação cidadã

A função primordial de uma rede é manter um grupo de pessoas conectadas,

e com a informação fluindo de maneira mais rápida e eficiente, a rede torna-se um

pólo de atualização para seus integrantes.

Com a globalização contemporânea, as conexões tornam-se fundamentais

para a realização de um bom trabalho social, é preciso estar integrado com o Poder

Público, em sintonia com o mercado e em contato com outras organizações da

sociedade civil.

Em geral as ONGs são carentes de recursos e informações por viverem em

isolamento. Estar em rede é, portanto, um espaço para conhecer a questão social de

forma mais ampla e compartilhar recursos, que não são somente financeiros, mas

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também humanos e sociais. Para as organizações sociais, atuar em rede significa

trocar, aprender e ensinar.

Segundo depoimento da participante da rede Social Campo Grande – SP, Sônia (ASES):

“a rede é uma união de forças entre as pessoas, é fortalecimento e

crescimento”. Rafael, (aluno do 3° ano do curso de design-comunicação visual do Campus

Senac), acredita que:

“a rede social é um ponto de apoio para divulgar atividades, buscar soluções

em diferentes visões de mundo, enfim, buscar meios para crescer cada um ajudando o outro (...) os grupos unidos conseguem uma visibilidade maior do que teriam se sozinhos, dá uma voz uníssona para os vários cantos das organizações”

Nas palavras de Albino (ABRACE), “os anos de experiência no 3º setor me trouxeram a convicção de que a

melhor alternativa para uma instituição é participar de redes. É assim que ela se fortalece. O intercâmbio provocado por este envolvimento propicia trocas de experiências riquíssimas e ambientes saudáveis e motivadores, que provoca nas pessoas um espírito aberto a idéias e bem participativo. Elas recebem ajudas verdadeiras e sentem vontade também de ajudar”.

Eloisa (Grão de Mostarda), afirma que não se enxerga sem ser uma

participante da rede,

“valorizo muito esse espaço, a rede fomenta em cada participante um

despertar para aquilo que muitos já trazem dentro de si, que muitas vezes não valorizamos e nem mesmo percebemos, a rede empodera as pessoas”.

Esse é um aspecto interessante da atuação em rede, as pessoas se sentem

mais fortalecidas e valorizadas em seu trabalho, é um espaço no qual elas podem

falar sobre as dificuldades que serão ouvidas e compreendidas. Ao perceberem que

os desafios e as dificuldades são comuns, as pessoas saem do isolamento para

pensar em soluções também comuns.

Essa atualização que a rede proporciona contribui para um processo de

percepção do outro, do Poder Público e da sociedade de forma mais ampla.

Através desse fortalecimento individual, a rede propicia a criação de vínculos,

conforme explicita Márcia (MAMAE):

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“ele (o participante) percebe que unido a outros com objetivos semelhantes estará mais fortalecido”.

Para Cristina (Centro Social Esperança):

“...a rede é a tendência atual, não tem outro jeito, não dá mais para trabalhar isoladamente como antigamente. A rede representa um espaço de vivencia das organizações e das pessoas para se ter um contato mais próximo e para ter mais parceiros, mais relações e mais contatos. Nosso trabalho aqui na ONG cresceu bastante depois de entrarmos para a rede, conhecemos outras ONGs, outras oportunidades”.

Na medida em que os membros da Rede Social Campo Grande se

conheceram e trocaram informações, os recursos e as idéias surgiram naturalmente,

criando um espaço de debate e troca, que tornou as pessoas mais autônomas e

mais conectados entre si. Sendo assim, criou-se um ambiente que estimula o

processo participativo.

Há nesta rede uma relação de confiança que motiva as pessoas a

participarem de forma transparente, é um local onde eles falam das dificuldades e

oportunidades livremente, sem medo. Um dos fatores que estimulou e estimula essa

relação de confiança é a elaboração de projetos comuns.

Em seguida serão apresentados, em dois blocos, os projetos desenvolvidos

pela Rede Social Campo Grande - SP. Em um primeiro momento, analisaremos três

projetos desenvolvidos através de iniciativas da própria rede. No segundo bloco,

serão analisados projetos sugeridos pelo Senac SP.

O primeiro projeto a ser analisado é o Projeto Reciclo, que teve inicio com o

contato da Camisaria Colombo 21 com o Senac SP. O motivo do contato foi o

excesso de retalhos que eram jogados no lixo pela Camisaria, que gostaria de doá-

los para instituições sociais.

Ao saber disso, a rede social se organizou para fazer uma proposta mais

sustentável, e sugeriu um projeto de geração de renda.

21 A Camisaria Colombo é uma empresa especializada em moda masculina, que iniciou suas atividades em São Paulo no ano de 1917 e hoje conta com 125 pontos de venda no Estado.

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Esse projeto propunha que a partir dos retalhos doados, as organizações

sociais interessadas desenvolvessem algum produto que pudesse ser vendido,

possivelmente até mesmo para a Camisaria Colombo.

O projeto teve uma importância grande para a Rede Social Campo Grande,

principalmente por tratar do tema sócio ambiental, bastante refletido no grupo.

Participaram deste processo quatro organizações sociais, representadas por doze

costureiras.

Para Sonia (ASES):

“este projeto reflete uma tendência do futuro, a reciclagem e as questões relativas ao meio ambiente são o nosso futuro, se não houver uma conscientização e uma participação de toda a sociedade, a gente não vai ter futuro”.

Para desenvolver uma peça interessante com fácil comercialização, a rede

abriu um concurso para que alunos do curso de moda ajudassem as organizações a

desenvolver uma peça dentro desses critérios. A peça vencedora do concurso foi

uma bolsa unisex feita inteiramente de retalhos provenientes de sobras de tecidos

doados pela Camisaria Colombo.

Bolsa vencedora do concurso ReCiclo

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A fim de vender o produto a um preço justo, as costureiras fizeram uma

capacitação no SEBRAE para calcular o valor do produto e da mão de obra. Todo

esse processo demandou articulação e mobilização dos envolvidos, estimulando de

forma criativa o processo participativo na rede.

A Camisaria Colombo havia sugerido a possibilidade de comprar as bolsas e

entregá-las aos funcionários no período do natal, porém esta empresa optou por não

comprar as peças por motivo de redução de custos. As costureiras, por sua vez,

aprenderam a costurar a bolsa e puderam comercializá-la de outras formas, gerando

renda para suas comunidades.

Segundo Sônia (ASES):

“...este projeto foi um aprendizado, embora não tenha se desenrolado conforme previsto no que se refere a venda dos produtos para a Colombo, valeu a pena, é sempre um contato a mais, e se não foi dessa vez, pode ser da próxima”.

Costureiras aprendem a produzir a bolsa nas Instalações da Faculdade de Moda do Senac – SP.

Este projeto teve um grande envolvimento de toda a Rede Social Campo

Grande e deu origem a uma discussão a respeito da participação mais ampla de

empresas na rede. Essa reflexão gerou um projeto novo chamado MOTUCA.

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O MOTUCA, que significa “Mostra Tua Cara”, é um projeto que foi elaborado

em 2007 mas que ainda está em andamento.

Além de expor os trabalhos da rede para as empresas, o objetivo deste

projeto é buscar novos potenciais de parcerias. Sua comissão organizadora conta

com a participação de quatro organizações sociais e um representante da

subprefeitura de Santo Amaro.

Para Albino (ABRACE):

“Hoje o 3º setor é muito carente de apoios da Sociedade e do meio Empresarial. O objetivo deste projeto é despertar este envolvimento dando visibilidade e transparência, provocando com esta aproximação, sensibilidades e conhecimentos, principalmente ao meio Empresarial”

Atualmente a rede está organizando um fórum voltado para organizações

sociais e empresas com o tema da responsabilidade social empresarial. Esse evento

é o primeiro passo para o estabelecimento de possíveis parcerias que beneficiariam

a rede como um todo.

Segundo Heloísa Previdello (Prefeitura Municipal de São Paulo):

“O MOTUCA é de extrema importância para um melhor conhecimento da

realidade local, por ser um facilitador na otimização de recursos e contribuir com

novos recursos e idéias, reforçando o papel da responsabilidade social na região”.

Trata-se de uma forma de globalizar a rede, de se mostrar ao mundo, de sair

da atuação local e expandir, inicialmente para o bairro, depois para a cidade e assim

por diante.

Cada membro da comissão deste projeto tem responsabilidades

compartilhadas na organização do fórum, bem como no convite de palestrantes e

captação de recursos.

Albino (ABRACE) também afirma que:

“existem muitas empresas que são instituições sérias e válidas e que poderão multiplicar a sua atuação na comunidade e garantir a sua sustentabilidade e perenidade, desenvolvendo projetos de parceria”.

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Este projeto simboliza uma luta pela sustentabilidade da rede, uma forma de

agregar parceiros cada vez mais fortes que colaborem na manutenção da rede e no

desenvolvimento de projetos comuns.

Um terceiro projeto desenvolvido por esta rede é o Projeto Esportes, que

iniciou com a participação de Junzo Habiro na rede. Ele é treinador de softbol há

vinte anos, e participa da Rede Social Campo Grande, representando o “Santo

Amaro Nikkey Esporte Clube”, que foi fundado por descendentes da colônia

japonesa da zona Sul de São Paulo, com o objetivo de propiciar a prática de

esportes como beisebol e softbol.

“Na Rede, vislumbrei a possibilidade de fazer parcerias com as entidades sociais”, expõe Habiro.

Em 2006 é então iniciado na rede o projeto de esportes, uma parceira entre o

Centro Social Esperança e o Santo Amaro Nikkey Esporte Clube. Habiro afirma que

através desse projeto:

“meninas iniciantes, de 7 a 10 anos são encaminhadas pela ONG e praticam o softbol em um campo público, sendo que após os 10 anos, elas mudam de categoria e são encaminhadas, se viável, ao clube, onde o treinamento é intensivo e o enfoque é prioritariamente o esporte”.

Segundo Cristina (Centro Social Esperança):

“este é mais do que um projeto de esportes, é uma oportunidade para essas crianças vivenciarem uma experiência nova através do projeto, elas conhecem outras pessoas e outras realidades e já jogaram inclusive fora de São Paulo em um campeonato em Curitiba”.

“Procuramos participar de todos os torneios em que somos convidados, pois é uma oportunidade de aprender, além de servir de lazer. Nos eventos, as crianças aprendem pelo exemplo, observando o comportamento de outras equipes na hora do jogo, os rituais de respeito, de agradecimento, etc.”, afirma Habiro (Clube Nikkey).

Essa iniciativa, que está em andamento há mais de dois anos surgiu de uma

conexão da rede, que soube se apropriar dos recursos físicos e humanos

disponíveis, a fim de desenvolver e melhorar a qualidade de vida de algumas

crianças.

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Conforme argumenta Cristina:

“as crianças seguem um ritual de disciplina através do esporte que também reflete no comportamento deles”.

Para Habiro:

“através do esporte pregamos às crianças que o seu valor está no que você é e não no que você possui, e que é preciso mudar o comportamento para ter uma situação diferente da atual. Acho que a mensagem é assimilada, pois se nota uma diferença comportamental entre as crianças que estão no projeto desde o início e aquelas mais recentes”.

Através de projetos como esse, a rede se fortalece ao perceber que com

poucos recursos materiais, mas com alguns recursos humanos, é possível ter idéias

e implementá-las em prol de objetivos comuns. Desse modo, os participantes se

sentem estimulados a participar mais ativamente da vida de suas comunidades,

buscando enfrentar as dificuldades coletivamente, construindo vínculos e parcerias.

Meninas em treino de Softbol - Projeto Esportes

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A seguir, neste segundo bloco, analisamos os projetos desenvolvidos pela

rede que foram sugeridos pelo Senac, pois esta instituição, enquanto participante da

rede, é também um grande propositor de projetos. Os projetos incentivados pelo

Senac estão de acordo com seus objetivos estratégicos da área de Desenvolvimento

Social.

O projeto de Desenvolvimento Local é incentivado pelo Senac como

objetivo principal das redes sociais.

Quando uma rede social está mais fortalecida, o Senac acredita que também

estará pronta para começar o Programa e é oferecida a proposta de implementação

da metodologia.

A metodologia, desenvolvida pelo Senac, segue as seguintes etapas: Escolha

do local (que pode ser feita pela rede social, pode surgir de uma demanda externa

ou ser escolhido conforme estratégia da instituição Senac); criação de uma rede

social comunitária (que é uma rede social dentro da localidade escolhida, composta

por moradores da região); elaboração de uma visão de futuro da comunidade

escolhida; elaboração de um diagnóstico participativo e elaboração de um plano de

ação local que servirá de guia para a realização dos projetos pensados pela

comunidade.

Para o Senac- SP, a idéia central de desenvolvimento social é “passar de

uma configurada situação para outra melhor, planejada por uma visão coletiva,

integrada com todos os setores da sociedade e todos os ativos de uma comunidade

(...) uma situação que gere crescimento econômico promova o desenvolvimento

social e preserve o meio ambiente levando em conta as gerações futuras”. (Site do

Programa Redes Sociais do Senac – SP)

Os objetivos do Programa de Desenvolvimento Local são a melhoria das

condições de vida e de convívio social de uma localidade.

Na visão de Eloísa (Grão de Mostarda):

“o projeto trata-se de uma mobilização de um grupo, de uma comunidade a fim de juntos buscarem uma melhor qualidade de vida e chegar a um denominador comum, não para um nem para outro, mas o que é melhor para o todo”.

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Com o consenso dos participantes da Rede Social Campo Grande, foi

escolhida uma comissão de desenvolvimento local cujo papel principal foi escolher

os locais e implementar Planos de Ação.

A escolha do local foi realizada pela rede e iniciou-se com a inscrição das

localidades que desejariam ser o piloto do projeto. Após a demonstração de

interesse, os integrantes da rede optaram por iniciar o trabalho na Favela do Campo

Grande22, localidade considerada mais vulnerável pelo grupo.

A comunidade é representada na rede social pela Eloísa, uma moradora que

é líder comunitária e fundadora da ONG Grão de Mostarda, que atende a região.

Para Eloisa (Grão de Mostarda):

“Este projeto é primeiro um projeto de crescimento pessoal, depois local, pois quando é permitido ao individuo crescer, automaticamente seu entorno é afetado.”

Promover o desenvolvimento de uma localidade gera o desenvolvimento dos

próprios indivíduos porque amplia as relações, aumenta as oportunidades, gera

novos negócios e contribui com a sustentação das organizações e de toda a

sociedade.

O processo de implementação da metodologia de desenvolvimento local

nesta comunidade teve inicio com a criação da rede comunitária, que é composta

por moradores da Favela do Campo Grande. Inicialmente o grupo era formado por 9

moradores, sendo 1 homem e 8 mulheres. Em sua maioria, os integrantes são

representantes da igreja evangélica, desempregados ou profissionais autônomos.

Segundo Eloisa (Grão de Mostarda):

“esse ajuntamento de pessoas é justamente para pesquisar o máximo possível, tentar descobrir e sondar (...) com a participação de todos”.

Várias reuniões foram realizadas com esta comunidade e durante esses

encontros muitas idéias surgiram e novas pessoas começaram a participar do grupo:

donas de casa, desempregados, autônomos ou membros da igreja. A visão de futuro,

construída com cerca de 15 participantes é que “em 2018 a Comunidade da Favela

22 A Favela do Campo Grande surgiu de uma ocupação ilegal na década de 60, inicialmente tinha apenas nove barracos e hoje possui

pelo menos mil barracos e cerca de três mil moradores. Os primeiros moradores vieram para este local para plantar, mas hoje não existe mais espaço para isso. O local possui muitas minas de água, mas o que chama atenção hoje é o córrego, extremamente poluído que passa por entre os barracos.

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do Campo Grande terá melhor infra-estrutura, espaço de lazer e cultura e moradores

mais pró ativos”.

Rede Comunitária na igreja, em reunião com a comunidade

A comunidade sonha com um bairro que possua infra estrutura capaz de

comportar um centro Comunitário e de convivência exclusivo para moradores (o

espaço seria destinado para venda de produtos, casamentos, eventos, vacinação,

etc); urbanização da favela; posto de saúde; uma sede para Associação Grão de

Mostarda (já conquistada através de uma doação de outra ONG que encerrou sua

atuação); retorno do Programa Saúde da Família; melhor atendimento no hospital

público; Saneamento básico; Ruas recapeadas; Ampliação das linhas de ônibus;

Creche; Segurança / Posto policial; Transporte gratuito para crianças (trajeto escola-

casa); gás e mais escolas

A comunidade também quer lutar por melhorias na economia, através de um

melhor relacionamento e participação com o comércio local e moradores da região.

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Nas questões ambientais os moradores mostraram interesse em efetivar o

parque Linear23 e cuidar da limpeza e coleta seletiva.

Também manifestaram interesse em criar um espaço permanente de lazer ou

uma praça e espaço profissionalizante e de cultura, biblioteca, Internet, Universidade

pública ou convenio com universidades e cursos para a terceira idade.

Essa etapa do projeto visa estimular o sonho da comunidade antes da etapa

de diagnóstico. A rede comunitária da Favela do Campo Grande está iniciando o

diagnóstico em 2009 e ao ser concluído, será confrontado com os sonhos

levantados na visão de futuro. A partir disso será desenvolvido o plano de ação.

Esse projeto já trouxe resultados como uma maior articulação entre os

moradores da comunidade e o estabelecimento de parcerias com o Programa Saúde

na Família e a escola local.

Objetiva-se que através do Desenvolvimento Local, a comunidade se torne

mais participativa na conquista por seus direitos sociais, ampliando relações com o

Poder Público e com outras organizações do seu entorno.

Outro projeto desenvolvido pelo Senac é o Dia da Responsabilidade Social,

que se refere a um evento anual, promovido pela Extensão Universitária do Centro

Universitário Senac por desdobramento da relação com a Associação Brasileira de

Mantenedoras de Ensino Superior, que estimula a promoção do Dia da

Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular em todas as Instituições do

Ensino Superior filiadas.

A participação da rede neste evento é fundamental e inclui o planejamento

conjunto com o Senac, a participação da rede ministrando oficinas e a divulgação na

comunidade local. Trata-se, portanto de um evento realizado em parceria entre o

Senac e a rede.

Márcia (MAMAE), afirma:

“Este é um super projeto, quando temos a possibilidade de medirmos o quanto somos fortes e capazes quando nos unimos enquanto rede, para organizamos um mega evento como esse. Vejo como um projeto de divulgação da Rede e das ONGs, e integração com a Comunidade”.

23 Segundo site da Sub Prefeitura, o conceito “Parque Linear” é referente à necessidade de recuperação dos córregos e fundos de vale, permitindo

garantir ajardinamento e/ou arborização de faixa mínima ao longo das margens, como preservação dos recursos hídricos.

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Para Albino (ABRACE):

“A visibilidade que este evento possibilita à Comunidade é uma excelente forma de provocação de um maior envolvimento (...) com um mútuo interesse”.

A idéia do evento, que aconteceu pela primeira vez em outubro de 2007, é

realizar num só dia, uma programação voltada para a comunidade local, oferecendo

serviços gratuitos, oficinas, palestras, campanhas, doações, bazares, apresentações

culturais, capacitações, atendimentos e atividades que beneficiem as comunidades

de forma geral.

Em 2007, o evento reuniu 2000 pessoas no Centro Universitário Senac, no

bairro do Campo Grande, e a rede propiciou para a comunidade jogos de Beisebol,

apresentação musical, aulas de tênis, jogos escoteiros, reciclagem criativa de CD’s,

trabalhos manuais, bijuteria com miçangas, e a peça teatral Orfeu do Morro. Todas

essas atividades foram oferecidas gratuitamente por organizações sociais e

empresas participantes da rede.

Em 2008 foram oferecidos à comunidade serviços gratuitos, oficinas,

palestras, campanhas, doações, bazares, apresentações culturais, capacitações e

atendimentos. Neste ano o evento reuniu 3.000 pessoas e contou com a

participação de 30 organizações sociais ativas da rede social Campo Grande, que

trouxeram a comunidade na qual atuam e ofereceram as atividades mencionadas.

Essa ação promovida pelo Senac - SP propicia a mobilização de toda a rede,

na qual as organizações têm a oportunidade de vivenciar uma experiência de grande

relevância participativa para todos.

Os membros da rede participam do planejamento, do dia do evento e da

avaliação do mesmo. Esse processo estimula a troca, e ensina as organizações

sociais envolvidas a atuarem na prática de forma co responsável.

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Dia da Responsabilidade Social no Centro Universitário em outubro de 2008

Um terceiro projeto desenvolvido pela rede, proposto pelo Senac - SP são as

Oficinas, que surgiram através da participação dos professores do Senac - SP na

Rede Social Campo Grande - SP.

Essa participação dos professores nos encontros da rede social foi uma

conquista, que aconteceu depois de muitos convites, e-mails e apresentações da

proposta. Apenas depois de dois anos de trabalho da rede, os professores

começaram a participar dos encontros.

Com a participação deles surgiu uma idéia de integração entre alunos e rede

social, que aconteceria através de oficinas de capacitação.

Dessa forma, a Rede Social Campo Grande deveria expor suas fragilidades e

necessidades, de forma que os professores transformassem essa demanda em

capacitações ministradas por alunos para as organizações sociais, com a supervisão

dos professores.

A rede acredita que através deste projeto todos ganham, as organizações

sociais porque são capacitadas em temas de seu interesse, os alunos porque

aprendem na pratica como aplicar seu conhecimento em situações reais e os

professores porque podem trabalhar conceitos teóricos baseados nas experiências

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práticas dos alunos. As oficinas são um espaço para troca de conhecimento entre

alunos, professores e a rede social.

Segundo Eloisa, (Grão de Mostarda):

“as oficinas são espaço de crescimento (...) e propiciam acesso às informações, aprendizagem e troca de saberes.”

Para Rafael (aluno do 3° ano do curso de design-comunicação visual do

Campus Senac - SP):

“as oficinas são de extrema importância para a manutenção da cultura e para a capacitação profissional, muitas vezes é na oficina que se tem o primeiro contato com algo, então se desmitificam visões e idéias pré-concebidas (...) fico feliz em ver essa linguagem, que é universal, chegar até às pessoas, principalmente quando não se tem isso nas escolas. Tem-se a idéia que é algo muito distante da realidade das pessoas e as oficinas só tem a ampliar os horizontes”.

Em alguns momentos desse projeto, alguns membros da rede acomodaram-

se, sempre aguardando a sugestão dos professores e não construindo o projeto

coletivamente, como haviam proposto. A idéia era que as oficinas fossem espaços

de troca e não de capacitações gratuitas.

Esse fato também é percebido por alguns integrantes mais críticos, como é o

caso de Márcia (Mamae):

“vejo um pouco de falta de comprometimento por parte de algumas pessoas, creio que é falta de amadurecimento enquanto participantes e responsáveis pela rede”.

Com o tempo e com a intervenção de membros mais participativos, a rede

compreendeu a necessidade de maior envolvimento nestes projetos, embora ainda

de modo insuficiente.

As oficinas podem ser uma forma de melhorar a situação de uma pessoa

através do aprendizado e Flavio é um exemplo de como as oficinas propostas pela

rede podem de fato trazer resultados concretos.

Indicado pela ONG que freqüenta (Mamae), Flávio foi um dos participantes da

oficina de Copa e Governança em 2007 e passou 4 dias aperfeiçoando técnicas e

práticas nas áreas de hotelaria, gastronomia, e governança.

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Após participar desta oficina, ele foi indicado pelo professor responsável, para

trabalhar no stand do Senac - SP dentro do evento de moda mais importante do

Brasil, o São Paulo Fashion Week (SPFW).

Conforme conta o professor Bonilha:

“Por já ter experiência na área e também por ser um rapaz muito esforçado

que tem iniciativa, convidei o Flávio para participar de um evento dentro do Senac. Ele trabalhou muito bem, então, na seqüência, o convidei para participar da São Paulo Fashion Week”.

Após o evento SPFW, Flavio foi chamado para trabalhar no tradicional

Bourbon Street Festival24, no bairro de Moema (SP).

As oficinas capacitaram 446 pessoas em 2008 nos seguintes temas:

Representação e identidade - A inserção do local no global através da

cartografia; Oficinas solidárias de informática e matemática; Fotografia para

deficientes visuais: Registros de Santo Amaro; Moda na Rede Social Campo

Grande ; Oficinas de Hotelaria e Gastronomia; Oficinas de Receptividade e

atendimento ao cliente; Oficinas de Currículo e postura em entrevista. Seguem

abaixo fotos de algumas oficinas realizadas em 2008:

24 O Bourbon Street Festival é um evento musical anual, que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo. O objetivo é trazer a diversidade cultural de New Orleans, através do Jazz moderno e tradicional, Blues, Zydeco, Soul, R&B, Funk, Brass Band e todas as suas vertentes. O evento é gratuito e em 2008 reuniu mais de 30 mil pessoas em São Paulo.

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Oficina de Currículo e Postura em Entrevista ministrada em 2008 pelo Prof. Fernando na ONG ASAM

Oficina de Gastronomia ministrada por alunos do Senac para ONGs da Rede Social Campo Grande

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Oficina de Hotelaria ministrada por alunos do Senac para ONGs da Rede Social Campo Grande

Os dados da pesquisa permitiram construir sua análise, com base no eixo

central da participação cidadã, à luz de três focos analíticos.

O primeiro foco analítico, referente ao entendimento dos membros da Rede

Social Campo Grande – SP sobre o que é rede, demonstrou que estes a

compreendem fundamentalmente como um espaço de união entre as pessoas.

A rede de fato, une as pessoas, ela as conecta com outras interessadas em

um mesmo objetivo. Essa é a primeira função de uma rede, ou seja, agrupar

pessoas e instituições. A união por si só, porém, não conota uma rede social , é

apenas o primeiro passo para que ela aconteça.

Além do aspecto da união, os sujeitos indicaram a rede como um espaço de

força, no qual as pessoas tornam-se mais fortes para executar seu trabalho nas

comunidades onde estão inseridos.

Essa força explicitada pelos sujeitos é uma segunda função da rede, ou seja,

depois de colocar as pessoas em contato, criam-se vínculos que as fortalecem pelas

trocas ocorridas.

Esses vínculos também são entendidos pelos sujeitos como possibilidades de

apoio e ajuda no nível das relações interpessoais e organizacionais.

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Outro entendimento comum aos sujeitos, explicita a rede enquanto uma

tendência mundial de organização. Isto é, reconhecem que em tempos de

globalização contemporânea, é mais estratégico atuar coletivamente em rede.

Os sujeitos apontaram também que se organizar em rede na atualidade,

significa conseguir maior visibilidade aos trabalhos por eles desenvolvidos.

As falas dos sujeitos em relação aos diferentes entendimentos de rede,

demonstraram que os sujeitos possuem ainda uma compreensão parcial do conceito

de rede social, que não é somente um espaço de união, força, troca, formação de

vínculos, apoio ou ajuda.

Falta-lhes compreender que uma rede social pode também ser um espaço de

luta coletiva por interesses coletivos. Um espaço de conquista de direitos sociais.

Os membros da Rede Social Campo Grande não possuem uma percepção de

que esta rede pode ser um espaço participativo no qual podem se fortalecer e atuar

coletivamente, por exemplo, pela conquista, ampliação e efetivação de direitos

sociais.

Quanto ao segundo foco analítico, o crescimento da participação dos sujeitos

no processo de vivência na Rede Social Campo Grande, inicialmente constatou-se

um crescimento numérico dos membros da rede ao longo dos anos.

Em 2004 a Rede Social Campo Grande contou com uma média de dez

membros, e ao final de 2008, conta com cerca de vinte e cinco membros ativos. Ao

longo dos quatro anos de atividade, já fizeram parte desta rede, quarenta e seis

organizações.

Esse crescimento quantitativo evidencia que esta rede tem sido um espaço

contributivo e significativo para a região do Campo Grande, atraindo a entrada de

novos membros, tanto de organizações sociais, como do Poder Público Municipal,

embora seja preponderante a presença de organizações da sociedade civil e de

mulheres.

Vale ressaltar que sendo a maioria da rede composta por mulheres, como

ocorre em geral em programas de atividades sociais entre nós, observou-se que isso

reforça o caráter das relações e vínculos afetivos inter pessoais.

Verificou-se que a vivencia na Rede Social Campo Grande, vem contribuindo

para o crescimento da participação de seus membros no tocante ao aprendizado e

incorporação de valores como a co responsabilidade, o trabalho coletivo e a

solidariedade.

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Esse crescimento do processo participativo vem se traduzindo na construção

de uma identidade coletiva da rede, na qual os sujeitos não se percebem mais como

concorrentes, mas como diferentes na luta por objetivos convergentes em um

território comum.

Outro fator que contribuiu para o crescimento do processo participativo, e

expresso nos depoimentos coletados, foi a importância da troca de informações

dentre os membros da rede, propiciando a circulação de conhecimentos e

oportunidades de novas conexões.

No que diz respeito ao terceiro foco analítico, os resultados atingidos através

dos projetos da rede pelo seu caráter participativo, demonstraram um avanço neste

processo.

Este avanço se deu na medida em que os sujeitos da pesquisa atuaram

coletivamente através de ações concretas.

A participação dos sujeitos nos projetos desenvolvidos pela Rede Social

Campo Grande, o ReCiclo, Motuca e Esportes, se deu em todos os momentos de

seu planejamento, organização e execução, o que lhes conferiu confiança e

empenho para alcançar os resultados propostos pelos referidos projetos,

desenvolvendo nesses sujeitos capacidades de diálogo e articulação, essenciais

para o processo participativo.

Quanto aos projetos Desenvolvimento Local, Dia da Responsabilidade Social

e Oficinas, propostos pelo Senac, a participação dos membros da rede não foi

condição para sua criação, mas foi relevante para sua concretização. Contudo, cabe

reconhecer que esta participação foi mais quantitativa, com a atuação de todos os

membros da rede mobilizando suas comunidades, que se envolveram nos referidos

projetos. É ilustrativo deste fato, o projeto “Dia da Responsabilidade Social”, que

congregou mais de 3000 pessoas do Campo Grande no Centro Universitário Senac,

em 2008.

Outro aspecto que os dados revelaram foi a relação da Rede Social Campo

Grande com o Senac- SP.

Como exposto, o Senac - SP é fomentador, articulador e animador da rede,

ou seja, cria as redes e mantém seu funcionamento ativo através de um mediador

designado exclusivamente para essa função.

Na Rede Social Campo Grande, essa mediação não tem sido compartilhada

por seus membros, ficando permanentemente sob responsabilidade do Senac – SP.

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Essa situação gera na rede algumas atitudes de acomodação por não dividir com

esta instituição as responsabilidades de mediação.

A rede visualiza o Senac principalmente como seu mantenedor e grande

propositor de projetos, o que cria um desequilíbrio relacional entre ambos.

Desse modo, o Senac - SP cumpre nas redes que fomenta, um papel

contraditório: ao mesmo tempo em que estimula o processo participativo nelas, pode

também imobilizá-las diante de seu grande potencial.

No entanto, nota-se um esforço do Senac – SP no sentido de adequar seu

trabalho constantemente, visando o empoderamento das pessoas e organizações

sociais participantes da rede.

Recai sobre o Senac - SP, portanto, a responsabilidade de ensinar os

participantes das redes sociais, especificamente da Rede Social Campo Grande, a

se tornarem cidadãos mais participativos e isso é uma tarefa complexa que exige,

inclusive, mudanças de valores e comportamentos, radicalmente democráticos.

A análise do processo participativo da Rede Social Campo Grande, na

perspectiva da dimensão local – global na globalização contemporânea, revelou que

têm se restringido às práticas locais, sem conseguir visualizá-las no contexto global.

Isso significa que a rede não está ainda se conectando com outras rede

similares ou outras redes de movimentos sociais de luta e resistência sobre

questões sociais coletivas e comuns.

Isso evidencia que o processo participativo da rede Social Campo Grande

necessita se ampliar e se aprimorar enquanto um caminho de participação cidadã na

construção de uma sociedade democrática participativa.

A Rede Social Campo Grande tem no futuro, esse desafio.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de pesquisa e elaboração da presente dissertação,

procurou-se compreender e analisar a trajetória da Rede Social Campo Grande, na

cidade de São Paulo, enquanto sujeito coletivo na construção de uma participação

cidadã, no período de 2004 a 2008.

Em tempos de globalização contemporânea, observamos governos,

empresas e sociedade civil atuando entre si, de forma coletiva, através de redes,

como condição para um melhor desenvolvimento de suas ações.

Analisamos a gênese de uma globalização contemporânea que foi

desencadeada principalmente pelas novas tecnologias como o advento da internet.

Essas transformações alteraram a economia e a sociedade de tal forma que não é

mais possível atuar isoladamente.

A relação entre o global e o local, é premissa básica para entendimento das

novas questões sociais trazidas no bojo da globalização contemporânea.

As questões globais passam a ter um efeito quase que imediato nas

localidades, assim como as questões locais também podem ter efeitos globais,

embora em menor escala.

As novas tecnologias propiciaram um avanço na velocidade de transmissão

de informações, conectando o mundo de forma global. Na sociedade capitalista e

neoliberal, essas conexões representam poder, ou seja, quem está mais conectado

é mais forte. Quanto mais conexões, maior inclusão, ou seja, para os negócios, para

o poder político ou até mesmo para sociedade civil e indivíduos, quanto mais

conexões globais, maior chance de estar incluído em sua localidade.

Nesse contexto, formam-se as primeiras redes estratégicas que se organizam

de maneira a manter grupos mais conectados e conseqüentemente mais fortes. Com

as novas tecnologias o mundo diminui de tamanho e diversas empresas, inclusive

instituições como o Senac SP, passam a atuar de forma mais global, conectadas as

suas filiais através deste novo formato organizacional, que são as redes.

Através dessa forma de atuação não hierárquica, ou menos hierárquica, as

informações fluem livremente e de forma mais rápida, colaborando para o sucesso

dos seus negócios em nível mundial.

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A organização e a atuação em rede tornam-se pontos de inclusão

fundamentais na nova sociedade, ou seja, está de certa forma, excluído, aquele que

está fora das redes.

A luta por uma outra globalização contra hegemônica, entre outras formas de

atuação, tem se expressado através de redes, que chamamos redes sociais. Nas

palavras de Boaventura (74:2005):

“...é preciso (...) criar inteligibilidade recíproca entre as diferentes lutas sociais,

aprofundar o que têm em comum de modo a promover o interesse em alianças

translocais e a criar capacidades para que estas possam efetivamente ter lugar e

prosperar”

Uma vez já organizado em forma de rede e influenciado pelo novo padrão

organizacional mundial, o Senac – SP desenvolve o Programa Redes Sociais, como

uma estratégia de Desenvolvimento Social, que prevê levar o desenvolvimento para

as comunidades onde atua. Dentre as redes fomentadas por esta instituição, o

estudo focou a Rede Social Campo Grande

A hipótese de que a Rede Social Campo Grande, ao longo de sua trajetória,

vêm lutando e conquistando uma participação cidadã de seus sujeitos, construindo

vínculos locais e se constituindo em sujeitos coletivos em movimento, se confirma.

Através da análise realizada, foi possível compreender como os sujeitos

vivenciam o processo de participação cidadã, embora de forma parcial e limitada,

expressando-se principalmente através dos projetos realizados.

Os dados da pesquisa mostraram que a Rede Social Campo Grande vêm

contribuindo para o desenvolvimento da participação cidadã pelos sujeitos

envolvidos através inicialmente da realização de práticas sociais, que se dão através

de integração entre grupos antes desarticulados, construindo assim pontes culturais,

sociais e políticas e propiciando aproximação dos grupos de pessoas no universo

social.

A Rede Social Campo Grande tem se mostrado como uma forma de

organização que vêm possibilitando uma maior participação para seus membros.

Neste espaço, esses membros atuam livremente, através de opiniões, sugestões e

propostas. Com isso, desenvolvem projetos também de forma autônoma, que

estimula o processo participativo.

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A rede representa, portanto, um canal estratégico para a constituição de um

processo de participação cidadã, no qual seus integrantes deliberam conjuntamente

sobre questões comuns ao território em que se incluem.

Contudo, é preciso reconhecer que para o aprofundamento do processo de

participação cidadã nas redes sociais, é necessária a construção de uma nova

cultura política de seus membros, que se insira em um projeto de uma sociedade

democrática, participativa, justa e solidária que queremos para o Brasil.

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ANEXOS

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PÁGINA PRINCIPAL DO SITE DO PROGRAMA REDES SOCIAIS DO SENAC SP

MARÇO/2009

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REDES SOCIAIS NA CIDADE DE SÃO PAULO SITE DO PROGRAMA REDES SOCIAIS DO SENAC SP

MARÇO/2009

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PÁGINA PRINCIPAL DA REDE SOCIAL CAMPO GRANDE SITE DO PROGRAMA REDES SOCIAIS DO SENAC SP

MARÇO/2009

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Conceito de Rede Social disponível da página do

Programa Rede Social do Senac – SP:

Rede Social

O mundo globalizado pede um novo padrão de organização. Se pararmos

para refletir sobre as atuais circunstâncias sociais, econômicas e ambientais, logo

percebemos a insustentabilidade do atual modelo e a necessidade de buscar

alternativas para um mundo mais humano e menos individualista.

Uma das alternativas, na nossa concepção, é o trabalho em Rede, que está

ganhando força em diversas localidades ao redor do mundo. Ancorada a valores de

igualdade, democracia, cooperação e construção coletiva, a Rede propicia uma

grande articulação entre as várias esferas da sociedade civil (organizações, poder

público, cidadãos etc), potencializando sua capacidade de mobilização coletiva e a

realização de suas ações.

Programa Rede Social do Senac São Paulo

O Senac São Paulo desenvolve o Programa Rede Social em diversos

municípios do Estado. A partir de uma experiência de mais de 35 anos em ações

socioeducativas em comunidades onde o Senac mantém unidades, criou-se uma

metodologia de trabalho em rede, que visa articular pessoas e organizações para

propor soluções aos problemas sociais das localidades.

Em cada uma das localidades onde o Programa está sendo implementado, o

Senac investe em um colaborador especialmente designado para articular e mediar

a Rede Social. Dentre suas atribuições, o mediador identifica os atores sociais da

localidade e os convida para encontros periódicos e fóruns temáticos, buscando

identificar objetivos comuns, estabelecendo compromissos e responsabilidades e

assessorando na implementação de projetos para a melhoria da qualidade de vida

da comunidade.

CONCEITO DE REDE SOCIAL

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Sistema capaz de reunir e organizar pessoas e instituições de forma

igualitária e democrática, a fim de construir novos compromissos que beneficiem a

vida das comunidades.

MISSÃO DO PROGRAMA REDE SOCIAL

Mobilizar, capacitar e fortalecer as organizações sociais para implementar

ações em rede que visam a melhoria da qualidade de vida de suas comunidades e

contribuem para o desenvolvimento local.

Sucintamente, a metodologia que o Senac utiliza para a formação e a

articulação das Redes Sociais:

Passo 1 - Reunião/ Espaço comum (presencial ou virtual)

- Formação dos elos entre os componentes

Passo 2 - Identificação/ Conhecimento mútuo

- Estabelecimento de diagnósticos

Passo 3 - Proposição/ Estabelecimento das visões de mundo

- Propostas

Passo 4 - Composição/ Estabelecimento de parcerias

- Definição da missão, busca de consenso e objetivos comuns

Passo 5 - Novo Compromisso/ Definição do projeto ou ação

- Formação do compromisso conjunto

- Estabelecimento de objetivos e metas

- Ação/ Realização do planejamento

- Avaliação dos resultados

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Conceito de Desenvolvimento Local disponível da

página do Programa Rede Social do Senac – SP:

Programa de Desenvolvimento Local do Senac São Paulo

A Rede Social fortalecida está pronta para começar o Programa de

Desenvolvimento Local. Com o consenso dos participantes da Rede, é escolhida

uma comissão de desenvolvimento local cujo papel principal é escolher os locais

para implementar Planos de Ação na comunidade.

Os objetivos do Programa de Desenvolvimento Local são a melhoria das

condições de vida e de convívio social de uma localidade.

A idéia central de desenvolvimento é passar de uma configurada situação

para outra melhor, planejada por uma visão coletiva, integrada com todos os setores

da sociedade e todos os ativos de uma comunidade. Uma situação que gere

crescimento econômico, promova o desenvolvimento social e preserve o meio

ambiente levando em conta as gerações futuras.

Promover o desenvolvimento do meio onde se está inserido é promover o seu

próprio desenvolvimento: amplia as relações, aumenta as oportunidades, gera novos

negócios, contribui com a sustentação das organizações e de toda a sociedade.

Metodologia para implantação de Desenvolvimento Local no município

1. Estratégias de mobilização

Cursos, encontros e criação de espaço para debates

2. Concepção de Rede como comunidade de projetos

Realização de projetos junto com a comunidade

3. Construção do local (para implementação do Desenvolvimento Local em

bairros)

3.1 Escolha do local

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3.2 Articulação das principais lideranças

Construção da governança comunitária local

3.3 Visão de Futuro

Onde queremos chegar e como queremos estar nos próximos 10 anos

3.4 Diagnóstico Participativo

Mapeamento de Ativos e Necessidades no bairro escolhido

3.5 Plano de Ação Local

Em um ano: até 3 projetos contando com o protagonismo local e realizados

com recursos próprios e por meio de parcerias;

Em dois anos: até 2 projetos em parceria com poder público e mercado;

Em três anos: 1 projeto de dimensões maiores, infra-estrutura e

investimentos.

3.6 Monitoramento e avaliação e reorientação do Plano de Ação do bairro

4. Diagnósticos Participativos (somatória dos diagnósticos participativos nos

bairros)

Mapeamento de Ativos e Necessidades no município

5. Articulação com poder público e mercado

Pacto dos segmentos para realizar Plano de Ação Local (3.5)

6. Plano Estratégico do Desenvolvimento Local do município

Metas para os 10 próximos anos

7. Definição das dimensões (econômica, social e ambiental) do

Desenvolvimento

8. Agendas de Prioridades

Quais projetos são realizados antes, com recursos próprios ou externos

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9. Sistema de avaliação do Plano Estratégico de Desenvolvimento Local do

município

Monitoramento e avaliação e reorientação do plano

10. Plano de Captação de Recursos para viabilizar projetos de médio e longo

prazos

11. Realização de Fórum do Desenvolvimento Local para disseminar a

informação

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ORGANIZAÇÕES SOCIAIS PARTICIPANTES DA REDE

SOCIAL CAMPO GRANDE

2004 - 2008

1. ABPA – Centro Social Esperança

2. Abrace

3. Ação Social Nossa Senhora de Fátima

4. ACHAVE – Associação Comunitária Habitacional Vargem Grande

5. Afago

6. Alquimia

7. ASAM Centro de Apoio ao Jovem

8. Associação Amigos Jardim Noronha

9. Associação de Ajuda à Pessoa Carente Grão de Mostarda

10. Associação de Mulheres do Grajaú

11. Associação Desenvolvimento Futura

12. Associação dos Amigos da Vila Isa e do Conjunto Residencial Sabará

13. BRASCRI – Associação Suíço-Brasileira de Ajuda à Criança

14. Centro Educacional Gotas de Cristal

15. Caminhando Núcleo de Educação e Ação Social

16. Capital Social Instituto de Pesquisa, Desenvolvimento e Fortalecimento das

Ações Sociais

17. Cáritas Diocesana de Campo Limpo (Instituto Cardeal Rossi)

18. Casa Transitória do Caminho

19. CEDECA – Centro de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente

20. Centro Convivência Infantil Filhos de Oxum

21. Centro de Cidadania de Mulheres de Santo Amaro

22. Centro Educacional Infantil Creche Mãe Operária

23. Centro Santa Marta

24. Centro Social Rio Bonito

25. Consulth Jr. - Empresa Junior de Turismo, Hotelaria e Gastronomia

26. Coordenadoria da Mulher - Secretaria de Participação e Parceria-PMSP

27. Gaia - Grupo de Apoio ao Idoso, à Infância e ao Adolescente

28. Grão da Vida

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29. Grupo de Apoio Dona Benedita

30. Grupo Escoteiro Ibiraguaçu

31. Lar Girassol

32. Limiar Associação de Apoio à Criança e Família Substituta

33. Mamãe Associação de Assistência à Criança Santamarense

34. Núcleo de Proteção Especial Jardim São Luiz

35. Núcleo de Proteção Especial Angela I

36. Núcleo de Proteção Especial Campo Limpo

37. Núcleo de Proteção Especial I - Capão Redondo

38. Núcleo de Proteção Especial Pedreira

39. Projeto Casulo

40. Projeto Ligação

41. Recanto Santo Amaro

42. Santo Amaro Nikkey Esporte Clube

43. Secretaria de Assistência Social de Santo Amaro

44. Secretaria de Assistência Social Observatório de Políticas Publicas

45. Sub Prefeitura Santo Amaro

46. Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque Dorotéia

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LOGOMARCA DA REDE SOCIAL CAMPO GRANDE