marés d’@prender

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Plano Nacional de Leitura LER + MAR

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Page 1: Marés d’@prender

Plano Nacional de LeituraLER+ MAR

Page 2: Marés d’@prender

Prof. Filomena Pedroso 2

Page 3: Marés d’@prender

“M@ré de Redes”

“M@ré de descobrir”

“M@rés das Redes na rede”

“M@rés de gente a aprender”

“M@rés futuras” Prof. Filomena Pedroso 3

Page 4: Marés d’@prender

“Da minha língua vê-se o mar.

Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto.

Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.”

Vergílio Ferreira

Prof. Filomena Pedroso 4

Page 5: Marés d’@prender

Prof. Filomena Pedroso 5

Page 6: Marés d’@prender

“Diz-se que numa das línguas faladas pelos indígenas da América do Sul, talvez na Amazónia, existem mais de vinte expressões, umas vinte e sete, creio recordar, para designar a cor verde. “

José Saramago, A viagem do elefante, 2008

Prof. Filomena Pedroso 6

Page 7: Marés d’@prender

A língua que falas e escreves É uma árvore de sons Que tem nos ramos as letras, Nas folhas os acentos E nos frutos o sentido de cada coisa que dizes. (…) A língua cresceu com o país, que se alongou até ao sul e depois chegou às ilhas, vencendo os tormentos do mar. O país ganhou a forma de uma língua de terra capaz de usar palavras como ‘lonjura’ e ‘saudade’. (…) É uma língua que se veste de baiana no Brasil, ganhando feitiços de som em Angola e Moçambique e novos significados lá para as bandas de Timor.(…)

José Jorge Letria, Esta Língua Portuguesa, 2007 Prof. Filomena Pedroso 7

Page 8: Marés d’@prender

“Na língua do nosso lugar não há palavra exacta para dizer pescar. Diz-se ‘matar o peixe’. Não há palavra própria para dizer barco. E oceano se diz assim: ‘o lugar grande’. Somos gente da terra, o mar é recente.”

Mia Couto, Mar me quer, 2000)Prof. Filomena Pedroso 8

Page 9: Marés d’@prender

“A representação do mar na literatura é tão antiga quanto a própria literatura.”

José Cândido Martins

Poesia Trovadoresca (XII-XIV)

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HORIZONTEÓ mar anterior a nós, teus medosTinham coral e praias e arvoredos.Desvendadas a noite e a cerração,As tormentas passadas e o mistério,Abria em flor o Longe, e o Sul sidérioSplendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa -Quando a nau se aproxima ergue-se a encostaEm árvores onde o Longe nada tinha;Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:E, no desembarcar, há aves, flores,Onde era só, de longe a abstracta linha. O sonho é ver as formas invisíveisDa distância imprecisa, e, com sensíveisMovimentos da esp´rança e da vontade,Buscar na linha fria do horizonteA árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -Os beijos merecidos da Verdade.                                

Fernando Pessoa, Mensagem Prof. Filomena Pedroso 12

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País do Gelo

Lá vai a nau catrineta que tem tudo por contarOuvi só mais uma história que vos vai fazer pasmarEram mil e doze a bordo nas contas do escrivãoSem contar os galináceos sete patos e um cão

Era lista mui sortida de fidalgos passageirosDesde mulheres de má vida a padres e mesteireirosIam todos tão airosos com seus farnéis e merendasMais parecia um piquenique do que a carreira das Índias

Ao passarem cabo verde o mar deu em encresparLogo viram ao que vinham quando a nau deu em bailarVeio a cresta do equador e o cabo da boa esperançaOnde o velho adamastor subiu o ritmo da dança

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Foi tamanha a danação foi puxado o bailaricoQuem sanfonava a canção era a mão do mafarricoTinha morrido o piloto e em febre o capitão ardiaEncantada pela corrente para sul a nau se perdia

Subia a conta dos dias ficavam podres os dentesEram tantas as sangrias morriam da cura os doentesE o cheiro era tão mau e a fé tão vacilanteParecia que a pobre nau era o inferno de Dante

Com o leme sem governo e a derrota já perdidaFizeram auto de fé com as mulheres de má vidaE foram tirando à sorte quem havia de morrerPara que o vizinho do lado tivesse o que comer

Prof. Filomena Pedroso 16

Page 17: Marés d’@prender

No céu três meninas loiras cantavam um cantochãoTodas vestidas de tule para levar o capitãoNo meio do seu delírio mostrou a raça de bravoTeve ainda força na língua para as mandar ao diabo

Neste martírio sem fim ficou o lenho a boiarAté que um vento gelado a terra firme o fez vararQue diria o escrivão se pudesse escrevinharEram mil e doze a bordo e doze haviam de chegar

Ao grande país do gelo com mil cristais a brilharOnde a paz era tão branca só se quiseram deitarNaqueles lençóis de linho a plumas acolchoadosE lá dormiram para sempre como meninos cansados Rui Veloso, Auto da Pimenta

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Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.

Quem quere passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa, Mensagem

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Fundo do marFundo do marNo fundo do mar há brancos pavores,Onde as plantas são animaisE os animais são flores.

Mundo silencioso que não atingeA agitação das ondas.Abrem-se rindo conchas redondas,Baloiça o cavalo-marinho.Um polvo avançaNo desalinhoDos seus mil braços,Uma flor dança,Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisaLeve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisaTem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner AndresenProf. Filomena Pedroso 23

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As ondas

“As ondas quebravam uma a umaEu estava só com a areia e com a espumaDo mar que cantava só para mim.”

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Mar sonoro 

“Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.A tua beleza aumenta quando estamos sósE tão fundo intimamente a tua vozSegue o mais secreto bailar do meu sonho.Que momentos há em que eu suponhoSeres um milagre criado só para mim. ”

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Page 26: Marés d’@prender

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Page 27: Marés d’@prender

Lancei ao mar um madeiro,espetei-lhe um pau e um lençol.Com palpite marinheiromedi a altura do sol. Deu-me o vento de feição,levou-me ao cabo do mundo.Pelote de vagabundo,rebotalho de gibão. Dormi no dorso das vagas,pasmei na orla das praias,arreneguei, roguei pragas,mordi peloiros e zagaias.

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Chamusquei o pêlo hirsuto,tive o corpo em chagas vivas,estalaram-me as gengivas,apodreci de escorbuto.

Com a mão direita benzi-me,com a direita esganei.Mil vezes no chão, bati-me,outras mil me levantei. Meu riso de dentes podresecoou nas sete partidas.Fundei cidades e vidas,rompi as arcas e os odres.

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Tremi no escuro da selva,alambique de suores.Estendi na areia e na relvamulheres de todas as cores. Moldei as chaves do mundoa que outros chamaram seu,mas quem mergulhou no fundoDo sonho, esse, fui eu. O meu sabor é diferente.Provo-me e saibo-me a sal.Não se nasce impunementenas praias de Portugal.

 António Gedeão, In Teatro do Mundo, 1958

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VIAGEMAparelhei o barco da ilusãoE reforcei a fé de marinheiro.Era longe o meu sonho, e traiçoeiroO mar...(Só nos é concedidaEsta vidaQue temos;E é nela que é precisoProcurarO velho paraísoQue perdemos).Prestes, larguei a velaE disse adeus ao cais, à paz tolhida.Desmedida,A revolta imensidãoTransforma dia a dia a embarcaçãoNuma errante e alada sepultura...Mas corto as ondas sem desanimar.Em qualquer aventura,O que importa é partir, não é chegar.

Miguel TorgaProf. Filomena Pedroso 31

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