marcos melo

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Araçatuba Emmanuela Zambon [email protected] N a plateia, as atenções es- tão todas voltadas para o palco. Ninguém pisca e nem sai do lugar. Tanto excesso de atenção tem um motivo preva- lecente: o encantamento causado pela parceria entre a arte de ence- nar, atores e bonecos. O resultado da interação entre os três compo- nentes é uma arte milenar, que vem desde a Pré-História, e rende bons resultados na hora de trans- mitir uma mensagem para adultos e crianças até hoje. Em Araçatuba, o ator Mar- cos Melo, 34 anos, da Cia. Ello Produções, sabe a importância de contar histórias com a ajuda de simpáticos e coloridos bonecos desde 2005. Em um universo on- de a espuma e a tinta se transfor- mam em um personagem interes- sante, Marcos viu que a manipu- lação de bonecos poderia ser útil para auxiliar na educação e entre- tenimentos dessas crianças. PEÇAS Atualmente ele e sua espo- sa, Rosa Mello, que integra a companhia junto com ele, apre- sentam duas peças infantis basea- das nos clássicos "A Formiga e a Cigarra" e "O Patinho Feio". O objetivo principal da du- pla é levar essas histórias para crianças de escolas municipais, emitindo alguns valores diferen- tes dos que são mostrados nos contos originais. Marcos explica que a história antiga da "A Cigar- ra e a Formiga" passa uma mensa- gem preconceituosa, onde o artis- ta, no caso a cigarra, por não ter uma profissão igual a das formi- gas, é vista como mau exemplo. VALORES "Não é só porque o artista não tem o mesmo trabalho da mãe e do pai, que pode ser consi- derado desocupado", conta. Na versão teatral dos bonecos, que foi apresentada em 2009 no Fes- tara (Festival de Teatro de Araça- tuba), o conflito é entre as pró- prias formigas. Elas mesmas se questionam e percebem que são preconceituo- sas. Dentro da história a formiga- chefe admite que quando era mais nova queria ser artista, mas o formigueiro não deixou. No fi- nal, segundo ele, a formiga acaba se convencendo de que perdeu muito tempo. "A gente sempre tenta fazer nossos espetáculos voltados a algu- ma coisa que a escola vai traba- lhar, que é importante. Aliar a educação com o teatro é melhor, porque você vai formar público e ainda conseguir auxiliar a escola", ressalta o ator. Usar os bonecos foi a forma que ele encontrou pa- ra que as crianças pudessem assi- milar melhor as histórias. HISTÓRIA O seu interesse pelo tema começou quando participou, por volta de 1996, de um festival em Santos (SP) e conheceu o traba- lho da Cia Truks - Teatro de Bo- necos, de São Paulo, que tam- bém coordenada o Centro de Es- tudos e Práticas do Teatro de Ani- mação, da capital paulista. "Eles fazem a manipulação com os integrantes vestidos de preto. Eu fiquei apaixonado", afir- ma. Mesmo tendo se identificado com a prática, ele não aderiu ao teatro de bonecos de imediato, porque Araçatuba fica distante dos grandes centros culturais e na região não poucas pessoas que realizam esse tipo de trabalho. Em 2001, com a participa- ção de um profissional do Rio de Janeiro em um evento no municí- pio, Marcos teve mais uma vez contato com a manipulação de bonecos e a partir daí começou a pesquisar como o material é feito - ele mesmo faz todos os bonecos -, e também ficou sabendo como funcionava a prática assistindo programas de animação na TV Cultura, como "Cocoricó". MONTAGEM O ator, que desde 1991 con- vive com o teatro, tem seus se- gredos para conseguir trabalhar com os bonecos. Para ele, é es- sencial observar o comportamen- to das crianças e tentar captar o que mais chama a atenção delas. Outra preocupação é com a ento- nação da voz de cada persona- gem, já que uma mesma pessoa pode fazer vários personagens di- ferentes numa mesma peça. E por fim ter o cuidado e destreza em dar vida ao boneco, ou seja, emprestar uma personali- dade a ele. "Um exemplo é o tra- balho de Tom Veiga, que faz o louro José. O personagem tem tanta personalidade que chega a ter o mesmo peso que a própria Ana Maria Braga no programa "Mais Você", finaliza. PATINHO A peça "O Patinho Feio", que fala de "bulling" de uma for- ma indireta, será encenada para escolas nos dias 16, 17 e 18 de março, no Teatro Paulo Alcides Jorge. Marcos estuda a possibili- dade de fazer uma exibição extra para o público geral. Na sua histó- ria, o patinho feio não vira cisne. Em vez disso ele mostra a impor- tância de aceitar e conviver com as diferenças. Marcos também dará um curso gratuito para as crianças na Oficina Cultural Silvio Russo, em Araçatuba, entre os dias 15 de fe- vereiro e 18 de fevereiro. As ins- crições podem ser feitas até o pró- ximo dia 14. Teatro influencia na mensagem para crianças O encanto dos TEATRO Memória bonecos A técnica de usar bonecos no teatro continua encantando os espectadores, desde as crianças até as pessoas mais velhas Valdivo Pereira/Folha da Região - 02/02/2011 O trabalho de Mário Lago como compositor, poeta, au- tor e ator de rádio, fotonove- la, teatro, cinema e TV vai ganhar vários registros. Sua obra vai ser homenageada ao longo do ano em livros, CDs e show. D2 INTERAÇÃO O ator Marcos Melo, de Araçatuba, mostra parte dos bonecos de seu espetáculo De acordo com atriz e arte- educadora, Patrícia Bracale, de Araçatuba, os bonecos são obje- tos que fazem parte do universo das crianças, mais fáceis de se- rem identificados e assimilados por elas. Já na área da psicolo- gia, as crianças prestam bastante atenção nos movimentos dos bo- necos, porque no dia a dia elas costumam reproduzir nesses brinquedos os acontecimentos que elas observam. NATURAL Patrícia, que já participou da peça "É Impressão Minha ou Estão Batendo na Porta?", do grupo teatral "Um e Outro", de Araçatuba, como atriz e pesqui- sadora, conta que as crianças li- dam bem com bonecos, que é algo natural para elas, por isso acabam prestando mais atenção nas informações transmitidas. De acordo com ela, os bo- necos coloridos e que represen- tam animais são os preferidos. Para ela os pais podem usar essa tática para interagir com os fi- lhos, fazendo bonecos com meias e outros materiais. E.Z. D1 Araçatuba, quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

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Page 1: Marcos melo

Araçatuba

Emmanuela Zambon

[email protected]

Na plateia, as atenções es-tão todas voltadas para opalco. Ninguém pisca e

nem sai do lugar. Tanto excessode atenção tem um motivo preva-lecente: o encantamento causadopela parceria entre a arte de ence-nar, atores e bonecos. O resultadoda interação entre os três compo-nentes é uma arte milenar, quevem desde a Pré-História, e rendebons resultados na hora de trans-mitir uma mensagem para adultose crianças até hoje.

Em Araçatuba, o ator Mar-cos Melo, 34 anos, da Cia. ElloProduções, sabe a importância decontar histórias com a ajuda desimpáticos e coloridos bonecosdesde 2005. Em um universo on-de a espuma e a tinta se transfor-mam em um personagem interes-sante, Marcos viu que a manipu-lação de bonecos poderia ser útilpara auxiliar na educação e entre-tenimentos dessas crianças.

PEÇASAtualmente ele e sua espo-

sa, Rosa Mello, que integra acompanhia junto com ele, apre-sentam duas peças infantis basea-das nos clássicos "A Formiga e aCigarra" e "O Patinho Feio".

O objetivo principal da du-pla é levar essas histórias paracrianças de escolas municipais,emitindo alguns valores diferen-tes dos que são mostrados nos

contos originais. Marcos explicaque a história antiga da "A Cigar-ra e a Formiga" passa uma mensa-gem preconceituosa, onde o artis-ta, no caso a cigarra, por não teruma profissão igual a das formi-gas, é vista como mau exemplo.

VALORES"Não é só porque o artista

não tem o mesmo trabalho damãe e do pai, que pode ser consi-derado desocupado", conta. Naversão teatral dos bonecos, quefoi apresentada em 2009 no Fes-tara (Festival de Teatro de Araça-tuba), o conflito é entre as pró-prias formigas.

Elas mesmas se questioname percebem que são preconceituo-sas. Dentro da história a formiga-chefe admite que quando eramais nova queria ser artista, maso formigueiro não deixou. No fi-nal, segundo ele, a formiga acabase convencendo de que perdeumuito tempo.

"A gente sempre tenta fazernossos espetáculos voltados a algu-

ma coisa que a escola vai traba-lhar, que é importante. Aliar aeducação com o teatro é melhor,porque você vai formar público eainda conseguir auxiliar a escola",ressalta o ator. Usar os bonecosfoi a forma que ele encontrou pa-ra que as crianças pudessem assi-milar melhor as histórias.

HISTÓRIAO seu interesse pelo tema

começou quando participou, porvolta de 1996, de um festival emSantos (SP) e conheceu o traba-lho da Cia Truks - Teatro de Bo-necos, de São Paulo, que tam-bém coordenada o Centro de Es-tudos e Práticas do Teatro de Ani-mação, da capital paulista.

"Eles fazem a manipulaçãocom os integrantes vestidos depreto. Eu fiquei apaixonado", afir-ma. Mesmo tendo se identificadocom a prática, ele não aderiu aoteatro de bonecos de imediato,porque Araçatuba fica distantedos grandes centros culturais ena região não poucas pessoas que

realizam esse tipo de trabalho.Em 2001, com a participa-

ção de um profissional do Rio deJaneiro em um evento no municí-pio, Marcos teve mais uma vezcontato com a manipulação debonecos e a partir daí começou apesquisar como o material é feito- ele mesmo faz todos os bonecos-, e também ficou sabendo comofuncionava a prática assistindoprogramas de animação na TVCultura, como "Cocoricó".

MONTAGEMO ator, que desde 1991 con-

vive com o teatro, tem seus se-gredos para conseguir trabalharcom os bonecos. Para ele, é es-sencial observar o comportamen-to das crianças e tentar captar oque mais chama a atenção delas.Outra preocupação é com a ento-nação da voz de cada persona-gem, já que uma mesma pessoapode fazer vários personagens di-ferentes numa mesma peça.

E por fim ter o cuidado edestreza em dar vida ao boneco,

ou seja, emprestar uma personali-dade a ele. "Um exemplo é o tra-balho de Tom Veiga, que faz olouro José. O personagem temtanta personalidade que chega ater o mesmo peso que a própriaAna Maria Braga no programa"Mais Você", finaliza.

PATINHOA peça "O Patinho Feio",

que fala de "bulling" de uma for-ma indireta, será encenada paraescolas nos dias 16, 17 e 18 demarço, no Teatro Paulo AlcidesJorge. Marcos estuda a possibili-dade de fazer uma exibição extrapara o público geral. Na sua histó-ria, o patinho feio não vira cisne.Em vez disso ele mostra a impor-tância de aceitar e conviver comas diferenças.

Marcos também dará umcurso gratuito para as crianças naOficina Cultural Silvio Russo, emAraçatuba, entre os dias 15 de fe-vereiro e 18 de fevereiro. As ins-crições podem ser feitas até o pró-ximo dia 14.

Teatroinfluencia namensagempara crianças

O encanto dos

TEATRO

Memória

bonecosA técnica de usar bonecos no teatro continua encantando os espectadores,

desde as crianças até as pessoas mais velhas

Valdivo Pereira/Folha da Região - 02/02/2011

O trabalho de Mário Lagocomo compositor, poeta, au-tor e ator de rádio, fotonove-la, teatro, cinema e TV vaiganhar vários registros. Suaobra vai ser homenageada aolongo do ano em livros, CDse show. D2

INTERAÇÃOO ator Marcos Melo,

de Araçatuba, mostra

parte dos bonecos

de seu espetáculo

De acordo com atriz e arte-educadora, Patrícia Bracale, deAraçatuba, os bonecos são obje-tos que fazem parte do universodas crianças, mais fáceis de se-rem identificados e assimiladospor elas. Já na área da psicolo-gia, as crianças prestam bastanteatenção nos movimentos dos bo-necos, porque no dia a dia elascostumam reproduzir nessesbrinquedos os acontecimentosque elas observam.

NATURALPatrícia, que já participou

da peça "É Impressão Minha ouEstão Batendo na Porta?", dogrupo teatral "Um e Outro", deAraçatuba, como atriz e pesqui-sadora, conta que as crianças li-dam bem com bonecos, que éalgo natural para elas, por issoacabam prestando mais atençãonas informações transmitidas.

De acordo com ela, os bo-necos coloridos e que represen-tam animais são os preferidos.Para ela os pais podem usar essatática para interagir com os fi-lhos, fazendo bonecos commeias e outros materiais. E.Z.

D1 Araçatuba, quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011