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Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 345 MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO MOINHO Juliano Batista Romualdo, [email protected] Graduando em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ, Bolsista PIBIC/UFSJ Thiago Henrique Antônio Silva, [email protected] Aluno de Ensino Médio, Bolsista PIBIC/JUNIOR/FAPEMIG Silvia Elena Ventorini, [email protected], Profa. Dra. do Departamento de Geociências da Universidade Federal de São João del-Rei UFSJ Introdução A partir da década de 1960 o Brasil passou por processo rápido de crescimento urbano e em muitos municípios este fato ocorreu sem um planejamento adequado. Vertentes e áreas de várzeas foram ocupadas pelo homem sob parâmetros funcionais e tecnicistas que desconsideram a geomorfologia fluvial e seus processos naturais. Em muitas cidades brasileiras é comum encontrar paisagens fluviais altamente modificadas, apresentando impactos como poluição das águas, assoreamentos dos leitos dos rios, retilinização e canalização de canais, devastação das áreas de preservação, ocupação de planícies de inundação, impermeabilização desordenada de vertentes etc. (PORATH, 2004). A significativa expansão urbana nas últimas décadas e os ineficientes planejamento e gestão do espaço urbano resultaram em ocupação de áreas indevidas (ALMEIDA, VENTORINI, 2014) e “esta situação se agrava quando o próprio sítio é naturalmente frágil [...]”(MARANDOLA JR. et al., 2013, p. 37). O município de São João del-Rei insere-se neste contexto. O município está localizado na mesorregião dos Campos das Vertentes, na porção centro - sul do estado de Minas Gerais entre as coordenadas geográficas 21°0’S a 21°30’S e 44°0’O a 44°35’O e com extensão territorial de 1.464.327m 2 . Seu surgimento teve inicio nas encostas da Serra do Lenheiro e em 1713 foi elevado à vila, direcionando a organização política e

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MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO

CÓRREGO DO MOINHO

Juliano Batista Romualdo, [email protected] Graduando em Geografia pela

Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ, Bolsista PIBIC/UFSJ

Thiago Henrique Antônio Silva, [email protected] Aluno de Ensino Médio, Bolsista PIBIC/JUNIOR/FAPEMIG

Silvia Elena Ventorini, [email protected], Profa. Dra. do Departamento de

Geociências da Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ

Introdução

A partir da década de 1960 o Brasil passou por processo rápido de crescimento

urbano e em muitos municípios este fato ocorreu sem um planejamento adequado.

Vertentes e áreas de várzeas foram ocupadas pelo homem sob parâmetros funcionais

e tecnicistas que desconsideram a geomorfologia fluvial e seus processos naturais.

Em muitas cidades brasileiras é comum encontrar paisagens fluviais altamente

modificadas, apresentando impactos como poluição das águas, assoreamentos dos

leitos dos rios, retilinização e canalização de canais, devastação das áreas de

preservação, ocupação de planícies de inundação, impermeabilização desordenada

de vertentes etc. (PORATH, 2004).

A significativa expansão urbana nas últimas décadas e os ineficientes

planejamento e gestão do espaço urbano resultaram em ocupação de áreas indevidas

(ALMEIDA, VENTORINI, 2014) e “esta situação se agrava quando o próprio sítio é

naturalmente frágil [...]”(MARANDOLA JR. et al., 2013, p. 37). O município de São

João del-Rei insere-se neste contexto. O município está localizado na mesorregião

dos Campos das Vertentes, na porção centro - sul do estado de Minas Gerais entre as

coordenadas geográficas 21°0’S a 21°30’S e 44°0’O a 44°35’O e com extensão

territorial de 1.464.327m2. Seu surgimento teve inicio nas encostas da Serra do

Lenheiro e em 1713 foi elevado à vila, direcionando a organização política e

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administrativa e orientando a formação urbana em área próxima as margens do

Córrego do Lenheiro (MALDOS, 2000).

Desde o surgimento do município, áreas de bacias hidrográficas que fazem

parte da Bacia do Rio das Mortes foram utilizadas para ocupação urbana e rural sem

medidas adequadas de planejamento e gestão para a amenização de impactos e/ou

preservação dos recursos naturais (PÔSSA, VENTORINI, 2014). Os estudos de

Pôssa et. al. (2012) e Almeida e Ventorini (2014) mostram que as bacias hidrográficas

localizadas no município não são consideradas no planejamento e gestão do uso da

terra, seja este rural ou urbano. Indicam ainda que não há o cumprimento da

determinação da Lei 9.433\97 de 08 de janeiro de 1997 que estabelece princípios

básicos para a gestão dos recursos hídricos no país como: adoção da bacia

hidrográfica como unidade de planejamento; o reconhecimento de que a água é um

bem econômico; a necessidade de serem contemplados os usos múltiplos existentes e

potenciais do recurso e a implementação de um modelo de gestão descentralizada e

participativa.

Para os autores, apesar de a legislação brasileira legitimar a bacia hidrográfica

como unidade de planejamento e gestão, os gestores do município de São João del-

Rei enfrentam dificuldades para a adoção irrestrita desse princípio, principalmente por

não haver um mapeamento digital como apoio ao diagnostico e prognostico dos

impactos nas bacias. A ausência dessa base instigou o inicio de um estudo1 com

objetivo principal de conhecer e mapear a situação Geoambiental de bacias

hidrográficas, bem como mapear e analisar áreas inaptas e aptas ao uso urbano

localizadas no município de São João del-Rei.

Neste artigo relatamos os resultados parciais do mapeamento Geoambiental da

Bacia do Córrego do Moinho. Sua importância consiste nas interações de input e

ouput dos fluxos de matérias e energias, nas quais sociedade e natureza se integram

(ZACHARIAS, 2007). Além disso, a importância de sua escolha consiste na

localização de um aterro sanitário controlado em área de seus afluentes que tem

contribuído significativamente para sua degradação.

1 O estudo foi iniciado em 2011 e é coordenado pela Profa Dra Silvia Elena Ventorini do Departamento

de Geociências da Universidade Federal de São João del-Rei. A pesquisa é recebe o apoio financeiro,

desde 2013, da Pro-Reitoria de Extensão, por meio do Programa denominado Mapeamento de São João

del-Rei –MG e da Fapemig por meio de uma bolsa de iniciação Científica. O estudo originou o Grupo de

estudo de Cartografia Digital da UFSJ, que faz parte do Grupo de Pesquisa CNPq Geotecnologias e

Cartografia aplicadas à Geografia (GEOCART), cujo líder é a Profa Dra Maria Isabel Castreghini de

Freitas do Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do Instituto de Geociências e

Ciências Exatas (IGCE), da Universidade Estadual Paulista –Unesp- Campus de Rio Claro.

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Procedimentos metodológicos

Tendo como pressuposto a importância do estudo integrado de aspectos

físicos e sociais de bacias hidrográficas adota-se como fundamentação teórica e

metodológica a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) que teve seu iniciou em 1929 com a

pesquisa de R. Defay envolvendo a Termodinâmica. Na Geografia sua aplicação

começou com base nas publicações de Straller nos anos de 1950 e 1952.

No entanto, nas pesquisas geográficas, “as proposições mais explícitas sobre

o uso da teoria de sistema em Geografia Física começaram a se avolumar na década

de 1960, servido como ponto de partida o artigo de Chorley” (CHRISTOFOLETTI,

1990, p. 21). O uso da Teoria dos Sistemas em pesquisas geográficas possibilitou

sistematizar e integrar aspectos físicos relacionando-os com suas conexões e

processos trazendo à luz as discussões sobre a importância de não estudar o meio

físico como produto final (TROPPMAIR, 2004, 2006).

Primeiramente definiu-se a projeção, o sistema de coordenadas e o datum do

projeto e registrou-se a carta topográfica. Em seguida foi delimitado a área da Bacia

do Córrego do Moinho e vetorização as curvas de nível e a drenagem, seguida de

edição vetorial para correção da fisiografia da rede de drenagem, tendo como

referência a imagem RapidEye de 2013. A partir dos dados da rede de drenagem do

limite de área da bacia foi elaborada a Carta de Drenagem.

A partir do shapefile das feições de drenagem foram gerados buffers (áreas) de

50 metros ao entorno das nascentes e em de 30 metros em cada margem de rios. As

dimensões dos buffers tem como base a lei 12.651 de 25 de maio de 2012 que

determina uma zona de preservação de 30 metros para rios de até 10 metros de

largura e um raio de 50 metros para as nascentes. Os buffers sobrepostos ao Mapa de

Uso e Cobertura da Terra e imagem RapidEye possibilita a análise da situação das

áreas de preservação permanente. O Mapa de Uso foi elaborado por meio da

vetorização das tipologias de uso e cobertura adotando técnicas de fotointerpretação A

veracidade das informações mapeadas foi verificada por meio de trabalho de campo.

Resultados Parciais

A analise dos buffers sobrepostos na imagem RapidEye de 2013 revelou o não

cumprimento da legislação que determina uma área de proteção da mata ciliar de 30m

de cada lado de rios com larguras até 10m e de raio de 50m de mata ciliar no entrono

de nascentes. Em vários trechos do curso do rio, assim como em várias nascentes

observou-se a retirada da cobertura vegetal para a criação de gado ou para o plantio.

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O mapa de uso da terra mostra amplas áreas de plantações agrícolas com

predominância da silvicultura e algumas áreas com solo exposto. O resultado do mapa

hipsométrico mostra que a amplitude na área da bacia é 417 metros (altitude varia de

700 a 1117m). A análise indica ainda que o aterro sanitário localiza-se em uma área

elevada do relevo, (entre 1102 a 1080, aproximadamente) e em altitude acima de uma

nascente e, consequentemente, um afluente, fato que colabora para que o chorume

contamine as águas do rio.

Os dados coletados em campo mostram quantidade significativa de resíduos

sólidos depositados inadequadamente, além de presenças de animais de grande e

pequeno porte, como cavalos, cachorros, urubus etc. Observou-se ainda que,

chorume ocasiona poluição das nascentes e córregos que formam a Bacia do Córrego

do Moinho. As figuras 2 e 3 ilustram fatores observados no local.

Figura 2: Vala aberta para deposição de resíduos com afloramento de lençol freático Situação observada no dia16 de julho de 2015.

Fonte: Acervo dos autores

A pesquisa será aprofundada com a elaboração de outros mapas como de

declividade, geológico e solo. Além disso, será utilizada a analise multicritério para

geração de um modelo de síntese dos impactos ambientais.

Considerações Finais

A pesquisa mostra a necessidade de realizar medidas mitigadoras para

amenizar os impactos na Bacia do Córrego do Moinho, principalmente em relação ao

deposito indevido de resíduos sólidos, a poluição das águas e ao desmatamento de

áreas ao entorno de nascente e rios. O mapeamento e os dados coletados em campo

indicam o não cumprimento da Lei 9.433\97 de 8 de janeiro de 1997 no que se refere à

adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão ambiental.

A geração de uma base de dados cartográfica em meio digital da bacia e o uso

da analise multicritério permitirá realizar um diagnóstico ambiental e indicar os tipos de

usos e os graus de preservação e degradação. O estudo poderá, ainda, auxiliar

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gestores e planejadores municipais, assim como pesquisadores a propor medidas

mitigadoras para a amenização dos impactos na bacia.

Referencias Bibliográficas

ALMEIDA, Gustavo Pyra; VENTORINI, Silvia Elena. Mapeamento participativo de

áreas de risco a movimento de massa no bairro Senhor dos Montes – São João

Del - Rei, MG. Caderno de Geografia, v.24, número especial (1), 2014.

BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm. Acesso em: 27 de março 2016

BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em:

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CHRISTOFOLETTI, Antônio. A aplicação da abordagem em sistema na geografia

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<http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v30n1/v30n1a03.pdf>. Acesso em: 30 de março de

2016

PORATH, S. L. A paisagem de rios urbanos: a presença do Rio Itajaí-Açu na

cidade de Blumenau. 2004. 150f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e

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bacia do córrego do Júlio - São João del-Rei - MG. In: XVII Encontro Nacional de

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POSSA Evelyn. Marcia; VENTORINI, Silvia. Elena EXPANSÃO URBANA PARA

ÁREAS DE RISCO DE INUNDAÇÃO E DE MOVIMENTO DE MASSA: O ESTUDO

NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI-MG Caderno Prudentino de Geografia,

Presidente Prudente, n.36, v.2, p.49-67, ago./dez. 2014.

TROPPMAIR, Helmut. Geossistemas. Mercator: Revista de Geografia da

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ZACHARIAS, Andréa Aparecida. A representação gráfica das unidades de

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