mapeamento da vegetaÇÃo e do uso do solo no …rodriguesia.jbrj.gov.br/fasciculos/rodrig60_1/02 -...

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Artigo recebido em 05/2008. Aceito para publicação em 02/2009. 1 Este trabalho contou com o apoio financeiro da FAPERJ. 2 Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Campus Praia Vermelha, Boa Viagem, Niterói, RJ, 24210-340, Brasil 3 Arquiteta Paisagista MSc. 4 Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 5 Programa de Pós-Graduação em Geoquímica, Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 6 Autor para correspondência: [email protected] RESUMO (Mapeamento da vegetação e do uso do solo no Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil) A região de Cabo Frio é reconhecida como um importante centro de diversidade vegetal (CDVCF) da Região Neotropical, devido à presença de diversos taxa endêmicos e comunidades vegetais singulares, o que pode ser relacionado tanto ao clima relativamente seco quanto à heterogeneidade do ambiente físico. Embora diversos estudos realizados na região tenham produzido informações importantes sobre a estrutura e composição florística de algumas comunidades vegetais, existe ainda uma considerável lacuna na classificação e definição dos tipos de vegetação bem como de sua distribuição espacial. Este trabalho tem como objetivo analisar e descrever os tipos de vegetação da região e sua relação com o ambiente físico, através do mapeamento da cobertura vegetal e uso do solo, baseado na análise integrada de imagens de satélite, fotografias aéreas, mapas temáticos e dados pontuais provenientes de levantamentos estruturais e florísticos e trabalhos de campo, com apoio do processamento digital de imagens e de sistema de informações geográficas. Os resultados são apresentados acompanhados de um mapa da vegetação e uso do solo da área do CDVCF, que poderá ser utilizado como base para novos estudos florísticos e ecológicos, para estudos da dinâmica da paisagem e para apoio ao planejamento ambiental e a conservação da biodiversidade da região. Palavras-chave: cobertura vegetal, uso do solo, relação vegetação-ambiente físico. ABSTRACT (Vegetation and land cover mapping of the Cabo Frio Centre of Plant Diversity, Rio de Janeiro, Brazil) The Cabo Frio region has been nominated an important Centre of Plant Diversity of the Neotropical Region due to the presence of several endemic taxa and unique plant communities, which are related to both a dry climate and a heterogeneous physical environment. Although previous studies have provided important floristic and structural information on vegetation types, there is still considerable uncertainty about the spatial distribution, extent and variation in vegetation cover, as well as the classification and definition of these types. This work aims to provide an analysis of the region’s vegetation and its relationship to the physical environment, through vegetation and land cover mapping, based on an integrated analysis of satellite images and aerial photographs, thematic maps, point data from previous floristic and structural surveys and field work, supported by digital image processing and geographic information system software. These results are accompanied by a vegetation and land cover map of the entire area, thus providing a basis for further ecological studies, conservation and land use planning and monitoring and landscape dynamics analyses. Key words : vegetation, land cover, vegetation-physical environment relationships. MAPEAMENTO DA VEGETAÇÃO E DO USO DO SOLO NO CENTRO DE DIVERSIDADE VEGETAL DE CABO FRIO, RIO DE JANEIRO, BRASIL 1 Claudio Belmonte de Athayde Bohrer 2,6 , Heloisa Guinle Ribeiro Dantas 3 , Felipe Mendes Cronemberger 4 , Raul Sanchez Vicens 2 & Sandra Fernandes de Andrade 5 INTRODUÇÃO A vegetação é parte integrante da paisagem e serve como um indicador de outros atributos do ambiente e de suas variações no espaço. Contribui também para o fornecimento de diversos produtos e serviços ecossistêmicos, alimentos, materiais de construção e abrigo, combustível, conservação do solo, recursos hídricos e da vida silvestre. Mapas de vegetação mostram a localização, extensão e distribuição dos tipos de vegetação de uma dada região, apresentando um inventário

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Artigo recebido em 05/2008. Aceito para publicação em 02/2009.1Este trabalho contou com o apoio financeiro da FAPERJ.2Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Campus Praia Vermelha, BoaViagem, Niterói, RJ, 24210-340, Brasil3Arquiteta Paisagista MSc.4Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ.5Programa de Pós-Graduação em Geoquímica, Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ.6Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

(Mapeamento da vegetação e do uso do solo no Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio, Rio de Janeiro,Brasil) A região de Cabo Frio é reconhecida como um importante centro de diversidade vegetal (CDVCF) daRegião Neotropical, devido à presença de diversos taxa endêmicos e comunidades vegetais singulares, oque pode ser relacionado tanto ao clima relativamente seco quanto à heterogeneidade do ambiente físico.Embora diversos estudos realizados na região tenham produzido informações importantes sobre a estruturae composição florística de algumas comunidades vegetais, existe ainda uma considerável lacuna naclassificação e definição dos tipos de vegetação bem como de sua distribuição espacial. Este trabalho temcomo objetivo analisar e descrever os tipos de vegetação da região e sua relação com o ambiente físico,através do mapeamento da cobertura vegetal e uso do solo, baseado na análise integrada de imagens desatélite, fotografias aéreas, mapas temáticos e dados pontuais provenientes de levantamentos estruturais eflorísticos e trabalhos de campo, com apoio do processamento digital de imagens e de sistema de informaçõesgeográficas. Os resultados são apresentados acompanhados de um mapa da vegetação e uso do solo da áreado CDVCF, que poderá ser utilizado como base para novos estudos florísticos e ecológicos, para estudos dadinâmica da paisagem e para apoio ao planejamento ambiental e a conservação da biodiversidade da região.Palavras-chave: cobertura vegetal, uso do solo, relação vegetação-ambiente físico.

ABSTRACT

(Vegetation and land cover mapping of the Cabo Frio Centre of Plant Diversity, Rio de Janeiro, Brazil) TheCabo Frio region has been nominated an important Centre of Plant Diversity of the Neotropical Region due tothe presence of several endemic taxa and unique plant communities, which are related to both a dry climateand a heterogeneous physical environment. Although previous studies have provided important floristicand structural information on vegetation types, there is still considerable uncertainty about the spatialdistribution, extent and variation in vegetation cover, as well as the classification and definition of thesetypes. This work aims to provide an analysis of the region’s vegetation and its relationship to the physicalenvironment, through vegetation and land cover mapping, based on an integrated analysis of satellite imagesand aerial photographs, thematic maps, point data from previous floristic and structural surveys and fieldwork, supported by digital image processing and geographic information system software. These results areaccompanied by a vegetation and land cover map of the entire area, thus providing a basis for furtherecological studies, conservation and land use planning and monitoring and landscape dynamics analyses.Key words: vegetation, land cover, vegetation-physical environment relationships.

MAPEAMENTO DA VEGETAÇÃO E DO USO DO SOLO NO CENTRO DE

DIVERSIDADE VEGETAL DE CABO FRIO, RIO DE JANEIRO, BRASIL1

Claudio Belmonte de Athayde Bohrer2,6, Heloisa Guinle Ribeiro Dantas3,

Felipe Mendes Cronemberger4, Raul Sanchez Vicens2

& Sandra Fernandes de Andrade5

INTRODUÇÃO

A vegetação é parte integrante da paisageme serve como um indicador de outros atributosdo ambiente e de suas variações no espaço.Contribui também para o fornecimento de diversosprodutos e serviços ecossistêmicos, alimentos,

materiais de construção e abrigo, combustível,conservação do solo, recursos hídricos e davida silvestre.

Mapas de vegetação mostram a localização,extensão e distribuição dos tipos de vegetaçãode uma dada região, apresentando um inventário

2 Bohrer, C. B. A. et al.

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das comunidades vegetais existentes. Com issogera-se uma como ferramenta para a análisedas relações entre a vegetação e o meio físico ecomo padrões de referência no monitoramentodas mudanças temporais na vegetação,fornecendo embasamento científico aoplanejamento do uso da terra (Bohrer 2000). Assuas características variam de acordo com aescala cartográfica, os métodos e os tipos deimagens utilizados, que determinam a definiçãodos padrões passíveis de serem mapeáveis.

A vegetação natural geralmente variacontinuamente no espaço, exceto em caso dedescontinuidade geológica, histórica ouambiental (Austin 2005). Portanto, os limitesentre os diferentes tipos de vegetação sãogeralmente arbitrários e influenciados pelaescolha das características nas quais se baseiaa sua classificação (Küchler 1988b). Ossistemas de classificação da vegetação podemser agrupados em dois tipos básicos (Whittaker1978): fisionômico-estrutural, baseado nasformas de vida ou de crescimento dominantes,e florístico, baseado nas espécies ocorrentes.A fisionomia da vegetação é definida pelostipos estruturais ou formas de crescimentodominantes ou comuns nas comunidades,definindo a aparência ou aspecto geral davegetação (Beard 1978). A estrutura estárelacionada ao padrão de distribuição dasespécies na comunidade vegetal, definida pelostrês componentes: vertical (estratificação),horizontal (distribuição espacial dos indivíduos)e pela abundância de cada espécie (Kent &Coker 1992; Küchler 1988a). A maioria dossistemas fisionômicos utiliza o conceito deformação, considerada como um tipo decomunidade definido pelas formas decrescimento dominantes e pelas característicasprincipais do ambiente (Beard 1978).

De acordo com Veloso & Goes-Filho(1982), a evolução da classificação da vegetaçãobrasileira pode ser traçada desde Martius em1840, que definiu cinco regiões florísticasdenominadas com o nome de divindades gregas,delineadas em mapa fitogeográfico anexado àFlora brasiliensis por Grisebach, em 1858. Avegetação da faixa costeira foi denominada

Dryades. Gonzaga Campos propôs em 1926uma primeira classificação baseada no aspectofisionômico da vegetação, reconhecendo trêsgrandes grupos - campos, caatingas e florestas,definindo duas divisões da floresta atlântica:florestas das encostas e dos pinheiros (Veloso& Góes-Filho 1982). Azevedo (1950) estabeleceuum sistema fisionômico-ecológico dividindo avegetação brasileira em três grandes formações:florestais, com seis subdivisões; arbustivas eherbáceas; e complexas, onde incluiu asformações litorâneas. Rizzini (1997) volta aidentificar dois grandes grupos de floresta,amazônica e atlântica, subdivida em doisconjuntos heterogêneos, um dos quais sem tipospróprios de vegetação, onde se inclui oComplexo de Restinga.

Beard (1946, 1955) desenvolveu umsistema de classificação para a América tropicalbaseado em características fisionômicas,utilizando também aspectos ecológicos,relacionando a fisionomia da vegetação agradientes ambientais, com as formaçõesdefinidas como estágios reconhecíveis ao longode um gradiente contínuo. A UNESCO propôsum sistema fisionômico global de classificação(Ellenberg & Mueller-Dombois 1967),posteriormente aperfeiçoado para utilização nomapeamento da vegetação mundial na escala1:1.000.000 (UNESCO 1973), que emprega oconceito de formas de vida de Raunkiaer,modificado e expandido, além de aspectosambientais considerados importantes.

O mapeamento da vegetação do paísefetuado pelo Projeto Radambrasil evoluiu paraum sistema de classificação desenvolvido apartir desta proposta, baseado numa hierarquiade região ecológica, formação e subformação,de acordo com a escala e o nível de detalheutilizado, sendo a região fitoecológica entendidacomo uma “área de florística típica e de formasbiológicas características, que se repete dentrode um mesmo clima” (Veloso & Góes-Filho1982, pág 32). De acordo com este sistema,posteriormente revisado (Veloso et al. 1991),a floresta ombrófila densa recobre as áreascosteiras úmidas sem estação seca pronunciada,e a floresta estacional semidecidual ocupa as

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áreas interioranas com ocorrência de três oumais meses secos. As formações pioneiras,incluindo restingas, manguezais e camposinundáveis, ocorrem nas planícies quaternáriasao longo de toda a zona costeira (IBGE 1993).

Ule (1967) diferenciou a vegetação daregião de Cabo Frio em diversos tipos decomunidades vegetais: comunidade halófitasobre dunas mais expostas à salinidade; restingasde Ericaceae (vegetação arbustiva pouco densa),de Myrtaceae (arbustiva densa com maiorriqueza de espécies), e de Clusia (vegetaçãomais alta e densa); e as matas paludosas e derestinga. Rizzini (1997) dividiu a região emlitoral rochoso, limoso e arenoso, este por suavez composto por dunas móveis e fixas, comvegetação herbáceo-arbustiva (thicket) distintada restinga típica (vegetação arboriforme sobreareia mais compactada) e da mata de restinga,com dossel entre 8 e 12 metros.

Araujo & Henriques (1984) dividem asrestingas do Rio de Janeiro em doze tipos decomunidades vegetais, de acordo comcaracterísticas fisionômicas, ecológicas eflorísticas, adaptando algumas das classespropostas por Ule (1967). Sá (1992) usou ostermos mata paludosa, para a vegetaçãoarbórea florestal sobre áreas periódica oupermanentemente alagadas, e floresta seca, paraas áreas arenosas planas ou de relevo suave,em Saquarema. Farág (1999) caracterizou avegetação arbórea sobre planície areno-argilosa em Búzios como mata semicaducifólia.

O mapeamento da vegetação da regiãopelo Projeto Radambrasil (Ururahy et al. 1983)considerou a relação entre a fisionomia e oclima, a partir da relação ombrotérmica P >2T (Walter 1986), para separar as áreas comcobertura florestal perene e decidual. A florestaestacional semidecidual, que alcança o litoralna região da desembocadura do rio Paraíbado Sul, recobre as planícies e colinas da regiãode Cabo Frio. A vegetação sobre os morroscosteiros foi considerada como uma disjunçãofisionômica-ecológica da caatinga nordestinae classificada como estepe arbórea, termoposteriormente substituído por savana-estépicaflorestada (Veloso et al. 1991), em função dos

baixos índices pluviométricos e da fisionomia,caracterizada por alta percentagem de espéciessuculentas e lenhosas deciduais e espinhosascom microfolia, associada a solos eutróficospouco desenvolvidos (Ururahy et al. 1987).

Em uma análise dos padrões dedistribuição das leguminosas arbóreas doestado, Lima (2000) categoriza as formaçõesarbóreas da região como florestas de planícienão-inundada, submontana e de planície sobredepósito marinho. Araujo (2000) classificou avegetação das restingas da região de acordocom a posição topográfica em relação ao mar ea fisionomia, utilizando as denominações mataseca, mata inundada e vegetação arbustivafechada, aberta e herbácea.

Um novo mapeamento do uso do solo ecobertura vegetal do estado, com base emimagens Landsat TM (CIDE 2000), adotou osistema de classificação do IBGE, com autilização de termos de fácil entendimento ede classes de cobertura adicionais. O trabalhofoi posteriormente atualizado, com uma melhordefinição da legenda e de sua relação com aclassificação do IBGE (Bohrer 2003a). Foianalisada também a evolução da coberturaarbórea por município, a partir da comparaçãocom cartas planialtimétricas (de 1956-69),registrando um aumento de 4,8% emSaquarema e diminuição de 20,8% em CaboFrio, com uma tendência geral de redução dacobertura arbórea da região (Bohrer 2003b).Outros trabalhos em escala de detalhe, comuso de fotografias aéreas e imagens orbitaisde alta resolução espacial, incluem omapeamento da vegetação na Praia Grande,em Arraial do Cabo (Araujo et al. 2004), e domunicípio de Armação dos Búzios (Dantas et

al. 2009, neste volume).De modo geral, a vegetação da região

reflete a sua especificidade climática associadaà heterogeneidade física, apresentando umagrande diversidade fisionômica e florística ealto grau de endemismos, estando aparentementecondicionada também pela história paleoevolutiva,mantendo uma vegetação remanescente dosperíodos glaciais do Pleistoceno (Ab’Saber1992; Araujo et al. 1998). Devido ao conjunto

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destes fatores, a região foi apontada comoCentro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio -CDVCF (Araujo 1997).

O objetivo deste trabalho consiste naelaboração de mapa da cobertura vegetal e douso do solo atual na área do Centro deDiversidade Vegetal de Cabo Frio, mostrandoa extensão atual das áreas de vegetaçãonatural remanescente e sua relação com oambiente físico e a ação antrópica.

MATERIAL E MÉTODOS

Descrição da área de estudoA área delimitada como Centro de

Diversidade Vegetal de Cabo Frio recobre umaextensão aproximada de 1562 km2, abrangendooito municípios do estado do Rio de Janeiro:Maricá, Saquarema, Araruama, Iguaba Grande,São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial doCabo e Armação dos Búzios (Fig. 1). A regiãocaracteriza-se pela diversidade de ambientes,resultante da sua evolução físico-geográfica.

Processos intrusivos, tectônicos e deposicionais,associados à ação de processos erosivos, fluviais,lacustres e costeiros, respondem peladiversidade litológica e de formas de relevo daregião, que, combinada com a alternância decondições climáticas e a diferenciação espacialnas condições de umedecimento, resultaramna diversificação dos tipos de solos e dasfisionomias da vegetação.

O rio São João constitui o limite norte doCDVCF, que abrange também as bacias dorio Una e das lagoas de Araruama, Saquarema,Jaconé e Jacarepiá. Ocorrem ainda diversaslagoas menores, perenes ou temporárias,importantes para a dinâmica hidrológica e avegetação das áreas mais baixas (Bidegain &Bizerril 2002; CILSJ 2002).

A região abrange dois domíniosmorfoestruturais (RADAMBRASIL 1983): afaixa de dobramentos remobilizados e osDepósitos Sedimentares. O relevo movimentadoé oriundo dos falhamentos e dobramentos deuma litologia cristalina que remonta ao

Figura 1 – Localização do Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio – CDVCF.

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Arqueozóico e Proterozóico, posteriormentesubmetidos a movimentos tectônicos iniciadoshá aproximadamente 80 milhões de anos, como soerguimento da borda do continente em todoo sudeste brasileiro, com rompimento econseqüente rebaixamento dos blocosadjacentes. Nas colinas e maciços costeirosocorrem duas unidades geológicas comdiferentes idades: o Complexo Região dosLagos, Paleoproterozóico, constituído porortognaisses bandados/dobrados cinzentos, decomposição tonálica a granítica, correspondea um fragmento da placa Angolana, acrescidaà borda leste da província Mantiqueira;enquanto que o Gnaisse Búzios, bandeado ede foliação horizontal, data do Proterozóicoinferior (Penha 1999; Silva & Cunha 2001).

As intrusões e extrusões de rochasCenozóica alcalinas (Ilha do Cabo Frio e outrasocorrências menores), possuem idades entre~72 e 50 Ma (Penha 2000). Ainda durante operíodo Terciário ocorreram dois gruposalternados de processos erosivos (Ab’Saber 1992):erosão extensiva de encostas acompanhada porterraceamento lateral pela dissecamentovertical, e intensa pedogênese, acompanhadapor relativa estabilidade da paisagem, com aformação dos tabuleiros costeiros (formaçãoBarreiras), de ocorrência restrita na área.Flutuações climáticas iniciadas no início doQuaternário até o presente também influenciarama paisagem atual, com expansão/retração deflorestas úmidas e alterações do nível do mar(Ab’Saber 1977). Foram formados diversosambientes de sedimentação associados asistemas de deposição de origem continental etransicional marinho (Turcq et al. 1999).

Os Depósitos Colúvio-Aluvionares sãoconstituídos por materiais variados, desde argilaaté blocos de rocha (matacões) provenientesdo embasamento, e sedimentos arenosos elamosos, eventualmente com cascalheiras,localizados em encostas baixas e ao longo dedrenagens. Nos ambientes de sedimentaçãotransicional/marinho encontram-se osDepósitos Pleistocênicos formados porDepósitos Praiais Marinhos e/ou Lagunares,

relacionados ao último período transgressivomarinho. Entre Cabo Frio e Arraial do Cabo, amaior parte dos depósitos parcialmenterecobertos por dunas holocênicas são de idadepleistocênica, preservados da última transgressãograças à presença das rochas cristalinas. OsDepósitos Fluvio-Lagunares estão geneticamenterelacionados a episódios de progradação fluvialsobre ambiente transicional marinho/raso,estando bem representadas no curso dos riosSão João e Una, com pequenas manchassituadas na parte continental interna da Lagoade Araruama e em Búzios (Dantas 2000).

Os sistemas lagunares holocênicosocorrem nas zonas baixas separando terraçosarenosos pleistocênicos e holocênicos ou noscursos inferiores de vales não preenchidos porsedimentos fluviais, sendo constituídos porsedimentos sílticos e/ou areno-argilosos ricosem matéria orgânica, podendo conter grandequantidade de conchas (Martin & Suguio 1989).O sistema mais interno é ocupado pelas grandeslagunas que se situam entre as formaçõescristalinas e os depósitos pleistocênicos. O maisexterno foi formado entre as barreiras pleistocênicae holocênica, constituído por lagoas pequenase pouco profundas e com tendência aoressecamento durante períodos de estiagem.Os Depósitos Praiais Marinhos holocênicos sãoconstituídos por areias quartzosas esbranquiçadas,finas a médias, apresentando estratificaçãoparalela com suave mergulho em direção aomar. O pacote eólico apresenta-se na formade depósitos próximos da linha de costa, e dedunas transgressivas, mais interiorizadas(Fernandez 2003).

O processo de formação dos cordõeslitorâneos e lagoas da região pode ser resumidoem quatro fases (Fernandez 2003), com ummáximo transgressivo anterior a 123.000 anosA.P. formando paleolagoas, seguido pelo recuogradual do nível do até o máximo regressivo(18.000 anos A.P.), com a formação detômbolos ligando o cordão pleistocênico aosmorros costeiros e de depósitos lagunares entreo cordão e o cristalino. Ocorreu uma novaelevação do nível do mar até 5100 anos A.P.,

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iniciando-se posteriormente uma novadeposição lacustre, com a formação doscordões holocênicos e início da sedimentaçãolagunar, recuo da linha de costa e a construçãodas dunas frontais.

O mapeamento bioclimático do estado(Golfari & Moosmayer 1980) aponta apeculiaridade climática e o elevado déficithídrico da região, com forte influência sobre avegetação florestal. A umidade relativa do ar médiasitua-se em torno de 83%, com precipitação médiaanual variando de 1500 mm, nas escarpas da serrae nas áreas mais baixas no seu limite Oeste(Am/w), a 800 mm ou menos, na porção entreArraial do Cabo e Búzios, de clima semi-áridoquente (Bsh) pela classificação de Köppen(Barbiére 1984). Já a temperatura varia de 9°a 35°C, com a média anual igual a 18°-23º C(Bernardes 1952; Dantas et al. 2001; FIDERJ1978). Ocorre uma estação seca curta aprolongada no inverno, amenizada em partepelas frentes frias ocasionais e nas encostas,pela altitude, com déficit hídrico variando denulo a mais de 300 mm/ano (Freitas et al. 2005)(Fig. 2). Predominam ventos do quadrante NE,com a freqüência no verão superando 50%,favorecidos pelo fortalecimento da Alta Pressãodo Atlântico Sul, enquanto os ventos S e SOsão mais freqüentes no outono e inverno,associados às frentes frias (Barbiére 1985).

O clima peculiar da região deve-se a umacombinação de diversos fatores. A precipitaçãodiminui gradualmente com o afastamento dotopo da Serra do Mar em direção ao litoral eno sentido oeste-leste, devido ao menor controleorográfico. O efeito provocado pela ressurgênciaé condicionado pela brusca inflexão que a linhade costa sofre na altura do Cabo Frio, pelabatimetria da plataforma continental e pelosconstantes ventos NE, deslocando a massaoceânica superficial aquecida e favorecendoa migração vertical de águas frias desubsuperfície, inibindo a formação de cúmulusresponsáveis por chuvas convectivas (Barbiére1975; Turcq et al. 1999; Moreira-da-Silva 1973).

A interação entre os diversos processosclimáticos, geológicos, geomorfológicos e

ecológicos ao longo do Pleistoceno resultounuma relativa diversidade de solos na região(Carvalho-Filho et al. 2000; Embrapa 1999).Os Argissolos, de maior ocorrência na região,são constituídos por material mineral, comhorizonte B textural com argila de atividadebaixa imediatamente abaixo do horizonte A,baixos teores de Fe

2O

3, com predomínio de

caulinita na fração argila. São em geralprofundos e bem drenados, relacionados aterrenos cristalinos e sedimentos terciários, comteores variáveis de nutrientes. IncluemArgissolos Amarelo e Vermelho-Amarelodistróficos, distribuídos na maior parte daregião, e eutróficos, ocupando as planícies emorros costeiros a leste. Os Latossolos sãosolos bem drenados de acidez elevada, combaixa capacidade de troca de cátions (CTC) euma baixa reserva mineralógica, devido àintensa intemperização dos minerais primários.Ocupam colinas e parte das encostas da Serrado Mato Grosso, a oeste.

Os Planossolos são solos minerais,geralmente hidromórficos, com seqüência dehorizontes A-Bt-C, caracterizados por mudançatextural abrupta, horizonte B com alta densidade,com a ocorrência de cores de redução evidenciandocondição de drenagem imperfeita, recobrindo

Figura 2 – Balanço hídrico com base em dados de 1970-1999, da Estação Meteorológica de Iguaba Grande(22º50’S, 42º10’W, 6 m alt.), localizada no centro doCDVCF, evidenciando o elevado déficit hídrico (324 mm),com a evapotranspiração potencial (ETP) (média anualde 1244 mm) superando a precipitação (média anual de920 mm) em quase todos os meses do ano (Fonte: Freitaset al. 2005).

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áreas planas interiores. Gleissolos são solosminerais hidromórficos com horizonte gleisuperficial, pouco a medianamente profundos,mal ou muito mal drenados, periodicamente oupermanentemente inundados, horizonte A comacumulação de matéria orgânica e coloraçãoescura, e seqüência de horizontes A e Cg, comcores cinzentas, podendo ocorrer acúmulo desais na superfície. São solos moderado afortemente ácidos, com teores altos ou médiosde Al trocável, distróficos ou eutróficos, ocorrendoem depressões inundadas entre cordões,várzeas e lagoas rasas perenes ou temporárias.

Espodossolos são solos com horizonte Bpodzol ou espódico subsuperficial, geralmenteconstituído de matéria orgânica, Al e Fe, comprofundidade variável, imperfeitamente a maldrenado, textura arenosa, acumulação dehúmus, ácido e de baixa fertilidade. OEspodossolo Cárbico possui acúmulo decarbono orgânico e Al no horizonte Bh,enquanto que o Ferrocárbico HidromórficoArênico possui maior acúmulo de Fe,permanecendo saturado em um ou maishorizontes, e com alto teor de matéria orgânica(20-30%). Recobrem terrenos mais baixos derestinga sujeitos a inundação.

Cambissolos são pouco evoluídos, comhorizonte B incipiente ou câmbico, rasos a poucoprofundos, moderadamente a bem drenados,distróficos e eutróficos, estes situadosprincipalmente na Ilha de Cabo Frio e nos morroscosteiros entre Arraial do Cabo e Búzios.Neossolos são constituídos por material mineralpouco espesso, com ausência de horizonte B.Neossolos Quartzarênicos são solos comprofundidade variável, excessivamente arenoso,ácido, álico ou distrófico, bem drenado, comalta lixiviação e baixa retenção de umidade,constituindo dunas e outras áreas arenosas. OsNeossolos Flúvicos são desenvolvidos a partirde depósitos aluviais recentes, apresentandoestratificação de camadas e seqüência dehorizontes do tipo A-C, eventualmente comevidências de gleização em subsuperfície.Ocorrem nos médios cursos dos rios, em geralassociados aos Gleissolos. Já os Neossolos

Regolíticos apresentam um horizonte Aassentado diretamente sobre o regolito, comhorizonte C ou B incipiente pouco espesso,elevados teores de minerais primários, cascalhose calhaus de rocha semi-intemperizada, geralmenteassociados aos Cambissolos, ocupandoencostas íngremes e topos de colinas.

Organossolos são solos com alto teor dematéria orgânica (> 0,2 kg/kg de solo),constituindo áreas de turfa relacionadas aosesporões internos da lagoa de Araruama evárzeas do rio São João, sujeitas à inundação.Finalmente, os solos indiscriminados de manguesão pouco desenvolvidos, sem diferenciaçãode horizontes, mal drenados, com baixaoxigenação e altos teores de sais e decompostos de enxofre, desenvolvidos a partirde sedimentos fluviomarinhos recentes,próximo à desembocadura do rio São João, cominfluência das marés.

Mapeamento e classificação dacobertura vegetal

Considerando o tamanho da área e aescala final de mapeamento, a disponibilidadede dados espaciais temáticos e o objetivo dotrabalho, foi adotado um enfoque holístico, como apoio de tecnologias de sensoriamento remotoe de sistemas de informações geográficas –SIG (Zonneveld 1995). A definição do sistemade classificação fisionômico-estrutural adotadolevou em conta os sistemas propostos para asregiões tropicais, os mapeamentos realizadosno estado do Rio de Janeiro e a escala domapa. O limite entre as florestas ombrófila eestacional foi determinado de acordo com aanálise integrada de dados climáticos, relevo,solos e florísticos, além de observações de campo.Estas foram separadas também conforme oestágio de regeneração (inicial-médio e avançado).A classificação do uso do solo refere-sebasicamente à relação entre o tipo de coberturae os usos associados (IBGE 1999).

Foram reunidos e armazenados atravésdo software ArcGIS 9.2, mapas digitaistemáticos de geologia, geomorfologia, solos,precipitação e bioclimático (Dantas et al.

8 Bohrer, C. B. A. et al.

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2000; EMBRAPA 2003; Golfari & Moosmayer1980). Foram sobrepostos inicialmente os trêsprimeiros, resultando na compartimentaçãoregional em unidades físicas de paisagemrefletindo a interação entre estes fatores.Foram armazenados ainda, além do mapa devegetação do Projeto Radambrasil (1983), osmapas produzidos pelo Projeto de Conservaçãoe Utilização Sustentável da DiversidadeBiológica Brasileira - PROBIO e por Andrade(2006), conforme metodologias descritas aseguir.

O PROBIO mapeou na escala 1:250.000a cobertura e uso do solo e os remanescentesda cobertura vegetal com base em cenasLandsat ETM de 2005, utilizando os programasSpring, PCI Orthoengine e eCognition. Foirealizada uma classificação supervisionada,segundo uma abordagem top-down, em doisníveis de segmentação: o primeiro, restrito àsbandas do infravermelho próximo e médio,objetivando a identificação de áreas de sombrae corpos d’água; e o segundo, incluindo todasas bandas espectrais, exceto a do Azul,embasando o detalhamento das demais classesatravés de uma estrutura hierárquica,garantindo a herança entre os diferentes níveis.As classes de um mesmo nível foram diferenciadaspor modelagem fuzzy de diferentes descritores,considerando principalmente valores espectrais,como média e desvio padrão das bandas, brilhoe razões entre bandas. Estes modelos separaramgrandes grupos, segundo a densidade dacobertura vegetal e a resposta espectral,respondendo pela primeira divisão entrecoberturas naturais e os diferentes tipos de uso.Finalmente, foram utilizados descritorestopológicos, de forma e temáticos (geomorfologia,solos), na identificação das diferentesfisionomias (Cruz et al. 2007).

No mapa de Andrade (2006), realizadocom o apoio dos programas Spring e IDRISI,foram utilizadas todas as bandas (exceto a 6)de imagem Landsat 7 ETM de 1999 (períodoseco). Foi realizada uma classificação comsegmentação por crescimento de regiões, comos limiares de segmentação modificados no

detalhamento da vegetação na região maisseca do CDV (Andrade et al. 2005). Pararealçar a separação entre as classes devegetação úmida e seca, foi gerado um modelolinear de mistura, acompanhado de uma análisede componentes principais, que reduziu os dadosespectrais para 3 bandas: respectivamente as“imagens-fração” solo, vegetação e sombra, eos três primeiros componentes principais.

Os três mapas de vegetação foramsobrepostos a uma imagem Landsat TM de2007, identificando-se os polígonos comeventuais discrepâncias de classificação,redelimitados e reclassificados através deinterpretação visual e sobrepostos ao mapaclimáticos e de unidades de paisagem,verificando-se a existência de correlaçãoespacial entre os tipos de vegetação e o ambientefísico. O cruzamento resultou num mapapreliminar de cobertura vegetal e de uso do solo,utilizado também para refinar o delineamentodos limites do CDVCF (Araujo 1997).

A verificação de campo, com apoio deGPS, contribuiu para a caracterização dosdiferentes tipos fisionômicos e os limites entreas classes. Finalmente, foi feita a reinterpretaçãoda imagem, com a delimitação final dos polígonosreferentes às diferentes classes de cobertura.

RESULTADOS

O mapa de vegetação potencial (Fig. 3)representa a interação entre cobertura vegetale o ambiente físico da região, sem a influênciaantrópica. Mostra a ocorrência da FlorestaOmbrófila Densa nos terrenos pré-cambrianose pleistocênicos, com Latossolos, Argissolos,Cambissolos e Neossolos flúvicos,predominantemente distróficos, na porçãocentral e oeste da região. A Floresta Estacionalocorre do centro para o leste, em áreas comprecipitação média inferior a 1000 mm anuais,sobre o mesmo tipo de terreno, além dostabuleiros terciários e morros alcalinos, comArgissolos, Cambissolos, Neossolos Regolíticose Planossolos, geralmente eutróficos. AsFormações Pioneiras ocupam as planíciesarenosas de origem marinha, incluindo terraços,

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praias e campos de dunas, com Espodossolose Neossolos Quartzarênicos; aluvial, comdepressões, várzeas e margens de lagunascobertas por vegetação herbácea e em algunscasos por florestas, com Gleissolos, NeossolosFlúvicos e Organossolos, e fluvio-marinha,constituída por manguezais.

O mapa de vegetação e uso do solo (Fig. 4)mostra a cobertura vegetal atual do CDVCF, coma área coberta por cada classe de mapeamentoe a respectiva porcentagem em relação à áreatotal do CDVCF apresentada na Tabela 1. Afisionomia de cada classe, sua relação com oambiente físico e as espécies dominantes oucaracterísticas são descritas a seguir.

Floresta Ombrófila DensaA floresta ombrófila densa é uma

vegetação com predominância de espéciesarbóreas perenes, sem proteção nas gemasfoliares, geralmente formando um dosselespesso e estratificado dominando por espéciesmacrofanerófitas, que atingem 20–35 m,podendo ocorrer indivíduos emergentes,abundância de pteridófitas, epífitas e lianas, epresença de liquens nos troncos (Hueck 1972;Ururahy et al. 1983). O porte, a rapidez dodesenvolvimento e a riqueza de espécies estãorelacionados com a ocorrência de um períodovegetativo contínuo com alta umidade e calor,dando a origem a adaptações para aproveitara luz, como folhas largas, arquitetura das copase a presença de lianas e epífitas (Guariguata& Kattan 2002).

As formações aluvial (depressões eterraços com solos aluviais), terras baixas (até100 m) e submontana (> 100 m), recobriam aporção central e oeste do CDVCF. Esteslimites altitudinais propostos podem serreferendados ou alterados através delevantamentos florísticos e estruturais locais(Bohrer 1998; Moreno et al. 2003; Oliveira-Filho et al. 2005). As áreas anteriormenteocupadas pelas formações aluvial e terrasbaixas foram as mais afetadas pelo processode ocupação da região, concentrado nas áreas

mais planas e de menor altitude, que facilitamo uso agrícola e pecuário. Restam apenasfragmentos de pequeno porte de florestassecundárias, com predominância de espéciespioneiras e secundárias iniciais (estágio iniciala médio de regeneração). A formaçãosubmontana, também afetada pela exploraçãomadeireira, culturas do café, laranja, banana epela pecuária, apresenta áreas de florestasecundária e outras em estágio avançado deregeneração. A predominância de solosdistróficos e os processos erosivos, aliados àdificuldade de acesso e mecanização, e maisrecentemente, de um maior rigor na fiscalização,tornaram possível a regeneração natural, coma restauração de parte das características dafloresta original nas áreas de maior declividade,nas Serras do Mato Grosso e Palmital.

Apesar da inexistência de estudosflorísticos e fitossociológicos locais, osresultados de estudos realizados em áreasrelativamente próximas com ambientessemelhantes (Borém & Oliveira-Filho 2002;Guedes-Bruni et al. 2006; Lima et al. 2006;Pessoa & Oliveira 2006), possibilitam umavisão aproximada da estrutura e composiçãoflorística da floresta densa, indicando diversidade(até 100–200 ou mais espécies arbóreas/ha) eárea basal (20–50 m2/ha) relativamente altas.Estes dados, aliados a observações de campo,indicam a predominância de espécies dasfamílias Leguminosae (Inga, Piptadenia,

Parapiptadenia, Senna, Caesalpinea,

Machaerium), Rubiaceae (Psychotria),Myrtaceae (Eugenia), Euphorbiaceae(Alchornea), Moraceae (Cecropia, Ficus),Melastomataceae (Miconia, Tibouchina),Meliaceae (Cedrella, Trichilia), Lauraceae(Ocotea), Lecythidaceae (Cariniana),Annonaceae (Xylopia) e Palmae (Attalea,

Astrocaryum, Geonoma), entre outras.

Floresta Estacional SemidecidualVegetação sujeita a duas estações, chuvosa

e seca, e condicionando a resposta dos elementosarbóreos dominantes, com adaptações

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morfológicas e fisiológicas à deficiência hídrica,com decidualidade de 20–50% da totalidade dosindivíduos arbóreos do dossel durante a estaçãoseca (Veloso et al. 1991). Recobre os tabuleiroscosteiros Terciários e terrenos pré-cambrianosentre o rio São João e as margens da Lagoa deAraruama. A floresta estacional semidecidualapresenta um grande número de espéciesarbóreas em comum com a floresta ombrófila,acompanhadas de uma porcentagem menor de

espécies exclusivas (Oliveira-Filho et al. 2005),sendo a sua flora arbórea composta por umafração das espécies da floresta ombrófila,adaptadas a um maior estresse hídrico (Martins1993). A diferenciação é maior quanto maior oestresse relacionado com os fatores do ambientefísico, como drenagem, fertilidade dos solos einfluência marítima (Scarano 2006).

Originalmente a floresta semidecidualabrangia as formações aluvial, terras baixas e

Tabela 1 – Área coberta pelas diferentes classes de cobertura vegetal e de uso do solo no Centrode Diversidade Vegetal de Cabo Frio.

Classes de Cobertura Vegetal e de Uso do Solo ÁreaHa %

I – Áreas Naturais 37663,2 24,11. Floresta Ombrófila Densa 15644,8 10,0

1.1. Floresta Densa Submontana 4711,5 3,01.2. Floresta Densa Secundária 10933,3 7,0

2. Floresta Estacional Semidecidual 7350,2 4,72.1 Floresta Estacional das terras baixas 1570,9 1,02.2. Floresta Estacional submontana 448,0 0,32.3. Floresta Estacional secundária 5331,3 3,4

3. Floresta Estacional Seca 3034,0 1,93.1. Floresta seca arbórea 1722,4 1,13.2. Vegetação seca arbustiva 1311,6 0,8

4. Formações Pioneiras 11634,2 7,44.1 Influência Marinha 5536,4 3,5

4.1.1. Restinga arbórea 1596,0 1,04.1.2. Restinga arbustiva 1451,4 0,94.1.3. Restinga herbácea 2489,0 1,6

4.2. Influência Aluvial 6004,5 3,84.3. Influência Fluvio-Marinha 93,3 0,1

II – Áreas Antrópicas 90668,9 58,01. Área Urbana 20446,7 13,12. Agropecuária 64561,5 41,33. Reflorestamento 1532,7 1,04. Mineração 247,6 0,25. Salina 3879,3 2,5

III – Áreas sem Vegetação 27921,9 17,91. Duna 568,0 0,42. Praia 1577,7 1,03. Corpo d’água 25776,3 16,5

Total 156252,9 100,0

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submontana, hoje bastante alteradas pela açãoantrópica relacionada com o uso agropecuário,exploração florestal e, mais recentemente, pelaexpansão da ocupação urbana, restando poucosfragmentos remanescentes, com destaque paraas APAs do Pau-Brasil (formação terrasbaixas) e da Serra de Sapiatiba (formaçãosubmontana). Nestes predominam, além deespécies de ocorrência comum na florestaombrófila, espécies mais adaptadas aambientes mais secos, como Actinostemon

communis (Müll. Arg.) Pax, Aspidosperma sp.,

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan,Caesalpinea echinata Lam., C. ferrea Mart.,Clusia fluminensis Planch & Triana,

Erythroxylum pulchrum St.-Hil., E. subrotundum

St.-Hil, Guapira opposita (Vell.) Reitz, Inga

maritima Mart., Joannesia princeps Vell.,Margaritaria nobilis L.f., Machaerium

incorruptile (Vell.) Fr. All., M. lanceolatum (Vell.)Macbr., M. oblongifolium Vog., Metrodorea

brevifolia Engl., Myrciaria floribunda (H.West. ex Will). O. Berg, Myrocarpus fastigiatus

Fr. All., Parapiptadenia pterosperma

(Benth.) Brenan, Pachistroma ilicifolium

(Nees) Müll. Arg., Pterocarpus rohrii Vahl.,Pseudobombax gradiflorum (Cav.) A.

Robyns, Pseudopiptadenia contorta (DC.)Lew. & Lima e Zanthoxylum rhoifolium St.-Hil., entre outras (Dantas et al. 2008; Farág1999; Sá 2006).

Floresta Estacional SecaNas serras e morros mais próximos do

mar (e.g., Serra das Emerenças, Ilha de CaboFrio), com precipitação média inferior a 900mm anuais e solos Argissolos e Neossolosregolíticos eutróficos rasos, a vegetação apresentauma fisionomia bastante heterogênea. Combinaáreas de porte florestal, árvores de maior portee dossel atingindo 12–18 m, nas porções do relevocôncavo, mais protegidas dos ventos Leste e NEe com maior umidade devido à drenagem, comvegetação arbórea-arbustiva mais baixa, deaspecto xerófitico, com 6–8 m e podendo atingiraté 10 m, em áreas mais secas e expostas, comárvores de menor diâmetro e maior ocorrênciade espécies deciduais, espinhosas e suculentas,sendo comum também a ocorrência de caulesperfilhados (múltiplos) e microfilia (Fig.5).

As vertentes que recebem os ventosmarinhos carregados de salsugem, especialmentevoltadas para as faces norte-leste, apresentamvegetação de porte arbustivo-arbóreo, densa e

Figura 5 – Fotografia ilustrando o aspecto decidual e xerófito da vegetação da Ilha de Cabo Fio (classe Floresta Estacional Seca).

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emaranhada, com as cactáceas colunaresPilosocereus arrabidae (Lem.) Byles &Rowley e P. ulei (K. Schum.) Byles & Rowleydestacando-se no dossel. Na formação, foiregistrada a ocorrência das espécies arbóreasAspidosperma parvifolium A. DC., A.

ramiflorum Müll. Arg., Astronium graveolens

Jacq., Caesalpinea echinata, Capparis

flexuosa Vell, Ceiba erianthos (Cav.) K.Schum., Chrysophyllum lucentifolium Cronq.,Erythroxylum pulchrum St.-Hil., Guapira

opposita, Machaerium leucopterum Vog., M.

pedicellatum Vog., Margaritaria nobilis,

Maytenus obtusifolia Mart., Opuntia brasiliensis

(Willd.) Haw., Pachistroma longifolium,

Parapiptadenia pterosperma, Pterocarpus

rhorii, Pseudobombax gradiflorum, Schinus

terebinthifolius Raddi, Sideroxylon obtusifolium

(Roem, & Schult.) T.D. Penn., Tabebuia

roseoalba (Rydl.) Sandw., Zanthoxylum

tingoassuiba A. St.-Hil., Zollernia glabra

(Spreng.) Yakovlev, e com porte arbustivo,Eugenia uniflora L., Rinorea laevigata (Sol.ex Ging.) Hekking, Jacquinia armilaris Jacq.,Actinostemon communis (Müll. Arg.) Pax ePhylira brasiliensis Müll. Arg., entre outras(Dantas 2005; Sá 2006).

Formação pioneira com influênciamarinha

A vegetação de restinga recobre osterrenos sedimentares pleistocênicos eholocênicos de origem marinha, incluindodunas, com Neossolos Quatzarênicos edepressões sujeitas a inundações periódicas oupermanentes, com Espodossolos ou Organossolos.A vegetação responde às pequenas variaçõesde relevo, umidade, salinidade e exposição aosventos, apresentando desde formaçõesherbáceas características das comunidadeslocalizadas próximas à praia e em depressõesentre cordões arenosos, passando por formaçõesarbustivas organizadas em ilhas de vegetação(moitas) de pequeno, médio e grande porte,até as formações de cobertura vegetal contínuade porte arbustivo a arbóreo. Esta variaçãofisionômica e a escala de mapeamento adotadano trabalho dificultam a utilização do sistema

de classificação das comunidades vegetais derestinga, proposto por Araujo (1992). Destemodo, a classificação considerou basicamentea fisionomia, expressa pela densidade dacobertura vegetal e o porte das espéciesdominantes (Menezes & Araujo 2005).

As áreas de restinga encontram-se bastanteimpactadas pela ação antrópica ao longo das praias,acentuada nas últimas décadas, e pela expansãoda ocupação para além dos núcleos urbanos,através de condomínios, loteamentos e invasões,com a valorização crescente das terras, ficandoas áreas remanescentes geralmente concentradasem unidades de conservação (Rocha et al. 2007),grandes propriedades particulares e áreas militares.A degradação inclui também grandes áreasconvertidas em salinas para a extração do sal, eaté para destino final de rejeitos industriais (Araujoet al. 2004). Os impactos incluem a remoção totalda vegetação, o plantio de espécies exóticas e adegradação parcial da vegetação em áreas deocupação rarefeita, com o trânsito de veículos,pessoas e animais favorecendo a instalação deespécies invasoras. Extensas áreas de restinga sãoafetadas pela casuarina (Casuarina equisetifolia),espécie introduzida com a finalidade de fixar dunase de paisagismo e que possui uma alta capacidadede colonização, ocupando especialmente áreasmais baixas ou onde ocorreu ação antrópica maisintensa, sendo comum nas margens de canais esalinas. Já a leucena (Leucaena leucocephala

(Lam.) de Wit.), de introdução mais recente parafins de reflorestamento em áreas degradadas,vem se expandindo rapidamente em função desua alta rusticidade, precocidade e adaptaçãoa ambientes secos.

Restinga arbóreaVegetação arbórea de porte florestal

sobre terrenos arenosos secos, sazonalmenteou permanentemente inundados (Araujo 1992),com indivíduos de até 12 m ou mais de altura.Apresenta uma alta densidade de árvores earbustos, além de trepadeiras, epífitas e broméliasterrestres, sendo comum a ocorrência de caulesperfilhados (múltiplos), evidenciando a capacidadede rebrota de diversas espécies. A composiçãoflorística reflete a natureza transicional desta

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formação, evidenciada pela mistura de espéciestípicas de restingas com espécies comuns àsflorestas ombrófila e estacional. No estratoarbóreo é comum a ocorrência das espéciesAllophylus puberulus Radlk., Annona

acutifora Mart., Aspidosperma pyricollum

Müll. Arg., A. parvifolium, Astronium

graveolens Jacq., Andira fraxinifolia Benth.,A. legalis (Vell.) Toledo, Capparis flexuosa,

Campomanesia guazumifolia (Cambess.) O.Berg., Chloroleucon tortum (Mart.) Pittier,Eriotheca pentaphyla (Vell.) A. Robyns,

Erythroxylum pulchrum, E. ovalifolium Peyr.,Eugenia uniflora, E. copacabanensis Kiaersk.,Guapira opposita, G. nítida (Vell.) Reitz, Inga

laurina Willd., I. maritima, I. subnuda Salzmex Benth., Joannesia princeps, Lithraea

brasiliensis Marchand, Maytenus obtusifolia,

Myrcia racemosa (O. Berg) Kiaersk., Myrsine

parvifolia A. DC., Ocotea diospyrifolia

(Meisn.) Mez, Opuntia brasiliensis, Pachistroma

ilicifolium, Parapiptadenia contorta, P.

pterosperma, Pilosocereus arrabidae,

Pouteria gradiflora (A. DC) Baehni, Protium

heptaphyllum (Aubl.) Marchand,Pseudobombax grandiflorum, Psidium

cattleayanum Sabine, Pterocarpus rohri,

Schinus terebinthifolius, Swartzia acutifolia

Vogel, S. apetala Raddi, Syderoxilum

obtusifolium, Tabebuia cassinoides (Lam.)DC., Tapirira guianensis Aubl., Trichilia

casaretti C. DC., Zollernia glabra (Fernandes& Sá 2000; Fernandes 2005; Fonseca-Kruel &Peixoto 2004; Lobão & Kurtz 2000; Sá 1992).Os principais impactos causados a estaformação, além da sua remoção para expansãourbana, estão relacionados à ocorrência dequeimadas e retirada de madeira.

Restinga arbustivaVegetação arbustiva sobre campo de

dunas fixas, com Neossolos Quatzarênicos. Afisionomia é bastante heterogênea, incluindoáreas de vegetação aberta em moitas de diversostamanhos intercaladas com áreas com vegetaçãoesparsa ou solo nu; áreas com vegetação demédio porte (2–3 m) e cobertura nas cristas dasdunas, geralmente moldada pelo vento, com

depressões entre dunas com areia exposta ourecoberta por vegetação herbácea compredominância das halófitas, característica delocais úmidos com influência salina (Espodossolos);e extensas áreas de vegetação contínua e densade maior porte (2-4 m), tanto nas cristas comonas vertentes e nos baixios entre dunas (Araujo1992; Araujo et al. 2004). O espaço entre moitaspode ser ocupado por vegetação herbácea ouagrupamentos densos de Allagoptera arenaria

(Gomes) Kuntze, com espécies lenhosas,cactáceas, bromélias e orquídeas no interior dasmoitas. Em diversas áreas de dunas baixas, acobertura vegetal é dominada por A. arenaria,entre indivíduos isolados de Eugenia uniflora eCereus fernambucensis Lem., entre outras.

Ocorrem ainda nesta formação as espéciesAlibertia obtusa K. Schum., Byrsonima

sericea DC., Campomanesia schchtendaliana

(O. Berg.) Nied., Clusia fluminensis, C.

hilariana Schltdl , Chloroleucon tortum,

Cupania emarginata Cambess, Erythroxylum

ovalifolium, Heteropterys chrisophyla (Lam.)Kunth, Jacquinia armillaris, Machaerium

lanceolatum (Vell.) Macbr., Ouratea

lushcnatiana (Tiegh.) K. Yamamoto, O.

cuspidata (St.-Hil.) Engl., Pilosocereus

arrabidae, Pouteria grandiflora, P. caimito

(Ruiz & Pav.) Radlk., Schinus terebinthifolius,

Scutia arenicola (Casar.) Reissek, Senna

australis (Vell.) Irwin & Barneby, Tocoyena

bullata (Vell.) Mart., Zollernia glabra (Araujoet al. 2004; Dantas 2005; Sá 2002).

Restinga herbáceaEssa formação herbácea inclui a vegetação

halófila e psamófila reptante das praias, que seestendem por toda a área de dunas frontais juntoà faixa de marés, das cristas e vertentes dasdunas e depressões entre dunas (Araujo 1992;Araujo & Henriques 1984; Araujo et al. 2004).A vegetação herbácea esparsa na região dedunas ativas, próxima à faixa de influência dasmarés, possui cobertura que varia desde ralaaté contínua e densa, dominada por gramíneas,com a presença ocasional de espécies lenhosase suculentas formando moitas. Ocorremtambém em depressões, entre o campo de dunas

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ativas e as dunas fixas, que podem ser inundadaspelo mar durante fortes ressacas, ou no períodochuvoso, com a elevação do lençol freático.Geralmente a riqueza em espécies aumenta como distanciamento em relação ao mar, com acobertura ficando mais bem distribuída entre asespécies dominantes. Ocorrem as espéciesAllagoptera arenaria, Althernanthera

maritima (Mart.) St.-Hil , Blutaparon

portulacoides (St.-Hil) Mears , Cereus

fernambucensis, Chamaecyse thymifolia (L.)Millsp., Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub.,Ipomea pes-caprae (L.) Sweet, I. imperati

(Vahl.) Griseb, Hybanthus calceolaria (L.)Oken, Hydrocotyle bonariensis Lam.,Panicum racemosum (P. Beauv.) Spreng.,

Paspalum maritimum Trin, P. vaginatum Sw.,Remirea maritma Aubl., Spartina ciliata

Brongn., Sporolobus virginicus (L.) Kunth.,Scaevola plumieri (L.) Vahl., Sesuvium

portulacastrum (L.) L., Stenotaphrum

secundatum (Walt.) Kuntze (Araujo et al.2004; Cordeiro 2005; Dantas 2005; Sá 1996).

Formação pioneira com influência aluvial(fluvial)

Vegetação sobre terrenos sedimentaresquaternários localizados ao longo das planíciesaluviais e depressões, sujeitos a inundaçõesperiódicas ou permanentes, formando brejos ecampos inundáveis, sobre Gleissolos eOrganossolos. Possui fisionomia herbácea aarbustiva, com composição florística variável,de acordo com a intensidade e duração dainundação, o grau de oxigenação e salinidade, ea textura do solo. Inclui áreas de restinga inundável,localizadas nas margens dos espelhos d’águae depressões entre dunas, sobre Espodossolosou Organossolos inundadas periodicamentepelas águas das chuvas e o afloramento dolençol freático, com cobertura vegetal emfaixas, as quais devido à sua pequena extensãoforam, em muitos casos, englobadas nas classesrestinga arbustiva ou herbácea.

Apesar de sua ocorrência relativamenteampla na região, não foram encontrados estudosespecíficos sobre esta formação, embora

existam dados florísticos englobando osecossistemas aquáticos temporários de toda aplanície costeira do estado (Bove et al. 2003) eestudos locais sobre restingas, incluindo dadosde depressões entre dunas e margens de lagoas.Predominam gêneros e espécies adaptadas aoambiente hidrófilo das famílias Cyperaceae(Cyperus, Eleocharis, Hypoginum,

Lagenocarpus, Scleria), Gramineae(Echinochloa, Panicum, Paspalum), e depteridófitas (Acrostichum), além de Blechnum

serrulatum Rich., Aechmea spp., Canna

glauca L., Hydrocotile, Nymphaea, Typha

dominguensis Pers., Xyris, e arbustivas comoBactris setosa Mart., Chrysobalanus icaco

L., Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub.,

Gaylussacia brasiliensis (Spr.) Meissn.,Humiria balsamifera Aubl., Marcetia taxifolia

(St.-Hil) DC., Tibouchina litoralis Ule (Araujoet al. 2004; Bove et al. 2003; Sá 1992; 1996).

Os ambientes inundáveis são áreas comalta produtividade biológica e servem de abrigopara um grande número de espécies de avesaquáticas residentes ou migratórias, e dediversas espécies de vertebrados e invertebrados.Geralmente encontram-se bastante alterados,devido ao longo processo de ação antrópica,especialmente com as obras de aterros, drenagem,retificação e canalização de rios, e conversãode áreas para agricultura e urbanização. Estesfatores, aliado ao padrão semelhante às áreasde pastagens, torna difícil a sua delimitaçãoem imagens e fotografias aéreas.

Formação pioneira com influênciafluvio-marinha

Vegetação litorânea sobre áreas detransição entre os ambientes terrestre e aquático,característica de regiões tropicais submetidas aregime de marés, constituída de espécies vegetaistípicas adaptadas a flutuações de salinidade esedimentos predominantemente lodosos, combaixos teores de oxigênio. Ocorre em faixas estreitasao longo do baixo curso do rio São João, sendocaracterizada pelas espécies arbóreas Avicennia

schaueriana Stapf & Leechm. ex Moldenke eLaguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.

Vegetação e uso do solo no CDVCF

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Áreas antrópicasAs áreas antrópicas cobrem 58,1% da

área do CDVCF, na maior parte constituídapor pastagens, seguidas por plantios florestaise agricultura. O desmatamento extensivo estárelacionado ao processo histórico de ocupaçãoda área, com exploração de madeira, especialmentedo pau-brasil (Caesalpinea echinata), plantiosde cana, café e laranja, pecuária e cultivos anuais.A população rural encontra-se estabelecida empequenos núcleos rurais, e pequenas, médias egrandes fazendas. As pequenas propriedadesbaseiam-se na produção agrícola e olerícola, e apecuária de pequeno porte, sendo comum aocorrência de policultivos. De modo geral, comoresultado de ações que modificam o perfil doterreno, removem ou danificam seriamente avegetação natural, é comum em toda a área rurale periferia urbana a presença de espéciesruderais, cosmopolitas e exóticas.

AgropecuáriaAs áreas de cultura agrícolas anuais e

perenes e de pastagens (41,3 %) foramreunidas na classe de cobertura Agropecuáriaem função da dificuldade de separaçãoespectral nas imagens de satélite. Oslevantamentos prévios e os trabalhos de campocomprovam a predominância de pastagens parapecuária de corte em grandes propriedades, nasáreas de relevo colinoso suave e em terrenosaluviais e hidromórficos drenados, boa partecomposta por solos eutróficos. Ocorrem culturasanuais em pequena escala, com a presença dealgumas áreas com culturas perenes como coco,banana e citros, a oeste e norte do CDVCF.

ReflorestamentoO reflorestamento com Eucalyptus spp.

está concentrado em uma extensa área (1532ha) ao longo da rodovia RJ-106, em S. Pedroda Aldeia, e em área menores não mapeáveis.

Salinas e mineraçãoApesar da decadência da indústria do sal,

a região apresenta ainda uma área considerávelcoberta por salinas, nas margens leste e sul da

Lagoa de Araruama, formando um traço marcanteda paisagem cultural da região. O encerramentode atividades de diversas empresas, com oconseqüente abandono, vem disponibilizandoalgumas áreas para ocupação urbana. Forammapeadas ainda algumas áreas de mineração,com extração de areia, brita e areola.

Áreas urbanasAs áreas urbanas recobrem uma área

considerável (13,1%), com maior concentraçãonas sedes municipais, no entorno da Lagoa deAraruama, ao longo das rodovias RJ 106 e RJ140 e nas áreas costeiras. A comparação commapeamentos anteriores comprova a rápidaexpansão da urbanização, especialmente sobreos terrenos de restinga (Bohrer 2003b; Rochaet al. 2007), além de áreas de planícies emorros costeiros, constituindo-se atualmenteno principal fator de degradação da vegetaçãonatural do CDVCF.

Áreas sem vegetaçãoIncluem-se nesta classe as áreas de

dunas móveis, com cobertura vegetal escassaou ausente, as praias e corpos d’água (rios,lagoas e pequenas represas ou açudes), quecorrespondem a 17,9% da área do CDVCF.

DISCUSSÃO

A região do CDVCF apresenta um fortegradiente de precipitação em uma árearelativamente restrita, o qual combinado comvariações locais de fatores como o relevo,solos, proximidade do mar e incidência deventos, resulta numa alta heterogeneidadeambiental, relacionada especialmente à umidade,evapotranspiração, pH e níveis de nutrientesdisponíveis para as plantas. A variação gradualda fisionomia, desde as florestas densas eperenes das encostas e planícies a oeste enoroeste, até as fisionomias arbóreo-arbustivasde porte médio e baixo, que cobrem os morrose colinas litorâneas entre Arraial do Cabo eBúzios, passando por florestas estacionais,campos aluviais e restingas herbáceas aarbóreas, reflete este padrão.

18 Bohrer, C. B. A. et al.

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Esta variação gradual da vegetação,combinada com o alto grau de impacto antrópico,expresso pela pequena extensão de áreas comcobertura florestal, o estágio sucessional dospoucos fragmentos remanescentes e a escassezde dados florísticos e estruturais, dificulta bastantea definição dos limites entre as formaçõesflorestais. Deste modo, os limites e a definiçãodas classes de mapeamento adotados nestetrabalho devem ser vistos como uma hipótese aser testada através de novos levantamentosestruturais e florísticos, estudos ecológicos emapeamentos, com a utilização de imagensmultiespectrais ou fotografias aéreasortorretificadas de alta resolução espacial (Dantaset al. 2009; Jamel 2004).

Análises realizadas com dados florísticos(presença de espécies arbóreas) e ambientaisde diversas áreas da Região Sudeste apontampara uma maior similaridade da vegetaçãoarbórea de Búzios (Araujo et al. 1998) comáreas de restinga arbórea e as florestas detabuleiro ao norte do Estado, Espírito Santo esul da Bahia, quando comparada com áreasde floresta densa do estado (Bohrer 1998;Oliveira-Filho & Fontes 2000), caracterizandoo que pode ser interpretado como um enclavena floresta pluvial (Hueck 1972), sugerindo umacobertura vegetal única ligando estas áreas empassado recente (período Quaternário).

A caracterização da vegetação dosmorros costeiros como disjunção fisionômicada caatinga nordestina, pelo Radambrasil,reflete, além de aspectos climáticos, estruturaise fisionômicos, a adoção da Teoria dosRefúgios (Ab´Saber 1977, 1992; Prance 1982),pela qual as flutuações climáticas ocorridas noPleistoceno induziram a uma expansão dasáreas de clima frio e seco, o que, aliado àdiminuição do nível do mar, teria favorecido adispersão de formas xerófitas ao longo dolitoral. Com o retorno de climas mais quentese úmidos, essas teriam sobrevivido em refúgiosatuais. Análises florísticas em escalacontinental apontam para períodos de expansãoe retração das florestas secas, incluindo acaatinga, em toda a América tropical, duranteo Quaternário (Pennington et al. 2000, 2004).

Prado (2000) destaca a concentração naregião do CDVCF de taxa indicadores daRegião Biogeográfica das Florestas Estacionaisda América do Sul, relacionada ao denominadoArco Pleistocênico que teria unido áreasatualmente separadas geograficamente (Prado& Gibbs 1993), nas quais se incluem a caatingae a formação decidual conhecida como mata-de-cipó, localizada no planalto oriental entreos estados da Bahia e Minas Gerais. Sá (2006)aponta para uma maior similaridade florísticaentre as florestas estacionais da região ediversas áreas do estado, em comparação comáreas de caatinga da Região Nordeste dopaís, refletindo provavelmente um padrãorelacionado à proximidade geográfica entre asáreas (Oliveira-Filho et al. 2005). Novasanálises a partir de dados florísticos, estruturaise ambientais, combinadas com estudosecofisiológicos e paleoecológicos, poderãoelucidar melhor esta questão.

A alta proporção de áreas antrópicas emtoda a região, a predominância de florestassecundárias, e o alto grau de fragmentação dasáreas de vegetação natural remanescentes,afetadas por aspectos como o tamanho, formae grau de isolamento, relacionados com o efeitode borda, indicam a necessidade urgente deimplantação efetiva dos planos de manejo dasunidades de conservação estaduais (APAs doPau Brasil, Massambaba e Sapíatiba) emunicipais existentes, bem como da proteçãode áreas adicionais, em ambientes de restingae de florestas densas e estacionais. A iminênciade implantação de novos empreendimentosturísticos de grande porte em áreas que aindaapresentam vegetação natural em bom estadode conservação, protegidas pela legislaçãoambiental em vigor, é mais um fator depreocupação com a conservação das espéciese ecossistemas da região.

CONCLUSÃO

A utilização de diversas fontes de dadostemáticos espaciais em combinação com ainterpretação de imagens orbitais, auxiliadaspelas técnicas de geoprocessamento utilizadas,

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possibilitou o mapeamento e classificação davegetação e uso do solo CDVCF de modosatisfatório e compatível com o tamanho da áreae a escala adotada, e a disponibilidade de dadosflorísticos e estruturais. Este trabalho pode serrefinado através de novos mapeamentos comimagens de maior resolução espacial, em estreitaassociação com levantamentos de campo, demodo que as análises florísticas e estruturaispontuais possam, em combinação com um maiorentendimento da relação entre a vegetação e oambiente físico, servir como parâmetro dereferência para o refinamento e delimitação maisacurada das classes de cobertura vegetal. Ariqueza em espécies, singularidade fisionômica,variedade e complexidade de habitats e ainda,a ocorrência de espécies endêmicas, ameaçadas,medicinais e ornamentais, realçam a necessidadede medidas urgentes de preservação das áreasde vegetação natural remanescentes doCDVCF, de grande importância ambiental,científica e paisagística.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de expressar osseus agradecimentos aos Drs. Cyl Farney C.de Sá, Dorothy S. D. Araujo, Haroldo C. Limae Miriam C. Pereira pelas discussões técnicase apoio em trabalhos de campo, e à FAPERJ,pelo suporte financeiro.

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