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1 Estudos da Criminalidade e das Instituições Coercitivas Mapa Da Violência em Campina Grande no Ano de 2014 Resumo A criminalidade tem se agravado dia após dia no Brasil, os estudos sobre violência e crime no país ganharam fôlego a partir do final do último milênio e, desde então, sofisticaram o debate das possíveis causas, impactos e propostas para resolução do problema. Mundialmente, têm- se admitido que a melhor maneira de avaliar a violência em uma localidade urbana é pela sua taxa de homicídio, medida na proporção de 100.000 habitantes. Neste sentido, este artigo teve por objetivo verificar a criminalidade na cidade de Campina Grande - PB, destacando as localidades, períodos e vítimas mais frequentes. A análise dos dados obtidos no presente artigo permitiu observar que as características, causas e efeitos da violência e da criminalidade em Campina Grande - PB são muitos, pois trata de um tema amplo e complexo, afetando drasticamente a vida dos cidadãos pela imposição de fortes restrições sociais, além de causar sensações de medo e insegurança. Contudo, ficou claro, também, que há evidências para a sua relação, com a distribuição de renda e presença do Estado nas localidades. Palavras Chave: Criminalidade, Gestão Pública, Polícia. Abstract Crime has get worse day by day in Brazil, the studies on violence and crime in the country have been increased since the end of the last millennium, and then, the discussions of possible causes, impacts and proposals to remedy the problem are getting improved. Worldwide, there have admitted that the best way to measure the violence in an urban locality is by the murder rate, controlled at the rate of 100,000 residents. Thus, this article aims to verify the crime in the city of Campina Grande - PB, highlighting the locations, more frequent periods and victims. The analysis of data obtained in this article allowed us to observe that the characteristics, causes and effects of violence and crime in Campina Grande - PB are many, because it is a broad and complex topic, drastically affecting the lives of citizens by imposing severe social restrictions and causes feelings of fear and insecurity. However, it was also clear that there is evidence for its relationship with the income distribution and presence of the State in the localities. Keywords: Crime, Public Management, Police.

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Page 1: Mapa Da Violência em Campina Grande no Ano de 2014 · Mapa Da Violência em Campina Grande no Ano de 2014 Resumo A criminalidade tem se agravado dia após dia no Brasil, os estudos

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Estudos da Criminalidade e das Instituições Coercitivas

Mapa Da Violência em Campina Grande no Ano de 2014

Resumo

A criminalidade tem se agravado dia após dia no Brasil, os estudos sobre violência e crime no

país ganharam fôlego a partir do final do último milênio e, desde então, sofisticaram o debate

das possíveis causas, impactos e propostas para resolução do problema. Mundialmente, têm-

se admitido que a melhor maneira de avaliar a violência em uma localidade urbana é pela sua

taxa de homicídio, medida na proporção de 100.000 habitantes. Neste sentido, este artigo teve

por objetivo verificar a criminalidade na cidade de Campina Grande - PB, destacando as

localidades, períodos e vítimas mais frequentes. A análise dos dados obtidos no presente

artigo permitiu observar que as características, causas e efeitos da violência e da

criminalidade em Campina Grande - PB são muitos, pois trata de um tema amplo e complexo,

afetando drasticamente a vida dos cidadãos pela imposição de fortes restrições sociais, além

de causar sensações de medo e insegurança. Contudo, ficou claro, também, que há evidências

para a sua relação, com a distribuição de renda e presença do Estado nas localidades.

Palavras Chave: Criminalidade, Gestão Pública, Polícia.

Abstract

Crime has get worse day by day in Brazil, the studies on violence and crime in the country

have been increased since the end of the last millennium, and then, the discussions of possible

causes, impacts and proposals to remedy the problem are getting improved. Worldwide, there

have admitted that the best way to measure the violence in an urban locality is by the murder

rate, controlled at the rate of 100,000 residents. Thus, this article aims to verify the crime in

the city of Campina Grande - PB, highlighting the locations, more frequent periods and

victims. The analysis of data obtained in this article allowed us to observe that the

characteristics, causes and effects of violence and crime in Campina Grande - PB are many,

because it is a broad and complex topic, drastically affecting the lives of citizens by imposing

severe social restrictions and causes feelings of fear and insecurity. However, it was also clear

that there is evidence for its relationship with the income distribution and presence of the

State in the localities.

Keywords: Crime, Public Management, Police.

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Introdução

O estudo sistemático da segurança pública no Brasil pode ser considerado com algo

recente. As primeiras publicações de referência na área datam do final do último milênio, com

a publicação “Mapas da Violência: Jovens do Brasil”, do Instituto Sangari em 1998, até

meados da primeira década deste século, quando, por exemplo, foi lançado o primeiro

Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2007. O Ministério da Justiça, através

da Secretaria Nacional de Segurança Pública, por sua vez, publicou, apenas no ano de 2001, o

seu primeiro relatório estatístico sobre criminalidade no Brasil, referente à dados de 1999, e

só posteriormente, em 2002, criou o Sistema Nacional de Estatística policial e Justiça

Criminal (SINESPJC), que até hoje é utilizado para obter e divulgar os dados oficiais de

Segurança Pública, de todas as unidades da federação.

A partir dessa perspectiva histórica, principalmente pelo avanço da criminalidade até

os dias atuais, iniciaram-se vários outros estudos sobre o tema, tanto pelas instituições de

segurança, como pelas universidades e organizações não governamentais, tentando identificar,

sobretudo, os fatores causadores desse avanço e o seu impacto na sociedade.

Vale lembrar Wieviorka (1997) quando afirma que há mudanças tão profundas em

jogo que é legítimo acentuar as inflexões e as rupturas da violência, mais do que as

continuidades, destacando que a expectativa é que tenhamos, na proporção da escalada da

violência, assim também a franca ascensão na busca para entendê-la melhor.

Nesse sentido, definiu-se, sobretudo pela influência de órgãos internacionais como a

ONU e a UNICEF, que o melhor índice para avaliar quantitativamente a criminalidade de

uma região seria a de número de homicídios por grupos de 100.000 (cem mil) habitantes.

Com isso, a grande maioria dos estudos que trabalham empiricamente a questão da violência e

da criminalidade utiliza como estimador do risco de vitimização por homicídio a referida taxa.

Os resultados obtidos correspondem à razão entre o número de ocorrências de homicídios em

uma região e o total populacional desta região. Eles são interpretados não apenas como uma

impressão local passada, mas também como uma previsão de risco de um indivíduo ser vítima

de homicídio em um determinado lugar para cada 100.000 habitantes observados. A grande

vantagem da utilização dessa taxa, além de ser um índice universal, é de poder torna as

estimativas de incidência de vitimização independentes do tamanho da população das áreas

pesquisadas.

No Brasil adotou-se a sigla CVLI – Crimes Violentos Letais Intencionais, para

representar os acontecimentos a serem utilizados para compor a taxa de criminalidade das

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localidades. Fazem parte desses eventos os crimes de homicídio (art. 121, CPB) e de

latrocínio (art. 157, §3°, CPB). Neste estudo, porém, os autores ora irão utilizar a expressão

CVLI, ora Homicídio, independentemente da tipificação penal.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em seu 8º anuário (2014), a

Paraíba ocupa atualmente a 7ª posição nacional em razão decrescente, com uma taxa de 38,6

CVLIs por cem mil habitantes (dados referentes ao ano de 2013). A Organização das Nações

Unidas (ONU) afirma que a taxa tolerável para o mesmo índice deve ser de, no máximo, 10

mortes violentas para cada 100.000 habitantes de uma localidade.

Esses dados elevados não são exclusividade do estado da Paraíba ou do Nordeste, haja

vista que nenhum estado brasileiro apresenta a citada recomendação. Para se ter uma ideia,

São Paulo, que é, paradoxalmente, o Estado com o maior número absoluto de mortes

intencionais criminosas, detém o menor índice do Brasil, com 10,8/100.000, em virtude de ser

também o estado mais populoso da federação.

O presente artigo científico, portanto, utilizando-se dessa metodologia amplamente

solidificada, pretende construir um demonstrativo sobre os Crimes Violentos Letais

Intencionais (homicídios dolosos e latrocínios) ocorridos no município de Campina Grande

no ano de 2014, mantendo um paralelo com as principais características geossociais da

cidade, com o intuito de promover fonte de informação para pesquisadores e profissionais.

Para isso, os dados da pesquisa foram coletados e armazenados durante todo o ano, através da

imprensa local, e posteriormente houve a análise das informações, inclusive das ocorrências

resultantes de confronto com as polícias, no período de 1º de Janeiro a 31 de dezembro de

2014. Não faz parte deste estudo os suicídios e as mortes no trânsito.

Durante a referida análise, foram estratificados os dados das mortes violentas para

cada mês do ano de 2014, pelos dias da semana, pelos turnos, por bairros, por zonas, pelo

sexo e idade das vítimas e pelo instrumento utilizado.

Campina Grande e o Sistema de Segurança Pública

A cidade de Campina Grande, com população estimada pelo IBGE (2014) em

402.912 habitantes, está localizada a, aproximadamente, 120 Km da capital João Pessoa. Está

presente no agreste paraibano e exerce uma grande influência no compartimento da

Borborema, que engloba mais de 60 cidades. Campina, como também é chamada, tem o 2º

maior PIB do estado e o 2º do interior do nordeste, perdendo, dentre estas, apenas para Feira

de Santana-BA (IBGE, 2011).

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Além da influência no Estado da Paraíba, Campina Grande tem o privilégio de ser

cortada por duas rodovias federais (BR-230 e BR-104) e de estar numa posição geográfica

que fica bem próxima às capitais de Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Na educação, possui duas universidades públicas (uma federal e outra estadual), e

sedia as suas reitorias, além de outras cinco outras privadas, o que a torna um grande centro

educacional para a região Nordeste, “abraçando” alunos de todos os locais do país. Além da

expressividade no setor educacional, a cidade é uma grande exportadora de tecnologia, tendo

sido destaque internacional, em publicações especializadas.

O setor de comércio e serviços dá suporte à muitas cidades da Paraíba, além do

turismo de eventos com o Maior São João do Mundo e Festival de Inverno trazerem milhares

de pessoas de outras cidades o ano todo.

Gráfico 1. Crescimento Populacional

Gráfico 2. Pirâmides Etárias

Quanto à Segurança Pública, em Campina Grande estão instalados dois batalhões de

Polícia Militar, sendo o 2º BPM direcionado para as cidades de Campina Grande, Boa Vista,

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Massaranduba e Lagoa Seca, todas estas pertencentes à comarca da primeira e o 10º BPM

atendendo 10 municípios vizinhos. Além dos dois batalhões, alguns grupos especializados

estão na cidade, a exemplo da Cavalaria, da Companhia do BOPE, da Companhia de Trânsito

(CPTran), da Polícia Ambiental, da Força Tática, da Ciclo Patrulha e da Rotam.

Em relação à Polícia Civil, a cidade possui 7 (sete) unidades de delegacias distritais,

que atendem genericamente aos bairros, além de 9 delegacias especializadas (Vigilância

Geral, Roubos e Furtos, Homicídios, Defraudações e Falsificações, Infância e Juventude,

Crimes contra a Infância e Juventude, Mulher, Idoso e de Acidente de Veículos), que

reprimem crimes específicos.

Além da presença das polícias militar e civil, a cidade possui uma Guarda Municipal,

uma Delegacia da Polícia Federal e a sede do 31º Batalhão de Infantaria Motorizado do

Exército Brasileiro. Dois presídios masculinos, uma casa de albergue e um presídio feminino

ainda compõem o quadro de instituições ligada à segurança na cidade.

Mortes violentas quanto à temporalidade

Durante todo o ano de 2014, a Rainha da Borborema (apelido dado pela influência que

exerce na região) registrou 154 mortes, o que representa uma média de 12,83 mortes por mês

ou ainda uma morte a cada 2,37 dias, tendo, porém, sido observados casos letais em 119 dias

do ano.

A primeira morte do ano ocorreu ainda na noite de réveillon e foi registrada no bairro

do Serrotão, por volta das 3h, e a última morte ocorreu no dia 29 de dezembro, por volta das

11h30, no bairro do José Pinheiro.

Os meses que registraram o número de mortes acima da média mensal foram janeiro

(17), fevereiro (16), março (15), agosto (16), outubro (17) e novembro (14).

Tabela 1. Relação dos CVLI’s mês a mês.

Mês Registro de Mortes Relação Percentual

Janeiro 17 11,03%

Fevereiro 16 10,38%

Março 15 9,74%

Abril 9 5,84%

Maio 10 6,49%

Junho 8 5,19%

Julho 12 7,79%

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Agosto 16 10,38%

Setembro 9 5,84%

Outubro 17 11,03%

Novembro 14 9,09%

Dezembro 11 7,14%

Total em 2014 154

Num paralelo entre os dois semestres do ano, temos que no primeiro semestre de 2014,

a cidade de Campina Grande registrou 75 mortes e no segundo semestre, 79 mortes, quatro a

mais que nos primeiros seis meses. Esses dados representam que na primeira metade do ano

ocorreu uma morte a cada 2,41 dias e, no segundo período, ocorreu uma morte a cada 2,32

dias, demonstrando um equilíbrio entre os dois semestres do ano.

Gráfico 3. Homicídios por mês

Os meses de janeiro e outubro aparecem com o maior índice de mortes, 17 (dezessete)

cada, e junho aparece como o mês com o menor registro de CVLI’s, 8 (oito), na cidade de

Campina Grande. Tais números são inversamente proporcionais ao número de pessoas na

cidade durante os referidos períodos, já que no início do ano a cidade é esvaziada pelo fato

dos campinenses irem passar as férias no litoral do nordeste e no mês junino a cidade receber

um grande número de turistas, devido ao evento O Maior São João do Mundo, que ocorre

durante 30 dias na cidade.

Uma hipótese para a verificação destes números poderá ser o aumento do efetivo

policial durante os festejos juninos, já que várias operações policiais são intensificadas

durante este período o que sugere o reflexo na diminuição do número de CVLI’s no

município.

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A partir dos números de mortes, mês a mês, verificamos no gráfico do 1º semestre

uma reta decrescente, onde junho aparece com uma redução de aproximadamente 53% em

relação ao primeiro mês do ano.

Gráfico 4. Homicídios do 1º semestre

A segunda metade do ano apresenta uma variação maior no gráfico:

Gráfico 5. Homicídios do 2º semestre

O mês de outubro, além de aparecer com o maior índice de CVLI, ao lado de janeiro,

foi o que registrou, no dia 10, o maior número de mortes no mesmo dia, 5 (cinco). Os fatos

ocorreram, isoladamente, nos bairros do Monte Santo, Monte Castelo, Sandra Cavalcante (2)

e Centro. Nos dias 02 e 28 de fevereiro, 15 de março e 02 de outubro, a cidade registrou três

mortes no mesmo dia.

Tabela 2. Homicídios por dias da semana

Dias da

semana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo

Homicídios 17 13 17 15 28 23 41

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

17 16 15

9 108

Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

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Em relação aos dias da semana, o domingo foi o que mais registrou vítimas, 41

mortes, seguido da sexta-feira, com 28 mortes. A terça-feira é o dia com a menor incidência,

apresentando 13 casos. O final de semana, de sexta-feira a domingo, apresenta 59,74% das

mortes.

As mortes duplas e os crimes de repercussão social

O ano de 2014 registrou seis ocorrências de morte dupla, sendo que três delas

ocorreram no mês de fevereiro. O caso de maior destaque foram os homicídios de um casal

que acabava de sair de uma festa de casamento, em que eram padrinhos. O fato ocorreu no

bairro do Catolé no mês de março e teve repercussão nacional, principalmente em virtude da

ação de investigação policial que conseguiu identificar e prender os autores e o mandante do

delito, este sócio de uma das vítimas. Não foi observado nenhum caso de chacina durante o

ano de 2014.

A tabela a seguir mostra as datas e os bairros onde ocorreram casos duplos de CVLI.

Tabela 3. Relação dos homicídios duplos

Data Bairro

02/02 Centro da Cidade

15/02 Distrito Industrial

28/02 Monte Castelo

29/03 Catolé

18/05 Malvinas

22/10 Universitário

09/11 Estação Velha

Sexo, idade e instrumentos utilizados

Neste tópico fizemos uma análise do sexo das vítimas, além da idade, dividindo-os em

três grupos: até 22 anos, de 22 a 49 anos e acima de 50 anos. Por fim, verificamos a relação

das vítimas com crimes, brigas e rixas, independentemente do lapso temporal, incluindo

nestes casos o uso de drogas. Não foi possível diferenciar se a vítima era apenas usuária de

drogas ou se praticava outros delitos, pois há casos da existência de uma intersecção em que a

vítima é envolvida em diversos tipos de crimes.

Em relação ao sexo das vítimas, 6 (seis) foram do sexo feminino, de forma que 148

foram do sexo masculino. As vítimas femininas representam 3,89% do total de CVLI’s.

Entretanto, nenhuma destes crimes teve relação com violência doméstica.

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81,82%

9,74%

8,44%

Arma de Fogo Arma Branca Outros Instrumentos

Resultados semelhantes foram obtidos por WAISELFISZ (2010), quando afirmou que

acima de 90% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino, com escassa variação de

Estado para Estado ou de Região para Região.

As idades das vítimas

também foram verificadas e

retratou-se que 33,12% delas

tinham menos de 22 anos de idade.

Dentro deste número, 16 eram

adolescentes, ou seja, menores de

18 anos. Entretanto, não foi

registrada nenhuma morte de

criança1. Verificou-se ainda que

59,74%% das vítimas tinham entre 22 e 49 anos e apenas 11 delas tinham idade superior a 50

anos.

Outro dado apurado é em

relação ao instrumento utilizado

para o cometimento do crime. Das

154 mortes, 81,82% foram por

arma de fogo, ou seja, 126 delas. Já

o uso de arma branca ocorreu em

15 mortes, o que representa 9,74%

dos casos. 8,44% das mortes foram

de outras formas, a exemplo de

espancamento e outros instrumentos contundentes.

Os homicídios e suas localizações geográficas

Segundo a Prefeitura municipal, Campina Grande possui na atualidade, oficialmente,

49 bairros, apesar de outros tantos estarem em processo de formação e consolidação, como é o

caso dos bairros Glória, Cidade Juracy Palhano, Jardim Europa, Colinas do Sol, dentre outros.

Dados do censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o

bairro mais populoso da cidade é o das Malvinas, com quase trinta e nove mil habitantes.

Dentre os bairros oficiais, o que apresentou o menor número de residentes no referido censo

1 Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e

adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Estatuto da Criança e do Adolescente.

33,12%

59,74%

7,14%

Menor de 22 anos Entre 22 e 49 anos Maior de 50 anos

Gráfico 6. Homicídios por Faixa Etária

Gráfico 7. Homicídios por instrumento utilizado

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foi o do Louzeiro, pequeno bairro localizado entre o Alto Branco (considerado de elevado

poder aquisitivo) e a Palmeira (bairro mais popular).

Mapa 1. Mapa Apresentando Bairros por Número de Homicídios

Estabelecido inicialmente o parâmetro de trabalho - número de homicídios por cem

mil habitantes -, seguindo indicações mundiais e nacionais, verificou-se a quantidade de

homicídios em cada bairro da cidade de Campina Grande, projetando os dados absolutos em

cima da estimativa populacional de cada bairro, seguindo o percentual de crescimento

estabelecido pelo IBGE para 2014, a fim de compor o real panorama de criminalidade da

cidade, como podemos observar na tabela 5, abaixo.

Com isso, podemos verificar que, apesar de alguns bairros terem atingido números de

homicídios absolutos mais elevados, não figuraram necessariamente no topo do que podemos

chamar de bairros mais perigosos, em virtude da sua população residente ser igualmente alta.

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Gráfico 8. Números Absolutos de Homicídios por Bairros

Nessa perspectiva, tivemos o bairro da Ramadinha como o que obteve o maior índice

de violência, com uma taxa de 162,40 para 100.000 habitantes, muito além do recomendado

pela Organização das Nações Unidas, que é de 10 para a mesma população.

Aliás, dentre os bairros que registraram homicídios em 2014, apenas os bairros do

Jeremias, com 8,28, Acácio Figueiredo (9,47) e Alto Branco (9,95) conseguiram se manter

abaixo do citado referencial da ONU. Outros 14 bairros oficiais não registraram casos de

homicídio no ano de 2014.

Tabela 4. Relação quantitativa dos homicídios em 2014

BAIRRO

Número de Homicídios absolutos

População estimada para 2014

CVLI por cem mil habitantes (projeção para

2014) Posição relativa

Acácio Figueiredo 1 10.556 9,473734 39º

Alto Branco 1 10.045 9,955449 38º

Conceição 1 3.903 25,61958 27º

Glória2 1 - -

Jardim Paulistano 1 9.111 10,97617 37º

Jardim Quarenta 1 3.163 31,61311 23º

Jeremias 1 12.064 8,289183 40º

Nações 1 1.596 62,6641 12º

Quarenta 1 5.670 17,63525 32º

Santo Antônio 1 4.463 22,40736 31º

2 O bairro da Glória ainda não consta na relação oficial da Prefeitura Municipal de Campina Grande, porém, pela

sua dimensão e importância, será considerado para esse estudo.

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Universitário 1 4.236 23,60818 28º

Cruzeiro 2 15.914 12,56768 36º

Galante 2 11.350 17,62115 34º

Jardim Continental 2 2.574 77,69464 9º

Novo Bodocongó 2 1.740 114,9455 3º

Palmeira 2 6.459 30,96318 24º

Prata 2 4.055 49,31751 15º

São José 2 4.483 44,61049 18º

Tambor 2 8.827 22,65802 29º

Centenário 3 9.422 31,84161 22º

Dinamérica 3 6.219 48,24187 17º

Distrito Industrial 3 2.858 104,9711 5º

Sandra Cavalcante 3 7.397 40,55811 20º

Nova Brasília 4 10.653 37,54772 21º

Ramadinha 4 2.463 162,4069 1º

Três Irmãs 4 13.857 28,86583 25º

Zona Rural 4 20.436 19,57361 33º

Catolé 5 22.194 22,52882 30º

Estação Velha 5 3.760 132,9697 2º

Liberdade 5 17.974 27,81818 26º

Monte Castelo 5 9.554 52,33175 14º

Pedregal 6 9.586 62,58991 13º

Santa Rosa 6 12.184 49,244 16º

Cidades 7 6.858 102,0755 6º

Malvinas 7 43.939 15,93108 35º

Serrotão 7 7.844 89,24035 8º

José Pinheiro 8 18.287 43,74664 19º

Monte Santo 8 8.626 92,74287 7º

Centro 9 8.543 105,3476 4º

São José da Mata 10 14.832 67,42097 11º

Bodocongó 11 15.649 70,29032 10º

Verificando mais de perto o bairro da Ramadinha encontramos, segundo dados do

IBGE (2010), que a população dali é constituída por 52.44% de mulheres e 47.56% de

homens, dos quais 27.8% são jovens e 5.5% idosos, com índice de envelhecimento de 19.9%,

maioria da população situada na faixa de 15 a 63 anos e razão de crianças e mulheres de

34.5%. Quanto aos domicílios, o censo mostra que a média de habitantes por residência é de

3,6 indivíduos, estando 85.1% das habitações ocupadas. Há uma escola pública de ensino

Fundamental e Médio instalada na localidade.

Historicamente o bairro da Ramadinha é visto como sendo de baixa renda, com

precariedade de serviços públicos e acessibilidade, além de possuir alguns pontos conhecidos

para a prática de tráfico de drogas, o que pode manter relação com o número de homicídios ali

praticados.

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Mapa 2. Mapa Apresentando Perfil Social dos Bairros e Presença de Escolas Públicas

Por sua vez, dentre os bairros com baixo índice de homicídios, ou mesmo aqueles que

não figuraram na relação abaixo, não ficou clara a relação entre as condições sociais

apresentadas e a taxa de violência, estando ela bastante heterogênea espacialmente.

Mapa 3. Mapa Apresentando Índice de Exclusão e Inclusão Sócio-Ambiental

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25%

23%40%

12%

Manhã Tarde Noite Madrugada

O Mapa 3 acima exibe o índice de exclusão e inclusão sócio-ambiental no município

de Campina Grande. Os setores de inclusão, segundo o IBGE, estão situados na área central e

sul, enquanto os de exclusão estão dispersos por toda a cidade, em especial nas regiões norte,

noroeste, sudoeste e sul. As áreas intermediárias aparecem irregularmente no espaço.

Apesar da não evidenciação da relação direta entre a criminalidade nos bairros e o seu

perfil social, podemos observar que há uma coincidência visível quando separamos a cidade

em zonas geográficas. Uma vez que as maiores áreas de exclusão estão claramente situadas

nas zonas Oeste e Sul da cidade, as quais, igualmente, figuram como as de maior número de

homicídios registrados, fato demonstrado na tabela 4, abaixo.

Tabela 5. Homicídios por Zona Geográfica

Zonas Norte Sul Leste Oeste Central

Homicídios 18 40 21 64 9

Homicídios por Turno

Para efeitos dessa análise,

consideramos na madrugada como aqueles

eventos ocorridos das 00:00 às 05:00, manhã

das 05:00 às 12:00, tarde das 12:00 às 18:00 e

noite das 18:00 às 00:00. Houve, portanto,

equilíbrio entre os diferentes turnos,

demonstrando que o ato de matar alguém

independe, na maioria das vezes, do fator

temporal, que poderia, por exemplo, ser

utilizado pelo autor para escapar mais

facilmente de uma possível identificação, haja vista a teórica diminuição na circulação de

pessoas e policiais durante os períodos de menor incidência de luz solar.

Despesas em Segurança

Segundo a lei orçamentária municipal do ano de 2014, a prefeitura de Campina

Grande reservou a quantia de R$ 3.000.000,00 (três milhões de Reais) com as despesas da

guarda municipal, única rubrica direta para a segurança pública, cumprindo com isso apenas o

que determina a Constituição Federal de 1988, no que diz respeito a divisão de tarefas quanto

a segurança pública, passando a responsabilidade principal para o Governo do Estado.

Gráfico 9. Homicídios por Turno

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Através do Portal da Transparência, podemos verificar, por sua vez, que a pasta da

Segurança e da Defesa Social do Governo do Estado da Paraíba produziu investimentos e

pagamentos na ordem de R$ 37.763.259,42 (trinta e sete milhões, setecentos e sessenta e três

mil, duzentos e cinquenta e nove Reais e quarenta e dois centavos), gastos referentes,

contudo, à ações em todo estado.

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta ainda

que, em dez anos, a segurança privada cresceu 74% no Brasil. O brasileiro gasta quase R$ 40

bilhões com seguro e contratação de trabalhadores em segurança.

Conclusão

O presente estudo teve como ponto de partida a análise quantitativa dos homicídios na

cidade de Campina Grande no ano de 2014, sendo esse um indicador representativo da

violência na cidade. Nesse contexto, utilizando-se dos critérios e indicadores mundialmente

reconhecidos para mensuração da violência urbana, pudemos verificar, através do contraponto

geossocial, a relação dos crimes violentos intencionais com a população e as características

intrínsecas dos diversos bairros da cidade, bem como a distribuição temporal desses delitos e

a caracterização de suas vítimas.

É evidente que diversas outras variáveis que envolvem a justiça, o aparato policial,

bem como o mercado de entorpecentes e a violência doméstica são também importantes para

o debate sobre os determinantes das taxas de homicídios dolosos, visto que é notório o caráter

multifatorial do crime, sobretudo de homicídio.

De uma forma geral, o que podemos perceber é que existe uma importante associação

espacial entre indicadores socioeconômicos e a criminalidade na cidade de Campina Grande,

na medida em que regiões mais violentas são as que apresentam elevada persistência da

violência.

Como sugestão de políticas públicas, sugere-se o controle eficaz do contrabando de

entorpecentes e armamentos, além da busca de maior efetividade do aparato policial como

forma de atenuar esses índices. Porém, além dessas ações diretas, é fundamental introduzir

medidas que valorizem os espaços urbanos da cidade, especialmente nessas localidades mais

críticas. Dentre essas intervenções podemos citar a melhoria dos equipamentos públicos como

praças e parques, a oportunidade de estímulos de novos negócios a partir de incentivos fiscais

e financeiros, ampliação de políticas para os jovens e escolas públicas em tempo integral e

profissionalizantes.

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Referências

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