mão de obra portuaria

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS JURDICAS, POLTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

    TRABALHO PORTURIO AVULSO E A MODERNIZAO DOS PORTOS LUZ DA LEI 8.630/93

    CRISTIANE DA SILVA COIMBRA LIRA

    Itaja(SC), maio de 2008

  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS JURDICAS, POLTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

    TRABALHO PORTURIO AVULSO E A MODERNIZAO DOS PORTOS LUZ DA LEI 8.630/93

    CRISTIANE DA SILVA COIMBRA LIRA

    Monografia submetida Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, como

    requisito parcial obteno do grau de Bacharel em Direito.

    Orientador: Professora Dra. Joana Stelzer

    Itaja(SC), maio de 2008

  • DEDICATRIA

    A toda minha famlia pela fora e confiana, principalmente minha me, Maria Domingas da Silva Coimbra, que nunca deixou de acreditar em

    mim e de se realizar com as minhas conquistas.

    Com todo meu amor e carinho, dedico a vocs essa conquista.

  • TERMO DE ISENO DE RESPONSABILIDADE

    Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideolgico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itaja, a coordenao do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

    Itaja(SC), maio de 2008

    Cristiane da Silva Coimbra Lira Graduanda

  • PGINA DE APROVAO

    A presente monografia de concluso do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, elaborada pela graduanda Cristiane da Silva Coimbra Lira, sob o ttulo Trabalho Porturio Avulso e Modernizao dos Portos luz da Lei 8.630/93, foi submetida em 13 de junho de 2008 banca examinadora composta pelos seguintes professores: Dr Joana Stelzer (orientadora e presidente da banca) e Msc. Queila Martins (examinadora) e aprovada com a nota 9.1 (nove ponto um).

    Itaja(SC), maio de 2008

    Professora Dra. Joana Stelzer Orientadora e Presidente da Banca

    Prf. Antnio Augusto Lapa Coordenao da Monografia

  • ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ART. Artigo

    CRFB/88 Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    TPA Trabalhador Porturio Avulso

    OGMO rgo de Mo-de-obra CAP Conselho de Autoridade Porturia

    N. Nmero

    P. pgina

    STJ Superior Tribunal de Justia

    TST Tribunal Superior de Trabalho

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    GEMPO Grupo Executivo para Modernizao dos Portos

    PORTOBRS Empresa Brasileira de Portos S.A

  • ROL DE CATEGORIAS

    Porto

    Em sentido amplo, porto uma pequena baa ou parte de grande extenso de gua, protegida natural ou artificialmente das ondas grandes e correntes fortes, que serve de abrigo e ancoradouro a navios, e est provida de facilidades de embarque e desembarque de passageiros e carga. Mais amplamente, ainda, qualquer lugar de abrigo, de refgio ou de descanso1.

    Porto organizado

    o porto construdo e aparelhado para atender s necessidades da navegao e da movimentao e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela Unio, cujo trfego e operaes porturias estejam sob a circunscrio de uma autoridade porturia. Os portos no enquadrados nessa situao so ditos no organizados, no sendo as suas atividades reguladas pelo presente ordenamento. Os portos no organizados so geralmente pequenos e pouco movimentados, sem administrao, resumindo-se, na maioria das vezes, a um pequeno cais para recebimento de mercadorias2.

    rea do Porto organizado

    a rea compreendida pelas instalaes porturias, quais sejam, ancoradouros, docas, cais, pontes e per de atracao e acostagem, terrenos, armazns, edificaes e vias de circulao interna, bem como pela infra-estrutura de proteo e acesso aquavirio ao porto, tais como guias-correntes, quebra-mares, eclusas, canais, bacias de evoluo e reas de fundeio que devam ser mantidas

    1 Manual do trabalho porturio e ementrio. Braslia: MTE, SIT, 2001, p. 14.

    2 Manual do trabalho porturio e ementrio, p. 14.

  • pela administrao do porto. A rea do porto organizado definida em portaria do Ministrio dos Transportes3.

    Trabalhador avulso

    O trabalhador avulso , assim, a pessoa fsica que presta servio sem vnculo empregatcio, de natureza urbana ou rural, a diversas pessoas, sendo sindicalizado ou no, com a intermediao obrigatria do sindicato da categoria profissional ou do rgo gestor de mo-de-obra4.

    Trabalhador porturio avulso

    Denomina-se Trabalhador Porturio Avulso (TPA), outra espcie do gnero trabalhador porturio, aquele que, inscrito no OGMO, presta servios na rea do porto organizado, sem vnculo empregatcio, a vrios tomadores de mo-de-obra5.

    3 Manual do trabalho porturio e ementrio, p. 15.

    4 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 22. ed. So Paulo: Atlas, 2006, p. 159

    5 Manual do trabalho porturio e ementrio, p, 27.

  • SUMRIO

    INTRODUO ..................................................................................13

    CAPTULO 1

    EVOLUO HISTRICA NO SISTEMA PORTURIO BRASILEIRO

    1.1 BREVE HISTRICO................................................................... 15 1.2 EVOLUO DO SISTEMA PORTURIO BRASILEIRO............ 16 1.3 PORTOBRS............................................................................. 19 1.4 ASPECTOS DESTACADOS DE ALGUNS PORTOS BRASILEIROS................................................................................... 20 1.4.1 PORTO DE SANTOS ..................................................................... 20 1.4.2 PORTO DO RIO DE JANEIRO ......................................................... 21 1.4.3 PORTO DE PARANAGU .............................................................. 22 1.4.4 PORTO DE ITAJA ........................................................................ 22 1.4.5 Modelos de controle porturio.............................................. 23 1.5 LEGISLAO E O TRABALHO PORTURIO ........................... 25 1.5.1 LEGISLAO INTERNACIONAL ...................................................... 25 1.5.1.1 Conveno n 137 da OIT ................................................... 26 1.5.1.2 Recomendao 145 da OIT................................................. 28 1.5.2 LEGISLAO NACIONAL .............................................................. 29 1.5.2.1 Legislao bsica do Direito Porturio ............................. 29 1.6 MODERNIZAO DOS PORTOS.............................................. 31

  • CAPTULO 2 RELAES PORTURIAS

    2.1 PORTO ORGANIZADO E INSTALAES PORTURIAS.........35 2.1.1 Porto Organizado................................................................... 35 2.1.2 Modalidades de instalaes porturias e explorao porturia.............................................................................................37 2.1.3 Terminais Privativos (instalaes porturias de uso privativo).......................................................................................... 38 2.2 Operaes Porturias............................................................... 40 2.3 Terminalogias operacionais..................................................... 41 2.4 Operador Porturio................................................................... 42 2.5 Gesto de mo-de-obra de Trabalho Porturio Avulso.......... 46 2.5.1 Composio do OGMO.......................................................... 47 2.5.2 Finalidade do OGMO.............................................................. 47 2.5.3 Competncia do OGMO......................................................... 48 2.6 ADMINISTRAO PORTURIA................................................ 50 2.6.1 Conselho da autoridade porturia ........................................ 50 2.6.2 Administrao do porto organizado..................................... 53

    Captulo 3 TRABALHO PORTURIO AVULSO

    3.1 TRABALHO AVULSO................................................................ 55 3.1.1 Natureza jurdica do trabalho avulso.................................... 59 3.2 TRABALHO PORTURIO AVULSO.......................................... 60 3.2.1 Cadastro e registro do trabalhador porturio avulso.......... 63 3.2.2 Escalao do trabalhador porturio avulso......................... 64

  • 3.2.3 Multifuncionalidade ............................................................... 66 3.3 CONTRATO DE TRABALHO..................................................... 68 3.4 COOPERATIVAS DE TRABALHADORES PORTURIOS AVULSOS ........................................................................................ 70 3.5 CONTRATO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO PORTURIO: NEGOCIAO COLETIVA. ...................................... 71 3.6 JURISPRUDNCIAS.................................................................. 73

    CONSIDERAES FINAIS................................................................77

    REFERNCIAS .................................................................................80

    ANEXO I............................................................................................83

  • RESUMO

    O presente trabalho procura apresentar os resultados e reflexos na mo-de-obra avulsa porturia frente promulgao da Lei n. 8.630 de 1990. Inicia-se, no primeiro captulo um estudo sobre o ambiente e atividade porturia, envolvendo histrico e evoluo, conceito e destaque de alguns portos brasileiros, formas de controle porturio, destaca-se a legislao pertinente e a temtica modernizao porturia. Investiga-se, no segundo captulo, o texto da Lei n. 8.630/93, abordando a estrutura e figuras das relaes porturias e terminologias apresentadas pela lei. O terceiro captulo inicia-se o trabalho avulso, o trabalho porturio avulso, identificando suas caractersticas, conceitos, aborda-se os tipos de contratos de trabalho na atividade porturia, aborda-se ainda s questes atinentes a possibilidade de cooperativas dos trabalhadores avulsos na atividade porturia e a negociao coletiva. Por fim pode-se visualizar como o judicirio brasileiro tem se comportado frente s questes apresentadas em juzo com as decises dos tribunais e as discusses sobre o tema trabalho porturio avulso, por meio de ementas jurisprudenciais e respectiva anlise. Portanto, sendo esta pesquisa de cunho bibliogrfico, para tal adotou-se o mtodo indutivo, entendido como aquele que conclui de um ou mais fatos particulares para todos os fatos semelhantes, presentes e futuros.

  • 13

    INTRODUO

    A presente Monografia tem como objetivo trazer a lume as principais inovaes na mo-de-obra porturia trazidas com a Lei n. 8.630/93, que inovou nas relaes dentro dos portos organizados.

    O seu objetivo institucional produzir uma monografia para obteno do grau de bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itaja UNIVALI; geral, demonstrar atravs de pesquisa acadmico-cientfica a importncia das mudanas ocorridas nas relaes de trabalho luz da Lei n. 8.630/93; especfico, investigar o ambiente porturio e as relaes porturias evidenciando as caractersticas do trabalho porturio avulso.

    Para tanto, adotou-se o mtodo indutivo e como meio de explicao geral do tema, dividindo-se o relatrio em trs captulos.

    O primeiro, para fazer uma exposio do ambiente porturio em que se encontra inserido o trabalhador avulso, com uma abordagem histrica, destacando alguns importantes portos, os modelos de controle porturio, trazendo a legislao pertinente ao tema e identificando as caractersticas porturias antes e depois do advento da Lei n. 8.630/93.

    O segundo, destinado a promover a identificao das figuras que compem o ambiente porturio, explorando para tanto o texto da Lei n. 8.630/93, iniciando com definio de porto e porto organizado, partindo para o entendimento das modalidades de explorao porturia, conceitos e caractersticas do OGMO e da administrao porturia.

    O terceiro e ltimo, buscou formular questes acerca do trabalhador avulso porturio, abordando conceito, natureza jurdica, cadastro, registro e escalao da mo-de-obra avulsa frente nova legislao bem como formas de contratos, cooperativas e as caractersticas da negociao coletiva de trabalho.

  • 14

    Por fim, so apresentados alguns posicionamentos jurisprudenciais com relao atividade do trabalhador porturio avulso.

    Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipteses:

    a) Dentre as principais mudanas que a Lei n. 8.630/93 trouxe atividade porturia foi criao do rgo gestor de mo-de-obra avulsa.

    b) Depois da criao da Lei n. 8.630/93 a contrao de mo-de-obra se d atravs de seleo realizada pelo OGMO, o qual manter o cadastro de trabalhadores habilitados.

    Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Tcnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliogrfica. Na comunicao dos resultados da pesquisa se faz atravs de relatrio final.

    O presente relatrio de pesquisa encerra-se com as Consideraes Finais, nas quais so apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulao continuidade dos estudos e das reflexes sobre o tema.

  • CAPTULO 1

    EVOLUO HISTRICA DO SISTEMA PORTURIO BRASILEIRO

    Este captulo acha-se dividido em cinco sees, destinadas a tratar: da localizao histrica, identificando marcos na evoluo do sistema porturio brasileiro; da PORTOBRS, empresa que administrou portos durantes vrias dcadas; de alguns portos em destaque, importante para visualizar o ambiente porturio; e a identificao da legislao, nacional e internacional que disciplinam o trabalho porturio avulso.

    1.1 BREVE HISTRICO

    A abertura dos portos em janeiro de 1808 o marco de incio da atividade porturia no Brasil. Nessa poca, era de responsabilidade dos tripulantes os servios de carga e descarga de mercadorias transportadas pelas embarcaes 6.

    Os portos brasileiros em sua maioria foram construdos no incio do sculo XX7, e o surgimento do trabalho avulso se confunde como surgimento dos primeiros portos, visto que estes tm seu surgimento historicamente nos portos.

    Com o extenso litoral que possui o Brasil, pontos estratgicos foram aproveitados para surgimento de portos de grande destaque nacional. O Brasil possui mais de 8.500 km de linha costeira considerando os recortes litorneos, dezessete Estados da Federao compem esta linha de costa, contando com portos martimos, estuarinos e lagunares, pelo quais se

    6 BARROS. Alice Monteiro de. Contratos e regulamentos especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendncias. 2. ed. So Paulo: LTr, 2002, p. 437.

    7 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos. Curitiba: Juru, 2004, p.19.

  • 16

    movimenta a quase totalidade do comrcio exterior do pas, alm da navegao de cabotagem entre os portos nacionais8.

    Ao longo das ltimas dcadas, os portos brasileiros foram administrados com interferncia do Estado nas decises gerncias, atravs de terceiros, de planejamento ou na rea de recursos humanos, ficando sob sua tutela o Estado o provimento de recursos para investimentos em expanso, reformas, melhoramentos das instalaes porturias, bem como na aquisio e montagem de equipamentos.

    1.2 EVOLUO DO SISTEMA PORTURIO BRASILEIRO

    Conforme narra Silva e Hoffman9, as exportaes brasileiras na poca colonial consistiam em matria prima. Com a decretao do Bloqueio Continental, permitindo a sada de navios apenas para a metrpole, no final desse perodo. Essa situao foi normalizada atravs da publicao da Carta Rgia em 1808, declarando a abertura dos portos brasileiros s naes amigas. Porm, a abertura real dos portos brasileiro correu em 1822 com a Proclamao da Independncia.

    Deve-se abrir parnteses e destacar a importncia dos portos. Os portos so pontos focais no intercmbio comercial de um pas. Ao analisar a relao dos portos com as cidades, Cocco e Silva assim discorrem sobre os portos: [..] portas de entradas dos colonizadores e dos escravos, por um lado, e portas de sada das riquezas sobre as quais se baseavam os diferentes ciclos econmicos brasileiros[...]10.

    Porto pode ser definido assim:

    Porto uma pequena baa ou parte de grande extenso de gua, protegida natural ou artificialmente das ondas grandes e correntes fortes, que serve de abrigo e ancoradouro a navios, e est provida

    8 ALFREDINI. Paolo. Obras e gesto de portos e costas. So Paulo: Edgard Blcher, 2005, p. 2.

    9 SILVA, Silmara N. da; HOFFMAN, Valmir Emil. Porto de Itaja: o impacto da abertura de mercado e conseqente municipalizao. Itaja: Ed. Univali, 2001, p. 71.

    10 COCCO, Giuseppe; SILVA, Gerardo (Orgs.). Cidades e portos: os espaos da globalizao. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, p. 9.

  • 17

    de facilitadores de embarque e desembarque de passageiros e carga. Mais amplamente, ainda, qualquer lugar de abrigo, de refgio ou de descanso11.

    Cocco e Silva12 explicam qual o deve ser o papel dos portos:

    Os portos, especificamente, devem assumir rapidamente uma nova funo, que a de organizar e gerenciar fluxos contnuos de bens para a produo e o consumo, a partir de redes de empresas que se estendem de maneira difusa e flexvel pelos territrios.

    Os portos so considerados um setor de vital importncia para a vida econmica do pas. Porm, questionvel que os portos brasileiros sofreram com o descaso dos investimentos pblicos. A nova viso liga os portos a investimentos privados e modernizao de equipamentos que viabilizem barateamento e agilidade nas operaes porturias.

    Como lembra Santos Neto e Ventilari13 :

    Nas docas brasileiras, os equipamentos obsoletos, alguns datados do imediato ps-guerra, contrastam brutalmente com os ultramodernos equipamentos computadorizados utilizados nos portos europeus, norte-americanos e asiticos. Os investimentos, orados casa dos bilhes de dlares, proibitivos para o ente estatal envolvido numa profunda crise estrutural, foram negados pela iniciativa privada, por um motivo simples: essa se recusava a investir milhes de dlares em equipamentos e instalaes que depois se encontrariam fora do seu controle.

    de convico para a maioria dos estudiosos, que a situao dos portos brasileiros, o sucateamento e o alto custo dos servios porturios tornam-se entraves para a comercializao internacional dos produtos brasileiros.

    Segundo Santos Neto e Ventilari14, o sucateamento est ligado :

    11 Manual do Trabalho Porturio e Ementrio, p 14.

    12 COCCO, Giuseppe. SILVA; Gerardo (Orgs.). Cidades e portos: os espaos da globalizao, p. 17.

    13 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p.20.

  • 18

    [...] na incapacidade demonstrada pelo Estado de proporcionar os investimentos necessrios para a constante modernizao exigida, bem como nos arcaicos mtodos gerenciais adotados. Presos a um sistema ultrapassado de monoplio duplo, por parte de estatal Companhias das Docas e por parte dos sindicatos de trabalhadores avulsos, os portos brasileiros afastaram os investimentos privados, impedindo a sua modernizao.

    Os eminentes estudiosos sobre a temtica completam:

    Para entendermos a importncia dos portos para nosso pas basta dizermos que os mesmos so utilizados por 95% do comrcio exterior nacional. Em 1997 foram movimentadas 414 milhes de toneladas. A movimentao de contineres nos portos brasileiros, em 1996, atingiu 1.266.770 unidades, abrangendo os cheios e os vazios, tanto de 20 como de 40 ps, embarcados e desembargados, no longo curso e na cabotagem. Somente no ms de dezembro de 1998, o Porto de Santos, o maior da Amrica Latina, movimentou 50.896 contineres15.

    Deve-se, visualizar, portanto a extrema competitividade no mercado globalizado e a necessria mudana que o setor porturio necessitava para no se ver excludo do mercado econmico internacional.

    Sob exigncias da economia globalizada, a presso para reduo de custos e aumento de produtividade, o Governo Federal decidiu mudar o quadro que pendurou por muitos anos. A soluo foi modernizar os portos brasileiros, criando uma nova estrutura, com um novo modelo de gerenciamento para os portos organizados.

    Porm, faz necessrio a compreenso de uma importante empresa que atuou na administrao dos portos no Brasil, PORTOBRS, em destaque a seguir.

    14 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p.19.

    15 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a

    modernizao dos portos, p.19.

  • 19

    1.3 PORTOBRS

    Foi criada em 1975, uma empresa chamada Empresa Brasileira de Portos S.A. PORTOBRS, com a finalidade de realizar atividades relacionadas com a construo, administrao e explorao dos portos e das vias navegveis interiores, exercendo a superviso, orientao, coordenao, controle e fiscalizao sobre tais atividades16.

    At o ano de 1990 a PORTOBRS era responsvel pela gesto dos portos pblicos brasileiros. Os portos eram administrados diretamente pela Empresa ou atravs de suas controladas, as Companhias Docas. Assim controlava as administraes porturias, as concessionrias e as administraes hidrovirias, alm de definir os programas oramentrios, as polticas tarifrias e de pessoal, e as decises sobre novos investimentos.

    Com a desativao da PORTOBRS, em 1990, o Ministrio dos Transportes determinou que os portos passassem a ser administrados diretamente pelas Companhias Docas17. O projeto do governo federal de modernizar o sistema porturio iniciou com a extino da PORTOBRS. Visando descentralizao administrativa e um a futura privatizao dos servios porturios, a exemplo de grandes portos mundiais, regionalizando a administrao dos portos brasileiros.

    A atual legislao Brasileira est fundamentada na Lei de Modernizao Porturio, como ficou conhecida a Lei n 8.630/93, que buscou estabelecer definies para a atividade porturia desde a estrutura porturia at os servios realizados no espao porturio brasileiro.

    Alfredini18 faz uma analise sinttica dos progressos dos portos brasileiros com a vigncia da referida Lei:

    16 INFORME INFRA-ESTRUTURA: rea de projetos de infra-estrutura. O Sistema porturio brasileiro. . Acesso em: 09 maro 2008.

    17 INFORME INFRA-ESTRUTURA: rea de projetos de infra-estrutura. O Sistema porturio brasileiro. . Acesso em: 09 maro 2008.

    18 ALFREDINI, Paolo. Obras e gesto de portos e costas, p. 3.

  • 20

    [...] Em 1992, ano anterior vigncia da atual lei, que flexibilizou a operao porturia com relao aos monoplios , o Brasil era, apesar dos citados entraves institucionais, o terceiros pas em movimentao mundial de cargas (cerca de 350 milhes de toneladas por ano envolvendo valor de US$ 54 milhes)). Em 1999 a movimentao anual de cargas atingiu cifras superiores a 420 milhes de toneladas [...].

    Assim, a partir de 1990, com extino da PORTOBRS e meio a fortes discusses sobre a poltica porturia iniciou-se um processo de transio que culminou com a promulgao da Lei n. 8.630/93.

    1.4 ASPECTOS DESTACADOS DE ALGUNS PORTOS BRASILEIROS

    Visualizar aspectos de alguns portos de extrema importncia para compreender a realidade porturia.

    1.4.1 Porto de Santos

    O porto de Santos foi inaugurado em 02 de fevereiro de 1892, com a atracao do navio ingls Nasmith. O porto contava com (...) 260m de cais, que na poca era administrado pela j criada companhia Docas de Santos CDS, em uma rea denominada Valongo19.

    O porto expandiu-se de forma acelerada, tornando-se um dos portos de maior expresso do Brasil. Entre os diversos tipos de cargas movimentadas esto o acar, caf, laranja, algodo, adubo, carvo, trigo, sucos ctricos, soja, veculos, granis, lquidos diversos etc.

    Diversas alteraes passam a ocorrer no porto de Santos com o advento da Lei n. 8.630/93.

    Vrias de suas reas e instalaes foram arrendadas iniciativa privada, mediante o programa de modernizao dos portos, o que

    19 STEIN, Alex Sandro. Curso de direito porturio: lei n. 8.630/93. So Paulo: LTr, 2002, p. 29.

  • 21

    frise-se -, em face da total falta de critrios, gerou e continua gerando srias pendncias judiciais20.

    Hodiernamente o Porto de Santos apresenta-se assim:

    Atualmente, o Porto de Santos, movimenta, por ano, mais de 60 milhes de toneladas de cargas diversas, nmero inimaginvel em 1892, quando operou 125 mil toneladas. Com 12 km de cais, entre as duas margens do esturio de Santos, o porto entrou em nova fase de explorao, consequncia da Lei 8.630/93, com arrendamento de reas e instalaes iniciativa privada, mediante licitaes pblicas21.

    1.4.2 Porto do Rio de Janeiro

    O Rio de Janeiro assumiu o status de capital do reino com a vinda da Famlia Real para o Brasil, no ano de 1808. Ocorreu com isso o destino de muitos imigrantes e um aumento na movimentao de cargas, mesmo aps a independncia do Brasil em 1822. Todavia, os estudos preliminares para a implantao de um conjunto de instalaes que caracterizassem a existncia de um porto organizado na cidade do rio de Janeiro s ocorreram de fato por volta do ano de 187022. Oficialmente o porto do Rio de Janeiro foi inaugurado em 20 de julho de 1910, sendo at o ano de 1933 administrado por empresas privadas.

    Atualmente o porto do rio de Janeiro apresenta-se com a seguinte estrutura:

    O Porto conta, tambm, com 10 (dez) armazns externos, no total de 65.367 m2 e 8 (oito) ptios cobertos, somando 11.027 m2 com capacidade de 13.100 toneladas para armazenagem. Contm, ainda, os seguintes terminais de uso privativo: Torgu (combustveis), da Petrobrs S.A., nas ilhas D'gua e Redonda; Esso (produtos qumicos) da Exxon Qumica Ltda., na ilha do Governador; Shell (combustveis) da Shell do Brasil S.A., na ilha do Governador; Manguinhos (combustveis) da Refinaria de Manguinhos, na Baa de Guanabara23.

    20 STEIN, Alex Sandro. Curso de direito porturio: lei n. 8.630/93, p. 30.

    21 PORTO DE SANTOS. Histria do porto de Santos. < http://www.portodesantos.com.br/historia/index_p.html>. Acesso em: 19 maio 2008.

    22 STEIN, Alex Sandro. Curso de direito porturio: lei n. 8.630/93, p. 27.

    23 COMAPNHIA DOCAS DO RIO DE JANEIRO. Caractersticas gerais do porto do Rio de Janeiro. Acesso em: 19 maio 2008.

  • 22

    1.4.3 Porto de Paranagu

    Considerado o maior porto do sul do pas, principalmente na exportao de gros. Na explicao de STEIN24, a construo do porto comeou em 24 de novembro de 1926 e a sua inaugurao deu-se em 17 de maro de 1935. Em 11 de julho de 1947 foi criado o rgo estadual Administrao do Porto de Paranagu, mais tarde modificado , em 10 de novembro de 1971, para Administrao dos Portos de Paranagu e Antonina (APPA).

    A movimentao atual do Porto de Paranagu encontra-se assim:

    A vocao graneleira atrelada originalmente atividade porturia paranaense passou a agregar novos mercados. O Porto de Paranagu atualmente o maior importador de fertilizantes do Brasil e atraiu novas cargas, como a movimentao de veculos, que registrou quase 165 mil unidades em 2007. A estrutura do Terminal de Contineres de Paranagu (TCP) garante uma produo importante, com mais de 590 mil TEUs movimentados em dois beros de atracao em 200725.

    1.4.4 Porto de Itaja

    A construo do Porto de Itaja data da dcada de 30, conforme informa Silva e Hoffman26, o primeiro trecho do cais data de 1938, precedidos de estudos realizados pela Comisso de Melhoramentos de Portos e rios, em 1905, e de uma primeira construo datado de 1914.

    Ainda, com a criao da empresa dos portos do Brasil PORTOBRS, em 1976, a gerncia do terminal de Itaja passou a ser exercida pela Administrao do Porto de Itaja, vinculada aquela. Extinta a PORTOBRS

    24 STEIN, Alex Sandro. Curso de direito porturio: lei n. 8.630/93, p. 39.

    25PORTO DO PARAN. Porto de Paranagu. < http://www.portosdoparana.pr.gov.br/arquivos/File/novoporto.doc>. Acesso em: 19 maio 2008.

    26 SILVA, Silmara N. da; HOFFMAN, Valmir Emil. Porto de Itaja: o impacto da abertura de mercado e conseqente municipalizao, p. 71.

  • 23

    em 1990, transferiu-se a gerncia para a Companhia Docas de So Paulo, em Santos-SP, situao que pendurou cinco anos. A junta de administrao do porto de Itaja foi instalada em 1996, subordinada ao Departamento Nacional de Portos e Vias Navegveis. Somente em 1995, atravs do Convnio n 001/95, e com a Lei 2.970 foi criada a autarquia ADHOC (Administrao Hidroviria Docas Catarinense), e aps a presso do Governo de Santa Catarina, o Ministrio dos Transportes entregou a administrao do Porto Prefeitura de Itaja.

    Sobre as mercadorias movimentadas no porto de Itaja, assim so identificadas:

    Ao longo dos anos recentes, as principais mercadorias movimentadas pelo Porto de Itaja foram: madeira e derivados; frangos congelados (maior porto exportador do Brasil); cermicos; papel kraft; mquinas e acessrios; tabacos; veculos, txteis; acar e carne congelada. [...] Grande destaque merece a movimentao de contineres. O Porto de Itaja o terceiro do Brasil. De um movimento de pouco mais de 26.000 T.E.U. em 1990, o porto atingiu a marca de 564.012 T.E.U. em 2004. Do total de cargas movimentadas pelo Porto de Itaja, 94% so representadas por mercadorias em contineres27.

    O destaque dos portos possibilitou a visualizar os tipos de movimentao de cargas e a produo que classifica o Brasil exportador.

    1.4.5 Modelos de controle Porturio

    AlfrediniI28 apresenta uma classificao dos modelos de controles porturios:

    Controle da Unio: O modelo de controle pela Unio embora apresente as vantagens de um planejamento centralizado, em termos de possibilidade de maior racionalidade nos investimentos, da disponibilidade de recursos e da adequao do sistema tarifrio, tende a gerar ineficincia devido

    27 PORTO DE ITAJA. Histrico. . Acesso em: 19 maio 2008.

    28 ALFREDINI. Paolo. Obras e gesto de portos e costas, p.449.

  • 24

    complexidade administrativa, envolvendo departamento de vrios ministrios, s influncias e a eventual falta de competio;

    Controle de Estados ou Municpios: Com relao ao controle centralizado da Unio, possui algumas vantagens, porm tambm est sujeito aos mecanismos de influncia poltica. A eventual concorrncia entre portos estaduais ou municipais pode induzir ao aumento de eficincia, mas tambm conduzir alocao ineficiente de investimentos pblico;

    Autoridade Porturia Autnoma: A autoridade porturia constituda por membros eleitos ou indicados por Conselho de Autoridade Porturia (CAP) de usurios e operadores, e/ou pelo prprio governo. A autoridade porturia tem as funes bsicas de: regular, fiscalizar e explorar (habilitar o operador porturio), elaborando e gerindo o PDZ Plano de Desenvolvimento e Zoneamento. Caracteriza-se a autoridade porturia autnoma pela sua estabilidade e independncia do governo. Os portos assim organizados tm a vantagem da unidade na administrao e da garantia de no estar subsidiando um outro porto menos eficiente. Esse modelo, alm de expor-se ao de lobbies, pode produzir dificuldade para captao de recursos de investimentos e para o desenvolvimento de uma poltica porturia nacional. [...];

    Controle Privado: Nos terminais privados, os portos esto associados a outras atividades industriais ou de transportes para atender s necessidades de um grupo ou empreendimento industrial loca. Funcionam como empreendimentos comerciais e o gerenciamento flexvel e voltado para a maximizao dos lucros29.

    Portanto, as funes da autoridade porturia passaram a garantir canais de navegao seguros e balizados, servios de praticagem e assistncia de rebocadores quando necessrio; garantir condies abrigadas de fundeio e atracao; servios de movimentao de carga entre a embarcao e o cais; movimentao de cargas em terra e estocagem; e suprimentos de

    29 ALFREDINI. Paolo. Obras e gesto de portos e costas, p. 449-451.

  • 25

    combustveis, gua e outros congneres para as embarcaes30. E ainda, a regular utilizao da mo-de-obra porturia.

    1.5 LEGISLAO E O TRABALHO PORTURIO

    Atualmente, as principais leis que regem o trabalho porturio so as de n. 8.630/93 e 9.719/98. Com tais normas o gerenciamento da mo-de-obra nos portos teve novas disciplinas. E ainda revogou os artigos da CLT que tratava sobre o trabalho porturio31, assim como todas as normas que anteriormente disciplinava sobre o tema. Lembrando que encontram-se inseridas no regime jurdico dos portos normas da OIT.

    1.5.1 Legislao Internacional

    Esto inseridas no regime jurdico de explorao dos portos as convenes elaborados pela Organizao Internacional do Trabalho (OIT) ratificadas pelo Brasil, criadas som o sentido de proteo ao trabalho, a Conveno n 137 e a Recomendao n 145.

    O legislador brasileiro ratificou a conveno 137 e aceitou a Recomendao 145 da OIT, visando amenizar o impacto da modernizao porturia, recomendando ainda o aproveitamento dos contingentes treinados de homens no trabalho porturio. Os textos da Conveno n 137 e da Recomendao n 145, da Organizao Internacional d o Trabalho, relativas s Repercusses Sociais dos Novos Mtodos de Processamento de Carga nos Portos, adotadas em Genebra, em 1973, durante a 58 Sesso da Conferncia Internacional do Trabalho, levanta a questo do aumento da mecanizao e automatizao e seu acentuado fluxo de mercadorias.

    30 ALFREDINI. Paolo. Obras e gesto de portos e costas, p.452.

    31 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993. Dispe sobre o regime jurdico da explorao dos portos organizados e das instalaes porturias e d outras providncias. LEX: Legislao Federal, artigo 75.

  • 26

    1.5.1.1 Conveno n 137 da OIT

    Esta conveno foi ratificada pelo Brasil somente aps a promulgao da Lei n 8.630/93. Costa32 lembra que a ratificao da Conveno 137 da OIT teve recomendao desfavorvel por parte do Ministrio do Trabalho e Previdncia Social, quando publicou em 07/06/1975, no Dirio do Congresso Nacional, o Parecer n 38/73:

    Os argumentos apresentados, naquela poca, pelo parecer do Ministrio do Trabalho para a no ratificao da Conveno 137 da OIT, estavam em consonncia com o modelo rudimentar de processamento de cargas que imperava nos portos brasileiros33.

    Castro Jr.34 tece comentrios sobre o sentido da norma da OIT:

    O sentido da norma da OIT o de, ainda assim, deve-se buscar garantir na maior medida possvel, o emprego e a empregabilidade dos trabalhadores, ou seja, no se deve tomar como certa, como nica opo, o corte de vagas como a principal feio do processo de mudana.

    Adaptar o mercado de trabalho modernizao e mesmo assim preservando os trabalhadores o que pretende a OIT com a referida conveno.

    A situao dos terminais porturios, na poca da recomendao desfavorvel do Ministrio do Trabalho e previdncia Social, encontravam-se despreparados para uma efetiva automao.

    32 COSTA, Eder Dion de Paula. O trabalho porturio avulso na modernizao dos portos. 2004. 248 f. Tese. Setor de Cincias Jurdicas, Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2004, p. 117.

    33 COSTA, Eder Dion de Paula. O trabalho porturio avulso na modernizao dos portos, p. 117.

    34 CASTRO JR., Osvaldo Agripino de (Org.). Temas atuais de direito do comrcio internacional. Florianpolis: OAB/SC, 2005, p. 172.

  • 27

    A modernizao tem como objetivo acelerar o transporte de cargas e reduzir o tempo de permanncia dos navios nos portos e os custos dos transportes, a referida conveno ratificada pelo Brasil, prepondera uma reduo do efetivo de trabalhadores na orla porturia.

    A tecnologia investida para diminuir os custos da atividade porturia um ponto relevante para economia dos pases, porm, deve-se considerar que mudanas visando a automatizar os portos geram repercusses negativas no que se refere aos empregos nos portos e sobre as condies de vida dos porturios. A Conveno lembra que medidas devem ser adotadas para evitar ou reduzir os problemas que decorrem de tais mudanas no trabalho porturio.

    Assim estabelece o art. 2 da conveno n 137:

    Artigo 2 - 1. Incumbe poltica nacional estimular todos os setores interessados para que assegurem aos porturios, na medida do possvel, um emprego permanente ou regular.

    2. Em todo caso, um mnimo de perodos de emprego ou um mnimo de renda deve ser assegurado aos porturios, sendo que sua extenso e natureza dependero da situao econmica e social do pas ou do porto de que se tratar.

    Do art. 4 da conveno n 137 trata, entre outras temas, sobre o trabalhador porturio avulso registrado e o matriculado:

    Artigo 3 - 1. Registros sero estabelecidos e mantidos em dia para todas as categorias profissionais de porturios na forma determinada pela legislao ou a prtica nacionais.

    2. Os porturios matriculados tero prioridade para a obteno de trabalho nos portos.

    3. Os porturios matriculados devero estar prontos para trabalhar de acordo com o que for determinado pela legislao ou a prtica nacionais.

    Artigo 4 - 1. Os efetivos dos registros sero periodicamente revistos a fim de fix-los em um nvel que corresponda s necessidades do porto.

  • 28

    2. Quando uma reduo dos efetivos de um registro se tornar necessria, todas as medidas teis sero tomadas, com a finalidade de prevenir ou atenuar os efeitos prejudiciais aos porturios.

    Outra conveno ratificada no Brasil foi a Conveno n. 152, que no trata do assunto trabalhador porturio avulso de forma direta, apenas tece consideraes sobre o ambiente de trabalho em utilizao de mtodos de trabalho, visando segurana e sade dos trabalhadores porturios. Estabelece ainda, que cabe s legislaes nacionais imputar aos responsveis e cobrar um ambiente de trabalho mais sadio para os trabalhadores.

    1.5.1.2 Recomendao 145 da OIT

    Assim como a Conveno n. 137, a Recomendao n. 145 da OIT, trata especificamente do trabalho porturio. Essa ltima foi ratificada em 1993.

    Essa Recomendao da OIT prev no item 20 a garantia de um nmero reserva de mo-de-obra para fazer frente s necessidades do empregador. Tambm a aborda na item 21 e item 22 a possibilidade de transferncia temporria de trabalhadores de um porto para outro quando houver excedente de mo-de-obra de um poro e escassez do outro. J a multifuncionalidade abordada pela Lei n. 8.630/93, observada pelo item 29 desta Recomendao que trata da flexibilidade na organizao do trabalho porturio.

    Nas palavras de Costa35:

    Esta flexibilizao nas relaes de trabalho porturio visa atender os interesses dos armadores, a fim de otimizar uma mo-de-obra que trabalha intensamente no seu terno, desempenhando todas as atividades decorrentes da operao porturia. Nesse entendimento visa a maior produtividade e aproveitamento da mo-de-obra avulsa nos portos brasileiros.

    35 COSTA, Eder Dion de Paula. O trabalho porturio avulso na modernizao dos portos, p.125-126.

  • 29

    1.5.2 Legislao Nacional

    A legislao bsica do direito porturio a Lei n. 8.630/93. Toda a legislao relativa ao trabalho porturio, incluindo-se artigos da CLT foi expressamente revogado por essa lei:

    A Constituio Federativa do Brasil assim dispe em seu artigo 21, XII:

    Explorar, diretamente ou mediante autorizao, concesso ou permisso (...):

    d) os servios de transportes ferrovirio e aquavirio entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estados e Territrios (...);

    f) os portos martimos, fluviais e lacustres.

    Para completar o artigo 22 da CRFB/88, dispe que comete privativamente Unio legislar sobre as diretrizes da poltica nacional de transportes (inciso IX) e regime dos portos (inciso X).

    1.5.2.1 Legislao bsica do Direito Porturio

    Segundo Pasold, a legislao bsica de um ramo do direito a legislao que trata exclusivamente da matria que caracteriza aquele ramo do direito36. Assim, trata-se de legislao com temas pertinentes s pessoas e s atividades sujeitas ao regime institudo pela Lei n. 8.630/93 especificamente.

    Conforme enumera Pasold37, a legislao pertinente matria porturia so as seguintes: Lei bsica: Lei n 8.630/93; Lei n 9.719, de 27/11/1998, Dispe sobre as normas e condies gerais de

    proteo ao trabalho porturio, institui multas pela inobservncia de seus preceitos, e d outras providncias;

    36 PASOLD. Csar Luiz. Lies preliminares de direito porturio. Florianpolis: Conceito Editorial, 2007, p. 36.

    37 PASOLD. Csar Luiz. Lies preliminares de direito porturio, p. 42.

  • 30

    Lei n. 4.860, de 21/11/1965, Dispe sobre o regime de trabalho nos portos organizados, e d outras providncias;

    Decreto n. 4.391, de 26/09/2002, dispe sobre arrendamento de reas e instalaes porturias de que trata a Lei n. 8.630/93, cria o Programa Nacional de Arrendamento de reas e Instalaes Porturias, estabelece a competncia para a realizao dos certames licitatrios e a celebrao dos contratos de arrendamento respectivos no mbito do porto organizado, e d outras providncias;

    Decreto n. 1.886, de 29/04/1996, regulamenta disposies da Lei n. 8.630/963, e d outras providncias;

    NR 29, Norma Regulamentadora de Segurana e Sade no Trabalho Porturias aprovada pela Portaria n 53, de 17/12/1993; Portaria n 18, de 30/03/1998, acrescenta ao Anexo II da NR 28 que trata de fiscalizao e penalidades, as infraes ao descumprimento do disposto da NR 29;

    Lei n. 11.314, de 03/07/1996, modificou alguns artigos da Lei n. 8.630/93. Outra situao vigente a partir da Lei foi a publicao do Decreto 1.035/93 que

    estabelece o processo da Indenizao do Trabalhador Porturio Avulso (ITP), criado com objetivo de reduzir o contingente de trabalhadores avulsos.(...) Em agosto de 1995 publicou-se o Decreto n 1.596/95 que autorizou o levantamento de trabalhadores porturios em atividade, ao qual compareceram 61.779 trabalhadores, entre avulsos, trabalhadores porturios com vnculo empregatcio oriundo das Companhias Docas e outros que exerciam atividade como avulsos ou autnomos nos portos organizados. Este ano num levantamento sugerido pela Comisso Nacional Permanente Porturia CNPP, e ainda no concludo totalmente, chegou-se a um contingente em torno de 30 mil trabalhadores porturios avulsos registrados s e cadastrado nos OGMOs, e com vnculo empregatcio oriundo do trabalho avulso, podendo chegar a 40 mil com os trabalhadores das Docas e dos terminais privativos38.

    38 KAPPEL, Raimundo F. Portos brasileiro novo desafio para a sociedade. Disponvel em: . Acesso em: 01 abril 2008.

  • 31

    A Lei n. 8.630/93 sofreu sua ltima modificao no ano de 2007 com a Lei n. 11.518, que acresce e altera dispositivos das Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, 10.233, de 5 de junho de 2001, 10.893, de 13 de julho de 2004, 5.917, de 10 de setembro de 1973, 11.457, de 16 de maro de 2007, e 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, para criar a Secretaria Especial de Portos, e d outras providncias. Dessa forma acrescentou na Lei n. 8.630/93 os inciso VI e VII do pargrafo 1 do artigo 1, instituindo respectivamente, a estao de Transbordo de Cargas e a Instalao Porturia Pblica de Pequeno Porte.

    1.6 MODERNIZAO DOS PORTOS

    Visando entender a chegada e as transformaes que a Lei n. 8.630/93, chamada Lei de Modernizao dos Portos, faz-se necessrio entender o regime de trabalho porturio que pendurou durante muitos anos no Brasil sob intervenes constantes por parte do Estado.

    Conforme entendimentos de Castro Jr.39 o quadro anterior a Lei 8.630/93 encontrava-se na seguinte situao:

    A legislao existente era um emaranhado de textos legais; A administrao era exercida por rgos estatais na atividade porturia, tais

    como PORTOBRS (Empresa de Portos do Brasil S/A) e as DTMs (Delegacias do Trabalho Martimo);

    Os sindicatos dos trabalhadores porturio avulso tinham a exclusividade na contratao da mo-de-obra, assim como na formao dos ternos de trabalho (equipes de trabalho). Havia nessa oportunidade preferncia legal para aos trabalhadores sindicalizados, art. 257 da CLT);

    Os servios de capatazia eram realizados por trabalhadores empregados das autoridades porturias;

    Nesse momento, existiam duas categorias de trabalhadores porturios no cais: os de capatazia, com vnculo empregatcio firmado com a empresa estatal, e

    39 CASTRO JR., Osvaldo Agripino de (Org.). Temas atuais de direito do comrcio internacional, p. 175.

  • 32

    os avulsos (estivadores, conferentes, consertadores, vigias e trabalhadores de bloco), surgindo, posteriormente, os avulsos de capatazia, que complementavam de forma supletiva o trabalho daqueles;

    Falta de competitividade entre os portos, os preos eram calculados sobre o valor da mo-de-obra utilizada;

    Santos Neto e Ventilari40 criticam a situao dos portos brasileiros anterior lei de Modernizao dos Portos pela falta de investimentos pelo Estado no setor, bem pelos arcaicos mtodos de gerenciamento adotado. Figurando a ineficincia e monoplio das Companhias Docas e dos sindicatos dos trabalhadores porturios na contratao da mo-de-obra porturia, impediam investimentos privados e uma necessria modificao.

    Baumgarten critica a postura do Estado frente s diversidades dos portos brasileiros e aos desafios da reestruturao porturia: O Governo caracterizou-se por adotar, ao longo dos ltimos cem anos, uma poltica sem cuidados especficos e sem respeitar as peculiaridades de cada setor, de cada regio, enfim, de cada segmento da unidade porturia41.

    A opo de soluo apresentada pelos estudiosos Cocco e Silva42 consiste em:

    [...] compreender os modelos indicados pelas experincias internacionais. Estes podem apontar diferentes opes de planejamento do sistema porturio brasileiro. Nesta perspectiva, uma primeira questo fundamental que se coloca diz respeito ao entendimento de como as urgncias ligadas abertura da economia nacional no podem relegar ao segundo plano as questes ligadas s transformaes estruturais da economia mundial.

    Assim, objetivando mudanas no sistema porturio brasileiro e rompendo com todo o sistema preexistente, o governo federal promulgou a Lei

    40 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p.20.

    41 BAUMGARTEN, Marcelo Zepka. Impactos da Lei n 8.630/93 nas dinmicas porturias e relaes internacionais brasileiras. Disponvel em . Acesso em: 24 abril 2008.

    42 SILVA, Gerardo. COCCO; Giuseppe (Orgs.). Cidades e portos: os espaos da globalizao. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, p. 12.

  • 33

    n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, que passou a se denominada Lei de Modernizao dos Portos.

    Segundo Santos Neto e Ventilari43, a nova legislao foi fruto de forte campanha de opinio publica e dos empresrios do setor.

    Stein44 sobre os trabalhadores porturios avulso disserta:

    [...] a classe obreira no foi devidamente preparada para uma melhor assimilao das alteraes que impreterivelmente viriam a acontecer no mbito do trabalho porturio talvez por ter subestimado o poder de presso da classe empresarial, que h muito pedia mudanas as quais ambiente de trabalho porturio, as quais hoje se mostram uma realidade.

    relevante lembrar os artigos 75 e76 da lei n. 8.630/93 revogam quase todas as leis anteriores que tratavam do trabalho porturio, inclusive os artigos 254 a 292 da CLT45.

    Com o fim de coordenar e efetivar a aplicao dos dispositivos da Lei n 8.630/93, o Decreto n 1.467/95, criou o Grupo Executivo para Modernizao dos Portos (GEMPO). Foi fixado, a data limite de 31/12/98 para a concluso da reforma porturia brasileira, os objetivos a ser alcanados seriam os descritos abaixo, segundo Santos Neto e Ventilari46:

    consolidao do novo modelo de relaes capital-trabalho; racionalizao das equipes de trabalho; privatizao de todos os terminais importantes existentes; afastamento do setor pblico da prestao dos servios de capatazia; reestruturao da administrao porturia; otimizao dos mtodos e processos de movimentao de cargas; e

    43 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p.27.

    44 STEIN, Alex Sandro. Curso de direito porturio: lei n. 8.630/93, p. 76.

    45 PINTO, Cristiano Paixo Arajo; FLEURY, Ronaldo Curado. A modernizao dos portos e as relaes de trabalho no Brasil. Porto alegre: Sntese, 2004, p. 23.

    46 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 32.

  • 34

    reduo significativa dos custos porturios. Foram obtidos bons resultados, porm, todos os objetivos

    acima indicados no foram alcanados.

    Para Oliveira, as palavras que refletem a base da nova lei para a exploso do comrcio mundial, o mercado e a competio47.

    Oliveira48 assim discorre sobre o assunto:

    [...] o grande mrito da Lei n 8.630 foi estabelecer ampla e definitivamente o esprito de competio no sistema porturio, (...) comeam os portos e terminais privados a disputar cargas, inclusive de outros Estados, sempre sob o irretorquvel argumento de oferecer preos mais baixos e maior agilidade nas operaes de embarque.

    So inmeros aspectos abordados na Lei n. 8.630/93, mas no h inteno em esgot-los.

    47 OLIVEIRA, Carlos Tavares de. Modernizao dos portos. 2. ed. So Paulo: Aduaneiras, 1996, p. 59.

    48 OLIVEIRA, Carlos Tavares de. Modernizao dos portos, p. 58.

  • 35

    CAPTULO 2

    RELAES PORTURIAS

    2.1 PORTO ORGANIZADO E INSTALAES PORTURIAS

    No captulo anterior ficou claro que a legislao moderna que disciplina a matria trabalho porturio avulso Lei n. 8.630/93 e a partir desse momento verificam-se as principais caractersticas das relaes porturias disciplinadas por essa legislao.

    2.1.1 Porto Organizado

    O porto um local pblico, onde se possibilita s embarcaes a carga e descarga de mercadorias e pessoas. Deve-se fazer distino entre porto organizado e porto no organizado, esse ltimo considerado pequeno e no possui uma administrao. Ao contrrio dos portos organizados que possuem uma grande estrutura49.

    luz da Lei n. 8.630/93 porto organizado identificado como o constitudo e aparelhado para atender as necessidades da navegao, da movimentao e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela Unio, cujo trfico e operaes porturias estejam sob a jurisdio de uma autoridade porturia50.

    Castro Jr.51, lembra que a legislao brasileira a nica no mundo onde h a denominao de portos organizados, e explica:

    Talvez essa denominao tenha o sentido de empenhar esforos para tornar nossos portos realmente organizados, ou seja, com ajustes progressivos no mtodo e nas tecnologias de trabalho

    49 Manual do Trabalho Porturio e Ementrio, p. 14.

    50 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 1, 1, inciso I.

    51 CASTR JR. Osvaldo Agripino de (Org.). Temas atuais de direito do comrcio internacional, p. 177.

  • 36

    adequadas ao processo de modernizao. Porto organizado , assim um conceito essencialmente funcional. um conjunto de atributos e instalaes onde se realiza o trfego e as operaes porturias.

    Assim, os portos que no se enquadram nessa situao so considerados no organizados e no so regulados por esse regulamento. Os portos no organizados so geralmente pequenos e pouco movimentados, sem administrao, resumindo-se, na maioria das vezes, a um pequeno cais para recebimento de mercadorias52.

    Santos Neto e Ventilari53 conceituam porto organizado como:

    Aquele constitudo e aparelhado para atender s necessidades da navegao e da movimentao e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela Unio, cujo trfego e operaes porturias estejam sob a jurisdio de uma autoridade porturia.

    A Legislao porturia considera-se rea do porto organizado:

    [...] a compreendida pelas instalaes porturias, quais sejam, ancoradouros, docas, cais, pontes e piers de atrao e acostagem, terrenos, armazns, edificaes e vias de circulao interna, bem como pelas infra-estruturas de proteo e acesso aquavirio ao porto tais como guias-correntes, quebra-mares , eclusas, canais, bacias de evoluo e reas de fundeio que devam ser mantidas pela Administrao do Porto54.

    Alfredini55 classifica ainda os portos quanto sua utilizao, ou seja, quanto carga movimentada e o tipo de equipamento utilizado para moviment-la:

    Aos portos comerciais que movimentam carga geral, isto acondicionada em qualquer tipo de invlucro (sacaria, fardos, barris, caixas, bobinas, etc.) em pequenas quantidades. E os portos especializados: os portos ou terminais especializados movimenta, predominantemente determinados tipos de cargas,

    52 Manual do Trabalho Porturio e Ementrio, p. 14.

    53 SANTOS NETO, Arnaldo Bastos; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 67.

    54 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 1, 1, inciso IV.

    55 ALFREDINI. Paolo. Obras e gesto de portos e costas, p. 285.

  • 37

    podendo ser de exportao ou internao de carga, como: granis slidos ou lquidos (cargas sem embalagens,como os minrios), containers, pesqueiro, de lazer (marinas e bases navias) etc.

    A atividade nos portos est intimamente ligada com ao trabalho avulso, assim como seu surgimento atuando nas atividades de carga e descargas dos navios.

    2.1.2 Modalidades de instalaes porturias e explorao porturia

    O art. 1 da Lei n. 8.630/93 esclarece que cabe U nio explorar, diretamente ou mediante concesso, o porto organizado. A Unio Federal tem a titularidade de explorao direta do porto organizado de forma direta ou, conforme dispe a legislao, atravs de terceiros mediante concesso com prvia licitao.

    Como lembra Castro Jr., a referida concesso no significa a substituio do Estado na funo administrao porturia, pois a administrao estar sob a superviso normativa do Estado56.

    Assim, as modalidades de explorao das instalaes porturias so duas, a de uso pblico e as de uso privado. As instalaes de uso pblico ficam localizadas dentro da rea do porto organizado, e as de uso privativo podem localizar-se dentro ou fora do porto organizado. Nas duas modalidades utilizada a movimentao de passageiros ou a movimentao ou armazenagem de mercadorias, destinados ou provenientes de transporte aquavirio57.

    A concesso do porto organizado ser sempre precedida de licitao realizada de acordo com a lei que regulamenta o regime de concesso e permisso de servios pblicos58.

    56 CASTRO JR. Osvaldo Agripino de (Org). Temas atuais de direito do comrcio internacional, p. 177.

    57 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 1, 1, inciso V.

    58 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 1, 2.

  • 38

    Assim, a explorao de instalao porturia de uso pblico fica restrita rea do porto organizado59.

    2.1.3 Terminais Privativos (instalaes porturias de uso privativo)

    A explorao da instalao porturia, nos termos da explanao anterior far-se- sob a modalidade de uso pblico e uso privado, este ltimo exclusivo para movimentao de carga prpria, para movimentao de carga prpria e de terceiros (misto), para movimentao de passageiros (turismo) e Estao de Transbordo de Cargas60 .

    Nesses termos, os terminais privativos dentro da rea do porto organizado podem ser para movimentao de cargas de uso prprio ou misto. Nesse ltimo caso os terminais privativos movimentam cargas prprias ou de terceiros. J os terminais privativos fora da rea do porto organizado, obviamente, sero para movimentao de cargas prprias operando como uma empresa qualquer.

    Assim, fica assegurado ao interessado o direito de construir, reformar, ampliar, melhorar, arrendar e explorar instalao porturia, dependendo de um contrato e autorizao prvio de arrendamento e autorizao do ministrio competente, precedidas de consultas autoridade aduaneiras e ao poder pblico municipal e de aprovao do Relatrio de Impacto Ambiental sobre o Meio Ambiente (RIMA)61.

    Santos Neto e Ventilari lembram que os terminais privativos j existiam desde 1934, regulamentados pelo Decreto-Lei 6.840/4462.

    59 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 4, 3.

    60 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 4, 2.

    61 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 4 e incisos.

    62 SANTOS NETO, Arnaldo Bastos; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 73.

  • 39

    Sobre as instalaes porturias privativas explorarem cargas de terceiros (classificados como terminais privativos mistos) os comentrios a seguir:

    A instalao porturia privativa pode ser de uso exclusivo, para movimentao somente de carga prpria, ou de uso misto, para movimentao de carga prpria e de terceiros. Pode-se dizer que essa uma das inovaes da Lei n 8.630/93, havendo a tendncia, a partir das privatizaes, de que muitas reas do porto organizado se tornem terminais privativos63.

    Santos Neto e Ventilari64 discorrem sobre a permisso a explorao de cargas de terceiros nos terminais privativos:

    Com a permisso de as instalaes porturias privativas explorarem cargas de terceiros houve um aumento considervel das atividades dessas. Antes obrigadas a transportar somente mercadorias prprias agora podem prestar servios a qualquer interessado. Como operam com mo-de-obra prpria no precisam recorrer ao OGMO em busca de trabalhadores avulsos, o que barateia os seus custos.

    Nos terminais privativos misto, a contratao da mo-de-obra porturia avulsa no regulada pelo rgo gestor de mo-de-obra nas atividades onde sero dispensadas a inteno de operadores porturias, previstas no artigo 8, pargrafo 1 da Lei n. 8.630/93. Pode ndo, portanto, ocorrer a contratao de trabalhador por prazo indeterminado, e como dispe o artigo 8, pargrafo 2 da Lei n 8.630/93, caso o interessado entenda necessrio a utilizao de mo-de-obra complementar para execuo das operaes referidas no artigo 8, pargrafo 1 da Lei indicada, deve re quisitar mo-de-obra ao rgo gestor de mo-de-obra.

    Portanto, o porto organizado de exclusividade da Unio Federal, cabendo aos terminais privativos apenas a efetiva explorao do porto sob um contrato de arrendamento ou concesso.

    63 Manual do Trabalho Porturio e Ementrio, p. 15.

    64 SANTOS NETO, Arnaldo Bastos; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 74.

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    2.2 OPERAES PORTURIAS

    Considerando os conceitos do item anterior passamos a analisar como ocorrem as operaes porturias nos terminais privativos dentro do porto organizado e fora do porto organizao.

    Pinto e Fleury65 identificam que houve uma efetiva privatizao de terminais aps a vigncia da Lei n. 8.630/93 e explica:

    Em localidades que dispunham de um porto exclusivamente pblico, foram licitados terminais privativos na rea do porto organizado, que passaram a coabitar com operadores que continuam a utilizar as instalaes pertencentes ao Poder Pblico (que ainda subsistem).

    Portanto, existem duas modalidades de terminais privativos, os que operam fora da rea do porto organizado e os que operam dentro da rea do porto organizado.

    Pinto e Fleury66 apresentam trs situaes em que h operao porturia com terminal privativo:

    1) terminal privativo situado fora da rea do porto organizado, que comeou a operar em prazo posterior vigncia da Lei n 8.630/93. Este terminal est autorizado a contratar livremente sua mo-de-obra, mas se desejar contratar trabalho avulso, ter que dirigir-se ao OGMO;

    2) Terminal privativo situado fora da rea do porto organizado, que no perodo anterior vigncia da Lei n 8.630/93 contratava mo-de-obra avulsa. Este terminal est obrigado a manter a proporo entre mo-de-obra avulsa e os trabalhadores contratados pala CLT;

    3) Instalao porturia arrendada dentro da rea do porto organizado. A este terminal se aplica, na integralidade, o sistema de

    65 PINTO, Cristiano Paixo Arajo; FLEURY, Ronaldo Curado. A modernizao dos portos e as relaes de trabalho no Brasil, p. 38.

    66 PINTO, Cristiano Paixo Arajo; FLEURY, Ronaldo Curado. A modernizao dos portos e as relaes de trabalho no Brasil, p. 39.

  • 41

    administrao de mo-de-obra estipulado pela Lei n 8.630/93 e legislao posterior.

    2.3 TERMINOLOGIAS OPERACIONAIS

    Considerando que a Lei n. 8.630/93 auto-explicativa e apresenta conceitos para as principais categorias do direito porturio, passa-se a identific-los.

    Porto Organizado: o construdo e aparelhado para atender s necessidades da navegao, da movimentao de passageiros ou da movimentao e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela Unio, cujo trfego e operaes porturias estejam sob a jurisdio de uma autoridade porturia67;

    Operao Porturia: a de movimentao de passageiros ou a de movimentao ou armazenagem de mercadorias, destinados ou provenientes de transporte aquavirio, realizada no porto organizado por operadores porturios68;

    Operador porturio: a pessoa jurdica pr-qualificada para a execuo de operao porturia na rea do porto organizado69;

    rea do porto organizado: a compreendida pelas instalaes porturias, quais sejam, ancoradouros, docas, cais, pontes e piers de atracao e acostagem, terrenos, armazns, edificaes e vias de circulao interna, bem como pela infra-estrutura de proteo e acesso aquavirio ao porto tais como guias-correntes, quebra-mares, eclusas, canais, bacias de evoluo e reas de fundeio que devam ser mantidas pela Administrao do Porto, referida na Seo II do Captulo VI desta lei70.

    Instalao porturia de uso privativo: a explorada por pessoa jurdica de direito pblico ou privado, dentro ou fora da rea do porto, utilizada na movimentao de

    67BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inciso I, 1, artigo 1. 68

    BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inciso II, 1, artigo 1. 69

    BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inciso III, 1, artigo 1. 70

    BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inciso IV, 1, artigo 1.

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    passageiros ou na movimentao ou armazenagem de mercadorias, destinados ou provenientes de transporte aquavirio71.

    Instalao Porturia Pblica de Pequeno Porte: a destinada s operaes porturias de movimentao de passageiros, de mercadorias ou ambas, destinados ou provenientes do transporte de navegao interior72.

    2.4 OPERADOR PORTURIO

    A Lei n 8.630/93 abriu espao para o setor privado atuar no servio porturio, atravs de arrendamento. O operador porturio pessoa jurdica encarregada de executar as operaes porturias, antes executadas pelas entidades estivadoras.

    O art. 1, pargrafo 1, inciso III da referida Lei assim dispe: o operador porturio entende-se sendo a pessoa jurdica pr-qualificada para a execuo de operao porturia na rea do porto organizado.

    Operao porturia pode ser defino como:

    Operao porturia a movimentao de mercadorias dentro do porto organizado, realizada por operadores porturios. um conceito mais afeto Administrao Porturia, tendo em vista a necessidade de pr-qualificao dos operadores porturios. Assim, toda movimentao enquadrada como operao porturia somente poder ser realizada por operador porturio pr-qualificado73.

    O art. 15 da Lei n 8.630/93, explica o que se entende de movimentao de mercadorias, caracterizado como os servios de carga e descarga realizada a bordo da embarcao e que deve ser executado de acordo com a instruo de seu comandante ou seus prepostos, que sero responsveis pela arrumao ou retirada da carga no que se refere segurana da embarcao, quer no porto, quer em viagem.

    71 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inciso V, 1, artigo 1.

    72 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, inciso VII, 1, artigo 1.

    73 Manual do Trabalho Porturio e Ementrio, p. 19.

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    Como conclui Castro Jr.74 :

    Cabe ao operador porturio a realizao das operaes porturias, assim entendidas, como a execuo da movimentao e armazenagem de mercadorias destinadas ou provenientes de transporte aquavirio, o que se d tanto em terra como a bordo.

    De acordo com Santos Neto e Ventilari75: anteriormente Lei 8.630/93, a operao porturia era monopolizada pela Companhia das Docas que tambm tratava da administrao do porto.

    A atividade de operador porturio perante a administrao do Porto feito um a habilitao do operador porturio, na forma de normas aprovadas pelo Conselho de Autoridade Porturia (CAP) com exigncias claras e objetivas, obedecendo aos princpios da legalidade, moralidade e igualdade de oportunidades, como dispe o art. 9, 1, da Lei n 8.630/93. Porm, no 3 do art. 9 da referida lei, considera a Administrao do Porto pr-qualificada como operador porturia, ou seja, um operador porturio nato.

    A esse respeito Castro Jr.76 faz a seguinte observao: [...] atualmente, a administrao do porto deve exercer apenas a funo de Autoridade Porturia. E completa, dizendo que a opo de afastar a administrao do Porto da operao uma opo poltica e que nada impede que futuramente haja uma mudana.

    Stein77 identifica algumas exigncias para a pr-qualificao do operador porturio:

    a) Capacidade jurdica e situao Regular - deve estar regularmente registrado junto aos cadastros de pessoa jurdica e demais rgos administrativos; estar quites com as Fazendas Pblicas municipais, estaduais e

    74 CASTRO JR. Osvaldo Agripino de (Org.). Temas atuais de direito do comrcio internacional, p. 181.

    75 SANTOS NETO, Arnaldo Bastos; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O Trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 68.

    76 CASTRO JR. Osvaldo Agripino de (Org.). Temas atuais de direito do comrcio internacional, p. 181.

    77 STEIN, Alex Sandro. Curso de direito porturio: lei n. 8.630/93, p. 121.

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    federais, bem como com os recolhimentos relativos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Programa de Integrao Social (PIS) e Fundo de Garantia do Tempo de Servio (FGTS), estar quite com as instituies sindicais e patronais.

    b) Capacidade e idoneidade financeira Comprovao mediante de balanos financeiros (geralmente os ltimos trs) de estar saneada financeiramente; referncias bancrias dos titulares; no estar inscrito em nenhum cadastro restritivo de crdito.

    c) Capacidade tcnica Possuir sem seus quadros de funcionrios, pessoal habilitado tecnicamente para exercer as funes inerentes atividade porturia, inclusive segurana e higiene do trabalho, todos devidamente registrados em seus respectivos rgos representativos de classe.

    A lei prev a possibilidade de cooperativas de trabalhadores avulsos atuarem como operadores porturios (art.17 da Lei n 8.630/93) para explorao de instalaes porturias, dentro e fora dos limites da rea do porto organizado.

    Santos Neto e Ventilari78 enumeram os deveres dos operadores porturios, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.630/93:

    obedecer ao Regulamento do Porto e cumprir as normas e resolues baixadas pelo Conselho de Autoridade Porturia CAP;

    responder perante a Administrao do Porto e demais Operaes Porturias pelos danos causados infra-estrutura, s instalaes e aos equipamentos de que sejam titulares, ou que, sendo de propriedade de terceiros, se encontrem a seu servio ou sob sua guarda;

    responder perante o proprietrio ao consignatrio da mercadoria, pelas perdas e danos que ocorrem durante as operaes que realizar ou em decorrncia delas;

    78 SANTOS NETO, Arnaldo Bastos; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 71.

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    responder perante o armador pelas avarias provocadas na embarcao ou na mercadoria dada a transporte;

    responder perante o trabalhador porturio sob suas ordens pela remunerao dos servios prestados e respectivos encargos;

    responder perante o rgo local de Gesto de Mo-de-Obra pelas contribuies no recolhidas;

    responder perante os rgos competentes pelo recolhimento dos tributos incidentes sobre o trabalho porturio que realizar;

    responder perante a autoridade aduaneira pelas mercadorias sujeitas a controle aduaneiro, no perodo em que essas lhe estejam confiadas ou quando tenha controle ou uso exclusivo de rea do porto onde se acham depositadas ou devam transitar;

    ser titular e responsvel pela direo e coordenao das operaes porturias que efetuar, sendo que o servio de movimentao de carg a bordo da embarcao deve ser executado de acordo coma instruo de seu comandante ou de seus prepostos;

    executar as operaes porturias de sua responsabilidade de forma a atingir no mnimo, os ndices de produtividade operacional, considerados adequados ao bom funcionamento do porto;

    aprimorar permanentemente os servios prestados, com vistas aplicao de novas tcnicas de movimentao e manuseio de cargas, investindo em tecnologia que envolva instalaes, equipamentos e recursos humanos;

    fornecer todos os elementos necessrios para que a Administrao do Porto fiscalize o cumprimento de seus deveres e responsabilidades, como Operador Porturio;

    responder pela preservao do meio-ambiente, cumprindo rigorosamente toda a legislao relativa matria;

    cumprir todas as disposies legais e normativas referentes Medicina e Segurana do Trabalho. Bem como as normas tcnicas-operacionais ABTN, IMO, NR e outras pertinentes assumindo integral responsabilidade pelas penalidades decorrentes do no-atendimento a tais disposies;

    submeter-se, em carter irretratvel, s cominaes previstas no art. 38 da Lei 8.630/93 pelo descumprimento ou no-atendimento ou no-atendimento dos

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    deveres e responsabilidades ora assumidos bem como pelas infraes referidas no art. 37.

    Portanto, o operador porturio o titular e responsvel pela direo e coordenao das operaes porturias que efetuar79. importante registrar que trabalhadores porturios avulsos tambm podem se estabelecerem como operador porturio atravs de cooperativas, porm ficam restritos aos trabalhadores na qualidade de registrado80, matria do captulo 3.

    2.5 GESTO DE MO-DE-OBRA DE TRABALHO PORTURIO AVULSO

    O rgo Gestor de Mo-de-obra (OGMO) considerado a principal inovao da Lei n. 8.630/93, e tambm considerada uma das mais polmicas tambm, pelo fato de a partir de ento a administrao da mo-de-obra avulsa nos portos organizados no se concentrar mais nas Companhias Docas e nos sindicatos e sim no OGMO.

    Segundo Castro Jr.81 provocou um ntido enfraquecimento da representao sindical e explica:

    A partir do momento em que esse rgo passou a ser o responsvel pela administrao da mo-de-obra e pela elaborao das escalas de servio, significou, a princpio, o fim da representao legtima por parte do sindicato, sobre a mo-de-obra. Antes da lei, os sindicatos efetuavam ainda o pagamento de frias, 13 salrio e outras verbas aos trabalhadores porturios avulsos. A criao do OGMO tirou-lhes tambm essas prerrogativas, o que propiciou uma enorme resistncia por parte das diversas categorias de trabalhadores porturios avulsos, pois viam o OGMO como um rgo externo, tcnico e burocrtico, tentando substituir os sindicatos. Houve, assim, grandes conflitos e imensa resistncia, mas ao final, percebendo a inevitabilidade de tal mudana, tentaram aceitar e minimizar os provveis impactos negativos do mesmo.

    79 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 16.

    80 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 17.

    81 CASTRO JR. Osvaldo Agripino de (Org.). Temas atuais de direito do comrcio internacional, p. 183.

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    O gerenciamento da mo-de-obra avulsa passou para as mos do OGMO, situao totalmente diversa da qual predominava anteriormente.

    2.5.1 Composio do OGMO

    O rgo Gestor de mo-de-obra avulsa constitudo pelos operadores porturios82. O OGMO composto por um Conselho de Superviso e uma Diretoria Executiva, nas formas do art. 24 e seus pargrafos, da Lei n 8.630/93. As atribuies do conselho de superviso j foram descritos quando citado o art. 18 da referida lei. Quanto Diretoria Executiva, esta composta por um ou mais diretores, designados e destituveis, a qualquer tempo, pelo bloco dos prestadores de servios porturios, cujo prazo de gesto no ser superior a trs anos, permitida a redesignao.

    2.5.2 Finalidade do OGMO

    O OGMO um rgo com finalidade pblica e sim fins lucrativos83. De acordo com o que dispe o art. 18 e seus incisos as finalidades do OGMO so:

    I - administrar o fornecimento da mo-de-obra do trabalhador porturio e do trabalhador porturio-avulso;

    II - manter, com exclusividade, o cadastro do trabalhador porturio e o registro do trabalhador porturio avulso;

    III - promover o treinamento e a habilitao profissional do trabalhador porturio, inscrevendo-o no cadastro;

    IV - selecionar e registrar o trabalhador porturio avulso;

    V - estabelecer o nmero de vagas, a forma e a periodicidade para acesso ao registro do trabalhador porturio avulso;

    82 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 18, caput.

    83 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 25.

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    VI - expedir os documentos de identificao do trabalhador porturio;

    VII - arrecadar e repassar, aos respectivos beneficirios, os valores devidos pelos operadores porturios, relativos remunerao do trabalhador porturio avulso e aos correspondentes encargos fiscais, sociais e previdencirios.

    2.5.3 Competncia do OGMO

    O art. 19 dispe sobre as competncias do rgo de gesto de mo-de-obra do trabalho porturio avulso:

    I - aplicar, quando couber, normas disciplinares previstas em lei, contrato, conveno ou acordo coletivo de trabalho, no caso de transgresso disciplinar, as seguintes penalidades:

    a) repreenso verbal ou por escrito;

    b) suspenso do registro pelo perodo de dez a trinta dias;

    c) cancelamento do registro;

    II - promover a formao profissional e o treinamento multifuncional do trabalhador porturio, bem assim programas de realocao e de incentivo ao cancelamento do registro e de antecipao de aposentadoria;

    III - arrecadar e repassar, aos respectivos beneficirios, contribuies destinadas a incentivar o cancelamento do registro e a aposentadoria voluntria;

    IV - arrecadar as contribuies destinadas ao custeio do rgo;

    V - zelar pelas normas de sade, higiene e segurana no trabalho porturio avulso;

  • 49

    VI - submeter Administrao do Porto e ao respectivo Conselho de Autoridade Porturia propostas que visem melhoria da operao porturia e valorizao econmica do porto.

    Torna-se importante frisar que a Lei n. 8.630/93, em seu artigo 18, inciso III e no art, 19, II, responsabiliza o rgo Gestor de Mo-de-obra no treinamento e habilitao do trabalho porturio, e ainda promover a formao profissional e o treinamento multifuncional do trabalho porturio.

    Santos Neto e Ventilari84 analisam a situao de implantao dessas novas regras:

    Demonstrando a vitalidade da modernizao porturia em curso, apesar de todos os obstculos e partindo de uma estrutura precria ou at inexistente, um amplo programa de cursos comeam a ser oferecidos, principalmente atravs dos OGMOs dos principais porto, como o de Santos.

    Assim, verifica-se que a implementao do treinamento multifuncional de competncia do OGMO atravs de cursos. A capacitao do profissional porturio multifuncional uma das metas da nova legislao.

    2.6 ADMINISTRAO PORTURIA

    A administrao do porto organizado composta pelo Conselho de Autoridade Porturia (CAP) e pela Administrao do Porto Organizado propriamente dita, essa exercida diretamente pela Unio ou pela entidade concessionria do porto organizado.

    84 SANTOS NETO, Arnaldo Bastos; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 84.

  • 50

    2.6.1 CONSELHO DA AUTORIDADE PORTURIA

    Verifica-se que, entre outras, a novidade trazida pela Lei n 8.630/93 foi a criao do Conselho de Autoridade Porturia (CAP).

    Segundo o entendimento de Faria85 a implantao do CAP foi um dos aspectos positivos trazidos pela lei de Modernizao dos Portos:

    O sinal mais ntido de implantao de uma administrao mais participativa nos portos foi a criao dos Conselhos de Autoridade Porturia CAPs, atravs dos quais a sociedade representa efetivamente atua e influi na gesto dos portos organizados. Os CAPs tm uma composio ampla, deles participando o poder pblico, os usurios, os operadores e os trabalhadores dos portos. Tais conselhos, mais que rgos consultivos, tm poder de deciso, cabendo-lhes, pelo texto da Lei 8.630, importantes funes, tais como: homologao do horrio de funcionamento do porto, manifestao sobre os programas de investimentos, dentre outras.

    O CAP idealizado para ser um rgo colegiado, constitudo por quatro blocos distintos, composto por um representante do poder pblico, um representante do Governo Federal, Estado e Municpios, quatro representantes dos operadores porturio, quatro representantes dos trabalhadores e cinco representantes dos usurios dos servios porturio, sendo que um destes representa a administrao do porto (terminais retroporturios), que tero mandato de dois anos, podendo ser reconduzidos por igual ou iguais perodos86. Este colegiado delibera, mediante voto.

    possvel verificar a ntida maioria do setor privado no CAP, com dois blocos e sete membros no colegiado.

    Carlos Tavares de Oliveira87, na Revista Portos e Navios, em entrevista ao Prof. Juarez, discorre sobre essa maioria indicada acima:

    85 FARIA, Srgio Fraga Santos. Transporte aquavirio e a modernizao dos portos. So Paulo: Aduaneiras, 1998, p. 41.

    86 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 31, 2.

    87 OLIVERIA, Carlos Tavares. Privatizao incompleta. Portos e navios. Ed. 543. Rio de Janeiro: Quebra Mar Ltda. Abril. 2006, ano 48, p. 58.

  • 51

    Frustrando os formuladores da Lei, o setor privado no soube aproveitar essa clara vantagem legal para exercer ou monitorar a administrao dos portos. De modo geral, fraca a representao privada nos CAPs, encontrando-se em alguns portos, at donos de pequenas empresas, no usurios dos portos, como joalheira e fbrica de tijolos. Uma evidente falha da Lei, nas indicaes para bancada empresarial nos Conselhos faltam representantes das federaes estaduais da agricultura, do comrcio e da indstria, que, alm de bem estruturadas, de fato, renem a grande maioria dos usurios.

    As atribuies do CAP88 so as seguintes:

    I baixar o regulamento de explorao;

    II homologar o horrio de funcionamento do porto;

    III opinar sobre a proposta de oramento do porto;

    IV promover a racionalizao e a otimizao do uso das instalaes porturias;

    V fomentar a ao industrial e comercial do porto;

    VI zelar pelo cumprimento das normas de defesa da concorrncia;

    VII desenvolver mecanismos para atracao de cargas;

    VIII homologar os valores das tarifas porturias;

    IX manifestar-se sobre o s programas de obras, aquisies e melhoramentos da infra-estrutura porturia;

    X aprovar o plano de desenvolvimento e zoneamento do porto;

    XI promover estudos objetivando compatibilizar o plano de desenvolvimento do porto com os programas federais, estaduais e municipais de transporte em suas diversas modalidades;

    88 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 32, 1.

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    XII assegurar o cumprimento das normas de proteo ao meio ambiente;

    XIII estimular a competitividade;

    XIV indicar um membro da classe empresarial e outro da classe trabalhadora para compor o conselho de administrao ou rgo equivalente da concessionria do porto, se entidade sob controle estatal;

    XV baixar seu regimento interno;

    XVI pronunciar-se sobre outros assuntos de interesse do porto.

    A Lei n 8.630/93 atribuiu ao CAP, assim com ao OGMO, a responsabilidade de treinar mo-de-obra porturia avulsa. No artigo 32 da referida lei, assim transcrito:

    Os Conselhos de Autoridade Porturia (CAPs) instituiro Centros de Treinamento Profissional destinados formao e aperfeioamento de pessoal para o desempenho de cargos e o exerccio de funes e ocupaes peculiares s operaes porturias e suas atividades correlatas.

    2.6.2 ADMINISTRAO DO PORTO ORGANIZADO

    Ao contrrio do CAP, a Administrao do Porto exercida diretamente pela Unio ou pela entidade concessionria do porto organizado89.

    Administrao do Porto compete as seguintes atribuies, dentro dos limites da rea do porto, conforme dispes o 1 do artigo 33 da Lei n. 8.630/93:

    I - baixar o regulamento de explorao;

    II - homologar o horrio de funcionamento do porto;

    89 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 33.

  • 53

    III - opinar sobre a proposta de oramento do porto;

    IV - promover a racionalizao e a otimizao do uso das instalaes porturias;

    V - fomentar a ao industrial e comercial do porto;

    VI - zelar pelo cumprimento das normas de defesa da concorrncia;

    VII - desenvolver mecanismos para atrao de cargas;

    VIII - homologar os valores das tarifas porturias;

    IX - manifestar-se sobre os programas de obras, aquisies e melhoramentos da infra-estrutura porturia;

    X - aprovar o plano de desenvolvimento e zoneamento do porto;

    XI - promover estudos objetivando compatibilizar o plano de desenvolvimento do porto com os programas federais, estaduais e municipais de transporte em suas diversas modalidades;

    XII - assegurar o cumprimento das normas de proteo ao meio ambiente;

    XIII - estimular a competitividade;

    XIV - indicar um membro da classe empresarial e outro da classe trabalhadora para compor o conselho de administrao ou rgo equivalente da concessionria do porto, se entidade sob controle estatal;

    XV - baixar seu regimento interno;

    XVI - pronunciar-se sobre outros assuntos de interesse do porto.

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    Administrao do Porto facultado o arrendamento, por meio de licitao, de terrenos e instalaes porturias localizadas dentro da rea do porto, com prvia consulta a administrao aduaneira90.

    90 BRASIL. Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 34.

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    CAPTULO 3

    TRABALHO PORTURIO AVULSO

    Aps entendimento do ambiente porturio, passa-se a abordar diretamente a figura inserida nesse ambiente e que se torna um dos protagonistas da atividade porturia, o trabalhador porturio avulso. Passa-se a verificar o trabalhador avulso frente s mudanas ocorridas com o advento da Lei n. 8.630/93. Este captulo acha-se dividido em seis sees.

    3.1 TRABALHO AVULSO

    Para o melhor entendimento do trabalho avulso nos portos brasileiros, importante e necessrio buscar conceituar trabalhador avulso.

    A definio de trabalhador avulso foi durante muito tempo discutido devido a sua especificidade.

    Segundo Martins91 assim define trabalhador avulso:

    Trabalhador avulso , assim, a pessoa fsica que presta servio sem vnculo empregatcio, de natureza urbana ou rural, a diversas pessoas, sendo sindicalizado ou no, com intermediao obrigatria do sindicato da categoria profissional ou do rgo gestor de mo-de-obra.

    Assim, a prestao de uma atividade por um trabalhador avulso intermediada por um sindicato ou, no caso dos avulsos porturios, o rgo gestor de mo-de-obra. No havendo, dessa forma, uma contratao direta entre o trabalhador avulso e o seu empregador.

    Como salienta Santos Neto e Ventilari92:

    91 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, p. 159.

    92 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 33.

  • 56

    [...] os trabalhadores avulsos no possuem a mesma qualificao jurdica, em face da descontinuidade do trabalho prestado perante vrias empresas. Como um caracterstica do avulso, este no estabelece uma relao continua de emprego com um nico empregador.

    Martins93 identifica como caractersticas do avulso:

    a liberdade na prestao de servios, pois no tem vnculo nem com o sindicato, muito menos com as empresas tomadoras de servio;

    h a possibilidade da prestao de servios a mais de uma empresa, como na prtica ocorre;

    o sindicato ou o rgo gestor de mo-de-obra fazem a intermediao da mo de obra, colocando os trabalhadores onde necessrios o servio, cobrando posteriormente um valor pelos servios prestados, j incluindo os direitos trabalhistas e os encargos previdencirios e fiscais, e fazendo o rateio entre as pessoas que participaram da prestao de servios;

    o curto perodo em que o servio prestado ao beneficirio.

    Como sustenta Villhena, [...] o trabalho avulso inerente atividade daquela a quem ele o presta e est inserido nas suas prprias finalidades econmicas e operacionais [...]94. Dessa forma, verifica-se que o trabalho porturio avulso inerente da atividade porturia.

    Sssekind95 faz a devida distino entre trabalhador avulso, empregado e autnomo:

    [...] a relao de trabalho no contnua, dependendo da sua designao pelo sindicato do qual a mo-de-obra requisitado, ou, quando for o caso, do rgo gestor de mo-de-obra porturia, onde a referida associao representa a correspondente categoria; mas tambm se diferencia do trabalhador autnomo, porque no assume, como este, os riscos da atividade empreendida.

    93 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho, p. 160.

    94 VILHENA, Paulo Emlia Ribeiro de. Relao de emprego: estrutura legal e supostos, p. 385.

    95 SSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 111.

  • 57

    No sentido de que a igualdade zelada pelo Constituio Federal no absoluta Vilhena96 sustenta:

    A fora isonmica do art. 7, inciso XXXIV, da Constituio Federal, em linha de absoluta fidelidade, esbarra na versatilidade temporalmente contingente e na peculiaridade do servio prestado pelo trabalhador avulso, que no permite se interpolem indistintamente na sua relao direitos naturalmente afetos s categorias dos demais trabalhadores em geral.

    Santos Neto & Ventilari ensinam que o trabalhador avulso surgiu historicamente nos portos, onde a organizao sindical se fez presente de forma acentuada [...]97.

    Barros98 lembra que em 1937 o Decreto n. 1.577 (lei previdenciria) fez a primeira referncia a trabalhadores avulsos, onde os scios dos sindicatos eram recrutados para prestarem servios de natureza temporria em trapiches e armazns. Posteriormente, a Lei n 3.807 de 1960 identificou o trabalhador avulso como aquele que presta servios a diversas empresas, agrupados ou no em sindicatos. Foi a Lei que instituiu o Plano de Custeio de Benefcios da Previdncia Social (Lei n 8.212/1991) que definiu o trabalhador avulso como quem presta, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, servios de natureza urbana ou rural.

    Verifica-se, assim, que a figura jurdica de trabalhador avulso, nasceu no trabalho de estiva nos trapiches, hodiernamente utilizada em outras atividades.

    A Lei da Previdncia Social99 definiu o trabalhador avulso como aquele que, sindicalizado ou no, presta servio de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, com a intermediao

    96 VILHENA, Paulo Emlia Ribeiro de. Relao de emprego: estrutura legal e supostos, p. 387

    97 SANTOS NETO, Arnaldo Basto; VENTILARI, Paulo Srgio Xavier. O trabalho porturio e a modernizao dos portos, p. 32.

    98 BARROS, Alice Monteiro de. Contratos e regulamentaes especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendncias. 2. ed. So Paulo: LTr, 2002, p. 437.

    99 BRASIL. Decreto Lei 3.048/99, de 6 de maio 1999. Aprova o regulamento da Previdncia social e d outras providncias. LEX: Legislao Federal, artigo 9, inciso VI.

  • 58

    obrigatria do rgo gestor de mo-de-obra, ou do sindicato da categoria. O artigo considerou, assim, o trabalhador que exerce atividade porturia de capatazia, estiva, conferncia e conserto de carga, vigilncia de embarcao e bloco; o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvo e minri