manutenÇÃo produtiva total (tpm): consideraÇÕes...
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MANUTENÇÃO PRODUTIVA TOTAL
(TPM): CONSIDERAÇÕES SOBRE
CASOS DE SUCESSO
Andre Alves de Resende (UFG )
Lucas Ponsoni Dias (UFG )
Este trabalho tem como objetivo dar ao leitor uma visão geral sobre os
conceitos de diversos tipos de manutenção (corretiva, preventiva e
preditiva), focando principalmente na metodologia de manutenção
produtiva total (TPM), sua evolução, benefícios e dificuldades de
implantação. Os principais dados do presente artigo foram obtidos
através de pesquisa em artigos e documentos sobre a implantação da
metodologia TPM, nas empresas Simoldes Plásticos, Bosch
Termotecnologia e usina hidrelétrica de Curuá-Una. Em todos os
casos estudados, os oito Pilares e os doze passos propostos pela
metodologia, que serão apresentados no decorrer do artigo, foram
aplicados. Os resultados após a implantação da metodologia são
obtidos a partir da análise dos indicadores de eficiência desenvolvidos
por cada umas das empresas estudadas.
Palavras-chaves: TPM, manutenção, eficiência, confiabilidade.
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1. INTRODUÇÃO
No período compreendido entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 60, devido
às pressões do mercado por produtos mais competitivos, houve uma modificação do processo
produtivo resultando na mecanização dos equipamentos e na instalação de áreas industriais
(NOGUEIRA et al., 2012). Estes equipamentos por sua vez, em algum momento, por falha de
projeto, de operação ou de material deixavam de produzir aos níveis que foram projetados,
necessitando então de intervenções para realizar a manutenção e restabelecer a forma inicial
do equipamento.
Apesar da importância e necessidade da manutenção para o bom funcionamento dos
equipamentos responsáveis pelos processos produtivos, por muito tempo, ela foi
negligenciada. A manutenção sempre esteve relacionada a grandes custos e alvo de reduções
fortes em tempos de crise. Com o decorrer dos anos, as empresas começam a enxergar a
manutenção como uma oportunidade de melhorar e manter os processos produtivos em níveis
elevados, sendo que os investimentos neste setor são responsáveis por evitar perdas de
produção e de equipamentos.
Verificou-se a necessidade de ferramentas que auxiliem no gerenciamento da
produção a fim de suprir as necessidades dos clientes sem perder o nível de qualidade. Para
Nakajima (1989), uma das ferramentas que se destacam nesses quesitos é a Manutenção
Produtiva Total (TPM - Total Productive Maintenance) esta tem como objetivo melhorar a
eficácia e a longevidade das máquinas.
Com o objetivo de avaliar os princípios de gestão e implementação da TPM no setor
produtivo, este artigo apresenta as bases de sustentação deste sistema de manutenção, bem
como as suas etapas de implementação e consolidação. Posteriormente, são apresentados três
casos de sucesso onde o processo TPM foi implantado, juntamente com as dificuldades na
implantação e os resultados obtidos.
2. TPM
A TPM pode ser definida como um modelo de gestão que busca a melhoria contínua
do sistema produtivo através da eliminação de perdas, redução de paradas de produção e do
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desenvolvimento do homem e sua relação com o equipamento. Segundo Kardec e Nascif
(2002) a origem da TPM pode ser datada em meados de 1951, quando a Manutenção
Preventiva, originalmente concebida nos EUA, foi introduzida no Japão na empresa Nippon
Denso KK, integrante do Grupo Toyota. Até então, a indústria japonesa trabalhava apenas
com o conceito de manutenção corretiva, após a falha da máquina ou equipamento. Isso
representava custos e obstáculos para a melhoria de qualidade da produção da empresa.
Após este período, essa metodologia tem sido aplicada em todo o mundo e em
diversos segmentos da indústria. O Brasil, especificamente, também tem demonstrado grande
interesse pela utilização da metodologia. Este interesse nacional é observado desde 1986,
quando o Prof. Seiichi Nakajima visitou São Paulo pela primeira vez para a realização de
palestras e, também, pela candidatura de algumas empresas brasileiras ao prêmio TPM
Awards do JIPM (Japan Institute of Plant Maintenance) ao longo da década de 90
(CARRIJO; LIMA, 2008).
2.1 Conceitos e características da TPM
A TPM normalmente é implementada em quatro fases (Preparação, Introdução,
Implantação e Consolidação) (SUZUKI, 1994). Estas fases por sua vez, podem ser divididas
em doze passos que delimitam os procedimentos a serem executados pela empresa no
processo de implantação, conforme descrito na sequência:
1ª Fase - Preparação (passos 1-5): De acordo com Suzuki (1994), está fase se inicia
com a decisão da diretoria de realizar a implantação da TPM e é finalizada quando o plano
mestre de desenvolvimento que, para o autor, é formulado e executado de acordo com os
cinco passos que seguem:
Passo 1 - A alta direção da empresa declara a decisão da implantação da TPM;
Passo 2 - Iniciam-se as atividades de educação, treinamento e divulgação;
Passo 3 - Etapa de organização e promoção da TPM;
Passo 4 - Estabelecimento dos objetivos e diretrizes;
Passo 5 - Elaboração do plano-mestre de desenvolvimento.
2ª Fase - Introdução (passo 6): A fase de introdução é o sexto passo do processo - o
lançamento do projeto. Esta fase serve para a promoção da metodologia, é o momento em que
a alta administração apresentará a decisão da implantação, os objetivos da mesma, metas e
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planos de implementação que foram definidos durante a fase de preparação (TENÓRIO;
PALMEIRA, 2002).
3ª Fase - Implantação (passos 7 à 11): Nesta etapa inicia-se a efetiva
implementação da TPM no setor produtivo, que é baseada em oito pilares de sustentação
conforme ilustrado na Figura 1.
Figura 1 – Os 8 Pilares da TPM (Ribeiro, 2010)
De acordo com Suzuki (1994), as empresas devem selecionar e por em prática
atividades de pilares que busquem eficiente e eficazmente os objetivos estratégicos da TPM,
ainda que diferentes empresas possam selecionar pilares distintos. No entanto, os pilares mais
comumente selecionados estão descritos a seguir:
Passo 7 (Implantação dos Pilares Produtivos) - A sétima etapa do processo de
implantação corresponde ao início das atividades com o objetivo de melhorar os indicadores
do setor produtivo/manutenção. Segundo Nakajima (1989), no sétimo passo tem-se a
implantação dos quatro primeiros pilares de sustentação da TPM: Melhoria Específica,
Manutenção Autônoma, Manutenção Planejada e Treinamento. Os passos buscam como
resultado a melhoria da produtividade, com redução de custos e melhoria da qualidade.
Passo 7.1 (Pilar "Melhoria Específica") - Para Suzuki (1994), as melhorias
específicas, também chamadas de melhorias focadas, são um tipo de atividade realizada por
equipes de projeto compostas por colaboradores tais como multifuncionais (operário líder de
uma das equipes de produção), equipe de manutenção e operadores.
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Passo 7.2 (Pilar "Manutenção Autônoma") - A manutenção autônoma é o conjunto
de ações e medidas tomadas pelos operadores no sentido de acompanhar e maximizar a vida
dos equipamentos que operam através da conscientização de sua importância no processo de
manutenção do mesmo (SALTORATO; CINTRA, 1999). A ideia desse tipo de manutenção é
permitir que os próprios operadores realizem algumas tarefas consideradas mais simples de
manutenção (lubrificação, apertos de parafusos, limpeza, etc.).
Passo 7.3 (Pilar "Manutenção Planejada") - Segundo Suzuki (1994), a manutenção
planejada aborda três formas de manutenção: pós-quebra, preventiva e preditiva. A finalidade
de realizar a manutenção preventiva e preditiva é eliminar as quebras. Porém, mesmo quando
se realizam essas manutenções ainda há ocorrência de quebras inesperadas. Tais quebras
revelam erros nos planos de manutenção e mostram que existem medidas ineficazes de
prevenção das mesmas.
Passo 7.4 (Pilar Treinamento) - Este pilar tem o intuito de auxiliar na ampliação do
conhecimento técnico e nesta mudança em relação ao comportamento, através do aprendizado
de modo simples sem complexidade (TENÓRIO; PALMEIRA, 2002).
Passo 8 (Pilar "Gestão Antecipada") - De acordo Tenório e Palmeira (2002), a gestão
antecipada pode ser considerada como um sistema de controle para novos produtos,
equipamentos e empreendimentos. Esta tem como finalidade a eliminação de problemas nos
novos equipamentos e instalações, desde a especificação até a sua entrada em operação,
aumentando assim a eficiência nos novos empreendimentos, reduzindo prazos e lidando com
o mínimo de problemas.
Passo 9 (Pilar "Manutenção da Qualidade") - A manutenção da qualidade tem como
objetivo garantir a fabricação de produtos com qualidade e prevenir os defeitos através dos
processos e equipamentos. As características de qualidade estão influenciadas principalmente
pelos quatro incentivos de produção: equipamentos, materiais, ações das pessoas (habilidades)
e métodos. Considera-se então que, se os equipamentos ou instalações estiverem em
condições de produzir com a máxima qualidade, consequentemente os produtos acabados
terão a conformidade esperada, a qualidade desejada (SUZUKI, 1994).
Passo 10 (Pilar "TPM nos departamentos administrativos e de apoio") - Segundo
Suzuki (1994), os departamentos administrativos e de apoio tem papel importante, como
suporte a produção. As atividades de TPM realizadas por esses departamentos não devem
somente apoiar o TPM da planta, estes devem também reforçar suas próprias funções
melhorando sua organização e cultura.
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Passo 11 (Pilar "Segurança, saúde e meio ambiente") - O passo segurança, saúde e
meio ambiente é um requisito muito importante considerado pela TPM, pois busca eliminar os
acidentes promovendo a segurança dos operadores. Os estudos de operacionalidade
combinados com os treinamentos para prevenir acidentes e as análises de falhas são meios
eficazes para tratar estes assuntos (SUZUKI, 1994). Tenório e Palmeira (2002)
complementam que também é importante o desenvolvimento de atividades de preservação
ambiental, identificando os impactos causados ao meio ambiente e, através de palestras,
eventos ou outros meios, conscientizar os empregados da comunidade, demonstrando os
resultados obtidos e as prevenções realizadas
4ª Fase - Consolidação (passo 12): A consolidação é a fase em que ocorre a
execução plena das atividades planejadas. Esta fase tem como principal objetivo manter os
níveis e resultados que foram obtidos pela organização, manter os processos sistematizados e
incentivar a continuidade das atividades dos pequenos grupos. A alta administração deve
buscar, sempre, a melhoria continua por meio de objetivos e metas mais elevados (TENÓRIO;
PALMEIRA, 2002).
3. APRESENTAÇÃO DOS CASOS AVALIADOS
Com o intuito de exemplificar o uso da TPM no Brasil e em outros países,
comprovando sua eficiência. Serão abordados estudos de casos recentes de empresas de
diversos segmentos, tais como manufatura de peças automobilísticas, termotecnologia e
hidrelétrica.
O primeiro caso é a aplicação da metodologia TPM na empresa Simoldes Plásticos,
parte do grupo Simoldes SA.
O Grupo Simoldes é constituído pela divisão de Aços e pela divisão de Plásticos, no
total de quinze fábricas, uma na Polônia, uma na França, três no Brasil e dez em Portugal.
Fundada em 1981 e sediada na zona industrial de Oliveira de Azeméis, a Simoldes Plásticos
se dedica exclusivamente à produção de peças para a indústria de automóvel (seu portfólio de
clientes inclui a Renault, Volkswagen, Peugeot, Toyota, Opel, entre outros) e conta com cerca
de 500 colaboradores (CARVALHO, 2012).
O segundo caso utilizado será a implementação da TPM na empresa Bosch
Termotecnologia SA, parte do grupo Bosch.
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Fundada em 1977 e sediada na cidade de Aveiro em Portugal, fabrica produtos com
tecnologia de aquecimento de águas, caldeiras, termo acumuladores, sistemas solares e
aquecimento. Atualmente conta com aproximadamente 1000 colaboradores (RAMOS, 2010).
O terceiro caso aborda a implantação da TPM na usina hidrelétrica de Curuá-Una,
uma das usinas do grupo Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – Eletronorte (empresa
estatal).
Em 2006, a usina de Curuá-Una foi incorporada ao grupo Eletronorte e atualmente
atende cerca de 76% do abastecimento energético da população da cidade de Santarém/PA
(280 mil habitantes) nos dias úteis e 100% nos finais de semana (SENA, 2012).
3.1 Cenário inicial das empresas e objetivos gerais
As empresas citadas anteriormente possuem um amplo reconhecimento no mercado
atuante e também já utilizam diversos métodos de melhoria continua para manter a qualidade
de seus serviços. Os principais motivos que levaram a adoção da TPM e as expectativas de
cada empresa serão apresentados a seguir.
A Simoldes Plásticos visando um posicionamento de vanguarda e apostando no
desenvolvimento tecnológico de seus produtos e processos, sentiu necessidade de adotar
novas técnicas de gestão. O diretor de fábrica da Simoldes Plásticos demonstrou interesse em
aplicar técnicas de gestão as quais tornam a organização mais competitiva.
Antes da implementação da TPM, realizou-se o monitoramento do desempenho dos
equipamentos para avaliação e previsão dos resultados que seriam obtidos após a aplicação da
metodologia. Esta avaliação foi baseada em um conjunto de medidas quantitativas para
avaliar o desempenho e eficiência dos equipamentos.
O indicador de eficiência usado pela Simoldes Plásticos foi a “disponibilidade dos
equipamentos”, que o autor Carvalho (2012) descreve como Rendimento de Utilização (RU),
que corresponde ao tempo em que o equipamento está efetivamente disponível para produzir.
O enfoque do trabalho desenvolvido foi à melhoria do fator RU que, até então, registrava o
pior valor 89,55% de disponibilidade. Com o objetivo de medir o impacto da TPM criou-se
um indicador específico, o RUtpm. Este indicador tem como foco as paradas de equipamento
em que a TPM pode influenciar diretamente.
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Em conjunto com os operadores problemas foram identificados na “Nave 5”, o maior
galpão de produção, onde estão instaladas 21 maquinas de injeção de plástico. Esta é a nave
onde se produzem as peças com maiores dimensões (ex. cavas da roda e peças para porta
mala). Alguns dos problemas relatados são: falta de segurança no bico de injeção, excesso de
calor e perda de energia no cilindro de injeção, mau contato no botão de comando das
maquinas, entre outros.
No caso da empresa Bosch Termotecnologia, o autor Ramos (2010) descreve que
anteriormente a implantação da TPM foram realizados estudos sobre as rotinas seguidas pelos
técnicos nas atividades de manutenção preventiva com o intuito de constatar falhar no setor,
tais como: diferenças na metodologia de abordagem aos trabalhos; folhas de serviço não se
encontram visíveis aos olhos dos técnicos bem como as folhas de serviço relativas a trabalhos
que já foram realizados não se encontram visíveis aos olhos do supervisor; acúmulo de peças
nas bancas de trabalho, entre outros. Tais falhas poderiam ser corrigidas com a aplicação da
TPM.
Após o levantamento dos problemas na área, a empresa criou uma lista de objetivos
para serem alcançados a curto e médio prazo, tais como: melhoria no planejamento de
recursos humanos; preparar e coordenar os planos de manutenção através de datas
previamente definidas; melhorar a visibilidade de todo o processo de manutenção preventiva;
permitir a identificação de padrões de trabalho ainda não elaborados; estimular o senso de
responsabilidade dos colaboradores; evitar trabalho desnecessário; evitar erros com aquisição
de itens sobressalentes e na contratação de terceiros; utilização da manutenção de
oportunidade (quando há uma paralisação do equipamento para preparações, falta de matéria-
prima, ou outro fator que permita a entrada da equipe de manutenção para a realização das
suas atividades).
Segundo Sena (2012) a usina de Curuá-Una implantou a TPM devido à necessidade
do governo de elevar o nível de atendimento de energia à população. Como a usina em
questão é também uma indústria de produção, a adaptação desta metodologia foi facilitada.
Estudos internos, iniciados em 2008, foram realizados e juntamente com a gerência criou-se
uma lista de objetivos. A Empresa buscava com a aplicação dessa metodologia, aproveitar
melhor os recursos disponibilizados, programar seu alinhamento com as normas e demandas
vigentes. Entre esses objetivos podem ser destacados: o nível de escolaridade dos
colaboradores (apenas 16% da força de trabalho possui nível superior), melhoria na
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disponibilidade das máquinas, melhoria na eficiência global da planta, manter a marca de zero
penalidades ambientais e reduzir a porcentagem de absenteísmo.
3.2 Evolução dos indicadores
3.2.1 Simoldes Plásticos
Segundo Carvalho (2012), no início do processo de implementação da TPM, notou-
se que os operadores não aceitaram a metodologia facilmente, pois pensavam que era um
acréscimo de trabalho e não conseguiam ver as prováveis vantagens da TPM. Após mini-
cursos ministrados internamente e com o decorrer da implementação, a participação dos
operadores tornou-se cada vez maior e estes demonstravam maior interesse em contribuir nas
atividades. Verificou-se também que, quanto mais os operadores estão envolvidos na
implementação, mais receptivos, motivados e cooperativos se encontravam. Com isso, foi
possível a detecção de problemas nos equipamentos e anomalias nos postos de trabalho que,
com a ajuda da equipe de manutenção, foram rapidamente sanadas. Algumas das melhorias
estão detalhadas a seguir:
Problema 1: A zona do bico de injeção não possuía nenhuma proteção podendo ser expelido
algum material a temperaturas elevadas e queimar os operadores ou outras pessoas que
estivessem nesse local.
Solução 1: Para resolver a situação, colocou-se uma porta em acrílico em ambos os lados com
um ímã que prende a porta e com travas de segurança ativadas. Quando esta porta se abre, o
funcionamento da máquina é interrompido, para que não exista nenhum perigo associado
conforme Figura 2.
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Antes Depois
Figura 2 - Alteração de segurança no bico de injeção. (Adaptado de Carvalho, 2012).
Problema 2: Existia uma perda de calor no cilindro de injeção e durante o verão os
operadores queixavam-se do excesso de calor que emanava daquela região.
Solução 2: Para diminuir o excesso de calor colocaram-se mantas térmicas no cilindro de
injeção as quais reduziram a passagem do calor para a região externa além de reduzir a perda
de energia, conforme mostra a Figura 3.
Antes Depois
Figura 3 - Alteração de segurança para evitar dispersão de calor. (Adaptado de Carvalho,
2012).
Problema 3: Com o passar dos anos, os botões do comando da máquina começam a ter mau
contato. Neste caso, era necessário regularmente repará-los (existindo bastante desperdício de
tempo na sua reparação uma vez que o molde tem de ser aberto e fechado várias vezes).
Solução 3: Os botões de comando da máquina foram reparados, além de serem implantados
botões alternativos para que quando ocorra o principal venha a falhar, o alternativo entre em
funcionamento até a execução de uma manutenção corretiva planejada, de acordo com figura
4.
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Figura 4 - Reparo nos botões de comando dos equipamentos. (Adaptado de Carvalho, 2012)
Através do indicador de eficiência, RUtpm (disponibilidade), o qual é calculado
tendo por base as paradas de equipamento dos setores onde a TPM está implementada,
demonstra-se a contribuição da mesma para o aumento do desempenho da fábrica,
aumentando a disponibilidade do equipamento, o que por sua vez implica diminuição paradas
não programadas. A título de exemplo, no mês de Fevereiro de 2011 o RUtpm foi de 96% e
no mesmo mês em 2012, foi de 97,25% conforme mostra a Figura 5. Carvalho (2012)
complementa que em 2012 observam-se melhorias mensais, exceto em Março, devido a uma
quebra de produção (cerca de 20%) que retardou o tempo de implementação de melhorias.
Antes Depois
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Figura 5 - Evolução do indicador disponibilidade setor "Nave 5" na empresa Simoldes
Plásticos (CARVALHO, 2012)
3.2.2 Bosch Termotecnologia S.A
Ramos (2010) relata que são notórias as melhorias no decorrer da implantação da
TPM, tais como a criação do fluxograma relativo às atividades de manutenção planejada,
melhoria significativa na organização funcional, diminuição do tempo gasto pelos técnicos
registrando as atividades nos computadores, a elaboração de notas de encomenda, diminuição
do tempo gasto em trabalho duplicado, em tempo verificando se determinado material já teria
chegado. A seguir serão apresentados dois gráficos (Figuras 6 e 7) demonstrando a evolução
dos indicadores de manutenção desde o mês de Janeiro ao mês de Junho de 2010. O primeiro
gráfico apresenta a evolução do indicador de disponibilidade dos equipamentos. No segundo,
é apresentada a evolução dos indicadores de tempo médio entre falhas (MTBF - Mean Time
Between Failures) e tempo médio para reparos (MTTR - Mean Time To Repair).
A partir da análise efetuada, observa-se claramente que os trabalhos realizados neste
equipamento se revelaram benéficos para uma evolução positiva dos indicadores de
manutenção. No entanto, registra-se uma queda dos indicadores de manutenção no mês de
Maio. Esta queda deve-se ao fato das atividades de manutenção preventiva não terem sido
realizadas nos equipamentos.
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Figura 6 - Evolução do indicador disponibilidade na empresa Bosch Termotecnologia
(RAMOS, 2010)
Figura 7 - Evolução dos indicadores de MTBF e MTTR na empresa Bosch Termotecnologia
(RAMOS, 2010)
3.2.3. Usina Hidrelétrica Curuá-Una
Sena (2012) relata que houve uma reestruturação dos processos da usina Curuá-Uma.
Suas estruturas organizacionais e seus fatores culturais foram reestruturados após a
implantação da metodologia, influenciando assim, nos resultados globais da mesma. Foi
observado, também, que a metodologia passou por adaptações e não está totalmente
implantada, estando a mesma em suas fases finais de desenvolvimento. Em função do ano de
publicação da referência, a conclusão da implantação estava prevista para o final do ano de
2012. Segundo Eletronorte (2013), a implementação da TPM em todas as usinas hidrelétricas
do grupo foram concluídas no inicio de 2013. Segundo Eletronorte (2013), a implementação
da TPM em todas as usinas hidrelétricas do grupo foram concluídas no início de 2013. A
JIPM, no dia 6 de fevereiro de 2012 concedeu a hidrelétrica Curuá-Una o prêmio “TPM
Excellence Award, A Category” e no dia 27 de março de 2013 concedeu ao grupo Eletronorte
o prêmio “World Class Award”, tornando-a a única empresa pública, por meio da
superintendência de Geração Hidráulica, a ter alcançado este nível de desenvolvimento na
metodologia TPM.
Sena (2012) relata que, mesmo sem a finalização da implantação na data de
publicação, diversas melhorias já podiam ser notadas, tais como: os indicadores de
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disponibilidade das máquinas, eficiência global da planta e penalidades ambientais. Conforme
mostra a Figura 8 e a Tabela 1.
Nesses indicadores, é possível verificar a evolução da usina através do crescimento
dos índices de disponibilidade e eficiência global da usina. É possível notar, também, que não
houveram penalidades ambientais. No entanto, os índices de absenteísmo continuam altos, o
que podemos relacionar ao fato da metodologia não estar ainda totalmente concluída,
influenciando negativamente neste quesito (SENA, 2012).
Tabela 1 – Indicadores da usina Curuá-Una (Adaptado de SENA, 2012)
Ano Penalidades ambientais (%) Absenteísmo (%)
2007 0 0,77
2008 0 1,10
2009 0 1,97
2010 0 2,55
2012 (META) 0 2
Figura 8 - Evolução dos indicadores da usina Curuá-Una (Adaptado de SENA, 2012)
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se com este trabalho que, após a implantação da TPM, os índices de
produção e disponibilidade dos recursos das três empresas analisadas aumentaram. A
ferramenta trouxe resultados positivos não só para a produção, mas também, à qualidade de
vida do trabalhador, além melhorar a interação entre os setores de produção e manutenção.
Após a implementação da TPM, observou-se o crescimento rápido e satisfatório dos
indicadores de desempenho nas empresas que serviram de base para esse artigo e, também,
em outros estudos de casos populares. No entanto, após certo período de tempo, os mesmos
indicadores sofrem uma queda brusca em seus níveis de desempenho. Algum tempo depois, é
observado que estes voltam a se estabilizar. Possivelmente, este fato se deve à falta de revisão
dos passos anteriores da metodologia, já que a TPM prega um processo contínuo durante a
sua implantação. Isto significa que todos os passos devem ser retomados de forma cíclica
(como pode ser observado no passo 12). É sugerido que, sempre que possível, seja feita a
reciclagem de conhecimento de toda a equipe envolvida e uma revisão de todas as melhorias,
sempre procurando atingir o máximo de excelência.
Constatou-se, portanto, que o processo de implantação desta metodologia apresenta
certa complexidade. A continuidade da mesma e os custos de implementação, devem ser
levados em consideração pelas empresas candidatas.
Observa-se que, apesar da metodologia estar difundida por todo o mundo, e a
facilidade de se encontrar material de estudo sobre o assunto, diversas empresas ainda
utilizam a manutenção corretiva como procedimento operacional. Isto possivelmente deve-se
às dificuldades supracitadas. Em alguns casos, quando as empresas optam pela
implementação da TPM, as mesmas implantam a metodologia de forma incorreta ou,
encerram o processo em alguma das etapas de implantação.
5. REFERÊNCIAS
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