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Manual de orientações para Centros de Referência de Assistência Social

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  • Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate FomeSistema nico de Assistncia Social

    Proteo Social Bsica

    Braslia - 2009

    www.mds.gov.br/suas/[email protected]

    0800- 7072003

    Orientaes TcnicasCentro de Referncia deAssistncia Social - CRAS

  • Luiz Incio Lula da Silva - Presidente da Repblica Federativa do Brasil

    Jos Alencar Gomes da Silva - Vice-Presidente da Repblica Federativa do Brasil

    Patrus Ananias de Sousa - Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    Arlete Avelar Sampaio - Secretria Executiva

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  • ExpedienteEsta uma publicao tcnica da Secretaria Nacional de Assistncia Social

    Secretria Executiva AdjuntaRosilene Cristina Rocha

    Secretria Nacional de Assistncia SocialAna Lgia Gomes

    Diretor-Executivo do Fundo Nacional de Assistncia SocialFernando Antnio Brando

    Diretora do Departamento de Gesto do SUASSimone Aparecida Albuquerque

    Diretora do Departamento de Benefcios AssistenciaisMaria Jos de Freitas

    Diretora do Departamento de Proteo Social EspecialValria Maria Massarani Gonelli

    Diretora do Departamento de Proteo Social BsicaAid Canado Almeida

    Coordenadora-Geral de Acompanhamento das Aes de Proteo Social BsicaHelena Ferreira de LimaAssessora Tcnica do Departamento de Proteo Social BsicaPriscilla Maia de Andrade

    TextoPriscilla Maia de AndradeAid Canado AlmeidaHelena Ferreira de Lima

    Colaborao Edgar Pontes de MagalhesFlvio Jos Rodrigues de CastroRenata de Arajo Rios

    RevisoRicardo Dayan Lins Freitas

    Assessoria de Comunicao do MDSngela Carrato - Coordenadora da Assessoria de Comunicao SocialGilmar Santos - Coordenador de Publicidade Daniel Tavares - Projeto Grfico/Diagramao Carlos Arajo - Ilustraes

    Orientaes Tcnicas: Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS/ Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. 1. ed. Braslia: Ministrio do Desen-volvimento Social e Combate Fome, 2009.72 p.

    ISBN 978-85-60700-29-5

    1. Centro de Referncia de Assistncia Social - CRAS. 2. Sistema nico de Assistncia Social. 3. Polticas Pblicas. I. Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. II.Ttulo.

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  • Sumrio

    Apresentao ........................................................................................5

    Introduo .............................................................................................7

    Captulo 1O Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS .............................9

    Captulo 2O CRAS no Plano Municipal de Assistncia Social .................................15

    Captulo 3As Funes do CRAS ............................................................................19

    3.1 Gesto Territorial da Proteo Social Bsica ........................................................................ 20

    3.1.1 Articulao da Rede Socioassistencial de PSB referenciada ao CRAS e dos servios nele ofertados ....213.1.2 Promoo da Articulao Intersetorial ....................................................................................263.1.3 Busca Ativa no Territrio do CRAS ...........................................................................................293.1.4. Produo de material socioeducativo ....................................................................................31

    3.2 Oferta do Programa de Ateno Integral Famlia (PAIF)e de outros servios socioassistenciais de proteo bsica ........................................................ 31

    Captulo 4Implantao e Organizao do Trabalho do CRAS.................................33

    4.1 Localizao, segundo as singularidades dos territrios ........................................................ 34

    4.2 Atividades necessrias Implantao ................................................................................. 37

    4.3 Planejamento, organizao do trabalho e registro de informaes ...................................... 39

    4.3.1 Planejamento e Organizao do Trabalho em Equipe .............................................................404.3.2 Registro de Informaes ..........................................................................................................42

    4.4 Monitoramento SUAS - Censo CRAS .................................................................................... 44

    Captulo 5Estrutura, Perodo de Funcionamento e Identificao do CRAS ............47

    5.1 Espao Fsico do CRAS ......................................................................................................... 48

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  • 45.1.1 ndice de Desenvolvimento do CRAS e a dimenso estrutura fsica......................................57

    5.2 Identificao do CRAS ......................................................................................................... 58

    5.3 Perodo de Funcionamento do CRAS ................................................................................... 59

    5.3.1 ndice de Desenvolvimento do CRAS e a dimenso funcionamento do CRAS ..........................60

    Captulo 6Equipe de Referncia do CRAS .............................................................61

    6.2 O enfoque interdisciplinar e o trabalho em equipe.............................................................. 64

    6.3 ndice de Desenvolvimento do CRAS e a dimenso recursos humanos ............................... 65

    Referncias Bibliogrficas ....................................................................67

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  • 5Apresentao

    com grande satisfao que apresentamos a publicao Orientaes Tcnicas da Prote-o Social Bsica do Sistema nico de Assistncia Social SUAS: Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS. Essa publicao, destinada a gestores e trabalhadores do SUAS, subsidia o funcionamento do CRAS por todo o pas, representando mais um fio da extensa rede de proteo e promoo social que estamos construindo no Brasil. Proteo e promoo social que, desde o incio do governo Lula, foram ganhando espao como prioridade, a partir do reconhecimento de que s h desenvolvimento se o crescimento econmico for somado proteo social, ou seja, que as aes sociais de Estado so fundamentais para o processo de desenvolvimento de um pas.

    Foi acreditando nessa premissa que o Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), desde a sua criao em 2004, tem trabalhado para consolidar essa rede baseada na garantia de direitos, implementando de forma republicana por meio de polticas pblicas descentralizadas e articuladas.

    Com este esprito, o Ministrio ampliou e aprimorou o maior programa do mundo de transferncia de renda com condicionalidades o Bolsa Famlia, fortaleceu o Benefcio de Prestao Continuada - BPC, instituiu o Sistema de Segurana Alimentar e Nutricional SISAN, aprimorou aes voltadas gerao de trabalho e renda para famlias em situao de vulnerabilidade social e instituiu e con-solidou o Sistema nico de Assistncia Social o SUAS. Tambm implementou um sistema de moni-toramento e avaliao de suas aes.

    Na consolidao do SUAS destacam-se a reorganizao dos servios por nvel de proteo, a centralidade do Estado no acompanhamento s famlias, a territorializao das aes e a oferta de servios da Proteo Social Bsica, prioritariamente para famlias beneficirias de transferncia de renda. O aumento do cofinanciamento federal do Programa de Ateno Integral s Famlias (PAIF) ofertado nos CRAS tambm um avano inconteste do Sistema: samos de 454 CRAS co-financiados pelo MDS em 2003, para 3.920 CRAS em 2009 - o que possibilita referenciar mais de 14 milhes de famlias e promover o atendimento anual de 2,5 milhes de famlias. Se somarmos a esses CRAS os que so cofinanciados por Estados, DF e Municpios, chegamos a 5.128 CRAS, em 3.808 municpios. Diante desses nmeros inegvel a importncia dessa Unidade na consolidao de uma rede de proteo de assis-tncia social no Brasil.

    E a presente publicao tambm mais um elemento fortalecedor do SUAS: fruto de um proces-so de amadurecimento da Poltica Nacional de Assistncia Social e do aprimoramento do Sistema, possvel a partir de uma escuta atenta das muitas reflexes e questes apontadas pelos gestores, tcnicos e estudiosos da Poltica Nacional de Assistncia Social, durante reunies tcnicas, consul-torias, seminrios, processos de monitoramento e acompanhamento da implantao dos CRAS, ca-pacitaes tcnicas realizadas em Estados e Municpios e anlise dos resultados do Monitoramento SUAS - Censo CRAS, que ocorre desde o ano de 2007.

    Que esta publicao, que tem a pretenso de aprimorar a atuao preventiva, protetiva e proativa dessa Unidade, possa preparar e motivar cada vez mais os gestores e trabalhadores do SUAS, para que avancemos na direo de um padro societrio mais justo e solidrio, no qual cada criana,

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  • 6jovem, idoso, mulher, sejam elas de reas urbanas, rurais, de povos indgenas ou quilombolas e todos os demais segmentos sociais que engrandecem esse pas tenha melhores condies de vida, oportunidade de realizar seus potenciais e contribuir para a construo de um Brasil de todos.

    Boa leitura

    Um abrao fraterno

    Patrus AnaniasMinistro do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    Patrus Ananias

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  • 7Introduo

    s Orientaes Tcnicas da Proteo Social Bsica do SUAS Centro de Referncia de Assis-tncia Social CRAS traz um conjunto de diretrizes e informaes para apoiar os munic-pios e o Distrito Federal no planejamento, implantao e funcionamento do CRAS. Apoia

    tambm os Estados e Unio no processo de acompanhamento da implantao destas unidades e aprimoramento das que j foram implantadas, contribuindo para a consolidao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS).

    Objetiva-se, com esta publicao, mostrar que o funcionamento adequado do CRAS fortalece o Sistema do qual ele faz parte. O CRAS a unidade em torno da qual se organizam os servi-os de proteo bsica, do que decorre sua funo de gesto local. Espao fsico, organizao do mesmo e das atividades, funcionamento e recursos humanos devem manter coerncia com a concepo de trabalho social com famlias, diferenciando o servio que deve dos que podem ser ofertados no CRAS.

    A implantao desta Unidade pressupe dilogo com os elementos fundamentais do Sis-tema nico de Assistncia Social, tais como: proteo bsica e especial (articulao e flu-xos na relao com os servios socioassistenciais do territrio e com proteo especial); responsabilidade das trs esferas na oferta e cofinanciamento da proteo bsica; e rede que integra o SUAS - pblica e privada sem fins lucrativos, no territrio de abrangncia dos CRAS. Alm disso, chama-se ateno para a importncia da articulao do PAIF (Progra-ma de Ateno Integral Famlia) aos demais servios setoriais, uma responsabilidade do gestor municipal.

    Esta publicao destina-se a gestores, coordenadores e equipes tcnicas responsveis pela implan-tao, organizao e consolidao da Proteo Social Bsica de Assistncia Social, sua articulao com a Proteo Social Especial e com os demais servios locais. Tambm um importante documen-to para os Conselhos de Assistncia Social e demais atores sociais que participam do controle social da poltica de assistncia social.

    O captulo 1 apresenta a definio do CRAS, a partir dos eixos do SUAS, quais sejam a matricialida-de sociofamiliar e a territorializao, e do seu papel de referncia e contrarreferncia no Sistema, destacando-se os direitos dos usurios do CRAS.

    O captulo 2 mostra que a implantao e o funcionamento do CRAS, unidade descentralizada de assistncia social, devem ser resultado de um processo de planejamento, traduzido no Plano Muni-cipal (ou do Distrito Federal) de Assistncia Social.

    O captulo 3 apresenta as funes que diferenciam o CRAS de qualquer outra unidade da rede so-cioassistencial de proteo bsica: a gesto territorial e a oferta do Programa de Ateno Integral Famlia - PAIF.

    O captulo 4 trata do processo de implantao e organizao do trabalho do CRAS, discorrendo sobre sua localizao e atividades necessrias implantao, bem como sobre o planejamento, organiza-o do trabalho e registro de informaes que garantam o preenchimento anual do Censo CRAS. Possibilita-se, assim, o acompanhamento da evoluo dos indicadores dimensionais e sinttico, de desenvolvimento dos CRAS.

    A

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  • O captulo 5 introduz duas dimenses de desenvolvimento do CRAS, a saber o espao fsico e o pe-rodo de funcionamento. Salienta ainda a obrigatoriedade de instalao da placa de identificao do CRAS, conforme previsto em Resoluo 06, de 01 de julho de 2008, da Comisso Intergestores Tripartite (CIT).

    O ltimo captulo trata de mais uma dimenso do ndice de Desenvolvimento do CRAS, os recursos humanos. Apresenta a composio, perfil e atribuies da equipe de referncia, a necessidade e importncia do enfoque interdisciplinar e o trabalho em equipe, reconhecendo os profissionais do CRAS como a principal tecnologia viabilizadora dos direitos socioassistenciais.

    Reconhecendo que o SUAS est em construo, que suas bases conceituais, normativas e ope-rativas requerem amadurecimento para que se consolidem, esta publicao traduz o acmulo da Secretaria Nacional de Assistncia Social no dilogo com as demais polticas e programas do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, ocorrido desde a publicao das Orientaes Tcnicas para o Centro de Referncia de Assistncia Social (2006). Ganhou maior consistncia com o amadurecimento decorrente da contribuio de vrios consultores e produtos de consultoria, se orientou por discusses estratgicas sobre a Poltica, ocorridas em reunies com presena de especialistas, bem como da CIT. Visitas tcnicas a municpios e eventos realizados em todo o Brasil nos ajudaram a decidir sobre seu contedo e forma, dis-tinguindo esta publicao de uma segunda, sobre o PAIF. A linguagem direta e simples, bem como as ilustraes sugestivas visam contribuir para que este seja um material amplamente utilizado, discutido e aprofundado pelas equipes de gestores e conselheiros e apreendido por diferentes atores do Sistema.

    Dar contedo tcnico Poltica Nacional, preservando o dilogo com as especificidades de-correntes da diversidade cultural, tnica e social, prprias da realidade brasileira, ainda um desafio, que poder ser superado por meio da produo de materiais complementares, nos prximos anos. Esta produo depende do conhecimento de boas prticas e das necessrias adequaes delas decorrentes, a fim de que o SUAS se traduza em conquistas importantes para os povos e comunidades tradicionais, indgenas, populao rural e demais segmentos populacionais do nosso pas

    Espera-se que as informaes aqui contidas incentivem gestores, tcnicos, conselheiros de assistn-cia social e demais atores sociais a buscarem o aprimoramento contnuo do CRAS, como importante unidade constitutiva do Sistema nico de Assistncia Social; o fortalecimento da rede de proteo social nos territrios e a universalizao dos direitos socioassistenciais.

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  • 9Captulo 1

    O Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS

    O Centro de Referncia de Assistncia So-cial (CRAS) uma unidade pblica estatal descentralizada da po-

    lti ca de assistncia social, responsvel pela organizao e oferta de servios da proteo social bsica do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) nas reas de vulnerabilidade e risco social dos mu-

    nicpios e DF. Dada sua capilaridade nos territrios, se caracteriza como a principal porta de entrada do SUAS, ou seja, uma unidade

    que possibilita o acesso de um grande nmero de famlias rede de proteo social de assistncia social.

    CRAS uma unidade de proteo social bsica do SUAS, que tem por objeti vo prevenir a ocorrncia de situaes de vulnerabilidades e riscos sociais nos territrios, por meio do de-senvolvimento de potencialidades e aquisies, do fortalecimento de vnculos familiares e

    comunitrios, e da ampliao do acesso aos direitos de cidadania.

    Esta unidade pblica do SUAS referncia para o desenvolvimento de todos os servios socioas-sistenciais de proteo bsica do Sistema nico de Assistncia Social SUAS, no seu territrio de abrangncia. Estes servios, de carter preventi vo, proteti vo e proati vo, podem ser ofertados direta-mente no CRAS, desde que disponha de espao f sico e equipe compat vel. Quando desenvolvidos no territrio do CRAS, por outra unidade pblica ou enti dade de assistncia social privada sem fi ns lucrati vos, devem ser obrigatoriamente a ele referenciados.

    A oferta dos servios no CRAS deve ser planejada e depende de um bom conhecimento do territrio e das famlias que nele vivem, suas necessidades, potencialidades, bem

    como do mapeamento da ocorrncia das situa-es de risco e de vulnerabilidade social e das

    ofertas j existentes.

    1. Consti tuem Servios da Proteo Social Bsica do SUAS aqueles previstos na Tipifi cao Nacional de Servios Socioassistenciais.

    O

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  • 10

    Ao afirmar-se como unidade de acesso aos direitos socioassistenciais, o CRAS efetiva a referncia e a contrarreferncia do usurio na rede socioassistencial do SUAS:

    A funo de referncia se materializa quando a equipe processa, no mbito do SUAS, as demandas oriundas das situaes de vulnerabi-

    lidade e risco social detectadas no territrio, de forma a garantir ao usurio o acesso renda, servios, progra-mas e projetos, conforme a complexidade da deman-da. O acesso pode se dar pela insero do usurio em servio ofertado no CRAS ou na rede socioassistencial a ele referenciada, ou por meio do encaminhamento do usurio ao CREAS (municipal, do DF ou regional)

    ou para o responsvel pela proteo social especial do municpio (onde no houver CREAS).

    A contrarreferncia exercida sempre que a equipedo CRAS recebe encaminhamento do nvel de maior complexidade (proteo social espe-cial) e garante a proteo bsica, inserindo o usurio em servio, benefcio, programae/ou projeto de proteo bsica.

    O CRAS , assim, uma unidade da rede socioassistencial de proteo social bsica que se diferencia das demais, pois alm da oferta de servios e aes, possui as funes exclusivas de oferta pblica do trabalho social com famlias do PAIF e de gesto territorial da rede socioassistencial de proteo social bsica. Esta ltima funo demanda do CRAS um adequado conhecimento do territrio, a organizao e articulao das unidades da rede socioassistencial a ele referenciadas e o gerenciamento do acolhi-mento, insero, do encaminhamento e acompanhamento dos usurios no SUAS.

    O trabalho social com famlias do PAIF desenvolvido pela equipe de referncia do CRAS e a gesto territorial pelo coordenador do CRAS, auxiliado pela equipe tcnica, sendo, portanto, funes exclu-sivas do poder pblico e no de entidades privadas de assistncia social.

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  • 11

    Todo Centro de Referncia de As-sistncia Social - CRAS em funcionamento desen-volve, obrigatoriamente, a gesto da rede socioassis-tencial de proteo social bsica do seu territrio e

    oferta do Programa de Ateno Integral Famlia PAIF, independentemente da(s) fonte(s) de fi nancia-

    mento (se municipal, federal e/ou estadual).

    As funes do CRAS no devem ser confundidas com as funes do rgo gestor da polti ca de assis-tncia social municipal ou do DF: os CRAS so unidades locais que tm por atribuies a organizao da rede socioassistencial e oferta de servios da proteo social bsica em determinado territrio, enquanto o rgo gestor municipal ou do DF tem por funes a organizao e gesto do SUAS em todo o municpio. Para uma melhor apreenso das atribuies dessas unidades, segue abaixo qua-dro comparati vo:

    Atribuies do CRAS e rgo Gestor Municipal ou do DF

    CRAS rgo Gestor Municipal ou do DF

    Fornecimento de informaes e dados para o rgo Ges-tor Municipal ou do DF sobre o territrio para subsidiar:

    a elaborao Plano Municipal de AssistnciaSocial;

    o planejamento , monitoramento e avaliao dos servios ofertados no CRAS;

    a alimentao dos Sistemas de Informao doSUAS;

    os processos de formao e qualifi cao da equipede referncia;

    Elaborao do Plano Municipal de Assistncia Social.

    Planejamento, execuo f sico-fi nanceiro, monitoramen-to e avaliao dos servios socioassistenciais do SUAS.

    Alimentao dos Sistemas de Informao e Monitoramen-to do SUAS.

    Consti tuio das equipes de referncia e demais profi ssio-nais da polti ca de assistncia social e qualifi cao profi s-sional dos trabalhadores do SUAS.

    Oferta do PAIF e outros servios socioassistenciais da Pro-teo Social Bsica.

    Superviso, apoio tcnico da oferta do PAIF e demais ser-vios socioassistenciais ofertados, tanto nas unidades p-blicas, quanto nas enti dades privadas sem fi ns lucrati vos, prestadora de servios.

    Gesto territorial da rede socioassistencial da PSB

    Gesto da rede socioassistencial do municpio

    Gesto do processo de conveniamento das enti dades pri-vadas sem fi ns lucrati vos de assistncia social quando for o caso

    O CRAS assume como fatores identitrios dois grandes eixos estruturantes do Sistema nico de Assistncia Social - SUAS: a matricialidade sociofamiliar e a territorializao.

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  • 12

    A matricialidade sociofamiliar se refere centralidade da famlia como ncleo social fundamental para a efetividade de todas as aes e servios da poltica de assistncia social. A famlia, segundo a PNAS, o conjunto de pessoas unidas por laos consangneos, afetivos e ou de solidariedade, cuja sobrevivncia e reproduo social pressupem obrigaes recprocas e o compartilhamento de renda e ou dependncia econmica.

    Essa centralidade deve-se ao reconhecimento, pela poltica de assistncia social, da responsabilida-de estatal de proteo social s famlias, apreendida como ncleo social bsico de acolhida, conv-vio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social e espao privilegiado e insubstituvel de proteo e socializao primrias dos indivduos.

    A assistncia social tambm compreende a famlia como um espao contraditrio, marcado por ten-ses, conflitos, desigualdades e, at mesmo, violncia. Nessa direo, ao eleger a matricialidade so-ciofamiliar como eixo do SUAS, a famlia enfocada em seu contexto sociocultural e econmico, com composies distintas e dinmicas prprias. Essa compreenso busca superar a concepo tradicio-nal de famlia, o modelo padro, a unidade homognea idealizada e acompanhar a evoluo do seu conceito, reconhecendo que existem arranjos distintos, em constante movimento, transformao.

    A compreenso da famlia ainda determinada pelas estruturas geracionais e de gnero presentes: os conflitos e desigualdades vivenciadas no mbito familiar devem ser analisados e trabalhados a partir da diferenciada distribuio de poder e responsabilidade entre seus membros.

    Outro elemento determinante para o desenvolvimento de servios destinados s famlias o reco-nhecimento que elas tm de suas caractersticas, identidades culturais, interesses, necessidades e potencialidades distintas e que sua composio pode apontar demandas especficas: famlias com crianas pequenas demandam atenes diferenciadas daquelas destinadas s famlias com pessoas com deficincia etc. O atendimento famlia ainda deve ser planejado a partir do conhecimento das necessidades e expectativas diferenciadas dos seus membros, em especial, de acordo com a forma como esse grupo se organiza: se a famlia monoparental, extensa, entre outros.

    Assim, o fortalecimento dos vnculos familiares e a defesa e promoo do direito convivncia familiar e comunitria, finalidades da poltica da assistncia social, so um grande desafio. Para responder a esse desafio, o SUAS estrutura-se buscando apoiar a famlia nas suas funes de proteo, socializa-o, aprendizagem e desenvolvimento das capacidades humanas, assumindo como pressuposto fun-damental que o usurio de seus servios ou benefcios no pode ser desvinculado do seu contexto fa-miliar e social. Isto , a poltica de assistncia social reconhece que somente possvel tecer uma rede de proteo social ao se compreender os determinantes familiares de uma situao de vulnerabilidade social e acolher mais de um membro dessa famlia na busca da superao dessa situao.

    Um bom exemplo dessa premissa a realizao de uma ao preventiva de negligncia e maus-tratos a idosos: promover atividades informativas e de sensibilizao sobre os direitos somente dirigidos aos idosos fundamental para o reconhecimento e acesso a direitos. Toda-via, se os cuidadores, filhas (os) e netas (os) dos idosos tambm no forem contemplados por essa ao preventiva, dificilmente esta ter o xito esperado.

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  • 13

    O SUAS, ao eleger a matricialidade sociofamiliar como uma de suas bases estruturantes, organiza toda a rede socioassistencial para o apoio s famlias, a fi m de assegurar a toda a populao o direito convivncia familiar, seguindo o pressuposto de que para a famlia prevenir, proteger e manter seus membros necessria a ao efeti va do poder pblico. O CRAS, assim, considera as famlias como um espao de ressonncia e sinergia dos interesses e

    necessidades coleti vas e de mobilizao parti cipao e ao protagonismo social, ou seja, como um vetor de mudana da realidade social.

    A territorializao refere centralidade do territrio como fator de-terminante para a compreenso das situaes de vulnerabilidade e risco sociais, bem como para seu enfrentamento. A adoo da perspecti va da territorializao se materializa a parti r da descen-tralizao da polti ca de assistncia social e consequente oferta dos servios socioassistenciais em locais prximos aos seus usu-rios. Isso aumenta sua efi ccia e efeti vidade, criando condies favorveis ao de preveno ou enfrentamento das situaes de vulnerabilidade e risco social, bem como de identi fi cao e est -mulo das potencialidades presentes no territrio.

    Destaca-se que territrio no se restringe delimitao espacial. Constitui um espao humano, habitado. Ou seja, o territrio no somente uma poro especfica de terra, mas uma locali-dade marcada pelas pessoas que ali vivem. nos espaos coletivos que se expressam a solida-riedade, a extenso das relaes familiares para alm da consanguinidade, o fortalecimento da cumplicidade de vizinhana e o desenvolvimento do sentimento de pertena e identidade. O conceito de territrio, ento, abrange as relaes de reconhecimento, afetividade e identidade entre os indivduos que compartilham a vida em determinada localidade.

    Nessa direo, as caractersticas de determinada localidade so intrinsecamente ligadas s formas de relacionamento social predominantes, que por sua vez so diretamente influencia-dos pelos contextos social, cultural e econmico do territrio. no territrio que se eviden-ciam as contradies da realidade: os conflitos e desigualdades que perpassam e resignificam as relaes familiares e comunitrias.

    Assim, como no mbito local se expressam as desigualdades sociais, tambm no territrio que se encontram as potencialidades para o enfrentamento destas desigualdades. Todavia, voltar-se para o territrio no signifi ca esperar que somente a solidariedade e a sinergia comunitria sero capazes de enfrentar as situaes de desproteo social. Ao contrrio, signifi ca o reconhecimento pela polti ca de assistncia social que a organizao dos servios por territrios torna possvel, com uma boa gesto, construir a perspecti va do alcance da universalidade de cobertura da polti -ca de assistncia social, a parti r de suas parti cularidades e especifi cidades, bem como o compro-misso do poder pblico com a oferta adequada e acessvel a servios.

    O CRAS materializa a presena do Estado no territrio, possibilitando a democrati zao do acesso aos direitos socioassistenciais e contribuindo para o fortalecimento da cidadania. Ao eleger a territo-

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  • 14

    rializao como eixo estruturante do SUAS, reconhece-se que a mobilizao das foras no territrio e a integrao de polticas pblicas podem potencializar iniciativas e induzir processos de desenvol-vimento social. A integrao de polticas, por sua vez, potencializada pela clareza de objetivos e pela definio de diretrizes governamentais.

    A democratizao do acesso aos direitos socioassistenciais e o aprimoramento permanente dos servios socioassistenciais ofertados no CRAS ainda devem ser garantidos por meio do estmulo participao dos usurios nos processos de planejamento e avaliao dos servios da Unidade, seja mediante realizao de reunies com os usurios ou fruns com representantes das famlias refe-renciadas e da rede socioasssitencial local .

    Direitos das Famlias Usurias do CRASO CRAS , como vimos, o ponto focal de acesso e promoo dos direitos socioassistenciais no ter-ritrio, por se caracterizar como a unidade do SUAS mais capilarizada e que se localiza prximo aos seus usurios. Para cumprir com efetividade tal prerrogativa, o CRAS deve assegurar as famlias usu-rias de seus servios os seguintes direitos:

    de conhecer o nome e a credencial de quem o atende (profissional tcnico, estagirio ou admi-nistrativo do CRAS);

    escuta, informao, defesa, proviso direta ou indireta ou ao encaminhamento de suasdemandas de proteo social asseguradas pela Poltica Nacional de Assistncia Social;

    a dispor de locais adequados para seu atendimento, tendo o sigilo e sua integridade preservados; de receber explicaes sobre os servios e seu atendimento de forma clara, simples e compreensvel; de receber informaes sobre como e onde manifestar seus direitos e requisies sobre o aten-

    dimento socioassistencial; a ter seus encaminhamentos por escrito, identificados com o nome do profissional e seu registro

    no Conselho ou Ordem Profissional, de forma clara e legvel; a ter protegida sua privacidade, dentro dos princpios e diretrizes da tica profissional, desde que

    no acarrete riscos a outras pessoas; a ter sua identidade e singularidade preservadas e sua histria de vida respeitada; de poder avaliar o servio recebido, contando com espao de escuta para expressar sua opinio; a ter acesso ao registro dos seus dados, se assim o desejar; a ter acesso s deliberaes das conferncias municipais, estaduais e nacionais de assistncia social.

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    Captulo 2

    O CRAS no Plano Municipalde Assistncia Social

    A assistncia social centra esforos na preveno e enfrentamento de situaes de vulnera-bilidade e risco sociais, por meio de intervenes territorializadas e com foco nas relaes familiares e comunitrias. Para cumprir tal fi nalidade, faz-se necessrio planejar. Este pla-nejamento consiste em uma estratgia de ao que estabelea metas, procedimentos e mtodos, compati bilizando necessidades e demandas com recursos e tempo disponveis, de forma a possibili-tar a organizao do Sistema nico de Assistncia Social no municpio. O planejamento baseia-se em uma leitura da realidade e visa promover uma mudana na situao encontrada, segundo objeti vos estabelecidos pela Polti ca Nacional de Assistncia Social.

    O processo de planejamento se materializa no Plano Municipal (ou do DF) de Assistncia Social: instrumento de gesto da polti ca de assistncia social no mbito local. O Plano deve ser elaborado pelo rgo gestor, aprovado pelo conselho de assistncia social, manter coerncia com a Polti ca Nacional de Assistncia Social, NOB-SUAS e NOB-RH e ser expresso no oramento.

    O Plano consti tui elemento estratgico para a consolidao do SUAS, para a municipalizao, para a melhoria da qualidade dos servios prestados e para a universalizao da rede de proteo social de assistncia social, devendo prever resultados e impactos sobre as situaes de vulnerabilidade e risco sociais identi fi cados nos territrios.

    O Plano Municipal (ou do DF) de Assistncia Social uma ferramenta obrigatria de gesto da polti ca de assistncia social nas trs esferas de go-verno. Sua construo e implementao est prevista na LOAS, PNAS (2004) e NOB/

    SUAS (2005). So elementos consti tuintes do Plano:

    1. Realizao de estudos e diagnsti cos da realidade;2. Mapeamento e identi fi cao da cobertura da rede prestadora de servios;3. Defi nio de objeti vos;4. Estabelecimento de diretrizes e prioridades;5. Determinao de metas e previso de custos;6. Previso de fontes de financiamento (recursos municipais e estaduaise federais);7. Estabelecimento das aes de monitoramento e avaliao.

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    O desafi o conhecer a realidade do municpio e nela atuar, priorizando as situaes de maior vulnerabi-lidade, dada a complexidade dos processos sociais de desproteo social e a extenso de necessidades e demandas a serem atendidas. Assim, a defi nio dos territrios de vulnerabilidade e o planejamento, no tempo (curto, mdio e longo prazos), da instalao de CRAS em todos os territrios, deve necessariamen-te ser objeto do Plano, j que a universalizao da proteo bsica importante objeti vo a ser alcanado pela Polti ca Nacional de Assistncia Social. Alm do conhecimento da incidncia de situaes de vulne-rabilidade e risco, relevante que se tenha um levantamento de todas as unidades da rede socioassisten-cial j existentes ou necessrias para o atendimento das famlias em situao de vulnerabilidade social de determinada localidade, parti ndo do pressuposto de que preciso planejar o hoje e o amanh.

    A implantao do CRAS uma estratgia de descentralizao e hie-rarquizao de servios de assistncia social e, portanto, elemento

    essencial do processo de planejamento territorial e da polti ca de assistncia social do municpio. Deve-se prever a gradual cobertura, de todos os territrios vulnerveis existentes e reconhecidos no Plano Municipal, com o Centro de Refern-cia de Assistncia Social. A universalizao da Proteo B-

    sica dever ser alcanada at 2015, de acordo com o Plano Decenal SUAS Plano 10.

    Para o planejamento da cobertura gradual de CRAS no municpio, sugere-se a uti lizao de cadastros de programas sociais (Cadastro nico e BPC), cadastros de servios sociassistenciais governamentais e nogovernamentais e estudos j existentes (estaduais, municipais ou do DF). Recomenda-se, ain-da, a realizao de estudo sobre a realidade socioeconmica do municpio, que possibilite conhecer a incidncia de situaes de trabalho infanti l, negligncia, violncia, entre outros, de modo a traar quais territrios devem ser priorizados com a instalao do(s) CRAS.

    importante adotar uma referncia para territorializao, com vistas a identi fi car os microterritrios e regies com incidncia de populao em situao de vulnerabilidade, que devero merecer estu-dos mais especfi cos e levantamentos complementares, bem como ser prioritariamente cobertos2.

    Tais estudos e anlises contribuem para o planejamento da descentralizao da assistncia social em cada municpio ou DF, ou seja, para a defi nio de quais so os territrios de vulnerabilidade social, onde esto localizados, que

    servios dispem, quantas famlias ali residem, quais suas caractersti cas, necessidades e potencialidades, quantos

    CRAS sero necessrios no municpio, que servios devero ser ofertados.

    2. Alguns municpios j desenvolveram ndices de vulnerabilidade territorial, o que facilita esse processo de priorizao dos territrios. Para aqueles que ainda no desenvol-veram tais ferramentas, recomenda-se a priorizao dos territrios com maior incidncia de famlias benefi cirias do Programa Bolsa Famlia e do Programa de Erradicao do Trabalho Infanti l, bem como de famlias com benefi cirios do Benef cio de Prestao Conti nuada - BPC.

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    Identi fi cadas as reas de maior incidncia de situaes de vulnerabilidade e risco social, o gestor deve organizar o espao do municpio (ou DF) em territrios e indicar, no Plano Municipal de Assis-tncia Social (ou do DF), estes territrios; defi nir o nmero de CRAS a serem implantados; o nmero de famlias referenciadas a cada CRAS; as ofertas de servios j existentes e os necessrios, se estes lti mos sero ofertados no CRAS ou em outras unidades, a possibilidade de racionalizao de espa-os que j ofertam servios e os prazos para a progressiva implantao do(s) CRAS e dos servios. Para a defi nio de prazos, deve-se levar em considerao a disponibilidade oramentria de longo prazo, a disponibilidade de terrenos e edifi caes, recursos humanos e materiais necessrios sua efeti va implantao em condies adequadas e tempo para procedimentos administrati vos.

    O planejamento da oferta de CRAS no municpio ou DF deve ser analisado tendo em vista as ofertas j existentes no territrio, j que no CRAS podero ser ofertados outros servios alm da Proteo e Ateno Integral Famlia, desde que se planeje espao f sico e recursos humanos compat veis com as ofertas. Municpios sem rede socioassistencial devem prever consti tuio de rede, ou prever oferta, no CRAS, de servios conti nuados de proteo bsica. Para tanto, devem planejar a constru-o/reforma de unidades, de forma a que o espao f sico seja compat vel com os servios ofertados3.

    Destaca-se, ainda, que o Plano deve prever a oferta de servios tanto de Proteo Social Bsica quanto de Proteo Social Especial - condio essencial para o funcionamento do SUAS, especial-mente para viabilizar a funo de referncia e contrarreferncia prpria do Sistema, bem como a arti culao das unidades estatais e privadas de assistncia social com vistas formao da rede so-cioassistencial. No basta o municpio possuir servios similares, que duplicam e superpem aes sem vnculos ente si. necessrio prever a organizao da proteo social de assistncia social: a agregao das unidades de assistncia social por nvel de proteo, a adequao dos servios s necessidades do territrio e o referenciamento de servios ao CRAS, de forma que, gradati vamen-te, a rede de proteo social do SUAS consiga responder demanda por servios, universalizar seu atendimento e garanti r o acesso aos direitos socioassistenciais.

    Alm disso, a elaborao do Plano deve ser antecedida de uma anlise do ndice de desenvolvimen-to4 de cada CRAS j implantado. Caso necessrio, o Plano deve prever metas e prazos para que o ndice de desenvolvimento de cada CRAS j implantado progrida gradualmente. Para tanto, deve-se prever metas de curto, mdio e longo prazos, de forma a alcanar a gradao sufi ciente no que se refere s ati vidades ofertadas, horrio de funcionamento, recursos humanos e espao f sico, pois a universalizao dos CRAS to importante quanto a oferta adequada dos servios.

    No plano deve-se prever metas de curto prazo que contribuem para uma melhor gesto territorial, como por exemplo: at 2010, ter cadastradas, no CRAS, todas as famlias que recebem o PBF e o BPC residentes no territrio; ou acompanhar por meio de visita domiciliar ou entrevista todas as famlias em situao de descumprimento de condicionalidades (compreendidas aqui como as famlias em maior vulnerabilidade ou risco social).

    3. Para mais informaes sobre espao f sico ver captulo 5.

    4. Para mais informaes sobre o ndice de Desenvolvimento dos CRAS, ver captulo 4.

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    O acompanhamento do cumprimento de metas previstas no Plano requer, do gestor municipal de assistncia social, a produo sistemti ca de dados e informaes sobre a realidade social e local e o constante monitoramento e avaliao das aes implementadas.

    O Plano no pode ser um instrumento formal: planejar, executar, monitorar e avaliar fazem parte de um processo integrado,

    de reviso sistemti ca do prprio Plano, de (re)defi nio permanente dos caminhos a serem percorridos para o alcance dos objeti vos da polti ca de assistncia social, se no se quer cair na improvisao emergencial e pontual, sem direo e conti nui-dade. Neste senti do, o coordenador do CRAS deve parti cipar dos momentos de

    planejamento municipal da polti ca de assistncia social, de maneira a subsidiar a elaborao do Plano Municipal, com informaes sobre o trabalho desenvolvido no CRAS, como, por exemplo, as necessidades de servios e investi mento no aprimo-

    ramento da gesto, detectados ao longo de determinado perodo.

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    Captulo 3

    As Funes do CRAS

    imos, no captulo 1, que o CRAS uma unidade singular da proteo bsica, ou seja, uma unidade que se diferencia das demais, pois a nica unidade que desempenha as funes de gesto da proteo bsica no seu territrio e de oferta do Programa de Ateno Integral

    Famlia - PAIF.

    Alm do PAIF, oferta obrigatria e exclusiva do CRAS, outros servios socioassistenciais de proteo social bsica podem ser implementados nessa unidade, desde que haja espao fsico, equipamen-tos, recursos materiais e humanos compatveis5.

    J a funo de gesto territorial compreende: a articulao da rede socioassistencial de proteo social bsica referenciada ao CRAS; a promoo da articulao intersetorial e a busca ativa, todas realizadas no territrio de abrangncia dos CRAS.

    5. O PAIF e demais servios socioassistenciais de proteo bsica constam de normativas especficas. Sero detalhados em Cadernos de Orientaes Tcnicas da Proteo Bsica (Caderno sobre o Servio de Proteo e Ateno Integral Famlia - PAIF, Cadernos do Projovem Adolescente e Cadernos sobre os demais Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos).

    V

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    Sua singularidade deve-se, portanto, ao fato de ser a nica unidade de proteo bsica que tem as funes exclusivas de ofertar o Programa de Ateno Integral Famlia - PAIF e de fazer a gesto da proteo bsica no territrio de abrangncia do CRAS.

    Estas funes viabilizam o CRAS como unidade efetivadora da referncia e contrarreferncia do usurio na rede socioassistencial do SUAS. Viabilizam-no tambm como porta de entrada para os usurios e como unidade de referncia para os servios das demais polticas pblicas no seu territrio de abrangncia.

    A articulao da rede socioassistencial de proteo social bsica referenciada ao CRAS e as diretrizes que norteiam a busca ativa so de responsabilidade do gestor de assistncia social. A promoo da articulao intersetorial uma determinao do poder executivo municipal, do DF, estadual ou federal, cabendo ao gestor de assistncia social influir e colaborar para que ocorra.

    As duas funes do CRAS so complementares e interdependentes, conforme demonstra a ilustra-o anterior. A oferta do PAIF viabiliza o encaminhamento dos usurios para os servios (no CRAS ou no territrio) e disponibiliza informaes sobre demandas a serem respondidas, potencialidades a serem fortalecidas - que contribuem para a definio de servios socioassistenciais necessrios. Por outro lado, a gesto da proteo bsica no territrio assegura que a ao com a famlia, exercida por meio do PAIF, seja o eixo em torno do qual os servios locais se organizam e que os encaminhamen-tos feitos pelo CRAS tenham efetividade e resolutividade.

    Como toda unidade que oferta servios, o funcionamento do CRAS pres-supe organizao do trabalho da equipe de referncia do CRAS e planeja-

    mento das aes, que ser abordado no Captulo 4.

    3.1 Gesto Territorial da Proteo Social Bsica

    A gesto territorial da proteo bsica responde ao princpio de descentralizao do SUAS e tem por objetivo promover a atuao preventiva, disponibilizar servios prximo do local de moradia das famlias, racionalizar as ofertas e traduzir o referenciamento dos servios ao CRAS em ao concreta, tornando a principal unidade pblica de proteo bsica uma refe-rncia para a populao local e para os servios setoriais.

    Dentre as aes de gesto territorial da proteo social bsica, destacam-se:

    1. articulao da rede socioassistencial de proteo social bsica referenciada ao CRAS; 2. promoo da articulao intersetorial, e 3. busca ativa.

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    A articulao da rede socioassistencial de proteo social bsica viabiliza o acesso efetivo da populao aos servios, benefcios e projetos de assistncia social; contribui para a definio de atribuies das unidades, para a adoo de fluxos entre o Programa de Ateno Integral Famlia (PAIF) e os servios de convivncia; e promove a gesto integrada de servios e bene-fcios, permitindo o acesso dos beneficirios de transferncia de renda aos servios socioas-sistenciais locais, com prioridade para os mais vulnerveis.

    A promoo da articulao intersetorial propicia o dilogo da poltica pblica de assistncia social com as demais polticas e setores e o acesso das famlias aos servios setoriais. Potencializa os objetivos das Agendas Sociais6 do governo federal (quando for o caso) e de agendas estaduais ou municipais intersetoriais; contribui para a definio da prioridade de acesso, aos servios pblicos, pelas famlias em situao de maior vulnerabilidade social.

    J a busca ativa uma importante ferramenta de proteo social, pois disponibiliza informaes sobre o territrio, essenciais para o planejamento local e para a ao preventiva da Proteo Bsica, por meio da identificao de vulnerabilidades e potencialidades, permitindo assim compreender melhor a realidade social, para nela atuar.

    A responsabilidade pela gesto da proteo social bsica da secretaria municipal (ou do DF) de Assistncia Social, ou congnere. Porm, a gesto territorial, que deve estar em consonncia com as diretrizes estabelecidas pelo rgo gestor, responsabilidade do coordenador do CRAS, que deve contar com o auxlio dos demais componentes da equipe de referncia.

    3.1.1 Articulao da Rede Socioassistencial de PSB referenciada ao CRAS e dos servi-os nele ofertados

    A articulao o processo pelo qual se cria e mantm conexes entre diferentes organizaes, a par-tir da compreenso do seu funcionamento, dinmicas e papel desempenhado, de modo a coordenar interesses distintos e fortalecer os que so comuns. A articulao da rede de proteo social bsica, referenciada ao CRAS, consiste no estabelecimento de contatos, alianas, fluxos de informaes e encaminhamentos entre o CRAS e as demais unidades de proteo social bsica do territrio.

    Visa promover o acesso dos usurios do PAIF aos demais servios socioassistenciais de proteo b-sica e ainda possibilita que a famlia de usurio(s) de servio(s) da rede local tenha assegurado seu acompanhamento, pelo PAIF, caso se encontre em situao de maior vulnerabilidade ou risco social.

    6. A Agenda Social do Governo Federal uma estratgia de potencializao do combate pobreza na cidade e no campo, por meio de aes que visam consolidar a pol-tica social como garantidora de direitos; reduzir as desigualdades sociais; fortalecer a gesto integrada para promoo de oportunidades e emancipao das famlias mais pobres; fortalecer e aprimorar a articulao intergovernamental entre ministrios, secretarias especiais, estatais e bancos pblicos e a pactuao federada com Estados e Municpios. Entre essas aes, destacam-se o plano de desenvolvimento da educao e as medidas para reduo das desigualdades, especialmente a ampliao dos benefcios do Bolsa Famlia, a gerao de oportunidades s famlias mais pobres, a ampliao dos servios socioassistenciais, a reestruturao dos programas para a juven-tude e o fortalecimento dos direitos da cidadania para crianas e adolescentes, mulheres, comunidades quilombolas e povos indgenas. Para mais informaes consultar:http://www.portalfederativo.gov.br/pub/Inicio/Publicacoes/Layout_Revista_Munic%EDpios_29.01.08.pdf

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    Se houver outros servios, alm do PAIF, ofer-tados no CRAS, o coordenador responsvel

    pela arti culao destes servios ao PAIF.

    A fi gura a seguir ilustra a arti culao da rede de proteo social bsica referenciada a um CRAS:

    Os servios de convivncia e projetos de proteo social bsica, desenvolvidos no territrio de abrangncia do CRAS, devem ser a ele referenciados. Estar referenciado ao CRAS significa receber orientaes emanadas do poder pblico, alinhadas s normativas do Sistema nico e estabelecer compromissos e relaes, participar da definio de fluxos e procedimentos que reconheam a centralidade do trabalho com famlias no territrio e contribuir para a alimen-tao dos sistemas da RedeSUAS (e outros). Significa, portanto, estabelecer vnculos com o Sistema nico de Assistncia Social.

    O coordenador do CRAS, responsvel pela articulao da rede de servios de proteo bsi-ca local, deve organizar, segundo orientaes do gestor municipal (ou do DF) de assistncia social, reunies peridicas com as instituies que compem a rede, a fim de instituir a ro-tina de atendimento e acolhimento dos usurios; organizar os encaminhamentos, fluxos de informaes, procedimentos, estratgias de resposta s demandas; e traar estratgias de fortalecimento das potencialidades do territrio. Dever ainda avaliar tais procedimentos, de modo a ajust-los e aprimor-los continuamente.

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    Trata-se de gerenciar, a parti r do CRAS e de maneira coordenada com a rede socioassistencial, o acolhimento, insero, o encaminhamento e acompanhamento dos usurios no SUAS. Os critrios de acesso dos usurios, seu desligamento do servio e os objeti vos a serem cumpridos, entre outros, devem ser acordados entre as organizaes que compem a rede e a coordenao do CRAS. Ressal-ta-se a centralidade da ao pblica no acesso dos usurios ao Sistema, na disponibilizao de vagas pelos servios referenciados ao CRAS, de forma a criar as condies necessrias para o exerccio da referncia e contrarreferncia, tendo como eixo central o trabalho social com famlias.

    O ponto focal da rede socioassistencial territorial local o CRAS.

    Esta ao contribui para dar unidade aos objeti vos e concepo do SUAS; para alinhar os servios socioassistenciais PNAS, NOB-SUAS, e para fazer cumprir as normati vas de vinculao ao Sistema: insti tuies necessariamente reconhecidas pelo Conselho de Assistncia Social, ofertando servios de acordo com Tipifi cao Nacional dos Servios Socioassistenciais7 e com os parmetros de qualida-de estabelecidos. Contribui ainda para a defi nio da periodicidade de envio de informaes para o CRAS necessrias alimentao da RedeSUAS e de outros sistemas, bem como para o acompanha-mento dos servios.

    O gestor municipal, ou quem ele desig-nar, tem como atribuio garanti r a arti culao das unidades da

    rede socioassistencial do territrio de abrangncia do CRAS, tanto as enti dades de assistncia social privadas sem fi ns lucrati vos quanto as pblicas. No caso das ofertas por enti dades privadas sem fi ns lucrati vos, deve ser assegurado que os convnios sejam fi rmados com enti dades de assistncia social, cujos servios ofertados es-tejam no mbito da proteo social bsica e garantam as seguranas de convi-

    vncia e de fortalecimento de vnculos e/ou de renda e autonomia. Devem prever clusulas que se refi ram especifi camente cooperao com os CRAS, de referencia-

    mento ao CRAS, da obrigatoriedade de reservar vagas para encaminhamentos realizados pelo PAIF e de reconhecimento do PAIF como o servio a parti r

    do qual demandas so identi fi cadas e atendidas.

    7. Documento que normati za todos os servios socioassistenciais do Sistema nico de Assistncia Social - SUAS, estabelecendo nomenclaturas padres e regulamentando os contedos das provises de cada servio ofertado no mbito da polti ca de assistncia social.

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    H o reconhecimento de que alguns municpios ainda no dispem de rede socioassistencial ou esta continua em formao. Destaca-se, nesses casos, a necessidade, mais relevante, do estabelecimen-to da articulao entre servios, benefcios e transferncia de renda, a fim de auxiliar na constituio de redes de proteo social e materializao da poltica de assistncia social nos territrios.

    Nos municpios onde no h rede socioassistencial local, ou esta encontra-se em fase de constitui-o, o coordenador do CRAS, sob orientao do gestor de assistncia social, deve promover a arti-culao entre benefcios, transferncias de renda e servios, garantindo que as informaes sejam compartilhadas, de modo a iniciar a estruturao de uma rede de proteo social de assistncia social nos territrios. Tal articulao permite, por exemplo, que as situaes de descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Famlia sejam conhecidas e acompanhadas e que retornos sejam dados ao responsvel pelo Programa Bolsa Famlia. Outro exemplo a identificao de fam-lias com crianas e adolescentes beneficirios do BPC fora da escola. Nessa situao importante a atuao dos tcnicos do CRAS na sensibilizao da famlia e da escola do territrio para a garantia do acesso educao desses usurios, bem como para o acompanhamento dessas famlias pelo PAIF, de modo a assegurar os demais direitos dos beneficirios e suas famlias8.

    A articulao da rede socioassistencial presume o estabelecimento de conexo e fluxos entre o CRAS e o(s) responsvel(is) pelo Programa Bolsa Famlia no municpio ou DF, assim como com as agncias do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), para a garantia do acesso ao BPC, a fim de contribuir para a gesto integrada de servios e benefcios, permitindo o acesso dos beneficirios de transfe-rncia de renda aos servios socioassistenciais locais, com prioridade para os mais vulnerveis9.

    Com o intuito de acordar procedimentos para a gesto integrada dos servios, benef-cios e transferncias de renda para acompanhamento das famlias do PBF, PETI e

    PBC no mbito do SUAS, foi pactuado na Comisso Intergestores Tripartite - CIT, o Protocolo de Gesto Integrada de Servios, Benefcios e Transferncias de Ren-da no mbito do Sistema nico de Assistncia Social SUAS. A gesto integrada uma estratgia para qualificar e potencializar o impacto dos benefcios assis-tenciais, transferncia de renda e dos servios do SUAS, pois vincula segurana

    de renda s seguranas de convvio familiar, comunitrio e de desenvolvimento da autonomia previstas na Poltica Nacional de Assistncia Social, de modo a ma-

    terializar os direitos socioassistenciais.

    8. Em 2007, foi criado o Programa de Acompanhamento e Monitoramento do Acesso e Permanncia na Escola das Pessoas com Deficincia Beneficirias do Benefcio de Prestao Continuada da Assistncia Social - BPC/LOAS, com prioridade para aquelas na faixa etria de zero a dezoito anos, conhecido como BPC na ESCOLA. Para mais informaes acessar: http://www.mds.gov.br/suas/revisoes_bpc/bpc-na-escola.

    9. Dentre os mais vulnerveis encontram-se as famlias em descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Famlia e os beneficirios do Benefcio de Prestao Continuada de Assistncia Social, conforme se ver no Caderno do PAIF.

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    A seguir, um esquema que ilustra a articulao entre servios, benefcios e transferncia de renda:

    H municpios onde a gesto do Cadnico feita no prprio CRAS. Mesmo nestes casos de-ve-se manter a idia de articulao especificada na ilustrao, pois a arti-culao com a coordena-o do Cadastro e com o responsvel pela gesto do Programa Bolsa Fam-lia imprescindvel para possibilitar a gesto ter-ritorial do CRAS.

    A articulao da rede socioassistencial de proteo social bsica requer tambm a conexo do CRAS a um CREAS (ou, na sua ausncia, a quem for designado para coordenar a proteo social especial no municpio ou DF), efetivando o papel de referncia e contrarreferncia do CRAS no territrio e fortalecendo o SUAS.

    Rede Socioassistencial da PSB

    Para o exerccio da referncia e contrarreferncia, ne-cessrio que o gestor municipal defina os fluxos e proce-dimentos de encaminhamentos entre a proteo bsica e especial, e que o coordenador do CRAS garanta, no mbito da proteo bsica, que estes fluxos e procedi-mentos funcionem.

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    3.1.2 Promoo da Articulao Intersetorial

    A intersetorialidade se refere articulao entre setores e saberes, para responder, de forma inte-grada, a um objetivo comum. uma nova maneira de trabalhar, de governar e de construir polticas pblicas, que possibilita a superao da fragmentao dos conhecimentos e das estruturas sociais, para produzir efeitos mais significativos na vida da populao, respondendo com efetividade a pro-blemas sociais complexos.

    A promoo da articulao intersetorial depende de uma ao deliberada, que pressupe a idia de conexo, vnculo, relaes horizontais entre parceiros, interdependncia de servios, respeito diversidade e s particularidades de cada setor.

    A intersetorialidade se materializa mediante a criao de espaos de comunicao, do aumento da capacidade de negociao e da disponibilidade em se trabalhar com conflitos. Sua efetividade de-pende de um investimento dos municpios e DF, na promoo da intersetorialidade local, bem como da capacidade em estabelecer e coordenar fluxos de demandas e informaes entre as organizaes e atores sociais envolvidos.

    A articulao intersetorial no est sob a governabilidade da poltica de As-sistncia Social. Para que acontea, necessrio um papel ativo do poder executivo municipal ou do DF, como articulador poltico entre as diversas

    secretarias que atuam nos territrios dos CRAS, de modo a priorizar, estimu-lar e criar condies para a articulao intersetorial local. O gestor de as-sistncia social pode, no entanto, influir para que seja definida a prioridade

    de articulao das aes no territrio de abrangncia do CRAS. A articulao intersetorial deve envolver escolas, postos de sade, unidades de formao pro-

    fissional, representantes da rea de infraestrutura, habitao, esporte, lazer e cultura, dentre outros.

    Para que a intersetorialidade ocorra, necessrio que os setores dialoguem entre si, se conheam e construam forma(s) de trabalhar conjuntamente. No caso da Assistncia Social, a interlocuo com os demais setores e a construo de agendas comuns dependem de uma boa compreenso por parte dos demais setores, da PNAS, do SUAS, das NOB-SUAS e RH; bem como das funes do CRAS, servios ofertados, prioridades de acesso, fluxos de encaminhamento etc. O objetivo da articulao intersetorial proporcionar a melhoria das condies de vida das famlias, possibilitando o acesso a servios, especialmente para os que se encontram em situao de maior vulnerabilidade social. Deve favorecer a troca de experincias e a busca de apoio e de solues para problemas comuns, de maneira a constituir uma rede de proteo social.

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    Na ao intersetorial, a discusso de priorizao de acesso, com base nas vulnerabilidades e riscos sociais, assu-me um papel importante. Uma crian-a ou adolescente com defi cincia deve ter prioridade de acesso escola e ao servio socioassistencial de con-vivncia. Sua famlia tambm deve ter ateno prioritria no acesso aos ser-vios socioassistenciais e demais pol-ti cas setoriais, de forma a fortalecer a rede de proteo social a essa criana ou adolescente e sua famlia.

    As agendas sociais do governo federal e algumas agendas estaduais ou locais fortalecem a ao intersetorial em territrios com presena de CRAS, esti mulando o dilogo entre polti cas pblicas. Nestes casos, o CRAS deve contribuir para potencializar a ao do Estado em territrios de pobreza, violncia ou mesmo com acesso difi cultado aos servios pblicos. Ao fortalecer as agendas interse-toriais, a assistncia social potencializa sua ao.

    Agendas Sociais do Governo Federal

    Territrios da Cidadania

    Tem como objeti vos promover o desenvolvimento econmico e universalizar programas bsicos de cidadania por meio de uma estratgia de desenvolvimento territorial sustentvel. O foco a reduo da pobreza e das desigualdades no meio rural. Prev como estratgias fundamentais a parti cipao social e a integrao de aes entre Governo Federal, estados e municpios. So o pblico-alvo os agricultores familiares, assentados da reforma agrria, quilombolas, indgenas, extrati vistas, entre outros. Todos os municpios que fazem parte da Agenda Social Territrios da Cidadania e que esto habilitados em gesto bsica ou plena do SUAS, so cofi nanciados pelo governo federal para desen-volver o PAIF. Para mais informaes, consultar o site www.territoriosdacidadania.gov.br.

    PRONASCI/Territrio da Paz

    O Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania (PRONASCI) arti cula polti cas pblicas de segurana com projetos sociais e prioriza a preveno. So denominadas de Territrio de Paz as localidades escolhidas para a implantao de vrias aes do Pronasci, que buscam envolver a po-

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    pulao, especialmente a juventude, em ati vidades voltadas para a promoo da cidadania, dos di-reitos humanos, da incluso social e para a reduo da criminalidade e da violncia na comunidade. Arti cula aes intersetoriais em reas consideradas prioritrias. O MDS tem envidado esforos para ampliar a cobertura de CRAS em municpios que aderiram ao PRONASCI. Para mais informaes, consultar o site htt p://www.mj.gov.br/data/Pages/MJE24D0EE7ITEMIDF7316436C7B442728214A0E68B0E89C4PTBRIE.htm.

    Juventude/ PROJOVEM

    A agenda social da Juventude, expressa no PROJOVEM (Programa Nacional de Incluso de Jovens), busca assegurar direitos e gerar oportunidades para jovens entre 15 e 29 anos, arti culando aes entre os setores de assistncia social, educao, trabalho e juventude, direitos humanos, sade, meio ambiente, esporte, lazer e cultura. Tem como eixos estruturantes a elevao da escolaridade, qualifi cao profi ssional e o desenvolvimento humano. A modalidade Projovem Adolescente, desti -nada aos jovens de 15 a 17 anos, s pode ser desenvolvida se o servio for ofertado no CRAS ou no seu territrio de abrangncia, devendo ser referenciado ao CRAS. Para mais informaes, consultar o site htt p://www.mds.gov.br/suas/guia_protecao/projovem.

    A promoo da arti culao intersetorial uma importante ferramenta de garanti a de direitos, pois potencializa a rede de proteo social, com a integrao de diversos saberes e prti cas, capazes de apresentar respostas inovadoras complexidade das situaes de vulnerabilidade e risco social dos territrios.

    A arti culao intersetorial deve ser uma estratgia de potencializao de resultados, por isso no deve ser mero arranjo informal: recomenda-se que seja insti tucionalizada e normati zada, propician-do uma ao cont nua e efeti va.

    A promoo da arti culao intersetorial no territrio de abrangncia do CRAS uma ao coleti va, comparti lhada e in-tegrada a objeti vos e possibilidades de outras reas, tendo por escopo garanti r a integralidade do atendimento aos

    segmentos sociais em situao de vulnerabilidade e risco social.

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    tegrada a objeti vos e possibilidades de outras reas, tendo

    A promoo da arti culao intersetorial no territrio de abrangncia do CRAS uma ao coleti va, comparti lhada e in-tegrada a objeti vos e possibilidades de outras reas, tendo por escopo garanti r a integralidade do atendimento aos

    segmentos sociais em situao de vulnerabilidade e risco social.

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    3.1.3 Busca Ativa no Territrio do CRAS

    A busca ativa refere-se procura intencional, realiza-da pela equipe de referncia do CRAS, das ocorrncias que influenciam o modo de vida da populao em de-terminado territrio. Tem como objetivo identificar as situaes de vulnerabilidade e risco social, ampliar o conhecimento e a compreenso da realidade social, para alm dos estudos e estatsticas. Contribui para o conhecimento da dinmica do cotidiano das popula-es (a realidade vivida pela famlia, sua cultura e valo-res, as relaes que estabelece no territrio e fora dele); os apoios e recursos existentes e, seus vnculos sociais.

    A busca ativa atua sobre as situaes de vulnerabilidade, risco e potencialidade social identificadas. Apia-se em informaes disponveis, como aquelas sobre famlias - ou jovens - em descumprimen-to de condicionalidades do Programa Bolsa Famlia (e outras fontes).

    uma importante fonte de notificao das situaes de vulnerabilidade e risco sociais, bem como das potencialidades identificadas no territrio10, essencial ao preventiva e priorizao do aces-so dos mais vulnerveis aos servios de assistncia social11. , portanto, elemento essencial ao de-senvolvimento do PAIF.

    A realizao de diagnsticos a partir de indicadores generalizantes apresenta limites e, por isso, quanto mais os tcnicos conhecerem as caractersticas e especificidades dos territrios, mais aumentam as chances de eles obterem uma fotografia viva das dinmicas da realidade local. Assim, a busca ativa complementa a gesto territorial. Contribui para o planejamento local e para a ao preventiva da Proteo Bsica, propiciando equipe do CRAS um adequado conhecimento do territrio.

    A equipe deve incorporar, no processo de trabalho, as informaes originrias da busca ativa, utilizando-as para definir aes estratgicas, urgentes, preventivas e de rotina. Dentre as informaes estratgicas e urgentes, destacam-se aquelas que se referem s famlias em descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Famlia. A anlise das causas de descumprimento de condicionalidades (por famlias e por jovens) evidenciam situaes de risco ou de maior vulnerabilidade social. Faz-se necessrio tratar com ur-gncia as situaes de descumprimento de condicionalidades das famlias que correm risco de perder o be-nefcio (no quarto registro de descumprimento de condicionalidades, o benefcio da famlia ser suspenso por 60 dias e no quinto registro de descumprimento a famlia poder ter o benefcio cancelado)12.

    10. A busca ativa, realizada pela equipe do CRAS, contribui para a vigilncia social do municpio, de responsabilidade do rgo gestor municipal (ou do DF) de assistncia social. Enquanto o Sistema de Vigilncia Social do SUAS no for institudo, os municpios devem registrar as situaes encontradas, tomando como base as informaes a serem prestadas no Censo CRAS.

    11. Dentre os mais vulnerveis encontram-se: 1. famlias e jovens em situao de descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Famlia. 2. famlias do Pro-grama de Erradicao do Trabalho Infantil PETI em descumprimento de condicionalidades; 3. famlias com pessoas com deficincia de 0 a 18 anos beneficirios do BPC; 4. famlias beneficirias do Programa Bolsa Famlia e/ou em situao de risco com jovens de 15 a 17 anos; 5. famlias residentes no territrio do CRAS com presena de pessoas que no possuem documentao civil bsica; 6. famlias com crianas de 0 a 6 anos em situao de vulnerabilidade/ou risco social; 7. famlias com indivduos reconduzidos ao convvio familiar, aps cumprimento de medidas protetivas e/ou outras situaes de privao do convvio familiar e comunitrio, e 8. famlias com pessoas idosas.

    12. Para mais informaes sobre descumprimento de condicionalidades do PBF, consultar: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/condicionalidades/advertencias-e-sancoes.

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    A busca ati va identi fi ca tambm as potencialidades e recursos culturais, econmicos, sociais, po-lti cos, a oferta de servios setoriais e acessos da populao a esses servios, as redes de apoio informais das famlias e as necessidades de arti culao da rede socioassistencial para a efeti vidade da proteo social. Contribui ainda para a defi nio de projetos coleti vos a serem priorizados ou in-centi vados e identi fi ca e esti mula os potenciais sociais existentes, favorecendo a parti cipao cidad das famlias atendidas pelo PAIF.

    Para agir preventi vamente necessrio dispor de informa-o, conhecer o territrio e as famlias que nele vivem. A iden-ti fi cao e o conhecimento das situaes de vulnerabilidade e risco social devem ser uti lizados como fonte para o pla-

    nejamento municipal, para a defi nio de servios socioassis-tenciais a serem ofertados em cada territrio e para a ao

    preventi va nos territrios dos CRAS.

    O conhecimento das vulnerabilidades sociais, das situaes de desigualdades a parti r dos territrios, tem por princpio a dimenso ti ca de incluir os invisveis. A busca ati va tem por foco os poten-ciais usurios do SUAS cuja demanda no espontnea ou encaminhada por outras instncias, bem como considera as informaes estratgicas para a ao coleti va. Contribui tambm para a sensi-bilizao da populao do territrio para parti cipao em aes, servios e projetos ofertados pelo CRAS e demais unidades da rede socioassistencial do seu territrio.

    So estratgias da busca ati va:

    deslocamento da equipe de referncia para conhecimento do territrio; contatos com atores sociais locais (lderes comunitrios, associaes de bairro etc); obteno de informaes e dados provenientes de outros servios socioassistenciais e setoriais; campanhas de divulgao, distribuio de panfl etos, colagem de cartazes e uti lizao de carros de som.

    Outra estratgia de realizao da busca ati va a uti lizao de dados das famlias do territrio de atuao do CRAS provenientes do Cadastro nico de Programas Sociais e das listagens:

    a) dos benefi cirios do Benef cio de Prestao Conti nuada BPC; b) dos benefi cirios do PETI;c) dos benefi cirios do Programa Bolsa Famlia; ed) dos benefi cirios do Programa Bolsa Famlia em descumprimento de condicionalidades.

    A busca ati va possibilita o conhecimento do territrio e das famlias. Isto pode ocorrer na ao coti -diana dos tcnicos, quando estes treinam o olhar de modo a perceber que cada ati vidade, contato ou ao intencional disponibiliza informaes que, sistemati zadas, consti tuem um diagnsti co social que contribui para a ao preventi va e para o planejamento de servios necessrios.

    Para agir preventi vamente necessrio dispor de informa-Para agir preventi vamente necessrio dispor de informa-

    ti fi cao e o conhecimento das situaes de vulnerabilidade e risco social devem ser uti lizados como fonte para o pla-

    Para agir preventi vamente necessrio dispor de informa-o, conhecer o territrio e as famlias que nele vivem. A iden-ti fi cao e o conhecimento das situaes de vulnerabilidade e risco social devem ser uti lizados como fonte para o pla-

    nejamento municipal, para a defi nio de servios socioassis-tenciais a serem ofertados em cada territrio e para a ao

    preventi va nos territrios dos CRAS.

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    As necessidades so ditadas pelo territrio: s conhecendo suas caractersti-cas pode-se saber quais servios sero ofertados, aes socioassistenciais desenvolvidas, atenes necessrias, a quem se destinam, quais objetivos se quer atingir, qual metodologia adotar, onde sero ofertados, com que frequncia, qual a sua durao, os profissionais responsveis, qual o papel da rede socioassistencial no atendimento dessa demanda e os demais servi-os setoriais necessrios. Nessa direo, a busca ativa fundamental para a construo do Plano Municipal (ou do DF) de Assistncia Social: as informa-es sobre vulnerabilidades, riscos e potencialidades do territrio aprimoram o diagnstico social do municpio, constituindo-se como elementos importantes para a definio de metas e aprimora-mento dos servios socioassistenciais no municpio.

    3.1.4. Produo de material socioeducativo

    Refere-se produo de materiais socioeducativos, com intuito de dar concretude s ati-vidades coletivas/comunitrias, sensibilizar a comunidade para alguma questo, mobilizar para a realizao de eventos ou campanhas, divulgar as atividades do PAIF e outros servios socioassistenciais: as ofertas e as formas de acesso, ou subsidiar a realizao de atividades socioeducativas. Quando realizados com recursos da Unio, os materiais de apoio s ativida-des socioeducativas publicados devem conter a logomarca do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, mediante sua aprovao.

    3.2 Oferta do Programa de Ateno Integral Famlia (PAIF) e de outros servios socioassistenciais de proteo bsica

    O CRAS tem por funo ofertar, de forma exclusiva e obrigatria, o Programa de Ateno Integral Famlia PAIF, independentemente de sua fonte financiadora, conforme vimos no Captulo 1.

    O PAIF o principal servio de Proteo Social Bsica, ao qual todos os outros

    servios desse nvel de proteo de-vem articular-se, pois confere a pri-mazia da ao do poder pblico na garantia do direito convivn-cia familiar e assegura a matricia-

    lidade sociofamiliar no atendimen-to socioassistencial, um dos eixos estruturantes do SUAS.

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    O PAIF, reconhecendo a famlia como espao privilegiado de proteo e desenvolvimento das pes-soas, tem por objeti vo o fortalecimento da convivncia familiar e comunitria uma das garanti as afi anadas pela PNAS (2004) e somente pode ser ofertado pelo poder pblico, por meio da equipe de referncia13 do CRAS.

    Conforme vimos no captulo 2, outros servios socioassistenciais de proteo social bsica, especialmente aqueles de carter preventivo, proativo e coletivo, tambm podem ser oferta-dos no CRAS, desde que respondam a uma demanda do territrio, sejam articulados ao PAIF e fortaleam sua implementao e que contribuam para o cumprimento dos objetivos da proteo social bsica do SUAS.

    Todavia, caso se opte pela oferta de outros servios no CRAS, tais como os Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos - para crianas; idosos; adolescentes e jovens como o Projovem Adolescente; ou projetos de incluso produti va, preciso dispor de espao f sico, material, equipa-mentos e de equipe de profi ssionais compat vel com as orientaes especfi cas de cada servio, e de modo a no prejudicar o desenvolvimento do PAIF14.

    A publicao Orientaes Tcnicas da Pro-teo Social Bsica: Programa de Ateno Integral Famlia PAIF tratar especifi-

    camente desse assunto.

    13. Para mais informaes, consultar o Captulo 6.

    14. O espao f sico do CRAS, necessrio ao desenvolvimento do PAIF e da gesto territorial, ser apresentado no Captulo 4.

    teo Social Bsica: Programa de Ateno A publicao Orientaes Tcnicas da Pro-teo Social Bsica: Programa de Ateno Integral Famlia PAIF tratar especifi-

    camente desse assunto.

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    Captulo 4

    Implantao e Organizao doTrabalho do CRAS

    O processo de implantao do CRAS deve ser compreendido como o conjunto de providncias que devero ser tomadas pelo rgo gestor municipal de assistncia social ou congnere, com vistas ao cumprimento das exigncias de instalao dessa unidade pblica em determi-nado territrio e oferta de servios de qualidade.

    Desde o momento da implantao preciso definir os instrumentos de monitoramento das aes e servios nele ofertados, de acompanhamento das famlias e de registro de informaes na-cionalmente pactuadas.

    Vimos, no captulo 2, que a definio das reas de instalao de CRAS parte do planejamento da descentralizao da assistncia social, que deve favorecer o conhecimento das desigualdades sociais intraurbanas e necessidades de oferta de servios que contribuam para o fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios, preveno de situaes de riscos e constituio da rede de proteo social no(s) territrio(s) de vulnerabilidade social.

    O Plano Municipal (ou do DF) de Assistncia Social dever definir a quantidade de CRAS necessria a ser instalada em cada localidade, bem como a capacidade de atendimento de cada unidade, o que de-pende do nmero de famlias referenciadas e dos servios que sero prestados diretamente no CRAS.

    A localizao do CRAS fator determinante para que ele viabilize, de forma descentralizada, o aces-so aos direitos socioassistenciais. O fato de esta unidade de proteo bsica ter caractersticas que nenhuma outra possui, e dada sua centralidade no territrio, sua implantao deve ser precedida de planejamento - especfico para cada unidade -, detalhando o que foi previsto no Plano Municipal

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    ou do DF, de modo a garantir que o prazo estabelecido seja cumprido. H, portanto, um perodo necessrio para que atividades sejam desenvolvidas, at que a unidade CRAS esteja instalada e se encontre em funcionamento.

    J a organizao do trabalho do CRAS diz respeito aos processos imprescindveis efetividade das funes do CRAS: planejamento, organizao do trabalho em equipe e registro de informaes. Essas aes constituem atividades meio sem as quais os objetivos fim dos CRAS no so alcanados.

    4.1 Localizao, segundo as singularidades dos territrios

    O CRAS deve localizar-se em reas que concentram situaes de vulnerabilidade e risco social. Todavia, a Norma Operacional Bsica/SUAS (2005) reconhece que diagnosticar a incidncia de situaes de vulnerabilidade e risco social uma tarefa complexa, em especial no que diz respeito obteno de informaes sociais intraurbanas municipais, bem como informaes de difcil mensurao ou sobre as quais no se dispe de estatsticas nacionais, tais como si-tuaes de violncia, negligncia e abandono.

    Ao reconhecer esta dificuldade, a NOB-SUAS admi-te que os CRAS sejam instalados, prioritariamente, em territrios com maior concentrao de famlias com renda per capita mensal de at salrio mni-

    mo, uma vez que as vulnerabilidades sociais podem ser agravadas pela situao de empobrecimento das famlias.

    Em geral, territrios com concentrao de famlias pobres so mais vulnerveis pois, desprovidos de servios, o que

    evidencia a necessidade de uma maior ateno do Estado.

    Nos municpios de pequeno porte I e II, o CRAS pode localizar-se em reas centrais, ou seja, reas de maior convergncia da populao, sempre que isso representar acesso mais facilitado para famlias vulnerveis, das reas urbanas e rurais. Todavia, essa escolha deve ser criteriosa, e no uma regra, j que os municpios so bastante distintos uns dos outros. A disperso territorial, caractersticas mais urbanas ou rurais, presen-a de populao indgena, dentre outros, tornam cada municpio nico e, por conseguinte, com necessida-des especficas. Assim, alguns municpios de pequeno porte optaro pela instalao do CRAS no centro da cidade, enquanto outros decidiro implantar o CRAS em territrio vulnervel, afastado do centro da cidade. Outros ainda constataro a necessidade de mais de um CRAS para cobertura dos territrios.

    Nos municpios de mdio e grande porte, bem como nas metrpoles, o CRAS deve situar-se nos ter-ritrios de maior vulnerabilidade. Em caso de impossibilidade temporria (no existncia de imvel compatvel, grande incidncia de violncia, dentre outros), a unidade deve ser instalada em local prximo ao territrio de abrangncia, a fim de garantir o efetivo referenciamento das famlias em situao de vulnerabilidade e seu acesso proteo social bsica.

    Nestes municpios, em que ser necessria a instalao de vrios CRAS visando universalizar a Proteo So-cial Bsica, para a cobertura de todas as reas vulnerveis, os CRAS podero ter territrios maiores do que o

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    padro estipulado pela NOB-SUAS, desde que disponham de recursos humanos compatveis com o referen-ciamento de um nmero maior de famlias e que esteja previsto no Plano Municipal de Assistncia Social.

    Experincias de implantao de CRAS em metrpoles e cidades de grande porte mostram a ne-cessidade de referenciamento de grandes reas para que nenhum territrio vulnervel fique sem cobertura de CRAS. Essa estratgia deve ter carter provisrio. A medida em que novos CRAS forem implantados, deve ser realizado um novo referenciamento das famlias, se aproximando, assim, pau-latinamente no que est previsto na NOB SUAS.

    No caso de territrios de baixa densidade demogrfica, com espalhamento ou disperso populacional (reas rurais, comunidades indgenas, quilombolas, calhas de rios, assentamentos etc), o CRAS dever instalar-se em local de melhor acesso para a populao e poder realizar a cobertura dessas reas por meio de equipes volantes ou de unidades itinerantes, responsveis pelo deslocamento dos servios.

    Este deslocamento se justifica pela necessidade de viabilizar o acesso dos usurios aos servios de proteo bsica do SUAS, por intermdio do trabalho social com famlias. O servio deve ser pla-nejado, continuado, monitorado e avaliado. No se trata, portanto, da oferta de atividades espordicas, nem exclusivamente de busca ativa15.

    As equipes volantes podem existir em regies nas quais h a instalao de um CRAS que deve cobrir uma rea grande, ou mesmo populaes disper-sas, como municpios com Povos e Comunidades Tradicionais. J os CRAS itinerantes, constitudos de embarcaes, podem ser criados em situaes especficas, nas quais sua fixao territorial impossibilitada devido s carac-tersticas naturais do territrio onde as famlias referenciadas residem, tais como calhas de rios e regies ribeirinhas.

    A definio do nmero de famlias a serem referenciadas aos CRAS deve guardar relao com o porte do municpio, como prev a NOB-SUAS. No caso dos municpios de mdio e grande porte e metrpoles, faz-se necessrio analisar se todos os territrios tm 5.000 famlias, ou se a organizao intraurbana do municpio, em territrios de vulnerabilidade, acarretou constituio de alguns terri-trios menores (devido a obstculos geogrficos, problemas sociais, dentre outros). Nesses casos, podem ser implantados CRAS que referenciam at 2.500 famlias.

    Assim, o nmero de famlias que vivem no territrio constitui parmetro para a capacidade de aten-dimento do CRAS. O quadro a seguir mostra que quanto mais famlias referenciadas, maior deve ser a capacidade de atendimento/ano do CRAS.

    Famlias referenciadas* Capacidade de atendimento anual**At 2.500 500 famlias

    3.500 750 famlias

    5.000 1.000 famlias

    * So aquelas que vivem no territrio de abrangncia do CRAS.** A capacidade de atendimento estimada. Consiste em uma proporo do nmero de famlias referenciadas. O Censo CRAS 2008 solicita informaes sobre o volume real de atendimentos realizados pelos CRAS.

    15. Para mais informaes sobre a busca ativa, ver captulo 3.

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    Com a fi nalidade de organizar e planejar a cobertura da proteo social bsica nos territrios, reco-menda-se que o Plano Municipal (ou do DF) de Assistncia Social apresente o mapa do municpio, dividido em territrios de vulnerabilidade e com a indicao de quantas famlias vivem em cada territrio e que sero, consequentemente referenciadas a cada CRAS. Desse modo, por exemplo, um municpio de grande porte pode ter quatro CRAS em territrios que referenciam 5.000 famlias e dois CRAS em territrios que referenciam 2.500 famlias, conforme ilustrao abaixo.

    LegendaTerritrios laranja: alto ndice de situaes de vulnerabilidade e risco social.Territrios marrons: baixo ndice de situaes de vulnerabilidade social.

    Pontos verdes: CRAS.

    Esta deciso dever ser embasada em estudo sobre a descentralizao da assistncia social no mu-nicpio (ou DF) e constar no Plano Municipal (ou do DF), aprovado pelo Conselho Municipal (ou Dis-trital) de Assistncia Social. O Plano deve conter, ainda, conforme visto no captulo 2, a cronograma de cobertura de CRAS em todos os territrios vulnerveis do municpio.

    A defi nio da estrutura f sica e da equipe de referncia do CRAS deve considerar tam-bm o nmero de famlias referenciadas e

    os servios que sero nele ofertados, confor-me captulo 5.

    O prximo item apresenta as ati vidades imprescindveis ao processo de implantao do CRAS. Tem o intuito de orientar os gestores da polti ca de assistncia social, que podero modifi car o rol apresen-tado, substi tuindo e agregando tarefas que melhor respondam s especifi cidades dos municpios.

    Municpio Jardim das Flores Bairros Girassol e Tulipas5.000 famlias referenciadas ao CRAS Girassol

    Bairro Margaridas 5.000 famlias referenciadas ao CRAS Margaridas

    Bairro das Rosas e Violetas 5.000 famlias referenciadas ao CRAS Rosas

    Bairro Florido 2.500 famlias referenciadas ao CRAS Flor de Lis2.500 famlias referenciadas ao CRAS Flor de Maio

    Bairro dos Lrios e Orquideas5.000 famlias referenciadas ao CRAS Lrios

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    4.2 Atividades necessrias Implantao

    A implantao do CRAS deve ser planejada e cronologicamente organizada, de forma a identificar os processos que podem ser executados simultaneamente, aqueles que esto em andamento e as projees para o futuro. Recomenda-se que seja feita a descrio das atividades necessrias em cada etapa do projeto de implantao, definidas as responsabilidades dos atores envolvidos e os prazos para seu cumprimento.

    Constituem atividades necessrias implantao de um CRAS e oferta dos servios socioassiten-ciais, em especial do PAIF: a) elaborar diagnstico socioterritorial e identificar necessidades de ser-vios; b) planejar com outras instncias sociais a implantao da unidade; c) implantar as condies fsicas, institucionais e materiais necessrias; e d) selecionar, admitir e capacitar a equipe de refe-rncia. O quadro abaixo detalha tais atividades:

    Elaborar Diagnstico Socioterritorial e Identificar Necessidades de Servios Conhecer a realidade municipal mediante as estatsticas oficiais, do banco de dados da vigiln-

    cia social do rgo gestor municipal de assistncia social, do dilogo com os profissionais darea, lideranas comunitrias, banco de dados de outros servios socioassistenciais ou seto-riais, organizaes no-governamentais, conselhos de direitos e de polticas pblicas, grupossociais e cadastramentos.

    Dispor de informaes sobre famlias do Programa Bolsa Famlia em cada territrio, beneficiriosdo BPC, incidncia de descumprimento de condicionalidades, trabalho infantil, violncia etc.

    Analisar os aspectos econmicos, culturais, polticos, histricos, as foras sociais e potencialida-des presentes nos territrios.

    Buscar conhecer os acessos da populao aos servios. Identificar a rede socioassistencial governamental e no-governamental e descrever suas carac-

    tersticas, localizao, formas de acessos e ofertas de servios. Caracterizar as necessidades de articulao, extenso e hierarquizao da rede. Identificar a rede existente no territrio: servios de sade, de cultura, educao (creches, es-

    colas) e demais servios setoriais.

    Identificar as redes de apoio informais existentes, como grupos de mulheres, associao demoradores.

    Planejar e adequar as aes do PAIF, segundo as particularidades do territrio. Identificar servios que sero ofertados no CRAS, alm do PAIF. Identificar necessidades e possibilidades de oferta de servios fora do CRAS, mas no seu terri-

    trio de abrangncia.

    Planejar com Outras Instncias Sociais a Implantao da Unidade Apresentar, discutir e aprovar a organizao do municpio segundo territrios de vulnerabilida-

    de, de forma a concretizar a descentralizao da assistncia social, e inserir este planejamentono Plano Municipal de Assistncia Social.

    Aprovar o plano de implantao do(s) CRAS no Conselho Municipal (ou Distrital) de AssistnciaSocial.

    Desenvolver formas participativas de planejamento e gesto, envolvendo profissionais da redesocioassistencial, organizaes governamentais e no-governamentais, foras sociais parceirase outros.

    Apresentar a proposta do CRAS na Cmara Legislativa, rgos do judicirio, polticas setoriais epara demais setores sociais, esclarecendo sobre suas funes e finalidades.

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    Implantar as Condies Fsicas, Institucionais e Materiais Prever recursos para implantar as condies fsicas, institucionais e materiais no CRAS. Construir, buscar e definir o imvel com localizao adequada e compatvel com as necessida-

    des dos programas, servios e projetos que sero implementados. Prever, no tempo, recursos e meios para aquisio de materiais permanentes e de consumo:

    linha e aparelho telefnico, computador conectado internet, impressora, fax, mveis e uten-slios, TV, vdeo, veculo, materiais socioeducativos, livros e material de orientao profissional,cadeiras, mesas, armrios, arquivos, dentre outros.

    Selecionar, Admitir e Capacitar a Equipe de Refer