manual de viveiros frutícolas

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Page 1: Manual de Viveiros Frutícolas
Page 2: Manual de Viveiros Frutícolas

MANUAL DO VIVEIRO

FrutícolasRaul Manuel de Albuquerque Sardinha

Projecto de Desenvolvimento dos Recursos NaturaisMunicípio da Ecunha, Província do Huambo

(CE-FOOD/2006/130444)

Page 3: Manual de Viveiros Frutícolas

FICHA TÉCNICA

Coordenação e Autoria do Estudo

Raul Manuel de Albuquerque Sardinha

Revisão

Instituto Marquês de Valle Flôr

(Diogo Ferreira, Gonçalo Marques e Rita Caetano)

Composição e Edição

Instituto Marquês de Valle Flôr

Concepção Gráfica

Matrioska Design, Lda

Impressão e Acabamento

Europam, Lda

Co-Financiamento

Comissão Europeia

Depósito Legal

Tiragem

1

Page 4: Manual de Viveiros Frutícolas

2

Page 5: Manual de Viveiros Frutícolas

ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E MAPAS 5

PREFÁCIO 7

I. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA COM PARTICULAR

REFERÊNCIA ÀS FRUTEIRAS 9

1. Factores que afectam a selecção de fruteiras

para plantação 9

1.1 Solo 9

1.2 Clima 9

1.3 Água 9

2. Material de plantação 10

3. Mercado 10

4. O Viveiro frutícola 10

4.1 Selecção das regiões e locais eleitos 10

4.2 Zona de propagação de plantas 10

4.3 Planeamento 11

5. Plantas base de propagação 11

6. Gestão da colecção de plantas mãe 12

6.1 Poda das fruteiras base 12

6 .2 Rega da colecção base 12

6.3 Nutrição da colecção de fruteiras base 12

6.4 Manutenção da colecção base 12

6.5 Substratos para a propagação 13

7. Ferramentas do viveiro 13

8. Problemas comuns nos viveiros 13

9. Gestão do viveiro 14

9.1 Problemas comuns num viveiro de produção

de fruteiras 14

9.2 Timing 15

9.3 Retroacção 15

10. Propagação de fruteiras 15

10.1 Propagação vegetativa 15

11. Pragas e doenças 28

12. Enxertias 28

12.1 Breve referência aos calendários.

A escolha dos garfos 29

12.2 Técnicas de enxertia 29

12.3 Material de enxertia 33

13. Mergulhia 33

13.1 Factores que afectam a regeneração de plantas

por mergulhia 34

13.2 Condicionamento fisiológico 35

13.3 Exemplo de alguns procedimentos 35

14. Rotinas gerais de gestão do viveiro 36

Índice

3

Page 6: Manual de Viveiros Frutícolas

II. RECOMENDAÇÕES DE FRUTEIRAS MAIS APTAS

PARA O MUNICÍPIO DE ECUNHA 37

1 Café arábica (Coffea Arabica L.) 37

1.1 Exigências edáficas 37

1.2 Zonas de distribuição cultural 38

1.3 Zonas ecologicamente mais favoráveis 38

2. Citrinos (Citrus spp.) 39

2.1 Exigências climáticas 39

2.2 Exigências edáficas 39

2.3 Zonas de exploração cultural 39

2.4 Zonas mais favoráveis à cultura 39

3. Goiabeira (Psidium guajava L.) 40

3.1 Exigências climáticas 40

3.2 Exigências edáficas 40

3.3 Zonas de distribuição cultural 40

3.4 Zonas mais favoráveis à cultura 40

4. Maracujá (Passiflora edulis Sims) 41

4.1 Exigências edáficas 41

4.2 Zonas de distribuição cultural 42

4.3 Zonas mais favoráveis à cultura 42

5. Fruteiras das regiões temperadas 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

Anexo I - Algumas misturas para o fabrico de substratos

para os viveiros de plantas frutícolas 45

4

Page 7: Manual de Viveiros Frutícolas

FIGURAS

1. Esquema mostrando as relações entre a colecção

base de fruteiras classificadas e a sua distribuição

e manutenção 12

2. Estacas para plantação 15

3. Ciclo de produção de fruteiras 17

4. Modelo do ciclo de vida clonal 18

5. Enxertia 18

6. Emergência de raízes adventícias 18

7. Estacas preparadas a partir dos lançamentos 20

8. Preparação de estacas com uma serra mecânica 20

9. Preparação das estacas a partir de um lançamento

retirado da árvore-mãe 20

10. Tipos de estacas lenhosas 21

11. Fenda na base da estaca antes do tratamento

com auxina 21

12. Esquematização das etapas de enraizamento

de estacas lenhosas 23

13. Esquema indicativo dos lançamentos 24

14. Efeito da polaridade do rebento de enxertia 25

15. Efeito da polaridade da estaca utilizada 25

16. Raiz deformada de uma fruteira plantada

com sistema radicular 27

17. Etapas básicas de execução de uma enxertia

de borbulha 30

18. Enxertia de fenda simples 31

19. Enxertia de fenda dupla 31

20. Enxertia de fenda vazada ou incrustação 32

21. Esquema de execução da enxertia inglesa 33

22. Procedimentos para a enxertia inglesa quando

o garfo é de dimensão menor do que o cavalo 33

23. Procedimentos para estimular a indução de raízes 34

24. Exemplificação de indução de raízes num ramo

e nova planta resultante 35

25. Procedimentos da mergulhia por amontoa 36

26. Exemplificação das etapas de mergulhia aérea 36

27. Zonas de distribuição e zonas aconselhadas

para expansão 38

28. Zonas de ocorrência de citrinos

e zonas mais favoráveis 40

29. Zonas de distribuição geral da goiabeira

e as mais aptas para expansão 41

30. Zonas de distribuição e mais aptas para o maracujá 42

QUADROS

1. Regra geral para misturas 13

2. Causas para o fraco desenvolvimento das plantas

e sugestões de correcção 14

3. Preparativos de Selecção 19

4. Reguladores de Crescimento 21

MAPAS

1. Localização do Município da Ecunha,

Província do Huambo, Angola 9

Índicequadros, figuras e mapas

5

Page 8: Manual de Viveiros Frutícolas

6

Page 9: Manual de Viveiros Frutícolas

PREFÁCIOA expansão do número de fruteiras numa região em fase

de crescimento demográfico, de consolidação da sua produção

agrícola e da própria propriedade rural, é um instrumento de

particular relevância no desenvolvimento e no combate

à pobreza do agricultor. Na verdade, fazer crescer árvores

de fruto é, em todos os trópicos, uma forma de consolidar

os “quintais de casa” o que requer mais do que simplesmente

plantar e colher. As fruteiras vêm sendo, um pouco por todo

o mundo tropical, um instrumento da consolidação

da propriedade rural e da fixação camponesa. Além de ser uma

prática consuetudinária de marcar um vínculo à terra

e de afirmar a propriedade, a prática de associação benéfica

da árvore à agricultura ganhou, graças ao trabalho de inúmeros

profissionais, um estatuto reconhecido como ciência integrativa

de várias disciplinas com enormes potenciais para

a transformação do estatuto nutricional da população em

certas fases do ciclo anual de produção e para a transformação

de paisagens em vias de degradação. O papel da árvore

de fruto na sensibilização do agricultor para a importância

da árvore no ordenamento da paisagem rural é, igualmente,

importante em zonas como o Município de Ecunha, onde

a degradação do coberto arbóreo natural vem deixando

marcas preocupantes na paisagem e onde a percepção

do agricultor sobre a importância dos bens ambientais é bastante

reduzida.

Antes do lançamento do Centro Mundial para a Agrosilvicultura

(CIFOR) em Nairobi (1978), a agricultura e os cultivos arbóreos

(aqui incluídos todos os tipos de árvores, independentemente

do seu produto principal) eram tratados como sendo

mutuamente exclusivos. O estudo e observação de inúmeras

práticas vem mostrando que a integração das árvores, a começar

pelas fruteiras, cuja utilidade e benefício imediato é mais

perceptível pelos agricultores, tem um enorme potencial para

beneficiar os camponeses e o ambiente. O que falta é pôr ao

serviço do camponês o poder da ciência e os mecanismos para

acelerar a geração de conhecimento ao serviço da melhoria

da produtividade e da qualidade por forma a explorar

efectivamente este potencial.

O Projecto para o Desenvolvimento dos Recursos Naturais

do Município de Ecunha (Contrato CE-FOOD/2006/130444),

executado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF),

em associação com a Cooperativa Agrícola da Ecunha, parte

da convicção que enfrentar o problema da degradação

dos recursos naturais só é efectiva se se abordarem, de forma

integrada, várias frentes convergentes: criação de pequenas

matas comunitárias ou pequenas parcelas individuais; divulgação

de tecnologias com potencial de aumentar a eficiência

da transformação recursos lenhosos de rápido crescimento

ou no uso de lenhas e carvões; aumentar a disponibilidade

de alimentos, como são os frutos, com bom potencial alimentar

e susceptíveis de criar novas actividades e mercados.

7

Page 10: Manual de Viveiros Frutícolas

Este Manual, realizado no âmbito do projecto em curso,

faz parte integrante dessa estratégia. O viveiro que está a ser

construído para concretização desse objectivo é uma estrutura

que ultrapassa, contudo, o simples objectivo de produzir plantas

para distribuir. Na verdade ele pretende ser um pólo de irradiação

para a difusão de boas plantas e práticas culturais que devem

ser seguidas para proporcionarem bons rendimentos e frutos

de boa qualidade. Ele refere as boas práticas a usar na multi-

plicação de plantas, quer por via seminal quer vegetativa,

factores que afectam a regeneração, os problemas da fertilização,

bem como uma referência breve a formas de controlo de pragas

e doenças.

Cada espécie frutícola apresenta problemas e exigências

específicas cuja satisfação é essencial para que se alcance

a sua melhor produtividade. Para que se atinja a proficiência

necessária para lidar com os problemas particulares

e especializados da produção viveirista é necessário que

os futuros viveiristas estejam primeiramente familiarizados

com os problemas básicos da produção de plantas frutícolas

que foram a preocupação deste Manual.

O autor espera que os agricultores de Ecunha e os responsáveis

do viveiro, os principais destinatários deste Manual, o usem

para reflectirem sobre as técnicas e procedimentos descritos

de uma forma crítica para que as suas reflexões e sugestões

de melhoria possam vir a ser incorporadas numa nova edição.

8

Page 11: Manual de Viveiros Frutícolas

I. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA COM PARTICULAR

REFERÊNCIA ÀS FRUTEIRAS

Há muitos tipos e espécies de árvores de fruto e cada uma delas

apresenta exigências ecológicas diversificadas se bem que alguns

grupos apresentem maior plasticidade do que outros ocupando mais

do que uma grande região ecológica. O sucesso de fazer crescer uma

determinada espécie frutícola numa área particular depende de um

conjunto de factores que interessa considerar antes de tentar reproduzir

espécies em viveiro.

1. Factores que afectam a selecção de fruteiras para plantação

Qualquer produtor que planeie estabelecer um pomar ou um viveiro

que pretenda fornecer plantas para os agricultores ou comunidades

de agricultores do Município de Ecunha, deve pensar acerca dos

factores que afectam o crescimento das árvores de fruto antes

de escolher as variedades a propagar e a distribuir.

Os principais factores que afectam a selecção das fruteiras são:

1.1 Solo

Um bom solo deve suportar a árvore e deve apresentar boa drenagem.

Deve apresentar também bom teor de matéria orgânica e deve

responder igualmente à fertilização e adubação. Dadas as características

generalizadas dos solos do Município de Ecunha, de uma forma geral

pobres em nutrientes e matéria orgânica, as iniciativas de dispo-

nibilização de fruteiras requerem que o viveiro, ou a Coopecunha,

assuma uma função activa de acompanhamento e divulgação junto

dos agricultores quanto à escolha dos melhores locais de plantação

e a formulação da adubação e estrumação mais apropriadas.

Mapa 1 - localização do Município da Ecunha, Província do Huambo, Angola

1.2 Clima

As fruteiras mais aconselhadas para as zonas ecológicas do Planalto

Central são as que se expressam nos mapas de aptidão conforme

constam dos mapas apresentados no capítulo II deste Manual.

1.3 Água

Tal como se refere no Manual do Viveiro Florestal, a disponibilidade

de água é um factor importante num viveiro para a produção

de árvores de fruta. Sendo que uma pequena produção de plantas

9

Bailundo

Londuimbali

Tchindjenje

Ukuma

Ecunha

Longojo

Caala

Huambo

Mungo

Katchiumgo

TchikalaTcholoaga

Page 12: Manual de Viveiros Frutícolas

frutícolas virá a ser assumida pelo viveiro florestal, as considerações

feitas sobre o abastecimento de água estão já apresentadas,

não justificando outro desenvolvimento. Mas, para alem do viveiro,

onde estas condições serão satisfatoriamente resolvidas, o problema

da disponibilidade de água nos pequenos pomares dos agricultores

deve ser satisfatoriamente equacionado sobe pena de insucesso dos

mesmos e a qualidade dos frutos não ser satisfatória. É necessário

não esquecer que o planalto apresenta, nos meses de Junho a Agosto,

condições com significativo deficit hídrico e com acentuados baixos

níveis de humidade atmosférica, o que significa que a irrigação

é necessária para garantir sucesso à produção de fruta de qualidade

para o mercado ou consumo doméstico.

2. Material de plantação

A escolha e a disponibilização de material base quanto a variedades

de potencial conhecido (veja-se ponto de fruteiras aptas para o Planalto

Central) são essenciais para a rentabilidade da produção de plantas.

Em paralelo com essa disponibilidade, a garantia de satisfação

da produção e distribuição de plantas sadias é uma condição essencial

para o sucesso do desenvolvimento da produção frutícola no Município

de Ecunha.

3. Mercado

Esta é uma questão de particular importância se o objectivo desta

componente de intervenção do projecto se destinar, para além

da melhoria das condições alimentares da população rural, a criar uma

actividade de carácter comercial destinada fundamentalmente aos

mercados urbanos do distrito. É previsível que a melhoria das ligações

no troço rodoviário Ecunha-Huambo venham a criar boas possibilidades

de escoamento da produção para aquela cidade.

4. O Viveiro frutícola

Tal como já se referiu no Manual do Viveiro Florestal, o viveiro é o local

onde se produzem plantas com cuidados particulares até as plantas

estarem em condições para transplantação para os campos

dos agricultores.

Cada viveirista deve visar a produção de plantas uniformes e sãs, capazes

de se estabelecer rapidamente e com vigor no campo. Para fins comerciais,

e para planear quais as zonas prioritárias para a intervenção, é importante

que se considerem os seguintes factores:

4.1 Selecção das regiões e locais eleitos

Aspectos a considerar:

A disponibilidade de uma rede viária que facilite o escoamento

da fruta com preços concorrenciais e a distribuição das plantas;

A área dos pomares deve ser nivelada e protegida contra os ventos;

O solo deve estar razoavelmente drenado para evitar problemas

com a água estagnada;

O solo deve estar livre de pedras;

O local de plantação deve ter uma fonte de abastecimento

de água fiável nas proximidades;

O solo do local deve ser suficientemente fértil, sem bancadas

de laterite a pouca profundidade, de textura leve e com bom nível

de matéria orgânica e livre de doenças.

4.2 Zona de propagação de plantas

A área de produção de plantas deve providenciar condições

de crescimento adequadas (plana, de boa fertilidade e com boa

drenagem). Para plantas produzidas em vaso é essencial um substrato

equilibrado do ponto de vista físico e químico (veja-se Manual

do Viveiro Florestal);

Todas as plantas devem estar acessíveis para que sejam facil-

mente realizadas as operações diárias (rega, monda, enxertia);

10

Page 13: Manual de Viveiros Frutícolas

Os plantórios em plena terra ou em vasos devem permitir a fácil

movimentação das plantas para expedição para plantação.

4.3 Planeamento

Os aspectos essenciais a equacionar pelo responsável do viveiro são:

Disponibilizar uma área adequada para armazém e um alpendre

para ferramentas;

Canteiros para atempamento ou rustificação das plantas antes

da expedição;

Bancada de envasamento bem posicionada;

Dispor de uma área de preparação de substratos;

Vedação para protecção de animais e minimização de entradas

não autorizadas;

Zona de limpeza, lavagem de pés ou botas de trabalho junto

da zona de entrada para evitar o transporte de doenças para

as plantas.

5. Plantas base de propagação

As plantas das quais se retira o material de propagação por via vegetativa,

estacas, rebentos ou gomos para enxertia são chamadas plantas base

e devem ser obtidas de colecções certificadas de germoplasma melhorado.

Em zonas como o município de Ecunha, onde a actividade frutícola

praticamente desapareceu, não existem na proximidade plantas frutícolas

de qualidade e produtividade conhecidas para alimentar uma produção

com qualquer significado e para sustentar um esforço de desenvolvimento

frutícola na região. Assim, no primeiro ano de actividade do viveiro,

a produção de plantas terá de ser lançada de uma forma modesta

e na base de:

Aquisição de plantas já enxertadas provenientes do Instituto

de Investigação Agronómica do Huambo. O projecto deve elaborar

um caderno de encargos por forma a definir as espécies e número

de plantas pretendidas, padrões qualitativos exigidos, custos envolvidos;

Instalação, com base na colecção do germoplasma frutícola

na Chianga, de uma colecção de material base de fruteiras aptas

se bem que por vezes fora da sua área mais favorável à exploração

no Planalto Central: maracujaleiro, abacateiro, citrinos, goiabeiras,

e nespereiras. Tenha-se contudo em atenção que algumas destas

fruteiras que são aqui e ali cultivadas apresentam-se com interesse

alimentar e comercial para os mercados urbanos do planalto mas

que terão menor valor concorrencial com zonas de maior aptidão

ecológica em Angola1.

Esta colecção base é necessária por forma a obter-se:

Produção abundante de estacas e rebentos de forma a obter

novas plantas enraizadas, garfos ou gomos para enxertia de plantas

de qualidade para distribuição aos agricultores;

Redução da necessidade de viagens constantes para escolha

de estacas ou rebentos quase sempre de material onde o acom-

panhamento qualitativo é praticamente impossível;

Garantia de que as estacas ou rebentos se conservam frescos

e em bom estado, para alcançar o máximo sucesso no enraizamento

das estacas ou nas enxertias;

Uma melhor conservação do potencial genético das fruteiras que

são divulgadas;

Um melhor planeamento e gestão das operações de produção

de fruteiras.

11

Page 14: Manual de Viveiros Frutícolas

O fluxograma dos trabalhos que têm de ser empreendidos para criar

as bases para um verdadeiro fomento frutícola na região, é sintetizado

na figura 1 que se segue:

Fig. 1 - Esquema mostrando as relações entre a colecção base de fruteiras

classificadas e a sua distribuição e manutenção como base de um sistema

de distribuição e multiplicação para a propagação comercial

6. Gestão da colecção de plantas mãe

6.1 Poda das fruteiras base

É uma operação essencial para manter as árvores a emitir rebentos

necessários para as estacas ou gomos para a propagação vegetativa.

6 .2 Rega da colecção base

A poda frequente e a abundante rebentação induzida, provocam um

aumento do consumo de água que é necessário ser reposta mediante

bons cuidados de rega a fim de:

Assegurar o estabelecimento rápido e com sucesso da colecção;

Encorajar as árvores a crescer mais rapidamente e a produzir

mais rebentos;

Possibilitá-las a produzir rebentação ao longo de todo o ciclo

vegetativo;

6.3 Nutrição da colecção de fruteiras base

Por força das intervenções de promoção do crescimento das árvores

da colecção, as necessidades de nutrientes são acrescidas para compensar

as perdas de nutrientes fixadas no material vegetal permanentemente

retirado das árvores. Os nutrientes são fornecidos pelo recurso

ao “mulch” com que o solo é coberto, e com a cobertura do solo por

leguminosas que fornecerão azoto orgânico ao solo.

6.4 Manutenção da colecção base

O germosperma de base seleccionado como tendo o nome verdadeiro

(true to type) e livre de viroses é mantido em número restrito sob

condições protegidas para prevenir que fique infectado ou se percam

as suas características. Esta colecção é usualmente referida como

o bloco mãe. Nestes blocos as posições das plantas e da sua identificação

perfeita devem ser registadas, ab initio, em mapa. Devem ser conservadas

com etiquetas, e com contínua inspecção fitossanitária por serviços

ou técnico fitosanitarista habilitado. Neste tipo de cuidados deve ter-

se em atenção que a zona de manutenção desta colecção deve estar

separada da zona de multiplicação para evitar infecções. As árvores

devem ser mantidas com compasso largos.

Sendo esta colecção necessariamente limitada, deve fazer parte

do trabalho do viveiro e como base essencial do futuro desenvolvimento

frutícola do município, a criação de um talhão de maior dimensão, com

separação de espécies ou clones devidamente identificados e devidamente

mapeados, obtidos por multiplicação vegetativa da colecção base por

forma a que o viveiro disponha de suficiente material para propagação

e distribuição à lavoura.

12

Desenvolvimento

Germoplasma base

Fase 1Desenvolvimento

Fase 2Manutenção

Blocos de base Propagação

Plantasde progene

Fase 3Multiplicaçãoe distribuição

Blocos descendentes

Page 15: Manual de Viveiros Frutícolas

13

Tipo de solo no viveiro Proporções das misturas

Para solos pesados 1 de solo local: 2 de areia:

2 de composto orgânico bem curtido

Para solos de textura média 1 de solo local: 1 de areia:

1 de composto orgânico bem curtido

Para solos de textura leve 1 de solo local: o de areia:

1 de composto orgânico bem curtido

6.5 Substratos para a propagação

Um bom crescimento e desenvolvimento das plantas no viveiro requerem

um bom substrato que normalmente é conseguido com várias misturas

de diferentes materiais: solo do próprio viveiro, solo florestal, areia,

matéria orgânica bem decomposta ou materiais como a serradura

ou vermiculite que melhoram a qualidade da mistura.

6.5.1 Características de um bom substrato

As características físicas e químicas de um substrato adequado

ao viveiro aferem-se pelos seguintes parâmetros:

Deve ser leve para facilitar o transporte;

Conserva as plantas no lugar e não retrai ou incha provocando

roturas no sistema radicular das plantas;

Apresenta uma boa capacidade de drenagem;

Retém água mas permite uma boa drenagem (isto deve-se a uma

boa proporção entre o teor de matéria orgânica, areia e de argila);

Contem os nutrientes necessários para permitir um bom cresci-

mento e desenvolvimento das plantas;

Não se encontra contaminado por ervas infestantes e agentes

patogénicos (fungos, bactérias e nemátodos) e pode ser eventual-

mente esterilizada sem mudança das suas características físicas

e químicas.

Uma regra geral para misturas que satisfazem as características físicas

convenientes é:

Quadro 1 - Regra geral para misturas

Outras composições poderão ser utilizadas conforme poderá ver

no Manual do Viveiro Florestal ou no anexo deste capítulo.

7. Ferramentas do viveiro

As ferramentas a usar devem ser simples mas de boa qualidade.

Normalmente o maior custo do material de boa qualidade é largamente

compensado pela sua maior durabilidade e qualidade das operações

que executa. A sua manutenção cuidada deve ser uma preocupação

contínua do responsável pelo viveiro: navalhas de enxertia, secadores,

pás, ancinhos, etc. devem ser conservadas limpas e em perfeitas condições

de operação.

Regadores ou mangueiras com dispersões finas ou aspersores, se a rega

se vier a fazer por rega de aspersão, devem ser usados para aplicação

uniforme de água às plantas. Quanto à lista do material base veja-se

lista do material de viveiro no Manual do Viveiro Florestal.

8. Problemas comuns nos viveiros

O objectivo de um bom viveirista é a produção económica e tão rápida

quanto possível de plantas, sadias e de estrutura uniforme, capazes

de se estabelecerem rapidamente no campo e em boas condições.

Para isso o viveirista tem de estar alertado para alguns problemas

comuns que podem interferir negativamente com aqueles objectivos,

tais como:

Falta de abastecimento fiável de água;

Atrasos no fornecimento de adubos, ferramentas entre outros;

Higiene insuficiente no viveiro;

Planeamento desadequado.

Alguns problemas relacionam-se com uma má realização das infra-

estruturas e só podem ser mitigados com inputs adequados de ordem

financeira e de mão-de-obra, mas outros resultam, simplesmente,

de falhas de gestão e que podem ser ultrapassados com alterações

simples de rotinas e de operação ou de calendários.

Page 16: Manual de Viveiros Frutícolas

9. Gestão do viveiro

A plantação de plantas de qualidade requer uma gestão adequada.

Muitas pessoas negligenciam este elemento essencial. Insiste-se que

uma produção de plantas de qualidade é necessária para garantir

o futuro de uma árvore de boa qualidade produtiva. Plantas produzidas

sob condições medíocres nunca terão boas performances quando

futuramente postas no terreno.

9.1 Problemas comuns num viveiro de produção de fruteiras

Não obstante estes problemas já terem sido tratados (Veja-se Manual

do Viveirista Florestal), embora na perspectiva das plantas florestais,

lembra-se que há muitos pontos em comum com os que se colocam

às fruteiras lenhosas pelo que não se afigura necessário repeti-los. Será

suficiente lembrar que o objectivo de um bom viveirista é o de produzir

em tempo adequado (implicações no custo unitário de produção

de cada planta) plantas uniformes e sadias com um sistema radicular

forte e fibroso permitindo a sua sobrevivência e estabelecimento rápido

após plantação. Muitos destes objectivos não se concretizam por várias

razões que se listam no quadro que se transcreve abaixo.

Um bom planeamento joga aqui um papel essencial para garantir

a entrega das plantas em tempos adequados na época de plantação

e para garantir que nessa data as plantas atingiram estágios

de desenvolvimento convenientes para a sua sobrevivência pós-plantação.

Este planeamento passa por definir qual vai ser o esforço de produção

de plantas, para que possam ser previstas as datas de enxertia,

de repicagem e de germinação bem como o cálculo de sementes

a adquirir, área dos canteiros e volumes de substrato a preparar. Os

passos a dar são idênticos aos que estão explanados no Manual

do Viveiro Florestal.

Quadro 2 - Causas para o fraco desenvolvimento das plantas

e sugestões de correcção

14

Causas para o fraco

desenvolvimento

das plantas

Condições de iluminação

desadequadas

Rega desadequada

Plantas demasiado

crescidas

Sugestões de correcção

1. Proteja as plântulas da insolação directa

com ensombramento (aproximadamente 50%

nas condições do Município de Ecunha);

2. Reduza gradualmente a sombra antes de

pôr a plantas à luz directa para atempamento;

3. Plante com densidades baixas para permitir

luz suficiente nas camas de propagação.

1. Regue no princípio da manhã ou no fim

da tarde para evitar queimar as folhas;

2. Regue as raízes nos vasos ou na terra e não

sobre as folhas;

3. Use um dispersor fino no regador ou se se

tratar de mangueira garanta que dispõe de um

dispersor fino para evitar que comece

a descalçar as plantas;

4. Garanta que o sistema radicular está

abastecido de água e que esta é suficiente

para atingir o fundo dos sacos mas sem que

escorra porque isso representa uma lavagem

dos nutrientes que se perdem;

5. Assegure-se que a drenagem está a correr

de forma satisfatória.

1. Assegure-se que as plantas produzidas são

lotadas em 3 classes: qualidade A; qualidade

B e C (plantas a rejeitar e que nunca devem

ser expedidas para o campo).

Page 17: Manual de Viveiros Frutícolas

9.2 Timing

O factor mais decisivo na fixação do tempo adequado para a plantação

é a disponibilidade hídrica do solo. A menos que haja irrigação,

e em muitas zonas da Comuna do Quipeio os agricultores dispõe

de irrigação, a altura mais favorável para plantação situa-se nos dois

meses que antecedem o fim da época de chuva ou seja nos meses

de Abril e Maio.

Um outro ponto a considerar quando se prepara o plano de trabalho

no viveiro e a sua conjugação com o plano de distribuição de plantas

para o agricultor, é o método de reprodução e multiplicação adoptado.

É importante considerar que se se tratar de uma espécie de enraizamento

fácil o ciclo de produção de plantas é muito mais rápido do que quando

se tem de socorrer à enxertia feita em plantas produzidas por semente.

Fig. 2 - À esquerda estacas de marmeleiro preparadas para plantação ao ar livre

no início da primavera. À direita as estacas já enraizadas e prontas para ir para

a terra depois de um verão de crescimento.

9.3 Retroacção

Uma boa gestão do viveiro não termina com a produção de plantas

e a sua expedição para os agricultores. A apreciação do comportamento

do material disseminado, das suas características produtivas e das

características organoléticas das diferentes variedades faz parte de uma

boa gestão do viveiro. É um elemento motivador e justificador quanto

à introdução de novas variedades, da procura de métodos de propagação

mais expedidos e económicos e uma forma de apreciação das reacções

do mercado. Quer isto dizer que o responsável pelo viveiro frutícola

deve manter um contacto tão estreito quanto possível com os agricultores

e, com eles, fazer uma apreciação crítica quanto ao comportamento

dos pomares que vão sendo plantados.

10. Propagação de fruteiras

Há dois métodos principais de propagação de fruteiras arbóreas:

Por via vegetativa ou assexuada;

Por semente ou sexuada.

Ambas as formas ocorrem nas plantas vivas na natureza. De facto,

na natureza, algumas plantas reproduzem-se principalmente por via

vegetativa enquanto outras dependem quase exclusivamente

da reprodução sexuada (sementes). Para o viveirista ou o melhorador

de plantas é desejável ser capaz de manipular a reprodução sexuada

e a vegetativa.

Geneticamente as duas vias de propagação diferem; as sementes contêm

os genes da mãe (de onde colectamos a semente) e do pai (que contribui

com o pólen) que é quase sempre desconhecido. Quanto à propagação

vegetativa o material de reprodução é geneticamente idêntico à planta

mãe de onde é colectado.

10.1 Propagação vegetativa

A propagação vegetativa refere-se à propagação de novas plantas

directamente das espécies ou variedades existentes sem recurso a sementes,

para além da que é necessária para servir de suporte à enxertia.

15

Page 18: Manual de Viveiros Frutícolas

Há quatro usos principais da propagação vegetativa:

O estabelecimento de bancos clonais para a produção de sementes;

O estabelecimento de bancos clonais ou de germoplasma;

A propagação de material especialmente melhorado ou de carac-

terísticas particulares que nos interessa propagar (ex: híbridos

excepcionais cujas características geralmente se perde com

a propagação por semente, como sucede a muitas fruteiras);

Propagação massal de material seleccionado.

As principais vantagens da propagação vegetativa são:

Obtenção de árvores com as características requeridas de uma

forma relativamente rápida. A descendência tem as mesmas quali-

dades e características da árvore-mãe;

Obtenção de árvores que atingem um estádio de produção

de frutos muito mais célere.

Há várias formas de propagação vegetativa. Os três tipos principais

de propagação vegetativa: as estacas, a enxertia e a mergulhia. Os três

métodos são referidos como macropropagação em alternativa aos

métodos de micropropagação ou de cultura de tecidos. A propagação

por via de estacas é a mais barata e sempre que possível a preferida.

A mergulhia é uma variação da propagação por estacas na qual as raízes

se formam antes da separação do ramo da planta-mãe. Na enxertia,

o garfo feito da árvore que se deseja propagar é unido ao cavalo (parte

que está já com raiz) de origem genética diferente.

O método a usar em cada situação específica e planta a trabalhar

é uma questão de experiência disponível para cada espécie mais

o propósito e as condições disponíveis para a propagação. O guia que

se apresenta restringe-se a abordar as metodologias básicas e conceitos,

que naturalmente não dispensa que o pessoal de viveiro que vier a ser

afecto ao trabalho de propagação de fruteiras efectue uma aprendizagem

em ambiente de trabalho com técnico especializado.

10.1.1 Manuseamento do material de propagação vegetativa

O material de propagação vegetativa é geralmente muito mais sensível

à dissecação ou outros acidentes do que as sementes. É por isso

particularmente importante prestar atenção aos cuidados de manu-

seamento. Tenha assim em atenção os procedimentos seguintes:

O material de propagação deve ser conservado ao abrigo da inso-

lação solar directa;

O material, principalmente os gomos, devem ser tirados na altura

mais próxima possível da operação;

Períodos longos de armazenamento devem ser evitados;

Se o armazenamento for necessário, deve ser feito numa sala

ou estufa fria e húmida;

Durante o transporte e a armazenagem devem adoptar-se medidas

de prevenção contra a dissecação;

O material deve ser manuseado com cuidado por forma a que

os gomos não sejam danificados;

Todas as flores e gomos florais devem ser removidos do material;

O material vegetativo possui polaridade, i. e. diferenças fisiológicas

entre as extremidades distal e proximal. Na propagação vegetativa

onde seja difícil distinguir entre as duas extermidades um dos extremos

a parte de baixo ou acima do eixo de crescimento normal do ramo

deve ser marcada.

10.1.2 Estacas

Em propagação vegetativa designa-se por estaca uma porção de tronco,

raiz ou folha de uma árvore-mãe que é induzida a formar raízes

e lançamentos por intervenção de meios químicos, mecânicos e/ou

manipulação ambiental. Na maior parte dos casos a nova planta

independente é um clone, que é idêntico à planta mãe.

Quanto ao uso de estacas que, como se disse, é o material e o método

mais barato, ocorrem alguns constrangimentos como os que se referem:

16

Page 19: Manual de Viveiros Frutícolas

Quais são os obstáculos?

As estacas não serem as mais adequadas;

Não estarem disponíveis as quantidades de estacas pretendidas;

Os lançamentos só estarem disponíveis uma vez por ano;

As estacas não enraizarem bem;

O pomar do germoplasma base envelhece produzindo menos

lançamentos.

Que medidas são usadas para ultrapassar as dificuldades?

Podar as plantas para encorajar a emissão de bons lançamentos;

Plantar muitas fiadas de cada clone; melhore a fertilidade do solo;

Regar durante a estação seca (cacimbo) e proteger o solo com

“mulch” para reduzir a evaporação da água do solo;

Fazer uma poda intensiva das plantas-mãe, introduzir som-

breamento, protecção do solo e fertilizar para repor os níveis

de fertilidade do solo;

Interplantar os talhões de germoplasma com leguminosas

herbáceas de cobertura ou com uma espécie arbórea de uso misto

(forragem, carvão ou lenha) como a Leucaena sp. separando os clones

o que torna mais simples a sua gestão;

Não deixar que as plantas do stock base do germoplasma cresçam

desenvolvendo-se excessivamente em altura.

10.1.3 Enxertia

Esta operação consiste na junção de uma peça do tronco do rebento

(a estaca ou garfo) com outra planta quase sempre da mesma espécie,

não obrigatoriamente da mesma variedade (o cavalo) e que está

na terra ou em vaso e que providencia o sistema radicular. Esta operação

de enxertia é normalmente feita para:

Propagar variedades que não podem ser directamente propagadas

por outros meios;

Obter os benefícios das plantas que providenciam a raiz (ou por

serem mais resistentes a doenças ou insectos radiculares, serem mais

resistentes a determinados condicionantes climáticos ou meteo-

rológicos, por exemplo);

Mudança dos cultivares existentes, com ou sem plantação de uma

nova árvore;

Aceleração da maturidade reprodutiva das plantas;

Reparação de partes danificadas da árvore.

Fig. 3 - Ciclo de produção de fruteiras

Rebentos/garfos

Chama-se rebento, ou mais vulgarmente garfo, a uma pequena peça

de um rebento ou lançamento com vários gomos dormentes que quando

unidos com a planta portadora de raiz (cavalo) constituiram a parte

superior da árvore enxertada.

Cavalo

Designa-se por cavalo a parte inferior do enxerto, que sustenta o sistema

radicular da árvore enxertada. Este é obtido por via seminal ou por

estaca que é posta a enraizar.

17

Estacas para produçãodirecta de plantas

Fruteiras com qualidadeidêntica ao material base

Produção de plantaspor semente

Plantas enxertadas

Sementes

Germoplasma Base(Colecção base

de fruteirasde qualidade)

Estacas para enxertia:estacas e gomos

Page 20: Manual de Viveiros Frutícolas

Fig. 4 - Modelo do ciclo de vida clonal ilustrando o crescimento e desenvolvimento

de um clone vegetativamente propagado

Fig. 5 - Nas plantas enxertadas a parte aérea deriva do crescimento

e desenvolvimento de um ou mais gomos no rebento. O sistema radicular

é uma extensão do sistema radicular do cavalo obtido por via seminal ou por

estaca. A zona de união do enxerto mantém-se toda a vida da árvores.

10.1.4 Mergulhia

É um método de propagação em que a formação de raízes é induzida

num ramo enquanto o mesmo permanece ligado à árvore. Quando

as raízes se formaram no ramo este é separado da árvore mãe tornando-

se numa planta independente com as suas raízes próprias. Este sistema

de propagação é habitualmente utilizado nas seguintes situações:

Propagação de plantas cujas estacas não enraízam facilmente;

Produção de plantas de boa dimensão em pouco tempo;

Produção de plantas quando não se dispõe de um mínimo de meios

de propagação;

Produção de plantas que naturalmente se reproduzem por mergulhia.

Enraizamento de estacas

Esta fase é feita usualmente encorajando a formação de raízes adventícias

na própria estaca. A estaca enraizada torna-se depois da diferenciação

do seu sistema radicular numa planta independente.

Fig. 6 - Emergência de raízes adventícias em estacas de ameixeira

18

cavalo com o sistemade suporte da raiz

Pontos vegetativosde crescimento

Fase reprodutiva

Frutos

Semente

Flores

Fase vegetativa

Gomos Garfos Estacas Explants

o gomozona de enxertia dá origem à copa

dá origem à raiz

por estacapor via seminal

Page 21: Manual de Viveiros Frutícolas

As estacas postas a enraizar podem estar em quatro estádios de desen-

volvimento: inteiramente lenhificadas, semi-lenhificadas, pouco

lenhificadas e herbáceas. Na propagação com estacas caulinares,

os segmentos dos lançamentos com gomos laterais e terminais são

obtidos na expectativa de que, sob condições apropriadas as raízes

adventícias se desenvolvam e produzam uma planta independente.

As estacas herbáceas são de lançamentos muito juvenis; estes secam

muito rapidamente pelo que é necessário conservá-los em propagadores

com atmosfera húmida ou sob rega muito fina até que se forme

o sistema radicular e as plantas possam absorver água pelo sistema

radicular.

As estacas lenhificadas são aquelas consideradas em estado maduro,

em que os gomos estão numa fase dormente depois da abcisão

das folhas e antes que novos lançamentos emirjam antes da primavera.

Estas estacas são as menos custosas de enraizar e os procedimentos

técnicos são os mais simples. A sua preparação é fácil e não são facilmente

perecíveis. Podem, por isso, ser expedidas para longas distâncias, se tal

for necessário, de forma fácil e não necessitam de equipamento especial

durante o enraizamento. As estacas enraizadas são também facilmente

transplantadas.

A preparação das estacas processa-se durante a estação de dormência

(as espécies não se apresentam em crescimento - época de cacimbo,

ou logo antes de começar a época das chuvas) e da estação

de crescimento prévia. Deve dizer-se, contudo, que para certas espécies

fruteiras como a figueira, e certos cultivares de ameixeira podem usar-

se estacas de dois ou mais anos. O comprimento das estacas varia

consideravelmente oscilando de 10 a 76 cm. Quando se usam estacas

longas, para que sirvam de suporte enraizado à enxertia, elas permitem

a inserção do gomo ou do rebento da cultivar pretendida. Nestas estacas

incluem-se dois nós; a parte basal da estaca é justamente abaixo

do nó e a secção de topo 1,3 a 2,5 cm acima do nó.

Nas operações correntes, os práticos limitam-se, quase sempre,

a considerar como mais importantes apenas dois tipos: as estacas

herbáceas e as lenhificadas ou duras em termos de gíria. Para estas

os preparativos de selecção são:

Quadro 3 - Preparativos de Selecção

19

Estacas lenhificadas

Todas as folhas são seccionadas

Ramos juvenis. Partes centrais ou

basais dos lançamentos (estacas

basais) ou partes do fim das

estacas (estacas das pontas)

Comprimento de 10-76 cm com

pelo menos dois nós;

Diâmetro entre 6-25 mm

Corte basal feito justamente

abaixo do nó.

Nas estacas basais o

seccionamento de topo é feito

entre 15-25 mm acima do nó

Estacas herbáceas

Remover as folhas das partes

inferiores

Rametes jovens. Recolher sempre

as zonas das pontas. As melhores

estacas têm sempre um certo

grau de flexibilidade mas são

suficientemente lenhificadas para

quebrar quando rapidamente

dobradas

Comprimento de 75-125 mm

com dois ou mais gomos

Corte basal feito justamente

abaixo do nó

Page 22: Manual de Viveiros Frutícolas

Na Figura 7 exemplifica-se as diferentes estacas utilizadas para

enraizamento.

Fig. 7 - Estacas preparadas a partir dos lançamentos

Atende-se que na preparação de estacas com internós curtos pouca

atenção é dada à posição da secção basal, especialmente quando são

preparadas muitas estacas e, normalmente, com o uso de uma serra

mecânica. Nestes casos é útil evitar a dissecação das estacas o que

se faz embebendo os topos com cera. O diâmetro das estacas varia

entre os 0,6 e 2,5 ou mesmo os 5 cm conforme as espécies.

Fig. 8 - Preparação de estacas com uma serra mecânica. Este método é muito

mais rápido do que aquele feito com uma tesoura de poda e em muitos casos

igualmente bons resultados.

Há, no entanto, outras intervenções que podem e devem ser realizadas

nos lançamentos para preparar as estacas principalmente as que

referimos:

Remova a madeira que tenha lascado ou esmagada pois mais

facilmente apodrece;

Reduza a dimensão da estaca se o lançamento é bastante longo;

Corte a base perpendicularmente ao eixo pois caso contrário

o sistema radicular ficará assimétrico;

Corte as estacas onde é mais provável que se desenvolvam as raízes

(i.e. justamente abaixo do nó);

Remova o látex ou mucilagens que se desenvolvam na zona

de corte porque elas podem impedir a entrada das auxinas;

Seccione as folhas largas nas zonas superiores e remova qualquer

material morto;

Remova as folhas da secção inferior mas deixe sempre uma

no topo;

Retire os pequenos ramos laterais que ficaram subterrados;

Em espécies com duas folhas opostas, remova um ou dois gomos

para produzir uma planta que não tenha uma forquilha na base.

Fig. 9 - Como preparar as estacas a partir de um lançamento retirado da árvore-

mãe

20

Nó singular 2 nós nós múltiplos estaca dividida ao meio

Page 23: Manual de Viveiros Frutícolas

Não esqueça a forte polaridade das estacas. Especialmente para

as estacas lenhificadas não se esqueça que é importante não as colocar

de cabeça para baixo. Se for necessário faça um entalhe na parte basal.

Os diferentes tipos de estacas utilizadas exemplificam-se na fig. 10.

As estacas lenhificadas são maiores e não secam tão rapidamente

podendo sobreviver em solo húmido, habitualmente em caixas

de germinação ou mesmo em solo húmido até formação das raízes.

Neste tipo de estacas é mais fácil que elas enraízem retirando-lhes

as folhas e quase sempre se aumenta a taxa de sucesso com a passagem

da extremidade que vai para o solo por produtos indutores, auxinas

e co-factores da formação de raízes como sejam, entre outros, os ácidos

indolacético e giberélico. Nestes casos a base da estaca é pura

e simplesmente enfiada no substrato humedecido e com sombreamento

adequado, pelo menos nas épocas do dia de mais forte insolação.

Fig 10 - Tipos de estacas lenhosas

Quadro 4 - Reguladores de Crescimento

Em muitas espécies, ou variedades, aconselha-se a abrir uma fenda

na base da estaca que vai para o solo antes de a passar pela auxina pois

a experiência mostrou que a taxa de enraizamento é significativamente

maior.

Fig. 11 - Fenda na base da estaca antes do tratamento com auxina

21

Quatro tipos de estacas lenhificadas:

a-c: Estacas basais (a-mallet; b-heel;

c-recta); d-estacas de topo

Ramo indicando

as partes de onde

tirar as estacas

REGULADORES DE CRESCIMENTO QUE INFLUENCIAM

A INICIAÇÃO DAS RAÍZES

AUXINAS São compostos que podem induzir o alonga-

mento das estacas;

CITOQUININAS São reguladores do crescimento que promovem

a divisão celular na presença de níveis óptimos

de auxina;

GIBERLINAS São compostos que podem estimular a divisão

ou o alongamento celular ou ambos numa planta

intacta;

ÁCIDO ABSSISICO Pode inibir o crescimento; Ajuda a regular

a dormência, o controlo estomático e outras

funções na planta;

ETILENO É um gás envolvido na regulação do amadure-

cimento, dormência e outros processos

de desenvolvimento.

Page 24: Manual de Viveiros Frutícolas

O grau de lenficação, o estágio de crescimento, a estação do ano em

que se retira a estaca e um conjunto de outros factores onde se incluem

as condições de temperatura, insolação e humidade utilizada nos

propagadores, ou na terra se a propagação se processar ao ar livre, são

muito importantes para garantir um enraizamento satisfatório.

É assim importante, se se tratar de uma espécie para a qual não exista

conhecimento como sucede com o “loengo”, que o viveirista conserve

registos detalhados dos procedimentos que experimenta, as condições

ambientais e as condições de desenvolvimento das estacas por forma

que possa reproduzir as condições em que obteve os melhores resultados.

Independentemente do aumento da taxa de sucesso ao enraizamento

atente-se que as estacas juvenis apresentam sempre uma taxa

de sucesso superior às mais velhas. De lembrar também que é essencial

ter particular atenção à polaridade da estaca. Isto quer dizer que

as estacas devem ser colocadas na terra com os gomos dirigidos com

as pontas para cima tal e qual como se apresentam naturalmente

na árvore. Caso contrário as raízes têm a tendência de ficar orientadas

contrariamente ao esperado e a planta tornar-se-á inviável.

Nem todas as plantas têm o mesmo comportamento à multiplicação

vegetativa e à formação de raízes adventícias. Nesta conformidade elas

são divididas em três classes:

1. Aquelas em que os tecidos proporcionam todas as substâncias,

incluindo as auxinas, essenciais para a iniciação das raízes. Nestas,

quando se cortam as estacas e as colocamos sob condições ambientais

próprias formam-se rapidamente raízes;

2. Aquelas em que ocorrem naturalmente os co-factores de iniciação

radicular em quantidades suficientes, mas em que as auxinas são

insuficientes. Nestas a aplicação de auxinas promove de forma muito

positiva o desenvolvimento das raízes;

3. Aquelas em que falta um ou mais do que um dos co-factores mesmo

quando a auxina possa ocorrer ou não em abundância.

A aplicação externa de auxina não produz, habitualmente, efeito dada

a ausência de um dos indutores. A respeito deste último grupo certos

especialistas em reprodução vegetativa (Hassing2, 1973) postularam

que a falta de iniciação de raízes em resposta à aplicação de auxina

(ou de auxina nativa) pode ser devida a uma ou mais situações:

a. Falta das auxinas necessárias para sintetizar o conjunto de auxinas

fenólicas;

b. Falta de activadores auxínicos;

c. Presença de enzimas inibidores;

d. Falta de substratos fenólicos;

e. Separação física de reagentes enzimáticos devido à compar-timentação

celular.

22

Page 25: Manual de Viveiros Frutícolas

Fig. 12 - Esquematização das etapas de enraizamento de estacas lenhosas. Topo

esquerdo: Preparação das estacas a partir de lançamentos de um ano em estágio

dormente e sem folhas (comprimento comum 15 a 20 cm sendo a secção basal

justamente abaixo do nó); Topo direito: Tratando as estacas com promotor

de enraizamento; na 1ª imagem as estacas são passadas numa preparação

comercial de talco; na 2ª imagem as estacas permanecem em embebição numa

solução diluída de um promotor de enraizamento; Faixa central a começar

da esquerda: As estacas podem ser plantadas imediatamente mas para muitas

espécies a taxa de sucesso aumenta deixando-se formar um calus de cicatrização

numa caixa de serradura humedecida ou em musgo; enterramento das estacas

no solo ou em substrato adequado se se usarem estufas; Faixa inferior:

Enterramento das estacas usando uma colher de viveirista; à direita algumas

semanas após plantação as estacas começam a apresentar o desabrolhamento

dos gomos e a emitir folhas. (adp. Hudson, T. H et. al.(1990) Plant Propagation.

Prentice_Hall).

Factores que afectam a regeneração de plantas pelo processo

das estacas

Há grandes diferenças entre espécies, e mesmo dentro das espécies,

quanto ao comportamento na formação de raízes. Testes empíricos

com cada cultivar são necessários para determinar essas diferenças.

Para muitas espécies e variedades há já uma base extensa

de conhecimentos enquanto que, para outras, a informação é escassa

e parcial ou mesmo nula (como sucede com muitas espécies úteis

da mata de miombo produtoras de frutos). Não obstante o montante

de conhecimentos existente sobre algumas espécies, é bastante útil

que os viveiros que se dedicam à produção de plantas por via vegetativa

tenham apoio, ou contacto próximo, com os serviços de investi-

gação/experimentação. Em qualquer caso, e independentemente

do apoio que possa ter desses serviços, é importante que o viveirista

tenha em atenção um conjunto de factores que são importantes para

o sucesso da sua actividade e para que se alcancem elevados valores

de radicação de estacas no viveiro.

Os factores que o viveirista tem de ter em atenção são:

Selecção das estacas a partir das plantas mães

1. Condições ambientais e fisiológicas das plantas mães, nomeadamente

a existência de stresses hídricos, temperatura, luz (intensidade,

fotoperíodo, qualidade da insolação), nível de vigor vegetativo,

enriquecimento em CO2, (relação C/N), teores de carbohidratos, nutrição

mineral e seccionamento anelar;

2. Rejuvenescimento e condicionamento das plantas mães antes

de retirar as estacas;

3. Tipo de atempamento da estaca;

4. Estação da intervenção.

23

Page 26: Manual de Viveiros Frutícolas

24

Tratamento das estacas

1. Armazenamento das estacas;

2. Reguladores de crescimento;

3. Nutrição mineral das estacas;

4. Lixiviação dos nutrientes;

5. Fungicidas;

6. Nível de execução do corte para evitar o esmagamento dos tecidos.

Condições ambientais durante o enraizamento

1. Condições hídricas das condições de enraizamento;

2. Temperatura;

3. Luz (insolação, fotoperíodo, qualidade);

4. Aplicação de técnica aceleradas de crescimento;

5. Fotossíntese das estacas;

6. Meio de enraizamento.

Fazer o corte das estacas

A boa preparação das estacas é uma condição prévia de sucesso para

o enraizamento. Em termos genéricos é importante:

1. Usar ferramentas bem afiadas;

2. Dois terços das estacas devem ficar inseridas no substrato;

3. Que a base da estaca seja cortada perpendicularmente e a parte

superior cortada em bisel;

4. Regar com frequência de preferência usando aspersão muito fina

ou o nevoeiro artificial;

5. Que quando as estacas estejam enraizadas (perceptível pelo seu

alongamento) sejam transplantadas para recipientes (sacos, tabuleiros,

vasos, etc.) para desenvolvimento futuro, antes de serem transplantadas

para os locais definitivos.

Localização dos lançamentos para obtenção das estacas

A localização dos lançamentos de onde se extraem as estacas, ou

os rebentos ou gomos para as enxertias, devem ser particularmente

atendidas pelo responsável do viveiro que deve supervisar a sua obtenção.

Assim deve, de todo, evitar:

A recolha de lançamentos dos ramos horizontais ou lançamentos

com hábito de crescimento aplanado;

A colheita de lançamentos das zonas mais adultas das árvores

porque as suas estacas enraízam mais dificilmente;

A colheita de estacas demasiado grossas porque a sua capacidade

de enraizamento é mais difícil e problemática.

Fig. 13 - Esquema indicativo dos lançamentos que deve escolher quer

na produção de estacas quer para obtenção dos rebentos ou gomos para enxertia

O conhecimento hoje disponível mostra que enxertias ou estacas

provenientes de ramos laterais ou com hábitos aplanados típicos

dos ramos laterais produzem árvores mal conformadas, o que diminui

a sua produção ou dificulta sempre as operações de colheita.

Page 27: Manual de Viveiros Frutícolas

Fig 14 - Efeito da polaridade do rebento de enxertia. À esquerda: Um cafeeiro

enxertado bem conformado, à direita outro mal conformado porque enxertado

com um garfo de um ramos lateral.

Fig. 15 - Outra ilustração do efeito da polaridade da estaca utilizada. Além

da posição do lançamento após enraizamento veja-se a diferença

no desenvolvimento do sistema radicular.

O que poderia ter corrido mal?

Em termos sintéticos e como guia para o viveirista, o diagnóstico

dos problemas podem sintetizar-se de acordo com a listagem feita

abaixo:

As estacas têm gomos florais mas nenhum ou poucos gomos

vegetativos;

As estacas foram retiradas de partes já muito velhas da planta;

As estacas não foram seccionadas das árvores em tempo

apropriado;

As estacas ficaram secas antes do enraizamento se ter iniciado

ou durante o processo de enraizamento;

Os níveis hormonais na estaca eram bastante baixos para promover

a iniciação e desenvolvimento radicular; o tratamento com as auxinas

não foi suficiente (tratamento muito curto, o teor de auxina muito

baixo ou a auxina já deteriorada);

O meio de enraizamento não era o adequado para a formação

de raízes naquela espécie ou clone;

As estacas foram postas a enraizar com na secção distal no meio

de enraizamento;

As estacas foram atacadas pelos fungos;

As condições ambientais para o enraizamento não eram

as apropriadas, por exemplo: muito húmidas (falta de arejamento)

ou muito secas, ou desadequação da temperatura durante a formação

de raízes.

Estes considerandos mostram que as bases científicas da formação

das raízes adventícias permanece ainda obscura e o seu desenvolvimento,

principalmente para espécies que não passaram ainda por um processo

de domesticação, como sucede com muitas espécies do miombo

produtoras de frutos com interesse alimentar e comercial como

o “loengo”, requerem um input sério dos sectores de investigação/

experimentação antes que a actividade do viveiro possa abalançar-se

na reprodução de algumas espécies com interesse local.

25

Page 28: Manual de Viveiros Frutícolas

26

10.2 Produção de plantas por via sexuada

Quando o processo de multiplicação for o de enxertia, quase sempre

por dificuldades de enraizamento, é necessário dispor-se de plantas

enraizadas de espécies compatíveis, habitualmente a mesma espécie,

e que são obtidas por via seminal.

10.2.1 Sementeira

As técnicas e procedimentos a usar são as mesmas descritas no Manual

do Viveiro Florestal pelo que se remete para ele a aprendizagem das

mesmas.

10.2.2 Transplantação (Repicagem) das plântulas

A transplantação envolve a movimentação das plântulas dos seminários

para recipientes individuais com o objectivo de ter as plântulas a crescer

individual e vigorosamente por se ter evitado a competição. A operação

e os processos são idênticos às já descritas no manual já mencionado

e elaborado no contexto deste projecto. Há, no entanto, pequenas

diferenças que resultam de objectivos diferentes entre o repovoamento

florestal e o das fruteiras. Os passos dos procedimentos são:

1. À medida que as plântulas se tornam maiores nos plantórios,

nos vasos ou tabuleiros, elas devem ser transplantadas para recipientes

maiores para possibilitar o seu desenvolvimento e evitar que as raízes

fiquem deformadas, o que fará perigar o futuro das árvores na plantação;

2. Se a operação não for feita em tempo, a densidade por área das

plantas fica exagerada e começam a perder vigor;

3. A repicagem deve efectuar-se quando as duas primeiras folhas abrem;

4. Os seminários devem ser bem regados nas vinte e quatro horas que

precedem a repicagem;

5. As plântulas devem ser levantadas com uma haste plana ou um sacho

de plantação. Só plantas sãs e bem conformadas devem ser repicadas;

6. Segure sempre as pequenas plântulas pelas folhas e nunca pelos

troncos, uma vez que estes são muito frágeis;

7. No caso de raízes muito longas pode-as com uma tesoura bem afiada

ou mesmo com as unhas;

8. Não faça a repicagem ao sol ou com ventos secos muito fortes.

Para a plantação faça as cavidades bem fundas nos plantórios ou nos

recipientes e no seu centro se for esta a opção. As raízes não devem

ficar dobradas ou com as pontas viradas para cima. O buraco deve ser

fechado com delicadeza pressionando o solo com o dedo à volta da

planta. Tenha cuidado para não deixar espaços de ar à volta das raízes.

Após a repicagem as plântulas devem ser regadas e sombreadas

imediatamente após a operação.

10.2.3 A plantação nos recipientes

Apesar deste assunto já ter sido tratado no Manual do Viveiro Florestal

assinalam-se os seguintes pontos:

1. O viveirista tem a capacidade de escolher o tipo de recipiente

e tamanho mais conveniente, embora no caso de Ecunha haja condicio-

namentos de mercado que são susceptíveis de limitá-la;

2. A definição prévia da dimensão pretendida para as plantas a distribuir

ao agricultor. Esta é importante na decisão quanto à dimensão

dos recipientes a utilizar;

3. A escolha de recipientes muito pequenos, atendendo a que

normalmente o tempo de permanência no viveiro é mais longa do que

para as plantas florestais. Este facto leva à produção de plantas com

raízes deformadas que inviabilizam o futuro produtivo e a vida útil

da árvore;

4. As plântulas devem ser colocadas nos recipientes na profundidade

certa.

Page 29: Manual de Viveiros Frutícolas

27

Fig. 16 - Raiz deformada de uma fruteira plantada com sistema radicular

já enrolado por longa permanência no vaso ou por uso de recipiente desadequado

10.2.4 Rega

Seguir as orientações e procedimentos descritos no Manual do Viveiro

Florestal.

10.2.5 Nutrição

As exigências das fruteiras são na sua generalidade maiores do que as

das plântulas florestais, principalmente porque a sua biomassa é superior.

É assim importante que:

1. A composição do substrato seja suficiente para alimentar a planta

sem necessidade de suplementos adicionais;

2. Plantas muitos exigentes e de maior dimensão, como são as fruteiras

para plantação, e que permanecem nos recipientes por tempo mais

longo, correm o risco de esgotar o solo obrigando a adições suplementares

de nutrientes. Para orientação quanto aos sintomas de falta de nutrientes

siga as descrições desenvolvidas no manual já mencionado;

3. Alguns nutrientes podem ser lixiviados (arrastados para fora

do alcance das raízes) porque as plantas são regadas a partir do topo

do vaso. Para diminuir este risco não faça regas excessivas com muita

água a sair dos furos de drenagem nos vasos;

4. As plântulas em pequenos vasos tendem a esgotar os nutrientes do

substrato mais cedo do que se o viveirista escolher vasos de maior

dimensão;

5. Quando tenha de efectuar adição suplementar de nutrientes lembre-

se que a aplicação de nutrientes líquidos é mais económica que

os adubos granulados.

10.2.6 Poda das raízes

As razões da sua necessidade e procedimentos para a sua realização

são idênticas às já descritas para as plântulas florestais pelo que

não serão repetidas.

10.2.7 Rustificação

Este é um processo destinado a fazer com que as plantas gradualmente

fiquem aptas a resistir às condições de campo pós plantação e que são,

naturalmente, mais adversas do que as de viveiro. Esta operação envolve

a exposição das plantas à insolação directa e à gradual redução

da frequência de regas. Este processo de adaptação deve iniciar-se cerca

de um a dois meses antes da plantação. A rustificação deve atingir

os seguintes objectivos:

Os troncos ficam mais duros e lenhificados;

As copas tornam-se relativamente mais curtas mas mais vigorosas;

O sistema radicular torna-se mais compacto e bem desenvolvido;

O processo necessita ser cuidadosamente vigiado para evitar

o emurchecimento forte das plantas e mesmo a morte.

10.2.8 Classificação

Quando estiver a preparar as plantas para expedição é essencial

seleccionar as fruteiras que se apresentam sãs com os seguintes atributos:

O lançamento da parte aérea deve ter uma a duas vezes mais

comprimento que as raízes (isto é do recipiente);

Um tronco forte, bem lenhificado e o colar da base bem

desenvolvido;

Uma copa simétrica e bem conformada;

Um sistema radicular com muitas raízes finas em conjugação com

a raiz principal.

Page 30: Manual de Viveiros Frutícolas

11. Pragas e doenças

Várias doenças atacam as fruteiras no viveiro. O seu controlo é essencial

para que seja possível produzir plantas de qualidade sendo necessário

garantir que as plantas distribuídas à lavoura não vão ser veículos

de disseminação de pragas e doenças.

As doenças comuns em viveiro são:

Térmitas;

Grilos;

Lagartas cortadoras;

Gafanhotos;

Afídeos;

Cochenilas.

Se bem que os insectos possam ser retirados manualmente, isto

só é viável quando o seu número é muito reduzido. Quando sucede

uma praga ou doença, o viveirista deve entrar em contacto com

os serviços de assistência à agricultura ou contactar com os serviços

do Instituto de Investigação Agronómica no Huambo para uma prescrição

de tratamento adequada à natureza e intensidade da praga.

12. Enxertias

As origens da enxertia remontam aos tempos históricos. Há evidências

que mostram que a arte de enxertar era já praticada pelos chineses tão

cedo como 1000 a.C. No tempo dos romanos a enxertia era popular.

No período da Renascença (1350 - 1600 d.C.) a enxertia voltou

a mostrar renovado interesse principalmente com uma expansão

na Europa de novas espécies e variedades que eram mantidas

ou propagadas por enxertia.

Em termos de terminologia é bom que se distingam dois termos:

Enxertia e borbulhia, mais frequentemente chamada enxertia de borbulha.

A diferença é que no caso da borbulhia o garfo é reduzido a um único

gomo. Ao longo dos anos os produtores de fruteiras aprenderam que

algumas plantas são difíceis de enraizar por estaca mas que podem

com facilidade transmitir por enxertia as características da planta que

querem propagar. Ao longo dos tempos foram-se desenvolvendo muitas

técnicas de enxertia por garfo e de borbulhia bem como novos

equipamentos de enxertia na procura de melhorias de produtividade

na produção de plantas. Este pequeno manual não pretende abarcar

a extensão que as diferentes formas de enxertia englobam hoje mas,

simplesmente, lembrar alguns elementos considerados importantes.

Acresce que a aptidão frutícola do planalto central é limitada quando

comparada com outras grandes regiões Angolanas. Limitamo-nos assim,

a referir alguns elementos críticos que devem ser interiorizados pelo

responsável do futuro viveiro de Ecunha e a começar a ser praticados

antes que a fruticultura nesta área tenha um significado importante

no conjunto das actividades agrícolas.

Muito do sucesso da enxertia depende não só da aptidão do enxertador

e da sua habilidade em executar uma boa enxertia, mas também

de um conjunto de procedimentos, antes e depois da enxertia e, inclusive,

da correcção da escolha da época e tempo em que a operação

é executada.

Para qualquer operação de enxertia com sucesso há cinco requisitos

importantes a ter em consideração:

O cavalo e o garfo devem ser compatíveis, devendo ser capazes

de se unirem. Normalmente, mas nem sempre, plantas botanicamente

próximas, por exemplo duas cultivares de mangueira, podem ser

enxertadas. Plantas menos relacionadas como uma mangueira e uma

laranjeira, não podem ser utilizadas para uma boa combinação.

A zona cambial do garfo deve ser colocada em contacto com

a do cavalo. As superfícies cortadas têm de ser mantidas forte-

mente juntas mediante fita própria de enxertia, pregagem ou juntas

próprias para garantir a união. A cicatrização rápida da união

da enxertia é fundamental para que o garfo possa ser alimentado

de água e nutrientes do cavalo na altura em que os gomos comecem

a desabrochar.

28

Page 31: Manual de Viveiros Frutícolas

29

A operação de enxertia deve ser feita no tempo em que o cavalo

e o garfo estejam num estágio fisiológico próprio. Normalmente isto

significa que os gomos do garfo devem estar dormentes enquanto

os tecidos da zona de união do enxerto devem ser capazes de produzir

tecido do callus necessário à cicatrização de toda a zona de união.

Para as plantas decíduas (aquelas que perdem a folha no inverno

ou na estação seca), os tecido dos garfos estão dormentes no inverno

(estação seca ou cacimbo), data em que devem ser colectados e ser

mantidos dormentes a baixa temperatura. Os cavalos podem estar

dormentes ou em crescimento activo, dependendo do método

de enxertia utilizado.

Imediatamente depois da operação de enxertia ser efectuada,

todas as superfícies cortadas devem ser protegidas de dissecação.

Isto é feito cobrindo a união do enxerto com adesivo ou cera

de enxertia ou colocando os enxertos em material húmido ou numa

cobertura própria.

É necessário proporcionar atenção aos enxertos e ter alguns

cuidados após a operação. Lançamentos provenientes do cavalo

abaixo do enxerto podem frequentemente sufocar o desejado

desenvolvimento do garfo e em alguns casos, os lançamentos

do garfo crescem tão vigorosamente que se desprendem se não

forem suportados ou mesmo cortados.

12.1 Breve referência aos calendários. A escolha dos garfos

A escolha deve incidir sobre:

os ramos do ano;

ramos sãos, isentos de doenças, viroses ou bacterioses;

os ramos dos pés-mãe que representam tipicamente a variedade

a reproduzir.

Para os enxertos de Primavera, a recolha dos ramos considerados para

fornecer os garfos serão realizados em Julho (na altura das podas dos

talões e prolongamentos) quando a vegetação está em repouso completo.

Estes ramos são colocados inclinados, semi-enterrados, num solo são,

com exposição norte, para que os gomos evoluam o mais lentamente

possível, esperando a enxertia. Poderá pô-los numa câmara de frio

se a mesma estiver disponível. Para os enxertos de Verão, é nos

momentos precedentes à enxertia que os ramos porta-garfos são

recolhidos e desfolhados para limitar a sua dissecação por evaporação.

Para prolongar a sua boa conservação durante alguns dias, podem

embrulhar-se numa serapilheira húmida e colocá-los em lugar fresco.

12.2 Técnicas de enxertia

Dada o grande número de técnicas e formas de enxertia apresentaremos

as formas mais comuns e com maior probabilidade de uso nas fruteiras

que estarão mais aptas para o Municipio de Ecunha.

12.2.1 Enxertia de borbulhia com olho dormente

Pelas suas múltiplas vantagens é a mais praticada de todas. Citam-se

como grandes vantagens:

execução rápida;

resultados geralmente muito bons;

ferida de enxertia reduzida.

Esta técnica está na origem do tronco, ponto de partida da maioria das

nossas formas fruteiras e do garfo de olho dormente que é descrito

como sendo o mais praticado, pois que o do olho em vegetação

é de emprego limitado nos nossos viveiristas.

Modo operatório

recolha de ramos porta-borbulhas pouco tempo antes da enxertia;

desfolha total, conservando apenas 1,5 cm de pecíolo;

eliminação da base e extremidade do ramo (os seus gomos não

são viáveis);

sobre o cavalo - o local onde se fixa o garfo, é antecipadamente

isolado. Pratica-se uma incisão longitudinal e outra transversal,

formando um T. Levantam-se os ângulos do T com a espátula

e o alojamento da borbulha está pronta;

Page 32: Manual de Viveiros Frutícolas

A recolha da borbulha faz-se de formas diferentes segundo

a habilidade do enxertador; em geral o ramo porta-borbulha é seguro

ao contrário e corta-se transversalmente a casca cerca de 1 cm acima

do olho escolhido. Do outro lado do olho à volta 1 cm sensivelmente,

introduz-se a lâmina da navalha de enxertia entre o lenho e a casca

até ao corte transversal. Se o gomo é recolhido com uma lasca

de lenho demasiado espessa, retira-se mas sem ferir o olho. Segura-

se a borbulha que se tem, pelo seu pecíolo, e faz-se descer no seu

prolongamento com a ajuda de navalha de enxertia. Ata-se de seguida

com a ráfia começando-se pela parte superior e descendo para melhor

se conseguir que o gomo fique bem seguro, mas sem o cobrir.

Pouco tempo depois pode-se constatar o resultado ou o fracasso

do trabalho:

se o pecíolo ficou amarelo e caiu, como as outras folhas da época,

o garfo pegou;

se o pecíolo secou e não caiu, o garfo não pegou.

Nem todas as espécies têm o mesmo tipo de alimentação de seiva, pelo

que convém enxertar primeiro aquelas cuja paragem da seiva é precoce.

Fig. 17 - Etapas básicas de execução de uma enxertia de borbulha

12.2.2 Enxertia de fenda simples

Utilizada para as Pereiras, Macieiras, Ameixoeiras, Cerejeiras, Marmeleiros,

Laranjeiras, Abacateiros etc… em porte-elevado ou porte-médio, esta

enxertia pratica-se sobretudo no início da estação de crescimento após

o início das primeiras chuvas ou mesmo em Agosto, sendo igualmente

realizável em Maio na altura do declínio da vegetação. É útil para

melhorar rapidamente a qualidade das fruteiras de uma pomar

já implantado.

Modo operatório

Em fins de Agosto, podam-se os cavalos de 1 a 3 cm de diâmetro

na altura requerida (segundo a forma em vista). Este trabalho efectua-

se com o serrote e apara-se a ferida com a navalha de enxertia.

A partir dos ramos porta-garfos recolhidos e postos em estrati-

ficação, prepara-se o garfo utilizando a parte media do ramo. Seccio-

na-se uma porção do ramo composta por 3 gomos bem constituídos.

Prossegue-se a preparação do garfo, talhando-se a sua base em

forma de cunha (os golpes começam de cada lado do primeiro gomo

de madeira).

Com a ajuda da navalha e por vezes com um pequeno maço, fende-

se o cavalo longitudinalmente sobre um só lado.

Deve-se deixar a ponta da navalha encaixada na fenda, e fazer

penetrar o garfo afastando os bordos da mesma por pressão basculante

da navalha.

A espessura das cascas dos cavalos e garfos sendo diferentes, não

podem coincidir exteriormente. Para se assegurar que as zonas

geradoras ficam em contacto o garfo deve ser ligeiramente introduzido.

Deve-se atar a enxertia com uma ligadura de ráfia.

Envolver todo o conjunto com uma quantidade suficiente de pasta

de enxertar, sem esquecer a cabeça do cavalo. Esta protecção

é indispensável, favorecendo a cicatrização e protegendo as feridas

das intempéries.

30

corte transversal

gom

os v

iáve

is

borbulhacolocada

cavalo

Page 33: Manual de Viveiros Frutícolas

31

Para evitar que os pássaros poisem sobre os garfos há pouco tempo

colocados, fixa-se um raminho ou arco protector que também

permitirá apoiar a vegetação do garfo.

Fig. 18 - Enxertia de fenda simples

12.2.3 Enxertia de fenda dupla

Variante da anterior, convém a cavalos sensivelmente mais grossos

de 3 a 8 cm de diâmetro sobre os quais se colocam 2 garfos frente

a frente; neste caso a fenda do cavalo é transversal. Para responder

às proporções da fenda assim aberta, os garfos são talhados em bisel

plano da mesma espessura de cada lado.

O processo termina com a atadura, o envolvimento e a colocação dum

raminho protector.

Observação

Note-se que estes dois sistemas de enxertias deixam uma cavidade

entre o garfo e a fenda do cavalo; e evidentemente, um ponto fraco

onde a cicatrização é difícil.

Fig.19 - Enxertia de fenda dupla

12.2.4 Enxerto de fenda vazada ou incrustação

Este processo consiste numa enxertia em fenda melhorada, mesmo

no que respeita à ferida do cavalo e à sua melhor cicatrização, sendo

no entanto um processo mais delicado.

Modo operatório

O procedimento é o mesmo que é usado para a enxertia de fenda

simples. As diferenças situam-se essencialmente na confecção do garfo

e no encaixe no cavalo. Este pode ser mais ou menos grosso e pode

receber um ou vários garfos.

cavalo

contactoentre câmbiossó num ponto

câmbio do garfo

garfo mal instaladosem contactoentre os câmbios

cascacâmbiolenho

garfo muito grossodo lado de dentro,câmbios sem contacto

bom contactoentre câmbiosde frentede lado

garfo

fenda

enxertia de fenda simples

Page 34: Manual de Viveiros Frutícolas

Fig. 20 - Enxertia de fenda vazada ou incrustação

Sobre o cavalo retira-se uma lasca de madeira e em cunha triangular,

mas sem o abrir.

A partir do último gomo do garfo, este é talhado em bisel formando

cunha; a talha de bisel e as suas proporções devem corresponder

ao entalhe feito no cavalo, pelo que o ramo do garfo deve, por

consequência, ser suficientemente volumoso.

A colocação do garfo no cavalo constitui uma verdadeira junção

de marceneiro; o olho da base deve estar ligeiramente por baixo

do corte do cavalo e as partes colocadas em contacto devem aderir

fortemente.

Deve-se terminar com uma atadura sólida, respeitando o gomo,

assim como o envolvimento tradicional. Pode-se eventualmente fixar

o garfo com um esteio delgado. Este modo de inserção suprime

os espaços que ficam entre o ou os garfos e o cavalo que se encontram

nos enxertos de fenda simples e fenda dupla.

Observação

Esta enxertia que se faz por cima dos cavalos com porte elevado e porte

médio, pode igualmente fazer-se sobre uma porção da raiz ou sobre

o colo da jovem planta. Este modo de proceder é chamado "enxerto

na mesa" caso ela se execute em casa durante o repouso da vegetação.

É, sobretudo, um processo muito usado para os arbustos ou árvores

ornamentais.

12.2.5 Enxertia Inglesa

Esta técnica é sobretudo conhecida pela sua utilização nas enxertias

da vinha mas é também aplicada em árvores de fruto de porte elevado

e porte médio, onde é aplicada por cima do cavalo à altura escolhida,

na condição de este ser de pequeno diâmetro porque o cavalo e o garfo

devem ser similares.

Este método permite ganhar tempo apreciável sobre o processo

em fenda ou em incrustação visto que ele se faz sobre os cavalos mais

jovens.

Esta enxertia é sobretudo utilizada para árvores de pevide e principalmente

em microenxertias como sucede, entre muitos casos com o cajueiro.

Modo operatório

Executa-se também depois do período de dormência do ciclo vegetativo

(fins de Agosto e durante Setembro no Planalto Central), recorrendo-

se aos porta garfos recolhidos durante o período de dormência

e conservados em estratificação.

Prepara-se o cavalo em fim de Agosto ou princípio de Setembro,

apara-se o golpe com a navalha e talha-se a extremidade do cavalo

em bisel alongado. Nos 2/3 superiores deste bisel, pratica-se uma

fenda vertical de cima para baixo, penetrando cerca de 2 a 3 cm.

O garfo é constituído por uma porção de ramo, com 3 gomos bem

constituídos. O seu diâmetro deve ser igual ao do cavalo. A base

do garfo é talhada em bisel da mesma forma que aquele que se

32

ENXERTIA DE FENDA VAZADA OU INCRUSTAÇÃO

CÂMBIO

enxertia de fenda simples

garfo

fenda

enxertia de fenda dupla

fenda

cavalogarfo

cavalo

de lado de frente

Page 35: Manual de Viveiros Frutícolas

realizou no cavalo; o corte em bisel inicia-se alguns milímetros abaixo

e do lado oposto ao último gomo.

Tal como é feito para o cavalo, faz-se uma fenda longitudinal

aos 2/3 superiores do bisel e de cerca de 2 a 3 cm de profundidade.

Coloca-se o bisel do garfo face ao bisel do cavalo, fazendo penetrar

as linguetas de madeira que estão frente a frente; a ligação é fixada

com o adesivo de enxertia.

Fig. 21 -Esquema de execução da enxertia inglesa

Quando o diâmetro do garfo é significativamente menor do que

o do cavalo, a forma do corte é claramente diferente (Fig. 22), de forma

a conseguir que uma parte do câmbio do cavalo e do garfo fiquem em

contacto, permitindo manter a circulação da seiva e a formação

do tecido cicatricial.

Fig. 22 - Procedimentos para a enxertia inglesa quando o garfo é de dimensão

menor do que o cavalo

12.3 Material de enxertia

Compõe-se dos seguintes utensílios: serrote, navalha de enxertia, tesoura

de enxertar, pequeno maço. É necessário prevenir-se com ligaduras tais

como ráfia ou fita de enxertar, assim como pastas para proteger

e desinfectar as feridas esperando a sua cicatrização.

13. Mergulhia

A mergulhia é um método de propagação vegetativa pelo qual se faz

induzir o desenvolvimento de raízes adventícias num ramo enquanto

este se encontra ainda ligado à planta. Logo que haja raízes desenvolvidas,

destaca-se a parte do ramo já enraizada que se torna uma nova planta

com o seu próprio sistema radicular. A mergulhia é um meio natural

de reprodução, tal como sucede na amoreira e groselha e foi ainda

muito utilizada no cajueiro antes do aperfeiçoamento da micro-enxertia.

Pode ser induzida artificialmente em muitos tipos de plantas.

33

a) corte oblíquolongo (2,5 a 6cm)feito no cavalo

b) Um 2ª corteque se iniciaa 1/3 da distânciada ponta

c) Puxadosos extremosfaz-se o entalhe

d) Primeirocorte no garfo

e) Segundopara fazero entalhe

g) O garfo éfinalmenteatado e engraxado

f) Os entalhesdo cavalo e o garfosão ajustados

Garfo

CavaloTecidos cambiais

só fazem contacto

de um lado

Page 36: Manual de Viveiros Frutícolas

Usos da mergulhia

São quatro os usos principais da mergulhia:

Para propagação de espécies que se reproduzem naturalmente por

este método (mirtilos, framboesas, etc.);

Propagação de clones cujas estacas não enraízam facilmente mas

cuja importância e valor económico justifica o custo desta forma

de propa-gação, nomeadamente certos clones de macieira e pereira.

Certas fruteiras tropicais como mangueiras e litchia são igualmente

propagadas por este método;

A mergulhia é útil para produção de plantas de boa dimensão

em muito curto tempo. Este processo de propagação é usado com

muita frequência em estufas para propagar plantas como a borracheira

e plantas ornamentais como o croton;

A mergulhia é valiosa para a produção de um número relativamente

pequeno de plantas de boa dimensão com um mínimo de estruturas

de propagação, particularmente quando o espaço disponível não

é limitante.

13.1 Factores que afectam a regeneração de plantas por mergulhia

13.1.1 Nutrição

O ramo permanece preso à planta durante a fase de enraizamento

e é continuamente alimentado com água e minerais através do xilema

que permanece intacto. Como o floema é geralmente interrompido

pela acção de cisão anelar, incisão ou dobragem do propágulo, a base

do ramo onde se pretende induzir as raízes acumula carbohidratos

e auxinas que são necessários à indução das raízes.

A indução das raízes adventícias nos ramos intactos, é afectada, contudo,

por vários outros factores.

13.1.2 Evitar stress

Como o propágulo permanece ligado à planta mãe e continua a actuar

como um lançamento, o stress hídrico associado com o corte da estaca

é evitado. Não só o acesso contínuo aos nutrientes e carbohidratos

permanece constante com a ligação à planta-mãe mas também

a lavagem de nutrientes e metabolitos pela rega é evitada. Isto

é particularmente importante para espécies que são difíceis de enraizar

ou que são sujeitas a chuvas frequentes ou a sistemas de rega por

aspersão. A grande senescência das folhas e a ocorrência de abcisão do

petíolo em estacas foliares recalcitrantes sob aspersão é, por exemplo,

um indicador sobre a predição da capacidade de radicação de cultivares

de abacateiro. Contudo, com a mergulhia, o problema da queda das

folhas sob cobertura em aspersão é evitada.

13.1.3 Tratamento do tronco

A formação de raízes é induzida mediante manipulação do ramo onde

se pretende induzir a formação de raízes como se mostra na figura 23.

A dobragem da estaca, a sua quebra ou um estrangulamento do ramo

interrompe a descida da seiva elaborada que transporte produtos como

açúcares, auxinas e outros factores de crescimento. Estes materiais

acumulam-se acima do nível de interrupção da seiva incentivando

a formação das raízes.

Fig. 23 - Um dos procedimentos usados para estimular a indução de raízes

provocando a acumulação de hidratos de carbono e auxinas na zona de dobragem

34

Ramo dobrado em forma de V

ou ligeiramente com um corte.

Pode também fazer um incisão anelar

ou um estrangulamento com um arame

O lançamento cortado ou partido

no lado mais baixo

Page 37: Manual de Viveiros Frutícolas

13.1.4 Exclusão de luz

A exclusão da luz na parte da estaca destinada à formação das raízes

é uma norma constante de todas as técnicas de mergulhia. Nestes

procedimentos deve-se distinguir entre “branqueamento”, que

é a cobertura de uma parte intacta do lançamento já formado

e a “estiolação”, que é o efeito produzido à medida que o lançamento

se desenvolve e alonga na ausência de luz. Lançamentos intactos

de algumas plantas são capazes de emitir raízes unicamente depois

do “branqueamento” enquanto outras necessitam da interrupção

do floema para interromper o fluxo da seiva elaborada. Contudo,

o maior estímulo para a indução de raízes resulta quando os lançamentos

em desenvolvimento são completamente cobertos de meio de enrai-

zamento, o que é imprescindível quanto se trata de mergulhias feitas

longe do solo. Uma medida importante para o sucesso de iniciação

de raízes em plantas de difícil indução parece ser o branqueamento

e a estiolação.

13.2 Condicionamento fisiológico

A iniciação e desenvolvimento de raízes durante a mergulhia deve estar

associada com condições fisiológicas particulares no tronco relacionadas

com a época do ano. Para muitos tipos de mergulhia, a época do ano

propícia está associada com o movimento de carbohidratos e outras

substâncias para as raízes no fim do ciclo sazonal de crescimento.

13.2.1 Rejuvenescimento

Designa-se por rejuvenescimento às técnicas utilizadas para provocar

lançamentos do ano, lançamentos juvenis que são mais propícios ao

enraizamento. Habitualmente as técnicas utilizadas envolvem a poda

ultra severa das plantas-mãe e o uso de fita preta de PVC para cobrir

a base dos lançamentos, o que melhora significativamente a capacidade

de enraizamento de algumas espécies como a macieira. Os procedimentos

utilizados para melhorar a capacidade de enraizamento das estacas

aplicam-se igualmente à mergulhia. Um exemplo é o uso de substâncias

promotoras de enraizamento como ácido indol-butirico (IBA), aplicado

durante a mergulhia (embora os métodos de aplicação sejam diferentes)

que é também benéfico para o aumento da taxa de sucesso. A aplicação

do ácido, sob a forma de pó, disperso em lanolina ou sob a forma líquida

na zona de dobragem ou nas quebraduras parciais efectuadas para

provocar a acumulação dos hidratos de carbono, são uma prática que

tem mostrado ser eficaz. A formação de raízes depende de ser igualmente

proporcionada humidade permanente, bom arejamento e evitando

o aumento da temperatura pela incidência da luz solar na zona

de enraizamento.

13.3 Exemplo de alguns procedimentos

Neste pequeno manual apresentamos exclusivamente alguns dos

procedimentos mais comuns e que podem ser aplicados com estruturas

simplificadas e para propagação de algumas espécies, principalmente

de fruteiras da floresta natural, de que se desconhecem as formas

de multiplicação ou porque se desconhece a sua biologia, se encontram

ameaçadas e que é urgente evitar em termos de conservação dos

recursos naturais.

A - Mergulhia simples

Fig. 24 - Exemplificação de indução de raízes num ramo e nova planta resultante

35

Page 38: Manual de Viveiros Frutícolas

B- Mergulhia por amontoa

Fig. 25 - Procedimentos da mergulhia por amontoa

C - Mergulhia aérea ou mergulhia chinesa

Este processo é utilizado para propagar de forma rápida um conjunto

importante de espécies frutícolas tropicais e subtropicais incluindo

a lichia e lima (Citrus aurantifolia), para um conjunto importante

de espécies do género Ficus spp. e o philodrendron, entre outras.

É também aplicável para enraizar um conjunto de pinheiros,

nomeadamente no estabelecimento de pomares clonais seminais.

Envolvendo a zona destinada à formação de raízes com filme

de polietileno e folha de alumínio é possível efectuar mergulhias ao ar

livre. A anelação do lançamento é feita no inicio da estação

de crescimento e em alguns casos no fim daquela estação com

lançamentos parcialmente lenhificados. Os lançamentos com idade

superior a um ano podem ser utilizados em alguns casos, mas

o enraizamento é menos satisfatório e as plantas produzidas são, em

regra, mais difíceis de manusear depois de enraizadas. Os procedimentos

da operação desde a anelação e a preparação do meio de enraizamento

estão documentados na Fig. 26.

Fig. 26 - Exemplificação das etapas de mergulhia aérea

14. Rotinas gerais de gestão do viveiro

Em África, onde ocorrem com frequência fogos incontrolados, uma das

primeiras preocupações do responsável do viveiro deve ser a protecção

36

a) Um canteirode multiplicaçãocomeça pelaplantaçãode uma estacaenraizada

b) A planta-mãecresce duranteuma estaçãode crescimentopara ficar bemestabelecida

c) O topo é removidoa 2,5cm do solojustamenteantes do iniciodo crescimento

h) A soca base é removidano princípio da estaçãoseguinte enquanto outrasplantas-mães estãopreparadas para o novo ciclo

f) Os lançamentosjá enraizados sãocortados tão juntoda base quanto possível

d) Quando os novoslançamentos têm8 a 13cm, junta-se teráou serraduraformando-se um montículo

e) No fim da estaçãoas raízes na basedos lançamentosestão formadas

Page 39: Manual de Viveiros Frutícolas

do viveiro contra os fogos, construindo um aceiro devidamente limpo

de vegetação herbácea à sua volta. Esta faixa de protecção deve estar

no exterior da cortina de abrigo ao viveiro.

É aconselhável conservar o viveiro limpo e arrumado para facilitar

as diferentes operações culturais, a movimentação do pessoal

e do equipamento e, ainda, porque é uma forma de evitar

o desenvolvimento de pragas e doenças bem como o aparecimento

de roedores.

As ferramentas em uso no viveiro devem ser lavadas depois do uso

e devidamente conservadas e guardadas no armazém.

Um outro elemento importante para uma boa gestão do viveiro

é a manutenção dos registos das operações, procedimentos e datas.

Esta informação é um precioso auxiliar do planeamento, monitorização

e apoio à decisão.

Alguns elementos importantes a registar e a manter em arquivo são:

Datas de sementeira, de repicagens, de enxertias e de plantação;

Calendários das diferentes operações e actividades;

Objectivos devidamente quantificados;

Tarjetas. Lembre-se que quase sempre os vendedores ou o pessoal

de expedição de plantas do viveiro não são fruticultores e que,

por isso, todas as plantas devem ter uma etiqueta. A etiqueta deve

conter, além da perfeita identificação da espécie/variedade, o destino

onde vai ser plantada por forma a poder ter-se uma possibilidade

de analisar o comportamento, no campo do material produzido;

Observações sobre o comportamento das diferentes espécies/

variedades ou linhas parentais;

Consistência das qualidades produzidas e da classificação que

é atribuída;

Ocorrência e identificação de pragas e doenças e medidas

de controlo;

Distribuição de plantas, quantidades e destinos.

II. RECOMENDAÇÕES DE FRUTEIRAS MAIS APTAS

PARA O MUNICÍPIO DE ECUNHA3

1 Café arábica (Coffea Arabica L.)

O café arábica é uma planta de zonas subtropicais de temperatura

média anual compreendida entre os 18ºC e 21ºC, não devendo situar-

se abaixo dos 4-5º nem acima dos 31ºC.

Em latitudes baixas, já de tendência equatorial, somente em altitudes

acima dos 1300 m/ /1500 m encontrará as temperaturas adequadas.

Muito sensível à geada, no Planalto Central de Angola, onde existem

condições ecológicas aceitáveis, a plantação deverá estabelecer-se nas

terras altas, suficientemente afastadas dos vales e depressões, onde

em geral se verifica incidência do fenómeno na época seca. As exigências

hídricas da cultura oscilam entre os 1200 mm e 1500 mm de chuva,

e que se distribuam durante um período de 9 a 10 meses, intercalando

com um período seco de 2 a 3 meses, que é benéfico a fim de estimular

a floração. Relativamente a períodos de seca mais prolongados (de 4

a 5 meses no Planalto Central) será vantajoso sempre que possível,

recorrer a uma ou outra rega suplementar.

1.1 Exigências edáficas

O café arábica requer um solo profundo, de excelente drenagem interna,

bem estruturado e provido de nutrientes minerais. Prefere solos de

texturas medianas ou medianas/finas, franco ou franco-argiloso, com

boa capacidade para a água utilizável, sendo de destacar a importância

que representa a selecção de locais apropriados para a cultura, porque

de tal dependerá a duração e produtividade do cafezal.

37

Page 40: Manual de Viveiros Frutícolas

1.2 Zonas de distribuição cultural

O café arábica é uma cultura que está estreitamente ligada ao Planalto

Central (Fig. 27), desde que há longas décadas as primeiras plantações

se estabeleceram na serra da Chicuma (Ganda) e na área do Andulo,

irradiando seguidamente para diversos outros pontos da região planáltica,

e disseminando-se por pequenas plantações a nível da exploração

familiar, com maior incidência nas zonas do Andulo-Nhareia, Bailundo-

Luimbale, Chinguar-Bela Vista e mais intensamente na referida área da

Chicuma.

1.3 Zonas ecologicamente mais favoráveis

Adapta-se melhor a zonas de maior altitude do Planalto Central, dando

aí preferência aos solos jovens ou pouco evoluídos, bem providos de

reserva mineral, que se relacionam, nas áreas de relevo mais acidentado

e em geral enquadrando-se na Montanha Marginal, com as formas de

sopé e encostas de vertente mais suavizadas como ocorrem em áreas

do Quipeio. Na delimitação das zonas ecologicamente mais favoráveis,

onde ficam incluídas as áreas de distribuição actual da cultura, tomaram-

se em linha de conta os aspectos seguintes:

altitudes acima dos 1300 m/1400 m, que se relacionam com

temperaturas médias inferiores a 20ºC, normalmente compreendidas

entre 19°C a 20°C;

três a quatro meses frios, com temperatura média variável entre

16°C e 18°C;

relativamente fraca incidência de geadas, tendentes a ocorrer nas

superfícies baixas da base dos vales e encostas adjacentes (situações

a excluir das áreas de cultura do café).

Apesar de se definir uma zona considerada como mais favorável,

é manifesta a marginalidade do meio para o café arábica, dado que

a uma estação chuvosa de sete meses, com uma precipitação de 1300

mm/1400 mm, se segue um período de deficiência hídrica de quatro

a cinco meses, e daí a importância de se seleccionarem solos profundos

e estruturados, com boa capacidade para a água utilizável, em geral

correlacionando-se nestas áreas planálticas com solos Paraferralíticos

(Tipoparaferrálicos ou Eutroparaferrálicos). Por uma questão de conser-

vação da humidade e manifesta necessidade do sombreamento artificial

(a Grevillea é uma espécie bem testada nas zonas do Planalto Central),

salienta-se também a importância que possam ter uma ou duas regas

suplementares em momento oportuno da época seca e sempre que tal

for possível, além do interesse no revestimento do solo por uma camada

de folhelho (“mulching»).

Fig. 27 - Zonas de distribuição e zonas aconselhadas para expansão.

38

Café Arábicazonas de distribuição cultural

Café Arábicazonas mais favoráveis à cultura

1

23

45 6

78

9

10 11 12

13

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15

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1

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45 6

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9

10 11 12

13

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15

16

17 18

Page 41: Manual de Viveiros Frutícolas

2. Citrinos (Citrus spp.)

2.1 Exigências climáticas

Os citrinos adaptam-se a meios climáticos envolvendo duas estacões

de características diversas, ou seja, uma época quente de temperatura

média elevada (20°C a 25°C), alternando com uma época invernal de

temperaturas baixas, mas não muito acentuadas. Em Angola, porém,

a não ocorrência de temperaturas nocturnas suficientemente baixas

(inferiores a 14°C) associadas a baixas humidades relativas, não favorece

a coloração característica dos frutos, tal como é típico das regiões

subtropicais e mediterrânicas. Neste aspecto os planaltos do sul

(Lubango-Humpata) e o SE do território (Baixo Cubango) consideram-

se como as zonas mais favorecidas, adquirindo os frutos um determinado

grau de coloração alaranjada, mas não totalmente. Os citrinos necessitam

de regular o abastecimento de humidade, relacionado com uma queda

pluviométrica bem distribuída (1000 m a 1500 m) no período chuvoso,

e em complemento a rega periódica na estação seca.

2.2 Exigências edáficas

Deverão seleccionar-se para a cultura os solos profundos e bem drenados,

de texturas ligeiras ou medianas, considerando-se muito convenientes

os arenosos ou arenosos-francos no horizonte superficial, passando

a franco-arenosos ou francos nos horizontes inferiores. As terras de

baixa, quando dominadas por solos leves de origem aluvionar, bem

drenadas e defendidas das cheias, facilmente abrangíveis por redes

de rega por gravidade e assegurado o controlo do lençol freático dentro

de limites de profundidade convenientes, são seguramente as que

melhor convêm à citricultura.

2.3 Zonas de exploração cultural

Os citrinos, sobretudo a laranjeira e a tangerineira, têm larga dispersão

no território, relacionando-se com a pequena exploração hortofrutícola,

a «chitaca» como é conhecida localmente, que se dissemina pelas

superfícies planálticas do Huambo-Bié, Lubango-Humpata, Cela-Quibala

e Malange-Cacuso. Por outro lado, torna-se característica a sua

distribuição tradicional em redor dos aldeamentos rurais, juntamente

com outras fruteiras, como é norma nas províncias de Cabinda, Zaire,

Uige e ainda nalgumas áreas do Bié. Além deste aspecto de distribuição

generalizada, que revela uma melhor ou pior adaptação às condições

mesológicas locais, pode afirmar-se que a nível global do território

os citrinos poderão prosperar um pouco por toda a parte. Todavia

apontam-se na Figura 28 as zonas de mais vincada potencialidade

cultural em correspondência com as superfícies planálticas

e subplanálticas, evidenciando-se alguns locais de concentração onde

se dispõem pomares ordenados nas áreas do Huambo (Chinguri), Bié

(Catabola, Gamba e Nhareia), Cubal-Caimbambo, Lubango (Humpata,

Leba, Chibia) e Malange. São ainda de destacar os pomares que

se distribuem nas baixas fluviais da faixa litoral, salientando-se os das

zonas de Caxito (Lifune, Dande e Icau), Dondo (Lucala-Mucoso), Benguela

(Catumbela, Cavaco e Dombe Grande) e Namibe (Bentiaba, Giraul,

Bero e Curoca).

2.4 Zonas mais favoráveis à cultura

Apesar da amplitude que a exploração de citrinos poderá revestir há

que ter em conta que faltam condições de meio ambiental favoráveis

a uma conveniente pigmentação dos frutos, inviabilizando-se deste

modo a sua comercialização para o exterior. Todavia é de realçar

o elevado interesse agro-industrial desta cultura, podendo encaminhar-

se a sua produção para a transformação em sumos, concentrados

de sumos e extractos, além do consumo interno da fruta em fresco

cujo contributo para a dieta alimentar deve ser salientada. Nesta óptica

delimita-se na figura 28 o espaço territorial que do ponto de vista

ecológico melhores condições oferece para a citricultura, tendo em

devida conta o interesse em seleccionar as áreas favoráveis à implantação

de pomares ordenados e onde, simultaneamente, se torne viável o seu

beneficiamento com o regadio. Na delimitação das zonas mais favoráveis

à citricultura entrou-se em linha de conta com os aspectos característicos

seguintes:

39

Page 42: Manual de Viveiros Frutícolas

estações do ano alternadamente quentes e frescas;

estação chuvosa de cerca de sete meses não demasiadamente

pluviosa;

não ocorrência de geadas ou então a sua incidência e localizada

(depressões e fundos de vale);

grau de insolação excedendo as 2000 horas/ano e valores

da humidade relativa de razoáveis a elevados (50% a 80%).

Não deixando de se tomar em consideração que os citrinos têm uma

larga capacidade de adaptação, a nível do território angolano, a verdade

é que, relativamente ao espaço delimitado como mais favorável, poderão

privilegiar-se determinadas áreas como oferecendo melhores condições

de meio e que de algum modo já se consagraram ao longo dos tempos,

como sejam as zonas do Lubango-Chibia, Cubal-Caimbambo-Bocoio,

Lucala-Mucoso e Dande- Lifune.

Fig 28 - Zonas de ocorrência de citrinos e zonas mais favoráveis

3. Goiabeira (Psidium guajava L.)

3.1 Exigências climáticas

Fruteira característica das regiões tropicais quentes ou moderadamente

quentes e que tenham duas estações bem diferenciadas, sendo a das

chuvas com período de duração e valor da precipitação variáveis (dando

contudo preferência a quantitativos compreendidos entre os 900 mm

e 1200 mm). Em relação à estação seca, não é conveniente uma humi-

dade atmosférica muito reduzida, bem como uma vincada amplitude

térmica diurna.

3.2 Exigências edáficas

É uma fruteira que se adapta facilmente a diversos tipos de solos,

preferindo todavia os de textura mediana ou ligeira, desde que espessos

e bem drenados, rejeitando por outro lado os de textura pesada

e compactos. Em solos férteis das baixas fluviais com boa permeabilidade

e arejados, as produções tornam-se abundantes.

3.3 Zonas de distribuição cultural

Em Angola a goiabeira tem uma distribuição geográfica muito ampla,

mas todavia bastante dispersa. As zonas de mais significativa

concentração (Figura 29) relacionam-se com as áreas de actividade

agrícola mais intensa e diversificada, sobretudo aquelas que circundam

os principais aglomerados populacionais, disseminando-se a goiabeira,

a par de outras fruteiras, pelas pequenas explorações horto-frutícolas

que se implantam à volta dos principais centros urbanos (Lubango,

Benguela, Huambo, Bié, Luanda, Dalatando, Malange) e ainda com certa

difusão nos subplanaltos do Cuanza Sul e Benguela.

3.4 Zonas mais favoráveis à cultura

A delimitação das manchas que figuram na Figura 29, que do ponto

de vista ecológico representam as zonas mais favoráveis à cultura,

obedeceu aos critérios seguintes:

40

Citrinoszonas de exploração cultural

Citrinoszonas mais favoráveis à cultura

1

23

45 6

78

9

10 11 12

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9

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17 18

Page 43: Manual de Viveiros Frutícolas

alternância de uma estação de chuvas de sete a oito meses, com

uma estação seca bem marcada, mas na qual a temperatura média

é inferior a 19°C-20°C;

valores da precipitação média anual acima dos 500 mm-600 mm,

tornando-se evidente que em relação à faixa seca do litoral a cultura

deverá incidir nas superfícies húmidas (orlas das lagoas e baixas

aluviais enxutas mas de subsolo húmido);

humidade relativa média anual superior a 65% e livre de ocorrência

de geadas.

No aspecto edáfico seleccionaram-se os solos Fersialíticos e Ferralíticos

bem conservados, além dos Aluviosolos enxutos e de texturas médias

e ainda os solos arenosos, preferivelmente com conteúdo razoável

de matérias orgânica, como sendo os mais aptos.

Fig. 29 - Zonas de distribuição geral da goiabeira e as mais aptas para expansão

4. Maracujá (Passiflora edulis Sims)

O género Passiflora está representado em Angola pelas duas espécies

P. edulis Sims e P. quadrangularis L., a primeira caracterizada pelos seus

frutos, sensivelmente do tamanho de goiabas, de colorações arroxeada

e amarelada, conhecidos respectivamente por «maracujá roxo»

e «maracujá brasileiro», e a segunda de frutos volumosos lembrando

o melão e daí a designação de «maracujá melão». O interesse da cultura

vai para a variedade de pigmentação roxa, pela elevada produtividade

e por constituir matéria-prima de grande valia para a produção

de sumos. A sua vasta dispersão denota o poder de adaptação aos mais

variados ambientes climáticos, exigindo apenas boas condições

de luminosidade, ausência de geadas e que na estação seca não se

verifiquem descidas acentuadas da temperatura e da humidade relativa.

Quanto às exigências hídricas, esta cultura dá preferência a uma

precipitação de valores médios entre os 1000 mm e os 1200 mm, bem

distribuída, devendo compensar-se a deficiência de água do período

seco com a rega periódica.

4.1 Exigências edáficas

É uma planta que prefere solos de texturas médias ou médias/ligeiras,

férteis e com nível razoável de matéria orgânica, ligeiramente ácidos

desde que profundos, arejados e de permeabilidade moderada

ou elevada, não tolerando a ocorrência de camada ou camadas compactas

que provoquem retenções de humidade no subsolo. Em solos de baixa

o maracujá tem excelente adaptação desde que bem drenados até

profundidade conveniente e que ao longo do perfil se verifique boa

capacidade de infiltração.

41

Goiabeirazonas de distribuição cultural

Goiabeirazonas mais favoráveis à cultura

1

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45 6

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9

10 11 12

13

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Page 44: Manual de Viveiros Frutícolas

42

4.2 Zonas de distribuição cultural

A partir de meados dos anos sessenta verificou-se em determinadas

zonas das províncias do Huambo e Bié, uma notável expansão da cultura

do maracujá em resultado da implantação de uma unidade industrial

de concentrado de sumo no Huambo, tendo-se constituído plantações

de certo vulto, privilegiando a variedade de maracujá roxo, nas áreas

do Bailundo, Alto Hama, Huambo e Caála (Figura 30). É de realçar

a boa adaptação da cultura às condições mesológicas do Planalto

Central, sobretudo quando recaiam em superfícies de sopé das vertentes

naturalmente drenadas e de solos Paraferralíticos bem conservados,

obtendo-se os melhores resultados quando tais superfícies recebem

plena luminosidade e se encontram suficientemente afastadas dos vales

onde é normal a incidência de geadas nos meses de Junho e Julho.

4.3 Zonas mais favoráveis à cultura

Na Fig. 30 delimita-se o espaço territorial que do ponto de vista

ecológico oferece melhores condições de adaptação ao maracujá.

A sua definição obedeceu ao critério seguinte:

temperatura média anual de 19°C a 23°C, com amplitudes térmicas

anuais de 4°C a 5°C;

temperatura média da época fresca de 17°C a 21°C e a do mês

mais frio de 16°C a 21°C;

ausência de geadas ou então com ocorrência no bimestre Junho-

Julho e normal incidência nos vales;

grau higrométrico do ar compreendido entre os 60% e 75%

e valores da insolação de 2100 a 2600 horas/ano;

estações seca e chuvosa bem definidas, esta última com a duração

de sete meses e valores da precipitação compreendidos entre

1000 mm a 1400 mm.

Relativamente à mancha cartograficamente representada na figura 30

deverão privilegiar-se as regiões planálticas de média altitude

(1200m a 1400m) bem como a faixa sub-planáltica que lhe é contígua

do lado ocidental, devido sobretudo às temperaturas mais amenas

do período do «cacimbo» e também pela maior representatividade

de solos apropriados para a cultura. Altitudes acima dos 1500m/1600m

consideram-se já um tanto marginais, devido sobretudo ao rigor

dos meses frios que afectam o crescimento da planta e a maturação

do fruto.

Fig 30 - Zonas de distribuição e mais aptas para o maracujá

Maracujázonas de distribuição cultural

Maracujázonas mais favoráveis à cultura

1

23

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9

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13

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15

16

17 18

Page 45: Manual de Viveiros Frutícolas

43

5. Fruteiras das regiões temperadas

Várias populações da Comuna do Quipeio quando questionadas sobre

que espécies fruteiras estariam interessadas em plantar referiram-se

a fruteiras temperadas como a maçã e a pêra. É preciso lembrar que

em relação a fruteiras de regiões temperadas há duas situações bem

distintas. No litoral do Namibe, há a considerar uma época fresca

de seis meses, de temperaturas médias de 18-19ºC, sendo a do mês

mais frio de 17ºC e a época quente de igual período e de temperaturas

médias oscilando entre os 22ºC e os 23ºC. Esta é a razão porque

a oliveira e a vinha vegetam em boas condições de produtividade

e regular periodicidade. Por sua vez o Planalto da Humpata, onde

ocorrem temperaturas baixas na época seca de cinco a seis meses, com

médias de 14ºC e temperaturas que não vão além dos 18ºC na época

quente, verificando-se no mês mais frio, Junho, valores de 14ªC,

as pomóideas revelam uma adaptação vegetativa aceitável. No entanto,

as temperaturas não atingem as temperaturas frias exigíveis para

proporcionarem condições ideais de produtividade e qualidade.

De acentuar ainda que quer numa ou noutra situação o recurso

ao regadio é condição essencial a produções que sejam compensadoras.

No caso concreto do Município de Ecunha o clima não é suficientemente

frio para que sejam satisfeitos os padrões exigíveis pelo que a sua

plantação deverá de todo ser desaconselhada.

Page 46: Manual de Viveiros Frutícolas

44

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

Page 47: Manual de Viveiros Frutícolas

ALGUMAS MISTURAS PARA O FABRICO

DE SUBSTRATOS PARA OS VIVEIROS DE PLANTAS

FRUTÍCOLAS

Substratos com base em misturas com casca de pinheiro

Mistura Aa. Solo 1 parteb. Areia 2 partesc. Casca de pinheiro 2 partes

Mistura Ba. Casca de pinheiro 1 parteb. Serradura 1 partec. Solo florestal 1 parte

Mistura Ca. Casca de pinheiro 1 parteb. Areia 1 parte

Mistura Da. Casca de pinheiro 1 parteb. Areia 1 partec. Solo 1 parte

Mistura Ea. Casca de pinheiro 3 partesb. Solo 3 partesc. Composto/estrume 3 partesd. Areia 1 parte

A fertilização suplementar que pode ser adicionada por cada volume

correspondente a um carro de mão:

Superfosfato simples 45 g

Calcário 45 g

Sulfato de potássio 25g

Borato de sódio 0,45g

Oxido de zinco 0,45g

Sulfato de cobre 0,90g

Para reforço de fertilização em cobertura e para fertilização foliar use:

Nitrato de amónio 60g

Muriato de potássio 60g

Superfosfato simples 80g

Estes fertilizantes devem ser dissolvidos em 20 l de água.

45

ANEXO I

Page 48: Manual de Viveiros Frutícolas

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