manual de melhores prÁticas para o ecoturismo – … · 2010. 5. 26. · este manual pretende ser...

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MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – TURISMO SUSTENTÁVEL

Meio ambiente

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APRESENTAÇÃO

ORGANIZADOR Roberto M. F. Mourão • PRODUÇÃO EXECUTIVA Lindamara Soares • ESTAGIÁRIO Bruno Bourrus Magioli Maia

PROJETO GRÁFICO Imaginatto Design e Marketing • ILUSTRAÇÕES José Carlos Braga • REVISÃO AnaCris Bittencourt e Marcelo Bessa • FOTO DA CAPA Roberto M. F. Mourão

CONSELHO DELIBERATIVO

Roberto Leme Klabin • Presidente

Cláudio Benedito Valladares Pádua • Vice-presidente

MEMBROS VOGAIS

Acadêmico

Benjamin Gilbert • Fundação Oswaldo Cruz

José Augusto Cabral • Consultor

Paulo Eugenio Oliveira • UFU

Ambientalista

Garo Batmanian • WWF/Brasil

Ibsen de Gusmão Câmara • FBCN

Jean Marc von der Weid • AS-PTA

Nurit Bensusan • ISA

Empresarial

José Luiz Magalhães Neto • Grupo Belgo Mineira

Roberto Konder Bornhausen • Unibanco

Roberto Leme Klabin • RK Hotéis e Turismo Ltda

Roberto Paulo Cezar de Andrade • Brascan

Governamental

João Paulo Capobianco • MMA

MEMBROS SUPLENTES

Acadêmico

Cláudio Valladares Pádua • UnB

Keith Spalding Brown Junior • Unicamp

Paulo Nogueira Neto • USP

Roberto Brandão Cavalcanti • UnB

Ambientalista

Clóvis Borges • SPVS

Jean-Pierre Leroy • Fase

José Adalberto Veríssimo • Imazon

Mª Dores V. C. Melo • Soc. Nordestina de Ecologia

Empresarial

Edgar Gleich • Consultor

Guilherme Peirão Leal • Natura Cosméticos

Juscelino Martins • Martins Comércio & Serviço Distribuição S.A.

Maria Mercedes von Lachmann • Grupo Lachmann

Governamental

Paulo Kageyama • MMA

Ronaldo Weigand Junior • MMA

SECRETARIA EXECUTIVA

Pedro Leitão • Secretário Geral

FUNBIOFundo Brasileiro para a BiodiversidadeLargo do Ibam 01, 6º andarHumaitá - Rio de Janeiro, RJ - 22.271-020(21) 2123-5300www.funbio.org.br

SECRETARIA EXECUTIVA

Maria Clara Soares • Coordenadora de programas Funbio

Roberto M. F. Mourão • Diretor técnico programa MPE | Ecobrasil

CONSULTORES

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Marcos Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

COMITÊ TÉCNICO

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Jeane Capelli Pen • Rain Forest Alliance

Marcos M. Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

Mário Mantovani • SOS Mata Atlântica

Oliver Hillel • U. N. Environment Program

Rogério Dias • Cerrado Ecoturismo

Sônia Rigueira • Terra Brasilis

Werner Kornexl • Banco Mundial

EQUIPE TÉCNICA

Luciana Martins • Gerente de programa

Maria Aparecida Arguelho • Coordenadora de campo

Marcos Amend • Coordenador de campo

Valéria Braga • Coordenadora técnica

Michele Ferreira • Assistente de programa

APOIO

Marcus Vinícius C. Pires • Assistente administrativo

Estagiários

Bárbara Nunes, Daniel Soares , Flávia Bichara

Mensageiro

Claudio Silvino

Corpo técnico - Autores e instrutores

Ana Cláudia Lima e Alves, Ana Elisa Brina, Ana Maria Saens Forte,

Ariane Janér, Armando Cypriano Pires, Carlos Alberto Mesquita,

Cláudia de Sousa, Dante Buzzetti, Equipe Tamar, Evandro Ayer,

Fábio de Jesus, Fábio Ferreira, Fábio França Araújo,

Fábio Vieira Martinelli, Fernanda Messias, Gerson Scheufler,

Humberto Pires, Jean Dubois, Jeane Capelli Pen, Leonardo Vianna,

Liana Sá, Lucila Egydio, Luiz Gustavo Barbosa, Marcelo Oliveira,

Marcelo Skaf, Márcia Gomide, Maria Aparecida Arguelho,

Mª das Graças Poncio, Maria Clara Soares, Márcio Viana,

Marcos Martins Borges, Marcos Nalom, Paul Dale, Paulo Bidegain,

Paulo Boute, Paulo D’Ávila, Pedro Bezerra, Renato de Jesus,

Roberto M.F. Mourão, Rogério Dias, Rogério Zouein,

Rui Barbosa da Rocha, Salvador Silva, Sandro Sáfadi,

Sebastião Alves, Sérgio Pamplona, Sônia Elias Rigueira,

Suzana Sperry, Tasso de Azevedo, Waldir Joel de Andrade

Ecobrasil | MPEMelhores Práticas para o EcoturismoRua Visconde de Pirajá 572, 2º andarIpanema - Rio de Janeiro, RJ - 22.410-002Tel: (21) 2512-8882www.ecobrasil.org.brwww.mpe.org.br

M294 Manual de melhores práticas para o ecoturismo /

Organizador: Roberto M. F. Mourão. - Rio de

Janeiro: FUNBIO; Instituto ECOBRASIL,

Programa MPE, 2004.

46p. : il ; 21 cm

1. Ecoturismo – Manual. I. Título.

CDD: 338.47

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ESTE MANUAL É UM DOS PRODUTOS DO PROGRAMA “MELHORES PRÁTICAS

PARA O ECOTURISMO”, PROMOVIDO PELO

EM PARCERIA COM

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

APOIO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Montcamp Equipamentos Wöllner Outdoors

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Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

(Funbio) é uma organização não-governa-

mental, criada em outubro de 1995, cuja

missão é apoiar ações estratégicas de conservação e

uso sustentável da biodiversidade no Brasil. Com esse

fim, o Funbio capta e gere recursos financeiros, esti-

mulando o desenvolvimento de iniciativas ambien-

tais e economicamente sustentáveis. Sua atuação é

pautada na Convenção da Diversidade Biológica,

acordo internacional assinado durante a Rio 92.

O Funbio é dirigido por um conselho delibera-

tivo, formado por lideranças dos segmentos ambi-

entalista, empresarial, acadêmico e governamental.

É operado por um comitê executivo, seis comissões

técnicas e uma secretaria executiva que conta com

profissionais de diferentes áreas.

Ao longo de oito anos de trabalho, o Funbio

apoiou mais de 60 iniciativas nas áreas de conser-

vação, agrobiodiversidade, manejo florestal não-

madeireiro, manejo florestal madeireiro, manejo

de recursos pesqueiros, ecoturismo e Agenda 21

local, totalizando um desembolso de aproximada-

mente US$ 7,1 milhões até o ano de 2003. Seu pú-

blico-alvo é o setor produtivo brasileiro, bem como

organizações não-governamentais e associações

comunitárias comprometidas com o desenvolvi-

mento sustentável, além das comunidades locais

beneficiárias de suas ações.

O ecoturismo começou a ser investigado como

área potencial de trabalho para o Funbio em 1999,

dentro do Programa de Estudos Estratégicos.

A pesquisa constatou carência na área de capacita-

ção de profissionais que atuam em empreendimen-

tos de ecoturismo.

A resposta a esse problema foi o desenvolvi-

mento do Programa MPE, com o objetivo de defi-

nir um conjunto de “melhores práticas” que sir-

vam de referência para projetos de ecoturismo no

Brasil. Este manual que você tem em mãos é um

dos frutos desse trabalho.

Pedro Leitão

Secretário Executivo

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APRESENTAÇÃO

O conceito de sustentabilidade, proposto pela Co-

missão Brutland no informe “Nosso futuro co-

mum” (1987), despertou um intenso processo de

discussão. Diferentes interpretações vêm sendo for-

muladas desde então, trazendo visões de mundo

por vezes conflitantes e bastante diversas. Uma

contribuição inequívoca trazida pelo conceito de

sustentabilidade foi o reconhecimento da neces-

sidade de integrar a dimensão ambiental ao con-

ceito de desenvolvimento. A Rio 92 trouxe o de-

safio de estabelecer uma série de acordos volta-

dos a enfrentar a destruição do planeta, bem como

de integrar a participação dos cidadãos como fa-

tor fundamental para o alcance do desenvolvimen-

to em bases sustentáveis.

O reconhecimento da finitude dos recursos

naturais do planeta trouxe à tona uma questão

fundamental. Se os recursos são limitados, que

valores, deveres e obrigações devem regular a dis-

tribuição e o acesso aos recursos disponíveis?

Considerando que os países ricos, com menos de

20% da população mundial, consomem 80% dos

recursos mundiais, enquanto os países mais po-

bres consomem apenas 2% dos recursos, falar em

sustentabilidade nos conduz à necessidade de

repensar o modelo de desenvolvimento em cur-

so, que vem gerando não apenas um padrão de

produção e de consumo excludente do ponto de

vista social, como também insustentável do pon-

to de vista ambiental.

Após 12 anos da Rio 92, apesar de não se re-

gistrarem avanços significativos no enfrentamen-

to das questões estruturais de eqüidade socioam-

biental essenciais para garantir a sustentabilidade

do desenvolvimento, verifica-se o nascimento de

um sem-número de novas organizações, propos-

tas e iniciativas voltadas para a conservação e o

uso sustentável de recursos naturais, que buscam

conciliar o desenvolvimento econômico com a

justiça social e a sustentabilidade ambiental.

Desenvolvimento sustentável

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Neste contexto, situam-se os esforços para o

desenvolvimento de um modelo de turismo soci-

almente responsável. O turismo sustentável utili-

za o patrimônio natural e cultural, incentiva sua

conservação e busca a formação de uma consciên-

cia ambientalista, promovendo o bem-estar das

populações envolvidas. Por esse motivo, vem des-

pontando como importante aliado na conserva-

ção do meio ambiente e como alternativa econô-

mica que estimula a inclusão social. O Brasil é um

país extremamente rico em recursos e em belezas

naturais, possui entre 15% e 20% da biodiversida-

de e 13% da água doce do mundo e abriga enor-

me diversidade cultural. O aproveitamento desse

potencial por meio do desenvolvimento de estra-

tégias que fortaleçam o turismo participativo, so-

lidário e sustentável é, sem dúvida, uma grande

oportunidade para o país.

Maria Clara Couto SoaresCoordenadora de Programas Funbio

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A idéia básica é que, à medida que o Pro-

grama MPE seja implementado, ajustado e ree-

ditado com práticas propostas aplicadas no cam-

po e avaliadas, o manual também seja ajustado

e acrescido, sempre buscando melhorar as prá-

ticas anteriormente estabelecidas. A disponibi-

lização dos tópicos e subtópicos será feita de

forma gradativa, e o manual será ajustado me-

diante sugestões e críticas, até mesmo com dis-

tribuição em meio eletrônico.

Aos autores dos temas foi solicitado que se

limitassem a textos teóricos condensados entre cin-

co e dez páginas, sem, contudo, prejudicar o con-

teúdo. A condensação sugerida, a princípio, pode

até ser considerada negativa, mas seu objetivo é

estimular o público leitor a se concentrar no que

for mais essencial dentro do assunto, abstraindo-

se do que for supérfluo ou secundário. Nesse sen-

O Manual MPE foi criado com o objetivo inicial

de ser utilizado nos cursos de capacitação dos

monitores MPE, em suas consultas e complemen-

tação de conhecimentos, e também de servir como

material didático para os envolvidos, local e regi-

onalmente, com os projetos conveniados.

Porém, em virtude da carência de publicações

sobre ecoturismo e desenvolvimento sustentável,

abordados de forma prática e sucinta no Brasil, o

comitê gestor do Programa MPE decidiu produzir

e disponibilizar o conjunto a um público mais am-

plo, atendendo a uma necessidade das demais pes-

soas interessadas pelos temas abordados.

Este manual pretende ser uma ferramenta di-

nâmica, com flexibilidade para incorporar suges-

tões e críticas, conforme os avanços do Programa

MPE, recebendo informações dos trabalhos de cam-

po, por meio do sistema de monitoramento.

Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE)

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tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-

tiva, visando oferecer ao público o melhor apro-

veitamento possível.

Formato

O Manual MPE é composto de: Módulos Temáti-

cos, subdivididos em Seções, Tópicos e Subtópi-

cos. Na composição dos Tópicos (Texto teórico), de

acordo com o tema que está sendo tratado, po-

dem vir a fazer parte como subtópicos: Caixa de

ferramentas, Estudo de caso, Anexo técnico, Glos-

sário e Referências bibliográficas.

Desejamos a você uma boa leitura e um aproveita-

mento prático melhor ainda.

Roberto M. F. MourãoOrganizador do Manual MPE

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Meio ambiente

1. Meio ambiente e turismo

1.1 Biodiversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14por Sônia Rigueira

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2. Unidades de conservação

2.1 Unidades de conservação . . . . . . . . . . . . . . . . . 24por Marcelo Skaf

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.2 Estradas-parque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40por Roberto M. F. Mourão

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

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Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Meio ambiente

1. MEIO AMBIENTE E TURISMO

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

E ntre os problemas de degradação ambiental, a perda da di-

versidade biológica do planeta é considerado um dos mais gra-

ves, sobretudo por sua irreversibilidade. Neste capítulo, a autora

analisa e aprofunda o conceito de biodiversidade, apontando para

a sua importância em nossas vidas. Destaca também a legislação

existente acerca da proteção da fauna e da flora brasileiras.

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BIODIVERSIDADE

SÔNIA RIGUEIRA1.1

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• 15Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

Tucano (Ramphastus tucanus)

Robe

rto

M. F

. Mou

rão

Como é percebido por todos, o planeta vem sofrendouma série de problemas decorrentes da degradaçãoambiental. São muitos os males ambientais e freqüen-temente ouvimos falar ou sofremos as conseqüênci-as de situações como o aquecimento da Terra, a per-da da camada de ozônio, emissões tóxicas, chuvasácidas, erosão, poluição do ar, água e solo etc. O au-mento populacional e o consumo excessivo são tam-bém fatores que contribuem para a degradação domeio ambiente. Essas são algumas das situações fá-ceis de identificar. No entanto, uma outra questãotão importante quanto as mencionadas é a perda dadiversidade biológica do planeta. O que torna a per-da da biodiversidade um fator de extrema preocupa-ção é, sobretudo, que essa perda é irreversível.

O que é biodiversidade?

Expressa a variedade de organismos vivos; a diver-sidade de formas de vida em um imenso sistemade interdependência entre elas. É também o resul-tado de processos naturais e culturais. Estamos fa-lando de níveis de biodiversidade diferentes, sejapela diversidade genética entre as espécies, peladiversidade de espécies que existem e pela diversi-dade de ecossistemas em que essas espécies se or-ganizam. Biodiversidade abraça tudo que tem a vercom a vida na Terra.

A biodiversidade está presente em todo o lugar,incluindo todos os genes, espécies animais e vegetais,ecossistemas e paisagens. Inclui florestas, águas do-ces e marinhas, solos, plantações, animais domésti-cos, espécies silvestres e microorganismos – vai dosgenes à biosfera. Não se conhece o número exato deespécies vivas no planeta. Até hoje, os cientistas des-creveram cerca de 1,7 milhão de organismos vivos,

mas o número total estimado está entre 5 milhões e30 milhões ou até mais. As espécies de aves e mamí-feros são relativamente bem conhecidas, mas o mes-mo não ocorre no caso de organismos pequenos comoinsetos, fungos, bactérias e vírus.

A diversidade genética se refere à variedadede genes em cada espécie. Cada indivíduo possui umagrande quantidade de genes responsáveis por suascaracterísticas particulares. No caso dos seres hu-manos, por exemplo, uma enorme variedade de ros-tos reflete a constituição genética das pessoas.

A diversidade nos ecossistemas existe porqueeles são formados em diversas escalas, variandodesde bem pequenos até imensos. Um ecossistemaé feito de uma comunidade de organismos vivos,seu ambiente e as intera-ções entre eles. Uma flores-ta constitui um ecossistema,da mesma forma que umtronco em decomposição,um rio, um lago, uma mon-tanha, o mar ou mesmotodo o planeta.

Já as paisagens são fei-tas de conjuntos de elemen-tos naturais e de elementosintroduzidos pelo ser huma-no; algumas regiões já fo-ram tão alteradas pela mar-ca humana que já não exi-bem paisagens naturais. Adiversidade de paisagensleva em consideração as so-ciedades em diferentes cul-turas. As paisagens vêm sen-do moldadas por atividades

humanas por milhares de anos e, por isso, incorpo-ram a memória da natureza e de seus habitantes,formando um complexo elemento: o ambiente.

Biodiversidade no cotidiano

Não é difícil enxergar a importância da biodiversida-de e suas implicações sobre os valores ecológicos,genéticos, sociais, econômicos, científicos, educativos,culturais, recreativos e estéticos. A biodiversidadefaz parte de nosso cotidiano. Ela está dentro de casa,nos jardins, nos campos, florestas, oceanos, desertose em toda parte. Ela faz parte de nossa vida, e, semela, não vivemos. Todas as espécies do planeta têmum valor ecológico, pois por meio delas é que ocorre

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• 16Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

a manutenção da vida no planeta. É comum tam-bém pensarmos que apenas em ambientes naturaisé que temos biodiversidade, mas isso é um engano.As plantas e animais dos quais nos alimentamos – eque foram domesticados ao longo dos tempos – tam-bém fazem parte da biodiversidade.

O valor econômico da biodiversidade está associ-ado diretamente à possibilidade de comercializaçãode vários de seus componentes, mas também estáassociado a aspectos mais indiretos, como a produçãode oxigênio, a proteção de nascentes e rios etc.

A biodiversidade é um componente importan-te em manifestações culturais de vários povos, sejapor meio do artesanato, das crenças, das festas re-ligiosas, do cultivo, da alimentação e assim por di-

ante. Precisamos da biodiversidade para nos curar,pois é principalmente a partir das plantas que fa-bricamos nossos remédios.

A biodiversidade nos dá prazer, pode alegrarnossa vista, paladar e olfato. Quando vamos a umpasseio no campo, estamos apreciando a paisa-gem, formada também por elementos da biodi-versidade. Quando estamos num jardim, podemossentir o cheiro das flores e enfeitamos nossa casacom plantas. Freqüentamos zoológicos e brinca-mos com animais, os quais, muitas vezes, são nos-sos principais ajudantes no trabalho.

Conservação da biodiversidade: por quê?

A perda da biodiversidade em todo o mundo é umfator de muita preocupação. O uso indiscriminado dasespécies da fauna e da flora vem causando sériosdanos ao ambiente e, conseqüentemente, ao ser hu-mano. Muitas espécies já se extinguiram, ou seja, nãoexistem mais na face da terra. A perda de uma espé-cie significa muito, pois toda espécie tem um papelimportante no equilíbrio dos processos ecológicos daregião onde vive. Além disso, todo ser vivo tem umpotencial de contribuição direta para a espécie hu-mana e, na maioria das vezes, ainda não temos co-nhecimento do potencial real dessa contribuição.

A eliminação de uma espécie pode significarmuito. Pode-se estar perdendo uma fonte de ali-mento importante ou a cura para uma determinadadoença, a matéria-prima para nosso trabalho, a pai-sagem de um determinado local etc. Perder umaespécie pode ter uma conseqüência imediata ou umaconseqüência que só pode ser notada após algumtempo. Assim, a conservação da biodiversidade é agarantia de vida para as gerações futuras.

As florestas, por exemplo, contêm uma vastagama de recursos, muitos dos quais são fontes dealimento, medicina ou produtos comerciais. Elas tam-bém ajudam a controlar e estabilizar o clima da Ter-ra e atuam como esponjas naturais, absorvendo achuva que ajuda na prevenção, em larga escala, dodesaparecimento da água e do solo. De uma manei-ra similar, os rios, lagos e oceanos são a fonte depeixes e outras espécies que constituem a principalfonte de proteína para certas comunidades rurais.E, assim por diante, poderíamos citar vários exem-plos, sendo que cada ecossistema e as espécies aíexistentes constituem numa enorme fonte de rique-za e benefícios para a espécie humana.

Biodiversidade ameaçada

Sabe-se que, a partir da interferência do ser hu-mano nos processos ecológicos naturais, muitas es-pécies se extinguiram em toda a Terra. Porém,nem sequer sabemos as reais implicações dessasperdas. Já perdemos muitas espécies e ainda exis-tem muitas outras que estão ameaçadas de extin-ção. Especialistas que estudam a fauna e flora in-dicam que muitas espécies estão em perigo. Ascausas se devem inevitavelmente à ação do ho-mem. Uma espécie ameaçada de extinção é aque-la cuja população está sofrendo alguma interven-ção (por exemplo: perda do ambiente natural, caça,desmatamento, coleta, poluição) a ponto de nãoconseguir se manter na natureza ao longo do tem-po. Dependendo das causas que estão pressionan-do uma determinada espécie, a extinção podeacontecer apenas localmente ou em toda a popu-lação. No último caso, significa que ela desapare-cerá da face da Terra, para sempre.

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• 17Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

Razões para a conservação• Recursos biológicos fornecem todo tipo de pro-

dutos: alimentos, fibras para tecelagem, ma-teriais de construção, corantes, remédios,combustíveis etc.

• Os componentes da biodiversidade são impor-tantes para a saúde humana. Por muitos sécu-los, quase todos os tratamentos médicos utili-zaram extratos vegetais e animais; a medicinamoderna tem grande interesse nesses recursosna esperança de descobrir novas curas. Quantomaior a diversidade de vida, maior a possibili-dade de se descobrirem novos remédios e moti-var o desenvolvimento econômico. Hoje, emtodo o mundo, remédios de produtos naturaisvalem mais de US$ 40 bilhões por ano.

• No campo da agricultura, a diversidade genéti-ca em cada tipo de plantação é muito impor-tante. Genes de plantas e animais selvagens sãoutilizados para aumentar a taxa de produçãode várias espécies domesticadas – sem essematerial genético, nossas principais plantaçõesjá teriam sido exterminadas, por exemplo, pordoenças viróticas. Além disso, muitas espéciessão extremamente úteis: insetos que polinizamplantações, cupins e vermes que aeram o solo;sapos, rãs e lagartixas que se alimentam de in-setos e lesmas que destroem plantações; avesque alimentam seus filhotes com larvas etc.

• Três espécies de plantas – trigo, arroz e milho –fornecem metade do alimento mundial. Se adi-cionarmos a batata, cevada, batata-doce emandioca, o total chega a três quartos do ali-mento mundial. As plantas domesticadas ne-cessitam receber nova proteção contra pestes

e doenças a cada período de 5 a 15 anos. Mui-tas dessas vacinas são derivadas de parentesselvagens dessas plantas.

• O uso sustentado e o manejo de produtos na-turais podem trazer maiores benefícios sociaise econômicos do que o extrativismo inadequa-do. A coleta de frutos e do látex da borrachade um único hectare de terra na floresta ama-zônica pode ter um valor econômico líquido deUS$ 8.400 por ano, por tempo indeterminado,enquanto que, se utilizada como matéria-pri-ma para fabricar papel, o hectare dessa mes-ma floresta renderia, apenas uma única vez,uma quantia de US$ 3.184.

• A biodiversidade é também uma fonte signi-ficativa de atividades de lazer. É importantepara o turismo e todo tipo de atividade derecreação, os quais estão em grande expan-são nos ambientes naturais e constituem umafonte de renda importante para a popula-ção local. A beleza da biodiversidade é umafonte de prazer.

• O ambiente já vem sendo amplamente altera-do pelos efeitos de mudanças climáticas e dasatividades humanas. Assim, devemos estudaras espécies e os ecossistemas, pois no futuronossa necessidade de utilizar esses recursospara lidar com tais mudanças em nosso bene-fício e nos adaptarmos a elas certamente se-rão cada vez maiores.

• A preservação da biodiversidade é também umaquestão ética. A natureza, com todos os seuscomponentes, desempenha um papel funda-mental na formação dos nossos ideais. Muitosde nós achamos que temos um dever moral de

legar a nossas crianças a natureza que nós pró-prios herdamos, com toda sua beleza, estranhe-za e complexidade.

• E, por fim, uma espécie é o produto único einsubstituível de milhões de anos de evolução.Assim, ela tem valor por si mesma (valor intrín-seco), independentemente dos usos que o serhumano possa lhe atribuir.

Corte em “v”, denominado “bandeira” em seringueirapara extração do látex

Robe

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M. F

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• 18Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

Fauna e flora, responsabilidade de quem?O órgão federal responsável direto pela proteçãoda fauna e da flora nacionais é o Instituto Brasileirodo Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-veis (Ibama). Sua sede está em Brasília, no DistritoFederal, com escritórios regionais em todos os esta-dos brasileiros. Existem várias leis, decretos e porta-rias sob a responsabilidade desse órgão, os quais vi-sam à proteção da fauna e flora brasileiras. Essasleis, decretos e portarias devem ser respeitados, equalquer infração pode incorrer em multas e pena-lidades graves. Em cada estado brasileiro, há tam-bém o órgão estadual de proteção ao meio ambi-ente, cujo nome varia de um estado para outro.Muitas vezes, sob um pacto formal, a responsabili-dade administrativa sobre a fauna e a flora sãopassadas pelo Ibama ao órgão estadual.

A lei mais abrangente é o Código Florestal (Lei no

7.803/1989), que determina as formas de uso dos ecos-sistemas terrestres, de uma maneira mais generaliza-da. Essa lei vem sendo alvo de várias propostas de alte-rações e emendas, que ainda se encontram emtramitação no Congresso Nacional. Foi sancionada aLei de Crimes Ambientais (Lei no 9.605/1998), que serefere à proteção da fauna e da flora brasileiras. Emjulho de 2000, saiu a Lei do Snuc (Lei no 8.869/2000),que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conser-vação, visando organizar as áreas protegidas sobre oregime de unidades de conservação em todo o territó-rio nacional. Essa lei encontra-se no Anexo I.

Convenções de proteçãoO Brasil tem também convenções importantes doponto de vista da proteção à biodiversidade. Entreelas, destacam-se:

• Convenção das Áreas Úmidas de Importância

Internacional – Convenção de Ramsar (Ramsar,1971): constituída para a proteção e conserva-ção de ambientes úmidos (lagos, lagoas, bre-jos, pântanos, rios etc.), com especial ênfasena fauna de aves aquáticas.

• Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cul-

tural e Natural Mundial (Paris, 1972): objetiva aidentificação, proteção e conservação do patri-mônio cultural e natural, de caráter universal.Os locais candidatos e eleitos passam a fazerparte da lista do patrimônio mundial pela Unesco.

• Convenção Internacional sobre o Comércio In-

ternacional de Espécies da Fauna e da Flora Sel-

vagens em Perigo de Extinção – Cites (Washing-ton, 1973): tem como objetivo controlar o co-mércio internacional de espécies da fauna e daflora silvestres, exercendocontrole e fiscalização espe-cialmente quanto ao comér-cio de espécies ameaçadasde extinção.

• Convenção da Diversidade Bi-

ológica – CDB (Rio de Janeiro,1992): assinada pelos paísesdurante a Conferência dasNações Unidas para o MeioAmbiente e o Desenvolvimen-to Sustentável, a Rio-92. Estaconvenção é um marco histó-rico, sendo constituída por umcompromisso firmado entrevárias nações do mundo paraconservar a diversidade bio-lógica do planeta, para usar

os recursos naturais de forma sustentada e paracompartilhar eqüitativamente os benefícios deri-vados do uso dos recursos genéticos. Trata-se doprimeiro acordo mundial que aborda todos os as-pectos da diversidade biológica: recursos genéti-cos, espécies e ecossistemas.

O caso brasileiroA biodiversidade é um recurso global, mas tem umadistribuição bastante variável entre os vários países.Existem países mais pobres e outros muito ricos no quediz respeito à biodiversidade. Aqueles que possuemum alto índice de biodiversidade são chamados de paí-ses de megadiversidade. O Brasil, além da Indonésia eMadagáscar, constitui um dos países de maior diversi-dade biológica no mundo. Por isso, esses têm sido con-siderados como prioridade para a conservação.

Canyon do Diabo, vista parcial das cataratas, Parque Nacional do Iguaçu, PR

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• 19Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

A flora brasileira corresponde a cerca de 55mil espécies de vegetais ou 22% do total de plan-tas do planeta. No que se refere à fauna, são pelomenos 10% de todas as espécies conhecidas nomundo até hoje. Apenas de vertebrados (excetopeixes), há 3.131 espécies. Pelo menos 10% do to-tal mundial de espécies de anfíbios e mamíferos e17% das aves ocorrem no Brasil.

No Brasil, há 524 espécies de mamíferos, dasquais 131 são endêmicas (ocorrem somente dentrodo território do país). Destas, 77 são primatas, osquais correspondem a 27% do total mundial. Des-de 1990, oito espécies novas de primatas foramdescobertas, sendo que sete são da Amazônia eduas, da Mata Atlântica.

O Brasil é ainda o terceiro país em número deespécies de aves, com 1.622 espécies, das quais191 são espécies endêmicas. Destaca-se ainda porsua fauna de anfíbios, com cerca de 517 espécies(294 endêmicos); entre os répteis, são 468 espéci-es, 172 delas endêmicas. Com relação aos peixesde água doce, são conhecidas pelo menos 3 milespécies. Isso corresponde a mais de duas vezes onúmero de espécies desse grupo encontrado emqualquer outro país.

Estima-se ainda que, no Brasil, existam pelo me-nos entre 5 milhões e 10 milhões de espécies de in-setos, sendo que maioria está ainda para ser descri-ta pela ciência. Infelizmente, grande parte dessa ri-queza e diversidade está ameaçada. Existem hoje,no Brasil, pelo menos 259 espécies de vertebrados(exceto peixes) consideradas como vulneráveis ouem perigo de extinção.

Muitas das espécies de importância na econo-mia mundial são originárias do Brasil. Entre elas, des-tacam-se castanha-do-pará, cera de carnaúba, látex

das seringueiras, guaraná, abacaxi e castanha-de-caju,somadas a várias outras espécies de frutas, resinas,óleos, plantas medicinais e espécies madeireiras.

A biodiversidade brasileira é um enorme atra-tivo ecoturístico que ainda não é explorado adequa-damente. A maioria dos brasileiros, incluindo opera-dores turísticos, conhece pouco sobre a nossa faunae, por isso, não sabe identificá-la e valorizá-la.

Biorregiões brasileiras

A biodiversidade dentro do território nacional tam-bém está distribuída de maneira desigual. Existemambientes que são originalmente mais ricos em va-riedade e quantidade de espécies e outros que sãomenos. Podemos dizer que, de uma maneira maisabrangente, o Brasil possui, originalmente, setegrandes biorregiões, as quais variam muito em ter-mos de características físicas e biológicas. A deter-minação desse número também varia de um autorpara outro. Entre as principais biorregiões brasilei-ras, destacam-se: a Mata Amazônica, a Mata Atlân-tica, o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal, os Campose a Zona Costeira. Existem ainda vários outras for-mações e tipologias vegetais menores, tambémmuito importantes.

A Mata Amazônica é o bioma brasileiro – e domundo – que apresenta o maior índice de diversidadebiológica. Nela, vivem e se reproduzem cerca de umterço de todas as espécies existentes no planeta. Sãomais de 2.500 espécies de árvores, um terço da ma-deira tropical do mundo. Das cem mil espécies de plan-tas da América do Sul, 30 mil estão na Amazônia.

Na Mata Atlântica, considerando apenas a di-versidade de plantas, acredita-se que haja 20 milespécies, sendo que 6 mil ocorrem exclusivamente

nesse ecossistema. A diversidade de vertebrados étambém bastante alta, ocorrendo na Mata Atlân-tica 1.361 espécies (exceto peixes), das quais 546ocorrem somente nessa região.

A costa brasileira é muito rica em espécies dafauna e da flora. Muitas espécies de aves, por exem-plo, utilizam áreas do litoral como área de abrigo,reprodução ou rota migratória. Apenas o Rio Gran-de do Sul abriga 570 espécies de aves, várias migra-tórias, que fazem suas invernadas na região.

Estima-se que pelo menos 10% da biodiversi-dade do planeta ocorra no âmbito das paisagens bra-sileiras. Infelizmente, essas áreas preciosas vêm sen-do destruídas, por razões diversas, conforme lemosanteriormente. Devemos sempre ter em mente queas fontes de recursos naturais não são inesgotáveise todo seu uso deve ser calculado. Devemos ter acerteza de que estamos realizando o uso sustentadoda biota, pois, caso contrário, entraremos numa rotade destruição tamanha que as nossas necessidadesbásicas não mais poderão ser supridas, podendo noslevar a um colapso irreversível.

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1.1

Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

Países mais ricos em número de espécies de mamíferos, aves, borboletas, anfíbios, répteis e angiospermas○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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• 21Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Meio ambiente e turismo | Biodiversidade, Sônia Rigueira

MITTERMEIER, R. A.; GIL, P. R. l.; MITTERMEIER, C. G.

Megadiversity: Earth´s biological wealthiest nations.

México: Cemex; Agrupación Sierra Madre, 1997.

STONE, D.; RINGWOOD, K.; VORHIES, F. Business

and biodiversity – A guide for the private sector.

S.I., IUCN, 1997.

Sugestões para leitura

Convenções mencionadas no texto.

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Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Populações tradicionais

2. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

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A s unidades de conservação (UCs) são as áreas mais procura-

das atualmente para exercitar a recreação em áreas naturais.

A atividade, quando realizada de forma planejada, traduz-se

em compromisso com a natureza, associado à responsabilida-

de social. Segundo o autor deste capítulo, a parceria entre

governo, ONGs e empresariado vem significando um esforço

conjunto para a manutenção das UCs.

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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

MARCELO SKAF2.1

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Praia do Sancho, Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, PE

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O ecoturismo está num ritmo intenso de crescimen-to, cada vez mais pessoas buscam por natureza, tran-qüilidade para recuperar o equilíbrio psicofísico,desgastado em grandes centros urbanos, ou mesmocomo forma de lazer e diversão.

A visitação em áreas ambientalmente preserva-das, motivada pelo desejo de estar em contato com anatureza e admirar as belezas naturais, é uma ativi-dade recreativa bastante antiga, concretizada pelaprática de passeios ao ar livre, caçadas e piqueniques.

A rápida industrialização e o conseqüente au-mento do tempo disponível para outras atividades, ocrescimento da população e sua concentração noscentros urbanos, a melhoria das estradas e do pa-drão de vida e, essencialmente, o desenvolvimento epopularização dos meios de transporte são fatoresque contribuíram de forma determinante para o cres-cimento e o fortalecimento da recreação em áreasnaturais, principalmente nos países desenvolvidos.

Esses são uns dos motivos pelos quais, nos úl-timos 30 anos, vários países vêmestimulando a realização de gran-de número de estudos que avali-em os impactos das atividades re-creativas e suas influências sobreo ser humano e o ambiente.

Tratado como um dos melho-res meios de valorizar as áreas sil-vestres, já que as unidades de con-servação (UCs) são as áreas maisprocuradas para essa atividade, arecreação planejada vem sendoapresentada em âmbito mundialcomo uma opção de grande poten-cial para se alcançar a conserva-ção dos recursos naturais. O com-

promisso com a natureza, associado a uma res-ponsabilidade social, tem norteado os projetos eco-turísticos profissionais. Esse compromisso e essaresponsabilidade devem ser assumidos tambémpelo viajante. A expressão viagem responsável en-volve objetivos semelhantes. The EcotourismSociety oferece uma definição:

“Ecoturismo é a viagem responsável a

áreas naturais, visando preservar o meio

ambiente e promover o bem-estar da po-

pulação local”.

A finalidade do planejamento e da gestão am-biental para áreas ecoturísticas consiste em plane-jar e ordenar as ações do homem sobre o territórioe ocupa-se em determinar a construção de equipa-mento e facilidades de forma adequada, evitando,dessa forma, os efeitos negativos nos recursos na-turais, que destroem ou reduzem sua atratividade.

Considerando a escassez de informações bási-cas para o adequado manejo das áreas no Brasil e anecessidade de atender a essa crescente demandade uso obedecendo a critérios técnicos, é necessá-rio estabelecer práticas adequadas de manejo demodo a atender, simultaneamente, às necessida-des dos usuários e garantir a conservação da quali-dade natural do local.

O interesse crescente pelo ecoturismo entreos governos dos países em desenvolvimento, osoperadores de turismo, as organizações não-go-vernamentais (ONGs) e a população local dão adimensão de seu enorme potencial econômico econservacionista. Os ecoturistas gastam bilhões dedólares todos os anos. Mas a importância do eco-turismo vai muito além desses números. A utiliza-ção de mão-de-obra e recursos locais se traduzemem qualidade de vida para comunidades próximasa esses empreendimentos e refletem entrada dedivisas para o país.

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• 26Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

O trabalho integrado entre governo, ONGs eo setor privado é um componente favorável aoecoturismo, implicando um esforço conjunto paraa manutenção das UCs.

Os interesses de operadores e usuários locais sesituam em ambientes que devem ser preservados econservados (UCs), não sendo interessante que pou-cos se apropriem de um capital, degradando-o. Des-sa forma, devemos ter como meta a proteção des-ses importantes locais, onde se deve:

• compartilhar um recurso com seus usuários;

• manter intacto um patrimônio paisagístico, bi-ológico, histórico, cultural e/ou estético;

• salvaguardar os recursos naturais, mantendo suaatratividade, apesar de seu uso produtivo para oturismo e a recreação, evitando sua exploraçãoexcessiva, que prejudica a atratividade.

O Brasil possui um potencial imenso para a ativi-dade turística, tem uma grande variedade de atrati-vos, são montanhas, praias, cachoeiras, florestas e rios.

Com todos esses bens naturais para serem co-nhecidos e explorados, em 1994 foram estabeleci-das pelo Ministério da Indústria, Comércio e Turis-mo (MICT) e Ministério do Meio Ambiente, dos Re-cursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA), as di-retrizes para uma política nacional de ecoturismo,que define a atividade como:

Um segmento da atividade turística que

utiliza, de forma sustentável, o patrimô-

nio natural e cultural, incentiva sua conser-

vação e busca a formação de uma consci-

ência ambientalista através da interpre-

tação do ambiente, promovendo o bem-

estar das populações envolvidas.

O ecoturismo é o segmento do turismo que podeestar diretamente relacionado às UCs: ele pode pos-sibilitar a geração de benefícios de ordem econômi-ca e social, além de determinar que os recursos na-turais sejam utilizados de forma racional.

Conceito de unidade de conservação (UC)

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação(Snuc) é uma lei (Lei no 9.985/2000) e constitui-se doconjunto das UCs federais, estaduais e municipais.Segundo o Snuc, UC é:

espaço territorial e seus ambientes, in-

cluindo as águas jurisdicionais, com carac-

terísticas naturais relevantes, legalmen-

te instituído pelo Poder Público, com ob-

jetivos de conservação e limites defini-

dos, sob regime especial de administra-

ção, ao qual se aplicam garantias adequa-

das de proteção.

Os objetivos do Snuc são:

1 contribuir para a manutenção da diversidadebiológica e dos recursos genéticos no territórionacional e nas águas jurisdicionais;

2 proteger as espécies ameaçadas de extinção noâmbito nacional e regional;

3 contribuir para a preservação e a restauraçãoda diversidade de ecossistemas naturais;

4 promover o desenvolvimento sustentável a par-tir dos recursos naturais;

5 promover a utilização dos princípios e práticasde conservação da natureza no processo de de-senvolvimento;

6 proteger paisagens naturais e pouco alteradasde notável beleza cênica;

7 proteger as características relevantes de natu-reza geológica, geomorfológica, espeleológica,arqueológica, paleontológica e cultural;

8 proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

9 recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

10 proporcionar meios e incentivos para ativida-des de pesquisa científica, estudos e monitora-mento ambiental;

11 valorizar econômica e socialmente a diversida-de biológica;

12 favorecer condições e promover a educação einterpretação ambiental, a recreação em con-tato com a natureza e o turismo ecológico;

13 proteger os recursos naturais necessários à sub-sistência de populações tradicionais, respeitan-do e valorizando seu conhecimento e sua cultu-ra e promovendo-as social e economicamente.

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• 27Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

As UCs são subdivididas em dois grandes grupos:proteção integral ou uso indireto; e uso sustentá-vel ou uso direto.

Proteção integral ou uso indireto (nãoenvolve consumo, coleta, dano oudestruição dos recursos naturais)

Parque nacional (Parna)

Tem como objetivo básico a preservação de ecossis-temas naturais de grande relevância ecológica ebeleza cênica, possibilitando a realização de pes-quisas científicas e o desenvolvimento de ativida-des de educação e interpretação ambiental, de re-creação em contato com a natureza e de turismoecológico. Se o estado e o município criarem par-ques, eles serão denominados, respectivamente,parque estadual e parque municipal.

Estação ecológica (Esec)

Trata-se da figura jurídica de UC mais rigorosado direito brasileiro. Define-se como áreas re-presentativas dos ecossistemas brasileiros, des-tinadas à realização de pesquisas básicas e apli-cadas de ecologia, à proteção do ambiente na-tural e ao desenvolvimento da educação conser-vacionista. É proibida a visitação pública com ca-ráter recreativo, e a pesquisa científica dependede autorização prévia do órgão responsável pelaadministração da unidade.

Reservas biológicas (Rebio)

Tem como objetivo a preservação integral da biotae demais atributos naturais existentes em seus li-mites, sem interferência humana direta ou modi-

ficações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação deseus ecossistemas alterados e asações de manejo necessáriaspara recuperar e preservar oequilíbrio natural, a diversidadebiológica e os processos ecológi-cos naturais. É proibida a visita-ção pública, exceto aquela comobjetivo educacional de acordocom o plano de manejo.

Monumento natural

Tem como objetivo básico preser-var sítios naturais raros, singula-res ou de grande beleza cênica.

De responsabilidade do po-der público ou privado, no últi-mo caso o espaço pode ser utilizado para outrosfins, porém de maneira sustentável, não interfe-rindo no ecossistema da área. Visa preservar eproteger os recursos naturais de importância na-cional. As regras para que haja visitação públicadevem estar especificadas no plano de manejo.

Refúgio de vida silvestre

Tem como objetivo proteger ambientes naturaisonde se asseguram condições para a existência oureprodução de espécies ou comunidades da floralocal e da fauna residente ou migratória.

A área pode ser pública ou privada e permitea visitação, desde que a atividade siga as normase restrições do plano de manejo. A pesquisa cien-tífica para ser desenvolvida nessa área tambémdepende de uma autorização da administração daunidade. Seu objetivo maior é resguardar os am-

bientes naturais que tenham condições para a exis-tência e a reprodução de espécies de fauna e flo-ra. A visitação está sujeita às normas e restriçõesestabelecidas no plano de manejo da unidade.

Uso sustentável ou uso direto (envolvecoleta e/ou uso, comercial ou não, dosrecursos naturais)Áreas de proteção ambiental (APA)

São constituídas por áreas públicas e/ou privadas etêm o objetivo de disciplinar o processo de ocupa-ção das terras e promover a proteção dos recursosabióticos e bióticos dentro de seus limites, de modoa assegurar o bem-estar das populações humanasque aí vivem, resguardar ou incrementar as condi-ções ecológicas locais e manter as paisagens e atri-butos culturais relevantes.

Trilha de acesso ao Pico da Bandeira, Parque Nacional do Caparaó, ES

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• 28Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

Áreas de relevante interesse ecológico (Arie)

São áreas que, abrigando características naturaisextraordinárias ou exemplares raros da biota na-cional, exigem cuidados especiais de proteção porparte do poder público. São preferencialmentecriadas quando tiverem extensão inferior a 5 milhectares e houver ali pequena ou nenhuma ocu-pação humana por ocasião do ato declaratório.Sua utilização é regulada por normas e critériosestabelecidos pelo Conselho Nacional do MeioAmbiente (Conama).

Floresta nacional (Flona)

Como as demais UCs, a floresta nacional tambémé gerenciada pelo poder público. Geralmente, sãoáreas grandes que permitem a visitação de acor-do com as normas da unidade. As populações tra-dicionais que se encontram no local podem per-manecer conforme mencionado no plano de ma-nejo da unidade. Se o estado ou o município criaruma Flona, ela será denominada respectivamentefloresta estadual ou floresta municipal.

As Flonas têm como objetivo básico o uso múl-tiplo sustentável dos recursos florestais e a pes-quisa científica com ênfase em métodos para aexploração sustentável de florestas nativas.

Reserva extrativista (Resex)

É uma área utilizada por populações extrativistastradicionais, cuja subsistência baseia-se noextrativismo e, complementarmente, na agricul-tura de subsistência e na criação de animais depequeno porte, e tem como objetivos básicos pro-teger os meios de vida e a cultura dessas popula-ções e assegurar o uso sustentável dos recursosnaturais da unidade.

Reserva de fauna

É uma área natural com populações animais de es-pécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentesou migratórias, adequadas para estudos técnico-ci-entíficos sobre o manejo econômico sustentável derecursos faunísticos.

A reserva de fauna é de posse e domínio públi-cos, a visitação pública pode ser permitida, desdeque compatível com o manejo da unidade e de acor-do com as normas estabelecidas pelo órgão res-ponsável por sua administração, sendo proibido oexercício da caça amadorística ou profissional.

Reserva de desenvolvimento sustentável

Tem como objetivo básico preservar a natureza e,ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meiosnecessários para a reprodução e a melhoria dosmodos e da qualidade de vida e exploração dos re-cursos naturais das populações tradicionais, bemcomo valorizar, conservar e aperfeiçoar o conheci-mento e as técnicas de manejo do ambiente, desen-volvido por essas populações.

Reserva particular do patrimônio natural (RPPN)

É uma área privada, gravada com perpetuidade, como objetivo de conservar a diversidade biológica. Édestinada à pesquisa científica e à visitação com ob-jetivos turísticos, recreativos e educacionais.

Plano de manejo

Toda UC, de acordo com a Lei do Snuc, deve ter umplano de manejo, documento que orienta, norteiae regula o uso da área. No que tange ao ecoturis-mo, é por meio do plano de manejo que há condi-ções de melhor estabelecer as áreas de maior inte-

resse para o visitante e que, apesar da visitação,serão menos afetadas.

O plano de manejo é um instrumento dinâmicoque determina, entre outros tópicos, o zoneamentode uma UC, caracterizando cada uma de suas zonase propondo o seu desenvolvimento físico, de acordocom suas finalidades. Estabelece, dessa forma, dire-trizes básicas para o manejo da unidade.

Segundo o Ibama, um plano de manejo deve serelaborado seguindo os critérios a seguir.

• Deve ser gradativo, porque a evolução dos conhe-cimentos sobre os recursos da UC, ao longo defases, condiciona a ampliação e o aprofundamen-to das ações de manejo sobre os seus recursos.

• Deve ser contínuo, porque cada nova fase sem-pre englobará os conhecimentos e as açõesda fase procedente. Além disso, cada novafase será planejada já durante a implemen-tação da fase anterior, não existindo inter-rupção entre as fases.

• Deve ser flexível, porque sua estrutura apre-senta a possibilidade de agregar novos conheci-mentos e eventuais correções no manejo du-rante a implementação de qualquer das fases.As ações de monitoria e reavaliação efetuadasdurante a implantação do plano indicarão a ne-cessidade de se fazer ou não tais correções.

• Deve ser participativo, porque, na sua elabo-ração, prevê-se o envolvimento da sociedadeno planejamento, por meio das oficinas de pla-nejamento. Além disso, sua estrutura prevêações no entorno das unidades visando à coo-peração das populações vizinhas e à melhoriada qualidade de vida.

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• 29Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

EstruturaO plano de manejo é estruturado em oito partes, se-gundo a metodologia aplicada pelo Ibama, onde a UCé enfocada no contexto federal, estadual e regional.

1. Encarte: informações gerais da unidadede conservação;

2. Encarte: contexto federal;

3. Encarte: contexto estadual;

4. Encarte: contexto regional;

5. Encarte: unidade de conservaçãoe zona de transição;

6. Encarte: planejamento da unidadede conservação;

7. Encarte: projetos específicos;

8. Encarte: monitoria e avaliação do planode manejo.

Planejamento

Toda UC possui um zoneamento, a fim de facilitar oseu gerenciamento e monitoramento. O zoneamen-to é uma etapa do plano de manejo e consiste emproporcionar os meios e as condições para que todos

os objetivos da unidade sejam alcançados de formaharmônica e eficaz. É uma etapa muito importante,pois está sujeita a ajustes ao longo do desenvolvi-mento e implementação do plano de manejo, porémé o primeiro passo para nortear as ações dentro daUC. Todo zoneamento é elaborado com base científi-ca de dados biológicos, físicos, sociais, econômicos etc.

Zoneamento

As divisões do zoneamento são apresentadas a seguir.

• Zona intangívelÉ aquela onde a primitividade da natureza per-manece intacta, não se tolerando quaisquer al-terações humanas, representando o mais altograu de preservação. Funciona em certos casoscomo matriz de repovoamento de outras zo-nas, onde já são permitidas atividades huma-nas regulamentadas.

• Zona primitivaÉ aquela onde ocorreu pequena ou mínimaintervenção humana, contendo espécies daflora e da fauna ou fenômenos naturais degrande valor científico. Deve possuir as carac-terísticas de transição entre a zona intangívele a zona de uso extensivo.

• Zona de uso extensivoÉ aquela constituída em sua maior parte poráreas naturais, podendo apresentar algumaalteração humana. Caracteriza-se como umazona de transição entre a zona primitiva e azona de uso intensivo.

• Zona de uso intensivoÉ aquela constituída por áreas naturais oupor alterações produzidas pelo ser humano.

Evolução do processo de planejamento

Fonte: IBAMA - 1999

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• 30Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

O ambiente é mantido o mais próximo possíveldo natural, devendo conter: centro de visitan-tes, museus e outras facilidades e serviços.

• Zona histórico-culturalÉ aquela onde são encontradas manifesta-ções históricas e culturais ou arqueológicas,que serão preservadas, estudadas, restaura-das e interpretadas para o público, quandocouber, servindo à pesquisa, à educação e aouso científico.

• Zona de recuperaçãoÉ aquela que contém áreas consideravelmentealteradas pelo ser humano. Trata-se de zonaprovisória que, uma vez restaurada, será incor-porada novamente a uma das zonas permanen-tes. As espécies exóticas introduzidas deverãoser removidas e a restauração ser natural ounaturalmente agilizada.

• Zona de uso especialÉ aquela que contém as áreas necessárias à ad-ministração, à manutenção e aos serviços da UC,abrangendo habitações, oficinas e outros. Taisáreas serão escolhidas e controladas de formaa não conflitarem com seu caráter natural edevem localizar-se, sempre que possível, na pe-riferia da unidade.

• Zona de conservação de vida silvestreFaz parte do zoneamento das Apas e é umaárea em que poderá ser admitido um uso de-morado e auto-sustentado da biota, reguladode modo a assegurar a manutenção dos ecos-sistemas naturais.

• Zona de uso agropecuárioFaz parte do zoneamento das Apas, onde exis-ta ou possa existir atividade agrícola. Tem o

objetivo de proibir ou regular o uso ou as prá-ticas capazes de causar sensível degradaçãodo meio ambiente.

Conhecendo essas zonas em cada UC, pode-mos planejar melhor as atividades, avaliando ondeelas podem ou não ser praticadas ou estabelecidas.

Lembre-se: todas as unidades devem ter pla-no de manejo. Procure ter uma cópia e conhecerseu conteúdo, para que suas atitudes e atividadesestejam de acordo com o planejado. Assim, vocêestará contribuindo de forma direta para o suces-so da unidade.

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• 31Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

Siga corretamente as instruções dos funcio-nários, guias, condutores de visitantes, moni-tores e pessoas responsáveis pela área. Elespoderão orientá-lo para que desfrute do pas-seio com segurança.

Ao realizar o passeio, procure manter o si-lêncio e ouvir os sons da natureza. Assim,sua chance de ver animais certamente au-mentará. O barulho afasta os animais, e mui-tos visitantes vão às unidades de conserva-ção para contemplar a natureza.

As unidades de conservação protegem omeio ambiente. Contribua também com aconservação, jogando o lixo no lugar apro-priado. Se existir coleta seletiva de resídu-os, procure colocar o lixo nos locais corretos.

Não é permitido levar animais domésticos, se-mentes ou mudas de vegetação para dentrode unidades de conservação de proteção in-tegral. Quando se introduzem espécies quenão são nativas da área, essas espécies pas-sam a competir por água, comida e espaço.Também há possibilidade de transmitirem do-enças estranhas às espécies nativas, causan-do um sério problema para a unidade.

Não alimente os animais, eles próprios de-vem conseguir o alimento no ambiente. Aolongo dos últimos 60 milhões de anos, os ani-mais basearam a sua dieta (e seu organismo)no que poderia ser encontrado na natureza.A alimentação errada traz diversas dificulda-des para o animal, que vão desde a obesida-de até a dificuldade para acasalar.

Quando estamos visitando ou guiando um grupodentro de uma unidade de conservação, devemosnos comportar e ter atitudes positivas em relaçãoa esse local, para que a segurança dos visitantes e ado local a ser visitado sejam garantidas.

Se você trabalha como guia ou condutor de vi-sitantes, assegure-se de transmitir essas informa-ções ao seu grupo. Caso você ou seu grupo não co-nheçam essas regras de uso de mínimo impacto,aqui vão algumas dicas.

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• 32Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

Não é permitido pescar e caçar dentro das uni-dades de conservação de proteção integral.Lembre-se de que as pessoas visitam a unida-de para observar os animais e as plantas quevivem ali. A caça, a pesca e a coleta de bichos eplantas diminuem a atratividade do local.

Ao caminhar por trilha ou estradas, nãodeixe marcas inscritas em árvores ou rochase não pisoteie a vegetação. O descuido podeprovocar a erosão do terreno e a destrui-ção de raízes e plantas inteiras, comprome-tendo a integridade do local de visitação.

Observe os animais a distância. Para certosmamíferos ou répteis, a proximidade podeser interpretada como uma ameaça e pro-vocar um ataque, não se pode prever qualserá a reação de animais silvestres.

Se você estiver acompanhado de um guia deturismo, preste atenção às explicações que eledará, afinal não basta só olhar as belezas dolocal, mas também aprender a respeitá-las.

Se possível utilize mapas locais e respeite a si-nalização. A visitação será muito mais valiosa.

Procure não se evadir da área permitida àvisitação, seja ela uma trilha, estrada ou áreade camping. O ambiente natural abriga vá-rios tipos de animais silvestres peçonhentos.Garanta, assim, sua segurança e a das pes-soas que estiverem com você.

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• 33Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

Na intenção de praticar esportes de aventura,como escalada, rapel e rafting, utilize sempreequipamento de segurança e assegure-se de quea atividade está autorizada pela direção da uni-dade de conservação ou órgão competente.

Não retire plantas ou capture animais paralevar de recordação de áreas protegidas. Casocontrário, você estará contribuindo com a de-predação desse hábitat. No caso dos animais,eles invariavelmente acabam morrendo forado seu hábitat, e um animal a menos faz mui-ta falta num ecossistema tão delicado comouma unidade de conservação. A mesma coisaacontece com as plantas. Além disso, os ou-tros visitantes não verão o que o turistadesinformado levou embora.

Se você levar consigo frutas para comer,não jogue as sementes na estrada, trilhaou no ambiente.

Não tome banho em cachoeiras ou rios utili-zando sabonete ou xampu não biodegradáveis.

Empresa, ecoturismo e UC

Caso você possua uma empresa ou trabalhe em al-guma que ofereça serviços dentro de uma unidadede conservação, adote padrões de uso de mínimoimpacto na sua operação, seja ela um restaurante,serviços de transporte, guias, lojas de presentes ouesportes como rapel e rafting, entre outras.

Aqui vão algumas dicas do que observar na suaempresa, mas se lembre, caso você não possua umaempresa, mas tem sua atividade em uma UC; ou suaempresa não está inserida em uma UC, valem asmesmas dicas. Reflita sobre essas perguntas e anali-se se sua atividade atende à maioria delas.

Faça fogueira apenas em local apropriado paratal finalidade e nunca deixe o fogo acesodescuidadamente. Incêndios florestais são pe-rigosos e, muitas vezes, impossíveis de apagar.O mesmo vale para o cigarro. Certifique-se deapagá-lo e guarde consigo a ponta com o filtropara, posteriormente, colocá-la na lixeira.

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A empresa possui uma política ambiental de-finida, documentada e divulgada para todosos funcionários, clientes e comunidade?

A empresa identificou todas as atividades,produtos e serviços que podem impactar oambiente onde opera?

Controla a qualidade da água que é utiliza-da pela empresa e reutiliza e racionaliza oseu consumo?

Possui um sistema que reduz o consumode energia?

A empresa implementa programas de ges-tão da qualidade do ar e controla a emissãopara a atmosfera?

Seus funcionários e colaboradores se man-têm constantemente informados das atua-lizações das leis, decretos, resoluções e por-tarias federais, estaduais e municipais rela-cionadas ao meio ambiente?

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Propicia uma renovação constante no quediz respeito a treinamento e conscientiza-ção dos funcionários? Torna-os sensíveis àscausas ambientais? Cria uma expectativafavorável às mudanças e busca sempre su-gestões e colaborações?

Divulga, envolve e contribui para que a comu-nidade conheça as prioridades da empresasobre questões ambientais?

Mantém, por meio de documentos, regis-tros de um sistema de informações atuali-zado, inclusive um manual de boas práticasambientais?

Faz avaliações, medições e monitoramentos pe-riódicos do desempenho ambiental da empre-sa e faz as correções e prevenções necessárias?

Procura utilizar somente matéria-primanecessária?

Estabelece uma gestão de resíduos? Man-tém um inventário atualizado de todos osresíduos, reduz ao máximo a geração deles,reutiliza-os e recicla-os sempre?

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Utiliza uma infra-estrutura de menor impac-to ambiental e visual?

Trabalha para dar uma destinação adequadaao lixo que não é reciclável?

Preocupa-se com a qualidade ambiental dasempresas fornecedoras de serviços terceiri-zados, matérias-primas etc.?

Preocupa-se em utilizar tecnologias alterna-tivas e limpas?

Dispõe de um sistema de primeiros socorros,resgate e prevenção de acidentes para seucolaboradores e clientes?

Preocupa-se em proteger o hábitat natural eespécies ameaçadas?

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Possui um sistema de tratamento de esgotoadequado?

Possui um padrão de alta qualidade no aten-dimento?

Utiliza produtos de limpeza e higiene pessoalbiodegradável?

Utiliza somente produtos que não tenhamcontra-indicações ambientais?

Procura educar e sensibilizar ambientalmen-te os visitantes, expondo o trabalho e as dire-trizes que segue, além de passar informaçõessobre ecologia e cultura local?

Direciona ações para impedir a alimentaçãode animais silvestres?

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• 38Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

Utiliza veículos que causam menos poluição?Procura manter os animais livres emseu hábitat?

Procura não comercializar produtos e artefa-tos fabricados a partir de animais?

Sempre que possível, utiliza produtos cultiva-dos por agricultura orgânica?

Caso as respostas para sua empresa ou ativida-de tenham sido em sua maioria “sim”, parabéns!Sua atividade está em sintonia com o turismo sus-tentável e o ecoturismo.

Caso as respostas tenham sido em sua maiorianegativas ou caso tenha tido dificuldade em identi-ficar os problemas, não se desespere. O momento éde procurar ajuda para, dentro das possibilidades,se enquadrar o mais rápido possível num padrão demínimo impacto.

Procure ajuda nos órgãos estaduais de meioambiente, Ibama, ONGs e empresas privadas. Lem-bre-se: o atrativo ambiental é o grande fator paraecoturistas visitarem um local. A proteção e a ma-nutenção desse atrativo garantirão o seu sustento ede sua família.

Preocupa-se em evitar ruídos excessivos?

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• 39Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Unidades de conservação, Marcelo Skaf

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Denise Hamú M. de La Penha. Brasília: Embratur, 1994.

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

N este capítulo, o autor aponta os riscos que envolvem a cons-

trução de estradas em áreas com relevante valor ambiental,

defendendo que tais empreendimentos tenham uma caracte-

rística diferenciada, a favor da conservação e valorização do

meio ambiente. É o caso das estradas-parques, nas quais toda

concepção, implantação e operação envolvem fatores de pre-

ocupação ambiental.

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ESTRADAS-PARQUE

ROBERTO M. F. MOURÃO2.2

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• 41Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Estradas-parque, Roberto M. F. Mourão

O planejamento e a construção de estradas ou ro-dovias freqüentemente geram conflitos e até con-frontos com outros interesses associados a umadeterminada área, principalmente em se tratan-do de interesses ambientais.

O problema reside na falta de harmonizaçãodos diversos interesses em um contexto integrado,que busque identificar e fortalecer seus aspectosconvergentes e solucionar os conflitantes. Em ge-ral, esse cenário ocorre em âmbito local e regional.

No caso de estradas que cruzam áreas de rele-vante valor ambiental, como estradas cênicas ou pró-ximas a áreas de alta biodiversidade, propõe-se queo empreendimento rodoviário tenha em si própriouma característica diferenciada.

Não é suficiente que a estrada tenha disposi-tivos de minimização dos seus impactos ambien-tais, mas sim que desencadeie um mecanismo

sinérgico de esforços voltados para a conservaçãoe a valorização ambiental de seu entorno. A prin-cipal ameaça que uma estrada representa, em ter-mos ambientais, não está só associada à obra emsi, mas decorre do incremento que ela causa natendência de ocupação da região, gerado pela va-lorização imobiliária e/ou turística.

Um dos objetivos da obra é a valorização turísti-ca e a conseqüente dinamização socioeconômica, cal-cada justamente no aproveitamento dos patrimôni-os ambiental-cênico e histórico-cultural. A propostada estrada deve também ter responsabilidades paracom a manutenção futura desses patrimônios.

Definição e características

Uma estrada-parque diferencia-se de uma estra-da convencional por seus fatores ligados à preocu-

pação ambiental, desdesua concepção até sua im-plantação e, principal-mente, sua operação, in-clusive com os cenários de-correntes da abertura oumelhoria dessa via.

Embora estradas-parque não estejam inclu-ídas na proposta do Siste-ma Nacional de Unidadesde Conservação (Snuc),essa categoria é conside-rada como “de manejocomplementar”.

Atualmente, estra-das-parque são projetadase implantadas no país nos

estados do Mato Grosso do Sul (Corumbá, Panta-nal), no Paraná (Guaraqueçaba, Mata Atlântica Li-torânea), na Bahia (Itacaré, Mata Atlântica Litorâ-nea) e São Paulo (Itu, Mata Atlântica). Lauro da Silva(1996) define estrada-parque como:

um parque linear, de alto valor educativo,

cultural, recreativo e panorâmico, que pro-

tege faixas de terra ao longo de trechos

ou a totalidade de caminhos, estradas ou

vias de acesso, e cujos limites são estabele-

cidos com vistas à proteção de suas carac-

terísticas e mantidos em estado natural ou

seminatural, evitando-se obras que desfi-

gurem o meio ambiente.

A importância da conservação dos valores cêni-cos e paisagísticos como objetivo principal deve sergarantida por normatização específica.

Justificativas para a implantação

Um primeiro fator a considerar é o motivo, ou seja,as características locais e regionais que justificamuma preocupação ambiental diferenciada. O fato deuma estrada bordejar ou cruzar uma unidade deconservação demonstra que há o motivo para quese estabeleçam diretrizes especiais.

Objetivos

Entre outras particularidades, a ocorrência de re-cursos naturais, cênicos, além de elementos histó-ricos e culturais, salvaguarda que esses atributospassem a ser também objetivo da estrada-parque

Estrada-parque Ilhéus-Itacaré, BA

IESB

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• 42Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Estradas-parque, Roberto M. F. Mourão

na situação privilegiada de estrada-cênica. Nessaperspectiva, fica também reconhecido o motivo paraa contemplação, outra característica a ser valoriza-da em uma estrada-parque.

Se, por um lado, a estrada-parque tem, entreseus objetivos, a função de proteger os atributosnaturais, históricos e culturais regionais, além depromover a educação ambiental dos usuários; poroutro lado, como via de acesso, ela visa facilitar odesenvolvimento socioeconômico para as comuni-dades envolvidas.

A proposta de estradas-parque vai além da obrafísica da via de acesso em si, transcendendo para acondição de mecanismo facilitador de um modelode desenvolvimento integrado e conservação ambi-ental, cujas bases permitem a auto-sustentabilida-de econômica e ecológica a longo prazo. Esse mode-

do as áreas de vegetação nativa e as comunidadestradicionais e gerando uma carga maior de dejetose resíduos, aumentando o risco de poluição, tantodos solos como dos corpos d’água, além de inter-ferir em hábitats.

Aspectos como drenagem e erosão estão sobinterferência da obra civil propriamente dita. Tantoas comunidades da fauna e flora como as humanastêm sua ocorrência influenciada não só pelo regimehídrico, mas também pelo padrão de escoamento edrenagem das águas superficiais e subterrâneas. Aconstrução, ampliação ou pavimentação de uma es-trada pode afetar isso, seja pela retirada de vegeta-ção, seja pela ocorrência de obstáculos físicos ouentulhamento dos caminhos naturais das águas.

Nessa perspectiva, a concepção de uma estra-da-parque pode estar associada a mecanismos decontrole de seu próprio impacto. Um zoneamentoecológico-econômico adequado da área, relaciona-do a um plano de manejo, ocupação e desenvolvi-mento voltado para a realidade local, é o mecanis-mo proposto. Envolvem-se até soluções para abas-tecimento e saneamento, valorização da ligaçãoentre o morador local e o meio, alternativas e quali-dade de vida e controle e conservação dos patrimô-nios natural e cultural.

A necessidade de exploração continuada deáreas de empréstimo de material (barro, areia eseixos) para manutenção da pista aumenta sobre-maneira o problema. Nesse aspecto, a pavimenta-ção tende a ser benéfica, pois reduz a erosão napista quando há retirada contínua de material deáreas de empréstimo. Cuidados devem ser toma-dos, no entanto, quanto à recomposição da vegeta-ção nas áreas lindeiras e nas áreas de empréstimoutilizadas para a obra.

lo deve avançar muito além dos limites lindeiros daestrada, atingindo toda sua área de influência socio-econômica e ambiental.

Como propostas, estradas-parque surgem comuma série de mecanismos que buscam atingir essascondições, e, por meio de monitoramento contínuo,pode-se adequar demandas e propósitos, buscandosempre garantir o respeito à capacidade de carga daUC e, conseqüentemente, sua sustentabilidade.

Com a finalidade de manter o usuário maistempo no local, fornecendo uma maior e melhorquantidade de informações e captando um aportemaior de fundos para o sistema de gestão, umaestrada-parque deve ter equipamentos interpre-tativos e de lazer, propiciando conforto, distra-ção e educação.

Todos esses programas, bem como todo o con-junto de atividades realizadas na área da UC e emseu entorno, devem ser inseridas no plano de ma-

nejo, instrumento que identifica e estabele-ce as áreas e os tipos de ocupação possí-

veis e recomendáveis.

Prós e contras

Tanto para o meio natural como parao meio antrópico, a construção ou a me-

lhoria de condições de uma estrada geraalterações positivas e negativas.

Mais do que o impacto físico-ambientalda obra em si, uma estrada causa mais altera-

ções pelas novas circunstâncias e condições que elacria. A maior facilidade de acesso de mercadorias,bens e serviços, como o incremento do turismo,além de intensificar a movimentação, promove aocupação e a especulação imobiliária, pressionan-

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• 43Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Estradas-parque, Roberto M. F. Mourão

Um outro problema que surge é o aumento dovolume de tráfego. Por melhorar a acessibilidade eem decorrência do incremento local como atraçãoturística, o volume de tráfego tende a incrementarconsideravelmente, aumentando a perturbação so-nora e os riscos de acidente tanto para a populaçãohumana como para a fauna. Mecanismos adicionaisde monitoramento e controle do tráfego e limita-ções devem ser também implantados.

Esses devem levar em conta também os aspec-tos ligados a velocidade e segurança: mirantes paracontemplação, que buscam valorizar a prática deobservação e contemplação dos valores cênicos daestrada, também devem ser pensados de forma acontribuir para reduzir a velocidade dos usuários,sem comprometer a segurança da estrada.

Quase todos os parâmetros abordados anteri-ormente têm suas amplitudes variando em funçãoda acessibilidade, que seguramente é aumentadacom a pavimentação de uma estrada. Além das re-percussões negativas desse incremento, abordadasnos outros parâmetros, certamente há grandes be-nefícios diretos advindos de uma maior acessibili-dade propiciada por uma estrada pavimentada.

Impactos e benefícios

O maior benefício vai para as comunidades lo-cais, que têm a oportunidade de melhorar suaqualidade de vida, além da região toda, que temchances de realizar desenvolvimento. Nesse as-pecto, estradas-parque constituem-se em impor-tante instrumento para catalisar positivamentebenefícios de forma sustentável e em mecanis-mo de controle para minimizar ou equacionarseus efeitos negativos.

Sobre o meio natural, uma estrada traz aindauma série de outras implicações. Um maior volumede tráfego, como já foi dito, aumenta os riscos paraexemplares da fauna florestal que transitem pelaárea. No entanto, esse risco pode ser reduzido crian-do-se passagens simples para a fauna em áreas decontinuidade florestal cortadas pela estrada.

Associada à obra está a degradação de árease exposição de solos decorrente da pavimentaçãoda estrada, bem como a utilização de áreas de em-préstimos, bota-foras e canteiros de obras. Issodeve ser solucionado por programas de recupera-ção de vegetação.

Os programas ligados à estrada-parque devempreocupar-se com os efeitos negativos que o incre-mento na chegada de contingentes externos podegerar sobre a cultura local. Isso é válido tambémpara os patrimônios históricos, arquitetônicos e ar-queológicos regionais.

Seguindo-se essa concepção de estrada-parque,com a estimulação do potencial da UC e de comuni-dades locais, e aplicando-se o modelo turístico, osinteresses originais ligados à estrada e à UC passama fundir-se em uma única meta de desenvolvimentointegrado e de bases ecológica e econômica susten-táveis. Assim, pode-se equacionar conflitos históri-cos entre UC e comunidades do entorno, além dereduzir pressões negativas para ambos.

Um dos resultados esperados plausíveis de se-rem utilizados como indicadores seria a migraçãode mão-de-obra local, oriunda das comunidades tra-dicionais, das atuais atividades impactantes da pescapredatória e do turismo embarcado para as ativi-dades de ecoturismo. Outro indicador associado aesse é a migração da demanda de público/mercadono mesmo sentido.

Além desses aspectos, um grande qualificati-vo da estrada-parque como instrumento dessas mu-danças é o monitoramento e os ajustes contínuosdas relações causa vis-à-vis efeitos, que deverão serpermanentes e subsidiar quaisquer alterações derumos no futuro.

Finalidades e objetivos

Além da função específica como infra-estrutura viária,estradas-parque têm seus objetivos ampliados para afunção de um verdadeiro organizador espacial.

Entre os principais objetivos e finalidades deestradas-parque, cabe destacar:

a. resgatar e valorizar os patrimônios biológico,paisagístico, histórico, arqueológico e cultural;

b. apontar soluções integradas quanto à situaçãosocioeconômica, cultural, educacional e de con-servação ambientais;

c. mitigar conflitos sociais e ambientais entre áre-as protegidas e grupos de interesse e atoresregionais – entenda-se grupos de interesse re-gionais a comunidade (tradicional) local, ONGs,veranistas, empreendedores, excursionistas,turistas, ecoturistas etc.;

d. promover envolvimento e inserção entre gruposde interesse regionais e áreas protegidas, ge-rando educação ambiental, conservação e valo-rização dos patrimônios ambiental e cultural.

Sistema de gestão

Em face da realidade ambiental e sociocultural re-gional, dos objetivos de uma unidade de conserva-ção e da própria estrada-parque, acredita-se quea forma de gestão mais adequada é por meio de

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• 44Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Estradas-parque, Roberto M. F. Mourão

um comitê gestor, que assegure o caráter partici-pativo e um canal legítimo de discussões e de flu-xo de informações.

Esse comitê deve reunir todos os grupos de in-teresse regionais (atuantes ou não) que tenham al-gum interesse ou ligação com o destino da área, dascomunidades locais e dos patrimônios biológico, his-tórico e arqueológico presentes.

Esse grupo deve constituir-se em uma ONG demembros institucionais (entidades), de forma a terpersonalidade jurídica, cuja responsabilidade bási-ca é delinear a política de conservação e desenvol-vimento integrados para toda a área da unidadede conservação e seu entorno, em conjunto com ospoderes constituídos.

Para as ações na área de unidades de conserva-ção, caberá ao Ibama e aos órgãos regionais de meioambiente e cultura a aprovação final das interven-ções, em consonância com a legislação e com o zone-amento e o plano de manejo aprovados na área deinterferência de vias e estradas.

Comitê gestor – modelo efuncionamento

Ordinariamente, o comitê deve reunir-se a cada pe-ríodo determinado em seus estatutos e regimentointerno, por exemplo, uma vez a cada semestre. Aexecução dessas políticas fica a cargo de uma equipetécnica contratada especificamente para tal, semprejuízo das atribuições dos outros órgãos com res-ponsabilidades sobre a região.

A capacidade de captar e gerar recursos finan-ceiros próprios, complementando aqueles de fontesinstitucionais, é fator básico para o êxito do modelode estrada-parque. A diversificação dessas fontestambém é característica fundamental para viabilizaros objetivos e as finalidades.

O modelo deverá prever uma série de meca-nismos de geração e captação de recursos, alémde identificar as principais fontes institucionais,destacando-se:

a. contribuições provenientes de estabelecimen-tos comerciais e de serviços localizados ao lon-go da estrada-parque ou que se utilizem da UC;

b. “selos” de participação como “Amigos da es-trada-parque”;

c. renda do uso da infra-estrutura e de equipa-mentos (centro de visitantes, trilhas interpre-tativas etc.);

d. serviços, como visitas guiadas e cursos, quedeverão ser oferecidos, de forma subsidiadaou patrocinada, no caso de escolas públicasregionais;

e. venda de produtos, como artesanato local (tra-dicional e temático), artigos promocionais e ou-tros produtos locais (confeccionados pelas co-

munidades regionais por meio de programasde alternativa de renda estimulados ou condu-zidos pelo comitê);

f. pedágio “ambiental” (voluntário ou não);

g. parcerias.

Arrecadação de recursos – fundo

Todos os recursos arrecadados pelo comitê deverãointegrar um fundo, cuja aplicação será voltada paraauxiliar na manutenção da estrada-parque. A admi-nistração desse fundo deverá ser responsabilidadeda equipe técnica, em conjunto com a diretoria docomitê e com o auxílio do seu conselho fiscal.

Com base na proposta apresentada por essedocumento, é possível identificar uma forma de in-tegração entre uma obra viária requerida pela co-munidade e os interesses de conservação do patri-mônio ambiental. Por meio dessa integração, perce-be-se que não só os interesses podem ser comuns,como também a sustentabilidade desses interessesa longo prazo é interdependente e com mais chan-ces de sucesso.

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• 45Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Estradas-parque, Roberto M. F. Mourão

Comitê da estrada-parque – ações

Com a meta de atingir os objetivos e as finalida-des de uma estrada-parque em consonância comsuas características próprias, o comitê deverá es-tabelecer políticas de ações a serem desenvolvidasna área, sob a responsabilidade de execução daequipe técnica. Essas ações podem ser divididasem básicas e práticas, conforme suas naturezas.

Ações básicasSão aquelas voltadas para a manutenção da integri-dade dos patrimônios locais. Destacam-se:

a. pesquisa: projetos de pesquisa e investigaçãode campo, envolvendo as diversas áreas do co-nhecimento, e sempre articulados a uma estra-tégia de desenvolvimento do conhecimento ci-entífico integrado da área, cujos resultados sub-sidiem a estratégia de conservação. Nessa li-nha, a articulação de parcerias com universida-des para o desenvolvimento de monografias,dissertações e teses, por exemplo, é de funda-mental interesse;

b. recuperação de áreas: em pontos da UC deve-rão ocorrer áreas onde a vegetação original seráretirada. A recomposição dessa vegetação é ne-cessária e deve ser definida em consonância como zoneamento da UC;

c. monitoramento ambiental: esse é o mecanis-mo básico para avaliar tanto o respeito à capaci-dade de carga da área como a eficiência dasações para o cumprimento dos objetivos. O focoprincipal de atenção desse monitoramento de-vem ser os parâmetros naturais, culturais e dequalidade de vida das comunidades atingidas.

Ações práticas

São aquelas voltadas para a utilização da UC. Todasessas ações devem sempre levar em conta a capaci-dade de carga da área, com sua manutenção de inte-gridade, as definições do zoneamento ecológico-eco-nômico e do plano de manejo, a valorização qualitati-va dos patrimônios e a busca de soluções integradas(mesmo em nível socioeconômico, estimulando oassociativismo e o cooperativismo como ferramentaspara canalizar o retorno para as comunidades locais).

Ações por áreas

Turismo

• Centro de visitantes

• Trilhas interpretativas (guiadas e/ou autoguiadas)

• Roteiros e programas ecoturísticos integrados

• Educação ambiental do (eco)turista

• Programa de formação de “intérpretes”da natureza

• Incentivo ao artesanato regional

• Indústria de souvenirs

• Programas de culinária regional(bares e restaurantes)

Lazer, educação e cultura

• Programas de lazer e entretenimento

• Programa de educação popular

• Núcleos de cultura regional

Meio ambiente

• Programa de interpretação ambiental(escolas, colégios);

• Programa de recuperação e/ou interferênciacênica (ao longo da estrada);

• Sistema de sinalização (adequada ambientale culturalmente).

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• 46Manual MPE – Ecobrasil | Meio ambiente | Unidades de conservação | Estradas-parque, Roberto M. F. Mourão

BARNABÉ, Regina C. Estrada-parque Rodovia dos

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