manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

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MANUAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DO BIOGÁS NO MEIO RURAL Prof. Dr. Samuel Nelson Melegari de Souza Professor Associado C Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE CCET Mestrado em Engenharia de Energia na Agricultura e-mail: [email protected] CASCAVEL PARANÁ - BRASIL SETEMBRO - 2016

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Page 1: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

MANUAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DO

BIOGÁS NO MEIO RURAL

Prof. Dr. Samuel Nelson Melegari de Souza Professor Associado C

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE CCET – Mestrado em Engenharia de Energia na Agricultura

e-mail: [email protected]

CASCAVEL

PARANÁ - BRASIL

SETEMBRO - 2016

Page 2: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo

financiamento deste Projeto no âmbito do Edital Universal 14/2011, Processo

477270/2011-5

Page 3: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

SUMÁRIO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................................... 4

1.2 BIOGÁS COMO COMBUSTÍVEL ...................................................................................................... 5

1.2.1 Combustão do Biogás ........................................................................................................... 6

1.2.2 Poder Calorífico Inferior ........................................................................................................ 7

1.2.3 Limite de Inflamabilidade e Velocidade da Chama ............................................................... 8

1.2.4 Temperatura da Chama e Umidade do Biogás ..................................................................... 8

1.3 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA ........................................................................................... 9

1.3.1 Teoria dos Motores de Combustão Interna .......................................................................... 9

1.3.2 Motores de Combustão Interna de Ignição por Centelha .................................................. 10

1.3.3 Desempenho de Motores de Combustão Interna de Ignição por Centelha ....................... 11

1.3.4 Princípio de Conversão de Motor de Ignição por Centelha a Biogás .................................. 15

1.4 MOTORES GERADORES DE ELETRICIDADE A BIOGÁS ................................................................. 19

1.4.1 Principais Componentes dos Motores Geradores .............................................................. 23

1.5 Premissas para Especificação Técnica de um Sistema Motor Gerador a Biogás e Auxiliares .... 29

1.6 Dimensionamento das Instalações Elétricas do Sistema de Geração de Eletricidade ............... 31

1.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 44

Page 4: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O biogás tem um conteúdo energético elevado, semelhante ao gás natural, podendo

substituí-lo em muitas aplicações. A vantagem do biogás em relação ao gás natural é o fato de

ser renovável e produzido em todos os locais onde haja disponibilidade de biomassa. A

desvantagem é que o poder calorífico do biogás é menor que o do gás natural e tem em sua

composição sulfeto de hidrogênio e umidade.

A combustão direta e o uso do biogás em motores seriam os principais tipos de

aplicação do biogás. A figura 1.1 mostra o fluxograma que resume as possibilidades de

utilização do biogás como um combustível alternativo.

No processo de combustão direta, o biogás é queimado em câmaras de combustão de

turbinas a gás, caldeiras, aquecedores e secadores. O calor liberado na queima é utilizado em

processos produtivos ou na geração de eletricidade. Em motores de combustão interna, ele é

convertido em potência mecânica ou elétrica.

Os motores de combustão interna (máquinas primárias) acoplados a geradores

elétricos, chamados motores geradores, podem ser utilizados por propriedades rurais e

agroindústrias, com disponibilidade de biomassa residual e biogás para a geração distribuída

de energia elétrica.

Num projeto de geração distribuída utilizando biogás como combustível em motores

geradores, é importante conhecer as propriedades do biogás como combustível, a teoria e os

parâmetros de desempenho de motores de combustão a biogás, a conversão de motores de

ignição por centelha a biogás, os motores geradores de eletricidade a biogás, o

dimensionamento de motores geradores e os detalhes de instalação. Esses itens serão

abordados no decorrer deste módulo.

Page 5: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1 - Fluxograma resumido das possibilidades de utilização do biogás Fonte: WALSH et al (1988) & CCE (2000).

1.2 BIOGÁS COMO COMBUSTÍVEL

O biogás é uma mistura de 40 a 75 % de metano (CH4) e tem um poder calorífico entre

23338,52 e 6253,01 kcal/m3 (IANNICELLI, 2008). Estas características físico-químicas

Page 6: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

somadas a outras características do biogás afetam a escolha da tecnologia usada em sua

combustão, limpeza e conversão de equipamentos térmicos convencionais para biogás.

1.2.1 Combustão do Biogás

No processo de combustão, o combustível deve ser misturado a um comburente para

que haja a combustão. A reação de combustão completa do metano, contido no biogás, com

oxigênio é (BIOGASBURNER, 2011):

CH4 + 2O2 → CO2 + 2H2O (1.1)

Onde um volume de metano requer dois volumes de oxigênio, para produzir um volume

de dióxido de carbono e dois de vapor de água, assumindo-se que há 58 % de metano no

biogás e 21 % de oxigênio no ar. Logo 1,72 volumes de biogás necessitam de 9,52 volumes de

ar ou 1,0 volume de biogás para 5,53 de ar. Com isso, a razão estequiométrica para combustão

do biogás é 15,3 % de biogás no ar, ou seja, nessa proporção a combustão é completa. Em

situações onde a mistura for pobre em biogás e com excesso de ar, a mistura é chamada de

pobre. Quando há excesso de biogás em relação ao ar a mistura é rica.

Para detectar se uma mistura é rica ou pobre define-se o fator lambda (λ), que é a

relação entre a mistura ar combustível real (A/Creal) e a mistura ar combustível

estequiométrica (A/Cestequiométrica).

λ =𝐴/𝐶𝑟𝑒𝑎𝑙

𝐴/𝐶𝑒𝑠𝑡𝑒𝑞𝑢𝑖𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 (1.2)

Onde conclui-se que:

λ < 1 → mistura rica (deficiência de ar);

λ > 1 → mistura pobre (excesso de ar);

λ = 1 → mistura estequiométrica.

Nos motores de combustão interna existe a chamada sonda lambda, a qual tem por

objetivo, manter a mistura perto da faixa estequiométrica, evitando-se assim, um aumento do

consumo de combustível (mistura rica) ou perda de potência no motor (mistura pobre).

Page 7: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

1.2.2 Poder Calorífico Inferior

O poder calorífico inferior (PCI) é utilizado para determinar o potencial teórico de

energia contido nos combustíveis. Quanto maior a concentração de metano, mais energia por

unidade de massa, ou seja, maior o poder calorífico inferior (PCI) do biogás. A tabela 1.1

mostra a variação do poder calorífico inferior do biogás e densidade em função da composição

de metano. A tabela 1.2 mostra o poder calorífico inferior de alguns combustíveis. A densidade

ou peso específico do biogás depende também da concentração de metano.

Tabela 1.1. Peso específico e poder calorífico inferior do biogás em função da composição

química

Fonte: IANNICELLI (2008).

Tabela 1.2 Poder calorífico inferior de combustíveis gasosos

Fonte: IANNICELLI (2008) & ALVES (2000).

A figura 1.2 mostra a equivalência energética do biogás com 60 % de metano quando

comparado com outros combustíveis.

Page 8: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.2. Equivalência energética do biogás (60 % de metano)

1.2.3 Limite de Inflamabilidade e Velocidade da Chama

A porcentagem mínima e máxima de um combustível numa mistura ar e combustível,

para que essa mistura entre em combustão, é chamada de limite de inflamabilidade. Para o

biogás com 58 % de metano, está entre 9 a 17 % de biogás no ar e com o aumento do

percentual de metano estes valores tendem a decrescer. A velocidade da chama é a

velocidade de uma frente de chama da mistura ar e combustível, efetuada sob determinadas

condições. É uma propriedade importante no dimensionamento e modificação de queimadores,

pois ajuda a estabelecer a estabilidade da combustão. Também é utilizada na determinação do

avanço de ignição nos motores de combustão interna. O seu valor é de 0,25 m/s no ar para o

biogás com 58 % de metano (BIOGASBURNER, 2011).

1.2.4 Temperatura da Chama e Umidade do Biogás

A temperatura da chama é um parâmetro importante na performance dos sistemas de

combustão. Sua importância no dimensionamento do sistema, advém da taxa de produção de

Page 9: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

calor, que é diretamente proporcional a temperatura da chama. A temperatura teórica da

chama na queima do biogás decresce em função da maior concentração de dióxido de carbono

e umidade (CCE, 2000).

O vapor de água composto no biogás tem um impacto significativo na combustão do

biogás, pois tende a alterar o poder calorífico, limite de inflamabilidade, temperatura da chama

e razão ar combustível (WALSH et al, 1989).

1.3 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA

Os motores de combustão interna (MCI) são as máquinas primárias mais utilizadas na

geração de energia elétrica com aproveitamento do biogás como combustível primário. São

motores de ignição por centelha (ciclo otto) acoplados a geradores de eletricidade. A maioria

dos motores a gás utilizam o gás natural, o que facilita o processo de conversão para biogás

(60 % de metano).

1.3.1 Teoria dos Motores de Combustão Interna

De acordo com Giacosa (1986), os motores térmicos de combustão interna são

máquinas que tem por objetivo transformar a energia calorífica em energia mecânica

diretamente utilizável. A energia calorífica pode provir de diversas fontes primárias, porém no

caso dos motores a combustão, a energia calorífica tem origem na queima de combustíveis

líquidos e gasosos. Portanto, pode-se dizer que os motores de combustão interna transformam

a energia química do combustível em energia mecânica.

Obert (1971) define que, nos motores de combustão interna, os produtos da combustão

são os próprios executores do trabalho. A maioria dos motores de combustão interna utiliza o

princípio do êmbolo alternativo, onde este é dotado do movimento de vai e vem no interior de

um cilindro, produzindo trabalho através de uma biela e de um eixo de manivelas.

Os motores utilizados para biogás podem ser de dois tipos: o ciclo otto e o ciclo diesel.

Sendo que o ciclo otto ou de ignição por centelha é o mais fácil de adaptar para biogás, devido

as unidades já existentes e adaptadas para gás natural. A principal alteração é realizar uma

regulagem no carburador para a queima de uma mistura ar e combustível mais pobre. O motor

diesel, ignição por compressão, pode ser adaptado para utilizar biogás na forma dual, onde a

principal alteração é a introdução de um misturador na entrada do ar, antes de ser comprimido,

Page 10: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

permanecendo o restante funcionando sob o princípio diesel. No motor dual o combustível

injetado (diesel) entra em auto ignição junto com a mistura ar biogás, sendo que a injeção do

diesel é reduzida automaticamente pelo regulador de velocidade. A redução do consumo de

diesel no modo dual é acima de 80 %.

O ciclo diesel pode operar com 100 % de biogás, mas para isso ele precisa ser

ottolizado, ou seja, convertido para ciclo otto. A conversão não é tão simples, pois envolve a

remoção da bomba injetora, a introdução de um carburador e sistema de ignição por centelha,

redução na taxa de compressão, entre outros. Os principais fornecedores de motor a gás no

Brasil fazem essa conversão.

1.3.2 Motores de Combustão Interna de Ignição por Centelha

A máquina primária de um conjunto motor gerador a biogás mais utilizada atualmente é

o motor de ignição por centelha ou ciclo otto de quatro tempos. Segundo Wildner (2006) o ciclo

otto de quatro tempos opera conforme mostra a figura 1.3.

1º Tempo – Admissão: a mistura ar e combustível é admitida no cilindro através da

válvula de admissão, durante o curso do pistão do ponto morto inferior (PMI) ao ponto morto

superior (PMS).

2º Tempo – Compressão: a mistura ar e combustível é comprimida, quando o pistão sai

do PMI ao PMS.

3º Tempo – Combustão e expansão: após a compressão (2º Tempo) ocorre a ignição da

mistura ar e combustível, elevando a temperatura e pressão com a queima, fazendo com que

haja uma expansão do pistão do PMS ao PMI, transmitindo ao eixo de manivelas uma força

motriz.

4º Tempo: Descarga: antes do pistão atingir o PMI (3º Tempo) a válvula de escape

começa abrir e os gases passam a ser liberados quando o pistão sai do PMI ao PMS. Após

isso a válvula de descarga fecha-se e a de admissão abre-se e o ciclo inicia-se novamente.

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Figura 1.3. Ciclo otto 4 tempos

Fonte: WILDNER (2206).

O ciclo otto é usualmente representado pelo ciclo padrão a ar, o qual é considerado um

ciclo ideal, onde: o processo 1-2 é uma compressão isoentrópica do ar (1º Tempo); no

processo 2-3 o calor é transferido (q2-3) durante a ignição do combustível (no momento que o

pistão está no PMS); no processo 3-4 ocorre uma expansão isoentrópica e; no processo 4-1 há

a rejeição de calor (q4-1), enquanto o pistão está no PMI (WYLEN et al, 1998). A figura 1.4

mostra o processo descrito acima.

Figura 1.4. Ciclo padrão ar otto

1.3.3 Desempenho de Motores de Combustão Interna de Ignição por Centelha

Segundo Dalbem (2008) o desempenho de um motor de ignição por centelha varia

conforme o tipo de combustível utilizado. O motor deve ser convertido (preparado) conforme o

Page 12: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

tipo de combustível, tais alterações incluem a taxa de compressão, relação ar combustível,

ponto de ignição e outros itens. Esse procedimento irá influenciar parâmetros como:

rendimento total ou eficiência de conversão do combustível;

potência efetiva do motor;

consumo específico.

a) Rendimento total

Segundo Penido Filho (1991) e Dalbem (2008), o rendimento total de um motor de

combustão interna é dado por:

𝜂𝑇 = 𝜂𝑇𝑒 ∗ 𝜂𝑖 ∗ 𝜂𝑚 (1.3)

Onde ηT é o rendimento total; ηi o rendimento indicado; ηte rendimento térmico; ηm

rendimento mecânico. O rendimento total de um motor de combustão interna varia de 20 a 30

%.

Segundo Heywood (1988) citado por Dalbem (2008) e Penido Filho (1991) o rendimento

global também pode ser obtido por:

𝜂𝑡 =3600

𝐶𝑠∗𝑃𝐶𝐼 (1.4)

Onde Cs é o consumo específico (g.kWh-1); PCI o poder calorífico inferior do

combustível (MJ.kg-1).

O rendimento térmico é a relação entre o calor que se transforma em trabalho útil e o

calor equivalente ao trabalho que poderia ser obtido pela queima do combustível. Para o ciclo

de ignição por centelha (otto) pode ser obtido por meio da equação (PENIDO FILHO, 1991;

WYLEN , 1998):

𝜂𝑇𝑒 = 1 −1

𝜌𝑘−1 (1.5)

Onde ρ é a taxa de compressão do motor; k a razão entre os calores específicos, a

volume constante e a pressão constante. O rendimento térmico varia de 60 a 70 %.

Page 13: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

O rendimento indicado (ηi) é a relação entre o trabalho realizado pelo motor no ciclo real

e o trabalho realizado pelo motor no ciclo teórico, ou melhor, é a porcentagem do trabalho útil

que é transformado em trabalho mecânico no ciclo real. Dentre os fatores que influenciam o

rendimento indicado estão a combustão imperfeita da mistura ar e combustível e aumento da

perda de calor através das paredes do cilindro do motor. O rendimento indicado varia de 50 a

80 % (PENIDO FILHO, 1991).

O rendimento mecânico (ηm) é a relação entre a potência efetiva medida no eixo do

motor e a potência indicada, ou seja, a porcentagem de trabalho mecânico do ciclo real que é

transformada em trabalho mecânico no eixo do motor. Os fatores que influenciam no

rendimento mecânico são: a força de atrito que aparece nos órgãos móveis (mecanismos), a

potência absorvida pelos órgãos auxiliares (bomba d’água, bomba de óleo, etc.) e a potência

absorvida no bombeamento (admissão e exaustão da mistura queimada) (DALBEM, 2008).

b) Potência efetiva do motor

A potência efetiva representa a gerada no eixo do motor. Para sua medição, deve-se

utilizar um dispositivo chamado dinamômetro, o qual mede a potência por meio do produto

entre o torque e a velocidade angular:

𝑁𝑒 = 𝑇 ∗ ω (1.6)

Onde Ne é a potência efetiva (W), T o torque (N.m) e ω a velocidade angular (rad.s-1).

A potência efetiva seria a diferença entre a potência indicada (medida no digrama

indicado) (Ni) e a potência absorvida (Nd):

𝑁𝑒 = 𝑁𝑖 −𝑁𝑒 (1.7)

A potência absorvida é aquela utilizada para vencer o atrito entre as partes mecânicas

em movimento (que efetua o bombeamento, aspiração e descarga) e acionar os órgãos

acessórios como: a bomba de óleo, alternador, bomba d'água, etc. A indicada é a potência

desenvolvida no interior do cilindro ocasionada pela combustão da mistura ar e combustível e

obtida por intermédio do ciclo indicado. (PENIDO FILHO, 1991).

A potência efetiva deve ser corrigida em função das condições ambientais: pressão

barométrica, teor de umidade do ar e temperatura ambiente. Essa correção, para o clico otto,

Page 14: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

deve ser feita de acordo com a norma NBR ISO 1585 da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) (DALBEM, 2008).

Essa potência efetiva do motor depende do rendimento volumétrico (ηv), ou seja, quanto

menor esse rendimento menos potência o motor terá no eixo (DALBEM, 2008; PENIDO FILHO,

1991). A eficiência volumétrica é a relação entre a massa de ar que se encontra no cilindro, no

início da compressão, e a massa teórica que poderia estar, nas condições atmosféricas de

admissão. Se a aspiração fosse perfeita, todo o espaço liberado pelo pistão, ao deslocar-se do

ponto morto superior ao ponto morto inferior, seria ocupado pela mistura. Porém a massa de ar

admitido é sempre menor, no caso dos motores naturalmente aspirados.

Os fatores que influenciam na eficiência volumétrica são: perdas de carga no conduto

de admissão; tempos de abertura, fechamento e cruzamento de válvulas; temperatura da

mistura; pressão barométrica; percentagem de gás queimado residual contido na mistura,

inércia da mistura e rotação do motor (PENIDO FILHO, 1991). A relação a seguir é utilizada

para determinar o rendimento volumétrico:

𝑛𝑣 =𝑄𝑚

𝑊0 (1.8)

Onde Qm é a vazão do ar aspirado (m3.h-1) e Qo a vazão teórica máxima que o motor

pode aspirar (m3.h-1).

Os combustíveis gasosos, como o metano (gás natural) ou o biogás (58 % de gás

natural), ao serem queimados em motores de combustão interna produzem uma potência

efetiva menor, quando comparados com os líquidos (diesel e gasolina). Um dos motivos é que

o conteúdo energético da mistura estequiométrica combustível/ar para o biogás ou gás natural

é menor que o da gasolina. Outro fator que observa-se é que a eficiência volumétrica dos

motores a gás é menor.

Os combustíveis líquidos ao serem admitidos juntamente com a corrente de ar no

coletor, vaporizam absorvendo calor do ar e resfriam a mistura ar/combustível aumentando

assim sua densidade e contribuindo para o aumento da eficiência volumétrica.

c) Consumo específico do motor

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O consumo específico é definido como a quantidade de combustível medido em gramas

que um motor gasta para cada kW de potência produzida durante uma hora de operação

(g.kWh-1) (PENIDO FILHO, 1991).

𝐶𝑠 =𝐶ℎ

𝑁𝑒 (1.9)

Onde Ch é o consumo horário (g.h-1) e Ne a potência efetiva (em kW).

O consumo específico varia em função da rotação do motor e quanto mais baixo for o

seu valor absoluto, maior será o rendimento do motor.

1.3.4 Princípio de Conversão de Motor de Ignição por Centelha a Biogás

Os motores de ignição por centelha, movidos a gasolina ou os motores diesel

convertidos à ciclo otto podem ser facilmente convertidos para motores a gás. As mesmas

técnicas de conversão de motor a gasolina para gás natural são utilizadas para o biogás. O

biogás tem um poder calorífico de aproximadamente a metade do gás natural, logo o sistema

de carburação tem que ser dimensionado para que o fluxo de biogás seja o dobro do gás

natural para que a mesma potência seja mantida (MUELLER, 1995; MACARI, 1987). A

principal modificação de um motor a gasolina para biogás é a instalação de um misturador de

gás com comburente (ar) no lugar do carburador. O controle do motor é efetuado pelo controle

da mistura ar/combustível, por meio de uma válvula de variação de pressão, semelhante à

válvula borboleta dos motores a gasolina. Outras modificações incluem a mudança na taxa de

compressão e avanço de ignição.

a) Carburação

O misturador utilizado na maioria dos motores a biogás é do tipo venturi e é instalado

antes da entrada da mistura ar combustível na câmara de combustão. A figura 1.5 mostra um

sistema típico de mistura de gás natural ou biogás. O sistema é composto de um filtro, por onde

entra o ar (comburente), uma entrada de biogás para um misturador venturi, uma válvula para

controlar a entrada da mistura ar/combustível para o cilindro do motor.

O misturador venturi utiliza o princípio de bernoulli, da mecânica dos fluidos, onde o

fluxo de ar através de uma seção reduzida provoca uma queda de pressão facilitando a entrada

de um gás combustível e tendo como resultado a mistura ar combustível. A figura 1.6 mostra

Page 16: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

um misturador venturi, onde c1 é a velocidade da entrada do venturi, cv a velocidade na seção

contraída do venturi, di o diâmetro do misturador na entrada do motor, dv o diâmetro da seção

contraída do venturi, ci a velocidade da mistura na entrada do motor (MITZLAFF, 1988).

Figura 1.5. Sistema de mistura num motor a gás

Page 17: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.6. Misturador venturi para biogás

As principais funções do venturi são (MITZLAFF, 1988):

para um alto fluxo de ar tem-se que a velocidade do ar é alta e a pressão na área

contraída é baixa. A diferença de pressão entre o fluxo de biogás e a corrente de ar

é alta. Logo muito mais combustível flui através das aberturas para misturar com a

corrente de ar;

para um baixo fluxo de ar tem-se que a velocidade do ar é baixa e a pressão na área

contraída é alta. A diferença de pressão entre o fluxo de biogás e a corrente de ar é

baixa. Logo pouco combustível flui através das aberturas para misturar com a

corrente de ar.

A velocidade do fluxo na entrada do motor e/ou saída do venturi (ci) é dada por:

𝐶𝑖 =4𝑉𝑖

𝜋𝑑𝑖2 (1.10)

Onde ci é a velocidade da mistura na entrada do venturi (m.s-1), Vi é o fluxo volumétrico

na entrada de um motor 4 tempos (m3.s-1), após o venturi, e di o diâmetro na entrada do motor

(m), o qual corresponde ao diâmetro na saída do venturi.

𝑉𝑖 =𝑉𝑐

2000

𝑛

60η𝑣𝑜𝑙 (1.11)

Onde Vc é o volume dos cilindros do motor (litros), n a rotação do motor (RPM)

e ηvol a eficiência volumétrica.

Como a vazão volumétrica na área reduzida do venturi é a mesma que na saída do

venturi, entrada do motor, tem-se que:

𝐴𝑣𝐶𝑣 = 𝐴𝑖𝐶𝑖 (1.12)

Onde Av é a área da seção contraída do venturi e Ai é a área na entrada do motor e

saída do venturi.

A velocidade na seção contraída do venturi (cv) não deve exceder 150 m/s na máxima

vazão, com isso o diâmetro na seção contraída deve ser:

Page 18: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

𝑑𝑣 ≥ √4𝐴𝑣

𝜋≥ √

4𝐴𝑖𝐶𝑖

𝜋150 (1.13)

𝐴𝑖 =𝜋𝑑2

4 (1.14)

Utilizando-se a equação 1.13 acima, pode-se dimensionar o diâmetro mínimo da seção

reduzida do venturi em função do diâmetro da saída do venturi (misturador) ou entrada do

motor.

O fluxo de biogás no misturador venturi depende da potência de operação do motor,

poder calorífico inferior do biogás, consumo específico do motor e diferença de pressão entre a

tubulação de alimentação de biogás e a pressão na seção reduzida do venturi. O diâmetro do

tubo de alimentação de biogás pode ser obtido por meio do conhecimento desses parâmetros,

por outro lado, tais parâmetros são variáveis, o que pode levar a um super dimensionamento

do tubo de alimentação. Com isso deve ser instalada uma válvula de calibração no tubo de

alimentação de biogás.

A calibração do misturador venturi é feita durante a operação do motor a máxima

potência e velocidade, onde primeiramente a válvula de calibração é mantida totalmente aberta

e depois fechada gradualmente até o motor perder potência e, então é aberta cuidadosamente

até o ajuste final. Com isso tem-se por meio de uma abertura fixa da válvula, a alimentação

correta de combustível a ser misturado no venturi.

Geralmente as empresas que convertem os motores fabricam os misturadores partindo

de dimensões quaisquer e, a partir daí eles são testados no motor em operação, por meio da

regulagem da entrada de ar ou de combustível, e conseguem a partir de um método interativo

chegar a um misturador ideal para o motor que será fabricado em série.

A figura 1.7 mostra a foto de um misturador venturi acoplado a um motor ciclo otto

preparado para operar com biogás de biodigestores.

Page 19: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.7. Misturador venturi

Fonte: SOUZA (2004).

b) Taxa de compressão

A razão entre o volume máximo do cilindro do motor e a câmara de combustão é a

chamada taxa de compressão ou razão volumétrica de compressão. Nos motores a gasolina a

taxa de compressão varia de 7 a 9:1 (MITZLAFF, 1988; SOUZA, 2004).

Os motores a gás (gás natural, biogás e outros) podem operar com uma taxa de

compressão mais elevada, quando comparado com a gasolina, entre 12 e 13:1. Isto é possível

porque o poder antidetonante do gás está ligado a concentração de metano (CH4), ou seja,

quanto maior a quantidade maior será a resistência a detonação. Para um motor a biogás a

taxa de compressão não pode exceder a 12:1, pois a composição do biogás não é constante e

isto pode levar a detonação em alguns momentos (ZAREH, 1998; CAÑAVATE, 1988;

MITZLAFF, 1988). Souza (2004) converteu um motor Volkswagem AP 1.8 L, com 4 cilindros e

90 C.V. para biogás e utilizou uma taxa de compressão de 12,5:1. Segundo Mitzlaff (1988) um

aumento de 7 para 10:1 resulta num aumento de potência no motor da ordem de 10 %.

A modificação na taxa de compressão consiste na usinagem da parte superior do

cilindro, com a diminuição da câmara de combustão. Esse processo é irreversível e, após

executado o motor não poderá operar mais com o combustível original.

O ponto de ignição tem que ser avançado, pois a velocidade da chama do biogás é

mais lenta (CAÑAVATE, 1988).

1.4 MOTORES GERADORES DE ELETRICIDADE A BIOGÁS

Os grandes grupos motores geradores a biogás alcançam potências da ordem de 1,6

MW, os quais possuem um sistema de resfriamento a água, onde a água quente e gases de

Page 20: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

exaustão podem ser utilizados com o auxílio de trocadores de calor (cogeração) para

aquecimento do efluente dos biodigestores, produção de água quente para o processo

produtivo, aquecimento de construções, produção de frio com o auxílio de sistemas de

refrigeração por absorção (trigeração) e outras aplicações. O uso da energia térmica aumenta a

eficiência do sistema.

A figura 1.8 mostra um esquema, onde o biogás produzido no biodigestor é utilizado

num motor gerador para produção de calor e eletricidade para a rede, a sobra de produção de

biogás é queimada no flare (queimador).

Figura 1.8. Geração de energia elétrica e calor

Os motores geradores a biogás podem ser utilizados em áreas rurais utilizando biogás

proveniente de biomassa vegetal ou resíduos animais, ou área urbanas com biogás de aterro

sanitário e sistemas de tratamento de esgoto industrial ou doméstico.

Existem sistemas em propriedades rurais instalados em todo o mundo para geração de

energia, os quais tem potência de geração entre 15 e 50 kW, alguns além de produzir

eletricidade para satisfazer a demanda da propriedade utilizam água quente proveniente do

calor de arrefecimento do motor (STAHL et.al, 1981; COPPINGER et al., 1978; KOELSCH &

JEWELL, 1982). No Brasil tem crescido continuamente a implantação de sistemas de geração

de energia elétrica na área rural, especialmente com resíduos da suinocultura e bovinocultura.

Page 21: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Na área urbana existem estações de tratamento de esgotos, onde há biogás liberado

dos reatores anaeróbios, as quais vem aproveitando o biogás para geração de energia elétrica,

como exemplo, na estação de tratamento da cidade de Iraklio na Grécia, há uma planta de

geração com capacidade de 194 kW (TSAGARAKIS, 2007).

O maior aproveitamento do biogás para geração de eletricidade localiza-se nos aterros

sanitários, cujo objetivo maior é a obtenção de créditos de carbono. No Brasil, existem dois

grandes aproveitamentos: a UTEB (Unidade Termelétrica de Energia Bandeirantes), localizada

no aterro Bandeirantes em São Paulo, com uma potência instalada de 22 MW e o aterro São

João em São Paulo com uma termelétrica de 24,6 MW (16 motores geradores da Caterpillar),

totalizando os dois empreendimentos 46,6 MW.

4.4.1 Gerador de Eletricidade

O gerador de eletricidade seria a máquina secundária de um sistema motor gerador,

cuja função é transformar energia mecânica em elétrica, sendo constituído por uma parte fixa

(carcaça) denominada estator, responsável pelo campo magnético, onde são localizados os

polos do gerador. A outra parte é móvel e chama-se rotor, onde aparece a força eletromotriz.

O motor é acoplado no gerador por meio de um acoplamento elástico capaz de absorver

pequenos desalinhamentos axais e radiais e vibrações geradas por variações de carga de

desbalanceamento (BERNDSEN, 2007).

Os geradores (ou alternadores) podem produzir eletricidade nas tensões 220/127 V,

380/220 V ou 440/254 V, dependendo do tipo de ligação trifásica. A potência produzida pelo

gerador é a potência aparente, a qual é calculada por (NISKIER, 2000):

𝑃𝑎 =√3𝑉𝐼

1000 (1.15)

Onde a potência do gerador (ou aparente) é dada em kVA, U é a tensão (V) e I é a

corrente elétrica (A).

O gerador possui um fator de potência, o qual é a relação entre a potência ativa (P),

medida em kW, com a potência do gerador:

Page 22: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

𝐹𝑃 = 𝑐𝑜𝑠𝜑 =𝑃

𝑃𝑎 (1.16)

A potência ativa (kW) pode ser obtida em função do fator de potência como:

𝑃 = 𝑉𝐼𝑐𝑜𝑠𝜑√3 (1.17)

Quanto menor o fator de potência, mais potência reativa é produzida (kVAr) e, maior

será a potência aparente em relação a ativa, o que demanda sistemas de distribuição de

energia com fiações de maior dimensão.

O rendimento de um gerador elétrico é a relação entre a potência elétrica produzida

(kW), potência ativa, e a potência mecânica absorvida no eixo do motor:

𝜂𝑔=

𝑃

𝑃𝑚 (1.18)

Onde Pm é a potência absorvida pelo gerador no eixo do motor (máquina primária), em

kW.

O rendimento de um gerador não é constante e varia com a carga, atinge o valor

máximo com carga entre 80 e 100 % da potência máxima. Geradores pequenos tem

rendimento menor que geradores maiores. O rendimento do gerador para fins de projeto está

em torno de 0,90 (90 %).

A figura 1.9 mostra as partes principais de um gerador de eletricidade.

Page 23: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.9. Gerador WEG linha G (modelo GTA 250)

Na seleção de geradores para uma determinada aplicação, devem-se conhecer: a

potência nominal, rotação (RPM), frequência (Hz), tensão nominal, o fator de potência, número

de fases, número de polos, tipo de excitação, dados ambientais, tipo de acoplamento na

máquina primária e outros.

1.4.1 Principais Componentes dos Motores Geradores

Os motores geradores constituem-se no acoplamento entre o motor de combustão

interna e o gerador de eletricidade (alternador). O acoplamento pode ser por meio de redutor

(relação de engrenagens), polias (relação de polias) e correias e, acoplamento direto. A

eficiência de acoplamento, ou seja, conversão de energia mecânica em elétrica é de cerca de

90 % na velocidade síncrona .

Além do motor de combustão interna (ignição por centelha) e gerador de eletricidade,

outros componentes auxiliares compõem o sistema de geração de energia elétrica com motor

gerador. Dentre os sistemas estão o controlador de velocidade, sistema de controle da mistura

ar/combustível, sistema de partida, exaustão, arrefecimento e ventilação e painel de controle.

Page 24: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

a) Controlador de velocidade

A rotação do motor tem que ser mantida em 1800 RPM, mas ela pode variar com a

carga no gerador de eletricidade. Para manter a rotação constante no motor esse controle é

feito pela quantidade da mistura ar/combustível admitida pelo motor, por meio da abertura ou

fechamento de uma válvula borboleta. A válvula é controlada por um módulo eletrônico

conectado a um atuador eletrônico ligado ao corpo de borboleta. O módulo colhe informações

de rotação (RPM) recebidas por meio de um sensor pick-up magnético (indutivo), instalado na

carcaça do volante com proximidade adequada dos dentes da cremalheira. As informações são

enviadas ao módulo, que ajusta o posicionamento da válvula borboleta pelo atuador eletrônico

obtendo a rotação desejada (PEREIRA, 2011).

b) Sistemas de controle da mistura ar e combustível

O controle da mistura ar e combustível consiste em ajustar eletronicamente a

alimentação do combustível para o motor. Esse sistema utiliza uma válvula corpo de borboleta

com atuador eletrônico acoplada a um controlador digital, o qual recebe sinal de uma sonda

lambda, conectada no escapamento do motor, a qual faz a leitura do teor de oxigênio dos

gases de emissão, indicando se a mistura ar e combustível é pobre ou rica de combustível. De

acordo com a leitura o controlador manda um sinal para o atuador eletrônico, que efetua a

abertura ou fechamento da válvula borboleta, controlando a passagem de biogás para o motor,

até que a mistura estequiométrica seja formada (MAURO Jr. & ALMEIDA, 2006).

Esse sistema permite uma economia de combustível e diminuição das emissões, além

de corrigir as variações na concentração de metano no biogás. A figura 1.10 mostra o sistema

de alimentação de gás combustível.

Page 25: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.10. Sistema de alimentação de gás combustível

Fonte: Adaptado de MAURO Jr. & ALMEIDA (2006).

c) Sistema de partida

O sistema de partida é composto basicamente de baterias, motor de partida e

alternador. As baterias são de 12 ou 24 Volts, sendo que as de 12 Volts são para pequenos

geradores e as de 24 Volts grandes geradores. A bateria é conectada com um motor de partida

e devem ter capacidade suficiente para fornecer corrente para o giro do motor. As baterias

podem ser de chumbo-ácido ou níquel-cádmio. O motor gerador deve ter um alternador para

carregar a bateria ou um carregador com fonte externa. Em grandes grupos geradores utilizam-

se sistemas de partida com ar comprimido (CUMMINS, 2010).

d) Sistema de exaustão e silencioso

A função do sistema de exaustão (escape) é exaurir os gases resultantes da combustão

para fora do ambiente interno, onde o motor gerador está alojado. O sistema de exaustão deve

ser confeccionado com material resistente a corrosão, especialmente quando o combustível é

rico em enxofre, como é o caso do biogás. Além disso, deve ser acoplado a um silencioso, cujo

objetivo é reduzir o ruído e essa escolha depende das exigências desejadas de níveis de

ruídos.

Page 26: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

e) Sistema de arrefecimento e ventilação

O motor é resfriado a água, ou seja, a água misturada a um anticongelante é bombeada

por uma bomba acionada pelo motor até o cabeçote do motor e cilindros, fluindo através de

pequenos orifícios. Após retirar o calor ela é resfriada num radiador. O radiador é um trocador

de calor, onde a água perde calor para uma corrente de ar.

f) Painel de controle

Os motores geradores de energia elétrica utilizam sistemas baseados em relés, e sua

função é controlar a partida do motor, operação do motor, fazer monitoramento, mostrar falhas

e fornecer indicações, medições e alertas para a interface com o usuário. Os geradores com

conexão à rede de energia elétrica (paralelismo) ou aqueles que demandam alto nível de

desempenho, melhor funcionalidade e outros, utilizam controladores com circuitos eletrônicos.

O sistema de monitoramento, controle e proteção (SMCP) do motor gerador devem incluir

vários avisos e alarmes de desligamento para proteção do motor gerador.

O motor de combustão interna (máquina primária) contém também os seguintes

elementos auxiliares: filtro de óleo lubrificante, filtro de ar com elemento seco recambiável,

sistema de ignição com velas, sensor de baixa pressão no óleo, sensor de temperatura de

resfriamento. Quando a pressão do óleo abaixa, o sensor manda um sinal para um controlador

que interrompe o funcionamento do motor. Quando a temperatura do fluido de arrefecimento

atinge 95 °C o sensor, manda um sinal para o controlador e o funcionamento do motor é

interrompido.

4.4.3 Desempenho de um Motor Gerador

O desempenho de um motor gerador varia com a carga, ou seja, quanto maior a carga

do motor maior a eficiência total. A eficiência total pode ser calculada por:

𝜂 =𝑃

𝑉∗𝑃𝐶𝐼 (1.19)

Onde P é a potência útil de geração de eletricidade (kW), V é a vazão volumétrica de

biogás (m3.h-1), nas condições normais de temperatura e pressão, PCI é o poder calorífico

inferior do biogás (kWh.m-3). A eficiência de geração de eletricidade num motor gerador está

Page 27: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

em torno de 26 %. Este parâmetro é importante para o dimensionamento do potencial de

geração de eletricidade com o uso do biogás com combustível. Quando o motor gerador

trabalha a baixas cargas essa eficiência pode cair pela metade.

Atualmente os motores geradores a biogás disponíveis no mercado tem potências que

variam de 10 kW a 1600 kW. Existem grandes empresas no mundo que comercializam motores

geradores a biogás, destacando-se a Caterpillar e a GE-Energy, com o grupo gerador

Jenbacher. Algumas empresas nacionais também vêm se destacando, tais como a Biogás

Motores Estacionários Ltda e Leão Energia Indústria de Geradores Ltda. A tabela 4.3 mostra as

especificações de motores geradores a biogás de acordo com os fabricantes.

Tabela 1.3. Especificações de motores geradores a biogás

Fonte: GE-Energy (2011), Caterpillar (2011), Leão (2010), Biogás Motores (2011).

4.4.4 Dimensionamento da Potência de Motores Geradores a Biogás

O sistema de geração de eletricidade consiste no elemento mais importante para a

implantação da geração distribuída no setor agroindustrial com aproveitamento de biomassa

residual.

Para o dimensionamento do motor gerador, deve-se utilizar como parâmetros, o poder

calorífico do biogás, a eficiência do motor gerador, a disponibilidade diária de biogás junto a

cada uma das unidades agroindustriais (m3.dia-1) e o tempo de utilização da planta de geração.

Por meio dos dados disponíveis de produção de biogás nas unidades foi possível

determinar inicialmente o potencial teórico de produção de energia elétrica. Conhecendo-se o

Page 28: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

poder calorífico do biogás é possível quantificar a energia elétrica gerada por metro cúbico de

biogás. Esta quantificação pode ser obtida por meio de:

𝑃𝑇𝐸 = 𝑃𝐶𝐼 ∗ 𝑃𝐵 (1.20)

Onde PTE é o potencial teórico de produção de eletricidade (kWh.dia-1); PCI é o poder

calorífico inferior (kWh.m-3) e PB é a produção anual de biogás (m3.dia-1).

O poder calorífico inferior do biogás depende da relação dióxido de carbono e metano,

ou seja, quanto maior a concentração do metano, maior o poder calorífico. Logo, o processo de

produção de biogás deve ser otimizado, visando um aumento da concentração de metano no

biogás, assim ele deverá aproximar-se do gás natural quanto as características físico-químicas.

Para a determinação do potencial técnico de produção de eletricidade, deve-se levar em

consideração a eficiência global de conversão nas máquinas térmicas (conjunto motor gerador,

microturbina a gás, etc.). Dessa forma, para efeitos de uma estimativa mais precisa, o valor a

ser adotado é de 25 % (SOUZA, 2004). Vale lembrar que esta eficiência de conversão depende

do conjunto motor gerador, ou seja, sistema de adaptação do motor ciclo otto para operação a

biogás. O sistema de injeção do biogás deve ter um rendimento volumétrico elevado, sendo

que geralmente este sistema é semelhante ao utilizado em adaptação de motores com gás

natural.

O potencial técnico de geração de energia é calculado por:

𝑃𝑇𝐶𝐸 =𝑃𝑇𝐸∗𝜂

100 (1.21)

Onde PTCE é o potencial técnico de geração de energia (kWh.dia-1) e η é a eficiência

de conversão.

Assim, a potência elétrica da planta de geração é obtida por meio de:

𝑃𝑂𝑇 =𝑃𝑇𝐶𝐸

𝐻𝑂∗𝑐𝑜𝑠𝜑 (1.22)

Onde POT é a potência elétrica da planta de geração (kVA), HO é o número de horas

diárias de operação do conjunto motor gerador (horas) e o cos φ é o fator de potência, o qual

varia de 0,80 a 1,0.

Page 29: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

1.5 Premissas para Especificação Técnica de um Sistema Motor Gerador a Biogás e Auxiliares

Para a aquisição de um sistema de geração de eletricidade com motor gerador a

biogás, algumas informações devem constar no documento de especificação do sistema, além

do projeto elétrico, o qual deve estar de acordo com as normas da concessionária local de

energia elétrica.

Os motores geradores deverão ser adequados para operar nas seguintes condições

ambientais:

Altitude: até (completar com a altitude desejável) m

Temperatura máxima anual: 55 °C

Temperatura mínima anual: 0 °C

Temperatura ambiente média em 24h: (completar com o valor desejável) °C

Umidade relativa: até 95 %, sem condensação

Considerar o clima, quanto ao favorecimento na formação de corrosão e fungos.

Os motores geradores são equipamentos destinados a suprir com energia elétrica as

instalações, utilizando como combustível o biogás com (completar com a porcentagem de

metano)% de concentração de metano. São compostos basicamente de um motor ciclo otto e

um alternador síncrono-trifásico, acoplados por um sistema monobloco e um Sistema de

Monitoramento, Controle e Proteção (SMCP).

Deverão ser montados sobre uma única base de aço com apoio tipo “vibra-stop” e ser

previstas partidas manual e automática sem necessidade de preaquecimento.

a) Motor ciclo otto

O motor deverá fornecer potência líquida de saída suficiente para acionar

continuamente o gerador a 90 % (noventa porcento) de plena carga (a plena carga depende da

porcentagem de metano no biogás – o mínimo exigido é (completar com a porcentagem de

metano)%, na velocidade síncrona, sem indícios de sobreaquecimento para as condições

climáticas locais, e sua construção deverá efetuar-se em multicilindros, tipo estacionário com

alimentação do combustível via aspiração na admissão ou injeção do gás, além de apresentar

os seguintes acessórios:

filtros de óleo lubrificante;

filtro de ar, com elemento seco recambiável;

Page 30: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

filtro de biogás com limalha de ferro ou equivalente para retirada de H2S;

bateria e alternador para recarga da mesma ambas de marca nacional e tensão de

12 Vcc de operação;

sistema de arrefecimento completo (radiador, hélice, mangueira e etc.);

silenciador de escape do tipo hospitalar;

o grupo será equipado com um sistema de partida elétrica, dotado de baterias, com

capacidade de acionar o conjunto a uma velocidade que permita a partida do motor.

Deverá também ter sistema de ignição eletrônica de alta confiabilidade;

o regulador automático de velocidade será eletrônico, tipo isócrono com entrada

analógica de controle de + ou – 3 V;

sistema de controle de queima do combustível do motor através de sonda lambda

para garantir queima adequada e minimizar as emissões de gases poluentes;

o motor deverá conter sistema de proteção contra alta temperatura de água e baixa

pressão do óleo;

o motor deverá operar em regime estacionário de 1800 RPM (rotações por minuto).

b) Gerador e/ou alternador

O gerador deverá atender perfeitamente às condições de frequência, potência e

temperatura do local das instalações.

Deverá ser trifásico, com quatro polos girantes do tipo sem escovas (brushless), com

excitatriz e ponte retificadora trifásicas de onda completa montadas no mesmo eixo do

alternador.

A regulação de tensão deverá ser feita por regulador eletrônico de tensão para + ou – 2

% em toda faixa de carga.

Será construído auto-ventilado horizontal, com grau de proteção IP-21, mancais de

rolamentos lubrificados a graxa, enrolamentos amortecedores para serviço paralelo e

isolamento classe F, conforme ABNT NBR-5117.

Possuirá ainda as seguintes características:

potência nominal: (completar com o valor desejável) kVA;

fator de potência indutivo mínimo: FP = 0,8;

tensão nominal: 127/220/380 V, em estrela com neutro acessível;

regime de funcionamento: contínuo;

sobrevelocidade: 20 % durante 2 minutos;

Page 31: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

rigidez dielétrica: 1880 VCA durante 1 minuto;

distorção harmônica: < 3 % entre fases e < 5 % entre fase e neutro, com FP = 0,8

indutivo e carga linear;

resistência de isolamento: > 4,0 MOhms a 40ºC;

regulação: +/- 2 % em relação à nominal, para qualquer valor estável de carga linear

de 0 a 100 % da potência nominal e valores de FP entre 0,8 e 1,0 indutivo;

queda de tensão instantânea: <= 10 %, com tempo máximo de recuperação de 2

segundos na aplicação brusca de 100 % da potência nominal;

reatância subtransitória: X”d <= 10 %;

balanceamento: estática e dinamicamente para o rotor, assegurando funcionamento

livre de vibrações, devendo suportar sobrevelocidade de 25 %, em caso de

emergência, sem danos mecânicos, permanecendo em equilíbrio mecânico e

elétrico para todas as velocidades até 125 % da rotação nominal;

excitatriz: tipo “brushless” (sem escovas), com corrente alternada com retificador

composto de diodos girantes, acoplada diretamente ao eixo do gerador, construção

totalmente fechada com ventilação externa, isolamento classe F, regulador estático

de tensão.

1.6 Dimensionamento das Instalações Elétricas do Sistema de Geração de Eletricidade

Nos sistemas de redes de distribuição a baixa tensão (BT), as tensões primárias de

entrada podem ser de 34,5 kV ou 13,8 kV com saída de 380/220/127 V e, tais sistemas devem

contar com sistemas de proteção adequados para que os motores geradores sejam conectados

a rede com segurança. A figura 1.11 mostra o diagrama do sistema de distribuição com as

proteções.

Page 32: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.11. Sistema de distribuição com as proteções

Fonte: COPEL, 2010.

Aquele que pretende gerar energia elétrica deve apresentar um projeto elétrico a

concessionária de energia elétrica, para devida análise e liberação da mesma. O projeto deve

ser realizado por um profissional habilitado e atender as premissas exigidas pela

concessionária local de energia.

No projeto elétrico devem ser contemplados aspectos técnicos e de segurança de

acordo com os requisitos da rede. O projeto elétrico deve ser composto de diagrama unifilar da

instalação e descrição dos sistemas de medição e proteção, quadro de distribuição,

aterramento e proteção do gerador. Devem ser seguidas as normas da ABNT, NBR

14039:2003 e NBR 5410:2004 e normas de acesso de geração distribuída da concessionária

de energia ou similar.

a) Sistema de medição e proteção

A medição, proteção e transformação envolve o padrão de entrada da unidade

consumidora (subestação de consumidor), a qual é normalmente construída em cabine de

alvenaria, para instalação acima de 300 kVA e entrada de 34,5 kV ou 13,8 kV e cabos aéreos 2

AWG CAA.

O sistema de medição é do tipo indireta e composto dos seguintes componentes: 2

(dois) medidores eletrônicos com memória em massa; 3 (três) transformadores de corrente, 0,6

kV; 1 (um) no-break com autonomia para 40 min a plena carga, ou 100 h com carga de 4 VA; 1

(um) relé com bobina 127 V e com, no mínimo, 2 (dois) contatos NA e 2 (dois) contatos NF; e 2

(duas) chaves de aferição. A figura 4.12 mostra o detalhe de abrigo de medição.

Page 33: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

O sistema de controle e proteção para geradores até 75 kW, em BT, derivado da rede

de 13,8 kV, é tema de tópico específico neste manual, que apresenta detalhes de sua

concepção e parametrização. O diagrama de controle e proteção é mostrado na figura 1.13.

Nesta, quando da ocorrência de algum defeito interno ou externo à instalação, a proteção atua

no elemento de interrupção (EI) desconectando o gerador.

Na figura 1.13, EI é o elemento de interrupção (disjuntor em caixa moldada), padrão

NEMA ou IEC, curva 'C', até 200 A, com bobina de disparo para abertura remota e/ou bobina

de fechamento remoto. DGE é o disjuntor do gerador e ES é o elemento de de seccionamento

e desconexão (chave seccionadora tripolar sem elementos fusíveis). As funções de proteção

que incorporam o sistema de proteção, também mostradas na figura 1.13, são: sobrecorrente

de corrente alternada de faz e de neutro, instantâneas e temporizadas – 50/51 – 50/51 N; sobre

tensão (3 fases) – 59; sub tensão (3 fases) – 27; sobre e sub frequência – 81 O/U; relé de

tempo – 62; relé check de sincronismo – 25; derivada de frequência – 81df/dt; relé salto de

vetor – 78. Todas as premissas, desenvolvimento, estudos, testes e parametrização são

apresentados no Módulo V.

Page 34: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.12. Detalhe de abrigo de medição

Fonte: COPEL, 2010.

Page 35: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.13. Diagrama unifilar – sistemas de proteção, gerador até 75 kW

Fonte: COPEL, 2010.

A figura 1.14 mostra o diagrama unifilar de um acessante de potência entre 76 e 300

kW, com os elementos de proteção, onde a proteção atua no elemento de interrupção (EI) e

desconectando o gerador.

Page 36: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.14. Diagrama unifilar – sistemas de proteção, gerador entre 76 e 300 kW

Fonte: COPEL, 2010.

Outro sistema é aquele que a proteção atua sobre o EI desconectando somente o

gerador, mas para isso, no sistema existe um disjuntor para o circuito de carga e um disjuntor

geral (NTC 905100 – COPEL, 2010).

O sistema de medição e proteção devem ser instalados após o transformador (ver

detalhe figura 1.15).

Page 37: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Figura 1.15. Detalhe de um sistema de medição e proteção

Fonte: COPEL, 2010.

b) Aterramento

Todas as partes metálicas não destinadas à condução de energia elétrica, tais como

carcaça do transformador, caixa para medidor, caixas para equipamentos de proteção,

aterramento dos para-raios, serão interligados através de cabos de cobre nu com seção de 35

mm2. O cabo de aterramento dos para-raios terá sua descida feita pela lateral do poste e a uma

altura de 3 m será protegido mecanicamente por eletroduto de PVC de 3/4”. O neutro do

transformador deverá ser ligado à malha de terra por meio de cabo de cobre nu com seção de

95 mm2.

O sistema de aterramento deve ser do tipo TN-C, sendo o neutro também o responsável

pela circulação das correntes de falta. A malha de terra será constituída por hastes verticais de

aterramento tipo copperweld, de 5/8” x 2,4 m e deverão ser interligadas por cabo contínuo de

cobre nu, de 35 mm2. A resistência a terra deverá ser inferior a 5,0 Ohm, em qualquer época do

ano e pelo menos uma das hastes de cobre deverá ser colocada em caixa de alvenaria para

inspeções e medições.

Page 38: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

c) Quadro de proteção dos geradores

Conforme mencionado anteriormente, o Sistema de Monitoramento, Controle e

Proteção da unidade geradora será abordado no Módulo V.

d) Alimentação da casa dos geradores

A alimentação elétrica da casa de máquinas deverá ser efetuada por um circuito

trifásico, dimensionado conforme as características específicas de cada instalação. Este deve

observar as premissas impostas pela concessionária local, bem como as normas brasileiras

vigentes, devendo ser aprovado pela concessionária.

e) Detalhes para execução das instalações elétricas

A área da seção transversal interna dos eletrodutos ocupados pelos cabos não deverá

ser superior a 40 %. Os eletrodutos, conexões, curvas, etc; deverão ser livres de quaisquer

imperfeições do revestimento, rebarbas e outros defeitos, devendo ser lisos na superfície

interna.

Os condutores somente deverão ser instalados após estar completamente concluída a

rede de eletrodutos e todos os serviços de construção que possam danificá-los. A instalação

dos condutores só deverá ser iniciada após a canalização estar perfeitamente limpa e enxuta.

As caixas de passagem deverão ser bem ajustadas aos eletrodutos por meio de buchas

e arruelas, sendo fixadas de modo a facilitar a instalação dos equipamentos e proporcionar,

além de segurança, uma boa estética. Para tanto, deverão estar bem aprumadas e niveladas.

As caixas de passagem de concreto deverão ter dreno feito com brita, e posteriormente

aos trabalhos de montagem deverão ter suas tampas lacradas com argamassa.

Todas as alterações que por ventura tenham que ser feitas quando da execução,

deverão ser comunicadas ou consultadas ao responsável pelo serviço.

Por questões operacionais e de segurança, deverá ser previsto a instalação de placas

de advertência na entrada de serviço, enfatizando a existência de geração própria em paralelo

permanente com a concessionária.

4.4.7 Detalhes das Instalações dos Motores Geradores a Biogás

Durante a instalação dos motores geradores, alguns detalhes importantes devem ser

levados em consideração, principalmente em relação à casa de máquinas.

Page 39: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

O motor gerador deve ser alojado em local adequado, com boa ventilação e a

temperatura ambiente inferior a 40 °C. O local deve ser limpo e livre de ácidos e gases

alcalinos, e também aberto e protegido do tempo.

a) Dimensões da sala do motor gerador

O tamanho da sala depende da dimensão do motogerador e dos elementos acessórios.

A maioria dos grupos geradores requer acesso de serviço em ambos os lados do motor e na

extremidade do controle/alternador da máquina. Em geral a área de trabalho deve ser no

mínimo igual à largura do motogerador em ambos os lados e na parte posterior.

Os componentes adicionais do sistema de distribuição elétrica podem requerer espaço

adicional de trabalho.

As portas devem ter uma dimensão que permita que maiores componentes do

equipamento possam ser removidos (geralmente o motor). A figura 1.16 e tabela 1.4 mostram

as dimensões da sala em função da potência dos motores geradores.

Figura 1.16. Croqui de uma sala de motor gerador

Page 40: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

Fonte: Adaptado de EMSA, 2011.

Tabela 1.4. Dimensões recomendadas da sala do motor gerador (figura 1.16)

Fonte: Adaptado de EMSA, 2011.

Alguns pontos importantes:

a largura (L) da porta de entrada (ver figura 1.16) deve ser no mínimo de 1,2 m, mas

isso depende do número de geradores a serem acomodados na sala, podendo ser

maior;

as portas de acesso à sala de máquinas devem abrir para dentro ou serem

protegidas por anteparo de maneira para que elas possam ficar abertas quando o

motor gerador estiver em operação;

deve haver pelo menos 1 (um) metro de espaço livre em torno de cada motogerador;

a substituição do alternador deve ser feita sem a necessidade de remoção de todo o

conjunto ou qualquer acessório;

o pé direito da casa do gerador deve ser de no mínimo 2,5 m, isso depende da

altura do motor gerador;

a fundação deve ser apropriada para suportar o motogerador e evitar que a vibração

seja transmitida para a estrutura do edifício. Deve ser colocada uma base de

concreto sobre o piso de concreto para elevar o motogerador a uma altura

conveniente para os serviços de instalação e manutenção.

b) Ventilação e exaustão dos gases

Quando instalado em local fechado, os gases de exaustão e o ar quente devem ser

retirados do local. Num projeto ideal de sala de máquinas, o ar é sugado diretamente do

exterior e expelido para fora da parede oposta. A figura 1.16 mostra os detalhes da abertura de

Page 41: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

ventilação na sala do motogerador (DxE), a qual depende da posição do radiador do motor

gerador em relação à parede (K).

O cano de exaustão (escapamento) deve direcionar os gases para fora, ou seja, a saída

do escape do motor deverá ser tão alta quanto a prática permitir no lado descendente dos

ventos dominantes e voltada diretamente para fora da ventilação e aberturas da casa. A figura

1.17 mostra o esquema da instalação do sistema de exaustão.

Figura 1.17. Instalação do sistema de exaustão dos gases

Fonte: CUMMINS, 2010.

c) Base do motor gerador

A base deve ser construída com concreto reforçado com cura de vinte e oito dias e força

de compressão de pelo menos 17200 kPa e deve ter pelo menos 150 mm de profundidade e

estender-se pelo menos 150 mm para fora da estrutura em todos os lados. Deve-se consultar o

fornecedor do sistema para saber em que posição os cabos de energia e controle serão

embutidos na fundação. Os isoladores de vibração devem ser fixados na base de montagem

com parafusos tipo J ou L embutidos na base de concreto. A figura 1.18 mostra o esquema da

fundação e isoladores de vibração.

A base também poderá ser construída em perfis laminados de aço dobrados ou tubular,

soldados com tecnologia MIG e pintura epóxi. Todos os componentes metálicos deverão ser

Page 42: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

soldados eletricamente e os pontos de solda deverão ser completamente limpos de rebarbas,

pingos ou bolhas.

A montagem do grupo sobre a base metálica deve ser feita utilizando-se amortecedores

de borracha sintética (tipo “vibra-stop”).

Figura 1.18. Esquema da fundação do motogerador

Fonte: CUMMINS, 2010.

d) Fios condutores

Todos os fios condutores de eletricidade ligando o motor, o gerador e o painel de

controle devem estar enterrados numa canaleta de cabos elétricos.

e) Proteção contra incêndio

O sistema de proteção contra incêndio deve atender as exigências das autoridades

locais, como o corpo de bombeiros. As autoridades locais devem indicar a quantidade, tipo e

tamanho dos extintores de incêndio.

A sala deve ser ventilada para evitar a concentração de gases de escape e gás

combustível (biogás).

A iluminação deve ser a prova de explosão.

Page 43: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

4.4.8 Comissionamento do Motor Gerador

Uma unidade de geração de energia elétrica com biogás é composta principalmente

pelo motor gerador de eletricidade, instalações elétricas e sistemas de proteção. Na prática,

após a instalação e montagem do motor gerador e instalações por empresas especializadas, o

sistema deverá ser comissionado a fim de verificar se o mesmo está adequado para entrar em

operação contínua.

No comissionamento deve haver a aplicação de um procedimento de engenharia que

visa inspecionar e testar todos os componentes do sistema de geração de energia elétrica e

instalações.

No comissionamento os motores geradores e elementos auxiliares devem ser testados

em campo, onde é verificado o comportamento operacional e dado o parecer final. A tabela 4.5

mostra os testes a serem feitos num sistema de geração de eletricidade a biogás.

Tabela 4.5. Testes e resultados de comissionamento num sistema de geração de eletricidade a

biogás

Page 44: manual de geração de energia elétrica a partir do biogás no meio

1.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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