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Manual de Direito do Consumidor. João

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Í3

su|v|Án|o

Apresentação ............................................................................. .. XIII

1.11.21.3

1.4

1.51.6

I 2.12.2.

/\

_ Capítulo 1A PRUTEÇAU DAS RELAÇÕES DE CONSUMO NO BRASII.

na niAs relaçoes de consumo e sua evoluçao ............................. ..A preocupação com a defesa do consumidor ..................... ..O CDC - Código de Defesa do Consumidor .................... ..1.3.1. Antecedentes históricos ............................................. ..1.3.2. As alterações do CDC ............................................... ..1.3.3. Legislação complementar ......................................... ..1.3.4. Legislação correlata .................................................. ..Política Nacional de Relações de Consumo ....................... ..1.4.1. Objetivos ................................................................... ..1.4.2. Princípios .................................................................. ..A vulnerabilidade do consumidor e a busca do equilíbrioInstrumentos da defesa do consumidor .............................. _. _ 21

\Dl\-if*

9ll121314141417

Capítulo 2TEORIA GERAL DO DIREITO DO CONSUMIDOR - CONCEITOS.

DIREITOS BÁSICOS. PRINCIPIOS E CAMPOS DE TUTELA

Conceito de consumidor ..................................................... .. 35Conceito de fomecedor ....................................................... .. 40Direitos básicos do consumidor .......................................... .. 422.3.1. Direito à segurança ................................................... .. 442.3.2. Direito à educação para o consumo .......................... .. 44

na2.3.3. Direito à informaçao ................................................. .. 44

VII

Page 6: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

.nu2.3.4. Direito à proteçao contratual .................................... _. 452.3.5. Direito à indenização ................................................ _. 452.3.6. Direito ao meio ambiente saudável .......................... _. 462.3.7. Direito à melhoria dos serviços públicos .................. ._ 462.3.8. Direito a ser ouvido vetado .................................. ._ 47Princípios específicos aplicáveis ........................................ _. 47Os vários campos da tutela ................................................. ._ 492.5.1. A tutela genérica ....................................................... ._ 49

2.5.1.1. A tutela da ONU .......................................... ._ 492.5.1.2. A tutela constitucional ................................. _. 50

2.5.2. A tutela específica ..................................................... _. 52

Capítulo 3A TUTELA CIVIL

ndConsideraçoes sobre tutela civil ......................................... ._ 54Da responsabilidade civil do fomecedor ............................ ._ 563.2.1. Introdução ao tema .................................................... ._ 56

›(3.2.2. Da responsabilidade pelo fato do produto e do ser-viço. A teoria do “risco criado” ................................ ._ 583.2.2.1. Responsabilidade objetiva ........................... _. 603.2.2.2. Responsabilidade do profissional liberal ..... _. 613.2.2.3. Responsabilidade do comerciante ............... ._ 623.2.2.4. Pressupostos da responsabilidade ................ ._ 623.2.2.5. Exclusão da responsabilidade ...................... ._ 643.2.2.6. Tipos de defeito e campo de abrangência 663.2.2.7. Prescrição ..................................................... _. 67

3.2.3. Da responsabilidade por vício do produto e do serviço _ 673.2.3.1. Tipos de vício ............................................... _. 693.2.3.2. A garantia legal e o regime de responsabi-

U lização .......................................................... ._ 70¬;L3.2.3.3. Prazos de reclamação :............ _. ................... _. 72§` 3.2.3.4. Pressupostos da responsabilidade por vício _. 73

3.2.3.5 _ Exclusão da responsabilidade ...................... _. 733.2.4. Responsabilidade nos serviços públicos ................... ._ 743.2.5. Desconsideração da personalidade jurídica .............. ._ 75

J

*li 3.2.6. A inversão do ônus da prova ..................................... _. 77

Das práticas comerciais ...................................................... ._ 783.3.1. Da oferta .................................................................... ._ 78

3.3.1.1. Requisitos .................................................... ._ 793.3.1.2. Campo de abrangência ................................. ._ 803.3.1.3. Regime de responsabilização ...................... ._ 823.3.1.4. Oferta de componentes e peças de reposição.. 82

3.3.2. Da publicidade .......................................................... ._ 833.3.2.1. Princípios norteadores ................................. _. 873.3.2.2. Classificação ................................................ ._ 883.3.2.3. Regime de responsabilização ...................... _. 893.3.2.4. Inversão do ônus da prova ........................... _. 90

3.3.; Das práticas abusivas e sua vedação ......................... _. 903.3.3.1. Conceito de práticas abusivas ...................... _. 903.3.3.2. Análise das práticas abusivas expressamen-

te elencadas .................................................. ._ 913.3.3.3. Regime de responsabilização ...................... .. 95

3.3.4. A exigência de prévio orçamento ............................. _. 963.3.5. A cobrança de dívidas ............................................... ._ 973.3.6. Os bancos de dados e cadastros dos consumidores 983.3.7. O cadastro de fomecedores ....................................... ._ 99Da proteção contratual ........................................................ _. 1013.4.1. Introdução ................................................................. ._ 1013.4.2. Limitações à liberdade contratual ............................. _. 1033.4.3. Requisitos do contrato de consumo .......................... ._ 1063.4.4. Princípios norteadores .............................................. ._ 107

¡¿3.4_5. Adimplemento e invalidação dos contratos .............. ._ 108¡¿3.4.6. A função social do contrato ...................................... _. 1097' 3.4.7. As cláusulas abusivas e sua nulidade ........................ _. 110

'JK 3.4.7.1. A análise das cláusulas abusivas do CDC 1113.4.7.2. As cláusulas abusivas acrescidas ................. ._ 114

3.4.8. O direito de arrependimento ..................................... ._ 1153.4.9. Contratos de crédito e financiamento ....................... ._ 1163.4.10. Contratos de compra e venda e alienação fiduciária 1173.4.11. Contratos de consórcio ............................................ ._ 1193.4.12. Contratos de adesão ................................................ _. 120

3.4.12_1_ Conceito e regras aplicáveis .................... _. 1213.4.12.2. O controle das cláusulas gerais ............... _. 123

3.4.13. A garantia contratual .............................................. _. 124

IX

Page 7: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

6.1.2. Tutela coletiva ........................................................... _. 1836.2. Os provimentos antecipatórios ............................................ _. 184

6.2.1. As ações cautelares ................................................... ._ 1846.2.2. A liminar na ação principal ...................................... ._ 1866.2.3. A tutela antecipada ................................................... _. 186

6.3. A ação civil pública ............................................................. ._ 1886.3.1. Conceito e adequação ............................................... _. 1886.3.2. Legitimidade para agir .............................................. _. 1896.3.3. Foro competente ....................................................... ._ 1896.3.4. Coisa julgada ............................................................. _. 1906.3.5. Particularidade .......................................................... _. 191

6.4. A ação civil coletiva ............................................................ ._ 1926.4.1. Conceito e adequação ............................................... _. 1926.4.2. Legitimação para agir ............................................... ._ 1936.4.3. Foro competente ................................................... ._ 1946.4.4. Sentença e coisa julgada ........................................... ._ 1956.4.5. Liquidação e execução de sentença .......................... ._ 196

6.5. Ação civil pública e ação civil coletiva: afinidades e distin-ções ...................................................................................... _. 197

6.6. Ação de responsabilidade do fomecedor ............................ _. 2016.7. Outras ações: ação popular, mandado de segurança coletivo,

juizados especiais cíveis e habeas data .............................. ._ 202

Bibliografia Temática ................................................................. _. 205

XII

um

.APnEsENTAçÃo

Nem sempre é fácil resumir temas jurídicos, principalmente en-volvendo disciplina tão fascinante como o Direito do Consumidor.

Nos dias de hoje, as pessoas devem racionalizar o uso do tempo ea quantidade das informações que diariamente recebem, de modo a as-similar o maior volume daquilo que lhes é verdadeiramente útil no menortempo possível.

Pensando nisso, e atento a algumas sugestões, lancei-me à tarefade produzir um resumo de Direito do Consumidor, analisando 0 con-teúdo essencial dessa disciplina, de forma dinâmica e descomplicada.Para atingir esse intento, evitei os longos debates doutrinários. Algu-mas transcrições foram mantidas porque são necessárias à compreen-são do tema. A jurisprudência, a seu turno, foi citada com parcimônia.

O Manual de Direito do Consumidor apresenta-se, assim, comoinstrumento indispensável aos alunos do curso de graduação, aos agen-tes dos órgãos públicos e entidades civis de defesa do consumidor, bemcomo aos bacharéis que pretendem ingressar na carreira jurídica ouiniciar a atuação na advocacia. _

A obra está dividida em seis capítulos, os dois primeiros dedica-dos à proteção das relações de consumo no Brasil e à teoria geral doDireito do Consumidor, reservando-se os demais ao estudo das quatrotutelas outorgadas ao consumidor, nesta ordem: civil, administrativa,penal e jurisdicional.

Para aqueles que pretendem aprofundar os estudos, por razões aca-dêmicas ou profissionais, é oferecido um apêndice de BibliografiaTemática, com indicação das melhores fontes doutrinárias para cadaitem de interesse do leitor.

O Autor

XIII

Page 8: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

Capítulo 1A PnoTEçÃo oAs RELAÇÕES DE

co|\|su|v|o No snAs|L

Sumário: 1.1. As relações de consumo e sua evolução. 1.2. Apreocupação com a defesa do consumidor. 1.3. O CDC - Códigode Defesa do Consumidor. 1.3.1. Antecedentes históricos. 1.3.2. Asalterações do CDC. 1.3.3. Legislação complementar. 1.3.4. Legisla-ção correlata. 1.4. Política Nacional de Relações de Consumo. 1.4.1.Objetivos. 1.4.2. Princípios. 1.5. A vulnerabilidade do consumidor ea busca do equilíbrio. 1.6. Instrumentos da defesa do consumidor.

1.1. As relações de consumo e sua evoluçãoO consumo é parte indissociável do cotidiano do ser humano. É

verdadeira a afirmação de que todos nós somos consumidores. Inde-pendentemente da classe social e da faixa de renda, consumimos desdeo nascimento e em todos os períodos de nossa existência. Por- motivosvariados, que vão desde a necessidade da sobrevivência até o consumopor simples desejo, o consumo pelo consumo.

As relações de consumo são bilaterais, pressupondo numa ponta ofornecedor -- que pode tomar a forma de fabricante, produtor, importa-dor, comerciante e prestador de serviço -, aquele que se dispõe a for-necer bens e serviços a terceiros, e, na outra ponta, o consumidor, aque-le subordinado às condições e interesses impostos pelo titular dos bensou serviços no atendimento de suas necessidades de consumo.

l

Page 9: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

Além disso, as relações de consumo são dinâmicas, posto que,contingenciadas pela própria existência humana, nascem, crescem e evo-luem, representando, com precisão, o momento histórico em que estãosituadas.

É fato inegável que as relações de consumo evoluíram enorme-mente nos últimos tempos. Das operações de simples troca de merca-dorias e das incipientes operações mercantis chegou-se, progressiva-mente, às sofisticadas operações de compra e venda, arrendamento,“leasing”, importação etc., envolvendo grandes volumes e milhões dedólares. De há muito, as relações de consumo deixaram de ser pessoaise diretas, transformando-se, principalmente nos grandes centros urba-nos, em operações impessoais e indiretas, em que não se dá importân-cia ao fato de não se ver ou conhecer o fornecedor. Surgiram os grandesestabelecimentos comerciais e industriais, os hipermercados e, maisrecentemente, os shopping centers. Com a mecanização da agriculturaa população rural migrou para a periferia das grandes cidades, causan-do o inchaço populacional, a conturbação e a deterioração dos serviçospúblicos essenciais. Os bens de consumo passaram a ser produzidos emsérie, para um número cada vez maior de consumidores. Os serviços seampliaram largamente. O comércio experimentou extraordinário de-senvolvimento, ampliando a utilização da publicidade como meio dedivulgação dos produtos e atração de novos consumidores e usuários. Aprodução e o consumo em massa geraram a sociedade de massa, sofis-ticada e complexa.

Como era de esperar, essa modificação das relações de consumoculminou por influir na tomada de consciência de que o consumidorestava desprotegido e necessitava, portanto, de resposta legal protetiva.

1.2. A preocupação com a defesa do consumidor

Era natural que a evolução das relações de consumo acabasse porrefletir nas relações sociais, econômicas e jurídicas. Pode-se mesmoafirmar que a proteção do consumidor é conseqüência direta das modi-ficações havidas nos últimos tempos nas relações de consumo, repre-sentando reação ao avanço rápido do fenômeno que deixou o consumi-dor desprotegido diante das novas situações decorrentes do desenvolvi-mento.

2

Estudando 0 tema, CAMARGO FERRAZ, ÉDIS MILARÉ e NEL-SON NERY JUNIOR concordam com a afirmação supra de que a tutelados interesses difusos em geral e do consumidor em particular derivamdas modificações das relações de consumo e evidenciam que: “Osurgimento dos grandes conglomerados urbanos, das metrópoles, a ex-plosão demográfica, a revolução industrial, o desmesurado desenvolvi-mento das relações econômicas, com a produção e consumo de massa,o nascimento dos cartéis, °holdings', multinacionais e das atividadesmonopolísticas, a hipertrofia da intervenção do Estado na esfera sociale econômica, o aparecimento dos meios de comunicação de massa, e,com eles, o fenômeno da propaganda maciça, entre outras coisas, porterem escapado do controle do homem, muitas vezes voltaram-se con-tra ele próprio, repercutindo de forma negativa sobre a qualidade devida e atingindo inevitavelmente os interesses difusos. Todos esses fe-nômenos, que se precipitaram num espaço de tempo relativamente pe-queno, trouxeram a lume a própria realidade dos interesses coletivos,até então existentes de forma “latente', despercebidos”*.

A seu tumo, CAPPELLETTI identificou os chamados interessesdifusos e coletivos, que, sem serem públicos ou privados, no sentidotradicional da palavra, demandavam uma nova definição da legitimaçãoativa para a sua defesa. Além do que, ao reconhecer que um interessepode pertencer muito mais à coletividade ou a um grupo social do que aum de seus membros individualmente, caracterizou-se sensível avançono entendimento do termo “interesse”, com isso beneficiando, em ter-mos de tutela, ao consumidor difusa e coletivamente considerado?

Ressalta OTHON SIDOU: “O que deu dimensão enormíssima aoimperativo cogente de proteção ao consumidor, a ponto de impor-secomo tema de segurança do Estado no mundo modemo, em razão dosatritos sociais que o problema pode gerar e ao Estado incumbe delir, foio extraordinário desenvolvimento do comércio e a conseqüente ampli-ação da publicidade, do que igualmente resultou, isto sim, o fenômenoconhecido dos economistas do passado - a sociedade do consumo, ou

í.¬

l. A ação civil pública e a tutela jurisdicional dos interesses difusos, São Paulo:Saraiva, 1984, p. S4-55.

2. Formações sociais e interesses sociais diante da Justiça Civil, RP, Rio deJaneiro-São Paulo, ano 2, v. 5, p. 128, jan./mar. 1977.

3

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o desfrute pelo simples desfrute, a aplicação da riqueza por mera suges-tão consciente ou inconsciente”3.

Importante salientar, a seu turno, que o consenso intemacional emrelação à vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo re-presentou fator importante para o surgimento da tutela em cada país. Oreconhecimento de que o consumidor estava desprotegido em termoseducacionais, informativos, materiais e legislativo determinou maioratenção para o problema e o aparecimento de legislação protetiva emvários países.

Afrma-se, em conclusão, que as profundas modificações das re-lações de consumo, a identificação dos interesses difusos e coletivos e anova postura em relação à legitimação ativa e o reconhecimento dahipossuficiência do consumidor conduziram, no conjunto, ao surgimentoda tutela respectiva.

A proteção jurídica do consumidor não é tema que diga respeito aum único país; ao contrário, é tema supranacional, pois abrange todosos países, desenvolvidos ou em via de desenvolvimento. A relevânciado tema, as repercussões sentidas nos segmentos sociais dos vários pa-íses, a sensibilidade para os problemas sociais e os direitos humanos,em suma, todas essas modificações nas relações de consumo acabaramlevando a ONU _ Organização das Nações Unidas a se preocupar coma defesa do consumidor, atitude, aliás, esperada do organismo intema-cional, caixa de ressonância dos grandes temas que envolvem a melhoriada qualidade de vida dos povos.

Anteriormente, em 1969, ao aprovar-se a Resolução n. 2.542, de11-12-1969, foram dados os primeiros passos nesse sentido, ao ser pro-clamada a Declaração das Nações Unidas sobre o progresso e desenvol-vimento social. Depois, em 1973, a Comissão de Direitos Humanos daONU, dando outro passo significativo, enunciou e reconheceu os direi-tos fundamentais e universais do consumidor.

Mas o avanço mais importante veio em 1985. Pela Resolução n.39/248/85, de 16-4-1985, a ONU baixou normas sobre proteção do con-sumidor, tomando clara posição e cuidando detalhadamente do tema.Ao fazê-lo, reconheceu expressamente “que os consumidores se depa-

3. Proteção ao consumidor, Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 5.

ram com desequilíbrios em termos econômicos, níveis educacionais epoder aquisitivo”.

Tais normas, segundo as Nações Unidas, teriam os seguintes obje-tivos:

“a) auxiliar países a atingir ou manter uma proteção adequada paraa sua população consumidora;

b) oferecer padrões de consumo e distribuição que preencham asnecessidades e desejos dos consumidores;

c) incentivar altos níveis de conduta ética, para aqueles envolvidosna produçao e distribuição de bens e serviços para os consumidores;

d) auxiliar países a diminuir práticas comerciais abusivas usandode todos os meios, tanto em nível nacional como intemacional, queestejam prejudicando os consumidores;

e) ajudar no desenvolvimento de grupos independentes e consu-midores;

Í) promover a cooperaçao intemacional na área de proteçao aoconsumidor; e

g) incentivar o desenvolvimento das condições de mercado queofereçam aos consumidores maior escolha, com preços mais baixos”(Res. n. 39/248/85, item 1).

Citada resolução cuida, ainda, dos princípios gerais, exortando osgovernos a desenvolverem, reforçarem e manterem uma política frmede proteção ao consumidor, objetivando o atendimento das seguintesnecessidades:

“a) proteger o consumidor quanto a prejuízos à sua segurança;b) fomentar e proteger os interesses econômicos dos consumidores;c) fomecer aos consumidores inforrnações adequadas para capacitá-

los a fazer escolhas acertadas de acordo com as necessidades e desejosindividuais;

d) educar o consumidor;e) criar possibilidades de real ressarcimento do consumidor;Í) garantir a liberdade para formar grupos de consumidores e ou-

tros grupos ou organizações de relevância e oportunidades para queestas orgamzaçoes possam apresentar seus enfoques nos processosdecisónos a elas referentes”.

4 5

Page 11: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

Em seguida, convoca os govemos a proverem ou manterem infra-estrutura adequada para desenvolver, implementar e orientar a política deproteção ao consumidor, procurando engajar nesse movimento as empre-sas, as universidades e as entidades de pesquisa públicas e privadas.

A resolução conclaina, ainda, os govemos a editarem normas, apli-cáveis tanto a bens como a serviços, domésticos e exportáveis, obser-vando o cuidado para que os métodos e regulamentos para proteção .aoconsumidor não se transformem em barreiras ao comércio intemacio-nal. Tais normas devem abranger os seguintes itens:

1) segurança física;2) promoção e proteção dos interesses econômicos do consumidor;3) padrões para a segurança e qualidade dos serviços e bens do

consumidor;4) meios de distribuição de bens e serviços essenciais para o con-

sumidor;5) medidas que permitam ao consumidor obter o ressarcimento;

_, nu

6) programa de informaçao e educaçao;7) medidas referentes a áreas específicas, como alimentos, agua e

medicamentos.A resolução da ONU trata, por fim, da cooperação intemacional,

na expectativa de que as diretrizes baixadas encoragem tal cooperaçaona área de proteção ao consumidor, especialmente no que tange a trocade informações referentes a normas e programas, implantação de nor-mas cadeia de informações alusiva a produtos que tenham sido bani-dos, retirados do mercado ou severamente restringidos, além de proce-dimentos de unifonnização referentes à qualidade dos produtos e infor-mações, evitando-se, assim, grande variação de um pais para outro.

Ressalte-se, neste passo, que as normas não são imperativos, sen-do portanto prerrogativa de cada govemo implementá-las quando achar3 9

apropriado, de acordo com suas prioridades e necessidades.Secundando a deliberação da ONU, de 9 a 11 de março de 1987,

foi realizado em Montevidéu o Seminário Regional Latino-Americanoe do Caribe sobre Proteção do Consumidor, em que SC 1'€C0I1h€C€ll 'IGT 3região desenvolvido programas no setor, existindo ainda objetivos im-portantes a serem alcançados nesse campo, reafirmando-se, na ocasião,em detalhes, as recomendações das Nações Unidas.

6

A ONU mantém, como órgão consultivo de segunda categoria, aIOCU -- Organização Intemacional das Associações de Consumido-res, que congrega mais de cento e cinqüenta entidades de vários países,com sede em Haia e escritório regional em Montevidéu, Uruguai. A

O elogiável trabalho da ONU não constitui, todavia, iniciativa iso-lada e pioneira, mas resultado de constante verificação dos problemasque afligiam os consumidores e de como se processavam os mecanis-mos de proteção nos vários países, notadamente os da Europa. Antesmesmo da manifestação da ONU, diversos países já cuidavam do tema,quer elaborando legislação pertinente, quer criando órgãos que pudes-sem garantir efetivamente a sua proteção.

Segundo relata OTHON SIDOU, “nos Estados Unidos, a proteçãoao consumidor teve seu advento legislativo com a lei de 1872 que, ge-nericamente, tachava os atos fraudulentos do comércio”, sendo que “aesfera foi ampliada em 1887, com a criação, por lei federal, da Comis-são do Comércio entre Estados, encarregada de regulamentar e fiscali-zar o tráfico fenocarril”. Outro passo importante foi dado em 1914,com a criação e o aperfeiçoamento da Federal Trade Comission, cujoobjetivo fundamental era aplicar as leis antitruste e proteger os interes-ses do consurnidor, dotada de amplos poderes investigatóiios e acesso atodos os documentos e livros contábeis, com atuação destacada em frau-des que envolvam publicidade enganosa4.

Além da Federal Trade Comission, órgão máximo do sistema fe-deral de proteção do consumidor norte-americano, outras quatro agên-cias governamentais especializadas podem ser citadas:

-- Consumer”s Education Office, com a incumbência de promo-ver e administrar programas educacionais voltados para a formação etreinamento de pessoal especializado em educação e orientação do con-sumidor;

- Food and Drug Administration, encarregada da fiscalização deprodutos comestíveis, farmacêuticos, cosméticos e drogas;

- Consumer Product Safety Coinission, que cuida das nonnas epadrões de segurança dos produtos e fiscaliza sua aplicação; e

i

4. op. cri., p. 13.

7

Page 12: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

-- Small Claim Couits, correspondentes aos nossos juizados depequenas causas, que atendem reclamações de consumidores edesobstiuem a justiça comum.

Mas foi em 1962 que o tema ganhou grande impulso nos EstadosUnidos, quando John Kennedy assumiu a bandeira da defesa do consu-midor em plena campanha eleitoral para a Presidência da República, e,já eleito, em sua primeira mensagem ao Congresso cuidava do assunto,consagrando os direitos básicos do consumidor, que, mais tarde, viriama ser encainpados pelas Nações Unidas.

Ressalte-se que lá, ao lado dos órgãos oficiais, as entidades priva-das, como associações e organizações de consumidores, exercem im-portante papel na orientação e proteção dos consumidores e defesa deseus direitos, citando-se, como exemplo, o notável traballio do advoga-do Ralph Nader à frente de uma dessas associações.

Também na Europa o tema “defesa do consumidor” sempre estevepresente em praticamente todos os países. Relata OTHON SIDOU que, apartir de 1971, o Comitê Europeu de Cooperação Jurídica, por intenné-dio de um Subcomitê de Proteção Legal ao Consumidor, realizou amplainvestigação sobre o assunto, chegando à conclusão de que todos os paí-ses demonstraram estar dele cuidando legislativa e administrativamente,havendo organizações privadas e órgãos públicos legitimados a atuarememjuízo em defesa dos consumidores. Com o surgimento da Comunida-de Econômica Européia o direito comuiiitáiio europeu conheceu as Dire-trizes 84/450 (publicidade) e 85/374 (responsabilidade civil pelos aci-dentes de consumo), fontes de inspiração do Código brasileiros.

Já os países escandinavos conhecem, de algum tempo, a figura doOmbudsman do Consumidor, que se dedica à proteção dos interessescoletivos do consumidor. De início, o ombudsman tinha a função deexercer o controle da administração pública, sem jurisdição, e só de-pois, com o sucesso da experiência, teve paulatinamente ampliadas asatividades, de modo a atender interesses coletivos e difusos, como con-sumidor, liberdade econômica, imprensa, saúde pública etc. Oiiginárioda Suécia, onde foi instalado em 1809, foram criados posteriormente, àsemelhança do modelo sueco, o da Finlândia (1919), o da Dinamarca(1954) e o da Noruega (1950).

MM

5. op. cri., p. is-41.

8

1.3. O CDC -- Código de Defesa do Consumidor1.3.1. Antecedentes históricos

Como tema específico, a defesa do consumidor no Brasil é relativa-mente nova. São de 1971 a 1973 os discursos profeiidos pelo então De-putado Nina Ribeiro, alertando para a gravidade do problema, densa-mente de natureza social, e para a necessidade de uma atuação mais enér-gica no setor. Em 1978 surgiu, em âmbito estadual, o primeiro órgão dedefesa do consumidor, o Procon -- Grupo Executivo de Proteção e Ori-entação ao Consumidor de São Paulo, ciiado pela Lei n. 1.903, de 1978.Em âmbito federal, só em 1985 foi criado o Conselho Nacional de Defe-sa do Consumidor (Decreto n. 91.469), posteriormente extinto e substi-tuído pela SNDE- Secretaria Nacional de Direito Econômico.

Como tema inespecífico, no entanto, constata-se a existência delegislação que indiretamente protegia o consumidor, embora não fosseesse o objetivo principal do legislador. A primeira manifestação de quese tem notícia, nessa área, é o Decreto n. 22.626, de 7-4-1933, editadocom o intuito de reprimir a usura. De lá para cá, passando pela Consti-tuição de 1934, surgem as primeiras norinas constitucionais de prote-ção à economia popular (arts. 115 e 117). O Decreto-Lei n. 869, de 18-11-1938, e depois o de n. 9.840, de 11-9-1946, cuidaram dos crimescontra a economia popular, sobrevindo, em 1951, a chamada Lei deEconomia Popular, até hoje vigente. É de 1962 a Lei de Repressão aoAbuso do Poder Econômico (n. 4.137), que reflexainente beneficia oconsumidor, além de haver criado o CADE -- Conselho Administrati-vo de Defesa Econômica, na estrutura do Ministério da Justiça, aindaexistente, subordinado, porém, à SNDE. Em 1984 foi editada a Lei n.7.244, que autorizou os Estados a instituírem Juizados de PequenasCausas, revogada pela Lei n. 9.099, de 26-9-1995. Com a Lei n. 7.492,de 16-6-1986, passaram a ser punidos os crimes contra o Sistema Fi-nanceiro Nacional, denominados “crimes do colarinho branco”.

Passos importantes, no entanto, foram dados a partir de 1985. Em24-7-1985 foi promulgada a Lei n. 7.347, que disciplina a ação civilpública de responsabilidade por danos causados ao consumidor, alémde outros bens tutelados, iniciando, dessa fonna, a tutela jurisdicionaldos interesses difusos em nosso país. Na mesma data foi assinado o

9

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Decreto federal n. 91.469, alterado pelo de n. 94.508, de 23-6-1987,criando o CNDF- Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, quetinha como função assessorar o Presidente da República na formulaçãoe condução da política nacional de defesa do consumidor, com compe-tência bastante extensa, mas sem poder coercitivo. Tal órgão colegiadoveio a ser extinto no início do Govemo Collor de Mello e substituídopor outro singular, o Departamento Nacional de Proteção e Defesa doConsumidor, subordinado à SNDE, na estrutura do Ministério da Justi-ça. Gaiiliou-se em terrnos de agilidade e de uniformidade de procedi-mento em relação à área de defesa econômica; perdeu-se em representa-tividade no que se refere à participação dos órgãos estaduais e munici-pais, das entidades privadas de defesa do consumidor e da sociedadecivil (Conar, OAB, Confederações do empresariado: indústria, agricul-tura e' comércio), que integravam o extinto Conselho.

A vitória mais importante nesse campo, fruto dos reclamos da so-ciedade e de ingente trabalho dos órgãos e entidades de defesa do con-sumidor, foi a inserção, na Constituição da República promulgada em 5de outubro de 1988, de quatro dispositivos específicos sobre o tema. Oprimeiro deles, mais importante porque reflete toda a concepção domovimento, proclama: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesado consumidor” (art. 59, XXXII). Em outra passagem, é atribuída com-petência concorrente para legislar sobre danos ao consumidor (art. 24,VIII). No capítulo da Ordem Econômica, a defesa do consumidor éapresentada como uma das faces justificadoras da intervenção do Esta-do na economia (art. 170, V). E o art. 48 do Ato das Disposições Cons-titucionais Transitórias anunciava a edição do tão alinejado Código deDefesa do Consumidor, que se tomou realidade pela Lei n. 8.078, de11-9-1990, após longos debates, muitas emendas e vários vetos, tendopor base o texto preparado pela Comissão de Juristas e amplamentedebatido no âmbito do CNDC.

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Pode-se adiantar que hoje o consumidor brasileiro está legislativa-mente bem equipado, mas ainda se ressente de proteção efetiva, porfalta de vontade política e de recursos técnicos e materiais. Mesmo as-sim, há que ser festejado o grande avanço experimentado nos últimosanos, que alçou o País, nessa área, e em terrnos legislativos pelo menos,ao nível das nações mais avançadas do Plarieta.

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1.3.2. As alterações do CDC

Desde a sua vigência, em 1991, o CDC foi alterado por nada me-nos que cinco leis e várias Medidas Provisórias. São elas:

a) Lei n. 8.656, de 21-5-1993, que alterou a redação do art. 57,bem como determinou que o Poder Executivo: a) regulamentasse o pro-cedimento das sanções administrativas em 45 dias; e b) atualizasse pe-riodicamente o valor da pena de multa, respeitando os parâmetros vi-gentes à época da promulgação do CDC.

b) Lei n. 8.703, de 6-9-1993, que deu nova redação ao parágrafoúnico do art. 57, detemiinando que “a multa será em montante não infe-rior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unida-de Fiscal de Referência (Ufir) ou índice equivalente que venha a substi-tuí-lo”. O valormínimo passou a ser duzentos e não trezentos e o BTN- Bônus do Tesouro Nacional foi substituído pela Ufn.

c) Lei n. 8.884, de 13-6-1994 (transforma o CADE em autarquia edispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem eco-nômica), que alterou o art. 39, tomando exemplificativa a relação daspráticas abusivas (“dentre outras”), e inserindo, nessa categoria, as con-dutas de “recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, direta-mente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais” (inc.IX) e “elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços” (inc. X).Esta lei alterou também a Lei n. 7.347/85, arts. 19, V, e 59, II.

d) Lei n. 9.008, de 21-3-1995 - decorrente da conversão da Medi-da Provisória n. 683, de 31-10-1994, reeditada sucessivamente até a den. 854, de 26-1-1995 --, que cria o CFDD -- Conselho Federal Gestordo Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, conige defeitos de redação dosarts. 49, 82 e 98 e inclui como prática abusiva, no art. 39, a conduta de“deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou dei-xar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério” (inc. XII).

e) Lei n. 9.298, de 19-8- 1996, que alterou o § 19 do art. 52 do CDC,que passou a ter a seguinte redação: “As multas de mora decorrentes doinadimplemento de obrigações no seu terrno não poderão ser superio-

Aires a 2% (dois por cento) do valor da prestaçao”.Í) Lei n. 9.870, de 23-11-1999, que alterou o art. 39 do CDC para

inserir mais uma prática abusiva, qual seja, a aplicação de índice ou fór-

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mula de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido (inc.XI). Foi também auibuída legitimação às associações de alunos, de paisde alunos e responsáveis, para a propositura das ações previstas no CDCpara a defesa dos direitos assegurados na citada Medida Provisória.

As alterações legislativas, de modo geral, beneficiaram o consu-midor, caracteiizando-se ora por correção de texto, ora por ampliaçãode suas garantias, ora por tratamento mais severo dado às práticasabusivas, ao tipificar outras três condutas.

1.3.3. Legislação complementar

Em termos de legislação complementar, dois decretos foram edi-tados com o objetivo de propiciar a efetiva implementação do Códigodo Consumidor:

1) Decreto n. 2.181, de 20-3-1997, que regulamenta aspectos doCDC e dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa doConsumidor e estabelece as nonnas gerais de aplicação das sançõesadministrativas previstas no CDC. Revogou o de n. 861, de 9-7-1993.

2) Decreto n. 1.306, de 9-9-1994, que regulamenta o Fundo deDefesa dos Direitos Difusos e dispõe sobre sua finalidade, definiçãodos recursos, composição e competência do Conselho Gestor, além deoutras providências. Este decreto revogou o anterior, de n. 407, de 27-12-1991, sobre o mesmo assunto. A matéria está também regulada naLei n. 9.008, de 21-3-1995.

Ambos os decretos eram necessários à aplicação do CDC nos seusaspectos adininistrativos, e já produzem os frutos esperados. A regula-mentação das sanções passou a ser seguida pelos Procons, superando-se,dessa fonna, a dificuldade de operacionalização e a complexidade doprocedimento administrativo, notadamente no que tange ao conflito ver-tical e horizontal de competências e ao equivocado sistema recursal. OSistema.Nacional de Defesa do Consumidor passou efetivamente a exis-tir, faltando ser complementado com mais Procons municipais. Os ór-gãos, até então isolados, passaram a atuar de forrna coordenada. O Fundodos Direitos Difusos precisou ser refonnulado. O Conselho Federal Gestorsó recentemente passou a existir, sendo a sua primeira composição desig-nada pela Portaria n. 832, de 18-12-1998, do Ministro da Justiça. Desdeentão vem apreciando projetos e liberarido recursos para material didáti-

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co, realização de eventos educativos e modernização adrninistrativa dosórgãos públicos que atuam na defesa do consumidor.

1.3.4. Legislação correlata

Após 1990 importantes diplomas legais foram editados, citando-se, dentre eles: 1) Lei n. 8.002, de 14-3-1990, que dispõe sobre a repres-são de infrações atentatórias contra os direitos do consumidor; 2) Lei n.8.137, de 27-12-1990, que define os crimes contra as relações de con-sumo e dá outras providências; 3) Lei n. 8.158, de 8-1-1991, que insti-tui nonnas para a defesa da concorrência; 4) Decreto n. 407, de 27-12-1991, que regulainenta o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos; 5) Lein. 8.884, de 11-6-1994, que transforma o CADE -- Conselho Adminis-trativo de Defesa do Consumidor em autarquia e dispõe sobre a preven-ção e a repressão às infrações contra a ordem econômica; 6) Lei n.8.918, de 14-7-1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação,o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas e autorizaa criação do Conselho Intersetorial de Bebidas; 7) Lei n. 8.926, de 9-8-1994, que toma obrigatória a inclusão, nas bulas de medicamentos, deadvertências e recomendações sobre seu uso por pessoas de mais de 65anos; 8) Lei n. 9.099, de 26-9-1995, que dispõe sobre os Juizados Espe-ciais Cíveis e Criminais, em substituição aos Juizados Especiais de Pe-quenas Causas, instituídos pela Lei_n. 7.244, de 7-11-1984, que foirevogada; 9) Lei n. 9.307, de 23-9-1996, sobre a arbitragem; 10) Lei n.9.656, de 3-6-1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados deassistência à saúde; 11) Lei n. 9.677, de 2-7-1998, que altera dispositi-vos do CP _ Código Penal, incluindo na classificação dos delitos con-siderados hediondos crimes contra a saúde pública; 12) Lei n. 9.695, de2-8-1998, que inclui, dentre os crimes hediondos, o de falsificação,corrupção, adulteração ou alteração de substâncias ou produtos alimen-tícios; 13) Lei n. 9.782, de 26-1-1999, que dispõe sobre o Sistema Na-cional de Vigilância Sanitária e cria a Agência Nacional de VigilânciaSanitária; 14) Lei n. 9.787, de 10-2-1999, que altera a Lei n. 6.360, de23-9-1976 (sobre a vigilância sanitária), estabelece o medicamento ge-nérico e dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos far-macêuticos; 15) Lei n. 9.790, de 23-3-1999, que dispõe sobre a qualifi-cação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, comoOrganizações da Sociedade Civil de Interesse Público; 16) Lei n. 9.791,

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de 24-3-1999, que dispõe sobre a obrigatoriedade de as concessionáriasde serviços públicos estabelecerem ao consumidor e ao usuário datasopcionais para o vencimento de seus débitos.

1.4. Política Nacional de Relações de Consumo

O CDC, antes de cuidar da Política Nacional de Proteção e Defesado Consumidor, cuida da Política de Relações de Consumo, dispondosobre os objetivos e princípios que devem nortear o setor. Já se disse,acertadamente, que a defesa do consumidor não pode ser encarada comoinstrumento de confronto entre produção e consumo, senão como meiode compatibilizar e harmonizar os interesses envolvidos.

1.4.1. Objetivos

Nesse contexto, tal política deve ter por objetivos, em primeiroplano, o atendimento das necessidades dos consumidores - objetivoprincipal das relações de consumo -, mas deve preocupar-se tambémcom a transparência e harmonia das relações de consumo - de moldea pacificar e compatibilizar interesses eventualmente em conflito. Oobjetivo do Estado, ao legislar sobre o tema, não será outro senão elimi-nar ou reduzir tais conflitos, sinalizar para a seriedade do assunto eanunciar sua presença como mediador, mormente para garantir prote-

síçao ã parte mais fraca e desprotegida.Objetivo importante dessa política é também a postura do Estado

de garantir a melhoria da qualidade de vida da população consumidora,quer exigindo o respeito à sua dignidade, quer assegurando a presençano mercado de produtos e serviços não nocivos à vida, à saúde e à segu-rança dos adquirentes e usuários, quer, por fim, coibindo os abusos pra-ticados e dando garantias de efetivo ressarcimento, no caso de ofensa aseus infêresses econômicos.

1.4.2. PrincipiosPor isso, a Política Nacional de Relações de Consumo deve estar

lastreada nos seguintes princípios:

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a) Vulnerabilidade do consumidor. É a espinha dorsal da proteçãoao consumidor, sobre a qual se assenta toda a linha filosófica do movi-mento. É induvidoso que o consumidor é a parte mais fraca das rela-ções de consumo; ele apresenta sinais de fragilidade e impotência dian-te do poder econômico. Há reconhecimento universal no que tange aessa vulnerabilidade. Nesse sentido já se manifestou a ONU e por esseenfoque o tema é tratado em todos os países ocidentais. No Brasil, aatual Constituição Federal reconhece claramente essa situação dehipossuficiência, ao declarar que o Estado promoverá a defesa do con-sumidor (art. SQ, XXXII), de um lado assumindo a postura de garanti-dor e, de outro, outorgando tutela legal a quem, adrede e filosoficamen-te, se reconhece carecedor de proteção. Nessa sorte de idéias, não hácomo questionar a inspiração central do movimento, sob pena de afas-tar-se da consciência universal, negando-se aquilo que é reconhecidopor todos.

b) Presença do Estado. O princípio da presença do Estado nasrelações de consumo é, de certa fonna, corolário do princípio da vulnera-bilidade do consumidor, pois, se há reconhecimento da situação de hipos-suficiência, de fragilidade e desigualdade de uma parte em relação aoutra, está claro que o Estado deve ser chamado para proteger a partemais fraca, por meios legislativos e administrativos, de sorte a garantiro respeito aos seus interesses. No Brasil, esse princípio vem sendo rom-pido, quer em termos legislativos - com a promulgação da Constitui-ção Federal, na qual foi assegurada a defesa do consumidor pelo PoderPúblico (art. 59, XXXII) e com a edição do CDC (Lei n. 8.078/90) -,quer com a criação e manutenção dos órgãos administrativos oficiais dedefesa do consumidor.

c) Harmonização de interesses. Como se disse, o objetivo da Polí-tica Nacional de Relações do Consumo deve ser a harmonização dosinteresses envolvidos e não o confronto ou o acirramento de _ânimos.Interessa às partes, ou seja, aos consumidores e fomecedores, o imple-mento das relações de consumo, com o atendimento das necessidadesdos primeiros e o cumprimento do objeto principal que justifica a exis-tência do fornecedor: fornecer bens e serviços. Colima-se, assim, o equi-líbrio entre as partes. Por outro lado, a proteção do consumidor deve sercompatibilizada com a necessidade de desenvolvimento econômico etecnológico, em face da dinâmica própria das relações de consumo, quenão podem ficar obsoletas e entravadas, em nome da defesa do consu-

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midor. Novos produtos e novas tecnologias são bem-vindos, desde queseguros e eficientes. Também por esse motivo é que se assegura comoprincípio a ser seguido o “estudo constante das modificações do merca-do de consumo” (art. 49, VIII).

d) Coibição de abusos. A Política de Relações de Consumo nãoserá completa se não dispuser sobre a coibição dos abusos praticadosno mercado de consumo. Deve garantir-se não só a repressão dos atosabusivos, como a punição de seus autores e o respectivo ressarcimento,senão também a atuação preventiva tendente a evitar a ocorrência denovas práticas abusivas, afastando-se aquelas que podem causar prejuí-zos aos consumidores, como concorrência desleal e utilização indevidade inventos e criações industriais. A coibição preventiva e eficiente des-sas práticas representará desestímulo aos potenciais fraudadores. A con-trario sensu, a ausência de repressão, ou mesmo o afrouxamento, re-presentará impunidade, e, pois, estímulo.

e) Incentivo ao autocontrole. Apesar de o Estado interpor-se comomediador nas relações de consumo, procurando evitar e solucionar osconflitos de consumo, não deve, por outro lado, deixar de incentivarque tais providências sejam tomadas pelos próprios fomecedores, me-diante a utilização de mecanismos alternativos por eles próprios cria-dos e custeados. Essa é a solução ideal e significa modernização dasrelações de consumo. De três maneiras pode dar-se o autocontrole. Emprimeiro lugar, pelo eficiente controle da qualidade e segurança de pro-dutos defeituosos no mercado, o que refletirá na diminuição ou elimi-nação de atritos com o consumidor. Em segundo lugar, pela prática dorecall, ou seja, a convocação dos consumidores de bens produzidos emsérie e que contenham defeitos de fabricação que possam atentar contraa vida e a segurança dos usuários, arcando o fornecedor com as despe-sas de substituição das peças defeituosas. Há um reconhecimento dedefeito, mas ao mesmo tempo ele é sanado pelo próprio fabricante, semprejuízo ou custo para o consumidor. A indústria automobilística utili-zou-se largamente do recall, notando-se que, a partir de 1991, cresceuenormeniente, no Brasil, o número de convocações dirigidas aos consu-midores, por montadoras nacionais e estrangeiras, o que pode ter ocor-rido tanto pela maior conscientização do fabricante como pelo efeito davigência do CDC. Outras indústrias dos ramos de eletrodomésticos ecomputadores seguiram o mesmo caminho. E, em terceiro lugar, pelacriação, pelas empresas, de centros ou serviços de atendimento ao con-

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Sumidor, resolvendo o fornecedor, diretamente, a reclamação ou queixaapresentada contra seu produto ou serviço. Em 1991 assim já se compor-tavam, p. ex., a Rhodia, a Johnson”s & Johnson°s, a Kibon etc., inclusiveutilizando esse serviço prestado ao consumidor como garantia de seuproduto, o que é positivo em termos de marketing. De lá para cá, cresceuenormemente o número de empresas com serviços de atendimento aocliente, inclusive bancos e concessionárias de serviços públicos.

Í) Conscientização do consumidor e dofornecedor. Se o que se bus-ca é o equih'brio nas relações de consumo, para que se atendam as neces-sidades do consumidor e o interesse do fornecedor, sem grande con-flituosidade, é natural que uma maior conscientização das partes, no quetoca aos seus direitos e deveres, conduzirá fatalmente a esse objetivo.Pode-se adiantar que quanto maior o grau de conscientização das partesenvolvidas, menor será o índice de conflito nas relações de consumo. Porconscientização entende-se a educação, formal e informal, para o consu-mo, bem como a informação do consumidor e do fornecedor.

g) Melhoria dos serviços públicos. Não apenas a área privada estáobrigada a prestar serviços eficientes e seguros ao seu usuário. Tambéma área pública, oficial, deve ter o compromisso de prestar serviços pú-blicos igualmente seguros e eficientes, que não atentem contra a vida, asaúde e a segurança do consumidor. Diante do reconhecimento da altaprecariedade com que são prestados os serviços públicos, notadamenteos de transportes e saúde, é feita recomendação aos governos no senti-do de racionalizá-los e de melhorá-los, o que se enquadra no objetivomaior de proteger o consumidor e melhorar-lhe a qualidade de vida.

jêtã. A vulnerabilidade do consumidor e a busca do equilíbrio

Os problemas sociais surgidos da complexidade cada vez_maiorda sociedade moderna e os reclamos de indivíduos e grupos indicarama necessidade de tutelar o consumidor. É de CAPPELLETTI a argutaobservação de que a sociedade contemporânea se caracteriza pelo “fe-nômeno de massa”, salientando que, do ponto de vista econômico, aprodução é uma produção de massa, o comércio é de massa; o consu-mo, por sua vez, também é tipicamente de massa. Isto significa dizerque o ato de uma pessoa ou de uma empresa envolve efeitos que atin-gem uma quantidade enorme de pessoas e categorias. No aspecto con-

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sumo, por exemplo, basta que um produto apresente um mínimo defei-to, e já milhares ou milhões de consumidores sofrerão um dano. O mes-mo seja dito em relação à publicidade: uma fraude publicitária, do tipopublicidade enganosa, poderá afetar milhões de pessoas. Em ambos oscasos haverá um “dano de massa”, a exigir uma resposta protetiva queefetivamente tutele o consumidoró.

A tutela não surgiu assim aleatória e espontaneamente. Trata-se,como se vê, de uma reação a um quadro social, reconhecidamente con-creto, em que se vislumbrou a posição de inferioridade do consumidorem face do poder econômico do fornecedor, bem como a insuficiênciados esquemas tradicionais do direito substancial e processual que jánão tutelavam novos interesses identificados como coletivos e difusos.A seu tumo, o Estado abandonou sua posição individualista-liberal paraassumir um papel social mais intenso, intervindo na economia para ga-rantir os direitos e interesses dos consumidores. A tutela surge e sejustifica, enfim, pela busca do equilíbrio entre as partes envolvidas.

A primeira justificativa para o surgimento da tutela do consumi-dor está assentada no reconhecimento de sua vulnerabilidade nas rela-ções de consumo. Trata-se da espinha dorsal do movimento, sua inspi-ração central, base de toda a sua concepção, pois, se, a contrario sensu,admite-se que o consumidor está cônscio de seus direitos e deveres,informado e educado para o consumo, atuando de igual para igual emrelação ao fornecedor, então a tutela não se justificaria.

É facilmente reconhecível que o consumidor é a parte mais fracana relação de consumo. A conieçar pela própria definição de que consu-midores são os que não dispõem de controle sobre bens de produção e,por conseguinte, devem submeter-se ao poder dos titulares destes. Parasatisfazer suas necessidades de consumo é inevitável que ele compare-ça ao mercado e, nessas ocasiões, submeta-se às condições que lhe sãoimpostas pela outra parte, o fornecedor.

Essa relação de hipossuficiência é multiforrne, podendo ocorrer pordesinformação, quando consome medicamento sugestionado pela massivapropaganda dos meios de comunicação ou influenciado por orientação

6. Mauro Cappelletti, Formações sociais e interesses sociais diante da JustiçaCivil, Revista, cit., v. 5, p. 130.

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desqualificada, sem estar informado corretamente de sua indicação oudos efeitos nefastos à sua saúde. Também pode ocorrer por fraude, quan-do lhe vendem farinha de trigo embalada como antibiótico ou o adoçanteartificial sacarina, de preço menor e prejudicial à saúde se consumido emgrandes quantidades, embalado como se fosse adoçante natural stévia,mais caro e inofensivo ao organismo. Pode ocorrer, ainda, quando o pro-dutor não dê ou não honre a garantia ao bem produzido, como no caso doeletrodoméstico que se estraga no dia da compra ou logo após e o produ-tor se esquiva de substituir o produto defeituoso ou até mesmo as peçasque impedem o seu perfeito funcionamento. Nessa extensa lista, que po-deria ser aumentada casuisticamente muitas vezes, chega-se à conclusãode que o consumidor não está educado para o consumo, e que, em razãodisso, é lesado por todos os modos e maneiras, diuturnamente, vendo,com freqüência, serem desrespeitados os seus direitos básicos consagra-dos pela ONU e pela legislação brasileira, como saúde e segurança, esco-lha, informação e ressarcimento.

Hoje há consenso universal acerca da vulnerabilidade do consu-rnidor. Já não se questiona sobre esse ponto. Em todos os países domundo ocidental há esse reconhecimento. E a ONU já se pronunciouclaramente a respeito do assunto: na Resolução n. 29/248, de 10-4-1985,reconheceu que os consumidores se deparararn com desequilíbrio emtermos econômicos, nível educacional e poder aquisitivo, o que conflitacom o direito de acesso a produtos e serviços seguros e inofensivos(normas, item l). Parece induvidoso que a expressão “desequilíbrio”usada na Resolução tem o significado de vulnerabilidade.

Após a manifestação da ONU, também no Brasil se operou umatomada de consciência em favor do consumidor. O tema, pela primeiravez, foi tratado em âmbito constitucional, com especial destaque, nocapítulo relativo aos Direitos e Garantias Fundamentais. No incisoXXXII do art. 59 da Constituição de 1988, como já se viu, o legisladorconstituinte assegurou que o Estado promoverá a defesa do consumi-dor. A inserção é por demais incisiva. O Estado _ aqui no sentido dePoder Público (União, Estados e Municípios) _ declara a defesa doconsumidor como dever seu e direito do cidadão, ao mesmo tempo emque promete instrumentos protetivos para sua defesa, logicamente porentender necessária e indispensável essa defesa no quadro atual da vidabrasileira. E isso justamente porque reconhece a situação de hipossufi-

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ciência e vulnerabilidade. Não fosse assim e não se justificaria a tutela,pois não se outorga tutela legal a quem dela não necessita.

Além do dispositivo constitucional, em que há reconhecimentoimplícito da vulnerabilidade, em outro diploma legal ocorreu declara-ção expressa dessa circunstância. Trata-se do CDC (Lei n. 8.078/90)que, em seu art. 49, I, declarou a vulnerabilidade do consumidor comoum dos princípios da Política Nacional de Relações de Consumo.

Além dessas considerações, há que ser dito que os danos enfrenta-dos isoladamente pelos consumidores quase sempre ficaram sem repara-ção, quer porque pequenos, se individualmente considerados, quer pormotivos econômicos, já que o consumidor geralmente não possui recur-sos para a contratação de advogados e para pagar as despesas processu-ais. Aliás, neste último item, salta aos olhos a franca superioridade dosfornecedores, que possuem, em seus estabelecimentos, departamentosjurídicos organizados e de bom nível técnico, o que faz aumentar, aindamais, a situação de inferioridade do consumidor, a justificar-lhe a tutela.

Há certo paralelismo entre o empregado e o consumidor. Está ocor-rendo com a defesa do consumidor o mesmo fenômeno vivido cinqüen-ta anos atrás quando surgiu a tutela do empregado nas relações de tra-balho: é que tal tutela só foi possível e se tomou real após o reconheci-mento da situação de fragilidade e dependência econômica do empre-gado em face do empregador. O mesmo está ocorrendo agora em rela-ção ao consumidor, ou seja, do reconhecimento de sua vulnerabilidadeestá nascendo a tutela legal.

Se há reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor nas rela-ções de consumo, do que resulta a intervenção estatal no sentido deprotegê-lo, inclusive legislativamente, remanesce cristalino que a tute-la do consumidor também se justifica pelo objetivo de “harmonizaçãodos interesses dos participantes das relações de consumo”, com o quese busca o “equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores”(CDC, art. 48, III).

“Como já anotado, o objetivo da defesa do consumidor não é nemdeve ser o confronto entre classes produtora e consumidora, senão o degarantir o cumprimento do objetivo da relação de consumo, ou seja, ofornecimento de bens e serviços pelos produtores e prestadores de ser-viço e o atendimento das necessidades do consumidor, este, porém, ju-ridicamente protegido pela lei e pelo Estado.

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Se existe consenso no que se refere ao desequilíbrio nas relaçõesde consumo, estando o consumidor em uma posição de debilidade esubordinação estrutural em relação ao produtor do bem ou serviço deconsumo, nada mais justo e correto do que buscar-se restabelecer oequilíbrio desejado, quer protegendo o consumidor, quer educando-o,quer fornecendo-lhe instrumentos e mecanismos de superação dessesdesequilíbrios. Com isso, as relações de consumo poderão cumprir seus

naobjetivos, com maior harmonia e reduçao de conflitos.Numa consideração talvez utópica, poder-se-ia dizer que, uma vez

alcançado esse tão ahnejado equilíbrio - ideal -, o consumidor seriaalçado à condição de igualdade ante o empresário, e, nesse relaciona-mento de maturidade e consciência, já não haveria necessidade da tutela.Ele estaria emancipado: não seria hipossuficiente, nem vulnerável.

Mas a realidade é bem outra. E pelos parâmetros conhecidos noBrasil, com o baixo nível educacional da população e a reduzida cons-cientização de ambas as partes, o consumidor brasileiro necessitará detutela por muito tempo.

1.6. Instrumentos da defesa do consumidorO Código do Consumidor teve o cuidado de elencar os instrumen-

tos que poderiam ser utilizados na Política Nacional de Relações deConsumo, de maneira geral, e para ai defesa do consumidor, de formamais direta. O art. 59, I aV, enumera alguns desses instrumentos, mas aleitura sistemática do texto codificado revela a existência de inúmerosoutros, em outras passagens, consoante será visto. Apesar da simplici-dade do tema, é interessante analisar isoladamente a função de tais ins-trumentos, que dão vida e tomam efetiva a defesa do consumidor.

al Educação forma/ e informa/

Não está explicitado no art. 59, mas a educação formal e informaldo consumidor é dos mais importantes instrumentos de sua defesa.

Educação formal é aquela incluída nos curriculos escolares, mi-nistrada aos alunos das redes pública e privada, com o objetivo de for-mar hábitos sadios de consumo e preparar, desde cedo, o cidadão, paraque ele possa, no futuro, ao ingressar no mercado de consumo, ter condi-

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ções de exercer com consciência e liberdade o direito de escolha entreos vários produtos e serviços ofertados.

Já a educação informal não é dada na escola; decorre dos progra-mas e das campanhas publicitárias levadas a efeito pelo Poder Públicoou organizações não governamentais, notadamente pelos órgãos queatuam na defesa do consumidor e nas áreas de metrologia, saúde e vigi-lância sanitária, pelos meios de comunicação de massa ou mediantetrabalhos comunitários, com o objetivo de levar ao consumidor, emqualquer faixa etária - e não só nas escolas - informações e esclare-cimentos que propiciem melhor postura no mercado de consumo.

Dentro desse raciocínio, a educação do consumidor é de funda-mental importância, pois dela dependerá o maior grau de conscien-tização, que, por sua vez, conduzirá a um maior equilíbrio entre as par-tes. Não basta, pois, que se legisle em favor do consumidor; é misterque se lhe propicie educação específica. Aliás, o Código prevê a educa-ção para o consumo como um dos direitos básicos do consumidor (art.69, II). Falta, ainda, vontade política para que a empreitada seja levadaadiante, incluindo-se campanhas publicitárias, a começar, p. ex., peloalerta do perigo da automedicação. Vale registrar, por oportuno, quealguns Estados já desenvolvem trabalho nessa área.

bi Os órgãos oficiaisnv na

1Embora nao incluídos no rol do art. 5° do CDC, os órgaos oficiaisde defesa do consumidor desempenham papel importantíssimo no se-tor, constituindo-se a linha de frente responsável pelo primeiro atendi-mento. É a atuação do Poder Público, de forma direta, na área adrninis-trativa, procurando solucionar conflitos, quer preventivarnente, medi-ante orientação e resposta a consultas, quer repressivamente, no caso de

nvreclamaçoes de abusos ou fraudes.O Código idealizou o arcabouço do que seria o “Sistema Nacional

de Defesa do Consumidor - SNDC”, que teria, em sua cúpula, o De-partamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, subordina-do à Secretaria Nacional de Direito Econômico, do Ministério da Justi-ça, e, simetricamente, nos Estados, os Procons, e nos Municípios osórgãos municipais de defesa do consumidor, também conhecidos porCondecon ou “Procon Municipal”. Na estrutura do SNDC, aos órgãosoficiais também se juntariam as entidades civis de defesa do consumi-

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-._

dg; (art. 105). Em 20-3-1997 foi editado o Decreto n. 2.181, que dispõesobre a organização do SNDC e estabelece as normas gerais de aplica-ção das sanções administrativas, revogando o Decreto n. 861/93.

Em âmbito federal, além do órgão específico de proteção ao con-sumidor, inúmeros outros existem espalhados em vários ministérios,que atuam ou deveriam atuar em questões atinentes ao consumidor. Em1989, foram contados trinta e um deles, relativamente a produtos, pre-ços, normatização, pesos e medidas e proteção da saúde, sendo que, nosúltimos dez anos, alguns desses órgãos foram extintos.

Os Estados possuem, há algum tempo, os seus órgãos estaduais dedefesa do consumidor ou Procons, cuja sigla significa Programa Esta-dual de Orientação e Proteção ao Consumidor. São Paulo foi o pionei-ro, em 1978. De lá para cá, praticamente todos os Estados criaram ór-gãos dessa natureza, faltando apenas o Acre, sendo que em Minas Ge-rais, Ceará, Piauí e Amapá o órgão estadual é vinculado ao MinistérioPúblico. Esses órgãos, além do atendimento da população da Capital,ocupam-se da política do setor em âmbito estadual e devem cuidar daimplantação dos órgãos municipais.

A rede de defesa do consumidor é completada, na base da pirâmi-de, com os órgãos municipais de defesa do consumidor, que têm a fun-ção de cuidar da matéria em âmbito local e prestar o primeiro atendi-mento à população, quer orientando, quer recebendo reclamações edeterminando a apuração de fraudes e abusos. Em âmbito municipal,essa rede ainda não estava completa em 1990, pois, dos 4.428 municí-pios brasileiros então existentes, apenas 10% possuíam órgãos criadose atuantes. Em 1999 o número de municípios passou a ser de 5.595 e osProcons municipais subiram para 590, num crescimento meramentevegetativo, já que o percentual continuou a ser de 10%.

ci As associações civis

Além dos órgãos oficiais, são também instrumentos importantes nadefesa do consumidor as associações civis de defesa do consumidor. Porreconhecer esse fato é que o legislador incluiu tais associações no Siste-ma Nacional, bem como determinou que a elas fossem concedidos estí-mulos, tanto para que fossem criadas como para que fossem mantidas epudessem desenvolver seu trabalho (CDC, art. 105, c/c o art. 59, V, eDecreto n. 2.181, de 20-3-1997, arts. 39, IX, e 89). No Brasil existiam, em

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1986, cerca de trinta e quatro dessas associações. Ao lado delas, outrasentidades que atuam em áreas conexas acabam por abranger em seuleque de atividades também a defesa do consumidor, nos variados ma-tizes em que este se apresenta: é o caso, p. ex., das associações ou mo-vimentos de donas-de-casa, das associações de moradores e das associ-ações de mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.

Merece destaque, nessa área, o Idec _ Instituto Brasileiro de Defe-sa do Consumidor, com sede em São Paulo, que, além de editar a revistaConsumidor S.A., mobilizou os consumidores paulistas e promoveu oajuizamento de ações contra a antiga Telesp _Telecomunicações de SãoPaulo S.A., visando compelir a concessionária telefônica a instalar, noprazo contratual, as linhas vendidas e já quitadas, bem como ações derestituição dos empréstimos compulsórios e do selo pedágio, ilegahnentecobrados, além de incontáveis medidas judiciais referentes a confisco derendimentos da cademeta de poupança por força da Lei n. 7.730/89 e,ainda, ação civil pública para impedir a venda da soja transgênica.

O associativismo tem duas vantagens fundamentais, na medidaem que cria no consumidor uma mentalidade de defesa e luta, manten-do certa distância dos órgãos administrativos e políticos. Como desvan-tagens poderiam ser citados o comprometimento político e o desvirtua-mento da finalidade, que devem ser evitados a todo custo, para que taisentidades cresçam em credibilidade.

Para que obtenham a qualificação de organizações da SociedadeCivil de Interesse Público, as entidades civis deverão enquadrar-se noque dispõe a Lei n. 9.790, de 23-3- 1999, recentemente sancionada, des-de que preencham os requisitos dos arts. 39 e seguintes, a partir do quepoderão firmar termo de parceria com o Poder Público, para a fonna-ção de vínculo de cooperação entre as partes (arts. 99 e s.), sendo que asentidades civis hoje existentes poderão promover a adequação em doisanos (art. 18).

d/ A informação do consumidor

Conquanto seja um direito básico do consumidor, e uma decorrên-cia do princípio da transparência, a informação ao consumidor assumeposição relevante para instrumentalizar sua defesa. É obrigação do for-necedor informar ao consumidor todos os dados acerca dos produtos e

nu'serviços, como quantidade, riscos, características, composiçao, data de

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validade, qualidade e preço, para que o consumidor possa exercer livree conscientemente sua escolha (CDC, art. 69, III, c/c os arts. 89, 99 e109). Entre o direito do consumidor e a obrigação do fomecedor inter-cala- se o dever do Estado de exigir e fiscalizar que essa informação sejaefetivamente procedida e de forma adequada. Só assim estaráimplementado o direito e assegurado o cumprimento da obrigação.

e) Os servicos de atendimento das empresasDe tempos para cá, nota-se certo grau de interesse dos empresá-

1-105 na criação de centros ou serviços de atendimento ao consumidor, oque significa, sem dúvida, uma tomada de consciência, a exemplo doque já ocorre em vários países desenvolvidos. Afinal, se uma empresacoloca um produto ou serviço no mercado, deve ser ela a primeira agarantir a qualidade desse produto, principalmente em termos de dura-bilidade e funcionalidade, procurando ela propria e a suas expensasresolver diretamente com o consurmdor os problemas surgidos com ofuncionamento dos produtos cujas qualidades ela assegurou ter.

A criação desses departamentos _ diz a especialista MARIALÚCIA ZULZKE_ tem gerado resultados positivos tanto para os con-sumidores como para as empresas. Para aqueles, em razão do fácil acessoao produtor, pela obtenção de informações ou orientação antes da com-pra, assistência pós-compra, resolução de pendências e oportunidadede influenciar no processo industrial, bem como o estabelecimento deconcorrência saudável e de um capitalismo menos selvagem. Para asempresas, como “fonte de informações; desenvolvimento e posiciona-mento de mercado; subsídio às decisões de marketing por meio dasconsultas; reclamações e manifestações de várias naturezas; elementode controle de performance dos artigos; válvula de escape das tensoes;acompanhamento da dinârnica social, preservação da lealdade e ponti-ança dos consumidores e ganhos de imagem como empresa sensrvel as

IIIquestoes sociais”.Nesse atendimento direto ao consumidor, a empresa evita acúmulo

de reclamações envolvendo os produtos que fabrica, resolvendo previa-

7. Maria Lúcia Zulzke, Vantagens com os novos Departamentos dos C0nSumid01'€S,in Defesa do consumidor _ textos básicos, 2. ed., Brasília: CNDC/MJ, 1988, p. 164-165-

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mente, na via privada, as pendências surgidas. Esse procedimento, alémde eficiente e satisfatório para as partes, desafoga as vias administrati-vas e judiciais, que devem ficar reservadas para aqueles casos em quea solução seja mais difícil ou em que não haja interesse do produtorem resolver.

Os serviços de atendimento tratados nesse item não estão elencadosentre os instrumentos de defesa do consumidor (art. 59, I a V), masrepresentam inegavelmente grande avanço e uma possibilidade concre-ta de diminuição de litígios.

fj Os Juizados Especiais 6'/'veis

De 1984 a 1995 existiram no Brasil os JEPC _ Juizados Especiaisde Pequenas Causas, instituídos pela Lei n. 7.244, de 7-1 1-1984. Buscou-se, com sua instituição, facilitar a solução das pendências de pequenaexpressão econômica até 20 (vinte) vezes o salário mínimo _, ata-cando os dois pontos críticos do acesso ao Judiciáiio. A crítica de ser caraa Justiça, respondeu-se com a gratuidade em primeiro grau (lei citada,art. 51) e com a possibilidade de ingresso direto no Juizado, sem assistên-cia de profissional da advocacia (idem, art. 99). E à pecha de lentidão daJustiça, a lei procurou criar procedimentos expeditos, dando particularimportância à conciliação e buscando descomplicar, simplificar e acele-rar o processo (lei citada, arts. 29, 49, 19, 34 e 36). i

Dois juristas dos mais fervorosos entusiastas dos Juizados de Pe-quenas Causas enalteceram suas qualidades e virtudes. KAZUOWATANABE disse que a criação do JEPC pretendia reverter a menta-lidade de que a Justiça é lenta, cara e complicada, “resgatando ao Judi-ciário a credibilidade popular de que é ele merecedor e fazendo renas-cer no povo, principalmente nas camadas média e pobre, vale dizer, nocidadão comum, a confiança na Justiça e o sentimento de que o direi-to, qualquer que seja ele, de pequena ou grande expressão, sempredeve sçr defendido”8.

Na mesma linha, CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO comple-mentou dizendo que “a nova lei não só confere às camadas mais caren-tes da população um processo acessível, rápido, simples e econômico,

_-_-ígíí

8. RT, v. 600, out. 1985.

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Cgmo ainda pretende transcender a isso e constituir-se em fator educativodestinado a preparar as pessoas para a correta e eficiente defesa dosseus direitos e interesses”, à constatação de que “o atual despreparodeixa-as inertes e em estado de verdadeira apatia, sofrendo lesões edanos sem se animarem a levar seus queixumes ao Poder Judiciário”9.Em outra obra'° salientou DINAMARCO as virtudes da lei quando apli-cada na proteção do consumidor.

Em 26-9-1995 foi editada a Lei n. 9.099, que dispõe sobre osJuizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Foirevogada expressamente a Lei n. 7.244/84. Os JEPC foram substituídospelos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, com nítidas vantagens parao consumidor.

Tudo que se disse quanto à adequação dos JEPC à defesa judiciá-ria do consumidor é aplicável aos novos Juizados Cíveis.

Verifica-se, pela simples leitura dos três primeiros artigos da Lein. 9.099, de 26-9-1995, que o JEC _ Juizado Especial Cível, tal qual oJEPC, é a grande solução para o consumidor, no que se refere ao acessoà Justiça, constituindo um dos mais valiosos instrumentos colocados àsua disposição (CDC, art. 59, IV). Parece ter sido concebido sob medidapara a tutela do consumidor. Como se vê do texto da lei, destina-se àconciliação, processo, julgamento e execução nas causas de sua com-petência (cíveis de menor complexidade) (art. 19), orientando.-se “peloscritérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia proces-sual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ouatransação” (art. 29), desde que o pleito verse sobre direitos patrimoniaise não exceda a quarenta vezes o salário mínimo (art. 39, I), excluídas ascausas de natureza falimentar, fiscal, de interesse da Fazenda Pública, etambém as relativas a acidentes do trabalho, a resíduos e ao estado e àcapacidade das pessoas (art. 39, § 29). '

O JEC teve sua competência bastante ampliada. Além das causascujo valor não exceda a quarenta vezes o salário minimo, foram rnclur-das: as enumeradas no art. 275, Il, do CPC (procedimento sumario), as

-

9. Defesa do consumidor _ textos básic0S, 2- GCI., Bffisfliaí CNDC/MJ» 1988»p. 293.

10. Manual das pequenas causas, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, p. 20-21.

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ações de despejo para uso próprio e as ações possessórias sobre bensimóveis (lei cit., art. 39, I a IV).

Importante registrar que o acesso ao JEC independerá, em primei-ro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou despesas (art.54), e que, nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes nãoestão obrigadas à contratação da assistência por advogados, o que ocor-fe só aeima desse valer (am 92)“, Daí dizer PAULO Lúcio Noouiai-RA que o JEC é conhecido como “justiça dos pobres”.

DEMócRiTo RAMos REINALDO FrLHo, esmdiese de assim-to, afirrna a adequação do JEC como instrumento de defesa do consu-midor: “O Juizado Especial, como instrumento de defesa do consurrri-dor, deve ser deixado para a solução dos litígios mais comuns no dia-a-dia das relações de consumo, envolvendo produtos e serviços de redu-zido valor econômico. Até por uma questão de política judiciária, pare-ce ser prudente não se omarnentar, desde logo, esse órgão especialíssimode uma competência exageradamente ampla em questões de consumosem antes se formar em torno dele uma experiência segura, nem secolherem os primeiros frutos de seu funcionamento”*2.

9/ A atuação do Ministério PúblicoDentre os vários órgãos encarregados da tutela do consurnidor, so-

bressai o Ministério Público como um dos principais instrumentos dessaatuação protetiva (CDC, art. 59, II), mercê das incumbências constitucio-nais e legais da instituição e do alto nível profissional de seus membros.

Sem dúvida, o Mirristério Público desempenha papel de grande re-levância na mediação dos conflitos de consumo, que trazem subjacenteuma potencial litigiosidade entre o interesse do consumidor _ que é deobter bens e serviços em maior quantidade e qualidade por preço menorou acessível _ e o interesse do fomecedor _ que é o de conseguir mai-ores lucros e menores despesas operacionais. Por isso mesmo, pondera,acertadamente, ANTÔNIO HERMAN BENJAMIN que “a tutela do con-sumidor pelo MP tem como premissa básica a defesa do interesse públi-co, algo mais abrangente que o interesse exclusivo do consumidor. Aí

_--_.-...._.m

11. RDC, v. 20, p. 142, out./dez. 1996.12. Juizados Especiais Cíveis e Criminais, São Paulo: Saraiva, 1996, p. 18.

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reside a razão principal por que é o MP, e não outro órgão, a instituiçãomais adequada a carrear a tarefa mediativa nas relações de consumo”'3.

Há, no Brasil, consenso quanto a essa vocação natural do MrmsterioPúblico para atuar na defesa do consumidor, embora o mesmo não ocorraem outros países, como Itália e França, em que o órgão.n1iniste1'1Ell Gacusado de inerte e carecedor de estrutura adequada. Aqui, no entanto,onde o Ministério Público possui estrutura diferenciada, tal crítica não seaplica, porquanto o parquet tem desempenhado seus mrsteres. com de-senvoltura sendo responsável pelo ajuizamento da quase-totahdade dasações judiciais de interesse dos consumidores, coletiva e difusarnenteconsiderados (estima-se em 90% a 95% esse percentual).

A função de tutelar o consumidor é atribuída ao Ministério Públi-co pela Constituição Federal, ex vi dos arts. 127 e 129, III, bem comopela Lei Complementar n. 40/81 (Lei Orgânica do Ministério Públicoda União), pela Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do MinistérioPúblico) e pela Lei n. 7.348/85 (que disciplina a ação civil pública).Isso sem esquecer que o CDC (Lei n. 8.078/90) reservou destacada par-ticipação à instituição, na defesa do consumidor, como o atestam o § 49do art. 51, o inciso I do art. 82, o art. 91 e o art. 92.

No âmbito do Ministério Público Federal existe a 39 Câmara deCoordenação e Revisão, que atua na área de defesa do consumidor edefesa da economia, centralizada em Brasília, com representantes regio-nais nos Estados. Essa estrutura, no entanto, não dá exclusividade deatuação ao representante na propositura de ações, o que poderá ser feitopor qualquer Procurador da República, na Capital e nos Municípios quepossuem Varas da Justiça Federal.

Em âmbito estadual, existem as Curadorias ou Coordenadorias deDefesa do Consumidor do Ministério Público, sediadas na Capital, quecoordenam e municiarn os Promotores de Justiça nas Comarcas.

Importa ressaltar, nesse passo, a mudança de postpra da institui-ção, que passou a participar mais ativamente das questoes sociais queafetam diretamente o cotidiano da população. Nesse SCIIHCÍO, f€1.1Z!Coportuna a observação de JOSE GALVANI ALBERTON: O Ministe-

_

13. Defesa do consumidor _ textos básicos, 2. ed., Bfasfliaí CNDC/MJ, 1933,p. 223.

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rio Público era, tradicionalmente, um órgão de atuação reflexa. Agiaquando provocado. Era preciso que os autos lhe chegassem às mãospelo caminho formal do processo para que ele, então, acionasse o co-mando da lei. Se as partes não deduzissem as suas pretensões, ou se aPolícia não apurasse corretamente os fatos evidenciando as agressõesàs nonnas de conduta, o Ministério Público, de hábito, sobrepairava nacomodidade de um vazio pouco dignificante”. E prossegue: “Felizmen-te não é esta a imagem que o retrata nos dias de hoje. Os seus agentesevoluíram da situação de passividade e da condição de acusadores frios,técnicos e sistemáticos para se transfonnarem, ativa e positivamente,na expressão viva da vontade da lei, enquanto instrumento de tutela dointeresse público e coletivo”“.

/1) Assistência jur/dicaO leque dos instrumentos da defesa do consumidor não estaria

completo se, dentre eles, não se incluísse a Assistência Jurídica, quedeverá ser instituída e mantida pelo Poder Público e será integral e gra-tuita para o consumidor carente (CDC, art. 59, I). Aliás, tal inclusãoguarda consonância com os incisos VII e VIII do art. 69 do mesmo Có-digo, sede na qual o acesso à Justiça e à Administração é asseguradocomo direito básico do consumidor, em ordem a garantir-lhe “a prote-ção jurídica, administrativa e técnica”, quando necessitado, bem como“a facilitação da defesa de seus direitos”.

Negar essa proteção jurídica e judiciária ao consumidor, mormen-te quando carente, seria negar o respeito aos seus direitos, em vista dosobstáculos que enfrentaria para a sua consecução, o que fatalmente olevaria ao imobilismo e ao desencanto.

Cremos que o legislador, ao utilizar a expressão “assistência jurí-dica”, quis abranger tanto a orientação jurídica prestada ao consumidorem suas consultas diante dos órgãos administrativos e até do MinistérioPúblico, como também a assistência judiciária propriamente dita, pre-vista na Lei n. 1.060, de 5-2-1950, que coexiste perfeitamente com asdisposições do Código do Consumidor e dispensa o consumidor caren-

_-_íi._í._

14. José Galvani Alberton, Defesa do consumidor _ textos básicos, 2. ed.,Brasília: CNDC/MJ, 1988, p. 256.

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1-__

d a amento de honorários advocatícios de seu patrono (que seráte O p Ê P'blico onde existir ou advogado credenciado ou no-Ou O De E-inS'Or' u o inister) de hônorários de perito, além de isentá-meado pe OJUIZ pada ustas focessuais No JEC está expressamente10 di.) paganiílito iaerfirídieapse uma das partes comparecer assistida

gbívádiilošàilld Írliicse ii) réu fof pessoa jurídica ou firma individual (Lei n.9.099/95, art. 99)- _

Em dispositivo que guarda paralelismo com a Lei n. 4.717, de 29-6-1965 (que regula a ação populf1I`)› 6 00111 E1 _Le1 n. .7.347, de 24-7-19585(ação civil pública), a nova lei do consumidor drspoe que nas açoescoletivas não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honoráriospericiais e quaisquer outras despesas. O Ministerio Publico. e as entida-des públicas legitimadas concorrentemente para a p1'op0S1'íU1'~"1 dC talsações coletivas (CDC, art. 82, I e II) estão totalmente,rsentos do paga-mento de despesas processuais. Também não havera condenaçao daassociação autora, em honorários advocatícios, custas e despesas pip-cessuais, salvo litigância de má-fé, hipótese em que os diretores seraosolidariamente responsáveis e haverá conden/açao em h0I10I`‹'f1I`10Sadvocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuizo de perdas e ÓEIHOS(CDC, art. 87, caput e parágrafo único).

/7 As delegacias especializadas 1, . z - “ ' "' acias deO Codigo procura tambem estimular a criaçao de deleg _

polícia especializadas no atendimento de consumidores vitimas de in-.. - ›› 9 `nstrumento afraçoes penais de consumo (CDC, 2111- 5 s 111)» 001110 1 _ _ __propiciar a tutela do consumidor. Trata-se de uma especializaçao da

, . - ' ' ` tributos e dapolrcra, que decorre da singularidade da vitima, de seus a te a es eci- ' ' ^ rescen -natureza do bem violado. Na atualidade e tendencia c | ,P_

alização da polícia em setores de atuação, como, P- GX-, h0m1C1d10S›f ' ' '* e, mais recen-roubos e furtos, Fazenda Publica, atendimento a mulher

temente, atendimento ao consumidor.A experiência tem mostrado ser benéfica essa espƒecioalizaçao, de

um jade porque possibilita um melhor aparelhamerito tecnico e profis-sional da polícia e, de outro, porque facilita o atendimento do consumi-dor, retirando-lhe a natural inibição de formular queixa em plant0eSpoliciais, em convivência com vítimas e autoreside outros crimes, numambiente deprimente e desalentador. Não há duvida de que os de11Í0S

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contra o consumidor apresentam característica de menor violência, sendopraticados, na maioria das vezes, por pessoas de bom ou razoável nívelcultural, como o são os fomecedores de produtos e serviços. Tudo isso,no conjunto, justifica a departamentalização da polícia, que, dessa for-ma, melhor desempenhará seu mister.

Não se tem notícia da existência de delegacias especializadas doconsumidor em todos os Estados da Federação.

De toda a sorte, como que reconhecendo a importância de taisdelegacias na defesa do consumidor, o legislador procurou incluí-lascomo instrumentos aptos à realização dessa política, com isso exortan-do os Estados que já as possuem a mantê-las e solidificá-las, e àquelesque ainda não as instituíram, para que o façam, em vista dos excelentesresultados até agora obtidos.

« Em pesquisa realizada pelo Departamento Estadual de Polícia doConsumidor de São Paulo, verificou-se que, no período de 1983 a 1986,as fraudes mais comumente denunciadas eram as seguintes: defeitosem móveis, prazos de validade vencidos e deterioração de alimentos eremédios, sonegação ou recusa de venda de mercadorias, transgressãode tabelas oficiais, fraude em pesos e medidas, adulteração de taxíme-tros, usura, locação de imóveis, condomínios, loteamentos irregulares,estelionatos em geral, compra e venda de telefones.

17 Outros instrume/:tos

Por fim, outros instrumentos são oferecidos ao consumidor no in-tuito de protegê-lo: os institutos de pesos e medidas, a vigilância sanitá-ria e o cadastro oficial de empresas inidõneas.

Os institutos de pesos e medidas desempenham papel de alta rele-vância na defesa do consumidor, porquanto precisamente nessas áreasocorre o maior número de fraudes, de tal sorte que a criação de órgãoadmin§trativo e seu efetivo funcionamento têm o condão de reprimiros abusos verificados, causando reflexamente uma função educativa aoinibir alguns comportamentos desse jaez. Em âmbito federal existe oImnetro -- Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualida-de Industrial, hoje vinculado ao Ministério da Justiça. Em simetria, osEstados-Membros - ou parte deles -- possuem também os seus insti-tutos de pesos e medidas.

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. . / u e A ' 't fria,

Outro instrumento de grande valia e a vtgzlancta sam ao pue exerce importante trabalho de fiscalização nas áreas .de alimentos e

gledicamentos, vitais para a população, em que reconhe.cidamente_oco1~_1-em abusos e fraudes de toda a sorte. Tais órgãos de vigilância sanitflrle,em geral ligados aos Ministérios e Secretarias de Saúde e da Agricultu-ra exercem o poder de polícia do Estado nesse setor, fiscalizando, apre-7 . f °- - - ' m ro nos ao consumoendendo e inutilizando produtos irregulares. e 1 P P _humano bem como interditando os respectivos estabelecimentos pro-9 _ ,

dutores. Observa-se, assim, que um sistematico e eficiente t1'21b2l1h0 devigilância sanitária redundará em melhoria de qualidade dos pro(1_làt0S. .. ' ~ r.oferecidos e, consequentemente, numa maior proteçao do consuini A0Na área federal foi criada recentemente a Agência Nacional de Vigilan-cia Sanitária (Lei n. 9.787, de 10-2-1999)»

O cadastro das reclamaçõesfundamentadas, por outro lado, e tam-bém instrumento de defesa do consumidor. Trata-se de inovaçao trazidano art. 44 do CDC, estabelecendo que “os órgãos públicos de defesa doconsumidor manterão cadastros atualizados de reclamações fundamen-tadas contra fornecedores de produtos e serviços, devendo divulga-lospública e anualmente”, indicando se a reclamaçao foi atendida ou 1180pelo fomecedor, bem como facultando-se o acesso as 1_nforinaç0e,S paraorientação e consulta por qualquer interessado. O dispositivo e uânareação à idêntica prática dos fomecedores, por meio dos conheci osServiços de Proteção ao Crédito -SPC. Agora, tambem os consumi-dores terão acesso a um cadastro de fornecedores que, comprovada eusualmente, cometem abusos e fraudes contra eles, de modo que assiím,previamente cientificados, poderão deixar de contratar com fornece o-res dessa natureza. Aliadas à função preventiva, surgem pflralelflmfiflíeas funções educativa e depurativa do mercado, com o que se pišlíruâflexpor e isolar os fraudadores contumazes. Alias, o Decreto n. 2.1 e20-3-1997, estabelece que os cadastros de reclamaçoes fundamenta ascontra fornecedores constituem instrumento essencial de defesa e on-entação dos consumidores, devendo os órgãos .publicos competenteSassegurar sua publicidade, confiabilidade e continuidade (art. 59)»

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Capítulo 2Teonm GERAL no n|nE|To no

conisuivunon -co|\|cE|Tos, o|nE|Tos BÁs|cos.

Pmnicívios E cA|v|Pos DE TUTELA

Sumário: 2.1. Conceito de consumidor. 2.2. Conceito de for-necedor. 2.3. Direitos básicos do consuinidor. 2.3.1. Direito à se-gurança. 2.3.2. Direito à educação para o consumo. 2.3.3. Direito àinformação. 2.3.4. Direito às proteção contratual. 2.3.5. Direito àindenização. 2.3.6. Direito ao meio ambiente saudável. 2.3.7. Di-reito à melhoria dos serviços públicos. 2.3.8. Direito a ser ouvido

d 2 4 P ` ' ` 'f os licáveis 2 5 Os vários- veta o. . . rincipios especi ic ap . . .campos da tutela. 2.5.1. A tutela genérica. 2.5.1.1. Atutela da ONU.2.5.1.2. A tutela constitucional. 2.5.2. A tutela específica.

2.1. Conceito de consumidor

Adveitem os autores não ser fácil a tarefa de definir o consumidorno sentido jurídico. Isto porque há certa tendência de aceitar a concep-ção econômica de consumidor, que nem sempre é transferida e acolhi-da pelo Direito, já que considerações políticas podem interferir nesseconceito, restringindo-o ou ampliando-o, o que compromete a margemde precisão que uma definição jurídica deve ter.

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Consumidor, do ponto de vista econômico - assinala JOSÉ GE-RALDO DE BRITO FILOMENO -, é “todo indivíduo que se faz des-tinatário da produção de bens, seja ele ou não adquirente, e seja ou não,a seu tumo, também produtor de outros bens”1. O conceito abrange,pois; não apenas aquele que adquire para uso próprio, ou seja, comodestinatário final, como aquele que o faz na condição de intermediário,para repasse a outros fornecedores. Daí a inconveniência de transplan-tar-se a concepção econômica de consumidor para o campo jurídico.

Vários autores nacionais lançaram-se à tarefa de expressar o con-ceito jurídico de consumidor. 9

Na visão do Prof. WALDIRIO BULGARELLI, consumidor é“aquele que se encontra numa situação de usar ou consumir, estabele-cendo-se, por isso, uma relação atual ou potencial, fática sem dúvida,porém a que se deve dar uma valorização jurídica, a fim de protegê-lo,quer evitando quer reparando os danos sofridos”2.

Já para OTHON SIDOU, consumidor é l“qualquer pessoa naturalou jurídica, que contrata, para sua utilização, a aquisição de mercadoriaou a prestação de serviço, independentemente do modo de manifesta-ção de vontade; isto é, sem forma especial salvo quando a lei expressa-mente a exigir”3ll

O Prof. FABIO KONDER COMPARATO, a seu tumo, conceituaconsumidores como aqueles “que não dispõem de controle sobre bensde produção e, por conseguinte, devem se submeter ao poder dos titula-res destes”4.

ANTÔNIO HERMAN DE V. E BENJAMIN debruçou-se exausti-vamente sobre o tema, discorrendo de forma detalhada sobre o conceitojurídico do consumidor, para exprimi-lo como sendo “todo aquele que,para seu uso pessoal, de sua família, ou dos que se subordinam por

lÉ“'Curadoria de Proteção ao Consumidor - Cadernos Informativos, São Pau-lo: Ed. APMP, 1987, p. 12.

2. Tutela do consumidor na jurisprudência e “de lege ferenda”, Revista de Direi-to Mercantil, ano 22, nova série, v. 49, p. 44, jan./mar. 1983.

3. Proteção ao consumidor, Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 2.4. A proteção do consumidor: importaiite capítulo do direito econômico, in De-

fesa do consumidor - textos básicos, 2. ed., Brasília: CNDC/MJ, 1988, p. 37.

vinculação doméstica ou protetiva a ele, adquire ou utiliza produtos,serviços ou quaisquer outros bens ou informação colocados à sua dis-posição por comerciantes ou por qualquer outra pessoa natural ou jurí-dica, no curso de sua atividade ou conhecimento profissionais”5.

Parece-nos, no entanto, que tais conceitos são insuficientes, porserem incompletos e restritivos (BULGARELLI, SIDOU e COMPA-RATO), à exceção daquele expendido por Benjamin, que é satisfatórioe se coaduna com a orientação mais atualizada.

No entanto, hoje, no Brasil, já existe uma conceituação legal doconsumidor, que foi dada pelo tão festejado CDC - Código de Defesado Consumidor (Lei n. 8.078, de ll-9-1990). Diz o art. 29 que`“consu-midor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ouserviço como destinatário final”, incluindo-se, também, por equipara-ção, “a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que hajaintervindo nas relações de consumo”l(art. 29, parágrafo único).

Pela definição legal, portanto, consuniidor há de ser:a) pessoa fisica ou jurídica, não importando os aspectos de renda

e capacidade financeira. Em princípio, toda e qualquer pessoa física oujurídica pode ser havida por consumidora. Por equiparação é incluídatambém a coletividade, grupos de pessoas, p. ex., a família (determi-náveis) e os usuários dos serviços bancários (indetermináveis). Cum-pre observar, no particular, que háquem entenda que consumidor sópode ser a pessoa física, ou seja, individual (RT, v. 628, p. 72). Mas jáhá jurisprudência afirmando que pessoa jurídica, quando destinatáriafinal, é considerada consumidora (TARS, 9* Câin. Civ., AI 196.008.379,rel. Juiz Tanger Jardim, j. 2-4-1996, v. u., RDC, v. 20, p. 171);

b) que adquire (compra diretamente) ou que, mesmo não tendoadquirido, utiliza (usa, em proveito próprio ou de outrem) produto ouserviço, entendendo-se por produto “qualquer bem, móvel ouiimóvel,material ou imaterial” (CDC, art. 39, § 19) e por serviço qualquer ativi-dade fornecida a terceiros, mediante remuneração, desde que não sejade natureza trabalhista (CDC, art. 39, § 29);

c) como destinatáriofinal, ou seja, para uso próprio, privado, indi-vidual, familiar ou doméstico, e até para terceiros, desde que o repasse

5. O conceito jurídico do consumidor, RT, São Paulo, v. 628, p. 78, fev. 1988.

36 37

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não se dê por revenda. Não se incluíram na definição legal, portanto, ointermediário e aquele que compra com o objetivo de revender apósmontagem, beneficiamento ou industrialização. A operação de consu-mo deve encerrar-se no consumidor, que utiliza ou permite que sejautilizado o bem ou serviço adquirido, sem revenda. Ocorrida esta, con-sumidor será o adquirente da fase seguinte, já que o consumo não teve,até então, destinação final. Existe a possibilidade de concentrarem-senuma mesma pessoa ambas as figuras, quando há em parte consumointermediário e consumo final. É o caso, p. ex., das montadoras de au-tomóveis, que adquirem produtos para montagem e revenda (autopeças)ao mesmo tempo em que adquirem produtos ou serviços para consumofinal (material de escritório, alimentação). O destino final é, pois, anota tipificadora do consumidor.

Com tais considerações, pressente-se que algumas dificuldadespoderão surgir em face do conceito legal de consumidor:

1) A primeira, atinente à maior ou menor amplitude noenquadramento da pessoa jurídica na categoria de consumidor. Rebe-lain-se FILOMENO e BENJAMIN contra tal inclusão ao argumento deque tais entidades possuem força suficiente para arquitetar suas defe-sas, não estando, por isso, naquela situação de vulnerabilidade, caracte-rística do consumidor. Tais autores defendem a chamada teoriaminimalista. Hoje, perde sentido tal inconformismo, porquanto a defi-nição legal de consumidor (CDC, art. 29) contempla a pessoa física e ajurídica independentemente de nível de renda, fortuna ou capacidadefinanceira, não se excluindo quem quer que seja da tutela por critériosmeramente econômicos, ou seja, o CDC adotou o conceito maximalistade consumidor. De toda sorte, a crítica que se faz em relação à pessoajurídica e economicamente bem-dotada poderia, em princípio, ser es-tendida à pessoa física, que pode igualmente ostentar as mesmas condi-ções. Ao que parece, o legislador preferiu ampliar o guarda-chuva datutela a restringi-lo demasiadamente, à falta de critério objetivo quepudesse assegurar uma seletividade de quem deveria receber a tutela,opção que nos parece a mais justa e correta. Além disso, o legisladorreservou benefícios especiais, como aquele da inversão do ônus da pro-va (CDC, ait. 69, VIII), aos comprovadamente hipossuficientes, outor-gando-lhes, assim, proteção mais ampla.

2) Outra objeção que se coloca é aquela atinente ao entendimentodo que seria fornecedor. Sustenta THIERRY BOURGOIGNIE que só

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se caracteriza o consumidor se a aquisição ou utilização for de bens eServiços “colocados no mercado econômico por alguém que atua emfunção de atividade comercial ou profissional”6. Consumidor seria aqueleque adquire ou utiliza bens e serviços ofertados por fomecedor. E certoque a definição legal de consumidor não vincula expressamente queessa aquisição ou utilização deva ser de bens ou serviços ofertados porfornecedor tal como defiiiido em lei, ou seja, não está dito claramenteque consumidor é só aquele que adquire ou utiliza produto ou serviçode quem os oferece no exercício de sua atividade comercial ou profissi-onal. Trata-se, no entanto, de uma decorrência necessária, pois se a re-lação de consumo pressupõe duas pontas, numa delas estando o consu-midor, é curial que na outra esteja o fornecedor. A definição legal dei-xaria de fora, portanto, quem adquire ou utiliza bens ou serviços deterceiros que não exerça a indústria, o comércio ou a profissão comhabitualidade, ou seja, faça disso sua atividade principal. A solução paratais casos está no direito privado, à vista dos princípios da igualdadedas partes e da autonomia da vontade, logicamente submetendo-se asquestões aos esquemas tradicionais de defesa do direito individual sub-jetivo, inclusive demonstração de dolo e culpa. Como a defesa do con-sumidor está baseada fundamentalmente no primado da vulnerabilidade,não convém que se amplie em demasia a tutela para alcançar tambémoutras atividades reguladas pelo Direito Civil.

3) Por fim, resta analisar a tentativa de restrição que se coloca emrelação à finalidade da aquisição ou utilização. Diz BENJAMIN que,“na França, o projeto de Código de Consumo, elaborado sob a orienta-ção do Prof. Jean Calais-Auloy, propõe que consumidores “são as pes-soas físicas ou jurídicas que obtêm ou se utilizam de bens ou serviçospara um uso não profissional” (art. 39)”7. Ora, no Brasil tal restrição nãoteria como vingar. Pela definição legal de consumidor, basta que eleseja o “destinatário final” dos produtos ou serviços (CDC, art. -29), in-cluindo aí não apenas aquilo que é adquirido ou utilizado para uso pes-soal, familiar ou doméstico como aquilo que é adquiiido para o desem-penho de atividade ou profissão, bastando, para tanto, que não haja afinalidade de revenda. O advogado que adquire livros jurídicos para

í'

6. RT, v. 628, p. 72.7. RT, v. 628, p. 74.

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bem desempenhar sua profissão é, sem dúvida, destinatário final dessaaquisição, e, como tal, consumidor, segundo a definição legal. Não hárazão plausível para que se distinga o uso privado do uso profissional;mais importante, no caso, é a ausência de finalidade de intermediaçãoou revenda. Da mesma forma, já se decidiu que “empresa produtora decelulose é consumidora, nos termos do art. 28, caput, da Lei n. 8.078/90, de forniicida para aplicação em suas florestas”8.

2.2. Conceito de fornecedorDiferentemente do que ocorre com o consumidor, o conceito de

fomecedor não é debatido com freqüência pelos autores, talvez em de-corrência do vasto leque de atividades econômicas e da amplitude daárea de prestação de serviços. Embora seja mais cômodo definir-se porexclusão, ou seja, dizer quem não pode ser considerado fomecedor. Emprincípio, portanto, só estariam excluídos do conceito de fornecedoraqueles que exerçam ou pratiquem transações típicas de direito privadoe sem o caráter de profissão ou atividade, como a compra e venda deimóvel entre pessoas físicas particulares, por acerto direto e sem qual-quer influência de publicidade.

Podemos, pois, aceitar com tranqüilidade a definição legal de for-necedor, que engloba\“toda pessoa física ou jurídica, pública ou priva-da, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, quedesenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,transformação, importação, exportação, distribuição ou comercializaçãode produtos ou prestação de serviços”|(CDC, art. 39). Para evitar inter-pretações contraditórias, o legislador preferiu definir produto como sendo“qualquer bem,móvel ou imóvel, material ou imaterial” (art. 39, § 12),e serviço como “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de carátertrabalhista” (art. 3”, § 29).

A definição legal praticamente esgotou todas as formas de atua-ção no mercado de consumo. Fomecedor é não apenas quem produz ou

ii-.

s. RDC, v. 20, p. 171.

40

fabrica, industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriaiscentralizados ou não, como também quem vende, ou seja, comercializaprodutos nos milhares e milhões de pontos-de-venda espalhados portodo o território. Nesse ponto, portanto, a definição de fornecedor sedistancia da definição de consumidor, pois enquanto este ha de sãr o. ,. -^ '°' ~ ' fomeceordestinatário final, tal exigencia ja nao se verifica quanto ao Q ,que pode ser o fabricarite originário, o intennediario ou o comerciante,bastando que faça disso sua profissão ou atividade. principal. Forneâe-dor é, pois, tanto aquele que fomece bens e serviços ao consumi gr

z ' ' ercian ,como tambem aquele que o faz para o interinediario ou lqolm d lo¢ . ; o I a O e

porquanto o produtor originario tambem deve ser responsa i iz pproduto que lança no mercado de consumo (CDC, art. 18)»

O conceito legal de fornecedor engloba também as atiV1d¡=1d€S demontagem, ou seja, a empresa que compra peças isoladalneflíe Pfedd'zidas para a montagem do produto final (p.. ex., .aut0m0Vf-215)» as de Cn'ação, construção, transformação (de matéria-prima em pIf>dl1Í0 flefibe'du), bem como as de importação, exportação e distribuiçao (p. ex., doatacadista para os pequenos varejistas).

A definição do que seja fomecedor aliada à explicitação do enten-dimento dos termos produto e serviço facilita sobremodo a aplicaçãoda lei, pois elimina, na medida do possível, dúvidas que podenam pai-rar sobre o correto entendimento do conteúdo de cada termo. Tal .medi-da inclusive, define bem o alcance da tutela do consumidor, pois per-mite a clara identificação de quem está abrangido por ela e, por exclu-são, quem a ela não se submete.

A área que se refere a produto parece não comportar maiores indãi-gações, pois, mesmo grosso modo, entende-se que fornecedor.:-11 tg 0

° a es:aquele que fornece produtos, praticando uma das seguintes ativi Hprodução, montagem, criaçãe, C01'1SÍ1`UÇã0› Ífe1'1Sf01`H1eÇe0› 1mP°11a9a°*exportação, distribuição ou comercialização.

Dúvida poderia surgir no que tange ä pfCSÍfl9ã0 de /Se1'V1Ç05› mâs 9importante ter sempre em mente que tal prestaçao. sera remunera a enão subordinada a vínculo trabalhista. Sendo gratuita, como ocorre, p.. iiex., com atos de camaradagem e os decorrentes de parentesco e viznhança, os conhecidos favores, não será serviço a que a lei emprestatutela. Do mesmo modo, se o serviço e prestado por forçla de contra^o

- z ' ~ ono-de trabalho, mediante vinculo de subordinaçao e depen encia ec

A 41

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mica, estará fora da definição de serviço, tal como definido em lei, e,por isso mesmo, submetido à legislação pertinente (CLT). Afora essesaspectos, o próprio legislador cuidou de enumerar algumas atividadesque caracterizaiiam prestação de serviço, como as de natureza bancá-ria, financeira, creditícia e securitária. Tal enumeração, no entanto, éapenas exemplificativa e não exaure o rol de atividades também enqua-dradas. Outras atividades podem ser incluídas, como, por exemplo, aprestação de serviços educacionais e de administração imobiliária, adespeito de entendimento contrário de OTHON SIDOU9.

Prestadoras de serviço são também as concessionárias de serviçopúblico, pois a definição legal enumera explicitamente, dentre as mo-dalidades de fomecedores, a pessoa jurídica de direito público e de di-reito privado. Assim, também estariam incluídos na tutela os serviçosde transporte, saúde, telefonia, correios, alguns deles operados por em-presas ou entidades governamentais, outros objeto de concessão a em-presas privadas ou privatizadas. Frise-se, aliás, que um dos direitos bá-sicos do consumidor é poder contar com “a adequada e eficaz prestaçãodos serviços públicos em geral” (CDC, art. 68, X), prevendo a Consti-tuição a edição de legislação complementar que disporá sobre os direi-tos dos usuários dos serviços públicos (CF, art. 175, II).

Da enumeração não escapam sequer os “entes despersonalizados”,para evitar que precisamente essa falta de personalidade jurídica de al-guns entes venha a ser motivo de fraude e prejuízo ao consuinidor. Porisso são considerados fornecedores aqueles entes ou agrupamentos (pex., família) que, mesmo sem personalidade jurídica, pratiquem as ati-vidades tipicas de fornecimento de produtos e serviços, segundo o enun-ciado legal.

2.3. Direitos básicos do consumidorSão direitos fundamentais e universais do consumidor, reconheci-

dps pela ONU-Organização das Nações Unidas, por meio da Resolu-çao n. 32/248, de 10-4-1985, e também pela Iocu, hoje InternationalConsumers:

í_

9. Op. cit., p. 9.

42

a) direito à segurança - outorga garantia contra produtos ou ser-viços que possam ser nocivos à vida, à saúde e à segurança;

b) direito à escolha _ a assegurar ao consumidor opção entrevários produtos e serviços com qualidade satisfatória e preços competi-tivos;

c) direito à informação - o consumidor deve conhecer os dadosindispensáveis sobre produtos ou serviços para atuar no mercado deconsumo e decidir com consciência;

d) direito a ser ouvido - o consumidor deve ser participante dapolítica de defesa respectiva, sendo ouvido e tendo assento nos organis-mos de planejamento e execução das políticas econômicas e nos órgãoscolegiados de defesa;

e) direito à indenização - é indispensável buscar-se a reparaçãofinanceira por danos causados por produtos ou serviços;

f) direito à educação para o consumo - o consumidor deve sereducado formal e informalmente para exercitar conscientemente suafunção no mercado, restabelecendo-se, por esse meio, na medida dopossível, o equilíbrio que deve haver nas relações de consumo;

g) direito a um meio ambiente saudável - à medida que o equilí-brio ecológico reflete na melhoria da qualidade de vida do consumidor,de nada adiantaria cuidar dele isoladamente enquanto o ambiente que ocerca se deteriora e traz efeitos ainda mais nocivos à sua saúde.

Postos, assim, os direitos básicos do consumidor, universalmentereconhecidos, verifica-se que o legislador brasileiro cuidou de adotá-los e transplantá-los para o Código do Consumidor, com pequenas mo-dificações ou ampliações. Desse modo, observa-se certa simetria entreos direitos enumerados pelo organismo intemacional e aqueles assegu-rados pelo legislador pátrio no art. 69, I a X, do citado Código. Sãosimétricos, por exemplo, os incisos I, II, III, VI e VII; configuram am-pliação os incisos IV, V, VIII e X; foi vetado o inciso IX, que asseguravao direito a ser ouvido, e não contemplado na nova legislação o direito aum meio ambiente saudável. Não obstante esses reparos, é positiva aenumeração de tais direitos, posto que a lei é dirigida aos operadores doDireito em geral, mas deve ser acessível, também, e principalmente, àspartes envolvidas, o fornecedor e o consumidor, não necessariamenteversadas no estudo das leis. A legislação bem explícita e ordenada deforina didática servirá, sem dúvida, para que se chegue a um maior grau

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de esclarecimento e conscientização dos partícipes da relação de con-sumo, o que poderá redundar numa redução de conflitos.

Apesar de termos detalhado bem tais direitos básicos, cremos serinteressante tecer alguns comentários sobre eles, agora segundo a or-dem de apresentação no novo Código.

2.3.1. Direito à segurança

O CDC contém nonnas que garantem a proteçãoà saúde e segu-rança dos consumidores, garantindo que “os produtos e serviços colo-cados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segu-rança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis”(art. 89), ao mesmo tempo em que estabelece a responsabilidade objeti-va do fomecedor (fabricante, produtor, construtor e importador) pelareparação dos danos causados (art. 12). Há, assim, correlativamente, aenunciação do direito de “proteção da vida, saúde e segurança contra osriscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviçosconsiderados perigosos ou nocivos” (art. 69, I). Se há um direito deconsuinir produtos seguros e eficientes, há o dever do Estado de outor-gar a proteção correspondente.

2.3.2. Direito à educação para o consumo

É primordial que o consumidor seja educado para o consumo, afim de que aumente o seu nível de consciência e ele possa enfrentar ospercalços do mercado. Educação formal é aquela incluída nos currícu-los escolares e informal a que deriva dos meios de comunicação social.Objetiva-se dotar o consumidor de conhecimentos acerca da fruiçãoadequada de bens e serviços, de tal sorte que ele possa, sozinho, optar edecidir, exercendo agora outro direito, o de liberdade de escolha entreos vários produtos e serviços de boa qualidade colocados no mercado(art. 69,`¶I, 19 e 29 partes).

2.3.3. Direito à informação

Há estreita relação com o direito à segurança, pois, se o consumi-dor tem o direito de consumir produtos e serviços eficientes e seguros,

44

é intuitivo que deve ser ele informado adequadamente acerca do consu-mg dos produtos e serviços, notadamente no que se refere a especificaçaocom-_›,ta de quantidade, característica, composição, qualidade e preço,bem como dos riscos que apresentam. Aliás, por força da lei, o fornece-dor está obrigado a dar as informações pertinentes, de forma que che-guem com clareza e precisão ao conhecimento do consumidor, seja por

- O__ I _ . . , _ I,

impressos apropriados ou anuncios publicitarios (CDC, arts. , Capizlparágrafo único 99 e 10 §§ 19 a 39) O direito à informaçao esta inscrito9 9 '

no inciso III do art. 69.

2.3.4. Direito à proteção contratual

Inovando e fugindo à simetria com a ONU, o legislador inscreveuno rol do art. 69 o direito à proteção contratual, abrangendo, de. maneirageral as cláusulas abusivas e exagerad2lS, C, de Hlaflelfa eSPf5C1a1› 3 PU'9 _ _ H ¡ -› /

blicidade enganosa. Tal direito decorre das disposiçoes do proprio Codigo que de forma taxativa e exaustiva reprime as cláusulas abusivas eexageradas e a publicidade enganosa (CDC, EIITS- 30, 42. 46, 54» 61» 67e 68). Curial, portanto, que a tais disposições repressoras cäJiëe,s(pondcSS€

. - - _ i o enu-um direito especificamente assegurado ao consumidor p g t- - - f ° ' ao con ra amera, assim, como direito basico do consumidor, aproteç . .

publicidade enganosa e abusiva, metodos comerciais coercitivps ou- f ' ~' m os as nodesleais, bem como contra praticas e clausulas abusivas ou p N

fornecimento de produtos e serviços” (art. 69, IV) e a “modificaçao daScláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ousua revisão em razão de fatos supervenientes que as tomeâii exceísiitfa-

- f ' " s con ra osmente onerosas” (inc. V), ai consagrando a via da revisao opor onerosidade excessiva superveniente.

2.3.5. Direito à indenização' ' ^ ' nos ao con-Todo o aparato legal visa a prevenir a ocorrencia de da bl.

- - ' ~ s onsa 1 1-sumidor, quer estipulaI1d0 0b1`18a§0eS 30 f<fm@Ced01`› fluef fe P t dzando-o por danos e defeitos, quer restringindo a autonomia da von a 6nos contratos, quer criminalizando condutas, mas tal nao impede quetais danos venham a ocorrer. Por isso, é assegurado como direito (10consumidor o ressarcimento do prejuízo S0fr1d0, Seja P‹'1U`1m0n1al= m0'

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ral, individual, coletivo ou difuso, pois, do contrário, não haverá efeti-vidade na tutela (CDC, art. 69, VI). Ao direito à indenização está direta-mente ligado o direito de acesso à Justiçaše à Administração, vias nasquais poderá ser pleiteado e obtido o respectivo ressarcimento (inc. VII).E, nesse acesso à Justiça, está incluída a “facilitação da defesa de seusdireitos”, ou seja, deve o Estado remover os entraves ou criar mecanis-mos que tomem mais fácil a defesa do consumidor em juízo, certo quea própria lei já indica dois desses meios: a inversão do ônus da prova noprocesso civil, obedecidas as condições legais, e a Assistência Judiciá-ria (inc. VIII c/c VII, parte final). Em relação ao direito à indenizaçãohá simetria com os direitos elencados pela ONU; o mesmo não ocorreem relação ao acesso à Justiça e à facilitação da defesa.

2.3.6. Direito ao meio ambiente saudável

Esse direito do consumidor constante da relação da ONU não éreproduzido no art. 69 do CDC. Tal não significa dizer, no entanto, queo legislador tenha negado ao consumidor o direito de que se trata. É queele já se encontra assegurado expressamente na Constituição, não demaneira especial ao consumidor, mas, de forma geral, a todos, ou seja,a toda a população brasileira (CF, art. 225), de sorte que a reproduçãoteria o sabor de redundância.

2.3.7. Direito à melhoria dos serviços públicos

Dentro do raciocínio de que o Estado também pode ser fomece-dor, e, pois, prestador de serviço público (CDC, art. 39), e os serviçospúblicos prestados pelas entidades oficiais, perinissionárias ou conces-sionárias, também devem ser eficientes e seguros, o que não mostra arealidade nacional, monnente nos campos de saúde e transportes, foialtamente oportuna a inclusão desse item no rol dos direitos do consu-midor. Ao mesmo tempo em que se reconhece a deficiência e a precari-edade dos serviços públicos, recomenda-se ao Estado que o faça deforma adequada e eficaz (art. 69, X). A propósito, o próprio texto cons-titucional indica que o Poder Público expedirá lei assegurando os direi-tos dos usuários, que são os consumidores de serviços (CF, art. 175, II).

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2.3.8. Direito a ser ouvido - vetado- ' ' ` consa radoCumpre registrar, por fim, que o direito a ser ouvido, N g

1 ONU e que prevê a participação do consumidor nas discussoes daspe a - - elo Con ressopolíticas que lhe digam respeito, apesãr tlíf äläíffidoag ar umeãto de. - ' ica,Nacional, foi vetad0 P610 Pf€S1_d@1;1ÍÊ 3 ÊPU _ räsemativamque 0 dispositivo contraria o principioda democracia trãplão se preten.

~ ' ' uan -Ao nosso ver, a argumentação e inconsistente, porq _ . H _(fa usurpar as funções dos parlamentares, nem a utilizaçao da via dai . -. . . . z.. _ consumidor-maioriniciativa popular, mas tao somente assegurar que o I ointeressado - fosse ouvido na formulação das politicas que lhe afetas-gem bem como participasse dos órgãos colegiadoS, 001190 0C0I`1'€'«U, HO

, __ ` al de Defesa do Con-passado, ao tempo do CNDC Conselho Nacion 'midor e como ordinariamente ocorre nos Conselhos Estaduais deSu 9 -

- ' or suas entidadesDefesa do Consumidor, em que os cqnsumidores, prepresentativas (p. ex., associaçoes), tem assento e voz.

2.4. Principios específicos aplicáveis- f ' _ 9' la do consu-Considerando o substrato politico filosofico datutç . S ecífi

midor, cremos ser possível a enunciaçao de algun: pr1Iã<31§;%S;SSIíímto‹ z ~ ' ma iz -cos a ela aplicaveis, numa tentativa de melhor sis e

. , . - - f - ' ' onsu-Pifiiiicigio da Isoriomia (ou Principio da vulnelrabiíidacífocifggsunúmidor): Trata-se do pilar basico que envolve a prob ema ica _dor, a servir de justificativa eficiente de sua tutela. Aléliínudtlil recorfillãä;. - z - ' ~ nomento universal desse principio por manifestaçao da O. , 21, Pinterno, aceitação implícita na Constituiçao da Republica e expressa nãCDC (art. 49, I). Os consumidores devem ser tratados de forma desigu

elo CDC e pela legislação em geral a fim de que consigam chegar apg aldade real Nos termos do art 59 da Constituição Federal todos sãoi u . -. . . » ° ' ' tr ia-iguais perante a lei, entendendo-se dai que devem os desiguais ser ados desigualmente na exata medida de suas desigualdades.

- - f - ' ' ão dasDesdobra-se em dois subprincipios. Pr1m61I'0, 0 dadf-fitaggšašo Setor. z - - - ` m e i anormas juridicas, a significar que as novas leis a sered f damemo

deverão manter ou ampliar o conteudo protetivo, Íëll 0 POI' Un

10, Cf_ DOU, 12 set. 1990, Seção I, Supl. ao n. 176, p. 9.

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teleológico o direito constitucionalmente previsto de defesa do consumi-dor (CF, att. 59, XXXII). Segundo, o do sancionamento e interpretaçãodas cláusulas e das nonnas jurídicas, por força do qual se objetiva alcan-çar a situação mais favorável para o consumidor, quer em razão do cunhoprotetivo da legislação, quer pela aceitação de sua inexperiência evulnerabilidade, de modo a alcançar-se efetividade na tutela. Na nova leiexiste disposição específica: “As cláusulas contratuais serão interpreta-das de maneira mais favorável ao consumidor” (CDC, art. 47).

Pri`rici'pio da boa-fé: Este princípio, inscrito no caput do art. 49 doCDC, exige que as partes da relação de consumo atuem com estritaboa-fé, a dizer, com sinceridade, seriedade, veracidade, lealdade e trans-parência, sem objetivos mal disfarçados de esperteza, lucro fácil e im-posição de prejuízo ao outro. Bem por isso é que a legislação do consu-midor contém diversas presunções legais, absolutas ou relativas, paraassegurar o equilíbrio entre as partes e conter as formas sub-reptícias einsidiosas de abusos e fraudes engendradas pelo poder econômico paraburlar o intuito de proteção disposto pelo legislador. O CDC é repletodessas presunções, como a que prevê a responsabilidade objetiva dofornecedor pelo fato do produto e do serviço (CDC, art. 12) e a queautoriza a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, no pro-cesso civil (art. 69, VIII). O Capítulo VI, do Título I, relativo à proteçãocontratual, é, no entanto, o campo mais propício para disposições dessejaez. Note-se, por exemplo, a nulidade absoluta das cláusulas abusivaselencadas nos incisos do art. 51, bem como a presunção de exagero emcláusulas que instituam determinadas vantagens (art. 51, § 19) e de nu-lidade daquelas cláusulas que estabeleçam a perda total das prestaçõespagas em benefício do credor, na compra e venda de móveis ou imóveismediante pagamento parcelado (art. 53).

Princijoio da eqiI¿i'dade.° O art. 49 do CDC prevê também que devehaver equilíbrio entre direitos e deveres dos contratantes. Busca-se ajustiça contratual, o preço justo. Por isso, são vedadas as cláusulasabusivas,...bem como aquelas que proporcionam vantagem exageradapara o fomecedor ou oneram excessivamente o consumidor.

Após a sua edição, a doutrina vem-se ocupando da enunciação esistematização dos princípios gerais do CDC. Identificou oito dessesprincípios: vulnerabilidade -- art. 49, I; da intervenção estatal - art.49, II; da transparência _- art. 49, caput; da boa-fé - art. 49, III; da

48

responsabilização objetiva- art. 62,. VI; da solidariedade obrigaciondal, . "' o a Justi a e 0*__ art. 72, pm-agrafo unico, da facilitaçao do acess 9 H- Na. de consumo - art. 49, VI .to das desconformidadessancionamen I

, 9 DIA LIMA MARQUES enumerou e anali-areaadoiiC0mit0‹iÂziir]8li›gncíPi°S básicos' da transparência» da b°a'f9~sou eti amen _e °da eqüidade (equilíbrio) e da confiança1z_

2 5. Ds vários campos da tutela

2.5.1. A tutela genérica. ' consumidor, aSSf1-SCExaminados os aspectos gerais da tutela do _ P. , . f ' la se manifesta, indo da` dos varios cainpos em que 9em seguida a analise ', _ \ - , d al decorrem,

tutela generica da ONU a tutela .constitucional É 13831 3 (19 _ _ _ al., rf r , enale urisdiciond forma especifica as tutelas civil, admims a iva P J_ ,e › d _., -A - ' nsumidor sera ePor questao de convemencia, a tutela especifica do/co O Qlitud nos róximos capitulos (39, 4”, 5' 6 Õ ),senvolvida, em maior amP 9» P ,

uanto a tutela genérica será tratada neste capitulo.enq

2.5.1.1. A tutela da DIV!!. z t t l do consumi-A ONU cuidou especifica e expressamente da u e 21d b . ar a Resolução n 39/248 de 10-4-1985, reconhecendo a

aix - ° -or ao' . . " ' s as nonnas rotetivas,vulnerabilidade daquele a quem SHO Clldefeçada P. - - ' ° ondo medidas que deveriamenunciando-lhe os dneitos basicos e propser adotadas pelos países-membros no intuito de que todos, P1`ÍHCÍPa1'

' do viessem a instituir legislaçao emente os do chamado Terceiro Mun ,mecanismos protetivos do consumidor.

A ' ' ' e sim de umaNão se trata, como se ve, dC uma tutela 1mp°SmVa°_ .. » - cura des ertar osmanifestação de cunho politico, abrangente, quepro P _Estados e Suas populações para tema de grande significado para a pro-

' la supranacional,~ fesa do consumidor. A tutemoçao humana, 001110 3 de

ii" A . ' ' Desafios ã efetivação dos direitos doll. Antonio Herman de V- 6 Bf>I`lJam1“›

eensenúdee RDC, v, 20, p. 381, out./dez. 1996... . - d T 'b ` , 1999, p. 286,

12. Contratos no CDC, 3. ed., Sao Paulo. Revista os ri unais342, 390 e 573.

49

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assim, tem o grande mérito de induzir os países-membros a adotaremmedidas protetivas, objetivo plenamente alcançado na quase-totalidadede participantes, inclusive no Brasil, à constatação de que as legisla-ções já positivadas e aquelas em fase de elaboração derivam doposicionamento do organismo supranacional. Aliás, pelo simples fatode a ONU se preocupar com a defesa do consumidor, resulta evidencia-da a importância que dá ao assunto, em ordem a que idêntico tratamen-to lhe seja dado também pelos Estados-membros. Trata-se, é bem dever, de tutela genérica, política e não coercitiva, porém de alta relevâii-cia, pelo efeito de despertar consciências e induzir à adoção de nonnase mecanismos de proteção ao consumidor. Esse, sem dúvida, o grandemérito da tutela da ONU.

2.5. 1.2. A tutela constitucional

Pela primeira vez na História jurídica do País o consumidor recebeutratamento constitucional, sobre ele dispondo a Carta Magna em váriosde seus dispositivos, como no ait. 59, XXXII, no art. 24, VIII, no art. 129,II e III, no ait. 170, V, e ainda no art. 48 do ADCT. Trata-se de fatoauspicioso, altamente positivo para a defesa do consumidor, porquantotraduz a importância que o legislador constituinte deu ao tema, sinalizan-do no sentido de que os Poderes Públicos assim também procedessem.

Apesar de seu conteúdo programático, a tutela constitucional doconsumidor apresenta facetas interessantes.

Em primeiro lugar, a tutela do consumidor foi alçada a direito bási-co fundamental (individual ou coletivo), em virtude de sua inclusão numdos incisos do art. 59, atinente ao Capítulo I - Dos Direitos e GarantiasFundamentais. Referida tutela passou a ser, de forma expressa, um direi-to de cidadania, infomiado pelo direito à vida, à liberdade, à segurança eà propriedade, assumindo o Estado a postura de tutor legal. Em suma, adefesa ao consumidor, à luz do inciso XXXII do art. 59 do texto constitu-cional, passou a ser direito do cidadão e dever do Estado.

“Pretendeu-se, em segundo lugar, dar a essa mesma tutela um cará-ter nacional. Assim, por ela devem ser responsáveis os Poderes Públi-cos, ou seja, a União, os Estados-Membros, o Distrito Federal e osMunicípios, em todas as suas manifestações. Delimitados pela compe-tência legislativa (CF, art. 24, VIII), cada ente público terá explicitadasua área e forma de atuação.

50

l'

Em terceiro lugar houve deliberada intenção do legislador constitu\~ d dar ao tema um caráter de permanência, em virtude do tratamentomw «G ~ 1 ° me é sabias ss zziispssiúvss às csnsúisiçâs sóconsmuclonll 9 pills, cor emendas que requerem processo legislativo di-podem ser a tem Ofnpcie três uinlos de cada Casa do Congresso Nacio-ferenc1aÍ10`e lfiilifiióls ara apfôvação (CF, art. 60, I, II e III, §§ 19 C 29)»nalldenóergós ue nãó šerá objeto de deliberação proposta de emenda ten-Êleêlfitê) a abolir os direitos e garantias individuais (CF, art. 60, § IV)-Dessa forma, a defesa do consumidor passou a ser uma preocupaçao per-

nte e duradoura do Estado, já não estando sujeita aos caprichos dosnbzifnéiiiaiites da ocasião que, até então, poderiam caminhar 110 SeI1l1Íd0 daigevogação da legislação protetiva, ordinariamentemstituidaz mclusive peloatalho escancarado das medidas provisórias. Nao resta duvida de que otratamento constitucional e a exigência de emenda para alterar a defesado consumidor em tennos de Carta Magna traduzem Ulllf-1_8¿_11'_am1a demaior durabilidade da tutela. Não se exclui, por obvio, a possibilidade dealterações, mas tal ocorrerá somente se essa for a vontade da sociedadebrasileira, expressa por seus representantes no Congresso Nacional.

Com a vigência da nova Constituição a partir de 5. de outubro ge1988, iniciou-se o trabalho de complementaçao legislativa, /ou seja, aedição de legislação que venha a completar e tornar exequivel o textoconstitucional. Nessa trilha, surgiu a Lei n. 8.078, de ll-9-l99l),^ta1'I_1-bém chamada Lei ou Código de Defesa do Consumidor, com vigenciadiferida para ll-3-1990 (CDC, art. 118). Pelo fenomeno da recepçaoestão ab-rogadas as leis anteriores à vigência do texto constitucionalque conflitarem com a nova ordem: quanto às demais, em que talconiflito não se apresenta, foram recepcionadas pela .ordem const1tuC10I1‹'<1instaurada em outubro de 1988. Nessa última hipotese, incluem-Se 8Lei n. 1.521/51 (Lei dos Crimes de Economia Popular), a Lei n. 7.342/85 (Lei da Ação Civil Pública) e a Lei n. 7.482/86 (Repressao aos Cri-mes contra o Sistema Financeiro Nacional), dentre outras, alem de di-plomas de natureza infralegal, como decretos, res01Ufš0eS C P01'Ía1`1aS-.

Verifica-se, nesse passo, que da tutela constitucional do consumi-dor decorre a sua tutela legal, a exprimir p intrincado emaranhado deprodução legislativa posto à sua dispçosiçao, e da qual sao especies oatutela administrativa, a tutela jurisdicional, a tutela penal e a tutele ci-vil, contempladas no CDC e na legislação infraconstitucional preteritae superveniente.

5 l

Page 34: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

m,,gͧš'§Ã§ÊÉ*Ê`¿“Z§§,e,ÉZiÊ” °šÉ“sÊí`°”f9““““1z“°° “I” a P9'dor brasileiro está satisfatoriargänte tuteilizl ação preterita, O çonsilml-recomendando-se por ora a e a O em tšrmos leglslatlvossH , , penas pequenas alteraçoes em temas comorepressao ao abuso do poder econômico, concorrência desleal eefetividade dos aparelhos preventivo e fiscalizatório.

2.5.2. A tutela específica

mediä; Sn]-3(äuÊ0Iš1(Í';t:i1nuorgnnëcrossistema jurídico multidisciplinar naH _ que regulam todos os aspectos da prote-

çao do consumidor, coordenadas entre si, permitindo uma visão de con-junto das relações de consumo. Preferiu o legislador tratar num únicodiploma legislativo, o CDC, do aspecto civil das relações de consumo,Êšiêiildçšiâalrn23:11; <Íl(i)Í.ç:1Í;li2Iz;i1iÍ”ešiliEI;o~para uma futura alteração do'Código

_ _- _ _ _ , çao aos aspectos penal, administrativoe jurisdicional. Tais nonnas, como se sabe, são coordenadas entre si,hlifšflëšlêfitffiltl-Se,fcomplementam o sentido de outras disposições ou

_ . maior e etividade. A titulo de exemplo, a proteçao contra apêiblicidade enganosa constitui direito básico do consumidor (CDC, art.gi; I€l\(;g1.,1irIçi‹;ej`)E:e[.tratamento civel (CDC, arts. 36 a 38), é sancionada na

_ _ Wa (arts. 55 a 60), alem de propiciar 0 uso das vias judi-ciais para a suspensão ou sua veiculação (arts. 81 e s.).

O microssistema codificado, como se vê, por força de seu caráterinterdisciplinar, outorgou tutelas específicas ao consumidor nos cam-pos civil (arts. 89 a 54), administrativo (arts. 55 a 60 e 105/106) penal(arm 61 3 80) C lU1`ÍSdÍCÍ0l1a1 (ãl`ÍS- 31 3 194), que serão estudadasdetalhadamente, nos capítulos que se seguem.

\.l

52

Capítulo 3TUTELA CIVIL

Sumário: 3.1. Considerações sobre tutela civil. 3.2. Da res-ponsabilidade civil do fornecedor. 3.2.1. Introdução ao tema. 3.2.2.Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço. A teoria do“risco criado”. 3.2.2.1. Responsabilidade objetiva. 3.2.2.2. Respon-sabilidade do profissional liberal. 3.2.2.3. Responsabilidade docomerciante. 3.2.2.4. Pressupostos da responsabilidade. 3.2.2.5.Exclusão da responsabilidade. 3.2.2.6. Tipos de defeito e campode abrangência. 3.2.2.7. Prescrição. 3.2.3. Da responsabilidade porvício do produto e do serviço. 3.2.3.1. Tipos de vício. 3.2.3.2. Agarantia legal e o regime de responsabilização. 3.2.3.3. Prazos dereclamação. 3.2.3.4. Pressupostos da responsabilidade por vício.3.2.3.5. Exclusão da responsabilidade. 3.2.4. Responsabilidade nosserviços públicos. 3.2.5. Desconsideração da personalidade jurídi-ca. 3.2.6. A inversão do ônus da prova. 3.3. Das práticas comerci-ais. 3.3.1. Da oferta. 3.3.1.1. Requisitos. 3.3.1.2. Campo deabrangência. 3.3.1.3. Regime de responsabilização. 3.3.1.4. Ofertade componentes e peças de reposição. 3.3.2. Da publicidade. 3.3.2.1.Princípios norteadores. 3.3.2.2. Classificação. 3.3.2.3. Regime deresponsabilização. 3.3.2.4. Inversão do ônus da prova. 3.3.3. Daspráticas abusivas e sua vedação. 3.3.3.1. Conceito de práticasabusivas. 3.3.3.2. Análise das práticas abusivas expressamenteelencadas. 3.3.3.3. Regime de responsabilização. 3.3.4. A exigên-cia de prévio orçamento. 3.3.5. A cobrança de dívidas. 3.3.6. Osbancos de dados e cadastros dos consumidores. 3.3.7. O cadastrode fornecedores. 3.4. Da proteção contratual. 3.4.1. Introdução.3.4.2. Limitações à liberdade contratual. 3.4.3. Requisitos do con-trato de consumo. 3.4.4. Princípios norteadores. 3.4.5. Adimple-

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mento e invalidação dos contratos. 3.4.6. A função social do con-trato. 3.4.7. As cláusulas abusivas e sua nulidade. 3.4.7.1. A análisedas cláusulas abusivas do CDC. 3.4.7.2. As cláusulas abusivas acres-cidas. 3.4.8. O direito de arrependimento. 3.4.9. Contratos de cré-dito e financiamento. 3.4.10. Contratos de compra e venda e alie-nação fiduciária. 3.4.11. Contratos de consórcio. 3.4.12. Contratosde adesão. 3.4.12.l. Conceito e regras aplicáveis. 3.4.12.2. O con-trole das cláusulas gerais. 3.4.13. A garantia contratual. 3.4.14.Revisão dos contratos. 3.4.14.1. A revisão por causas concomitantes.3.4.14.2. A revisão por causas supervenientes. 3.4. 14.3. A resolu-ção do contrato por ônus excessivo a uma das partes.

3.1. Considerações sobre tutela civil

' O Código alinha como direito básico do consumidor “a efetivaprevençao e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, co-letivos e difusos” (CDC, art. 69, Vl).

Para dar efetividade a esse direito, a nova lei, em linha de corres-pondência, traz três importantes capítulos em que a tutela civil é asse-gurada ao consumidor: Cap. IV - Da qualidade de produtos e servi-ços, da prevenção e da reparação dos danos; Cap. V - Das práticascomerciais e Cap. VI - Da proteção contratual (arts. 89 a 54).

Busca-se na tutela civil garantir ao consumidor o ressarcimentocivil, ou seja, a reparação dos danos por ele sofridos ou o impedimentode que venham a ser concretizados, por meio de mecanismos que aprópria lei prevê.

É inegável, portanto, que o Código, além de dispositivos de natu-reza administrativa (arts. 55 a 60), penal (arts. 61 a 80) e processual(arts. 81 a 104), possui inúmeros outros de direito material, com o obje-tivo claro de garantir, preventiva ou repressivamente, a tutela do consu-midor no plano civil. Dessa natureza, p. ex., o dispositivo que define aresponsabilidade do produtor por danos causados (art. 12), o que esta-belece a responsabilidade do fomecedor por defeito do produto ou ser-viço (art. 13), o que reprime a publicidade enganosa (art. 37) e o queassegura a proteção contratual (arts. 46 e s.).

Bem de ver, no entanto, que a tutela civil do consumidor não estáadstrita exclusivamente ao disposto no regime codificado. Nessa seara

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se outras leis de natureza substantiva que outorgam proteçãoinserem- 'd omo as que disciplinam os reajustes de mensalidadesonsumi or c . _ao C1 alu iiéis consórcios e também as normas que lmpfidem Preesco aresí' dg Também essas leis esparsas de direito material, inte-os carte iza os. _ * ...Êfam a tutela de que se cuida e devem ser usadas na formulaçao de

' ` dicial.eventual pleito ju_ TAR, em obraAssmalaa com acerto, CARLOSdAItl1Í%RTfêtiÍ;1Tdo consumidorz em ' ' ' a [1 e a Ô °

monograficaa que, afluz do pnnclplql `stema ordenado de regr21S, 6111desenvolveu-se tambem, no plano civi , si _ _ _` diversos interesses e se estabelecem mecanismos inque se conlugam. ~ ' _ ` ` os dos consu-

dividuais e coletivos de reaçao, Para šflaãdf Íleaãâsdlâät hipóteses de- _ asmidores, ou assegurar lhes respos Q M cia “O SiSte_1 `onamento”1 Complementa o mesmo autor, em sequen . _em ' dos seguintes elementos: reconhecimento de dife-ma gravita em orno _ _ _ 1 ,, d com

' ' s elo direito nas re açoes erentes ordens de interesses protegiveldäiduais e Coletivos de ação nosumo; instituiçao de mecanismos Ill mcessuais do direito Comum,plano civil; reforrnulaçao de institu OS P H P d Judiciária

busca de celeridade e de efetividade da açao do o er d zna - ° d J ici-. -« - ' ' adas no acionamento o uintegraçao de entidades publicas e priv T a rea ão' 'o' definição de 219565 C de Pfocedlmemos especl mos para çan 9 . . 592

dos interessados, ou dos leg1t1m21Cl0S -Cremos, além disso, que io regime codificado trouxçl šeílcša

ço para a tutela civil ao instituir novas. regras aptas a con ssa Ordem deampla e efetiva proteção do c.OnSum1d0?` hiseremäedne' ter artes amedidas a ampliação dos limites da coisa julgada ( ebfçdadã Ob.eü_ultra partes e erga omnes), na .consagração da responsâ 1 il a ou djolova do fomecedor, a tomar despicienda a dem0I1SÍ1`39a0 9 (fu P hi Õ:na definição prévia e legal das alternativas para o consu1_iiid‹ÊÊ':1]'1)ë.1(S_: alâsteses de ressarcimento por vício ÍÍO P1'0d“t° 0" do SCIÊIAÇO . e rèscrij19, 1 31V, 20, I a III), na ampliaçao dos prazos de deca enãiâustëar res-ção, possibilitando ao lesado maior espaço (16 ÍÕIUPO PÍÍ Or meio dasS211”CíI`-Se» 9» Por fim° na abemlra.de nova v.1a Pr(')âeS§ulÍogio êneos deações coletivas para a defesa de interesses indivi uais 8origem comum (arts. 91 e s.).

mim . z › C 'd , Rio de Janeiro:l. Direitos do consumtdor- Codigo de Defesa do OHSMW Of

Forense Universitária, 1990, P- 93-2. Ibidem, p. 93-94.

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Page 36: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

Resulta, pois, que o consumidor saiu grandemente fortalecido coma introdução do novo ordenamento jurídico, possuindo, hoje, meiosamplos e adequados de ressarcimento civil.

Por isso mesmo, ante a complexidade do tema e a necessidade deestudo mais detalhado, trataremos dos vários aspectos da tutela civil nodesenrolar dos itens 3.2, 3.3 e 3.4 deste capítulo, que versam, respecti-vamente, sobre a responsabilidade civil do fomecedor, as práticas co-merciais e a proteção contratual.

3.2. Da responsabilidade civil do fornecedor

3.2.1. Introdução ao tema

As relações de consumo experimentaram grande evolução nos úl-timos cinqüenta anos, tornando-se complexas e multifacetadas. A pro-dução em massa para um consumo igualmente em massa fez aumentara potencialidade danosa dos produtos e serviços. Alterou-se o circuitode distribuição dos bens em massa: do pequeno comércio que vendiareduzido número de mercadorias já conhecidas do mercado passou-separa o grande comércio, com produção em série de infindáveis marcase versões e qualidades e defeitos nem sempre conhecidos do interessa-do. O comprador identificado do passado deu lugar ao consumidor anô-nimo das relações de consumo dos dias de hoje. O tradicional contratode compra e venda já não se ajustava às novas características do merca-do, notadamente em face da informalidade e da despersonalização doato de consumo.

Essa evolução, se de um lado gerou desenvolvimento, confortomaterial e modernização da atividade mercantil, de outro trouxe comosubproduto um fato novo: a insuficiência da defesa do consumidor emface do poderio do fornecedor. As soluções do direito comum - deorientação privatística e pressupondo a igualdade das partes -- mostra-ram-se“inadequadas para regular as relações de consumo - que de-mandavam orientação publicística para assegurar o equilíbrio das par-tes, ante a constatação da hipossuficiência de uma delas. A legislaçãoanterior, ajustada à realidade social da época, não resolvia questões novasemergentes, em razão das insuficiências legislativas que podem ser as-sim sumariadas:

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~ CC de,, - ^ ' t a ao da culpa do fornecedor (1-) a eÊ19ge1tm1a d2ãÊiliÍ1lilã)\I/liílroçressarcimento de dano causado aornav -1916» Í, enã ârtode de Colocação no mercado de produto ou serviço

consuml 0' lmente danoso;Potencla . _ ' d 0 ao a ente causador,

Zë) a estrutura do direito conoiämdllgâvaro ailâção lšas relações de_ . . e .

a quem incumbiria a reâponsäiäë Ê Éagsado plëla pessoa do fomecedor,oongumo, noàentanto, o tanfio Sim pelo proorig produto ou serviço. Porseu fimpfega O ou agem 6' ' nsabilidade_ . - t der-se a cadeia de respoisso, havia a (i1ieceS§1qaÊle.Odof§ârÍ3ante produtor construtor e importa-até o fornece or originari = ° modor), ligando-o ao defeito apresentado e estabelecendo o fundame

da repamçaoá ^ ' O Cgnsuniidor não tinha ação direta contra os32) em ecorrencia, . te' tão-somente o comercianfornecedores em geral, podendo acionar 10 o

ndedor (CC de 1916 art. 1.101, e CCom, art. 2 ),ve =. - ~ ^ ' t dos aOs de í$;°§§â1â°1a,,“i2z§ .,.,- -~ ' Cde l9l6,81TS- › e ” ”,.

äíwtlrdqëälüläãägndâ Íizãsdi ((15 consumidor nas reclamações por VICIOS

ed1`1b`tl' ` que a seu tumo não abrangíam 05 Serviços e SO alcança-re i i orios, , i . do fã-, . - t dos os a arentes e osvam os vicios ocultos, d€1XflHd0 deSP1'0 681 Pnacil constataçao; . .

. , . . o / ' Í

5a) na responsabilidade por vicios redibitorios so eX1SI1fl1Tld' ` ` alt ativas de 'redibiÇã0 (ex €mPÍ0) 3 abatlmemo de preçoicionais Cm . - d -. - interessa 0,' ' ' dentemente insuficientes para 0(quanti mmorzs), GVI

- z - ' ^ io do devedor era di-Õâ) 3 Pefsecuçaø executona sobre 9 pammon' d d consideração

ficultada pela não-adoção, na via legislativa, da teoria a esda personalidade jurídíC3; C, Por fim= _ ,.

7fl) a regra do ônus da prova (CPC, art. 331; Íiàqälë tãlliiâzftgtuaçao. - _ ' ' es e -judicial do consumidor reduzindo lhe as possi i 1 a _

. z ' tribu-, - ~ ° ecifica, os doutrinadores eA falta de Pfevlsao leglslauva 68.131 em outros Países passaram a. - - corn o ›nais brasileiros, a exemplgl311%mas garamidoras da proteção ao ooo-

consagrar de 168€ ferenda di cão do Código do Consumidor que restousumidor mas foi com E1 C Ç _ _ t ta_° ° ' l do fomecedor, em ra- - res onsabilidade civi _ _^positivadodo tema claalizlido tendo por escopo superar as msofiolon-me-'m0 mo emo e a u , - ' '" o consumi-. 'or e mais efetiva proteçao 1:1cias apontadas, oferecendqfingai nas relações do oooSum0_P1~0¢urandodor e restabelecendo o eqlll U0

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Page 37: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

dar resposta a tais questões, o Códi d'pelo fato do produto e do servi oduto e do serviço, nos serviços úblic lp os, a ém de assegurar outras ga-rantias como a desconsideração da erson l`d d ` ' ` ` `"do ônus da prova.

3.2.2. Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço. Ateoria do “risco criado"

Os produtos e serviços ofertados no mercado destinam-se `a satis-fazer as nece 'd d ` ` `ssi a es dos consumidores, nos aspectos de indis ensabil`

P 1'dade utilidad ` `, e e comodidade, sendo conatural a expectativa de que fun-cionem conveniente e adequadamente ou se prestem à finalidade ue

Qdeles legitimamente se esperam. Não fosse assim e não estaria justificadaa razao de sua existência.

É certo, por outro lado, que os fornecedores procuram produzirbens e serviços ade uadoq s ao consumo, seguros, eficientes e indenes dedefeitos, utilizando-se, para tanto, de testes e controles de produção equalidade, com o objetivo de eliminar ou pelo menos reduzir a coloca-çao no mercado de produtos defeituosos.

Ocorre, porém, que, mesmo com o emprego de diligência na ro-Pduçao ou prestação e de rigoroso controle, ainda assim alguns produtos

e serviços acabam entrando no circuito comercial com defeitos queculminam por causar lesão à saúde, à segurança e ao patrimônio dosconsumidores e usuários. Tais danos, anônimos e inevitáveis, não sãoproduzidos por pessoas e sim por coisas (produtos ou serviços) e serepetem com relativa freqüência, estatisticamente mensurável.

M A propósito, salienta o Prof. LUIZ GASTÃO PAES DE BARROSLEAES, com grande acuidade, em excelente monografia sobre o tema,que “a superveniência de alguns fatores, tais como o desenvolvimentodos mecanismos de produção, a multiplicação dos veículos e a intensi-ficaçao dos sistemas de transporte, a difusão de materiais inflamáveis,e mesmo o enorme crescimento da população conjugado com o fenô-meno da urbanizaçao crescente, trouxe notável aumento de riscos e da-n . Ad `os emais - complementa o mesmo autor -, grande parte dessashi ótes d ' " ` ` `p es e risco nao se ajusta ao esquema tradicional de cul a e de

Pato ilícito. Para atender ao anseio, que sempre existe, de ressarcimento

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go ispôs sobre a responsabilidadeç , a responsabilidade pelo vício do pro-

p a i a e Juridica e a inversao

' t meiosde alforriar a vítima da prova de culpa,mister se fazia encon rar ia de regra constituía obstáculo intransponível,não só porque essa provaf/ h. óteses de dano que não permitem a

f m 1 .mas tambem poiíque exisiepessolâ Visto que São conexas a detenmna-. H de Cupaaum 9 _ . , - nf,imputação ' ' nte inevitaveis .. . estatisticamedas atividades, aparecendo 001110

- dução seriada e a. . - - s no sistema de pr0 _ ,_A inevitabilidade dâssas falha leta eliminação conduziram .à Idem- ' 'lidade prática e sua comP 1 - _11'11P°SS1b1 . - imento de danos pe 0 S1I11- ~ mos legais de ressarc _ .de criaçao de mecanis en” Os potenclap

~ do de produtos e S 9fato de colocaçao no merca . . d los da_P165 ‹ - d r a responsabilida e pebuindo ao fomece 0 . , -mente danosos, atri dos à Vítima e a tercgifos, dentro do principio

nos nessa Condlçao causa a atividade deve responder pelo riscode que aquele que lucra qonâ Ílêlflentes Daí O surgimento da teoria doou pelas desvantagens de 21 Êdo de atribuir ao fornecedor o dever derisco criado, que teân o sen (1)nsumidores pelo fato de desenvolver de-

s aos creparar danos causa 0 _ . faz com que O‹ - danosa. Ou sela»' de potencialmente _ _terminada ativida _ d de

de sua ativi a .dor assuma todos os risc0Sagente fo1'neC€'‹. ' lmente a teo-, I ' islador acolheu integra _

Imbuldo desse espmtoaro leg ficiente para garantir o consumidor_ . - a e su ..na do “SCO criado como ap ' a sofrer pelo fato da colocaçao noem relação aos danos que _V1eSSemercado de produtos e serv1§0S- . l de não

Subjacente ao tema, cumpre verificar ã1š1â)äÂ30;Í;l;Í)'¿)§ã;Í1l O dever

causar prejuízo a Olltremágiigfcêäôóôrädutos e serviços que PossamGSPGCÍQI de não C0 Gear 'dores (CDC, art. 89).acarretar riscos à saúde e Següfançfla dos consuml “es 0n¿ên_ESSC Últímfl dispositivo” amis” uílpoe ao fomeifseiílrfiidãlfêšoos sgguintescia simétrica com os direitos basicos dos coe Serviços qíle impliquemdeveI'eS1 3) 11ã0 001003* no mercado prodlläos normais e previsíveis emriscos ä Sflüdff Ô Segurança' excet? (BS als((1) S ao consumidor informa-decorrência de sua natureza C funçao, C ?t aldo funcionamento e daÇões necessárias e adequadas a tt-'‹^SP€; (ga nãofibservância dessespotencialidade danosa. Od1SÍl(il)u1Êô1rffiecedorpelo fato do Produto edeveres Surëgãâéeãgênsläbëlllí) e]:)a infringência desses deveres surge ado serviço › - '

í-- _ _ - 1 z do produto, São Paulo: Saraiva,3_ A rgsponsabtltdade do fabricante pe Ofa O

1987, p. 20.

59

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responsabilidade civil do fomecedor, com a conseqüente obrigação deindenizar consumidores e vítimas em face dos defeitos apresentadospor produtos e serviços.

Assim, como regra, é o fomecedor o responsável pelo fato do pro-duto ou do serviço (CDC, art. 12), pelo simples fato de que o fabrican-te, o produtor, o construtor e o importador são os autores da colocaçãono mercado do produto defeituoso, sendo natural, portanto, que assu-mam os riscos dessa conduta e arquem com os encargos decorrentes dareparação de danos das atividades que lhes são próprias, como projeto,fabricação, construção, montagem, manipulação ou acondicionamen-to, além daquelas decorrentes de insuficiência ou inadequação de infor-mações sobre utilização e riscos dos produtos e serviços. Em todos oscasos a responsabilidade se mostra clara e evidente, tendo em vista oelo entre o fornecedor e o produto ou serviço.

3.2.2. l. llesponsabilidade objetiva

A regra basilar da responsabilidade civil, no direito privado, é aresponsabilidade com culpa, derivada de ilícito extracontratual, tam-bém chamada aquiliana. Por ela, todo aquele que causar dano a outrem,por dolo ou culpa, está obrigado a repará-lo (CC de 1916, art. 159, eNovo CC, art. 927, caput).

Tal regra, conquanto aplicada eficazmente no campo das relaçõescivis, mostrou-se inadequada no trato das relações de consumo, querpela dificuldade intransponível da demonstração da culpa do fomece-dor, titular do controle dos meios de produção e do acesso aos elemen-tos de prova, quer pela inviabilidade de acionar o vendedor ou prestadorde serviço, que, só em infindável cadeia de regresso, poderia responsa-bilizar o fornecedor originário, quer pelo fato de que terceiros, vítimasdo mesmo evento, não se beneficiariarn de reparação.

Atento a essas circunstâncias, à tendência da legislação e da juris-prudên`¿:ia de países como Estados Unidos, França, Itália e Alemanha,bem como à orientação dos doutrinadores e dos tribunais do País, é queo legislador optou pela adoção da responsabilização objetiva, indepen-dente de culpa, para a reparação dos danos pelo fato do produto ou doserviço. Consagrou o novo Código, de forrna incisiva e clara, que ofomecedor responde, independentemente da existência de culpa, pela

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^' d os causados por defeitos ou insuficiência e inadequaçãürepariçao doe an m relação aos produtos e S€I`VíÇ0S que eelocou node 111 ormaçoeS, 6mercado (CDC, arts. 12 e 14)- _"

' ' 'etiva do fomecedor nao se per-C0USegfeda 3 responsablhdade 0.1.)J -a é irrelevante e saua verifica-. - ^ ° oul a' sua ocorrencr _ _ ~qurrã a exrstenƒcra dšois lPã(; há interferência na responsabrlrzaçao. Para~ ssarra, ..eee esnece - d onstra ao do evento- ular basta a em Ça reparação de danos, no partrc , I t mão

danggo, do nexo causal e do dano ressarcrvel e sua ex e ." ' 'f ará no entanto o aniquílarnento da responsabrlr-Tal nao srgnr rc , › d re am_

1 a que continuará regulando a extensa gama e Pm cu , ..dede CO esferapcivil mas não terá aplicação 1188 fepafflçeee deceflefltesçoes na , ' 1 te numerosas, Para 35 911315 3das relações de consumo, 1893 men

‹ ° da.- - ~ ' ' - e mars eficrente e adequafosponsabrlrzaçao objetrva mostrou s

3 2 2 2 Responsabilidade do profissional liberal. . - - f d elo fato

A re ra geral da responsabrlrdade objetrva do ornece or p i .g ~ ` nsabrlrdade- › çao quanto a respodo produto ou servrço contem uma exce _'fica-. . . - somente mediante vendos profissronars lrberars, que S6 estabelece

Qção de culpa (art. 14, § 4 ). i _ , . fficada de formaA razão desse tratamento drferencrado esta jus 1 , O

' TRO DO NASCIMENT ,exemplar, por TUPINAMBA MIGUEL CAS _z - ` ta o enfennerro, ele- Cem'-“ d1co oadvogad0,0deUÍ1S ›nestes termos. O mf! ,. - - ' ' ' Nas relações de consumo, 210~ de profissronars liberais.poem uma espeC1€= .. esultado.' ao se com rometem a um rcontratarem com seus chentes, n P. . '" blema' usa, a solu ao do proInobstante a cura da doença, 21 V1'f01`13 na ea 9 .. ~ ' 'dos profissionais liberarsI - retensoes fina1S, ffifefl _dentarro, etc., sejam as P Í ea Contratual por alcançar tals resultados

não se compromotfim, 113 31' 'fogem ao seu. Ogguam, normalmente .porqug estos, por maror talento que p _

, . - f das na prestaçãodeles e quanto as tecnrcas usacontrole. O co1'11p1'01111SS0- alavras tais- ~ - ° ^ ' s exercrdas. Em outras P °do servrço e as drlrgencras regulare _ ü _

1:4. . brr a ao de mero .profissionais se comprometem Pele O g 9 _“' de haver rn-ertadamente, que 1139 P9Sustenta o mesmo autor, aC .

- ñssional lrberal,,_ .. ue tange a culpa de proversao do onus da prova 110 Cl

“___ f ~ código ao consumidor Rio ao Jonoifoz Ame. 1991,11 804. Comentanos ao ”

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embora tal possa ocorrer em relação à ocorrência do fato objetivo e orelacionamento causal ten re este e o dano ocorrente, vinculados à auto-ria, pois, “caso contrário, a garantia da responsabilidade subjetiva dosprofissionais liberais poderia ser revogada por ato judicial”5.

3.2.2.3. Responsabilidade do comerciante

Estando perfeitamente individualizada a responsabilidade do for-necedor pela colocação do produto no circuito comercial, não há que sefalar em responsabilidade do comerciante, a pessoa ou empresa que

dven eu ou fez a entrega do produto ao consumidor, porque ela no ua-» Qdro atual, nenhuma interferência tem em relação aos aspectos intrínse-

cos de produtos que comercializa, já que os recebe embalados e sempossibilidade de testá-los ou de detectar eventuais defeitos ocultos. Sópor essa razão está justificada a exclusão do comerciante da cadeia deresponsabilidade.

Tal exclusão, no entanto, não é absoluta, porquanto, em determi-d . ..na as situaçoes, previstas legislativamente, o comerciante é igualmen-te responsável e passa a integrar a cadeia de responsabilidade Isso ocorrequando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não pu-d _ .erem ser identificados (art. 13, I), quando o produto for fornecido se

midentificação clara de seu fabricante, produtor, construtor ou importa-dor (inc. II) e, por fim, quando não conservar adequadamente os produ-tos perecíveis (inc. III), hipóteses em que assume solidariamente a res-ponsabilidade pela colocação do produto no mercado e deverá arcarcom as conseqüências jurídicas correspondentes.

3.2.2.4. Pressupostos da responsabilidade

Superada a questão da verificação da culpa, já que o Código ado-tou expressamente a responsabilidade objetiva, temos que três pressu-postos infonnam a responsabilização pelo fato do produto e do serviço:

a) Colocação doproduto no mercado- é o ato humano, comissivode lançar ou fazer ingressar em circulação comercial produto potencial-

5. Op. cit., p. 82.

.. - `dores.1 es aos interesses dos COHSUIP1mente danoso qulieliisílaeiizeilscile rišg acarretar riscos à Segurança eu aoSe, de lado, a o ue se denomina dever de diligente fabriefleeepatrimonio de outrem, fl __ Sulta de outro lado, da inobservância6 advertência (CDC, aI'1_í____i_5__)__›_____IÊ__ pek; fato da colocação no mercado de

sdessa conduta a resp011 . CDC arts. 12 e 14)-. l nte danoso ( , __produto defeituoso o_:iA1_Ê_(š'tÊi)i_e:_1Ê_IÍ_e_ROS LEÃES que oa fabricaçae deAdVefÍe° com ra_ZaO° .. - - 1, Si mesma, um fato antijurídico;um produto defeituoso não ç_onstitä:_p__od___f____u__ S__________________ f_________________ O ato

~ o proe 3 eelocaçao no merca O - o causal o resulta-, - - se deve ligar, Hum Hex "voluntario do fabricante a quenoso”Ú. . ..

do da ” d alidade Para que emefle e Obflgaeae de mea'b) Relaçao e caus _ __ ___ efeito entre az f ' ' a uma relaçao de causa _1-ar danos e necessario qlíe eX1fÍ mercado de produto potencialmente

.. dor de co ocaçao noaçao do fomece . ' te e um defeito que POSSÉ1 Sefdanoso e o dano verificado, ou se] 21, entre es ON ALVES. os RoBERTo G Çatribuído ao fabricante. Acentua CARL

“ la não existe a obfigaeäe de indenizar' se houve O demo elasque* sem 6 ° ri ento do agente, lflexlele... z ' a com o compo amsua Causa nao esta relacional] bém a obrigação de indenizar”.a relação de causualidade e am

. , `dor. Abran-f ___ ' uizo causado ao consumi _c) Dano ressarczvel .Ê 0 Prãl se tal Os prejuízos efetivos, diretosnte consi eran o- .ge o dano emerge , _ didos Os que podlam ser

. - tes, assim enten , .8 lmedlatos 6 Os lucro? lfessen (CC de 1916 arts 1 059 Parágrafo uni-_ I _ O , . - a _ _

prevlslvels na data de m raçíl02 403) Inclui assim tanto a indeniza-CC arts. e - ° ' .co, e 1.060 e Novo , ,d- bos Haja,-es looros... ' mo des esas me ico- P _ =çao do produto danificÍi__do, co ___ dp _______S__________________ das atividades nor.~ ' erío o em razao , . ,.nao auferidos no P___ b.etoS e imóveis danificados, indenizaçao por

- - ' "' e o .mais, indenizaefied d liborativa ou lesão incapaeltallíe ele-redução da caPee1 e e

~ RRos LEÃES inoiui, como quflfleLUIZ GASTAO PAES DE BA __ _ t nto- - ° _ Entendemos, 110 en e *pressuposto, o devef_dp__¿ÊÊi_;_g::_2É Êëãíaãopressuposto de colocação

que esse dever preexis _ f .._1 reggupõe-se que tenha sidodo Produto no mereade, P015» ee em O” P

---mí-í-í~í

_ 'r_, .127. _6. Op cl pb`l'dade civil 3 ed São Paulo: Saraiva, 1936, P» 25-7. Responsa i 1 = ' '°8. Op. cit., p. 161-165.

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diligente na fabricação para evitar riscos e danos aos consumidores,observando estritamente as normas e determinações emanadas dos Po-deres P 'bl'u icos, sendo certo, por outro lado, que a responsabilização sócomeça a partir da colocação no mercado. Assim, a mera fabricação --momento anterior à circulação comercial -- não atuaria como pressu-posto da responsabilidade.

3.2.2.5. Exclusão da responsabilidade

A regra, como visto, é a responsabilização do fornecedor - fa-bricante, produtor, construtor ou importador e eventualmente o co-m .erciante -- pelos danos causados ao consumidor por defeitos dosprodutos e serviços, desde que demonstrada a relação de causalidadeentre aqueles.

' Algumas situações, no entanto, excluem a responsabilidade dofomecedor quando (CDC, art. 12, § 39):

a) O fomecedor prova que não colocou o produto no mercad ( `o mc.I). Nesse caso, será terceiro estranho à obrigação de indenizar porque a

responsabilidade decorre exatamente da colocação no mercado. Aresponsabilização deverá incidir, nessa hipótese sobre o real f, omece-dor ou sobre quem verdadeiramente tenha colocado o produto ou servi-ço no mercado.

b) O defeito inexiste (inc. II). Aqui o fomecedor é o responsávelpela colocaçao do produto ou serviço no mercado' o dano também `

, exis-te, mas não existe o defeito apontado. Logo, se os danos não decorremdo defeito, não há obrigação de indenizar, pois podem ter origem emcausas diversas, mas não em defeito que se lhe atribuiu.

c) Ocorre culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (inc. III).Deixa de existir a relação de causa e efeito entre o defeito do produto(que nao causaria de per si o dano por má utilização da vítima ou det .efceiro) e 0 dano expeúmemzzzio. Luiz GASTÃO PAES DE BARROSL ""' . ^ .EAES, com suporte na experiencia norte-americana cuida de ex ri-

3 Pmir o entendimento do que seja culpa da vítima, nestes tennos: “Naespécie, cuida-se do uso negligente ou anormal do produto, que causouou concorreu para causar o evento danoso Ocorre uso ne li ent. g g e(contributory negligence) do produto nas seguintes hipóteses: a)inobstante as instruções ou advertências, o consumidor ou usuário em-

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. . faz uso pessoa a quemnade uada, OU delc ,prega o p1'0C_lUtf' de manimâäada. Ê) à revelia do prazo de validade, 03 mercadoriale çlontra-lgnsumio. C) quando não se atenda a um vício

dUÍ0 Õ “tl lza O ou C ° A ando o pro-PÍO - normal (unusual use) qu° festo. Ocorre uso a . .ou defelto mam ' d diverso do objetivamente pre-' ' ' do ou consumido de mo o I _duto e utiliza , 9 t to ue S0 a culpa gx

. "` . tente-se, no en an , Q' 'tima ou e erc ... dclusiva da vi “_ . nduz a uma ruduçao o

te nao a exclui e C0 ' , _dor. A culpa conC(,)r.ren O admitido pela jurisprudência patria.` denizatorie, 00111quantum in . 16 an 1 058 CNOVO

- orCCdel9 , -- °d) Em casofortuito 01»ff0;'ÇÃmolar se não previstas expressamente' fo único . peS , .CC* art' 393” patagra - f for aliberatoriae exclu-' “' bas as hipoteses possuem Ç _ .113161 de proteçao” am ' ` ritário da doutrina,* ' do entendimento maJ0 _em a responsabilidade, segun 1 ão de causalidade entre o defeito do

f aPorque tambem qüebraëln a re Oâsumídor Nesse Sentido, mesmo antesdano causa o ao c - . N-Pmduto e O ~ -f ' ' os doutrinadores. 210

d di ão da lei de proteçao, Ja se posicionavam d ma e Ç 10 responsabilizar-se o fornecedor e Uteria Semldos por exeml? ex lodiro aparelho e, em conseqüência,eletrodomestico, se um raio az adãres. inexistiria nexo de causalidade a

z A * zcausa incendio e danos aos d SO- ` do aparelho ao evento 3110 -ligar eventual defeito

.. , ~ ` os ocorre a exclusão deTambém em relaçao a preStaâígdieqílefšhlfomecedor não executou

fespmsabihdade qua?d0 reslal pilio CDC) que tendo prestado o servi-O Serviço (hlpoteie nao prevls 814 § 32 Il que ocorreu culpa exclusivaço, o defeito inexiste _(CDC, , ainàa ,nas hipóteses de caso f0¡.¡u¡_da vítima ou de terceiro (1I1C› )› Ou* ” 393 a¡.ág¡a_

f ` r(CC de 1916 art 1058,eNovoCC,21I1l- ›Pto ou orça maio › ° 'fo único). . z a de

- 1 d consumidor, 116553 mePara refogar C t0m§Ilef1et1va'iÍcl:terâibiu as chamadas cláusulas de

ressarchnenu? CML O êeg1Êa'i(idêl1iizarpao vedar taxativa e expressainen-iITeSP011Sab1hdade ou C nao 1 , , 'm ossibilite, exonere ou ate-le 3 ÕSÍÍPUW-Êão con-tríltua-1 deÊ:zliE}tuS2Lšk):1%Íu(::ifi apmesma finalidade, impede

me a 0bng~açÍ10 (fe lnecfiälíllšfliios casos de ignorância sobre vícios de qua-ël eX0I1€1`a93° O Om ' 23) e proclama a_ . ~ t e serviços (aft-hdadfi Por madequaçao dosplaçadäugsa garantia se efetive (art. 24)~dispensa de termo exP1`°SS°

-mm

9. Op. cit., p. 167- 163-

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3.2.2.5. Tipos de defeito e campo de abrangência

A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, como visto,está ligada intimamente à ocorrência de defeitos, que, por ocasionaremdanos, conduzem à perspectiva de reparação. Por essa razão é que olegislador elencou em que hipóteses um produto ou serviço é conside-rado defeituoso, delineando, assim, o campo de abrangência da obriga-ção de indenizar.

São elencados em três modalidades os defeitos que geram aresponsabilização do fomecedor: a) defeitos defabricação - aquelesque decorrem de fabricação, produção, montagem, manipulação, cons-trução ou acondicionamento dos produtos; b) defeitos de concepção- os de projeto ou de fórmula; e c) defeitos de comercialização --por insuficiência ou inadequação de informações sobre sua utilizaçãoe riscos (CDC, art. 12). Os primeiros (a e b) são intrínsecos; os últi-mos (c) extrínsecos.

Defeito é, portanto, toda anomalia que, comprometendo a segu-rança que legitimamente se espera da fruição dos produtos e serviços,termina por causar danos físicos ou patrimoniais aos consumidores. Seessa anomalia apenas compromete o funcionamento do produto ou ser-viço, mas não apresenta risco à saúde e segurança do consumidor, nãose fala em defeito, mas em vício. Fato do produto está ligado a defeito,que, por sua vez, está ligado a dano.

Nessa linha, dispõe o Código que o produto é considerado defeitu-oso quando não oferece a segurança que dele legitimainente se espera,levando-se em conta circunstâncias relevantes como a apresentação (poisdependendo dela, se hennética ou em cápsulas, p. ex., não se fala emdefeito), a norinal utilização e os riscos que razoavelmente dele se es-peram (pois não se responsabilizará o fabricante a não ser pelos riscosanormais e imprevisíveis) e a época em que foi colocado no mercado, ochamado risco do desenvolvimento, pois o avanço tecnológico faz comque os__produtos atuais sejam mais seguros e eficientes do que os dopassado, que, compreensivamente, apresentam maior grau de risco. Poressa última razão, aliás, o simples fato de ser colocado no mercadoproduto de melhor qualidade ou mais seguro não induz à conclusão deque os mais antigos sejam considerados defeituosos, já que deve seranalisado o contexto da época de lançamento e a lei não deve amorda-çar o avanço tecnológico, sempre bem-vindo (CDC, art. 12, §§ 12 e 29).

66

› ' ` ado à re aração deQuanto aos serviços, o fornecedor esta obrig P' defeitos relativos à respeelívad s consumidores, por _

danos Êausíboãuaáiquer modalidade exceto a de caráter trabalhista (art.ta ao s °Pres Ç ° - -^ ' ' "' de informa ões32 § 22), bem como por insuficiencia ou inadeqUaça0 9

b fruição e riscos (art 14) Pam malor clareza” diz O código50 re sua ° ' ..- ° fornece a segurançaf ' feituoso o serviço quando naoe e considerado dequ d em conta as circuns-' le pode esperar, 1€Vafl °"5eue o consumidor deq ' ento ou de sua presta-

iâncias relevantes, como o modo de seu fomecim- te dele se esperam e a épo-~ s riscos ue razoavelmen _çao, o resultado e o _ Q _ . 1 1

e foi fomecido não se considerando defeituoso Pe 0 511T1P esm 11 =~ Ofait: deqadoção de novas técnicas (art. 14, §§ 19 C 2`)-

3.2.2.7. Prescrição

O Código estabelece prazo de cinco anos Para 3 P1`@S°1`i9ã° da ação. -› d elo fato do prod11Í0 OUtendo por objeto a reparaçao de danos causa os p _ *__ . . . " a tradi ao ou da ocor-d o iniciando-se a contagem nao a Pamf d Ç ,o serviç , dor 6A . - ' ue dele teve o consumlrencia do defeito, mas do conhecimento q _. - ' '^ ia do defeito e do seu cau-de sua autoria (art. 27), P015 5° com a Clem _ , _, _, . . ' _ via `udicial. Nao teria sen-sador e que o interessado podera valer se da Jtido punir-se o insciente.

f ' ' ` sas' ~ ' lembrar - esta sujeita as CauA rescriçao - e bom re pP . z s/171 172/176 e Novosuspensivas e 1nterrupt1VaS (CC de 1916* ms' 16 6cc, arts. 197 a 204).

3.2.3. Da responsabilidade por vício do produto e do serviço... ‹ b`l'd de eloO Código tratou, em seçoes diferentes, de 11*-`‹SP0flÊa_ 1 1 a H Pda res onsabilidade por V1Cl0 (sfiíšao H Cfato do produto e do serviço e _ _ P _ _ ., 1 6

... f ficar que pretendia diferencia- asSeçao III do Capitulo IV), 21 Slgmimpor-lhes regimes p1'0P1`1°S~

Com efeito não se confunde a resP0nSa 1 1 P'cio do roduto e do serviço. En-' ' d or vi P _

e 14) com a responsablmiângišlidade danosa, na segunda esta inexistefunciona i a e o P. alias que afetam averificando-se apenas anom .

' ira são afetados por defeitos queduto e do serviço. ESteS, Ha Pflme i _ ~d uran a do consumidor; na segunda, saotrazem riscos à saú e e S68 9

67

b'l`dade elo fato (arts. 12

quanto na primeira há aP0 . . I. d d d 1.0:

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observados apenas vícios de qualidade e quantidade, afetando o funci-onamento ou o valor da coisa. A responsabilidade pelo fato objetivatutelar a integridade físico-psíquica, ensejando ampla reparação de da-nos; a responsabilidade por vícios busca proteger a esfera econômica,ensejando tão-somente o ressarcimento segundo as alternativas previs-tas na lei de proteção: substituição da peça viciada, substituição do pro-duto por outro, restituição da quantia paga ou abatimento do preço (art.18, caput e § 19, I a III).

A diferenciação entre ambas permite a conceituação da responsa-bilidade por vício do produto e do serviço como aquela atribuída aofomecedor por anormalidades que, sem causarem riscos à saúde, à se-gurança do consumidor, afetam a funcionalidade do produto ou do ser-viço nos aspectos qualidade e quantidade, tomando-os impróprios ouinadequados ao consumo ou lhes diminuindo o valor, bem como aque-las decorrentes da divergência do conteúdo com as indicações constan-tes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária.

Comparando o regime da responsabilidade por vícios redibitóriosdo CC de 1916 (art. 1.101) com aquele da lei de proteção, verifica-seque o art. 18 desta última representa a versão atualizada daquele, cui-dando o legislador de superar a insuficiência de proteção em que sedebatia o consumidor. Essa insuficiência era facilmente constatável,em virtude de que o regime anterior cuidava das relações civis, pressu-pondo a igualdade das partes, enquanto o novo regime trata de relaçõesde consumo, massivas e impessoais, em que uma das partes, o consu-midor, é havida por hipossuficiente e, por isso, merecedora da tutelalegal. Assim, o novo regime, dirigido especificamente às relações deconsumo, é muito mais abrangente em sua proteção ao consumidor,notadamente nos seguintes pontos: a) os prazos decadenciais para re-clamação foram ampliados de quinze para trinta ou noventa dias, con-forme se trate de produto ou serviço não durável ou durável, com termoinicial dilargado (art. 26); b) a reclamação alcança não só os víciosocultos,`1nas também os aparentes e os de fácil constatação (arts. 18 e26); e c) diferentemente do regime anterior, a responsabilidade não é sódo vendedor; na nova lei está prevista a responsabilidade solidária detodos os fomecedores, a dizer, o fabricante, o produtor, o construtor, oimportador e o vendedor. Inquestionável, nessa óptica, que o consumi-dor, a par de possuir um diploma legal protetivo específico, desfruta

68

. ~ f dições de defender ou. teçao e esta em melhores conhojg (16 IÍIHIOÍ' PÍO

pleitear seus direitos.

3.2.3.1. Tipos de vicio

- ` ` idade das rela ões de con-Em face da complexidade e da multiplic _ __ _Código procurou quanto possível, agrupar os vicios os proSumo* O ° - d ' vícios- natureza, a saber. pro Hí0S‹

dutos C dos se/rvlços Sešundo atedlad erviç0s° vícios de qualidade e- f - a e' s - .de qualidade e vicios e quall 1 ,-vícios de quantidade.

âj l//'cias de qua/idade dos pr00'U2`0S' ' ` inadequadosSão aqueles que tornam os produtos improprlos oll

- ' ' lor entendendo-destinam ou lhes diminuam o va ,ao consumo a que Se ‹' s de valida-- ' ' onsumo os produtos cujos praZose por improprios ao uso e c

° 'd deteriorados alterados adulterados, fã1SÍf1ea'de estejam venci os, OS ° ” , .- ~ - ~ s ou- os a vida ou a saude perigosodos, corromp1doS, f1`e11dad0S› “OCW ° , - -

' '“ bui-ntares de fabricaçao d1Slíl`1em desacordo com as nonnas regulaine = ____ .. dutos ue, or qualquer motivo,çao ou apresentaçao, bem 001110 03 Pre _q P Q

1 'nadequados ao fim a que se destinam (art. 18, caput e § 6 ,se reve am i. - I ' ' d , ode ocorrer, portanto,I a III). A inadequaçao, no vicio de qualida e p _ __ ou Or

° ropriedade do produto, diminuiçao de seu va o Pdpor imp _ _ d O. . - - - d uado o ro uto Quan

dlspandade mformauvai Conelderâ se lnianáiiltes de siija aquisição oufor incapaz de Sausfazer Os UPOS etelildnr bem como quando não se. z « ° o ,Seja” a legmma expectatlva do consmm ado ou quando não são obser-mostra conforme outros pmdulttiol midnercara a aferição da qualidade.vadas nonnas ou padroes esta e eci os p

li) Vícios de quantidade dos Pf051”05' ' "' decorrentes de suaSão aqueles em que, respeitadas as variaçoes __ d

natureza seu conteúdo líquido for inferior às indicaçoes constaI1_IeS 0' ' 9 d mbala em rotulagem ou de mensagem publloltafla (311-recipiente, a e____ ___ 8 ___; O conteúdo ___ O peso ou medida indicados

19). Há dispari a e en _ _ . . aoantidade inferior causa preJu1Z0Spelos fomecedores, Se11d0 que iq" ________________ do produto

- a ua i -consumidor, Sem, 110 efltelltei a term q

69

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cl I//'cias de qua/idade dos servicos

São os que tornam os serviços impróprios à sua fruição ou lhes di-minuem o valor, considerando-se impróprios os serviços que se mostreminadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem comoaqueles que não atendam às normas regulamentares de prestabilidade(art. 20, caput e § 29). lncluem-se também aqueles em que se verificadisparidade qualitativa entre o serviço ofertado e o executado.

dl V/'cias de quantidade dos servicos

Decorrem da disparidade quantitativa com as indicações constan-tes da oferta ou mensagem publicitária. Não há correspondência entre oserviço efetivamente prestado e aquele ofertado ao consumidor, direta-mente ou mediante publicidade (arts. 18, caput, e 20, caput).

3.2.3.2. A garantia legal e o regime de responsabilização

O CDC adotou o sistema de garantia legal, ou seja, a própria leioutorga a garantia ao consumidor, independentemente da garantiacontratual (CDC, art. 24 clc o art. 50). Assim, a lei determina que ofomecedor coloque no mercado de consumo produtos ou serviços deboa qualidade, sem vícios ou defeitos que os tomem impróprios ao usoou ao consumo, nem que lhes diminuam o valor. Tal garantia da leiindepende de termo expresso e não é lícito ao fomecedor dela exone-rar-se na via contratual.

A regra geral, na lei de proteção, é a responsabilidade solidária detodos os fomecedores, abrangendo, portanto, não apenas o vendedor oucomerciante, que manteve contato direto com o consumidor, mas este eos demais fomecedores em cadeia: fabricante, produtor, construtor,importador e incorporador (art. 25, § 29). A inovação foi importante, namedida, em que trouxe maior garantia ao consumidor, possibilitando-lhe voltar-se indistintainente contra todos os responsáveis pela coloca-ção do produto no mercado. Se entender que é difícil demandar o fabri-cante distante, pode exigir o cumprimento da obrigação do vendedor,mais próximo e acessível. Se, ao contrário, entender que o vendedornão tem condições de arcar com os encargos financeiros da demanda,pode exigir o cumprimento da obrigação do fabricante, em regra em

70

Cøndições de suportar os ônus da obrigação. Com uma vantagem: aSçolha é do consumidor e não cabe alegar benefício de ordem.e

Em duas situações ocorre a responsabilização direta e imediata:ng caso de fornecimento de produtos in natura, sem identificaçao clarade seu produtor (art. l8, § 59), e quando a pesagem ou. a mediçao saofeitas pelo vendedor e o instrumento utilizado não estiver aferido se-gundo os padrões oficiais (art. 19, § 29). Em ambos, a responsabilidadeserá do fomecedor imediato.

A responsabilidade por vícios não gera, como visto, indenizaçãopecuniária por danos causados aos consumidores, a exemplo do que

- - ' ' ` leiocorre na responsabilidade pelo fato. Nessa modalidade, a propriade proteção já define as altemativas de ressarcimento, sempre a escolhado consumidor.

Assim, na hipótese de vício de qualidadede produtos, o consumi-dor poderá exigir a substituição das partes viciadas, ez nao sendo sana-do o vício em trinta dias, pode exigir: a) a substituiçao do produto poroutro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; b) a restztutçaoimediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuizo deeventuais perdas e danos; e c) o abatimento proporcional do preço (art.18 § 19 I a III) Tratando-se de vício do produto, entendeu o legisladorque o consumidor estaria suficientemente garantido com as opções queapresentou (conserto, substituição do produto, restituição do valor pagoe abatimento do preço), não havendo necessidade de provârlegislativamente acerca de indenizaçao de dano, pois o escoplo eat; egarantir o perfeito funcionamento do produto vendido. Aleni as ter-nativas acima, na hipótese de impossibilidade de substituiçao do pro-duto, por não existir na loja ou já não estar disponivel nomercado, oconsumidor poderá exigir a substituiçao por outro de especie, marca oumodelo diversos, complementando o pagamento ou obtendo restituiçaoda diferença (art. 18, § 49).

Em se tratando de vício de quantidade -. peso ou medida inferio:res ao anunciado --, o consumidor podera exigir, alternativamente e asua escolha: a) a complementação do peso ou medida, com o quedserasanado o vício; b) o abatimento proporcional do preço, queusera re udzi-do na proporção do peso ou medida faltante; c) a substituiçao do gro Li-to por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludi. os vi-cios, devolvendo-se o produto viciado ao fomecedor; e d) a restztutçao

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imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo deeventuais perdas e danos (art. 19, I a IV). Na hipótese c, não sendopossível a substituição do produto viciado por outro da mesma espécie,o consumidor poderá exigir a substituição por outro de espécie, marcaou modelo diversos, complementando o pagamento ou obtendo a resti-tuição da diferença (art. 19, § 1”, clc o art. 18, § 49).

O mesmo procedimento foi adotado em relação aos vícios porqualidade ou quantidade de serviços. O consumidor, altemativamente,e à sua escolha, poderá exigir do prestador do serviço: a) a reexecuçãodo serviço, sem custo adicional e quando cabível, mediante o que seespera sanado o vício, o que poderá ser feito por terceiros; b) a restitui-ção imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuí-zo de eventuais perdas e danos, ressarcindo-se o consumidor do quedesembolsou; e c) o abatimento proporcional do preço, que será reduzi-do na medida da inexecução do serviço ou do vício apresentado, haven-do interesse do consumidor em receber o serviço mesmo viciado (art.20, Ie Ile § 19). Quanto aos serviços, o Código ainda estabeleceu umanomia: na reparação de qualquer produto, o fomecedor está obrigado aempregar componentes de reposição originais adequados e novos, ouque matenhain as especificações técnicas do fabricante, excetuando-sequanto a estes últimos autorização em contrário do consumidor (art.21). A infringência dessa norma acarretará responsabilização civil, alémda incidência de sanção penal (art. 70).

3.2.3.3. Prazos de reclamação

Nessa matéria, o regime codificado procurou dar tratamento maisfavorável ao consumidor, porconsiderar que a lei civil não protegiasuficientemente os interesses dos consumidores, em razão da exigüida-de dos prazos e do termo inicial destes. Os prazos de quinze dias e seismeses, se móveis ou imóveis, contados a partir da tradição da coisa (CCde l9l_6, art. 178, §§ 29 e 59, IV), passaram a ser de trinta a noventa dias,conforme se trate de produto ou serviço não durável ou durável, respec-tivamente. O termo inicial passou a variar conforme a natureza do ví-cio: se aparente ou de fácil constatação, conta-se a partir da entregaefetiva do produto ou do término da execução do serviço; se oculto, apartir do momento em que ficar evidenciado o defeito (art. 26, I e II e§§ 19 e 39). Há ainda uma peculiaridade: o prazo não corre enquanto

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nãg decidida a reclamação formulada perante o fornecedor, nem en-quanto durar a tramitação de inquérito civil (art. 26, § 29, I e II)-

3.2.3.4. Pressupostos da responsabilidade por vicio

Da maneira como vem tratada a materia na lei de proteça0, 113condições de estabelecimento dos pressupostos da responsabilidade porvício do produto e do serviço, como segue:

o o 4.4 ° Oa) aquisiçao, pelo consumidor, de produto colocado no mercadde consumo, de fabricante ou de vendedor, ou contrataçao de serviço,

b) a ocorrência de vício de qualidade ou quantidade que compro-meta a funcionalidade do produto ou serviço ou lhe diminua 0 V2l10f;

c) que a reclamação acerca do vício ocorra dentroøwdo prazo 'fixaãoem lei, ou seja, trinta dias para serviços e produtos naä duraV¢1S 6 6

- - ' ' ' ' ' - azo anoventa dias para serviços e produtos duraveis, inician o se.o pr d. - "' u epartir da entrega efetiva do produto ou da conclusao do serv190› 0

sua constatação, tratando-se de vicio oculto.

3.2.3.5. Exclusão da responsabilidade1 . * Í ' H I . OApesar de o Codigo ser omisso nesse topico, em relaâaq a viciodd

- ' ' orproduto ou serviço, entendemos que a responsabilidade o omeceexclui a ocorrência dos seguintes fatores:

a) prova de que não é o fabricante, produtor, construtor, importa-dor comerciante ou incorporador do produto ou o prestador do serviço,ou seja, não colocou o produto 110 lT1€1'Cfld0;

b) prova de que o vício inexiste, embora reconhecendo a coloca-ção no mercado; _

c) decadência, ou Seja, CÍGCUTSO de Pra?-0 Para feC1amaÇa0› sem queseja tomada tal providência; p

d) culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro; ee) caso fortuito ou força maior.

- " ' obri-Na altemativa a, fomecedor demandado naooe o devedor da.. ~ z z - oes; nasgaçao; na b nao ha vicio a ser consertado nem direito asbopç ' H de- - ~ ' i i aoaltemativas c, d e e o consumidor nao podera exigir su s u ç

produto restituição de quantia paga e abatimento do preço, ou porque

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nu' nunao formulou a reclamaçao no prazo legal ou porque o vício decorreude causas extemas, hipóteses em que o consumidor deverá contratar asubstituição de peças ou as demais opções, mas arcando com as respec-tivas despesas.

3.2.4. Responsabilidade nos serviços públicos

O CDC estabeleceu como princípio da Política Nacional de Rela-çoes de Consumo a racionalização e melhoria dos serviços públicos(art. 49, VII).

E dentre os direitos básicos do consumidor alinhou a adequada eeficaz prestação dos serviços públicos em geral (art. 69, X).

Já no campo da tutela civil das relações de consumo, no capítuloatinente à responsabilidade civil do fomecedor cuidou da responsabili-dade nos serviços públicos, disciplinando que “os órgãos públicos, porsi ou suas empresas, concessionárias, pennissionáiias ou sob qualqueroutra forma de empreendimento, são obrigados a fomecer serviços ade-quados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos” (art.22). E que, “nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obriga-ções referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cum-pri-las e a reparar os danos causados” (art. 22, parágrafo único).

Cumpre veiificar, desde logo, que o CDC não discrimina os servi-ços públicos sob tutela, para dizer expressamente quais estão incluídose quais não estão, se é que pretendeu o legislador afastar da incidêncialegal algum tipo de serviço público.

A doutrina vem-se posicionando de duas formas. Há autores, comoDENARI e MARINS, que não fazem qualquer referência a serviços públi-cos excluídos da tutela, admitindo com isso a incidência sobre todos eles.E há autor, como PASQUALOTTO, sustentando que não estão tuteladospelo CDC os serviços públicospróprios -_ aqueles prestados diretamentepelo Estado, como a defesa nacional e a segurança pública, mantidos como produto da arrecadação dos tributos em geral - por faltar-lhes o requi-sito essencial da remuneração especifica, limitando-se a tutela do CDCapenas aos serviços públicos impróprios - prestados diretamente peloEstado ou indiretamente, por meio de concessão, permissão ou autoriza-ção, na medida em que são custeados por meio de pagamento de taxas outarifas, como, p. ex., os serviços de água, energia elétrica e telefonia.

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Segundo o CDC, os fomecedores _ órgãos públicos ou seus dele-gadgg - estão obrigados a fomecer serviços adequadoszeficientes eSeguros e, no caso dos essenciais, também continuos. Dai resulta queSão aplicáveis a tais fomecedores os dois regimes de responsabilizaçao:P310 fato (defeito) e por vício do serviço. Ou seja: responderão, inde-pendentemente de existência de culpa, pela reparação dps danos pausa-dos aos consumidores-usuários por defeitos relativos a prestaçao dosServiços bem como por informações insuficientes ou inadequadas so-bre sua fruição e riscos, entendendo-sepor serviço defeituoso qqueleque não fomece a segurança que o usuario dele pode esperâf (CDH ›14, caput e, § 19). Da mesma fonna, aplicam'-se-lhes as exclusoes eresponsabilidade do § 39 do mesmo artigo, I111Í18Ímd°'a~

E respondem também em caso de vício do serviço, ou seja, qllëlfl-do este for prestado de forma inadequddä (em Pfficáfías C0Ud1Ç0eS)›. . - - “ ` inua semineficiente (deveria funcionar, 1T1a_S 1130 fl1I1C10I1ä) C 6_l€SC_0m (_regularidade de freqüência e horário). Isto porque a lei exige que sejamprestados de forma oposta _ adequada, eficiente e contínua. O serviçoessencial - que deve ser contínuo - é aquele assim considerado parao atendimento inadiável da comunidade.

Há incidência, nesse caso, da responsabilidade por viciodo servi-ço. Os órgãos públicos ou seus delegados poderão ser compelidos jiliãli-. - ' s, me o-cralmente a prestar serviços adequados, eficientesfe continuo do O

- - ~ - se unrando as condiçoes de sua prestaçao, fazendo osduncionar. g Ssen‹ I ' ` e .-

seu fim e a expectativa do usuario e restabeloecen o os serviçciais se eventualmente sofrerem descontinuidade.

Parece que, em relação aos serviços públicos, o CDC alterou o regi-me de responsabilização, limitando as alternativas, em caso dedescumprimento à reparação de danos (CÍCÍCÍÍO) C à P05S1b1hdade de com'pelir as pessoas jurídicas fomecedoras oa cumprir as obrigaçõfbs aÊ_Sl:1I111<;ÊSpor lei ou por contrato; nao se lhes aphca o art. 20, qllfi PYÊVÊ «ÉS Fmvas de ressarcimento, como reexecução dos serviços, restituiçao de quan-tia paga e abatimento proporcional do preço (CDC, art. 18, clc o 22, capute parágrafo único). Também sobre esse ponto ha dissenso na doutrma.

3.2.5. Desconsideração da personalidade l"f¡d¡°a~ ~ ° ' ê re`udi-A constataçao de que, muitas vezes, o consumidor pie (ill op Ã.. ‹ ° ' erro eve-cado por nao conseguir alcançar paulmofllfllmellle 0 Ver 3

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Page 46: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

dor, encoberto sob o manto de empresas as mais diversas, o Código doConsumidor optou por adotar integralmente a teoria da desconsideraçãoda personalidade jurídica, arripliando-a (art. 28, §§ 29 a 59).

A teoria, originária dos Estados Unidos, denominada disregard oflegal entity, tem por objetivo o desvendamento da pessoa jurídica, per-mitindo ingressar nela para alcançar a responsabilidade do sócio porsuas obrigações particulares, nos casos de desvio de finalidade, fraudeà lei ou abuso de direito, que tomam injustificável a manutenção daficção legal de autonomia de que gozam as pessoas jurídicas em rela-

.nuçao a seus componentes.No Brasil, à falta de previsão legal, a teoria vinha sendo, em maté-

ria civil, timidamente aplicada pela jurisprudência1°.O efeito prático da adoção dessa teoria é que, ocorrendo os pres-

supostos do art. 28 - abuso de direito, excesso de poder, infração dalei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, emdetrimento do consumidor -, o juiz pode desconsiderar a pessoa jurí-dica e responsabilizar civilmente o sócio-gerente, o administrador, osócio-majoritário, o acionista controlador etc., alcançando-lhes os res-pectivos patiimônios, adotando o mesmo procedimento em caso de fa-lência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade de pessoajurídica provocados .por má administração e até genericamente quandoa personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarci-mento de prejuízos causados aos consumidores (art. 28, caput e § 59).

A ampliação, assim verificada, também ocorreu em função da so-fisticação e da complexidade da estrutura empresarial atual, em que severifica a multiplicidade de tipos de empresa, com características pró-piias, mas com interesses interligados. Por isso, fixou o Código as se-guintes regras:

l9) Art. 28, § 39: são solidariamente responsáveis as empresas con-sorciadas, a dizer aquelas que, sob idêntico controle ou não, sem perdada personalidade jurídica de cada uma delas, se reúnem, por força decontrato, para execução de determinado empreendimento empresarial,na mesma etapa (consórcio horizontal) ou em diferentes etapas (con-sórcio vertical) de produção (Lei n. 6.404, art. 278, § 19). Constitui-se,

,

10. Boletim AASP, 1.574/39.

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pois, em exceção ã regra de responsabilidadeliniifitada. Todos os res-ponsáveis respondem indistintamente pela obrigaçao.

29) São subsidiariamente responsáveis as sociedades integrantes(105 grupos societários e as sociedades controladas (ali 23, § 29)- Gm"

societário é aquele constituído por convenção aprovada pelas socie-äodes ue o compõem cada sociedade conservando sua personalidade' a ídicii e patrimônio é tendo por finalidade a combinação de recursosjur _ _" _ _ _ art. . deQu esforços para a realizaçao dos respectivos.objgt;i1\;)qtS, a(;Ltl1I;65i)ci§É::ie_atividades ou empreendimentos comuns (Lei n. . , _- I ' -dades controladas são aquelas que formam o grupo societario e tam-b 'm a uelas em que a controladora é titular de direitos de sócio que lhe

É/segiiiem de modo permanente preponderância nas deliberações so-a 9 °. . ' ° ' l . . 6.4049ciais e o poder de eleger a maioria dos administragširqs (lñãlg consa-

an. 269, ii, tz/C O zi1.243,§2-;Nov_0ÇC¡flfI- 1~0 › H: d- credor éqüência da responsabilidade subsidiaria e que a esco. a oilimitada, ou seja, demandado o devedor principal e verificado que eãte.. - - - ' ^' ornão pode ou nao tem condiçoes de cumpru a obrigação, 0 COIISUITUpode voltar-se contra os demais, escolhendo livremente entre um outodos desses devedores.

39) As sociedades coligddcw _- CIUHUÕO há P3‹1`tÍCÍPfl9ã° de uma_ - ' t lá-sociedade, com dez por cento ou mais, do capital da outra, sem Con roia (novo cc art i 099 e Ler ii. 6.404, zm. 243, § 19) - S0 reseflndem9 . . H _ . . . 1 ›-«es

por culpa nas relaçoes de consumo. Assim, se uma .infringiu re açode consumo responderá independentemente de verificaçao de culpa,enquanto as demais coligadas só responderão se demonstrada culpa.

3.2.6. A inversão do ônus da prova

Dentro do contexto de assegurar efetiva proteçãqlao consuânid§1r,S:. › ~ ^ rova. u -legislador outorgou a inversao, em seu favor, (10 011US6Qa\F;H) Onstituinz ' ' . . I . . 9 C _de beneficio previsto no rol dos direitosbasicos (BAT , . _ ”

do-se uma das espécies do gênero “facilitaçao da defesa de direitos , quea legislação protetiva objetivou endereçar ao consumidor. 'A .

Sabe-se que este, por força de sua situação de hipossuficiencia Cfragilidade, via de regra enfrentava dificuldade invencivel de realizar aprova de suas alegações contra o fomecedor, mormente em se conside-rando ser este o controlador dos meios de produção, com acesso e dispo-

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sição sobre os elementos de provas que interessam à demanda. Assim, aregra do art. 333, I, do estatuto processual civil representava implacávelobstáculo às pretensões judiciais dos consumidores, reduzindo-lhes, deum lado, as chances de vitória, e premiando, por outro lado, com airresponsabilidade civil, o fomecedor.

Para inverter esse quadro francamente desfavorável ao consumi-dor, o legislador alterou, para as relações de consumo, a regra processu-al do ônus da prova, atento à circunstância de que o fomecedor está emmelhores condições de realizar a prova de fato ligado à sua atividade.Compreensivelmente, limitou-a ao processo civil e às seguintes situa-ções: quando houver verossimilhança nas alegações, a critério do juiz esegundo as regras ordinárias de experiência ou quando houver compro-vação da condição de hipossuficiência do consumidor.

. É induvidoso que a inversão aqui tratada será de grande utilidadepara o consumidor, liberando-o de provar, p. ex., a colocação de produ-to ou serviço no mercado e o nexo causal entre o defeito e o dano,encargos que passam a ser do fomecedor.

O deferimento da inversão deverá ocorrer entre a propositura daação e o despacho saneador, sob pena de prejuízo para a defesa do réu.

3.3. Das práticas comerciais

3.3.1. Da oferta

A evolução das relações do consumo conduziu à necessidade denovo tratamento do tema atinente à oferta e à publicidade. As disposi-ções do direito comum (CC de 1916, art. 1.087; C. Com, arts. 121 e s.)mostraram-se -insuficientes e inadequadas para regular a nova realida-de, por duas razões principais: a) como a oferta e a publicidade eramdesconhecidas ou incipientes no fim do século XIX e começo do XX, 'os Códigos Comercial e Civil, de 1850 e 1916, respectivamente, regu-laram iiiinimamente ai matéria; e b) ainda assim, a escassa regulamenta-ção considerava a igualdade das partes e tinha presente o entendimentode que a oferta se dava entre pessoas determinadas, pressupondo abilateralidade proponente-aceitante.

Em conseqüência dessa insuficiência normativa e da manifestadesatualização dos diplomas vigentes, o consumidor era freqüentemente

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t t " de que ao contrário do que ocorre na esfera civil,` S EI a ao 9lesado, a con E ções de consun-10 pode dar-se entre pessoasferta nas re a _ _

ll O 'nadas alcançando tanto o consumidor efetivo - aquele quemdetemn' ' d B d tos ou serviços como 0 PÚÍCUCÍÉÚ '_ aqueleo ro u -“'ama adqumn p consumir ou exposto às práticas de consumo, como' so a .que esta pmpen - b ' onsumidor-- " art.29.Tam emocOferta, publicidade e praticas abusivas.( ) br _d de

' 1 ' ito à influência generalizada da oferta e da pu lei 21 ,potencla ° Suje - ' à falta de tratamento' te ao da lei. E tambem porque, _ _merecla prã E o re ime anterior a oferta e a publicidade trans-' ema n , .rmnudeme fo lberdagde com inevitáveis abusos como flI1UI1C1af 9' nca i , ° .Comam en? lia do necessária tal regulamentação par21 Cl@fi1'111"S9 denão cumprir, 01`11a11 . . - de

- - seus re uisitos reg1H1€Sque forma devenam processar se 't' dofios arts ,30e seguintesresponsabilização etc., 0 qua a0ab0U P051 Wa 'da lei de proteção.

Oferta no sentido do CDC, vem a ser marketing. S€8Und° BEN'' , ' `unto de “métodos, técnicas e instrumentos que

JAMIN Slgläfiëäguâälšof (105 produtos e serviços colocados a sua dis-aproximam ” .,posição no mercado pelos fornecedores , acrescentando que oqgílêlgíuma dessas técnicas, desde qua isuficlaaíamaflta Pffiflsa › Pformar-se em veículo eficiente de oferta vinculante .

3.3.1.1. Requisitos i. .z ' re uisitos da ofer-1 A lei de proteçao entendeu preferivel elencar os qn'

ta Fê-lo no art 31, nestes termos: “A ofeflafi aPI-eS9ma99° de Êrodutos° - ' "es corretas, claras, precisas, os-ou serviços devem assegurar informaço I _ alidades- língua portuguesa sobre suas caracteristicas, f-la rtensivas e em . -:idade ¢0mp‹›Si<;a° preço, garantia» PfaZ°S de Vahdade 9 Ongem'qual] ° ° - t à saúde es riscos ue a resen amentre outros dados, bem como sobre o (-1 P d t

segurança dos consumidores”. Sendo a oferta o momento antece enfe- ser recisa e transparente o su 1-da conclusao do ato de consumo, deva P _

ciente Para que o consumidor, devidamenta 11'1f01`mad°~› P°SSa exeäcãr.O- - - ' as informa ões devem ser ver a ei-seu direito de livre escolha. Assipi, H fƒtica aim as características do

do corre açao aras e corretas, guardam

_'-*___ _ . . ° t do pelos autores dod- fe f:';;::"sa“;'":§.:,_anzgprgjeto, Rio de Janeiro: Forense Universi , , -

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produto ou serviço, redigidas em linguagem clara, lançadas em lugar eforma visíveis. Além disso, devem ser escritas em língua portuguesa.Devem incidir sobre os elementos que interessam ao consumidor para

. fazer sua escolha, como características e dados técnicos (qualidade,quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade, origem

3além de outros) e potencialidade danosa (riscos que apresentam à saú-de e segurança dos consumidores). Pode-se dar por qualquer forma deveiculaçao; se mediante publicidade, deve seguir a regulamenta ão doç sarts. 36 a 38. Em caso de oferta por telefone ou reembolso postal há umrequisito extra: para possibilitar a responsabilização, o nome do fabri-cante e seu endereço deverão constar obrigatoriamente da embalagem,publicidade e impressos utilizados na transação comercial (art. 33).

3.3. 1.2. Campo de abrangência

A oferta é feita sempre pelo fomecedor, interessado na apresenta-çao, lançamento, divulgação ou venda de produto ou serviço. Além deresponsável pela oferta que fizer diretamente, o fomecedor é solidaria-mente responsável por aquela feita por seus empregados, agentes e re-presentantes, inclusive autonomos, que em nome dele atuarem (art. 34).

Aliás, a regulamentação da matéria mostrava-se de suma impor-tância para o consumidor à constatação de que seus direitos básicos deinformação, livre escolha e proteção contra métodos desleais e práticascomerciais (art. 69, II, III e IV) só estariam efetivamente garantidos selhe fosse permitido atuar com liberdade e consciência na fase de oferta,sem sofrer influência de oferta inverídica e de publicidade enganosa ouabusiva, deturpadoras de sua manifestação de vontade. Atento à cir-cunstancia de que o consumidor atua no mercado de consumo influen-ciado pela oferta e seduzido pela publicidade, optou o legislador pordisciplinar a matéria na via legislativa, pretendendo com isso depurar omercado de práticas condenáveis e proporcionar proteção, preventiva erepressiva, ao consumidor.

Proposta, na órbita do direito civil, é “o ato pelo qual uma das partessolicita a manifestação de vontade da outra”12 ou “a fnme declaração

-ii-íííí

12. Washington de Barros Monteiro, Curso de direito civiiz obrigações, SãoPaulo: Saraiva, 1969, v. 5, p. 15.

. . . . 1 tende al uém cele-Izeçeptícia de vontade dirigida a pessoacom 21 qua Pre g 1 ,ES ~.'blico”, 110 dlzef de ORLANDO GOMbrar um contrato, OU 30 PU

pecífico das relações de consumo, oferta é toda pro-No campo es . - 1; “Qdiante apresen ašãa' duto ou serviço, 111€ ,de fornecimento de pro bh_Peste . . ~ or amento apreçamento), ou PU

`trina), informaçao (p. ex., ç ‹.- H Í, l._(p. ex., vi . . d uniçaçao). Tem como ina 1- ' cios nos meios e com - _ .cidade (p. ex., anun . , 1 rente Por ISSO, eX1ge_Se

midor como provave c 1 - Pdade alcançar O comu - ' ” d rrerão de um. ' ” dessa precisao ooo -.-° “ temente precisa , P015 .Sffila Suficlen ~ 'd r a determinar a escolhada informaçao do consumi o .lado, «'51 adequa . .. - f fra A impre-. de cumprir a o e .. de outro, a obrigaçao .livre e consciente e, _ H , 1 nsumidor- - defeituosa pe 0 C0- ~ duzina a uma aceitaçao _

. . dade de ordem pra- nte e a uma dificul ___equlvocado ou mscle ` ento da oferta. Não SGlir o fomecedor ao Cumpflm .mente ee se eompe - f rt a uela vei-' derando-se o e 21 Q° lado formalidade, consi N .exige, por outro , _ _ _ _ f O escmos

as ln 9 9.z forma ou seja, POI' V1 '›° _ _, ,eulada por qualquer e “ ' de comunicaçao” (ra-z - :def ou por qualquer 111610 .anuncios, encartes,f0 › em atinglr O con-

- - ' ' tc.). Desde que tenha P01' mdio, 'I'V, Jornais, revistas e H t HO ou para- ' ' '_ informa oeS, Para e resumidor, para municia lo do 9

influenciá-lo, Sera S@1T1P1`e efefle' A lei protege não. - - o do consumidor.Situaçao curiosa cšcorre do laimbém O cønsumidor potencial, pro-

'dor e etivo, masapenas o consumi d em momento. '~ art. 29). Atuan oou exposto a oferta (penso a consumir Oferta tem O poder de- ~ ' ”' do ato de consumo, 21anterior a concretizaçao , . ~ m 1e_. z nformaçao co P- ° dor dai decorrendo que so a 1 _influenciar o consumi , _ d Sumldm.z livre escolha o con ~ter como resultado a _ _ , .ta e adequada podera a Obn_- duto ou serviço]' les fato de ofertar proNPSSEI Pe1'5Peet1Ve= O Slmp 1 "' de consu-

' do Completada a re açaodor a cumprir o oferta . _ _ga O fomece - ssibilidade em caso do' “ do interessado, Surge 3 Pe 'mo com a aceitaçao _ H d f na A° . os termos a o e .to forçado da obrigação, 11 _femea, ee cumpnmen reventivamen-.. ° ial a seu tumo, 0C01`1'€'‹, P _Proteçao ao consumidor Potenâas ,atividades de oferta e pubücldade C

' ainenta ao _ .te, mediante regàult efgossam influir na decisão do Interessado, m-eeibíçee de Con u as qu ' lh fornecimento_ - ara arantir- e oduzmdo-o em erro, e repressivamente, P 8segundo a oferta.

e__l3_Ee tratos 12 ed Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 65-, On s ' "

8180

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3.3. 1.3. Regime de responsabilização

A regra básica nesse tema é que aquele que oferta está obrigado acumprir a obrigação nos termos propostos. É o chamado princípio davinculação, acolhido plenainente pelo CDC (art. 30). Da oferta derivamduas conseqüências para o fomecedor: a) passa a integrar o contrato; eb) obriga ao cumprimento da obrigação subjacente, porquanto a aceita-ção do consumidor aperfeiçoou o círculo obrigacional e a relação deconsumo (art. 30). Sem se esquecer que o fomecedor é solidariamenteresponsável pelos atos de seus empregados, prepostos, agentes ou re-presentantes (art. 34).

Cumprida a oferta, estará satisfeita a obrigação. Recusando-se ofomecedor a implementá-la ou dar-lhe cumprimento, restará ao consu-midor exigir, via amigável ou judicial, o cumprimento forçado da obri-gação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade, ou, altemati-vamente e à sua escolha, aceitar outro produto ou prestação de serviçoequivalente, com complementação do pagamento ou restituição da di-ferença, ou, ainda, rescindir o contrato, mediante restituição de quantiaeventualmente antecipada, monetariamente atualizada e composição deperdas e danos (art. 35, I a III).

3.3. I.4. Oferta de componentes e peças de reposição

Um grave problema que afligia o consumidor era o relativo à re-posição de peças e componentes. Não raro, após adquirir um produto,acontecia de cessar a fabricação deste, tomando-o completamente inu-tilizado ao surgirem defeitos e não serem encontradas peças de reposi-ção no mercado. Isso gerava, para o consumidor, prejuízo financeirocom a perda do aparelho, desconforto pela impossibilidade de sua utili-zação e seu conserto por determinado período e, por fim, novas despe-sas para a aquisição de produtos em substituição.

Atento a esse fato, correntio no mercado brasileiro, o legislador,acoplado à responsabilidade pelo vício do produto (arts. 18 e s.), crioua responsabilidade pela oferta de componentes e peças de reposiçãoenquanto durar - e mesmo depois de cessar - a fabricação ou impor-tação (art. 32 e parágrafo único). Garante-se, com essa medida, a plenae duradoura utilização de produtos, com a garantia, por longo prazo, decomponentes e peças de reposição, possibilitando consertos diversos e

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manente utilização O dispositivo demanda a edição de lei ou regu-er 'P to para definir caso a caso, conforme a natureza do Pfed“te› e1 en › _ zem f ferta apos ces-' l de tempo que devera durar mencionada o , _ __prâäoarišgzeiizíiçäo ou importação. Diz BENJAMIN que “tal °bf183§a°sa ~ m razoão é ad aeternum De duas uma, a lei ou regulamento fixa u pn ' ^ - ' d azoável de› - ' carencia, estabelece o perlo 0 1”mlmmo ou o Juiz, na suaexigibilidade do dever”“. _ _

Cumpre destacar que a oferta está limitada aos fabricantes e impor-... enas rodutos in-tadores (e nao aos fomecedores em geral) 6 3103393 3P _P ___-dustrializados e compostos em peçaS, II1aS 1130 31031193 Sefvlee nem. ~ m onentes. a adutos brutos ou singula1'€S, 1130 COIUPOSÍUS de Peças e ee P.. - A - f ° i o, é devida também peloprestaçao de assistencia tecnica, como serv ç _ __. . . .z " rt ao do roduto.distribuidor, enquanto nao cessar a fabricaçee e3 1mP0 de P

3.3.2. Da publicidade

No contexto das práticas comerciais, publicidade e uma fo_i'iäa_;1:veiculação da oferta, sujeitando-se, como tal, aos mesmBS_f3<llU1S__ C___regime de responsabilização (arts. 30, 35, 36, _3? Ê _38)- e fãehí ________digo Brasileiro de Auto-Regulamentaçao Publicitana como __o comodade destinada a estimular o_consum_o d_e bens ‹=_'z_ SCI'V1Ç05› *_-"_1T_________ ___promover instituições, conceitos e ideias 3 )- N31É'1eSm ________°____conceituada pelo Decreto n. 57.690/_66 como qU31*ÍlUe1` eme fe ________rada de difusão de idéias, mercadoriaS, Pfedutee eu Servlços por Pde um anunciante identificado” (art. 29)-

Realça HERMANO DUVAL, com suporte na doutrina de Roger. _ . ,.. blicidade, nes-Mauduit, a distinçao fundamental entre propaganda e pu _ ___tes tennos' “Tecnicamente, os dois conceitos diferem. enquan o a p. . ° - - ' ' ' ,d media ão entreblicidade representa uma atividadecomercial tipica 6 __ 9 _______o Produtor e o consumidor, no SGHÍIÓO de 3PI`0X1I1”13-105» Ja 3 Prepaíã .. . ' ' inião eia,da significa o emprego de meios tendentes a_ _i___nodificar a opnum sentido político, religioso ou artistico . __ _ ______

Í , . _ ' t e mA verdade, porem, e que a publicidade deixou e er p_aP __

mente informativo para in

mm

14. Op. cit., P. 161. _ _15 A pubmgdade e Q lei, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 1.

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fluir na vida do cidadão de maneira tao pro-

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funda a ponto de mudar-lhe hábitos e ditar-lhe comportamento. Trata-se -- é bem de ver - de instrumento poderosíssimo de influência doconsumidor nas relações do consumo, atuando nas fases de convenci-mento e de decisão de consumir. Assinalando ser esse fato conseqüên-cia da “cultura de massas” em que vivemos, instalada pela exploraçãodos meios de comunicação, FÁBIO KONDER COMPARATO traça oquadro dramático, porém real, a que se vê submetido o consumidor sobo influxo da publicidade comercial. Assim: ““O consumidor, vítima desua própria incapacidade crítica ou suscetibilidade emocional, dócilobjeto da exploração de uma publicidade obsessora e obsidional, passaa responder ao reflexo condicionado da palavra mágica, sem resistên-cia. Compra um objeto ou paga por um serviço, não porque a sua marcaatesta a boa qualidade, mas simplesmente porque ela evoca todo umreino de fantasias ou devaneio de atração irresistível. Nessas condi-ções, a distância que separa esse pobre Babbit do cão de Pavlov toma-se assustadoramente reduzida”““.

Com a mesma veemência de COMPARATO, HERMANO DUVALassim descreve o fenômeno: um fato notório que a mensagem publi-citária vai, hoje, além da mera informação. Em uma primeira etapa, elainforina; na segunda, sugestiona, e, na terceira, ela capta em definitivoo consumidor. De tanto insistir na mesma tecla, mas sempre revestidade novos recursos propiciados pela chamada “criatividade” a publici-dade comercial passa habilmente da informação à sugestão e desta àcaptação, isto é, eliminação no consumidor de sua capacidade críticaou censura ao que lhe é proposto (anunciado), o que importa numa vio-lação ao princípio da liberdade de pensamento. E ao fim de tantas emaiteladas repetições, incapaz de distinguir a sugestão do erro, o públi-co consumidor apresenta-se “condicionado” à mensagem, isto é, ficacom o produto anunciado para “liberar-se' de sua promoção, rejeitando,assim, qualquer outra informação ou crítica, para só se decidir pela queficou “condicionado'. Nesta fase, a pior comunicação publicitária é ada chamada “publicidade subliminar”, de que se aproxima a “publicida-de redaciona1° Claro que o processo de “condicionamento” é psicoló-

mm

16. Fábio Konder Comparato, Proteção do consumidor: importante capítulo dedireito econômico, in Defesa do consumidor_ textos básicos, 2. ed., Brasília: CNDC/MJ, 1988, p. 40.

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150, mas o de sua imposição está na função modema da publicidade.Êntem advertiu Linsdsay Roger, importava saber o que a opiniao pu-

. i - ~ - ' ' deve uerer””.bhca quena° hoje Importa decidir O que eia h -d d todos

O quadro assim exposto revela aquilo que e con eci o e . 'nós: o consumidor é induzido a consumir, bombardeado pela publicida-

ssiva ue o cerca em todos os lugares e momentos de seu dia-a-a . .iii/amComo ailitômato, responde a esses estímulos, sem disceniir cãrreta-' ~ ' ' crítico. E se tu o issomente' Age pela emoçaos embotado em Setblulzli em mádio P0de se.-... \ ' ' _

ocorre em relaçao a publicidade normal so re o . .d d , nosa ouimaginar os efeitos nefastos e devastadores da publiciu a e enga .abusiva e daquela incidente sobre pessoas em formaçao, como criançase adolescentes. dç

- ' te no 1-Embora a oferta tenha sido regulamentada sucintameureito comum, a publicidade não goza de nenhuma disciplina neâsa

~ ' eas como e-área, encontrando regulamentaçao esparsa emfioutrasbarlho i e auto-fesa econômica, propriedade industrial, relaçoes tra a is asregulamentação. I _

Já em 1975 HERMANO DUVAL, especialista na materia, con-cluía que a disciplina legal da publicidade comercial entre nos era . me-. - z - ›› sa insu-ramente superficial e epidermica , apontando comã šauâfliififiâe info?ficiência a natureza polivalente da publicidade, 3 6 101911__ . , . , . - - ' ' 'a estruturamaçao doutnnaria, o palido elenco Jurisprudencliâl G El PTOPY1econôinico-financeira da publicidade C0IT1€fC1a

° ' ar a idênticaTranspoüando-nos para Os filas Éltualãa vziililfíís âheg ostrou se in-00110111350» Para afirmar que a leglslaçao preiíio 1 cal :ilázões que se. - ~ a -Suficleme para garantir proteçao ao consumi or, pe

guem alinhadas:lã) a legislação anterior, em nenhum momento, levou em Conta 0

alto poder da publicidade na indução ao consumo em massa;zë) até então, a questão era vista pelo prisma da concorrência des-

- ° ' ' ` o o consumidor emleal e da proteçao da propriedade industrial, deixand- -1929, que aprovou a Con-segundo plano (Decreto n. 10.056, de 31 12 i __ _

venção de Paris de 1983; CPI de 1945, art. 178, e CPI de 1971 LCI H-5.772 --, art. 128);

i1;

17. Op. cit., p. 152.18. Op. cit., p. 151.

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Page 51: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

39) a regulamentação da atividade publicitária, envolvendo profis-sionais e agências, teve enfoque sociotraballiista e caráter disciplinar,só reflexamente beneficiando o consumidor (Lei n. 4.680, de 18-6-1965,regulamentada pelo Dec. n. 57.690, de 19-2-1966);

49) a auto-regulamentação, a seu tumo, teve preocupação corpo-rativa, sendo seu objetivo primordial “estabelecer as regras éticas paraa indústria publicitária” (Código de Ética dos Profissionais da Propa-ganda, de 1957, encampado pela Lei n. 4.680/65, art. 17, e Código Bra-sileiro de Auto-Regulamentação Publicitária, de 1978).

Toda a legislação anterior, no conjunto, não tinha a preocupaçãoprecípua de defender o consumidor. A regulamentação profissional e osancionamento ético-disciplinar não resultaram em benefício palpávelpara o consumidor, que não encontrava meios para obter o devido ressar-cirnento e não se via protegido nos demais aspectos tutelares. A auto-regulainentação, por outro lado, era entendida pelos meios jurídicos comoinsuficiente para obviar a proteção do consumidor, à simples constataçãode que o Conar- Conselho Nacional de Auto-Regulainentação Publici-tária, clube associativo de censura ética, não tinha poderes para retirarpropaganda enganosa do ar e conceder ressarcimento aos prejudicados;poderia, no máximo, sugerir a retirada do ar da publicidade viciada, semqualquer via de coercibilidade. Ressalta, à evidência, que essa medidanão proporcionava cobertura ainpla aos interesses dos consumidores nasdiversas esferas, primeiro por não conduzir ao ressarcimento e segundopor não levar em conta o efeito residual da publicidade enganosa ouabusiva, que, segundo se sabe, mesmo retirada do ar, continua a produzirefeitos e influenciar pessoas que a ela estiveram expostas e nem sequerconhecem o motivo da suspensão de veiculação.

Impunha-se, assim, a disciplina da matéria pelo enfoque da prote-ção ao consumidor, o que efetivamente fez o Código, mediante a outor-ga de tutela nas esferas civil (arts. 30 a 38), administrativa (arts. 55 a60), penal (arts. 67 e 68) e jurisdicional (arts. 81 a 104).

A revelar a insuficiência do regime anterior e a preocupação protetivada nova fase, o legislador repriniiu a publicidade enganosa ou abusiva emtodos os níveis de tutela; ensejou a aplicação de sanções administrativas,dentre as quais a contrapropaganda; propiciou a retirada do ar de publici-dade viciada, com o respectivo ressarcimento de danos, além de vincularo fomecedor à oferta publicitária; criminalizou a conduta e criou meca-nismos processuais, melhorando o acesso à justiça.

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- z - f ' 'dor fiel ao, de inicio, ue o Codigo do Consumi ,I lmporëi desäilçiarão de 1988 Êiart 220 e seus parágrafos), nenhuma

eSp1r.ltÊ.)dÊ (šnstividâda publicitária nem permite censura de natureza, . . z - f ' as e tao-somente a pu 1

politica, ideológica e artistica. .Sanciona apen “midor O que não caraøciaaóeirn-=gular.an0rfna1@ i>f§==ifl_<11<=1=11 21° 0011? i . .. _

'za inibição ou interferência indevida na liberdade de criaçao e BXtem “ P ituno merece registro que lei federal, a ser futuramen-pressao. or opo , I _ _ ial de tabaco, bebidaste editada, regulainentara a publicidade comerc _ _ _ _. . ' do inclusive,f - ' dicamentos e terap1aS, 62118111 ›alcoólicas, agrot0X1COS, 111€. ._ - - ' ' d so (CF, 2111-a consignaçao de advertencia sobre os maleficios fe seu u d' _220 § 49). A edição dessa lei restritiva reforça a ideia de 9119 05 1590

' ' d Código do Consumidor nada têm de inconstitucional.sitivos 0

3.3.2. 1. Principios norteadores- - ' ` xtraídos os rincípios

O texto codlficado permlte Sejam el ionamentolêomocon-' - ' ' ' ' seu re acnorteadores da atividade pult))licitaräa nO ntendimento da matéria' ø o I 0 O e 1

sumidor, o que facilitara so rem0. RELLI, costuma

A doutrina, notadamente BENJAMIN e BULGAassim resumir tais principios: . . 6 Í). a

19) Principio da identificação da Pubhcldaäe (¡Í[_rt' ° _capäiaz[a,_, ' or áci e ime -veiculaçao deve ser de tal forma que o consumi H, I _. . - ' 6 do Codigo dememe, a ldemlfique comobiiali çlnnädelšgilfvâ Êe‹Ê‹Íi(i›ir a PublicidadeAuto-Regulamentação Pu icitoaria. 0clandestina, inclusive a subliminar. 9 Q _

29) Princípio da veracidade (art. 31 c/c o art. 37, §§ 1 9 3 )-. 3publicidade deve ser escorreita e honesta, segundo os requiSi'I0S 198315-- ° d i servi o ofere-

cido. Visa a manter .corretamente in q:I'1n,2t1) OSC a ublicidadè enganosa.gurar-lhe a escolha livre e consciente. oi e P _

32) Princzpzo da nâa-zzbzaàvzâaâe (art. 31, C/C 0 ?-I:1~ã7~ § Êãijna_ f - e e na -publicldade delle press-Wal. Yaloresllítlcoê derlêoifâiaczizilclâolima-se afas-duzir o consumidor a situaçao que E Sela P J -tar a publicidade abusiva.

49) Principio da transparência da ƒundamentaçã0 (aftl 36» Pafa'af ' ' ) blicidade deve fundamentar-se em dados faticos, tec-gr o unico : a pu _ ão veiculada para infm__

micos a científicos que comprovem a inforinaç _"' de sua veracidade.~ ' dos e eventual demonstraçaomaçao aos interessa

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Page 52: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

59) Princípio da obrigatoriedade do cumprimento ou da vinculaçãocontratual da publicidade (arts. 30 e 35): a publicidade integra o con-trato que vier a ser celebrado e obriga o fornecedor a cumprir a ofertaveiculada. Veda-se o anúncio de mera atração de clientela.

69) Principio da inversão do ônus da prova (art. 38): à constataçãode que o consumidor dificilmente tem condições técnicas e econômicasde provar os desvios da atividade publicitária, incumbe ao patrocina-dor, beneficiário da mensagem, o encargo da prova da veracidade ecorreção do que foi veiculado. Harmoniza-se o princípio com o direitodo consumidor de facilitação de sua defesa (art. 69, VIII).

3.3.2.2.. Classificação

_ Ao conceituar publicidade enganosa e abusiva, o Código, a con-trario sensu, permite uma primeira classificação da publicidade verda-deira e não abusiva, assim entendida aquela que contém dados verda-deiros sobre os elementos do produto ou serviço, não desrespeita valo-res éticos nem induz o consumidor a se comportar de forma prejudicialou perigosa à sua saúde ou segurança (art. 31, c/c o art. 37, §§ 19 e 39).

Em sentido oposto, já agora no intuito de proibição e sanciona-mento, o Código cuidou de classificar e definir publicidade enganosa eabusiva, nestes termos:

lg) É enganosa “qualquer modalidade de informação ou comuni-cação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qual-quer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o con-sumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos eserviços” (art. 37, § 19). Será publicidade enganosa por omissão aquelaque “deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço” (§39). Em ambos os casos, a publicidade enganosa vicia a vontade doconsumidor que, iludido, acaba adquirindo produto ou serviço emdesconforniidade com o pretendido. A falsidade está diretamente liga-da ao erro, numa relação de causalidade. Assinala GINO GIACOMINIFILHO, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, que “nãohá receitas para detectar a propaganda enganosa. Há, porém, indíciosque fazem parte de anúncios que não primam pela precisão da informa-ção, ou então usam artifícios para envolver o leitor ou telespectador,

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(1 mpra racional e segura” Cita COITIO GXCIUPÍUSÍz- ' ' ma co ' , -nao pmplclan O u ' t com o IOPOS1'. - ~ ' '" ” ara causar impac o Pa utilizaçao do tenno liquildaçíílalëenda a indicação do preço como Oto de levar O Comprador ao Oca 1, “ rátis” para impor com-1-ande diferencial de venda, o uso da pa aV1'3 8 _ “ lh ,,g dicionamento de brinde o uso de süpeflatlvos me Or ”on = .Pra como C d ilado como no-. 99 6 I ' 9, e

“nada Igual 9 6 umcíl 9 O relançamã`1Ê1i10I;e alfresentação de cuPons e, Por- de escontos me 1Vldãldfizz 3 Oferta _ dutos ue nada

fim, a utilização de imagens boflltas Pam Ofefecef pm qA . ‹ ~ 19tem de significativo . _ . I _ d 1 um natureza

29) É abusiva a “publicidade discriminatoria e q_l1¡=Í Cl vem;. . ~. - A - edo ou a su erstiçao, S6 flP1`0

a que incite a violencia, explore o nim . _P desres eita va1O_da deficiência de julgamento e experiencia de cr1ança,_ P

b' tais ou que seja capaz de induzir o consumidor a se compor-am len 9 , 99

ias de forma prejudicial ou perigosa à sua saude ou segurança (art. 37,ar , . - ~ d- svirtuada os§ 29). Não chega a ser mentirosa, 11135 3 dlsušcldíl' de ,t. S que a.. - - ` violadora e v ores e icopadroes da publicidade esíilrreitâe demrpa a Vontade do c0nSumi_

' servar. em isso, . . .sociedade dãve Pr: . ser induzido a compol-tamemg prejudiolal OUdor, que po e mc usiveperigoso à sua saúde e segurança.

3. 3.2.3. Regime de responsabilização

Sendo forma de veiculação da oferta, a publicidaíe está sujeita io_ °' " t.A im,a1nonnaçaoouc -me-"Sm° reglme de respoilsablllzaçao fleí ae ob; a o fomecedor a cum-municação pubhcltana Integra O 001333 O ob eiša de cumprimento fo1~_prir o que foi anunciado (CDC,dart. I );iS0 všiculado (art 35, I). Alte?çado da obrigaçao, nos termos o anu”do1, Ode ainda optar pela alter-nativamente e à sua escolha, o consumi ta go de Serviço em lugar donativa de aceitar outro píodutoa ou ];ä':sc0çmatO hipótese em que teráanunciado (inc. II) ou pe a rescisao › ' _ 1__. . .. - - ~ ' t anteci ada, 00111 atua 1direito a restituiçao de quantlafàfentualmen e d pünc HI)za " onetária mais composiçao de perdas e anos . -m 5 . _ . ó d

.. , - ~ 1 1 uva, a publicida eObserve-se que, a mingua de previsao egis a- do a,, - 0 ue dificultava sobremonao era considerada parte do contrato, q

____"_. - - - - hecer a Pmpagaflda enganøsa' Inf Sec'19. Gino Giacommi Filho, C0m° fem”

Def Consumidor, ano 1, SãO Paulo* P' 77'

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responsabilidade do fomecedor, principalmente no que se refere ao cum-primento forçado da obrigação e ao ressarcimento de perdas e danosEm âmbito legislativo, portanto, inexistia a tutela civil do consumidorno que toca à publicidade enganosa ou abusiva.

Ressalte-se que a responsabilização civil nessa matéria não excluia aplicação de sanções administrativas (arts. 56, XII, e 57 c/c o art. 60,caput e § 19) e penais (arts. 67 e 68).

Na esfera judicial, poderá ser pedida cautelarmente a suspensãoda veiculação ou retirada do ar de publicidade enganosa ou abusiva, e,na via principal, poderá ser pleiteada indenização por danos sofridos, aabstenção de prática de ato (veiculação da publicidade viciada), sobpena de execução específica, e, ainda, a imposição, pelo juiz, decontrapropaganda, com o objetivo de neutralizar os efeitos residuais dapublicidade enganosa ou abusiva. Nesse sentido, tomou-se inócuo oveto presidencial ao § 49- do att. 37, uma vez que as 'edidas constantesdo dispositivo vetado sao compoitáveis em pleitpjäíllicial, em razão danatureza da tutela jurisdicional, o que dispensa a previsão legislativa.

3.3.2.4. Inversão do ônus da prova

Reina, nessa matéria, por expressa previsão legal, o princípio dainversão do ônus da prova (air. 38). É evidente a dificuldade que teria oconsumidor de provar o desvio da publicidade e provar tecnicamente serenganosa ou abusiva, embora possa indicar elementos para tal. Por issomesmo, o legislador consignou a regra de que o ônus da prova da veraci-dade e correção da informação ou comunicação publicitária incumbe aquem as patrocina, ou seja, ao fomecedor interessado na sua veiculação.

3.3.3. Das práticas abusivas e sua vedaçãoI. Conceito de práticas abusivas

Fundado na crença de que a lei, além de comando, é fator de educa-ção social, o Código elencou diversas práticas comerciais abusivas, ve-dando-as e sancionando-as em caso de descumprimento. No dizer deTUPINAMBÁ MIGUEL cAsTRo Do NASCIMENTO, práticasabusivas “são práticas comerciais, nas relações de consumo, que ultra-passam a regularidade do exercício de comércio e das relações entre for-

9190

. ,, IN, 't`ca abusiva (lato sensu)necedor e consumidor 20. Pai: BElÉ1dI;Íš1:SMmerc1;1Í)ÍógicoS de boa conduta..¿ a desconfomiidade.äoiíizl GÊXBRIEL STIGLITZ, Citado por BENJA-em relação ao consumi 01' ~ _ _,_ , . - “ diçoes irregulares de negocia-

dera as praticas abusivas conMIN, consi , _ dessa fonna, depurar o~ 0 '22, Procurou se,ção nas relaçoes de consum' ' tumultu-dutas condenáveis quefornecedores e de con . Im@fCad° de maus - d -Lhe rejuizo.- suniidor, trazen 0 Pam o relacionamento com O 0011

- das. . z - ¡,¡¡;¡yas expressamente elenea3.3.3.2. Analise das proflflíi'-'›' 0' ' b `vas.A1gumas consO CDC elenca, no Êi1t£)9E:a(i1äp;r)ias)pli;.iäiSca]sLl2âÍ;-l0S1f0ram introduzidas

tavam da versão origin , 213-1995, e pelaçMedida1 Leis ns 8 884 de 11-6-1994 9 003,116pe as _ - - = ` ' L ' n. 9.s7o, de 23-ii-1999. E

Provisória n. 550/94, traiisfonnadana _ei dificado.rã alhadas em outros dispositivos do texto cooutras es o esp _ 39_ _ “dd ounaodoroldoart. .

Discutiu-se de inicio sobre ta fiašâlltàfiltârãsse tal discussão, em faceNos dias de hoje, nq reâufièdeu nova redação ao caput do citadoda Lei n. 8.884, de - ' ' . ~ 1 ' acréscimo... z, ” da pela nova C1, 9 0art. 39. A expressao dentre outras , 111Sf=1`1 I _ , d tante, . al duvida ain a res .de outras praticas afastaram toda e qu quer ,,_ 5 elo CDC sao asAs práticas abusivas expressamente enumerada p

intes: . _Segu V d das' é vedado condicionar o fornecimento de p1'0I. en as casa . i O bem Como,

- ' to de outro produto ou serv 9 ~› _ _duto ou SeI'V1Ç0 ao fomeclmen . - - ar o direito_ . ~ Objetiva-se preserv° limites quantitativos. _sem Justa Causa” a ° ' e ele tem interesse na» ~ ' lha do consumidor, P015» S .basico da livre esco _ ,_ de ser Obngado,» - - ' duto ou serviço nao P9 ,

aqmslçao de detenmnado Iii-O irir o que não ,lhe interessa, mas lhe etal intento, 3 3 qu ,_Pfifa lograr . . f a nao pode ocorrer, Sfim- ~ ' do. Da mesma orm , .condicionalmente imP1Ug1 _ . f ‹mem0 A 111-. z ' ' " titativa ao orneci ,~ ° lausivel, a limitaçao qllflll _ 4 djustificativa P _ . ., - ta na Lel Delegada n. , e~ ' ` trativa ja era PWV15 . .fraçao, na via adminis › _ _ -d 1, Ode exlglr O cum-

' Na esfera civil, O consum O P1962, zm, 11, letra 1.. dicionamento. .da oferta sem 0 COI1primento

___š(T(É)_p. cit., p. 33'40-21. Op. citw p'

22. ibió., p. 213-

Page 54: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

II. Recusa de fornecimento: a lei proíbe “recusar atendimento àsdemandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidadesde estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes”. Colima-se impedir o intuito especulativo e a discriminação, não se admitindoque, possuindo estoque, o fomecedor se recuse a fomecer o produto aointeressado, de acordo com os usos e costumes locais. Configura tam-bém infração contra a economia popular, prevista no art. 29-, II, da Lei n.1.521/51. Pode ocorrer o cumprimento forçado da oferta.

III. Remessa sem solicitação: a regra é o consumidor tomar a ini-ciativa de adquirir produto ou serviço. Por isso, o legislador vedou aconduta de “enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,qualquer produto, ou fomecer quaisquer serviços”, pretendendo comisso preservá-lo de ser importunado com a remessa de produtos nãosolicitados e do desconforto de providenciar a devolução, quando nãoquiser adquiri-los. O fomecedor que assim proceder não terá direito apagamento, pois o serviço prestado e o produto remetido ou entregueserão considerados amostras grátis (CDC, art. 39, parágrafo único, c/co Dec. n. 218/97, art. 12, IV, c/c o art. 23), o que configura tutela civil.Além disso, constitui infração administrativa.

IV. Prevalecimento abusivo: não poderá o fomecedor “prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade,saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produ-tos ou serviços”. Busca a lei impedir que o fomecedor inescrupulosotire proveito da situação de fragilidade e hipossuficiência do consumi-dor idoso ou menor, doente, rude ou com reduzidas condições dediscernimento, objetivando com isso preservar os direitos à higidez fí-sica e patrimonial e de livre escolha. Em regra constituirá apenas infra-ção adininistrativa, a menos que o fornecedor incida em figuras do Có-digo Penal pelo emprego de violência física, ameaça ou outra forma deconstrangimento.

V. Vantagem excessiva: o Código procura inibir a conduta do for-necedoi consistente em “exigir do consumidor vantagem manifesta-mente excessiva”, entendendo-se por esta a que ofende os princípiosfundamentais do sistema jurídico a que pertence, a que restringe direi-tos ou obrigações fundamentais, ameaçando o objeto ou o equilíbriocontratual e a que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor(aplicação analógica do art. 51, § 12, I a III). A idéia central é, pois, a de

92

'11, ' ntratual impedindo que o fomecedor, utilizan-o co , . ,asseguâar O equlnlclilçlão de superioridade econômica, Causo Pfololao aed0__Se C Sua C0 _ _ _ _ _ te

- ' ' l e administrativamen .dor. E sancionado civiCOIISUÍÍII

"o de serviços sem orçamento: o regime codificado exigeVf. Execebilolr de serviços antes de iniciar a respectiva execução,mec = z - dque O O - '1`d elo razo minimo de eZ

dor orçamento va 1 o p P _entregue ao consum '“ b dos materiais e equipa-‹ ' ' ` do o valor da mao-de-o ra,dias - discriminan _ __ _ bem como asondi oes de pagamen o,mentos a serem empregados, as Ç vez a __0_

' ' ' término dos serviços estabelecendo que, Uma Pcio e = _datas dfilinel f mecedor ao seu cumPrimento (art. 40, §§ 19 o 20)- EmV21do› o “ge e e . . alutar o legislador

tir efetividade a essa norma S ,reforço e Para geram ' ' 1 " d amento e.. - aboraçao e orç' ' ao de serviços sem ___ pfovla e _ .Pfolblu e execuç . as ráticas anteriores- ~ dor ressalvadas apenaS Pautorizaçao do consumi , _ _ d COStu_. . ' dade em face ostiva-se moralizar a atlvl ›ontfe as partes' Oble f ' nto da entrega- f " 'dos de lucro facil no momemeiros abusos ate entao ocorn _ _ _ ___ Os ____ esfera' "' dmimstrativa, com re ex(10 trabalho. Trata- se de infraçao a

‹ ~ 9(ana 409 § 3 )' / '

,_ - - . ta proi-- ciativa. o fornecedor esVII. Repasse de informaçao depre - d 10° " de reciativa acerca de 2110 Pfaooa e Pe

bido de repassar mformaãao pd` itos como Por exemplo a fonnu_' , e 9 9 9consumidor no exercicio e se . . amento de de_z- ~ ' '" de defesa (Procon) C 0 alolzlaçao de queixa nos orgaos _ _ _ _ der. . ~ tiva alem de respon_ df; em sançao administra , _manda. Fazendo o, 11101 __ , . t an 1mcn_

' ' da vedaçao e evitar cons I 8decorrentes. O objetlvo _ _ . .por danos - s direitos impedindo' do tiver de defender seu ,tos ao consumidor quan _ . d ele- - rir a ima em aqoque o fornecedor se utilize desse fato para deneg g

'o comercial e social. _ _no mel ' t de normas' quando o fornecedor esta obn-.Descum rimen o - _ __ . . _

d \`/Hi) " ciifde nonnas eXPodÍdaS Polos orgaee eficlals compege O a O servem ' do não poderá fazê-loduto ou serviço no merca , _tentes para colocar pro _ , iar_Se pelas

` tes tais normas, d€V€1`a 8"em desacordo com elas. _I_pexisten__ B____S__________ de Normas Técnicas ou~ T _- ssociaçao _

odltadas pela ABN 1h Nacional de- ' Conmetro _ Conse odade credenciada pelo _l\)lImti'l leoeëla Normalização o Qualidade Ineustnel' Pretende-Se” com essae O a °^ ' d S ro-

- a eficiencia o P- ^ - af a qualidade, a segurança e _ _ .providencia, preserv __ _ __ d___i___S__r__t_Va consmm- do. Alem de infraçao a =dutos e serviços no merca __, - e_. . ' bsunçao ao 11Po P' almente, em vista de sua suconduta punivel crimin

nal do art. 29, III, da Lei n. 1.521/51.

93

Page 55: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

IX. Recusa de venda de bens ou de prestação de serviços: estaprática abusiva, não prevista na versão original do CDC, foi introduzidapor meio da Lei n. 8.884, de 13-6-1994, art. 87, que alterou a redaçãodo art. 39 para o acréscimo de incisos. Desde então, passou a integrar orol das práticas abusivas previstas, “recusar a venda de bens ou a pres-tação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los medi-ante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediaçãoregula-dos em leis especiais” (inc. IX). O dispositivo busca impedir que o for-necedor, com a recusa de fornecimento, cause problemas ao consumi-dor e ao mercado de consumo, que poderá ficar temporariamentedesabastecido, bem como objetiva anular manobras especulativas, mor-mente em datas próximas a aumento de preços (p. ex., combustíveis). Énecessário que o consumidor queira obter o fornecimento mediante pron-to pagamento, pois, do contrário, se a prazo ou parcelado, poderá justi-ficara recusa. São ressalvados os casos de intermediação regulados emleis especiais. Nesses casos os fomecedores poderão recusar o fomeci-mento direto aos consumidores.

X. Elevação injustzficada de preços: não prevista originalmenteno CDC, esta prática abusiva foi acrescentada ao rol daquelas enume-radas pelo art. 39, pela Lei n. 8.884, de 13-6-1994, art. 87. Consisteem “elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços” (inc. X),ou seja, qualquer elevação de preço deve ser justificada. A justa causapara a elevação pode decorrer do aumento de preços da matéria-pri-ma, da correção substancial dos salários dos empregados, ou outracausa que reflita no custo final do produto ou serviço. O que não podeé ocorrer elevação sem justa causa, a depender apenas da vontade dofornecedor, pois isto significa prejuízo certo para o consumidor elocupletamento ilícito para o fomecedor, situações que o Código bus-ca sempre coibir.

XI_ Aplicação de índice ou fórmula de reajuste: a Medida Provi-sória n. 550, de 8-7-1994, convertida na Lei n. 9.870, de 23-ll-1999,alterou `ô art. 39 do CDC para inserir, no rol daquelas enumeradas, maisuma prática abusiva, qual seja, a aplicação de índice ou fórmula dereajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecidos (inc. XIII).A norma veio embutida no bojo de Medida Provisória sobre mensalida-des escolares, área em que mais incidia a conduta que se buscou coibir.A vedação, no entanto, não se aplica exclusivamente a essa área espe-

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~ ` ' dicede consumo em que haja 111, toda e qualquer relaçaoClfica, mas em- 'da em lei ou em contrato.' la de reajuste estabeleciou f01`mu

- ntratar o fornecimento deXII. Abusos qucml`0 6105 PmZ0S° ao C0_ ' os de entrega e 0artes devem convencionar praZroduto ou serviço as pP ~ ° ue roporciona maior segu-' ` ` da execuçao dos serviçoS, 0 Q Ptermo inicial ._' ' ' de sua execuçao forçada emtes e a possibilidaden a para os contratanfa 9 - ' ' onduta do fornece-' to. Por isso, a lei sanciona a c Ncaso de descumprlmfill «

d d “deixar de estipulaf P1`aZ0 Para O cumprimento de sua Obngaçaoor e - - -I 9_.. _ _ . lusivo criterio' .Procu-' de seu termo inicial a seu excOu delxar a fixaçao - f t' 'dade doz - ' o contratual e a e e 1V1fa-se, sem duvida, assegurar 0 Õqullíbfl

cumprimento da obrigação. a _, _ - i ri inal do CDC comoEssa pratica abusiva, que constava do tex o O É

' ` IX do art 39 foi revogada pela Lei n. 8.884, de 13'6'1994= que1119130 ' ' - ' isso revo-_ . f ~ ' o sendo inciso IX - Cominseriu nova pratica abusiva com_ _ . . ~ dação. Percebido o equívoco,mal que tinha outra regando o inciso orig ,_ . ' 21-3-1995, como incisofoi reintroduzida pelo art. 79 da Lei n. 9.008, df*XII do art. 39 do CDC.

3.3.3.3. Regime de responsabilizaçãof ' ' fome-duta das praticas abusivas noAo vedar ao fomecedor a con __

- ° ' ^ dever de atuaçao. s o legislador impoS ocimento de produtos ou serviço , _ ,,° ' do a violaçao.~ a ou seja, sancionanem conformidade com a I101`1Tl ~›

- ' ` fomecedorAssim em caso de descumprimento, 110 CamP0 CIVIL O° - - ' 'S e morais causados aopoderá ser condenado a indenizar danos maíeflal_ f ' ' ' ` do consumidor~ ~ ' lembrar que e direito basicoconsumidor. Nao e demais _ _ ~

_. - ~ ” e danos atrimoniais e morais.bter a efetiva prevençao C fepafaçao d P9 Q to valer-. _ _ _ _ . ›› , VI , odendo para tanindividuais, coletivos e difusos (311 6 ) Pse (105 órgãos judiciáríos e administrativos (inc. VII). '

H _ » d - e de forma preventi-A atuaçao do consumidor tambem pode ar S

~ f ecedor que lhe acarretava, buscando a abstençao de conduta do orn_ , ' ` ' morais.prejuizos ou danos patI'1IT101113-15 9N o do repasse da informflçi-'10 deP1`e°ÍaÍíVa (am 39° VIU' poro cas _.. f ' du-_ - b t ii ao da pratica da conexemplo, o consumidor pode pleitear a a S 6 9_ . - ~ d ue tenha sofrido

ta, bem como pode pleitear indenizaçao pelos anos q d d tlicitada e pro U 0, 0o da remessa nao soou venha a sofrer. Para o CaS

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Page 56: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

próprio Código prevê que são considerados amostras grátis (art. 39, III,c/c parágrafo único).

As práticas abusivas constituem invariavelmente infração admi-nistrativa, sancionadas com multa, interdição, cassação de licença etc.(art. 39 c/c arts. 41 e 55 e s.), bem como podem paralelamente caracte-rizar infração penal (crimes contra a economia popular).

3.3.4. A exigência de prévio orçamento

O CDC elencou como uma das práticas abusivas a de “executarserviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressado consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entreas partes” (art. 39, VI), ao mesmo tempo em que tomou obrigatória,para o fomecedor de serviço, a elaboração de prévio orçamento, dentrodos requisitos que para tanto estabeleceu.

Note-se que a elaboração de orçamento não é mera faculdade emfavor do fomecedor, é obrigação mesmo. Diz o art. 40 que “o fomece-dor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento”. Talentrega não pode ser durante a execução do serviço, nem depois, tem deser prévia, para que o consumidor tenha condições de refletir, compararcom outros orçamentos e, então, decidir pela contratação ou não.

Ademais, o orçamento, além de prévio, deverá ser escrito e ternecessariamente os seguintes dados: a) valor da mão-de-obra, dos ma-teriais e equipamentos; b) as condições de pagamento; e c) as datas deinicio e terniino dos serviços (CDC, art. 40). Esclareça-se que o consu-midor nao responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes dacontratação de terceiros, não especificados no orçamento (art. 40, § 39).

O orçamento, em princípio, tem validade por dez dias, contadosde seu recebimento pelo consumidor (art. 40, § IQ). Se o orçamento nãofixar prazo, será de, no mínimo, dez dias. Se fixar, poderá exceder dedez dias ou ficar aquém, já que estão ressalvadas as estipulações emcontrário, que as partes podem validainente fazer.

Por fim, o orçamento aprovado pelo consumidor ganha força decontrato e obriga ambos os contratantes, nos termos do § 29 do art. 40Nao pode, portanto, ser unilateralmente alterado. Isso só pode ocorrer“mediante livre negociação das partes”.

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3 3_5_ A cobrança de dívidas.__ z - ' ' ` tra-. ticas abusivas, o Codigoin o da vedaçao das pra

Amda no Cafip as da cobrança de dívidas e dos bancos de da-" onom ,tou, em seçoes aàl midores justificando-se o tratamento destaca-u , _(105 e cadastros e cons da im _.. la de,_ _ - z por anc

levancia atribuida aos teIl1flS 6do em face da re1-ggulamentá-lo minuciosamente.

' com_ se perpetravam nessa area,nte dos constantes abusos que _ _ _ _ __ ,_Clfid' 'dade do devedor exposição a ridiculo e utilizaçao de praofensa a igni * _ z 1 ' ¡adm-

tos e que o egls_ ~ aça e constrangimell ,ticas violentas, como ame _ _ d. de um~ f ' to ou no izerer o im erio do direi , ,procurou restabelâc _ ___Z__â)O de se Cobraf, COlima_Se_ com O tl-ata_doutrinador, o mo o civi I _ ular do di__ . “ er com ue o exercicio regmento leglslativo da questao, fa_i_z denmill dos __m__eS _eg____S não Os

_ 3 'reito do credor se colilpreep abusívos Não se procura obstar Otingir con omos - _extrapolando para a _ _ 1 de._ - exercicio regu ar' to o ue era e continua a ser _

receblmemo do credl i q fl' a ão de métodos condenáveis e ofen-direito CC, art. 188, I), ITIEIS 3 U 1 12 Ç cura e______p_____ do meio S0ci___1_sivos a dignidade humana, que S P

_ f ' mu sancionar de forinaFlel a esse pensamento, O Codigo Idriociilidade do consumidor_ am adireta as condutas ql1edaf_etÍ_\_1_V___men_e ãue e_e Será __eSpei____d0 em

inadimplente, estabeleceu q_a,;lC___ e m0_____ ao _mped__ sua exposição ___sua iflífigfldade fislcai pslco Og _. i d ual uer tipo

. z ' " trangimento ou ameaça e C1 Qridiculo e sua submissao a consou natureza (art 42)- _ .

_ - - obrança abusiva. O consumi-_S@ ue a lei impede apenas a c _d Vdjeasofiiiler constrangimentos legais, C01110 Pfotesm do titulo” pe-or po › - brado condigna-~ ^ ' tc. Alem disso, pode S61' C0nhora execuçao, falfiflcla C _. _1' QCOITC, pOI` CXCIII

ho descanso ou lazer. O que 1'la0mente em seu trabal , _ d dizendo sera o chefe do consumi or _plo, quando o credor telefona par

ele mau pagador_ _ ___ ,,,, - ' ' a a lica ao de san90e5

O naoçcumpnmento dessa regra5i5l)1pi-1)riéšíionslãbilišação criminaladministrativas ao fornecedor , __ _ _ d b______ __71) ' sição das seguintes sançoes civis em caso e co Ç(2111 ef a lmpo _ - - ~ (1 ' débito pelo_ - d :a re etiçao oin ,

dg quamlaltotaiíog padclíiõléléblitddletiiívéxéesgo ãcrescido de juros 6 cm"valor igua ao o ro 0 _ ° ._ rafo único). e b)~ ' ' d o recebimento (aI`Í- 42» Parag ' _

reçao mânetana díjaiistiificável ou boa-fé do credor, Permanece a Obngãkocorren o engall

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Page 57: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

ção de restituir o indébito, porém de forma simples, com incidência dejuros e atualização monetária (idem c/c CC, art. 876).

3.3.6. Os bancos de dados e cadastros dos consumidores

Também aqui o legislador partiu da realidade fática e da vivênciaprática para estabelecer nonnas de proteção ao consumidor. Atento àverdadeira avalanche de abusos cometidos nessa área - que iam dautilização irregular de informações para forçar o pagamento de débitoaté a inabilitação creditícia do interessado na via extra-oficial -, pro-curou inibir tais condutas abusivas e regulamentar a matéria mediante oestabelecimento das seguintes regras:

le) Acesso: o consumidor tem acesso às informações sobre ele exis-tentes em cadastros, fichas, registros, bem como sobre dados pessoais ede consumo arquivados, inclusive respectivas fontes (art. 43, caput).

2"*) Transparência: os cadastros e dados devem ser objetivos, cla-ros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão. Não podemconter códigos indecifráveis, nem informações negativas referentes aperíodo superior a cinco anos (art. 43, § 19, le parte).

3a) Retzficaçao: conhecendo as informações a seu respeito, o con-sumidor poderá exigir sua imediata correção, quando encontrar inexa-tidão em seus dados e cadastros. Feita a correção, o arquivista, em cin-co dias úteis, deverá comunicá-la aos destinatários das informações in-corretas, restabelecendo a verdade (§ 32). n

4e) Comunicação: além disso, toda vez que se proceder à aberturade cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo, sem suasolicitação, o consumidor deverá ser obrigatoriamente comunicado porescrito, para que os confira, ratificando-os ou retificando-os (§ 29);

5a) Prescrição: prescrita a dívida, os serviços de Proteção ao Cré-dito ficam proibidos de fornecer quaisquer informações que possamimpedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores(§ 52). A medida, ao contrário de incentivar o calote, impede a aplica-ção de pena de caráter perpétuo, vedada pela Constituição da República(art. 59, XLVII, b), e uniforiniza o tratamento da matéria, ao impedirefeitos extrajudiciais de dívida prescrita e não permitir que esta venha aatormentar eternamente a vida do consumidor, cassando-lhe o crédito ea possibilidade de reabilitação. Se prescreve o direito de punir do Esta-

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- - ~ ' 'ta a veiculação de~ o para nao se considerar prescri .do nao haveria razaméra informação cadastral.

62) Prazo: os bancos de dados não poderão conter informaçàoeãi' as referentes a período superior a cinco anos (ait. 43, § 1 , 2*

nega )wA "' observância dessas regras - mormente impedir 0 acessoParte ' nao* - - - ~ ' _ onstitui_, . ~ ' rma oes inexatas 0as informaçoes e deixar de corrigir 1I1f0 Ç _l._'nfração administrativa, da mesma forma que Pede gerar reSp°nSa]_31_11 ~ 31 (arts 72 e 73) e abrir ensejo à incidência da tutela civil,zação pen ` - ~ '“ leitopara possibilitar o acesso as. ii1f0f1"flaÇ9eS› sua correçao e O Pindenizatório por danos materiais e morais.

. , . - - - -se ue o Judi-Decorridos varios anos de vigencia do CDC, COHSÍEIÍH Cl Iciário não vem encontrando problemas para flP11C31` 0 aff- 43 e Seus Pefe'

z - ~ ~ re ularidade dos cadastros e81'afes- Ja se de°1d1u° por exempki' que-3' Ê) a gnão a enas aos cadastra-. z.. - ssainformaçoes relativos ao consumidor in ere P ddos mas ao universo dos consumidores23; b) entre as dulas formas lea - '- ~ ' uniidor, a ica-se aque acancelamento de informaçoes negativas do cãns ecução lê impossível a

rim iro se realizar2 ; C) em PÍUCCSSO C exque "e d fício pelo Juízo com o fito de ser o devedor tachado deexpe çao C O . 25.. . - rim nto da senten a d) devo Sfifmadlmpleme e omlsso quanto ao cumizi 6 or anismoš coino o Cadinafastada a inscriçao do nome do deve or em gal S asa __ CemIa_- Cadastro de Inadimplentes do Govemo Feder e a erli ão de Serviços dos Bancos S/A, quando nao caracterizada mora, Periiiííiçiirtar em abuso e por constranger ao pagamento indevIšd02óÊ1e) esgan-. .. - -f ° ' ' ` tência do de ito, esca e odo em discussao no Judiciario a proprlfl CXIS

- erasa”.registro do nome do suposto d€V€d01` De S

3.3.7. O cadastro de fornecedores. . midor, o Códi o cui-No intuito de proteger reflexamente o consu i foi a de Êonnar

a ao a udou do cadastro de fornecedores. Adpreoc.u1ãdâne0Sq0u que se recusamum banco de dados sobre os fomece ores in

_.._.z.m.-_-í

23. RDC, V. 10, p. 262-

24. RDC, v. 2, p. 174.25. RDC, v. 14, p. 170.26. RDC, V. 23-4, p. 319.

27. RDC, v. 23-4, p. 310.

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Page 58: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

a atender as reclamações contra si formuladas, mesmo que suficiente-mente comprovadas. Sabedor dessa faceta do potencial fomecedor, oconsumidor pensará duas vezes e poderá, se assim o entender, evitaruma contratação que certamente lhe trará transtornos.

A partir da vigência da nova lei, e com a regulamentação do CDCpelo Decreto n. 2.181/97, os órgãos públicos de defesa do consumidor(SDE, Procons estaduais e municipais e congêneres) ganharam novaatribuição: a de manter um cadastro atualizado de reclamações funda-mentadas contra fomecedores de produtos e serviços, com a indicaçãode atendimento ou não. O cadastro assim montado deverá ser divulgadoanualmente, a fim de que alcance repercussão pública, na suposição deque chegará ao conhecimento do consumidor, sem prejuízo da consultaem qualquer oportunidade. Aliás, as informações constantes do referi-do cadastro estão abertas a qualquer interessado (art. 44, caput e § le).

Da mesma forma que no cadastro de consumidores, os cadastros edados dos fornecedores devem ser transparentes e comunicados ao in-teressado; devem ser corrigidos em caso de inexatidão e não devemconter informações de período antecedente a cinco anos (art. 44, § 29,c/c art. 43, §§ le e 59), sujeitando o Poder Público a que esteja vincula-do o órgão, em caso de descumprimento, a ser compelido a organizar edivulgar o cadastro de reclamações inatendidas, bem como a reparar osdanos causados (art. 44, § 29, c/c art. 22, parágrafo único).

Objeto de apenas um artigo (44) e dois parágrafos no CDC e am-plaiiiente regulamentada pelo Decreto n. 2.181, de 20-3- 1997, nos arts.57 a 62, a matéria agora ganhou maior relevância e melhores condiçõesde implementação.

_--""

O9 cadastro de fomecedores _ diz o art. 57 do Decreto - nadamais é do que o “cadastro de reclamações fundamentais contra fomece-dores”, entendendo-se por cadastro “o resultado dos registros feitospelos órgãos públicos de defesa do consumidor de todas as reclama-ções fundamentadas contra fomecedores” e por reclamaçãofundamen-tada “a. notícia de lesão ou ameaça a direito de consumidor analisadapor órgão público de defesa do consumidor, a requerimento ou de ofí-cio, considerada procedente, por decisão definitiva” (decreto cit., art.5 8, I e II). E a decisão é definitiva - é bom lembrar - quando já nãocouber recurso, seja de ordem forinal ou material (decreto cit., art. 53).

Os cadastros de reclamações fundamentadas contra fomecedores- tal como ocorre com os bancos de dados dos consumidores (CDC,

100

43 § 49) ___ Sãg considerados arquivos públicos, por força do art. 60`aflipeéreto n 2 181/87 por isso que submetidos a normas que propici-Êg-, sua publicidade, confiabilidade e continuidade (decreto cit., art. 57).

Os órgãos públicos de defesa do consumidor devem providenciar ad' ulgação periódica de tais cadastros da forma o mais ampla possível. Eiv * , .brigatória a sua publicação no órgão de imprensa oficial local, sem pre-

? 'zo de outras forinas de divulgação inclusive por Comllflíeaeãe eletfe'Jul . .. z 9 ' 9 a cri-nica. A divulgaçao sera anual, podendo ocorrer em psçriotclo menor,tério do órgão responsável (decreto cit., EM- 59, §§ 1 e 23 1 Pale):

Tais cadastros deverão conter “ípformaçõeís objeti\ã.1S,f‹äâ1I:Êeei\¿:r¿dadeiras sobre o objeto da reclamaçao, El ldefitl clleegelglãâ Odem Comero atendimento ou nao da reclamaçao pelo foI'I1<'>C€ 01' ~ P Í _“informações negativas sobre fornecedores referentes a periodo superi-or a cinco anos contando da data da intimação da decisão definitiva”. ' _ t mente(deefete ele* art' 5 9° § 29' 2a palm' e § 39)' Pevem Sier pãrlâniëiiliillúiif comoatualizados, por meio das devidas anotaçoes, .tan o p Q 61para excluir ou retificar informação (decreto cit., 21115- 59, § 3 , e )-

Por constituírem instrumento essencial de defesaie orientaçao dosconsumidores, referidos cadastros são a todos acessiveis, gratuitamente,podendo haver consulta sobre a situação dos fornecedores, principalmenäequanto ao cumprimento das normas do CDC, reincidencia em caso odescumprirnento etc. Mas é vedada a utilização abusiva deutais informa-ções ou com outros objetivos, estranhos à defesa e orientaçao dos consu-midores. Há uma ressalva: tais informações podem ser utilizadas em pu-blicidade comparativa, pois isso interessa aos concorrentes, mas interes-sa também aos consumidores (decreto cit., arts. 57 e 60).

Em razão de existir o Sistema Nacional de Defesa do Consumlfiàof,com órgãos públicos específicos federais, estaduais e municipaisá to OSeles poderão ter seus próprios cadastros. Sao os chamados ca astroslocais, ou setoriais, que poderão ser consolidados em cadastros gerais,nos âmbitos federal e estadual (decreto cit., art. 62). `

3.4. Da proteção contratual

3.4.1. Introdução- ‹ - 't l , oEncerrando a tutela civil do consumidor, tratada tiiÊãtʧSflÊlgç%eS

legislador dispôs longamente sobre a proteçao con ra ude consumo.

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Page 59: Manual de Direito Do Consumidor João Batista de Almeida

Nos últimos tempos, a produção em massa e a comercializaçãoem grande escala geraram a estandardização dos contratos para a colo-cação dos produtos e serviços no mercado de consumo. Paralelamentea esse fato, notou-se nessa nova modalidade contratual (adesão) ahipertrofia da vontade do fomecedor, que estipulava previamente ascláusulas e condições e praticamente as impunha ao consumidor-ade-rente. Tais cláusulas, na verdade, não resultavam de acordo de vontadedas partes, mas de verdadeira imposição de uma das partes, o disponente.Também não objetivavam proteger os interesses das partes, mas sobre-tudo dar maior garantia possível ao fomecedor, em regra integrante degrandes complexos industriais e comerciais. Em suma: a superioridadeeconômica conduziu à superioridade contratual.

O desequilíbrio nas relações contratuais trouxe como conseqüên-cia os abusos e lesões patrimoniais de toda a ordem aos consumidores,que não encontravam resposta adequada no sistema até então vigente,mormente em razão da aplicação rigorosa do pacta sunt servanda, dafalta de tratamento legislativo acerca da modificação e da revisão dascláusulas contratuais desproporcionais ou excessivamente onerosas, dafalta de tipificação e sancionamento das cláusulas chamadas abusivas,da ausência de garantia legal e da não-regulamentação da garantiacontratual, dentre outros motivos.

Numa primeira resposta a esse quadro, a doutrina e a jurisprudên-cia dispuseram-se a engendrar mecanismos de proteção contratual aoconsumidor, tendo por objeto evitar a inclusão ou a validade das cláu-sulas abusivas, ou, pelo menos, ainenizar-lhes os efeitos.

No entanto, pondera BITTAR, “foi somente com a constatação dedesequilíbrio contratual - ditado pela formação deficiente da vontadedo consumidor face à pressão das necessidades _ nos negócios de con-sumo e da edificação de sistema próprio para a sua regência, com proi-bições e exigências próprias, que se pôde chegar a um regime eficaz dedefesa do consuniidor°'28.

No Brasil, esse sistema próprio veio com a vigência do Código deDefesa do Consumidor, por meio do qual foi outorgado amplo espectro

-nim-i._í.í

28. Direitos do consumidor - Código de Defesa do Consumidor, Rio de Janei-ro: Forense Universitária, l990, p. 60.

102

de proteção na área contratual, coibindo costumeiros abusos e criandomecanismos poderosos de prevenção e repressão contra fraudes.

Em resposta à insuficiência apontada, a nova lei atacou os pontosvulneráveis assinalados nessa área, logrando conceber um sistemaprotetivo que prometia - e vem-se mostrando -- ser dos mais efica-zes. Dentre as novas medidas podem ser destacadas as seguintes: a ate-nuação do princípio da força obrigatoria do contrato (pacta Slmíservanda) e conseqüente adoção da teoria da base do negocio, ao per-mitir a modificação das cláusulas que estabeleçam prestações despro-porcionais e a revisão das prestações excessivamente onerosaso em.ra-zão de fatos supervenientes mediante acolhimento, 1121 Vlfi 1e81S1aÍ1Va›da cláusula rebus sic stantibus; a prática do dirigismo contratual pararegulamentar condutas e sancionar cláusulas abusivas (arts. 46, 51, 52,

- ~ - ~ ' ^ ' révio53 e 54); a vinculaçao imediata do fomecedor, a exigentclia do p b. f ' e-conhecimento do conteudo do contrato e o periodq de re exao.em

nefício do consumidor (arts. 46 e 49); 3 111SÍ1Í111Ç30 da gafamla legal.... - ' afo(art. 24) e a regulamentaçao da garantia contratual (art. 50, paragi' _

único); o estabelecimento do controle concreto. de clausula prejudicialao consumidor (art. 51, § 49) e, por fim, o acolhimento da interpretaçao

, ~ " 'dos nosfavoravel ao consumidor (art. 47). Esses temas serao desenvolvipróximos tópicos.

3.4.2. Limitações à liberdade contratual

O princípio da igualdade de todos perante a lei justificou, I10 111íCl0,a abstenção do Estado no momento da formação do contrato. Em nomedesse princípio, pressupunha-se que as partes haviam discutido previa-mente os termos e as condições do contrato, chegando, afinal, a denomi-nador comum, arcando cada qual com os efeitos jurídicos decorrentes.

A idéia da igualdade das partes conduziu, a seu tumo, DO Cfl_ITlP0contratual, ao princípio da autonomia da vontade, traduzido na hber-dade de contratar - direito de realizar ou nãodeterininado conträw,segundo sua vontade e com a pessoa escolhida -fe na llbflfdadficontratual, entendida como o direito de definir o conteudo do contrato,pactuando livremente suas cláusulas e condições. A autonomia da von-tade, que de início se pensou absoluta e irrestrita, na verdade mpstrou-se relativa, diante da constatação de que a liberdade contratual e relati-

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va por sua própria natureza e encontra limites nas nonnas de ordempública e nos bons costumes”.

A ocorrência de abusos, no entanto, conduziu à modificação danoção de contrato no direito contemporâneo, como bem o demonstraORLANDO GOMES nesta passagem: “A suposição de que a igualdadeformal dos indivíduos asseguraiia o equilíbrio entre os contratantes,fosse qual fosse a sua condição social, foi desacreditada na vida real. Odesequilíbrio tomou-se patente, principalmente no contrato de traba-lho, gerando insatisfação e provocando tratamento legal completamen-te diferente, o qual leva em consideração a desigualdade das partes. Ainterferência do Estado na vida econômica implicou, por sua vez, alimitação legal da liberdade de contratar e o encolhimento da esfera deautonomia privada, passando a sofrer crescentes cortes, sobre todas, aliberdade de determinar o conteúdo da relação contratual. A crescentecomplexidade da vida social exigiu, para ambos setores, nova técnicade contratação, simplificando-se o processo de formação, como suce-deu visivelmente nos contratos em massa, e se acentuando o fenômenoda despersonalização”3°.

A intervenção estatal fez-se presente nessa área, procurando com-pensar o desequilíbrio existente entre as partes contratantes, a dizer,entre o fomecedor, economicamente mais bem aquinhoado, e o consu-midor, mais fraco econômica e socialmente, no intuito de superar ainfeiioiidade deste último com uma superioridade jurídica. A principalmanifestação da intervenção estatal é o dirigismo contratual, que vema ser a imposição de limitações à liberdade contratual, pelo Estado,com o objetivo de proteger o consumidor hipossuficiente, mediante apromulgação de leis que impõem ou proíbem certas cláusulas, liniitan-do sensivelmente a autonomia da vontade.

Assinaia, com precisão, TUPINAMBÁ MIGUEL CASTRO DoNASCIMENTO, que “o diiigismo contratual nesta etapa significou, deum lado, enorme restrição à autonomia da vontade e, de outro, umatutela maior à parte economicamente mais fraca. Desistiu-se de umaigualdade jurídica no contrato que não levava a nada, e se buscou, atra-

1-iii-ííííí

29. Orlando Gomes, Contratos, 12. ed., 3. tir., Rio de Janeiro: Forense, 1990,p. 28.

30. Idem, p. 8.

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f de expedientes legais, uma igualdade de fato, com certa relevân-VÊSÊBI ficiência NELSON NERY JUNIOR, que “é nes-em .ènotaa com pldo mo ãb econômica aliada a vicissitudes políti-Ses penofiqs de gran C cof nômeno do dirigaismo contratual, como umacas É ëoclalsa que Surge? :idor da autonomia privada, fazendo presenteÊSšitfldšncôfiiaeôfôlldírlêtiíonplúlzãico no direito privado pela illífiffefêflcifl fistatalna liberdade de contratar”, isto para acentuar lirihas adiante que o diíi:gismo contratual não se dá em qualquer situaçao, mas apenas nasl re ações jurídicas consideradas como merecedoras de controle estata pagaque seja mantido o desejado equilíbrio entre as partes COHÍIEIÍEIHÍÚS -

Nesse sentido, o Código do Consun1id01` Õ PITOÚÍISÚ em dâšlggâšcontratual, lei de índole protetiva que e. Por isso,âlem ag iiilptlãplferegm node proteção (arts. 46/50), editou normas especi /cas qu S d seusconteúdo do contrato (art. 51, seus incisos e pfl1'f\gfaf°S)°H egun O Itermos os contratos, nas relações de consumo, nao poderao conter clau-sulas que excluain ou atenuem a responsabilidade dO f01'I1€C6d01`› QUÊ

. - d ain ogerem desequilíbrio contratual 'ou qllfl, (16 Qualquer fofmfli (fm duz tmconsumidor a situação prejudicial em face do poder economico O OUcontratante Assim o sancionamento das cláusulas abusivas com a pecha. ` ' - - ' " iraiualde nuhdade absoluta (art. 51) restringiu a autonomia de atuaçao condo fomecedor impondo-lhe a observância de normas de conduta que

...-,~ ' ' "tdonsu-conduzirao induvidosainente a um maior respeito aos atíiä-:1d‹êS ui incer-midor, em face dos parainetros de honestidade e mor r a qram e que se deseja presidindo as relações de consumo.

Em face da nova lei pode-se afirmar que o fornecedül' I1_a0 POSSU1autononiia absoluta no ato de contratar; não pode preceituar livrementeas cláusulas e condições que bem entender; deverá pautar-se pelos prin-cípios da boa-fé e da eqüidade e pelo regramento imperativo do art. Sdl.Desde que obedeça e não infrinja tal 1'€81`ament°› Fem *ÉS normfls eordem pública e os bons costumes, quanto ao mais esta garantida 8autonomia da vontade.

, ‹ - ~ ' von-Tambem o consumidor sofre restriçoes na) sua autonoiñaéllš nor~ ' ' ivas cons i u -tade. As vedaçoes das clausulas contratuais a us

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31. Op. cit., p. 59. Z Í d. . › ores o32. Código Brasileiro de Defesa do CottSt1m11¢Ê0èf1C0m;'*`71š¿Ífšã7Pe Os au

anteprojeto, Rio de Janeiro: Forense Universitaria, › P- '

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mas de ordem pública, sem possibilidade de disposição por ele. Alémdisso, algumas restrições são dirigidas a ambas as partes da relação deconsumo, indistintamente (art. 51, XIV e XV).

3.4.3. Requisitos do contrato de consumo

Preocupado com a livre formação da vontade do consumidor e paraprevenir eventuais prejuízos decorrentes da contratação, o Código insti-tuiu regras para o contrato nas relações de consumo. Além das nonnasgerais (arts. 46 a 50), tipificou e sancionou as cláusulas abusivas (art. 51),dispôs sobre crédito, finariciamento, compra e venda, alienação fiduciáriae consórcio (arts. 52 e 53), bem como conceituou contratos de adesão edisciplinou seu regramento e controle (art. 53, c/c o art. 51, § 49).

As norrnas baixadas pelo CDC acerca dos contratos tiveram porobjetivo a ainpla proteção do consumidor, inclusive na fase pré-contra-tual, e a fixação de deveres para os fomecedores, buscando com isso oreequilíbrio, a harmonia e a transparência das relações de consumo.

O CDC admite indistintamente as diversas modalidades decontratação: por escrito, verbal, por correspondência, por adesão, pelaInternet etc.

Na fase pré-contratual, desde que suficientemente precisa, a ofer-ta vincula o fornecedor, ou seja, obriga-o a prestá-la, ou seja, àcontratação e ao respectivo adimplemento. Bem por isso as caracterís-ticas do produto ou serviço, veiculadas por ocasião da oferta, por infor-mação ou publicidade, passam a integrar o contrato (CDC, art. 30).

Pela mesma razão, o fomecedor é obrigado a dar conhecimento pré-vio do conteúdo do contrato ao consumidor, para que este seja informadoe esteja consciente no momento da decisão pela contratação ou não.

As cláusulas contratuais devem ser claras e compreensíveis, de modoa possibilitar ao consumidor a compreensão de seu sentido e alcance.

Vinculam o fomecedor não apenas os contratos definitivos cele-brados, mas também os escritos, recibos e pré-contratos, ensejando exe-cução específica (art. 48 c/c art. 84 e parágrafos).

Como regra, os contratos deverão ser expressos em moeda corren-te nacional (art. 52, I, c/c o art. 53, § 39), vedada a indexação a outrosíndices referenciais, como salário mínimo e Ufir -- Unidade Fiscal deReferência.

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São típicas das relações de consumo e submetidas, portanto, àsnormas do CDC as seguintes modalidades de contrato: administraçaode consórcio, bancários, financiainento, arrendamento mercantil, for-necimento de serviços públicos, compra e venda com ou sem alienaçãofiduciária, seguro, seguro-saúde (operadoras de planos privados _ Lein. 9.656/98), plano de saúde (operadoras de seguros privados de assis-tência à saúde - Lei n. 9.656/98), hospedagem, deposito, estaciona-mento, turismo, transporte e viagem.

3.4.4. Princípios norteadores

Além dos princípios gerais, abrangendo toda a matéria positivada,o CDC também estabeleceu princípios básicos aplicáveis especifica-mente na área de contratos:

a) Princípio da transparência: em matéria contratual é essencialque as partes atuem com sinceridade, seriedade e veracidade, tanto nafase inicial como na contratação propriamente dita. Transparência -define CLÁUDIA LiMA MARQUES H- “significa informação Ciara ecorreta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado,significa lealdade e respeito nas relações entre fomecedor e consumi-dor, mesmo na fase pré-contratual, isto é, na fase negocial dos contratosde consumo”33. Consta do art. 49, caput, mas apresenta reflexos em vá-rios pontos do CDC, como no dever de informar por ocasião da oferta(art. 30) ou no momento da elaboração do contrato (art. 46).

b) Principio da boa-fé: o CDC exige que os agentes da relação deconsumo, fornecedor e consumidor, estejam predispostos a atuar comhonestidade e firmeza de propósito, sem espertezas ou expedientes paraimpingir prejuízos ao outro. A boa-fé, ao lado da eqüidade, conduz àpaz social e à harmonia entre as partes, perrnitindo que o mercado fluacom regularidade e sem percalços, tanto na fase pré-contratual como nomomento de sua execução. O princípio da boa-fé em matéria contratualreflete na tutela civil do consumidor, protegendo-o da publicidade en-ganosa e das práticas comerciais, quando ainda não contratou, além depermitir o arrependimento (art. 49), mesmo depois de efetivada a

33. Contratos no CDC, 3. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 104.

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contrataçao. Salienta RUY ROSADO DE AGUIAR JR.: “A boa-fé élimitadora do direito subjetivo, augustia o âmbito da liberdade contratual,flexibiliza a estrutura material do contrato e gera certa insegurança quan-to ao seu conteúdo, mas a sua finalidade principal é de manutenção econservação do vínculo, aperfeiçoado pelos princípios da confiança, dalealdade, da honestidade e da verdade. O Direito Brasileiro, ao inclinar-se para a realização desses valores, acompanha a tendência de “mora-lismo contratual”, presente hoje no Direito do Consumidor. Em segun-do lugar, a recepção do princípio da boa-fé objetiva e a previsãolegislativa de tantos deveres incluídos no âmbito da boa-fé constituemo maior avanço do sistema de Direito Civil legislado e vai influir demodo decisivo em todos os setores do nosso direito obrigacional, ape-sar de estarem tais normas inseridas num n1icrossistema°'34.

c) Principio da eqüidade: deve haver equilíbrio entre direitos edeveres dos contratantes, como objetivo de alcançar a justiça contratual.Por isso, são proibidas as cláusulas abusivas, que poderiam proporcio-nar vantagens unilaterais ou exageradas para o fornecedor. Por isso tam-bém existe a possibilidade de modificação das cláusulas e a revisão doscontratos por onerosidade excessiva superveniente (art. 69, VI). Aindapor esse motivo as cláusulas contratuais são interpretadas em favor doconsumidor (art. 47).

3.4.5. Adimplemento e invalidação dos contratos

O objetivo do CDC é o adimplemento do contrato pelas partescontratantes. Nem a nulidade de cláusula, em princípio, tem 0 poder deafetar todo o conteúdo do contrato. A interpretação das cláusulas e dascircunstâncias que envolveram o negócio deve ter como objetivo salvaro contrato, ou seja, permitir que se cumpra o seu objeto. Só excepcio-nalmente autoriza a sua revisão ou resolução, quando, apesar dos esfor-ços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes (art.51, § 29, c/c o art. 69, V).

mm

34. A boa-fé nas relações de consumo, RDC, v. 14, p. 27, abr./jun. 1995.

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Em caso de não-cumprimento da oferta, ou do contrato, o fornece-dgr pode ser compelido a fazê-lo mediante execução específica, res-

Ondendo por perdas e danos, patrimoniais e morais (CDC, arts. 68, VI,ÉS I e 84 § 18). O mesmo ocorre na hipótese de não-cumprimento dopré-contrato, recibos e escritos (art. 84).

Estão amparados não apenas os direitos individuais, mas tambémos direitos ou interesses difusos ou coletivos.

Os contratos nas relações de consumo estão sujeitos ao CDC quantoaos aspectos de existência, validade e eficácia. Podem, no entanto, serinvalidados ou anulados pelas nonnas do direito comum, mormentequando ocorre fraude contra credores, fffludfi 51161, (1010, CITO, C0aÇa0,

nvsimulaçao etc.

3.4.6. A função social do contrato

No regime anterior ao CDC prevalecia a vontade do fomecedorsobre a do consumidor. Desse desequilíbrio contratual em favor da par-te mais forte - o fomecedor - deconiam abusos e lesões à parte vul-nerável _ o consumidor, que, por anos a fio, não dispunha de proteçãolegislativa adequada. Como se sabe, era forçado a cumprir o contratoaté o final, em razão do principio pacta sunt servanda, nao. tendo baselegal para pleitear revisão do contrato, pois nao estavam tiprficadas esancionadas em lei as hoje chamadas cláusulas abusivas. Alem disso,não havia garantia legal e não estava regulamentada a garantia contratual,que era outorgada (ou não) ao sabor do mercado.

Com o CDC ocorreu a grande mudança, ou seja, foi criado umcontrato capaz de resguardar os direitos dos consumidores, protegen-do-os em relação aos abusos e lesões anteriormente praticados. Daí di-zer-se que o contrato passou a ter “função social”, pois já não cuidavade preservar exclusivamente os interesses dos fomecedores, passandotambém a considerar a pessoa do consumidor.

No novo regime ocorreram significativas mudanças: a) atenção deprincípio da obrigatoriedade dos contratos, admitindo-se a modificaçao

.... ° ' Q 2de cláusulas que contenham prestaçoes desproporcionais (art. 6 ,parte); b) o CDC, ao adotar a teoria da quebra da base do negocio,permitiu a revisão de cláusula em razão de fatos supervenientes queocasionem onerosidade excessiva (art. 69, V, Zã Pãl'Í@); C) 3 3UÍ0110m1a

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da vontade foi reduzida mediante a previsão de nulidade das cláusulasabusivas; d) a garantia passou a ser regulada pela lei (art. 24); e e) agarantia contratual recebeu regulamentação adequada (art. 50 e pará-grafo único) e tipificação penal (art. 74).

Todas essas inovações, sem dúvida, objetivaram restabelecer oequilíbrio contratual, resolvendo, dessa fonna, o problema da desvan-tagem a que estava submetido o consumidor. Pode-se dizer que o legis-lador conferiu superioridade legislativa ao consumidor, para compen-sar a sua natural inferioridade econômica e contratual.

O CDC antecipou no tempo aquilo que hoje está positivado nonovo Código Civil, ao estabelecer que “a liberdade de contratar seráexercida em razão e nos limites da função social do contrato” (art. 421).

3.4.7. As cláusulas abusivas e sua nulidade

A intervenção estatal fez com que o contrato passasse a ser diiigi-do, no seu conteúdo, por meio de leis que impõem ou proíbem certascondutas. O dirigismo contratual resultou na limitação da liberdadecontratual com o fim precípuo de restabelecer o equilíbrio entre as par-tes contratantes e obviar proteção ao consumidor.

Nessa perspectiva é que o regime codificado elencou as cláusulascontratuais abusivas, hauridas da experiência estrangeira, da jurispru-dência nacional e do cotidiano dos órgãos de defesa do consumidor,dentre aquelas mais costumeiramente usadas para lesar o consumidor.Após tipificá-las, o Código sancionou-as de nulidade absoluta (art. 51e seus incisos e parágrafos), com as decorrentes conseqüências jurídi-cas: tais cláusulas nunca terão eficácia; não convalescem pela passa-gem do tempo, nem pelo fato de não serem alegadas pelo interessado;podem ser pronunciadas de ofício pelo juiz, dispensando argüição daparte; não são supríveis e não produzem qualquer efeito jurídico, pois adeclaração de nulidade retroage à data da contratação.

O art. 51 não exaure o rol das cláusulas contratuais abusivas. Aenumeração não se faz numerus clausus, mas é meramente exemplifi-cativa. O própiio dispositivo admite a possibilidade da existência deoutras cláusulas ao empregar a expressão “entre outras”. E os artigosseguintes contemplam quatro novas cláusulas abusivas (arts. 52, §§ 1” e29, e 53). s

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3. 4. 7.1. A análise das cláusulas abusivas do CDL'

Considerando-se, de um lado, a relevância do tema e, de outro, afacilidade de entendimento em face do cunho didático da lei de prote-ção, são analisadas, sucintamente, as cláusulas contratuais vedadas peloCódigo:

lê) Cláusula de não indenizar (art. 51, I): o art. 25 veda a estipula-ção contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obri-gação de indenizar pelo fato ou pelo vício do produto ou serviço (arts.12 e s e 18 e s ) Na área contratual é sancionada, com nulidade absolu-ta, cláusula desse teor, bem como a que implique renúncia ou dispolsi-ção de direitos, admitindo-se a tarifaçao ou limitaçao do va prindenizatório se o consumidor for pessoa juridica e ocorrer situaçaoque a justifique. A não-vedação conduziria à irresponsabilidade do for-necedor e à total desproteção do consumidor, que nao encontraria meiosde ressarcir-se.

23) Impedimento de reembolso (inc. II): são consideradas abusivasas cláusulas que “subtraiam ao consumidor a opçao de reembolso dequantia já paga”, pois tal restituiçao, outorgada como opçao aomconsu-midor, deve ser respeitada, sob pena de desfalque de sua proteçao jun-dica (art 18 § 19 II art. 19, IV, e art. 20, II). Cláusula desse jaez ofendeo arcabouço protetivo idealizado pelo legislador e limita indevidamenteo leque de opções outorgado ao consumidor. . .

3ã) Transferência de responsabilidade (inc. III): o código discipli-nou conveniente e exaustivamente a questão da responsabilidade dofomecedor pelo fato e pelo vício do produto ou serviço. Nessa optica,não poderia permitir que, mediante cláusula contratual, essa responsa-bilidade fosse transferida a terceiros, burlando o sistema pšotletivofledificultando o ressarcimento. Se a responsabilidade decorre a ei, HÃ10pode o fomecedor, por meio de cláusula contratual (ato de vonta e,portanto), procurar eximir-se dela, transferindo-a a terceiros.

43) Cláusulas iníquas, abusivas e exageradas (inc. IV): objetivandopreservar a dignidade do consumidor e o equilíbrio contratual, a leivedou cláusulas iníquas (perversas, injustas, cruéis, contrárias à eqüi-dade) e abusivas (que desrespeitam valores éticos da sociedade), quesejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade ou que. coloquem oconsumidor em desvantagem exagerada. O p1'0pI`l0 C0d180 Culda de

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exprimir o entendimento do que seja vantagem exagerada, assim en-tendida a que “ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico aque pertence”, a que “restringe direitos ou obrigações fundamentaisinerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou oequilíbrio contratual” e, por fim, a que “se mostra excessivamente one-rosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do con-trato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso”(art. 51, § 19, I a III). É visível a preocupação do legislador com a situ-ação do contratante-hipossuficiente, o consumidor, no sentido de que opoderio econômico do fomecedor não o massacre. Daí dispor que ascláusulas devam ser equilibradas, compatíveis com a boa-fé e a eqüida-de e permitir a modificabilidade das que se mostrem excessivamenteonerosas ou insuportáveis para o consumidor.

Sê) Ônus da prova (inc. VI): ante a situação de fragilidade do con-sumidor, a lei assegurou, em seu favor, a inversão do ônus da prova noprocesso civil (art. 69, VIII), inclusive nas hipóteses de publicidade en-ganosa ou abusiva (art. 38). Para dar efetividade e impedir subversão aosistema, em boa hora proibiu o ajuste de cláusula estabelecendo o con-trário, ou seja, a inversão do ônus da prova em favor do fomecedor, e,conseqüentemente, em prejuízo do consumidor.

óê) Arbitragem (inc. VII): o recurso à arbitragem, na via judicialou extrajudicial, é faculdade das partes. Ninguém é obrigado a subme-ter- se ao juízo arbitral, se assim o não desejar. Entende-se, dessa fonna,que o Código teriha buscado coibir a utilização compulsória de arbitra-gem. A superioridade econômica do fomecedor não pode transformarem obrigatório aquilo que é facultativo para as partes; permitir-se ocontrário seria deixar o consumidor entregue à própria sorte.

7ê) imposição de representante (inc. VIII): o normal é o consumi-dor atuar nas relações de consumo pessoalmente ou mediante represen-tante de sua confiança. Assim, fugirá à normalidade e beirará as raiasdo abuso e da fraude a imposição, pelo fornecedor, de representantepara Concluir ou realizar outro negócio jurídico em nome do consurni-dor, que restará vulnerável e submetido ao poder econômico daquele.

8ê) Inversão de papéis (inc. IX): como regra, compete ao consu-midor concluir ou não o contrato, assumindo as obrigações decorren-tes. Ninguém o obriga a tanto. Para preservar essa faculdade é que a leiproíbe cláusulas que “deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não

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O contrato, embora obrigando o consumidor”. É intuitivo que o consu-midor poderá ser enormemente prejudicado se a conclusão do negócionão depender dele.

9i) Variação unilateral de preço (inc. X): a via normal é a fixação,por consenso das partes, do preço contratado para o produto ou serviço.O acordo deve incidir sobre todas as condições do contrato, principal-mente sobre o preço. Permitir que o fomecedor, direta ou indiretamen-te, de maneira unilateral, fixe o valor do contrato ou a respectiva varia-ção será prestigiar a superioridade econômica daquele em detrimentodo hipossuficiente. Daí a vedação legal.

10) Cancelamento unilateral do contrato (inc. XI): após celebra-do, o contrato deve ser cumprido pelos contratantes. Para desfaze-lo,igualmente, haverá necessidade do concurso dos contratantes para tal,ou, pelo menos, que tal faculdade seja outorgada a todos os contratan-tes. O que não se concebe é só o fomecedor gozar da faculdade decancelar o contrato unilateralmente, não se outorgando. idêntico direitoao consumidor, o que denotaiia, sem dúvida, a superioridade contratualdo fornecedor, que a própria lei busca mitigar.

1 1) Ressarcimento de custos (inc. XII): na mesma linha da hipóte-se anterior, o Código veda a instituição de cláusulas que “obriguem oconsumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, semque igual direito lhe seja conferido contra o fomecedor”. Também aquio objetivo é conter a supremacia econômica deste último.

12) Modificação unilateral do contrato (inc. XIII): após sua cele-bração, o contrato não pode ser modificado unilateralmente, por vonta-de de uma das partes. Exige-se o concurso da vontade de todos os con-tratantes para que a alteração se realíze. Por isso, o Código buscou im-bir e sancionar a conduta do fomecedor de modificar unilateralmente oconteúdo ou a qualidade do contrato já celebrado. -

13) Violação de normas ambientais (inc. XIV): já aqui a preocu-pação não é com a sorte do consumidor, mas com o meio ambiente.Impede a lei que ambos os contratantes _ consumidor e fornecedor _estipulem cláusulas que “infrinjam ou possibilitem a violaçao de nor-mas ambientais”. Ambos os contratantes, aliás, são obrigados ao cum-piimento da legislação protetiva do meio ambiente. Daí decorre quenão poderão pactuar contra legem.

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14) Desconformidade com o sistema protetivo (inc. XV): as leis deproteção ao consumidor devem ser cumpridas integralmente. Normas deordem pública, imperativas que são, não podem ser derrogadas pela von-tade das partes. Assim, além da vedação específica de algumas cláusulascontratuais, o legislador, em caráter geral, procura coibir a clausulaçãoque esteja em desacordo com o sistema protetivo do consumidor.

15) Benfeitorias necessárias (inc. XVI): após conceituar comonecessárias as benfeitorias que têm por fim conservar a coisa ou evitarque se deteiiore (CC de 1916, art. 63, § 39; Novo CC, art. 96, § 39), a leicivil assegura ao possuidor de boa-fé o direito à indenização e o direitoà retenção pelo respectivo valor (CC de 1916, art. 516; Novo CC, art.1.219). Em face da constatação de que era comum o senhorio, ao con-tratar alocação, burlar tal dispositivo, sob o manto de renúncia do direi-to de indenização, procurou a lei obstar mencionada conduta impedin-do a clausulação permissiva.

16) Multa de mora e liquidação antecipada (art. 52, §§ 19 [comnova redação] e 29): o Código estatui que a multa de mora não serásuperior a 2% do valor da prestação (anteriorrnente o percentual era de10%) e que o consumidor poderá liquidar antecipadamente o débito,com redução proporcional dos juros e demais acréscimos. Será abusivacláusula que impeça o uso da faculdade ou imponha percentual superi-or ao liniite legal. Além da violação específica, há a violação do siste-ma protetivo (art. 51, XV).

3. 4. 7.2. As cláusulas abusivas acrescidas

O art. 56 do Decreto n. 2.181, de 20-3-1997, detemiina que a Se-cretaria de Direito Econômico divulgue, anualinente, elenco comple-mentar de cláusulas contratuais abusivas. Esse elenco, meramenteexemplificativo, tem o objetivo de orientar os órgãos integrantes doSistema Nacional de Defesa do Consumidor e, principalmente, possibi-litar a fiscalização e a aplicação de penalidades quando o fomecedorestabelecer obrigações iníquas ou abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ea eqüidade (CDC,.art. 51, IV, clc o Dec. n. 2.181/97, art. 22, IV).

Assim é que:a) por meio da Portaria n. 4, de 13-3-1998, da SDE _ Secretaria

de Direito Econômico (publicada no DOU, 16 mar. 1998, Seção I), fo-

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ram divulgadas as novas cláusulas abusivas que integram o elenco da-quele ano;

b) em 19-3-1999 foi assinada a Portaria n. 3, da SDE (publicadano DJU, 22 mar. 1999), elencando as cláusulas abusivas relativas aoano de 1999;

c) por meio da Portaria n. 3, de 15-3-2001, da SDE do Ministérioda Justiça, foram divulgadas dezesseis novas cláusulas abusivas (DOU,17 mar. 2001, Seção I, p. 1); e

d) finalmente, pela Portaria n. 5, de 27-8-2002, da mesma Secreta-ria, foi complementado o elenco com mais cinco novas cláusulas abusivas(DOU, 28 ago. 2002, p. 48).

3.4.8. 0 direito de arrependimento

Como regra, no direito civil, o sinal dado por um dos contratantesfirriia a presunção de acordo final e torna obrigatório o contrato (CC de1916, art. 1.094). Convencionando-se o direito de arrependimento, nãoobstante as arras dadas, o arrependido perdê-las-á em proveito do ou-tro, se as deu, ou restituí-las-á em dobro, se o arrependido foi o que asrecebeu (CC de 1916, art. 1.095). Em suma, na área civil o arrependi-mento é possível, mas gera conseqüências, como a perda ou a restitui-ção. Dispositivo semelliante, com ligeira alteração, consta do novo Có-digo Civil (art. 420).

A lei de proteção trouxe inovação nessa área, porém de formali-mitada. Para os fomecimentos feitos no estabelecimento comercial, empresença do consumidor ou seu representante, em prévio conhecimentodos termos contratuais e mediante suficiente reflexão, vigora o princí-pio pacta sunt servanda, ou seja, o consumidor deverá cumprir o quecontratou, sujeitando-se às conseqüências do inadimplemento. '

Diferente é o tratamento no caso de essa contratação do fomeci-mento de produto ou serviço ocorrerfora do estabelecimento comercial,via de regra por reembolso postal, Intemet, telefone ou em domicílio.Nessa hipótese, presumindo que o consumidor não teve condições deexaminar de visu o produto ou serviço, ou que, pelas circunstâncias, nãorefletiu o bastante sobre a aquisição que fazia, o legislador deferiu-lhe odireito de arrependimento, ou seja, de desistir do contrato (art. 49).

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Para tanto, algumas regras foram fixadas: a) só vale para contrataçãofora do estabelecimento comercial; b) o arrependimento deverá ocorrerno prazo de sete dias a contar da assinatura do contrato (em domicílio)ou do ato de recebimento do produto ou serviço (reembolso ou telefo-ne); e c) o consumidor receberá de volta os valores eventualmente pa-gos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, sendo a devoluçãoimediata e monetariamente atualizada.

A lei não regulamentou a questão atinente às despesas efetuadasou prejuízos sofridos pelo vendedor durante o período de reflexão. As-sim o fazendo, permite ao intérprete a conclusão de que a devolução sedará sem qualquer dedução, pelas seguintes e inafastáveis razões: a)trataiido-se de restrição ao direito de arrependimento, deveria ser ex-pressa na lei tal dedução; b) quando pretendeu ressalvar as deduções, olegislador o fez expressamente (art. 53, § 29), de sorte que seu silêncionesse tema tem o significado de negar a via compensatória ouressarcitória ao fornecedor; e c) além disso, as despesas e eventuaisprejuízos enfrentados pelo fomecedor são inerentes à atividade comer-cial sob a modalidade de vendas agressivas por telefone, reembolsopostal ou em domicílio. Admitir-se o contrário será desestimular o usodo direito de arrependimento, criando liniitações legalmente não pre-vistas ao consumidor, sujeitando-o a deduções que certamente serãofeitas unilateralmente pelo economicamente mais forte. Em suma, oque é direito dele passaria a ser pesadelo.

3.4.9. Contratos de crédito c financiamento

Quando o fomecimento envolver outorga de crédito ou concessãode financiamento ao consumidor, o fomecedor deverá inforrná-lo, pre-viamente e de forma adequada, sobre dados essenciais, como preço doproduto ou serviço em moeda corrente nacional, o montante dos jurosde mora e da taxa efetiva anual de juros, os acréscimos legalmente pre-vistos, o número e periodicidade das prestações e a soma total a pagar,com e” sem financiamento (art. 52, I a V). Ao direito de informação doconsumidor (art. 69, III) corresponde o dever específico do fomecedor.O objetivo da lei é permitir ao consumidor, ciente dos encargos queassumirá, uma decisão livre e amadurecida. O

Duas outras regras foram estabelecidas em favor do consumidor:a) ele poderá liquidar antecipadamente o débito, total ou parcialmente,

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mediante redução proporcional dos juros e demais acessórios (art. 52, §22), sem que a isso se oponha o credor; e b) em caso de inadimplementoda obrigação, o credor poderá cobrar multa de mora, no percentualmáximo de 2% (art. 52, § 19, com redação dada pela Lei n. 9.298, de 19-8-1996), vedado qualquer índice superior a esse, constituindo abuso odesrespeito às normas referidas.

A jurisprudência, no que se refere ao item em exame, vem mani-festando o seguinte entendimento: a) controvertida em Juízo a relaçãonegocial de natureza bancária, com ampla discussão sobre a natureza eacessórios do débito, não é plausível que conste o nome do devedorregistrado no Serasa, como mau pagador, impossibilitando-lhe o acessoao crédito bancário35; b) a comissão de permanência não pode sercumulada com correção monetária, limitada a cobrança ao índice decorreção contratualmente eleito39; c) é nula obrigação cambial assumi-da por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivointeresse deste (Súmula STJ 60); e d) em contrato bancário, havendodivergência quanto ao índice de correção monetária, prevalece o maisfavorável ao aderente”.

3.4.10. Contratos de compra e venda e alienação fiduciária

Também nessa área atuou o legislador, ampliando o esquemaprotetivo do consumidor. Nos contratos de compra e venda com paga-mento parcelado, bem como na alienação fiduciária em garantia, o con-sumidor tem assegurado o direito à restituição das prestações pagas,considerarido-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam ocontrário, isto é, a perda total das prestações pagas em benefício docredor (art. 53, caput). O objetivo da lei é propiciar o entendimentoentre as partes, para a solução amigável da pendência, e desestimular ocredor de tomar atitudes drásticas, como a resolução do contrato e aretomada do produto alienado. Certamente será mais interessante a viaamigável à devolução das prestações pagas. Com tal dispositivo, coíbe-se também o enriquecimento ilícito do credor que retomaria o bem vendi-

_*_í

35. RDC, v. 23-4, p. 314.36. RDC, v. 121, p. 166.37. RDC, v. 23-4, p. 323.

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do ou alienado e ainda ficaria com as parcelas pagas, o que, além deimoral, era francamente desfavorável ao consumidor.

Assim vem-se manifestando a jurisprudência acerca da compra evenda: a) a cláusula penal, que estipula a perda de todas as importân-cias pagas, é draconiana e deve ser reduzida aos seus clientes, perdendoo promissário inadimplente apenas o sinal, assegurado o seu direito dereaver as demais quantias, corrigidas após o desembolso38; b) as suces-sivas pactuações de aditivos ao contrato de promessa de compra e ven-da dilacera o equilíbrio contratual, uma vez que onera excessivamenteo promissário comprador, enquanto mantém intacta a contraprestaçãodo promitente vendedor3'”; e c) não obriga o consumidor a contrato ce-lebrado em que as cláusulas relativas ao uso do imóvel adquirido pelosistema de tempo compartilhado constam de Regulamento que somen-te lhe foi entregue depois da assinatura do contrato”.

Sobre alienação fiduciária vêm os tribunais assim decidindo: a) éparcialmente incompatível o art. 29 do Decreto-Lei n. 911/69 com oCDC, pois permite ao credor a alienação unilateral, sem fiscalização esem hasta pública do bem apreendido41; b) o Decreto-Lei n. 911/69 nãofoi inteiramente recepcionado pela Constituição Federal de 1988, sen-do ainda parcialmente revogado pelo CDC42; c) a terceiro de boa-fé nãoé oponível a alienação fiduciária não anotada no Certificado de Regis-tro do Veículo Automotor (Súmula 92 do STJ)43; e d) a cláusula de elei-ção do foro, em contrato de alienação fiduciária, deve ser interpretadaem favor da parte aderente (consumidor), sendo considerada abusiva nahipótese de acarretar-lhe ônus excessivo, a teor do que dispõe o art. 51,§ 19, III, do CDC44. Ainda sobre alienação fiduciária, é de registrar queo STF, pelo seu Plenário, decidiu no sentido de que o art. 49 do Decreto-Lei n. 911/69, que equipara o devedor-fiduciante ao depositário infiel,

38. RDC, v. 20, p. 161, 167 e 184; v. 221, p. 185.39. RDC, v. 23-4, p. 376.40. RDC, v. 22, p. 239; v. 23-4, p. 221.41. RDC, v. 23-4, p. 282.42. RDC, v. 23-4, p. 284.43. RDC, v. 171, p. 190.44. RDC, v. 21, p. 148.

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foi recebido pela Constituição de 1988 (HC 72.131-RJ, j. 22-11-1995,publicado no DJ, 4 dez. l995)45.

3.4.11. Contratos de consórcio

Disposição semelhante foi estabelecida para os contratos de consór-cio. O consorciado terá direito à compensação ou à restituição das parce-las quitadas, considerando-se nulas de pleno direito as cláusulas que dis-ponham em sentido inverso (art. 53, § 29 c/c caput). Com uma restrição:a administradora do consórcio poderá descontar do consorciado a vanta-gem econômica auferida com a fruição, ou seja, com o uso do bem emsua posse temporária, bem como os prejuízos causados ao grupo com suasaída. Feitas essas deduções, o consorciado não poderá ser obstado dedesistir do contrato, nem impedido de receber a restituição ou de com-pensar-se. Da mesma maneira que no tópico anterior, o objetivo é afastaro enriquecimento ilícito, agora da administradora e do grupo. Em arroja-dos e importantes pronunciamentos, o Superior Tribunal de Justiça, des-de l990 (antes, portanto, da vigência do Código do Consumidor), vinhadecidindo que a restituição da quantia paga ao consorciado retirante ouexcluído deveria ser efetuada em valor atualizado. Resultaram tais julga-mentos na Súmula 35, assim redigida: “incide correção monetária sobreas prestações pagas, quando de sua restituição, em virtude da retirada ouexclusão do participante de plano de consórcio”4°.

Quanto ao tema consórcio, a jurisprudência dos Tribunais, após avigência do CDC, tem manifestado os seguintes posicionamentos: a) oconsorciado excluído tem direito à restituição imediata dos valores pa-gos, corrigidos a partir do desembolso, com juros desde a citação, de-clarando-se a nulidade da cláusula leonina que manda aguardar o en-cerramento do grupo e que manda restituir os valores sem juros e semcorreção monetária”'*“'; b) prevendo o contrato de adesão a gr_upo de

MM

45. No mesmo sentido: STF, RE 206.482-SP, Tribunal Pleno, rel. Min. Maurí-cio Corrêa, j. 27-5-1998, v. m., publicado no DJ, 9 jun. 1998; HC 76.561-SP, TribunalPleno, rel. Min. Nelson Jobim, j. 27-5-1998, v. m., publicado no DJ, 9 jun. 1998. Emsentido contrário: STJ, 6” T., HC 3.552-6-SP, rel. Min. Vicente Leal, j. 18-9-1995, eHC 3.545-3-DF, rel. Min. Adhemar Maciel, j. 10-10-1995.

46. DJU, 21 66v. 1991, p. 16774.47. RDC, v. 19, p. 250; v. 11, p. 1716 236; v. 91, p. 145.

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consórcio, foro diverso do domicílio do aderente, deve tal cláusula serdesconsiderada, a fim de facilitar o acesso à Justiça, ante a possibilida-de de sacrifício desproporcional que possa advir a este4S; c) os direitosdos participantes de grupos de consórcio caracterizam-se como indivi-duais, homogêneos, decorrentes de origem comum, estando legitima-dos ad causam para interpor ação coletiva às associações legalmenteconstituídas49; d) é impossível a compensação de crédito existente emum grupo de consorciados com o débito em outro, embora se trate domesmo consorciado, porque os grupos são autônomos, oriundos de con-tratos próprios e formados por pessoas diferentes5“; e e) a qualquer tempo,pode o consorciado exigir da administração de consórcios prestaçãojudicial de contas, desde que se forme litígio a respeito da administra-ção dos valores arrecadados”.

3.4.12. Contratos de adesão

Os contratos de adesão avultararn em importância no campo dasrelações de consumo. De um lado, pela multiplicidade contratual dasrelações de consumo, manifestada na ampla e variada gama de contra-tos; de outro, pela impossibilidade prática da contratação individualnos moldes clássicos; por fim, pela desigualdade dos contratantes, tor-nando possível o abuso do disponente no ato de formulação das condi-ções gerais do contrato, tendo em vista que o consentimento do consu-midor se dá pela simples adesão ao conteúdo preestabelecido.

Por outro lado, a não-regulamentação dessa modalidade contratualna via legislativa deu maior (ou total) liberdade aos fornecedoresdisponentes, que atuavam com desenvoltura no estabelecimento dascondições, sem qualquer parâmetro legal, sofrendo rara censura do Ju-diciário, no caso concreto, se e quando a questão a ele fosse submetida.

A regulamentação do contrato de adesão e das cláusulas abusivasno Código do Consumidor em boa hora outorgou indispensável prote-ção contratual a uma categoria que sofria constantes abusos e prejuízos

lí.

48. RDC, v. 19, p. 123.49. RDC, v. 14, p. 175.50. RDC, v. 13, p. 137.51. RDC, v. 11, p. 252.

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decorrência de sua fragilidade e de ter de aderir a condições que nãoem _ ,, .discutiu, nem tinha meios de conhecer em extensao e profundidade, eque por isso, eram-lhe praticamente impostas.

9

3.4.12.1. Conceito e regras aplicáveis

A fim de dirimir dúvidas e superar controvérsias doutrinárias, olegislador preferiu conceituar, no próprio corpo legislativo, o contratode que se trata, como “aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadaspela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo for-necedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutirou modificar substancialmente seu conteúdo” (art. 54).

Do conceito emergem os elementos do contrato de adesão: a) apreexistência das Condições gerais do contrato, aprovadas ou regula-mentadas por autoridade competente, ou estabelecidas umlateralmentepelo fomecedor disponente; e b) 0 consentimento do consumidor mani-festado como simples adesão a conteúdo preestabelecido da relaçaojurídica, a dizer, o consumidor “tem de aceitar, em bloco, as clausulasestabelecidas pelo fomecedor, aderindo a uma situação contratual que

. 9952se encontra definida em todos os seus termos .Caracterizam essa modalidade contratual, segundo ORLANDD

GOMES' a) uniformidade - invariabilidade do conteúdo das condi-ções em todas as relações contratuais, o que condiz com a exigençia deracionalização da atividade econômica; b) predeterminaçao --preestabelecimento unilateral, pelo fornecedor, das clausulas dos cm-tratos a serem estipulados em serie. Sao admitidas, tambem, as con -ções gerais constantes de regulamento administrativo; e c) rigidez _ HScláusulas devem ser rígidas porque devem ser umformes, de sorte que a

. . . - f - 3flexibilidade desfiguraria a especie5 . _Ao contrato de adesão são aplicáveis as regras' das disposiçâes

gerais (arts. 46 e s.), especialmente no que se refere a interpretaçao . ascláusulas abusivas e seu sancionainento (art. 51) e as regras especiaisseguintes:

52. Orlando Gomes, op. Gil-, P- 118-53. Idôlll, p. 130.

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1) Os contratos de adesão, quando escritos, serão redigidos emtermos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitarsua compreensão (art. 54, § 39). Sendo preestabelecidas unilateralmen-te pelo fomecedor, e cabendo ao consumidor apenas sua adesão, é desuma importância que a redação das condições gerais dos contratos sejaclara e de fácil compreensão pelo consumidor, para que ele tenha cons-ciência das obrigações que assumirá. Por isso mesmo, a obscuridade ouambigüidade de tais cláusulas é interpretada contra o estipulante oudisponente (art. 47).

2) O contrato de adesão, em regra, consta de formulário impresso,nada impedindo a inserção ou acréscimo de novas cláusulas, manuscri-tas ou datilografadas, no mesmo formulário, sem que tal circunstânciadesfigure a natureza do contrato (art. 54, § 19). Aliás, em caso de dúvi-da, prevalecem as insertas ou acrescidas, em detrimento das impressas.

3) O contrato de adesão admite cláusula resolutória. Se esta nãofoi prevista expressamente pelas partes, não é escrita, expressa, massomente tácita, há a incidência do disposto no art. 1.092 do CódigoCivil de 1916, que corresponde aos arts. 476 e 477 do Novo CódigoCivil. O inadimplemento gera a resolução do contrato, não de formaautomática, mas a pedido do prejudicado e na via judicial. Nessa hipó-tese, cabe-lhe, alternativamente, pleitear o cumprimento do contrato,ou a respectiva rescisão com perdas e danos. Sendo expressa a cláusularesolutória, o inadimplemento gera automaticamente a extinção do con-trato por resolução, de pleno direito, sem necessidade de uso da viajudicial, inexistindo, em princípio, para o consumidor, a alternativa depleitear o cumprimento do contrato. Por isso, o Código trouxe comonovidade uma alteração a essa regra geral: sendo lesado o consumidor,este poderá optar entre a rescisão contratual com perdas e danos e ocumprimento da obrigação (art. 54, § 29).

4) As cláusulas que limitam direito do consumidor deverão serredigidas e impressas com destaque, a fim de permitir sua imediata efácil compreensão (art. 54, § 49). Ao contratar, o consumidor deverá estarinformado de todos os termos da avença, inclusive restrições e lirnita-ções, estipulados unilateralmente pelo fomecedor-disponente. Impõe-se,assim, que as cláusulas restritivas sejam impressas com destaque, paraque chamem a atenção do consumidor para o fato e permitam uma avali-ação real e correta, sem induzimento a erro por falha na compreensão.

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5) A nulidade de cláusula abusiva não invalida o contrato, salvoquando de sua ausência, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes,apesar dos esforços de integração (art. 51, § 29).

3.4. 12.2. 0 controle das cláusulas gerais

As cláusulas abusivas, aplicáveis a todos os contratos que envol-vam relações de consumo, encontram campo fértil no âmbito dos con-tratos de adesão, em que se verifica sua maior incidência, provavel-mente em decorrência da superioiidade econômica do fomecedor e dofato de ser ele o estipulante unilateral das cláusulas gerais, para cujaformulação inexiste ampla discussão das partes, cabendo ao consumi-dor apenas a adesão. Daí o interesse e a relevância dos mecanismos decontrole, para prevenir e coibir os correntios abusos.

São conhecidos dois mecanismos de controle das condições ge-rais dos contratos: o preventivo ou abstrato e o represszvo ou concreto.

No primeiro caso, o controle é feito na via administrativa, antes daconclusão da relação de consumo, geralmente por um órgão designadopara tal. Existe, p. ex., na Suécia, onde a lei das cláusulas contratuaisabusivas, de 1971, introduziu um sistema de controle preventivo dascláusulas consideradas injustas para os consumidores, concedendo po-deres ao Tribunal do Mercado para proibir a utilização de tais cláusu-las. No Brasil, tentou-se a introdução do controle abstrato pelo Ministé-rio Público, mas o dispositivo (art. 54, § 59) foi vetado, de sorte que 0Ministério Público pode, mediante inquérito civil, fazer esse controle,podendo redundar em compromisso de ajustamento de conduta,,ou. noajuizamento de ação civil pública. A decisão do Ministério Publico,sobre cláusulas submetidas ao seu exame no inquérito civil, no entanto,não terá caráter geral. .

O controle repressivo ou concreto é aquele efetuado após a con-clusão da relação de consumo, no decorrer de ação judicial em que sediscute a abusividade de cláusula. E o sistema predominante no Brasil.O consumidor pode, diretamente, pleitear em juízo a declaração da nu-lidade de cláusula contratual abusiva, mas também pode requerer aoMinistério Público - e aos outros co-legitimados - idêntica provi-dência (art. 51, § 49). Trata-se, como se vê, de controle concreto, na viajudicial. Já se decidiu que o “Ministério Público tem legitimidade ativa

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para propor ação visando a nulidade de cláusula de contrato de ade-são”, cuidando-se, no caso, de relação de intermediação de imóveispara locação, submetida às disposições do CDC54.

3.4.13. A garantia contratual

No sistema codificado a garantia dos produtos e serviços ganhoutratamento específico, embora não exaustivo. Na nova lei, a principalgarantia outorgada ao consumidor é a legal: o fomecedor é responsávelpelos danos decorrentes dos defeitos (art. 12), bem como pelos víciosdo produto e do serviço, obrigando-se ao ressarcimento, à substituiçãode partes avaiiadas e ao cumprimento das opções previstas na lei (art.18, caput, §§ 19 e 69). Em princípio essa garantia legal seria suficientepara a proteção ao consumidor. Independerá de termo expresso (art.24), já que sua força decorre não do contrato, mas da própria lei.

Acontece que alguns segmentos industriais costumam oferecergarantia de seus produtos, via de regra nos ramos de máquinas, moto-res, veículos e eletroeletrônicos. Fazem-no como estratégia de vendaspara atestar a excelência do que fabricarn ou comercializain, respon-dendo pela assistência técnica, vistoria periódica e conserto de defeitosnormais de uso, dentro de determinado prazo. Trata-se, como se vê, degarantia contratual, outorgada pelo fornecedor em relação a seus pro-dutos ou serviços, independentemente e além da garantia legal. Consti-tui um plus em relação a esta. Por isso mesmo, o legislador entendeu-acomplementar à legal, mas exigiu fosse instriimentalizada em termoescrito (art. 50), com os seguintes esclarecimentos: em que consiste, aforma, o prazo e o lugar em que pode ser exercida e os ônus a cargo doconsumidor (art. 50, parágrafo único). O termo de garantia, padroniza-do, deve ser preenchido pelo fornecedor e entregue ao consumidor noato do fomecimento, sob pena de cometimento de crime (art. 74), fa-zendo-se acompanhar de “manual de instrução, de instalação e uso deprodutozem linguagem didática, com ilustrações”.

Apesar de grande conquista consubstanciada na outorga da garan-tia legal, entendemos ser ainda insuficiente por não estar regulamenta-da em termos precisos. Além disso, está acoplada a uma garantia

-í-Mzzírí

54. RDC, v. 21. p. 166.

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contratual não obrigatória, que varia de empresa para empresa e quepode ser retirada para produtos que serão produzidos no futuro. IdealSeria a edição da lei fixando o prazo e a forma de garantia para cadacategoria do produto. Tal medida tomaria mais efetiva a garantia legal eimpediria manobras evasivas dos fornecedores, como retirar ou reduzir,para o futuro, a garantia contratual, o que, além de prejudicial ao consu-midor, esvaziaria, de forma reflexa, a tipificação penal.

3.4.14. Revisão dos contratos

A proteção contratual no CDC está baseada nos princípios da transpa-rência, da boa-fé e da eqüidade. As partes devem atuar na relação de consu-mo com sinceridade, lealdade, seriedade e veracidade. Mas também devehaver equilíbrio na prestação iiicumbida a cada parte, como claramente seinfere do art. 49, caput e inc. [[1 da Lei n. 8.078, de 11-9-1990.

Até recentemente vigorava na órbita civil o princípio daintangibilidade do conteúdo do contrato ou da obrigatoriedade do con-trato, consubstanciado no brocardo pacta sunt servanda. O contrato élei entre as partes, por isso que devem ser cumpridas as estipulaçõescontratuais, a fim de que seu objeto seja alcançado, não podendo aspartes negar-se a cumpri-las.

Após a última grande guerra, no entanto, surgiram relaçõesmassificadas envolvendo bens e produtos e novas fonnas de contratar,nas quais as cláusulas eram impostas por uma das partes, em detrimen-to do aderente. A desigualdade econômica passou a ficar evidente. Assoluções tradicionais da legislação mostraram-se insuficientes para pro-teger a parte mais vulnerável.

Nesse contexto, a doutrina e a jurisprudência passaram a engen-drar mecanismos para adaptarem-se às mudanças no meio social, des-tacando-se, dentre elas, a adoção das teorias da imprevisão e da quebrada base do negócio, em ordem a pennitir a revisão dos contratos, miti-gando com isso o princípio da obrigatoriedade. Ainda assim, os avan-ços eram tímidos, porque sem base no direito positivo, havendo neces-sidade de recorrerem os julgadores à analogia, aos princípios gerais dedireito e à eqüidade.

Esse panorama, contudo, foi completamente alterado em face davigência do CDC, que, além de sancionar de nulidade absoluta as cláu-

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sulas abusivas (art. 51, incisos e parágrafos), definiu como direito bási-co do consumidor “a modificação das cláusulas contratuais que estabe-leçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatossupervenientes que as tomem excessivamente onerosas” (art. 69, V).

Assim agindo, o legislador acolheu toda aquela construção doutri-nária e jurisprudencial, solidificada ao longo dos últimos anos, no sen-tido de restabelecer o equilíbrio contratual, modificando-lhe as cláusu-las ou determinando sua revisão, num verdadeiro ato de intervençãoestatal na área dos contratos.

Como o próprio dispositivo legal sugere, existem causas contem-porâneas ou concomitantes à formação do contrato, com as cláusulasabusivas e as prestações desproporcionais, e outras existem que lhe sãosupervenientes, como as circunstâncias imprevisíveis e a quebra da basedo negócio por onerosidade excessiva.

3. 4. 14. l. A revisão por causas concomitantes

Tais causas são ditas contemporâneas ou concomitantes à forma-ção do contrato porque já existem e contaminam a avença contratualdesde o seu nascimento. O contrato já traz em seu conteúdo o germeque pode determinar a modificação por determinação judicial. São des-sa natureza as cláusulas abusivas e as prestações desproporcionais.

O CDC elencou no art. 51 as cláusulas abusivas inseridas em con-tratos relativos ao fomecimento de produtos e serviços, sancionando-ascom a nulidade de pleno direito.

Considera-se abusiva - conceitua LUÍS RENATO FERREIRADA SILVA - “aquela cláusula resultante da prevalência de uma daspartes sobre a outra em decorrência de fatores os mais diversos”55. NEL-SON NERY JUNIOR assegura que toda cláusula que infringir o princí-pio da boa-fé objetiva é considerada abusiva, porque em desacordo como sistema de proteção ao consumidor59.

As cláusulas abusivas têm fundamento jurídico no princípio daboa-fé, que informa as relações contratuais de consumo mas permite

55. Revisão dos contratos: do CC ao CDC, Rio de Janeiro: Forense, 1988, p. 43.56. Op. cit., p. 295.

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- ~ ' ' loca ão e as deaplicaçao tambem a outras modalidades, como as de çalienação fiduciária.

O reconhecimento da nulidade pleno jure de detemiinada cláusulatida por abusiva conduz ao seu expurgo, não, porém, à resoluçao docontrato.

Dessa forma, em face da regra da conservação dos contratos, deve ojuiz rever o contrato, integrando o pacto, de tal modo que este venha a serimplementado, em novas bases, após o reequilíbrio das prestaçoes.

O CDC, além do princípio da boa-fé, adotou o da eqüidade ou doequilíbrio entre as partes contratantes. Para obter este ultimo, elencouoesancionou com nulidade de pleno direito as cláusulas abusivas, especi-almente aquelas que colocam o consumidor em desvantagem exagera-da (art 51 IV) isto após vedar ao fomecedor “exigir do consumidorvantagem manifestamente excessiva” (art. 39, V).

Os conceitos de desvantagem exagerada do consumidor e :fanta-gem excessiva para o fomecedor guardam correlação com o de lesaoenorme”, a que se refere o art. 157 do Código Civil: “Ocorre a^lesaoquando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiencia,se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da pres-tação oposta”.

A desproporção do preço, vista em conjunto com a vulnerabilidadedo consumidor e a situação mais favorável do fomecedor, conduz aidéia de que deve ser reprimida a exploração contra os mais fracos.Bem por isso, o CDC cuidou de presumir exagerada a vantagem que: a)ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;b) restringe direito ou obrigações fundamentais inerentes à natureza docontrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual; ec) se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outrascircunstâncias peculiares ao caso (art. 51, § 19, I 8111)-

Em correspondência a tais dispositivos, o CDC estabeleceu serdireito básico do consumidor “a modificação das cláusulas contratuaisque estabeleçam prestações desproporcionais” (art. 69, V, 19 pâ1'Íf2)› 0que coincide com a noção de lesão.

A lesão, nesse caso, é estabelecida em cláusula concomitante, adizer, já vem embutida no contrato que preve a prestaçao desproporcio-nal, ou seja, não surge supervenientemente a celebraçao.

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observa Luís RENATO FERREIRA DA siLvA, 66zn peninêneinz“No Brasil, em face do diploma dos consumidores, sustenta-se a possi-bilidade de revisão por incidência do art. 69, V, que refere à revisão decláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, oque não é outra coisa senão a figura da lesão. Há quem diga que talnorma pertine apenas à onerosidade excessiva eis que no texto consta aexpressão “fatos supervenientes”. Em verdade, o dispositivo referidocontém duas regras de revisão. A primeira quanto a prestações despro-porcionais; a segunda quanto a fatos supervenientes. Logo, o remédioadequado, no direito brasileiro de consumidores, é o da revisibilidade(ou modificação, na dicção legal)”57.

Fica claro, portanto, que basta a prestação ser excessivamente des-proporcional em desfavor do consumidor para justificar sua revisão.

3.4. 14.2. A revisão por causas supervenientes

Causas supervenientes à formação do contrato também podem de-temiinar a sua revisão. Nesse caso, acontecimentos posteriores à celebra-ção, situados fora das estipulações contratuais, causam quebra do equilí-brio contratual inicialmente estabelecido pelas partes. Tais acontecimen-tos podem interferir de forma intensa no contrato, a ponto de ocasionar-lhe a quebra da comutatividade. Podem tomar excessivamente onerosa aprestação. Podem também detemiinar a resolução do contrato, quando,apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquerdas partes. Incluem-se nestas causas: I- as circunstâncias imprevisíveis;e II - quebra da base do negócio por onerosidade excessiva, ainda quenão imprevisíveis os fatos que determinaram esta última.

A teoria da imprevisão não foi acolhida expressamente pelo CDC,embora o tenha sido em legislações esparsas, mas a doutrina e a juris-prudência têm entendido que a imprevisão é apta a proporcionar a revi-são dos contratos, inclusive, mas baseada em dispositivo da lei civil.

sniienin Luís RENATO FERREIRA DA siLvA, nn pnninz “Enique pese o campo mais restrito em que incide esta teoria, vinculando-seà vontade das partes, a sua aplicação, em sede de revisão, dá-se pelorecurso herrnenêutico do art. 85 do Código Civil. Ao ordenar que se

..í

57. Op. cit., p. 92.

128

Cpnsidere mais a vontade das partes que a literalidade do pacto, faz-seremissão à vontade final. Com isso, o respeito a esta vontade importam afastarem-se as circunstâncias excessivamente onerosas que podeme

. . 9958mmper a comutatividade do pacto .A onerosidade excessiva decorrente de evento extraordinário e

imprevisível dificulta extremamente o adimplemento do pacto, de sortea justificar a sua revisão. A propósito do tema, GOMESassim se expressa: “Quando acontecimentos extraordinarios determi-nam radical alteração no estado de fato contemporâneo à celebraçao docontrato, acarretando conseqüências imprevisíveis, dasfiquais decorreexcessiva onerosidade no cumprimento da obrigaçao, o vinculocontratual pode ser resolvido ou, a requerimento do prejudicado, o Juizaltera o conteúdo do contrato, restaurando o equilíbrio desfeito. Emsíntese apertada: ocorrendo anormalidade da alea que todo contratodependente do futuro encerra, pode-se operar sua resoluçao ou a redu-ção das prestações”59. .

Segundo NELSON NERY JUNIOR, a onerosidade excessiva podeproporcionar o enriquecimento sem causa, razão pela qual ofende. oprincípio da equivalência contratual, e é aferível de acordo com as cir-cunstâncias concretas que não puderam ser previstas pelas partes nomomento da conclusão do contrato. Acentua com precisao o IIICSIIIOautor: “Somente as circunstâncias extraordinárias é que entram no con-ceito de onerosidade excessiva, dele não fazendo parte os acontecimen-tos decorrentes da álea normal do contrato. Por “álea normal deve ep-tender-se o risco previsto, que o contratante deve suportar, ou, SC 11210previsto explicitamente no contrato, de ocorrência presumida emƒfaceda peculiaridade da prestação ou do contrato. O Codigo, a proposito,fomece alguns parâmetros na consideração da onerosidade da presta-ção: natureza e conteúdo do contrato, interesse das partes e outras cir-cunstâncias peculiares ao caso” (art. 51, § 19, III, in fin€)6°- '

Exemplificativamente, constituem fatos imprevisíveis e extraor-dináiios causadores de onerosidade excessiva as tempestades e os ter-remotos.

58. Op. cit., p. 151.59. Op. cit., p. 41-42.60. Nelson Nery Junior, OP- Cíi-› P- 367-

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O segundo fundamento para a revisão dos contratos é a quebra dabase do negócio por onerosidade excessiva. Este, sim, previsto no CDC.

Dispõe o CDC ser direito básico do consumidor a revisão das cláu-sulas contratuais “em razão de fatos supervenientes que as tomem ex-cessivamente onerosas” (art. 69, V, 29 parte).

Como se vê, exige o Código que os fatos sejam supervenientes,mas não que sejam imprevisíveis. Mesmo sendo previsível o fato, a suasuperveniência, aliada à quase impraticabilidade da prestação, permitea revisão do contrato para adequá-lo ao que foi avençado pelas partes.

A teoria da quebra da base do negócio está fundamentada na boa-fe objetiva, que deve guiar a contratação, indicando às partes o caminhoque devem perseguir.

Para acolher-se pleito fundado nessa teoria é preciso analisar sefoi atingida a base do negócio, se ocorreu situação anormal (não corri-queira), se a economia contratual foi afetada (tomando insuportável ocumprimento para uma das partes), se a situação adversa não é imputá-vel ao contratante e, finalmente, se a contratação não imputou a umadas partes o ônus do evento futuro, de tal sorte que a ela caberá suportá-lo, sem alegar quebra da base do negócio. E, por último, se ocorreu aonerosidade excessiva.

A doutrina vem divergindo quanto à adoção da teoria da imprevisãode molde a fundamentar a revisibilidade estatuída no CDC.

De um lado, LUÍS RENATO FERREIRA DA SILVA anota que “oexame da teoria da base do negócio jurídico, também vinculada à idéiade circunstâncias posteriores à contratação, tem cunho mais objetivo. Éque (a) se prescinde da imprevisibilidade do evento futuro e (b) não seprotege apenas o fato excessivamente oneroso. A teoria resguarda situ-ações onde o contrato resta frustrado, perdendo seu sentido por rompi-mento da sua base. Através de teorias nascidas no direito anglo-ameri-cano e desenvolvidas no direito alemão, a tese da base encontra acolhi-da como causa de revisão na vigente legislação de proteção ao consu-midor (art. 69, V, 29 parte) e, no direito comum, por força do onipresenteprincípio da boa-fé”9'.

í

61. Op. cit., p. 151.

De outro, NELSON NERY JUNIOR destaca que “a imprevisibili-dade e a extraordinariedade dos fatos supervenientes, que ensejaiia aaplicação da cláusula rebus sic stantibus, e, portanto, a revisão do con-trato (art. 69, n. V, CDC), devem ser aferidas objetivamente...`“9. Mani-festa este autor, portanto, o entendimento de que os fatos ensejadoresda onerosidade excessiva devem ser imprevisíveis e extraordinários, noque se afasta completamente da tese de que o CDC não adotou a teoriada imprevisão, mas sim a da base do negócio.

Na categoria de fatos supervenientes, que afetam a economiacontratual e podem justificar a revisão por quebra da base do negócio,podem ser citadas a inflação e a grande variação cambial nos contratosde arrendarnento mercantil com prestação fixada em dólar, em épocade economia estável e inflação próxima de zero. É certo, por outro lado,que a Lei n. 8.880, de 27-5-1994, abriu exceção à proibição decontratação de reajuste vinculado à variação cambial para os “contratosde arrendamento mercantil celebrados entre pessoas residentes edomiciliadas no País, com base em captação de recursos provenientesdo exterior” (art. 69). Assim, tais cláusulas só não serão nulas de plenodireito, mas não afastam a incidência do CDC, para revisão de contratode leasing com variação cambial em caso de onerosidade excessivasuperveniente. Isso é direito básico do consumidor (art. 69, V).

3.4. 14.3. A resolução do contrato porônus excessivo a uma das partes

Pela sistemática do CDC busca-se garantir a conservação do con-trato, de tal sorte que, expurgado das cláusulas abusivas, tenha condi-ções de sobreviver e ser cumprido pelas partes, já que restabelecido oequilíbrio contratual.

Caso não seja possível restabelecer-se esse equilíbrio, apesar dosesforços de integração, pois que o ônus excessivo terá de ser suportadopor uma das partes, nessa hipótese pemiite o CDC a resolução do con-trato (art. 51, § 29).

62. Op. cit., p. 367.

130 131

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Capítulo 4TUTELA ADMINISTRATIVA

Sumário: 4.1. Introdução. 4.2. Legislação protetiva. 4.3. OSNDC _ Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 4.3.1. ODPDC-Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor. 4.3.2.Os Procons estaduais e municipais. 4.3.3. As entidades civis. 4.3.4.O Ministério Público. 4.4. As práticas “infrativas”. 4.5. Sanções ad-ministrativas. 4.5.1. Multa. 4.5.2. Apreensão de produto. 4.5.3.Inutilização do produto. 4.5.4. A cassação do registro do produto.4.5.5. A proibição de fabricação do produto. 4.5.6. Suspensão defomecimento de produto ou serviço. 4.5.7. Suspensão temporáriade atividade. 4.5.8. Revogaçãode concessão ou permissão de servi-ços públicos. 4.5.9. Cassação de licença do estabelecimento ou deatividade. 4.5.10. Interdição de estabelecimento, obra ou atividade.4.5.11. Intervenção administrativa. 4.5.12. Imposição de contrapro-paganda. 4.6. A fiscalização e a aplicação das sanções administrati-vas. 4.6.1. A aplicação da multa. 4.6.2. A aplicação das demais san-ções. 4.6.3. As circunstâncias atenuantes e agravantes. 4.6.4. A rein-cidência e seus efeitos. 4.6.5. O processo administrativo. 4.7. O FDD-- Fundo de Defesa dos Direitos Difusos e seu Conselho Gestor.

4 1 Introdução

A tutela administrativa do consumidor representa a linha de frenteda atuação protetiva, envolvendo a mais extensa e complexa rede demecanismos e órgãos. Cuida-se de dotar o consumidor de instrumentos

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legais e administrativos que possam propiciar a sua defesa em qualquercanto do território nacional. É, às vezes, o primeiro e único contato doconsumidor com os órgãos e entidades encarregados de sua defesa, prin-cipalmente nos municípios distantes das capitais dos Estados. A tutelaadministrativa do consumidor manifesta-se de três formas: a) medianteinstituição de legislação protetiva, desde leis ordinárias, federais e esta-duais, até decretos, resoluções e portarias; b) pela instituição e imple-mentação do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, bem comopela atuação dos órgãos administrativos de defesa do consumidor, emâmbito federal, estadual e municipal; e c) por meio da fiscalização, docontrole e da aplicação de sanções administrativas aos infratores.

4.2. Legislação protetivanu'A Uniao, os Estados e o Distrito Federal possuem, como é sabido,

legislação que se destina a garantir a livre circulação e distribuição demercadorias, o abastecimento da população e a prestação de serviçosessenciais ao consumidor. Mais de uma centena de outras leis, decre-tos, regulamentos, resoluções e portarias, cuidando de vários assuntos,direta ou indiretamente protegem o consumidor. Atuam, pois, na defesado consumidor, direta ou indiretamente, desde o Decreto n. 22.262, de1933, que reprime a usura, até a Lei n. 1.521, de 1951, que reprime oscrimes contra a Economia Popular. A esse imenso aparato legislativovieram juntar-se novas leis e diplomas infralegais, dentre os quaissobrepaira o CDC -- Código de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078,de 11-9-1990, que procurou preencher um vazio legislativo, sistemati-zando, de forma específica, as normas de defesa do consumidor e crian-do novos mecanismos e instrumentos para sua tutela.

A produção legislativa, no entanto, não se esgota na esfera federal.Os Estados e o Distrito Federal também possuem leis que definem aatuação do poder de polícia na área de produção, distribuição ecomercialização de produtos e serviços, principalmente abastecimentode gêneros de primeira necessidade e condições sanitárias das merca-dorias ofertadas ao consumo da população. O cumprimento de tais nor-mas é fiscalizado, em geral, por funcionários das Secretaiias de Saúde,Abastecimento e da Agricultura dos Estados, das Capitais e dos Muni-cípios maiores, contentando-se os pequenos, via de regra, com o queestá estabelecido nas norrnas federais e estaduais.

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Referente ao tema, e dispondo para o futuro, o CDC diz: “A União,os Estados e o Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suas res-pectivas áreas de atuação administrativa, baixarão nonnas relativas àprodução, industrialização, distribuição e consumo de produtos e servi-ços” (art. 55). Os municípios, portanto, não têm competência para edi-tar nonnas relativas à produção, industrialização, distribuição e consu-mo de produtos e serviços, mas poderãofiscalizar e controlar tais ativi-dades, baixando as norrnas que se fizerem necessárias ao cumprimentodessa finalidade (§ 19), inclusive por meio de comissões permanentes,com participação obrigatória das partes envolvidas, ou seja, consumi-dores e fomecedores (§ 39).

4.3. 0 SNDC - Sistema Nacional de Defesa do Consumidor

A atuação concreta da legislação protetiva do consumidor é feitapelos órgãos administrativos e entidades civis que atuam direta ou indi-retamente na sua defesa. Vem a ser, muitas vezes, o primeiro e únicoatendimento do consumidor, em face dos excelentes resultados obtidosna mediação dos conflitos, culminando, na grande maioria, em concili-ação das partes. É o aparato estatal, descentralizado e abrangente, colo-cado a serviço do cidadão-consumidor, no atendimento de suas queixase reclamações e no esclarecimento de suas dúvidas, bem como na apu-ração das fraudes contra ele cometidas.

Atento a isso, preocupou-se o legislador em criar o SNDC, inte-grado pelo DPDC -- Departamento de Proteção e Defesa do Consumi-dor, pelos demais órgãos federais, pelos órgãos estaduais, do DistritoFederal, municipais e pelas entidades civis de defesa do consumidor(CDC, art. 105, e Dec. n. 2.181, de 20-3-1997, art. 39).

O Sistema Nacional é o conjunto dos órgãos ligados direta ou in-diretamente na defesa do consumidor, e também das entidades civis,atuando de forma coordenada. A abrangência nacional do sistema de-corre da ordem federativa, em face da existência de Estados-Membros,Distrito Federal e municípios, dotados de autonomia política e admi-nistrativa, com estruturas administrativas próprias. Tal abrangência na-cional decorre também da extensão territorial do País e da conveniênciada descentralização da fiscalização, do controle e da aplicação das pe-nalidades, sendo impensável a existência de um único órgão situado naCapital da República, com ramificação em todo o território. Além de

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dispendiosa, essa superestrutura, por seu gigantismo, tenderia a nãofuncionar adequadamente.

Daí justificar-se plenamente a criação do Sistema Nacional, en-volvendo órgãos estaduais e sociedade civil (entidades) no esforçoprotetivo objetivado pela lei codificada.

No modelo atual, aliás repetido pelo Código, o Sistema Nacionalé integrado pelos órgãos de defesa do consumidor em âmbito federal,estadual, do Distrito Federal e municipal, além daqueles que atuam emáreas afins e indiretamente se prestam à mesma finalidade.

4.3.1. O DPDC - Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

Na Administração Federal existiu, até março de 1990, o ConselhoNacional de Defesa do Consumidor, na estrutura do Ministério da Jus-tiça, criado pelo Decreto n. 91.468, de 24-7-1985. Esse colegiado tinhapor finalidade assessorar o Presidente da República na formulação econdução da política nacional de defesa do consumidor, zelando pelosdireitos e interesses deste, competindo-lhe, dentre outras atribuições,representar ao Ministério Público no sentido do resguardo das relaçõesde consumo e para a proteção dos direitos e interesses dos consumido-res, solicitar à Polícia Federal a apuração de delito contra o consumi-dor, recomendar a instauração de procedimento administrativo nos ca-sos de fraude, infração ou abuso aos direitos e interesses do consumi-dor, praticados por entes públicos federais, bem como promover e in-centivar medidas e campanhas de formação e informação dos consumi-dores e incentivar a constituição de órgãos estaduais e municipais des-tinados a atuar na proteção dos consumidores (Dec. n. 94.508, de 23-6-1987, art. 39 e seus incisos).

Em quase cinco anos de existência, o CNDC prestou inestimáveisserviços à Nação, atuando em temas como planos de saúde, hormônioDES, fraudes de alimentos e medicamentos, cartões de crédito e men-salidades escolares, constituindo sua maior obra, no entanto, a elabora-ção do Anteprojeto de Código de Defesa do Consumidor, que foi aco-lhido por diversos parlamentares e convertido em projetos de lei desuas respectivas autorias, com indicação da fonte, anteprojeto que veio,mais tarde, a ser aprovado pelo Congresso Nacional, com ligeiras alte-rações, mantidas a estrutura e a substância do projeto.

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Com a reforma administrativa do Govemo Collor de Mello, oCNDC foi extinto pela Lei n. 8.028, de 13-4-1990, e, em lugar do órgãocolegiado e representativo dos vários segmentos da sociedade, foi cria-do o DPDC.

Ao DPDC, subordinado à Secretaria Nacional do Direito Econô-mico, na estrutura do Ministério da Justiça, chefiado por um diretor,está reservado o papel de órgão de cúpula do SNDC (CDC, art. 105),cabendo-lhe, primordialmente, a coordenação da política desse mesmoSistema (CDC, art. 106, caput, c/c o Dec. n. 2.181/97, art. 39, caput).

Nos termos do art. 106 do CDC e do art. 39 do Decreto n. 2.181, de20-3-1997, cabe ao DPDC: I _ planejar, elaborar, propor, coordenar eexecutar a política nacional de proteção e defesa do consumidor; II _receber, analisar, avaliar e apurar consultas e denúncias apresentadaspor entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ouprivado ou por consumidores individuais; III _ prestar aos consumi-dores orientação permanente sobre seus direitos e garantias; IV _ in-formar, conscientizar e motivar o consumidor, por intermédio dos dife-rentes meios de comunicação; V _ solicitar à polícia judiciária a ins-tauração do inquérito para apuração de delito contra o consumidor, nostennos da legislação vigente; VI _ representar ao Ministério Públicocompetente, para fins de adoção de medidas processuais, penais e civis,no âmbito de suas atribuições; VII_ levar ao conhecimento dos órgãoscompetentes as infrações de ordem administrativa que violarem os in-teresses difusos, coletivos ou individuais dos consumidores; VIII _solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municípios, bem como auxiliar na fiscalizaçãode preços, abastecimento, quantidade e segurança de produtos e servi-ços; IX _ incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros pro-gramas especiais, a criação de órgãos públicos estaduais e municipaisde defesa do consumidor e a formação, pelos cidadãos, de entidadescom esse mesmo objetivo; X _ fiscalizar e aplicar as sanções adminis-trativas previstas na Lei n. 8.078, de 1990, e em outras normas perti-nentes à defesa do consumidor; XI solicitar o concurso de órgãos eentidades de notória especialização técnico-científica para a consecu-ção de seus objetivos; XII _ provocar a Secretaria de Direito Econô-mico para celebrar convênios e termos de ajustamento de conduta, naforma do § 6-Q do art. 59 da Lei n. 7.347, de 24-7- 1985; XIII _ elaborare divulgar o cadastro nacional de reclamações fundamentadas contra

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fomecedores de produtos e serviços, a que se refere o art. 44 da Lei n.8.078, de 1990; e XIV _ desenvolver outras atividades compatíveiscom suas finalidades.

Além do DPDC, órgão de atuação específica, outros existem, noâmbito federal, que atuam indireta e reflexamente na defesa do consu-midor. É o caso, por exemplo, do Inmetro _ Instituto Nacional deMetrologia, Normalização e Qualidade Industrial, com atuação desta-cada na fiscalização de pesos e medidas; da Secretaria Nacional de Vi-gilância Sanitária, agora transfonnada em Agência, que cuida da áreade cosméticos, alimentos, medicamentos e produtos sanitários domés-ticos e dos órgãos de inspeção de produtos de origem animal e vegetal.Não há dúvida de que, ao exercerem suas funções para as quais forampreponderantemente criados, esses órgãos da administração federalobliquamente acabam por defender o consumidor, na medida em queimpedem a distribuição e a comercialização de produtos deteriorados,com prazo de validade vencido, com peso abaixo do anunciado e emdesconformidade com as nonnas sanitárias, o que vem beneficiar o con-sumidor, que, assim, encontra um mercado depurado dessas costumei-ras fraudes. Em face do tamanho da máquina administrativa federal eda singularidade de sua estrutura, toma-se difícil um trabalho de coor-denação entre esses vários órgãos e a área específica de defesa do con-sumidor, restando a esperança de que, uma vez instados por este, taisórgãos esparsos efetivamente desencadeiem a ação saneadora efiscalizadora de que estão investidos. Por isso mesmo, dispôs o Decreton. 2.181, de 20-3-1997: “Art. 78 Compete aos demais órgãos públicosfederais, estaduais, do Distrito Federal e municipais que passarem aintegrar o SNDC fiscalizar as relações de consumo, no âmbito de suacompetência, e autuar, na forma da legislação, os responsáveis por prá-ticas que violem os direitos do consumidor”.

4.3.2. Os Procons estaduais e municipais

No âmbito estadual, da mesma forma, existem os órgãos específi-cos de defesa do consumidor, os chamados Procons, ao lado de outrosórgãos que, atuando em áreas afins, como saúde e agricultura, prestamgrande auxílio e executam a proteção do consumidor. Os Procons estãosediados nas Capitais dos Estados e têm por missão orientar, proteger edefender os direitos e interesses dos consumidores, bem como estimu-

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lar a criação de órgãos municipais de defesa do consumidor, no respec-tivo território.

As atribuições dos órgãos estaduais, do Distrito Federal e munici-pais específicos de defesa do consumidor, no âmbito de sua jurisdição ecompetência, foram definidas pelo Decreto Federal n. 2.181/97. Alémdas atividades contidas nos incisos II a XII do art. 39 do citado decreto,incumbem-lhes, ainda: I _ planejar, elaborar, propor, coordenar e exe-cutar a política estadual, do Distrito Federal e municipal de proteção edefesa do consumidor, nas suas respectivas áreas de atuação; II _ daratendimento aos consumidores, processando, regularmente, as recla-mações fundamentadas; III _ fiscalizar as relações de consumo; IV _funcionar, no processo administrativo, como instância de instrução ejulgamento, no âmbito de sua competência, dentro das regras fixadaspela Lei n. 8.078, de 1990, pela legislação complementar e por essedecreto; V _ elaborar e divulgar anualmente, no âmbito de sua compe-tência, o cadastro de reclamações fundamentadas contra fomecedoresde produtos e serviços, de que trata o art. 44 da Lei n. 8.078, de 1990, eremeter cópia ao DPDC; e VI _ desenvolver outras atividades compa-tíveis com suas finalidades.

Apesar da diversidade que possa haver entre os vários órgãos esta-duais, em virtude das diferentes estruturas administrativas dos Estados,podemos elencar cinco atividades principais dos Procons:

a) Orientação _ é feita ao consumidor, diretamente, _no chamadoatendimento de balcão, por telefone ou pela imprensa em geral, medi-ante divulgação de informações ou por meio de campanhas publicitáriasespecíficas, procurando levar a ele as cautelas que deve tomar ao adqui-rir bens e serviços no mercado de consumo. Busca-se, por essa via,prestar esclarecimentos às dúvidas trazidas, orientando-o sobre os seusdireitos e deveres. Pode parecer irrelevante esse tipo de trabalho; masrepresenta o grande volume de atendimento dos Procons, como aponta-do em estatísticas do período de 1977 a 1992. E tem o grande mérito depossibilitar ao consurnidor, devidamente esclarecido, opor resistência aeventual desrespeito aos seus direitos, ou, de outra sorte, de evitar pen-dências inúteis, no caso de interpretação errônea ou equivocada porparte do próprio consumidor. Deve ser ressaltado que nem sempre oconsumidor comparece ao Procon para formular queixa contra deter-minado fomecedor ou produto; quer apenas orientação jurídica de como

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proceder em certas situações, como, por exemplo, reajuste de aluguel ede mensalidades escolares e cobranças indevidas em geral. Se satisfei-to, seu atendimento é encerrado com a orientação que pleiteia. Se, aocontrário, pensar estar sendo lesado, aí sim formula reclamação contrao fomecedor.

b) Mediação _ é o atendimento do consumidor em suas queixas ereclamações, contra abusos e fraudes contra ele cometidos. Em geral, oProcon convoca o fomecedor para tomar conhecimento da reclamação,dar os esclarecimentos necessários e resolver amigavelmente a pendên-cia. São indicados como excelentes os resultados obtidos pelo Proconnesse tipo de atendimento, que constitui o segundo maior volume, em

naseguida aos pedidos de orientaçao.Importante inovação é aquela trazida pelo § 48 do art. 55 do Códi-

go do Consumidor, que dá aos órgãos oficiais de defesa do consumidor(federais, estaduais e municipais) poderes para expedir notificaçõesaos fomecedores, convocando-os para que prestem informações sobrequestões de interesse do consumidor, resguardado o segredo industri-al, sob pena de desobediência, o que acarretará conseqüências penaisao recalcitrante (CP, art. 330). Sem dúvida, um importante avanço paraconsolidar os órgãos de defesa do consumidor, dando-lhes maior po-der coercitivo.

c) Encaminhamento à fiscalização _ não sendo obtida a concili-ação e sendo relevante a reclamação, por constituir infração adminis-trativa ou penal ou por estar lesando um número significativo de consu-midores, o Procon faz o encaminhamento dos fatos aos órgãos de fisca-lização (Inmetro, Ipem, SNVS etc.) ou ao Ministério Público, para even-tual tomada de providências em termos de ações judiciais. Poderá sersugerida, ainda, ao consumidor a via dos Juizados Especiais Cíveis, seo valor da pendência não for superior a quarenta salários mínimos.

d) Fiscalização _ os órgãos estaduais, do Distrito Federal e mu-nicipais estão autorizados a exercer a fiscalização das relações de con-sumo e das infrações praticadas contra o consumidor, nos termos doDecreto n. 2.181/97, inclusive aplicando as correspondentes sançõesadministrativas e promovendo a execução e cobrança de multas. Com oCDC e sua regulamentação, os órgãos estaduais e municipais de defesado consumidor passaram a ter, sem dúvida, maior poder fiscalizatório ede controle sobre o mercado de consumo (art. 55, § 38).

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e) Estudos e pesquisas _ deve haver um constante aperfeiçoa-mento dos Procons, em relação a estudos e pesquisas que envolvam ocomportamento do consumidor, o surgimento de nova tecnologia e arealizaçao de testes comparativos, o que poderá ser feito mediante con-vênio com entidades especializadas, como institutos e universidades.

Além dessas atividades, comuns aos órgãos de defesa do consu-midor tanto em âmbito estadual como municipal, ao Procon estadualincumbe ainda a tarefa de estimular e incentivar, técnica e financeira-mente, a criação dos órgãos municipais de defesa do consumidor, osquais, em geral, assumem a forma de Comissão, Coordenadoria, Cen-tro, Serviço, Conselho ou Setor de Defesa do Consurnidor, segundo oporte e a estrutura administrativa de cada Município, trabalho que po-derá ser estendido também na direção das associações privadas e dascooperativas de consumo.

4.3.3. As entidades civis

As entidades civis de defesa do consumidor integram, por lei, oSNDC desde a edição do CDC, por força do caput do art. 105. Desde1993, com o Decreto n. 861, já revogado, e agora, com o Decreto n.2.181, de 20-3-1997, passaram a ter definida sua forma de atuação noSistema (art. 89). Além da participação nos colegiados e da parceriacom órgãos públicos em projetos e atividades, tais entidades poderão: I_ encaminhar denúncias aos órgãos públicos de proteção e defesa doconsumidor, para as providências legais cabíveis; II _ representar oconsumidor em juízo, observando o disposto no inciso IV do art. 82 doCDC; III _ exercer outras atividades correlatas, como a prestação deassistência técnica aos consumidores. Vale lembrar que a Lei n. 9.790,de 23-3-1999, deu novo tratamento à matéria, regulamentando a quali-ficação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,comoOrganizações da Sociedade Civil de Interesse Público.

4.3.4. O Ministério Público

Também o Ministério Público tem atuação de natureza adminis-trativa ou extrajudicial na defesa do consumidor, embora não integreformalmente o SNDC. FILOMENO ressalva que esse atendimento devecingir- se a duas providências básicas: a) tentativa de resolução das quei-

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Hu naxas, após convocaçao dos interessados e desde que o teor da queixa naoevidencie crime, reduzindo-se desde logo a termo o que for acordado,para que, referendado pelo Ministério Público, tenha validade de títuloexecutivo extrajudicial nos termos do parágrafo único do art. 57 da Lein. 9.099, de 26-9-1995; e b) orientação do consumidor, na ausência deconciliação ou descumprimento do que ficara acordado, ou então casose trate de ilícito penal ou civil. Em outro trabalho, é apontado que oatendimento do Ministério Público nessas questões, ou seja, no aspectopuramente administrativo, deve dar-se por (a) orientação aos consumi-dores, (b) encaminhamento das reclamações aos órgãos de fiscalizaçãoda administração pública e (c) estudos e pesquisas'.

4.4. As práticas 'finfrativas"

No Capítulo das Práticas Comerciais o CDC enumerou as práticasabusivas, vedando-as (art. 39), enquanto no Capítulo referente à Prote-ção Contratual elencou as cláusulas abusivas, imputando-lhes nulidadede pleno direito (art. 51). Já o Decreto n. 2.181, de 20-3-1997, juntouumas e outras, denominando-as “práticas infrativas”, consoante se vêdos arts. 12 e 13. A denominação, ao meu ver, é inapropriada, pois tantoo CDC como o decreto cuidam de infração2, sendo infrator aquele queinfringe (viola, quebranta, transgride, posterga, desrespeita) e infringenteo que infringe. Logo, em lugar de “práticas infrativas” (palavra desco-nhecida, segundo Aurélio e vários outros dicionários), melhor seria aexpressão “práticas infringentes”, mais adequada para exprimir aabusividade da conduta do fomecedor. Ou até “práticas infracionais”,expressão usada no art. 227, § 3”, IV, da CF/88 e na Súmula 108 do STJ,em tema ligado a ato praticado por menor infrator.

Para possibilitar a aplicação das sanções administrativas pelos ór-gãos competentes, o Decreto n. 2.181/97 enumerou as seguintes práti-cas infringentes (“infrativas”, segundo o decreto):

\J

1. Filomeno, Defesa do consumidor _ textos básicos, 2. ed., Brasília: CNDC/MJ, 1988, p. 240.

2. “Ato ou efeito de infringir; violação de uma lei, ordem, tratado” (AurélioBuarque de Holanda Ferreira, Dicionário Aurélio século XXI, Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1999).

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Art. 12: I _ condicionar o fomecimento de produto ou serviço aofomecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa,a limites quantitativos; II _ recusar atendimento às demandas dos con-sumidores na exata medida de sua disponibilidade de estoque e, ainda,de conformidade com os usos e costumes; III _ recusar, sem motivojustificado, atendimento à demanda dos consumidores de serviços; IV_ enviar ou entregar ao consumidor qualquer produto ou fornecer qual-quer serviço, sem solicitação prévia; V _ prevalecer-se da fraqueza ouignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conheci-mento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;VI _ exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VII_ executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autoriza-ção expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas an-teriores entre as partes; VIII _ repassar informação depreciativa refe-rente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; IX_ colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço: a)em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais compe-tentes, ou, se nonnas específicas não existirem, pela ABNT _ Associ-ação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada peloConmetro _ Conselho Nacional de Metrologia, Normatização e Qua-lidade Industrial; b) que acarrete riscos à saúde ou à segurança dos con-sumidores e sem informações ostensivas e adequadas; c) em desacordocom as indicações constantes do recipiente, da embalagem, da rotulagemou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de suanatureza; d) impróprio ou inadequado ao consumo a que se destina ouque lhe diminua o valor; X_ deixar de reexaminar os serviços, quandocabível, sem custo adicional; XI _ deixar de estipular prazo para ocumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação ou variação de seuterrno inicial a seu exclusivo critério.

Art. 13: I _ ofertar produtos ou serviços sem as informações cor-retas, claras, precisas ou ostensivas em língua portuguesa, sobre suascaracterísticas, qualidade, quantidade, composição, preço, condiçõesde pagamento, juros, encargos, garantia, prazos de validade e origem,entre outros dados relevantes; II _ deixar de comunicar à autoridadecompetente a periculosidade do produto ou serviço, por ocasião do lan-çamento deles no mercado de consumo, ou no momento da verificaçãoposterior da existência do risco; III _ deixar de comunicar aos consu-midores, por meio de anúncios publicitários, a periculosidade do pro-

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duto ou serviço, por ocasião do lançamento deles no mercado de consu-mo, ou no momento da verificação posterior da existência do risco; IV_ deixar de reparar os danos causados aos consumidores por defeitosdecorrentes de projetos, fabricação, construção, montagem, manipula-ção, apresentação ou acondicionamento de seus produtos ou serviços,ou por informações insuficientes ou inadequadas sobre a sua utilizaçãoe risco; V _ deixar de empregar componentes de reposição originais,adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas dofabricante, salvo se existir autorização em contrário do consumidor; VI_ deixar de cumprir a oferta, publicitária ou não, suficientemente pre-cisa, ressalvada a incorreção retificada em tempo hábil ou exclusiva-mente atribuível ao veículo de comunicação, sem prejuízo, inclusivenessas duas hipóteses, do cumprimento forçado do anunciado ou doressarcimento de perdas e danos sofridos pelo consumidor, asseguradoo direito de regresso do anunciante contra seu segurador ou responsáveldireto; VII _ omitir, nas ofertas ou vendas eletrônicas, por telefone oureembolso postal, o nome e o endereço do fabricante ou do importadorna embalagem, na publicidade e nos impressos utilizados na transaçãocomercial; VIII _ deixar de cumprir, no caso de fomecimento de pro-dutos e serviços, o regime de preços tabelados, congelados, administra-dos, fixados ou controlados pelo Poder Público; IX _ submeter o con-sumidor inadimplente a ridículo ou a qualquer tipo de constrangimentoou ameaça; X _ impedir ou dificultar o acesso gratuito do consumidoràs informações existentes em cadastros, fichas, registro de dados pes-soais e de consumo, arquivados sobre ele, bem como sobre as respecti-vas fontes; XI _ elaborar cadastros de consumo com dados irreais ouimprecisos; XII _ manter cadastros e dados de consumidores comin-formações negativas, divergentes da proteção legal; XIII _ deixar decomunicar, por escrito, ao consumidor a abertura de cadastro, ficha,registro de dados pessoais e de consumo, quando não solicitada por ele;XIV _ deixar de corrigir, imediata e gratuitamente, a inexatidão dedados e cadastros, quando solicitado pelo consumidor; XV_ deixar decomunicar ao consumidor, no prazo de cinco dias úteis, as condiçõescadastrais por ele solicitadas; XVI _ impedir, dificultar ou negar, semjusta causa, o cumprimento das declarações constantes dos escritos: par-ticulares, recibos e pré-contratos concernentes às relações de consumo;XVII _ omitir em impressos, catálogos ou comunicações, impedir,

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dificultar ou negar a desistência contratual, no prazo de até sete dias acontar da assinatura do contrato ou do ato de recebimento do pr0dUIOOu serviço, sempre que a contratação ocorrer fora do estabelecimentocomercial, especialmente por telefone ou em domicílio; XVIII _ im-pedir, dificultar ou negar a devolução dos valores pagos, monetflrle-mente atualizados, durante o prazo de reflexão, em caso de desistenciado contrato pelo consumidor; XIX _ deixar de entregar o te1'm0 dfigarantia, devidamente preenchido com as informações previstas no pa-rágrafo único do art. 50 da Lei n. 8.078, de 1990; XX _ deixar, 6111contratos que envolvam vendas a prazo ou com cartão de credito, .deinformar por escrito ao consumidor, prévia e adequadamente, inclusivenas comunicações publicitárias, o preço do produto ou do serviço emmoeda corrente nacional, o montante dos juros de mora e da taxa efeti-va anual de juros, os acréscimos legal e contratualmente previstos, onúmero e a periodicidade das prestações e, com igual destaque, a somatotal a pagar, com ou sem financiamento; XXI _ deixar de assegurar aoferta de componentes e peças de reposição, enquanto não cessar a fa-bricação ou importação do produto, e, caso cessadas, de manter a ofertade componentes e peças de reposição por período razoável, nunca infe-rior à vida útil do produto ou serviço; XXII _ p1'0P01' OU aphcâf mdlcesou formas de reajustes alternativos, bem como fazê-lo em desacordocom aquele que seja legal ou contratualmente permitido; XXIII _ re-cusar a venda de produto ou a prestação de serviços, publicamenteofertados, diretamente a quem se dispõe a adquiri-los mediante paga-mento, ressalvados os casos regulados em leis especiais; XXIV _de1-xar de trocar o produto impróprio, inadequado, ou de valor diminuido,por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, ou de res-tituir imediatamente a quantia paga, devidamente corrigida, Oll fã-ZCYabatimento proporcional do preço, a erité1'í0 (10 C0I1S11m1d91`- -

Também constitui prática infringente a publicidade enganosa ouabusiva (CDC, art. 37, §§ 18, 29 e 39, e Dec. n. 2.181/97, art. 14, §§ 1” e 29).

As práticas infringentes são classificadas em (a) leves _ aquelasem que foram verificadas somente circunstâncias atenuantes, assimentendidas as enumeradas no art. 25, 6 (b) âmves _" aquelas em queforam verificadas circunstâncias agravantes, como tais definidas no art.26 (Dec. n. 2.181/97, art. 17, I e II).

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4.5. Sanções administrativas

Verificada a infração de norma contida em lei, abre ensejo à inci-dência da aplicação, ao infrator, das sanções administrativas, tambémprevistas e disciplinadas em diplomas legais. A legislação que regula-menta o exercício do poder de polícia do Estado, em geral, já enumeraas normas de conduta, as infrações e as sanções administrativas, desorte que o órgão fiscalizador correspondente está apto a atuar concre-tamente.

O CDC, no entanto, ampliou consideravelmente o elenco dessassanções administrativas, como se constata dos incisos I a XII do ait. 56,que vão desde a simples multa até sanções mais severas, como interdi-ção total de estabelecimento e intervenção administrativa. Assim, asinfrações das normas de defesa do consumidor previstas no Código eno Decreto n. 2.181, de 20-3-1997, ficam sujeitas à aplicação das san-ções administrativas correspondentes, sem prejuízo das sanções de na-tureza civil, penal e de outras definidas em nomias específicas (CDC,art. 56). São aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de suaatribuição, ou seja, pela repartição ou órgão a que a legislação atribuicompetência para fiscalizar e impor penalidades (CDC, art. 56, pará-grafo único), inclusive conveniados, e poderá haver cumulatividade, adizer, poderão ser impostas duas ou mais sanções simultaneamente, pelomesmo fato (p. ex., multa, apreensão de produto no mercado e proibi-ção de fabricação do produto _ CDC, art. 56, I, II e V).

São previstas no CDC as seguintes sanções administrativas: mul-ta, apreensão de produto, inutilização de produto, cassação de registrodo produto, proibição de fabricação, suspensão de fomecimento de pro-duto e serviço, suspensão temporáiia de atividade, cassação de licençado estabelecimento ou da atividade, interdição de estabelecimento, obraou atividade, intervenção administrativa e imposição de contrapropa-ganda (CDC, art. 56, I a XII, c/c Decreto n. 2.181/97, art. 18).

Iñteressante questão que se coloca na doutrina é saber se a enume-ração das sanções administrativas na normativa do consumidor é taxativaou meramente exemplificativa. Enquanto CRETELLA JR. sustenta sertaxativa, ZELMO DENARI, em posição oposta, afirma que “não se tra-ta de um numerus clausus, pois o caput do dispositivo ressalva a aplica-ção concorrente das sanções definidas em normas específicas, com-

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preendendo, naturalmente, as já existentes bem como aquelas que fo-ram instituídas no futuro”. Com razão, ao meu ver, este último autor,porquanto o caput do art. 56 ressalvou as sanções de natureza civil epenal e outras definidas em normas específicas, portanto, de naturezaadministrativa e além das que foram elencadas pelo CDC. Não há, pois,taxatividade.

Da enumeração das sanções, verifica-se serem elas de três moda-lidades: a) pecuniárias _ as multas aplicadas em razão doinadimplemento de obrigação ou dever na relação de consumo (art. 56,I); b) objetivas _ aquelas que envolvem bens e serviços colocados nomercado de consumo (incs. II a VI); e c) subjetivas _ as relativas àatividade empresarial ou estatal dos fomecedores de bens ou serviços(incs. VII a XII).

4.5.1. Multa

É a sanção pecuniária. Graduada de acordo com a gravidade dainfração, a vantagem auferida e a condição econôniica do fornecedor,será aplicada mediante procedimento administrativo nos termos da lei(CDC, art. 57, c/c art. 56, I). Será em montante nunca inferior a duzen-tos e não superior a três milhões de vezes o valor da Ufir, ou índiceequivalente que venha a substitui-lo (art. 57, parágrafo úI11C0, 00111 21redação dada pela Lei n. 8.703, de 6-9-1993), revertendo-se os valorescabíveis à União para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, ou paraos Fundos estaduais ou municipais de proteção ao consumidor nos de-mais casos.

4.5.2. Apreensão de produto ç

Providência que busca tirar do mercado produto irregular ou im-próprio para o consumo, com vício de quantidade ou qualidade ou emdesacordo com as especificaçoes ou forrnulas apresentadas.

4.5.3. Inutilização do produtoMedida que visa a impedir o consumo de produtos que, além de

impróprios, não podem ser consumidos pela população, S01? Pena de

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risco à saúde. A inutilização, no caso, impedirá o consumo, pois retira-rá e tornará inviável que o produto volte ao mercado. Por ser grave airregularidade, só a inutilização garantirá o consumidor.

4.5.4. A cassação do registro do produto

No caso de produto que necessita de registro junto a órgão admi-nistrativo competente para ser fabricado, distiibuído e comercializado,verificando-se irregularidade, como adulteração de fórmula e fraude, aadministração poderá cassar o respectivo registro, mediante o que oproduto não poderá ser produzido, distribuído, nem comercializado.

4.5.5. A proibição de fabricação do produto

Já aqui a potencialidade lesiva do produto é tão alta que a Admi-nistração simplesmente proíbe sua fabricação no território nacional,evitando futuros danos à vida e à saúde do consumidor.

4.5.6. Suspensão de fornecimento de produto ou serviço

Trata- se de paralisação temporária de fomecimento de produtosou serviços, até que se esclareça denúncia sobre fraude ou perigo para oconsumidor, evitando-se que, nesse período, tais produtos ou serviçoscontinuem a ser fornecidos, com riscos para a vida, saúde e segurançado consumidor.

4.5.7. Suspensão temporária de atividade

Na mesma linha da sanção aiiteiior, visa a paralisação temporáriade atividade industrial, comercial ou de prestação de serviço, até que seapure irregularidade que esteja afetando o consumidor.

4.5.8. Revogação de concessão ou permissão de serviços públicos

Cuida-se de impedir que os serviços públicos entregues a tercei-ros, mediante concessão ou permissão, venham a ser utilizados em de-trimento do consumidor, justificando-se a revogação sempre que tal

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aconteça, em homenagem ao direito da prestação eficaz e adequada dosServiços públicos em geral (CDC, art. 68, X). Ao que parece, o legisla-dor confundiu “permissão de uso” com “permissão de serviço públi-CQ”, institutos manifestamente distintos em Direito Administrativo, con-fusão essa desfeita no § 19 do art. 59, em que se declara que a sançãoserá aplicada à “concessionária de serviço público, quando violar obri-gação legal ou contratual”.

4.5.9. Cassação de licença do estabelecimento ou de atividade

Aplicável nos casos em que o fomecedor, que necessita de licençada administração para instalar e funcionar seu estabelecimento ou ati-vidade, desrespeita a legislação e insiste em lançar no mercado produtonocivo à saúde ou impróprio para o consumo humano, de tal sorte que acassação da licença impedirá o funcionamento do estabelecimento ou oexercício da atividade, impedindo-se com isso a continuação do fabricoou da comercialização.

4.5.10. Interdição de estabelecimento, obra ou atividade

Poderá ser total ou parcial. Trata-se de sanção mais grave que asanteriores e deverá ser aplicada no caso de insuficiência das anteceden-tes, como apreensão ou inutilização do produto, cassação de registro deproduto e cassação de licença de estabelecimento. Vem a ser a proibi-ção de funcionamento do estabelecimento, obra ou atividade que estejacausando lesão aos direitos dos consumidores, sob pena de desobediên-cia. A interdição contém um plus em relação à cassação de licença.

4.5.11. Intervenção administrativa i

Cuida-se aqui de remover a administração do estabelecimento ouatividade, em caso de lesão ao consumidor, ou da paralisação de servi-ço público essencial, sempre que as circunstâncias de fato desaconse-lharem a cassação da licença, a interdição ou suspensão da atividade(CDC, art. 59, § 29). Seu objetivo é restabelecer a prestação de serviçopúblico essencial ao consumidor, como transporte, escola e hospital, ourestaurar os direitos do consumidor, sem impedir o funcionamento doestabelecimento ou atividade, mas afastando os dirigentes recalcitrantes.

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4.5.12. Imposição de contrapropaganda

Trata- se de sanção específica para as hipóteses de propaganda en-ganosa ou abusiva. É a divulgação, a expensas do infrator, de mensa-gem da mesma forina, freqüência e dimensão e, preferencialmente, nomesmo veículo, local, espaço e horário, de fonna capaz a desfazer omalefício da publicidade enganosa ou abusiva (CDC, art. 56, XII, c/cart. 60, caput e § 19). É o desmentido, o reconhecimento de que o pro-duto não possui as qualidades e virtudes anunciadas em peça publicitá-ria. Evita-se, assim, que o consumidor, influenciado pela publicidadeenganosa, venha a adquirir produtos ou serviços em desacordo com suavontade, iludido quanto às reais potencialidades deles.

4.6. A fiscalização e a aplicação das sanções administrativas

A fiscalização das relações de consumo é exercida em todo o ter-ritóiio nacional pelo DPDC, pelos órgãos federais integrantes do SNDC,pelos órgãos conveniados com a SDE _ Secretaria de Direito Econô-mico e pelos órgãos de defesa do consumidor estaduais, do DistritoFederal e municipais, nas respectivas áreas de atuação e competência(Dec. n. 2.181/97, arts. 59 e 99).

Alguns pontos devem ser analisados:1) a fiscalização é atribuída primordialmente ao DPDC e aos ór-

gãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais de defesa doconsumidor;

øu nu2) outros órgaos, que nao os de defesa do consumidor, tambémpoderão exercer a fiscalização das relações de consumo, por competên-cia própria (art. 79) ou mediante convênio com a SDE (arts. 99 e 10);

3) as entidades civis de defesa do consumidor, por não constituí-rem órgãos estatais, não são admitidas à fiscalização, podendo, no en-tanto, encaminhar denúncias aos órgãos públicos (art. 89, I, c/c art. 99);

4) a fiscalização será feita por agentes fiscais, oficialmente desig-nados, vinculados aos respectivos órgãos de defesa do consumidor edevidaniente credenciados ou identificados (art. 10);

5) a fiscalização poderá ser delegada, mediante convênio, a órgãosdiversos daqueles que detêm a competência específica;

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6) os órgãos de defesa do consumidor da União, Estados, DistritoFederal e municípios poderão celebrar compromisso de ajustamento deconduta às exigências legais, na órbita de suas respectivas competênci-as (ra. óg. §§ 12. 22. as fz 42).

As sanções administrativas são aplicadas e cobradas ou executa-das pela própria Administração, em procedimento administrativo pró-prio, resguardado o direito de defesa do infrator. Revestem-se, assim,de grande significado na defesa do consumidor, pois têm a função deeducar o fomecedor, inibindo condutas desonestas e abusivas e repri-mindo os atos fraudulentos. Diz, com razão, o festejado e saudoso Prof.HELY LOPES MEIRELLES, que “o poder de polícia seria inane eineficiente se não fosse coercitivo e não estivesse aparelhado de san-ções para os casos de desobediência à ordem legal da autoridade com-petente”3. E prossegue: “Estas sanções, em virtude do princípio da auto-executoiiedade do ato de polícia, são impostas e executadas pela pró-pria Administração em procedimentos administrativos compatíveis comas exigências do interesse público. O que se requer é a legalidade dasanção e a sua proporcionalidade à infração cometida ou ao dano que aatividade causa à coletividade ou ao próprio Estado. As sanções do po-der de polícia são aplicáveis aos atos ou condutas individuais que, em-bora não constituam ciime, sejam inconvenientes ou nocivas à coletivi-dade, como previstas na norma legal”4.

Assim, a inobservância das nonnas contidas no CDC e das demaisnormas de defesa do consumidor constitui prática infringente (ouinfrativa, segundo o decreto) e sujeitará o fornecedor à aplicação dassanções ou penalidades administrativas, que poderão ser aplicadas iso-lada ou cumulativamente, inclusive de forina cautelar, antecedente ouincidente no processo administrativo, sem prejuízo das de natureza ci-vil, penal e das definidas em nonnas específicas (CDC, art. 56, caput eparágrafo único c/c Dec. n. 2.181/97, arts. 18 e s.).

O decreto regulamentador trouxe importantes novidades no cain-po da aplicação das sanções administrativas:

3. Direito administrativo brasileiro, 10. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais,l984,p.100.

4. Idem, p. 100-101.

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a) definiu as práticas infringentes sujeitas a multa (dec. cit., arts.19 a 22), constituindo-se este um dos pontos altos da regulamentação e,ao mesmo tempo, uma resposta aos reclamos da doutrina, já que o CDCnão se ocupou dessa matéria;

b) estabeleceu a responsabilidade solidária para todos os partici-pantes das práticas infiingentes (ou infrativas), respondendo por elasquem por ação ou omissão llie der causa, concorrer para sua prática oudela se beneficiar (dec. cit., art. 18, § 19);

c) todas as penalidades previstas no CDC e no Decreto n. 2.181/97serão aplicadas pelos órgãos oficiais integrantes do SNDC, sem prejuí-zo das atribuições do órgão normativo ou regulador da atividade, sendoque as penalidades objetivas e subjetivas constantes dos incisos III a XIdo CDC e do referido decreto poderão ser aplicadas por órgãofiscalizador do SNDC, mas ficarão sujeitas a posterior confirmação peloórgão normativo ou regulador da atividade, nos limites de sua compe-tência (dec. cit., art. 18, §§ 29 e 39).

4.6.1. A aplicação da multa

O Decreto n. 2.181/97, como visto, defiiiiu expressamente as hipó-teses em que será aplicada a penalidade de multa, de sorte que os agentesfiscalizadores tiveram seu traballio facilitado e os infratores passaram ater conhecimento da correspondência entre sua conduta e a penalidade aser aplicada. Nesse aspecto, a regulamentação prestou grande serviço àdefesa do consumidor, pois permitiu a sua efetiva iinplementação, noaspecto administrativo, pelos órgãos oficiais fiscalizadores.

O CDC cuidou muito superficialmente da sanção de multa, dis-pondo apenas sobre a sua gradação, a destinação da sua arrecadação eos seus limites mínimo e máximo (art. 57, caput e parágrafo único).

Jáuo Decreto n. 2.181/97, a seu tumo, foi pródigo na regulainenta-ção, dedicando-lhe nada menos que treze artigos, alguns deles extensos.

al Hipóteses de incidêncianvA sançao de multa será aplicada às seguintes práticas infringentes

ou abusivas:

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a) à pessoa física ou jurídica que fizer ou promover publicidadeenganosa ou abusiva _ dec. cit., art. 19, caput;

b) ao fornecedor que deixar de organizar ou negar aos legítimosinteressados os dados físicos, técnicos e científicos que dão sustentaçãoà mensagem publicitária _ art. 19, parágrafo único, a;

c) ao fomecedor que veicular publicidade de forma que o consu-midor não possa, fácil ou imediatamente, identificá-la como tal _ art.19, parágrafo único, b;

d) aos órgãos públicos que, por si ou suas empresas concessioná-rias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento,deixarem de fomecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quantoaos essenciais, contínuos _ art. 20;

e) ao fomecedor de produtos ou serviços que, direta ou indiretamen-te, inserir, fizer circular ou utilizar-se de cláusula abusiva, qualquer queseja a modalidade do contrato de consumo, inclusive nas operações securi-tárias, bancárias, de crédito direto ao consumidor, depósito, poupança,mútuo ou fmanciaiiiento _ art. 22, caput _ e especialmente quando:

I _ impossibilitar, exonerar ou atenuar a responsabilidade do for-necedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ouimplicar renúncia ou disposição de direito do consumidor;

Il _ deixar de reembolsar ao consumidor a quantia já paga, noscasos previstos na Lei n. 8.078, de 1990;

III _ transferir responsabilidades a terceiros;IV _ estabelecer obrigações consideradas iníquas ou abusivas,

que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, incompatí-veis com a boa-fé ou a eqüidade; .

V _ estabelecer inversão do ônus da prova em prejuízo do consu-rnidor;

VI _ deterininar a utilização compulsória de arbitragem; 'VII _ impuser representante para concluir ou realizar outro negó-

cio pelo consumidor;VIII _ deixar ao fomecedor a opção de concluir ou não o contra-

to, embora obiigando o consumidor;IX _ permitir ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação

unilateral de preço, juros, encargos, fonna de pagamento ou atualiza-nuçao monetária;

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X _ autorizar o fomecedor a cancelar o contrato unilateralmente,sem que igual direito seja conferido ao consumidor, ou permitir, nos con-tratos de longa duração ou de trato sucessivo, o cancelamento sem justa

.nu nucausa e motivaçao, mesmo que dada ao consumidor a mesma opçao;XI_ obrigar o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua

obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fomecedor;XII _ autorizar o fornecedor a modificar unilateralmente o con-

teúdo ou a qualidade do contrato após sua celebração;XIII -infringir normas ambientais ou possibilitar sua violação;XIV _ possibilitar a renúncia ao direito de indenização por

benfeitorias necessárias;XV _ restringir direitos ou obrigações fundamentais à natureza

do contrato, de tal modo a ameaçar o seu objeto ou o equilíbrio contratual;XVI _ onerar excessivamente o consumidor, considerando-se a

natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras cir-cunstâncias peculiares à espécie;

XVII _ determinar, nos contratos de compra e venda mediantepagamento em prestações, ou nas alienações fiduciárias em garantia, aperda total das prestações pagas, em benefício do credor que, em razãodo inadimplemento, pleitear a resilição do contrato e a retomada doproduto alienado, ressalvada a cobrança judicial de perdas e danoscomprovadamente sofridos;

XVIII _ anunciar, oferecer ou estipular pagamento em moedaestrangeira, salvo nos casos previstos em lei;

XIX _ cobrar multas de mora superiores a 2%, decorrentes doinadimplemento de obrigação no seu termo, conforme o disposto no§ 19 do art. 52 da Lei n. 8.078, de 1990, com a redação dada pela Lei n.9.298, de 19-8-1996;

XX _ impedir, dificultar ou negar ao consumidor a liquidaçãoantecipada de débito, total ou parcialmente, mediante redução propor-cional dos juros, encargos e demais acréscimos, inclusive seguro;

XXI _ fizer constar do contrato alguma das cláusulas abusivas aque se refere o art. 56 do Decreto n. 2.181/97;

XXII _ elaborar contrato, inclusive o de adesão, sem utilizar ter-mos claros, caracteres ostensivos elegíveis, que permitam sua imediatae fácil compreensão, destacando-se as cláusulas que impliquem obriga-

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ção ou limitação dos direitos contratuais do consumidor, inclusive coma utilização de tipos de letra e cores diferenciados, entre outros recursosgráficos e visuais;

XXIII _ que impeça a troca de produto impróprio, inadequado, oude valor diminuído, por outro da mesma espécie, em perfeitas condiçõesde uso, ou a restituição imediata da quantia paga, devidamente corrigida,ou fazer abatimento proporcional do preço, a critério do consumidor.

li/ GradaçãoA sanção de multa será graduada _ diz o art. 28 do Decreto n.

2.181/97 _ levando-se em conta os seguintes fatores:a) A gravidade da infração _ quanto mais grave a infração, maior

a multa. Infração grave é aquela em que foram verificadas circunstân-cias agravantes (dec. cit., art. 17, c/c art. 26, I a IV).

b) A extensão do dano causado aos consumidores _ quanto maisextenso o dano, maior a multa. Dano extenso é o que atinge grandenúmero de consumidores, na mesma ou em diversas localidades ou re-giões, afetando economicamente as vítimas.

c) A vantagem auferida pelofornecedor com a infração _ ou seja,quanto maior o proveito econômico resultante da infração, maior sera ovalor da multa.

d) A condição econômica do fomecedor _ a dizer, quanto maisrico o fornecedor, maior a pena pecuniária. Sustenta CRETELLA JR.ser manifestamente inconstitucional esse critério, por ofensa ao princí-pio constitucional da igualdade perante a lei, patente a discriminaçãooperada no texto legal5. Entendo inocorrente a inconstitucionalidade.Socorro-me do Código Penal, que possui disposição similar: na fixaçãoda pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econô-mica do réu, podendo aumentá-la até o triplo, se considerar que, emvirtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada nomáximo (CP, art. 60, caput e parágrafo único). Tal como na pena admi-nistrativa de multa, não busca o legislador discriminar pessoas segundoa fortuna, mas garantir a efetividade da apenação.

5. Comentários ao CDC, Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 191.

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cl Limites

Nos termos do parágrafo único do art. 57 do CDC, com a redaçãodada pela Lei n. 8.703, de 6-9-1993, a multa será em montante nãoinferior a duzentos e não superior a três milhões de vezes o valor daUfir, ou índice equivalente que venha a substituí-lo. Houve alteraçãoem relação ao texto original do CDC, que previa os limites em Bônusdo Tesouro Nacional (BTN), passando a usar a Ufir, e o limite mínimofoi alterado de trezentas para duzentas vezes o valor da Ufir.

dj Cumu/ação

Como regra, as sanções administrativas podem ser aplicadas cu-mulativamente, inclusive de forina cautelar, antecedente ou incidenteno processo administrativo, e sem prejuízo das de natureza civil, penale dasdefinidas em nonnas específicas (CDC, art. 56, parágrafo único,c/c Dec. n. 2.181/97, art. 18, caput).

O decreto regulamentador cuidou da cumulação da sanção de multacom as demais previstas no art. 18 e estabeleceu dois parâmetros a se-rem observados pelos administradores:

a) em caso de publicidade enganosa ou abusiva, independentementeda gravidade da infração, é impositiva a cumulação da sanção de multacom outra ou outras daquelas previstas em lei: ficará sujeita à penade multa, cumulada com...” (dec. cit., art. 19);

b) nos demais casos, ou seja, nas infrações capituladas nos arts. 12e 13 _ excluída, portanto, a publicidade enganosa ou abusiva _, acumulação é facultativa, a dizer, poderá ser aplicada, dependendo desua gravidade (dec. cit., art. 22, parágrafo único).

Como visto, intencionalmente ou não, tratamento diverso foi dadoa duas categorias de infrações.

el Destinação

A multa administrativa reverterá para o Fundo pertinente ã pessoajurídica de direito público que impuser a sanção (CDC, art. 57, caput,c/c dec. cit., art. 29).

Assim, as multas aplicadas pelos órgãos federais serão arrecada-das pela União e revertidas para o FDD _ Fundo de Defesa dos Direi-

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ms Difusos de que tratam a Lei n. 7.347, de 1985, e a Lei n. 9.008, de21-3-1995. As multas aplicadas pelos Estados serão arrecadadas aosseus cofres, em favor dos respectivos Fundos estaduais. Da mesma for-ma, as multas arrecadadas pelos municípios reverterão para seus respecti-vos Fundos, se existentes. Mas, se inexistirem Fundos municipais, osrecursos serão depositados no Fundo do respectivo Estado e, faltandoeste, no Fundo federal (Decreto n. 2.181/97, art. 29, parágrafo único).

A adequada distribuição da multa, segundo a esfera de governoque exerceu a fiscalização, aplicou a sanção e arrecadou os recursos,fez com que cessassem as críticas opostas ao decreto regulamentadoranterior (n. 861), quanto à sua ilegalidade e inconstitucionalidade.

As multas arrecadadas _ estabelece o art. 30 _ serão destinadasao financiainento de projetos relacionados com os objetivos da PolíticaNacional de Relações de Consumo, com a reconstituição dos bens lesa-dos, ã defesa dos direitos básicos do consumidor e à modernização ad-ministrativa dos órgãos públicos de defesa do consumidor, após apro-vação pelo respectivo Conselho Gestor, em cada unidade federativa.

O objetivo da destinação dos recursos provenientes das multasadministrativas é, pois, a melhoria das relações de consumo e da situa-ção do consumidor. Tais recursos, se federais, poderão ser usados paraprojetos especiais de órgãos de entidades federais, estaduais e munici-pais de defesa do consumidor, mediante aprovação pelo Conselho Fe-derei Geetez- de FDD (Lei e. 9.008/95, en. 12, § 39» C/C Dec. n. 2.181/97.art. 31, parágrafo único).

4.6.2. A aplicação das demais sanções

As demais sanções enumeradas no CDC, art. 56, e no Decreto2.181/97, art. 18, também serão aplicadas pela autoridade administrati-va, no âmbito de sua atribuição, mediante procedimento admimstrati-vo, assegurada ampla defesa.

As sanções elencadas nos incisos II, III, IV, VI e VIII do 2111. 56do CDC e do art. 18 do Decreto n. 2.181/97 serao aplicadas quandoforem constados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequaçaoou insegurança do produto ou serviço (CDC, art. 58)-

Já as sanções previstas nos incisos VII, IX, X e XIâerao aplicadas- - - f ° ' "' aior ravi-quando o fomecedor reincidir na pratica das infraçoes e m g

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dade constantes do CDC e da legislação de consumo (CDC, art. 59),sendo que a intervenção administrativa (inc. XI), ademais, será aplica-da sempre que as circunstâncias de fato desaconselharem a cassação delicença, a interdição ou suspensão da atividade (CDC, art. 59, § 29).

Quanto à pena de cassação da concessão, será aplicada à concessi-onária de serviço público, quando violar obrigação legal ou contratual(CDC, art. 59, § 19).

No que se refere à sanção de apreensão de produto (inc. II), oDecreto n. 2.181/97 ainda complementou o disposto no art. 58 do CDC,para dizer que terá lugar quando os produtos forem comercializados emdesacordo com as especificações técnicas estabelecidas em legislaçãoprópria, no CDC e no decreto regulainentador (art. 21). A critério daautoridade, o gerente ou o proprietário poderá ser nomeado depositáriofiel dos bens apreendidos, dos quais a autoridade fiscalizadora retiraráapenas a quantidade necessária à realização de análise pericial, nãopodendo incidir sobre quantidade superior (dec. cit., art. 21, §§ 19 e 29).

A sanção de contrapropaganda é aplicada pela própria Adminis-tração, quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade engano-sa ou abusiva (CDC, art. 60, caput e § 19, c/c art. 36 e seus parágrafos).

4.6.3. As circunstâncias atenuantes e agravantes

As circunstâncias atenuantes e agravantes influem na imposiçãodas sanções administrativas e na sua gradação, como informa o art. 24do decreto regulamentador combinado com o art. 28.

Tal como na lei penal, o decreto cuida de enumerar tanto umasquanto outras. Assim, consideram-se circunstâncias atenuantes: I _ aação do infrator não ter sido fundamental para a consecução do fato;II _ ser o infrator primário; III _ ter o infrator adotado as providên-cias pertinentes para minimizar ou de imediato reparar os efeitos do atolesivo.

São consideradas circunstâncias agravantes: I_ ser o infrator rein-cidente; II _ ter o infrator, comprovadamente, cometido a práticainfrativa para obter vantagens indevidas; III _ trazer a prática infrativaconseqüências danosas à saúde ou à segurança do consumidor; IV _deixar o infrator, tendo conhecimento do ato lesivo, de tomar as provi-dências para evitar ou mitigar suas conseqüências.

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4.6.4. A reincidência e seus efeitos

A reincidência, além de circunstância agravante, influi na imposi-ção da sanção e na sua gradação (dec. cit., arts. 24, I e II, e 26, I).

É definida pelo decreto regulamentador como a repetição de práti-ca infrativa, de qualquer natureza, às normas de defesa do consumidor,punida por decisão administrativa irrecorrível (art. 27), aproveitando olegislador a definição da lei penal, adaptada, porem, a esfera adimnis-trativa.

Não prevalece a sanção anterior, para efeito de reincidência, seentre a data da decisão administrativa definitiva e aquela da prática pos-terior houver decorrido período superior a cinco anos (dec. cit., art. 27,parágrafo único).

Para sua caracterização, é mister seja irrecorrivel a decisao admi-. - cc "'

nistrativa relativa à sanção anterior. Por isso mesmo, pendendo açaojudicial na qual se discuta a imposição de penalidade adniinistratlvâ,não haverá reincidência até o trânsito el'l1JU18ad9 da Sfifltença (CD =art. 59, § 39).

4.6.5. O processo administrativo

Em vinte e dois artigos o Decreto n. 2.181/97 cuidou de regula-mentar o processo administrativo para a apuraçao das praticasinfringentes (ou infrativas) às normas de defesa do consumidor e a apli-cação das sanções correspondentes.

Trata-se _ é bem de ver _ de iniciativa louvável, que facilita aatuação dos órgãos e entidades de defesa do consumidor, disciplinan-do-a e uniforinizando-a, bem como permite transparencia no relacâona-

- ~ ~ - - or.mento entre Administraçao, administrado, fornecedor e consumiO processo administrativo terá início mediante ato, por escrito, da

autoridade competente, lavratura de auto de infração e reclamaçao (aft-. . ~ - ° t33), seguindo-se a notificaçao do infrator para., em dez diasš flpfãseídefesa (art. 42). Em seguida, sera instruido e julgado nafles eäa distra-buição do órgão que o tiver instaurado (art. 43). A decisaot alênlal e setiva conterá relatório dos fatos, o respectivo enquadramfill 0 8 -›condenatória a natureza e a gradação da pena (P111 46)- Julgado O pm'” , - - 1h multa,cesso, se procedente, sera o infrator notificado para ICCO ef 3

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em dez dias, ou apresentar recurso (art. 46, § 29). Das decisões adminis-trativas caberá recurso, em dez dias, a superior hierárquico, que profe-rirá decisão definitiva (art. 49). Em caso de não-pagainento da multa,será o débito inscrito em dívida ativa do órgão que houver aplicado asanção, para subseqüente cobrança executiva (art. 55).

Após a edição do Decreto n. 2.181/97 veio a lume a Lei n. 9.784,de 29-1-1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Ad-ministração Pública Federal. E curial que, por força do princípio dahierarquia das leis, prevalecerá esta sobre o decreto naquilo que foremincompatíveis. Alguns pontos são coincidentes, como o prazo para re-curso (Lei n. 9.784, art. 59, e Dec. n. 2.181, art. 49), mas em outrosobserva-se divergência, como no efeito suspensivo para os recursos emcaso de aplicação de multas (dec. cit., art. 49, parágrafo único) nãoprevisto pela Lei n. 9.784, segundo a qual, “salvo disposição legal emcontrário, o recurso não tem efeito suspensivo” (art. 61), rigor que émitigado a critério da autoridade (art. 61, parágrafo único). Também seobserva divergência na legitimidade para o processo em favor das orga-nizações e associações representativas no tocante a direitos e interessescoletivos e das pessoas ou associações legalmente constituídas quantoa direitos ou interesses difusos (Lei n. 9.784, art. 99, Ile III), inclusivepara interpor recurso administrativo (lei cit., art. 58, III), situações nãoprevistas no decreto regulamentador, pelo que, quanto a elas, deve pre-valecer o texto legal.

Melhor seria, para o Poder Executivo, rever o Decreto n. 2.181/97na parte referente ao processo administrativo (Cap. V) e adequá-lo aotexto da lei de regência da matéria.

4.7. D FDD - Fundo de Defesa dos Direitos Difusos e seuConselho GestorNauação civil pública, quando se trata de interesses difusos ou co-

letivos, havendo condenação em dinheiro _ reza o art. 13 da Lei n.7.347/85 _, “a indenização pelo dano causado reverterá a um fundogerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de queparticiparão necessariamente o Ministério Público e representantes dacomunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos benslesados”.

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A esse fundo também serão recolhidas, dentre outras parcelastzibelecidas em lei a multa administrativa e a indenização previstasS 9

Í/105 arts. 57 e 100 do CDC, respectivamente.O FDD, criado pela Lei n. 7.347, de 24-7-1985, e referido na Lei

n 9.008, de 21-3-1995, regulamentado inicialmente pelo Decreto n.467 de 27-12-1991, 1-evegeâe peie de n. 1.306, de 9-11-1994, emai-

lt vi ente tem por finalidade a reparação dos danos causados aome? e Êienté ao consumidor a bens e direitos de valor artístico, esté-ililçf/d0li1iÊiófico,,turístico, paisagístico, por infração à ordem econômicae a ôutros interesses difusos e coletivos.

O FDD é gerido pelo CFDD _ Conselho Federal Gestor do Fun-do de Defesa dos Direitos Difusos, criado pela Lei n. 9.008, de 926-3-1995, na estrutura organizacional do Ministério da Justiça (art. 1 ).

Integrain o CFDD' “I _ um representante da SDE do Ministério. - - z. ` ` t' ` doda Justiça, que o presidira, II _ um representante do l\/Iiniti e1i"(i)oMi_

Meio Ambiente e da Amazonia Legal; III _ um repreíen. anda Saúdenistério da Cultura; IV _ um representante do Minis erio .,vinculado à área de vigilância sanitária; V _ um representante do Mi-. , . , ` ' t ti-nisterio da Fazenda, VI _ um representante do Conselho Adminis .ravo de Defesa Econômica _ CADE; VII _ um representante do Minis-tério Público Federal' VIII _ três representantes de entidades civis que” - 9 ° . 7.347, deatendam aos pressupostos dos incs. I e II do art. 5 da Lei n1995” (art. 29). . nv

sâe etúbeiçõee de ci=DDz “i _ zeiei pela ap1;<Í79Í19 igëšfiëušššsna consecução dos objetivos previstos nas Leis ns. 7. , 6 A , _- ‹›de 1989 7 913 de 1989 s 078 de 1990. 9 8.884. de 1994» HO amb1*° 9°_ ” ` ' 9 , -. ___ ^niosdisposto no § 19, do art. 1 , desta Lei, II aprovarl É fi1:[111ÊIIÍ;J0(1;1.VÍII _e contratos objetivando atender ao disposto no incl; ef 6 doš i;1c1uSí_examinar e aprovar projetos de reconstituiçao de ens esa , _ deve os de caráter científico e de pesquisa; IV _ Over»P0f mewórgãos da administração pública e de entidades civis interessadasl, ivi?-. « z . ' ' ` co a o -tos educativos ou cientificos, _ fazer ed1tãf,¿UC1U51Vetš11ëS mencioflção com órgãos oficiais, material infqrmativo so re als mâades e eventosnadas no § 19, do art. 19, desta Lei; V _ promover a ivi '. ‹ ~ ” meio am-que contribuam para a difiisao da cultura, dadprotçlçiílrçôääo históricobiente, do consumidor, da livre concorrencia, t0 Pfâmeresses difusoséartístico, estético, turistico, paisagistico e de ou IOS

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C0_le_tivos; VII _ examinar e aprovar os projetos de modernização ad-ministrativa a que se refere o § 39, do art. 19, desta Lei” (am 3e)_

Como a Lei n. 9.008, de 21-3-1995, repete praticamente o teor doDecreto n. 1.306, de 9-1 1- 1994, entendo que foi este recepcionado pelaHOW 01116111 168211, com a curiosa ressalva de que o decreto regulamenta-dor antecedeu a lei.

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Capitulo 5TUTELA PENAL

Sumário: 5 . 1. Introdução ao tema. 5.2. A tutela penal no CDC.5.2.1. A criminalização de condutas. 5.2.2. Análise sucinta dos ti-pos penais do CDC. 5.2.2. 1. Omissão sobre nocividade oupericulosidade (art. 63). 5.2.2.2. Omissão de comunicação e de re-tirada do mercado (art. 64). 5.2.2.3. Execução de serviços altamen-te perigosos (art. 65). 5.2.2.4. Fraude em oferta (art. 66). 5.2.2.5.Publicidade enganosa ou abusiva (art. 67). 5.2.2.6. Publicidade pre-judicial ou perigosa (art. 68). 5.2.2.7. Omissão na organização dedados (art. 69). 5.2.2.8. Emprego não autorizado de componentesusados (art. 70). 5.2.2.9. Cobrança vexatória de dívidas (art. 71).5.2.2.l0. Impedimento de acesso a informações cadastrais (art. 72).5.2.2.11. Omissão na correção de dados inexatos (art. 73). 5.2.2. 12.Omissão na entrega do terino de garantia (art. 74). 5.2.3. A aplica-ção das penas. 5.2.4. A tutela penal fora do CDC. 5.2.5. Os JuizadosEspeciais Criminais.

5.1. Introdução ao tema

Pelo menos no campo da tutela penal a defesa do consumidor an-tecedeu em muito ao regime codificado. Já em 1933, o Decreto-Lei n.22.626 punia a usura pecuniária. O Código Penal, de 1940, vigente apartir de 1942, contém onze tipos penais, que se relacionam com a pro-teção do consumidor. Pouco tempo depois, era editada a Lei n. 1.521,de 26-12-1951, que define os crimes e contravenções contra a econo-

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mia popular. De lá para cá, várias outras leis agregaram novos tipos deproteção ao consumidor, ainda que de forma indireta. Mas só em 1990,com a sanção e publicação do CDC _ Código de Defesa do Consumi-dor, é que se chegou a uma definição mais especifica das condutas pe-nalmente tipificadas praticadas contra o consumidor e as relações deconsumo, em detrimento de seus direitos enumerados na parte inicialdo mesmo Código. Veja-se, a propósito, que o Código do Consumidor,art. 61, afirma constituírem crimes contra as relações de consumo osdescritos nos arts. 63 a 74, mais aqueles elencados no Código Penal eleis especiais.

A importância da tutela penal reside no fato de outorgar maiorefetividade à defesa do consumidor, inibindo procedimentos reprováveisdos infratores e depurando o mercado fomecedor, além, é lógico, de pu-nir criminalmente, com detenção, multa ou restrição de direitos (CDC,art. 78), aqueles que se dedicam a desrespeitar os direitos dos consumi-dores, legahnente estabelecidos, praticando as condutas sancionadas.

Cremos ser interessante, nesse passo, para maior abrangência eaprofundamento do trabalho, o estudo das várias etapas da tutela penal.

5.2. A tutela penal no CDC

5.2.1. A criminalização de condutas

À época da tramitação do Anteprojeto e do Projeto de Lei do Có-digo do Consumidor sustentou-se a não-criminalização de condutas, aoargumento de que as demais penalidades previstas (punição adminis-trativa e ressarcimento civil) seriam suficientes à repressão. O Con-gresso Nacional, no entanto, assim não entendeu e preferiu incluir tam-bém a tipificação penal. Com isso, sem dúvida, o legislador reconheceser ela necessária à completa proteção do consumidor e outorgandomaior efetividade à legislação protetiva. De todo modo, restou supera-da a discussão doutrinária em torno do tema, em face da sanção e pro-mulgação do Estatuto do Consumidor.

O legislador optou por criminalizar doze condutas contra o consunii-dor, em correspondência com o desrespeito aos seus direitos, abrangendoas áreas de nocividade e periculosidade de produtos e serviços, fraude emoferta, publicidade enganosa e abusiva, fraudes e práticas abusivas.

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O bem tutelado, nas infrações penais relativas às relaçõesode con-sumo, são os direitos básicos do consumidor, enunciados genericamen-te no art. 69 da lei de proteção e corporificados nos capítulos seguintes,relativos ã qualidade de produtos e serviços, prevenção e reparação dedanos (Cap. VI). Assim, p. ex., ao descumprimento da obrigaçao dapublicidade escorreita (art. 31) corresponde a tutela penal da publicida-de enganosa (art. 67); ao descumprimento da obrigação de manter dadosfáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem publicita-1-ia (parágrafo único do art. 36) corresponde a figura penal do ait. 69.

As condutas delituosas do sistema codificado constituem crimes deperigo, ou seja, não se exige para a sua caracterização, nem eelementoconstitutivo do delito, a ocorrência de efetivo dano ao consumidor.

É bom lembrar que, sendo o Código do Consumidor leioespecial,suas disposições prevalecerão sobre aquelas contidas no Código Penale legislação extravagante, por força do princípio da especialidade. Valea observação de PAULO JOSÉ DA COSTA JR. de que, “in concreto, anonna especial, dotada de um maior número de requisitos que a normageral (todos os seus e um quid pluris), é a única aplicável à espécieconcreta”, prevalecendo, na disputa, a norma especiall.

5.2.2. Análise sucinta dos tipos penais do CDC

5.2.2. /. Omissão sobre nocividade ou periculosidade /art. 63/

Objeto jurídico: os direitos do consumidor de (a) proteção da Vida,saúde e segurança contra os riscos provocados no fomeciinento de produ-tos (ait. 63, caput) ou seiviços (§ 19) perigosos ou nocivos, bem como de(b) informação adequada e clara sobre os riscos que tais produtos ou servi-ços apresentam (ait. 69, I e III), corporificados nas nomias dos arts. .99 e 31.

Sujeito ativo: qualquer fomecedor que tenha o dever de informarnas embalagens, nos invólucros, nos recipientes e por meio de publici-dade sobre a nocividade ou periculosidade de produtos (art. 63, caput)ou sobre a periculosidade do serviço a ser prestado (§ 19).

.MM-_

1. Comentários ao Código de Proteção Jurídica do Consumidor, SÊÍ0 P3U10¡Revista dos Tribunais, 1991, p. 219.

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Sujeito passivo: o consumidor difusamente considerado. Em ou-tras palavras, a “coletividade de consumidores”.

Tipo objetivo: trata-se de crime omissivo puro. Pune-se a omissãode dizeres ou sinais ostensivos por aquele que tem o dever legal deinformar sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, bem comoa omissão de alertar sobre a periculosidade do serviço.

Tipo subjetivo: é o dolo, que consiste na vontade livre e consciente depraticar a omissão. Apesar de prevista na lei, é discutível a admissão damodalidade culposa (art. 63, § 29), por se tratar de crime omissivo puro.

Consumação: com a divulgação, a entrega, ao comércio ou ao con-sumidor, de produto ou serviço sem a inserção nas embalagens, invólu-cros, recipientes ou publicidade de informações adequadas sobre anocividade ou periculosidade de produtos, ou sem aleitar, em recomen-dações escritas e ostensivas, no caso da periculosidade do seiviço. Nãose admite a tentativa.

5.2.2.2. 0missão de comunicação e de retirado do mercado /art. 64)

Objetojurídico: os direitos do consumidor de proteção à vida, saúdee segurança e de informação adequada sobre os riscos que produtos eserviços apresentem (art. 69, I e II), corporificados no art. 10, caput eseu § 19, caracterizando-se a infração pela infringência do dever legalde comunicação às autoridades competentes acerca de nocividade oupericulosidade superveniente à colocação de produto no mercado e dodever de retirá-lo do mercado imediatamente, quando determinado pelaautoridade competente.

Sujeito ativo: qualquer fomecedor que tenha conhecimento denocividade ou periculosidade superveniente à colocação de produto nomercado e que (a) deixa de comunicar o fato à autoridade competenteou que, (b) instado por esta, deixa de fazê-lo imediatamente (art. 64,parágrafo único).

Sujeito passivo: o consumidor difusamente considerado. Ou “acoletividade de consumidores potencialmente afetada”.

Tipo objetivo: o tipo penal contempla duas formas de conduta: aomissão de comunicação à autoridade competente e aos consumidoresacerca da nocividade ou periculosidade (caput) e a omissão de retirada

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imediata de produto nocivo ou perigoso já colocado no mercado, quan-do determinado pela autoridade competente (parágrafo único).

Tipo subjetivo: o dolo consistente na vontade livre e consciente depraticar a omissão. Não há modalidade culposa.

Consumação: a) com o conhecimento de nocividade ou periculo-sidade supervenientes e a ausência de comunicação do fato ã autorida-de competente e aos consumidores (caput): b) com a negativa de retira-da imediata de produto nocivo ou perigoso já colocado no mercado,quando determinado pela autoridade competente (parágrafo único). Nãose admite tentativa.

5.2.2.3. Execução de serviços a/tamento perigosos /art. 65/

Objeto juridico: o direito do consumidor de proteção de sua vida,saúde e segurança (art. 69, I), no sentido de que os serviços que lhe saoprestados, principalmente os de alto grau de periculosidade, devem obe-decer nonnas, regulamentos e padrões expedidos pelo Poder Público.

Sujeito ativo: qualquer fornecedor-prestador que contrarie deter-minação de autoridade competente ao executar serviço de alto grau depericulosidade.

Sujeito passivo: o consumidor difusamente considerado e o ex-posto ao serviço altamente perigoso, bem como a Administraçao Publi-ca, em face do descumprimento das normas por ela baixadas.

Tipo objetivo: a realização do tipo penal requer a prática de duascondutas conjuntas, a saber, executar serviço altamente perigoso e con-trariar determinação de autoridade competente. Trata-se de norma pe-nal em branco, que deve ser complementada por regulamentação acer-ca da execução de serviços altamente perigosos.

Tipo subjetivo: o dolo, que consiste na vontade livre e conscientede executar serviço altamente perigoso, ciente de estar contrariandodetemiinação de autoridade competente. Não há a modalidade culposa.

Consumação: com o início da execução do serviço altamente peri-goso, independentemente de resultado lesivo ao consumidor. Se ocor-rer morte ou lesão corporal de consumidor, há concurso de crimes (pa-rágrafo único). A fonna tentada é de difícil realização.

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5.2.2.4. Fraude em oferta /art. 66)

Objeto jurídico: os direitos do consumidor de livre escolha e deinformação adequada (art. 69, II e III), norinatizados nos arts. 30 e 31do CDC.

Sujeito ativo: qualquer fornecedor que oferte produtos ou serviçosnas condições descritas no tipo, (a) fazendo afirmação falsa ou engano-sa, (b) omitindo informação relevante sobre dados ou sobre a oferta deprodutos ou serviços, como natureza, característica, qualidade, quanti-dade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia (art. 66,caput) ou (c) patrocinando a oferta nestas condições.

Sujeito passivo: o consumidor difusamente considerado e aqueleexposto à oferta fraudulenta, ludibriado ou não informado.

Tipo objetivo: são estes os núcleos previstos: a) fazer afirmaçãofalsa ou enganosa em qualquer modalidade de oferta; b) omitir infor-mação relevante que envolva natureza, característica, qualidade, quan-tidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de pro-dutos ou serviços; e c) patrocinar (custear, subvencionar) a oferta nascondições descritas.

Tipo subjetivo: é o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente defazer afirmação falsa ou enganosa, omitir informação relevante ou pa-trocinar oferta sabendo-a fraudulenta. Embora prevista no CDC (art.66, § 29), há controvérsia quanto à modalidade culposa.

Consumação: quando é divulgada ao público consumidor a ofertanas condições mencionadas, independentemente de resultado. A formatentada é de difícil realização.

5.2.2.5. Publicidade enganosa ou abusiva /art. 67)

Objeto jurídico: os direitos do consumidor de livre escolha, corretainformação, proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva e efetivaprevenção de danos patrimoniais e morais (art. 69, II, III, IV e VI), mate-rializados na norma do art. 37, §§ 18, 29 e 39, considerando-se também osprincípios da confiaiiça, da boa-fé, da transparência e da eqüidade.

Sujeito ativo: os profissionais que cuidam da criação e produçãode publicidade e os responsáveis pela sua veiculação nos meios de co-municação.

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Sujeito passivo: o consumidor difusamente considerado e aqueleexposto diretamente à publicidade enganosa ou abusiva.

Tipo objetivo: o tipo comporta dois núcleos, (a) fazer (criar, exe-cutar), comportamento humano positivo diretamente ligado ao profis-sional publicitário, e (b) promover (ou seja, diligenciar para que se efe-tue a publicidade enganosa ou abusiva), conduta atribuída aos respon-sáveis pela veiculação. O conceito de publicidade enganosa ou abusivaestá na própria lei em comento.

Tipo subjetivo: o dolo, a dizer, a vontade livre e consciente de fa-zer ou promover a publicidade nas condições indicadas (sabe). E tam-bém a culpa, na modalidade “sem previsão”, em que o sujeito, mesmonão conhecendo previamente a fraude ou a irregularidade da peça pu-blicitária, acaba por agir com imprudência, imperícia ou negligência,violando o dever de cuidado objetivo. Se ele conhece previamente afraude e, ainda assim, faz ou promove a publicidade enganosa ou abusiva,é dolo direto (sabe). Se não conhece, mas tinha condições de conhecer,há culpa sem previsão (deveria saber). A expressão “deveria saber”,contida no tipo penal do art. 67 _ e também nos arts. 68 e 73 _, temprovocado acesa controvérsia na doutrina. Entendem alguns tratar-sedo dolo eventual, ao argumento de que, em face do princípio da reservalegal (CP, art. 18), a modalidade culposa teria de constar de parágrafo.Outros, dentre os quais me alinho, sustentam a previsão legal de condu-ta culposa, ínsita à expressão em referência. Outra corrente afirma tra-tar-se de culpa presumida.

Consumação: com a feitura ou a veiculação da publicidade pelosmeios de comunicação, independentemente de resultado lesivo.

5.2.2.6. Publicidade prejudicial ou perigosa /art. 68/

Objeto jurídico: os direitos do consumidor de inforinação correta,de proteção contra a publicidade abusiva e de efetiva prevenção de da-nos patrimoniais e morais (art. 69, I, III, IV e VI), reafirinados com avedação contida na norma do art. 37, § 29.

Sujeito ativo: os profissionais que cuidam da criação e produçãoda peça publicitária abusiva, prejudicial ou perigosa para o consumidordifusa ou individualmente considerado.

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Sujeito passivo: o consumidor difusainente considerado e aqueleexposto à publicidade capaz de induzi-lo a comportar-se de fonna pre-judicial ou perigosa. Ou seja, o mesmo que pode ser potencialmenteafetado pela publicidade enganosa.

Tipo objetivo: os núcleosfazer e promover são os mesmos do arti-go anterior. A publicidade assim feita, promovida ou veiculada, há deser capaz de induzir, ou seja, ter força suficiente para levar o consuini-dor a comportar-se de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ousegurança, independentemente de virem a ocorrer tais situações de pre-juízo, perigo ou resultado lesivo.

Tipo subjetivo: o dolo direto (sabe) e a culpa sem previsão (deve-ria saber), aplicando-se a esta última conduta a observação do artigoanterior. Não há fonna culposa.

Consumação: com a veiculação (feitura e promoção) da publici-dade, mesmo que o consumidor não seja induzido.

5.2.2. 7. Umissão na organização de dados /art. 5.9)

Objeto jurídico: os direitos do consumidor de informação adequa-da, proteção contra publicidade enganosa e abusiva e reparação de da-nos patrimoniais e morais (art. 69, III, IV e VI).

Sujeito ativo: o fomecedor-anunciante, ou seja, aquele que se uti-liza de publicidade de seus produtos ou serviços e que tem o dever legalde organizar tais dados (art. 36, parágrafo único).

Sujeito passivo: o consumidor difusamente considerado e aqueleinteressado nos dados organizados pelo fomecedor.

Tipo objetivo: descumprimento da nonna contida no parágrafoúnico do art. 36, instituidora do dever de manter o fomecedor, em seupoder, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação àmensagem, para informação dos legítimos interessados. Pune-se a con-duta omissiva de não organizar tais dados, lesiva aos interesses dos con-suniidores.

Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade livre e conscientede não fazer, de não providenciar a organização dos dados. Inexistepunição a título de culpa.

Consumação: no momento em que deveriam ter sido organizadosos dados e não o foram. Não se admite a fonna tentada, por se tratar decrime omissivo próprio.

5.2.2.8. Emprego não autorizado de componentes usados /art. 70/

Objeto jurídico: o direito do consumidor de obter reparação deproduto mediante a utilização de componentes de reposição adequadose novos (art. 21), já que aqueles lesados só podem ser empregados comsua autorização. Busca-se proteger o patrimônio do consumidor.

Sujeito ativo: qualquer fomecedor-prestador de serviços, admi-tindo-se que pelo delito venha a responder o técnico da empresaprestadora de serviço, que, sem autorização, tenha utilizado peça oucomponente usado.

Sujeito passivo: o consumidor ludibriado, ou seja, aquele que,sem sua autorização, teve produto reparado com peças ou componen-tes usados.

Tipo objetivo: desrespeito à nonna do art. 21, por meio da condutade empregar (utilizar) produtos, peças ou componentes usados, semautorização do consumidor.

Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade livre e conscientede empregar peças ou componentes usados, sem para tanto estar autori-zado pelo consumidor. Não há tipificação para a conduta culposa, por-quanto não prevista em lei.

Consumação: com a conclusão da reparação do produto em queforam empregadas peças ou componentes usados. Admite tentativa.

5.2.2.9. Cobrança vexatória de dívidas /art. 71)

Objeto jurídico: os direitos do consumidor de proteção da vida,saúde e segurança, bem como contra práticas abusivas e métodos co-merciais coercitivos ou desleais (art. 69, I e IV). Busca-se proteger suavida privada em face de meios vexatórios e constrangimentos que pos-sa vir a sofrer no momento da cobrança de dívidas.

Sujeito ativo: qualquer pessoa que venha a efetuar ou determinar acobrança de dívidas mediante o uso dos meios vexatórios definidos notipo.

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Sujeito passivo: qualquer consumidor exposto a ridículo ou mo-lestado, de forma injustificada, por ocasião da cobrança de dívida desua responsabilidade.

Tipo objetivo: é a utilização, na cobrança de dívidas, de meiosvexatórios consistentes na ameaça, coação, constrangimento físico oumoral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer pro-cedimento que exponlia o consumidor, injustificadainente, a ridículoou interfira em seu trabalho, descanso ou lazer. A jurisprudência temconsiderado meios vexatórios na cobrança de dívida: a) ameaçar o con-sumidor inadimplente, constrangendo-o, sobretudo em seu local de tra-balho, e incomodar seus colegas de trabalho, submetendo-o a vexame exingamentos2; b) constrangimento perante empregados e clientes3; c) aafixação de cartaz ofensivo no estabelecimento comercial (TAPR, 4êCâin. Crim., Ap. 67.328). Diversamente, já se decidiu não caracterizarconstrangimento ilegal a cobrança de devedor por meio de cartas lacra-das cujo conteúdo é de conhecimento exclusivo do destinatário, ou te-lefonemas solicitando comparecimento à firina de cobrança4.

Tipo subjetivo: é o dolo traduzido na vontade livre e consciente deutilizar os meios vexatórios descritos na cobrança de dívidas. Inexistepunição a título de culpa.

Consumação: com a efetiva utilização dos meios vexatórios nacobrança de dívidas, independentemente do resultado (pagamento dodébito). E admissível a tentativa.

5.2.2. /O. Impedimento de acesso a informações cadastrais /art. 72/

Objetojuridico: os direitos do consumidor de proteção contra práti-cas abusivas (art. 69, IV) e de acesso a informações cadastrais (art. 43).

Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha o dever de fomecer as in-formações cadastrais ao consuinidor, como arquivistas e responsáveis porcadastros, bancos de dados, fichas e registros, e impeça ou dificulte oacesso do consumidor às infonnações que lhe dizem respeito.

2. Rr, v. 731, p. 595.3. RDC, v. 20, p. 217.4. RDC, v. 20, p. 215.

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Sujeito passivo: qualquer consumidor interessado nos dados exis-tentes a seu respeito nos bancos de dados e demais cadastros.

Tipo objetivo: a ação altemativamente prevista é impedir (emba-raçar, obstruir) ou dificultar (tomar difícil ou custoso de fazer, pôr im-pedimentos) o acesso do consumidor às infonnações sobre ele existen-tes em cadastros, banco de dados, fichas e registros.

Tipo subjetivo: o dolo, traduzido na vontade livre e consciente deimpedir o acesso às informações. Inexiste a modalidade culposa.

Consumação: quando o agente nega ou dificulta o acesso às infor-mações, após solicitação do consumidor. Não se admite a tentativa.

5.2.2. I /. Omissão na correção de dados inexatos /art. 73)

Objeto jurídico: o direito do consumidor de obter correção de in-formação inexata (art. 43, § 39), potencialmente apta a lhe causar trans-tomos na vida pessoal e em seu crédito.

Sujeito ativo: o arquivista ou responsável pelo cadastro, banco dedados, fichas ou registros.

Sujeito passivo: qualquer consumidor interessado na correção deinfonnações inexatas a seu respeito.

Tipo objetivo: é a omissão em corrigir, imediatamente, informa-ção inexata sobre o consumidor constante de cadastro, banco de dados,fichas ou registros.

Tipo subjetivo: é o dolo direto (sabe) e a culpa sem previsão (deve-ria saber).

À'Consumaçao: com a recusa do arquivista ou responsável em pro-mover a correção da informação inexata.

5.2.2. /2. Omissão na entrega do termo de garantia /art. 74/

Objeto jurídico: assegurar efetividade à garantia contratual pre-vista no art. 50 e parágrafo único, buscando com isso resguardarreflexainente o patrimônio do consumidor.

Sujeito ativo: qualquer fomecedor de bens de consumo duráveisque deixa de entregar ao consumidor o termo de garantia previsto noart. 50.

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Sujeito passivo: qualquer consumidor de bens de consumo durá-veis ao qual se outorga garantia contratual.

Tipo objetivo: é a omissão na entrega ao consumidor do referidotermo de garantia contratual, adequadamente preenchido e especifica-do, no ato em que é praticada a venda de produto ou a prestação deserviço.

Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade livre e conscientede oniitir-se na providência de entregar o termo de garantia preenchido.Não há fonna culposa.

QiConsumaçao: com a venda e entrega ao consumidor de bens deconsumo duráveis, sem o acompanhamento do termo de garantiacontratual preenchido e especificado, ou seja, omitindo-se o fomecedorou preposto na entrega do mesmo termo. Nao se admite tentativa, pelacircunstância de tratar-se de crime omissivo próprio.

5.2.3. A aplicação das penas

O regime de penas do Código do Consumidor foi consideravel-mente abrandado em relação ao Anteprojeto do CNDC _ ConselhoNacional de Defesa do Consumidor e aos projetos de lei do Legislativo,em termos qualitativos (passando-se da pena de reclusão para a de de-tenção) e quantitativos (reduzindo-se a duração). Os delitos mais gra-ves, na modalidade dolosa, são punidos cumulativamente com deten-ção e multa, enquanto as duas figuras culposas são apenadas altemati-vamente com detenção ou multa (§ 29 do art. 63 e § 29 do art. 66), o queensejará, em princípio, a concessão de sursis e o cumprimento da penaem regime senii-aberto ou aberto, bem como o processamento peranteo Juizado Especial Criminal, com possibilidade de aplicação dos dispo-sitivos relativos à transação e à suspensão condicional do processo (Lein. 9.099, de 26-9-1995, arts. 60, 61, 76 e 89).

O,_texto codificado contém ainda outras disposiçoes acerca da aplicação das penas por infração dos tipos penais previstos no CDC.

O att. 75 estabelece (a) o concurso de pessoas, ao dispor que incidenas penas cominadas aos crimes previstos no CDC, na medida de suaculpabilidade, quem, de qualquer fonna, concorrer para eles, e (b) aresponsabilização dos partícipes ligados à pessoa jurídica _ diretor,administrador ou gerente _ que promoveu ou por qualquer modo apro-

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vou o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em de-pósito de produtos ou a oferta de prestação de serviços nas condiçõespor ele proibidas.

São também definidas as circunstâncias agravantes dos crimesprevistos no CDC: “I _ serem cometidos em época de grave crise eco-nômica ou por ocasião de calamidade; II _ ocasionarem grave danoindividual ou coletivo; III _ dissimular-se a natureza ilícita do proce-dimento; IV _ quando cometidos: a) por servidor público, ou por pes-soa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à davítima; b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de 18 oumaior de 60 anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental, inter-ditadas ou não; V _ serem praticados em operações que envolvam ali-mentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços es-senciais” (art. 76). Tais circunstâncias agravantes encontram justificati-va em face da vulnerabilidade do consumidor e da necessidade de suaproteção, principalmente de sua boa-fé e confiança.

São fixados parâmetros para o cálculo da multa penal (art. 77),bem como do valor da fiança, quando cabível (art. 79, caput), que po-derá ser reduzida até a metade de seu valor niínimo ou aumentada pelojuiz até vinte vezes, se assim recomendar a situação econômica do réu(art. 79, parágrafo único, a e b).

Podem ser impostas as seguintes penas alternativas, pelo juiz, cu-mulativa ou altemadamente, observado o disposto nos arts. 44 a 47 doCP, além das penas privativas de liberdade e de multa: I _ a interdiçãotemporária de direitos; II _ a publicação em órgãos de comunicaçãode grande audiência, a expensas do condenado, de notícia sobre os fa-tos e a condenação; III _ a prestação de serviços à comunidade (art.78). Aliás, um dos objetivos dos Juizados Especiais Criminais épreci-samente a não-aplicação de pena privativa de liberdade, dando-seenfoque especial à composição dos danos (Lei n. 9.099/95, art. 62).

Em outro dispositivo de caráter adjetivo, cuida-se da assistênciado Ministério Público pelos legitimados concorrentes, facultando-se-lhes a propositura de ação penal subsidiária, se a denúncia não foroferecida no prazo legal (art. 80), estendendo esses dois aspectos pro-cessuais a todos os crimes e contravenções que envolvam relações deconsumo.

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5.2.4. A tutela penal fora do CDC

Novos crimes contra as relações de consumo foram tipificados emleis fora do Código do Consumidor.

A Lei n. 8.137, de 27-12-1990, revogou o art. 279 do Código Pe-nal (crime de substância avariada) e, em substituição ao dispositivo re-vogado, definiu novos crimes contra as relações de consumo. São eles(art. 79):

“I _ favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou fre-guês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio dedistribuidores ou revendedores;

II _ vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo,especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescri-ções legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial;

III _ misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, paravendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e merca-dorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda porpreço estabelecido para os de mais alto custo;

IV _ fraudar preços por meio de:.nu na

_a) alteraçao, sem modificaçao essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem,especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamentode bem ou serviço;

b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido àvenda em conjunto;

c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda emseparado;

d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção dobem ou na prestação dos serviços;

V _ elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou servi-ços, mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais;

VI _ sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quempretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-lospara o fim de especulação;

VII _ induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indica-IU' Huçao ou afirmaçao falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade de bem

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ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação oudivulgação publicitária;

VIII _ destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou merca-doria, com o fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou deterceiros;

IX _ vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, dequalquer fonna, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condiçõesimpróprias ao consumo”.

A pena prevista é de dois a cinco anos de detenção, ou multa,punindo-se a modalidade culposa dos incisos II, III e IX com reduçãoda pena de detenção de um terço ou de multa à quinta parte (lei cit., art.79, parágrafo único).

A Lei n. 8.137/90 tipifica também diversas condutas contra a or-dem econômica (arts. 49, 59 e 69).

Ainda que, à época da promulgação do Estatuto Repressivo (De-creto-Lei n. 2.848, de 7-12-1940), o legislador não tivesse o intuito deproteger direta e especificamente o consumidor, a verdade é que aca-bou por fazê-lo, de fonna reflexa, em pelo menos onze tipos penais,dois deles incrustados no capítulo reservado ao estelionato e outras frau-des e os nove demais no capítulo dos crimes contra a saúde pública.

Assim é que o Estatuto Penal reprime a fraude no comércio, namodalidade de enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirenteou consumidor, vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoriafalsificada ou deteriorada e entregando uma mercadoria por outra (art.175, I e II); pune, também, a conduta de “alterar em obra que lhe éencomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmocaso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; venderpedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de outra qua-lidade” (§ 19 do art. 175). Nessa mesma linha, são punidas as fraudes eabusos na fundação e administração de sociedade por ações (art. 177).

Mais extensa, no entanto, é a lista de tipos penais no capítuloatinente aos crimes contra a saúde pública, que envolvem relações deconsumo. São tipificadas as seguintes condutas:

_ corromper, adulterar ou falsificar substância alimentícia oumedicinal destinada a consumo, tomando-a nociva à saúde (art. 272,caput);

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_ expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquerforma, entregar a consumo substância corrompida, adulterada oufalsificada (§ 19 do art. 272);

_ alterar substância alimentícia ou medicinal, modificando-lhe aqualidade ou reduzindo-lhe o valor nutritivo ou terapêutico, bem comosuprimindo, total ou parcialmente, qualquer elemento de sua composi-ção normal, ou substituindo-o por outro de qualidade inferior (art. 273,§ 19-B);

_ expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquerforma, entregar a consumo a substância alterada nos termos da figuraprecedente (§ 19 do ait. 273);

_ empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revesti-mento, gaseificação artificial, matéria corante, substância aromática,conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela le-gislação sanitária (art. 274);

_ inculcar, em invólucro ou recipiente de produto alimentício oumedicinal, a existência de substância que não se encontra em seu conteú-do ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada (art. 275);

_ vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qual-quer fonna, entregar a consumo produto nas condições dos arts. 274 e275 (art. 276);

vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância des-tinada à falsificação de produto alimentício ou medicinal (art. 277);

_ fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou,de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva àsaúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal (art.278); e

_ fomecer substância medicinal em desacordo com receita médi-ca (art. 280).

Obs.: foi revogado o art. 279 do CP, que punia o crime de substân-cia avariada, sendo a conduta definida como crime contra as relaçõesde consumo (Lei n. 8.137, de 27-12-1990, art. 79).

A vetusta Lei n. 1.521, de 26-12-1951, alterada em aspectos pou-co significativos pela Lei n. 3.290, de 24-10-1957, e pela Lei n. 6.649,de 16-5-1979, reprime os chamados crimes contra a economia popular,atuando, nessa esfera, na proteção do consumidor. E certo que o legis-

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lador de então não teve o propósito de tutelar a figura do consumidor, esim a economia popular como um todo, preponderantemente na suainterface de abastecimento e controle de preços, mas é inegável quereferida lei repressiva, de maneira oblíqua, culmina por se prestar aointuito de proteger o consumidor.

A lei em comento contém figuras penais variadas, de cujo contex-to podem ser destacadas as seguintes: sonegação ou recusa de venda demercadoria (art. 29, I), favorecimento de freguês em detrimento de ou-tro (inc. II), venda de mercadoria com fraude no peso ou na composi-ção (inc. III), recusa do fornecimento de nota fiscal (inc. IV), adultera-ção de gêneros e mercadorias (inc. V), transgressão de tabelas de pre-ços (inc. VI), fraude em sorteios (inc. X), fraude em pesos e medidas(inc. XI), destruição ou inutilização de produtos consumíveis (art. 39,I), gestão fraudulenta ou temerária de estabelecimentos creditícios eafins (inc. IX), usura pecuniária ou real (art. 49) etc.

5.2.5. Os Juizados Especiais Criminais

Após o início da vigência do CDC, em março de 1991, foi aprova-da pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da Repúblicaa Lei n. 9.099, de 26-9-1995, que dispõe sobre os Juizados EspeciaisCíveis e Criminais. Dos Juizados Cíveis já nos ocupamos por ocasiãoda análise dos instrumentos da defesa do consumidor. Cabe agora oestudo dos Juizados Especiais Criminais, pelo reflexo positivo que elestiveram e terão na área da tutela penal das relações de consumo.

O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togadose leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execu-ção das infrações de menor potencial ofensivo, assim entendidas as con-travenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima nãosuperior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedi-mento especial (lei cit., arts. 60 e 61).

Cabe registrar que a Lei n. 10.259, de 12-7-2001, instituiu osJuizados Especiais Criminais na Justiça Federal para o processo e jul-gamento das infrações de menor potencial ofensivo, assim entendidos“os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, oumulta” (art. 29, parágrafo único).

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O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade,economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, areparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena nãoprivativa de liberdade (Lei n. 9.099, art. 62).

A par desses critérios orientadores do processo perante o JuizadoEspecial Criminal, outras novidades foram introduzidas, todas elasagilizando e racionalizando a sua tramitação. Assim, p. ex.: a) com adispensa do inquérito policial, que passou a ser substituído por termocircunstanciado a ser lavrado pela autoridade policial, que será imedia-tamente encaminhado ao Juizado, com o autor do fato e a vítima (art.69); b) a dispensa do flagrante e da fiança, mediante compromisso doacusado de comparecer em juízo (art. 69, parágrafo único); c) com acomposição dos danos civis, que terá eficácia de título executivo líqui-do (art. 74); d) com a adoção de procedimento sumariíssimo, com de-núncia oral, para os delitos da alçada do Juizado (art. 77); e) com atransação, podendo ser acolhida proposta do Ministério Público de apli-cação imediata de pena restiitiva de direitos ou multas (art. 76, §§ 19,29, 39 e 49); e f) com a suspensão condicional do processo, pelo prazo dedois a quatro anos, por proposta do Ministério Público, que, aceita peloacusado, poderá resultar na reparação do dano (art. 89, § 19, I).

Assim como o Juizado Especial Cível foi feito sob medida para adefesa do consumidor, o mesmo pode ser dito em relação ao JuizadoEspecial Criminal, pois significará para a vítima o fim da justiça cara,lenta e complicada. Os delitos contra as relações do consumo apenadoscom detenção (limite máximo não superior a um ano) e multa (CDC,arts. 63, § 29,66, caput, §§ 19 e 29, 67, 69, 70, 71, 72, 73 e 74) serãoprocessados e julgados pelo Juizado Criminal, com celeridade einformalidade, possivelmente até no mesmo dia, com a vantagem deque o consumidor-vítima poderá obter o ressarcimento do dano sofri-do, ou, pelo menos, título executivo para a execução.

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Gapítulo 6TUTELA JURISDICIDNAL

Sumário: 6.1. Generalidades sobre tutela individual e coleti-va. 6.1.1. Tutela individual. 6.1.2. Tutela coletiva. 6.2. Os provi-mentos antecipatórios. 6.2.1. As ações cautelares. 6.2.2. A liminarna ação principal. 6.2.3. A tutela antecipada. 6.3. A ação civil pú-blica. 6.3.1. Conceito e adequação. 6.3.2. Legitimidade para agir.6.3.3. Foro competente. 6.3.4. Coisa julgada. 6.3.5. Particularida-de. 6.4. A ação civil coletiva. 6.4.1. Conceito e adequação. 6.4.2.Legitimação para agir. 6.4.3. Foro competente. 6.4.4. Sentença ecoisa julgada. 6.4.5. Liquidação e execução de sentença. 6.5. Açãocivil pública e ação civil coletiva: afinidades e distinções. 6.6. Açãode responsabilidade do fornecedor. 6.7. Outras ações: ação popu-lar, mandado de segurança coletivo, juizados especiais cíveis ehabeas data.

6.1. Generalidades sobre tutela individual e coletiva _

Cumpre nesse passo analisar os mecanismos pelos quais pode dar-se a prestação jurisdicional, com exame detalhado das vias processuaiscolocadas à disposição dos consumidores, das vítimas ou dos legitima-dos concorrentes, partindo-se do exame das medidas cautelares prepa-ratóiias e da ação popular, até passar pela revigorada ação civil pública,e a introdução inovadora da ação coletiva para a defesa dos interesses

rwindividuais homogêneos, bem como outras açoes.

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Alguns pontos positivos são elencados nessa área: a ampliaçãodos poderes do juiz no sentido de assegurar a efetividade da prestaçãojurisdicional (arts. 84 e 69, VIII); a criação de novos mecanismos, aexemplo da ação coletiva (arts. 91 e s.); a atualização procedimental demecanismos já existentes, como a ação civil pública (arts. 110 e s. e Lein. 7.347/85); o rompimento de esquemas tradicionais nos campos daliquidação e execução da sentença e da ampliação dos efeitos da coisajulgada (arts. 97/99 e 103) e o estímulo à instituição dos Juizados Espe-ciais Cíveis pela Justiça Estadual para descongestionar as instânciasjudiciárias (art. 59, IV).

Numa análise apressada, pode-se afirmar que o CDC _ Códigode Defesa do Consumidor deu resposta legislativa adequada ao tema deacesso do consumidor aos órgãos judiciáríos, mas será necessário queseus passos sejam secundados por decisões políticas com vistas à suaefetiva implementação.

6.1.1. Tutela individual

Como ponto de partida da tutela jurisdicional, diz o art. 81 do CDCque “a defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimaspodera ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo”.

Esse dispositivo merece análise por partes:a) trata-se, sem dúvida, de acesso à Justiça, ou tutela jurisdicional,

posto que a defesa será exercida em juízo;b) quando a lei usa a expressão “defesa dos interesses e direitos”,

nao sigmfica atuação no pólo passivo, mas, ao contrário, a promoção dadefesa do consumidor, veiculando pedido de seu interesse, o que querdizer atuação no pólo ativo da ação, ou seja, como autor, litisconsorteativo ou interessado;

c) não apenas o consumidor _ aquele que adquire produto oucontrata serviço como destinatário final _ dispõe da tutela; ela é esten-dida também às vítimas, abrangendo, assim, as pessoas que sofreramacidentes de consumo.

Tutela individual é aquela pedida em juízo pelo próprio titular dodireito, que, nesse caso, é bem definido, ou seja, tem nome e endereço.A hipotese e, portanto, de legitimação ordinária, amplamente reguladapelo CPC _ Código de Processo Civil.

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O CDC não apresenta qualquer restrição quanto ao manejo dosvários tipos de ação na tutela individual. Ao contrário, estabelece, comclareza, que são cabíveis todas as espécies de ações para a adequada eefetiva tutela (art. 83).

Precisamente pelo fato de estar a tutela individual mais exaustiva-mente tratada no CPC, o Código do Consumidor regulou com maiordetalhamento a tutela coletiva, mas resta claro que alguns dispositivossão plenamente aplicáveis ao pleito individual, como, p. ex., arts. 83,84, 88, 90 e 101, esclarecido que o CPC e a LACP _ Lei da Ação CivilPública são aplicáveis subsidiariamente ao CDC, “naquilo que não con-trariar suas disposições” (art. 90).

Como regra, a defesa do direito material terá por base as normasprotetivas do CDC. Já a via processual adequada será obtida no CPC,na lei dos Juizados Especiais e também na parte processual do CDC,quando cabível.

6.1.2. Tutela coletiva

O CPC não tratou de forma sistemática da tutela coletiva, prefe-rindo centrar-se nos conflitos intersubjetivos. Vigente desde 1973, nãocontém artigo específico sobre o tema, exceto o art. 69, que disciplina alegitimação extraordinária, segundo a qual ninguém pode pleitear emnome próprio direito alheio, salvo autorização legislativa.

Pela omissão nenhuma crítica merece o legislador de 1973, postoque àquela época não havia no Brasil a doutrina dos interesses difusos ecoletivos _ o que só veio a ocorrer entre 1977 e 1979 _ nem defesa doconsumidor (que só surgiu em 1979, com a criação do Procon de SãoPaulo), tampouco as atuais ações coletivas.

Em termos legislativos, a tutela coletiva surgiu no Brasil em trêsmomentos distintos:

a) com a Lei n. 7.347, de 24-7-1985, instituidora da ação civilpública, que regulamentou a via judicial para responsabilização pordanos causados ao consumidor, ao meio ambiente, ao patrimônio pú-blico e social, à ordem econômica, à econoinia popular, à ordem urba-nística e a outros interesses difusos ou coletivos. Deve ser registradoque já existia desde 1965 a ação popular, que também se integra naórbita coletiva;

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b) em 1988 a Constituição Federal constitucionalizou a ação civilpública ao incluir a sua promoção como função institucional do Minis-tério Público (art. 129, III); e,

c) já o CDC, de 1990, vigente a partir de 1991, criou nova ação, aação civil coletiva, vocacionada para a defesa dos direitos individuaishomogêneos de origem comum (art. 91), além de atualizar procedi-mentos.

Com essa legislação foram resolvidos os problemas de legitimação,já que a própria lei indicou os legitimados concorrentes (LACP, art. 59,e CDC, art. 82), bem como aquele de ampliação da coisa julgada, querecebeu tratamento adequado (LACP, art. 16, e CDC, art. 103, I).

Observe-se que a legislação relativa à tutela coletiva regula aspec-tos mais específicos como adequação da ação, legitimidade,sucumbência, inquérito civil, enquanto a lei ordinária (CPC) continua aregular os aspectos gerais, aplicáveis subsidiariamente, como sistemarecursal, provas, requisitos da petição inicial etc.

Quatro ações podem ser manejadas na via coletiva: a ação popu-lar, o mandado de segurança coletivo, a ação civil pública e a ação civilcoletiva.

6.2. Os provimentos antecipatórios

Tais provimentos têm por objetivo a celeridade do processo e aefetividade da decisão judicial. São três os provimentos antecipatóriosque podem ser utilizados na ação civil pública e na ação civil coletiva:as ações cautelares, as liminares na própria ação principal, civil públicaou coletiva, e a tutela antecipada.

6.2.1. As ações cautelares

Ações cautelares são providências que o juiz poderá determinarquando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamentoda lide, frustre a efetividade da decisão no processo principal, causandocom isso lesão grave e de difícil reparação ao direito da outra parte.Revestem-se tais providências de caráter de provisoriedade e deinstrumentalidade, pois que buscam garantir a efetividade da decisãojudicial a ser proferida no processo principal. Cuida-se de processo de

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Cognição sumária, que requer a presença dos requisitos da plausibilidadeda verossimilhança das alegações (fumus boni juris) e do perigo da de-mora (periculum in mora).

Os legitimados (Ministério Público, entidades públicas e associa-ções), precedendo à propositura da ação principal, poderão ajuizar açõescautelares preparatórias, com fulcro nos arts. 796 e seguintes do CPC,em combinação com o art. 49 da Lei n. 7.347/85 e arts. 83 e 90 do CDC(Lei n. 8.078, de 12-9-1990).

A via cautelar toma-se de grande valia na defesa do consumidor,pois visa evitar ou suspender dano na iminência causado, desde quedemonstrado fundado receio de que a parte requerida, antes do julga-mento da lide, cause ao direito da parte requerente lesão grave e dedifícil reparação (Lei n. 7.347, art. 49).

Além do poder geral de cautela do juiz (CPC, art. 798), este, emreforço, poderá impor multa diária ao réu, independentemente de pedi-do do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixandoprazo razoável para o cumprimento de preceito (CDC, art. 84, § 49). Oregramento processual é ainda mais drástico em relação ao ofensor,permitindo ao juiz determinar medidas como busca e apreensão, remo-ção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de ativida-de nociva e requisição de força policial (CDC, art. 84, § 59).

As cautelares em ações civis públicas cujas sentenças tenham porobjeto a liberação de recursos, inclusão em folha de pagamento, classi-ficação, equiparação, concessão ou extensão de vantagens a servidorpúblico só podem ter caráter satisfativo após o trânsito em julgado dasentença proferida na ação principal (Lei n. 9.494, de 10-9-1997, com aredação da Medida Provisória n. 2.180-35, de 24-8-2001).

Importante ressaltar que o art. 49 da Lei n. 7.347/85, ao permitirque o juiz possa conceder a ação cautelar “para evitar o dano , flC.ab0Upor lhe ampliar o âmbito, pois passou a ter caráter satisfativo.

Lembra com razão SÉRGIO FERRAZ: “Logo em seu artigo 49, daLei n. 7.347/85, já alarga o âmbito de ação cautelar, fazendo-a maisampla e mais profunda, no campo da ação civil pública. E o que ÊGcolhe desenganadamente de sua previsão no sentido de que a açaocautelar possa, aqui, ter o fito de evitar o dano, cuja reparabilidade (6316é o alvo principal consagrado no artigo 1” do diploma), ao lado da re-composição do statu quo ante (este o alvo basilar no artigo 29), cons-

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tituem as metas desse precioso instrumento. É dizer que a ação cautelarna ação civil pública, em razão do ora examinado artigo 49, se revesteinclusive de feição satisfativa, de regra de se repelir nas medidas dessanatureza. A aceitação dessa nota não infinna a incidência do arcabouçopeculiar às ações cautelares; bem antes, a reforça. Com tal assertivapretendemos dizer que, exatamente em razão da força eventualmentesatisfativa de que dotada aqui a cautelar, com muito mais razão deveráo juiz usar o mecanismo de segurança das ações, a serem prestadaspelos beneficiários da tutela”1.

O mesmo pode ser dito em relação ao CDC, que estabeleceu apossibilidade da tutela específica da obrigação de fazer ou não fazer,autorizando o juiz a determinar providências que assegurem o “resulta-do prático equivalente ao do adimplemento” (art. 84, caput).

6.2.2. A liminar na ação principal

Além da ação cautelar, os co-legitimados ainda podem requerer aconcessão de liniinar no bojo da ação civil pública ou das ações previs-tas no CDC.

Trata-se de providência de cunho emergencial, que tem por objeti-vo salvaguardar a eficácia da decisão definitiva. Deve ser requerida pelaparte e, quando deferida, só se exaure com o proferimento da sentença.

Diz a LACP (art. 12) que para a ação civil pública o juiz poderáconceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia (art. 12).

No que se refere às ações do CDC, foi estabelecido que é lícito aojuiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citadoo réu, quando for relevante o fundamento da demanda e houver justifi-cado receio de ineficácia do provimento final (art. 84, § 39).

6.2.3. A tutela antecipada

Dentre os provimentos antecipatórios, o terceiro deles é mais re-cente e foi introduzido no ordenamento jurídico pela Lei n. 8.952, de

__--_-.__M._

1. Provimentos antecipatórios na ACP, in Ação civil pública, São Paulo: Revistados Tribunais, 1995, p. 454.

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13- 12-1994, que deu nova redação ao art. 273 do CPC. Trata-se da tute-la antecipada, também aplicável à ação civil pública, por força do art.19 da Lei n. 7.347/85, e às ações previstas no CDC, ex vi do art. 90 doestatuto protetivo do consumidor.

Constitui a tutela antecipada _ como o próprio nome do institutoindica _ adiantamento efetivo e satisfativo da decisão final, desde que:I _ haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparaçao; ouII _ fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifestopropósito protelatório do réu.

Não se trata, portanto, de provimento meramente instrumental, paraassegurar a eficácia da decisão final, mas a própria antecipaçao d0Sefeitos desta.

Trata-se de provimento bem mais abrangente e proveitoso do queos anteriores, na medida em que redunda a tutela antecipada em provi-dências mais consistentes, sem necessidade de prestaçao de cauçao,circunstâncias que demonstram a sua grande versatilidadfië C lltilidëldfi,mormente em ações ligadas ao meio ambiente e ao consumidor.

A antecipação da tutela _ diz o art. 273, caput, do CPC _ deveser requerida pela parte, com prova inequívoca das alegações. O .seuconteúdo está vinculado aos limites do pedido, porque exerceio juizmais do que uma cognição sumária, mas ainda não plena, e so podeantecipar os efeitos da decisão final, que, obviamente, não podera iralém, nem se afastar do pedido. Aliás, o CPC diz claramente que pode-rão ser antecipados, total ou parcialmente, “os efeitos da tutela preten-dida no pedido inicial” (art. 273, caput, nova redação).

Além disso, deve haver prova inequívoca das alegações, a fim deque facilite e solidifique o convencimento do magistrado.

A decisão que a conceder deverá ser necessariamente motivada(CPC art. 273 § 19) e será executada provisoriamente, nos termos doart. 588, Ile III, do CPC.

Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo deirreversibilidade do provimento antecipado (art. 273, § 2“)›_ 9 que 59justifica pelo fato de ser mera antecipação, e não ainda deC1SHO final,com cognição plena. A irreversibilidade impossibilitaria o retomo aostatu quo ante, inadmissível nessa sede.

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A qualquer tempo poderá a tutela antecipada ser revogada 'ou mo-dificada, o que _ tal qual ocorre na concessão _ deverá ser feito emdecisão fundamentada (art. 273, § 49).

Também são aplicáveis à ação civil pública e às ações reguladaspelo CDC as disposições relativas à tutela específica da obrigação defazer ou não fazer (CPC, art. 461, caput e §§ 19 a 59, com nova redaçãodada pela Lei n. 8.952).

6.3. A ação civil pública6.3.1. Conceito e adequação

Tida como “fator de mobilização social” e “instrumento da cida-dania”, a ação civil pública é a via processual adequada para impedir oureprimir danos ao consumidor e a outros bens tutelados, encontrando-se disciplinada pela Lei n. 7.347, de 24-7-1985, e supletivamente peloCDC _ Lei n. 8.078, de 1,1-9-1990 (art. 90). É utilizada para protegertanto os interesses difusos como os coletivos e os individuais homogê-neos de interesse social (STF, RE 163.231-3-SP, j. 26-2-1997, v. u., DJ,29 jun. 2001, p. 55). São entendidos pelos primeiros “os transindividuais,de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indetemiinadas eligadas por circunstâncias de fato” e por interesses coletivos “ostransindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, cate-goria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária poruma relação jurídica base” (CDC, art. 81, parágrafo único, incisos I eII). A diferença entre interesses difusos e coletivos reside, pois, basica-mente, na titularidade, conforme sejam pessoas indeterminadas ou pes-soas integrantes do grupo, categoria ou classe. Não se presta, como sevê, a amparar direitos individuais puros, cujos titulares deverão valer-se do procedimento comum, ordinário ou sumário. Da mesma fonna,não pode ser usada para obter a reparação de prejuízos causados a par-ticulares, isoladamente, já que o âmbito de ação civil pública só podeser a tutela dos bens enumerados na lei, sejam eles difusos, coletivos ouindividuais homogêneos de caráter social.

Nos termos do art. 19 da Lei n. 7.347/85 é a ação civil públicaadequada para a proteção dos direitos ou interesses difusos ou coletivosreferentes ao: I _ meio ambiente; II _ consumidor; III _ patrimôniocultural, ou seja, a bens ou direitos de valor artístico, estético, histórico,

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turístico e paisagístico; IV _ à infração da ordem econômica (acrésci-mo da Lei n. 8.884, de 11-6-1994, art. 88); e V _ a qualquer outrointeresse difuso ou coletivo (acréscimo do CDC, art. 110). Dentre estesúltimos a Constituição Federal e a legislação ainda enumeram: a) a pro-teção do patrimônio público e social (CF, art. 129, III); b) a proteçãodos direitos e interesses das populações indígenas (CF, art. 129, V); c) aproteção das pessoas portadoras de deficiência (Lei n. 7.853, de 1989);d) a proteção dos investidores no mercado imobiliário (Lei n. 7.913, de1989); e) a proteção do consumidor (Lei n. 8.078, de 1990 _ CDC); t)a proteção do patrimônio público em caso de emiquecimento ilícito deagente ou servidor público (Lei n. 8.429, de 1992); g) a proteção dacriança e do adolescente (Estatuto, arts. 208 e s.); e h) a ordem urbanís-tica. Além destes, a doutrina e a jurisprudência costumam incluir ou-tros interesses difusos ou coletivos amparáveis via ação civil pública:a) a proteção da vida, saúde e segurança das pessoas; b) a higidez domercado financeiro; c) a correta instituição de tributos; d) a proteçãodos aposentados (como no caso do reajuste de 147%); e e) a proteçãodo meio ambiente do traballio.

6.3.2. legitimidade para agirnaPara a sua propositura estao legitimados o Ministério Público, a

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, suas autarquias,empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista ou, ain-da, as associações (Lei n. 7.347/85, art. 59). A legitimação ativa, portan-to, é restrita aos órgãos e entidades enumerados. Aliás, quanto ao Mi-nistério Público, trata-se de função institucional promover o inquéritocivil e a ação civil pública (CF, art. 129, III), do que decorrem aobrigatoriedade de propô-la e a indisponibilidade da ação. Anote-se quea Medida Provisória n. 550, de 8-7-1994, convertida na Lei n. 9.870/99,sem alterar expressamente a Lei n. 7.347/85 e o CDC, legitimou asassociações de alunos, de pais de alunos e responsáveis à proposituradas ações previstas no CDC e na legislação vigente.

6.3.3. Foro competente

Foro competente é o do local onde ocorrer o dano (Lei n. 7.347/85, arts. 29 e 49). Havendo interesse da União, suas autarquias e empre-

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sas públicas, na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, acompetência será da Justiça Federal, no foro do Distrito Federal ou o daCapital do Estado (CF, art. 109, inc. I, c/c § 29). O Ministério PúblicoFederal, órgão oficial da União, promove as ações de sua competênciana Justiça Federal, no mesmo foro estabelecido para a União (CF, art.109, I, §§ 19 e 29) (STF, RE 228.955-9-RS, Tribunal Pleno, rel. Min.Ilmar Galvão, j. 10-2-2000, v. u., DJ, 24 mar. 2000 e 14 abr. 2000).

Nesse sentido já se manifestou o STJ _ Superior Tribunal de Jus-tiça em pelo menos duas ocasiões: a) por ocasião do julgamento doCComp n. 4.927-0-DF, relator o Min. Humberto Gomes de Barros, as-sim ementado: “Se o Ministério Público Federal é parte, a Justiça Fede-ral é competente para conhecer do processo” (19 Seção, j. 14-9-1993,v. u., DJU, 4 out. 1993; RDC, v. 14, p. 59); e b) no momento do julga-mento do RMS 4.146-8-CE, relator o Min. Vicente Leal, em cujo votovencedor está explicitado que “O Ministério Público Estadual promoveperante o Juízo Estadual e o Ministério Público Federal perante o JuízoFederal” (69 T., j. 23-10-1995, v. u., RDC, v. 20, p. 155).

Também a doutrina vem-se posicionando dessa fonna, consoantese pode ver de PAULO BESSA ANTUNES2, que cita precedentes doTRF _ Tribunal Regional Federal da 59 Região e do extinto TribunalFederal de Reeureee, e de JosÉ ANToNio NEIVAB.

Outro ponto que vinha gerando controvérsia era a Súmula 183 doSTJ, que, interpretando o art. 29 da Lei n. 7.347/85, dizia competir aojuiz estadual, nas comarcas que não fossem sede de vara da JustiçaFederal, processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figu-rasse no processo. Hoje, no entanto, a discussão perdeu sentido, emface da expressa revogação da Súmula pelo STJ.

6.3.4. Coisa julgada

A sentença fará coisa julgada erga omnes, ou seja, a todos alcan-çará em seus efeitos, inclusive a quem não foi parte no processo,

2. O papel do Ministério Público na ação civil pública, Revista da PGR, v. 4,p. 125.

3. Ação civil pública_ Litisconsórcio de Ministérios Públicos, Revista da PGR,v. 7, p. 167.

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“exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência deprovas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outraação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova” (Lei n.7.347/85, art. 16).

Em 1997, pela Lei n. 9.494, de 10-7-1997, procurou-se reduzir aabrangência dos efeitos da coisa julgada erga omnes, na sentença ci-vil, a fim de colocá-los “nos limites da competência territorial do ór-gão prolator”. Julgando a ADIn 1.576-1-DF, que visava declarar ainconstitucionalidade desse dispositivo, entendeu o STF, pelo seu Ple-nário, que, em princípio, não se tem relevância jurídica suficiente àconcessão de liminar para suspender a eficácia dele, na parte em querestringiu os efeitos “aos limites da competência territorial do órgãoprolator”.

E pela Medida Provisória n. 2.180-35, de 24-8-2001, nova restri-ção foi perpetrada, desta vez em relação aos membros da entidadeassociativa, que poderão ser apenas e tão-somente “os substituídos quetenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da compe-tência territorial do órgão prolator” (art. 29-A, com a redação dada peloart. 49 à Lei n. 9.494, de 10-9-1997).

6.3.5. Particularidade

A ação civil pública possui uma particularidade que a diferenciadas demais. É que o produto da condenação em dinheiro, quando exis-tente, não beneficia o autor da ação, uma vez que é recolhido a umfundo, pois, postulando direitos e interesses difusos (de toda a coletivi-dade) e coletivos indivisíveis (de grupo, categoria ou classe), ainda as-sim é curial que a prestação jurisdicional, de alguma forma, deva bene-ficiar os titulares desses direitos. Por isso mesmo, estabelece a lei que,havendo a condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causadoreverterá ao FDD _ Fundo de Defesa dos Direitos Difusos de que trataa Lei n. 9.008/97. O benefício não é, portanto, direto, e sim reflexo. Acondenação em obrigação de fazer ou não fazer, contudo, pode trazerbenefícios diretos aos substituídos, quando se tratar de direito ou inte-resse coletivo ou individual homogêneo de caráter social, como mensa-lidades escolares e taxa de iluminação pública.

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6.4. A ação civil coletiva6.4.1. Conceito e adequação

Das inovações introduzidas pela lei de proteção, em matéria proces-sual, a instituição da ação civil coletiva para a defesa dos interesses indi-viduais homogêneos de origem comum representou, sem dúvida, um gran-de passo e poderosa conquista para a defesa judicial do consumidor.

Trata-se de uma versão abrasileirada da conhecida class actionnorte-americana, diferindo do modelo basicamente no que toca àrepresentatividade e à legitimação para agir, mas perfeitamente adapta-da ao sistema processual nacional.

O objeto desse tipo de ação é a defesa em juízo dos direitos indivi-duais homogêneos, assim entendidos os vinculados a uma pessoa, denatureza divisível e de titularidade plúrima, decorrentes de origem co-mum. Tipificam, portanto, tais direitos a sua homogeneidade, ou seja, ofato de serem iguais ou idênticos para todos os interessados, e decorre-rem de origem comum, a dizer, serem pleiteados em face do mesmo réuque foi parte em todas as relações jurídicas subjacentes.

Pela própria conceituação desses direitos _ individuaistitularizados por pessoas diversas, uma a uma, ligados por elementosde homogeneidade e origem comum _, resulta que poderiam ser pro-postas inúmeras, talvez milhares de ações individuais, pleiteando, cadaum de per si, em benefício próprio, o objeto da demanda. Neste pontoreside a grande mudança: o Código permite o ajuizamento de uma úni-ca ação coletiva, por pessoas legalmente legitimadas, em benefício detodas as vítimas do mesmo evento, evitando com isso o ajuizamento demilhares de ações, em todo o território nacional, proporcionando eco-nomia de tempo e dinheiro para as partes e para o Judiciário. Por outrolado, fortalece a posição do consumidor, que, isoladamente, poderianão se sentir em condições de litigar _ em virtude do reduzido valorpatrimonial da demanda ou das despesas que forçosamente teria de efe-tuar _, mas que, na via coletiva, mediante ação única, terá uma razoá-vel oportunidade de ressarcimento.

O procedimento é o ordinário (CPC, arts. 282 e s.) com alteraçõesque se tomaram necessárias em razão das peculiaridades da ação cole-tiva, notadamente no que tange à legitimação para agir, ao foro para o

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ajuizamento e a execução, ao conteúdo da sentença de conhecimento, àcoisa julgada e, bem assim, à liquidação e execução da sentença.

6.4.2. Legitimação para agir

Legitimados para a ação coletiva, na dicção do art. 82 do CDC,são o Ministério Público, a União, os Estados, o Distrito Federal e osMunicípios, as entidades e órgãos da administração pública destinadosà proteção do consumidor, bem como as associações privadas (incs. I aIV). Trata-se, como se vê, de substituição processual (CPC, art. 69),porquanto os legitimados concorrentes pleiteiam, em nome próprio,direitos e interesses das vítimas ou seus sucessores (CPC, art. 91), me-

nudiante autorizaçao legal.Nesse sentido, o Ministério Público tanto pode ser o Federal como

o Estadual. Funciona o primeiro, se a ação for de competência da Justi-ça Federal, por envolver, na condição de ré, assistente ou oponente, aUnião Federal, entidade autárquica ou empresa pública federal (CF, art.109, I). Funciona o segundo, se a ação for de competência da JustiçaEstadual. Não sendo autor, o Ministério Público atuará obrigatoriamentecomo fiscal da lei (CDC, art. 92), sob pena de nulidade processual (CPC,art. 246). Ocorrendo desistência imotivada ou abandono da ação porassociação, o Ministério Público passa a atuar como autor, o que tam-bém poderá ser feito por outros legitimados (aplicação analógica do §39 do art. 59 da Lei n. 7.347, de 24-7-1985, com a nova redação doCDC, art. 112 c/c art. 90).

A legitimação também se estende às entidades político-adniinis-trativas, nomeadamente a União, os Estados, o Distrito Federal e osMunicípios. Sendo a União parte autora, o processo terá curso na Justi-ça Federal (CF, art. 109, I). Sendo autoras as demais entidades, acom-petência será da Justiça Estadual, a menos que a ação seja propostacontra a União, autarquia ou empresa pública federal.

Legitimados estão, também, “as entidades e órgãos da administra-ção pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegi-dos por este Código” (art. 82, III). Tais órgãos são aqueles encarregadosda defesa do consumidor em âmbito federal (SDE e DPDC), estadual(Procons) e municipal (comissões, conselhos de defesa do consumidor

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ou afins), pouco importando se integram a administração direta (Secre-tarias, coordenadorias etc.) ou a indireta (autarquias).

Por fim, a lei outorga legitimação às associações privadas de defe-sa do consumidor, constituídas há mais de um ano, que tenham atuaçãoinstitucional nessa área, podendo ser dispensado o primeiro requisito,quando houver interesse social manifesto evidenciado pela dimensãoou característica do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser pro-tegido (§ 19 do art. 82).

As vítimas, isoladamente, não estão legitimadas para a fase ini-cial _ processo de conhecimento _ da ação coletiva, mas podemintervir como litisconsortes ativos (art. 94) e atuam com grande de-senvoltura na fase de liquidação e no processo de execução (arts. 97,98 e § 39 do art. 103).

Em tema de legitimação para agir o Código trouxe uma ampliaçãoem relação à ação civil pública ao incluir, dentre os legitimados, osórgãos públicos de defesa do consumidor (Procons e afins), em reco-nhecimento aos notáveis trabalhos por eles executados, situação nãoprevista na Lei n. 7.347/85.

6.4.3. Foro competente

Em regra, será competente para o processo e julgamento da açãocoletiva que verse interesses individuais homogêneos a Justiça Comumdos Estados, ressalvada a competência da Justiça Federal (CF, art. 109,I, c/c CDC, art. 93).

Determina-se o foro competente pela abrangência territorial dosdanos, conforme sejam de âmbito nacional (produzidos em mais de umEstado ou em municípios de diferentes Estados), regional (alcançamváiios municípios de um mesmo Estado) ou local (circunscritos a umMunicípio). Assim, quando o dano for de âmbito local, competente seráo foro do lugar onde ocorreu ou deve ocorrer (art. 93, I). Sendo deâmbito nacional ou regional, a competência será do foro da Capital doEstado ou do Distrito Federal (art. 93, II).

A situação se altera, no entanto, quando se passa à fase da liquida-ção e ao processo de execução. Sendo individual, a liquidação deveráser promovida no foro da ação de conhecimento (condenatória) ou nodomicílio do autor _ liquidante (art. 97 c/c art. 101, I, aplicado

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analogicamente). Se coletiva a liquidação, aquela promovida pelos le-gitimados concorrentes, o juízo competente será o da ação condenatoria,tanto para a liquidação como para a execução (CDC, art. 98, § 29, H)-

6.4.4. Sentença e coisa julgada

Na ação coletiva, procedente o pedido, a condenação será genéri-ca, para o fim de deterrninar-se a responsabilidade do réu pelos danoscausados (art. 95). Não se fala, até então, em cifras ou em pessoasbeneficiárias, o que está relegado para a fase obrigatoria de liquidaçao.

Pela estrutura da ação coletiva _ em que as vítimas não sãoidentificadas desde o início do processo nem figuram necessariamentecomo litisconsortes ativos _, concebe-se que a condenação seja gené-rica, ou seja, com o único objetivo de estabelecer a responsabilidade deindenizar, para que, nas fases seguintes, conhecidas as vítimas, possamelas acompanhar a liquidação e a execução e obter a parcela da conde-nação que lhes cabe. Assinale-se que uma condenação em quantia cer-ta, em procedimento dessa natureza, tomaria inviável a discussão daextensão dos danos causados às vítimas que se apresentassem em mo-mento posterior, mas dentro do prazo de um ano.

A coisa julgada, na ação coletiva para a defesa de interesses indi-viduais homogêneos, rompe com a regra geral do CPC, no sentido deque seus efeitos estão limitados às partes do processo, não beneficiandonem prejudicando terceiros (art. 472).

Nessa via processual, a coisa julgada, no caso de procedência dopedido, produz efeitos erga omnes, ou seja, contra todos, beneficiandotodas as vítimas do mesmo evento e seus sucessores, tenham ou nãoingressado como litisconsortes, e incidindo sobre o réu, não se pernii-tindo a propositura de nova ação sobre o mesmo tema por quein querque seja, inclusive legitimados concorrentes e vítimas (art. 103, III).

Importa registrar, no entanto, que só participará desse efeito ergaomnes o autor da ação individual que requerer a suspensão dela, noprazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento daação coletiva (art. 104). Omitindo-se na providência, a ação individualterá curso e o seu autor não poderá liquidar e executar a ação condenatoriada ação coletiva, pois estará excluído dos efeitos erga omnes da coisajulgada, que embasariam sua pretensao.

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i Tratamento diferente recebe a sentença de improcedência, que sóproduz efeitos entre as partes litigantes (autor, réu e litisconsortes), masnão alcança aqueles não intervenientes (demais vítimas), que poderãopropor nova ação indenizatória a título individual (§ 29 do art. 103).

A inovação introduzida é altamente benéfica ao consumidor, namedida em que lhe estende os efeitos positivos de uma sentença favorá-vel, mesmo não tendo sido parte na ação originária, propiciando-lhepartir direto para a hquidação e a execução ou mesmo aguardar o resul-tado da execução coletiva. Desse modo, fica dispensado de mover ouparticipar do processo de conhecimento, em regra complexo e moroso,sem deixar, no entanto, de participar do processo executóiio e partilharo produto da condenação, ressarcindo-se.

6.4.5. liquidação e execução de sentença

. A leitura do § 29 do art. 98 leva ao entendimento de ser possível acisão entre o juízo da ação de conhecimento e o da liquidação. Assim,se individual a liquidação, deverá ser promovida no domicílio do autor-liquidante (art. 101, I) ou no juízo da ação condenatória (art. 98, § 29, I).Por isso mesmo é que, coerentemente, a execução individual tambémseranno juízo da liquidação da sentença ou naquele em que se processoua açao condenatória.

Ja a liquidação e a execução a título coletivo poderão ser promovi-das pelos legitimados concorrentes no juízo da ação condenatória, ex-clusivamente (art. 98, § 29, II), pois se estará cuidando de providênciascomplementares no mesmo juízo.

. A grande novidade nessa matéria _ aliás, o que constitui a notadiferenciadora da ação civil coletiva em relação à ação civil pública _6 que naquela o produto da condenação, como regra, vai para opatrimônio das vítimas, em ressarcimento da lesão sofrida, e só excep-ci/oçnalmentereverterá para o FDD, quando insignificante o número devitimas habilitadas ao fim de um ano (art. 100 e parágrafo único).Alias, correlatamente, a lei de proteçao estabelece a preferência do res-Sarcimento individual homogêneo sobre os créditos decorrentes de le-Sao difusa ou coletiva, sustando-se o recolhimento ao Fundo até deci-Sao .final das ações que envolvam danos individuais, a menos que opatrimônio do devedor seja suficiente para responder pela integralidadeda dívida, individual, difusa e coletiva (art. 99 e parágrafo único).

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A liquidação da sentença, como visto, pode ser feita de duas for-mas: a) a título individual, quando promovida pelas vítimas ou seussucessores; e b) a título coletivo, quando promovida pelos legitimadosconcorrentes no juízo da ação condenatória (arts. 97 e 98).

A possibilidade de cisão do juízo, podendo ser diferentes o da açãode conhecimento e o da liquidação e execução, a par de um rompiinentocom o esquema tradicional (CPC, art. 575), conduzirá a situações atéentão iiiimagináveis, que, porém, na prática, beneficiarn o consumidor.Exemplificando, uma sentença condenatória proferida em ação coletivaem São Paulo poderá ser liquidada e executada no Distrito Federal ou nolongínquo Amapá, a título individual, se nessas localidades for domiciliadoo autor-liquidante. O veto presidencial ao art. 97, parágrafo único, doCDC, não afastará tal entendimento, por força da aplicação analógica doinciso Ido art. 101, já que individualmente esse seria o tratamento.

A execução terá curso no mesmo juízo da liquidação. Se a títuloindividual, o exeqüente deverá extrair cópia das peças principais doprocesso (petição inicial, contestação, perícias, sentença e certidão detrânsito em julgado) para iniciar a fase de liquidação, que necessaria-mente deverá ser por artigos (CPC, art. 608), pois o liquidante deveráalegar e provar fatos novos: o nexo causal entre o evento e a lesão sofri-da, o dano e seu montante. Se a título coletivo, correrá no mesmo juízoda ação de conliecimento, nos mesmos autos, se definitiva, ou em autosapartados, se provisória, isto é, antes do trânsito em julgado da senten-ça (§ 19 do art. 98 do CDC, c/c art. 587 do CPC).

6.5. Ação civil pública e ação civil coletiva: afinidades edistinções

Tenho sustentado que a ação civil pública e a ação civil coletivapossuem afinidades e distinções, mas não se confundem, cu1d&11d0-S6de ações típicas, cada qual com perfil própiio e destinadas à proteçaode bens distintos4.

Outro argumento a reforçar a idéia de que estamosdíflflffi (11%dflflsações distintas é dado pela Lei Orgânica do Ministerio Publico da mao

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4. RDC, v. 26, p. 113.

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_ Lei Complementar n. 75, de 20-5-1993 _, que estabeleceu para oMinistério Público Federal, no art. 69, III, a atribuição para a promoçãoda ação civil pública, e, no inciso XII, para a promoção da ação civilcoletiva para defesa dos interesses individuais homogêneos, com issodemonstrando a existência de duas ações típicas e distintas.

Não bastasse isso, a ação civil pública, criada em 1985, destinadaà defesa coletiva do consumidor e de outros bens tutelados, é adequadapara a defesa dos interesses ou direitos difusos ou coletivos, por nature-za transindividuais e individuais. Como também _ admitir- se em facedo estádio atual da doutrina e da jurisprudência do STF e STJ _ dosdireitos individuais homogêneos, sobre os quais já se disse serem “aci-dentalmente coletivos” (J . C. BARBOSA MOREIRA), “coletivos emsentido lato” (MAZZILLI) ou até mesmo “subespécies de interesseseeieúvee” (RE 163.231-sP, Min. MAURÍCIO CORRÊA, _¡. 26-2-1997,v. u., DJ, 29 jun. 2001, p. 55).

Já a ação civil coletiva, criada em 1990 pelo CDC, destinada àdefesa coletiva apenas do consumidor, vítimas ou sucessores, é adequa-da para a defesa dos interesses ou direitos individuais homogêneos,assim entendidos os de origem comum, por natureza divisíveis. O cam-po desta ação é, portanto, bem mais restrito que o da ação civil pública.

São afinidades entre as ações: prestarem-se ambas à defesa coleti-va do consumidor; não poderem ser utilizadas para pleito singular dedireitos individuais, do que decorre a falta de legitiniidade do indivíduosingularmente considerado para o pleito de interesses ou direitos difusos,coletivos e individuais homogêneos.

Além de serem distintos os âmbitos de utilização das ações, outrasdistinções podem ser apontadas: a) na ação civil coletiva a condenaçãoem dinheiro é sempre genérica; o destino de seu produto é preferencial-mente destinado para os beneficiários (e não _ ou só excepcionalmen-te _ para o fundo); a liquidação e a execução podem ser feitas a títuloindividual; há exigência de ampla divulgação da ação e o beneficiáriopode ser admitido como litisconsorte ativo; b) na ação civil pública,contrariamente, a condenação é sempre certa, em dinheiro ou em obri-gação de fazer ou não fazer (Lei n. 7.347/85, art. 39); a destinação doproduto da condenação em dinheiro é o FDD (e não para osbeneficiários); não se admitem a liquidação e a execução a título indivi-dual, a lei é omissa e, portanto, não exige ampla divulgação da ação,

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mesmo porque não há fase de habilitação e, por fim, é jur1d1CElI11611l€impossível o litisconsórcio ativo do consumidor individualmente con-siderado com os co-legitimados.

O interesse na distinção das duas ações não é meramente doutri-nário, uma vez que pode ocorrer prejuízo para os litigantes caso umaseja proposta em lugar da outra, assim como pode ocorrer dúvida quan-to à legitimidade ativa para agir.

A questão da utilização da ação civil pública na defesa de interes-ses individuais homogêneos tem provocado debates na doutrina e najurisprudência. Analisando detalhada e especificamente este tema, aProfa. ADA PELLEGRINI GRINOVER afirmou que a ação civil públi-ca “pode ser usada para a proteção de interesses (ou direitos) individu-ais homogêneos”5. NELSON E ROSA NERY, a seu tumo, apontam.que“O Ministério Público está legitimado à defesa de interesses individu-ais homogêneos que tenham expressão para a coletividade, como: a) osque digam respeito à saúde ou à segurança das pessoas, ou .ao acessodas crianças e adolescentes à educação; b) aqueles em que haja extraor-dinária dispersão dos lesados; c) quando convenha à coletividade o zelopelo funcionamento de um sistema econômico, social ou jurídico”°. Namesma linha MAZZILLI, ao dizer que “a defesa de interesses individu-ais pelo Ministéiio Público, por meio de ação civil pública, só se podefazer enquanto se trata de direitos indisponíveis, que digam .respeito acoletividade como um todo, única fonna de analisar essa iniciativa coma destinação institucional do Ministério Público (art. 127, caput, daConstituição Federal)”7.

O STF também já enfrentou o tema, posicionando-se de formabastante inovadora e arrojada. Ao julgar o RE 163.231-3-SP, sendo relatoro Min. Maurício Corrêa, o STF disse com todas as letras: “4. Direitosou interesses homogêneos são os que têm a mesma origem comum (art.81, III, da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990), constituindo-se emsubespécie de direitos coletivos. 4.1. Quer se afirmem interesses coleti-vos ou particularmente interesses homogêneos, stricto sensu, ambos

_

5. RDC, v. 5, p. 206.

6. CPC anotado, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 1029-7. A ação civil pública, JTACSP, Lex, 1992, p. 132.

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estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos, explicita-mente dizendo, porque são relativos a grupos, categorias ou classes depessoas, que, conquanto digam respeito às pessoas isoladamente, nãose classificam como direitos individuais para o fim de ser vedada a suadefesa em ação civil pública, porque sua concepção finalística destina-se à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas. 5. As cha-madas mensalidades escolares, quando abusivas ou ilegais, podem serimpugnadas por via de ação civil pública, a requerimento do Órgão doMinistério Público, pois que sejam interesses homogêneos de origemcomum, são subespécies de interesses coletivos, tutelados pelo Estadopor esse meio processual, como dispõe o artigo 129, inciso III, da Cons-tituição Federal. 5.1. Cuidando-se de tema ligado à educação, ampara-da constitucionalmente como dever do Estado e obrigação de todos(CF, art. 205), está o Ministério Público investido da capacidadepostulatória, patente a legitimidade ad causam, quando o bem que sebusca resguardar se insere na órbita dos interesses coletivos, em seg-mento de extrema delicadeza e de conteúdo tal que, acima de tudo,recomenda-se o abrigo estatal.” (STF, Plenário, j. 26-2-1997)

Em data posterior, reafirinou esse entendimento, por ocasião dojulgamento do RE 185.360-3, nestes termos: “Ação Civil Pública quetem por objeto fixação e pagamento de mensalidades escolares: os inte-resses ou direitos daí decorrentes podem ser classificados como coleti-vos: legitiniidade do Ministério Público para propor a ação civil públi-ca, mesmo porque, considerados esses direitos como individuais ho-mogêneos, têm vinculação com o consumo, ou podem os titulares dodireito ser considerados como consumidores: Lei n. 8.078/90, art. 29 eseu par. único” (STF, 29 T., rel. Min. Carlos Velloso, j. 17-11-1997, v.u., DJ, 20 fev. 1998).

No entanto, quando se tratar de direito individual homogêneo puro,em que haja necessidade de habilitação das vítimas e a demonstraçãodo dano individualmente sofrido e o nexo etiológico, como no caso demedicamento perigoso ou do uso do silicone, nesses casos é adequada aação civil coletiva disciplinada nos arts. 91 e seguintes do CDC.

Num caso concreto em que foi ajuizada ação civil pública em lu-gar da ação civil coletiva, para demandar o recebimento da diferença dacorreção monetária sobre poupança paga em desacordo com o índiceinflacionáiio de março de 1990, determinou o juiz o processamento da

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demanda como ação civil coletiva. Em grau de recurso, dsecidiu o 19Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, por sua 69 Câmara, ser nrelevantea indicação de outro nome para a demanda”, posto que houve obser-vância, no processamento, do rito da ação civil coletiva” (Ap. 661.154-7, j. 29-11-1995, rel. Juiz Torres Júnior, v. un., RDC, v. 18, p. 181)-

6.6. Ação de responsabilidade do fornecedor

A ação de responsabilidade civil do fomecedor de produtos e ser-viços segue o procedimento comum do CPC e visa ao ressarcimentocivil do consumidor no âmbito individual, proporcionando-lhe asustação ou o impedimento da concretização do dano, 0UdI1'1fi`‹Sm9 fe'

~ ›~ - ' ' "' re uizocompondo o patrimonio do lesado mediante indemzaçao o p Jsofrido (CDC, art. 101).

Há autorização legal para que as disposições processuais atinentesà defesa coletiva sejam utilizadas também nessa via processual. Pensa-mos, no entanto, ressalvados os dispositivos que cuidam das atividadesdo juiz no processo (CDC, art. 84 e §§ 19 a 59), que os demais dificil-mente poderão ser utilizados na ação de responsabilidade dofornece-dor a título individual, porque cuidam precisamente das peculiaridadesda defesa coletiva, não havendo como aproveitá-los para aquela finali-dade. Tal não implica dizer, porém, que o consunndor lesado nao pode-rá beneficiar-se de outras disposições da lei de proteçao. Ao COI1II8I10,mesmo demandando a título individual, o consumidor poderá fazer usode outros benefícios que o Código lhe outorga, como assistência judici-ária, responsabilidade objetiva do fomecedor e inversão do onus da provaem matéria civil (CDC, arts. 69, VII e VIII, e 12).

No intuito de dar efetividade ao princípio da facilitação da defesado consumidor, o legislador entendeu, nessa matéria, que apeI1í=!S d01Saspectos mereceiiam tratamento diferenciado, outorgando-lhe a facul-dade de optar entre o foro onde ocorreu o dano ou o de seuodçmicílio,para o ajuizamento da ação (art. 101, I), e disciplinando as hipotcS6S dêexistência de seguro de responsabilidade civil e falencia do fomecedor(art. 101, Il).

Já o art. 102, erroneamente colocado no capítulo Das Ações deResponsabilidade do Fomecedor de Produtos e Serviços, com ela nadatem que ver, já que cuida de interesses difusos e coletivos, protegidos

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pela via da ação civil pública. Tanto isso é verdade que as ações serãomovidas pelos legitimados concorrentes do art. 82 e terão por objetocompelir o Poder Público a proibir a produção, divulgação, distribui-ção ou venda de produto cujo uso ou consumo regular se revele nocivoou peiigoso à saúde pública e à incoluniidade pessoal ou a determinar aalteração na composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento deproduto nas mesmas condições descritas, circunstâncias essasevidenciadoras de interesse difuso ou coletivo, em vista datransindividualidade e da indivisibilidade. O dispositivo, topografica-mente mal situado, melhor estaria localizado no capítulo das Disposi-ções Gerais (arts. 81 e s.).

6.7. Outras ações: ação popular. mandado de segurançacoletivo. juizados especiais cíveis e habeas data

Outras vias processuais poderão, ainda, ser utilizadas pelo consu-midor:

a) Ação popular _ dentre as medidas judiciais que podem serutilizadas pelo consumidor em sua defesa, inscreve-se a ação popular,disciplinada pela Lei n. 4.717, de 29-6-1965.

Ação popular _ leciona o saudoso mestre Hely Lopes Meirelles_ “é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadãopara obter a invalidação de atos ou contratos administrativos _ ou aestes equiparados _ ilegais e lesivos do patrimônio federal, estadual emunicipal, ou de suas autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurí-dicas subvencionadas com dinheiros públicos”8.

Três requisitos constituem os pressupostos da lide: condição deeleitor, ilegalidade e lesividade do ato impugnado.

Embora a lei disponha que a ação popular possa ser usada naresponsabilização por danos causados ao consumidor (Lei n. 7.347, de24-7-1985, art. 19), a verdade é que sua utilização nesse campo é restri-ta, sofrendo sérias limitações no que pertine à legitimação, a saber:

8. Mandado de segurança, ação popular; ação civilpública, mandado de injunçãoe “habeas data 13. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p. 87.

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a) somente o indivíduo (pessoa física), cidadão brasileiro, no gozode seus direitos cívicos e políticos, munido de seu título eleitoral, pode-rá propor ação popular. Assim, só poderá figurar no pólo ativo da de-manda o consumidor individualmente considerado ou aliado a outrosem litisconsórcio ativo facultativo. Não estão legitimados a propor açãodessa natureza o Miriistério Público, partido político, entidade de clas-se ou outra pessoa jurídica;

b) a ação só terá cabimento se o ato que constrange ou prejudica oconsumidor tiver sido praticado por entidade pública federal, estadualou municipal, suas autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídi-cas subvencionadas com verbas públicas, nos temios do art. 19 da lei deregência. Assim, só haverá viabilidade para essa via processual se ofomecedor for uma das entidades públicas enumeradas na lei e estiverpraticando ato em detrimento de consumidor. Estará a salvo, pois, ofomecedor pessoa física ou jurídica de direito privado, de que trata oart. 39 do CDC (Lei n. 8.078, de 11-9-1990).

Tais óbices, aliados à superveniência de outros instrumentos pro-cessuais mais ágeis e adequados (ação civil pública e ações coletivas) eà ampliação da legitimação para agir, estendida ao Ministério Público,às pessoas jurídicas de direito público intemo e às associações privadasde consumidores, talvez expliquem o pouco ou nenhum uso dessa viaprocessual na defesa do consumidor.

b) Mandado de segurança coletivo _ se o ato impugnado prejudi-cial ao interesse do consumidor for emanado de autoridade pública oude agente de pessoa jurídica no exercício de função delegada do PoderPúblico.

c) Juizados especiais cíveis _ para as demandas de naturezapatrimonial cujo valor não exceda de quarenta salários mínimos na Jus-tiça Estadual ou sessenta na Federal. _

d) 0 “habeas data unicamente com o objetivo de obter infonna-ções pessoais constantes de registros ou bancos de dados de entidadespúblicas, bem como a respectiva retificação de dados (CF, art. 59, LXXII).

Poderão ser também utilizados, em face de bancos de dados, ca-dastros de consumidores e serviços de proteção ao crédito, equipara-dos, por lei, às entidades de caráter público (CDC, § 59 do art. 43),ressaltando-se que sem essa equiparação legal ocorreria impropiiedadeda via eleita.

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B|BL|ofinAF|A rE|v|Ár|cA

Como manual básico que é, este livro não exaure os temas analisa-dos. Apresenta-os de forma concisa e clara, procurando ser o mais abran-gente e objetivo possível.

A advertência é necessária para que nãose frustrem expectativasem face das naturais limitações da obra resumida. p

Para aqueles que têm interesse em aprofundar o estudo de deter-minados tópicos ou temas específicos, seja para fins acadêmicos, sejapara a preparação de uma monografia, seja para a elaboração de umapeça jurídica, é apresentado em seguida um apêndice de BibliografiaTemática, em que são indicadas as melhores fontes doutrinárias em li-vros e periódicos. Essa providência dará maior utilidade à obra e facili-tará sobremodo a realização de pesquisa jurídica mais completa, umavez que dirigirá a atenção do leitor diretamente para o ponto de interes-se, abrindo-lhe novas perspectivas e oferecendo-lhe amplas condiçõesde realizar' um bom trabalho.

Temas tratados: ação civil coletiva, ação civil pública, bancos de da-dos de proteção ao crédito (SPC, Serasa etc.), contratos (abrangendo cláu-sulas abusivas, contratos de adesão e proteção contratual), dano moral, in-quérito civil, interesses difusos e coletivos, interesses individuais homogê-neos, juizados especiais cíveis e criminais, oferta, publicidade enganosa ouabusiva (aspectos civil e penal), responsabilidade civil, revisão de contra-tos, tutelas administrativa, penal e jurisdicional e tutelas antecipada e espe-cífica. A tutela civil está compreendida nos itens: contratos, bancos de da-dos, oferta, publicidade enganosa ou abusiva e responsabilidade civil.

1. Ação civil coletiva. Ada Pellegrini Grinover, Código Brasileiro deDefesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto,

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6. ed. rev. e atual., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p.763-834; João Batista de Almeida, Aspectos controvertidos da açãocivil pública, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 36; Açãocivil pública e ação coletiva: afinidades e distinções, RDC, São Pau-lo: Revista dos Tribunais, v. 26, p. 443, abr./jun. 1998; A ação civilcoletiva para a defesa dos interesses ou direitos individuais homo-gêneos, RDC, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 34, p. 88, abr./jun. 2000; Ives Gandra da Silva Martins Filho, Ação civil pública eação civil coletiva, LTr, v. 59, n. 11, p. 1449-1451, nov. 1995.Ação civil pública. João Batista de Almeida, Aspectos controverti-dos da ação civil pública, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001;José Marcelo Menezes Vigliar, Ação civilpública, 3. ed. rev. e ampl.,São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999; Rodolfo de CamargoMancuso, Ação civil pública, 3. ed, São Paulo: Revista dos Tribu-nais, l994; Manual do consumidor em juizo, São Paulo: Saraiva,1994; Hugo Nigro Mazzilli, A defesa dos interesses difusos emjuizo,4. ed. rev., ampl. e atual., São Paulo: Revista dos Tribunais; AdaPellegrini Grinover et al., Ação civil pública - Lei n. 7.347/85 -Reminiscências e reflexões após dez anos de aplicação, Édis Milaré(Coord.), São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995; André de Carva-lho Ramos, A ação civil pública e o dano moral coletivo, RDC, SãoPaulo: Revista dos Tribunais, v. 25, p. 80-98, jan./mar. 1998; RobertoCavalcanti Batista e Moacir Mendes Sousa, A ação civil pública emseu 109 aniversário: principais problemas e propostas de aperfeiço-amento, RDC, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. l8, p. 162-171,abr./j un. 1996; Hely Lopes Meirelles, Mandado de segurança, açãopopular; ação civil pública, mandado de injunção e “habeas data”,13. ed. ampl. e atual. pela Constituição de 1988, São Paulo: Revistados Tribunais, 1989; Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz etal., A ação civilpública e a tutelajurisdicional dos interesses difusos,São Paulo: Saraiva, 1984; Paulo Affonso Leme Machado, Ação civilpública e tombamento, São Paulo: Saraiva, 1986; Galeno Lacerda,Ação civil pública, Revista do Ministério Público do Estado do RioGrande do Sul, ed. especial, v. 19, p. 11-33, 1986; Paulo SalvadorFrontini et al., Ministério Público, ação civil pública e defesa dosinteresses difusos, Revista “Justitia” do MPSP, v. 47, n. 131, p. 263-278, set. 1985; Nelson Nery Junior, A ação civil pública, Revista“Justitia” do MPSP, v. 45, n. 120, p. 79-88, jan./mar. 1983.

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3

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6.7

Bancos de dados de proteção ao crédito (SPC, Serasa etc.). An-tonio Carlos Efing, Banco de dados e Cadastro de Consumidores,São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002; Antônio Herman Vascon-celos e Benjamin, Código Brasileiro de Defesa do Consumidor co-mentado pelos autores do anteprojeto, 6. ed. rev. e atual., Rio deJaneiro: Forense Universitária, 1999, p. 339-424.Cláusulas abusivas. (Ver Contratos.)Contratos. Cláudia Lima Marques, Contratos no Código de Defesado Consumidor, 3. ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Revista dosTribunais, 1999; Nelson Nery Jr. et al., Código Brasileiro de Defesado Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, Rio de Ja-neiro: Forense Universitária, 1991, p. 270-388; Eduardo ArrudaAlvimet al., Código do Consumidor comentado, São Paulo: Revista dos Tri-bunais, 1991, p. 105-125; Carlos Eduardo Manfredini Hapner et al.,Comentários ao Código do Consumidor, José Cretella Jr. e René ArielDotti (Coord.). Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 149-189; AlbertoAmaral Jr., Proteção do consumidor no contrato de compra e venda,São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993; Waldirio Bulgarelli, Ques-tões contratuais no Código de Defesa do Consumidor, São Paulo:Atlas, 1993; João Batista de Ahneida, A proteção jurídica do consu-midor, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 131-169.Contratos de adesão. (Ver Contratos.)Dano moral. Antônio de Herman Vasconcelos e Benjamin, CódigoBrasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores doanteprojeto, 6. ed. rev. e atual., Rio de Janeiro: Forense Universitá-ria, 1999, p. 415-419; Paulo Luiz Neto Lobo, Danos morais e direi-tos da personalidade, Revista Jurídica, São Paulo, v. 49, n. 284, p. 5-17, jun. 2001, e Rev. Trimestral de Direito Civil, v. 2, n. 6, p. 79-97,abr./jun. 2001; Sérgio Ricardo de Arruda Fernandes, Ação de 'inde-nização por danos morais, Adv. - Advocacia Dinâmica: BoletimInformativo Semanal, v. 20, n. 32, p. 510-513, ago. 2000; PauloNader, Ação de indenização por danos morais e materiais, CiênciaJurídica, v. 13, n. 86, p. 370-373, mar./abr. 1999; José AugustoGarcia, O princípio da dimensão coletiva das relações de consumo:reflexos no “processo do consumidor”, especialmente quanto aosdanos morais e às conciliações, RDC, n. 28, p. 68-110, out./dez.1998; Antônio Chaves, Responsabilidade civil - atualização em

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matéria de responsabilidade por danos morais, Revista Jurídica, v.45, n. 231, p. 11-30, jan. 1997.Inquérito civil. Hugo Nigro Mazzilli, O inquérito civil, São Paulo:Saraiva, 1999; Defesa dos interesses difusos em juízo, p. 205-225;Rosa e Nelson Nery Junior, CPC comentado, 3. ed., 1997, p. 1143-1149; José dos Santos Carvalho Filho, Ação civilpública: comentári-os por artigo, 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, Lumen Juris,1999, p. 221-299; José Marcelo Menezes Vigliar, Ação civil pública,3. ed. rev. e ampl., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 85-98;Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação civil pública, 6. ed., São Paulo:Revista dos Tribunais, 1999, n. 111-5; João Batista de Ahneida, Aproteção juridica do consumidor, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2002,,p.262-268; Aspectos controvertidos da ação civil pública, São Paulo:Revista dos Tribunais, 2001, p. 129- 141; José Ennnanuel Burle Filho,Principais aspectos do inquérito civil como função institucional doMinistério Público, in Ação civil pública - IO anos, Édis Milaré(Coord.), p. 321-325; Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz,Inquérito Civil: dez anos de um instrumento da cidadania, in Açãocivil pública -» 10 anos, Édis Milaré (Coord.), p. 62-69.Interesses difusos e coletivos. Kazuo Watanabe, Código Brasileirode Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto,6. ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 716-731; AdaPellegrini Grinover, A tutela jurisdicional dos interesses difusos, Re-vista de Processo, n. 14-15, p. 25-44, abr./set. 1979; Novas tendên-cias na tutela jurisdicional dos interesses difusos, Revista Ajuris, v.31, p. 80-108, jul. 1984; As ações coletivas para a tutela do ambien-te e dos consumidores (Lei n. 7.347, de 24-7-1985), Revista Ajuris,v. 36, p. 7-22, mar. 1986; José Carlos Barbosa Moreira, A legitimaçãopara a defesa dos interesses difusos no direito brasileiro, RevistaForense, v. 276, p. 1-6; Waldemar Mariz Oliveira Jr., Tutelajurisdicional dos interesses coletivos e difusos, Revista de Proces-so, n: 33, p. 7-25, jan./mar. 1984; Celso Ribeiro Bastos, A tutela dosinteresses difusos no direito constitucional brasileiro, Revista deProcesso, n. 23, p. 36-44, jul./set. 1981, p. 36-44; José Domingos daSilva Marinho, Ministério Público e tutela jurisdicional dos interes-ses difusos, Revista de Processo, n. 36, p. 114-127, out./dez. 1984;Paulo Salvador Frontini et al., Ministério Público, ação civil públi-ca e defesa dos interesses difusos, Justitia, v. 131, p. 263-278, set.

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1985; Luiz Flávio Gomes, O Ministério Público e a tutelajurisdicional dos interesses difusos, Justitia, v. 116, p. 117-132, jan./mar. 1982; Antonio Femando Barros e Silva de Souza, O MinistérioPúblico e a tutela jurisdicional dos interesses coletivos, Revista deProcesso, v. 32, p. 274-279, out./dez. 1983; Kazuo Watanabe, Tute-la jurisdicional dos interesses difusos, Revista de Processo, n. 34, p.197-206, abr./jun. 1984; Hugo Nigro Mazzilli, Defesa dos interes-ses difusos em juízos, Revista do Ministério Público do RS, n. 19, p.34-65, ed. especial, 1986; Antonio Augusto Mello de Camargo Ferrazet al., A ação civil pública e a tutela jurisdicional dos interessesdifusos, São Paulo: Saraiva, 1984; Péricles Prade, Conceito de inte-resses difusos, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais.

10. Interesses individuais homogêneos. João Batista de Almeida, As-

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pectos controvertidos da ação civil pública, São Paulo: Revista dosTribunais, 2001, p. 33-35; José Marcelo Menezes Vigliar, Ação civilpública, 3. ed. rev. e ampl., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999,p. 41-56; Kazuo Watanabe, Código Brasileiro de Defesa do Consu-midor comentado pelos autores do anteprojeto, 6. ed., Rio de Janei-ro: Forense Universitária, 1999, p. 716-731; Nelson Nery Junior, OMP e as ações coletivas, in Ação civil pública, Édis Milaré (Coord.),p. 356-366; Ada Pellegrini Grinover, A ação civil pública e a defesados interesses individuais homogêneos, RDC, São Paulo: Revistados Tribunais, v. 5, p. 206-229, jan./mar. 1993.Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Paulo Lúcio Nogueira,Juizados Especiais Cíveis e Criminais, São Paulo: Saraiva, 1996;Ênio Bastos de Barros, Juizados Especiais Cíveis e Criminais, SãoPaulo: Jurídica Brasileira, 1996, p. 53-67; Weber Martins Batista,Juizados Especiais Cíveis e Criminais e suspensão condicional doprocesso penal, Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 279-417; Maurí-cio Antonio Ribeiro Lopes, Comentários à Lei dos Juizados Espe-ciais Cíveis e Criminais, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995,p. 225-413.Oferta. Fábio Konder Comparato, A proteção do consumidor: im-portante capítulo do direito econômico, in Defesa do consumidortextos básicos, 2. ed., Brasília: MJ/CNDC, 1988, p. 44-45; TupinambáMiguel Castro do Nascimento, Comentários ao Código do Consu-midor, Rio de Janeiro: Aide, 1991, p. 35-40; Antônio Herman

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Vasconcellos e Benjamin et al., Código Brasileiro de Defesa doConsumidor comentado pelos autores do anteprojeto, 6. ed. rev. eatual., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 134-164;Thereza Alvim et al. , Código do Consumidor comentado, São Pau-lo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 79-88; João Batista de Almeida,A proteçãojurídica do consumidor, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2002,p. 104-110.

13 Proteção Contratual. (Ver Contratos.)14 Publicidade enganosa ou abusiva: I (aspecto civil) Antônio

Herman de Vasconcellos e Benjamin et al., Código Brasileiro de De-fesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, 6. ed.rev. e atual., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 165-218;Hermano Duval, A publicidade e a lei, São Paulo: Revista dos Tribu-nais, 1975; Waldirio Bulgarelli, Publicidade enganosa- aspectos daregulamentação legal, Revista de Direito Mercantil, ano 24 (nova sé-rie), n. 58, p. 89-96, abr./jun. 1985; Adalberto Pasqualotto, Defesa doconsumidor, Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 658, p. 62-63, ago.1990; Carlos Alberto Bittar, Direitos do consumidor, São Paulo: Fo-rense Universitária, 1990, p. 47-51; Tupinambá Miguel Castro doNascimento, Comentários ao Código do Consumidor, Rio de Janei-ro: Aide, 1991, p. 38-40; TherezaAlvim et al., Código do consumidorcomentado, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 88-94;Adalberto Pasqualotto, Os efeitos obrigacionais da publicidade noCódigo de Defesa do Consumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais,1997; Paulo Vasconcelos Jacobina, Publicidade no direito do consu-midor, Rio de Janeiro: Forense, 1996; Gino Giacomini Filho, Consu-midor “versus” propaganda, São Paulo: Summus Editorial, 1991;Walter Ceneviva, Publicidade e o direito do consumidor, São Paulo:Revista dos Tribunais, 1991. II (aspecto penal) -- Paulo Vasconce-los Jacobina, Publicidade no direito do consumidor, Rio de Janeiro:Forense, 1996, p. 105-1 19; Walter Ceneviva, Publicidade e direito doconsumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 148-153;Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, A repressão penal aosdesvios de “marketing”, in Direito do consumidor, São Paulo: Revis-ta dos Tribunais -- Brasilcon, 1992, v. 4, p. 91- 125; Caio A.Domingues, Publicidade enganosa e abusiva, in Direito do consumi-dor, São Paulo: Revista dos Tribunais -- Brasilcon, 1992, p. 192-199.

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15. Responsabilidade civil. Carlos Roberto Gonçalves, Responsabili-dade civil, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 1986; Luiz Gastão Paes deBarros Leães, A responsabilidade dofabricante pelo fato do produ-to, São Paulo: Saraiva, 1987; Caio Mário da Silva Pereira, Respon-sabilidade civil do fabricante, Revista de Direito Comparado Luso-Brasileiro, ano 2, v. 2, p. 28-44, jan. 1983; José Geraldo BritoFilomeno, Da responsabilidade em matéria de qualidade veicular,Justitia, São Paulo: MP/SP, v. 51, n. 147, p. 36-48, jul./set. 1989;Carlos Alberto Bittar, Direitos do consumidor - Código de Defesado Consumidor; São Paulo: Forense Universitária, 1990, p. 33-39 e68-71; Responsabilidade civil por danos a consumidores, São Pau-lo: Saraiva, 1992; Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Co-mentários ao Código do Consumidor, Rio de Janeiro: Aide, 1991, p.77-94; Responsabilidade civil no Código do Consumidor, Rio deJaneiro: Aide, 1991; Fábio Konder Comparato, A proteção do con-sumidor: importante capítulo do direito econômico, in Defesa doconsumidor - textos básicos, 2. ed., Brasília: MJ/CNDC, 1988, p.46-47; Zelmo Denari, Código Brasileiro de Defesa do Consumidorcomentado pelos autores do anteprojeto (co-autoria), São Paulo:Forense Universitária, 1991, p. 76-134; James Marins et al., Códigodo Consumidor comentado, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991,p. 35-78; João Marcelo Araújo Jr. et al. (co-autoria), Comentáriosao Código do Consumidor, José Cretella Jr. e René Ariel Dotti(Coord.), Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 55-111; Eduardo ArrudaAlvim, Responsabilidade civil pelo fato do produto no Código deDefesa do Consumidor, Direito do consumidor, v. 15, p. 132-150,jul./set., 1995; James Marins, Responsabilidade da empresa pelofato do produto, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993; Silvio LuisFerreira da Rocha, Responsabilidade civil do fornecedor pelo fatodo produto no direito brasileiro, São Paulo: Revista dos Tribunais,1992; José Reinaldo de Lima Lopes, Responsabilidade civil do fa-bricante e a defesa do consumidor, São Paulo: Revista dos Tribu-nais, 1992; Gustavo Tepedino, A responsabilidade civil por aciden-tes de consumo na ótica civil constitucional, in Anais do CongressoInternacional de Responsabilidade Civil, v. 1, out./nov. 1995, p. 89-95. Em Portugal: João Calvão da Silva, Responsabilidade civil doprodutor, Coimbra: Alrnedirra, 1990; Carlos Ferreira de Almeida, Osdireitos dos consumidores, Coimbra: Alrnedina, 1982, p. 131-138.

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16.

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Revisão de Contratos. João Batista de Almeida, A proteção jurídi-ca do consumidor, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 159- 169; LuísRenato Ferreira da Silva, Revisão dos contratos: do Código Civil aoCódigo do Consumidor, Rio de Janeiro: Forense, 1998; Nelson NeryJunior, Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pe-los autores do anteprojeto, Rio de Janeiro: Forense Universitária,1991, p. 311-312 e 365-367; Ronaldo Porto Macedo Júnior, Mu-danças dos contratos no âmbito do direito social, RDC, v. 25, p. 99-115, jan./mar. 1998; Leonardo Roscoe Bessa, Os contratos em dólare sua revisão, Correio Braziliense, 01 mar. 1999, p. 7 - Suplemen-to Direito e Justiça.Tutela administrativa. Zelmo Denari, Código Brasileiro de Defe-sa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, SãoPaulo: Forense Universitária, 1991, p. 389-401; Daniel Roberto Fink,Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos au-tores do anteprojeto, São Paulo: Forense Universitária, 1991, p. 601-614; José Cretella Jr., Comentários ao Código do Consumidor; JoséCretella Jr. e René Ariel Dotti (Coord.), Rio de Janeiro: Forense,1992, p. 191-218; LuizAmaral, Comentários, cit., p. 385-400; ArrudaAlvim et al., Código do Consumidor comentado, São Paulo: Revis-ta dos Tribunais, 1991, p. 125-133; Marcelino R. da Silva Neto, Aregulamentação das sanções administrativas no Código de Defesado Consumidor, Direito do consumidor, São Paulo: Revista dos Tri-bunais, v. 9, p. 92-106, jan./mar. 1994.

18. Tutela antecipada e tutela especifica. Cândido Rangel Dinamarco,A reforma do Código de Processo Civil, 3. ed., São Paulo: Malheiros,1996, p. 140-161; Sergio Bermudes, A reforma do Código de Pro-cesso Civil, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1996, p. 27-31 e 65-68; J. J.Calmon de Passos, Inovações no Código de Processo Civil, 2. ed.,Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 30-38 e 51-69; Sérgio Ferraz, Pro-vimentos antecipatórios na ação civil pública, in Ação civil públicaÉdis Milaré (Coord.), São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 451-459;Kazuo Watanabe, Tutela antecipatória e tutela especifica das obri-gações de fazer e não fazer, Direito do consumidor, São Paulo: Re-vista dos Tribunais, v. 19, p. 77-102, jul./set. 1996; Arruda Alvim,Tutela antecipada, RDC, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 21 , p.61-96, jan./mar. 1997.

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19. Tutela jurisdicional. Ada Pellegrini Grinover e Kazuo Watanabe,Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos au-tores do anteprojeto, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991, p.495-599; Arruda Alvim e Eduardo Arruda Alvim, Código do Con-sumidor comentado, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 165-239; Ada Pellegrini Grinover et al., Ação civilpública-Lei n. 7.347/85 - Reminiscências e reflexões após dez anos de aplicação, ÉdisMilaré (Coord.), 4. ed. rev., ampl. e atual., São Paulo: Revista dosTribunais; Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação civil pública, 3. ed.rev. e ampl., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994; Carlos RobertoBarbosa Moreira, A defesa do consumidor em juízo, Direito doConsumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 5, p. 190-201,jan./mar., 1993; Rogério José Ferraz Donnini, Tutela jurisdicionaldos direitos e interesses coletivos no Código do Consumidor, Direi-to do Consumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 10, p. 183-195, abr./jun. 1994; Nelson Nery Jr., Aspectos do processo civil noCódigo de Defesa do Consumidor, Direito do Consumidor, São Pau-lo: Revista dos Tribunais, v. 1, p. 200-201, 1992; João Batista deAlmeida, A proteção jurídica do consumidor, 3. ed., São Paulo: Sa-raiva, 2002, p. 229-286.

20. Tutela penal. José Geraldo de Brito Filomeno, Código de Defesado Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, 6. ed., Riode Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 573-702; Manual dosdireitos do consumidor, São Paulo: Atlas, 1991, p. 112-141; PauloJosé da Costa Jr. et al., Comentários ao Código de Proteção Jurídi-ca ao Consumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991; RenéAriel Dotti et al. Comentários ao Código do Consumidor, Rio deJaneiro: Forense, 1991, p. 219-296 e 297-324; Arruda Alvim et al.,Código do Consumidor comentado, São Paulo: Revista dos Tribu-nais, 1991, p. 135-164; Antônio Herrnan de V. e Benjamin, Crimesde consumo no Código de Defesa do Consumidor, Direito do Con-sumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 3, p. 88-126, set./dez.1992; Manoel Pedro Pimentel, Aspectos penais do Código de Defe-sa do Consumidor, RT, São Paulo, v. 661, p. 251, nov. 1990; DamásioE. de Jesus, Dolo e culpa no Código de Defesa do Consumidor,Direito do Consumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 1, p.95-102; Antônio Herman de V. e Benjarnin, O direito penal do con-sumidor: capítulo do direito penal econômico, Direito do Consumi-

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dor, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 1, p. 103-129; Marco An-tonio Zanellato, O sancionamento penal da violação do dever deinformar no Código de Defesa do Consumidor, Direito do Consu-midor, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 8, p. 92-l00, out./dez.1993; Parisina Lopes Zeigler et al., O Ministério Público e a expres-são “deveria saber” do art. 67 do CDC, Direito do Consumidor, SãoPaulo: Revista dos Tribunais, v. 14, p. 67-71, abr./jun. 1995; Joa-quim de Almeida Baptista, Código do Consumidor interpretado, SãoPaulo: Iglu, 1997, p. 124-136.

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Impressão e acabamentoEditora SARAIVA

Unidade GráficaAv. Amâncio Gaiolli, 1146

Guarulhos-SP

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FACULDADEBli

Autor: ALMEIDA, Ji

Título:

N° de Riegisltrozh

N° de Exemplar: -

N° de Volume: fz J

N° de Chamada: 34:36A447l

Devolva conLivro

Trata-se de instrumento lndlspensóvelaos alunos da graduaçõo dos cursos de Di-reito, aos agentes dos órgaos públicos e en-tidades civis de defesa do consumidor, bemcomo aos bacharéis em fase de prepara-Çõo para os concursos de ingresso nas car-reiras jurídicas (Magistratura. Ministério Públi-co etc.) e aos que iniciam a atuaçao na ad-vocacia.

O autor é Membro da Carreira do Minis-tério Público Federal desde 1984, exercen-do o cargo de Subprocurador-Geral da Re-pública. para o qual foi promovido, por me-recimento. em outubro de 1996. Atua naórea cível do Supremo Tribunal Federal, ondetem assento na 2° Turma.

Mestre em Direito Público pela Universi-dade de Brasilia (1991), é Professor Universi-tório e integra o Corpo Docente do Cursode Pós-Graduação em Direito do Consumi-dor da EMERJ - Escola de Magistratura doEstado do Rio de Janeiro, em convênio coma UNESA - Universidade Estócio de Só (desde2001), e o Corpo Docente da ESMPU - Es-cola Superior do Ministério Público da Uniõo.jó tendo ministrado aulas de Responsabilida-de Civil e de Direito do Consumidor (2001).

Foi presidente do BRASILCON --ç institu-to Brasileiro de Política e Direito do Consumi-dor (2000-2002). membro e coordenador da39 Cômara de Coordenação e Revisõo doMinistério Público Federal, que trata de Con-sumidor. Ordem Econômica e Economia Po-pular (l 998-2002 e 2001-2002. respectivamen-te). e presidente do CNDC - Conselho Na-cional de Defesa do Consumidor em 1989.no período em que foram feitas as últimasdiscussões e a redaçõo final do anteprojetodo CDC -Código de Defesa do Consumidor.

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