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d i s q u a l optimização da qualidade e redução de custos na cadeia de distribuição de produtos hortofrutícolas frescos DISQUAL p r o g r a m a p r a x i s x x i Manual de Boas Práticas

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d i s q u a l

optimização da qualidade e redução de custos na cadeia

de distribuição de produtos hortofrutícolas frescos

D I S Q U A L

p r o g r a m a p r a x i s x x i

Manual de BoasPráticas

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Instituições do consórcio

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CARACTERIZAÇÃO

Aspectos GeraisA alface é uma planta pertencente à família Asteracea (antigamenteCompositae), cujo nome científico é Lactuca sativa L.

Trata-se de uma planta herbácea, de ciclo anual, com raiz aprumada epouco desenvolvida, mais ou menos ramificada segundo o modo de pro-dução e tipo de solo. As folhas podem ser lisas ou frisadas, de formaarredondada, lanceolada ou quase espatulada, com os bordos recortadosou não; a cor pode ir de verde claro até verde escuro, existindo cultivaresavermelhadas ou arroxeadas pela presença de antocianinas. No início doseu desenvolvimento vegetativo, as folhas dispõem-se em roseta, poden-do em seguida formar ou não repolho, conforme as cultivares. Na fase derepolhamento o caule é curto, com 2 a 5 cm, onde se inserem cerca de 40folhas. Após o repolhamento o caule desenvolve-se formando uma hastefloral ramificada, com cerca de 1 a 1,5 m de altura, com conjuntos depequenas flores amarelas hermafroditas agrupadas em capítulos naextremidade. A alface é constituída essencialmente por água (95%), encon-trando-se também algumas fibras (1,5%), açúcares (0,9%), minerais (0,7%),proteínas (1,25%), lípidos (0,2%), vitaminas e ácidos orgânicos, com peque-nas variações entre tipos. O valor nutritivo é reduzido: 36 KJ (8,6 Kcal)por 100 g de parte comestível. Assim, a alface não é apreciada tanto peloseu valor nutritivo mas mais pelas suas qualidades dietéticas (vitaminase fibras), a sua fácil preparação e utilização decorativa.

CULTIVARES

Entre as cultivares de alface existe uma grande diversidade de formas, tama-nhos e cores. Geralmente a classificação baseia-se em características comoa forma da folha, tamanho, grau de formação do repolho, etc. Actualmente,as diferentes cultivares dividem-se em 6 grandes grupos: as alfaces tipo “Bolade Manteiga”, as “Batávias”, as “Romanas”, as “Grasses” ou “Latinas”, as “defolhas” ou “de cortar” e as “de caule” ou “alfaces espargo”.

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Alfaces Bola de Manteiga – formam repolhos arredondados, folhas lisasou ligeiramente empoladas, macias e geralmente mais finas que as defolha frisada, sendo, por isso, mais sensíveis a danos físicos. Têm, geral-mente, um ciclo cultural mais curto que as frisadas e atingem um menortamanho. São vulgarmente conhecidas por alfaces de folha lisa.

Alfaces Batávias – inclui as batávias de origem europeia (conhecidaspor batávias) e as de origem americana (mais conhecidas por alfaces dotipo Iceberg). A textura crocante das folhas é semelhante nas batávias eIceberg, no entanto, as Iceberg formam repolhos maiores, mais fechadose mais firmes que as batávias. Ambas têm folhas com o bordo onduladosendo, por isso, também conhecidas por alfaces frisadas.

Romanas - apresentam uma postura erecta, com folhas lisas, alongadase estreitas, com a nervura principal grossa e quebradiça; forma repolhoscilíndricos, geralmente pouco firmes. O sabor distingue-se das restantespor ser mais adocicado. São muito cultivadas e consumidas na baciamediterrânica.

Grasses ou Latinas – são muito semelhantes às alfaces “bola de man-teiga”, distinguindo-se delas pelo seu menor porte e maior espessura dasfolhas. Também têm um porte ligeiramente mais erecto das folhas dabase.

Alfaces de folhas - as plantas têm um aspecto aberto e não formamrepolho. A forma e a cor das folhas variam consideravelmente. Algumasapresentam folhas muito frisadas e outras profundamente lobadas, comoas folhas dos carvalhos.

Alfaces de caule - não formam repolho; têm um caule comprido e car-nudo, ramificado ou não.

Em Portugal, o cultivo de alfaces romanas, grasses, de folhas e de caulenão tem expressão. As cultivares mais difundidas pertencem ao grupo dasBola de Manteiga, embora nos últimos anos o cultivo de Batávias (de

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origem europeia) tenha vindo gradualmente a aumentar, mesmo emregiões como o Entre-Douro e Minho, onde há cerca de uma década prati-camente não existia.

A eleição da cultivar e a qualidade do material de reprodução (sementese plantas) não tem merecido a devida atenção por parte dos agricultores.Estes factores de produção são dos primeiros a ser afectados para reduçãode custos. Os prejuízos para os agricultores são evidentes, pois a utiliza-ção de sementes seleccionadas e plantas de viveiro de qualidade é fun-damental para a melhoria da produtividade agrícola. O mercado de cul-tivares de alface é bastante activo: aparecem novidades todos os anos eas novas cultivares ficam ultrapassadas rapidamente, em especial no quese refere a resistência de doenças. Actualmente (ano de 2000), as culti-vares seguintes são algumas das mais cultivadas:

Época de Outono-Inverno- Folha lisa (bola de manteiga): Timpa, Troubadour, Dobra- Folha frisada (batávias europeias): Angie, Floreal

- Época de Primavera-Verão- Folha lisa: Nadine, Daguan, Dynamo, Sunny- Folha frisada: Triathlon, Floreal, Taverna

Figura 1:Principais tiposcomerciais de alfaces

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Zonas de Produção É possível produzir esta hortícola em qualquer ponto do país. No entan-to, as principais zonas de produção comercial situam-se na faixa litoral,devido à amenidade das temperaturas e à proximidade de grandes cen-tros populacionais. O Entre-Douro e Minho (Póvoa de Varzim eEsposende), Beira Litoral (Vagos, Mira), Oeste (Lourinhã e Torres Vedras)e Algarve (Faro, Olhão e Silves), são as zonas mais representativas emtermos de área de produção.

Época de Produção e ComercializaçãoDada a grande variabilidade climática do nosso país e a diversidade decultivares existentes no mercado, é possível produzir durante todo o ano,quer ao ar livre, quer recorrendo à utilização de abrigos em certas épocasdo ano. A importância da produção vai variando ao longo do ano, con-forme a zona produtora (Figura 2).

A duração do ciclo cultural (desde a sementeira até à colheita) é extrema-mente variável, dependendo do tipo de alface e, sobretudo, da época deprodução. Assim, pode ir de cerca de um mês e meio no Verão, até pró-ximo dos seis meses na cultura de ar livre no Inverno (nas zonas do paísem que tal é possível).

AR LIVRE

E. Douro e Minho

Beira Litoral

Algarve

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

ESTUFA

E. Douro e Minho

Beira Litoral

Oeste

Algarve

Produção forte Produção média Produção fraca

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 2:Épocas de produção

de alface(GPPAA, 2000)

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Caracterização da Cadeia Na Figura 3 estão indicadas esquematicamente duas das cadeias típicasda alface, a entrega directa e a entrega via entreposto.

Perdas Associadas à Cadeia Em Portugal não são conhecidas estimativas fiáveis das perdas que ocor-rem na cadeia dos frutos frescos. Só através da identificação e quantifi-cação das perdas que ocorrem nas diferentes fases da cadeia será possívela optimização da qualidade e redução de custos na cadeia de distribuição.

Segundo indicação de uma empresa de distribuição nacional os principaismotivos de rejeição de alface frisada, em 1998 e 1999, à entrada nos entre-postos foram a presença de manchas castanhas, de parasitas e folhasqueimadas; à entrada nas lojas, a presença de pé oxidado e ausência defrescura (folhas murchas e amareladas) foram os principais factores apon-tados como causas de rejeição. Relativamente à alface lisa, a presença depodridões, folhas amarelas e cortadas e manchas castanhas, foram osprincipais motivos de rejeição à entrada dos entrepostos, enquanto queà entrada nas lojas foram a presença de pé oxidado, podridão e acidentena central (no mesmo período).

DISTRIBUIÇÃO E VENDA

PRODUÇÃO

COLHEITA

EMBALAGEM

LAVAGEM

CAMPO

INSTALAÇÕES DE LOGÍSTICA

LOJA

TRANSPORTE

ENTREPOSTO

TRANSPORTE

TRANSPORTE

TRANSPORTE

ENTREPOSTOTRANSPORTE

Figura 3:Cadeia de distribuiçãotípica da alface

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PRODUÇÃOCondições Edafoclimáticas

ClimaExiste um grande número de cultivares que se adapta a diferentescondições climatéricas, o que permite a produção ao longo de todo o ano.No entanto, as condições que propiciam as melhores característicasorganolépticas, estão reunidas durante os meses em que predominam osdias amenos e noites frescas e há disponibilidade de água. A temperatu-ra exerce uma influência marcante ao longo do ciclo cultural, podendoser causa de acidentes fisiológicos (Tabela 1). Na cultura de ar livre é detemer a ocorrência de granizo, sobretudo a seguir à transplantação oupouco antes da colheita.

Na prática, as plantas beneficiam de uma temperatura relativamente ele-vada, durante os primeiros 10 a 15 dias após a transplantação, quefavoreça o enraizamento e um crescimento rápido até que a planta formeuma roseta. Depois há toda a conveniência em baixar progressivamentea temperatura (por exemplo, aumentando o arejamento durante a noitena produção em estufa), para favorecer o repolhamento, sobretudo quan-do a planta cobre completamente o solo.

Fase de Temperatura Observaçõesdesenvolvimento óptima

Germinação 15 a 20°C Temperaturas superiores a 25°C podemprovocar dormência das sementes

Viveiro dia:15°C Nos meses de pouca luz, temperaturasnoite: 8 a 10°C altas provocam o estiolamento das plantas

Crescimento rápido dia: 18 a 20°C; Temperaturas elevadas podem induzir a(local) definitivo) noite: 10 a 15°C floração precoce

Repolhamento dia: 10 a 15°C; Temperaturas elevadas podem induzir anoite: 5 a 8°C floração precoce, prejudicar o repolhamento

e conferir um sabor amargo às folhas

Tabela 1:Temperaturas óptimas

ao longo do ciclocultural da alface.

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A luz também desempenha um importante papel na capacidade da alfaceformar repolho. Um bom repolhamento depende principalmente do equi-líbrio entre a luz recebida e a temperatura: quando a temperatura é supe-rior a 20°C são necessários dias longos e com forte luminosidade; quan-do os dias são curtos e a luminosidade é fraca as temperaturas deverãoser baixas. As alfaces não repolham quando se conjugam temperaturasaltas e fraca luminosidade.

SoloA alface prefere terrenos francos e com alto teor em matéria orgânica,que não retenham excessivamente a humidade. É ligeiramente toleranteà acidez do solo, crescendo melhor em solos com pH entre 6,5 e 7. A alface é uma espécie moderadamente sensível à salinidade. Pode resis-tir a uma condutividade eléctrica (C.E.) até 1,3 mS/cm sem redução si-gnificativa da produção. Acima deste valor é aconselhável proceder àlavagem do excesso de sais.

OPERAÇÕES CULTURAIS

Produção de PlantasÉ costume dizer-se que “uma cultura ganha-se ou perde-se no viveiro”.Embora sejam muitos os factores que influenciam significativamente aprodutividade e a qualidade das plantas, esta afirmação realça a importân-cia fundamental, para o êxito da cultura, de esta se iniciar com plantasfortes e saudáveis.

A produção de plantas deve ser executada por empresas especializadas.Nestes viveiros, a sementeira realiza-se de forma automatizada maiori-tariamente com sementes peletizadas. Os tabuleiros, após a sementeiradevem ser colocados em câmaras de germinação durante 36 a 48 horasa 18-20°C, para favorecer uma boa germinação e evitar a entrada em dor-mência das sementes, sobretudo no Verão.

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Depois da emergência, os tabuleiros devem ser colocados em abrigos commalhas anti-insectos para evitar as transmissões de viroses, e as plantasdevem ser submetidas a um programa para o controlo de insectos trans-missores. Aconselha-se a utilização de placas cromatrópicas para indicaro aparecimento de insectos.

É desejável a tendência de passagem da produção de plantas em tabuleirosde esferovite para a produção em blocos de turfa prensada.Além de evitarem o inconveniente da manutenção dos tabuleiros, comotêm um volume de substrato superior permitem uma maior flexibilidade dadata de plantação; além disso, é possível a plantação de alfaces mais desen-volvidas e resistentes, com menor crise de transplantação de modo que operíodo entre a sementeira e a colheita é consideravelmente reduzido.

A sementeira é feita a uma profundidade relativamente baixa, que vaidesde cerca de 1 cm até praticamente à superfície, sendo, portanto,necessário assegurar uma rega regular para que as sementes nãosequem e tenham uma emergência uniforme.

As plantas estão prontas a transplantar quando têm 3-4 folhas nos alvéo-los e 4-5 folhas nos “mottes”. O tempo que medeia entre a sementeira ea transplantação é bastante variável com a época do ano:

Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.

32 a 38 dias 25 a 28 dias 16 a 20 dias 28 a 32 dias

Figura 4:Planta em mote.

Plantas de raíz protegidaproduzidas em tabuleiros

de alvéleos

Figura 5:Tempo entre

a sementeira ea transplantação

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Mobilização do SoloPara se realizar a plantação, o terreno deve estar sem torrões e com asuperfície regularizada. A intensidade das mobilizações do solo varia comas características do solo. Se o terreno tiver muitas ervas ou restolho dacultura anterior, pode ser necessária uma lavoura para enterrar os resí-duos, seguindo-se uma ou duas passagens com grade de discos para incor-porar a adubação mineral de fundo e alisar o terreno.Embora o uso de fresas esteja muito difundido, estas alfaias estão maladaptadas à maioria dos solos para uma preparação correcta do terreno.Com efeito, provocam geralmente uma pulverização excessiva à superfí-cie o que, posteriormente, por acção de chuvas e regas por aspersão, levaà formação de crostas e horizontes impermeáveis.As mobilizações convencionais entre culturas tendem a compactar o soloe a reduzir a penetração das raízes e da água. Assim, a intervalos dealguns anos, o terreno deve ser subsolado para quebrar alguma camadacompactada. Esta subsolagem deve ser feita apenas com o solo seco e éparticularmente aconselhável antes de uma desinfecção de solo.

Armação dos CamalhõesEmbora a maior parte da alface nas principais zonas produtoras seja feitaà rasa, nos casos em que possam ocorrer encharcamentos, o terreno deveser armado em camalhões (ou espigoado - camalhões estreitos em formade dentes de serra) de largura variável e cerca de 15 a 20 cm de altura,para facilitar a drenagem do excesso de água das chuvas ou da rega. Oscamalhões, além de evitarem a acumulação de humidade junto ao colo dasplantas, permitem que a superfície do solo seque mais rapidamente e asfolhas da base, em contacto com ele, não apodreçam tão facilmente. Estesdois sistemas têm o inconveniente de diminuir a superfície plantada doterreno (cerca de 20 a 30% de perda de espaço). Por esta razão, em es-tufa é de preferir a cultura à rasa com a finalidade de rentabilizar a super-fície coberta.

Desinfecção do SoloAs desinfecções químicas, com metame sódio ou dazomete, realizadasantes da cultura são eficazes contra alguns fungos e nemátodos do solo.

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É necessário, no entanto, aguardar algumas semanas antes de se poderplantar (consultar rótulo do produto). Este período de tempo varia coma época do ano e o tipo de solo.

Alguns métodos não poluentes dão também bons resultados, como a sola-rização realizada nos meses de Verão; em alguns países tem-se recorridocom êxito ao uso de fungos antagonistas, como os Trichoderma sp., con-tra alguns fungos que atacam a raiz e colo das plantas.

PlantaçãoNa altura da aquisição das plantas do viveirista, deve-se verificar cuida-dosamente a sua qualidade. As plantas devem apresentar determinadascaracterísticas, das quais se destacam:– bom estado sanitário: ausência de sintomas de doenças ou pragas,– plantas bem desenvolvidas e sem estiolamentos,– boa uniformidade das plantas,– substrato bem humedecido.

Na altura da transplantação, as plantas devem ter 4-5 folhas se produzi-das em “mottes” (4,5cm de lado) ou 3-4 folhas se produzidas em tabuleirosde esferovite alvéolados. Uma densidade de plantação excessiva podediminuir a qualidade do repolho, que fica mais alto e menos compacto.

Figura 6:Plantação de plantasproduzidas em mote.

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Os compassos mais estreitos (25-30 cm entre plantas) são utilizados paracultivares de crescimento mais reduzido e durante a Primavera-Verão,quando não existem problemas de falta de luz e humidade excessiva. Oscompassos mais largos (35-40 cm entre plantas) devem ser utilizados paracultivares de maior desenvolvimento e durante o Outono-Inverno, paraque se consiga um melhor arejamento, com a consequente melhoria doestado sanitário.

A disposição das plantas em quincôncio (ou pé de galinha) é a que per-mite uma melhor ocupação do terreno. Os “mottes” devem ser previa-mente humedecidos e, na plantação de Outono-Inverno, enterrados até2/3 da sua altura, para facilitar o arejamento e diminuir os riscos depodridões do colo e das folhas da base. Em períodos secos e com tem-peraturas elevadas, deve-se enterrar toda a sua altura.

Controlo de InfestantesÉ necessário controlar as infestantes durante o ciclo cultural, especial-mente em dois períodos críticos em que diminuem significativamente aprodutividade: durante as fases iniciais a seguir à transplantação, quan-do as plantas têm pouca capacidade de competir, e próximo da colheita,quando as infestantes sufocam a alface e criam um ambiente propício aodesenvolvimento de doenças.

RegaA alface tem um sistema radicular pouco desenvolvido; a maior parte dasraízes desenvolve-se entre os 10 e os 25 cm de profundidade. Isto faz com

Compasso (cm) Número de plantas/m2

25 x 25 16

25 x 30 13

30 x 30 11

30 x 35 9

35 x 35 8

Tabela 2:Número de plantaspor m2, paravários compassosde plantação

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que as plantas sejam muito sensíveis à falta de água. Antes do repo-lhamento, as regas devem ser frequentes e pouco copiosas, pois uma doseexcessiva de água pode provocar asfixia radicular, facilitar o desenvolvi-mento de doenças e provocar uma lavagem dos nutrientes solúveis. Umteor de humidade uniforme no solo, além de permitir um bom desen-volvimento da planta também contribui para diminuir os riscos de apare-cimento de necrose marginal das folhas (‘tipburn’). A partir do início dorepolhamento, as regas devem ser mais espaçadas e com doses mais ele-vadas, não só porque as raízes já exploram um maior volume de solo, mastambém porque as folhas interiores terão mais dificuldade de secar apóscada rega, o que aumenta o risco de aparecimento de doenças.

As regas devem fazer-se atendendo ao:– estado de desenvolvimento da cultura,– condições climáticas,– tipo de solo.

Os dois primeiros factores determinam as necessidades de água da cul-tura, enquanto que o tipo de solo define a frequência com que se deveregar. Solos mais ligeiros necessitam de regas mais frequentes mas menoságua por aplicação, enquanto que se o solo tiver uma boa capacidade deretenção de água as regas podem ser mais espaçadas. É conveniente daruma boa rega imediatamente depois da transplantação e outra algunsdias depois para assegurar um bom pegamento das plantas. De um modoprático, as necessidades em água de uma cultura são calculadas:

Necessidades da cultura (mm) = Etp x Kc

Etp – Evapotranspiração potencial, que depende estreitamente da ra-diação solar recebida e que pode ser calculada ou pedida no posto mete-orológico mais próximo;Kc – Coeficiente cultural, que é determinado em função da espécie ve-getal, do estado de desenvolvimento da cultura e dos métodos culturaisutilizados.Os valores de Kc devem ser afinados para cada zona particular de cultura.

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No entanto, pode começar por se usar, como primeira aproximação, osvalores calculados para uma região produtora com condições não muitodiferentes do norte do país:– Até ao estado de 18 folhas (início do repolhamento) > Kc = 0,5– Do estado de 18 folhas até à colheita > Kc = 1,0

Por razões sobretudo de ordem sanitária, a rega deve fazer-se preferen-cialmente de manhã, de modo que as folhas tenham tempo suficiente desecar antes do início da noite.

Consequências de falta de água:– Diminuição da turgescência;– Atraso ou paragem do crescimento;– Grande sensibilidade à podridão cinzenta (botrytis);– Próximo do repolhamento, necroses do bordo das folhas.

Consequências de excesso de água:– Asfixia das raízes;– Paragem do crescimento;– Aparecimento de carências nutritivas.

Fertilização e NutriçãoA fertilização do solo deve atender:– à disponibilidade de elementos nutritivos no solo,– às extracções da cultura.

Para avaliar o estado nutritivo do solo é essencial realizar uma análise deterra com alguma antecedência em relação à plantação. Com os resultadosobtidos pelas análises do solo, pode-se determinar alguns pontos chave doprograma de fertilização, como são: as necessidades de correctivos orgâni-cos, as doses de adubo fosfopotássico a aplicar, as correcções do pH dosolo, etc. Proceder à incorporação no solo de adubos ou correctivos sem oauxílio de uma análise de terra é uma prática arriscada e desaconselhável.O custo da análise é bem menor do que o que acarreta o desperdício deadubos ou a redução da produção provocada por um solo desequilibrado.

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Matéria OrgânicaAs alfaces desenvolvem-se melhor em solos férteis, e para isso, é essen-cial fornecer-lhes matéria orgânica. A matéria orgânica melhora subs-tancialmente a estrutura do solo, aumenta a capacidade de retenção deágua e nutrientes, e facilita a circulação da água e das raízes das plantas.A alface tolera mal os estrumes frescos, pelo que devem estar bem decom-postos, sendo preferível aplicá-los na cultura anterior. A matéria orgâni-ca demasiado fresca pode aumentar os riscos de salinidade, provocar fito-toxicidade por libertação de amoníaco ou libertar quantidades excessivasde azoto. Dada a escassez de estrumes em muitas explorações agrícolas,muitos agricultores recorrem a matéria orgânica desidratada na formagranulada, presente no mercado sob várias denominações comerciais,sendo as doses de aplicação dependentes da sua composição.

Acidez do SoloA acidez do solo pode provocar o bloqueio de diversos micronutrientesessenciais e a solubilização de elementos tóxicos para a planta. Deveprocurar-se estabilizar o pH entre 6,5 e 7,0 e optar por uma calagem quan-do o pH estiver abaixo de 6,4-6,5.

SalinidadeNo caso de salinidade elevada, é necessário efectuar regas abundantespara assegurar a lavagem do excesso de sais para fora da zona radicular.Para o êxito desta operação, é necessário que o solo tenha uma boadrenagem.Culturas como o tomate, pepino, meloa, etc., poderão deixar no solo umnível de salinidade prejudicial para a alface pelo que poderá sernecessário fazer uma lavagem antes da plantação.

Tipo de solo Quantidade de calcário (t/ha)

Arenoso 2-4

Com 10 a 20% de argila 4-6

Pesado 6-10

Tabela 3:Quantidades de

calcário necessáriopara aumentar

o pH emuma unidade

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Prática da AdubaçãoPara uma adubação racional, além do conhecimento do teor de nutrientesexistente no solo e disponíveis para as plantas (dados pela análise deterra), também é necessário conhecer as extracções da cultura. Os valoresapresentados na tabela seguinte representam valores médios calculadospara várias culturas de alface.

O programa de adubação deve realizar-se atendendo às característicaspróprias de cada zona de cultivo: tipo de solo, clima, água de rega, culti-var, duração do ciclo cultural, época e compasso de plantação, sistemade rega utilizado, etc. Assim, qualquer programa de adubação deve con-siderar-se apenas orientativo, devendo adaptar-se a cada caso particular.

AzotoA alface é caracterizada por ter um ciclo curto e um crescimento vege-tativo rápido, o que exige uma atenção especial ao fornecimento do azotopois o excesso ou deficiência podem acarretar prejuízos elevados para aprodutividade e qualidade da alface. Os efeitos por excesso ou defeito emazoto são referidos a seguir.

Excesso de azoto- Grande desenvolvimento vegetativo, com folhas maiores;- Torna a planta mais frágil, favorecendo os ataques de pragas e doenças;- Atrasa ou impede o repolhamento;- Favorece o aparecimento da necrose marginal das folhas (tipburn);- Provoca o aumento de nitratos na planta;- Pode afectar a absorção do potássio;- De um modo geral deprecia a qualidade das alfaces.

Deficiência de azoto- Diminuição do crescimento e vigor das plantas;

Rendimentoton/ha N P2O5 K2O CaO MgO

42 80 40 170 40 10

Tabela 4:Extracções da cultura dealface (Kg/ha)

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- Folhas pequenas e de cor amarelada;- Caule fica oco;- Repolhamento é afectado.

As necessidades de azoto da cultura são muito variáveis ao longo do ciclocultural. Começam por ser muito reduzidas e vão aumentando gradual-mente até à última semana antes da completa formação do repolho, ondesão máximas. Na Figura 7 está indicado um exemplo da evolução dasnecessidades de azoto (N) para uma cultura de alface repolhuda realiza-da no Verão.

Entre as medidas possíveis para reduzir o problema dos teores elevadosde nitratos na alface, salientam-se:- Eleição das cultivares mais adequadas ao local e estação do ano;- Evitar os excessos de fertilização azotada, tanto mineral como orgânica,em especial durante a época do ano com pouca luz e próximo da colheita;- Realizar um plano de adubação equilibrado, incluindo os micronutrientes.

Fósforo, Potássio e MagnésioAo contrário da adubação azotada, a adubação fosfórica, potássica e mag-nesiana não necessita de ser fraccionada. Com efeito, pode ser feita deuma só vez antes da plantação, tendo em conta a riqueza do solo (indi-cada pela análise) e as extracções da cultura. O fraccionamento do fós-foro apenas se justifica em solos muito pobres neste nutriente, ou muitoricos em calcário, com uma elevada fixação do fósforo.

10

5

10

15

20

25

30

35

2 3

Semanas

N a

bsor

vido

(Kg/

ha)

4 5

Figura 7:Evolução de

necessidades de azotode alface repolhuda

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O fraccionamento do potássio é conveniente nos solos arenosos, ondepode ocorrer lavagem deste nutriente.Na adubação potássica é importante atender ao equilíbrio potássio/azoto(K/N). Deve procurar-se uma relação K/N próxima de 4 no Inverno e de3 na Primavera e Outono. Em cultivo invernal, sobretudo em estufa, compouca luz, pode ser conveniente adubar mais intensamente com potássio,para compensar a menor capacidade fotossintética das plantas.Um ligeiro excesso de potássio não é de temer uma vez que não afectamuito a salinidade. No entanto, não se deve exceder os 400 kg/ha paranão haver bloqueio do magnésio.

PROTECÇÃO FITOSSANITÁRIA

Pragas e DoençasA qualidade de um produto no local de venda deve englobar tanto aapresentação visual como o respeito pelas normas, em matéria de resí-duos de produtos fitossanitáriosOs produtores devem ser aconselhados e apoiados para adoptarem pro-gramas de protecção integrada contra pragas e doenças, para mini-mizar o impacto ambiental.Numa hortaliça de folhas como a alface, qualquer sintoma de parasitanas folhas desvaloriza irremediavelmente o produto final.

Carência Pulverização Quantidade(kg/100 litros de água)

Azoto Ureia 0,5 a 0,6

Potássio Sulfato ou Nitrato de potássio 0,5 a 1,0

Magnésio Sulfato ou Nitrato de magnésio 1 a 2

Boro Solubor C 0,1 a 0,2

Ferro Nitrato de ferro 0,5

Molibdénio Molibdato de amónio 2

Tabela 5:Pulverizações parasolucionar carênciaspontuais

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Doenças

No viveiro:Botrytis, Pythium eRhizoctonia

No localdefinitivo:Podridão cinzenta(Botrytis cinerea)

Esclerotinia(Sclerotinia minor eS. sclerotiorum)

Rhizoctonia(Rhizoctonia solani)

Míldio(Bremia lactucae)

Bacterioses(Pseudomonascichoriiexanthomonascampestris)

Sintomas

Ausência deemergênciaDestruição dasplântulas por podridõesao nível do colo

Plantas isoladas comaspecto flácidoPlanta desprende-sefacilmente do solo devi-do a podridão húmidaque secciona o coloFeltro branco desen-volve-se na base dasnervuras e folhas dabaseNo interior do feltrobranco formam-sepequenos órgãosnegros e duros (escle-rotos)

Podridões acasta-nhadas nas folhas dabase. Começam porapodrecer o limbo,ficando a nervura prin-cipal intacta, o que dáum aspecto caracterís-tico. Mais tarde anervura é também ata-cada

Manchas claras edepois amareladas naface inferior das folhas,delimitadas pelasnervuras secundárias, eque acabam pornecrosarManchas brancas pul-verulentas na face infe-rior das folhas

Manchas foliaresnegras e oleosas decontornos angulososdelimitadas pelasnervuras secundárias,sobretudo nas folhasmedianas do repolhoEvolução das manchaspara podridão molegeneralizadaNervura principal dasfolhas mais velhas ficaescurecida a partir dosolo (P. cichorii)

Condições favoráveis

Sementes de máqualidadeSubstrato etabuleiros maldesinfectadosHumidade excessiva

Temperaturasfrescas entre 5 e18°C (embora possaocorrer entre0 e 35°C)Humidade elevada

Temperaturas entre18 e 20°C (embora sepossam desenvolvera partir dos 10°C)Humidade relativaelevada ao nível docoloSolos ligeiros e ricosem matéria orgânica

Forte humidade dosoloTemperaturabastante elevada(18 a 26°C)Excesso de azoto

Presença de umapelícula de águasobre as folhasTemperaturas de5-10°C à noitee 13-20°C de dia(embora possaocorrer entre os2 e 20°C)Humidadeatmosférica elevada

Humidades elevadasEvolução rápida comtemperaturas ele-vadas

Meios de luta /Acções preventivas

Utilizar sementes de boaqualidadeUtilizar substrato novo e comgarantias de qualidade sanitáriaAssegurar boas condições dedesenvolvimento às plantas(temperatura e humidade)

Eliminar os resíduos da culturaPraticar bom arejamentodas culturasEvitar elevadas densidades deplantaçãoEvitar excessos de azotoEvitar ferimentos nas folhasdurante a plantação, sachas, etc.

Desinfecções químicas commetame sódio ou dazometealgumas semanas antes daplantação Solarização do solo ou uso defungos antagonistas(Tricoderma sp.) Cobertura do solo com plástico Eliminar e destruir restosda cultura Pulverizar no início da culturapara proteger o colo e as folhasda base

Destruir os resíduos da culturaDiminuir a humidade do soloCultivar em camalhões Cobrir o solo com plásticoSolarização e desinfecçãoquímica Pulverizar no início dodesenvolvimento da cultura

Eliminar os resíduos do viveiro eda culturaPraticar um bom arejamento Evitar densidades de plantaçãoelevadasRegar preferencialmente demanhãGarantir boa qualidade das plan-tas de viveiroUtilizar cultivares resistentes àsraças de Bremia mais usuaisCessar os tratamentos químicosàs 16-18 folhas

Boa gestão das adubações azo-tadas e das regasEliminar resíduos da cultura edas infestantesRetirar plantas afectadas Desinfectar utensílios de corte ecaixas de colheitaPulverizar os produtos com cobre Realizar rotações de cultura

Tabela 6:Condições favoráveis

ao aparecimentode doenças e acções

preventivas

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Assim, as acções contra as doenças e pragas devem privilegiar a lutapreventiva e racionalizar as intervenções químicas para assegurar amelhor eficácia e o respeito pelos intervalos de segurança de cadaproduto.As doenças provocadas por fungos são as mais temíveis e as mais cor-rentes. No entanto, as doenças bacterianas assumem uma importânciacada vez maior.

Pragas

Nemátodos(Meloidogyne ePratylenchus)

Lesmas e caracóis

Nóctuas terrícolas edesfoliadoras(Agrotis ipsilon eAgrotis segetum)

Afídeos(Myzus persicae eNasonovia ribis nigri)

Mineiras(Liriomyza trifolii e L.huidobrensis)

Mosca branca

Sintomas

Crescimento reduzidodas plantas em certaszonas do campo.Formação de galhasnas raízes (Meloidogyne)

Folhas comidas eesburacadasPresença de muco edejectos

Seccionamento do colodas plantas jovensDesaparecimento daplanta jovem. Folhagemesburacada. Presençade dejectos negros

Crescimento lento devi-do ao consumo da seivaPresença da praga norepolho

Picadas de alimentaçãoque atrasamo crescimentoRedes de galerias,sobretudo nas folhasmais velhas.Estas são porta deentrada de bactérias

Presença de adultos eposturas sobretudo naspáginas inferiores dasfolhas

Condições favoráveis

Na Primavera-Verãoas culturas sãogeralmente mais atacadas pois o cicloevolutivo dos nemá-todos (Meloidogyne) émais curtoOs Pratylenchusdesenvolvem-semelhor em condiçõestemperadase humidas

Humidade elevada

Temperatura elevada

Meios de luta /Acções preventivas

Lavouras profundas no Verãopodem reduzir as populações denemátodos pois a exposição aocalor e desidratação provoca-lhesa morteSolarização e desinfecçãoquímica do soloUtilização de plantas armadilha(Tagetes minuta) como aduboverde, onde os Meloidogynepenetram sem se poderemdesenvolver

Iscos envenenados em redor dasplantas (ter o cuidado de nãocolocar sobre as plantas)No início da cultura, pulverizaçãodas plantas e do solo com umasuspensão de metaldeído

Iscos envenenadosPulverização no início da culturacom insecticida de contacto eingestão, durante o fim da tardequando as nóctuas saem do solopara se alimentar

Protecção do viveiro com redesanti-insectoAficida no início da culturapermite controlar a contaminaçãoprecoceNo início do repolhamentotratamento com produtosistémico ou translaminar

Destruição de resíduos atacadosEliminação de infestantesRejeitar plantas de viveirojá atacadasTratamentos químicos essencial-mente no viveiro e início dacultura contra as larvas.O tratamento contra adultos levaao aparecimento de resistênciase destroi os auxiliares

Destruição das populaçõesexistentes no fim das culturasque antecedem a alface

Tabela 7:Condições favoráveisao aparecimento depragas e acçõespreventivas

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Nunca é demais lembrar a importância fundamental das técnicas cultu-rais e outras medidas preventivas para evitar ou reduzir os problemassanitários das culturas. No entanto, estas nem sempre são suficientespara solucionar todos os problemas que surgem, sendo por isso,necessário recorrer em, certas ocasiões, à utilização de produtos quími-cos. Estes devem ser usados de modo racional, sem pôr em risco os tra-balhadores ou os consumidores.Na Tabela 8 apresentam-se os produtos (substâncias activas) homologa-dos em Portugal para a cultura da alface e o respectivo intervalo de segu-rança (IS):

COLHEITAÉ da máxima importância que a alface se apresente ao consumidor fres-ca, com folhas tenras e com um aspecto atractivo. Por ser um produtomuito frágil, ela deve ser manuseada o menos possível. Muitas vezes, umaboa cultura na altura da colheita é estragada ou vê o seu valor reduzidopor uma colheita feita em más condições.

Critérios de Definição da Data de Colheita A determinação do estado óptimo de colheita das hortaliças de folhasvaria com o produto mas, em geral, o tamanho é o principal critério. É oque se verifica com a alface, podendo, no caso das cultivares repolhudas,o grau de formação do repolho e a sua firmeza representar critérios combastante importância para alguns compradores. O tamanho com que a alface é colhida depende da época do ano, sendosempre maior no Verão do que no Inverno. Também depende do tipo de

Doença/Praga Substância activa /IS (dias)

Míldio Folpete /14 Fosetil-aluminio/7 Mancozebe/14 Mancozebe+Metalaxil/14 Zinebe/14

Podridão Benomil/7 Carbendazime/21 Diclofluanida/7 Iprodiona/21 (estufa), 14 (ar livre)cinzenta

Afídeos Deltametrina+pirimicarbe/ 21 (estufa), 7 (ar livre) Pirimicarbe/ 14 (estufa), 7 (ar livre)

Mineiras Ciromazina/7

Nóctuas Deltametrina/ 7

Tabela 8:Intervalo de segurança

para os produtoshomologados em

Portugal(substância activa/n°

de dias do intervalode segurança)

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alface devendo, por isso, o estado de maturação ser determinado porinspecções regulares ao campo. Nas alfaces do tipo Iceberg a colheitadeve ser feita quando o repolho apresenta uma firmeza tal que só cedeligeiramente à pressão manual. Nas alfaces tipo Bola de Manteiga os repo-lhos são menos compactos e a colheita é feita geralmente 2 a 3 semanasantes das do tipo Iceberg ou Batávias. Se a colheita é atrasada, deixando passar a fase óptima de colheita, desen-volve-se um sabor amargo forte e as plantas ficam mais duras; no Verão,em poucos dias evoluem para a emissão precoce da haste floral, tornan-do-se incomercializáveis. A importância de se fazer a colheita no momen-to óptimo também se evidencia na sua vida pós-colheita; com efeito asalfaces com uma fraca formação de repolho ou um repolho demasiadoduro têm um menor período de conservação.

Técnicas de Colheita Segundo a metodologia habitual, ela é cortada à mão, aparada e limpa defolhas velhas e danificadas, sendo seguidamente colocada em caixas nocampo. O embalamento no campo permite, geralmente, obter produçõescomercializáveis mais elevadas devido à redução dos danos mecânicos.

Boas Práticas na Colheita da Alface- Colher nas horas mais frescas do dia;- Minimizar a manipulação das alfaces de modo a evitar danos; se possívelo operador que colhe e limpa deve embalar imediatamente; - Usar contentores para a colheita amplos, baixos e encaixáveis de formaa evitar o peso excessivo e danos nas cabeças de alface;- Trabalhar sob condições rigorosas de higiene, quer dos trabalhadoresenvolvidos directamente no manuseamento do produto quer de todoequipamento que possa ser usado na preparação da alface;- O transporte rápido para o armazém e o arrefecimento para tempera-turas de 1 a 3°C logo após a colheita é muito importante para amanutenção da qualidade da alface;- A recolha e transporte dos resíduos da cultura para fora do terreno,especialmente se existirem plantas doentes ou folhas infectadas é umaprática importante que reduz os riscos de infecção nas culturas seguintes.

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Parâmetros da Qualidade do Produto a Colher A alface ao ser colhida deve apresentar determinadas características paraque possa ser comercializada, devendo assim apresentar-se:- inteiras,- sãs (são excluídas alfaces com podridão ou outras alterações que astornem impróprias para consumo),

- com aspecto fresco e turgescentes,- não espigadas,- praticamente sem parasitas,- sem alterações provocadas por parasitas,- com coloração uniforme e típica da variedade.

TriagemA primeira triagem é realizada na colheita sendo eliminadas as plantascom defeitos, como o espigamento, tamanho reduzido e com sintomas deataques severos de pragas ou doenças.

Separação em CategoriasA escolha e o agrupamento das alfaces em categorias é feita em funçãoda forma, consistência, alterações de cor e de danos provocados por pa-rasitas ou por outras causas.

CalibragemA calibragem é facultativa desde que os calibres mínimos sejam respeita-dos e é realizada em função do peso unitário de cada alface.

Categorias I e II

150 g100 g

300 g200 g

- 40 g para as alfaces com peso inferior a 150g por peça- 100 g para as alfaces com um peso compreendido entre 150g e 300g por peça- 150 g para as alfaces com peso compreendido entre 300g e 450g por peça- 300 g para as alfaces com um peso superior a 450g por peça

Disposições

Peso mínimo

Alfaces(excepto do tipo “Iceberg”)- Cultivadas ao ar livre- Cultivadas sob abrigo

Alfaces do tipo “Iceberg”- Cultivadas ao ar livre- Cultivadas sob abrigo

Homogeneidade de calibre(diferença máxima de calibreentre a peça mais leve e a maispesada da mesma embalagem)

Tabela 9:Intervalos decalibragem e

homogeneidade decalibre, estipulados

por normapara a alface

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EMBALAGEM

A alface é normalmente comercializada em caixas plásticas. A tendênciapara uma apresentação mais cuidada do produto e a minimização domanuseamento pelo consumidor para redução das perdas, tem levado aoaparecimento de embalagens individuais (para cada pé de alface) emfilmes plásticos. Os sacos apesar de abertos, evitam também em certamedida a perda de água.A alface pode ser acondicionada em monocamada, duas camadas (coraçãocom coração) ou três camadas (duas delas colocadas coração com coraçãoe a terceira devidamente separada com uma protecção adequada). Apenasas alfaces Romanas podem ser acondicionadas deitadas.

Cuidados a ter no Embalamento- O conteúdo de cada embalagem deve ser homogéneo no que respeita àorigem, variedade, qualidade e calibre.

- A parte visível do conteúdo deve ser representativa do conjunto.- O acondicionamento deve permitir uma boa protecção do produtodurante a manutenção e transporte.

LavagemA lavagem das alfaces após a colheita seria aconselhável se houvesse apossibilidade de se proceder ao pré-arrefecimento logo em seguida e sea cadeia de frio se mantivesse até chegar à loja. Como infelizmente nemsempre é este o caso, a lavagem das alfaces pode aumentar o risco depodridões pós-colheita, sobretudo quando é realizada por imersão numreservatório de água que vai acumulando sujidade e esporos de fungos.

TRANSPORTE

Durante o tempo de espera do transporte para o centro de preparação eexpedição, a alface deve estar resguardada da exposição solar directa. Jáque, na maioria das vezes, o transporte nesta fase é efectuado em carrinhade caixa aberta deve igualmente ser evitada a exposição dos veículos ao sol.

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No transporte de longa duração devem ser garantidas condições que nãolevem à desidratação do produto.

PREPARAÇÃO

Nas instalações de preparação, habitualmente associações de produtores,são efectuadas operações de logística que incluem a recepção do produ-to, paletização e expedição. É também aqui que é feita toda a gestão deencomendas. Nesta etapa não há qualquer manipulação do produto.

Cuidados a Ter na Preparação - Limpeza regular do pavilhão (tectos, paredes e chão);- Limpeza regular das embalagens reutilizáveis usadas na colheita ecomercialização;

- Boa iluminação;- Usar planos de desratização;- Formação específica do pessoal.

CONSERVAÇÃO

Por ser um produto disponível durante todo o ano e dada a sua pereci-bilidade, a alface no nosso país não é conservada por longos períodos. Dequalquer forma são aqui feitas algumas sugestões que permitem oarmazenamento por períodos próximos dos 30 dias.

Período de ConservaçãoDependendo do estado de maturação, qualidade inicial, condições demanuseamento da alface à colheita e rapidez na pré-refrigeração, a alfacepode ser conservada de 21 a 28 dias.

Temperatura Humidade relativa Concentração O2 e CO2

0–1°C › 95% 1-2% O2 e ‹ 2% CO2

Tabela 10:Condições óptimas

para a conservaçãode alface

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A pré-refrigeração deve ser feita o mais rapidamente possível após acolheita, de forma a não comprometer o tempo de conservação.

Temperatura ÓptimaA alface é altamente perecível deteriorando-se rapidamente com o aumen-to da temperatura. As folhas da alface respiram e têm uma taxa de res-piração duas vezes superior à registada pela cabeça de alface.

Resposta ao Etileno A elevada sensibilidade da alface ao etileno exige a presença de venti-lação adequada nas câmaras frigoríficas. Este gás actua sobre a alfaceacelerando a perda de clorofila das folhas e, consequentemente o ama-relecimento. Favorece, ainda, os restantes processos relacionados coma senescência. O “russet spotting” é uma doença fisiológica caracterizada pelo apareci-mento de pequenas manchas ou pontuações de uma cor que vai do aver-melhado ao castanho, localizadas na parte inferior da nervura central dasfolhas e que é causada pela presença do etileno.

Resposta a Atmosferas Controladas (AC) Atmosferas com baixa concentração de O2 (1-2%) irão reduzir a taxa de res-piração e reduzir os efeitos nocivos resultantes da exposição ao etileno.Atmosferas contendo CO2 não beneficiam a alface podendo ocorrer danoscom concentrações superiores a 2 %. Embora seja possível prolongar a vidapós-colheita da alface a cerca de um mês e meio, recorrendo a atmosferascontroladas ou modificadas, esta técnica não tem sido muito utilizada. EmPortugal não se justifica uma vez que há produção durante o ano inteiro,não havendo necessidade de um armazenamento de tão longa duração.

Cuidados a Ter na Conservação- Limpar regularmente as câmaras;- Evitar misturas de alface com frutos maduros ou outras fontes de etileno;- Não exceder a capacidade das câmaras;- Manter corredores entre paletes de forma a permitir uma correctacirculação do ar;

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- Identificar adequadamente os contentores (palox);- Evitar variações bruscas de temperatura;- Abastecer o ponto de venda à medida das necessidades;- Manter toda a área da câmara acima do ponto de congelação da alface(-0,5°C), de forma a evitar danos pelo frio.

DISTRIBUIÇÃO

ExpediçãoA distância entre o local de produção e o de consumo é por vezes muitogrande sendo necessário transporte refrigerado. O transporte com tem-peratura controlada tem custos muito superiores aos do transporte àtemperatura ambiente, por isso a optimização dos veículos é ainda maisimportante.

O carregamento para o transporte deve ser feito em condições de tem-peratura e humidade relativa óptimas, referidas anteriormente, sendonecessário o mesmo cuidado e precauções referidos para as etapasanteriores.

Apesar de normalmente serem usados veículos refrigerados entre o entre-posto e a loja, nas outras fases da cadeia de distribuição, a cadeia de frioé muitas vezes interrompida. Acresce o facto dos veículos transportaremcargas mistas com diferentes exigências ao nível da temperatura e humi-dade relativa. Actualmente já existem carros com divisórias móveis queadmitem duas ou três temperaturas diferentes permitindo assim o trans-porte simultâneo de produtos congelados e frescos. Por exemplo, naausência deste tipo de transporte podem ser usados pequenos con-tentores com refrigeração autónoma.

Cuidados a Ter Durante o CarregamentoOs problemas mais comuns na expedição são devidos a variações de tem-peratura. Para que estes problemas sejam evitados devem ser tomadas asseguintes precauções antes de carregar o veículo:

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- Arrefecer previamente a galera frigorífica à temperatura recomendadae testar o sistema de circulação de ar;

- Colocar o produto no veículo de transporte à temperatura pretendida,uma vez que no transporte refrigerado apenas se mantém a temperatu-ra do produto (sem o arrefecer);

- Estacionar o veículo de transporte o mais próximo possível da câmarafrigorífica onde se encontra armazenado o produto e sempre que pos-sível ligar estes dois por um túnel. Uma alternativa interessante passapela existência de um cais refrigerado para expedição permitindo queo carregamento se faça directamente para o veículo. O cais deve estarisolado do exterior por portas de bandas de borracha que se ajustam aoperfil do veículo;

- Uma vez iniciado efectuar o carregamento sem demora;- Se o processo de carga for interrompido por qualquer motivo, fechar asportas e ligar o aparelho de frio até que sejam retomadas as operações;

- Fechar a porta do veículo e pôr os ventiladores em funcionamento assimque as paletes estejam na galera;

- Garantir que durante o transporte o produto não sofre oscilações impor-tantes de temperatura;

- Não carregar lotes onde tenham sido detectadas temperaturas anormais;- Limitar a altura máxima de carregamento, para garantir uma boa repar-tição de ar sobre todo o compartimento do veículo, prevendo um espaçolivre de 10 a 20 cm abaixo do tecto;

- Assegurar a limpeza, externa e interna, do veículo e garantir a ausênciade qualquer cheiro e/ou humidade no interior da galera;

- Efectuar o transporte durante as horas mais frescas do dia; No caso degrandes distâncias o transporte deverá ser realizado durante a noite.

É frequente o carregamento deste tipo de produtos em veículos de trans-porte secundário sem pré refrigeração, obrigando-se o sistema de frio doveículo a fazer o arrefecimento. Esta prática deve ser evitada porquecomo o sistema de frio está dimensionado apenas para manter a tem-peratura, o arrefecimento é lento.

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VENDA

Manipulação no Ponto de VendaNo ponto de venda é também necessário que sejam tomadas algumas pre-cauções de modo a não comprometer todo o processo anterior: - Armazenar em câmara frigorífica, refrescando as folhas de modo a evi-tar a desidratação;

- Refrescar os cortes e retirar as folhas pouco frescas;- Humedecer a alface antes da armazenagem no frio de forma a evitar adesidratação;

- Abastecer o ponto e venda à medida das necessidades.

Exposição no Ponto de VendaO sucesso da venda dos produtos passa também pela forma como os pro-dutos são apresentados ao consumidor, deve-se assim:- Rotular de forma visível e precisa;- Expor em quantidade suficiente;- Iluminar e arranjar bem o produto; - Cuidar diariamente da apresentação e limpeza do espaço destinado àvenda dos produtos;

- Colocar na banca/expositor apenas embalagens limpas;- Manter as etiquetas sempre limpas;- Não colocar os produtos em contacto com o pavimento;

Como Comprar Alface de QualidadeA alface deteriora-se com grande facilidade sendo por isso necessáriaespecial atenção na sua compra. As folhas deverão apresentar-se viçosase tenras e com coloração verde vivo. O corte do pé deve ser fresco, semmanchas castanhas e com pequenas gotículas de seiva.

Como Conservar Correctamente a AlfaceEmbora o tempo de conservação dependa do estado de maturação, asalfaces podem ser guardadas com qualidade óptima durante 2 dias naparte inferior do frigorífico. Envolver a alface num pano húmido melho-ra a sua conservação porque evita a desidratação.

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BIBLIOGRAFIA

CTIFL, 1982 - Laitues de serre. Centre Technique Interprofessionnel desFruits et Legumes, Paris.

CTIFL, 1997 - Laitues. Centre Technique Interprofessionnel des Fruits etLegumes, Paris.

MADRP, 2001 - Normas de Qualidade – Produtos Hortofrutícolas Frescos.Lisboa.

MADRP, [s.d.] - Qualidade e Apresentação de Frutas e Legumes – GuiaPrático para o Pequeno Retalhista. [MADRP]. Lisboa

MADRP, 1999 - Secretaria de Estado da Modernização Agrícola daQualidade Alimentar – Normalização das Frutas e Legumes. Garantiada Qualidade – Guia Prático para o Consumidor. [MADRP]. Lisboa.

RYDER, E.J. 1999 - Lettuce, endive and chicory. Crop Production Sciencein Horticulture, vol.9. CABI Publishing, Oxon.

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ANEXO INormas oficiais de qualidade para Alfaces Chicórias Frisadas eEscarolas(Regulamento CE Nº 1543/2001, de 27 de Julho)

Definição do ProdutoA presente norma diz respeito:- às alfaces das variedades (cultivares) de:- Lactuca sativa L. var. captitata. L. (alfaces repolhudas, incluindo as dotipo “Iceberg”),

- Lactuca sativa L. var. longifolia Lam. (alfaces romanas),- Lactuca sativa L. var. crispa L. (alfaces de corte) e- cruzamentos dessas variedades e- às chicórias frisadas das variedades (cultivares) de Cichorium endiviaL. var. crispum Lam., e

- às escarolas das variedades (cultivares) de Cichorium endivia L. var.latifolium Lam., que se destinem a ser apresentadas ao consumidor noestado fresco.

A presente norma não se aplica nem aos produtos destinados a transfor-mação industrial, nem aos produtos apresentados sob a forma de folhasindividuais, nem às alfaces em vaso.

2. Disposições Relativas à QualidadeO objectivo da norma é definir as características de qualidade que os pro-dutos devem apresentar depois de acondicionados e embalados.

2.1. Características MínimasEm todas as categorias, tidas em conta as disposições específicas pre-vistas para cada categoria e as tolerâncias admitidas, os produtos devemapresentar-se:- inteiros,- sãos; os produtos que apresentem podridões ou alterações que os tornemimpróprios para consumo são excluídos,

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- limpos e preparados, ou seja, praticamente desprovidos de terra ou dequalquer outro substrato e praticamente isentos de matérias estranhasvisíveis,

- com aspecto fresco,- turgescentes,- praticamente isentos de parasitas,- praticamente isentos de ataques de parasitas,- não espigados,- isentos de humidades exteriores anormais,- isentos de odores e/ou sabores estranhos.

No que diz respeito às alfaces, é permitido um defeito de coloração aver-melhada, causado por baixas temperaturas durante o período de cresci-mento, a não ser que o aspecto seja fortemente alterado.As raízes devem ser cortadas pela base das últimas folhas.Os produtos devem apresentar um desenvolvimento normal.O desenvolvimento e o estado dos produtos devem permitir-lhes:- suportar o transporte e as outras movimentações a que são sujeitas,- chegar ao lugar de destino em condições satisfatórias.

2.2. ClassificaçãoOs produtos são classificados nas duas categorias a seguir definidas:

a) Categoria IOs produtos classificados nesta categoria devem ser de boa qualidade edevem apresentar as características da variedade ou do tipo comercial,nomeadamente a coloração.Os produtos devem ser:- bem formados,- consistentes, atendendo ao modo de cultivo e ao tipo de produto,- isentos de danos e de alterações que afectem a sua comestibilidade,- isentos de danos devidos às geadas.As alfaces repolhudas devem apresentar um só repolho bem formado. Noentanto, no que diz respeito às alfaces repolhudas cultivadas em abrigo,admite-se que o repolho seja reduzido.

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As alfaces romanas devem apresentar um coração, que pode ser reduzido. Aparte central das chicórias frisadas e das escarolas deve ser de cor amarela.

b) Categoria IIEsta categoria abrange os produtos que não podem ser classificados nacategoria I, mas respeitam as características mínimas acima definidas.Os produtos devem ser:- razoavelmente bem formados,- isentos de defeitos e de alterações que possam afectar seriamente a suacomestibilidade.

Os produtos podem apresentar os defeitos a seguir indicados, desde quemantenham as características essenciais de qualidade, conservação eapresentação:- ligeiros defeitos de coloração,- ligeiros ataques de parasitas.As alfaces repolhudas devem apresentar um repolho que pode ser reduzi-do. No entanto, no que diz respeito às alfaces repolhudas cultivadas emabrigo, admite-se a ausência de repolho. As alfaces romanas podem nãoapresentar coração.

3. Disposições Relativas à Calibragem

O calibre é determinado pelo peso unitário.a) Peso mínimoO peso mínimo para as categorias I e II é de:

b) HomogeneidadeAlfacesPara todas as categorias numa mesma embalagem, a diferença de pesoentre a peça mais leve e a peça mais pesada não deve exceder:

Ar livre Sob abrigo

Alfaces com exclusão dasalfaces do tipo “Iceberg” 150 g 100 galfaces do tipo “iceberg” 300 g 200 g

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- 40 g quando a unidade mais leve tiver um peso inferior a 150 g por peça,- 100 g quando a unidade mais leve tiver um peso compreendido entre150 g e 300 g por peça,

- 150 g quando a unidade mais leve tiver um peso compreendido entre300 g e 450 g por peça,

- 300 g quando a unidade mais leve tiver um peso superior a 450 g porpeça;

Chicórias frisadas e escarolasPara todas as categorias numa mesma embalagem, a diferença de pesoentre a peça mais leve e a peça mais pesada não deve exceder 300 g.

4. DISPOSIÇÕES RELATIVAS ÀS TOLERÂNCIAS

Em cada embalagem, são admitidas determinadas tolerâncias de quali-dade e de calibre no que respeita a produtos que não satisfazem osrequisitos da categoria indicada.

4.1. Tolerâncias de qualidade

a) Categoria I10 %, em número, de peças que não correspondam às características dacategoria, mas respeitem as da categoria II ou, excepcionalmente, sejamabrangidos pelas tolerâncias desta última;

b) Categoria II10 %, em número, de peças que não correspondam às características dacategoria, nem respeitem as características mínimas, com exclusão dosprodutos com podridões ou qualquer outra alteração que os torneimpróprios para consumo.

4.2. Tolerâncias de calibrePara todas as categorias: 10 %, em número, de peças que não correspon-dam às exigências no que diz respeito ao calibre, mas com um peso infe-rior ou superior em 10 %, no máximo, ao calibre em causa.

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5. DISPOSIÇÕES RELATIVAS À APRESENTAÇÃO

5.1. HomogeneidadeO conteúdo de cada embalagem deve ser homogéneo e comportar apenasprodutos da mesma origem, variedade ou tipo comercial, qualidade e ca-libre. No entanto, podem se embaladas conjuntamente misturas dos dife-rentes tipos de produtos abrangidos pela presente norma, desde que osprodutos sejam homogéneos quanto à qualidade e, dentro de cada tipo,ao calibre. Além disso, os tipos de produto presentes devem ser facil-mente reconhecíveis e a proporção de cada um dos tipos presentes naembalagem deve poder ser visível sem que seja necessário danificar aembalagem.

A parte visível do conteúdo da embalagem deve ser representativa da suatotalidade.

5.2. AcondicionamentoOs produtos devem ser acondicionados de modo a ficarem conveniente-mente protegidos.Os materiais utilizados no interior das embalagens devem ser novos eestar limpos e não devem ser susceptíveis de provocar quaisquer alte-rações internas ou externas nos produtos. É autorizada a utilização demateriais (nomeadamente de papéis ou selos) que ostentem indicaçõescomerciais, desde que a impressão ou rotulagem sejam efectuadas comtintas ou colas não tóxicas.

As embalagens devem estar isentas de qualquer corpo estranho.

5.3. ApresentaçãoOs produtos apresentados em mais de uma camada podem ser colocadoscom a base de um contra o coração de outro, desde que as camadas e osrepolhos estejam convenientemente protegidos ou separados.

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6. DISPOSIÇÕES RELATIVAS À MARCAÇÃO

Cada embalagem deve apresentar, em caracteres legíveis, indeléveis,visíveis do exterior e agrupados do mesmo lado, as seguintes indicações:

6.1. IdentificaçãoEmbalador e/ou expedidor: nome e endereço ou identificação simbólicaemitida ou reconhecida por um serviço oficial. Contudo, quando for uti-lizado um código (identificação simbólica), a indicação "embalador e/ouexpedidor" (ou uma abreviatura equivalente) deve figurar na proximidadedesse código (identificação simbólica).

6.2. Natureza do Produto- “alfaces”, “alfaces Batavia”, “alfaces Iceberg”, “alfaces romanas”, “alfacesde corte” (ou, por exemplo, “folhas de carvalho”, “lollo bionda”, “lollorossa”), “chicórias frisadas”, “escarolas” ou qualquer outra designaçãosinónima, se o conteúdo não for visível do exterior,- alfaces de folhasespessas, se for caso disso, ou designação sinónima,- a menção “em abrigo”, ou outra menção adequada, se for caso disso,- nome da variedade (facultativo),- em caso de mistura de diferentes tipos de produtos:- a indicação “Mistura de saladas”, “Saladas mistas”, ou- a indicação do tipo de cada um dos produtos em causa e, quando o con-teúdo não for visível do exterior, do número de peças de cada tipo.

6.3. Origem do Produto- país de origem, e, eventualmente, zona de produção ou denominaçãonacional, regional ou local.

6.4. Características Comerciais- categoria,- calibre, expresso pelo peso mínimo por peça ou pelo número de peças,- peso líquido (facultativo).

6.5. Marca Oficial de Controlo (facultativa)

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