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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS EM SAÚDE ORAL PARA QUEM TRABALHA COM CRIANÇAS E JOVENS COM NECESSIDADES DE SAÚDE ESPECIAIS DIRECÇÃO - GERAL DA SAÚDE DIVISÃO DE SAÚDE ESCOLAR 2002

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MANUALDE BOAS PRÁTICAS

EM SAÚDE ORAL

PARA QUEM TRABALHA COM CRIANÇAS E JOVENSCOM NECESSIDADES DE SAÚDE ESPECIAIS

DIRECÇÃO - GERAL DA SAÚDE

DIVISÃO DE SAÚDE ESCOLAR

2002

Grupo de Trabalho para a elaboração do Manual

Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian: Terapeuta da Fala Maria MargaridaCampos AndradaCurso de Higienistas Orais: Higienista Oral Maria de Fátima BizarraFaculdade de Medicina Dentária do Porto: Professor Doutor David Casimiro de AndradeFaculdade de Medicina da Universidade de Coimbra – Departamento de Medicina Dentária: Dr. FranciscoGouveia DelilleFaculdade de Medicina Dentária de Lisboa: Professor Doutor César Mexia de AlmeidaHospital de D. Estefânia: Dr.a Maria do Rosário MalheiroInstituto Superior de Ciências da Saúde Sul: Professora Dr.a Virgínia MilagreCoordenação da Divisão de Saúde Escolar da Direcção-Geral da Saúde:Dr.a Gregória Paixão von Amann e Higienista Oral Maria Cristina Ferreira Cádima

Portugal. Direcção-Geral da Saúde – Divisão de Saúde EscolarManual de Boas Práticas em Saúde Oral para quem trabalha com crianças e jovens com necessidades de saúde especiais. –Lisboa: Direcção-Geral da Saúde. Divisão de Saúde Escolar, 2002. – 32 p.

Saúde bucal / Higiene bucal / Assistência odontológica para crianças / Assistência odontológica para deficientes / Educação emSaúde

ISBN: 972-675-083-0

Editor: Direcção-Geral da SaúdeAlameda D. Afonso Henriques, 451049-005 [email protected]://www.dgsaude.pt

Arranjo Gráfico: Vitor Alves

Impressão: Gráfica Maiadouro

Tiragem: 5000 exemplares

Depósito Legal: 185 496/02

Introdução 5Objectivos do Manual de Boas Práticas 7Medidas de Prevenção das Doenças Orais 8

Higiene Oral 9

Escovagem dos dentes 9Fio dentário/Fita dentária 10Metodologia do ensino das técnicas de remoção de placa bacteriana 11Revelação da placa bacteriana 12

Administração de Flúor 13

Flúor sistémico 13Flúor tópico 13

Educação Alimentar 15Vigilância da Saúde Oral 16

Cuidados de Saúde Oral para Crianças e Jovens comNecessidades de Saúde Especiais 17

Crianças com Deficiência Mental e/ou Motora 18

Ajudas Técnicas 18Controlo da Cabeça e da Abertura da Boca 20Controlo do Corpo 21Higiene Oral 22

Crianças com Deficiência Visual 25Crianças com Deficiência Auditiva 26Medidas Gerais de Higiene 27

Glossário de Problemas de Saúde Oral 28Recursos Disponíveis para Crianças com NSE 29Bibliografia 30

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Í N D I C E

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A saúde oral é parte integrante da saúde em geral e

mantê-la é uma prioridade.

A Direcção-Geral da Saúde tem vindo a desenvolver um

Programa de Saúde Oral, dirigido à população infantil e juvenil.

O Programa assenta numa estratégia de intervenção comunitá-

ria que privilegia a prevenção da cárie dentária nas crianças e

jovens escolarizados.

As crianças e jovens com Necessidades de Saúde Especiais (NSE) têm, ou estão em

risco acrescido de ter, doença crónica e/ou condições diferentes das outras crianças quanto

ao desenvolvimento físico, comportamental ou emocional. Por isso, requerem cuidados e ser-

viços de saúde mais específicos e mais frequentes que os requeridos pela generalidade da

população.

A este risco junta-se ainda o facto de a saúde oral das crianças com NSE poder ser

afectada negativamente por diversos factores, nomeadamente dietas especiais, medicação,

tratamentos e/ou dificuldade de higienização dos dentes.

Os pais e técnicos que trabalham com crianças com NSE nem sempre estão devida-

mente informados sobre os problemas orais destas crianças nem sobre a melhor forma de os

prevenir.

Com o objectivo de reduzir as doenças mais prevalentes na cavidade oral das crianças

e jovens com NSE e proporcionar melhores cuidados preventivos e melhor acessibilidade a

cuidados de saúde, nasceu o projecto «Saúde Oral na Deficiência».

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I N T R O D U Ç Ã O

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M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

A este projecto, que se lançou junto dos serviços de saúde, a nível nacional, em 2001,

candidataram-se quase 80 Centros de Saúde.

Estes, em parceria com escolas e instituições de apoio a crianças com deficiência, pro-

põem-se melhorar os cuidados de saúde oral, a acessibilidade a serviços de saúde e a inter-

venção global, junto deste grupo específico.

O presente Manual de Boas Práticas em Saúde Oral foi concebido para ajudar profissio-

nais de saúde, de educação e de instituições que trabalham com crianças e jovens com NSE

e os seus pais, no sentido de melhorar algumas medidas preventivas que se querem mais efi-

cazes.

Desta forma, queremos contribuir para a redução das desigualdades em saúde oral.

Este manual pretende melhorar a execução das rotinas preventivas, nomeadamente

os métodos de execução de escovagem dos dentes, o bochecho com soluções fluoretadas

e a técnica de uso do fio dentário. Estas tarefas, por vezes muito difíceis para pessoas com

NSE, podem ser muito facilitadas com técnicas adequadas de posicionamento e de adaptação

dos materiais, em função das capacidades de cada indivíduo e das suas necessidades de

suporte.

As técnicas são dirigidas às crianças e jovens com

incapacidade, mas também às pessoas que as ajudam nas

actividades quotidianas, tanto na escola como em casa e nas

instituições de acolhimento ou tratamento.

I N T R O D U Ç Ã O

Os cuidados diários de higiene oral são fundamentais para a manutenção da saúde oral

e, ao mesmo tempo, melhoram a auto-estima e o sorriso.

Os componentes de um programa preventivo eficaz, a desenvolver junto de crianças com

NSE, são idênticos aos preconizados para a população em geral.

Aos técnicos de saúde e educação compete proporcionar informação compreensiva

para a aquisição e manutenção de melhor saúde oral. É indispensável que tenham em conta

que a intervenção com crianças com NSE exige ponderar:

• a patologia de base;

• os hábitos e rotinas diárias;

• o grau de autonomia;

• o nível de compreensão e de execução das técnicas de prevenção;

• a existência ou não de um adulto responsável pela vigilância ou pela execução dos cui-

dados orais.

Aos pais cabe o papel fundamental na aquisição e desenvolvimento de hábitos de vida

e de higiene dos seus filhos, sendo o suporte de todo o processo educativo.

Com este Manual pretendemos:

• estimular a autonomia nos cuidados de higiene oral das

crianças e jovens com NSE;

• adaptar as técnicas de remoção da placa bacteriana,

de acordo com as necessidades individuais;

• incentivar a administração de fluoretos para a preven-

ção da cárie;

• disciplinar o consumo de alimentos e medicamentos

açucarados.

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O B J E C T I VO S D O M A N UA L D E B OA S P R Á T I C A S

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M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

A escovagem dos dentes, para ser eficaz, deve ser adaptada a cada criança e jovem,

sendo essa adaptação de importância ainda maior nos que têm NSE.

Todas as crianças, independentemente da sua capacidade de execução, devem escovar

os dentes pelo menos duas vezes por dia, sendo uma delas ao deitar.

Sempre que possível, deve instruir-se a criança para ela própria executar a escovagem,

mesmo que para isso se adaptem os materiais; é preferível que seja ela a fazê-lo, pois é impor-

tante promover a sua autonomia.

A escova de dentes pode ser manual ou eléctrica.

Deve ter textura macia, pêlos de nylon com extremidades arre-

dondadas e um tamanho adequado a quem a utiliza. Indepen-

dentemente do tipo, deve ser substituída quando os pêlos começam

a ficar deformados.

A escova de dentes é um objecto pessoal.

Nas escolas e nas instituições de apoio as escovas devem ser

marcadas (com nome, símbolos, cores, etc.) para que possam ser

facilmente identificadas e evitadas as trocas.

A marcação pode ser feita com caneta de tinta à prova de água

ou com outra tinta, cobrindo-a com plástico autocolante.

As escovas devem ser colocadas no copo correspondente e

guardadas em local arejado, com a cabeça voltada para cima, para

permitir a secagem entre utilizações.

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HIGIENE ORAL

Escovagem dos Dentes

A escovagem dos dentes deve ser feita com uma pasta dentífrica fluoretada.

Pode ser feita em frente ao espelho, estimulando-se, assim, a

observação da boca, para que a criança veja o que é e como se remove

a placa bacteriana.

Quando se utiliza uma escova manual, o método mais aconse-

lhado é o seguinte:

• inclinar a escova e fazer pequenos movimentos vibratórios ou

circulares;

• se for difícil manter esta posição, colocar os pêlos da escova

perpendicularmente à gengiva e à superfície do dente;

• escovar, no máximo, 2 dentes de cada vez, fazendo aproxima-

damente 10 movimentos nas superfícies dentárias abarcadas

pela escova;

• começar a escovagem pela superfície externa (do lado da

bochecha) do dente mais posterior de um dos maxilares e con-

tinuar a escovar até atingir o último dente da extremidade oposta

desse maxilar;

• com a mesma sequência, escovar as superfícies dentárias do

lado da língua;

• proceder do mesmo modo para fazer a escovagem dos dentes

do outro maxilar;

• escovar as superfícies mastigatórias de todos os dentes,

fazendo movimentos de vaivém;

• por fim, cuspir o excesso de pasta.

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Quando se utiliza uma escova de dentes eléctrica, deve ser respeitada a mesma

sequência de escovagem O movimento da escova é feito automaticamente, pelo que

basta que a escova seja deslocada ao longo da arcada, escovando um só dente de

cada vez.

Fio Dentário • Fita Dentária

A utilização do fio dentário em pessoas com NSE pode

ser difícil e requerer destreza e paciência. No entanto, em

certas circunstâncias, é indispensável e, por isso, os pais e os

técnicos devem saber utilizá-lo.

• Retirar cerca de 40 cm de fio (ou fita);

• enrolar a quase totalidade do fio no dedo médio de uma

mão e uma pequena porção no dedo médio da outra

mão, deixando entre os dois dedos uma porção de fio,

com aproximadamente 2,5 cm. Os polegares e/ou os

indicadores ajudam a manuseá-lo;

• introduzir o fio, cuidadosamente, entre dois dentes e

curvá-lo à volta do dente que se quer limpar, fazendo

com que tome a forma de um “C”;

• executar movimentos curtos, horizontais, desde o ponto

de contacto entre os dentes até ao sulco gengival, em

cada uma das faces que delimitam o espaço interdentário;

• repetir este procedimento até que todos os espaços

interdentários de todos os dentes estejam devidamente

limpos.

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M E D I DA S D E P R E V E N Ç Ã O DA S D O E N Ç A S O R A I S

Os porta-fios podem ser uma excelente ajuda. Existem

vários modelos disponíveis no mercado.

A remoção da placa bacteriana interdentária pode ainda

ser feita através de escovilhões e escovas unitufo.

Se existirem dificuldades motoras muito severas, a

higiene oral terá que ser feita por outra pessoa, em casa, na

instituição ou em ambos os locais.

Os pais e/ou os técnicos devem verificar, a intervalos

regulares, se as técnicas de remoção da placa bacteriana são

eficazes.

Metodologia do Ensino das Técnicas de Remoção da Placa Bacteriana

Para ensinar uma técnica de escovagem, é de grande

utilidade demonstrá-la em macromodelos.

Usa-se, idealmente, uma boca gigante com arcada

dentária superior e inferior:

• divide-se a boca em três partes;

• pinta-se cada parte com cores diferentes: superior e

inferior direita, cor verde; superior e inferior anterior, cor

amarela; superior e inferior esquerda, cor vermelha;

• simula-se a escovagem com uma macroescova, por

zonas: dentes verdes, amarelos e vermelhos, em todas

as suas faces.

Desta forma, tanto as crianças com NSE, como os seus

pais, professores, educadores e outros técnicos que trabalham

com elas, aprenderão a escovar correctamente os dentes.

Estes modelos também são muito úteis quando se ensina

a utilizar o fio dentário ou outros métodos de remoção da placa

bacteriana.

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Revelação da Placa Bacteriana

O objectivo da escovagem dos dentes, da utilização do fio dentário e, eventualmente, de

outros métodos, é o de retirar a maior quantidade possível de placa bacteriana.

Quando se ensinam esta tarefas, quer às crianças, quer a quem delas cuida, deve

utilizar-se um revelador de placa bacteriana, pois só assim é possível visualizá-la. É também

importante recorrer a um revelador para avaliar a eficácia da escovagem e da utilização

do fio.

A eritrosina, que cora a placa bacteriana de vermelho, é um exemplo de revelador de

placa bacteriana. Utiliza-se do seguinte modo:

• colocar um babete de plástico para proteger a roupa;

• colocar duas gotas por baixo da língua (soluto de eri-

trosina) ou mastigar um comprimido (comprimido de

eritrosina), tendo o cuidado de não engolir;

• passar com a língua por todas as superfícies dentárias;

• bochechar com água, uma ou duas vezes;

• visualizar as superfícies coradas que correspondem a

locais com placa bacteriana.

Caso não seja possível utilizar este procedimento, pode sempre aplicar-se o revelador de

placa bacteriana com a ajuda de um cotonete, se possível cuspindo o excesso.

A placa bacteriana corada é facilmente removida pela escovagem dos dentes e utilização

do fio dentário.

Este método é uma excelente forma de mostrar como se distribui a placa bacteriana e

como se remove.

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M E D I DA S D E P R E V E N Ç Ã O DA S D O E N Ç A S O R A I S

ADMINISTRAÇÃO DE FLÚOR

Flúor Sistémico

A quantidade de flúor a administrar depende do teor deste elemento nas águas de abas-

tecimento público. Assim, sempre que se verifiquem baixas concentrações de flúor nas águas

de abastecimento (inferior a 0,3 mg/ litro), situação muito frequente em Portugal, torna-se

necessário administrar um suplemento de flúor sistémico, da seguinte forma:

Crianças dos 6 meses aos 23 meses 0,25 mg/dia

Crianças de 2 e 3 anos 0,50 mg/dia

Crianças dos 4 aos 16 anos 1 mg /dia

O suplemento pode ser administrado na forma de gotas (até aos 23 meses) ou compri-

midos (a partir dos 2 anos). Quando é administrado na forma de comprimido, este deve derre-

ter na boca, lentamente.

Flúor Tópico

Pastas dentífricas fluoretadas

A escovagem dos dentes feita com uma pasta dentífrica fluoretada constitui uma forma

de aplicação tópica de flúor.

Até aos 6 anos, devem preferir-se pastas dentífricas “Júnior”, que têm na sua composição

uma dosagem entre 500 e 1000 ppm de flúor.

Utiliza-se uma pequena quantidade de pasta, cujo tamanho será idêntico ao de um grão

de ervilha.

Em crianças e jovens com mais de 6 anos, podem

utilizar-se pastas dentífricas destinadas a adultos, com uma

dosagem de flúor superior.

Se não houver dificuldade em cuspir, pode utilizar-se

cerca de 1 cm de pasta dentífrica.

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Quando as crianças com NSE não conseguem bochechar ou cuspir ou têm reflexo de

vómito muito acentuado com o dentífrico, pode utilizar-se uma cotonete ou uma escova embe-

bida em solução fluoretada (0,05%) e pincelar os dentes, de modo a veicular-lhes flúor.

Nas primeiras vezes em que a criança escova os dentes ou faz o bochecho

(ver “Bochecho Fluoretado”), é preferível fazerem-se simulações com água, até ter a certeza de

que o jovem não engole a pasta ou o soluto.

Tudo o que as crianças e jovens consigam fazer deve ser valorizado, incentivando-os a

fazer mais e melhor.

Bochecho fluoretado

A partir dos 6 anos, a realização do bochecho quinzenal, com fluoreto de sódio a 0,2%,

permite reduzir a incidência da cárie dentária.

Sempre que esta medida seja possível, recomenda-se a sua realização da seguinte

forma:

• agitar a solução e deitar 10 ml num copo;

• introduzir a solução na boca sem engolir;

• bochechar vigorosamente;

• reter a solução na boca durante 1 minuto;

• após este período, cuspir, tendo-se o cuidado de não

engolir.

Após o bochecho, a criança deve permanecer 30 minu-

tos sem comer nem beber.

Este bochecho pode ser de uso diário, com fluoreto de

sódio, doseado a 0,05%.

Nas crianças com NSE, que não conseguem bochechar

e cuspir, a aplicação tópica de flúor pode ser feita utilizando

uma cotonete, a própria escova ou um aplicador que se adapta

à mesma.

M E D I DA S D E P R E V E N Ç Ã O DA S D O E N Ç A S O R A I S

Bochechar comuma solução

fluoretada é tambémrecomendado para pessoas com NSE que conseguem

bochechar e cuspir

EDUCAÇÃO ALIMENTAR

Prevenir a cárie dentária pela redução dos alimentos cariogénicos implica não só

reduzir a quantidade de ingestão de açúcares, mas também, e principalmente, a sua

frequência.

Também sob este ponto de vista, as instituições têm um papel muito importante, pois

podem promover dietas equilibradas, com baixo consumo de alimentos açucarados (ex: uma

sobremesa por semana, um pão com manteiga em vez de doce). Existem materiais muito úteis,

nesta área, nomeadamente o ‘Manual para uma Alimentação Saudável em Jardins de Infância’

e o ‘Manual de Educação para a Saúde em Alimentação’, que se recomendam.

A dieta deverá incluir alimentos que estimulem a mastigação. No entanto, há pessoas

com problemas neste domínio que, geralmente, comem papas. Deve-se, assim, ter o cuidado

de não adicionar açúcar a estas preparações.

As recompensas alimentares dadas por alguma tarefa bem sucedida não devem ser

açucaradas.

Os técnicos devem sensibilizar as instituições e os pais para a importância do baixo

consumo de alimentos açucarados e refrigerantes, informando que:

• os alimentos açucarados, sólidos e aderentes aos

dentes são os mais cariogénicos;

• o efeito cariogénico dos alimentos é maior se estes

forem ingeridos no intervalo das refeições;

• uma boa dieta passa pela selecção de alimentos

naturais, fruta, legumes, cereais e alimentos fibrosos.

M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

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VIGILÂNCIA DA SAÚDE ORAL

As visitas regulares a profissionais de saúde oral, tais como médico dentista e higienista

oral, são da maior importância, numa perspectiva de intervenção global, detecção precoce e

tratamento adequado das doenças orais.

Assim, quanto mais cedo iniciarmos a orientação e educação em cuidados de saúde oral

de crianças e jovens com NSE e das suas famílias, melhores resultados obteremos no que

respeita ao controlo da cárie, da doença periodontal e de má-oclusão no futuro.

Quando se trata de crianças com NSE, há necessidade de intervir precocemente em

saúde oral, isto é, ainda antes da erupção dos primeiros dentes. Esta intervenção traduz-se na

informação sobre princípios de higiene oral, dieta, recomendação sobre o uso de chupetas e

biberões, estimulação gengival, etc.

Consoante o tipo de patologia, o profissional de saúde oral vai instruir os pais quanto

à sequência e cronologia da erupção dentária e à necessidade de utilização de qualquer

aparelho que possa melhorar as condições de desenvolvimento dos maxilares.

É obrigação de todos os técnicos, que lidam com crianças e jovens com NSE, maximizar

a intervenção e prevenção precoces. E isto é tanto mais

verdade, quanto mais graves são os problemas motores ou

mais severo é o défice cognitivo. A instalação e manutenção de

rigorosas medidas de higiene oral são um agudo desafio de

todos os técnicos de saúde.

A falta desta medidas preventivas poderá acarretar, se

demasiado tarde, um tratamento prolongado, complexo e

dispendioso.

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M E D I DA S D E P R E V E N Ç Ã O DA S D O E N Ç A S O R A I S

O desenvolvimento

saudável da dentição

temporária

proporcionará

arcadas dentárias

funcionais e

uma boa oclusão

na dentição permanente

Para as crianças e jovens sem autonomia, isto é, total ou parcialmente dependentes de

outrem, efectuarem a sua higiene oral, há várias formas de adaptação das escovas de dentes,

que podem utilizar-se em função das necessidades.

As crianças com deficiência física e mental constituem o grande grupo das crianças com

necessidade de cuidados de saúde oral especiais.

Nestas crianças, os principais problemas orais relacionam-se com:

• deficiente higiene oral;

• maior incidência de cárie;

• maior incidência de periodontopatias;

• maior incidência de má-oclusão;

• respiração bucal;

• deglutição atípica;

• bruxismo;

• anomalias dentárias.

Por isso, abordaremos as diferentes formas de adaptar escovas, para melhorar as

técnicas da escovagem em crianças que:

• não conseguem agarrar;

• têm dificuldade em levantar a mão ou o braço;

• têm limitação na abertura e encerramento das

mãos.

Abordaremos, ainda, as formas de controlar a cabeça e

o corpo e facilitar a abertura da boca.

M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

C U I DA D O S D E S A Ú D E O R A L PA R A C R I A N Ç A S EJ OV E N S C O M N E C E S S I DA D E S D E S A Ú D E E S P E C I A I S

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M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA MENTAL E/OU MOTORA

Em crianças com deficiência motora os profissionais de saúde deverão:

• avaliar previamente a motricidade oral, as dificuldades em permanecer com a boca

aberta, assim como a influência dos reflexos orais primitivos (mordedura, sucção, etc.)

e espasmos (abertura e encerramento da boca);

• promover o exame oral com duas pessoas, a que observa e a que mantém o

posicionamento;

• criar condições para que a criança se sinta segura, confortável e confiante para uma

boa colaboração.

Ajudas Técnicas

Os responsáveis por crianças que permanecem acamadas ou em cadeiras de rodas, por

descoordenação motora, rigidez ou deficiência mental profunda, devem ser treinados na remo-

ção da placa bacteriana.

Para pessoas com destreza limitada podem promover-se adaptações à escova normal ou

eléctrica, que permitam a execução da escovagem, obviando algumas limitações de movi-

mento. Se já usarem uma adaptação para comer, a mesma pode ser também útil para a escova

de dentes.

Por vezes é necessário que a auto-escovagem seja assistida por um adulto. De qualquer

forma, há que incentivar a independência total ou relativa da criança ou jovem.

C U I DA D O S D E S A Ú D E O R A L PA R A C R I A N Ç A S EJ OV E N S C O M N E C E S S I DA D E S D E S A Ú D E E S P E C I A I S

Para os que não conseguem agarrar

Coloca-se uma fita de velcro à volta da mão, tendo essa tira uma

bolsa na zona da palma onde a escova é colocada.

Segura-se a escova na mão da pessoa, com a ajuda de uma banda

elástica. Também se pode construir uma adaptação, como se vê na figura

ao lado.

Para os que têm dificuldade em levantar

a mão ou o braço

Aumenta-se o tamanho do cabo da escova, com uma

régua, espátula ou outro material semelhante.

Para os que têm limitação na abertura e

encerramento das mãos

Alarga-se o cabo da escova, colocando-lhe uma bola de

borracha, uma esponja compacta ou um punho de um guiador

de bicicleta.

M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

C U I DA D O S D E S A Ú D E O R A L PA R A C R I A N Ç A S EJ OV E N S C O M N E C E S S I DA D E S D E S A Ú D E E S P E C I A I S

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Controlo da Cabeça e da Abertura da Boca

Posicionamento global

As crianças com determinado tipo de deficiência motora precisam de ser apoiadas noseu posicionamento global, seja na própria cadeira, seja em cadeira adaptada.

De qualquer modo, dever-se-á:

• manter a cintura pélvica (pélvis ou anca) a 90°, contro-lada com uma faixa;

• ter a cabeça alinhada com o tronco e, se necessário,usar faixa de tronco para manter a estabilidade deste;

• ter a cabeça no respectivo encosto ou controlada poralguém.

Controlo da cabeça

O controlo da cabeça pode ser feito de pé, sentado ou nacadeira de rodas, da seguinte forma:

• quem ajuda deve estar por trás ou ao lado da criança;• encaixar, firmemente, a cabeça da criança no braço e

antebraço;• estabilizar a cabeça, de modo a que a criança não a

movimente.

Controlo da abertura da boca

Para controlar a abertura da boca, comece por estabilizara cabeça da criança, conforme descrito anteriormente; com odedo indicador da mão que faz a estabilização da cabeça,faça a retracção do lábio inferior, forçando a abertura da boca.

Procure fazer a escovagem dos dentes, de acordo comas indicações anteriores.

Se não for possível escovar as superfícies dentárias dolado da língua, pode utilizar um abre-bocas.

Se a cabeça da criança ou jovem estiver apoiada noencosto de uma cadeira, pode fazer-se o controlo oral frontal.

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Controlo do Corpo

Quem executa as tarefas relativas à higiene oral de uma

criança ou jovem com NSE precisa de saber como é que a

deve colocar, para tornar mais cómodo e mais fácil o acesso a

todos os dentes.

Na cadeira de rodas

• colocar-se de pé, por trás ou ao lado da cadeira;

• utilizar o braço para encostar a cabeça à cadeira ou ao

próprio corpo;

• seguir a técnica de ‘controlo de cabeça’;

• utilizar uma almofada para maior conforto.

Sentado no chão

• sentar-se numa cadeira por trás do jovem, que está no

chão;

• fazer ‘controlo de cabeça’;

• para maior estabilização do corpo e braços, passar as

pernas por cima dos ombros da criança.

Deitado

• ficar sentado no mesmo plano do jovem;

• a cabeça fica apoiada no colo de quem ajuda, fazendo

o ‘controlo de cabeça’;

• se for necessário, poderá fazer-se a estabilização dos

braços, passando as pernas de quem ajuda sobre os

ombros do jovem;

• poderá haver uma 2.a pessoa a controlar as pernas.

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Higiene Oral

Na generalidade das crianças com deficiência motora, a

higiene oral é perfeitamente possível. A escovagem deve ser

rápida e eficaz.

A escova deve ser adaptada ao tamanho da boca da

criança ou jovem, com pêlos de dureza média a suave.

Nos casos em que as crianças ou jovens não possam

fazer hiperextensão da cabeça, devem utilizar-se copos recor-

tados.

Sequência da escovagem

É importante que a sequência da escovagem favoreça,

às crianças com deficiência motora, a noção de plano central

do corpo. Assim, inicia-se na linha média do maxilar superior e

segue-se a sequência do esquema ao lado. No maxilar inferior,

inicia-se no último dente e termina na linha média. Os movi-

mentos da escova devem ser pequenos e circulares.

Técnica da escovagem

• Posicionar a criança com a cabeça ligeiramente incli-

nada para a frente;

• se necessário, fazer ‘controlo de cabeça’ e de ‘abertura

de boca’;

• aproximar a escova da criança, devagar, para esta se ir

familiarizando com a mesma;

• a introdução da escova, na boca da criança, deve ser

feita, progressivamente, iniciando-se a escovagem pela

linha média.

O técnico deve, sempre que possível, usar luvas descar-

táveis.

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3

2

4

Linha Média

Linha Média

MaxilarSuperior

MaxilarInferior

7 8

Lavagem da boca

Após a escovagem dos dentes, e quando a criança não

consegue bochechar ou cuspir, pode-se ajudar da seguinte

forma:

• colocar um recipiente por baixo do queixo;

• fazer um bom ‘controlo de cabeça’ e ‘abertura de boca’;

• pôr um pouco de água dentro da boca, utilizando um

copo recortado e fazendo uma ligeira flexão da cabeça;

• rapidamente, colocar a cabeça para baixo, fazendo

com que deite a água fora.

Massagem gengival

É aconselhada, sempre que exista inflamação e/ou

aumento de volume da gengiva (hiperplasia gengival), ficando

esta vermelha e podendo sangrar ao toque.

Estas situações podem acontecer com mais facilidade,

quando as crianças e jovens tomam, por exemplo, medica-

mentos anticonvulsivantes.

Proceder da seguinte forma:

• massajar as gengivas

com o indicador e o

polegar, fazendo movi-

mentos circulares, por

exemplo, com uma

compressa;

• sempre que medicamen-

te indicado, a massagem

pode fazer-se com gel

de clorohexidrina.

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Escovas especiais

Existem também utensílios próprios para escovar e

estimular a gengiva dos bebés, que podem ajudar a massajar

a gengiva das crianças com NSE, tais como dedeiras e

borrachas com escova.

Abre-bocas

Quando for de todo indispensável, em crianças que

tenham dificuldade em abrir e manter a boca aberta, podem

ser utilizados abre-bocas.

Estes podem ser de borracha ou de acrílico; podem

ainda utilizar-se para este fim 3 ou 4 espátulas, enrolando-as

com fita-cola à prova de água (ex. adesivo), ou um rolo feito

com uma toalha turca, guardanapo de pano ou compressas

atadas com fio.

Explicar sempre os procedimentos e nunca forçar.

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CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Os deficientes visuais superam muitas vezes a sua

deficiência, reforçando outros sentidos e recriando concei-

tos e perspectivas diferentes dos do resto das pessoas.

O sobredesenvolvimento dos outros sentidos e a

estrutura de uma outra filosofia de vida variam com a

idade de estabelecimento da deficiência visual.

No trabalho com crianças com deficiência visual,

sugerimos:

• dirija-se à criança pelo nome, falando-lhe à

medida que se aproxima, para que ela o possa

conhecer, sentir a sua presença e localização; assim, reforçará o contacto humano e

reduzirá a sensação de isolamento;

• conduza a criança, oferecendo-lhe o braço como guia, uma vez que pode antecipar os

seus movimentos, caminhando ligeiramente atrás de si, enquanto remove eventuais

obstáculos físicos;

• explique sempre o que está a fazer, minimizando o medo do desconhecido;

• promova um contacto físico cuidadoso e frequente, para aumentar a estabilidade e a

segurança;

• use uma linguagem verbal clara e simples, segundo a idade da criança, evitando

referências visuais;

• deixe a criança experimentar a generalidade dos instrumentos a serem usados, permi-

tindo-lhe uma maior compreensão das técnicas da higiene oral;

• ensine a escovagem na boca da criança ou jovem, para que sinta os movimentos e a

angulação da escova;

• exemplifique o uso do fio dentário nas mãos da criança ou jovem, utilizando os dedos,

como se fossem dentes; depois, utilizá-lo na própria boca.

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CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Os problemas auditivos, das perdas parciais à perda total, podem ocorrer em qualquer

idade. Relativamente às crianças com deficiência auditiva, a maioria nasceu surda ou adquiriu

a deficiência numa fase precoce da vida.

A maioria destas crianças faz alguma leitura de lábios, mas nem o “melhor leitor de

lábios” consegue decifrar mais de 1/4 da mensagem transmitida. Assim, a captação da men-

sagem também se baseia na expressão facial e linguagem corporal do interlocutor.

Para uma boa comunicação com crianças com deficiência auditiva, o profissional deve

receber claridade no rosto, para evidenciar as suas expressões faciais. Deve estar em frente

da criança, ao mesmo nível dos olhos, e:

• falar claramente, devagar e com linguagem simples;

• não gesticular de forma exagerada;

• minimizar os sons provenientes do exterior, pois podem mascarar o discurso;

• não falar alto, porque os sons agudos são de percepção difícil para as crianças com

deficiência auditiva;

• perguntar ao paciente qual o seu meio de comunicação preferencial;

• se houver acompanhante, este pode estar envolvido nas instruções e demonstrações

de higiene, de forma a auxiliá-lo em casa;

• utilizar imagens; exemplificar a escovagem dos dentes e a utilização do fio dentário

com auxílio dos macromodelos ou fazendo-o na boca da criança ou jovem.

As pessoas que lidam frequentemente com crianças com deficiência auditiva

devem aprender alguma linguagem gestual básica, de modo a dispensar a presença de um

intérprete.

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MEDIDAS GERAIS DE HIGIENE

Para a protecção do técnico e da criança ou jovem, é muito importante que se verifiquem

certos cuidados de higiene, especialmente nos actos que requerem o contacto com a cavidade

oral. As medidas básicas de higiene previnem a transmissão de algumas doenças.

São exemplos de actos que requerem contacto com a cavidade oral:

• escovagem dos dentes;

• utilização do fio dentário;

• massagem gengival;

• aplicação de flúor (através de bochecho fluoretado ou

aplicação com cotonete).

É preciso lavar as mãos, com sabão, antes e depois de os

realizar. Sempre que possível, devem também utilizar-se luvas ou

dedeiras descartáveis.

Os materiais que se utilizam, tais como:

• copo e escova, com ou sem adaptador;

• porta-fio dentário e caixa de fio dentário;

• escovilhões;

• abridores de boca;

• dentífricos e colutórios;

• géis;

• outros

devem estar devidamente identificados com o nome e ser de uso

individual.

Após cada utilização, devem ser lavados convenientemente.

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Anomalias dentárias:Variações do número, do tamanho, da cor, da estrutura e/ou da forma dos dentes. São

especialmente frequentes nas crianças com fendas labiais e/ou palatinas.

Bruxismo:Processo vulgarmente denominado por ‘ranger’ dos dentes. Pode provocar danos nos

tecidos periodontais e desgaste dos dentes. É especialmente frequente em crianças com

atraso mental.

Cárie dentária:Processo patológico, infeccioso, pós-eruptivo e de origem externa que se caracteriza

pelo amolecimento da estrutura dura do dente, evoluindo, naturalmente, para cavidade. Mais

frequente nas crianças que têm refluxo, consomem medicamentos açucarados, fazem dietas

especiais e têm higiene oral deficiente.

Doença periodontal:Afecção que envolve as estruturas do periodonto (gengiva e ligamento entre alvéolo e

dente). É geralmente provocada pela acumulação de placa bacteriana subgengival. Mais

frequente em crianças com defeitos do sistema imunitário e inadequada higiene oral.

Erupção dentária:Aparecimento da coroa dentária na cavidade oral. Pode ser retardada, acelerada ou

inexistente nas crianças com alterações do crescimento. Crianças com Síndroma de Down, por

exemplo, podem ter um atraso de 2 anos na erupção dentária.

Má-oclusão:Posição irregular dos dentes, interferindo com a função mastigatória. Muito frequente nas

crianças com atraso mental e paralisia cerebral.

Tártaro:Substância dura que se forma nas coroas e raízes dos dentes, assim como nas próteses

dentárias e aparelhos ortodônticos. É o resultado da calcificação da placa bacteriana.

Traumatismos dentários:Ocorrem frequentemente nas crianças com descoordenação motora e/ou nas que têm

incisivos superiores muito salientes.

G L O S S Á R I O D E P R O B L E M A S D E S A Ú D E O R A L

• Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

Consulta de Odontopediatria

• Departamento de Medicina Dentária - Faculdade de Medicina da

Universidade de Coimbra

Consulta de Odontopediatria e Medicina Dentária Preventiva

• Curso de Higienistas Orais da Faculdade de Medicina Dentária da

Universidade de Lisboa

Consulta de Higiene Oral para Deficientes

• Instituto Superior de Ciências da Saúde Sul

Consulta de Odontopediatria e Pacientes Especiais

• Hospital de D. Estefânia

Consulta de Estomatologia

• Hospital de St.a Maria

Consulta de Estomatologia

M A N U A L D E B O A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E O R A L

R E C U R S O S D I S P O N Í V E I S PA R A C R I A N Ç A S C O M N S E

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Às crianças do Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian, que

colaboraram nas fotografias deste Manual, e aos seus pais, que nos concederam a oportuni-

dade de as utilizar.

Aos Higienistas Orais, que colaboraram nas fotografias e nos facultaram adaptadores de

escovas, entre outros materiais.

À Dr.a Emília Nunes, pelos comentários e sugestões.

Às alunas Patrícia Correia e Raquel Gomes R, do 6.o ano do Curso de Medicina Dentária

da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

À Associação Portuguesa de Saúde Oral para Pacientes Portadores de Patologias

Especiais – APSOPPPE.

À Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 – APPT21.

A todos os elementos do grupo de trabalho, Professora Dr.a Virgínia Milagre, Dr.a Maria do

Rosário Malheiro, Dr.a Maria Margarida Campos Andrada, Professor Doutor David Casimiro de

Andrade, Professor Doutor César Mexia de Almeida, Dr. Francisco Gouveia Delille, Higienista

Oral Maria de Fátima Bizarra, personalidades de tão elevado mérito científico e técnico, com

quem foi um privilégio poder contar na elaboração deste Manual.

A todos o nosso obrigado!

AG R A D E C I M E N TO S