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  • MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA

    EM PROJETOS DE RESTAURAO

    2002

  • NDICE

    INTRODUO ................................................................................................................................................................ 4

    CAPTULO I..................................................................................................................................................................... 5

    1. A ARQUEOLOGIA...................................................................................................................................................... 6

    1.1. Uma Breve Histria do Pensamento da Arqueologia........................................................................................ 7 1.2. A Arqueologia Histrica.................................................................................................................................... 8 1.3. A Arqueologia de Restaurao .......................................................................................................................... 9

    2. A ARQUEOLOGIA E O BEM CULTURAL........................................................................................................... 11

    3. O IPHAN E A ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAO......................................................... 12

    3.1. Dois modelos de pesquisa Arqueolgica ........................................................................................................... 12

    CAPTULO II ................................................................................................................................................................. 14

    4. A PESQUISA ARQUEOLGICA NAS AES DE PRESERVAO............................................................... 15

    4.1. A Equipe de Restaurao e Conservao .......................................................................................................... 15 4.2. As situaes em que a Arqueologia se insere .................................................................................................... 15

    4.2.1. Projetos de Restaurao .............................................................................................................................. 15 4.2.2. Projetos de Conservao ............................................................................................................................. 15 4.2.3. Projetos em Andamento.............................................................................................................................. 16

    5. AS ETAPAS DA ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAO..................................................... 17

    5.1. ETAPA I A Avaliao do Potencial Arqueolgico.......................................................................................... 20 1 Fase: Elaborao do Projeto de Prospeces Arqueolgicas............................................................................ 20 2 Fase: Execuo das Prospeces Arqueolgicas .............................................................................................. 21

    5.2. ETAPA II A Pesquisa Arqueolgica ............................................................................................................... 21 1 Fase: Elaborao do Projeto de Pesquisa Arqueolgica ................................................................................... 22 2 Fase: Execuo da Pesquisa Arqueolgica ....................................................................................................... 22

    5.3. ETAPA III A Utilizao dos Vestgios ............................................................................................................ 22

    6. FAZENDO O PROJETO DE PESQUISA ARQUEOLGICA............................................................................. 25

    6.1. Informaes bsicas para elaborao dos projetos de arqueologia histrica:................................................. 25 6.2. Estrutura bsica dos projetos ............................................................................................................................ 25

    7. OS PROCEDIMENTOS MNIMOS A SEREM EXECUTADOS PELOS PROJETOS DE ARQUEOLOGIA27

    8. OS RELATRIOS DAS PESQUISAS ..................................................................................................................... 36

    9. PROCEDIMENTOS BUROCRTICOS ................................................................................................................. 40

    ANEXO 1......................................................................................................................................................................... 42

    ANEXO 2......................................................................................................................................................................... 45

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 2

  • APRESENTAO

    O Manual de Arqueologia Histrica em Projeto de Restaurao faz parte de um conjunto de Manuais previstos no Fortalecimento Institucional do Iphan, um dos componentes do Programa Monumenta/BID. Seu objetivo atender exigncias de orientao tcnica na gesto dos projetos de restaurao/conservao dos bens imveis tombados sob tutela federal. Tem ainda a inteno de suprir a necessidade de estabelecimento de procedimentos padres, a serem adotados pelo Iphan, no que se refere s Prticas de Arqueologia. Deixa claro o papel da Arqueologia nas atividades de preservao e quais resultados so esperados dela. Contempla, e d suporte, a todas as fases do processo de interveno no bem imvel tombado no que se refere Pesquisa Arqueolgica, desde a etapa de elaborao dos projetos at a concluso e a entrega da obra. um trabalho de carter preliminar que necessita de um processo de discusso, reviso e complementao, que promova o aprimoramento tcnico para posterior publicao pelo Iphan.

    Foi elaborado pela arqueloga Rosana Najjar, da 6 Superintendncia Regional do Iphan e pela arquiteta restauradora Maria Cristina Coelho Duarte sob a coordenao do Deprot e superviso deste GT.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 3

  • INTRODUO

    Este Manual de Arqueologia Histrica em Projetos de Restaurao foi feito, principalmente, para auxiliar os tcnicos do Iphan a gerir os projetos de Restaurao/Conservao dos bens imveis tombados sob sua responsabilidade. Seu objetivo suprir a necessidade do estabelecimento de procedimentos padro, a serem adotados pelo Iphan, no que se refere s prticas da Arqueologia. Portanto, estes procedimentos podero ser estendidos a todos, desde os proprietrios das edificaes at as instituies pblicas e privadas envolvidas, direta ou indiretamente, nos projetos de Restaurao/Conservao.

    Pretendemos ter deixado claro qual o papel da Arqueologia nas atividades de preservao e quais resultados so esperados dela. Deste modo, o Manual privilegia a abordagem dos procedimentos a serem adotados na relao entre os tcnicos do Iphan e os Arquelogos responsveis pelas Pesquisas Arqueolgicas, sejam eles Arquelogos pertencentes aos quadros do Iphan externos, a ele.

    Nesse sentido, o Manual contempla, e d suporte, a todas as fases do processo de interveno no bem imvel tombado no que se refere Pesquisa Arqueolgica, desde a etapa de elaborao dos projetos at a concluso e a entrega da obra. Inclusive na fase de reocupao, no caso de o projeto da interveno optar pela exposio permanente do stio arqueolgico para visitao.

    Assim, estabelecemos etapas para a realizao da Pesquisa de Arqueologia Histrica, organizadas, metodologicamente, em conformidade com as etapas do Projeto e da Obra de Restaurao. Este procedimento foi possvel em funo da larga experincia acumulada pelo Iphan, durante dcadas, no desenvolvimento de pesquisas arqueolgicas no bojo de projetos de Restaurao.

    O Manual define, ainda, as normas burocrticas a serem observadas pelos tcnicos da casa, necessrias realizao dos projetos e das pesquisas arqueolgicas nas obras de restaurao. Na ltima parte do Manual, apresentamos algumas sugestes para leituras.

    Para finalizar, embora na elaborao do Manual de Arqueologia Histrica em Projetos de Restaurao tenhamos buscado, no s, contemplar todas as fases da pesquisa arqueolgica, como tambm, prever as situaes em que a arqueologia histrica se faz necessria, temos certeza que, a partir da sua aplicao, surgiro sugestes, dvidas e comentrios, o que nos levar necessidade de reviso e/ou adequao das orientaes aqui presentes.

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  • CAPTULO I

    ARQUEOLOGIA ARQUEOLOGIA E O BEM CULTURAL

    O IPHAN E A ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAO

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 5

  • CAPTULO I 1. A ARQUEOLOGIA

    Para o pblico em geral a Arqueologia uma atividade extica desenvolvida por pessoas ricas que vivem - tal como detetives - procura de pistas que levem soluo de grandes enigmas do passado. Entre esses enigmas incluem-se o elo perdido, os dinossauros, as pirmides e todo tema considerado misterioso. O arquelogo - um indivduo empoeirado e um tanto desligado da realidade presente - teria como objetivo o achado de algum tesouro que lhe garantiria a aposentadoria. Talvez, para muitos dos que manusearo este Manual, essa imagem faa parte apenas dos filmes de aventura, mas, para a maioria das pessoas, esta efetivamente a imagem da Arqueologia. Isto deve-se, em primeiro lugar, ao objeto de estudo da Arqueologia: o passado. difcil encontrar quem no tenha interesse pelos seus antepassados. uma forma de se unir pedaos de nossa histria, nossa memria e sabermos um pouco mais sobre ns mesmos. Esse interesse pode se originar a partir de questes afetivas, religiosas e at filosficas, ou seja, a busca do passado prpria do ser humano. Em segundo lugar, a Arqueologia desperta a imaginao e a fantasia das pessoas. Nada mais excitante do que elaborar teorias fantsticas para explicar a construo das pirmides egpcias, os grandes desenhos da plancie de Nasca, as gigantescas cabeas de pedra da Ilha de Pscoa, enfim, toda a sorte de intrigantes mistrios da humanidade. Por fim, a imagem do arquelogo, como um indivduo economicamente privilegiado e desconectado do presente resultante da idia de que, sendo um hobby, cabe a ele pagar as custosas escavaes e da suposio de que a Arqueologia no tem qualquer ligao com o presente. A Arqueologia - como a prpria origem da palavra diz - estuda o passado. Esse passado pode ter, no entanto, dezenas, centenas ou milhares de anos. Pode-se estudar uma casa dos anos 1950 da mesma forma que uma caverna pr-histrica. O que muda o tipo de fonte, ou seja, de evidncias disponveis. No primeiro caso possvel, alm dos restos materiais, a utilizao de documentos escritos, plantas e fotos; j no segundo caso, tem-se apenas os vestgios materiais: artefatos para caa, pesca, agricultura, enterramentos, vasos de cermica, fogueiras, pinturas rupestres, etc. atravs desses vestgios que o arquelogo estuda o comportamento humano. A Arqueologia , portanto, o estudo das sociedades passadas - em seus diversos aspectos - com base nos restos materiais por elas deixados, ou seja, ela estuda o homem a partir da sua cultura material. A partir da, possvel diferenci-la tanto da Histria, pois esta volta-se para o estudo das sociedades atravs, basicamente, da documentao textual, quanto da Paleontologia, disciplina que estuda os dinossauros e outros animais e plantas extintos. Como vimos acima, a Arqueologia no um ramo auxiliar da Histria nem uma tcnica, uma cincia e possui procedimentos terico-metodolgicos prprios. A Arqueologia, portanto, uma disciplina cientfica e, como tal, compreende uma srie de etapas de pesquisa que devem ser cumpridas. A saber: a formulao de problemas (hipteses, levantamentos e estudos de viabilidade); a implementao (licenas, logstica); a obteno de dados (levantamentos, escavao); o processamento dos dados (limpeza, conservao, catalogao, classificaes); a anlise dos dados (questes temporais e espaciais); a interpretao (aplicao da opo terica); a publicao e, nos casos indicados, a restaurao. O arquelogo trabalha a partir de perguntas que ele quer responder. Estas questes podem estar relacionadas alimentao, ao espao, arte, a rituais, enfim, a qualquer aspecto do grupo humano a ser estudado eleito pelo pesquisador. Esses aspectos encontram-se representados na cultura material - desde um fragmento de loua at uma igreja - sob a forma de cdigos e cabe ao arquelogo a tarefa de decifr-los. Ao contrrio do que se pensa, a escavao apenas uma parte da pesquisa e no a pesquisa arqueolgica. Ela o meio pelo qual a Arqueologia coleta as evidncias para substanciar sua

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  • investigao. Uma escavao feita sem o adequado controle impede a realizao de uma pesquisa com seriedade. Mas para que serve a Arqueologia? Vimos que para o pblico em geral os arquelogos so indivduos preocupados apenas com o passado. Essa viso, no entanto, no corresponde realidade. Estuda-se o passado para compreender-se o passado e no o presente. O passado, entretanto, faz parte do presente. Stios arqueolgicos sejam eles cavernas, sambaquis, galees naufragados, runas de casas, fortes, igrejas, fazendas, cidades so pedaos da histria passada e presente de um povo. So as tramas que formam o tecido da memria1. Atravs delas nos identificamos como pertencentes quela ou a outra cultura, quele ou a outro segmento da sociedade em que vivemos. A esse tecido damos o nome de patrimnio arqueolgico. E dever da Arqueologia estud-lo, apresent-lo ao pblico, e juntamente com ele cuidar para que seja preservado. Ao cidado cabe a tarefa de - dentro de seus domnios - colaborar para a preservao de sua memria. A Arqueologia hoje deve contribuir para salvar o futuro do passado2 e, com ele, nossa identidade. Mas, como veremos a seguir, nem sempre foi assim.

    1.1. Uma Breve Histria do Pensamento da Arqueologia A preocupao com o passado vem desde a Antigidade, quando a nobreza buscava tesouros para compor suas colees. O colecionismo avanou pelos sculos e foi o responsvel pela formao de vrios museus da Europa. Muitas escavaes encomendadas enchiam os gabinetes de curiosidades, assim chamados, pois ali juntava-se todo e qualquer tipo de achados. Os curiosos amadores deram algumas contribuies Arqueologia que tem seu incio - como estudo sistemtico - na primeira dcada do sculo XX. At a dcada de 1960, a Arqueologia se voltava para grandes descries. As perguntas dos arquelogos eram: onde? e quando? o perodo chamado de histrico-culturalismo. Ou seja, o interesse era saber de onde vinham os povos que viveram aqui e em que perodo chegaram. Para isso era preciso coletar muitos objetos, descrev-los em detalhes e compar-los. O objetivo era mapear os diferentes povos e seus movimentos pelos territrios estudados e descobrir filiaes entre eles. Eram comuns nesta poca relatrios extensos com maantes descries de stios arqueolgicos e materiais. Era uma Arqueologia preocupada em estudar a evoluo das culturas, a histria das culturas. Esse arquelogo passava horas em seu gabinete cercado de pilhas de objetos, a serem classificados, para formar conjuntos que permitissem caracterizar uma cultura. Uma ponta de flecha, por exemplo, seria descrita pelas suas caractersticas fsicas (material utilizado para a confeco, tcnica de manufatura, forma, etc.) e serviria para identificar uma cultura, ou seja, uma espcie de marca registrada. Por volta de 1965, nos Estados Unidos, inicia-se um movimento de transformao da Arqueologia. Esse movimento ficou conhecido como Nova Arqueologia (ou Arqueologia Processual), e pregava que a Arqueologia no poderia ficar apenas descrevendo objetos e afirmava ser possvel o estudo de aspectos mais profundos das sociedades abordadas, em especial a adaptao ao meio ambiente. A proposta era substituir o aonde e o quando por como. O interesse era tornar a Arqueologia mais prxima das outras cincias e, para isso, sugeriram a elaborao de hipteses (problemas), a aplicao de teorias e mtodos nas investigaes, enfim, a utilizao de uma metodologia cientfica. Para eles os restos materiais possuiriam cdigos e cabia ao arquelogo decifr-los e no apenas descrev-los. Os novos arquelogos passaram a utilizar muitos recursos estatsticos e matemticos para tornar seus dados mais confiveis. De acordo com eles, aquela mesma ponta de flecha seria estudada de formas diferentes e a descrio serviria apenas para indicar seus atributos fsicos. Estes dados seriam usados para pesquisar, por exemplo, a procedncia da matria-prima; as estratgias para a sua obteno; as razes para a sua seleo; a recorrncia de

    1 Santos, M.V.M. 1993. O Tecido do Tempo: A Idia de Patrimnio Cultural no Brasil (1920-1970). Tese de Doutorado.Universidade de Braslia. 2 Fagan, B. 1998. Perhaps we may hear voices. Common Ground.Vol.3. No. 1. National Park Service.Washington.pp.13-18

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  • peas semelhantes e suas variaes; sua contextualizao, etc. Esse perodo , portanto, considerado um marco na Arqueologia moderna. J nos anos 80, em especial na Inglaterra, surge um grupo de pesquisadores que afirma que os mtodos cientficos adotados pelos novos arquelogos no eram satisfatrios. Para eles, os Ps-Processualistas, no haveria somente uma forma de investigar e sim vrias, e a opo por um s mtodo seria uma atitude autoritria. A nova proposta era de que os objetos no eram apenas resultado da adaptao, mas sim elementos com mltiplos significados utilizados pelos indivduos de uma sociedade para simbolizar suas relaes. Por essa perspectiva, no importa que existam dezenas, centenas de objetos, aqui no a quantidade que vale e sim a qualidade. Da mesma maneira, para os ps-processualistas, no a sociedade que est em jogo, mas sim as aes de cada indivduo para interagir nesta sociedade, aceitando ou resistindo s suas regras sociais. A mesma ponta de flecha teria, neste contexto, sua importncia como mediadora de relaes, ou seja, o indivduo que possui uma ponta como essa (feita desta ou daquela forma) tem status de caador e por isso se diferencia de outros que no a possuem. A ponta, portanto, reflete a atividade da caa e confere status ao seu dono. Portanto, para os arquelogos desta corrente, a Arqueologia se reveste de uma importncia muito maior do que possua at ento, uma vez que possui papel determinante na formao poltica da sociedade.

    A forma como o passado contado pode deturpar, ocultar ou sublinhar aspectos da histria que iro interferir diretamente na memria e, portanto, na identidade de uma sociedade. A histria da frica, por exemplo, por muito tempo foi contada no a partir dos stios arqueolgicos pr-histricos testemunhos das diferentes etnias negras, mas, sim, pelo incio da colonizao europia. Os lderes da Revoluo Popular da China mostraram, atravs de uma exposio que abrangia a pr-histria chinesa, que foi o cidado comum o responsvel pela construo da milenar histria da China. A Arqueologia hoje tem papel importante na educao e na constituio da cidadania e desta forma que sua importncia no presente est assegurada. Essas correntes de pensamento no so excludentes. Hoje, a Arqueologia aposta num caminho plural em que diversos elementos dessas vises sejam revistos e incorporados em novas propostas de trabalho.

    1.2. A Arqueologia Histrica

    Como vimos, a Arqueologia estuda tanto o perodo pr-histrico como o histrico. A diferena, j apresentada, a natureza das fontes. Os arquelogos que trabalham em perodos histricos utilizam, tambm, os documentos escritos para as suas pesquisas. O que os difere dos historiadores, neste caso, a metodologia empregada para o desenvolvimento da pesquisa, prpria da Arqueologia e no da Histria. Cada rea do conhecimento tem sua forma de investigao. Nas Amricas e, portanto, no Brasil, o perodo histrico inicia-se com os projetos de colonizao, isto , com a chegada dos europeus e africanos em nossas terras. O universo de estudo da Arqueologia Histrica , assim, bastante amplo e contempla os stios construdos a partir da ocupao portuguesa. No obstante, durante dcadas, os trabalhos em Arqueologia Histrica limitavam-se a corroborar o que as fontes escritas j haviam afirmado. A Arqueologia tinha um aspecto quase ilustrativo. Posteriormente observa-se que na cultura material estavam cristalizadas idias e atitudes de forma mais objetiva que no suporte textual. A partir deste momento a Arqueologia Histrica assume um novo perfil e se afirma como uma linha de pesquisa em Arqueologia. No Brasil, a Arqueologia Histrica se estabelece na dcada de 1960, quando foram realizados os primeiros estudos sistemticos de runas do sculo XVI de aldeias espanholas e misses jesuticas.3 A partir desse momento, stios histricos de naturezas diversas foram despertando a ateno dos pesquisadores brasileiros que, no entanto, voltaram suas preocupaes para aspectos, na sua maioria, ligados aos contatos intertnicos e aos monumentos edificados, 3 ver Andrade Lima 1999 em Sugestes de Leitura.

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  • resultando em uma nfase excessiva na chamada arqueologia de restaurao. Os anos 1990 inauguram uma nova fase da Arqueologia Histrica no Brasil, refletida em trabalhos que contemplam temas tais como gnero, etnicidade, capitalismo e paisagem. Os estudos em Arqueologia Histrica mostram o carter multidisciplinar da Arqueologia como disciplina cientfica. O dilogo com outras reas do conhecimento como a Histria, a Arquitetura e a Antropologia tm sido fundamental. A multiplicidade de informaes relativas aos stios histricos implica a necessidade do olhar de cada uma dessas reas. Artefatos, documentos escritos, informao oral e a prpria Arquitetura podem nos informar sobre as relaes entre seus ocupantes e como estes se relacionavam com a sociedade. A planta de uma casa, por exemplo, pode sugerir questes importantes sobre o comportamento de uma famlia: os acessos - portas e corredores - indicam reas mais ou menos valorizadas das casas, a localizao dos cmodos pode ser indicador do status de cada membro da famlia, os materiais construtivos: tijolos, telhas, pedras tm conotao econmico-social; revestimentos revelam modismos, o contedo esttico de fachadas e jardins. Louas, vidros, objetos de ferro, osso, enfim, tudo pode ser indicativo de padres de comportamento. Esse pequeno universo familiar, sendo representativo de uma sociedade, permite reflexes mais amplas. Alm de casas, as igrejas, fortes, fazendas, igualmente apresentam-se como potencialmente importantes para o conhecimento de suas pocas e o comportamento de seus ocupantes. Num convento em Portugal, os arquelogos encontraram na rea correspondente ao claustro uma srie de objetos muito curiosos. Tratava-se de pequenas garrafas de gua cuja forma assemelhava-se a de um pnis.4 Num forte americano do sculo XIX foram encontrados restos de animais cuja caa, segundo os documentos escritos, era proibida aos soldados. A desobedincia regra estava materializada nas centenas de ossos desenterrados pela pesquisa, num local prximo aos alojamentos. objetivo da Arqueologia Histrica conhecer, atravs da cultura material, temas que a Histria, pelos seus prprios meios, no consegue acessar. Os objetos, como vimos, tm um valor simblico que nem sempre percebido e/ou descrito pela histria. Os escravos no Brasil do sculo XIX, por exemplo5, embora tivessem sua liberdade de expresso totalmente cerceada, resistiam, muitas vezes, de forma silenciosa. o caso de decorao encontrada em cachimbos por eles usados que reproduz smbolos das etnias s quais pertenciam. Podiam fum-los sem que os senhores e capatazes percebessem que ali naquele pequeno objeto havia um ato de resistncia. Estas manifestaes que residem no silncio aparente dos elementos materiais constituem o domnio da Arqueologia.

    1.3. A Arqueologia de Restaurao

    O termo Arqueologia de Restaurao surge em meados do sculo XX para caracterizar os trabalhos que tinham por objetivo apenas o fornecimento de elementos para os projetos de restaurao de monumentos. Esses trabalhos se inserem na fase histrico-culturalista da Arqueologia e serviam apenas como acessrio para o campo da Arquitetura. Cabia Arqueologia o papel de tcnica auxiliar e acreditava-se que um historiador, com alguns conhecimentos de Arqueologia, poderia executar o trabalho da mesma forma que um arquelogo. Entretanto, a restaurao de um bem demanda uma igualdade interdisciplinar entre as partes envolvidas. Ou seja, os diversos profissionais participantes - os arquelogos, os historiadores e os arquitetos, dentre outros - tm contribuies significativas ao projeto. nos projetos de restaurao que se verifica a importncia de cada um desses profissionais, que tm seus objetivos e metodologias prprias, sendo o denominador comum entre eles a necessidade de contar, o mais

    4 Santos P. C. B. dos .2001 Mosteiro de Santa Clara-a-Velha de Coimbra. A Arqueologia num Mosteiro Suspenso no Tempo. Resumos.p.87. XI Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro. 5 Agostini, C. 1998 Resistncia Cultural e Reconstruo de Identidades: Um Olhar sobre a Cultura Material de Escravos do Sculo XIX. Revista de Histria Regional Vol. 3. N 3. Departamento de Histria.Universidade Estadual de Ponta Grossa. PR.pp.115-137.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 9

  • completamente possvel, a histria do bem, ou seja, as alteraes fsicas e suas respectivas (ou no) mudanas de uso. A Arqueologia Ps-Processualista prope que a edificao seja estudada como se fosse, ela prpria, um super objeto - um superartefato6 - e no meramente onde esto localizados os objetos. Desta maneira, a prpria edificao ganha vida. O termo Arqueologia de Restaurao tem, atualmente, um significado distinto daquele do sculo passado. Os projetos de restaurao hoje so conduzidos, principalmente, por instituies do governo com o objetivo de mostrar ao pblico, parte de seu passado.

    6 Handsman, Russell G.& Leone, Mark. P. Living history and critical archaeology in the reconstruction of the past. In: Pinsk, Valery&Wylie, Alison (eds.). Critical traditions in contemporary archaeology.2 ed. Albuquerque.New Mexico. University of New Mexico Press.1995.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 10

  • 2. A ARQUEOLOGIA E O BEM CULTURAL A Arqueologia a cincia que estuda o homem atravs da sua cultura material. Assim, tudo

    que produzido pelo ser humano passvel de uma anlise sob a tica da Arqueologia. Podemos fazer histria tanto a partir de fragmento de um objeto quanto a partir de uma edificao, uma vez que ambos so criao humana e, portanto, a materializao da cultura, um bem cultural. Podemos afirmar, ento, que a Arqueologia estuda os bens culturais.

    Quando um bem cultural tombado pelo Poder Pblico, isto se d devido ao seu valor (histrico, artstico, arqueolgico, etnogrfico, paisagstico, etc.), que foi reconhecido como merecedor de destaque e, portanto, de aes que o preservem, para que cumpra seu papel de transmitir sociedade sua participao na construo do Brasil.

    Assim, um projeto de Restaurao/Conservao de um bem cultural da Nao deve ter como objetivo, dentre outros, a recuperao e a socializao da histria deste bem. No caso das edificaes muito antigas, como as dos primrdios da nossa colonizao, normalmente no existem registros histricos disponveis que cubram toda a sua existncia. Nessas situaes, mais do que nunca, a Arqueologia se mostra uma cincia eficaz no trabalho de recuperao histrica, no s para suprir a ausncia de dados bibliogrficos, mas tambm para dialogar com os parcos documentos escritos existentes.

    Um projeto de Arqueologia dentro de um projeto de Restaurao/Conservao deve, portanto, buscar produzir dados relevantes que venham a deixar claro que uma edificao um superartefato, construdo pelo homem que, necessariamente, est inserido num dado tempo e espao e, deste modo, carregado de valores e simbolismos. As edificaes so, assim, produto e produtoras de relaes sociais, as quais pretendemos desvelar para melhor conhecermos o bem que temos o dever de preservar. A partir deste conhecimento, poderemos melhor realizar o nosso papel de contadores da histria do Brasil.

    Tomemos como exemplo o Programa de Restaurao da igreja jesutica de Nossa Senhora da Assuno em Anchieta/ES. O motivo de seu tombamento foi o de eternizar para a sociedade brasileira sua importncia enquanto monumento jesutico, testemunho dos primeiros momentos da nossa colonizao. poca do incio de sua restaurao, em 1994, seu interior e fachada no mostravam mais as caractersticas jesuticas que embasaram seu tombamento. O captulo da nossa histria (o papel dos jesutas na nossa colonizao) no estava mais sendo contado, as sucessivas intervenes realizadas nos quatrocentos anos de vida da igreja tinham descaracterizado sua feio original. O tombamento, portanto, no fora respeitado. Assim, o projeto de restaurao buscou resgatar estas caractersticas originais jesuticas, e a Arqueologia foi a ferramenta que nos auxiliou a conhecer melhor e contar esta histria7.

    a partir desta premissa que devemos fazer com que os projetos de restaurao sejam encarados como momentos potencialmente interessantes de realizao de um efetivo resgate da histria do bem e da sociedade que o construiu.

    7 Ver Abreu 1988 em Sugestes de Leitura.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 11

  • 3. O IPHAN E A ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAO

    Muitas outras restauraes executadas sob a responsabilidade do Iphan, atravs dos seus

    mais de sessenta anos, tm tido como premissa que seus projetos de restaurao possuam um cunho interdisciplinar, onde a Arqueologia, a Arquitetura e a Histria trabalhem juntas no intuito de resgatar a histria dos bens a serem restaurados. Temos, como alguns exemplos da presena da Arqueologia em projetos de Restaurao do Iphan, os trabalhos desenvolvidos nas misses jesuticas do sul do pas, ainda na dcada de 1930; as pesquisas desenvolvidas no Pao Imperial e no Cais da Praa XV de Novembro, ambos no Rio de Janeiro; as pesquisas realizadas em fortificaes no nordeste e no sul do pas, etc. No pontuamos aqui, todos os momentos em que o IPHAN lanou mo do auxlio da Arqueologia, pois poderamos incorrer no erro de omitir algum e, tambm, porque fugiramos aos objetivos do Manual.

    3.1. Dois modelos de pesquisa Arqueolgica

    Podemos apresentar dois modelos que, a nosso ver, vm se constituindo a partir dos trabalhos de Arqueologia em bens imveis tombados que so objetos de projetos de Restaurao.8

    O primeiro modelo, mais usual e mais tradicional, pode ser representado pelo seguinte esquema:

    MODELO A

    PESQUISA ARQUEOLGICA 1 produz resultados exclusivos para a RESTAURAO 1 PESQUISA ARQUEOLGICA 2 produz resultados exclusivos para a RESTAURAO 2

    NO EXISTE RELAO ENTRE EXPERINCIAS

    Neste modelo a Arqueologia serve simplesmente como um instrumento que tenta responder, da forma mais pragmtica possvel, s demandas do projeto de Restaurao. O trabalho do Arquelogo fica, ento, subjugado dinmica do trabalho do Arquiteto. A funo da pesquisa arqueolgica se restringe em aclarar algumas lacunas presentes no conhecimento do Arquiteto sobre o bem a ser restaurado. o que chamamos de produo do dado imediato, para suprir necessidades, nicas e exclusivas, do projeto de Restaurao, no buscando um aprofundamento da histria que aquele bem cultural conta.

    Embora os termos simplesmente e subjugado anteriormente empregados paream apontar para uma certa minimizao da relevncia deste tipo de trabalho, acreditamos que ele tem contribudo significativamente para a preservao de nosso patrimnio cultural. Isto fica claro ao analisarmos, hoje, restauraes que no tiveram a contribuio da Arqueologia. Esta anlise nos permite ver o quanto essas restauraes poderiam ser mais eficazes na preservao de nosso passado se arquelogos e arquitetos tivessem trocado informaes.

    Essa perspectiva, em si, j um avano nos trabalhos de Restaurao. Entretanto, ela no explora inteiramente a potencialidade da participao da Arqueologia no bojo de um projeto de Restaurao de um determinado stio histrico.

    Acreditamos ser mais efetiva uma perspectiva que v alm do pragmatismo presente na anteriormente apresentada. Se a Arqueologia pode contribuir de modo imediato para um projeto de Restaurao, ela tambm pode, e deve, aproveitar este momento rico de interveno no bem

    8 NAJJAR, Rosana. 2001 A Arqueologia e a Restaurao Arquitetnica ou a Catequese em Pedra e Cal. Anais (no prelo). XI Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Rio de Janeiro.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 12

  • preservado para aprender mais sobre ele. Esta produo de conhecimento culminar numa melhor gesto, pelo Poder Pblico, do bem protegido. S se preserva o que se conhece.

    Cabe Arqueologia constituir conhecimento cientfico stricto sensu, isto , elaborar conhecimento sistematizado e rigoroso sobre o bem trabalhado, tentando desvelar, o mximo possvel, as relaes humanas que se cristalizaram materialmente naquele bem.

    Conhecimento interessado, pragmaticamente relacionado s necessidades da restaurao fsica, e conhecimento desinteressado, possibilitador da construo de modelos explicativos da realidade social qual aquele bem est relacionado, no so duas perspectivas excludentes nem fruto de momentos diferentes e apartados em um processo de pesquisa. Basta o Arquelogo estar, desde o incio, imbudo da possibilidade e da necessidade de superar o pragmatismo presente nas obras de restaurao que ele ir trilhar um caminho de outro tipo, mais frtil tanto para o projeto de Restaurao em si, quanto para a consolidao do campo da Arqueologia Histrica.

    Esta outra perspectiva representada pela seguinte forma esquemtica, j presente em trabalhos do Iphan, e por ns vista como a ideal, uma vez que supre as necessidades do Iphan no que se refere produo de dados imediata e de mdio e longo prazo:

    MODELO B

    1 passo: PESQUISA ARQUEOLGICA 1 produz um MODELO EXPLICATIVO para a RESTAURAO 1

    2 passo: o MODELO EXPLICATIVO aplicado PESQUISA ARQUEOLGICA 2 na RESTAURAO 2,

    que, por sua vez, produz um NOVO MODELO EXPLICATIVO, que incorpora e supera o primeiro.

    A RELAO ENTRE AS PESQUISAS O MOTOR DA PRODUO DO CONHECIMENTO

    importante que tenha ficado claro a todos que venham a utilizar este Manual o porqu da presena da Arqueologia nas aes de preservao do patrimnio cultural. A prpria Carta de Veneza, e nosso Decreto Lei n 25/37 (Anexo 2), j a consideram como disciplina participante do trabalho, necessariamente interdisciplinar, da preservao. Ela uma fonte de conhecimento nica, uma vez que somente ela, dentre as disciplinas que usualmente participam das aes de preservao, produz conhecimento a partir da cultura material. A associao entre os dados produzidos pelos levantamentos histrico e arquitetnico, acrescidos dos resultados das pesquisas arqueolgicas, fornece ao gestor do patrimnio bases muito mais slidas para executar sua tarefa, fazendo com que o achismo, to presente at os dias de hoje em vrios projetos, seja definitivamente desencorajado.

    Nunca devemos perder de vista a perspectiva de que cada interveno nas edificaes consideradas monumento nacional uma interferncia radical e potencialmente danosa, onde opes necessariamente devem ser tomadas. Nunca devemos esquecer: optar perder. Portanto, as opes devem estar aliceradas nos mais rgidos parmetros da Preservao.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 13

  • CAPTULO II

    AS ETAPAS DA ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAO FAZENDO O PROJETO DE PESQUISA ARQUEOLGICA

    OS PROCEDIMENTOS MNIMOS A SEREM EXECUTADOS PELOS PROJETOS DE ARQUEOLOGIA

    OS RELATRIOS DAS PESQUISAS PROCEDIMENTOS BUROCRTICOS

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 14

  • CAPTULO II 4. A PESQUISA ARQUEOLGICA NAS AES DE PRESERVAO A preservao do patrimnio cultural de uma Nao se d atravs de diversos atos. Quando nos referimos ao patrimnio cultural edificado, estas aes podem, e devem, se revestir de um carter de materialidade, isto , devem permitir a manuteno da integridade fsica do bem tombado. A partir desta premissa, a preservao lana mo de aes prticas, dos projetos que prevem obras civis, a interveno direta nos bens preservados. Esta interveno se d a partir de projetos de restaurao e/ou de conservao que subentendem a atuao de equipes multidisciplinares de profissionais ligados preservao.

    4.1. A Equipe de Restaurao e Conservao

    fundamental para o bom desenvolvimento dos projetos de Restaurao que a equipe de trabalho seja multidisciplinar. Existem casos em que, tambm, a equipe de Conservao deve seguir esta caracterstica, dependendo do vulto da interveno. Uma composio possvel e relativamente usual desta equipe a que rene: Arquiteto e Engenheiro especialistas e/ou com experincia em restaurao e Arquelogo (mesmo no caso de Arquelogo externo aos quadros do Iphan), de preferncia com experincia anterior em Arqueologia histrica. Outras composies so possveis, entretanto, o carter multidisciplinar, anteriormente citado, deve ser preservado. Esta equipe deve acompanhar todo o processo e dever expandi-la, sempre que as caractersticas do projeto de interveno assim o indicarem. O importante que a multidisciplinaridade seja mantida sempre. A composio multidisciplinar deve ser observada, inclusive, nas equipes de tcnicos externos ao Iphan, no caso de intervenes em que o Iphan no participe diretamente, quando acompanha e/ou fiscaliza. 4.2. As situaes em que a Arqueologia se insere 1 - Projetos de Restaurao 2 - Projetos de Conservao 3 - Projetos em Andamento

    Buscamos, aqui, definir as diferentes situaes em que a Arqueologia se depara frente s atividades prticas de preservao. Foram levados em conta, tambm, os casos em que a Arqueologia venha a participar de projetos j em andamento.

    4.2.1. Projetos de Restaurao

    Utilizamos esta denominao para caracterizar os projetos cuja interveno contemple todas

    as etapas, desde a fase de estudos e projetos, definio de uso, passando pela execuo da obra civil at a fase de reocupao. So projetos cuja interveno de mdio a grande porte e, conseqentemente so, tambm, oportunidades imperdveis de se produzir o mximo de conhecimento possvel sobre o bem a ser restaurado. Neste caso, a Arqueologia dever ser aplicada em todo o processo da interveno, conforme demonstrado nas Etapas que sero apresentadas a seguir neste Manual (item 5).

    4.2.2. Projetos de Conservao

    As obras de conservao geralmente so intervenes menos impactantes que os projetos de

    Restaurao. Entretanto, ao realizarem reparos em pisos, em paredes, em telhados, etc., esses projetos geram uma gama de informaes sobre o bem protegido e so, portanto, momentos frteis

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 15

  • para a produo de conhecimento. O conhecimento, produzido a partir dessas intervenes, permite, inclusive, uma reviso nos resultados do projeto de conservao, como, tambm, uma melhoria na gesto deste bem protegido.

    4.2.3. Projetos em Andamento

    Este item se aplica s obras em andamento, de projetos de restaurao ou conservao, iniciadas antes da aplicao deste Manual. Estes casos especficos devero ser analisados por equipe do Iphan, composta por arquelogo e outros tcnicos, conforme a especificidade da interveno. Caber a esta equipe identificada a fase em que se encontra a interveno no bem, avaliar a pertinncia da realizao da pesquisa arqueolgica, e definir os procedimentos que permitam sua execuo.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 16

  • 5. AS ETAPAS DA ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAO

    As aes de Arqueologia devero ocorrer em trs etapas sucessivas. A Etapa I ocorre no perodo de elaborao dos projetos de arquitetura e, portanto,

    anterior s obras civis advindas dele. Isto se justifica pelo fato de a Arqueologia produzir dados necessrios definio deste projeto.

    Cumpre lembrar que o uso da edificao definido, pela Equipe de Restaurao, nesta Etapa, momento em que o Ante Projeto de Restaurao tambm definido pelo mesmo grupo. Entretanto, somente aps os resultados advindos das pesquisas arqueolgicas que, realmente, se toma a deciso se os vestgios arqueolgicos iro ser, ou no, incorporados ao uso do bem. Isto , somente ao fim das pesquisas que o detalhamento da reutilizao ser efetivamente, definido.

    Neste sentido, aconselhamos que a deciso de incorporar os vestgios expostos pela Arqueologia esteja presente, a priori, no Projeto, lembrando que a confirmao desta deciso estar condicionada a uma avaliao da Equipe de Restaurao, que somente acontecer a partir dos resultados das pesquisas arqueolgicas.

    MA

    Foto n 1

    Fotos 1 e 2 mostram vestgios (tabeiras emIgreja de So Loureno dos ndios, Niteri/R

    Foto n

    NUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM P

    Foto n 2 tijoleiras) potencialmente incorporveis ao projeto de restaurao. J e Igreja Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/E,S respectivamente.

    Foto n 4

    3

    ROJETOS DE RES

    Foto n 5

    TAURAO 17

  • Foto n6 Foto 3 e Seqncia de fot

    Ig A Etapa II pode ser

    previstas no projeto de restauradas diferentes atividades estejabom andamento dos trabalhos. a ser cumprido.

    A ltima Etapa, a ddepende da deciso quanto arqueolgica ao uso do bem. Ealguns dos vestgios evidenciadum museu-stio arqueolgico.

    No decorrer das escadados imediatos, que venham ao enriquecimento das bases de a ser executada.

    A

    Fotos 9 e 10 Quadriculam

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HIST

    Foto n 7

    os de 4 a 8 ilustram a incorporao do dreja Nossa Senhora da Assuno, Anchie

    executada durante, ou mesmo ao propriamente dito. necessrm coordenados para se transformPara tal, a Equipe de Restaurao

    e nmero III, acontece no final incorporao, ou no, dos vessta incorporao se traduz, na mos pelas pesquisas, que sero age

    vaes arqueolgicas estaro sen inovar ou confirmar/refutar os anformulao do detalhamento do p

    spectos do trabalho arqueolgi

    Foto n9

    ento da rea a ser pesquisada e evidenciNossa Senhora da Assuno, Anchieta/

    RICA EM PROJETOS DE RESTAURAO

    Foto n 8 ado arqueolgico ao projeto. ta/ES.

    ntes, da realizao das obras civis io, entretanto, que os cronogramas arem em um nico, objetivando o dever definir o cronograma ideal

    das obras civis e sua realizao tgios evidenciados pela pesquisa aioria das vezes, na exposio de nciados para se transformarem em

    do produzidos o que chamamos de tigos. O resultado desta produo rojeto arquitetnico da interveno

    co

    Foto n10

    ao de canaleta de drenagem. Igreja de ES.

    18

  • Foto 11 Viso geral de escavaIgreja

    Foto 12 Viso geral de escavaointerna. Igreja de Nossa Senhora da A

    Anchieta/ES.

    Com o intuito de sistemmencionadas, apresentamos, a segu

    1 - Etapa I - A Avali

    1 fase: Elabo

    2 fase: Exec

    2 - Etapa II - A Pesq

    1 fase: Elabo

    2 fase: Exec3 - Etapa III - A utili

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA

    Foto n 11 o em rea externa e evidenciao de estruturas arquitetnicas descartadas. de So Loureno dos ndios, Niteri/ES.

    Foto n 12 Foto n 13

    em rea ssuno,

    Foto 13 Perfis estratigrficos do terreno adjacente Igreja de So Loureno dos ndios,

    Niteri/RJ.

    atizar as trs Etapas do trabalho da Arqueologia anteriormente ir, o esquema dessas etapas e as suas respectivas caractersticas.

    ao do Potencial Arqueolgico

    rao do Projeto de Prospeces Arqueolgicas

    uo das Prospeces Arqueolgicas

    uisa Arqueolgica

    rao do Projeto de Pesquisa Arqueolgica

    uo da Pesquisa Arqueolgica zao dos vestgios

    EM PROJETOS DE RESTAURAO 19

  • 5.1. ETAPA I A Avaliao do Potencial Arqueolgico

    Esta Etapa se insere na coleta prvia de dados para a elaborao do Projeto Arquitetnico e, portanto, anterior s obras civis, uma vez que tem como objetivo subsidiar a elaborao do projeto de interveno.

    neste momento que se define o uso futuro da edificao. Recomendamos que fique definido, a priori, que os vestgios a serem evidenciados pela Arqueologia podero ser incorporados ao uso do bem, como, por exemplo, um museu-stio arqueolgico. Deste modo, evitam-se surpresas que venham a modificar o projeto de ltima hora.

    O objetivo da Arqueologia o de produzir novos conhecimentos sobre o bem, como tambm, confirmar e/ou refutar dados j conhecidos, por exemplo, advindos da pesquisa histrica. O resultado desta etapa definir os procedimentos a serem adotados em seguida, pela Arqueologia e pelo Projeto de restaurao:

    Caso a Avaliao do Potencial Arqueolgico indique a necessidade de prosseguimento das pesquisas ou, que no foram esgotadas as possibilidades de conhecimento sobre o bem, a Etapa II dever ser executada.

    Caso a Avaliao do Potencial Arqueolgico indique que no necessrio o prosseguimento das pesquisas, isto , que os trabalhos executados nesta Etapa foram suficientes e que, portanto, esgotaram as possibilidades de conhecimento sobre o bem, a Etapa II no ser executada e a realizao da Etapa III dever ser estudada, uma vez que ela depende do tipo e da qualidade dos vestgios expostos pelas pesquisas arqueolgicas.

    1 Fase: Elaborao do Projeto de Prospeces Arqueolgicas

    Esta fase tem o objetivo de definir quais reas internas e externas - e elementos da edificao devero ser escavados ou prospectados pela Arqueologia. Esta definio de responsabilidade da Equipe de Restaurao (item 4.1).

    Os pontos de partida, necessariamente, sero os dados advindos das pesquisas histricas e do levantamento arquitetnico que, de preferncia, devero ter sido realizadas antes dos trabalhos de Arqueologia. Quando possvel, devero ser utilizados outros mtodos de investigao que auxiliem no diagnstico do bem, como, por exemplo, a utilizao de GPR (ground penetration radar) ou radar de solo - esta ferramenta de trabalho de extrema valia tanto para os objetivos da Arqueologia, quanto para os da Arquitetura. Ela detecta anomalias no solo e nas paredes, anomalias que indicam a presena de, por exemplo, estruturas arquitetnicas ou esqueletos enterrados e vos emparedados.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 20

  • Foto n 14 Foto n 15

    Fotos 14 e 15 Utilizao do GPR na Igreja de So Loureno dos ndios, Niteri/RJ.

    Portanto, o produto desta fase a confeco do Projeto de Prospees Arqueolgicas para a

    edificao.

    Caso o Arquelogo Coordenador do Projeto de Prospeces no seja dos quadros do Iphan, ser necessrio que o projeto seja, previamente, analisado pelo arquelogo do Iphan responsvel pelo acompanhamento do projeto e obtenha o seu aval, uma vez tratar-se de bem protegido pelo Poder Pblico. Para tal, o Projeto de Prospeces Arqueolgicas dever seguir as orientaes contidas nos itens 6 e 7 deste Manual.

    2 Fase: Execuo das Prospeces Arqueolgicas

    Toda a execuo da pesquisa dever ser orientada pelo Arquelogo Coordenador da pesquisa e acompanhada pelo(s) Arquiteto(s) Responsvel(is) pelo levantamento e projeto arquitetnicos. No caso do Coordenador das prospeces ser Arquelogo externo aos quadros do Iphan, o projeto dever ser acompanhado, tambm, por Arquelogo do Instituto.

    Ao final dos trabalhos, dever ser elaborado, pelo Arquelogo Coordenador da pesquisa, o Relatrio Final. Caso a Equipe de Restaurao determine, poder ser necessrio que Relatrios Parciais sejam produzidos. O(s) Relatrio(s) desta fase dever(o) conter as informaes solicitadas no item 8.

    As reas escavadas no devero ser preenchidas novamente com sedimento at que se confirme seu destino dentro do Projeto de Restaurao do bem, conforme explicitado na Etapa III. A manuteno destas reas desimpedidas possibilita, principalmente, que, a qualquer momento, seja possvel uma reviso dos dados produzidos.

    5.2. ETAPA II A Pesquisa Arqueolgica

    Esta uma etapa facultativa, uma vez que somente ser realizada caso a Avaliao do Potencial Arqueolgico (Etapa I) assim o indique.

    No caso do resultado da avaliao da Etapa I indicar que no ser necessrio continuar os trabalhos da Arqueologia, isto , que os trabalhos desta etapa esgotaram as possibilidades de conhecimento sobre o bem, os responsveis pelo projeto de Arqueologia, em conjunto com o

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 21

  • restante da Equipe de Restaurao, devero observar o disposto na Etapa III, que trata da efetiva utilizao dos vestgios arqueolgicos pelo Projeto de Uso do bem.

    No caso do resultado da Etapa I indicar a necessidade da continuidade das pesquisas, esta poder acontecer durante o perodo das obras civis, e o procedimento a ser adotado o descrito nas duas fases a seguir.

    1 Fase: Elaborao do Projeto de Pesquisa Arqueolgica

    Este projeto ter o objetivo de aprofundar os conhecimentos produzidos na Etapa I. O processo de elaborao do Projeto de Pesquisa Arqueolgica dever contar, necessariamente, com a participao do Arquiteto responsvel pelo desenvolvimento do projeto arquitetnico de interveno, bem como de todo o restante da Equipe de Restaurao. Esta interdisciplinaridade fundamental para que a execuo das atividades das diferentes reas do Projeto de Restaurao se desenvolvam harmoniosamente.

    Este Projeto poder ser elaborado e/ou coordenado por Arquelogo externo aos quadros do Iphan, neste caso ele dever ser analisado, previamente, por arquelogo do Iphan, que emitir parecer e, caso favorvel, a realizao das atividades advindas dele somente tero incio aps a autorizao do Iphan, baseado na legislao vigente sobre bens tombados.

    O Projeto de Pesquisa Arqueolgica, tal como o Projeto de Prospeco, dever ser elaborado conforme as orientaes contidas nos itens 6 e 7 deste Manual.

    2 Fase: Execuo da Pesquisa Arqueolgica

    O Arquelogo Coordenador da pesquisa dever sempre contar com o acompanhamento do Arquiteto responsvel pelo projeto arquitetnico. No caso da execuo deste Projeto estar sob a responsabilidade de Arquelogo externo aos quadros do Iphan, sua execuo dever ser acompanhada, tambm, por Arquelogo do Iphan.

    Esta fase da pesquisa poder ser executada durante o perodo de realizao das obras de restaurao.

    Ao final dos trabalhos dever ser apresentado, pelo Arquelogo Coordenador da pesquisa, o Relatrio Final. Caso a Equipe de Restaurao determine, poder ser necessrio que Relatrios Parciais sejam produzidos. O(s) Relatrio(s) desta fase dever(o) observar o disposto no item 8.

    As reas escavadas no devero ser preenchidas at que se confirme seu destino dentro do Projeto de Uso do bem, conforme a etapa III.

    5.3. ETAPA III A Utilizao dos Vestgios

    A execuo desta Etapa est diretamente ligada ao Projeto de Restaurao do bem, definido na Etapa I. Nessa ocasio ficou apontada, pela Equipe de Restaurao, a incorporao, a priori, dos vestgios arqueolgicos ao projeto. nesta Etapa que esta deciso ser, definitivamente, tomada. Neste sentido, momento que se define o destino a ser dado aos vestgios expostos atravs das pesquisas arqueolgicas.

    Assim, ser necessria a avaliao, por parte do Arquelogo Coordenador e da Equipe de Restaurao, deciso esta que derivar em duas situaes distintas:

    a) A integrao dos vestgios arqueolgicos ao bem:

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 22

  • Os remanescentes evidenciados permanecero expostos aps a concluso das obras, e seu aproveitamento poder ser integral ou parcial, conforme o definido pela Equipe de Restaurao.

    Este aproveitamento pode culminar na implantao de um Museu-Stio Arqueolgico, como o criado na Igreja de Nossa Senhora da Assuno (Anchieta/ES), que aproveitou quase a totalidade das estruturas expostas. Ou pode optar pelo aproveitamento parcial dos vestgios, como no caso do forno da primeira Casa da Moeda do Brasil, que permaneceu exposto no Pao Imperial (Rio de Janeiro/RJ). Em ambos os casos fundamental que a Equipe da Restaurao avalie a necessidade da elaborao de projetos especficos, tais como:

    - exposio sobre as Pesquisas Arqueolgicas no Projeto de Restaurao, - drenagem e consolidao dos vestgios que permanecero expostos, - agenciamento, - museografia, - sinalizao e comunicao visual, - luminotcnica, - manual de conservao do Museu-Stio Arqueolgico, - educao patrimonial, - e outros.

    Foto n 16 Foto n 17

    Fotos 16 e 17 Agenciamento do museu-stio arqueolgico existente no ptio interno da Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    Foto 18 Exemplo de exposio m

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRI

    Foto n 18

    ontada para divulgar o projeto de restaurao. Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    CA EM PROJETOS DE RESTAURAO 23

  • b) A opo pela no integrao dos vestgios arqueolgicos ao Projeto.

    Neste caso, o Projeto inicial dever ser parcialmente revisto, uma vez que nele consta a opo da integrao dos vestgios arqueolgicos.

    As reas escavadas, que se mantiveram abertas at o presente momento, devero ser fechadas. Para tal, devem ser, primeiramente, forradas com telas plsticas (ou tiras de plstico) e, posteriormente, preenchidas com sedimento, permitindo, assim, o aproveitamento das reas para outros fins.

    Foto n 19 Foto n 20

    Fotos 19 e 20 Fechamento das reas escavadas. Igrejas de So Loureno dos ndios, Niteri/RJ e Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES respectivamente.

    No caso de fechamento das reas, recomendamos seja realizada uma exposio, preferencialmente permanente, que conte como foi a pesquisa arqueolgica realizada no bem; importante tambm que peas fiquem em exposio. Tais iniciativas tm a funo de informar ao pblico como o trabalho foi feito e quais resultados alcanaram. Um bom exemplo para este caso o da Igreja de So Loureno dos ndios (Niteri/RJ). Seu projeto de uso previu uma exposio permanente de peas arqueolgicas.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 24

  • 6. FAZENDO O PROJETO DE PESQUISA ARQUEOLGICA

    Um projeto de pesquisa cientfica sempre cumpre etapas definidas pela prpria metodologia das cincias. Assim, as pesquisas arqueolgicas no fogem a este procedimento.

    Este Manual estabelece, como j foi mostrado anteriormente, dois tipos de projetos de pesquisa arqueolgica:

    a) o Projeto de Prospeces, que tem o objetivo de avaliar o potencial arqueolgico do bem, e

    b) o Projeto de Pesquisa, que tem o objetivo de aprofundar as pesquisas realizadas no Projeto de Prospeces.

    Estes projetos devero ser concebidos e executados por Arquelogos, e as regras a seguir

    devem ser observadas tanto pelos Arquelogos do Iphan, quanto pelos externos aos quadros da instituio.

    Sua execuo ter o apoio da Equipe de Restaurao, particularmente contando com o direto acompanhamento do(s) Arquiteto(s) responsvel(eis).

    Os trabalhos de pesquisa sero efetuados sob permanente orientao do Arquelogo Coordenador, que no poder transferir a terceiros os encargos da coordenao sem prvia anuncia do Iphan.

    6.1. Informaes bsicas para elaborao dos projetos de arqueologia histrica:

    - a pesquisa histrica, com destaque, tambm, nas questes pertinentes compreenso do bem imvel, objeto da interveno, em suas caractersticas, formais, espaciais e de uso, originais e posteriores alteraes;

    - o levantamento fotogrfico, com registro do interior e do exterior, ilustrando amplamente o bem objeto da interveno poca da realizao do projeto;

    - os desenhos (plantas, cortes, elevaes, etc.) que representem fisicamente o bem poca da realizao do projeto;

    - os relatrios de projetos anteriores de restaurao/conservao; - as pesquisas relativas s tipologias e tcnicas construtivas presentes no bem objeto da interveno.

    Os projetos a serem apresentados pelos Arquelogos Coordenadores devero possuir a

    seguinte estrutura: 6.2. Estrutura bsica dos projetos

    1 - definio dos objetivos e justificativa; neste item dever ficar claro que o objetivo da

    pesquisa atende tanto s necessidades do Projeto de Restaurao quanto s da Arqueologia.

    2 - suporte terico-metodologico; neste item dever ficar claro que o suporte terico-metodolgico adotado venha a suprir as necessidades do Projeto de Restaurao no que se refere produo de conhecimento sobre o bem que ir sofrer a interveno.

    3 equipe; a equipe responsvel por executar as pesquisas arqueolgicas deve ser definida e coordenada pelo Arquelogo Coordenador que, por sua vez, membro da Equipe de Restaurao. A equipe a ser formada por este profissional dever ser compatvel com o projeto a ser executado, possuindo, pelo menos, um arquelogo assistente e um estagirio. Os operrios braais que daro apoio aos trabalhos de escavao devero ser exclusivos para a equipe de Arqueologia, e sero, no

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 25

  • mnimo, em nmero de trs por frente de trabalho a ser aberta. Recomendamos, ainda, que estes operrios estejam contratados pelas empresas responsveis pelas obras civis. Tal procedimento objetiva resguardar o Arquelogo Coordenador das obrigaes de gesto desses auxiliares, com todas implicaes que esta tarefa implica.

    4 - seqncia das operaes a serem realizadas no stio; neste item dever estar espelhada a harmonia existente entre as etapas de execuo da Arqueologia e das obras civis.

    5 - cronograma da execuo; este item dever demonstrar, esquematicamente, o acima mencionado.

    6 - prever a obrigao do preenchimento do Dirio de Obra especfico para as atividades da Arqueologia; este Dirio dever retratar o cotidiano dos trabalhos, particularmente os aspectos prticos/administrativos. O preenchimento no dever substituir o Relatrio das pesquisas.

    7 - proposta preliminar de utilizao futura do material produzido para fins cientficos,

    culturais e educacionais;

    8 - meios de divulgao das informaes cientficas obtidas;

    9 - indicao, no caso de Arquelogo externo aos quadros do Iphan, da instituio cientfica que apoiar o projeto com respectiva declarao de endosso institucional;

    10 - indicao de qual instituio receber a guarda final do material proveniente das pesquisas; o Arquelogo designado coordenador dos trabalhos ser considerado, durante a realizao das etapas de campo, fiel depositrio do material recolhido ou de estudo que lhe tenha sido confiado.

    11 - anexos; acompanhando o Projeto, dever constar a seguinte documentao:

    a) no caso de Arquelogo Coordenador no pertencer aos quadros do Iphan, o curriculum vitae com anexos que comprovem a sua idoneidade tcnico-cientfica;

    b) curriculum vtae dos membros da equipe tcnica.

    Os casos que, porventura, no estiverem explicitados neste item do Manual devero seguir as recomendaes existentes na Portaria SPHAN n 07/88 (Anexo 2).

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 26

  • 7. OS PROCEDIMENTOS MNIMOS A SEREM EXECUTADOS PELOS PROJETOS DE ARQUEOLOGIA

    O ato de escavar , necessariamente, o de destruir. A Arqueologia, a partir de seus mtodos e tcnicas, faz com que desta destruio derive informao. Por isto, o ato de escavar to importante, s temos uma nica chance, no temos como refazer uma escavao.

    Partindo desse princpio, devemos ter, tambm, como premissa bsica, que os Projetos de Arqueologia devero ser orientados de forma a resguardar, ao mximo, os elementos constituidores de seu reconhecimento como bem cultural, como, por exemplo, pinturas murais, molduras, detalhes em estuque, pisos originais, etc.

    No caso da necessidade de remoo desses elementos pelas pesquisas, devero ser guardados exemplares dos mesmos (revestimentos de pisos, de paredes, fragmentos de argamassas, telhas, fragmentos de alvenarias, etc.), para posterior anlise, futuras exposies, etc.

    A interpretao dos dados advindos das prospeces de piso, parede a fundaes, para que sejam conclusivos, devero, sempre, ser analisados em conjunto. Caso este procedimento no seja adotado, corre-se o risco de produzir meias verdades. Alguns exemplos ilustram bastante bem esta necessidade. Na foto 21 observamos uma parede, um piso e uma porta que foi aberta acima deste piso. Tal fato nos mostra a reutilizao do espao com novo acesso.

    As fotos 22 e 23 mostram a reduo das dimenses de uma porta lateral de nave de igreja. Caso no tivesse sido realizada a prospeco de piso, onde se localizou o degrau pertencente dimenso maior, era possvel que tivssemos interpretado que o arco de descarga tinha sido feito maior por mero capricho do construtor.

    I

    Fotos 22 e

    Tambm como uma premi

    evitar a exumao dos esqueletono desenvolvimento das escava

    Esta recomendao se justiesqueletos gerou sentimentos con

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRI

    Foto n 21 Fotos 21 Prospeco abaixo da porta.

    greja Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    Foto n 22

    23 Constatao de uma redIgreja dos Reis Magos

    ssa bsica, aconselhamos humanos porventura des e/ou das obras civis. fica em experincias anflituosos no seio das co

    CA EM PROJETOS DE RESTA

    Foto n 23

    uo nas dimenses da porta. , Serra/ES.

    s que os Projetos de Arqueologia devem escobertos e cuja localizao no interfira

    teriores, nas quais a prtica de exumar os munidades diretamente envolvidas. O ato

    URAO 27

  • de exumar os esqueletos para estudos , potencialmente, encarado pela sociedade como profanao de tmulos.

    Assim, no caso da localizao de esqueletos que no venham a interferir nas pesquisas ou nas obras civis, estes vestgios devero ser expostos e, aps exaustivamente descritos e registrados (fotos, desenhos, etc.), devero ser recobertos novamente.

    Foto n 24 Foto n 25

    Fotos 24 e 25 Enterramentos. Igrejas de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES e So Loureno dos ndios, Niteri/RJ, respectivamente.

    A remoo de esqueletos humanos somente aconselhada em dois casos: quando sua

    localizao interferir no bom andamento dos projetos de Arqueologia e/ou Restaurao ou quando os objetivos do projeto assim o indicarem. Neste caso, a justificativa dever constar do projeto de interveno arqueolgica, e os indivduos exumados devero ser reenterrados aps as anlises necessrias. Este reenterramento ser efetuado, de preferncia, no prprio local das pesquisas, o que demanda a necessidade do Projeto de Restaurao/Conservao prever uma rea para este objetivo. Foto n 26 Foto n 27 Foto n 28

    Foto n 29

    Fotos 26 a 31 Seqncia mostranarqueolgica

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HIST

    Foto n 30 Foto n 31

    do o processo de reenterramento dos indivduos exumados durante as pesquisas s na Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    RICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 28

  • Foto n 32 Foto 32 Continuao da seqncia mostrando o processo de reenterramento dos indivduos exumados durante as

    pesquisas arqueolgicas na Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    Deve-se observar, tambm, a pertinncia, em projeto, de se realizar escavaes dentro e fora das edificaes. Caber ao Arquelogo Coordenador das pesquisas arqueolgicas, em conjunto com a Equipe de Restaurao, avaliar a situao e tomar a deciso.

    Passamos, agora, aos procedimentos padro a serem seguidos pelas pesquisas nos:

    Pisos - a) registro anterior s escavaes: os pisos a serem prospectados devero ser registrados sob

    a forma de croquis com medidas da paginao, do(s) nvel(is), etc., e de fotos; - b) escavaes: os pisos devero ser removidos, camada por camada, buscando identificar os

    diferentes elementos de revestimentos, de pisos, de contrapisos e de substratos. Caso as prospeces revelem a existncia de esqueletos deve-se proceder conforme a orientao da Coordenao de Arqueologia do Iphan.

    - c) registro durante as escavaes: devero ser registrados as caractersticas e os nveis de cada um dos elementos identificados, sob a forma de croquis com medidas (plantas, cortes, etc.) e de fotos;

    M

    Foto n 33

    Fo

    ANUAL DE ARQUEOLOGIA HI

    Foto n 34

    tos 33 a 35 Seqncia mostrando os pisos sucessivo

    STRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO

    Foto n 35

    s.

    29

  • Foto n 36 Foto n 37

    Fotos 36 e 37 Evidenciao de pequena poro de piso original em lajotas de barro.

    Foto n 38

    Foto 38 Resduo de espelho de degrau.

    Foto n 39 Foto n 40

    Foto 39 e 40 Descoberta de nova configurao de calada.

    Foto n 41 Foto n 42 Foto n43

    Foto 41 a 43 Demonstrao dos procedimentos de retirada de pisos.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 30

  • Foto n 44 Foto 44 Poro de piso.

    (Foto da Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES).

    Fundaes necessrio observar que as escavaes realizadas prximas s fundaes e paredes no podem trazer prejuzos estabilidade e conservao do monumento. No caso de fundaes ainda suportando paredes, a proximidade demasiada e a extenso grande podem desestabilizar a estrutura.

    Em continuidade s prospeces dos pisos, as fundaes devero ser pesquisadas objetivando conhecer os diferentes sistemas e tcnicas construtivas nelas utilizadas. As prospeces e/ou escavaes revelam, potencialmente, as caractersticas ocultas do bem, as sucessivas alteraes empreendidas ao longo de sua existncia, bem como o grau de estabilidade das estruturas.

    - a) prospeces: o solo dever ser removido, camada por camada, buscando expor trechos da

    fundao para identificao das tcnicas construtivas (sapatas corridas, sapatas isoladas, fundaes em arcos, etc.) e das profundidades. Reiteramos, neste caso, a necessidade de acompanhamento do(s) engenheiro(s) e do(s) arquiteto(s) integrantes da Equipe de Restaurao no dimensionamento e localizao das reas a serem pesquisadas, de modo a evitar que as escavaes afetem a estabilidade das estruturas. As escavaes devero chegar base das fundaes, para que o mapeamento do tipo da fundao possa ser realizado.

    - b) registro durante as prospeces: devero ser registradas as caractersticas e os nveis das fundaes, sob a forma de croquis com medidas (plantas, cortes, etc.) e de fotos;

    Foto n 45 Foto n 46 Foto n 47

    Foto 45 a 47 Seqncia mostrando fundaes.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 31

  • Foto n 48 Foto n 49

    Foto 48 e 49 - Base de coluna e do arco cruzeiro.

    Foto n 50

    Foto 50 Exemplo de exposio total de uma fundao. (Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES)

    Paredes

    As prospeces de parede devem ser executadas levando-se em conta que a remoo do revestimento significa perda de tcnicas e materiais originais. Assim, estas atividades devem ser executadas com a mxima ateno. Quanto retirada de revestimentos externos, necessrio observar que as paredes expostas ao tempo no podem permanecer por muito tempo sem a proteo de reboco, sob pena de sofrerem danos irreparveis.

    - a) registro anterior s prospeces: as paredes a serem prospectados devero ser registradas sob a forma de croquis com locao dos elementos nela existentes (esquadrias, vos, elementos integrados, etc.), do(s) nvel(eis), etc., e de fotos;

    - b) prospeces: os acabamentos (pinturas, adornos, etc.) e os revestimentos (emboo, reboco, enchimentos, etc.) devero ser removidos, camada por camada, buscando identificar os diferentes elementos existentes, desde a camada superficial at o tipo de alvenaria. Buscar, sempre que possvel, executar prospeces com formas regulares;

    - c) registro durante as prospeces: devero ser registrados as caractersticas e os nveis de cada um dos elementos identificados, sob a forma de croquis com medidas (plantas, vistas, cortes, etc.) e de fotos;

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 32

  • Foto n 51

    Foto 51 Toda a prospeco deve levar em conta a pintura e abranger reas suficientemente amplas que permitam uma real observao das paredes ( Igrejas de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES e dos Reis Magos, Serra/ES).

    F

    Fotos

    MANUA

    Foto n 52

    otos 52 e 53 Descoberta e evidenciao de seteira. Igreja de Noss

    Foto n 54 Fo

    54 a 56 A pesquisa numa parede j sem reboco: fotos 55 e 56 desmuros. Igreja de Nossa Senhora de Assuno

    L DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURA

    Foto n 53

    a Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    to n 55

    tacam a , Anchiet

    O

    Foto n 56

    evidncia da juno de diferentes a/ES.

    33

  • Foto n 57 Foto n 58

    Fotos 57 e 58 A pesquisa numa parede j sem reboco mostra uma seteira emparedada. Igreja de Nossa Senhora de Assuno, Anchieta/ES.

    Foto n 59 Foto n 60

    Fotos 59 e 60 Prospeco evidenciando cimalhas superpostas. Igreja de Nossa Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    Foto n 61 Foto n 62

    Fotos 61 e 62 - Evidenciao da forma da base da coluna. Igreja dos Reis Magos, Serra/ES.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 34

  • Foto 63 Descoberta da existencia d

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HIST

    Foto n 63 e duas edificaes distintas, enconstada uma na outra. Igreja e Residncia Nossa

    Senhora da Assuno, Anchieta/ES.

    RICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 35

  • 8. OS RELATRIOS DAS PESQUISAS

    Os Relatrios dos projetos de pesquisa (item 5) cientfica tm o papel de relatar como as pesquisas foram desenvolvidas e quais os resultados alcanados. Assim, caber ao Arquelogo Coordenador das pesquisas apresentar o resultado de seu trabalho atravs de Relatrios Parciais ou Finais, que devero ser entregues Equipe de Restaurao. Cumpre lembrar que estes documentos devem, tambm, ser encaminhados aos arquivos da Regional e da rea Central do Iphan. No caso do Arquelogo Coordenador das pesquisas no ser dos quadros do Iphan, os Relatrios devero ser entregues ao Arquelogo do Instituto responsvel pelo acompanhamento dos trabalhos para anlise e parecer. Em seguida, os Relatrios sero encaminhados Equipe de Restaurao.

    Os Relatrios, a serem apresentados pelos Arquelogos Coordenadores, devero ser redigidos em lngua portuguesa e conterem as seguintes informaes:

    1 o registro exaustivo de todas as diferentes etapas realizadas pelo projeto;

    2 a descrio dos procedimentos adotados nos diferentes elementos e reas;

    3 desenhos (plantas, sees, detalhes, etc.) e fotos, pormenorizados, da rea pesquisada, com indicao dos locais afetados pelas escavaes e dos testemunhos deixados no local;

    4 desenhos: plantas, sees, detalhes, com cotas, nveis e especificaes dos elementos e materiais presentes;

    5 desenhos: plantas, sees, detalhes, com cotas, nveis e especificaes da(s) estratigrafia(s) reconhecida(s);

    6 fotos, em detalhe, do material arqueolgico, mvel e imvel, relevante;

    7 registro das medidas adotadas para a descrio, proteo e conservao do material arqueolgico;

    8 - fotografias retratando o cotidiano do trabalho, mostrando as reas prospectadas, os servios em execuo, os elementos mveis e imveis, a estratigrafia dos pisos e solo, e os detalhes construtivos expostos na pesquisa, etc.;

    9 relatos, com as respectivas justificativas, das mudanas efetuadas no Projeto de Arqueologia;

    10 concluses e/ou novas hipteses formuladas a partir dos dados da pesquisa;

    11 - relao definitiva do material arqueolgico recolhido em campo e informaes sobre seu acondicionamento e estocagem, assim como indicao precisa da instituio responsvel pela guarda e manuteno desse material;

    12 indicao de como ser assegurado o desenvolvimento da proposta de valorizao do potencial cientfico, cultural e educacional do stio pesquisado;

    13 - indicao dos meios de divulgao dos resultados para a comunidade diretamente afetada, para as instituies de preservao, para o meio cientfico, etc.

    Alertamos, especialmente, para a necessidade de constar do Relatrio Final da Avaliao do

    Potencial Arqueolgico (Etapa I), no caso em que seu resultado indique a necessidade da continuao das pesquisas, as seguintes informaes:

    14 - justificativa da necessidade da continuao das pesquisas; 15 - planta(s) com indicao dos locais onde se pretende o prosseguimento das

    pesquisas; 16 - a ficha de registro de stio arqueolgico, segundo formulrio prprio do Iphan.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 36

  • Anexo aos Relatrios, devero estar o(s) Dirio(s) de Obra(s) devidamente preenchidos, conforme previsto no item 6.2.

    Diversos tipos de material arqueolgico:

    F

    F

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HI

    Foto n 64

    Foto 64 Evidenciao do material mvel.

    oto

    oto

    ST

    Foto n 65

    s 65 Evidenciao de parte de coluna de madeira.

    66

    RI

    Foto n 66

    Evidenciao de parte de coluna de madeira.

    CA EM PROJETOS DE RESTAURAO 37

  • Foto n 67 Foto n 68 Fotos 67 e 68 Vestgio de tronco de rvore.

    69 n 70

    MANUA

    Foto n

    Foto 69 Ossos humanos fragmentados.

    Foto n

    Foto 71 Jarro de cermica.

    Foto n 72 Foto 72 Anlise de material durante as

    pesquisas de campo. Fot

    L DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURA

    Foto

    Foto 70 Cadinho.

    71

    Foto n 73

    o 73 Material metlico.

    O 38

  • MA

    Foto n 74

    Foto n 76

    Fotos 74 a 77 Fragmentos de cermic

    NUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RE

    Foto n 75

    Foto n 77

    a e louas sendo restauradas.

    STAURAO 39

  • 9. PROCEDIMENTOS BUROCRTICOS

    Para a aplicao deste Manual, os Projetos de Restaurao e/ou de Conservao, concebidos ou no pelo Iphan, devero seguir os procedimentos burocrticos existentes nas Superintendncias Regionais, demostrados a seguir:

    a) Avaliao da necessidade da Arqueologia nos Projeto de Restaurao/Conservao: Os projetos so remetidos para a Diviso Tcnica das respectivas Superintendncias Regionais do Iphan, que, por sua vez, devero remeter, simultaneamente, os projetos para anlise das reas (ou tcnicos) de Proteo e/ou Conservao e Arqueologia. No caso da Regional no possuir Arquelogo, ela dever recorrer a um dos Arquelogos existentes nos quadros do Iphan. Este tcnico proceder avaliao da necessidade de pesquisa arqueolgica no bem objeto da interveno proposta. Identificada a necessidade da pesquisa ser orientada a elaborao de um Projeto de Prospeco e/ou Pesquisa Arqueolgica que dever atender ao disposto neste Manual. Caso a anlise mostre que no ser necessria a realizao de pesquisas arqueolgicas, no ser realizado o Projeto de Prospeces Arqueolgicas. Entretanto, a Equipe de Restaurao dever ter um Arquelogo em sua configurao para, constantemente, avaliar os resultados e a necessidade da pesquisa arqueolgica.

    (fluxograma: Aprovao dos projetos de Restaurao/Conservao)

    Resulta num parecerque dever ser

    utilizado na obra

    rea de Proteo

    Resulta num parecerque dever ser

    utilizado na obra

    rea de Arqueologia

    Diviso Tcnica

    Superintendente

    Consulta Prvia

    b) O acompanhamento da execuo dos projetos de Restaurao e Conservao onde a Arqueologia est presente: As atividades previstas nos Projeto de Prospecco/Pesquisa Arqueolgica, a serem realizadas no bojo dos Projetos de Restaurao/Conservao, devero ser acompanhadas por tcnicos da Regional arquiteto e arquelogo - indicados pela Diviso Tcnica. O acompanhamento se dar atravs de visitas de acompanhamento (independentemente do acompanhamento realizado pela Equipe de Restaurao) e da anlise dos Relatrios de Pesquisa recebidos.

    No caso de o Arquelogo Coordenador das atividades de Arqueologia pertencer aos quadros do Iphan, sua relao se dar diretamente com a Equipe de Restaurao e com o tcnico da Regional responsvel pelo acompanhamento do Projeto de Restaurao/Conservao e/ou com a Diviso Tcnica da Superintendncia Regional.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 40

  • (fluxogramas: Acompanhamento dos projetos)

    Fiscalizao Acompanhamento

    rea de Arqueologia

    Fiscalizao Acompanhamento

    rea de Conservao

    Diviso Tcnica

    Superintendente

    Projeto

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 41

  • ANEXO 1

    SUGESTES DE LEITURA

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 42

  • ANEXO 1 Sugestes de Leitura ABREU, C. ( org. ) 1998. Anchieta - A Restaurao de Um Santurio. Rio de Janeiro. 6 SR/IPHAN. Coletnea de artigos dos profissionais envolvidos no projeto de restaurao da Igreja de Nossa Senhora da Assuno, no Esprito Santo. Rene trabalhos de arquelogos, arquitetos, restauradores, historiadores e comunidade. ANDRADE LIMA, T. 1993. Arqueologia Histrica no Brasil: Balano Bibliogrfico (1969/1993). Anais do Museu Paulista. Nova Srie. N. 1. So Paulo. pp. 225-262. O artigo traa um panorama amplo da Arqueologia Histrica no Brasil a partir da produo bibliogrfica no perodo. BAHN, P. 1996 Archaeology. A Very Short Introduction. Oxford University Press. Um livro de fcil leitura destinado queles que querem conhecer um pouco sobre Arqueologia. FUNARI, P.P. 1988. Arqueologia. So Paulo. tica. Srie Princpios. N145. Um pequeno manual de Arqueologia que introduz no leitor algumas das principais questes terico-metodolgicas da disciplina. FUNARI, P.P. (org.)1998. Cultura Material e Arqueologia Histrica. Campinas. UNICAMP. Coletnea de artigos que tratam do estudo da cultura material em diferentes contextos histricos no Brasil . MACEDO, J.& SUAREZ, S.M.& NAJJAR, R. 2001. O Estudo da Telha na Arqueologia Histrica, uma proposta de sistematizao: a experincia na Igreja da Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia, Rio de Janeiro/RJ. Anais da X Reunio Cientfica da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Recife/PE. 1999. CD-ROM Arqueologia do Brasil Meridional. PUC Rio Grande do Sul. Estudo tipolgico das telhas encontradas durante as escavaes da Igreja. Um dos raros trabalhos sobre o tema no Brasil. NAJJAR, R. 2001. Catequese em Pedra e Cal: Estudo Arqueolgico de Uma Igreja Jesutica (Nossa Senhora da Assuno - Anchieta/ES). Dissertao de Mestrado. Universidade de So Paulo. Exemplo da aplicao da Arqueologia dentro dos projetos de restaurao atravs da viso do bem como superartefato. NAJJAR, R. e equipe de pesquisa. 2000. A Arqueologia Histrica na Igreja de So Loureno dos ndios, Niteri/RJ. Anais do IV Congresso Internacional de Estudos Ibero-Americano. Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (no prelo). Estudo de caso da interveno da Arqueologia (sob a responsabilidade da 6 SR/IPHAN), em projetos de restaurao desenvolvidos pelo Poder Pblico Municipal. NAJJAR, R. e equipe de pesquisa. 2001. A Igreja da Venervel Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia: Arqueologia num Programa de Restaurao. Anais da X Reunio Cientfica da Sociedade de Arqueologia Brasileira.Recife/PE.1999.CD-ROM Arqueologia do Brasil Meridional. PUC - RS. Estudo de caso da interveno da Arqueologia em projetos de restaurao desenvolvidos pelo IPHAN. ORSER JR, C. 1992. Introduo Arqueologia Histrica. Belo Horizonte. Oficina de Livros. Coleo Mnima. Cincias Sociais. O livro d um panorama geral da Arqueologia Histrica desde seu desenvolvimento, aplicao e discusses pertinentes ao tema. De fcil leitura mesmo para profissionais de outras reas.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 43

  • PROUS, 1990. Arqueologia Brasileira. Editora da Universidade de Braslia. Uma sntese da Arqueologia Brasileira que trata especialmente da pr-histria, mas inclui captulo sobre a arqueologia histrica. Uma obra de flego, com inmeras ilustraes e mapas. REVISTA DO MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO. Teoria Arqueolgica na Amrica do Sul. So Paulo. 2000.Coletnea de artigos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros sobre teoria arqueolgica. Trabalhos apresentados durante I Simpsio de Teoria Arqueolgica da Amrica do Sul. Vitria.ES.1998. VARGAS, M. ( ORG.)1994. Histria da Tcnica e da Teconologia no Brasil. So Paulo. Editora da UNESP. Rene artigos de estudiosos sobre as tcnicas construtivas no Brasil desde as aldeias indgenas, at o perodo ps-guerra. VASCONCELLOS, SYLVIO. 1979. Arquitetura no Brasil. Sistemas Construtivos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Trata das tcnicas construtivas no Brasil Colnia.

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 44

  • ANEXO 2

    LEI N 3.924/61 DECRETO LEI N 25/1937

    PORTARIA SPHAN N 07/1988

    MANUAL DE ARQUEOLOGIA HISTRICA EM PROJETOS DE RESTAURAO 45

  • ANEXO 2

    LEI N 3.924 , de 26 de julho de 1961 Dispe sobre os monumentos arqueolgicos e pr-histricos

    O Presidente da Repblica:

    Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

    Artigo 1 - Os monumentos arqueolgicos ou pr-histricos de qualquer natureza existentes no territrio nacional e todos os elementos que neles se encontram ficam sob guarda e proteo do Poder Pblico, de acordo com o que estabelece o art. 175 (art.180 - C.F. 1988) da Constituio Federal.

    Pargrafo nico - A propriedade da superfcie, regida pelo direito comum, no inclui a das jazidas arqueolgicas ou pr-histricas, nem a dos objetos nelas incorporadas na forma do art. 152 (art.168 - CF 1988) da mesma Constituio.

    Artigo 2 - Consideram-se monumentos arqueolgicos ou pr-histricos:

    a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos da cultura dos paleoamerndios do Brasil, tais como sambaqus, montes artificiais ou tesos, poos sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras no especificadas aqui, mas de significado idntico, a juzo da autoridade competente;

    b) os stios nos quais se encontram vestgios positivos de ocupao pelos paleoamerndios, tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha;

    c) os stios identificados como cemitrios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeiamento "estaes" e "cermios", nos quais se encontram vestgios humanos de interesse arqueolgico ou paleoetnogrfico;

    d) as inscries rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utenslios e outros vestgios de atividade de paleoamerndios.

    Artigo 3 - So proibidos em todo o territrio nacional, o aproveitamento econmico, a destruio ou mutilao, para qualquer fim, das jazidas arqueolgicas ou pr-histricas conhecidas como sambaqus, casqueiros, concheiros, birbigueiras ou sernambis, e bem assim dos stios, inscries e objetos enumerados nas alneas b, c, e d do artigo anterior, antes de serem devidamente pesquisados, respeitadas as concesses anteriores e no caducas.

    Artigo 4 - Toda pessoa, natural ou jurdica que, na data da publicao desta lei, j estiver procedendo, para fins econmicos ou outros, explorao de jazidas arqueolgicas ou pr-histricas, dever comunicar Diretoria do Patrimnio Histrico Nacional , dentro de sessenta (60) dias, sob pena de multa de Cr$ 10.000,00 a Cr$ 50.000,00 (dez mil a cinquenta mil cruzeiros), o exerccio dessa atividade, para efeito de exame, registro, fiscalizao e salvaguarda do interesse da cincia.

    Artigo 5 - Qualquer ato que importe na destruio ou mutilao dos monumentos a que se refere o art. 2 desta lei, ser considerado crime contra o Patrimnio Nacional e, como tal, punvel de acordo com o disposto nas leis penais.

    Artigo 6 - As jazidas conhecidas como sambaquis, manifestadas ao governo da Unio, por intermdio da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, de acordo com o art. 4 e registradas na forma do artigo 27 desta lei, tero precedncia para estudo e eventual aproveitamento, em conformidade com o Cdigo de Minas.

    Artigo 7 - As jazidas arqueolgicas ou pr-histricas de qualquer natureza, no manifestadas e registradas na forma dos arts. 4 e 6 desta lei, so consideradas, para todos os efeitos bens patrimoniais da Unio.

    CAPTULO II

    DAS ESCAVAES ARQUEOLGICAS REALIZADAS POR PARTICULARES

    Artigo 8 - O direito de realizar escavaes para fins arqueolgicos, em terras de domnio pblico

    ou particular, constitui-se mediante permisso do Governo da Unio, atravs da Diretoria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, ficando obrigado a respeita-lo o proprietrio ou possuidor do solo.

    Artigo 9 - O pedido de permisso deve ser dirigido Dire