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Manual de

Território vs. SustentabilidadeProjecto-piloto para a conversão da agricultura

tradicional em modo de produção biológico

Terras de Bouro

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

NOTA PRÉVIATerras de Bouro é um município de montanha onde a ruralidade começa a dar lugar a um destino turístico preferido por muitos portugueses e alguns estrangeiros. O “coração” do Parque Nacinal da Peneda-Gerês, as termas do Gerês, o santuário de São Bento da Porta Aberta, as barragens de Vilarinho das Furnas e de Caniçada, a pousada de Juventude de Vilarinho, a consagração da Geira (via romana) como património nacional e a preparação da sua candidatura a património da UNESCO conferem a este concelho um potencial turístico único na região e, até, no país.

Virada a página da emigração e o consequente abandono da agricultura de subsistência, assistimos, hoje, a grandes investimentos em infra-estruturas e equipamentos de modo a criar um produto turístico de excelência que promova a criação de emprego e fixe a população, nomeadamente os mais jovens.

Além da beleza da sua paisagem e do património, Terras de Bouro tem outros atractivos para oferecer, como o artesanato (bordados, cestaria, trabalhos em linho, madeira, etc.) e a gastronomia.

Para aqueles que teimam em se manter arreigados à terra, quer a tempo inteiro, quer em part time, a Câmara Municipal avançou com um projecto pioneiro denominado «Território vs. Sustentabilidade: projecto-piloto para a conversão da agricultura tradicional em modo de produção biológico», com o objectivo de combater o crescente abandono das terras e criar uma mais-valia para aqueles que teimam em manter a sua ligação à terra. Partindo da constatação que os métodos de cultivo utilizados pelos nossos agricultores estão muito próximo dos da agricultura biológica, avançámos com uma campanha de sensibilização que teve resultados muito positivos, pois lançaram-nos um desafio: «se tivermos quem nos compre os produtos, nós produzimos!»

Perante esta realidade, implementámos este projecto cientes que a preocupação dos portugueses com os produtos que ingerem, e que os leva a estarem dispostos a pagar mais por um produto de melhor qualidade, levará, num futuro muito próximo, ao aumento da procura dos produtos de origem biológica, aliás, Portugal importa uma grande quantidade de produtos biológicos.

Para o município, esta iniciativa insere-se nos seus objectivos de valorização dos recursos naturais e articula-se com outros projectos como a rede de trilhos pedestres na senda de Miguel Torga e a recuperação do património construído ligado à agricultura (espigueiros, moinhos, sequeiras, eiras, etc.) potenciador de um turismo rural em grande expansão. Além disso, contribui para a conservação da paisagem evitando que o equilíbrio do ecossistema seja posto em causa.

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Território vs. Sustentabilidade

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

Por último, convém referir o papel fundamental que a agricultura biológica deverá ter na área da gastronomia que, como sabemos, é um dos pilares de sustentação de um turismo de excelência. Quantas pessoas não “abririam os cordões à bolsa” para comer um cabrito das encostas de Brufe, do monte de Santa Isabel, da Ermida, ou para saborear o famoso mel da serra do Gerês, já para não falar do famoso cozido de couves com feijão acompanhado de um naco de pernil de porco criado em plena liberdade campestre?

Numa altura em que tanto se fala em preservação ambiental e em desenvolvimento sustentável, Terras de Bouro passa das palavras à acção e procura, vencendo todas as contrariedades inerentes a um município afastado dos grandes centros urbanos e muitas vezes esquecido pelo poder central, implementar um verdadeiro processo de desenvolvimento rural sustentado que coloque este município na rota dos destinos turísticos por excelência.

O Presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro,

(António José Ferreira Afonso)

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

INTRODUÇÃONas últimas décadas, a agricultura intensiva introduziu elevadas quantidades de pesticidas, adubos, hormonas e outros produtos químicos de síntese, alterou os ecossistemas, prejudicou a fertilidade dos solos e a qualidade da cadeia alimentar. Abandonaram-se práticas como a fertilização orgânica dos solos com estrumes, o cultivo de variedades agrícolas e hortícolas tradicionais, a utilização das raças autóctones e o maneio animal ao ar livre, reconhecendo-se, actualmente, que as práticas agrícolas que se utilizam não são sustentáveis.

A sustentabilidade da agricultura requer a salvaguarda do ambiente e da paisagem e, por isso, deve ser remunerada também por esse serviço. A Agricultura Biológica é uma das formas de actuar de forma construtiva e equilibrada nos sistemas agrícolas, inseridos nos sistemas naturais, melhorando a fertilidade dos solos, promovendo o correcto uso da água e preservando a biodiversidade, para além de produzir alimentos de elevada qualidade.

Em 1972 foi fundada a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Biológica (IFOAM), actualmente com sede na Alemanha. Em Portugal, a Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (AGROBIO) surgiu em 1985 e em 1991 a Comunidade Europeia publicou o regulamento (CE) nº 2092/91, definindo as normas do modo de produção biológico, incluindo o controlo e a rotulagem dos produtos vegetais. Em 1999, o modo de produção biológico animal foi contemplado no regulamento CE nº 1804/99.

Segundo a IFOAM, a agricultura biológica engloba todos os sistemas que promovem a produção de alimentos e fibras sãos sob um ponto de vista ambiental, social e económico. Estes sistemas baseiam-se na fertilidade do solo a nível local como chave para uma produção de sucesso. Ao respeitar a capacidade natural das plantas, animais e paisagem, visa optimizar a qualidade em todos os aspectos da agricultura e do ambiente. A agricultura biológica reduz substancialmente a utilização de factores de produção externos à exploração, através da não utilização de fertilizantes e pesticidas químicos de síntese e de produtos farmacêuticos.

A Câmara Municipal de Terras de Bouro deseja incentivar a agricultura no modo de produção biológico, de modo a preservar os ecossistemas e a beleza paisagística do seu território, através de várias acções, entre as quais a publicação do presente Manual de Agricultura Biológica, que pretende colaborar para a tomada de decisão das culturas agrícolas e das espécies animais que podem ser produzidas em Terras de Bouro.

As culturas aqui abordadas como a batata, a couve, a cebola e o milho ao ar livre e ainda o feijão verde, como exemplo de uma cultura protegida, são conhecidas dos agricultores locais. Estas culturas permitem desenvolver diferentes rotações culturais, para diferentes condições locais, que possibilitam as melhores soluções em termos de utilização dos nutrientes dos resíduos orgânicos restituídos ao solo, de menores riscos de incidência de pragas e doenças e das oportunidades de mercado. As raças de bovinos e de pequenos

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Território vs. Sustentabilidade

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

ruminantes, de suínos e de aves de capoeira produzidas no modo de produção biológico e referidas neste manual, são adaptadas ao meio ambiente de Terras de Bouro, podendo ser produzidas em diferentes locais do seu território. A apicultura é outra actividade que pode contribuir para a protecção ambiental e assumir importância, perante um mercado alimentar cada vez mais exigente em produtos naturais ou produzidos no modo de produção biológico. A fertilidade orgânica do solo, que é básica para a sustentabilidade do modo de produção biológico, é referida neste manual com destaque para o processo de compostagem, a qualidade do composto e a sua aplicação ao solo agrícola.

Os editores

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

ÍNDICE

NOTA PRÉVIA ------------------------------------------------------------------------------ 5

INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 7

I -PRODUÇÃO VEGETAL --------------------------------------------------------------------- 11

1 .Batata --------------------------------------------------------------------------------13

2 .Cebola -------------------------------------------------------------------------------23

3 .Couve repolho ---------------------------------------------------------------------33

4 .Culturas protegidas - Feijão verde ----------------------------------------------43

5 .Milho ---------------------------------------------------------------------------------51

ANEXO (Lista de fertilizantes orgânicos) ------------------------------------------------------ 59

II -PRODUÇÃO ANIMAL -------------------------------------------------------------------- 63

1 .Bovinos ------------------------------------------------------------------------------65

2 .Pequenos ruminantes -------------------------------------------------------------75

3 .Aves de capoeira -------------------------------------------------------------------83

4 .Suínos --------------------------------------------------------------------------------93

5 .Apicultura ------------------------------------------------------------------------- 101

ANEXO (Matérias-primas e aditivos para alimentação animal e produtos para limpeza e desinfecção) -------------------------------------------------------------------------------------- 109

BIBLIOGRAFIA E LEGISLAÇÃO --------------------------------------------------------115

III - COMPOSTAGEM PARA A AGRICULTURA BIOLÓGICA ----------------------------------------119

1 .Introdução ------------------------------------------------------------------------ 121

2 .O processo de compostagem ------------------------------------------------- 126

3 .Características do composto -------------------------------------------------- 130

4 .Utilização do composto -------------------------------------------------------- 133

Bibliografia --------------------------------------------------------------------------- 137

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Produção Vegetal

I

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BATATA(Solanum tuberosum L.)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747) Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

Plantação em Abril/Maio e colheita em Agosto/Setembro.

Exemplo:

A batateira deixa o terreno sem muiitas infestantes para a cultura seguinte. As culturas anteriores favoráveis são aquelas que deixam no terreno uma grande quantidade de resíduos da cultura.

A rotação recomendada para a cultura da batata é de, no mínimo, 4 anos.

Exemplos de rotações de culturas para diferentes zonas:

CICLO CULTURAL

ROTAÇÕES

1 MaioPlantação

1 Junho50% emergência

1 AgostoInício da

maturação dostubérculos

15 JunhoInício da

tuberização1 Julho

50% Floração1 SetembroColheita

Batata(Solanum tuberosum L.)

Abr-Jul Set-Fev

Alho francês

2º Ano

Mai-Ago Set-Mar

Batata Nabo/Nabiça

1º Ano

Ervilhagrão/queb

Mai-Ago Set-Fev

Cebola Couve

4º Ano

Mai-Jul Ago-Abr

Alface

3º Ano

Trevo+azevém

Abr-Jul Ago-Mar

Feijão Sideração

5º Ano

Proj. Agro 747

Zonas Abrigadas

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Território vs. Sustentabilidade

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

CRESCIMENTO

VARIEDADES

SOLO

A cultura da batata é muito sensível às geadas.

As temperaturas de crescimento são as seguintes:

mínima: 6 a 8ºC;

máxima: 30ºC;

óptima: 15-18ºC.

As variedades a utilizar devem ser semi-tardias (100-120 dias, necessitando de uma acumulação térmica de 2000 a 2500ºC) e devem ser pouco susceptíveis ao míldio.

A batata é muito sensível à compactação e à má estrutura do solo. Os melhores solos são de textura média, com os agregados homogéneos, arejado, rico em matéria orgânica e moderadamente ácidos, preferindo valores de pH de 5,0 a 6,8.

Se for necessário aumentar o pH do solo, a calagem deve ser efectuada 1 a 2 anos antes da cultura da batata, com calcário dolomítico, que também contém magnésio.

O solo deve ser trabalhado em profundidade, a lavoura para incorporação dos fertilizantes orgânicos não deve ser inferior a 25 cm, seguida de uma escarificação.

A profundidade das raízes é de 45 a 60 cm.

Mai-Ago Set-Jul

Feijão Centeio

2º Ano

Mai-Ago Set-Abr

Batata Couvegalega

1º Ano

Set-MarMai-Set

4º Ano

Ago-AbrTrevo+azevém

Sideração

3º Ano

Proj. Agro 747

Milho

Zonas de planalto

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

FERTILIZAÇÃO

Para uma produtividade de 20 a 30 t/ha de batata é necessário cerca de 100-120 kg/ha de azoto.

Aplicação de fundo:

Os compostos maduros devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 15 dias a 1 mês antes da plantação, na dose de 20 a 30 t/ha.

Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).

O potássio é um elemento muito importante nesta cultura pois concede maior resistência às doenças, aumenta o calibre e o poder de conservação dos tubérculos. A cultura não tolera deficiências em magnésio.

Recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio se os valores de fósforo e potássio do solo forem:

inferiores a 150 µg/g - aplicar 50 kg/ha de P2O5 e 70 kg/ha de K2O;

inferiores a 200 µg/g - aplicar 30 kg/ha de P2O5 e 60 kg/ha de K2O.

Aplicação em cobertura:

2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).

Proj

. AG

RO 7

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Território vs. Sustentabilidade

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

A batateira é muito sensível aos excessos e às deficiências de água.

A primeira rega deve ocorrer antes do início da tuberização.

Durante o crescimento dos tubérculos (1,5 a 3 meses após a plantação) as plantas devem dispor de água sem restrições.

Ao iniciar a maturação dos tubérculos a rega deve cessar pois o excesso de água atrasa a maturação e provoca apodrecimento.

REGA

SACHA E AMONTOA

A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo.

A amontoa deve ser feita quando as plantas têm cerca de 20 a 25 cm de altura. Em estado mais avançado a amontoa é prejudicial devido à destruição das raízes.

A data de plantação deve ser bem adaptada a cada região, pois no início da Primavera as condições de humidade podem provocar infecções de míldio e mais tarde corre-se o risco de ocorrência de duas gerações de escaravelho da batateira para a mesma cultura.

Cerca de 1 a 1,5 meses antes da plantação deve colocar-se a batata-semente num local com iluminação indirecta, à temperatura de 10 a 15ºC e humidade relativa alta, para estimular o grelamento.

A abertura de regos para a plantação pode ser realizada com um abre-regos. De preferência deve plantar-se as batatas inteiras para evitar o seu apodrecimento no solo.

Distância de plantação:

Entre linhas: 70-75 cm;

Entre plantas na linha: 30 cm.

Profundidade de plantação: 8-10 cm.

Quantidade de batata-semente: 1500 a 2500 kg/ha.

PLANTAÇÃO

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

PRAGAS

Escaravelho da batateira (Leptinotarsa decemlineata)

Os adultos em hibernação no solo emergem na Primavera efectuando a postura durante cerca de 1 mês. Os ovos são de cor amarela que evolui para cor laranja forte, situam-se na página inferior da folha e eclodem num período de aproximadamente uma semana. As larvas alimentam-se das folhas da batateira durante 2 a 3 semanas e transformam-se em ninfas no solo a 5-20 cm de profundidade. Os adultos emergem 1 a 2 semanas mais tarde e hibernam no solo a 25-50 cm de profundidade.

Medidas culturais:

Realizar a rotação das culturas;

Utilizar plantas-armadilha. Plantar uma variedade de batata que se desenvolva rapidamente em climas frios, no intervalo entre a cultura de batata do ano anterior e a cultura actual. Destruir com uma chama de gás propano a população de adultos quando estes estiverem em grande número.

Proj

. AG

RO 7

47

Sistemas de rega:

Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão, gota-a-gota, por sulcos ou alagamento.

A rega gota-a-gota não contribui para uma boa distribuição das raízes no solo, apesar de ajudar na prevenção de doenças e de permitir a fertirrigação.

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Território vs. Sustentabilidade

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Tratamentos fitossanitários:

Pulverizar a cultura ao aparecimento das primeiras larvas, alternativamente com:

Spinosad (*)

Neem (*) - Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 5 dias.

Bacillus thuringiensis var. tenebrionis (*) - Específico para esta praga.

Rotenona (*) - Utilizar apenas em último recurso devido à sua toxicidade. Deve ser aplicada ao fim da tarde devido à degradação do produto pelos raios ultra-violetas.

Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma espécie. Alternar com Spinosad ou Neem. Os insecticidas não se devem misturar.

Afídeos (Myzus persicae, Macrosiphum euphorbiae)

Ver “Medidas culturais” e “Tratamentos fitossanitários” para a cultura do Feijão.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

DOENÇAS

Míldio (Phytophthora infestans)

O desenvolvimento da doença ocorre quando a temperatura média do ar se situa entre 10 e 24 ºC e a humidade relativa for superior a 75% durante 2 ou mais dias. A chuva pode arrastar esporos das folhas para o solo e infectar os tubérculos jovens. Os esporos apenas hibernam em restos da cultura, normalmente em tubérculos deixados no solo.

As folhas apresentam-se amareladas na página superior com filamentos brancos na parte inferior. As folhas da base são atacadas em primeiro lugar principalmente nos bordos.

Medidas culturais:

Não deixar tubérculos no solo.

Realizar rotações de culturas no mínimo de 4 anos.

Utilizar variedades menos sensíveis ao míldio.

Utilizar rega gota-a-gota para manter a folhagem seca ou rega por aspersão, aplicada ao amanhecer de modo a que as plantas estejam secas durante o dia.

Proporcionar um bom arejamento da cultura, através do aumento da distância entre plantas, da colocação das linhas de plantas paralelas à direcção predominante do vento e evitar locais abrigados.

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No início da epidemia deve eliminar-se os primeiros focos, queimando as plantas.

Não fazer a colheita em tempo húmido.

Tratamentos fitossanitários:

Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos com:

Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente lavado pela chuva). Adicionar óleo de pinho como molhante.

Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições se mantiverem.

Sarna vulgar (Streptomyces scabies)

O inóculo de sarna sobrevive muitos anos no solo ou pode ser transmitido pela batata-semente.

Medidas culturais:

Utilizar batata-semente isenta e variedades mais resistentes.

Evitar solos alcalinos (abaixo de pH 5,5 a doença não se manifesta). A aplicação de calcário ao solo, quando necessária, não deve ser realizada antes da plantação.

Os compostos devem estar amadurecidos e devem ser aplicados com a antecedência de pelo menos 15 dias a 1 mês antes da plantação. A sideração com plantas leguminosas, especialmente trevo, deve ser realizada com a antecedência de pelo menos 1 mês antes da plantação, pois o enterramento na altura da plantação pode provocar o desenvolvimento da sarna.

Uma boa condução da rega, mantendo o solo à capacidade de campo, no período crítico de cerca de 1,5 a 3 meses após a plantação, diminui a incidência da sarna vulgar.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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Território vs. Sustentabilidade

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COLHEITAQuando a rama inicia a secagem, os tubérculos encontram-se em completa maturação.

A colheita deve ser realizada nas horas mais frias do dia e com tempo seco.

Em caso de ataque de míldio o corte da parte aérea deve ser efectuado 2 semanas antes da colheita.

Produtividade: 20 a 30 t/ha

ARMAZENAMENTO Antes do armazenamento:

secagem: ao ar durante 1-2 dias.

fase de cura: 15ºC durante 1-2 semanas.

Armazenamento:

Local arejado e com pouca luz.

Condições óptimas de armazenamento: 7-10ºC; 90-95% de humidade relativa; durante 5 a 10 meses.

Para evitar a traça da batata (Phtorimaea operculella) cobrir a batata com rama de eucalipto e em caso de ataque severo polvilhar com rotenona em pó (*).

A rega por aspersão, com maior cobertura de água, proporciona uma menor abertura de fendas à superfície do solo, impedindo o acesso da praga. No entanto, a rega deve ser aplicada antes do amanhecer, de modo a que as plantas estejam secas durante o dia.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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CEBOLA(Allium cepa L.)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747) Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

Plantação em Abril/Maio e colheita em Agosto/Setembro.

Ecemplo:

ROTAÇÕESA rotação recomendada para a cultura da cebola é de 5 anos.

Exemplo de uma rotação de culturas de 5 anos:

CICLO CULTURAL

Cebola(Allium cepa L.)

1 MaioPlantação

1 JunhoPlantas com 7 folhas(1ª folha murcha)

15 AgostoFolhas prostadas

Início da maturaçãodo bolbo

15 JulhoÁrea foliar máximaInício da formação

do bolbo

1 SetembroColheita

2º Ano1º Ano

4º Ano

3º Ano

5º Ano

Proj. Agro 747

Abr-Jul Ago-Mar

Feijão Sideração

Mai-Ago Set-Fev

Cebola Couve

Abr-Jul Set-Mar

Alho Francês Ervilhagrão/queb

Mai-Ago Set-Fev

Batata Nabo/Nabiça

Abr-Jul Ago-Abr

Alface Trevo+azevém

CRESCIMENTO

As temperaturas de crescimento são as seguintes:

mínima: 12ºC;

máxima: 25ºC;

óptima: 20ºC.

Para que o bolbo se desenvolva é necessário que o fotoperiodo seja superior a 14 horas de luz para as cultivares precoces e 16 horas para as tardias.

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Território vs. Sustentabilidade

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FERTILIZAÇÃO

Para uma produtividade de 20 a 30 t/ha de cebola é necessário cerca de 80-120 kg/ha de azoto.

Aplicação de fundo:

Os compostos bem curtidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1 mês, na dose de 20 a 30 t/ha.

Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).

O potássio é um elemento muito importante pois concede maior resistência às doenças e maior poder de conservação dos bolbos.

Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 60 kg/ha de P2O5 e de K2O, respectivamente.

Aplicação em cobertura:

2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).

CULTIVARES

SOLO

As cultivares regionais com maior adaptação às condições de solo e clima devem ser utilizadas. A cebola vermelha da Póvoa tem manifestado boas características de produção na Região Norte.

Os melhores solos são de textura média, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica e com valores de pH superiores a 5,8 de preferência entre 6,0 e 6,5. A cebola é muito sensível à compactação e à má estrutura do solo.

Para solos com valores de pH inferiores a 6,0 a calagem deve ser efectuada. Para um solo com pH de 5,0 deve aplicar-se 6 t/ha de calcário dolomítico, que também contém magnésio.

Profundidade das raízes: 30 cm.

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PLANTAÇÃOAs plantas produzidas em viveiro, semeadas em tabuleiros de alvéolos ou em “cama quente”, demoram cerca de 3 meses desde a sementeira até ao estado de 3-4 folhas, com 3 a 6 mm de diâmetro.

A plantação pode ser feita manualmente ou com o apoio de um plantador montado em tractor. As plantas não devem ser plantadas a mais de 3 a 4 cm de profundidade.

Distância de plantação:

Entre linhas: 30 cm;

Entre plantas na linha: 10 cm.

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Território vs. Sustentabilidade

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A cebola é muito sensível aos excessos e às deficiências de água.

A primeira rega deve ser realizada a seguir à plantação. Desde a plantação para o desenvolvimento das folhas e principalmente durante o período de formação dos bolbos (2 a 3,5 meses após a plantação), as plantas devem dispor de água sem restrições.

Ao iniciar a maturação dos bolbos a rega deve cessar. O excesso de água provoca o apodrecimento durante o armazenamento.

Sistemas de rega:

Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão, gota-a-gota ou alagamento.

A rega por aspersão deve ser efectuada de manhã para que as folhas sequem rapidamente, de modo a diminuir a incidência de doenças.

REGA

PRAGAS

Mosca da cebola (Delia antiqua)

Os adultos em hibernação no solo emergem na Primavera, vivem cerca de 2 meses e põe 150-200 ovos, colocados em grupos de 15-20 na proximidade das plantas, junto ao colo ou na axila das folhas. Os ovos alongados são de cor branca, e as larvas da mesma cor medem cerca de 8 mm.

As larvas alimentam-se das raízes e dos bolbos de uma ou mais plantas, causando o amarelecimento e posterior morte das folhas. As larvas vivem cerca de 45 dias à temperatura do ar de 15ºC e 17 dias a 25-30ºC, enterrando-se em seguida no solo para pupar.

SACHA A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo. Pode ser realizada manualmente ou com apoio mecânico. Entre as linhas a sacha pode ser executada com um moto-cultivador ou com um sachador manual com cerca de 20 a 24 cm de largura e na entre-linha a sacha é manual.

A sacha deve ser realizada quando as plantas infestantes têm 1 a 2 cm de altura para evitar a concentração de humidade no interior da cultura.

A monda térmica (à pressão de 2 kg) pode também realizar-se logo após a germinação das plantas infestantes.

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Medidas culturais:

Não fertilizar com estrume fresco pois o cheiro atrai a praga.

Arrancar as plantas atacadas.

Método para evitar a postura:

Utilizar uma cobertura directa da cultura com plástico (filme de polipropileno, 17 g/m2), desde a plantação e durante cerca de 1 a 1,5 meses. Acresce ainda as melhores condições de crescimento das plantas, devido a aumentos da temperatura do ar e do solo.

Após a colheita destruir as cebolas atacadas para destruir as larvas das moscas

Tratamentos fitossanitários:

A rotenona (*) é eficaz apenas durante os primeiros dias de vida das larvas e deve ser aplicada ao fim da tarde.

Tripes (Thrips tabaci)

O adulto tem entre 0,8 e 1,2 mm de comprimento é de cor amarelada e possui bandas transversais no abdómen. Os ovos esbranquiçados têm forma elíptica e são colocados nos tecidos da folha ou da flor, deixando uma ligeira saliência visível. Cada geração dura cerca de 10-20 dias, podendo existir até 5 gerações por ano.

Os tripes instalam-se na página inferior das folhas mais jovens e alimentam-se das células, deixando manchas prateadas nas folhas. Em consequência as folhas ficam distorcidas e acabam por secar.

Esta praga ataca diversas culturas hortícolas incluindo as couves, alho francês, tomate, batata e beterraba.

Medidas culturais:

Utilizar cultivares não susceptíveis à praga.

Evitar a proximidade de campos de trigo, aveia e luzerna ajuda a diminuir o potencial de ataque.

Tratamentos fitossanitários:

Pulverizar a cultura ao aparecimento das primeiras larvas com Spinosad (*)

Apesar de não ser sistémico, este produto penetra nas folhas apresentando bons resultados no controle de tripes.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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DOENÇAS

Míldio (Peronospora destructor)

O desenvolvimento da doença ocorre em condições de grande humidade do ar e a partir de valores de temperatura média diária do ar de 10ºC, situando-se a temperatura óptima em cerca de 15ºC. Se a temperatura do ar atingir valores superiores a 25ºC durante o dia, a doença termina. Os esporos do fungo podem conservar-se no solo durante 4 a 5 anos.

As folhas amarelecem e acabam por secar e os bolbos podem também ser atacados.

Medidas culturais:

Praticar rotações de culturas de pelo menos 5 anos.

Tratamentos fitossanitários:

Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos com:

Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente lavado pela chuva).

Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições se mantiverem. Adicionar óleo de pinho como molhante.

Alternariose (Alternaria porri)

Desenvolvimento da doença: temperatura média do ar entre 6 e 34ºC (temperatura óptima de 25ºC) e tempo húmido (90% de humidade relativa do ar).

Todas as partes da planta podem ser atacadas por este fungo que provoca manchas deprimidas brancas com o centro de cor púrpura.

Tratamentos fitossanitários:

Proceder de igual modo como para o míldio.

Ferrugem (Alternaria porri)

O desenvolvimento da doença ocorre quando a temperatura média do ar se situa entre 10 e 24ºC e com tempo húmido (90-100% de humidade relativa do ar).

As folhas apresentam pequenas pústulas alongadas de cor amarela-laranja, à volta das quais o tecido da epiderme se pode elevar, tornando-se progressivamente negro.

Tratamentos fitossanitários:

Pulverizar a cultura com enxofre ou argila.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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COLHEITAQuando a rama amarelece os bolbos encontram-se amadurecidos, devendo torcer-se as folhas junto ao bolbo para evitar a entrada de água e acelerar a sua maturação. Esta operação pode ser realizada com a passagem de um rolo sobre a cultura.

A colheita manual ou com um arrancador mecânico realiza-se quando pelo menos 50% das folhas se encontram prostradas

Produtividade: 20 a 30 t/ha

ARMAZENAMENTO Antes do armazenamento:

Secagem ao ar por 1-2 semanas, ao abrigo da chuva e orvalho.

Armazenamento:

Locar arejado e seco - até 6 meses.

Armazém com ventilação: 0 a 5ºC; 70-75% humidade relativa; durante 4 a 8 meses.

Armazém com refrigeração: -2 a 0ºC; 75-80% humidade relativa; durante 4 a 6 meses.

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Território vs. Sustentabilidade

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COUVE REPOLHO(Brassica oleracea var. capitata L..)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747) Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

Proj

. AG

RO 7

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Território vs. Sustentabilidade

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Plantação em Agosto/Setembro e colheita em Janeiro/Fevereiro.

Exemplo:

ROTAÇÕESA rotação mínima recomendada para a cultura da couve é de 3 anos.

Exemplo de uma rotação de culturas de 5 anos:

CICLO CULTURAL

Couve Repolho(Brassica oleracea var. capitata L..)

2º Ano1º Ano

4º Ano

3º Ano

5º Ano

Proj. Agro 747

Abr-Jun Ago-Mar

Feijão Sideração

Mai-Ago Set-Fev

Cebola Couve*

Abr-Jun Set-Mar

Alho Francês Ervilhagrão/queb

Mai-Ago Set-Fev

Batata Nabo/Nabiça

Abr-Jul Ago-Abr

Alface Trevo+azevém

* No período de Setembro a Dezembro, para alémda couve repolho, pode plantar-se couve pencae couve brócolo, ou ainda a couve galega quetermina em Fevereiro.

1 SetembroPlantação

15 OutubroInício do

fecho do repolho

1 DezembroRepolhofechado

1 JaneiroColheita

CRESCIMENTO

As temperaturas de crescimento são as seguintes:

mínima: 5ºC;

óptima : 15-20ºC;

máxima: 25ºC.

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Território vs. Sustentabilidade

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Para uma produtividade de 30 a 40 t/ha de repolho é necessário cerca de 100-120 kg/ha de azoto.

Aplicação de fundo:

Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 15 dias a 1 mês, na dose de 20 a 30 t/ha.

Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).

Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 60 kg/ha de P2O5 e de K2O, respectivamente.

O boro, manganésio e enxofre são nutrientes que, apesar de normalmente existirem no solo, também devem ser avaliados.

Aplicação em cobertura:

2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).

CULTIVARES

SOLO

Devem ser utilizadas as cultivares regionais, com maior adaptação às condições de solo e clima.

Das cultivares comerciais disponíveis, escolher as que apresentam melhor adaptação à época do ano, às condições ambientais de produção e às preferências dos consumidores.

Os melhores solos são de textura franco-argilosa, com elevada capacidade de retenção de água, boa drenagem e com valores de pH de 6,0 a 6,8. Maior acidez do solo resulta em ataques mais frequentes da doença potra da couve.

Para solos com valores de pH inferiores a 6,0 a calagem deve ser efectuada antes da plantação ou de preferência no ano anterior. Para um solo com pH de 5,0 deve aplicar-se 6 t/ha de calcário dolomítico, que também contém magnésio.

Profundidade das raízes: 45 a 60 cm.

FERTILIZAÇÃO

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PLANTAÇÃOAs plantas produzidas em viveiro, semeadas em tabuleiros de alvéolos, demoram cerca de 2 meses desde a sementeira até ao estado de 3-4 folhas.

A plantação em camalhões pode ser feita manualmente ou com o apoio de um plantador montado em tractor e as plantas devem ficar profundas de modo a estimular a formação do sistema radicular.

Distância de plantação:

Entre linhas: 50-60 cm;

Entre plantas na linha: 40 cm.

A cultura necessita de um fornecimento regular de água desde a plantação até ao fecho do repolho, período com taxas de crescimento mais elevadas.

Sistemas de rega:

Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão e gota-a-gota.

A rega por aspersão deve ser efectuada de manhã para que as folhas sequem rapidamente, de modo a diminuir a incidência de doenças.

REGA

SACHA E AMONTOAA sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo e pode ser realizada manualmente ou com apoio mecânico.

Na linha, a sacha pode realizar-se através de uma amontoa que estimula o crescimento das raízes.

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PRAGASMosca da couve (Delia radicum)

Este díptero passa o Inverno em forma de pupa, os primeiros adultos aparecem na primavera e colocam os ovos no colo das plantas. As moscas adultas são cinzentas escuras e cerca de metade do tamanho das moscas comuns. As fêmeas à temperatura de 20ºC duram 12-15 dias e põe cerca de 150 ovos em pequenos grupos junto ao colo das plantas. As larvas eclodem 3 a 8 dias após a postura e alimentam-se das raízes durante 3 a 4 semanas e depois transformam-se em pupas nas raízes ou no solo. Após 2 a 3 semanas emerge o adulto.

Esta praga está activa de Abril a Outubro, podendo apresentar 3 a 4 gerações por ano, mas a primeira originada pelas pupas hibernantes, é a maior. Acima de 30-35ºC as larvas ficam inactivas e os ovos perdem viabilidade.

As larvas começam por destruir as raízes secundárias e depois penetram na raiz principal escavando galerias, causando a murchidão e morte das plantas. As plantas jovens são mais susceptíveis.

Medidas culturais:

Usar uma rede de 0,9 mm no viveiro.

Não fertilizar com estrume fresco pois o cheiro atrai a praga.

Os resíduos das culturas de couve ou nabo devem ser rapidamente enterrados no solo, de modo a diminuir a população hibernante

Métodos para evitar a postura:

Utilizar uma cobertura directa da cultura com plástico (filme de polipropileno, 17 g/m2), desde a plantação e durante cerca de 1 a 1,5 meses. Acresce ainda as melhores condições de crescimento das plantas, devido a aumentos da temperatura do ar e do solo. A rotação evita que surjam moscas resultantes de pupas hibernante no solo.

Cobrir o solo com círculos de plástico ou tecido à volta das plantas. Os círculos devem ter cerca de 13 cm de diâmetro e no centro o ajuste deve ser chegado ao colo da planta.

Tratamentos fitossanitários:

Antes da plantação, mergulhar os tabuleiros numa solução de rotenona (*).

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Rosca (Mamestra brassicae)

O adulto é uma borboleta nocturna. Os ovos são colocados em folhas ou caules junto ao solo e as larvas penetram no solo e emergem ao anoitecer para se alimentarem, provocando normalmente o corte das plantas ao nível do solo.

Medidas culturais:

Soltar galinhas no campo antes da plantação.

Manter a cultura livre de infestantes

Métodos de evitar a postura: os mesmos que para a mosca da couve

Tratamentos fitossanitários:

Se houver indícios de ataque deve espalhar-se e enterrar ligeiramente uma mistura de farelo, açúcar e Bacillus thuringiensis (BT) antes da plantação.

Lagarta da couve (Pieris rapae, Tricholousia ni e Plutella xylostella)

As borboletas da Pieris são brancas com duas pintas pretas nas asas e põe os ovos amarelos em grupos de 25 a 50 sobre as folhas. Hiberna como pupa nos resíduos das culturas e em campos com infestantes.

Medidas culturais:

À plantação utilizar plantas isentas de pragas.

Controlar as plantas infestantes da família das Cruciferas (ex. saramago) na imediação dos campos de cultura, pois estas actuam como locais de hibernação de lagartas vindas do exterior e contribuem para tornar o ataque epidémico, de uma geração para a outra, na mesma estação.

Verificar periodicamente a existência de lagartas jovens na página inferior das folhas, especialmente antes do início do fecho do repolho. Deste modo é possível actuar antes que os estragos se tornem significativos

Tratamentos fitossanitários:

Pulverizar a cultura ao aparecimento das larvas, alternativamente com:

Spinosad (*)

Bacillus thuringiensis (Bt aizawi ou Bt kurstaki) (*) - Em culturas de Outono-Inverno, deve pulverizar-se de manhã, num dia quente, quando as larvas estão activas

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DOENÇAS

Míldio (Peronospora parasitica)

A temperatura óptima de desenvolvimento situa-se entre os 8 e os 16ºC durante a noite e menos de 23ºC de dia. A presença de chuva ou orvalho nocturno é necessária.

Os esporos hibernam no solo ou em resíduos de culturas.

As plantas jovens são as mais sensíveis e é uma doença grave nos viveiros principalmente no período de Outono/Inverno.

O míldio provoca manchas amareladas nas folhas e na página inferior um pó esbranquiçado. A folha vai escurecendo e acaba por morrer.

Medidas culturais:

A rotação de culturas deve ser no mínimo de 3 anos sem culturas da família das Crucíferas.

Evitar a rega por aspersão.

Proporcionar um bom arejamento da cultura através do aumento da distância entre plantas, da colocação das linhas de plantas paralelas à direcção predominante do vento e evitar locais abrigados.

Tratamentos fitossanitários:

Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos da doença com:

Medidas culturais gerais:

À plantação utilizar plantas isentas de doenças.

As fontes de infecção estão associadas a sementes infectadas, resíduos de culturas e plantas infestantes infectadas.

Neem (*) - Demora cerca de 3 a 7 dias após aplicação a ter o seu efeito máximo. Deve molhar-se bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de cerca de 5 dias. Tem uma eficácia inferior aos insecticidas anteriores.

Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma espécie. Alternar com Spinosad ou Neem. Os insecticidas não se devem misturar.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente lavado pela chuva).

Molhar bem as plantas e repetir se as condições se mantiverem e à medida que a cultura cresce para assegurar uma protecção ao estabelecimento da doença. Adicionar óleo de pinho como molhante.

Potra da couve (Plasmodiophora brassicae)

A doença desenvolve-se principalmente na Primavera e no Outono, em solos ácidos (abaixo de pH 7,2), húmidos e com temperatura média do ar entre 12 e 27ºC.

Os tumores a princípio são lisos e da cor das raízes, depois escurecem e tornam-se rugosos. A parte aérea das plantas apresenta desenvolvimento reduzido e as folhas murcham durante as horas quentes do dia. Se as plantas atingidas forem dadas aos animais, os esporos resistem ao processo digestivo e consequentemente a doença é disseminada. Os esporos podem permanecer no solo 7 a 12 anos.

Medidas culturais:

Realizar rotações no mínimo de 7 anos.

Corrigir o pH do solo.

Plantar o repolho após a cebola ou o alho francês.

Eliminar as infestantes que pertençam à mesma família (mostarda, saramago, rábano silvestre, etc.).

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

Proj

. AG

RO 7

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Território vs. Sustentabilidade

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COLHEITAA colheita manual é realizada quando o repolho se apresentar consistente.

Produtividade: 30-40 t/ha

PÓS-COLHEITAArrefecer os repolhos após a colheita, se necessário.

Comercialização imediata: manter a temperatura de 4ºC.

Armazenamento: 2 a 4 meses em câmaras a 0ºC e 95% de humidade relativa.

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FEIJÃO VERDE(Phaseolus vulgaris L.)

(Culturas hortícolas protegidas) Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747)

Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

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Plantação em Março/Abril e final da colheita em Setembro.

Exemplo:

ROTAÇÕESA rotação mínima para a cultura do feijão verde é de 3 anos.

Exemplo de uma rotação de culturas protegidas de 4 anos:

CICLO CULTURAL

Abr-Set Out-Fev

Tomate Couvebrócolo

2º Ano

Mar-Set Out-Fev

Feijão Verde Alface

1º Ano

Abr-Ago Set-Mar

Meloa

4º Ano

Jul-Ago Set-Mar

Solarização Nabo/Nabiça

3º Ano

Proj. Agro 747

Ervilhagrão/queb

CRESCIMENTO

A cultura do feijoeiro é muito sensível às geadas.

Temperatura de germinação:

mínima: 12ºC;

máxima: 25-30ºC.

Temperatura de crescimento:

mínima: 10ºC;

óptima: 20-25ºC;

máxima: 30ºC.

Feijão Verde (Culturas hortícolas protegidas)(Phaseolus vulgaris L.)

1 MarçoSementeira

1MaioInício dafloração

1 JunhoInício daColheita

1 SetembroFinal da Colheita

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CULTIVARES

SOLO

Devem ser utilizadas cultivares regionais de feijão verde de trepar, com maior adaptação às condições de solo e clima.

As sementes são viáveis durante 3 anos e existem cerca de 2 a 4 sementes em 1 g.

Os melhores solos são de textura média, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica e com valores de pH de 6,0 a 6,5.

Muito sensível à salinidade do solo (acima de 1,0 dS/m).

Profundidade das raízes: 60 a 90 cm.

FERTILIZAÇÃO

Para uma produtividade de 1-2 kg/m2 (10-20 t/ha) de feijão verde é necessário cerca de 60-80 kg/ha de azoto.

Aplicação de fundo:

Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1 mês, na dose de 20 a 30 t/ha.

Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).

Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 120 µg/g, recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 45 kg/ha de P2O5 e de K2O, respectivamente.

INOCULAÇÃO COM RIZÓBIO

A simbiose com o rizóbio (Rhizobium leguminosarum bv. phaseoli) provoca nódulos nas raízes laterais e proporciona um aumento de azoto equivalente a 25-50 kg/ha, para valores de pH do solo superiores a 5,5.

A inoculação com o rizóbio realiza-se misturando as sementes com o inóculo adquirido comercialmente.

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SEMENTEIRAA sementeira pode ser feita manualmente ou com um semeador.

Devem semear-se algumas plantas em vasos para substituição.

Distância de sementeira:

Entre linhas: 1 m; ou

Entre linhas pareadas: 50 cm entre linhas e 1 m entre pares de linhas.

Entre plantas na linha: 5-20 cm, ou 25-30 cm para 2 sementes em cada local.

Profundidade de sementeira: 2 cm

TUTORAMENTO

Após a emergência os fios de tutoragem devem ser atados no arame e enterrados no solo.

Durante a germinação deve assegurar-se uma humidade não excessiva no solo, que permita uma boa germinação das sementes. Normalmente é suficiente uma rega antes ou após a sementeira.

As regas devem ser regulares desde o início do crescimento e durante todo o ciclo da cultura. O período crítico ocorre na floração e início do vingamento, onde a falta de água causa a queda de flores e vagens e o enrolamento das vagens.

Deve utilizar-se o sistema de rega gota-a-gota.

REGA

SACHA E AMONTOA

A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo. Pode ser realizada manualmente ou com apoio mecânico.

A sacha na linha pode ser realizada através de uma amontoa quando as plantas tiverem cerca de 20 a 25 cm de altura.

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PRAGASAfídeos (Aphis craccivora, Aphis fabae)

Os ovos passam o Inverno sobre as plantas hospedeiras. Na Primavera nascem as fêmeas que por sua vez, através de reprodução vivípara, dão origem aos jovens afídeos sem necessidade de fecundação (partenogénese). Estas jovens larvas demoram apenas 8 dias a 20ºC para atingir o estado adulto.

Desde a Primavera até ao Outono podem existir entre 13 a 16 gerações. As formas aladas de afídeos formam novas colónias noutras espécies de plantas e aparecem no inicio de Abril, dependendo das temperaturas de Fevereiro e Março.

Os afídeos provocam deformações nas folhas, inibem o crescimento e as plantas ficam enfraquecidas pela existência da fumagina sobre as folhas e vagens. Os afídeos também transmitem vírus. O vírus do Mosaico é transmitido pelo piolho preto (Aphis fabae). e pelo iolho verde (Myzus persicae).

Os afídeos têm muitos inimigos naturais. Os predadores depositam um ovo no interior do afídeo cuja larva se desenvolve e se alimenta, saindo posteriormente por um orifício. Um afídeo parasitado apresenta uma cor acastanhada, dourada ou branca e um orifício de saída do parasita.

Medidas culturais:

Usar redes de 0,5 mm nas estufas.

Favorecer a acção dos predadores e parasitas naturais, evitando a aplicação dos insecticidas rotenona (*) e piretrinas (*) porque também eliminam insectos auxiliares, podendo causar aumentos nas populações de afídeos.

Controlar as plantas infestantes que sobreviveram durante o Inverno.

Para actuação precoce, verificar 2 vezes por semana a existência de afídeos nas plantas ou em placas amarelas colocadas nas estufas a cerca de 60 cm do solo.

Tratamentos fitossanitários:

Pulverizar a cultura no início do ataque, alternativamente com:

Sabão de potássio ou de amoníaco - A aplicação deve atingir as zonas onde os afídeos se encontram, como na página inferior das folhas. A aplicação deve ser feita com água não alcalina, de preferência ao fim do dia para que a secagem seja lenta. Podem ocorrer problemas de fitotoxidade.

Neem (*) - Demora cerca de 3 a 7 dias após aplicação a ter o seu efeito máximo. Deve molhar-se bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 5 dias.

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Argila com óleo. A argila pode ser aplicada em mistura com sabões e outros pesticidas, mas não com cobre ou enxofre. A aplicação deve ser feita com agitação periódica da suspensão e de modo a cobrir todas as partes das plantas, de preferência em aplicação de alto volume.

Óleo de verão (*) - A aplicação de óleos deve ser de modo a molhar bem as plantas e deve ser repetida para assegurar o controle da praga. A aplicação deve ser feita em dias com sol para evitar problemas de fitotoxidade que podem ocorrer se o produto demorar a evaporar.

Moscas brancas (Trialeurodes vaporariorum, Bemisia tabaci)

A mosca branca reproduz-se e mantém-se em pequenas colónias que se expandem pela estufa quando os valores de temperatura aumentam. A 26ºC cada geração dura cerca de 20 dias.

Medidas culturais:

Observar regularmente a estufa para localizar o aparecimento das pragas de modo a que o tratamento possa ser localizado.

Tratamentos fitossanitários:

Largada de Encarsia formosa que parasita os ovos.

Pulverizar com piretrinas (*).

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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DOENÇASPodridão cinzenta (Botrytis cinerea)

Desenvolvimento da doença: humidade do ar elevada e valores de temperatura do ar entre 15 e 20ºC.

Medidas culturais:

Aumentar o arejamento das estufas.

É aconselhável realizar a desfolha, removendo as folhas secas da base das plantas, para melhorar as condições de arejamento.

Tratamentos fitossanitários:

Em caso de risco em plena floração, pulverizar com:

Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente lavado pela chuva).

Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições se mantiverem.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

COLHEITAA colheita escalonada das vagens realiza-se durante cerca de 3 meses, quando as sementes ainda não se desenvolveram significativamente e a vagem é de cor verde brilhante.

Produtividade: 1-2 kg/m2 (10 a 20 t/ha)

PÓS-COLHEITAImediatamente após a colheita o feijão verde deve ser arrefecido por água.

À temperatura de 5-7ºC e 95-100% de humidade relativa, conserva-se durante 10 dias.

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MILHO(Zea mays L.)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747) Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

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Sementeira em Maio e colheita em finais de Setembro

Exemplo:

ROTAÇÕESA rotação recomendada para a cultura do milho é de 4 anos.

O milho consocia-se bem com o feijão e a abóbora.

Exemplo de uma rotação de culturas de 4 anos:

Mai-Ago Set-Abr

Batata Couvegalega

2º Ano

Mai-Set Set-Mar

Milho Sideração

1º Ano

Ago-Abr

4º Ano

Mai-Ago Set-Jul

Feijão Trevo+azevém

3º Ano

Proj. Agro 747

Centeio

CICLO CULTURAL

Milho(Zea mays L..)

1 Maio

Sementeira

1 Junho

Milho

“joelheiro”

15 AgostoInício da maturação

da espiga

15 Julho

Floração15 Setembro

Colheita

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CULTIVARES

SOLO

Devem ser utilizadas cultivares regionais de milho com maior adaptação às condições de solo e clima. A duração das sementes é de 2 anos.

Para as condições climáticas do concelho de Terras de Bouro deve utilizar-se de preferência variedades de ciclo curto (FAO 300-400; de 96 a 115 dias).

Os melhores solos são profundos, com boa capacidade de armazenamento de água, boa drenagem e com valores de pH de 6,0 a 7,0.

O solo deve ser trabalhado em profundidade, a lavoura para incorporação dos fertilizantes orgânicos não deve ser inferior a 25 cm, seguida de uma escarificação ou gradagem, realizando-se uma ou duas passagens até se obter uma boa cama para a sementeira.

Profundidade das raízes: 50 a 80 cm.

FERTILIZAÇÃOPara uma produtividade de 3 a 5 t/ha de milho grão é necessário cerca de 70-120 kg/ha de azoto.

Aplicação de fundo:

Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1 mês, na dose de 30 t/ha.

Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).

CRESCIMENTO

A cultura do milho é muito sensível às geadas.

Temperatura de germinação:

mínima: 10-12ºC;

máxima: 20-25ºC.

Temperatura de crescimento:

mínima: 5-6ºC;

óptima: 20-24ºC;

máxima: 35ºC.

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SEMENTEIRAA sementeira é feita com um semeador.

Distância de sementeira:

Entre linhas: 70-90 cm

Entre plantas na linha: 15 a 20 cm.

Profundidade de sementeira: 3 a 6 cm.

Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 25 kg/ha de P2O5 e de K2O, respectivamente.

Aplicação em cobertura:

2-3 semanas após a sementeira é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume produzido em MPB ou aplicar um adubo orgânico (Anexo 1).

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A cultura é particularmente sensível à falta de água cerca de 15 dias antes e 15 dias após a floração masculina, mas a rega deve manter-se até ao estado de grão pastoso (aproximadamente entre 2 e 3,5 meses após a sementeira).

Nos períodos de grande necessidade de água pode prever-se 25 a 30 mm de água por semana.

Sistemas de rega:

Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão ou por sulcos.

REGA

SACHA E AMONTOANa fase inicial, desde as 2-4 folhas (10 cm) até às 6-10 folhas (30-40 cm), devem evitar-se as plantas infestantes que competem com o milho na utilização de água e nutrientes.

A sacha na entre-linha pode ser realizada com um sachador manual ou com um motocultivador equipado com uma alfaia de dentes. O sachador manual consiste num pequeno carro com uma roda dianteira possuindo uma lamina que corta as infestantes ligeiramente abaixo do solo e uma alfaia com 3 dentes que remexe o solo.

A sacha na linha realiza-se através de uma amontoa quando o milho tem aproximadamente 25 cm de altura.

Se houver necessidade de efectuar o desbaste, este deverá ser efectuado quando as plantas tiverem 20 a 25 cm de altura.

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PRAGASBrocas (pirale: Ostrinia nubilalis e sesamia: Sesamia nonagrioides)

As borboletas da pirale aparecem no princípio do Verão e põem os ovos em conjuntos de 15 a 20 na página inferior das folhas. As lagartas começam por comer as folhas e depois penetram na medula dos caules e mais tarde nas espigas. As lagartas hibernam nos últimos 15-20 cm do caule ou noutras plantas hospedeiras.

As borboletas da sesamia põem os ovos em grupos de 100 na base dos caules, onde as lagartas penetram e cavam galerias.

Medidas culturais:

Não usar a palha na cama dos animais.

Após a colheita destroçar os caules e incorporar os resíduos com uma lavoura para eliminar as lagartas hibernantes.

A mosca Lydella thompsoni parasita as larvas da pirale devendo, por isso, preservar-se os seus hospedeiros naturais como as canas.

Tratamentos fitossanitários:

Pulverizar com:

Bacillus thurigiensis var. kurstaki (Bt) (*) – Pulverizar quando as lagartas começam a penetrar o colmo ou as espigas. As aplicações devem ter início quando mais de 15% das plantas apresentam lagartas jovens e os tratamentos devem ser repetidos pois a acção do produto tem uma curta duração. Se existirem borboletas na fase inicial do crescimento da espiga, é necessário pulverizar novamente, após a eclosão das lagartas.

Spinosad (*) - Como tem uma acção mais prolongada do que o Bt, necessita de um menor número de aplicações.

Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma espécie para evitar a resistência dos insectos. Alternar Bt com Spinosad.

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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COLHEITA

A colheita realiza-se quando a humidade do grão é de 25-35%.

A colheita não deve ser realizada em tempo húmido.

Produtividade: 3 a 5 t/ha

ARMAZENAMENTOAs caixas do milho devem ser desinfectadas com uma mecha de enxofre antes de colocar o milho. Na Primavera, antes da postura das borboletas sobre os grãos, deve colocar-se nas caixas recipientes de cor amarela, com óleo ou água para captura das borboletas. Se a infestação for grande pulverizar com piretrinas (*).

(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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Anexo

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Adubos orgânicos

% de azoto

Outros nutrientesMateriais constituintes

Formulação Empresa

Biorgano

5

N-P-K: 5-5-3,5 Estrume de galinha Granulado INTERADUBOQuinta Monte Ruivo,Várzea - Apartado 521, 2001-906 SantarémT. 243 359 100; F. 243 359 119

MgO: 0,8%; CaO: 12,0%

MO: 60%; H máx: 10%

Dix

10

N-P-K: 10-3-3 Hidrolizado de penas, estrume de galinha e melaço de beterraba

Granulado CRIMOLARA - Campo Grande, nº 30, 8º H 1700- 093 LisboaT. 217 818 940;

MO: 82%

Duetto 5

N-P-K: 5-5-8 Estrume de galinha e de aves marinhas (guano) e melaço de beterraba

Granulado CRIMOLARA

MgO: 2%; CaO: 4,3%

MO: 55%; C/N: 6/7

Ác. húm.: 3%; Ác. Fúlv.: 7%

pH: 7,3; H máx: 11%

Farinha de peixe 6

N-P-K: 6-4-0 Farinha de peixe Farinha Diversas

CaO: 7,0%

H máx: 11%

Guanito 6,4

N-P-K: 6-15-3 Estrume de galinha e de aves marinhas e vinhaça

Granulado CRIMOLARA

MgO: 2%; CaO: 8%

MO: 57%; C/N: 6/6; C org.: 32%

Ác. húm: 3,5%; Ác. Fúlv.: 7,5%

pH: 6,6; H máx: 8,8%

Italpollina 4

N-P-K: 4-4-3 Estrume de galinha Granulado CRIMOLARA

MgO: 1,5%

MO: 75%; C org.: 44%

Ác. húm.: 5%, Ác. fúlv.: 5%

pH: 7; H máx: 12%

ANEXO - Lista de fertilizantes orgânicos considerados adubos (a)

Aplicação ao Solo

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Território vs. Sustentabilidade

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Monterra 13

N-P-K: 13-0-0 Vinhaça, melaços, farinha de ossos e farinha de penas

Granulado ECOVEG Pau Queimado Apartado 2802874-908 MontijoT. 212 326 220; F. 212 326 227

MgO: 0,2%; CaO: 1,2%

MO: 87%; C/N: 2

pH: 7; ; H máx: 10%

Phenix 6

N-P-K: 6-8-15 Vinhaça concentrada, guano e estrume de galinha

Granulado CRIMOLARA

MgO: 2%; CaO: 4%

MO: 56%; C/N: 4,6; C org.: 32%

Ác. húm.: 6%; Ác. fúlv.: 7%

pH: 7,5; H máx: 8%

Quimi- Organ 5

N-P-K: 5-7-15 Estrume de vaca e de galinha

Granulado NEOQUÍMICALargo da Estação, 2580-000 CarregadoT. 263861010; F. 263856210

MO: 35%

Adubos orgânicos

% de azoto Outros nutrientes Materiais

constituintes Formulação Empresa

Goemar BM 86 4,2

B: 2%; MgO: 4,8% Algas (aminoácidos, vitaminas e

fitohormonas de crescimento)

Pulverização foliar

PERMUTADORA Av. da Igreja, nº42,

3º Esq. 1700-036 Lisboa T. 217 998 440

SO3: 9,7%; Mo: 0,02%

Mol 2,5

N-P-K: 2,5-0-5 Vinhaça de beterraba

Fertirrigação (gota-a-gota)

RASP Estrada Nac. 109; Regueira de PontesEstrada Nac. 109; Regueira de Pontes - 2400-927 Leiria T. 244 860 210; F. 244 860 219

MO: 43%

Myr N 5

MO: 33%; C/N: 4 Grãos de leguminosas

Pulverização foliar

Agro-Nutrientes Especiales, S.L.

C Org.: 18,1%

Amin. liv: 22%; Ác. Hum: 6%

pH: 4,6; Dens.:1,15 kg/L

Aplicação foliar ou fertirrigação

(a) Norma Portuguesa 1048-2/1990 (teores mínimos em % peso comercial) - MO: 50%; N-P-K (N-P2O5-K2O): 3-0-0, 2-2-2 (total=10%), 2-3-0 (total=6%), 3-0-6 (total=10%)

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Produção Animal

II

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BovinosJosé Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

Jesus Cantalapiedra (Xunta de Galicia, Espanha)

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O número de vitelos criados por uma vaca de carne é um bom indicador da sua qualidade como reprodutora. As melhores vacas são as que parem pela primeira vez a uma idade jovem, apresentam uma longevidade produtiva elevada, desmamam vitelos pesados e apresentam intervalo entre partos reduzidos (Preston e Willis, 1974).

CONVERSÃO DOS ANIMAIS E PRODUTOS ANIMAIS

ORIGEM DOS ANIMAIS E CICLO DE PRODUÇÃOÉ recomendável utilizar-se raças autóctones, seleccionadas pela sua capacidade de adaptação às condições locais de produção (ex. Barrosã e Minhota) e seus cruzamentos. Estas raças apresentam como principal aptidão a produção de vitelos, geralmente comercializados e abatidos entre os 5 e os 9 meses de idade. As vacas destas raças, revelam excelentes características maternais e boa capacidade leiteira, conferindo rusticidade aos vitelos. Acresce ainda, a sua elevada longevidade reprodutiva, idades ao primeiro parto entre os 2 e os 3 anos de idade, partos distribuídos durante todo o ano, e intervalos entre partos não muito longos (13-16 meses) (Mendes et al., 2001; Araújo et al., 2003; Araújo, 2005).

Os bovinos devem proceder de explorações em pecuária biológica, podendo ser convertidos os animais já existentes na exploração. O período de conversão dos bovinos é de pelo menos 12 meses, devendo respeitar-se as normas do modo de produção biológico (MPB).

Quando o efectivo for constituído pela primeira vez e se não existirem animais produzidos segundo o MPB, podem adquirir-se vitelos destinados à reprodução, desde que sejam criados, a partir do desmame, e em qualquer caso, com menos de seis meses em explorações de agricultura convencional.

A renovação do efectivo pode ser autorizada quando não existirem animais criados segundo o MPB, nas seguintes circunstâncias: Elevada mortalidade dos animais por doença ou outras calamidades, ou inexistência de bovinos criados segundo o MPB.

A fim de completar o crescimento natural e garantir a renovação do efectivo, é admitida, até ao limite máximo anual de 10% do efectivo adulto, a introdução de fêmeas (nulíparas), provenientes de explorações que não praticam a agricultura biológica. Para explorações com menos de 10 bovinos a renovação será limitada ao máximo de um animal por ano.

Bovinos

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Território vs. Sustentabilidade

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ALIMENTAÇÃO

A água deve estar sempre à disposição, em quantidade e qualidade suficiente, para evitar o contágio de agentes infecciosos e parasitários como fases larvares de parasitas.

Devem usar-se alimentos produzidos segundo o MPB, podendo fornecer-se até 5% da matéria seca de alimentos convencionais, por período de 12 meses.

A alimentação deve basear-se nos recursos alimentares da própria exploração (pastagens e forragens) ou dos terrenos baldios (vegetação espontânea), de acordo com as suas disponibilidades nos diferentes períodos do ano.

Inverno Estival

Pastoreio diurno – Terrenos privados e no baldio (localizado na proximidade da exploração agrícola).

Bovinos permanentemente na Serra até Setembro, ou alternância diária entre as cortes e a Serra.

Fonte: Câmara Municipal de Terras de Bouro (2005)

Como exemplos de alimentos, indicam-se as forragens verdes ou ensiladas, as palhas de cereais (milho), os fenos de consociação gramíneas x leguminosas ou de erva espontânea, o milho em grão ou em farinha e as sementes de outros cereais. As forragens grosseiras, frescas, secas ou ensiladas, devem constituir pelos menos 60% da matéria seca que compõe a ração diária.

O aleitamento dos vitelos deve efectuar-se até idades superiores aos 5 meses, situação que normalmente ocorre nas raças autóctones. Segundo o MPB os vitelos devem ingerir leite natural durante um período mínimo de três meses. É essencial que os vitelos ingiram, nas primeiras horas de vida, o colostro da mãe, pelas suas propriedades nutritivas, hormonais e de protecção contra doenças.

O uso de plantas aromáticas e medicinais na alimentação de bovinos é benéfico para a saúde do efectivo e na melhoria da eficiência na conversão dos alimentos em carne e/ou leite, pois apresentam factores antimicrobianos e reguladores metabólicos (Garcia et al., 2003).

Recomenda-se a exposição ao sol dos animais estabulados para que possam sintetizar a Vit. D. Quando necessário podem ser fornecidos complementos vitamínicos de origem natural, como os cereais germinados (Vit. A e E), o óleo de fígado de pescado (Vit. E e D2) e a levedura de cerveja (Vit. complexo B), complementos minerais ricos em sódio (sal marinho), fósforo e cálcio., referidos no anexo (parte C, ponto 3 e parte D, ponto1).

Proíbe-se o uso de alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente modificados ou de produtos derivados destes.

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MANEIO DAS PASTAGENS

Os bovinos não têm que alimentar-se exclusivamente das pastagens, sendo permitidos sistemas de produção em semi-estabulação, com fornecimento de alimentos à manjedoura, sempre que se garanta o acesso a parques de exercício ao ar livre.

O pastoreio proporciona uma dieta de qualidade insubstituível, variada e rica em vitaminas e minerais, suficiente para cobrir as necessidades de manutenção e de produção, resultando mais económica. Quando a qualidade das pastagens diminui ou quando os animais se encontram num período de máxima produção, devem suplementar-se com forragens (verdes, fenadas ou ensiladas), palha, raízes, tubérculos e/ou concentrados biológicos.

Os encabeçamentos deverão “ser suficientemente baixos para evitar a erosão do solo e/ou se destruírem pastos por excesso de sobre-pastoreio”. O sobre-pastoreio favorece ainda o desenvolvimento de muitos ciclos biológicos de agentes patogénicos (ex. parasitas) que prejudicam o estado sanitário dos bovinos, sendo aconselhado o pastoreio rotacional.

Para evitar a contaminação do subsolo pelos dejectos dos bovinos, os terrenos segundo o MPB, não deverão receber mais de 170 kg de azoto por hectare de superfície agrícola utilizada, equivalendo no gado bovino aos valores do quadro 1.

Quadro 1 - Número máximo de bovinos por ha

Classe de bovinos Nº

Com menos de 1 ano 5

De 1 a 2 anos 3,3

Machos com mais de 2 anos 2

Novilhas de recria 2,5

Outras vacas 2,5

Fonte: Anexo VII do Regulamento CE nº 1804/1999

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Território vs. Sustentabilidade

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ALOJAMENTOS E EQUIPAMENTOSOs animais devem dispor de fácil acesso à alimentação e água.

É proibido o alojamento de vitelos em boxes individuais após a sua primeira semana de vida.

As instalações podem ser muito simples, uma vez que os bovinos se adaptam a condições meteorológicas adversas. No entanto devem apresentar isolamento e ventilação adequadas, com luz abundante e natural. Somente as correntes de ar e/ou as mudanças bruscas de humidade e/ou temperatura podem afectá-los negativamente. Os vitelos necessitam de uma maior protecção, uma vez que o seu sistema termo regulador e imunológico pode não estar completamente desenvolvido.

Para garantir o bem-estar dos animais, as superfícies mínimas para estabulação e as zonas de exercício, devem ser as indicadas no quadro 2.

É obrigatório que os bovinos tenham acesso aos pastos ou às zonas abertas de exercício, sempre que o permitam as condições fisiológicas dos animais, as condições atmosféricas e o estado do solo.

A fase final da recria dos bovinos para produção de carne pode ser realizada em estabulação, desde que esse período não exceda um quinto do tempo de vida do animal e, de qualquer forma, o prazo de três meses.

Os pavimentos dos edifícios devem ser lisos mas não derrapantes. Pelo menos metade da superfície dos pavimentos deve ser sólida, isto é, não ser ripada nem engradada.

Os alojamentos devem dispor de uma zona cómoda, limpa e seca para repouso suficientemente grande. A zona de descanso deve possuir camas secas, utilizando-se palhas ou carqueja (Chamaespartium tridentatum), urzes (Erica arbórea L., Erica umbellata L.), tojos (Ulex minor) e fetos, entre outros. Esta prática contribui para a gestão das áreas

Quadro 2 - Superfície mínima (m2/animal) interior e exterior para bovinos aleitantes.

Peso vivo (kg)Zona coberta (superfície

líquida disponível para os animais)

Zona de exercício ao ar livre (excepto de pasto) Total

Até 100 1,5 1,1 2,6

101-200 2,5 1,9 4,4

201-350 4,0 3,0 7,0

> 3505 com um mínimo de 1 m2/100 kg PV

3,7 com um mínimo de 0,75 m2/100 kg PV

8,8 com um mínimo de 1,75 m2/100 kg PV

Touros reprodutores 10 30

Fonte: (Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999

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de pastagens naturais e, mais tarde, para a fertilização dos terrenos agrícolas (estrume proveniente das camas).

As instalações deverão facilitar a evacuação frequente e retirada dos dejectos, o mais longe possível, para transformação em húmus. O maneio deficiente dos dejectos origina problemas ambientais, sendo um factor de risco sanitário para o gado, ao constituir um substrato para a multiplicação e disseminação de parasitas, microrganismos, etc.

MANEIO

Sistema de cobrição recomendado – cobrição natural para partos fáceis, sendo permitida a inseminação artificial, mas sem a administração de hormonas ou de substâncias similares para controlar a ovulação (ex. indução ou sincronização do cio).

Para se minimizarem problemas sanitários, não é recomendável a introdução de animais de outras explorações. Contudo, para melhorar geneticamente o efectivo e evitar a consanguinidade aconselha-se a introdução pontual de um reprodutor masculino e/ou novilhas provenientes de explorações em MPB.

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PROFILAXIA E ASSISTÊNCIA VETERINÁRIA No MPB de bovinos é fundamental a prevenção das enfermidades mediante:

Utilização das raças mais adaptadas (raças anteriormente referidas);

Alimentação adequada e de boa qualidade;

Exercício e acesso regular às pastagens (com o objectivo de estimular as defesas imunológicas naturais);

Manutenção de um encabeçamento adequado por forma a evitar excesso de animais por unidade de superfície..

No tratamento dos animais podem utilizar-se, preferencialmente, produtos fitoterapêuticos como extractos (com exclusão dos antibióticos) e essências de plantas, e homeopáticos (por exemplo, substâncias vegetais, animais ou minerais), os oligoelementos e outros produtos em anexo (parte C do Regulamento CE nº 1804/1999). Entre as substâncias terapêuticas naturais com acção sobre o aparelho digestivo podem enunciar-se o Tomilho (Thymus vulgaris), a Menta (Mentha x Piperita), o extracto de alho (Allium vulgare) e a Malva (Malva sylvestris) e sobre o aparelho respiratório o Tomilho (Thymus vulgaris), o Eucalipto (Eucalyptus spp), e a essência de pinho (Pinus spp) (Garcia et al., 2003).

Se os produtos anteriormente referidos não se revelarem eficazes, poderão recorrer-se a medicamentos veterinários alopáticos de síntese química (“convencionais”) ou antibióticos, somente como tratamento curativo. Este far-se-á sob a responsabilidade de um veterinário, identificando-se individualmente os animais tratados. A utilização de medicamentos deve ser registada, mencionando o tipo de produto (indicação das substâncias activas), o diagnóstico, a posologia, o método de administração, a duração do tratamento e o intervalo legal de segurança. Essas informações são obrigatoriamente comunicadas ao organismo de controlo antes dos bovinos ou seus produtos serem comercializados como provenientes do MPB.

O tempo de espera entre a última administração de um medicamento “convencional” a um animal nas condições normais de utilização e a obtenção de alimentos biológicos provenientes do referido animal, deve ser o dobro do intervalo legal de segurança, ou se esse período não estiver especificado, será de 48 horas.

Com excepção das vacinas e dos desparasitantes, assim como de quaisquer planos de erradicação obrigatórios, se forem administrados a um ou mais bovinos, mais de dois ou um máximo de três tratamentos com medicamentos “convencionais” ou antibióticos no prazo de um ano (ou mais de um tratamento se o seu ciclo de vida produtivo for inferior a um ano), os animais em questão, ou os produtos deles derivados, não poderão ser vendidos sob a designação de produtos segundo o MPB, devendo os animais ser submetidos aos períodos de conversão referidos anteriormente.

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É proibida a utilização de medicamentos “convencionais” e de antibióticos como preventivos de doenças, a utilização de substâncias para estimular o crescimento ou a produção (antibióticos, coccidiostáticos e outras substâncias artificiais indutoras de crescimento) e a utilização de hormonas ou substâncias similares para melhorar os parâmetros reprodutivos (por exemplo, indução ou sincronização do cio) ou para outras finalidades. No entanto, é autorizada a administração de hormonas como tratamento veterinário terapêutico a um determinado animal

Autorizam-se os tratamentos veterinários, bem como as desinfecções dos edifícios, do equipamento e das instalações, obrigatórios ao abrigo da legislação, incluindo a utilização de medicamentos veterinários imunológicos caso seja reconhecida a presença de uma doença na zona específica em que se situa a exploração.

Limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos: É autorizada a utilização dos produtos mencionados em anexo (parte E do Regulamento CE nº 1804/1999).

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Luís Filipe Pacheco (DRAEDM)José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

Pequenos Ruminantes

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A União Europeia estabeleceu as exigências mínimas relativas ao modo de produção biológico (MPB) de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos géneros alimentícios.

Aconselha-se o recurso a animais de raças autóctones, como garantia de adaptação às condições locais, vitalidade e resistência às doenças. As condições de alojamento têm também um tratamento especial, concedendo-se especial importância ao espaço mínimo por animal e ao maneio dos estrumes. A alimentação constitui outra matéria de vital importância nestes sistemas de produção. O predomínio dos alimentos fibrosos na dieta é um dos aspectos chave. Finalmente, a aplicação de medidas para reforçar a resistência inata dos animais, sem a utilização de produtos químicos, é outro aspecto importante do MPB.

Em suma, o MPB não dispensa o cumprimento de práticas fundamentais da criação de caprinos e de ovinos, antes o reforça.

Como tal, passaremos em revista neste texto as principais práticas e técnicas a aplicar pelos criadores de caprinos e de ovinos, para conseguirem melhorar os resultados técnico-económicos da criação daqueles animais.

CONDIÇÕES PRELIMINARES A TER EM CONTAAo pretender-se converter ou instalar uma exploração de ovinos e/ou de caprinos em MPB deverão ser tomados em consideração aspectos fundamentais. Entre estes, salientamos que:

A exploração deverá estar situada em zona de montanha, ou numa zona não sujeita a fontes de contaminação ambientais;

A exploração terá de possuir uma área forrageira para os caprinos ou ovinos de, pelo menos, 7,6 ha por cada 100 cabeças; tratando-se de zonas de montanha, recomenda-se cerca de 20 ha por cada 100 cabeças;

É possível utilizar áreas de baldio para alimentar o rebanho, mas não pode haver contacto com animais em modo de produção convencional;

Os alojamentos deverão garantir uma área coberta de 1,5 m2 por cada ovelha ou cabra, mais 0,35 m2 por cada anho ou cabrito; por outro lado, os animais não poderão estar permanentemente estabulados;

Pequenos Ruminantes

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O período de conversão de uma exploração está compreendido entre dois e três anos; mas, dependendo dos antecedentes, este período pode ser reduzido;

O período de conversão dos caprinos e ovinos é, normalmente, de seis meses;

Todo o sistema é supervisionado por organismos independentes acreditados, para certificar a autenticidade e qualidade diferenciada dos produtos;

A União Europeia tem vindo a atribuir ajudas financeiras aos operadores em MPB.

A sustentabilidade da criação de caprinos e ovinos em MPB requer a adopção de um maneio integrador (Caballero et al., 2004), que responda às suas principais necessidades fisiológicas, controle as doenças mais frequentes e proporcione aos animais as desejáveis condições de conforto e bem-estar. Trata-se, essencialmente, de aplicar um conjunto de medidas que tenham como finalidade:

Reforçar os mecanismos de defesa;

Evitar o stress e outras condições que favorecem o aparecimento de doenças;

Encontrar um equilíbrio entre a actividade microbiana e a fisiologia animal.

MANEIO

Os animais a utilizar deverão estar adaptados às principais condições ambientais do meio (temperatura, pluviosidade, vegetação, topografia do terreno, etc.) e demonstrar uma boa resistência sanitária.

As raças autóctones (como por exemplo a raça caprina Bravia e a raça ovina Bordaleira de Entre Douro e Minho) têm um papel de relevo neste domínio. Em condições normalmente difíceis, mostram diversas qualidades: reduzida sazonalidade reprodutiva; boas aptidões maternais (facilidade de parto, instinto maternal, capacidade leiteira coerente com a alimentação…); facilidade de mobilização de reconstituição das reservas corporais, acompanhando a oscilação da oferta alimentar pastoril ao longo do ano. Poderá, no entanto, recorrer-se também a programas de cruzamentos, usando as raças autóctones como linha maternal. Mas esta é uma prática que tem de ser bem pensada, tendo em conta os aspectos técnicos e económicos.

Devem sair da exploração os animais com maus aprumos, cabeças baixas e com uma conformação desadequada. O mesmo deverá suceder em relação às cabras ou ovelhas que revelarem frequentemente problemas sanitários.

AS CARACTERÍSTICAS DOS ANIMAIS

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ALIMENTAÇÃONormalmente, as cabras e ovelhas pastam diariamente em superfícies de baldio (Brás et al., 2005). Aproveitam alimentos espontâneos que, em circunstâncias normais, seriam desperdiçados e até poderiam constituir uma ameaça. Os reduzidos custos alimentares e a diminuição da vegetação potencialmente combustível são, pois, vantagens importantes da criação destes animais. Mas há mais benefícios.

O pastoreio em superfícies semi-naturais proporciona uma dieta variada, melhorando o consumo alimentar e o fornecimento de diversos minerais e vitaminas. No entanto, podem existir, mesmo assim, carências de selénio na Primavera, com consequências nas fibras musculares dos animais jovens. Também se poderão revelar défices de cobalto e cobre em animais jovens com aleitamento deficiente, podendo surgir uma deficiente resposta imunitária aos parasitas.

A prática tradicional do pastoreio de percurso permite cumprir, sem qualquer transtorno para os criadores, duas regras fundamentais do MPB:

Utilização de alimentos biológicos, cultivados sem emprego de fertilizantes, herbicidas ou fitofármacos, nem sementes transgénicas (os baldios não têm qualquer intervenção humana directa, para além do fogo);

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O uso de concentrados terá de ser inferior a 40% da matéria seca da dieta (os criadores de cabras e de ovelhas aleitante sempre puseram em prática esta norma).

O pastoreio bem organizado é um valioso instrumento para o controlo dos parasitas, visto permitir atenuar o risco de contaminação das pastagens por larvas infectantes e/ou hospedeiros intermediários e/ou populações de carraças. O controlo da carga animal constitui uma outra via de evitar reinfestações e infecções. Apesar das normas do MPB permitirem até 13,3 ovelhas ou cabras por ha, a carga animal recomendada para as nossas condições de montanha é claramente inferior àquele valor: entre 5 a 9 cabeças por ha.

O pastoreio alternante de ovinos ou caprinos com bovinos, combinando áreas de pastagem é uma outra forma de controlo parasitário. Com efeito, os pequenos ruminantes são afectados por parasitas distintos dos bovinos (apesar de haver algumas excepções).

As necessidades alimentares das ovelhas e cabras variam ao longo do seu ciclo produtivo (cobrição, gestação, aleitamento).

Na época de cobrição, e até às quinze semanas de gestação, as necessidades alimentares são normais.

Porém, as últimas seis semanas de gestação são críticas (Pacheco, 1986). E por várias razões:

A maior parte do crescimento da(s) futura(s) cria(s) ocorre nesta fase;

A ingestão (apetite) da fêmea gestante diminui;

O consumo alimentar em pastoreio é menor, porque há menos tempo de pastoreio, maiores dificuldades em comer por causa da chuva e menor produção das pastagens;

Uma alimentação deficiente neste período provoca uma diminuição do peso da cria à nascença, menor capacidade de sobrevivência, menor instinto maternal e menor produção leiteira.

A partir das seis semanas antes do parto, recomenda-se a utilização de uma pastagem melhorada e/ou fornecer entre 200 a 400 g de concentrado biológico por fêmea e por dia. Tratando-se de grãos de cereais, deverão ser fornecidos esmagados.

No início da lactação, as necessidades alimentares aumentam ainda mais. As fêmeas paridas devem ter à disposição pastagens de melhor qualidade e/ou alimentos concentrados biológicos: cerca 400 g de concentrado biológico por fêmea e por dia.

O maneio alimentar é determinante para assegurar a defesa dos animais contra os agentes vivos que estão presentes no meio. E estes cuidados iniciam-se com o nascimento do animal.

No dia do parto, é aconselhável verificar se o recém-nascido mama o colostro. Se tal não suceder, devem retirar-se uns jactos, para remover as sujidades que possa ainda haver

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dentro e fora do teto e facilitar o corrimento de colostro. Quer o colostro quer o leite maternal possuem propriedades que reduzem a possibilidade de aparecimento de diversos distúrbios digestivos e doenças infecciosas. Mas o colostro deve ser consumido o mais brevemente possível, porque após as primeiras 24 horas de vida, a sua absorção intestinal vai baixando. O aleitamento maternal deverá ser de, pelo menos, 45 dias.

Para reforçar os laços entre a mãe e as crias nas primeiras horas de vida (que são vitais) e facilitar a vigilância dos recém-nascidos, é conveniente instalar nos alojamentos pequenos cubículos (com cerca de 1 m2). Estes acessórios poderão ser painéis amovíveis, que se montam e desmontam de acordo com as necessidades.

A partir da terceira semana de vida as crias devem ter acesso a feno biológico de boa qualidade e concentrado biológico.

Independentemente, do período do ciclo produtivo, há um conjunto de normas de maneio alimentar a ter em conta:

Evitar mudanças bruscas da alimentação, estabelecendo períodos de adaptação quando se introduzem novos alimentos;

No início da Primavera e Outono, quando surgem as plantas mais tenras, limitar o consumo destes alimentos, obrigando o rebanho a uma passagem rápida e/ou fornecendo feno;

Evitar o consumo de alimentos frios ou gelados, retardando a saída do rebanho para a pastagem;

Melhorar o aleitamento das crias (anhos e cabritos). Para além desta condição, é fundamental permitir que ele se realize em vários momentos do dia. Isto porque, quando as crias são aleitadas unicamente após o regresso das mães do monte, mamam intensamente podendo surgir diversos problemas digestivos (timpanismo, indigestões, diarreias, etc.). A melhoria do aleitamento requer, por isso, uma alimentação cuidada (para que as mães produzam leite em quantidade suficiente, podendo então aleitar as crias durante a noite e início da manhã) e alojamentos adaptados (para fortalecer a relação mãe/filho).

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SANIDADE

A higiene dos alojamentos e utensílios do rebanho é outra prática fundamental. Os alojamentos devem ser limpos e desinfectados pelo menos duas vezes por ano com produtos autorizados, como por exemplo cal viva.

A higiene das instalações obriga também ao controlo dos roedores (com jaulas-tampa) assim como à sanidade dos cães e gatos, visto poderem transmitir diversas doenças ao homem e aos pequenos ruminantes.

No MPB é proibida a utilização de medicamentos veterinários alopáticos de síntese química ou antibióticos nos tratamentos preventivos. Deve-se recorrer aos produtos fitoterapêuticos e homeopáticos, os oligoelementos e os produtos constantes no anexo (parte C, ponto 3 do Regulamento (CE) 1804/1999), desde que os seus efeitos terapêuticos sejam eficazes para a espécie animal e para o problema a que o tratamento se destina. Se, por razões sanitárias e de bem-estar, os produtos prescritos não forem eficazes, podem usar-se medicamentos veterinários alopáticos. Mas se forem administrados mais de dois tratamentos antiparasitários ou antibióticos por ano (ou mais de um em ciclos produtivos inferiores a 12 meses), os animais ou os produtos derivados não podem ser vendidos como MPB.

Em consequência, o período de espera entre a última administração do medicamento alopático ao animal e a obtenção de produtos alimentares biológicos que procedam desse animal será o dobro do tempo legalmente estabelecido para o medicamento, com um mínimo de 48 horas para os produtos que não especifiquem o período.

Os tratamentos biológicos com vacinas, realizados no âmbito de campanhas obrigatórias, são autorizados.

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Aves de CapoeiraJerónimo Santos (DRAEDM)

José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

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A produção animal em modo biológico (MPB) é um sistema de criação onde o objectivo é dar todas as condições de vida aos animais respeitando os princípios básicos do seu comportamento inapto (Vaarst, 2003).

A criação de aves, pode revelar-se uma actividade rentável, devido ao curto ciclo de produção, fácil maneio e reduzidos custos de implementação e manutenção da exploração.

ORIGEM DOS ANIMAIS

A escolha das estirpes de aves deve ter em conta a capacidade de adaptação às condições locais onde vão ser criadas, pelo que se deverá dar preferência às raças autóctones (Pedrês Portuguesa, Preta Lusitânica e Amarela).

CONVERSÃO

O processo de conversão para o modo de produção biológico (MPB) pode ser em separado para as terras onde se vão cultivar os alimentos para as aves ou só para os animais, mas também pode ser em simultâneo, ou seja, para toda a exploração.

Para que as aves de capoeira possam ser vendidas como produto biológico, devem ser criadas segundo as normas do MPB durante pelo menos 10 semanas e desde os três dias de idade se destinadas para a produção de carne, ou durante 6 semanas se para a produção de ovos.

ALIMENTAÇÃO

Os animais devem ser alimentados com alimentos produzidos segundo o MPB e de preferência provenientes da própria exploração, devendo ter água limpa e potável sempre disponível.

É autorizada a incorporação de alimentos em conversão na ração alimentar, em média, até um máximo de 30% da matéria seca da dieta no caso dos alimentos serem adquiridos, ou até 60% se forem provenientes da própria exploração.

As matérias-primas convencionais, de origem vegetal e animal, mineral, oligoelementos, vitaminas e pró-vitaminas, permitidas para alimentação animal em MPB estão enumeradas em anexo (parte C e D no anexo II do Regulamento 1804/1999).

Como alimentos principais podem indicar-se os grãos de cereais (milho, aveia, trigo, ou cevada) de leguminosas (feijões, ervilhas, tremoço, ervilhaca) e o fornecimento de uma

Aves de Capoeira

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refeição húmida constituída por farelos misturados com couves ou abóbora. Apesar de não ser obrigatório, aconselha-se que as dietas das aves contenham, pelo menos, 65% de cereais ou seus subprodutos acrescidos de forragens grosseiras, frescas, secas ou ensiladas.

A existência de prados com uma mistura de gramíneas e leguminosas é fundamental para incrementar a saúde e o bem-estar dos galináceos.

É proibido o uso de alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente modificados ou de produtos derivados destes. Os antibióticos, coccidiostáticos, produtos medicinais, promotores do crescimento ou outras substâncias destinadas a estimular o crescimento ou a produção não são autorizados na alimentação de aves.

ALIMENTAÇÃO DOS PINTOS E FRANGOS A dieta para os pintos até às 3 semanas de idade deve ser rica em proteína bruta, cerca de 21% (Sousa, 2003). Ela poderá ser à base de grão de trigo sarraceno, milho painço, sêmola de trigo e de cevada e flocos de aveia. Segundo a mesma autora podem utilizar-se os seguintes produtos:

O chá de camomila, de urtiga e de menta fazem bem aos intestinos e poderão substituir a água;

A partir do 5º dia incluem-se na dieta, ervas jovens picadas, urtigas e outras ervas medicinais que ajudam na digestão;

Ao fim de 2 semanas o grão poderá ser moído mais grosseiramente, eliminam-se os flocos de aveia e pode-se juntar grãos de arroz;

A partir do 1 mês de idade, as aves podem começar a frequentar a pastagem (período em que a plumagem está completamente formada);

A partir da 5º ou 6º semana, as aves começam a ingerir grão inteiro (dieta normal de adulto).

Gradualmente, à medida que os pintos crescem, é importante aumentar os espaços e acrescentar os equipamentos definitivos.

O criador deverá observar se os pintos se estão a alimentar e a beber normalmente.

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ALIMENTAÇÃO DOS ADULTOS

As instalações devem ter espaço compatível com o número de aves a serem criadas, situarem-se em local afastado de outras explorações; dando preferência a locais secos, arejados e protegidos dos ventos fortes dominantes.

As instalações devem ser construídas de maneira a facilitar a recepção dos pintos, abastecimento de água e alimento, bem como a retirada de animais adultos e da cama, para utilização como fertilizante.

As aves de capoeira não podem ser mantidas em gaiolas devendo ter acesso a parques ao ar livre quando as condições meteorológicas o permitam e, pelo menos durante uma terça parte da sua vida. É aconselhável que os parques sejam dotados de zonas de sombra (árvores existentes ou a plantar). Na ausência destas, deverão ser providenciados abrigos artificiais. Estas zonas de sombra devem ser aproveitadas para se instalarem bebedouros ou comedouros.

A área total utilizável das instalações destinadas às aves de capoeira numa única unidade de produção não deve exceder 1600 m2 devendo satisfazer as seguintes condições mínimas:

Possuírem aberturas de entrada e saída com uma dimensão adequada às características das aves, devendo estas aberturas terem um comprimento total de pelo menos de 4m/100m2 de superfície de que as aves dispõem;

Pelo menos um terço da superfície do solo deve ser uma construção sólida, isto é, não ser ripada nem engradada, e ser coberta por material de cama (palha, aparas de madeiras ou areia). A cama tem como função o isolamento térmico entre o piso e as patas dos animais, a diminuição da humidade, o conforto dos animais (descanso) e a prevenção de problemas sanitários. Com uma espessura entre 5 a 10 cm, a cama deve ser posta com o chão da instalação limpo e desinfectado, só sendo removida após a saída do lote das aves;

Partículas de alimento com maiores dimensões são mais facilmente reconhecidas e apreciadas; do mesmo modo as cores claras são preferidas em detrimento das cores mais escuras.

As aves consomem mais alimentos na época de Inverno, pois necessitam de mais energia para manter a temperatura corporal.

Na prática, o teor de energia pode ser alterado, fornecendo mais grão de cereais, especialmente o milho.

Se o criador estiver impossibilitado de obter alimentos produzidos em MPB, pode utilizar até 15% da matéria seca de alimentos convencionais (até 31/12/2007).

INSTALAÇÕES

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O galinheiro deve possuir poleiros (cm de poleiro/animal): 18 cm por galinha poedeira; 20 cm apenas para as pintadas. Deverá existir um ninho para cada 8 galinhas poedeira ou no caso do ninho ser comum, 120 cm2 por cada ave.

Tipos de alojamentos: existem 2 tipos de alojamento:

Alojamento fixo – encontra-se fixo no terreno;

Alojamento móvel - amovível para que se possa movimentar na pastagem, permitindo instalar-se em diferentes zonas.

Os alojamentos devem respeitar as dimensões indicadas no quadro 1.

Fonte: Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999

As aves aquáticas devem ter acesso a um rego, charco ou lago, sempre que as condições meteorológicas o permitam.

CategoriaÁrea interior (superfície líquida

disponível para os animais) Área exterior (m2 de superfície disponível em rotação/cabeça)

Número de animais/m2

Galinhas poedeiras 6 4

Aves de engorda (em alojamento fixo)

10, com um máximo de 21 kg de peso vivo/m2

4 por cada frango de

engorda e pintada

4,5 por cada pato

10 por cada peru

15 por cada ganso

Aves de engorda (em alojamento móvel)

16 (*), em capoeiras móveis com um máximo de 30 kg de peso vivo/m2 2,5

Quadro 1 - Superfície mínima interior e exterior para os diferentes tipos de produção de aves.

(*) só no caso de alojamentos móveis com uma superfície não superior a 150 m2 que permaneçam abertos durante a noite.

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EQUIPAMENTOS BÁSICOS Salientam-se como exemplos: as lâmpadas (fornecem calor aos pintos e iluminam o alojamento à noite); os comedouros – infantis (tubular infantil, até 5 kg de ração); bandejas (de plástico, alumínio, ferro, madeira ou tampas das caixas dos pintos); comedouros para concentrado (tubulares com capacidade para 20 kg), suspensos a altura adequada, de acordo com o desenvolvimento das aves; e os bebedouros.

CONDUÇÃO DOS ANIMAISA reprodução das aves deve ser feita por métodos naturais. Deve ter-se sempre em consideração o comportamento biológico das aves, possibilitando a expressão dos seus hábitos naturais (esgravatar no chão, espojar-se na terra e procurar alimento livremente), o arejamento das camas e a diminuição dos fenómenos de picacismo e canibalismo.

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Território vs. Sustentabilidade

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Pintos / Frangos - Antes da recepção de um novo lote de animais realizar o vazio sanitário das instalações.

Nos primeiros dias de vida, os pintos como são muito sensíveis às mudanças de temperatura, devem ser mantidos próximos de uma fonte de calor (lâmpada), dos bebedouros, e da ração, separando-os em lotes menores, usando-se uma chapa delimitadora. Esta facilita o trabalho, a inspecção diária do tratador, evitando as correntes de ar. As chapas para formar o círculo de protecção com uma altura de 0,60m, podem ser de folhas de papelão grosso, metal galvanizado ou chapas finas. O diâmetro do círculo depende da quantidade de aves no alojamento.

A temperatura ideal na primeira semana, medindo com termómetro a 15 cm da borda da lâmpada e a 5 cm da cama, é de 32 ºC. Para a segunda semana deverá ficar em 29 ºC, na terceira em torno de 26 ºC. A partir desta idade os animais já adquiriram resistência para se adaptarem à temperatura ambiente.

Nas galinhas poedeiras, a luz natural pode ser complementada artificialmente para garantir um máximo de 16 horas diárias de luminosidade, com um período nocturno contínuo sem luz artificial de pelo menos 8 horas.

A observação constante das aves é um requisito essencial para a obtenção de bons resultados da exploração. O período privilegiado para esta observação é no final do dia, quando as aves estão mais calmas, preparando-se para a noite. Esta rotina permite conhecer melhor as aves, o seu desenvolvimento ou detectar em tempo útil possíveis anomalias e doenças. Salienta-se a atenção para a ocorrência de qualquer tipo de espirro ou rouquidão.

Outro procedimento a ter em conta será a palpação de algumas aves, procurando verificar se estão com boa quantidade de alimento no papo ou se o peso é satisfatório para a idade.

A idade mínima de abate das aves de capoeira será de 81 dias para os frangos, 150 dias para os capões, 140 dias para os perus e gansos, 94 dias para as pintadas e entre os 49 e os 92 dias consoante a estirpe de pato.

De modo a assegurar o bom nível de azoto no solo e a evitar o aumento do teor de azoto das toalhas freáticas através da lixiviação, é limitado a um número máximo de 580 frangos para carne ou a 230 galinhas poedeiras por hectare.

Deve estar assegurada a identificação das aves e seus produtos em todas as fases da produção, preparação, transporte e comercialização.

PRÁTICAS DE PRODUÇÃO

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HIGIENE E SANIDADE ANIMAL

A prevenção de doenças baseia-se no fornecimento de alimentação de qualidade, exercício regular e encabeçamento adequado.

As fezes, a urina e os alimentos não consumidos ou desperdiçados devem ser eliminados com a frequência necessária para minimizar os maus cheiros e evitar atrair insectos ou roedores.

Por razões sanitárias, as instalações devem ser esvaziadas de animais entre dois períodos de criação de aves. Neste intervalo de tempo deve ser feita a desinfecção do edifício e dos respectivos acessórios.

Remoção dos equipamentos e utensílios - Visa efectuar uma completa lavagem para remover toda a poeira e crostas antes de serem desinfectados. Todos estes materiais devem ser colocados ao sol para secar, o que servirá ainda como a primeira desinfecção. A desinfecção definitiva será realizada usando produtos que se encontram descritos em anexo, tendo o cuidado de evitar a corrosão dos equipamentos e preservar a saúde do responsável pela desinfecção.

Remoção da cama da instalação - Realizada quando as aves deixam a exploração. Os dejectos devem ficar distantes e amontoados para desencadear a fermentação e assim eliminar todos os organismos patogénicos que possam existir. Após a fermentação, os dejectos poderão ser distribuídos pelas áreas agrícolas da exploração, respeitando a carga de azoto/ha/ano (170 kg).

Limpeza e desinfecção da instalação - Limpeza completa no interior, raspando o piso e paredes, e fora do edifício limpar as paredes e locais que tenham restos de fezes. Afim de remover a restante sujidade, lavar com bomba de alta pressão, toda as partes da instalação. Depois de tudo limpo, inicia-se a desinfecção utilizando os produtos mencionados em anexo (parte E do Regulamento CE nº 1804/1999).

No final do período de criação de cada grupo de aves de capoeira, os parques devem ser desocupados para permitir que a vegetação torne a crescer e por razões sanitárias. Estes requisitos não se aplicarão a pequenos números de aves de capoeira que não sejam mantidas em parques e possam andar à solta ao longo do dia.

Os problemas sanitários, devem ser controlados, essencialmente, por meio de acções preventivas (Sousa, 2004). Caso seja necessária a administração de medicamentos veterinários:

Esta só deve ocorrer com prescrição do Veterinário e após realização de diagnóstico adequado;

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Território vs. Sustentabilidade

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O diagnóstico, o produto e a posologia deverão ser registados e respeitada a duração do tratamento. O intervalo de segurança da aplicação de um medicamento veterinário alopático deve ser o dobro do intervalo legal de segurança. Caso este intervalo não esteja especificado deve ser de 48 horas.

As vacinas e anti parasitários são autorizados assim como as medidas inerentes aos planos de erradicação obrigatórios implementados pelo Estado.

É proibida a utilização de medicamentos veterinários alopáticos de síntese química, antibióticos, hormonas e outras substâncias para estimular o crescimento e a produção.

A fim de facilitar a gestão do efectivo, os animais devem ser identificados por lotes.

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SuínosJoão Santos e Silva (DRAEDM)

José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

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Território vs. Sustentabilidade

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A exploração de suínos em modo de Produção Biológico (MPB) deve ser encarada como unidade poli-cultural, comportando a produção de diversas culturas em MPB, destinadas à alimentação dos suínos.

O MPB de suínos deve contribuir para o equilíbrio económico e ambiental da exploração, através da reciclagem natural dos nutrientes e de uma menor carga sobre o ambiente, produzindo alimentos em segurança e de elevada qualidade. As condições de bem-estar animal devem ser superiores ao das explorações convencionais.

A regulamentação do MPB de suínos impõe um sistema produtivo que possibilite ao agricultor o direito de rotular a carne como alimento biológico.

CICLO DE PRODUÇÃO DOS SUÍNOS

A produção de suínos engloba várias fases fisiológicas: reprodução (gestação, lactação, emparelhamento), e de crescimento (cria, recria, engorda e acabamento), às quais correspondem necessidades nutricionais e de acondicionamento ambiental muito diversas, que implicam o estabelecimento de um plano racional de produção anual, face aos recursos alimentares existentes na exploração.

Outra variável que deverá definir o ciclo de produção dos suínos é o mercado. A produção de carne fresca deve ser realizada durante todo o ano, e no caso do fabrico de produtos de salsicharia, deve ser dada preferência ao acabamento dos suínos na época mais apropriada à transformação – Novembro a Março. Contudo, os produtos transformados podem igualmente ser produzidos durante todo o ano.

Suínos

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Território vs. Sustentabilidade

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Os suínos devem ser provenientes de unidades de pecuária biológica, mas podem ser convertidos os animais já existentes na exploração. Podem adquirir-se leitões até 35 kg em explorações de agricultura convencional, caso não existam animais produzidos segundo o MPB.

O período de conversão dos animais é de 6 meses, devendo respeitar-se as normas do MPB.

CONVERSÃO

ORIGEM DOS ANIMAISA escolha das raças deve ser realizada tendo em conta a adaptação dos animais ao meio ambiente e a produção de carne de elevada qualidade. Por isso deve dar-se preferência às raças autóctones (no norte do país à raça Bísara) e aos seus cruzamentos.

Outras características genéticas podem ser igualmente consideradas, como sejam, os animais estarem livres do gene da susceptibilidade ao stress (gene Halotano), o que está associado à quebra da qualidade da carne. Uma análise laboratorial, ou o conhecimento genealógico dos ascendentes poderão fornecer essa informação.

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Os alimentos devem ser produzidos ou cultivados na própria exploração, respeitando o MPB, devendo corresponder à diversidade das variedades utilizadas tradicionalmente na região de produção.

Os concentrados utilizados são obrigatoriamente provenientes de matérias-primas obtidas em MPB, sendo proibidos alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente modificados ou derivados destes.

Os alimentos são produzidos em MPB, sendo admitido 5% da matéria seca de alimentos convencionais.

A alimentação deverá ser planeada em função do estado fisiológico em que o animal se encontra e do seu peso vivo, de modo a não ocorrer carência nutritiva ao longo do ciclo produtivo, e a não comprometer o bem-estar, a produtividade e a qualidade dos produtos.

Os alimentos mais utilizados na alimentação de suínos, em sistema tradicional do norte de Portugal, e que devem ser utilizados em MPB estão representados no quadro 1.

ALIMENTAÇÃO

BatataFrutas (várias)AbóboraCouvesBeterrabasNabosPastagens

Landes carvalhoGrão de cereais:CenteioMilho

Farinhas de cereais:CevadaCenteioTrigoMilho

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezX X XX X XX X XX X XX XX XX X X

X X XX X XX X XX X X

X X XX XX XX X

X X X

X X XX X XX X XX X X

X X XX X XX X XX X X

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X X XX X XX X XX X X

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Castanha

Quadro 1 - Alimentos tradicionais utilizados durante o ano, na alimentação de suínos (produzidos segundo o MPB)

Fonte: AGRO 339 (2006)

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Território vs. Sustentabilidade

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Os animais devem ter a possibilidade de exprimir o seu comportamento natural.

A inovação tecnológica dos sistemas de produção, aplicando novos conhecimentos e novos processos produtivos inspirados nos sistemas tradicionais, deve ser preconizada na MPB. Por exemplo, os sistemas de exploração de suínos ao Ar Livre, podem ser uma opção, para quem deseje aumentar a produção com menos investimento, respeitando o bem-estar e o ambiente, garantindo aos olhos dos consumidores produtos de superior qualidade.

Nesta base as instalações tradicionais dos suínos devem ser melhoradas, adoptando-se sistemas de produção alternativos. Nomeadamente, ao Ar Livre, semi – Ar livre, semi-intensivo ou extensivo são reconhecidas algumas vantagens:

Económicas

Baixo investimento/capital inicial

Rentabilidade agrícola

Diversificação da produção

Incremento da produção da exploração

Ocupação de terrenos abandonados

Ecológicas

Diminuição de resíduos e contaminação ambiental

Melhorar níveis de bem – estar animal

Maneio

Permite aumentar o efectivo e melhorar performances

Mobilidade e flexibilidade de instalações e maneio

Atingir diferentes nichos de mercado

Melhor crescimento, tenrura, flavour, cor, fibras musculares, melhoria da qualidade

Os consumidores acreditam que qualidade é melhor mesmo que esta não seja perceptível

Quando a exploração é implementada ao Ar Livre, as parcelas destinadas aos suínos devem entrar em rotação com outras culturas, por um período de 3 a 4 anos. O encabeçamento e a rotação dos animais na área da exploração devem ser respeitados, de modo a evitar problemas de poluição ambiental, pois a matéria orgânica produzida pelos animais é

SISTEMA DE PRODUÇÃO, ALOJAMENTOS E MANEIO

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CategoriaZona coberta (superfície líquida disponível para os

animais)

Zona de exercício ao ar livre (excepto de pasto)

Porcas reprodutoras com leitões até aos 40 dias 7,5 2,5

Leitões acima de 40 dias e até 30 kg 0,6 0,4

Porcos de engorda:

- Até 50 kg 0,8 0,6

- Até 85 kg 1,1 0,8

- Até 110 kg 1,3 1,0

Porcos de criação:

- Fêmea 2,5 1,9

- Macho 6,0 8,0

Quadro 2 - Superfície mínima (interior e no exterior) para suínos (m2/animal).

Fonte: Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999

naturalmente incorporada e degrada no solo, contribuindo para um aumento da sua fertilidade.

Por questões de conforto e de necessidades de termo-regulação, os suínos gostam de tomar banho de lama e repousar no meio da palha, pelo que deve ser facultada palha nos alojamentos e charcos de água/lama.

As porcas devem ser mantidas em grupo, separadas em função do estado fisiológico (gestantes, lactantes e vazias).

O desmame dos leitões deve efectuar-se aos 40 dias no mínimo, sendo proibido mantê-los em gaiolas.

Aos animais deve ser disponibilizado fácil acesso aos pontos de alimentação e de abeberamento, de modo a evitar stress comportamentos agressivos ou privações nutricionais.

A área das instalações deve proporcionar conforto e bem-estar aos suínos, estando previstas no regulamento do MPB, as seguintes densidades de animais (quadros 2 e 3).

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Território vs. Sustentabilidade

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HIGIENE E SANIDADEA prevenção de doenças baseia-se no fornecimento de uma alimentação equilibrada, exercício regular e encabeçamento adequado.

É privilegiada a utilização de produtos fito-terapêuticos, homeopáticos e minerais. Contudo se estes se revelarem ineficazes, podem ser utilizados medicamentos veterinários de síntese sob a responsabilidade de um veterinário.

É proibida a utilização de medicamentos veterinários de síntese química e outras substâncias para estimular o crescimento e a produção. No entanto é autorizada a administração de hormonas como tratamento veterinário terapêutico a um determinado animal.

São autorizadas as desinfecções dos edifícios, do equipamento e das instalações ao abrigo da legislação nacional e comunitária.

As vacinas e anti-parasitários são autorizados, assim como, as medidas inerentes aos planos de erradicação obrigatórios implementados pelo Estado.

São autorizados para limpeza e desinfecção de instalações, equipamentos e utensílios os produtos descritos em anexo (parte E do Regulamento CE nº1804/1999).

Quadro 3 - Encabeçamento para porcos em pastoreio. Número máximo de animais por hectare.

Fonte: Anexo VII do Regulamento CE nº 1804/1999

Categoria de suínos Nº máximo

Porcas reprodutoras 6,5

Leitões 74

Suínos p/ engorda 14

Outros suínos 14

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José Manuel Pires (ESAPL/IPVC) Joaquim Cerqueira (ESAPL/IPVC)

Apicultura

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Território vs. Sustentabilidade

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A apicultura é uma importante actividade para a produção agrícola e florestal, contribuindo para a protecção do meio-ambiente. Pela diversidade dos produtos obtidos: mel, pólen, geleia real, propólis, cera, veneno da abelha e a criação de abelhas e rainhas, representa um papel significativo na economia das explorações agrárias.

A qualificação dos produtos da apicultura como resultantes do modo de produção biológico está estreitamente ligada às características dos tratamentos efectuados nas colmeias como à qualidade do meio-ambiente. As condições de extracção, tratamento e armazenagem dos produtos da apicultura são atributos a considerar neste modo de produção. A filosofia de vida ecológica e naturalista, difundida principalmente na Europa, tem incrementado a procura e o recurso a produtos e técnicas naturais, nomeadamente os de origem apícola, designados como “produtos naturais”.

ORIGEM DAS ABELHAS Na escolha das raças, dever-se-á ter em conta a capacidade das abelhas se adaptarem às condições locais, a sua vitalidade e a resistência às doenças (Ritter, 2001). Será dada preferência à utilização de raças europeias de Apis mellifera e aos seus ecotipos locais.

Este modo de produção é uma actividade ligada à terra, devendo as abelhas dispor de uma área de movimentação livre isenta de qualquer tipo de contaminação, devendo o número de colmeias estar em equilíbrio com a dimensão da exploração, as produções vegetais e respeitar a localização de outros apiários. A prevenção de doenças deve basear-se nos princípios de selecção das raças ou estirpes de animais adequadas à exploração, fomentando uma elevada resistência às doenças e prevenção de infecções. Os apiários devem ser constituídos por divisão de colónias ou aquisição de enxames ou de colmeias, provenientes de unidades que satisfaçam o Modo de Produção Biológico (MPB).

A reconstituição dos apiários será autorizada pelo organismo ou autoridade de controlo, sempre que não estejam disponíveis apiários que satisfaçam o MPB, como no caso de elevada mortalidade das abelhas causada por motivos sanitários ou por catástrofes, desde que se respeite o período de conversão.

Na renovação dos apiários, 10% ao ano, das abelhas-mestras e dos enxames a incorporar na unidade que pratica a agricultura biológica poderão não satisfazer as regras estabelecidas no MPB, desde que sejam colocados em colmeias com favos ou folhas de cera provenientes de unidades que praticam a agricultura biológica. Nesse caso, não se aplica o período de conversão.

Apicultura

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Território vs. Sustentabilidade

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PERÍODO DE CONVERSÃOExiste um período de conversão de cerca de um ano, para que os produtos apícolas possam ser comercializados com referência ao MPB. Nesse período deve ser utilizada cera produzida em MPB. No caso de novas instalações ou durante o período de conversão, a utilização de ceras que não provenham de unidades em MPB pode ser autorizada pelo organismo ou autoridade de controlo em circunstâncias excepcionais, desde que não estejam disponíveis no mercado ceras produzidas segundo o MPB e na condição de provirem dos opérculos.

LOCALIZAÇÃO DOS APIÁRIOS

O apicultor deverá fornecer ao organismo ou autoridade de controlo um inventário cartográfico, à escala adequada dos locais de implantação das colmeias, com uma descrição completa da unidade e indicação dos locais de armazenagem e de produção, bem como das parcelas e/ou das áreas de colheita e, se for caso disso, os lugares onde se efectuam determinadas operações de transformação e/ou acondicionamento.

Os apiários deverão localizar-se em áreas com fontes de néctar, melada e pólen naturais em quantidades suficientes, dispondo de água num raio de 3 Km em redor do apiário. Nestes locais, a maioria das culturas deve respeitar o MPB e/ou de vegetação espontânea, ou ainda culturas submetidas a tratamentos de baixo impacto ambiental, como as descritas nos programas desenvolvidos ao abrigo do regulamento CE nº 2078/92, que não possam afectar significativamente a qualificação da produção apícola como resultante do MPB. Os apiários deverão estar afastados e localizados a suficiente distância de quaisquer fontes de produção não agrícola susceptíveis de causar contaminação, como centros urbanos, auto-estradas, zonas industriais, aterros e incineradores de lixos, devendo os organismos ou autoridades de controlo estipular as medidas que garantam o cumprimento deste requisito. A zona onde se localiza o apiário deve estar assinalada, com identificação das colmeias.

ALIMENTAÇÃO

No final da época produtiva, devem deixar-se nas colmeias reservas suficientemente abundantes de mel e de pólen, para o período invernal (Paixão, 1985) e a alimentação, em casos de necessidade, deve ser feita com mel produzido segundo o MPB. É autorizada a alimentação artificial das colónias quando, por rigores climáticos, esteja em risco a sobrevivência das colmeias. Nesta situação, devem registar-se o tipo de produtos utilizados, datas, quantidades e colónias beneficiadas. No caso de ocorrer a cristalização do mel, é autorizada a alimentação artificial com xarope de açúcar ou melaços de açúcar, produzidos

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ALOJAMENTOS E EQUIPAMENTOS

Os apiários são o equipamento produtivo mais importante da exploração apícola. São constituídos pelas colmeias, os enxames de abelhas seleccionadas e todos os materiais inerentes à sua instalação no terreno. As colmeias devem ser feitas de materiais naturais que não apresentem qualquer risco de contaminação para o ambiente ou para os produtos da apicultura e no seu interior só poderão ser utilizados produtos naturais, tais como própole, cera e óleos vegetais. Aconselha-se a utilização de colmeias, que possuam as seguintes características:

Segurança, oferecendo estanquicidade e resistência, pois vão estar expostas às condições atmosféricas;

Ligeiras para tornar o seu manuseamento mais fácil;

Bem acabadas em termos construtivos para que as abelhas não tenham dificuldades em se movimentar e executar todo o seu ciclo produtivo;

De longa duração, sem grandes exigências de manutenção, versátil e completa em termos das suas componentes internas, confortáveis para as abelhas e bem ventiladas.

PRÁTICAS DE PRODUÇÃOA abordagem ao apiário deverá fazer-se de uma forma cuidada e silenciosa, sempre pela parte de trás da colmeia para não perturbar a actividade das abelhas (Beneditti e Pieralli, 1990). É proibido o uso de repelentes químicos de síntese durante as operações de extracção de mel. As ceras necessárias para o fabrico de novas folhas de cera devem ser provenientes de unidades de produção que praticam a agricultura biológica.

É proibida a destruição das abelhas nos favos como método associado à colheita dos produtos da apicultura.

São proibidas as mutilações, como o corte das asas das rainhas.

Pode fazer-se a substituição da rainha com a supressão da antiga.

A prática da supressão dos zangões só é autorizada como meio de contenção da infestação por Varroa jacobsoni.

O organismo ou autoridade de controlo deve ser informado da deslocação dos apiários num prazo acordado com o mesmo.

Deve ser tomado especial cuidado para assegurar a adequada extracção, tratamento e armazenagem dos produtos da apicultura. Todas as medidas tomadas deverão ser registadas.

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Território vs. Sustentabilidade

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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OperaçãoMelPólenPrópolisGeleia RealRainhasNúcleosTratamentosAcondicionamentoAlimentaçãoFabrico de ceraPreparar materialComercializaçãoAvaliar RainhaSubstituir RainhaSubstituir colmeiasConservar ceras

Quadro 1 - Calendário de operações em apicultura

Nota: O calendário de operações pode variar em função das condições climáticas, de relevo e de vegetação.

As operações de remoção das alças e da extracção do mel devem constar do registo do apiário.

É proibida a extracção de mel a partir de favos que contenham ovos ou larvas.

As tarefas apícolas diversificam-se ao longo do ano. Nos primeiros meses, os trabalhos orientam-se principalmente para a colmeia e abelhas. No início do Verão procede-se à recolha dos produtos, terminando-se o calendário apícola com a comercialização do mel e manutenção dos equipamentos. Ainda neste período, o apicultor deverá fazer um balanço da sua actividade apícola, definir objectivos e conceber projectos, com vista à melhoria da próxima campanha apícola (Gallego e Portela, 2003).

No quadro 1 indicam-se as operações mais importantes para a actividade apícola.

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PROFILAXIA, HIGIENE E SANIDADE

A profilaxia é um dos instrumentos de maior importância para o apicultor, baseando-se no maneio correcto dos apiários, concretizando-se na aplicação de meios preventivos para evitar doenças e pragas.

Deve basear-se nos seguintes princípios:

Selecção de raças resistentes às principais doenças e pragas;

Aplicação de práticas que desenvolvam uma forte resistência às doenças e à prevenção de infecções, tais como: renovação periódica das abelhas mestras, inspecção sistemática das colmeias para identificação de anomalias sanitárias, controlo dos machos nas colmeias, desinfecção periódica dos materiais e do equipamento, destruição de material ou fontes contaminados, renovação periódica da cera e garantia de reservas suficientes de pólen e de mel nas colmeias.

O apicultor deverá ter sempre o máximo cuidado higiénico quando manuseia as colmeias ou seus produtos, desinfectando sempre as mãos e usando vestuário próprio e limpo. Por sua vez o espaço onde se encontram as colmeias deve estar sempre limpo, possibilitando a observação da existência de abelhas mortas, que nesse caso devem recolher-se para análise.

As colmeias que forem identificadas como doentes poderão ser isoladas e imediatamente tratadas em apiários isolados, sendo autorizados os tratamentos obrigatórios ao abrigo da legislação nacional e comunitária.

Devem ser preferidos os produtos fitoterapêuticos e homeopáticos aos produtos alopáticos de síntese química. Estes últimos apenas poderão ser utilizados quando haja ameaça de destruição das colónias e desde que sob a responsabilidade de um veterinário ou de pessoas autorizadas pelo Estado – Membro.

Em tratamentos preventivos é proibida a utilização de medicamentos alopáticos de síntese. Em caso de infestação por Varroa jacobsoni, podem ser usados os ácidos fórmico, láctico, acético e oxálico e as seguintes substâncias: mentol, timol, eucaliptol e cânfora. Sempre que por necessidade se aplique um tratamento com produtos alopáticos de síntese química, as colónias deverão ser colocadas em apiários de isolamento e toda a cera deverá ser substituída. Estas colónias serão submetidas a um período de conversão de um ano. Estes requisitos não são aplicáveis aos produtos já referidos no tratamento da Varroa jacobsoni.

Os medicamentos veterinários que forem utilizados deverão ser registados e declarados ao organismo ou autoridade de controlo, antes da comercialização dos produtos fazendo-se referência ao MPB, ao tipo de medicamento (incluindo a indicação da substância farmacológica activa) juntamente com a indicação da posologia, da forma de administração, da duração do tratamento e do intervalo legal de segurança.

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Território vs. Sustentabilidade

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São permitidos os tratamentos físicos, como o vapor de água e a chama directa.

Ainda são autorizadas as desinfecções dos edifícios, do equipamento e das instalações ao abrigo da legislação Nacional e Comunitária., nomeadmenete as referidas em anexo (parte E do Regulamento CE nº1804/1999).

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

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Anexo(Adaptado do Anexo II do Reg CE nº 1804/1999 modificado)

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ANEXO (Adaptado do Anexo II do Reg CE nº 1804/1999 modificado)

C. MATÉRIAS-PRIMAS PARA ALIMENTAÇÃO ANIMAL 1. Matérias-primas de origem vegetal (produtos e subprodutos)

1.1. Grãos de cereais: Aveia em grão, flocos, sêmea, cascas e sêmea grosseira; cevada em grão, proteína e sêmea; germe de arroz obtido por pressão; milho painço em grão; centeio em grão e sêmea; sorgo em grão; trigo em grão, sêmea, sêmea grosseira, farinha forrageira com glúten, glúten e gérmen; espelta em grão; triticale em grão; milho em grão, farinha forrageira, sêmea grosseira, bagaço de gérmen obtido por pressão e glúten; radículas de malte; “drèches” de cerveja.

1.2. Sementes e frutos oleaginosos: Sementes de colza, bagaço obtido por pressão e cascas; sementes de soja torrada, bagaço obtido por pressão e cascas; sementes de girassol; sementes de algodão e bagaço obtido por pressão; sementes de linho e bagaço obtido por pressão; bagaço de sementes de sésamo obtido por pressão; bagaço de palmista obtido por pressão; bagaço de sementes de abóbora obtido por pressão; azeitonas, polpa de azeitona; óleos vegetais (de extracção física).

1.3. Sementes de leguminosas: Sementes de grão-de-bico, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de ervilha-de-pomba, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de chícharo comum submetidas a um tratamento térmico, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de ervilha, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de fava, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de fava forrageira, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de ervilhaca, farinha forrageira e sêmea grosseira e sementes de tremoço, farinha forrageira e sêmea grosseira.

1.4. Tubérculos e raízes: Polpa de beterraba sacarina, batata, tubérculos de batata-doce, polpa de batata (subproduto da extracção da fécula de batata), proteína de batata e mandioca.

1.5. Outras sementes e frutos: Alfarroba, vagem de alfarroba e farinha destes produtos, abóbora, polpa de citrinos, maçã, marmelo, pêra, figo, uvas e respectivas polpas; castanhas, bagaços de nozes e avelãs obtidos por pressão; película de cacau e bagaços de cacau obtidos por pressão; bolotas.

1.6. Forragens e outros alimentos grosseiros: Luzerna, farinha de luzerna, trevo, farinha de trevo, erva (de plantas forrageiras), farinha de erva, feno, ensilagem, palha de cereais e raízes leguminosas para forragem.

1.7. Outras plantas: Melaços, farinha de algas (obtida por secagem e esmagamento das algas, seguida de lavagem para reduzir o teor de iodo), pós e extractos de vegetais, extractos de proteínas vegetais (destinados unicamente a animais jovens), especiarias e condimentos.

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2. Matérias-primas de origem animal

2.1. Leite e produtos lácteos: Leite cru, leite em pó, leite desnatado, leite desnatado em pó, leitelho, leitelho em pó, soro de leite, soro de leite em pó (lacto-soro), soro de leite em pó com baixo teor de açúcar, proteína de soro de leite em pó (extraída através de tratamento físico), caseína em pó e lactose em pó, requeijão ou leite acidificado ou coalhado.

2.2. Peixes, outros animais marinhos, respectivos produtos e subprodutos: Peixe, óleo de peixe e óleo de fígado de bacalhau não refinados; autolisatos, hidrolisatos e proteolisatos de peixe, moluscos ou crustáceos obtidos por via enzimática, sob forma solúvel ou não (unicamente para animais jovens); farinha de peixe.

2.3. Ovos e ovoprodutos para alimentação de aves de capoeira, de preferência provenientes da própria exploração.

3. Matérias-primas de origem mineral

Sódio: sal marinho não refinado, sal-gema de mina, sulfato de sódio, carbonato de sódio, bicarbonato de sódio e cloreto de sódio.

Potássio: cloreto de potássio.

Cálcio: lithotamnion e “maërl”, conchas de animais aquáticos (incluindo ossos de chocos), carbonato de cálcio, lactato de cálcio, gluconato de cálcio.

Fósforo: fosfato bicálcico desfluorado, fosfato monocálcico desfluorado, fosfato monossódico, fosfato de cálcio e de magnésio, fosfato de cálcio e de sódio.

Magnésio: óxido de magnésio (magnésio anidro), sulfato de magnésio, cloreto de magnésio, carbonato de magnésio, fosfato de magnésio.

Enxofre: sulfato de sódio.

D. ADITIVOS PARA A ALIMENTAÇÃO ANIMAL, CERTAS SUBSTÂNCIAS UTILIZADAS NA ALIMENTAÇÃO DOS ANIMAIS Directiva 82/471/CEE e auxiliares tecnológicos utilizados nos alimentos para animais

1. Aditivos para a alimentação animal

1.1. Oligoelementos.

E 1 Ferro: carbonato ferroso (II), sulfato ferroso (II) mono-hidratado e/ou hepta-hidratado, óxido férrico (III).

E 2 Iodo: iodato de cálcio anidro, iodato de cálcio hexa-hidratado, iodeto de sódio.

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E 3 Cobalto: sulfato de cobalto (II) mono-hidratado e/ou hepta-hidratado, carbonato básico de cobalto (II) mono-hidratado.

E 4 Cobre: óxido cúprico (II), carbonato básico de cobre (II) mono-hidratado, sulfato de cobre (II) penta-hidratado.

E 5 Manganês: carbonato manganoso (II), óxido manganoso e óxido mangânico sulfato manganoso (II) mono e/ou tetra-hidratado.

E 6 Zinco: carbonato de zinco, óxido de zinco, sulfato de zinco mono e/ou hepta-hidratado.

E 7 Molibdénio: molibdato de amónio, molibdato de sódio.

E 8 Selénio: selenato de sódio selenito de sódio.

1.2. Vitaminas, pró-vitaminas e substâncias com efeito análogo quimicamente bem definidas: Vitaminas autorizadas nos termos do Regulamento (CE) nº 1831/2003:

- vitaminas derivadas de matérias-primas existentes naturalmente nos alimentos para animais;

- vitaminas de síntese idênticas às vitaminas naturais, apenas para os animais monogástricos;

- vitaminas de síntese A, D e E idênticas às vitaminas naturais, para os ruminantes, mediante autorização prévia da autoridade competente do Estado-membro.

1.3. Enzimas autorizadas nos termos da Directiva 70/524/CEE. Ex. � e � amilases, glucanases, celulases, hemicelulaleses, estereases, xilanases, etc, (Caballero et al., 2003).

1.4. Microrganismos autorizados nos termos da Directiva 70/524/CEE. Ex. probióticos como Lactobacillus spp., Streptococcus spp., Enterococcus spp., Propionibacterium spp., Bacillus spp., Aspergillus spp., (Caballero et al., 2003).

1.5. Conservantes: E 200 Ácido sórbico, E 236 Ácido fórmico, E 260 Ácido acético, E 270 Ácido láctico, E 280 Ácido propiónico, E 330 Ácido cítrico. O uso dos ácidos láctico, fórmico, propiónico e acético só pode ser autorizado na ensilagem se as condições meteorológicas não permitirem a fermentação adequada.

1.6. Agentes aglutinantes, antiaglomerantes e coagulantes: E 470 Estearato de cálcio de origem natural, E 551b Sílica coloidal, E 551c Diatomite, E 558 Bentonite, E 559 Argilas cauliníticas, E 560 Misturais naturais de esteatite e de clorite, E561 Vermiculite, E 553 Sepiolite, E 599 Perlite.

1.7. Substâncias antioxidantes: E 306 Extractos naturais ricos em tocoferóis.

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1.8. Aditivos antioxidantes: A partir de 19 de Outubro de 2004, enzimas, leveduras e bactérias autorizadas pelo Regulamento (CE) nº 1831/2003 relativo aos aditivos destinados à alimentação animal

2. Certos produtos utilizados na alimentação dos animais: Leveduras de cerveja

3. Auxiliares tecnológicos utilizados nos alimentos para animais

3.1. Auxiliares tecnológicos para ensilagem: Sal marinho, sal-gema, soro do leite, açúcar, polpa de beterraba sacarina, farinhas de cereais e melaços.

E. PRODUTOS AUTORIZADOS PARA LIMPEZA E DESINFECÇÃO DOS LOCAIS E INSTALAÇÕES DE PECUÁRIA (POR EXEMPLO, EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS) Sabão de potássio e de sódio, Água e vapor, Leite de cal, Cal, Cal viva, Hipoclorito de sódio (por ex., como lixívia líquida), Soda cáustica, Potassa cáustica, Peróxido de hidrogénio, Essências naturais de plantas, Ácidos cítrico, peracético, fórmico, láctico, oxálico e acético, Álcool, Formaldeído, Carbonato de sódio.

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Bibliografia e Legislação

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Portaria 1276/95 de 26 de Outubro. Regulamento do licenciamento e classificação das explorações de suínos em regime extensivo

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Regulamento (CE) nº 1804/1999 do Conselho de 19 de Julho de 1999 que completa, no que diz respeito à produção animal, o Regulamento (CE) nº 2092/91 relativo ao modo de produção biológico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos géneros alimentícios. JOC (222): 1-28.

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Compostagem para a Agricultura Biológica

III

L. Miguel Brito Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. /IPVC

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COMPOSTAGEM PARA A AGRICULTURA BIOLÓGICA

1 – INTRODUÇÃO

1.1 – Definição e objectivos da compostagem

A compostagem é o processo biológico de tratamento dos resíduos orgânicos, através do qual o material orgânico é transformado, pela acção de microrganismos, em material estabilizado e utilizável na preparação de correctivos orgânicos do solo e de substratos para as culturas. Durante a compostagem liberta-se, principalmente, dióxido de carbono, vapor de água, mas também amoníaco e outros gases que podem ser prejudiciais para o ambiente. O termo composto orgânico pode ser aplicado ao produto compostado, estabilizado e higiénico, que é benéfico para a produção vegetal.

O objectivo da compostagem é converter o material orgânico que não está em condições de ser incorporado no solo num material que é admissível para misturar com o solo. Outra função da compostagem é destruir a viabilidade das sementes de infestantes e os microrganismos patogénicos. A compostagem pode também ser utilizada para reduzir e estabilizar a matéria orgânica que se destina para outros fins, como a recuperação de zonas degradas ou o encerramento dos aterros sanitários.

1.2 – Sistemas de compostagem

A compostagem pode ser conduzida de diversas formas: em grandes instalações centralizadas com matéria orgânica recolhida selectivamente; em explorações agrícolas ou agro-pecuárias; e em pequenas unidades de carácter familiar (compostagem doméstica).

Existem muitos sistemas para a preparação do composto mas, normalmente, podem agrupar-se em dois tipos: fermentação (digestão aeróbia ou compostagem) em pilhas ou em digestores ou câmaras fechadas. Estes sistemas são, frequentemente considerados em quatro categorias, designadamente, pilhas longas (windrow) com volteio, pilhas estáticas, pilhas estáticas com arejamento forçado, e recipientes ou reactores abertos ou fechados.

No sistema de pilhas longas estas são geralmente reviradas na fase da compostagem que requer mais oxigénio e em que se produz mais calor, enquanto que as pilhas estáticas não são reviradas (fig. 1 e 2).

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Figura 1 – Pilha estática com tojo e dejectos de cavalo (ESAPL).

Figura 2 – Pilha longa com mistura de dejectos animais e palha no início da composta-gem (Proj. Agro 747).

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1.3 – Materiais para compostagem

Características dos materiais para compostagem

Os materiais utilizados para a compostagem podem ser divididos em duas classes, a dos materiais ricos em carbono e a dos materiais ricos em azoto. Entre os materiais ricos em carbono podemos considerar os materiais lenhosos como a casca de árvores, as aparas de madeira e o serrim, as podas dos jardins, folhas e agulhas das árvores, palhas e fenos, e papel. Entre os materiais azotados incluem-se as folhas verdes, estrumes animais, urinas, restos de plantas hortícolas, erva, etc. A relação C/N de diversos materiais orgânicos encontra-se por exemplo no Anexo 10 do Código das Boas Práticas Agrícolas (CBPA, MADRP).

Os materiais para compostagem não devem conter vidros, plásticos, tintas, óleos, metais, pedras ou outros materiais inorgânicos. Não devem conter um excesso de gorduras, ossos inteiros, ou outras substâncias que prejudiquem o processo de compostagem. A carne deve ser evitada nas pilhas de compostagem porque pode atrair animais. O papel pode ser utilizado mas não deve exceder 10% da pilha. O papel encerado deve ser evitado por ser de difícil decomposição e o papel de cor tem que ser evitado pois contem metais pesados.

Outra característica que é fundamental para o processo de compostagem é a dimensão das partículas dos materiais. As partículas devem ter entre 2 cm e 8 cm. Abaixo deste tamanho seria necessário utilizar sistemas de ar forçado, enquanto que os valores superiores podem ser bons para pilhas mais estáticas e sem arejamento forçado. Quanto menor for o tamanho das partículas mais fácil é o ataque microbiano porque a superfície específica aumenta mas, em contrapartida, aumentam os riscos de compactação e de falta de oxigénio.

Mistura de materiais

Na construção de uma pilha de compostagem é frequente utilizar uma mistura de materiais ricos em carbono com outros ricos em azoto. Os materiais ricos em carbono fornecem a matéria orgânica e a energia para a compostagem e os materiais azotados aceleram o processo de compostagem, porque o azoto é necessário para o crescimento dos microrganismos (fig. 3).

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A relação C/N (peso em peso) ideal para a compostagem é frequentemente considerada como 30. Para relações C/N inferiores o azoto ficará em excesso e poderá ser perdido como amoníaco causando odores desagradáveis. Para relações C/N mais elevadas a falta de azoto irá limitar o crescimento microbiano resultando numa compostagem mais lenta.

Para calcular a relação C/N da mistura de materiais (material 1, material 2, etc.) é necessário determinar a percentagem de humidade de azoto e de matéria orgânica dos materiais, ou utilizar a razão C/N da tabela do CBPA no caso de materiais orgânicos semelhantes aos referidos nessa tabela, e pode ser utilizada a seguinte fórmula:

C/N final = P1 [C1 (100-H1)] + P2 [C2 (100-H2)] +… / P1 [N1 (100-H1)] + P2 [N2 (100-H2)] +…

Sendo, P o peso, H a humidade, C a % de carbono e N a % de azoto nesse material (p/p).

Considera-se % C = % MO / 1,8 (sendo MO a matéria orgânica).

Exemplo: 20 t do material 1, com 5 t do material 2.

Material 1 – Fracção sólida do chorume: 70% H; 90% MO (=> 50% C) e 2% de N

Material 2 – Palha: 30% H; 96% MO => (53% C) e 0,5% N

C/N final = 20 [50 (100-70)] + 5 [53 (100-30)] / 20 [2 (100-70)] + 5 [0,5 (100-30)] = 35

Figura 3 – Construção de pilha de compostagem com dejectos animais e palha. A pilha foi construída com o espalhador de estrume ao qual foram introduzidas duas abas late-

rais (Proj. Agro 747).

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Deve-se evitar a utilização de substâncias com carácter alcalinizante, como o calcário ou a cinza, porque aumentam o pH, o que contribui para as potenciais perdas de azoto por volatilização do amoníaco.

O solo ajuda a manter a estabilidade da pilha e pode ser utilizado como inoculo de microrganismos responsáveis pela compostagem. A quantidade de solo a utilizar numa pilha de compostagem não deve exceder 5% da pilha, pois demasiado solo torna a pilha pesada para revolver e pode criar condições de anaerobiose se a humidade for elevada.

1.4 – Construção das pilhas de compostagem

Local e volume da pilha de compostagem

A pilha de compostagem não deve ficar exposta directamente ao sol ou ao vento, para que não seque, nem à chuva, para não ficar sujeita à lixiviação de nutrientes. Um local levemente ensombrado e com cortinas contra o vento é conveniente para não deixar secar demasiado a pilha. O local escolhido para a compostagem deve ser próximo daquele em que o composto irá ser utilizado. Poderá ser necessário ter água para humedecer a pilha convenientemente caso a percentagem de humidade da pilha seja inferior a 40%. As pilhas devem ser cobertas preferencialmente com um filme de fibras de polipropileno (tipo Geotextil da Toptex) que permite a entrada de ar mas não de água, porque os filmes de polietileno não permitem as trocas gasosas e podem resultar em excesso de humidade nas pilhas (fig. 4).

FFigura 4 – A pilha foi coberta com tecido de polipropileno durante a compostagem (Proj. Agro 747).

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A forma e o tamanho da pilha de compostagem também influenciam a velocidade da compostagem, designadamente pelo efeito que têm sobre o arejamento e a dissipação do calor da pilha. O tamanho ideal da pilha pode ser variável. O volume de 1,5 m x 1,5 m x 1,5 m poderá ser considerado bom para a generalidade dos materiais. No caso de se proceder à compostagem em pilhas baixas e longas então a altura deverá ser menor e o comprimento maior, como por exemplo, de 3 m de largura, 1 m de altura e 10 m de comprimento. No entanto, em países frios a altura deve ser superior a 1 metro (por exemplo: 1,5 m) para que o aquecimento seja possível, e o comprimento pode ser aquele que mais se apropriar à quantidade de material a compostar.

A rega

O processo de compostagem tende a ser um processo de secagem, devido à evaporação de água, por isso, é conveniente iniciar o processo de compostagem com valores de humidade superiores a 55%.

A humidade de cada material pode ser estimada com base na perda de peso do material fresco, por exemplo, 10 a 100 g, quando sujeito a temperaturas da ordem dos 105-110°C durante 24 horas, ou temperaturas inferiores mas por períodos de tempo mais prolongados.

2 – O PROCESSO DE COMPOSTAGEMO processo de compostagem envolve a escolha dos materiais, a selecção do local, e a selecção do sistema de compostagem. O processo de compostagem pode depender dos materiais existentes e do tempo disponível para a compostagem desses materiais.

A compostagem ocorre quando existe água, oxigénio, carbono orgânico e nutrientes para estimular o crescimento microbiano. No processo de compostagem os microrganismos decompõem a matéria orgânica e produzem dióxido de carbono, água, calor e húmus. O processo de compostagem mais comum na agricultura biológica é conduzido em pilhas estáticas (ou com um volteio após 3 a 4 semanas de compostagem), por um período de 3 meses, seguido por um período de maturação de mais 3 meses.

2.1 – Biologia

Diferentes comunidades de microrganismos (incluindo bactérias, actinomicetas, leveduras e fungos) predominam em diferentes fases da compostagem. Com temperaturas superiores a 40°C começam a predominar os microrganismos termófilos. Com temperaturas superiores de 55°C muitos dos microrganismos patogénicos para os humanos ou para as plantas são destruídos. No entanto, não é conveniente deixar ultrapassar os 65 °C pois a maioria dos microrganismos são destruídos, incluindo aqueles que são responsáveis pela compostagem. As sementes de infestantes podem perder a viabilidade a temperaturas de 40-60°C no interior da pilha. As sementes que se localizam no exterior da pilha podem,

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contudo, não perder a viabilidade por as temperaturas não atingirem aí valores necessários para esse efeito. As infestantes podem ser impedidas de germinar no exterior da pilha utilizando uma cobertura escura.

2.2 – Física

Temperatura

A produção de calor depende da velocidade a que a decomposição se processa ou seja da velocidade a que os microrganismos crescem e actuam. A decomposição depende: (i) do teor de humidade, arejamento e relação C/N da mistura dos materiais; (ii) das dimensões e tipo de cobertura da pilha de compostagem e (iii) da temperatura exterior à pilha.

A temperatura deve alcançar os 40 a 50 °C em dois ou três dias e quanto mais depressa o material for decomposto mais cedo a temperatura começará a descer. A compostagem pode ser dividida em duas partes. A primeira é mais activa e caracteriza-se por uma forte actividade microbiana e pelo aumento de temperatura dos materiais em decomposição. A segunda parte caracteriza-se por taxas metabólicas muito mais reduzidas e é conhecida por fase de arrefecimento e maturação, durante a qual o material se torna estável, escuro, amorfo, com aspecto de húmus e um cheiro a terra (Witter & Lopez-Real, 1987).

A decomposição ocorre mais rapidamente na primeira parte da compostagem com temperaturas da ordem dos 40-60°C, e pode demorar semanas ou mesmo meses, dependendo do tamanho e da composição da pilha de compostagem. Neste período devem ser destruídos os organismos patogénicos e as sementes de infestantes. Quando a temperatura atingir os 65ºC é conveniente revirar a pilha para que o calor se dissipe e a temperatura diminua. A fase mais activa da compostagem está terminada quando, após o volteio da pilha, os valores de temperatura não aumentam significativamente, seguindo-se um período mais longo de amadurecimento do composto.

Humidade

Um teor de humidade de 50 a 60% é considerado indicado para a compostagem. Abaixo de 35-40% de humidade a decomposição da matéria orgânica é fortemente reduzida e abaixo de 30% de humidade é praticamente interrompida. Uma humidade superior a 65% retarda a decomposição, para além de se provocar maus odores em zonas de anaerobiose localizadas no interior da pilha de compostagem.

O teste da esponja é um teste expedito para verificar se a humidade do material é apropriada e consiste em pegar numa mão cheia de composto e apertar; não devendo escorrer água (pode pingar algumas gotas) mas ficando humidade na mão. Idealmente a pilha deve encontrar-se próxima da capacidade de campo.

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Arejamento

O arejamento da pilha favorece a oxigenação, a secagem e o arrefecimento no seu interior. Isto é, fornece o oxigénio para a actividade biológica, remove humidade e calor diminuindo a temperatura da massa em compostagem. O oxigénio é necessário para os microrganismos obterem energia resultante da oxidação do carbono orgânico resultando a libertação de dióxido de carbono. A falta de oxigénio causa um ambiente redutor, resultando compostos incompletamente oxidados como ácidos voláteis e metano (CH4).

O número de vezes que o material deve ser revirado depende de diversos factores podendo ser necessário revirar uma ou duas vezes no primeiro mês e, eventualmente, mais uma vez no segundo mês (fig. 5 a 8). Algum azoto poderá ser perdido quando se revira a pilha de compostagem.

Figura 5 a 8 - Volteio mecânico da pilha, ao fim de 1 mês de compostagem. O material foi introduzido no distribuidor de estrume para reconstituição da pilha (Proj. Agro 747).

Figura 5 Figura 6

Figura 7 Figura 8

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Odores

O excesso de humidade, a falta de porosidade, a rápida degradação do substrato e o tamanho excessivo da pilha, podem criar condições de anaerobiose no interior da pilha de compostagem. Estas condições resultam na formação de compostos que provocam odores desagradáveis quando se volatilizam. Estes odores provêm de vários compostos orgânicos incompletamente oxidados, designadamente, ácidos gordos voláteis de baixo peso molecular, compostos de enxofre, como o ácido sulfídrico, compostos aromáticos, e aminas. No entanto, o amoníaco é o composto que mais frequentemente contribui, quer em aerobiose quer em anaerobiose para os odores desagradáveis. O odor intenso e desagradável dos resíduos orgânicos normalmente vai diminuindo durante a fase inicial da compostagem e praticamente desaparece no final do processo de compostagem.

2.3 – Química

Carbono e azoto

Nos materiais orgânicos o azoto encontra-se principalmente na forma orgânica. O azoto mineral existente encontra-se principalmente como azoto amoniacal durante a fase termófila da compostagem e na forma nítrica no composto maduro. Se o azoto existir em excesso, e os microrganismos não o utilizarem, por falta de carbono disponível, o azoto pode acumular-se e perder-se por volatilização na forma de amoníaco ou por lixiviação de azoto nítrico.

A relação C/N = 30 é desejável para o processo de compostagem, durante o qual, quase todo o azoto orgânico está disponível para ser utilizado pelos microrganismos, mas o mesmo não se verifica relativamente ao carbono de determinados materiais, por se encontrar em formas resistentes à degradação biológica. Por exemplo, os jornais são mais resistentes que outros papéis pois são constituídos por fibras celulósicas lenhificadas, sendo a lenhina um composto muito resistente à decomposição. Neste tipo de materiais, incluindo caules de milho e palha de cereais, deve ser considerada uma relação C/N mais elevada para iniciar a compostagem. Assim, a relação C/N da mistura a compostar tem que ser ajustada em função da disponibilidade do carbono e do azoto nos materiais.

Durante a compostagem metade ou mais de metade do volume da pilha será perdido com a decomposição dos materiais. O carbono é perdido mais rapidamente que o azoto e, por isso, a relação C/N diminui durante a compostagem. A relação C/N pode diminuir de valores superiores a 30 para valores inferiores a15.

Outros nutrientes

Os outros nutrientes essenciais para o metabolismo dos microrganismos encontram-se geralmente em quantidades suficientes relativamente ao azoto, nos materiais orgânicos originais utilizados na compostagem. No entanto, em alguns casos poderá ser aconselhável

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aplicar fósforo (1 kg a 2 kg por tonelada de mistura) que, ao contrário do potássio, não se perde das pilhas por lixiviação.

pH

O pH do composto pode ser indicativo do estado de compostagem dos resíduos orgânicos. Jimenez e Garcia (1989) indicaram que durante as primeiras horas de compostagem, o pH decresce até valores de aproximadamente 5 e posteriormente, aumenta gradualmente com a evolução do processo de compostagem, alcançando, finalmente, valores entre 7 e 8. À medida que os fungos e as bactérias digerem a matéria orgânica, libertam-se ácidos que se acumulam e acidificam o meio. Este abaixamento do pH favorece o crescimento de fungos e a decomposição da celulose e da lenhina. Posteriormente estes ácidos são decompostos até serem completamente oxidados.

A adição de calcário, ou de outras substâncias alcalinizantes, como as cinzas, pode ser prejudicial, porque o aumento de pH causa a formação de amoníaco (NH3) em detrimento do ião amoniacal (NH4

+) que pode ser volatilizado, contribuindo assim para os odores desagradáveis e para a diminuição de azoto disponível para a nutrição das plantas.

3 – CARACTERÍSTICAS DO COMPOSTO

3.1 – Quantidade de composto produzido

Durante a compostagem o volume da pilha reduz-se para metade ou menos de metade Esta diminuição de peso e volume resulta num aumento da concentração de nutrientes e reduz a necessidade em espaço para armazenamento e transporte.

3.2 – Qualidade do composto

Existem critérios para a classificação dos compostos em corrente, ecológico e biológico, designadamente aqueles que constam no quadro 1. No entanto, são necessárias especificações padronizadas de métodos analíticos e agronómicos que definam a qualidade do produto final da compostagem – o composto.

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Composto:Corrente (1)

Ecológico (2) Biológico (3)Após 2009

Câdmio (mg/kg) 5 1,5 1 0.7Até 2009*

Chumbo (mg/kg) 400 150 100 25Cobre (mg/kg) 500 200 100 45Crómio (mg/kg) 400 150 100 70Mercúrio (mg/kg) 5 1,5 1 0,4Níquel (mg/kg) 200 100 50 25Zinco (mg/kg) 1500 500 300 200Materiais inertes antropogénicos (%) 2 1 0,5Salmonella spp.Ausente em (g) 25 25 50Escherichia coli (NMP/g) 1000 1000 1000

(1) Proposta de regulamentação sobre qualidade do composto para utilização na agricultura, de M. S. Gonçalves e M. Baptista, do MADRP / INIA / LQARS, de Abri de 2001, (*) Os compostos que cumpram os requisitos correspon-dentes ao período anterior a 2009, poderão ser utilizados depois de 2009 apenas em solos onde não se implantem culturas destinadas à alimentação humana ou animal.

(2) Decisão da Comissão n.º 2001/688/CE de 28 de Agosto, que estabelece os critérios ecológicos para atribuição do rótulo ecológico comunitário aos correctivos de solos e aos suportes de cultura.

(3) Regulamento (CEE) n.º 2092/91 do Conselho de 24 de Junho, que estabelece os princípios do modo de produ-ção biológico de produtos agrícolas.

O Regulamento n.º 2381/94 da Comissão Europeia de 30 de Setembro, modificado pelos Regulamentos n.º 1488/97, n.º 1073/00 e n.º 436/01, introduz a necessidade do reconhecimento pelo organismo de controlo, e da autorização excepcional e temporária sobre a utilização de algumas substâncias exteriores às explorações, porque o agricultor biológico deve dar prioridade às práticas culturais com produtos e recursos da própria exploração.

O Regulamento (CEE) n.º 2092/91 do Conselho de 24 de Junho, que estabelece os princípios do modo de produção biológico de produtos agrícolas, estabelece um conjunto de materiais que podem ser utilizados como fertilizantes e correctivos dos solos. Entre estas substâncias, poderão ser utilizadas na produção do composto biológico: estrume de animais e de aves de capoeira; chorume ou urina; palha; resíduos domésticos orgânicos; detritos vegetais; produtos animais transformados; subprodutos orgânicos de alimentos e de industrias têxteis; algas e produtos à base de algas; serradura, cascas e desperdícios de madeira; rocha fosfatada natural e argila.

Quadro 1 – Valores máximos admissíveis para os teores totais de metais pesados e materiais inertes antropogénicos (incluem vidro, metais, plásticos, etc, cujas partículas apresentem uma granulometria superior a 2 mm) no composto (valores reportados à matéria seca) bem como os relativos à concentração em microrganismos patogénicos (valores reportados ao produto tal como é comercializado).

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Entre as restrições à utilização das substâncias referidas no Regulamento (CEE) n.º 2092/91, destacam-se: os estrumes não podem ser provenientes da pecuária intensiva sem terra; os estrumes secos e os excrementos de aves de capoeira não podem ser provenientes da pecuária sem terra; os excrementos líquidos dos animais (chorume e urina) não podem ser provenientes da pecuária sem terra; os resíduos domésticos orgânicos têm de ser separados na origem e com um sistema de recolha fechado e controlado pelo Estado-membro, e só podem ser utilizados por um período de tempo limitado.

Entre os produtos de origem animal, desde que autorizados pela entidade de controlo, podem utilizar-se as seguintes farinhas: sangue, cascos, chifres, ossos, peixe, carne, e penas. Pode utilizar-se também farinha de bagaço de oleaginosas, casca de cacau e radículas de malte, bem como, algas e produtos de algas desde que sejam obtidos directamente por processos físicos, por extracção com água ou soluções aquosas, ou por fermentação. A serradura, as aparas de madeira e os compostos de casca de árvore não podem ter tido tratamento químico após o abate. O fosfato natural moído não pode ultrapassar um teor de cádmio de 90 mg/kg. Vinhaça e extractos de vinhaça podem ser utilizados com excepção das vinhaças amoniacais.

3.3. – Estado de maturação do composto

Os métodos desenvolvidos para avaliar a maturação dos compostos orgânicos baseiam-se em ensaios físicos, químicos e/ou biológicos. Um composto estará maduro quando a sua temperatura se mantém constante durante a movimentação do material. O pH próximo do neutro, a capacidade de troca catiónica superior a 60 meq por 100 g de composto e quantidades apreciáveis de nitratos são, também, indicadores de que o composto está aceitavelmente amadurecido.

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4 – UTILIZAÇÃO DO COMPOSTO

4.1 – Aplicação ao solo agrícola

As principais características a considerar para os compostos orgânicos a aplicar ao solo (fig. 9) são os seguintes:

(i) características físicas – facilidade de manuseamento, baixa humidade, temperatura idêntica à do ambiente, odor a terra e cor escura, entre outras;

(ii) características químicas – elevada percentagem de matéria orgânica, baixa relação carbono/azoto, pH neutro ou ligeiramente alcalino, elevada capacidade de troca catiónica, baixa condutividade eléctrica, maior concentração de azoto nítrico do que amoniacal, elevada concentração de nutrientes, baixa concentração de metais pesados, e ausência de poluentes orgânicos;

(iii) características biológicas – efeitos positivos na germinação das sementes, no crescimento e composição vegetal, e na capacidade de melhorar a fertilidade biológica do solo.

Em acréscimo, os compostos orgânicos comerciais, utilizados como correctivos do solo, não devem conter materiais aguçados perigosos para o homem ou os animais, plásticos, metais ou pedras de dimensão perceptível à vista desarmada, sementes viáveis de infestantes,

Figura 9 – Aplicação de composto ao solo (Quinta Casal de Matos).

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organismos patogénicos (como Salmonela, Ténia, ou vírus) ou outros organismos em quantidade que possam causar efeitos nefastos à saúde humana por ingestão, inalação ou contacto com a pele.

4.2 – Imobilização do azoto

Uma das causas mais frequentes dos efeitos adversos ocasionalmente observados após a aplicação de correctivos orgânicos ao solo provém da falta de maturação dos compostos nos quais se procedeu a uma incompleta mineralização e incompleta humificação. A disponibilidade de azoto e de outros nutrientes está intimamente relacionada com a maturação dos materiais orgânicos. Se os compostos estão imaturos, com relações C/N superiores a 30, terão falta de azoto para maximizar as suas taxas de decomposição quando aplicados ao solo. Neste caso, o azoto mineral do solo pode tornar-se indisponível para as plantas por ser intensamente utilizado para o crescimento da microflora do solo (imobilizado pelos decompositores). Com o prosseguimento da decomposição da matéria orgânica dos compostos introduzidos no solo, muito do carbono mineralizado liberta-se na forma de CO2. Por este facto, a relação C/N da matéria orgânica (incluindo microrganismos) diminui porque pouco azoto é perdido enquanto muito carbono se escapa para a atmosfera. Após algum tempo, a actividade biológica e a relação C/N do solo tendem para um equilíbrio, o que permite o progresso normal do processo de mineralização que regula a disponibilidade de azoto assimilável no solo.

4.3 – Mineralização do azoto

É geralmente aceite que os materiais orgânicos fornecem azoto mineral com mais consistência e por períodos de tempo mais longos do que os fertilizantes minerais azotados e, em consequência, não permitem uma nutrição de luxo para as plantas nem que estas se desenvolvam com tecidos de suporte deficientes. Lairon et al. (1984), por exemplo, consideraram que uma fertilização orgânica apropriada poderia resultar em produtividades de alface semelhantes às obtidas com fertilizantes minerais, tendo no entanto menor concentração de nitratos nas folhas.

Lampkin (1992) considerou que o objectivo da agricultura biológica é o aumento, no longo prazo, dos teores de matéria orgânica no solo, e que isso é conseguido com materiais bem compostados e não com materiais mais frescos. No entanto, o contributo dos compostos orgânicos para a matéria orgânica do solo, no longo prazo, não depende exclusivamente do processo de compostagem e do seu grau de amadurecimento, mas também, dos materiais originais que os constituíam. Por exemplo, uma pilha mal compostada de materiais com muita lenhina podem ter uma fracção reduzida de azoto facilmente mineralizavel, e um material bem compostado de resíduos verdes e dejectos animais pode ter demasiada quantidade de azoto facilmente mineralizavel, ou mesmo azoto já mineralizado caso ainda não tenha sido perdido.

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Na generalidade dos países União Europeia a dose máxima admissível de azoto que se pode aplicar ao solo varia entre 170 kg/ha e 250 kg/ha por ano. Em Portugal não se deve exceder o primeiro valor nas Zonas Vulneráveis à lixiviação de nitratos de origem agrícola. Na Áustria, por exemplo, não pode ser ultrapassada a dose de 170 kg/ha de N com origem em fertilizantes orgânicos, em agricultura biológica, e assume-se que 25% do N dos compostos frescos fica disponível, após a aplicação ao solo, durante o primeiro ano. Na Dinamarca sugere-se que a disponibilidade do N dos compostos de resíduos de suínos ou de bovinos no segundo ano é de 10% (Danish Plant Directorate, 1997). Verdonck (1998) referiu que a disponibilidade de N no primeiro ano baseada em aplicações de 30 t/ha seria de 10% a 15%, enquanto Amlinger, et al. (2003) referem variações entre 5% e 15% no primeiro ano e entre 3% e 8% nos anos seguintes. Contudo, em Portugal, devido às elevadas temperaturas, em comparação com os países do norte da Europa, é provável que estes valores sejam superiores. Por outro lado, as taxas de mineralização são muito variáveis porque dependem da natureza dos compostos e das condições em que são utilizados, e variam com os métodos através dos quais são estimadas.

4.4 – Utilização do azoto no modo de produção biológico

A dinâmica do N dos compostos no solo varia com os materiais utilizados na compostagem, com as condições e a duração compostagem, com as condições climáticas, as propriedades do solo e com as práticas culturais. No entanto, a fracção de N disponível para as plantas é sempre baixa, porque a maioria do N total dos compostos encontra-se na forma orgânica. Por isso, a fertilização orgânica tem de considerar a dinâmica da mineralização do N orgânico no curto, e no longo prazo, para cada região.

A disponibilidade de N resultante da aplicação de compostos ao solo inclui o N mineral já existente nos compostos (N-NH4

+ e N-NO3-) e o N orgânico que se mineraliza após

a sua incorporação no solo. O N orgânico é constituído por uma fracção facilmente mineralizável, e por outra resistente à decomposição que pode demorar meses ou anos a ser mineralizada. A primeira contribuirá para a nutrição das culturas no curto prazo, pelo contrário, a segunda contribuirá para o aumento da fertilidade do solo no longo prazo. A imobilização do N mineral no solo é mais provável que ocorra com compostos pouco maduros e/ou com elevada razão C/N, porque nos compostos maduros a imobilização temporária do N ocorreu durante o próprio processo de compostagem e de amadurecimento dos compostos.

Detritos vegetais de leguminosas, e de outras plantas que possuam baixa relação C/N, e os dejectos dos animais, podem contribuir para uma mais rápida disponibilidade do N no solo. Entre os dejectos animais, os das aves por exemplo, contribuem para uma maior disponibilidade de N no curto prazo, quando comparados com os dos bovinos. Pelo contrário, materiais como palha e feno podem contribuir para o processo de humificação porque carecem de N orgânico facilmente minerálizavel.

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As diferentes formas como os estrumes, sólidos e líquidos, se comportam no solo podem ser aproveitadas para exercer uma gestão do azoto adequada às rotações culturais. Por exemplo, estrumes bem compostados podem ser utilizados antes das culturas que não sejam muito exigentes em azoto no inicio da cultura, e estrumes mais frescos e estrumes líquidos podem ser utilizados para disponibilizar azoto no curto prazo às culturas. Sobretudo, é indispensável sincronizar o azoto mineral disponível no solo com as exigências das plantas como forma de aproveitamento do azoto que se mineraliza e, simultaneamente, impedir que os nitratos sejam lixiviados para as águas subterrâneas.

Para além de permitir ao solo cumprir as suas funções ambientais, a elevada fertilidade orgânica do solo, no caso da agricultura biológica, em que não é permitida a aplicação de adubos minerais é, também, indispensável para obter elevadas produções vegetais. A maioria das culturas em agricultura biológica carece de azoto mineral, logo que emergem do solo e, principalmente, quando estas se encontram em fase de rápido crescimento vegetativo. Por isso, é difícil alcançar os níveis de produtividade na agricultura biológica que se verificam na agricultura convencional.

O fornecimento dos nutrientes necessários às culturas unicamente através da mineralização dos materiais orgânicos incorporados no solo no próprio ano é difícil, e se fosse possível conduziria, como os fertilizantes inorgânicos, à lixiviação de nutrientes. Por isso, o aumento da fertilidade do solo, muitas vezes necessário para a transição da agricultura convencional para a agricultura biológica, pode requerer vários anos, ao longo dos quais o agricultor deve aumentar, gradualmente, a concentração de matéria orgânica do solo de modo a garantir a disponibilidade de nutrientes para as culturas.

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BIBLIOGRAFIAAmlinger, F., Gotz, B., Dreher, P., Geszti & Weissteiner, C. (2003). Nitrogen in biowaste and yard compost: dynamics of mobilisation and availability – a review. Eur. J. Soil Biol. 39, 107-116.

Lampkin N. (1992). Organic Farming. Farming Press, UK

Lairon D, Spitz N, Termine E, Ribaud P, Lafont H & Hauton J (1984). Effect of organic and mineral nitrogen fertilization on yield and nutritive value of butterhead lettuce. Qual. Plant Foods Hum. Nutr. 34:97-108.

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Verdonck, O. (1998). Compost specifications. Acta Hort., 469:169-178.

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FICHA TÉCNICA

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Tiragem:

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Ano de Edição:

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Município de Terras de Bouro

Jerónimo Correia

Nuno Antunes

Isabel Mourão, José Pedro Araújo e Miguel Brito (Escola Superior Agrária de Ponte de Lima - ESAPL / IPVC)

Inforverde, Lda

Câmara Municipal de Terras de Bouro4840-100 Terras de BouroTelefone: 253 351 010 | Fax: 253 352 631 | www.cm-terrasdebouro.pt Gráfica Vilaverdense artes gráficas

100 exemplares

2006