manual da flipinha 2012

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Manual Flipinha 2012 Realizacão Associação Casa Azul

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Material voltado para professores e alunos envolvendo atividades de aproximação com o universo da literatura a partir dos autores paricipantes da Flipinha 2012

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Page 1: Manual da Flipinha 2012

ManualFlipinha 2012

RealizacãoAssociação Casa Azul

Page 2: Manual da Flipinha 2012

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ManualFlipinha 2012

RealizacãoAssociação Casa Azul

Parceria Institucional

Apoio Institucional

Realização

Associação Casa Azul

ParatyAl Princesa Isabel 2 Pontal23970-000 Paraty RJT +24 3371-7082F +24 3371-7084 São PauloR Capitão Antônio Rosa 376conjunto 9101443-900 São Paulo SPT +11 3081-6331F +11 3081-6331

www.flip.org.brwww.flipinha.org.brwww.flipzona.org.br [email protected]

Secretaria Municipal de Educação de Paraty

Page 3: Manual da Flipinha 2012

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ManualFlipinha 2012

RealizacãoAssociação Casa Azul

Apresentação3Querido professor5André Diniz8Ciça Fittipaldi10Cláudio Thebas12Daniel Munduruku14Fernando Vilela16Flávia Lins e Silva18Graça Lima20Heloisa Prieto22Ilan Brenman24Indigo26Leonardo Chianca28Lúcia Hiratsuka30Marcelo Carneiro32Marcelo Cipis34Márcia Leite36Mariana Massarani38Maurício Veneza40Pedro Bandeira42Sulami Katy44Suppa46

Índice

Page 4: Manual da Flipinha 2012

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A Associação Casa Azul acredita em projetos educacionais que potencia-lizem a formação de leitores críticos e reflexivos, capazes de usar a palavra como meio de transformação social, intervindo no futuro de suas cidades. Assim, é com enorme satisfação que apresentamos o Manual da Flipinha 2011. Com o objetivo de apoiar os educadores nas atividades de sala de aula e aprimorar a formação dos estu-dantes por meio da literatura, mais que uma ferramenta, é um convite para que professores e alunos naveguem e se encantem com novos caminhos, por intermédio da leitura e da imaginação.

A Flipinha, como programa perma-nente, cresceu e se desdobrou no projeto Mar de Leitores, que tem como objetivo promover a capaci-tação de professores e mediadores de leitura, oficinas literárias e atividades de incentivo à leitura. Neste ano o Mar de Leitores teve uma importante conquista ao realizar o 11° Encontro Proler Costa Verde: Políticas Públicas Caminho da Cidadania. O evento é fruto da parceria entre Secretaria Municipal de Educação de Paraty, Instituto C&A e Fundação Biblioteca Nacional, integrando o Programa Nacional de Incentivo à Leitura. A experiência paratiense conferiu ao evento novo significado, pois além dos cursos destinados aos professores da rede pública, contou com mediações de leitura realizadas em diferentes pontos de Paraty, uma verdadeira invasão literária tomou a cidade por meio da palavra, promovendo encon-tros, fomentando mudanças e novas percepções a respeito do território.

A responsabilidade de educar não se restringe apenas às escolas. Esta é a impressão que fica quando passamos o olhar para iniciativas que abrem portas em direção à experiência do conhecimento. A Associação Casa Azul se orgulha de fazer parte dessa construção inovadora, cujos frutos têm sido surpreendentes e inspiradores.

Mauro MunhozDiretor presidenteAssociação Casa Azul

Apresentação

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Este Manual foi pensado para ser um material atraente e diferenciado na abordagem da literatura sob a ótica da arte. Nosso sonho era criar algo que instigasse a leitura dos livros e fizesse todo mundo ter vontade de mergulhar na obra dos autores, despertando diversas manifestações artísticas em torno da literatura.

Em 2012, o Manual mantém a divisão em três partes: uma biografia lúdica, literária, para que vocês possam conhecer melhor a história de cada autor; o “Conhecendo as histórias”, onde oferecemos um breve resumo sobre as obras escolhidas; e o “Nave-gando pelas histórias”, onde propomos a criação de um projeto de leitura a partir de um fio condutor que reti-ramos da leitura dos livros. Mas tudo foi criado valorizando as possibilidades de exploração artística das obras.

Este Manual foi escrito com o intuito de despertar um gostoso bate-papo sobre livros e literatura. Porém vale ressaltar que as propostas apre-sentadas aqui não são “receitas de bolo” que devem ser seguidas passo a passo. São um convite para que você, professor leitor, professor mediador de leitura, conheça os livros e perceba que pode trabalhar a obra sob diversos aspectos e olhares.

Lembramos que os livros para crianças e jovens devem ser lidos observando sempre as duas histórias, as contadas pelos textos e as contadas pelas imagens. O autor do texto muitas vezes não é o autor da imagem e, portanto, cada um apresenta ao

leitor sua visão sobre uma mesma história. Sendo assim, é importante conhecermos não só o texto, mas as imagens e, sobretudo, a interação texto-imagem, pois certamente desse encontro podem surgir muitas leituras.

Este Manual traz diversas possibi-lidades de trabalho, porém não se esqueça nunca que você é a pessoa que mais conhece seus alunos e sabe que caminhos trilhar para envolvê--los com os livros. Eis aqui uma rara oportunidade para professores e alunos se emocionarem e viven-ciarem essas histórias. O ponto de partida são sempre os livros, a leitura e o encantamento, mas o ponto de chegada é imprevisível. Só a imaginação é capaz de saber.

Anna Claudia Ramos Verônica Lessa Atelier Vila das Artes

Querido professor,

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Todos os livros sugeridos pelos autores para representá-los neste Manual estão disponíveis na Biblioteca da Casa Azul.

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Andres SandovalConhecendo as histórias Navegando pelas histórias

Projeto Siga a Seta ou projeto Sustentabilidade

Nasci em 1973, no deserto do Atacama, numa cidade chamada Chuquicamata, no Chile. Sorte foi ter chegado ao Brasil ainda criança e poder tomar muito banho de chuva.

Hoje trabalho como ilustrador, artista gráfico e arquiteto. Me formei pela Universidade de São Paulo, em 1999. Participei da Bienal de Ilustração da Bratislava (Eslováquia) e do Salão do Livro de Montreuil (França), em 2005.

Desde 2006, ilustro a seção “Esquina” da revista Piauí. Desenvolvi estampas para as marcas Neon, Ellus, L’Occitane e Melissa.

Em 2007 e 2008 expus na Galeria Gravura Brasileira e na Florence Antonio uma série objetos de papel articulados. Na Illustra-tive de Zurique, na Suíça, pintei um painel especialmente para a exposição, em 2008.

Entre 2008 e 2011 pintei uma série de painéis públicos e privados como as fachadas do Sesc Pinheiros e do edifício Simpatia.

Desde 2008 publico minhas ilustrações pelas editoras Planeta Tangerina, Língua Geral, 34 e Companhia das Letras.

Para conhecer mais sobre o meu trabalho visite meu site: www.andressandoval.com.

d’après Andres Sandoval12

Andrés Sandoval é ilustrador e esco-lheu para representá-lo neste manual os livros: Água sim, com texto de Eucanaã Ferraz, publicado pela Companhia das Letrinhas; O invisível, com texto de Alcides Villaça, publicado pela 34; e Siga a seta, com texto de Isabel Minhós Martins e publicado em Portugal pela Planeta Tangerina e no Brasil pela Companhia das Letras.

Em Água sim tem um menino... esse menino está num barco, esse barco está num rio, nesse rio tem um porto, no porto tem uma menina... Nesse livro tem água na terra, tem água no céu e tem água dentro da gente! Onde não tem água, não tem vida!

Quem nunca brincou de ser fantasma e imaginou deslizar por aí, através de portas e paredes, só para espiar o seu amor? Ou, então, sonhou entrar de graça no cinema e, na saída, dar uma lambida num sorvete de limão, sem que ninguém perceba? Em O invisível, um menino brin-cava de nunca ser visto, até que um dia percebeu que, para quem está apaixonado, “melhor que ser invisível é o invisível imaginar...”.

Uma cidade repleta de setas, indica-ções e sentidos obrigatórios. Em Siga a seta, um rapaz que vive os seus dias entre setas, nunca ousando (ou sequer pensando) desviar-se do seu rumo. E uma ideia revolucionária que lhe invade os pensamentos e o faz, certo dia, aventurar-se... Por isso, atenção, muita atenção: esse livro é só para corajosos! Para todos aqueles que gostam de viajar até lugares inexplo-rados e não têm medo de se perder.

A combinação de cores, transparên-cias e opacidades e alguns estudos de ocupação do espaço da folha são algumas das etapas que regem o trabalho do ilustrador, dando vida a uma história. Como surgem os personagens? De onde vem a inspi-ração para construir os cenários, a escolha do material que será usado em cada história, os elementos escolhidos e a técnica adequada?

Pensando nisso, criamos o projeto Siga a Seta. A turma pode ser divi-dida em grupos e cada grupo fará uma sequência de imagens que dará origem a uma história. Mas atenção: será uma narrativa composta apenas por imagens. A ligação entre as imagens será uma seta e cada seta terá uma cor (dependendo dos recursos disponíveis, estimule os alunos a usarem diferentes tipos de material, como carvão, guache, tecido, areia etc.), dando ritmo à história.

Os temas são infinitos, podendo ser a história da cidade de Paraty, ou quem sabe as festas regionais, as férias, os sonhos... O importante é ficar atento à sequência dos desenhos.

Registre tudo como a sua criativi-dade pedir, cada desenho em uma folha de papel ou todos em um papel bem grande. Quem sabe em um papel de cada cor? A criativi-dade da turma ou de cada mediador de leitura será o limite para regis-trar a produção. Quem sabe nesse processo não acaba nascendo um livro de imagens da turma?

Outra sugestão é o projeto Susten-tabilidade, composto de um pequeno manual, criado pelos alunos, que trate da questão da água no planeta. Pode ser em formato de gibi, com personagens e pequenos diálogos, ou apenas um livreto com instruções de como cuidar do meio ambiente. É importante orientar os alunos para pedir ajuda aos pais, avós, familiares, buscando exemplos que ilustrem a questão dentro da própria casa, da escola ou do bairro onde vivem.

Uma boa pedida para a feitura desses livretos é usar e abusar de diversos materiais para a criação das histórias: diferentes papéis, texturas, fitas colo-ridas, tintas, lápis de cor, lápis de cera etc. O mediador de leitura pode sugerir a criação de um livro de cada criança, um livro de cada turma, ou quem sabe uma boa opção será dividir a turma em grupos e criar um livro para cada grupo. Com as turmas dos maiores, a autonomia será maior na hora da criação. Quem sabe os alunos não criam um grupo atuante em defesa da natureza? O planeta agradece!

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Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Imagens Contam Histórias

Meu nome é Angela-Lago. Sou o anjo torto do lago onde vivia o rei sapo. Onde a chave do quarto da princesa se perdeu. A chave que o rei dos patos encontrou para João Bobo. Hoje, no lago, talvez ainda se esconda uma Janaína muito miúda, mas só seria possível vê-la por meio do telescópio que enviaram para Marte. Tenho 66 anos. Às vezes esqueço o seis de trás em casa e saio pela rua saltitante. Mas é raris-síssimo. A maioria das vezes acordo só com o segundo número e aí desenho o dia inteiro. Com isso acabo fazendo muitos livros. Às vezes escrevo também, embora prefira as histórias que se contam em silêncio só com os olhos. Moro em Belo Horizonte, onde nasci e que cheirava a flores. Mudou. Mas eu não. Fui a muitos países, a muitas cidades, sempre tive vontade de morar atrás da serra. Mas volto. Uma vez fui ao Japão fazer parte de um júri. Cheguei exausta e dormi o primeiro dia. No segundo, fui trabalhar. No terceiro, olhei Tóquio pela janela do hotel e fiz a mala de volta, exau-rida, e certa de estar de cabeça para baixo. Hoje faço fotos de dentro de carro e avião. Gosto das fotos que saem borradas, vistas em movimento. Mas Para-ti foto-grafarei e até o vento vai parar.

Saiba mais acessando www.angela-lago.com.br.

Angela Lago

d’après Angela Lago14

Angela-Lago é ilustradora e escri-tora e escolheu para representá-la neste Manual os livros: O monge e o passarinho, escrito por Manoel Bernardes e publicado pela Scipione; Psiquê, publicado pela Cosac Naify, e Muito capeta, publicado pela Companhia das Letrinhas, ambos escritos e ilustrados pela autora.

O monge e o passarinho integra a Coleção Livros Iluminados. É um texto barroco escrito pelo padre Manoel Bernardes e foi extraído da obra Pão partido aos pequeninos. Essa edição com desenhos de Angela-Lago, é belís-sima. Angela se inspirou nas iluminuras religiosas, na iconografia das igrejas mineiras e em elementos urbanos contemporâneos para traduzir visu-almente essa antiga lenda medieval que fala sobre a passagem do tempo.

A porta de entrada para a atmosfera de sonho e encantamento de Psique é um céu de estrelas: a capa preta traz pequenos furinhos que revelam o papel prateado da guarda, formando uma constelação. O livro apresenta de forma singela o mito de Eros e Psique por meio de imagens que contrastam luz e sombra. A princesa “impossível de pintar ou descrever” e o monstro “mais terrível dos seres” surgem como silhuetas em meio a folhagens, grossos troncos ou um castelo iluminado em tons dourados.

Muito capeta mescla algumas das histórias favoritas de Angela-Lago sobre o danado do capeta. Mas quem pensa que o capeta é malvado e cruel, espere só até conhecer a sogra dele!!! Como a própria autora nos explica, ela queria contar uma boa história de capeta, mas quando viu tinha contado pelo menos três, pois uma foi se encai-xando na outra. No final, o mal acaba mau, como em toda história de capeta.

Para começar o projeto Imagens Contam Histórias sugerimos que a turma, junto com o professor, faça uma leitura muito cuidadosa e atenta dos livros que Angela-Lago indicou, descobrindo cada detalhe da interação texto-imagem, tão forte e tão bela! As ilustrações são um convite para um mergulho muito profundo nas histórias, pois estas são contadas em total parceria com as imagens criadas por Angela. Explorem ao máximo as ilustrações e suas possíveis leituras. Explorem também a questão do tempo, tão presente nesses livros, e tudo o que vem junto com ele, como o envelhecimento, a maturidade, as oportunidades vividas ou perdidas... Tudo isso pode suscitar debates muito ricos e profundos e quem sabe gerar um projeto de leitura dife-rente do que estamos propondo. Não hesite em ouvir os alunos e trilhar um caminho que todos acham bom para explorar histórias e imagens.

Após essa etapa, sugerimos que a turma mergulhe fundo em outras histórias antigas, de época, tal como a que Angela selecionou, do padre Manoel Bernardes. Outras possibili-dades de mergulho em histórias são nos mitos gregos ou, se preferirem, mitos e lendas de outros povos. Como Angela também tem um livro com histórias de capeta, aproveite para pesquisar e descobrir se existem histórias do “coisa-ruim” em Paraty. Recolhê-las pode ser uma boa pedida. Quem sabe pela cidade não tem um bom contador de histórias, conhe-cedor de contos encapetados?

Cada aluno (ou cada grupo) poderá selecionar a história pela qual mais se apaixonar para ilustrá-la de um jeito muito especial. Para isso sugerimos que os alunos realizem um estudo da época da história selecionada de maneira a fazer um trabalho bem aprofundado. Depois, cada aluno, ou grupo, poderia escolher o suporte onde vai apresentar seu trabalho: livro ou vídeo. O importante é que exista a relação texto-imagem e que a apresentação contemple a parceria desses dois elementos.

Incentive os alunos a procurarem a história que lhes falar mais alto ao coração e desenhar aproveitando todas as possibilidades que a história poderá suscitar, explorando bem as perspec-tivas, cores, texturas, técnicas, jogos de luz e sombra, enfim, tudo o que a imaginação de cada um puder sonhar.

Ao final, faça uma exposição dos trabalhos. Quem sabe numa mostra de arte que leve o nome do projeto: Imagens Contam Histórias.

Bom trabalho e boas leituras!

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Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Palavras, Letras e Imagens: Identidade Visual

Sou designer formado pela ESDI e professor do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio. Participei da primeira diretoria da ADG-Rio (Associação dos Designers Gráficos/Rio) eleito pelos profissionais cariocas para o biênio 2000-01.

Sou sócio de Adriana Lins no escritório de design gráfico Manifesto. Atuamos principal-mente no mercado editorial, fonográfico e de entretenimento, realizando direção de arte, projeto gráfico, identidade visual, websites, aberturas e videografismos para longas-metra-gens, documentários e programas especiais para TV. Somos os responsáveis pela atual iden-tidade visual da obra adulta de Monteiro Lobato, pela Editora Globo.

Já tive meu trabalho selecionado e publicado em revistas e livros especializados, como Design & Interiores, Design Gráfico, Abigraf, Gráfica, Big Brasil, O livro da gráfica, Projeto, Experi-menta (Esp) e Visual (Esp), entre outros. Parti-cipei da IV Bienal de Cartazes do México e obtive menção honrosa na I Bienal de Cartazes da Bolívia. Participei das mostras “Rio Gráfico”, “Brasil em Cartaz”, “A Cultura do Cartaz” e “Um Cartaz para São Paulo”, entre outras.

Tenho participado com destaque das últimas edições da Bienal de Design Gráfico da ADG, incluindo o primeiro lugar na categoria “misce-lânea” com o projeto Ensaio Geral com a obra de Gilberto Gil. Também tenho participado das bienais de ilustração de Barcelona, Bratislava e Bolonha, bem como mostras nacionais e inter-nacionais de design gráfico e ilustrações para livros infantis e juvenis.

Faço ilustrações regularmente para veículos da imprensa e tenho escrito para publicações especializadas em design gráfico e literatura para crianças e jovens.

Sou autor e ilustrador premiado de diversos livros infantis e juvenis (incluindo o selo Alta-mente Recomendável e o de Melhor Projeto Editorial da FNLIJ). Venci o Prêmio de Fomento à Cultura 2011, oferecido pelo Sesc-Rio, na categoria Literatura Jovem.

Fiz parte da equipe de criação de No mundo da imaginação, para a Rede Globo.

Conheça o site do Manifesto: www.manifesto-design.com.br.

Guto Lins

d’après Guto Lins16

Guto Lins é escritor e ilustrador e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Palavras, publicado pela Mercúrio Jovem, De mão em mão – um manual, publicado pela FTD e a Coleção Família – Pai, Mãe, Avô, Avó, Filho, Filha, Irmão, Irmã, Primo, Prima, Sogra, publicada pela Globo.

Palavras é um livro todo construído com jogos de palavras. É uma deliciosa brincadeira com o significado das palavras e seus possíveis desdobra-mentos. É um livro feito de palavras e imagens que se complementam. As imagens são todas feitas a partir de letras. A interação entre texto, imagem e projeto gráfico é perfeita.

De mão em mão – um manual é um livro onde texto, projeto gráfico e ilustrações brincam o tempo todo com a palavra mão: mão leve, pesada, aberta, fechada, de bruxa, de fada e mãos ao alto, entre outras possi-bilidades. O livro é uma grande brincadeira entre texto e imagem e garantia de diversão para toda a família. Ao final, traz algumas infor-mações bem legais sobre as mãos na parte intitulada “Não se esqueça”.

A Coleção Família – Pai, Mãe, Avô, Avó, Filho, Filha, Irmão, Irmã, Primo, Prima, Sogra – é divertidíssima. Podemos dizer que esta coleção forma uma família de livros. Cada personagem-título é definido com frases curtas, simples e divertidas. Certamente os leitores irão se identi-ficar com alguma parte. Conheça essa família de livros cheios de encantos.

Guto Lins é designer e talvez por isso mesmo um autor tão múltiplo, que pensa sempre os seus livros como um todo: a história, as ilustrações, a tipografia, a diagramação, o projeto gráfico, enfim, todos os elementos de uma boa composição gráfica. A inte-ração texto/imagem/projeto gráfico é algo muito presente em suas obras. Por isso propomos a criação de um projeto intitulado Palavras, Letras e Imagens: Identidade Visual.

Sugerimos que a turma faça uma leitura muito atenta dos livros sele-cionados por Guto para este Manual e ainda inclua outros de sua autoria, como a Coleção Q Fome! (Chovendo na horta, Prato feito, Salada de fruta), publicada pela Prumo; Túnel do tempo, que será publicado pela Dimensão, com minicontos (alguns visuais) tendo o tempo como refe-rência; Lá em casa tem um bebê. E pra que serve?, publicado pela Mercuryo Jovem, entre outros, para entender essa visão bem ampla que Guto tem do livro. É possível também descobrir livros de outros autores que Guto ilustrou e deixou sua marca registrada: uma identi-dade visual muito forte e definida.

A partir da leitura e da observação dos livros, sugerimos que se convide um designer para dar uma palestra na escola, para explicar bem para a turma seu trabalho. Uma boa opção para ampliar essa visão conceitual de um projeto pode ser uma visita ao site da empresa do Guto, a Manifesto, para ver seus trabalhos e depois entrar em contato com ele, trocar ideias...

Depois de tudo isso é hora de partir para a criação de um projeto especí-fico. A turma pode definir o que será: um blog? Um livro? Uma coleção de livros? Um cartaz para algum evento da escola? Uma capa de CD? Mas a turma também pode combinar que cada aluno crie um projeto diferente, inspirado nos livros de Guto. Se for o caso, forme duplas, quem sabe juntando alguém que goste mais de escrever com alguém que curta mais desenhar? Pode ser uma boa pedida! O importante é que, seja blog, livro, coleção de livros, capa de CD, cartaz, cada aluno crie um conceito para seu projeto, pensando na identi-dade visual desse produto, passando por todas as etapas da criação.

Ao final, monte uma exposição com esse material completo. Ah! Não se esqueça de pensar em um nome bem criativo para a exposição!

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Conhecendo as histórias Navegando pelas históriasProjeto Tirando de Letra

Quando eu era pequena, sete ou oito anos talvez, minha professora, um dia, leu, de um modo belíssimo, um longo poema na sala de aula. Pronto. Foi amor a primeiro ouvido. E para sempre.

Mas por que aquelas palavras, todas tão minhas conhecidas, de repente me pare-ceram tão lindas? E como se escreve palavras assim tão exatamente exatas e no lugar exato?, eu queria saber.

Então, ainda criança, fui lendo alto, decla-mando, pela casa toda, toda e qualquer poesia que me chegasse às mãos. Mas fui com isso apenas alimentando o espírito gozador de meus irmãos e o meu deslum-bramento com as palavras assim tão exatamente exatas e no lugar exato. Então, no colégio, fazendo redações, fui, na prática, procurando minhas próprias pala-vras assim tão exatamente exatas e no lugar exato. Mas fui com isso apenas comprando briga, me engalfinhando com palavras que pareciam arranhar ou sujar as minhas frases, quando eu as queria intactas, limpas.

Então, na faculdade de Letras, enveredando pela teoria, fui aprendendo conceitos, classi-ficações, nomes que nem metade memorizei, e estudando a obra de um monte de gente com o dom da palavra assim exatamente exata e no lugar exato. Mas fui com isso apenas me tolhendo, me recolhendo à minha insignificância, achando que essa coisa de palavra assim exatamente exata e no lugar exato não era coisa para mim. E fiquei só na minha, cuidando de casa e filhos, revi-sando textos e lecionando gramática.

Mas, um tempo depois, de novo, a vontade de saber como se escreve palavras assim tão exatamente exatas e no lugar exato. Então sigo escrevendo, escrevendo, e uma milio-nésima parte do que escrevi até publiquei. Sigo guerreando com as palavras. Com as que, embora exprimam a ideia que eu quero passar, não entram em harmonia com as outras que já estão ali, todas de bem, na minha sentença; com as que me vêm aos montes, mas que não trazem em si ou o brilho exato de uma estrela ou o tom exato de uma lamúria; com as que... Sigo, para sempre, querendo saber como se escreve palavras assim tão exatamente exatas e no lugar exato.

Hebe Coimbra

d’après Hebe Coimbra18

Hebe Coimbra é escritora e esco-lheu para representá-la neste Manual os livros da Coleção Tirando de Letra – O time do tico-tico, Na venda de Vera e Para onde pulou a pulga?, ilustrados por Graça Lima e publicados pela Manati.

A Coleção Tirando de Letra é exce-lente para as crianças em processo de alfabetização. Cada livro ressalta uma letra do alfabeto e privilegia a sonoridade das palavras, explo-rando sempre uma situação inusitada com rimas e ritmo. Sucesso garan-tido com os pequenos leitores que adoram brincar com as palavras.

Em Para onde pulou a pulga? vamos conhecer a perseguição do menino Pedro a uma pulga impertinente. Mas... Será que Pedro vai conse-guir pegar a pulga danada? Ou será que ela vai fugir e se esconder?

O time do Tico-tico narra uma diver-tida partida de futebol entre duas equipes muito curiosas: o time do Tico-tico e o time do Tubarão. Hum... mas qual será o time tetracampeão?

Na venda de Vera existe uma coisa muito especial sendo vendida: vidros de vento! O problema é que ninguém acreditava. Ih... mas será que esse vidro que vende vento existe de verdade? Abra o livro e descubra, mas cuidado para não sair voando...

Como ficamos sabendo pela biografia de Hebe Coimbra, ela gosta muito da exatidão das palavras, de um texto bem redondinho, com as palavras encaixadas de forma impecável. Por isso, sabemos que não foi à toa que ela criou a Coleção Tirando de Letra, onde brinca exatamente com as letras, as palavras e suas sonoridades possíveis.

A partir da leitura dos livros da coleção sugerimos a criação do projeto Tirando de Letra, por intermédio do qual as turmas dos anos iniciais do ensino fundamental poderão fazer um belo trabalho com as palavras.

Que tal criar um dicionário das pala-vras malucas? Ou um dicionário dos bichos imaginários? Ou um alfa-betário das palavras divertidas?

Para qualquer uma das ideias que o professor resolver implementar com sua turma, o que vale é soltar a imaginação e a fantasia. Por exemplo, se for criar o dicionário das palavras malucas, o que vale é inventar mesmo. Inventar as palavras e seus signifi-cados. Palavras como mesarante pode ser uma mesa restaurante. Escadafa pode ser uma escada em forma de girafa. Mas pode ser que as crianças inventem palavras totalmente malucas, sem ser uma junção de palavras conhecidas. Alguém pode inventar a palavra zarquitiblefi, por exemplo, e dizer que essa palavra significa roupa invisível. Por que não? O importante é brincar com letras e palavras e buscar montar algo a partir disso.

Pode ser o dicionário maluco, o alfabe-tário divertido, tanto faz. O importante é que o projeto parta da leitura dos livros e desperte algo que o professor e os alunos queiram montar juntos.

Para criar esse alfabetário ou dicio-nário combine com a turma quais os materiais que serão usados na confecção dos livros? Pode ser papel reciclado, papel colorido, tinta, giz de cera, guache, letras recortadas de jornal, revista e tudo mais que cada turma desejar e tiver ao alcance.

Caso a sua escola não tenha muitos materiais, crie a partir do que for possível e use a imaginação para deixar o projeto bem divertido e bem--acabado. Já reparou que muitas vezes criamos coisas mais belas com menos material do que gosta-ríamos de ter, exatamente porque somos forçados a usar ainda mais a imaginação para inventar moda?

Agora, se os livros despertarem algo muito diferente do que foi proposto aqui, não exite em caminhar em outra direção. Quem sabe A venda da Vera e seu vidro de vento não propiciam um projeto diferente? Algo do tipo: pra onde eu voaria se um vidro de vento me levasse para um lugar distante? Como seria esse lugar? Quem iria morar lá? O que eu faria nesse lugar novo? E por aí vai... Quem sabe não nasce uma peça de teatro com essas ideias?

Então, solte sua imaginação e mãos à obra!

Page 11: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Quantos Lados Têm a Vida?

Desde pequena, eu me encantava com as ilus-trações dos livros infantis que chegavam às minhas mãos. Folheava, observava, tentava copiar e descobrir como alguém conseguia desenhar e pintar aquelas imagens tão lindas! Eu pensava que, com certeza, não era com os mesmos lápis de cor e canetinhas que eu usava! Devia existir algum material mágico que deixava tudo tão maravilhoso e que eu, infelizmente, ainda não conhecia. Foi depois de passar muitas e muitas tardes na companhia das minhas canetas e lápis, criando perso-nagens e cenários para as minhas histórias, enchendo pastas e gavetas com centenas de desenhos, que eu descobri: a mágica era expe-rimentar e tentar, fazer e refazer, não desistir até conseguir.

Eu cresci, virei adolescente e uma leitora voraz. Descobri a biblioteca da escola, meu refúgio na hora do recreio, e os sebos onde comprava livros usados com minhas pequenas economias. Comecei também a escrever todos os dias! Poesias, pequenos contos, textos cheios de desabafos, segredos, sonhos... Enchi cadernos, diários e agendas.

Fiz vestibular e fui estudar Artes Plásticas, mas a vida dá muitas voltas e eu acabei me formando em Publicidade e Propaganda. Traba-lhei durante vários anos criando e ilustrando anúncios, embalagens de produtos, artigos de jornais e revistas, cartilhas, manuais, sites...

Até que um dia os livros infantis voltaram pra minha vida por intermédio de uma amiga escri-tora que me pediu para ilustrar alguns de seus textos. Fiquei com muito medo de não saber fazer bonito, quase disse não, mas daí lembrei da mágica e, aos poucos, fui deixando os livros retomarem o seu devido lugar na minha vida. De lá pra cá, já ilustrei mais de quarenta livros para crianças e jovens! Casei, mudei de Porto Alegre, onde nasci, para o Rio de Janeiro, onde vivo, estudei desenho e pintura, fiz oficinas de escrita e, há cerca de quatro anos, publiquei minhas primeiras histórias.

Hoje, sei que fazer livros que possam encantar os leitores, da mesma forma que fui encantada na minha infância, é o meu maior desejo – aquele que me move todos os dias, que me faz tentar, experimentar, fazer e refazer, sempre em busca de boas histórias e imagens.

Para saber mais, visite meu blog “Garatujas e divagações” em www.mariliapirillo.com.

Marília Pirilo

d’après Marília Pirilo20

Marília Pirillo é ilustradora e escri-tora e escolheu para representá-la neste Manual os livros: Bagunça e arrumação, publicado pela Prumo, Bonifácio, o porquinho, publicado pela Martins Fontes, e Um fio de amizade, publicado pela Lafonte, todos escritos e ilustrados pela autora.

Bagunça e arrumação conta a divertida história de duas meninas chamadas Bagunça e Arrumação. As duas formam uma dupla muito divertida. Enquanto uma gosta de tudo misturado e bagunçado, a outra prefere tudo bem orga-nizado e arrumado. Isso acaba gerando muita confusão, mas na hora da brincadeira será que é possível uma ficar sem a outra?

Bonifácio, o porquinho traz a história de um porquinho diferente, que sente nojo de lama e de chiqueiro e que pensa que é peixe. Até um dia que ele conhece um menino que vai mudar sua história para sempre. Vale a pena descobrir como!

Um fio de amizade é uma história sobre duas crianças, Bruno e Manoela, que moram em uma cidade grande. Eles residem em prédios diferentes, mas certo dia um descobre a janela do outro. A curiosidade fala mais alto e eles começam e se comunicar de maneira inusitada, por um fio de barbante. Quer saber se deu certo essa comunicação? Leia o livro!

Todos os livros que Marília Pirillo esco-lheu para representá-la neste Manual possuem um ponto em comum: a questão da dualidade. Bagunça e arrumação são opostas. Um fio de amizade apresenta o tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Bonifácio, o porquinho deveria viver na lama do chiqueiro, mas detesta se sujar.

Uma boa pedida é trabalhar com essa dualidade da vida, levantando, por exemplo, as dualidades exis-tentes dentro de cada um e dentro da sala de aula. Da comunicação ou não comunicação entre pessoas que estudam juntas. Quem é bagunceiro e quem é organizado e como fazer para que ambas as coisas convivam em harmonia? Quem não se lava depois de um recreio debaixo de um sol danado e retorna suado para a sala de aula sem se preocupar com o colega do lado?

Será que somos só uma coisa ou só outra? Quantos Lados Têm a Vida? pode ser um projeto que irá tentar desvendar essas múltiplas possibilidades existentes em cada um de nós. Para isso o professor poderá criar um fio de amizade na sala de aula, formando uma grande teia de histórias entre os alunos, aproximando-os ainda mais.

O professor pode começar formando duplas que irão se comunicar através de um fio. Depois as duplas podem se comunicar com outras duplas ou apenas formarem novas. Os fios podem ficar suspensos na sala de aula. Na hora da atividade, os fios baixam até a altura das crianças. Quando a atividade acabar, os fios poderão ficar suspensos no alto, de forma a não atrapalhar a visão das crianças durante as outras aulas. Essa é apenas uma possibilidade. A turma também pode fazer essa brincadeira entre duas janelas da escola, se for possível e seguro. Ou no pátio, entre dois extremos. Vale inventar a melhor maneira de brincar de fio da amizade a partir do espaço oferecido pela escola.

Mas pode ser que a leitura dos livros desperte outros sentimentos nas crianças e as turmas queiram inventar outra maneira de fazer um registro das dualidades existentes na vida. Quem sabe um painel dos opostos? Ou um mural intitulado “Toda história tem sempre pelo menos dois lados”. As crianças poderão desenhar seu lado bagunceiro e seu lado arru-mado. Tipo: onde sou bagunceiro e onde sou organizado? Use e abuse dos materiais de pintura e desenho, assim como Marília fez em seus livros, empregando em cada um uma técnica diferente para criar as ilustrações.

Enfim, o que não faltam são possi-bilidades para criar projetos a partir da leitura dos livros. E como toda história tem sempre dois lados, invente o seu e, quem sabe, descubra novas possibilidades de ser.

Page 12: Manual da Flipinha 2012

Tino Freitas

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Festival Quer Cantar e Contar Comigo?

Era uma vez um menino com um pai super-legal que deixou uma conta aberta na banca de revista. Era só escolher o gibi e levar para casa. Foi ali que ele aprendeu a ler a palavra “FIM” e outras tantas palavras em histórias da Turma da Mônica, Disney, Bolinha e Recruta Zero. Ele foi crescendo e descobrindo outras revistas: Heróis da TV, Homem Aranha, X-Man. Um dia, o menino encontrou na banca um livro que vinha com um disco. Era o primeiro de uma coleção chamada Taba. O livro era Marinho, o marinheiro, de Joel Rufino dos Santos e, no disco, a música Gaivota de Gilberto Gil. Leu e ouviu toda a coleção. Viajou nas histórias, aprendeu as canções. Literatura e música chegaram juntas para semear cultura na cabeça do menino. Apaixonou-se por livros e canções. Quando se viu homem, o menino já era jorna-lista (uma forma diferente de contar histórias) e músico. No final do século passado foi morar em Brasília, uma cidade-floresta cheia de cinzas para quem não sabe ver suas cores. É lá que, junto com outros amigos, tornou-se também mediador de leitura, levando a sua paixão pelos livros para outras crianças através do projeto Roedores de Livros. Inspirado na criança que foi e no seu filho sapeca, escreveu o primeiro livro Cadê o juízo do menino? (ilustrações de Mariana Massarani, Manati) e gostou de brincar de escritor. Hoje, sente-se como um jogador de futebol: trabalha no meio da brincadeira. Em vez de jogar bola, escreve histórias, faz música e shows para crianças de todas as idades. Se tivesse que indicar um único livro de todos os que já leu para um leitor-criança, escolheria Os bichos que tive, pois adora os livros de Sylvia Orthof, que escreveu sempre com muita graça e inteligência, duas qualidades que nem sempre andam juntas nos livros para a infância. Esse menino jornalista, músico, mediador de leitura e escritor, sou eu, Tino Freitas. Chego a esta publicação comemorando os dez anos da Flip ao mesmo tempo em que festejo meus quarenta de vida. Um presentão que espero dividir com vocês, leitores. Hatuna Matata!!!

Conheça mais sobre Tino nos blogs: http://literatino.blogspot.com ou http://roedoresdelivros.blogspot.com.

d’après Tino Freitas22

Tino Freitas é escritor e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Quem quer brincar comigo?, ilustrado por Ivan Zigg e publi-cado pela Abacate; Cadê o juízo do menino? e Controle remoto, ambos ilustrados por Mariana Massa-rani e publicados pela Manati.

Quem quer brincar comigo? começa nos convidando a fazer uma desco-berta: “A pequenina casa da menina toda tarde se agiganta e ninguém mais se espanta com tanta visita esquisita”. Quem serão essas visitas? Descubra virando as páginas desse livro que é pra lá de divertido e cresce a vida toda. As ilustrações, muito bem-humoradas e divertidas, são de Ivan Zigg, que também está neste Manual e na Flipinha 2012.

Cadê o juízo do menino? é o livro de estreia de Tino na literatura infantil. É uma história bem gostosa sobre um menino que vive perdendo o juízo. Mas onde será que está o juízo do menino? Procure pelas páginas do livro, escondido nas ilus-trações ou na sua imaginação!

Imagine se fosse possível os bebês nascerem com um controle remoto para que os pais pudessem entendê--los? Agora imagine se esse apare-lhinho ainda tivesse a tecla SAP: Serviço de Ajuda aos Pais? Pois é isso o que acontece em Controle remoto, uma história lúdica e diver-tida, excelente para ser lida por pais e filhos, pois vai provocar muita reflexão e bate-papo. Agora, imagine que o bebê cresceu e um dia a pilha do controle remoto acabou. Você pode imaginar o que aconteceu?

Pela biografia de Tino Freitas, desco-brimos que além da literatura ele também adora música. Partindo dessa descoberta, propomos o festival Quer Cantar e Contar Comigo?

Será um festival de música e contação de histórias que serão criadas a partir da leitura dos livros de Tino. A primeira etapa é a leitura das histó-rias. Pode ser uma leitura individual ou compartilhada. Aproveite esse momento para promover brincadeiras. Por exemplo: é possível provocar muito suspense com a leitura de Quem quer brincar comigo?, perguntando quem será o próximo personagem. Pode-se apostar pra ver quem acha mais parafusos nas ilustrações de Cadê o juízo do menino?, ou imaginar o que cada criança faria se seus pais viessem com Controle remoto. As conversas podem ser inúmeras a partir da leitura das histórias.

Depois, a diversão será a criação de músicas ou histórias para montar o festival Quer Cantar e Contar Comigo? As crianças (em grupo ou individualmente) irão criar músicas ou histórias inspiradas nos livros lidos.

Se na escola tiver um professor de música, peça que ele se engaje no projeto. Se não tiver, muitas crianças sabem tocar violão ou tem pai, mãe, tio, tia, irmão ou irmã que toque e pode ajudar com a composição das músicas. Envolver a escola e a família nesse projeto, de forma bem integrada, pode dar muito certo, e o resultado pode ser surpreendente.

Agende um horário bem bacana e promova o festival na escola. Decore o ambiente. Se a escola não tiver um auditório, improvise um palco no pátio, prepare o som e deixe que as crianças se apresentem cantando ou contando ao lado de suas famílias. Mas lembre-se: alguns alunos podem ser tímidos e não desejar subir no palco. Quem sabe esses não serão os criadores das letras ou das histó-rias ou ajudarão com som e luz?

A turma pode entrar no Youtube e escutar algumas músicas compostas por Tino. No link <http://www.youtube.com/watch?v=k34mWaGLBOc> é possível escutar a música Cadê o juízo do menino?.

Caso queiram conhecer mais livros do autor para incrementar o projeto, procurem conhecer Brasília de A a Z, ilustrado por Kleber Sales e editado pela Salesiana, e Os três porquinhos de porcelana, ilus-trado por Walther Moreira Santos e publicado pela Melhoramentos.

Então, vamos lá cantar e contar?

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Conhecendo as histórias Navegando pelas HistóriasProjeto Clássicos da Literatura

Nasci em uma pequena cidade da oitava região no Chile chamada Los Angeles. Lembro que passei o melhor período do colégio rabiscando cadernos e no quadro-negro fazendo carica-turas de colegas e professores, que nem sempre celebravam o resultado do debochado estilo.

Cheguei ao Brasil em 1976 para estudar Arquitetura e aqui decidi ficar.

Trabalhei em agências de publicidade e produ-toras de desenho animado, até que em 1986 comecei a publicar caricaturas no semanário Pasquim. Devo essa oportunidade ao grande cartunista Jaguar e ao mestre da caricatura Luís Trimano. Logo depois surgiu um convite para a exposição “Faces”, no Rio de Janeiro, com os maiores caricaturistas do Brasil, como Trimano, Loredano, Chico Caruso e Cárcamo.

Em 1989 a publicação do meu trabalho como caricaturista na revista Gráfica, dirigida por Oswaldo Miran, prestigia e propaga a minha obra. E não parei mais de publicar. Já fiz caricaturas e ilustrações para importantes jornais, revistas e livros no Brasil, na Espanha, no Chile e para Columbia University (EUA).

Conquistei alguns prêmios como caricatu-rista e ilustrador. Tenho verdadeira paixão por escrever, pintar aquarela e ilustrar livros para crianças. Sou autor de algumas histó-rias publicadas como: Modelo vivo, natureza morta, pela Paulus, Lorotas da cobra Gabi, A fantasia do urubu Beleza, pela Melhora-mentos, e Gelo nos trópicos, pela Companhia das Letrinhas. Recebi o prêmio de Melhor Ilustração de livro infantil pelo HQmix 2005, Thapa Kunturi, e o prêmio de Melhor Ilus-tração de Livro Infantil em 2008 pela FNLIJ.

Ilustrei e adaptei um conto de Oscar Wilde, O amigo fiel, pela Berlendis. Pela Companhia das Letrinhas adaptei e ilus-trei De quanta terra precisa o homem e ilustrei Fábulas, ambos de Liev Tolstói.

Além de ilustrar livros de obras de grandes autores, gosto de pintar ao ar livre e dar aulas de aquarela no meu atelier, situado no coração de Ilhabela, em São Paulo. Você também pode visitar meu site www.carcamo.com.br ou o blog www.gcarcamo.blogspot.com.br.

Gonzalo Cárcamo

d’après Gonzalo Cárcamo24

Gonzalo Cárcamo é ilustrador e escritor e escolheu para representá--lo neste Manual os livros: De quanta terra precisa o homem?, escrito por Liev Tolstói, com tradução, adap-tação e ilustração de Cárcamo; e Thapa Kunturi: ninho do condor, com texto e ilustrações de Cárcamo, ambos publicados pela Compa-nhia das Letrinhas; O amigo fiel, de Oscar Wilde, com adaptação e ilus-tração de Cárcamo, publicado pela Berlendis & Vertecchia Editores.

No livro De quanta terra precisa o homem?, o grande escritor russo Liev Tolstói recria a dramática história de uma pessoa obcecada pelo desejo de obter mais terras. Para isso, terá de enfrentar um desafio, que vai tentar vencer a todo custo e que o levará a transitar entre a razão e o delírio.

Thapa Kunturi é uma palavra da língua aimará: significa ninho do condor. Ambientado na época pré--colombiana, no coração da cordi-lheira dos Andes, esse livro narra a experiência extraordinária pela qual passam um menino e sua lhama de estimação. O conto está situado na época pré-hispânica, ou pré--colombiana, que quer dizer antes do chamado descobrimento da América por Cristóvão Colombo, em 1492.

Adaptação de The devoted friend, de Oscar Wilde, a belíssima fábula O amigo fiel põe em evidência o valor da lealdade e da amizade. Em um novo contexto, a história é narrada por personagens que são bichos da fauna brasileira. A ingênua capivara Valentim e a esperta queixada Xico-queixo têm condutas próprias dos seres humanos. Travam uma relação de amizade que expõe diferenças de princípios de ordem ética e moral. O texto provoca o leitor: o que é ser leal? Numa relação de amizade, quem de nós é leal? Ou somos todos sempre leais? Que valores norteiam a amizade?

Após a leitura da obra de Cárcamo, sugerimos o projeto Clássicos da Lite-ratura. A imaginação, como sempre, comanda a atividade. Os clássicos sobrevivem ao tempo, às mudanças de hábito e da vida cotidiana. Adaptar grandes autores é sempre um imenso desafio e uma grande responsabi-lidade. Podem ser clássicos da lite-ratura brasileira ou mundial. Quem sabe a escola não propõe o Mês dos Clássicos, onde cada turma faria uma apresentação com temas variados, que poderia ser uma peça teatral, quadri-nhos, desenhos ou narrativas diversas sobre a experiência de ler um clássico.

Sugerimos a leitura de outros clássicos, como os brasileiros Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, ou mundiais como Romeu e Julieta ou Hamlet, de Shakespeare, ou ainda Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Várias possibilidades de atividades surgem daí, como a adaptação desses clássicos para uma peça teatral produzida pelos jovens (incluindo roteiro, cenário e figurino) ou mesmo a produção de um curta onde os atores seriam os alunos e os temas seriam baseados nos clás-sicos apresentados neste Manual.

O primeiro passo é a escolha do título e a divisão da turma em grupos, pois a produção de uma peça ou de um curta envolve muitas etapas: direção, roteiro, figurino, cenário, produção, montagem etc. Cada aluno escolherá seu papel no circuito. Em seguida, todos leem a obra escolhida e se reúnem para discutir os aspectos centrais da trama. A partir daí, mãos à obra!

É importante criar um cronograma de produção de um relatório de atividades, para que nada fique de fora! E quem sabe criar um blog para discutir a produção dessa atividade.

Uma outra opção seria criar um folhetim (como fez Alexandre Dumas no século XIX, inserindo seus romances nos jornais da época), que pode ser impresso em papel A4 mesmo, ou ser feito em suporte digital, como um blog, contando em cada número aspectos relevantes dos clássicos aqui sugeridos, falando da obra do escritor, ressaltando trechos, enfim, algo que pudesse ser distribuído nas escolas e na biblioteca da Casa Azul. Como vocês podem ver, o trabalho é múltiplo e requer orga-nização. Então, vamos começar?

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Conhecendo as histórias Navegando nas históriasProjeto Minha História

Meu nome é Ozias Yaguarê Yamã, sou escritor, ilustrador e professor. Nasci no Amazonas, sou ativista indígena de origem Sateré-Mawé e Maraguá. Tenho quinze livros publicados, a maioria infantil e juvenil, alguns dos quais premiados. Formei-me em Geografia pela Unisa – Univer-sidade de Santo Amaro e morei por seis anos em São Paulo, dando palestras e lecionando no ensino público. Foi aí que iniciei minhas atividades como escritor na companhia dos amigos Daniel Munduruku e Renê Kinthaulu.

Em 2004, retornei ao Amazonas e orga-nizei o projeto De Volta às Origens, cujo objetivo é a conscientização, a revitalização cultural, a organização política e a luta pela demarcação das terras de meu povo, que ficam na região do rio Abacaxis.

Meu trabalho como ilustrador e artista plástico têm sido feito em meus livros e em exposições, como a participação da obra Etnias do sempre Brasil, da escultora Maria Bonomi, no Memorial da América Latina. Mas o meu estilo preferido é o grafismo indígena, especialidade com a qual uso meu tempo livre para pintar telas de motivo tradicional valorizando os símbolos--chaves da mitologia dos povos amazônicos. Atualmente, com 37 anos de idade e como todo indígena seminômade (risos), depois de passar por cidades e aldeias, estou morando em Parin-tins, à margem direita do rio Amazonas, onde continuo a lecionar Geografia na rede estadual de ensino e atuar como líder do povo Maraguá, mas sem tirar o pé dos eventos e atividades com meus livros no Sul e no Sudeste do país.

Meu e-mail de contato é [email protected] e meu blog é: blogdeyaguar.blogspot.com ou em parceria com minha esposa: yaguare-lia.blogspot.com.

Yaguarê Yamã

d’après Yaguarê Yamã26

Yaguarê Yamã é escritor e ilus-trador e escolheu para representá--lo neste Manual os livros: O totem do rio Kãwéra e outros contos fantásticos, publicado pela Impe-rial Novo Milênio; Sehaypóri – o livro sagrado do povo Saterê-Mawé, publicado pela Peirópolis; e Kurumĩ Guaré no coração da Amazônia, publicado pela FTD. Todos os livros têm texto e ilustrações do autor.

Nas três histórias de aventura que compõem o livro O totem do rio Kãwéra e outros contos fantásticos, os personagens vivenciam situações de risco que somente um grupo unido consegue vencer. O autor nos passa mais que a obstinação e o orgulho de seu povo: o respeito à natureza e a luta para manter vivas suas tradições. Além disso, as ilustrações fortes e bem coloridas refletem o espírito guerreiro, alegre e aventureiro do povo maraguá.

Sehaypóri – o livro sagrado do povo Saterê-Mawé é, como diz o autor, uma homenagem aos pajés de sua nação, que buscam no espírito natural a resposta para as dúvidas da alma. Como seus antepassados, Yaguarê narra as memórias de sua gente para preservar sua tradição de uma geração para outra. As lendas e fábulas de animais aqui reunidas ensinam a origem das coisas, apresentando ao leitor a cultura e o imaginário desse grupo.

Kurumĩ Guaré no coração da Amazônia é um livro que fala de lembranças. Na Amazônia, à beira do Paraná do Urariá, singrando lagos e igarapés sob as copas da mata alagada, escapando de bichos nos igapós, percebendo na floresta a presença do espírito das onças que o protege, ouvindo histórias de dar medo na hora de dormir e outras da tradição de seu povo, o pequeno Yaguarê Yamã realiza o aprendizado da sobrevi-vência em contato com a natureza exuberante, intocada, preservada. Cresce em tamanho e em sabedoria, com passeios e aventuras de gente grande, embora Kurumi, e enfrenta bravamente o ritual da tukãdera. Seu povo, seus pais, irmãos e amigos, sua pequena aldeia, a grande floresta vista do rio permaneceriam gravados na mente do menino gente grande.

Yaguarê Yamã propõe, por meio de sua obra, um novo olhar sobre o povo indígena e seus costumes e tradições. Na cultura indígena, de forma geral, muito se fala sobre conceitos tão importantes na formação de qual-quer sociedade: amor ao próximo e cuidado com a natureza; o diálogo entre os membros da família e o respeito aos mais velhos, e a união como eixo central da comunidade.

Propomos o projeto Minha História, no qual cada criança montará a árvore genealógica da sua família (se for possível, com fotos), mostrando onde nasceu e viveu cada membro (bisavós, avós, tios etc.) e os costumes e tradi-ções da família (religião, profissão e número de filhos, entre outras infor-mações). Isso ajudará a levantar ques-tões como o respeito à diferença e a compreensão e o orgulho da história de vida de suas famílias. Sabemos que as crianças têm estruturas fami-liares diferentes e nem sempre terão todas as informações para montar a árvore, mas esse exercício certa-mente ajudará a interpretar o seu papel na sociedade e a entender a formação de sua própria família.

Outra alternativa interessante para o projeto é montar o perfil dos moradores da própria cidade de Paraty. A ideia é traçar um para-lelo entre a comunidade ribeirinha, a rural e os moradores do centro da cidade, falando das caracterís-ticas mais relevantes que classificam cada grupo. Esse exercício ajudará a criança a compreender as dife-renças de hábitos e comportamentos dentro de uma mesma cidade em virtude da localização geográ-fica da residência onde mora.

Propomos também organizar a turma em grupos para pesquisar aspectos e características das comunidades indígenas, como alimentação, arte, música, dança, ritos de passagem e instrumentos musicais, entre outros, e em seguida montar uma peça de teatro na qual cada aluno apresenta um tema da pesquisa. Ao final da apresentação, as crianças podem criar um painel para a sala de aula com textos e fotos da pesquisa e criar um título bem criativo para esse trabalho.

Page 15: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas HistóriasProjeto Inventando e Rein-ventando Histórias

Nasci em São Paulo. Nessa cidade cresci, estudei, trabalhei, casei e tive quatro filhos, que já me deram vários netinhos.

Está pensando que comecei a escrever para crianças porque minha casa era cheia delas? Pois errou.

Tudo começou quando eu me formei professora e fui trabalhar com crianças com necessidades especiais.

Algum tempo depois, querendo entender melhor o universo dos meus alunos, ingressei na faculdade de Psicologia.

Juntando o curso de Psicologia, que me fazia entendê-los melhor, com a necessi-dade que meus alunos tinham de aprender de um jeito diferente, comecei a inventar histórias e peças de teatro, onde incluía as matérias que precisava ensinar.

Um dia, decidi enviar uma dessas histó-rias para uma editora. E aí o que até então tinha sido apenas meu jeito de ensinar, acabou se tornando minha verdadeira e única profissão: a contação de histó-rias. Nunca mais deixei de escrever.

De lá para cá, publiquei muitos livros, por várias editoras; depois parti para textos de teatro infantil e roteiros infantis para televisão. Durante dois anos, fui roteirista de O Agente G, programa infantil da Rede Record, e com ele ganhei o prêmio da Asso-ciação Paulista de Críticos de Arte – APCA.

Além desse, já ganhei outros prêmios, como o Altamente Recomendável, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), e da Secretaria de Cultura da cidade de Santos. Fui finalista do prêmio Jabuti (2008) e Barco a Vapor (2005). Tive livro incluído no Catá-logo de Bolonha (2006) e Acervo Básico da FNLIJ (2004). Também sou autora citada no Dicionário crítico de literatura infantil e juvenil brasileira da dra. Nelly Novaes Coelho, entre muitas outras coisas. Mas meu maior prêmio é, sempre que possível, bater papo com os leitores e responder e-mails e mensagens que recebo pela internet.

Aliás, se você também quiser fazer isso, visite o meu blog: www.eliana-martins.blogspot.com ou o meu site: www.segredo-daspedras.com e deixe sua mensagem. Vou adorar! Trabalhar é muito bom, mas traba-lhar no que a gente gosta é pra lá de bom!

Eliana Martins

d’après Eliana Martins28

Eliana Martins é escritora e escolheu para representá-la neste Manual os livros: Receitas nojentas, ideias bolorentas, com ilustrações de Fabiana Salomão, publicado pela Melhoramentos; Cara de bolacha, com ilustrações de Elisabeth Teixeira, publicado pela Scipione; e A chave do corsário, com ilustra-ções de Hector Gómez (Série Vaga--lume), publicado pela Ática.

Você acredita que a Cecília detestava comer verduras e legumes? Isso foi até ela conhecer a dra. Ema Luca, psicó-loga cheia de mistérios e muito amiga de uma bruxa... Brincando de cozinhar, a doutora contou a Cecília os segredos da bruxa: as receitas nojentas! E foi preparando rolinhos de tatu, musse de sangue, pudim de língua de anta e outros pratos que Cecília aprendeu a gostar de escarola, couve-flor, espinafre etc. Ah! E a dra. Ema Luca tinha também umas ideias bolorentas: fantasias tresloucadas, tinta invisível, alfabeto maluco e uma língua enro-lada para Cecília trocar segredos com as amigas. Você vai curtir esse livro cheio de novidades e muita diversão!

Cara de bolacha conta a história de Bruno, um menino que reinava sozinho em sua casa e tinha toda a atenção de seus pais e avós. Até que um dia recebeu a notícia de que ia ganhar um irmão ou uma irmã. Ele não gostou nada da novidade!

Em A chave do corsário, o que Joni e Lipão mais gostam de fazer é surfar nas praias de Niterói. E aquela manhã prometia: a paredão, a onda mais temida e irada de todas, estava batendo nas pedras de Itacoatiara. Parecia que o mar não estava para brincadeira... Como se tivesse sido chacoalhado pelo mar, Joni vai viver uma aventura envolvendo corsários franceses que invadiram o Rio de Janeiro no século XVIII e descobrir as obras de Oscar Niemeyer na sua cidade. De quebra, Joni conhece Angélica e se apaixona pela primeira vez, entendendo melhor a si mesmo e as pessoas que o cercam.

Sugerimos a criação do projeto Inven-tando e Reinventando Histórias, que pode ser feito de diferentes maneiras.

Faça uma leitura compartilhada dos livros da autora em sala de aula. Em seguida, sugira um bate-papo onde as crianças podem inventar um personagem contador de histórias que irá criar ou recontar contos já existentes. Os temas para as histó-rias são infinitos, podendo ir do resgate de histórias paratienses às histórias de família, de caiçaras ou até mesmo histórias da escola. Não há limites para a imaginação.

Outra possibilidade é seguir o exemplo do livro Receitas nojentas, ideias bolorentas e criar o livro secreto das fadas, das bruxas, dos príncipes, dos reis, das rainhas ou dos bobos da corte, para contar as histórias secretas desses personagens que nunca ninguém soube. A criação dos textos pode seguir uma linha mais diver-tida ou mais séria. Tudo vai depender do que cada grupo desejar fazer ou de como vai querer se expressar.

Agora imagine só, depois de passar um bom tempo lendo e discutindo as histórias dos livros, as crianças tendo autonomia para contar o que essas histórias provocaram em seus imaginários e escolhendo a melhor maneira de recontar, ou inventar, ou imaginar, ou recolher histórias que desejam compartilhar com a turma. Quem sabe desse projeto não nasce um grupo de contadores de histórias?

Mas não se esqueça que as diferenças existem e que em sua turma podem haver alunos tímidos, outros desini-bidos, uns falantes e outros pouco expressivos. O que importa é que o mediador de leitura tenha sensibili-dade para perceber que tarefa dentro do projeto cada um pode cumprir, de acordo com sua personalidade. Uns serão roteiristas, outros atores, outros produtores. A sensibilidade de cada professor nesses projetos com leitura faz toda a diferença na vida de um aluno. Nunca se esqueça disso!

Page 16: Manual da Flipinha 2012

Daniel Bueno

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Procure seu Traço

Sou ilustrador, artista gráfico e quadrinista, nascido em São Paulo, em 1974. Meu trabalho envolve contornos geométricos, texturas e ilusão gráfica. Gosto de desenhar e ler livros e gibis desde pequeno. Antes mesmo de aprender a ler, já fazia inúmeros livrinhos, com papel de fichário dobrado ao meio. Elaborava os desenhos e depois ditava o texto para meus pais escreverem.

Aos sete anos comecei a criar personagens e fazer revistinhas de quadrinhos e passatempos. Morei um tempo da infância em Ribeirão Preto e lá fiz amigos que também adoravam desenhar, como o Fernando Almeida e o Luciano Tasso, hoje ilustradores. O tempo passou, me interessei por geografia, história e acabei me formando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo em 2001. Lá aprendi a projetar coisas enormes, como edifícios, e pequenas, como livros. Apesar de gostar de edificações, tomei gosto pelo trabalho de ilustração no final do curso. Nessa época apareceram as primeiras oportunidades e encomendas, para a revista Caros Amigos e para a Folha de S.Paulo, além da publicação de quadrinhos Front. Desde então, já contribuí para mais de cinquenta revistas e diversas editoras de livros como Cosac Naify e Companhia das Letras.

Comecei a fazer trabalhos variados para outras áreas, como publicidade e animação, e criei com o amigo e animador Guilherme Marcondes o curta Aos pedaços, exibido nos festivais de Ottawa e Annency. Fui aos poucos levando alguns prêmios no Brasil e no exterior, como o Bronze no anuário da 3x3 (EUA), o Jabuti para o livro Um garoto chamado Rorbeto e quatro HQ Mix (Brasil). Recentemente, o livro A janela de esquina do meu primo, ilustrado por mim, recebeu Menção Honrosa na Feira do Livro Infantil de Bolonha (Itália, 2011).

Fui fundador e integro o coletivo Charivari, composto por diversos ilustradores interessados em experimentação, que lançou cinco edições. Também gosto de escrever artigos para revistas e ministrar oficinas de ilustração.

Em 2007 concluí minha dissertação de mestrado sobre Saul Steinberg, na Universidade de São Paulo, e em 2011 colaborei para o catálogo da exposição “Saul Steinberg: as aventuras da linha” (IMS). Moro e trabalho no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, na companhia da Carol e dos gatos Minduim e Pepe. Visite meu site: www.buenozine.com.br.

d’après Daniel Bueno30

Daniel Bueno é ilustrador e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Bili com limão verde na mão, escrito por Décio Pignatari e publicado Cosac Naify; O grande circo do mundo, escrito por Marta de Senna e publi-cado pela Companhia das Letrinhas, e Vale quanto pesa, escrito por Verônica Couto e publicado pela Peirópolis.

Bili com limão verde na mão conta a história de uma adolescente que sai de casa destilando bile e atirando um limão nos animais que encontra pelo caminho. Só que ela não contava que o limão e os animais voltariam, atingindo-a como um bumerangue. O projeto gráfico ousado de Luciana Facchini e as ilustrações de Daniel Bueno revisitam a estética do concre-tismo, movimento do qual Pignatari foi um dos principais artistas.

O grande circo do mundo foi inspi-rado na peça O grande teatro do mundo, escrita há mais de trezentos anos por Pedro Calderón de la Barca. O grande circo do mundo é uma peça de teatro escrita em versos e apre-senta falas do mestre de cerimônias intercaladas com falas dos artistas do circo, pessoas cheias de vida e senti-mentos. Ao final, o leitor encontrará algumas dicas sobre encenação.

Em Vale quanto pesa, Daniel Bueno criou imagens para os personagens Zé Terereca e João Pato, dois amigos do peito que formavam uma dupla inseparável. Mas até amigos do peito brigam feio. O livro conta a história dessa briga. Só que enquanto Zé Terereca quebrava a cabeça para encontrar um jeito de fazer as pazes com João Pato, ele conheceu a “balança de pesar palavras” de seu misterioso avô. Vale a pena desco-brir como funciona essa balança.

Em seu site, Daniel Bueno nos conta que seu trabalho envolve contornos geométricos, texturas, ambigui-dade gráfica e ilusão, a fantasia e o grotesco. “Tento escapar de solu-ções óbvias, e um dos modos de fazer isso é deformar uma figura inicialmente redundante. O uso de elementos gráficos como entidades que podem ter outros significados também toma parte nesse processo.”

Pensando nessas questões, suge-rimos que primeiro leiam e explorem ao máximo os livros indicados para entender como ele escapou de solu-ções óbvias na criação das imagens e construiu o seu processo criativo.

Após uma leitura atenta das imagens e sua relação com os textos, suge-rimos que o professor selecione textos bem diversos, tanto em gênero quanto em movimentos literários, como os que Daniel ilustrou. Leia os textos com a turma, deixe que cada um manuseie à vontade esse material. Uma boa pedida pode ser uma ida à biblioteca escolar ou municipal para procurar mais textos interessantes ou aprofundar alguma questão específica que venha a surgir no meio do processo. Permita que cada aluno se apaixone por algum. O impor-tante é que cada aluno (ou cada grupo, se preferir) selecione um texto espe-cífico ou uma coletânea de poesias ou contos, por exemplo, para ilustrar tentando encontrar a cor do seu traço.

Para isso é fundamental que se mostre aos alunos que cada um possui um traço diferente, uma maneira de se expressar artisticamente bem singular. Mostre diversos livros para a turma, ilustrados por diferentes artistas, para que entendam que cada um possui um traço e uma identidade única, e é isso que faz toda a diferença.

Incentive cada um a fugir do óbvio na hora de ilustrar o texto sele-cionado. Leve-os a pensar qual a relação do texto com o traço esco-lhido para criar as imagens. Dê um tempo adequado para que os alunos possam realizar esse projeto. Planeje tudo com antecedência e estru-ture as aulas de maneira a reservar sempre um tempo para discutirem sobre o projeto quando ele já estiver na fase de criação das imagens. Ao final, organize uma mostra com os trabalhos na biblioteca da escola!

Page 17: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas Histórias:Projeto Histórias de Nossa História

VIDA DE ESCRITOR: Sou, confesso, um escritor mochileiro, idealista, sonhador, daqueles que se aventuram mundaréu afora.

Também, pudera, cresci em uma casa rodeada de livros. Tesouros fabulosos que me trans-portavam, como se fossem tapetes voadores, para lugares distantes, misteriosos...

Quando menino, então, viajava através das páginas que lia com avidez. E, hoje, viajo, lite-ralmente, graças aos livros que publiquei.

Em busca de uma boa história me enfio em qualquer lugar, seja onde for, pesquisando, assuntando e entrevis-tando gente pequena, moça e idosa.

Costumo ser visto em saguões de aeroportos à espera de voos para todos os lugares possí-veis e inimagináveis. Podem me encontrar, também, zanzando por uma das ruas do bairro da Glória, caminhando na praia do Flamengo, torrando ao sol da praia de Ipanema, curtindo as sessões de cinema do estação Botafogo, garimpando raridades em sebos empoeirados no centro do Rio de Janeiro... E, em espe-cial, palestrando e ministrando oficinas para crianças, jovens e adultos em feiras de livros e escolas pelo Brasil e exterior. Ou então, enfurnado em minha toca supersecreta, bolando uma nova e mirabolante história.

Enfim, adoro ser escritor.

Rogério Andrade Barbosa

d’après Rogério Andrade Barbosa32

Rogério Andrade Barbosa é escritor e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Madiba – o menino africano, ilustrado por Alarcão e publi-cado pela Cortez; Ndule Ndule – assim brincam as crianças africanas, com ilustrações de Edu Engel e publicado pela Melhoramentos; e Em Angola tem? No Brasil também! , com ilustra-ções de Jô Oliveira, publicado pela FTD.

Com uma linguagem leve e envol-vente, Madiba conta a história de Nelson Madiba Mandela, desde seu nascimento até os dias atuais. Nessa obra, todos poderão conhecer mais um pouco sobre esse carismático líder sul-africano que se destacou pela luta contra o apartheid (regime de segregação racial implantado na África do Sul entre 1948 e 1994).

Criança é criança em qualquer lugar. Todas gostam de correr, pular, jogar, inventar, cantar e divertir... E essa é a história de Ndule Ndule – assim brincam as crianças africanas. Os irmãos Korir e Chentai pesquisam com os amigos de toda África as brinca-deiras de que mais gostam. Os meninos e meninas espalhados pelo continente africano adoram brincar. Que tal aprender algumas dessas brincadeiras?

Em Angola tem? No Brasil também! , dois garotos, um de Salvador e outro de Luanda, por meio de uma simples troca de cartas, vão desco-brindo, aos poucos, como as duas cidades-irmãs têm tudo a ver uma com a outra, como ambas vibram e gingam ao som de tambores ances-trais. E o porquê de suas culturas, modos de vida e religiosidade possu-írem tanta coisa em comum.

Nosso país é recheado de histórias boas de ouvir e de contar. Além disso, temos também em nosso patrimônio cultural algumas histó-rias que arrepiam, que emocionam e que falam de outras épocas, da nossa herança cultural.

Criamos então o projeto Histó-rias de Nossa História. As turmas podem ser divididas em grupos, e cada grupo escolhe um momento representativo da história do nosso país, como o Descobrimento do Brasil, a Proclamação da República e o dia da Abolição da escravatura, por exemplo, entre tantos outros. Dentro da realidade de cada turma e da maturidade de leitura das crianças, podemos criar pequenas representa-ções teatrais desses fatos históricos.

As histórias podem e devem ser sugeridas pelos alunos, dando margem a descobertas interessantes no momento das escolhas dos fatos que serão narrados. Os diálogos, o figurino, o cenário, tudo deve ser pensado em conjunto com os alunos e quem sabe confeccionados por eles. O mais importante nessa ativi-dade é a pesquisa e a forma como as histórias serão recontadas.

Uma pesquisa paralela pode ser feita pensando na história e na herança cultural de países africanos. Será que temos algo em comum? Será interessante discutir com a turma as diferentes maneiras de se contar uma história, podendo ser por meio da leitura, da escrita, da representação artística ou visual.

Outro caminho para o projeto seria pesquisar manifestações culturais no Brasil e na África, como dança, música, língua, e criar um dicionário ilustrado.

Que tal propor aos alunos uma viagem pela imaginação, pesquisando o nosso folclore e traçando um paralelo entre as histórias do folclore brasileiro e as do folclore angolano? Para começar, o professor pode fazer leituras compar-tilhadas de parlendas e pesquisar com a turma a origem de cada uma. A partir daí, outras histórias de culturas orais poderiam ser compartilhadas.

Para enriquecer a atividade, uma dica é usar uma música brasileira que fale da origem cultural do nosso povo, como Aquarela do Brasil, de João Gilberto.

Page 18: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas HistóriasProjeto Pequenas Confissões

Meu nome é Georgina da Costa Martins, mas como acho um pouco grande para constar nas capas dos livros, preferi que ficasse só Georgina Martins. Nasci na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no ano de 1959, sob o signo de Gêmeos, o que faz com que, segundo os entendidos em astrologia, eu seja uma pessoa muito curiosa e fala-deira. Por isso gosto tanto de saber de tudo que está acontecendo por aí para depois contar para todo mundo, até para aqueles que não conheço; por isso escrevo livros.

Moro no Rio de Janeiro com meus três filhos – João, Camilo e Ângelo – e duas gatas: a Nina e a Paçoca. Gosto muito de ler e de escrever, e também de cozinhar e de dançar. Gosto de cinema, de teatro, de praia, de conversar com meus amigos e de comer doces. Tenho medo da morte, de elevador, de dentista, às vezes, de escuro e do fim do mundo.

Além de escrever livros, sou professora e trabalho na Faculdade de Letras da UFRJ com projetos de literatura infantil e juvenil. Até agora tenho uns quinze livros publi-cados e pretendo continuar publicando.

Não tenho nenhuma religião, mas penso que a solidariedade é o sentimento mais importante que existe é ele que confirma a nossa humanidade. Penso também que devemos lutar sempre, incansavelmente, para acabar com a desigualdade social, com a injustiça e com os preconceitos, e que não devemos nunca fazer com o outro aquilo que não queremos que façam com a gente.

Conheça meu site: http://www.georginamartins.com.

Georgina Martins

d’après Georgina Martins34

Georgina Martins é escritora e esco-lheu para representá-la neste Manual os livros: Pequenas confissões, com ilustrações Salmo Dansa, publicado pela Positivo; Tal pai, tal filho?, com ilustrações de Sergio Serrano, publicado pela Scipione; e Ave do paraíso, com ilustrações de Ricardo A., publicado pela Larousse Jovem.

Em Pequenas confissões, Liliana mora com os pais em uma pequena casa, cheia de goteiras, nos fundos da casa dos primos, Cecília e Eduardo. Como a moradia fica próxima ao morro Boogie Woogie, todos vivem com medo de desabamento e ficam bastante assustados em dia de temporal. Liliana gosta muito de brincar com sua boneca Delinha e com um pé de jasmim. Usando a imagi-nação, ela consegue amenizar a dura realidade do mundo a sua volta.

Tal pai, tal filho? conta a história de um menino que tinha o sonho de se tornar bailarino. Mas o pai, valentão e turrão como ele só, não podia nem conceber tal ideia. Para ele, dançar não era “coisa de homem”. Porém a deter-minação do menino era tanta que nem a reprovação do pai o fez abandonar seu desejo. Num estilo que se asse-melha ao cordel, esse livro aborda o tema do preconceito e da intolerância de maneira delicada e muito sensível.

Experiências vividas no período da Segunda Guerra Mundial são relatadas em Ave do paraíso com uma contun-dente narrativa, alternando senti-mentos como tristeza e alegria com desejos inocentes de uma garota que sonha e, ao mesmo tempo, enfrenta a dura vida no interior. O seu maior desejo era conhecer o paraíso sonhado pelos pais, um lugar sem conflitos nem diferenças sociais tão profundas.

Sugerimos o projeto Pequenas Confissões, que certamente vai mexer com a emoção do leitor. Nesse projeto podemos tratar das ques-tões do cotidiano da criança, como as descobertas do mundo interior, a busca da identidade, a interação com o outro, os limites entre a vida pessoal e o convívio social.

Será que existe alguma diferença entre meninos e meninas em relação a temas como família, amor, amizade, medos, inseguranças? O que será que pode ser assustador ou apaixonante para um menino ou para uma menina? Será que os sentimentos são parecidos?

O mais interessante será explorar a diversidade, o cuidado e o respeito que devemos ter com o que é diferente de nós. Você poderá acabar descobrindo que existem famílias bem diferentes. Que tal embarcar nesse projeto e criar livros com dois lados e dois olhares diferenciados sobre o mesmo tema. Divida a turma em grupos e cada grupo fará um livro diferente.

Sugerimos que antes de propor a criação dos textos ou mesmo da feitura dos livros, que devem ter ilustrações das próprias crianças, os professores mediadores de leitura proponham diversos bate-papos sobre os temas abordados nos livros. O que pode ser assustador em uma família pode não ser na outra, por exemplo.

E será que criança se apaixona? E gente grande? E como se forma uma família? O que é mais importante de existir na base de uma família? Veja que estas perguntas podem ajudar a desencadear debates bem interes-santes com as turmas. Mas o mais importante será o professor estar bem aberto para respeitar as diferenças que podem surgir, para conduzir o debate de maneira que todos se sintam acolhidos e respeitados, uma vez que estarão expondo seus sentimentos.

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Janaína Tokitaka

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Monstruosas Leituras

Nasci em São Paulo, cidade onde moro. Estudei Artes Plásticas na Universidade de São Paulo, onde desenvolvi minha afini-dade com a imagem. Hoje uso-a como ferramenta importante para contar uma história, por meio de técnicas como aqua-rela, guache, nanquim e colagem.

Desde muito pequena, acho o livro o objeto mais maravilhoso que existe. Lembro de passar horas entretida com a biblioteca do meu avô, lendo Júlio Verne, Alexandre Dumas e Monteiro Lobato. Sentada no chão de ladrilhos do quintal, bebericando guaraná e comendo pão doce, decifrava mistérios com Sherlock Holmes e visitava as maravilhosas paisagens de Nárnia completamente embe-vecida na leitura, alheia ao que acontecia ao meu redor. Decidi, então, começar a escrever e ilustrar para crianças, pois acho que elas são leitores especiais: atentas, abertas a novidades e sempre curiosas. Acho que só na infância somos capazes de um contato tão intenso com a leitura – nunca mais fui capaz de sofrer ou vibrar tanto com o destino de um personagem. Acredito que nossos livros preferidos nessa fase da vida nos acompanham para sempre.

Em meus livros, gosto de falar sobre monstros e outras criaturas fantásticas e aventuras em lugares desconhecidos. Monstros são criaturas fascinantes: podem ser assustadoras sim, mas também engraçadas ou encantadoras. Também gosto de contar histórias do país em que meu avô a meus bisavós nasceram, o Japão. A cultura desse país, tão rica e profunda, é fonte inesgotável de histórias e imagens.

Gosto ainda de estudar história da ilustração, compartilhando o que aprendi em cursos que ministro em diversas instituições. Acredito que dividir conhecimento é sempre prazeroso, seja em sala de aula, seja na forma de livro.

Sou ilustradora associada da SIB. Para conhecer um pouco mais o meu trabalho, visite meu site www.janainatokitaka.carbonmade.com.

d’après Janaína Tokitaka36

Janaina Tokitaka é ilustradora e escritora e escolheu para representá--la neste Manual os livros: Mons-trotaro, publicado pela Projeto, Escola de Monstros Madame Mo, publicado pela Brinque-Book, e Tem um monstro no meu jardim, publicado pela Escrita Fina, todos escritos e ilustrados pela autora.

Tem um monstro no meu jardim conta as peripécias de um menino que decide acabar com o bicho grande, peludo e marrom que mora no jardim de sua casa. Munido de espada, escudo e canhão de pirata, o jovem herói alerta: o vilão tem chifres e garras, cara de mau e jeito de briga. O texto é em caixa alta: excelente para crianças em fase de alfabetização. Acompanha o livro uma máscara de monstro.

Escola de Monstros Madame Mo é uma escola diferente, onde a diversão e a imaginação são garantidas! Monstros pintam o sete, jogam bola, nadam, contam histórias! O texto é em caixa alta, bem-humorado e rimado. Ideal tanto para leitura comparti-lhada quanto para leitura indepen-dente dos leitores já alfabetizados.

Monstrotaro é uma história contada em versos, repleta de humor, e foi criada a partir de uma lenda japonesa chamada Momotaro. O livro traz a história de um casal de velhinhos que não tinha filhos. A narrativa também é contada por meio das ilustrações com cores vibrantes. É diversão garantida!

A partir da leitura dos livros de Janaina Tokitaka é possível criar o projeto Monstruosas Leituras, em que monstros e crianças vão conviver lado a lado numa deliciosa brincadeira.

Imagine uma escola onde só estudam monstros? Cada criança pode escolher que monstro quer ser e como será esse monstro. A primeira etapa será fazer a descrição de cada monstro--criança: o que gosta de fazer, de comer, onde mora, como são seus pais, seus brinquedos preferidos ou o que mais a sua imaginação puder inventar para essa etapa. É claro que o professor não poderá ficar de fora e também precisará se caracterizar.

Depois é hora de brincar com esses monstros por vários dias e ler muitas histórias de monstros ou seres fantásticos aproveitando que todos são monstros e poderão perder os medos dos monstros de outras histórias. Afinal, brincadeira é coisa séria e ajuda as crianças a reela-borarem o real. Mas que tal, antes de começar essa etapa, fazer uma enquete com a turma perguntando de quais os monstros ou seres assus-tadores de outras histórias eles têm medo. Assim será mais fácil fazer uma seleção de livros para leitura. É importante respeitar os medos de cada um, mesmo que seja de algo não muito convencional, como, por exemplo, ter medo de água ou bola. Aproveite esse projeto para colocar os monstros e os medos para fora!

Agora imagine só se nessa escola chegar o Monstrotaro? O que os monstrinhos irão fazer? Como irão recebê-lo? Será que essa não será a escola ideal para ajudar Monstrotaro? Será que os pais de Monstrotaro irão até a escola matricular o filho? Ou ele chegará sem pedir licença, como fez na casa do casal da história do livro que leva seu nome? Mas cabe inventar que nessa escola de monstros mora um monstro muito mais esquisito ainda no jardim. Que monstro será esse?

Aproveitando esse gancho, o professor pode estimular uma conversa para saber do que os monstros têm medo? Se o menino do livro Tem um monstro no meu jardim tinha medo de monstro, do que será que os monstros-crianças têm medo? Explore esse universo e veja o que poderá acontecer. Muitas surpresas podem surgir nessa hora. Aproveite o que as crianças irão falar e mergulhe fundo nesse universo de brincadeiras e possibilidades.

Ao final, os alunos poderão criar um livro com um inventário dos mons-tros da turma aproveitando tudo que já criaram no início do projeto. Cada criança poderá fazer o desenho do seu monstro e colocar ao lado das descrições de cada um. Aproveitem para usar a abusar dos materiais de arte nessa hora. Que tal misturar nanquim, tinta acrílica, giz de cera, lápis de cor, colagem e o que mais a criatividade puder imaginar?

Se a turma preferir, pode criar um painel Monstruoso, com todos os monstros juntos, como numa foto de turma da escola. Ou quem sabe podem fazer ambas as coisas, o livro e o painel? Tente, invente e crie a partir dessas sugestões.

Page 20: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Pintando Segredos

Imagine um cara magro e alto, de chapéu, terno xadrez e carregando uma misteriosa maleta. Agora imagine que dessa maleta vão saindo lápis, tintas, papel, um pandeiro, um violão...

Agora imagine que ali mesmo o sujeito começa a contar, cantar e pintar histórias.

Imaginou?

Pronto. Pois esse sou eu: Ivan Zigg!

Sou ilustrador de mais de cem livros e recebi o prêmio Jabuti de Melhor Ilus-tração para Livro Infantil em 2004.

Comecei minha carreira aos três anos, com uma pintura sensacional na parede da sala da minha mãe, que, ao chegar do trabalho e dar de cara com a obra, caiu dura pra trás de pura emoção.

Essa e outras histórias estão na minha apre-sentação “Zigg conta, canta e pinta”. Tem o caso da mulher gorda que entalou Na porta da padaria, a “assustadora” Eu heim!, onde um esqueleto vestindo sunga, batuca na cata-cumba, e o cachorro que enxergava em preto e branco e por isso tinha que adivinhar as cores.

Talvez você já tenha lido algum livro meu. Tem o Segredo, Só um minutinho, O elefante caiu, a Coleção O Saco...

Para mim, se uma história é boa pra ler também deve ser boa pra contar, cantar e pintar! E, afinal, todo mundo tem uma história pra contar, não é?

Se você quiser saber mais sobre meus dese-nhos, minhas histórias e apresentações é só acessar www.ivanzigg.com.br. Te espero por lá!

Ivan Zigg

d’après Ivan Zigg38

Ivan Zigg é ilustrador e escritor e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Só um minu-tinho e O elefante caiu, ambos publicados pela Nova Fronteira, e Segredo, publicado pela Rocco.

Só um minutinho é uma narra-tiva para os pequenos leitores que estão descobrindo o tempo. Diver-tida e engraçada, é a história de um porquinho que sempre está adiando o que precisa fazer: só um minu-tinho! As respostas para tanta espera são sempre lúdicas, e os leitores irão se identificar muito com o texto.

Segredo, como o próprio título já diz, conta um segredo com imagens e palavras, um segredo que está guar-dado a sete chaves, “dentro de um baú, dentro de um navio pirata, que está dentro de uma baleia deitada na areia do fundo do mar...”. Para saber que segredo é esse, só mesmo lendo o livro.

O elefante caiu é uma divertida história sobre um elefante que caiu e não consegue se levantar. Como os amigos elefantes irão ajudá-lo? Ninguém sabe por onde começar, mas empurra daqui, empurra dali e nada. Até que... bem... Ah! não vale contar, senão acaba a graça do livro. Para descobrir o que acon-teceu será preciso abrir o livro e se encantar com a surpresa final.

O humor está muito presente nos livros do autor, um elemento impor-tante, que deve ser ressaltado e deba-tido com as crianças após a leitura dos livros. Mas não deixem de “ler as ilus-trações” com bastante atenção. Elas trazem muitas histórias escondidas...

Uma grande pedida para fazer depois da leitura dos livros será criar o projeto Pintando Segredos. Para a reali-zação desse projeto, cada criança vai escolher um segredo ou uma história divertida para pintar. Um segredo contando o que cada um mais fala em casa quando o assunto é “só um minutinho...” ou uma divertida história com um amigo ou com a família, tal como a história de O elefante caiu.

Histórias ou segredos definidos, agora é hora de pintar, ou seja, é hora de “pintar o sete”. Em vez de as crianças escreverem as histórias, elas vão pintar quadros contando as histórias ou os segredos. Pode ser em uma tela, mas se não for possível arrumar uma tela para cada criança, pode ser em papel mesmo, um papel grande, ou quem sabe em tecido? Talvez panos brancos que possam ser cortados em um tamanho bacana para cada criança. O importante é que todas as crianças pintem seus quadros contando seus segredos.

Com os quadros prontos, sugerimos que se faça um jogo de adivinhas, para que as crianças descubram os segredos ou as histórias divertidas pintadas. Isso pode ser feito em uma grande roda, onde cada criança vai adivi-nhar o segredo que o amigo pintou. A criança adivinha o segredo pintado do amigo sentado à sua esquerda, por exemplo, e assim sucessivamente. Caso não consiga adivinhar, ela pode pedir ajudar a outro amigo da turma. Mas se preferirem fazer as adivinhações de outra maneira é só pensar e colocar em ação. E que tal os quadros inaugu-rarem uma galeria de artes na escola?

Caso queira incrementar o projeto, leia outros livros de Ivan Zigg que também podem deixar a brincadeira mais gostosa. Procure aqueles que

ele escreveu e ilustrou em parceria com Marcello Araujo. São todos muito alegres e divertidos. Você pode começar lendo o primeiro que eles criaram chamado O saco, que depois acabou virando uma coleção chamada O Saco, que reúne mais dois títulos: O circo e O ovo. São textos curtos que possuem uma grande interação entre texto e imagem. Ivan ilustrou ainda o livro Quem quer brincar comigo?, de Tino Freitas, que também estará presente na Flipinha 2012.

Vale muito a pena colocar esse livro no Projeto Pintando Segredos, porque o que mais tem em Quem quer brincar comigo? são segredos. Você vai desco-brindo um a um ao virar as páginas que vão se desdobrando até o livro ficar todo aberto e enorme... Quem sabe esse livrão aberto não inspira novas possibilidades e projetos de leitura misturando texto e imagem?

Page 21: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Entre Sonhos, Fanta-sias e Autorretratos

Eu era uma menina bem tímida, que adorava escrever e desenhar.

Desde os nove anos fazia poemas e inven-tava histórias e personagens, que registrava em cadernos ilustrados originais. Pena que eu não tenha guardado nenhum... Também pudera: vivi bastante tempo fora do Brasil e, em cada viagem, em cada país, ia deixando um pouquinho de mim. Felizmente, carre-guei muitas coisas novas comigo também, o que fez compensar a equação, trans-formando-a numa troca muito bacana.

Voltando à infância, eu morava em um edifício no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, onde também vivia minha tia-avó Cecília. Ela foi uma influência muito importante na minha vida. Todas as tardes em que podia, lá ia eu tocar a campainha no apartamento dela, pedindo histórias! Isso mesmo. A tia Cecília sabia contar histórias como ninguém, sobre-tudo as minhas prediletas: os contos de fadas!

Quando cresci, estudei Arquitetura e Jorna-lismo. Vivi um pouco em Paris e oito anos em Nova York, onde escrevi artigos e fiz entrevistas com pessoas interessantes que enviei para revistas e jornais no Brasil, Portugal, França e Estados Unidos. Também fiz mestrado e douto-rado em Artes, na Universidade de Nova York.

Imagine: na hora de escolher o tema de minha tese, não hesitei. Escolhi os contos de fadas!

Acabei publicando meu primeiro livro lá em Nova York, pela Peter Lang Publishers, Os contos de fadas e a arte (literatura, balé, poesia, arte) e, quando voltei ao Brasil, nos anos 1990, nunca mais parei de fazer livros. Já escrevi mais de quarenta, todos ilustrados. Ganhei vários prêmios, nos Estados Unidos e no Brasil (entre eles, três vezes o prêmio Jabuti, pela CBL, e duas vezes o prêmio Malba Tahan, outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).

Também sou professora da USP e curadora do Museu de Arte Contemporânea. As disci-plinas que eu ensino? Arte e Literatura, é claro! Ah, e tenho uma coluna divertida no Estadinho, do jornal O Estado de S. Paulo, chamada “Fabriqueta de ideias”. Eu me divirto muito criando projetos para o jornal. Conheça meus livros, exposições e projetos de arte no site: www.katiacanton.com.br.

Kátia Canton

d’après Kátia Canton40

Katia Canton é escritora e esco-lheu para representá-la neste Manual os livros: Espelho de artista [autorretrato], com ilustrações de diversos artistas e publicado pela Cosac Naify; O sonho da prin-cesa, ilustrado por Renata Pedrosa e publicado pela DCL, e Fantasias, ilustrado por Flávio de Carvalho e publicado pela Martins Fontes.

Espelho de artista [autorretrato] é o primeiro volume da Coleção Mundo de Artista e apresenta de forma lúdica as diferentes construções de um autor-retrato a partir das obras de grandes artistas. Quadros de Rembrandt, Modigliani, Marc Chagal e Tarsila do Amaral, entre outros, são analisados de forma a apresentar uma aula de história da arte para jovens leitores.

O sonho da princesa é um dos quatro títulos da Coleção Princesa de Chinelos, que apresenta contos de princesas baseados em típicos contos de fada, mas acrescidos de tons e detalhes bem brasileiros. Esse conto fala sobre uma prin-cesa injustiçada pelo pai que sai de casa e, sem saber, acaba indo ao encontro de seu verdadeiro destino.

Fantasias é um livro cheio de encantos. A partir dos desenhos feitos por Flávio de Carvalho para o balé A cangaceira, de 1953, Katia Canton criou diversos poemas que, como ela mesma conta, “buscam refletir a expressividade e a magia de cada personagem” criado pelo artista. Texto e imagem se mesclam de forma a integrar o diálogo proposto a partir do encontro das duas artes.

A partir da leitura e debate dos livros sugeridos por Katia Canton, propomos a criação do projeto Entre Sonhos, Fantasias e Autor-retratos, que poderá ser desen-volvido tanto por crianças quanto por jovens. Tudo depende da abor-dagem do professor e de como ele irá apresentar os livros à turma.

A ideia é a seguinte: o primeiro livro a ser lido deve ser o Autorretrato, para que se entenda o que é um autorretrato e qual seu significado e importância. As leituras seguintes não precisam ter uma ordem. O importante sempre é o livro abrir caminhos para um bom bate-papo sobre o tema.

Sugerimos então que a partir das leituras e dos bate-papos cada aluno crie um diário onde irá registrar (livre de correções ou notas) coisas como: quais são os meus sonhos? Quais as minhas fantasias? Como eu me vejo e como acho que o meu amigo me vê? Se eu pudesse ser uma personagem, qual seria? E um livro? E um filme? E uma música?

Aqui cabe um parêntese: em relação às fantasias, a turma pode traba-lhar com dois níveis. Podemos falar sobre as fantasias que gostaria de usar num baile, por exemplo, ou podemos falar sobre as fantasias que cada um tem em sua vida.

O importante é aproveitar o gancho dos livros para um mergulho dentro de cada um, para que cada um possa expressar seus sonhos mais profundos, suas fantasias, suas autoimagens, mas nada disso deve ser avaliado ou medido, pois como avaliar os sonhos de alguém? Ou como avaliar qual o melhor autor-retrato feito por um aluno?

Uma sugestão é que os autorretratos possam ser feitos ou ampliados (caso já tenham sido feitos nos diários) em papéis bem grandes para que se possa montar uma exposição na escola.

Os diários podem ganhar um título, uma capa bem diferente e transada, com colagens, desenhos, recortes de jornal, revistas, fotos. A ideia é fazer mesmo um mergulho dentro de cada um, para que cada um possa se autoconhecer. E quem sabe se nessa jornada não se descobre um talento escondido? Um artista plás-tico, um escritor, um figurinista? Quem sabe esse “figurinista” cria as fantasias que cada um gostaria de usar num baile de fim de projeto?

O professor também poderá elaborar o seu próprio diário, dividindo com a turma as suas próprias histórias. Pode ser bem legal essa experiência!

Page 22: Manual da Flipinha 2012

Luciano Pontes

Conhecendo as histórias Navegando pelas históriasProjeto Redescobrindo e Reinventando Histórias

Escrever é uma das tantas coisas que gosto de fazer na vida. E isso foi quase um problema pra mim, porque tinha vontade de fazer tudo ao mesmo tempo, como se tivesse uma fome maior do mundo. Aos poucos, com o tempo, fui devorando as coisas que mais gostava.

Meu nome é Luciano, mas a minha família só me chama de Lúcio. Fui o único filho que meu pai queria batizar, dar o nome de Danilo ou Renato, mas não deixaram. Minha mãe colocou em mim o mesmo nome do perso-nagem que o ator Tony Ramos fazia em uma novela chamada Ídolo de Pano, em 1974, ano em que nasci. E descobri que assim, de alguma forma, ela predestinava meu gosto por atuar. Descobri que Luciano vem de Lúcio, que significa “aquele que tem a luz”. Então passei a gostar mais do meu nome.

Além de escritor, sou ator e fiz vários espetáculos de teatro, na sua maioria para crianças. Na verdade, gosto mesmo é de brincar, e descobri que posso viver brin-cando e fazer disso uma profissão séria, quer seja na literatura ou no teatro.

Nasci numa cidadezinha chamada Orobó, lá no agreste de Pernambuco. Mas vivi parte da minha vida em Olinda, onde trabalhei numa companhia de teatro de bonecos, o Mamu-lengo Só-Riso. E hoje moro em Recife, numa rua chamada Amizade. Como diria o poeta Manuel Bandeira, “como eram lindos os nomes da minha rua...”. Sou também palhaço. Na verdade, me descobri palhaço, e isso é uma das melhores coisas da minha vida, porque como palhaço eu posso errar. E sempre errei muito, mas fazia questão de esconder, porque queria ser bom em tudo, e isso é uma grande bobagem! Atuo no programa Doutores da Alegria, no qual realizo visitas continuadas a crianças hospitalizadas como Dr. Lui, e minha especialidade é ser besteirologista (médico especializado em besteiras). Acho que tudo isso que vivi e fiz e faço me ajuda a escrever e a dizer pro mundo as coisas que penso. Conto histórias e adoro conversar sobre livros e boba-gens. Adoro “me trocar com criança”, implicar com elas pra ver o que me dizem. Gosto de ler, comer doces, ficar sossegado, ouvir o silêncio e ver coisas que as pessoas às vezes não veem ou saber de coisas desnecessárias pra vida da gente. Viajo bastante por várias cidades parti-lhando as coisas que vivo descobrindo para professores e outras tantas pessoas. Mas o bom mesmo de ser escritor é saber que os livros são pedaços da gente que ficarão, por muito e muito tempo, em algum lugar neste planeta.

Visite meu blog: www.papel--pautado.blogspot.com.

d’après Luciano Pontes42

Luciano Pontes é escritor e escolheu para representá-lo neste Manual os livros Ouvindo as conchas do mar, com ilustrações de André Neves, e Disse me disse, com projeto gráfico de André Neves e ilustrações de Elma, ambos publicados pela Paulinas; e Em briga de irmãos, quem dá opinião?, com ilustrações de Roberto Weigand, publicado pela FTD.

O menino estava ilhado onde tudo é imenso azul furtado. Parou e ouviu essa história, que uma concha do mar lhe soprou. Nunca foi de dar tempo para essas coisas. Logo ele, um pirata, tão preocupado com a orientação da bússola atravessando o oceano em busca de tesouros enterrados em lugares secretos, sem mapa, sem pistas, sem volta, foi dar ouvido a essa invenção da natureza. Mas cumpre o destino. Lança ao mar essa história, Ouvindo as conchas do mar, para que quem a encontrar possa ler, se aventurar ou contar para alguém.

Disse me disse reúne poemas diver-tidos e engraçados, que exploram os recursos linguísticos em um jogo de enrolar a língua: “Disse me disse/ que o doce mais doce não é o doce de batata-doce,/ porque ele perguntou pro doce/ e o doce fez doce e se calou”. Provocantes, os poemas desse livro brincam com as palavras e os sentidos. No entanto, o mesmo verso provocador de riso vem com uma crítica social e bate com acidez no peito do leitor atento.

Em briga de irmãos, quem dá opinião?, Cosme e Damião, dois irmãos, um dia ganham um presente do coronel Rubião. Ou melhor, cada um ganha um presente: um pacote do doce mais doce que o doce de batata-doce. Damião come devagarinho. Cosme, ao contrário, come rápido feito um bode e ainda por cima pega o doce do irmão. Parece que as coisas vão azedar. Mas afinal, nessa briga, quem dá opinião?

Partindo das experiências do escritor Luciano Pontes com livros, teatro e histórias, convidamos o professor a juntar essas atividades e criar o projeto Redescobrindo e Reinven-tando Histórias. Sugerimos uma leitura compartilhada de alguns textos de escritores famosos, com diferentes tipos de narrativas. Por exemplo, um poema de Carlos Drum-mond de Andrade, como “Família” (in Alguma poesia), uma peça de William Shakespeare, como Rei Lear, por exemplo, e uma música como Canção da América, de Milton Nasci-mento. Essas três leituras falam sobre a questão da família e da amizade e das relações humanas em geral.

Após a leitura e desenvolvimentos de alguns conceitos, o professor pode dividir a turma em grupos e sugerir algumas atividades, como a criação de um álbum de família, com fotos, escritos, colagens, desenhos, a exemplo do scrapbook, técnica que tem feito sucesso quando o assunto é montar álbuns de recordações.

Outra atividade interessante seria montar uma peça de teatro, com textos já conhecidos ou com algo criado pela própria turma. Podem ser histórias de família, clássicos da lite-ratura brasileira, ou ainda adaptação de um poema ou letra da música. Quem sabe a apresentação teatral não atravessa os muros da escola e busca outros espaços de apresen-tação? O escritor Luciano Pontes, por exemplo, visita hospitais para contar histórias para as crianças com diversos tipos de enfermidades. Uma boa pedida seria criar grupo de contadores de histórias da turma para se apresentar em diversos locais da cidade ou até mesmo em escolas.

Podemos também recuperar a ideia dos jograis, que tem origem na Idade Média, e fazer uma espécie de gincana de dar novos significados às palavras ou criar palavras novas. Será bastante divertido se os alunos tiverem oportu-nidade de usá-las para produzir textos.

Mãos à obra!

Page 23: Manual da Flipinha 2012

Conhecendo as histórias Navegando pelas históriasProjeto Paixão, Poesia e Futebol

Nasci no dia 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, onde moro até hoje. Escrevo para adultos, jovens e crianças e já publiquei muitos livros, como Comédias para ler na escola e O melhor das comédias da vida privada. O primeiro livro que lancei reunia crônicas publi-cadas na imprensa e se chamava O popular.

Uma das minhas paixões é conhecer novos países. Minha vida de viajante começou logo cedo, quando, aos sete anos, fui morar na Califórnia com minha família e lá fiquei dois anos. Depois disso, já morei em Washington, Nova York, Roma e Paris.

Foi na nossa segunda temporada nos Estados Unidos, quando eu tinha dezes-seis anos, que aprendi a tocar saxofone, hábito que cultivo até hoje: toco num grupo chamado Jazz 6, fundado em 1995. O grupo tem se apresentado por todo o Brasil.

Além das viagens e da música, também gosto muito de futebol. Acompanhei a Seleção brasileira em todas as Copas desde a de 1986, no México, e lembro-me de ouvir pelo rádio a narração da Copa do Mundo de 1950, na minha casa, em Porto Alegre.

Sou jornalista do tempo em que não se preci-sava de diploma para exercer a profissão. Meu trabalho sai em jornais de todo o Brasil. Antes de me dedicar exclusivamente ao jornalismo e à literatura, tentei várias outras coisas que não deram certo. Quando comecei a traba-lhar no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em fins de 1966, fazia até o horóscopo.

Sou casado há mais de quarenta anos com a Lúcia, minha primeira “namorada séria”, e temos três filhos (Fernanda, Mariana e Pedro). Torço pelo Internacional.

Luís Fernando Veríssimo

d’après Luís Fernando Veríssimo44

Luis Fernando Verissimo é escritor e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Comédias para se ler na escola, com seleção de crônicas feitas por Ana Maria Machado; Mais comédias para se ler na escola, com seleção de textos de Marisa Lajolo, ambos com ilus-trações de Ricardo Leite; e Time dos sonhos – paixão, poesia e futebol, com escultura de Ricardo Leite e ilustração digital de Eduardo Rocha, todos publicados pela Objetiva.

Comédias para se ler na escola e Mais comédias para se ler na escola reúnem crônicas do escritor sobre assuntos diversos, numa linguagem clara e parecida com que a gente fala todo dia. Textos curtos, fáceis, diver-tidos, nos quais o escritor revela suas obsessões, mergulha nas lembranças solitárias de infância e adolescência, preocupando-se com o social e o ético.

Time dos sonhos – paixão, poesia e futebol mostra a visão do autor sobre os paradoxos do futebol, que vai do épico ao mundano na duração de um passe. Algumas crônicas nos colocam para pensar, como a que afirma que o futebol é uma mistura de xadrez com boxe; outras nos arrancam risos, como a que abre o livro, sobre um coração que vai parar na Copa do Mundo. A maioria delas provoca as duas reações.

A originalidade e o humor de Veris-simo funcionam, desta forma, como o melhor estímulo para quem ainda não descobriu o prazer e a aventura que um livro pode proporcionar. Usando temas que fazem parte da vida dos jovens brasileiros, o autor mostra que o nosso cotidiano é mais normal do que parece, e que o banal pode ser mais interessante e divertido do que o extraordinário.

A crônica, usada pelo escritor em seus livros, é uma modalidade do gênero narrativo que emprega uma linguagem informal, ligada à vida cotidiana e normalmente com pitadas de humor e crítica. Dessa forma, criamos o projeto Paixão, Poesia e Futebol, aproveitando o título de um dos livros de Verissimo.

Será que seus alunos sabem onde podem encontrar as crônicas? Suge-rimos uma pesquisa nos jornais, revistas e sites em sala de aula (podendo-se estender a atividade para envolver a família), para iden-tificar essa modalidade textual. Em seguida, para incentivar a produção escrita, cada aluno poderia escolher um tema ligado ao título do nosso projeto e criar a sua própria crônica. O professor deve estar atento e orientar cada aluno sobre a escolha das pala-vras, a leveza do texto, a simplicidade das frases. Se houver na turma um grupo de alunos com habilidade para desenho, o professor pode sugerir outra forma de contar as histórias, só por meio das imagens, mas tendo como direção fatos cotidianos.

Outra possibilidade seria criar um sarau com os alunos, com apresen-tações artísticas variadas, incluindo música, poesia, crônicas, pinturas, dança, teatro etc., em que cada grupo ou aluno individualmente pudesse traduzir uma atividade cotidiana, ou a observação de um fato aparente-mente banal, em uma manifestação artística. O professor deve fazer um trabalho prévio para buscar a diver-sidade dos temas e das apresenta-ções, mostrando os vários caminhos e olhares sobre um mesmo fato ou história. O importante é estar atendo às habilidades de cada aluno e explorar ao máximo a imaginação.

Afinal, o que seria da vida se não tivéssemos paixão, poesia e futebol?

Page 24: Manual da Flipinha 2012

Nasci em Campinas e ainda criança fui morar em São Paulo. Meu pai era contador (contava o dinheiro dos outros) e minha mãe traba-lhava para ajudar nas despesas de casa (ela vendia cosméticos e também “aquele” leite fermentado que até hoje gosto de tomar). Eu era um garoto muito tímido e falava pouco. Na verdade, eu quase nem falava no sentido clássico da palavra: entre os seis e os onze anos fui gago, mas gago mesmo, daqueles que travam a língua. É que minha mãe e minha irmã falavam tanto que não me deram a oportunidade de aprender a falar direito (eu tinha que falar rápido enquanto elas faziam uma pausa para respirar).

Passei a infância gaguejando, estudando na escola e brincando na rua: carrinho de rolimãs, estilingue, guerra de mamona, pião, bolinha de gude. Depois comecei a ler bastante, além de jogar futebol (era goleiro) e basquete. Aos dezesseis anos, escrevi um conto sobre um corcunda (“Curvatura”) e ganhei meu primeiro prêmio literário.

Sempre estudei em escola pública e depois de cursar a universidade dei aulas de Filosofia e Literatura. Coordenei cursos de alfabetização e um cursinho pré-vestibular comunitário na periferia de São Paulo, além de dar oficinas de criação literária em centros culturais. Fiz mestrado em Educação e doutorado em Litera-tura Brasileira. Em 2005, vim morar em Paraty e estou aqui até hoje. A cidade fica perto do mar, é muito bonita e todo ano tem a Flip e a Flipinha. Tem também a Off Flip. E festivais de dança, música, teatro, circo, fotografia, cinema, artes plásticas... Ô cidade pra ter evento!

Aqui em Paraty publiquei meu primeiro livro, O caso do cavalo probo, que conta a história de um cavalo que trabalhou honestamente para a prefeitura e que ao final da vida tem a ração cortada pelo prefeito, o que leva uma cidade inteira à rebelião (este conto está sendo adaptado para crianças). Sobre homens & bestas veio logo depois e reúne contos que receberam destaque em concursos literários brasileiros e também no exterior (um deles foi finalista do Prêmio Guimarães Rosa/RFI em Paris). A rebelião dos peixes é o primeiro livro que escrevi para crianças.

Ando viajando bastante nos últimos anos. Participei como autor convidado da Fliporto – Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas, do Fórum das Letras de Ouro Preto e da Flimar – Festa Literária de Mare-chal Deodoro. E ainda fui pra Macapá e outras cidades levando livros na mala.

Ovídio Poli Júnior

Conhecendo as histórias Navegando nas históriasProjeto Para Onde Estamos Caminhando?

d’après Ovídio Poli Júnior46

Ovídio Poli é escritor e tem dois livros de contos publicados. Para representá-lo neste Manual, escolheu seu primeiro livro para crianças: A rebelião dos peixes, com ilustrações de Marcus Vinicius Poli Yamashiro e Pedro Poli Yamashiro, publi-cado pela Edições Selo Off Flip.

Em A rebelião dos peixes, os leitores são levados a uma fantástica aventura em meio a recifes de corais, arqui-pélagos e cavernas submarinas. Em um futuro não muito distante, seres marinhos de todas as partes se reúnem para tentar impedir a degradação dos mares e a destruição do planeta. Será que eles conseguirão, com seus tentáculos e barbatanas, enfrentar grandes barcos pesqueiros, poderosos submarinos nucleares e petroleiros? Conseguirá o peixe-lanterna salvar as poucas bibliotecas que ainda restam no fundo do mar? As ilustrações do livro foram feitas pelos filhos do autor.

Em sua história, Ovídio Poli trilha os caminhos ecológicos, antenado com questões bastante em voga atualmente, como sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente, lembrando que questões éticas e respeito às diferenças são indispensá-veis em qualquer debate que envolva a natureza. Esta obra fortalece os valores humanos estimulando o prota-gonismo social de cada indivíduo. Ao mesmo tempo em que inspira boas práticas, também contagia positi-vamente as crianças, despertando dentro do leitor o potencial de trans-formação individual e coletiva.

Trata-se de uma obra ficcional ilus-trada que, de forma lúdica e cons-ciente, dá voz às espécies marinhas que relatam suas intempéries diárias sofridas por causa das ações humanas.

Este livro pode ser trabalhado como uma importante ferramenta de trans-formação socioambiental à medida que convida o leitor a fazer uma profunda reflexão sobre como o lixo está afetando a biodiversidade marinha. O discurso desse artista dá margem a muitas discussões envolvendo o futuro do planeta Terra e das relações humanas.

Sugerimos o projeto Para Onde Estamos Caminhando? que pode ser desenvolvido com alunos de todos os anos do ensino fundamental.

Para os menores, podemos trabalhar com temas como ética, autoestima, solidariedade, generosidade, meio ambiente, amizade, autoconheci-mento, compaixão e fraternidade, abordados no livro de maneira leve e prazerosa. A partir de uma conversa sobre os temas, que tal criar uma espécie de manual com regras para serem seguidas na escola e na família mostrando como cada um pode fazer a sua parte para melhorar o planeta.

Para os maiores, sugerimos que eles definam os caminhos e as aborda-gens que querem trilhar. Que tal unir diversas mídias, criando uma espécie de jornal ou boletim virtual sobre as questões ambientais da cidade de Paraty? Ou um roteiro para um vídeo caseiro que depois pode ser disponi-bilizado na internet? Ou um fórum para discutir o futuro da humani-dade? Nele cabe até um Festival de Linguagens Artísticas, com direito a apresentações de música, teatro, pintura, todas relacionadas ao tema, num gesto de confraternização.

Esse é um bom momento para reforçar que as relações humanas necessitam de cuidado, tanto quanto o buraco na camada de ozônio. Aliás, apenas o cultivo de atitudes de respeito às diferenças humanas garantirá a sobrevivência do planeta. O projeto propicia uma profunda reflexão sobre amor e respeito ao próximo. Sendo assim, quem decidirá o caminho a trilhar serão os envolvidos nele.

Page 25: Manual da Flipinha 2012

Sou educadora, ilustradora e escritora. Brinco com linhas, agulhas, papel, pala-vras e cores, contando histórias, matizando o real e a fantasia. Escrevi e ilustrei alguns livros que me deram muitas alegrias, que são: A rebelião das raposas, Coração de rato, Vamos lá, Leleca, Meleca! , ABC do rio São Francisco, todos da Dimensão, O Brasil em festa, e Os meninos que viraram estrelas e outras histórias do Brasil, da Companhia das Letrinhas, e Os anjos de Lelena, uma produção independente e Alberto – Sonhos e alinhavos – a ousadia de ir além do chão.

Moro em muitos lugares, mas meu lugar prefe-rido é a cidade onde nasci, Pirapora (MG). Em Brasília e outras cidades, trabalho na realização de oficinas de arte, educação, literatura, saúde e meio ambiente dirigidas a professores, biblio-tecários, crianças e adultos. Ando pelo Brasil com projetos diversos e atualmente coordeno o Icad – Instituto de Promoção Cultural Antônia Dumont, que desenvolve vários projetos, em especial os de inclusão social pela arte.

Gosto de sorvete, de andar de bici-cleta, de nadar no rio, de passarinhos, de rir das coisas mais simples e, sobre-tudo, gosto de encontrar amigos.

Visite meu site: http://www.mati-zesbordadosdumont.com.

Sávia Dumont

Conhecendo as histórias Navegando pelas histórias Projeto Costurando Histórias

48 d’après Sávia Dumont

Sávia Dumont é escritora e ilustra-dora e escolheu para representá--la neste Manual os livros: A moça tecelã, escrito por Marina Colasanti, com bordados de Ângela, Antônia Zulma, Marilu, Martha e Sávia Dumont sobre os desenhos de Demóstenes Vargas e publicado pela Global; O Brasil em festa, publicado pela Companhia das Letrinhas, e Abc do rio São Francisco, publicado pela Dimensão, ambos escritos por Sávia e ilustrados por Demóstenes.

A moça tecelã narra uma história de amor repleta de encantos e desen-cantos. Escrita por Marina Colasanti, o livro nos encanta pela possibilidade de um recomeço. As irmãs Dumont, entre elas Sávia, bordam as imagens de Demóstenes Vargas, entrelaçando texto e imagem de forma perfeita. É um show de cores e beleza.

O Brasil em festa, como o próprio título diz, traz um retrato das festas folclóricas do Brasil, tão diverso e cheio de singularidades ao mesmo tempo. Tem de tudo um pouco. Tem festa do frevo, de boi, festas juninas, festa do Divino, cavalhadas, danças gaúchas, dança de São Gonçalo, congadas e muito mais. Vale a pena fazer um mergulho no nosso folclore e descobrir todas as festas registradas de forma encantadora nesse livro.

Abc do rio São Francisco nos apre-senta com uma linguagem saborosa um retrato do rio São Francisco, suas histórias, embarcações, mitos e lendas, sua fauna, flora, a geologia local e o meio ambiente. Ao longo do livro encontramos trechos literários refe-rentes ao rio de autores diversos.

O projeto Costurando Histórias pode ser todo montado misturando os livros que Sávia Dumont indicou para este Manual. Das ilustrações de Sávia para o livro A moça tecelã, vamos pegar a ideia dos bordados feitos a partir dos desenhos de Demóstenes. Do livro Brasil em festa ou do Abc do rio São Francisco, vamos pegar a ideia de se trabalhar com o folclore brasileiro. Mas como a Flipinha acon-tece em Paraty, vamos focar o projeto em Paraty e nas regiões adjacentes.

Para montar o projeto Costurando Histórias será necessário decidir que história se quer costurar ou bordar? Pode-se pensar em bordar o Abc de Paraty ou, se preferir, Paraty em festa.

Cada turma pode decidir o que gostaria de pesquisar. Se prefere criar o Abc de Paraty, pesquisando tudo sobre Paraty: origem, primeiros habitantes, suas lendas, mitos, sua história e os povos que construíram a história de Paraty, inclusive a origem do nome da cidade. Ou se prefere criar o livro ou o álbum ilustrado Paraty em festa, fazendo um levantamento de todas as festas que acontecem na cidade, desde as religiosas e mais tradicionais, como a Festa do Divino, até as atuais e os festivais. Quem sabe o livro pode ser dividido em ontem, hoje e amanhã, mostrando festas que só existiam no passado, que existiam e ainda existem, as criadas recentemente e até as que a turma adoraria que existissem na cidade.

Com todo esse material organi-zado e registrado, passamos para a etapa da ilustração, que poderá ser feita com bordados a partir de desenhos da própria turma, de fotos ou imagens de jornal. Ou, quem sabe, misturando várias técnicas? O bacana será trabalhar com variações de cor, luz, tonalidades, marcando bem a passagem do tempo, como Sávia fez em A moça tecelã.

Uma boa pedida é a turma pesquisar se existe (ou existiu) algum tipo de bordado específico da região de Paraty? Isso pode ser utili-zado na confecção das imagens.

O mais gostoso nesse projeto será sair dos muros escolares pesquisando a história de Paraty, buscando a diversidade da região, a variedade de lendas e mitos. Ter um registro desse material é fundamental para manter viva a história da cidade contada por seus moradores. O importante é tentar organizar tudo de maneira a buscar o maior número de infor-mações possível e com pessoas bem diferentes, não deixando de fora os indígenas, os pescadores e os quilom-bolas da região. Quanto maior for a pesquisa, mais rico o livro ficará.

Ah, uma pedida para misturar técnicas nas ilustrações é pedir a cada pessoa entrevistada alguma coisa significa-tiva. Pode ser um retalho de pano, um pedaço de uma rede de pescador, um adereço indígena, um pigmento, uma renda, um jornal. Depois é só juntar tudo na confecção das imagens.

Uma dica importante: pode-se criar apenas um livro da turma ou dividi--la em grupos e cada grupo criar um livro, ficando responsável por algum tema específico, ou ainda cada grupo escolher o que deseja criar: se o Abc de Paraty ou Paraty em festa. Mas quem sabe a turma não pensa em algo que não foi suge-rido neste Manual? Muitas vezes podem surgir ideias surpreendentes!

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Costumo dizer que sou escritor, jornalista e músico. Ultimamente sou mais apresen-tador de TV (do programa Metrópolis, na TV Cultura) e escritor. O músico tem ficado para trás, embora, veja você, eu venha de uma carreira independente muito bem-sucedida: pertenci a uma banda cult chamada Fellini, e com ela ou sozinho gravei sete discos. De vez em quando aparece alguém dizendo que me ouviu nos anos 1980 e que isso signi-ficou alguma coisa. Fico feliz. Mas hoje minha guitarra pertence a um dos meus filhos.

A música só me deu alegrias, assim como o meu primeiro livro infantil, chamado Meu filho, meu besouro, da Cosac Naify. Ele é o quinto, numa linhagem de coleções de contos que começou em 1995. Pela ordem: Ronda noturna, Dezembro de um verão maravilhoso, Questionário e Relógio sem sol, todos pela Iluminuras. Conversa futura, talvez meu último livro de contos, pela Cosac Naify, e Pessoas que passam pelos sonhos, da Babel, meu primeiro romance, saem neste ano em que você me lê.

O Meu filho, meu besouro reúne duas coisas que nunca publiquei antes: poemas e dese-nhos. Primeiro fiz os desenhos; os poemas vieram depois. É uma conversa simples entre pai e filho, adulto e criança. Não gosto de dar conselhos, mesmo porque não sei (e tenho um coração anarquista, que bate natural-mente contra a autoridade e a imposição). Esse livro é uma troca de experiências entre a criança que fui e o pai que agora sou. Tenho quatro filhos, o que hoje representa uma verdadeira multidão! O livrinho foi publi-cado com a cara de um antigo caderno de escola, e as pessoas têm gostado bastante. Os adultos, principalmente, porque foi feito para ser lido para uma criança, e há sempre uma criança embutida dentro deles. Ler ainda é o melhor remédio, na minha opinião.

Às vezes penso que tudo o que tenho escrito tem a ver com o século passado. Nasci em 1956, ano do estouro de Elvis, da invasão da Hungria pela União Soviética e da morte, no dia de Natal, de um escritor que costumava caminhar quilômetros pela neve: Robert Walser. Ele e os italianos Ítalo Calvino e Natalia Ginzburg, junto com o Cortázar da minha juventude, são alguns dos escritores que mais admiro. Gosto da sua leveza profunda, de sua modéstia elevada, aquela que não leva a sério demais nem a si mesmo nem a empáfia dos homens; gosto do ritmo claro e musical com que tocam suas frases e parágrafos, e da liberdade total de imaginação que os conduz. É o que eu gostaria de fazer e é o que tenho tentado nesses tantos anos de literatura.

Você já deve ter entendido por que o escritor veio antes de tudo, ainda que eu não goste de ficar espalhando isso por aí. Fica entre nós.

Cadão Volpato

Conhecendo as histórias Navegando pelas HistóriasProjeto Construindo Sonhos

d’après Cadão Volpato

Cadão Volpato é escritor e ilus-trador e escolheu para representá-lo neste Manual os livros: Meu filho, meu besouro, publicado pela Cosac Naify; Questionário e Dezembro de um verão maravilhoso, ambos publicados pela Iluminuras.

Meu filho, meu besouro é uma cole-tânea de poemas que traduzem uma conversa sincera entre duas gerações. Todos irão se reconhecer na escrita sensível desse primeiro voo de Cadão Volpato na literatura infantil. O livro apresenta temas como o aprendizado em conjunto, a identidade e a liber-dade sem nenhuma lição de moral. É uma história lúdica que pede uma deliciosa leitura compartilhada. Sabemos que com qualquer roteiro, questionários são feitos para nossa orientação. Mas não este Ques-tionário de Cadão Volpato. Este desnorteia e desorienta. À primeira vista, não descobrimos sua lógica. Qual a conexão entre perguntas e personagens que na maioria dos casos aparecem e desaparecem sem pedir licença? Há caminhos cruzados, perguntas sem respostas, ou respostas engasgadas.

Em Dezembro de um verão mara-vilhoso, a morte é tema recorrente e nele o amor nunca dá certo. A vida não seria assim para a maioria das pessoas? O autor escreve por elipses. Cabe a nós imaginar o que está oculto nas entrelinhas.

Com as crianças, sugerimos o projeto Construindo Sonhos. A ideia é colocar a mão na massa, literal-mente, para construir o sonho de cada um, ou da turma como um todo. Ou o sonho de um mundo ideal.

Para começar, que tal a leitura do poema “O Menino Azul”, de Cecília Meireles:

O Menino AzulO menino quer um burrinhopara passear.Um burrinho manso,que não corra nem pule,mas que saiba conversar.O menino quer um burrinhoque saiba dizero nome dos rios,das montanhas, das flores,— de tudo o que aparecer.O menino quer um burrinhoque saiba inventar histórias bonitascom pessoas e bichose com barquinhos no mar.E os dois sairão pelo mundoque é como um jardimapenas mais largoe talvez mais compridoe que não tenha fim.(Quem souber de um burrinho desses,pode escreverpara a Ruas das Casas,Número das Portas,ao Menino Azul que não sabe ler.)

Ao término da leitura, o professor pode dar início a um gostoso bate--papo para descobrir as primeiras sensações e trabalhar com as crianças o sonho de cada um. Algumas perguntas podem estimular essa discussão, como: se você pudesse escolher uma aventura para viver, qual seria essa? Quem seria sua companhia? Ou se você fosse um super-herói, qual seria e o que faria? Se você pudesse ter asas, para onde voaria? Se você governasse o mundo, como seria? Podemos aproveitar esse mote e criar um mundo novo, dando asas aos sonhos e à imaginação.

Nesse projeto tão mágico, os alunos podem ser divididos em grupos para debater e decidir que sonho é esse que todos querem construir? Este sonho seria de um mundo ideal? O que teria nesse mundo ideal?

Sugerimos que os alunos busquem na biblioteca da escola ou da Casa Azul títulos que ajudem na criação de suas próprias histórias. Isso motivará o uso do espaço da biblioteca e aproximará as crianças dos livros e autores de literatura infantil. O professor pode e deve orientar os alunos nessa busca.

O objetivo deste projeto é fazer as crianças refletirem sobre o poten-cial criador presente em cada um de nós e que pode nos transportar para um mundo melhor, onde a imagi-nação não tem limites e onde somos capazes de transformar a realidade em algo mais dinâmico, belo e cria-tivo. E viva o poder da leitura!

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Associação Casa Azul

Diretor PresidenteMauro Munhoz

Direção ExecutivaIzabel Costa Cermelli (Belita)

Direção de ProjetosJosephine Bourgois

Núcleo de Educação e CulturaCristina MasedaGabriela Gibrailcoordenadoras Einara Fernandes coordenadora pedagógicaPatrícia da ConceiçãoassistenteAnna Beatriz Silvamediadora de leituraAna Beatriz HernampérezbibliotecáriaZulmira Gibrail Costavoluntária

Desenvolvimento InstitucionalAna Rita Leme de MellodiretoraBernadete PassosLucia RodriguesHeloize Camposrelacionamento institucionalAlexandre BenoitTama Savagetprodutores de conteúdoGabriela Caseffassistente de comunicação

ProduçãoSueleni de Freitasprodutora executivaRoberta ValprodutoraAndrea Masedaassistente

AdministrativoCelina YamanakadiretoraAdriana de Françaplanejamento e controleAndresa Pradoassistente

Apoio Administrativo- -FinanceiroWellington Leal AssessoriaWellington Lealcoordenador financeiroCláudio Garavattianalista financeiro

SecretariaKátia RicominiRenata Haring

Manual da Flipinha 2011

TextosAnna Claudia RamosVerônica Lessa(Atelier Vila das Artes)concepção de conteúdo e produção de textosAna Maria Barbosarevisão

Design gráficoDárkon RoqueClara LaurentiisAlexandre Benoit

Agradecimentos Ficha técnica

Agradecemos aos autores convidados da Flipinha, que colaboraram para as nossas ações de incentivo à leitura e para a realização deste Manual. A todos os professores que acreditam e trabalham para que as crianças paratienses criem o gosto pela leitura literária. À Secretaria Municipal de Educação de Paraty e à Prefeitura Municipal de Paraty pelo apoio às nossas iniciativas e projetos que visam transformar Paraty em uma cidade de leitores.