manual calcadista parte1

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Manual de Segurança e Saúde no Trabalho Indústria Calçadista Coleção Manuais 2002

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Page 1: Manual Calcadista Parte1

Manual de Segurança

e Saúde no Trabalho

Indústria Calçadista

Coleção Manuais

2002

Page 2: Manual Calcadista Parte1

SESI.SP. Manual de segurança e saúde no trabalho para

indústria calçadista. São Paulo: 2002. 297p.

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO;

INDÚSTRIA CALÇADISTA

CDU 331.4 : 685.34

SESI – Serviço Social da Indústria

Departamento Regional de São Paulo

Av. Paulista, 1313CEP 01311-923São Paulo – SPPABX: (11) 3146-7000www.sesisp.org.br0800-55-1000

©SESI – Departamento Regional de São Paulo

É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por quaisquer meios,

sem autorização prévia do SESI-SP

Ficha Catalográfica

Page 3: Manual Calcadista Parte1

Departamento Regional de São Paulo

Conselho Regional

Presidente

Horacio Lafer Piva

Representantes das Atividades Industriais

Titulares

Luis Eulálio de Bueno Vidigal FilhoLuis Alberto Soares Souza

Paulo Tamm Figueiredo

Suplentes

Artur Rodrigues Quaresma FilhoDante Ludovico Mariutti

Nelson Abbud João

Representante da Categoria Econômica das Comunicações

Carlos de Paiva Lopes

Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego

Titular

Antonio Funari FilhoSuplente

José Kalicki

Representante do Governo Estadual

Wilson Sampaio

Diretor Regional

Horacio Lafer Piva

Page 4: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista4

Page 5: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 5

ApresentaçãoO Departamento Regional do Estado de São Paulo do

Serviço Social da Indústria – SESI-DR/São Paulo apre-

senta um manual sobre a Segurança e Saúde dos Traba-

lhadores das Indústrias de Fabricação de Calçados.

Este ramo de atividade industrial foi escolhido, le-

vando-se em conta sua importância econômica para o

país, a diversidade dos processos de fabricação, da

mão-de-obra envolvida e da dimensão das empresas,

sua variada localização nas capitais e sobretudo no in-

terior de vários Estados.

Além desses fatores, os riscos para a segurança e

saúde dos trabalhadores envolvem aspectos bem atu-

ais, e a preocupação com tais questões é característica

marcante dos empresários e dos sindicatos do setor.

Este manual aborda, de forma resumida, as conse-

qüências para a segurança e para a saúde e a maneira

de evitá-las nas várias etapas e nas diversas formas de

fabricação dos calçados.

Para a sua elaboração, os técnicos da Gerência de

Segurança e Saúde no Trabalho do SESI basearam-se

em publicações e estudos realizados nas fábricas loca-

lizadas nas cidades de Birigüi, Franca e Jaú.

A equipe do SESI agradece a colaboração das em-

presas e dos trabalhadores das indústrias visitadas,

bem como a de técnicos de várias entidades, inclusive

do pólo calçadista do Rio Grande do Sul.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista6

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SumárioParte I

■ Introdução 9

■ Objetivos 15Tipificação 17Organização do Trabalho 21Tipos de Trabalhadores 27

■ Riscos e Controles 37Risco Físico 39Risco Químico 54Risco Biológico 63Risco Ergonômico 64Risco de Acidentes 72

Parte II

■ PPRA Calçados X ltda. 81■ PCMSO Calçados X ltda. 137■ Perfil das Empresas Pesquisadas 171

Parte III

■ Qualidade, Produtividade e Segurança 201

■ Aspectos Legais 203Normas Regulamentadoras 205Legislação Previdenciária 277Responsabilidade Civil, Criminal e de Terceiros 288Controle Estatístico de Acidentes 292

■ Referências Bibliográficas 296

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista8

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 9

A indústria de calçados no Brasil é caracterizada pelo emprego intensivo de trabalho

“vivo”, apresentando um baixo índice de concentração de capital e adotando um processo

de produção que, de forma geral, não se utiliza de tecnologia de ponta. Este ramo da

indústria absorve uma quantidade significativa de força de trabalho barata e, em boa

medida, especializada, detentora de conhecimento, destreza e habilidades manuais ainda

imprescindíveis à produção do calçado de couro.

Estima-se serem cerca de quatro mil as indústrias de calçados em todo o território

nacional. A maior concentração do setor está nos Estados do Rio Grande do Sul (Vale dos

Sinos), São Paulo e Minas Gerais.

O Rio Grande do Sul ocupa o primeiro lugar na produção de calçados de couro e possui

um complexo industrial geograficamente concentrado, com bastante autonomia em termos

de disponibilidade de matéria-prima, insumos, máquinas, equipamentos, mão-de-obra

especializada, além de constituir uma região privilegiada em termos de instituições que

contribuem para o desenvolvimento tecnológico do setor, tais como escolas técnicas e

centros tecnológicos.

Em segundo lugar está o Estado de São Paulo, que concentra parte da produção nacional.

Devido à carência de estudos e à necessidade de maiores informações deste setor

industrial, foi-nos solicitado desenvolver um trabalho avaliando as questões de segurança

e saúde no trabalho.

Para fins de estudo foram selecionadas no Estado de São Paulo as cidades de Birigüi,

Franca e Jaú.

Introdução

Page 10: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista10

Birigüi

No começo do século XX iniciou-se a formação do Município. Os trabalhadores da

estrada de ferro conheciam por “birigüi” os inúmeros mosquitos que os atormentavam e

que em outras regiões se chamavam “pólvora”. Havia também um coqueiro que os

portugueses, cuja maioria trabalhava na estrada, chamavam de “borigui”. Com as folhas

desse coqueiro alimentavam os animais utilizados na construção da estrada; o palmito

servia para alimentação dos trabalhadores e a madeira para a construção dos ranchos.

Cidade do interior do Estado de São Paulo, localizada a noroeste, conhecida como a

capital brasileira do calçado infantil.

O processo de fabricação foi iniciado na década de 50, quando alguns empresários

resolveram investir na abertura de pequenas empresas. Com a globalização da economia,

as empresas cresceram mais em tecnologia, reduziram seu quadro de trabalhadores e

investiram maciçamente na Gestão pela Qualidade Total.

Atualmente, a produção diária ultrapassa 300 mil pares, o que representa uma produção

mensal em torno de 6,6 milhões de pares. Desta produção diária, 85% são calçados infantis

(em torno de 264.470 pares); o calçado masculino contribui com 1,5% dessa produção

(cerca de 3.250 pares por dia), e os 13,5% restantes representam a produção dos outros

tipos de calçados produzidos na cidade.

A exportação apresentou um crescimento de 28% no ano de 2000, em comparação ao

ano anterior (19.670 pares exportados), principalmente para os países do Mercosul, com

participação de 6,3% do total produzido.

Um fator que vem contribuindo para o aumento da capacidade produtiva da cidade é o

processo de terceirização, que hoje já representa 17,6% da produção diária. Atualmente,

cerca de 44 micro e pequenas indústrias prestam serviços para as empresas maiores e

garantem a fabricação diária de 54.350 pares. Só neste segmento hoje se empregam mais

de 2,8 mil trabalhadores, número que cresceu 26% em relação ao ano de 1999.

O ano de 2000 pode ser considerado um dos melhores dos últimos anos. Mais de 5 mil

empregos foram agregados no período, num crescimento de 37,5% em relação ao ano

anterior. O número de empregos diretos que as indústrias oferecem atualmente é de 18.501.

A previsão de crescimento para o ano seguinte é de 20%.

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Franca

Antiga povoação, fundada no ano de 1804 por aventureiros mineiros em território de

Mogi Mirim, chamada assim em homenagem a um dos primeiros habitantes da povoação,

general Antônio José de Franca e Horta. Foi elevada à categoria de vila em 1824, e de

Município, em 1856.

Cidade do interior do Estado de São Paulo, localizada na região nordeste, é conhecida

como a capital brasileira do calçado masculino.

Fabricam-se calçados em Franca desde a formação da cidade, há quase 200 anos. Os

sapateiros faziam sandálias, chinelos e botinas rústicas.

No ano de 2000 a indústria de calçados de Franca atingiu 2,5 milhões de pares,

resultado que representa a recuperação do desempenho perdido em 1995, período de

retenção econômica instalada no País e da perda de clientes no exterior pelas mudanças no

câmbio, fatores que empurraram o setor para uma crise sem precedentes na sua história.

Naquele ano a produção da cidade, que atingira 31,5 milhões de pares em 93 e 94,

despencou para 22 milhões

Mais rápido do que se imaginava, porém, a indústria local começou a adequar-se às

mudanças radicais na economia nacional. Eliminou desperdícios, ajustou seus custos às

exigências do mercado, passou a buscar maior produtividade e a aplicar novas tecnologias.

Enfim, instituiu outro modelo de gerência.

Com essas iniciativas, a produção da cidade iniciou uma trajetória de expansão gradual:

somou 24,8 milhões de pares em 1996; saltou para 29 milhões em 97 e 98; cresceu mais

um pouco no ano de 99 (29,5 milhões) e agora atingiu a recuperação plena.

Na maior parte do período de readaptação às transformações da economia, as vendas

internas sustentaram a retomada da produção do calçado francano. Além de mostrar a

recuperação plena da produção perdida, o levantamento realizado no ano de 2000 pelo

Sindicato da Indústria de Calçados de Franca revela que o parque calçadista francano

aumentou sua produtividade e foi um dos segmentos da indústria paulista que mais

contrataram funcionários. Foram criados 2,3 mil novos empregos, totalizando mais de 19 mil

empregos diretos.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista12

Jaú

Os bandeirantes que seguiam pelo rio Tietê pescavam um peixe chamado Jaú, na foz de

um ribeirão. O local, desde então, ficou conhecido como Barra do Ribeirão do Jaú. A

fundação data de 15 de agosto de 1853, quando alguns moradores da região decidiram

organizar uma comissão que tratava da fundação do povoado. Depois de vários estudos,

ficou decidido que seria erguido um povoado na área de 40 alqueires, doados em partes

iguais por Francisco Gomes Botão e pelo tenente Manoel Joaquim Lopes. O nome Jaú vem

do tempo das monções e tem ampla significação na língua tupi-guarani-kaingangue. Ya-hu

quer dizer peixe guloso, comedor, um grande bagre comedor. Mas também pode significar

”o corpo do filho rebelde”, segundo conta a lenda do peixe Jaú.

Cidade do interior do Estado de São Paulo, localizada na região centro-oeste. O constante

crescimento do pólo calçadista de Jaú comprova a potencialidade que este setor possui,

reconhecido como a capital brasileira do calçado feminino.

A indústria jauense de calçados vem se superando e alcançando o destaque que merece,

além de lançar moda com produtos de qualidade, preços competitivos e uma política de

negociação que a fortalece ainda mais no mercado. Seu principal veio de escoamento é

para São Paulo – capital e cidades circunvizinhas.

Atualmente, são mais de 130 empresas produzindo moda feminina, das quais destacam-

se duas com produção acima de 7 mil pares por dia. Pode-se afirmar que o início dos anos

90 foi o marco de uma nova era para o setor, quando nasceu a necessidade de propagar as

marcas produzidas, conquistando definitivamente lojistas e consumidores.

Outro aspecto que podemos considerar como fator de crescimento foi a criação da

Jauexpo, que visa a promoção de vendas e a divulgação das marcas de calçados produzidas

na cidade e região. A exemplo de outros pólos, nota-se o constante investimento em

publicidade e em marketing direcionado, evidenciando os seus produtos nos principais

canais de comunicação explorados pelo setor calçadista.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 13

299 km da capital São Paulo111.783 habitantes106.954 na área urbana e4.829 na área rural

528 km da capital São Paulo94.325 habitantes91.042 na área urbana e3.283 na área rural

401 km da capital São Paulo287.700 habitantes

281.869 na área urbana e5.531 na área rural

Jaú

Birigüi

Franca

São Paulocapital

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 15

ObjetivosO manual visa contribuir para a proteção dos trabalhadores contra os fatores de riscos

e/ou danos à saúde, orientando as indústrias calçadistas quanto às medidas de Higiene,

Segurança e Medicina do Trabalho.

Os principais objetivos a serem alcançados com este manual são:

■ Orientar o empregador de maneira prática e objetiva para auto-avaliar os

riscos existentes no processo de trabalho e realizar medidas de controle

para minimizar esses riscos.

■ Informar a respeito da atual legislação referente à segurança e saúde no

trabalho e sua aplicação na indústria de fabricação de calçados.

Os dados apresentados são resultado da pesquisa realizada pela equipe multidisciplinar

de profissionais da Gerência de Segurança e Saúde no Trabalho, desenvolvida através das

seguintes etapas:

1. Estudo bibliográfico.

2. Estudo de campo, que consistiu em um levantamento técnico-ambiental e

toxicológico e em atendimento médico individualizado com posterior

análise dos dados obtidos.

Destina-se a empregadores, profissionais de recursos humanos, dos SESMTs (Serviço

Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) e a todos aqueles que

atuam nas indústrias calçadistas.

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TipificaçãoA indústria calçadista é um ramo produtivo, complexo e artesanal. Coexistem empresas

de grande, médio e pequeno porte. Produzem-se calçados infantis, femininos, masculinos,

esportivos e de segurança.

Podem ser observados os seguintes pontos na tipificação deste ramo:

■ Pólos calçadistas

■ Porte das empresas

■ Matéria-prima

■ Tipos de calçados

■ Organização do trabalho

■ Mão-de-obra/funções

■ Setores (etapas de fabricação)

■ Riscos para a saúde/suas conseqüências

■ Aspectos legais/grau de risco

■ Ação no meio ambiente

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Tipificação

■ Pólos calçadistas

Foram estudados os pólos calçadistas no Estado de São Paulo situados nas cidades de

Birigüi, Franca e Jaú.

■ Porte das empresas

Foi convencionado para este estudo de campo que os portes das empresas seriam como

descrito no quadro 1:

Quadro 1 – Estudo de campo: distribuição do porte e nº de trabalhadores.

■ Matéria-prima

Na produção são utilizadas diversas matérias-primas (couro, tecidos sintéticos e não-

sintéticos, borracha, metal, entre outros), dependendo das tendências do mercado e da moda.

■ Tipos de calçados

Os tipos de calçados são divididos basicamente em cinco categorias:

infantil, feminino, masculino, esportivo e de segurança.

■ Organização do trabalho

A organização do trabalho se faz de maneiras diversas, seja dentro ou fora da própria

empresa. No primeiro, podemos ter a elaboração do produto em linha de montagem/esteira

e/ou em grupos/células com técnicas artesanais, manuais e industrializadas. A

terceirização de alguns processos a profissionais autônomos pode ocorrer no trabalho em

bancas, ateliês e cooperativas. O trabalho informal, como em outros setores da economia,

aparece de forma importante.

Porte Nº de trabalhadores1 até 502 51 a 1003 101 a 2004 201 a 500

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Tipificação

■ Mão-de-obra/funções

A população trabalhadora neste ramo é na sua grande maioria adulta e jovem, com

proporção crescente do sexo feminino. Também encontramos o trabalho de idosos e

de deficientes.

O trabalho infantil (menor de 16 anos, em geral associado ao trabalho domiciliar),

encontrado na indústria calçadista, parece estar sofrendo sensível redução, após iniciativas

do governo e de instituições não-governamentais nacionais e internacionais.

A mão-de-obra utilizada nas indústrias de calçados requer profissional especializado em

alguns setores (ex.: cortadores) e mão-de-obra não especializada para outras etapas do

processo (ex.: ajudantes e auxiliares). Podemos observar diversos tipos de funções, como,

por exemplo: modelista, cortador, pespontador.

O trabalho também ocorre durante a noite e em turnos, dependendo da produção e da

tarefa. Em virtude da sazonalidade e para minimizar as demissões, este setor produtivo tem

adotado o sistema de banco de horas.

■ Setores (etapas de fabricação)

Tradicionalmente, as indústrias de calçados apresentam divisões de trabalho similares, co-

nhecidas como setor de modelagem, de corte, de preparação/pesponto, de montagem/acaba-

mento e de embalagem/expedição. Dentro desses setores, as variações do processo e os

equipamentos utilizados aparecem de acordo com o produto a ser fabricado.

Os solados utilizados na indústria calçadista podem ser de couro, recouro ou injetados,

fazendo ou não parte do processo produtivo. Quando fabricados na própria empresa, esta

possui, além dos setores acima descritos, o setor de pré-fresado ou o setor de injetoras,

com características muito peculiares.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista20

Tipificação

■ Riscos para a saúde/Suas conseqüências

Os riscos para a saúde podem ser: fisícos, químicos, biológicos, ergonômicos e de

acidentes. Podemos encontrar danos provenientes do uso de substâncias químicas, colas e

solventes (alterações da função hepática, do sistema nervoso, do sangue e da pele), de

ruído e condições ergonômicas (alterações na coluna e distúrbios do aparelho locomotor –

DORT1/LER2). A exposição ao risco físico, ruído (barulho), provavelmente potencializada

pelo uso de substâncias químicas, pode produzir alteração da audição. São encontradas

ainda situações de iluminação deficiente e exposição a condições térmicas anormais. Os

acidentes de trabalho, propriamente ditos (acidente-tipo), encontram-se localizados,

principalmente, no setor de corte, atingindo as mãos ou os dedos. Os acidentes de trajeto

possuem uma característica peculiar: acontecem principalmente em decorrência do uso de

bicicletas como meio de transporte.

■ Aspectos legais/Grau de risco

Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do Ministério do

Trabalho e Emprego, a indústria calçadista é uma atividade classificada como serviços

Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, o grau

de risco correspondente é de número três, sabendo-se que para as empresas em geral esse

grau varia em ordem crescente de um a quatro, conforme o risco.

■ Ação no meio ambiente

Os resíduos sólidos são usualmente armazenados em recipientes próprios nas

empresas, recolhidos por meio de transporte especial, público ou particular, para

posterior destruição.

Em geral, não há resíduos líquidos e gasosos que possam vir a produzir dano ao meio

ambiente exterior.

1 DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho.2 LER – Lesões por Esforços Repetitivos.

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Organização do TrabalhoNo Brasil, as inovações organizacionais antecedem a introdução das tecnologias de

automação na indústria calçadista. Isto ocorre devido ao baixo custo inicial para as técnicas

organizacionais, enquanto equipamentos dotados de dispositivos microeletrônicos exigem

investimentos mais dispendiosos. A existência de mão-de-obra brasileira de baixo custo e

em grande quantidade dificulta ainda mais a introdução de técnicas mecanizadas na

indústria do calçado.

As formas de Organização do Trabalho mais utilizadas são:

■ Linhas de montagem/esteiras

Muitas vezes o trabalhador faz apenas uma operação básica durante a jornada. O ciclo

costuma ser simples, não havendo a menor identificação de sua função com o resultado

final do trabalho; o trabalhador não recebe informação adequada sobre o processo que faz;

as acelerações da esteira, ritmos exagerados, a falta de peças e o sistema de cobrança das

pessoas para que façam suas tarefas rapidamente contribuem para o estresse.

Na indústria calçadista foi observado que a organização do tipo esteira ocorre

principalmente na linha de montagem, na qual as tarefas são predeterminadas.

Porém, um mesmo trabalhador pode executar várias tarefas seqüenciais ou ainda

por revesamento.

Figura 2 – Organização do trabalho em linha de montagem/esteira

Page 22: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista22

■ Grupos/células

Apresentam um tipo de distribuição de pessoal e de material diferente da linha tradici-

onal de pessoal. Nas células os trabalhadores executam suas funções em subconjuntos me-

nores, mais facilmente administráveis.

É comum o trabalhador operar duas ou três máquinas ao mesmo tempo, muitas vezes

deixando de considerar a sobrecarga mental, física e tensional sobre ele, o que pode au-

mentar o risco de acidentes.

A organização tipo célula ocorre principalmente no setor de preparação e pesponto.

A célula normalmente é constituída por pequeno grupo de trabalhadores (dois ou três

funcionários). É comum o mesmo trabalhador saber operar mais de uma máquina, como, por

exemplo: máquina de costura ou pesponto. Os ajudantes dobram, colam e depois invertem

as tarefas. As empresas muitas vezes se organizam em grupos de trabalho compostos de

uma operadora de máquina e ajudantes; o trabalhador executa normalmente apenas uma

tarefa por vez.

Organização do Trabalho

Figura 3 – Organização do trabalho em grupos/células.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 23

■ Terceirização

Atualmente, tem-se observado uma grande tendência da indústria calçadista nacional

em terceirizar/subcontratar uma ou mais etapas do processo produtivo, através de

bancas/ateliês ou cooperativas e microempresas, sendo que o desenvolvimento desse

trabalho geralmente ocorre fora das dependências das empresas.

Terceirização é o ato de transferir a responsabilidade de um serviço, ou de determinada

fase da produção ou comercialização, de uma empresa para outra.

As bancas/ateliês são identificadas pela realização de uma ou mais etapas do processo

produtivo em ambiente improvisado, geralmente familiar (dentro da casa do trabalhador,

garagens e galpões).

Aspectos positivos da terceirização

■ Redução de gastos para a empresa, uma vez que gera diminuição de mão-de-obra,

redução de encargos sociais e dos custos de admissão/demissão.

■ Melhor produtividade e qualidade decorrentes da especialização.

■ As máquinas geralmente são de propriedade dos subcontratados.

■ Os trabalhadores não têm jornada de trabalho definida e executam as tarefas

por encomenda.

■ Geralmente os trabalhadores têm maior satisfação em trabalhar, estimulados pelo

“ambiente familiar” ou mesmo pela ausência de patrão.

Organização do Trabalho

Page 24: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista24

Aspectos negativos da terceirização

■ Acidentes ocorridos não são comunicados e os trabalhadores não contam com

assistência à saúde.

■ Muitas vezes o trabalho é desorganizado em decorrência dos ambientes improvisados.

■ Ritmo de trabalho inconstante: em alguns momentos muito acelerado e em outros

muito lento, devido às mudanças do mercado.

■ Freqüentemente a terceirização é feita no domicílio, não havendo fiscalização ou

controle de riscos ambientais, sendo que, muitas vezes, outros membros da família

podem ficar expostos.

■ O empresário deve atentar para o fato de que o terceirizado pode acioná-lo por

acidentes ou danos à saúde, se este não exigir contratualmente que o terceiro siga

as regras legais trabalhistas e previdenciárias.

■ Cooperativa

É formada por trabalhadores que objetivam desempenhar, em benefício comum,

determinada atividade econômica. Possui as seguintes características:

� Os trabalhadores deixam de ser empregados para serem sócios entre si, não existin-

do hierarquia entre eles.

� Sistema de autogestão, isto é, os trabalhadores cooperados gerenciam suas própri-

as atividades.

� Regime jurídico próprio que provê fundos equivalentes às obrigações trabalhistas,

amparando os cooperados e diverso daquele previsto pela legislação trabalhista

(Consolidação das Leis do Trabalho).

� Os direitos sociais são garantidos de forma estatutária, elaborada pelos próprios sócios.

� Ausência de vínculo empregatício entre as cooperativas e os tomadores (contratan-

tes) dos serviços e entre as cooperativas e seus associados.

AtençãoAs cooperativas devem seguir o regime da Lei n° 5.764, de 16 dezembro de 1971,

que define a política nacional de cooperativismo, institui o regime jurídico e dá

outras providências.

Organização do Trabalho

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 25

■ Microempresa

É a empresa com número limitado de empregados e rendimento estabelecido por um

conjunto de leis e códigos (referência: Lei n° 9.841, de 5 de outubro de 1999). Possui as se-

guintes características:

■ Toda empresa que tiver receita bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00

(duzentos e quarenta e quatro mil reais) enquadra-se na categoria de microempresa.

■ Recebe tratamento jurídico simplificado e favorecido, visando facilitar sua constitui-

ção e funcionamento.

■ É regida por um sistema hierárquico similar ao das pequenas, médias e gran-

des empresas.

■ Deve cumprir algumas obrigações da legislação trabalhista e previdenciária: registro

na carteira de trabalho e previdência social, apresentação da guia de recolhimento

do fundo de garantia por tempo de serviço e informação à previdência social, apre-

sentação da relação anual de informações sociais e do cadastro geral de emprega-

dos e desempregados.

Organização do Trabalho

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista26

Page 27: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 27

Tipos de TrabalhadoresO estudo das relações e interações das pessoas e da fabricação de calçados evidencia

sete tipos de trabalho ao lado do mais comum, executado principalmente por adultos jovens:

■ Tarefeiros

■ Trabalho Infantil

■ Trabalho Familiar

■ Trabalho da Mulher

■ Trabalho do Deficiente

■ Trabalho do Idoso

Page 28: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista28

Tipos de Trabalhadores

■ Tarefeiros

São aqueles trabalhadores que se incumbem de

realizar uma ou mais etapas do processo produtivo

num determinado tempo, podendo receber por tarefa

ou unidade produzida. Na indústria calçadista esses

trabalhadores podem desenvolver suas atividades

em bancas/ateliês, em seus domicílios e até dentro

das empresas.

Os tarefeiros (figura 4) geralmente acreditam ser

mais vantajoso realizar o trabalho dentro do ambien-

te familiar por estarem próximos à família e terem

domínio sobre o ritmo de trabalho, uma vez que não

têm jornada de trabalho definida, freqüência regular

e não estão sujeitos a “ordens diretas”.

Entretanto, podem ser trabalhadores com proble-

mas de isolamento, carência de organização, salário inadequado, falta de contrato formal

de trabalho e com benefícios empregatícios prejudicados, o que leva a uma instabilidade

econômica, pois o repasse de tarefas varia de acordo com a sazonalidade do mercado.

É importante lembrar que o trabalhador autônomo deve garantir hoje a segurança de

amanhã (aposentadoria) através da Contribuição Individual da Previdência Social (INSS –

Instituto Nacional do Seguro Social).

O governo oferece a possibilidade de contribuição para que o trabalhador autônomo e o

trabalhador avulso, que caracterizam os tarefeiros aqui mencionados, tenham assegurados

os seus direitos relativos a saúde, previdência e assistência social.

A contribuição do segurado é obtida aplicando-se a alíquota de 20% sobre o respectivo

salário-base, de acordo com a classe em que estiver enquadrado e observados os interstí-

cios (meses). O recolhimento do contribuinte individual deve ser feito até o dia 15 de cada

mês ou no primeiro dia útil anterior à data do vencimento.

Figura 4 – Tarefeiros

Page 29: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 29

Tipos de Trabalhadores

Os trabalhadores podem também fazer planos em empresas particulares idôneas ou

bancos que apresentam condições para garantir a eles o seu plano de aposentadoria priva-

da, através de contrato particular e da contribuição mensal.

■ Trabalho Infantil

A expressão “trabalho infantil” ou “trabalho de crianças” (figura 5) abrange toda ativida-

de econômica efetuada por uma pessoa com menos de 15 anos de idade, qualquer que seja

a sua situação na ocupação (trabalhador assalariado, trabalhador independente, trabalhador

familiar não remunerado). Não inclui os trabalhos domésticos realizados por esta pessoa no

domicílio de seus pais, salvo nos casos em que podem considerar-se equivalentes a uma ati-

vidade econômica, como ocorre quando uma criança se encontra na obrigação de dedicar to-

do o seu tempo a esses trabalhos domésticos, a fim de que seus pais possam desempenhar

suas atividades trabalhistas e esta criança esteja impossibilitada de ir à escola.

Dentro da Legislação Trabalhista, a Emenda nº 20, publicada no Diário Oficial da União

em 15 de dezembro de 1998, modificou o artigo 7º da Constituição Federal, proibindo qual-

quer trabalho a menores de 16 anos de idade. Esta foi a solução encontrada pelo Governo

para alterar a idade mínima de ingresso no mercado de trabalho de 14 para 16 anos de ida-

de. Esta modificação está em processo de aprovação, necessitando da assinatura do Presi-

dente da República. O trabalho realizado pelas entidades do sistema S (SESI, SENAI, SESC

e SENAC) é educativo, permitindo aos maiores de 14 anos atividades de aprendizagem em

uma carga horária de 4 horas diárias.

A inserção precoce das crianças e dos adolescentes no mercado de trabalho calçadista,

principalmente no mercado informal, ocorre devido a aspectos econômicos (complementa-

ção da renda familiar), aspectos culturais (visão dos pais) e aspectos sociais (desemprego

dos pais, insuficiência de escolas públicas e falta de expectativa de escolas de aprendiza-

gem para as crianças).

AtençãoA inscrição dos contribuintes individuais da Previdência Social é efetuada nos Postos

do Seguro Social, Postos de Arrecadação e Fiscalização do INSS e através do Prevfone

0800-780191.

Page 30: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista30

Tipos de Trabalhadores

Baseado no fato ocorrido em 1994, em que o Sindicato dos Sapateiros de Franca-SP de-

nunciou a exploração de mão-de-obra infantil na produção de calçados, foi realizada uma

pesquisa em parceria com o DIEESE1, verificando-se as condições precárias de trabalho as-

sociadas ao constante manuseio de cola de sapa-

teiro. A mão-de-obra infantil na indústria calçadis-

ta é utilizada em regime familiar, em pequenos ate-

liês/bancas inadequadas, confinadas e sem venti-

lação. As crianças e os adolescentes realizam tare-

fas como trançar o couro, colar a sola, limpar solas

e saltos com o manuseio de produtos químicos, po-

lir as peças, acondicionar e expedir o produto.

Neste tipo de atividade, as crianças e os adoles-

centes podem estar expostos a alguns fatores de

risco de segurança e saúde, tais como físicos (expo-

sição a ruído), químicos (intoxicação pela manipula-

ção de produtos químicos, especialmente os perni-

ciosos ao organismo em formação), ergonômicos

(lesão por esforço repetitivo – LER/DORT, postura

inadequada) e de acidentes (risco de acidente típico

pelo uso de equipamentos cortantes e prensas).

Existem algumas entidades que atuam na erradicação do trabalho infantil, como a OIT2,

a UNICEF3, a Fundação ABRINQ4, o Instituto Pró-Criança, a Fundação Semear, as Centrais

Sindicais, a ABICALÇADOS5 e o Ministério Público.

1 DIEESE: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos.2 OIT: Organização Internacional do Trabalho.3 UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância.4 ABRINQ: Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedo.5 ABICALÇADOS: Associação Brasileira das Indústrias de Calçados.

Figura 5 – Trabalho infantil

Page 31: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 31

Tipos de Trabalhadores

■ Trabalho Familiar

Durante pouco mais de um século, o artesanato de couro em confecções manuais de

chinelos, sandálias e botinas prevaleceu em antigos sistemas de trabalho de oficinas

familiares (figura 6). Por influência dos pais, os filhos aprendiam o ofício de artesão de

calçados. Em decorrência das necessidades do mercado, as técnicas se aprimoraram e as

condições de trabalho foram aperfeiçoadas ao trabalho moderno e atual. O próprio filho

começou a construir um novo patrimônio, em que o trabalho familiar foi conciliado ao de

outras pessoas pertencentes à comunidade em geral, tendo um crescimento produtivo.

Na indústria calçadista, o trabalho familiar também é encontrado nas bancas/ateliês,

podendo ser realizado nas casas, envolvendo pai, mãe e filhos.

■ Trabalho da Mulher

Como conseqüência de crises econômicas e mudanças de valores culturais, a

participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro vem crescendo.

Mesmo com o destaque da mulher em muitas atividades (figura 7) e com a ampliação de

novas áreas de atuação, ela pode sofrer algumas discriminações. A legislação assegura à

mulher alguns direitos trabalhistas, tais como:

Figura 6 – Trabalho familiar

Page 32: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista32

Tipos de Trabalhadores

■ licença-maternidade de 120 dias remunerada;

■ durante os primeiros 6 meses de vida da criança, a mãe trabalhadora tem por direito

uma hora diária livre para a amamentação de seu filho;

■ no retorno da licença-maternidade, a mulher possui estabilidade empregatícia de, no

mínimo, 60 dias.

Visando conciliar família e trabalho, muitas mulheres trabalham no domicílio e, em

alguns casos, com a ajuda dos filhos, caracterizando o trabalho informal. Com isso, a mulher

concilia os afazeres domésticos, o cuidado dos filhos e o trabalho remunerado.

Dentro das indústrias de calçados, o percentual feminino nas linhas de montagem é pro-

porcionalmente equilibrado com a mão-de-obra masculina. Já nas bancas/ateliês (trabalho

informal), predomina a mão-de-obra feminina, realizando principalmente atividades de pes-

ponto de pequenas peças.

Figura 7 – Trabalho da mulher

Page 33: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 33

Tipos de Trabalhadores

■ Trabalho do Deficiente

O direito à participação em atividades econômicas de pessoas portadoras de deficiênci-

as (figura 8) é assegurado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela legisla-

ção brasileira vigente.

A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras

de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui a tutela jurisdicional de interesses cole-

tivos ou difusos destas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes e

dá outras providências.

O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, regulamenta a Lei nº 7.853 e dispõe

sobre a Política Nacional para integração da pessoa portadora de deficiência, consolida as

normas de proteção e dá outras providências.

Figura 8 – Trabalho do deficiente

Page 34: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista34

Tipos de Trabalhadores

Conforme o texto legal as deficiências se enquadrariam nas seguintes categorias:

1. Deficiência física.

2. Deficiência auditiva.

3. Deficiência visual.

4. Deficiência mental.

5. Deficiência múltipla.

As empresas com cem ou mais funcionários serão obrigadas a preencher de dois a cin-

co por cento de seus cargos com beneficiários da Previdência Social reabilitados ou com

pessoa portadora de deficiência habilitada, conforme quadro 2, abaixo.

Quadro 2 – Porcentagem obrigatória de cargos destinados às pessoas portadorasde deficiências (PPD) pelo número de trabalhadores da empresa.

Em 26 de janeiro de 2001 a Secretaria de Inspeção no Trabalho divulgou a Instrução Nor-

mativa nº 20, que dispõe sobre os procedimentos a serem adotados pela fiscalização do tra-

balho no cumprimento da legislação relativa às atividades laborais das pessoas portadoras

de deficiências.

% de PPDNº de trabalhadores2de 100 a 2003de 201 a 5004de 501 a 10005mais de 1000

Page 35: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 35

■ Trabalho do Idoso

Devido à necessidade financeira de muitos cidadãos, observamos uma tendência à

continuidade das atividades laborais após o processo de aposentadoria.

Os direitos trabalhistas dos idosos aposentados (figura 9) são iguais aos dos funcionári-

os não aposentados, conforme Regulamento da Previdência Social/Decreto nº 3.048 (artigo

VII – § 10 – título II – capítulo 1 – seção I), diferenciando-se apenas por estes não terem di-

reito ao recebimento de outro benefício além da aposentadoria. Portanto, em casos de afas-

tamento superior a 15 dias por doença ou acidente de qualquer natureza, o aposentado não

tem direito ao recebimento de outro benefício além da aposentadoria. Na indústria calça-

dista, a mão-de-obra de pessoas idosas, na sua maioria aposentados, é composta principal-

mente por antigos artesãos.

Tipos de Trabalhadores

Figura 9 – Trabalho do idoso

Page 36: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista36

Page 37: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 37

Riscos comumente encontrados de acordo com o porte das empresas.

Esquema simplificado de identificação de riscos nos diversos setores.

Quadro 3 – Identificação dos Riscos conforme o grau (pequeno, médio egrande) nos diferentes setores da indústria calçadista.

Riscos e Controles

Corte

Estamparia(pintura/silk screen)

Injetoras

DistribuiçãoInterna/Externa

PreparaçãoPesponto

Pré-fabricadosSolas/Palmilhas

Montagemde Calçados

AcabamentoPolimento

Controle deQualidade

EmbalagemExpedição

Manutenção

ServiçosGerais

Administração

GRAU DE RISCO: Risco pequeno Risco médio Risco grande

PORTE DAS EMPRESAS: P - Pequena empresa M - Média empresa G - Grande empresa

Setores daEmpresa

RISCO

FÍSICO

RISCO

QUÍMICO

RISCO

BIOLÓGICO

RecebimentoAlmoxarifado

PlanejamentoModelagem

RISCO

DE ACIDENTE

P M G P M G P M G P M G P M G

RISCO

ERGONÔMICO

Page 38: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista38

Riscos e Controles

Riscos

Genericamente, são o perigo ou a possibilidade de perigo.

Em relação à saúde e à segurança, podemos ter como riscos os fatores ambientais que

apresentam determinado potencial para o desencadeamento de prejuízo ou dano, doenças

e outros incidentes ou acidentes que possam atingir os trabalhadores, bem como

a propriedade.

Os agentes de risco existentes no ambiente (quadro 3) de trabalho podem ser

classificados em:

■ Físico

■ Químico

■ Biológico

■ Ergonômico

■ De Acidente

Page 39: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 39

Riscos e Controles

Risco Físico

São considerados como risco físico o ruído, a vibração, a umidade, a radiação ionizante,

a radiação não ionizante, as pressões anormais e as temperaturas extremas. Na indústria

calçadista o ruído é o risco preponderante.

■ Ruído

O setor de produção da indústria calçadista de pequeno, médio e grande porte possui

máquinas e equipamentos que podem produzir variados níveis de ruído durante a jornada

de trabalho. O ruído é um som desagradável e indesejável. Suas características principais

são a freqüência e a intensidade.

A freqüência é o número de vibrações completas por segundo, tendo sua unidade de

medida expressa em Hertz (Hz). A faixa de freqüência audível para o homem abrange as

freqüências de 20Hz a 20.000Hz.

A intensidade é a quantidade de energia deslocada pela pressão produzida no ar, dada

pela amplitude da onda sonora, medida em decibel (dB).

Para uma jornada de 8 (oito) horas de trabalho, conforme especifica a NR-15, anexo n° 1,

o nível máximo de ruído permitido não deve ultrapassar 85 dB(A). Durante a jornada de

trabalho podem ocorrer diferentes exposições: este efeito combinado deve ser considerado.

No ambiente de trabalho são encontrados vários tipos de ruído:

Contínuo

É o tipo de ruído que apresenta variações desprezíveis dos níveis de intensidade de pressão

sonora durante o período de observação. Ocorre quando máquinas permanecem sempre ligadas

com a mesma rotação ou quando há ruídos provenientes de várias fontes. Exemplo: esteira.

Intermitente

É aquele que apresenta variações significativas durante o período de observação. Este

ruído existe apenas em certos momentos e, em outros, o ruído resultante é o de fundo.

Exemplo de máquina: blaqueadeira e rex (quando em funcionamento).

Impacto

É o tipo de ruído que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a um

segundo, em intervalos superiores a um segundo. Exemplo: máquina balancim.

Page 40: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista40

Riscos e Controles

Fatores que causam o ruído

Dentro de uma indústria podemos encontrar diversos fatores que podem causar ruído no

ambiente de trabalho, tais como:

■ Alta rotação de motores.

■ Vibrações dos componentes de máquinas.

■ Falta de amortecimento de peças flexíveis.

■ Não-utilização de silenciadores.

■ Falta de manutenção de máquinas e instrumentos.

■ Falta de lubrificação.

■ Desregulagens.

■ Falta de elementos que absorvam impactos.

■ Instalações físicas sem tratamento acústico.

■ Máquinas sem proteção externa ou com proteção mal dimensionada para absorção

do som.

■ Máquinas mal projetadas e/ou mal construídas.

Efeitos do ruído

Quadro 4 – Fluxograma dos efeitos quando há presença de ruído.

Efeitos do ruído

Auditivos Não Auditivos

Psicológicos SociaisFisiológicos

Page 41: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 41

Riscos e Controles

Efeitos fisiológicos auditivos

Os danos auditivos causados pelo ruído são distintos de acordo com sua intensidade e

duração, podendo ser classificados em:

a) Trauma acústico

É uma alteração súbita da audição, provocada por uma única exposição a um ruído muito

intenso. Geralmente afeta as freqüências de 3.000Hz, 4.000Hz ou 6.000Hz.

b) Mudança temporária de limiar

É uma alteração auditiva provocada pela exposição ao ruído, sendo que ao término desta

exposição a audição pode retornar ao normal em poucos minutos ou levar várias semanas.

Se o trabalhador ficou exposto 8 horas a 90 dB(A), levará até 16 horas para que sua

audição volte ao normal. Entretanto, ele dificilmente percebe essa alteração, a menos que

o ruído seja muito intenso. E como no dia seguinte sente-se “normal”, não valoriza a

necessidade de proteção auditiva.

c) Mudança permanente de limiar

É a diminuição dos limiares auditivos provocada pela exposição contínua a ruído, ocasi-

onando alteração do tipo neurossensorial (lesão das células do ouvido interno), progressiva

e irreversível. Atinge inicialmente as altas freqüências (3.000Hz, 4.000Hz e/ou 6.000Hz). A

mudança permanente de limiar é conhecida como perda auditiva induzida por ruído (PAIR).

A perda auditiva não é percebida pelo trabalhador a menos que em fase muito

avançada. Daí a necessidade do controle audiométrico, com a devida explicação sobre a

evolução da perda para o indivíduo.

Page 42: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista42

Riscos e Controles

Efeitos fisiológicos não auditivos

A exposição ao ruído pode ocasionar efeitos nocivos em outros orgãos e sistemas do

corpo humano, como:

■ Distúrbios circulatórios (hipertensão, taquicardia, vasoconstrição periférica).

■ Distúrbios digestivos (úlceras, gastrites).

■ Distúrbios endócrinos (alterações hormonais, como, por exemplo, diabetes).

■ Distúrbios imunológicos.

■ Distúrbios sexuais e reprodutivos (impotência, infertilidade).

■ Distúrbios de equilíbrio (labirintopatia).

■ Distúrbios do sono (insônia, dificuldade de adormecimento).

■ Distúrbios musculares.

Efeitos psicológicos

Em alguns casos, o ruído pode ocasionar mudanças psíquicas e de comportamento,

tais como:

■ Estresse.

■ Depressão.

■ Ansiedade.

■ Irritação.

■ Excitabilidade.

■ Hipermotividade.

■ Nervosismo.

Efeitos sociais

A exposição ao ruído também pode ocasionar alterações no convívio social do ser

humano, prejudicando sua qualidade de vida, como, por exemplo:

■ Diminuição da atenção.

■ Diminuição da memória.

■ Diminuição da concentração.

■ Isolamento social pela dificuldade de comunicação.

Page 43: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 43

Riscos e Controles

EXPOSIÇÃO EXTRAOCUPACIONAL

Existem muitas atividades não ocupacionais na vida diária que levam à exposição ao

ruído intenso (figura 10).

O ruído urbano é um dos fatores de maior desgaste para os indivíduos que habitam os

grandes centros. O som emitido por trânsito de veículos, obras, tráfego aéreo, música em

“volume” alto nas academias de ginástica e dança, show de rock, danceteria e cultos

religiosos pode levar a alterações auditivas.

Fogos de artifício, festividades carnavales-

cas (trio elétrico), festa junina (foguetes e bom-

binhas), tiro de arma de fogo, ferramentas elé-

tricas (serra elétrica, furadeira) e alguns eletro-

domésticos também são prejudiciais à audição.

Equipamentos com fones de ouvido, como

walkman e discman, podem causar perda audi-

tiva quando utilizados em “volume” muito alto

e por um tempo de exposição prolongado.

Vale lembrar que as crianças também não

estão isentas da exposição, como, por exemplo,

uso de brinquedos ruidosos (carrinhos com buzi-

na ou sirene estridente, armas como revólver ou

metralhadora, robôs, video game, entre outros).

A exposição simultânea ao ruído no trabalho

e fora dele é uma realidade que só faz crescer o

risco da perda auditiva para o ser humano.

Figura 10 – Fogos de artifício.

Page 44: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista44

Riscos e Controles

■ Vibração

A vibração é normalmente encontrada em qualquer processo industrial. Na indústria cal-

çadista a vibração pode estar presente em alguns processos de trabalho que utilizam as má-

quinas blaqueadeiras e rex (figura 11). Pode também ser decorrente da falta de manuten-

ção preventiva, balanceamento e fixação correta dos equipamentos no piso.

As vibrações podem ser localizadas ou de corpo inteiro, e seus efeitos no organismo in-

cluem o aparecimento de alterações da circulação sangüí-

nea, dos nervos periféricos, dos ossos e articulações. De-

vido a um conjunto de alterações, algumas vezes podemos

encontrar sensações de formigamento, adormecimento e

dor. Manifestação comum das alterações circulatórias é o

aparecimento de pontas de dedos brancas, no caso da vi-

bração transmitida às mãos. Na ocorrência desses sinto-

mas, deve-se procurar o serviço médico.

■ Calor/Conforto térmico

Na indústria calçadista não há fonte de calor radiante,

tal como o forno. O calor detectado é originário do clima

característico das cidades onde estão sediadas as empre-

sas, associado ao sistema construtivo inadequado, como o

tipo de cobertura, pé-direito baixo, falta de janelas e ven-

tilação natural. Outros fatores que interferem no conforto

térmico são: tipo de produção, arranjo físico e máquinas geradoras de calor (exemplo: cha-

ruto, estufa, molina, máquina de reativação da cola).

Figura 11 – Máquina rex.

Page 45: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 45

Riscos e Controles

Ruído

Medidas de controle

Quadro 5 – Fluxograma das medidas de controle quando há presença de ruído

Avaliação doresultado

Identificação

do sistema construtivo:coberturas, pisos,

fechamentos aberturas,estruturas, ventilação

mecânica

da posição domaquinário eoperadores

das fontessonoras

Reavaliar os níveis de ruído

Reavaliar oarranjo físico

Isolamento dasoperações ruidosas

em seções compatíveis

Sistema construtivo,aplicações,

revestimentos, forros eabafadores acústicos

Proteção individual (EPI):escolha e fornecimento

No Ambiente No Operador

Reorganizaçãodo trabalho:

pausas, rodíziode atividades

Manutenção preventiva:lubrificação,

balanceamentodas partes móveis,

ajustes,troca de correias

Providenciarapoio e fixações

Substituirligações rígidas

(hidráulicas, elétricase pneumáticas)

Enclausuramentoda fonte

Na Fonte1

Ações

2 3

Page 46: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista46

Riscos e Controles

Medidas de Controle

■ 1. Na fonte

A. Máquinas e equipamentos

A manutenção preventiva é fundamental para o bom andamento da produção. Reduz os

níveis de ruído, da vibração, diminui o desgaste das máquinas e equipamentos, acarretan-

do, conseqüentemente, redução de custos e de acidentes de trabalho.

Destacamos, desta forma:

■ Balancear e equilibrar as partes móveis.

■ Lubrificar eficazmente rolamentos e mancais.

■ Reduzir impactos na medida do possível.

■ Atenuar as vibrações.

■ Regular os motores.

■ Reapertar as estruturas.

■ Substituir, quando possível, engrenagens metálicas por outras de plástico

ou “celeron”.

■ Colocar silenciadores nos bicos de ar comprimido.

■ Substituir ligações rígidas por ligações flexíveis em pontos próximos à estrutura das

máquinas, o que reduz o ruído. Um exemplo é o sistema de ventilação local exaustora.

B. Fixação das máquinas

A redistribuição e o redimensionamento da concentração de máquinas e ferramentas,

posicionando o operário corretamente, contribuem para atenuar os níveis de pressão sono-

ra. O afastamento das máquinas das paredes ou extremidades cria corredores de circula-

ção do som, minimizando o ruído global (figuras 12A e 12B).

Atenção especial deve ser dada à fixação das máquinas, que poderá ser diretamente no

piso ou sobre amortecedores. A escolha da fixação em amortecedores dependerá do tipo de

equipamento a ser isolado, do peso, das dimensões, da velocidade dos componentes rota-

tivos (motores, polias, redutores e outros), do centro de gravidade da máquina, da freqüên-

Page 47: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 47

Riscos e Controles

Figura 12A – Situação não recomendável

Figura 12B – Situação recomendável

Page 48: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista48

Riscos e Controles

cia do equipamento, do local de instalação do equipamento (piso, laje, mezanino de aço,

de madeira).

Para seu dimensionamento deverá ser feita consulta a um especialista, que analisará

junto aos fabricantes das máquinas ou dos amortecedores se a máquina está preparada pa-

ra receber corretamente o amortecedor, pois o superdimensionamento dos amortecedores

poderá aumentar a vibração.

Existem máquinas que não estão preparadas para receber amortecedores, devendo ser

adaptadas bases especiais ou ser fixadas diretamente no piso. Observamos nas máquinas

de costura que, além do rigoroso balanceamento necessário, possuem centro de gravidade

alto, dificultando a colocação de qualquer amortecedor.

C. Enclausuramento e Absorção

O enclausuramento da máquina (figura 13)

ou de suas partes ruidosas é uma medida que

pode ser muito eficiente. O objetivo do enclau-

suramento é isolar o som. Portanto, é necessá-

ria a utilização de material isolante e não ape-

nas de material absorvente.

Quanto às vibrações, os elementos amorte-

cedores poderão ser colocados no próprio equi-

pamento ou através da concepção de empu-

nhaduras nas ferramentas, revestindo os cabos

com material amortecedor de vibrações. Luvas

apropriadas também podem ser utilizadas.

Figura 13 – Enclausuramento

Page 49: Manual Calcadista Parte1

■ 2. No ambiente

Sistema Construtivo

A identificação e a análise do sistema construtivo são de grande importância. Devem-se

levar em conta características como altura de pé-direito, tipo de cobertura, tipo de

revestimento de paredes, entre outros (figura 14). Por exemplo, em locais cujo pé-direito (altura

do piso ao teto) é menor ou igual a 10% da

largura do piso, as paredes não influem em

relação a uma fonte afastada destas.

Em ambiente não tratado acusticamen-

te, as formas côncavas de cobertura, ape-

sar de práticas e econômicas, impedem a

difusão do som e permitem a formação de

eco em cascata, tornando o ambiente mui-

to desconfortável. O confinamento total ou

parcial de uma fonte geradora de ruído é

uma solução razoável para aquele ponto,

mas não resolve o problema para o ambi-

ente como um todo. Coberturas com aber-

tura para iluminação dificultam a reverbe-

ração e ao mesmo tempo favorecem a ven-

tilação e a iluminação (figura 15).

Para dissipação do calor e absorção do

ruído, uma boa escolha, dentre outras, são

as telhas de fibra vegetal pintadas de bran-

co, cuja eficiência depende da manutenção

periódica. A colocação das telhas deverá

ser no sentido noroeste-sudeste, executan-

do uma cinta vazada sob o telhado, evitan-

do-se, assim, acúmulo de ar quente.

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 49

Riscos e Controles

Figura 14 – Propagação do ruído

Figura 15 – Cobertura com abertura para iluminação e ventilação

Page 50: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista50

Riscos e Controles

Beirais e pérgulas evitam que raios solares incidam diretamente sobre as paredes, melho-

rando o conforto térmico. Quanto às paredes, o peso e a rigidez controlam o isolamento.

Quanto mais pesadas forem as paredes, mais isolarão o ruído. Cada vez que dobrarmos o

peso da parede, aumentaremos de 4 a 5 dB a capacidade de atenuação sonora. Por exem-

plo, uma parede de 40 Kg/m2 isolará 34 dB. Ao dobrarmos seu peso para 80 Kg/m2 (figura

16A), passaremos a isolar 38 dB.

As paredes podem ser do tipo sanduíche (figura 16B). A

combinação de painéis leves afastados formando espaços

preenchidos por ar, lã de vidro ou lã de rocha, proporciona

maiores resultados do que paredes espessas e pesadas na

atenuação do ruído. As paredes paralelas rijas, assim como

corredores ou túneis que possam constituir tubos acústicos,

tendem a aumentar a reverberação.

Existem alternativas de materiais absorventes termoa-

cústicos que proporcionam maior eficiência no isolamento,

tais como:

■ concreto celular autoclavado – composto de

cal, cimento, areia e pó de alumínio. Trata-se de um

material leve, resistente ao fogo, que proporciona bom

isolamento termoacústico. Uma parede de 10 cm de

espessura e não revestida apresenta um índice de

isolamento de 37 db(A);

■ argila expandida – a argila expandida é utilizada

como isolante térmico e acústico em enchimentos de

vazios, na proporção de 20 sacos de argila, 3 a 4 de

cimento e água suficiente para que a nata de cimento

envolva a argila;

■ vermiculita – é um mineral da família das argilas

micáceas e pode ser utilizado como agregado para

argamassa aplicada sobre lajes ou revestimento de

Figura 16A – Isolamento por peso

Figura 16B – Isolamento tipo sanduíche

Page 51: Manual Calcadista Parte1

parede ou a granel dentro de blocos. A redução dos níveis de ruído pode chegar a

50% na freqüência de 1.000Hz;

■ isopor – material bastante popular, que pode ser utilizado como isolante acústico,

além de sua conhecida propriedade de isolamento térmico, utilizado como isolante

na fonte e como barreiras acústicas;

■ espuma acústica – Material fabricado em espuma de poliuretano com alta

resistência ao fogo. É apresentada em forma de placas acústicas (figura 17) ou

mantas, que podem ser aplicadas sobre o teto, as paredes ou superfícies metálicas,

proporcionando altos índices de redução de ruído.

A colocação de painéis acústicos como os da ilustra-

ção aumenta a absorção do ruído aéreo. Os revestimen-

tos acústicos também podem reduzir a transmissão es-

trutural, pois a propagação de vibrações na estrutura

envolvente pode gerar novas fontes de ruído. Além da

utilização dos materiais acima citados, outros cuidados

minimizam o efeito térmico, como a instalação de vidros

especiais nas janelas (verdes, espelhados ou recobertos

com película própria), cores claras na fachada, paredes

e piso. Uma boa medida como solução geral quando o

ruído global ambiente estiver menor ou igual a 85 dB(A)

é a absorção e a difusão do som, tratando-se o ambien-

te com painéis acústicos suspensos, devidamente cal-

culados por especialistas de acordo com a necessidade

do local/empresa.

A segregação no tempo ou no espaço é uma

medida que pode ser implantada normalmente como medida de contole, apesar de na

indústria calçadista ser mais dificil. No tempo, a operação ruidosa seria executada fora do

turno de trabalho, o que raramente é possível. No espaço, a operação seria executada em

local afastado em relação ao processo industrial, o que também é dificil, tendo em vista a

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 51

Riscos e Controles

Figura 17 – Placas acústicas

Page 52: Manual Calcadista Parte1

organização de trabalho da indústria calçadista. Uma vez segregada a operação ruidosa,

deve ser feito isolamento do local com materiais apropriados, como os relacionados.

■ 3. No operador

A. Reorganização do trabalho

A reorganização do trabalho objetiva a redução do tempo de exposição do indivíduo a

níveis de ruído prejudiciais à saúde, o que poderá ser conseguido com o rodízio de tarefas

em máquinas ruidosas, ou implantando-se pausas na jornada de trabalho.

B. Equipamento de proteção individual

Como último recurso são utilizados os equipamentos de proteção individual, protetores

auriculares (figura 18), que poderão ser do tipo concha ou plug, escolhido de acordo com as

necessidades de atenuação e de adaptação individual dos usuários, orientando-os quanto

à necessidade do uso, guarda e conservação.

É importante salientar a

necessidade de uso do protetor

pelos funcionários que trabalham

próximos às máquinas ruidosas.

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista52

Riscos e Controles

Figura 18 – Protetor auricular

Page 53: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 53

Riscos e Controles

Vantagens da adoção correta das medidas de controle (figura 19):

■ Distância entre o operador e a fonte emissora.

■ Reduzir a concentração das máquinas.

■ Substituição por máquinas mais silenciosas.

■ Realização de manutenção preventiva das máquinas (ajustes, lubrificação, troca

de correias).

■ Adequar a máquina com sistemas anti-vibratórios.

No ambiente

■ Amenizar o ruído observando aspectos referentes ao prédio onde é executado o

trabalho, tais como: altura interna adequada e uso de materiais absorventes

(cortiças, forros e pisos).

■ Colocar barreiras para diminuir o ruído que afeta o trabalhador quando a redução na

fonte for inviável ou insuficiente.

Figura 19 – Adoção correta das medidas de controle

Page 54: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista54

Riscos e Controles

Risco Químico

“Cola de sapateiro” é hoje notícia de jornal pelo uso, principalmente, de menores, no

triste conjunto de dependentes químicos que necessitam de assistência da comunidade

para prevenção desse grave problema.

Entretanto, a “cola de sapateiro” é um dos principais produtos usados como matéria-

prima na indústria de calçado, como também adesivos e solventes para limpeza.

As colas e adesivos utilizados na indústria calça-

dista possuem em sua composição matérias-primas

que são responsáveis pela aderência na montagem

do calçado. Para dissolver esses componentes, utili-

zam-se solventes orgânicos identificados nos rótulos

(figura 20) como aromáticos1 e alifáticos2.

Grande parte da exposição ocupacional deve-se

aos vapores desses solventes que são absorvidos pe-

lo organismo através das vias respiratórias, podendo

também ocorrer por vias digestivas e cutâneas.

Os efeitos dos produtos químicos mencionados podem ser classificados como:

Efeitos agudos: resultantes de exposição a altas concentrações por curto período, po-

dendo causar dificuldade respiratória, tonturas, dor de cabeça, fadiga, perda de consciên-

cia e irritação.

Efeitos crônicos: decorrentes de exposições por tempo prolongado a pequenas e

médias concentrações, podendo causar distúrbios neurológicos do sistema nervoso central

e periférico, como mudanças e falhas na memória, redução da destreza manual e do tempo

de reação, ou seja, redução da capacidade para o trabalho.

Figura 20 – Rotulagem

1 Solventes aromáticos – ex.: tolueno, xileno.2 Solventes alifáticos – ex.: n-hexano, metil-etil-cetona, acetato de etila.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 55

Riscos e Controles

■ Biotransformação e excreção

Os solventes mais comumente encontrados em colas, adesivos e produtos para limpeza

estão apresentados na tabela abaixo, com seus respectivos limites de tolerância.

Quadro 6 – Limites de tolerância de alguns solventes.

Os solventes são na grande maioria biotransformados no fígado e, em menor quantida-

de, nos pulmões e nos rins. A excreção geralmente é feita por via pulmonar e renal.

Solvente(ppm)

n-pentano 470n-hexano 50 (ACGIH)

ciclohexano

toluenoxileno

álcool etílicoacetona

acetato de etila

235

78

780310

metil-etil-cetona

78

780

155

mg/m3

1400176 (ACGIH)

820

340

18701090

290

1480

460

Grau deinsalubridade

mínimo—

médio

médio

mínimomínimo

médio

mínimo

médio

Limite de tolerância até 48 horas/semana

fontes: NR-15 e ACGIHppm: parte por milhãoACGIH: American Conference of Governmental Industrial Hygienists.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista56

Riscos e Controles

Medidas de Controle

Exposição a risco químico

Quanto menor a exposição do trabalhador aos produtos químicos, melhor será a quali-

dade de vida e menor será a agressão ao meio ambiente. O controle do risco químico para

doença profissional é uma função conjunta das áreas de engenharia, medicina, manuten-

ção e produção. De modo geral, os métodos de controle visam a eliminação do agente no-

civo ou a redução de sua concentração no ambiente de trabalho.

O primeiro passo é identificar o agente químico (p. ex.: cola à base de solventes orgâni-

cos) e conhecer sua propriedade nociva presente no ambiente de trabalho. A avaliação

quantitativa é o próximo passo para determinar a presença do produto na atmosfera e pos-

terior medida de controle adequada.

O manuseio de colas em locais pequenos e mal ventilados é um risco para o trabalhador

e, portanto, deve ser promovida a ventilação dos locais de trabalho segundo as medidas de

controle abaixo descritas:

■ Eliminação do risco

■ Substituição do produto nocivo – é a substituição da substância tóxica por outra

menos tóxica ou atóxica sem perder sua finalidade.

■ Modificação de procedimento ou sistema de operação – a substituição de métodos

manuais por mecanizados, sem contato manual, pode resultar no distanciamento do

agente agressivo.

■ Neutralização do risco

■ A ventilação natural é provocada pelo deslocamento natural do ar através de janelas,

portas e outras aberturas (superiores e inferiores). As forças naturais disponíveis

para a movimentação do ar são a força do vento e as diferenças de temperatura entre

o interior e o exterior do ambiente.

■ Mesmo no local bem arejado, esta ventilação natural pode ser insuficiente. Podemos

então optar pela ventilação forçada, diluidora ou local exaustora.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 57

Riscos e Controles

■ Sistemas de ventilação – são basicamente conhecidos dois tipos de ventilação

industrial: a geral diluidora e a local exaustora.

Ventilação geral diluidora – Não capta o poluente lançado no ar mas o dilui, tor-

nando sua concentração mais baixa. Este tipo de ventilação não é muito recomendada, pois

os vapores tóxicos liberados podem ser inalados pelo trabalhador. Este sistema deve ser pro-

jetado criteriosamente de acordo com os princípios da engenharia, de forma a reduzir a con-

centração do agente químico a um valor abaixo do Limite de Tolerância. Tendo em vista que

os vapores orgânicos originários na indústria calçadista são mais pesados que o ar, é impor-

tante que sejam previstas aberturas próximas ao nível do solo, que facilitem a saída destes

vapores. Um sistema de ventilação geral diluidora recomendado para trabalhos em linha é o

sistema de ventilação com dutos de polietileno infláveis (figura 21). Trata-se de um sistema

econômico, leve, com flexibilidade de instalação, remoção e baixo nível de ruído. Além de

ser um sistema que minimiza o problema do risco químico, melhora sensivelmente o confor-

to, proporcionando uma velocidade do ar de 0,50 m/s na sua faixa de atuação. Existe a pos-

sibilidade de se instalar um gabinete evaporativo junto ao sistema de ventilação, que tem

por objetivo a filtragem e umidi-

ficação do ar, podendo inclusive

reduzir a temperatura.

Figura 21 – Ventilação com dutos

Page 58: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista58

Riscos e Controles

Ventilação local exaustora – Capta o poluente o mais próximo possível da fonte

de emissão antes de sua dispersão na atmosfera (figura 22), tendo como objetivo principal

a proteção da saúde. Constitui-se essencialmen-

te das seguintes partes: captor, dutos e ventila-

dor exaustor centrífugo, localizado fora do ambi-

ente de trabalho, para que seu ruído não provo-

que incômodo aos trabalhadores. Um sistema de

ventilação local exaustora deve ser projetado

dentro dos princípios de engenharia. Numa linha

de produção de calçados na qual a operação de

colagem é feita em bancadas e/ou esteiras exis-

tem dois tipos de captação do poluente: com coi-

fas articuláveis ou um captor do tipo multifres-

tas, conforme figura ao lado. A decisão sobre a

instalação de um filtro depende do volume de

vapores exauridos.

Outras medidas de prevenção para risco químico:

■ Isolar as operações que envolvam solventes dos demais setores da fábrica.

■ Reduzir a jornada do pessoal no trabalho com solventes.

■ Informar os trabalhadores sobre os riscos e envolvê-los no controle.

■ Conservar os produtos tóxicos em recipientes hermeticamente fechados, inclusive

durante a sua aplicação.

■ Acompanhamento rigoroso dos resultados obtidos nos exames biológicos

recomendados no PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.

■ Treinamento das práticas adequadas de trabalho. Manter programa de inspeção para

treinamento contínuo.

■ O último que deve ser adotado é o fornecimento de protetor respiratório semi-facial

com filtro contra vapores orgânicos. Lembramos sobre a exigência contida na NR-6 e

a verificação da limitação do uso dos vários tipos de filtros existentes.

Figura 22 – Ventilação local exaustora

Page 59: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 59

Riscos e Controles

Ficha de Informação sobre Segurança do

Produto – FISP

FISP

1. Identificação do produto e da empresa fabricante ou fornecedora

2. Informação sobre composição

3. Identificação de efeitos à saúde

4. Medidas de primeiros socorros

5. Medidas de combate a incêndio

6. Medidas em caso de derrame acidental ou vazamento

7. Manuseio e armazenamento

8. Medidas de controle da exposição

9. Propriedades físico-químicas

10. Estabilidade e reatividade

11. Informações toxicológicas

12. Informações relativas ao meio ambiente

13. Considerações sobre disposição/descarte

14. Informações sobre transporte

15. Informações sobre a regulamentação do produto

16. Outras informações

A “Ficha de Informação sobre Segurança do Produto” (FISP) contém informações

essenciais sobre vários aspectos de substâncias ou misturas quanto à segurança e proteção

à saúde e ao ambiente. Fornece conhecimentos básicos sobre os produtos químicos,

recomenda medidas preventivas e ações de emergência.

Cada FISP é relacionada a um produto, portanto única, e pode ser obtida junto ao

fabricante ou fornecedor deste, os quais têm o dever de mantê-la atualizada e fornecer ao

usuário a edição mais recente.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista60

Riscos e Controles

1. Identificação do produto e da empresa fabricante ou fornecedora

Nome comercial do produto, identificação do fabricante, data de elaboração e revisão

da FISP, telefone para emergências e outras informações pertinentes.

2. Informação sobre composição

Informa se a substância é pura ou mistura, dá nome(s) oficial(ais) e sinônimo(s), percentuais

dos componentes. No caso de misturas, contém as características de odor e limites olfativos.

3. Identificação de efeitos à saúde

É o resumo das principais propriedades intrínsecas do produto que podem provocar

danos à saúde e ao meio ambiente. Indica efeitos agudos, subagudos, crônicos e, a longo

prazo, da exposição por inalação, contato ou absorção pela pele e pelos olhos e ingestão.

Também indica os principais sinais e sintomas e agravamento de condições preexistentes.

4. Medidas de primeiros socorros

Orienta as providências para casos de exposição acidental, subdivididas para os casos

de inalação, contato com a pele, contato com os olhos e ingestão.

5. Medidas de combate a incêndio

Mostra as propriedades do produto relacionadas com o risco de incêndio (ponto de

fulgor, ponto de auto-ignição e faixa de inflamabilidade). Sensibilidade do produto a

impacto mecânico e a cargas estáticas, produtos de decomposição térmica e combustão.

Meios de extinção apropriados, medidas de combate ao incêndio e meios incompatíveis

para o combate ao fogo.

6. Medidas em caso de derrame acidental ou vazamento

Contém as instruções específicas de precauções pessoais, ambientais e sistemas de

alarme. Métodos de limpeza (neutralizadores, absorvedores e diluidores). Alerta para

possíveis situações e/ou materiais incompatíveis. Prevenção de possíveis riscos secundários.

Referência: Proposta de padrão para elaboração da FISP, desenvolvida a pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo pela FUNDACENTRO eCentros de Referência de Saúde do Trabalhador (24.03.1999).

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 61

Riscos e Controles

7. Manuseio e armazenamento

Relaciona as medidas técnicas apropriadas e precauções para o manuseio seguro, bem

como procedimentos ou equipamentos recomendados ou proibidos. Condições para

armazenagem segura, com especial atenção à necessidade do arranjo físico adequado da

área e embalagens/recipientes recomendados ou impróprios, especificações de

equipamentos elétricos e a necessidade de prevenção da eletricidade estática. Mostra os

limites de armazenagem.

8. Medidas de controle da exposição

Medidas de controle de engenharia necessárias para a eliminação ou minimização do

risco, priorizando o controle da fonte e trajetória em relação à necessidade eventual do uso

de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Medidas de higiene pessoal, incluindo a

proibição de fumar, comer e beber durante o manuseio.

Limites de exposição ocupacional preconizados para cada componente, média

ponderada pelo tempo (“TWA”), valor de curta duração (“STEL”) e valor-teto (“Ceiling”).

Mostra os indicadores biológicos de exposição e respectivos valores recomendados.

9. Propriedades físico-químicas

Descreve a aparência do produto (estado físico, forma, cor e odor). Propriedades como

ponto ou faixa de ebulição, ponto de fusão, densidade relativa (água = 1), pressão de vapor,

solubilidades, densidade relativa do vapor (ar = 1), taxa de evaporação e pH.

10. Estabilidade e reatividade

Determina as condições que devem ser evitadas, tais como: temperaturas altas ou bai-

xas, pressão, luz, choques, atrito, envelhecimento e umidade, corrosividade e substân-

cias incompatíveis.

Observação: Estas informações deverão subsidiar medidas de prevenção, práticas de

segurança, armazenamento, descarte, danos ao meio ambiente, entre outras.

Page 62: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista62

Riscos e Controles

11. Informações toxicológicas

Descrição concisa, mas completa e compreensível, dos vários efeitos toxicológicos do

produto ou de seus componentes, destacando: toxicidade aguda, efeitos locais (irritabilida-

de e corrosividade), sensibilização e toxicidade crônica devido a exposições de curta ou lon-

ga duração (carcinogenicidade, toxicidade ao sistema reprodutor, teratogenicidade, embrio-

genicidade, mutagenicidade e neurotoxicidade). Menção separada, quando houver, de efei-

tos imediatos e tardios, efeitos sobre diversos órgãos e sistemas, substâncias toxicologica-

mente sinérgicas, efeitos cumulativos e de depósito no organismo.

12. Informações relativas ao meio ambiente

Dados para avaliação do impacto ambiental, tais como mobilidade, degradabilidade,

potencial de bioacumulação e riscos potenciais à biodiversidade.

13. Considerações sobre disposição/descarte

Condutas a serem adotadas com os resíduos e materiais contaminados, incluindo os

utilizados na contenção de derramamento e de vazamento.

14. Informações sobre transporte

Classificação ONU do produto, ratificada pelo Brasil e regulamentações adicionais,

quando for o caso.

15. Informações sobre a regulamentação do produto

Regulamentação(ões) específica(s) aplicada(s) ao produto e à categoria do produto em

conformidade com o sistema de rotulagem preventiva.

16. Outras informações

Informações suplementares consideradas importantes para o uso seguro do produto e as

fontes de referência usadas na preparação da ficha.

Page 63: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 63

Riscos e Controles

Risco Biológico

O risco biológico na indústria calçadista pode ser detectado na atividade de limpeza de

sanitários pelo possível contato com material biológico (fezes e urina).

Medidas de Controle

Para o pessoal exposto aos agentes biológicos as medidas preventivas essenciais são:

■ Controle médico permanente, observando-se os exames e os procedimentos

recomendados no PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.

■ Uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) adequado quando houver necessidade

de se utilizarem substâncias germicidas e fungicidas (luvas e botas de PVC).

Page 64: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista64

Riscos e Controles

Risco Ergonômico

A inadequação ergonômica resulta em risco que tem sido motivo de atenção de profissi-

onais das mais diversas áreas. Com o avanço da informatização nas atividades laborais, as

queixas relativas à postura aumentaram, surgindo preocupação com a saúde em relação ao

conforto. Os meios de comunicação têm divulgado informações a respeito de cuidados bási-

cos relativos às questões ergonômicas, alertando o público em geral. Esta preocupação ul-

trapassou a atenção dos usuários de computador, atingindo outras atividades laborais. É uma

preocupação com o mundo moderno e tecnológico que força o ser humano a se adaptar. As-

sim, o posto de trabalho deve ser analisado, levando-se em consideração alguns pontos:

■ Posição e postura

do trabalhador

São observados trabalhos repetitivos,

sem pausa, posturas e mobiliários pouco

adequados ao ser humano (figura 23). Os

setores de maior incidência a estes riscos

são: o corte manual e semi-mecanizado, a

preparação e pesponto e o setor de monta-

gem. O trabalho em esteiras é desenvolvi-

do predominantemente em pé e o trabalho

em grupos ou células é desenvolvido pre-

dominantemente na posição sentada.

As pausas obrigatórias ocorrem apenas

nos horários de refeição (almoço).

Figura 23 – Postura

Page 65: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 65

Riscos e Controles

■ Transporte manual de cargas/levantamento de peso

Na indústria calçadista o transporte manual de cargas pode acarretar danos à saúde e

à integridade física do trabalhador se não forem observados os seguintes fatores: peso da

carga, distância a ser percorrida, formato da carga, tipo de piso, tipo de movimento, altura

da carga ao piso. Observa-se, com certa freqüência, nos setores de expedição e almoxari-

fado, a disposição de caixas no piso que são manuseadas e deslocadas constantemente,

ocasionando movimentos e esforços lombares desnecessários que poderiam ser evitados

utilizando-se bancadas na altura abdominal para realizar este tipo de tarefa.

■ Distância dos equipamentos e máquinas

O arranjo físico é alterado com freqüência em função do produto a ser fabricado. A

distância entre máquinas e equipamentos deverá sempre estar dentro do recomendado,

entre 0,70 m a 1,30 m.

■ Tipos de esforços realizados

Na indústria calçadista são observadas tarefas que acarretam movimentos repetitivos,

por exemplo, no pesponto, na dobra, no passar cola etc. Em algumas tarefas exige-se a apli-

cação de força com os membros superiores, para se evitar o deslocamento do material pro-

cessado na vertical e na horizontal, observado nas lixadeiras, blaqueadeiras e máquinas rex.

■ Condições ambientais de conforto

Para que se atinjam as condições ambientais de conforto, devem ser levados em

consideração fatores como temperatura ambiente, ventilação, circulação de ar, iluminação

e níveis reduzidos de ruído. Na indústria calçadista, em geral, ressaltamos a presença de

conforto térmico prejudicado pelas condições climáticas locais aliadas a características

construtivas e ao processo de trabalho. Observamos alterações da iluminação em muitos

postos de trabalho, provocando, além do esforço visual, fadiga, riscos de acidentes e

diminuição da produtividade.

Page 66: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista66

Riscos e Controles

O ruído é um dos fatores importantes que

contribuem para o desconforto ambiental,

provocados principalmente por máquinas ti-

po blaqueadeiras, rex, lixadeira, fresa

(figura 24).

■ Organização geral

do trabalho

Os fatores relacionados à organização

do trabalho envolvem normas de produção,

modo operatório, exigência de tempo, de-

terminação do conteúdo do tempo, ritmo de

trabalho e conteúdo das tarefas. Conforme

já descritro em capitulos anteriores, predo-

mina na indústria calçadista o trabalho de

grupos e de células, principalmente nos se-

tores de produção e pesponto e esteiras na

linha de montagem. A indústria calçadista

trabalha com picos de produção que acar-

retam alteração na velocidade de trabalho.

Os fatores causais estão relacionados com

uma necessidade maior de atender ao mer-

cado consumidor (encomendas suplementares), quando podemos encontrar a presença de

horas extras e até de dobras de turno de trabalho.

Figura 24 – Uso de protetor auricular

Page 67: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 67

Riscos e Controles

Medidas de Controle

Presença de risco ergonômico

O corpo deve trabalhar na vertical, adequado à altura

das bancadas de modo que a distância dos olhos à tarefa

seja de aproximadamente 30 cm, ou, no máximo, na altura

dos cotovelos.

Quando o trabalho envolver mais de um tipo de tarefa,

calcular a bancada pela atividade que ocorrer por mais tem-

po. Entre situar um posto de trabalho um pouco mais baixo

ou um pouco mais alto, é preferível que esteja um pouco

mais elevado, pois é mais fácil adaptar o trabalhador de es-

tatura mais baixa com um estrado (figura 25).

É mais prejudicial para o trabalhador ficar com o tronco

na posição encurvada do que com os antebraços um

pouco verticalizados.

Os braços devem estar o mais próximo da posição verti-

cal e os antebraços na horizontal, com apoio (antebraços e

punhos), evitando-se “bordas vivas” de mesas ou bancadas

(não deve existir compressão de qualquer parte do corpo

pelo mobiliário).

Todos os instrumentos de uso freqüente devem estar

dentro da área de alcance normal das mãos (figura 26).

Todos os instrumentos de uso ocasional devem estar no

máximo dentro da área de alcance das mãos e nunca acima

do nível dos ombros.

O tronco não deve se encurvar, rotineiramente, para

fazer o trabalho.

Figura 26 – Instrumentos de trabalho ao alcancedas mãos

Figura 25 – Estrado

Page 68: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista68

Riscos e Controles

As ferramentas e materiais devem ser colocados na ordem de utilização.

Os pés devem sempre estar apoiados em suportes, evitando-se contudo o uso de barras,

que são inadequadas. É conveniente que o funcionário tenha flexibilidade postural (isto é,

possa assumir várias posições de trabalho durante a jornada). Para isso, podem-se utilizar

bancos semi-inclinados (= posição semi-sentada) de modo alternado com a posição em pé.

■ Planejamento ou adaptação da posição de trabalho

sentada (linha de montagem/esteiras/células/grupos)

O assento de trabalho deve ter borda anterior arredon-

dada (figura 27) e a dimensão antero-posterior do assento

deve permitir que as coxas fiquem completamente apoia-

das e com mecanismo de fácil regulagem de altura. Todo

assento deve ter o apoio para o dorso, de angulação de

aproximadamente 100 graus. Deve haver regulagem de al-

tura do encosto. Quando o trabalho exigir movimentos la-

terais freqüentes, o assento pode ser giratório.

Deve haver espaço suficiente para as pernas no posto

de trabalho.

Os pedais deverão ter apoio para os pés.

■ Transporte e manuseio de cargas

Segundo critérios da Norma Internacional NIOSHI*, temos:

■ Na posição agachada, a carga a ser pega do chão deve pesar até 15 kg (somente se

a carga for compacta e couber entre os joelhos).

■ Na posição com a coluna fletida, a carga a ser pega do chão deve pesar até 18 kg.

■ Quando a carga está próxima ao corpo, simetricamente distribuída, elevada em

relação ao chão, com boa pega, sem rotação lateral do tronco, com pequena

distância entre origem e destino e com freqüência de menos que uma vez a cada 5

minutos, pode ser admitido o transporte de até 23 kg.

* National Institute of Occupational Safety and Health.

Figura 27 – Trabalho sentado

Page 69: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 69

Riscos e Controles

Recomendamos a utilização de bancadas, que deverão estar na altura e na posição

adequadas a fim de evitar fadiga de movimentos e esforços lombares desnecessários ao

operador. É importante não exigir, nem admitir transporte manual de cargas cujo peso possa

comprometer a saúde ou a segurança. O trabalhador designado deverá ser treinado para o

transporte manual regular de cargas.

■ Condições Ambientais de Conforto

As condições de conforto térmico poderão ser melhoradas adotando-se as medidas já

citadas em capítulos anteriores, como:

■ Revestimento de telhado com mantas ou aplicação resinas próprias.

■ Aberturas laterais superiores e inferiores devidamente teladas para evitar contato

com insetos.

■ Abertura de portas e janelas.

■ Implantação de ventilação geral diluidora, através, por exemplo, de tubulação

plástica perfurada, devidamente projetada sobre a linha de montagem

(ar mandado).

■ A adequação aos valores de iluminância, conforme o estabelecido pela NBR 5.413,

deve ser feita através de um estudo para a revisão do sistema de distribuição das

luminárias ou ampliação do número de lâmpadas, ou ainda através do uso de

iluminação suplementar.

O ruído excessivo contribui para condições desfavoráveis de conforto, que poderão ser

melhoradas adotando-se as medidas já citadas de controle.

■ Organização do trabalho

Como fator positivo a ser implantado, destacamos a PAUSA. A introdução das pausas de

descanso é uma necessidade vital do corpo. Estudos sobre o trabalho evidenciaram que o tra-

balhador estabelece pausas de diferentes maneiras e condições, as quais podemos distinguir:

■ Pausas voluntárias – aquelas visíveis, que o trabalhador faz para descansar.

Geralmente demoram pouco tempo e são freqüentes em trabalhos penosos.

Page 70: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista70

Riscos e Controles

■ Pausas mascaradas – São atividades colaterais não necessárias para a realização do

trabalho, como, por exemplo, ordenar a mesa de trabalho, limpar uma peça.

■ Pausas necessárias para o trabalho – Causadas por todo tipo de espera que, pela

organização do trabalho, é necessária, como, por exemplo, em trabalho em esteiras,

já que, em função da destreza de cada um, há a espera de que a matéria-prima esteja

pronta para ser usada.

■ Pausas obrigatórias do trabalho – Aquelas determinadas pela empresa, como, por

exemplo, a pausa para alimentação e todas as pausas curtas obrigatórias.

Os resultados dos estudos realizados entre a duração da jornada de trabalho e os efeitos

das pausas na produção mostraram que a introdução destas, acarreta a aceleração da

produção. Em trabalhos de carga média desenvolvidos nas fábricas e nos escritórios é

usual, pelo menos, uma pausa de 10 a 15 minutos pela manhã e, muitas vezes, a mesma

pausa à tarde. Esta disposição das pausas serve para prevenir fadigas, possibilitar contatos

sociais e para que o trabalhador se alimente.

Quanto às pausas recomendadas para trabalhos rit-

mados na fabricação em série, inúmeros estudos de labo-

ratório, bem como nas empresas, mostraram que pausas

curtas de 3 a 5 minutos por hora de trabalho reduzem a

fadiga e aumentam o potencial de atenção prolongada.

Estas pausas curtas são especialmente indicadas para

atividades repetitivas, com pressão de tempo e exigência

de atenção.

Figura 28 – Tarefas repetitivas

Page 71: Manual Calcadista Parte1

SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista 71

Riscos e Controles

Por ocasião do apredizado de trabalhos de precisão as pausas têm um forte efeito na

assimilação do conteúdo. Um período de aprendizado interrompido por freqüentes pausas

conduz a uma assimilação significativamente mais rápida das habilidades do que um

aprendizado sem pausas.

Outro fator organizacional positivo observado na indústria calçadista é a implementação

do rodízio de tarefas repetitivas (figura 28) ou expostas a agentes agressivos.

AtençãoDeverão ser estabelecidas – a partir da análise ergonômica do trabalho – Normas de

Procedimento Corretivas e Preventivas que compatibilizem o processo produtivo

com as normas relativas à saúde e segurança no trabalho.

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SESI/SP – Manual de Segurança e Saúde no Trabalho para Indústria Calçadista72

Riscos e Controles

Risco de Acidentes

Os riscos de acidentes são diversificados, podendo estar presentes desde a construção e

instalação da empresa até nas máquinas e ferramentas. Os mais comuns dizem respeito a:

Construção e instalação da empresa

■ Prédio com área insuficiente.

■ Arranjo físico inadequado.

■ Pisos pouco resistentes ou irregulares.

■ Instalações elétricas impróprias ou com defeito.

■ Iluminação inadequada.

■ Sinalizações inadequadas ou inexistentes de piso, de máquinas, de extintores e

hidrantes, de rota de fuga e outros.

■ Armazenamento inadequado.

Máquinas, equipamentos e ferramentas

■ Localização inadequada das máquinas.

■ Falta de proteção nas partes móveis e pontos de operação (prensas diversas,

máquinas de corte de tiras, rebitadores, politrizes e outras).

■ Máquinas com defeitos.

■ Falta do uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual).

■ Ferramentas defeituosas ou usadas de forma incorreta.

■ Improvisação de ferramentas de corte.

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Riscos e Controles

Medidas de controle

Risco de acidentes

Destacamos algumas medidas de controle que minimizam os riscos de acidentes:

■ Arranjo Físico

Princípios que devem ser observados no projeto de determinado arranjo físico:

■ Integração de conjunto.

■ Distância mínima a ser percorrida.

■ Circulação ou fluxo de materiais.

■ Máximo aproveitamento de espaço.

■ Satisfação e segurança.

■ Flexibilidade.

■ Ordem e limpeza.

O arranjo físico (figura 29) envolve organização do trabalho em relação a um fluxograma

racional e objetivo, evitando-se cruzamentos e movimentos desnecessários. Se bem plane-

jado e bem administrado, significa um arranjo ordenado das operações, máquinas, equipa-

mentos, ferramentas, facilidades de armazemento.

É um método prático para diminuir o custo operacional, elevar a produção, reduzir o ín-

dice de ocorrência de acidentes de incêndio e elevar o moral dos empregados.

Figura 29 – Arranjo físico dos trabalhadores

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Riscos e Controles

■ Instalações elétricas

Um dos riscos de acidente que podem ocorrer na indústria calçadista é o choque elétri-

co. Pode ocorrer um princípio de incêndio decorrente de instalações elétricas.

A empresa deverá manter sempre atualizado o laudo de instalações elétricas, elabora-

do por engenheiro eletricista, que fará a adequação às exigências da NR-10. Quando pos-

suir serviço de manutenção próprio, deverá incluir em seu quadro eletricista devidamente

habilitado e qualificado, reconhecido pelo sistema oficial de ensino. Caso opte pela tercei-

rização, deverá exigir da contratada seu credenciamento junto ao CREA*, bem como a qua-

lificação de seus técnicos eletricistas.

As manutenções preventivas e corretivas são fundamentais na prevenção de acidentes,

devendo ser observadas situações, como:

■ Dimensionamento adequado dos quadros de força e distribuição, evitando a

possibilidade de sobrecarga elétrica.

■ Dimensionamento adequado dos disjuntores, de maneira que funcionem como alerta,

interrompendo a força antes que cause um curto-circuito.

■ Sinalização dos quadros de força, internamente (disjuntores) e externamente

(identificação de cada quadro), pintados na cor cinza escura.

■ Substituir a chave de faca por chaves seccionadoras ou disjuntoras.

■ Substituir os fusíveis do tipo rolha por chaves seccionadoras ou disjuntoras.

■ Usar sempre o fio na cor verde ou verde-amarelo para aterramento e o azul como

neutro, evitando-se, assim, o uso de fios fora do padrão.

■ Embutir a fiação elétrica em conduíte rígido pintado na cor cinza escura.

■ Quando necessário, fazer emendas nas fiações e colocar caixa de inspeção para

facilitar a manutenção.

■ As máquinas deverão estar ligadas por quadro de força individual, devidamente

aterradas (tanto o quadro de força quanto a máquina).

* CREA: Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura.

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Riscos e Controles

■ Iluminação

As medidas de controle devem ser direcionadas para:

■ Instalações adequadas das luminárias observando o posicionamento, a distribuição

e a altura.

■ Manutenção constante (limpeza das luminárias e janelas, verificação de instalações).

■ Uso de cores adequadas, visando refletir a luz e não produzir sombras, diminuindo o

esforço visual do trabalhador. Recomenda-se o uso de cores claras nas paredes e

branca no teto.

■ Sinalização

A indústria calçadista deve possuir uma sinalização que facilite a circulação nos corre-

dores, rotas de fuga, acesso aos extintores e hidrantes, além de identificar os quadros de

distribuição de força e luz, facilitando ações emergenciais (quando necessárias).

Uma sinalização adequada (figura 30) deve possuir os seguintes requisitos:

■ Boa visibilidade.

■ Facilidade de interpretação.

■ Obedecer a uma padronização, conforme NR-26 (vide p. 272).

Figura 30 – Sinalização de emergência

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Riscos e Controles

■ Armazenamento inadequado

O armazenamento de inflamáveis (colas e solventes) deve obedecer às NRs 16 e 20,

referidas neste manual nas páginas 254 e 262, respectivamente.

■ Máquinas e equipamentos

Os acidentes podem ser evitados adotando-se medidas de proteção, manutenção pre-

ventiva (máquinas ou equipamentos), proteção individual (uso adequado dos EPIs). As par-

tes do corpo mais vulneráveis e que merecem atenção especial são os olhos, as mãos, a pe-

le e as articulações.

Muitos acidentes podem ser evitados, observando-se:

■ Máquinas e equipamentos devem ser construídos, instalados e utilizados de manei-

ra que não exponham o trabalhador a riscos. Para tanto, são necessários estudos cu-

idadosos para a implantação ou a adoção das referidas proteções, conforme o mode-

lo ou tipo da máquina utilizada.

■ As proteções devem ser colocadas nos pontos de transmissão de força, no ponto de

operação e sempre que haja risco de projeções de peças ou de partes destas.

■ Estabelecimento rotineiro da manutenção preventiva.

■ Fornecimento e treinamento do uso dos Equipamentos de Proteção Individual, e

exigência de sua utilização, conforme especifica a NR-06.

Como exemplo de prevenção de acidentes podemos relatar o uso dos óculos de

segurança como Equipamento de Proteção Individual.

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Riscos e Controles

■ Ferramentas

As ferramentas utilizadas mais freqüentemente são:

Quadro 7 – Ferramentas utilizadas na indústria calçadista e suas finalidades.

As improvisações pelos

trabalhadores de empunha-

duras com a finalidade de

facilitar o seu trabalho de-

vem ser avaliadas para que

não se tornem objetos de

riscos maiores (figura 31).

Figura 31 – Uso de ferramentas cortantes

FinalidadeCorte de material pelos cortadoresCorte do material a ser utilizado pelas costureirasDobramento da borda de montagem

Montagem de formas

Furar onde passa a linha na costura à mão

FerramentaFaca/estilete

Tesoura comumTesoura curta

TurquesaTenáriaSovelaFurador

Chave de fenda

Retirar tachas

Abrir os furos nas operações de costura à mão

Retirada da agulha na máquina

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Riscos e Controles

Como medida de controle é importante:

■ Adquirir ferramentas de qualidade adequadas ao trabalho a ser executado.

■ Reconhecer o uso correto das ferramentas e mantê-las sempre em bom estado

de conservação.

■ Substituir as ferramentas assim que apresentarem desgastes ou defeitos.

■ As empunhaduras devem ser apropriadas.

■ Guardar as ferramentas em dispositivos apropriados, conservando-as e evitando-se

o acidente.

■ Uma ferramenta bem afiada é mais segura, pois é usada com menor esforço

e maior controle.

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