manipulação da vida
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Dissertação da Ana Virginia. Importante contribuição para as discussões a respeito da vida.TRANSCRIPT
ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
Ana Virgínia Gabrich Fonseca Freire Ramos
MANIPULAÇÃO DA VIDA HUMANA E MEIO AMBIENTE
Belo Horizonte
2014
Ana Virgínia Gabrich Fonseca Freire Ramos
Manipulação da vida humana e meio ambiente
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Direito da Escola Superior Dom
Helder Câmara como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Émilien Vilas Boas Reis
Co-orientador: Prof. Dr. Bruno Torquato de Oliveira
Naves
Belo Horizonte
2014
RAMOS, Ana Virgínia Gabrich Fonseca Freire.
R175m
Manipulação da vida humana e meio ambiente
/Ana Virgínia Gabrich Fonseca Freire Ramos –
2014. 120 f.
Orientador: Prof. Dr. Émilien Vilas Boas Reis
Dissertação (mestrado) - Escola Superior Dom
Helder Câmara ESDHC.
Referências: f. 105 - 120.
1. Genética 2. Meio ambiente 3. Gerações futuras
I. Título
CDU 575(043.3)
Bibliotecário responsável: Anderson Roberto de Rezende CRB6 - 3094
ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA
Ana Virgínia Gabrich Fonseca Freire Ramos
MANIPULAÇÃO DA VIDA HUMANA E MEIO AMBIENTE
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Direito da Escola Superior Dom
Helder Câmara como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Direito.
Aprovada em: ___/___/___
Orientador: Prof. Dr. Émilien Vilas Boas Reis
Co-orientador: Prof. Dr. Bruno Torquato de Oliveira Naves
Professor Membro: Prof. Dr. Kiwonghi Bizawu
Professor Membro: Profa. Dra. Taisa Maria Macena de Lima
Nota: ____
Belo Horizonte
2014
Dedico o presente trabalho aos meus pais, que
sempre me ensinaram que a educação é o que de
mais valioso temos na vida e que nunca mediram
esforços para que meus sonhos fossem realizados.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, irmãos, avós, tios e primos, pelo incentivo, carinho e paciência
durante a conclusão dessa etapa e por sempre me apoiarem em todas as minhas decisões.
Ao meu orientador, Émilien, e ao meu co-orientador, Bruno, pessoas fundamentais para a
conclusão deste trabalho.
Aos amigos Ana Thereza, Franclim, Giselle, Dani, Felipe, Leonardo, Santhiago, Alexandre,
Luísa Cristina, Juliana, Marina, Walkiria, Amanda, Flávia, Camila, Douglas, Pedro, Larissa,
Adriany, Renato, Paulo, Mônica, Luciana, Luísa Magalhães, Ricardo, Aparecida, Carol e
tantos outros, que tanto me ajudaram com textos, correções, palavras de incentivo ou
simplesmente “estando ali” para me ouvir e aconselhar. Obrigada também por
compreenderem minha ausência durante esses “longos” dois anos de mestrado.
Por fim, agradeço à vida, em todos os seus momentos, em todas as suas fragilidades, em todas
as suas surpresas, formas, cores e sentidos. À vida que já se foi, pela sabedoria. À vida que
ainda é, pela persistência. E, principalmente, à vida que está por vir, pela esperança.
RESUMO
A presente dissertação procura identificar o impacto das técnicas de manipulação genética
embrionária humana para o meio ambiente. No intuito de alcançar a finalidade proposta,
realiza-se uma reflexão sobre a técnica, de maneira geral, desde o mito “Prometeu
Acorrentado” até sua atual aplicação na medicina genética, bem como se realiza a conexão
entre genoma humano e meio ambiente, fato reforçado pelo conceito de “ecogenética”. Em
seguida, são abordadas as principais teorias acerca da vida e da vida humana, enfatizando seus
aspectos jurídicos e bioéticos, assim como as questões da dignidade e do embrião humano e
suas particularidades. Posteriormente, são abordadas as técnicas de manipulação da vida
humana, especificamente a técnica conhecida por Diagnóstico Genético Pré-Implantação
(DGPI), e as consequências de sua aplicação para o meio ambiente. O último item trata de um
risco advindo das técnicas de manipulação genética, especialmente do DGPI, que é o risco da
neoeugenia, destacando suas vertentes negativa e positiva, e sua relação com o meio
ambiente.
Palavras-chave: Técnica; Genética; Meio ambiente; Gerações futuras; Bioética; DGPI.
ABSTRACT
This dissertation aims at identifying the impact of human embryonic genetic manipulation
techniques on the environment. In order to achieve the intended purpose, a reasoning on the
technique is made, since the 'Prometheus Bound' myth to its current application in genetic
medicine, as well as the connection between the human genome and the environment, a fact
reinforced by the concept of 'ecogenetics'. Afterwards, the main theories concerning life and
human life were approached, emphasizing its legal and bioethical issues, and matters of
dignity and human embryo and its peculiarities. Subsequently, techniques for manipulating
human life are addressed, specifically the technique known as Preimplantation Genetic
Diagnosis (PGD), and the consequences of its application to the environment. The last item
deal with a risk arising from genetic manipulation techniques, specially PGD, which is the
risk of neo-eugenics, highlighting its positive and negative aspects, and its relationship with
the environment.
Key-words: Tecnique; Genetics, Environment; Future Generations; Bioethics; PGD.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Genoma 1 ............................................................................................................... 30
Figura 2 – Genoma 2 ............................................................................................................... 30
Figura 3 – Genoma 3 ............................................................................................................... 30
Figura 4 – Genoma 4 ............................................................................................................... 31
Figura 5 – Genoma 5 ............................................................................................................... 31
Figura 6 – O início da vida ...................................................................................................... 43
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
a-CGH Hibridização genômica comparativa pela técnica de microarray-a-CGH
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade
AGU Advocacia Geral da União
Art. Artigo
CADH Convenção Americana sobre Direitos Humanos
CC/02 Código Civil Brasileiro de 2002
CFM Conselho Federal de Medicina
CR/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Coord. Coordenador
CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
DGPI Diagnóstico Genético Pré-Implantação
DNA Ácido desoxirribonucléico
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos
EGP Environmental Genome Project (Projeto Genoma Ambiental)
ENCODE Enciclopédia de Elementos de DNA
FISH Fluorescence in situ Hybridization
FIV Fertilização In vitro
OEA Organização dos Estados Americanos
ONU Organização das Nações Unidas
Org. Organizador
p. Página
PCR Polymerase Chain Reaction (Reação em Cadeia da Polimerase)
PGD Preimplantation Genetic Diagnosis
PGD-24 Hibridização genômica comparativa pela técnica de microarray-a-CGH
PGH Projeto Genoma Humano
RA Reprodução Assistida
RNA Ácido ribonucléico
TGCG Terapia Gênica em Células Germinativas
TGCS Terapia Gênica em Células Somáticas
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12
2 “O TEMPO QUE ENVELHECE” .............................................................................. 15
2.1 Da Natureza à Técnica: um presente de Prometeu ................................................. 16
2.2 Genoma humano e meio ambiente ............................................................................ 20
2.2.1 Genoma humano ........................................................................................................ 22
2.2.2 O meio ambiente, o antropocentrismo e o biocentrismo ........................................... 25
2.2.3 Genoma humano como matéria ambiental ................................................................ 29
2.3 Ecogenética .................................................................................................................. 32
3 VIDA, PARA ALÉM DO NASCER ............................................................................ 37
3.1 O início da vida humana ............................................................................................ 41
3.2 A vida em termos legais ............................................................................................. 44
3.3 A vida e a bioética ....................................................................................................... 48
3.4 Conceito de dignidade para o direito e para a bioética ........................................... 50
3.5 O embrião humano ..................................................................................................... 53
3.5.1 A inviabilidade embrionária ...................................................................................... 56
3.5.2 Tratamento jurídico conferido ao embrião ............................................................... 58
4 MANIPULAÇÃO GENÉTICA DA VIDA HUMANA ..................................................... 62
4.1 Diagnóstico Genético Pré-Implantação (DGPI) ....................................................... 71
4.1.1 Indicação de aplicação ............................................................................................... 73
4.1.2 Métodos ...................................................................................................................... 75
4.1.2.1PCR ........................................................................................................................... 76
4.1.2.2 FISH ........................................................................................................................ 76
4.1.2.3 Hibridização genômica comparativa pela técnica de microarray-a-CGH ............... 77
4.1.3 Argumentos favoráveis ............................................................................................... 78
4.1.4 Argumentos contrários ............................................................................................... 79
4.1.5 Considerações jurídicas acerca do DGPI ................................................................. 83
5 DGPI E AS POSSIBILIDADES NEOEUGÊNICAS .................................................. 89
5.1 Neoeugenia negativa ................................................................................................... 93
5.2 Neoeugenia positiva .................................................................................................... 96
5.3 Neoeugenia e meio ambiente ...................................................................................... 98
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 101
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 105
12
1 INTRODUÇÃO
Os avanços técnico-científicos colocaram a humanidade diante de um cenário de
completa novidade. As descobertas da ciência em torno de questões ligadas à genética
humana conferiram à medicina mecanismos suficientes para a realização da manipulação da
vida humana.
O aperfeiçoamento da técnica modificou a visão natural do mundo: a vida deixou de
ser um evento da natureza e passou a ser um evento da ciência. A possibilidade da obtenção
de embriões in vitro abriu novo espaço para a manipulação genética da vida. Hoje a medicina
é capaz de diagnosticar, no embrião fora do útero materno, doenças genéticas que
comprometeriam a saúde e o desenvolvimento da futura criança, possibilitando aos pais a
escolha pela implantação somente daqueles embriões saudáveis. A novidade, a surpresa e as
incertezas que caracterizam uma nova vida naturalmente concebida, abrem espaço, com isso,
para uma pretensa segurança e certeza científicas. O embrião, de fase do desenvolvimento
humano, passa a ser o núcleo de debates éticos, jurídicos e filosóficos.
Entretanto, o aperfeiçoar técnico-científico possibilita diversos questionamentos
acerca da vida humana: Quando ela começa? O que é sua manipulação genética? A ciência
está caminhando para uma neoeugenia?
Acima de tudo, a questão mais inquietante é a relativa às novas técnicas de
manipulação genética embrionária e sua relação com o meio ambiente. Por envolverem
diretamente o DNA humano, que contém moléculas com instruções genéticas que coordenam
o desenvolvimento e o funcionamento de todos os seres vivos, tais técnicas também envolvem
o genoma humano, que é o conjunto de informações genéticas contidas nas moléculas de
DNA de um ser vivo, ou seja, são técnicas que lidam com o material genético humano, com
um componente do meio ambiente. A relação entre as questões genéticas e o meio ambiente é
tão profunda que existem estudos que comprovam que os genes e os fatores ambientais
conseguem interagir entre si de maneira a afetar até mesmo a saúde humana, o que é
demonstrado por meio da ecogenética. É essa relação entre genética humana e meio ambiente
que levanta a questão central do presente estudo, questão que também envolve todos os outros
questionamentos até aqui apresentados: Qual é o impacto da manipulação genética
embrionária humana para o meio ambiente?
13
É a partir dessas inquietações que a pesquisa se desenvolve. Buscando sempre
enfatizar seu caráter transdisciplinar, a pesquisa tem como base dados secundários, extraídos
principalmente de livros e artigos científicos, além da legislação sobre o tema.
O objetivo geral é identificar o impacto da manipulação genética embrionária
humana para o meio ambiente. De maneira a facilitar a busca por uma resposta ao problema, é
enfatizada uma técnica já com ampla utilização pela medicina conhecida pela sigla DGPI
(Diagnóstico Genético Pré-Implantação) que reforça os principais questionamentos aqui
suscitados. Para tanto, são utilizadas fontes bibliográficas da biologia, medicina, engenharia
genética, biomedicina, bioética e do direito de uma forma geral, a fim de construir um
raciocínio lógico-argumentativo consistente.
O direito, na presente pesquisa, apresenta-se como instrumento mediador dessa nova
situação difundida pela evolução técnico-científica, que colocou, de um lado, a necessidade
do aperfeiçoamento genético e a perspectiva de melhora da saúde e qualidade de vida
humanas, e de outro, a necessidade de conservação do meio ambiente ecologicamente
equilibrado para as presentes e futuras gerações. Para exercer esse papel de mediador, o
direito ampara-se sempre na bioética, pois se entende que os argumentos éticos, jurídicos e
morais não podem ser separados, principalmente em questões envolvendo a vida humana.
Dessa maneira, num primeiro momento é apresentada a ideia do “tempo que
envelhece”, ideia atribuída ao autor italiano Umberto Galimberti. Para a compreensão da
passagem do tempo da natureza para o tempo atual, da técnica (tempo que envelhece), é
apresentada a questão do mito “Prometeu Acorrentado”, de maneira a demonstrar a evolução
da técnica desde a antiguidade até a contemporaneidade, enfatizando a técnica médica e sua
atual aplicação na genética. Num segundo momento, mas ainda no mesmo capítulo, é
demonstrada a relação direta entre o genoma humano e o meio ambiente, passando pelos
conceitos de antropocentrismo e biocentrismo, até se alcançar a conclusão de que o genoma
humano é matéria ambiental. De forma a reforçar os argumentos apresentados, é exposto o
conceito de “ecogenética” e sua importância para a construção, juntamente com os demais
tópicos do capítulo, da base para a discussão proposta pela pesquisa.
O capítulo seguinte, ainda com o intuito de fornecer o material necessário à
discussão, apresenta as principais polêmicas acerca da vida (de maneira ampla) e da vida
humana. Assim, são apontadas as teorias predominantes sobre o início da vida, bem como a
maneira pela qual a vida é vista sob a ótica do direito e da bioética. Posteriormente, é
discutida a questão da dignidade, tanto para o direito quanto para a bioética, culminando no
tema do embrião humano. Com relação ao embrião humano, são apresentados e
14
problematizados os tópicos da inviolabilidade embrionária e do tratamento jurídico conferido
ao embrião.
O capítulo central da pesquisa trata do tema “manipulação genética da vida humana”,
apontando como a medicina contemporânea evoluiu de forma a tornar a vida humana
totalmente manipulável em termos genéticos. O capítulo apresenta técnicas ligadas à
engenharia genética – terapia e manipulação genéticas – e sua importância para a discussão
em questão. Posteriormente, com o intuito de facilitar a identificação do impacto da
manipulação genética embrionária humana para o meio ambiente, é destacada a técnica do
diagnóstico genético pré-implantação (DGPI), sua indicação de aplicação, principais métodos,
argumentos favoráveis e contrários, bem como as considerações jurídicas acerca do seu uso.
O tópico também indica caminhos para a identificação do impacto da utilização da técnica
para o meio ambiente. O capítulo tem por base os argumentos apresentados por Habermas no
livro “O futuro da natureza humana”.
Por fim, o último capítulo busca apresentar uma das maiores preocupações quando
do uso das técnicas de manipulação genética, que é o risco da eugenia, que na atualidade
ganha o nome de neoeugenia. Dessa forma, é realizado um pequeno resumo histórico sobre o
tema, posteriormente são expostos os conceitos de neoeugenia negativa e positiva e, ao final,
é estabelecida a relação entre neoeugenia e meio ambiente. O capítulo também tem por base
os argumentos de Habermas, no livro supracitado.
A intenção inicial da pesquisa é demonstrar a importância da discussão das questões
envolvendo a manipulação genética embrionária humana no âmbito ambiental, na medida em
que as técnicas aí utilizadas possuem mecanismos suficientes para causar impacto no meio
ambiente.
15
2 “O TEMPO QUE ENVELHECE”
O primeiro tempo que se deve considerar é o tempo da natureza, da necessidade. Um
tempo cíclico, regular, em que o futuro não é algo novo, inesperado, pelo contrário, é apenas
uma repetição do passado, que se confirma pelo presente. Um tempo que não abre espaço para
a novidade, um tempo que sempre retorna. No tempo da natureza não há que se falar em um
futuro que pode ser inventado, não há que se falar em um novo projeto a ser percorrido. As
coisas acontecem infinitamente, como um ciclo: a ideia de finalidade é o próprio fim.
A morte é o fim do ciclo da natureza, com ela ao mesmo tempo em que se destrói
algo que existe, se abre espaço para a existência de algo novo. A morte administra o ciclo e
garante o seu eterno retorno. No tempo da natureza, homens e animais ocupam o mesmo
plano. Não se fala em superioridade, pois não se tem a noção de diferença.
Mas a ousadia de um titã, chamado Prometeu, tirou a humanidade desse tempo
cíclico e apresentou-a ao “tempo que envelhece”, que confirma a sua condição mortal: o
tempo da técnica.
A técnica, para a mitologia, era exclusiva dos deuses que, vez ou outra, a ofereciam
como dom aos indivíduos. A atitude de Prometeu, assim, viria a abalar profundamente a
relação entre deuses e mortais e inaugurar um novo tempo que revela aos homens algo
desconhecido para a divindade, que é o cenário das diferenças, da razão.
No tempo da técnica tudo se volta para o futuro, para as projeções; é um tempo
projetual. O homem no tempo da técnica ganha conhecimento, independência, e passa a
conferir um novo significado à vida, deixando para trás a simplicidade da natureza e abrindo
espaço para a engenhosidade técnica. No tempo projetual “o homem sai da natureza, onde
habita junto com o animal, para inaugurar o mundo, que é o modo dos seus projetos; nele está
a sua identidade e o espaço da sua imaginação”. (GALIMBERTI, 2006, p. 58).
A relação homem-natureza passa a ser mediada pela técnica. A técnica adquire para a
natureza um duplo aspecto, tornando-se sua ameaça e sua salvaguarda.
Apesar de ser um tempo que reafirma a condição mortal da humanidade, no tempo
que envelhece, a vida não pode ser vista apenas com o olhar da finitude, há que se preocupar
com o legado das gerações posteriores. Questões éticas, de direito e de responsabilidade serão
sempre recorrentes no tempo que envelhece.
16
2.1 Da natureza à técnica: um presente de Prometeu
Ésquilo1 em sua obra “Prometeu Acorrentado” nos fornece a base para a construção
do pensamento em torno da ideia moderna de técnica.
Reza o mito (ÉSQUILO, 1969, p. 25-65) que numa disputa pelo governo supremo do
universo entre Júpiter e Saturno, o titã Prometeu (o previdente, aquele que prevê) adotou o
partido de Júpiter e o apoiou. Júpiter, graças aos conselhos do titã, conseguiu o que almejava e
tornou-se o deus supremo do universo. Ao assumir o governo, Júpiter passou a distribuir
honrarias e recompensas, de maneira a fortificar o seu império. Todavia, para os mortais, não
lhes ofereceu nenhum dom, pelo contrário, intencionou conservá-los em uma condição
inferior, próxima a animalidade, ou destruí-los, colocando em seu lugar uma nova raça, fruto
de sua criação.
Prometeu, sabendo do destino da humanidade, impediu que o raio de Júpiter a
destruísse e conferiu-lhe um presente valioso: o fogo celeste. Ao entregar uma faísca do fogo
celeste aos mortais, Prometeu concedeu-lhes a razão, a faculdade de cultivar a inteligência, as
ciências e as artes, além de lhes ter conferido a esperança no futuro. O fogo celeste atribuiu ao
homem a técnica.
A ousadia do titã, todavia, lhe causou muito sofrimento. Como forma de punição,
Júpiter ordenou que Prometeu fosse acorrentado a um rochedo numa região inabitada,
chamada Cítia (Cáucaso), devendo ali permanecer eternamente, salvo se lhe fossem revelados
os segredos envolvendo o seu futuro, de maneira a evitar sua queda. Prometeu, já sabendo do
seu destino, se recusa a revelar o futuro de Júpiter e é por este novamente castigado:
1“Ésquilo (em grego: Αἰσχύλος, transl. Aiskhýlos; Elêusis, c. 525/524 a.C. - Gela, 456/455 a.C.). “Sabe-se muito
pouco acerca da vida do pai da tragédia. Ésquilo nasceu em Elêusis, na Ática (Grécia), em 525 a.C., e morreu em
Gela, na Sicília (Itália), em 456 a.C., mas informações sobre a sua formação escolar, seu estado civil e sua
personalidade são desconhecidas. Pertencia à nobreza ateniense e participou de campanhas contra os persas,
como a Batalha de Maratona (490 a.C.). Ao longo de sua vida, produziu, acredita-se, cerca de 80 peças, sendo
que começou a ter notoriedade como tragedista por volta do ano 499 a.C. Em 484 a.C., venceu o seu primeiro
concurso dionisíaco – ocasião para a qual dramaturgos preparavam encenações com fundos do erário público,
em culto ao deus Dioniso. Posteriormente, Ésquilo obteve o primeiro lugar de melhor peça inúmeras outras
vezes. Revolucionou o teatro antigo acrescentando um segundo personagem às encenações dionisíacas – ou seja,
criando o diálogo –, o que deu à arte dramática a dinamicidade dialética e a interação de atores que perduram até
hoje. Sua obra é caracterizada pela simplicidade e beleza do estilo, através do qual reflete sobre a angústia e o
sofrimento do ser humano. Considera-se que Ésquilo inventou a tragédia antiga e que, junto com Sófocles
(nascido em 496 a.C.) e Eurípides (nascido em 480 a.C.), forma a trindade trágica”. (L&PM Editores. Disponível
em:
<http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../li
vros/layout_autor.asp&AutorID=617308> Acesso em: 10 dez. 2013).
17
Júpiter, por meio de raios, espedaçará este rochedo escarpado; teu corpo
permanecerá esmagado sobre os fragmentos da montanha. Ao cabo de longo tempo,
reaparecerás um dia... Então, um abutre insaciável, - o cão alado de Júpiter – virá
arrancar de teu corpo enormes pedaços e – comensal não desejado – voltará todos os
dias para se nutrir de teu fígado negro e sangrento. (ÉSQUILO, 1969, p. 64).
A grande questão por trás do mito reside exatamente na técnica. Quando o homem
vence o tempo cíclico da natureza e alcança o tempo projetual, da técnica, ele inaugura uma
fase em que seu agir é condicionado a um objetivo, uma fase em que as ações não são mais
mecânicas, mas racionais.
Os primeiros avanços técnicos habitavam o plano da sobrevivência diária, da
maneira pela qual o homem deveria agir para sobreviver e conseguir as coisas básicas do dia a
dia: comida, fogo, água, convívio social. Nesse sentido:
É possível dizer que a técnica é a essência do homem, não só porque, em razão da
sua insuficiente dotação instintiva, o homem sem a técnica não teria sobrevivido,
mas também porque, explorando essa plasticidade de adaptação que deriva da
generalidade e não-rigidez dos seus instintos, pôde alcançar ‘culturalmente’, por
meio de procedimentos técnicos de seleção e estabilização, aquela seletividade e
estabilidade que o animal possui ‘por natureza’. (GALIMBERTI, 2006, p. 9).
Com o passar do tempo e o aperfeiçoar da técnica, questões que antes habitavam o
plano do inconcebível começaram a fazer parte das aspirações humanas, retirando a crença do
homem nos deuses e alterando a sua maneira de se colocar perante o mundo.
Essa mudança de paradigma também modificou a visão com relação à técnica, que
de meio para a consecução de qualquer fim se transforma em fim supremo, “para o qual
convergem as infinitas séries de fins, que se dobram a esse meio, porque desse meio depende
a sua realização”. (GALIMBERTI, 2006, p. 266).
É possível afirmar, nesse sentido, que o paradigma cultural da modernidade causou
um crescente conhecimento e domínio da natureza por meio da ciência e da técnica. “Esta
dinâmica interventiva e controladora dos processos naturais foi se acentuando até chegar aos
recônditos da matéria (átomo) e da vida (molécula)”. (JUNGES, 1995, p. 147).
Ao entregar aos mortais o fogo celeste, Prometeu não lhes doou apenas os recursos
técnicos, mas também as correntes que os aprisionariam na ilusão da liberdade: ilusão porque
desse momento em diante, o homem não seria mais capaz de se desvencilhar do aparato
técnico; pela técnica disporia de uma razão instrumental, capaz de adequar meios a fins, mas
não da capacidade de escolher esses fins. A escolha dos fins é algo além da técnica, ligado à
sabedoria.
18
Diz-se que a escolha dos fins está ligada à sabedoria porque a técnica
contemporânea2 é incrementada quantitativamente, o que aumenta o cenário de possibilidades
e faz com que ela se torne a razão de determinado fim, ou seja, a técnica se torna criadora de
fins. A sabedoria, assim, é necessária ao homem que, dentre todas as possibilidades que a
técnica lhe oferece como fim, deve escolher aquela que lhe seja mais adequada.
Essa transferência de atenção do fim para o meio foi crucial para a evolução da
humanidade. Antes os meios ficavam restritos aos fins a que eram empregados, o que limitava
qualquer possibilidade que não aquela já predeterminada. Com a mudança de foco, a técnica
abre uma infinidade de alternativas ao homem e lhe oferece, como seu próprio resultado, fins
diferentes daqueles pensados a priori.
A ideia atual de técnica está muito ligada à noção de produção. Mas esse pensamento
não é algo novo, ou exclusivo do saber técnico; a natureza também possui um caráter
produtivo, mas o seu produto é resultado do seu próprio desenvolvimento. Já o produto da
técnica é o resultado da aplicação do seu desenvolvimento no outro. Assim a semente,
produto da natureza, gera a árvore – resultado do seu próprio desenvolvimento. Mas a árvore,
por si só, não será capaz de produzir, por exemplo, uma cadeira. Essa produção somente será
possível mediante o uso da técnica que, logo, é um resultado da aplicação do desenvolvimento
no outro. (GALIMBERTI, 2006, p. 384).
Ultrapassando a questão da mudança de paradigma da técnica, da sua
instrumentalidade inicial e da produção, outro fato que merece destaque é a maneira como o
homem, a natureza e a técnica se compreendem em relação a si mesmos e ao mundo.
Nesse sentido, é importante frisar que desde o tempo cíclico até o tempo projetual as
questões ligadas à natureza sempre se repetiram; o que mudou foi como ela passou a ser
interpretada. Assim, num primeiro momento, a natureza foi vista como ordem suprema, que a
tudo e a todos comandava; o homem era guiado pela natureza e a técnica não era utilizada.
Num segundo momento a natureza passou a ser compreendida como algo à disposição do
homem: o homem com certo poder sobre a natureza e a técnica como meio, num contexto
instrumental e antropológico. Já hoje, a natureza é vista como uma “reserva de recursos” para
o homem, que passou a compreender a si próprio pelo olhar da técnica.
Essa mudança de modo de compreensão força a retirada das visões instrumental e
antropológica, muito presentes até então, para a adoção da visão da técnica, de maneira a “co-
2 A técnica antiga, diferentemente, era destinada a um fim predeterminado.
19
responder ao modo como o mundo se manifesta quando é disposto pela técnica”.
(GALIMBERTI, 2006, p. 393).
É esse olhar da técnica que o direito precisa utilizar para entender e acompanhar as
revoluções conquistadas pela ciência no tocante à manipulação genética da vida. Somente a
partir do momento em que o direito “se vestir” do aparato técnico, é que ele encontrará os
mecanismos necessários para a compreensão do cenário que se impõe.
Nesse sentido, o direito deverá atuar como uma espécie de “mediador” entre os
avanços da técnica e os riscos que tais avanços podem trazer ao meio ambiente, de maneira a
impedir a ocorrência de consequências e impactos negativos e irreversíveis. Para tanto, deve
fundamentar suas normas imparcialmente, não deixando de considerar, contudo, o aspecto da
justificação moral, necessário ao direito moderno. Esse viés da moral é fundamental para que
haja uma correspondência entre os valores do indivíduo (valores internalizados, da moral) e
os valores normativos (valores externalizados), de forma a facilitar o cumprimento da norma e
o consequente papel do direito. Ou, nas palavras de Habermas, “os destinatários da norma
somente estarão motivados suficientemente para a obediência, quando tiverem internalizado
os valores incorporados nas normas”. (2012, p. 95). Dessa forma, direito, moral e ética serão
ferramentas necessárias para a compreensão do problema aqui apresentado.
Na contemporaneidade, dessa maneira, o aparato técnico proporciona ao homem uma
infinidade de possibilidades que modificam a cada dia sua visão sobre a vida. A vida deixa de
ser algo com início, meio e fim determinados pela ordem da natureza. Hoje, cada vez mais, a
técnica toma o lugar do natural e a noção de vida ganha novos significados.
Com os avanços na decodificação do genoma humano, o atributo da racionalidade
passou a ser utilizado para decifrar a constituição dos seres vivos e para encontrar respostas a
questões importantes ligadas à sobrevivência das espécies e, assim como no tempo da
natureza, homens e animais em muitos momentos passaram a ser analisados sob a mesma
ótica, a ótica do genoma humano, a ótica do código genético.
20
2.2 Genoma humano e meio ambiente
Ao entregar uma faísca do fogo celeste aos mortais, Prometeu realiza a seguinte
afirmação:
Antes de mim, eles viam, mas viam mal; e ouviam, mas não compreendiam. Tais
como os fantasmas que vemos em sonhos, viviam eles, séculos a fio, confundindo
tudo. Não sabendo utilizar tijolos, nem madeira, habitavam como as próvidas
formigas, cavernas escuras cavadas na terra. Não distinguiam a estação invernosa da
época das flores, das frutas e da ceifa. Sem raciocinar, agiam ao acaso, até o
momento em que eu lhes chamei a atenção para o nascimento e o ocaso dos astros.
Inventei para eles a mais bela ciência, a dos números; formei o sistema do alfabeto e
fixei a memória, mãe das ciências, a alma da vida [...]. (ÉSQUILO, 1969, p. 45).
A partir do momento em que o homem recebe a técnica, um novo tempo se inicia, e
novos caminhos são trilhados rumo às revoluções técnico-científicas.
O primeiro evento que merece destaque está ligado à técnica médica. Na antiguidade
a doença tinha uma origem divina e a morte era inevitável. Mas Hipócrates3, ao constatar que
a morte advinda da ignorância era evitável, emancipa a técnica médica do sagrado e inaugura
uma nova era para a medicina.
Hipócrates abandona as hipóteses filosóficas e adota um procedimento cuja base se
encontra no saber técnico, nos indícios e nas provas, de maneira a conseguir aparato suficiente
para construir a experiência e, posteriormente, poder transformá-la.
3“Hipócrates (em grego antigo: Ἱπποκράτης, transl. ; * 460 a.C. em Cós; † 370 a.C. em Tessália).
“Hipócrates foi um médico grego. Foi considerado o pai da Medicina, o mais célebre médico da Antiguidade e o
iniciador da observação clínica.
Hipócrates nasceu na Ilha de Cós, na costa da Ásia Menor. Era filho de Heráclides e Fenareta, descendentes de
Asclépio, deus grego da medicina, por pate de pai, e de Hércules por parte de mãe. Dizia-se que foi membro de
uma sociedade secreta denominada Asclepíades, dos filhos de Asclépio, que reunia os sábios e estudiosos.
Viajou a estudo por várias cidades gregas, onde aprende Retórica e Filosofia. Estudou a constituição física das
populações e as doenças mais frequentes. Segundo a lenda, hipócrates teria chegado até Cnido, onde havia uma
escola de medicina. Teria recusado um convite de Artaxerxes I para socorrer o exército persa, vitimado por uma
epidemia, alegando não socorrer inimigos de sua pátria. De volta à cidade natal, passa a ensinar e praticar
Medicina na escola do Templo de Esculápio.
Por volta de 300 a.C. começaram a surgir textos médicos, que ficaram conhecidos como Coleção Hipocrática.
São 53 tratados com os ensinamentos provavelmente pertencentes a Hipócrates. A coleção é uma das primeiras
obras que tratam da medicina como ciência natural e experimental. Tratam de epidemias, articulações e fraturas.
Seu trabalho marca o fim da Medicina como manifestação mágica e divina e inaugura a ciência baseada na
observação clínica. Considera que as doenças resultam do desequilíbrio entre o que chama de humores: o
sangue, a fleuma (estado de espírito), a bílis (amarela) e a atrabile (bílis negra). Para ele, todo corpo traz em si os
elementos para a sua recuperação. Mas o conhecimento do corpo só é possível a partir do conhecimento do
homem como um todo. [...]A data de sua morte é incerta, alguns biógrafos afirmam que ele viveu 83 anos, outros
dizem que ele viveu 110 anos. Hipócrates foi sepultado em Larissa, na Tessália, e seu túmulo foi venerado pelo
povo durante muitos séculos”. (E-biografias. Disponível em: <http://www.e-biografias.net/hipocrates/> Acesso
em: 10 dez. 2013).
21
A partir dessa desvinculação do divino, as transformações técnico-científicas
envolvendo principalmente o campo da medicina e da engenharia genética só avançaram, e
nos últimos anos adquiriram proporções antes inimagináveis. A vida passou a ser,
literalmente, manipulável.
É possível dizer, nas palavras do médico francês Jean Bernard, que “a medicina
mudou mais nos últimos 50 anos que nos 50 séculos precedentes”. (apud PESSINI;
BARCHIFONTAINE, 2012, p.219). E isso se deu devido a duas importantes revoluções – a
terapêutica e a biológica.
A primeira revolução, terapêutica, é aquela caracterizada pelo aperfeiçoamento de
medicamentos, cujo início ocorreu em 1937 com o surgimento das sulfonamidas4. Ela
conferiu ao ser humano a capacidade de vencer doenças que por muito tempo foram
consideradas fatais, como a sífilis e a tuberculose. A revolução terapêutica trouxe três
importantes consequências: a) felicidade, diretamente ligada à cura de numerosas doenças
antes consideradas fatais; b) desordem, pois com o sucesso dos tratamentos houve uma
prescrição abusiva dos medicamentos e; c) necessidade de estudos rigorosos de cada novo
medicamento, analisando seus prós e contras. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2012, p. 219-
220).
A segunda revolução, biológica, mais recente, é uma:
[...] consequência do aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico e de engenharia
genética, bem como de concepção assistida. Inspira o conceito de patologia
molecular que governa hoje em dia toda a medicina. Foi ilustrada pela descoberta do
código genético, das leis simples que presidem a formação da vida.
A revolução biológica começa a dar ao ser humano domínio sobre três áreas:
reprodução, hereditariedade e sistema nervoso. Interfere no ser humano no mais
profundo de si próprio, mas não se refere apenas aos doentes, dizendo respeito a
toda a sociedade. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2012, p. 220).
Percebe-se, com isso, que o domínio sobre as três áreas acima mencionadas
proporcionou ao homem recursos suficientes para realizar manipulações que, de tão
profundas, são capazes de alterar a percepção acerca da própria vida, trazendo impactos
significativos para o meio ambiente.
Dentre os vários exemplos de aplicação da técnica no campo da genética humana,
serão destacadas algumas formas de manipulação genética embrionária, em especial o método
conhecido por Diagnóstico Genético Pré-Implantação (DGPI), método que facilita a
4 Sulfonamidas ajudaram no tratamento de septicemias, infecções por Staphilococos e Streptococos beta
hemolíticos (pneumonias, gangrenas).
22
identificação dos impactos causados pela manipulação genética no meio ambiente. Todavia,
antes de se analisar a técnica do DGPI, necessária se faz a compreensão do que venha a ser o
genoma humano e como ele está inserido na natureza.
2.2.1 Genoma Humano
O primeiro passo para a compreensão do genoma é a definição do que venha a ser
DNA, importante substância de onde partem “todos os comandos que regulam a natureza e o
número de praticamente todas as moléculas celulares”, cujo papel essencial na genética foi
estabelecido somente em meados do século XX. (WATSON et al, 2009, p. 4).
O ácido desoxirribonucleico (DNA) é um composto orgânico cujas moléculas
contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e o funcionamento de
todos os seres vivos. É no DNA que são armazenadas e transmitidas para seus descendentes
as informações genéticas de um organismo. É formado por uma fita dupla composta de quatro
letras, as bases nitrogenadas A, T, C e G (adenina, timina, citosina e guanina). O formato de
“escada torcida” da molécula de DNA permite a formação de dois tipos de pares, A-T e C-G.
Das diferentes combinações desses pares decorre a variabilidade dos seres vivos. Patrícia Del
Nero (2013, p. 19) afirma que a formação dos pares de bases nitrogenadas dá origem a uma
“dança química”, a combinação de letras dá margem a inúmeras características genéticas que,
uma vez conhecidas, podem demonstrar a origem, a prevenção e a cura de diversas doenças
ou deformidades gênicas.
A informação genética está contida nos genes. O termo “gene” foi criado pelo
geneticista dinamarquês Wilhelm L. Johannsen em 1909 para designar, pelo conceito
molecular clássico, o segmento de DNA que codifica um produto funcional, que pode ser
tanto um polipeptídio quanto uma molécula de RNA (ácido ribonucleico). A sequência não
codificadora do DNA possui ou importância estrutural ou está envolvida no uso da
informação genética. Os genes localizam-se nos cromossomos e controlam, além da estrutura
e das funções metabólicas das células, o organismo como um todo. Conforme definição do
glossário do site oficial do Projeto Genoma Humano (PGH), “gene é a unidade física e
funcional fundamental da hereditariedade. Um gene é uma sequência ordenada de
23
nucleotídeos localizada numa posição particular de um determinado cromossomo que codifica
um produto funcional específico (p.ex.: uma proteína ou molécula de RNA)”5.
Quando localizados em células reprodutivas, eles transmitem sua informação para a
próxima geração. A soma total dos genes dá origem ao genoma. Todavia, uma série de
descobertas das últimas décadas trouxe novos desafios importantes, que demonstraram que o
conceito molecular clássico é insuficiente para explicar a complexidade da estrutura e
dinâmica dos genomas. Nesse sentido, uma definição mais atual de gene foi apresentada pelos
cientistas do Projeto ENCODE (Enciclopédia de Elementos de DNA), projeto apresentado
mais adiante, para quem o gene seria “a união de sequências genômicas que codificam um
conjunto coerente de produtos funcionais potencialmente sobrepostos”. (JOAQUIM; EL-
HANI, 2010, p. 23). Entretanto, por ainda ser a definição mais comum, o conceito molecular
clássico de gene será o utilizado ao longo do trabalho.
Já o genoma, de maneira geral, é o conjunto de informações genéticas contidas nas
moléculas de DNA de um ser vivo, que se localizam no núcleo de cada célula. O glossário
oficial do PGH define genoma como “todo material genético em um cromossomo de um
determinado organismo; seu tamanho geralmente é dado conforme seu número total de pares
de bases6”. Chama-se genótipo a informação genética transmitida hereditariamente, e fenótipo
a interação dos genótipos entre si ou com o ambiente, ou seja, a maneira como o material
genético herdado se desenvolve. Dito de outra forma, o genoma seria a completa sequência de
“DNA, contendo toda a informação genética de um gameta, de uma pessoa, de uma população
ou de uma espécie”. (NUSSBAUM et al, 2002, p. 354).
O genoma humano pode ser definido como o conjunto de informações genéticas
contidas no núcleo de cada célula humana diploide, ou seja, é a sequência dos 23 pares de
cromossomos do núcleo de cada célula, sendo que desses 23 pares, 22 são cromossomos
autossômicos ou somáticos (não ligados ao sexo) e um par é o determinante do sexo (XX nas
mulheres ou XY nos homens). Em outras palavras, o genoma humano seria o código genético
do homem. Importa ressaltar que o genoma humano é um dos conceitos essenciais para a
solução do problema central do presente estudo.
Com a idealização do Projeto Genoma Humano – PGH – a questão do genoma
tornou-se destaque no cenário internacional. O PGH, que teve início oficial em 1990, tinha
5 Tradução livre do original: “gene is the fundamental physical and functional unit of heredity. A gene is an
ordered sequence of nucleotides located in a particular position on a particular chromosome that encodes a
specific functional product (i.e., a protein or RNA molecule)”. 6 Tradução livre do original: “all the genetic material in the chromosomes of a particular organism; its size is
generally given as its total number of base pairs”.
24
como objetivo principal mapear e analisar todos os genes contidos no DNA humano, o que
seria realizado, numa previsão inicial, em quinze anos. Para Mayana Zatz, o objetivo principal
do PGH era identificar os genes responsáveis por nossas características normais e patológicas,
sendo que seus resultados, em longo prazo, seriam (e serão) capazes de revolucionar a
medicina, principalmente na área da prevenção. Para Zatz, por meio do PGH
será possível analisar milhares de genes ao mesmo tempo e as pessoas poderão saber
se têm predisposição aumentada para certas doenças, como diabete, câncer,
hipertensão ou doença de Alzheimer, e tratar-se antes do aparecimento dos sintomas.
As vacinas de DNA poderão eliminar doenças como a tuberculose ou a Aids. Os
remédios serão receitados de acordo com o perfil genético de cada um, evitando-se
assim os efeitos colaterais. Paralelamente a esses avanços, inúmeras questões éticas
já estão sendo discutidas e outras irão surgir. Mas, por enquanto, as implicações
éticas, legais e sociais dos conhecimentos gerados pelo PGH em relação às
características normais e patológicas e sua integração na clínica médica têm sido
discutidas no ambiente acadêmico. Na prática, entretanto, já estão sendo
desenvolvidos testes genéticos para a escolha do sexo de futuros bebês e bancos de
DNA da população. Um número crescente de laboratórios oferece testes de DNA
para doenças hereditárias ou para determinar se uma pessoa tem maior risco de
desenvolver certas doenças como câncer ou doenças cardíacas. (ZATZ, 2000).
Para alcançar tais objetivos, o PGH pressupunha a geração de informação e o seu
armazenamento em bancos de dados, que ficariam disponíveis para todos os pesquisadores
envolvidos.
Em fevereiro de 2001, quatro anos antes do previsto, a primeira versão completa do
genoma humano foi publicada nas revistas Nature e Science. Todavia, o anúncio do término
oficial do projeto somente foi dado em abril de 2003, treze anos após o seu início,
inaugurando uma nova fase para a genética e para a biotecnologia. (SCAPIN, 2013, p. 03).
Após a conclusão do PGH teve início em 2003 o Projeto ENCODE – Enciclopédia
de Elementos Codificadores (Encyclopedia of Coding Elements), ou Enciclopédia de
Elementos de DNA, um projeto internacional liderado por uma organização americana
chamada Instituto Nacional de Investigação do Genoma Humano. A iniciativa se deu visto
que o PGH concluiu que apenas 2% (de um total de 21 mil) do nosso DNA são genes que
codificam proteínas. Assim, o objetivo do ENCODE era a identificação da função dos 98% do
DNA que constitui o genoma humano.
Em termos de definição internacional, a Declaração Universal sobre o Genoma
Humano e os Direitos Humanos, da UNESCO, afirma em seu art. 1º que o genoma humano
“constitui a base da unidade fundamental de todos os membros da família humana bem como
de sua inerente dignidade e diversidade. Num sentido simbólico, é o patrimônio da
humanidade”. Afirma, também, que o genoma humano está sujeito a mutações e que a
25
maneira pela qual seu potencial se expressa varia conforme o ambiente natural e social de
cada indivíduo. (UNESCO, 1997).
O objetivo primordial da Declaração é o estabelecimento de limitação internacional
às ações relativas ao genoma humano, bem como orientação na formulação das legislações
nacionais, girando, dessa maneira, em torno da proteção da dignidade humana.
(MEIRELLES, 2013, p. 100).
Assim, ao reconhecer que o genoma humano constitui a base da unidade fundamental
de todos os membros da família humana (BRAUNER; LIEDKE, 2009), a Declaração
reconhece a existência de uma identidade biológica concebida a partir do genoma. Apesar de
a própria Declaração afirmar que a compreensão da dimensão biológica do homem deve
ocorrer dentro do contexto social em que ele vive, não há que se negar que, ao menos em
termos genômicos, todo ser vivo se encontra em posição de igualdade.
O conceito de identidade, embora para muitos autores aparentemente não apresente
definição satisfatória, seria “aquilo que socialmente confere o sentido de pertencimento a
determinado grupo social, que possui algo de partilha comum, que diz respeito a todos”.
(BORGES, 2008, p. 18). Já a identidade biológica seria uma nova identidade, que cria a
cultura da espécie humana como componente da natureza. (BORGES, 2008, p. 18). Portanto,
quando a Declaração reconhece a existência dessa identidade biológica, reconhece, também, o
genoma humano como componente da natureza.
Entretanto, ainda resta saber qual o tratamento constitucional conferido ao genoma
humano e como o genoma está inserido na natureza. Para tanto, necessário se faz
compreender o conceito de natureza e como a sua interpretação evoluiu ao longo do tempo,
passando do aspecto antropocêntrico até alcançar o biocêntrico.
2.2.2 O meio ambiente, o antropocentrismo e o biocentrismo
Em matéria constitucional, a Constituição da República de 1988 (CR/88) não trata
especificamente da questão do genoma. Todavia, o inciso II do parágrafo 1º do art. 225, no
capítulo dedicado ao meio ambiente, faz menção às entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação do material genético:
26
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
(BRASIL, 1988).
Paulo Affonso Leme Machado define patrimônio genético como o conjunto de
material genético, abrangendo todo o material de origem animal, vegetal, microbiana ou
“outra que contenha unidades funcionais de hereditariedade, com valor real ou potencial, que
possa ser importante para as gerações presentes e futuras”. (MACHADO, 2010, p. 142).
A partir dessa definição, é possível afirmar que a expressão “material genético”
contida no inciso II não pode ser interpretada de maneira restritiva. Sua interpretação deve ser
ampla, de maneira a abranger todas as categorias de seres vivos, inclusive o ser humano.
Dessa forma, ao inserir a fiscalização das entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação do material genético dentre as obrigações do Poder Público no tocante à
manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, a CR/88 reconheceu o material
genético como parte do meio ambiente. Com isso, pode-se afirmar que o genoma e,
consequentemente, o genoma humano, também estão inseridos no conceito constitucional de
meio ambiente.
O meio ambiente, nos dizeres de Milaré, é “constituído por seres bióticos e abióticos
e suas relações e interações. Não é mero espaço circunscrito – é realidade complexa e
marcada por múltiplas variáveis”. (MILARÉ, 2001, p. 143).
A expressão, comumente apresentada como sinônima de “ecologia”, com ela não se
confunde. O termo ecologia foi cunhado pelo biólogo e médico alemão Ernst Heinrich
Haeckel no ano de 1866, tendo como propósito original o “estudo da casa”, do entorno, do
meio (ecologia deriva dos radicais gregos oikos – casa, e logia/logos – estudo). Assim,
ecologia é a ciência que cuida do estudo das relações dos seres vivos entre si e com o seu
meio físico (aqui entendido como o cenário natural em que tais seres se desenvolvem, ou seja,
os elementos abióticos, a exemplo do solo, dos recursos hídricos, do ar e etc.). (MILARÉ,
2001, p. 138). Já meio ambiente, como apresentado, possui conotação mais ampla.
Em termos jurídicos, a definição de meio ambiente vai além daquela tecnicamente
exposta. Para o direito, meio ambiente abrange os aspectos natural, artificial, cultural e do
trabalho. Tal divisão, nos dizeres de Fiorillo, busca apenas “facilitar a identificação da
27
atividade degradante e do bem imediatamente agredido” (2011, p. 73), na medida em que o
objeto maior do direito é a tutela da vida saudável.
Para Milaré (2011, p. 143) o conceito jurídico de meio ambiente contempla duas
perspectivas principais: uma estrita, que diz respeito ao patrimônio natural e as relações com e
entre os seres vivos, e uma visão ampla que
vai além dos limites estreitos fixados pela Ecologia tradicional, o meio ambiente
abrange toda a natureza original (natural) e artificial, assim como os bens culturais
correlatos. Temos aqui, então, um detalhamento do tema: de um lado, com o meio
ambiente natural, ou físico, constituído pelo solo, pela água, pelo ar, pela energia,
pela fauna e pela flora; e, do outro, com o meio ambiente artificial (ou humano),
formado pelas edificações, equipamentos e alterações produzidos pelo homem,
enfim, os assentamentos de natureza urbanística e demais construções. (MILARÉ,
2011, p. 143).
O conceito legal de meio ambiente foi concebido pela Lei nº 6.938/1981 (que dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente) em seu art. 3º, inciso I, como sendo “o conjunto
de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas”. (Grifos nossos). Já a CR/88 trata da
temática no art. 225, supracitado.
Em matéria legal, tanto a Lei nº 6.938/81 quanto a CR/88 colocam o meio ambiente
como responsável pela conservação de todas as formas de vida, aí incluindo a vida humana
nos seus diversos estágios. Todavia, os dois textos legais revelam um viés antropocêntrico, na
medida em que submetem a natureza aos anseios e interesses da espécie humana.
Essa visão antropocêntrica, e em certo sentido ultrapassada, dos textos legais reflete
o momento em que tais textos foram redigidos, na medida em que, do ponto de vista histórico,
o homem desenvolveu por muito tempo uma visão de domínio sobre a natureza, colocando-se
sempre em posição superior. A visão antropocêntrica defende a responsabilidade do ser
humano para com a natureza, isto é, o homem é responsável pela natureza, é a ela superior.
Para o antropocentrismo, o ponto de referência é sempre o ser humano, autônomo e isolado,
não existindo uma compreensão a partir de sua inter-relação com o meio.
Todavia, essa visão de domínio do homem sobre a natureza tem perdido espaço para
uma nova postura, chamada biocêntrica ou ecocêntrica, em que o homem possui deveres
diante da natureza. Por meio da visão biocêntrica, o homem passa a se enxergar como parte da
natureza, preocupando-se mais com suas atitudes e possíveis consequências para o ambiente e
para as gerações futuras. A natureza possui valor intrínseco e o homem, deveres diretos para
com o meio ambiente. O planeta é agora a morada do homem.
28
A partir do momento em que o homem se vê como parte da natureza, todo e qualquer
tipo de intervenção, principalmente aquelas que ocorrem diretamente no organismo humano,
passam a ser intervenções na própria natureza, trazendo riscos, vantagens e desvantagens, ou
seja, impactando de diferentes maneiras no meio ambiente.
Junges afirma que esse paradigma ecológico (do biocentrismo) veio para superar o
“paradigma moderno da autonomia humana solipsista7”, um paradigma da aventura de
conquista e domínio da natureza pela ciência e pela técnica, do uso ilimitado e da fruição
imprudente dos recursos naturais, “da passagem do regime da natureza para o regime da
sociedade, da ética procedimental e utilitarista”. (JUNGES, 2010, p. 16).
Essa mudança de paradigma, do antropocêntrico para o biocêntrico, torna-se um
ponto crucial para a presente análise, na medida em que o primeiro passo para a compreensão
do genoma humano num contexto de meio ambiente é a aceitação de que o homem é parte do
meio ambiente.
A compreensão do homem como parte do meio ambiente também é bem percebida
quando analisado o conceito de ecossistema, como um complexo de interações de dinamismos
vitais8. Nesse sentido, o processo da vida é formado por substâncias químicas nutrientes, que
estão continuamente circulando nos seres vivos pela acumulação ou pela transformação; pela
energia da fotossíntese das plantas, que é transferida para os animais via alimentação; e pelos
seres viventes, chave de circulação de energia vital nas comunidades bióticas. O ser humano,
assim, é um elo desse processo, estando inserido no ambiente físico, químico e biológico,
participando como qualquer outro ser vivo dos processos de circulação das substâncias
nutrientes, de fluxo de energia e de manutenção do equilíbrio; ou seja, o ser humano faz parte
das interações naturais do ambiente. (JUNGES, 2010, p. 15).
Dessa forma, para reforçar a ideia de que o homem é parte do meio ambiente e de
que as intervenções e manipulações genéticas humanas impactam de alguma maneira no meio
ambiente, necessária se faz a compreensão do genoma humano como matéria ambiental.
7 O solipsismo, conforme definição do dicionário on line de português, é uma doutrina filosófica cujos preceitos
se pautam numa única realidade representada somente pelo eu empírico; ou seja, uma teoria filosófica segundo a
qual nada existe fora do pensamento individual, sendo a percepção (das coisas e/ou das pessoas) uma impressão
sem existência real. (Disponível em: <http://www.dicio.com.br/solipsismo/> Acesso em: 20 ago. 2013). 8 O dinamismo vital é essencialmente a absorção e o consumo de energia.
29
2.2.3 Genoma humano como matéria ambiental
Quando a análise do ser vivo se dá por meio do seu genoma, percebe-se que os genes
de todos os seres vivos possuem a mesma estrutura química. Por meio do sequenciamento de
outras espécies, menos complexas, tornou-se possível a compreensão de muitos aspectos do
genoma humano. A título de exemplo, ao se estudar a genética da bactéria, muito se aprendeu
sobre a genética humana, na medida em que o homem possui genes que são “parentes”
distantes dos genes das bactérias; a análise de genes já conhecidos na bactéria possibilitou,
por exemplo, a descoberta de genes envolvidos em alguns tipos de câncer humano.
(PEREIRA, 2013).
Essa vinculação entre diferentes espécies representa a biodiversidade, que pode ser
entendida como
toda a gama de organismos vivos existentes no planeta, de forma a destacar a
essencial vinculação e interdependência entre as espécies. Dito de outra forma: a
biodiversidade representa o complexo sistema de variabilidade biológica, que
abrange desde os seres humanos, passando por outras espécies animais, vegetais,
fúngicas, protistas, bacterianas ou mesmo viróticas. (NAVES; SÁ, 2011, p. 64).
Dessa forma, entendendo a definição de biodiversidade e analisando o exemplo
apresentado, percebe-se que realmente existe um vínculo entre as diferentes espécies e que o
homem, em termos biológicos e principalmente genômicos9, está próximo aos demais seres
vivos. Essa maneira de analisar os seres sob uma mesma ótica é importante quando se tenta
compreender e aplicar a visão biocêntrica do mundo. Partir do pressuposto de que os seres
vivos possuem algo em comum é um passo valioso para a compreensão do papel do homem
no meio ambiente.
As figuras abaixo são uma forma de reforçar esse caráter de igualdade entre os seres
vivos em termos genômicos. Elas representam a estrutura dos genes de diferentes espécies,
dentre elas a humana.
9 A genômica é o “campo da genética envolvido com os estudos estruturais e funcionais do genoma”.
(NUSSBAUM et al, 2002, p. 354).
30
Figura 1: genoma 1.
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mapview/
Figura 2: genoma 2.
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mapview/
Figura 3: genoma 3.
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mapview/
31
Figura 4: genoma 4.
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mapview/
Figura 5: genoma 5.
Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mapview/
Analisando as figuras da maneira como elas se encontram, não é possível concluir
nada além do fato de que todas trazem cromossomos numerados (em maior ou menor
quantidade), e algumas ainda apresentam os cromossomos X e/ou Y. Não é possível dizer a
qual das figuras corresponde o genoma humano. Esse fato apenas confirma o já afirmado:
para uma análise genômica não importa se o ser vivo analisado é uma planta, um fungo, um
inseto, um mamífero, um animal racional ou irracional. Em termos genômicos, não há
superioridade entre os seres vivos, todos são analisados da mesma maneira.
A primeira figura corresponde ao genoma do Homo sapiens; a segunda figura
representa o genoma do Callithrix jacchus, uma espécie brasileira de macaco popularmente
conhecida por sagui-de-tufos-brancos; o terceiro genoma é o genoma do Gorilla gorilla, ou
gorila do ocidente; o quarto, é o genoma do Cryptococcus neoformans, uma espécie de fungo;
e o quinto genoma corresponde ao genoma do Oryza sativa, ou genoma do arroz. Cinco
32
genomas de espécies completamente diferentes, representados de maneira bastante similar,
afirmando a hipótese de que analisar uma espécie pelo seu genoma é colocá-la no mesmo
patamar que todas as outras espécies.
Estudar os seres vivos por meio do seu genoma é como aplicar a técnica do “tempo
que envelhece” ao tempo da natureza, em que não havia superioridade entre os seres vivos.
Unindo o tempo cíclico e o tempo projetual em um mesmo espaço, supera-se a distância entre
técnica e natureza, demonstrando-se que elas podem coexistir e até mesmo se complementar,
pensamento necessário para a superação da ideia de natureza como “reserva de recursos” para
o homem.
Dessa maneira, a comparação dos genomas acima expostos é relevante para que o ser
humano se convença de outro fator significativo: o seu surgimento somente ocorreu após
milhões de anos de evolução biológica dos seres vivos. Se a história da vida fosse reduzida a
escala de um ano, o ser humano somente surgiria nos últimos minutos. Para Junges (2010, p.
19), o conhecimento desse dado deve levar o homem a uma atitude de maior humildade
perante a natureza e admiração pela matriz comum da vida.
Analisar as espécies sob esta ótica mostra-se importante para o presente trabalho na
medida em que a manipulação genética embrionária humana, e especificamente o dignóstico
genético pré-implantação (DGPI), são uma maneira de enxergar o ser humano por meio do
seu genoma, do seu DNA.
Entretanto, antes de analisar a questão da manipulação genética embrionária humana,
outro fator que merece destaque e que liga a genética ao meio ambiente por meio da técnica é
a chamada ecogenética.
2.3 Ecogenética
A ecogenética, termo utilizado pela primeira vez em 1971 por Brewer, é um ramo da
genética que busca o estudo da variabilidade das respostas individuais geneticamente
determinadas a agentes ambientais, de forma a procurar identificar as razões e as
consequências dessa variabilidade perante um mesmo agente. (REGATEIRO, 2007).
Em outras palavras, a ecogenética seria a análise de como os genes e os fatores
ambientais interagem entre si de maneira a afetar a saúde humana, ou seja, como cada pessoa
responde a essa interação, tornando-se mais ou menos vulnerável.
33
Para Omenn et al (2004), esses fatores ambientais incluem “o ambiente social e
familiar, ambiente intrauterino, tabagismo, álcool, abuso de outras substâncias, estresse e
exposição a agentes químicos, físicos e biológicos”. Os autores também afirmam que alguns
tipos de exposição ambiental, a exemplo da luz ultravioleta, dos raios-X, e de certos produtos
químicos industriais, causam mutações genéticas (danos ao DNA) que alteram a função do
gene e a estrutura e função da proteína especificada por esse gene, o que, em alguns casos,
pode levar ao aparecimento de doenças.
A exposição a esses fatores ambientais causa riscos. Todavia, esses riscos
decorrentes da exposição a agentes químicos e ambientais estão diretamente relacionados com
o nível dessa exposição, com a potência intrínseca do agente e a suscetibilidade da pessoa
exposta (algumas pessoas são mais e outras menos sensíveis, reagindo de maneiras distintas a
exposição).
Com isso, a pesquisa ecogenética se mostra importante, devendo combinar
cuidadosos estudos de avaliação de exposição com as investigações de influências genéticas
sobre determinadas doenças. O Projeto Genoma Ambiental (EGP – Environmental Genome
Project), nesse sentido, foi uma iniciativa de pesquisa estabelecida em 1997 pelo Instituto
Nacional de Ciências Ambientais e de Saúde (NIEHS – National Institute of Environmental
Health Sciences), componente do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, que buscou
alcançar os seguintes objetivos: a) identificação de algumas das diferenças genéticas mais
comuns entre os indivíduos que parecem afetar a resposta a riscos ambientais; b) realização de
estudos epidemiológicos investigando o papel das interações gene-ambiente no
desenvolvimento de doenças comuns; e c) promoção do uso de informações sobre interações
gene-ambiente em iniciativas de saúde pública. (OMENN et al, 2004).
Além disso, o Projeto pretendeu identificar e estudar uma série de variantes genéticas
comuns que podem desempenhar um papel importante na determinação de como os
indivíduos respondem às exposições ambientais.
O EGP foi desenvolvido a partir de uma lógica de que existem genes específicos que
de maneira virtual contribuem para toda enfermidade humana, salvo alguns casos de trauma.
Tais genes são capazes de conferir aumento na resistência (sensibilidade) do organismo diante
de agentes ambientais que podem variar desde toxinas até alimentos ou medicamentos. O
EGP teve como fonte de informação o PGH.
Como muitos dos genes apresentam um papel importante na maneira como os seres
humanos reagem aos “perigos” ambientais, e a saúde humana é afetada nesses casos apenas
na presença de exposições ambientais específicas, Omenn et al (2004) afirmam que
34
decifrar as relações que existem entre as variantes genéticas e a resposta individual
tem o potencial para melhorar a saúde pública de forma significativa. Identificar as
pessoas com maior risco, por exemplo, e incentivá-las a evitar os riscos ambientais
aos quais estão mais suscetíveis, pode ajudar a prevenir ou retardar o aparecimento
de doenças em grandes segmentos da população sem intervenções farmacológicas10
.
(2004).
Assim, a ecogenética se apresenta como uma forma de conexão entre gene e meio
ambiente, demonstrando a importância de entender e estudar essa interação de maneira a
prevenir (ou retardar) o aparecimento de doenças, garantindo a melhora da saúde pública e da
qualidade de vida.
Entretanto, a ecogenética apresenta considerações éticas importantes que devem ser
analisadas antes da utilização dos testes genéticos. O primeiro ponto a ser destacado nesse
sentido é com relação à maneira pela qual o grau de suscetibilidade (ou risco) de um
indivíduo é definido: nem sempre o fato de uma pessoa ser mais suscetível a determinado
fator químico ou ambiental quer dizer que essa pessoa irá desenvolver algum tipo de
enfermidade decorrente dessa suscetibilidade; por outro lado, essa suscetibilidade a um
determinado fator “x” não pressupõe uma hiper-suscetibilidade a outros fatores similares ao
fator “x”. Pressupor tal situação seria uma forma de discriminação do indivíduo devido aos
seus caracteres genéticos.
Omenn et al (2004) também apresentam outros fatores éticos que devem ser
considerados. O primeiro deles é quanto à importância de se esclarecer às pessoas que a
identificação e a caracterização de um fator de risco genético não pressupõem clareza quanto
à causa da doença em um indivíduo específico. Isso porque ainda existem incertezas
científicas em torno da relação “causa-efeito” e, como já apresentado, os indivíduos tendem a
ter reações distintas a um mesmo fator ambiental e/ou químico. Por isso, não se pode afirmar
que a pessoa que possui um gene que a predispõe a determinada doença venha a desenvolver
a doença por esse motivo. Outro ponto interessante é o que relaciona o sucesso dos testes de
predisposições genéticas à diminuição do compromisso de eliminar exposições ambientais
perigosas. Para os autores, apesar da importância dos testes na adoção de medidas preventivas
específicas e melhor avaliação do risco individual, o sucesso dos testes de predisposições
genéticas pode mudar o foco dos esforços de gestão dos riscos, levando a um afrouxamento
das medidas que visam à eliminação das exposições ambientais perigosas.
10
Tradução livre do original: “deciphering the relationships that exist between genetic variants and individual
response has the potential to improve public health significantly. Identifying those persons most at risk, for
example, and encouraging them to avoid those environmental hazards to which they are most susceptible, may
help prevent or delay disease onset in large segments of the population without pharmacological interventions”.
35
Apesar das questões éticas apresentadas, não há que se negar a importância da
ecogenética para o estudo em questão, principalmente quando as pesquisas se voltam para o
campo da farmacologia clínica.
Dessa maneira, os avanços nas pesquisas sobre a interação gene-ambiente podem
contribuir para os avanços nos campos da farmocogenética (que estuda o efeito de
determinado gene em certo fármaco) e da farmacogenômica (que estuda vários genes e suas
interações com os fármacos)11
.
As questões ligadas à farmacologia clínica são particularmente importantes para o
presente estudo na medida em que buscam um tratamento para determinadas doenças a partir
da questão genética do paciente. Com a farmacogenética será possível obter uma resposta
mais rápida do organismo do paciente, sem precisar da realização de vários testes com
medicamentos diversos, evitando a exposição do paciente a riscos e reações desconhecidos.
Apesar das expectativas em torno desse tipo de tratamento, não se pode esquecer que em
alguns casos a resposta farmacológica não está apenas em um único gene, o que pode
modificar a resposta do organismo a determinado medicamento. Todavia, esse não é um fator
impeditivo à utilização desse tipo de medicina, conhecido por “medicina individualizada”.
Assim, nas palavras do médico Guilherme Kurtz (2004):
Com a medicina individualizada e a implementação da farmacogenética o paciente
levará até o médico informações genéticas preciosas que fará com que seja indicado
o remédio certo, sem a necessidade de experiências de nenhum tipo. Este
procedimento no primeiro momento vai encarecer a medicina por que (sic) irá gerar
a necessidade de treinamento, equipamentos adequados e a formação de centros
especializados. Quando isto tudo estiver implementado o custo do exame irá cair e o
mais importante: irá diminuir significativamente os efeitos tóxicos na população e
acabar com a necessidade do tratamento de efeitos colaterais. Nós saberemos em um
exame trivial quais são os genes importantes para a resposta aos medicamentos.
(KURTZ, 2004).
A grande maioria das doenças tem como causa contribuições (fatores) tanto
ambientais quanto genéticas. Assim, a compreensão da relação entre a variação genética e a
resposta à exposição ambiental é importante para a compreensão das causas das doenças
humanas, sendo crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção dessas
doenças.
11
Alguns autores utilizam os termos como sinônimos. Conforme Kurtz (2004), a farmacogenética é um ramo
que já existe desde 1953. O nome farmacogenômica é mais recente e deveu-se ao Projeto Genoma Humano. O
autor considera a diferença entre os termos questionável, utilizando-os como sinônimos. Apesar da pequena
diferença conceitual apresentada, no presente trabalho os termos serão utilizados como sinônimos.
36
A ecogenética, dessa forma, é mais um meio que comprova a inevitável ligação entre
o genoma humano e o meio ambiente. Por meio da ecogenética foi possível demonstrar que os
indivíduos respondem de maneiras distintas às exposições ambientais e que o fato de uma
determinada pessoa possuir um gene específico que a torna mais suscetível a determinada
doença, por si só, não a leva a desenvolver a doença. Pelo contrário, a influência do ambiente
pode ser o fator determinante que levará ou não ao desenvolvimento da patologia.
Com relação ao genoma de maneira geral e especificamente ao genoma humano,
constatou-se, tanto em termos legais quanto em termos biológicos, que ele é um elemento do
meio ambiente. Ademais, demonstrou-se que existe uma identidade biológica entre os seres
vivos e que estes, quando analisados pelo genoma, não possuem diferenças significativas, ou
seja, não há hierarquia entre os seres vivos em termos genômicos. Tal fato remete à
comparação entre os tempos cíclico (da natureza) e projetual (da técnica): estudar o meio
ambiente por meio da visão do genoma aproxima os dois tempos e faz com que o ser humano
se perceba como componente da natureza.
Por meio do mito “Prometeu Acorrentado” discutiu-se a evolução da técnica, que de
meio para alcançar determinado fim passou a ser o fim supremo. Pela técnica, também se
evidenciou o aspecto da manipulação genética da vida e como as revoluções técnico-
científicas foram capazes de modificar a percepção do homem acerca do conceito de vida.
Também se destacou a necessidade de o direito “se vestir” do aparato técnico a fim de
encontrar os mecanismos necessários para a compreensão do cenário que se impõe, de forma
a atuar como um mediador entre os avanços técnico-científicos e as formas com que eles
impactam no meio ambiente.
Assim, criou-se a base para a discussão de outros aspectos necessários para a
compreensão dos impactos da manipulação genética embrionária humana para o meio
ambiente: o início da vida, a vida humana embrionária e a noção de dignidade humana.
37
3 VIDA, PARA ALÉM DO NASCER
Nos primórdios da interpretação humana do ser, a vida não apresentava mistérios: no
início a interpretação mais natural do mundo era a de que ele era vivo,
ao ser humano primitivo, que caminhava sobre sua terra e era coberto pela cúpula do
seu céu, não havia possibilidade de surgir a ideia de que a vida fosse uma exceção
ou um fenômeno secundário no universo, e não a regra dominante. [...] Seja como
for, acima de tudo o ser humano estava convencido de que a vida está presente em
tudo quanto existe. (JONAS, 2004, p. 17-18).
Assim, para o homem primitivo o grande mistério do universo estava ligado à morte.
Toda a reflexão do homem, nessa época, lutava contra o enigma da morte, buscando atribuir-
lhe respostas “no mito, no culto e na religião”. A vida era vista como o natural e a morte a sua
negação, isto é, o não natural. Como somente a vida era compreendida, “de alguma maneira a
morte tinha que ser assimilada à vida”. (JONAS, 2004, p. 18).
Com o período renascentista e o início do pensamento moderno, a questão da morte
deixa de ser um enigma para tornar-se algo natural; a exceção, o desconhecido, o que exige
uma explicação passa a ser a vida:
[...] o cadáver é hoje o mais fácil de ser compreendido. Só na morte é que o corpo
deixa de ser um enigma: na morte ele retorna do comportamento enigmático e
inortodoxo da vida – para o estado claro e “familiar” de um corpo dentro do
conjunto corporal, cujas leis gerais constituem a regra de toda a compreensão.
Aproximar desta regra a morte do corpo orgânico, portanto diluir neste sentido os
limites entre a vida e a morte; a partir da morte, do estado de cadáver, suprimir a
diferença de essência – esta é a linha da reflexão moderna sobre a vida como um
fato do mundo. Nosso pensamento encontra-se hoje sob o predomínio ontológico da
morte. (JONAS, 2004, p. 21-22).
A vida, a partir daí, tornou-se o grande enigma da natureza. A busca por uma
explicação que deixasse claro o momento do seu início, fez com que várias teorias surgissem
ao longo dos anos.
Compreender o início da vida é um passo primordial para o entendimento da
manipulação genética embrionária humana. Conhecer as teorias sobre o início da vida e o
início da vida humana é uma informação necessária para o entendimento de como a
manipulação genética embrionária é capaz de impactar na própria vida humana e no meio
ambiente.
38
Dentre essas várias teorias, a primeira aqui apresentada é a mecanicista. A revolução
mecanicista, que tomou forma no século XVII, procurou compreender a natureza por meio
dos princípios matemáticos, construindo a ideia do universo como uma máquina que obedece
a leis deterministas e universais. A natureza, por esse modelo, não tinha vida própria, era
desprovida de alma e destituída de espontaneidade: era matéria física. René Descartes foi o
pensador que primeiro sistematizou o paradigma mecanicista. (PINTO, 2010).
Descartes, a fim de explicar a natureza animal, classificava os corpos dos animais
como máquinas “construídas de forma a funcionar da maneira como funcionam”. (JONAS,
2004, p. 52). A sua teoria tinha como ponto de partida fixo “uma estrutura mecânica
determinada em cada caso – o tipo de organismo dado – e concebia a vida do animal em
questão como função dessa estrutura, como o rendimento da máquina”. (JONAS, 2004, p.
56). Por esse raciocínio, a estrutura, ao mesmo tempo em que determinava unilateralmente a
função, a explicava; por isso sua análise responde a todas as perguntas feitas a respeito de
uma coisa viva. O principal problema da teoria, entretanto, consiste “em que ela nega à
realidade orgânica sua principal e mais patente característica, isto é, a propriedade de que em
cada uma de suas individuações ela demonstra uma tendência própria à existência e à
realização, ou o fato de que a vida se quer a si mesma”. (JONAS, 2004, p. 52-72).
No século XIX a teoria que buscou explicar a vida foi o evolucionismo ou
transformismo (teoria da evolução). Por essa teoria, todas as espécies vivas são derivadas
umas das outras, por meio de transformação ou evolução natural – o que explicaria o fato de
as espécies mais complexas derivarem das menos complexas.
Diversas teorias evolucionistas foram desenvolvidas ao longo do tempo, e as
atribuídas a Lamarck (Philosophie Zoologique - 1809) e Darwin (A origem das espécies -
1859) são as mais difundidas. A teoria apresentada por Lamarck fundamentou-se em dois
princípios básicos: o primeiro, afirmava que as transformações nas espécies eram derivadas da
adaptação ao ambiente, devido ao uso ou não uso de determinados órgãos; o segundo
princípio afirmava que as transformações ocorridas nos indivíduos, quando comuns aos dois
sexos, eram transmitidas de geração em geração. (SGRECCIA, 2009, p. 101). Lamarck,
assim, faz parte da vertente transformacional do evolucionismo. As teorias transformacionais,
nos dizeres de Caponi, procuram explicar a evolução de um sistema “em virtude de mudanças
simultâneas e conjugadas que ocorrem em todos e em cada um dos componentes do sistema”.
(CAPONI, 2005). Afirma o autor que para a teoria de Lamarck as espécies modificam-se no
tempo porque cada organismo individual, considerado dentro da própria espécie, sofre as
mesmas mudanças, ou seja, são as transformações que ocorrem nos organismos individuais
39
que provocam a evolução. (CAPONI, 2005). Dessa forma, Lamarck busca explicar como os
organismos chegaram a ter a forma que tem ou, em outras palavras, ele busca explicar perfis
orgânicos.
Já a teoria de Darwin fundamentou-se nos princípios da luta pela vida e da seleção
natural. Sua teoria faz parte das teorias selecionais que “explicam as mudanças de um sistema
em virtude de seus componentes”. (CAPONI, 2005). Tais componentes, por sua vez, diferem
entre si em certas características e o conjunto como um todo se modifica devido a uma
“alteração na representação proporcional das diferentes variantes, cujas propriedades
específicas permanecem inalteradas”. (CAPONI, 2005). Assim, a teoria da evolução orgânica
de Darwin, contrariamente ao defendido por Lamarck, baseia-se em um modelo variacional
de mudança, em que o fenômeno evolutivo não é explicado por “agregação de narrativas de
processos individuais de transformação”. (CAPONI, 2005). Para Darwin, uma população
modifica-se porque existem variações entre os indivíduos e algumas dessas variações
produzem mais descendentes que outras. O organismo, dessa forma, seria o objeto das forças
evolutivas. Com isso, pode-se afirmar que Darwin procura explicar a composição da
população, ou seja, os perfis populacionais. (CAPONI, 2005). Em outros termos, a luta pela
sobrevivência ocorreria dentro da própria espécie entre os seus diversos indivíduos, e as
mutações, por isso, “seriam devidas a uma causa, ou seja, ao fato de que o indivíduo mais
adaptado se afirma e se multiplica, enquanto o menos adaptado desaparece juntamente com
suas características”. (SGRECCIA, 2009, p. 101).
Nos dizeres do próprio Darwin:
Dei o nome de seleção natural ou de persistência do mais apto à conservação das
diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações
nocivas. As variações insignificantes, isto é, que não são nem úteis nem nocivas ao
indivíduo, não são certamente afetadas pela seleção natural e permanecem no estado
de elementos variáveis, como as que podemos observar em certas espécies
polimorfas, ou terminando por se fixar, graças à natureza do organismo e às das
condições de existência. (DARWIN, 2003, p. 94).
Para a concepção evolucionista darwinista, nos dizeres de Jonas (2004, p. 60), “os
modelos de estrutura orgânica se apresentam como produtos da vida”. Nesse sentido, o autor
afirma que somente se poderá dizer que a vida dá origem à espécie se o conceito de vida
incluir a interação entre organismo e meio ambiente. Afirma, ainda, que as adaptações
retratam um “equilíbrio dinâmico atingido entre as condições do ambiente e as possibilidades
contingentes que a instabilidade orgânica oferece aleatoriamente”. (JONAS, 2004, p. 60).
40
Afastando-se das teorias de Lamarck e Darwin, o neodarwinismo foi uma teoria que
voltou sua atenção para a variedade dos diversos indivíduos da mesma espécie, rejeitando a
influência do ambiente na modificação dos caracteres hereditários. Para os neodarwinistas, as
causas das variações encontravam-se no germoplasma. Todavia, as razões determinantes
dessas variações eram ainda desconhecidas, cabendo à genética encontrar uma explicação
plausível. Assim, em 1865, G. Mendel realiza as suas famosas experiências com ervilhas e
descobre as leis da genética que, na ocasião, não tiveram a atenção merecida. Em 1902,
todavia, o citólogo americano W. S. Sutton confirmou as leis de Mendel (SGRECCIA, 2009,
p. 101-102):
Em cada par de cromossomos de um novo organismo, um cromossomo provém do
pai, por meio do espermatozoide, e o outro da mãe, por meio do ovócito. Nesse
encontro e mistura dos cromossomos, toda geração tende a trazer à tona os
caracteres recessivos que estavam abafados por um caráter dominante. As
combinações sempre novas produzem, portanto, aquelas variações que serão depois
aproveitadas pela seleção natural. (SGRECCIA, 2009, p. 102).
Dessa maneira, a genética, em alguns aspectos, possui argumentos a favor do
evolucionismo, a exemplo das experiências que buscaram comprovar a possibilidade da
geração espontânea e da evolução das formas e das espécies da vida (como E. van Benedem,
com as experiências sobre a mosca das frutas; W. S. Sutton, que confirmou as leis de Mendel;
T.H Morgan, com a descoberta dos genes e de sua capacidade de reprodução sem a perda da
própria individualidade e independência quanto aos outros genes e; H. Müller, com suas
descobertas sobre mutações). (SGRECCIA, 2009, p 100-103). Com o avanço da biologia
molecular e as descobertas relativas ao código genético, os cientistas passaram a “dar uma
interpretação mecanicista aos fenômenos da origem da vida, como os vírus e as bactérias, até
os organismos superiores e o homem”. (SGRECCIA, 2009, p. 103-104). Soma-se ao listado, a
descoberta das “mutações” que podem ser produzidas por meio de “radiações especiais e pela
ampla possibilidade combinatória previstas nas leis de transmissão genética”. (SGRECCIA,
2009, p. 106). Toda essa argumentação no plano genético é utilizada para apoiar o
evolucionismo.
Por outro lado, também é na própria genética que se encontram as maiores objeções
em relação à teoria evolucionista, pois é dos próprios geneticistas
que provêm as maiores objeções em relação ao evolucionismo e em nome da
determinação do código genético ou do número de cromossomos, bem determinado
para cada espécie.
41
A hipótese da “mutação genética” inesperada deveria ser sufragada pela
individuação das condições físicas ou ambientais precisas que pudessem produzi-la.
(SGRECCIA, 2009, p. 106-107).
Dito isso, pode-se concluir que, ao menos em termos científicos, a evolução ainda se
apresenta como um problema aberto à discussão. Ou seja, o momento em que a vida teve
início ainda é bastante controverso.
Ultrapassando as teorias da evolução da vida, a questão mais importante a ser
respondida é com relação ao início da vida humana. A partir de que momento, em termos
biológicos e legais, a vida humana se inicia?
3.1 O início da vida humana
Após a discussão sobre o início da vida de modo geral, uma das discussões mais
controversas existentes é a que tenta definir o início da vida humana, ponto fundamental para
a identificação dos impactos das técnicas de manipulação genética. Vários são os critérios e
teorias que buscam explicar a partir de qual momento pode-se falar em vida. O debate acerca
do início da vida humana é, sem dúvida, o que mais apresenta contradições e respostas
diferentes: é o momento em que a medicina mais se aproxima das ciências humanas.
Nem mesmo o vocábulo “vida” possui origem incontroversa, pois:
sua raiz latina vita (da qual deriva o português vida) subsume em um único termo
dois conceitos diferentes da língua grega, pois esta distinguia zoé, ou vida orgânica
em princípio comum a todos os seres vivos, e bíos, ou vida especificamente humana,
isto é, a forma de vida que possui características simbólicas, morais e políticas. [...].
Aplicada aos seres humanos, a distinção entre zoé e bíos permite considerá-los tanto
como membros da espécie biológica homo sapiens quanto como cidadãos ou
pessoas, ou seja, como seres biológicos (ou “naturais”) e como seres que
transcendem, em suas vidas cognitivas, morais e políticas, sua condição de seres
“zoológicos” submetidos às leis naturais, para se tornarem seres “biológicos”
autônomos, com biografia e responsáveis pelos seus atos ou práxis. (SCHRAMM,
2010).
Dito isso, para alguns autores a pergunta correta não é quando começa a vida, e sim
quando começa a vida relevante do ponto de vista ético, isso porque a vida se iniciou há
milhões de anos e cada ser humano é um fruto contínuo desse processo.
De acordo com Roberto Goldim, em entrevista ao “Jornal da Ciência”, há mais de 20
critérios biológicos que podem ser utilizados de maneira defensável e conforme um
42
referencial que lhes dê suporte (BARRETO, 2013), para definir o marco inicial da vida do
homem. Esse fato reforça a complexidade do problema.
De todo modo, Schinestsck (2008), assim como Andrade (2013), apontam cinco
teorias (ou hipóteses) principais que, para a ciência, explicariam o início da vida humana.
A primeira abordagem científica está ligada à genética, é a chamada teoria da
concepção: para essa teoria, a vida se inicia com a fecundação, na medida em que a união
entre óvulo e espermatozoide dá início a uma nova combinação de genes, isto é, a um novo
DNA. De acordo com essa teoria, a combinação dos genes do óvulo e do espermatozoide
forma um indivíduo com um código genético único, capaz de desenvolver-se até tornar-se
uma pessoa propriamente dita, que deve ter os mesmos direitos que qualquer outro ser
humano. (ANDRADE, 2013). É essa a posição adotada por boa parte dos religiosos e por uma
expressiva parte das pessoas.
A segunda teoria, chamada embriológica ou da divisão celular, aponta a 3ª semana de
gravidez como o início da vida. Tal teoria se baseia na questão da individualidade humana,
pois até 12 dias após a fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e originar duas ou
mais pessoas. (MUTO; NARLOCH, 2005). Alguns cientistas definem esse momento como a
chegada do embrião ao útero, algo em torno do 14º dia, ocasião em que tem início a divisão
celular para a formação dos órgãos.
O próximo critério é o neurológico. Por esse critério, o início da vida coincide com o
início da atividade cerebral (6 a 24 semanas). Os defensores dessa corrente alegam que se o
fim da atividade cerebral é o que determina o momento da morte, o mesmo critério deve ser
utilizado para definir quando começa a vida, ou seja, quando o feto apresenta atividade
cerebral igual à de uma pessoa. Nesse sentido, Mello, apoiando a teoria, afirma que “se a
morte coincide com o término da atividade do sistema nervoso é lícito supor o início da vida
humana com o estabelecimento dos três folhetos embrionários”. (MELLO, 2008). Todavia, o
problema dessa teoria diz respeito à falta de consenso quanto à data de início da atividade
cerebral, que para alguns cientistas ocorre já na 8ª semana, e para outros apenas na 20ª.
(ANDRADE, 2013). De todo modo, é uma teoria que possui boa aceitação.
O quarto critério científico é o chamado critério ecológico (ou tecnológico, segundo
alguns autores). Para os defensores dessa teoria, “a capacidade de sobreviver fora do útero é
que faz do feto um ser independente e determina o início da vida”. (ANDRADE, 2013). Para
a medicina, um bebê prematuro somente consegue se manter vivo se tiver os pulmões prontos,
o que acontece a partir da 25ª semana de gravidez, isto é, desse momento em diante o bebê já
teria condições de sobreviver fora do organismo materno.
43
Com relação à última teoria, percebe-se uma divergência entre os autores analisados
quanto ao momento do seu início. Assim, para Andrade (2013), a última teoria seria a
chamada metabólica. Segundo tal teoria, não há razão para se justificar a discussão acerca do
início da vida humana, pois não existe um momento único para o seu início, o
desenvolvimento é um processo contínuo. Assim, segundo essa corrente, “espermatozoides e
óvulos são tão vivos quanto qualquer pessoa”. (ANDRADE, 2013). Já Schinestsck (2008)
aponta como critério para delimitar o início da vida humana as “sensações”. Dessa forma, a
autora denomina a quinta teoria de teoria senciente, e demarca o período compreendido entre
a 24ª e a 28ª semanas como o do início da vida, ocasião em que o ser já teria aptidão para
sentir, por exemplo, prazer e dor.
A figura abaixo sintetiza de maneira clara, quatro das principais teorias científicas
acima apresentadas:
Figura 6:O início da vida.
44
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/814968-cientistas-defendem-5-momentos-para-inicio-da-
vida-humana.shtml.
Dessa maneira, percebe-se que há muitas controvérsias científicas acerca da
delimitação do momento em que se inicia a vida humana, não sendo possível afirmar qual das
teorias é a correta: a adoção de uma ou outra teoria é uma questão de opção, que envolve,
além do aspecto científico, critérios éticos, morais, culturais, regionais, legais e religiosos.
Em termos legais, o direito à vida é objeto de proteção constitucional e
infraconstitucional, assim como também o é em termos de tratados e documentos
internacionais. Todavia, a delimitação do início da vida raramente é mencionada, o que gera
controvérsias que levam a constantes discussões, tanto no âmbito da legislação interna, quanto
no âmbito dos tratados internacionais.
3.2 A vida em termos legais
Após as discussões acerca da vida humana, seu início e teorias, cabe analisar como o
direito enxerga essa questão, discussão que levantará pontos importantes quando da análise
das técnicas de manipulação genética. Assim, para o direito, a vida é analisada sob aspectos
distintos: um primeiro, que trata do direito à vida, abordando as situações em que esse direito
é colocado em risco, como ele é protegido legalmente, se se trata de um direito absoluto ou se
existem situações em que ele pode ser disponível; já o segundo aspecto é aquele que aborda a
titularidade desse direito (o embrião é titular do direito à vida?), se essa titularidade é um
pressuposto para a proteção jurídica ou se o direito pode proteger a vida sem que esta esteja
vinculada a uma titularidade própria.
Dessa forma, o direito à vida é um dos direitos humanos mais frequentemente
retratados em documentos e tratados internacionais. No âmbito da Organização das Nações
Unidas, ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 10 de dezembro de
1948, considerada como uma norma comum a ser adotada por todos os povos e nações e a
primeira a estabelecer a proteção internacional dos direitos humanos, estabelece em seu art. 3º
que “todo ser humano tem direito à vida”. (ONU, 1948). Todavia, a DUDH não menciona em
seu texto qual seria o marco inicial da vida.
Em 1948, o contexto internacional de proteção aos direitos humanos resultou na
proposição pela Organização dos Estados Americanos (OEA) da Carta da Organização dos
45
Estados Americanos, que culminou na aprovação da Declaração Americana de Direitos e
Deveres do Homem. O capítulo primeiro da Declaração (“direitos”) apresenta o direito à vida
já em seu art. 1º. Todavia, a exemplo da DUDH, não aponta o momento em que a vida se
inicia.
Em 1959, foi criada a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão
principal e autônomo da OEA “encarregado da promoção e proteção dos direitos humanos no
continente americano”. (OEA, 2013). Após sua criação e “ultrapassados os debates sobre a
conveniência política de criar-se um arcabouço institucional destinado à supervisão dos
direitos humanos no continente” (AGU, 2013), foi adotada a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (CADH), ou Pacto de São José da Costa Rica.
Assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em
São José (Costa Rica), em 22 de novembro de 1969 (passando a vigorar em âmbito
internacional em 18 de julho de 1978), a CADH trata da questão do direito à vida em seu
capítulo segundo intitulado “dos direitos civis e políticos”. Assim, o item 1 do art. 4º (“Direito
à vida”) afirma que: “1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito
deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser
privado da vida arbitrariamente” (grifou-se). Diferentemente dos outros documentos
internacionais, a CADH fixou o momento a partir do qual a vida seria protegida, dando
indícios da adoção da teoria genética ou concepcionista. O Brasil depositou sua carta de
adesão ao ato internacional em 25 de setembro de 1992, ocasião em que a CADH passou a
vigorar no país, conforme Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992.
O direito à vida ainda aparece em outros documentos internacionais, a exemplo do
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. Todavia, somente a Convenção
Americana sobre os Direitos Humanos menciona o momento em que a proteção à vida se
inicia, isto é, desde a concepção. Como a CADH é um dispositivo internacional (ratificado
pelo Brasil) que trata dos direitos humanos, seus artigos passam a incorporar-se
automaticamente ao ordenamento jurídico brasileiro, adquirindo o status de norma
constitucional, conforme dizeres de Carvalho:
Com efeito, o tratamento jurídico diferenciado dos tratados internacionais de direitos
humanos deve ser reconhecido com base no art. 5º, §2º, da Constituição de 1988,
pelo fato de que, enquanto os tratados internacionais, que envolvem matéria comum,
visam a reciprocidade e o equilíbrio das relações entre os Estados-partes, os tratados
internacionais de direitos humanos transcendem os meros compromissos recíprocos
dos Estados pactuantes, já que objetivam a salvaguarda dos direitos do ser humano e
não as prerrogativas dos Estados. (CARVALHO, 2006, p. 480).
46
Em âmbito nacional, o Código Civil de 2002 aborda a questão da vida ao tratar da
personalidade civil, afirmando em seu art. 2º que a personalidade começa com o nascimento
com vida, todavia, no mesmo dispositivo coloca a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro.
O disposto no mencionado art. 2º é alvo de constantes discussões. Para a grande
maioria dos autores, a filiação a uma dada corrente acerca do início da personalidade jurídica
é pressuposto para a aquisição de direitos. O CC/02, ao abordar a personalidade civil, trata da
questão da titularidade desses direitos. Entretanto, seus dispositivos referem-se somente ao
nascituro, não havendo, em nenhum momento, menção à personalidade jurídica (ou à
ausência desta) do embrião, fato que leva muitos juristas a estender ao embrião a proteção
jurídica conferida ao nascituro.
Dessa forma, se antes o assunto da personalidade do nascituro era negligenciado ou
tratado de maneira incoerente, “com o avanço das técnicas de diagnóstico de gravidez e
acompanhamento pré-natal, a condição do nascituro elevou-se em importância”. (NAVES,
2010, p. 95).
A grande controvérsia do ordenamento jurídico brasileiro reside na determinação do
momento do início da personalidade. Nesse aspecto, assim como no que busca definir o início
da vida humana, existem teorias que procuram explicar o início da personalidade. Dessas
teorias, três apresentam repercussão no âmbito jurídico: a doutrina natalista, a da
personalidade condicional e a concepcionista. Para os adeptos da primeira teoria, só existe
personalidade a partir do nascimento com vida, não atribuindo, por consequência,
personalidade ao nascituro que, inclusive, teria realidade biológica distinta da dos seres já
nascidos. A proteção, conforme seus seguidores, seria conferida ao nascituro sem, contudo,
ser-lhe outorgada personalidade, somente expectativa de direito, sendo que sua tutela ocorre
em decorrência de interesse público. (NAVES, 2010, p. 96). Por essa teoria, o nascituro não
poderia integrar nenhum tipo de relação jurídica, pois ainda não nascido, o que se apresenta
incompatível com situações atuais que permitem àquele ainda não nascido pleitear direitos (p.
ex.: ser autor em ações de investigação de paternidade).
Para a segunda teoria, da personalidade condicional, a personalidade se inicia com a
concepção, mas não de forma completa e definitiva, pois é condicionada ao nascimento com
vida. (CHAVENCO; OLIVEIRA, 2012). Conforme Naves, essa teoria apresenta duas
situações distintas, uma que está relacionada a uma condição resolutiva, em que o nascituro
pode adquirir direitos, que são confirmados pelo nascimento; e outra relacionada a uma
condição suspensiva, em que o nascituro não adquire direitos, que somente são
47
implementados com o nascimento. Todavia, as duas situações apresentam problemas: afirmar
que existe condição resolutiva não soluciona as dificuldades relativas aos efeitos dos atos já
praticados. Por outro lado, a afirmação da existência de condição suspensiva é inadequada,
pois não é possível falar da retroação de um direito que ainda não existe. (NAVES, 2010, p.
98-99).
A terceira e última teoria, concepcionista, é aquela que defende o início da
personalidade a partir da concepção; ou seja, “no decorrer do período de vida intrauterina, a
pessoa concebida já goza das prerrogativas da personalidade jurídica concreta”. (PAGANINI,
2008, p. 41). Assim, para os concepcionistas o nascituro é considerado pessoa, “pois gerado,
embora não nascido”. (NAVES, 2010, p. 100).
A questão de estar a proteção jurídica do nascituro diretamente relacionada à
imputação ou não da personalidade jurídica merece reflexão. Não obstante a existência de
teorias que no âmbito jurídico apresentam reflexos importantes, não se faz necessária a
filiação a uma determinada corrente para que a proteção jurídica seja efetivada. Ao contrário
do que ocorre em termos médicos ou biológicos, a dúvida quanto ao início da personalidade
não pode permanecer em termos jurídicos. O direito necessita fixar situações que atribuam
personalidade ao nascituro. Com isso, não se vê a necessidade de adoção da teoria
concepcionista, da personalidade condicional ou da natalista para se atribuir personalidade ao
nascituro, visto que esta será ou não atribuída conforme os instrumentos previstos pelo
próprio direito. Assim,
na argumentação desenvolvida diante do fato concreto, pode ele obter personalidade.
Em razão de o ordenamento prever, por várias vezes, situações em que o nascituro é
titular, afirma-se que, em princípio ele é pessoa, com dados genéticos próprios e
titularidade para defesa. O nascimento com vida é apenas condição para o exercício
de direitos patrimoniais. (NAVES, 2010, p. 103-104).
No tocante a relação entre a atribuição da personalidade e o início da vida humana,
Menezes de Direito, em voto, vista da ADI 3510 (2008), assevera: “não me parece razoável
afirmar que a vida sem personalidade não é vida humana, como se a personalidade é que
atribuísse a condição de vida e não que fosse um atributo dela”. De fato, há situações em que
o próprio direito confere proteção jurídica desvinculada da personalidade, como no caso do
embrião in vitro.
Assim, com relação ao embrião humano in vitro, por ora cabe destacar que a
discussão também “deve voltar-se para a imputação de situações subjetivas”. (NAVES, 2010,
48
p. 104). Entretanto, por tratar-se de um tema delicado, suas particularidades serão abordadas
em tópico específico.
O Código Penal, por sua vez, protege o bem jurídico vida ao tipificar o aborto nos
seus artigos 124 a 126, garantindo assim o desenvolvimento do embrião.
Já a Constituição da República de 1988 trata da proteção da vida em seu título II
“dos direitos e garantias fundamentais”. A CR/88 garante, no caput do art. 5º, aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida.
O direito à vida, conforme muitos constitucionalistas, é o primeiro de todos os
direitos, o fundamento de todos os direitos humanos, na medida em que a vida é o pré-
requisito para a existência e para o exercício de todos os demais direitos. Ao direito à vida “se
vinculam o direito de nascer, bem como o de viver com dignidade”. (CARNEIRO, 2011).
Portanto, em termos constitucionais, o direito à vida não é apenas o direito de estar
vivo, é também o direito de ter uma vida digna. Com isso, a dignidade, assegurada pelo inciso
III do art. 1º da CR/88, estaria intimamente relacionada ao conceito de vida.
Antes, contudo, da apresentação do conceito de dignidade, importante se faz
entender como o conceito de vida é analisado sob a ótica da bioética.
3.3 A vida e a bioética
A expressão “bioética” é a junção de duas palavras gregas – bios, vida e ethos,
comportamento. O termo surgiu voltado para o meio ambiente, apresentando-se como “uma
disciplina acadêmica, um princípio e uma virtude, que, como tal, imporia obrigações morais
em relação a todos os seres vivos”. O vocábulo foi cunhado pelo filósofo alemão Fritz Jahr
em artigo publicado no ano de 1927, todavia, a divulgação da expressão somente alcançou
grande medida em 1971, com a obra Bioethic: Bridge to the Future, do oncologista
estadunidense Van Renssealer Potter. A bioética seria, portanto, “a disciplina que estuda os
aspectos éticos das práticas dos profissionais da saúde e da Biologia, avaliando suas
implicações na sociedade e relações entre os homens e entre esses e outros seres vivos”.
(NAVES; SÁ, 2011, p. 5-7).
Para Beriain (2004, p. 49-50) a bioética é uma disciplina que busca encontrar
respostas para diferentes questões, como a que define a maneira pela qual devemos tratar um
embrião humano, ou aquela que indaga se é permitido o desenvolvimento de novos produtos,
49
mesmo sabendo que eles possam ameaçar o meio ambiente. Para o autor, todos os
questionamentos da bioética convergem para uma única questão: é uma disciplina que cuida
da vida enquanto tal, isto é, de toda a vida, dizendo como ela deve ser tratada e porque ela
deve ser tratada de tal forma.
Já para Schramm (1998) a bioética possui preocupações ligadas à probabilidade de
riscos advindos, principalmente, dos avanços biotecnocientíficos (aí incluídos os avanços no
campo da manipulação genética humana). Ela analisa, de forma imparcial, “os argumentos
racionais que justificam ou não tais riscos”, buscando identificar os argumentos morais
contrários e os favoráveis à aplicação das novas técnicas, de maneira a detectar quais são os
“bons” argumentos. Assim, a bioética preocupa com a “legitimidade ou não, de se utilizar as
novas tecnologias desenvolvidas pela engenharia genética para transformar a qualidade de
vida das pessoas”. (SCHRAMM, 1998).
O conceito de vida para a bioética pode ser considerado problemático devido “aos
embates entre os defensores da vida ‘como ela é’ e ao dever absoluto de sua preservação
como tal e aqueles que, ao contrário, consideram que ela pode ser transformada em
determinadas situações, respeitando específicas condições”. (SCHRAMM, 2010). Para
Schramm (2010), essas concepções, quando aplicadas à vida humana, pressupõem dois
princípios éticos distintos, que são capazes de legitimar os dois tipos de atitude, são eles:
1. O princípio da sacralidade da vida (PSV), que considera a vida humana
indisponível para o sujeito daquela vida específica, devendo-se, portanto, respeitar o
assim chamado finalismo intrínseco da natureza ou os desígnios divinos sem tentar
opor-se; e
2. O princípio da qualidade da vida (PQV), que, ao contrário, considera legítima
qualquer intervenção na vida humana, desde que isso implique redução do
sofrimento evitável e em maior/melhor bem-estar para os sujeitos objeto da
investigação, desde que estejam de acordo que isso aconteça com eles e que o fato
não acarrete danos significativos a terceiros. (SCHARAMM, 2010).
Tais princípios, apesar de opostos, exercem um importante papel para a bioética,
visto que trazem elementos capazes de agregar fundamentos para questões polêmicas, como
aquelas envolvendo a manipulação genética de embriões.
Em tais situações, a escolha por uma ou outra vertente (um ou outro princípio) é
determinante para apontar o rumo a ser tomado pelas pesquisas científicas. Nesses casos, os
limites entre os avanços técnico-científicos e os riscos que esses mesmos avanços podem
proporcionar, estão, ao menos em termos morais, estritamente relacionados à concepção de
vida a ser adotada. Quanto ao aspecto jurídico, o direito busca ponderar a necessidade de se
obter avanços científicos e consequentes melhoras para a saúde e qualidade de vida humanas,
50
e a inevitabilidade de se conferir proteção à vida humana em todos os seus estágios. Destarte,
o direito procura estabelecer normas capazes de regulamentar as novas situações advindas do
progresso técnico-científico.
Em linhas gerais é possível afirmar que
as ameaças à vida, no seu sentido global, estão essencialmente ligadas ao desrespeito
à vida humana. A degradação do meio ambiente e das diferentes formas de vida é
uma manifestação da depreciação da própria vida humana. Por isso a valorização da
vida humana é a pedra de toque e o ponto de referência primordial da Bioética. Mas,
para entender o significado da vida humana, não se pode reduzi-la a um puro fato
biológico; ela é, antes de mais nada, um evento pessoal. (JUNGES, 1995, p. 71).
Com isso, assim como nos embates acerca da demarcação do início da vida humana,
o debate sobre a dignidade vem à tona quando se fala em bioética e, principalmente, quando
se fala da vida como um evento pessoal.
3.4 Conceito de dignidade para o direito e para a bioética
A dignidade percorre todas as discussões que envolvem a vida e os direitos humanos.
“No entanto, mesmo existindo certa percepção estendida sobre o que queremos expressar
quando falamos de dignidade, no terreno jurídico o conceito não foi precisado nem fixado
tradicionalmente”. (GONZÁLEZ DE CANCINO, 2007, p. 302).
Para a CR/88 a dignidade, entendida como “dignidade da pessoa humana”, é um dos
fundamentos do Estado, ou seja, é uma de suas bases. Assim, o termo dignidade vai além do
reconhecimento do respeito ao ser humano. Nos dizeres de Carvalho:
A dignidade da pessoa humana significa ser ela, diferentemente das coisas, um ser
que deve ser tratado e considerado como um fim em si mesmo, e não para a
obtenção de algum resultado. A dignidade da pessoa humana decorre do fato de que,
por ser racional, a pessoa é capaz de viver em condições de autonomia e de guiar-se
pelas leis que ela própria edita: todo homem tem dignidade e não um preço, como as
coisas, já que é marcado, pela sua própria natureza, como fim em si mesmo, não
sendo algo que pode servir de meio [...]. (CARVALHO, 2006, p. 462-463).
51
A construção do conceito de dignidade a partir da noção do ser humano como fim e
não como meio é atribuída a Kant. Para Kant12
, a concepção de dignidade humana não é uma
“condição dada pela natureza do ser humano, mas em virtude à lei moral, fruto da autonomia
da vontade e, supostamente, em acordo com a moral”. (STUMPF, 2010, p. 23). Para o
filósofo, algo possui dignidade quando não possui um preço, ou seja, quando está acima de
qualquer preço. Nas palavras de Kant,
No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem
preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha
acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma
dignidade.
O que diz respeito às inclinações e necessidades do homem tem um preço comercial;
o que, sem supor uma necessidade, se conforma a certo gosto, digamos, a uma
satisfação produzida pelo simples jogo, sem finalidade alguma, de nossas
faculdades, tem um preço de afeição ou de sentimento [Affektionspreis]; mas o que
se faz condição para alguma coisa que seja fim em si mesma, isso não tem
simplesmente valor relativo ou preço, mas um valor interno, e isso quer dizer,
dignidade. (KANT, 2006, p. 65).
Dessa forma, Kant entende a dignidade como um princípio universal (objetivo), um
mandamento válido para todos, ou seja, um imperativo. Mas a dignidade não é apenas um
imperativo cujo fim está condicionado à vontade do agente (imperativo hipotético), pelo
contrário, a dignidade é um imperativo categórico, ligado a leis morais, universais e
necessárias (na medida em que valem para todos os seres racionais). Desse modo, a dignidade
estaria traduzida pelo segundo imperativo categórico kantiano: “Age de modo a considerar a
humanidade, seja na tua pessoa, seja na pessoa de qualquer outro, sempre também como
objetivo e nunca como simples meio”. (REALE, 2005, p. 381, grifos do autor).
Em Emmanuel Kant, encontramos a base teórica do imperativo categórico não
apenas na perspectiva da universalização de princípios, como também
correspondendo especificamente ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na
sua formulação de que o agir deve sempre ser tal que permita reconhecer o ser
humano em si próprio (no sujeito agente) e em todas as pessoas (relação
intersubjetiva e social), também como finalidade da ação, e jamais apenas como
meio. (STUMPF, 2005, p. 24).
Pelo conceito de dignidade kantiano, o ser humano jamais poderia ser utilizado como
meio para alcançar determinado fim, pois o homem é o próprio fim de qualquer ação e toda
ação que contrarie essa máxima é considerada como moralmente inaceitável. Com isso, a
12
O conceito de dignidade já se encontrava em outros pensadores como Cícero, Sêneca, Tomás de Aquino e Pico
della Mirandola. Entretanto, a opção pelo conceito kantiano ocorreu visto ser esse o conceito que mais se
aproxima da atualidade.
52
manipulação genética embrionária seria moralmente inaceitável, pois instrumentalizaria a
vida humana. Entretanto, apesar de se concordar que a instrumentalização da vida humana é
moralmente inaceitável, a aplicação do imperativo categórico kantiano na contemporaneidade
deve ser realizada com cautela, pois o aspecto universal e objetivo do imperativo categórico
não considera as particularidades de cada caso. Portanto, não se pode analisar um ato pelo ato,
ou seja, não se pode analisar um ato dissociado de seu contexto, das circunstâncias que
levaram à sua realização. Um princípio universal e absoluto é, assim, incapaz de contemplar
os pormenores de cada situação.
Sob outra perspectiva, há autores, a exemplo de Barboza (2004, p. 260), que
consideram a dignidade como algo inerente ao indivíduo, como uma condição natural do seu
aspecto humano. Todavia, considerar a dignidade como algo apenas natural afasta outro fator
primordial para a compreensão de seu significado, que é seu aspecto cultural: não há que se
negar que a dignidade é, antes de tudo, uma construção histórico-social, resultante do trabalho
de diversas gerações.
Ultrapassando a questão da compreensão do significado do termo, Andorno (2010)
afirma que o reconhecimento universal da dignidade humana é uma das principais conquistas
das sociedades modernas. Esse reconhecimento universal da dignidade humana fica claro
quando da análise dos documentos internacionais, a exemplo da Declaração Universal do
Genoma Humano e dos Direitos Humanos (UNESCO, 1997) que, nos dizeres de Andorno
(2010), emprega a noção de dignidade 15 vezes ao longo de seu texto; a exemplo, também, da
Convenção Europeia sobre os Direitos Humanos e a Biomedicina, e da já citada Declaração
Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948).
Para Andorno “a dignidade humana é o núcleo central dos direitos humanos; os
direitos humanos são justificados pela referência à dignidade humana; os seres humanos têm
direitos porque são dignos de respeito”. (ANDORNO, 2010).
No tocante à bioética, a noção de dignidade é, em alguns casos, recebida de maneira
controversa (especialmente nos assuntos envolvendo a pesquisa genética). Isso ocorre porque
“os novos conhecimentos levantam inúmeras questões, diretamente relacionadas com a ideia
de um valor intrínseco dos seres humanos”. (ANDORNO, 2010). Assim, a bioética lida com
difíceis problemas, provocados principalmente pela dificuldade de assegurar a dignidade
humana no contexto dos avanços técnico-científicos. Dificuldade que se acentua em virtude
da não delimitação de um conceito, principalmente jurídico, do que venha a ser a dignidade
humana. Sobre o tema, Junges afirma que “[...] a formulação de leis atinentes a questões
bioéticas ainda é vaga e problemática. O problema está na própria dificuldade de definir vida
53
humana, dignidade humana, pessoa humana que são questões metajurídicas de opção
antropológica e ética” (1995, p. 124). Soma-se a isso o fato de a Bioética trabalhar com
questões pontuais, que ultrapassam o “senso comum” do que venha a ser dignidade, o que
torna possível afirmar, inclusive, que “(...) tanto a identidade genética quanto a intimidade e a
intangibilidade do corpo humano são componentes da dignidade da pessoa”. (LIMA, 2004, p.
275).
Em todo caso, mesmo com a imprecisão terminológica e os obstáculos daí advindos,
não há que se negar que tanto o direito quanto a bioética reconhecem e procuram meios para
assegurar a dignidade humana.
Em termos de novas dificuldades, a mais controversa e que apresenta mais impactos
para o meio ambiente, reside exatamente na questão envolvendo a manipulação genética de
embriões humanos, situação que mescla todos os pontos até então tratados: início da vida,
direito à vida e dignidade humana.
3.5 O embrião humano
Muitas são as controvérsias acerca do início da vida humana quando concebida por
meios naturais. Inúmeras são as controvérsias quando a mesma vida humana é concebida por
meios artificiais. Barboza aponta que os problemas em se estabelecer o início da existência do
ser humano são potencializados diante dos fatos inéditos decorrentes da fertilização in vitro, a
exemplo da “possibilidade de um hiato entre o momento da fecundação e o da gestação, que
pode se dar por tempo indefinido”. (BARBOZA, 2005, p. 249). Todavia, as atribulações
envolvendo o embrião humano começam antes, ainda na fase de sua definição
terminológica13
, assim:
Aponta-se, de início, um problema terminológico, na utilização indiscriminada do
vocábulo “embrião”. De acordo com a Biologia, antes da implantação, o óvulo
fecundado denomina-se “zigoto”. O embrião é a entidade em desenvolvimento a
partir da implantação no útero, até oito semanas após a fecundação; a partir da nona
semana começa a ser denominado feto, tendo essa designação até nascer [...].
(BARBOZA, 2005, p. 249).
13
Apesar das diferenças terminológicas entre “zigoto” e “embrião”, percebe-se que grande parte dos autores,
inclusive a autora citada, utiliza-se dos termos como sinônimos.
54
Para Moore e Persaud, embrião é “o ser humano durante os estágios iniciais de seu
desenvolvimento. O período embrionário vai até o fim da oitava semana14
, momento em que
todas as principais estruturas estão começando a desenvolver-se”. (1994, p. 02).
Já para Serrão, o embrião humano é aquele que pode ser constituído in vivo “no
processo biológico de fecundação ou por inseminação artificial, ou ainda por transferência
intratubar de gametas” (2003); bem como pode ser aquele constituído in vitro, “após a
colheita e mistura de óvulos e espermatozoides” (2003), e posteriormente ser transferido para
o útero, “evoluindo para o feto caso consiga terminar, com sucesso, a fase de implantação”.
(SERRÃO, 2003).
O mesmo autor ressalta um ponto importante para as discussões envolvendo o
embrião humano: é possível, nos casos de embriões constituídos in vitro, conseguir durante
alguns dias – até sete ou oito – um desenvolvimento embrionário que permite o alcance, in
vitro, da fase de blastocisto15
, mas não mais. “Não existem embriões humanos in vitro
desenvolvidos durante 14 dias ou até o aparecimento da linha primitiva. Esta fase de
desenvolvimento, no presente, só é atingida no embrião in vivo e não no embrião humano in
vitro”. (SERRÃO, 2003). Tal fato reforça a concepção apresentada por Barboza (2005) de que
existe um hiato entre o momento da fecundação e o da gestação nos casos de embriões
concebidos in vitro. Dessa forma:
O embrião humano, in vivo ou in vitro, tem natureza biológica humana, desde a fase
de zigoto até o término do processo de implantação, e sua natureza biológica não se
altera pelo fato de os observadores externos passarem a chamar-lhe feto, recém-
nascido, criança, jovem, adulto ou velho. A natureza biológica de pertença à espécie
humana é adquirida quando o zigoto está constituído e não é ampliada nem
diminuída ao longo do tempo de desenvolvimento biológico que só termina com a
morte. Como um ser biológico, o ser humano nasce no zigoto e morre com a
supressão irreparável e definitiva das funções cerebrais na totalidade. (SERRÃO,
2003).
Luna analisa os argumentos segundo os quais se atribui ou se nega o estatuto de
pessoa ao embrião. Assim, para a autora, o primeiro argumento é o que diz respeito “à
sensibilidade do embrião, sinal da emergência dos primórdios do sistema nervoso central com
a placa neural por volta do 22º dia”. (LUNA, 2004). Esse prazo indicaria o primeiro indício da
racionalidade da espécie humana. Entretanto, prossegue a autora, o 14º dia
14
56 dias. 15
“Blastocisto (Gr. blastos, germe + kystis, vesícula). Após 2 ou 3 dias, a mórula entra no útero, a partir da tuba
uterina (tuba de Falópio). Rapidamente, uma cavidade preenchida por líquido – a cavidade blastocística – se
desenvolve no seu interior. Esta mudança converte a mórula em blastocisto. Suas células localizadas
centralmente – a massa celular interna ou embrioblasto – formam o primórdio do embrião”. (MOORE;
PERSAUD, 1994, p. 2).
55
é adotado como marco preferencial do estabelecimento da condição de pessoa, em
primeiro lugar porque assinala o término da fase de implantação do embrião no
útero materno, mas principalmente por indicar o fim do estágio indiferenciado do
embrião, com a formação da linha primitiva. A partir da emergência dessa estrutura
é possível falar em individualização do embrião, não mais podendo este dividir-se
em dois ou se fundir em outro. (LUNA, 2004).
O estabelecimento desse marco é crucial para os casos de concepção da vida por
meios não naturais. Isso porque, o momento em que o embrião for considerado vida, ou
pessoa, será fundamental para a delimitação da fase limite para qualquer tipo de
intervenção/manipulação.
Com relação à atribuição ou não de personalidade ao embrião, Naves afirma que
“sua proteção jurídica não se faz pela atribuição de personalidade”. (NAVES, 2010, p. 104).
Para o citado autor,
[...] não há condições para o desenvolvimento do embrião enquanto fora do útero
materno. Dessa forma, em princípio, não é ele pessoa e seus dados genéticos, como
meras informações de um “vir a ser”, não lhe atribuem titularidade. Todavia essa
afirmação só se legitima diante da realidade argumentativa travada pelas partes.
Afirmar que, “em princípio, o embrião crioconservado não é pessoa” não implica em
peremptória determinação a priori. Logo, na argumentação pode mesmo construir-
se a personalidade do embrião. Não havendo argumentos suficientes para tal, o
embrião in vitro será um referencial normativo de uma situação de dever jurídico.
Neste caso, não é ele pessoa, não é titular de situações jurídicas, mas pode ser
referência para a situação de dever que o protege, inclusive a seus dados genéticos.
(NAVES, 2010, p. 104).
Por essa análise, a proteção jurídica do embrião não estaria negada, visto que não
seria necessária sua vinculação à atribuição de personalidade ao embrião. Entretanto, a
caracterização do embrião crioconservado como pessoa estaria condicionada a argumentação
apresentada.
Por outro lado, a delimitação do momento em que a vida humana embrionária tem
início é importante para o esclarecimento de outra questão: o embrião humano é merecedor de
dignidade?
Buscando responder tal questionamento, Corrêa e Conrado afirmam que a solução
não seria a obtenção de respostas sobre “o que é digno”, mas sim, ponderar os valores de
dignidade:
É preciso partir do princípio de que o embrião tem sua própria dignidade, assim
como pacientes que necessitam da ciência para a busca de cura de seus males
também possuem sua dignidade. No exercício de ponderação entre a colisão de
valores reside a resposta para o reconhecimento da dignidade humana. (2007, p. 85).
56
Já para Junges, o embrião, apesar de ainda não ser uma pessoa humana em plenitude,
possui dignidade, pois pertencente à espécie humana, possuindo todas as potencialidades para
tornar-se pessoa. Ainda segundo o autor, esses fatores fazem com que o embrião mereça a
“solidariedade ontológica por sua proximidade e identificação com a espécie humana” (1995,
p. 153), atribuindo-lhe, por isso, a dignidade pessoal. Portanto, ao embrião é exigido o mesmo
respeito devido a quem tem dignidade pessoal, razão pela qual qualquer “redução do embrião
a meio para outros fins é um desrespeito à sua dignidade”. (1995, p. 153). Finaliza o autor
afirmando que a ciência deve progredir, mas não por meios que firam a dignidade humana.
“Ela precisa ser criativa e buscar caminhos alternativos de pesquisa que não atinjam a
integridade física do embrião e de qualquer ser humano”. (JUNGES, 1995, p. 153).
O reconhecimento de dignidade ao embrião humano, dessa forma, mesmo que uma
dignidade própria, impede o seu tratamento como mero objeto, conferindo-lhe um status de
“humanidade”.
Por outro lado, quando o embrião humano é concebido por métodos não naturais e
exposto a técnicas de investigação de doenças, a exemplo do DGPI, outro problema, que
coloca em risco a atribuição da dignidade e que tem consequências para o meio ambiente,
vem à tona: a inviabilidade embrionária.
3.5.1 A inviabilidade embrionária
O conceito de inviabilidade é de extrema complexidade. Nem mesmo a medicina é
unânime na construção do que de fato seria um embrião inviável.
Donadio et al salientam que o termo “inviabilidade embrionária” não seria o mais
correto, pois, para os autores, inviabilidade seria a “parada completa de desenvolvimento: a
morte embrionária”, o que impossibilitaria a utilização do embrião, restando-lhe apenas o
descarte. Assim, prosseguem afirmando que “o conceito de inviabilidade não seria
diretamente do embrião, mas sim, da inviabilidade da obtenção de gestação viável a partir
deste embrião”. (DONADIO et al., 2005).
Entretanto, o termo utilizado pela legislação é “inviabilidade embrionária” (ou
embriões inviáveis), conforme inciso XIII do art. 3º do Decreto nº 5.591/05 (que regulamenta
os dispositivos da Lei nº 11.105/05, Lei de Biossegurança):
57
XIII – embriões inviáveis: aqueles com alterações genéticas comprovadas por
diagnóstico pré implantacional, conforme normas específicas estabelecidas pelo
Ministério da Saúde, que tiveram seu desenvolvimento interrompido por ausência
espontânea de clivagem após período superior a vinte e quatro horas a partir da
fertilização in vitro, ou com alterações morfológicas que comprometam o pleno
desenvolvimento do embrião. (BRASIL, 2005).
Dessa forma, a inviabilidade embrionária pode ocorrer em duas situações distintas: a
primeira ligada às alterações genéticas, e a segunda às alterações morfológicas/evolutivas.
Inviabilidade evolutiva ocorre “quando a transferência uterina do embrião não
resultaria em gravidez”. Já a inviabilidade genética é “caracterizada por alterações do embrião
comprovadas pelo diagnóstico pré-implantacional, incompatíveis com a vida, ou que não
foram comprovadas por falhas da técnica, mas com elevado risco”. (DONADIO et al., 2005).
Quando um embrião é considerado inviável por apresentar alguma alteração genética
indesejada, a sua implantação no útero materno não ocorre, visto que a finalidade do exame
genético (conforme considerações do próximo capítulo) é justamente evitar a propagação de
alguma doença genética hereditária para os futuros filhos.
Assim, tanto para os casos de inviabilidade genética quanto para os de inviabilidade
evolutiva, os genitores possuem duas alternativas para os embriões inviáveis: a) o descarte
(que não possui menção legal) ou; b) a autorização (consentimento) para a utilização de suas
células-tronco para fins de pesquisa e terapia.
Com relação à segunda alternativa, doação para pesquisas, o art. 5º da Lei de
Biossegurança assim dispõe:
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco
embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e
não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
[...]
§1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
[...]. (BRASIL, 2005).
De qualquer maneira, a opção pelo descarte ou pela doação para pesquisa cabe
somente aos genitores.
58
3.5.2 Tratamento jurídico conferido ao embrião
Pode-se dizer que há, pelo menos, três situações distintas relativas ao tratamento
jurídico conferido (ou que deveria ser conferido) aos embriões: a primeira, relativa aos
embriões concebidos e desenvolvidos no ventre materno; a segunda, relativa aos embriões
concebidos fora do ventre materno, mas nele implantados para o desenvolvimento; e a
terceira, referente aos embriões inviáveis (sem aqui mencionar os casos de embriões
excedentários).
Não existem dúvidas de que, não obstante a divergência doutrinária, “o ser humano
concebido e desenvolvido no ventre materno goza de tutela jurídica, sendo-lhe atribuída uma
personalidade pré-natal, segundo alguns”. (BARBOZA, 2005, p. 250-251). Tanto é assim, que
o Código Civil, em seu art. 2º, coloca a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Entretanto, se para a doutrina, conforme discussão do item 3.2, o estabelecimento do
momento em que a futura criança passa a ter seus direitos assegurados é controverso em
termos de concepção natural, o que dizer com relação ao embrião concebido artificialmente?
Nesse sentido, retorna-se ao hiato mencionado por Barboza (2005) entre o momento
da concepção (ou fertilização) e o momento da implantação. Que tipo de proteção merece o
embrião nesse intervalo de tempo?
Nos dizeres de Araújo “é evidente que, no que tange aos embriões mantidos em
laboratório, o fenômeno da concepção já resta ocorrido”. (ARAÚJO, 2007). Falta saber,
contudo, o tipo de proteção jurídica conferida ao embrião nessa fase.
Barboza salienta que não deve o embrião ser considerado como um mero objeto, ou
“coisa”, como fazem algumas legislações. Por outro lado, ressalta a autora, “se é certo que o
concebido não é ‘coisa’, atribuir ao embrião pre-implantatório (sic) natureza de pessoa ou
personalidade seria uma demasia, visto que poderá permanecer indefinidamente com uma
‘potencialidade16
’”. (BARBOZA, 2005, p. 266).
16
A noção de ato e potência é atribuída a Aristóteles na “Metafísica” (metafísica é uma ciência teorética, ou seja,
uma ciência que busca o saber em si mesmo). Aristóteles apresenta quatro definições para a metafísica, sendo
que a segunda dessas definições é a que indaga o ser enquanto ser, isto é, a que considera o ser como inteiro,
procurando chegar à sua causa primeira. Dentro dessa definição, Aristóteles distingue quatro grupos
fundamentais de significado do ser: a) ser como categorias (ser em si); b) ser como ato e potência; c) ser como
acidente; d) ser como verdadeiro.
Com relação ao segundo grupo, ser como ato e potência, o filósofo afirma que trata-se de significados
originários, que não podem ser definidos em relação a uma outra coisa, mas tão somente em relação mútua um
com o outro. Para explicar essa relação, Aristóteles se vale de exemplos, como o da planta de trigo, que é trigo
em potência, enquanto a espiga madura é trigo em ato. Destarte, para Aristóteles a matéria é uma potencialidade,
pois capaz de assumir ou receber a forma. Por outro lado, a forma se configura como ato daquela capacidade.
59
A questão, sob os seus vários ângulos, é complexa e delicada. A legislação dos
diferentes países oscila, ora adotando uma atitude proibitiva quanto à pesquisa e
criação de embriões excedentes (às vezes limitando seu número), ora
regulamentando os objetivos da pesquisa. Diferem também as normas quanto à
limitação da fase de vida embrionária, bem como quanto ao destino do embrião após
a pesquisa (implantação ou destruição). A Convenção de Direitos Humanos e
Biomedicina do Conselho da Europa (art. 18, §1º) destaca a necessidade de proteger
o embrião durante a pesquisa. (BARBOZA, 2005, p. 267).
Para Corrêa e Conrado, a proteção conferida pelo Código Civil deve se estender ao
embrião, visto que antes do nascimento com vida já existe uma pessoa, com aptidão para
exercer direitos, “só que sem personalidade civil, posto que esta pressupõe o ‘nascimento com
v da’”. (CORRÊA; CONRADO, 2007, p. 86).
Com relação a essa extensão ao embrião humano da proteção conferida ao nascituro,
de certa forma equiparando-os, Rocha afirma que tal equiparação é realizada por alguns
autores com o intuito de se garantir amparo jurídico ao embrião humano pré-implantatório.
Segundo a autora, os críticos desse posicionamento compreendem que “o embrião concebido
in vitro não se insere na categoria de nascituro, uma vez que na época da elaboração do
conceito de nascituro, só era possível supor que a concepção se efetuasse in útero” (ROCHA,
2008), não existindo, ainda, a possibilidade da concepção extracorpórea. Já a corrente que
apoia tal posicionamento o faz sob o argumento de que “se a vida humana merece proteção
desde a concepção (...), esse termo deve ser compreendido dentro do seu significado atual, já
consideranda (sic) a hipótese de que a concepção ocorra tanto in útero quanto in vitro”.
(ROCHA, 2008).
Em que pesem tais divergências, merece destaque o posicionamento da autora que
afirma que, em princípio, não se pode
adequar o embrião pré-implantatório à categorização de pessoa natural nem,
tampouco, à de nascituro, ou mesmo de prole eventual, elaborada pelo Direito
tradicional. Isso porque, com base no Direito Civil clássico, não é possível
compreender o embrião como pessoa natural antes do nascimento com vida; não é
permitido considerá-lo nascituro, porquanto, à época dessa classificação,
evidentemente caracterizava-se como tal apenas o ser concebido e em
desenvolvimento no útero materno; descartada do mesmo modo está a hipótese de
prole eventual, vez que já houve a concepção, fato esse que afasta a eventualidade.
Desse modo, adotando a teoria concepcionista como ponto de partida, por entender
que nela há mais garantia e mais fidelidade ao perfil da tutela global da vida humana
[...], não há como negar que uma nova vida se inicia com a concepção, tampouco se
pode negar a natureza humana dessa vida incipiente. Essa constatação é, por si só,
suficiente para que se lhe reconheça a necessidade da outorga de proteção jurídica
(REALE, 2004, p. 193-200). Assim, aplicando a teoria aristotélica ao embrião humano este, enquanto in vitro,
seria uma pessoa em potência, pois possui toda a informação genética necessária para se tornar uma pessoa em
ato.
60
em todas as etapas da vida humana, a qualquer momento e onde quer que ela se
encontre. (ROCHA, 2008).
Apesar da falta de uma legislação específica que trate da tutela do embrião humano,
fato é que este merece algum tipo de proteção. Todavia, não há consenso quanto ao tipo de
proteção jurídica que deve ser conferida ao embrião, tampouco ao momento a partir do qual
essa proteção deve se iniciar. A dúvida aumenta quando o embrião em questão é aquele dito
inviável ou o embrião excedentário, situações em que a própria legislação de biossegurança
deixa a cargo dos genitores a escolha quanto ao destino dos embriões, se mantidos congelados
para uma futura implantação, ou se doados para a realização de pesquisas com suas células-
tronco. Todavia, a legislação não cita o descarte, que pelos argumentos até aqui apresentados,
não se apresenta como uma saída eticamente possível.
A questão da vida, apesar de muito debatida, ainda continua como uma incógnita.
Das teorias que buscam explicar o início da vida como um todo, passando pelas teorias que
procuram fixar o momento exato em que a vida humana e a vida humana embrionária se
iniciam, muitos são os debates e inúmeras são as dúvidas e controvérsias.
Se a vida já era um enigma quando estudada pelos meios naturais de concepção, com
os avanços técnico-científicos e o surgimento de maneiras alternativas ao seu início natural,
os enigmas tornaram-se maiores, e a vida passou a despertar dúvidas até então impensadas.
Com isso, o embrião humano passou de simples fase do desenvolvimento, ao núcleo
de debates éticos, jurídicos, biológicos e filosóficos. A possibilidade de se obter um embrião
in vitro e, ainda, a possibilidade de mantê-lo nesse estágio por tempo indeterminado, descartá-
lo ou utilizá-lo como fonte de pesquisas e investigações ainda causa receio em muitas pessoas.
A falta de um estatuto próprio para o embrião, que defina exatamente os limites da sua
proteção e do seu uso, contribui para esse cenário.
A ideia de manipulação genética embrionária ainda está cercada de dúvidas e
colabora com a reafirmação do imaginário popular apoiado no argumento de que o homem,
por meio da ciência, estaria “brincando de Deus”.
Entretanto, é preciso demonstrar que os avanços técnico-científicos, ao contrário da
opinião de muitos, buscam a melhoria da qualidade de vida das pessoas, e não ocorrem de
maneira descontrolada e sem limites.
Sendo assim, o quadro que se apresenta até o momento mostra-se propício para a
investigação de como a vida humana, especificamente a vida humana embrionária, vem sendo
manipulada até aqui. Outro ponto é identificar quais os avanços que a ciência, a tecnologia e a
medicina alcançaram e como esses avanços são aplicados em situações práticas (e
61
juridicamente permitidas) do cotidiano. Ademais, esse cenário também é favorável para a
averiguação de quais são os impactos já existentes, e os impactos futuros, dessa manipulação
genética embrionária para o meio ambiente (principalmente quando se considera a questão da
sua proteção para as gerações vindouras), e como o direito e a bioética se posicionam em
relação à questão.
62
4 MANIPULAÇÃO GENÉTICA DA VIDA HUMANA
O homem da antiguidade tinha a necessidade de adotar normas para o alcance de
uma vida correta, de uma boa vida. Nesse aspecto, o próprio cosmos e a própria natureza
ofereciam os elementos “impregnados de normas, que aparentemente também ofereciam
elucidação sobre a vida correta” (HABERMAS, 2010, p. 4), ou seja, ofereciam os elementos
necessários para a construção de um “modelo digno de imitação para a vida”. (HABERMAS,
2010, p. 4). A construção dessa boa vida estava atrelada à noção de sociedade justa, assim, na
antiguidade as bases do modelo único de vida a ser adotado se encontravam na ética e na
política.
A aceleração da transformação social, entretanto, encurtou os períodos de declínio
dos modelos de boa vida adotados até então, que tiveram seu fim com o início do liberalismo
político. Habermas afirma que o liberalismo político “tira suas conclusões a partir do fracasso
das tentativas filosóficas de designar determinados modos de vida como exemplares ou
universalmente decisivos”. (2010, p. 5). Dessa forma, o modelo de boa vida dá lugar à
liberdade que cada pessoa possui de escolher o que fazer com a sua própria vida. Nesse
momento, apesar de os indivíduos partilharem de um mesmo contexto sociocultural, a noção
de boa vida deixa de ser universal e passa a ser pessoal.
Já no atual Estado Democrático de Direito, a despeito da permanência do caráter
autônomo de escolha do que seria uma boa vida, não há como se afirmar que tal escolha seja
totalmente individual, pois inserida em um contexto de coletividade. Entretanto, a noção de
coletivo hoje está mais próxima do aspecto normativo (de direito, de justiça), o que faz com
que a aplicação das normas considere, além do interesse individual, também o interesse da
sociedade.
Os avanços técnico-científicos, todavia, modificaram mais uma vez esse cenário.
Com os conhecimentos advindos das descobertas em torno do DNA e do genoma humano, a
técnica contemporânea ampliou os horizontes da noção de individual e coletivo, passando a
compreender o homem como espécie. Essa ampliação de horizontes também trouxe novas
possibilidades para o homem. Assim, o que antes era dado como natural e imutável, hoje pode
sofrer intervenções diretas, isto é, o homem adquire a capacidade de intervir na natureza e
orientá-la para um determinado objetivo. Esse cenário faz com que a fronteira entre o que o
homem é e a disposição orgânica que ele dá a si mesmo acabe se dissipando.
63
Por conseguinte, para os sujeitos produtores, surge um novo tipo de auto-referência,
que alcança o nível mais profundo do substrato orgânico. Sendo assim, dependerá da
autocompreensão desses sujeitos o modo como desejarão utilizar o alcance da nova
margem de decisão – de maneira autônoma, segundo considerações normativas que
se inserem na formação democrática da vontade, ou de maneira arbitrária, em
função de suas preferências subjetivas, que serão satisfeitas pelo mercado.
(HABERMAS, 2010, p. 17-18).
É nesse contexto de mudanças de paradigmas e construção de uma nova ideia de
“boa vida” que se desenvolvem as técnicas de manipulação da vida humana. É também nesse
contexto que ocorrem as maiores discussões acerca da aplicação dessas técnicas, da maneira
como elas são normatizadas pelo direito e quais os reflexos que elas podem trazer para áreas
mais amplas, como o meio ambiente.
Assim sendo, é possível afirmar que a manipulação da vida humana na
contemporaneidade pode ocorrer de diversas formas, desde aquelas que buscam a cura para
alguma enfermidade grave, até aquelas mais ousadas, cuja finalidade é alterar a carga genética
para obter indivíduos com características inéditas.
Dentre as formas de manipulação da vida humana em sua fase embrionária, o
Diagnóstico Genético Pré-Implantação apresenta-se como a técnica permitida e com
utilização mais frequente pela medicina, fato que não a exime de polêmicas e argumentos
desfavoráveis.
Contudo, existem outras formas de manipulação da vida humana em geral (e não
apenas em seu estágio embrionário), algumas ainda em fase de estudo e outras que já
começaram a apresentar alguns resultados. Dentre essas formas destacam-se duas, ligadas à
engenharia genética, e de grande impacto para a discussão em questão: a terapia e a
manipulação genéticas.
Pela análise de tais técnicas são fornecidos elementos suficientes para a construção
da resposta ao problema aqui apresentado: qual é o impacto da manipulação genética
embrionária humana para o meio ambiente.
Assim, para a medicina, a engenharia genética compreende a totalidade das técnicas
dirigidas a alterar ou modificar a carga hereditária de alguma espécie, seja com o fim de
superar enfermidades de origem genética (terapia genética ou gênica), ou com o objetivo de
produzir modificações ou transformações com fins experimentais, isto é, de lograr a
concepção de um indivíduo com características até esse momento inexistentes na espécie
humana (manipulação genética). (BARTH, 2005).
Por conseguinte, engenharia genética seria o gênero que abrangeria as espécies
terapia e manipulação genéticas. Dentre os juristas, os termos são definidos de diferentes
64
maneiras. Luiz Regis Prado afirma que na manipulação genética o que existe é uma atuação
sobre o genoma humano, “que ao ser modificado produz também alteração no processo
evolutivo biológico natural que encerra a vida”. (2012, p. 378-379). Já na engenharia
genética, a intervenção ocorre no próprio núcleo celular – como atividade de produção e
manipulação de moléculas de DNA/RNA recombinante. Ou seja, a engenharia genética
permite a modificação precisa do material hereditário, bem como a transferência de um só
gene de um organismo a outro. A noção de engenharia genética envolve, dessa maneira, as
técnicas de manipulação genética, clonagem e sondagem de DNA.
Em verdade, a engenharia genética propriamente dita compreende a totalidade de
procedimentos dirigidos a alterar o patrimônio hereditário de uma espécie – seja
com o fim de superar enfermidade de origem genética, seja com o propósito de
produzir modificações com finalidade experimental. (PRADO, 2012, p. 379).
Paulo Vinicius Sporleder de Souza (2007, p. 23-25) afirma que as expressões
“manipulação genética” e “engenharia genética” são as mais utilizadas pela doutrina
especializada para referir-se às “tecnologias genéticas que envolvem as intervenções sobre o
genoma humano” e que, embora comumente apresentadas como sinônimas, não se confundem
(a engenharia genética estaria mais relacionada com a manipulação genética em sentido
estrito, ou manipulação genética própria, do que com a manipulação genética em sentido
amplo, ou manipulação genética imprópria). Todavia, o próprio autor, apesar de reconhecer a
diferença dos termos, opta por utilizá-los de maneira indiferenciada, assim:
a engenharia genética humana pressupõe modificação artificial (total ou parcial) do
genoma de determinada célula ou organismo particular, sendo que isto pode ser
levado a efeito de forma programada mediante a adição, substituição ou supressão
de determinado(s) gene(s). Por via de consequência, no ser humano, esta alteração
pode ser dirigida a fins terapêuticos, ou seja, para a correção ou tratamento gênico
(terapia gênica), ou para fins não necessariamente terapêuticos, isto é, científicos ou
até mesmo outros fins reprováveis, com a seleção eugênica (positiva) de
determinados caracteres biológicos não patológicos do genoma humano, ou através
da criação de novos seres híbridos e aberrações humanas. (SOUZA, P., 2007, p. 24).
Para a medicina, a terapia gênica, ou terapia genética, é o procedimento destinado a
introduzir em células, com o uso de técnicas de DNA recombinante17
, uma cópia funcional de
um gene (nesse contexto denominado “gene terapêutico”) para substituir, manipular ou
suplementar genes inativos ou disfuncionais (“defeituosos”). (LINDEN, 2010).
17
“Tecnologia pela qual uma molécula de DNA é construída in vitro a partir de segmentos de mais de uma
molécula de DNA parental”. (NUSSBAUM et al, 2002, p. 360).
65
Em outras palavras, seria o tratamento de uma doença por meio da introdução de um
gene em uma célula com a finalidade de obter um efeito terapêutico. Sua principal meta é, por
meio da correção do fenótipo mutante, melhorar a saúde do paciente. Existem três propósitos
para a terapia gênica: a) ser capaz de compensar um gene celular mutante que tenha uma
mutação de perda de função; b) substituição ou inativação de um gene mutante dominante
cujo produto anormal causa a doença, que geralmente é dominante; c) obtenção de um efeito
farmacológico “para contrabalançar os efeitos de um gene celular mutante” ou para
compensar de alguma outra maneira a patogenia da doença. (NUSSBAUM et al., 2002, p.
237-238).
Existem dois tipos de técnicas utilizadas para levar os genes ao interior das células:
ex vivo e in vivo. Na primeira, células dos pacientes são retiradas para a realização de cultura
e, por meio de vetores, nelas é inserido o gene previamente isolado e trabalhado; as células
tratadas são, assim, levadas de volta ao paciente por infusão. As células mais utilizadas nesse
tipo de técnica são as da medula. Já na técnica in vivo, o gene trabalhado é diretamente levado
ao organismo do paciente, também por meio de vetores, mas não é necessária a retirada da
célula e sua posterior reintrodução no paciente. (AZEVÊDO, 2006).
O gene inserido, chamado de gene de interesse ou transgene, deve ser transportado
por um vetor, que funciona como um carregador que facilita a entrada do DNA nas células
vivas. Três classes principais de vetores merecem destaque: vetores virais18
(o método
utilizado é o biológico, em que há o emprego de organismos que possuem naturalmente a
capacidade de transferir material genético, como no caso dos vírus e algumas bactérias),
vetores químicos (o vetor é alguma substância de origem química) e vetores físicos (a
transferência do transgene ocorre de maneira mecânica).
Não obstante a proximidade entre as nomenclaturas, há de se ressaltar que as terapias
gênicas não se confundem com as terapias celulares. Para ser considerada como terapia
celular, a técnica deve empregar uma célula inteira para tratar uma doença, e o tratamento
deve ser realizado a partir das propriedades regenerativas de células-tronco ou de outros
efeitos, “a maior parte dos quais ainda não explicados, das células transplantadas”. (LINDEM,
2010). Assim, as terapias celulares não envolvem, necessariamente, modificação genética. Por
outro lado, para que a terapia seja considerada como terapia gênica é necessário que esteja
embasada na introdução ou na modificação de genes, fato que pode ser realizado diretamente
in vivo, dispensando o auxílio de células inteiras do próprio paciente ou de doadores. Com
18
São os mais utilizados.
66
isso, um tratamento será caracterizado como terapia gênica quando da introdução do gene e
do uso de tecnologias de DNA recombinante. (LINDEM, 2010).
Com relação à terapia gênica realizada em células germinativas19
(TGCG), esta
objetiva a mudança definitiva do genoma da pessoa e de seus descendentes, antes do
nascimento. Tal tipo de terapia pode ser realizada quando o zigoto apresenta apenas algumas
células (fase de pré-implantação), ou nos próprios gametas ou nas células que lhes dão origem
(antes da fertilização). Esse tipo de intervenção, por manipular a constituição biológica
definitiva da pessoa, traz muitos aspectos bioéticos polêmicos, gerando argumentos contrários
e favoráveis à sua utilização.
Assim, aqueles que se mostram favoráveis à TGCG apresentam as seguintes
questões:
a) existe, entre os profissionais da área da saúde, a obrigação moral de por em
prática os melhores métodos disponíveis para tratamento de doenças; b) os pais
devem ter plena autonomia e direito de acesso à tecnologia disponível visando a
obtenção de gerar filhos sadios; c) a TGCG é mais eficiente e tem menor custo
efetivo que a TGCS (terapia gênica de células somáticas); d) deve-se preservar a
liberdade de pesquisa e o valor intrínseco do conhecimento. (AZEVÊDO, 2006).
Apesar dos argumentos favoráveis, a cautela é sempre ressaltada pelos autores, tendo
em vista as limitações técnicas e o não conhecimento sobre complicações indesejadas.
Já para a corrente que se mostra contrária ao uso da TGCG, duas perguntas básicas
refletem os conflitos existentes: “quando começa a vida individual e a quem pertence o
patrimônio genético de cada pessoa?”. (AZEVÊDO, 2006).
O primeiro argumento, da vida individual, remete à reflexão do capítulo 3 (“Vida,
para além do nascer”), sobre todas as teorias acerca do início da vida e da personalidade.
Assim, por exemplo, se se considerar que a vida tem início com a fecundação, a terapia em
célula germinativa não poderia ser admitida, pois alteraria uma vida já concebida. Já o
segundo argumento, relativo à titularidade do patrimônio genético de cada pessoa é bastante
polêmico, visto que o patrimônio genético carrega todas as características do indivíduo. Com
isso, a modificação de células germinativas alteraria diretamente o genoma da pessoa e,
consequentemente, toda sua informação genética e da sua descendência. Nesse aspecto, a
dúvida gira em torno da questão de se saber se uma pessoa possui autonomia suficiente para
autorizar esse tipo de intervenção. Por outro lado, importa ressaltar que o genoma traz todos
os dados genéticos de uma pessoa, dados que possuem alto valor, pois são capazes de
19
São as células que originam os gametas.
67
informar, dentre outros aspectos, a predisposição para determinadas doenças, a maneira como
o organismo da pessoa pode responder a certo medicamento, além de informações sobre os
membros da família biológica do indivíduo, o que pode despertar interesses até mesmo
econômicos (por exemplo, das seguradoras de saúde). Apesar da importância do tema, a
titularidade do patrimônio genético é uma questão complexa, que não será objeto do presente
estudo.
No tocante às normas sobre terapia gênica, o Código de Ética Médica, no capítulo
reservado aos direitos dos médicos, afirma que é vedado ao médico:
Art. 15. Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de
tecidos, esterilização, fecundação artificial, abortamento, manipulação ou terapia
genética.
[...]
Art. 16. Intervir sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto na
terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células germinativas que resulte na
modificação genética da descendência. (CFM, 2009).
Apesar do Código se referir a “legislação específica” sobre terapia gênica, esta ainda
não existe. A Instrução Normativa CTNBio nº 9, de 10 de outubro de 1997, que dispõe sobre
as normas para intervenção genética em seres humanos, em seu tópico 2 intitulado “escopo”,
afirma que:
De acordo com o art. 8º da Lei 8.974/9520
, é vedada a intervenção em material
genético humano in vivo, exceto para o tratamento de defeitos genéticos. Entende-se
como defeitos genéticos aqueles herdados ou adquiridos durante a vida e que
causam problemas à saúde humana.
Defeitos genéticos podem ser causados por: mutação de ponto, inserção, deleção,
translocação, amplificação, perda ou ganho cromossômico, ou pela presença de
genoma ou parte de genoma de organismos infecciosos.
Terapia gênica somática ou transferência gênica para células somáticas são técnicas
de intervenção ou manipulação genética que visam a introdução de material genético
em células somáticas por técnicas artificiais, com a finalidade de corrigir defeitos
genéticos ou estimular respostas imunes contra a expressão fenotípica de defeitos
genéticos, ou para prevenir a sua ocorrência. (CTNBio, 1997).
A Instrução Normativa afirma, ainda, que todo experimento de intervenção ou
manipulação genética em humanos deve ser considerado como Pesquisa em Seres Humanos,
enquadrando-se na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
A Lei nº 11.105/05, Lei de Biossegurança, em seu art. 25, tipifica a conduta de
“praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião
20
Revogada pela Lei 11.105, de 24 de março de 2005, que trouxe no art. 6º, III, disposição proibitiva
semelhante.
68
humano”, aplicando pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Paulo Vinicius
Sporleder de Souza define as condutas tipificadas pelo citado artigo como crimes de
engenharia ou manipulação genética humana, que seriam “aquelas atividades que, de forma
programada, permitem modificar (total ou parcialmente) o genoma humano, com fins não
terapêuticos reprováveis, através da manipulação de genes”. (SOUZA, P., 2007, p. 24).
Com isso, apesar da importância do tema e dos impactos que os métodos
apresentados provocam, percebe-se certa fragilidade legislativa no tocante às técnicas que
envolvem a manipulação da vida. Fragilidade que ocorre tanto na definição dos termos
utilizados, quanto na delimitação exata do que realmente colocaria em risco o genoma
humano e, consequentemente, traria efeitos para o indivíduo, para seus descendentes e para o
meio ambiente. Essa fragilidade, por outro lado, decorre do fato de o direito, por diversas
vezes, se ver diante de desafios difíceis de serem resolvidos (ainda mais diante da rapidez
com que a ciência evolui), o que faz com que seja quase inevitável a existência
de um intervalo de tempo durante o qual determinada prática científica estará
completamente fora do previsto pela norma vigente, o que cria uma fastidiosa lacuna
jurídica que incomoda tanto o jurista, que tem de ditar a norma, quanto o cientista,
que deseja se assegurar de que seu trabalho não será questionado depois pelo
ordenamento [...]. (BERIAIN, 2007, p. 89-90).
Dessa maneira, não há como o direito delimitar precisa e previamente todas as
hipóteses do que colocaria em risco o genoma humano. O direito, nesse aspecto, adota uma
posição de “espera prudente (moratória) que permite ao jurista conceder um intervalo de
tempo suficiente para entender em toda a sua complexidade o fenômeno, objeto de seu
exame”. (BERIAIN, 2007, p. 90). Fato que reforça sua postura como instrumento mediador
(ora com mais ou ora com menos rigidez) entre os avanços da técnica médica e as
consequências para o meio ambiente.
De todo modo, as técnicas apresentadas que envolvem a manipulação da vida dizem
respeito ao genoma humano, razão pela qual merecem maior atenção por parte do
ordenamento jurídico e da bioética, que devem sempre zelar pela proteção da identidade
genética da humanidade. Pelo mesmo motivo, tais técnicas também estão relacionadas ao
meio ambiente, trazendo-lhe consequências que devem ser investigadas.
Assim, a manipulação genética, por tratar-se de uma técnica que busca produzir
modificações ou transformações com fins meramente experimentais, concebendo indivíduos
com características totalmente inexistentes até então, possui um grau de reprovabilidade mais
acentuado, bem como mais evidente é o seu impacto sobre o genoma humano e sobre o meio
69
ambiente. Além disso, os problemas éticos envolvendo a técnica também são identificados
mais claramente: manipular o genoma humano com finalidade meramente experimental é,
evidentemente, utilizar o homem como meio para alcançar fins que lhe são completamente
alheios. Nessa situação, não há dúvidas quanto à aplicação da teoria kantiana sobre a
inadmissibilidade da instrumentalização da vida humana, razão pela qual deve o direito ser
rígido quanto às normas de aplicação da técnica.
Já na terapia genética, em que um gene é introduzido na célula a fim de que o efeito
terapêutico seja obtido, o que envolve, necessariamente, a introdução ou a modificação de
genes, independentemente da técnica empregada, esse grau de reprovabilidade é mais difícil
de ser mensurado. Isso porque o fato de a técnica ter como finalidade o efeito terapêutico
coloca em debate dois direitos importantes: o direito da preservação do genoma (ou do
patrimônio genético) versus o direito de encontrar a cura para enfermidades.
Essa colisão de direitos, quando analisada pelo viés da bioética, deve levar em
consideração os três princípios bioéticos básicos: beneficência, autonomia e justiça. Assim, de
acordo com o princípio da beneficência o profissional possui a obrigação de agir para o
benefício do outro, não apenas do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista ético.
A beneficência trabalha com a questão da minimização dos riscos e maximização dos
benefícios. É o princípio que prega que o profissional deve fazer o bem. (LOCH, 2002). O
segundo princípio, da autonomia, é definido pela capacidade que uma pessoa possui para
“decidir fazer ou buscar aquilo que ela julga ser o melhor para si mesma”. (NAVES; SÁ,
2011, p. 34). O princípio da autonomia altera a relação autoritária existente entre médico e
paciente, abrindo espaço “para a consideração do paciente como sujeito partícipe do processo
de tratamento”. (NAVES; SÁ, 2011, p. 34). É no respeito a esse princípio que se constrói a
relação terapêutica entre o profissional da saúde e o seu paciente, daí derivando o
consentimento para a realização de diagnósticos, procedimentos e tratamentos. Por sua vez, o
princípio da justiça “refere-se ao meio e fim pelo qual se deve dar toda intervenção
biomédica, isto é, maximizar os benefícios com o mínimo custo” – financeiro, social,
emocional e físico. (NAVES; SÁ, 2011, p. 35).
Apesar da dificuldade em se estabelecer o quão reprovável é ou não a terapia
genética, no caso da terapia genética em células somáticas (não reprodutivas) – TGCS – esta
é atualmente comparada aos outros tipos de experimentação de caráter terapêutico, a exemplo
do transplante de órgãos, sujeitando-se, com isso, aos limites jurídicos e éticos estabelecidos
para esses tipo de procedimento. (SOUZA, P., 2007, p. 26). Neste caso, o seu impacto na
bioética deve ser medido pelos princípios apresentados, ou seja, se a sua realização vai trazer
70
resultados positivos para o paciente (relação “custo-benefício” deve ser positiva), se o
paciente foi devidamente esclarecido quanto aos possíveis riscos e consequências da
realização da terapia e se com eles está de acordo, e se os valores do paciente estão sendo
levados em consideração quando da realização da terapia genética. Se a avaliação desses
pontos for positiva, os impactos para a bioética também serão positivos, ou seja, a terapia se
mostrará adequada ao caso concreto. Entretanto, é importante ressaltar que ainda não existe
certeza se a utilização da TGCS traz algum tipo de consequência para a descendência do
indivíduo, o que coloca em dúvida os riscos e efeitos da técnica para o meio ambiente.
Já quando a terapia genética é utilizada em células germinativas, a colisão de direitos
torna-se mais evidente visto que, nesse caso (e mesmo que para fins terapêuticos), o que se
pretende é a modificação definitiva do genoma da pessoa e de seus descendentes, antes do
nascimento, tendo efeito, portanto, sobre as gerações que estão por vir. Paulo Vinícius
Sporleder de Souza (2007, p. 26-27), discorrendo sobre o tema, afirma que “por seus incertos
e ainda desconhecidos efeitos sobre as gerações seguintes, tem-se repudiado a terapia gênica
germinal mesmo que alegadamente seja esta considerada presumivelmente ‘terapêutica’”. O
mesmo autor afirma que se a técnica utilizada se limitar
à investigação científica no material biológico-genético humano germinal
(espermatozoides e óvulos) in vitro, isto é, sem ser realizada posteriormente a
transferência (ou tentativa de transferência) ao ser humano autônomo ou ao ser
humano em estado de totipotência (pré-embrião) para fins reprodutivos
(transferência gênica in vivo ou in situ), parece não repercutir qualquer reprovação
jurídica ou até mesmo ético-social que seja hábil a contrapor neste caso a liberdade
de pesquisa e investigação científicas em busca do progresso da biomedicina para o
bem-estar da humanidade. (2007, p. 27).
Assim, não há que se negar que a partir do momento em que uma técnica é utilizada
com a finalidade de produzir alterações no genoma humano, mesmo que buscando efeitos
terapêuticos, todo o processo evolutivo biológico natural da vida é, de alguma maneira,
alterado. Resta saber se tal alteração e os impactos dela decorrentes, vão de encontro aos
preceitos legais de proteção da vida e do genoma humano.
Por meio dos exemplos apresentados de manipulação da vida humana, buscou-se
evidenciar, ainda que de maneira superficial, as novas possibilidades conferidas ao homem
pela técnica contemporânea. Hoje o homem possui meios para intervir em sua própria
natureza, seja para encontrar a cura para determinada enfermidade, seja para realizar algum
anseio pessoal.
71
A escolha por esses meios, mais do que uma ambição individual e um caminho para
encontrar a boa vida, possui mecanismos suficientes para impactar sobre o homem e suas
futuras gerações. É quando o homem domina a técnica e adquire capacidade para intervir na
natureza orientando-a para objetivos predeterminados, que os impactos daí decorrentes
apresentam-se preocupantes. Esses impactos são mais facilmente identificados por meio da
análise de uma técnica já utilizada e que apresenta algum, ainda que longe do necessário,
respaldo: o DGPI.
4.1 Diagnóstico Genético Pré-Implantação
Conhecido pela sigla DGPI, o diagnóstico genético pré-implantação (ou pré-
implantacional, ou pré-implantatório) é uma técnica de reprodução assistida (RA)21
que
permite a análise da carga genética de embriões concebidos por meio de fertilização in vitro
(FIV22
), objetivando a detecção de dois tipos de enfermidades genéticas: a) monogênicas
hereditárias23
(em um único gene) e; b) anomalias cromossômicas24
(numéricas ou
estruturais). Essa técnica é considerada uma maneira complementar ao diagnóstico pré-natal,
por ser aplicada em embriões antes da sua implantação no útero materno. (NUNES;
MARQUES; AMADOR, 2011, p. 3).
21
Reprodução assistida é “o conjunto das técnicas laboratoriais que visam a obter uma gestação por meio da
substituição ou facilitação de uma etapa deficiente no processo reprodutivo do ser humano”. (MARTINS, 2011,
p. 50). 22 “Indicada a FIV ao casal ou pessoa capaz que deseja conceber, o primeiro procedimento consiste na
estimulação hormonal da mulher visando a produção do maior número possível de óvulos. Desta feita,
constatando-se que os níveis do hormônio estrogênio estão adequados e que os folículos ovarianos alcançaram
um bom tamanho, a ovulação é desencadeada por meio de injeção de hormônio responsável pela maturação final
dos óvulos da mulher. Passadas 36 (trinta e seis) horas, realiza-se a punção dos óvulos, sendo também coletado o
sêmen do parceiro. Os gametas masculino e feminino obtidos são analisados e colocados em contato em uma
solução química apropriada. Quarenta e oito horas depois disso, ocorrendo a fertilização dos gametas, os
embriões porventura gerados serão introduzidos no útero da mulher com o auxílio de um catéter. A gravidez será
atestada quatorze dias após a punção e a posterior colocação dos embriões em ambiente uterino”. (MARTINS,
2011, p. 52). 23
Os distúrbios monogênicos são causados por genes mutantes individuais. A mutação pode estar presente em
apenas um cromossomo de um par (com alelo normal no cromossomo homólogo) ou em ambos os cromossomos
do par. Ou seja, são determinados por mutações em um alelo específico num único locus em um ou ambos os
membros de um par de cromossomos homólogos. Em alguns casos, a mutação é no genoma mitocondrial, e não
no nuclear. Em qualquer caso, a causa é um erro crítico na informação genética levada por um único gene.
Todavia, tais doenças são relativamente raras. (NUSSBAUM et al.¸2002, p. 2). 24
“Nos distúrbios cromossômicos, o defeito não se deve a um único erro no código genético, mas a um excesso
ou a uma deficiência dos genes contidos em cromossomos inteiros ou segmentos cromossômicos”.
(NUSSBAUM, et al.,2002, p. 2). Um exemplo de distúrbio cromossômico é a trissomia do 21 (síndrome de
Down), causada pela presença de uma cópia extra do cromossomo 21.
72
Também conhecido por biópsia genética do embrião, o DGPI consiste na “retirada de
uma ou mais células do embrião (biópsia embrionária), em laboratório e encaminhada para
análise, antes mesmo de ser colocado no útero”. (CAMBIAGHI, 2013).
Beriain (2004, p. 383) aponta dois objetivos básicos para a utilização da técnica: o
primeiro, ligado ao tratamento das doenças que possam surgir ainda na gravidez ou em
momentos posteriores; e o segundo, ligado à limitação do número de abortos decorrentes de
causas que poderiam ter sido detectadas antes da implantação do embrião. Tratando-se, assim,
de uma técnica que afeta diretamente o embrião humano.
Geber (2004, p. 302-303) afirma que os primeiros estudos em biópsia de embriões
pré-implantação foram realizados em coelhos, utilizando uma técnica que permitia que se
determinasse o sexo dos animais. Posteriormente, por questões econômicas, os estudos
relativos ao desenvolvimento da técnica passaram a ocorrer em bovinos. A aplicação dos
estudos em mamíferos demonstrou que a utilização da técnica em diferentes fases do
desenvolvimento do embrião no período pré-implantação não seria capaz de alterar o
desenvolvimento normal dos embriões, seja in vivo ou in vitro. (GEBER, 2004, p. 302-303).
Uma vez obtido sucesso com as técnicas de micromanipulação para biópsia de
embriões de animais em laboratório, o passo seguinte foi o de realizar o mesmo
procedimento em embriões humanos, de modo a estudar diretamente os efeitos no
desenvolvimento. Hardy et al. (1990) e Geber et al. (1995) biopsiaram embriões
humanos em estágio de 8 células, não identificando efeitos negativos nos mesmos,
quando comparados ao grupo controle. Os autores concluíram que a remoção de 1
ou 2 células de embriões, em estágio de 8 células, não afeta adversamente o seu
desenvolvimento in vitro, sugerindo que este método poderia ser utilizado para
diagnóstico pré-implantação de patologias genéticas.
A partir destes resultados, estudos foram realizados no sentido de permitir o
diagnóstico genético pré-implantação, analisando-se os blastômeros removidos.
Posteriormente, as primeiras gestações com fetos normais, decorrentes desta técnica,
foram anunciadas. (GEBER, 2004, p. 303).
Com isso, foram realizados novos estudos para permitir a utilização da técnica do
DGPI. Beriain (2004, p. 383) afirma que a primeira utilização do diagnóstico em humanos
ocorreu em 1990, ocasião em que a equipe de um professor identificou os cromossomos
sexuais dos embriões vindos de famílias acometidas pela hemofilia.
Desde então, a técnica do DGPI é utilizada para a detecção, em estágio precoce
(antes da implantação do embrião no útero materno), de várias doenças geneticamente
transmissíveis. Hoje o DGPI é capaz de diagnosticar cerca de 130 doenças, mas as
expectativas são de que esse número aumente ainda mais. Como exemplo, Cambiaghi (2013)
cita, dentre outras, as seguintes doenças: Trissomia do cromossomo 13 (responsável pela
73
Síndrome de Patay, uma doença que causa deficiência mental, problemas respiratórios e baixo
peso corporal. Dos bebês que nascem com essa síndrome, 45% morrem em 1 mês, 69% em 6
meses e 72% em 1 ano); Trissomia do cromossomo 18 (responsável pela Síndrome de
Edwards, cuja taxa de abortos espontâneos é de 95%); Trissomia do cromossomo 21
(responsável pela Síndrome de Down); Hemofilia (doença que afeta somente indivíduos do
sexo masculino, caracterizada por uma dificuldade no processo de coagulação sanguínea);
Síndrome de Turner (atinge somente pessoas do sexo feminino, tendo como principal
característica o infantilismo sexual e o não desenvolvimento das capacidades reprodutivas).
Importante ressaltar que o DGPI não pode ser utilizado para a escolha do sexo do bebê,
somente nos casos de doenças diretamente ligadas aos cromossomos sexuais, X e Y, é que a
presença desse item é permitida no diagnóstico.
Entretanto, a técnica não pode ser utilizada por uma simples conveniência ou por
vontade dos pais, pois existem indicações específicas para sua aplicação.
4.1.1 Indicação de aplicação
Com relação à utilização do DGPI, Abellán (2007, p. 29-30) afirma que o
diagnóstico é indicado para casais que se encontrem em situações de risco reprodutivo, a
exemplo daqueles em que o casal é portador de alguma anomalia ou mutação em um mesmo
gene autossômico recessivo, ou nos casos em que a mulher é portadora de alguma desordem
ligada ao cromossomo X, ou ainda nos casos em que um dos membros do casal seja portador
de alguma anomalia ou mutação em um gene autossômico dominante ou, seja portador de
alguma alteração cromossômica. Nesses casos, o DGPI busca a identificação de genes que
sejam portadores da doença, evitando a sua implantação e um posterior aborto.
Nunes et al. (2010) definem um segundo grupo apto a realizar o diagnóstico, que
seria aquele grupo formado pelos casais que se submeteram a fertilização in vitro e “cujos
embriões são utilizados para a presença de aneuploidias”. Afirmam os autores que,
diferentemente do primeiro grupo, neste caso o DGPI não é utilizado para a detecção de uma
doença específica, mas sim para uma análise geral que possa aumentar as chances de sucesso
da gravidez. (NUNES et al., 2010).
Cambiaghi aponta casos especiais em que também é permitida a utilização do DGPI.
Trata-se de situações em que a mulher conta com mais de 40 anos de idade, pois “nesta idade,
74
as chances de gerar um filho com problemas genéticos são de uma em 40, ao passo que nas
mulheres mais novas, até 35 anos, são de uma em 200”. (2013).
A aplicação do DGPI deve obedecer a algumas fases que Abellán (2007, p. 23-24)
define como cinco: 1) aconselhamento genético; 2) obtenção de embriões; 3) biópsia
embrionária; 4) análise do material genético e; 5) transferência embrionária.
A primeira fase seria uma fase preliminar, em que são realizadas consultas a fim de
se obter as informações necessárias para a realização do diagnóstico. Essas consultas recebem
o nome de “aconselhamento genético” e são realizadas no âmbito da medicina genética.
Cirión (2001, p. 37), apoiando-se na definição dada pela Organização Mundial de Saúde,
afirma que um dos objetivos da medicina genética é o de ajudar famílias que tenham um
histórico marcado por desvantagens genéticas, para que sua reprodução seja o mais normal
possível. Assim, o aconselhamento genético, segundo definição de Brunoni (apoiado na
definição da American Society of Human Genetics), é o
processo de comunicação que lida com problemas humanos associados com a
ocorrência, ou risco de ocorrência, de uma doença genética em uma família,
envolvendo a participação de uma ou mais pessoas treinadas para ajudar o indivíduo
ou sua família a: 1) compreender os fatos médicos, incluindo o diagnóstico, provável
curso da doença e as condutas disponíveis; 2) apreciar o modo como a
hereditariedade contribui para a doença e o risco de recorrência para parentes
específicos; 3) entender as alternativas para lidar com o risco de recorrência; 4)
escolher o curso de ação que pareça apropriado em virtude do seu risco, objetivos
familiares, padrões éticos e religiosos, atuando de acordo com essa decisão; 5)
ajustar-se, da melhor maneira possível, à situação imposta pela ocorrência do
distúrbio na família, bem como à perspectiva de recorrência do mesmo. (BRUNONI,
2002).
A fim de alcançar tais objetivos, o aconselhamento genético é realizado por uma
equipe de profissionais de várias áreas, como a médica e a psicológica. Todos os profissionais
envolvidos devem ter recebido conhecimento sobre genética médica básica, bem como
treinamento nos procedimentos e intervenções sob sua responsabilidade. Após o
aconselhamento, o paciente e a família começam a ser esclarecidos acerca dos recursos
terapêuticos existentes. A Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e da Dignidade
do Ser Humano face às Aplicações da Biologia e da Medicina, do Conselho da Europa, de
1997, ao tratar em seu art. 12º sobre os testes genéticos preditivos menciona a questão do
aconselhamento genético:
Não se poderá proceder a testes predictivos de doenças genéticas ou que permitam
quer a identificação do indivíduo como portador de um gene responsável por uma
doença quer a detecção de uma predisposição ou de uma susceptibilidade genética a
uma doença, salvo para fins médicos ou de investigação médica e sem prejuízo de
75
um aconselhamento genético apropriado. (Conselho da Europa, 1997, art. 12º,
grifos nossos).
Apesar da importância do aconselhamento genético para a medicina e,
principalmente, para a opção por técnicas de diagnóstico genético, o que se percebe é um uso
limitado do recurso pelos profissionais, fato que prejudica o esclarecimento dos casais e da
família como um todo quanto às questões genéticas.
Realizado o aconselhamento genético e optando-se pela realização de um diagnóstico
pré-implantação, a obtenção dos embriões é a segunda fase anterior à realização do DGPI.
Assim, essa etapa consiste na realização de técnicas de reprodução humana assistida para a
obtenção de embriões in vitro. Nessa fase é realizada a estimulação dos ovários da mulher,
por meio de hormônios, para que se realize a inseminação ou fertilização. (ABELLÁN, 2007,
p. 23-25).
A terceira etapa consiste na realização da biópsia embrionária, em que são extraídas
as células do embrião para posterior análise.
A quarta etapa consiste na análise do material genético coletado, em que a célula
obtida é processada e submetida a estudos genéticos. (ABELLÁN, 2007, p. 24).
Por fim, a última etapa caracteriza-se pela informação ao casal dos resultados do
diagnóstico para que seja efetuada a transferência para o útero materno daqueles embriões
considerados “sadios”, ou livres das anomalias investigadas. (ABELLÁN, 2007, p. 24).
4.1.2 Métodos
Para a concretização da quarta etapa, análise do material genético, é preciso que o
profissional opte por um dos três métodos existentes para a realização do DPGI, quais sejam:
PCR, FISH e hibridização genômica comparativa pela técnica de microarray-a-CGH.
Importa salientar que a compreensão dos métodos será necessária para que se
encontrem os impactos da técnica do DGPI para o meio ambiente.
76
4.1.2.1 PCR
O método da PCR (Polymerase Chain Reaction), ou reação em cadeia da polimerase,
é um procedimento que utiliza as técnicas de genética molecular e que permite a amplificação
(criação de múltiplas cópias) de sequências específicas de DNA, in vitro, a fim de se detectar
mutações específicas causadas por enfermidades monogênicas (em um único gene).
Oliva Teles aponta a principal limitação da técnica como sendo de natureza
qualitativa, pois para a autora “como a maior parte dos diagnósticos se baseia na análise de
uma única célula, a distinção entre as quantidades obtidas de DNA e de outros produtos
inespecíficos seja, por vezes, muito difícil”. (2011).
A autora aponta, ainda, que as técnicas de PCR têm sido aperfeiçoadas, de forma a
permitirem diagnósticos cada vez mais precisos. Assim, essas “novas técnicas incluem
tecnologia fluorescente e designam-se por PCR fluorescente, PCR fluorescente multiplex,
PCR nested múltiplo, PCR em tempo-real e sequenciação”. (OLIVA TELES, 2011).
4.1.2.2 FISH
O segundo método, conhecido pela sigla FISH (fluorescence in situ hybridization),
ou hibridização in situ, é uma tecnologia de citogenética molecular utilizada para a detecção
de anomalias cromossômicas.
Conforme Abellán (2007, p. 31), a FISH é utilizada para situações que requeiram a
identificação de determinados cromossomos ou fragmentos cromossômicos em embriões de
pacientes com anomalias estruturais, para mulheres com histórico de abortos repetidos e para
pacientes com idade avançada que se submetem à FIV.
Cambiaghi, ao discorrer sobre o DGPI realizado pela técnica de FISH, afirma que
essa técnica
consiste na retirada de uma célula no terceiro dia de desenvolvimento, quando o
embrião, ainda no laboratório, tem ao redor de oito células. Em seguida, esta célula é
encaminhada para análise, e o resultado fica disponível antes de os óvulos serem
transferidos para o útero. Este exame permite a análise de no máximo 11
cromossomos, que são representados pelos números 13, 14, 15, 16, 17, 18, 20, 21,
77
22 e pelos sexuais X e Y. Somente os embriões saudáveis são transferidos.
(CAMBIAGHI, 2013).
O problema relacionado à FISH reside no fato de não ser ela capaz de analisar todos
os cromossomos, o que encurta o rol de anomalias e doenças passíveis de identificação.
Ademais, Cambiaghi (2013) afirma que existem preocupações negativas ou controvérsias em
torno desse procedimento, como os eventuais danos causados ao embrião, as dúvidas relativas
a uma possível diminuição da taxa de gravidez, bem como o descarte de embriões
potencialmente saudáveis. Quanto ao último caso, do descarte de embriões potencialmente
saudáveis, afirma o autor que isso pode ocorrer devido a uma probabilidade de erro de
diagnóstico, vez que nem sempre a retirada de uma única célula para exame representa a
totalidade (moisacismo), situação que pode caracterizar um embrião como doente quando, na
verdade, não o é. Ainda com relação aos aspectos negativos da FISH, o autor cita as possíveis
falhas na biópsia ou fixação da célula retirada, e o fato de a técnica não apresentar 100% de
eficácia.
4.1.2.3 Hibridização genômica comparativa pela técnica de microarray-a-CGH
A última técnica utilizada para o DGPI conhecida como hibridização genômica
comparativa pela técnica de microarray-a-CGH, ou simplesmente a-CGH ou PGD-24, ao
contrário da FISH, possui mecanismos para análise dos 24 cromossomos do corpo humano
(os 22 pares de cromossomos autossomos mais os sexuais X e Y).
A técnica é capaz de identificar “todas as anomalias cromossômicas chamadas
aneuploidias, que são alterações no número de cromossomos, sendo perdas ou ganhos,
causados por erros na divisão celular”. (CAMBIAGHI, 2013).
No PGD-24 o embrião deve alcançar o estado de blastocisto (5º dia do
desenvolvimento). Alcançado esse estágio, são retiradas de 6 a 10 células do embrião, fato
que torna o diagnóstico mais preciso e seguro do que os realizados pelos outros métodos.
Assim,
o PGD-a-CGH deve ser realizado pela remoção de células embrionárias empregando
o uso de um laser que faz uma pequena abertura na região externa do blastocisto,
chamada de trofectoderma, por onde se exteriorizam algumas células que são
aspiradas delicadamente e encaminhadas ao laboratório de genética. Em 30 horas
78
obtém-se o resultado, possibilitando a transferência embrionária no dia seguinte da
realização do procedimento (6º dia de evolução). Esta biópsia pode ser considerada
menos invasiva que o PGD-FISH, pois remove somente células da camada externa
do embrião, o que implica em uma menor agressão ao futuro bebê. (CAMBIAGHI,
2013).
O PGD-24 é indicado para casais com várias tentativas sem sucesso de fertilização in
vitro, bem como para mulheres: com anomalias cromossômicas, abortos repetidos e/ou que
contarem com mais de 35 anos de idade.
Com relação às vantagens da técnica, Cambiaghi (2013) aponta que essas se dão,
principalmente, pelo fato de o exame ser realizado em uma fase mais avançada da evolução
embrionária, o blastocisto. Assim, quando o desenvolvimento dos embriões é aguardado até
esse estágio, a seleção natural elimina vários embriões, sobrando um número menor para ser
analisado, o que pode reduzir os riscos e os custos. Além do mais, a utilização dessa técnica
apresenta outras vantagens, como redução do número de embriões implantados e,
consequentemente, redução do risco de gravidez múltipla; aumento da taxa de sucesso do
tratamento, pois somente são implantados no útero materno embriões sadios; além da análise
completa de todos os cromossomos.
O fator negativo relacionado ao PGD-24 está diretamente relacionado à um fator
positivo. Dessa forma, se a espera do desenvolvimento embrionário até o estágio de
blastocisto é vantajosa, o mesmo fato também é desvantajoso, pois são raros os embriões que
conseguem ultrapassar essa seleção natural, correndo para o casal o risco de não ter nenhum
embrião para ser implantado.
4.1.3 Argumentos favoráveis
A utilização do DGPI é bastante controversa. Havendo aqueles que a defendem, e
aqueles que a condenam. Para as duas correntes, os argumentos são vários.
Assim sendo, a corrente que apoia a utilização do DGPI aponta como primeira
vantagem o fato de o diagnóstico possibilitar que os pais com alto risco de transmissão de
uma enfermidade genética não a transmitam para seus filhos. Ademais, identificando-se a
presença da enfermidade no embrião ainda na fase de pré-implantação, evita-se o uso do
exame genético pré-natal clássico e, consequentemente, a interrupção voluntária da gravidez
em fases mais avançadas.
79
Outro fator comumente apresentado como vantajoso está relacionado aos casais que
já tenham se submetido diversas vezes à fertilização in vitro, mas não tenham obtido sucesso,
além daqueles em que a mulher conta com uma idade avançada, fato que aumenta as chances
de obtenção de fetos com alguma anomalia genética ou doença. Conforme Geber:
A técnica já passou a ocupar um importante papel na prevenção de doenças
geneticamente transmissíveis, além de permitir uma excelente opção para se evitar,
em alguns casos, o tradicional exame genético pré-natal, que teria como única
solução, em caso de presença da doença, a interrupção da gestação. Além disso, o
PGD oferece uma alternativa para os casais com dificuldade de obter uma gestação
após falhas sucessivas de implantação em ciclos de FIV. Casais em que a idade
materna é avançada, o PGD também irá permitir uma elevação nas taxas de
gestação, assim como nos casos de perda gestacional de repetição, associados a
alguma alteração cromossômica em algum dos progenitores. (2004, p. 304).
Albujar Moreno (2013) apresenta como um fator vantajoso a finalidade original do
DGPI, que é a de ajudar ao novo ser humano a ter uma vida mais saudável. Ou seja, para a
autora, originariamente o DGPI possui um fator positivo: colocar-se a serviço da saúde e da
vida, curando ou melhorando a qualidade de vida da futura criança.
Já Cirión (2001, p. 97) afirma que o fato de o diagnóstico produzir resultados em um
curto período de tempo é uma vantagem para o casal, que não necessita esperar de forma lenta
e preocupante, como ocorre com o tradicional diagnóstico pré-natal.
O último argumento favorável apresentado pelos autores está ligado à taxa de acerto
da técnica, que é de 95%, permitindo que ela seja considerada como uma técnica segura.
Entretanto, esse mesmo argumento é utilizado como um fator negativo ao DGPI, havendo
situações em que, mesmo com a realização do exame, a criança nasceu com a doença objeto
de análise.
4.1.4 Argumentos contrários
Os aspectos negativos da utilização do DGPI são muitos e envolvem questões que
vão desde o risco do diagnóstico até princípios éticos do casal.
Assim, o primeiro problema apresentado por Cambiaghi está relacionado aos riscos
do DGPI, para o autor “existem controvérsias quanto aos problemas causados por este exame
que podem ser maiores ou menores dependendo da experiência dos profissionais que estão
80
realizando o procedimento”. (2013). Esses riscos estão relacionados tanto à mulher quanto ao
embrião, razão pela qual a indicação do exame deve ser restrita às suas reais necessidades.
Tais riscos também estão relacionados ao fato de ainda não ser possível estabelecer
com certeza que o DGPI não apresenta problemas para o desenvolvimento futuro da criança.
O segundo argumento vai de encontro ao argumento da corrente que se mostra
favorável ao DGPI, para quem o índice de acerto da técnica é elevado. Assim, a corrente
contrária à aplicação da técnica afirma que os índices de erro do diagnóstico são elevados,
afetando aproximadamente um a cada três casos (BERIAIN, 2004, p. 386), motivo pelo qual
alguns profissionais solicitam que o resultado seja posteriormente confirmado, por meio da
realização do diagnóstico pré-natal convencional (fato controverso, pois retira uma das
possíveis vantagens apresentadas pelo DGPI, que é a de ser uma alternativa aos diagnósticos
genéticos tradicionais).
O próximo argumento também está relacionado à eficácia do método, pois pode
ocorrer um erro já na fase de coleta do material, que pode não ser embrionário ou ter sido
contaminado com outro não embrionário. Além disso, “existe ainda o problema do
moisacismo, visto haver o perigo de a célula escolhida aleatoriamente ao microscópio para o
diagnóstico não ser representativa das características genéticas do embrião”. (OLIVA TELES,
2009). Esse fator é apresentado com frequência como um dado negativo, visto que nem
sempre a célula retirada para análise contém todas as características do embrião. Soma-se a
esse dado, o fato de que nem todas as doenças genéticas são passíveis de detecção via DGPI,
podendo um embrião caracterizado como “sadio” apresentar outra anomalia, que não foi
objeto de análise ou que não era passível de ser detectada.
Oliva Teles afirma que, além do erro de diagnóstico, existe outro problema de ordem
técnica que poderá ocorrer: a perda potencial de embriões viáveis durante o ciclo de
tratamento. Assim, para a autora, “há o perigo real de danificar os embriões durante a sua
manipulação, para recolha de material de estudo e, por esse motivo, reduzir as hipóteses de
gravidez”. (2009).
O fator preço também é apontado com frequência como um empecilho à realização
do diagnóstico, que possui um alto custo. Uma pesquisa dentre os centros que realizam o
DGPI demonstrou que, em média, a realização do diagnóstico em embriões frescos custa
aproximadamente R$ 3.600,00 por embrião, podendo chegar a R$ 12.700,00, quando
realizada em 6 embriões e, caso o casal queira realizar o diagnóstico em mais embriões é
cobrado um adicional aproximado de R$ 1.000,00 por embrião. No caso de realização do
exame em embriões congelados, os valores variam de R$ 2.400,00 para um embrião, até R$
81
14.400,00 para 6 embriões, nos casos de embriões adicionais o valor cobrado é de
aproximadamente R$ 1.400,00 por embrião.
Outra desvantagem apontada refere-se ao fato de a realização do DGPI estar
diretamente ligada ao sucesso da técnica de fertilização in vitro. Assim, um diagnóstico
genético pré-implantatório favorável não é garantia do nascimento, pois este está relacionado
ao sucesso da técnica de fertilização.
Oliva Teles também aponta como uma desvantagem do diagnóstico o “elevado
esforço físico e mental dos casais” (2009), na medida em que a escolha por esse teste envolve
diversos fatores, principalmente aqueles de ordem pessoal (aí incluídas as questões religiosas,
éticas e morais), motivo que reforça a necessidade de um apoio psicológico adequado ser
parte integrante do processo de tratamento.
Com relação a esse argumento, acredita-se que a partir do momento em que um casal
optou pela realização do DGPI ele, mesmo que tacitamente, concordou com as características
e consequências do exame, não havendo razões para que tal argumento seja apresentado como
uma desvantagem. O que não afasta, evidentemente, a necessidade do apoio psicológico
adequado.
Um argumento de ordem moral apresentado contrariamente ao DGPI é o que
questiona quais são as patologias consideradas suficientemente graves para justificar a não
implantação do embrião. Beriain (2004 p. 393) afirma que se esse argumento for analisado
sob o viés do princípio da autonomia, a escolha pela implantação ou não do embrião será
atribuída unicamente aos pais. Todavia, o próprio autor afirma que, se o mesmo argumento
for analisado sob a ótica do princípio da beneficência, a solução é mais complicada, pois
apesar da gravidade de algumas patologias, não parece certo pensar que estas possam
justificar a não implantação de um embrião por elas afetado. Nesse sentido, bastante
pertinente é a análise realizada por Hubbard, que afirma que:
Ser cego não tem nada a ver com ser surdo ou com ter uma enfermidade grave ou
um problema de mobilidade; portanto, cada pessoa cega (ou surda) não tem as
mesmas capacidades e limitações. Muitas condições genéticas variam em sua
gravidade, e muitas vezes os seus sintomas podem ser aliviados, ao menos até certo
ponto, com as terapias médicas convencionais. Um diagnóstico pré-natal de anemia
falciforme ou de fibrose cística não é capaz de prever em que idade as doenças
começarão a se manifestar, quanto incapacitarão ou o quanto encurtarão a vida da
pessoa afetada. Com o surgimento de tratamentos mais eficazes, a qualidade de vida
das pessoas nessas condições e de suas famílias melhorou significativamente25
.
(apud BERIAIN, 2004, p. 394).
25
Tradução livre do original: “Ser ciego no tiene nada que ver con ser sordo o con tener una enfermedad
dolorosa o un problema de movilidad; por tanto, cada persona ciega (o sorda) no tiene las mismas capacidades y
82
Desse modo, o argumento apresentado parece bastante plausível, pois a gravidade
com que cada doença vai se manifestar varia de pessoa para pessoa. Por outro lado, a opção
por escolher um embrião livre de qualquer tipo de doença e descartar aqueles que apresentem
alguma anomalia fere diretamente a questão do direito à diferença, pois segundo o inciso IV
do art. 3º da CR/88: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação”. (BRASIL, 1988, art. 3º, grifou-se). Além do
disposto na Constituição, a escolha de embriões fere também a Convenção Interamericana
para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de
deficiência, promulgada pelo Brasil por meio do Decreto nº 3.956, de 8 de outubro de 2001.
Nos termos da Convenção (anexa ao Decreto),
Art. I – Para os efeitos desta Convenção entende-se por:
1. Deficiência
O termo “deficiência” significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza
permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e
social.
2. Discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência
a) o termo “discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência” significa toda
diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de
deficiência, consequência de deficiência anterior ou percepção de deficiência
presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência
de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais. (BRASIL, 2001).
Ademais, a opção por implantar um determinado embrião em detrimento de outro
gera outro problema que, segundo Habermas, está ligado à responsabilidade. Assim, para o
autor, quando os pais tomam uma decisão irreversível sobre a constituição “natural” de outra
pessoa, no caso o futuro filho, a relação interpessoal que daí surge é totalmente nova e
desconhecida. Essa decisão tomada pelos pais, além do aspecto da irreversibilidade, interfere
profundamente na constituição orgânica do futuro filho, com isso “a simetria da
responsabilidade, em princípio existente entre pessoas livres e iguais, torna-se limitada”.
(2010, p. 20). Como consequência, o indivíduo adulto geneticamente manipulado não teria as
mesmas condições que um adulto “normal” de realizar uma apropriação autocrítica da história
da sua própria formação, assumindo a responsabilidade por sua história de vida, pois
limitaciones. Muchas afecciones genéticas varían en su severidad, y a menudo sus síntomas se pueden aliviar, al
menos hasta cierto punto, con terapias médicas convencionales. Un diagnóstico prenatal de anemia drepanocítica
o fibrosis quística no predice a qué edad se empezará a manifestar la afección, cuánto nos va a discapacitar o
cuánto acortará la vida de la persona afectada. A medida que han ido apareciendo terapias más eficaces, la
calidad de vida de las personas con estas afecciones y la de sus familiares ha mejorado enormemente”.
83
permaneceria sempre dependente da escolha realizada por um terceiro e que não possui meios
de ser reconsiderada. Nesse caso, o adulto geneticamente manipulado não teria as chances de
estabelecer essa simetria da responsabilidade que, conforme Habermas, é “necessária para o
relacionamento entre peers [iguais], seguindo o caminho retroativo de uma auto-reflexão
ética”. (2010, p. 21-22).
Igualmente, a escolha por embriões “sadios” esbarra em outro problema grave e
apontado pela grande maioria dos autores como o maior risco do diagnóstico genético pré-
implantação, que é a questão da eugenia, de grande impacto para o meio ambiente. Todavia,
devido à complexidade do tema, o argumento da eugenia será analisado em tópico específico.
4.1.5 Considerações jurídicas acerca do DGPI
Se na antiguidade o homem necessitava de normas que estabelecessem a boa vida,
hoje a situação não é muito diferente. Sendo assim, o maior entrave jurídico acerca do DGPI
reside exatamente na falta de normas, de uma legislação nacional específica sobre o tema.
Apesar da importância do assunto e da realização constante do diagnóstico, fato é que o
legislador não se atentou para a questão.
Não obstante a falta de regulamentação para o DGPI, o Brasil também não possui
legislação específica para a fertilização in vitro, que é o mecanismo pelo qual os embriões são
obtidos para a realização do diagnóstico genético.
O Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução CFM nº 2.013/2013 (que
revogou a Resolução 1.955/2010), apresentou as normas éticas que devem ser adotadas para a
utilização das técnicas de reprodução assistida, e no item VI dispôs sobre o diagnóstico
genético pré-implantacional nos seguintes termos:
1 – As técnicas de RA podem ser utilizadas acopladas à seleção de embriões
submetidos a diagnóstico de alterações genéticas causadoras de doenças.
2 – As técnicas de RA também podem ser utilizadas para tipagem do sistema HLA
do embrião, com o intuito de seleção de embriões HLA-compatíveis com algum
filho(a) do casal já afetado por doença, doença esta que tenha como modalidade de
tratamento efetivo o transplante de células-tronco ou de órgãos.
3 – o tempo máximo de desenvolvimento de embriões “in vitro” será de 14 dias.
(CFM, 2013).
84
A Resolução, além de não ter força de lei, não estabelece nenhuma diretriz para a
realização do diagnóstico. A falta dessas diretrizes abre espaço para a utilização desmedida do
DGPI, além da questão de se utilizar da técnica para outros fins, como a seleção eugênica.
Ademais, a falta da legislação deixa uma lacuna no tocante às doenças que poderiam ensejar o
descarte do embrião, pois, como referido em tópico anterior, hoje a escolha pelo descarte cabe
exclusivamente aos pais, o que envolve um complexo dilema. Acredita-se que a edição de
uma lei que fosse clara quanto aos limites da utilização do DGPI e, principalmente, que
conferisse parâmetros para a classificação das doenças que poderiam ensejar a realização do
exame e o consequente descarte embrionário, seria uma maneira de auxiliar os pais nessa
escolha e minimizar os problemas daí advindos (psicológicos, éticos, morais, bioéticos e
jurídicos). Da mesma forma, a legislação seria um caminho para evitar aspectos eugênicos e
discriminatórios, bem como evitar a desvirtualização da intenção original da utilização do
diagnóstico e facilitar o papel do direito como mediador entre os avanços técnico-científicos e
os impactos para o meio ambiente.
Outro aspecto que necessita ser regulamentado está relacionado aos erros de
diagnóstico. Como o DGPI não é um exame com 100% de eficácia, os erros de diagnóstico
(quando o médico atesta erroneamente que um embrião é saudável ou detecta anomalias que
não existem) podem ocorrer e resultar em situações de responsabilidade jurídica para o
médico, que poderia ser condenado por erro médico. Diz-se que os erros de diagnóstico em
matéria de DGPI possuem fortes implicações médicas, psicológicas e econômicas. Tais erros
têm como motivos fundamentais, por ordem de frequência, os seguintes:
Moisacismo embrionário (as oito células em um embrião nem sempre são
geneticamente idênticas, de modo que o resultado do teste de uma biópsia celular
possa não indicar corretamente a verdadeira condição genética do embrião),
contaminação (o DNA procedente de fontes distintas da célula biopsada pode ser
interpretado como parte da análise genética do embrião), deixar um dos alelos sem
amplificação (uma das cópias do gene objeto de estudo pode ficar fora da zona de
amplificação da amostra, originando um resultado incorreto), troca (“mistura”) ou
erro de rotulagem da amostra do embrião (diagnósticos incorretos podem ser obtidos
como consequência de erros no manejo da amostra do embrião dentro da clínica ou
do laboratório)26
. (ABELLÁN, 2007, p. 67).
26
Tradução livre do original: “moisacismo embrionario (las ocho células de um embrión temprano no siempre
son genéticamente idénticas, por lo que el resultado de um test de una biopsia celular puede no indicar
correctamente el verdadero estado genético del embrión), contaminación (puede leerse como parte del análisis
genético del embrión DNA procedente de fuentes distintas a la célula biopsiada), dejar uno de los alelos sin
amplificar (una de las dos copias del gen objeto de estudio puede quedar fuera de la zona de amplificación del
etiquetado de la muestra o embrión (pueden producirse diagnósticos incorrectos como consecuencia de errores
em el manejo de la muestra o del embrión dentro de la clínica o del laboratório)”. (ABELLÁN, 2007, p. 67).
85
Ainda com relação à responsabilidade jurídica, esta também pode ocorrer devido à
falta do consentimento informado. O consentimento informado é um direito do paciente e um
dever do médico, que deve informar, de forma clara e isenta de dúvidas, àquele todas as
vantagens, riscos e inconvenientes do procedimento, tratamento ou intervenção a ser
realizada. O consentimento informado deve se dar na forma de um documento escrito, em que
o paciente possui total autonomia para decidir sobre a realização ou não do tratamento ou
procedimento. Com relação ao DGPI, o consentimento informado deve, além de conter todos
os riscos/vantagens/desvantagens/inconvenientes da realização do diagnóstico, ser claro
quanto ao destino dado aos embriões sobrantes. Assim, a falta desse documento ou o
desrespeito ao seu conteúdo apresenta-se como um ato passível de indenização.
A última maneira de responsabilidade apontada é a que analisa, sob a perspectiva dos
princípios da responsabilidade e da precaução, os riscos gerais, e também ambientais,
causados pela utilização da técnica do DGPI.
O princípio da precaução, nesse sentido, exerce função importante na gestão dos
riscos, principalmente dos riscos ambientais, pois está diretamente relacionado ao objetivo da
equidade intergeracional. A precaução é utilizada nos casos de risco alto, em que a realização
de determinado ato pode resultar em dano irreversível, ou por longo período, ao meio
ambiente e, no caso específico do DGPI, ao indivíduo. Sua aplicação deve ocorrer
independentemente da certeza científica absoluta quanto às consequências dos riscos, pois
esta (certeza científica) é dinâmica e mutável no tempo.
Assim, devem-se considerar não só os riscos ambientais iminentes, mas também os
perigos futuros provenientes de atividades humanas e que, eventualmente, possam
vir a comprometer a relação intergeracional e de sustentabilidade ambiental.
[...]
Mais do que isso, o princípio da precaução, como estrutura indispensável ao Estado
de justiça ambiental, busca verificar a necessidade de uma atividade de
desenvolvimento e os potenciais riscos ou perigos desta. (LEITE; CANOTILHO,
2011, p. 197 e 201).
Dessa forma, dúvidas ainda existem acerca da segurança do diagnóstico genético
pré-implantação pelo fato de ser uma técnica nova, com pouco tempo de utilização e
desprovida de estudos amplos e aprofundados sobre pessoas adultas cuja origem biológica
seja atribuída ao DGPI. Dessa forma, alguns autores afirmam que, pelo princípio da
precaução, a técnica não poderia ter ampla utilização na rotina clínica sem antes passar por
um longo período como “técnica experimental”.
86
Soma-se à precaução o princípio da responsabilidade. Por esse princípio, a
responsabilidade pelas consequências dos avanços da ciência e da investigação deve ser muito
bem averiguada, pois não atinge somente o indivíduo diagnosticado e sua descendência, mas
adquire dimensões mais amplas, atingindo também as gerações futuras. Isso ocorre porque em
termos genéticos há uma relação direta entre passado, presente e futuro. Em outras palavras, a
geração presente está “geneticamente relacionada a todas as gerações precedentes e sucessivas
que formam a comunidade da raça humana como um todo. Os genes humanos que constituem
a geração presente foram herdados das gerações passadas e serão transmitidos às gerações
futuras”. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2012, p. 302). Logo, é necessário que o médico
tenha o máximo de cautela quando da realização do diagnóstico, para não incorrer em
nenhuma das formas de responsabilidade apresentadas.
Ultrapassando a questão dos reflexos jurídicos do DGPI e voltando à questão da sua
normalização, diz-se que em termos de normas universais, alguns documentos que podem ser
aplicados ao DGPI merecem destaque, podendo ser utilizados como base para a criação de
uma legislação nacional sobre o assunto.
Dessa forma, o primeiro documento de alcance mundial destacado é a Declaração
Universal sobre o Genoma Humano, de 1997 (UNESCO), que, num sentido simbólico,
proclama o genoma humano como patrimônio da humanidade. A Declaração afirma que a
dignidade de todo indivíduo deve ser respeitada, independentemente de suas características
genéticas, e que os indivíduos não devem ser a elas reduzidos, devendo haver respeito à sua
singularidade e diversidade. É importante ressaltar também que qualquer pesquisa, tratamento
ou diagnóstico que afete o genoma humano somente poderá ser realizado após uma avaliação
prévia e rigorosa dos seus riscos e benefícios, bem como mediante o consentimento prévio,
livre e esclarecido do envolvido.
O segundo documento destacado, também da UNESCO, é a Declaração
Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos, de 2003, cujo principal objetivo é a
conciliação do interesse da medicina e da ciência em geral pela obtenção e estudo dos dados
genéticos e proteómicos humanos, com o respeito à dignidade humana e a proteção dos
direitos e liberdades fundamentais, tudo a fim de evitar a discriminação ou estigmatização de
uma pessoa, família, grupo ou comunidade. (ABELLÁN, 2007, p. 61). Para tanto, a
Declaração afirma, em seu art. 5º, que os dados genéticos humanos e os dados proteómicos
somente podem ser recolhidos, tratados, utilizados e conservados para fins de:
87
(i) diagnóstico e cuidados de saúde, incluindo os rastreios e os testes preditivos;
(ii) investigação médica e outra investigação científica, incluindo os estudos
epidemiológicos, em particular os estudos de genética das populações, assim como
coletivamente pela expressão “investigação médica e científica”;
(iii) medicina legal e processos civis ou penais e outros procedimentos legais [...];
(iv) ou qualquer outro fim compatível com a Declaração Universal sobre o Genoma
Humano e os Direitos Humanos e com o direito internacional relativo aos direitos
humanos. (UNESCO, 2003).
Percebe-se, com isso, a preocupação da comunidade internacional com a proteção do
genoma humano e as consequências que investigações e estudos sem regulamentação
poderiam trazer para a vida humana e, num sentido mais amplo, para o meio ambiente.
Já a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, adotada pela
UNESCO em 2005, possui dentre seus objetivos principais o reconhecimento da liberdade de
pesquisa científica e dos benefícios resultantes dos desenvolvimentos científicos e
tecnológicos, evidenciando, ao mesmo tempo, a necessidade de que tais pesquisas e
desenvolvimentos científicos ocorram conforme os princípios éticos dispostos na Declaração
e “respeitem a dignidade humana, os direitos humanos e as liberdades fundamentais”.
(UNESCO, 2005, art. 2º, iv). A Declaração elenca, ainda, como um de seus objetivos a
salvaguarda e promoção dos interesses das gerações futuras (art. 2º, vii), fato que é reforçado
pelo art. 16: “Proteção das gerações futuras. O impacto das ciências da vida sobre gerações
futuras, incluindo sobre sua constituição genética, deve ser devidamente considerado”
(UNESCO, 2005, art. 16), evidenciando sua preocupação para com o meio ambiente.
Todos os dispositivos apresentados, por tratarem do genoma humano, da dignidade
humana, dos dados genéticos e da importância do impacto dessas questões para as gerações
futuras, devem necessariamente ser levados em consideração quando da realização do
diagnóstico genético pré-implantação. Ademais, são considerações importantes para a
elaboração de uma legislação nacional que regulamente o tema no Brasil.
Com relação aos impactos para as gerações futuras, tanto o DGPI quanto as outras
formas de manipulação genética devem ser analisados com cautela. A preocupação nesses
casos gira em torno de ainda não ser possível um diagnóstico que ateste com certeza se, por
exemplo, uma criança nascida mediante DGPI não venha a apresentar nenhum problema
futuro decorrente da técnica. Ademais, é importante ressaltar que a “geração atual, cuja
herança genética é fixa, tem assim deveres e obrigações para com as futuras gerações”
(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2012, p. 298), o que reforça o aspecto da solidariedade
intergeracional.
88
Em uma visão mais ampla da manipulação genética da vida humana, inegável é que
qualquer intervenção em células germinativas (terapia gênica em células germinativas) afeta
diretamente o genoma do indivíduo e de sua descendência. No que diz respeito à manipulação
realizada em células somáticas (terapia gênica em células somáticas), apesar da comunidade
médica e científica afirmar que os reflexos da utilização da técnica não atinjam a
descendência, não existem comprovações suficientes que confirmem tal afirmação, o que
também coloca em dúvida os limites desse tipo de terapia, bem como se seus efeitos são
capazes de impactar nas gerações futuras, contrariando o art. 225 da CR/88. Conforme
afirmam Pessini e Barchifontaine,
existe a terapia somática que afeta apenas a pessoa que está sendo tratada, e a terapia
germinal, que implica mudanças que podem passar às gerações futuras. Até o
momento, todos os esforços na terapia genética em seres humanos se concentram
nas células somáticas. O grande receio é que, se a terapia genética somática em seres
humanos for aceita pela medicina, haverá fortes motivos para estender a terapia
genética também às células germinativas. Embora as terapias de células
germinativas e de zigotos sejam muito promissoras para o futuro, as incertezas
técnicas, o abuso da tecnologia do DNA para fins não terapêuticos levantam sérias
questões éticas acerca de nossa relação com a posteridade. Técnicas de junção de
genes podem ser usadas para a eugenia positiva a fim de mudar as características
básicas da natureza humana em vez de para curar desordens cromossômicas. (2012,
p. 300).
De todo modo, a preocupação com a manipulação genética da vida humana para o
meio ambiente tem razão de existir. Se hoje muito se discute a respeito dos perigos causados
pela ação de alimentos geneticamente modificados (transgênicos) para o organismo e para o
meio ambiente, muito maiores e mais preocupantes são os efeitos das manipulações genéticas
realizadas no próprio organismo humano, principalmente aquelas realizadas ainda na fase
embrionária. A falta de um rigor legislativo no tocante à manipulação genética da vida
humana abre espaço para tipos distintos de pesquisas, aumentando a ganância científica e
podendo culminar até no absurdo de se pensar na criação de “seres humanos transgênicos”, o
que seria ética e ambientalmente inadmissível.
Assim, apresentados os aspectos jurídicos e ambientais em torno do DGPI e das
outras formas de manipulação genética da vida humana, cabe analisar a questão da eugenia,
positiva e negativa, no DGPI, e seus impactos para o meio ambiente.
89
5 DGPI E AS POSSIBILIDADES NEOEUGÊNICAS
A moderna eugenia possui suas raízes ainda na Antiguidade. Assim, exemplos como
as regras de higiene do povo hebreu, os padrões de beleza física da Grécia Antiga e a prática
de medidas que visavam à purificação da raça dos espartanos, de forma a fortificar o famoso
exército de Esparta, são práticas que indicavam aspectos eugênicos já nas sociedades antigas.
Todavia, tais indícios não se encontravam apenas na antiguidade, sendo possível apontar
traços eugênicos em todos os períodos da história. Dessa forma, na idade média a noção de
superioridade não estava relacionada a um tipo de raça ou a características físicas de
determinada população, a superioridade era de um grupo religioso sobre outro (no caso,
cristãos sobre muçulmanos em relação à posse sobre a Terra Santa), ou seja, tratava-se de uma
superioridade ideológica. Já no Renascimento, as descobertas científicas e filosóficas que
marcaram o período conferiram material suficiente para o fortalecimento de práticas
segregacionistas. A publicação, em 1859, dos estudos de Charles Darwin sobre a origem das
espécies em que somente os mais bem adaptados possuíam condições suficientes para
sobreviver tornou-se um dos principais alicerces utilizados pelos teóricos da eugenia.
(DIWAN, 2011, p. 9-32).
Às formulações de Darwin, soma-se outro fato que também foi fundamental para a
origem do pensamento eugênico moderno: o cenário inglês que se estabeleceu na segunda
metade do século XIX. Nesse período, a Inglaterra, e especificamente sua capital Londres,
testemunhava o surgimento de um fenômeno novo, próprio da modernidade, a multidão. A
Londres do século XIX era caracterizada pelas intensas e exaustivas jornadas de trabalho
durante o dia, e pela agitada vida noturna, que tornava a atmosfera do meio operário sombria
e insalubre. Por outro lado, a classe burguesa se diferenciava cada vez mais dos operários,
caracterizando-se pela efervescência cultural e pelas discussões científicas e intelectuais que
ganhavam espaço no meio. Além disso, a fragmentação do espaço urbano foi acentuada pela
proliferação dos cortiços e suas péssimas condições de higiene. Tal cenário foi propício para
que a burguesia inglesa desenvolvesse um preconceito contra o trabalhador londrino. Por sua
vez, no final do século XIX, com o auge da Segunda Revolução Industrial, o trabalhador
tomou consciência de sua condição e iniciou um período de greves e insatisfações. Dessa
forma, foi diante dessa atmosfera de crise social e política, do aumento das epidemias, do
agravamento das péssimas condições de vida dos operários e do medo da “contaminação” da
90
classe burguesa, que higienistas e eugenistas encontraram meios ideais para a aplicação de
suas teorias. Com isso, é possível afirmar que
[...] historicamente, houve sempre o desejo de se proclamar a superioridade de um
grupo sobre o outro, ou de uma teoria sobre outra, ou mesmo de um tipo de regime
político sobre outro. Os melhores, os eleitos, os superiores sempre foram desejados
pelo poder. E pertencer ao grupo dos melhores sempre foi o objetivo de muitos, em
detrimento dos menos favorecidos. (DIWAN, 2011, p. 27).
Foi esse desejo de superioridade somado ao contexto de crise pelo qual passava a
Inglaterra que fez com que novas condutas sociais fossem aplicadas. Sob a perspectiva
higienista, havia a necessidade de se tratar as doenças que assolavam a população inglesa e,
ademais, a necessidade de se rever as condutas que causavam tais doenças. A solução para os
higienistas era o isolamento e a exclusão dos doentes, isto é, dos menos adaptados, o que
ocorreria por meio de reformas urbanas e de educação higiênica. Por outro lado, esse tipo de
conduta desagradava aos eugenistas, que afirmavam que a melhora das condições de vida dos
grupos menos favorecidos levaria à degeneração da “raça inglesa”. Assim, a solução para os
eugenistas estava na eliminação de “todos aqueles que contribuíam para a degeneração física
e moral, impedindo-os de procriar ou de se perpetuar na sociedade”. (DIWAN, 2011, p. 37).
Tais fatores culminaram no surgimento do welfare state, que buscava a criação de serviços e
organismos destinados a apoiar socioeconomicamente as demandas da população. Mas para
os eugenistas, o welfare state era antinatural, pois permitia a sobrevivência do menos apto, o
que seria uma espécie de “parasitismo”. Nesse sentido, “combater esse tipo de parasitismo era
contribuir para o progresso da sociedade, já que, com a eliminação do fardo social que
sobrecarrega o Estado, o progresso da civilização estaria garantido”. (DIWAN, 2011, p. 37).
Esse contexto levou o médico e matemático Francis Galton, primo de Charles
Darwin, a iniciar importantes estudos que findariam na ideia moderna do termo eugenia e o
caracterizariam posteriormente como “o pai da eugenia”.
Assim, a importância de Darwin para a vida de Galton é muito significativa, já que a
teoria evolucionista daquele foi a inspiração para que Galton desenvolvesse sua teoria social,
cujo principal objetivo era a evolução da raça. Entretanto, as ideias de ambos se distanciaram
posteriormente, quando dos estudos sobre a transmissão de caracteres, que para Darwin sofria
alterações pelo meio ambiente, e para Galton, não. Com isso, em 1865, Galton publicou o seu
primeiro trabalho intitulado Hereditary Talent and Character, sobre o estudo estatístico do
parentesco, que esboçava os princípios da teoria eugênica. Em 1869 Galton reforçou suas
ideias com a publicação de Hereditaty Genius, ocasião em que desenvolveu um pouco mais
91
sua teoria eugênica e o estudo sobre a distribuição do talento nas populações (que seria
hereditário, e não resultado de influências do meio ambiente). (DIWAN, 2011, p. 9-46). Anos
mais tarde, Galton passou a estudar soluções para um dos maiores problemas da teoria
eugênica, que era a seleção dos mais aptos e a eliminação ou controle dos inaptos dentro de
cada classe social.
Entretanto, foi somente em 1883, com a publicação do livro Inquiries into human
faculty and its development, que Galton realizou um neologismo que conjugava “os sentidos
do eu, próprio, e o genos, espécie, raça, linhagem” (FRAGA; AGUIAR, 2010, p. 122-123),
ocasião, também, em que o termo eugenia foi utilizado pela primeira vez. Nesse livro Galton
concluiu que a seleção natural proposta por Darwin deveria ser complementada por uma
seleção artificial, de maneira a se alcançar no futuro o progresso físico e moral.
(MEIRELLES, 2013). Com isso,
Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes, sob o controle social, que podem
melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, seja física ou
mentalmente. [...]. Galton, porém, foi o responsável pela estruturação de métodos
científicos, principalmente o estatístico e o matemático, no sentido de promover a
eliminação de caracteres físicos e psíquicos não desejáveis, mediante práticas
eugênicas. (FRAGA, AGUIAR, 2010, p. 123).
Nos dizeres de Fraga e Aguiar a “tentação eugênica, ou seja, a permanente
preocupação em relação ao que se entende por aprimoramento da espécie, principalmente
através de sua descendência” (2010, p. 122), existe há muito tempo e geralmente é pensada
por meio do viés biológico, apesar das inúmeras tentativas de seleção de seres mais aptos
psíquica e intelectualmente.
O risco de eugenia, dessa maneira, é algo que acompanha o desenvolvimento da
humanidade desde os primórdios. O fato de o termo ter adquirido “corpo” apenas no final do
século XIX não afasta as evidências de práticas eugênicas desde os tempos mais antigos.
Entretanto, a teoria de Galton foi utilizada como arma política de discriminação social e
limpeza étnica por diversos países e em diversas épocas da história, ora com mais radicalismo
(como na Alemanha nazista), ora de maneira mais “sutil” (como a lei de esterilização
implantada nos Estados Unidos no início do século XX). Por outro lado,
[...] no período pós-guerra, a genética molecular e as descobertas sobre o DNA
reorientam o debate em torno da biologia humana. As concepções sobre a
hereditariedade e a evolução mudam na década de 1950 e a eugenia torna-se
sinônimo de extremismo e obscurantismo. Suas teses se dissiparão gradualmente
após a década de 1960. A eugenia cairá num sono profundo do qual só acordará com
os debates sobre ética reavivados pelas técnicas de reprodução assistida, fertilização
92
in vitro e com as descobertas sobre o mapeamento genético, a partir do início dos
anos 1980. (DIWAN, 2011, p. 49).
Em consequência disso, com os avanços advindos da descoberta do genoma humano,
que forneceu material suficiente para a disseminação de novas práticas eugênicas, a questão
da eugenia voltou a ser discutida, mas sob outro viés: o da manipulação genética embrionária.
Assim, na atualidade, a eugenia passou a ser associada ao progresso técnico-científico,
adquirindo o status de “neoeugenia” ou “eugenia liberal”. Nos dizeres de Ana Thereza
Meirelles,
em torno das mudanças sociais e das novas demandas de mercado, que revelam, na
verdade, vontades individuais, movidas por objetivos específicos, pode-se situar a
eugenia liberal ou neoeugenia. Esta prática seletiva propicia a concretização de
desejos advindos do atual estágio do desenvolvimento científico e descortina uma
realidade de riscos não claramente conhecidos porque lida com o conhecimento
biotecnológico. Esse é o estágio atual da eugenia. (2013).
A neoeugenia se diferencia da eugenia tradicional, pois esta se direciona a um
determinado grupo de pessoas, enquanto aquela possui um viés genético e se direciona
normalmente a um indivíduo específico ou a um casal e seus futuros descendentes. Apesar do
caráter individual da neoeugenia, há que se ressaltar que por ser uma prática que lida
diretamente com o genoma humano, existe uma preocupação evidente com os reflexos que ela
pode apresentar para as gerações futuras.
Para Habermas, a eugenia liberal não reconhece o limite entre aquelas intervenções
que seriam terapêuticas e aquelas cuja finalidade seria o mero aperfeiçoamento genético da
descendência. A neoeugenia deixa a cargo de cada indivíduo a escolha sobre os objetivos das
intervenções realizadas que, conforme a preferência de cada um, podem simplesmente visar
alterações nas características dos futuros filhos, que em nada se aproximam do aspecto
terapêutico. (2010, p. 27).
Também é um traço característico da neoeugenia a transposição das fronteiras entre
aquilo que é dado pela natureza e aquilo que é disponível ao homem, fato que afeta a
“autocompreensão moral atual de uma forma qualitativamente diferenciada daquela que até
agora ocorreu”. (DUTRA, 2005). Esse traço da neoeugenia abriria espaço para a segregação
da população em dois grupos, o primeiro daqueles naturalmente concebidos, com toda a
fragilidade própria da natureza humana, e o segundo daqueles geneticamente programados,
com todas as vantagens daí advindas.
Assim, a neoeugenia pode adquirir duplo aspecto: um negativo, que tem por
finalidade eliminar ou afastar a descendência indesejada, por meio, por exemplo, do descarte
93
de embriões com alguma anomalia genética; e um aspecto positivo, que busca a seleção de
características desejadas para o futuro filho, como cor de olhos e cabelos, e alguns padrões
fenotípicos.
A técnica do DGPI, por suas peculiaridades, permite a análise clara das dimensões
positiva e negativa da neoeugenia, bem como da sua relação com o meio ambiente. Nesse
contexto de neoeugenia e DGPI, é que Habermas prevê o desenvolvimento de um cenário, em
médio prazo, que poderia se apresentar da seguinte maneira:
na população, na esfera pública da política e na esfera parlamentar, impõem-se
inicialmente a ideia de que o recurso ao diagnóstico genético de pré-implantação
deve ser considerado por si só como moralmente admissível ou juridicamente
aceitável, se sua aplicação for limitada a poucos e bem definidos casos de doenças
hereditárias graves que não poderiam ser suportadas pela própria pessoa
potencialmente em questão. Posteriormente, em virtude dos avanços biotécnicos e
dos êxitos na terapia genética, a permissão será estendida para intervenções
genéticas em células somáticas (ou até em linhagens germinativas), a fim de
prevenir essas doenças hereditárias e outras semelhantes. (2010, p. 26).
A partir desse segundo passo, que é coerente com as premissas da primeira decisão, é
que surgiria, segundo Habermas, a necessidade de separação entre a eugenia negativa
(justificada) e a eugenia positiva (inicialmente injustificada). Entretanto, esse limite entre o
positivo e o negativo é bastante flutuante na contemporaneidade, o que dificulta o
estabelecimento de fronteiras precisas entre o que é permitido e justificável e o que é proibido
e totalmente injustificável. Com isso, a delimitação do que seria um ato preventivo e o que
seria um ato eugênico, de preocupação estritamente ética passa a ser objeto de análise jurídica
e ambiental, na medida em que possui reflexos e impactos significativos para os dois campos.
Todavia, para a compreensão desses impactos é necessária a distinção clara entre o que hoje
se denomina neoeugenia negativa e o que se denomina neoeugenia positiva, dentro do
contexto do diagnóstico genético pré-implantação.
5.1 Neoeugenia negativa
Antes da análise da neoeugenia negativa, cumpre ressaltar que classicamente a
eugenia negativa visava ao segundo aspecto do ideal eugênico, isto é, “diminuir o número dos
seres não eugênicos ou disgênicos e incluía basicamente a limitação ao casamento e
procriação daqueles assim considerados”. (MAI; ANGERAMI, 2006). Além disso, havia a
94
proposta de um maior controle governamental sobre o casamento e sobre a reprodução,
estando a procriação desaconselhada nos casos de consanguinidade do casal ou de idade
materna avançada.
Pautada na busca pela cura e prevenção de doenças e anomalias de origem genética,
a neoeugenia negativa materializa-se por meio de um conjunto de ações de caráter restritivo,
diretamente relacionadas ao patrimônio genético do indivíduo.
No diagnóstico genético pré-implantação, a neoeugenia negativa ocorre sempre que
um casal, portador de alguma doença ou anomalia genética, procura um profissional da saúde
a fim de evitar que sua descendência padeça dos mesmos males. Nesse caso, os avanços da
tecnologia permitem que o casal conheça as características genéticas do futuro filho e opte por
implantar aqueles embriões livres de qualquer traço capaz de desenvolver a doença genética
da qual um ou ambos são portadores, ou alguma outra doença detectada pelo diagnóstico.
A neoeugenia negativa no contexto do DGPI está diretamente relacionada ao direito
à saúde, garantido constitucionalmente tanto pelo art. 6º (que o elenca como um direito
social), quanto pelo art. 196 que prevê que “a saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”. (BRASIL, CR/88, art. 196).
Sabe-se que a doença e as deficiências fazem parte da humanidade, ou seja, são
características da biologia humana, que se apresentam em diferentes indivíduos e de
diferentes maneiras, “causando dores e sofrimentos de distintas ordens”. (VILAÇA; DIAS,
2013, p. 62). Entretanto, o fato de uma doença fazer parte da vida humana, não quer dizer que
ela seja desejada, pelo contrário, doenças e deficiências são indesejáveis, “exemplos de causas
de dor e sofrimento nos humanos, tidas, por vezes, como uma forma de punição”. (VILAÇA;
DIAS, 2013, p. 63).
Com isso, a redução do risco de doença seria uma opção do indivíduo e, acima de
tudo, um direito garantido constitucionalmente, pelo que a realização de um exame cuja
finalidade precípua é evitar a implantação de embriões doentes estaria de acordo com os
ditames constitucionais. Dessa forma, a eugenia negativa, ao menos em princípio, não teria a
intenção de segregar uma parcela da população, mas tão somente de evitar a ocorrência de
doenças graves que, provavelmente, levariam à morte prematura do futuro bebê ou então o
deixariam em uma situação de total dependência de terceiros.
A grande questão em torno da eugenia negativa é que, ao menos até então, a opção
pela realização do exame e pela implantação ou não de determinado embrião cabe somente
95
aos genitores, isto é, é uma decisão individual, embasada apenas pelo direito de escolha e de
decisão dos pais. Entretanto, há de se ressaltar que, apesar de aparentemente ser essa uma
decisão que diz respeito somente àquele casal, os reflexos da escolha repercutem para toda a
coletividade. Ademais, não pode ser desconsiderado o peso que o contexto social em que os
pais estão inseridos exerce sobre a sua decisão, razão pela qual a própria origem do desejo dos
pais em realizar tal exame deve ser questionada, a fim de apurar a sua real motivação. Vilaça
e Dias sustentam
[...] a liberdade de escolha individual baseada no que constitui o horizonte
hermenêutico do indivíduo – fatores sociais (culturais, ideológicos, religiosos,
éticos, políticos) e características biológicas particulares – como uma forma de
regular alguns efeitos biopolíticos do melhoramento humano biotecnocientífico.
(2013, p. 65).
Dito isso, é possível afirmar que, até o presente momento, a responsabilidade pela
escolha tanto da realização do diagnóstico quanto da implantação dos embriões é dos pais
(apesar da existência do aconselhamento genético), e envolve valores sociais bastante
subjetivos, como os acima elencados por Vilaça e Dias. É possível afirmar, também, que
muitas vezes, a motivação dos pais possui um aspecto individual, ligado tão somente à
preocupação de gerar crianças geneticamente sadias. Entretanto, sabe-se que as consequências
de uma manipulação genética embrionária não afetam somente a um indivíduo específico,
mas a toda sua descendência, razão pela qual, nos dizeres de Habermas, “a manipulação dos
genes toca em questões relativas à identidade da espécie, sendo que a autocompreensão do
homem enquanto um ser da espécie também compõe o contexto em que se inscrevem nossas
representações do direito e da moral”. (2010, p. 32).
A partir do momento em que a técnica passa a ter implicações sobre o genoma e
sobre a identidade da espécie humana, a questão deixa de ser individual, ou apenas
relacionada a um determinado grupo de pessoas, e passa a ser coletiva, ou melhor, passa a ser
uma questão de meio ambiente. Nesse ponto, pelo menos três direitos constitucionais estão
em jogo: o direito à saúde (da futura criança), o direito à dignidade (tanto do embrião quanto
da futura criança) e o direito de ter o meio ambiente ecologicamente equilibrado preservado
para as futuras gerações (na medida em que não se sabe ao certo as consequências da
manipulação genética embrionária). Não se trata, entretanto, de escolher um dentre tais
direitos, mas sim de compatibilizar esses direitos e garantir a prevalência de todos, mesmo
que em maior ou menor grau. Delamar Dutra, discorrendo sobre a eugenia, afirma que “a
dificuldade da questão reside na importância do que está em jogo, de tal forma que cabe a
96
pergunta se a resposta deve ser deixada ao capricho narcisístico das preferências ou se os
fundamentos naturais e normativos da vida humana merecem um outro tratamento”.
(DUTRA, 2005).
A neoeugenia negativa aplicada ao DGPI, portanto, visa garantir, principalmente, o
direito constitucional à saúde. Por outro lado, por tratar-se de um aspecto que envolve a
autonomia da vontade e o direito de escolha dos pais, é aconselhável que o direito, apoiado
pela medicina, estabeleça critérios que possibilitem classificar determinadas doenças e
anomalias genéticas como suficientemente graves (o que não deixa de ser uma questão
extremamente delicada) para justificar a realização do diagnóstico genético27
. Essa poderia ser
uma maneira de o direito compatibilizar os avanços técnico-científicos com a necessidade da
segurança jurídica, pois se adotasse uma postura mais rígida (por exemplo, por meio da
edição de uma lista de doenças que autorizasse o DGPI), o direito estaria “engessando” a
ciência e a medicina e agindo de maneira muito intervencionista. Por outro lado, ao não se
posicionar sobre o tema, o direito abre caminho para a realização indiscriminada do DGPI e
sua posterior utilização para outros fins. Assim, acredita-se que uma postura mediana, que
garantisse a segurança jurídica e mantivesse a preocupação com a precaução, seria a mais
adequada e evitaria que a neoeugenia, de negativa, passasse à positiva.
5.1 Neoeugenia positiva
A neoeugenia positiva é mais fácil de ser compreendida e, por suas características, é
amplamente rejeitada. Assim, no início do século XX, a eugenia positiva voltava-se
basicamente a ações que estimulassem a boa reprodução. Hoje, no início do século XXI, a
neoeugenia positiva “especula sobre criar ou melhorar características físicas e mentais do
futuro ser”. (MAI; ANGERAMI, 2006).
27
Mesmo nesse caso, a opção pela implantação ou não do embrião caberia única e exclusivamente aos pais. A
opção por criar critérios para a classificação de doenças e anomalias que autorizassem a realização do
diagnóstico genético seria apenas uma maneira de auxiliar os pais nessa difícil decisão e, evidentemente, de se
evitar a “popularização” da técnica e seu uso indiscriminado. De todo modo, mesmo que a legislação elencasse
esses critérios, o fato de uma determinada doença ser considerada como grave, de forma alguma, levaria a
obrigatoriedade da realização do DGPI. Ao contrário, o diagnóstico continuaria a ser uma indicação médica e
uma opção do casal. Não pode o Estado obrigar ninguém que queira engravidar e apresente alguma
predisposição a transmitir doenças genéticas a realizar um exame e, muito menos, a não implantar determinado
embrião. Esse cenário feriria totalmente o direito à liberdade, à diferença, à dignidade e a autonomia da vontade.
97
Dessa forma, a neoeugenia positiva tem como finalidade a seleção de determinados
caracteres como sexo, cor de olhos, cabelo, estatura, a melhoria ou a criação de competências
humanas como “inteligência, memória, criatividade artística, traços do caráter e várias outras
características psicofísicas, no sentido de potencializá-las nos diversos contextos do convívio
social”. (MAI; ANGERAMI, 2006).
Não existe respaldo ético ou legal para a realização da neoeugenia positiva. A técnica
do DGPI permite a seleção de sexo, mas somente nos casos em que a doença em questão
estiver diretamente relacionada a um determinado sexo, conforme item 4 da Resolução
2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina: “As técnicas de RA não podem ser aplicadas
com a intenção de selecionar o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer
outra característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenças ligadas
ao sexo do filho que venha a nascer”. (CFM, 2013). Com isso, fica proibida a seleção de
qualquer característica biológica o que, além de contrariar as orientações do CFM, é ética e
moralmente inaceitável.
Habermas, realizando um paralelo hipotético entre os casos em que houve a seleção
embrionária com fins meramente terapêuticos e aqueles em que a escolha teria por objetivo a
eugenia positiva, por meio da seleção de determinadas características, afirma que:
Para tal intervenção pré-natal, um paciente preventivamente “curado” pode, no
futuro, comportar-se, enquanto pessoa, de forma diferente de alguém que vem a
saber que sua constituição genética foi programada – por assim dizer, sem o acordo
virtual e somente em função das preferências de um terceiro. Somente nesse caso a
intervenção genética assume a forma de uma “tecnicização” da natureza humana.
Diferentemente da intervenção clínica, o material genético é então manipulado a
partir da perspectiva de alguém que age de forma instrumental, e que, por meio de
sua “colaboração”, provoca um estado desejado no campo do objeto, segundo seus
próprios objetivos. Intervenções que alteram as características genéticas constituem
um fato da eugenia positiva quando ultrapassam os limites estabelecidos pela
“lógica da cura”, ou seja, da ação, supostamente aprovada, de evitar males. (2010, p.
73-74).
Assim, conforme Habermas, a neoeugenia positiva seria uma forma de
instrumentalização da vida humana, que seria produzida sob condições e em função de
preferências estabelecidas por terceiros. A consequência dessa neoeugenia positiva seria a
alteração da autocompreensão ética da espécie, ou seja, o ser humano geneticamente
modificado deixaria de se compreender como um ser vivo eticamente livre e moralmente
igual aos demais humanos não manipulados, orientado por certas normas e fundamentos.
(HABERMAS, 2010, p. 57).
98
Independentemente de ser essa consequência passível ou não de comprovação, fato é
que a neoeugenia positiva possui um aspecto discriminatório acentuado, pois visa à
“produção” de seres humanos altamente capacitados e com características físicas
predeterminadas. Tal fato vai de encontro a vários objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil dispostos no art. 3º da CR/88, dentre os quais, destacam-se aqueles
previstos no inciso IV: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. (BRASIL, 1988). Assim, a utilização
da técnica do DGPI com qualquer outra finalidade diferente da terapêutica é incompatível
com os ditames constitucionais brasileiros. Resta saber, portanto, como a neoeugenia, em
todos os seus aspectos, age sobre o meio ambiente e quais impactos ela é capaz de provocar.
5.3 Neoeugenia e meio ambiente
Em matéria ambiental a questão da manipulação genética embrionária está
diretamente ligada ao genoma humano e ao patrimônio genético da pessoa humana. Assim,
em termos constitucionais, a proteção do tema está disposta no art. 225, §1º, II (“preservar a
diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas
à pesquisa e manipulação de material genético”) e V (“controlar a produção, comercialização
e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente”), bem como pelo inciso III do art. 1º (que assegura a dignidade da
pessoa humana). O tema também foi abordado e regulamentado pela Lei nº 11.105/2005, “que
define no âmbito infraconstitucional a tutela jurídica dos mais importantes materiais genéticos
vinculados à pessoa humana”. (FIORILLO, 2011, p. 80).
Dessa maneira, toda e qualquer interferência sobre o genoma humano atingirá,
mesmo que indiretamente, o meio ambiente.
Com relação à neoeugenia, os fatores que devem ser levados em consideração dizem
respeito, principalmente, à preocupação com as gerações futuras. No tocante à neoeugenia
negativa, o primeiro ponto que leva a essa preocupação diz respeito ao fato da ciência ainda
não ter meios suficientes para apresentar quais as reais consequências que a manipulação
genética embrionária pode trazer para o próprio embrião manipulado. Isso ocorre, pois as
primeiras crianças nascidas por meio, por exemplo, do DGPI, ainda não alcançaram idade
suficiente para a comprovação de que o exame realmente não acarreta nenhum risco para o
99
embrião e, consequentemente, para a criança, o que iria de encontro ao inciso V do art. 225 da
CR/88.
Ainda com relação à neoeugenia negativa, existe a preocupação de que as técnicas de
manipulação, principalmente o DGPI, sejam utilizadas de maneira indiscriminada para toda e
qualquer doença e acabem por gerar um número muito superior ao atual de embriões
“inviáveis” (e aí o conceito de inviabilidade seria ainda mais polêmico e controverso).
Ademais, a utilização do DGPI para qualquer tipo de doença levaria a uma busca desenfreada
por uma criança totalmente livre de qualquer doença genética, o que causaria danos, inclusive
para a mãe (que se sujeitaria ainda mais aos riscos e consequências decorrentes das altas
dosagens hormonais necessárias para a estimulação e produção dos óvulos necessários para a
realização da fertilização e, posteriormente, do DGPI). Tal cenário poderia causar danos tanto
ao meio ambiente, no que diz respeito aos embriões inviáveis, quanto à qualidade de vida da
mãe, novamente ferindo o inciso V do art. 225 da CR/88.
Outra questão, relativa à neoeugenia positiva, diz respeito ao risco de se criar uma
série de “super pessoas”, que perderiam sua compreensão como seres da espécie humana, com
todas as suas características e fragilidades. Para Habermas isso também afetaria a relação
entre as gerações, que abandonaria a “naturalidade que até então pertencia ao pano de fundo
trivial” (2010, p. 99) da autocompreensão ética da espécie. Ainda com relação às gerações
futuras, o mesmo autor afirma que:
Hoje, precisamos nos perguntar se eventualmente as gerações futuras vão se
conformar com o fato de não mais se conceberem como autores únicos de suas vidas
– e também de não serem mais responsabilizadas como tal. Será que essas gerações
se contentarão com uma relação interpessoal, que não se adapta mais às condições
igualitárias da moral e do direito? (HABERMAS, 2010, p. 93).
A escolha por certas características, por conseguinte, comprometeria a diversidade
do patrimônio genético humano, e em certo sentido, a dignidade daqueles que foram
concebidos naturalmente (que se sentiriam inferiores aos geneticamente favorecidos), o que
feriria os dispositivos constitucionais em questão.
Dessa forma, a preocupação com a neoeugenia em matéria ambiental em muito se
relaciona as incertezas geradas pela manipulação genética embrionária e suas consequências,
mesmo que no plano da probabilidade, para as futuras gerações.
A diversidade e as características do genoma humano devem ser asseguradas, de
maneira a evitar, numa perspectiva mais pessimista, o desaparecimento de alguns grupos de
100
seres humanos, classificados como “inferiores” ou “desprivilegiados”, colocando em risco a
espécie humana.
Dessa forma, todo tipo de manipulação ou intervenção envolvendo a vida humana e
o genoma humano deve sempre levar em consideração os possíveis riscos para o organismo
do indivíduo manipulado, para sua descendência e, principalmente, para o meio ambiente.
Deve, portanto, ser uma ação pautada, principalmente, na responsabilidade, na precaução e na
solidariedade intergeracional.
Devemos pensar nos efeitos que nossas ações e decisões irão exercer sobre toda a
humanidade. Responsabilidade é, portanto, solidariedade com toda a humanidade e a
espécie humana. Temos responsabilidade de não usar a biotecnologia com a
finalidade de afetar negativamente o futuro da espécie como tal, a curto ou a longo
prazo. Temos a responsabilidade de preservar a unidade e a integridade da espécie
humana. É irresponsável a tendência arrogante de prosseguir na biotecnologia sem
levar em conta todas as possíveis consequências em relação ao futuro. (PESSINI;
BARCHIFONTAINE, 2012, p. 302).
Com a análise da neoeugenia, apresentou-se o último elemento necessário para a
exposição dos impactos causados pela manipulação genética embrionária, aqui estudada
principalmente pela técnica do diagnóstico genético pré-implantação, no meio ambiente,
objeto das considerações finais.
101
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os mistérios envolvendo a vida humana sempre aguçaram a curiosidade do ser
humano. As dúvidas e incertezas acerca de cada fase do desenvolvimento humano ainda são
alvo de especulação científica.
Com o advento da técnica e as possibilidades por ela conferidas, a distância entre o
desconhecido e o dominado pelo homem se encurtou. A ciência finalmente deu o grande
passo para a revelação dos enigmas da vida humana.
A descoberta do DNA e a decodificação do genoma humano possibilitaram ao
homem estudar a sua espécie sob uma nova ótica: a do genoma. A partir do momento em que
o genoma é analisado, uma série de informações sobre o indivíduo e sua descendência é
exposta aos olhos atentos da ciência.
Com isso, a técnica retirou da natureza o privilégio de fazer surgir uma nova vida e o
entregou ao homem. Entretanto, com esse privilégio novas situações envolvendo a vida
humana surgiram, o que antes habitava o plano da abstração começou a ganhar forma. As
novas situações trazidas pela técnica, todavia, possuem um alcance muito maior do que o
inicialmente imaginado. A aplicação da técnica moderna atinge, além do ser ou indivíduo alvo
da sua aplicação, todo o seu entorno, todo o ambiente que o cerca. Inegável é, portanto, que
toda forma de intervenção na vida humana repercutirá no meio ambiente.
No campo da genética médica os progressos da ciência trouxeram, além da esperança
da cura de doenças graves, a possibilidade de intervir na vida humana ainda em sua fase
embrionária, de forma a evitar a propagação de uma carga hereditária negativa. Todavia, essa
esperança veio acompanhada de incertezas e riscos que podem trazer graves consequências
para o meio ambiente.
As terapias genéticas, de maneira geral, carregam a expectativa do sucesso
terapêutico e da devolução da qualidade de vida para os doentes. Por outro lado, terapias
genéticas trabalham com a introdução ou modificação de genes, isto é, com o genoma
humano.
Terapias genéticas realizadas em células germinais (TGCG) necessariamente
modificam a carga genética do indivíduo e de sua descendência. Nesse caso, a ciência, mesmo
que amparada no argumento terapêutico, está interferindo diretamente na vida de toda uma
descendência. Está manipulando a vida e impactando no meio ambiente. Quão segura é uma
intervenção direta em células germinativas humanas? O quanto essa intervenção afeta o
102
patrimônio genético humano? Não há como afirmar. Nem mesmo a ciência foi capaz, com
segurança, de esclarecer os riscos e consequências desse tipo de manipulação genética.
Todavia, sabe-se que não há como admitir situações de incertezas, principalmente no âmbito
jurídico. O risco, mesmo que suspeitado, deve ser evitado, na medida em que seus resultados
são irreversíveis ou se perpetuam por muitos anos. Nesse sentido é importante que a atuação
da ciência se dê apoiada no princípio da precaução, ferramenta importante na gestão de riscos,
principalmente dos riscos ambientais, e que deve ponderar a real necessidade da intervenção e
os potenciais perigos que ela pode causar.
Mesmo nos casos em que a terapia genética é realizada em células somáticas, não se
sabe se seus efeitos são capazes de atingir de algum modo a descendência do indivíduo, o que
também coloca em dúvida os seus riscos e efeitos para o meio ambiente, que tem como um de
seus princípios justamente a solidariedade intergeracional. Assim, a solidariedade, nesse caso,
mais do que um dever de preservação do ambiente para as futuras gerações, é um dever de
preservação da unidade e da integridade da própria espécie humana, que não pode ser
colocada em risco pela ciência.
Já nos casos de manipulação genética embrionária por meio do diagnóstico genético
pré-implantação, os impactos para o meio ambiente começam desde a discussão acerca da
viabilidade da realização do exame.
Sem negar as cargas ética e moral que acompanham o tema, fato é que o próprio
processo para a realização do DGPI já envolve um impacto significativo no organismo da
mulher, por meio das altíssimas dosagens hormonais necessárias para a produção de um
número excedente de óvulos para a fertilização in vitro, alterando expressivamente o ciclo
natural do organismo. Posteriormente, já na fase de realização do diagnóstico, a escolha do
método utilizado trará consequências diversas. A limitação qualitativa da técnica da PCR, que
geralmente analisa uma única célula embrionária, traz a incerteza do resultado. O fato de a
FISH não ser capaz de analisar todos os cromossomos exclui um rol importante de doenças e
aumenta as chances de erro de diagnóstico, além do fato de ainda não ser possível afirmar se a
técnica pode causar danos ao embrião. Com relação ao PGD-24, apesar de ser um método
com capacidade de análise de todos os cromossomos, o fato de o embrião ter de alcançar o
estado de blastocisto leva ao risco da perda de todos os embriões obtidos. Para todos os
métodos, existe a questão dos embriões não selecionados: o que fazer com aqueles embriões
que não foram considerados “aptos” para a implantação no útero materno? Sem dúvida
alguma, esse é um questionamento cuja resposta, inevitavelmente, impactará diretamente no
meio ambiente. Apesar de não ser a resposta mais usual para o questionamento, quando o
103
destino dos embriões “não aptos” é o congelamento, o impacto para o meio ambiente é
percebido já de início, pois manter um embrião congelado por tempo indeterminado além do
alto custo financeiro levanta um fator frequente na atualidade, que é o que questiona se o
congelamento por tempo indeterminado não prejudica o desenvolvimento futuro do embrião
ou até mesmo inviabiliza uma provável implantação. Se a opção for pelo descarte
embrionário, além da dúvida de se estar descartando uma vida em potencial, surge também a
pergunta se o descarte de embriões que provavelmente (visto não ser possível afirmar com
100% de certeza) apresentem algum tipo de doença genética não estaria interferindo na
variabilidade, na diversidade da espécie humana, já que se opta pela implantação de embriões
com características específicas, no caso a não ocorrência de doenças genéticas. Já a opção
pela doação do embrião para pesquisa retoma a discussão acerca da instrumentalização da
vida humana e da necessidade de preservação de uma provável vida versus a necessidade de
se encontrar meios para a garantia da saúde e da qualidade de vida daqueles indivíduos já
nascidos.
Até mesmo os motivos que levam a escolha de determinado embrião causam impacto
no meio ambiente. O fato de alguém selecionar um embrião livre de qualquer doença ou
anomalia genética, apesar de inicialmente ter como finalidade a preservação do direito à saúde
e à qualidade de vida, interfere na natureza da vida humana, que por si só possui traços de
fragilidade. Contudo, o maior problema dessa escolha é não ser possível afirmar com
segurança se as técnicas utilizadas para a realização do DGPI são capazes de causar danos à
futura criança e/ou aos seus descendentes. Ademais, as possibilidades conferidas pelo DGPI
permitem a utilização da técnica para outros fins, que não o terapêutico. Com isso, fala-se no
risco da neoeugenia que, de forma clara, interfere no meio ambiente, pois a possibilidade de
segregação das pessoas por suas características genéticas, ou, na pior das hipóteses, a
possibilidade de se escolher quais características são desejáveis para os futuros bebês coloca
em risco, novamente, a diversidade da espécie humana. Não há como defender um meio
ambiente ecologicamente equilibrado quando a própria diversidade da espécie humana é
colocada em risco.
Assim, a possibilidade da criação de uma geração de “super pessoas”, além de ética e
moralmente inaceitável, viabiliza a segregação dos indivíduos entre aqueles “bons” (ou
geneticamente favorecidos) e aqueles “ruins” (ou geneticamente desfavorecidos), acentuando
o aspecto neoeugênico.
104
Soma-se a tudo isso, o risco de se alcançar uma manipulação genética tão profunda
que seria capaz de culminar no absurdo de se cogitar um “ser humano transgênico”,
modificando totalmente o aspecto natural do meio ambiente.
O que se percebe, com isso, é que o progresso técnico-científico, ao mesmo tempo
em que traz esperança para a cura de doenças, para a melhora da saúde e da qualidade de vida
das pessoas, possui riscos capazes de apresentar consequências negativas para o próprio
indivíduo manipulado, para sua descendência e para o meio ambiente.
O direito, nesse aspecto, deve atuar como um mediador entre a necessidade de
progresso e a necessidade de preservação do genoma humano, da vida humana e do meio
ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.
Sabe-se que a ciência evolui mais rapidamente que o direito, o que o coloca diante de
desafios de difícil solução. Tal fato, inevitavelmente, cria uma lacuna jurídica entre o quanto a
ciência pretende avançar e os riscos que o direito consegue prever, forçando-o a adotar uma
postura de “espera prudente”, que reforça sua faceta mediadora.
Como último ponto, importa destacar que por tratar de situações que carregam
aspectos éticos e morais delicados, a bioética exerce papel fundamental nos casos de
manipulação genética embrionária humana, devendo, assim como o direito, adotar um papel
intermediador entre o que é necessário e o que é ética e moralmente permitido. Dessa
maneira, a bioética também atuará a fim de minimizar os impactos da manipulação genética
embrionária humana para o meio ambiente.
105
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Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de
Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória
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