manifestacao durante audiencia publica na alerj

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MANIFESTAÇÃO DURANTE AUDIÊNCIA PÚBLICA NA ALERJ NO DIA 12/08/2013 João Batista Damasceno, juiz de direito, membro da Associação Juízes para a Democracia/AJD. Excelentíssimo senhor Deputado Paulo Ramos, Excelentíssimo Senhor Deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, Excelentíssimo Senhor Deputado Comte Bittencourt, excelentíssimas autoridades, senhoras e senhores, Antes de me reportar aos autos de resistência, que é uma espécie das violações aos direitos fundamentais que vêm sendo praticados pelo Estado no Rio de Janeiro, vou me reportar a outras espécies de abusos e aos papéis que são desempenhados pelas instituições em nosso Estado que tem servido de escola para outras policias no Brasil. Muitos são os abusos que se praticam contra a cidadania. Todos vêm envolvidos em roupagem institucional, verdadeiras farsas, buscando legitimar o ilegitimável e tentar fazê-los parecer com atos legais. Mas, somente a miopia institucional ou a conivência permite tais comportamentos de quem tem o dever de resguardar o Estado de Direito e estabelecer as diretrizes de funcionamento da Administração Pública. Refiro-me ao uso imoderado da violência, e portanto uso de violência ilegítima, às prisões para averiguação, aos latrocínios, e aos autos de resistência no âmbito da atividade policial. Mas, também precisamos abordar as investigações feitas pelo Ministério Público, o emprego de

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TEXTO DO DR. JOÃO BATISTA DAMASCENO - JUIZ DE DIREITO DO TJRJ E MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA / AJD - ANÁLISE DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO

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Page 1: Manifestacao durante audiencia publica na alerj

MANIFESTAÇÃO DURANTE AUDIÊNCIA PÚBLICA NA

ALERJ NO DIA 12/08/2013

João Batista Damasceno, juiz de direito,

membro da Associação Juízes para a

Democracia/AJD.

Excelentíssimo senhor Deputado Paulo Ramos, Excelentíssimo

Senhor Deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, Excelentíssimo Senhor

Deputado Comte Bittencourt, excelentíssimas autoridades, senhoras e

senhores,

Antes de me reportar aos autos de resistência, que é uma espécie das

violações aos direitos fundamentais que vêm sendo praticados pelo Estado

no Rio de Janeiro, vou me reportar a outras espécies de abusos e aos papéis

que são desempenhados pelas instituições em nosso Estado que tem servido

de escola para outras policias no Brasil.

Muitos são os abusos que se praticam contra a cidadania. Todos vêm

envolvidos em roupagem institucional, verdadeiras farsas, buscando

legitimar o ilegitimável e tentar fazê-los parecer com atos legais. Mas,

somente a miopia institucional ou a conivência permite tais

comportamentos de quem tem o dever de resguardar o Estado de Direito e

estabelecer as diretrizes de funcionamento da Administração Pública.

Refiro-me ao uso imoderado da violência, e portanto uso de

violência ilegítima, às prisões para averiguação, aos latrocínios, e aos autos

de resistência no âmbito da atividade policial. Mas, também precisamos

abordar as investigações feitas pelo Ministério Público, o emprego de

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policiais militares em órgãos do MP, os fundamentos dos pedidos de

arquivamento dos autos de resistência e o próprio arquivamento dos autos

de resistência pelo Poder Judiciário.

O modo de atuação da polícia no tempo presente é expressão do

Estado Policial e se contrapõe ao Estado de Direito. Um Estado Policial

não se caracteriza, necessariamente, pelo poder da policia. Mas, pelo

funcionamento obsessivo e opressivo dos órgãos do Estado, com acentuada

e prepotente intervenção na vida cotidiana e simplificação dos

procedimentos, em contraposição à complexidade das relações sociais, à

dignidade da pessoa humana e a civilidade que possibilita a existência

comum.

Nas recentes manifestações tivemos a mais candente expressão do

que é o Estado Policial. O Estado se imaginava dono do nosso destino e

com poderes para transferi-lo a empreiteiros e concessionários de serviços

públicos. Já não se reconhecia instância pública. Tudo era estatal e

privatizável. Assustado com a reação da sociedade lançou mão da

truculência. Veículos descaracterizados da polícia foram flagrados

disparando a esmo em ruas da Zona Sul da cidade; agentes do Estado à

paisana foram flagrados promovendo tumultos, identificando-se para

grupamentos policiais e no meio deles trocando de roupa para se

disfarçarem e tropas policiais foram flagradas encurralando e atacando

trabalhadores, crianças e estudantes pelas ruelas do centro da cidade.

Os autos de resistência, que hoje aqui se trata, são práticas dos

Estados Policiais que converte os cidadãos em inimigo a ser combatido.

Mas, num Estado de Direito se traduzem em ilegalidade do Estado, ainda

quando aplaudido pela mídia e, por vezes, autorizado pela opinião pública

formada a partir da propaganda oficial e dos interesses da classe

dominante.

Page 3: Manifestacao durante audiencia publica na alerj

Mas, também se contrapõe ao Estado de Direito a prisão para

averiguação, pois nada mais é que o seqüestro praticado pela polícia. E

somente a Lei do Abuso de Autoridade, lei nº 4898 de 09 de dezembro de

1965, editada no início do regime empresarial-militar que sufocou as

liberdades por 21 anos neste país, atribui nome diverso de seqüestro a tal

conduta. Trata-se de uma ilegal privação de liberdade da pessoa.

Quanto ao estado de liberdade uma pessoa somente pode ostentar

dois estados: livre ou preso. A pessoa livre tem o direito de ir e vir e, se lhe

convier, permanecer onde estiver. O outro estado, o de prisão, somente se

autoriza em caso de flagrante de delito ou ordem de autoridade judiciária.

Inexiste no Direito Brasileiro terceira possibilidade de cerceamento de

direito de ir e vir. Prisão para averiguação, condução para delegacia para

fins de avaliação pelo delegado ou outra desculpa que torne a pessoa sujeita

à arbitrariedade policial se afigura violação ao direito da pessoa humana.

Portanto, fora da prisão em flagrante ou mandado judicial que a autorize,

qualquer cerceamento ao direito de ir e vir se traduz em ilegalidade e há de

ensejar a responsabilidade do agente.

Não convivêssemos pacificamente com as prisões para averiguação o

pedreiro Amarildo não teria tido seu direito constitucional de ir e vir

violado, não teria sido morto e não teriam desaparecido com seu corpo.

Além da prisão para averiguação e ao lado dos autos de resistência,

também temos convivido com a prática policial do latrocínio. Em 2003, a

morte em dependência policial do chinês naturalizado brasileiro Chan Kim

Chang, que tentava embarcar num avião com alguns dólares não

declarados, é emblemática. Daquele episódio resultou a exoneração do

Secretário Estadual de Direitos Humanos, João Luiz Duboc Pinaud, que

denunciara a ilegalidade do Estado. Em contraposição reforçaram-se os

poderes dos grupos truculentos que ampliaram o poder ilegal do Estado,

Page 4: Manifestacao durante audiencia publica na alerj

instalando Guardião para escutas telefônicas, em órgãos que não têm poder

investigatório.

Latrocínio voltou a ser praticado por policiais contra a comerciante

chinesa Ye Goue em 2008. Ela saíra de uma casa de câmbio no Shopping

Downtown onde trocara R$ 220 mil por US$ 130 mil. O taxi que a

conduzia fora parado por policiais que disseram a levaria para a delegacia

para fins de averiguação. Seu corpo jamais apareceu. Em tais situações, o

que o Estado faz é desqualificar a vítima e atribuir qualidades positivas aos

violadores do ordenamento jurídico. Diante do latrocínio e ocultação do

cadáver da chinesa Ye Goue, o jornal O DIA de 08 de agosto de 2008

publicou o seguinte: “Delegado da DHBF, Ruchester Marreiros disse que

não há provas concretas contra os policiais. ‘Não há imagens dos rostos

deles. Abrimos sindicância e nos surpreende porque eles são da equipe de

cumprimento de mandados de prisão, trabalham bem e têm condecorações’,

afirmou".

Em momento de afirmação do Estado Policial, prepotente e

autocrático, a conduta do procurador geral de justiça, chefe institucional do

MP do Rio de Janeiro, de sair do seu gabinete e ir à rua conversar com

manifestantes, com uso do megafone de um deles, é sinal de compreensão

de que somente a vontade popular legitima as instituições num regime

democrático. O PGJ prometeu requisitar investigação diante da truculência

policial praticada por ocasião das manifestações. E mais, dar transparência

a todos os seus atos. É bom sinal de que o MP pretende exercer sua função

constitucional de controle da atividade policial.

O MP tem poderes expressos para instaurar e presidir o inquérito

civil público, promover a ação civil pública, requisitar a instauração de

inquérito policial e diligências investigatórias, promover a ação penal

pública e exercer o controle da atividade policial. A Constituição não lhe

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outorga poderes expressos para investigação criminal. E se não lhe

conferiu, não pode promovê-la legalmente.

Não havemos de demandar do MP investigação direta das

atrocidades cometidas pelo Estado, sob pena de demandarmos que atue à

margem dos seus poderes. Mas pode requisitar informações e a instauração

de inquéritos, bem como acompanhar as diligências policiais.

Disse o Ministro Luiz Roberto Barrosos em data recente que “viver

em Estado de Direito significa fazer tudo o que eu posso, e não tudo o que

eu quero”. O combate à criminalidade ou a busca do fim da impunidade

não podem ser feitos com os agentes do Estado atuando à margem da lei,

sob pena da perda da superioridade ética que legitima a atuação do Estado.

Abordadas estas ilegalidades praticadas pelo Estado tratarei

especificamente dos autos de resistência. Este, em muitas vezes, encobre o

homicídio com a apresentação do cadáver. Pior que esta conduta somente o

homicídio com o desaparecimento do corpo como o do pedreiro Amarildo,

da engenheira Patrícia, da chinesa Ye Goue e de tantos outros. Em ambas

as situações o que se faz é buscar desqualificar a vítima a fim de justificar a

truculência estatal. No caso da engenheira Patrícia a polícia chegou a fazer

incursões na Rocinha sob o fundamento de que ela teria ido até lá comprar

drogas e teria sido morta por traficantes. No caso da chinesa Ye Goue

discutiu-se a origem do dinheiro que transportava e elogiou-se ficha

funcional dos policiais. No caso de Amarildo tenta-se dizer que era

vinculado ao tráfico e que sua casa é rota de fuga, ainda que fisicamente

isto seja impossível.

O auto de resistência é o irmão siamês da ocultação de cadáver; do

desaparecimento com os corpos das vítimas. Neste desaparece o corpo.

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Naquele a dignidade da pessoa é vilipendiada a fim de justificar o

homicídio.

Vivemos momento de contraposição do Estado à sociedade civil. A

desqualificação da vítima é a tônica do Estado Policial.

A fim de legitimar os autos de resistência o que se faz é juntar folha

de antecedentes, registros de ocorrências ou depoimentos forjados a fim de

justificar a vileza e o arbítrio mórbido. Estamos diante de uma forma

autoritária de relacionamento do Estado com a sociedade, onde pela

desqualificação da vítima se busca justificar a eliminação daquele que é

tratado como inimigo do Estado. O vendedor de mercadoria que em outras

épocas não era ilegal é tratado como indigno de viver. Se não é vendedor

do que se proíbe alega-se que é, a fim de promover a desqualificação que

justifique a morte ou o desaparecimento. Não se submete a julgamento por

conduta concreta; por fato praticado. Elimina-se pela qualidade que se diz

negativa: traficante. Em geral, negros, pobres e jovens.

Tenha a qualidade que tiver, uma vítima será sempre uma vítima.

Não há de ser tratada como suspeita. A vida é o valor maior. E nenhum dos

seus defeitos há de ser justificativa para sua eliminação. O levantamento de

antecedentes da vítima é forma odiosa de legitimar os crimes do Estado.

Não há mecanismo legal que possa impedir o delegado de fazê-lo, ainda

que seja desejável a vedação de investigação sobre antecedentes da vítima.

Mas, o Ministério Público pode requisitar informações do delegado das

razões ensejadoras da juntada de antecedentes do morto, quando

dispensáveis à apuração do fato.

Em data recente em São Paulo autoridade dirigente do Estado

declarou que algumas pessoas tiveram seus antecedentes consultados

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momentos antes de suas mortes, o que evidencia o tipo de Estado que

estamos construindo no Brasil.

Mas, se inexiste mecanismo legal que impeça a juntada de

antecedentes da vítima, porque a lei que rege o inquérito policial o autoriza,

podemos, além da atuação do Ministério Público no controle da atividade

policial, pensar e tentar instituir novo modelo de investigação criminal. De

nada adiantaria ampliar os poderes do MP, propiciando-lhe promovesse

investigações criminais, sujeitando tão nobre instituição ao resvalamento

para as práticas hoje vivenciadas em sede policial.

Se a atuação dos agentes do Estado com uso imoderado de violência,

prisões para averiguação, latrocínios, homicídios e lavratura de autos de

resistência nos ocupam, havemos de nos ocupar também com os pedidos de

arquivamento dos autos de resistência pelo Ministério Público e sua

efetivação pelo judiciário. A qualidade da vítima não pode ser fundamento

justificador do arquivamento. Se o MP alega que é legítima defesa não há

muito a fazer, diante da privatividade da competência para promover a ação

penal pública. E esta é outra questão que havemos de pensar, problematizar

e buscar uma solução que contemple a dignidade da pessoa humana.

Na Assembléia Nacional Constituinte, da qual Vossa Excelência,

Deputado Paulo Ramos, participou e na qual recebeu a nota 10 pelo DIAP,

órgão do Dieese que acompanhou os trabalhos dos parlamentares, nota

atribuída por ter defendido e votado em todos os direitos dos trabalhadores

e da cidadania, atuaram – legitimamente - corporações e setores

organizados da sociedade. Um deles, o que talvez mais tenha saído

fortalecido foi o Ministério Público. Mas, não sei se a atribuição de

competência privativa ao MP para promover a ação penal pública foi a

mais acertada para a cidadania. Hoje, diante do pedido de arquivamento

dos autos de resistência, formulado pelo MP, com fundamento em

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desqualificação da vítima, pouco se pode fazer. Há o entendimento de que

sequer cabe ao juiz – se discordar do pedido de arquivamento - remeter ao

Procurador Geral de Justiça para avaliação da pertinência da propositura da

ação com fundamento no art. 28 do CPP, pois não teria sido recepcionado

pela Constituição. Assim, nem mesmo os familiares da vítima podem

propor a ação competente para responsabilizar os assassinos. Não

queremos viver numa sociedade punitiva. Mas, a vida é valor fundamental;

o maior deles. E, portanto, diante da violação ao direito de viver, havemos

de reagir à impunidade, sem que com isto sejamos tratados como punitivos.

Vivemos num sistema que gera letalidade. O Estado mata. Em data

recente, representando a Associação Juízes para a Democracia, compareci a

esta casa a convite do Deputado Marcelo Freixo para participar de

audiência pública sobre a tuberculose no sistema penal. O Estado tem

matado com suas armas de fogo; paradoxalmente tem matado com armas

não letais e por fim tem matado de tuberculose no sistema prisional. Nestes

casos, o Estado encarcera, subtrai a liberdade, expõe ao risco do contágio e

ao final não propicia e ainda impede o tratamento. O Estado tem matado de

diversas formas. Vivemos num sistema de altíssima letalidade. Neste

sentido podemos dizer que os órgãos de segurança do Estado são de

altíssima periculosidade social.

Queremos a vida e a queremos em abundância. Queremos a paz.

Mas, não a paz dos cemitérios. Não a paz das cidades prestes a serem

invadidas. Não a paz das comunidades militarmente ocupadas, onde o

exercício do direito de ir e vir ou de manifestar pensamento é risco de

morte. Isto não é paz. É silêncio por admoestação; é quietude por

intimidação.

A truculência do Estado não propicia uma cultura de paz e a cultura

de paz, por si só, não garante a existência de paz, mas reforça valores que

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podem ser incorporados ao ambiente social a serem reproduzidos pelas

instituições. A paz não pode ser construída com a guerra, com a ocupação

militar, com invasão de domicílios para revistas ou com os esculachos.

Cadáveres, corpos ocultados ou desaparecidos não são indicativos da

construção da paz, como pretendeu a gratificação faroeste, plantada pela

militarização e cujos frutos estamos colhendo.

É fácil responsabilizar praças pelas más escolhas dos governantes.

Mas, o soldado que mata é brutalizado para não compreender que o mal

que há de combater não é o negro, pobre e favelado que lhe mandam

enquadrar. Queremos uma polícia melhor. Mas, somente teremos uma

polícia melhor se o Estado abdicar da violência ilegítima. Nossa polícia não

deixará de ser violenta se o Estado continuar a ser violento.

A polícia mata, porque foi brutalizada para fazê-lo. Foi brutalizada

para não compreender o mal que faz. Policiais cantam o refrão do seu hino

evocando a luta contra o mal e que ser policial é, sobretudo, uma razão de

ser. É, enfrentar a morte e mostrar-se um forte. Se a polícia é brutalizada

para não compreender o que faz, os demais atores do sistema de justiça não

podem se brutalizar e perder a compreensão. Assim, governantes,

parlamentares, membros do Ministério Público e do Poder Judiciário hão

de ter a compreensão do que fazem e impedir que a brutalidade continue a

ser semeada. Igualmente os jornalistas. Não podemos nos brutalizar.

Havemos de ser o diferencial. Não podemos legitimar a matança e a

ocultação dos cadáveres por meio da desqualificação da vítima.

As empresas de comunicação ajudam a formar a opinião pública. Os

donos das empresas têm interesses que, por vezes, se contrapõem aos

interesses da sociedade. Mas, os profissionais qualificados da mídia podem

contribuir com uma nova cultura. Precisam ter valores e pautar suas

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condutas profissionais na valorização da vida e da dignidade da pessoa

humana. Não basta que tenham compromisso com a notícia, notadamente

quando ela se refere à divulgação da versão oficial, sem necessária

apuração. Para a divulgação das versões oficiais existem as assessorias de

imprensa.

Nós os agentes públicos havemos de pautar nossas condutas

funcionais pela estrita legalidade, exercendo os poderes que nos foram

conferidos pela ordem jurídica em proveito da sociedade. A atribuição de

cada cargo por nós titularizado somente nos é dada pela lei e pela lei é

delimitada. A atuação à margem da lei se traduz em ilegalidade. E, à

margem da lei, todos seremos marginais.

Sr. Deputado Paulo Ramos, para concluir, vou parafrasear Bertold

Brecht:

Primeiramente, durante a ditadura empresarial-militar eles

torturaram, mataram, roubaram, estupraram e desapareceram com aqueles

que eles chamavam de subversivos. E muitos não disseram nada. Afinal,

não eram subversivos.

Em seguida eles instituíram a gratificação faroeste que premiava com

dinheiro e reconhecia bravura naqueles que matassem traficantes ou

assaltantes. E muitos não se importaram. Afinal, não eram traficantes ou

assaltantes.

Depois eles passaram a colocar portões em vias públicas no subúrbio

e periferia, instituir o que chamavam de “condomínios de rua” e cobrar

compulsoriamente cotas de manutenção e segurança. O Tribunal de Justiça

do Estado do Rio de Janeiro editou a súmula 79 autorizando a cobrança da

taxa, a pretexto de que – de outro modo, estar-se-ia diante de

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enriquecimento sem causa. E não dissemos nada. Afinal, eles são os que

moram na periferia.

Depois mataram uma juíza para admoestar a sociedade e mostrar que

já tudo podiam. Os condenados até hoje não foram expulsos da corporação.

E não dizemos nada.

Ainda podemos nos manifestar. Mas, logo começarão a querer nos

intimidar ou nos asfixiar para não mais falarmos. E por não termos dito

nada antes, já não poderemos dizer mais nada.

Falemos, enquanto temos voz!

Muito obrigado!