mangueira - doenças e pragas

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A Cultura Da Mangueira - Universidade Federal de Lavras-MG Doenças A mangueira é uma frutífera suscetível a uma grande diversidade de doenças causadas por fungos, bactérias e outros organismos que podem não só limitar a sua produção, como também comprometer a qualidade dos frutos, o que é particularmente importante quando se destinam à exportação. O incremento do cultivo da mangueira ocorrido nas últimas décadas foi essencialmente realizado à base da introdução de novas variedades, oriundas de outros países produtores e que, na maioria dos casos, apresentam frutos de grande aceitação no mercado, porém, altamente suscetíveis ao ataque de doenças e pragas. O estabelecimento de um controle integrado dos patógenos deverá considerar a sintomatologia, epidemiologia, distribuição nas regiões produtoras e índices de danos causados. Além do controle por meio de defensivos, medidas alternativas poderão minimizar os prejuízos, como espaçamentos adequados, exposição da área, podas, retirada e enterrio de frutos, queima de ramos podados. a) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides, Penz) Considerada a mais importante doença da mangueira em virtude de sua ampla disseminação nas regiões produtoras, resultando em grandes prejuízos na produção e qualidade de sultando em grandes prejuízos na produção e qualidade de frutos, esta doença provoca desfolhamento da planta, queda de flores e frutos, perda de qualidade dos frutos, devendo merecer cuidados especiais do produtor. O fungo ataca ramos novos, folhas, inflorescências e frutos. Nas folhas, há o aparecimento de manchas escuras e de contornos irregulares, que resultam em lesões ou perfurações quando os tecidos necrosados se destacam. As inflorescências atacadas apresentam flores escuras, tomando o aspecto de queimadas pelo fogo, morrendo a seguir. As lesões na ráquis podem levar à queda dos frutos antes de sua maturação fisiológica ou sua mumificação quando ainda novos. No período de maturação, há o aparecimento de lesões escuras e deprimidas na casca, que podem se aprofundar atingindo também a polpa. O fungo poderá sobreviver em ramos secos e em lesões velhas presentes em órgãos que permaneçam no solo. A disseminação dos conídios se faz através da água de chuva ou irrigação, e alta umidade relativa (90-95%) e temperatura mais amena favorecem o desenvolvimento da doença. As várias possibilidades de controle devem ser integradas de tal forma que se obtenha eficiência com menor custo e menor dano ao meio ambiente, recomendando-se: Escolha de variedades: há variedades menos suscetíveis, como a Palmer, Paris, Pico e Springfield (Guiné); Early Gold, Florigon, Saigon, Carrie e Edward (EUA); Santa Alexandrina, Espadão, Extrema, Itamaracá, Non-Plus-Ultra, Ubari, Ubá e Tommy Atkins (Brasil). Implantação e manejo do pomar: evitar a implantação de pomares em regiões climaticamente marginais para a mangueira, como regiões que apresentam chuvas no florescimento. Adequar a escolha de espaçamentos com a execução de podas de arejamento e limpeza. Observar a época adequada para a indução do florescimento, evitando-se a coincidência com períodos climáticos favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. Controle químico: deve ser executado a partir do início do desenvolvimento das panículas, quando as flores ainda não se abriram. O número de pulverizações é variável de acordo com as condições ambientais e destino do fruto (exportação, mercado interno, indústria). Até o vingamento definitivo

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A Cultura Da Mangueira - Universidade Federal de Lavras-MGDoençasA mangueira é uma frutífera suscetível a uma grande diversidade de doenças causadas por fungos, bactérias e outros organismos que podem não só limitar a sua produção, como também comprometer a qualidade dos frutos, o que é particularmente importante quando se destinam à exportação.O incremento do cultivo da mangueira ocorrido nas últimas décadas foi essencialmente realizado à base da introdução de novas variedades, oriundas de outros países produtores e que, na maioria dos casos, apresentam frutos de grande aceitação no mercado, porém, altamente suscetíveis ao ataque de doenças e pragas.O estabelecimento de um controle integrado dos patógenos deverá considerar a sintomatologia, epidemiologia, distribuição nas regiões produtoras e índices de danos causados. Além do controle por meio de defensivos, medidas alternativas poderão minimizar os prejuízos, como espaçamentos adequados, exposição da área, podas, retirada e enterrio de frutos, queima de ramos podados.a) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides, Penz) Considerada a mais importante doença da mangueira em virtude de sua ampla disseminação nas regiões produtoras, resultando em grandes prejuízos na produção e qualidade de sultando em grandes prejuízos na produção e qualidade de frutos, esta doença provoca desfolhamento da planta, queda de flores e frutos, perda de qualidade dos frutos, devendo merecer cuidados especiais do produtor. O fungo ataca ramos novos, folhas, inflorescências e frutos. Nas folhas, há o aparecimento de manchas escuras e de contornos irregulares, que resultam em lesões ou perfurações quando os tecidos necrosados se destacam. As inflorescências atacadas apresentam flores escuras, tomando o aspecto de queimadas pelo fogo, morrendo a seguir. As lesões na ráquis podem levar à queda dos frutos antes de sua maturação fisiológica ou sua mumificação quando ainda novos. No período de maturação, há o aparecimento de lesões escuras e deprimidas na casca, que podem se aprofundar atingindo também a polpa. O fungo poderá sobreviver em ramos secos e em lesões velhas presentes em órgãos que permaneçam no solo. A disseminação dos conídios se faz através da água de chuva ou irrigação, e alta umidade relativa (90-95%) e temperatura mais amena favorecem o desenvolvimento da doença.As várias possibilidades de controle devem ser integradas de tal forma que se obtenha eficiência com menor custo e menor dano ao meio ambiente, recomendando-se:Escolha de variedades: há variedades menos suscetíveis, como a Palmer, Paris, Pico e Springfield (Guiné); Early Gold, Florigon, Saigon, Carrie e Edward (EUA); Santa Alexandrina, Espadão, Extrema, Itamaracá, Non-Plus-Ultra, Ubari, Ubá e Tommy Atkins (Brasil).Implantação e manejo do pomar: evitar a implantação de pomares em regiões climaticamente marginais para a mangueira, como regiões que apresentam chuvas no florescimento. Adequar a escolha de espaçamentos com a execução de podas de arejamento e limpeza.Observar a época adequada para a indução do florescimento, evitando-se a coincidência com períodos climáticos favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.Controle químico: deve ser executado a partir do início do desenvolvimento das panículas, quando as flores ainda não se abriram. O número de pulverizações é variável de acordo com as condições ambientais e destino do fruto (exportação, mercado interno, indústria). Até o vingamento definitivo dos frutinhos, recomenda-se a aplicação de soluções contendo produtos como Benomyl (0,03%), Mancozeb (0,16%) e Tiofanato metílico (0,05%), em intervalos de 7 a 15 dias. Após essa fase, poderá ser feita complementação com cerca de mais duas aplicações, alternando com fungicidas cúpricos ou orgânicos.b) Oídio (Oidium mangiferae, Bert) Responsável por redução da produção, pois além de incidir sobre folhas e brotações novas, poderá atacar as inflorescências, impedindo a frutificação. O ataque do fungo caracteriza-se por provocar aspecto de mofo ou pó branco-acinzentado, que recobre brotações e folhas novas, resultando em queda. As flores em formação não conseguem se abrir e caem. Os frutos infectados, quando pequenos, também podem cair ou então permanecerem presos às panículas, rachando e exsudando uma goma esbranquiçada. A incidência sobre as inflorescências é favorecida em épocas de temperaturas mais baixas e alta umidade, logo após período mais seco. Folhas velhas e panículas que permaneceram na planta de um ciclo para outro constituem-se em fontes de inóculo, favorecendo a esporulação do fungo, principalmente nas áreas mais sombreadas do interior da copa. A disseminação ocorre através de ventos e água de chuva.O controle pose ser feito através de:Escolha de variedades: as variedades consideradas tolerantes ao Oídio são a Gondo, Carrie, Sensation, Tommy Atkins, Carlota, Espada, Imperial, Brasil e Oliveira Neto.Implantação e manejo do pomar: associar a escolha dos espaçamentos a práticas de manejo, como podas de arejamento e de limpeza. Plantios adensados, proporcionando pouca insolação, irão favorecer o desenvolvimento e a disseminação do patógeno.Controle químico: recomendam-se três aplicações de defensivos nos estádios de flores ainda fechadas, após a queda das pétalas, e, por último, no pegamento dos frutinhos. Entre os produtos, relacionam-se aqueles à base de enxofre, tiofanato metílico, dinocap ou oxitroquinox.

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c) Murcha ou Seca da Mangueira (Ceratocystis fimbriata, Ell e Halst) Provoca a murcha e seca dos ponteiros, diminuindo o vigor da planta e sua possibilidade de emissão de inflorescências, chegando em fase mais avançada a ocorrer a morte da planta. Os sintomas assemelham-se aos observados quando se queima pelo fogo um ramo da mangueira. Inicialmente há o amarelecimento das folhas dos ponteiros, seguido de seu secamento, ficando, entretanto, aderidas ao ramo. Há exsudação da seiva em alguns pontos e, com a evolução da doença, ocorre a morte do galho infectado e daqueles situados ao seu redor, que também vão progressivamente sendo contaminados. Os galhos, troncos ou raízes infectados apresentam sob a casca tecido de coloração escura, em contraste com o tecido sadio.A penetração do fungo no interior da planta ocorre através dos orifícios de galerias abertas pela broca Hypocryphalus mangiferae. O mesmo pode permanecer no solo e nos ramos secos e a disseminação é feita além da broca, através de mudas ou solo oriundo de pomar contaminado. A penetração pelas raízes independe de ferimentos e a planta morre rapidamente, ao contrário do que ocorre quando incide na parte aérea, não ocorrendo também os sintomas descritos.O controle pode ser feito através de: Escolha de variedades: como porta-enxertos resistentes, são mencionados a Espada, Jasmim, IAC-Touro e IAC-Coquinho. As variedades copa apresentam grau de resistência variável de acordo com a região porém, são consideradas resistentes as variedades Rosa, Salina, Oliveira Neto, São Quirino, Espada, Jasmim, Keitt, Sensation, Kent, Irwin e Tommy Atkins.Aquisição de mudas: adquirir mudas de viveiristas registrados, preferencialmente de locais onde não existam focos da doença.Realização de inspeções periódicas para identificar a presença da doença.Poda de ramos atacados, a 40 cm do ponto de infeção, e queima das partes podadas. Proteger as partes cortadas com pasta cúprica na qual pode-se adicionar Carbaril a 0,2 - 0,4%. As ferramentas utilizadas na poda devem ser desinfestadas em hipoclorito de sódio a 2%.d) Podridão de frutos As podridões do pedúnculo e da base do fruto em formação podem ser de difícil controle na fase pós-colheita. Essas podridões, além de provocar a queda de frutos, prejudicam sua aparência externa e qualidade da polpa. Condições de alta precipitação e alta temperatura durante a época de colheita favorecem a incidência de uma série de fungos, dentre os quais, destacam- se: Hendersonula toruloidea, Botryodiplodia theobromae,Diplodia natalensis, Diaporthe citri, Pestalotia mangiferae, Aspergillus flavus. Além de práticas culturais como as podas de arejamento e de limpeza, recomendam-se pulverizações preventivas précolheita (15 a 30 dias antes da colheita), com Benomyl (0,03%) ou Oxicloreto de Cobre (2,8 g i.a./L) mais espalhante adesivo, direcionadas principalmente para o pedúnculo e a base do fruto.e) Mancha-Angular (Xanthomonas campestris pv. Mangiferae indicae) Constitui-se em uma das principais doenças bacterianas da mangueira, ocasionando perdas significativas na produção e limitando a expansão da cultura em determinadas regiões. A bactéria pode atacar folhas, inflorescências e frutos. Nas folhas aparecem manchas angulares, de coloração pardo-escura, delimitadas pelas nervuras e envoltas por halo amarelado, culminando com perfurações nas folhas. Nos ramos observam-se murcha e secamento da parte terminal, rachaduras longitudinais, porém sem queda de folhas. Nas panículas aparecem lesões negras e profundas, com rachaduras e exsudação de goma. Nos frutos as lesões são circulares, verde-escuras, ocasionando rachaduras e queda dos mesmos. Se o pedúnculo for atacado, há murcha e mumificação do fruto. Períodos com alta umidade e temperatura oferecem condições favoráveis ao seu desenvolvimento. A bactéria pode ser disseminada por mosca-das-frutas, mariposas, cochonilhas e formigas, além da possibilidade via sementes.O controle pode ser feito através de:Escolha de variedades: são consideradas tolerantes ou com certo grau de resistência, as variedades Haden, Sensation, Kensigton, Carabao e Early Gold.aquisição de mudas: adquirir mudas de viveiristas registrados, procedentes de regiões que não apresentem alta incidência da doença.realizar inspeções periódicas, fazendo a erradicação e destruição de plantas altamente atacadas.controle químico através de pulverizações preventivas, quinzenais, aplicando-se solução contendo oxicloreto de cobre e óleo mineral, quando da ocorrência de surtos vegetativos e no florescimento. Deve-se evitar as pulverizações durante as horas mais quentes do dia pela possibilidade de ocorrer queimaduras.f) Malformação vegetativa e floral As enfermidades denominadas malformação vegetativa ou vassoura-de-bruxa e malformação floral ou embonecamento são os principais fatores que limitam a exploração, ocorrendo em algumas regiões a erradicação de pomares. Seu agente causal ainda não foi bem definido, mas admite-se que o ataque de fungos (Fusarium oxysporum, F. moniliforme, F. moniliforme var. subglutinans, F. decemcellulare, Cillindrocarpon mangiferae), vírus e micoplasma, ácaros (Aceria mangiferae), bem como deficiências nutricionais e distúrbios fisiológicos, hormonais e genéticos sejam as acusas mais prováveis da doença.A malformação vegetativa pode ser observada em plantas adultas ou em mudas no viveiro, atingindo as gemas vegetativas. Caracteriza-se pela produção de um grande número de brotos com internódios curtos e folhas rudimentares, semelhantes à vassoura-de-bruxa. Plantas adultas ou mudas afetadas

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apresentam crescimento retardado e, caso sejam fornecedoras de material propagativo (gemas e garfos), poderão originar plantas que terão o mesmo problema. A malformação floral caracteriza-se por panículas compactas, que perdem a sua tradicional forma piramidal em decorrência dos encurtamentos do eixo principal e das ramificações secundárias. Forma-se uma massa de flores composta por 3 a 4 vezes mais flores do que o normal, havendo alteração no tipo, quando as hermafroditas são substituídas por masculinas. As inflorescências são totalmente estéreis, murcham e se transformam em uma massa negra que pode permanecer por vários meses na planta. O fungo sobrevive na planta, nos tecidos vivos ou mortos caídos no chão e principalmente nos órgãos infectados. Sua disseminação ocorre por ácaro, insetos e instrumentos de poda. Penetra na planta por ferimentos e é inoculado quando a seiva da planta infectada é transferida para a seiva da planta sadia. Temperaturas amenas favorecem seu desenvolvimento, com menor incidência da anomalia em variedades de floração tardia. É facilmente verificada nos períodos em que a planta emite suas brotações e/ou inflorescências. A idade das plantas também parece influir na propagação da doença, sendo as de cinco a dez anos de idade as mais afetadas, e o índice de ocorrência decresce à medida que a planta vai envelhecendo. A análise de tecidos malformados nos quais se isolou o Fusarium oxysporum var. subglutinans apresentou níveis elevados de etileno, ácido abscísico e giberélico, e baixos de ácido indolacético, resultando em desequilíbrio. As pesquisas têm demonstrado que a pulverização de substâncias visando a restabelecero equilíbrio dentro da planta pode se tornar uma alternativa de controle. Dessa forma, a aplicação de quelatos específicos, ácido ascórbico, nitrato de prata, metabissulfito de potássio ou ácido naftaleno acético, antes da diferenciação floral, pode restituir o equilíbrio e diminuir o índice de ramos e panículas malformadas.O controle pode ser feito através de:escolha de variedades: na Índia é citada a variedade Bhadavran como a única resistente. No Brasil, as variedades Tommy Atkins e Haden apresentam maior suscetibilidade para malformação floral, e as variedades Keitt e Palmer, para a malformação vegetativa.aquisição de mudas: evitar mudas oriundas de viveiros onde há grande incidência de enfermidades. Considerar a origem do material de propagação (gemas, garfos). inspeções periódicas e podas: logo após a identificação das plantas com os sintomas, realizar poda dos ramos e eliminação das panículas. As ferramentas utilizadas nas podas devem ser imersas, após cada corte, em solução composta por 1 parte de água sanitária para 3 partes de água. Queimar o material podado. erradicação de plantas: plantas podadas em uma primeira etapa e que voltarem a apresentar novamente índices elevados de malformação devem ser arrancadas e queimadas.pulverização de quelatos (Mangiverin Zn2+ e Mangiferin Cu2+), ácido ascórbico, nitrato de prata, metabissulfito de potássio ou ácido naftalenoacético (200 ppm), três meses antes da floração.controle químico de ácaros (enxofre molhável ou quinomethionate) na fase pré-florescimento, bem como pulverizações com benomyl e outros defensivos recomendados para controle de oídio e podridão-seca reduzem as possibilidades de ocorrer a malformação.g) Colapso interno do fruto Esta enfermidade ou distúrbio fisiológico é conhecido como amolecimento da polpa, coração mole, podridão aquosa e podridão interna do fruto. Em outras regiões produtoras de manga no mundo, é denominada de soft-nose, internal breakdown, internal physiologycal flesh breakdown, prematur ripening, stem end breakdown e jelly seed. Além da diversidade de denominações e de sintomas relatados, existem controvérsias quanto à sua etiologia, havendo a associação com fatores genéticos, fitossanitários, nutricionais e edafoclimáticos. O colapso interno pode aparecer em frutos que se encontram nos estádios iniciais de maturação e também após colhidos. Inicialmente ocorre a desintegração do sistema vascular na região de ligação pedúnculo/endocarpo, ocorrendo a separaçãoda semente dos tecidos ao seu redor. Ao se fazer um corte longitudinal no fruto, observa-se claramente um espaço vazio entre a semente e o pedúnculo. A polpa começa a se desintegrar, toma o aspecto gelatinoso, muda de coloração alaranjada-amarelada para alaranjada-escura e, em estádio avançado, torna-se aquosa, com odor de fermentação. Esses sintomas manifestam-se internamente no fruto, enquanto na parte externa quase não se notam alterações muito visíveis. Em alguns casos há o aparecimento de manchas mais claras, principalmente na base do fruto.As pesquisas destinadas à verificação dos agentes responsáveis pelo distúrbio incluíram, entre outros, estudos na área patológica (Xanthomonas), nutricionais (N, Ca, K, B, N/Ca, N/K), comportamento varietal e ponto de colheita (colheita precoce ou de vez reduziria o colapso). Contudo, há um certo consenso deque o problema não seja de origem patológica e sim fisiológica, provavelmente em decorrência de desequilíbrio nutricional.O controle pode ser feito através de:Escolha de variedades: as variedades poliembriônicas e fibrosas como Espada, Rosa, Coquinho e Rosinha são mais resistentes, ao passo que variedades melhoradas, como Tommy Atkins, Van Dicke, Zill, Kent, Keitt, Irwin e Sensation apresentam maior incidência do distúrbio.

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Controle nutricional: elevar a saturação de bases (V%) para 70%, através de aplicação de calcário e complementar com pulverização de nitrato de cálcio sobre a planta. Valores iguais ou superiores a 2,5% de cálcio na matéria seca das folhas reduzem a ocorrência do colapso.Controle cultural: colher os frutos o mais precocemente possível (de vez), prática que também reduz o índice de colapso interno.h) Outras doençasAlém das doenças descritas, são relatadas outras que poderão assumir importância econômica, como murcha-deesclerócio (Sclerotium sp.), verrugose (Elsinoe mangiferae), mofo (Botrytis cinerea), morte-descendente ou podridão-seca-damangueira (Botryodyplodia theobromae).

PragasA mangueira é hospedeira de diversas espécies de insetos e ácaros, e a importância econômica das mesmas geralmente varia em função da região e das variedades que compõem o pomar.Em regiões produtoras, o ataque de pragas, tais como cochonilha e mosca-das-frutas tem preocupado demais os mangicultores, uma vez que provocam queda de produtividade, diminuição da qualidade dos frutos, além de dificultar a comercialização. a) Mosca-das-frutas As moscas das frutas constituem-se na mais importante praga da fruticultura mundial, ocasionando a destruição da polpa dos frutos e facilitando a penetração de outras pragas e doenças. Além dos prejuízos na produtividade e qualidade, constituem-se numa das principais barreiras ao aumento das exportações, uma vez que os países importadores estabelecem medidas quarentenárias extremamente rigorosas. Os seguintes gêneros e espécies são os mais comuns: Anastrepha fraterculus, Anastrepha obliqua, Anastrepha serpertina, Ceratitis capitata. No Brasil, a Anastrepha obliqua é a principal espécie a atacar os frutos da mangueira. Os insetos adultos abrigam-se nas hospedeiras circunvizinhas ao pomar, onde se reproduzem. As fêmeas ovopositam abaixo da casca dos frutos, ainda imaturos. Ocorre então a eclosão das larvas que penetram na polpa. Durante seu desenvolvimento, a larva passa por três estádios e, em seguida, abandona o fruto e empupa no solo (1 a 10 cm de profundidade). O adulto emerge da pupa e aflora à superfície em condições de acasalar, completando, dessa forma, o ciclo biológico. Este pode variar entre 31 a 43 dias, com as fêmeas vivendo em média 10 meses, período em que põem cerca de 800 ovos. O controle pode ser feito através de várias metodologias, preferencialmente de forma associada, compondo um programa integrado com maior eficiência e menor custo.1) Método Químico: a aplicação de defensivos só é realizada a partir do momento em que o monitoramento periódico indicar uma população mínima de insetos adultos. De acordo com Cunha et al. (1994), a detecção das moscas pode ser feita da seguinte forma:frascos adequados ao controle da mosca, usualmente encontrados no mercado, deverão conter uma solução composta por hidrolizado enzimático de proteína (5%) em solução aquosa com 5% de bórax (tetraborato de sódio).distribuir os frascos ou armadilhas, devidamente numerados, em locais sombreados, sob a copa das árvores, em número médio de 3 armadilhas/km2.realizar vistorias nas armadilhas a cada 7 dias, procedendo-se à coleta dos insetos em peneira de malha fina, que são colocados em frascos contendo álcool a 70%. Nessa ocasião, serão feitas ainda a limpeza da armadilha e a substituição de solução atrativa. A presença de pelo menos 5 moscas por armadilha indica a necessidade do controle químico. Haji (1995) recomenda a aplicação de isca tóxica constituída por melaço de cana ou proteína hidrolisada, associada a um inseticida (Malathion), na proporção de 200 mL de malathion, 7 L de melaço ou 1 L de proteína hidrolisada para 100 L de água. As aplicações devem ser feitas em cobertura, utilizando-se um pulverizador costal com bico leque ou um pulverizador tratorizado, pulverizandose em intervalos de dez dias, 100 mL da calda por planta, a cada cinco fileiras (ruas), procurando-se atingir a face inferior da folhagem. As aplicações deverão ser feitas nas horas menos quentes, pela manhã ou ao final da tarde. Deve-se obedecer criteriosamente às observações sobre o preparo e aplicação do inseticida, inclusive o período de carência. Outra metodologia de aplicação é sugerida por Cunha et al. (1994), através de solução contendo 200 g de produto à base de Trichlorfon (80%) ou 200 mL de Malathion em 100 L de água, nos quais são adicionados 5 kg de melaço. Após a homogeneização da solução, a mesma é aspergida em 1 m2 da copa de cada planta.2) Controle cultural: consiste em evitar a permanência de frutos maduros nas plantas e também a coleta dos frutos caídos no chão, que deverão ser enterrados ou queimados.3) Controle biológico: este método ainda é pouco utilizado; porém, poderá se tornar fundamental, considerando-se o aspecto de conservação do meio ambiente. São relacionados como inimigos naturais de Anastrepha sp. insetos da família Braconidae, que parasitam suas larvas e pupas. Destaca-se também a utilização da técnica de macho ou inseto estéril, em que machos ou fêmeas esterilizados são disseminados nos pomares, visando a diminuir os acasalamentos férteis, reduzindo a população da praga.

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4) Controle normativo: estabelecimento de normas ou leis que determinem padrões de procedimento para o trânsito de produtos hortícolas de região para região, evitando-se a disseminação da praga.5) Controle pós-colheita: países importadores como Estados Unidos e Japão limitam o uso de dibrometo de etileno, tradicionalmente utilizado na fumigação de frutas. Isso levou o Brasil a aplicar outras metodologias de controle na fase pós-colheita, tais como: tratamento hidrotérmico, tratamento a frio, tratamento a vapor quente, tratamento a ar quente e radiação gama. Os detalhes desses métodos são relacionados no capítulo que aborda a colheita e pós-colheita de mangas.b) Broca-da-mangueira (Hypocryphalus mangiferae, Stebbing) Esta praga tem como único hospedeiro a mangueira, e assume importância econômica por ser o vetor do fungo Ceratocystis fimbriata, causador da seca da mangueira.O inseto é atraído pelo fungo através de odor liberado pelo patógeno e, ao se alimentar do mesmo, inocula-o na planta através de aberturas de galerias. O ataque se inicia pelos ramos novos, na região entre o lenho e a casca, avançando para os galhos inferiores até atingir o tronco. Como sintoma inicial, há exsudação de goma e presença de tecido vegetal pulverizado (pó de serra). A presença do fungo ocasiona a morte dos galhos infectados e até mesmo de toda a planta.O controle deve ser realizado através de práticas culturais, como podas de abertura e limpeza, eliminação de plantas novas, poda de ramos infectados. Após as podas, queimar os restos e pincelar ou pulverizar produto à base de Carbaril associado a um cúprico.c) Ácaros Várias espécies de ácaros podem atacar a mangueira, sendo o mais comum o ácaro das gemas Aceria mangiferae. Em condições climáticas favoráveis (temperaturas médias a altas e baixa precipitação), o ácaro pode colonizar as gemas terminais, axilares e inflorescências. Em mudas estabelecidas em viveiro ou plantas novas em campo, o ataque sobre as gemas terminais provoca a perda da dominância apical, resultando em superbrotamento de aparência compacta, denominado 'bunchy-top'. As plantas apresentam-se com copas malformadas e enfraquecidas. Em plantas adultas, o ataque ocorre sobre as inflorescências, provocando atrofiamento. Esse ácaro é considerado vetor do Fusarium moniliforme.Para o controle, deve-se observar cuidados especiais na condução de viveiros ou aquisição de mudas, pois o ácaro é transmitido através de material propagativo (gemas e garfos). O controle químico é feito através de pulverizações com produtos à base de enxofre pó molhável.d) Cochonilhas As principais espécies de cochonilhas que atacam a mangueira são a cochonilha-branca Aulacaspis tubercularis, Saissetia coffeae e Pinnaspis sp. A cochonilha-branca A. tubercularis possui uma escama protetora quase circular de coloração opaca, branco-acinzentada, podendo atacar folhas, ramos e frutos. A S. coffeae apresenta o dorso duro, liso e brilhante, coloração pardo-clara a escura. Localiza-se em ramos e folhas (sobre as nervuras centrais). A cochonilha escama-farinha Pinnaspis sp. forma colônias sobre o tronco, ramos e folhas. As cochonilhas, de uma maneira geral, sugam grande quantidade de seiva, resultando no enfraquecimento da planta, redução do crescimento e desfolha. O ataque sobre os frutos provoca machucaduras, manchas e deformações, que comprometem a aparência externa.Para o controle, realizar inspeções periódicas identificando os focos de ataque da praga e proceder à aplicação de óleo mineral a 1% associado a um inseticida fosforado, evitando-se pulverizações durante os períodos de florescimento.e) Tripes Destaca-se o tripes Selenothrips rubrocinctus, que coloniza a face inferior das folhas próximo às nervuras. As fêmeas depositam os ovos sob a epiderme das folhas, cobrindo-as com uma secreção, que escurece ao secar. As folhas inicialmente tomam um aspecto prateado ou amarelado, chegando posteriormentea ocorrer desfolha parcial ou total da planta. Em alguns casos, pode atacar a epiderme dos frutos, prejudicando a sua aparência e o valor de mercado. O controle é realizado, nos casos de infestações elevadas, através de pulverizações com produtos fosforados, carbamatos ou piretroides, registrados para uso na cultura.f) Outras pragas Dependendo da região, das condições climáticas e práticas de manejo do pomar, outras pragas eventualmente poderão assumir importância econômica, como: abelha-irapuá (Trigona spinipes), ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus), besouroamarelo ou vaquinhas (Costalimaita ferruginea vulgata), besourode-Limeira (Sternocolaspis quatuordecincostata), cigarrinha-do-pedúnculo (Aethalion reticulatum), coleobroca (Chlorida festiva), formigas cortadeiras (Atta sexdens rubropilosa ou Atta laevigata), lagarta-de-fogo (Megalopyge lanata), percevejo-das-frutas (Theognis stigma).