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ISSN 0104-9046 Dezembro, 2007 Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera: Sphingidae): Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre 107

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ISSN 0104-9046Dezembro, 2007

Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera: Sphingidae):

Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre

107

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Documentos 107

Murilo FazolinJoelma Lima Vidal EstrelaManoel Delson Campos FilhoAntonio Clebson Cameli SantiagoFrancisco de Souza Frota

Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.)(Lepidoptera: Sphingidae): Conceitos eExperiências na Região do Vale do RioJuruá, Acre

Embrapa AcreRio Branco, AC2007

ISSN 0104-9046

Dezembro, 2007

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaCentro de Pesquisa Agroflorestal do AcreMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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© Embrapa 2007

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa AcreRodovia BR 364, km 14, sentido Rio Branco/Porto VelhoCaixa Postal, 321Rio Branco, AC, CEP 69908-970Fone: (68) 3212-3200Fax: (68) 3212-3284http://[email protected]

Comitê de Publicações da Unidade

Presidente: Rivadalve Coelho GonçalvesSecretária-Executiva: Suely Moreira de MeloMembros: Aureny Maria Pereira Lunz, Carlos Mauricio S. de Andrade, Claudenor Pinhode Sá, Giselle Mariano Lessa de Assis, Henrique José Borges de Araujo, Jonny EversonS. Pereira, José Marques Carneiro Júnior, José Tadeu de Souza Marinho, LúciaHelena de Oliveira Wadt, Luís Cláudio de Oliveira, Marcílio José Thomazini, PatríciaMaria Drumond

Supervisão editorial: Claudia Carvalho Sena / Suely Moreira de MeloRevisão de texto: Claudia Carvalho Sena / Suely Moreira de MeloNormalização bibliográfica: Luiza de Marillac Pompeu Braga GonçalvesTratamento de ilustrações: Iuri Rudá Franca GomesEditoração eletrônica: Iuri Rudá Franca GomesFoto da capa: Murilo Fazolin

1ª edição1ª impressão (2007): 600 exemplares

M274m Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera: Sphingidae): Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre / Murilo Fazolin...[et al]. Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2007. 45 p. (Documentos, 107)

1. Mandioca – Pragas. 2. Mandioca – Insetos. 3. Manihotesculenta. 4. Erinnyis ello. 5. Mandarová. 6. Baculoviruserinnyis. 7. Bioinseticida. I. Fazolin, Murilo. II. Série.

CDD 21. ed. 633.682

Todos os direitos reservadosA reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Acre

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Autores

Murilo FazolinEngenheiro agrônomo, D.Sc. em Entomologia, pesquisadorda Embrapa Acre, Caixa Postal 321, 69908-970, RioBranco, Acre, [email protected]

Joelma Lima Vidal EstrelaEngenheira agrônoma, M.Sc. em Entomologia, bolsista doCNPq, Caixa Postal 321, 69908-970, Rio Branco, Acre,[email protected]

Manoel Delson Campos FilhoTécnico agrícola, Embrapa Acre, Av. 25 de agosto, nº4.031, Bairro Aeroporto Velho, 69980-000, Cruzeiro doSul, Acre, [email protected]

Antonio Clebson Cameli SantiagoTécnico agrícola, Seaprof de Cruzeiro do Sul, Rua RegosBarros, nº 51, Centro, 69980-000, Cruzeiro do Sul, Acre,[email protected]

Francisco de Souza FrotaTécnico agrícola, Sebrae de Cruzeiro do Sul, Rua BoulevardThaumaturgo, nº 1.148, Centro, 69980-000, Cruzeiro doSul, Acre

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Apresentação

Desde 1983 a região do Vale do Rio Juruá (Acre),compreendendo os municípios de Guajará (AM) e MâncioLima, Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul (AC), vemsofrendo ataques de lagartas do mandarová-da-mandiocaErinnyis ello (L., 1758). A partir daí outros quatro surtossucederam-se causando danos à cultura da mandioca comconseqüentes prejuízos à economia daquela região.

Em 2005, um projeto financiado pelo MCT-CNPq-Finep como objetivo de melhorar a competitividade e eficiência doagronegócio da Farinha de Mandioca no Vale do Juruá(Farinhavj), inserindo dentre suas atividades o manejointegrado do mandarová-da-mandioca, propiciou aavaliação da eficácia no campo de dois agentes decontrole biológico formulados a partir de Baculoviruserinnyis e Bacillus thunrigiensis.

Com a obtenção de resultados expressivamente positivosno controle da praga em questão, este trabalho tem porobjetivo divulgar os resultados práticos e trazer umaabordagem teórica para a formação de técnicosmultiplicadores desta tecnologia, que deverão repassareste conhecimento para os produtores do Vale do Juruá.

Consideramos, desta forma, que os resultados obtidosnesta etapa de avaliação são suficientes para que sejamadotados os métodos de controle biológico de E. ello,trazendo menor impacto ambiental e menor desequilíbrio

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biológico, influindo sobremaneira na melhoria de renda dosprodutores e na segurança alimentar dos consumidores dafamosa farinha de mandioca daquela região do Estado doAcre.

Marcus Vinicio Neves d’Oliveira Chefe-Geral da Embrapa Acre

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Introdução ............................................................. 9

Ciclo Biológico do Mandarová ................................... 12

Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca ............ 18

Considerações Finais para o Sucesso do Manejo Integrado

do Mandarová na Região do Vale do Juruá ................. 39

Referências ............................................................ 41

Sumário

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Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.)(Lepidoptera: Sphingidae):Conceitos e Experiências na Regiãodo Vale do Rio Juruá, Acre

Murilo FazolinJoelma Lima Vidal EstrelaManoel Delson Campos FilhoAntonio Clebson Cameli SantiagoFrancisco de Souza Frota

Introdução

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de mandioca(Manihot esculenta), com o cultivo de raízes empraticamente todas as regiões do País. Este produtomovimenta nas etapas de trabalho de campo e deprocessamento da farinha e da fécula em torno de ummilhão de empregos diretos. Na Região Norte, a cultura ébásica na alimentação da população local, principalmentena forma de farinha e, recentemente, com a utilização dafécula como insumo na panificação.

No Acre, a farinha de mandioca produzida no Vale do RioJuruá (farinha de Cruzeiro do Sul) é considerada umproduto estratégico para a economia do estado,despontando como um dos alavancadores do seudesenvolvimento sustentável. As políticas públicas defomento do arranjo produtivo promoveram um aumento de73% da produção anual de raiz de mandioca e umincremento no preço da farinha da ordem de 412%, fatoque elevou a mandioca à condição de principal culturaagrícola do setor primário. Vários entraves podem serapontados como ameaça ao fortalecimento deste arranjoprodutivo local, destacando-se dentre eles a grandeincidência do mandarová-da-mandioca Erinnyis ello (L.).

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Das duzentas espécies de artrópodes que se alimentam damandioca, o mandarová constitui a principal praga dessacultura, por causa da sua alta capacidade de consumofoliar, especialmente nos últimos instares larvais. É umapraga de ocorrência esporádica (surtos), podendo demorarvários anos antes de apresentar novo ataque. A lagartapode causar severo desfolhamento nas plantas, com perdade rendimento considerável (Fig. 1). Quando odesfolhamento ocorre em plantas jovens (dois a cincomeses), as perdas são maiores que em plantas mais velhas(seis a dez meses). Além disso, as lesões e ferimentoscausados pelas lagartas facilitam a penetração de doençasna planta.

Fig. 1. Plantas novas (a) e adultas (b) de mandioca completamentedesfolhadas devido ao ataque de lagartas de E. ello.

Há evidências de que E. ello seja uma praga originária doBrasil, sendo constatada nos estados do Rio Grande do Sule São Paulo no final do século 19. Sua distribuiçãogeográfica é ampla por causa da aerodinâmica de seucorpo, que permite voar a grandes distâncias. Essa pragase estende por toda a América do Sul e América Central,sendo detectada na América do Norte até a fronteira com o

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Canadá. Além disso, ela é polifágica, podendo se alimentarde mais de 35 espécies de plantas, pertencentes àsfamílias Euphorbiaceae, Caricaceae e Solanaceae, cabendoressaltar que a maioria delas é produtora de látex.

No Brasil essa praga ocorre, principalmente, durante osperíodos de setembro a fevereiro, com ataquesdiferenciados conforme as regiões e normalmenteassociados às altas temperaturas e ao início da estaçãochuvosa, podendo não ocorrer em determinados anosagrícolas.

No Acre, os relatos de ataque desta praga ocorreram noperíodo de janeiro a abril, estando restritos aos municípiosde Guajará (AM), Mâncio Lima, Rodrigues Alves e Cruzeirodo Sul na região do Vale do Rio Juruá.

Em meados da década de 1980 ocorreu o primeiro surto domandarová-da-mandioca na região de Cruzeiro do Sul (AC),sendo o centro de origem o município vizinho de Guajará(AM). Na época não foram avaliadas a intensidade doataque da praga e as conseqüentes perdas deprodutividade.

Outros surtos foram constatados nos anos de 1993 e1998, sendo acompanhados e avaliados pela Embrapa Acreem parceria com o Serviço de Extensão Rural do estado.Nestes dois anos as perdas de produtividade foramestimadas em 50% e 60%, respectivamente.

Um novo surto, embora menos severo, ocorreu em 2002, enovamente outro em 2007, o que ressaltou a necessidadede serem adotadas medidas de controle para o manejointegrado da praga na região.

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Ciclo Biológico do Mandarová

Ovos

A postura é realizada na face superior das folhas sendo oovo do mandarová de forma oval e lisa, medindoaproximadamente 1,5 milímetro de diâmetro, de cor verdee brilhante (Fig. 2a), passando a amarela com grandenúmero de pontuações avermelhadas após 24 horas. Operíodo médio de incubação do ovo varia de dois a seisdias. Quando os ovos encontrados tiverem coloraçãoescura, tendendo para o preto, estarão parasitados (Fig.2b).

Fig. 2. Ovos de E. ello sadios (a) após a postura e parasitados (b).

Lagartas

A lagarta recém-eclodida mede, aproximadamente, cincomilímetros de comprimento, com coloração variada (verde,amarela, alaranjada, marrom, cinza-escuro e preta). Esta

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variação depende principalmente de alguns fatores taiscomo: população (aglomeração), qualidade do alimentoconsumido e condições climáticas. Muitos agricultores têmobservado que as lagartas escuras são mais vorazes eresistentes ao controle químico. A lagarta do mandarovápassa por cinco fases de desenvolvimento (instares) queduram aproximadamente 12 a 15 dias, período em queconsome em média 1.107 cm2 de área foliar, o equivalentea 12 folhas bem desenvolvidas, sendo 75% dessa áreaconsumida no 5º instar (Fig. 3).

Fig. 3. Lagartas de E. ello no 5º instar consumindo folhas de mandioca.

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14 Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera:Sphingidae): Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre

É importante o reconhecimento do estádio larvalpredominante na população de lagartas presentes nalavoura, uma vez que para eficácia das principais medidasde controle é necessário que elas estejam nos trêsprimeiros estádios de desenvolvimento (até 3 cm decomprimento), pois no quarto e quinto estádios as lagartassão mais resistentes ao controle químico e biológico. Naprática os instares larvais podem ser diferenciados pelotamanho do inseto, principalmente pela forma e coloraçãodo apêndice abdominal.

Assim, lagartas que se encontram no primeiro instarapresentam apêndice abdominal longo e fino, com diâmetrouniforme (parecido com uma seta) e coloração negra(Fig. 4a). No segundo instar, o apêndice é comprido e fino,porém apresentando um engrossamento na base, onde apigmentação negra começa a diminuir (Fig. 4b). Já noterceiro instar, apresenta uma forma cônica de coloraçãocreme-claro (Fig. 4c). A partir do quarto estádio engrossa ediminui de tamanho (Fig. 4d), predominando a coloraçãocreme-claro. Por fim, no quinto instar, o apêndice é curto egrosso (Fig. 4e).

Pré-pupa

Depois de completados os cinco instares e medindo de10 cm a 12 cm, as larvas de E. ello descem ao solo e seescondem embaixo de restos vegetais, como palhadas etroncos de árvores e arbustos (Fig. 5), onde passam pelafase de pré-pupa. Durante este estádio não consomemalimento e apresentam pouca mobilidade, transformando-se em pupa em aproximadamente dois dias.

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Fig. 4. Lagartas de E. ello nos cinco instares do estádio larval: a) primeiroestádio; b) segundo estádio; c) terceiro estádio; d) quarto estádio; e) quintoestádio.

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Pupa

O mandarová na fase de pupa apresenta coloração variávelde castanho-claro a castanho-escuro, com algumas estriaspretas (Fig. 6). O tamanho da pupa varia de 4 a 6centímetros de comprimento. Este período varia de 15 a 30dias.

Fig. 5. Lagartas de E. ello entrando no estádio pré-pupal.

Fig. 6. Pupas de E. ello.

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Adultos

Na fase adulta, as mariposas são grandes, medindo cercade 90 mm de envergadura, apresentando coloração cinzacom faixas pretas no abdome, interrompidas no dorso. Asasas anteriores posteriores são vermelhas com uma faixacastanho-escura que bordeja a margem apical. Os machospodem ser diferenciados das fêmeas por possuírem, nasasas anteriores, uma faixa longitudinal paralela à margemposterior, além de abdome menos volumoso (Fig. 7). Osadultos do mandarová não causam danos às plantas demandioca, pois se alimentam de néctar por meio do seuaparelho bucal do tipo sugador maxilar (Fig. 8).

Fig. 7. Adultos de E. ello: fêmea (a) e macho (b).

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18 Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera:Sphingidae): Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre

As fêmeas podem colocar até 1.800 ovos durante o seuciclo de vida, sendo suas posturas isoladas.

Manejo Integrado do Mandarová-da-MandiocaO manejo integrado do mandarová-da-mandioca pode serdefinido como um sistema de decisão para uso de táticasde controle, que podem ser isoladas ou associadasharmoniosamente, numa estratégia de manejo que leva emconsideração o custo–benefício, o impacto para osprodutores e para a sociedade como um todo e,principalmente, o impacto ambiental.

Fig. 8. Aparelho sugador maxilar de adultos de E. ello.

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Danos Causados por Lagartas de E. Ello

As lagartas do mandarová atacam folhas de qualqueridade, devorando primeiro as mais novas. Podem desfolharcompletamente as plantas, destruindo também brotaçõesnovas e gemas apicais de crescimento. Na região do Juruá,em anos de surto da praga, é comum observar lagartascaminhando pelo solo saindo de roçados completamentedesfolhados rumo a roçados vizinhos que nãoapresentavam ataque.

No primeiro ano de cultivo, dependendo da variedadecultivada, o roçado de mandioca deverá receber umainspeção mais detalhada uma vez que as plantas de 2 a 6meses após o plantio são mais sensíveis à desfolha,podendo comprometer totalmente a produção dostubérculos. Plantas adultas (acima de 8 meses) são maistolerantes, uma vez que diante de desfolhas severaspodem se recuperar à custa de energia dos tubérculos,reduzindo a qualidade (quantidade de amido) e aprodutividade.

Em todos os casos, o desfolhamento expõe o solo a umamaior incidência solar, contribuindo para a emergência deplantas invasoras, que levam à necessidade de realizarcapinas adicionais (Fig. 9), aumentando assim o custo deprodução. Além disso, a lagarta do mandarová ao sealimentar de diferentes plantas pode disseminarbacterioses.

Nível de Dano Econômico e Nível de Controle

De maneira geral a condição de praga para uma populaçãode insetos em uma determinada cultura depende de suadensidade populacional (quantidade de indivíduos/área) e dainjúria causada às plantas. No caso da mandioca, muitasvezes a desfolha causada pelo mandarová não é suficiente

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para acarretar dano econômico devido à capacidade decompensação das plantas frente à falta momentânea defolhas.

Fig. 9. Roçado totalmente desfolhado por E. ello com a ressurgência deplantas invasoras.

O monitoramento populacional do mandarová deve seriniciado pela observação da quantidade de ovos sobre asfolhas e principalmente pela proporção desses ovos queapresentam deformações e coloração negra (Fig. 2 b), oque indica que estão sendo parasitados naturalmente. Casoo parasitismo seja superior a 50% nenhuma medida decontrole da praga deverá ser adotada. Quando estaporcentagem de ovos parasitados não for observada nosroçados, pode indicar que o ataque de lagartas deverá seriniciado de 3 a 5 dias após a inspeção. A partir daí medidasde controle deverão ser adotadas, dependendo do númeroe estádio das lagartas e do estágio de desenvolvimento da

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21Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera:Sphingidae): Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre

cultura. Quando são observadas grandes populações delagartas em diferentes instares, considera-se como regra ouso de medidas de controle que deverão ser adotadasquando forem encontradas, em média, 6 lagartas com até3 cm/planta (nível de controle).

Métodos de Controle de E. Ello

Podem ser apontados vários métodos de controle de E. ello,cujo alvo pode ser qualquer um dos estádios dedesenvolvimento. A maioria desses métodos tem comoobjetivo preferencial o manejo integrado das lagartas dessapraga. De qualquer forma o controle de outros estádios dedesenvolvimento deve ser considerado dentro do manejointegrado desta praga, no sentido de diminuir a infestaçãoinicial como é o caso do controle de ovos e adultos.

Mecânico

Este método, recomendado para áreas de até 2 ha,resume-se na catação manual das lagartas. Experiênciasbem sucedidas no Vale do Juruá foram constatadasquando as famílias dos produtores se envolveram noprocesso, realizando nas primeiras horas do dia uma“varredura” no roçado coletando e eliminando as lagartaspor esmagamento ou corte com tesoura.

Físico

Os adultos possuem hábito noturno sendo atraídos porfocos luminosos (fototrópicos positivos). Por isso, autilização de armadilha luminosa, com a finalidade de atraire eliminar mariposas fêmeas antes de realizarem a posturados ovos, é recomendada, uma vez que isto diminui ainfestação da praga. Existem vários tipos de armadilhaluminosa, porém o modelo “Luiz de Queiroz” é o maisutilizado (Fig. 10). Trata-se de um aparelho dotado de uma

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lâmpada fluorescente de comprimento de onda específico(F15T8BL) emitindo energia na faixa do ultravioleta, queatrai insetos noturnos fazendo com que ao colidirem comanteparos (aletas) caiam por um funil até a gaiola coletorade aprisionamento, localizada na parte inferior daarmadilha. A fonte de alimentação energética utilizadapoderá ser a energia elétrica ou a bateria de automóvel de12 W dotada de conversor.

Fig. 10. Armadilha luminosa modelo “Luiz de Queiroz” utilizada nacaptura de adultos de E. ello.

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23Manejo Integrado do Mandarová-da-Mandioca Erinnyis ello (L.) (Lepidoptera:Sphingidae): Conceitos e Experiências na Região do Vale do Rio Juruá, Acre

Coletas realizadas em propriedades do Vale do Juruácomprovaram a eficácia dessa armadilha para efeito decontrole e monitoramento da praga, capturando de 24 a6.078 indivíduos do início ao pico da infestação da praga,respectivamente.

Na falta de aparelhos como este, havendo a disponibilidadede energia elétrica na propriedade podem-se improvisararmadilhas atrativas utilizando luz incandescente comum,fixada a um poste, usando como coletor um tamborcortado ao meio contendo água com sabão (Fig. 11).Logicamente a eficácia de coleta é menor, porém umaquantidade significativa de adultos da praga é coletadacom sucesso.

Fig. 11. Armadilha montada com luz incandescente.

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Controle Biológico

O controle biológico é um fenômeno natural que consistena regulação do número de plantas e animais por inimigosnaturais, os quais constituem os agentes de mortalidadebiótica. Assim, todas as espécies de plantas e animais têminimigos naturais atacando seus vários estágios de vida.Dentre tais inimigos naturais existem grupos bastantediversificados, como insetos, vírus, fungos, bactérias,nematóides, protozoários, rickéttisias, micoplasmas,ácaros, aranhas, peixes, anfíbios, répteis, aves emamíferos.

Desta forma, o controle biológico apresenta-se comoalternativa viável para combater as pragas agrícolas, umavez que seu uso é considerado seguro ao homem e ao meioambiente, por ser restrito a invertebrados e, em geral,patogênico a uma única espécie.

Inseticida à Base de Vírus Entomopatogênicos

Os inseticidas virais apresentam diversas vantagens sobreos inseticidas químicos convencionais de amplo espectro,sendo muito específicos e seguros ao homem e aos demaisvertebrados. Além disso, os vírus possuem a capacidade dese multiplicar no hospedeiro, o que permite sua prevalênciae disseminação no ambiente da praga, podendo mantê-laabaixo do nível de dano econômico para a cultura.

Atualmente existe pouco interesse da indústria privada emdesenvolver produtos à base de vírus, podendo-se apontarcomo causas importantes: a) alta especificidade quedificulta seu uso em campo, especialmente em cultivoscom a ocorrência simultânea de pragas-chave; b) longotempo para provocar a morte do inseto-alvo; c) limitaçõestecnológicas para se reproduzir comercialmente essesagentes in vitro; e d) atendimento a mercados restritos

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tendo como conseqüência retornos em longo prazo aosinvestimentos realizados.

Os vírus de insetos e ácaros atualmente conhecidos estãorepresentados por mais de vinte grupos. Entretanto,quando é considerada sua utilização no controle de pragas,o grupo dos Baculovirus tem sido o mais estudado eempregado para tal fim.

Os Baculovirus têm sido estudados como agentes decontrole biológico desde a década de 1960, tornando-seum modelo de virologia animal, pois os insetos possuem umciclo de vida curto que permite sua multiplicação massalem laboratório. Na natureza, esse é o maior grupo de vírusque ocorre em populações de insetos, sendo persistente nomeio ambiente, podendo causar epizootias, com morte deum grande número de larvas.

Esses vírus têm grande potencial como agentes de controlebiológico de insetos-praga tanto em agricultura como emáreas florestais. São específicos a uma ou poucas espéciesrelacionadas, e sua proteção em cristais protéicos permitea produção de biopesticidas por pequenos produtores, nãoexigindo alta tecnologia de aplicação, representando assimeconomia e biossegurança em relação aos inseticidasquímicos.

A família Baculoviridae infecta principalmente osrepresentantes da ordem Lepidoptera. Esta família de vírustambém pode ser encontrada nas ordens Hymenoptera,Diptera, Coleoptera, Orthoptera, Neuroptera, na classeCrustacea e Arachnida.

O primeiro relato da utilização do Baculovirus (vírus dagranulose - VG) em condições de campo ocorreu na décadade 1980 quando observações realizadas no CentroInternacional de Agricultura Tropical (Ciat), na Colômbia,

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detectaram lagartas de E. ello infectadas com oBaculovirus em condições naturais, passando-se aconsiderar esse vírus como importante agentemicrobiológico para o controle da praga.

No Brasil, um VG de E. ello foi isolado pela primeira vez noEstado de Santa Catarina, o qual se mostrou eficiente parao controle da praga em campo. Um programa foiimplantado, em propriedades agrícolas, pela Empresa dePesquisa Agropecuária de Santa Catarina, Empasc (hojeEpagri), na região de Itajaí. A identificação da espécie desteVG apontou para Baculovirus erinnyis.

A partir daí a produção do Baculovirus erinnyis foi realizadacom base em lagartas alimentadas com folhas de mandiocacontaminadas pelo patógeno, para posterior coleta delagartas mortas, armazenamento em congelador edistribuição aos agricultores. Há alguns anos, esse víruspassou a ser produzido também pelo Instituto Agronômicodo Paraná (Iapar). Seu emprego é realizado na forma impura(extrato de lagartas infectadas), em cultivos de mandiocade Santa Catarina, Paraná e no Nordeste do Brasil. Umestudo sobre a eficiência deste Baculovirus como inseticidana região de Itajaí (SC) demonstrou alta capacidade dedispersão o que permite que a infecção chegue a locais nãopulverizados através do vento, de trânsito de pessoas nalavoura, de insetos parasitas e de predadores. Foiconstatada em condições de campo uma alta virulênciadeste vírus ao mandarová-da-mandioca, causando 90% demortalidade após nove dias de infecção.

O ciclo de vida do Baculovirus é bastante peculiar e sediferencia de outros vírus, por produzir dois tipos deprogênies infecciosas com funções diferentes, masessenciais para sua propagação natural. A forma ocluída dovírus (PDV) é responsável pela transmissão de inseto para

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inseto, enquanto a forma não ocluída do vírus (BV) éresponsável pela transmissão de célula para célula, em ummesmo indivíduo (infecção sistêmica). Os poliedros do víruspodem se dispersar por várias partes da planta hospedeirado inseto, principalmente por meio de chuvas emovimentos de artrópodes do solo para as plantas. O ciclose inicia com a ingestão, pelo inseto, de poliedros do vírusque ao chegarem ao intestino médio são expostos ao pHalcalino que dissolve a poliedrina, liberando os vírions nolúmen digestivo.

A infecção da lagarta pelo Baculovirus inicia-se com aingestão desse vírus juntamente com as folhas damandioca. Aproximadamente após quatro dias da ingestãodo vírus surgem os primeiros sintomas da doença que sãodescoloração da lagarta, perda dos movimentos e dacapacidade de se alimentar. No estágio final da infecção,as lagartas mortas apresentam comportamento degeotropismo negativo, ou seja, são encontradasdependuradas nos pecíolos das folhas (Fig. 12). Após amorte do inseto os poliedros são liberados no meioambiente, devido à ruptura da cutícula larval, transmitindoa infecção a outros insetos.

Na prática, os inseticidas virais apresentam limitaçõesprincipalmente quando comparados aos químicos. O temporelativamente longo para provocar mortalidade dohospedeiro implica na necessidade de dirigir as aplicaçõescontra estádios iniciais da praga, exigindo monitoramentorotineiro de suas populações em campo. Portanto, aprincipal estratégia para a utilização de vírus em campo édefinir os parâmetros para seu uso, em função daintensidade e da composição etária da praga visada,evitando danos econômicos à cultura.

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Fig. 12. Lagarta de E. ello com sintomas característicos de infecção porBaculovirus erinnyis.

Após a recuperação de um material de Baculovirus erinnyisda região norte de Minas Gerais, unidades de observaçãoforam instaladas no Vale do Rio Juruá, para avaliaçãodesta raça de vírus quanto à eficiência no controle delagartas de E. ello.

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Foram selecionadas cinco áreas medindo aproximadamente1,5 ha, localizadas na comunidade “Badejo do Meio”, cujapopulação de lagartas variou de 6 a 8 indivíduos/planta,estando 75% delas no 2º e 3º instares. As áreas forampulverizadas com Baculovirus na dose de 40 ml de extrato/ha, utilizando-se pulverizador costal motorizado. Decorridos6 dias da realização das pulverizações, as áreasexperimentais foram avaliadas apresentando em média96% de mortalidade demonstrando que o Baculovirus éaltamente eficaz no controle do mandarová. Com aparticipação dos produtores as lagartas infectadas foramcoletadas e esmagadas para extração do vírus, visandoofertar o produto para tratamento de novas áreasinfestadas, assim como armazenamento para futuros surtosda praga na região.

Procedimento Adotado para Extração do Vírus das Lagartas

As lagartas recém-mortas, contaminadas pelo vírus, foramcolocadas em grupos de dois a cinco indivíduos, em umavasilha limpa contendo aproximadamente 5 ml de águapura. Em seguida procedeu-se ao esmagamento daslagartas até que fosse obtida uma massa homogênea. Olíquido assim obtido foi coado em gaze (podendo tambémser utilizado um pano fino e limpo) obtendo-se um líquidoviscoso, pronto para ser utilizado (Fig. 13).

Após o acondicionamento, o vírus pode ser armazenadopor até 5 anos sob congelamento na forma de extrato delagartas ou lagartas infectadas (Fig. 14). Neste processopode ser utilizado o freezer de geladeira doméstica,facilitando o armazenamento na propriedade rural.

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Fig. 13. Etapas de preparo do extrato de lagartas de E. ello infectadas comBaculovirus: a) lagartas recém-mortas pelo vírus em vasilha;b) esmagamento das lagartas; c) líquido obtido coado em gaze;d) líquido viscoso pronto para uso.

Fig. 14. Extrato de lagartas e lagartas de E. ello infectadas com Baculovirusprontas para armazenamento.

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Inseticidas à Base de Bactérias Entomopatogênicas

O crescente interesse pela utilização de bactériasentomopatogênicas para o controle de populações deinsetos prejudiciais levou o homem a pesquisar maisprofundamente as bactérias esporulantes, por se tratar deuma característica de persistência que tem sidoconsiderada como pré-requisito para que um agente possaser produzido em escala comercial. Embora sejam poucasas espécies de bactérias com alta capacidade de invadir aparede intestinal ou se multiplicar na luz do intestino, váriassão as espécies consideradas potenciais, ou seja, com acapacidade de se multiplicar na hemolinfa, causandosepticemias fatais. Ainda existem aquelas espécies debactérias, embora poucas, que se caracterizam por altavirulência, alta capacidade invasora e produção de toxinas,causando facilmente toxemias em insetos.

A família Bacillaceae, amplamente estudada, envolve doisgêneros de grande importância, Clostridium e Bacillus. Paraefeito de controle do mandarová-da-mandioca seráconsiderado apenas este último gênero, uma vez queexistem produtos comerciais formulados com Bacillusthuringiensis que podem ser utilizados no controle dareferida praga.

A bactéria B. thuringiensis, encontrada naturalmente nosolo, tem sido utilizada para produzir inseticida biológico,para aplicação foliar, desde 1938. Sua utilização comoinseticida só é possível porque essa bactéria, além deproduzir esporos, também sintetiza estruturasglicoprotéicas sólidas denominadas de δ-endotoxinas oucristais de proteínas inseticidas, os quais são tóxicos paraalguns insetos quando ingeridos.

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De maneira resumida, o efeito inseticida ocasionado por B.thuringiensis inicia-se quando um inseto suscetível ingereos cristais dessa bactéria (Fig. 15). Esses cristais sãocompreendidos por pró-toxinas as quais, após a ingestão,são solubilizadas pelo pH alcalino do trato intestinal doinseto. Uma vez ativos, os fragmentos de pró-toxinas seligam em receptores específicos encontrados no epitélio doinseto. Como conseqüência disso, ocorre a deformação dascélulas epiteliais do intestino médio. Quando ofuncionamento do intestino médio é interrompido, ocorreuma redução do pH do fluido intestinal do insetoconjuntamente com uma liberação de nutrientes, os quaiscriam condições para a germinação dos esporos e amultiplicação das células vegetativas da bactéria. O B.thuringiensis então invade os tecidos larvais do inseto queinterrompe sua alimentação e morre. Devido ao processoinfeccioso, o inseto se torna mais suscetível a invasõesmicrobianas secundárias que podem acelerar a sua morte.O ciclo infeccioso é concluído quando o cadáver do insetoé consumido e a bactéria garante a sua perpetuação noambiente na forma de esporo.

Diversos insetos-praga podem ser controlados pelo B.thuringiensis destacando-se: Trichoplusia ni (lagarta-mede-palmo), Anticarsia gemmatalis (lagarta-da-soja),Pseudoplusia includens (lagarta-falsa-medideira) e Tutaabsoluta (traça-do-tomateiro).

B. thuringiensis é, atualmente, o inseticida biológico maisproduzido e utilizado no mundo como agente de controle depragas. Enquanto o uso de inseticidas biológicos aindapermanece significativamente atrás dos inseticidasquímicos sintéticos, muitos aspectos relacionados àsegurança e ao meio ambiente favorecem o contínuoaumento da utilização dessa bactéria para o controle de

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pragas. Isso porque as proteínas estudadas até o momentonão são patogênicas para os mamíferos, pássaros, anfíbiosou répteis e, ainda, são muito específicas para os gruposde insetos e invertebrados-praga contra os quais as toxinastêm atividade.

O modo de ação das proteínas inseticidas dessa bactériadifere completamente dos modos de ação dos conhecidosinseticidas químicos sintéticos, fazendo com que essasproteínas sejam elementos-chave para auxiliar no manejointegrado de pragas por meio de sua aplicação foliar sobreas plantas.

Fig. 15. Dinâmica do efeito de B. thuringiensis em lagartas do mandarová-da-mandioca.

Fonte: ABBOT, [19—].

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Existem três produtos industrializados à base de B.thuringiensis que podem ser adquiridos no comércio,segundo a recomendação do Agrofit 2007, base para oreceituário agronômico do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento.

As áreas do Vale do Rio Juruá pulverizadas com produtocomercial à base de B. thuringiensis apresentaram umcontrole de 94% dos indivíduos, mostrando-se tão eficientequanto aquelas tratadas com Baculovirus. A diferença,neste caso, é o aumento no custo de produção quando sãonecessários 600 g do produto comercial para pulverizar 1ha de roçado.

Vespas Predadoras de Lagartas

Algumas espécies de vespas ou cabas, como sãochamadas na Região Norte do Brasil, juntamente com asabelhas, cupins e formigas, estão entre os insetosadaptativamente mais evoluídos que se conhece. De modogeral, o comportamento delas é bastante complexo, umavez que existem regras bem definidas para a reprodução,manutenção da colônia, comunicação e alimentação. Mastodos esses aspectos variam de acordo com o nível desociabilidade do inseto.

O gênero Polybia (Hymenoptera: Vespidae) representavespas altamente sociais ou enxameantes, nome dado emrazão da emissão periódica de enxames quando hásuperpopulação de indivíduos no ninho. De modosemelhante às abelhas, um jovem contingente de vespasrainhas e operárias migra para fundar sua própria colônia e,em menos de uma semana, constrói um ninho capaz deabrigar todo o enxame.

Normalmente, a população dessas vespas chega amilhares, exigindo a formação de castas bem distintas e de

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múltiplas rainhas. Nesse caso, a colônia é dividida emsubterritórios, cada qual com sua rainha reprodutora eoperária responsáveis por tarefas de cuidado parental coma prole, alimentação e defesa, entre outros. A divisão dastarefas não é arbitrária, já que as rainhas têm umamorfologia diferenciada, geralmente são maiores do que asoperárias e possuem capacidade reprodutiva, enquanto asoutras nascem com os ovários hipertrofiados.

Todos os indivíduos da colônia têm o mesmo odor,resultado da mistura de vários feromônios emitidos. É amaneira mais eficaz de se evitar estranhos no ninho.Assim, toda vez que uma vespa pousa no ninho, ela érecebida por guardiãs que tateiam com antenas o corpodela para reconhecimento do odor. Caso seja, de fato, umintruso, as vespas-seguranças soam um alarme: glândulasemitem substâncias que se volatilizam, fazendo com que oodor relativo a perigo seja disseminado sobre toda a área.Ao decodificar o sinal químico, os indivíduos desencadeiamum movimento agressivo, de vigilância e alerta nasproximidades do ninho.

Espécies do gênero Polybia são consideradas eficientespredadoras de lagartas, especialmente as da famíliaSphingidae, a qual pertence o mandarová E. ello.

No Vale do Juruá, nos surtos ocorridos em 1993 e 2007,foi observada tanto a presença quanto a intensa atividadede vespas desse gênero, que contribuiu para que apopulação da praga não fosse maior.

Os indivíduos adultos foram observados retirandofragmentos do corpo de lagartas sadias e daquelasmoribundas pela ação dos inseticidas biológicos aplicados,auxiliando desta forma no controle da praga (Fig. 16).

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Ninhos próximos às lavouras encurtavam o percurso dasvespas entre a predação e o fornecimento de alimento paraas formas jovens em desenvolvimento (Fig. 17).

Fig. 16. Vespas do gênero Polybia predando lagartas de E. ello.

Fig. 17. Ninho da vespa do gênero Polybia próximo ao roçado.

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A transferência de colônias de vespas visando ao controlede lagartas foi avaliada com sucesso tanto no Brasil comona África. Tal procedimento deve ser realizado comcautela, uma vez que a picada desses insetos além dedolorosa é tóxica, principalmente para pessoas alérgicas,podendo causar morte. Porém, a manutenção de colôniasdesses insetos próximas ao roçado poderá beneficiar omanejo integrado da praga.

Inseticida Químico

Como o manejo integrado de pragas é considerado umsistema de decisão, em que são utilizados, de formaisolada ou associada harmoniosamente, diferentes métodosde controle, os inseticidas químicos devem serconsiderados uma alternativa no controle de lagartas E.ello, caso não se tenha condições de controlá-las comprodutos de origem biológica. No entanto, do mesmo modoque ocorre na medicina humana e veterinária, naagricultura são sentidos os efeitos do uso inadequado deprodutos para assegurar a sanidade das plantas. Asituação, porém, torna-se mais complexa no âmbitoagrícola, porque, além das plantas, devem receber atençãotambém, o usuário, ou seja, o aplicador dos produtosquímicos, e o meio ambiente onde se situa o problema,levando-se em consideração pássaros, animais domésticosou silvestres, insetos predadores e mesmo pragas nãocontroladas por uma recomendação específica. Como seisso não bastasse, existe ainda a preocupação comresíduos que os produtos químicos podem deixar em certostipos de cultivo, no solo e na água. Portanto, arecomendação para o uso de inseticidas é deresponsabilidade de um profissional habilitado que deveráemitir um receituário agronômico contendo todas asorientações do produto, da praga e principalmente dautilização do inseticida.

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Segundo o Agrofit 2007, somente um inseticida éregistrado para o controle de E. ello em mandioca. Trata-sede um piretróide sintético à base do ingrediente ativo beta-ciflutrina.

O grupo químico dos piretróides sintéticos englobainseticidas que atuam primariamente nos canais de sódio(Na) das células nervosas dos sistemas nervoso central eperiférico dos insetos, os quais morrem devido àhiperexcitabilidade provocada pela ação deste inseticida.São em geral considerados pouco ou moderadamentetóxicos (faixa verde e azul, respectivamente) aos animaissuperiores e raramente estão envolvidos em intoxicaçõesocupacionais no campo, desde que o operador utilize todosos equipamentos de proteção individual (EPI) recomendadospara tal finalidade. É um inseticida que pode produzirirritabilidade cutânea e de mucosas, além de causarreações alérgicas em pessoas hipersensíveis. Por ser poucopolar, tem degradação razoável no meio ambiente e não seacumula nos tecidos animais e gordurosos. Possui efeito dechoque (knock dow) quase instantâneo, permitindo,entretanto, a recuperação do inseto em algumascircunstâncias. Em geral, é dotado de poder residual maiorque o das piretrinas naturais, sendo menos sujeito àfotodecomposição. A dose comercial recomendada doinseticida à base de beta-ciflutrina é de 50 ml/ha e ointervalo de segurança é de 14 dias.

No surto ocorrido em 1993, no Vale do Juruá, foiobservado um grave desequilíbrio biológico. Por falta deorientação técnica juntamente com a não observância daindicação de inseticidas adequados ao controle daslagartas de E. ello, a maioria dos produtores realizoupulverizações com produtos à base de parationa metílica(organofosforados) e carbaril (carbamatos), ocasionandoalta mortalidade de vespas predadoras do gênero Polybia,

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presentes em abundância nas lavouras atacadas pelapraga, resultando em maiores perdas e conseqüenteaumento nos custos de produção da mandioca.

Considerações Finais para o Sucesso do ManejoIntegrado do Mandarová na Região do Vale do

Juruá

O Medo das Lagartas

Foi constatado no Vale do Rio Juruá que a maioria dosprodutores e seus familiares têm medo das lagartas deE. ello e conseqüentemente abandonam o roçado sem sepreocuparem com os prejuízos futuros. Alguns evocamrezas para debelar o problema. Por outro lado, produtoresdo Projeto Santa Luzia-Boa Esperança conseguiram ótimosresultados no controle da praga utilizando a mão-de-obrafamiliar para realizar a catação e eliminar as lagartascortando-as com tesoura. Este método, recomendado emvárias referências bibliográficas para pequena produçãofamiliar, registra na prática que esta simples atitude,embora trabalhosa, é eficaz quando realizada comseriedade e perseverança como no caso dessesprodutores.

Portanto, é necessário realizar campanhas deesclarecimento aos produtores quanto ao aspectoinofensivo da praga com relação aos males diretos quepoderiam causar aos seres humanos. O medo do insetoinflui negativamente de maneira decisiva no combate àpraga e faz, muitas vezes, com que os produtoresdirecionem a responsabilidade do controle única eexclusivamente aos órgãos governamentais. Nesteaspecto, os produtores deverão ser sensibilizados aparticipar e conhecer tanto a praga como a pulverizaçãopara controlá-la.

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Descrédito do Produtor

A cultura de utilizar inseticidas químicos no controle depragas é comum nesta região, levando a maioria dosprodutores ao descrédito na utilização de métodosalternativos para o controle do mandarová E. ello.

Mesmo com a eficácia comprovada do Baculovirus e doproduto comercial à base de B. thuringiensis, os produtoresrelutam em utilizar tais métodos alegando a demora na suaatuação, dando preferência aos inseticidas químicos porapresentarem o efeito knock dow, sem se preocupar comas conseqüências negativas de se optar por este tipo decontrole, na maioria das vezes realizado com produtos nãoregistrados para esta praga na cultura da mandioca. Nosurto de 2007 alguns produtores em Cruzeiro do Sulusaram carrapaticidas à base de deltametrina (piretróide)aplicados em pulverização nos roçados de mandioca. Alémdo uso inadequado, as conseqüências advindas dodesequilíbrio ambiental por esta prática irresponsável sãoimensuráveis.

Utilização de Pulverizador Adequado

Na maioria dos roçados, as plantas de mandioca seapresentavam com mais de 2 metros de altura, o queinviabilizaria o uso do pulverizador costal manual. Esteequipamento é inadequado para a operação de controle nascondições avaliadas, uma vez que além de necessitar dealto volume de água (200 a 300 L/ha) apresenta baixorendimento de aplicação (0,5 ha/homem/dia), ao passo queo pulverizador costal motorizado apresenta alto rendimentode aplicação (10 a 15 ha/homem/dia), necessitando de umvolume de água variando de 30 a 50 L/ha, quantidadesignificativamente menor quando comparada ao

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pulverizador costal manual. Considerando-se a altura médiadas plantas dos roçados, fica evidente a dificuldade para apulverização com aparelho costal manual. Deve serconsiderada ainda a necessidade de deslocamento degrande volume de água para a área a ser pulverizada, a fimde disponibilizá-la no processo de pulverização, além dasdistâncias a serem percorridas pelo aplicador para retornara abastecer o depósito do pulverizador.

ReferênciasABAM. Associação brasileira dos Produtores de amido demandioca. Disponível em: << http://www.abam.com/revista/revista6/lagarta.php.>> Acesso: 25 abr. 2007.

ABBOTT LABORATÓRIOS DO BRASIL. DivisãoAgroquímica. Dipel: inseticida biológico. São Paulo, [19—].1 folder.

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