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Ent109 - Doenças e Pragas de Pastagens
Professor Luís Cláudio Paterno Silveira
MANEJO INTEGRADO DE CIGARRINHAS
1. Introdução
Para a utilização racional do MIP de pastagens, deve-se conhecer as principais pragas
presentes no ecossistema, principalmente no que diz respeito aos seus aspectos bioecológicos. A
partir desses conhecimentos poderemos implantar a melhor estratégia de controle da praga. Para
fins didáticos, dividiremos as pragas de pastagens em três grupos, de acordo com a sua importância.
A) Pragas-chaves
1. Cigarrinhas das pastagens - (Hemiptera/Auchaenorrhincha: Cercopidae)
Zulia (Notozulia) entreriana (Berg., 1879)
Deois flavopicta (Stal., 1854)
Deois schach (Fabr., 1787)
· Aspectos bioecológicos
São insetos sugadores de seiva, sendo que os adultos vivem na parte aérea dos capins e suas
ninfas, de coloração branco amarelada, localizam-se na base das plantas, permanecendo protegidas
por uma espuma branca característica. O reconhecimento das espécies é feito através dos caracteres
morfológicos dos adultos.
a) Zulia entreriana - mede 7 mm de comprimento, coloração preta, sendo que no terço
apical das asas anteriores existe uma faixa transversal, de coloração branco amarelada;
b) Deois flavopicta - coloração preta com 2 faixas transversais amarelas nas asas anteriores,
clavo amarelo, com 10 mm de comprimento e com abdome e pernas vermelhas;
c) Deois schach - com 10 mm de comprimento, coloração preta esverdeada, com uma faixa
de cor alaranjada transversal no terço apical das asas anteriores.
O ciclo biológico de Z. entreriana é o seguinte: ovo = 22 dias (condições ótimas); ninfa =
passam por 5 ecdises (22 dias); adultos = 19 dias. O acasalamento ocorre no período de 60 horas
após a emergência, sendo que 3 dias após são colocados os ovos, que são de coloração amarela
forte. Cada fêmea oviposita cerca de 100 ovos, no chão ou em restos de vegetais. O período de
incubação pode ser de até 200 dias, pois em caso da falta de água, os ovos podem em diapausa do
tipo quiescência (com interrupção de seu desenvolvimento).
As ninfas após eclosão, procuram coletos de capins para sugar seiva. Produzem espuma
branca através da secreção das glândulas de Bateli, que as protegem contra ressecamento e de
inimigos naturais. O pico populacional das cigarrinhas, geralmente, ocorre em fevereiro-março. Os
ovos colocados em abril (pouca água), entram em quiescência, sendo que a eclosão só ocorrerá nas
primeiras chuvas de outubro. O aumento da temperatura do solo também é um indicativo do
aparecimento das primeiras ninfas. As ninfas que eclodem formarão adultos em novembro, que
darão até fevereiro-março, três gerações (Figura 1).
Figura 1. Controle integrado das cigarrinhas das pastagens. Fonte: Gallo et al., 1988).
· Principais fatores favoráveis ao ataque de cigarrinhas
a) época de alta umidade (indispensável para eclosão das ninfas);
b) alta temperatura do ar (redução da duração do ciclo de vida do inseto);
c) plantio de gramíneas suscetíveis;
d) ocorrência de veranico (redução do ataque de fungos entomopatogênicos à praga e
elevação do teor de aminoácidos essenciais na seiva);
e) baixa exposição das ninfas aos raios solares (favorece a manutenção da espuma ao redor
das ninfas);
f) pastagem mal nutrida (principalmente Ca e P, pois estes nutrientes em níveis normais
possibilitam às plantas suportarem maiores densidades da praga e reduzem a taxa de
aminoácidos livres na seiva).
· Prejuízos
A cigarrinha da folha sugando a seiva, acarreta a "queima" das folhas, cujos sintomas são
estrias longitudinais de coloração amarelada em seu limbo, com as pontas enroladas, dando
impressão de encrestamento por falta de água. Os adultos ao sugarem pequenos colmos, introduzem
toxinas, causando o amarelecimento das folhas e depois seu secamento e morte. Reduzem a
produção da massa verde em cerca de 15%. Os colmos definham, diminuindo os internódios,
causando redução no conteúdo de sacarose, afetando a produção de açúcar. Elas concorrem com o
gado na época em que a pastagem deveria recuperar-se do período da seca, e nessa época o capim
amarelecido, torna-se impalatável e desagradável, o que faz com que o animal coma menos,
diminuindo a produção de leite e carne.
2. Cigarrinhas da cana-de-açúcar
Mahanarva posticata (Stal, 1855)- cigarrinha da folha da cana-de-açúcar
Mahanarva fimbriolata (Stal, 1854) - cigarrinha-das-raízes
·Aspectos bioecológicos
| Apresentam em torno de 12 a 13 mm de comprimento, sendo que M. posticata tem
coloração vermelha com as tégminas orladas de preto e percorridas por uma faixa longitudinal da
mesma cor, e suas ninfas ficam alojadas nas bainhas das folhas. Os machos M. frimbriolata têm
coloração marrom avermelhada, sendo esta cor mais escura nas fêmeas (ambos os sexos têm
escutelo, pronoto e cabeça marron esverdeada), com os machos apresentando 4 manchas
avermelhadas no terço apical das asas anteriores.
A postura é realizada em bainhas secas ou no solo. No caso de M. frimbriolata, as formas
jovens (ninfas) se dirigem para as raízes, onde se fixam para sugar a seiva. Também produzem
espuma branca protetora. Passam por 4 mudas e formam-se adultos que passam a viver na parte
aérea das plantas, sugando os Colmos da cana e de outras gramíneas. O ciclo evolutivo é de 40 dias.
Prejuízos: a cigarrinha da folha através da sucção de seiva, pode acarretar a "queima" (seca)
das folhas. Ocorre o aparecimento de estrias longitudinais de coloração amarelada em seu limbo,
com pontas enroladas, dando a impressão de crestamento por falta d' água. Devido ao seu hábito
alimentar, a cigarrinha da raiz dificulta a absorção de água e nutrientes pelas raízes, com
definhamento da planta (gramínea).
2. Táticas e estratégias utilizadas no MIP de cigarrinhas em pastegens
· Controle cultural
a) Pastagens a serem formadas:
- boa adubação de formação das pastagens, possibilitando à gramínea suportar maior ataque
das pragas;
- divisão de pastagens em piquetes para possibilitar o manejo da altura de pastejo;
- plantio de diversas espécies de gramíneas;
- uso de gramíneas resistentes às cigarrinhas em regiões onde a praga é endêmica (Tabela 1);
b) Pastagens já implantadas:
- evitar o superpastejo mantendo a pastagem no mínimo a 25 cm de altura, pois abaixo desse
nível ocorre o aumento da sucção da seiva pelas ninfas de cigarrinhas devido à sua exposição aos
raios solares, o que provoca maior estresse da planta, podendo ocasionar a sua morte. Além disso, a
pastagem acima de 25 cm favorece a ação de fungos entomopatogênicos.
- para a realização do controle das cigarrinhas das pastagens deve-se realizar amostragens
quinzenais, iniciando-se em meados de setembro, com a contagem de espumas e adultos presentes
na área. Deve-se tomar aleatoriamente em 1 ha cinco pontos de 1 m2. Se for encontrado 6 a 25
espumas/m2 realizar a aplicação de fungo em faixas de 10 metros de largura, e para mais de 25
espumas/m2 aplicar fungo na área total. Com relação aos adultos tem-se: a) presença de 10 a 20
adultos/m2 pulverizar fungo em faixas de 10 metros de largura, b) 21 a 30 adultos/m2 aplicar fungo
na área total e c) mais de 30 adultos/m2 pulverizar inseticida nas reboleiras (Tabela 2).
· Controle biológico
- no caso de cigarrinhas, pode-se utilizar Salpingogaster nigra, mosca da família Syrphidae,
predador que suga a hemolinfa das ninfas. Também pode ser realizada a aplicação de Metarhizium
anisopliae (fungo verde) sobre a segunda e terceira geração de ninfas. Este fungo infecta ninfas e
adultos das cigarrinhas.
· Controle químico
- ver tabela de MIP das pastagens (no final)
Tabela 1. Níveis de resistência de gramíneas forrageiras à cigarrinha Deois flavopicta.
Gramíneas ForrageirasNome
Comum
Nota de
Dano*
N0 ninfas /
Parcela de 20 m2
Andropogon gayanus cv. Planaltina Andropogon 1 – R 0,7
Hyparrhenia rufa Jaraguá 1 – R 1,5Cynodon plectostachys 171 Estrela 1 – R 1,9Setaria anceps cv. Kazungula Setária 1 – R 2,6Melinis minutiflora Gordura 1 – R 13,4Cenchrus ciliaris CL 1004 Buffel 1 – R 15,3Brachiaria brizantha Brizantha 1 – MR 22,5Brachiaria humidicola Humidícola 1 – MR 163,6Panicum maximum Colonião 2 – MS 39,5Brachiaria sp. Braquiária 2 – MS 43,7Brachiaria dyctioneura Braquiária 3 – MS 157,5Brachiaria decumbens cv. Australiana Braquiária 4 – S 128,1
Brachiaria ruziziensis Braquiária 4 – S 149,7
* R = Resistente; MR = Medianamente Resistente; MS = Medianamente Suscetível; S = Suscetível
Tabela 2. Tomadas de decisão para cigarrinhas em pastagens.
No Adultos/ m2 No Ninfas/ m2 Ação
< 10 < 6 Não controlar
10 a 20 6 a 25 Aplicar fungo em faixas de 10 m
11 a 30 > 25 Aplicar fungo em área total
> 30 - Aplicar inseticida nas reboleiras
MIP - Pastagens Jair Campos Moraes & Eliana Alcantra, fevereiro 2008
INSETOS-PRAGA CARACTERISTICAS AMOSTRAGEM NÍVEL DE CONTROLE CONTROLE QUÍMICO (i.a) INIMIGOS NATURAIS
CONTROLE CULTURAL
Zulia entreriana 7 mm, coloração preto-brilhante com uma faixa transversal, no terço apical da asa, de coloração branco-amarelada. Pode apresentar padrões de asas variáveis.
Deois flavopicta 10 mm,coloração preta com duas faixas transversais amarelas na asa e clavo amarelo. Abdome e pernas vermelhos.
Deois schach 10 mm, coloração preto-esverdeada, com uma faixa transversal no terço apical da asa, de cor alaranjada. Abdome e pernas vermelhos. C
igar
rinh
as
Cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata
Macho de 13 mm de comprimento, coloração vermelha com as tégminas orladas de preto e percorridas por uma faixa longitudinal de mesma cor; fêmeas com tégminas mais escuras e de coloração marrom-avermelhada.
- 6 a 25 ninfas/m2 - pulverizar o fungo Metarhizium anisopliae em faixas espaçadas de 10 m. - mais de 25 ninfas/m2 - pulverizar o fungo M. anisopliae na área total. - de 20 a 30 adultos/m2 - pulverizar o fungo M. anisopliae em faixas espaçadas de 10 m. - mais de 30 adultos/m2 pulverizar com inseticida sistêmico.
Carbaril, clorpirifós, fenitrotion, tiametoxan+lambdacialotrina
Cochonilha-dos-capins Antonina graminis
Corpo ovalado, envolto por uma substância cerosa branca, cor arroxeada, 3 mm de comprimento, pernas atrofiadas.
Controle biológico natural por parasitóide
Percevejo-das-gramíneas Blissus antillus
4 mm, sugadores de seiva, corpo preto, asas brancas com uma mancha preta triangular na extremidade do cório, do lado externo, pernas e base da antena avermelhadas, exalam odor característico.
Fenitrotion.
Scaptocoris castanea 8 mm, coloração marrom escura, tarso na perna mediana.
Per
ceve
jo-
cast
anho
Atarsocoris brachiariae 8 mm, coloração marrom amarelada, sem tarso na perna mediana.
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Curuquerê-dos-capinzais Mocis latipes
Lagartas com 40 mm de comprimento, locomoção como mede-palmo, coloração amarelada com estrias longitudinais castanho-escuras, cabeça globosa com estrias longitudinais amarelas, quatro gerações anuais.
Laga
rtas
Lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera frugiperda
50 mm de comprimento, coloração cinza-escuro a marrom, faixa dorsal com pontos pretos na base das cerdas, “Y” invertido na cabeça
Carbaril, triclorfon, malation, fenitrotion, Bacillus thuringiensis.
Schistocera spp. 45 a 55 mm de comprimento, coloração marrom-avermelhada, asas anteriores pontuadas de manchas marrons e as posteriores são amarelo-claras ou róseas, adulto alado, formas jovens chamados “mosquitos” ou “saltões“.
Gaf
anho
tos
Rhammatocerus spp. Ocorrem mais freqüentemente em São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais. Possui cinco ínstares, sendo que cada ínstar dura em média 26 dias.
Carbaril, deltametrina, fenitrotion.
Cornitermes cumulans
Cup
ins
Syntermes sp.
Insetos sociais com castas de indivíduos ápteros e alados vivem em termiteiros ou cupinzeiros, formas aladas chamadas de siri-siris, aleluia ou formigas-de-asa. Alimentam-se de celulose, mas são incapazes de digeri-la, a ingestão é feita por microrganismos simbiontes que ficam no intestino posterior dos cupins.
Fipronil, imidacloprid. Para cupim-de-montículo: endosulfan, fention, abamectina e clorpirifós.
Saúva-parda Atta capiguara
Pouco agressiva, número de soldados é muito pequeno, operárias bastante ativas, soldados têm coloração pardo-escura, faz “murundum” fora da projeção das panelas ativas (com fungos).
Saú
vas
Saúva-mata-pasto Atta bisphaerica
Soldados menores que A. capiguara com cabeça finamente pontuada com um sulco na parte central, formando dois lóbulos, como duas esferas, sem pêlos e com certo brilho, constroem sauveiros sem crateras, com olheiros de aberturas estreitas na superfície. P
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