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MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL:

O CASO DA MIL MADEIRAS

PRECIOSAS

Nadja Polyana Felizola Cabete (ufam)

[email protected]

Moises da Silva Cabete (ufam)

[email protected]

Silvana Dacol (ufam)

[email protected]

Partindo-se da busca de todas as nações pelo crescimento e

desenvolvimento econômico, vem a necessidade de exploração dos

recursos naturais. Estes, por sua vez, constituem a base da riqueza das

nações. Por esta razão, cada vez mais se tem bbuscado meios de

conciliar a utilização destes recursos com o desenvolvimento

econômico, aproveitamento o recurso hoje e tornando possível sua

utilização futura, através de atividades de sustentabilidade. Este

trabalho mostra a alternativa da Mil Madeiras Preciosas para aliar o

desenvolvimento econômico ao sustentável através da tecnolgia

empregada na exploração florestal.

Palavras-chaves: Manejo Florestal, Exploração, Sustentabilidade

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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1. Introdução

O desenvolvimento econômico é o objetivo de todas as nações, principalmente quando este é

proveniente do aproveitamento de seus próprios recursos naturais. É difícil perceber

desenvolvimento sem transformação na natureza. Por esta razão, as questões ambientais têm

recebido crescente atenção dentro do debate sobre globalização, tanto que existe um certo

consenso internacional para se reverter a degradação do meio ambiente e seus impactos para

as populações (PORTILHO, 2005). Desta forma, no intuito de discutir e propor meios de

harmonizar este desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, a Comissão Mundial

sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (1991) traz o conceito de Desenvolvimento

Sustentável como o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem

comprometer a capacidade de suprimento das necessidades de gerações futuras. Para que ele

exista é necessário que haja planejamento e racionamento na utilização dos recursos,

lembrando que os mesmos não são inesgotáveis, e que, se bem utilizados, aumentam ainda

mais as perspectivas de desenvolvimento de uma região.

Criar novos produtos e fazer com que sejam desejados pelas nações é uma esperança para o

desenvolvimento de uma região. Na Amazônia há uma infinidade de oportunidades para

desenvolvimento econômico a partir da inovação em produtos oriundos dos recursos naturais

lá existentes, principalmente os da flora, como é o caso do cupuaçu e da castanha-do-pará,

utilizados por empresas de cosméticos na produção de óleos e perfumes, o palmito,

proveniente da pupunheira e tantos outros. Desta forma, à medida em que são descobertas

novas oportunidades de crescimento econômico com a utilização dos recursos naturais, maior

vai se tornando a exploração das florestas a fim de atender à demanda da população por estes

produtos. Para tentar controlar a exploração desorganizada das florestas, o Código Florestal

Brasileiro (BRASIL, 1965) definiu que as florestas da Amazônia só poderiam ser exploradas

através de Planos de Manejo.

O Manejo florestal é um conjunto de práticas que favorecem a redução dos impactos da

exploração florestal, a aplicação de tratamentos silviculturais e o monitoramento do

crescimento da floresta (MANEJO FLORESTAL..., 2004). Essas práticas permitem que parte

das árvores já desenvolvidas sejam colhidas, de tal maneira que as menores, a serem colhidas

futuramente, sejam protegidas. Desta forma, a produção de madeira passa ser contínua ao

longo dos anos, proporcionando maior vida útil à terra processada, maior rentabilidade à

região, segurança aos trabalhadores e moradores das redondezas exploradas, respeito à

legislação ambiental, além de melhorar a logística de mercado, conservar a floresta e a vida

nela presente, permitindo a manutenção do ciclo hidrológico e de carbono, melhorando assim

o clima da região e auxiliando no equilíbrio climático global. As empresas que adotam o

plano de manejo têm a possibilidade de obtenção do “selo verde”, que indica que a empresa

tem uma política ambiental, econômica e socialmente responsável, que é uma exigência dos

compradores de madeira comprometidos com a preservação ambiental, principalmente da

Europa e Estados Unidos, o que expande o leque de opções de mercado para os produtores.

No Amazonas, a empresa Mil Madeiras Preciosas, integrante do grupo Precious Woods, de

origem suíça, realiza atividades de manejo florestal reconhecidas e certificadas pelo seu

planejamento e organização, de acordo com as normas do Conselho Brasileiro de Manejo

Florestal - FSC Brasil.

O objetivo deste trabalho é mostrar como acontece o manejo florestal realizado por esta

empresa, e os benefícios oriundos deste planejamento. Para isso, será apresentada uma revisão

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bibliográfica do tema e um estudo de caso exploratório, mostrando as etapas do manejo na

região.

2. Exploração florestal na Amazônia

De acordo com o Grupo de Trabalho Amazônico (2009), a Amazônia continental abrange

uma área de quase 7 milhões de quilômetros quadrados, representando 5% de toda a

superfície terrestre do globo. Desta área, mais de 60% faz parte do território brasileiro,

alcançando os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,

Tocantins e parte do Maranhão e Mato Grosso, e, fora do Brasil, abrange o Peru, Colômbia,

Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname, Equador e Guiana Francesa.

Sua riqueza natural é incomensurável, estando presente nesta região a maior bacia

hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica, cobrindo 3,89 milhões de km2 do território

brasileiro, representando 1/5 de toda a água derramada no oceano por todos os rios do planeta,

e abrigando 25% das espécies de peixes do mundo. É também na Amazônia que encontra-se a

maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica, conhecida mundialmente por sua

riqueza, diversidade e tamanho, cerca de 3.300.000km2 de extensão no Brasil, que representa

40% do país. Ainda segundo o Grupo, existem mais espécies vegetais em 1 hectare de floresta

do médio Amazonas do que em todo o território europeu, e o crescimento médio de uma

árvore na região é seis vezes mais rápido que na Europa. Além disso, existe uma infinidade de

espécies vegetais e animais, inclusive endêmicas, que aumentam o quadro de beleza e

potencialidades da região.

Toda esta exuberância é constantemente ameaçada pelas práticas comuns de exploração dos

recursos naturais, principalmente da floresta, sejam com o objetivo do desenvolvimento

econômico ou para a própria subsistência dos povos ribeirinhos. Grande parte desta

exploração é feita de forma ilegal, ou seja, sem a autorizaçãodo IBAMA - Instituto Brasileiro

de Meio Ambiente. Outra parte ainda recebe a autorização do órgão, encaminhando o Plano

de Manejo ao IBAMA, mas deixando de aplicar as práticas silviculturais de exploração, que

garantem a redução dos impactos e danos à floresta. Este tipo de exploração é chamada por

Roncoletta (2009) de Exploração Convencional, por ser a mais comum na Amazônia. Esta

prática, tanto se realizada por comerciantes ou pela população ribeirinha, podem trazer

grandes prejuízos à natureza quando acontecem sem consciência preservacionista e sem visão

de sustentabilidade. Segundo Manejo... (2009), este tipo de exploração

“danifica profundamente as áreas que explora: destrói até 2m3 de madeira para cada m3

aproveitado, reduz em até 60%, ou mais, a cobertura florestal, perturba severamente os

solos minerais e danifica ou mata até 40% da biomassa. Áreas assim exploradas são

abandonadas com muitos resíduos e essa flora danificada, seca e altamente combustível,

expõe a floresta a riscos de incêndio. Todas essas perturbações geram ainda um tremendo

impacto econômico: o grande lapso de tempo entre os ciclos de corte - entre 60 anos e,

talvez, nunca mais - necessário à regeneração da floresta. O resultado é que, com grande

freqüência, essas áreas são invadidas ilegalmente ou transformadas em pobres pastagens.”

Na rede natural de organização dos seres vivos, a morte de uma planta da floresta permite a

penetração da luz do sol para as demais, que estavam na sombra, auxiliando no processo de

fotossíntese, e permitindo a germinação de novas sementes, dando a oportunidade para que

novas plantas cresçam. É o processo de regeneração natural das espécies (SILVA, 2006).

Quando acontece o desmatamento, não somente as árvores cortadas têm seu ciclo de vida

interrompido, como também todas as demais que estão ao seu redor, inclusive as sementes.

Mesmo assim é comum durante viagens pelas estradas que cortam a floresta, deparar-se com

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cenas de desmatamento e queimadas.

Segundo publicação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon, o

desmatamento acumulado de agosto a setembro de 2008, período de início do calendário atual

de desmatamento, totalizou 459 quilômetros quadrados (SOUZA JR. et al., 2008). O Instituto

de Pesquisas Espaciais – INPE (2009) divulgou que, entre agosto de 2007 e agosto de 2008,

os números estimados do desmatamento na Amazônia Legal foram de 11.968 quilômetros

quadrados de área. Mesmo estes dados representando redução em comparação com períodos

anteriores, ainda é grande o índice de devastação na Amazônia.

A floresta mantida em pé proporciona uma série de benefícios à humanidade, dentre os quais

pode-se destacar a manutenção da biodiversidade do planeta, enquanto sua exploração

desordenada põe fim a espécies antes mesmo de serem identificadas pelo homem, além de

contribuir para o equilíbrio do dióxido de carbono na atmosfera, moderando o clima da região

e, consequentemente, do planeta. A preservação da floresta também a ajuda a manter a

qualidade das águas e a estabilidade do solo, constantemente fertilizado pela ação das

abundantes chuvas que caem sobre a região. O potencial econômico presente nesta região é

cada vez mais abrangente e motivador, porém, o desafio é explorá-lo com sustentabilidade, ou

seja, de tal forma que não prejudique o equilíbrio entre o meio ambiente e as comunidades

nele existentes, sejam humanas, vegetais ou animais (A SUSTENTABILIDADE NA

AMAZÔNIA, 2009).

3. O manejo florestal sustentável: o caso da Mil Madeiras Preciosas

De acordo com o Conselho de Manejo Florestal – FSC Brasil (MANEJO FLORESTAL

RESPONSÁVEL..., 2009), Manejo Florestal é a administração da floresta para a obtenção de

benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação ambiental dos

ecossistemas.

A partir da definição do Código Florestal Brasileiro (1965) sobre a necessidade da elaboração

de Planos de Manejo para a exploração da floresta, abriu-se o caminho para um novo conceito

de exploração, que representasse a utilização dos recursos causando menor impacto ao meio

ambiente: a exploração de impacto reduzido – EIR, também chamada de exploração de baixo

impacto ou exploração sustentável. A EIR compreende a construção de infraestrutura,

abertura de estradas, ramais, trilhas, pátios, as técnicas adequadas de corte das árvores, bem

como de seu arraste e transporte (MANEJO FLORESTAL RESPONSÁVEL..., 2009).

Este tipo de exploração contribui para que a floresta mantenha sua forma e função mais

próximas do seu estado original, para isso está fundamentado em tecnologia adequada,

planejamento, treinamento e desenvolvimento de mão-de-obra especializada, o que, a longo

prazo, traz benefícios econômicos em relação à exploração convencional (MANEJO...,2009).

De acordo com Roncoletta (2009), a exploração de impacto reduzido divide-se em três etapas

chave:

Fase pré-exploratória: esta fase inicia-se 1 ano antes da fase de exploração e engloba as

atividades de definição das Unidades de Produção, abertura de trilhas para realização do

inventário, estabelecimento das parcelas permanentes, realização do inventário, remoção

de cipós, processamento dos dados coletados, mapeamento, planejamento e construção da

infraestrutura;

Fase exploratória: esta abrange as atividades de seleção e sinalização das árvores a

explorar, corte das árvores, planejamento de arraste, arraste das toras e operação no pátio;

Fase pós-exploratória: esta tem início 1 ano após a exploração e abrange as atividades de

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tratamento silviculturais, avaliação de impacto, avaliação de desperdício, novas medições

das parcelas permanentes, proteção florestal e manutenção de infraestrutura.

A Mil Madeiras Preciosas, ou Precious Woods Amazon – PWA, empresa vinculada ao grupo

suíço Precious Wood, está situada no município de Itacoatiara, e é uma das pioneiras nas

atividades de Manejo Florestal, que acontecem desde em 1994, e também na certificação,

desde 1997, pelo Conselho de Manejo Florestal - FSC (Forest Stewardship Counsel), órgão

responsável pela emissão do selo verde. A empresa busca aliar tecnologia ao desenvolvimento

sustentável explorando a madeira através de Planos de Manejo e processando-a na própria

indústria da empresa, sendo comercializada no Brasil e no exterior nas formas serrada, semi-

acabada ou mesmo transformada em produto acabado. Os resíduos são utilizados como

combustível para geração de energia elétrica pela Precious Woods Energia, empresa do

mesmo grupo, que é responsável pelo seu próprio abastecimento e ainda por 70% da energia

gerada para a população do município de Itacoatiara, que é de 85 mil habitantes.

A área total adquirida pela empresa é de 432.000 ha, e a área referente ao plano de manejo

certificado é de 122.729 hectares. Destes, 67.000 ha são efetivamente explorados, enquanto

que o restante tem sido preservado. 20% da área florestal situada na zona de colheita é

considerada como área de preservação permanente, que são áreas protegidas por lei, por

serem próximas a rios e igarapés e áreas com declividade acima de 45°, e que têm a função de

manter a qualidade da água e servir de refúgio para a fauna.

A quantidade de madeira colhida obedece a critérios e limites que não prejudiquem a

preservação das espécies. A empresa busca encontrar valor na maior quantidade de espécies

possíveis, a fim de diminuir a pressão sobre as espécies mais conhecidas. Atualmente, já são

83 espécies inventariadas contra apenas 16 conhecidas no início das atividades, e 62 dessas

espécies já possuem mercado garantido, expandindo o potencial econômico da região.

Seu Plano de Manejo segue as etapas descritas anteriormente, com diferenciação em pequenos

aspectos. Na primeira etapa, a do inventário, equipes específicas para esta atividade fazem o

levantamento das espécies botânicas de interesse comercial e potencial da empresa, que

apresentem diâmetro igual ou superior a 40 cm. Estas são identificadas, plaqueadas e

mapeadas, para servir de referência para as equipes de colheita. Cada árvore é identificada a

nível de espécie, com informações sobre o nome vulgar da espécie, diâmetro do fuste e

qualidade do fuste . Nesta etapa também é realizado o levantamento topográfico do terreno e a

localização de cursos d’água, para possibilitar a implantação da infraestrutura de estradas que

servirão para a colheita e retirada das toras da floresta.

Utilizando como base o Sistema de Informações Geográficas – SIG e o Sistema Celos, um

sistema policíclico, caracterizado pela exploração de baixo impacto e tratamento

silviculturais, baseados na regeneração natural (MANEJO FLORESTAL..., 2004),

desenvolvido pela Universidade de Wageningen- Holanda e adequado à realidade local, as

informações coletadas na etapa do inventário são armazenadas em computador e é gerado um

mapa das árvores a serem extraídas.

A área do projeto foi dividida em unidades de produção anual, que são georeferenciadas pelo

sistema, utilizando blocos de 4x4. Esses blocos são subdivididos em talhões de 10 hectares,

que correspondem aos retângulos menores de 400x250 metros. A previsão de corte é de 15 a

25m3 por hectare, num ciclo de corte previsto entre 20 e 25 anos (PRECIOUS WOODS

AMAZON, 2005).

Ainda na etapa pré-exploratória, a empresa transforma parte da área florestal em infraestrutura

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para o transporte e armazenamento temporário das toras. De acordo com o plano de manejo

da empresa, a área total para este fim não deve ultrapassar 6% da área total manejada, e

consiste em estradas de acesso, trilhas de arraste e pátios florestais.

As estradas de acesso classificam-se em principais ou secundárias e são planejadas um ano

antes da colheita florestal na área. As principais são as mais largas, com acabamento de

piçarra, que permitem o tráfego dos veículos durante todo o ano. As secundárias são mais

estreitas, com acabamento mais simples e sem manutenção, e por elas o tráfico só é possível

durante o verão na região. As trilhas de arraste são planejadas em escritório, com o auxílio de

imagem de satélite e das informações da equipe de inventário, evitando-se o cruzamento com

os cursos d’água. Cada uma delas possui em torno de 4 metros de largura e situam-se cerca de

100 metros de distância, sistematicamente. A meta estabelecida é de trilhas de arraste em até

no máximo 3,5% da área total manejada. Os pátios florestais são áreas para a estocagem

temporária das toras na floresta, antes de seguir para o pátio principal da empresa. Os pátios

são instalados um a cada 500 metros ao longo das estradas secundárias, numa área mínima de

25 por 25 metros e numa área máxima de 45 por 45 metros. A dimensão dos pátios varia de

acordo com a previsão da quantidade de toras que devem ser recebidas pelo pátio. A meta

estabelecida é de construir estradas e pátios florestais ocupando ao máximo 2,5% da área total

manejada.

O planejamento com SIG permite realizar a determinação da rede de transporte necessário

com a localização apropriada, diminuindo os impactos ambientais envolvidos. Um exemplo

está relacionado à construção de pontes, quando há a necessidade de locomoção por algum

curso d’água.

A seleção das árvores para corte é totalmente baseada em informações provenientes da etapa

de inventário que ficam contidas no banco de dados do sistema. Para o planejamento

operacional de colheita florestal, leva-se em consideração as características dominantes de

cada Unidade de Produção Anual, e o critério para escolha das árvores a serem colhidas é

baseado nas considerações técnicas florestais, ecológicas e na viabilidade econômica para a

empresa. As árvores que se encontram em área de preservação permanente e árvores

protegidas por lei são sempre excluídas do corte. Se na área manejada existirem menos de 4

árvores por 100 ha de uma determinada espécie, estes indivíduos são preservados ativamente

e destacados nos mapas de campo, o que garante a manutenção das espécies. E para cada

espécie selecionada para corte, no mínimo, 40% dos indivíduos inventariados acima de 40

centímetros de diâmetro são preservados como estoque remanescente.

Toda logística operacional para a colheita florestal é colocada no mapa que serve para orientar

as atividades das equipes de corte. Nele constam as árvores seleciondas para corte, as trilhas

de arraste e as áreas de preservação permanente. O mapa de colheita auxilia na orientação das

equipes em campo para executar suas atividades de uma forma planejada e com maior

eficiência.

A segunda etapa do plano consiste nas atividades de corte e arraste das toras. O corte das

árvores é realizado obedecendo a rigorosos critérios para a segurança da equipe, como ter

claras as informações sobre a direção de queda natural da árvore, a localização da trilha a ser

usada para o arraste, e a presença de árvores remanescentes e clareiras naturais, de modo que

facilite a retirada da tora de dentro da floresta e cause o menor impacto possível à floresta. O

direcionamento da queda é feito de acordo com a localização das trilhas, para facilitar a

retirada e também evitar que outras árvores sejam derrubadas sem necessidade, minimizando

o impacto ambiental. A retirada da tora de dentro da floresta é feita por um trator de esteira,

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equipado com um guincho de aço que arrasta a tora até a trilha.

Em estudo realizado pela Fundação Floresta Tropical é possível verificar os benefícios desta

etapa do processo de EIR em comparação com a exploração convencional. A quantidade de

madeira desperdiçada na exploração convencional é 16,52% maior que a quantidade

desperdiçada na EIR e a área impactada pela exploração convencional é 5,13% maior que a

pela EIR. (MANEJO..., 2009).

Dentro de uma faixa de 50 metros de cada lado da trilha, as toras são guinchadas pelo trator

com o auxílio da equipe de pré-arraste, cujo cabo de aço permite um alcance de até 75 metros.

Todo esse processo visa diminuir a movimentação de equipamentos pesados na floresta.

Todas as toras são puxadas até a trilha onde outro trator florestal, chamado skidder, retira as

toras e as leva para um pátio florestal localizado à beira da estrada secundária, realizando a

operação de arraste propriamente dita. Depois que as toras são levadas até o pátio florestal, o

operador da carregadeira as separa de acordo com o cumprimento e diâmetro. Quando

necessário, um motosserrista retira sapopemas, nós, deformidades ou algo que venha

dificultar essa atividade, inclusive, facilitando o desempenho destas toras na serraria. Em

seguida, é feito o carregamento dessas toras para o caminhão com carreta. As carretas

transportam as toras dos pátios florestais até o pátio principal, localizado na área industrial da

Mil Madeiras Preciosas. As mesmas são descarregadas com uma carregadeira e separadas por

espécie, e uma equipe realiza a cubagem e romaneio, ou seja, são verificadas exatamente o

volume e a rastreabilidade da tora.

A rastreabilidade é possível por meio da formação da chamada cadeia de custódia – COC,

que representa o processo completo pelo qual passa o produto florestal a partir da sua origem

até se transformar num produto final ofertado nos mercados de atacado ou varejo.

Na floresta, o controle de COC é feito a partir do momento em que cada árvore é inventariada,

cortada e assim por diante. Cada tora recebe uma identificação única para o controle do fluxo

de material, elas são numeradas com plaquetas. Nos controles, cada número é relacionado

com o código de identificação da árvores de origem. A partir disso, este controle é feito de

forma sequenciada em cada uma das operações realizadas, com formulários específicos para

esta finalidade.

Estes dados finalmente são processados em computador, através de um programa

desenvolvido na própria empresa com este objetivo, e a partir disso é possível se obter o

histórico de cada uma das toras processadas durante todas as operações florestais, inclusive

após comercializadas. Ou seja, este processo indica que a madeira consumida tem uma

garantia de origem e a cadeia de custódia é garantida.

A terceira e última etapa acontece após a colheita e refere-se ao monitoramento do

desenvolvimento florestal para atender à demanda de informações em escala comercial. Este é

realizado para indicar as intervenções silviculturais mais adequadas a serem adotadas, com o

objetivo de garantir e otimizar a reprodução e o desenvolvimento da floresta manejada. Para o

monitoramento é utilizado o método do inventário florestal contínuo, através da instalação de

parcelas permanentes de 0,5 ha a cada 200 ha de área manejada e mensurada a cada 5 anos de

estudo na área de produção, que é um método clássico de monitoramento em manejo florestal.

4. Conclusão e considerações finais

A realização do Manejo Florestal de Impacto reduzido pela Mil Madeiras Preciosas

diferencia-se de outras formas de exploração por aliar tecnologia ao desenvolvimento

sustentável, ao mesmo tempo em que combina a segurança dos trabalhadores diretos do

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processo com a satisfação pessoal da população próxima às áreas manejadas.

A capacitação das equipes de trabalho, bem como a utilização de um sistema informatizado de

alta tecnologia permitindo o acesso às informações florestais em tempo reduzido, faz com que

estas sejam devidamente armazenadas e não se percam durante o processo. Desta forma, é

possível realizar um controle mais bem planejado das espécies, evitando a exploração

desnecessária de indivíduos sem utilização, como acontece na exploração convencional.

Desde o início do manejo florestal pela empresa, a quantidade de árvores inventariadas têm

crescido consideravelmente, enquanto que na exploração convencional espécies morrem antes

de serem conhecidas. Isso indica que o conhecimento sobre a floresta tem aumentado,

aumentando assim as opções de utilização de novas espécies. Acompanhando este

crescimento, a quantidade de árvores preservadas também tem aumentado a cada ano,

refletindo os benefícios da exploração planejada. De 2002 a 2006, o percentual de árvores

preservadas passou de 9,7 para 14,8% do total inventariado. Além disso, há ainda a redução

dos custos com o desperdício da madeira e com a movimentação de máquinas de grande porte

na floresta.

Aspectos negativos desta forma de exploração também existem, porém em nível bem menor

que os impactos causados pela exploração convencional. Um deles é gerado pelas trilhas de

arraste, que eventualmente se tornam um obstáculo à locomoção no solo de alguns tipos de

fauna.

O principal objetivo do plano de manejo florestal sustentável da Mil Madeiras Preciosas é

abastecer a indústria madeireira com espécies comerciais de boa qualidade, que atendam à

legislação brasileira para exploração deste recurso e que contribuam para a qualidade de vida

global.

Pesquisas aprofundadas sobre o tema podem ser realizadas a partir deste artigo, inclusive

comparações das atividades da Mil Madeiras Preciosas com outras empresas do ramo.

Referências

A SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA. Disponível em:

<http://portalamazonia.globo.com/artigo_amazonia_az.php?idAz=863>. Acesso em 27 abr. 2009.

BRASIL, Código Florestal Brasileiro. Lei Federal n°4.771, de 15 de setembro de 1965.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro

Comum. 2.ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.

GRUPO DE TRABALHO AMAZÔNICO. Amazônia: A Amazônia Brasileira. Disponível em:

<http://www.gta.org.br/amazonia.php>. Acesso em: 28 abr. 2009.

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<http://www.obt.inpe.br/prodes/index.html> Acesso em 11 mai.2009.

MANEJO FLORESTAL de Baixo Impacto: A experiência da Mil Madeireira Ltda. Centro Florestal – Centro

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MANEJO FLORESTAL RESPONSÁVEL: a relação entre os aspectos ambientais, sócio-culturais e

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Disponivel em: <http://www.sotreq.com.br/artigostecnicos/manejo-sustentavel.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2009.

PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo: Cortez, 2005.

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