manejo florestal sustentÁvel: o caso da mil...
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MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL:
O CASO DA MIL MADEIRAS
PRECIOSAS
Nadja Polyana Felizola Cabete (ufam)
Moises da Silva Cabete (ufam)
Silvana Dacol (ufam)
Partindo-se da busca de todas as nações pelo crescimento e
desenvolvimento econômico, vem a necessidade de exploração dos
recursos naturais. Estes, por sua vez, constituem a base da riqueza das
nações. Por esta razão, cada vez mais se tem bbuscado meios de
conciliar a utilização destes recursos com o desenvolvimento
econômico, aproveitamento o recurso hoje e tornando possível sua
utilização futura, através de atividades de sustentabilidade. Este
trabalho mostra a alternativa da Mil Madeiras Preciosas para aliar o
desenvolvimento econômico ao sustentável através da tecnolgia
empregada na exploração florestal.
Palavras-chaves: Manejo Florestal, Exploração, Sustentabilidade
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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1. Introdução
O desenvolvimento econômico é o objetivo de todas as nações, principalmente quando este é
proveniente do aproveitamento de seus próprios recursos naturais. É difícil perceber
desenvolvimento sem transformação na natureza. Por esta razão, as questões ambientais têm
recebido crescente atenção dentro do debate sobre globalização, tanto que existe um certo
consenso internacional para se reverter a degradação do meio ambiente e seus impactos para
as populações (PORTILHO, 2005). Desta forma, no intuito de discutir e propor meios de
harmonizar este desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, a Comissão Mundial
sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (1991) traz o conceito de Desenvolvimento
Sustentável como o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem
comprometer a capacidade de suprimento das necessidades de gerações futuras. Para que ele
exista é necessário que haja planejamento e racionamento na utilização dos recursos,
lembrando que os mesmos não são inesgotáveis, e que, se bem utilizados, aumentam ainda
mais as perspectivas de desenvolvimento de uma região.
Criar novos produtos e fazer com que sejam desejados pelas nações é uma esperança para o
desenvolvimento de uma região. Na Amazônia há uma infinidade de oportunidades para
desenvolvimento econômico a partir da inovação em produtos oriundos dos recursos naturais
lá existentes, principalmente os da flora, como é o caso do cupuaçu e da castanha-do-pará,
utilizados por empresas de cosméticos na produção de óleos e perfumes, o palmito,
proveniente da pupunheira e tantos outros. Desta forma, à medida em que são descobertas
novas oportunidades de crescimento econômico com a utilização dos recursos naturais, maior
vai se tornando a exploração das florestas a fim de atender à demanda da população por estes
produtos. Para tentar controlar a exploração desorganizada das florestas, o Código Florestal
Brasileiro (BRASIL, 1965) definiu que as florestas da Amazônia só poderiam ser exploradas
através de Planos de Manejo.
O Manejo florestal é um conjunto de práticas que favorecem a redução dos impactos da
exploração florestal, a aplicação de tratamentos silviculturais e o monitoramento do
crescimento da floresta (MANEJO FLORESTAL..., 2004). Essas práticas permitem que parte
das árvores já desenvolvidas sejam colhidas, de tal maneira que as menores, a serem colhidas
futuramente, sejam protegidas. Desta forma, a produção de madeira passa ser contínua ao
longo dos anos, proporcionando maior vida útil à terra processada, maior rentabilidade à
região, segurança aos trabalhadores e moradores das redondezas exploradas, respeito à
legislação ambiental, além de melhorar a logística de mercado, conservar a floresta e a vida
nela presente, permitindo a manutenção do ciclo hidrológico e de carbono, melhorando assim
o clima da região e auxiliando no equilíbrio climático global. As empresas que adotam o
plano de manejo têm a possibilidade de obtenção do “selo verde”, que indica que a empresa
tem uma política ambiental, econômica e socialmente responsável, que é uma exigência dos
compradores de madeira comprometidos com a preservação ambiental, principalmente da
Europa e Estados Unidos, o que expande o leque de opções de mercado para os produtores.
No Amazonas, a empresa Mil Madeiras Preciosas, integrante do grupo Precious Woods, de
origem suíça, realiza atividades de manejo florestal reconhecidas e certificadas pelo seu
planejamento e organização, de acordo com as normas do Conselho Brasileiro de Manejo
Florestal - FSC Brasil.
O objetivo deste trabalho é mostrar como acontece o manejo florestal realizado por esta
empresa, e os benefícios oriundos deste planejamento. Para isso, será apresentada uma revisão
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bibliográfica do tema e um estudo de caso exploratório, mostrando as etapas do manejo na
região.
2. Exploração florestal na Amazônia
De acordo com o Grupo de Trabalho Amazônico (2009), a Amazônia continental abrange
uma área de quase 7 milhões de quilômetros quadrados, representando 5% de toda a
superfície terrestre do globo. Desta área, mais de 60% faz parte do território brasileiro,
alcançando os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e parte do Maranhão e Mato Grosso, e, fora do Brasil, abrange o Peru, Colômbia,
Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname, Equador e Guiana Francesa.
Sua riqueza natural é incomensurável, estando presente nesta região a maior bacia
hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica, cobrindo 3,89 milhões de km2 do território
brasileiro, representando 1/5 de toda a água derramada no oceano por todos os rios do planeta,
e abrigando 25% das espécies de peixes do mundo. É também na Amazônia que encontra-se a
maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica, conhecida mundialmente por sua
riqueza, diversidade e tamanho, cerca de 3.300.000km2 de extensão no Brasil, que representa
40% do país. Ainda segundo o Grupo, existem mais espécies vegetais em 1 hectare de floresta
do médio Amazonas do que em todo o território europeu, e o crescimento médio de uma
árvore na região é seis vezes mais rápido que na Europa. Além disso, existe uma infinidade de
espécies vegetais e animais, inclusive endêmicas, que aumentam o quadro de beleza e
potencialidades da região.
Toda esta exuberância é constantemente ameaçada pelas práticas comuns de exploração dos
recursos naturais, principalmente da floresta, sejam com o objetivo do desenvolvimento
econômico ou para a própria subsistência dos povos ribeirinhos. Grande parte desta
exploração é feita de forma ilegal, ou seja, sem a autorizaçãodo IBAMA - Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente. Outra parte ainda recebe a autorização do órgão, encaminhando o Plano
de Manejo ao IBAMA, mas deixando de aplicar as práticas silviculturais de exploração, que
garantem a redução dos impactos e danos à floresta. Este tipo de exploração é chamada por
Roncoletta (2009) de Exploração Convencional, por ser a mais comum na Amazônia. Esta
prática, tanto se realizada por comerciantes ou pela população ribeirinha, podem trazer
grandes prejuízos à natureza quando acontecem sem consciência preservacionista e sem visão
de sustentabilidade. Segundo Manejo... (2009), este tipo de exploração
“danifica profundamente as áreas que explora: destrói até 2m3 de madeira para cada m3
aproveitado, reduz em até 60%, ou mais, a cobertura florestal, perturba severamente os
solos minerais e danifica ou mata até 40% da biomassa. Áreas assim exploradas são
abandonadas com muitos resíduos e essa flora danificada, seca e altamente combustível,
expõe a floresta a riscos de incêndio. Todas essas perturbações geram ainda um tremendo
impacto econômico: o grande lapso de tempo entre os ciclos de corte - entre 60 anos e,
talvez, nunca mais - necessário à regeneração da floresta. O resultado é que, com grande
freqüência, essas áreas são invadidas ilegalmente ou transformadas em pobres pastagens.”
Na rede natural de organização dos seres vivos, a morte de uma planta da floresta permite a
penetração da luz do sol para as demais, que estavam na sombra, auxiliando no processo de
fotossíntese, e permitindo a germinação de novas sementes, dando a oportunidade para que
novas plantas cresçam. É o processo de regeneração natural das espécies (SILVA, 2006).
Quando acontece o desmatamento, não somente as árvores cortadas têm seu ciclo de vida
interrompido, como também todas as demais que estão ao seu redor, inclusive as sementes.
Mesmo assim é comum durante viagens pelas estradas que cortam a floresta, deparar-se com
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cenas de desmatamento e queimadas.
Segundo publicação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon, o
desmatamento acumulado de agosto a setembro de 2008, período de início do calendário atual
de desmatamento, totalizou 459 quilômetros quadrados (SOUZA JR. et al., 2008). O Instituto
de Pesquisas Espaciais – INPE (2009) divulgou que, entre agosto de 2007 e agosto de 2008,
os números estimados do desmatamento na Amazônia Legal foram de 11.968 quilômetros
quadrados de área. Mesmo estes dados representando redução em comparação com períodos
anteriores, ainda é grande o índice de devastação na Amazônia.
A floresta mantida em pé proporciona uma série de benefícios à humanidade, dentre os quais
pode-se destacar a manutenção da biodiversidade do planeta, enquanto sua exploração
desordenada põe fim a espécies antes mesmo de serem identificadas pelo homem, além de
contribuir para o equilíbrio do dióxido de carbono na atmosfera, moderando o clima da região
e, consequentemente, do planeta. A preservação da floresta também a ajuda a manter a
qualidade das águas e a estabilidade do solo, constantemente fertilizado pela ação das
abundantes chuvas que caem sobre a região. O potencial econômico presente nesta região é
cada vez mais abrangente e motivador, porém, o desafio é explorá-lo com sustentabilidade, ou
seja, de tal forma que não prejudique o equilíbrio entre o meio ambiente e as comunidades
nele existentes, sejam humanas, vegetais ou animais (A SUSTENTABILIDADE NA
AMAZÔNIA, 2009).
3. O manejo florestal sustentável: o caso da Mil Madeiras Preciosas
De acordo com o Conselho de Manejo Florestal – FSC Brasil (MANEJO FLORESTAL
RESPONSÁVEL..., 2009), Manejo Florestal é a administração da floresta para a obtenção de
benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação ambiental dos
ecossistemas.
A partir da definição do Código Florestal Brasileiro (1965) sobre a necessidade da elaboração
de Planos de Manejo para a exploração da floresta, abriu-se o caminho para um novo conceito
de exploração, que representasse a utilização dos recursos causando menor impacto ao meio
ambiente: a exploração de impacto reduzido – EIR, também chamada de exploração de baixo
impacto ou exploração sustentável. A EIR compreende a construção de infraestrutura,
abertura de estradas, ramais, trilhas, pátios, as técnicas adequadas de corte das árvores, bem
como de seu arraste e transporte (MANEJO FLORESTAL RESPONSÁVEL..., 2009).
Este tipo de exploração contribui para que a floresta mantenha sua forma e função mais
próximas do seu estado original, para isso está fundamentado em tecnologia adequada,
planejamento, treinamento e desenvolvimento de mão-de-obra especializada, o que, a longo
prazo, traz benefícios econômicos em relação à exploração convencional (MANEJO...,2009).
De acordo com Roncoletta (2009), a exploração de impacto reduzido divide-se em três etapas
chave:
Fase pré-exploratória: esta fase inicia-se 1 ano antes da fase de exploração e engloba as
atividades de definição das Unidades de Produção, abertura de trilhas para realização do
inventário, estabelecimento das parcelas permanentes, realização do inventário, remoção
de cipós, processamento dos dados coletados, mapeamento, planejamento e construção da
infraestrutura;
Fase exploratória: esta abrange as atividades de seleção e sinalização das árvores a
explorar, corte das árvores, planejamento de arraste, arraste das toras e operação no pátio;
Fase pós-exploratória: esta tem início 1 ano após a exploração e abrange as atividades de
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tratamento silviculturais, avaliação de impacto, avaliação de desperdício, novas medições
das parcelas permanentes, proteção florestal e manutenção de infraestrutura.
A Mil Madeiras Preciosas, ou Precious Woods Amazon – PWA, empresa vinculada ao grupo
suíço Precious Wood, está situada no município de Itacoatiara, e é uma das pioneiras nas
atividades de Manejo Florestal, que acontecem desde em 1994, e também na certificação,
desde 1997, pelo Conselho de Manejo Florestal - FSC (Forest Stewardship Counsel), órgão
responsável pela emissão do selo verde. A empresa busca aliar tecnologia ao desenvolvimento
sustentável explorando a madeira através de Planos de Manejo e processando-a na própria
indústria da empresa, sendo comercializada no Brasil e no exterior nas formas serrada, semi-
acabada ou mesmo transformada em produto acabado. Os resíduos são utilizados como
combustível para geração de energia elétrica pela Precious Woods Energia, empresa do
mesmo grupo, que é responsável pelo seu próprio abastecimento e ainda por 70% da energia
gerada para a população do município de Itacoatiara, que é de 85 mil habitantes.
A área total adquirida pela empresa é de 432.000 ha, e a área referente ao plano de manejo
certificado é de 122.729 hectares. Destes, 67.000 ha são efetivamente explorados, enquanto
que o restante tem sido preservado. 20% da área florestal situada na zona de colheita é
considerada como área de preservação permanente, que são áreas protegidas por lei, por
serem próximas a rios e igarapés e áreas com declividade acima de 45°, e que têm a função de
manter a qualidade da água e servir de refúgio para a fauna.
A quantidade de madeira colhida obedece a critérios e limites que não prejudiquem a
preservação das espécies. A empresa busca encontrar valor na maior quantidade de espécies
possíveis, a fim de diminuir a pressão sobre as espécies mais conhecidas. Atualmente, já são
83 espécies inventariadas contra apenas 16 conhecidas no início das atividades, e 62 dessas
espécies já possuem mercado garantido, expandindo o potencial econômico da região.
Seu Plano de Manejo segue as etapas descritas anteriormente, com diferenciação em pequenos
aspectos. Na primeira etapa, a do inventário, equipes específicas para esta atividade fazem o
levantamento das espécies botânicas de interesse comercial e potencial da empresa, que
apresentem diâmetro igual ou superior a 40 cm. Estas são identificadas, plaqueadas e
mapeadas, para servir de referência para as equipes de colheita. Cada árvore é identificada a
nível de espécie, com informações sobre o nome vulgar da espécie, diâmetro do fuste e
qualidade do fuste . Nesta etapa também é realizado o levantamento topográfico do terreno e a
localização de cursos d’água, para possibilitar a implantação da infraestrutura de estradas que
servirão para a colheita e retirada das toras da floresta.
Utilizando como base o Sistema de Informações Geográficas – SIG e o Sistema Celos, um
sistema policíclico, caracterizado pela exploração de baixo impacto e tratamento
silviculturais, baseados na regeneração natural (MANEJO FLORESTAL..., 2004),
desenvolvido pela Universidade de Wageningen- Holanda e adequado à realidade local, as
informações coletadas na etapa do inventário são armazenadas em computador e é gerado um
mapa das árvores a serem extraídas.
A área do projeto foi dividida em unidades de produção anual, que são georeferenciadas pelo
sistema, utilizando blocos de 4x4. Esses blocos são subdivididos em talhões de 10 hectares,
que correspondem aos retângulos menores de 400x250 metros. A previsão de corte é de 15 a
25m3 por hectare, num ciclo de corte previsto entre 20 e 25 anos (PRECIOUS WOODS
AMAZON, 2005).
Ainda na etapa pré-exploratória, a empresa transforma parte da área florestal em infraestrutura
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para o transporte e armazenamento temporário das toras. De acordo com o plano de manejo
da empresa, a área total para este fim não deve ultrapassar 6% da área total manejada, e
consiste em estradas de acesso, trilhas de arraste e pátios florestais.
As estradas de acesso classificam-se em principais ou secundárias e são planejadas um ano
antes da colheita florestal na área. As principais são as mais largas, com acabamento de
piçarra, que permitem o tráfego dos veículos durante todo o ano. As secundárias são mais
estreitas, com acabamento mais simples e sem manutenção, e por elas o tráfico só é possível
durante o verão na região. As trilhas de arraste são planejadas em escritório, com o auxílio de
imagem de satélite e das informações da equipe de inventário, evitando-se o cruzamento com
os cursos d’água. Cada uma delas possui em torno de 4 metros de largura e situam-se cerca de
100 metros de distância, sistematicamente. A meta estabelecida é de trilhas de arraste em até
no máximo 3,5% da área total manejada. Os pátios florestais são áreas para a estocagem
temporária das toras na floresta, antes de seguir para o pátio principal da empresa. Os pátios
são instalados um a cada 500 metros ao longo das estradas secundárias, numa área mínima de
25 por 25 metros e numa área máxima de 45 por 45 metros. A dimensão dos pátios varia de
acordo com a previsão da quantidade de toras que devem ser recebidas pelo pátio. A meta
estabelecida é de construir estradas e pátios florestais ocupando ao máximo 2,5% da área total
manejada.
O planejamento com SIG permite realizar a determinação da rede de transporte necessário
com a localização apropriada, diminuindo os impactos ambientais envolvidos. Um exemplo
está relacionado à construção de pontes, quando há a necessidade de locomoção por algum
curso d’água.
A seleção das árvores para corte é totalmente baseada em informações provenientes da etapa
de inventário que ficam contidas no banco de dados do sistema. Para o planejamento
operacional de colheita florestal, leva-se em consideração as características dominantes de
cada Unidade de Produção Anual, e o critério para escolha das árvores a serem colhidas é
baseado nas considerações técnicas florestais, ecológicas e na viabilidade econômica para a
empresa. As árvores que se encontram em área de preservação permanente e árvores
protegidas por lei são sempre excluídas do corte. Se na área manejada existirem menos de 4
árvores por 100 ha de uma determinada espécie, estes indivíduos são preservados ativamente
e destacados nos mapas de campo, o que garante a manutenção das espécies. E para cada
espécie selecionada para corte, no mínimo, 40% dos indivíduos inventariados acima de 40
centímetros de diâmetro são preservados como estoque remanescente.
Toda logística operacional para a colheita florestal é colocada no mapa que serve para orientar
as atividades das equipes de corte. Nele constam as árvores seleciondas para corte, as trilhas
de arraste e as áreas de preservação permanente. O mapa de colheita auxilia na orientação das
equipes em campo para executar suas atividades de uma forma planejada e com maior
eficiência.
A segunda etapa do plano consiste nas atividades de corte e arraste das toras. O corte das
árvores é realizado obedecendo a rigorosos critérios para a segurança da equipe, como ter
claras as informações sobre a direção de queda natural da árvore, a localização da trilha a ser
usada para o arraste, e a presença de árvores remanescentes e clareiras naturais, de modo que
facilite a retirada da tora de dentro da floresta e cause o menor impacto possível à floresta. O
direcionamento da queda é feito de acordo com a localização das trilhas, para facilitar a
retirada e também evitar que outras árvores sejam derrubadas sem necessidade, minimizando
o impacto ambiental. A retirada da tora de dentro da floresta é feita por um trator de esteira,
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equipado com um guincho de aço que arrasta a tora até a trilha.
Em estudo realizado pela Fundação Floresta Tropical é possível verificar os benefícios desta
etapa do processo de EIR em comparação com a exploração convencional. A quantidade de
madeira desperdiçada na exploração convencional é 16,52% maior que a quantidade
desperdiçada na EIR e a área impactada pela exploração convencional é 5,13% maior que a
pela EIR. (MANEJO..., 2009).
Dentro de uma faixa de 50 metros de cada lado da trilha, as toras são guinchadas pelo trator
com o auxílio da equipe de pré-arraste, cujo cabo de aço permite um alcance de até 75 metros.
Todo esse processo visa diminuir a movimentação de equipamentos pesados na floresta.
Todas as toras são puxadas até a trilha onde outro trator florestal, chamado skidder, retira as
toras e as leva para um pátio florestal localizado à beira da estrada secundária, realizando a
operação de arraste propriamente dita. Depois que as toras são levadas até o pátio florestal, o
operador da carregadeira as separa de acordo com o cumprimento e diâmetro. Quando
necessário, um motosserrista retira sapopemas, nós, deformidades ou algo que venha
dificultar essa atividade, inclusive, facilitando o desempenho destas toras na serraria. Em
seguida, é feito o carregamento dessas toras para o caminhão com carreta. As carretas
transportam as toras dos pátios florestais até o pátio principal, localizado na área industrial da
Mil Madeiras Preciosas. As mesmas são descarregadas com uma carregadeira e separadas por
espécie, e uma equipe realiza a cubagem e romaneio, ou seja, são verificadas exatamente o
volume e a rastreabilidade da tora.
A rastreabilidade é possível por meio da formação da chamada cadeia de custódia – COC,
que representa o processo completo pelo qual passa o produto florestal a partir da sua origem
até se transformar num produto final ofertado nos mercados de atacado ou varejo.
Na floresta, o controle de COC é feito a partir do momento em que cada árvore é inventariada,
cortada e assim por diante. Cada tora recebe uma identificação única para o controle do fluxo
de material, elas são numeradas com plaquetas. Nos controles, cada número é relacionado
com o código de identificação da árvores de origem. A partir disso, este controle é feito de
forma sequenciada em cada uma das operações realizadas, com formulários específicos para
esta finalidade.
Estes dados finalmente são processados em computador, através de um programa
desenvolvido na própria empresa com este objetivo, e a partir disso é possível se obter o
histórico de cada uma das toras processadas durante todas as operações florestais, inclusive
após comercializadas. Ou seja, este processo indica que a madeira consumida tem uma
garantia de origem e a cadeia de custódia é garantida.
A terceira e última etapa acontece após a colheita e refere-se ao monitoramento do
desenvolvimento florestal para atender à demanda de informações em escala comercial. Este é
realizado para indicar as intervenções silviculturais mais adequadas a serem adotadas, com o
objetivo de garantir e otimizar a reprodução e o desenvolvimento da floresta manejada. Para o
monitoramento é utilizado o método do inventário florestal contínuo, através da instalação de
parcelas permanentes de 0,5 ha a cada 200 ha de área manejada e mensurada a cada 5 anos de
estudo na área de produção, que é um método clássico de monitoramento em manejo florestal.
4. Conclusão e considerações finais
A realização do Manejo Florestal de Impacto reduzido pela Mil Madeiras Preciosas
diferencia-se de outras formas de exploração por aliar tecnologia ao desenvolvimento
sustentável, ao mesmo tempo em que combina a segurança dos trabalhadores diretos do
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processo com a satisfação pessoal da população próxima às áreas manejadas.
A capacitação das equipes de trabalho, bem como a utilização de um sistema informatizado de
alta tecnologia permitindo o acesso às informações florestais em tempo reduzido, faz com que
estas sejam devidamente armazenadas e não se percam durante o processo. Desta forma, é
possível realizar um controle mais bem planejado das espécies, evitando a exploração
desnecessária de indivíduos sem utilização, como acontece na exploração convencional.
Desde o início do manejo florestal pela empresa, a quantidade de árvores inventariadas têm
crescido consideravelmente, enquanto que na exploração convencional espécies morrem antes
de serem conhecidas. Isso indica que o conhecimento sobre a floresta tem aumentado,
aumentando assim as opções de utilização de novas espécies. Acompanhando este
crescimento, a quantidade de árvores preservadas também tem aumentado a cada ano,
refletindo os benefícios da exploração planejada. De 2002 a 2006, o percentual de árvores
preservadas passou de 9,7 para 14,8% do total inventariado. Além disso, há ainda a redução
dos custos com o desperdício da madeira e com a movimentação de máquinas de grande porte
na floresta.
Aspectos negativos desta forma de exploração também existem, porém em nível bem menor
que os impactos causados pela exploração convencional. Um deles é gerado pelas trilhas de
arraste, que eventualmente se tornam um obstáculo à locomoção no solo de alguns tipos de
fauna.
O principal objetivo do plano de manejo florestal sustentável da Mil Madeiras Preciosas é
abastecer a indústria madeireira com espécies comerciais de boa qualidade, que atendam à
legislação brasileira para exploração deste recurso e que contribuam para a qualidade de vida
global.
Pesquisas aprofundadas sobre o tema podem ser realizadas a partir deste artigo, inclusive
comparações das atividades da Mil Madeiras Preciosas com outras empresas do ramo.
Referências
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