manejo de plantas daninhas em trigo

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Manejo de plantas daninhas em trigo Buva crescendo entre plantas de trigo. o trigo continua sendo a prin- cipal cultura de inverno nó Sul do Brasil e em expansão nas regiões do Mato GroSSo do Sul, Mato Grosso, Mi- nas gerais, Bahia e Goiás. Em todas as regiões produtoras de trigo as plantas daninhas são um dos fatores limitan- tes da produção. As plantas daninhas, em situações extremas podem reduzir em mais de 80% o rendimento do tri- go. Contudo, as perdas variam com as espécies infestantes, com a densidade populacional, com a duração da com- petição e com as condições do am- biente. As plantas daninhas possuem ampla diversidade nas diferentes regi- ões brasileiras que cultivam trigo. No Sul do Brasil, as gramíneas com maior 1 Engenheira-Agrônoma, M. Se.; Doutoranda em Plantas Daninhas na Universidade Federal de Pelotas, Bolsista CNPq. marianifranciele@gmail.com 2Engen heiro-Ag rônomo., D. Se., Pesquisador da Embrapa Trigo. Passo Fundo, RS. vargas@cnpt.embrapa.br incidência são o azevém (Lolium multi- f1orum), a aveia-preta (Avena strigosa) e a aveia-branca (Avena sàtiva). Já as espécies de folhas largas com maior importância são a nabiça (Raphanus raphanistrum é R. sativus), o cipó- de-veado (Polygonum convolvulus), a erva-salsa (Bowlesia incana) e a buva (Conyza bonariensis e C. canadensis). Nos anos em que as temperaturas mé- dias são mais elevadas (acima de 15-20 0c), ocorrem também outras invasoras de folhas largas, comuns no verão, como por exemplo o picão-preto (Bi- dens pi/osa), a corriola (lpomoea spp.), a guanxuma (Sida spp.) e a poaia (Rj- chardia brasiliensis). O controle de plantas daninhas, em trigo, pode ser dividido em duas etapas principais: an- tes da implantação da cultura, no ma- nejo pré-semeadura (dessecação pré- semeadura) e após a implantação da cultura no manejo em p6s-emergência da cultura e das plantas daninhas. Manejo na pré-semeadura do trigo (dessecação) O número de moléculas herbici- das registradas para manejo pré-seme- adura de trigo é considerado pequeno. Os herbicidas disponíveis para uso são 2,4-D, metsulfurom-metil, glifosato, paraquate e paraquate + diurom. En- quanto os dois primeiros controlam es- sencialmente plantas de folhas largas, o glifosato, o paraquate e o paraquate + diuron são herbicidas totais, contro- lam tanto folhas largas quanto gramí- neas. Em áreas com elevada frequência de guanxuma (Sida spp.), a utilização da associação de metsulfurom e glifo- sato, antes da semeadura de trigo, tem sido uma alternativa mais eficiente do que a aplicação isolada desses herbici- dás.

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Page 1: Manejo de plantas daninhas em trigo

Manejo de plantas daninhasem trigo

Buva crescendo entreplantas de trigo. o trigo continua sendo a prin-

cipal cultura de inverno nó Sul doBrasil e em expansão nas regiões doMato GroSSo do Sul, Mato Grosso, Mi-nas gerais, Bahia e Goiás. Em todas asregiões produtoras de trigo as plantasdaninhas são um dos fatores limitan-tes da produção. As plantas daninhas,em situações extremas podem reduzirem mais de 80% o rendimento do tri-go. Contudo, as perdas variam com asespécies infestantes, com a densidadepopulacional, com a duração da com-petição e com as condições do am-biente.

As plantas daninhas possuemampla diversidade nas diferentes regi-ões brasileiras que cultivam trigo. NoSul do Brasil, as gramíneas com maior

1Engenheira-Agrônoma,M. Se.; Doutoranda emPlantas Daninhas na UniversidadeFederal de Pelotas, Bolsista [email protected]

2Engen heiro-Ag rônomo.,D. Se., Pesquisador daEmbrapa Trigo. Passo Fundo, [email protected]

incidência são o azevém (Lolium multi-f1orum), a aveia-preta (Avena strigosa)e a aveia-branca (Avena sàtiva). Já asespécies de folhas largas com maiorimportância são a nabiça (Raphanusraphanistrum é R. sativus), o cipó-de-veado (Polygonum convolvulus), aerva-salsa (Bowlesia incana) e a buva(Conyza bonariensis e C. canadensis).Nos anos em que as temperaturas mé-dias são mais elevadas (acima de 15-200c), ocorrem também outras invasorasde folhas largas, comuns no verão,como por exemplo o picão-preto (Bi-dens pi/osa), a corriola (lpomoea spp.),a guanxuma (Sida spp.) e a poaia (Rj-chardia brasiliensis). O controle deplantas daninhas, em trigo, pode serdividido em duas etapas principais: an-tes da implantação da cultura, no ma-nejo pré-semeadura (dessecação pré-semeadura) e após a implantação dacultura no manejo em p6s-emergênciada cultura e das plantas daninhas.

Manejo na pré-semeadurado trigo (dessecação)

O número de moléculas herbici-das registradas para manejo pré-seme-adura de trigo é considerado pequeno.Os herbicidas disponíveis para uso são2,4-D, metsulfurom-metil, glifosato,paraquate e paraquate + diurom. En-quanto os dois primeiros controlam es-sencialmente plantas de folhas largas,o glifosato, o paraquate e o paraquate+ diuron são herbicidas totais, contro-lam tanto folhas largas quanto gramí-neas. Em áreas com elevada frequênciade guanxuma (Sida spp.), a utilizaçãoda associação de metsulfurom e glifo-sato, antes da semeadura de trigo, temsido uma alternativa mais eficiente doque a aplicação isolada desses herbici-dás.

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As populações de azevém e debuva, resistentes às doses normais deglifosato, requerem cuidados especiaisno manejo pré-semeadura do trigo.As sementes de buva e azevém po-dem germinar nos meses de verão nasculturas de soja e milho e no outono,dese'nvolvendo-se até a semeadura dotrigo. Assim, no momento da' desseca-ção estas plantas podem estar em es-tágios avançados de desenvolvimentoe apresentar maior dificuldade de con-trole, exigindo doses maiores ou asso-ciações de herbicidas. Além disso, assementes de soja, resultante das per-das de colheita mecanizada, podemoriginar plantas que caracterizam umproblema importante e devem ser con-troladas antes da semeadura do trigo.Na época da dessecação é comum aocorrência de plantas de azevém, buvae soja resistente ao glifosato, além deplantas da aveia-branca e aveia-pretana mesma área.

O azevém, resistente ao glifosato,pode ser controlado com herbicidasgraminicidas como o haloxifope (Ver-dict), c1etodim (Select), fenoxaprope(Podium), fluazifope (Fusilade), setoxi-dim (Poast) entre outros. Esses herbi-cidas são altamente eficientes sobre oazevém.e são alternativas de controleguímico em pré-semeadura do trigo.E importante destacar, que os herbici-

das graminicidas, como o haloxyfop,podem apresehtar efeito residual e afe-tar a cultura do trigo. Assim, recomen-da-se que a aplicação desses produtosocorra com antecedência de 15 a 20dias da semeadura do trigo. Se houver"escape" de plantas da primeira apli-cação de herbicidas deve ser aplicado

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Tabela 1. Herbicidas seletivos, doses e época de aplicação recomendadas para controle de plantas daninhas na cultura detrigo.

2,4-0 éster32,4-0 + MCPA2,4-0 + PicloranMetribuzin4

2,4-0 éster + Oicamba2,4-0 éster + Bentazon

2,4-0 amina + Bentazon

2,0 a 2,5 (a)2,5 a 3,0 (b)3,0 a 3,5 (c)

Pré-emergência. A dose varia conformetextura do solo. Solos arenosos (a),francos (b) e argilosos (c).

Pós-emergência de plantas daninhas(2 a 6 folhas). Em trigo pode seraplicado a partir do inicio doperfilhatilento.

Pós-emergência de plantas daninhas(2 a 6 folhas). Em trigo pode seraplicado no estágio de 'perfilhamento

(4 folhas - até ocorrência do 1° nó)

Pós-emergência de azevém e aveia(2 a 4 folhas). Em trigo pode seraplicado no estágio de perfilhamento(4 folhas - até ocorrência do 1° nó)

Pós-emergência de azevém e aveia efolhas largas (2 a 4 folhas). Em,trigopode ser aplicado no estágio deperfilhamento (4 folhas - até ocorrência

do 1° nó).

Pós-emergência de aveia (2 a 4 folhas). .Em trigo pode ser aplicado no estágio deperfilhamento (4 folhas - até ocorrência

do 1° nó).

, i.a. = ingrediente ativo; e.a. = equivalente ácido.2 Adicionar O, 1% v/v de óleo mineral emulsionável (100 mL 100" L de água). O Metsulfuron-meti/ apresenta incompatibilidade biológica com aformulação concentrado emulsionável de Tebucon~ole, Paration metilico, Clorpirifós e Oiclofop-metil. '32,4-0 na forma éster está sendo retirado do mercado desde 2003. ,'Não aplicarem solos com menos 1% de matéria orgânica. Não misturarem tanque com outros agrotóxicos ou com adubo foliar.•Não misturar em tanque com latifolicidas. Sua aplicação deve ser efetuada três dias antes ou depois desses herbicidas.

herbicida à base de paraquate antes(1-2 dias) da semeadura do trigo.

Assim, em síntese, no manejopré-semeadura do trigo, para controledas gramíneas o uso de graminicidas(Tabelas 1 e 2) são eficientes, já para ocontrole da soja o 2,4-D e o metsulfu-ron são boas alternativas.

É importante lembrar que o ma-nejo de plantas daninhas no sistemade produção de trigo deve envolverpráticas culturais. Para isso, a semea-dura de nabo, imediatamento depoisda colheita da cultura de verão é im-

600 i.a.480 i.a.600i.a.

1)2 a 1,61,5 a 2,0

4,0

400e.a.

670e.a.720e.a.400e.a.

275 + 275 e.a.360 + 22,5 e.a.

480i.a.

1,0 a 1,5l,Oa 1,51,0 a 1,5O,6a 1,0l,Oa 2,0

1,0 .0,3

0,6 a 1,0 + 0,2

0,6 + 0,81,0+0,8

portante para' cobrir o solo, conside-rando que existe um intervalo de 2 a3 meses até a semeadura do trigo, Ouso de espécies de cobertura de soloé uma ~ficiente alternativa para evitara germinação e estabelecimento deespécies indesejadas como o ázevém,buva e soja voluntária. Além disso, acobertura permanente da área propor-ciona outros benefícios como conser-vação do solo, incorporação de nu-trientes, especialmente de nitrogêniopelas leguminosas, controle de insetose patógenos,

Manejo napós-emergência do trigo

Após a emergência do trigo asalternativas restringem-se aos herbici-das seletivos para a cultura (Tabela 1).O controle de planta;s daninhas folhaslargas, na pós-emergência do trigo,pode ser realizado com os herbicidasbentazon (Basagran), 2,4-D, metsulfu-rom e iodosulfurom (Hussar) (Tabela 1e 2). Esses herbicidas, de forma geral,controlam eficientemente as plantasdaninhas folhas largas que ocorrem na

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Mecanismo de Ação Ingrediente Ativo Nome Comum

Inibidores do FSI

Inibidores da GS

cultura do trigo, se observadas as res-trições das plantas resistentes a herbi-cidas, como exemplo o nabo resistentea metsulfur-om e Hussar e a soja 5T5.Para controle dos biótipos de naboresistente à ação de inibidores da AL5.recomenda-se o herbicida bentazonou 2,4-D, já que os herbicidas iodosul~furom e metsulfurom não terão efeitosobre essa' planta daninha devido à re-sistência.

O controle das plantas daninhasgramíneas em trigo pode ser reali-zado pré ou pós-emergência dessasespécies. Os herbicidas registradospara controle ·de plantas daninhas gra-míneas na cultura de trigo são: empré-emergência 'pendimetalina (Her-

Ariloxifenoxi-propionatos(fop's)

Ciclohexanodionas(dim's)

Diclofope

Cletodim '

Set oxidim

Furore,

Podium

lIoxan

Select

Poast

Hussar

Nicosulfuron nortoxSanson

Bipiridílios

Ácido fosfínico

Paraquate

Amônio-glufosinato

badox), e em pós-emergência diclo-fope (lioxan CE), c1odinafope (Topik)e o iodosulfurom (Hussar) (Tabelas 1e 2). Esses herbicidas são eficientes nocontrole de aveia-branca, aveia-preta e

. do azevém. O pendimetalina é usadoem pré-emergência da cultura do tri-go, com a seletividade obtida por suaposição na camada superficial do solo(cerca de 2 a '3 cm), devendo o trigoser semeado na profundidade de cercade 5 cm e com fechamento do sulcode semeadura. Assim, o herbicida nãoatinge as sementes. Contudo, a ocor-rência de chuva intensa, logo após aaplicação, principalmente em solos de.textura arenosa e com teores de maté-ria orgânica abaixo de 2%; podem cau-

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sar lixiviação da pendimentalina até ,acamada onde se encontram as semen-tes do trigo e, dessa forma, causar fito-toxicidilde à cultura. A maior ação dopendimentalina é no c~ntrole d~ ~ze-vém e de aveia-preta. Ja os herblCldasdiclofope e iodosulfurom são. usa~~sem pós-emergência e têm maior eficI-ência em azevém dó que nas aveias. O'c1odinafope deve ser usado quando ofoco principal for controlar aveia, vistoque seu efeito sobre azevém, na. d,o~ede 150 mL/ha, é lilJlitado. A eflcaCladesses herbicidasé dependente do es-tádio de desenvolvimento do azevém edas aveias, sendo os melhores resulta-dos obtidos quando aplicado em plan-tas jovens, com 2 a 4 folhas.

É importante destacar que asplantas daninhas tenham ár~a. foliarsuficiente para absorver o herblclda nomomento da aplicação é que as con-dições ambientais sejam adequadas(temperatura - mínima 10°C, idea~ de20-30 °c, máxima de 35°C; umida-de relativa do ar - mínima 60%, idealde 70-90%, máxima de 95%; e ventocom velocidade menor que 10 km/h)para absorção e translocação dos pro-dutos.

Uma situação em que comu-mente ocorrem falhas no controle éapós a colheita da cultura d; verão,quando há corte da parte aerea dasplantas daninhas e estas não apresen- L

tam área foliar suficiente para absorver

S··BOX•.Monltor de colheita• Monltor de plantio•.Monltor de pulverização

•.GPSbarra de luz•.Piloto automático•.Medidor de umidade

os herbicidas. Além dessa, outra con-dição adversa importante é a o~orrên-cia de baixa temperaturas (abaiXO de10°C) associada a deficiência hídrica(seca). Nessas duas situações,' prime~-ro é necessário aguardar o desenvolvI-mento de novas folhas e, na segunda,aplicar os produtos em horários .emque a umidade e a temperatura.s~Jamadequadas para a ação dos herblcldas.

Novos casos deresistência e o trigo

Os novos casos de resistência deplant~s daninhas a herbic.idas, dir~ta-mente relacionados a cultura do trigo,são de azevém resistente aos inibido-res da ALS e da ACCase. Foram cons-tatadas populações de azevém resis-tentes ao glifosato a partir de 2003.Em 2010 e em 2011 populações re-sistentes também aos. herbicidas inibi-dores ALS e. ACCase, respeçtivamente.A maior preocupação da resistência sedeve ao fato que dentre os herbicidasinibidores da ALSestá a molécula iodo-sulfurom (Hussar), principal herbicidausado em trigo para controle de aze-vém. Já entce os inibidores da ACCaseestão as moléculas c1odinafope, usadoem pós-emergência do trigo, e c1eto-dim, usado em manéjo pré-semeadurapara controle de azevém. ~essalta-seque atualmente existem no RIOGran~edo Sul biótipos de azevém com resls-

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tência múltipla, ou seja, resistentes aoglifosato e aos ínibidores da ACCase(glifosato + ACCase) e biótipos resis-tentes ao glifosato e inibidores da ALS(glifosato + ALS). Até o momento. n~oforam encontrados biótipos com resIs-tência simultânea aos 3 mecanismo deação (glifosato, inibidores da ACCase eALS).

Com o advento da resistênciamúltipla os pr~dutores devem ficaratentos e alternar os herbicidas deacordo com as populações de plantasdaninhas resistentes em cada região oulavoura. No caso de resistência simplesdo azevém, somente ao. glifosato, po-de-se utilizar na área os herbicidas ini-bidores da ALS ou da ACCase (Tabelai). Já nos casos de resistência múltipla,ou seja, ao glifosato e aos inibidoresda ALS, somente os inibidores da AC-Case serão eficientes. Por outro lado,nos casos de resistência múltipla, queenvolva o glifosato e os inibidores daACCase, somente os inibidores da ALSserão eficientes.

. Os biótipos de plantas daninhasresistentes a herbicidas foram identifi-cados somente no Rio Grande do Sulem diferentes locais e devem dispersar-se por todo estado nos próximos anos..As medidas de prevenção e manejo daresistência se adotadas pelos produto-res podem reduzir a dispersão e pro-.Io~gar o tempo de uso dos herbicidasaos quais o azevém adquiriu resistê~-cia. Dentre as medidas de prevençaoe manejo destaca-se: uso de sementescertificadas; não usar repetidamenteherbicidas com o mesmo mecanismpde ação; e considerando que as pop~-lações resistentes se dispersam via p~-len a eliminação de plantas "volunta-rias" ou "escapes" é indispensável paraevitar a disseminação ,generalizada doproblema.

Na prátic,a, recomenda-se que osprodutores monitorem 'as populaçõesde plantas daninhas e falhas de contro-le. Na ocorrência de falhas de controle,especialmente de nabo e azev~m, ~e-didas corretivas, como reaplicaçoes,devem ser realizadas o mais breve pos-sível para evitar a produção de sem~~-tes das daninhas, com uso de h~rblcl-das com outros mecanismos de ação,prevenindo e controlando a dispersãodos biótipos resistentes .•