manejo de plantas daninhas da cultura da pimenta

Upload: leandro-menezes

Post on 02-Mar-2016

42 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESBDEPARTAMENTO DE FITOTECNIA E ZOOTECNIA - DFZDISCIPLINA: CONTROLE DE PLANTAS DANINHASCURSO: ENGENHARIA AGRONMICA

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA PIMENTA (Capsicum sp.)

Vitria da ConquistaJulho / 2013Leandro Menezes Oliveira

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA PIMENTA (Capsicum sp.)

Trabalho entregue Professora Raelly, como nota parcial da disciplina Controle de plantas daninhas do Curso de Engenharia Agronmica da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

Vitria da ConquistaJulho/2013

IntroduoAs pimentas do gnero Capsicum (Solanaceae) fazem parte da dieta humana desde 7500 a.C., sendo que no Brasil so registradas vinte espcies nativas e cinco domesticadas (BOSLAND, 1996). Segundo Nascimento et al. (2006), o cultivo de pimenta no Brasil de grande importncia, quer por suas caractersticas de rentabilidade, principalmente quando o produtor agrega algum valor ao produto, quer pelo elevado nmero de mo de obra que proporciona, sobretudo no perodo de colheita dos frutos.Com a chegada dos navegadores portugueses e espanhis ao continente americano, muitas espcies de plantas foram descobertas, entre elas as pimentas. As pimentas do gneroCapsicumj eram utilizadas pelos nativos e mostraram-se mais picantes (pungentes) que a pimenta-do-reino ou pimenta-negra, do gneroPiper, cuja busca foi, possivelmente, uma das razes das viagens que culminaram com o descobrimento do Novo Mundo.Diversos relatos de exploradores do Brasil-colnia demonstram que a pimenta era amplamente cultivada e representava um item significativo na dieta das populaes indgenas. Ainda hoje, a importncia das pimentas continua grande, seja na culinria, nas crenas, na medicina aloptica ou natural e inclusive como arma de defesa. So remdios para artrites (pomadas a base de capsaicina), dores musculares (emplastro Sabi), dor de dente, m digesto, dor de cabea e gastrite. A capsaicina, responsvel pela pungncia das pimentas, a nica substncia que, usada externamente no corpo, gera endorfinas internamente que promovem uma sensao de bem-estar, acionando o potencial imunolgico. igualmente substancial a contribuio histrica brasileira na disperso destas plantas pelo mundo, eficientemente feita pelos navegadores portugueses e pelos povos que eram transportados em suas embarcaes. As rotas de navegao no perodo 1492-1600 permitiram que as espcies picantes e doces de pimentas viajassem o mundo. As pimentas foram ento, introduzidas na frica, Europa e posteriormente na sia.

Caractersticas da Planta As espcies de pimentas do gnero Capsicum pertencem famlia Solanaceae, como o tomate, a batata, a berinjela e o jil. Dentre as espcies do gnero Capsicum, cinco so domesticadas e largamente cultivadas e utilizadas pelo homem: Capsicum annuum; C. bacccatum; C. chinense; C. frutescens e C. pubescens. Destas, apenas C. pubescens no cultivada no Brasil. A altura e forma de crescimento destas plantas variam de acordo com a espcie e as condies de cultivo. A planta arbustiva, podendo atingir 120 cm de altura, com ampla formao de ramificaes laterais e possibilidade de tornar-se perene O sistema radicular pivotante, com um nmero elevado de ramificaes laterais, podendo chegar a profundidades de 70-120 cm. As folhas apresentam tamanho, colorao, formato e pilosidade variveis. A colorao tipicamente verde, mas existem folhas violetas e variegadas; quanto ao formato, pode variar de ovalado, lanceolado a deltide. As hastes podem apresentar antocianina ao longo de seu comprimento e/ou nos ns, bem como presena ou ausncia de plos. O sistema de ramificao de Capsicum segue um nico modelo de dicotomia e, inicia-se quando a plntula atinge 15 a 20 cm de altura. Um ramo jovem sempre termina por uma ou vrias flores. Quando isso acontece, dois novos ramos vegetativos (geralmente um mais desenvolvido que o outro) emergem das axilas das folhas e continuaro crescendo at a formao de novas flores. Esse processo vegetativo se repete ao longo do perodo de crescimento, sempre condicionado pela dominncia apical e dependncia hormonal.As flores tpicas so hermafroditas, ou seja, a mesma flor produz gametas masculinos e femininos, possuem clice com 5 (em alguns casos 6-8) spalas e a corola com 5 (em alguns casos 6-8) ptalas. Para a identificao das espcies, os taxonomistas examinam principalmente as flores. Caractersticas morfolgicas como o nmero de flores por n, posio da flor e do pedicelo, colorao da corola e da antera, presena ou ausncias de manchas nos lobos das ptalas e margem do clice, variam de espcie para espcie.As espcies do gnero Capsicum so, preferencialmente, autgamas, ou seja, o plen e o vulo que fecundado pertencem a uma mesma flor, o que facilita a sua reproduo, embora a polinizao cruzada tambm possa ocorrer entre indivduos dentro da mesma espcie e entre espcies do gnero. A polinizao cruzada pode variar em taxas de 2 a 90% e, pode ser facilitada por alteraes morfolgicas na flor, pela ao de insetos polinizadores, por prticas de cultivo (local, adensamento ou cultivo misto), entre outros fatores.Em termos botnicos, o fruto define-se como uma baga, de estrutura oca e forma lembrando uma cpsula. A grande variabilidade morfolgica apresentada pelos frutos so destacadas pelas mltiplas formas, tamanhos, coloraes e pungncias. Esta ltima caracterstica, exclusiva do gnero Capsicum, atribuda a um alcalide denominado capsaicina, que se acumula na superfcie da placenta (tecido localizado na parte interna do fruto), e liberada quando o fruto sofre qualquer dano fsico e pode ser medida em Unidades de Calor Scoville (Scoville Heat Units-SHU) por meio de aparelhos especficos. O valor SHU pode variar de zero (pimentas doces) a 300.000 (pimentas muito picantes). A colorao dos frutos maduros, geralmente, vermelha mas pode variar desde o amarelo-leitoso, amarelo-forte, alaranjado, salmo, vermelho, roxo at preto. O formato varia entre as espcies e dentro delas, existindo frutos alongados, arredondados, triangulares ou cnicos, campanulados, quadrados ou retangulares.

Importncia EconmicaAs pimentas do gnero Capsicum destacam-se como importantes produtos do agronegcio brasileiro. Na pauta do comrcio internacional de hortalias, o volume das exportaes brasileiras atingiu 8.479 toneladas no valor de US$ 17.344 mil em 2004. Em contrapartida, as importaes foram de 641 toneladas no valor de US$ 1.403 mil. Desta forma, as pimentas Capsicum beneficiaram a balana comercial brasileira com um supervit US$ 15.941 mil. Comparando-se com o ano 2000, verifica-se que as exportaes aumentaram em volume (22,1%) e em valor (43,0%).Em razo da elevada capacidade de gerao de emprego e renda, principalmente para os pequenos produtores, as pimentas Capsicum posicionam-se dentro da agricultura brasileira como culturas de elevada importncia socioeconmica.So cultivadas em todo territrio nacional, desde o Rio Grande do Sul at Roraima, em uma imensa variao de tamanhos, cores, sabores e, claro, picncia ou ardume.Malagueta, Dedo-de-Moa, Doce Americana, Chapu de Bispo, Cumari Amarela, Bode, De Cheiro, tabasco Murupi, Biquinho so apenas algumas das inmeras pimentas cultivadas no Brasil, todas parentes muito prximas dos pimentes Cinco sculos depois do descobrimento das Amricas, as pimentas passaram a dominar o comrcio das especiarias picantes, sendo de relevncia tanto em pases de clima tropical como temperado. Atualmente, a China e a ndia tem mais de 1.000.000 hectares cultivados comCapsicum, e os tailandeses e os coreanos-do-sul, tidos como os maiores consumidores de pimenta do mundo, comem de 5 a 8 gramas por pessoa/diaO cultivo de pimentas Capsicum deve ser recomendado para agricultura familiar como alternativa de diversificao da produo. A explorao de pimentas Capsicum, alm de representar uma fonte importante de gerao de emprego e renda na agricultura, so produtos que agregam valor na forma processada e detm amplas oportunidades de mercado, tanto na forma in natura como processada (EMBRAPA,2007)

Perodo de interferncias das plantas daninhas A interferncia proporcionada pelas plantas daninhas constitui um dos fatores que mais limitam a produtividade da cultura da pimenta (Capsicumsp.). Assim, para que no ocorra reduo de produtividade, necessrio controlar as plantas daninhas at que a cultura cubra suficientemente a superfcie do solo, e no sofra mais a interferncia negativa delas. O espaamento e a densidade de plantio so fatores importantes no balano competitivo, pois influenciam a precocidade e a intensidade do sombreamento promovido pela cultura. Plantios mais densos dificultam o desenvolvimento das plantas daninhas, as quais tm que competir mais intensamente com a cultura na utilizao dos fatores de produo.No Brasil, no existem estudos sobre o perodo crtico de preveno da interferncia (PCPI) de plantas daninhas em cultivos de pimenta. Esse perodo importante, pois caracteriza o tempo (normalmente em dias ou semanas) aps a semeadura, emergncia ou transplante, que a cultura deve permanecer livre da interferncia imposta pelas plantas daninhas para que no ocorra reduo de produtividade. Um dos poucos trabalhos realizados para estimar o PCPI na cultura da pimenta (Capsicum annuum) foi realizado no Mxico, na dcada de 90. Nesse estudo, utilizando espaamento nas entrelinhas de 0,76 m e populao de 65.000 plantas ha-1, os autores citam que, tolerando 5% de reduo de produtividade, o PCPI de plantas daninhas na pimenteira cv. Mirasol foi de 0,7 a 14,7; 2,3 a 7,4; e 3,2 a 14,7 semanas aps o transplante considerando a produtividade total de frutos e; 0,7 a 15,3; 0,9 a 6,7; e 1,2 a 14,8 semanas aps o transplante para produtividade de frutos comerciais, para trs anos de experimentao, respectivamente. Todavia, como concluso geral, os autores enfatizam que medidas de controle devem ser realizadas at a primeira metade do ciclo da cultura. Os PCPIs longos observados podem estar atribudos menor capacidade competitiva da cultura em relao s plantas daninhas.Principais Espcies de Plantas DaninhasNo h estudos especficos citando as principais espcies de plantas daninhas na cultura da pimenteira, mas segundo alguns relatos, a Tiririca (Cyperus rotundus), que uma monocotilednea muito agressiva devido aos seus meios de propagao e habilidade competitiva, considerada um espcie-problema para a cultura.Relao entre as plantas daninhas e o estado fenolgico da cultura

Aps o PCI at o final do ciclo (Figura 1, fases G-I), as plantas daninhas no interferem significativamente na produtividade, mas podem amadurecer e aumentar o banco de sementes no solo, bem como servir de hospedeiros de insetos-pragas, fitopatgenos e nematides, alm de dificultar e onerar a colheita. Com a introduo da mosca-branca, que utiliza as plantas daninhas como hospedeiros, fonte de alimento e reproduo, a incidncia de viroses na cultura tem crescido muito, reforando a necessidade de adotar programas de manejo integrado de plantas daninhas.

Mtodos de controle de plantas daninhas A estratgia de manejo das plantas daninhas na cultura da pimenta deve incluir mtodos que favoream o estabelecimento da pimenteira e que desfavoream a germinao, a emergncia dos disporos e o crescimento de plantas daninhas presentes no solo, de modo que diminua a interferncia (ao conjunta da competio e da alelopatia) imposta pelas plantas daninhas cultura. Na escolha dos mtodos h que se considerar a infra- estrutura e a mo-de-obra disponveis na propriedade. Para isso, deve-se utilizar uma combinao de mtodos de manejo, que podem ser preventivos, culturais, mecnicos, qumicos ou biolgicos, e que interfiram no ciclo de vida das plantas daninhas, alterando o balano competitivo a favor da cultura. Normalmente, realizado o controle mecnico ou manual das plantas daninhas, uma vez que no h registro de herbicidas para a cultura da pimenta.

Mtodos PreventivosAs premissas do manejo preventivo so evitar a introduo e o estabelecimento de espcies-problema, a exemplo de Cyperus rotundus, e impedir que as populaes de plantas daninhas tenham suas densidades aumentadas, drasticamente. Neste sentido, recomendam-se sementes de boa procedncia, livres de propgulos de plantas daninhas; limpeza de caminhes, mquinas e implementos agrcolas que tenham sido utilizados em outras propriedades ou em reas com espcies daninhas-problema; certificao da origem de adubos orgnicos, especialmente esterco de animais; no usar material proveniente de reas infestadas com tiririca ou de pastagens onde tenha sido usado o herbicida Tordon (2,4-D + picloram). Resduo de picloram no esterco pode afetar o desenvolvimento inicial de algumas hortalias.

Mtodos CulturaisOs mtodos culturais caracterizam-se pela eficiente ocupao do espao agrcola pela cultura desfavorecendo o estabelecimento das plantas daninhas. Assim, todas as prticas culturais que favoream o rpido estabelecimento da cultura da pimenta, como bom preparo do solo, adubao e espaamento adequados, irrigao direcionada e utilizao de mudas sadias e vigorosas, contribuem para o manejo das plantas daninhas.

Mtodos MecnicosO cultivo mecnico mais eficiente, quando as plantas daninhas esto ainda pequenas, com quatro a oito folhas definitivas. Nesse estdio, as plantas daninhas podem ser removidas facilmente sem causar dano cultura. A eficincia do controle mecnico sobre as plantas daninhas perenes baixa (PEREIRA, 2004).

CapinaEste mtodo ainda amplamente utilizado em pequenas propriedades. O perodo crtico de cerca de dois teros do ciclo da cultura da pimenta, que de 12 meses para a Malagueta (C. frutescens) e para as pimentas-de-cheiro (C. chinense) e de oito meses, para a Tabasco (C. frutescens) e para a Dedo-de-moa (C. baccatum var. pendulum) (CRUZ, 2004). Para a pimenta-tabasco, no Cear, so utilizados, por hectare, 90 servios com capinas (CEAR, 2005). A capina com enxada pode afetar o sistema radicular das plantas de pimenta e favorecer a eroso do solo, devendo ser realizada em dias mais secos para obter melhor eficincia.

Mtodos Qumicos

Como no h registro de herbicidas para a pimenteira, muitos agricultores utilizam, erroneamente, herbicidas recomendados para outras culturas, correndo o risco de intoxicar a planta e a si mesmo, alm decontaminar o ambiente. Com o objetivo de dar subsdio ao estudo de seletividadede herbicidas pimenta-malagueta, Santos et al. (2004c) avaliaram 11 herbicidas comerciais, em casa de vegetao. Os herbicidas Trifluralin (Premerlin) na dose de 2,0 L/ha, e metolachlor (Dual), na dose de 2,5 L/ha, foram seletivos, quandoaplicados logo aps o enchimento dos vasos e incorporados ao substrato, antes do plantio das mudas de pimenta malagueta. Em ps-emergncia, aos 30 dias aps o transplante das mudas, os graminicidas fluazifopp-butil (Fusilade), na dose de 1,5 L/ha, e sethoxydim (Poast), na dose de 1,0 L/ha, tambm no causaram intoxicao s mudas de pimenta. Apesar do potencial de uso na cultura da pimenta, tais herbicidas s devem ser recomendados aps a extenso de uso pelo Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA).

Controle do Banco de Sementes na EntressafraA prtica da adubao verde nos perodos de entressafra uma importante ferramenta no manejo preventivo das plantas daninhas, uma vez que as coberturas verdes sombreiam o solo enquanto vivas e formam cobertura morta aps o corte. Alm disso, contribuem para a fertilizao do solo e para a melhoria de suas caractersticas fsicas, fsico-qumicas e biolgicas. Em sistemas de cultivo ecolgico ou orgnico, esses mtodos devem ser privilegiados por serem menos impactantes para o meio ambiente.A rotao de culturas deve ser includa no plano de manejo, para proporcionar mudanas no ambiente onde a lavoura conduzida (ALVES; PITELLI, 2001), modificando a dinmica do banco de semente e, por conseqncia, da comunidade de plantas daninhas, por proporcionar diferentes modelos de competio, distrbios do solo e ao aleloptica (BUHLER et al., 1997). Se a rea ficar simplesmente em pousio, espcies que so favorecidas pelas condies edafoclimticas da entressafra da pimenta podero aumentar muito sua populao, alterando a dinmica da populao de plantas daninhas.

Referncias Bibliogrficas

ALVES, P.L. da C.A.; PITELLI, R.A. Manejoecolgico de plantas daninhas. Informe Agropecurio, Belo Horizonte, v.22, n.212, p.29-39, set./out. 2001.

BOSLAND, P. W. Capsicums: innovative uses of an ancient crop. In: JANICK, J. (Ed.). Progress in new crops. Arlington: ASHS Press, 1996. p.479-487.

BUHLER, D.D.; HATZLER, R.G.; FORCELLA,F. Implications of weed seed bank dynamics toweed management. Weed Science, Champaign,v.45, n.3, p.329-336, May/June 1997

CEAR. Secretaria da Agricultura e Pecuria. Custos de produo e anlise de rentabilidade de pimenta malagueta. Fortaleza, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 10 set. 2006.

CRUZ, D.M.R. Plantio. In: COSTA, C.S.R. da;HENZ, G.P. (Ed.). Cultivo das pimentas.Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. (Embrapa Hortalias. Sistemas de Produo, 4). Verso eletrnica. Disponvel em: .Acesso em: 10 set. 2004.

NASCIMENTO, W. M.; DIAS, D. C. F. S.; FREITAS, R. A. Produo de sementes de pimenta. Informe Agropecurio, v. 27, p. 30-39, 2006.

PEREIRA, W. Manejo de plantas daninhas. In:COSTA, C.S.R. da; HENZ, G.P. (Ed.). Cultivodas pimentas. Braslia: Embrapa Hortalias,2004. (Embrapa Hortalias. Sistemas de Produo, 5). Verso eletrnica. Disponvel em: . Acesso em: 10 set. 2004.