malasseziose tegumentar canina · pachydermatis (malassezia pachydermatis ) o agente mais estudado...

42
LUIZ FERNANDO FRATTINI CABRAL MALASSEZIOSE TEGUMENTAR CANINA SÃO PAULO 2008

Upload: others

Post on 21-Oct-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • LUIZ FERNANDO FRATTINI CABRAL

    MALASSEZIOSE TEGUMENTAR CANINA

    SÃO PAULO

    2008

  • FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

    LUIZ FERNANDO FRATTINI CABRAL

    MALASSEZIOSE TEGUMENTAR CANINA

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de graduação em Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas, sob orientação da Profa. Dra. Ana Claudia Balda.

    SÃO PAULO

    2008

  • CABRAL, Luiz Fernando Frattini / MALASSEZIOSE TEGUMENTAR CANINA / Luiz Fernando Frattini Cabral. – São Paulo: Faculdades Metropolitanas Unidas, 2008. 42f; ilustração. 1. Malassezia pachydermatis. 2. Lipofílica. 3. Secundário I. Luiz Fernando Frattini Cabral. II. Malasseziose Tegumentar Canina.

  • LUIZ FERNANDO FRATTINI CABRAL

    MALASSEZIOSE TEGUMENTAR CANINA

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de graduação em Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas, sob orientação da Profa. Dra. Ana Claudia Balda.

    Profa. Dra. Ana Claudia Balda

    FMU – Orientadora

    ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Lourenço

    FMU

    M.V. Residente Analice Cardoso Munhoz Severino HOSPITAL VETERINÁRIO - FMU

  • A Deus pela vida, A meus avós Francisca e Sidney, por todos incentivos a minha carreira profissional e pessoal.

  • Agradeço a Deus e a meu avô em primeiro lugar.

    A professora Doutora Ana Cláudia Balda,

    orientadora desta pesquisa, pelas idéias e

    conhecimentos além da paciência e

    disponibilidade para a realização deste trabalho.

    A todos meus amigos do curso pelo apoio e

    amizade em especial Médico Veterinário

    Frederico dos Santos.

    Ao meu irmão por ajudar nas traduções de livros

    e artigos científicos.

  • RESUMO

    CABRAL, L.F.F. Malasseziose Tegumentar Canina. [Tegumentary Malasseziosis

    Canine]. 2008. 42f. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Medicina

    Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008.

    A Malassezia pachydermatis é uma levedura não-micelial, monopolar, lipofílica, caracterizada por apresentar um formato oval alongado e uma parede celular espessa, anteriormente conhecida por Pityrosporum canis. É considerado um microorganismo comensal, facilmente encontrado na pele e mucosas de cães, mas devido a fatores predisponentes torna-se patogênico, sendo geralmente secundário à dermatopatias alérgicas, defeitos de ceratinização e endocrinopatias. A detecção e o isolamento de Malassezia pachydermatis podem ser feitos por meio de observação microscópica direta do material suspeito através da citologia, cultura e histopatologia do agente em meios especiais. A observação microscópica através da citologia é o meio mais adequado para a detecção da morfologia e característica desta levedura, tendo menor possibilidade de erro quando comparada a cultura e histopatologia. O tratamento contra malasseziose consiste na utilização de medicamentos tópicos e/ou sistêmicos devendo ser administrados de acordo com a intensidade ou gravidade do quadro clínico, contendo principalmente em suas posologias substâncias antifúngicas.

    Palavras - chave: Malassezia pachydermatis. Lipofílica. Secundário. Citologia. Antifúngicas.

  • ABSTRACT

    CABRAL, L.F.F. Tegumentary Malasseziosis Canine. [Malasseziose Tegumentar

    Canina]. 2008. 42f. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Medicina

    Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008.

    The Malassezia pachydermatis is a non-mycelial yeast, monopolar, lipophilic, characterized by an elongated oval shape and a thick cell wall, formerly known as Pityrosporum canis. It’s considered a commensal organism, easily found on the skin and mucous of dogs, but some predisposing factors make it becomes pathogenic and generally secondary to allergic skin diseases, defects in keratinization and endocrinopathy. Malassezia pachydermatis’s detection and isolation can be possible observing the suspect material with a microscopic, by cytology, and agent’s culture and histopathology in special ways. The microscopic observation by cytology is the best way to detect the morphology and characteristic of this yeast, and it’s the most trustable way to do it, if we compare with culture and histopathology. The malasseziose’s treatment can be done with topical medications and / or systemic. They should be administered depending of the intensity or severity of the clinical picture, and they must contain antifugal substances.

    Keywords: Malassezia pachydermatis. Lipophilic. Secondary. Cytology. Antifungal

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - Malassezia pachydermatis com, gemulação unipolar, oval adquirindo o formato de “garrafa” ou “sapato”...................................................... FIGURA 2 - Malasseziose em cão caracterizada por alopecia, eritema e descamação amarela/amarronzada..................................................................... FIGURA 3 - malasseziose em áreas intertriginosas de um Buldogue. Nota-se alopecia eritematosa do pescoço ventral............................................................. FIGURA 4 - West Highland Terrier com hipersensibilidade a Malassezia........... FIGURA 5 - Cadela, shitzu, de 5 anos de idade com hiperpigmentação e liquenificação em quadro de Atopia com malasseziose secundária ................... FIGURA 6 - Shih-Tzu com malasseziose secundária a hipotireoidismo.............. FIGURA 7 - Basset com dermatite seborréica e malasseziose secundária......... FIGURA 8 - Basset com Acantose nigricante. Nota-se hiperpigmentação axilar, liquenificação e alopecia...................................................................................... FIGURA 9 - Malassezia Pachydermatis em material clínico de cão colhido com “swab” .................................................................................................................. FIGURA 10 - histopatológico evidenciando acúmulo de leveduras M. pachydermatis dentro do estrato córneo. Ampliação de 400x............................. FIGURA 11 - cultura em àgar Dixon Modificado. Nota-se inúmeras colônias de Malassezia pachydermatis com coloração amarelada indicando altas densidades populacionais....................................................................................

    17

    22

    22

    24

    24

    25

    26

    27

    30

    31

    32

  • LISTA DE TABELAS E QUADROS

    TABELA 1 - Frequência de Malassezia pachydermatis nas principais dermatopatias em cães........................................................................................... QUADRO 1 - tipos/propriedades/precauções de medicamentos para tratamento tópico.......................................................................................................................

    21

    38

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    M. – Malassezia

    µm – micrômetros

    Ig. – Imunoglobulinas

    ºC – graus Celsius

    mg/kg – miligramas por quilograma

    sp. - espécie

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO

    2 HISTÓRICO

    3 TAXONOMIA E MORFOLOGIA

    4 ETIOPATOGENIA

    5 ASPECTOS CLÍNICOS DA MALASSEZIOSE TEGUMENTAR

    5.1 Malasseziose Secundária à Dermatopatias Alérgicas.........................

    5.2 Malasseziose Secundária ao Hipotireoidismo.....................................

    5.3 Malasseziose Secundária á Seborréia Canina....................................

    5.4 Malasseziose Secundária à Acantose Nigricante................................

    5.5 Malasseziose Secundária à Redução das Concentrações Séricas de

    Zinco...........................................................................................................

    6 DIAGNÓSTICO

    6.1 Exame Citológico.................................................................................

    6.2 Exame Histopatológico........................................................................

    6.3 Cultura Fúngica....................................................................................

    6.4 Diagnóstico Diferencial........................................................................

    7 TRATAMENTO

    7.1 Tratamento Tópico...............................................................................

    7.2 Tratamento Sistêmico..........................................................................

    7.3 Tratamento de Manutenção.................................................................

    8 CONCLUSÃO

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    13

    15

    16

    18

    21

    23

    25

    25

    26

    27

    29

    29

    30

    31

    33

    34

    34

    35

    36

    39

    40

  • 13

    1 INTRODUÇÃO

    A malasseziose é uma enfermidade comumente observada em clínicas

    médicas de pequenos animais, sendo até o presente momento, a espécie M.

    pachydermatis (Malassezia pachydermatis) o agente mais estudado nas otites e

    dermatites causadas por este gênero de leveduras. (ROSA et al., 2004)

    Por décadas, o gênero Malassezia foi limitado a duas espécies, sendo uma

    lipo-dependente e outra não, respectivamente por M. furfur e M. pachydermatis,

    (ROSA et al., 2004). Em 1994, estudos genotípicos de diversas cepas, associados

    às características fenotípicas, permitiram a identificação de sete espécies,

    denominadas: M. furfur, M. pachydermatis, M. sympodialis, M. slooffiae, M. restricta,

    M. globosa e M. obtusa. Essas leveduras utilizam lipídios como fonte de carbono

    (lipofílicas) e necessitam da suplementação com ácidos graxos de cadeia longa para

    o crescimento in vitro, sendo assim, denominadas leveduras lipo-dependentes, com

    exceção da M. pachydermatis, cuja suplementação é desnecessária, já que se trata

    da única espécie do gênero não-lipodependente. (COUTINHO, 1997 e NAHAS,

    1997).

    A M. pachydermatis, antigamente descrita como Pityrosporum

    pachydermatis, é uma levedura não micelial, monopolar, lipofílica, caracterizada por

    apresentar um formato oval alongado e uma parede celular espessa, considerada

    um microorganismo comensal mais adaptado aos animais em especial os cães.

    (MELO et al., 2001).

    Seu habitat não é totalmente conhecido, sobrevivendo apenas por períodos

    curtos no ambiente. No entanto, esta levedura encontra-se normalmente em

    pequenas quantidades nos condutos auriculares externos, sacos anais, no reto, na

    vagina e dobras cutâneas úmidas. (MELO et al., 2001 e SANTIN et al, 2008). De

    acordo com o artigo de Santin et al. (2008), foi constatada a presença de M.

    pachydermatis na cavidade oral, comprovando que esta levedura também faz parte

    da microbiota bucal de cães, bem como está presente no biofilme dental.

    Por ser frequentemente isolado no conduto auditivo de cães com otite

    externa e na pele de animais com dermatoses pruriginosas, tem sido considerado

    um importante invasor secundário e patogênico, sendo que algumas condições e

    fatores predisponentes podem conduzir a sua evolução exacerbada, causando a

  • 14

    doença, como no caso uma reação de hipersensibilidade ao fungo ou no caso de

    seu crescimento cutâneo excessivo. (COUTINHO, 2005 e SANTIN et al., 2008).

    Uma proliferação exagerada está quase sempre associada a uma causa

    primária como as dermatopatias alérgicas (principalmente atopia e alergia alimentar),

    endocrinopatias (hipotireoidismo), distúrbios de ceratinização (seborréia canina) ou

    associada a antibioticoterapia prolongada (MELO et al, 2001).

    Dentre os fatores de virulência e sobrevivência utilizadas pela M.

    pachydermatis, inclui-se a sua firme aderência aos queratinócitos, podendo alterar a

    coesão entre essas células e ainda danificar a queratina, assim alterando a

    composição do manto lipídico cutâneo, promovendo inflamação local e a ativação do

    complemento, desencadeando processos inflamatórios que favoreceriam a

    penetração dessas leveduras nos tecidos. (SCOTT et al. 2001 e COUTINHO, 2005).

    Em cães a malasseziose está associada a um eritema variável,

    frequentemente com uma descamação gordurosa amarelada/cinzenta ou

    amarronzada, hiperpigmentação e alopecia. No gato, a otite externa, acne e

    dermatite esfoliativa generalizada foram também associadas ao microrganismo

    (WILKINSON & HARVEY, 1996).

  • 15

    2 HISTÓRICO

    O gênero Malassezia foi descrito originalmente por BAILLON em 1889, e a

    primeira descrição da espécie M. pachydermatis em animais foi feita em 1925 por

    WEIDMAN, em material proveniente de um rinoceronte indiano (Rhinoceros

    unicornis) com dermatite esfoliativa, e em 1955 GUSTAFSON isolou pela primeira

    vez a Malassezia do meato acústico externo de cães. No Brasil, o primeiro relato de

    malasseziose tegumentar foi feito por LARSSON, em 1988 (MELO et al., 2001 e

    NOBRE et al., 1998).

  • 16

    3 TAXONOMIA E MORFOLOGIA

    Segundo Melo et al. (2001) e Rosa et al. (2004) a classificação taxonômica de

    espécies e do gênero Malassezia são as seguintes:

    • Reino: Fungi

    • Filo: Deuteromycotina

    • Classe: Blastomycetes

    • Ordem: Cryptococcales

    • Família: Cryptococcaceae

    • Gênero: Malassezia

    Este gênero é composto por leveduras com parede celular espessa, com

    múltiplas camadas, reprodução assexuada com produção de blastoconídeos por um

    processo monopolar repetitivo ou brotamento, no qual tem a formação de células

    globosas, ovóides ou cilíndricas, quando esta se desliga da célula-mãe. (ROSA et

    al., 2004)

    A M. pachydermatis como principal espécie causadora de malasseziose

    tegumentar, é uma levedura lipofílica não lipo-dependente, sendo assim, capaz de

    crescer sem a necessidade da adição de fonte de ácidos graxos de cadeia longa, o

    que a diferencia das outras espécies. Apresentam-se como células isoladas ou em

    grupos, medindo 2,0 - 2,5µm x 4,0 - 5,0µm, com formato oval ou com gemulação

    unipolar de reprodução assexuada, adquirindo o formato de “garrafa” ou “sapato”

    (figura 1). O micélio e pseudo-micélio estão normalmente ausentes. As colônias são

    opacas, de coloração amarelo creme, passando a marrom alaranjado, a superfície é

    redonda ou em forma de cúpula, a textura é seca, friável e granulosa e algumas

    vezes gordurosa, medindo, após cinco dias de incubação a 32ºC, 5mm de diâmetro.

    (NOBRE et al, 1998).

  • 17

    Fonte: www.microbiologyatlas.kvl.dk Figura 1 – M. pachydermatis com, gemulação unipolar, oval adquirindo o formato de “garrafa” ou “sapato”.

  • 18

    4 ETIOPATOGENIA

    Alterações no microclima cutâneo superficiais ou defesas do hospedeiro

    podem permitir a este microrganismo normalmente comensal tornar-se um

    patógeno. Esses fatores do microclima superficial levando à sua proliferação incluem

    a excessiva produção de sebo ou de cerume, acúmulo de umidade e subseqüente

    rompimento da barreira epidérmica. A doença de pele alérgica e bacteriana também

    podem ser fatores predisponentes, como são as administrações de glicocorticóides e

    de antibióticos por período prolongado conferidas por essas doenças. (WILLENSE,

    2002; MEDLEAU & HNILICA, 2003; RHODES, 2005 e COUTINHO, 2005)

    As regiões anatômicas como mentoniana, axilar, virilhas, conduto auditivo

    externo, face, região ventral do pescoço, região abdominal ventral, pele interdigital e

    áreas intertriginosas, são as mais freqüentemente colonizadas. Essas regiões

    correspondem às zonas de dobras cutâneas e são ricas em glândulas sebáceas,

    propiciando condições favoráveis à sobrevivência e à multiplicação de leveduras

    lipofílicas (SCOTT et al., 2001).

    Segundo a literatura, não se observa predisposição sexual nos cães com

    malasseziose, porém constatou-se que a idade média em termos de ocorrência,

    mostra ser entre um e três anos. (GUILLOT et al., 2003).

    Em relação a predisposição racial, as que parecem ser mais predispostas

    são Silky Terrier, Terrier Australiano, Terrier Maltês, Terrier Jack Russell, Terrier

    West Highland branco, Basset Hound, Chihuahua, Poodle, Shetland Sheepdog,

    Collie, Pastor Alemão, Dachshund, Cocker Spaniel e Springer Spaniel. (SCOTT et al,

    2001 e GUILLOT et al., 2003).

    A predisposição genética também pode ser um fator como resultado de

    respostas de linfócitos T deficientes à levedura. A levedura produz fosfolipases,

    proteases promovendo uma importante alteração na estrutura celular, facilitando,

    assim, a invasão dos fungos, além de outras enzimas como hialuronidase e

    condroitina-sulfatase que despolimerizam, respectivamente, o ácido hialurônico e o

    sulfato de condroitina, favorecendo a penetração e dispersão do microorganismo

    (COUTINHO, 2005). Uma toxina chamada zimogênio é liberada pelas paredes da

    célula da levedura ativando o sistema complemento, causando diminuição da

    imunidade celular e produção de linfocinas que são capazes de alterar a produção

  • 19

    de sebo, ajudando a levedura a utilizar lipídios cutâneos como nutrientes. Ambas as

    ações podem contribuir para a inflamação cutânea (SCOTT et al., 2001 e

    CAMPBELL & MATOUSEK, 2002).

    Scott et al. (2001) e Campbell & Matousek (2002) relatam que as doenças

    concomitantes por dermatopatias alérgicas (especialmente atopia, alergia à pulga e

    algumas intolerâncias como alergias alimentares), as endocrinopatias

    (principalmente em cães idosos como hipotireoidismo ou hiperadrenocorticismo) e

    defeitos de ceratinização (seborréia) sejam fatores predisponentes associados.

    Alérgenos derivados de microorganismos residentes na superfície da pele, como a

    Malassezia, contribuem para a carga alergênica e tornam-se os principais fatores de

    todo o processo alérgico, além de alterações de lipídeos na superfície da pele e

    sistema imune. Segundo o artigo de Machado et al. (2004) a atopia foi citada como a

    principal doença associada à M. pachydermatis (tabela 1). Para Campbell &

    Matousek (2002) este fungo tem também uma grande habilidade de se aderir a

    queratinócitos em dermatites atópicas e seborréicas podendo alterar a coesão entre

    essas células, e ainda, danificar a queratina.

    Outras doenças subjacentes relacionadas com rupturas de barreira celular

    incluem os distúrbios metabólicos (eritema necrolítico migratório, deficiência de zinco

    e neoplasia interna). (CAMPBELL & MATOUSEK, 2002).

    Rhodes (2005) afirma que o aumento simultâneo da população cutânea de

    Staphylococcus intermedius, causando piodermite e a dermatite seborréica canina,

    em casos selecionados, sejam resultado do crescimento excessivo de patógenos.

    Nobre et al. (2001), afirmam que as amostras utilizadas em seu estudo acusaram

    como agentes mais freqüentes isolados as espécies M. pachydermatis e o gênero

    Staphylococcus sp. Portanto o tratamento contra um só patógeno não resulta na

    cura de todos os sinais, mas apenas mascara o outro. Por outro lado o tratamento

    antilevedura, por si só, cura todas as manifestações de malasseziose.

  • 20

    Tabela 1 – Frequência de M. pachydermatis nas principais dermatopatias em cães.

    Fonte: MACHADO et al. 2004

  • 21

    5 ASPECTOS CLÍNICOS DA MALASSEZIOSE TEGUMENTAR

    A malasseziose tegumentar é uma dermatose rara, mas crescentemente

    identificada em cães. Quase sempre começa no verão ou nos meses muito úmidos,

    que também correspondem à estação alérgica (polens, mofos) e então persiste até o

    inverno. Cerca de 70% dos cães apresentam doenças de base, especialmente

    seborréia, alergias e piodermites bacterianas. (SCOTT et. al., 2001 e WILLENSE,

    2002)

    Nos cães, as lesões cutâneas desencadeadas pela M. pachydermatis

    podem ser localizadas, disseminadas ou generalizadas. A doença generalizada de

    pele (eritrodermia esfoliativa) manifesta-se com placas eritematosas, oleosas, com

    escamas (amarela amarronzada ou cinza escura) e crostosas, quase sempre com

    odor desagradável, rançoso e seborréico (Figura 2). Pode ocorrer malasseziose

    regional nas orelhas, lábios, focinho, espaços interdigitais, pescoço ventral, face

    medial das coxas, axilas, região perianal e áreas intertriginosas (figura 3). Placas

    escamosas focais, máculas e manchas eritematosas podem coalescer em formatos

    serpiginosos. Em casos crônicos, a lesão cutânea apresenta liquenificação,

    hiperpigmentação e hiperceratose. Devido ao intenso prurido, ocasionalmente, o cão

    apresenta-se com ataques frenéticos de raspar o nariz e os lábios com as patas

    dianteiras (SCOTT et al., 2001).

    Scott et. al, (2001), Willense (2002) e Rhodes (2005) afirmam que o prurido

    é o principal sinal e é virtualmente constante, mas segundo o artigo de Lópes (2008)

    o prurido muitas vezes pode ser leve ou moderado, mesmo existindo um número

    excessivo de leveduras na sua citologia.

    Nahas (1997) descreve três síndromes distintas relacionadas à

    malasseziose tegumentar. Uma de ocorrência mais freqüente, observada em cães

    com dermatopatias crônicas, associada à seborréia severa, gerando intenso prurido.

    Um segundo quadro sindrômico mais raro, a malasseziose primária, de

    aparecimento súbito, que pode evoluir para uma dermatopatia generalizada. A

    terceira forma sendo mais rara que as outras, no qual as lesões se restringem às

    regiões peri-anal e peri-oral, caracterizando-se por discromia de pelame, odor

    característico e umidade cutânea elevada.

  • 22

    Em relação aos gatos a malasseziose tegumentar raramente é relatada, mas

    quando é encontrada, pode estar associada a otite externa negra e ceruminosa,

    acne felina recalcitrante do queixo e dermatite escamosa eritematosa generalizada.

    Dermatite por Malassezia recidivante, generalizada, foi observada em gatos com

    infecção pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV) (SCOTT et al., 2001 e GUILLOT

    et al., 2003).

    Fonte: SCOTT et al., 2001 Figura 2 – malasseziose em cão caracterizada por alopecia, eritema e descamação amarela/amarronzada.

    Fonte: SCOTT et al., 1996 Figura 3 – malasseziose em áreas intertriginosas de um Buldogue. Nota-se alopecia eritematosa do pescoço ventral.

  • 23

    5.1 Malasseziose Secundária à Dermatopatias Alérgicas

    As dermatopatias alérgicas, incluindo hipersensibilidade, estimulam a

    hiperplasia das glândulas sebáceas da derme, favorecendo a multiplicação da M.

    pachydermatis uma vez que caracteriza-se por ser uma levedura lipofílica. (NAHAS,

    1997).

    Nos cães com atopia ou reação adversa a alimentos foi reconhecido nos

    últimos anos o chamado supercrescimento microbiano (figura 4). Este consiste na

    presença de um número elevado de M. pachydermatis, ou mais comumente,

    bactérias (geralmente estafilococos) caracterizado por eritema, escoriações,

    hiperpigmentação, seborréia, liquenificação (figura 5), coceira crônica com

    lambedura dos pés e ausência de pêlos nas áreas afetadas. Há ainda recorrentes

    infecções cutâneas e óticas podendo ocorrer sazonalidades relacionadas a surtos.

    (LÓPES, 2008).

    Em relação à existência de hipersensibilidade contra Malassezia em

    indivíduos atópicos, tem sido demonstrada a existência de IgE específica contra

    alérgenos da levedura, o que desencadearia em um intenso prurido (LÓPES, 2008).

    Em especial para a raça West Highland White Terrier uma doença que

    ultimamente vem sendo relatada é a displasia epidérmica dita como derivada de um

    transtorno de queratinização. Porém segundo o artigo de Nett et al. (2001) é

    sugerida a hipótese de que alguns casos de dermatite, até agora considerados como

    principais fatores os transtornos de queranitização, como no caso da displasia

    epidérmica do West Highland Terrier, poderia ser uma resposta de

    hipersensibilidade do organismo contra a Malassezia, este relato confirma-se com o

    artigo de Lópes (2008). As manifestações geralmente começam entre seis e doze

    meses de idade, apesar de alguns casos de manifestações no adulto terem sido

    identificados. De forma típica, os cães acometidos apresentam pelagem sebosa,

    sinal primário identificado da doença. O prurido inicialmente é localizado na face,

    nas orelhas, nos membros, nas patas e no ventre e varia de médio a moderado. A

    pele envolvida fica inflamada, oleosa e possui grandes quantidades de débris

    ceratossebáceos na superfície. Com o tempo, o prurido torna-se intenso e as lesões

    mais disseminadas. Os animais com casos avançados são sebosos, alopécicos,

    liquenificados e frequentemente hiperpigmentados. De forma precoce, pode haver

  • 24

    alguma melhora com grandes doses de corticosteróides, mas a resposta a estas

    drogas logo se perde. (SCOTT et al., 2001).

    Fonte: LÓPES, 2008. Figura 4 – West Highland Terrier com hipersensibilidade a Malassezia.

    Fonte: http://virbac.engenhosolucoes.com.br/midia/ 4602c41962a98c32.pdf Figura 5 - Cadela, shitzu, de 5 anos de idade com hiperpigmentação e liquenificação em quadro de Atopia, com malasseziose secundária.

  • 25

    5.2 Malasseziose Secundária ao Hipotireoidismo

    Os hormônios tireoideanos influenciam nas concentrações de ácidos graxos

    séricos e cutâneos, sendo assim, as mudanças seborréicas são comuns em cães

    hipotireoideos. O perfil lipídico alterado pode resultar em ressecamento, oleosidade

    ou dermatite seborréica. Essas mudanças geralmente ocorrem nas orelhas e/ou no

    corpo. No corpo as modificações seborréicas podem ser focais, multifocais ou

    generalizadas. Devido a tais modificações o animal fica predisposto a malasseziose

    causando intenso prurido, hiperpigmentação, liquenificação, comedões e acúmulo

    de mucinas (figura 6), (SCOTT et al., 2001 e GROSS et al., 2005).

    Fonte: FRANK & PATTERSON, 2002. Figura 6 – Shih-Tzu com malasseziose secundária a hipotireoidismo.

    5.3 Malasseziose Secundária à Seborréia Canina

    A seborréia canina é caracterizada por um defeito de ceratinização, sendo

    uma doença de caráter crônico da pele de cães. Normalmente se caracteriza por

    lesões circulares com alopecia, eritema, descamação epidérmica marginal e, mais

  • 26

    tarde, hiperpigmentação. Subdivide-se em seborréia seca (pele ressecada com

    descamação focal ou difusa com acúmulo de caspas não aderentes brancas a

    cinzas, pelagem ressecada e áspera), seborréia oleosa (pele e pêlos com debris

    ceratossebáceos gordurosos) e dermatite seborréica (descamação e oleosidade

    com inflamação local ou difusa evidente). Animais com seborréia oleosa ou

    dermatite seborréica podem sofrer um aumento das leveduras M. pachydermatis

    secundárias à doença (figura 7). Devido ao seu supercrescimento e ligação aos

    queratinócitos, continua a estimular mudanças e proliferações seborréicas piorando

    as condições da pele gordurosa causando intensos pruridos e inflamação (SCOTT et

    al. 2001 e GROSS et al. 2005).

    Fonte: Rhodes, 2005 Figura 7 – Basset com dermatite seborréica e malasseziose secundária.

    5.4 Malasseziose Secundária à Acantose Nigricante

    A acantose nigricante canina é um raro padrão de reação cutânea

    ocasionada ou por tipos primários (idiopáticos) ou secundários (anormalidades

    conformacionais, obesidade, endocrinopatias e hipersensibilidade), caracterizando-

    se por hiperpigmentação axilar, liquenificação e alopecia (Figura 8). Em relação a

    acantose do tipo primária, devido às modificações seborréicas, ocorre malasseziose

    secundária agravando assim as manifestações inclusive o prurido. (SCOTT et al.,

    2001).

  • 27

    Fonte: http://www.cepav.com.br/atlas - Atlas Virtual de Alergia e Dermatologia Figura 8 - Basset com Acantose nigricante. Nota-se hiperpigmentação axilar, liquenificação e alopecia.

    5.5 Malasseziose Secundária à Redução das Concentrações Séricas de

    Zinco

    Scott et al. (1996), Melo et al. (2001) e Pfau (2005) relataram a ocorrência de

    infecções por Malassezia associadas à deficiência de ácidos graxos e de zinco.

    A deficiência de zinco é conhecida por representar um importante papel em

    dermatoses caninas, podendo ser causada por fatores genéticos, acarretando em

    absorção deficiente pelo intestino; ou dietéticos, decorrentes principalmente de

    excesso de cálcio ou de cereais, esses últimos ocasionando altos níveis de fitatos,

    ambos interferindo na absorção desse mineral (MELO et al., 2001 e PFAU, 2005).

    Segundo o relato de caso de Melo et al. (2001), a baixa qualidade da ração

    fornecida aos animais podem gerar deficiência de zinco podendo desempenhar um

    importante papel como fator predisponente à esta malasseziose.

    Entre as manifestações da síndrome, ocorre formação de crostas espessas,

    endurecidas e aderidas, além de outras alterações, como seborréia,

    hiperpigmentação, alopecia, eritema, fissuras e pelagem ressecada e áspera. Os

    animais acometidos podem apresentar níveis anormais de zinco no soro e nos pêlos

    (SCOTT et al., 1996). O aspecto particular de grande aderência de exsudato

    crostoso e a liquenificação da pele, dentre os outros sinais, aliados às evidências de

  • 28

    baixa qualidade da ração fornecida aos animais, levam a suspeita de que uma

    deficiência de zinco de origem nutricional pode desempenhar um importante papel

    como fator predisponente à proliferação de Malassezia. Este mineral é componente

    de uma grande diversidade de sistemas enzimáticos nos tecidos corporais, atuando

    como co-fator e modulador em funções biológicas importantes, como a síntese

    protéica e o metabolismo da vitamina A, a síntese de ácidos nucléicos e o

    metabolismo dos carboidratos e do cobre. (MELO et al., 2001 e SCOTT et al., 2001).

  • 29

    6 DIAGNÓSTICO

    O diagnóstico de malasseziose tegumentar, por ser uma enfermidade na

    maioria das vezes oportunista, não deve ser estabelecido a partir da simples

    constatação das leveduras na pele, pois o aspecto clínico é um fator fundamental.

    Além disso, a confirmação do diagnóstico requer observação da eficácia do

    tratamento específico instalado. (GUILLOT et al., 2003).

    6.1 Exame Citológico

    O exame mais utilizado para diagnóstico de malasseziose tegumentar é o

    citológico, sendo que existem diferentes métodos para se obter este tipo de exame,

    dependendo do tipo de lesão e áreas afetas. São realizados com amostras de

    escamas ou gordura superficial, podendo ser através da utilização de um swab da

    região lesionada, por raspagem cutânea, por impressão cutânea da lesão em lâmina

    de vidro desengordurada ou pela utilização de fitas adesivas (“scotch test” ou “tape

    strip technique”). (CAMPBELL & MATOUSEK, 2002; FRANK & PATTERSON, 2002;

    GUILLOT et al., 2003 e LOPES, 2008).

    Nas amostras secas (escamosas), oleosas ou em regiões de difícil acesso,

    tais como dobras cutâneas, a melhor maneira é mediante o uso das fitas adesivas,

    devendo ser comprimidas no local afetado e logo em seguida coradas com Diff-

    Quick, não necessitando de fixação devido as células já se aderirem à fita ( fixação

    pode dissolver a fita). A mesma é colocada numa lâmina com a parte adesiva para

    baixo usando imersão de óleo para visualização microscópica. Nas áreas úmidas e

    exsudativas, as amostras podem ser feitas por impressão cutânea deslizando a

    lâmina diretamente sobre a lesão, e se muito úmida, utiliza-se o swab devendo após

    a coleta deslizá-lo sobre uma lâmina. Nestes casos, além da coloração faz-se o

    método de fixação pelo calor. Verificam-se numerosas células arredondadas ou

    ovais brotando em forma de levedura, que são quase sempre vistas em grupos ou

    aderidas aos ceratinócitos. O gênero Malassezia distingue-se de outros pela

  • 30

    formação microscópica de agrupados de células redondas em gemulação,

    entremeadas com curtos fragmentos de hifas. (FRANK E PATTERSON, 2002;

    GUILLOT et al., 2003 e LOPES, 2008). Melo et al. (2001) e Guillot et al. (2003),

    concluem que deve-se identificar pelo menos três a cinco leveduras por campo

    analisado para que esse organismo seja responsabilizado pela alteração

    dermatológica (figura 9).

    Campbell & Matousek (2002) enfatiza que, por esta espécie já ser um

    microrganismo comum na microbiota cutânea, um pequeno número pode ser

    encontrado no exame, por isso é preciso tomar cuidado ao diagnosticar uma

    infecção causada por Malassezia, devendo ser analisada em combinação com

    histórico clínico e seus achados.

    Fonte: PFAU et al., 2005 Figura 9 – M. Pachydermatis em material clínico de cão colhido com “swab”

    6.2 Exame histopatológico

    Outro método utilizado segundo Campbell & Matousek (2002), Willense

    (2002) e Rhodes (2005), é o histopatológico, que se caracteriza por uma dermatite

    hiperplásica, superficial, perivascular a intersticial predominando células linfo-

    histiocitárias. A epiderme e a bainha da raiz externa da porção infundibular dos

    folículos pilosos geralmente demonstram espongiose proeminente, exocitose de

    células linfóides e hiperceratose paraceratótica. Na ceratina da epiderme superficial

  • 31

    e no infundíbulo dos folículos pilosos podem ser encontradas numerosas leveduras

    (figura 10) e ocasionalmente pseudo-hifas. Existindo infecção secundária são

    encontrados neutrófilos, microabscessos, pústulas e foliculite superficial. As

    leveduras encontradas na superfície dos fragmentos das biópsias de inúmeras

    dermatoses caninas e felinas não necessariamente são admitidas como possíveis

    patógenos, porém as leveduras presentes nos folículos pilosos devem sempre ser

    admitidas como possíveis patógenos. Os dois primeiros autores afirmam que o

    exame histopatológico não é muito eficiente, pois as leveduras podem ser perdidas

    durante a coleta ou processamento da amostra.

    Fonte: CAMPBELL & MATOUSEK, 2002 Figura 10 – histopatológico evidenciando acúmulo de leveduras M. pachydermatis dentro do estrato córneo. Ampliação de 400x.

    6.3 Cultura Fúngica

    Para a realização de uma cultura fúngica, podem ser cultivadas amostras de

    pêlos, de swabs, de lavado de superfície cutânea, de tiras adesivas pressionadas

    diretamente sobre as lesões ou da aplicação direta de meios de cultura sobre as

    lesões ou pêlos (técnica das placas de contato que são pequenas placas de ágar,

  • 32

    feitas de tampas de garrafa e preenchidas com ágar Sabouraud ou, de preferência,

    ágar Dixon modificado). Devendo-se pressionar as placas sobre a superfície da pele

    afetada e incubando-a 27-37ºC (desenvolve-se mais rápido a 37ºC), por três a sete

    dias. Como próximo passo deve-se contar as colônias características, amarelas ou

    cor de camurça, circulares, em forma de cúpula (1-1,5mm) fornecendo dados

    semiqualitativos (figura 11) (RHODES, 2005). Girão et al. (2004) e Rosa et al. (2004)

    reforçam que para um melhor desenvolvimento da levedura, ácidos graxos são

    suplementados na cultura, ainda afirmam em seus artigos que existem divergências

    quanto a característica lipodependente desta espécie, mas como mostram, M.

    pachydermatis cresce melhor em meios contendo fonte lipídica do que em fontes

    simples.

    Willense (2002) e Rhodes (2005) afirmam que a cultura fúngica neste caso

    não é um exame recomendado como procedimento de diagnóstico de rotina, pois

    não quantifica o número de fungos, além de que 50% dos cães saudáveis

    apresentam cultura positiva.

    Fonte: www.rvc.ac.uk/review/Dermatology/Tests/Culture4.htm Figura 11 – cultura em àgar Dixon Modificado. Nota-se inúmeras colônias de M. pachydermatis com coloração amarelada indicando altas densidades populacionais.

  • 33

    6.4 Diagnóstico Diferencial

    Em relação ao diagnóstico diferencial Scott et al. (2001) e Rhodes (2005)

    relatam atopia, hipersensibilidade alimentar, hipersensibilidade à picada de pulgas,

    dermatite de contato, acne felina e dermatite seborréica. Em especial Willense

    (2002) afirma que erupção por drogas, foliculite estafilocócica superficial, escabiose,

    acantose nigricante, linfoma epiteliotrópico são também diagnósticos diferenciais

    para Malassezia.

  • 34

    7 TRATAMENTO

    Para o tratamento contra malasseziose é importante a identificação e

    controle de quaisquer causas primárias e eventuais fatores predisponentes que

    possam levar ao supercrescimento da levedura, tendo como objetivo sua redução e

    eliminação dos sinais. (SCOTT et al., 2001; GUILLOT; 2003). Se as causas

    predisponentes não puderem ser encontradas e corrigidas, é necessária a

    manutenção crônica do tratamento, devendo ser feito com medicamentos tópicos

    semanais ou administração sistêmica uma ou duas vezes por semana. (WILLENSE,

    2002).

    7.1 Tratamento Tópico

    Nos casos leves de malasseziose, o tratamento tópico é o mais indicado

    (MEDLEAU & HNILICA, 2003).

    Agentes tópicos úteis contra as infecções incluem xampus, cremes, loções e

    sprays a base de cetoconazol a 2%, miconazol a 2%, enilconazol, clotrimazol,

    piridiona de zinco, clorexidina 2 a 4%, sulfeto de selênio a 1% e nistatina. (MELO et

    al., 2001; WILLENSE, 2002; CAMPBELL & MATOUSEK, 2002; MEDLEAU &

    HNILIKA, 2003 e LÓPES, 2008). Os xampus devem ser aplicados duas vezes por

    semana até que resulte na cura das manifestações clínicas. (WILLENSE, 2002 e

    RHODES, 2005).

    Tratamento inicial com banhos de enxofre, tendo como objetivo a redução da

    seborréia e das populações microbianas na pele tem sido demonstrado eficaz, pois

    age como antibacteriano, antifúngico, antiparasitário, antipruriginoso, antiparasitário

    e antiseborréico, exercendo efeitos tanto ceratolíticos quanto ceratoplástico

    removendo secreções, restos celulares e o material sebáceo presente no infundíbulo

    folicular, favorecendo consequentemente a penetração de substâncias antifúngicas

    na pele, reduzindo assim o substrato tão necessário para a proliferação da levedura

    (NAHAS, 1997; MELO et al., 2001 e SCOTT et al., 2001).

  • 35

    No tratamento tópico também podem ser empregados agentes ceratolíticos

    na forma de loções, xampus ou sabonetes como hipossulfeto de sódio, sulfeto de

    selênio e ácido salicílico (Quadro 1) (FRANK & PATTERSON, 2002).

    No mercado um dos tratamentos antifúngicos mais usados consiste na

    associação de fármacos que contenham em sua fórmula clorexidina 2% e miconazol

    2% (FRANK E PATTERSON, 2002 e CAMPBELL & MATOUSEK, 2002).

    Aplicações com vinagre, diluído em água na proporção 1:1 também mostra

    ser um método eficaz para o controle tópico da M. pachydermatis. (MELO et al.,

    2001 e MEDLEAU & HNILIKA, 2003).

    Frank & Patterson (2002) destacam que para uma eficácia maior da terapia,

    antes da aplicação de antifúngicos tópicos em casos de dermatite seborréica oleosa

    deve-se utilizar agentes desengordurantes antiseborréicos como peróxido de

    benzoíla, peróxido de benzoíla com enxofre, sulfeto de selênio ou alcatrão, pois têm

    boa atividade desengordurante, removendo crostas e camadas oleosas. Em casos

    de ligeira a moderada dermatite seborréica seca deve-se utilizar agentes

    antiseborréicos, tais como enxofre, ácido salicílico e 1% de selênio, pois diminuem o

    supercrescimento da levedura.

    7.2 Tratamento Sistêmico

    Em casos moderados e graves de malasseziose tegumentar, o cetoconazol

    via oral é o medicamento que tem sido mais tradicionalmente utilizado como

    tratamento, a dose recomendada varia de 5-10mg/kg, com alimento e em intervalos

    de 12 a 24 horas, durante aproximadamente duas a quatro semanas mantendo a

    medicação por mais 10 dias após a cura clínica como precaução (SCOTT et al.,

    2001; FRANK & PATTERSON, 2002; CAMPBELL & MATOUSEK, 2002; GUILLOT et

    al., 2003 e LOPES, 2008).

    Doses acima do estabelecido podem causar efeitos adversos como

    anorexia, náuseas, vômitos, diarréia, icterícia, prurido e queda de pêlos. O

    cetoconazol é contra indicado em cadelas gestantes e pacientes com disfunção

    hepática, pois se trata de uma substância teratogênica e hepatotóxica (FRANK &

    PATTERSON, 2002).

  • 36

    Lópes (2008); Medleau & Hnilica (2003); Frank & Patterson (2002) e

    Willense (2002) afirmam que a eficácia do itraconazol mostra ser semelhante ao

    cetoconazol devendo ser administrado de 5-10mg/kg com intervalos de 24 horas via

    oral junto com alimentação, além de que este medicamento tem menos efeitos

    adversos quando comparado ao cetoconazol, sendo metabolizado no fígado e

    excretado pela urina. Nahas (1997) ainda enfatiza que este medicamento é um

    triazólico muito mais eficaz que o cetoconazol por ser um medicamento com poucos

    efeitos tóxicos.

    Também há antifúngicos já usados em medicina veterinária para o

    tratamento das dermatofitoses, potencialmente capazes de serem usados em casos

    de malasseziose como o fluconazol (2,5-10mg/kg com intervalos de 24 horas via

    oral), terbinafina (30mg/kg com intervalos de 24 horas via oral) e o lufenuron.

    (FRANK & PATTERSON, 2002 e LÓPES, 2008). Guillot et al. (2003) afirmam que

    ainda haja necessidade de investigação sobre as dosagens, a eficácia e a toxicidade

    desses fármacos.

    Para tratamento em casos de dermatite atópica com redução dos níveis

    séricos de zinco, Scott et al. (1996) e Melo et al. (2001) relatam que além do uso do

    cetoconazol, uma fonte de suplementação de zinco deve ser receitada devido sua

    redução no soro do animal. Este último autor enfatiza que a administração oral de

    10ml diários de óleo de girassol, que é rico em acido linoléico (ômega) desempenha

    importante papel na manutenção da pele e do pêlo, controlando a perda de água

    transepidérmica, além de regular a magnitude da resposta inflamatória e a

    proliferação epidérmica em cães seborréicos, e também é recomendado como

    tratamento adjuvante em dermatopatias.

    7.3 Tratamento de Manutenção

    Campbell & Matousek (2002) e Rhodes (2005) afirmam que normalmente a

    melhora dos sintomas da malasseziose tegumentar começa dentro de sete a 14 dias

    do inicio do tratamento antifúngico, sendo que uma reavaliação incluindo um novo

    exame citológico deve ser feito no prazo de 21 dias para determinar o andamento da

    terapêutica. Para Frank & Patterson (2002) as reavaliações e a duração da terapia

  • 37

    sistêmica deve continuar até que as manifestações clínicas se resolvam ou até que

    não haja provas citológicas da levedura. Quanto à terapia tópica, deve-se prosseguir

    mesmo após a cura como uma maneira profilática da doença, além de banhos

    regulares com xampu antifúngico, uma ou duas vezes por semana, prevenindo

    recidivas (MEDLEU & HNILICA, 2003).

    Um tipo de terapia utilizada nos casos de recidivas de malasseziose

    tegumentar é a pulsoterapia, sendo que após 10 a 14 dias de tratamento é

    administrada uma dose via oral do medicamento de uma a duas vezes por semana

    até que haja remissão das manifestações clinicas. Pinchbeck et al. (2002) comparou

    a administração de itraconazol na forma de pulsoterapia e à administrações em dose

    única diariamente. Cães foram separados em dois grupos onde um foi tratado com

    pulsoterapia via oral na dose de 5mg/kg a cada 24 horas por dois dias consecutivos

    e depois sem receber o antifúngico nos cinco dias seguintes. Este ciclo de sete dias

    foi repetido por 21 dias, com total de seis doses de itraconazol. O outro grupo foi

    tratado diariamente por via oral na dose de 5mg/kg, a cada 24 horas por 21 dias. Os

    resultados sugeriram que ambos foram eficazes no tratamento contra malasseziose.

  • 38

    Quadro 1 – tipos/propriedades/precauções de medicamentos para Tratamento Tópico.

    Fonte: FRANK & PATTERSON, 2002

    SUBSTÂNCIAS

    PROPRIEDADES

    PRECAUÇÕES

    Ácido acético e bórico Acidificante (antimicrobiano) ----------

    Peróxido de benzoila

    Clorexidina

    Clotrimazol

    Cetoconazol

    Miconazol

    Ácido salicílico

    Sulfeto de selênio

    Enxofre

    Alcatrão

    Antibacteriano, ceratolítico*, desengordurante.

    Antibacteriano e antifúngico

    Antifúngico

    Antifúngico

    Antifúngico

    Ceratolítico, ceratoplástico** podendo ser antipruriginoso

    Antifúngico, desengordurante, ceratolítico e ceratoplástico

    Antibacteriano, ceratolítico e ceratoplástico

    Desengordurante, ceratolítico, ceratoplástico e antipruriginoso

    Alvejante em tecido

    ----------

    ----------

    ----------

    ----------

    ----------

    Não usar em gatos

    ----------

    Não usar em gatos

    *Agentes ceratolíticos removem o excesso de cerume presente na superfície da pele **Agentes ceratoplásticos normalizam o processo de queratinização permitindo que a pele adquira as suas características normais.

  • 39

    8 CONCLUSÃO

    As leveduras do gênero Malassezia, integrantes da microbiota cutânea

    normal de vários animais, apresentam características fisiológicas bem diferenciadas

    dos outros fungos. As malassezioses são freqüentemente associadas a quadros de

    hipersensibilidade e alterações seborréicas, e sua ação oportunista dependem de

    fatores predisponentes e perpetuantes do hospedeiro. O diagnóstico da

    Malasseziose é baseado no exame clínico e nos resultados das análises

    histopatológicas e principalmente citológicas. São usados antifúngicos de uso tópico,

    sistêmico ou ambos, embora a prevenção das recidivas requeira a identificação e o

    manejo das causas subjacentes. Nos casos generalizados é necessário também um

    tratamento sistêmico que deve durar várias semanas e pode ser associado a

    medicação tópica. A principal vantagem da terapia sistêmica é a eliminação das

    leveduras presentes na pele e também daquelas que se encontram nas mucosas

    consideradas por alguns autores, como verdadeiros reservatórios. Considerando-se

    a influência de condições primárias sobre a malasseziose, torna-se fundamental a

    sua identificação e controle para evitar recidivas, tal como uma adequada dieta

    nutricional. Entretanto, quando não é possível a correção destes fatores

    predisponentes, é necessária a manutenção permanente do tratamento.

  • 40

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    CAMPBELL, K. L. & MATOUSEK, J. L. Malassezia Dermatitis. Veterinary Therapeutics Articles. vol.24, n.3, p224-232, 2002.

    COUTINHO, S. D. A. Malassezia pachydermatis: caracterização fenotípica de amostras isoladas de pelame e meato acústico externo de cães. 1997. 107f, Dissertação (Doutorado), Universidade de São Paulo, Instituto de Ciências Biomédicas, São Paulo

    COUTINHO, S. D. A. Malassezia pachydermatis: enzymes production in isolates from external ear canal of dogs with and without otitis. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. vol.57, p.149-153, 2005.

    FRANK, L. A; PATTERSON, A. P. How to diagnose and treat Malassezia dermatitis in dogs. Rottweiler Health Foundation. Veterinary Medicine Organization. p.612-623, 2002.

    GIRÃO, M. D.; PRADO, M. R.; BRILHANTE, R. S. N.; CORDEIRO, R. A.; MONTEIRO, A. J.; SIRIM, J. J. C.; ROCHA, M. F. G. Viabilidade de cepas de Malassezia pachydermatis mantidas em diferentes métodos de conservação. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária Tropical. v.31, n.3, p229-233, 2004.

    GROSS, T. L.; IHRKE, P. J.; WALDER, E. J.; AFFOLTER, V. K. Skin diseases of the dog and cat : clinical and histopathologic diagnosis. 2ed, Lowa: Blackwell Science, 2005, 932p.

    GUILLOT, J. MACHADO, M.L.S.; APPELT C.E.; FERREIRO L. Otites e dermatites por Malassezia spp em cães e gatos. Revista Clínica Veterinária, n.44, p27-34, 2003.

    LÓPES, R.L. Canine Malassezia dermatitis. Revista Eletrônica de Veterinária. vol.9, n.5, p01-18, 2008.

    MACHADO, M.L.S.; APPELT, C.E.; FERREIRO, L. Dermatófilos e leveduras isolados da pele de cães com dermatopatias diversas. Acta Scientiae Veterinariae. v32, n.3, p225-232, 2004.

    MEDLEAU, L. & HNILIKA, K. A. Dermatologia de pequenos animais: atlas colorido e guia terapêutico. 1ed, São Paulo: Roca, 2003, 353p.

  • 41

    MELO, S. M. B. ; SANTOS, D. V. S.; CRUZ, L. S. ; HERK, A. G. S.; RIBEIRO, M. B.; ARAÚJO, C. B. Dermatite de localização atípica por Malassezia pachydermatis em um cão apresentando redução nos níveis séricos de zinco. (Relato de Caso). Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. v.1 n3, p84-90, 2001.

    MIHAYLOV, G.; PETROV, V. Malassezia pachydermatis – Etiology and Clinical Findings in Canine External Otitis – Therapeutic Approaches. Trakia Journal of Sciences, Trakia University, vol.6, p123-126, 2008.

    NAHAS, C. R. Contribuição ao estudo da pitirosporose canina. 1997. 99f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

    NETT C. S.; REICHLER I.; GREST P.; et al.: Epidermal dysplasia and Malassezia infection in two West Highland white terrier siblings: An inherited skin disorder or reaction to severe Malassezia infection? Veterinary Dermatology. vol.12, p285–290, 2001.

    NOBRE, M.O.; CASTRO, A.P.; NASCENTE, P.S.; LAERTE, F.; MEIRELES, M.C.A. Occurrency of Malassezia Pachydermatis and other infectious agents as cause of external otitis in dogs from Rio Grande Do Sul State, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology. vol.32, n.3, 2001.

    NOBRE, M. O.; MEIRELES, M. C. A.; GASPAR, L. F.; PEREIRA, D.; SCHRAMM, R.; SCHUCH, L. F.; SOUZA, L. L.; SOUZA, L. Malassezia pachydermatis e outros agentes infecciosos nas otites externas e dermatites em cães. Ciência Rural, v.28, n.3, p447- 452, 1998.

    PFAU, C. R. Eficácia do sulfeto de selênio em diferentes concentraçőes sobre Malassezia pachydermatis em căes : estudo in vitro e in vivo. Dissertaçăo (mestrado), Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduaçăo em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 60f, 2005.

    PINCHBECK L. R.; HILLIER A.; KOWALSHI J. J.; KWOCHKA K. W. Comparasion of pulse administration versus once daily administration of itraconazole for the treatment of Malassezia pachydermatis dermatitis and otitis in dogs. Journal American Veterinary Medical Association, vol. 220, n.12, p1807-1812, 2002.

    RHODES, K. H. Dermatologia de pequenos animais: consulta em 5 minutos. 1ed., Rio de Janeiro: Revinter, 2005, 702p.

    ROSA, C. S.; NASCENTE, P. S.; MEINERZ, A. R.; SOUZA, L. L.; MADRID, I. M.; MELLO, J. R. B.; MEIRELES, M. C. A. Malassezia pachydermatis com características lipo-dependentes. Anais do XIII Congresso de Iniciação Científica - XIII Congresso de Iniciação Científica; Pelotas – RS, vol.1, p198, 2004.

  • 42

    SANTIN, R.; MATTEI, A.S.; MUELLER, E.N.; FONSECA, A.O.S.; MENDES, J.F.; CLEFF, M.B.; NOBRE, M.O.; NASCENTE, P.S.; CARAPETO, L. P.; MEIRELES, M.C.A. Malassezia Pachydermatis Isolada da Cavidade Oral de Cães Errantes da Cidade de Pelotas-RS/Brasil. 35º CONBRAVET – Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária - ExpoGramado - Gramado/RS, 2008.

    SCOTT, D. W.; MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. G. Small animal dermatology. 1ed. Philadelphia: Saunders, 2001, 1213p.

    WILKINSON, G. T.; HARVEY, R. G. Dermatologia dos pequenos animais - Guia para o diagnóstico. 2ed, São Paulo: Manole, 1996, 304p

    WILLENSE, T. Dermatologia clínica de cães e gatos: guia para o diagnóstico e terapêutica. 2ed, São Paulo: Manole, 2002, 143p.

    www.microbiologyatlas.kvl.dk. Acesso em 17/11/2008 às 16:00.

    www.rvc.ac.uk/review/Dermatology/Tests/Culture4.htm. Acesso em 15/11/2008 às 10:30.

    http://www.cepav.com.br/atlas - Atlas Virtual de Alergia e Dermatologia. Acesso em 15/11/2008 às 13:00.

    http://virbac.engenhosolucoes.com.br/midia/4602c41962a98c32.pdf. Acesso em 10/11/2008 às 11:00.